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O Direito Comparado ou comparação de Direitos da ciência jurídica tendo por objecto o direito
na sua pluralidade e diversidade de expressões culturais, estudando-as comparativamente, e
identificando a origem ou factores dessas semelhanças e diferenças.
Encontramos diversas propostas para sistematização das famílias do Direito, assim, por
exemplo, Oliveira Ascensão distingue entre direitos primitivos e civilizados e dentre estes o
muçulmano, o socialista e o Ocidental, no qual refere os sub grupos romanístico e anglo-
americano; Zweigert refere a família românica, a germânica, a anglo americana, nórdica,
socialista, do extremo oriente, islâmica e hindu, Galvão Telles refere cinco sistemas,
romanístico, anglo-americano, muçulmano, hindu e chinês. Da nossa parte optaremos perante
o critério das civilizações pelas seguintes famílias:
Durante o século XIX, o Direito comparado evoluiu como disciplina cuja importância
acompanhava o aumento do relacionamento entre os povos. Conforme referido, foi em 1900
que em França se reuniu o congresso internacional do Direito Comparado organizado pela
sociedade de legislação comparada. Aliás, foi também em França, mas em 1832 que se iniciou
o estudo universitário como cadeira do Direito Comparado. Em 1900 e no período seguinte, o
Direito comparado era encarado em duas vertentes, sendo uma a da história comparativa dos
direitos e a outra a da elaboração de um direito comum internacional.
Em Portugal forma criados em 1911 novos planos de curso em Direito nos quais foram
incluídas cadeiras de Direito comparado, nomeadamente, Direito Constitucional comparado e
legislação civil comparada. O estudo dos sistemas jurídicos estrangeiros é cada vez mais
importante, porque a constante globalização obriga a que o Direito dê resposta a novas
questões e se adapte aos ordenamentos jurídicos cujo relacionamento se vai impondo. Deste
modo, aumentaram, não só as relações jurídicas privadas, (os novos contractos internacionais,
o aparecimento de sociedades multinacionais, a crescente mobilidade dos cidadãos com
criação de novas obrigações), bem como os novos movimentos de integração regional, política
e económica (União Europeia e Mercosul). Nestes casos, a harmonização e até mesmo a
unificação dos sistemas jurídicos é essencial. Para que tal seja possível tem que se proceder
previamente a um estudo comparativo detalhado desses ordenamentos. Assim, o Direito
comparado é actualmente uma ferramenta no quotidiano de qualquer jurista, seja este,
advogado, juiz ou legislador.
A macro comparação coloca em confronto elementos jurídicos que constituem cada um dos
sistemas jurídicos devendo o jurista previamente definir que elementos ou aspectos serão
relevantes para a comparação desejada. Nesse sentido devemos procurar em cada sistema
jurídico os elementos determinantes, fundamentais e constantes que definem aquele sistema,
ou seja, vamos construir uma grelha comparativa. Essa grelha não tem que ser "universal",
pois deve ser elaborada em função da comparação que pretendemos realizar. Os elementos
que caracterizam esse sistema devem ser estáveis ou constantes por forma a garantir uma
maior segurança nas operações de microcomputação que realizamos.
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Alguns autores do século XX referem como um dos factores a constarem da grelha
comparativa os elementos ideológicos pois de facto, essencialmente na segunda metade do
século XX, uma das famílias mais importantes eram a de direito soviético.
Pro outro lado, os próprios critérios de escolha dos sistemas a comparar poderão depender
dos fins em vista e do ponto de partida da formação do comparatista. E neste momento que
devemos ponderar a viabilidade do estudo como o Direito Constitucional comparado, o Direito
Comercial comparado ou a concepção de qualquer ramo do direito, cuja disciplina possa ser
comparada com idêntico ramo de outro sistema.
O sistema romano germânico ou continental ou ainda designado como civil law é actualmente
o mais disseminado no mundo, baseando-se no direito romano tal como interpretado pelos
glosadores no século XI e sistematizado pelo fenómeno da codificação do direito durante e
após o século XVIII. Pertencem à família romano germânica os sistemas jurídicos da América
Latina, da Europa Continental, de parte essencial da Ásia, de metade do continente africano e
ainda de algumas regiões ou estados como o Québec no Canadá e o Louisiana nos Estados
Unidos da América, na generalidade dos países de tradição romano germânica o direito é
organizado em códigos, sendo exemplo disso o Código Civil alemão e o Código Civil francês. Na
família de direito continental mesmo que não se encontre codificado o direito resulta, em
regra, d alei escrita. Tal é consequência da própria forma gradual da organização do poder
político, o qual assenta numa separação maior ou menor consagra a competência legislativa,
poder atribuído a um ou a dois órgãos, nunca sendo nenhum destes o poder judicial, ou seja
"nunca" os tribunais poderão legislar.
Embora hoje o direito escrito esteja a assumir uma crescente importância ainda se mantem
como característico "o caso precedente", ou seja, será o próprio processo que dá origem a
novas regras.
Na família de direito continental o magistrado infere normas gerais a partir da lei, enquanto
que na família da commom law o decisor infere normas gerais a partir de decisões judiciais
inferidas a respeito de casos individuais.
Na origem da família jurídica continental está a civilização grega, a qual floresceu entre 800 e
300 A.C., tendo alterado toda a essência da ciência jurídica, não tanto por uma eventual
positivação do direito mas embora mantendo-se essencialmente consuetudinária, por terem
tornado o direito racional e centralizado no ser humano. Até então, nas sociedades primitivas
imperava o mito e as diversas formas de crenças que constituíam a principal norma de
conduta. Com os gregos afirma-se o primado da razão no âmbito do direito, assentando-o na
ética e no conhecimento científico em geral. Sócrates, já desaparecido, foi um dos autores que
defendem a autonomia da pessoa humana a qual seria autónoma, estabelecendo quais as
normas jurídicas a que se sujeitaria. A lei era, desta forma uma emanação do conjunto dos
cidadãos, integrados na Pólis, a qual, por via da lei assegurava a sua própria sobrevivência.
Assim, a democracia ateniense encontrou a primeira fórmula de soberania da lei. O
pensamento grego trouxe para a razão o direito e a justiça, afastando-os de actos ou práticas
irracionais pois cada norma como cada sentença teria que ser compreendida para ser aceite
pelos cidadãos. Desta forma, a Grécia legou-nos uma nova concepção do direito,
essencialmente secular e racional, a qual foi aprofundada pelos jurisconsultos romanos.
O império romano deixou-nos, para além de outras influencias o seu direito. O direito romano
corresponde ao conjunto de normas e princípios jurídicos que vigoraram entre o século VIII
A.C. e o século XV no Oriente. Estas normas e princípios, embora não sendo codificadas foram
sendo escritas como por exemplo em 450 A.C. a lei das 12 tábuas. O direito romano surgiu
inicialmente numa pequena povoação rural Lázio, tendo por força da expansão do império
romano si.do posteriormente aplicada em todo o mundo então conhecido, pois a par da língua,
das construções e mesmo da organização política, o império acautelou que o seu direito fosse
aceite e aplicado nos diversos territórios. Para tal contribuíram algumas características
essenciais do direito romano, como por exemplo a definição de uma esfera da liberdade
individual que permitia ao cidadão romano gerir e dispor de uma forma autónoma do seu
património, uma segunda razão é a da certeza e racionalidade do próprio direito romano, o
qual distinguia, não só o direito da moral e da religião, as quais eram mais imprecisas, como
O direito romano assentava assim, muito na actividade dos jurisconsultos, ou seja, na doutrina
que estes atribuíam á sociedade, em determinado momento pro forma a assegurar a obtenção
de justiça. Tal é designado como iuris prudência, o que permitiu ao direito romano
desenvolver-se como "arte do bom e do justo".
O direito romano a partir do século XII recupera novamente importância numa fase designada
de recepção ou renascimento do direito romano. Este renascimento manteve-se com maior ou
menor expressão até ao século XIX, em particular em sistemas jurídicos como o português,
espanhol, francês, holandês e em particular no alemão. A Alemanha valorizou o estudo
científico do direito romano o que ocorreu desde logo em resultado do sacro império romano
germânico e da necessidade do poder político na Alemanha não conseguir elaborar e impor
novas normas jurídicas pelo que recuperou o direito romano, comummente aceite por forma a
garantir uma maior harmonia no direito interno alemão.
A família de Direito Continental foi ainda influenciada por outras comunidades ou sistemas
jurídicos mas fundamentalmente veio a influenciar decisivamente o sistema jurídico daqueles
territórios que forma colónias dos estados europeus continentais.
O Direito Continental tem por característica o modo como relaciona alguns conceitos, como
por exemplo ao diferenciar entre direito constituído e equidade. Por direito constituído
consideramos aquele conjunto de normas de conduta que são aprovadas por um órgão de
poder político a quem a comunidade atribui, em regra, por via constitucional, o poder
legislativo. Esta separação de poderes obriga á existência de um outro órgão que irá
administrar a justiça, função atribuída aos tribunais, os quais deverão decidir de acordo com a
lei e não de acordo com o caso precedente como seria característico da Common Law. Assim,
o direito positivo adquire particular importância em detrimento de outras fontes de direito.
Uma outra distinção característica de Direito Continental é aquela que opõe direito publico e
No Direito Continental para além das fontes de direito interno encontraremos os tratados ou
outras fontes de direito internacional, as quais, por sua vez respeitam as características e
princípios desse Direito Continental.
A fonte primordial de direito é a lei, sendo comum a todos os estados ou sistemas integrados
na família continental, esta valorização do acto legislativo, aprovado por um órgão de poder
político e por natureza geral e abstracto (artigo 1 nº 2 do Código Civil).
Por outro lado esta autonomização de família da Commom Law, em particular, no que á
Inglaterra dos respeito, deve-se a existência de revoluções com o impacto daquelas que
ocorreram no continente, ou seja, embora a Inglaterra tenha conhecido algumas revoluções,
como a revolução puritana, no entanto nunca conheceu uma revolução como a francesa ou
mesmo como a aportuguesa de 1820. Desta forma e conforme o professore Jorge Miranda
indica, o sistema britânico conheceu três fases, sendo uma monárquica com a concentração de
poderes no rei, uma segunda aristocrática onde a Câmara dos Lordes detinha o controlo
político sobre o executivo e finalmente a fase democrática onde o centro da vida política é a
Câmara dos Comuns.
Direito Comparado - Serafim Cortizo 20100059 Página 7
A FAMÍLIA DA COMMON LAW
Com o final da ocupação romana no século V, o território do Reino Unido foi sucessivamente
ocupado por povos oriundos da Escandinávia, da Europa Central, dos Normandos.
Simultaneamente mantiveram-se os costumes locais, não existindo qualquer sistema jurídico
comum em todo o país. A partir do século XI, com os Normandos, iniciou-se a formação da
Commom Law enquanto fonte de direito que resultava da acção dos tribunais, ou seja, os
Normandos não impuseram uma nova administração judiciária, atribuindo aos tribunais um
poder que até então correspondia aos costumes locais; serem a origem do direito comum.
A partir do século XV com a dinastia Tudor, a Inglaterra inicia a sua expansão surgindo com
Isabel li a "equity". A partir de 1873 com a reforma do sistema judiciário inglês iniciou-se uma
nova fase no direito inglês, assente numa maior importância do direito escrito, numa
crescente actuação do direito inglês a fontes de direito externas, como por exemplo as
decorrentes da adesão à CEE em 1972.
Para além da Commom Law e da equity, devemos também ter presente a crescente
importância do "statute law", o qual corresponde a um esforço constante no sentido de a
produção de direito escrito, ou leis aprovadas pela Câmara dos Comuns a qual ainda tem
pouca importância em relação às outras fontes estudadas. A lei surge assim não tanto como
um elemento inovador mas como a consagração escrita, formal, de princípios ou regras já
contidas na Commom Law ou na Equity. Em e relação a estas, a lei possui ainda um carácter
essencialmente complementar.
No Reino Unido ainda prevalece uma concepção dualista entre o direito internacional e o
direito interno, porquanto os tratados internacionais só vigorarão na ordem jurídica interna
O direito nos Estados Unidos da América foi claramente influenciado pela presença inglesa
havendo no entanto excepções com a Flórida que foi ocupada pelos espanhóis, o Louisiana
pelos franceses e Nova York pelos holandeses. Desta forma a experiencia norte americana
revela-se particularmente complexa e resultado do compromisso, não só entre os sistemas
referidos, mas também entre estes (em particular o inglês) e o modo como ocorreu a
independência dos Estados Unidos. De facto quando em 1787 se dá a declaração de
independência dos Estado Unidos, estabelece-se uma imediata definição de um Estado Federal
onde um povo se organizará em torno de um conjunto de Estados Federados. Assim, na
sequência da independência foi aprovada uma Constituição na qual se atribui ao Estado
Federal um conjunto de competências que claramente condicionam a acção de cada Estado
Federado.
De indicar também ser característico deste sistema, como do inglês, a utilização de juris, ou
seja, a apreciação e decisão sobre a matéria de facto por cidadãos que se pronunciarão sobre
os factos contidos na acção, por unanimidade, podendo até fixar, se for caso disso, o montante
indemnizatório a ser atribuído a uma das partes.
Desta forma, mesmo não sendo muçulmanos, estarem sujeitos á sua regras indivíduos
correspondentes aproximadamente 1/6 da população mundial. Nestes diversos países, o
direito não se limita à Xaria, porque em todos eles encontraremos outras fontes de direito,
sejam estas costumeiras ou legisladas.
Assim, o direito muçulmano convive com normas de direito laico, como por exemplo o
costume e o direito legislado. Mas em qualquer caso, nenhuma regra poderá contrariar ou
opor-se ao direito religioso.
Neste domínio a primeira fonte é a Xaria, ou seja, o direito surge como expressão normativa
da vontade divina. O Corão integra a palavra de Deus, sendo a Suna, a conduta exemplar do
profeta Maomé, resultando das duas, aquela que deve ser a conduta quotidiana permanente
do muçulmano
Confúcio estabelece que apenas a Li permite prevenir os conflitos e assegura a paz social.
Apenas esta é verdadeiramente reconhecida pelos indivíduos, considerando que a lei aprovada
e imposta, ou seja, a Fa. Ainda hoje a lei é considerada como um mal necessário, ou seja,
mesmo os legalistas, os defensores do Fa encontram-no como algo que sendo necessário, não
será no entanto a melhor solução para prevenir ou resolver conflitos.
Durante o século XX o direito positivo conquistou maior influência em relação ao Li, quer em
consequência da revolução de 1912, quer por todo o desenvolvimento comunista ao longo
desse perdido até à situação actual de "economia socialista de mercado". Este direito positivo
resulta, não só da acção dos órgãos legislativos existentes nas 22 províncias e nas cinco regiões
autónomas, para além das duas regiões administrativas especiais de Macau e Hong Kong.
Efectivamente, apesar do controlo exercido pelo partido único, há uma forte organização
descentralizada ao longo de toda a China, da qual resultam inúmeros actos legislativos.
O DIREITO HINDU
O induísmo tal como o direito muçulmano tem por base a religião. No entanto e ao contrário
de outras religiões, o induísmo não assenta num documento religioso consagrador das regras
ou das normas e de conduta aplicáveis aos seus membros. Pelo contrário, o induísmo impõe-se
no quotidiano de cada hindu, nas relações com outros indivíduos, pois está presente em toda a
sua acção. O hinduísmo é a religião predominante na lndia, sendo este, ou melhor, a União
Indiana um Estado laico, aprovado pelos órgãos legislativos. O hinduísmo é muitas vezes
considerado como um modo de vida, porque pressupõe a aceitação das suas regras pelos
indivíduos e sua aplicação quotidiana independentemente de qualquer rito ou número de
deuses.
Para melhor compreendermos o induísmo temos que ter presente o Dharma, o qual é
sinónimo de padrão de conduta dos hindus, o qual tem consequências nos seus deveres
religiosos mas também nos jurídicos. O Dharma assenta em quatro virtudes; misericórdia,
renuncia, pureza e verdade, as quais são deveres individuais do hindu. Outra noção·é a de
Karma, que corresponde á ideia de que cada um possui um espirita eterno, ou uma alma, á
qual no momento da morte reencarnará noutro ser vivo. Durante a sua vida o hindu deverá
conduzir-se pro foram a assegurar que na próxima vida reencarnará em algo de melhor do que
a sua alma ocupou. Tal é mais importante quando a sociedade indiana estratificada em quatro
castas (grupos sociais) sendo que uma alma presente num individuo nascido numa
determinada casta, nesta se manterá até á morte do ser vivo, então reencarnado noutro de
casta superior ou inferior, consoante a sua acção naquele "primeiro" ser vivo