Sie sind auf Seite 1von 4

SOLZHENITSYN, Alexander. Arquipélago GULAG. (Vol 1 e parte do vol 2) São Paulo:Círculo do livro.

1975. (Originalmente em 1973) 605 pp.

Links para a compra do livro:

Vol I: http://produto.mercadolivre.com.br/MLB-792282123-arquipelago-gulag-1918-1956-alexandre-
soljenitsin-_JM
Vol II: http://produto.mercadolivre.com.br/MLB-776528730-arquipelo-gulag-vol-ii-_JM

Lido entre os dias 13 e 23 de Dezembro de 2016

Navegando pelo “Arquipélago”


Um livro que em seu primeiro volume de mais de seiscentas páginas (e foram três ao todo) abalou a
diplomacia mundial, foi elevado quase que de maneira instantânea ao posto de cânone da literatura russa e
culminou com a expulsão em regime de degredo perpétuo de seu autor. Estamos, obviamente, falando de um
livro que tem (muito) renome. Trata-se de “Arquipélago GULAG” do russo Alexander Solzhenitsyn.
Aquele que visita o “Ler, Resenhar e Aprender” com mais frequência, deve estar se perguntando
aonde foi parar a estrutura, pra lá de didática, dividida em sinopse, raio x da obra , quem foi autor fulano,
análise da narrativa e considerações finais. Justifica-se tal ausência pelo fato de, além de ser uma obra de
não-ficção, “Arquipélago GULAG” ser de tal modo monumental, que tornaria impossível a tarefa de
resenha-lo nos moldes já conhecidos do blog. Nesse caso, o presente texto se divide em duas partes, sendo
esta a primeira. Caso, ainda assim, reste alguma dúvida se deves ou não ler tal livro, a segunda parte
certamente a eliminará.
O contato primeiro que eu tive com “Arquipélago GULAG” advém da minha, nada secreta, paixão
pela literatura russa, desde os idos de meus 16 anos regada a Dostoiévski, Tolstói, Turgueniev e Tchékov em
doses regulares. Atentando para autores mais “contemporâneos”, eis que saltam à minha curiosidade um
certo Alexander Solzhenitsyn com o seu “Arquipélago GULAG”. Após muito pensar na empreitada em que
estava me metendo, comprei um exemplar online e aqui estou agora falando sobre ele.
Primeiro, nos inteiremos do significado deste bendito título de livro. Sabemos bem desde os idos
tempos de ensino fundamental que “arquipélago” vem a ser o coletivo de ilhas, e quem prestou alguma
atenção nas aulas de história contemporânea (ou manifestou curiosidade suficiente nessa época para sanar o
buraco causado por algum professor de História relapso) sabe que “GULAG” é a sigla para algo que,
traduzido em linhas gerais, significa Administração Geral dos Campos de Trabalho Correcional (diga-se,
forçado) e Colônias, que , segundo o autor, criou corpo e se consolidou entre fins de 1910 e 1956, estando
portanto no cerne da política soviética de repressão e cerceamento das liberdades individuais de pensamento
e ação .
O nome é pomposo, mas o significado é bem direto, já que com o tempo o termo virou sinônimo
apenas de campos de trabalhos forçados. Por aí já se mata a charada. Logo, “Arquipélago GULAG” enfatiza
a dimensão de tal sistema prisional em que as unidades, tal qual um arquipélago, estavam dispersas como
ilhas entre si ao longo do vasto território soviético, em especial, por regiões de natureza inóspita e nada
convidativa (Ex: Sibéria). A extensão total em números de indivíduos presos e transportados para os
GULAGs até hoje é incerta. Todavia, as estimativas mias modestas citam algo em torno de 15 milhões de
indivíduos que tiveram a sua liberdade extirpada e seus direitos (e corpos) violados no período de pouco
menos de 40 anos balizado por Solzhenitsyn. É daí pra cima.
A partir desse fio condutor o autor monta estrutura do seu livro em capítulos, em que cada um trata de
um tema de maneira bem pormenorizada, norteando os tortuosos caminhos deste senhor calhamaço. E logo
por esse panorama você já vê de cara que não se trata de uma leitura qualquer. Se achas que essa obra é
carregada demais de informações (e sim , são muitas mesmo, indo de técnicas de tortura à legislação da
época, passando por informações geográficas e divagações sociológicas...), basta atentar para o seguinte fato:
Solzhenitsyn foi um prisioneiro num GULAG.
Breve pausa dramática, prossigamos. Preso e condenado sem julgamento a 12 anos, sendo 8 de
trabalhos forçados e 4 de degredo perpétuo, obteve perdão da pena em 1956, com o qual, só a partir daí,
iniciou a sua carreira literária, inspirada, sobretudo, na sua traumática experiência nos GULAGs. Além do
fato de ter obtido diversos diplomas universitários antes de ter sido preso (Engenharia, Matemática e
Literatura só pra citar), Solzhenitsyn estruturou a sua obra prima a partir da coleta de centenas (sim, isso
mesmo) de depoimentos de prisioneiros e sobreviventes dos GULAGs. E olha, partindo da leitura desse
livro, me surpreende bastante que tenha sido possível a sobrevivência naqueles verdadeiros infernos na terra.
Questionamentos que nos são caros são respondidos ao longo do "Arquipélago": Como era a
detenção? Como era feito o transporte dos prisioneiros? Em que condições ocorriam os interrogatórios?
Como eram as condições nas prisões? Como a legislação da época enxergava tudo isso... são apenas algumas
das diversas questões principais tratadas ao longo do livro. E não, Solzhenitsyn não passa a mão na cabeça
de ninguém ao relatar os piores pormenores possíveis acerca das crueldades cometidas ao longo de todo o
processo (indo de esmagamento dos testículos com botas, prisões arbitrárias, táticas de sobrevivência até um
“passeio" feita com uma adaga no ânus de diversos prisioneiros, só pra citar algumas).
Alguns conselhos quanto a leitura devem ser feitos levando-se em contas tantas peculiaridades. O
primeiro é gostar de História (com “h” maiúsculo mesmo). A formação de Solzhenitsyn e a linguagem que
ele utiliza bem como o contexto a que ele se refere, acabam apelando para uma base, mesmo que mínima, da
parte do leitor de conhecimentos referentes á história do século XX entre 1917 e a Segunda Guerra Mundial.
O segundo é não ter pressa em lê-lo. Deguste-o. Um capítulo por dia, de preferência. O terceiro conselho é,
se possível, o de fazer resumos dos capítulos lidos. Tal atitude ajuda na depuração gradual da obra, e acaba
por criar uma “diário de bordo” visando auxiliar você a “navegar” pelas ilhas desse arquipélago. E por
último, sinta-se realmente motivado a ler esse livro, por que realmente, não é uma tarefa confortável. Ela
exige atenção e vai mexer, em diversos momentos, com os brios e a fé na humanidade de você, caro amigo
leitor, a cada soco na boca do estômago, digo, página virada.
Ao final, o esforço será plenamente recompensado com a sensação, que eu tive, de ter lido um apelo
dramático e indispensável de alguém que se fazendo valer de todo o seu fôlego intelectual e espiritual
transpôs em sua carta para a posteridade a manutenção da pia esperança de que tais eventos semelhantes não
ocorram novamente. Um livro que merece ser lido, indicado e redescoberto.

A saga de um autor e sua obra :


Alexander Solzhenitsin, nascido em 1918, numa Rússia em franca transformação para o que em 1922
se tornaria a União Soviética, tinha a princípio um futuro promissor. Formado em Matemática, Engenharia e
Literatura, o amplo intelecto deste russo descortinava o que poderia ser uma vida estável e sem sustos.
Todavia, com pouco mais de 20 anos de idade, concomitante ao florescer de seu talento literário, alista-se no
exército soviético para combater na Segunda Guerra. Acaba preso poucas semanas antes do fim do conflito,
acusado posteriormente de traição por "fundar uma organização hostil " ao criticar de maneira direta e lúcida,
o privilégio de determinados altos oficias do exército e a condição dos soldados no campo de batalha em um
telegrama que fora confiscado pelo serviço secreto.
Condenado sem julgamento, foi enviado para um GULAG onde passou 8 anos de pena direta,
cumprindo trabalhos forçados, e mais 4 de exílio, sendo solto em 1956, com a permissão de Nikita Kruschev.
Publicou diversas obras, entre elas o seu afiado romance de estréia "Um dia na vida de Ivan Denissovitch"
em1962, no qual relata , como diz o título , um dia a vida de um prisioneiro de um campo de trabalhos
forçados, bem como sua rotina, as punições, as duras condições do alojamento, as intrigas e as táticas de
sobrevivência que tornavam a situação, por si só desumana e degradante, em algo minimamente suportável a
ponto de evitar levar ele e outros prisioneiros às raias da loucura .
Com o tempo, e conforme as críticas ao governo soviético começaram a ficar cada vez mais explícitas
em suas obras, Solzhenytsin passou a ter seus livros censurados e banidos do solo soviético. Escreveu o livro
o "Arquipélago GULAG" em segredo, depositando nas mãos de grandes amigos a confiança e partes do
manuscrito, para que o mesmo, caso confiscado, não fosse destruído por inteiro.
Vendo o quão insustentável estava ficando a situação (que já havia culminado com o suicídio de uma
amiga por conta da culpa dela em ter revelado o local do trecho à ela concedido do manuscrito), Solzhenitsin
monta uma verdadeira operação secreta para que, em segurança, o livro pudesse chegar a fronteira
internacional, e, no exterior, pudesse ser publicado, o que já não era possível para o escritor em solo
soviético. O manuscrito chegou são e salvo em Paris, e em 1973 foi publicado. Dois anos após a primeira
edição já estava disponível para o português. Foi uma bomba que se abateu sobre a comunidade internacional
e diplomática em especial.
O livro estraçalhou a reputação da União Soviética, vendeu milhões de cópias em mais de 30 idiomas
e culminou com o exílio perpétuo (revogado em 1990) de Alexander Solzhenitsin, primeiramente para a
Alemanha Ocidental (para a qual foi levado á força de avião) e depois para a Suíça (que o acolheu em
definitivo). Anos antes, em 1970, havia sido laureado com o Nobel de Literatura, segundo o Comitê do
Prêmio, "pela força ética com a qual ele tem perseguido as indispensáveis tradições da literatura russa".
Sob receio de não conseguir voltar para casa (ou sequer chegar vivo em Estocolmo), não pôde comparecer
para receber o prêmio em sua data original (ele já tinha seus livros proibidos na URSS), mas foi à capital
sueca 4 anos depois, já na condição de exilado político, conforme mostra o vídeo abaixo, para das mãos do
Rei da Suécia finalmente receber a honraria máxima da literatura mundial.

Das könnte Ihnen auch gefallen