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O bairro de Campo Grande como exemplo da virada ideológica da política urbana na

cidade do Rio de Janeiro


Paulo Henrique Araujo Barata1

Resumo: O objetivo deste artigo é compreender a mudança do direcionamento ideológico


da política urbana na cidade do Rio de Janeiro tendo o projeto Rio Cidade, materializado
no bairro de Campo Grande, como exemplo de tais transformações no planejamento
urbano. Para atingir esse objetivo, o entendimento e aplicação da transformação do
pensamento das ações públicas no urbano, foram realizadas pesquisas bibliográficas das
políticas urbanas da cidade do Rio de Janeiro e de autores da área sobre a (re)
formulação da política pública global a partir de autores como David Harvey, Marcelo
Lopes de Souza, Milton Santos e outros. Verificou-se que com a injeção neoliberal na
formulação da política urbana toda a extensão territorial da cidade do Rio de Janeiro,
inclusive suas periferias, tiveram sua produção espacial irremediavelmente alterada.

Palavras-chave: Políticas Públicas, Estado, Regulação urbana


Palabras clave: Políticas Públicas, Estado, Regulación urbana.

Se há tantas políticas públicas quantos momentos do Estado, há múltiplas


dimensões do Estado no que concerne às forças (economia, política e ideologia) que
atuam e buscam moldá-lo conforme interesses endógenos e exógenos ao ente estatal.
Esses feixes do espectro de forças implicam diretamente um sobre o outro alterando as
condições de funcionamento do Estado e da formulação das políticas públicas. São dois
momentos distintos e regidos por forças com ideários divergentes que impõem regulações
urbanas, marcos jurídicos diferentes e específicos, para cada regime urbano da produção
capitalista do espaço. Partindo do momento fordista-keynesiano, entre 1929 e 1973,
estamos tratando do Estado planejador, interventor no espaço. Após 1973, com o avanço
neoliberal, momento marcado pela acumulação flexível, o termo gestão, advindo do
mercado, é adicionado em substituição ao planejamento (HARVEY, 2006).
O regime fordista-keynesianista formulou o “Estado de Bem Estar Social” cujo
caráter principal era apaziguar possíveis tensões, conflitos naturais entre o capital e o

1
Professor Docente I – Geografia da Secretaria de Educação do Estado do Rio de Janeiro. Doutorando do Programa de
Pós Graduação em Geografia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (PPGEO/Uerj).
trabalho. Poderíamos dizer que era uma forma de controle da voracidade do capitalismo
em relação a sua busca constante por crescimento. A tendência era a busca por dirimir a
desigualdade, pensar a administração urbana através de planos e regulamentos que
guiassem o uso do solo, ações compensatórias que tivessem a totalidade como foco em
detrimento de projetos com raio de ação limitado, ou seja, ações pontuais no espaço
urbano (ARANTES, 2001; BIENENSTEIN, 2009), mas sem perder de vista a cidade como
centro de controle da reprodução da sociedade capitalista no que diz respeito a força de
trabalho, da troca e dos padrões de consumo (SOJA,1994).
A crise do modelo fordista no final da década de 1960 é o marco inicial da
passagem do Estado do período fordista-keynesiano para o período neoliberal /
acumulação flexível. A ascensão da dupla Thatcher/Reagan ao poder na Inglaterra e
Estados Unidos, respectivamente, carregou consigo a agenda liberal-conservadora
promovendo o encolhimento do Estado, desregulou setores e mercados e desmontou
parte do welfare state (COUTINHO, 2001 apud BIENENSTEIN, 2009). Enquanto ocorria a
reestruturação do capitalismo mundial tanto nos países centrais quanto nos periféricos,
em consonância com as regras do Consenso de Washington, também tomava corpo e se
impunha um novo consenso urbano.

No lugar do planejamento moderno, compreensivo, fortemente marcado por uma


ação direta do estado, expressa, entre outros elementos, nos zoneamentos e nos
planos diretores, um planejamento competitivo, que pretende flexível, amigável ao
mercado (market frienldy) e orientado pelo e para o mercado (market oriented)
(SOUZA, 2011, p.3).

Nesse momento passava-se da abordagem administrativa da década de 1960,


para as formas de ação “empreendedoras”, o empreendedorismo, a partir das décadas de
1970 e 1980 (HARVEY, 2006), nos países centrais. Ainda na década de 1970, o
planejamento regulatório e o planejamento pautado em investimentos públicos passaram
a ceder espaço para planejamentos mais amigáveis ao mercado, melhor adaptados a
lógica dos interesses imediatos do capital privado (SOUZA, 2010). Os governos urbanos
tinham de serem inovadores e empreendedores.
A mudança paradigmática abandonando a abordagem “administrativa” do espaço
para ações “empreendedoras” tornou-se consenso e foi difundida por todo o espectro
político-ideológico dos governos urbanos. O empreendedorismo estaria no centro das
formulações das políticas urbanas e nas estratégias de desenvolvimento urbano, a partir
de então. Uma das facetas do empreendedorismo reside na busca pela melhoria da
posição competitiva em relação à divisão espacial do consumo. A urbanização
engendrada nas bases empreendedoras foi baseada no consumo, haja vista o estilo
consumista moldado pelo processo civilizatório capitalista. Assim, “a cidade tem de
parecer um lugar inovador, estimulante, criativo e seguro para se viver ou visitar, para
divertir-se e consumir (HARVEY, 2006, p.176)”.

Políticas e Planos Urbanos


O sistema mundo não possui os poderes legais sobre os instrumentos de
regulação necessários. Essa tarefa é assumida pelos poderes nacionais e locais que
“recebem” esse interesse pelo uso dos seus espaços, que gera os conflitos em tela.
Pode-se dizer que

enquanto no “mundo” só o que conta é o global, nos territórios nacionais, tudo


conta. Empresas e instituições diversos níveis, e não só empresas gigantes
convivem no conflito. Convivência necessária, conflito inevitável. Quanto mais
desigual a sociedade e a economia, tanto maior o conflito. É o caso dos países
subdesenvolvidos, sobretudo em suas grandes cidades. Mas em todos os casos
há conflitos reclamando regulação, isto é, produção de normas (SANTOS, 2010,
p.336).

Dentro desse contexto de relação de forças


o Estado exerce, pois, um papel de intermediário entre as forças externas e os
espaços chamados a repercutir localmente essas forças externas. O Estado não é,
entretanto, um intermediário passivo; ao acolher os feixes de influências externas,
ele os deforma, modificando sua importância, sua direção e, mesmo, sua
natureza. Isto significa que a reorganização de um subespaço sob a influência de
forças externas depende sempre do papel que o Estado exerce (SANTOS, 2002,
p.226).

Tendo isso em mente, torna-se vital o entendimento dos marcos jurídicos


regulatórios que contém os planos de ações e planejamento para a cidade e,
especialmente, para o nosso recorte. Ao adentrarmos a legislação urbana poderemos
entender melhor a atuação do Estado moldando e diferenciando os diversos espaços
pelas normas não escritas, informais seguindo o receituário do capitalismo na sua forma
de acumulação mais recente: o neoliberalismo.
Um bom ponto de partida para entender o atual momento empreendedor da ação
estatal é o ano de 1988. Nesse ano foi promulgada a nova Constituição Brasileira que
possui artigos (como o artigo 170) impeditivos à implantação do Neoliberalismo em
território nacional, resguardando ao Estado o papel de intervenção em distintas
dimensões da vida brasileira e limitando a ação do capital privado de maneira que não se
sobreponha ao interesse social. Constitucionalmente, o neoliberalismo não conseguiu se
enraizar profundamente no país, contudo a ação do governo federal a partir de então,
tendo o auge no período FHC e sua onda privatizante das estatais, seguindo o receituário
neoliberal posto em marcha por Thatcher no começo da década de 1980, é uma prova
que a nova ordem do regime de acumulação capitalista tinha finalmente chegado ao
Brasil.
No plano municipal do nosso recorte, o Plano Diretor da cidade do Rio de Janeiro
implantado após a promulgação da constituinte foi o Plano Diretor Decenal de 1992. O
Plano Diretor é o instrumento básico da política urbana do Município e integra o processo
contínuo de planejamento da cidade. Segundo Lourenço (2009) esse plano diretor era
rígido estando arraigado a leis constitucionais que não coincidiriam com outros interesses
que por ventura pudessem existir sobre o espaço carioca, apesar da intensa participação
do empresariado carioca na sua confecção. Na verdade, o Plano Diretor é responsável
apenas pela divisão territorial do município em Áreas de Planejamento, uma herança do
Plano Urbanístico Básico do Rio de Janeiro (PUB-Rio) e determina uma “macro definição”
para o zoneamento. Importante ressaltar que de acordo com Lourenço (2009) esse
primeiro zoneamento ainda na década de 1970 já buscava atender às especificidades de
cada macro área de planejamento e pode ser relacionado às demandas por flexibilidade
presentes na mudança do eixo da política urbana internacional de então. Seguindo com
zoneamento, as definições específicas das áreas ficariam a cargo dos Projetos de
Estruturação Urbana – (PEU) que carrega a informação sobre as diretrizes para a
expansão urbana e os parâmetros urbanísticos destinados a um conjunto de bairros
fisicamente próximos, que contenham alguma similaridade e que estejam inseridos em
uma mesma Unidade Espacial de Planejamento (UEP) (CHALFUN, 2009, p.36). Sendo
institucionalizado como um instrumento de planejamento complementar via Lei
Complementar nº 16/1992 (Plano Diretor) no artigo 11 que trata sobre o

o detalhamento das normas gerais de parcelamento da terra e de uso e ocupação


do solo será feito em Projeto de Estruturação Urbana – PEU, instituído por lei. O
PEU definirá a legislação urbanística das Unidades Espaciais de Planejamento –
UEP, a partir das peculiaridades de cada bairro ou do conjunto de bairros que as
compõem.

O PEU entra na ideia de flexibilidade exigida pelo neoliberalismo, pois é único


para cada Unidade Espacial (UEP) possibilitando legislação específica que atenda as
demandas das diversas forças locais com grande precisão. Além disso, vemos que
diferentes PEUs foram formados em períodos distintos no tempo, sem contudo, existir
uma explicação clara do porquê apenas 5 UEPs (das 17 indicadas como prioritárias para
a elaboração dos PEUs num município dividido em 55 UEPS) foram contempladas
efetivamente com a normatização trazida pelo PEU. A explicação para essa disparidade
temporal e, principalmente, do por que da escolha de certas UEPs em detrimento de
outras pode repousar no conjunto de interesses políticos que convergiam e formavam a
conjuntura de cada UEP em determinado momento, frente às possibilidades e
necessidades do capital privado consubstanciado às ações estatais nesses espaços
(CHALFUN, 2009).
Em Campo Grande, o PEU (que cobre as UEPs 51 e 52 referentes a Campo
Grande, Santíssimo, Senador Vasconcelos, Cosmos e Inhoaíba) – teve um caráter
renovador das possibilidades da exploração dos espaços do bairro em termos jurídicos. O
bairro possuía áreas rurais que foram definitivamente extintas com a nova lei (idem).
Estas antigas áreas rurais tinham baixo valor no mercado de terras e, portanto com
a produção de produtos imobiliários alcançava-se elevado valor de troca. Tal mudança
cria um maior número de novas áreas edificáveis para o mercado imobiliário atendendo
os anseios capitalistas de expansão e criação (com o consequente apoderamento) de
novos mercados onde existia demanda reprimida e, principalmente, solvável abrindo
espaço para novas incorporadoras e incorporações. Podemos afirmar que o PEU, desde
a sua criação no PUB-Rio de 1977 (LOURENÇO, 2009) é de direito um instrumento
público coercitivo (SOUZA, 2010), mas de fato uma flexibilização das possibilidades da
atuação de um conjunto integrado de forças envolvendo o Estado e capitais privados na
produção do espaço urbano.
Torna-se claro e devemos reiterar que, apesar do discurso e do caráter
funcionalista da legislação, temos a presença de uma ideia de flexibilidade, de
instrumentos públicos ágeis que trabalhem com as especificidades de cada conjunto
espacial individualizando as políticas para o micro no lugar do macro. Essa abordagem de
ações pontuais no espaço urbano é contrária à antiga política urbana fordista.
Desde a industrialização, segundo Lefebvre (2001), a cidade deixa de ser
considerada pelo valor de uso e passa ser visualizada nas suas possibilidades de valor de
troca. É a lógica do mercado que passa a imperar e comandar as ações e intervenções
públicas e agora também privadas ou simplesmente ações público-privadas. O urbanismo
ganha novos contornos abandonando antigas práticas, conformando-se aos novos
anseios e requerimentos do mercado. Logo,

se o planejamento que se concebe hoje não tem mais a intenção – ou a


capacidade - de estabelecer prognósticos e propor intervenções que substituam as
livres forças do mercado, mas apenas acompanhar e impulsionar
incontestavelmente o Mercado, através do desenvolvimento de determinadas
estratégias, [...] o urbanismo que lhe corresponde limitar-se-á em organizar
espacialmente os elementos físicos pertinentes a tais estratégias, a despeito de
toda e qualquer perspectiva abrangente que outrora o caracterizara. [...] O novo
urbanismo deverá desta forma abandonar o rígido e impotente funcionalismo do
passado, representado pelo zoneamento tradicional e pelo plano diretor, em favor
de uma concepção mais integral e polivalente de cada zona da cidade a partir de
algumas obras urbanas específicas, grandes projetos com os quais se espera
alavancar a dinâmica urbana desejada: de crescimento e mutação ou de
reestruturação. [...] o fracionamento da reestruturação urbana oferece agilidade e
flexibilidade quanto aos meios de sua realização através da propaganda
cooperação público-privada. Um recorte territorial bem definido facilita a adaptação
às lógicas de múltiplos parceiros, pois garante maior previsibilidade de custos,
prazos e benefícios esperados. [...] (COMPANS, 1997 apud LOURENÇO, 2009,
p.255).
É nesse cenário atual que as cidades são moldadas por novos instrumentos em
consonância e, muitas vezes, se sobrepondo aos antigos instrumentos de planejamento e
gestão, contudo sem abandonar o próprio planejamento e gestão. Esses são
reformulados para atender os interesses do capital privado com a complacência estatal e
tratar a própria produção do espaço como negócio, transformar a cidade em mercadoria a
ser exposta e vendida. Essa abordagem torna-se algo comum ao momento atual do
regime da acumulação capitalista: o neoliberalismo. O ideário neoliberal comanda as
decisões políticas para o futuro da cidade. As exigências do mercado forçam uma
competitividade entre cidades e as impõem grandes transformações visando atrair tanto
investidores quanto empreendedores (AMENDÔLA, 2002). A resposta das cidades para o
neoliberalismo seria o empreendimento de ambiciosos projetos estratégicos que
combinam objetivos de crescimento econômico e desenvolvimento urbano como
soluções para os problemas gerais da cidade (BORJA, 1996).
Dessa maneira, a mensagem propagada por Borja é a do planejamento
estratégico, o novo instrumento público, que não se constituiria como algo a serviço do
neoliberalismo, mas sim a panaceia, a resposta das cidades que através desse
instrumento e da cooperação público-privada seriam resgatadas e se estabeleceriam em
posição de competição num circuito global cada vez mais competitivo. O discurso
verificado em Castells e na Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro (PCRJ), a primeira
cidade do hemisfério sul a adotá-lo, são idênticos na defesa dessa que chamaremos de
solução. Pois, se Castells (1990) pondera que

a flexibilidade, globalização e complexidade da nova economia do mundo exigem


o desenvolvimento do planejamento estratégico, apto a introduzir uma metodologia
coerente e adaptativa face à multiplicidade de sentidos e sinais da nova estrutura
de produção e administração (apud VAINER, 2000a, p.77).

A PCRJ defende que


as cidades competitivas serão aquelas capazes de enfrentar os desafios dos
novos paradigmas trazidos pela revolução tecnológica e pela globalização:
cidades adaptáveis, flexíveis, receptivas e capazes de inovar. O Plano Estratégico
tem sido o caminho escolhido pelas principais cidades do mundo para traçar os
fundamentos da sua inserção no 3º milênio” (RIO ESTUDOS, 2002, p.2).

O discurso oficial embasa a implantação de um planejamento estratégico na


luta contra a crise, sendo a percepção da crise mais importante do que tal. Pois é o medo
de ficar para trás num mercado global tão competitivo que levaria a uma aceitação do
plano como a solução dos problemas citadinos, um remédio com fórmula pronta e já
amplamente testado para sanar a combalida cidade. Nas palavras de Santos

O mesmo sistema ideológico que justifica o processo de globalização, ajudando a


considerá-lo o único caminho histórico, acaba, também, por impor certa visão da
crise e a aceitação dos remédios sugeridos. Em virtude disso, todos os países,
lugares e pessoas passam a se comportar, isto é, a organizar sua ação, como se
tal "crise" fosse a mesma para todos e como se a receita para afastá-la devesse
ser geralmente a mesma. Na verdade, porém, a única crise que os responsáveis
desejam afastar é a crise financeira e não qualquer outra. Aí está, na verdade, uma
causa para mais aprofundamento da crise real — econômica, social, política, moral
— que caracteriza o nosso tempo (2001, p.36).

A partir dessa estrutura em (de) crise atores privados articulados e sobrepostos a


política pública utilizam-se da máquina estatal e implantam suas próprias diretrizes nas
quais os interesses sociais são deixados a margem. Cria-se, ou importa-se,
normatizações particulares ligadas aos anseios desses atores dominantes que executam
essas ações dominantes pintadas em cores pseudo defensivas da lógica perversa que
paira sobre a cidade (idem).
Está instaurado o quadro perfeito para a introdução de uma nova concepção de
empresariamento da cidade. É nesse momento que surge o plano estratégico como
panaceia, como solução, a principal diretriz para a notória crise. Segundo seus difusores o
plano estratégico “é a definição de um projeto de cidade que unifique diagnósticos,
concretize atuações públicas e privadas e estabeleça um quadro coerente de mobilização
e de cooperação dos atores sociais urbanos” (BORJA, 1996, p.98). Ainda segundo a
definição de Borja (1996, p.99) o plano estratégico “constitui uma resposta integrada, que
parte do próprio lugar onde os problemas da sociedade se apresentam e onde os agentes
públicos e privados podem atuar conjuntamente”. Clama por participação de atores além
do Estado tanto na sua formulação – no intuito de definir seu conteúdo do qual dependerá
a viabilidade dos objetivos - quanto na aprovação. Prega que a participação na
continuidade e na implantação de medidas ou atuações podem ser até mais importantes
do que as etapas iniciais. Essa necessidade de participação é verificada, pois é feita a
ressalva que mesmo quando assumido pelo Estado e pelo poder local “o resultado do
plano estratégico não é uma norma ou um programa de governo” (BORJA, 1996, p.99) é
segundo a PCRJ “um pacto social que abrange uma vasta gama de objetivos
intersetoriais, visando mobilizar a sociedade a pensar, conceber e realizar um futuro
desejável e possível para a cidade” (Rio Estudos, 2002, p.2).
O porquê da afirmação anterior ganha clareza quando de acordo com Vainer
(2000b) o neoliberalismo, o meio do qual emerge o planejamento estratégico, não
dispensa a contundente intervenção estatal desde que auxilie nos seus interesses
dominantes de mercado. Ascher (1994, apud VAINER, 2000a, p.84) ao analisar a política
urbana tatcherista observa que não se abre mão da intervenção pública, e sim as
compatibiliza com as exigências dos atores privados. O governo reorienta suas ações na
forma do planejamento oficial, de maneira a serem sobrepostas e acompanharem um
desenvolvimento urbano “espontâneo” – podemos lembrar-nos do PEU como um exemplo
bem acabado dessa lógica.
A coisa pública e o interesse privado acabam por se confundir, as linhas que os
separam tornam-se cada vez mais tortas e apagadas, impossível dizer onde começam e
terminam. Em outro viés, pode ser dito que mesmo o poder público entra em contradição
com os seus próprios marcos jurídicos materializados nos seus pretéritos instrumentos
regulatórios formais de base funcionalista opostos aos novos Planos Estratégicos. A
situação torna-se ainda mais confusa quando a complementação do Plano Diretor, o PEU,
também tem certo nível de flexibilidade, se não de direito, de fato. É o PEU, o instrumento
formal, coadunado com o Plano Estratégico, o não formal, a conjunção mais bem
formatada para atender as demandas de uma nova configuração do poder na cidade do
Rio de Janeiro que, partilhada entre poder público e privado, toma as rédeas dos
instrumentos ao seu dispor na gestão da cidade-empresa. É essa parceria de (não)
instrumentos que altera as leis de uso do solo e zoneamento, que acompanha o
desenvolvimento urbano “espontâneo” permitindo a validação de padrões de ocupação
pretéritos que estejam alinhados com interesses privados na produção do espaço e torna
a cidade mais ágil, competitiva e flexível atendendo aos anseios transescalares.
Essas constituições de relações de poder abarcam transformações e redefinições
tanto da cidade quanto do poder local. Os conceitos de cidade, de poder público e de
governo da cidade

são investidos de novos significados, numa operação que tem como um dos
esteios a transformação da cidade em sujeito/ator econômico [...] e, mais
especificamente, num sujeito/ator cuja natureza mercantil e empresarial instaura o
poder de uma nova lógica, com a qual pretende se legitimar a apropriação direta
dos instrumentos de poder público por grupos empresariais privados (VAINER,
2000a, p.89).

O papel do Estado é oferecer todo tipo de suporte material ao mercado privado,


alinhando a cidade à disciplina e à lógica do desenvolvimento capitalista como espaço,
objeto e sujeito de negócios (HARVEY, 2004; VAINER, 2000a e 2000b). Ainda que possa
ser dito se tratar de uma afirmação apenas parcial da realidade e, por isso, incompleta –
caso sigamos a ideia de Souza (2010), podemos dizer que o Estado não é neutro. Age
conforme os interesses dominantes em cada uma das esferas que se faz presente,
federal, estadual e municipal, ao criar e regulamentar instrumentos normativos sobre a
política urbana visando à produção e o uso do solo. Esta parcialidade tem uma
consequência grave: a desigualdade espacial de sua atuação. Permite que pontos
específicos sejam dotados com equipamentos e serviços que auxiliam na consolidação e
valorização desses espaços em detrimento de setores sócio espaciais de menor
capacidade financeira enquanto privilegia aqueles participantes do topo da pirâmide
social, muitas vezes atendendo demandas ou, porque não dizer, agindo em conjunto com
agentes específicos da produção espacial. Em outras palavras, o desinvestimento é na
verdade a seletivização de investimentos que passam a ser direcionados para áreas
específicas onde há a possibilidade de retorno financeiro e/ou que viabilizem o
empresariamento e empreendedorismo (AMENDÔLA, 2002). O próprio planejamento
deixa de seguir o padrão funcionalista, não pensa a cidade como um todo, mas nas suas
partes. É essa redução da escala do planejamento que Bienenstein (2009, p.14) trata
como a fragmentação das formas de planejamento da cidade.
Esta atuação desequilibrada, fragmentada, seletivizada, que é concentrada em
porções específicas tem como objetivo criar e manter através da política estatal
"condições de realização e reprodução da sociedade capitalista, isto é, condições que
viabilizem o processo de acumulação e a reprodução das classes sociais e suas frações”
(CORRÊA, 2002, p.26) em consonância com o quadro geral e atual do sistema capitalista
mundial. A fragmentação das políticas públicas urbanas leva a modificações específicas
em cada recorte.
Com o discurso de panaceia da crise da cidade, o Plano Estratégico surge como
um instrumento imprescindível, facilitador do engendramento dessas novas maneiras de
produzir o espaço de maneira ágil, competitiva e flexível. É o marco da passagem do
administrativismo para o empreendedorismo urbano. O empreendedorismo urbano tem
por uma de suas demandas principais a atração de investimentos, financiadores externos
dentro da noção da parceria público-privada substanciada no alinhamento de interesses
locais coadunados com os poderes públicos locais. Esse tem como intuito a produção de
novos espaços de consumo (OLIVEIRA, 2007). A cidade é então transformada e disposta
como uma vitrine onde estariam em exposição constante os seus produtos
(equipamentos, serviços e bens) para aqueles que queiram e possam usufruí-los.
O Rio Cidade foi um projeto de intervenção urbanística desdobrado dessa nova
abordagem do planejamento da cidade. É parte de um conjunto de ações e projetos que
compuseram o primeiro Plano Estratégico da Cidade do Rio de Janeiro “Rio Sempre Rio”
fruto da importação de um novo modelo de intervenção urbana. O Rio Cidade não ganha
destaque dentre os 159 projetos presentes do Plano Estratégico e é um dentre os 25
projetos da estratégia Rio Acolhedor que tem como objetivo a melhoria da relação da
cidade com seu entorno, constituindo-se numa exigência de qualidade do meio ambiente
urbano necessário para conseguir que o Rio de Janeiro seja identificado como uma
cidade receptiva, funcional e capaz de promover e ampliar a convivência e a vizinhança
(OLIVEIRA, 2008, p.5).
O Rio Cidade consistiu num conjunto de intervenções pontuais de natureza
urbanística e de paisagismo modificando a imagem e valorizando um conjunto de bairros
na cidade do Rio de Janeiro, tendo um papel importante na requalificação e diferenciação
dos espaços. O discurso oficial da Prefeitura do Rio de Janeiro através de sua Secretaria
de Obras afirma o caráter valorizador e modernizante do programa que atuou através de
uma série de intervenções nos trechos principais dos bairros, onde há maior incremento
comercial e circulação de veículos e pedestres.
Qual é o real objetivo do projeto? Se o objetivo for a valorização desses eixos
comerciais, tal valorização não levaria a excluir certos estratos mais pauperizados da
utilização desses espaços? Como a intervenção nos eixos de caráter comercial pode
recuperar e requalificar a vida dos moradores se o investimento recai nas áreas nas quais
não há contrapartida social?
É um discurso pseudossocial escamoteando o viés neoliberal que é a real
ideologia conectada ao Plano Estratégico e ao Rio Cidade. Tal processo modernizante
pode ser visto como resultado das forças centrífugas que causam a desagregação do
espaço ao forçar a busca por seus elementos fora do local é o elemento externo, a ordem
global personificada no plano estratégico, que dita as políticas públicas urbanas,
formando verticalidades. O espaço da cidade está hierarquicamente subordinado a lógica
internacional da produção que usufruirá desse lugar e o próprio lugar que se apropria
dessas forças globais para implantar uma agenda própria (Santos, 2009).
Em Campo Grande, o projeto foi materializado na Rua Coronel Agostinho, o
―Calçadão de Campo Grande, e suas proximidades. Segundo Oliveira (2008) o contraste
causado pela qualificação foi grande até mesmo com bairros vizinhos que não receberam
o Rio Cidade. Sobre a diferenciação interna repotencializada pelo programa, Oliveira
agrega informação ao verificar que é visível o contraste entre aquelas [ruas] reformadas
pelo projeto e as demais. As ruas que sofreram a intervenção tiveram uma mudança
significativa e, além dos recursos urbanísticos, foram dotadas de novas galerias pluviais,
nova iluminação, arborização, pavimentação de calçadas, dutos para as redes telefônica
e elétrica, novos coletores de lixo e telefones públicos, etc. Estes benefícios, no entanto,
não se estenderam ao conjunto do bairro, reforçando-se bastante, dessa forma, uma
diferenciação preexistente, pois as ruas escolhidas para o Rio Cidade já se destacavam
pela concentração do comércio local e serviços. Portanto, houve um reforço com o projeto
das centralidades já existentes.
O parágrafo anterior reafirma a natureza neoliberal impregnada na política urbana
que requalifica e dá tratamento diferenciado a um recorte no interior do próprio bairro em
detrimento de outros produzindo, ou no caso de Campo Grande, amplificando uma
diferenciação interna, um desenvolvimento desigual entre as partes do bairro através da
acupuntura urbana que, em teoria, deveria causar ondas propagadoras por todo o tecido
urbano contíguo. De qualquer maneira, a ação do Rio Cidade torna nítida a agudização
de uma tendência pretérita de dualização centro-periferia na escala do bairro.
Oliveira (2008) destaca que esse programa atuava numa escala de abrangência
espacial não convencional, pois a intervenção alcançava bairros periféricos na Zona Norte
e Oeste, áreas raramente contempladas com investimento na sua requalificação. Tal
abrangência espacial do projeto chama a atenção de Oliveira, pois o espaço, como
apontar o autor, é condicionante social, aquilo que (re)produz os padrões sociais vigentes,
buscando manter e perpetuá-los. Logo, se há uma política estatal de qualificação de
bairros periféricos, há uma vontade e intencionalidade de conferi-los de novos significados
e, principalmente, maior importância no cenário municipal.
A intenção era a (re)valorização e (re)afirmação desses bairros como centralidades,
centros comerciais importantes na estrutura citadina, controlando o acesso, blindando as
áreas com potencial de valor de troca sob o discurso da recuperação dos espaços
públicos, da regeneração do caos instalado. Como confirma Pulici (2006), os bairros
selecionados estavam em processo de deterioração e uma das ações principais era
transformá-los em polos de atração para as áreas e bairros imediatamente próximos.
Assim, ao revitalizá-los recuperariam ao mesmo tempo os planos comerciais e
residenciais destes bairros e ajudaria no desafogo do já congestionado centro.
Como observado por Barata (2009) percebe-se claramente a (re)criação de novos
espaços de consumo e atividades, novas velhas centralidades, dentro do espaço da
cidade. Com isso, é proporcionado ao mercado imobiliário a retomada das condições
necessárias para a implantação de seus empreendimentos voltados para um grupo
específico do estrato social e que terá um impacto evidente no mercado
campograndense.
Coincidindo com a realização do Rio Cidade e a (re) valorização do espaço
campograndense, em 1995 ocorre a retomada do financiamento da CEF (Caixa
Econômica Federal) para o subsídio das políticas habitacionais (LAGO, 2000). A
coincidência da reativação dessas linhas de financiamento no mesmo período do Rio
Cidade é algo a ser considerado, principalmente o seu rebatimento espacial. A política de
concessão de crédito da CEF, da década de 1990, privilegiava candidatos a adquirentes
da classe média, com capacidade de endividamento comprovada pela renda. Essas
normas de concessão de crédito acabam por concentrar espacialmente essa população
com boa capacidade de endividamento, em pontos determinados do espaço urbano
carioca, e campograndense, atendidos por empreendimentos financiados pelas mesmas
políticas de habitação. Afinal, no espaço campograndense a atuação das linhas de
financiamento da CEF voltadas para a construção dos empreendimentos é grandiosa,
estando presente em quase a totalidade da produção imobiliária residencial.Podemos
afirmar que são os programas de financiamento da CEF (Caixa Econômica Federal) que
permitem o surgimento de novas incorporações imobiliárias e, principalmente, da venda
das mesmas para os estratos médios (idem). A intensificação da produção de
condomínios e conjuntos na periferia ao longo da segunda metade dos anos 90 está
diretamente relacionada à retomada dos programas de financiamento pela CEF.

Referências:
AMENDOLA, Mônica. O ordenamento urbano carioca sob a ótica do plano estratégico de
cidades. Revista geo-paisagem ( on line ). Vol. 1, número 2, 2002.

BARATA, Paulo Henrique Araujo. A Expansão do Mercado Imobiliário na cidade do Rio de


Janeiro: A Dinâmica Socioespacial Campograndense. 69 f. Monografia (Especialização
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