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Desertificação no Nordeste:
subsídios para a formulação
de políticas públicas
MISSÃO
Produzir, articular e
disseminar conhecimento
para aperfeiçoar as políticas
públicas e contribuir para o
planejamento do
desenvolvimento brasileiro
Eduardo A. C. Grcia
Governo Federal
Ministro de Estado Extraordinário de Assusntos
Estratégicos – Roberto Mangabeira Unger
Secretaria de Assuntos Estratégicos
Ipea Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
Presidente
Márcio Pochmann
Diretor de Administra e Finanças
Fernand Fewrreira
Diretor de Assuntos Macroeconômicos
João Sicsú
Diretor de Estudos Sociais
Jorge Abrahão de Castro
Diretora de Estudos Regionais e Urbanos
Liana Maria da Frota Carleial
Diretor de Estudos Setoriais
Márcio Wohlers de Almeida
Diretor de Cooperação e Desenvolvimento
Márcio Lisboa Theodoro
Chefe de Gabinete
Persío Marco Antônio Davison
Secretário Exewcutivo do Conselho Editorial
Daniel Castro
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Desertificação no Nordeste: subsídios para a formulação de políticas públicas
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO 1
2 DESENVOLVIMENTO 11
2.1 Conceitos e Contextualizações 14
2.1.1 Desertificação: o problema central 15
2.1.2 Combate à desertificação 29
2.1.3 Degradação de recursos da terra 37
2.1.4 Desenvolvimento sustentável 39
2.1.5 Convivência com a seca: ações integradas em planos 49
2.1.6 Erosão dos solos 57
2.1.7 Conservação e manejo integrado de ambientes e recursos naturais 61
2.1.8 Agricultura: destaque para a sustentabilidade agrícola 62
2.1.9 Participação e ação solidária da comunidade no controle da desertificação e
convívio com a seca 65
2.1.10 Educação ambiental e capacitação para o planejamento e gestão 67
2.1.11 Cenários e estudos prospectivos 68
2.1.12 Políticas públicas para o combate à desertificação e comv[ivio com a seca 74
2.2 O Problema da Desertificação 57
2.3 O Objetivos e Metas 86
2.4 Procedimentos, Técnicas e Métodos paea o Controle da Derertificaçõa e
Convívio com a Seca 94
2.4.1 Fontes de Dados e Informações 98
2.4.2 Aspectos Metodológicos Gerais 99
2.4.2.1 Técnicas e métodos de síntese e de análise de dados 100
2.4.2.2 Síntese e análise de agrupamento de dados 102
2.4.2.2.1 Séries temporais 104
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2.4.2.2.2 Relações entre variáveis que definem tanto o problema da desertificação como
aspectos do controle 105
2.5 Principais Resultados: Discussão 108
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Desertificação no Nordeste: subsídios para a formulação de políticas públicas
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 “Trilha” da degradação que leva a desertificação 18
Figura 2 Elementos de um plano de combate à desertificação indicados pela
Convenção das Nações Unidas de Combate à desertificação 24
Figura 3 Relações entre desertificação (fenômeno local), mudança climática
(fenômeno regional e global) e perda - degradação da biodiversidade (processo
local, regional e global) 27
Figura 4 Ciclos da degradação da terra 38
Figura 5 Ilustração de cinco dimensões em dois cenários: presente e ffuturo 43
Figura 6 Cisternas do semiárido 51
Figura 7 Cistrenas de placas pré-moldadas 52
Figura 8 Tipos frequentes de erosões dos solos no semiárido e Planos Nacionais de
Combate à Desertificação 59
Figura 9 Ciclos simplificados de políticas públicas no combate à desertificação 76
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de taxas ( ) 81
Figura 15 Exemplos de relações de fatores, naturais e antrópicos, de degradação
ambiental, com indicações de taxas ( ) em diferentes períodos (t; t - i; t + j
etc.) 82
Figura 16 Indicações de causas e correspondentes efeitos no problema de
desertificação 83
Figura 17 Ilustração do controle de causas e de seus efeitos que evitam a
desertificação 91
Figura 18 Causas e sinais de degradação na atividade pecuária: sistema de pastejo 92
Figura 19 Processos naturais (gestão integral) e processos antrópicos (conservação)
no controle da desertificação e mitigação – convívio com a seca 93
Figura 20 Processo de desertificação e exemplos de indicadores desse processo 107
Figura 21 Política de informação: relações entre dado, variável, indicador e índice 108
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Desertificação no Nordeste: subsídios para a formulação de políticas públicas
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 Sequência e inter-relacionamento de componentes em abordagem
sistêmica 22
Quadro 2 Pontos de reflexão que poderão auxiliar a definição de ações e estratégias
em um plano ou projeto de combate à desertificação 32
Quadro 3 Fatores, condições e possíveis contribuições que determinam a erosão dos
solos 60
Quadro 4 Elementos do conceito de conservação, isto é, utilização reacional 63
Quadro 5 Tipos de cenários que podem ser utilizados para auxiliar a elaboração de
um plano de combate à desertificação e mitigação dos efeitos da seca no
Nordeste 72
Quadro 6 Possíveis cenários sobre um futuro esperado sem redução das emissões de
CO2 à atmosfera 73
Quadro 6 Classificação das terras susceptíveis a desertificação de acordo com o
índice de aridez e grau de susceptibilidade à erosão 59
Quadro 7 Níveis de degradação por tipos de solos no Nordeste. 1995 75
Quadro 8 Escala de inter-relacionamentos forte (f), moderado (m) e leve (l) entre
variáveis 102
Quadro 9 Exemplo de indicadores e de índice da desertificação e convivência com
a seca 110
Quadro 10 Indicadores descritivos e índice da desertificação e convivência com a
seca 113
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LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Clima, índice de aridez e terras afetadas (mil km2) pela desertificação nos
continentes 39
Tabela 2 Núcleos de desertificação na Região Nordeste. 1998 64
Tabela 3 Número de municípios compreendidos pelo semi—árido brasileiro
segundo áreas delimitadas pelo Polígono das Secas (traço verde) e Região
Semiárido do FNE (traço – pontilhado – azul) 65
Tabela 4 Estados do Nordeste com áreas susceptíveis à desertificação. 2004 67
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Desertificação no Nordeste: subsídios para a formulação de políticas públicas
1 INTRODUÇÃO
mbientes e recursos naturais no mundo se encontravam, no final do século XX,
A ameaçados, muitos com incertezas e outros em riscos de processos de degradações e
perdas de suas funções, atributos e capacidades como as de produção e sustentação à
vida. Por vezes e em certos locais, as situações eram de deteriorações de estruturas, inter-
relações e interdependências ecossistêmicas que afetavam a qualidade e quantidade dos
recursos da terra e, como resultados desses impactos negativos, comprometiam as
condições naturais para se recomporem de intervenções humanas e continuarem oferecendo
bens, serviços e informações para o desenvolvimento.
Eram situações que ocorriam (continuam ocorrendo no início do novo milênio) por
causa de manejos inadequados e excessivos usos e consumos, além da capacidade de
suporte de ecossistemas para fornecer esses bens e tolerar-assimilar poluições-rejeitos,
impostos pelos crescimentos da população e de suas necessidades sem reconhecimentos de,
p.ex., a capacidade e limites dos ecossistemas. Crescimentos atendidos sem critérios físicos
e socioeconômicos, os adequados, como os técnico-científicos de conservação e manejo e
com notáveis incompatibilidades com a preservação e proteção de fontes, reservas, ciclos e
processos naturais. Processos que respondem por fluxos produtivos, por excedentes
econômicos, que, ao não serem atendidas as condições de usos dessas fontes e respeitados
os limites de suporte determinam crescimentos insustentáveis.
Os equilíbrios instáveis e, ainda, os desequilíbrios persistentes (romperam-se
equilíbrios de dinâmicas de forças em tensão pelo esgotamento do leque de realizações)
entre necessidades (expressões “incontroláveis” de desejos e demandas humanas) de
consumos desses bens e serviços ambientais em aceleradas expansões e disponibilidades
(expressões naturais que condicionam, deveriam condicionar, excedentes) de fontes,
reservas – estoques e ciclos naturais para manterem os fluxos desses bens e serviços,
constantes ou decrescentes, geravam incertezas quanto ao futuro de ambientes e da biota,
inclusive quanto ao futuro do homem no planeta, com 1,02 bilhões de subnutridos, segundo
dados da FAO (2009).
Tais desequilíbrios formalizam novas “ordens” (desordens) de ambientes e sistemas
naturais cada vez mais empobrecidos; essa formalização vem ocorrendo pela trilha da
desertificação que acentua a escassez de recursos naturais pelo consumo irresponsável;
provoca desastres naturais como a erosão de solos e biológica; e gera como conflitos como
os de posse e uso desses recursos.
Os ambientes e recursos naturais, i no início do novo milênio, continuam sendo
submetidos a crescentes pressões e em processos elevados e acelerados de degradações,
comprometendo ou agravando a continuidade de atendimentos de necessidades que passam,
com maior frequência, extensão e intensidade, a serem insatisfeitas para uns e
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América Latina, Caribe e África para a Luta contra a Desertificação, em Santo Domingo,
jun. 2007, destacou-se a notável falta de conscientização de lideres mundiais no combate a
desertificação como parte do combate ao problema da pobreza. Na 1ª. Reunião do CRI /
CCD realizada em Roma, em 2002, concluiu-se que a Região Latino-americana
apresentava severos processos de desertificação não percebidos realmente por tomadores de
decisão nem a sociedade.
Pelas posições conflitantes e a pouca percepção do problema da desertificação pode-
se concluir que esses líderes não acordaram o necessário, para o fato de a desertificação ser
um problema global, com graves conseqüências para a segurança de ecossistemas, a
estabilidade socioeconômica e o desenvolvimento sustentável em níveis nacional e local.
No acordaram para o fato de efeitos de a desertificação, o aquecimento global e a perda da
diversidade biológica não se restringem às terras secas, mas afetam a todos.
Segundo a Conferência Internacional da INTECOL sobre zonas úmidas, realizada em
Cuiabá, em 2008, há evidências do impacto negativo do aquecimento global na
desertificação. Se essas terras úmidas continuarem a secar o efeito será catastrófico: grande
quantidade de carbono, em torno de 40 t/ha/ano, será liberada na atmosfera. Com isso se
terão consideráveis perdas da capacidade de reserva, de regulação e de filtração; são
contribuições significativas e em acelerados processos de fortalecimentos para a
desertificação.
A “saarização” do Nordeste e os seus expansivos núcleos de desertificação afetam o
semiárido; uma região que não pode ser resumida às variáveis como clima, água, solos e
vegetação, por certo especiais, mas, deverá compreender comunidades em interações com o
meio; as expressões artísticas e socioculturais, a religião e aspectos político-institucionais
com feições, por vezes particulares, de identidade que retratam e interagem com esse
ambiente.
É nesse contexto abrangente e de múltiplas, complexas e dinâmicas interações de
elementos e componentes e, quanto possível, devidamente caracterizados que se devem
discutir, acordar, definir e implementar políticas e planos para o combate a desertificação e
convívio com a seca, exigindo-se, nestes instrumentos, a consistência e legitimidade, pela
coerência de estratégias e ações com os elementos e componentes e a participação efetiva
da comunidade devidamente informada - conscientizada. A condição sine qua non é
conhecer esses elementos e componentes, integrá-los no nível regional e traduzi-los em
políticas viabilizadas em diversas dimensões e instâncias.
Nesse contexto, definem-se diagnósticos, estudos e o propósito do Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada, Ipea, para auxiliar a “garimpagem” de dados e informações
que permitam ter o conhecimento da realidade do semiárido e sintetizá-lo em diretrizes,
critérios e instrumentos de políticas públicas. Este documento é parte inicial desse
propósito.
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2 DESENVOLVIMENTO
nível avançado e crítico de desertificação, na transição para o novo milênio, era um
O dos mais graves problemas do meio ambiente, tanto em escala mundial como regional.
Um problema preeminente, com seus correspondentes desafios, capaz de superar ou de
ameaçar superar ganhos do desenvolvimento e desestabilizar sociedades por afetar, de
forma grave, por vezes irreversível, zonas e áreas de mais de 110 países em todos os
continentes e mais de 1,2 bilhões de pessoas, classificadas como pobres, dentro de um
contingente de aproximadamente de 2,0 bilhões de pessoas que vivem em terras secas,
segundo informações do secretário das Nações Unidas, Ban Ki-Moon (informe na 1ª.
reunião de cientistas da Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação,
UNCCD, em Buenos Aires, set. 23 de 2009).
Um processo de degradação em terras férteis que, conforme dados das Nações
Unidas/ UNESCO, provocou perdas estimadas em 24 bilhões de toneladas de solos férteis
por anos, durante as duas últimas décadas, afetando em torno de um terço do total das terras
do planeta.
A desertificação é um fenômeno que se refere a um processo de mudança ou, segundo
outro conceito, o resultado final de processos de mudanças que afeta tanto países e regiões
desenvolvidas como países e regiões em desenvolvimento, com variações (escalas e
intensidade) nas transformações de florestas nativas com biodiversidade por vezes não
conhecida e em geral não-valorizada, de matas e terras com potencial produtivo, de solos
férteis e recursos hídricos com qualidade em sistemas simplificados com reduzida ou sem
diversidade biológica, em terras inférteis e recursos hídricos poluídos e reduzidos que
perderam seu potencial econômico e se orientam para a desertificação. Transformações
com elevados passivos ambientais, em especial, os passivos decorrentes da artificialização
de ecossistemas em zonas secas, frágeis e facilmente desertificadas. Um fenômeno
destrutivo de riquezas potenciais e de ativos naturais dos recursos da terra.
A desertificação nesses níveis e escalas de extensões e perdas, por vezes
irrecuperáveis, deveria ensejar (uma atitude racional, diante o desafio) uma ação conjunta e
integrada de todos e em todos os níveis, com programas e planos propostos, discutidos e
legitimados por todos, comunidades, governos e setores públicos e privado. Planos e
políticas devidamente orientadas para gerar resultados com efetividade (proporcional ao
empenho na preparação e desenvolução) no combate à desertificação e amenização dos
efeitos das secas em comunidades vulneráveis de terras secas; aquelas que abrigam os mais
pobres, os mais vulneráveis e os de menores capacidades e recursos para o combate, porem,
os que carregam o “peso” de mudanças dessas transformações.
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áridas, semiáridas e subúmidas secas, sob pressão antrópica e formas de uso e manejo
inadequados, sejam, com relativa facilidade e notável rapidez, áreas desertificadas no
mundo, em aproximadamente 22,0% das terras sujeitas a esse processo.
Os países em processo de desenvolvimento e mais afetados pela pobreza e fome,
segundo o Informe do Desenvolvimento Mundial do Banco Mundial para 2010,
afrontam 75,0 a 80,0% dos danos potenciais das mudanças climáticas.
No caso do Nordeste, tais mudanças, de acordo com Magalhães (2007), poderão
representar impactos como decréscimos na disponibilidade de água, substituição da
vegetação nativa por outras típicas de zonas áridas, terras agricultáveis sujeitas à
desertificação, salinização e aumentos de fatores que levam à redução na capacidade de
suporte para manter a população, mais incertezas para a agricultura de sequeiro e crises
sociais devidas às secas mais frequentes e severas, entre outros.
O estudo da FAO Avaliação da degradação do solo em zonas áridas, de 2008,
financiado por Global Environment Facility, revela que a principal causa da degradação do
solo é a má gestão da terra, a má gestão dos recursos da terra. Essa causa se destaca pelo
fato de as terras secas serem responsáveis por aproximadamente 22,0% da produção de
alimentos do mundo. São terras com riscos de desertificação em aproximadamente 33,0%
da superfície total (51,72 milhões de km2) e 70,00% de todas as terras das zonas áridas.
A evidência do impacto da desertificação, junto com a difusão da pobreza, é a
degradação de aproximadamente 3,3 milhões de km2 da área total de campo: 73,0% com
baixa capacidade de sobrevivência; 47,0% de queda na fertilidade dos solos de áreas secas;
e 30,0% de áreas secas com alto potencial de irrigação e alta densidade demográfica. Parte
da evidência dos efeitos negativos da desertificação está na perda de cerca de 6,0 mil km2
por causa do sobrepastoreio e da salinização de solos por irrigação com praticas e
tecnologias impróprias às condições locais e usos intensivos dos recursos da terra, além da
capacidade de suporte de ecossistemas e manejos, portanto, inadequados às realidades
locais.
No Brasil, são terras que correspondem a aproximadamente 15,7% da superfície total
do território, com várias categorias de susceptibilidade, tais como: muito alta (24,3% da
área total susceptível de 980,7 mil km2); alta (39,2% do total da área susceptível; áreas
áridas e semiáridas) e moderada (36,5% da área total susceptível) (PROGRAMA DE
COMBATE À DESERTIFICAÇÃO E MITIGAÇÃO DOS EFEITOS DA SECA. IICA,
2008).
É oportuno esclarecer que as áreas susceptíveis à degradação dos solos, dos recursos
hídricos, da vegetação e biodiversidade e à redução da qualidade de vida de populações
afetadas pelo fenômeno, não se limitam às regiões semiáridas ou subúmidas secas do
Nordeste. Têm-se registros e, por vezes com melhores avaliações desses processos
negativos, em estados como os de Rio Grande do Sul, Paraná, Minas Gerais, São Paulo e
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saúde educação
Dinâmica
“para expressar a regressão da selva equatorial africana pelo corte abusivo, incêndios e roças para a
transformação em campos de cultivo e pastiçais, o resultado dessa prática não era outro senão a exposição
do solo, a erosão hídrica, eólica e conversão de terras biologicamente produtivas em desertos”
(AUBRAVILLE, citado por CAVALCANTI, COUTINHO E SELVA, 2006).
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maiores secas. Essas variações, entre outros, são manifestações notáveis que aparecem na
África e na América Latina (NOBRES, 2008).
Entretanto, por “conveniências” e acomodações com viés, de determinados setores e
países e pelas implicações que se depreendem com a internalização de passivos ambientais
em contabilidades públicas e privadas desses atores, são “fatos, dados e projeções”
questionáveis e até “rejeitáveis”, em função dessas “conveniências” e acomodações, apesar
da polêmica ter sido “aparentemente” resolvida quando aprovada a Agenda 21 e acordada
a sua implementação na Convenção das Nações Unidas de Combate à
Desertificação.
As Nações Unidas, mediante suas convenções que pactuam, por acordos, ações e
estratégias de combate à desertificação, e os países ricos e desenvolvidos, através de suas
representações econômicas e políticas nesses fóruns, respondem com grande defasagem (à
despeito de fatos e evidências das consequências da desertificação no econômico, no social
e no ambiental) e se “recusam” em acatar compromissos e a se comprometerem a
alcançarem metas que possam reduzir causas como as de mudanças climáticas, de perdas da
biodiversidade e das desertificações ambiental e humana.
Acrescenta-se o fato de determinados acordos e mercados internacionais estimularem
a sobre-exploração de recursos da terra que levam ou favorecem à desertificação.
AÇÕES
Elaborar e implementar um programa de ação
nacional de combate à desertificação, com a
participação da população e de comunidades
OBJETIVOS (...), com parcerias, cooperações e
coordenações.
Combater a desertificação
e os efeitos da seca, em Um programa com flexibilidade para se
abordagens consistentes ajustar às mudanças, com ênfase em
com a Agenda 21 medidas preventivas e com possibilidades
de revisões periódicas.
PROBLEMA
Identificar fatores contri- COMBATE À
buintes * à desertificação e DESERTIFICAÇÃO E AOS
definir-especificar EFEITOS DE SECAS
obrigações ** dos
envolvidos (…).
RECOMENDA xxx
ABORDAGEM
Recomenda a criação de
sistemas de alerta precoce Integrada [sistêmica], considerando
e a preparação da aspectos físicos, biológicos e
sociedade com planos de socioeconômicos do problema para
contingências para lidar acenar nas ações de solução.
com a seca. Inclusão do
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possível (incertezas), provocará conseqüências negativas para todos. Por isso, mesmo
com incertezas, é preciso construir cenários e fazer projeções para planejar e agir no
combate à desertificação: durante os processos, ações e estratégias do combate,
poderão ser feitos ajustes e correções necessárias, baseadas em novos dados e
evidências.
e) Os relacionamentos, com fieis e consistentes indicadores, de fatores naturais (objeto
de gestão integrada) e antrópicos (objetos de conservação e manejo integrado) é,
também, parte da desertificação. Gerenciar esses fatores implica conhecê-los e nessa
tarefa é destacado o papel do Ipea para, p.ex., socializar evidencias empíricas que
foram fortalecidas nos últimos anos acerca de mudanças climáticas pela acumulação
de GEE provocada por atividades humanas e com prováveis efeitos na elevação de
temperatura, alteração do sistema climático com diversos impactos no Nordeste: na
agricultura, com queda na produtividade; em reservas de água, com redução; na
biodiversidade, com a extinção ou ameaça de extinção de espécies; e na saúde
humana, com danos e riscos pelo aumento da incidência de doenças efeitos e
relacionamentos importantes.
O relatório do IPCC (2007) projetou para a América Latina alguns impactos, tais
como: aumentos de temperatura e decréscimo associado de água no solo, com substituição
da vegetação do semiárido por vegetação típica de zonas áridas; perda de biodiversidade
com a extinção de diversas espécies; mudanças no padrão de chuvas; e tendência de quedas
na produtividade de alguns cultivos agrícolas com implicações graves na segurança
alimentar em determinados setores da população.
O problema da desertificação pode ser muito mais complexo do que a ação
combinada de fatores naturais e antrópicos em determinada região ou local em desacordos
com a capacidade de suporte e com acentuados desequilíbrios em processos naturais.
Poderá compreender, de forma significativa, graves problemas ambientais, conforme se
ilustra na Figura 3, com o destaque de uns poucos exemplos de ciclos e interações. A
mudança climática e a desertificação são dois aspectos, complexos e estreitamente inter-
relacionados de um mesmo problema e tais fenômenos requerem ações e estratégias
combinadas para o controle. A mudança climática está associada à maior evapotranspiração
potencial (feito da elevação da temperatura) o que se traduz em “normais” de chuvas
menores e mais “erráticas” sua distribuição, aumento da área semiárida e avanço da mata
seca em áreas de Ceará e Bahia.
A desertificação ilustrada na Figura 3 com o processo de erosão dos solos, a perda
ou redução da diversidade biológica e a mudança climática são (cada um deles) grandes e
complexos problemas de um único fenômeno que, em estágios avançados, provoca a
desertificação humana. Um resultado “inicial” é a menor produtividade agrícola e pecuária
que pressiona para incorporar novas áreas da caatinga a serem desmatadas, queimadas,
erodidas para manter a renda. Desse ciclo, um é considerado:
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Desertificação
Mudança
Perda da
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Quadro 2 Pontos de reflexão que podem auxiliar a definição de ações e estratégias em um plano projeto
de combate à desertificação e convívio com a seca
PONTOS DESDOBRAMENTOS
Em seu meio sociocultural, econômico e ambiental; com a sua
Foco: o ser humano
história, perspectivas e possibilidades, dentro de contextos realistas.
- A implementação de programas de ação local e regional:
motivação para a participação.
O progresso, com - Necessidade de cooperação internacional e parceria: troca de
objetividade no foco, experiências e aporte de recursos financeiros.
depende de: - Participação plena: da mulher, do homem, de associações em
planos.
- Imprescindível engajamento da comunidade em políticas públicas.
Condições - Conhecer o problema por suas causas, efeitos e importâncias.
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Quais são as causas que devem ser colocadas em destaque em uma proposta de combate à
desertificação? As manifestações dessas causas, em níveis variáveis de região para região, podem ser
sintetizadas como segue:
a) Intensivos e indiscriminados desmatamentos feitos sem critérios técnicos nem opções
econômicas em áreas frágeis; práticas de queimadas constantes; e ocupação desordenada do solo, com
redução e/ou extinção de espécies da vegetação nativa, uma das formas do empobrecimento do solo e do
favorecimento da erosão.
b) Utilização de tecnologias agropecuárias, entre outras e para outros setores, inadequadas para as
condições do semiárido e uso abusivo na aplicação de agrotóxicos e praticas de irrigação que poluem
fontes de água e provocam salinizações nos solos.
c) Práticas tradicionais de uso e manejo inadequados dos recursos solo, água e vegetação; são,
com frequência, práticas associadas a um sistema de propriedade da terra concentrador de
benefícios e de arranjos produtivos com externalidades negativas, agravados pela existência
de secas periódicas.
d) Exploração intensiva (sobrepastoreio e cultivo excessivo ou sobre-exploração), além da
capacidade de suporte ambiental em áreas frágeis e de equilíbrios “considerados” instáveis;
na abordagem de sistema não se tem essas considerações, pois são equilíbrios que respondem
às estruturas e “idades” de seus processos de desenvolvimento determinantes de níveis de
resiliência.
Ecossistemas, no semiárido, apresentam baixa capacidade de suportar as perturbações
antrópicas e ambientais e de manter sua estrutura e padrão de comportamento e resposta
diante de mudanças das condições de equilíbrio. Não reconhecida essa capacidade é fator
contrário às ações e estratégias de combate da desertificação.
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sociedade e dos sistemas naturais aquele fenômeno no que se refere ao combate à desertificação”)
para auxiliar às comunidades no convívio com a seca, não por pretendidos e frustrados controles
diretos desse fenômeno natural, mas mediante ações que impeçam seu agravamento ao preservarem
equilíbrios ecológicos, matas ciliares preservadas e fontes de água conservadas, entre outras. Ações
que permitam “melhor” reconhecer e gerenciar esse fenômeno, inclusive com potencial de
oportunidades de fontes alternativas de energia. Ações que possibilitem amenizar seus efeitos,
tornando-os toleráveis, como é o caso da previsão da seca, dirigida, em parte, à redução da
vulnerabilidade, isto é, à diminuição do grau de susceptibilidade de sistemas físicos, biológicos e
socioeconômicos de comunidades não mais surpreendidas pela seca.
Pela avaliação de previsões de secas com a máxima confiabilidade possível e decorrente
implantação de ações (p.ex., emergenciais, transitórias e permanentes, segundo seja o caso) e seus
monitoramentos oportunos é possível, em tese, minimizar-se-ão danos de “secas anunciáveis”.
Gerar e divulgar informações de previsões sobre as características de secas, formas de proteção em
cada período do ano, mudanças de comportamento das comunidades, alternativas de produção e
consumo, entre outras, que possam estar contribuindo para efetivar o convívio com a seca.
O combate à desertificação, para que seja eficiente deve ter objetividade em seu foco,
consistência em suas ações propostas e desenvolvidas e efetividade nas estratégias, parcerias e
resultados como síntese e fruto da objetividade e efetividade. Isso significa:
a) Definir as vulnerabilidades, isto é, os níveis de susceptibilidades abióticas, bióticas e
socioeconômicas das zonas relacionadas com as práticas agrícolas de uso e manejo dos
recursos naturais; conhecer a capacidade de reorganizar, de regeneração dos ecossistemas
(resiliência) e de estrutura produtiva nesses ambientes.
Trata-se de um conhecimento básico para desenvolver ações de conservação com relações
simbióticas com as previsões / prognósticos do clima, com a recomposição de sistemas
hídricos e com a proteção da diversidade biológica.
É oportuno destacar o sentido de vulnerabilidade que, segundo Kasperson e Turner (2001),
quando associado aos riscos, perigos e danos, evidenciam fatores naturais e sociais e facilitam
a compreensão de interações entre o homem e o- ambiente.
Na especificação de indicadores para a sustentabilidade de unidades geoambientais, feita com
base no potencial e limitações de uso dos recursos naturais, em condições ecodinâmicas,
vulnerabilidades ambientais e compatibilidades de uso do solo, relacionam-se vários níveis de
sustentabilidade e vulnerabilidades a serem considerados, se necessário, em políticas e planos.
b) Entender, por diagnósticos e análises de causas, a lógica e racionalidade de ações, de
resultados e de padrões de pressões da agricultura e pecuária extensiva, da exploração
madeireira e com fins energéticos, da erosão dos solos, da concentração de recursos como
terra e hídricos por distorções estruturais e institucionais como as de posse desses recursos e
de arranjos capital–trabalho, entre outros aspectos, que agem sobre o meio ambiente e seus
recursos.
xl
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Eduardo A. C. Grcia
xlii
Desertificação no Nordeste: subsídios para a formulação de políticas públicas
de comunidades
perversos de estruturas como as indicadas
Usos-manejos inadequados
Tecnologias inapropriadas
na Figura 4. Degradação
Mudança climática
xliii
Figura 4 Ciclos da degradação da terra
Eduardo A. C. Grcia
Tabela 1 Clima, índice de aridez e terras afetadas (mil km2) pela desertificação nos continentes a
CLIMA ÍNDICE ÁFRICA ÁSIA AUSTRÁLIA EUROPA A.NORTE A. SUL
xliv
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a
Fonte. Atlas Mundial Times (1995).
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Eduardo A. C. Grcia
xlvi
Desertificação no Nordeste: subsídios para a formulação de políticas públicas
planos e programas no final da Figura 9). Portanto, um plano que depende, também, de outros
planos e, por sua vez, os condicionam.
O conceito original de desenvolvimento sustentável tem sido utilizado, com frequência, de
forma exagerada, com viés e, por vezes, com interpretações erradas, discriminadas e banalizadas
que o reduzem ou tornam “vazio” e objeto de críticas, tais como: incorreto, insustentável, utópico,
inútil, artificioso e capcioso. Um conceito, segundo tais enfoques, contraditório em seus termos
“desenvolvimento” fazer crescer no sentido econômico, de competição (concorrência) e
“sustentável” manter ou suportar, no sentido biológico como equilíbrio dinâmico de cooperação,
negando-se mutuamente. Um conceito, segundo outros críticos, com lógicas diferentes ao aduzir
como causa aquilo que é efeito; impreciso, incompossível e ambíguo, possibilitando seu uso no
discurso com objetivos e meios diferentes de países “desenvolvidos” e países “em
desenvolvimento”, propício, portanto, “para defender” interesses contrários à essência original
desse conceito.
São críticas nem sempre “sustentáveis” e/ou com parciais fundamentos e notáveis exageros,
propositadamente não-consideradas neste documento, admitindo-se a viabilidade de intenções da
ECO-92 ao aceitá-lo como um processo que “atenda [ao poder garantir: uma questão de
operacionalização] às necessidades presentes sem comprometer a possibilidade de que as gerações
futuras satisfazerem as suas próprias necessidades”; como a desenvolução ecologicamente
sustentável com um benefício para as futuras gerações, complementando-se, ao definí-lo para
atender às necessidades das presentes gerações: condição sine qua non para se chegar à futuras
gerações. Um conceito que não coloque a equidade intergeração por cima da equidade intra-
geração; sem sobrevalorizar a capacidade moralista para decidir nem subestimar a dinâmica que
tornariam assimétricas as situações intertemporais comparadas. Implícito nessa aceitação, parte da
operacionalização e contextualização do conceito, combinar-se-ão o crescimento de “fluxos”
possíveis com a preservação - proteção “melhorada” de “estoques”, reservas e ciclos naturais: é o
espaço da tecnologia “conveniente” (conservação) e internalizada no setor produtivo contribuinte
desse desenvolvimento.
Observe-se que tal resultado é uma condição necessária para, por um lado, interromper causas
de problemas como os da degradação dos recursos da terra e desertificaçãoes ambientais e humanas
e, pelo outro, não deixar nem eliminar oportunidades de riquezas naturais portadores de um futuro
imediato para o caso do Brasil. Um conceito formado por dois, - desenvolver e sustentar, ambos
complexos e em construções sistêmicas com relações interdependentes, básicas para criar e manter
comunidades sustentáveis.
Assim admitido e viabilizado, o conceito de desenvolvimento sustentável estará propiciando
melhorias na capacidade de ciclos e reservas que permitam continuar fornecendo bens e serviços
para o crescimento “responsável” e inclusivo; propiciando, também, equilíbrios dinâmicos para
atenderem às necessidades de atuais e futuras gerações; fluxos de bens e serviços devidamente
reconhecidos pelos mercados em seus valores reais como parte desse desenvolvimento. Esse
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Eduardo A. C. Grcia
Situação inicial
0% 100%
Ecológica Prejuízos sociais e
SA2 ambientais
SP1
SA1
P o l í t i c aSP2 0%
100%
100%
Social
0%
SS2
ST1
Situação Melhorada
SS1 Negociação-acordo
E s p a c i aST
l2
Imposição-
100% 0% regulamentação
SE2 SE1 100% Gestão-manejo
0%
Econômica Educação
Figura 5 Ilustração de cinco dimensões em dois cenários: presente e futuro
O próprio reconhecimento do valor de bens e serviços ambientais pelo mercado como parte
da desenvolução deverá contribuir para eliminar (ou reduzir) usos e consumos indevidos, excessivos
ou superfluos (desperdícios), em benefícios de gerações presentes e futuras. Parte desse
reconhecimento tem efeitos no monitoramento de equilíbrios que possam assegurar o atendimento
às necessidades disciplinadas na “otimização condicionada” às capacidades de suporte de uma
“função objetiva” com limitações impostas pelas dimensões que ali se integram, conjugam e
definem: a ecológica (pela capacidade de suporte), a social (pela inclusão), a econômica (pela
otimização) e a político-institucional (viável), entre outras.
O desenvolvimento sustentável pode ser visto (essa é a visão inicial neste documento:
críticas para adequá-la) e considerado como um conjunto harmônico e integrado–
complementar de processos que passam por sucessivas aproximações de atores definidos e
identificados em um espaço e período de tempo determinados; de negociações e
“confluências” (ou tolerâncias) de interesses desses atores, capaz de compreender, de
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Desertificação no Nordeste: subsídios para a formulação de políticas públicas
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Eduardo A. C. Grcia
índices de ganhos de empresas locais com substituição de mão-de-obra: y5, p5; etc. O
resultado dessas atividades econômica é dado por: SE1 = yi pi (i = 1, 2, 3, ... n),
considerada “alta” (de maximização de lucros), porém insustentável, devendo se
ajustar, ao recuar (flexa branca), para uma posição de otimização definida por SE2 =
y’i pi. Esse é o ponto esperado de equilíbrio que dependerá da efetividade de ações
e estratégias propostas e implementadas.
Mecanismos de mercado com a valorização – internalização de preços de bens e
serviços ambientais e com projeto como os de mecanismos de desenvolvimento limpo
(MDL) e de créditos de carbono poderão facilitar essa mudança. A efetividade na
aplicação de leis de proteção ambiental e de conservação e manejo poderão, também,
auxiliar esse ajuste conveniente para todos, inclusive para a própria dimensão
econômica: o empresário.
Que ponto poderia ser alcançado no período (x anos)? O indicado por SA2 e proposto
por estudos prospectivos e cenários traduzidos em planos.
Parte da sustentabilidade econômica com a otimização condicionada às limitações
“impostas” tem implicações em outras dimensões (ou se relaciona) como a
institucional e legal, agindo em estruturas, para o caso cnsiderado neste documento,
como as de posse da terra e acessibilidade social aos recursos hídricos.
É necessário considerar na sustentabilidade da dimensão econômica, entre outros
aspectos, a sensibilidade de limites do potencial de crescimento, de produção (de
produtividade), e a necessidade de disciplinamento do consumo - uso com base em
indicadores da capacidade de suporte ambiental, sem viés para a “quantidade” e o
“ter” quando se privilegia a maximização, a concentração e a exclusão social de
riquezas.
É preciso agilizar processos que possam potencializar o crescimento econômico ao
incorporar potencialidades de ambientes e recursos naturais. Um desses processos é o do
licenciamento ambiental mais ágil e consistente, portanto, necessariamente sustentado em
critérios. Deixar de incorporar um potencial ambiental em um projeto de crescimentos é
omitir um custo de oportunidade, com efeitos negativos ao retardar o desenvolvimento que
seria viabilizado ou agilizado por esse potencial.
O extremo, ao exagerar o disciplinar a atividade econômica com instrumentos
punitivos e impositivos poderá se traduzir em preservacionismo, sem considerar
potencialidades e possibilidades da extração de excedentes econômicos do
ecossistema, excludente, portanto, do crescimento e de melhorias sociais: uma forma
de desertificação antrópica. Mas o combate à desertificação com foco no ser humano
elimina, como hipótese, essa possibilidade e destaca a conservação e manejo de
recursos naturais em perspectivas como as da agricultura sustentável, agricultura
familiar e gestão integradas dos recursos da terra.
l
Desertificação no Nordeste: subsídios para a formulação de políticas públicas
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Eduardo A. C. Grcia
efeito de irrigação, “molhamento”: x8, p8; emissão de gases efeito estufa: x9, p9, etc.
O resultado define o estado de sustentabilidade inicial: SA1 = xi pi (i=1, 2, 3,... n).
Que ponto poderia ser atingido no período de (... anos: fase 2) agindo nos fatores
críticos? Esse ponto é indicado por SA2 = x’i pi e espera-se seja determinado pela
eficácia do controle dos fatores – causais que definem o “estado” inicial. São fatores
com importâncias relativas variáveis e com efeitos isolados ou combinados que o
planejador, gestão, formulador de políticas e planos deve conhecer e gerenciar.
É imprescindível considerar a conscientização social, fruto da educação e
capacitação, da fragilidade de sistemas naturais e dos efeitos antrópicos de atividades
sobre esses ecisistemas, sem a polarização de visões estreitas nem a intransigência do
preservacionismo, para que a efetividade os resultados obtidos sejam muito próximos
(ou ainda maiores) dos esperados quando se cenariza, para o futuro, em SA2 = xi pi.
É importante especificar possíveis formas de distribuição dos benefícios com as
melhorias provenientes da conservação e manejo, potencializadas pelas
sustentabilidades em outras dimensões, tais como: valorização (econômica) para
proteger; educação (social) para conservar; legislação (institucional – política) para
gerir; fortalecimento e integração rural – urbana (espacial) para desenvolver etc.
Deve-se acrescentar que na sustentabilidade, nesta dimensão, não há resíduos nem
desperdícios e a diversidade assegura a resiliência do sistema.
d) A político-institucional, de notável importância no tecido do processo de
desenvolvimento e de inexplicável omissão em ações e estratégias de planos
passados.
A sustentabilidade institucional - política, representa a efetividade de instrumentos de
planejamento e gestão e da participação – comprometimento das comunidades em
definições e execuções de planos como os de combate à desertificação.
Em que ponto do gráfico se encontra essa dimensão? Esse ponto é indicado por SP1 e
representa deficiências e ineficiências de instrumentos. Melhorias em estruturas como
as de posse de recursos e de instrumentos como os das políticas públicas permitirão
alcançar o estado SP2.
e) A sustentabilidade espacial determinada pela configuração rural – urbana mais
equilibrada e com função social de fatores como terra e água. Em que ponto da
Figura 5 se encontra essa dimensão? Em ST1 e representa desorganização da
ocupação territorial. Vários instrumentos são propostos para alcançar o nível ST2,
com destaque para o zoneamento econômico – ecológico para ordenar e priorizar a
ocupação.
Na ilustração da Figura 5 se destaca propositadamente o suporte técnico-científico e
operacional (baseado na racionalidade e pertinência de critérios ou padrões adequados à
realidade para proteger, produzir, consumir, prever – prognosticar, reciclar etc.). Mas,
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Desertificação no Nordeste: subsídios para a formulação de políticas públicas
outros fatores e condições de suporte são tão importantes ou mais notáveis para o
desenvolvimento, como são vontade e decisão política, os éticos e os princípios da
transparência (ver nota 11).
O conceito de desenvolvimento sustentável conforme sintetizado não permite, em
tese, posições intransigentes, egoístas e o predomínio de interesses de grupos sobre o bem-
estar coletivo. Por outro lado exige legislações e planos no concerto de dimensões para
espaços e condições que o determinam.
O exposto acima expressa certo otimismo, à despeito de fatores, condições e
estruturas negativas para a transformação e a construção do desenvolvimento, sem
necessariamente ser compelido pela conversão de problemas solucionáveis em calamidades
irreparáveis; de terras degradas transformadas em desertos; do disciplinar do crescimento
da polpulação e de suas atividades transformadas em desertificação humana.
Implícitos nos desdobramentos anteriores se têm outros conceitos como os de solidariedade e
ético com problemas, segundo Capra (2003), pois a economia global [que interfere na economia
regional] foi desenhada sem nehuma dimensão ética. Destaca-se o desafio de como adaptar-se de
um sistema baseado na ideia de crescimento ilimitado para uma outra que seja simultaneamente
sustentável no social e justa-equilibrada no econômico; um crescimento não-linear nem ilimitado,
mas qualitativo, como o aumento da complexidade e maturidade para se aperfeiçoar a qualidade de
vida, desmaterializando a economia.
Há lugar, no contexto da economia capitalista, para essa desmaterilaização? Provavelmente
sim, porque não são inerentes ao capitalismo moderno a expansão permanente de capital em
sistemas concentrados, a ampliação de mercados socialmente excludentes e a produção contínua e
crescente de bens e serviços sem comprometimento com as fontes.
A economia moderna, a economia que se integra, harmoniza e potencializa no
desenvolvimento sustentável não se sustenta em falsas necessidades, em desperdícios, em exclusão
social de benefícios (...).
O conceito de desenvolvimento sustentável e seu processo de criação endógeno e legítima,
para ser sustentado em uma região, não compreendem apenas problemas técnico-científicos físicos,
mas, também problemas político-institucionais com desdobramentos legais, sociais, culturais e
institucionais que colocam múltiplos e, com frequência, conflitantes interesses, objetivos, recursos
e possibilidades, ainda para situações específicas ou limitadas de um local ou região: um processo
de acordos cimentados em cada fase, de construção evolutiva. É o caso do semiárido, com espaços
geográficos diversos, dentro de arranjos que refletem desigualdades e situações complexas de
acomodações como as de estrutura de posse de recursos da terra (um processo histórico-cultural),
para poucos e de exclusão e miséria social para muitos.
No conceito, apesar dos desgastes e deturpações, há condições para criar novas
oportunidades e para que “todos” sejam capazes de optar (para uns, “ceder”; responsabilidade
social e para outros “aceitar”, ambos como preços da sustentabilidade: Figura 5) e escolher os
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Eduardo A. C. Grcia
melhores caminhos por meio do diálogo, da solidariedade. Nessa escolha se evidenciam fatores do
combate à desertificação e mitigação de efeitos das secas; vontade e decisão política para perceber
como agir com ecoeficiência; recursos necessários a oferecer para desenvolver com eficiência;
orientações, diretrizes e instrumentos, entre outras de políticas públicas, para solucionar conflitos
com eficácia, tanto os que resultam de violência explicita da marginalização, quanto de violência
implícita que discrimina e exclui. Por corolário, há espaços para acordar planos de sustentação
consistentes para o suporte ao desenvolvimento em uma região.
O desenvolvimento poderá compreender, em qualquer nível de abrangência, a combinação
de dotações de recursos naturais com a criação de aptidões modernas de conhecimento e tecnologia,
de capital humano e de instituições econômicas e públicas de qualidade-efetividade, sem que haja
superposição à ideia estática de dotação de recursos, de vantagens comparativas, mas
complementações e sinergias ao se definirem novas vantagens da competitividade. São
possibilidades a considerar no semiárido dotado de especiais recursos de seu bioma, a caatinga,
condições climáticas, reservas subterrâneas de água e, principalmente, de seus habitantes especiais
por sua cultura, vontade e perseverança.
Outro conceito importante a considerar nesta síntese é o da convivência com a seca em
planos que considerem esse fenômeno natural da região e que permitam minimizar, em níveis
toleráveis, seus efeitos, evidenciando-se, nessa minimização, o potencial da tecnologia.
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Desertificação no Nordeste: subsídios para a formulação de políticas públicas
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Desertificação no Nordeste: subsídios para a formulação de políticas públicas
pressupõem que a desertificação é um processo que pode aumentar o rigor das secas (D S) e,
dessa forma, concluem que combater a desertificação é evitar a mudança climática. Há aqueles que
associam as secas como causas da desertificação (S D) e, assim, gerenciá-las significaria impedir
a desertificação; entre outras posições.
Pelo exposto e para se ter uma orientação objetiva na formulação de um plano de
coexistência com a seca, é preciso diferenciar conceitos. O da desertificação, conforme
anteriormente apresentado e o da seca, de acordo com o que segue, sem admitir que sejam
definições necessariamente corretas e/ou de aceitações unânimes entre os cientistas, apenas
referências conceituais necessárias, claras e objetivas, para facilitar a comunicação e entendimento
da mensagem que se propõe neste documento.
O conceito de seca, como um fenômeno climático mais antigo e visível do que a
desertificação caracteriza-se por normais pluviométricas (ou outras fontes naturais de água)
insuficientes (em relação a um padrão) em uma determinada região e período de tempo. O conceito
compreende:
a) Seca meteorológica: precipitação abaixo das normais de precipitações pluviométricas
esperadas em uma região e para determinado período; como normais, refletem
comportamentos de longos períodos.
b) Seca hidrológica: níveis de rios e reservatórios abaixo de normais esperadas em pontos –
chaves de locais significativos em uma bacia hidrográfica e região para determinado período.
c) Seca agrícola: níveis de umidade do solo, supridos por diversas fontes naturais de água como
as superficiais, subterrâneas e meteóricas, insuficientes para atender demandas consuntivas,
conforme sejam as tipologias de cultivos e sistemas de produção.
d) Seca econômica: quando o déficit de água provoca a falta de bens e serviços em uma
determinada região e período, como os de dessedentação, alimentos e energia hidrelétrica
devido ao volume insuficiente, a “má” distribuição das chuvas, ao aumento no consumo de
água e ao mau gerenciamento dos recursos hídricos, entre outras causas desse déficit.
Os termos ou conceitos implícitos em abaixo, insuficiente e déficit qualificadores do
fenômeno das secas, ainda que não façam parte de abordagens sistêmicas, precisam, além de
referências para suas definições, (p.ex., as normais de longo prazo da região por período), de
indicadores para expressar esse fenômeno, sua severidade, xviii e relacioná-lo com diversos efeitos.
Essas expressões e relações são fundamentais em um plano de convivência com a seca; básicos para
a formulação, aplicação e monitoramento de políticas públicas. Por outro lado ou de forma
concomitante, é preciso entender os fatores que determinam (poderão determinar) essa convivência
em um contexto político-institucional, histórico, sociocultural, econômico e físico (ambiental ou
ecossistêmico) amplo e realista de um local e região.
São fatores, tais como: as medidas que devem ser consideradas e para quem devem ser
propostas; as condições de adoção dessas medidas o que significa auscultar aspectos socioculturais
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Eduardo A. C. Grcia
e históricos das comunidades vulneráveis e afetadas pelo fenômeno da seca; a procura da harmonia
entre as atividades econômicas e a proteção – preservação de fontes, de reservas, de ciclos em
ambientes do semiárido (INDICADORES e referências); as condições necessárias para se ter a
conservação – manejo de fluxos de bens e serviços ambientais e o que é preciso fazer para garanti-
las no local; as exigências de ações e estratégias cooperativas, multidisciplinares e multi-
institucionais, implícitas nessa convivência; e a especificação do que se busca em cada fase e é
possível alcançar em um plano estruturado e com visão de longo prazo. Nesse contexto há
importantes lições a serem devidamente estudadas e atualizadas para aplicá-las na formulação de
novos planos; uma dessas lições é a do Projeto Áridas.
O plano de convivência com a seca deve compreender ou prever o re-ordenamento de
espaços agro-econômicos do semiárido, com especificações baseadas em critérios e evidências de
fragilidades, limitações e potencialidades a serem internalizadas, com sustentabilidade, nas
atividades econômicas e na convivência.
Relacionado com os aspectos básicos de um plano de convivência com a seca, tem-se os
fundamentos, instrumentos e recursos, entre outros, os de políticas públicas e do próprio plano da
convivência a compreender (relação para reflexão):
a) Opções tecnológicas para amenizar a escassez de água e as limitações da capacidade
produtiva do solo por insuficiente umidade para os cultivos.
b) Desenvolver e disponibilizar técnicas de dimensionamento, construção e uso – manejo de
sistemas de abastecimento de água como, p.ex., cisternas rurais (para beber, para produzir
etc.; figura ao lado), barragens e poços com dessalinizadores etc. Algumas dessas ações e se
oportunas e/ou convenientes, devem ser integradas com as da transposição do rio São
Francisco.
c) Disponibilizar critérios técnicos e operacionais para a conservação e manejo integrado do solo
– vegetação.
d) Motivar e mobilizar as comunidades para participar e usufruir de projetos como os de
educação ambiental, capacitação e valorização de ambientes e recurso a serem protegidos.
O plano de convivência da seca no semiárido começa e se desenvolve com base no potencial
dessas zonas, incluindo, entre outros aspectos:
a) O regime pluvial médio de 750 mm com grande potencial (perspectiva) de armazenamento de
parte desses 750 bilhões de m3/ano de água para uso e manejo criteriosos.
Essa perspectiva parece ser interpretada no projeto de construção de um milhão de cisternas,
incluindo, entre outras atividades: a implantação de projetos demonstrativos e capacitações
em gerenciamento de recursos hídricos, gestão administrativo-financeira de cisternas em
nível de comunidades e capacitação de pedreiros.
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Desertificação no Nordeste: subsídios para a formulação de políticas públicas
Romper esses ciclos pressupõe conhecer as fases que os definem e gerar – oferecer
alternativas para evitar a emigração ao melhorar condições socioeconômicas, aumentar a produção,
recompor áreas, proteger encostas, diversificar ecossistemas e reflorestar – regenerar coberturas
nativas de vales e áreas úmidas desmatadas e preservar as reservas de proteção ambiental. Esses
propósitos, entre outros, fazem parte do conceito de convivência em seus desdobramentos. O plano
deverá transcender a conceituação com a especificação de meios, procedimentos e recursos para
operacionalizá-la.
Um dos conceitos básicos do processo de desertificação no semiárido nordestino é a erosão
de solos, da biota e humana.
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Eduardo A. C. Grcia
agrícola, formas de manejo e técnicas de produção que expõem os solos aos agentes
erosivos.
A erosão depende de um conjunto de fatores que agem tanto de forma isolada como
conjunta (mais freqüente), potencializando o efeito negativo de cada fator. A análise da
ação ou impacto de cada um e do conjunto, sob determinadas condições do semiárido é
fundamental para definir práticas e tecnologias de manejo integrado e de conservação
desses ecossistemas.
Na caracterização da erosão no semiárido se podem identificar várias formas como,
p.ex., a laminar predominante em Irauçuba (CE), lenta e quase imperceptível em solos
rasos e pedregosos, submetidos a intensos desmatamentos, práticas de queimadas e
ocupação desordenada do solo; e a erosão em voçorocas (crateras) e grandes dunas (erosão
hídrica: inverno e eólica: época das secas, com solos esturricados), com sinais mais
notáveis registrados em solos arenosos de Gilbués (PI), ilustradas nas Figuras 8 e 9 e na
Tabela 2.
As perdas de solo, de água e de nutrientes são responsáveis pelo decréscimo na
produtividade agrícola e pecuária, pela eutrofização de corpos de água e pela degradação do
solo com impactos nos recursos hídricos, na flora, na fauna e, no final dessa cadeia, no
homem.
Quanto às perdas de solo, observam-se variações (em função de diferenciações
ambientais e de usos e manejo dor recursos da terra), com destaque para a erosão
entressulcos, a mais prejudicial, com a combinação de dois processos (desagregação e
transporte de materiais).
As perdas ocorrem pela remoção da camada superficial que contém a matéria
orgânica, os nutrientes inorgânicos, materiais orgânicos e, por vezes, insumos agrícolas
como fertilizantes, com alterações de processos microbianos refletidos na fertilidade dos
solos e na produtividade que se perdem com a erosão.
Que fatores determinam a erosão? O Quadro 3 relaciona alguns desses fatores e
exemplos de contribuições, para certas condições tanto físicas como de uso e manejo dos
recursos da terra, determinantes das perdas do solo por erosão.
Em termos econômicos são perdas quase que incalculáveis pela “impossibilidade” de
reparar totalmente os ambientes danificados, mas, com possibilidades de se ter estimativas
ou aproximações como as apresentadas pelo PNUMA, na África e as calculadas, em parte,
neste documento.
No processo de erosão há causas físicas e causas mecânicas, agentes passivos e
agentes dinâmicos, fatores controláveis e fatores naturais, com interações a serem
conhecidas e tratadas em planos de conservação e manejo do solo conforme as
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Desertificação no Nordeste: subsídios para a formulação de políticas públicas
Borda de rio desprotegida: erosão Irrigação / inundação de campo aberto Sulcos rasos: Picui (PB)
Aspecto erosivo: núcleo de Cabrobó Aspecto erosivo: núcleo de Gulbués Erosão laminar
(PE) (PI)
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Eduardo A. C. Grcia
Figura 8 Tipos frequentes de erosões dos solos no semiárido e Planos Nacionais no combate à desertificação
Quadro 3 Fatores, condições e possíveis contribuições que determinam a erosão dos solos, a
CONDIÇÃO OU
FATOR EFEITOS e EXEMPLOS DE INDICADORES
SITUAÇÃO
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Desertificação no Nordeste: subsídios para a formulação de políticas públicas
aOs fatores são analisados conjuntamente, na parte de apresentação de resultados, com o auxílio da estatística e
matemática, para determinar a contribuição de cada uma dessas variáveis nas perdas totais de solo por erosão.
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Eduardo A. C. Grcia
xix
Nos conceitos de conservação e de manejo integrados de ambientes e recursos há
definições básicas, tais como:
a) A utilização racional com práticas “adequadas” de manejo e com as tecnologias convenientes
de conservação; adequação e conveniência devem ter como referência as características
conhecidas do local ou região. Dessa forma entendido, a conservação e manejo integrado
devem refletir tais características não apenas físicas, mas socioculturais e econômicas, com
perspectivas de mudanças pela gestão e por inovações tecnológicas apropriadas e
convenientes.
b) O rendimento satisfatório, considerando determinadas referências, entre outras as ambientais
e socioeconômicas próprias do local, da região.
O Nordeste é uma região pobre, porém com potencialidades para “superar” níveis críticos;
com limitações de seus recursos naturais, mas com oportunidades a desvendar. Dessa forma,
modelos de países e regiões desenvolvidas e industrializadas não poderão servir de
referências, sem prévias avaliações, testes e possíveis ajustes ou adequações, para explicar
problemas e delinear políticas públicas. Mas, experiências e lições de regiões com
semelhantes condições e precedidas de avaliações poderão ser úteis.
c) A capacidade de sustentação do sistema à intervenção, à exploração, dependendo da forma,
manejo e intensidade conformada às características do local, da região.
d) Os limites de tolerância, de elasticidade ou de resiliência, expressos por indicadores capazes
de manterem estados como os de qualidade, quantidade e equilíbrio do ecossistema e de
outros sistemas do local ou região.
e) Os níveis e “riscos” aceitáveis, sob determinadas condições, as locais.
São definições básicas implícitas nos conceitos de conservação e manejo integrado que,
apesar de serem importantes, não serão consideradas neste documento simples.
O Quadro 4 sintetiza o conceito de conservação no sentido em que se utiliza neste
documento, com indicações de processos e decisões baseadas em dados confiáveis e indicadores
consistidos.
O manejo pode ser conceitualizado como um conjunto de práticas culturais como, p.ex., no
caso da agricultura, capinas, altura de corte, adubação em cobertura, pulverização, manejo integrado
de pragas, irrigação considerando características das fontes de água, dos solos e das plantas,
rotações ou cultivos alternados etc., no cultivo de uma espécie. Diretamente relacionado com os
conceitos de conservação e manejo se tem o conceito de agricultura.
lxvi
Desertificação no Nordeste: subsídios para a formulação de políticas públicas
REALIDADE Desenvolver
Realidade: análise
CONSERVAÇÃO
Potencialidade: indicador
Restrição/ limitação: indicador Nova realidade...
Capacidade de suporte: indicador
Utilização racional
Avaliação
Sistemas de produção adequados ao local
Risco
Tecnologias para inovações
Práticas para manejo integrado
Avaliação
Saberes tradicionais: resgate e valorização
Econômica
Alternativas de utilização
Capacitação
Seminários e fóruns de trabalhos
Programas de rádios e TV
Extensão-assistência técnica
Motivação/ participar $
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Desertificação no Nordeste: subsídios para a formulação de políticas públicas
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Eduardo A. C. Grcia
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Desertificação no Nordeste: subsídios para a formulação de políticas públicas
favorecimentos legais – institucionais como os de posse da terra e por formas insustentáveis de usos
e manejos de seus recursos.
Processos notáveis de degradação que destroem, com as suas formas artesanais como os de
garimpagens áreas vegetadas e corpos de água, mediante desmatamentos, erosão-assoreamento e
uso de substâncias tóxicas como o mercúrio. Reverter esse processo coloca em destaque a educação
ambiental e a instrução - capacitação para proteger e conservar.
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Eduardo A. C. Grcia
entre as diferentes áreas do conhecimento permitam uma melhor compreensão da totalidade. Dessa
forma sistêmica, procura-se uma abordagem metodológica capaz de integrar os conhecimentos entre
as ciências naturais e sociais, respeitando-se a pluralidade, diversidade e singularidades culturais e
resgatando saberes e experiências locais em educação ambiental. Em outro sentido complementar, a
educação ambiental deve desenvolver o espírito crítico e a criatividade do cidadão quanto às
alternativas locais de desenvolvimento sustentável, na busca de um ambiente saudável e
ecologicamente equilibrado para as presentes e futuras gerações.
É notável o empenho do Ipea para auxiliar tanto planos de educação ambiental como
programas de capacitação orientados para o planejamento, gestão e elaboração de políticas públicas
de desenvolvimento regional. Este documento é um primeiro esboço na definição de uma estrutura e
base de dados e de estudos para fins educativos, compreendendo atividades de pesquisa. Essa base
informacional compila, integra e procura gerir dados de várias fontes para o atendimento às
necessidades de planejadores, gestores e tomadores de decisão em diversos níveis e, em especial,
para auxiliar projetos de educação ambiental.
No conceito de educação para o desenvolvimento há elementos e condições que o tornam
sustentável; um deles é a adequabilidade de conteúdos, de procedimentos metodológicos, de
oportunidade, de atendimento às demandas, de formas de monitoramento e avaliação, etc., de
planos e projetos de educação e capacitação em sintonia com outros planos, expectativas, tendências
e cenários prospectivos. Um deles é o de previsão de mudanças.
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Desertificação no Nordeste: subsídios para a formulação de políticas públicas
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Eduardo A. C. Grcia
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Eduardo A. C. Grcia
Quadro 5 Tipos de cenários que podem ser utilizados para auxiliar a elaboração de um
plano de combate à desertificação e mitigação dos efeitos da seca no Nordeste
CENÁRIO, ESTUDOS
PROSPECTIVOS
Histórico e evolução de fatores. Diagnósticos temáticos integrados.
Situações atuais e desejáveis- possíveis. Recursos. Metodologia etc.
Normativo Exploratório
Futuro desejado como vontade Caracteriza futuros possíveis ou
ou compromisso de coalizões e prováveis, mediante simulações e
objetivos específicos. A lógica é desdobramentos de condições
estabelecer o que se deseja e iniciais diferenciadas, sem assumir
logo agir para alcançá-lo, a partir opção ou preferência
do presente: diagnósticos
E xt r a p o l a t i vo Mú l t i p l o
O futuro como Pressupõem-se rupturas
prolongamento do nas trajetórias de futuro:
passado e presente
Plausíveis ou prováveis
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Desertificação no Nordeste: subsídios para a formulação de políticas públicas
IMPACTO DO
AQUECIMENTO EXEMPLOS DE PROVÁVEIS IMPLICAÇÕES
GLOBAL
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Eduardo A. C. Grcia
Ciclos-espirais de
políticas públicas
t2 Fase III
t1 Fase II
t0
Fase I
Interesses
Surgem (problemas) como: tensões existentes
entre a sociedade civil e o Estado, causadas por Vontades,
precárias condições de vida; necessidade de preferências
assegurar níveis de produção e consumo para o Ideias, visão, Instituições,
desenvolvimento; desigualdades sociais, econô- Contexto
paradigmas normas, valores
micas e de oportunidades; e reivindicações por
melhores condições ambientais e de qualidade
de vida, perdas ambientais que afetam o homem
Vontade
Decisão Pol.
Efetividade
Eficiência
Eficácia
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NOTAS
i
Os recursos naturais podem ser conceituados como os elementos naturais bióticos e abióticos de que dispõe
o homem para satisfazer suas necessidades econômicas, sociais e culturais.
ii
Consumismo é o ato de consumir bens e serviços, muitas vezes de forma irracional e sem consciência, sem
responsabilidade social, induzido por meios como os da propaganda e publicidade, orientando-o para um
consumo desnecessário (esse ato, quando racional no consumo indispensável, é para aquilo que seja
necessário para a sobrevivência) e supérfluo.
iii
Economicismo no sentido de reducionismo de fatos como os sociais à dimensão econômica ou como uma
ideologia que coloca a oferta e demanda como únicos fatores na tomada de decisões. Em ambos os casos,
pressupõe ou implica a sobrevalorização dos aspectos econômicos, relegando a planos inferiores outros
aspectos ou dimensões como a social e ambiental. Tal viés, em certo sentido, nega a essência da própria
economia como ciência de escolhas, sem excluir análises (p.ex., de custos e benefícios de diferentes
opções que possam melhorar políticas públicas e o bem-estar social) e impactos de quem ganha e perde;
de explicar (economia positiva) e justificar (economia normativa) mudanças: a economia ensina: mudança
por mudar é irrelevante ou nada representa.
iv
Tecnicismo, entendido como a supervalorização e crença da autossuficiência da tecnologia em sua
capacidade de mudanças, negligenciado, em parte, o ator que passa a ser um simples aplicador de
procedimentos, técnicas e tecnologias. A criatividade, experiência e saber do agente (cliente que não é
alvo), no processo tecnicista, ficar restrito aos limites, - condições e exigências, do que se pretende impor,
invertendo-se a lógica do processo: atendimento ao alvo, com a tecnologia que possa interpretar e se
adaptar às condições e exigências desse cliente, com opções a serem complementas por outras. No
tecnicismo, é uma e necessária. Afastar-se do outro extremo, a tecnofobia.
v
Em outras oportunidades, tais respostas, inseguranças e instabilidades em relação ao meio ambiente e seus
recursos naturais não foram (até o início do novo milênio) tão imprevisíveis nem desprovidas de
intencionalidades danosas, como se verifica com a concentração de riquezas naturais por poucos, com
exclusão de benefícios de muitos e a socialização de custos de externalidades do crescimento econômico,
com a inclusão do passivo ambiental, no social. Um passivo de desmatamentos – queimadas
indiscriminadas, de erosões induzidas, tanto dos solos como as biológicas, de poluições, de perdas de
atributos dos recursos hídricos (...). São custos não-internalizados em sistemas contáveis das fontes que o
geraram e continuam gerando-o. A própria relação (real ou pretendida, causal ou não) entre pobreza e
degradação ambiental é intensificada pelo contínuo domínio de riqueza, de poder, de privilégios de
setores, de legislações omissas e tendenciosas carregadas dessas intencionalidades, explícitas ou não. Até
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Desertificação no Nordeste: subsídios para a formulação de políticas públicas
relações aceitas e círculos viciosos como os de pobreza-degradação são, em parte, intencionais. Se o pobre
agride-degrada o meio ambiente porque não tem acesso a outras terras limitadas por instrumentos legais,
entre outros, os de posse; à água em condições de uso ou excluído pela localização da fonte em terra
particular; à tecnologia viável e operacional ou da tecnologia que o marginaliza da competitividade por
questões de escalas como as de produção e consumo; à informação que valorize – potencialize seus
saberes tradicionais; ao crédito oportuno e acessível, entre outras, o faz pressionado por circunstâncias,
para “assegurar” a sua sobrevivência. As forças externas dessa pressão são, em parte, intencionadas. No
texto se enfatiza a necessidade de buscar e entender as causas do problema para não pretender, supor ou
esperar, por exemplo, formar uma consciência social de proteção, valorização e conservação em
comunidades que lutam pela sobrevivência, sem considerá-las em suas reais e efetivas necessidades,
possibilidades e perspectivas. Nesse ambiente, tal formação é utópica ou muito limitada porque não se
pode supor e esperar a conscientização em alicerces de escombros de pobreza e miséria, de desertificações
socioculturais e econômicas que precisam de soluções antes de reflexões filosóficas: conscientização.
Parte dessa conscientização está na informação para a educação e na responsabilidade social do
empresário, do tomador de decisão, do legislador, do político.
vi
Contudo, é oportuno citar algumas ações, tal vez inadvertidas ou omissas em descrições históricas, que, a
pesar de terem motivações diferentes como as de proteção do comércio, resultaram benéficas para a mata
nativa. Assim, a proteção do meio ambiente, que para a maioria dos países é relativamente recente, no
Brasil é de longa data, com origem no período colonial. As Ordenações Manuelinas, durante no reinado de
D. Manuel I, o Venturoso (1495 – 1521), estabeleceram o escambo do “pau-brasil” (Caesalpinia achinata,
Lma.; Leguminosae), com penas de degredos aos contraventores, em cerca de 200 delitos, entre eles cortar
árvores de fruto. Essas Ordenações, junto com as Ordenações Filipinas estabeleceram regras e limites para
exploração e usos de terras, águas e vegetação com listas de árvores reais, protegidas por lei, o que deu
origem à expressão “madeira de lei”. As Ordenações Filipinas são precursoras de princípios como o de
proteção das águas ao fornecer o conceito de poluição (GARCIA, 2009; em elaboração).
vii
Planejamento como a aplicação sistemática de informações e conhecimentos para conceber, com a
necessária antecipação, o que deve ser feito, e para avaliar, ex –antes, cursos de ações alternativas de um
processo racional pelo qual se decide antecipadamente, o que deve ser feito, pela conveniência e
necessidade; quando fazer, pela oportunidade; como será feito, pela exequibilidade e efetividade esperada
de resultados; e qem o fará, pela habilidade e competrência, constituindo-se um elemento crucial da teoria
e da prática da administração. Em termos formais, compreende: a) uma reflexão sobre eventos prováveis
ou possíveis e cenários alternativos, de natureza econômica, social, ambiental, institucional e política; b)
uma base informacional “robusta” para sustentar essa reflexão e a definição de objetivos e meios; c) a
tomada de decisãoes que possam viabilizar a obtenção desses objetivos de forma mais eficiente e rápida.
Em sua forma reduzida, o planejamento é um instrumeno de gestão e abordagem racional para a solução
de problemas (dimensão ciêntifica, metodológica: analítico-racional). Problemas complexos como o da
luta contra a desertificação, mitigação de efeitos e convívio com a seca não podem ser resolvidos com
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Eduardo A. C. Grcia
viii
A gestão ambiental pode ser definida como intervenções que incorporam medidas necessárias à otimização
de benefícios econômicos e sociais e garantem a manutenção da qualidade e da sustentabilidade de um
ecossistema. Com frequência, as intervenções tem-se dados em ausência de um plano integrado de gestão
e a implementação de instrumentos como os de licenciamento e avaliação de impactos (reativa), ocorrem
sem essa necessária integração.
ix
O declínio em longo prazo, na função e na produtividade de um ecossistema, ocorre quando se modificam
as características físicas, químicas e biológicas do solo por causa do esgotamento; quando se dá a
degradação da terra: do solo (por erosão, compactação e salinização); dos recursos hídricos (perda da água
de chuva, pouca ou nenhuma água na estiagem e perdas de quantidade e qualidade da água); da vegetação
(rala, menor porte e mais demorado crescimento); da biodiversidades (perdas de atributos e menor
capacidade de regeneração) por múltiplas e complexas causas, naturais e antrópicas como a sobre-
exploração e sobrepastoreio.
x
Essa Convenção é um instrumento de acordo internacional ratificado por países que estabelece diretrizes
para o combate à desertificação em escala global, constituindo-se uma referência importante para o Brasil,
conforme se constata no PAN-Brasil.
xi
A Constituição Federal do Brasil de 1988 tratou o termo meio ambiente, no caput do artigo 225,
considerando que é dever do Poder Público e da coletividade preservar e conservar o meio ambiente, pois
ele é de uso e bem comum de todos os povos, essencial para qualidade de vida. Define-o como um bem de
uso comum do povo e determina ao Poder Público, bem como a toda a população, o dever de defendê-lo e
preservá-lo para as presentes e futuras gerações. Na Lei no. 9.795, de 27 de abr. de 1999, ao estabelecer a
Política Nacional de Educação Ambiental, define o meio ambiente como o conjunto de processos
abióticos e bióticos existentes na terra passíveis da influência das ações humanas. Na Conferência
Intergovernamental sobre Educação Ambiental, organizada pelas Nações Unidas e UNESCO, em Tbilisi,
Geórgia, em 1977, assinala que o conceito de meio ambiente compreende elementos naturais e sociais
criados pelo homem como os valores culturais, morais e individuais, além de relações interpessoais no
trabalho e em atividades de tempo livre.
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Desertificação no Nordeste: subsídios para a formulação de políticas públicas
xii
Tais como os de ordem física-natural: mudanças climáticas e perdas da diversidade biológica; e de ordem
humana: insensibilidade para considerá-lo, interesses econômicos imediatistas; pouca ou falta de decisão e
vontade política etc.
xiii
A Lei no. 9.433, de 8 de jan. de 1997, ao instituir a Política Nacional de Recursos Hídricos e criar o
Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, considera, entre outros instrumentos, a
cobrança do uso de recursos hídricos (art. 19), com os objetivos de “reconhecer a água como bem
econômico e dar ao usuário uma indicação de seu valor” e “incentivar a racionalização do uso da água”.
Define, na fixação do valor a ser cobrado, o volume retirado em derivações, captações e extrações e o
regime de variação da disponibilidade de água na fonte. Considera, também, o lançamento de esgoto e
demais resíduos líquidos ou gasosos, o volume lançado, seu regime de variação, as características físicas,
químicas e biológicas e a toxicidade do efluente.
xiv
Há proposições, critérios e conceitos, quanto à avaliação ambiental, que é preciso considerar, tanto na
perspectiva técnica e tecnológica – científica, quanto prática – operacional. A relação que segue sintetiza
alguns deles: a) considerar todos os possíveis impactos de intervenções: além da impossibilidade de
previsão, colocam-se questões como as de incertezas e racionalidade na tomada de decisão; os impactos
podem ser diferentes em suas causas e efeitos e devem ser ordenados, classificados e hierarquizados
conforme determinadas referência; b) cada avaliação é distinta em função de especificidades de fatores e
condições; há, contudo, fatores comuns de pressão e lições de um local que podem testadas e adequadas
para outros, evitando-se redundâncias, possibilitando fazer previsões com níveis de confiabilidade
razoável; c) a necessidade de elaboração de diagnósticos em cada caso, com poucas contribuições quando
entendidos e elaborados como inventários; a questão é de qualidade e capacidade desses estudos
fornecerem dados consistidos de estados e evoluções possíveis de serem sintetizados em indicadores
abióticos, bióticos e socioeconômicos, de acompanharem dinâmicas e tendências; d) estudos descritivos a
serem integrados mediante abordagens sistêmicas para o entendimento de processos; a questão se coloca
na qualidade do fator que se analisa e no ajuste do sistema que está operando para se ter uma indicação
consistente de como ele operaria sob outras circunstâncias: fatores de risco e simulação de estudos
prospectivos que possam ampliar ou flexibilizar a capacidade de “modelos” complexos de sistemas para
situações nem sempre bem definidas e comportadas; e) qualquer “bom” estudo técnico-científico é
suficiente para o suporte à tomada de decisões; no texto se coloca a contribuição da pesquisa e ciência –
tecnologia como instrumento importante, porém não suficiente; é preciso que esse instrumento considere a
diversidade de interesses e objetivos de diferentes segmentos sociais, a vontade e decisão política, as
escalas e níveis de abordagens transdisciplinares; f) a divisão e estruturação geopolítica e institucional não
são norteadores suficientes, apesar de seus domínios na conformação de planos e recursos; a natureza e
seus domínios obedece a outros critérios, com frequência não-compatíveis com divisões geoplíticas; g) as
avaliações eliminam incertezas; é preciso entender que a incerteza é um fator dominante e que as
avaliações poderão reduzi-las a fatores de riscos com possibilidades de se ter um melhor controle e suporte
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Eduardo A. C. Grcia
à tomada de decisões; h) a análise com abordagens sistêmicas assegura a seleção de melhores alternativas
de ações em planos; no campo tecnológico – científico e nas abordagens sistêmicas, de simulação,
dinâmica e risco apenas se tem aproximações tanto mais confiáveis quanto sejam as representações de
atributos e componentes; daí a necessidade e destaque do dado e do indicador na gestão integrada.
xv
A falta de um plano de desenvolvimento sustentável para a região não significa desconsiderar outras
referências por vezes limitadas a programas, setores ou atividades, porém importantes. É possível
encontrar em áreas como as de saúde pública, segurança alimentar, agricultura familiar e educação,
diretrizes e instrumentos que podem auxiliar as diretrizes e instrumentos de planos de combate à
desertificação e convívio com a seca. Troca de informações e, em especial, lições e experiências de
comunidades podem ser importantes referências para melhorias.
xvi
Entenda-se por transparência a adoção de preceitos básicos do direito administrativo, adotados na
administração pública, direta e indireta, de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios, relativos aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade,
publicidade, proporcionalidade e eficiência. São princípios relevantes [e com efetividade quando
sustentados em critérios de exequibilidade técnico-científica e operacional] para alcançar uma clara
definição de interesse público e, em especial (para o caso considerado nesta publicação), para buscar e
assegurar a participação da comunidade [condição: informação e educação] na tomada de decisões em
aspectos como são os de convivência com a seca, possibilitando um maior grau de correspondência entre
as demandas sociais [ordenadas e hierarquizadas] e as estratégias e ações que se definem em instrumentos
como os de políticas públicas, leis e planos: uma questão de legitimidade do uso do poder. A utilização
dos princípios da publicidade, motivação e participação popular apontam para a transparência a orientar
todas as atividades.
xvii
A relação homem – natureza, com pontos críticos, conflitosa em alguns casos e complexa em geral,
compreende sucessivos aportes de culturas, organizações sociais e saberes, influenciado e sendo
influenciados pela natureza. A lógica e entendimento contextualizado dessas interações são importantes na
formulação de planos para a convivência som a seca em zonas semiáridas. Os san do Kalahari e aborigens
autralianos, os tuaregs e beduínos do norte da África, os semíticos e camíticos do Oriente Médio, os
mongóis da estepa, os watussi da savana, os chihuahuas e apaches do México, os chimus paracas e
moches do Peru, etc., são, entre outras civilizações que nasceram, adaptaram-se e se desenvolveram em
meios caracterizados pela escassez de água, exemplos de povos que adaptaram seus estilos de vida às
condições do ambiente, demonstrando grande capacidade inventiva de resolverem seus problemas.
Recentemente, comunidades como as israelitas em condições próximas as do deserto, mediante mudanças
tecnológicas adequadas às condições, adaptam-se e utilizam os recursos da terra. O processo de
desertificação é o resultado do empobrecimento de uma cultura material, do afastamento de leis naturais e
da alienação de comunidades que perdem a capacidade de conhecimento e controle do meio ambiente.
Como corolário dessa definição se tem: a solução ao problema da degradação dos recursos da terra que
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Desertificação no Nordeste: subsídios para a formulação de políticas públicas
leva à desertificação passa necessariamente pelo enriquecimento da cultura material, pelo conhecimento e
observância de leis naturais e pela reorientação para fundamentar as atividades na capacidade de suporte
ambiental e na proteção e recuperação de ambientes. Essa passagem destaca a recuperação, avaliação e
potencialização de saberes tradicionais, incorporando-os em planos e políticas de prevenção e controle da
degradação. Ao longo dessa passagem se rompem círculos viciosos como o de pobreza – degradação e seu
efeito de exclusão social, pressupondo-se que a solução seja a de melhorar, para esses pobres e excluídos,
as condições de integração no sistema socioeconômico dominante; os pobres, sem recursos nem
capacidades, sem conhecimentos nem habilidades (...) precisariam ser integrados. Trata-se de uma visão
parcial que precisa compreender outros elementos, outras referências quando se valorizam experiências,
saberes e convivências.
xviii
Um dos índices mais utilizados e reconhecidos para a qualificação da seca é o Índice de Severidade de
Seca de Palmer (PALMER, 1965), que tem como argumentos, em sua definição, o total de precipitação
requerida para manter uma área em um determinado período sob condições estável da economia. Esse
total depende da média de ocorrência de fatores meteorológicos e das condições meteorologias dos meses
precedentes. Tem como base as estimativas de médias históricas de evapotranspiração, recarga de água no
solo, escoamento superficial e umidade do solo.
xix
No contexto da Política Nacional da Biodiversidade, o conceito de conservação se define em consonância
com a Convenção sobre Diversidade Biológica, com um sentido próximo ao do conceito de preservação,
de proteção. Assim, na forma in situ significa conservação de ecossistemas e habitats, bem como a
manutenção e recuperação de populações viáveis de espécies em seus meios; no caso de espécies
domesticadas ou cultivadas, nos meios onde tenham desenvolvido suas propriedades características: o
sentido de racionalidade de uso. Em outro contexto como os de unidades de conservação, o conceito tem o
sentido de manejo de recursos naturais.
xx
Segundo a Lei 6.938, de 31 de ago. de 1981, os recursos ambientais compreendem a atmosfera, as águas
interiores, superficiais e subterrâneas, os estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo, os elementos da
biosfera, a fauna e a floras.
xxi
Essa nova agenda da terra a ser acordada na 15ª. Conferência das Partes da Convenção das Nações
Unidas de Combate à Desertificação, em Copenhague, em dez. 2009, deverá enfatizar, conforme se indica
neste documento, a compreensão do problema e o tratamento e procura de soluções com ações e
estratégias para melhorar a subsistência de mais de dois bilhões de pessoas que vivem em zonas áridas,
semiáridas e subúmidas secas do mundo; considerar o problema da degradação dos recursos da terra e
seus nexos com outros problemas que levam à desertificação. Parte do desafio para o entendimento da
crise ambiental, nessa melhoria, está na mensurabilidade de causas (e efeitos) e interações da
desertificação e na síntese do processo, mediante indicadores. Outra parte está na abordagem da mudança
climática e seus efeitos, especialmente notáveis em zonas vulneráveis como são as de terras secas; para
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Eduardo A. C. Grcia
alguns, as mudanças climáticas e a degradação do solo, são dois lados de uma mesma moeda e, portanto,
aspectos que devem ser considerados conjuntamente em políticas públicas. Há outra parte, nessa nova
agenda da terra, que se refere às parcerias e empenhos institucionais de combate à desertificação pelo
tratamento de fatores causais da degradação de ambientes e recursos da terra e pela procura de ações que
possam mitigar efeitos de impactos das secas e .
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