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Resenhas
no capítulo três, focando na constitui- tante para esses homens, pois foi por
ção do gênero masculino em contex- meio dela que eles puderam questionar
tos sociais determinados. Ela discorre, e procurar mudar comportamentos
brevemente, sobre o início dos estu- masculinos hegemônicos que lhes fo-
dos sobre masculinidade na década de ram ensinados na infância. Em virtude
1970 e sua sistematização na década de disso, foi-lhes possível liberar seu lado
1980, procurando demonstrar a exis- feminino que havia sido reprimido
tência de múltiplas representações de nesse processo inicial (p. 125).
masculinidades. Ela transcorre tam- Assim, nesse capítulo, ela trata de
bém sobre o modelo de masculinidade como as mudanças de caráter macro
hegemônica, relacionando-o ao poder interferem nas relações sociais dos su-
exercido na relação entre homens-mu- jeitos. No caso de seus colaboradores
lheres e homens-homens. que têm entre 40 e 50 anos, leva em
É diante dessas relações que a autora consideração as transformações ocor-
define seus colaboradores como exe- ridas no Brasil durante o governo de
cutores de uma “masculinidade críti- Juscelino Kubitschek.
ca”, no sentido de refletirem, discor- A autora além de reforçar que as mu-
darem do modelo de masculinidade danças nas subjetividades masculina e
tradicional e, assim, exercerem uma feminina acontecem de forma lenta,
prática discursiva que procura se dife- mostra ainda o embate entre os valo-
renciar daquele padrão convencionado res tradicionais – apreendidos durante
e imposto. a socialização primária – e os moder-
Destarte, as mudanças nas subjetivida- nos – mediante contatos com outros
des masculinas são discutidas por Ben- mundos sociais e valores e com os mo-
to no capítulo quatro. É por meio de mentos de terapia. Deste modo, Bento
uma nota de rodapé, no início desse ca- procurou entender como o “habitus
pítulo, que melhor compreendemos o masculino” (p. 112) é questionado por
que ela entende por “subjetividade” e, seus interlocutores e quais os conflitos
também, a importância dos sujeitos da e mediações envolvidos nessa relação.
pesquisa terem alguma experiência em No capítulo cinco de seu livro, Bento
“terapias”: “Quando se fala em subjeti- trata mais detidamente sobre as rela-
vidade refere-se ao nível imaginário, às ções de poder nas relações de gênero.
emoções, às fantasias, aos desejos, aos Devido à presença contraditória da
medos pertencentes a cada sujeito” (p. ideologia hierárquica e da ideologia
103, nota 55). igualitária, tanto na subjetividade mas-
Esse momento de reflexão do eu, via culina quanto na feminina, ela identi-
atividades “psi” contribui para que es- fica uma contradição na relação das
ses homens passem a questionar o mo- pessoas com quem conversou, pois há
delo de masculinidade tradicional apre- momentos em que se busca construir
endido durante a socialização primária. o relacionamento pautado na igualda-
A terapia, portanto, tornou-se impor- de entre os sujeitos; contudo, noutros
realidade das cidades, onde estão mais da por István van Deursen Varga, Luís
sujeitos ao preconceito e à discrimi- Eduardo Batista e Rosana Lima Viana
nação relacionados ao pertencimento em “Saúde da população Indígena: do
étnico que, em geral, associam os in- paradigma da tutela ao horizonte das
dígenas ao alcoolismo, à incapacidade, políticas de promoção da igualdade ra-
à preguiça, à selvageria entre outras cial”, em que mostram o controle so-
formas de racismo e intolerância. A cial ainda como o maior desafio da po-
presença, quase sempre indesejada pe- lítica nacional de saúde para os povos
los não indígenas, é também manifesta indígenas. Além disso, apontam que os
nas escolas, nos postos de saúde onde modelos de gestão não condizem com
procuram atendimento e onde são ho- as expectativas, elaborações discutidas
mogeneizados. A não demarcação e a e aprovadas nas Conferências de Saúde
diminuição dos territórios também são Indígena (em um total de cinco, sen-
apontadas na pesquisa e discutidas pe- do a última realizada em 2013) e que a
las autoras como a causa da migração criação da Secretaria Especial de Saú-
de indígenas para as cidades, onde são, de Indígena (SESAI) não representou
muitas vezes, hostilizados, tendo nega- autonomia e descentralização de re-
do o direito às políticas públicas espe- cursos conforme reivindicado pelos
cíficas para os povos indígenas, o que movimentos indígenas, pelo contrá-
constitui problema a ser enfrentado rio, a SESAI continua reproduzindo o
para que todos tenham acesso às con- mesmo sistema de gestão da Fundação
dições dignas de vida. Nacional de Saúde (FUNASA), man-
O artigo de Verena Glass, intitulado tendo práticas autoritárias, clientelistas
“PAC 2: acelerando a tristeza na Ama- e centralizadoras.
zônia”, é mais uma das muitas denún- Como é possível perceber, um dos
cias acerca da violência e desrespeito pontos interessantes da obra é que os
com que os povos indígenas vêm sen- textos dialogam e se complementam
do tratados nas questões relacionadas e apresentam discussões importantes
à implantação dos chamados “projetos sobre diversas dimensões da vida in-
de desenvolvimento” na Amazônia. dígena. Por apresentar informações
Os relatos de indígenas, ribeirinhos e quantitativas, a leitura é indispensável,
pescadores endossam os argumentos tanto para acadêmicos que discutem o
da autora que mostra como o Estado tema, quanto para técnicos que atuam
brasileiro vem promovendo verdadeira em instituições públicas ou não junto
“antropofagia governamental e jurí- aos povos indígenas e, ainda, consti-
dica”, descumprindo a legislação que tui material interessante para o traba-
determina o direito de consulta livre, lho pedagógico em escolas indígenas e
prévia e informada antes do início de não indígenas, como forma de proble-
qualquer obra que impacte territórios matização das lutas e enfrentamentos
que abrigam povos indígenas e popula- vivenciados pelos povos indígenas no
ções tradicionais. Brasil.
A temática de saúde indígena é discuti- Também considero a obra importante