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Caderno de Resumos
2019
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
Reitor: Vahan Agopyan
Vice-reitor: Antonio Carlos Hernandes
Comissão Organizadora:
Alessandra Coutinho Fernandes, Ana Karina de Oliveira Nascimento, Ana Paula
Martinez Duboc, Andréa Antonieta Cotrim Silva, Andréa Machado de Almeida Mattos,
Brian Morgan, Cristina Arcuri Eluf Kindermann, Danie Marcelo de Jesus, Daniel de Melo
Ferraz, Denise Silva Paes Landim, Elaine Íris dos Reis, Fabrício Ono, Fernanda Costa
Ribas, Fernando da Silva Pardo, Guilherme Adami, Helena Andrade Mendonça, Janice
Gonçalves Alves, Katia Bruginski Mulik, Laudo Natel do Nascimento, Leina Cláudia
Viana Jucá, Lívia Fortes Silva Zenóbio, Luciana Ferrari de Oliveira Fiorot, Luiz Otávio
Costa Marques, Marco Antônio Margarido Costa, Marlene de Almeida Augusto de Souza,
Maria Amália Vargas Façanha, Nara Hiroko Takaki, Renata Quirino, Ricardo Toshihito
Saito, Roberto Bezerra da Silva, Rodrigo Abrantes da Silva, Samara de Cássia Rodrigues
Marreiro, Sandra Regina Buttros Gattolin de Paula, Sandro Silva Rocha, Souzana
Mizan, Viviane Pires Viana Silvestre.
Caderno de Resumos:
Editores: Ana Karina de Oliveira Nascimento, Fernando da Silva Pardo, Leina Cláudia
Viana Jucá, Ricardo Toshihito Saito, Viviane Pires Viana Silvestre.
Endereço Editorial:
Universidade de São Paulo – FFLCH/DLM Avenida Prof. Luciano Gualberto, 403,
05508-010, São Paulo, SP. Brasil. Telefones: (005511) 3091-5041 ou 3091-4296
Fax: (005511) 3032-2325.
Quebrando ovos para fazer omelete
Muito antes dos estudos de letramentos adentrarem o Brasil, Walkyria Monte Mór já tinha
um sonho – o sonho de desenvolver um projeto de âmbito nacional (e quem sabe com parceria
internacional) como exercício entoando uma educação diferenciada na formação do cidadão.
A autora já vinha ensaiando experiências pouco convencionais em suas aulas da graduação1,
as quais repercutiriam anos depois nas aulas de pós-graduação e nas orientações das
pesquisas de seus alunos. Influenciada pelo DNA da filosofia da educação (SAVIANI, 2000),
educação crítica (FREIRE, 2005), ruptura (RICOEUR, 1978) de ciclos interpretativos
consagrados, desconstrução (DERRIDA, 2013), dentre inúmeros outros conceitos, Monte Mór
começa a quebrar ovos com vistas a fazer omelete com seus alunos, alguns colegas e
autoridades, sem a certeza que normalmente se espera de projetos dessa natureza, mas com
lucidez nas ponderações e pulsão incondicional de fazer amigos por onde passou e passa. É
que a premissa de quem “atira no que vê e acerta no que não vê”, um dos pressupostos de sua
visão de mundo, fundamentava suas relações, incluindo aquelas com seu interlocutor de
todos os momentos, seu esposo, Sylvio Zilber, e também com Risca, Tita, Tuco e Alfredo - aos
quais agradecemos profundamente por cederem parte desses momentos a nossa formação - e
os temas que vinha pesquisando, a saber: educação linguística, novos letramentos
(LANKSHEAR; KNOBEL, 2005), multiletramentos (COPE; KALANTZIS, 2000),
Ao longo de sua carreira, Monte Mór conciliou dois assuntos que considera cruciais para
compreender historicamente a discrepância existente entre escola e sociedade e não hesitar em
reinventar a inseparabilidade da teoria-prática. “Se há um dominante é porque o dominado
está deixando” constitui-se como uma das percepções do que entende como crise, que estabelece
uma interface com o crítico, relembrando as lições de Ricoeur (1978). Monte Mór entende que
não há obrigatoriedade para apenas negativar a crise na coletividade, pois a crise seria uma
oportunidade dentro de uma perspectiva de letramento crítico. Perspicazmente, ela se apropriou
do conceito de habitus de Bourdieu (1994) e criou uma analogia articulando uma mudança
no habitus interpretativo (MONTE MÓR, 2007), orientado pela abertura ao pensamento
complexo (MORIN, 2015) e o vozeamento de outros discursos e de outros fazeres. Seguiu
problematizando o loteamento do conhecimento e as epistemologias (neo)liberais centradas no
balanço supostamente vigoroso entre natureza X cultura; branco X indígena, etc. Ousamos
dizer que ela foi desenvolvedora de uma estratégia que alterou o conceito de desafio, como algo
pesado, para a leveza das possibilidades. Um exemplo profícuo disso é que, sem contar com
agência de fomento para seus projetos, com seu parceiro acadêmico Menezes de Souza, escolheu
navegar por águas mais virgens, democratizando o interesse e disponibilidade de
participantes voluntários no Projeto Nacional (PN), algo que os modelos (neo)liberais
podem/devem aprender.
Nesse projeto, Monte Mór vem engenhosamente transgredindo os costumes, correndo riscos,
abordando as diferenças em meio às semelhanças, promovendo elegantemente trocas nos
espaços de debates difíceis (complexos), ora desmontando hierarquias rígidas como as de
“Educating Rita”, ora fazendo jus ao seu bem-humorado jeito de fazer provocações, como “há
um jesuíta em cada professor”. Como alguém que autocriticamente reconhece os paradoxos, a
ambiguidade e a incompletude do conhecimento, exercitou formas vibrantes de
intersubjetividade em toadas que lembram muito o seguinte modus vivendi: “Eu te ensino a
fazer renda, tu me ensinas a namorar.” E quando um impasse de qualquer natureza é
gerado? Fácil! Para ela, é questão de fortalecer o pensamento estratégico e orientar a construção
de sentido no que viria a compor parte daquilo que chama de autoria e agência. As múltiplas
autorias, assim, podem emergir porque há espaço distribuído democraticamente na construção
de sentido e na agência compartilhada que Monte Mór promove.
Dentre as muitas conquistas, Monte Mór é coautora das Orientações Curriculares para o
Ensino Médio – Línguas Estrangeiras3; autora dos Cadernos de Orientações Didáticas para
EJA – Línguas Estrangeiras4; co-coordenou o projeto Brazil-Canada Knowledge Exchange
(BRCAKE)5, e co-coordena o Project on Knowledge Exchange and Research: Literacies and
estrangeira-ingles-etapas-complementar-e-final.html>.
5 Disponível em: <https://dianabrydon.com/2011/03/30/brazilcanada-knowledge-exchange-developing-
transnational-literacies/>.
Languages in Teacher Education, firmado em parceria com a Universidade de Illinois
(EUA)6. O Projeto Nacional (ciclos I e II) vem sendo considerado um dos mais importantes
pelo Departamento de Letras Modernas, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
(FFLCH) da Universidade de São Paulo (USP).
Comissão Científica
Convidados especiais
Clarissa Jordão
Bill Cope
aria
Anna M Brian Morgan
ani
Carmagn
16:00 Coffee-break
Apres. Cultural
16:30 Mini-curso
Encerramento
8:30 Credenciamento
10:30 Coffee-Break
16:00 Coffee-Break
8:30 Credenciamento
10:30 Coffee-Break
16:00 Coffee-Break
8:30 Credenciamento
10:30 Coffee-Break
16:00 Coffee-Break
8:30 Credenciamento
10:30 Coffee-Break
16:00 Coffee-Break
Cada DT tem, portanto, a finalidade de debater a temática escolhida por seus proponentes,
relacionando-a ao trabalho da homenageada, procurando não apenas promover a reflexão
e o debate como também abrir espaço para a expansão das possibilidades interpretativas
daqueles que dele participam.
Cada um dos DTs que constituem este evento foi idealizado por seus proponentes, que,
por meio dos resumos constantes deste Caderno, procuraram apresentar a temática
escolhida, deixando aos participantes-debatedores a oportunidade de inteirarem-se
antecipadamente do tema que pretendem debater. Participarão, portanto, dos DTs, os
proponentes e os debatedores, podendo ser debatedor qualquer participante do evento que
desejar discutir o tema e interagir com seus proponentes.
No início de cada sessão, serão disponibilizados 15 minutos para que apenas um dos
proponentes apresente o tema do DT do qual participa. Será responsabilidade de cada
grupo de proponentes indicar o proponente-apresentador, que poderá fazer uso dos
recursos que considerar adequados para a realização da apresentação da temática do
debate proposto por seu grupo. Tal apresentação deve explicitar o tema, sua relevância e as
razões que tornam importante debatê-lo. Uma vez finalizados os 15 minutos e a
apresentação do tema, será aberto o espaço para o debate. Será responsabilidade dos
participantes do evento ler antecipadamente os resumos dos DTs constantes deste
Caderno e preparar suas perguntas para o debate. Os participantes do evento serão, assim,
os debatedores de cada sessão. As perguntas somente serão apresentadas aos proponentes
no momento do debate. Não será necessário, portanto, enviá-las antecipadamente ao dia
e horário de cada sessão.
DEBATE TEMÁTICO 01
Com o advento das eleições presidenciais de 2018, tornou-se crescente o discurso do ódio
às minorias sociais, tais como gays, lésbicas, negras/os, mulheres e imigrantes. Os/As
apoiadores/as desses discursos se apresentam como pessoas de vertente mais religiosa e
de posição política ultradireitista que se valem da égide do direito à livre expressão
democrática, buscando preservar ideais de família nuclear e de uma sociedade
socialmente ordenada e essencialista. Diante desse contexto, o objetivo deste debate
temático é não apenas problematizar os desdobramentos políticos e educacionais desses
tempos incertos para o nosso trabalho como docentes e pesquisadores/as que se
fundamentam em perspectivas críticas na educação linguística e na formação de
professores/as de línguas, mas também discutir formas de resistência às ações que
buscam desestabilizar e deslegitimar esse trabalho.
DEBATE TEMÁTICO 03
Kanavillil Rajagopalan -
CIELIN
gecal-unb.com.br
This session will be dedicated to the academic relations among the guest speakers’ work
and the work of Professor Walkyria Monte Mór, whose academic trajectory, along with
a great sense of humanity, has contributed to the building up of a solid transnational
debate. The aim of this session is therefore to raise a discussion on the development of
literacies, education and applied linguistic studies as a result of the cooperation with
Monte Mór, which has been made possible through the building up of a consistent and
open transnational debate. In addition, this session is intended to be a space for
reflection and discussion about the ways guest speakers’ views on the teaching/research
field in Brazil and in their own countries/contexts have changed, especially after being
in contact with the work of the aforementioned professor.
DEBATE TEMÁTICO 04
Tendo em vista nossa passagem por este planeta e o convite a uma aventura intelectual
e filosófica, repensar a educação linguística em novos tempos é abrir a mente para a
aprendizagem ubíqua. Processos de globalização e digitalização de línguas e culturas
criam espaços transnacionais - físicos e virtuais - em que o contato linguístico-cultural
acontece. A academia de hoje, apesar de tentar se inserir nesse contexto novo, por meio de
pesquisas e ensino sobre o uso de tecnologias no contexto educacional, da
multimodalidade da língua, e da criticidade no ensino situado de línguas no Brasil,
encontra-se perplexa frente às conquistas dessa área de estudo, que busca uma educação
de línguas nem universal nem gradativa, mas emergente e rizomática. Essa aventura
da educação linguística crítica, tanto prazerosa como conflituosa, que se faz com e
através da linguagem, nunca nos abandonou, e cumpriu seu papel discursivo em cada
lugar e época, nos trazendo ao presente. As pesquisas, aulas e reflexões sobre essa
perspectiva na educação linguística, aliam teorias e práticas que povoam nossas
histórias aqui e acolá, dentro de contextos que ora se entrecruzaram ora se distanciam.
O elo comum busca uma formação para a diluição e o embaçamento das fronteiras
linguísticas, sociais, culturais, nacionais, identitárias e étnicas dentre outras, sob a
premissa de que a linguagem é viva e parte constitutiva da nossa capacidade de
pensarmos diferente, de rompermos com laços da modernidade e olharmos para um
futuro fluido, cheio de incertezas. Seria, então o objetivo deste debate um caminho
possível para adotarmos o espírito da própria linguagem e reinventarmos maneiras
diferentes de exercitarmos educação linguística crítica? Se isso faz sentido para este
momento, propomos discutir questões, tais como: a) tecnologias no ensino de línguas;
b) multimodalidade na expressão linguística; c) ensino de língua no contexto rural; d)
genealogia na sala de aula e; e) interpretando interpretações. Por fim, ...
Expansão interpretativa:
perspectivas femininas
Uma das principais propostas da Profa. Walkyria Monte Mór, neste recente campo,
decorre do que ela chama de “expansão interpretativa” (MONTE MÓR, 2009). Essa
perspectiva crítica tem influenciado a abordagem dos estudos linguísticos e literários
por meio de um viés de horizontalização em que hierarquias entre tradições são
desconstruídas; temáticas que revelam as problemáticas atuais (identidade de gênero,
questões raciais, diferentes formas de discriminação social), gêneros textuais diversos,
antes considerados marginais, narrativas na tela e no papel são levados para a sala de
aula de maneira crítica. Todas essas inovações têm feito com que hoje os estudos
linguísticos e literários sejam considerados formas de inclusão social. Dentro desse
amplo escopo de temáticas e, a partir da expansão interpretativa, nesta proposta de debate,
focaremos no trabalho de Monte Mór pelo viés feminino, não apenas pela sua
identificação sócio-histórico-cultural com o signo "mulher", mas também por
compreendermos que tal identificação se faz fortemente presente em seu trabalho e em
suas ações ao longo de toda a sua trajetória profissional e, principalmente, por
considerarmos de suma importância explicitar o papel histórico fundamental do
feminino e de suas perspectivas no que se refere à expansão das possibilidade de leitura
e construção de sentidos dos sujeitos sócio-historicamente constituídos e posicionados,
independentemente de sua origem, gênero, classe social, raça, orientação sexual, idade
ou religião. O potencial transformador do feminino é, portanto, o foco maior deste debate
que nos propomos a fazer. Tal debate considera o sistema capitalista neoliberal sob o qual
vivemos e suas nefastas consequências, entre as quais podemos citar a exploração
violenta das forças de trabalho e, mais precisamente, no nosso campo de interesse aqui:
os impactos deste sistema nos corpos, nas mentes e nas vidas das mulheres,
forçosamente posicionadas de forma servil, no sistema laboral necessário à vida.
Entendemos que as perspectivas femininas de leitura e interpretação de mundo/texto
tem exercido papel fundamental na (des)construção e na (trans)formação de noções de
realidade e de verdade nas quais estamos todos imersos. Por meio das lutas pelo trabalho,
pelo voto, pelo divórcio, pelas próprias escolhas, pela expressão e escuta da sua voz, pela
liberdade, enfim, a mulher tem buscado para si e, dessa forma, também para o outro, o
direito de simplesmente inventar-se e existir à sua própria maneira. É essa invenção
contemporânea que Monte Mór faz de si mesma, de seu trabalho, daqueles que a ela e a
ele têm acesso e do texto/mundo circundante que queremos referenciar e reverenciar
aqui.
LEMBRANÇAS