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A INSERÇÃO DO EMPREENDEDORISMO NA EDUCAÇÃO BÁSICA

Fernanda Góes da Silva1 - IFSULDEMINAS


Neide Pena Cária2 - UNIVAS

Grupo de Trabalho – Políticas Públicas, Avaliação e Gestão da Educação Básica


Agência Financiadora: não contou com financiamento

Resumo

Este estudo resultou de reflexões feitas em um percurso de pesquisa para dissertação de


Mestrado em Educação pela Univás/MG, cujo tema abordado refere-se à “educação para o
empreendedorismo na educação básica”. A pesquisa tem como objetivo analisar a proposta de
educação para o empreendedorismo na educação básica como componente curricular. Educar
para o empreendedorismo é uma proposta dos organismos internacionais para a formação do
indivíduo para que este consiga se sobressair aos desafios atuais e promover o crescimento
econômico e o bem estar social (UNESCO). Objetivou-se com a pesquisa desvelar como vem
se dando a inserção do empreendedorismo na educação de nível básico. A metodologia
adotada foi o “Estado da Arte”, utilizando a pesquisa documental por meio de consulta no
banco de teses e dissertações da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior (CAPES), com posterior análise de conteúdo na perspectiva de Bardin (2004) e
Chizzotti (2001, 2003), sendo também realizado um exaustivo levantamento teórico sobre o
tema. Os trabalhos foram coletados utilizando duas expressões como palavras-chave,
“empreendedorismo educação” e “empreendedorismo educação básica”. Constatou-se que
uma grande atenção vem sendo dada ao tema empreendedorismo na educação, como área de
ensino, ou como tema transversal. Organismos internacionais como a Organização de
Cooperação e de Desenvolvimento (OCDE) e a UNESCO incentivam a inclusão deste tema
como disciplina curricular na maioria dos países europeus e também para a América Latina.
Por meio do Projeto Regional de Educação para a América Latina e o Caribe (PRELAC,
2004) a UNESCO propõe um 5° pilar da educação denominado “aprender a empreender”.

Palavras-chave: Empreendedorismo. Educação empreendedora. Educação básica.

1
Especialista em Gestão Estratégica de Negócios e Empreendedorismo pela ASMEC. Professora efetiva de
administração do Instituto Federal de Educação, Ciências e Tecnologia do Sul de Minas – Câmpus Inconfidentes
(IFSULDEMINAS). E-mail: fernanda.silva@ifsuldeminas.edu.br.
2
Doutora em Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP). É docente do Programa
de Mestrado em Educação da Univas e Docente do Curso de Graduação de Ciências Contábeis nas disciplinas de
Ética Geral e Profissional, Filosofia e Metodologia de Pesquisa, professora e Coordenadora do Curso de
Especialização em Gestão Educacional. E-mail: iinap@uol.com.br.

ISSN 2176-1396
4568

Introdução

Este artigo resultou de reflexões feitas num percurso de pesquisa em andamento para
dissertação de Mestrado em Educação pela Universidade do Vale do Sapucaí (UNIVÁS/MG),
que se vincula ao Grupo de Pesquisa em Educação e Gestão (GPEG) cadastrado no Diretório
do CNPq.
A pesquisa se realizou por meio da metodologia denominada “Estado da Arte”
(BARDIN, 2004), cujo o objetivo foi desvelar, por meio da análise documental de teses e
dissertações publicadas no banco de dados da CAPES, como vem se dando a inserção do
empreendedorismo na educação brasileira, nível básico. Um exaustivo levantamento teórico
se fez necessário, o qual embasou as discussões que emergiram da análise dos resumos das
produções acadêmicas coletadas e do documento do PRELAC (2004), que propõe a educação
para o empreendedorismo como 5º pilar da educação.
Desde as duas últimas décadas, o tema empreendedorismo vem sendo cada vez mais
disseminado na área educacional como estratégia de formação para o mundo do trabalho. O
termo empreendedorismo, originado do campo empresarial/mercado, tornou-se área de
conhecimento, especialmente no ensino superior e em cursos profissionalizantes, de nível
médio. Mas, nas últimas décadas, vem progressivamente deslocando-se para o nível da
educação básica, incentivado principalmente por organismos internacionais. Entre esses
organismos, destacam-se a Organização de Cooperação e de Desenvolvimento (OCDE), a
Organização das Nações Unidas (ONU) e Organização das Nações Unidas para a Educação a
Ciência e a Cultura (UNESCO), por meio do Projeto Regional de Educação para a América
Latina e o Caribe (PRELAC, 2004).
O texto se encontra-se estruturado em três partes: apresentação de fundamentos
teóricos sobre o empreendedorismo; exposição de dados e categorias que emergiram do
processo de análise de conteúdo, realizada na perspectiva de Bardin (2004) e Chizzotti (2001,
2003), além da introdução e das considerações finais.

O Empreendedorismo: origem e definições

A palavra empreendedorismo deriva da palavra francesa intrepre-neur que, mais tarde,


foi traduzida para o inglês como intrepreneuship, estando sua tradução ligada às pessoas de
negócios (DORNELAS, 2014). Conforme Vérin, um estudioso da evolução do termo entre-
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preneur no século XII, o termo era usado para referir-se como àquele que “incentiva brigas”
(VÉRIN, 1982, p. 32, apud FILION, 1999). Ainda no século XVII, este termo já descrevia
uma pessoa que tomava a responsabilidade e dirigia uma ação militar. No final do século
XVII e início do século XVIII, o termo foi usado para definir uma pessoa que “criava e
conduzia projetos” ou “criava e conduzia empreendimentos” (VÉRIN, 1982, p. 33, apud
FILION, 1999).
O economista Joseph Schumpeter (1987) nomeia o empreendedor como sendo o
agende causador de uma chamada “destruição criadora”. O autor enfatiza que o empreendedor
está ligado à inovação e associa o termo ao indivíduo que irá promover a expansão do
desenvolvimento econômico. Peter Drucker, também define o empreendedor como sendo um
indivíduo ligado à inovação. Para Drucker (1985, p. 38), não seria possível falar de
empreendedorismo sem falar de inovação. Para o autor a inovação é a peça importante para o
sucesso de qualquer empreendimento.
Dornelas (2014) relata que, na questão do empreendedorismo, a atitude é mais
importante do que o conhecimento técnico. Os empreendedores são visionários, anteveem o
futuro para o seu negócio, sua vida e sua comunidade, e têm a habilidade de implementar seus
sonhos e tomar decisões na hora certa, mesmo ante à diversidade. Transformam ideias
abstratas em algo concreto e ultrapassam obstáculos com uma vontade ímpar de fazer as
coisas acontecerem.
Fernando Dolabela, uma das referências sobre empreendedorismo no Brasil,
principalmente no que se refere educação para o empreendedorismo, conceitua o
empreendedor, agente do empreendedorismo, como um ser social, produto do meio em que
vive (época e lugar). Ele ressalta que se aprende a ser empreendedor por meio da convivência
com outros empreendedores e que os empresários de sucesso são influenciados por
empreendedores do seu círculo de relações (pessoas tomadas como modelo: família, amigos
ou por líderes ou figuras importantes) (DOLABELA, 1999).
O referido autor defende que o ser humano já nasce empreendedor, o que precisamos é
despertar-se. Para ele, a espécie humana é empreendedora, por isso, o empreendedorismo não
deve ser visto somente como um fenômeno econômico, mas, sim, também como um
fenômeno social e que contribuiu muito para a melhoria das relações da sociedade. Por outro
lado, Dolabela (2003; 2008) defende que também defende que é possível ensinar a ser
empreendedor, mas, para isso, é preciso uma metodologia própria diferente da tradicional.
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Esses posicionamentos de Dolabela têm mobilizado diversas questões de pesquisa e


polêmicas.
Defende ainda o autor que o empreendedor está em qualquer área e não somente na
pessoa que abre uma empresa; pode ser empreendedor o pesquisador, o funcionário público, o
empregado de empresa privada, os políticos, os governantes, o artista, o escritor, o poeta, os
voluntários, desde que tenham motivação para empreender, argumenta Dolabela (2008). No
entanto, Dolabela (2008) frisa que, embora o termo empreendedorismo tenha a sua origem em
um contexto empresarial e, por isso, ganhou essa conotação voltada à criação de negócios, em
qualquer área, pode-se e deve-se praticar o empreendedorismo e nem se deve ligar o
empreendedor somente ao campo dos negócios e a criação de empresas, pois o empreendedor
é muito mais que isso, é um ser social, produto do meio em que vive. Ele destaca que o
empreendedorismo ainda não é uma ciência, embora o tema esteja entre as áreas que tem
merecido um grande volume de pesquisas e publicações nos últimos anos.

O ensino do empreendedorismo na educação básica brasileira

Desde o início do século XXI, principalmente, organismos internacionais vêm


apresentando proposições de políticas educativas que contemplem a educação para o
empreendedorismo como estratégia para enfrentar a questão da empregabilidade. A
UNESCO, na revista PRELAC, Ano 1, n.0, Agosto de 2004, apresenta um quinto pilar da
educação: “aprender a empreender” – como sendo uma estratégia para enfrentar os problemas
sociais e econômicos da atualidade e cumprir as metas do programa “Educação Para Todos” e
que deve ser adicionado aos demais pilares propostos por Jacques Delors em seu relatório
intitulado “Educação para o século XXI”, o qual foi elaborado para a UNESCO em 1996. O
documento foi aprovado em 2002, em Havana, Cuba, e publicado na revista do PRELAC em
2004.
Em nível mundial, a educação empreendedora vem ganhando força e crescendo em
muitos países, com a proposta de atender às novas exigências de formação profissional e
pessoal para uma sociedade em rápidas e contínuas transformações. A disciplina de
empreendedorismo vem sendo incentivada nas instituições educacionais públicas e privadas
como essencial, tanto no nível da educação básica, como em cursos profissionalizantes e cada
vez mais vem ganhando espaço dentro das salas de aulas, de todos os níveis.
4571

A implantação nos currículos escolares da disciplina de empreendedorismo, ou da


educação empreendedora no sistema educacional, tem sido apresentada como sendo uma
importante ferramenta ou política de contensão da evasão escolar e também como sendo uma
iniciativa positiva para a promoção da empregabilidade e, consequentemente, à promoção do
desenvolvimento social e econômico nos países desenvolvidos, conforme documento
disponível no portal eletrônico do MEC, sob o título “Educação Econômica e
Empreendedorismo na educação Pública: promovendo o protagonismos infanto-juvenil”. De
acordo com este documento,

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) quer uma escola democrática e


participativa, autônoma e responsável, flexível e comprometida, atualizada e
inovadora, humana e holística. Esses princípios contidos nos seus artigos vão
encontrar concordância com os princípios norteadores do empreendedorismo. Tanto
as definições iniciais como as atualizadas do empreendedorismo exigem do
empreendedor comportamento quanto os definidos pela LDB. Conclui-se que a LDB
quer uma escola empreendedora (www.mec.gocv.br).

Conforme relatos de Dornelas (2014), o Ensino do Empreendedorismo no Brasil


começou a ter espaço no cenário educacional a partir da década de 1980 e sua origem se deu
nos cursos superiores do país. A Fundação Getúlio Vargas, em 1981, foi a primeira a incluir o
ensino de empreendedorismo em sua Escola de Administração de Empresas. Outro exemplo,
citado pelo autor, é o interesse do Fórum Econômico Mundial que patrocina a conferência
anual de Davos, e no qual o tema empreendedorismo tem sido amplamente discutido de forma
recorrente.
Dornelas (2014), entre outros, concorda que a educação para o empreendedorismo
tornou-se uma ferramenta importante em um cenário econômico de evolução e transformação
cada vez mais rápida e acelerada. O autor destaca que o empreendedorismo tem sido o centro
das políticas públicas em diversos países e ressalta o reconhecimento da importância do
empreendedorismo como sendo uma política pública que pode gerar benefícios para a
sociedade e para a economia mundial, sendo por isso que já ganhou destaque frente a vários
organismos internacionais.
Em seu relato, Dornelas (2014) ainda destaca a reunião realizada em 2009 por
integrantes do Fórum Econômico Mundial, chamada de “Educando a próxima onda de
empreendedores”. Após vários debates e análises de várias experiências bem-sucedidas em
alguns lugares do mundo, foram feitas algumas recomendações para potencializar cada vez
mais o ensino do empreendedorismo nos jovens para que estes consigam suprir as demandas e
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desafios do cenário do século XXI, frisa o autor. Como observado por Mamede (2005, p. 1),
citando Slaughter (1996), em dezembro de 1993, a Organização das Nações Unidas (ONU) já
aprovara uma resolução reconhecendo o empreendedorismo como sendo uma força social e
econômica de grande importância.
A educação para o empreendedorismo no Brasil hoje tem sido discutida mais
abertamente por pesquisadores, professores, gestores e envolvidos no geral com a educação,
sendo um tema comum no âmbito escolar graças aos diversos projetos realizados,
principalmente, em parceria com o SEBRAE, em escolas públicas e privadas do Brasil. Até
mesmo já tramitou no Governo Federal brasileiro indicação dos deputados João Bittar e Luiz
Carlos Hauly para que o empreendedorismo tornasse disciplina obrigatória do currículo do
ensino fundamental, do ensino médio, da educação profissional e da educação superior no
país. Outras iniciativas no âmbito da esfera do legislativo foram encaminhadas à Comissão de
Educação para análise o Projeto de Lei n.°1.673, elaborado pelo deputado Ângelo Agnolin em
2011, juntamente como mais três projetos apensados, que são eles, os Projetos de Lei n.º
4.182, de 2012, nº 4.184, de 2012 e nº 5.842, de 2013, sendo que dois destes projetos eram de
autoria do Deputado Giovani Cherini e outro do Deputado Sandro Alex.
A proposta da educação para o empreendedorismo na educação básica tem provocado
também polêmicas sob a alegação de que educação básica, na proposta da Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional (LDB), nº 9.394 de 1996, tem por finalidade desenvolver a
formação comum no indivíduo, formação esta indispensável para o exercício da cidadania.
Também é objetivo da Educação Básica fornecer meios para que os estudantes progridam em
estudos posteriores, como assegura o art. 22 da referida lei: “a educação básica tem por
finalidade desenvolver o educando, assegura-lhe a formação comum indispensável para o
exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e em estudos
posteriores”.
Vale destacar que a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, nº 9394, de 1996,
organiza a educação nacional em níveis e modalidades de educação e ensino, a saber: Nível I -
Educação Básica (educação infantil, ensino fundamental e ensino médio); Nível II - Educação
Superior. A Educação Infantil destina-se às crianças com até cinco anos de idade; o Ensino
Fundamental congrega os alunos de seis a quatorze anos e o Ensino Médio destina-se aos
alunos de 15 a 17 anos (BRASIL, 1996).
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É no Ensino Médio, como etapa final da educação básica, que o empreendedorismo


vem sendo mais incentivado como uma estratégia para conter a evasão e, dessa forma,
garantir uma melhoria da empregabilidade. O ensino médio, na atual sistema federativo
brasileiro tem a sua responsabilidade administrativa delegada aos estados (BRASIL, 1996) e
tem uma alta taxa de evasão escolar. De acordo com a Síntese de Indicadores Sociais,
divulgada em 2010 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil tem a
maior taxa de abandono escolar no Ensino Médio entre os países do Mercosul.
Nesta fase são aprofundados os conhecimentos adquiridos no ensino fundamental, o
que deve possibilitar o prosseguimento de estudos. A proposição da educação para
empreendedorismo tem merecido críticas, principalmente pelos mais conservadores, pela sua
ênfase no mundo do trabalho e/ou no mercado que vem se sobrepondo à formação para a
cidadania.

Discussão de dados da pesquisa realizada

Utilizando a metodologia denominada Estado da Arte, foi feita uma pesquisa


documental/eletrônica junto ao banco de dados da CAPES entre os períodos de fevereiro a
março de 2015. A pesquisa teve como norte três proposições: a quantidade de teses e
dissertações publicadas sobre empreendedorismo na educação entre o período de 1990 a
2014; a relação desses trabalhos publicados com o empreendedorismo na educação básica
brasileira; as experiências e ações que estão sendo feitas com relação ao empreendedorismo
na educação brasileira.
Em uma primeira busca, utilizando como palavra chave a expressão
“empreendedorismo educação”, obtivemos um total de 59 trabalhos entre dissertações e teses.
Este número de trabalhos caiu para apenas três (quadro 1) quando utilizamos uma nova
palavra chave “empreendedorismo educação básica”. Assim, podemos dizer que apesar de ser
o empreendedorismo um tema que tem apresentado uma crescente atenção por parte de
pesquisadores e especialistas da área educacional, ficou evidenciado que, no que se refere à
educação básica, o tema empreendedorismo ainda é uma questão pouco discutida no ambiente
acadêmico.
O Estado da Arte das produções acadêmicas – teses e dissertações – publicadas no
banco de dados da CAPES possibilitou uma visualização das áreas de conhecimento em que o
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tema vem sendo pesquisado. Como mostra o quadro 1, a pesquisa revelou as diversas áreas de
abrangência do tema “empreendedorismo” e poucos estudos na educação básica.

Tabela 1: Abrangência do tema com relação as áreas de conhecimento


Empreendedorismo- Empreendedorismo-
Área de Conhecimento
Educação educação Básica
Administração 19 01
Educação 10 02
Engenharia/tecnologia/Gestão 06 -
Sociais e humanidades 06 -
Ciências Ambientais 02 -
Educação Física 02 -
Engenharia de Produção 02 -
Planejamento Urbano e Regional 02 -
Administração de Empresas 01 -
Ciências Contábeis 01 -
Direito 01 -
Economia 01 -
Educação de Adultos 01 -
Ensino de Ciências e Matemática 01 -
Ensino Profissionalizante 01 -
Planejamento Educacional 01 -
Psicologia 01 -
Sociologia 01 -
Total 59 03
Fonte: Banco de teses e dissertações da CAPES.

Observa-se que a maior quantidade trabalhos publicados se deram na área da


Administração e, em segundo lugar, na área da Educação, o que demonstra que o tema já
constitui uma área de pesquisa na educação superior e profissionalizante, mas na educação
básica o empreendedorismo ainda não se constituiu objeto de estudo. No entanto, em uma
rápida busca por meio do Google eletrônico, foi possível observar uma grande quantidade de
artigos publicados em periódicos e também textos nos sites de consultorias empresariais, que
não cabe aqui detalhar porque não estava incluído como procedimento de pesquisa.
Sobre a Análise de Conteúdo, tomou-se como corpus bruto de análise, os 59 trabalhos
acadêmicos encontrados e, deles, foram recortados os resumos, os quais constituíram o corpus
final para estudo e análise. O processo de análise, amparando-se em Bardin (2004) e Chizzotti
(2001, 2003), se deu primeiramente levantando as ideias centrais e, a partir delas, foram
identificadas as categorias. Nesta primeira fase da análise, 26 trabalhos descartados por
estarem fora do escopo da pesquisa, pois não tinham relação com o empreendedorismo, ou se
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referiam ao empreendedorismo no ensino superior ou não abordavam o empreendedorismo no


campo educacional, permanecendo como corpus da análise 33 trabalhos. Desses 33 trabalhos
analisados, emergiram 49 categorias, o que revela uma grande dispersão do tema ou uma
vasta abrangência.
Seguindo orientações de Bardin (2004), procedeu-se a um novo reagrupamento de
categorias por afinidades temáticas em três eixos (quadro 2), a saber: Eixo 1:
empreendedorismo como fenômeno Social; Eixo 2: empreendedorismo como inovação e Eixo
3: empreendedorismo como conhecimento, técnica, atitude e habilidade.
Quadro 2: Agrupamento das categorias por eixo
Eixo 1: Empreendedorismo Eixo 2: Empreendedorismo Eixo 3: Empreendedorismo
como fenômeno Social como Inovação como conhecimento,
técnica, atitude e habilidade
Ideologia; Empreendedorismo no Ensino Profissionalizante;
Pressão Psicológica; discurso da gestão; Mercado;
Estratégia Socioeducativa; Empreendedorismo Estratégia de Formação
Empreendedorismo Social; aplicado na gestão; Profissional;
Empreendedorismo Rural; Empreendedorismo na Empreendedorismo no
Empreendedorismo como Gestão Pública; desenvolvimento local e
capacidade humana social; Inovação; Regional;
Formação empreendedora; Empreendedorismo Empreendedorismo na
Empreendedorismo cultural; inovador; formação profissional;
Empreendedorismo e produção Incubadora e Empreendedorismo na
artística; empreendedorismo; formação de profissionais da
Educação Empreendedora; Ações empreendedoras; educação;
Empreendedorismo e educação Gestão do conhecimento; Empreendedorismo como
extraescolar; Competências estratégia de gestão;
Empreendedorismo e educação empreendedoras. Formação profissional;
profissional; Empreendedorismo aplicado
Empreendedorismo feminino; no desenvolvimento das
Atividades empreendedoras do agroindústrias;
gênero feminino; Empreendedorismo e
Metodologia de Ensino; Neoliberalismo;
Empreendedorismo e qualidade Criação de negócios;
de ensino; Formação da visão de
Educação, empreendedorismo e carreira profissional;
cidadania; Empreendedorismo de
Democratização. negócios;
Empreendedorismo ao
negócio fitness;
Empreendedorismo e
desenvolvimento
sustentável;
Empreendedorismo e
responsabilidade
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socioambiental;
Papel estratégico do
empreendedorismo no
desenvolvimento local;
Teoria do capital humano;
Qualificação para o trabalho;
Empreendedorismo e
negócios;
Empreendedorismo e
tomada de decisão;
Empreendedorismo na
prática aplicado ao ensino.
Fonte: Elaborado pelos autores.

Este reagrupamento se amparou no estudo teórico realizado no percurso da pesquisa o


que possibilitou visualizar os pontos em comum entre as discussões apresentadas nas
publicações e os seus fundamentos teóricos, facilitando dar foco à análise em direção aos
objetivos da pesquisa. Nesse sentido, o Eixo 1 ampara-se nos fundamentos teóricos de
Dolabela (1999; 2000; 2003; 2008); o Eixo 2, em Schumpeter (1949; 1985) e o Eixo 3, em
Dornelas (2011; 2014).
Observa-se a partir da organização das categorias um certo domínio da concepção de
empreendedorismo como conhecimento, técnica, atitude e habilidade, o que vai ao encontro
das discussões que defendem a educação para o empreendedorismo no ensino médio e das
proposições da LDB para este nível de ensino. A LDB nº 9.394, de 1996, consagra o ensino
médio como etapa final da educação básica, lhe atribuindo objetivos abrangentes (art. 35) que
englobam a formação para a continuidade dos estudos, o desenvolvimento da cidadania e do
pensamento crítico, assim como a preparação técnica para o trabalho, assegurada a formação
geral, de modo a ser capaz de se adaptar com flexibilidade a novas condições de ocupação ou
aperfeiçoamento posteriores;
Na perspectiva teórica de Dornelas (2014), empreendedorismo é compreendido como
atitude, sendo mais importante do que o conhecimento técnico. Para o autor, os
empreendedores são visionários, anteveem o futuro para o seu negócio, sua vida e sua
comunidade, e têm a habilidade de implementar seus sonhos e tomar decisões na hora certa,
mesmo ante à diversidade. Transformam ideias abstratas em algo concreto e ultrapassam
obstáculos com uma vontade ímpar de “fazer acontecer”. São inconformados diante da rotina
e adoram o trabalho que realizam, criando valor para a sociedade.
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Cabe também observar as principais críticas realizadas às Diretrizes Curriculares


Nacionais para o Ensino Médio (DCNEM, 2001), como as apresentadas por Moehlecke
(2012, p. 40), identificadas pela autora como as mais recorrentes: a) a subordinação da
educação ao mercado, ressignificando conceitos como flexibilização, autonomia e
descentralização; b) a permanência da separação entre formação geral e formação para o
trabalho; c) o poder de indução relativamente limitado das diretrizes.
Entre as inúmeras críticas às DCNEM, a análise apresentada por Ramos (2004), que
insere as proposições para o ensino médio no contexto da Reforma do Estado, contribui para
compreender o cenário propício para a inserção de propostas pedagógicas, consideradas de
origem do campo empresarial na educação básica, principalmente no ensino médio. Para
Ramos (2004), as políticas da Reforma que pretendiam tornar o Estado mais enxuto em
termos de suas responsabilidades sociais e mais permeável às parcerias com a iniciativa
privada, repercutiram em mudanças propostas para a área da educação que acabaram por
subordinar esta à lógica econômica e às demandas do mercado de trabalho.
No caso do ensino médio a ênfase na necessidade de um currículo cada vez mais
flexível, para se adequar a um mundo produtivo em constante transformação e cada vez mais
instável, que agora demanda uma qualificação para a “vida”: “[...] preparar para a vida
significava desenvolver competências genéricas e flexíveis, de modo que as pessoas
pudessem se adaptar facilmente às incertezas do mundo contemporâneo” (RAMOS, 2004, p.
39). Percebe-se o mesmo sentido dos argumentos apresentados por Dornelas (2014) sobre a
importância de educar para o empreendedorismo e no documento do PRELAC, ao
fundamentar o 5º pilar da educação “saber empreender”. Segundo Dornelas (2001, 2014) são
essas atitudes que estão presentes em apenas uma pequena fração da população que definem o
tipo de empreendedor e também a função empresarial. Essa função não consiste
essencialmente em inventar nada ou criar condições para serem exploradas por uma empresa.
Consiste em fazer as coisas acontecerem, vincula-se ao comportamento e à atitude.
Por fim, cabe ainda acrescentar informações obtidas no documento visitado no portal
do MEC “A introdução do empreendedorismo, na educação básica, tem um caráter
transformador, significando quebra de paradigmas na tradição didática” (www.mec.gov.br).
Apresentando uma crítica à escola e aos educadores que, no sistema atual de ensino, “é
voltado para a aquisição de conhecimento sem se preocupar em desenvolver habilidades
específicas para a aplicação deste na prática; muito menos busca desenvolver a cultura
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empreendedora’, o autores do referido documento sugerem que os projetos para a formação


empreendedora devem ser elaborados, a partir do desafio de se introduzir novos conteúdos e
didáticas, que superem obstáculos e resistências a uma nova metodologia mais ativa e
participativa em sala de aula, por meio da educação para o empreendedorismo.

Considerações

A partir deste estudo é possível considerar que há um forte incentivo para a introdução
do empreendedorismo como componente curricular na educação básica brasileira. No caso do
ensino superior, tanto no ensino privado quanto público, o empreendedorismo está presente
nos cursos, como disciplina obrigatória ou como formação complementar. No caso da
educação básica, observa-se que a educação para o empreendedorismo vem se dando
principalmente por meio de projetos como a “pedagogia empreendedora”, amparados em
Fernando Dolabela, por iniciativa própria dos gestores educacionais ou por meio de parcerias
com o SEBRAE.
Conforme apresentado neste texto, é possível constatar que existe na atualidade uma
tendência muito forte à propagação do ensino do empreendedorismo na educação básica
brasileira, como componente curricular ou como tema transversal. Há indícios claros de que
várias são as ações que buscam levar este tema às escolas brasileiras, principalmente as
públicas, como uma forma de preparar a juventude para enfrentar a competição no mercado
de trabalho e melhorar a empregabilidade. A educação para o empreendedorismo é apontada
como uma forma de oferecer-lhes “uma formação que lhes permita valorizar, ainda mais, o seu
potencial empreendedor, que é nato, conforme Dolabela (2004), visto que esse potencial pode lhes
ser útil na busca e compreensão de seus direitos como cidadãos, transformadores das realidades
em que vivem” (www.mec.gov.br).
Percebe-se também que existe um significativo volume de estudos acadêmicos sobre o
tema empreendedorismo na educação, principalmente no ensino superior, porém a quantidade
de trabalhos publicados diminui bruscamente quando se relaciona este tema à área
educacional de nível básico. As ações e experiências de educação empreendedora que
acontecem, neste nível de ensino, geralmente são em parcerias com o SEBRAE, ou por
iniciativas próprias de instituições privadas ou advindas da educação profissionalizante.
A implantação nos currículos escolares da disciplina de empreendedorismo tem sido
apresentada como sendo uma importante ferramenta de contensão da evasão escolar e também
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como sendo uma iniciativa positiva para a promoção da empregabilidade e,


consequentemente, à promoção do desenvolvimento social e econômico nos países
desenvolvidos. A UNESCO em seus documentos e relatórios reforça a importância de se
ensinar o empreendedorismo ou propor uma educação empreendedora nas escolas, haja vista
o que ela propõe através do PRELAC no que consiste a inclusão de um 5° pilar denominado
“Aprender a Empreender”. Para a UNESCO o ensino do empreendedorismo é uma ferramenta
capaz de formar um indivíduo para se sobressair frente aos desafios do século XXI.

REFERÊNCIAS

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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio.


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______. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a


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BRASIL. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Lei de Diretrizes e Bases da Educação


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