Beruflich Dokumente
Kultur Dokumente
2017
IPSA - DISCIPULADO
Material de Apoio para Discipuladores
3
SUMÁRIO
01 – Quem vai para o céu? ......................................................................................................... 4
Da queda do homem, do seu pecado e do seu castigo (CFW, Cap. VI) ......................... 4
Ezeq. 18:30-31 e 34:31; Sal.51:4; Jer. 31:18-19; II Cor.7:11; Sal. 119:6, 59, 106; Mat.
21:28-29.
Você não pode começar a avaliar a redenção, até que compreenda o que a Bíblia
nos ensina a respeito da condição do homem no pecado e de todos os efeitos do pecado
no homem. Permita-me dizê-lo com outras palavras: você não pode entender a doutrina
da encarnação de Cristo, a menos que entenda a doutrina do pecado. A Bíblia nos ensina
que o homem estava em uma condição tão deplorável, que exigia a vinda, dos céus à terra,
da Segunda Pessoa da bendita e santíssima Trindade. Ele teve de humilhar-se e assumir
a natureza humana, nascendo como um bebê. Isso era absolutamente essencial, para que
o homem fosse redimido.
Por quê? Por causa do pecado e da sua natureza. Por conseguinte, você não pode
entender a encarnação de Jesus, a menos que tenha um entendimento claro sobre o
pecado. De maneira semelhante, considere a cruz no monte Calvário. O que ela significa?
O que a cruz nos diz? O que aconteceu lá? Digo novamente que você não pode entender a
morte de nosso Senhor e o que Ele fez na cruz, se não possui um entendimento claro sobre
a doutrina do pecado. A completa imprecisão das idéias de muitas pessoas a respeito da
morte de nosso Salvador se deve completamente a este fato: e elas não gostam da
doutrina da substituição, não gostam da doutrina do sofrimento penal.
Isso acontece porque nunca compreenderam o problema e não vêem o homem
como um criatura caída no pecado. Estas são as doutrinas fundamentais da fé cristã; não
se pode entender a redenção, exceto à luz da terrível condição do homem no pecado.
6
I. Boas obras são somente aquelas que Deus ordena em sua santa palavra, não as
que, sem autoridade dela, são aconselhadas pelos homens movidos de um zelo cego ou
sob qualquer outro pretexto de boa intenção.
Miq. 6:8; Rom. 12:2; Heb. 13:21; Mat. I5:9; Isa. 29:13; I Ped. 1:18; João 16:2; Rom.
10:2;1 Sam. I5:22; Deut. 10:12-13; Col. 2:16, 17, 20-23.
II. Estas boas obras, feitas em obediência aos mandamentos de Deus, são o fruto e
as evidências de uma fé viva e verdadeira; por elas os crentes manifestam a sua gratidão,
robustecem a sua confiança, edificam os seus irmãos, adornam a profissão do Evangelho,
tapam a boca aos adversários e glorificam a Deus, cuja feitura são, criados em Jesus Cristo
para isso mesmo, a fim de que, tendo o seu fruto em santificação, tenham no fim a vida
eterna.
Tiago 2:18, 22; Sal. 116-12-13; I Ped. 2:9; I João 2:3,5; II Ped. 1:5-10; II Cor. 9:2;
Mat. 5:16; I Tim. 4:12; Tito 2:5, 912; I Tim. 6:1; I Pedro. 2:12, 15; Fil. 1,11; João 15:8; Ef.
2:10; Rom. 6:22.
seus convertidos". Então o veio a resposta: "Isso pode ser. Se o senhor fosse um converso
de Deus, não estaria nessas condições". Assim como este bêbado, muitos dizem serem
convertidos, mas na verdade nunca foram. A conversão de Saulo nos mostra evidências
de uma verdadeira conversão.
Esta conversão é tão significativa que Lucas registra três vezes no livro de Atos,
capítulos 9, 22 e 26. Analisando a vida de Saulo, quais são as evidências de uma
verdadeira conversão?
I) Mudança de vida
Quem era Saulo? Ele mesmo responde essa pergunta três vezes na Bíblia nos
capítulos 22 e 26 de Atos e Gálatas 1. Ele era perseguidor da igreja de Cristo, assim
perseguidor de Cristo.Saulo era judeu, contudo nasceu em Tarso da Cicília (Atos 22.3) –
A cidade de Tarso é hoje a atual Turquia – Essa cidade era famosa por suas escolas. Ele
era fariseu (At.23.6; 26.5; Fp 3.5).
O primeiro possível aparecimento do apóstolo no NT, foi no julgamento de Estevão
em Atos 6.8-15. Quando Estevão é apedrejado, encontramos Saulo (v.58). Para
entendermos melhor o que Saulo estava fazendo ali, precisamos ir até o livro de
Deuteronômio: “Por depoimento de duas ou três testemunhas, será morto o que houver
de morrer; por depoimento de uma só testemunha, não morrerá. A mão das testemunhas
será a primeira contra ele, para matá-lo; e, depois, a mão de todo o povo; assim, eliminarás
o mal do meio de ti.”(Dt 17.6,7). As testemunhas eram as primeiras a jogar pedras. No
texto de Atos as vestes daqueles que arremessavam pedras foram jogadas aos pés de
Saulo. Com isso vemos que ele consentiu na morte de Estevão (cf Atos 8.1). E sobre isto
ele confessa: “e assim procedi em Jerusalém. Havendo eu recebido autorização dos
principais sacerdotes, encerrei muitos dos santos nas prisões; e contra estes dava o meu
voto, quando os matavam.” (Atos 26.10).Veja a destruição que este homem causou à
igreja: “Saulo, porém, assolava a igreja, entrando pelas casas; e, arrastando homens e
mulheres, encerrava-os no cárcere”. (Atos 8.3). O verbo empregado para “assolava” é o
mesmo verbo “devastar” empregado no Salmo 80.13 em relação a um animal selvagem.
Essa devastação está registrada em Atos 9.21 e Gálatas 1.13,23 – verbos como devastar,
perseguir e destruir são usados para descrever o comportamento de Saulo antes da
conversão - Ler Atos 26.9-11.
8
Saulo era tão mal que os crentes não acreditaram que ele havia convertido (Atos
9.26). Este era Saulo antes de encontrar com Jesus, porém se torna de perseguidor a
pregador do evangelho.
O que é uma mudança de vida?
No grego a palavra “conversão” (metanóia), literalmente significa “mudar de
mente”, “arrependimento”. Veja o uso dessa palavra: “… O tempo está cumprido, e o reino
de Deus está próximo; arrependei-vos e crede no evangelho.”(Marcos 1.5). Isso significa
abandonar o velho homem (cf Romanos 6.6). O próprio Saulo depois afirmou: “… já não
sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que, agora, tenho na carne, vivo
pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim.”(Gálatas 2.20).
Este homem teve a sua mente mudada, os seus objetivos eram outros. Ele era um
crente!Uma mudança real de vida é evidência da verdadeira conversão.
A segunda evidência de uma verdadeira conversão na vida de Saulo foi sua…
Ele se torna um evangelista: “E logo pregava, nas sinagogas, a Jesus, afirmando que
este é o Filho de Deus.” (Atos 9.20). A partir do versículo 20, nós vamos ver em Saulo um
comportamento muito comum na vida de um convertido: pregação do evangelho.
“Estava com eles em Jerusalém, entrando e saindo, pregando ousadamente em
nome do Senhor.”(Atos 9.28) - Saulo foi mandado para Cesaréria e dali para Tarso a sua
terra natal. Lá ele ficou alguns anos, possivelmente pregando o evangelho. Depois desses
anos Barnabé foi até ele (Atos. 11.25), e encontrando-o, o levou para Antioquia, para
pregarem lá o evangelho. E assim deu-se início a história missionária do apóstolo Paulo.
“Pois não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo
aquele que crê, primeiro do judeu e também do grego;”(Romanos 1.16)
“Fiz-me fraco para com os fracos, com o fim de ganhar os fracos. Fiz-me tudo para com
todos, com o fim de, por todos os modos, salvar alguns.” (1 Coríntios 9.22)
O exemplo de Saulo nos ensina que a conversão gera no novo discípulo de Cristo o
desejo de pregar o seu evangelho. Este é um sinal encontrado na vida de um verdadeiro
convertido.
CONCLUSÃO: Saulo (que teve o nome mudado para Paulo por estratégia
missionária) era um perseguidor implacável da igreja, mas o encontro com Cristo, tornou-
se um grande pregador da Palavra de Deus. E você? O que você era antes de encontrar
com Jesus? E o que você é agora? É tempo de analisar se há em você evidências da
verdadeira conversão. Se o evangelho não tivesse sido pregado a você, onde você estaria
agora? Como estaria a sua vida? Pense nisso e anuncie o evangelho Cristo.
10
III. Aqueles que, sob o pretexto de liberdade cristã, cometem qualquer pecado ou
toleram qualquer concupiscência, destroem por isso mesmo o fim da liberdade cristã; o
fim da liberdade é que, sendo livres das mãos dos nossos inimigos, sem medo sirvamos
ao Senhor em santidade e justiça, diante dele todos os dias da nossa vida.
Luc. 1:74-75; Rom. 6:15; Gal. 5:13; I Ped. 2:16; II Ped. 3: 15.
em seu nome, não em nosso. Fazer discípulos de todas as nações não é uma causa pessoal,
é o plano redentor do próprio Deus. A nossa motivação, então, resulta de uma submersão
na graça de Deus, e não do alinhamento dos outros com a nossa maneira de fazer as coisas.
Como podemos continuar a fazer discípulos quando estamos submersos no
pecado até o pescoço? Temos que lembrar que o sucesso da nossa missão exige não só a
autoridade do Rei, mas também a misericórdia do Messias. Ele é o Discípulo que tem
sucesso onde nós falhamos, em perfeita obediência a Deus. Nós estendemos a
misericórdia que vem das misericórdias dele, as quais se renovam a cada dia.
Mas e se o campo missionário for muito difícil? Eis que ele está conosco sempre,
até o fim dos tempos. Nós dependemos não só da obediência passada do Discípulo Fiel,
mas também da atual presença do Senhor ressurreto. Fazemos discípulos na autoridade
de Jesus, imersos na graça de Jesus, permanecendo na misericórdia de Jesus, com a
promessa da presença eterna do Rei Jesus. Os discípulos precisam recuperar a motivação
única para suportar todo o custo - a suficiência infinita e o esplendor do nosso Senhor.
Por que seguimos Jesus? Por causa de quem ele é. Se tivermos Jesus, temos mais
do que o suficiente para fazermos discípulos.
13
A mão dele segurou a dela mais firmemente, e ele disse: “Eu conheço você desde
que éramos crianças. Eu conheço os seus defeitos, mas eu amo você. Eu escolhi você, e
não há mais ninguém que eu queira”.
“Eu confio sim em você”, ela disse a ele, “eu só preciso aprender a confiar mais em
você”.
Cristãos podem sentir-se em uma condição semelhante com relação ao Senhor.
Como crentes, confiamos em Deus e sabemos que ele é digno de confiança. Mas a dúvida,
a culpa e o medo podem devorar a nossa convicção de que somos e sempre seremos dele.
Às vezes tememos ser abandonados.
A certeza da salvação é ao mesmo tempo profundamente pessoal e profundamente
doutrinária. Ela estava no coração do debate da Reforma. A Igreja Católica Romana dizia
que um cristão não pode ter certeza sem primeiro ter uma extraordinária e direta
revelação de Deus. Os reformadores, como João Calvino, disseram que a certeza é o direito
de nascimento de todo crente, embora ele possa ser experimentado em graus variáveis.
Devemos primeiro entender o relacionamento entre fé e certeza. A certeza surge
da essência da fé, assim como maçãs crescem naturalmente em macieiras. A certeza é a
“cereja do bolo” da fé. A essência da fé é a confiança. A fé compreende o Deus da aliança e
o considera suficiente. Como diz o Salmo 18.2: “O SENHOR é o meu rochedo, e o meu lugar
forte, e o meu libertador; o meu Deus, a minha fortaleza, em quem confio” (ACR).
Portanto, os crentes podem, de forma legítima, ter certeza da sua salvação. Davi
confessa: “O SENHOR é o meu pastor” (Sl 23.1). Paulo declara: “porque eu sei em quem
tenho crido e estou certo de que ele é poderoso para guardar o meu tesouro até aquele
Dia” (2Tm 1.12).
A essência da certeza é saber que eu sou salvo — que os meus pecados estão
perdoados e que eu pertenço a Deus — e, portanto, eu conheço e experimento comunhão
com o Deus triúno. Em Efésios 3.11-12, Paulo escreve a respeito do eterno propósito de
Deus “em Cristo Jesus, nosso Senhor, pelo qual temos ousadia e acesso com confiança,
mediante a fé nele”. Ele descreve esse acesso em termos trinitarianos: “pois por meio dele
[Cristo], ambos temos acesso ao Pai no mesmo Espírito” (Ef 2.18).
Cada pessoa da Trindade está envolvida na certeza da fé. Pai, Filho e Espírito Santo
nos levam a aproximarmo-nos de Deus com ousadia como o nosso misericordioso e
glorioso “Aba, Pai” (Rm 8.15; veja também Sl 103.13; Gl 4.6). Nós temos essa ousadia para
com Deus através da obra de Cristo de morrer na cruz e nos atrair para perto de Deus em
15
paz (Ef 2.13-14). O Espírito Santo nos capacita a experimentar a alegria e a paz de
sabermos que somos filhos de Deus (Rm 8.16; Gl 5.22). Conforme confiamos em Cristo, o
Deus da esperança nos enche de alegria e paz pelo poder do Espírito Santo (Rm 15.12-
13).
Contudo, certeza não é algo automático. A Confissão de Fé de Westminster nos diz
que verdadeiros cristãos podem passar por muitos conflitos sem certeza (18.3). Certeza
é o fruto da fé salvífica. Assim como uma geada fora de tempo pode evitar que uma árvore
dê frutos por uma estação, assim também a certeza pode não existir por um tempo
mesmo onde há fé verdadeira, e um crente pode, por um tempo, não ter essa certeza.
Um filho de Deus pode andar em trevas (Is 50.10). Pense em Davi, que implorou:
“Não me repreendas, SENHOR, na tua ira [...]Pois já se elevam acima de minha cabeça as
minhas iniquidades” (Sl 38.1, 4). Semelhantemente, Hemã, o ezraíta, chorou: “Sobre mim
pesa a tua ira; tu me abates com todas as tuas ondas” (88.7).
Pedro nos exorta a “nos esforçarmos cada vez mais por firmar nosso chamado e
eleição” (2Pe 1.10). As suas palavras indicam que um cristão pode encontrar certeza de
que Deus o escolheu e o chamou para a salvação em Cristo. Tal certeza é normalmente
inseparável do andar com Deus na fé.
A Confissão de Westminster diz:
Uma infalível segurança da fé [é] fundada na divina verdade das promessas de
salvação, na evidência interna daquelas graças a que são feitas essas promessas, no
testemunho do Espírito de adoção que testifica com os nossos espíritos sermos nós filhos de
Deus (18.2).1
Examinemos cada um desses meios de alcançar essa segurança.
A maneira de buscá-la é, primeiro, procurar arduamente conhecer Deus
experimentalmente através das suas grandes e preciosas promessas (2Pe 1.2-4). O
evangelho promete que Cristo é dado gratuitamente a nós em toda a sua suficiência. Se
você vê essas promessas como o “Sim” de Deus em Cristo, você será fortalecido para dar
o seu “Amém” a elas (2Co 1.20). Anthony Burgess, que foi um dos teólogos de
Westminster, escreveu: “Confiar em Deus e em Cristo quando não sentimos nada além de
culpa e destruição dentro de nós é a maior honra que podemos dar a Deus”.
Segundo, devemos buscar crescimento espiritual ao agir a partir das promessas.
Pedro disse que Deus nos deu as suas promessas “para que por elas vos torneis
coparticipantes da natureza divina”, isto é, para que sejamos conformados à imagem de
16
Nenhum edifício erigido por mãos humanas pode ser e permanecer sólido e forte,
a não ser que os seus alicerces estejam bem fixos e sejam firmes. Um edifício alto não
pode ser construído sobre uma fundação tendente a fragmentar-se. Não se deve construir
um edifício sobre mero lixo ou entulho. Sem uma base sólida e sem colunas enterradas
profundamente, a estrutura superior cairá. E mais, quanto mais alto o edifício, mais
18
do martírio podem fazê-la cair. De fato, sempre que a igreja é edificada sobre a sólida
rocha da graça soberana de Deus, ela permanece inamovível, como inamovível tem
permanecido nas horas mais tenebrosas da história.
A Graça Soberana: um Firme Fundamento
As verdades da graça soberana formam o mais forte fundamento doutrinário para
qualquer igreja ou crente. As doutrinas relacionadas com a soberania de Deus na salvação
do homem lançam a mais sólida pedra angular e, assim, protegem firmemente a vida e o
ministério do povo de Deus. O culto na igreja é mais puro quando o ensino dessa igreja
sobre a graça soberana é mais claro. Seu modo de viver é mais limpo quando a sua
exposição das doutrinas da graça é mais rica. Sua comunhão é mais agradável quando a
instrução sobre a soberania de Deus é mais firme. Sua obra de evangelização no mundo é
mais forte quando a sua proclamação da teologia transcendental é mais ousada. A vida
espiritual da igreja toda é elevada quando a sua mensagem está ancorada no mais alto
conceito sobre a graça soberana de Deus. Foi nos tempos da história em que as doutrinas
da graça eram apresentadas em sua rica plenitude, que a igreja esteve melhor. Eis onde
permanece o firme fundamento da igreja: nas enriquecedoras verdades da graça
soberana.
A respeito desse sólido fundamento, Benjamin B. Warfield escreveu:
Pois bem, estes Cinco Pontos compõem uma unidade orgânica, um singular e uno
corpo da verdade. Eles estão baseados em duas pressuposições que a Escritura endossa
abundantemente. A primeira pressuposição é a completa impotência do homem, e a
segunda é a absoluta soberania de Deus em sua graça. Todos os demais pontos são
decorrências. O local de encontro desses dois fundamentos é o coração do Evangelho,
pois, se o homem é totalmente depravado, segue-se que é necessário que a graça de Deus
em salvá-lo seja soberana. De outro modo, o homem inevitavelmente a recusará em sua
depravação, e permanecerá não redimido. 1
Warfield está certo em sua avaliação. A culpa humana e a graça divina se cruzam
no Evangelho, e as doutrinas da graça soberana retratam vividamente a grandiosidade da
obra de salvação planejada e operada por Deus.
Sobre este ponto, Boice declara sucintamente: "As doutrinas da graça
permanecem ou caem juntas, e juntas apontam para uma verdade central: a salvação é
toda de graça porque é toda de Deus; e, porque é toda de Deus, é toda para a sua
glória". 2 Toda a glória seja para Deus, que supre toda a graça.
20
nefasta daquele tipo de teologia sistemática tradicional que faz uma abordagem
mecanicista da realidade e não dedica espaço para a oração. Mas será que os padres
místicos medievais poderiam servir de modelo para o avivamento espiritual tão
necessário em nossos dias?
Mais tarde, ouvi a mesma proposta vinda de gente que defendia o diálogo com o
catolicismo e a Igreja Ortodoxa via misticismo medieval, que funcionaria como uma
espécie de ponte para esse diálogo. Depois me inteirei que vários teólogos católicos
modernos estão afinados no mesmo discurso. E quando finalmente ouvi neoliberais se
dizendo místicos e espirituais, e defendendo a mesma coisa, fiquei de orelha em pé. Por
que neoliberais, que acreditam que a verdade evolui e muda, que são críticos ferozes de
tudo que é antigo na Igreja, agora resolveram beber no misticismo medieval?
Preciso esclarecer, de saída, que não estou dizendo que todo mundo que defende
aspectos da espiritualidade medieval para hoje é neoliberal. Preciso também esclarecer
que, a princípio, estou aberto para aprender com os cristãos do passado, ainda que sejam
católicos romanos medievais. Também quero acreditar que os atuais proponentes
evangélicos da espiritualidade estão examinando tudo e retendo apenas o que é bom. Não
sei, contudo, como conseguirão separar a mística medieval da teologia medieval, eivada
do catolicismo que foi denunciado pelos Reformadores.
Mas o meu objetivo nesse post é o interesse dos neoliberais no misticismo
medieval. Algo não está batendo direito, a não ser que tenham encontrado no misticismo
dos monges semelhanças com a espiritualidade em que acreditam.
A primeira pode ser o foco na experiência, a ausência da Bíblia e o conseqüente
esvaziamento de conteúdo teológico. Sei que alguns místicos citavam a Bíblia, mas vai
uma distância muito grande entre fazer isso e desenvolver uma espiritualidade que seja
decorrente da teologia bíblica. A piedade ascética certamente não era moldada pelas
Escrituras, a começar pelos votos de abstinência, a auto-flagelação, o isolamento social e
uma vida dedicada à contemplação. Para não falar na busca de Deus de forma direta. A
mística medieval, com raras e notáveis exceções, é voltada para a experiência interior,
para a busca do êxtase, do mistério, de uma comunhão com Deus que não tenha troca de
conteúdos, onde o homem não fala teologicamente e Deus também não responde
teologicamente. A mesma coisa ocorre com os herdeiros pós-modernos de F.
Schleiermacher, o pai do liberalismo protestante. Para ele a religião consistia no senso
interior de dependência de Deus, não na aderência a qualquer conteúdo doutrinário. Na
22
mesma linha, Paul Tillich, influenciado pelo místico Meister Eickhart, disse, “se a oração
é trazida ao nível de uma conversa entre dois seres, é blasfema e ridícula” (Teologia
Sistemática, I, 112). Os neoliberais, ao final, também concordam que o âmago da religião
é a experiência individual direta com o inefável. E assim, encontraram nos monges suas
almas-gêmeas.
Uma segunda semelhança aparente entre a espiritualidade medieval e a neoliberal
é a teologia natural. O Deus que desejam encontrar em suas experiências é aquele de
quem podem aprender pela natureza ou dentro de si mesmos. A contemplação meditativa
e a comunhão mística com a natureza, seus rios, montanhas, florestas e vales (quem não
lembra do “irmão sol” e da “irmã lua” de Francisco de Assis?) colabora para a mística
medieval, que nesse ponto não somente é similar à religiosidade neoliberal, mas também
à espiritualidade pagã, conforme post de Mauro Meister aqui no blog.
Terceira, a abertura para novas revelações. Grande parte das experiências dos
místicos medievais consistia em visões ou contemplações diretas de Deus. A famosa
mística medieval, a freira beneditina Hildegard (1098-1179), por exemplo, teve visões de
Deus desde os três anos, nas quais Deus revelou-lhe a natureza dele e do universo. Sua
obra Scivias, um clássico do misticismo medieval, relata essas visões. Já o famoso Inácio
de Loyola, depois de ler o livro Vida de Cristo do monge místico Ludolfo da Saxônia (séc.
XIV), experimentou visões místicas de Cristo e da virgem Maria. A própria Teresa de Ávila,
ícone da espiritualidade medieval, narra em Castelo Interior como, em uma série de
experiências místicas, Jesus veio a ela pessoalmente, a partir das quais ela começou a
amá-lo apaixonadamente. Neoliberais não têm visões, mas acreditam que a verdade
sempre está evoluindo, que Deus está sempre revelando coisas novas à Igreja. Em ambos
os casos, místicos e neoliberais buscam a Deus sem a mediação das Escrituras.
A quarta semelhança pode ser o messianismo não-conformista. Muitos místicos se
isolaram em protesto contra a corrupção da Igreja de sua época. Eles queriam reformá-la
e livrá-la de suas corrupções. Inconformados, retiraram-se em busca de maior comunhão
com Deus. O misticismo deles vem dessa vida de isolamento, dedicado à contemplação,
fechados em seus mosteiros ou perdidos em cavernas e desertos. Os neoliberais também
são messiânicos e se julgam comissionados a reformar por inteiro a Igreja de seus dias,
embora adotem a tática de ficar dentro dela, em vez de sair.
Uma quinta semelhança é a crença última na salvação por obras. O misticismo
medieval era ascético – algo bastante diferente da doutrina paulina da justificação pela fé
23
alma”.1 Na obra escrita por Richard Baxter sobre a santidade, os próprios títulos dos
capítulos são esclarecedores: “Santidade é o único caminho de segurança”; “Santidade é
o caminho mais benéfico”; “Santidade é o único meio honroso”; “Santidade é o caminho
mais agradável”. Contudo, ainda mais importante, a santidade glorifica ao Deus que você
ama (Is 43.21). Como afirmou Thomas Brooks: “A santidade faz o máximo para honrar a
Deus”.
A santidade fomenta a semelhança a Cristo
Thomas Watson escreveu: “Devemos nos empenhar em sermos semelhantes a
Deus em santidade. Este empenho é um espelho nítido no qual podemos ver um rosto; é
um coração santo no qual pode ser visto algo do caráter de Deus”.4 Cristo é o padrão de
santidade para nós — o padrão de humildade santa (Fp 2.5-13), compaixão santa (Mc
1.41), perdão santo (Cl 3.13), altruísmo santo (Rm 15.3), indignação santa contra o
pecado (Mt 23) e oração santa (Hb 5.7). Desenvolver a santidade que procura
assemelhar-se a Deus e tem a Cristo como padrão nos salva de muita hipocrisia e de um
cristianismo apenas domingueiro. Esta santidade nos dá vitalidade, propósito, significado
e direcionamento no viver diário.
A santidade dá evidência da justificação e da eleição
A santificação é um fruto inevitável da justificação (1 Co 6.11). Estes dois
elementos podem ser distinguidos, mas nunca separados; o próprio Deus os uniu. A
justificação está organicamente ligada à santificação; o novo nascimento dá origem à uma
nova vida. O justificado andará no “caminho de santidade do Rei”. Em Cristo e através
dEle, a justificação dá ao filho de Deus o direito e a ousadia de entrar no céu; a santificação
dá-lhe a aptidão para o céu e a preparação necessária para chegar lá. A santificação é a
apropriação pessoal dos frutos da justificação. B. B. Warfield observa: “A santificação é
tão-somente a execução do decreto de justificação. Pois, se a santificação falhasse, a
pessoa justificada não seria liberta de acordo com sua justificação”. Conseqüentemente,
o decreto de justificação de Cristo, em João 8.11 (“Nem eu tampouco te condeno”), é
imediatamente seguido pelo chamado à santidade: “Vai e não peques mais”. A eleição é
também inseparável da santidade: “Deus vos escolheu desde o princípio para a salvação,
pela santificação do Espírito e fé na verdade” (2 Ts 2.13). A santificação é a marca de
identificação das ovelhas eleitas de Cristo. Por isso, a eleição é sempre uma doutrina
confortante para o crente, pois esta é o seguro fundamento que explica a graça de Deus
operando nele. Por isso, os nossos antepassados reformados consideravam a eleição
26
como um dos maiores consolos do crente, visto que a santificação torna visível a eleição.
Calvino insistiu que a eleição não deveria desanimar ninguém, pois o crente recebe
consolo dela, e o incrédulo não é chamado a considerá-la — antes, ele é chamado ao
arrependimento. Aquele que fica desanimado pela eleição, ou confia-se à eleição sem
viver uma vida de santidade, está se tornando vítima de um mau uso satânico desta
doutrina preciosa e encorajadora (veja Dt 29.29). Como afirma J. C. Ryle: “Não é permitido
a nós, neste mundo, estudar as páginas do Livro da Vida, e ver se nossos nomes
encontram-se ali. Mas, se há algo nítido e plenamente declarado a respeito da eleição, é
isto — que os homens e mulheres eleitos serão conhecidos e distinguidos por vidas
santas”.8 A santidade é o lado visível de sua salvação. “Pelos seus frutos os conhecereis”
(Mt 7.16).
A santidade promove a segurança
“Todos podem estar seguros de sua fé por meio de seus frutos” (Catecismo
Heidelberg, Questão 86). Teólogos reformados concordam que muitas das formas e graus
de segurança experimentados por crentes genuínos — especialmente segurança diária
— são alcançados gradualmente no caminho da santificação, mediante o cuidadoso
conhecimento da Palavra de Deus, dos meios da graça e da conseqüente obediência.9 Uma
aversão crescente pelo pecado, mediante a mortificação, e um amor crescente pela
obediência a Deus, por meio da vivificação, acompanham o progresso da fé, enquanto ela
cresce em segurança. A santidade centralizada em Cristo e operada pelo Espírito é a maior
e mais sã evidência da filiação divina (Rm 8.1-16). O meio de perder um senso diário de
segurança é deixar de buscar santidade diariamente. Muitos crentes vivem de modo
relapso. Tratam o pecado despreocupadamente, ou negligenciam as devocionais diárias
e o estudo da Palavra. Outros vivem de maneira muito inativa. Não desenvolvem a
santidade, mas assumem a postura de que nada pode ser feito para nutrir a santificação,
como se esta fosse algoexterno a nós, exceto em raras ocasiões, quando algo muito
especial “acontece” interiormente. Viver de maneira descuidada e inerte é pedir por
escuridão espiritual, desalento e falta de frutos diariamente.
A santidade nos purifica
“Todas as coisas são puras para os puros; todavia, para os impuros e descrentes,
nada é puro” (Tt 1.15). A santidade não pode ser exercitada, quando o coração não foi
fundamentalmente transformado por meio de regeneração divina. Por meio do novo
nascimento, Satanás é destituído, a lei de Deus é escrita no coração do crente, Cristo é
27
coroado Senhor e Rei e o crente é feito “disposto e pronto, conseqüentemente, para viver
em Cristo” (Catecismo Heidelberg, Questão 1). “Cristo em nós” (Christus in nobis) é um
complemento essencial para “Cristo por nós” (Christus pro nobis). O Espírito de Deus não
apenas ensina ao crente o que Cristo fez, como efetiva a santidade e a obra de Cristo em
sua vida pessoal. Por meio de Cristo, Deus santifica seu filho e faz suas orações e ações de
graças aceitáveis. Como disse Thomas Watson: “Um coração santo é o altar que santifica
a oferta; se não é por satisfação, é por aceitação”.
A santidade é essencial para um serviço efetivo a Deus
Paulo une a santificação à utilidade: “Assim, pois, se alguém a si mesmo se purificar
destes erros, será utensílio para honra, santificado e útil ao seu possuidor, estando
preparado para toda boa obra” (2 Tm 2.21). Deus usa a santidade para assistir aos
pregadores do evangelho, para aumentar a influência da fé cristã, a qual é desonrada pelo
descuido dos crentes e hipócritas que freqüentemente servem como os melhores aliados
de Satanás.
Nossas vidas estão sempre fazendo o bem ou o mal; elas são uma carta aberta para
que todos leiam (2 Co 3.2). Um viver santo influencia e impressiona mais do que qualquer
outra coisa; nenhum argumento pode igualar- se a uma vida santa. Ela mostra a beleza da
religião; dá credibilidade ao testemunho e ao evangelismo (Fp 2.15).13 A “santidade”,
escreve Hugh Morgan, “é o modo mais eficiente de influenciar pessoas não convertidas e
de criar nelas uma disposição para ouvir a pregação do evangelho” (Mt 5.16; 1 Pe 3.1-2).
A santidade manifesta-se em humildade e reverência a Deus. Deus procura e usa pessoas
humildes e reverentes (Is 66.2). Como observa Andrew Murray: “O maior teste para
sabermos se a santidade que professamos buscar ou possuir é verdade e vida, será
observar se ela se manifesta na crescente humildade que produz. Na criatura, a
humildade é algo necessário para permitir que a santidade de Deus habite nela e brilhe
por meio dela. Em Jesus, o Santo de Deus que nos faz santos, a humildade divina foi o
segredo de sua vida, sua morte e sua exaltação. O teste infalível para nossa santidade será
a humildade diante de Deus e dos homens, a qual nos marca. A humildade é o esplendor
e a beleza da santidade”.
A santidade nos prepara para o céu
Hebreus 12.14 diz: “Segui [literalmente: buscai]... a santificação, sem a qual
ninguém verá o Senhor”. Como escreveu John Owen: “Não há imaginação que iluda tanto
o homem, que seja mais tola e mais perniciosa do que esta: que pessoas não purificadas,
28
não santificadas, que não buscam santidade em suas vidas possam depois ser levadas a
um estado de bênção, que consiste no gozo de Deus. Nem podem tais pessoas ter gozo de
Deus, nem tampouco Deus ser o galardão delas. De fato, a santidade é aperfeiçoada no
céu; contudo, o começo dela está invariavelmente restringido a este mundo. Deus leva
para o céu somente aquele que Ele santifica nesta terra. O Deus vivo não admitirá pessoas
mortas no céu”. A santidade e o mundanismo, portanto, são opostos um ao outro. Se
estivermos apegados a este mundo, não estamos preparados para o porvir.
29
08 – A Importância da Igreja
Sumário
1. A verdadeira igreja tem marcas visíveis que a distinguem de uma igreja
falsa ou apóstata.
2. A pregação do evangelho é necessária para que uma igreja seja legítima.
3. A administração correta dos sacramentos, sem profanação, é uma marca da
igreja.
4. Disciplina contra heresias e pecados grosseiros é uma tarefa necessária da
Igreja.
5. A igreja é sempre carente de reforma de acordo com a Palavra de Deus.