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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL RELATOR DA TURMA RECURSAL –

JUIZADO ESPECIAL FEDERAL DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DO ESTADO DO PIAUÍ

PROCESSO Nº 10000426-62.2017.4.01.4000
CLASSE: 2100 – MANDADO DE SEGURANÇA INDIVIDUAL
IMPETRANTE: MARIA DA CONCEIÇÃO DOS SANTOS
IMPETRADO: GERENTE EXECUTIVO DO INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL

O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, por intermédio do Procurador da República


in fine subscrito, vem perante V. Ex.ª apresentar Parecer acerca da matéria tratada na presente
ação, nos seguintes termos:

1 SÍNTESE DOS FATOS


Trata-se de mandado de segurança individual com pedido de liminar impetrado
por MARIA DA CONCEIÇÃO DOS SANTOS, em face de pretenso ato abusivo e ilegal praticado
pelo Gerente Executivo do Instituto Nacional do Seguro Social – INSS, que suspendeu o benefício
de amparo previdenciário por invalidez ao trabalhador rural, sob a justificativa de que o referido
benefício não poderia ser cumulado com o de pensão por morte.

Com a inicial juntou documentos.

Em decisão de fls. 165, o pedido de concessão de medida liminar de suspensão


da execução de multa diária foi deferido.

É o relatório. Passo a opinar.

2 FUNDAMENTAÇÃO

In casu, sem maiores delongas, o objeto da ação diz respeito ao


reestabelecimento imediato dos pagamentos do benefício de Amparo Previdenciário à impetrante.

Ocorre que não há interesse público que justifique a intervenção do MPF.


A leitura do art. 12, caput, da Lei n.º 12.016/09 de forma isolada permite que se
conclua – equivocadamente, contudo, como se pretende demonstrar a seguir – que o Ministério
Público deve se manifestar em todo e qualquer processo de mandado de segurança.
Trata-se, porém, e conforme já se adiantou, de conclusão que não se sustenta

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quando referido dispositivo legal é interpretado a partir da Constituição Federal e de forma
sistemática com os demais dispositivos legais que preveem a intervenção do Ministério Público,
na condição de fiscal da ordem jurídica, em processos pendentes entre outros sujeitos
processuais.
A tese foi bem demonstrada por José Eduardo de Melo Vilar Filho, cujos
argumentos merecem ser transcritos, apesar de sua extensão:
Na Lei 12.016/2009, assim como na Lei 1.533/1951, há previsão da intervenção
do Ministério Público nas ações que sejam processadas pelo rito do mandado de
segurança. É interessante observar que o art. 12 da Lei 12.016/2009 não faz qualquer
ressalva quanto à necessidade de ser ouvido o representante do Ministério Público, de
modo que ele deveria, pela interpretação puramente literal do dispositivo legal, opinar
em todo e qualquer mandado de segurança. A Lei 1.533/1951 também não fazia
qualquer ressalva quanto à intervenção do Ministério Público. Essa interpretação
meramente literal, contudo, conduziria – como costuma acontecer — a resultado
normativo desarmônico com o Ordenamento Jurídico vigente. Uma interpretação
sistemática do art. 12 da Lei 12.016/2009 conduz ao entendimento de que o
Ministério Público deve ser sempre cientificado da impetração do writ, sendo
que o membro do parquet somente opina quando presente alguma das
circunstâncias do art. 82 do CPC.
A razoabilidade das normas jurídicas, consideradas sistemicamente, deve ser
objetivo sempre perseguido pelo jurista ao atribuir sentido às prescrições legais. Seria
paradoxal o entendimento de que, em face do mesmíssimo ato contestado na via
judicial, deva o Ministério Público atuar obrigatoriamente quando se tratar de
mandado de segurança, e não o devesse fazer caso o autor houvesse optado
por questionar o ato coator pelo ajuizamento de uma ação ordinária. Perceba-se
que, no caso da via ordinária, a participação compulsória do parquet se limita às
hipóteses configuradas no art. 82 do CPC. E o mesmo deve ocorrer no caso do
mandado de segurança. Veja-se, como exemplo, o caso do ajuizamento de mandado
de segurança para anular determinada Notificação de Lançamento Fiscal que estaria a
ensejar, também, o ajuizamento de execução fiscal pela Fazenda Pública. É certo que
o Ministério Público não precisaria intervir na execução fiscal (Súmula 189, STJ), de
modo que não parece razoável exigir que interviesse necessariamente no mandado de
segurança. O interesse público não desaparece com a troca de ritos. Ou ele está
presente tanto na ação ordinária quanto no mandado de segurança, ou não
estará em qualquer deles. Impõe-se, então, a leitura conjunta dos arts. 12 da Lei
12.016/2009 e do art. 82 do CPC de modo a obter-se interpretação harmônica dos
dispositivos.
(…)
Importante lembrar que, nos termos da Constituição, o Ministério Público tem
legitimidade apenas para a defesa dos interesses sociais e individuais indisponíveis
(art. 127, CF/1988), devendo a sua atuação, sob pena de desvirtuamento, referir-se
somente a situações em que presentes tais interesses. Observe-se, inclusive, que tal
compreensão otimiza a atuação do parquet, que deverá concentrar seus
esforços defendendo os interesses sociais e individuais indisponíveis, em vez
de ter de opinar sobre questões que afetem apenas o interesse patrimonial do
Estado, já devidamente defendido pela advocacia pública.

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2
(…)
Dessa forma, o art. 12 da Lei 12.016/2009 deve ser interpretado no sentido de
se conceder vistas, ao Ministério Público, de todo e qualquer mandado de segurança
impetrado, e não no sentido de se tornar obrigatória a manifestação daquele órgão
acerca do mérito de cada writ, o que apenas deve ocorrer nos casos em que haja
interesse público primário em discussão.
(…)
A necessidade de se dar vistas, ao Ministério Público, de todo e qualquer mandado de
segurança teria a finalidade não de colher-lhe a opinião (emissão de parecer), mas de
cientificar-lhe da existência de ato possivelmente ilegal e abusivo da autoridade pública,
com vista à instauração, se for o caso, dos procedimentos de responsabilização respectiva.

Relevante repetir um dos argumentos expostos pelo autor: apesar de previsto na


Constituição Federal, o mandado de segurança nada mais é do que um procedimento especial; é
preciso portanto – acrescento – desmistificá-lo.
A existência de interesse público é requisito imprescindível para que o Ministério
Público deva atuar em ações que versem sobre direitos individuais disponíveis, ainda quando se
tratar de ação de mandado de segurança, como no caso dos autos. Sobre Interesse Público,
preleciona Celso Antônio Bandeira de Mello como sendo o interesse resultante do conjunto de
interesses que os indivíduos pessoalmente têm quando considerados em sua qualidade de
membros da Sociedade.(Curso de Direito Administrativo, Ed. Malheiros, 13ª edição, 2001, pág.
59).
3 CONCLUSÃO

Assim sendo, cuidando a presente ação de questionamentos acerca de direitos


individuais sem repercussão social, devolvo os autos sem manifestação.

Teresina (PI), 10 de agosto de 2017

PATRÍCIO NOÉ DA FONSECA


Procurador da República

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