Beruflich Dokumente
Kultur Dokumente
ROBERTO DE A. MARTINS*
pelo sangue venoso até os pulmões.{ Mayer considerou que a diferença entl.e a
cor do sangue arterial e venoso seria devida à diferença
r'para
entre seus conteúdos
de oxigênio e gás carbônico. Ora, segundo Mayer, que o corpo h1rmano
possa ser mantido a uma temperatura uniforme, o clesenvolvìnterûo cle calor
dentro dele deve manter uma relação quantitativa com o calor percliclo pelo
corpo deve depender, portanto, da temperatura do meio ambiente; portãnto
-
a produção de calor e o processo de oxidação, assim como a clilerença cle cor
dos dois tipos de sangue, devem ser globalmente menores nas zonas tór'ridas do
que em regiões temperadas." ¡
Assim, Mayer explicava a diferença entre a cor do sangue venoso observado
cm europeus Peus na EutoPa. Mas
idéias não pa a Pensar a resPeito da
.produzidos p te do calor, como se s
alimento abs Mas a quantidade de
produzida pela combustão de uma determinada quantidade de matéria orgânica
é limitada;-e, se o alimento assimilado pelo organismo sofre uma oxidação com-
e6 Roberto de A. Martins
1 Ver as Notas de A. von oettingen. editor de: Mayer, [Julius] Robert. Die Mccltattik
d¿r w,irme 7.n'ei Abhandlrtngen Leipzig: wilhelrn Engeúnann, t911, pp. tìo-90,
esp. p. 81. -
* IVfayer, J. R., "Bemerkungen über die K¡rifte rler unbelebten Natur.,, Annalen ler
Cltcntie und Plrurntacic 42 (1842). pp. 233-240. Reimpresso, com omissão de dois
parágrafos, em: Mayer (nota 7), pp. -3-8.
ilîayer e a C-onsenação do Energia 67
I' Sobre este tema, veja-se a magnífica obra de Emile Meyerson (nota [).
lo Na teoria atomística de Epicuro. conforme exposta por Lucrécio. isto aparece de fornra
muito clara. Para introduzir a idéia de coisas imutáveis (os átomos) subjacentes aos
fenômenos, Lucrécio utiliza os aforismos "nihil de nihil gigni" (1, 150) e "nihil ud
nihilum interire" (I.215), ou seja: nada surge do nada, e nenhuma coisa pode se
transformar no nada. Lucrèce. De la Nature, trad. por Ernoud, A. Paris: Belles
Lettres,1978.
-
68 Roberto de A. Il[artins
Essa idéia de que alguma grandeza (ou várias) deve se consefvar nos fenô-
menos físicos foi também tlm ponto de partida básico para Lavoisier, no esta-
belecimento da lei cla .onr.ruução da mâssa: contrariamente ao que a tradição
empiricista ensina, em seus trábdho, mais antigos Lavoisier- utilizott a lei da
conservação da massa, ao invés de tentar testá-la experimentalmente; e manteve
,uu aaanço nela, r¡esmo em casos em que <¡bservava uma variação de tnassa nas
r.eações químicas.rr Não se deve estranhar qu9 Kant tenh_a procurado dar uma
¡uriifi"utiuu apriorística para esse princípio,t- ou que Herbert Spencer
tenha
ädotado o princípio da coiservação da energia como um dos princípios evidentes
de sua filosofia da natureza'r'ì
rL Nos Princípios da Filosolia (segunda parte, artigos 35-44), Descartes propõe o prin-
cípio de que Deus mantém no universo uma quantidade constante de movimento;
onde "mouimento" representa uma quantidade proporcional à massa e à velocidade.
Descartes, René, Principiorum Philosophiae, em:- Oetvres de Descartes, ed. por
Ver;
Adams, Charles e Tannery, Pau[. Paris: J. Vrin, 1965, vol. VIII-I, pp. 6l-67; ou:
Descartes, René, Principes de la Philosophie, em: Oeuvres de Descartes, ed. por Adams,
Charles e Tannery. Paul. Paris: J. Vrin, 1971, vol. IX-II, pp.83-89. Ver também:
Bohn, "Historic notes on the conservation of energy", The London, Edinburgh and
Dublin Pltilosophícal Magazine and Journal ol Science (4) 28 (1864), pp.31l-314.
12 A lei da inércia pode ser considerada como um caso particular da lei da conservação
do movimento.
¡ iì l-eibniz apresenta o princípio da conservação da "força viva" em muitos de seus
escritos, ao criticar o conceito cartesiano de quantidade de movimento. Veja-se, por
exemplo. os artigos t7 e 18 do Discurso de MetaÍísica, e a carta de 4/7/1686 a Arnaud,
¡rssim como as notas bibliográficas de le Roy, em Leibniz, G. W. Discolrs de Méta-
plrysique or le Roy' G. Paris: J. Vrin' 1970'
pp. 53-55 o artigo "Brevis demonstratio erroris
memorab 1686 na Acta Erudilontrn, e tradu-
zida em: ant. Lucy. Paris: Aubier Montaigne.
L9'l-2. vol. t, pp. 159-161. Sobre Leibniz, ver também: Lindsay, R. B. "The soncept
of energy and its early historical development", Foundalíons oÍ Physics I (1971),
pp.383-393.
I{ Veja-se os artigos de l-avoísier: "Sur la nature de I'eau et sur les expé-rierces par
lesquelles on a prétendu prouver la possibilité de son changement en terre", Mémoires
tle l'Acatlémíe cles Scîences (1770), p. 73: "Analyse du mémoire sur I'augmentation
tlu poids des métaux par la calcination". Hisloire de I'Académie des Sciences (17741,
p.2O: Oeuvres de Lavoisier. Paris: Imprimerie Impériale, 1861, vol. II, pp. 1-28' 97-121.
r.i Yet t Críticu du Razãc¡ Pura (Ã 182. B ?24): Kant, Imm¿rnuel, Critíque de la Raisott
P¡rr¿, trad. por Tremesaygues. A. e Pacaud. B. Paris: Presses Universitaires de France.
1975. p. 177.
16 Spencer, Herbert, A Sy.rtent ol Synthetíc Philosophy, vol. I: Fi¡sl Prîncíples. Osnabrück:
Otto Zeller, 1966. Parte 2, caps. 6-8, pp. 149-181.
trIayer e a hnsenaçiío
da Eneryia 69
ver as notas sobre o trabalho recebido. em: cotnptes Rendus Hebdomadaires des
de l'Académie des Sciences (Paris) 23 (1846), pp. 220 e 544.
S,éance.s
!l Mayer, J. R' amik des Hímnters, ín popurärer Darsteilung. Heilbronn:
c. Drechsler, por H. Dubus: Mayer, i. R. "on celesriai mechanics",
Tltc London, ttblin Philosophical Magazine and lournal oÍ Science l4j
25 (1863), p 09, 417-428.
Mayer, Julius Robert, Bemerkungen über das mechanische Áequivalent der wänne.
Heilbronn: C, Drechsler, 1851.
7O Roberto de A. Mørtins
veis, mas em 1847 foule começa a obter resultados muito mais consistentes.:ìz
Ele publica então um artigo na revista da Academia francesa de ciências.Ì'r
joule apresentou esse novo trabalho na reunião da British Association lor the
Advancement ol Science de 1847, em Oxford. Na ocasião, o presidente da seção
pediu que Joule apenas desse uma versão verbal de suas experiências, ao invés
de ler sua comunicação, pois havia pouco tempo disponível. Mesmo assim, a
exposição de Joule impressionou favoravelmente alguns dos presentes, entre os
quais V/illiam Thomson (posteriormente conhecido como Lord Kelvin).3{ O apoio
de Thomson foi muito importante na aceitação dos resultados de Joule.
O artigo de [oule publicado na França provocou imediata reação. Séguin,
sobrinho de Montgolfier, autor de um livro sobre estradas de ferro e máquinas
a vapor,'J; publicou um artigo onde dizia já ter chegado, antes de |oule, a resul-
tados muito semelhantes, pelo cálculo do trabalho realizado na expansão do
vapor d'água; mas que não os publicara porque aguardava que experiências
positivas viessem confirmá-las.'i'ì
Um ano depois, a mesma revista publica uma carta de Mayer.s¡ No estilo
de sua carta transparece claramente a indignação de Mayer, que não conseguira
a publicação de seu artigo apresentado à Academia francesa, e que vê agora o
trabalho de Joule publicado, com a sanção de um comitê que incluía o mesmo
:t2 loule, J. P. "On the mechanical equivalent of heat, as determined by the heat evolved
by the friction of fluids", !'he London, Edinburgh and. Dublin Philõsophical Magazine
ancl.Journal of Science ß) 3l (1847), pp. 173-176.
3"Ì Joule, J. ntité entre le calorique et la force mécanique. Déter-
mination chaleur dégagée pèndant la friction du- mercure",
Comptes des Séances de l'Académie des Sciences (pariÐ 25
(1847),
34 Ver: Watson (nota 28).
fiõ séguin, Marc: D¿ I'lnlluence des chemins de Fer et de I'Art de les Tracer et de les
Constnùrc. Paris: Blanchard, 1839.
3$ Séguin, M. "Note à I'appui de I'opinion émise par M. Joule, sur I'identité du mouvement
et du caloriotte", ContDtes Rendus Hebtlotnadaires des Séances de I'Académie des
Sciences (Paris) 25 (1847), pp. 420-422.
37 Mayer, J. R. "Sur la transformation de la force vive em chaleur, et réciproquement,,,
Comptes Rendus Hebdomaduires des Séances de l'Académie des Sciencàs (Parisl 27
(1848), pp.385-387.
Møyer e a Consemøçäo da Energia 73
"De acordo com esses fatos. todos apreciarão a sagacidade do sr' Mayer
em predizer as relações numéricas que seriam estabelecidas entre o calor
e o poder; mas não se pde negar, creio, que eu tenha sido o primeiro a
demonstrar a existência do equivalente mecânico do calor, e que tenha fixado
seu valor numérico por experiências incontestáveis."{3
Mayer responde pouco depois,{a esclarecendo que seus cálculo-s eram apoiados
{5 que mostrava que o calor específico de
na famosa eiperiência de Gãy-Lussac
um gás não sè alterava pela rarefação, ao se expandir no vácuo; e que portanto
cle tinha uma boa base para seus cálculos.t" Mavet assinr conclui seu artigo
"De l esto. estou persuadido <.le que o sr. Joule realizou suas descobertas
:ohre o calor e u forr'ir sem conhecer as minhas. e os numerosos méritos
tlesseilustre físico inspiram-me umù granrJe estima: mus creio que estou em
meu direrto repetindo que ftri eu quem primeiro publicor.r. no ano de 1842'
l lei da equivalência do calórico e da força viva. com sua expressào
nr¡mérica." li
rc Sobre a base experimental que justificava o cálculo de Mayer, ver: Hutchinson. Keith.
"Meyer's hypothesis: a study of the earllr years of thermodynamics", Centaurus 20
(1976). pp.279-104.
'17 Mayer ( nota 44 ),
+Â Veja-se de artigos nó
da prim modinâmica. evi
Magazir 1865. Por e aP
do volu ágina inicial: 5 (
Ora, sabe-se atualmente com segurança que |oule foi injusto: em 1841, ou
seja, antes de publicar seu primeiro artigo, Mayer já se referia às experiências
de Gay-Lussac, e outras experiências relevantes com gases, conforme prova sua
correspondência.íl
Retornemos um pouco a 1847. Neste ano, em que os trabalhos de loule
começam a ser mais conhecidos, aparece o magnífico trabalho de Helmholtz sobre
a conservação da energia.í3 Ao contrário de Joule e Mayer, Helmholtz possui
um bom conhecimento (embora não completo) do trabalho de outros pesqui
sadores; e tem uma capacidade e preocupação de fornecer uma visão teórica
aprofundada, detalhada e unificada de todos os processos de transformação de
energia começando pela mecânica, e aprofundando-se nos processos térmicos
-
e elerromagnéticos. Helmholtz refere-se a foule (cujos resultados experimentais,
no entanto, lhe parecem pouco precisos), mas não se refere a Mayer, embora
descreva cálculos de Holtzmann 5{ que se assemelham muito aos de Mayer.
Na reedição de seu trabalho, em 1881,õõ Helmholtz adiciona uma série de
notas. Em uma delas, ele se. refere aos dois primeiros trabalhos de Mayer, afir-
mando não conhecê-los em 1847. Helmholtz inclina-se mais favoravelmente aos
trabalhos de foule do que aos de Mayer, e desenvolve longas considerações
metodológicas que foram publicadas por Tait, sob a forma de uma çarta,ã6 em
defesa da prioridade de Ioule, e minimizando a importância de Mayer.
õ7 chega à conclusão
Com relaçâo a toda essa controvérsia, Sarton de que
Tyndall tinha melhor compreensão e maior generosidade do que seus adversários,
e que não se pode negar a Mayer a prioridade na formulação da primeira lei da
termodinâmica.
Essas controvérsias, e a falta de reconhecimento por seu trabalho, deprimiram
muito Mayer, que tentou suicídio, e foi depois internado em um asilo para alie-
nados mentais, sendo rapidamente esquecido. O próprio Liebig, que apoiara a
publicação do primeiro artigo de Mayer, referiu-se a ele, em 1858, como se ele
ja tiuesl" morrido." Mayer chegou a sair do sanatório, mas não foi capaz de
realizar novas contribuições à ciência, tendo falecido em 1878. As revistas
científicas não publicaram seu necrológio.
rioridade, tentan-
idéia, atualmente
tas independente-
;6 Helmholtz (nota 55), p. 71. Carta publicada em: Taig P. G., Sketch of Thermody-
namics. Edimburgo, 1868.
t7 Sarton, G. "The discovery of the law of conservation of energy", Is¡,s 13 (1929),
pp. 18-34.
:i8Sarton (nota 57'1, p, 22.
;!ìSobre descobertas múltiplas na ciência, ver Merton, R., "Singletons and multiples in
scientific discovery", Proceedings ol tlte Americøn Philosophícal Society 105 (1961 ),
pp. 42O-486.
60 Kuhn, T. S. "Energy conservation as an example of simultaneous discovery", em:
Clagett, M. (ed.) Critical Problems in the Ilislory of Scíence. Madison: University
of Wisconsin Press, 1959, pp. 321-356.
ô1 Elkana, Y. "The conservation of energy: a case of simultaneous discovery?" Archives
Internatíonsles d'Histoíre des Sciences 23 (1970), pp. 31-60.
78 Roberto de A. Martins
idéia associada à lei da conservação da energia. Mais uma vez, repetimos que não
é possível aqui esgotar o assunto, e que o leitor interessado deverá consultar
a bibliografia indicada, a fim de completar as informaçoes desta curta descrição.
A lei da conservação da energia contém, como caso particular, a transforma-
ção mútua de calor e energia mecânica.tìl No caso de muitos autores, este foi o
ponto de partida que levou à lei geral da conservação da energia, e pode-se
considerar que, uma vez estabelecido este ponto, não era difícil aplicar a mesma
idéia a outras conversoes energéticas. Por isto, muitas vezes se supoe que os
trabalhos de Rumfold e de Davy 63 no final do século XVIII já haviam fornecido
uma boa base para a primeira lei da termodinâmica. Rumford havia mostrado
que, na perfuração de canhões, surge uma grande quantidade de calor, e que
era difíciI explicar esse surgimento como simples efeito do corte do metal, pois
continuava a surgir calor mesmo quando a broca estava gasta e quase não
cortava mais o metal. Por outro lado, Humphry Davy alegava que havia conse-
guido fundir pelo atrito mútuo dois pedaços de gelo, e era também difícil
explicar esse fato sem se admitir a transformação de energia mecânica em calor.
No entanto, a história não é tão simples. Era possível interpretar as expe-
riências de muitas formas diferentes, e por isso grande parte dos cientistas
continuou a admitir uma conservação do calórico, ao invés de aceitar uma
transformação de trabalho em calor.6{
Mesmo para aqueles que queriam admitir a produção de calor pelo atlito,
não cta clalo qual modelo se deveria adotar para o calor. Por um lado, desco-
briu-se que o calor podia se propagar pelo vácuo, e acabou-se chegando à idéia
rì:: Novanrente é importante indicar que. aqui. utilizo a palavra "calor" de um modo
pré-telnto<lirrâmico. As experiências de transformação de trabalho em "calor" são.
muitas vezes, experiências em sistemas que procuram ser adiabáticos. e portanto o
que se estuda é a variação da energia interna do sistema. e não calor gue entra ou
sai do sistema. Ver nota 26.
rijl Thomson. Benjamin (count of Rumford). "4n inquiry concerning the source of the
heat rvhich is excited by friction". Philosophical Transaction.r ol tlte Royal Societ¡' 33
{179u), pp. 80-102. uma lâmina. p. 286. Há uma edição recente das obras completas
tie Rumford: Thc Collected 14/orks ol Couttt Runtfolrl. Cambridge. Mass.: Harvard
University Press, 1968. Davy, Humphry, "An essay on heat, light. and the combinations
of light". enl: Beddoes. Thomas. Contibutiotts to Pltl'sicul and Medical Know'lcdgc,
Principully frorrt tlte Wcst ol England, 1799; reimpresso em:7'1rc Collected Work.s ot'
Htuttpltr¡- I)¿v-v, ed. por Davy, John. Nova York: Johnson Reprint, 1972,9 vols., vol. 2,
pp. l-116. Sobre Rumford. e a fase pré-Mayer. veja-se; Brown, Sanborn C., Benjuntin
Thomson Count Rutnford. Oxford: Pergamon Press, 1967. Olson, Richard G.
-
"Count Rumford. Sir John Leslie. and the study of the nature and propagation of
heat at the beginning of the nineteenth century", Annals of Science 26 (1970). pp.
173-104t Langley. S. P. "The history of a doctrine", Anterican Journal ol Science t3)
37 (ltt89). pp. l-23.
rìr Ver. por exemplo: Lilley. S. *Attitudes to the nature of heat about the beginning of
the nineteenth century", Archives Internationales tHistoire des Sciences 27 (1948),
pp. 630-639: Fox. Robert, The Caloric Theory of Gases, from Lavoisier to Regnault.
Oxford: Clarendon Press. 1971.
lulayer e a Consenøçíio da Energia
79
fìr) llfohr, R, ''Views of the nîture of heat"; trad. por T^i¡., The London, Edinburgh antl
_ Dtt.blin Pltilosopltical ,lfapazine and Journal of science (5) z 0 s76), pp. tio-tt¿.
iu Tait, ern: Mohr (nota 69), p. l14.
7
E,rlrbora se possa ver en1 certas frases de Faraday uma antecipação da lei da
conscl'r,acão da errergia, é impoltante notar que o próptio Faraday não fazia uma
distirrçac, clat'a entre gt'andezas intensivas, como a tenlperatura c a [ot'ca (tr<¡
sentido ueu,tonialro). e grandezas extensivas. como massa e energia.ir Apenas
se pode aplicar a idéia de conservação a grandezas extensivas, lnas Faraday não
havia compleendido isso. Faraday utilizava. como Mayer, a expressão "a causa
é igual ao c'feito", mas aplicava-a para descrever a igualdade entl'e ação e reação
(5." lei de Ncwtorr), e não pala indicar a igualdade entre as quantidades dÈ
rrnra coisa que se tl'ansfol'ma cm outra. Por isso, não se pode dizer que Faraday
tcnha anlccipaclo as idéias de lVlayer'.
Algo scmelhantc pode ser afitmado a respeito de William Grove. Este físico
aprcsentolr no nlesmo ¿tno da publicação do p|imeiro artigo de Nlayer uma
co¡icr'ència na London Ittslilution em cìuc propunha ;¡ idéia de possibilidade
rlc convcrsão mútua cle todos os tipos dc "forças". No ano scgttinte, apl'esentou
uma série cle conferências sobre o assunto e em 1846 publicou um livro que
se tol'nou muito popular.;';
"Já que as forças são seres espirituais e imateriais, e já que são entidades
que só conhecemos por seu domínio sobre a natureza, essas entidades devem
ser sem dúvid¿r muito superiores a toda coisa material existente; e como é
evidente que é apenas pelas forças que se exprime a sabedoria que perce-
bemos e admiramos na natureza, esses poderes devem estar relacionados
com o próprio poder espiritual. imaterial e intelectual que dirige o progresso
d¿r natureza. Mas se assim é, torna-se impossível conceber que essas forças
sejam coisas mortais e perecíveis. Sem dúvida alguma, portanto. elas devem
3 Crove. William Robert. On the Conelation ol phltsical Forces. Londres. 1g46. Ver:
Cantor, G. N. "William Robelt Grove. the correlation of forces. and the conservation
of energy". CentaLtrus l9 ( 1975). pp. 273-290.
i,t Na verdade. para. uma força de arriro constante,
o calor gerado seria proporcional
ao espâço percorrido, ou à variação do quadrado da velocidãde clo corpo.
Dahl. P. F, Ludwis Coldine and the Con.çcrvation ol Energ.^t. Nova york. 1972.
trIayer e ø Consemoçdo da Energia 83
Colding indica que essa idéia lhe ocorreu em 1839, ao estudar o teorema
da conservação das "forças" mecânicas. Mas Colding esperou até tel uma confir-
mação experimental de suas idéias, antes de publicá-las: pois, em 1840, ao
explicar suas idéias a Oersted,iT foi aconselhado a abordar um estudo experi-
mental antes de expor suas concepções.
No trabalho apresentado em 1843, Colding utiliza suas idéias para inter-
pretaro do ou absorv
líquidos apenas de f
seu favor de produção
Morosi e ele PróPrio e
cle trabalho mecânico em calor, utilizando superfícies de latão em atrito com
vários outros materiais: latão, zinco, chumbo, ferro, madeira é tecido. Colding
varia a p¡essão e a velocidade do movimento, e em experiências repetidas cerca
de 200 vezes verifica a existência de uma relação constante entre a energia
mecânica perdida e o calor desenvolvido. As medidas iniciais apresentadas por
Colding em 1843 davam uma relação de 3,4 I : I cal um resultado seme-
lhante ao de Mayer. lVlais tarde, graças a uma verba -da Sociedade Real de
Copenhagen. Colding construiu um aparelho aperfeiçoado com o qual realizou
experiências mais precisas; e publicou outros trabalhos, onde estudava as má-
îtì Colding, L. A. "On the history of the principle of conservation of energy", Tlte London,
Edinburgh and Dtúlin Philosophical Magazine and tournal of Science (4) 27 (1864),
pp. 56-64: esta carta de Colding foi traduzida por M. Verdet: Colding, M. A. "Lettre
aux rédacteurs dt Philosophical Magazin¿ sur I'histoire du principe de la conservation
del'énergie )I (18
original de aprese
publicado "Nogle
Videnskabe hagen)
i7 Hans Christian Oersted é bem conhecido por sua descoberta da ação de correntes
elétricas sobre a agulha das bússolas. Oersted também já possuia idéia de urna corre-
lação entre todas as forças da natureza, e certamente não ficou escandalizado com
as estranhas idéias metafísicas de Colding, pois ele próprio havia escrito um livro
intitulado A AIma na Natureza. Ver: Hirn lnota 38), p. l2l. Sobre estes âspectos
de Oersted, veja-se: Stauffer, C. "Speculation and experiment in the background of
Oersted's discovery of electromagnetisn". I.çis 48 ( 1957), pp. 33-50.
?E
Na ve¡dade, um líquido sólido comprimido nalo sof¡e um aquecimento proporcional
ao t¡abalho de compressão, pois uma parte do trabalho fica armazenado sob a forma
de energia potencial elástica. Uma mola de aço comprimida, por exemplo, não æ
aquece. Colding, parecia nâo notâr claramente a diferença entre os processos que
ocorrem nos vá¡ios estados da matéria. A respeito do estudo experimental da questão,
no início do século XIX, pode-se consulta¡: Colladon e Sturm, "Su¡ la compression
des liquides",.,4nnalesdeChimieeIdePhysique(2)36(1827),pp. I13-159,225'257.
84 Robeno de A. ù[artins
t9 Curnot, Sadi, Réflexions sur Ia Puissance llfotrice du Feu, et sur les ùlachines
hopres
à Développer cette Puissance. Paris: Bachelier, 1824.
\rr Ver: Mentloza. E. "Contribution to the study of Sadi Carnot and his work". ,1rr'åiyr,,r
Itttet nuliotnlat cl'H i,stoire do¡ .Scicnt'c,r I ? ( 1959 ). pp, 317 -396. As notas manuscriras
de Carnot foram entregues à,\cademia de Ciências de Palis em ltl78. pelo seu irmão;
C¿rrno.. H. "l-ettre accompagnant l'envoi d'une nouvelle édition des "Réflexions sur
lr puissirnce nrotrice du feu" par Sadi Carnot. et de divers manuscrits du même auteur".
Contnle\ Rcndtn Hebdotnuduires dc.¡ .\canca,¡ d¿ I'Acldé¡nie de.ç Scicncer I Pa,'i,\) 87
( ltlTli ). pp, 961-969. ,\s nota\ foram parcialmente publicadas na reediçrìo do livro
de. Carno¡: Carnot. Sadi. ¡1r;l/¿r inrrr Paris: (ìauthier-Villars. I t{78. p. tl9. Há rrnra
traclucito enr inglês clo livro tle Carnot. com um¿ì selecáo de suas notas m¿rnuscritüs.
C¿rrnot. S¡di, Iì.cÍlcction\ on tlr( llotit't'Po*'cr ol f ìte ttr¡d otlter Pupct,s ott tlte Set'tttttl
Lttt rtl 'l'itt'rnto¿lvttutnic.r. ed. por Mendoza. E. Nova York: Dover. 1960.,{s notas
foranr publicadas de fornra completa em: Picard. Emile led. ) 1¿rrli Cornot. Biourupltic
(t .Vlilnttrcrìt. Paris: Cauthier-Villars. t917. Há também uma reprodução completa das
notas n¿r reediçiro do livro de Carnot pela editora Blanchard (Paris ) em l9-53.
'l Ulrich. Hoyer. "How clid Carnot c¿rlculate the mechanical equivalent of heatl" ('¿,r¡-
tnttrtt.s l9 r 1975 ). pp. 307-2 19.