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superpopulação dos navios. Praticamente não sobretudo no XV, em grande parte devido à
havia médicos a bordo, apesar das disposições expansão ultramarina portuguesa , o que a fez
da Coroa para que cada navio da carreira da mudar de caráter e enuergadura. Na legislação
Índia, por exemplo,levasse um médico portuguesa, a escravidão perece ter sido
qualificado e um cirurgião com caixa de estimulada desde a autorização de resgate dos
remédios. Na prática, embarcava apenas um negros da Guiné", feita em carta do rei Afonso
modesto cirurgião-barbeiro, como numa frota \', em 1448, que concedra a dízima do
de I6 3 1, que transporteva três mil homens em comércio de escrauos ao infante D. Henrique, o
quâtro navios para a Índia. Na'egador, como governador das descobertas
Ainda no século XVI, ao contrário do que da Guiné, pelos bons serviços prestados a
esta sim mais pulverizada; contrastes entre padrão demoqrátìco do trátìco afiicano variou
regiões conforme as conjunturas; ocorrência de pouco. sendo mais comum a enrrada de homens
uma lavoura de subsistência controlada pelos adultos do que de mulheres e crianças. o
escravos, inclusive com direito à venda de resulrado rettrcutiu na reproJução da
escravista). Mas a maioria dos estudos sobre a ventre materno Partus squttur \'(ntrnn . era à
economia colonial está dedicada aos séculos quanridade de mulheres que determina'a a
XVIII e XIX. Quanto ao nordeste açucareiro, possibilidade de reprodução da mão-de-obra
região de ponta da agroexportação escravista, o escrava. Nas áreas mais dinâmicas da economia
sempre foi expressiva, veriando enrre 6O% e amementação de crianças brancas por amas-de-
7O% da população escrava, o que signifìcava leite negras) dariam prova da tolerância racial
uma população majoritariamence masculina e dos portugueses, demonstrando o
adulta. Em certas áreas e épocas, havia uma "amolengamento" das relações escravistas no
mulher para cada dois homens. Nas regiões Brasil colonial, não obstante os lapsos de
mais "crioulizadas", ou seja, naquelas em que violência eventualmenre regisrrados pela
se equilibravam as proporções de afiicanos e crônica e por outros documentos.
crioulos (escravos nascidos no Brasil . as Nas décadas de I950 e I960, as teorias de
diferenças de proporção entre os seros Freyre foram implacavelmente questionadas.
tornevam-se mais tênues, ainda que nelas o O patriarcahsrt o, conceito central de seu livro
número de homens sempre fosse superior. pioneiro, foi identificado como paternalismo e
demais atos lesivos aos interesses senhoriais. A Nos meios acadêmicos, no início da década de
desproporção entre os sexos, característica do 199o, a polêmica se reacendeu e houve quem
uâfico, teria sido a principal responsár'el pela apontâsse que se estariam recuperando os
impossibilidade de formação de família regular argumentos de Freyre sobre a benevolência da
no câtiveiro. Argumentou-se, também, que a escravidão brasrleira. O principal expoente
mulher negra fora vítima da violência dos dessa réplica foi Gorender, que emA escravidão
apetites voluptuosos de senhores, seus (t Olo) criticou minuciosamente
reabilitada
familiares e demais homens brancos, muitos desses trabalhos, e começar pelo livro
enfatizando-se a promiscuidade como o Ser escravo no Brasil, de Kátia Mattoso (t OZ8),
comportamento comum de homens e, um dos primeiros a relarivizar a questão
principalmente, mulheres no cativeiro. paternalismo/violência ea propor um equilíbrio
A partir dos anos I980, pesquisas sobre o entre esses práticas como padrão do sistema.
negro ea escravidão se multiplicaram nos De todo modo, a escravidão é tema clássico de
cursos de pós-graduação em História. Novas nosse história e historiografia e um campo
fontes foram pesquisadas, bem como outros sempre aberto à investigaçao. (SCF/R\)
enfoques foram dados às fontes conhecidas.
Sob a influência principalmente de estudos r\* Referências Bibliográficas
norre-emericanos, tanto antropológicos quanto BOXER, Ch. RelaEões raciais no impírio colonial
sociológica paulista. Contrariamente à idéia de sen4tla (l9l l). Rio de )aneiro, )osé Olympio,
que a maior quantidade de africanos homens I987; GORENDER, J. O escravismo rclonial.
inviabilizava a família escreva, trabalhos ligados São Paulo, Edirora Ática, tg78; A
conclui que, embora difícil para muitos, o Do escambo à escravidão (tO+z). 2u ed. São'Paulo,
matrimônio ea família eram instituições Cia. Editora Nacional, t980; MATTOSO, K.
presentes entre os cetivos. Argumentou-se que Ser escravo no Brasil. São Paulo, Brasiliense, 1982;
herança cultural dos negros e de sua condição na sociedaàe colonial (tO8l). Trad. São Paulo,
nem muito menos massacrados pela escravidão. no Brasil colonial. Petrópolis, Vozes, I986.
Mesmo escravos, criaram e recriaram laços
culturais próprios, vários deles herdados de
suas raízes africanas. Dessa forma, a escravidão
fbi reinterpretada como um sistema