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DEZEMBRO 2011 | 3
EM NOME DA SEGURANÇA
E
dadãos que participam em voláteis e da nossa segurança – uma troca que, poderem vir a ser violentos. Tudo indica m si mesma, a manipulação do sas liberdades individuais. Os nossos di-
inorgânicas plataformas como aquelas segundo Benjamim Franklin, só é ade- que, na ausência de tumultos espontâ- medo como instrumento político reitos serão coisas para tempos normais;
que organizaram as manifestações de quada a quem não mereça nem uma neos, as próprias forças policiais ou nada tem de original. É, aliás, e os tempos de excepção serão de cada
12 de Março e de 15 de Outubro de coisa nem outra. elementos seus terão achado por bem quase um truísmo afirmar que o medo vez que nos convençam disso.
2011, ou entre os pouco relevantes gru- providenciá-los, dando razão às suas (seja pela nossa integridade física, seja O nosso medo de tumultos e insegu-
pos ou indivíduos que expressem o seu Fazer acontecer expectativas e ao difuso temor popular. de perdermos algo que consideremos rança, solicitamente instigado por quem
apoio a protestos violentos, mesmo que o que se teme A par disso, o mesmo jornal que ha- importante) é um dos elementos centrais de direito, tornar-se-á o instrumento do
em conversas de café. via dado a conhecer o preocupado rela- de qualquer relação de poder. suicídio da nossa cidadania.
E
ste processo parece ter sofrido um tório que comecei por comentar esco- Tão-pouco será original a manipula- Por isso, a intolerância para com abu-
«Espiões à rasca» desenvolvimento lógico, mas algo lheu para manchete, no dia seguinte a ção do medo da insegurança, para con- sos sobre os direitos de cidadania é,
descarado, durante a greve geral uma greve geral de grande impacto, o vencer os cidadãos a prescindirem dos hoje, mais necessária do que nunca.
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sta curiosa situação de «espiões à do passado dia 24 de Novembro. peculiar título «Polícia teme mais confli- seus direitos (primeiro, em relação aos
* Antropólogo, Instituto de Ciências
rasca», por não terem propria- Conforme os meios de comunicação tos após incidentes na greve» 2. supostos agentes do perigo, depois, em Sociais da Universidade de Lisboa.
mente organizações a quem es- social profusamente se fizeram eco, houve É verdade que, nos acontecimentos e relação a si próprios), em benefício da
piar, sugere que as acções de «identifi- ao fim do dia um incidente frente à As- processos complexos, não podemos des- sua protecção. 1 www.dn.pt/inicio/portugal/interior.aspx?
cação e controlo» já assumidamente em sembleia da República, quando partici- cartar à partida a possibilidade de coin- É, pelo menos, já suficientemente re- content_id=2029985.
curso (de forma ilegal, visto não existir pantes na manifestação convocada pela cidências, ou sequer o papel que a inge- levante no século XVIII para justificar a 2 antropocoiso.blogspot.com/2011/11/
base possível para que estejam a ser le- plataforma que organizara a iniciativa de nuidade (jornalística ou outra) possa tal frase de Benjamim Franklin, tantas explendores-e-miserias-do-day-after.html.
gitimadas por mandados judiciais) ver- 15 de Outubro tentaram ocupar as esca- eventualmente desempenhar. Mas seria vezes citada. Mas torna-se, talvez, ainda 3 Ulrich Beck, Risk Society: Towards a New
sam cidadãos que se tornam suspeitos darias exteriores do parlamento. As forças necessária, por sua vez, uma razoável mais relevante na nossa época, que surge Modernity, Sage, Londres, 1992.