Sie sind auf Seite 1von 29

SCI·NTILLA

REVISTA DE FILOSOFIA E M[]iTICA MEDIEVAL

ISSN 1806-6526

Scincilla, Curitiba, vol. 8, n. 2, p. 1-.


jul./dez. 2011

Instituto de Filosofia São Boaventura - IFSB


Sociedade Brasileira de Filosofia Medieval - SBFM

Curitiba PR
2011
~!J'.;:r.:'~~~U~ pode ser repcoduzida, desde que citada a fonte.
FAE- Centro Univc:rsitúi.o
IFSB - lnsriruco de Filosofia Sio Boaventura
SBFM - Sociedade Bcasileita de Filosofia Medieval
O !FSB é mantido pela &tociaçio Fcanci.Kana de Etuino Senhor Bom Jesus (AFESBJ)
Rua 24 de maio, 135-80230-080 Curitiba PR
E-mail: scintilla@bomjesw.br oucnio.giadúni@lbomjcsu.s.br
htt~://www.saoboavmcura.edu.br/
Reitor: Nelson JoK Hillesheim
~~=i~fr~:;An~:; c~~~o~~ Siarcos
~t:~do~~t:aieF.t!!t ~:C~a~~ Dr. Jairo Ferrandin
Editor: Dr. Enio PauJo GW::blni
a) Comiuio editorial
Dr. Emanuel Carneiro !.do, UFRJ
Dr. Orl&ndo Bemoudi, !FAN
Dr. !.ui% Alberto de Boni, PUCRS
~J:!~:~o~~~t#s~uza, UFG
Dr. Carlos Arthur R. do Noscimento (PUC.SP)
Dr. Francisco Benclloni (Uaiv. Nacional da Argentina)
Dr. Gregorio Piaia (Univ. di Padova- Italia)
Dr. Marcos Roberto Nuna Com (UNICAP)
Dr. Rafael. Ramón Gucrrero (Unv. Complutcnse - Espafia)
Ora. Múcia S4 Cavalcante Schuback, S6dmõms Unavcrsiry College
útoeolmo (Suéeia)
Dr. Ulrich Stciner, FFSB
Dr.jaime SJ><ngler, FFSB
Dr. o5o Mannes, FFSB
b) Coudho editorial
Dr. Vagner Sassi, FFSB
Dr. Ma= Aun!lio Fernandes, !FffiG
Oca. Glória fencira Ribeiro, UFS]R
Dr. ]amillbrahim lskandar, PUC-PR
Dr. Jod Alves de Souu. UFPR
Dr. Gilvan Luiz fogd, UFRJ

Catalogação na fonte
Scintilla- revista ck 6losofia c mCsrica medieval. Cu.ritiba: InstiNto de Fil0$0fLJ. Sio
Boaventura, Sociedade Brasileira de Filosofia Medieval, Ccrmo UniversiWio
Franciscano, v. I, D.l, 2004-
Semc.stral
ISSN 1806-6526
1. Filosofia - Periódicos 2. Medievalútica - Periódicos.
3. Mútica - Periódicos.
coo (20. ed.) 105
189
189.5
SUMÁRIO

EDITORIAL •••••••••• ·••••• •••••• ••••• ••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••.• 7


Enio Paulo Giachini

Almcos ............................................................................... 11
O vocabulário da argumcnta~u c a auutura du artigo
nas obras de Santo Tomás ................................................. 13
F. A. B/4ncht, O.P
Anotações sobre as substâncias separadas em
Tomás de Aquino ............................................................. 39
Rosalit Htlma dt Souza Pn-tira
La prudencia política arquitetônica- Los moddos de
Platón, Aristóteles y Tomas de Aquino .............................. 75
]osl lücardo Pitrpauli
Os nol1)es divinos na Suma ttol6gica de
Tomás de Aquino ............................................................. I 03
/vanaltio Santos
As vias ascética e mística segundo Santo Tomás
de Aquino ........................................................................ 117
Paulo Faintanin
A noção de pessoa nas obras de S. Albeno Magno ............. 14 5
Oris dt 0/ivtira
O VOCABUlÁRIO DA
ARGUMENTAÇÃO E A ESTRUTURA
DO ARTIGO NAS OBRAS DE
SANTO TOMÁS'
F. A. Bltmch<, O.P.

Proponho-me a estudar aqui certos termos da língua de Santo


Tomás, que se referem à argumentação. Alguns servem para marcar as
partes do artigo, para dele formar o quadro, por assim dizer; por isso,
a determinação do sentido exato dessas palavras acrescentará talvez al-
guma coisa ao que sabemos acerca do método do autor da Suma. A
tarefa tornar-se-~ mais fácil pela aproximação delas e encontrarei ai a
ocasião de dar sobre um ponto (especifico} uma espécie de comentário
do léxico tomista que espero publicar proximamente'.

·Tlculo do original: .. Le vocabulairc de l'argumenta.tion e[ la SHuctW'e de l'anide dans


les ouvra.ges de Saint Thomasn, Rnlr« án Srimur Philosophitfun ~~ Thlciogiqrm. 14•
Annl< (1925) n• 2, pp. 167-87. Truluçáode)OS<! E<hwdo Marques Baioni (UFSCar),
revisão de Carlos Arthur Ribeiro do Nascimento (PUCSP). Os acrtscimo. da tradução
vão entre par~nteses angulares ( ).
1 Para que as rrlcr!ncias sejam tão b~ e tão precisas quamo possfvd, em?rego já aqui

o sistema dt: notação que usarei no léxico. T, Sum. Ttolog.; p, prólogo; t, dwlo; c, corpo
doanigo;a 1, argumenroda t•~rie;a2 ,argwncntoda 2asérie,ouwlcontra; r, ~posta
aos íllgumcntos (quando não 1ú. senão uma série); r1, resposta aos a1; r, resposta aos a~.
Mesma notação para toCas as obras divididas cm artigos. Ex.: I, 2 T. lO.~. 3 a1 •l~ 2•
Srun. T..L,quest. 10,art.4,3'ars. da 1•sáie(citadascgundoaediçáoleonina). Qumões
DisputaiÚu: Vr, ti< Vnirar.-, Pt, ti< l'otmti4; MI, ti< M.Jo; Ql, QJ<oálib"' 4 Ql, 18 • 4'
Quodl., art. 18. G, C.•tTil Gmtikr, 2 G, 89 = Conrr• Gmt.,livro 2, cap. 89. S,
Ú>mmtJrWsobr~tUSmlmfar. 4 S, 10, I, I, 7 r"' 411 livrodasSmrmras. distinção 10,
quen.1,an.l,rcsp.ad7'~. Mt, Cuw.mtdriosolm•MatzfoiCJZIÚArisr4ukr,7Mt,

Scintilla, Curitiba, vot. 8, n. 2, p. 13-38, jul./dez. 2011 13


F. A. BLANCHE, 0.1~ 1----------------
A pesquisa especulativa toma freqüenremente em Santo Tomás a for-
ma de questão', forma usual de seu tempo. Podemos distinguir quatro
partes neste método: I. o a q11<$táo é posta e, algumas exceções à parte, ela
o é sob a forma de uma alternativa. Esta é constituída, quase sempre, por
duas partes de uma oposição de contradição, e, algumas vezes, (por duas
partes} de uma oposição de contrariedade. 2.0 Argumentos são apresenta-
dos a favor da primeira parte; depois, a favor da segunda. 3. 0 A solução é
dada e provada. 4.0 Enfim, vem a refutação dos argumentos que não
concordam com a tese demonstrada.
"Pôr a questão" exprime-se muito freqüentemente por uma s6
palavra, quai!T'I!T'' ou inquir.,... "Cirr:a primum quatrmtur tri4 (I T, 2,
p). Sobre o primeiro ponto, se p&m tr!s questões". "lnquiritrp.cialiti!T'
tÚ principio formtlli, utrum sit unum omnium txistmtium in una sptcit
(3 Mt, 10, 456). Pergunta especialmente acerca do princípio formal,
se é único, ou não, para todos os indivíduos que estão em urna mesma
espécie". Estas palavras correspondem ao termo aristotélico ÇI)TEÍ v e
significam, como ele, tanto pesquisar quanto perguntar, interrogarl.

13. 1381. -7•1iv. daMeraf. lição 13. n'l381,dacdição Cathala (Turim. Maricni,
1915). PA, CommtbWoosAna/ltiros Portniora. I PA, 22,6 ·l•livrol'rJJt. An., lição
22, paclgr. 6 da edição leonina. Salvo as accçõcs assinaladas, as refuenc:W se repoream
I edição Vi~. Para as refi:rencias lsobr.s de Aristótdcs, emprogo as sigbs de H. Bonicz,
lnJn AristokÜCW, ~ volume da ed. das obras de Aristóteles, de 1. Beldcer, Berlim,
1831. A. a,~- fhmnrosA,../Itic..-, liv. I c 2;A. y, ó. Stp.JosA.../Iticos, liv. I c2;
M. Mnafoi<a, A,liv. l';a, liv. 2';~. liv. 3',cte.; T, Tdpi<os,a.fJ, liv.I-8;Tt,A'PmmiDI
S.foticos!J:o</!. 'HryK.);oj>, Trowioti<uJ,...,n. tjlux~ç,a-y,liv.l-3;ascifrasquc
seguem reenviam aos cap., piginasc linhas da ediçlo Bekkcr.
1 Por quntão, entendo aqui cada artigo e não a seção que se divide em artigos.
' TÍ iUTl Ç~Toq,cv, oTov TI OOv lari llcóç. rr TÍ iUTlV cM/pwrroç; A. ó. I, 89
b 34. E, na passagtm citada mais adiante, ... mi Ç~Toüvrcr;, oTov, "ÓTcpov rJÀOc
KAlwv 11 EwKpÓT1JÇ ... c/ y4> ~a f:vcôixno, ycAolov TÓ lpWTrll'a(M. t. 5,
I055 b 35- I056 a ' (a interrogação seria ridícula). "Quid ... solum ~táumntitz
(não in=oga somente sobre a cssàlcia), wi ~nitzm d. "'f'posiiD. 14: QuiJ1l4tat
in mttri!Pi1<is"(P• 9,4,1 t). "Dicitquodülil{l'iwluntitrqWm.,;_,.(proauwa~) •
... ~pr;..s~tasimilmr#lrillis'{l'i..rimt'i""..W.U"(3M•I,340i ...
rot:ç Ç~....:ivroç d'vw TOÜ DlampíPar """""" ... (M. ~- I. 995 a 35).

14 Scintilla, Curitiba, vai. 8, n. 2, p. 13-38, jul./dez. 2011


------1 0 VOCABULÁRIO DA ARGUMENTAÇÃO E A ESTRUTURA ••.

Ponanto, quaertrt, no começo de uma questão ou de um artigo, sig-


nifica propriamente inrerrogar, pergunrar. Ainda que este último sen-
tido não difira do outro senão por uma nuance, não~ inútil sublinhá-
la; se verá por que daqui a pouco.
A mesma id~ia é freqüentememe representada, nos Comtntdriot,
pelas duas expressões movere quaationtm ou movtrt dubitationtm,
pôr uma questão, levantar uma dúvida. As encontramos quase a cada
página das lições de Santo Tomás sobre o Livro III da Mt/4foica. Cite-
mos somente este texto que indica as três primeiras panes do método:
"Movtntur auttm quatstionts istat tamquam disputaru!at infra tt
dtterminandae (3 Mt, 3, 368). Ora, estas questões são posras para ser
disputadas e resolvidas mais abaixo", e este outro: "Mov.t dubitationtm
dt unitatt principiorum in communi (3 Mt, I O, 460). Levanta uma
dúvida acerca da unidade dos princípios em geral". Dubitario' ~aqui o
equivalente de qua!Stio. Pois dúvida, neste caso, não designa a incerte-
za do espírito, mas a dificuldade que causa a inceneza, o problema.
Não podemos confundir com estas expressões as locuções pontre
quaestiontm, ou quatstionts, ou dubitationts, que significam assinalar,
indicar uma questão ou enumerar qu~tões, dúvidas. Este sem ido re-
sulta da significação geral de pontrt e da analogia com as expressões
pon"t rationnn, po'ltre opinionnn a/icujus: apresentar um argumento,
indicar a opinião de algu~m. Esta passagem o põe bem ~ bz: "ln pri-
ma, ponit dubitationa, in suunda, causas dubitationum ttc. (3 Mt, 2,
346). Na primeira [parte], enumera as dúvid.as; na :segunda, a:, u.usas
desras dúvidas". O verbo pontrt, subentendido na segunda frase e pos-
to em relação com a palavra causas, mostra que, na primeira, ele não
significa levanrar éúvidas, mas assinalar, enumerar dúvidas. Sendo
dubitatio o equivalente de quatstio, pontrt qua.stiontm tem, pois, o
mesmo sentido.

'O que Aristóteles exprime porárropla. Cf. M. ~- 1. 995 b4.

Scintillo, Curitibo, vol. 8, n. 2, p. 13·38, jul./de:r. 2011 15


F. A BU\NCHE, O.P. f---------------
A palavra que põe a questão é o advérbio utrum. Ele indica que o
problema é considerado sob o aspecto de uma alternativa e que será
examinado sobre um ponto o pró e o contra. NaMaafisica, Aristóteles
fez ressaltar o valor do advérbio rrÓTEpov ao qual corresponde utrum
(M. l. 5. 1055 b 32-1056 a 3). O comentário de Santo Tomás, para-
fraseando apenas o texto, pode servir de tradução. Eis o comentátio:
''Hac dictiont~ utrum, semp~ utimur in oppositis; ut, (Um qu.arrimUJ
utrum aliquid sit a/bum aut nigrum, qutU sunt opposita s.cundum
contrarittatmz, tt utrum sit a/bum aut non a/bum, quat sunt opposita
s.cundum contradictiontm. Std utrum aliquid sit homo aut a/bum non
dicimus, nisi tx hac suppositiont quod non possit aliquid tsSt a/bum tt
homo. Et sic quatrimus utrum sit a/bum vtl homo sicut quatrimus utrum
vmiat Ckon aut Socratts, supponmtts quod non ambo simul vmiant ...
quia si contingcrtt (se era possível) tos simul vmirt, dtrisoria mtt
inttrrogatio"(!O Mt, 7, 2060).
Ponanto, utrum, se ... ou, exprime sempre uma oposição, quer se
trate de uma oposição de contradição ou de contrariedade. Há outras
maneiras de pôr wna questão filosófica. Aristóteles assinala quatro delas
nos StgundosAnallticos(Tà ÕTl, Tà ÔlÓTl, d lun, TÍ lO"TlV. A.
li. I, 89 b 24. Quia tst, proptcr quid, an tst, quid m). Ter-se-ia, pois,
podido se servir, segundo o caso', de urna das fórmulas: an m, quid
tst, proptcr quid tst. Aristóteles observa, nos Tdpicos, que a interroga-
ção expressa por rrÓTEpov é a forma própria do problema (rrp6f3À'IJJd!
e aquilo que o distingue da proposição (rrp6TaCTlç;) ou questão sim-

1 Eo que fazem, por exemplo, Alexandre de Halcs e Albeno Magno, e as fórmulas que
empregam variam frequen[emente. - M dottriMSIIUIU Scriptuwu vtl ThtoltJgUusit
scitntUl?'" (Aiex. de Hales, Univers. Theolog. Sum. I• P. Quaest. I, Memb. I. Venetiis,
1576). "Quotupkx sit modus Sa<r«Smpturu?"lbid .• Mcmb. 3, an. 4.- "Qviásit
th<oÚJgút smmáum tlrfinitionmr?" (Alb. Magno. Sum. Thcolog.l• P. Q. 2. Ed. Vivés.
Paril, 1894, T:31). "Dup••sit Th.-.IDgW utd.subj«tb"(lbid .• Q, 3).- Em Samo
TorrW, as exceçõcs são bastazm: raGS. Por a.: ·Pmes qu«i co~n Jivmiw inter
anim~UJNWionnllmnáatur•(Vr, 26, 4). Cf. Vr, 1, l; 5, 1; 13, 1 e4 c: S: 14,1 e 2 e4;
Pt. 9. I c 2; MI. 4. 2:7. 12:8. 4; 9, 3: 14,3: 15,3: I T, 10. 5: 20.4:29. I etc.

16 Scintilla, Curitiba, vol. 8, n. 2, p. 13-38, jul./dez. 2011


------i U VOCABULARIO DA ARGUMENTAÇÁO E A ESrRI.JTURA •••

pies. Se nos exprimimos assim: t que (ãpá y<) animal terrestre bípede
~a definição do homem? ... esta interrogação constitui uma proposi-
ção; ... mas, se dizemos: ani~ terrestre bípede é, ou não, (rrÓTEpov)
a definição do homem? ... se propõe um problema•. As questões que
se encontram no início dos arrigos de Santo Tomá< são, porranto,
problemas, no sentido aristot~lico da palavra, e ~. aliás, a forma de
interrogação que serve de introdução narural à disputa, visto que ela
apresenta a dificuldade sob o aspecto de uma alternativa.
Disputar uma questão é discutir sobre um ponto o pró e o contra.
Aristóteles tinha já empregado este método; em particular, naM~tafoica,
onde todo o Livro III é consagrado a levantar as dificuldades que
concernem a esta ci~ncia c a apresentar os argumentos que motivam
cada dúvida. No início deste livro', Aristóteles mostra que a dúvida
deve ser o primeiro movimento daquele que quer adquirir uma cerre-
za. Nesta dúvida que tende para a ciência, o espírito não permanece de
maneira alguma passivo em face de uma obscuridade; ele procura as
razões de duvidar e prolonga a dúvida tão longe quanto possível. Eis a!
a condição indispensável de uma explicação satisfatória, pois a desce-
berra da verdade consiste na solução da dúvida e a dúvida só pode ser
resolvida se vemos claramente o que a causa. Da mesma maneira que
um homem que foi amarrado não poderia se.solrar antes de :er exami-
nado como está preso, assim também a inteligência não pode se de-
sembaraçar da dúvida, que é uma espécie de nó espiritual, antes de ter
cuidadosamente considerado 3 maneiro em que estão formados os nós
que a retêm. Apresentar os argumentos em sentidos contrários que
motivam a dúvida chama-se dispurar: disputard8taMy<a6ar)', em-

'T. a. 4, 101 b 28-37. &mpl'p<r IX TO rrpó(3A~11a Kal lj rrpÓTCNIÇ .,.;i TPÓTTifl.


1bid.
'M. ~-1.99Sa27-33.
I or ôuzllcKTlKOi cSr~lyoVTal rTEpl ánávrwv. M. y. 2, 1004 b 19 ... Dialecticie[

sophistaedispuwn de prac<lictis"A Mt,4, 572. Cf. A. y. 12, n b 9.

Scintillo, Curitiba, vol. 8. n. 2, p. 13-38, iul./dez. 2011 17


F. A. BLANCHE, O.P.

preender uma disputa, disputatio' (Aóyoçou rà r5raAfyEOfiar). San-


lO Tomás caracteriza esta parte do mótodo aristotólico dizendo que o
Filósofo procede então por modo de disputa. "Primo proctdit modo
disputativo" (3 Mt, I, 338). A discussão prepara a soluç.ão do proble-
ma ou det<rminaç.ão da verdade. "S«undo indpit tkurminart vtritattm"
(ibid.). Santo Tom~s exprime esta última parte do mótodo pela fór-
mula promkrt dmtonstrativt (4 Mt, I, 529). Ele faz observar que, na
Mttaflsica, Aristóteles agrupou em um livro as cliscussões preparatóri-
as, mas que, em suas outras obras, a disputa precede a soluç.ão de cada
problema". É esta última disposiç.ão que nos oferecem os artigos de
Santo Tomásu.

É de notar que Aristóteles apresenta, por vezes, argumentos contra


as duas partes da altcrnativa 12 , enquanto que, em Santo Tomás, a mar~
cha da discussão é uniforme: argumenms afavor de uma parte, argu-
mentos a favor de outra. Seria muito útil saber até que ponto Santo
Tomás conservou na clisposiç.ão de seus artigos a forma da disputa, tal
qual ela se praticava em seu tempo, e quais moclificações ele nela intro-

r
'o Myot Kal a/ OKlY,w; Elui I'~ lOTa rrcpi TOÚTWV. A. a. 27,43 a 43 (As
discussões c as pcsquisas).lv ôi: Tolç Myotç Aav9ávct. A. y. 12. n b 31. Aqui,
nas disputas dial4!:cicas, por opo.s1çáo às materniticas: •paul 'f"Dá si nomirut infinil4
tignificmt• ••• mt7>lliotiwáitpot4IÍIJ-(4 Mt. 7, 615). rpavcpàv lfTI OÚK liv c r~
Myoç [M. y. 4. 1006 b 6).
"3 Mt, I. 343.
11 Exccto no Comnudrio sobrt m Smttnfas, na medida em que o anigo compreende

pequenas questões (t:puu1tivncu~t}; nesse aso, as disputas de todas essas questões se


desenrolam de Lnfcio, em seguida vem, na mesrm. ordem, as rcsposw ou determinações
e as soluções dos argumentos.
12 P. ex. Mttaf.,liv.lll, cap. 2. Aristóteles cU razões conrraa unidade da ci~nciaquc

estuda todos os g!!ncros de cawm; em seguida. comra a pluralidade das ciências que
traQill das diferentes causas: do mesmo modo, contra a unidade, depois, contra a
pluralidade, para a cilncia que considera de uma $Ó vez os axiomas c a sub.sdncia.

IS Sc.intillo, Curitibo, vol. 8, n. 2, p. 13-38, jul./dez. 2011


------1 U VUU\IIULAKJU UA AKt;UMtNTAÇAO E A ESTRliTURA •••

duzira" (talvez, por um retorno ao tipo aristotélico), para obter mais


simplicidade, clareza e rigor"; porém, o termo de comparação ainda
nos falra e seria imprudente ir buscá-lo nos regulamentos do final do
século XIV". O que está fora de dúvida é que o grande Doutor, para a
11 ReencomranHc: uaços da dispuCl, tal como da se pr.atica'Yll cnrão, na.s discussões do
Omrmuúio "'b"ar .5mttn{'Ue. mais ainda, como~ na rural, nas das Qumin Disputmlm
c das Qwstóts ~bnms. Isso ressalta com cvi~ncia daquilo que, cm lugar de duas
simples séries de argumentos, uns pró a primeira pane da alternativa, os ourros, pró a
segunda pane, se v~ muito frequenrcmcntc, nesw obras, um argumcmo da 1• série
(raramente um argumcruo da 2• série, ou stti contra, cf. Pt, 4, 2. lO a2; 6, lO 3 a~; Vr,
26, 6, 5 a2; crc.) receber uma resposta, que é logo descartada por uma réplica daquele
que rinha anunciado o argumenro. Aquele que tenta resolver o argumemo é chamado
..o Recpondente", noMPot.mti. (cf. 1, S, 2 a 1 c4 a 1; 2, I, 5 a 1• ·s~JdiâtrnjHJTidnu').
A designação daquele que al argumenta não é dada. Todavia, mesmo nas ~lits
DispfllllliA.r, Santo Tomb não se restringe a seguir o curso da disputa. J:. visfvcl, cm
ccnos lugares, que de se ciesvt:ncilha das fórmulas deste exercício, de coro., simplifica c
regulariza; talvez de o faça, rnai5 ou menos, cm toda parte. Por oemplo, no art. 3, Q. 1
do tk Potmt. 2 a1, cm lupr de afastara interdição do respondente e de lhe acrescentar
a ~lica, Santo TorrW a engloba em um raciocínio que é calvez esta réplica. •stJ lHw
mm potntfo«rt quoJ Mflll'i4 ~~ tzjfirmaJiD sint simul vn'4, ut respondcns dicebar. Ergo
nc. •Ademais, ocorre frequentemente que todo traço desta uoc:a de respostas desaparc-
ce{cf. Pt, 1, 4 c 1, 6; 2, 5 c2, 6; Vr, 2, 14 e 2, 15: etc.). As duas séries de argumentos
se desenrolam sem serem con:ados por um só mi áicts, ou std dictbw, stá áic"~t. sui
áictbtu.r, w áict!Nu(subenrcndido rnponánu), midiamur, miáicmd4.1, si dicllliU",
sem que aí se descubra mesmo uma alusão ao respondente. Nas outra.s obras divididas
cmanigos, C.mmr. ,.biT.dcTrinirarcJ.. BoirU>cSuma Tt0/ógi<4. c:sra últimadispo.sição
éarcgracasexceçõessãoraras{cf.l T.l4,3,2a1; l4,12,2a 1; 15,2.3a 1;ctc.A
fórmula wual na Sum4 t. Si d.iaztur ... conua).
14 Sobreaformaeanaturczadas Qrmt6n DisptmuiasCdas Qunl6ts Qut;álibnais, cf.

Mandonnet, O.P. '"Chronologie des Quesrions Disput«s de .sai.m Thomas d' Aquin",
na&vw Thumistt, jul.-set. c out.-dcz. (1918), pp. 266-287,341-371. Sob.., a manei-
ra cm que se dcscruobvam cmas dispuras no final do século XIY. cf Dcniftc-Chatdain,
~ Unn-. P...uinuis. Pari., 1891, T.ll, IA DUputná.. C.ibg<d<S.riNnn<.
Rig/nnmtdu 13 nDu. 1344, p. 555, n11 1096. Para ccn:as disputas solenes, como as
Vc:spáias c asÁulicas, v. ibid., Appcndix, pp. 603 c scgs. Ver também, pan<Sta mesma
lpoca, F. Pdstcr, S.)., Th.nuzs wns.utonO.[pcra] P.[hilosophica] etc. 2• an. Ztia<hrifi
fi" IGúhDiisch. Thtologit, 3. Quart. Hcft ( 1922), pp. 362-371.
IS &rase precavuconuacsseobstfculo, basta imaginar que, em nossos dias, no espaço de
dez anos, se vl às vaes o ensino das Universidades so&er modiflc:açõcs importantes. Seria,
pois, aventurar-se muitoconduirdoquctinhalugarcm 1360ouem 1340 àquilo que se
passava 100 anos ou me~ mo 70 anos antes, para aquilo que diz respeito ao detalhe da
disput>. Que se renha publiado, cm rallpoca, ..guiamentos de cerras dispu1as, ~o índio:
de que se mudava, cm qualquer medida, o que era praric:ado até então; as now do
Carrulmo da Universida<ic de Paris ;minalam, aliás, algumas dessas modifiClÇÕ<$.

Scintilla, Curitiba, vol, 8, n. 2, p. 13-38, jul./dez. 2011 19


~.A. I:ILANCHE, U.e 1-----------------
construção do anigo como para o conjunto do ordenamento de suas
obras, aplicou-se deliberadamente a esta busca da simpüficação, da
precisão e da eficácia, que atinge a perfeição na Sumtt1i:o/Jgica 16 •
Contudo, mesmo na Suma, a primeira seção do artigo, desde o início
até o Rt>ponáeo dicmdum, corresponde bem à disputa. É importante
observá-lo para apreender o sentido exato da expressão que marca o come-
ço desta parte. Na Sumtt, nas~" Quodlibaaise no Commtdrio sobr.
oD, Trinitau(de Boécio), encontra-se sempre neste lugar:Adprimum ou
ad stcundum etc., sic promlitru'. Que esra palavra não designa o procedi-
mento, o método seguido no artigo, se pode já suspeitá-lo imaginando
que este procedimento, sendo sempre o mesmo, teria sido pueril repetir
no inlciodecadaartigo: "Eis como se ptoeede". O que muda, a cada vez.,
é o conteúdo do artigo, e é ao conteúdo que a palavra proc•dot se aplica;
mas nós veremos que ela não se refi:re senão à primeira seção, quer dúer,
aquela que corresponde à disputa.
A significação primitiva do verbo prouder,, como o indica sua
composição (udot ir, pro avante), é ir avante, avançar. Ademais, o
próprio Santo Tomás o nota 17 , esse vecbo designa um avanço gradual,
ordenado, e não um avanço por movimentos bruscos e por saltos.
Neste sentido muito geral, a palavra correspondente em Aristóteles é
rrpoipxca6a. 18 , e o sinônimo latino, empregado freqüentemente por
Santo Tomás, progr•di. Donde compreendemos que, por uma deriva-
ção inteiramente natural, prouder,, em um de seus sentidos (que são
bastanrt: numerosos), renha vindo a exprimir a marcha ordenada pela
qual o espírito vai, em seu raciocínio, das premissas à conclusão. Deste

"VerA M.snovo.lnm>duDonu]J,z!»mmaTer>L di S. T""""""'. Torino, l918,pp. 33-55.


17 "': •• nomm proctssWnis primo m mlltntllm (foi aiado) aJsignjficiiNlwn monnn.loaltm

s«w&dwn qwm ali.tpUá qn/jnau ab fi111J loco pn ~ tmliNUim in earnmon triWil; a


ex hoc transumitur aá rignifict~Nhm omru iiJMJ in quo tst aliquis orth rmius ex lllü, wl
poiiiiiiruJ;~tintkmquoáinomr~i mtJtuutimurnomiMprocmionis". Pt, 10, t, c.

"dOúvaTov ydp dj;cpc>Tip..~ rrpocAOCÍ v d~ TÓ rrp6o6cv. M. ~· i, 995 a 33.

20 Scintilla, Curitiba, vot 8, n. 2, p. 13-38, jul./dez. 2011


ponto de vista, portanto, a palavta designou desde o início a inferência;
inferir, concluir (sin.: inforrt, conclutkrt, habm) 19 , depois, em um sen-
tido mais amplo, raciocinar, argumentar, discutir (sin.: rlltiocinari,
argunt, argu.mmtari, objiurt~ disputart). Enfim, com rtctt, expresso
ou subentendido, ele tomou o sentido de concluir corretameme, por
conseguinte, de ser válido, legítimo (sin.: valer<, tm<r<).

Eis aqui textos que estabelecem estas diversas significações: "Cum


dicimw: &mtia at mr0, si promi4tur sic: <rgo m aliquo ms, v<l se v<l
aüo, promsus non sequitur'' (yr, 21, 4, 4 r). Quando dizemos: A es-
~ncia ~existente, se se conclui assim: pois ela~ existente por qualquer
coisa, ou por da própria ou por ourra coisa, a conclusão não se segue".
- "Obj•ctio prow:kbat ac si mmtiaÜt<r virtus '"" ultimum potmtia•
(I, 2 T, 55, I, I r). O argumento concluía como se a vinude fosse, em
sua essência, o grau supremo da potência" 22 • Muitas vezes, no Contra
Gmtiks, no curso da refutação de uma s~rie de argumentos, se encon-
tra proc.""- empregado ao lado de seus sinónimos, inforr•. conclw:ku.
Por ex.: "N<qu< ctiam sequitur ... ut septima ratio proutkbat, ... ut
octava ratio conclutkbat ... ut duotÚcima ratio inf<r<bat (2 G, 89). Não
se segue ... como o deduzia o sétimo argumento ... Como o concluía
o oitavo argumento ... Como o inferia o décimo segundo argumen-
to". Proctdert in atquivoco, ou tx atquivoco, significa concluir graças a
um equivoco ou em vinude de um equívoco; quer dizer, em passando
do sentido dado ao termo-médio em uma das premissas a um sentido
diferente atribuído a este termo em outra premissa. "Pata quod ratio
proudit ex a<quivoco (I T, 50, I. 2 r). f. evidente que o argumento
conclui por meio de um equívoco".

1' ·t.r hoc tpiiNi bonum t!t objtctum volunt41is, ptJkll habm (se pode concluir) quoJ
volunWJ nihi/ lltlit nisi TMb rllliont boni • {MI, 6, 6 r).
JO Ens~ aqui partidpio (presenrc), comoocorn: bastante frcqucntcmcnrc.

"Cf. a fórmula: si•'l"""'r. "X" {I T,l6, 5, 3 r).


21 Ainda que este grau não seja senão o objeto da virrude.

Scintillo, Curitibo, vol. 8, n. 2, p. 13-38, jul./dez. 2011 21


r. 1\. DLANLHt., V.!'. 1------------------
Para o segundo sentido: raciocinar, argumentar, apresentarei as pas-
sagens seguintes: "haec dottrina non argumenrarur ad sua principia
probanda, quae sunt articuli jitki, sed ex ris procedit ad aliquid a!iud
osttndmdum (I T, I, 8, c). Esta ciência não argumenta para provar
seus princípios, que são os artigos de fé, mas ela os toma como princí-
pios de raciocínio, para provar qualquer outra coisa (literalmente: ela
argumenta partindo deles)". Esta passagem é inteiramente probante,
pois há um paralelismo completo entre as duas partes da frase e, as
outras palavras permanecendo as mesmas, o sentido, "ad... probaTU!a,
ad. .. ostmdmdum"; prottdit, na segunda (parte}, toma o lugar de
argummtatur. A seqüência acaba de mostras que estas duas palavras
têm o mesmo sentido, pois Santo Tomás acrescenta: "sicutApostolus...
ex T(SU"~ctiont Christi argumcntatur ad rtsu"tctiontm communnn
probandam. Por exemplo, o Apóstolo rira da ressurreição do Cristo
um asgumenro para provar a ressurreição geral". Ora, é bem o caso visado
pela segunda parte da frase precedente, e promiit é desta vez substituído
por argummtatur, consmúdo, como ele, com a preposição ex. - ':1ilh~~~:
promiunt quiA in inftrioribus istis non invmiuntur aliqua principia activa
ad gmrratiorznn nisi calidum tt ftigidum (7 Mr, 8, 1455). Eles trazem
ainda este argumento que nos ~res daqui embaixo não se encontra como
principias arivos dageração.!elláoocalore o liio". "Prrquam viam proudit
contra n<m Philosophus in I Ethicorum 0/r, 21, 4, c). ~por este meio
que o Filósofo argumenta contra ele no Livro I da Ética". Aqui, o
sinónimo seria: disputat, disputat contra n<m.
O terceiro sentido, concluir corretamente, resulta destes textos:
"Ralio jJ/a rtcu proudun sj corpus ca~le5k pu»et impn"mer~ pe-r J~ in
animam (Vr, 5, I O, 3 r)". Este asgumenro concluiria correramente se
o corpo celeste pudesse por si exercer uma influência sobre a alma".
"Vitktur quod hatt ratio inconvmimur promiat (7 Mt, 13, 1581).
Parece que este argumento não conclui legitimamente". "Dnnonstratio

u Cf. ": .. rlltio i/14 concúuJ.n.n. si usmtifl fUii'fiUle itA corpori unintur'f'I'Jd essn omnino
corporimbjugtJtA~ Vr, 13, 4, 5r. ·

22 Sdntillo, Curitibo, vai. 8, n. 2, p. 13.38, jul./dez. 2011


------j V VV\...nDVUU\J.V Ul'l.l\1\\.IUMC.l"' 11'1.\,J\U 1:: J\ r..!)II(U I UKJ\,,,

i/la dt proportiont tonporis tt potmtitu movmtis procedi r de potmtia


infinita in magnitudint... non auttm tenet de infinito txtra
magnitudinnn (Pt, I, 2, 2 r). Esta demonstração tirada da proporção
entre o tempo e a potência do inotor vak por uma potência infinita na
<O<tensão ... mas ela •iio I vdlida para o infinito fora da <O<tensão"".
Uma vez estabelecidos estes pontos, é f.ícil de ver que, na expressão
que <O<aminamos. proctdnr tem o segundo sentido: raciocinar, argumen-
tar, e que a fórmula ad primum ric proctditur equivale a: ad primum sir
objiritur ou disputatur, e se deve traduzir. a favor do primeiro pomo, eis
como se argumenta; quer dizer, eis os argumentos que se empregam em
um sentido. depois em outro: em suma, ~i~ c.omo se disput2. Com os
argumentos da disputa mudando a cada artigo, se compreende muim
bem que a fórmula seja repetida, assim como o &spondto dicmdum. Mas,
poder-se-ia objetar, não são somente as razões pró e conua que são novas
em cada artigo, o cotpo do artigo e as soluções que o seguem são igual-
mente d..iferenteS, a cada vez, e, ademais, estas duas últimas panes contêm
racioclnios assim como a primeira. por que então proudnr, no "'ntido de
raciocinar, não se aplicaria a todo o artigo?
Uma particularidade que apresentam certos quodlibtn nos permi-
te resolver a questão. No início de um muito grande número dentre
eles, em lugar de Adprimum sic promiitur, se encontra "Ad primum sic
proctdtbatur"". Pois o imperfeim mostra qu~ se refere ao que se tinha
passado precedentemente. Ora, tanto para as ~tõa DispUiildASquan-
to para as QJ.atõts QJ.oti/ibtt4is, a "determinação", quer dizer, a deci-
são magistral da dificuldade, não tinha lugar imediatamente após a
disputa, mas "o primeiro dia em que o mestre que tinha disputado
pudesse dar sua lição•, o primeiro dia kgfvtl (dits kgibi/is) "'. Portanto,

"Ver outros exemplos, (abaixo) pp. 22-23 (no original, pp. 185·186).
"Cf. I Ql,2, e6e7 e9cte.
"Cf. Mandonncc. "Chron.dccQucst. Oi,p.", na &v.. Thomist<,jul.·scr. (1918), p.
268 e seg. '" ... um domingo, um dia de fcs(a, ou qualquer outro obstácuJo podia
impc:d.ir que esse fosse mesmo o dia seguinte da disputa ... " (ibid.).

Scintilla, Curitibo, vol. 8, n. 2, p. 13-38, jul./dez. 2011 23


no momento em que o mestre redige sua "determinação", ele recolhe
previamente os argumentos que foram propostos e se reporta assim
pelo pensamento à disputa que tivera lugar precedentemente, donde a
fórmula sic procttkbatur. Eis como se disputava: eis os argumentos
que foram empregados. Não se encontra jamais, aliá<, &spondtbatur
dictndum, mas sim rtspontko, nem ad primum dictbatur, mas
dictndum, o que se explica pelo que acabo de lembrar'.
Em um opúsculo que figura dentre as obras de Santo Tomás, mas
que é apócrifo e que um manuscrito do século XIV atribui a Alberto
Magno"', o tratado tÚ hto, em lugar da fórmula Ad primum sic
proctditur se encontra esta: Adprimum objicitur sic. Ora, todo o anigo
1• deste opúsculo é consagrado à disputa: o desuno, ou a fatalidade,
existe; o destino não existe; e é somente o artigo 2g "Quturiturquiásit
fotum", que traz a solução e a resposta aos argumeiuos das duas séries,
naquilo que eles têm de contrário à tese sustentada. Além do que, as
expressões que formam o quadro do artigo são, com pequena diferen-
ça, as mesmas que aquelas empregadas por Santo Tomás. Este, nas suas
respostas às razões que combate, chama estas últimas objtctll. De outra
pane, ele se serve da palavra objictrt nos seus Comentários sobre
Aristóteles para marcar as duas panes da disputa. Objicit ad primam
parttm, objicit ad stcundam. Ponanto, a palavra objictrt, empregada
no rk Fato para designar a disputa, é a equivalente de procttÚrt, que
ocupa o mesmo lugar em Santo Tomás, e isto confirma que proctdtr.,
ele também, aplica-se somente à disputa".
11No 111 Quodliba l, 1 se reenconm a fórmula que faz alusão igualmente à disputa
pr=lcn«. "Etostendebarurqwxiir~E"'dcmo"""""quecraa.sim,"'mosaavaqucOm.
"'Cf. Mmdonnet. Ema ""thmt'.qws J. 14inJ T""- d.'A4f'in. Fribourg. 1910, p. 130.
29 Encontra~sc com bastante frequencia em Alc:x. de Halcs, cm lugar de ãá J•• sic
promlitvr~ "adqwxiargoitursic"(U.iv. Th<ol Som. I• P. Q. I, Mcmb. 2, foi. I) ou "ad
~ objicitvr sic"(lbid., Mcmb. 2), muiw v.us simplesmente "ad ~ sic", ibid., Q.
14, M. 2, foi. 31. NaSumadeAlbertoMagno, =neonaamosprocniitvreobjicitvr(cf.
I P,Tr. 5,Q 23,M.4,a. 1. Ed. Viv~.p.190,col. 1;Tr. 6,Q.25,a. 3, part.l. Ibid.,
p. 217,col.l).

24 Scintilla, Curitiba, vol. 8, n. 2, p. 13-38, jul./dez. 2011


Aqui ~ o lugar de d.renninar o verdadeiro sentido das palavras
objicn-te objtcbo. Sem dúvida, estes termos têm muitas vezes a signifi-
cação que damos a objetar e objeção30, mas não têm esse semido senão
por posição, quer dizer, em viriude do contexto, e essa não ~sua signi-
ficação primitiva, nem a mais freqüente. Em nossa língua (o francês),
objetar, fazer uma objeção a, significam opor qualquer coisa, seja um
faw, seja um raciocínio, a uma simples afirmação, ou a uma tese sus-
tentada segundo as regras. Não é o caso para a dispura, tal como a
apresentam os arrigos de Samo Tomá Pois ela consisre em razões pró
uma parre da alrern•tiva, depois, em razões mr fovor da ouua parre e
não contra as primeiras. Entre os argumentos das duas série.s. a oposi-
ção não é, porranro, senão indireta. O escudo dos rexros apóia essa
maneira de ver. Por exemplo, no Commtdrio sobrt a Mttajisica, encon-
rramos estas expressões: "Primo objicit ad ostmtkndum atquak ""
contrarium magno" parvo. Stcundo objicit ad opporitum (lO Mt, 7,
2060). Primeiramenre, argumenta para provar que igual é conrrário a
graode e a pequeno. Em segundo lugar, argumenta para (esrabelecer) o
oposro". "Objicit pro utraqru: parte (7 Mr, 12, 1538). Argumenra nn
favor das duas partes". O equivalenre de objic"' é pon"' ou inductrt
rationts, e ainda disputart ati. "lnducir rationem ad unam partem ...
objicit ad p4nmr contrariam (3Mt, 14,515). Apresenta uma razão pró
uma parre ... ele argumenra pró a parte conrrária". "Ponit rationts ad
utramqut partem (3 Mr, 12, 490). Ele dá rázões para uma e ourra
parte". "Disputat ad unam partem... disputat ad aliam pantm (3M r,
5, 387). Defende a favor de uma parte... defende a favor da ourra".
Encontra-se igualmente disputart quatstiontm ou ad qua!Stionan,
objic"' ad quatstiorum: expressões que rêm o mesmo semido, a saber,
discutir uma questão. Por conseguinte, objict" significa, em geral, ra-
ciocinar, argumentar, como proutkrt,argun-t, argummtari, tlisputllrt.
Isro dará daqui a pouco a chave do Std contr11.

Cf. Pomt IZUtml tdiquiJ conua praediaa objiccre qwJ D~i subsuzntia nt aliquiJ
10

mAjw qruzm omn;, tpuU ipt<faarr. vd in~e/ljgm, wl wlk po~t pramr stipsvm. 3 G, 56.

Scintillo, Curitibo, vol. 8, n. 2, p. 13-38, jul./dez. 2011 25


lu idéias de objetar, de objeção são, ao contrário, expressas direra-
mentc pelas palavras obviart, obviatio, instart, instantia, cujos equiva-
lentes aristotélicos são: árravráv, drráVTI'/CJl c;, lví craa6a1,
lvCJTaCJl Ç1• Vimos que, nas QJustõ.s Disputlldas, o respondente opõe
uma interdição ~qude que argumenta, tentando enfraquecer seu racio-
cínio. Aqui, o argumento é aracado dir.tammk. Eis um exemplo dis-
so: em Pt, 3, 14, I a' e 2 a 1,aqude que sustenta a afirmativa argumen-
ta assim: A pot~ncia da causa que produz toda a substância de uma
coisa não é menor com relação ao seu efeito que aquela da causa que
produz somente a forma. Ora, a causa que produz somente a forma,
podcri.a produzi-la de toda eternidade, se ela própria existis..(õe de toda
eternidade. Portanto, por muito mais forte razão, Deus, que produz
toda a substância da coisa, pode produzir um efeito que lhe seja co-
etemo. O respondente tenta então retirar toda eficácia a este argumen-
to em obj<tando que sua conclusão encerra uma impossibilidade, pois
se seguiria esta conseqüência absurda: que a criatura seria igualada ao
criador com relação ~ duração. Santo Tomás, em sua solução que se-
gue o corpo do anigo, nomeia esta interdição, obviatio, e faz observar
que da não é muito efiC2Z. "Untk i/la obviatio parum at tjficax" (ibid.,
2 r'). Eis aqui outros textos: "Potm... aliquis huic rationi obviart dicmdo
etc. (3 G, 85, arg. II). Alguém ... pode opor uma objeção a esse racio-
clnio, dizendo ... ". ''Exc/udit quamdam cavillosam mponsion<m qua
poss.t aliquis obviar< prima. rationi (7 Mt, 13, 1577). Ele afasta uma

" rrpóç 6l TO<iç óumopoovTaÇ b< n;iv rrapaócóctJlvwv drrop1wv Mó•ov


mrav.ãv ... (M. K. 6, I 063 b 13) ... Si tdújoi sunt qui áobil4nt proptn 4/iq14os
tkfrctw ... focilurt obviarr 14/j m"Ori, solwnátu41f"4'faarmt in ris áobil4lio""" (li
MI, 6, 2242). TI) rrpÓÇ TÓ Ó!TTÓV mrav.rfc1EI (TI. 17, 176 a23). Oú yáp rrpÓÇ
T6v A6yov c!.Ua rrpóç n)v 5Jávolav ~ mrávr,a•ç c:nJT<Ôv(M. y. 5, 1009 a
19-20). Non mim o/nJiiln.tlMm t1t ns. vtl DCCUTTt7'11Úml, ati nttWMS lf'UU po,nmt. SIJ IIÁ
mmtnn ... (4 Mr, 10, 663). "'En TÓ rrp6PAE11a rrp6TaOJv iau.,.P rro•OÚJltvov
lvlOTao9a•· ~ yap {VOTCZCIÇ {OTal lmxe~pJÍJia rrp6ç Trfv 6lo1 v. (pois a
objcçãoS<Ji wnargumcmoconrraarese) (T.~. 2, li Oa IO-ll)."'EV0'1llUlÇ6' iOTI
rrp6Taal(; rrponiuc1 iVavTÍa(A. ~- 26, 69 a 37).

26 Scintilta, Curitiba, vol. 8, n. 2, p. 13-38, jul./dez. 2011


------1- ,.._..-..J'U..Iv~U.VI.II\I'VI.UUlYI&I'Ili\~VC.I\C-)1;\UJUtv\ •••

réplica sutil com a qual se poderia fazer uma objeção contra o primei-
ro argumento". k palavras obvi4rt, obvi4tio implicam a idéia de resis-
tência. O espírito não se rende ao argumento que lhe foi dado, porque ele
apercebe urna dificuldade que ~nliaquece este argumento, ou mesmo, o
destt6i. É o que um outto emprego da palavra obvillrt e o sinônimo mistnt
mostram. "Solum mim I4pimtum ... <rt hujumwdi pf1S$ionibw obviart (3
G, I 54). É somente feiro de sages... resistir às paixões de esta espécie".
"Smmdo [ostendit] qwditer resisrendum m ns appamzm-... Tm'"' qualiter
ns obviandum m m:unáum vmtatnn (4 Mt, IS, 711). Em segundo
lugar [mostra] de qual maneira se pode lhes fazer oposição do ponto de
vi.ra sofistico [que é odeies]. Em rerceiro, como se podedirigiramtraeles
objeções fundadas sobre a verdade".
A mesma idéia é também expressa pelas palavras instart, instanria
~-- rtmovebitur opinio talium qui contra omnia instant (li Mt, 5, 2223).
A opinião de semelhantes (espíritos), que contestam tudo, será
repelida"". "QJ4ia vüúbatur hoc habtrt instantiam in principiis a Pi4tone
positis... itleo consequmtn hoc exdudit (12 Mr, 4, 2462). Como pare-
cia que esse se chocava contra uma objeção tirada dos primeiros prin-
cipies admitidos por Platão, ... pois de afasta em seguida esta (dificul-
dade)". "... Ostmdit qualitnformda esset instantia in dnnonstrativis ...
(I PA, 22, 6). Mostra como deveria ser dirigida a objeção nas ciencias
demonstrativas"". "Nec habet instantiam tk pÍuribw trahmtibw navem
(I T. 52, 3, c). E o caso de vários homens que puxam um barco não
constitui ai urna objt9-o". "Nec cont:nz hoc potmfim instantia tk JuqbuJ
quqrum unum ab aturo depmdm4 sed non e contrario (I G, 13). E não

" ... ÀÚOITOÚV TÓ Àtyqrtvov I.Í!TÓ rWV ra roraiira fvrar""i""'v(M. K. 5,


1062 b 9-10).
n • Dicit trgo pn·mo qiWi nm O}Drtn in dmumstrativis fmt instantiam in ip.rum. id ru.
in~pam/Dgismrlm.""""""'aliqoamproposiriunnn~iátsr,pmritu/mrm"
(ibid.). OU &i ô lvaraurv tlt; cniro tpfptrv, áv r!~ rrpóraort; i7TaKTrKrí (A.
y. 12,77 b 34).

Scintilla, Curitibo, vol. 8, n. 2, p. 13.38, jul./dez. 2011 27


r . .n.. 1J!J\.I,.."-l1z:., v.1. 1-----------------
se pode opor a isso a condição de duas coisas em que uma depende da
ouri-a, mas não inversamenre". Não norei que Sanro Tomás tenha
empr.gado estas palavras em um sentido que se enconrra nos escolásócos
muito posteriores", onde elas significam que se insiste sobre uma ob-
jeção que se prop6s, mostrando por um novo argumento que ela não
foi resolvida". Em meu conhecimento, ele não dá jamais este nome à
réplica que segue a interdição do respondente.
Os argumentos da segunda série, aqueles que tendem a estabelecer
a outra pane da alternativa, se abrem pela fórmula s,d Contra (ou,
simplesmente, contra) .st quqd, seguido do enunciado do silogismo:
ou bem, s.d contrtl t'St ou contra t'St quqd dicit ou dicitur, quando a
razão alegada consiste em um texto que fitz autoridade. O sentido
exato destas expressões nos é dado por fórmulas mais desenvolvidas:
"&tion.s aumn qua. sunt ad oppositum concludunt quqd <te. 0/r, 4, 5
r'). As razões que militam em favor da (tese) oposta concluem que .. .".
~ ea vero qua< in contrarium objiciuntur, poss<t tk fociü mpondoi, si
quis vellet contrarium sustinere 0/r, 4, 2, I r'). Poder-se-ia facilmente
responder aos argumentos a fovorda pane contrária. se alguém quises-
se sustmtar o contrdrio ~ Mais brevemente: ~ id vmJ quodin contrllrium
objicitur, diundum ... (I T, 14, 16, r'). Quanto ao argumento que se

J-4 João de Santo Torús ~mprqa ainda os termos insta", instantüt. no mesmo sentido
que o autor da Suma. Cf. •Et iNtatur i/ia constqumtia: convmit aliquidacciJnralirn
aliqui, "f..tÜstinguiiW" ali iUo •f"U" m, tJ<m ... nr. A esta inferencia: uma coisa convWI
a uma outra acidentalmente, ponanto da se distingue da outta na rc:a.lidade, scobjcta
que ... c que .. .'' ct(;. Ph. Nal. JP. Q. 7, art. 4. Ed. VivC.S. T. II, p. 119, col. 2. "&f-
expliclllionr solvmtur plum in;tantiu, tpUUCOfltrll isttzm tkfinilirnum objiâpossunt".
!bid., Q 14, a. I, p. 259, col. I (• Curswphit.sophi<us Thomuticus. Phit.s. MtrlTtllis.
p., 1-lll. Ed. B. R.iser, O.S.B. Taurini, Marieni, 1933, r. 2, p. l35,coL2,1. 12-15;p.
294, col. 1,1. 40-42).
l~ Eles adquirem este sentido cm Billuart c Goudin, por exemplo: insttlbis, rtp!Uabis. ~
esre úlrimo oenrido que a palavt> inswna(insdncia) conservou na nossa língua (&ancesa):
"novo argumento pelo qual se retorque a resposta feita a um primdro argumento•
(HATZFELD,A; DARMS1ETER,A;THOMAS,A Diaionn. Gm. tklaúznpr
Fr41tfaist, v~rbete insUtNt.

28 Sc.intilla, Curitiba, vol. 8, n. 2, p. 13-38, jul./der. 2011


------! V VU\....1\HUl..AtuU UA AKUUMI:.N I A<.;.AO 1::: A E!ITRliTURA •..

alega afavor da parte contrária,~ preciso responder... ". O que eu disse


acima acerca do sentido de objiur• é suficiente para justificar estas tra-
duções. A expressão S•d contra tst, portanto, não significa: "Mas con-
tra (as razões dadas a favor da primeira parte) há isto que etc." Como
eu o fiz observar acima, a segunda série de argumentos não~ contra a
primeira série, da é a favor da segunda parte da alternativa e não se
op& senão indir.tammu aos argumentos dados a favor da primeira.
O que se op& dir.tammu aos argumentos combatidos do ponto de
vista da tese estabelecida na "determinação" são as respostas que se-
guem o corpo do artigo, mponsion<s ad obj•cta, quer dizer, respostas
aos ~Zrgumentos (sentido estabelecido precedentemente), qut d~I Jtjam
da I• ou da 2• stri,, visto qu. ,/es" afastam da u". O exemplo da
Suma que acabo de citar (I T, 14, 16 r') ~ti pico a este respeito".
A parte do artigo que expõe e prova a tese admitida pelo autor, o
que chamamos comumente de corpo do artigo, começa pelas palavras
R<sporuko diundum. Esta expressão não é um pleonasmo, como po-
deria parecer (dicmdum sendo um equivalente de mponsio), e não se
resume a mpontko respontkndum. Com efeito, se prestarmos bastante
atenção, nos apercebemos que uma e outra destas palavras tt!m sua
razão de ser c exprimem aspectos diferentes da tese. A primeira,
mpontko, se explica pelo fato de que a pesqujsa tem lugar sob forma
de interrogação, Utrum ?... Pois o que corresponde formalmente a
uma pergunta, é uma resposta. Mas nem toda interrogação formula
uma dificuldade ciendfica. Pode-se pôr uma questão sobre um sim·
pies fato. Por exemplo: Chove? Vistes Pedro? E basta, neste caso, res-
ponder sim ou não. Mas em filosofia e em teologia, a interrogação

~ Cf. ainda, I T, 17, I, r' (designado, aqui, porad4"): I, 2T, 8, 3 r' (Em I, 2T, 85,6
c, a resposta!! dada ao mesmo tempo para os crês a1 c para os u!s a1). Caso frequente nas
Qum.lJispuwlm. Vr, 10, 12, I r',ctc.; 12, I, I r',e<c.e7, I r',ecc. e9, I r',etc.eassim
quase em cada questão. ~preciso reconhco:r, todavia, que na Suma o argumento a!, ou
Sul Contrll, exprime quase ~mprc a t~ susten12da no anigo c é decisivo.

Scintilla, Curitiba, vol. 8, n. 2, p. 13-38, jul./dez. 201 1 29


E A. llLANCHE, U.l~ f----------------
exprime uma dúvida es~ativa para a qual se há de encontrar a solu-
ção". Ora, é esta idéia que implica a palavra diundum. A pergunta
exige uma resposta, mas, para que esta resposta seja satisfatória, é pre-
ciso que ela enuncie os princípios que permitirão dissipar a dúvida
levada a seu ápice pelos argumentos da disputa, e que ela ponha em
operação estes princípios nos raciocínios, de tal sone que, a luz
elucidando o fundo da questão, o espfriro seja definitivamente fixado.
As idt!ias deverão, pois, ser escolhidas com um discernimento seguro,
e, por via de conseqüência, será preciso ter o mesmo cuidado no em-
prego dos termos que as exprimirão. Donde a palavra dicmdum. Eis
aqui o que~ preciso pensar c: c.:umo é preciso dizê-lo. Mas são princi-
palmente as idt!ias jusras à.! quais esta palavra faz alusão".
Com efeito, ela não t! senão a tradução escolástica de uma expres-
são aristotélica que tem esta significação. Quando julga as opiniões
dos filósofos, seus predecessores, Aristóteles se serve muito
freqüentemente das expressões óp6cÕç. .-a.lwç Uyt:t v para aprovar, e
oú.- ópOWç, oú .-a.lwç. K(JJ(WÇ J.tyt:t v para criticar, quer dizer, no

"Arisr6tdes observa nos Tópicos(a. ~- lOS a 3-nque nem todo problema~ digno de
exame. Cenas questões não merecem senão uma reprimenda; quando, por exemplo,
alguc!m pergunta se c! preciso honrar os deuses e amar seus progenitores. H4 outras
(questões), a que se contenta de ~pondec: abri os olhos, escutai, tocai etc. Em ouuos
termos, uma simples percepção basta. Por ocmplo, quando se pcrgunu se a neve~
branca. Somente os problemas cplC exprimem dúvidas cuja soluç5.o exige o raciocínio
devem ser examinados.
"Aiexandrt:d.Aliodísias.comen:andoa-emqueAristótdcsdistingueapropo-
sição do problem.a (cf. acima), estim.a que se pode compreender assim cst:l dikn:nça. A
proposição (qucstio simples) pede que se responda por uma das panes da oposição
contraditória; quanto ao problema, de não exige (somente) a resposta (por wna das
panes). mas a demonsrração dem pane. Dito de outro modo. o problema não t<ebma
um.a simples resposta. mas """ RSpOSta motivada. plenamente csdarooedora. O proble-
maéqualificado 71l10JlaTIK~ lpWT1JOI~querdizcr. pedido de explicação.... 61óKai
OoKÚ 71l10JlaTIKq ptv ipWTI(O<I TÓ rrpá{3~qpa iÕ1Kfva1 (aTT1JCTIÇ ydp
KaTam:cuqç i<JTI Kal &l~cuç Kai ÔlaMKTIKOÚ Myou)... ,AI=>rd in Top. l, 4
(As. 101 b 19-28) Edit. M. Walhes. Berlim.l891. p.40.1. 29-30.

30 Scintilla, Curitiba, vol. 8, n. 2, p. 13-38, jul./dez. 2011


------j v VU\...AJjUUU(JU UA AKLUMEN rAÇAO E A ESTRlJI1JRA...

prim~iro caso, ter uma opinião justa ou exata, no segundo, ter uma
opinião inexata. Santo Tomás traduz por rtctt dic~, non rtct< dicm:''.
Por ex.: "Aqueles que admitem as ideias têm, de uma pane, uma opi-
nião justa (Tfj ptv q:,BWç J.iyoum: Santo Tomás, "in hoc rtct< dicunt")
acerca do que consideram como seres separados, enquanto das são
substâncias; mas, de outra pane, sua opinião é fàlsa (Tfj Ó!OÚr< ópBWt;:
Santo Tomás, "in hoc autnn non dixmmt rtct?) acerca do que cha-
mam ideia, o que, sendo uno, é comum a muitas coisas" (M. l;. 16,
1040 b 27-30; Santo Tomás, 7 Mt, 16, 1642-1643). ":Ei.JrrEÓOKÀ~Ç
Ó[J}Ú KaÀWÇ Elp'7KE TOÜTO ••• (ljl. ~· 4, 415 b 28). E a opinião
expressa por Empédoclcs não é cxata acen;a disto ... " 40

O que bem mostra que esta expressão marca ames a quaLdade das
ideias que a dos termos é esta outra passagem da M<tafoica em que
Aristóteles faz observar que, se (alguém) se põe do ponto de vista de
Anaxágoras e expõe distintamente o que ele quis dizer, parecerá talvez
que sua doutrina apresente qualquer coisa de mais novo que a de
Empédodes: "... lowç ãv rpaYEÍ'7 Kal vorrpmcGTtpwç Àiywv (M.
A. 8, 989 b 5) ... Appar.bit <jus dictum mirabilius u subtilius
pra<mlmtiumphilosophorumdictis" (Santo Tomás, I Mt, 12, 196). É
claro que Anaxágoras, não tendo, nem completamente, nem distinca-
mente, exprimido seu pensamento, não são o~ termos que ele empre-
gou, mas as idéias envolvidas naquilo que ele disse confusamente que
Aristóteles tem aqui em vista. De acordo com isso, seria preciso tradu-
zir assim R~ondto dirtndum: "Eu respondo. eis aqui ;1 opinião que é
preciso adorar, ou, a solução justa é está'. As razões a favor de cada
uma das panes da alternativa não sendo expressas sob forma de inter-
rogação, a critica que delas é feita, após o corpo do anigo, não começa
por mpond.o, mas simplesmente por dicmdum "a solução é está' (ou,

l9 Cf. •hoc non rmulicitur". I T, 19, 9, I r.


" T,.itl J. tà .... Tradução (francesa) de G. Rodier, Paris, 1900, T. !, p. 87.

Scintilla, Curitiba, vai. 8, n. 2, p. 13-38, jul./dez. 2011 31


~.A. ISLANCHE, U.J:: 1----------------
a resposta é esta, mas, aqui, resposta no sentido de rlplica que molvt o
argumento). O que confirma a explicação que dei acima.
Vê-se algumas vezes Santo Tom:ls se servir de um simples dico pata
exprimir sua opinião, palavca que se toma usual nos escol:lscicos poste-
riores". Dico significa então: eu penso ou afirmo que etc. Ela aparece
empregada, de preferência, para marcar as panes de uma tese comple-
xa, e é precedida de sic, "sicdico", então, eu afirmo... , quer dizer, deste
ponto de vista, nestas condições, eu afirmo ... Por ex.: em Vr, 1O, 8, c,
Santo Tom:ls, falando do conhecimento que a alma tem dela própria,
seja espontaneamente, na consciência individual, seja cientificamente,
pela psicologia, se exprime assim: "Trara-se da primeira? sic, dJ't:o quod,
então, afirmo que ... Trata-se da segunda e se considera o conceito? sic,
dico quod, então, afirmo que ... "
O corpo do anigo contém, ponanto, a decisão da dúvida expressa
pela interrogação do inicio. Após ter procedido por disputa (proctdtrt
modo disputativo), o mesrre procedia por demonstração (proctdtrt
dnnonstrativt), seguindo as expressões já citadasde Santo Tom:ls. Este
último procedimento se exprimia também pelas palavras dtttrminart,
dtttrminatio (Asisróteles áropíÇcr v, 8roprq.J6Çi. Santo Tom:ls em-
prega os dois termos com esta significação em 4 Ql, 18, t. "Utrum
dtttrmination.s thtologictU dtbtant fim auctoritatt vel rationt. Se as
decisões teológicas devem ser dadas recorrendo-se à autoridade ou ao
racioclnio". No corpo do anigo, "... Si nudis auctoritatibus magisttr
quatstiontm da""'intt ... se o mestre decide a questão unicamente

41 Por exemplo, cm João de SarJto Tomú, a propósiro da individualidade dos seres

corporais. •Dico prirM: Nrm potm natura spmfiaz tx sob:t mti~~Ue SJUt ... eu~ priruipium
tui«tJutum inJ.iuiJ.,.tionis. [_.) Dico s~cundo: Non potrst IIJSigNZri pro prir~ipio
individUAtitmis h•tcuitas ttc. [... J Dico tntio: Primum tt rtuiü•k principium
indiviáu.alionis non poust tsst fi'n'n4 mbstantiAJis• etc. Ph. Ntzt. 3 P, Q. 9, an. 3. Ed.
Vivb. T. 3, pp. 5 I, 56, 58(= CumJS phiúnophi<w Thomisti<W. PhiitJs. nan..rzlis. Pars I-
III. Ed. B. R<U.r,O.S.B. Taurini, Marierri, 1933. r. 2, p. n2,col.l, I. 21-25: p. m,
col.l,l.47-col.2,1.1;p. n9,col.l,l.l9-21).

32 Scintilla, Curitibo, vol. 8, n. 2, p. 13-38, jul./dez. 2011


------1 \J V\..J\.J\.DUI.J'\NU UI\ 1\KVUMJ:.l'IIJ'\\,J\V t=. 1\ e.)JilU I UIV\.,.

por autoridades", quer dizer, passagens de livros que fazem autoridade.


Em Aristótdes, 5wpíÇt:lV significa determinar, em outros tetmos,
ddimitar, definir, fixar os contornos de uma noção42 ; depois, fixar,
estabdecer43 e, ainda, tratar de'\ e o substantivo 5!0p10J.16Çtem sig-
nificações correspondentes". Ele é por vezes expresso por definirr, si-
nônimo de detmniMrr. "Alio modo intnprrt4mur tdiquid i• bonum
vtl ma/um, definimdo sivt detmninando (II, 2 T, 60, 4, 3 r) 46 • De
uma outra maneira, nós interpretamos qualquer coisa como bem ou
como mal, decidindo ou pronunciando". Dito de outro modo, emi-
tindo um julgamento firme, por oposição à outra maneira, que con-
siste cm uma imcrprcLac,:ão hiputétif..a, "p" quam/Úm supposiriontm".

A palavra dettrminart não aparece nas fórmulas estereotipadas do


artigo", mas Santo Tom~ a emprega freqüentemente nos Comentá-

"Túmp plv oJv TOÚTU lhwpía6w ~al úrroycyp6tp(Jw rrcpl opux~;($. ~-I,
413 a9).- "Que nosso esquema e nossoesboçodaddinição geraldaalmao:jam. pois,
wimapreendidos" (RODIER. G. TnUJtúl'Am.. Paris,I900, T.l, p. 71).
"fllwpiOJJévwv ói TO<.hwv (ojl. ~. 5, 416 b 32). Estando estabelecid"'.,,., pomos
(ibid., p. 95).
" NÜv ót trpWTOV rrtpl y.&poo ~ai dxo~> Ó!Opíowpcv (ibid., 8, 419 b 4).
Agora. tratemos de infcio do som e do ouvido (lbíd., p. 113).
"''EX" yqo nlv Elpryúvov Ólop!OJJÓV (M. y. 3, IQ05 b 23). Pois (.,!e princípio)
tem os caraaera (liter.dmente, a determinação) que acabamos de indicar. 7.'/)CnpiiTal
yàp TaüTa ruv lv nji ÓloplOJIIÍi rrpooÓVTWV fvta (M. 9. 5, 1048 a 20). "N•m
ta I{"M txk'TiUJ prohibrnt rnnovmt •liq1111 ft1rum qwu posiuz nmt Jllpfflw ;,.
determinationectJm,wripouibilU"'(9 M[, 4, 1821).
46Dnnmi:narrofetecc\Ulla nuancc que não tem ôrop(,trv; implica que a decisão vale,
não somente pelas razões que a motivam, mas ainda pela autoridade daquele que a dá;
pois nio cabe senão ao meruc determinar ou pronunciar. Aqudcs que não são mestres
podem bem respondu, qutr dizer, resolver um argumento proposto, mas não "deter~
minar"'. Por isso, se encontra a palavra tlttnmiruur ao lado de tkfinirrpara exprimir as
decisões dos Condlios e dos Papas. "Rim> in a...Irtdmrnui Sy>wt/4 rongr.g••s«vli srmt
smtmtiam úoniJ PapM, qui Mttrminavit Chri.Jmm tsu in dualnu n.turi.J post
in<•rn4tiormn"(Pt,IO, 4,13 t).
47 Masoenconttamos,ocasionalmcmc,nosan:igos.C( 1T.l, 7, 2a1, 2 r; Vr, l2,3,8,a 1•

Scintilla, Curitiba, vol. 8, n. 2, p. 13-38, iul./dez. 2011 33


rios. "Dtttrminat qr<id m actus (9 Mt, 5, 1823). Determina (ou defi-
ne) o que é o ato". "Drtnminat propoiitam quaestionmr (10 Mt, 3,
1963). Decide a questão enunciada". "Vmtatmr tÚtn'minat qrumtionis
(!O Mt, 7, 2060). Estabelece qual é a verdade nesta questão".
"Drtnminat mim in quarto quod ista rcimtia consitkrat m.s in quantum
rstm.s (3 Mt, 4, 384). Determina (quer dizer, decide e prova), no livro
4g, que ~ta ciência considera o ser enquanto ser". Estas últimas passa-
gens, como também a expressão procrtkrr tkmonstrativr, indicam bem
que ccdeterminar" não consiste somente em descobrir a verdade e ex-
primi-la em termos exatos, mas ainda em estabelecê-la, quer dizer, em
demonstrá-la. A decisão contém esses dois pontos, e é fácil de ver que
o segundo é o mais importante. O efeito da disputa é de levar a dúvida
ao seu :ipice, e o espírito, agitado em sentidos contr:irios pelos atgu-
menros que lhe foram apresentados, hesita, sem poder se fixar. A deci-
são deve parar de uma vez esta hesitação, encerrando o espírito em
limites tão exatatnente traçados (de maneira) que ele não tenha mais
nenhum jogo, e projetando uma luz tal sobre o objeto assim circuns-
crito, que o pensamento seja irresistivelmente levado a se conter nestes
limites e a repoUSai aí por uma adesão absoluta. Ora, as definições e as
distinções podem ser suficientes para a primeira tarefa, mas é a de-
monstração que conclui sua obra e força o assentimento.
Uma significação de tktrrminarr, vizinha dessa última e que assi-
nalei acima, é tratar de, tktrrminarr tÚ (Arist. ÔtopÍÇI:IV rr~:pi).
Enconttatno-la empregada assim nos Coment:irios. "Drtrrminat tk
potmtia <tactu (9 Mt, 1, 1773). Trata da potência e do ato"".
Sendo a decisão uma resposta (no sentido de réplica que dissipa a
dúvida) e uma solução, ekt~rminatio tem por sinônimos: r(sponsjo e

"Cf. "... Stim.doctrina no• ártmniNUtk Dtrutcmuurisa""f"""(l T, I, 3, I r). No


argumento 1 a1: "Crr•UJr autnn tt CJ'tiltrmz, tÚ quibus in JIUTIZ th~trina trtullltur. rum
(()1Jtinmtur sub uno gmtr~ swbj~m ".

34 Scintillo, Curitibo, vol. 8, n. 2, p. 13-38, jul./de:r:. 2011


solutio, e dtttrminart: rtspontkrt", solvtrt'0 • "Solvit propositam
dubitationm~ (I O Mt, 8, 2080). Ele resolve a dificuldade enunciada".
"Ponit solutiontm (7 Mt, 9, 1467). Ele dá a solução". "Non auttm
vitktur esst tesponsio sufficims si quis dicat... oportn igitur tx supmoribus
solucionem inquirtrt (3 G, 122). Não parece que isso seja dar uma
resposta satisfatória senão dizer... é preciso então procurar a solução
partindo do que foi dito acima".

A resposta aos argumentos que não concordam com a decisão con-


siste muito freqüentemente em uma distinção. Santo Tomás faz ob-
servar então que, de tal ponto de vista, o raciocínio é válido, mas que
não c! date ponto de \lista que é pcn.i:au se: situar com relação! questão
escudada. •... tx i/la rationt probatur quod DnM sit btatus stcUndum
swzm tsJtntiam, non auum quod btatitui.ÚJ ti convtniat Strundum
rationtm mmrilu std magis stcundum nztionm~ inttlkctus (I T, 26, 2,
I r) 11 • Se prova por este argumento que Deus é feliz em sua essência
(ele é essencialmente ieliz), mas não que a beatitude lhe convenha em
vinude de sua essência, mas simn, em virtude de seu intelecto"H. Esta
mesma ideia é freqüentemente expressa pela palavra proc.dnt no 3'
sentido e algumas vezes no I', hatc ratio proettiit tÚ, proc.dit in, proc.dit

., dTróKpiO'lÇ, arroKpívcr:19aJ. flEpl ó' cmoKpÍaCCI:JÇ rrpWTov p(v ~lopi.OTéov


T( tem v {pyov TOÜ Ka.lWÇ tfrroKplvqJÉVO<J, Ka6áfrEp TOÜ KaiiWÇ tpwrWVTOÇ.
T. 9. 4,159 a 16-18. Cf. \1. ~-I. 995 a 28; M. y. 4, 1007 a 9 (4 Mt, 7. 623).
"AÚOIÇ, AÚEIV. qv yàp lj AÚUIÇ t!J<pav(UIÇ 1/IEu&iÜÇ ouAAoytOJIOÔ, rrapé~Ô
~j~Eu&tf,. n. 24, 179 b 23. "OTav yàp ÀÚctv pr} ÓÚYWVTat Aóyou~ tpu1TtKoú'Ç
... M. y. 7, 1012 a 18-19.
"Cf. I T,44,2,3 r, I T,45,4,3r.
~ 2 Mais lircralmentc: não ... sob o aspcao da c:s:s&.cia (enquanto da~ essbtcia), mas sob
o aspecto do imdca:o (cnquanro de é intdccro).
u Magistcm frequentemente, cm Santo Tonús, um sentido adversativo "mas bem,
mas, aoamuúio", c não comparativo: ..antes. admtais"'. Ex.: ACwtmt. .. jimNzjnn mlliwn
"""halm. wiest,Pprivatiofo"""'(! T,49, !,c). O mal nãotemcausali:rmal, mas
de é, 411 contrÁrio, privação de forma".

Scintilla, Curitibo, vol. 8, n. 2, p. 13-38, jul./00. 201 1 35


1·• .tl.. UU\I'Il..n~:., \J.C.

Jtcundum, ou quantum ati, ou a parte etc. Esta razão vale para, em,
segundo, quanto a, do ponto de vista de etc. Ex.: "Objtctio i/la prottdit
dt pattrnitatt, Jtcundum quod tst rtl4tio, tt non stcundum quod tst
constitutiva pi!rSonat (I T, 40, 4, 2 r). Este raciocínio vale para a pater-
nidade, enquanto ela é relação, e não (vale para da), enquanto da cons-
titui a pessoa". "Ratio i/la proudit in his quat a atquo dividuntur (I T,
60, 5, I r). Esta razão é válida para as coisas que são, ao mesmo título,
membros de uma divisão". "Objtetio i/14 proudit quantum a.d
impositionnn nominis (I T, 13, 6, I r). Este argumento vale quanto à
imposiçio do nome". •Jllat ration~s proudunt s~cundum divmitlltmz
prudicationis (I T, 13, 10, 2-3 r). Esu.s razõc.s são válidas, no que
concerne à diversidade de atribuição". "Ratio i/la proudit a p~rtt
ntcmitatis mattriat (MI, 5, 5, I r 1). Esta razão vale do ponto de vista
daquilo que move necessariamenle a maléria". Encontramos também
por vezes, absolutamente, 110n proudit. "Et idto ratio no" proudit (Vr,
2, 10, 3, r 1). E, por esta razão, o argumento não é válido".
Como assinalei acima, os sin6nimos de proudert, nesle sentido,
são ttntrt e vakrt. "Ratio i/la """" dt txtmp/4to quod ptiftctt
repratsentat atmplar (I T, 47, I, 2 r). Esta razão valeria para a cópia
que representa perfeitamente o modelo ... ". "Hatc solutio non vidttur
vakrt (Pt, 5, 4, I r). Esta solução não parece válida".
A distinção é também expressa por proudtrt no sentido de con-
cluir, provar. "Ratio i/la prcudit quod folsitas non sit in stnsu sicut in
cognoscmu verum el folsum ( 1 T, 17, 2, 3 r)~. Esca razão prova que o
erro nio se enconlra no senddo, corno naquele que conhece o verda-
deiro e o falso". "Objtctio i/la proudit ac si ma/um ha.bnrt causam ptr

~~preciso, porWlto, suprimir a vfrgula posta entre proctdite tp14f1 na edição Leonina
(in 4•, T. rv.. p. 220, col2. Roma.c, 1888) pois ela conduz a um contra-senso. Santo
Tonúsdiria; ..em: argumentooondui, porque•, enquantoqueaoconcririo,em lugazde
o conceder, ele o distingue, fazendo observar: ,.de prova (somente) que etc., c não
mostra que o erro não existe. sob fonna alguma. nos smtidos".

36 Scinlillo, Curitibo, '101. 8, n. 2, p. 1J-38, jul./dez. 2C'11


- - - - - , - -------- ----------------~-- ---------------

se... (Pt, 3, 6, 17 r). Este argumento conclui como se o mal tivesse


uma causa essencial... "S5
Em certos casos, após ter distinguido, ou negado, uma das premissas,
Santo Tomás acrescer.ra: •... undt ratio non sequitur (Vr, 24, 7, 7 r). Por
isso, neste argumento, a conseqü<ncia làlra", o que é exprimido nestes
termos pelos escolásticos posteriores: "ntgo consequmtiam: eu nc:go a con-
seqüência". Encontramos ainda: ~.. ratio i/14 bmL sequnrtur si rationt
propriorum tnminorummcrinpluribw /oru(4 S, 10, 1, I, 7 r). A conse-
qüência deste argumento seria boa, se ele (o corpo do Cristo) estivesse em
vários lugares em virtude de seus próprios limites (ou dimensões)". Fór-
mulas análogas: "Non sequitur, si t:x gmmltiont crproc<Jiiont corutquuntur
dUJU n:lationtJ quodP"'P'" hoc nnt tantum duat pmontll! tubsi.rtmuJ (Pt,
10, 5, 5 r). Se da geração e da processão decom:m duas relações, não se
segue que não haja por isso senão duas pessoas substancialmente existen-
tes". "Ratio ill4stquitur in cauru agmtibw <k ntcmita« naturat crquantum
ad tffictw immtdiatos, sed in cauru voluntariu non sequitur (Vr, 23, 5, I r).
Este argumento conclui a favor das causas que agem por necessidade de
natureza e quanto aos efeitos imediatoS, mas não conclui a favor das causas
voluntárias". Esta última passagem mostra que srquitur, assim empregado,
é o sinónimo de proctáit (proetdit in. quantum adi e que a fórmula ratio
non stquiturequivale a outra: ratio non proctdit, equivalência toda natural,
já que um raciocínio não conclui senão se bá cÕnseqüência.
Assinalemos, para finalizar, duas expressões que Santo Tomás usa
às vezes na critica dos argumentos. Quando o raciocínio n5.o ~condu­
dente, ele emprega a fórmula: Ratio wcum non habtt. "htUc ratio hic
wcum non habtt(l T, 48, 4, 3 r). Este raciocínio é aqui fora de propó-
sito, não se aplica". Quando se trata de uma comparação ou de uma

,, Traduzo Cllfl14 P" It por cawa essencia1: pois CIZJI.Silper st significa que a causa produz
tal objeto em virtude de sua essencia; em outros termos, ~ porque a causa tem tal
essblcia que o efeito~ o que é, c, reciprocamente, um efeito tendo tal essl:nda reclama
como causa um agente tendo a essência correspondente.

Scintillo, Curitibo, vol. 8, n. 2, p. 13-38, jul./dez. 2011 37


'-l~ Ul.J'U'I..... n.J,;.t '\..lo.l.o 1-----------------
assimilação que não ~ jwtificada, ele diz.: "non tst tadm. nzlio", ou
non tst simik". "Undt non tsttadm. ralio (1, 2 T, 35, 4, I r}. Por isso,
ocaso não~ o mesmo". "Etitkonontstsimik (Vr,24, 7, 5 r}. E eis por
que procede de outra man<ira".

"Expressão aristotdica: IFrrl lJt .,.Wv I/1.JOII<WV piv, 6~t5{wv 6t OÚ<11WV dAAoç
Aóyoç(,W.,rariD). M. ').4. 1044 b6. SanroTom:ls traduz aqui:·... NDnestsimairer
....urUzsiadin corporalibwtmnobilibw"eoc. (8 Mt, 4, 1740); cf. acxpressiocontri.-
ria:d ô aUTOÇ Aóyoç .-ai irrl .,.Wv dAAwv yEvWV, M.t. 2,1054a4. "Eu.Jnn
nuiontinDmnibwtmnibw"(10Mt,3,1971).

38 Scintilla, Curitiba, vol. 8, n. 2, p. 13-38, jul./dez. 2011

Das könnte Ihnen auch gefallen