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A real situação da formulação das políticas regionais no Brasil precisa passar por um
processo de adaptação: à economia globalizada; à necessidade de determinado segmento
local; e a um maior envolvimento de participação, não apenas como representação
minoritária, e sim dos vários grupos sociais que estão mais ligados aos acontecimentos da
população.
Existem algumas linhas de discussão do argumento que relacionam a importância da
participação da sociedade civil e da articulação de atores sociais, em projetos voltados para a
promoção do desenvolvimento, quer seja no âmbito federal, estadual ou municipal. Vejamos
quais são:
O primeiro argumento aponta que somente com a participação daquele segmento da
população, que convive diretamente com os problemas sociais que mostram maiores
dificuldades, é que se podem formular projetos que contemplem a atual necessidade de
políticas públicas da comunidade, com uma grande tendência a ter um aumento significativo
da eficácia das ações governamentais, e de alcançar os objetivos propostos.
Sem a interação dos principais segmentos da sociedade, as políticas pública que forem
implantadas, correm um alto risco de não atender às demandas sociais, por não estarem de
acordo com a realidade social daquela localidade. Isso acarreta falha no alcance dos objetivos,
sendo necessário substituir por um novo projeto (quando às vezes se consegue isso) que pode
se tornar mal planejado, (pelo pouco tempo para replanejar); ter uma demanda maior de
investimento ao mesmo tempo em que se teve um desperdício de recurso do outro projeto que
foi inviabilizado; e também pouca ou nenhuma eficácia em relação à ação pública.
O segundo argumento reforça que a sociedade civil precisa estar atuante em todas as
atividades relacionadas com o desenvolvimento, e que com essa vitalidade de atuação, venha
a gerar boa governância. Governância está voltado para “as estruturas institucionais, as
políticas, os processos decisórios e as regras formais e informais, relacionadas com temas de
interesse público, que determinam como o poder é exercido, como as decisões são tomadas e
como os cidadãos participam do processo decisório” (BANBEIRA, 1999 p.17). Visto isso,
fica o entendimento da importância da necessidade de participação dos vários atores sociais,
juntamente com a forma esclarecida de definir os processos e as propostas de interesse para a
elaboração do desenvolvimento, buscando assegurar a transparência das ações e o combate
eficiente à corrupção no setor público.
O desenvolvimento participativo pode vir a gerar: aumento da sustentabilidade na
formulação de projetos, ou seja, o fornecimento da fundamentação básica para os cidadãos
adquirirem conhecimento; um possível alcance da justiça social por meio do melhoramento da
qualidade da participação dos indivíduos; e também a promoção de desenvolvimento
orientado para a auto-suficiência.
Boa governância tem como uma de suas características, a democratização de suas
ações, orientadas pelo Estado, gerando bases para o desenvolvimento participativo e, à
medida que os processos participativos evoluírem, a boa governâcia também evolui para
apoiar uma participação mais ampla e mais madura.
Apoiados nos conceitos de desenvolvimento participativo e boa governâcia foi que
algumas organizações internacionais constituíram uma análise em um documento, baseada na
temática da participação no contexto da governância de que, para que o envolvimento da
população seja efetivo, é importante que se tenha mecanismos participativos de informação e
de consulta, além do processo eleitoral, para levar aos órgãos que fazem parte da estrutura do
Estado, a informação das preferências da sociedade (BANDEIRA, 1997)
O terceiro argumento comenta a relação da participação com a acumulação de capital
social. No entendimento que, capital social está muito ligado aos fatores culturais
característicos de uma comunidade, como confiança, normas e sistemas que levam a
sociedade a realizar ações conjuntas que resultem em proveito para a coletividade. As
características culturais aqui apresentadas é o sentimento de confiança mútua; a lealdade; e a
colaboração na solução de problemas comuns.
Para a adequada acumulação de capital social, precisa-se de mecanismos participativos
que possibilitem uma interação permanente entre os diferentes segmentos da sociedade civil, e
entre eles e as várias instâncias da administração pública, facilitando os processos de
capacitação e de aprendizado coletivo e constituindo-se em instrumentos potentes para a
formulação de consensos e para a articulação de atores sociais.
Atualmente, ainda é pouco o reconhecimento incorporado ao conceito de capital social
para subsidiar como instrumento para geração de projetos de desenvolvimento da sociedade,
principalmente por parte dos responsáveis pela formulação e implementação dessas ações
públicas.
No quarto, ressalta-se o envolvimento da participação com o fortalecimento da
competitividade sistêmica de um país ou de uma região, na qual competitividade sistêmica
está atrelada tanto a determinantes políticos, no sentido de criar políticas complementar de
intervenção no mercado, quando necessário; de fornecer infra-estrutura adequada; e outros.
Quanto a determinantes econômicos: iniciativas voltadas para a qualificação e treinamento de
mão de obra; estimular a criação de tecnologias e inovação; dissimular a competitividade; e
outros.
A competitividade sistêmica está vinculada a um nível em que o Estado e os atores
sociais deliberadamente criam as condições necessárias para o desenvolvimento industrial
bem sucedido, gerando um modelo participativo com o objetivo de promover o
desenvolvimento econômico e social.
O quinto argumento trata a questão da participação da sociedade no processo de
formação e consolidação das identidades regionais para um maior desenvolvimento social. Os
diversos segmentos da sociedade na discussão dos problemas locais fortalecem a identidade
regional quando procuram constituir consensos básicos para viabilizar a construção de
projetos para a coletividade.
Apesar de uma infinidade de diferenças e divergências de um povo, a identidade
regional está ligada aos interesses comuns, ao sentimento de pertença de uma comunidade a
uma área territorialmente localizada.
São características desta linha de argumentação a formação de consensos básicos e a
integração social. Mesmo não existindo representação política que seja de determinada região
e que defenda os interesses daquela unidade administrativa, só em existir alguma afinidade
socioeconômica ou cultural, já configura certa identidade, que vem a ser fortalecida por meio
da participação, consolidando a identidade regional.
2 O Terceiro Setor
2.1 Evolução Histórica
A caridade e a beneficência humana tem suas raízes nos tempos mais remotos, pois até
por questões de sobrevivência, a organização coletiva é uma preocupação constante. E a
divisão de tarefas e prestação de auxílio mútuo é uma decorrência direta do convívio em
sociedade.
Nesse contexto surgiu o Terceiro Setor, o qual é composto pelas organizações sem
finalidade econômica. Ou seja, aos empreendimentos nos quais o objetivo é essencialmente
social. As entidades do terceiro setor estão vinculadas diretamente às demandas populares e se
constituem em um instrumento eficaz de combate às desigualdades sociais.
2.2 Conceito
A definição de Terceiro Setor surgiu na primeira metade do século, nos Estados Unidos. Ele
seria uma mistura dos dois setores econômicos clássicos da sociedade, o público, representado
pelo Estado, e o privado, representado pelo empresariado em geral. Segundo o Professor Luís
Carlos Merege, coordenador do Centro de Estudos do Terceiro Setor da Fundação Getúlio
Vargas de São Paulo, a noção vem do comportamento filantrópico que a maioria das empresas
norte-americana sempre manteve ao longo da história.
Quanto à questão conceitual do Terceiro Setor, não há um consenso por parte daqueles
que pesquisam o assunto, havendo assim diversas definições. Segundo FERNANDES (1994,
p.21), um estudioso do tema, o conceito denota:
2.3 Características
2.4 Influência
Uma pesquisa realizada pela empresa de consultoria Kanitz & Associados estimou em
R$ 1,728 bilhão o total de investimentos pelas 400 maiores entidades filantrópicas do Brasil
em projetos sociais. Acredita-se que em nosso país o total de investimentos das empresas
privadas em atividades sociais deva gerar em torno de US$ 300 milhões. Para Augusto de
Franco, conselheiro e membro do comitê executivo da comunidade solidária, “estima-se que
existem hoje no mínimo 250 mil organizações do Terceiro Setor no Brasil”.
As causas que tem levado o Terceiro Setor a um determinado crescimento são várias,
como crescimento das necessidades socioeconômicas; crise do setor público; fracasso das
políticas sociais tradicionais; crescimento dos serviços voluntários; colapso do socialismo na
Europa Central e do Leste; degradação ambiental, que ameaça a saúde humana; crescente
onda de violência que ameaça a segurança das populações; incremento das organizações
religiosas; maior disponibilidade de recursos a serem aplicados em ações sociais; maior
adesão das classes alta e média a iniciativas sociais; maior apoio da mídia; e maior
participação das empresas que buscam a cidadania empresarial.
O terceiro setor funciona como um tipo de alicerce que reforça o primeiro setor (O
Estado) a partir de iniciativas das empresas tentando suprir a ineficiência do mesmo, ou seja,
gerar serviços de caráter público. São as instituições financeiras que financiam o terceiro
setor, fazendo doações às entidades beneficentes. No Brasil, temos também as fundações
mistas que doam para terceiros e ao mesmo tempo executam projetos próprios.
Além de gerar serviços públicos como: saúde, educação, assistência social, o terceiro
setor ainda conta com iniciativas como: preservação ambiental, filantropia, ações
comunitárias entre outras contribuições.
Apesar de toda a importância dessas entidades que fazem parte do terceiro setor, vale
destacar que no Brasil apenas 20% das grandes empresas estão inseridas entre as que
colaboram com essas iniciativas de cunho assistencialista. No Brasil, a nossa classe média
doa, em média, 23 reais por ano, menos que 28% do total das doações. As fundações doam
40%, o governo repassa 26% e o resto vem de bingos beneficentes, leilões e eventos.
Referências
BANDEIRA, Pedro. Participação, articulação de atores sociais e desenvolvimento
regional. Brasília, fev. 1999.
FARAH, M. F. S. Parcerias, novos arranjos institucionais e políticas públicas no nível
local de governo. Revista de Administração Pública. v. 35, n. 1, p. 325-343, jan./fev. 2001
FERNANDES, Rubens C. Privado Porém Público: O terceiro Setor na América Latina. 2.ed.
Rio de Janeiro: Relume – Dumaré, 1994.