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Pop-rock

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e do «rock progressivo» anglo-americanos Moura formou o grupo Smoog (1973), dedican-
(Procol Harum, Deep Purple, e.o.). A actuali- do-se posteriormente ao estudo e divulgação de
dade do repertório do grupo — grande parte música erudita. Álvaro Azevedo integrou os
do qual não editado em Portugal — viabilizou grupos *Arte e Ofício (1976), *Trabalhadores
a gravação do primeiro LP (A Peça, 1969), do Comércio (1979) e Stick (1984).
constituído por versões do pop-rock anglo-ame- Discografia: (1968) Those Were the Days. ORF-AT [EP];
ricano de grupos como The Beatles, Bee Gees, (1969) Ob-La-Di Ob-La-Da. ORF-AT [EP]; (1969) A Pe-
ça. ORF-AT [LP]; (1970) Menina / Homens do Mar.
Deep Purple, Creedence Clearwater Revival, ORF-AT [single]; (1970) Page One. ORF-AT [single];
Jimi Hendrix, e.o. Ainda em 1969 António (1971) Orange / Mission Impossible. ORF-AT [single];
(Tony) Moura (guitarra e voz) [VER Psico] co- (1971) Stand By. ORF-AT [single]; (1972) No Time to Li-
laborou nas actuações do grupo. Do seu reper- ve / That’s the Way. ORF-AT [single]; (1972) Take Me to
tório destacaram-se as adaptações aos estilos the Sun / Hell of a Doll. ORF-AT [single]; AAVV (1997)
Biografia do Pop-Rock. MOV; (2004) Odisseia: Odisseia
do rock em voga de obras do período barroco: — Obra Completa 1968-1972. MOV [2 CD].
o Adágio em sol menor (T. Albinoni, R. Gia- ANTÓNIO TILLY E MIGUEL ALMEIDA
zotto), a cantata BWV 147 (J. S. Bach) e a
Ária da Ouverture BWV 1068 (J. S. Bach), POP-ROCK. 1. Geral 2. O rock and roll e os
prática comum a grupos de rock como Procol novos estilos da música pop em Portugal: o
Harum, The Doors, e.o. Foi com a canção «yé-yé» e a imaginação da modernidade
composta a pedido dos autores do programa (1955-1967) 3. Juventude, «conjuntos» e a
radiofónico Página 1 (RR) que o grupo teve o Guerra Colonial: O rock enquanto idioma
seu maior êxito. A canção Page One (1970), de contestação (1967-1974) 4. A reconfigura-
construída a partir de um motivo do baixo ção da indústria e os estilos do «rock pro-
eléctrico e bateria (riff ) inspirado nos estilos gressivo», do hard rock e do punk nos anos
da soul music, foi utilizada como indicativo do da «música popular portuguesa» (1974-1980).
programa, o que contribuiu significativamente 5. «Rock português» (1980-1984). 6. «Música
para a popularidade do grupo. Tozé Brito, que Moderna Portuguesa» (1984-1990). 7. A ex-
entretanto se fixou em Lisboa, integrou o pansão das indústrias da música (1990-
*Quarteto 1111 e L. Vareta passou para o baixo -2000).
eléctrico. No final de 1969, D. Ferreira deixou 1. Geral. Termo denotando um conjunto de
o grupo e Miguel da Graça *Moura (instrumen- estilos musicais formados nos EUA e na Grã-
tos de tecla) assumiu a direcção musical (*ar- -Bretanha a partir da década de 50 do séc. XX,
ranjo e composição), privilegiando a improvi- que conheceram uma difusão global associada
sação e o uso dos mais recentes instrumentos a meios de comunicação de massas, sobretudo
electrónicos de tecla (órgão Hammond, mello- a *indústria fonográfica e novas tecnologias
tron, pianos eléctricos, e.o.). Do repertório do de produção e difusão da música. Na segunda
grupo passaram a constar versões de Jeff Beck, metade do século, os estilos associados ao
Chicago, Blood Sweat & Tears, Emerson Lake pop-rock tornaram-se predominantes na *mú-
and Palmer, Rick Wakeman, e.o. O grupo editou sica popular (no sentido anglófono de popular
ainda duas canções em língua portuguesa (Me- music) do Ocidente e em alguns contextos não-
nina e Homens do mar, 1970); no entanto -ocidentais, gerando apropriações estilísticas
manteria a composição em inglês. No final de locais e a formação de novos estilos e géneros
1970, as actuações do grupo constituíam já o híbridos, maioritariamente urbanos. A emer-
momento principal de muitas festas e bailes de gência dos estilos pop-rock esteve associada a
estudantes. A popularidade de Page One e a profundas e velozes mudanças sociais no pe-
estratégia editorial da AT viabilizaram a gra- ríodo do pós-guerra na Europa e América do
vação de diversas canções originais no estúdio Norte, durante o qual as indústrias culturais
da Pye Records (Londres, 1971), editadas em intensificaram a produção de mercadorias des-
single (1971 e 1972). Destacaram-se Stand By tinadas às práticas de consumo de uma popu-
e Orange (o segundo êxito do grupo), ambas lação jovem pertencendo à geração conhecida
inspiradas nos recentes estilos do hard rock por «baby boom», envolvida na formulação de
[VER Heavy metal ], algumas composições e novas identidades e estilos de vida. No con-
versões instrumentais (Golden Egg e Mission texto global da modernidade tardia, marcado
Impossible) e as primeiras gravações de com- pelo crescimento económico e pela eclosão de
posições de M. da G. Moura, editadas em no- novas formas de consumo, por aceleradas ino-
me individual (Melodia para Afrodite e Teore- vações tecnológicas, pela crescente mediati-
ma I), interpretadas em colaboração com os zação da informação e da produção cultural,
elementos do grupo. Destacou-se ainda a parti- a emergência dos estilos pop-rock expressou
cipação no *Festival de Vilar de Mouros (1971) uma global reconfiguração de valores de géne-
e em diversos programas televisivos, entre os ro, de sexualidade, de classe social e de «ra-
quais *Zip-Zip (1969) e Pop 25(1971). O grupo ça», maioritariamente protagonizada pela ju-
desmembrou-se em 1972. Miguel da Graça ventude (Middleton 2001a: 102). No final do
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século, o vínculo de diferentes gerações às ex- ou «pop music» foram adoptados na Grã-Bre-
pressões musicais pop-rock conferem a estas tanha na segunda metade da década de 50 para
práticas expressivas um âmbito transgeracio- descrever o rock and roll, os novos estilos que
nal e não exclusivamente associado aos estilos começava a gerar, bem como um conjunto de
de vida e identidades da juventude. Apesar de novas mercadorias culturais disseminadas pe-
serem frequentemente pensados em comple- los meios de comunicação de massas, maiori-
mentaridade, os termos «pop» e «rock» foram, tariamente produzidas nos EUA. O uso do ter-
a partir da década de 60, igualmente concebi- mo «pop» sedimentou-se em ambos os lados
dos por oposição. As suas fronteiras são histo- do Atlântico, sobrepondo-se à expressão «beat
ricamente cambiantes e os estilos e estéticas music» na Grã-Bretanha e a «rock and roll»
que conotam frequentemente se sobrepõem. nos EUA. A partir de 1965, transformações
Rock é uma contracção do termo «rock and estilísticas, associadas a uma maior intelectua-
roll» (ou «rock’n’roll»), a categoria sinteti- lização e politização dos ouvintes e dos músi-
zando a emergência de um novo estilo musical cos de pop-rock, agregaram aos dois termos
protagonizado por músicos da classe operária sentidos discrepantes. Nesta formação discur-
negra e branca oriundos do Sul dos EUA em siva, a distinção entre pop e rock é frequente-
meados da década de 50 (Walser 2001: 104). mente predicada em critérios estilísticos. Con-
No contexto do pós-guerra, a circulação de sidera-se que o rock é mais enérgico e agres-
músicas provocada por migrações de meios sivo, está mais próximo das fontes da música
rurais para meios urbanos, pela rádio e pela in- negra americana e assenta mais na improvisa-
dústria fonográfica expôs crescentemente mú- ção, por oposição à música pop, tida como
sicos e ouvintes brancos e negros a estilos mu- mais «leve», mais assente na exploração tím-
sicais cuja produção e consumo eram até então brica dos instrumentos através do *arranjo, e
delimitados por classificações raciais na socie- em padrões anteriores desenvolvidos na can-
dade americana, gerando novas fusões cultu- ção ocidental, nomeadamente europeia, não li-
rais. Embora o termo «rock and roll» fosse an- gados à diáspora e à circulação das músicas
teriormente usado em canções de rhythm and negras. A frequente sobreposição dos estilos,
blues enquanto alusão à *dança e à sexualida- compositores e intérpretes agrupados em cada
de, em meados da década passou a designar uma das categorias revela, contudo, que os cri-
um estilo musical que resultava da fusão de térios presidindo à distinção são acima de tudo
um conjunto de géneros e estilos musicais e ideológicos: o rock é conotado com a «autenti-
performativos, onde se incluem centralmente cidade» da expressão individual, a criativida-
o blues, o rhythm and blues, o boogie-woogie, de, o compromisso e a seriedade artística; e a
o gospel, o *jazz e jumpblues, o hillbilly e pop é associada à comercialização, ao entrete-
country, bem como traços estilísticos da *can- nimento e à motivação capitalista da indústria
ção produzida pela Tin Pan Alley. No rock fonográfica. Deste modo, um discurso articu-
and roll são especialmente salientes as in- lado por fãs e músicos filiou o rock nos valo-
fluências do blues, sobretudo formas derivan- res culturais e artísticos da *música erudita
do do blues de 12 compassos, embora formas ocidental. Uma vez que fronteiras estilísticas
da canção de Tin Pan Alley de 32 compassos não são claras, os dois termos surgem comum-
tenham igualmente sido utilizadas (Id.: 104). mente agrupados no discurso quotidiano sobre
O uso da guitarra eléctrica, da amplificação e música, no discurso mediático e na produção
um movimento rítmico conduzido pela bateria académica, sobretudo a que se inscreve nos es-
e baixo assumiram-se como características tudos de música popular (popular music stu-
centrais na emergência do estilo, apesar de al- dies). A abrangência da categoria pop-rock per-
guns dos seus mais destacados performadores mite conceber a formação de, e as complexas
organizarem os seus agrupamentos em torno relações entre, estilos e correntes da música po-
do piano (Little Richard ou Jerry Lee Lewis, pular anglo-americana que marcaram profunda-
e.o.) (Id.: 104-105). Constituíram igualmente mente a história cultural e social da segunda
significativas influências musicais e expressi- metade do séc. XX, como o rock and roll, o
vas a energia rítmica de alguns estilos do jazz rockabilly, os estilos pop associados à «British
das décadas de 30 e 40, nomeadamente os riffs invasion», o rhythm and blues, o doo-wop, a
(curtos segmentos repetidos de som, mobiliza- soul music, o funk, o disco sound, o bluesrock,
dos em chamada-resposta, enquanto melodia, o folk rock, o «rock progressivo», o glitter ou
elemento polifónico e polirrítmico, acompa- glam rock, o hard rock, o *heavy metal, o
nhamento ou linha de baixo) das orquestras de *punk rock, o reggae, o dub, o ska, a new wa-
Count Basie (Monson 1999); o êxtase perfor- ve, os estilos caracterizando o período pós-
mativo e espiritual do gospel; o estilo de abor- -punk e a acção de editoras independentes no
dagem da guitarra eléctrica de blues criado por Reino Unido e EUA (internacionalmente resu-
Chuck Berry, e.o. Gerados a partir dos termos midos nas expressões indie pop, indie music
«pop art» ou «pop culture», os termos «pop» ou indie rock), os estilos da música pop euro-
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peia centrada nos sintetizadores, o *rap ou dearam. 2. O rock and roll e os novos estilos
*hip-hop, o grunge rock, os estilos incluídos da música pop em Portugal: o «yé-yé» e a
na *música de dança (house, techno, jungle ou imaginação da modernidade (1955-1967).
drum and bass, trip-hop), e.o. A crescente hi- Na segunda metade da década de 50, à seme-
bridização de estilos e as complexas «articula- lhança do que sucedia em outros contextos eu-
ções» (Straw 1991) de traços estilísticos e ex- ropeus, os jovens portugueses recebiam os pri-
pressivos que caracterizam a paisagem cultural meiros sons e imagens do rock and roll,
do final do séc. XX alertam, no entanto, para o mediados pelo *cinema e por escassos EP im-
carácter essencialista de qualquer sistematiza- portados por lojas ou colocados nas jukeboxes
ção rígida de estilos e para a necessidade de de alguns cafés e salões de jogos em Lisboa e
interpretar criticamente categorias construídas no Porto. O cinema e a produção iconográfica
pela indústria e partilhadas por mass media, a ele associada (cartazes, fotografias, publica-
consumidores de música e, por vezes, pelos ções periódicas, nomeadamente argumentos
próprios músicos. A juventude portuguesa vi- de filmes em versões «novelizadas») foram
vendo nos principais centros urbanos do país centrais no contacto dos jovens com o rock
teve um contacto inicial com os intérpretes e and roll. A exibição de Sementes de Violência
estilos pop-rock produzidos nos EUA e na (Blackboard Jungle, 1955, Richard Brooks) nas
Grã-Bretanha a partir da segunda metade da salas de cinema do país (estreia em Nov.
década de 50. De finais da década de 50 ao 1955), um filme com uma conturbada história
fim do século, o pop-rock ganhou uma crescen- de recepção em salas de cinema nos EUA e na
te expressão nas práticas culturais, estilos de Grã-Bretanha, conduzindo a motins juvenis
vida e identidades sociais de sucessivas gera- (Middleton 2001b: 111), desencadeou reac-
ções de jovens que acompanharam a produção ções enérgicas por parte da juventude portu-
musical dos dois principais centros internacio- guesa, motivadas pela inclusão, nos genéricos
nais. A relação com o pop-rock foi igualmente de abertura e fim do filme, de Rock Around the
estruturada por políticas estatais e por meios Clock (1955), a canção interpretada por Bill
de comunicação como a *rádio, a televisão, a Halley & the Comets que os historiadores do
imprensa escrita [VER Periódicos de música, rock and roll frequentemente associam à
6.] e, sobretudo, a indústria fonográfica ac- emergência e visibilidade mediática do estilo
tuando no país que, a partir dos primeiros anos nos EUA. Como Fúria de Viver (Rebel Wit-
da década de 60, além de divulgar fonogramas hout a Cause, Nicholas Ray, 1955), estreado
de intérpretes internacionais, mercantilizou in- no país em 1956, ou The Wild One (Lazlo Be-
térpretes portugueses reproduzindo os estilos nedek, 1953), cuja exibição comercial foi
do rock and roll e da música pop. O uso cam- proibida em Portugal porque a Comissão de
biante e historicamente variável de designa- Censura considerou que «incitava à violência»
ções como «yé-yé», «pop», «rock», «estilos (Costa 1994), Sementes de Violência retratava
modernos» ou «música moderna» dá conta das uma juventude problemática e rebelde, e esta-
apropriações distintivas que os estilos do belecia uma relação entre os jovens, a margina-
pop-rock sofreram no país. Em Portugal, a as- lidade social e a violência. Nos anos seguintes,
sociação da música pop e rock aos países in- os estilos de vida da juventude norte-americana
dustrializados e às configurações sociais da representados no cinema, as imagens de mo-
modernidade ocidental fez com que estes esti- dernidade e de revolta que transmitiam, por
los fossem em diferentes períodos, especial- vezes associadas ao rock and roll, foram subs-
mente nas décadas de 60 e de 80, englobados tituídos pela mercantilização das imagens e
na categoria genérica de «música moderna», estilos de vida da juventude, nomeadamente
conotados com os estilos de vida da juventu- através da construção da figura do «ídolo da
de, e distintos de expressões musicais pensa- juventude» (teen idol), implementada pelo
das enquanto «tradicionais», associadas a um «sistema de estrelato» (star system) das indús-
passado «conservador», às gerações mais ve- trias culturais do cinema e da música. Vei-
lhas (*fado, *canção de Coimbra, os estilos culando os valores da sociedade dominante, as
agrupados sob a designação de *música ligei- convenções ficcionais do cinema de Holly-
ra) ou aos grupos sociais com preocupações wood e, por vezes, imagens de uma revolta ju-
intelectuais e políticas distantes daquelas de venil contida e controlável, os filmes em que
uma boa parte da população jovem (*canção Elvis Presley participou enquanto actor e can-
de intervenção e música popular portuguesa, tor a partir de 1956 estrearam em Portugal,
entre as décadas de 60 e 70). O cosmopolitis- frequentemente volvidos meses da sua data de
mo cultural e as representações em torno da estreia nos EUA, distribuídos pelas compa-
modernidade parecem ser traços fundamentais nhias multinacionais da indústria do cinema
para compreender a apropriação dos estilos de estabelecidas em Portugal (Paramount Portu-
pop-rock em Portugal na segunda metade do gal) ou pela distribuidora portuguesa Filmes
séc. XX e as práticas expressivas que desenca- Castello Lopes: Ama-me com Ternura, Set.
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Pop-rock
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1957 (Love me Tender, 1956, Robert D. Webb);


Ritmo no Coração, Nov. 1957 (Loving You,
1957, Hal Kanter); O Prisioneiro do Rock and
Roll, Jul. 1958 (Jailhouse Rock, 1957, Richard
Thorpe); Balada Sangrenta, Jun. 1959 (King
Creole, 1958, Michael Curtiz), e.o. Na Madei-
ra, o *turismo e a passagem de paquetes turís-
ticos ou embarcações comerciais familiariza-
vam jovens e alguns futuros músicos locais
[VER Conjunto João Paulo] com as sonoridades
do rock and roll e os estilos da música pop
que começava a gerar. Nos Açores, as relações
provocadas pela emigração para os EUA e o
retorno de emigrantes, bem como a presença
de militares americanos, terão provocado uma
ténue difusão de novos estilos da música nor-
te-americana. As imagens e sons do rock and
roll circulando através das indústrias culturais
do cinema e da música permitiram que jovens
portugueses de diferentes classes sociais viven- Capa do EP Revelando O Conjunto Mistério. 1963.
do em meios urbanos, sobretudo de estratos Decca — Valentim de Carvalho. Colecção de João
socioeconómicos favorecidos, tivessem con- Carlos Callixto.
tacto e, em muitos casos, se identificassem
com as imagens de «modernidade», de consu- musicais. Num período anterior ao da estabili-
mo, de emancipação e de revolta associadas zação de uma tipologia instrumental dos «con-
ao rock and roll e aos estilos de vida da juven- juntos» centrada nas guitarras eléctricas, po-
tude norte-americana, num país conservador, dem assinalar-se, contudo, «conjuntos» como
onde a expressão individual era politicamente Babies, em Coimbra (1957) [VER Cid, José], e
restringida e cujo trajecto político, económico, Pedro Osório e o seu Conjunto (1958) [VER
social e cultural contrastava profundamente Osório, Pedro], no Porto, que integravam can-
com o das sociedades industrializadas e capita- ções de rock and roll num repertório maiorita-
listas do Ocidente que geravam os novos estilos riamente composto por estilos musicais ante-
da música pop. O cinema tornou igualmente o riores ou contemporâneos (nomeadamente
rock and roll acessível a uma juventude per- estilos do *jazz e a bossa nova), interpretados
tencendo aos estratos urbanos mais desfavore- de acordo com uma instrumentação de piano,
cidos da sociedade portuguesa, sem poder de contrabaixo, bateria e, pontualmente, guitarra
compra para aceder a equipamento de repro- eléctrica. No início da década de 60 o rock
dução sonora e a fonogramas, mas com práti- and roll passou a dominar as preferências dos
cas de sociabilidade envolvendo o cinema (cf. jovens empenhados na formação de «conjun-
Manuel 2001: 156), a rádio e os *bailes em tos». O repertório dos «conjuntos modernos»,
*associações recreativas e profundamente li- crescentemente associados ao «yé-yé», assu-
gadas às redes de sociabilidade e modos de vi- miu configurações diversificadas, incluindo
da dos bairros. A popularidade do rock and versões de canções internacionais populariza-
roll motivou a formação de *conjuntos voca- das na época, cantadas quer na língua original,
cionados para a interpretação dos novos esti- quer em português; composições originais,
los, bem como o desenvolvimento de novas cantadas em português ou inglês; e a partir dos
práticas expressivas e sociabilidades protago- primeiros anos da década de 60, repertórios
nizadas por jovens em Coimbra, Lisboa e Por- portugueses do *folclore e da *canção de
to. Os bailes em associações recreativas, ar- Coimbra adaptados aos estilos rítmicos em vo-
raiais de *festa, escolas e liceus, sobretudo em ga, uma prática desenvolvida por conjuntos
«festas de finalistas», tornaram-se eventos como Demónios Negros, Tártaros ou Conjunto
centrais para a divulgação dos repertórios do Mistério [VER Quarteto 1111], que, a par da
rock and roll, para as sociabilidades juvenis e utilização da língua portuguesa, constituiu um
relações entre géneros, mediadas pela partilha dos traços estilísticos distintivos do rock and
de novos ritmos e estilos de dança. Adoptando roll e dos estilos pop em Portugal. Os estilos
as configurações instrumentais que caracteri- musicais abordados eram tão eclécticos quanto
zavam o rock and roll, assentes nas guitarras os dos intérpretes internacionais escutados ou
eléctricas, os «conjuntos» reproduziam as can- os das canções em voga, abarcando o rock and
ções conhecidas através de fonogramas e do roll e os estilos da música pop associados a
cinema, compondo igualmente as primeiras práticas de dança específicas (twist, shake,
canções originais inspiradas nos novos estilos e.o.), quer aqueles produzidos nos EUA, quer
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aqueles produzidos na Europa — num período da Rádio Renascença, apresentados por José
inicial na Grã-Bretanha e, posteriormente, em Oliveira e Cosme, terão facultado a edição no
outros contextos europeus, como França, Itália país dos primeiros fonogramas comerciais do
ou Espanha, onde as apropriações do rock and rock and roll e dos estilos pop que gerava in-
roll e da pop apontavam para novas sínteses ternacionalmente: os EP Caloiros da Canção
estilísticas que compreendiam igualmente esti- (1960), incluindo Os Conchas e D. Bacelar, e
los anteriores e locais da *música popular. Os Sansão Foi Enganado (1961), de Z. do Rock.
«conjuntos» integravam ou acompanhavam Volvida a fase de emergência do rock and roll
cantores, valorizados pela sua capacidade em nos EUA na segunda metade da década de 50
reproduzir os estilos interpretativos e perfor- e a sua divulgação inicial na Europa, as adap-
mativos de Elvis Presley, Little Richard, Gene tações do novo estilo por grupos britânicos e
Vincent, Bill Haley, Chuck Berry e, nos pri- os estilos híbridos pop-rock que originaram na
meiros anos da década de 60, The Everly primeira metade da década de 60 (cujo impac-
Brothers, Paul Anka e Cliff Richard, o que te na Europa e, sobretudo, nos EUA originou a
conseguiam através de interpretações pessoais designação de «British invasion») tornaram
das letras, de gestos e de movimentos de *dan- estes agrupamentos na maior fonte de inspi-
ça. Entre os carismáticos e pioneiros cantores ração para os «conjuntos» portugueses. Des-
do rock and roll em Portugal nos finais da dé- crevendo um padrão global da indústria fono-
cada de 50 e início da década de 60 contam-se gráfica, o pop-rock produzido em Portugal na
Joaquim Costa e *Zeca do Rock, influencia- primeira metade da década de 60 foi marcado
dos pelo estilo interpretativo dos enérgicos pela ampla popularidade de Cliff Richard e o
percursores do rock and roll; e Os *Conchas e seu grupo de suporte The Shadows (descre-
Daniel *Bacelar, numa linha estilística e esco- vendo igualmente uma carreira autónoma) e, a
lha de repertório aproximando-se do duo nor- partir de 1963, The Beatles, cujos traços esti-
te-americano The Everly Brothers, dos intér- lísticos, repertórios, configuração instrumental
pretes da corrente teen idol (Ricky Nelson, e estilos de apresentação marcaram as práticas
Paul Anka, Pat Boone) e dos compositores do expressivas de «conjuntos» recém-formados
Brill Building, transportando o rock and roll e no país. A influência do grupo The Shadows
a música pop nos primeiros anos da década de foi determinante na constituição de uma tipo-
60 para os estilos interpretativos (nomeada- logia instrumental dos «conjuntos» [VER Con-
mente o estilo vocal crooning) e métodos de junto], na formação de estilos de abordagem
produção de Tin Pan Alley (Neil Sedaka e Ho- da guitarra eléctrica usando novos efeitos so-
ward Greenfield, Jerry Leiber e Mike Stoller, noros e timbres ligados à exploração da ampli-
e.o.) (Walser 2001: 106). Além das suas actua- ficação eléctrica (tremolo, sustain, echo), e na
ções em bailes em Lisboa, as estreias radiofó- criação de composições instrumentais em que
nicas de Z. do Rock, Os Conchas e D. Bacelar o instrumento detinha um papel solista central,
na rubrica «Caloiros da canção» incluída nos substituindo a voz (à imagem de Apache, um
programas de rádio Bom Dia e Clube das Dez êxito dos The Shadows de 1960, popular entre
os «conjuntos»). O eclectismo de estilos musi-
cais do quarteto de Liverpool The Beatles, que
ganhou uma popularidade global com as can-
ções Love Me Do (1962) ou I Want To Hold You
Hand (1963) e o LP Please Please Me (1963),
bem como a riqueza melódica e sofisticação
harmónica das suas canções, combinadas com a
energia do rock and roll, uma imagem e sentido
de humor distintivos, imprimiram fortes marcas
nos estilos musicais e performativos dos «con-
juntos». A produção pop-rock em Portugal assu-
mia um dos seus principais traços, a reconfi-
guração estilística a partir dos principais movi-
mentos e intérpretes da indústria internacional
da música, nomeadamente da Grã-Bretanha,
mas igualmente dos EUA. Entre os inúmeros
conjuntos formados a partir dos fenómenos de
popularidade dos grupos The Shadows e The
Beatles contam-se os agrupamentos Espaciais
(1962) [VER Psico], *Ekos, Conjunto Mistério,
Capa do EP Somos Jovens do grupo Os Conchas. *Sheiks, Os Tártaros (1963), Chinchilas (1965)
Valentim de Carvalho, 1962. Colecção de João Car- [VER Mendes, Filipe; Fonseca, Luís Pedro], e.o.,
los Callixto. cujas carreiras nos anos seguintes deram, no en-
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Pop-rock
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tanto, conta da apropriação de um conjunto domínio de produção cultural em permanente


ecléctico de estilos e intérpretes musicais. Na mutação. O termo foi igualmente consentido
primeira metade da década de 60, aos The Sha- entre os vocabulários de produção cultural for-
dows e The Beatles juntaram-se, nas preferên- malizados pelo Estado Novo [VER Folclore;
cias de jovens portugueses ligados ao pop-rock, Música ligeira; Música popular] como forma
outros agrupamentos conotados com a «British de regular e controlar os modos de vida e
invasion» e criando estilos mais próximos do identidades da juventude, sobretudo nos con-
rhythm and blues e da música negra americana turbados anos da Guerra Colonial. Nas déca-
como The Rolling Stones, The Kinks, Eric Bur- das de 60 e 70, autoridades estatais e forças
don & the Animals, Yardbirds, The Troggs, policiais conceberam os estilos de vida e ex-
Swinging Blue Jeans, e.o, cujos EP eram comer- pressões culturais abarcados pelo pop-rock co-
cializados através de importação ou eram trazi- mo um campo de actuação política fundamen-
dos para o país em exemplares isolados, por tal para definir as práticas, identidades e
aqueles pertencendo a uma minoria com oportu- modos de vida da juventude. Face ao crescen-
nidade de viajar na Europa. As sonoridades te interesse da juventude urbana pelos estilos
blues e a recuperação da energia do rock and do rock and roll e da música pop, patente na
roll norte-americano dos anos 50 preconizada popularidade dos novos conjuntos, intérpretes
por estes agrupamentos tiveram, contudo, me- e na centralidade dos bailes, as principais edi-
nos impacte nos «conjuntos» da primeira meta- toras fonográficas actuando no país (a *Valen-
de da década de 60. No início da década, a apro- tim de Carvalho, a *Rádio Triunfo, sobretudo
priação dos novos estilos do rock and roll e da através das etiquetas Alvorada e Aquila, a
música pop em Portugal, bem como dos esti- Decca, associada à Philips Portugal [VER Poly-
los de dança a eles associados, passou a ser gram], e a Marfer, uma empresa espanhola re-
designada como «yé-yé», e os intérpretes en- presentada no país) investiram na gravação
quanto «conjuntos de yé-yé», designação alter- dos novos estilos e na edição de fonogramas
nativa às de «conjuntos modernos», «conjun- destinados aos consumos da juventude, agru-
tos eléctricos» ou «conjuntos académicos», pando-os sob a designação de «yé-yé». A pro-
também correntemente utilizadas. Criada em dução de «yé-yé» compreendeu a gravação
França no início da década de 50 (por intermé- dos estilos rítmicos em voga pelos novos
dio do programa de rádio Salut les Copains, «conjuntos» e pelos mais activos compositores
cuja transmissão se iniciou em Dez. 1959), e arranjadores do período, até aí dedicando-se,
adoptada nos países da Europa do Sul e expor- sobretudo, à interpretação de estilos do jazz e
tada para o Quebeque nos anos seguintes, a da música latino e sul-americana em espaços
categoria «yé-yé» dava conta da apropriação nocturnos de sociabilidade, como as boîtes
do rock and roll e dos estilos pop em socieda- e os hotéis. Vinculados à Valentim de Carva-
des europeias não anglófonas, economicamente lho (VC), compositores e arranjadores como
periféricas ou nas margens da indústria fono- Thilo *Krasmann e o seu agrupamento Thi-
gráfica internacional e da produção dos seus es- lo’s Combo, Joaquim Luís *Gomes, Jorge
tilos e intérpretes dominantes. Em França a de- *Machado, Hélder Martins, Shegundo *Ga-
signação abarcou intérpretes pop como Johnny larza ou Fernando *Carvalho criaram versões
Halliday, Francoise Hardy, France Gall, Sylvie instrumentais de êxitos internacionais, bem
Vartan, Serge Gainsbourg ou Dick Rivers et como composições originais inscrevendo-se
Les Chats Sauvages, e.o., divulgados em Por- nos novos estilos rítmicos, por vezes adaptan-
tugal através da indústria fonográfica e de pu- do melodias do folclore, do fado e da canção
blicações como Flama ou a francesa Paris de Coimbra. Foram igualmente responsáveis
Match. A designação parece ter feito sentido por composições e arranjos nos estilos pop do
em Portugal pelo seu carácter prático e inteli- repertório de cantores e «conjuntos» associa-
gível, conotando o rock and roll e os estilos da dos ao rock and roll (D. Bacelar, Os Con-
música pop com expressões culturais caracte- chas, Fernando Concha, Sheiks, Z. do Rock),
rísticas de países de língua inglesa, metafori- à chamada «música ligeira» (Madalena *Iglé-
camente resumidas no termo «yé-yé», a adul- sias) ou à música das então colónias (*Duo
teração de uma palavra de utilização corrente Ouro Negro). Em particular, T. Krasmann, atra-
na língua inglesa, especialmente nos refrões vés do agrupamento Thilo’s Combo (1962-
de canções de rock and roll e da música pop -1969), que integrou os músicos norte-ameri-
(«yes!» ou «yeah!»). Ao longo da década de canos Tyree Glenn Junior (saxofone e voz) e
60, a categoria foi crescentemente adoptada Van Dixon (trompete e voz), contribuiu signi-
pela indústria fonográfica, a rádio, a televisão ficativamente para a divulgação dos estilos da
e a organização de eventos no país, sintetizan- música negra americana da década de 60, so-
do a multiplicidade de práticas artísticas e mu- bretudo o rhythm and blues e a soul music,
sicais englobadas no universo da música pop popularizados em Portugal continental e, espe-
internacional, e conferindo estabilidade a um cialmente, nos territórios coloniais de Angola
Pop-rock
Pop-rock
1041
Pop
e Moçambique através das gravações comer- população jovem, beneficiou igualmente do
ciais de Otis Redding, Sam Cooke, The Supre- assentimento das autoridades do Estado No-
mes, Aretha Franklin, Curtis Mayfield, Salo- vo, que encararam o «yé-yé» como um «di-
mon Burke, e.o. A produção agrupada sob a vertimento» potencialmente «inofensivo» dos
designação de «yé-yé» deu conta de intersec- jovens, alienando-os do dever de participação
ções estilísticas entre os novos estilos inspira- na Guerra Colonial. Numa óptica política, o
dos na música norte-americana e inglesa do- «yé-yé» poderia expressar a «alegria» da ju-
minando a indústria fonográfica internacional, ventude, mas deveria apagar a sua «irreverên-
os estilos pop produzidos em outros países do cia», transmitindo um sentimento de «liberda-
Sul da Europa, e as convenções musicais e in- de» que enfraquecia a sua consciência social e
terpretativas dos estilos da chamada «música política. O empresário começou por organizar
ligeira» que dominavam a produção fonográ- matinées com actuações de «conjuntos», que
fica no país durante o período. Traços estilís- se transformariam nos «sábados do twist», as
ticos associados à «música ligeira» marcaram eliminatórias do Concurso Rei do Twist (1963)
os estilos interpretativos de alguns dos intér- decorrendo no Teatro Monumental, uma com-
pretes do rock and roll e da música pop, so- petição que elegeu como vencedores Victor
bretudo os seus estilos vocais, mais próximos Gomes & os Gatos Negros. Com um estilo
de uma enunciação clara do texto caracteri- performativo carismático, apresentando-se
zando os intérpretes da rádio em Portugal nos vestido de cabedal negro e performando acla-
anos 50 e 60, do que dos novos tipos de tim- mados «saltos à Tarzan», o rocker Victor
bre, das expressivas inflexões de tom e dos *Gomes havia sido anteriormente contratado
ritmos complexos preconizados pelos canto- por V. Morgado para actuar na revista Boa
res do rock and roll e da música pop, inspira- noite, Lisboa (1963). A «moda» do «yé-yé» e
dos nos géneros da música negra americana. os estilos em voga passaram a ser caricatura-
Do mesmo modo, através da acção de uma dos em «números» populares do teatro de re-
nova geração de compositores e arranjadores, vista, como aqueles interpretados pela fadista
os estilos pop permearam a produção de can- e actriz Hermínia *Silva, mais tarde gravados
ções no âmbito do *Festival RTP da Canção no EP A Hermínia Canta Yé-Yé (1970). Vas-
(FRTPC) na segunda metade da década de 60 co Morgado foi igualmente responsável pela
[VER 3.]. Os estilos híbridos do pop-rock no organização do Festival de Ritmos Modernos
país reflectiram a sua apropriação pelos (Teatro Monumental, Lisboa, 1964), onde ac-
meios de produção musical e do espectáculo tuaram D. Bacelar, Z. do Rock e M. Iglésias,
existentes no país, da indústria fonográfica, e.o., e pelas actuações dos grupos ingleses
onde predominava a gravação de canções nos The Searchers e Satins, acompanhados dos
estilos da música ligeira e de fado, à televi- «conjuntos» Sheiks e Ekos, acontecendo no
são, à rádio, ao cinema e ao *teatro de revis- Teatro Monumental o primeiro evento que
ta. As publicações Flama, Plateia e Rádio & envolveu a actuação de grupos estrangeiros
Televisão encaravam os «conjuntos» enquan- de pop-rock em Portugal (1965). Tendo con-
to novos «artistas» ou «vedetas» do «espectá- quistado uma reputação internacional graças
culo», a par de figuras da rádio, do cinema, a uma versão da canção Needles and Pins
do teatro e da televisão, em oposição às quais (composição original de Jackie DeShanon), o
os músicos dos «conjuntos» começavam a for- grupo The Searchers foi apresentado à im-
mular as suas identidades. Programas de rádio prensa portuguesa como «uma das mais caras
divulgavam os novos «conjuntos» a par de in- atracções» do «mundo do espectáculo». O des-
térpretes portugueses descrevendo os estilos taque mediático na cobertura do evento foi
incluídos na «música ligeira» e alguma pro- conferido à imagem, sobretudo aos «pentea-
dução internacional, sobretudo francesa e ita- dos à Beatles», do grupo inglês, o principal
liana, dos estilos pop. A integração dos novos «traço» identificando os estilos da juventude
estilos pop no âmbito da produção cultural e num país marcado pelo conservadorismo e o
do espectáculo dominantes no país, bem co- confinamento do corpo. Nesse ano, o agrupa-
mo a vulgarização do termo «yé-yé», foram mento The Shadows actuou igualmente no Ci-
decisivamente empreendidos pelo empresário nema Império, em Lisboa, tendo os portugue-
de teatro e cinema Vasco *Morgado, promo- ses Sheiks actuado como grupo de suporte.
tor de concursos e de festivais de «yé-yé», de Durante a década de 60 a realização de «con-
«twist», ou consagrados aos «ritmos moder- cursos» e «festivais» apresentando «conjuntos»
nos» no Teatro Monumental e Cinema Capitó- de várias zonas do país tornou-se frequente
lio (Parque Mayer), um tipo de eventos que, nas cidades. Inspirando-se no Concurso Rei
entre 1963 e 1968, nos anos de popularidade do Twist, o cinema Roma organizou no mes-
dos «conjuntos», se estendeu a todo o país. mo ano o «Concurso Conjuntos Portugueses
Explorando comercialmente a popularidade do tipo do “The Shadows”» (1963), por oca-
dos novos estilos musicais entre segmentos da sião da estreia do filme Mocidade em Férias
Pop 1042
Pop-rock
Pop-rock

(Summer Holiday, 1963, Peter Yates), tendo periências e referências (o rock and roll, os es-
como protagonista Cliff Richard. O «conjunto» tilos pop e os «conjuntos»), o MNF procurava
vencedor, o Conjunto Mistério, acompanhando cumprir um dos seus principais objectivos en-
o cantor F. Concha, recebeu como prémios uma quanto organização católica e nacionalista: «a
viagem a Londres para travar conhecimento propaganda da defesa da pátria através do ape-
com o grupo inglês e o acesso à gravação de um lo à aceitação do sacrifício dos filhos “pela na-
EP editado pela VC, um dos principais patroci- ção” e da luta contra a desmoralização da reta-
nadores do evento. A viagem a Londres propor- guarda por intermédio das “falsas notícias” e
cionou igualmente actuações nos estúdios da dos “boatos de morte”» (Pimentel 1996: 639).
BBC e na Casa de Portugal na capital inglesa. Ao se apropriar do «yé-yé», o MNF procurava
À semelhança dos «conjuntos» liderados por normalizar a violenta experiência de participa-
T. Krasmann ou J. L. Gomes, o Conjunto Misté- ção na guerra pelos jovens. Envolvendo duas
rio, inicialmente bastante marcado pelo repertó- dezenas de «conjuntos» de todas as «regiões»
rio instrumental do agrupamento The Shadows, da metrópole e de algumas das então regiões
tornou-se, na primeira metade da década de 60, ultramarinas que actuaram em sucessivas eli-
um dos principais grupos de acompanhamento minatórias, o Concurso apurou como vencedor
de intérpretes do rock and roll e dos estilos pop o «conjunto» Claves, que iniciou a competição
editados pela VC, prática que prosseguiu na com a designação de Saints. Concursos pré-
segunda metade da década enquanto *Quarte- vios realizados nas então colónias apuraram
to 1111 e com o contributo criativo de J. Cid. como vencedores os «conjuntos» Nightstars
Destacaram-se igualmente, pela sua visibilida- (Moçambique), Rocks (Angola), integrando o
de e significado na época, o Festival Yé-Yé da cantor Eduardo Nascimento [VER Festival RTP
Madeira (Funchal, 1964), com a participação da Canção], e Ritmos Cabo-Verdianos (Cabo
dos principais «conjuntos» locais, o *Conjun- Verde), integrando o violista e guitarrista Hum-
to João Paulo e os Demónios Negros, que inte- bertona (Humberto Bettencourt) [VER Bonga;
gravam Luís Jardim, um músico que emigrou Cabo Verde em Portugal, Música de], que ga-
para Inglaterra (1966), vindo a desenvolver rantiram a presença nas eliminatórias realizadas
uma assinalável carreira na indústria da músi- na metrópole. Nos territórios coloniais africa-
ca internacional entre a década de 70 e 90, en- nos, os estilos do rock and roll e da música pop
quanto músico acompanhante (baixo eléctrico ganhavam popularidade entre jovens «brancos»
e bateria) em gravações e concertos de intér- [VER Fausto; Mendes, Filipe; Gomes, Victor] e
pretes como Tina Turner, Grace Jones, Paul jovens «negros» com experiências e estilos de
McCartney, e.o.; o Festival de Yé-Yé (*Coli- vida urbanos, pertencendo, no caso de Angola e
seu dos Recreios de Lisboa (CRL), 1964) or- Moçambique, ao grupo social dos «assimila-
ganizado pelo Duo Ouro Negro, apresentando dos» e, no caso de Cabo Verde, a um estrato da
os «conjuntos» Ekos, Deltons e Sheiks; o população crioula urbana vivendo nas cidades
I Festival Guitarra de Ouro Yé-Yé (Teatro do Mindelo, São Vicente, ou da Praia, Santiago
Avenida, Coimbra, 1966), com actuações de [VER Silva, Dany]. Formas de cosmopolitismo
«conjuntos» de Aveiro, Coimbra, Lisboa, Ma- cultural marcadas pela popularidade dos estilos
tosinhos e Porto; e o I Concurso Académico pop foram moldadas, nos contextos de Angola
de Música Moderna, organizado pelo Centro de e Moçambique, pela expansão da economia de
Intercâmbio e Turismo Universitário (CITU; Ci- mercado, o ímpeto de processos de industriali-
nema Império, Lisboa, 1968), que apurou como zação e urbanização, e a proximidade da África
vencedor o «conjunto» *Psico. Nos concursos, do Sul, o principal centro da indústria fono-
entusiásticos grupos de apoio incentivavam com gráfica internacional no continente africano.
aplausos, gritos e coreografias de dança o «con- No contexto cabo-verdiano, elos fomentados
junto» ou intérprete da sua preferência, desapro- pela diáspora, sobretudo pelo retorno de mi-
vando «conjuntos» rivais através de vaias e, em grantes, provocaram a circulação de fonogra-
casos pontuais, arremesso de objectos para o mas dos novos estilos musicais, bem como de
palco. Tal como os «conjuntos», os grupos de instrumentos musicais e de tecnologias de pro-
seguidores competiam entre si. Um dos eventos dução e reprodução sonora (instrumentos am-
de maior visibilidade e competitividade envol- plificados, gira-discos, *aparelhagens, e.o.). Em
vendo os «conjuntos» foi o Concurso Yé-Yé, Angola e Moçambique, a apropriação dos esti-
organizado pelo Movimento Nacional Femini- los pop-rock designou, como no Portugal me-
no (MNF) com o apoio do jornal O Século, tropolitano, uma diversidade de práticas ex-
realizado no Teatro Monumental entre 1965 e pressivas que compreendeu o mimetismo dos
1966. O evento constituiu uma iniciativa de intérpretes norte-americanos e ingleses, a pro-
suporte do esforço de guerra e das «forças ar- dução de estilos pop adaptando melodias de
madas no Ultramar». Mobilizando estrategica- diferentes zonas desses territórios ou a criação
mente jovens de todo o país através de uma de repertórios cantados em línguas locais, num
iniciativa que tocava directamente as suas ex- movimento que deu continuidade a dinâmicas
Pop-rock
Pop-rock
1043
Pop
históricas de interculturalidade. Em paralelo à significado cultural e social atribuído aos esti-
música e dança do Brasil, da América Latina los musicais partilhados pela juventude. 3. Ju-
ou de outros contextos africanos, historica- ventude, «conjuntos» e a Guerra Colonial:
mente populares em Angola e Moçambique, O rock enquanto idioma de contestação
os estilos musicais anglo-americanos fornece- (1967-1974). Ao longo da segunda metade da
ram significativos materiais na recriação de década de 60, os estilos pop-rock reflectiram
práticas expressivas locais [VER Bastos, Wal- internacionalmente um questionamento de va-
demar; Duo Ouro Negro; Neto, António da lores culturais, sociais e políticos dominantes,
Costa]. Em Cabo Verde, processos de criouli- protagonizado pela juventude, especialmente
zação culturalmente enraizados pontuaram a na Europa e América do Norte. Além da sua
interpretação da *coladeira de acordo com os primordial carga de rebeldia e contestação ge-
estilos rítmicos em voga, uma linha estilística racionais, associadas à produção de estilos
que marcou a participação do «conjunto» Rit- subculturais distintivos e de uma autonomia
mos Cabo-Verdianos no Concurso Yé-Yé [VER cultural relativamente às gerações mais velhas,
Voz de Cabo Verde]. Em todo o território polí- os estilos pop-rock vincularam-se a novos valo-
tico português e correspondendo a uma ten- res sociais, nomeadamente aos ideais da «igual-
dência global, os estilos do pop-rock tornavam- dade» e da «harmonia social», reflectindo as in-
-se a «língua franca» vernacular organizadora fluências da descolonização, do movimento dos
da experiência dos jovens e o primeiro idioma direitos civis, da contestação de políticas impe-
de expressão musical adquirido por músicos riais (nomeadamente as que conduziram à guer-
sem uma aprendizagem formal, antecedendo, ra travada pelos EUA no Vietname), de políti-
nos seus percursos, a escolha de outras corren- cas de género e de sexualidade. Partilhado por
tes estilísticas. Ao estender o concurso às re- diferentes estratos sociais da população juvenil,
giões ultramarinas e assegurar a presença na em particular por jovens pertencendo a uma
metrópole de «conjuntos» de jovens «negros», classe média com formação académica, o rock
em detrimento de «conjuntos» compostos por «intelectualizou-se», autonomizando-se enquan-
jovens «brancos», o Movimento inscrevia-se to expressão artística. Estimulados pelas trans-
na estratégia global de defesa da soberania formações culturais da época e pelos emergen-
portuguesa das colónias e de legitimação do tes movimentos «contraculturais», pela expan-
conflito perante a crescente contestação da são da indústria fonográfica, pelas exigências de
comunidade internacional [VER Migração, novos públicos e por novas possibilidades tec-
Música e, 3. (ii)], uma estratégia assente nas nológicas, os músicos rock preconizaram uma
premissas do «multirracialismo» e da «misci- ruptura com normas pop existentes. O rock da
genação» do discurso «luso-tropicalista» do segunda metade da década de 60 designou a
sociólogo brasileiro Gilberto Freire, apropria- adopção de guitarras eléctricas de corpo sólido,
do pelo Estado Novo na década de 50 (Castelo a exploração do volume da amplificação e de
1996; Léonard 2000). Estes princípios influen- efeitos deliberados de distorção, um uso recor-
ciaram a escolha de E. Nascimento, do grupo rente de instrumentos de tecla, incluindo sinte-
Rocks, enquanto representante de Portugal no tizadores, novas técnicas de gravação e, de um
Festival Eurovisão da Canção (1967), o princi- modo global, a centralidade do estúdio de gra-
pal evento cultural de representação do país vação no processo de composição (Walser
perante a Europa durante o período do Estado 2001: 106). Um tempo mais extenso de repro-
Novo. Na segunda metade da década, os valores dução permitido pelos fonogramas de 33 rpm
estilísticos do pop-rock, bem como alguns dos acomodou novas formas de *canção, que com-
seus principais intérpretes, contribuíram activa- preendiam, por vezes, técnicas de experimen-
mente para a renovação do FRTPC. À medida tação e improvisações mais desenvolvidas (Id.).
que a indústria fonográfica, os meios de comu- As letras de canções alargaram os seus conteú-
nicação social e a organização de espectáculos dos dos temas do amor romântico e hedonístico,
procuravam integrar os intérpretes do pop-rock que prevaleceram nos estilos pop, para os tópi-
nos meios de produção cultural dominantes, cos sociais negociados pela juventude, agregan-
crescia a contestação, mesmo quando publica- do materiais e técnicas do romance literário, da
mente silenciosa, à Guerra Colonial, o principal poesia e de movimentos artísticos de vanguarda
factor de desagregação ou instabilidade dos (dadaísmo, surrealismo, beat generation, e.o).
«conjuntos» [VER Conjunto João Paulo; Ekos; O rock participava de modo explícito nas trans-
Mendes, Filipe; Os Conchas; Osório, Pedro; formações do seu tempo. Nos processos de mu-
Gomes, Victor; Tê, Carlos; Palma, Jorge]. dança das estéticas e valores do pop-rock foi de-
A contestação à Guerra Colonial, exacerbada cisivo o contributo do grupo The Beatles, que,
pela mobilização política da juventude no con- com a gravação de Rubber Soul (1965), Revol-
texto internacional e pelo cunho político e trans- ver (1966) e, sobretudo, Sgt. Peppers’ Lonely
gressor crescentemente assumido pelo rock, Hearts Club Band (1967), um fonograma pen-
motivou em Portugal uma transformação no sado enquanto «unidade», apresentou novas
Pop 1044
Pop-rock
Pop-rock

influências (abarcando a música erudita ociden- genuinamente popular», uma premissa marcada
tal, o music-hall inglês ou a música do subconti- pelo movimento folk. Ao basearem exclusiva-
nente indiano, e.o.), novas instrumentações, pro- mente a selecção musical nos estilos pop-rock
gressões harmónicas invulgares nos estilos do produzidos internacionalmente, colocando ên-
pop-rock, relações imprevisíveis entre secções fase em noções de «criatividade artística»,
e uma abordagem original ao trabalho compo- «ideologia», «tradição» e «autenticidade», os
sicional no estúdio de gravação (Id.). O movi- autores do programa produziam igualmente
mento folk internacional, envolvendo músicos um depoimento assertivo sobre a música pro-
e activistas políticos como Bob Dylan, teve duzida em Portugal, recusando quer os estilos
uma influência decisiva na politização do rock e intérpretes considerados como «ligeiros»,
e na sua aproximação a ideais de «tradição», associados à política cultural hegemónica do
«raízes» e «comunidade» que provocaram a Estado Novo, quer os estilos pop-rock que
sua desvinculação das estéticas consideradas consideravam mimetizar os intérpretes inter-
enquanto pop. Apesar das apertadas restrições nacionais ou respeitar as convenções dos esti-
estatais à circulação de informação e de merca- los da música ligeira. Apesar do seu carácter
dorias culturais a partir do exterior, os jovens inovador e desafiador da produção cultural
portugueses, sobretudo aqueles pertencendo a instituída, a qualidade dos textos e um novo
uma classe média com formação académica estilo radiofónico inspirado em programas de
ou liceal e eventualmente com práticas de via- rádio ingleses seus contemporâneos formaram
gem, receberam os ecos das aceleradas trans- a reputação do programa, valendo-lhe a atri-
formações internacionais da cultura popular e buição de prémios institucionais de rádio (Pré-
dos movimentos sociais juvenis que as acom- mio Internacional Ondas para programa de
panharam. O primeiro sinal público de um no- música pop-folk e Óscar da Casa da Imprensa
vo olhar para o pop-rock e, de um modo glo- para melhor programa de rádio, 1967). Nos
bal, para a música popular anglo-americana anos em que se dedicou ao pop-rock (1965-
foi a emissão do programa Em Órbita no RCP -1971), o programa abriu uma excepção à re-
(1965-1971; produção e realização de Jorge gra da difusão exclusiva de música anglo-
Gil, Pedro Soares Albergaria, João Manuel -americana, a divulgação de Lenda D’El Rei
Alexandre e apresentação de Cândido Mota, D. Sebastião (1967), EP do Quarteto 1111. As
e.o.). Exclusivamente dedicado à divulgação canções do grupo, apresentando uma síntese
da música popular anglo-americana, o progra- de elementos melódicos e textuais conotados
ma foi decisivo na formação dos gostos de com o contexto português, e traços estilísticos
músicos e públicos vinculados ao pop-rock, associados ao pop-rock internacional, deno-
introduzindo distinções entre a música que os tando influências do grupo The Beatles e do
autores consideravam ter «qualidade», assente movimento da canção folk inglesa em termos
em «ideias expressas nos versos, nas melodias de composição, instrumentação e interpretação,
ou nas orquestrações», e a música considerada coadunaram-se com os valores do programa.
enquanto «caduca», «ultrapassada», identifica- A abordagem da produção colectiva de um
da com «pessoas que não evoluem» ou «apega- mito a partir de um episódio politicamente sig-
da a formas de êxito assegurado» (s.a. 1968). nificativo da história de Portugal (a derrota e o
Durante os primeiros anos de emissão, Em Ór- desaparecimento de D. Sebastião em Alcácer
bita defendeu critérios de escuta crítica, en- Quibir, no Norte de África), remetendo a ima-
carando a «música popular anglo-americana ginação dos ouvintes para o universo da poe-
como veículo de adesão e expressão de uma sia medieval ou da literatura contemporânea
juventude dia a dia mais consciente e desen- portuguesas, associou a canção a temas cen-
raizada dos padrões cristalizados e conformis- trais da identidade nacional, apontando um no-
tas dos adultos» (Id.). O reconhecimento do vo campo de possibilidades para a produção
pop-rock enquanto expressão artística «séria», pop-rock no país e desencadeando o debate
ancorada nos valores sociais e políticos de uma em torno da «renovação» ou «modernização»
emergente cultura juvenil, opunha-se à associa- da «música popular portuguesa», uma questão
ção dominante dos estilos do pop-rock à margi- transversal nos meios de produção da música
nalidade social e à degenerescência de padrões e ao longo do séc. XX [VER Música popular]. Nos
regras sociais instituídos. O enquadramento dos anos que se seguiram e até ao período do mo-
estilos do pop-rock de acordo com valores de vimento de expansão do «rock português», na
mudança social traduzia-se, entre as propostas década de 80, o estilo musical do grupo foi en-
do programa, na interpretação dos «conteúdos carado como um «novo modelo» para a produ-
ideológicos das principais composições», como ção do pop-rock em Portugal. As letras das
na rubrica «Spot Dylan», dedicada à discussão canções afastavam-se de modo explícito dos
das letras de Bob Dylan. Um dos elementos ino- tópicos do amor romântico que dominavam os
vadores do programa foi o «destaque às raízes estilos pop no país numa tentativa de traduzir
folclóricas como única forma de fazer música as temáticas e linguagens das canções interna-
Pop-rock
Pop-rock
1045
Pop
sua colaboração com compositores, arranjadores
e jovens intérpretes. No final da década de 60, o
enraizado descontentamento político, em espe-
cial relativamente à Guerra Colonial, ao conser-
vadorismo cultural e às restrições impostas à ex-
pressão individual e colectiva, ampliado pelo
clima internacional de protesto envolvendo a
cultura popular e o rock, formaram o ambiente
crítico para que alguns dos músicos pop-rock
abordassem temas da actualidade política nas
suas canções, no período de anunciada liberali-
zação e modernização do marcelismo (1968-
-1974). Os estilos do rock da segunda metade
da década de 60, as experiências do grupo The
Beatles, os ideais artísticos do art rock e do
«rock progressivo» (Procul Harum, Genesis,
Yes, Electric Light Orchestra, Jethro Tull,
Emerson Lake and Palmer, King Crimson,
e.o.), bem como a canção de crítica definida
Capa do single D. João / Barbarela do grupo Chinchi- por José *Afonso ou por músicos vivendo no
las. Tecla, 1970. Fotografia cedida por Movieplay. exílio como José Mário *Branco e Sérgio
*Godinho, forneceram o idioma artístico e crí-
cionais. Através do uso criativo da língua por- tico de uma nova orientação do rock no perío-
tuguesa em textos para canção e da exploração do antecedendo o 25 de Abril de 1974. A pro-
de temáticas pertencendo à imaginação nacio- dução poética de alguns músicos pop-rock
nal, J. Cid e o Quarteto 1111 revelavam a pos- incidiu no universo simbólico da história «he-
sibilidade de ancorar os valores associados à róica» nacionalista de Portugal e do «império
«modernidade cosmopolita» dos estilos pop- colonial português» construída pelas instituições
-rock na realidade social portuguesa. Nesse do Estado Novo. Na linha dos «álbuns concep-
período, correspondendo a uma tendência gene- tuais», o grupo Filarmónica Fraude [VER Banda
ralizada na Europa, músicos dos «conjuntos», do Casaco] gravou Epopeia (1969), propondo
incentivados pela geração de compositores e uma leitura satírica da história de Portugal, dos
arranjadores que acompanhavam as principais Descobrimentos e dos seus «fracassos», marca-
correntes da música pop internacional, inicia- da pelos estilos pop e pela ironia dos grupos
vam a participação no FRTPC, contribuindo The Kinks, The Beatles e Beach Boys, pelo re-
decisivamente para a renovação estilística do vivalismo folk na Grã-Bretanha e pelos padrões
evento entre a segunda metade da década de rítmicos e melodias associados à *música tradi-
60 e a primeira metade da década de 70. Moti- cional portuguesa. O discurso metafórico, sur-
vados pela visibilidade e internacionalização realista e o recurso ao humor nonsense terão co-
das suas carreiras e reclamando a renovação dificado a crítica ao regime e à sua relação com
dos estilos dominantes da canção, a seu ver o passado como uma das causas da atrofia e do
«presos» às convenções interpretativas da rá- imobilismo cultural e económico do país, per-
dio, introduziram elementos de contemporanei- mitindo a edição não censurada das canções do
dade entre as canções do festival, aproximando fonograma. O LP Quarteto 1111 (1970) apre-
as suas interpretações das que representavam os sentou uma crítica explícita ao regime, organi-
países do Centro e Norte da Europa no Festival zando-se em torno dos tópicos que mais fragili-
da Eurovisão, sintonizadas com as inovações zavam a sua representação no território político
dos estilos pop contemporâneos. Entre os in- português e internacionalmente. As canções Do-
térpretes dos «conjuntos» que participaram no mingo em Bidonville, João Nada ou Uma estra-
FRTPC durante o período contam-se Sérgio da para a minha aldeia revelavam a precarieda-
Borges e elementos do Conjunto João Paulo de da emigração dos meios rurais portugueses
(1966 e 1970), E. Nascimento, J. Cid e elemen- para França; Pigmentação, Maria Negra ou Es-
tos do Quarteto 1111 (1967), Carlos *Mendes cravatura interrogavam noções de «raça» que
(1968), Fernando *Tordo (1969-1973), Paulo de suportavam discursivamente o «império colo-
*Carvalho (1970 e 1974), Tozé *Brito (1972), nial português» e a guerra; Fuga dos grilos,
bem como o «conjunto» *Mini-Pop (1973), e.o. uma colagem sonora marcada pelo sentido de
Paralelamente, as participações no evento reve- humor dos grupos pop-rock ingleses, aludia à
laram a emergência de uma concepção da can- ausência de liberdade de expressão e ao exílio
ção em estreita relação com a realidade social e dos opositores ao regime. O tom crítico e vinca-
política do país, o que foi sublinhado no traba- damente melancólico do fonograma foi recusa-
lho poético de José Carlos Ary dos *Santos e na do pela Comissão de Censura, que determinou
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Pop-rock
Pop-rock

que fosse retirado das lojas escassos dias após o por The Beatles patenteados pelo Quarteto
seu lançamento. Os temas da «raça» e do «im- 1111 num período de transição para o «rock
pério» foram igualmente abordados pelo *Duo progressivo» (1974), e por Pop Five Music In-
Ouro Negro acompanhado pelo grupo rock corporated; ou os repertórios dominados pelas
*Objectivo em Blackground (1972), um fono- «versões» de canções de intérpretes britânicos
grama descrevendo os estilos da soul music, e norte-americanos, como patenteado pela ac-
do gospel e do bluesrock, unificado em torno tuação dos Mini-Pop ou dos Celos. A procura
da ideia de uma «diáspora negra» permeando de liberdade que representou, para os jovens, a
historicamente práticas culturais a uma escala participação no Festival revelava formas de
global. Participando da mesma tendência, o autonomia e de contestação geracionais que se
grupo *Petrus Castrus inspirou-se nos valores traduziam menos na «palavra», no discurso
estéticos do rock progressivo dos finais da dé- político articulado e em princípios ideológicos
cada de 60 e início da década de 70, em espe- definidos, e mais na «atitude», em comporta-
cial no seu uso das técnicas e referências da mentos e códigos corporais, na época associa-
*música erudita ocidental e no seu revivalis- dos à popularidade do «movimento hippie».
mo da música folk da Grã-Bretanha, para pro- O rock significava a celebração da liberdade
duzir o LP Mestre (1973), usando textos de re- de expressão individual num país que politi-
gisto irónico sobre o estado do país da autoria camente a restringia. 4. A reconfiguração da
de poetas como Bocage, Fernando Pessoa, Ale- indústria e os estilos do «rock progressivo»,
xandre O’Neill, Manuel Bandeira, J. C. Ary dos do hard rock e do punk nos anos da «música
Santos ou Sophia de Mello Breyner. A canção popular portuguesa» (1974-1980). No perío-
Mestre, com letra de João Seixas (bateria, auto- do de mudança social, de definição política e
ria de letras), apresentava uma alegoria do Por- de debate ideológico que sucedeu ao 25 de
tugal do Estado Novo, baseada na imagem de Abril de 1974, em especial nos anos abarcados
uma assimétrica sociedade feudal, transferindo sob a designação Período Revolucionário em
para os ouvintes a analogia com o contexto por- Curso (PREC), os estilos pop-rock perderam
tuguês, uma estratégia textual usada por J. visibilidade face ao predomínio da música
Afonso e J. C. Ary dos Santos em algumas das estritamente concebida enquanto veículo de
suas canções políticas marcantes. A mais ex- «acção» social e política, maioritariamente re-
pressiva manifestação de que a partilha do rock presentada pela *canção de intervenção. Os
por uma jovem geração havia formado, ao lon- *bailes dirigidos aos jovens protagonizados
go da década de 60, uma postura de resistência por «conjuntos» que interpretavam repertórios
silenciosa face aos valores dominantes do regi- originais e «versões» de canções pop-rock an-
me, ao seu conservadorismo, ao seu fechamento glo-americanas populares no país deram lugar
cultural e às limitações impostas à expressão in- a eventos de carácter político (comícios, ses-
dividual foi a edição do *Festival de Vilar de sões de esclarecimento e acções revolucioná-
Mouros de 1971. O evento foi organizado sob a rias) e *festas apresentando instrumentistas e
iniciativa do médico e empreendedor António cantores de intervenção, promovidos pelas or-
Barge, que, à imagem dos festivais internacio- ganizações partidárias. Um renovado interesse
nais dirigidos à juventude na década de 60, con- na «cultura popular» e nas práticas expressivas
sagrou o segundo fim-de-semana do Festival à associadas ao «povo» e à «ruralidade» mobili-
«música moderna», apresentando concertos zava jovens urbanos identificados com os ideais
dos intérpretes internacionais Elton John revolucionários na procura de «tradições» e de
e Manfred Mann e dos grupos rock portugue- uma «autenticidade» que consideravam ter sido
ses Sindicato [VER Palma, Jorge; Kyao, Rão], apagada pelo processo de *folclorização do Es-
Pentágono [VER Girão, Fernando], Celos (um tado Novo, mas revelar-se nos trabalhos de
«conjunto» de Barcelos), *Pop Five Music In- recolha de Ernesto Veiga de *Oliveira e de Mi-
corporated, Psico, Bridge (integrando Kevin chel *Giacometti (cf. Castelo-Branco e Branco
Hoidale, do grupo Objectivo, e Rão Kyao), 2003). A rebeldia, o individualismo e a auto-
Quarteto 1111, Objectivo, Chinchilas e Mini- nomia face ao poder historicamente represen-
-Pop. A programação do festival dava conta tados pelo rock, não redutíveis a programas
das preferências pelos emergentes estilos do ideológicos ou ajustados aos modelos de ac-
rock que moldaram a prática dos «conjuntos» ção colectiva estabelecidos por organizações
durante parte substancial da década de 70: o partidárias, bem como a sua associação popu-
«rock psicadélico» (Cream, Jimi Hendrix, lar às sociedades capitalistas do Ocidente, não
Yardbirds, e.o.) e o hard rock (Led Zepellin, se coadunaram com o momento de fervor re-
Deep Purple) interpretado pelos Chinchilas; as volucionário. No intenso debate gerado em
estéticas de fusão do rock e do *jazz preconi- torno da crítica às expressões culturais promo-
zadas por Sindicato e Bridge; o «rock progres- vidas pelo Estado Novo, que compreendeu um
sivo» e o blues-rock interpretados por Psico, reenquadramento ideológico do fado e a re-
Objectivo e Pentágono; os estilos marcados cusa dos estilos da «música ligeira» rotulados
Pop-rock
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Pop
enquanto «nacional-cançonetismo», os estilos românticas Pensando em ti (1976) e, especial-
pop-rock ajustaram-se à prioridade de «mo- mente, Dai Li Dou, canção vencedora do
dernização da música urbana», uma das pre- FRTPC (1978). Paralelamente, os grupos rock,
missas defendidas pelos músicos identificados formulando crescentemente as suas identidades
com os movimentos revolucionários e partici- por oposição à canção politicamente compro-
pando na definição de uma *política cultural metida e aos estilos da «música ligeira», inter-
no país [VER Canção de intervenção]. Desse pretavam maioritariamente os estilos do «rock
modo, na sequência das discussões iniciadas progressivo» e do hard rock em bailes, festas
nas páginas do *Mundo da Canção (1969) e e nos *festivais dedicados à juventude que se
*Musicalíssimo (1972), e intensificadas após o realizaram em várias zonas do país a partir de
25 de Abril de 1974, os intérpretes dos estilos 1976, como o Festival Rock de Moscavide, o
pop-rock deveriam contribuir, idealmente, pa- Festival de São João da Madeira, o Festival
ra o movimento de renovação da «música po- Rock da Amadora (1976), o Musical Açores
pular», ancorando a sua prática expressiva na (Ponta Delgada, 1977) e o I Festival Música &
experiência do quotidiano. Apesar da ausência Som (Lisboa, 1978), comemorando o primeiro
de visibilidade inicial no período pós-revolu- ano de publicação do periódico *Música &
cionário, a produção dos estilos pop descreveu Som, e.o. Nas «festas de finalistas» acentuou-
padrões de mudança como resultado das estra- -se a tendência da década de 60 de interpretar
tégias de integração na *indústria fonográfica versões de canções pop-rock internacionais
e de profissionalização de alguns dos seus in- por exigência do jovem público, desejando
térpretes. Os intérpretes até então ligados ao dançar ao som de repertório previamente co-
pop-rock negociavam um novo espaço artísti- nhecido e com pouca disponibilidade para
co num momento de reconfiguração política e conhecer repertório original, uma das conse-
cultural. Em sintonia com os valores da «reno- quências da menor divulgação dos grupos
vação» da «música popular» e da aproximação através de gravações comerciais. Inspirados
do texto da canção às temáticas do quotidiano, no «rock progressivo», agrupamentos estilisti-
José *Cid gravou durante o ano de 1974 Onde, camente renovados como Psico e Beatnicks
quando, como, porquê Cantamos Pessoas Vi- [VER Água, Lena d’], e novos agrupamentos
vas (1975), com textos seus e em co-autoria como *Arte & Ofício (formado em 1975),
com José Jorge *Letria. O LP constituiu a sua Perspectiva e *Tantra (formados em 1976),
primeira incursão no «rock progressivo», cor- criaram repertórios originais, cantados em
rente estilística que marcou igualmente a gra- português e inglês. Num período de menor in-
vação de 10 000 Anos depois entre Vénus e vestimento editorial nos grupos pop-rock por
Marte (1978). Na sua carreira a solo, iniciada comparação à década de 60 e à primeira meta-
em 1975, manteve em paralelo uma orienta- de da década de 70, caracterizado pela renova-
ção rock, estilisticamente diversificada e ade- ção dos estilos e géneros musicais dominantes,
quada aos espectáculos no país, e a composi- sobretudo da «música ligeira» e do fado, pelo
ção de canções nos estilos dominantes da predomínio da canção de intervenção e a es-
música pop e da «música ligeira», com uma truturação do movimento da «música popular
vertente assumidamente «comercial», tendên- portuguesa», destacaram-se os fonogramas co-
cia iniciada em parceria com T. *Brito no gru- merciais de José Luís Tinoco e grupo Saga
po Green Windows (Londres, 1972), e espe- (Homo Sapiens, 1976; MOV), Tantra (Misté-
cialmente pronunciada nos últimos anos da rios e Maravilhas, 1977; Holocausto, 1978;
década de 70 com a popularidade de canções VC), *Petrus Castrus (Ascensão e Queda,
como A Anita não é bonita, Romântico mas 1978; VC), Perspectiva (Lá Fora a Cidade /
não trô pego, Tia Anita, Junto à lareira (1977), Os Homens da Minha Terra; Rei Posto Rei
A minha música, A mansarda, O meu piano Morto / O Oitavo Sorriso, 1977; Imavox),
(1978), Na cabana junto à praia (1979), e.o. *Psico (Al’s / Epitáfio, 1978; ALV-RT) e Arte
Descrevendo uma orientação semelhante, & Ofício (Faces, 1979; ORF-AT). A transição
Mike *Sergeant, produtor fonográfico e arran- política e económica do país, a definição de
jador [VER Arranjo] ligado à *Polygram, e categorias de mercado e a reformulação dos
T. Brito, compositor, assumiram papéis de estilos e géneros dominantes na indústria fo-
destaque na indústria fonográfica em reconfi- nográfica contribuíram para que vários projec-
guração (1975), contribuindo activamente para tos editoriais envolvendo grupos rock fossem
a renovação dos estilos da «música ligeira». interrompidos. Regra geral, a edição comercial
Com o quarteto vocal Gemini (1976), que não acompanhou o ritmo de actuações e a po-
adoptou uma configuração instrumental e um pularidade de grupos em várias zonas do país.
estilo musical pop e disco sound inspirado no Uma tendência do período foi igualmente a da
grupo sueco ABBA, criaram alguns dos êxitos constituição de grupos de fusão jazz rock, in-
mais expressivos da indústria fonográfica no terpretando sobretudo composições instrumen-
período pós-revolucionário, como as canções tais, com uma forte componente de improvisa-
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Pop-rock
Pop-rock

ção, como os agrupamentos liderados por R. estilo composicional privilegiando o desenvol-


Kyao (Malpertuis, 1976; VC), Ananga-Ranga vimento de secções temáticas e na dimensão
(Regresso às Origens; Privado, 1978; Metro- «fantástica» das suas letras [VER Tantra], quer
som), Araripa, Zanarp, Abralas [VER Nogueira, no seu estilo performativo em espectáculos
José; Vargas, António Pinho; Jafumega], Anar- pensados enquanto performações teatrais, con-
band ou O Circo da Vida [VER Girão, Fernan- jugando recursos sonoros e visuais enquanto
do]. A principal inovação no domínio do pop- elementos de cenografia: luzes; fumos carbó-
-rock após o 25 de Abril de 1974 foi o gradual nicos; projecção de filmes ou slides; e a ima-
aumento do número de concertos de grupos e gem dos performadores, sobretudo do cantor
de intérpretes estrangeiros. Após a experiência Frodo (Manuel Cardoso), que, ao encarnar as
pioneira da empresa Nexus, ligada ao empreen- personagens das suas letras, usava fatos e
dimento de K. Hoidale que, entre 1972 e 1973, máscaras aludindo aos universos da literatura
organizou em Portugal concertos dos grupos fantástica e da ficção científica. A grandilo-
If, Vinegar Joe, Blood Sweat & Tears e do quente encenação dos concertos, inspirada no
guitarrista José Feliciano, os concertos de mú- modelo de «concerto rock» enquanto espectá-
sicos internacionais tornaram-se frequentes, culo multimédia implementado pelos principais
sobretudo entre 1977 e os anos marcados pelo grupos internacionais do «rock progressivo»,
fenómeno do «rock português». O ritmo de contrastava profundamente com a limitação de
concertos em Lisboa e no Porto intensificou- recursos dos principais festivais rock do país
-se com o êxito do concerto do grupo inglês na época. Além de espectáculos realizados em
Genesis (1975), o mais significativo evento no várias zonas do país, destacaram-se as actua-
domínio do pop-rock após o 25 de Abril de ções no Cine-Teatro da Encarnação (1977),
1974, elogiado por público e órgãos da comu- onde o grupo iniciou a sua proposta de perfor-
nicação social pela qualidade musical, sonora, mação, e no CRL (1978 e 1979). A populari-
performativa e aparato cénico. O alargado dade do grupo extinguiu-se com a edição de
consumo de drogas «leves», negativamente Humanoid Flesh (1980), um fonograma adop-
comentado por sectores da imprensa (Duarte tando traços estilísticos da new wave, cantado
1984), assinalava o desejo de liberdade dos jo- em inglês, lançado num período em que novos
vens num período de definição das instituições estilos musicais divulgados pela indústria in-
democráticas. Nos anos seguintes realizaram- ternacional da música estimulavam os grupos
-se em Portugal concertos dos grupos Soft portugueses a criar canções comentando temas
Machine, Can, Amon Düül II (1977), Eddie & do quotidiano em língua portuguesa. Nos últi-
Hot Rods, Jim Capaldi (1978), The Tubes, Ca- mos anos da década de 70, a emergência dos
mel, Elvis Costelo & the Atractions, Dr. Feel- estilos do punk rock e da new wave no Reino
good, The Stranglers, Supertramp (1979), e.o., Unido e nos EUA, bem como as suas intersec-
de acordo com as iniciativas comerciais do ções estilísticas com o reggae e o ska, motiva-
empresário Henrique Neves e, posteriormente, ram a formação de novos agrupamentos e a
da empresa On the Road Music. Os concertos criação de novos estilos rock que ganharam
regulares no Pavilhão Dramático de Cascais projecção no movimento de expansão comer-
significaram para o jovem público uma intro- cial do «rock português», no início da década
dução ao rock interpretado ao vivo por músi- de 80. Correspondendo a uma tendência na in-
cos com visibilidade na indústria fonográfica dústria fonográfica internacional, o *punk e a
internacional, num país que até aí não se in- new wave implicaram a perda de protagonis-
cluía no circuito das digressões internacionais. mo dos grupos desenvolvendo os estilos do
As actuações de suporte dos concertos de gru- «rock progressivo». O movimento punk, em
pos estrangeiros passaram a constituir o prin- especial, assente em ideais de agenciamento
cipal meio de divulgação dos «conjuntos» que, subcultural, na subversão dos símbolos e dos
em alguns casos, encaravam os eventos como valores dominantes das sociedades industriali-
oportunidades para aceder a um contrato dis- zadas do Ocidente, na desvinculação da expres-
cográfico. Grande parte das actuações moti- são artística resultante de uma aprendizagem
vou, contudo, uma discussão entre o público e formal, e na recusa dos valores do virtuosismo
a imprensa sobre a ausência de profissionalis- instrumental representados pelo «rock pro-
mo, de atributos performativos e de qualidade gressivo», numa tentativa de capturar a ener-
artística dos grupos portugueses por compara- gia primordialmente associada ao rock and
ção aos rockers estrangeiros (cf. Duarte 1984). roll, moldou concepções expressivas e cul-
O grupo rock de maior dimensão comercial e turais de jovens maioritariamente oriundos da
mediática na segunda metade da década de 70 classe média urbana no país. Os valores do
foi o agrupamento Tantra. A sua ligação à cor- niilismo, da «recusa» e, por vezes, o apelo à
rente do rock progressivo traduziu-se, quer no «anarquia» representados pelo punk fornece-
seu estilo musical, assente na utilização dos ram uma nova geração de músicos de novos
sintetizadores, de processadores de som, num estilos subculturais e identidades urbanas que
Pop-rock
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se demarcavam daquelas representadas pelos independente britânica Stiff Records, foi um
músicos dos «conjuntos» do hard rock e do dos produtores do LP único do grupo formado
rock progressivo da década de 70 ou dos do- a partir de Faíscas, Corpo Diplomático (Corpo
mínios politicamente vinculados da canção Diplomático, 1979), então marcado pela new
de intervenção e do movimento da «música wave. Entre as edições da Rotação destacaram-
popular portuguesa». Entre os agrupamentos -se os dois primeiros singles do grupo Xutos &
com um estilo assumidamente punk surgidos a Pontapés (1981 e 1982). 5. «Rock português»
partir de 1977 contam-se os percursores *Aqui (1980-1984). As últimas duas décadas do sé-
d’El Rock, Faíscas, Minas & Armadilhas e culo foram pontuadas por uma crescente pro-
*Xutos & Pontapés. Além do estilo musical, fissionalização e especialização da criação no
caracterizado pelo carácter rude da técnica domínio do pop-rock, e pelo desenvolvimento
instrumental, pela instrumentação guiada pela do mercado da música. No princípio da déca-
guitarra eléctrica, pelas harmonias simplifica- da de 80, assistiu-se à expansão do pop-rock
das e insistentemente percutidas, a apropria- cantado em língua portuguesa, movimento que
ção do punk traduziu-se numa atitude de cho- foi designado como «boom do rock Portu-
que e de provocação patente nos nomes dos guês» (Duarte 1984). Um investimento gene-
grupos, nas letras de canções, no estilo perfor- ralizado na edição fonográfica de intérpretes e
mativo e nas entrevistas. Apesar de a estética grupos portugueses e a apetência de outros
punk apenas se ter consolidado no país durante meios de comunicação como a *rádio e a tele-
a década de 80 [VER Punk; Censurados; Mata- visão para a sua difusão, foram centrais para
-Ratos; Peste & Sida], a sua energia, as men- esta expansão. Todas as editoras que opera-
sagens directas das suas letras e o seu vínculo vam no mercado, representantes ou não de
ao meio urbano deixaram igualmente uma for- empresas multinacionais, editaram fonogra-
te marca nos estilos iniciais de alguns grupos mas de intérpretes conotados com o «rock por-
surgidos nos últimos anos de 70, mediatica- tuguês»: Rui Veloso e Banda Sonora (1980),
mente revelados no movimento do «rock por- *UHF (1980), *GNR (1980), Grupo de Baile
tuguês», como *UHF, *GNR, e.o. O radialista (1982), Roquivários (1982) e António *Varia-
António *Sérgio, autor e apresentador do pro- ções (1983) (editados pela *Valentim de Car-
grama Rotação (RR, 1976-1980), foi um im- valho); *Heróis do Mar (1981), *Taxi (1981),
portante promotor do punk, da new wave e, de *Jáfumega (1982) (editados pela *Polygram);
um modo global, dos estilos pós-punk. Marca- Salada de Frutas (1981) (Edisom); Xutos &
do pelos valores das editoras independentes Pontapés (1981, 1982 e 1982), Opinião Pú-
britânicas, sobretudo pela oposição ao que blica (1982) (editados pela Rotação); Jáfu-
consideravam como a hegemonia cultural e mega (1980, 1981 e 1982), Ananga-Ranga
comercial das editoras multinacionais, fundou (1980), Ferro & Fogo (1981, 1982 e 1982),
com os seus colegas de rádio José («Zhe») *Aqui del’Rock (1982) (MetroSom); Rock &
Guerra e Joaquim Lopes a editora Pirate Vários (1981 e 1981), UHF (1982), Roxigénio
Dream Records, editando a compilação Punk (1981) (editados pela *Rádio Triunfo), e.o., o
Rock/New Wave 1977 (1978). O fonograma, que ilustra a vontade de explorar o mercado
com edição de 500 exemplares, reunia alguns por parte das principais editoras activas por to-
dos protagonistas do punk no Reino Unido do o país, a intensidade de edição e a circula-
(The Jam, Sex Pistols, Generation X, e.o.), ção dos grupos musicais entre as diferentes
inaugurando a difusão dos estilos emergentes companhias. As edições fonográficas surgiam
no mercado fonográfico português. Um pro- num mercado incipiente (em termos de estru-
cesso instaurado pela editora Polygram, que turas editoriais, de distribuição, de volume de
alegou a ilegalidade do fonograma, suscitou a negócios, de redes estabelecidas, e.o.), a um
sua divulgação através de redes informais ritmo intenso na altura. Em média, eram lan-
(Duarte 1984). A edição chamou a atenção das çados um LP e três singles por mês. Repertó-
principais editoras actuando em Portugal para rio cantado em português, mas assumidamente
o novo fenómeno cultural, o que resultou na influenciado pelos estilos internacionais do
edição de colectâneas e na distribuição de fo- pop-rock, empregando elementos do blues,
nogramas comerciais dos mais visíveis grupos do punk-rock, da new wave, do ska, e.o., al-
punk do Reino Unido no país. A Pirate Dream cançou significativa popularidade. O reper-
Records assinalou em Portugal a primeira ten- tório incluído nos LP Ar de Rock, de Rui *Ve-
tativa de formar uma editora independente ins- loso (1980), e À flor da Pele, do grupo UHF
pirada nos princípios artísticos e ideológicos (1981), em especial as canções editadas em
associados ao punk, projecto a que A. Sérgio single Chico Fininho e Cavalos de corrida
deu continuidade na sua ligação à editora No- (1980), respectivamente, adquiriam, tal como
va e, já na década de 80, no seu envolvimento os seus intérpretes, um estatuto fundador no
com a editora Rotação. Ligado à Nova, que re- domínio. A utilização do português pode ter
presentava em Portugal o catálogo da editora sido motivada, por um lado, pela «lei da rá-
Pop 1050
Pop-rock
Pop-rock

dicados ao pop-rock, com especial destaque


para Passeio dos Alegres (J. Isidro, 1980,
RTP 1), Vivamúsica (J. Pêgo, João Egreja e
Manuel Medeiros, 1982, RTP 2 e RTP 1)
e Roques da Casa (R. Pêgo e A. Duarte,
c. 1982, RTP 2), nos quais se apresentavam os
músicos, normalmente em playback, e se di-
vulgavam telediscos. Estes programas tinham
essencialmente uma função de entretenimento
generalista e, pontualmente, também noticio-
sa, com entrevistas e reportagens sobre o meio
musical. Os *periódicos de música, de espec-
táculos e de lazer como *Se7e (fundado em
1978) e *Música & Som (1977) tiveram gran-
de difusão e aumento das tiragens. Jornalistas
e críticos como A. Duarte ou Miguel Esteves
Cardoso criaram um discurso em torno do
pop-rock que viria a marcar o jornalismo de
música nas décadas de 80 e 90 [VER Periódicos
Capa do LP Ar de Rock de Rui Veloso. EMI-VC, de música, 6.], sendo os primeiros autores por-
1980. Fotografia cedida pela EMI Music Portugal. tugueses a publicar livros sobre o pop-rock
(Duarte 1984; Cardoso 1982). António Duar-
dio» [VER Niza, José], que impunha quotas de te escreveu a primeira história do pop-rock
transmissão para repertório cantado em portu- em Portugal: A arte eléctrica de ser portu-
guês (debate político que se mantinha no final guês: 25 anos de rock’n’Portugal. Além de
do século), e, por outro, pelo pressuposto, no crónicas sobre grupos pop britânicos, M. E.
seio das editoras, de que o sucesso do repertó- Cardoso foi igualmente um dos fundadores
rio dependia da compreensão das letras das do selo *Fundação Atlântica. Ao mesmo tem-
*canções por parte do público. Deste modo po, estruturavam-se empresas e espaços espe-
considerava-se essencial a utilização do portu- cificamente destinados a eventos ligados a
guês, sem abdicar dos referentes musicais que este domínio. Empresas de produção de espec-
deveriam ser reconhecidamente internacionais táculos (Musisom, Concerto ou Hipersom),
para reforçar a imagem de modernidade preten- por vezes fazendo também agenciamento
dida. As letras retratavam situações, persona- (AveRock, Concerto, Tournée) e de aluguer
gens e paisagens de cariz urbano e quotidiano, de equipamento (amplificação de som ao vi-
abordando a condição humana, em particular a vo e iluminação como a Odisseia, SOS, e.o.)
ausência de perspectivas do indivíduo sujeito contribuíram para o movimento de expansão
a constrangimentos impostos pela sociedade. do mercado de espectáculos em torno do pop-
Assinala-se também o uso de uma retórica iró- -rock. Os principais clientes destas empresas
nica no reconhecimento do carácter superficial eram câmaras municipais, associações de ju-
dos temas tratados nas letras. Alguns dos gru- ventude e organizações locais que muitas ve-
pos do movimento do «rock português» tive- zes adaptavam espaços existentes (escolas,
ram uma biografia limitada cronologicamente, armazéns ou camiões adaptados para palcos)
como são exemplos Roxigénio [VER Mendes, para espectáculos. O contexto era limitativo
Filipe], Street Kids ou Salada de Frutas [VER dadas as condicionantes estruturais e econó-
Fonseca, Luís Pedro], todos com carreiras en- micas do país, onde muitas vezes o desconhe-
tre 1980 e 1983. O impacte público do pop- cimento técnico inviabilizava a realização de
-rock esteve associado ao crescimento de es- concertos (nomeadamente as limitações da
paço de difusão nos meios de comunicação. corrente eléctrica local ou dos acessos por es-
Destaca-se a transmissão de programas radio- trada). Procurando ultrapassar estas limita-
fónicos dedicados ao pop-rock como Rock em ções, e emular eventos congéneres produzi-
Stock (apresentação e concepção de Luís Fili- dos no estrangeiro, reforçou-se a tendência de
pe *Barros e Rui Morrison, iniciando-se em organização de concursos e festivais com
1979, RC), Febre de Sábado de Manhã (Júlio grande impacte mediático. Eram eventos que
Isidro, 1980, RC), Rolls Rock (A. *Sérgio, permitiam aos grupos actuar em melhores
1980, RC), TNT/Todos no Top (Jorge Pêgo, condições técnicas. De entre estes eventos,
1981, RC), Meia de Rock (Rui Pêgo, 1981, destacou-se o *Festival de Vilar de Mouros
RR), Nós por cá, Cor do Som (R. Pêgo e (1982), que apresentou concertos de grupos
A. Duarte, 1982, RR), Som da Frente (A. Sér- britânicos como Echo & The Bunnymen, The
gio, 1982, RC). Os dois canais da televisão Stranglers, Durrutti Column e U2, e portu-
pública difundiam programas com espaços de- gueses como Heróis do Mar, GNR, Jáfumega
Pop-rock
Pop-rock
1051
Pop
e Roxigénio. Na continuidade da segunda Life of He, do grupo Croix-Sainte (1985), sen-
metade da década de 70, intensificaram-se as do algum repertório integrado em «colectâ-
apresentações de grupos internacionais como neas» como Ao vivo no Rock Rendez-Vous em
Fisher Z, The Tubes, Ramones, The Police, 1984(1984), Sons e Temas: Rock Rendez-Vous
Dexy’s Midnight Runners, Iggy Pop, e.o. Es- (1985), Divergências (1986), Registos: Músi-
tes eventos foram significativos para a forma- ca Moderna Portuguesa (1986 e 1987) ou
ção de grupos e desenvolvimento das carreiras À Sombra de Deus: Braga 88 (1988). Nestes
dos músicos locais que procuravam emular os fonogramas destacaram-se grupos como Crise
modelos internacionais em termos musicais, Total, Culto da Ira, Dead Dream Factory, Essa
técnicos e performativos, na tentativa de apre- Entente, Linha Geral, *Radar Kadafi, *Pop
sentar espectáculos que pretendiam «moder- dell’Arte, Ritual Tejo, *Sitiados, Falecido Al-
nos» e actuais, nomeadamente pela espectacu- ves dos Reis, *Quinta do Bill, THC, e.o. Neste
laridade dos efeitos cenográficos, pelo impacte contexto, a editora *Ama Romanta tornou-se
sonoro da amplificação e pela capacidade in- símbolo de um modo de agir associado às edi-
terpretativa do grupo como um todo. A sala toras independentes no meio da música em
*Rock Rendez-Vous, inaugurada em 1980, Portugal. Dinamizada, entre 1986 e 1990, pelo
tornou-se o mais carismático local de música cantor e letrista João Peste, orientava-se por
ao vivo, desempenhando um papel central co- um programa estético reflectindo uma posição
mo espaço de apresentação regular de grupos ideológica de «divergência» relativamente à
e como local dinamizador do meio musical. política editorial e aos estilos musicais pro-
A actuação neste espaço passou a representar movidos pelas multinacionais. Destacaram-se
um marco na carreira dos grupos. Apesar des- igualmente editoras como a Dansa do Som
te momento de expansão, os agentes actuando (1984-1990) [VER Rock Rendez-Vous], ou a
no meio musical enfrentavam rígidas leis relati- Transmedia (1984-1989, fundada por Jorge
vas à saída de divisas que limitavam o contacto Zagalo e Nuno Rodrigues), que, além da edi-
com o estrangeiro, dificultando a aquisição de ção, distribuíam os catálogos de editoras inde-
fonogramas e instrumentos musicais. 6. «Mú- pendentes como a 4AD ou a Rough Trade.
sica Moderna Portuguesa» (1984-1990). Em Grupos inicialmente associados às editoras
meados da década de 80, diversos intervenien- independentes como *Mler Ife Dada, Radar
tes (em especial músicos, empresários de es- Kadafi, Xutos & Pontapés e *Afonsinhos do
pectáculos e jornalistas), inspirados pela pro- Condado foram contratados, na segunda meta-
dução musical das «editoras independentes» de da década de 80, pela multinacional *Poly-
anglo-americanas, desenvolveram actividades gram, constituindo o seu novo catálogo de
de edição, criação e difusão no âmbito do pop- pop-rock e música popular. Estes grupos vie-
-rock, assumindo uma ideologia de resistência ram juntar-se a outros grupos e músicos com
ao que consideravam ser o pop-rock instituído carreiras musicais já firmadas como Rui *Ve-
pelas multinacionais. Este era associado a um loso, *UHF, *GNR, ou outros grupos forma-
repertório de canções pop ligado à imagem ro- dos nessa altura como *Rádio Macau ou *Sé-
mântica do artista, à prevalência de letras com tima Legião, sendo responsáveis por um novo
temáticas de carácter amoroso, a refrões e me- dinamismo do meio musical português. Neste
lodias simples e facilmente memorizáveis. período, assinala-se a criação musical integra-
A sua acção repartia-se pela edição de fonogra-
mas, constituição de grupos musicais, promo-
ção de concertos, divulgação musical através
de «rádios livres» e «fanzines». Deste modo fo-
mentaram a produção musical, dando visibili-
dade a grupos, estilos e produtos que conside-
ravam «alternativos» no âmbito do pop-rock
difundido em massa. A este movimento veio a
ser associado o termo «Música Moderna Por-
tuguesa», que se consolidou com o sucesso do
Concurso de Música Moderna do Rock Ren-
dez-Vous, amplamente mediatizado através do
jornalismo escrito, nomeadamente do periódi-
co *Blitz. Muitos dos grupos pop-rock activos
durante este período reviam-se nesta catego-
ria. Alguns dos grupos surgidos nessa altura
editaram os seus primeiros fonogramas em
editoras independentes (muitas vezes no for-
mato de mini-LP ou maxi-single) ou mesmo Rui Veloso em concerto no Coliseu dos Recreios de
em edições de autor, como foi o caso de The Lisboa, 1990. Fotografia Atlântico Press.
Pop 1052
Pop-rock
Pop-rock

da em programas estéticos que envolviam di- neres estrangeiras, com o mercado discográfico
ferentes domínios expressivos, da pintura à global e com grupos e intérpretes que circula-
performance, patente nos fonogramas de Pop vam internacionalmente, promoveu um maior
dell’Arte (Free Pop, 1987), Mler Ife Dada e mais rápido desenvolvimento económico,
(Coisas Que Fascinam, 1987) ou Ocaso Épico técnico e artístico das diferentes áreas associa-
(Muito Obrigado, 1988), ou assente na evoca- das ao universo do pop-rock (da promoção de
ção irónica da canção romântica, patente em concertos aos estúdios, passando pela própria
edições fonográficas de Radar Kadafi (Prima criação de repertório) que se afirmaria na déca-
Donna, 1987) e Afonsinhos do Condado (Açú- da seguinte (nomeadamente pela representação
car, 1988). Todos os grupos procuravam de- em Portugal das principais editoras multinacio-
senvolver estilos que os individualizavam no nais, a constituição de «catálogos nacionais»
meio musical local. Com percursos noutros em todas elas, e mesmo a aquisição dos catá-
universos musicais como a «música popular logos discográficos de pequenas editoras). Es-
portuguesa», intérpretes como Sérgio *Godi- tilisticamente o domínio do pop-rock tanto in-
nho, em Na Vida Real, ou Trovante, em Terra cluía grupos e repertório ligados ao rock, em
Firme (ambos de 1986), adoptaram linguagens que predominam os elementos musicais do
poéticas e musicais tradicionalmente associa- blues, do rhythm’n’blues e do punk-rock, com
das ao pop-rock. As chamadas rádios «livres», uma tipologia instrumental baseada em guitar-
estruturas de emissão libertas de constrangi- ras eléctricas — solistas e ritmo — bateria,
mentos comerciais, em especial a Rádio Uni- guitarra, baixo eléctrico e voz —, incluindo,
versidade Tejo (RUT, Lisboa, 1986-88), a Rá- nos casos onde se demonstra uma influência
dio Universidade Coimbra (RUC, Coimbra, do estilo new wave, instrumentos eléctricos de
desde 1986), Rádio Universidade Minho (RUM, tecla. O repertório é marcado por característi-
Braga, desde 1989) e a Radiogeste (Lisboa, cas recorrentes no movimento *punk como a
1987-1989), desempenharam, a par de progra- simplicidade estrutural da canção com alter-
mas nas estações de rádio de maior pendor co- nância de estrofes e refrão (onde muitas vezes
mercial (regra geral constrangidas pelas play- se apresenta a melodia identificativa da can-
lists), um papel significativo na divulgação ção), o âmbito harmónico reduzido, melodias
dos novos grupos e estilos musicais. Entre os muito próximas da prosódia declamada do
programas divulgando repertório dos novos texto, a distorção, ritmos rápidos e sincopados,
grupos, sobretudo ainda não tendo acedido à riffs e powerchords [VER Heavy metal]. A pro-
edição comercial, destacaram-se Luso Club ximidade estilística dos grupos portugueses ao
(RC, Pitta, 1986), Ecos do Império (RUT, Pit- contexto internacional é operada por impor-
ta, 1986), Cabo do Rock (RFM, João Pedro tação de elementos simbólicos e alguns ele-
Costa, 1988), e.o. A televisão não dedicava mentos sonoros. No entanto, através das letras,
muito espaço aos grupos surgidos no domínio assistia-se a uma forte interpretação local des-
do pop-rock. A escassa divulgação era feita em se mesmo repertório internacional. Noções de
programas como Vivamúsica (segunda série de «espontaneidade» e «autenticidade» surgem
programas, autoria Ricardo Nogueira 1986), nos discursos dos músicos e outros agentes
Roques da Casa (R. Pêgo e A. Duarte), ou envolvidos (produtores musicais, editores,
Fisga (João Grosso, 1987). Programas de va- jornalistas) como principais elementos de ca-
riedades, concursos e até programas infantis racterização, avaliação e validação dos intér-
constituíam, no entanto, o mais regular espaço pretes e seu repertório quando associado ao
para apresentação de grupos de pop-rock por- rock. Ao mesmo tempo, as editoras apostavam
tugueses. Na imprensa escrita, o período foi na publicação de repertório assente em canções
marcado pelo periódico especializado Blitz com uma sonoridade «moderna», empregando
[VER Periódicos de música, 6.]. Na segunda a guitarra eléctrica, sintetizadores, baterias
metade da década de 80, assinala-se a crescen- electrónicas e caixas de ritmo, apresentando
te especialização de empresas envolvidas na ritmos sintetizados (p.ex, associados à new
produção de espectáculos e no agenciamento wave) e uma imagem mais actualizada dos in-
de intérpretes. A empresa Malucos da Pátria térpretes, seguindo os pretensos padrões inter-
foi pioneira ao conjugar o agenciamento com nacionais (Heróis do Mar, *Delfins, Gabriela
a gestão das carreiras dos intérpretes. Nos Schaaf, *Doce, Lena d’*Água, Lara Li, e.o.).
concertos passou a utilizar-se meios técnicos Alguns casos (como Heróis do Mar, A. Varia-
mais sofisticados que contemplavam o som e a ções ou Doce) procuravam adequar as canções
cenografia, envolvendo equipas profissionais à dança utilizando instrumentos electrónicos,
mais alargadas, apesar de continuarem a ter ritmos rápidos e repetidos, com vista a circula-
lugar nos mesmos espaços: CRL, *Coliseu do ção nos novos espaços de sociabilidade como
Porto, Pavilhão do Restelo, Pavilhão Carlos as discotecas [VER Música de dança]. Uma pa-
Lopes, e.o. Genericamente, no fim da década nóplia de grupos musicais desenvolveram a
de 80, o maior contacto com empresas congé- sua prática em âmbitos estilísticos muito deli-
Pop-rock
Pop-rock
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Pop
mitados, como o heavy metal. 7. A expansão -se prática relativamente comum a contratação
das indústrias da música (1990-2000). A úl- de músicos e produtores estrangeiros para par-
tima década do séc. XX foi marcada pela cres- ticipar em discos de intérpretes portugueses:
cente expansão, profissionalização e especiali- os produtores Ronnie Champagne, Michael
zação na criação, produção, promoção e difusão Vail Blum, Joe Fossard, Don Flemming, Ma-
da música. O domínio do pop-rock em Portu- rio Caldato Jr., Tom Tucker, Frank Darcel; ou
gal passou a não ter especificidade local, ex- os músicos Nuno Bettencourt, Brendan Hems-
ceptuando a utilização da língua, emulando, worth ou Maceo Parker. Entre os fonogramas
por vezes, com uma discrepância de alguns que mais impacte tiveram no universo do pop-
anos, os estilos e subgéneros em voga nos -rock contam-se: fonogramas originais de in-
mercados internacionais. Grupos surgidos neste térpretes e grupos com carreiras iniciadas na
período obtiveram significativo impacte públi- década anterior (R. Veloso, Mingos & os Sa-
co cantando em inglês, emulando estilos ang- murais, EMI, 1990, ou GNR, In Vivo, EMI,
lo-americanos ou perspectivando uma even- 1990, e Rock in Rio Douro, EMI, 1992); co-
tual carreira internacional (*Silence 4, *The lectâneas de homenagem a grupos ou intér-
Gift, Blasted Mechanism ou *Blind Zero). pretes já instituídos, como J. Afonso (Filhos
A circulação internacional de intérpretes lo- da Madrugada, Sony BMG, 1994) e A. Varia-
cais teve lugar no final da década e em circui- ções (Variações: As Canções de António, Va-
tos associados a estilos específicos como o deca, 1994); fonogramas baseados em arranjos
heavy metal ou o rockabilly. Exemplo deste de repertório conhecido, criados para grupos
processo de profissionalização e de internacio- com uma tipologia instrumental acústica, com
nalização foi a regularidade com que se passa- especial destaque para o grupo Resistência
ram a organizar festivais anuais com intérpre- (Palavras ao Vento, Sony BMG, 1991; Mano
tes nacionais e estrangeiros [VER Festival, 5.] e a Mano, EMI, 1992). Assinala-se também o
a inclusão cada vez mais frequente do país nas impacte do fonograma Ao vivo na Antena 3
digressões mundiais de intérpretes internacio- (Universal, 1995) no relançamento público da
nalmente reconhecidos. O maior contacto com carreira do grupo Xutos & Pontapés. Todos es-
o mercado discográfico global e com grupos e tes fonogramas atingiram níveis de vendas ra-
intérpretes que circulavam internacionalmente ramente alcançados no mercado discográfico
promoveu um maior e mais rápido desenvolvi- português (mais de 30 000 cópias, dados da
mento económico, técnico e artístico no domí- *Associação Fonográfica Portuguesa). Sem o
nio do pop-rock, da promoção de concertos mesmo impacte, mas demonstrando o interes-
aos estúdios, passando pela própria criação de se da indústria fonográfica em explorar o catá-
repertório. Num processo que teve início na logo já editado, tornou-se comum a reedição
década anterior, as empresas multinacionais de fonogramas já explorados comercialmente
(EMI-VC, Polygram/Universal
Music Portugal, BMG, Sony
Portugal) consolidaram a sua
presença no mercado português,
reforçaram os seus investimen-
tos no mercado nacional e pro-
moveram os seus catálogos
internacionais, bem como os
intérpretes locais que tinham
no seu catálogo. Diversificaram
as estratégias de exploração dos
catálogos com a renovação da
imagem de intérpretes, a reedi-
ção em formato CD relançando
intérpretes e discos que caíram
no esquecimento do grande pú-
blico, ou editando novos arran-
jos de repertório já explorado.
Paralelamente a esta aproxi-
mação ao modelo de produção
da indústria internacional, pro-
curou-se também aproximar as
características musicais dos
grupos nacionais aos estilos e Xutos & Pontapés. Kalu (bateria), Zé Pedro (guitarra), Tim (baixo eléc-
grupos que vingavam interna- trico). Coliseu dos Recreios de Lisboa, 1997. Fotografia de José Pedro
cionalmente. Para tal, tornou- Santa Bárbara.
Pop 1054
Pop-rock
Pop-rock

e a edição de colectâneas em formato digital *Cool Hipnoise, Black Out, o intérprete norte-
(Sheiks, 1993, Os Grandes Êxitos dos Sheiks, -americano vivendo em Portugal Darin Papas/
EMI-VC; Ban, 1994, O Melhor dos Ban, Ithaka, *Kussondulola, sendo de destacar pelo
EMI-VC; *Trabalhadores do Comércio, 1995, seu impacte comercial e mediático Rapública
O Melhor dos Trabalhadores do Comércio, (AAVV, 1994, Sony BMG), Geração Rasca
PLD; Lena d’*Água, 1996, Sempre Que o (Black Company, Sony BMG, 1995), e.o. Pa-
Amor Me Quiser: O Melhor de Lena d’Água, radigmático dessa tendência foi o fonograma
MGD; AAVV, 1997, Biografia do Pop-Rock, Viagens, de Pedro Abrunhosa & Bandemónio
MOV; AAVV, 1997-1998, Portugal De Luxe, (1994, Polygram) [VER Abrunhosa, Pedro],
vols. I e II, NS). O repertório original editado que contou com a participação do saxofonista
em meados da década de 90 demonstrava a in- americano Maceo Parker (membro do grupo
tenção de introduzir no mercado português gé- que acompanhava o cantor americano James
neros e estilos que, vingando nos mercados Brown) e que, ao empregar timbres e ritmos
internacionais, eram ainda pouco conhecidos associados a géneros em voga internacional-
localmente como o *rap [VER Hip-hop] e a mente (destinados à dança) como o funk, o
*música de dança, o funk, o reggae, tipologias acid-jazz, o hip-hop, e.o., alcançou um suces-
que passaram a contar com intérpretes portu- so sem precedentes: longas digressões nacio-
gueses que beneficiaram de grande visibilida- nais e vendas superiores a 160 mil exempla-
de mediática e impacte junto do público como res. Também ilustrativo do repertório com
*Black Company, *General D, *Da Weasel, significativo impacte comercial são os fono-
gramas do grupo Delfins (O Caminho da Feli-
cidade, 1995, e Saber a Mar, 1996, Sony
BMG) e de Paulo *Gonzo (Quase Tudo, 1997,
Sony BMG), ambos interpretando um repertó-
rio de canções pop, e cujas vendas superaram
os 500 mil e 250 mil exemplares, respectiva-
mente. No domínio da música de dança, vários
grupos ou intérpretes tiveram carreiras disco-
gráficas relevantes (*Repórter Estrábico, Gol-
pe de Estado, LX-90 e Ovelha Negra), em al-
guns casos com dimensão internacional, como
Underground Sound of Lisbon ou DJ Vibe.
O grunge foi outro dos estilos emulados por
grupos portugueses (Braindead, Blend, 1993,
EMI-VC; Blind Zero, Triger, 1995, NS, e Red-
coast, 1997, NS). A acção da indústria fonográ-
fica multinacional, no seu esforço de crescimen-
to e numa estratégia conhecida por «abertura
de mercados», estendeu-se aos grupos musi-
cais conotados com circuitos «alternativos»
como *Mão Morta, Zen, *Belle Chase Hotel
(NS), Três Tristes Tigres (EMI), Pop dell’Arte
(Universal), Flak (Sony BMG). À margem das
editoras multinacionais, outros grupos musicais
desenvolveram com eficácia a sua carreira, as-
sente em redes sociais densas, tendo sido edi-
tados por pequenas editoras. São disso exem-
plo os grupos Tina and the Top Ten, Red
Beans (Moneyland Records), Santa Maria Ga-
solina em Teu Ventre e More República Masó-
nica (Ama Romanta), Bizarra Locomotiva
(Symbiose Records), *Ena Pá 2000/Irmãos
Catita (El Tatu), Lulu Blind (Música Alternati-
va) ou WC Noise (MTM), e.o. O mercado de
fonogramas contava ainda como principais su-
cessos comerciais grupos influenciados pelas
boys e girls-band internacionais, como Exces-
so, Santamaria, Anjos ou Miguel & André.
A especialização e profissionalização das in-
Pedro Abrunhosa. Coliseu dos Recreios de Lisboa, dústrias da música que se nota na produção
1997. Fotografia de José Pedro Santa Bárbara. musical de todos estes grupos e intérpretes
Pop-rock
Pop-rock
1055
Pop
também se reflectiu na gestão das suas carreiras 1990), salas de pequenas dimensões com pro-
(management), uma vez que até aí esta função gramação regular escassearam, passando a ofer-
era desempenhada em simultâneo por empresas ta a estar limitada a espaços como Johnny Gui-
produtoras de espectáculos e agenciamento ou tar, Caixa Económica Operária (Lisboa), Hard
pelos próprios intérpretes. A empresa União Club (Porto), e.o. De forma crescente, espaços
Lisboa (de Pedro Ayres *Magalhães e Antó- de diversão nocturna como discotecas e bares
nio Cunha), que abrangeu a gravação e edição passaram a ter música ao vivo. Já no final da dé-
discográficas, a Reunião (Luís Tomás e Ma- cada, o pop-rock foi marcado pela tentativa de
nuel Moura Santos), a Música no Coração internacionalização de grupos e intérpretes, que
(Luís Montez e Ricardo Covões, especializada em contextos e géneros específicos foi bem-
na venda de espectáculos de intérpretes e gru- -sucedida. Sendo este um dos objectivos mais
pos internacionais) foram as empresas com ac- desejados por todos os praticantes deste domínio
tividade mais intensa ao longo da década de eminentemente transnacional, a internacionali-
90. A indústria de espectáculos passou a cen- zação da carreira era vista por músicos e grupos
trar a sua actividade na produção de digres- como a derradeira demonstração de qualidade,
sões nacionais de intérpretes e grupos locais, ainda que as apresentações além-fronteiras se li-
de concertos de grande dimensão dos intérpre- mitassem ao circuito da emigração, a Espanha
tes internacionais e locais de maior impacte (de que o grupo Xutos & Pontapés será even-
público: Portugal ao Vivo, 1992 e 1994; GNR, tualmente o melhor exemplo, grupo que chegou
1992; Filhos da Madrugada, 1994; Rolling a assinar um contrato com uma editora francesa
Stones, 1990; U2, 1993, e.o. (todos no Estádio para edição local dos seus fonogramas) ou a
José de Alvalade, Lisboa). Estes espectáculos circuitos especializados em estilos específicos
ao ar livre necessitaram de tecnologia e técni- como heavy metal (nomeadamente o grupo
cos que até aí não existiam no país, impulsio- Moonspell), rockabilly (através de grupos como
nando desse modo o surgimento de empresas Texabilly Rockers ou Tenessee Boys) e música
especializadas em áudio, luminotecnia, estru- de dança (grupos como Underground Sound of
turas de palco, roadies, e.o. Ao longo da déca- Lisbon ou o produtor DJ Vibe). Ao mesmo tem-
da, mas com crescente impacte na segunda po que se aspirava à internacionalização, em
metade, os «festivais de Verão», tendo lugar Portugal o principal tema debatido no âmbito do
um pouco por todo o país (Sudoeste, na Zam- pop-rock continuava a ser a utilização da língua
bujeira do Mar, Super Bock Super Rock em inglesa por parte de grupos que, ou perspecti-
diversas cidades do país; Festival Imperial vando uma carreira internacional, pela simples
em Lisboa, Festival Paredes de Coura, e.o.), emulação de estilos internacionais, ou por opção
tornaram-se, juntamente com as associações estética, alcançaram grande impacte público
de estudantes universitários (que organizam a (com sucesso de vendas e grande exposição me-
Queima das Fitas e recepções do caloiro, com diática) cantando em inglês, como foram os ca-
destaque para as que têm lugar em Lisboa, sos dos grupos Silence 4, The Gift, Blind Zero e
Porto, Coimbra, Faro e Braga, num total supe- Belle Chase Hotel, reactivando um debate que
rior a 20 eventos por ano), os principais pro- já havia marcado o domínio no início da década
motores de concertos com intérpretes ou gru- de 80. Paralelamente (e com influência mútua)
po portugueses. Importante para o lançamento ao desenvolvimento de estruturas profissionais
público de novos grupos, e no seguimento das das indústrias da música, esta década trouxe
décadas anteriores, era a participação em con- alterações profundas no panorama mediático
cursos, sendo de destacar no fim do século o nacional pela abertura de canais privados de
Festival Termómetro Unplugged, destinado a televisão (SIC em 1992 e TVI em 1996), pela
grupos amadores e promovido pela RDP-An- publicação de suplementos semanais dedica-
tena 3, as digressões organizadas pelo Instituto dos à música em jornais generalistas de grande
Português da Juventude e as colectâneas pro- tiragem e pelo desenvolvimento das rádios pri-
movidas por uma empresa de telecomunica- vadas. Este desenvolvimento contribuiu para a
ções. A rede de salas de espectáculos de média alteração dos modos de promoção de fonogra-
e grande dimensão (espaços superiores a 750 mas e intérpretes por parte das editoras multina-
lugares) beneficiaram de requalificação que cionais e independentes. As editoras passaram
permitiu acolher concertos de rock, respon- obrigatoriamente a ter de preparar telediscos pa-
dendo adequadamente às exigências técnicas ra transmissão televisiva dos singles que comer-
destes. Esta requalificação foi levada a cabo cializavam em programas como ViróVídeo (au-
no âmbito da organização de eventos como toria e apresentação de Henrique Amaro, Xana
a *Lisboa 94 — Capital Europeia da Cultura e e Zé Pedro, RTP 1, 1991), Pop-Off (José Pi-
a Expo 98, eventos que também promoveram nheiro, RTP 2, 1991), Spray (Henrique Amaro,
um grande número de concertos e contribuí- Pedro Fradique e José Pinheiro, RTP 2, 1997).
ram para a criação de públicos. Com o encer- Outros formatos televisivos centraram-se na
ramento do clube Rock Rendez-Vous (em música em geral e no domínio do pop-rock em
Por 1056
Porfírio
Porfírio

particular como concursos com grupos em iní- lan Press; Middleton, Richard (2001a) «I. Introduction», in
cio de carreira ou cantores amadores (Aqui Del Richard Middleton; David Buckley; Robert Walser; Dave
Rock, RTP 1, 1990; Selecção Nacional, RTP 1, Laing; Peter Peter; «Pop» in Stanley Sadie; John Tyrrell
(eds.), The New Grove Dictionary of Music and Musi-
1994; Concurso de Música Moderna Portu- cians. Vol. XX. Londres-Nova Iorque: MacMillan Press
guesa do Rock Rendez-Vous, RTP 2, 1994; [pp. 101-122]; Middleton, Richard (2001b) «IV, 1. The
Cantigas da Rua, SIC, 1996-1997) ou com British Isles» in Richard Middleton; David Buckley; Ro-
apresentações em estúdio de músicos com car- bert Walser; Dave Laing; Peter Manuel; «Pop» in Stan-
reiras firmadas (Ao Vivo, RTP 1, 1998; Atlânti- ley Sadie; John Tyrrell (eds.), The New Grove Dictiona-
ry of Music and Musicians. Vol. XX. Londres-Nova
co, RTP 1, 1999). De todos estes programas, Iorque: MacMillan Press [pp. 101-122]; Monson, Ingrid
aqueles que predominaram e viriam a ter maior (1999) «Riffs, Repetition, and Theories of Globaliza-
impacte nos anos seguintes foram os concursos tion», Ethnomusicology 43 (1): 31-65; Neves, José S.
em que cantores amadores interpretavam can- das (1999) Os profissionais do disco: Um estudo da in-
dústria fonográfica em Portugal. Lisboa: Observatório das
ções popularizadas por intérpretes consagrados Actividades Culturais; Pimentel, Irene Flunser (1996)
(Chuva de Estrelas, SIC, 1993). Na rádio im- «Movimento Nacional Feminino» in Fernando Rosas; José
plantaram-se os programas generalistas basea- Maria Brandão de Brito (orgs.), Dicionário de história do
dos em playlists, sendo que poucos se dedica- Estado Novo. Vol II. Venda Nova: Círculo de Leitores
vam exclusivamente a intérpretes e grupos [p. 639]; Pires, Jorge (1995) Madredeus: Um futuro maior.
Lisboa: Temas e Debates; Público (1998) Os melhores ál-
nacionais (Johnny Guitar, Rádio Energia, reali- buns da música popular portuguesa (1960-1997). Lisboa:
zado por Zé Pedro e H. Amaro, 1991; 100%, Público Comunicação Social S.A.-Fnac; s.a. (1968) «Em
RDP-Antena 3, H. Amaro, 1994). O espaço an- Órbita», Boletim do Rádio Clube Português; s.a. (1995)
teriormente preenchido pelas «rádios livres» foi Pedro Abrunhosa e os Bandemónio. Porto: Civilização; Si-
ocupado por rádios locais com especial desta- mões, José M.; Mallipan, Jacek; Brázio, Augusto (1998)
Delfins: Biografia autorizada. Mem Martins: Europa-
que para a XFM (rádio que contou com a cola- -América; Straw, Will (1991) «Systems of Articulation,
boração de muitos radialistas reconhecidos, co- Logics of Change: Scenes and Communities in Popular
mo A. *Sérgio, Isilda Sanches, Sofia Morais, Music», Cultural Studies 5 (3): 368-388; Walser, Robert
Aníbal Cabrita, Ricardo Saló, Rui *Neves, e.o.). (2001) «III. North America» in Richard Middleton; David
Buckley; Robert Walser; Dave Laing; Peter Manuel,
O crescente impacte mediático do domínio tam- «Pop» in Stanley Sadie; John Tyrrell (eds.), The New Gro-
bém cativou as editoras livreiras, que publi- ve Dictionary of Music and Musicians. Vol. XX. Londres-
caram diversos livros dedicados à música e mú- -Nova Iorque: MacMillan Press [pp. 101-122].
sicos de pop-rock, edições quase sempre arti- RUI CIDRA (1-4) E PEDRO FÉLIX (5-7)
culadas com o sucesso comercial do objecto da
publicação como: GNR (Maio 1989), Xutos & PORFÍRIO, José (n. Lisboa, 1909; m. Lisboa, 14
Pontapés (Ferrão 1991), Pedro *Abrunhosa Ago. 1940). Cantor. Começou a cantar *fado,
(s.a., 1995), *Madredeus (Pires 1995), Delfins como amador, no Bairro da Graça, em *festas,
(Simões, Mallipan e Brázio 1998), ou a publica- no Centro Escolar Republicano Fernão Botto
ção de discografias comentadas (Público 1998), Machado, no Centro Republicano Magalhães
obras de referência (Almeida e Almeida 1998), Lima, bem como nas cervejarias Boémia e
ensaio (Barreto 1997) e produção académica so- Rosa Branca (c. 1925). A partir da sua estreia
bre a *indústria fonográfica (Neves 1999). profissional (1929) e até à sua morte actuou
Bibliografia: Almeida, Luís Pinheiro de; Almeida, João em diversos espaços de performação de fado
Pinheiro de (dir.) (1998) Enciclopédia da música ligeira (Ferro de Engomar, Retiro da Severa, Solar da
portuguesa. Lisboa: CL; Barreto, Jorge Lima (1997) Musa
lusa. Lisboa: Hugin; Cardoso, Miguel Esteves (1982) Es- Alegria, Café Ginásio, Café Luso, e.o.), em
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