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Experiências de quase morte em sobreviventes de parada cardíaca: um estudo

prospectivo na Holanda

Pim van Lommel, Ruud van Wees, Vincent Meyers, Ingrid Elfferich

Resumo

Panorama Algumas pessoas relatam uma experiência de quase morte (EQM), após uma crise que
envolve risco de morte. Nosso objetivo foi estabelecer a causa desta experiência e avaliar os fatores que
afetaram sua frequência, profundidade e conteúdo.

Métodos Em um estudo prospectivo, foram incluídos 344 pacientes cardíacos consecutivos que foram
reanimados com sucesso depois de paradas cardíacas em dez hospitais holandeses. Comparamos as
informações demográficas, médicas, farmacológicas e psicológicas entre os pacientes que relataram uma
EQM e os pacientes que não relataram (controles) após a ressuscitação. Em um estudo longitudinal de
mudanças de vida após a EQM, comparamos os grupos dois e oito anos mais tarde.

Descobertas 62 pacientes (18%) relataram uma EQM, dos quais 41 (12%) descreveram uma experiência
típica. A ocorrência da experiência não esteve associada com a duração da parada cardíaca ou do estado
inconsciente, medicação ou o medo da morte antes de uma parada cardíaca. A frequência da EQM foi
afetada pelo modo como definimos este conceito, a natureza prospectiva da pesquisa em pacientes
cardíacos mais velhos, a idade, a sobrevivência à parada cardíaca no primeiro infarto do miocárdio, mais
de uma reanimação cardiopulmonar (RCP) durante a permanência no hospital, EQMs anteriores e
problemas de memória após uma RCP prolongada. A profundidade da experiência foi afetada pelo sexo,
sobrevivência à RCP fora do hospital, e medo antes da parada cardíaca. Um número substancialmente
maior de pacientes que vivenciaram uma EQM, especialmente uma experiência profunda, morreu durante
os 30 dias após a RCP (p<0.0001). O processo de transformação após a EQM levou vários anos, e foi
diferente para os pacientes que sobreviveram à parada cardíaca sem EQM.

Interpretação Nós não sabemos por que tão poucos pacientes cardíacos relataram uma EQM após a
RCP, embora a idade seja um fator. Com uma explicação puramente fisiológica, tal como anoxia cerebral
para a experiência, a maioria dos pacientes que esteve clinicamente morta deveria relatar uma.

Introdução

Algumas pessoas que sobreviveram a uma crise envolvendo risco de morte relatam uma experiência
extraordinária. A experiência de quase morte (EQM) ocorre com frequência cada vez maior por causa das
melhores taxas de sobrevivência resultantes de técnicas modernas de ressuscitação. O conteúdo da EQM e
os efeitos sobre os pacientes em todo o mundo parecem semelhantes, em todas as culturas e épocas. A
natureza subjetiva e a ausência de um quadro de referência para esta experiência levam a fatores
individuais, culturais e religiosos determinando o vocabulário usado para descrever e interpretar a
experiência.1
As EQMs são relatadas em muitas circunstâncias: parada cardíaca no infarto do miocárdio (morte
clínica), choque na perda de sangue pós-parto ou de complicações perioperatórias, choque séptico ou
anafilático, eletrocussão, coma resultantes de lesões cerebrais traumáticas, hemorragia intracerebral ou
infarto cerebral, tentativa de suicídio, quase afogamento ou asfixia, e apneia. Tais experiências também
são relatadas por pacientes com doenças graves, mas não com um risco de morte imediato, nas mulheres
com depressão grave, ou sem causa evidente em pessoas totalmente conscientes. Experiências
semelhantes às de quase morte podem ocorrer durante a fase terminal da doença, e são chamadas de
visões no leito de morte. Experiências idênticas às EQM, as assim chamadas experiências do medo da
morte, são principalmente reportadas após situações em que a morte parecia inevitável: graves acidentes
de trânsito, acidentes de montanhismo, ou de isolamento como em um naufrágio.
Várias teorias sobre a origem da EQM foram propostas. Alguns pensam que a experiência é causada
por alterações fisiológicas no cérebro, como as células cerebrais que estão morrendo como resultado de
anoxia cerebral.2–4 Outras teorias abrangem uma reação psicológica à morte se aproximando,5 ou a uma
combinação de tal reação e anoxia.6 Tais experiências também podem estar ligadas a uma mudança no
estado de consciência (transcendência), em que a percepção, o funcionamento cognitivo, a emoção e o
sentido de identidade funcionando independentemente da ligação normal entre o corpo e a consciência
despertam.7 As pessoas que tiveram uma EQM são psicologicamente saudáveis, embora algumas

1
mostrem sinais não patológicos de dissociação.7 Essas pessoas não diferem dos controles em relação à
idade, sexo, origem étnica, religião, ou grau de crença religiosa.1
Os estudos sobre EQM1,3,8,9 foram retrospectivos e muito seletivos em relação aos pacientes. Em
estudos retrospectivos, 5–10 anos podem decorrer entre a ocorrência da experiência e sua investigação, o
que muitas vezes impede uma avaliação precisa dos fatores fisiológicos e farmacológicos. Em estudos
retrospectivos, estimou-se entre 43%8 e 48%1 de adultos e até 85% das crianças10 que tiveram uma
doença com risco de morte tiveram uma EQM. Uma investigação aleatória de mais de 2000 alemães
mostrou que 4,3% de tiveram uma EQM com uma idade média de 22 anos.11 As diferenças nas
estimativas de frequência e incerteza quanto às causas desta experiência resultam de diferentes definições
do fenômeno, e de métodos inadequados de pesquisa.12 Os processos de transformação dos pacientes após
uma EQM são muito similares1,3,13–16 e englobam uma compreensão de mudança de vida, intuição elevada
e desaparecimento do medo da morte. A assimilação e aceitação destas mudanças acreditam-se levar pelo
menos vários anos.15
Nós fizemos um estudo prospectivo para calcular a frequência da EQM em pacientes após uma
parada cardíaca (uma situação médica crítica objetiva), e estabelecer os fatores que afetaram a frequência,
conteúdo e a profundidade da experiência. Também fizemos um estudo longitudinal para avaliar o efeito
do tempo, memória e mecanismos de repressão sobre o processo de transformação após a EQM, e
reafirmar o conteúdo e permitir um estudo mais aprofundado da experiência. Nós também propomos
reavaliar as teorias sobre a causa e o conteúdo da EQM.

Métodos

Pacientes
Nós incluímos pacientes consecutivos que foram ressuscitados com sucesso em unidades
coronarianas de tratamento intensivo em dez hospitais holandeses durante um período de pesquisa
variando entre os hospitais de quatro meses a quase quatro anos (1988–1992). O período de pesquisa
variou devido à exigência de que todos os pacientes consecutivos submetidos à ressuscitação
cardiopulmonar bem sucedida (RCP) fossem incluídos. Se essa norma não fosse cumprida, encerrávamos
a pesquisa naquele hospital. Todos os pacientes estavam clinicamente mortos, o que foi estabelecido
principalmente pelos registros de eletrocardiograma. Todos os pacientes forneceram consentimento
informado por escrito. Nós obtivemos a aprovação do comitê de ética.

Procedimentos
Definimos a EQM como a memória de todas as impressões relatadas durante um estado especial de
consciência, incluindo elementos específicos, tais como uma experiência fora do corpo, sentimentos
agradáveis, e visão um túnel, uma luz, parentes falecidos, ou uma revisão da vida. Definimos a morte
clínica como um período de inconsciência causada por fornecimento insuficiente de sangue ao cérebro
por causa de circulação sanguínea inadequada, respiração, ou ambos. Se, nesta situação, a RCP não for
iniciada dentro de 5–10 min, um dano irreparável é cometido no cérebro e o paciente morrerá.
Fizemos uma breve entrevista padronizada com os pacientes suficientemente bem dentro de alguns
dias da reanimação. Nós perguntamos se os pacientes recordavam o período de inconsciência, e do que se
lembravam. Três pesquisadores codificaram as experiências de acordo com o índice ponderado da
experiência típica.1 Neste sistema de pontuação, a profundidade da EQM é medida com escores
ponderados relacionados aos elementos do conteúdo da experiência. Escores entre 1 e 5 denotam uma
EQM superficial, mas nós incluímos esses eventos porque todos os pacientes passaram por mudanças
transformacionais também. Escores de 6 ou mais denotam experiências básicas, e escores de 10 ou mais
são experiências profundas. Também registramos a data da parada cardíaca, a data da entrevista, o sexo, a
idade, a religião, a escolaridade, se o paciente já havia experimentado uma EQM, se já tinha ouvido falar
de EQM, se a RCP ocorreu dentro ou fora do hospital, se houve algum infarto do miocárdio anterior, e
quantas vezes o paciente foi reanimado durante a sua estadia no hospital. Estimamos o tempo de parada
circulatória e de inconsciência, e observamos se a respiração artificial por intubação ocorreu. Também
registramos o tipo e a dose de medicamentos antes, durante e depois da crise, e avaliamos os possíveis
problemas de memória durante a entrevista após uma reanimação longa ou difícil. Nós classificamos os
pacientes reanimados durante a estimulação eletrofisiológica separadamente.
Fizemos entrevistas padronizadas e gravadas com os participantes em média dois anos após a RCP.
Os pacientes também concluíram um inventário de mudança de vida.16 O questionário dizia respeito á
autoimagem, preocupação com os outros, materialismo e questões sociais, crenças religiosas e
espiritualidade, e atitude em relação à morte. Os participantes responderam a 34 perguntas com uma
escala de cinco pontos, indicando se e em que grau eles haviam mudado. Após oito anos, os sobreviventes
e seus parceiros foram entrevistados novamente com o inventário de mudança de vida, e também

2
completaram um questionário médico e psicológico para pacientes cardíacos (da Fundação do Coração
Holandês), a Utrecht Coping List, o sentido de inquérito coerente, e uma escala para a depressão. Estes
questionários extras foram considerados necessários para a análise qualitativa por causa do reduzido
número de entrevistados sobreviventes a oito anos de acompanhamento. Nosso grupo controle consistiu
de pacientes ressuscitados que não relataram uma EQM. Pareamos os controles com os pacientes que
tiveram uma EQM por idade, sexo e intervalo de tempo entre a RCP e as segunda e terceira entrevistas.

Análise estatística
Foram avaliados fatores causais para a EQM com o teste χ2 de Pearson para fatores categóricos e
teste t para os fatores escalados por razão. Os fatores que afetam a profundidade da EQM foram
analisados com o teste de Mann-Whitney para fatores categóricos, e com o coeficiente de Spearman de
correlação de ordem para os fatores escalados por razão. Os elos entre a EQM e os escores alterados para
as questões do inventário de mudança de vida foram avaliados com o teste de Mann-Whitney. As somas
dos escores individuais foram usadas para comparar as respostas ao inventário de mudança de vida na
segunda e terceira entrevistas. Como poucas causas ou relações existem para a EQM, as hipóteses nulas
são a ausência de fatores. Assim, todos os testes foram bicaudais com a significância mostrada por
valores p menores do que 0,05.

Resultados

Pacientes
Nós incluímos 344 pacientes submetidos a 509 reanimações de sucesso. A idade média na época da
reanimação foi de 62,2 anos (DP 12,2), e variou de 26 a 92 anos. 251 pacientes eram homens (73%) e 93
mulheres (27%). As mulheres eram significativamente mais idosas do que os homens (66 vs 61 anos, p =
0,005). A proporção de homens para mulheres foi de 57/43 para aqueles com mais de 70 anos, enquanto
que em idades mais jovens foi de 80/20. 14 (4%) pacientes tinham tido uma EQM anterior. Foram
entrevistados 248 (74%) pacientes no prazo de cinco dias após a RCP. Algumas questões demográficas da
primeira entrevista tinham muitos valores faltando para uma análise estatística confiável, então os dados
da segunda entrevista foram utilizados. Dos 74 pacientes que entrevistamos aos dois anos de
acompanhamento, 42 (57%) já tinham ouvido falar de EQM, 53 (72%) eram religiosos, 25 (34%)
abandonaram o colégio aos 12 anos, e 49 (66 %) frequentaram o colégio até os 16 anos pelo menos.
296 (86%) do total de 344 pacientes tiveram um primeiro infarto do miocárdio e 48 (14%) foram
submetidos a mais de um infarto. Quase todos os pacientes com infarto agudo do miocárdio foram
tratados com fentanil, um antagonista opióide sintético; talamonal, uma preparação combinada de fentanil
com dehidrobenzperidol que tem um efeito sedativo e antipsicótico, ou ambos. 45 (13%) pacientes
também receberam sedativos como diazepam ou oxazepam, e 38 (11%) receberam sedativos fortes, como
midazolam (para intubação) ou haloperidol para a agitação cerebral durante ou após um período de
inconsciência de longa duração.

Escore IETP* n
A Nenhuma memória 0 282 (82%)
B Alguma recordação 1–5 21 (6%)
C EQM moderadamente profunda 6–9 18 (5%)
D EQM profunda 10–14 17 (5%)
E EQM muito profunda 15–19 6 (2%)
IETP = índice da experiência típica ponderada. EQM = experiência de quase-morte *A = nenhuma EQM,
B = EQM superficial, C/D/E = EQM típica
Tabela 1: Distribuição dos 344 pacientes em cinco classes IETP*

234 (68%) pacientes foram reanimados com sucesso no hospital. 190 (81%) desses pacientes foram
reanimados dentro de 2 min da parada circulatória e a inconsciência durou menos de 5 min em 187
(80%). 30 pacientes foram reanimados durante a estimulação eletrofisiológica; todos esses pacientes
foram submetidos a menos de 1 min de parada circulatória e menos de 2 min de inconsciência. Este grupo
só recebeu 5 mg de diazepam cerca de 1 h antes da estimulação eletrofisiológica.
101 (29%) pacientes sobreviveram à RCP fora do hospital, e nove (3%) foram reanimados dentro e
fora do hospital. Destes 110 pacientes, 88 (80%) tinham mais de 2 min de parada circulatória, e 62 (56%)
ficaram inconscientes por mais de 10 min. Todas as pessoas com parada cardíaca breve e que foram
reanimadas fora do hospital foram reanimadas em uma ambulância. Apenas 12 (9%) pacientes
sobreviveram a uma parada circulatória que durou mais de 10 min. 36% (123) de todos os pacientes
ficaram inconscientes por mais de 60 min, 37 destes pacientes necessitaram de respiração artificial através

3
de intubação. Os pacientes intubados receberam altas doses de sedativos fortes e foram entrevistados mais
tarde do que outros pacientes; a maioria ainda estava em uma condição física enfraquecida no momento
da primeira entrevista e 24 apresentaram defeitos de memória. Um número muito maior dos pacientes
mais jovens do que os mais velhos sobreviveu à inconsciência de longa duração seguinte à RCP difícil (p
= 0,005).

Achados prospectivos
62 (18%) pacientes relataram alguma lembrança do período de morte clínica (tabela 1). Desses
pacientes, 21 (6% do total) tiveram uma EQM superficial e 41 (12%) tiveram uma experiência típica. 23
do grupo típico (7% do total) relataram uma EQM profunda ou muito profunda. Portanto, de 509
reanimações, 12% resultaram em uma EQM e 8% em experiências típicas. A tabela 2 mostra as
frequências de dez elementos da EQM.1 Nenhum paciente relatou uma EQM angustiante ou assustadora.
Durante a fase piloto em um dos hospitais, um enfermeiro de uma unidade de terapia coronariana
relatou uma experiência fora do corpo verídica de um paciente reanimado:
“Durante o seu turno noturno, uma ambulância trouxe um homem de 44 anos, cianótico e comatoso,
para a unidade de tratamento coronariana. Ele foi encontrado cerca de uma hora antes em um prado por
transeuntes. Após a internação, ele recebeu respiração artificial sem intubação, enquanto a massagem
cardíaca e a desfibrilação também eram aplicadas. Quando quisemos intubar o paciente, descobrimos que
ele usava dentaduras em sua boca. Eu removi a dentadura superior e a coloquei em um carrinho.
Enquanto isso, continuávamos a RCP extensiva. Após cerca de uma hora e meia o paciente tinha o ritmo
cardíaco e a pressão arterial suficientes, mas ainda era ventilado e intubado, e ainda estava em coma. Ele
foi transferido para a unidade de terapia intensiva para continuar a respiração artificial necessária.
Somente após mais de uma semana que eu me encontrei novamente com o paciente, que agora estava de
volta na ala cardíaca. Eu distribuí a medicação dele. No momento em que me viu, disse: ‘Oh, esse
enfermeiro sabe onde as minhas dentaduras estão’. Fiquei muito surpreso. Ele, então, elucidou: ‘Sim,
você estava lá quando fui levado para o hospital e você pegou a dentadura da minha boca e a colocou
nesse carro que tinha todos esses frascos nele, e havia uma gaveta deslizante embaixo e lá você colocou
os meus dentes.’ Fiquei especialmente impressionado porque lembrei que isso ocorreu enquanto o homem
estava em coma profundo e no processo de RCP. Quando eu perguntei mais, parecia que o homem tinha
visto a si mesmo deitado na cama, e visto de cima como os enfermeiros e médicos ficaram ocupados com
RCP. Ele também foi capaz de descrever corretamente e em detalhes a pequena sala em que ele foi
reanimado, e a aparência das pessoas presentes, como eu. No momento em que ele viu a situação ficou
com muito medo de que fôssemos parar a RCP e que ele fosse morrer. E é verdade que tínhamos sido
muito negativos sobre o prognóstico do paciente devido à sua condição médica muito pobre, quando ele
foi admitido. O paciente me disse que ele desesperadamente e sem sucesso tentou deixar claro para nós
que ele ainda estava vivo e que deveríamos continuar a RCP. Ele estava profundamente impressionado
pela sua experiência e disse que não tem mais medo da morte. Quatro semanas depois, ele deixou o
hospital como um homem saudável”.

Elementos da EQM1 Freqüência (n = 62)


1 Consciência de estar morto 31 (50%)
2 Emoções positivas 35 (56%)
3 Experiência fora do corpo 15 (24%)
4 Passar por um túnel 19 (31%)
5 Comunicação com uma luz 14 (23%)
6 Observação de cores 14 (23%)
7 Observação de uma paisagem celestial 18 (29%)
8 Encontro com pessoas mortas 20 (32%)
9 Revisão de vida 8 (13%)
10 Presença de uma fronteira 5 (8%)
EQM = experiência de quase morte
Tabela 2: Frequência de dez elementos da EQM

A tabela 3 mostra as relações entre fatores demográficos, médicos, farmacológicos e psicológicos e


a frequência e profundidade da EQM. Nenhum fator médico, farmacológico ou psicológico afetou a
frequência da experiência. As pessoas com menos de 60 anos tiveram EQM mais frequentemente do que
as pessoas mais idosas (p = 0,012), e as mulheres, que eram significativamente mais velhas do que os
homens, tiveram mais experiências profundas do que os homens (p = 0,011) (tabela 3). O aumento da
frequência de experiências em pacientes que sobreviveram à parada cardíaca no primeiro infarto do
miocárdio e as experiências mais profundas em pacientes que sobreviveram à RCP fora do hospital

4
poderiam ter resultado da diferença de idade. Estes dois grupos de pacientes eram mais jovens do que
outros pacientes, embora as diferenças de idade não fossem significativas (p = 0,05 e 0,07,
respectivamente).
Uma RCP longa às vezes pode induzir a perda de memória e os pacientes afetados dessa forma
relataram EQMs em um número significativamente menor do que outros (tabela 3). Nenhuma relação foi
encontrada entre a frequência da EQM e o tempo entre a RCP e a primeira entrevista (variação de 10-70
dias). A mortalidade durante ou logo após ficar no hospital em pacientes que tiveram uma EQM foi
significativamente maior do que em pacientes que não relataram uma EQM (13/62 pacientes [21%] vs
24/282 [9%], p = 0,008) , e esta diferença foi ainda mais acentuada em pacientes que relataram uma
experiência profunda (10/23 [43%] vs 24/282 [9%], p <0,0001).

Achados longitudinais

Com menos dois anos de acompanhamento, 19 dos 62 pacientes com EQM morreram e seis se
recusaram a ser entrevistados. Assim, fomos capazes de entrevistar 37 pacientes, pela segunda vez. Todos
os pacientes foram capazes de recontar sua experiência quase exatamente. Dos 17 pacientes que tiveram
notas baixas na primeira entrevista (EQM superficial), sete tiveram baixos escores inalterados e quatro
provavelmente tiveram, em retrospecto, uma EQM que consistia apenas de emoções positivas (escore 1).
Seis pacientes não tinham de fato tido uma EQM afinal, o que foi, provavelmente, por causa da nossa
ampla definição de EQM na primeira entrevista.

Frequência da EQM Profundidade


EQM Nenhuma p da EQM
EQM
(n = 62) (n = 282) (n = 62)
Fatores categóricos
Demográficos
Mulheres 13 (21%) 80 (28%) NS 0,011
Idade* < 60 anos 32 (52%) 96 (34%) 0,012 NS
Religião † (sim) 26 (70%) 27 (73%) NS NS
Educação†‡ Elementar 10 (27%) 15 (43%) NS NS
Médicos
Intubação 6 (10%) 31 (11%) NS NS
Estimulação eletrofisológica 8 (13%) 22 (8%) NS NS
Primeiro infarto do miocárdio 60 (97%) 236 (84%) 0,013 NS
RCP fora do hospital § 13 (21%) 88 (32%) NS 0,027
Falha de memória após uma RCP longa 1 (2%) 40 (14%) 0,011 NS
Morte dentro de 30 dias 13 (21%) 24 (9%) 0,008 0,017
Farmacológicos
Medicação extra 17 (27%) 70 (25%) NS NS
Psicológicos
Medo antes da RCP†§ 4 (13%) 2 (6%) NS 0,045
EQM anterior 6 (10%) 8 (3%) 0,035 NS
Pré-conhecimento da EQM† 22 (60%) 20 (54%) NS NS
Fatores escalados por razão
Demográficos
Idade (média [DP], anos)* 58,8 (13,4) 63,5 (11,8) 0,006 NS
Médicos
Duração da parada cardíaca (média [DP], 4,0 (5,2) 3,7 (3,9) NS NS
min)
Duração da inconsciência (média [DP], 66,1 118,3 (355,5) NS NS
min) (269,5)
Número de RCPs (DP) 2,1 (2,5) 1,4 (1,2) 0,029 NS
Os dados são números (%) a menos que indicados de outra forma. RCP = reanimação cardiopulmonar.
NS = não significante (p> 0,05). * 3 valores faltando. †n = 74 (dados da 2ª entrevista, 35 EQM, 39
nenhuma EQM). ‡ 2 valores faltando. § 10 valores faltando.
Tabela 3: Fatores afetando a frequência e a profundidade da experiência de quase morte (EQM)

5
Selecionamos um grupo controle, pareamos por idade, sexo e tempo desde a parada cardíaca, dos
282 pacientes que não tiveram uma EQM. Entramos em contato com 75 desses pacientes e conseguimos
37 sobreviventes que concordaram em ser entrevistados. Dois controles relataram uma EQM, consistindo
apenas em emoções positivas, e dois uma experiência típica. A primeira entrevista depois da RCP pode
ter sido cedo demais para estes quatro pacientes (1% do total) lembrarem a sua EQM, ou estarem
dispostos ou capazes de descrever a experiência. Fomos, portanto, capazes de entrevistar 35 pacientes que
declararam uma EQM, e 39 pacientes que não declararam.
Apenas seis dos 74 pacientes que foram entrevistados em dois anos disseram que estavam com
medo antes da RCP (tabela 3). Quatro dessas seis tiveram uma EQM profunda (p = 0,045, tabela 3). A
maior parte dos pacientes não teve medo antes da RCP, já que a parada aconteceu muito de repente e
inesperadamente para dar tempo para o medo.

Questionário do inventário de mudança de vida p


Atitude social
Mostrar os próprios sentimentos 0,034
Aceitação dos outros* 0,012
Mais amoroso, empático* 0,002
Compreender os outros* 0,003
Envolvimento na família* 0,008
Atitude religiosa
Compreensão do propósito da vida* 0,020
Sensação interior do sentido da vida* 0,028
Interesse na espiritualidade* 0,035
Atitude em relação à morte
Medo da morte* 0,009
Crença em vida após a morte* 0,007
Outros
Interesse no significado da vida 0,020
Entender a si mesmo 0,019
Apreciação de coisas ordinárias 0,001
EQM = experiência de quase morte, 35 pacientes tiveram EQM, 39 não tiveram EQM.
1 valor faltando para pacientes com EQM em todas as categorias. *2 valores faltando para pacientes com
EQM (i.e., n = 33).
Tabela 4: Diferenças significantes nos escores do inventário de mudança de vida 16 de pacientes com
e sem EQM aos dois anos de acompanhamento.

Diferenças significativas nas respostas em 13 dos 34 itens no inventário de mudança de vida entre
pessoas com e sem uma EQM são mostrados na tabela 4. Por exemplo, as pessoas que tiveram uma EQM
obtiveram um aumento significativo na crença na vida após a morte e diminuição do medo da morte em
comparação com as pessoas que não tiveram essa experiência. A profundidade de EQM esteve ligada a
altos escores nos itens espirituais, como interesse no sentido da própria vida, e itens sociais como
demonstrar amor e aceitar os outros. Os 13 pacientes que tiveram uma EQM superficial foram submetidos
às mesmas mudanças de transformação específicas que aqueles que tiveram uma experiência típica.
Oito anos de acompanhamento incluíram 23 pacientes com uma EQM que foi declarada aos dois
anos de acompanhamento. 11 pacientes haviam morrido e não puderam ser entrevistados. Os pacientes
ainda podiam recordar a sua EQM quase exatamente. Dos pacientes sem uma EQM aos dois anos de
acompanhamento, 20 morreram e quatro pacientes não puderam ser entrevistados (por razões tais como
demência e longa estadia no hospital), o que deixou 15 pacientes sem uma EQM para participar da
terceira entrevista.
Todos os pacientes, incluindo aqueles que não tiveram EQM, passaram por uma mudança positiva e
estavam mais confiantes, mais socialmente conscientes e mais religiosos do que antes. Além disso, as
pessoas que não tiveram uma EQM ficaram mais afetadas emocionalmente e, em algumas, o medo da
morte diminuiu mais do que aos dois anos de acompanhamento. O interesse delas na espiritualidade tinha
diminuído fortemente. A maioria dos pacientes que não passou por uma EQM não acreditava em vida
após a morte aos dois ou aos oito anos de acompanhamento (tabela 5). As pessoas que passaram por uma
EQM tiveram um processo muito mais complexo de enfrentamento: elas se tornaram mais
emocionalmente vulneráveis e empáticas, e muitas vezes houve evidência de um aumento de sentimentos
intuitivos. A maior parte deste grupo não demonstrou medo da morte e acreditava piamente em vida após
a morte. Mudanças positivas foram mais evidentes em oito do que em dois anos de acompanhamento.

6
Questionário do inventário de Dois anos de Oito anos de
mudança de vida acompanhamento acompanhamento
EQM Nenhuma EQM EQM Nenhuma EQM
(n = 23) (n = 15) (n = 23) (n = 15)
Atitude social
Mostrar os próprios sentimentos 42 16 78 58
Aceitação dos outros 42 16 78 41
Mais amoroso, empático 52 25 68 50
Compreender os outros 36 8 73 75
Envolvimento na família 47 33 78 58
Atitude religiosa
Compreensão do propósito da vida 52 33 57 66
Sensação interior do sentido da vida 52 25 57 25
Interesse na espiritualidade 15 –8 42 –41
Atitude em relação à morte
Medo da morte –47 –16 –63 –41
Crença em vida após a morte 36 16 42 16
Outros
Interesse no significado da vida 52 33 89 66
Entender a si mesmo 58 8 63 58
Apreciação de coisas ordinárias 78 41 84 50
EQM = experiência de quase morte. As somas de todos os escores individuais por item estão reportadas
nos mesmos 38 pacientes que participaram de ambas as entrevistas de acompanhamento. Os participantes
responderam em uma escala de cinco pontos indicando se e em que nível eles mudaram: grande aumento
(+2), aumento moderado (+1), nenhuma mudança (0), decréscimo moderado (–1), e grande decréscimo (–
2).
Tabela 5: Soma total dos escores do inventário de mudança de vida 16 aos dois e aos oito anos de
acompanhamento.

Discussão

Nossos resultados mostram que fatores médicos não podem explicar a ocorrência de EQM; embora
todos os pacientes tenham estado clinicamente mortos, a maioria não passou por uma EQM. Além disso,
a gravidade da crise não esteve relacionada com a ocorrência ou a profundidade da experiência. Se fatores
puramente fisiológicos resultantes da anoxia cerebral causassem a EQM, a maioria de nossos pacientes
deveria ter tido esta experiência. A medicação dos pacientes também não esteve relacionada com a
frequência da EQM. Fatores psicológicos são improváveis de serem importantes, já que o medo não foi
associado à EQM.
A frequência de 18% da EQM que observamos é menor do que a relatada em estudos
retrospectivos,1,8 o que poderia ser porque o nosso desenho de estudo prospectivo impediu a auto-seleção
dos pacientes. Nossa frequência de EQM é baixa, apesar de nossa definição ampla da experiência. Apenas
12% dos pacientes tiveram uma EQM típica, e este número pode ser uma superestimativa. Quando
analisamos os nossos resultados, observamos que um hospital que participou do estudo por quase quatro
anos, e do qual 137 pacientes foram incluídos, informou uma porcentagem significativamente (p = 0,01)
mais baixa de EQM (8%), e significativamente (p = 0,05) menos experiências profundas. Portanto,
possivelmente, alguma seleção dos pacientes ocorreu em outros hospitais, que às vezes só participaram
por alguns meses. Em um estudo prospectivo17 com o mesmo projeto que o nosso, 6% dos 63
sobreviventes de parada cardíaca relataram uma experiência típica, e mais 5% tinham memórias com
características de uma EQM (escore baixo em nosso estudo); assim, com a nossa definição ampla da
experiência, 11% desses pacientes relataram uma EQM. Portanto, é provável que a verdadeira frequência
da experiência seja cerca de 10%, ou 5%, se com base no número de reanimações em vez do número de
pacientes reanimados. Pacientes que sobrevivem a várias RCPs no hospital têm uma chance
significativamente maior de passar por uma EQM (tabela 3).
Nós observamos que a frequência da EQM foi maior em pessoas com menos de 60 anos do que em
pessoas mais velhas. Em outros estudos, a idade média numa EQM é menor do que a nossa estimativa
(62,2 anos) e a frequência da experiência é maior. Morse10 registrou 85% de EQM em crianças, Ring1
observou 48% de EQM em pessoas com uma idade média de 37 anos, e Sabom8 viu uma incidência de
43% de EQM em pessoas com uma idade média de 49 anos; portanto, a idade e a frequência da
experiência parecem estar associadas. Outros estudos retrospectivos notaram uma idade média mais

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jovem para a ocorrência da EQM: 32 anos,9 29 anos,6 e 22 anos.11 A parada cardíaca foi a causa da
experiência na maioria dos pacientes do estudo de Sabom8, onde este foi o caso em apenas uma baixa
porcentagem de pacientes em outros trabalhos. Vimos que as pessoas que sobrevivem à RCP fora do
hospital (que passaram por uma EQM mais profunda do que os outros pacientes) tendiam a ser mais
jovens, assim como aquelas que sobreviveram a uma parada cardíaca em um primeiro infarto do
miocárdio (EQM mais frequente), o que indica que a idade foi provavelmente decisiva na relação
significativa observada com esses fatores.
Em um estudo de mortalidade em pacientes após a reanimação fora do hospital,18 as chances de
sobrevivência aumentaram em pessoas com menos de 60 anos e naquelas submetidas ao primeiro infarto
do miocárdio, o que corresponde com os nossos achados. As pessoas mais velhas têm uma menor chance
de recuperação cerebral após a reanimação difícil e complicada seguinte a uma parada cardíaca. Os
pacientes mais jovens têm uma chance melhor de sobreviver a uma parada cardíaca e, assim, de descrever
a sua experiência. Em um estudo com 11 pacientes após a RCP, a pessoa que teve uma EQM era
significativamente mais jovem do que os outros pacientes que não tiveram tal experiência.19 Greyson7
também observou uma maior frequência de EQM e de experiências significativamente mais profundas em
idades mais jovens, bem como Ring.1
Boa memória de curta duração parece ser essencial para lembrar uma EQM. Pacientes com falhas de
memória após a reanimação prolongada relataram menos experiências do que outros pacientes em nosso
estudo. Esquecer ou reprimir tais experiências nos primeiros dias após a RCP era improvável de ter
ocorrido no restante dos pacientes porque nenhuma relação foi encontrada entre a frequência da EQM e a
data da primeira entrevista. No entanto, com 2 anos de acompanhamento, dois pacientes se lembravam de
uma EQM típica e dois de uma EQM que consistia apenas de emoções positivas que não haviam relatado
logo após a RCP, presumivelmente por causa de falhas de memória naquele momento. É notável que as
pessoas pudessem recordar suas EQMs quase exatamente após dois e oito anos.
Ao contrário de nossos resultados, uma correlação inversa entre o pré-conhecimento e a frequência
da EQM foi mostrada.1,8 Nossa descoberta de que as mulheres têm experiências mais profundas do que os
homens foi confirmado em outros dois estudos,1,7 embora em um,7 apenas nos casos em que as mulheres
tiveram uma EQM resultante de doença.
Os elementos da EQM que observamos (tabela 2) correspondem com os de outros estudos com base
na classificação de Ring1. Greyson20 construiu a escala EQM diferentemente para Ring,1 mas ambos os
sistemas de pontuação estão fortemente correlacionados (r = 0,90). No entanto, comparações fiáveis são
quase impossíveis entre estudos retrospectivos, que incluíram a seleção de pacientes, registros médicos
não confiáveis, e uso de critérios diferentes para a EQM12 e o nosso estudo prospectivo.
Nossa pesquisa de acompanhamento longitudinal em processos de transformação após a EQM
confirma a transformação descrita por muitas outras.1–3,8,10,13–16,21 Várias destas investigações incluíram
um grupo controle para permitir o estudo das diferenças na transformação,14, mas em nossa pesquisa os
pacientes foram entrevistados três vezes durante 8 anos, com um grupo controle pareado. Nossos
resultados mostram que este processo de mudança depois da EQM tende a levar vários anos para se
consolidar. Presumivelmente, além de possíveis processos psicológicos internos, uma razão para isso tem
a ver com a resposta negativa da sociedade para a EQM, o que leva os indivíduos a negar ou reprimir a
sua experiência, por medo de rejeição ou ridicularização. Assim, o condicionamento social faz com que a
EQM seja traumática, embora em si não seja uma experiência psicotraumática. Como resultado, os efeitos
da experiência podem ser adiados por anos, e apenas gradualmente e com dificuldade uma EQM é aceita
e integrada. Além disso, os efeitos de longa duração da transformação de uma experiência que dura
apenas alguns minutos de parada cardíaca é um achado surpreendente e inesperado.
Uma limitação do nosso estudo é que o nosso grupo de estudo se constituía apenas de pacientes
cardíacos holandeses, que eram geralmente mais velhos do que os grupos em outros estudos. Portanto, a
nossa frequência de EQM pode não ser representativa de todos os casos — por exemplo, uma frequência
maior poderia ser esperada com amostras mais jovens, ou as taxas podem variar em outras populações.
Além disso, as taxas para EQM podem diferir em pessoas que sobrevivem a episódios de quase morte que
aparecem por causas diferentes, como quase afogamento, acidentes de carro quase fatais com trauma
cerebral, e eletrocução. No entanto, estudos prospectivos rigorosos seriam quase impossíveis em muitos
casos.
Várias teorias foram propostas para explicar a EQM. Nós não mostramos que os fatores
psicológicos, neurofisiológicos, ou fisiológicos causaram estas experiências após a parada cardíaca.
Sabom22 menciona um jovem americano que teve complicações durante uma cirurgia no cérebro para
tratar de um aneurisma. O EEG de seu córtex e tronco cerebral tornou-se totalmente plano. Após a
operação, que acabou por ser bem sucedida, este paciente mostrou ter tido uma EQM muito profunda,
incluindo uma experiência fora do corpo, com as observações posteriormente verificadas durante o
período do EEG plano.

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E ainda, processos neurofisiológicos devem desempenhar algum papel na EQM. Experiências
semelhantes podem ser induzidas através da estimulação elétrica do lobo temporal (e, portanto, do
hipocampo), durante a neurocirurgia para a epilepsia,23 com níveis altos de dióxido de carbono
(hipercapnia),24 e na diminuição da perfusão cerebral, resultando em hipoxia cerebral local como na
aceleração rápida durante o treino de pilotos de caça, 25 ou como na hiperventilação seguida por manobra
de Valsalva.4 Experiências induzidas por ketamina resultantes do bloqueio do receptor NMDA,26 e o
papel da endorfina, serotonina e encefalina também foram mencionados, 27 bem como experiências
semelhantes à de quase morte após o uso de LSD,28 pilocarpina e mescalina.21 Estas experiências
induzidas podem consistir de inconsciência, experiências fora do corpo e percepção de luz ou flashes de
lembranças do passado. Essas lembranças, no entanto, consistem de memórias fragmentadas e aleatórias
ao contrário da revisão de vida panorâmica que pode ocorrer na EQM. Além disso, processos de
transformação com mudanças de vida introspectivas e o desaparecimento do medo da morte são
raramente relatados após as experiências induzidas.
Assim, as experiências induzidas não são idênticas às EQMs, e assim, além da idade, um mecanismo
desconhecido causa a EQM pela estimulação dos processos neurofisiológicos e neuro-humorais em um
nível subcelular no cérebro em apenas alguns casos durante uma situação crítica como a morte clínica.
Esses processos também podem determinar se a experiência chega a consciência e pode ser relembrada.
Na falta de evidências para quaisquer outras teorias relacionadas à EQM, o conceito até aqui
assumido, mas nunca provado, de que a consciência e memórias estão localizadas no cérebro, deveria ser
discutido. Como poderia uma clara consciência externa a um corpo ser sentida no momento que o cérebro
não mais funciona durante um período de morte clínica com o EEG plano? 22 Além disso, em parada
cardíaca o EEG normalmente se torna plano na maioria dos casos por volta de 10 s do início da
síncope.29,30 Além disso, pessoas cegas descreveram percepções verídicas durante experiências fora do
corpo no momento desta experiência.31 A EQM empurra aos limites as ideias médicas sobre o alcance da
consciência humana e a relação mente-cérebro.
Outra teoria sustenta que a EQM pode ser um estado de mudança de consciência (transcendência),
em que a identidade, cognição e emoção funcionam independentemente do corpo inconsciente, mas
mantêm a possibilidade de percepção não sensorial.7,8,22,28,31
Devem-se concentrar esforços de pesquisa para explicar cientificamente a ocorrência e o conteúdo
das EQMs. A pesquisa deve focar em certos elementos específicos da EQM, tal como experiências fora
do corpo e outros aspectos verificáveis. Finalmente, a teoria e o cenário de transcendência devem ser
incluídos como uma parte de uma estrutura explanatória para estas experiências.

Contribuintes
Pim van Lommel coordenou as primeiras entrevistas e foi responsável por coletar todos os dados
demográficos, médicos e farmacológicos.
Pim van Lommel, Ruud van Wees e Vincent Meyers avaliaram a primeira entrevista. Ruud van Wees
e Vincent Meyers coordenaram a segunda entrevista. Ruud van Wees fez a análise estatística das primeira
e segunda entrevistas. Ingrid Elfferich fez a terceira entrevista e analisou os resultados.

Agradecimentos
Agradecemos à enfermagem e ao pessoal médico dos hospitais envolvidos na pesquisa; aos
voluntários da Associação Internacional de Estudos de Quase Morte; IANDS-Holanda; à Fundação
Merkawah por organizar as entrevistas, e digitar a segunda e a terceira entrevista; a Martin Meyers por
ajudar com a tradução, e Kenneth Ring e Bruce Greyson pela revisão do artigo.

Referências
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Referência original: Van Lommel, P., van Wees, R., Meyers, V. and Elfferich, I. (2001) Near-death
experience in survivors of cardiac arrest: a prospective study in the Netherlands. Lancet 358: 2039-2045.

Artigo traduzido por Vitor Moura Visoni em 01/06/2015

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