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ERIK TANNER
ANATXU ZABALBEASCOA
São muitas as questões que definem nossa sociedade que ele enxergou antes
de todos. O sociólogo Richard Sennett (Chicago, 1943) há vários ensaios
alerta contra os perigos do trabalho flexível que deriva da autoexigência e da
falta de raízes. Afastado das estatísticas, utiliza a sociologia como literatura.
Em uma dúzia de livros - Construir E Habitar: Ética Para Uma Cidade Aberta é
o mais recente – Sennett descobre que tipo de sociedade somos e como
chegamos até aqui.
Não toca mais em público? Tenho um grupo em que você só pode entrar se
fracassou como músico. Tocamos para nós: um diretor de jornal, o reitor de
uma universidade... Se eu não tivesse a lesão na mão, hoje seria um diretor de
orquestra, como Toscanini.
O que fez com que sua mãe o matriculasse na famosa Juilliard School de
Nova York? Ela não me matriculou. Odiava a escola! A ideia de que me
transformasse em músico a aterrorizava. Queria que eu fosse médico ou
advogado, mas com 16 anos vim para Nova York morar sozinho. Nas famílias
europeias judaicas tocar um instrumento é parte de sua educação. Mas a
possibilidade de que você fique obcecado é um desvio nessa educação. E eu
estava obcecado. Qualquer um que se dedique a tocar está.
ERIK TANNER
O que aconteceu para que o que nós entendíamos como direitos hoje
sejam vistos como privilégios? O capitalismo moderno funciona
colonizando a imaginação do que nós consideramos possível. Marx já havia
percebido que o capitalismo tinha mais a ver com a apropriação do
entendimento do que com a apropriação do trabalho. O Facebook é a
penúltima apropriação da imaginação: o que víamos como útil agora se revela
como uma forma de entrar na consciência das pessoas antes de que
possamos agir. As instituições que se apresentavam como libertadoras se
transformam em controladoras. Em nome da liberdade, o Google e o
Facebook nos levaram pelo caminho em direção ao controle absoluto.
O senhor não previu Trump. E nem o Brexit. Ficaram além dos meus
poderes. Mas tive uma intuição. O problema de Obama é que falava com uma
eloquência maravilhosa, mas a desigualdade continuava aumentando. Não
conseguiu controlá-la. Deu apoio à saúde pública, mas o resto ficou nas
palavras. E isso é muito perigoso. Ele teria sido um grande juiz do Supremo
Tribunal, mas não agiu como um grande presidente.
Ele se levanta para contar a sua esposa, a socióloga Saskia Sassen, que
trabalha no cômodo ao lado. “Você já sabe o que nossos amigos espanhóis
irão perguntar: Espanhola ou catalã?’. Precisamos ter cuidado”, responde ela.
Conheceu seu pai? Não. E isso faz parte de meu drama pessoal. Conheci seu
irmão mais velho, meu tio Bill, que também lutou na Espanha com os
republicanos.
Sabe por que seu pai foi embora? Tenho certeza de que foi por outra
mulher. Minha mãe não me deu nenhuma explicação. Mas, já que pergunta, o
momento de maior tensão com minha mãe não foi por isso. Foi por minha
decisão de me transformar em violoncelista profissional. Tinha medo de
qualquer coisa que se afastasse dessa segurança. E via a música como uma
vida boêmia.
Mas o senhor escolheu essa vida. Tive um período de vida boêmia em Nova
York. Depois voltei à ordem. Fui convocado para ir à guerra do Vietnã e decidi
evitá-la retornando a Chicago para voltar à universidade. Depois, em Harvard,
me operaram porque o túnel do carpo na mão de muitos músicos e alguns
atletas se tensiona de tal forma que os músculos se enrolam uns com os
outros. Nos últimos 40 anos, precisei encontrar maneiras de compensar a
fraqueza de alguns dedos quando toco violoncelo. Isso me afastou da música
profissional.
O que ela significou para o senhor? Foi uma pedra de toque intelectual em
minha trajetória. Mas mostrei a ela um rascunho do meu livro O declínio do
homem público: As tiranias da intimidade e o odiou. Foi esse tipo de relação...
Ela tinha uma conexão melhor com pessoas que eram filosoficamente mais
sofisticadas do que eu. Por isso me dá medo que essa relação seja
supervalorizada. Eu gostaria de ter sido seu discípulo, mas não acho que seja.
Acho que é difícil para as pessoas entenderem que alguém pode te influenciar
profundamente sem exercer um papel possessivo sobre você. Senti uma
grande tristeza por ela quando publicou Eichmann em Jerusalém e se
transformou em uma pária diante da maioria da comunidade judaica que
fugiu dos nazistas.
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