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Hcmosscxcohsmc em Sõo Poulo

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ZORBAUGH, H. W. The Gold Coas: and tlie Slum: A Scciolcgical Study A republicação deste ensaio se justifica não só pela conti-
of Chicago's Near Norrh Side. Chicago: Universicy Press, 1929. nuidade temática e conceituai que propõe em relação à abor-
dagem das formas de sociabilidade homossexual que estavam
no centro das preocupações de Barbosa da Silva, em sua pio-
neira análise do território homossexual na São Pau lodos anos
50, mas também pelas próprias qualidades do texto e de seu
autor. Apresentado pela primeira vez no simpósio "Ierritórios:
diferences enfoques no Brasil hoje", no congresso de 1988 da
Associação Drasileira de Amropologia, e disponibilizado em

Comun:cação apresentada 110 Simpósio ..Territórios: diíercntt:S enfoques


no Brasil hoje", organizado pela proíess.ora Ana 1',.faria Nicmeyer. Con-
gresso da AOA, Unicámp, 1988,

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Hcmossexvo'ismc em Sôo Pculo Tef(it6rios morg·nois

1991 na série "Primeira versão", produzida pelo Instiruto de faz que eles se qualifiquem e sejam qualificados de maneiras
Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp, de diffcil diferentes, conforme o lugar em que estejam, valendo-se de
acesso, esse trabalho é uma amostra do pensamento sofisti- uma proliferação de categorias identitárias que coJidern e
cada e amecipador de Néstor Perlongher (J 949- 1992), pocra tensionam entre si. A ênfase nas "idcnridades" SC!t·ia, assim,
e antropólogo argentino, ex-professor do Departamento ele substituída pela ênfase em "territorialidades'', "lugares rela-
Antropologia da Unicarnp, falecido prematuramente. cionais" e "lugares categoriais", de modo a capt~r como os
Nesse tcxro, Pcrlongher (1987) procurava dar um alcan- sujeitos se definem muravclmenrc a partir de "posições" e
ce mais amplo aos achados de sua pesquisa específica sobre "trajetórias" (ou "devires") variáveis dentro de uma rede, bem
as relações entre michês e seus cliences na cidade de São ' como ela participação em diferentes redes.
Paulo, para formular um instrumental conceituai adequado As preocupações de Pcrlongher podem ser assimiiadas com
à compreensão do que chama de "territorialidades margi- o que talvez se chamasse, hoje, "virada pós-estrucuralisra" nos
nais" nas grandes cidades. Em sua pesquisa sobre a prosti- estudos de gênero e sexualidade, em que modelos zlassifl-
tuição masculina, Perlongher qucstlonava os emergentes catórios passam a ser pensados menos como de sistemas está-
estudos de antropologia urbana dos anos 70 e 80, que lida- veis, que amarram categorias na produção de sentidos fixos e
vam com questões de sexualidade e gênero, por sua preo- estreitamenre imerconecrados, e mais como formaq11 stáveis
cupação central com o tema da atribuição ele identidades de categorias flutuantes, que circulam e atravessan1 por dife-
soclossexuais, propondo como alternativa uma concepção re- remes relações, cujos sentidos são abertos à nego(façl'ío cori-
novada de "territorialidade". A objeção principal dizia res- diana (cf. Corrêa. 2002; Strarhern, 1988). No contexto de sua
peito a uma espécie de "vício de origem" essencialista do argumentação, no entanto, Perlongher propõe uma
conceito de identidade: embora aparentemente pensada em insuspeitada ligação entre essas preocupações e cencs ponros
termos contrastivos e situacionais, a identidade tendia a ser de vista da célebre Escola de Chicago, por meio deu111a parti-
retratada como uma imagem coerente que os sujeitos neces- cular apropriação do conceito de "região moral", que, na
sariamcntc deviam construir de si mesmos, como se fossem acepção de Robert Park ( 1952), designava um territéti o resi-
entidades unificadas, fechadas e excludentes. Ao focar a aten- dual para o qual convergiam interesses, gostos e teini,erame11·
ção na coerência dos construtos identitários, o pesquisador tos ligados à boêmia, ao desejo não-convencional, ao•v Icio" e
corria o risco de reificá-los e deixar de perceber sua instabi- a toda sorte de "marginalidades". Nesse aspecto, o tr,iibalho
lidade, seu movimento, suas contradições e incoerências, de Perlonghcr (1993) assume explicitamente cemcor.itinui·
assim como os descompassas entre os discursos e as prári- dadc em relação às preocupações conceituais de Barbosa da
cas concretas. Silva. Perlongher vale-se da concepção de "região niota[" como
Em contraposição a isso, Perlongher defendia a relevância área de convergência e circulação, mais do que de füa ão resi-
1
de uma abordagem "territorial", gue permitiria representar dencial, para repensá-la como um "código-território", uma
mais adequadamente as categorias de autodeflnição sexual territorialidade expressa num código peculiar que dis rribui
como "pontos" dentro de redes circulatórias, numa relação atribuições categoriais a corpos e desejos em movirner.10• ,.Oessc
de contigüidade e mesmo de mistura. Isso poderia ser verifi- modo, também procede à crítica e â transposição lllC(ânj cada
cado tanto nos espaços e trajetos percorridos pelos sujeitos noção de "gueto gay" - com seu compromisso con1 uma
quanto pela posição dos sujeitos cm diversas relações, o gue pretensa "universalização" da política de idemidade~,y-, para

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Hcm cssex vciis rr' c em Sôc Pou~o Territórios mofginois

a caracterização socíoantropológica das territorialidades ho- Ambas cosas, mostrar el lugar y reparar em d lugar. sonos
mossexuais em São Paulo. pasos prepararorios de una localización. Ya es mucha osadia que
Num sentido mais amplo, a cartografia das territoriali- nos coformemos, en lo que sícgue, com los pasos prcpararorios.
dades marginais proposta por Pcrlongher oferece-se co1110 ins- La Jccalización termina, como corresponde a todo método i me·
trumental possível para a compreensão de modos minoritários, lecrual, en la interrogación que pregunta por la ubicación dei lugar.
dissidentes, de produção de subjetividades - a "territorial idade
perversa do crime, da vagabundagem, da concupiscência, da A vastidão dos campos, nos quais essa interrogação pode
venalidade", na qual não vicejam apenas os padrões e regula- ser desenvolvida, justifica a divisão dos enfoques territoriais.
ridades, mas sobretudo os deslocamentos, as fugas, os labi- -
Com isso tudo, desejo introduzir a divisão seguinte, que marca
rlnros, as derivas - e sua complexa imbricação com outras
minha posição: o campo específico da antropologia urbana.
redes 'uormais" de relações.
Falar em antropologia urbana provoca ainda, apesar do des-
gaste do clichê, cerras inquiecudes no campo acadêmico. Reto-
Referências bibliográficas mo a velha (malgrado "esquecida", calvez vigente) polêmica da
CORRÊA, M. Prefácio. ln: ALMEIDA, H. B. e, ai. (Org.). G/.,,ro ,111 antropologia na cidade versus a antropologia da cidade, na-da,
mt1tizes. Bragança Pa1.1lista: Editora da Universidade São Francis- toda a questão do na e do da. Jsso remete à sociologia urbana da
co, 2002.
PERLONGHER, N. O u~,gódo do michê: prostituição viril em São Pau- Escola de Chicago, visão impregnada de positivismo e até de
lo. São Paulo: Brasiliense, 1987. fisiologismo, se se levar em consideração que concebia - her-
---· Antropologia das sociedades complexas: identidade e rcrrho- deira da metáfora fisiológica - o corpo social (não é suspeito,
ríalidade, ou como estava vestida Margaret 1\.foad. Rc•;isrn Brnsilti-
aliás, esse ver a sociedade como u111 corpo?) à maneira de um
m de Cih;das S.:>ch1is, v.22, 1993.
STRATHERN, M. T/,e Ge11der of rl,e Gifr. Berkeley: Uníversity of organismo humano, vivo, na similaridade da forçada analogia.
California Press, 1988. Organismo afinal autônomo, o da cidade, a própria mutação
das condições ambientais provocaria mudanças acentuadas nos
comportamentos dos citadinos, que fundamentariam a consi-
deração (físico-social) da urbe como variante autônoma. Seria
Considero auspicioso que esta discussão abranja diversas
essa variação nas condições ambientais a determinante da mu-
noções e visões do território, o que revela, de passagem, a ampli-
dança (por vezes descontrolada, sendo o controle dessa desor-
tude desmesurada da perspectiva territorial -extensão superficial
dem o objetivo estratégico dos pensadores dessa Escola) no com-
que alude a cerra distribuição dos corpos, das matérias sociais,
portamento humano. Quase de imediato impõe-se a associação
no espaço. Daí que a preocupação pelo território, por múltiplos
com a imagem de uma ninhada de raros encerrados numa caixi-
que sejam seus enfoques. desvele, no seu próprio lançamento ou
nha, cuja promiscuidade desencadeia o estouro de violentos con-
colocação, a instauração de u111a ótica que parte de uma pergunta
flitos entre os bichos empilhados. Ressalta nessa imagem a ana-
pelo lugar. A pergunta pelo lugar. Dizia Heidegger (1983):
logia com o empilhamento hecerócliro e esfregante das nossas
Localizar significa mostrar e) lugar. cidades, palpável na experiência da viagem nos ônibus urbanos
Quierc decir, adcmãs. reparar en el lugar. - roça-roça, esfrega-esfrega.

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Homossexvalisn,o em Soo Povtc Territórios morginois

Para além das eventuais ressonâncias acuais dessa concep- sujeitava-se ou prendia-se às retículas burocrát icas das institui·
ção realmente psicossocial do fenômeno urbano (não em vão ções torais. Esse abrupto corte ou relaxamento dos laços primá-
Park (1952) sustenta em Freud suas lnrerpreraçõcs, pertinen- rios - que a importância concedida ao matrimônio e à família
tes para o nosso plano, sobre a dcsterritorialização desejante nuclear' revela pelo avesso - era visualizado pelos ideólogos
na "região moral"), o certo é que a base de sustentação dessas sociais da Chicago da década de 1920, cidade em plena guerra
teorias é a territorialidade, o terrtrório. Este, se examinarmos social, pois reconheciam na fragmentação do sujeito urbano,
com atenção, nâo é apenas - embora basicamente - geográfico, mostrada por Wirth (1973), os efeitos de sua perda. O sujeito
pois, à medida que opera como Inior determinanté no compor- urbano era fragmentado - digamos, sirueucamcnre - no calei-
ramento dos habitantes. impõe, ou tende a propor, conforme doscópio heterogêneo do desdobrado leque da urbe, pela sua
as condições de sociabilidade territorial, perfis dcflnidamentc adesão (ou aderência) às diversas ocupações e papéis que mar-
psicossociais. cavam seu trânsito tresloucado pela metrópole vertiginosa. Isso
A propósito, lembre-se de que é, por sinal, o próprio Park, afetava o próprio ego- o ego do sujeito como centralização uni-
quem lança, cm 1928, a noção de "personalidade marginal". Esta, tária, auroconscienre na dcrerminaçâo torai de seus atos -, já
curiosamente, e cm virtude dos meandros e reversões que so- que o fragmentava, repetimos, na adoção aos vários papéis
frem amiúde, como indica Foucaulr (1985), os dispositivos de siruacionais, institucionais e domésticos. Essa idéla dc fragmen-
saber, vai servir ele antecedente, também com rodeios e revira· tação talvez possa ser relacionada com o processo de dester-
voltas, às modernas noções de "identidade desviante", ou me- rirorialização das massas (sobretudo e primeiramente campo-
lhor, "divergente", apesar da discrepância central que as separa, nesas) - expulsão forçada cios campos, rcrratnda acerbamemc
Com efeito, seguindo a formalização precedida por Wellman por Marx. Assim desrernroriallzndas, as massas diluíam de fato
& Leighton (1981) das tensões e imisçôes entre as diversas con- seus laços primários. familiares, domésticos, e perdiam-se, por
cepções da cidade que, alternativamente, se digladiam nas ciências assim dizer, nos labirintos selvagens da selva de cimento armado.
sociais (resumidamente, as que põem o acento na cspncialidade- A pujança dos sustentadores da primazia da comunidade -
t.erritorialidadc e as que situam a ênfase na comunidade-identi- cuja conseqüência é a afirmação de uma anrropologin na cida-
dade), vemos que o que se opõe à antropologia da cidade não são de 11n cidade, pressupondo que o essencial da abordagem an-
apenas criticas e seus compromissos ideológicos e ainda tropológica permanece, a princípio, idêntico a si mesmo-apóia-
correcionais, mas uma espécie de salto epistemológico que pas· se, em boa medida, nessa espécie de "calcanhar de Aquiles" da
sa, em primeiro lugar, por um deslocamento da ótica dos territó- sociologia da cidade, Investigações empíricas - como a de
rios, monumentos e espaços físicos (de uma cartografia em seu- Eunice Durharn (1973) - mostram que, na América Latina, as
rido estrito), às comunidades que nelas moram. populações deslocadas no processo de desterritorializaçâo ca-
A Escola de Chicago centra suas miras no processo de descer-
ruorialização das massas, que, ao afluir à cidade receptora. per-
2 cabe Jembrar. de passagem, os embaces contra o aJib:.uo dos mineiros.
diam, por um inelutável hiato, seus laços primários, e os secun-
descritos por Murard & Z}1berm~1n (1976}, e codo o processo de fixação
dários deviam, por circunstância capital, acoplar-se às instituições das massas desreertrortalieadas. tomando. muitas veses, n mulher como
impessoais. Assim, o sujeito, frouxas as redes de sociabilidade, algo estratégico (ver também Doneclot. 1980).

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Homossex uclismo em Sõo Paulo
Territórios mo,ginois
-
pualista se reterrirorializam, restaurando, cm boa parte, seus assumida na afirmação mesma do na) dos trabalhos sobre co-
vínculos e hábitos. Essa referência à reterritorialização é uma munidade efetuados na área historicamente forte - que impreg-
chave para entender as colocações da tendência comunitária. na e marca taxativamente seus princípios - da antropologia in-
Voltando a Durham (1973), ela mostra que, longe de se perde- dígena ou colonial.
rem, os laços familiares das familias transplantadas tendem a Isto de "colonial" não é uma provocação ultrista, à toa, pos-
LO que o refluxo dos trabalhos, por exemplo, sobre populações
refazer-se no novo meio urbano, incluindo n reelaboração de
rituais de sociabilidade que provêm de seu círculo de origem. africanas, fruto da independência e da conseqüente hostilidade
O que poderia se objetar a essa formulação - talvez in1ebatívcl para com os pesquisadores brancos europeus, marca - como a
do pomo de vista quantitativo- é que ela deixa de lado aque- trajetória existencial e intelectual ele Althabe (1978) mostra -o
les que se "perdem" no caminho para a cidade, ou seja, os inú- retorno dos antropólogos à metrópole e a reatualização da dis-
meros casos de jovens "retirantes" que se desrerrirorlalizam cussão sobre esse rema básico da antropologia urbana, que põe
na grande cidade e integram as tropas marginais, o lúmpen. cm questão o fundamento mesmo de sua instauração.
Não que essa ressalva deva soar demasiadamente psicossodal - Abrem-se aqui dois caminhos. O primeiro passa por lem-
brar as diferenças que Alrhabe - com Picdellc Delaunoy e ou-
reconhecem-se, seguindo, por exemplo, Quijnno ( 1978), os
tros - estabelece, no projeto de definição de uma etnologia ur-
determinantes estruturais que alimentam essa formação -,
bana, a respeito da etnologia "prirniriva" ou "exótica", que
embora sua leitura, de inspiração marxista, não seja suficiente
transcrevo quase textualmente:
para interpretar as eclosões existenciais e os avarares nôma-
des da fuga delinqüencial ou simplesmente marginal. Os requisitos da pesquisa cm sociedades "rrlbais" ou "exóti-
Entramos, então, no território marginal. 110 que vou chamar cas" podem se resumir em:
de territorialidades marginais. Somente para fechar a discussão 1 Unidade de lugar: a totalidade do grupo remete a um local
anterior, digamos que cada uma destas posturas - na e da - ten- único e a certa duração na existência.
derá a escolher âmbitos privilegiados de observação, acarreran- 2 Homogeneidade do grupo.
do deslocamentos nos tópicos de interesse dos saberes sociais. 3 Unidade de "representação".
A predominância, a partir, aproximadamente, ela década de J 960,
No entanto, a pesquisa em sociedades urbanas "complexas"
das formulações comunitários-identitárias (refiro-me só ao Bra- teria que dar conta de outros elementos:
sil), expressa-se, de maneira impressionante, na escassez de tra-
1 Destcrrirortattzaçêo das atividades econômicas, sociais,
balhos sobre o centro urbano, na "região moral" de que falava
culturais. Ruptura d:1 corrcspondêncla entre local de origem, de
Park (1952), e na migração do interesse ele sociólogos e antro- produção e de vida social.
pólogos (com exceções. como o trabalho sobre mendigos de 2 Heterogeneidade: diversidade ele estilos de vicia, que respon-
Stocffels (1978)) para os bairros de periferia, favelas, grupos de a uma disfunção entre as estruturas constitutivas do todo so-
familiares ou, no melhor dos casos, grupos de limites mais ou cial e as modalidades de cada grupo; parcelamento do corpo social.
menos claramente definidos. É sugestivo como, com essa prefe- 3 Multiplícidade e simultaneidade de relações no mesmo cam-
rência generalizada pelas noções de grupo e de comunidade, po, que se exprimem no níve! das crenças, códigos, representa-
procedia-se a um transplante, a uma transferência (de outro lado, ções erc.

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Homossewclísmc em Sõo Pvulo Térrilórios mo:ginois

Isso abre novas exigências: do, para erigir sua noção, a enfrentar interpretações comunitá-
1 Exigência de local: não poderá haver referência a um lugar rias, étnicas (embora alguma coisa de "étnico" ressoe, afinal, na
único da prática social. mas a muitos, até como unidades latentes. sua reivindicação da identidade gay), para centrar-se, sob uma
A existência de lugar-território único pode ser deixada de lado, perspectiva mais sociológica e empirista, na distribuição dos
para se considerar a plurilocalidade da vida na sociedade urbana corpos nos espaços urbanos.
contemporânea, privilegiando os "espaços intermediários" da Com efeito, o out of the c/oms que o gay libemtio11 intensifica
existência social, percursos, trajetórias, devires. com ênfase, desencadeia um processo de desrerrhoriallzaçâo
2 Exigência de homogeneidade: a etnologia urbana não pode maciça dos homossexuais norrc-amerlcanos, que abandonam
se sujeitar a grupos cuja homogeneidade não está manifestada em massa os bairros straights para se radicar nos gay ghettos de
em i nstâncias de funcionamento real {não pode, então, ·'i nventar"
São Francisco, Chicago, Nova York, Los Angeles e nas grandes
falsas homogeneidades). mas procurará apreender "unidades reais
urbes americanas. Detendo-nos em nossa argumentação, é pos-
de funcionamento".
sível afirmar que o fato de partir desse deslocamento residencia 1,
3 O mesmo vale para o plano das crenças, rcpreseotações erc.
para além de suas conseqüências, fundamenta a opção de Levine
Quero reter, de coda a discussão anterior, alguns pontos: a pelo olhar espacial.
noção de scgmenrariedade (que aparentamos, um pouco argu- Deixando de lado, sem tirar a írnportância dos reparos "po-
ciosamente, com Delcuze e Guartari e, além, com Evans-Prit- lícicos" de Castells (1984), duas observações precisam serdes-
chard): a noção de plurilocalidade (que tem a ver com os deslo- tacadas: J. a proposta de Levi ne parece cão comprometida com
camentos dos sujeitos fragmentados); a idéia de hecerogeneidade a sociabilidade empírica sobre a qual se manca que chega até a
e multiplicidade, canto nos périplos existenciais quanco na pro- constituir uma panca de lança intelectual, numa avançada de
fusa proliferação de expressões - modo, modas, falas, gostos, saber do dispositivo gay (é preciso levar em conta, para vislum-
enfim, "imaginários sociais" - e, por úlcimo, algo que parece brar os alcances dessa esrrarégra, as diferenças entre o modelo
essencial, que é o imperativo, em que transparece a lealdade ao gay americano e o modelo macho/bicha tropical, ressaltadas por
olhar empírico, própria da empresa antropológica, de capear "re- Perer Fry (1982), 2. isso pode implicar uma espécie de ernocen-
des reais de funcionamento": uma massa urbana entrevista a trismo (ou "gaycentrismo"), já que postula - reiteremos - ava-
partir de seus funcionamentos (ancecipamos desejantes, embo- lidado e leginmação da noção de gay gltetto como construcro so-
ra não se possa cributar essa inclinação aos formuladores da ciológico. Incipiente universalismo, que combina bem com as
etnologia urbana). pretensões internacional iscas da moda gay e que desnuda sua
O segundo caminho, para concluir de vez a polêmica na -da, dimensão ideológica, quando passamos dos guetos norte-ame-
passa por examinar suas tensões e imisções num campo empírico ricanos às bocas locais.
restrito, o que cem de passagem a virtude de voltar a nos cen- Nesse ponto, é inceressance voltar à "região moral" de Park.
trarmos nas territorialidades do gay ghetto. Levine ( l 979), ten- As populações que nessa região transitavam, lembremos, não
tando oucorgar um estatuto epistemológico à noção de gay gl,etto, residiam, mas perambulavam pelo local, reuniam-se, nem tanto
faz um uso próprio, reapropria-se, da noção de gueco da Escola de acordo com seus interesses, mas na comunhão de seus dese-
de Chicago, formulada por Wirch (l 969). Levine vê-se obriga- jos e temperamentos, ou, mais cruamente, de seus "vícios". Na

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Homo$$.exuolisroo em Sóo Pou-lo Te,tjl6J-jos morginois

"região moral", hcteróclita na diversidade das fugas que, em seu pontos não é princípio, senão conseqüência dos trajetos ("de la
seio, à maneira de uma válvula de escape que liberasse os im- casa ai trabajo y dei trabnjo II I<, casa", condensa uma palavra de
pulsos "reprimidos pela moral social", se refugiam, proceder· ordem pcronlsra). Assim sendo, se a territorialidade é itinerante,
se-ia, ao mesmo tempo, a uma canalização/viabilização e a uma como cartografar as beiras e a consistência da "tribo" ou do "ban-
"retcrrkorialização relativa" dos impulsos e trajetórias dester- do" (o neotribal de que fala Maffesoli (1987))?
rados, proscritos. Esse leque de trnjctórias (de "devires") erige Antes de entrar nesse assunto, impõe-se constatar que, a
territorialidades. redes territoriais, conuguas, entremeadas, mas esta altura. não é possível continuar pensando o sujeito como
sutilrncnte diferenciadas por traços de giz bosquejados cm pon- sujeito unitário, mas como segmentado. fendido por segmen-
tilhado nas calçadas. Essa "lüpcrtcrritorializnção em movimen- tações binárias e por fluxos moleculares, como se explica no capí-
to" faz que a tentativa de cercar - ainda que reconhecendo e tulo "Micropolltica e scgmcntariedade", de Deleuzc & Guattari
explorando suas interconexões - uma terruorialidade especifi- ( 1980). Superficial e empiricamente, o mesmo sujeito "indivi-
camente homossexual seja. cm si, pertinente. Mas territoria- duai" participa, ao mesmo tempo, de redes de sociabilidade (ou,
lidades fluruanres das bocas paulistanas não podem ser assimi- como quer Mnffcsoli, de sociabilidades) diferenciadas. Fragmenta-
ladas aos territórios fixos dos gay gliettos à americana. Em se até tal ponto na diversidade de práticas sociais nas quais de-
primeiro lugar, h~ uma territorialidade itinerante que não se sempenha -concedamos - um "papel", que a idéia de uma uni-
subscreve a uma fixitude residencial - como acontece no caso ficação egocêntrica, como oncologia liberal, autoconscierue,
americano. onde existem até bancos, casas de turismo, agências, pulveriza-se na muhiplicação de seus rcparres. Nas trajetórias
só de e para gays-. e que tem a ver com certa persistência ou marginais, em sua dificuldade ou impossibilidade - reconhecida
insistência do nomadismo urbano. Steblcr & Wattier (1978) são por Quijano (1978) e explorada, na positividade de sua diferen-
baseante gráficos quando sugerem que, na vida noturna das ci- ça, por Sarei (1982) - de articular uma identidade, essas tendên-
dades, encontram-se traços de uma errância espacial prévia à cias "esquizo" recrudescem, já que a aversão ou o relativo
constituição das "cidades proletárias". "Os noctãmbulos, nas suas estranhamento a respeito das convenções ela ordem, da família,
derivas, não são os últimos nômades. vagabundos do sexo, da do trabalho enfraquecem, tornam frouxas, ou, pelo menos, in-
droga e dos ilegalisrnos obscuros tramados na noite?" - movi- consranrcs, as adesões às capturas institucionais caras a Park, ou
mento "browniano" do nomadismo que, segundo Duvignaud ainda, às dornésrico-barrlnis das teorias da comunidade "prote-
(1975). é "anterior", "precede" ao Estado capitalista, antes de gida", que elide, correlativamente, as fugas dos trãnsfugas.
derivar ou proceder dele. Retomando a questão pendente - como determinar as bei-
Em segundo lugar, essa territorialidade é, em seus mecanis- ras e a consistência das socialidades marginais, nômades -, é
mos, itinerante, isto é, não se fixa aos trajetos por onde circula. preciso recorrer à noção de "código-território", esboçada por
Novo traço nômade, Delcuze & Guatcari (1980) contrasram a Dcleuze em seus Diálogos com Parner (1980), que está no cerne
localização, peculiar do espaço sedentário: "O nômade, o espa- da territorialidade. Antes, um esclarecimenro situacional, refe-
ço nômade, é localizado, não delimitado". Embora o nômade rido em meu trabalho sobre o gueto gay paulista: se há uma
tenha um território ("segue os trajetos costumeiros. vai de um freqüência circulatória incrementada cm cercas áreas (mutáveis
ponto a outro, não ignora os pontos"), essa perambulação entre e atualmente, cm conseqüência da irrupção da Aids, cm deca-

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t'o,rosse>cuolismo em Sõo Paulo Territérics morginais

dência) das grandes cidades brasileiras, essa mutabilidade pos- náveis). A crueza, a amargura dessa "rererrieorialização perver-
sibilita que subguecos ou novos pontos de encontro gay possam sa" é vivenciada e manifestada por seus protagonistas. Diz um
surgir da noite para o dia. Então, se a dimensão espacial concrc- garoto recém-iniciado nos trânsitos homossexuais, assustado
ca é básica, ela não se sustenta por si própria, não sem o neces- pela obsessiva rotulação que impera no meio: "Na minha casa
sário recurso a uma outra territorialidade, no nível dos códigos imaginava que seria um prazer puro. Mas não é, as bichas são
- e, genericamente, arriscamos, no nível da expressão (no senti- burríssimas, criam seus padrões, rotulam, você cem que ser algo
do de Hjemslev relido por Dclcuze & Parnet (J 980). dentro dessa classificação".
A expressão "código-território" se refere il relação entre o Em termos de Bataille (1979), falaríamos da "desordem or-
código e o território definido por seu funcionamento. "Inscriprion ganizada" que a transgressão institui (a transgressão com roda
rerrltorialisée" na qual se distinguem -diz Guaueri (apud Cerfi, força animalesca, de exuberância luxuriosa beirando a morte e a
1973) - dois elementos: uma "sobrccodificaçâo" - sucordage, có- petite mort, que ela tem cm Bataillc, depois esvaziada por alguns
digo de códigos - e urna "axiomática", que regula as relações, de seus comentadores). O ato da transgressão, seu salto à
passagens e rransduções entre e através das redes de códigos, exterioridade ou a uma certa e relativa exterioridade da ordem,
gue por sua vez "capturariam" os corpos que se deslocam, clas- marca o desencadeamento de uma nova codificação. Não
sificando-os segundo uma retórica, cuja sintaxe corresponderia obstante, permitimos-nos discordar aqui da leitura que Gustavo
à axiomatização dos fluxos. Barbosa (1984) faz dessa reordenação. Ele a considera um mero
A referência ao código é central e inovadora na noção de
reverso, inversão em negativo da lei oficial; a transgressão con-
territorialidade do m,tiédipo, segundo admite Donzelor ( 1976),
cupiscente, lúbrica, continua assim, sob essa ótica, girando em
ao reconhecer as dificuldades de defini-las com precisão. Cabe
corno da lei: além disso, em último termo, reforça a própria lei
adentrar agora outras duas noções básicas: desrerrítorlaliaação
que transgride.
e rerernrorlalização.
Sem desconhecer que essa é uma interpretação possível, à
Acho que é mais fácil e direto-embora não necessariamen-
qual o próprio Baraille dá sustentáculo ao considerar a trans-
te mais rigoroso - pensar esses processos com referência a códi-
gressão como constitutiva da lei, arrisco, a partir do mesmo au-
gos sociais no sentido mais amplo. Revisitemos o exemplo do
glietto gay paulista nas trajetórias dos michês e entendidos. De- tor, uma lei cura diference. É certo que uma codificação da desor-
tectam-se grosso modo: primeiro, um movimento de desterrice- dem, das "vidas desordenadas, se erige (deixando para depois a
rialização com relação aos códigos familiares. "normais"; segun- critica da desordem, a impossibilidade de pensá-la, argüida por
do. um movimento de retcrrirorialização nos códigos internos Bergson (apud Deleuze, 1968)). No entanto, essa vidas "desorde-
do gueto, que distribuem adscripções categoriais - para restrin- nadas" estão - permita-se a tautologia - a serviço da "desor-
girmo-nos ao plano das nomenclaturas, que é, no entanto, sig- dem". Em outros termos. que captam mais o espírito de Bata ili e,
nificativo, já que elas indicam ou traduzem variações compor- esse rresloucarnenro da prostituição, do crime, da licenciosida-
rarncnrais, gestuais, corporais (que dizem respeito, ao menos de busca permanentemente sua derrulção, está jogado ao desa-
em seu sentido mais imediato, palpável, ao plano dos corpos: be, para que, no estrambelho da lúbrica sordidez, csplcnda com
transformações dos tiques, mas também das posturas, arrastan- mais estremecedora reverberação a intensidade do desejo, a peute
do, nessa deriva "personológica'', todos os ideologernas irnagi- mor/ do potlacl, libidinal.

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Ho.nossexvol:smo em São Paulo Territórios morginois

Ainda resgatando a afirmação do impulso passional, de per- pluraliza e repercute até embaixo"; e continua: "ao concrário, é
da, de excesso, de desafio que extrema, em procura da produção preciso tomar os fenômenos ele poder na extremidade mais
de intensidades, os corpos e as vidas rotineiras, é preciso neste infinitesimal e, por uma análise ascendente, verificar como eles
ponto nos separarmos de Bataillc. Em primeiro lugar, por aqui- são anexados por fenômenos mais gerais, conservando ao mes-
lo que dizia Bergson. Bergson considera que o problema do m!o- mo tempo uma autonomia relativa". Por meio dessa positividade,
ser e da desordem são, na verdade, "falsos problemas", um tipo de torna-se possível fazer a conexão com outros fenômenos e ou-
"falsos problemas", "problemas inexistentes". Não há menos tras práticas "vizinhas".
(moi11s) senão (plus) na idéia de não ser que na de ser; na desor- Se a singularidade reside na diferença de um funcionamen-
dem que na ordem. to (aponto: desejante), a multiplicidade cem a ver com esse fun-
cionamento e passa, aliás, pela conexão que o observador (ele
Na idéia de não ser, está já contida a idéia de ser, mais urna próprio uma mulciplicidade) efetua com o funcionamento do
operação lógica de negação generalizada, mais o motivo psicoló- grupo, ela matilha. Isso remete à concepção de multiplicidade
gico particular dessa operação (quando um ser não convém à nossa
expressa em Dcleuze & Guattari (l 980): se somos todos rnul-
expectativa ("ttente) e o tomamos (s"isisso11s) somente como a fal-
ciplicidade inumerável ("uma solidão infiniramenre povoada"),
ta, a ausência cio que nos interessa). (Deleuze, 1978)
o relato etnográfico haverá de incluir, diz Caiafa (1985), "todas
Na idéia ele desordem - continua Deleuze (p.6) - "está já a as vissicítudes de ser muitos em múltiplos lugares", o qual re-
idéia de ordem, mais sua negação, mais o motivo dessa negação solve ou dissolve? Por sinal, a distância encre o antropólogo ur-
(quando nos encontramos com uma ordem que não é aquela bano e o meio urbano, tingida às vezes de uma impregnação
que esperávamos)". hierárquica, adscreve o pesquisador à oficialidade acadêmica ou
Pensar em desordem implica fazê-lo a partir de uma ordem cultural (cf. Velho, 1980).
que ao ser negativizada - corno incluído/excluído - se impõe; A afirmação da multiplicidade tem a ver também com o pró-
outro caminho leva à positividade das práticas sociais. No tra- prio funcionamento do bando, que não se pode entender pelos
balho deJanice Caiafa (1985) sobre os punks, vê-se claramente o indivíduos isolados nômades personológlcos, mas como um
que essa positividade significa em concreto. Basicamente, ela agenciamento coletivo, em que o que conta é o togeiherness, o
consiste em tornar os aconrccimentos e as práticas sociais a par- estar junto, o enrre deux, na microscopia da deriva.
tir da força que eles encarnam em si, de sua própria, específica e Sob essa perspectiva, pode-se abordar o problema represen-
intransferível singularidade - que é, simultaneamente, uma tado pela capacidade, exacerbada nos cicuitos marginais, de o
multiplicidade. Por que positividade? Não se pode, diz Janice, mesmo indivíduo participar, alternativa ou erraricamente, de
criticando alguns enfoques simplificadores, reduzir o fenômeno diversas redes, algumas delas "normais". São os funcionamen-
punk a urna mera resposta a outra coisa, à "crise": "Não posso tos desejantes no campo social, os fluxos, as linhas de fuga que
crer que aquele exercício só se pudesse definir como resposta a atravessam o socius, que arrastam os indivíduos, escandem-nos.
outra coisa e que aquilo esgotasse seu funcionamento". Nesse drapeiarn-nos, envolvem-nos. Não são os indivíduos - e essa
funcionamento irredutível, residiria a positividade do movimen- afirmação é dura- os que decidem ou optam a partir de um ego
tO. Caiafa cita Foucault (1979): "Não é dominação global que se auroconsciente, os que constroem. por apelar a um clichê, suas

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Homossexualismo em Sêo Poulo Teuit6dos mo,ginc:is

identidades e suas representações. Eles participam de funciona- no "cubo espácio-sala-cena da representação"; pensar a própria
mentos desejantes, sociais, que os desbordam; em rodo caso, representação como "dispositivo energético"). Essa destcrri-
como diz Paul Veyne (1982, p.197), esse desejo "é o princípio torialização coexiste com algo parecido ao que Baudrillard (1981)
de todos os outros afetos; a afetividade, o corpo sabe mais do denomina "paixão pelo código".
que a consciência". As fugas marginais (Delcuzc: "numa socie- Com efeito, uma proliferação de nomenclaturas (no plano
dade rudo foge") são, então, fugas desejantes. das nomenclaturas categoriais, e, num sentido mais geral, dos
códigos comportamentais e relacionais) captura, fixa os deslo-
camentos dos trânsfugas pelas casinhas do código. Duplo movi-
A Fuga Marginal mente: por um lado, uma profusão denominações, que procu-
ram balizar uma hipercodificação dos encontros, por outro, essa
Toda essa última discussão se iniciou, lembremos. pela crí- hipercodificaçâo "endoidece", entra em desajuste e superposição,
tica à desordem como oposta à ordem. (Diga-se de passagem, as imisção inextricável, interna, torna-se uma espécie de máquina
sociologias dominantes são sociologias da ordem, o que dificulta barroca ou, inclusive, pagã.
baseante entender as derivas e as fugas, já que participam, afi- Por que barroca? Porque, em sua indecidível superposição
nal, de cerca visão estática de uma sociedade cm movimento (várias nomenclaturas podem ser aplicadas ao mesmo sujeito,
permanente.) dependendo da situação, do local etc.), efetua um choque de
Operamos um deslocamenro da idéia de uma transgressão significantes, que nessa mistura do entrechoques "deixa pas-
que instaurava cerca ordem à idéia de uma fuga, de um processo sar", digamos, "mais", no hiato de sua hiância, que se houvesse
(com velocidade, imensidades, lentidõcs, rupturas e suturas) de a dominância de um único sistema dominante significante des-
desrerritorialização e reterritorialização. Para ser mais breve, as pótico. Isso merece um esclarecimento que libere o formulado
sociabilidades marginais configuram uma espécie de "rererri- de sua abstração, para mostrá-lo na sua articulação histórica. O
torializaçâo perversa"; territorialidade artificial, no sentido sistema de nomenclaturas vigente, no momento de minha pes-
antiédipo- famílias mais exóticas que entretecem seus esparti lhos quisa (J 982/1985), no gueto homossexual paulista, impressio-
barrocos, eficazes na sua fragilidade, no muro que obstrui a fenda na em sua literal proliferação: 56 nomenclaturas num raio de
das fugas libidinais que ameaçam explodir o socius. uns 26 quarteirões. para denominai; irônica e incisivamente, as
Vejamos essa rcrerrlronaiizaçâo perversa no caso dos michês. variedades das posturas no circuito das homossexualidades, nas
Uma desrerritorializaçâo exacerbada no plano das derivas cor- redes relacionais da homossexualidade masculina. Obviamos
porais, da corporalidade, que tende a uma orgia perversa suces- maiores detalhes sobre sua localização geográfica: o centro de
siva, de "órgãos", com múltiplos parceiros ocasionais, "impes- São Paulo, com foco nos "pontos" de lpiranga, São Luiz, Marquês
soais", em que as diferenças (inclusive hierárquicas, de poder, de Itu (este último já praticamente extinto, o qual dá uma idéia
de valor, de força) funcionam como operadores intensivos (e há da elevada mutabilidade, quase gasosa, hipersensível às meno-
que pensar tais operadores, como reclama Lyorard em Economia res vibrações sociais - e passando por um momento em que
libidinal (1979}, a partir da faixa de energia libidinal, e não das essa pressão é álgida e violenta, a partir da irrupção da Aids).
representações que, "traduzindo-a" traiçoeiramente, a sufocam Entrevimos seu enrrarnado classificatório, com nuances suti-

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Homos~xuclismo em Sõo Pcvlo Tef'ritórios morgioc·s

líssimas, que vão desde "michê gilete" até "bicha baby", entre sa, de um funcionamento desejante diferente. Isso pode se perce-
"marlconas" e "bofes". Temos d isposto o plano ele uma carro- ber, inclusive, nos elementos mais formais, na arquitetura do sis-
grafin do "código-território" existencial. tema classificatório - destinado, supõe-se, a capturar as mobili-
Esta última palavra, existencial, pode ser reveladora. As era- zações pulsionaís. Sugiro que esse funcionamento da erama de
mas clnssiflcarórias. codiflcarórias, inscrevem-se (antes à ma- norninações pode ter, com o vibrátil do corpo intenso, alguma
nelrn do tajo de Osvaldo Lamborghini, que de uuuo]« de Severo "correspondência" que o ilumine - e que explicaria o anterior
Sarduy) nos corpos. Aliás, a força da representação é, em verda- qualificativo de "pagão". Essa superposição de códigos proli-
de, um dispositivo energético. As representações calham-se em ferantes poderia ser pensada analogamente "à incompossibilidade
durezas e molícies, cm enrurnescimentos ou relaxas das super- de figuras simultâneas" e ao conseqüente "enterro da identidade",
flcies e volumes corporais. Como observa Sartre (1967, p.122) que Lyotard (1979, p.19-20} observa na "teatralidade pagã" do
a propósito de Cenet: "A mesma turgência que sente o macho Baixo Império: "fura cada uni6n un nombn, divino, para cada griro,
como o retczamenro agressivo de seu músculo, Genec sente como intt11sidad o tmbesr.ida, 1111 Dios peqrieiío .... que nos sim, exactamente
a abertura de uma flor". para nada, pero que es un nombrl de tránsilo de emociones''.
Aonde queremos chegar? Vê-se que as redes de códigos e Pode-se vislumbrar, a partir daqui, que essa diferença do
ncmcclaturas, em sua hipcrprodução, veiculam mobilizações funcionamento perverso no circuito de 111icMs e e11te11didos não
moleculares no próprio plano das sensações corporais. Assim, se verifica somente no plano das ações e paixões corporais, mas
no que diz respeito ao código classificatórlo, a variedade de suas afeta o próprio plano da expressão, revelando uma modalidade
localizações captura o executante na fixuudc eqüestre ou lân- peculiar da articulação entre forças intensivas e formas expres-
guida, de um único gesto, na represem ação de uma teatralidade sivas. Pois, por um fenômeno complexo, cujas reviravoltas ape-
ligeiramente goffmaniana -pois costuma tentá-la, ao não haver nas entrevimos, favorece-se certa plasticidade e porosidade das
a remissão ao desejo, certa vocação idenüflcarória.' categorias distribuidoras e atribuidoras de localizaçâo nos tráfi-
Para que esse rneandroso percurso pelos usos perversos? cos do mercado noturno. Na territorialidade perversa do crime,
(Em compensação, conceda-se que a sinuosidade rima com a da vagabundagem, da concupiscência, da venalidade, as normas
complexidade dos barrocos labirintos sorurnos.) Antecipo uma e os códigos que a reterrirorialização artificiosa e rebuscada da
hipótese: nas trajetórias marginais, nas existências nômades ou perversão instaura e multiplica - seguindo os rebuscados labi-
apenas vagabundas, nas maquinações tenebrosas do desejo, na rintos de viagem dos sujeitos envolvidos - participam, tal como
sombra das esquinas, não se estaria fazendo uma inversão dos os universos de "expressão", de certa precariedade - e quase
papéis estabelecidos, normais, convencionais, mas a afirmação - ercrcidade - constitutiva.
por mais ligada que possa estar em múltiplos planos com a lógi- Essa precariedade constitutiva se mostra em outros códigos
ca molar, macroscópica, institucional - de uma diferença inten- marginais, como no montado por Hirohlro de Moraes Joan ides
(1979) em sua crônica da boca do lixo. Que é que está manifes-
tando? /\ característica provisoriedade, transitoriedade, deriva
3 Pnn'.l uma crítica ao caráter individualizante do modelo ga)' e su;i lncidên- dos nomadismos urbanos. A diferença intensa desse funciona-
d;i, nu análises sociológicas Ceitas da perspcci lva da identidade sexual,
ver Pcrlonghcr, 1987.
mento desejante com relação ao modelo conjugal dominante

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Hcmcsscxcolismc on, Sõo Pou!o Torti!ór'ios morg·nois

percebe-se também na instabilidade da circulação, tanto espacial social sem pensar o desejo. E um desmérito: é uma formulação
quanto propriamente social. O nômade, afirma Duvignaud demasiadamente tranqiiilizadora. A posição de Baudrillard - ren-
(1975), move-se nos interstícios do corpo social, freqüenta as do em coma a insistência do autor na fuga para o simbólico -
fendas, as fraturas, os pontos de fuga e de ruptura - ao mesmo pode ser pensada, ao lado da "socialidade da orgia" (Maffesoll,
tempo, antecipamos para desvanecer n imagem romântica, entre 1985), como uma secreta e subterrânea socialidade dionisíaca
as mais violentas suturas, rererrltorlallzações, abolições, fascis- da orgia que percorreria e coesionaria passionalmente o corpo
uzações. Esse nômade lúmpen (comemos o caso do rnichê) tran- social, constituindo, afinal, o secreto suporte socieral.
sita pelos interstícios sociais e recolhe na sua fala jargões contra- Mas n volupcuosidade das viagens marginais, a despeito,
postos e dispares no discurso de um marginal urbano, analisado repiro, de suas bruscas recuperações e fascitizações (sendo "re-
por Pedro de Souza (1984); expressões vulgares de gíria se mis- cuperável e irrecuperável ao mesmo tempo" (Guauari & Rolnik,
turam com enunciados da língua culta e inclusive psicanalíticos; 1986)), desborda e gasta uma energia excessiva, esbanja um
palavras como "paranóia" e "surto" se mesclam com termos nagôs excesso de energia, ao que parece, desmesurada, com relação à
procedentes dos candomblés, verdadeira religião do "pedaço". rererritoriallzação e confiscação molar que padece. É imporran-
O peculiar do negóâo do n,ichê é que as oposições sociais são 1e insis1ir na diferença no funcionamento desejante, presente j~
desejadas, tomadas em sua face (ou cm seu rcversor) desejante, na prosnruição feminina, vista por Belladona & Querrien (1977),
como fontes de desníveis sociais (que se exprimem molarmente como bro11illage de códigos, funcionameruos intensivos, micros-
em binarismos do cipo jovem/velho, pobre/rico, bicha/macho cópicos, q uc escapam às convenções e reticulações da normalida-
erc.) que são investidas pulsicnalrncnte. Nisso parece residir de, mas onde se revela, ao mesmo tempo, um mecanismo bási-
urna das chaves de funcionamento dlferente. Agora, o faro de co de "circunverçâo" (Lyotard, 1979) de intensidades libidinals
que oposições e conflitos sociais sejam "investidos" (caracteri- cm segmentos rnonerârios, que seria essencial para a circulação
zados), objeto de urna catexis libidinal, não é absolutamente ex- dos corpos homogeneizados pelas taxações do mercado.
clusivo do circuito dos amores entre homens, ainda que possa Para não nos perdermos em paradoxos, quero salientar uma
ai, como acontece nas formações marginais, expressar-se mais idéia de Cuatrari (1985}, Nos funcionamentos marginais reve-
pristinamente. Na prostituição, pode estar se revelando um fun- lar-se-iam indícios de modos dissidentes de subjetivação, de
cionamento do desejo no socius que afeta, embora possam variar produção de subjetividade. Indícios, em último termo, de uma
suas direções, sentidos e circunstâncias, o campo social global. outra relação do sujeito com o desejo - em vez de sujeitá-lo por
Voltemos à "paixão pelo código" de Baudrillard (1981}: •o de- completo à omnisciência de sua consciência, estilhaça-o na
sejo não tem vocação para se realizar na liberdade, mas na re- fulguração de reverberações efêmeras e vibrantes, no suor dos
gra, não na transparência de um conteúdo de valor, mas na opa- corpos à deriva. Indícios, também, de outra relação entre inten-
cidade do código de valor". Mccanlsrnos de captura do desejo sidades e formas expressivas. Indícios, extremando bastante a
que sustentariam, afinal, a ordem social "com este investimen- percepção, de um devir minoritário, como o que Caiafa (1985)
to da regra pelo desejo, a que a ordem social se encon tra ligada". capta entre os pu11ks. Esse caráter minoricário se reconheceria
A formulação de Baudrillard cem um mérito que é mostrar a no aparecimento de uma sociabilidade grupuscular (como a que
articulação do desejo no campo social - não se pode pensar o observa Guntrari (1985) entre os negros, chicanos e poria-

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Hornossexuclisrr.o em São Pou!o Território$ morgino' s

riquenhos de Nova York). O devir minoritário difere do para- correndo a uma legitimação pelo social, em nome da sobrevi-
digma de homem com H, majoritário por qualidade de domina- vência) e como um castigo infligido pelo macho "normal" (que
ção, descrito por Deleuze (1978) como "homem branco-ocidcn- mantém as insígnias gestuais do homem, a disponibilidade para
tal-macho-ad u I ro-razoávcl-hcrerosscxual-habiranre das cidades". o mercado heterossexual segundo os padrões dominantes) ao
Guattari adverte contra o eco do recentrarnento que um termo homossexual "desviante", que desafia, na lúxuria da inversão,
como "marginalidade" (que é, porém, interessante pela os códigos machistas.
multiplicidade de fugas potenciais a que alude, por sua profusa Isso que se detecta nos michês poderia ser, calvez, estendi-
heterogeneidade) suscita sempre que se é marginal com relação do a outras trajetórias e rerrltorlalidades marginais. O que ha-
ao centro. Em Guattari & Rolnik (1986), a distinção entre pro- veria em comum, entre as várias socialidades da margem, seria
cessos de marginalização e processos de minorização (que de- algum impulso de fuga, que estaria, de um modo ou de outro,
sencadeiam, lançam, soltam um devir minoritário, que mina e no seu ponto de partida. A pergunta que as liga diz respeito a
subverte, ainda que seja parcialmente, a molaridade majoritá- como essas fugas podem ser capturadas e neutralizadas.
ria) é mais clara; o primeiro cermo, marginalização, seria descriti- Importa ressaltar, como conclusão, alguns pontos:
vo no sentido sociológico, designaria uma "minoria" no sentido
sociológico clássico; elementos dessa minoria poderiam entrar l Tentamos mostrar a pertinência da noção de territorialidade,
num devir minoritário, arrastando um elemento do campo ma- entendida em sua acepção de "côdigo-rerrirório".
joritário. Em resumo, ou a maquinação marginal entra num devir 2 Entrevimos, nas trajetórias marginais, em suas fugas, a tra-
minoritário, impulsionando fracos indícios de subjetivações ma de uma territorialidade itinerante que, sem deixar de inscre-
dissidentes, ou passa a girar sobre si, num "buraco negro", no ver.. se no equivalente do capital. funciona em base à deriva

turbilhão da "paixão de abolição", em que as linhas de fuga - desejante. e anuncia um outro funcionamento do desejo no cam-
po social.
que estão "afloradas" nas derivas nômades da margem - vol-
3 Sugerimos que uma cartografia das territorialidades mar,
tam-se contra si próprias, num delírio microfascista de destrui-
ginais deve estar atenta às circunvoluções dos fluxos desejantes e
ção e auc.odestruição- destruição do outro que leva em seu cerne,
aos avarares e peripécias das fugas, no que parece disposcas ao
aponta Bataille ( 1979) a respeito de Sade, à autodestruição do
1,orlac/11, à perda, à abolição.
ego. Por que ruicrofascisra? O fascismo, diríamos inspirados por
4 Aliás, nas existências marginais, podem se vislumbrar in-
Guattari (1981), seria, grosso modo, uma contra-revolução que dícios de modos diferentes, minoritários, dissidentes, de produ-
deriva de uma revolução fracassada, que se volca contra si mesma. ção de subjetividade.
No plano mais micro, os emblemas rnicrofascistas abundam
na postura hipermáscula do michê clássico. A começar pela du- Acho que não é necessário insistir na atualidade dessa pro-
rezn masculina (recordemos a fórmula machismo = fascismo). blemática. Para além de micliês, punks e maconheiros, toda uma
Um exemplo dessa disposição pode ser visto na dupla interpre- massa lúmpen oscila entre a deseerrlrorlalizaçâo descontrolada
tação - outorgada por rapazes da rua à confiscação predatória e a fascistização, vista como salvação no naufrágio - que
do cítenre -, racionalizada alternativamente como uma compen- transparece, por exemplo, na modalidade de organização hie-
sação pela força das abruptas diferenças socíocconômicas (re- rárquica e autoritária das organizações delinqüêntes, ainda sem

286 287
Hcmcsscxccksmc em $(10 Pculo 'lerritérics n-orgincis

deixar de conservar traços nômades. Essas questões costumam FOUCAULT, M. Microfísica do poder. Rio de Janeiro: Graal. 1979.
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4
Em defeso do gueto1
Edward MacRae

Em guetos, mas bem visíveis

Tem chamado a atenção nas áreas centrais da cidade e nos


pontos boêmios paulistanos uma certa explosão de comporta-
mc1110 homossexual. A qualquer hora, à noite especialmente,
podem-se ver pessoas do mesmo sexo, geralmcncc homens, an-
dando abraçados, às vezes de mãos dadas, às vezes se beijando
como forma de saudação, beijos esses não raro dados na boca.
Esse comportamento, anteriormente inconcebível em públi-
co, está começando a ter respaldo em várias esferas da sociedade.
É verdade que vem ocorrendo de modo mais marca me no mundo

l~s1c nnigo, um dos primeiros a aparecer cm revista clcurfflca brasileira,


com uma abordagem socloaruropolôgíca da hornosscxualldadc. foi inicial•
mente publicado, sob o incentlvo do sociólogo Flávio Picrucrt, na t-.·<1vos
füwdos Ctbl'(l,b (São Paulo), v.2, n.J, p.53-60, abr. 1983.

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