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A. ONÇA CASTANHA.

E A. ILHA BRASIL

Vaa
...
~tlexao aobre a Cultura Braaileira


Teae apreaentada ao Centro de Filoaofia

e Ciência• HumanBa da UniTeraidade Fede



-
ral de Pernambuco, pnra concurao .à Do-

cênci~ LiTre dR diacipliDa Biatória


I

da Caltura Braaileira
. •

Reaife, 1978 •


••

Uwfh'ersldad' F1deral do Pn"'t rr.l', ueo


81BL 10 : E CA CE f>!TRI\L
CIDAO ;.: u NlVÊRSIT ARI A
10000- f< ecife ·Per" mbuc.o - BruH

J,J. . 3 \

PE-00004904-8
a.
INTRODUÇÃO

-
1 - Os Pensadores do Chno e da Embriaguez

Que me seja permitido fnzer estas reflexÕes a partir d~ obras e fatos

concre~os, escolhidos sob um ângulo pessoal e até certo ponto arbitrnrio.

Sou um brasileiro, um latino-~ericano. Pertenço, portan~o, aos poToa ea~

tanhos e insuln.res- também insulados- da Rn.inhn do Meio-Dia, poTos in-


..

tegrBntes da Raça parda e bruna do mundo, isto é, poTos &o mesmo tempo

noturnos e solares, n.políneos e dionisíacos, mais dançarinos e musicais


-
tio que reflexivos, mais do. "plástico. sensuo.l" e ào. pulso.ço.o do ritmo es-
tético do que àa n.bstrn.ç~o.

Os pensn.dores germânicos e anglo-saxÕes têm uma. tendência para nos a-


-
tribuir apenas a incliun.çn.o a.' sensualidBde, ao prazer, às paixoea,ao jo-· -
go dos desejos, a embriaguez orgintico. e selvagem.
E claro que, para nós, tal pensnmento - Terdadeiro, por certo - -
na o
exclui seu oposto. Assim, podemos dizer, logo .de início, que os homens da
. - -
Râ.inhn. elo Meio-Din na.o sa.o o.pena.s noturnos, subterrâneos, da embriaguez

saturno.l e dionisíaca. Sao - também solnres - modo que, àe fato, possui


de
-
mos a tendência de unir "na Lua-clteia de ouro" a esfera e n. coroa solar,

o .treToso Saturno e o feminino do estranho Crescente noturno •



-
Por outro lado, pnro. nno incorrer em injustiças,esquem~tismos e exclu
-
- -
soes, elevemos lembrar que, se foi um alemao -Hegel - aquele que, de ma-

neira ao mesmo tempo orgulhosa e ingênua, pretendeu estabelecer o.s baaea ·



do racionalismo mnis iogmn~ico - ao afirmar que tudo o que é real é cog- .,
I


-
noscÍTel - foi outro alema.o, Nietzsche, um dos três grandea profetas ia

época contemporânea: e este, entre soluços e gritos embrin.gnios de êxta-

se e desespero, afirmou a morte de Deus, cantou apn.ixonad ~e~Dte


. ...
T1aao-

estética e a plástica sensual dos poTos castanhos e países ensolaraàoa ia

Rainha io l!eio-Dio. e BDunciou a morte do racionalismo estreito e io fiaa-


a.
tifismo dogmntico io século XIX.

Quer dizer: nascido na Alemn.nhn., Nietzsche era um ios nossos. Sentia-

se exilaio e sufocaio no estreito ambiente daqueles a quem chnmnTn com

desprezo de "profe_asores alent;es de Filo.s of ia", gente de espírito peaOAio

e a.ca~êmico; exa.ltn.Ta-se orgulhosamente no salienta.r que era meio esla-

• Tn e aai~tica a origem de seu sangue: o que proTa. como, por cima de op~
.
. __, .. -
s~çoes e genernl~zaçoea, os homens nascidos em qualquer lugar podem ae

entenier, porque afinal o mundo é nm só.


I
-
2. - A Razao e ó Dito da Ilha Braail.

-
Assim, acentuo que, nqui, nao se inTeste, absolutamente, contra a ·

àignidnde ia razao. -
- Lembra-se tao - solar e masculina
somente que a rn.zao

se enriquece ao contncto com a pa.rte noturna, enigmática. e subterrânea,

lunar e feminina do ·espírito. Creio, nliáa, que nuncn os pOTO& casta-


. .
nhos io Meiiterrâneo, io Norte e da Costa atlântica dn !!rica fornm,nem

estreitamente rncionalistns, por um Indo, nem selvngemente irracionali!

tn.s por outro. Exn.l tn.Tom o senti,lo Ti tal e estético ela festa ao mesmo

tempo bela e cruel ia Tida, mas, po.ra eles, o pensamento e a reflexao -


. eram também • uma· festa, uma embriaguez. Foi deles que, a caminho •a In-

dia e a partir do mito da Ilha Br~sil - identificai& frequentemente em

seus sonhos com n. Ilha Af'ortuno.dn., CatAi e Cipo.ngo - surgiu o tronco i-

bérico ia Cultura br~sileira, aqui mnis ncnstnnbado ~inda atro.Téa 4o•

cruzamentos e toques-àe-snngue io Negro e ào Vermelho, na busca de eat~

bilizaÇBO dnquilo o. que Euclydea io. Cunha chn.mou de Po.rclo e em que Syl-
I

Tio Romero foi o primeiro a Ter uma mestiçagem moral, cultural, muito

mais importante io que o. de sangue.


No seu e.s pírito profundo, portanto, o que o. Cultura meiiterrânea e

suo.a herieiras io Brasil e


-. .

da Rainha •o Meio-Dia no.o . ae cansam ie o.fi~ .


, .
mar ·- e mesmo ie cantar, com o furor iionis1o.co e com o gume àe pedra

8 faca d~ iespojn.mento apolíneo - é o choque Tiolento_, mo.a, ao meamo

tempo, a uni.ade terrificante do 88r. 8 do. ruin&; do _UDiTerao exterior



a.
e reo.l e de seu reflexo nn consciência humo.nn; do reLll, do iml\ginaio e
do i~nginnrio; da liberdade e da fntnliànrle; dn intuiç~o e d~ reflex;o;

d~ Yidn e do amor como fatores e servos d~ Morte e dns lignç~es ·d a mor-

te com o Amor - inclusiTe do nmor



sexuo.l - como fatores de eternidade e

rejuvenescimento, d~ Morte como possibilidade de selvagem florescinci4

e -
ressurreiçao; da renliuade implo.cáTel e seTern, por um laio, e io

real mngnificnào àa Arte,por outro; da claridade enigmâtic~ e da eacu-

ri4in.ie sombrin.,. lodosa. e f'n.scinn.nte da Delezn - que é, ao mesmo tempo·,

~bismo satúrnico e brilho solo.r - e a.ssim por diante.

Desse modo, o que se tentnrn o.qui é fixnr algumas marcas essenciais

que co.racteriznm a Cultura brasileira daí surgido.. E claro que, ao te~

tnr isso, estou consciente dn. ousaàia io ·empreendimento, pois terei •e

examinar o problema. sob aspectos filosóficos, sociológicos, históricos,



'
psicológicos, estéticos,críticos, literB~ios e artísticos. A Cultura

brnsileir~ é o todo, àe modo que, parn ser o.barcndo., tem de ser intuí-
C3 SOb O m~ior nÚmero pOSSÍTel de pontos :de Tistn.
I Entretanto, se isso é Terdnde, também~ certo que a Cultura de um
.
país e de um PoTo se expressa de maneira -mais nitidnm~nte debu:xaua nas

suas manifest~çoes - ·artísticas e literári~s - de modo que ser~ atraTéa


-
dn Tisno-do-mundo que serTe de pano-de-fundo a' crinçao de alguns - ie

seus escritores e artistas mais representatiTos que tentorei cnracte-

rizar o espírito peculiar e único que, a meu ver, já está começBn4o a

singularizar o espírito do nosso País. Esta singularidaie, estn pera~

nalidade nacional, estn ficando mais nítida e clara no século XX- e

é . por isso que somente ngorn o nosso próprio Povo parece estar tom~-

ao -
consciência e posiça.o d.io.nte dela.. Mo.s desde os :: séculos XVI e XVII

começa ela a se esboçar, ganhando forta nos lois seguintes, XVIII e

XIX, para. finalmente ae fortalecer o.gora, · como acabo de assinalar.

Por isso, tentarei esboçar aqui ns li~has gerais iessa vis~o-do-


t>
mundo brasileira, e mostrá-las nascendo n~ obra e no _pensamento àe

~lguns dos nossos maiores espíritoa · dos slculos antecessores- princi



4.
P~lmente o ~~I, o XVIII e o XIX. Depois, numa espécie de contraponto, Te-
remos as mesm~s idéias-mestras, ~s mesmas características, reaparecendo em

outros grandes espíritos brasileiros io século XX e apontando para o futu-

ro e .o Desconheciio, como a indicnr, com essa permnnêncin no tempo e no

espaço, que pertencem, de fato, àquele "inconsciente que é alicerce e é o

segredo Tital das obras àe o.rte", como . .tiz Jo~o Ribeiro. E, sem fazer Tio-

lência ~ seu pensamento, eu acrescentaria que esse inconsciente nacional é


...
o alicerce e o . "'''segredo
..
Tito.l no.o s6 ias obras àe arte mas de todas aa mani
-
-
'-
.
~

feato.çoes ia Cultura brasileira.


3. - Características da Cultura Brasileira •

Explicaio isto, deTo o.vo.nço.r agora quais . -


so.o, n meu Ter, as co.rncterís-

ticns essenciais «o. nossa Cultura. Como afirmei antes, sei que se trata ie
um empreendimento ousn.do. lfn.a Tou torná-lo mais ousado o.incia, reiuzinclo ea
-
sas características mais marcantes ào PoTo brasileiro a uma só, que resumo
-
todas: trata-se, a meu Ter,·do. uniao de contrBrios, da teniênciB para ass!

miln.r e funclir contrn.stes numn síntese DO':'f'O.


~~:
e castn.nlta que dai uniiacle ·a

umo. complemento.ridnie de opostos.


Por exemplo: no campo
.
do pensamento puro, nB tentn.tiTa de explicaçao ào -
homem e do universo çomo um todo,que é n Filosofia, os pensadores têm ae
.
iiTidiio ao longo io tempo em iois grupos - os filósofos io Ser e os io

Vir-a-Ser. Os Brasileiros não têm uJuita. teniênciB para C\8 filosofias ie

sistema, mas, desie o século XVIII pelo menos, tem se esboçaÃo aqui uma~

-
riento.çao no aentiào d.ti.quilo que eu chamo "A Pulsaço.o do Sern, Tisao - - que

engloba o Ser e o Vir-a-Ser e sobre a qual depois me ·deterei com ma.~~ . TA-

gar. •

No campo ia Teoria io Conhecimento, •iTiàem-se também os pensniorea


que n.centuam a imp:ortô.uci~L i o Eu como suJei to, por um lado, e aqueles

que se inclinam pelo maior peso io Mun•o · como objeto, por outro. NoTa-

mente os Brasileiros, aqui, parecem mostr·a r uma tendência. A uniiue au-


jeito-objeto, o primeiro consiiero.io ca.pa.~ àe penetrar o eni~a~ tranap~


-
.···~·------­

5.
rente e peri~oso tlo real elo mundo, ·e est~ consitiern.clo, por sua Tez, enqua.!

to refletido atrn.Tés de im~ens~ emblem~4. e insígni~s reais, n~ consciên-


cin. humnna.

E nssim por iiante. Se examinarmos o ; PoTo brasileiro do ponto de Tiat~

de seu comportnmento socin.l, de sun. Psic9,login., de sua. Hist6r-in., de sun. ~


te, de sua Litern.turo., encontraremos sempre ess~ tendência. a.ssimilndora e

lJDificadora de contr~ios - o espírito mt\gico e fantástico complementcuio

pelo realismo c.~ít


, _~co e satírico; metBmorfose do. florescência. e do. decom-
- ••

posiçao; cotidiano e quimera; o. presenç~ do dionisíaco buscando o gume

contido e n garra. da forma. despojo.d·n. do apol:íneêi Tiolência e mn.u-gosto


. , -
do popular e refinamento do erudito; o épico e n introspecçn.o indiTidual

chegando esta às vezes a idoln.tri~ do Eu; o lirismo persona.listo. e o


-
social coletivo; n.s conTençoes e n. festa.f o Belo e o Feio; espírito protf

tico e comportamento orgiático; o vegetn.l dn. Mn.tn. e -


o deserto do Sertao;
o Trágico e o Cômico; a aldeia e o mundof otimismo e pessimismo; embriaguez

dn. Vida, o pó e a cinza da Morte; o Dram&tico e o Humorístico; o fogo d~·

-
destruiçao e o culto da florescência e d~ ressurreiço.o.~ -
E daí que se originn.m obras como "lfa.cuna.ímn." (s;o Pn.ulo), "0 Tempo e o
.

Vento" (Rio Gro.nde do Sul}, "0 Tronco" (Goiás), ttGrande Sertão: Veredas"

(Minas), o. "Tragédia Burguesa" (Rio), "Terras do Sem-F~m", ''Velhos Mari-

nheiros" e "Léguas da PromissÃo" (Bo.bin.), "Os SertÕes", "Pedra Bonita",


"Cangaceiros", a nuistórin. dn. Li ter atura .·Brasileira", "Casa Grande & Sen-

zal~" e a "lnTenç;o de Orfeu" (Nordeste) .l

E dn.í também que su~ge o espírito da ~nturn., quase sempre de tendên-


o11 -

cio. assimilndora, épica e mura.lista. - pel•s dimensoes - de Portinari, de


.. ., "'
Francisco Brenno.nd' de Gilvnn Samico, de Joao Co.mnra. e de Miguel doa SA~

tos, assim como o da Música de compositores como VillA-Lobos e Antônio

José lla.dureira.
E se quisermos procurar antecessores n.~unciando, j,, ess~s car~ctería­

ticAs, · é só estudarmos o pensamento de MBtias Aires, ou~ Arquitetura e

as esculturas épicns do Aleij~dinho; oú Termos o extraordinário painel,


6.

pintn.do n. Óleo sobre madeirn. pelo Mestre , anônimo d~ Do.tn.lbo. dos Gu~arRpea,
••

pn.inel que se encontrn. nn. Igreja dn. Conc~ição dos Militares do Recife •
e

que,por sinn.l, deve ser comparado com o mural, de assunto idêntico, feito
.
"'
em . FrBncisco Brennn.nd··,' ou ouvirmos n. músico. épico-relig· ioaa
cern.m1cn. por

de José Maurício Nunes Garcia, de Luis Alvnres Pinto, de Jon.quim Emérico

Lobo de · Mesquito. e outros grnndes barrocos mineiros do século XVIII. Ta~

bém é importante, po.ra isso, refletir sobre a poesia de Gregório de Ma -

~os, nssim como sobre o ten.tro e a novela de Antônio José, O Judeu; as


.'
Memório.s de um Sargento de Milício.s", de lfn.nuel Ant.Ônio de Almeid~; o. o-

brn. de José de Alen·c n.r; n de Sylvio Romer.;o; sobre "Tropo.s e Boiadas" de

Ilugo de CarTalho Rn.mos, e "relo Sertao",



- ~e Afonso Arinos; sobre A.rn.ripe

Júnior e os romances regiono.listn.s cearenees do século XIX; sobre "Quin-

co.s Borba" e n.s "Memórias Póstumas de Brá.S Cubn.s", de Jrln.cha.do de Assis;


assim como sobre o estranho e poderoso li:Yro que é o 11 Eu", do p"ra.ibano
Il Augusto ·dos Anjos.
!
· Até certo ponto, essa listo. foi organi~n.dn. n..o acn.so, mn.s poderíamos
I perfeitamente orga.nizo.r outra. que incluísse Nuno Mo.rques Pereira., Castro
I

-

I .
Alves, Pedro Américo, Tobias Bn.rretto, Simoes Lopes Neto, Raul Bopp,Vol-

pi, J. o. de Meira. Pennn., Gilberto Freyre, Rubem Valentim e Sergio Bua.r-

que de Hollnnda. Com qua.lquer das listas que se orgwniza.ssem, acredito

que aquela característica. essencio.l do. busco. e do. unidade de contrários

tLpa.r·ecE!rio../Maa o o.ssunto é Tasto demais·~ de modo quo, tendo resolTido


• •
pensar o. partir do concreto, escolhi alg~mns dessn.s obrn.s mais represen-

.
ta.tiTns dn. Cultura. "eruditn." e exn.minei-n.w, como exe:nplo.ti particulares
-
que serTiro.o para todos; mas sem nunca esquecer qua ma.is
I

represent~tiva.

e significatiTa talTez do que elo. é essa Cültura estranho. e áspera do Po-


.....
To,a.queln. que de fato constitui o chn.o e oi1 subterrâ.neo do. Cultura brn.si-

leira.j ·
4. - O B~rroco.

N~o foi por ·~caso que o Brasil começou a se formar,como o País que é

hoje, torj~do-se ~o fogo do Barroco e comó resultado de alguna mitos



1•

de poderosA
• .-.
forçn
t "' crin.dora., entre o.s qua. t s des tn.cn.-.sc o da. Illll\ Brn.sil -

cadinho onde se fundem outros como o d~ -


Visno Edênicn, o do Eldorado etc.
l

O Bn.rroco é 11m estilo de vida., nm.n. Tis~o do mundo e uma Cultura que ae

carn.cteriza pela unio.o dialético. de - con~~ários, de elementos cláasicos


.... .

e romnnticoa. Mn.is precisamente, pode-se ~dizer que o Barroco destruiu e


.....
queimou no se~ impulso o otimismo clássiç.o e prepn.rou o pessimismo romB.n-
• •I

tico, embebido de amor pelo Caos e pelo &ntanismo do culto da melancolia

e da l!orte. E, portanto, um estilo contr~ditório e totalizBnte, por ser a


..
'
• • .. _ _., A ..,

pr1me1ro. manifestnçao romanticn. de do Clássico. ~issoluçno


-.
j ftn.mbém não é um n.cas·o o fn.to de o Brn.~il ser nma exn.cerbn.çn.o cn.stn.nha,
• •
-
bruno. e .· parda. daquela. nRa.çn mediterr&.nic~ e trigueira" que se forDlOU no

sul da Europa., na. .!si a. :Menor e no Norte do. A.rrica ( cf. J. •


o. de lfeira

Pennn., "Em Berço Esplêndido -Ensaios de . ,: ?sicologia ColetiTn. Bro.sileira",

Livraria. José Olympio Editorn., Rio, 1974,. pn.ssim) e que, o.tra.Téa doa Ju-
.
deus, seria. a porta-voz do Deus único reT:~ lado às outras raçn.s; que·, atro.-

Tés dos Gregos, nos der~


"' •

n. Filosof~a, n~ conjugn.çn.o harmoniosa. da Verdade



-
e da. Beleza; ~ que, a.tra.Tés dos Romanos, ~nos legn.ro.m a idéia. da. cidadania.,

a. ordem . dó. Cidade e a. Tocn.çno do Império (ob. cit., pg. 85).

Sim, ~ porque outro fato a. assinalar . - -


sa.ô. a.s dimensoes continentaia do

Brasil ~· o que acontece somente com ~ outros poucos po.íses, entre os quais

a Rússia, os Estados Unidos, a China, a Austr~lin e a 1ndia. AS manifesta-

çÕes culturai~ dos pn.íses de grandes


-
dimensoes
.
têm, todas, por mais pecu-
..
liores que sejam sepo.radn.mente, um "a_.r de·1 família". O "espírito de Ilha.",

o gênio insular é claramente obserT4Tel na Inglaterra e na Península - na

nqua.se ínsuln." da. Península. Ibérica, isol~da. do resto do mando pelo Mar

e pelos ·Pirinéus. Mas foi so~ente quando â Espanha e a. In~laterrn. começa-


. ....
ro.m o. se expandir em Impérios, que CerTn.ntes pôde escrever o "Dom Quixote"

e a. Qbr 3 de Shkespeare pÔde assumir 1a.quel~ abertura ma.rinh~ e univers~l

que se
.· ·feve ifl em "A Tempestade" -
-
paç" cujo. o.çao tre.uscorre numa ilha
'

que se
- ,
e-spraia em indo.ga.ÇBO meto.f1si·ca. sohre o sentido do. Tida. e o próprio

sentido do mundo, palco do homem. EssB a.berturR. inha e univeranl eatá



8.

presente, tn.I+ 1bém, na. obrn. de um her~eiro ~de Shnkespen.re, isto é, em "l!ob,.
Dick" do n.mericn.no Melville, o liTro qu~1 expressou, ma.is do que qu~lquer
' •
outro, a grnndezn., o negror, a tenacidnd' impln.c~vel, a crispnç3o puritana

e as hipocrisias fnnáticn.s dos Estndos


. Unidos,
.
inclusive no que esse gran-

· de pn.ís tem de "caçn. às bruxa.s" e de "cn.çn. c.o Monstro".

Foi somente qna.nÃo n. Grécia se expn.ndiu de Peuínsula. em Império que Ho-

mero escreTeu uma. epopéia. mn.rítimn. con:o 11 A Odisséia.", e outrn. terrestre c~

mo nA Ilía.dn.u, abrindo
.. caminho pa.rn.
,~ ....
os marujos troin.nos e pré-romn.nos de
' ...
Virgílio e parn. os navegadores de Cn.mÕes- no cn.so~est~ quando Portugal

começou, também, a dilntar a. Fé e o Impé~io. Os combates, os guerreiros. e

os cn.vn.leiros - Terdn.deiros ou ima.gintirios -que o.pa.recem nn. "Ilíadn.", res-


surgem, · com rpupagens medievais e cristianizndns, na. "Cn.nçn.o de Roln.ndo", -
no "Cn.nta.r del Mio Çid" e na nnemn.nda do -SMto Graal "•

Vale ainda insistir em que foi soment~ por ser a. Rússia. o pnís que é
-
- nma vastida.o complexa, dilacerada. e continental, hnbitnda por um PoTo

cujo su~terrâ.neo é religioso e messiânico·. - que Tolstoi e DostoieTski ti-

veram ambiente pnra escrever aquelas obras complexas e de vastn Tisno que -
têm os nomes de "Guerra e Pa.z", "O Idiota.", "Os Demônios" e "Os Irmãos Ka
-
r~n.zoT'~, obras em cujo espírito e em cuja forma parecem se unir e fundir

as visÕes n.pocn.lípticas do. "Divina Comédia" e as gn.rga.lba.do.s também a um

tempo desesperadas e o.pocalíptica.s de "Almas Mortas".

De mOdo semelhante, se quiséssemos resumir, pnro. um estrangeiro impn.-

ciente, o espírito do nosso P~ís -


numa n.firmaçao meio esquemática, podería-

mos dizeT-lhe ~ que o Brasil tem alguma. coisn. da Rússia, dos EatBdoa Unidos

e do lféxico. Para. evi tn.r equívocos maiores, n.crescentnrín.mos que, co.so ele

.
quisesse, poderiá, no. frn.se, substituir n. ·~Rússin pelo. India, e o lféxico

pela Bolívia. ou pelo Peru. -


Entao, '
dépois de mostrado tudo isso, ele pode-

rin. entender, t~lvez, por qual motiTo o Bro.sil deu -


condiçoes a Euclydes ~a
"'
Cunha e B João Guimarães RosB pn.rn conceberem esses dois li~roa complexos,

difíceis, duro·s , estro.nhos e grn.ndes que -


s&.o -
"Os Sertoea" e o "Gr~nde Ser-

-
tn.o: Veredas".
9.

5. ~ -
As. Ques t oes de Vida e de MQrte

Com~ já aàsinnlei antes, acredito que essns carncterí ~ ticna


.
-
sno •
~ IDt\.18

ou menos comuna n. todos os poTos dn. RBinl}n. do Meio..;.Dia. Mo.s, no caso ., j da

América Latina em ger~l, e do Brasil em particular, elas se delinei~ com


.
m~1s
-
exa~idno, por causa dns -
condiçoes singulares da nossa Cultura.

Aqui', somos herdeiros do pensa.me)lto europeu - através da Cultura medi-

terrâne~ e i~érica, de · origem grec~romana e judaica- e, ao mesmo tempo,


somos fdlhos lde . pn.íses novos, de Paises c~ s tnnhos a cuja Cultura temos
-
que dn.r: voz e; expressa.o. Por outro lado, _sendo os pr oblem!ls da Cultura e

do pens~mentQ puro mais iig~dos, em. nossq caso, a tradiçno do pensamento

europeu• os ~tino-americanos permanecem ~ nesse cnmpo, inconscientemQnte


insegurps, t~endo, cada um, assumir seu ~~róprio modo de ser, de pensar e

de escreTer!,/Em alguns ca.sos - como o da. ,Poesia, do Roma.nce e dn. NoTel~ ,

por exemplo - . jÁ começBmos a nos sentir mAis livres, mn.is dispostos a es-

creTer a nosso modo e a. expressar npsso ~To e nossa. Cultura peculiar.Mas

no que •e refere ao pensamento puro e à.s ~entati Yo.s . de -


interpreto.ça..o dessa

mesma. Cultura. nossa, somos nós mesmos os ~primeiros n. reconhecer, entre ou-

tras coisas, que "os asiáticos, os africanoa, os la.tino-rumericnnos em ge -


'
ral e os braaileiroa em particular so.o inen.pa.zes para o pensamento e em es
-
pecio.l pn.ro. oa problemas do pensamento puro". Esquecêmo-nos, frequen~mente,
.

de que o - -
pensAmento e o. reflexn.o sao neceasidades vitais, uma. -
vocaça.~, 'D

inatintó tundà.mental do homem, de qualquer homem. As pér·guntn.s a que tal

parte mBis reflexiTa das m~nifestnçoes - •


culturais tentn. responder sao pou- -
cas - mr~.s são poucas · exatamente por co.usn. ~• de sun. gro.Tidade e importíinciaz
. . .
são o.quelo.s a que o Poyo brn.sileiro, no. sún. forte linguagem, chnma de "que.!.
...... .

tÕes de Tida e de morte". SP... o 1 igo.daa, direta ou ind iretnmente, a. oa enig-

ma.s fundio.mentais: . "Que é o homem? Qunis aa entre o homem e o mundo1 -


relaçoes
.
_ um
Qual a. importância da aituaçao d~réontingente de homens em determinado. tem
.

- '-
~ .

po e de~rminado espBÇO - e nao noutros? PQrA o entendimento do mundo e do


""
destino humano, qual a importância ou quais as tendencias que surgem e ea

que direç~o s& orientam pelo fato de t er ~1 homem n~ec i d o ou num paía do
I
10.

norte da Europ~,.de raça anglo-snxônica, ~errnnnicn e escandinnva, ou, pelo


contrnrio, entre os Poyos cn.sta.nhos dn Ra.inhn. do Meio-DiR.? Deus existe?

Qual é o sentido da Tid~? Por que morremos? Qu~l o aentido da Qorte? Os ·~

res
-
sn.o : ren.is, ou n únicn. ren.lidn.de é n. p~ssn.ge m implncnvel dn. existêncin

à I"Uinn, " mupn.nçn., o trânsito do qllO.l no.s sos sentidos dBO testemunho? s;\o
, • • t/lllttl

poss1Ye1s o conhec1mento do mundo e a. penetrnça.o no território enigm4tico

do real pelo espírito humano? Ou, p~lo contrário, as imagens do real, sobre

n.s quais refl~timos, -


oao o.penn.s sombras e• fn.ntrLsmn.s sem contorno e consia-

têncio.? .Se o Ser é umn realidade, seró. a •.Delezn. um aspecto desso. reo.lido.de,
,
ou e, apenas, uma.
-
construç ;~ o do nosso Eu?.; A vida. humana. é domino.da. pelo. fn.-

talida.de ou s~ move nn. liberdade? O Trngi~o da existênci~ human~ explicn-se

pela fatalidade ou é consequência da liberdade? Por que existe o Cômico, se

·por causB. da. morte, n existência. humn.nn. é·· funrinmenta.lmente trágica? A orga.-
-
niza.ço.o :;do Poder em Estado tem a.l~m sentido positivo paro. o homem ou é, in
'
-
trinsecamentet uma. espécie de mnquioa. monetruosn. destinn.do. a. submetê-lo e I

esmn.gti-lo? O •onho, o mito e n utopia -


sa.o·· ~ como sóis o. ~mpel ir o homem·, por

seu poder d~ -
atraço.o, para. o ma.is alto e o mais puro, ou -
SBo, apeno.s, ten-

to.tivo.s ineficazes e escnpisto.s de evo.sao? A Cultura. é um ornBmento ou é


- 'I

-
o. expressao mo.is vital de um po.ía e de seu Povo? Qual o. melhor poaiço.o, -
utópica ·ou a ~ealistn? -
A único. opço.o possível será feitn entre otimismo e

pessimiSmo? Qual o papel dn danço., do joge e do co.nto.r dn.s Artes - inclusi

Te dn.s Artes poéticas e literárias - diante do Poder e do jogo desesperado


. '

do. vida. e da. morte"? E n.ssim por di{\nte. :

f -ora, tais perguntas são feitas por qun.lq~er homem, n si mesmo ou o. .ou-

tros
.
homens, principBlmente nos momentos graves chNmndos de crise, em que

as diYersÕea ~o cotidiano se nfastnm e a~idn nos exibe de maneira •


ma1s
- - - -
aura os olhos impassíve i s de: .:; ~ü. mtÍs'Carn. <fe crueldade, de enigmB e de Cf\os.
-
! claro, portanto, que as perguntas ano u&1versnis - mas a maneira de ,se

~ ,
aproximar delaa e de formular as respostas, eata ·e c~rncterística de cada
.
Cultura e até de cada pessoa.. Assim, mesm~ deixn.ndo de lndo os pensndorea
11.
" .
n.:rr 1ca~os, n.t i \: ticos ou ln.tino-nmericnnms que se dedicl\ro.m mnis exprésst\-

mente n. esses problemas- e eles n~o a~o , mu ito poucos, como se pn.rece pe.!!.

sn.r h1.bitua.lmente - nossns respectivas Culturn.s têm por trás de si uma Ti


-
sa.o-do-mundo e um pensam3nto, ch~o subterrâneo e icpulso pn.rn o seu salto

pnrticulnr no terreno perigoso e desconhecido dns fronteira.s do conheci-


mento.

-
6 .-Visa.o Ca.sta.nhn. do 11undo.

Assim, cr~io
-
nno exagerar quando afirmo que a C~lturn brasileira tem

que ser encarada dentro do campo m~is geral da Cultura. dos povos ca.sta -

nhos do. Rainha do Meio-Dia., e que ta.l Cul.turo. tem um modo próprio de ex
I -


pressa.r seu pensamento. Esse modo de pensar é mais estético e ético do

que lógic~ e ~etafísico, e isso que pode parecer seu principa.l defeito a.os

olhos dos rotineiros e acadêmicos, é, talvez, sun. melhor qualidade, auo. ·o-

riginnlidade mais profundo.. Veja-se que me referi aos rotineiros e serTis

~ aqueles que lnmentnm, por exen1plo 1 que Euclydes da. Cunho. no.o tenho. pena.!_ -
do e escrito ~omo

Heiddegger - e
-
nn.o à.os .pensn.dores vivos
.
ou n,os o.rtiato.a

e escritores que, nascidos em qualquer pn~te do mundo - no. Rússia czarista

do século XIX, na AlemBnha kayseriata, na· Inglnterro. eliznbctana ou n~

Súécia de hoje - -
sao ~
compatriotas e contempornneos de qualquer -
cidndo.p da

p~trin terrestre. Não esqueço, por exemplo, que o notável pensador brasi-

leiro j ;, o. de Meira. Penno., no I ivr v que já c i te i, anuncia. outro no qun.l


-.
rmalisn.rá n psicologia. de Otelo, mouro do ·Norte· da. Africo. e personn.gem do
.
ilhéu Sbakespeare, como característico. dn .Ro.çn escura dos povos da Rninh~

do Meio-Dia. S~o dois exemplos de vitórin. ..do espírito humano sobre precon
-
ceitoa (ne~ é de preconceitos que aqui se /ala): o primeiro, dado por w•

Shakespcare, ipglês, que escolhia. seus pe~onn.~ens nC\ Itó.lin.; nn. Eapanb~,·

n~ Grécia, entre os judeus e mouros do Norte dn. lfrica; o segundo~ do br~ ·

sileiro que escolhe um personagem criado por Sha.kespea.re como típico da ·

Raç~ trigueir~ do mundo.


Por outro lado, o século XI, depois dos . soluços e dos gritos agônicoa

i •
12.

de Niet~schet de Kierkcg~ard e Unamuno, nbrin mais espaço pnrn os .pen&~~

res mais ligndos no concreto, no erótico, no entético, no hum~o, e mesmo

para nquelea que levam as preocupaçÕes prnticns do ético ~té ns re!lexÕea

exclusivas em torno da teorin. do Poder e do. orgtlnizo.çno do Estn.do. N;o é

que n -
razao pur~ esteja desprezndn: é que o rncionalismo descnrnn.do, ea-

quemntizndor e frio, nssim como o realis~o estreito e dogmático, esclero-


I

'I• sado em ~ Terismo, dei~nram d~ ser id~ntificn.dos com ela. Hoje, sabemos que
I

I - -
n. razn.o humana nao se diminui, antes aumenta suna dimensÕes e sua dignida-
.

de, pelo reconhecimento do enigma., pelo contn.cto co.m o subterrnneo e com


-
na revelaçoes que Bflornm a. sua superfície, comunicndns pelo t~rritório

desconhecido e trevoso do inconsciente e do subconsciente. Sabemos jn que


..... "' • ,...., ,., Attl

nn.o e a.penn.s o. rn.zn.o abstrata. que nos poe em comuni.cn.çno com o segredo do
I
r mundo - o.
--
intuiçno, a
--
imngin~çn.o
...,
e n reveln.çao talvez tenhn.m um papel

nnt~
.
I
I
•t
l rior e primordial muito mn.is importante e sem o qual n. . razno reflexivo. nao - -
I
I
I teri~ nenhum ~ateria.l de trabalho.

Desse modo, os povos mais estéticos, eróticos e contemplatiTos - poTos

ma.is musicais, a.políneos-dionisía.cos., noturno-solares e do.nçarinoa - como

os africo.nos, .os bra.sileiros, os me~icnnos, os mediterrâeeos e os asiáti-


-
cos, se na.o costumnm .escrever sistemas de :pensamento puro ou prático, for-

necem no entnnto a suns respectivo.s Cultura.- e a. seu ·modo intuitivo e con


-
ereto - aquilo que é o. matérin-prima da. reflexao em gera.l e da. reflexao so- - -
-
bre o. Cultura. em particular - umn visa.o-do:-mundo contido. numa. Mitologin.,numn

Arte ê numa. Literatura ligadas ao que existe de mais primordial, vigoroso,


.
elementar e aubterrâneo no espírito humano. Isto sem se falar no f~to de que,

com um modo muito seu e peculiar, nossos melhores pe~snd ores, quBse sempre

evito.ndo enrijecer . suas i cié ins num sistema·~ têm, no entanto, refletido eles
I

mesmos sobre esse m~terio.l, çomomente ~ aob uma. formn e atraTés' de processo
'

estético; crítico e aforíatico - o que, o.li~s, corresponde àquele mesmo ?.o~

ceito pn.rticult\r do"rn.cional como festa. e :embriaguez do pensà.mento" a ~ue

já me referi.
13.
7. - A Rochn. Vivi\ dn. Rnçn. Cn.stn.nha ..

Esclareço, fin~lmente, que, qu~rulo situo n Culturn brBsileirn no âmbito

do. Cu l turn. dos povos castanhos dn. Rninha do ~:e i o-Dia., devo' fazê-lo preci -

sn.ndo nlguns n.spectoa de meu pensamento n. esse respeito.

'7'A primeiro. coisn. n. notnr é que estou consciente de que esse · cnstf\.nho do
'

qun.l vepho fn.ln.ndo é, n.inda., no cnso dn Rn.inhn. do Meio-Dia, uroB. nspiraçã.o:

poTos mn.is"brnncos"do que "negros" - como é o cn.so dos Espnnhóis, Gregos e

Portugueses, por exemplo - nspirnm inconscientemente ao cnstn.nho, e foi por


.
isso que partiram do sul dn Europa em direçno no Norte dn
- .
!~ricn, no Egito,

ns tndio.s ou À. Américn. Latino.. Por sun. vez, os povos mn.is"negros" do que

"brn.ncos" - como os Africanos, por exemplo - procuram também se clo.rea.r


"'
. n.te o cnsto.nh~
. -
pelo. n.trn.çn.o irresistível da mestiçagem. No Brasil, também,

sente-se _que o Povo - branco demais nos lugnres e~ que os contingentes es-

trangeiros dominaram mn.is- e dividido n.indn., no -Litoral, entre brn.ncoa,ne-

gros .e seus descendentes, aspira no castnnho como seu ideal de raço. e de

Cultur~. Foi por isso que a primeira ten~tivn de · noss~ -


expressao cuLtural)(

foi rea.lizo.da. o.trn.Tés do indinnismo - uma expressao fn.lso. e fn.lht"..da. - mn.s

que indicaTa. cla.ra.mento a. tendência. · colet·ivn. do I•n.ís: entre Brancos ibéri-

cos e Negros· africn.nos, nosso Povo sentin. que seu caminho est~v~ mais apr~

xima.do doa ! ::1d ios bronzeados - pois ·. era. no cnstnnho final que irinm se .

fundir, :no futuro, os negr~s, os br~ncos e os vermelhos.


-
Enquanto nao se déscobrisse o castanho :verdndeiro, porem, ern nessa ,

.
sucedâneo-. o indin.nismo-qúe
I
n. Cultura brasileira iria tn.tear seu enmiriho.

De ~ odo que, quando Euclydcs da Cunha, el~ mesmo per t~rb Bdo e deslumbrndo,

rcvc l cu ,~ o Brasil o cerne de si mesmo numa comunido.d.e ,insult\dn. entre pe-
• •

drns e c.n.ctos "- e form~n. pelo primeiro continge nte mais estn.bilizt\Clo de
'

descendentes t astnnhos e brasileiros dns trõs raças primordiais, foi um&

ospé cie de~esso~bro. Erwm três graus de. n~astanhnmento · e de verdnde - aqu~

les que se podem Acompnnhnr fo.zendo uma ca~inhnd~ des~e Peri e os ~imorêa

.••

que n.pnrecem em "O Guarani", de José de Alenc~r, pa.ssn.ndo pelos Serto.nejoa

idea.lizn.dos e românticos de "0 Sertanejo".,nté chegn.rmos A narr~ç~o tr.ngica,

épico. e -dro.mtitica de "Oa SertÕes".

Dess~ modo, acho que é através do cam~nho anunciado e indicndo por Ea-

clydes do. Cunho. que temos de caminhar, mo/; tivo pelo quGl, a esse .respeito,

me ooloeo ~t~s n~ au3 linh3 do que n~ de •


Gilberto Freyre, Keyaerling• e
J. O. de Meira Pennn.. Gilberto Freyre, aupervn.lorizn.ndo a Cultura luso-tro-
pical e . afro-bra.aileira - o que f'ez 1 por steu apego ~ Zono. da Ma. ta - di,acor-

do. de Euclydea dft. ·-Cunho. quando este . sustep tn. que "n. rocha-viva dn. RA2n.
.

brasileiro." é o Sertanejo, que o Sertnnej~ é o Brasileiro típico, por. ter


.
nele co~eçndo o. se estabilizar, n.trnvés ~~ mameluco, o Jngunço bronzeado,
cruza.ndo-se o tronco ibérico com n.lgum coptingente do sangue neg~o e com o

sn.ngue jR. pardo dos Tapuias. Como já diss-e , estou mn.is de ~~-o.r:..cl!> com Sylvio
-- --
Romero ~ Eucl ' des da Cunha: creio que o i ·ilÍcio de fusão cn.sto.nha do Ser,tão
____. . ___--!!C.- -- - -- - - - - ---=---- -..'í. --:~- ---- -------- · - ----
, '* - ,
e - e ~~rn. mo.~s o.indn., depois - um fato d~ repercussao muito mAis ampaa, e
- -- -- -
...__ - ... ~

uro n.núnaio profético não só da Ro.ça e do. Cul turo. bro.aileiro.a como do. ~ró­
- ~~

prio. Ro.inhn. do Meio-Dia, incluídas o.qul O.l ~ América Latina, a. Europa medite!.
------------------- --------
'#...Esse ~ CRstnnho que, no Brasil, vem S ·é -
for jo.ndo no Sertn.o mo.is do que em
-
qua.lquetf outro. pa.rtet é a. o.spiraço.o .tn.lvez inconsciente,mo.s verdooeira e

profundá, irreprimível, do PoTo bro.s'ileiró, dos povos mais brancoa do · que

negros ~ Europa mediterrânea, e do$- povo~ mais negros do que brancos da

Africa, •ejom .os de Cultura. portugu~so., cõmo Angola e Moçn.mbique, aejrum

oa de
-
Cu!tura ~no.o-portu~tesn.,
' .
como o Senego.l de Léopold Séd nr Senghor.
..
Pn.rn. estabélecer o. outro. precis;o· com ' quo.l pretend9 delimitar meu

pensamento~~ também o ~nbito destw refle~Bo- devo confessar qúe, pôr

causa de: tudo ~i~ ;; o que o.co.bo de explicar, quando incluo· a ÁBio. entre oa

povos da - Bainh~ do Meio-Dia é pensanao ma~s em Povos já mais estabiliza-

d~s
.
no cBstanho, como o do. India,
-
do qu~ na China ou no Jo.pn.o.
.
Como bras!

leiro e sertanejo, sinto-me situado no cen~ro mesmo dessa. Cultura e bea



perto, pÓr iaao, d~ todos aqueles que me ~deio.m a partir desse centro -
-.
• • I •
15.

Cervantes, Gil Vicente, Cn.lderón, Unnum nQ,, a. mÚD ica. árabe e juda.ica-l_adino.,

;:uclydes do. Cunha., Cyro Alegria, Góngor n., So.nto. Tere~o., flotino+ Gn.rcin

Lorc~, os murnlistns mexicanos, os ~etábulo a rcmnnicos cato.l~es, ·Emiliano

Z~patn, \ os tronós, templos e altares inc~icos e nstecas. Estn é minha. Ilha.,

to.lvez utôpic4', ilha cujo nl tnr pedreg oso. e e.spinheuto é o Sert~o e cujo

nume tutelar ê o Sol. ~io.s, como todos os insulados, sinto neces~idnde de


-
expansno e . -
comunicnçao -
- com n vocaçno br~sileira do. ~pica. e do Império.

Assim, comunico-me coe n. Cultura mn.is"purnmente"brnncn. da Latinidn.de n.trn-


-e.., ..

vês de espíritos i"ivres e abertos, como André MC\lro.ux, o nmigo de Nehru,


••

ou como Albert Camus, nquele meio-sangue ~e espanhol e francês no.scido no

Norte dà Afrien.. Comunico-me com os : povos germânicos


.
e nnglo-snxÕes ~tr~-

'*
ves de Shakespeare, Nietzsche, Thomas ~fn~,llelville ou Hermnnn Hesse. Com

· OS eslavos, ~través de Gógol, Tolstoi, Do~toievski, Liéskov, Pnsternak e

Cholokolf. Com os africanos através de Plot,ino, Aimé Céaa.ire e Senghor.Com

os hindtis através de sua. escultura e de séu profeta., Gn.ndhi. Mn.s com o.


-
China e :o Jo.pao, sinto certa. dificuldade • o que se deve, provavelmente,

_ __::..povos aéinticos. . mais mon


a desconhecimento e falta de contacto. Com esses _ _ _____ '

góis, pr~sstnto que só tenho, por enquanté, umn possibilidade de compree~


'
- -
sao e assimilnçao - aquela que é constituída. por su~ Dança, seu Te~tro e

seu Cine.mn.. Mesmo a.ssim, o.chn.ndo que a Cultura. brasileira. tem mui ta coisa

a apreender e assimilar ao contncto ·COm


-
essas manifestaçoes
.
culturo.is · ~si!

tica.s, sinto que n.quilo que nossn C\Fltura. '!: tem de dionisíaco em seu espíri-
-
to repele, por exemplo, a noçao de tEmpo por demais apolínea e lentn. da

Cultura e das ·artes nsiáticn.s. O que -


nao impede o fato, oposto mas comple-
'
mentar e ve rdadeiro, de que
-
reflexoes
~
sobre o Teatro jnpones ou sobre · o

balé da Opero. 'de Pequim sejam muito uteis ·1pa.ro. o ent\:ndimento do Teatro,

da Dança~ e do tinemn brasileiros. '.

-
o fato do. nossa o.proximnçao mBior .
com · os povos cn.stn.nhoa permn.nece po-

rém, irredutível: e ,po.rn. prová-lo, basto. q-u e qualquer I:•u.sileiro que tenha

boo. __ conviYência com as Artes olhe e ·contemple, no ~e sco tempo, a esculturA


-
16.

hindu, por um lndo, n chinesa e n jnponesfi por ·outro. Di ~nte dest~s, senti-
-
mos uma. sensn.çn.o de estranheza e de "exótico'', injusta. tnlvez, rno.s presen-

te. Com a primeira, nós nos identificamos, tnnto qur~to com n etrusca, a

egípcia. ou n grega. primitivo. e mo.is d o que com a. grega. do tempo de Péricle·s

· - esta já bo.stn.nte diferente do espírito da tragédia ou das epopéias de B~

mero, -
ta.o cn.sta.nho e nosso qun.nto seu compa.triotn. contemportineo, o grnn<le .
Nikos Kazn.ntzaki.

'

.'

. .


Cnpítul-o I
.-
CAMOES E A IUIA DZ DUI•LA FACE - Sé c. XVI

• 1. - A Rn.inhn. do Meio-Dia

~
O mi~o dn. Rainha. do Meio-Din. tem s eu núcleo histórico estn.belecido pe-

lo Velho Testn.mento, no I Livro dos Reis: n. Rtlinhn de Sn.bá, "tendo ouvido

fn.lnr de -
Snlomao e da glórin do Senhor, v.eio prová-lo com enigmas"(l~,l).

Parece, . porém, que essn. n.traç~o,surgidn. entre


. os dois através
'
dn. tentati-

va. de -
penetraça.o· . d~os enigmas do rea}. pelo penanmento,terminou em festn.

orgiáticn. e posse sexual,pois,segundo o. tradiç~o,fÓi do filho nascido a


-
eln. pela uniao com o Rei judaico que· surg~u e Cn.sn. imper ial dn. Etiópia.

De fo.to, n. respeito dessa.


'Rn.inhn. .e dos povos sobre os quais eln. reinou,
-
as versoes divergem: uns dizem que se tratava de gente do sudoeste da Arn-
bia., ou~ros q~e -
eln. era n. Rn.inha. da. Etiópin.. Cnmoes o. eln. se refere no

Cnnto X :de "Os Lusín.dn.s", fn.ln.ndo do "gro.nde Império" etiope, isto numa. e_!

trófe nt\ qun.l ·voltn. n.o tema, pn.ra. ele obsessivo, da. Ilha remota, das "re-

mota.s Ilhas que


-
da.o ao mundo novn.s ma.rn.vilha.s". E quando
.
~lude o.os tr"ba-

lhos de -D iogo ~Lopes (ou Soo.re s) de Seque ira. nn. :!ndin.: ·<. · •

"Tn.mbém Sequeira., n.s ondas Eritrein.s


dividindo , abrirá novo cn.minhó

pera. ti, grn.nde Império, que te nrrein.s

de seres de Ca.ndace e SahB ninho.

lfn.'çuá, com cisternn.s ' de tigun. cheias,

verá, e o por~o Arquico, ; nli vizinho: •

e fa.rá descobrir remotns Ilha.~,

11
que dBO a.o mundo novas ma.rn.vi1has •

.
{Cn.nto X, estr:-. 52, "Os Lusíndas", em"Obra.

Completa", AgU:i lar Editora. , Rio, 1963, pg.

242}.

Segundo informnm os comentn.ristn.s co.monin.nos, Sequeir~ foi GovernB4or


-
da. !ndia e sua. a.dministraçn.o irin abrir caminho pn.ra. .o comércio na. dire-
18.
7
çn.o do ~eino ~e Sn.bn, situndo "na Etiópia I· ou no Hedjaz
.
(Arábia)".

A .
d ..iver
. -
A •

ge nc1n, tcomo ~e vê, permnnece, mns, , n we~ver, a tradiç~o da Etiópi~ ,é B

mnia fi~me. Aliás, as palavras posteriore~ do Cristo confirmNm a trndiçno

do encontro do Rei judaiço com n R~i nha d 9 Sul; e ns do Velho Testrumento ·


-
insinuam as relaçoes que se estabeleceram entre os doia . de mnneira •
me1o

ambígua. Diz lá, o Livro dos Reis:



"Qua.ndo o. Ra.inh~ de Sn.bá viu toda n. sabedoria de Salom~o, a caso.
.
que ele tinha feito, os mnnjo.res d~
'
sua mesa, os Bpartamentos

pe
~eus -
servos, o.a hnbitaçoes e uniformes de sen.s oficiais, os copei

~os do · Rei e os holocaustos que ele oferecia no templo do Senhor,

ficou estupefo.t~ ••• :Presenteou o Rei com 120 talentos de ouro e

grande ·qun.ntida.de de perfumes e pedras preciosas ••• O Rei Sn.lo-


-
mao deu à Ra.inh~ de Sabá tudo o que ela desejou e pediu,- além doa

presentes que ele mesmo lhe fez co~ real liberalidade. E a Raipha ·

~etomoti o co.minho .de volta com a. s~a. comitivo.". i (I Reis,l0,~/13) •


Assim, essa Ra.inho. . de Sn.bti poderio. ser.' uma. nra.be ou uma. etíope, maa

era, se~ dúvida, negra ou acobreada.. De qunlquer forma, esta.belecido,pe-

lo Velho Testámento, o núcleo histórico do mito, seria o Cristo quem ~riB

lhe o.mpl'ia.r o significado num sentid!o prQ:f:ético e messiânico, escn.tológi- •

co, apocalíptico. Comumente se inclu-em os ··J udeus entre os povos "incn.pa-


-
zes pt:Lrn. a. reflexa.o". Mas no Livro juda.ico por excelência. existem alguns

problemas filosóficos tratados com uma segurança que só pode advir da.que-

le fato a. que j~ me referi antes - qun.lquer pessoa., qualquer comunidade


pensa e repensa,por sua conto. e a seu modo, os principais problemas da F!

losofia. ~ e eles reapn.r e c c~ n o8 aeus mitos e na. sua. Litero.turn. Assim,

quando, no Gênesis, Deus diz "Eu sou· Aquele que é" - o Velho Testamen'o

demonstra que ~ povo judaico tinha conaciência, nem que fosse implícita,

do problema fundamental da Filosofia - o do Ser. E o Gêne s is estnbelece

imediatnmente depois os fundamentos de outro mito importnntíssimo p~r~

nós_ 0 do Jr~rdim ou pomo.r do ~den, com O'Jilacho, a fêmel\, ~s fru'tos,co,m

a N~tureza acolhedora, com -


comunhao dos ~omens com n~
~
C\. r' \~o r es e oa
.
L\nl
4
-
19•

mn.is, e l~go a aparição dn Desordem que irin reduzir n escombros ~ paz e

a somb~~ feminina do ~en, com o c~st igo imposto pel o Pai, a Arvore do

conhecimento, o fruto do Ma.l, n. Serpente) a Mulher, a transgressão e a.


-
expulsao posterior - mito no qual se segue o dn penitência, do exílio e

do enfrentnmento e <. traTessia do Deserto duro e purificador, para a. con-


-
quisto. de um novo Eden terrestre - c~na~.

2. - Cs Judeus e o Ten1po.

M~s .outro problema de que os Judeus t~ntaram ~om intuição ndmirnT~l

foi o d.o Tem.P.o• Eles tinham uma. noção bo.sta.nte exn.tn. de que um BCOnteci-

mento ~istôr~co . determinado- um aéonteclmento inserto na História con-

ereta ~ como {a viagem da Rainbn deSabá~ - -


suas relaçoes com Snlomao, ou

o reinado de .Davi, ou a existência do judeu Jesus Cristo, descendente

desses dois Reis - tinh~1 seu tempo e seu espaço determinado na Hiatória,

mn.s tinha!.' também outro tempo' um tempo ·.~superior'


,
supra-temporal e per-

manente~', ae assim se pode dizer, um tempo assim tornado por caus~ de


seu sentido transcendente, usada aqui esta palavra na sua acepçao nao - - ne-
cessarinmente religiosa.
E assim que o maior Poeta profético do Novo Testamento, Joao Evangelia- -
ta, inicia seu Evangelho dizendo: "No pr rncípio era o Verbo, e o Verbo ea-

to.va com Deus. e o Verbo era. Deus"-. o Se~ e o Logos identificados num tem-
"
.
p~ superior. Também o Cristo declarou cer.~a vez, mostrando a aguda consci-

ência de que seu tempo sagrado e profético era superior ao tempo comum, o

que 3mpliava suas dimensoes - •

humnn~a até a.~ fronteiras do Pivino1 "Abnaao, -


...
vosso pai (dos Judeus), exultou coe o pensrumento de ver o meu dia. Viu-o

e ficou cheio de alegria" {Jo~o, s, ·56). Idéia se~elhnnte ocorre quan~o o

Cristo comenta certas pnla.vra.s enigmnticns de Da.Ti (Mnteus,22, 41/4.6) •


.
Mas, ·para nós, o que interessa mostrar~ agora. é . ~ maneira como o Criato

tomcu 0
-
'acontécimento hi 5t·5 r··i. (.;· ~· r~.~a l e determinndo da uniao do. Rainha do
.
Meio-Did com o Rei judaico e lhe (>....1 um sentido supra.-temport\1, messi~ni-

co e prófético, considerando-o,
-
sob ·~ vis•o nova do tempo .sBgrado, o.o mea-
.

mo tempd no Pâssndo e no Fut uro. O evn.ngeti atn. Mntou.s refere que ele nfir-
20.
mou:

"No dia do .juizo, os ninivitp.s se , levo.ntn.r~o c em ·_. :. esta rn.çn... e


-
coudena.rn.o, porque fizernm penitência à voz de Jonn.s. Orn., o.qui o.t:

tá quem é maior do que Jonas. No di a do juizo a rninhn do Sul ae

levantar~ com esta raça e a condenará, porque veio dn.s extremidn-


des dn. terrn. para ouvir a SBbedoria de Snlomao. Orn, aqui
'
- est~
.
guem é mn.ior do que Salomão".• (Mn.teua, 12, 41/42).
-
Nn. trn.duçn.o, clássico. da. Língua. portug,u e s a., do Padre Antônio Pere~ra
.
de Figueiredo, o trecho princip~l - que ~ a.qu0le do. qual grifei algu~na
.

palavras pn.ra destacar suB import&nci~ ·- vem da seguinte maneira:


~--=---~--
"A Rainha do Meio-Dia. se levn.ntn.rt\ no dia do juiz·o com esta gero.çao,
. .

e a conden~ráJ porque veio lá das extremidades da terra ouTir a an.-


bedorio. ·de So.lomão, e eis n.qui est.á. neste lugar quem é mn.is do que
- -
So.loma.o". (Ediça.o feita a po.rtir dn. n.provada. em 1842 pela. Rn.inhn.

~onn. M(l.ria II, sem nome do editor,.. Lisboa., Prnça. Luis de Cn.moe·S , -
20, 1919, pg. 26) •
.
Q.Í se vê que o conteúdo histórico do mito se o.mpliou e enriqu~-ceu

de vários significados: n. Rainh~ etíope . d~ Sn.bá passa n. signific~r a~bo-

licrunente todas as Ro.çn.s escuras situn.dn.s : ao sul ou em tor·no do Equo.d,or -

e n. ela, a -
todo. estB Naça.o constituída. por '
aqueles que eu chamei no prefá-

cio da ·~Fãrsa. dn. Boa Preguiça." de "povos morenos e magros do mundo" (1966),

é a.tríbuídn., pelo Cristo, 11ma.


-
~i-~~n.o apo_En.l~p!i c a. de ~~testo e condennçno
·------·--
-
----- ---
~ssiô.ni~n., o ·que se · da.réi no fim dos tempos ou em tempos -
remotos em relaçao

no temp~ histórico de quem falava..


3 - A Rn.çn Morena e Erótica da Rainha.

Alguns grandes pensadores brasileiros, (mesmo sem atentar p~ro. a. importân-


.
cia. dess~ mito messiânico e n.poca.líptico ~ormulndo (\ partir. dos Profetas ju-

daicos pelo judeu Cristo, revelam, contudo, uma certa consciênci~ dela, n~o

formalnd 4 mas implícitB. Deles, a ~e l hor ~entativn -


de interpretaçao feit4

nease sentido n.té n.gora. foi, o. meu ver, e. -:de J. o. d e Meira Penn3, no .liYl*O

jcí citado, "Em Berç<? Es plêndido". Nesse l:Vvro, ele -


opoe "o Norte, lógico,in-


21.

duatrinl, viril e n.gressivo" t\O .. Sul, quQ:nte, subd esenvolvido, erótico e

nfetivott (Ob. cit., pg. 75). Liga os pov4s mcridionnis morenos, erótico ~ ,
... .
a 1.mn.gem Mn.ternn., e os do Norte n.nglo-s a.x,.i io, tecnológicos e dominn.dorea,
...
a imagem masculina do Pai.Faln dos dois tnstintos fundamentais, unidos
• ,. • ll>wl ,., ..,

pr1nC1p1o e que de po i. · .se diferencin.ra.o : "o ex-ótico ou de a.bsorçn.o, · fust\o,


.

que é primordialmente mo.terno e feminino;- e o destruidor ou agressor,. de


domínio e conquista., que é primordialme nte mo.sculino 11 (pg. 37).

4. - Afrodite e Nossa Senhora..

Jó. ·escrevi, eertn. vez, que, nn. n.ç~o d~ "Ilío.da", há. sempre em mim ,.uma
....
tendencin. n. simpatizar mais com os Troi~os
.. derrotados do que com os Mre-
.
gos vitoriosos. E que, npesBr de serem,ambos, rovos morenos da Rainha do

Meio-Dia, os Troinnos, nntepassndos doa RDmnnos de Virgílio e dos flore~

tinos de Dante, sao mais verdadeiramente - L~tinos do que os Gregos.

Orn., 3na Guerra de Troin., o símbolo mítico e nume tuteln.r dos Troitttnos

era materno, lunar, erótico e feminino ·- .A frodite. O dos Gregos er~ solar,
'

paterno, lógico e masculino, racional: ern. Febo, ou Apolo, e sua c~mpanhei-

ra de racionalismo e conhecimento, Pal~a Atena. ~ por isso que Heitor é


um herói muito ma.is generoso, cortês, cavalheiresco e mora.lmente eleTado

do que Aquiles - o agressor brut~l da força pur~. E por isso, também, <que
.
muito dep a, ·e com o aparecimento da Eur~pa moderna, a. linhagem troinnn

de vida e pensamento esprn.io.-se pelo Sul ~ pelo Mediterrâneo, enquanto oa


,.., .
A.lemn.es :, por exemplo, r e ivindicam n. l1ern.nçn. dn. linhagem gr,ega..•

Afrodite, nume protetor m~terno e erótico dos Troin.nos, transfigur~-ae

na l!adr~ -
latiria, Vênus, e prot e ~0 as nevegnçoes de Enéias pelo Mediterrâ-

ne o, na epopéia de Virgílio, ou ns dos Portugueses em demanda das !ndias

e do Brneil, no ' -
poema de Camoe s .

E aqui que outro pens n.d ~· r brnsile-iro, -


no.o dos mn.iores, mn.s de iwport~:;.

cia que n~o explica seu esquecimento - J. ~A. Nogueira - se nntecipa a to-

dos nós que, n.gor3, fazemos -


observn.çoes cómo ns que ve nho nlinhnndo. No

seu livro "Sonho de Gigante" (!fonte irQ Lob:a.·i,iJ & c. Editores, Sno Paulo,
22.

1922), ele, ~ntea de J. o. de Meira. Pe nna., o.lude a e ssn. oposiç~o entre po-

vos nórdicos, industrinis, m~terinlistas e d omin~dores, e os povos morenos

e reeridionn.is, isso em r eferêncio. à Américo. d o l rort r) e à .A=n.érica. Ln.tinn.,n.


-
do Sul. Ele parte dn.s idéin.s de Rodó, Gnrcin Cnlderón, Jonquim Nabuco e

Edu~rdo Prado - e é dn.í, a meu ver, qu e se ori gin~~ as falh~s principais

de sua tese, com um princípio inconsciente de racismo. Mesmo assim, reveln

admirável lucidez quando fala. "de uma. Cul.tura ln.tinn, de que s~o depositá-

rios os povoa do sul dn. Europ~ e dn. pa.rte do Novo-Continente por eles civi
.
liznda" (Ob.cit, pg. 58). Ca.rncteri~~ o espírito industrin.l dos Americnnos,
. .... .
herdeirCDs dos anglo-sa.xoes nórdicos, como uma. a.meo.ça pC\ra nós; atribui-lhes
'
o.s "brutalidades da forçn."J diz que essa oposiç'n.o dn. América. Ln.tinn. n.nte -
-
os Estados Unidos repete ·a velha oposiçao da Cidade latino. contra os bár-

b~ros do Norte" (pg. 79}; protesta. contrB os Brasileiros que se deixwm

contn.gin.r por. essa "nordomn.nin." e diz:

"A nor d -.r·~


..._nin é hoje um dos nossos maiores males. Com elo.,te-
. .
remos c~Aa vez mnis o reino d o .e s;eíri.to ?e vulg~ido.c!<! qu-e o.

cnratteriz~, apoteose dn. for~~


'
-
bruto. e ext eriorizn.ço.o ou m3-
-
terializn.çn.o geral dn. vida. Porque,como acontece sempre em
-
tais casos de imitaçno unilateral de nma raça por outro. di-

vers4íssima, só vingaremos reproduzir-lhe comicamente os de-


..
feitos, exagerando-os n.té a cnricaturn., sem todavio. e.saimiln.r-

lnes as qualidades". (Ob. cit·. , pgs. 96/97) • .



5 - Vênus e os Ibéricos •

11ais curioso ainda, porém, é que J. A. Nogueira tBmbém se apercebeu


. .
do.s qualidades eróticns e femininas, maternas, que caracterizam a imn.gem

simbólica dos Povos lntinos e morenos d~ Penínsuln Ibérica. Ele dedica


. , ,
todo um capítulo de seu livro, 0 Esp1rito dos Lus~n.d n .9 ", n. Camoes, e ner.-
11
-
le diz que 0 poemB épico dn.s nn.vega.çÕes ibéricas é "o poemn. de Vênus,

lf~e e protetora, dos latinos":


ui a um tempo poema dn pitrin, poema das conq~istns, d~s ~-


.

23.

venturas, das arremetidas de todo~ os Argonautas, e poema de Vênus,


-
a Mne protetora, dos ln.tinos, a id,a.liznç~o mo.is encantad ora. que e.i.!!,

dn se viu de um tra.ço inconfundível dn civiliza.ç;\o medite-rrânea - o


- •

!ervor, a paixao levwdn. no supremç í mpe to, mas gunrdnndo sempre A


medida, n. ord ec , a. pureza. ideal dns linhl\S e do.s proporçÕes"(Pg.4-4).

O ffnal da. frnse pa.rece-me meio art ifi cial, o que, a.liá.s, decorre, a

meu ver, do próprio poema analisado, que s empre me pareceu to.lves mais
I

"puro"., e também l : ·~ n os forte, do que ·oa poccas à c Hoz::ero. Ar tificial também,

como a própria Vênus - em compnraç~o co1:1 Afrod ite .::. parece-me a. identifico.
-
-
ça.o, '
ou melhor, a -
nproximnçno '
o

que, segundo Nogueira., Joaquim Na.buco quis


.
fazer entre a. Vênus dos "Lusíadas" e a Virgem. Diz J.A. Nogeuira:
"Foi exa.tnmente isso o que, .com sua admirável penetraçao ja aentiu -
o nosso genial Nnbuco, qu~ndo disse que, se os Lusínnns fossem um

poema. religioso, deviam chama.r-se . o poema. de Vênus, dn. Vênus celes



.. -
te, i~'lgem alevnntn.da. da simetri~,. do esplendor da Forma ••• " (pgs.

44/45).

~·- Essas eproximaçÕes - e n~o fusÕes - sempre we pnrecern.m livrescas, dea-


ligadas dn. corrente subterrnnca. do espírito brasileiro. O que eu acredito


'
é que nn. Rainha. do Meio-Dia. os braaileiro·s posso.m fundir, no futuro, as i-
mn.gens da Afrodite troiana. e ln.tinn. com a outrn. it:Hl.gem femininl.\. e mn.tern~

da. Virgem da Concepçn.o - imagem judaica, semítica. c ·q·ue escurece n. outrn,.


- o

nindn ~1ito branca., para. nós, · se bem que ~enha cabelos pretos; escurece-a

n.té 0 c~ s tnP~O que - profunda e


é n nspiraçao subterrâne~ , plnntnd~ no .in -
- o

consciente da. nossa. Rn.çn. Realizado. e.ssn. .,primeira. fusa.o, nosso Povo une

ima.gem fe;ninint\ resultante com outro., mn.sculinn. e s oln.r, que n.ssnme muitas
o

""'-# • ,., ......,

figur.ns,: entre ns qun.is (Sao Jorge, So.o S.ebn.~:>t in.o) , n.vultn. o. do Cristo-Rei,

coroado e crucificado. E assim se fo rja su a concepçao peculinr - d~ Divind~-

d a, talvez 3 primeira no ~and o a admitir Deus como uniao perfeita e pes4o~1, -


n~o-nbstrata, do princípio masculino c do femin ino.

6. - A. Ilha. Brasil.

Temo 3 : o.sailil estabelecido nlgun2 mitos fund amentai :! o entend il:lento



24.

da Cultur~ dts poYos cns t nnhos em &era l e d e~ brns ileirn em pnrticular~



0 Eden ~ e o exílio, o Deserto e Cann.n , o Re i e n. Rn.inh n do Ã!eio-nin.. Pnsse-


-
·mos o. ~tro, de nno menor importiincSn., o da. Ilha Brn.sil, de fa.ce bif~ont.e

e runbiv..nlente.
~

J~ destnq~ei, nntes, que n Penínsuln I bér ica dn qual surgimos,pela ·fu-


-
sno com nfricnnos Negros e índios Verme l~os, é uma qunse-ínsuln, isol~da

do resto dn Eurcpn pelos Pirinéus, e do re st o do mundo pelo Mar. Pa.rn. os

europeus "puros", n. .!fricn começa. nos Pirinéus- o que eles dizem como es-

cnrnio mns, para nós, constitui um grnnde elogio. Pois nessa. espécie de

Geografia mítica. que venho empreendendo, é necessário destn.cn.r que, na

Península. Ibér1cn., existe um Deserto, um Sert~o - que é o. Castela eapnnho-

ln., despojndn.. e n.scéticn. - e um Eden verdejante e tropi'ca.l, que é a. orla · .

litornnea de ;Portugal. l por isso que Cnstela e o Sertao têm mnis grnndez~ -
enquanto Port.ugn.l e o. Zona dn. J.In.tn têm mttis grnço..

~ to.l vez P.o r ca.usn. d~ss o que, dos mi t ê:.s que mn.is influenc.in.ra.m os : Povos

ib é rico~, um . é ~r.n.is feminino, vegetal e português - o do Paraíso edênico -

e o outro é mais solar, pedregoso, mascufino e espanhol - o do Eldorrido.O

do Paraíso; ~ais litorâneo; o do Eldorado m~is sertnnejo e sertn.nist~,- e

nmbos se unem no da Ilha Brasil.


' !

De ·qualquer modo, tenhamos presente n. todo insto.nte, como pano de :.fundo

do nosso pens~ento n tal respeito n. segu'inte imagem, tríplice: nascida


•, ,. . .
principalmente de Portugn.l, a Ilhn Eden1ca; de Castela, a Ilhn. Ensõlaradn;

cercando cada. umn; delas, -


duns va.sáidoes - o Mar, deserto de aigan. salgn.da,
.. . - , .
e o Deserto, mar de terras aridns e pedr~g osns.

Pa.rn. CamÕea, o Ma.r ·é ambíguo: por um fn.do, Monstro, ha.bitn.do por divin-

dades e seres·· mcinstruosos, va~tid;o ~ peri~sa., ninho de rochedos, relnmpn.goa


e tempeatadea; por outro, Reino de águn transparente onde, em palnci~ de

cristal; podemos olhar o t~ ono doa quatro elementos - o Fogo, o Ar, a Ter-

ra. e a 1guo.. Vastidão cn.óticà onde, •porém.; pode-se n.vistn.r n imt\.gem do "T!.

---~---------- -

lho ·ca.os" dominado, e onde, numa Ilh3 p~rndisía.cn. e sexualmente vegetal, 0


que
prêmio para oá\tVencera.m o exílio e á t r- t.. Y~s sia do Mn.r n.pnrece a eles sob

doi• aapec~oa - a P•••• de ltelu •lll•r•• .... • perteltaa, ••• H eave-
1 .. por eatre fr•'o• auaareuto• • entreablrt•• - .... aateeipav•• da ei•L -
ta ••• aeso• - • a decifração "da Mqui~aa •• ......" - o 1r...e uaete ft-

lo•6flco de todoa •• b...aa, a ert,.• da patzão • •ed• •• ,.....,...... ~


•i•, a\' oerto peate, C..Õ•• já ••••aa•r• •••• . . . . . •l•Ã• •• ..... • da
Bel•••· ........ o '•pero • o l'eto,per - 1. . . . . Belo • • a.... , ••• , ,.r

ta iWrieo , ... • ••• ,....... aaM•••-


-
••r•• da Vt•a• -raailelra do . . . . . , da ltel••• • •• Arte.
-
• ele ••••r••• .....ater •• trt~ae, ••• • Pete .... el ...••• •
- da lel••••
,.8\o de par•tda para a orlaçao
- aoaba•a,
"Mae q~
• ua- rt.-ra
•• ••• aoatra DO ar, robaa~a • Y61ida,
de diafor. . . araadf•aiaa ••t•'•ra,
o ro•to oarre1ado, a barba ••••'lida,
oa olbea euoe.adoa, • po•'-ra
... oaha • ú • a oor trerreaa • "lttlat

ohotoa do \erra • ereapea •• oabolea,


a boea ••1ra, •• deatoa .aareloa''.
(Canto Y, eatr. 81 9 11Yro oi~••PI•l ).

"O• oa~loa da ~arlta • •• ••• ••••..


da oabeta aea ..br••• t . .•• or. .
au 11... prou•• do '--•• • b•• JMU'I•••
••• a.aoa braad• •••'- ••~••r...
-
lu pentu peDiaruo• ue tal•••
-
o• ao1 roa ..stlboo•, q•• ali •• a•r...
Na eabeta, por 1orra, tlaka •••~

•• .. 1 ,raade o•••• •• 1. .••••"•


(c..to YI,eatr. 11, ed.ot,.,,..l41).
-
cn•• •• Jan1 Mer•• tb4riool • •ae"tl•• 4e•6r•t•• de Mar, '••U• de
lelt habl ...a per d••••• • •••••r•• ' ••r•..• •• reliapaa•• • ._.,..,_.•• ,

1 ••••• , • ...., ~~aia '•pera• dt Bel••• - k•oadu ae rote, •• terrer, ••


••
que o luttlt•• • o Gr

PMt.a 811• o•ple•entaçã at,ra•'• da faoe aat• Vuqalla •• .. 1. . . , a •• JJ.!


lo • A do Orao ioa oa

"Deaoobre o fuDdo

u areiu ali d• prat.a fia& I

iorrea altBa •• Têe•t oo oa.po aber~e,

4e tran•parea~e aa••a oria~ali f

qli&Ddo •• caa.......... •lhea ...r~o

•• é or11-.1 o qae •• Yi. •• diaaaa~e,


que ••••• •• aoatra c laro • radiuH.

port-u de nro fiao, • •arobet,Mu


do rioo al Jifar q•• aaa oooe~aa ..... ,
-
de ••oultara f er•o•• eatao la.radaa,
q•al elo i rado laae a 'f'i•k pu••.
E ri prl•eil"o, •• cor•• •artadu,

do Yelho C&6a a -
~·• eent..a ta•••
•êll-•• o• qUat.ro 11••••~•• t.ra•l ..lldoa,
• dt••r••• ofício• enpM••"•

-
A Yiaae-d.-.uDCi o que iafonaa•a o peu ...at.o •• - era de ..a.etr•••
c.....
pla~ôaioe. -
De ponto do vieta da ooa.. pf&O da Del••• • da eriata• - ar~f••t-

.. , ele era . . Barreoo - •a•


•• raotoaal, da • d 1da, ele 1raoioee • do Bele, earaoi.eri•~teu •l'••t.eu.
c... pl•~•aioo, ••••• •1•_.• que
~ .

a eabo de o t~Rr tal.. • lbe ._..._ eoerri-


do •• ••a• ~ ..... to• ao topo de alcua ...,re, elb.-de a -
i . .a•t• .. • • ~·
-
er Mftr-

... ManJ•••
gem d~ pescB os jovens de raato fino e olhoa fundos, dados a ~editn
! . . ...

-
Ç~ea ~mportunns e que se ofe,;recem; pt\ra. embo.rca.r, leTn.ndo Jlft. C,.beça
o FédQn ••• Cuidado com os toas, p~rque ns vossns baleias prec!sam

~er n~istada.s antes de podé~em ae~ mortns, e esses jovena pln~oni~

tas, melancólicos e distraídos, vqa rebocarão dez vezea em to~no

~o mundo e nem por isso ficn..reis JIB.is ricos de uma pinta de e•per-

macete. • •
-
Nn.o é raro que Child
..
H~old se empoleire no t .opo do ma.a-

tro d~ algum baleeiro infeli~ e s~m sorte ••• Tão enlevndo ae encon-
~ra o 3jovem distraído, nas auns f1ntasmngorias aemelhnntea n ~m s~

pho d~ Ópio, produzido pelo entrelnçnmento dn. cadência das ondas

com a.
.
~ a.dencin
~

dos seus pensnmentqs, -


.
· dnde. troma o mist-erioso Oceano ao~ seus pés pela imagem irisív41

dessa .alma. profunda, azul e tnsonqável que domina a humnnida.de .e

a Natureza, e cada. coisa. estra.nba j! fugidia., meio aviat~a e béla


'ue se! esfuma ••• parece-lhe a conoretiz~çno desses penaamentoà
que povonm n. n.lma. com um contínuo~ lu ir através deln.". (Tr&dução

de Berenice Xavier, Livrn.ria ~ Joaé ~ lympio Editora, Rio, 1957,~

11 Vol., pg. 274/5).


·t -
Pois i bem: é da som~ de trBdiçoea '· antigas e de Mitos ibéricos com éa-

sa.~ fa.ntn.smn.g:O~i~ :: plA~Ônica


que surgirÁ ~ -
visa.o camoni dn. Ilha Yefle-
tal,
.
ba.~roca, ~ sexual e feminina, Illn. quJ; no fim de -
sua descriçao, oul-~

-
mina com a viàao-de-pensamento, com t o sodho-d~-rn.za.o da - Máquina do Mumdo.

E é por !isso que, confluindo nela .o :mito dn. Ilbn. Brasil e essa eatraDh~

e eniguuitico. Máquina do !.fundo, a "I lhn. d~ .Amores'' de CnmÕea simbol izb.,

muite bem, a Cultura ibérica, so.ído. 'dn. parte mediterrnnea da Rainha do

Meio-Diá e pr•curando se .acn.stanhnr;-incon, cientemente, ao contacto com

ns terrds de Brasa, da madeira abrasRdn., an.s mulheres cor de cobre,hn.bi-


... . •

tndoras ; por iua vez, dn.s Ilhas edenicn.s D Afortunadas, através de cujas

descobe~as, ;egundo Sergio Bun.rque ~e Hoilnnda, os ibéricos procur~TDm

exorciz~r "seu tosco realismo".

t. - A Ilhn. Alegórica "doa Amorea".


Em noto. à ·~B iatória, Geral do Bra~il", de Vo.rnhagen, CapiatrADo de !breu
28.

já ch~ava ~ , nossa atençno para a ~rigemlbifronte do nome DrasilJ dif ele:

"O nome brnsil significa. a.o ,mesmo tempo um produto do Oriente e untA

ilha. do Ocidente ••• . Como pr~duto • .•.• vinhn em toros, de que re"'irn-

.dn. a ça.sca e o . alburno restava o ~ngo vex·melho, contendo um«L mo.té-

tri~ corante, empregad~ no. tintura l.de pnnos e em minia.turna de mnt:U_!.


.
~ritoa ••• Designando uma il~n, fiaura. este nome desde 1351 no atlas

~os M~icis ••• Da.s cn.rtas me,iiev~ia algumas deo o nome a uma fÓ i-

~hn., qro. em formo. de um cÍrQJJlo perfeitamente regular de 1 o. ~ ce~

tímetJlOS, oro. em formo. de me i~ lu-..; outrBs dão o nome a dun.s ilhn.a

.s emici,:rculo.rea, aepn.r~n.s por um estreito". (Edição comento.da Epor

Ca.pis~rano de Abreu e Rodolp~o Go.~cin, coneluíd~ em 1936, Companhia


~elhoriamentos, de- são P~ulo, i Tomo :• 1, pg 11, "Noto.a da Secção l) •
.
Do ponto ~le vi ato. do. História da~ Cul tlÍ'ra Brn.sileira.,porém, mo.ia i"por-

tn.nte do que iessn.s referências "científic'o.s" dos geógrn.fos e co.rt.ógr~oa

é o erittrndimebto do espírito míticoi que qpmino.va o.quele Po~o de cavaleiros

e maruj~s qu~ ernm os Portugueses e Espo.dhóis do século XVI. Aliás, uma

coisa não contradiz B outra, e vere~oa d~ois, no nosso grande histo~iw

d~r pritilordio.l - Frei Vicente do So.lvado~tt- um espírito históric.o geliuino

convive.do 1 emt uni~o de contrnrios,cpm um~ visno mítica do mundo nBo ~noa

importante para a compreenso.o do noaso - s~ulo inicial.


,.
.. O velho mito judaico do Pomar edenico, segundo Sergio Buarque de ~~~~

do. mostrou com a


- ,
suo. Viso.o do Po.ro.1so,
,
e bmo. do.s forçaa de
-
o.tr~ço.o en~g-

mática que impulsionam oa Ibéricos paro. ~ . a.ventura daa Descobertas. E

comenta J.O. de Meira Penno.:

''Os bodJena do. Idade lféd ia. berdnramLdos antigoa a auapei to. da ekia-

tência .reo.l de terras estro.nbas patta n.lém do Oceano, onde se loca


-
l rizo.vo.ui esses sonhos. Desde ti '01 ti•o. Thule ao norte até
-

-
o. Atlnnti

d·n. ao aul , . a crença atravessou os aéculoa ••• E a ilha Br~ail cuja

yersãoJ comprovadamente ante~or ~o nosso deacobrimento, · lança : af

rias duvidas aobre a explicaçao - ~ulgar das origena do nome de aoa


-
. 8 _, pAÍ-'· - -
A imaginaçao medievaal nao tdiati~goe clo.ra•ente & fantasia
29.

ooníriÇa da inforwaç;o aleatari~. Q que simplesmente fnz o Ren~aci-


... I' I A •

aentoJe secularizar o sonho bíblilo, repngnnizar a imngem eden1c~

• nti~ar o moTimento espont~neo ~ftra realizá-la. Um forte impul-


•o é 4ado à ~ventura pelos ~lemen~oa reTividoa da utopia cláaai-
ca: l~nde de Ouro, Jardim do.a HeaRérides, A.tlcintida platônica. A
~
epope~·a
-
das grll.Ddes nnvegaç*s
.
ibé.r icas pode aer concebido. como
~ma pr~cura intensiva e bem organizo.dR do Po.ro.íao terreno, fundin-
o

~o por. assim dizer o mito aaudosi&ta com a esperança futurista -


no pri~eiro grande empreendi.ento ~tópico d~ Civilizaçao ociden-
o -

tal". ;( Ob. cit., pg. 98).


De modo t~lvez inconsciente, foi . o. pal!!tir desse antigo mito do. Ilha.
o

Brasil- fund~do por ele com o judo..co d~Jardim Edênico e com o clá.Si-
co e mediterrlineo do Jardim odo.a Heapérid~ - que Co.mÕea forjou a 11 doa
A -
Amorea, Apreparada por Ve nus, ''Mn.e e 1prot.,ora dos J,.,atinoa", para aqu&lea
o •


-
que tinham atravessado o. vastidao ptrigosa do MBr,

"Trêa tez·moaos outeiros ae mo:atri\.vam,

efguidos com soberba grdcioa~,

o o que de gra•íneo eam~lte se o.d~rnnvam,

na fermosn Ilha, alegre e del•itoaa.


Claras fontes e límpida& mano.Y~

do cume,que a verdura Yiçosa:

pdr entre pedrAS alvo.a &e der!v~

a •sonorosa linfa fugitiYA •

• •'~•Mil árvores estão no céu 81\J.lindo,


com pomos odoríferos e b~loa;

a laranjeira tem no fruto lindD


a cor que tinh~ Dafne noa cabelos.
o

o
Encoata-ae no chao, que ••ta GAindo,
-

o
#

a cidreira coa peaoa Amareloa;


-
o•i fez·moaos limoea ali claeirando o

ea~ão Yirgíneaa tetca.a imitando•


• •
30.

••• Abre a -
rom~, mostrando t rub~unda

cor, com que tu, z·ubi, ~ eu pr, ço perdes;


entre os braços do olme~ro e~Ã a jucunda

Tide, cuna cnchoa roxos e outros verdea;


-
e. voa, ae na vossa ,nrvore feqpnda,

P'ras pirnmidaia, viver quis~des,

eptregai-vos ao dano que coa ~ icos

(Canto IX,eat.-a. 54,.,56,59, e~cit.,pgl.219/20) •.


Neaa$ Ilba~ edênica, "ao longo da i águ~~ níveo cisne canta"; ali, "a fu-
gace lel;>re ae : levanta da espessa maf a, ou,J tímida Gazela". E _uma natureza
.

pn.ra.diaíaca, eato. na qual desembn.rcp "os~1 segundos Argonautas" ibéricoa,


-
oa quo.ia nao to.rdam a descobrir aa Vinfasq mítico.s que seu uume protetor e
. . ·-
materno lhes preparara para o encontro sôua.l e erótico. Descobrindo-as,
eles "ae lançfm a correr pelBB ribeiraa",~ perseguindo aa NiDfaa "que ••
-
vao por .entrel o• ra~oa":

-
D9a os cabelos de ouro + ven~ leva,
correndo, e de outra as frald:aa delicàdaa;

a~ende-se o desejo, que se ceta


n.,a alva.• carnes, súbit4.. moat,ndas.

Ü. de indú~tria cai e j& rele~,


c•m
.
mostras JDAia ma.cia.a ~que iádigna.dB.s,

que sobre ela, empecendó, tamiém caia


qúem a •eguiu pela o.rendaa pràia".


(Ctmto IX, eatr.r 71 ,ed.cit.pg. 223).

Entretanto' cômo j3 aalientei Tá~as T~zes, os Ibéricoa e oa Po~o• maia

castanho. da Jtainha do lleio-Dià coa~ ••mpre empreender a ~ni~o - complemen-

tar de oposto• - e a festa aeXUGl e orgiáiica descrita DO eanto IX T&i cal-

minar com u•a -


~iaao-de-pena nto xu~ qual ~ ae conf- aquilo que afirmei

a princípio, ~ato é, que, para nóa, o pen• - -


ento, a reflexao, e tambéa UmA

f e ata, emtiri
-
"'"ez. E a Tiaao da Naquiaa do ~

o, exibida pela Deuaa ao


31.

weres o que 1:30- p:Ne a - cikci&


,ta.

dGa errados e ai•eroa wort~ia


. •

ti-ar eat.e ia.


j.s.sj]r ll::e d.is e o r-ia per ·UJJ.t.O

Ú'd11•, difícil, cea o a t ~\4.

-
Ya•
-
a:-«i &D -.:it.o que

ce ea:me:r •lias, zs;abu, t4ia. q* pre

& •iri.a q-se diwi:o -


cbo ~ piawt&.

po1 ele

si ~ic!o,

jo ali fi~.:.

llis-lltle a - o tr • 1'"1 :::u ~ •


ee pequ-eao . 1olcnr.,

••

Tê& a craMe ele o,


.
.,...u f'ei elo ~r, al~ e .pr6f•Mo,

·c ípio e IDit& luu


32.

Qpem cerca em derredor ••te r.ptundo

globo e aua auperfície ~ão li~Bda


é . Deuat mBS o que é Deua ningpém entende,
-
que a tanto o engenho humano )lao ae estende".

(Canto X,eatra. 76,77,79,80,ed.ci~,pgs. 247/8).


A imAgem platônica do Arquétipo reap~rece aí. Segue-se - ,
concepçao poe-
~ico-tiloaófica da M3quina do Uundo. Ajunte-se a tudo o que ae vem dizendo
que, ao exibir o mundo terreatre no Globol mÍtico da Máquina do Uundo, a Dea-
aa faz Jl'eferência à Terra de Sa.nta eruz - à antiga .llha de Vera Cruz - iato
é, ao Braail, n. terra "co pa.u vermelho notatt, coilheé.~da ·através da mo.deira
vermelhâ. E c~mo
.
ae ComÕea,
.
profetiêoment~, descobriaae que a Península I-

bérica a6 iri~ se realizar ver4adeitament6 atr.avéa do


. Brasil e adiTinhBBae
que nosaoa Poetaa - deade os barrocos veg.l :tais do século XVII até Auguato

doa Anjóa e Càrloa de Andrade - irimm ampliar e aprofun.d t\r, depu-

r o-o~ - e ag*çando-oa de garra =maia forte, taDto o Kito da Ilha Braail


quanto ·d da M&quina d~ Mundo.


Capítulo II

FREI VICENTE, O MITO E A HISTORIA


Séoa. XVI-XVII

1.- 0Dça Caat&Dba • Ilha Braail.

Do ponto de Tiata da Hiatória ocidental, o pri•eiro documento aobre a


Cultura braaileira ' a carta de Pero Vaz de Caminha ao Rei Dom Manuel I
-
de Portugal. Hao TOU •e deter aobre ela. ~aiDalarei apenaa que, de auaa

traaea, aa que ficaram a p nte preaença, no auk
conaciente doa Ibérico• de alguna doa mito• principaia a que Tenho me r•-
-
feriDdo. "A. feiçn.o delea é aerea pardoa, miuleira de aTet·aaelbadoa, de bona
roatoa e bona narisea, be• feito•• Anda• nua, sem cobertura alguma. Nao -

faze• o menor ca•o de encobrir ou d• moa•rar aaaa Tergonbaa, e niaao têm
tanta inocencia coao em moatrar o roeto ••• O Capitao, quando elea Tier
A -

'
eataTa aentado •• uma cadeira, bem ye•tido, com u• colar de ouro IIÍUi
de ao peacoço, • aoa péa uma alcatifa por eatro4o ••• Poré• dele• pôa
-
olho no colar do capitao e começou de acenar co• à . .o - para a terra • de-
poia para o colo.r, como que noa dizeudo que ali haYi• oaro. olhou
para a• caatiçal de prata e aaaim ••••• aoenaTa para a terra •
para o caatiçal, coao •• lá tambéa houYeaae prata ••• Oa corpo• aeua -
a ao
-
tao limpoa, ...
tao -
gordo• e for oaoa que Dao pode• ia •er ••• A inocência
- -
deata gente é tal que a de Adao nao aeria •aior ••• Achar alguna cama -
- •

roea .groaaoa • curtoa, entre oa


quai~ Tinh u~• -


tao grandea e tao groa- -
808 t COIDO ea D8ua, ••• Esta terra, Senhor, ••• te•
graDdea barreira•, delaa yermelha•, delaa brancaa ••• De ponta a ponta, é
- -
to cha e muito forwoaa. Pelo ••rtao Doa pareceu,Yi•
,
tudo praia palaa, -
ta do •ar, i grande".
Por •••a• fraaea, colhida• ao acaao, pode-ae raatrear a origea da Cul-
tura bra•ileira que D6a Ye•o• naacer, aí, atra~• do pri•eiro de aeua .aie
te• cruza•eDtoa de aaugue. Oa ibérico• •oreaoa, Raça
o-aYer.. lhada. A aa~ur••• I paradiaíacaa ali -
Ç&C
34.

que, depoia, reaparecerá frequentemente, em termo& de superioridade brasi-


leira noa escritores doa anos aubaequentea, que "a terra em ai é muito boa
de ares, aaaim frios e temperados, cowo oa de Entre Douro e Alinho". Nessa
terra parAdisíaca, com frutoa auculentoa e os waiorea camarÕes que ele já
•ira, o Homem braaileiro, castanho, inocente e aem dade, lhe parece o
habit~nte de uma Tera3o nova do pomar do Eden.

Outra coiaaa oa Portugueaea ti~· tanta certe~ de que ae tratava de


1ama Ilha, que Caminho. calcula aua coata em cerca de 20 ou 25 léguaa. Ora,
para aer agradável ao Rei, aerio. muito melhor que 8e trataaae de u• Cont!
nente. Kaa acontece que, na medida em que as Navegaçoes iam caminhando, a -
Ilha Braail teria que caminhar para maia além. -
N~o podia aer maia nenhuma
das Canáriaa ou doa Açoreat deveria aer eat~, que agora encontravam. E na
Ilha de Vera Cruz - tentativa de inserir a Ilha Braail neate galho do Ju-
daíamo que é o Cristiauiamo - fundia•' ae doia aitoa fund ntaia pn.ra oa
NaTegndorea, marujos e deacobridorea ibéricoaa o da Ilha Tegetal, paradi-
aíaca e edênica, e o do Eldorado, o do ·sertao cheio de ouro,

-
prata e pe-
'
dra• precioaaa.
A Eva caatánha desse Jnrdim edênico, ., bela e bem gentil, com cabelo•
# # -
muito preto• e comprido• caindo-lhe pelGa eapóduGa, e .ua Tergonha e tao
- -
alta, tao cerrodiDha e tao limpa de aua cabeleira, que oa NaTegadorea,de
IIRli to bem a·~ olharem, - tinham nenhuma Tergonha".
"nao Oa Marujos ibérico•,
. '
com a imaginação incendiada pelo aonbo de u• Eldorado literalmente cober-

to de ouro . e prata, e com a concupiacencia inflamada pela priTaçao
A -
da

· trave a aia do Mar, ir i iDtroduzir no Eden novo a Desordem antiga, e,coa

· a renovação do Mito judaico, começaTa a aparição de Cul ara noTa -

I. - Santa Crua e Braail.

o "preclaro Capiatrano de Abreu" - como lhe Rodolpho Garcia,nao -


eac.o nde aua ad•iração pelaa qualidodea de biatoriodor de Frei Vicente do

SalTador, cuja "Biat6ria do Draail" o.br oa Pz'baeiroa aaoa de noaaa tu-



3:5 •
-
sao inicial, a ibérico-indígena, isto é, 1500-1621. Chega a dizer que ele

era "senhor da cultura d" época". Elogia aeu esforço de pesquisa, sua fi-
delidade à.a fontes, "o tom popular, quue folclórico" que adota em •uaa
-
narraçoea.

Apeaar deaaa liberdade popular de aeu estilo, Frei Vicente do Salvador


A

parece que estava consciente de que esae mito da Ilha edenica ocultava al-
-
g1••a coiaa de pG.gao e aelvagem, de erótico e afrodiáiaco, de priápico até.

O :frauciacano da Bahia vê as Regraa morais sucumbirem impotentes diante do

furor dionisíaco e erótico que preside ao nascimento da nova Cultura, •


atribui o fato à Tit6ria do mito da Ilha Brasil- da Ilha de Braaa, · ve _
-
lha, fogosa e paga - aobre o nome bem-intencionado de Ilha de Vera Cruz,
pri~eiro, de Terra de Santa Cruz depoia. Diz eles
"O dia que o -
~apitAo-Mor Pedro Alvares Cabral lev""tou a cruz,que

no capítulo anterior diaaemoa, era a 3 de maio, quando se celebra


-
a invençao da saDta cruz em que. Criato Nosso Redentor morreu por
· nós, e por eata causa pÔa nome à terra que havia descoberta de S~

ta Cruz e por este nome foi conhecida muito• anos. Porém, como o·
Demônio com o sinal da cruz perdeu todo o domínio que tinha sobre
oa homena, receando perder . também o muito que tinha ea oa desta te~
.
ra, trabalhou que ae eaquecease o primeiro nome e lhe ticaaae o

de Brasil ••• E poz·ventura por iato, ainda que ao nome de Braail a-

juntar o de estado e lhe chamR.ID Eatn.do do Brasil, ficou ele -


tao
pouco eatá~el -
que, com nao haver hoje cem anoa, quando isto eacreTo,
-
que •• começou a r·povoar, jat ae hao deapovoadoa a.lguna lugares e,ae~

do a terra
.
tão grande e fértil como ao diante veremoa, nem por iaao
nto, antea em diminuiçÃo". (Frei Vicente do SalTador ,
- -
"Biatória do Braail", Ediçoea Uelboramentoa, Sao Paulo, 1975, 6§ e
-
dição, comentada por Capiatrano de Abreu, Rodolpho Garcia e Frei

Venâncio Willeke,OFM, pg. 51).


Do ponto de viata da fé e da moral, provaTelmente o Frade tinha rasao • -
A

•• olh~o• o probl pelo •• o histórico e cultural, a fuaão da


36.

RAça iberica coa a parda e avermel~nd~ dos índios era deaej~vel e ineYitá-

vel. Ão dizer iaao, n;o eatnmoa incorrendo nas ideAlizaçÕes do ufBnismo e

do indianiamo: os proceasoa uaadoa por Portugueses e Espanhóis foram de-

·anmn.noa e brutais; por outro lado, pa.ssn.dos os primeiros momentos de en-


-
cantaçao idílica, somente os Padres cn.tólicos d.oa primeiro• aéculoa cont.!

nuaram a ver naqueles "bárbllroa" pesson.a humn.nna, de Cultura, para. elea,

. .•
-
"torc1·dft,., e a t ranh a e pagan , mas ,n.~
-I:" 1na.
• 1 d e c out ns, ..gent e " , como o p ap"' p ".!.

lo III ae Yiu forçado a declarar. gua.nto noa Ibéricos leigos e Brasileiros


maia cultos doa séculos seguintes, aô havia. dois extremoa: ou conaideraYom
.
Óa Xndios como Yerdadeiros bichos, cujos homens podi aer escravizado• e
CUjas mulherea podiam ser TiOlada.a B YO~tn.de, OU -
entao faziam delea uma

- •

idealizaçao romântica,
.
aem qualquer correspondência com a realidade.

3. - Hiat6ria do Braail em Prosa e Verao.

Capiatrano de Abreu, em nota à "História d~ Brasil" de Frei Vicente do


-
SalTador, dá-noa uma informa.çao curioaa. Conta como o liTro foi escrito e
diz que o franciscano
"em 20 de dezembro de 1627 lançava-lhe o ponto final, consagrando-

a a Manuel Severim de Faria. A história em prosa acompanhava outra,


escrita em verso por um amigo a quem incitou, diz-noa".(Ob.cit.,mes
-
ma edição, pg. 36). •

o historiador cearense insiuua a possibilidade de eaae awigo aer o pró-


prio Frei Vicente do· Sal vo.dor. Pode ser que ~ fosse. lfaa, mesmo que nao tenha -
aido, o fato é que os Poetas braaileiros do século XVII, nas SUBS exaltaçÕea
m~ssiânicaa e louvores pBradiaíacoa ~ nova terra, seguem curiosamente a

estrutura da "História do Brasil", de Frei Vicente. J. miaaao messiÂnica e -


-
profética do Estado do Brasil - ampliaçao continental do mito da Ilha Bra-
ail _ está presente na maioria esmGgadora dos eacritorea br~sileiroa ou
abraaileiradoa do século XVII, oa quaia, nisso, fizeram apenBa ampliar e
aprofundar, exacerbaodo-Aa, alg~maa . idéiaa centraia já preaentea noa Con-

qui•tadorea e "letrado•" do aéculo XYI.


37.

·E eTidente que a contiss~o que vou ra~er tem valor puromente peaaoal,
pois ela ae refere a simples tentativa falh~da e nunca concluída de
-
ficçao arbitrária e sem método: ocorre que o romance - ou novela - que

venho eacrevendo desde 1958, teve sua gêpese lignda n Bento Teixeira, o

autor d& "Prosopopéia". Eu tinha. lido o. 110t" de Cn.piatr~Lno de Abreu que

acabo de citar. Depois, e~ 1960, li o cn.pítulo que o historiador pernâm

' bucano José Antonio Gonaalves de Mello e'creveu sobre Bento Teixeira noa
seus "Estudos Pernambucanos", Imprensa Universitária, Recife, 1960. Lera
-

- do Santo
aa Confissoea e Denuncio.çoea Of~cio que Capistrano de Abreu pu-
- -

.
blico.ra. De modo que, nao tendo o ficcioaiatn f'S mesmas obrigaçoea e limi-
-
taçoea que o historiador diante dos fatos e documentos hiatóricoa, me Teio
- de iniciar vasta "Crônicn.· doa Ga.rcia-Bru-rettoa", da qual o .
a tentn.çao 'JJDB.

: primeiro romance se intitulo.ria "O Fidalgo Judeu". Esse fidalgo judeu era
-
Bento Teixeirn. que, na açao do livro, ap~ec~~..::L-.-.-.-
.
Fernandea Brandão, judeu e autor provó.vel dos "Diálogos do.s Gra.ndez~ do
Brasil", e de Vicente Rodrigues Palha, aQuele mesno que, depois de profea-

sar, to•~ria o nome de Frei Vicente do S•lvador. Bento Teixeira seri_, do• .
I

trêa, o Poeta, e aeria o autor dessa · "Bi~tória do Braail em Verao" à qual


Frei Vicente do Salvador se refere. "A Plosopopéia", em tal caao, pasaaria
a ser o fragmento publicado de uma "Hiàtéria do Brasil" em verao, muito

maior.
Trata-ae, como já disse, de uma idéia de escritor. O fato, porém, é que

na "Prosopopéia", por mn.ia "obra menor e . -falhada" que elo. aejn., nota-ae o

desejo que move o Poeta de retomar oa temaa -


e mitos de Camoea, imitá-los,

iguBlá-loa e, ae possível, ultrapassá-lo• - mesmo quando ae apropria .dea-

carndamente dos veraoa do Poeta maior.


,
- .
Seguindo oa paaaoa de Camoea, Bento Teixeira une o Belo e o Gr~cioao

- importando, para ~ que pretendemol ·demonatrar que,


ao áspero do Feio, nao

no caso dele, esse Feio seja, àa Tezes, involuntário. E~e é um Judeu,no.a-


-
cido na Península Ibérica como Camoea, -
mas sua "Ilha Brasil~ nao ae iden-

titica com
-
alegoria plantada no meio ·da vaatidao do Uara é
deaé~tica


38.

Pernnmbuco, Ou. melhor, a "cinto. de p edra inculta", a "obra alpestre • ~ura"

do Arrecife ciercado pelo "estaDhado elemento" do llar. Pru-a ele, & "Ilha Br,!

ail'' d isto -um Arrecife . pobre, mrLs aobre cuja Pedra ·aagrada oa Deuaes se
assentam.

A. prova de que ele deaeja igt}Blo.r ou u.l tro.pasanr Co.mÕea - opondo Jorge
-
de Albuquerque a Vasco da Gnma - é que Bento Teixeira "Tê 11 Trito.o assenta-

do aobre . o Arrecife perno.mbuca.no e a.provéito. isso p3ra "corrigir" a deacri-


-
çao feita nos "Lusín.das" por seu mestre:
'
"2uando a.o longe da praia., cuja areia
é de Marinhas nvea estampnda,

• · de encrespn.da.s Concha.s mil 'Se arreia,


assim de cor azul como rosad~,

do Mar cortando a prateada veia,


-
vinha Tritao em cola duplicculra,
-
nao lhe vi na cabeça casca posta.

(como CnmÕes descre~) de 'Lngosta.

M•s

uma Concha liso. e b~m lavrada
.

d9 rica Madre Pérola. tr4zia,


\ I

dt• fino Coral crespo m~chetado.,

c~jo lavor o natural vencia.


Estava

nela ao vivo debuxnda
'

a cruel e espantosa . ba.tnria

aos Deuses do Céu puro e reluzente.

Um Búzio desigual e retorcido

trazia por Trombeta sonorosa,


de Pérolas e Aljôfar guarneci4o,


.
cem obra mui autil e curiosa •

.


Depois do Mar azul ter diTidido,
<

se sentou uumn. pedra Cavernosa,


39.
-
e com as mn.os limpn.ndo a c·a.bt leirn.

da tortuoan. cola fez cadeira".'

(Canto. II, Narração, Estra. X,XI e XII. Na ci~~ç~o,ex-

traída de "Nn.ufrágio a: ITosopopea", Recife, -


Ed içn.o do.

UniTersido.de Fe~ern.l de l'ernn.mbuco, 1969, atun.lizei

" ortografia e a pont.uo.ç~o}.


Outra pro~a de que -Bento Teixeira pretende mostrar a incipiente Histó-
ria de ~uo. "Ilha Brasil" como superior à ,da Península Ibérica. é que ele

mostra Jorge de Albuquerque como herói dEf uma. epopéia dupla, uma "ilíBda

terrestre" e uma "Odisséin. mo.rítimo.", como diria. Quo.derno.. Aquela idéia i-


nicial ainha foi abandonada, mn.s reperculiu no. gênese do romnnce que venho
escrevendo. _E por isso que nos .folh~tos J XXIV e e
1
mv do "Romo.nce d 'A Pedra
.
do Reino", coa referência expressa a Fre~ Vicente do Salvador, conta~ae a
"odisséia. mn.rítimB." e depois a "ilía.dn. terrestre" de Jorge de Albuquerque •
Aliás,
-
no. dia;cuaso.o

literária que se tra.• a.li, eu incluíra, inicialmente,
.

alguns Teraoa; da "Pro_sopopéio." - OS J que ct.ludem n.o fato de que os Yn.rujoa,

per:-didoa no Mar e erro.ndo na Nau "Santo Antônio", quiseram tirar sortes pa-
. .
ra matar algum dos companheiros e devor&-ão, para vencer a fome. Para o r~

mo.nce n;o ficar ainda. mn.is longo, termine.1i cortand'o esses versoa de Bento

Teixeira e deixando apeno.a os do "rqmance~ da Na.u Cato.rineta".


No meu romance, tudo isso vem ap~esentado como ·gosto e segundo a viaao -
do mundo dos três personagens- Qunderno., Elemente e Samuel. Mas confeaao ·

que eu mesmo, ;discordando nisso· da qunse unanimidade da opiniao doa crít!


.
-
coa litefrárioa, sinto 1nna. f _o rta· atraçn.o
.
-
p&los versos duros e mal-acabauioa
,

de Bento Teixeira, pela feiura e a~perezo.ç..: de suo.s imagens. EsaB. aspereza


retorce o Búzio desigual de .seu Cantar e 4 a única característico. braailei-


.
ra. que 0 aa.lva do convencional. Ele mesmo ~ so.bia que sua voz era "rouca e
.
confuaa"', mas corp.josn.mente,
-
acredita que â!nao será isso que lhe impossibi-

litar' ~Canto - o que terminarÁ fazendo dele, com todas as diferenças de

dimensÕes que 0 aeparam desses doia gênios, um anunciBdor e precursor de


"
EUclyde•' da CUnha e Augusto dos Anjo&, ou ~ pelo menos, ~ma ponte, vw ele-
4. · •


mento de ligação entre esses dois e CnmÕts•
~

Quo.»;do ele fo.ln. em "sulfúreas borbulb9-s", lembra Augusto dos Anjoss


~Pe~os ares retumbe o grave •cento


~e minha rouca voz,conf~sn. e len~a,

~un.l -
trovao espantoso e Tiolento

~e repentina e hórrida torme~ta.

Ao Rio de Aqueronte turbulento,


'

que em sulfúren.s borbulhas n.crebentn.,


passe com tal vigor, que imprima espanto
em 'Minos rigoroso e Ro.cbunn.nto.

" •

(Ob. cit., pg. 129) •


.
Na pn.rte da "ilín.da terrestre", Bento ~eixeira alude no núcleo histórico

de outro Mito ibérico, messiânico e profético, de profunda repercuasn.o pn.- -


. ra. a Cult~À· ~rasileira., ou melhor, . pn.rl\ ~ ch~o subterrâneo do qual ela
..
.
broto. - . o do ~ebn.stinnismo. Esse mito do~ei jovem, encantado e encober-
; .
to ganha dime~sÕes castanhas, brasileira~ e pedregosas na estranha epopéia
.
de Canudos - ~, consequentemente, nps co~n.tes de Sol~ados a oavnlo~e Ser-
tanejos a pé, · engalfinhndos por entre toqbea de corneta., rutos de tamborea, •

tiros do. artilhn.rit\ e tiros de bn.co.mBrte ,~ cn.rregn.dos _com o. pólvora aulitra~

da que Euclydes da Cunha descreveu.

1-'o is ~ é num , estilo "monstruoso" cômo o ~e Antônio Conselheiro que Bento



Teixeirá comeÇa a ~escrever a Batalha de Alc&cer-Quibir na qual Dom Sebaa-
tião deàapare~eu como pessoa. b11mn.nft. pnra renascer, mais forte, no mito do

'
Rei Encobertoa •


1 "Anteparou aqui Proteu, mudando

a~ cores e figuro. monstx~uosa, ~.:

no geato e movimento seu, moa~rando

ser o qu6 h~ de dizer e~i s a eipantosa.

• E,com ·n ova eficácia,eomeçando ~

a ·soltar a voz alta e Yigoros4, •

estas palavras tn.is tira: do p~ito


qqe é cofre de protético concpito:
4(1.

"Entre n.rmn.s desiguais, entre tambores


·de som confuso ,rouco · e red obrn.d o,

entre . cn.valos brnvos~corredores,

entre a fúria dP pó ~ue é snlitrndo,

entre sanhn.,furor,ent~e clnmores,

entre tumulto c~go e ·.desma.ndn.do,


entre núvens de: setas Mn.uritnnas

andará. o Rei do.:~ gen\es L~sitann.s".

(Ed.citr ,pg . ..~46).

Aliás, Be~to Teixeira nasce em 1~61; Êfei Vicente do Salvador é provavel-

mente d' 1564' e Ambrósio Fernandes ~ Brn.n~o, tendo declarado- n.li&a no pro-
cesso dt Bentp Teixeira e no din. 20 ~ de s~tembro de ·1595,-a idnde de 40 anos,

deve .te~ nasc~do em 1555 (cf. José •ntôn~ Gonsn.lves de Mello, ob. cit. pg.
I

54). Fo:ro.m contemporô.neos, de modo ~ue · n.liesn.r de ser invenç~o de ficc.i onis-

ta, n.qu,ln. miphn. à q~nl me _referi nlo - er~í tao - arbitrária assim. E volto a

Frei Vi~ente do Salvador, para n.ssinn.ln.r, atrn.Tés dele, a constBncin. de o.l
• • • -
gumn.s daquelas
, cn.racterísticns que Tenho •presentando como idéins-cbn.yea
r,• '

pn.ro. o. eompreenso.o
.
-
dn. Cultura brn.sileirn..,

4- • A Illtn. Edênicao. e o Eldorado •


Cito: de paaso.gem, que no Capítulo QuBrto, do Livro I, "Do Clima e Tem

pern.men'Ío do !Jra.sil", Frei Vicente do Sal;ya.dor defende a. "zona. tórrida." 4a •

n.cuaa.ç;ó,feit~ a. ela por Aristótele&, de -ser "ina.bitável''· Diz o Fro.de:"em

algumas rpartei 4ela. vivem os homens com ~ia sa.úde que em toda. n. zon~ tem-

perada., ~pri.nc:lpa.l.mente no Bra.sil'1 (Gb. cit., pg. 61). Depois, sempre insi_!.

• • .
.
'
tindo n4s quo.ii4n.des po.rodisíacas dd NB.tu·r ezn. brasileira e também naquele
I

tema de comparaçBo com a Peninsulo. IbéricA, diz, sobre as terras dond~s p~

lo Rei á Pero ·Lopes e Ma.rtim .Afonso ·de


.
So~ s B:
-
"Sn.o os ares destas duf\s cn.-
I

pi to.nia.s frioa e temperados como os de Ea-p o.nha.... E assim é a terra. mui•

sadia, fresca e de boas águas" (pg. 166).=lE vem B. relação de árv-o res belas,

úteis, medicinais e mi lagrosas:


.J •

~Nem mênos são as madeiras do Brasil formosas que fortes, porque as

bG de todas 48 cores, brnncns, neg~n.s, vermelhas, ~nroln.a, rox~a,r~


andas e jaspeadas, porém, tirndo o pau ve rmelho a que chamam brnail,

e o nmnrelo chnmndo t~taiúb~, e o ros nd o nraribá, os mais -


nao -
dao

tintas de suas cores. E contudo sã~ estimados por sua formosura pa-

ra fBzer leitos, cadeiras, escritórios e bufetes, cowo tnmbém se e~

timam outros porque estilnm de si ól eo od orífero e medicin~l, qunia


-
ao.o nmas l\rvores mui grossas, altna e direitas cha.madas copn.Íbaa,que,

golpeadas no tempo do estio com um machado, ou furadas com uma verr~

ma ao pé, estilrum do âmego u~ preci oso óleo, com que se curam todas

~· enfermidades de humor frio, e s~ mitigrum



as dores que delas pro-

·cedem, e saram quaisquer chagas, principn.lmente de feridns fresco.•


. .
~osto ~om o sangue, de tal modo qu~ nem fie~ delas sino.l algum de-
pois q~e saram." (Ob. cit., pgs. 64/65).
O Frride está bastante consciente da nn.~ureza sexua l das árvores, assim
.
como apresenta os n.nimnis em convívio fr~terno com el~s; do mesmo jeito,os

homens e ns .mulheres - numa clarn r~ediçaé - do ~fito judaico do Jardim edêni


- -
co. Tanto assim que nno sno apenas ~s pes,oas que aproTeitwm as virtudea

milagrosas da copaíba,
-
sao também o3 b i ch,a:
.

-
"E acerta. à.s vezes estn.r este licop ta.o de vez e desejoso de sair

que, em tirando a verrum~, corre cem tanta quantidade como se ti-

r-aram • torno a . umn pipa de dzeite j Porém nem e~ todas se acha . i~


.
to, sen;o em as que os índio~ ch~Ám fêmeas, e esta é a diferença

que têm dos machoa ••• Nem só têm eitns árvores virtudes em o óleo,

mn.a .também em a casca., e assi,m se BCha.m ordina ril\Dlente roçadas dos

animais, que 0.8 vão buacar pnra remédio de suas enfermidndea"(pg.

65).
Parece que Frei Vicente do Salvador tejminou s e apercebend o de~ue,com

essa exaltaç;o ~xcessiva da NnturezwTegetal est~va c heg3ndo aos limite•

pagãos da idolat ria, tanto assim que achou necessário lembrar que taia !
leoa medicina~s dna árvores brasileiras t i nham sido ~mitidos a s~g•nção
pelo Po.po.. Diz ele sobre a ca.boreíba·:

"Ou.tra~ -
árvores há cbamn.do.s cn.boreiho.a, que dao o sua.víssimo bt\1-
43.

snmo com que s e fBzem ns mesm~s curas, e o Sumo Pontífice o tem de-

clnrndo por matériB legítim~ da s~~tn unç~o e crisma, e como tal se

miatur~ e sagra com os santos óleos onde fa.ltn o dn Péraia"(pg.65) .

Sobre oa frutos - assunto que n~o podi,a fnl to.r em sua. "enumeraç~o edêni

ca"- Frei Vicente inicia. n. sua evocaçii:o, que é quase uma. invocnç3o, e vo.i

ate o Fruto-R~i, o Abo.caxi ou Annnás, num temn que depois veremos renpo.re-
1

cer com frequência entre os Poetas; mas ~ão esquece o Co.ju com sua tríplice

virtude ~- cai;o, fruto e castanha: •



'~ Outra.' árvores se eatimn.m, q.inda ~ue agrestes, por seus snborosos

~rutos 1 - inumeráveis q.s que frutificnm pelos cnmpos e mnto.s,


que sa.o

e o.ssi~ - - -
nno poderei contn.r senno algumas principais. Tais sao as

aasa.pocnias de que fazem os ei x ~~ pnra ns moendas dos engenhos,por


-
serem rijíssima.s, direitns e tno gTossas como tonéis, cujoa frutos
-
so.o uns vasos t~pndos, cheios de sft.borosa.s amêndoas, os quais de -
- A
poia qqe esta.o de Tez se destapam ' ' comidas ~s nmendoas, servem

as cascas de grnis pnra pisar a.dubós ou o que querem. lmçur~ndub~s,



que é à madeiro. m~is ordinário. de que fnzem as traves e todo o mo.-

deiramento das casas, por ser qua.s• incorrutível; seu fruto é como

cereja~, maior e mais doce, mns lançB de si leite como os figos mal

maduro$. Jenipapos, de que f&zem od remos pera os barcos como · em

Esp~ha os fazem de faia, têa um f#Uto redondo -


t~o grande como lo.
-
ranjn.a, o qual, quando é verd.e, es)Jremido dá o sumo tBo clBro como -
a água do pote; porém quem se lnva. r.com ele fica negro como ~~rvao,-
nem ae 1be tira a tinta em poucos tti as. Desta. se pintwm e tingem oa

índios em suns festas, e


. -
saem· ta.o ~ntentes nus como se saíram tcom

u•a ri~ libré, e este fruto se co~ depois de maduro sem botar na-

dá dele) fora. Giitis (Oitis?) · é frwto de out rns o qual, posto cque
feio à yista., e .por isto lhe chamam coroe, que quer dizer nodoso e

sarabulbento, contudo é de tanto SBbor e che i ro que nao parece - si~

ples, senÃo composto de a çúcar, ovos e almíscar. Os cajueiros d~o



A fruta. chamo.da cnjus, que B~o com.o ve r d Í l\ ÍS, mns de ma.is .sumo, oa

quais se colhem no mês de dezembro em mu ita qunntidnde, e os osti

mam tnnto que nque~e mês nno querem out ro mantimento, bebido. ou r~
galo, porque eles lhes servem de frutn, o sumo de vinho, e do pÃo

~hes aervem umns cn.stanhn.s que vêm pegnd a.s a esta. fruta, que tlUll-

bém as mulheres brancn.s preznm muito, e secas ns gun.rdwm todo .o ~

~o em ~asa -
pern fazerem maçapaes ~ outros 4oces, como de amêndoas;

e dá gpmn. como a Arábia ••• O · me sm~ tem outra plantn que produz nn~

nases, fruta. que· em formosura, che.·~ro e snbor excede toun.s n.s do


- "
mundo. Alguma. to.chn. lhes poem os que tem cho.ga.s e feridas n.berto.s,

porque lhas assanha muito se o. comem, trazendo ali todos os ruins

humores que o.cha no corpo: porém i:a to nntes nrgúi a. suo. bondn.de ,
- -
que e nn.o sofrer consigo ruins hum.o res e pur gó.-los pelas vio.s que
-
âchn abertas, como o experimentam os enfermos de pedrn, que lha jes
1
-
laz em areias e expele com a . urin~; e até a ferr~gem da faca com

que se apo.ra a limpa" (Pgs. 65/66 ) :.

Note~se que, pnra Frei Vicente do Salvador - como para mim, ~liás - a

Península Ibérica é um todo cultural único com o qual ele faz o Brnsil con-

correr com Tantagem, com auas mndeir.as ve~melbns, . roxns, jaspendas, estilB-

doro.s d~ óleos sn.grodos, ou com suas· frutas melhores do que as da Ea.pn.nha.


~ ~

Aliás, n. gente lendo os depoimen~s dn ~ Inquisiçno, ve que era uma soei~

dnde curiosa, múltipla, contraditória e ricn., a desse XVI .: que o.nun-

cio. e ind.cia o. cadinho ro.eia.l e cul turn.l do Brn.sil - espanhóis, Indios ,por
-
tugues e s~ Negros, judeus, gregos, 1t~elu c ~s ••• Eram violentos e míst icos,

religioa~s e blasfe~adores. Muitos ero.m s~uidores secretos de uma. heresia

curiosa, ~ a -
"do1Espírito Sa.nto"; e eu: na.o lt'Credito que fosse n.penns por c o.!:
.

veniência que Bento Teixeira falasse às Te~es co~o católico; a meu ver,ele

era ao mesmo tempo judeu e católico, · d i lnc~rado entre esses dois g~lbos da

religjão dos Profetas do desert o e do Velho Testwmento. Ele ,as sim mesmo c~

mo 08 diferentes depoimentos o mostram , era, ao me smo tempo, inaultador e

violento j por um lado, e preocupado eom Deus, por outro. E~~ blasfemador e
~5.

aolto C\.e língua.: certn vez jurou "ne lo Pt ntel h o de Nossn. Senhora", e, pe-

ra.nte ~ Visi \ ndor do Sn.nto Ofício, .f nze ~4 o n. r e ln.ç;o dos n.dultérioa de


'

sun. mulher Filipn Rnposn., "cristn-v~lh n. e ;de nobre ger o. )· ~ · . ·r, diz que ela
-
chegou a adulterar n.té com o mulo.to Antônio Lope s Sn.~pa.io, "por nno ficn.r

animal que nela -


nn.o entrasse, como noutr~ Ar ca de Noé". (cr. José Antônio

Gonsnlves de Mello, "Estudos Pernnmbucn.nos", ed . cit., pg. 26). 'Entretanto,


• •

era esse mesmo Bento Teixeira que afirmn.vn. que "também Deus da.vn. seus bens
••
nos mouros e 4808 infiéis"(Ob.cit.,pg. 25, notn.). Umn. testemunha. diz que e-

le era 1'homem de má língua" que, quando



,
"nno tinha que di zer dos

outros di. -
zio. de si"; o que outro confirmn., dizendo que "o Réu ern, brigoso e revolto
....
-
so com ~uns porfias e solto dn língua, pela qun.l rnzao tinhn. muitn.s vezes

dif~rençns com algumBs pessons" (pg. 34). E nn.o podemos ler essas - cois~s
-
sem experimentar profundo. compaixào por es sa gr nnde nlma ·dilnccradn
.
de Ju-
. ~

deu brasileiro nascido no Porto. Ninguém ~se lembra. dns injúrias e humilha ~ ·

-
çoes pelas qunia ele p~sou a. vida. 'intei#a, sofrendo o desprezo e n trni-
.
- de Filipn Raposa,
'

çao os insultos e as pesadns brincadeiras de seus cole-


_gn.s. Sua. mull1er, que se .cons idern.y~ bro.nen. puro. e de co.stn nobre, chamn.vn.-
....
o de "homem mn.l n.condicionn.do" e de. "cri§tn.o-novo fedorento". Ele suportou

essa.s coisas emito tempo, limitando-se n awudar-se de Ignrnçu para Olindn.,

de Olinda pa:rn o Cn.bo, puB ver se elo. teria nem que fosse u.mn. "pouca emen-

do.". Vendo que o caso era sem jeito·, ma.tou-n.. Ma.s na.o é isso que o levn. ~ -
condena.Ção: é a "heresia", o fato de ter,~ seguindo os ensinn.me~t c~:t . ~ e sua

-
Mae, adotado o.lgumn.s "práticas e crençn.s mosn.ica.s", como, por ··exemplo, o.
,..,
de nfirmnr ·o. unidade -e nao n. trindade --de Deus. Uns testemunhNm que~

le ajudava. "a enterrar os mortos". Mo.s outros - insistindo no tempernmen-

to brigoso e ri~ento do J uJ eu - se o TiNn demonstrn.r -


bom coraçao e se re-

conciliar co~ seus inimigos, atribuíam o ~ato a falta. de vergonha e brio.

Foi 0 co.so de · Pedro Fernandes do Vale que: "disse que o Réu ern. mal erisinn.-

do, revoltoso 1e que com muitas pessoas t~ern briga s diferenç~s, na quais

não é lembrado, mas que com estes se tornava logo


.
amig~r,
-
porque era tao
.
d esBvergonhado que chamando-lhe muitas p ~ssons cornudo e outr ü~ in júrias

semelhn.ntea a e s ta.s, logo se tornavn. Q, comer co ~ eles"(pg. 34}.


48 •.

A injustiça do julgamento se ngr ~va n ~ tnl ponto, _oue ningu ém pode . ler,

- •

sem profundn compaix~o, ô grito que o po9r e ~udeu , -acossndo 9~r todos os
l ados, ~acusaq o por sua mulher de ser um ~mBnte .incapaz e homem ma l ~condi-

cionado, pel~s comp~triotas de violento, intrigante, revoltoso e solto de

lín&~a,_ quando não de manso e desnvergonb ~d o, e pelo Santo Ofício de beré-

tico,-o grito de sofrimento que ele deix~ escnpar perante seus Juí s es:

"Se antes que eu nascesse me pergl;lntn.rn.m qun.l queria., se ser filho


-
de cr~stno-velho se de novo, merecerB o.nte Vossa.s Mercês castigo.

~tas ae Deus Nosso Senhor foi se~vido . que meu pni fosse -
cristno~no-

YO e eu fosse seu filho, que culp~ tenho ~u?'' (pg. 28).

~Assinalo esses fatos pnrn. mostrar como Dento Teixeira era, bem, uma fi-
gura. r .e presentn.tivn. da. Cultura. brasileira primordial que, no século XVI,i-

niciava sua caminhada. pnra o castnnho dá Rnça. Com essas contradiçoea,nBo



- -
-
ndmirn. que e&sa sociednde brasileirn, em formaçno no século XVI, criasse

uma, int~rpret-~Çf\0
- dúplice e ambígua., serial e místicn, sobre a.
.
form~ do.

flor de · mara.cujá. Frei Vicente ' 4o Snlvnddr dn n


-
interpreta.çao religiosa:
.

"Maracujás é outl'n planta. que trepa. pelos matos, e tn.mbém a culti-

va.m e -
poem em lntndaa nos pátios & quintais; ...
da.o fruto de quatro

ou cinco sortes, uns maiores, outros menores, uns n.marelos, outros

roxos, , todos mui cheirosos e gost~sos. E o que mais se pode notar

é n flor, porque além de ser formósa e de várias cores, é misteri~

àa~ começa no mais n.lto em três folhinhas, que se remntrum em 11m

globo que representa a.s três :divinn.s pesson.s em umn. divindade,· ou

(como querem outros) os três crn.vo• com que Cristo foi encravAdo,

e logo · têm o.bn.ixo do globo (que é .o fruto) outras cinco folhas', que

se rem4tn.m em umn. roxa c oroa.; representn.ndo a s cinco chag3s e ·c o -

roa. de espinhos de Cri . ::t o Nosso Redentor". ("História. do Bro.ail tt,

ed. cit., pga. 66/67).


Mns, ·ae e :xn.l!linnrmos e seguix·mos essas bicsmn.s pn.lR.vraa auaa, ninr,uém a e

espo.ntB~e que 3 flor do mar~cujá s e ja entend ida também, pelo Povo brBai~
.

leiro, é desdé os séculos XVI e XV1I, -


como uma re pres cnt ~~ n o Teg etnl e si~

bólica. cfo •exé feminino - Bmbiguidn.de que' apn.rece .. ~:· t\lgu n:;s :~ :>et o.s dos sé-

culos seguint-es •

Inventários s emelhantes Frei Vicente d. o Sn.lvnd or fn z dos bichos, dns

aves, doa peixes e mBriscos, not~ndo-se ~ro todos a exaltaç~o e o sonho e-

dênico d~ Ilha vegetal do Brasil. O que de se jo ~notar porém é que ele en-

trevê os dois mitos - o d~ Ilh!\ vegetal dn. Mn.ta e o do Eldorn.do s ertanejo-


e sn.be fundir os dois, us o.ndo até emblemn.a e insígnin.s próprios par~ ca.da

um - Ouro, -
gavin.o-real e pedras para o Sartao, cidras e ,.., -
Romn.s pnra a Zon~

.da. Ma.ta, aqueln.s mesmas cidrn.s e romãs que Cn.ruÕe s j&. descrevera nn ''I lha.

alegóricn. dos Amores". Tendo já. mostrado a.lgumo.s palavras sua.s sobre •
a

vegetaç~o
- pnràdiáín.cn. da Zonn. dn Mata, p~~ s o a relacionnr outrn.s m~is li-

gndns ad.' mito ..solar e áureo do Eldo~ado;


. o Brasil é um novo Reino do Peru:

·~ •••
.
Agora me é necessário continuar
:
-
com a murmuraçao, havendo de

tratar das minas do Brasil, pois sendo contígua est~ terr~ c~ a

do Peru, que -
B nao divide m~is que umn linh~ imaginária indivisí-

vel, tendo ln os castelhanos ~escobertas -


tantas e tno ricaa minas,

c·á nem 11ma. - -


pn.ssn.da do..o por isso, e qua.ndo vao no Serte\o é n buac3r -
í~dios .forros, trazendo-os à forçn· e com enganos para se aervirem

d~les e os venderem com muito enca~go de suas consciências ••• Um


.
soldado de crédito me disse que,indo de
-
Sno Vicente com outroa,
-
ehtraram muitas léguas pelo sertao j donde trouxernm muitos índios,

e ; em certa pa.ragem lhes disse um qué .: da.li a. três jornadas eat~va

uma mina de muito ouro limpo e deac~berto ••• Outro.. entrada fez um

Antônio Dia.s Adorno, de\ Bn.hia, em que também se achou de passn.gem

muitas sortes de pedras preciosas •• ~ De cristal sabemos em certo

haver (1ma. serra no.. ca.pi tn.nia. do Espírito Santo em que estao - 100 tidas

muitas esmera.ldn.s, ~ de que Mn.r~os de Azeredo levou as mostrn.s a. el-

rei e, feito exnme por . seu ma.ndo.do,: disseram os lnpidtirios qu e a-

quelas eram da superfície e estavwmt tostndns do Sol , wa.s que, ~e

cavassem ao fundo, as ncharinm claras e finís simas ••• H~ águia s

d e sertão (é o Gavião-real), que criam nos montes nltos, e emAs

tão grandes como as de Africa.,. umo.s ·. brn.nco.s, outrns mn.lha.da.s de


I,

do. cb;:o e co nmn. asa levr-: ~ ~da. o.o o.l t o 1 no


negro que, sem voarem - ,
48.

mo~o de velo. latina , correm com o vent o como caraveln.s ••• JJá mu itas

gn.rçns o.o longo d o Mar, e outras ave s chnmn.dn.s gu o.rns, que quando
- .
empenám sa.o brancas, e depois par das e f i nalmente vermelhas ••• "

(Ob. cit., pgs. 62/63/72).


.....
5.- Vi sao Mítica. do Mundo.

Ag or~, tu~o isso é observado co~ fide l i dnd e: Frei Vicente do Sa l v~or é

fidedigno, comedido e sóbrio. Entre~anto, é um Brasileiro nascido no · sécu-

lo XVI, . e apesar dn pureza de sua. fé e de honestidade pesson.l, vin o lllUildo

com a -
imngin~çno mítica. comum à sua raça, n s eu tempo e a. seu meio.Quo.ndo
-
se tro.to. da versn.o histórico. de um acont~~cime nto qualquer, ele tem b•.sta.nte
. •

senso crítico po.ra analisá-la e discuti-lo.. E o que acontece, por ex~ wplo,
.
com n supost~ origem dos nossos Indios a po.rtir de um Po v~ b~rbaro que ha-

·bitn.va primitivamente n. Ea panhn. No cn.pítulo intitulado "Da. Origem do Gen-

tio do Bro.sil e Diversidade de Línguns q~e entre Eles l!á" diz Frei Vicante:

"D. Diogo de Avnl o .~ , vizinho de Chuquinbue, no Peru, em n sua Misce-


..

léinea Austral, diz que em ns serrns de Al ta.u1i ra. em Espanha bn.via. uml\

gente bárbaro., que tinhn ordinári~ guerra com os espanhóis e ~ue co-
.
lbia.m carne hunHl.na, do que enfn.dn.dof3 os espanhóis juntn.rnm suas for-

§as e lhes deram bntnlha nn Andnlu z i n., em que os desbnrn.tnram



~ m~

tnrn.m muitos. Os poucos que ficaram, nno se podendo sustentar - em


.
terra, a desampararam e se embn.rcarnm pera onde n. fortuna os guia~

se, e assi dernm consigo nas ilhns·' -Fortuna.das, que agora se chtUDam

. .
Canárias, toco.rnm ns de Cn.bo Ve rde ~ e aportaram no Bra.sil. Saírnm
.
,.,. l .•

dois irma.os por cabos destn gente, · um chamn.d 0 Tupi e outro Gun.rn.ni;

~ste último, deixando o Tupi povoando o Bras i l , pn.ssou a Pnrnguai

com suà. gente e povoou o Peru. Estn


. -
opinio.o nao é
"'
certtl, e menos o

~ ~

são
A •

outras que nao refiro, porque bno tem fund ~ento: o certo é que

e.stn. génte veio de outra parte, -


por ém nn.o se ::;~s.'b e d onde, porquê nem
.
~ntre ~les há escrituras, nem houve o.lgum nutor ~ntigo que deles e~

erevesse. O que de presente vemos é que todos sno de cor castnnh~ •


-
e sem barba, e só se distingue~ em · serem uns mais bárbar os que ou-
49.

~ros ~posto que todos o sno nssaz}. Os mnis bárbaros se chnm~m in

gener~ Tnpuins, dos quais há muitas cnstns de diversoa nomes, di-


versas línguas, e inimigos uns doi outros ". (Ed. cit., pg. 77).

Para o que estamos exnmin~ndo, e aso tex to é ~ui to importante. Note-se,

de pnssngem, um f~to curioso: o local indicnd o por Dom Diogo de Av~los c~

mo sendo o de origem, ná Espnnhn, do3 nossos índios, é Altnmirn, exntnmen-

te aquele no qunl, muito tempo depois, se iriam encontrar os extraordinn-


• •
r1·os murn.1s rupestres, pintndos nn.s pnre<:fes de pedrn. da. caverna. por um PE_

vo de c~ltur~ primitiva. sobre o quo.l pouco ou nndn..mnis se snbe.

trec~o Afortunnd~s
• #
Pelo que se segue, . vê-se que Otmito dns Ilhas Jn.

perder~~ o aeu poder de encantnçno: - difer~ntemente dos seus antecessores do

começo do século XVI - ou do fim do sécuDo XV -Frei Vicente do Snlv~dor

já atribui o ~nome das Ilhn.s nno Q. U~H\ terrn. mítica. a. alcnnço.r, mas sim õ.a
I

reais e . verdo.deira.s Cnntiria.s; bn.tido pelo rea.l, o Mito se afasto. pn.ro. o


-
Sertao, a terra do Sol, do Ouro e das pedrn.s preciosas.

Qu n.n~o à caro.cterísticn. principn.l da Raça dos primeiros habitn.nteá do


- •

Bro.sil, n. referência é expressa à "cor c~sta.nhat'• Do século XVI em diante,

not·malmente o,: -
opiniao sobre os lndios vai- ser expressa de n.cordo com ·dun.a
-
posiçoe• extremas e opostn.s: uns,"renlistn.s", o. pretexto de que se tr.n.to.
.
de "blirbaros"·, enxergam e acre scentnm essn "bn.rba.ridn.de" a. fim ·de, com i.!.

so,
.
justificar a. escrn.vidao, o saque, a -
apropriaça.o das - terr~s, o. vidlaçao -
dn.s mulheres etc. Outros, "idea.lista.s" românticos ou indin.nistns, recuso.m-

se o. ver os 1ndios como eles real~ente s~; crinm uma imagem vagn. e falsa

- mn.s nem por isso deixnm de ser mn.is simpáticos do que os "renlistu" b~

tais do outro lado.


Frei Vicente .do Snlvn.dor, nisso como em outr(\& coisas, é um precuraor

do bom senso: analisa com objetividade OS- costumes, .Pnrn. ele bárbaros,dos

1ndios, .ma.s ao mesmo tempo mostro. a crueldnde dos E.srtnnr: õis e Portugueses

que, desse modo, aparecem mais b â.rbaros d~ que o Povv primitivo com , o

qun.l estavAm entrando e ~ cont~cto e começ4ndo a. se fundir.

Entretanto,. es sa o ~; _: ..: t ivid ade de ·Frei Vicente do So.lv n.à. o.~.·· -


na.o exclui
_antes 48
dua.s se ·completam- uma -
imaginaç~o nrdent ~ e mftic~ b~atBnte
50.

pt'..recidn com . n do Povo"bárba.ro" que e l e p rocur n.vn. n.n n.lisn.r d e mana irn -
tao

objetivB: ne!e, o s angue cultural i bérico j á estn.vn. mnis ncns tr~h nd o pelB
..mes t•1Çngem moral" - como dizia. Sylvio Romcr o - com a Cultura ver me l~H\ dos

"Tupis .e Tn.puin.s", n.s duns "ca.stn.s" princ ipnis de "bnrbnros" à.s qua.ia, no

século XVI e nos imedin.tnmerite seguintes, se reduziM todas as "nn.çÕea de

índios e gentios".

E nssim que, no inventário dos Animais brnsileiros, ele vai subindo de



pe1xes pequenos e mariscos, numa escala em que come ço. a. reln.cionn.r os tfon~

tros e ~eixeq assassinos do Mn.r, como a. J;Jn.lein. e o. Espculn.rte - e, de repe.!!.

te nós iSOmos .surpreendidos, nessa. rela ção, com n. presença. de "Homens mn.ri-

nhos", ~ue saem dn.s águn.s e devoram os homens comuns; imedintnmente, n.o que

parece baseado em Gnndn.vo, e 1 e nn.rrn. como um cer·to Bal tu.sa.r Ferre ira. encon-

trou um Mou~.Y.:,ro-mn.rinho, a. Hipupin.rn, um bicho que, no· livro deste, aparece


a

desenhn4o,
.
com braços e peitos de mulherJ garras nas maos, ca.rn de - Cachorr~,

ma.s tendo, em vez de pés, uma. espécie de nadadeira. circuln.r, providn·· de um

misto de tentáculos e espi~hos. Diz· ele: •



.
"Há muitn.s mui grn.ndes bo.leia.s, que no meio do inverno vêm a. pnrir

nas bn:ía.s e rios fundos desta costa, e às vezes lnnçnm n. ela muito

âmbn.r do que do fundo do mnr n.rr an~am quando comem, e conhecido na.

pra.in ~orque a.ves, caranguejos e qun.nt~s coisas vivas h~ acodem

éomê-1~. Há outro peixe chamado espadarte, por uma espBd& que tem

no focinho, de seis ou sete palmos de comprido e um de largo, ~ com

muitas pontas, com que pelejB com ns bn.lei~s,


,
e leva.ntnm n ngua. -
tao

nlta quando brigam que se vê dní n três e qun.tro léguas. Hn homens

marinhos, que já foram vistos sair fora de águn npós os Índios, e

nel 3 hão morto n. alguns -


que {:ánda.vam pesca.ndo, mas na.o lhes comem

~ais que os olhos e ~~riz, pór onde se conhece que nno - foram tub~-

~Ões, porque também há mu~tos nes~ mar, que ccmem pernas e braços

4 toda.·: a. cn.rne. Nn. cnpitn::Ii a. de -


Sn..o Vicente, na. ern. ~ . c 1564, sn.iu

úmn. noite um .monstro mn.rinho ·a pro;in., o qua.l, visto de um mnncebo

ébn.ma.dó ....,:~ lta.sn.r -


Ferreiro., filho do cn.pita.o, se foi o. ele com uma
51.

es p~ n e, l evantando - ~ e o pei.xe d~r e ito como um homc~ sobre ns bnr-

~atnnas do rnbo, lhe d eu o ~nnc cbo uma est oc ndn pe la bnrri gn com que

o derri bou e, tornando- se n l evantar c o~ a boca ~bertn parn o tragar,

lhe deu um altnbaixo no. cabeçn. com qu e o a tord oou , e l ogo ncud irnm

alguns escravos seus que o acnb ~rnm de matnr, f icando t ambém o mnn-
.
cebo desmnindo e quase mort o , depoi s de haver tido tnnto nnimo. Ern

este monstruoso peixe de quinze pnl m c ~ . c omprido ( o que si gnificB

mo.is d~ 3 metros}, não tinha e s c n.mo. senão pele, como se verá na. fi-

gurn. seguinte". (Oh . c i t., ed. c i t . ,_ pgs . 73/7.4}.

Como .ae sabe, a estampa. da IIipuprinpa. se perdeu - de modo que os edito-

res costumam publico.r a que saiu no l i vr o de Gnndn.vo. Mas o fato é que Frei
.
Vicente parece ter se deixr..do contagio.r pelos hli tos c n.c~~nh os dos primiti-

vos povoadores do Brnsil e n eles a inda ~crescentnvn outros, na.scidos de

uma- e spé cie de "fn.ntó.stico religioso" católico e s~u. ~, palo menos, o que

se reve~n no que escreveu sobre o ch r~ ~d o Padro do Ouro:

·~ ••• Veio um clérig o n. esta cnpito.ni o. (de Perno.wbuco), n. que vulgar


-
mente chamnv~n o Padre ·d o Ouro, por ele s e jnctar de grande mineiro,

~ por esta arte ern. mui estimado de Dunrte de Albuquerque Coelho, e
-
o mandóu ao Sertno com trinta homen s brancos e duzentos índios, que

nno qu~s ele maia. Nem lhe . ernm necessários, porque, em chegando

· qualquer aldeia do gentio, por gr and e que fosse, forte e bem povoa-
-
dB, depenn.va um frnngao, ou d·. eaf olhn.vn um ramo, e quantas penn.s ou

f olhas lançava pera ·o ar, .tantos Demônios negr os vinhrum do inferno

lnnçando labaredas pela boca, com cuja vi st ~ somente ficavam os po-


• • A # ~

bres gentios,machos e feme as, tre~G ndo de pes e maos e s e acolhiam


.....
aos brnnco .s que o pndre l e v r:.:vtl. co n~figo, os quais na.o fa.zin.m mais

o.u.
e o.~ ~~rã-los
Qo&.Uu...
e levá-los aos barc os , c ~queles idos, outros vindos,

eem Dun.rte Coelho de Albuquerque, por mnie re preendido que foi . de

seu tio· e de seu -


irmno Jorge de Albuquerque, do reino, querer nun-

c ~ atalhar a tão grande tir~nia,


-
n~ sei se pe l e que interossnva

n~s peças (isto é, nos índios escravi z ~d os) , se porque o padre má-
52.

gico q ti~.hn t{\!::bém enfei ti~on (Qb . c i t ., pg . 173).

O final d ~ate capítulo trn.z urna r ef erên cin. o.o núcleo his tóri co de outro

~lito qu,e estavo. un.scendo , o do Saba.nt inni smo ; é co~o nn. "Pros opopéia":

"L foi isto causa pa.ra que el- rei D. Sebnst.í~o o c~a.nd ass e ir pern.

o Reino, donde ~~ssou e morr~u co~ ele em _tfricn e ficou n. capitn-


-
nin n seu irmno Jorge de Albuquerque Coelho , que ta.zr:bém pn.s.oou com

el-Rei e fo i cntivo, ferido e aleijado de ~b ~ s ~s pernas; mns re~

gatou-se e viveu depoi s muitos anos, c~ sad o com a filh~ de D. Ál-

varo Coutinho t.le A.mour ol, da. qual teve do i.s filhos, Duarte de Al-

~uquerque Coelho e Ain.t ia.s de .Ubuquerque , de que tr().to.remoa em o

.lilTo .quinto. E o Padre do ~ro também foi preso em um nnvio pera

p rei~o, o qual arribou ns ilhas, donde desnpnreceu uw~ noite sem

mài? se saber d ele'' ( Ob. e pg. cits.) •

O ~sianismo,sebastinnista
.
-
ou nao,
,,
Ja come çav~ a se esboçar entre os

Brasileiros, com as linhas gerais de uma ·mi ssno a que o País estaria des- · -
tinn.do, de nma. superioridade tn.nto em relaçn.o ao Rei no â.ntigo - Portugal -
ou Espanha - CQmo .em -
rela.çao a.os Reinos nascentes , como o. India.. Dis Frei

Vicente do S~lvwdor:

r •• ~ O Brasil, com ser grande, fic a em to.l distância. e -


ta.o fticil a.

-
pn.vegaçao, que com muito. facilidade podem cá vir e tornar quando

quiserem ou ficar-se de morada, pois n gente que cnbe em menos de

cem léguas de terra. que tem todo P~rtug~ l bem caberá em ma is de ~il
. .
que tem o Brasil, e · ser in. est.e ~:;:.1 grande Rein o tendo gente, porque
'adonde há n.s abelhas hti o mel". (Pg . 145).

Quer dizer: a.gora, as 20 ou 25 léguas 'do. Ilha Brasil já se tinh~ esten-


dido , éxpandindo-se num Reino - que depois Dom Pedro I faria questao - de
.
trn.nsfiguro.r em ...T wper10
' • -de m~is de 1 .000 léguas. E .Frei Vicente insiste

nesse p~ nto dizendo que


'digna é de todoa os louvorea a terr~ do Brasil, pois primeiramente

pode sustentnr-se com seus portos ~echcd o s s e m socorro de outrns te~

rns. Senão pergunto eu: de Portug~l lhe vem fnrinhn de trigo~ ·a da

terra bn.stn.. Vinho? de açúca.r se fr:.z mui sua.ve e, pJ.ro. que m 0 que r
53 .

r ijo, c om o deixnr fer ver do i s di ns c ~Lebed a c omo d e uvas . Azeite?

fnz - s e de coco de palme i r as . Pano? f nz- ne de alg od ~o com menos tr~

bal ho d o que ló. se f nz o de li nh o e de 1~, por que de ba.i:xo d o nl go-


.
do e iro o pode n. f i nndei r n e s tnr c_ol he nd o e fiand o, ne~ f n.lte.m tin-

t a s c o~ que se tinj a . Snl? cn s e f a z nrt i f ici a l e nnturnl, como ~-

g or~ dissemos. Ferr o? nru i t ns minas há de l e , e em São Vi ce nt e . e~t li


.
um e nge nh o ond e s e lnvrn f i n í s s i i1:o. Espe cin.ri a? há. mu itns e spécies

de pimentn. e gengivre • .Amêndons? tn.mbém se e s cusrun c om n. c ns tn.nhn.

de ca.ju, et sic de ceteri s . Se me d i s s erem que n~o pode s us tentn.r- •

se l\
- tem pa.o de
terra que nn.o - ·~· -"" ig o e vi n.h o de uvns pn.ra. ns missn.s,

concedo, pois este div i no s acramento é nos so v e rdndeiro sustento;


mn.s po.rn. isto bn.sta. o que se dei no mesmo Brasil em S~o Vice nte e
-
campo de Sno Paulo ••• E com i s to e s tn que t em os port os nbertos e

grandes bnrrns e Lníns, por onde c ndn di n lhe entrn.m nnvios cnrre-
.

gados de tri g o, vinho e outrns ric ns me rcndori na , que deixnm a tro-

co das dn terra" (pg . 76).

'I,Pp.;ro. concluir, digo que hoje está. quas e que inteir amente provndo .que o

autor Bento 'l;eixeirn., do. ttProsopopéin.", ·é o mesmo .Bento Teixeira., judeu,


'

que n.pnrece ~reso em Olinda c r emetido para as cnd c i ns dn. Inquisiçao, em -


.
Lisboa, onde morreu em julho de 1600, no .que parece tuberculoso; está t~

bém demonstrado, quase sem nenhuma. dúv ida., que o autor dos "Dinlog os dn.s
.
Grc..ndezns do Brasil" foi outro judeu, Ambró s io Fe rnandes Brnndn.o, o qual -
. .

parece ter escr-ito seu li'yro nn. Parn.íba • .Ca.pi s trano . de Abreu diz que o

eutor dos "Diálogos" pa.re ce ter conhecido Frei Vicente do Snlvn.d or e ch~

-
mn. a nossa. ntençno pnra o fato de entre os t emas comuns nos dois. nutores

-
estno a habitabilidade
.
d :~ z on o. t órridn. e a pos sib i lidnde de vir

o Brn.ail

a s er o verd tÍd e .i ro Reino , refúgi o d o Governo por t t· _- ·os . Ora., como Ambrósio
.
Fe rnnndes Brnnd~o depôs no processo de Bento Teixeira., é, no mínimo muito

provável que os três se v~ nh nm conhecido. Di z Capistrnno de Abreu, numn. de

suas
.
notn.s B. "História do Bra.sil" de Frei Vicente do Sn.lvndor:

·, r ..:. n.ndo em 1618 fr e i Vicente do Sn.lvn.rl or conc lu iu a. Crôn ic n do. Cus-


- - .
tód i~ do Brasil, um nnc ~ imo, n~o bem i dentif i cad o aind a., co mpunh~
54.
,
em u mn cn.pi tn.nin do Norte, !'ern nmb'.lCO ou mn.i a provn.velmc u t~ rarn_!.

ba, os Diálog os dns Gr~nd e za s d o Br a si l ••• Frei Vi cente pnrece ter


-
co nhe cid o· enta.o ou mo.is trtrde o nutor e pe lo menos p n.rte dn. obra.:

em n.l ~~ ns pontos, por execplo ns v ~nt~g ens -


dn relnç no dn Bah ia,c~

mo que lhe res ponde . Por sua vez tratn nn Tiist órin. de nssuntos a-

bordados pelo anônimo: a hnbitnbil id ade da zonn. tórridn., ns re s -


,
pons~bilidndes no ntras o da terrn , n possib il i d ad e ào Brasil vir

~ s e r centro e refúgio do governo português , n procedência dn


.-
populnçao indígenn" (Ed . cit., pg . 37) .

Acrescentemos a iss o alguns outros fn.tos que vêm relacionn.dos na "His-


.

tórin. do Bra.sil" ...:. como, por exemplo, o fnto de Ca.r nmuru ter sido n.lcCUl-

çn.do pel~ moçn índ in,o.pnixonndn. por ele,q. nado, qu.nndo a nn.u fr:\ncesa que

o levava para a Europ~ já se afastava da cost~ - e veremos que Bento Tei-


. .
-
xeir:\, Ambrosio Fernnndes Brn.nda.o e Vicente Rodrigue s Pnlhn. contribuírnm

de maneiro. decisiva para estabelecer



lite.rl\ri runente, como escritores que

eram, alguns dnqueles f undamentos cnract·e rí sticos da. Ct:. ~: tura. brn.sileirn.,

fundamentos que iriam ren.po.rec er depois e.m Poetas e :prosador e s de dimen-


-
soes desiguais ent re si mas todos val io a vs no sentido de que, consciente-
#Jir# IAfl# A #I -..

mente ou nao, nuacultnram o ch~o e o subte rr aneo do Pa1s e nele a pulsaçao


-
da. Raça. cnstanhn. que estn.vn. come çnndo n se f ormn.r p·:- l a fusao do sa.ngtie i-

b&rico, do negro e do vet~elho.


Cap{tulo III
NOVAS GRANDEZAS DO BRASIL-séca.XVI-XYII

1. A Ilha e o I•pério do Br&8il.

Capiatr de Abreu afi que Frei Vicente do SalYador proT&Tel•ente


conheceu o tor e pelo ..aoa parte doa "Di.\logo• daa Grandeza~ do

-
•ao de que o biatoriador nordestino tinha razÃo. Mai• ainda• parece que
roetaa brasileiros do aéculo seguinte, o XVli, forj aeua Teraoa ao
08
-
bre o Braail fundindo a for -
herdada da deacriçao· da "Ilha do• Allorea" ,de
-
Ca•oea, com a daquele• doia litroa, cujo• temaa, enumeraçoe• e louTores da -
natureza paradiaíaca do Brasil - com inTentário daa ártorea, doa bicboa ,
doa peixea, •antimentoa e florea do noTo Paía - aão quaae •empre coinci-
dente• e à• Tezes repetidos. E Terdade que aomente no século XX to oa
.
doia publiqadoa integralaente, o pri•eiro por Capiatrano de Abreu, o •••-
podo por Joté .lDt&nio GODf&lTe8 de Mello. Mo aécalo nx, VarDhagen util!

zara partea do •anu•crito de Frei Vicente • publicara trecho• doa "Diálno-


goa".
-
lato nao aignifica, poré•, que, no aéculo XVII, co. oa autorea ainda
-
TiYoa, o6pia• •anuacritaa nao foaae• conhecida• doa letrado•• é poaaÍTel •

- -
que ai•- ou entao eaaea temas era• corrente• na .tradiçao oral do te•po,
.

- que er. . de alguna •itoa ainda hoje preaentea na


como espreaaao paicolo~

. -
gia do PoTo braaileiro. A Yiaao do Braail como ••a Ilha edênica
r

aibilidade de whegar eaaa ....a Ilha a ae expandir •• l•p,rio ' de a-


aaa conTicçÕea preaentea no conteúdo e na t doa "Diálogoa", da "Bi

t6ria do Br.. il" e doa Poeta• braaileiroa do aéculo XVII.


A idéia de que o Bra•il padeaae Tir a aer a Terdadeira c -ao do
Reino de Portugal e, • do que iaao, aua - -
liaçao ea Imperio coaeça

logo DO aé~lo XVI, e caaha eorpo principalmente depoia da aorte de Doa~


sebaatião DO a,aerto africaao. Ra aaa "Riatóri• Geral do Braail", oonta

0 que, de_,.i• de Alcáeer-Qaibir • daa "ln'WiiU politicu" do

curto reia..• •• -BeJ. a.. Beari..e .. ... Heedera •ae aobrillbo •.!

traYiado ea Alrica• - houYe "ioquietação doa poyoa, ao Yere• que não baYia
do reino herdeiro jurado". Segaiu-ae a "turbulenta aol ..açÃo", co•o Rei,de
Doa Antônio, o Prior do Cra~o, ten~atiYa popular de aubtrair Portugal ao
doa{nio da Eapallha. Uu aa tropaa eapanholas do Duque d 1 .A.lba Yencer o

Príncipe, baatardo e preferido pelo PoYOI "a metrópole Yencida pela a8tá-
c1a de Filipe II, e pelo apoio de u•a nobreza egoia~a • pouco patriótica, ·
'

aujei~ou-ae a eate rei". E acreacenta Varnbagena


"Parece que· u• D. Pedro da Cunha (a darmo• crédito àa palavra• . de


aeu deacendente), fora de YOtO que, ainda antea de 88 fazere•••

eaforçoa para a reaiatincia contra todo o poder de Filipe II, ••


empregaaaem oa poacoa recuraoa diaponíYeia,para armar uaa espedi-
-
çao maríti , •• que oa fiéia Penatea do mitológico fundar de Uli~

aéia Yieaae• preaerYar no Aqué~ar


.
o nome • a coroa de Portugal,
.

eatabelecendo-ae com toda a gente no Braail ••• 2ate grande penaa-



aento realisado logo ••• bouyera no aéculo %VI Yiato procl~ar-ae

uma aonarquia iDdependente na Aaérica (~tina)". (Varnhagen,"Hia-


-
tória Geral do Braail" ,a•.·ecJiçao
..
integral, co•entnda por Capi•tra-
no de Abreu e Rodolplo Garcia, Companhia Kelhor...ntoa de São ·Pau-
lo, Tomo Primeiro (4' ediçÃo), pga. 466/469).
A.atea, poré•, o ••••o Franci•co Adolpho de Varnhagen, Visconde de Porto
Seguro, já fizera referência a iaao, deata Yez t•lando olar..eate e• Iapé-
rio. I quandp defeade oa Portugueaea da acuaaçao de tere• deixado, por - t~

-

to .te•po, o Brasil •• abandono- acuaaçao que já aparece "Hiatória do


il" de· Frei Vicente. Diz Varahageaa


. "NÃo há porque f~zer cenaura•• Oa esforço• e oa capitaia empregado•


aaior e • i•ediato inter••••••• 0• aduato•
na .!aia produs
-
poa d . . então reeentea glóriaa portugueaaa, ~ a pr6pria Alrica, oa•
de tilhoa d·e re'i a. lua armar-•• oaYaleiroa, oomeçou a aer de•cuida-
da. z aiuda aapoado que
. -
ja entao ti•••••
~
ocorrido a id,ia que de-

poia (••••• • •'calo) ocorrea, de qu~ • Br~ail poderia Yi~ a
,.

a .. .,r6pole . &~Uar4a.a
····--·e 1111 acaao

aT.
iaao .. lhor ocaaiÃo". {Ob. cit.,pg. 125, mea•o To•o).
Ea Dota ao pé deaaa .aama página 125, Capiatrano de Abreu assinala
que no• "Diálogo• daa Grandeza• do Braail" a idéia já fora f'o•·maladn.f e,

de fato - dRDdo como certo aquilo que o aerÁ enquanto não for proTado o
contrário, tato é, que oa "Diálogos" foram escrito• pelo jude-. Ambróaio
FerDaDde• Brandão - cabe a eate a inainao.ção, ' Terdnde que com cautela
or, de que o Braail, coDfor fora Taticinado por am ~trÓlogo, aeri&

uma opulenta proYÍncia deatinada a aer refúgio e abrigo da 1ente porta -


gueaa; profe.c ia que, aliá•, •• baTeria de cuaprir ilo aéculo XIX, co• •
- -
Tiuda de Dom Joao VI e a eleYaçao da "opulenta ProY{ncia" a Reino •
-
palavra• eatao no "Diálogo Primeiro" e aao as aeguinteaa
.
-
"Esta proTÍncia do Braail é conhecida no mnudo com o nome de Allé-
-
rica, que com mais razao houvera de aer pela Terra de Santa Cruz,
por ,aer assim cha•ada primeiramente de Pedr,lYarea Cabral., que a

deacob.r iu •• tal dia, na aeguncla armada que e l-Rei D. Manuel, de


glorioaa •emória, mandava à lndia, e acaao topou co• eata grande
terra, não .Tiata nem conhecida até então no mundo, e por lbe par~
cer o descobrimento notáTel despediu logo ama caraTela ao Reino

com as novaa do que achara, e sobre iaso me diaae fidalgo Telho,


bem conhecido em Portugal, algumas coisas de -
i ta conaideraçao ••• .·
..

Dizi ele que ouYira dizer a aeu pai, como coiaa indubitáTel,
-
que a noTa de tao grande deacobrimento foi festejada i~o do
I

nânimo Rei, e que um astrólogo que naquele tempo no noaso Portugal


. ~ '

baTia, de muito nome, por eaae respeito aleYantara · figura,ra-


'
zeodo computação do tempo e hora em que se descobriu eata terra por
PedrálTarea Cabral,e outroa•i• do tempo e hora em que teYe el-Rei
aYi•o de aeu deacobri•ento, e que achara que a terra nte de•-
coberta baTia de aer u•a opulenta prOYÍncia, refúgio e abrigo da
gente portuguesa, • po•to que a iato não deYe•o• dor créd~ ~ -
ande •• que oada dia •• Yai poado". ("Diálogo• daa
• •

óraâd•... do Bruil, 11 ed. iDtegral, aegallde o ap6p-ato de IA i-



58.

den, anmentada,por Joaé Antonio GonaàlYea de Mello, Imprenaa UaiYe~


aitária, Recite, 1968, pga. 11/12).
"-Aaaim, a miaterioaa Ilha BraaiJ ,que&\ imaginação ardente doa NaTegadore•
ibéricoa colocaYa sempre no "maia Além'', identificando-a ora com a Ilha.!
fortunada, ora com Cipango, ora, maia realiaticn.mente com aa Cn.náriaa, c

oe Açorea etc. - inaria dn.ndo nome, juntamente coa a madeira cor de


Braaa, àquela "Ilha de Varo. Cruz" ou "Terra de So.nta Cruz", deatinada,pe-

loa vaticfnioa doa Aatr6logoa· e doa Poetas, a se tornRr, primeiro u•a .o-
pulento. ProYÍncin., depois um Reino e finalmente um Império •

Pode-se rastrear a cominhàda do mito através, por exemplo, daa palawraa


do biatoriador Armando Souto Mo.ior, quando escrevea
"Ainda hoje diacutem os biatoriodorea ae, anterioJ•mente a Cabral,
sabiam oa portugueses da existência do Braail. Alguns mapaa, ant~

riorea a 1500, regiatravam a existência de uma ilha miaterioaa.Vn.


-

-
riava no entanto de tal maneira a indico.çao de aua latitude e a
de aeu próprio nome (Ilha do.a Sete Cidades, tlba do Braail, Ixola
Otinticha), que não ae pode afirmar tratBr-ae exatamente do Braail
.
••• No dia 22 de abril (de 1500) foi aTiatado um monte alto e arre
.
-
dondado que recebeu o nome de monte Paacoal ••• Estava descoberto o
.
Braail ou comproTada sua existência pelos portugueses ••• A terra
descoberta·, supostamente umn. ilhn., recebera o nome de Vera Cruz.
No ano seguinte, este nome seria substituído pelo topônimo Terra
de Santa Cruz, em uma carta enviada por D. J.lanuel a aeua aogroa,
soberanos da Eapanha". (A. Souto Mo.ior, "Hiat6ria do Braail",lOI
ed. , são Paulo, Companhia ~itora Nacional, São Paulo, pga. 22/

Para 0
-
problema do eap{rito da Cultura brasileira nn.o tem grande iapo~

tâucia a talta,completa ou ~ncompleta,de rigor histórico que cerca. eaaaa


legeDdaa. -
Armando Souto Maior tem toda razao quando diz, por exemplo, que

a YiDda de rea{cio• para o Braail é a•a legeDda, "ai.,lea hipót•••t rejei-


tada por qu..e todo• o• hi•toriadore•"• Para a Biat6ria da Cultura Braai-
so.
leira, poré•, é· importante assinalar a persistência deaaa ~era;o, que · já

aparece noa "Diálogo• daa Grandezas do Brasil", curiosamente ajuntada ·a



Américo Veapúcio, dado como Fenício - ou, maia ex• nte, como Cartagi-
...
nea - fato conaiderado com razão, por José Antonio GonsalTea de Mello,c~
mo "heresia histórica". Maa, do nosso ponto de Tiata cultural - •
aendo os Cartagineaea descendentes doa Fenícios - é curioso Ter o autor

doa "Diálogoa" faln.r aaaima

"Alembra me haver ·lido em Aristóteles, no litJ•o que escreveu daa


'

coisas ocultas que se acham na natureza, que oa Fenicianoa deag~ .


rando acaso pelo mar oceano em um$ embarcaçao, navegaram quatro -
dia~ ~ ••• vere~ terra, ao cabo das quaia aportaram a uma terra o-
culta, que sempre estava em contínuo movimento das águas do mar,

que a cobri e descobriam, deixando em seco grande cópia de a-


tuna, maiores que os , ordinárioa; e neste mesmo livro diz o próprio
autor que una mercndores Co.rto.gineaea da Ilha de Co.lea, te1·mo e
limite das colunas
.
de Hércules, a cabo de muitos dias de navegaçao, -
toparam com a~gumaa ilhas, muito distantes ~a terra firme,naa quai•
-
nao acharam nenhuns moradores por nao serem habitadas, posto - que
abundantes de todaa aa couaaa neceaa&riaa para a vida humana, e

estas tenho eu para mim, sem dúTida nenhuma, que devem aer aquelaa
-
que eatao adjacente•, pois tanto tempo gastava na navegaçao a' coa- -
ta daa 1ndi~a, e que delas, depois de serem povoadaa, ae passara•
aeua moradores a habitar ~ata -
tao grn.nde incógnita terra fiz·me ,do~
de tiveram origem os aeua primeiro• povondorea. Também tenho ou-
Tido que um Velpócio Américo (aic) , natural de Cartago, navegando

com u·~ -
embarcaçao pelo mar oceano, impelido
.
de Tentos rijo• que
lhe n;o deixaram tomar terra, veio a aportar a esta grande coata

do Brasil, que do •eu nome se chamou America;


, -
pelo que nao •into
.
couaa por onde poaaa deixar de cuidar que de alguma• daquela• ge~

te• tomaaae princípio a -


povoaçao deate novo

Graudeza• do Br&81•1tl ,ed eCl•t . , pg. El) •


u

Como •• Tê, corre a{


-
yer•ao aobre a origea fenícia • cartagineaa
60.

dos Indioa brasileiros: fala-se de povos semíticos que teriam povoado a


.
India, passando depois a fazer o mesmo cQm a "grande incógnita terra fi "
da Ilha Braail. Nos "Dinlogoa" quem diz isso é AlYiano, um doa doia inter-
locutores. Maa o outro, Brandônio -que parece aer
.
a "máscara", a "peraona"
de Ambróaio Fernandes Brandão - não aceita a bipóteae. Mas n~o aceita ao-

mente para &Tentar outra, mais importante ainda para reforço do mito da.
Rainha do Meio-Dia: a de que oa índios, 1\ Raça que já foi cbo•ada de "par-
da", de "vermelha", de"baça", de "amarelQda", seriam :de origem judaicaj e
Alviano- dando mostra das dúvidas que dilaceravnm.o pr6prio autor- in-

ainua a procedência mongólica doa 1ndios,, descendentes doa "chinaa", como
diz ele. ~andônio aceita iaso quanto aos . da coata do Peru, maa nao quanto -
aoa ~o Braail' e inaiste em que serAM ,oa' noaaoa,deacendentea de Judeua do
tempo de Salomao: -
"guerendo o aanto profeta Rei Davi ·· mostrar-ae grato à.a muita• mer-

A
ces e favores que de Deus tinha recebido, pretendia edificar-lhe um

· c élebre,
.
suntuoso.
e grande templo, r. no qual o Seu santo nome fosse

engrandecido e louvado das gentes, ' ao que lhe foi posto interdito
pelo mesmo Senhor, por respeito de ' ter as maoa aanguinnriaa - doa
•~itoa inimigos que havia morto naa guerras que teve pelo decurao
do tempo do aeu reinado;. ou pode aer que bem bastasse a aer reputa -
do por aanguin&rio para com Deus, a indina morte que fez dar a U-
riaa, transportado no indino amor de Bersabé. Vendo poia DaTi o
impedimento que lhe era posto por Deus, com o qual nao podia leTar -
avante o que tanto desejava, ae deu a ajuntar materiais para a ~

bra do templo, o.s quais deixou a seu filho Salomao, com lhe enca.r- -
.

regar o cuidado de dar princípio e 'cabo, já que


~ -
o ele nao pudera f~

zer. o a&bio rei que também ~erdar3 do p~i o mesmo desejo, ae reao! .
Teu, para poder ajuntar maito. ouro ~ prata, marfim e ébano, que aa-
.

bia aer neceaaário, e ainda o principal nervo e auatÂDcia da obra,


para haver de por na grandeza que ele queria, de fazer uma liga de .
.

ooatrato co• B , Rei de Tiro, para haverem de •aDdar todoa oa a-


61.

noa de Aaiog"ber, porto situado ~o llar Roxo, uma frota de nau• que

deaembocando o mesmo estreito, fQsse buscnr as coua3a que preten-


diM à região de Taraia; o que, d,e poia de se por em efe_i to,ae coa-

. tinuou com esta navegaçÃo muito espaço de tempo, declarando a Ea-


crit,urn. que oata• u~ua i~~a AO por;to de Otir, donde trAziAm qucwt!
'
dade grande de ouro, prata, ébano, marfim e alguns papagaioa • b~

gios, demorando na viagem de ida -e Tinda trêa anoa. Pois paaaaado


is~o assim, no que -
n~o hB dúvida, . é de saber agora adonde estava
eate Ofir de que _a Escritura tra~, -
na regiao de Taraia. E, poia,
eate nome Taraia no fraaia grego ~ aignifica Africa, na tal coata d~
·'
Tia de eatar o porto de Ofir; pe ~o que Vatablo Parisiense errou s~

'
mamente em dizer que o Ofir era ~a ilha. ai tuo.da no llar do Sul, · da
.
costa do Peru, descoberta por Cr~~tóvao Coloma (sic), chamada Ea-
panhola ••• O porto que esta arm~ demandava tenho por sem dÚTida,

- -
e desta opinin.o sao muitos homens. doutos, aer a costa a que hoje
os noasoa cha.mrun da Mina, aonde esttt situada a Cidade de Sno Jorge. -

da Boa Esperança, e assim em tno -


~omprida viagem lhes era neceasa- #

rio, àqueles navegantes, gastarem tanto tempo quanto a Escritura


af'i que gastavam na ida e vind-a, por serem pouco exercitado• na
arte de navegar; e na tal parte •e acham em abundância aa couaaa
de que aquela armada tornava car~~gnda, pelo que me tenho persuad2
do, por aaaim também o estarem müitos homens doutoa, que a Mina era

o verdadeiro Ofir, a que estas g~~tes navegav • Pois passando iato

asaim, quem duvida que algumas das naus da tal armada, ·que de força,
. .

à .tornada, as águas e tempos a deviam ~e chegar ao Cabo a que cbam~

mos de Santo Agostinho, desse à costa nesta terra do Brasil, e que

da gente que delà se salvasse, tivease origem a povoação de tão ·

grande mundo? ••• Ainda hoje em dia ae acha entre elea (oa lndioa)

muitas palav1 ·a• ·e noaes próprioa tronunciadoa na língua hebréia e,

ira, coatumea, como I tomarem auaa aobriDhaa por ~••


da ••


62.

Yerdadeiraa mulheres, que ne~ uma coisa nem outra farinm se oa nao -
~OUTeasem deprendido de quem os ••bia. E com toda a sua barbaridade

A

tem conhecimento das estrelas dos céus de que nós temos notícia,po~
~o que lhes aplicam nomes diferen\es, pelo que tenho por aem dúvida

~eace~erem estes moradores •~ntur•is do Brasil daqueles israelitas ·

que naTegn.ram primeiro por os seu'A mBres". (Ed. cit., pga. 54/55/56]
57).

Antea, quando falara nos Cnrtagineses, o autor dos "Diá.logos" dissera


que eles tinham aportado na Paraíba. Agona é através de Pernambuco que oa
• .

Judeu• povoam o Brasil. E não se pense q~e na versÕes desse tipo corriam
apenas entre
'
os "letrados" meio míticos • primitivos dos séculos XVI e

XVII. O· severo Varnhagen acreditava . que o~ nossos lndios acobreados pro-


• •
cediam, · como oa GuBnches das Co.n3rias, dê\ "povos navegadores do... Mediterr_!
neo", provavelmente cruzados o.qui com "g®tes da mesma raça mongólica do
oriente -da !aia", chegadas antes deles. ~língua dos Guanchea, . -
irmo.oa de
raça doa nossos Ind·ioa, ele vê muito de '~berberesca e egípcio-antigo" e,
na página 56 da Obro. e Tomo citados, info~ma que chegou a escreTer, aobre
o asaunto, nm trnbalho especial, denominado "L'origine touro.nienne de• A.-
mérico.ina Tupia-caribes et des o.nciens Egrptiens indiquée par la Philolo~

gie comparée". E ele avança, co.uteloso.meuf,e, mas, aem dÚTida, tentado:


-
"E boje temos quase a convicçao de> que houTe efetivamente pAra o
-
Braail ··uma gr.ft.Dde emigraçao 4oa prióprios Ccírios, da !aia Menor, .!.
-
~etuadà talTez depoia da queda de !'roia. Havendo ele• eatado,neata

guerra ·:tremendo. de dez anos entre a Europa e a laia, contra os Gr.!

goa e aenhorea doa mares, é mais qüe possível que 08 mesmoa Cárioa
.
nem naa auas colônias ao oeate de 4frica se julgassem ao ~brigo
. AI •

daa crueldRdes que nesse• tempos at praticavam com 08 prisioneiro•

de guerra ••• Sendo . aaaim porYentura, preferiram confinr-ae a eaae

elemento que -
lhes era to.o familiar, e se lançaram ao oceano à a-

.Yentura ••• A. foJ·ma daa canoaa de perra doa Tupi•, aemelhantea u


abtiga• pentecontore•, .o u•o ~as oàtras canoas de 2erip~ria, anál~

'.
63.

gaa, c9mo dissemos, às de papiros dos Egípcios, aa pequena~ canoi-

nhas ubás, nome que tAmbém se encoptravA no egípcio, sob a forma

de báa e una, o uso do marac$, antj go sistrum, as superstiçÕea por

uma ave noturna, o serem cur~ndeiro• oa sacerdotes, o uao d~ circu~


-
~ia3o,

que hoje temos averiguado q~e havia chegado até aoa próprios

. ~arania do Paraguai 1 e finalmente~• certa semelh3nça entre o tupi e


q egípçio antigo, não só nas ~ forma~ gramaticais, como eapeci3lmente

~m um ~rande número de pala~aa (às vezes ·até idênticas) ••• por ea-

' aa an~logiaa e por Tentura outras que novos estudos farão aparecer .
em
.
ma1or
~

numero, inclinamos-nos a ~ oncluir que, em todo caso, os ~

pia descenderiam de um povo do antlgo Continente aparentado com os

antigos Egípcios". ("Históriá Gera~ do Brasil", ed. · cit., Tomo 152 ,


pgs. 57/58) • .

O fato é que, qualquer que seja o valor ou desvalor histórico de todaa


esaaa hipóte•ea - Cartagineaea e F~nícioa, Judeus, Egípcios, Africano• do
Norte - oa psicologia dos Br3sileiros, do ~ século XVI até hoje, paira essa
-
estranha ligaqao com a Rainha do Mei~-Dia l semítica, acobreada, ~orte-afr!

cana e medite~&nea, asiática talvez, com l~gendas de cidadea de ouro eomo

Ofir e o· Eldo~o a ela ligadas, estendid' à• · Indiaa, à América Latina e

ao ·Brasil em ~rticular • .

2. - Nova Idade de Ouro.

Brandônio tem ..consciência da barbarida4e de certos costumes dos tndioa,

como a antropofagia e o m~ssac~e de priaidneiros, por exemplo - e niaao é


'

já muito :maia realista do que José d' AleQCar e Gonçalves Dias, •adiantados
ndo-os cercados por aquela natu
a ele de idois •éculos. Mas, aasim mesmo,

-
-
reza pBródiaíaca e tao imanes a qualquer ~ntimento -
de culpa - tao "inoce~
.
A

tea" _ não deixa. de ver neles imagens do "homem edenico", .habitn.ntes de

outra "idade de ouro". Brandônio afirma:


"AntigBDlente, . e ainda até o dia de hoje, no sertao, andavam .e andam -
.
tqdos despidos, assim homens como mblheres, sem usarem de cousa al-

guma para com ela haverem de eobrin suas parte• vergonhoaaa".("Diá-

ldgo• dà• Grandezas do Bra•il,, ed~it.,pg 193) •


.
64.

A isto, retruc~ AlTinno, ~centuando o estndo edênico de nosso• Indiol,


que, a~~ndo asaim nua, eles

"devif\Dl de ouvir contar de nosso padre Adão, enquanto esteTe em es-


tado de graça". (Idem, ibidem).

E as
. -
citaçoee neste sentido podiam ae .multiplicar à vontade, da primeira

As última.a páginaa. Por exemplo, no início d.o Primeiro Diálogo, diz Brandô-

D10: •

"A umidade de que gozam todas as ~erras do Brasil a faz ser tBo f1u-

~ífera no produzir, que infinidade de estacas de diversos pau• meti-

doa nn. terr~ cobrnm raízes, e em Jtreve tempo chegnm a dor fruto".(Ob.
c:it., pg. 1).
'
Isto aobre. as virtudes paradisíacas d& terra, as quais, aliadas à ino-
cência e
-
des~biçao
.
.
dos lndios cor de cobre, faz renascer no Braail, a I-

dade de Ouro, ou dourada, dos antigoa. B~andônio diz que os nn.turaia da


,.
. que dormem"
terra tem apenas, dentro de suas cn.sas, ''-a rede em , "uma cuia,

que é 11m meio cabaço em que vão buscar água", e fora., pertencentes à cowu-
.
nidade ~nteira, "três ou quatro fornos · d ~ barro em que cozem a farinha",

'
"e com •iato somente se têm por mais ricos do que Creao com todo o
-
aeu ouro, Tivendo tao contente• e iivres de toda ambiçao, como -ae -
~oram aenhores do un1ndo". (Pg. 198) •

E-Alviano comenta:
~sse coatume me faz grandes invejas, porque se me representa • nele

o. idnde dourBdn.". (Idem).


Entretanto, para não alongar muito a anBlise, vou me li~itar,dagora por
-
diante, atrl\Tés de uma. enumeraça.o pa.J-n.lel&i de i'ro.ees dos "Diálogos", escri-

tas em prosa, e de versos dos Poetas brasileiros do século XVII ou do com~


-
ço do XVIII. Pl\ra as citaçoes dos "Diá~ogos" usarei a ediçao já citada.Pa-· -
ra' as dos Poetas, serti· ·utilizo.d.a a "Antologia. dos Poetas Brasileiros da. F.!,

se Colonial", organizBda por Sérgio Buarqu.e de Bollanda, publicRda em 2 To-

lumes, 8
·
-
editada pelo antigo Ministério da Educaçao e Saúde, Instituto Na-

ciona.l do Livro, Departamento de Imprensa tNacional, Rio,. 1953. Iaao, por um


• •
65.

lndo, r.eTelará os tem~a pnr~lelos, maia ~u menos obsessivos em todoa eles;


.lo

e, por .o utrot evitará sobrecn.rregn.r n. cn.dn. pn.sso o.s citaçÕes com referên-

cias bipliog~áficn.a minuciosas.

Qu~to aoa poetas, f~ei mençÃo espec~al n. Mn.nuel Botelho de OliTeira

(1636-1711) e Frei Mn.nuel


.
de Santa Marin.. Itn.pn.rica (1704- ?), principal-

mente ao primeiro, mn.is do século XVli do que do XVIII, e portn.nto maia •

próximo do tempo de Ambrósio Fernn.ndes B~n.ndão, que foi do século XVI-


XVII. Também ,d e vez em qun.ndo voltarei a citn.r,junto n.os dos Brasileiro•,

versos ~e -
Camoea, principalmente os. que ~pn.recem nn. descrição da "Ilha


n.legórica. dos Amores", po.rn. mostrar como -n. natureza da Ilhn. co.stn.nhn. do

Brasil ~ra, P.n.ra os nossos, uma exacer~n.tao - sensual e às vezes sexual dn.

imagin~a pelo Poeta ibérico.

3. 7 A Volta ao Tema da Ilha.


Alié.a, o poemn. de Manuel Botelho. de Oliveira ao qual nos hn.vemos de re-
-
ferir chn.ma-se "À Ilha de llaré" (Ob. cit ~ , Yol. I, pgs. 133 e sega.), e o

• de Frei Manuel de Santa. Maria Itn.pn.ricn., ~recho dos "Eustl\quidoa", denomi-

na-se "Descri.ç ão do. Ilha de Itn.pn.rica" (pgs. 160 e segs.) 1 ambos parecem

se sentir regressar à"psico1ogia. dot ilh~tf" à qual me referi, procurando ae •

abrigar · e recolher nesse regaço materno, ~feminino e vegetal. E, dando por



'

assentado que! o autor dos "Diálogos" é mêsmo o jud.eu _o\mbrósio Fernandea


•••
Brandão ·- coisa. que, aliás, um certo pronome nós que ele emprega numa das

falas que c i téi antes, parece confirmn.r -- vamos à.s frases e versos pn.rale-

ioa. Os '·primeiros que escolho, referem-a~ Õ. Flor do Maracujá, que já. Yimoa
'

referida por Frei Vicente do Salvador. E~Ambrosio Fernandes Branda.o:


# -

~ ,
"Outro modo de flor que chn.mo.m de ~amn.ro.-n.ç~ e a digna. de estima e

conside~çao,flor de maracujá , pela. formosura dela, "f'Brias cores


de que é composto., raios formosos que lanço., com outras p~rticula.­

ridadea dignas de notar ••• Dá um fruto do tnmanho de uma pinha,mui

r:egn.lftdo, cujo mi'o lo, que é como o da abóbora, ae aoz·ve ou come Aa

colberado.a, com dar mui to gosto e mo.ro.vilhoao cbe ir o". (I,ga .140/1).

me · temo., ~xaminodo por Frei :Vicente do Salvador, - este acentuan-


0
do a i~terpretação religioso.- aparece de· novo em Manuel Botelho de Oli-
66.

. .- t amb#
"O}/1nrcuJa em, gostoso e frio,


entre as fruitas merece nome e brio;

tem nas pevides mais gostoso ngrndo

do que açúcar rosado;


-
e belo, cordial, e como é mole,

qun.l aua.ve mnnjnr todo se engole 11 •

- (Vol. I, pg. 40).


-
-

A lafa~n.ba e o Ma.cujê sn.o como desdobrnmentos do Ma.racujti: qun.ndo· se co-


me qualquer desses três frutos, ele, "sem fn.zer no mel injusto a.grn:Yo, DB

boca se desfl\Z qual doce favo".


- -
Na "Ilha dos Amores", de Ca.moes, n. Roma. era mostrada apenn.s coruo um Fl'u-

- mostrando
to rachado e entreaberto, mostrando a cor do Rubi: "Abre a Roma.,

a rubi·c undn c.o r com que tu, Rubi, teu preço perdes". A compnraçao maia ela- -
ramente . aexa~l do Poeta ibérico reservava-se aos limoes: "Os fermosos ti- -
-. ali
.moes, ch~ira.ndo, -
esta.o virgineas tetas imitando''• Nos doia Brasileiros,
a sensualidade se exacerba. Em Manuel Bo~elho de Oliveira:
-
"As Roma.s I'Ubicundn.s quando tibertn.s
à vista ngrn.dos sao, à - língu~ ofertas,

são tesouros das fruita.~ entr.e nfn.gos,


-
pois sao rubis suaves os seus-- bagos".

(Pg. 138) •.

Em Frei Ma.nuel de Santa Maria Itapn.rica, a descriça.o da Roma - - é maia


discreta:
-
"Abre aroma dB cascB o .seu tesouro,
.

que do J"ubi a cor flo.mante es.panta,

·e .quanto maia os bagos ~ai fendendo,

tanto Yai maia formosa parec~do".


(JJg. 188}.

-
Em compenaaçao,
a 1• 111 n.wem
-a
camoniana. sob~e -
os liJnoes é recriada e intenai-

qu': chega A concupiscêãcia, em sua ambigaidade:


f ico.da, numa f orma
67.
-
''Os l1"moes d ocea, muito apetecidos
·
-
estao Virgínens tetns imitando,

e qu~do se vêem crespos e cresci~os,


- -
va.o as mn.os curiosas incitando" • •

(Pg. 187).

4. - O Brasil como Pomar e Jnrdim.


Onde,porém,os Poetas mn.is se aproxim~ dos dois prosadores já citad~a­

isto é, Ambrósio Fernandes Brandno e Frei Vicente do Salvador - é na exal


-
-
taçao dos frutos m~is característicos da terra brasileira ·- como . o Caju e

o Abn.c~i, por exemplo. Este, também conhecido como Annná.s ·; excede todn.a
.
as frutns do mundo, segundo Frei Vi,c ente. Estava o Fro.de concordando com
-

,
Ambrosio Fern~ndea Brn.nda.o, segundo· o qu~l
,, no Abacaxi se juntnvam o auave
.
cheiro e"os ._borea ·de todas as co~a.s que melhor o têm". Yn.nuel Bot.elho
-
de Oliveira wopoe ,
o Ana.nn.s pn.rn. Rei da.s t._Írutn.s:

"Vereis os Ananases,
que p~ra -
Rei das fruitas sao ·capazes;

vestem-se de escnrln.ta.

com mnjestBde grata,


q~e para ter do Império ' a. gravidade
lo~rnm
o
dn cron verde n. mn.jesvnde;

mà.s quBndo têm n. croa. lévBntooa

de picantes espinhos ndornooN-,


.
nos mostram que entre Reis,entre Rainha.a,

não há croa no Mundo sem espinhas.

Este pomo. celebra. toda a gente,



é ~muito maia que o pêssego excelente,

pois lhe levo. aventagem gracioso


"'
por maior, . por mBis doe& e mnts cheiroso".

{Pg. 140).

, d . Brftnd:o imngina um ~o.rdim edênico feito com aa Io-


Ambrósio F~rnan es ~ ~

lhngens, flor~s, latadas de ramas e cipós ~4o Brasil. E nele compoe um Po


-
-
- , . dente e luxuniante:
mar, no.o menos rescen
68.
-
"Nao aer1·ft" p1"or o Jar
· d im pelas maitns diversidades de flores, d ns

quais se podia povoar e pnrnmentnr, que por serem muitas e várias


e na qunlidnde estranhas, nno é possível haver quem possa atinRr

com elas, nem ~abér-ll1es os nomes. Pelo que direi somente de al-

gumn.s '· que andam mn.is em uso., como é n. f l.o.r dn. In.rn.nj.eir~, que se

~ti em grande n.bundiincin.; goivos de mui ta.s cn.stn.s e core·s diferen-



tes; crn.vos amarelos, roxos e brnncos; jnsmins, mndressilvn.s,bal-

sn.minhoa, a árvore triste, n.lfnvn.cn. e mR~ericno,de que os campos


-
estao cheios •••
.
Por fim, n.s ~lores que produz n. terra (do Brn.sil),

nn.turais dela, --
sn.o tn.ntas que ....
nn.o~e
_,
n.treTo a meter mn.o em --
tn.o

grn.nde pego, como forn. o querer tr~tn.r de todn.s, pois, pnrn. se

formarem figurns, enredados e out~ns co~sn.s de brinco, se n.cham

tn.ntos cipó~ para o efeito marnvi1hoso, pelo muito que se esten-


.
4em, q~e lhes ficam muito. n.trns n.~ murtas de Portugal ••• E poia

vos tenho já formndo n.s hortas, jardins, latndas com suas fontes,

tanque~ e esguichos ••• quero arrumnr o pomar que falta ••• E aasim

formarei primeiramente um jardim ~ árvores de espinhos, e depois


,
me pa.ssn.rei ao pomar, com dividir :nele os ft•atos que jo. estao . em -
uso de . se cultivarem, daqueles que a negligência tem deixado ~tê

ogorn. ser n.grestes. Este jnrdim se·. poderá fazer povoado de formo-

sas, verdes e copndn.a larn.njeirn.s, t . bn.stecidas de brn.nquíssimo.s

flores, cuja frngrnncia de suave c~eiro alevantassem os espíritos


do• que a gozassem, colmadas ~odas ~ de louras e aprazíveis laran-


-
jas; em tantn quantidade que ·m uita• vezes sao mais que as folhaa,

umas t;o

doces que a par delas perde do seu preço o açúc~r e o

m~l; o~tras bicais, de t;o gostoso :. comer, que não há quem ae acabe

de . far~ar delas; também das a~edas, que pnro. o que aproveitam aAo -
maravilhosas, por levare~ -
muito sumo. Acompanharao este lo.rn.njal

crescidos e formosos limoeiros, com tnnta quantidade de fruto,que

causa maravilha poderem-no sustentar, porque com ele perseveram

todo 0 ano, em tanto que quando um ~stn em flor, o outro Tem cre~

cendo, ·e 08
demais estão de v~z. A estes limoeiros -
se ajuntara~
69.

grande quantidade de lim~s doces, com suas bem compost~s plnntns,

excelentes no gosto e bom sabor, ns qunis se produzem n~ terra

mui to maiores em quR.ntidn.de que ns que se dno em Portugn.l... Log.~


• -
1 rBo avante, formosentn.ndo este jardim, grandes limÕes franceses,

com o seu amarelo alegríasimo para n. vista ••• Rodeará pelos extre-
.
mos, quase servindo de muro, n. espinhosa cidreirn., colmorln doa be-
.

líssimos pomos,mn.iores que uma botija ••• E porque o sol se vai _já

:transpondo, me quero pnssn.r a tratn.r do pomn.r prometido, do qual

'O primeiro fruto quero que sejam os figos, porque sempre fui muito

afeiçoado a eles ••• Façamos logo umn rua de romeiras com seu coro~

do fruto, que encerra dentro em si finíssimos rubis, as qun.is ae

produzem grandemente nestn.


. terrn.. :Fnr-lhe . -ão compn.nhin retorci-

dos marmeleiros, com seus cheirosos e dourados pomos ••• Fn.r-lbes-

á companhia um fruto, natural dn. terra, chamndo goiaba ••• Logo ae


.
irá erguendo, e com · sun.s miúdn.s folhas ncomodndn.s para fazer apeti-
-
tosa salsa, o tn.mnrinho, tno medicinal
. . e por tal prezndo em todo

mundo; peln.s partes sombrias, em baixas pln.ntas à -


feiçn.~ de cn.rdos,
-
se mostrn.rao os gn.bn.dos e formosos n.nnnases, semelhantes a pinhas,

lançando de si suave cheiro, com se lhes comunicar os aaborea de


todas as causas que melhor o têm. ~ por aqui tenho concluído com
-
às plantas e árvores que n.té ngorn estao em uso de serem cultivndn.s

neste Brasil". (Pgs. 140/142/143/ 144). ·

A enmeraç~o continua com as árvores e frutas agrestes, mas o já citado

basta para 'demonatrar o que eu desejava. Acrescente-s e


. -
entao n.pcnaa que

inventário• aemelhn.ntes são feitos, nos "Diálogos", sobre n.s Avea, Peixes,

Animais etc., e que sobre a gra.nde maioria. doà seres enumerados podería-

mos alinhar Tersoa paralelos referentes a eles, de autoria dos Poetaa &os

quais nos referimos. Mas que nos bnate apenns a -


n.lus n.o, pois temoa de pn.~

sn.r ·a o~ro tema importante, presente - ainda que por meios indiretoa -
nos "Diálogo• das Grandezas do Brasil".
70.

5. - O Eld or ad o e a Cidade Remot n.


Por algumas Pf\ln.vras já cito.d~s fio s "Dilil ogos ", podemos ver nté que

ponto o mito do Eldorndo reper cutiu nos Ibéricos dos séculos XV e XVI,

e como ainda estava vivo no Brnsii dos fins do s éculo 1l1 para os com~

ços do XVII. !A mbrósio Fernandes Drandào dá notícia da crença, alimenta-

da por ~lguns, de que a Ofir b íb lica - a vers~o judaica do Eldorado -f!


co.va. "nn costa. do Peru". Por outro Indo, Armnndo Souto Mo.ior refere o

fa.to de que um dos nomes atribuídos B Ilhn Brasil era o de Ilha dn.s Se-

te Cidades. Orn, é coisa s nbida que, entre os Estados norde stinos, aqu~

1~ no qual,. ainda hoje, mais repe r.cute o. vers~o da origem fenícia doa

nossos Indios é o Pinuí. Pois bem: fl.S es~rn.nbns formaçÕes rochosn.s que
-
existem no Sertn.o piauiense forn.m bn.tizo.<\n.s como "Sete Cidn.des", e, pBra.
-
o Povo, · nn.o adiantam -
e~~licaçoes de que se trntn de pedrn.s escn.vndas pe-
-
lo. erosao e outros fenômenos geológicos e. naturais. A convicçao popular -
,
e que n.quilo -
sao n.s ruinas de uma estrn.nhn. cidn.de, deixo.dn. por uma gente

desconhecida, em tempo remoto.

Nos "Diálogos" vimos, já., a referência a Ofir. Mn.s existem outrns,fei


-
tas sobre tesouros de pedras preciosas e metais raros, perdidos nos reces
-
sos remotos do Estndo do Brasil, e o autor reclnmn. contra a nosso. negli -

-
gência, em comparaçn.o com os Espnnhóis nossos vizinhos. Note-se que os
- -
dois interloeptores nao sao entusiastas &~ minas: o autor, homem prático,

prefere .os lucros certos do açúcar aos ouros e p~rnrias do mito. I exnt~

mente por isst que se torna valiosa a ref~rêncin. que ele faz à esmernlda,

da qua.l ~ n 88 tem por verdn.deiro que, se a ,pessoa que o. trouxer cometer a.l-

gum o.to .sensual, que se quebro. por si, tanto nm~ a castidade" (pg. 5).0u

esta.:· "N~o ·se pode tirar ao.s castelhanos serem bons conquistadores e des-

cobridores, porque n.travessaram,conquistando, desde Cnrto.gena a t é Chile e

Rio da. Prnta, que é inumerável terra , pela. qual foram achando quantidwde

grande de mino.s de ouro, prata, cobr.e, azougue e outras diversas" (pg.6).

Quer dizer: mesmo sendo Brandônio um· homem de espírito prático, o mi -


de Ofir e d o Eldorado
.

errava em seu esp1rito e


,
ele o vin , senao - no
to
71.

Drn.sil, nos Estn.dos de fala. espa.nho l n vizi nhos no noss o, na Áfr i ca. ou a-

lém. E vern, ent;o, o que me parece m~ia s uge st ionndor e i mrress i onnnte :
#' -

e que Brandn.o - ou Bro.ndÔnio em lugar dele - de s creve um de s ses locAi s

estra.nhos que eu bn.tizei de lumin.rn.s - lume e a.rn. - lume por cnu sn do

Sol, e n.rn. por ca.usa dn.s pedrn.s, e que, o.indn. hoje, desafiam a. argú ciA

dos estudiosos brasileiros; são esses enormes lajedos enta.lhndos com s_!

nais cuja id~e, cujo sentido e cuja procedência ninguém conhece. Ali
-
nn.o existe possibilido.de de as escavaçÕes 't erem sido fei tn.s pela. eros~o.

Forn.m feitn.s indiscutivelmente ·por homens. Ma.s, qun.is homens? Os que os

Portugueses encontrn.rnm? Parece que não. Seus n.ntepnssn.dos?. Tn.lvez. Ma.s

quem eram esses? Ninguém sn.be. De qualquer mnneira, creio que é muito dl
fícil qua.lquer um de nós chegar diante de umn. dessas pedrn.s entalhadas
-
e no.o ficn.r impressionado. Um n.migo do a.utor dos "Diálog os" pa ssou por

estn. experiência., na Pa.rn.íbn., numn. serrn. "um pouco desviada pn.ra o Ser-
-
tn.o", e sobre isso diz Brnndônio a .Alvin.no:

" ••• Ali, por toda o. redondeza. que fn.zia. nn. fn.ce da. ped ra; se a-

-
cha.vam umas molduras que demonstra.vnm nn. sun. compos içno serem fei

tas artificialmente. Primeiramente, dn. bnnda do poente dest n. cova,


'

nn. fn.ce mn.is o.lta dela., esta.vo.m cinquenta cossn.s toda.s conj untas,

que tomn.vam princípio de baixo para cima., de um tnmn.nbo que seme-

lhavam, no modo em que estavam n.rrumadn.s, o em que se pinta 'P



Or

retBbulos o rosário de Nossa. Senhora, e no cabo desta.s mossas s e


.
for~Bvn uma moldura de rosn. destn. mnneirn.: • E é de n.d-

vertir que os mn.is dos caracteres que se demonstr~vam nesta. covn.

se. n.rrumn.vam dn. bn.ndn. do poente, aonde d n pr:.rte dire i tn. do.s c i n -

quen t a mossas em um cotovelo que a pedra fazia, se demonstrnv nm ou


_
trn.s trinta. e seis mossn.s, como n.s demais, dn.s quo.is nove del n.s

corriam ao comprido pn.rn. cima e n.s outras tomavam através contra a

mio esquerda. E e~ cimn. delas todas estn.vn. outra. rosa. como a pri-

meira que tenhO· P.i ntndo e logo um pouco mn.is n.bo.ixo estn.vo. out rn.
'

nte ros a e · J·nnto dela. um sinal que pn.recin. c r;.'t"eirn. de d e -


seme lh40. ' '


log 0· , contra. à mão esquerda, se form~v~ doze mossns s~
funto, e
72.

melhnntes ns dem~is, e no alt o delns , que era conju nto as cinquenta

prim~irns, pareciam uns sinais no mod o d e cave i ras; e dn unndn di -

reita do cotovelo estnva uma cruz e logo, pnr~ B banda esquerdn,nn

face da pedra, se demonstrav~~ , em sei s partes, cinquent n mossns .E

em uma das partes e s t ava umn rosa mnl clara, porque parecia estar

gastnda do tempo, e logo ndinnte estnvnm outras nove mos sas, seme-

lhn.ntes à.s primeiras e, por todn n. redonde.zn. dn. cova., se viam pin-
.
tadn.s outras seis rosas, e na pedra que se assentava. no meio das

duas, estavam vinte · e oito sinais, ou cnrncteres que abaixo debux~

rei, divididos em t ~~ a pnrtes •••

• 1\10 = I

Estes caracteres todos mos dern.m debuxndos nn formn. que aqui vo-los

(; c · .:. ns tro". {Pgs. 23/24) •


.

ouvindo n.s pn.lo;vro.s e vendo os desenhos que Brn.ndônio copiara, Alviano

comento.:

"Certamente que imagino, pelo que noto desses sina.is que me amos-

trais, que devem de ser caracteres figurativ~s de cousas vindouras,

que nós n;o entendemos, porque -


nao me posso persuadir que a n~tur~

za esculpisse de por si esses pontos, rosns e dem~is cousas, sem


.

intervir a indústria bumcna. E pois -


n~o podemos entender s emelb~

te segred o , deixa.i-ns ass im debuxadas, parB outros melhores enten-


73.

dimentos, e passemo-nos a tratar do mni s que bá que dizer da Cnpi-

to.nin. dn. Pn.rn.Íbn.". (Pgs. 24/25).·


-
Brn.ndÔnio faln. n.indn. do. pescn. dn. Bo.lein. Sobre o Gn.vio.o, o.
diz e 1 e qu ê1lum
dentre os vários tipos dessas n.ves, "como n. Rei lhe criou a n n.turezn coron.

nn. cn.beça". Sobre n Onçn, ele fnlo. do. mn.lhnda - que pnrece nuncn. ter vis-

to, pois diz que é o.nimn.l listado, como os ti gres - e do. suçun.rnnn., "de

menor corpo". Mn.s é preciso concluir> pn.ra. se furtn.r a tento.ç;o de tudo

transcrever. E escolho paro. isso o comentário que os dois interlocutores

fnzem sobre um peixe, a Pirnnhn; n s eu respeito diz BrnndÔnio:

"Piranha é pescado pouco m~ior de pn. l mo, mn.s d e tão grande nnimo

que excede em ~er -


carniceiros nos ·tub nroes ••• Devem de ter umn.
- - -
inclinn.çn.o leonino. e nn.o se n.cham senn.o em rios d'ngun doce; têm
-
sete ordens de dentes, tn.o agudos e cortndores que pode mui bem

cndn. um deles fazer ofício de nn.vn.lhn. e de l nncetn.. Tnnto que es-

tes peixes sentem qun.lquer pesson. dentro da água se enviam o. ela

br~va lev~
como fera e n. parte aonde aferram na bocn. sem resistên
-
cin.,com deixarem o osso descoberto de c~ne, e por onde m~is fre-

quentam de n.ferrn.r é pelos testículos, que logo os cortam e lev~



juntamente com a natura e muitos índios se ncbnm por este respeito

faltos de semelhn.ntes membros". (Pgs. lSl/162).

Oúvindo isto, Alviano comenta:


-
"!)ou-vos minha pBln.vra que na.o hn.verti já cousa. na. vidn. que me fn-

ça meter nos rios destn. terra., porque nindn. que -


nno ~enhnm mais de

um pn.lmo d'água, imngino.rei que -


já .sn.o esso.s piro.nbo.s comigo, e

que me desarmam do. cousn. que ma.is estimo". (Pg. 162).

Esc olhi este trecho porque ntravés dele - e sendo Ambrósio Fernandes
.

Brn.ndã.o homem de 1 íngua sol t n. como, em vid a., f ora. Bent o Te ixeirn. - a 1 i-

berdnde, 0 riso e a a.spere~n do. lingun.gem popular anunciam o aparecimen-

to, jti em pleno século XVII, do poetn Gregório de Ma.tos, o Boca. do Infer-

no, t~o important e -


para. a. cospreensao do -
Barroco brnsileiro,como unin.o de
.
contrtiri~s e elemento fundn.meu '•. ~ :
-
na. formn.ça.o dn nosan. Cul tura.
Capitulo IV
GREGOBIO DE IIATOS E Q t•:IJ''Dft'O POPULAR 10 BARROCO

Sécal o XVII

Se a6a começaraoa a .. ,
iaar o eapírito da NoYela atraYéa de cri te-
rio oroaolócico • histórico, Yamoa aclarar itoa.aapect,oa do
.
proble•a•
ae
fi a• estudo comparatiYo de "Dátaia e Cl.o é", de Longua, ·do "Aano ·d•
Ouro"'· de A.puleio, do "So.tíricon", de Petrônio, e do "De
cacciot. Toclaa ela• aão obras "cláaaicaa", np sentido de que tê•, ·na aua
.
~atrutura, harmonia, medida, luminoaa racionalidade, proporção, claresa •

claridade, domínio da forma aobre o·aaaunto- fft•


-
literário e nao filosófico •

Entretanto, •• c "Dáfnia e Cloé" com 11 0 Asno de Ouro" notare-

moa uma diterençaa a primeira é cláaaica e 'apol{neà pura1 •a• na aegunda,


••o A.ano de Ouro", introduziu-se ele•ento dioniaíaco, ao•·a·ateir te ·
. I
insinuado no equilíbrio cláaaicoa é o el to popular. Sabemo• que, Da

, Grécia, o culto de Apolo era caracteríatico daa c~odas ariatocráticaa da


'.
' população. O culto dioaiaíaco - Tindo doa poyoa aaiáticoa - aaaeohoreou-ae
daa
.
camada• populares,
- .
introduzindo na religiao grega o f'lieo, acentuaado
o erótico de Afrodite até o priápico e o orgiático, e oondusiDdo ainda dea
-
tro de ai ,,. elemento de combate ae11pre usado como araa de de
.
alizaçao -
.
- I • • • A

da ordem racional, ·d a pompa corteaa e da compostura ariatocraticaa o Co•i-


co, adotado tanto noa culto• ,orgiáticos quanto introduzido no Teatro, ta!!
bém coao elem~ato de opoaição ao Trágico.O"Satíricoa"é como "O Asno de Ouao"

8
-
(odaa aa aowelaa citadas acima aao eacritaa e~torno do Uediterrâneo,ae~
. ,'

do que "0 uno de Ouro" ' do Norte da ifrica. TOda• aurgiraa, portaDto_, do
aeio de p 0 y 08 tormadore8 da Raça castanha da RaiDha do Meio-Dia, de •odo
. . .

que não admira 0 rato de que esata.eate a partir do "~ao de Goro" oouat!

ela• a linbage• da NoYela barroca ibérica po~ excelência - a KoTela


o, porqae ftl ao• aeaswtr ~
·' · pioareaoa .. i•,-rtaat.&••~ I ~--
para 0 D08a0 • •
' -
15.
0
ra esclarecimento de um tópico funda.ental em no••a teae.
Tentarei expl·1car o que pretendo a part1r
. de reflexo••
- que fiz anterior-
mente a reapeito da 1m•ica. Na minha "Iniciação à Eat,tica", eu fasia
- •
di•tinçao entre Múaica de linhage~ apolínea e de linhagem dioni•íaca • ex-
plic&"f'aa

"A MUaica apolínea correaponde ••• ao caminho linear, da PiDtura. i


a Música clássica, ou melhor, a Múaica feita pelos coapo•itore• de

.

temperamento clássico, equilibrada, aerena, harmonioaa·, racional,


1 ino•a, ordennda, clara e límpida. -E a •ai• pura de todaa. E a

. Música dominada pelo espírito e pela. forma do contraponto. Ne•ae


sentido, podemos dizer que a pintura aerena e linear de Botticelli
correaponde à aníaica de Vivaldi. Já à Música dioniaíaca ••• é Múai-
ca de contraste• vi_o lento• que chegn.m A diaaoncincia1 dra•ática,Yi-
1
brante, mai• harmônica do que ~ontrapont~atica, yiolenta, "impura",
pela preaença quaae"literária'' 'àe 'ientimentoa e expreaaÕea eatra-
nhaa ao campo da 11úaica ••• .Uai•, podemos comparar a música de Bee-
thoven, que pertence a esta linhagem, com a pintura de Goya, Xiga~

lângelo ou El Greco". (Ariano Suaaauna, "Iniciação à E•t,tica",Ed!


tora UDiveraitária, Recife, 1975, pga. 223/224).
Entretanto, em compoaitorea como Igor StraTinaki por exemplo, n6• encoA
tramoa a sobriedade e limpidez do "clássico apolíneo" ,,·o.; equilíbrio • o de•
-
poj nto unidoa à garra aaia forte e ao gume MAia popular do dioniaíaco.
Poi• é espírito muito aemelhante a eate 'que acabamo• de •••inalar
mú8 ica de Str&Yinaki que n6• yamoa encontrar na NoTela picareaéa ibérica

e que é fundamental
. -
para a compreeneao dessa importante Tertente da Cultu-
ra braaileira. Principalmente ae record~oa que ele •e encontra noutra
manifeatação artíatica da Ilha cultural da Penín.mla Ibérica - o• ret'b~
.
lo• românico-catalãee pintado• aobre •adeira,

-
todo• dotado• daquela uniao

de contrário• - •obriedade e de•poj o por lado, garra • p . . popa-

lar por outro.


No •'oulo XVII br..ileiro, ••r' atra"f'é• ~· Greg6rio de Uatoe que o



T8.
lemento popular
· e p1"c•- i ~
-aeaco rrompera no noaao Barroco1 e ' preciao nao
\
-
esquecermos que ' de tod oa oa escritore• ~Rrrocoa ibérico•, aquele que •aia

influenciou Gregório de Matos foi Quevedo, autor de uma novela picareaca,


-
"0 Buscao"
. Tenh j ~ · 1 - - ...
• o a aaa1na ado Yariaa Tezea, ·n outra• oca•ioe•, a exiaten-
.
cia de uma originalidade do Barroco braaileiro· em relação ao• europeu•,aa-
. •

•im como a exi•tência de duaa linhagens entre nóa1 Barroco Tegetal, ·~

verdeado, opulento e lUDlrin.nte, da Zona .da 'fata,


.
·e um Barroco deapojado,
caatanho e ensolarado, do Sertão.

Acrescento agora que o Tegetal é maia i. Portuguêa, o. castanho é mai• E.t-

panhol. Também recorde-se sempre que não :ae•trata de excluaiTiamoaa é u•a


questão de predominância, mae em ambos •• procura o total e a união de con-

trárioa. Até aqui, vimos a linhagem. portugueaa, vegetal e eaverdenda pred~


l

minn.ndo em Ambr6sio Fernandes



·Brandão, Frei Vicente do Salvador·i ou Manuel

Botelh.o de Oliveir~. Veremos agora o espírito "de estrAda", o ri•o, o aol


e a garra popular da Novela picaresca eapanh.o la aparecendo na poeaia do


"loca do Inferno", e passando, através dele e de outro• aemelbR.Dtea 1 para

o espírito do Poyo brasileiro de modo a ~ea~arecer no noaao extraordinário


Ro•anceiro Popular do Nordeste. ••

.2. - Gregório de Mato• e a Eapanha.


J

Em 1972 eacrevi um ensaio sobre Santa ~eresa de iTila, ensaio que .con•!
dero apto a esclarecer certas coisas que preciso dizer aqui. J3 aalientei,
antes, que uma das características d~ -
Cultura brasileira era tentar a uniao
do Eu-.ujeito ao Mundo-objeto. No campo da Literatura, o Romance
• •

em torno do Eu-sujeito, enquanto que a Epopéia se liga maia ao Mundo-objeto.
Mas tenhamos doia fatos em. vista: primeiro, que uma NoTela épica e
tica do Barroco espanhol, o •iDom Quixote", de Cel"tcmtea, ' eapécie de

ponte e elemento de ligação entre o Romance e a Epopéia - como acontece coa


"Guerra e Paz", de To!stoi; o aegundo é que nu• antecessor "cláaaico" e ~

dieval do Barroco, Dante, pa obra capital, "A DiYina Comédia", narra, ao


aeamo tempo, -
uma excuraao noa en
.

• do Mundo - da ''Máqui do

''incursão do Poeta - · que, aliú, ' ' ao •••o teapo narrador • pera
'11.
gea principal da ação- no universo subterrâneo de au~ alma.

· Pois bem: no livz·o de SantG. Teresa, · "Aa Morndaa, ou Caatelo Interior" ,o-
corre cois~ semelhante, pois a excura;o que a Santa de Avila empreende pe-
lo Máquina do Mundo para ae encontr·-
~
com ·
0 entgma do criador dessa Máqui-
na, é talobém uma incursão ao interior de . sua alma, em cuja J.forada maia in-

terior ela procur~ 1e unir a Deua, que ali estB, como dizia Plotino,aaaen-
tado em seu Trono sagrado.

No ensaio a que me referi, entretanto, eu acentuava outra união de con-


trários característica do Barroco - a união do espírito religioso e míati-·
co ao elemento popular, fato que já insinuei antes atravéa da dupla inter- ·
-
pre~açao dada pelo Povo brasileiro à forma da Flor de Maracujá. Dizia eu,
.

em 1972; mais ou menos o seguinte:

"• • • Santa Teresa, pn.rn. mim, é e sempre foi u•a espécie de entidade
coletiva, que integra, no seu todo, aquilo que a Espanh~ inteira sig-
nifica para mim - a Espanha de ~-Greco, de Goya, de G6ngora, de Ve-
- -
lasquez, de Sao Joao da Cruz, de Cervantes, de Calderón de la Barca,
.,

-
de Unamuno e de Garcia Lorca ••• Assim, nao me lembro maia, direito,
-
se fui a Santa Teresa diretamente. Acho que nao. Penao que fui a ela
por intermédio de Unamuno, como fui· a Góngora por intermédio de Gar-
cia Lorca. E natural que assim. seja, porque, entre os eapanbóia con-
temporâneos, são esses os dois que mais me tocaram na juventude •••
Santa Teresa talvez me toque tn.nto pelo fato de ser u•a Santa típi-
... . .
ca do Barroco, e do Barroco ibérico · particularmente. Sao Do•ingoa
foi um aR.nto típico da Idrule Média, ·· Santa Teresa é uma an.nta eapanb.!
com todas aa quR.lidadea do aeu tempo pós:renaacentiata. O Barroco '

a primeira mrLnifeatação romântica de dissolução do Cláaaico, motiYo


.

pelo qual tem elementos do Clássico e do Romântico".

Não expliquei então, maa explico agora que uma daa -


ioea de contrários

do Barroco era ·a de "otimismo cláaaico" com "pessimiamo româutico", o que

explica, entre outras coisas,


-
a reiYindicaçao que ~· Romântico• fazi ••
- D te •
re 1açao a an , ..0 "Hamlet" e às outras peça• •hake•peare , Yendo aele•

precursores do Romanti. .O• E eu continuaYa, a re•peito do Ba•roooa


18.
"TalYez (a Barroca)
.

88 Ja a menoa pura, a maia imptn·a, mas e, também, '
. •
.
.' ..•

a •aia completa, rica e fecuDda daa·YiaÕea do mundo, dos .eatilos de


Arte 8
de Vida~ O car6ter barroco, a personalidade doa grandes b~r~
coa como Certantea, Shakeapeare e Bach, caracteriza-se pel-a uni~o de
.
68tt~ft\8~@8' P.@lR: \IHi.~ln.~\@ tl@ 86tt~t-=fÍtti8H flH~ j êf\•••t~ t1é ~ ... ,,,,e~'"'f!r f!

criar. Entre aeua oontraatea, tal•ez oa maia encontrados sejam oa ~


..
%iatentea entre o riso ensolarado do Cômico e o choro cego e dilac~
raclo do Trágico; entre o ~popular e o r.,inDdo; o do realismo maia
brutal unido ao mais delicado idealismo; o do senso e cio bom-senso
do YUlgar unido ao maia ardente e puro misticismo. Na música ~e Bach,

encon~ramos aa maia puras ·das músicas religiosas e o elemento popu-


••

lar, feati'vo e de dança doa concertos de Brand-e nburgo. No "Dom Qui-


x~te" ou no "Bomlet", eDcontramoa as conaideraçoea e os momentos -
-
maia aristocráticos de fina poesia, aliados aos trocadilhos obscenos

e às cenas de puro Cômico, às vezes até vulgares e grosseiras. Vela~

quez pintou Cristo agonizante, impreasionador e poderoso, mas p~

.
tava também, ao lado de cenas mundanas,
-
os anoea, os boboa, ~· cor-
.
cundas e aleijados das estradn.a espa.nholo.a, paro. ser fiel, ttunbém,
ao lado grotesco que existe no. pobre tragédia do homem; e antinomias
semelhantes podem se encontrar em Goya ou em qualquer outro desses
grandea barrocos. E que esses vastos espíritos têm o mnndo todo de~
tro de si. Conduzem a vida inteira dentro àe suas almas, querem aal

Yá-la e levá-la consigo inteira, para o n.lto, para, cicatrizando


auas chagas, mergulhá-lo. na unidade do Sol de Deus".
Pro aYa então mostrar essa união. :do misticismo mo.is puro e elevn.do,de

uma parte, com realismo e o riso popular do outro -


0
-
uniao que encontra-
. , , .

moa em Santa Tereaa, em Góngora e no br~sileiro do aeculo ~I Gregorio de

Matoa.
3. - Santo. Tereaa, Góngoro. e G~-d~ .l!o.toa •
.
caráter típico~do barroco e•panhol, e por iaao cou-
Santa Tereaa era • •

ai o ele.. nto popalar do reali de sua terra, unido à mística


duzia ••
19.
maia alta e maia pura .
que se possa imngiJln.r - dizia eu • E acrescentava,
ainda naquele ensaio sde l9t2z
".A. 1• nhod •
cam - lnterna e espiritual q•e ela empreeDdeu e realizou, i~
ternando-se naquela Castelft~ nobre
. , tangrenta e desértica que era aua
grande alma e indo ass1·m ~ftté Deus , de .morada em mornda, e' o aaaunto
.
de seu grn.nde 1 1Vro,
• "O co.stelo ~ pea-
Interior", e é a sun. expreaaao
soal a respeito do mesmo fato enigmático, resumido por são JoÃo da
Cruz ao relatar experiência semelhante ••• Entretanto, de um mod~ que
s6 serB considerado contraditório por quem nÃ9 se advertir daquilo
que eu disse à princípio, Santa Terésa-era também dotada de um gran-
'
de senso de humor popular, de um ad~irável senso do real, realizando,

na sua linha de santidade, aquela m•sma união de contrários a que me


.
referi como característica do Barroto••• A respeito deaaa meama pura

.
n.lm~, religiosa. e quixotesca ( contcuír se) duo.s histórias que parecem

saída.s da boca e do bom-senso popul~ de Sancho Pança. Cont~ que,


• I'

certa Tez,viajando faminta por uma éWtrada espanhola, Snnta Teresa


foi hospedada por um casal de boa fdmília, e ali, já em casa, eapan-
- ,
tou o casal e duas noviças que a acómpanhavam, pela Toracidade e al~

gria com que' deTorou, sozinha, uma perdiz inteira. Vendo oa outro•
.
espantados, reb~teu-os, dizendo'que ~atava certa e coerente com tudo


o que ensino.Ta. E disse: - "Penitência é penitâncio., perdiz é perdiz •


guando chega a hora da ascese, da pe.itência, entro nela para Taler •


-
AgorB também, na hora de comer perdit, eu como e como bem" ••• A outra
bistó~ia é também de estrada, mas é ~aia de penitência d~ que de pe~J·­

diz. Dizem que, certo dia, Santa Terê~a, submetendo seu corpo Aa pro~
- . . -1·nha
vaçoes costume1rna, • caminhandoÀdescalça,- por um áspero caminho

de pedras, cor t an t es Com


. o pontas de facà. Seua péa, feridos, aangraTo•.

De repente, ela começou a sentir a aiu lado, o passo poderoao de Deua,

e um~ forte mÃo, sujeitando-a pelo o.fbro, deu-lhe


-
empurrao que fez

Santa cair de cara no chão, não aef se por , cau~a de alguma diatraçao -
a

na prece ou de al guma queixa na penitdncia. Voltou-se ela para Deu•,•


80.
reclamou: - "As .
\
Slm tn.mbém, é, demais"! Deus teimou~- "E assim que
eu tro.to os meus amigos".' - "Ah , ,- .. ? - retrucou Sru1ta Terean..-"VÁ

ver que é por isso que tem tão poucos"! Sim, porque Deus é n.lgo de
-
tao grande, que escapa a todns n.a imngens que possamos convencional-
mente fazer .deie. Conta o grAnde
t- rJomn.ncistn. grego Kaznntzn.ki que um
místico mu~ulmn.no
~ estn.va orando, em ex
,.. t ase, qunnd o ouviu Deu•
· d izera

- "Abu llassnm, Abu Hassn.m., se eu disseraos·homens tudo . o que eu . aei



4e você, você seria apedrejado". Abu Hassam, que pn.rece ter aido um
teres i.a no árabe, retrucou: -~ "Deu 'I., Deus, st eu dissesse aos homen•
,.,etade. do que sei de você, você serit\ crucificBdo". E Deus recuou.

~opôs, abrandado: - "Abu Hn.ssam, ~;vn.mos fazer um acordo& eu guardo

o meu segredo e você gun.rda tn.mbéul o seu". De fato, quem pode CLfir-
I

mn.r algo, com segurança, sobre o ~tor desta an.gn. cruel e doida,maa
• •
.
fasc.inn.nte e bela, que é a Bíblia, essn. história do o.mor divino,cheia
de massacres, emboscadas, e que t~mina com o Senhor m~dando, por
·àmor, seu Filho aos homens, para ~r crucificado e coroado de eapi-
nhos"?
Ora,um, dos pontos fundwmentaia para a ~xplicaçao - do ângulo aqui adotado
.
é a conaideraç~o de que a Cultura btasilé.ira tem dois troncos fundamentaiaz

a raiz barroco-ibérica, que nós herdamos 4os Portugueses e Espanhóia, e a


.

raiz popular. De fato, as duas são uma s~ porque não é atoa que a fonte
.

mais próxima dos nossos folhetos nordesti~os cômicos seja, na Europa, n. ~


vela picaresca, que é tipicamente ibéric~~ - -
Joao Grilo nao é -
senao uma Ter-

sÃo nordestina desse Pedro de ~~as-Artes ou Pedro de Urdemaln.s que oa Po1~·-

tugueses e Espanhóis fizeram brotn.r de seu solo e que para c& nos trouxera•
com tantn.s outras coisas. VejBJDOS entt\o., 4epois de tê-lo visto em Santa Te-
.
resa, esse contraditório e poderoso · e spírito do DBrroco ibérico flutuB:Ddo,
.
na sua unidade de contr~rios, entre ·o realismo popular e o ideBlismo míat!

co, ao expressar-se em Góngora, e passando daí, através de Gregório de Ma-


toa, para 0
espírito e 38 ortes do Povo nordestin9. Talvez, entre oa Braai-
~ Nordestinos sej~ ~o• maia aparentados coa eaae ••-
~eiro•, os Gaucbos e 08
81.
pírito espanhol que Cervantes separou em duas metades mas que, de fato, é,

como em Santa Teresa, sempre um misto de . .;Quixote e So.ncbo, ora cold predo-
minBncia de um ora de outro.

4.· - A ~ontrndiç~o Barroca em Góngora.


um
soneto, no qual ~le s~stenta uma idéia
Certa vez traduzi, de Góngora,
..
curiosa, a de que Cristo, ao nascer, praticou um feito mais heróico do que
o de se deixar crucificar, morrendo. daquela m~neira cruel e dolorosà. Diz
.
Góngora, no soneto, que Deus, ao nascer, deve ter sofrido mais, porque foi
• •
quando mn.is se abaixou, poi~ é maior n. d:fstlincia existente de Deus ao homem
. '
do que 'Cio homem õ. Morte. O soneto foi publi~ado,
. -
atraTés de minha tro.duçao,
.

• no "Diário de· :rernn.mbuco" de 17 de jn.neirtO de 1965, e é o seguintes



"Pender do Lenho, trn.spassn.do ·O Peito,
. .

ter n, .Fronte sangrada como tens,


teus sofrimentos dar,como rer~ns

de nossa glória, foi heróico ~eito!

Porém, mais, foi nn.scer ,em An~ro estreito


onde, parn. mostrar, por ~ nosso · bem,

~
-
como desces tao baixo e de on~e
~
vens,
não há tecto e a palha é.o du~o Leito!

. .

Níio acho, esta, o. façanha de qsa.is brio

por venceres do Inverno ia fria ofensa


com idade tão pouca e peito forte,

pois sun.r ~ftngue


D~
é mais do que ter frio:

é que acho que há distância màis imensa

de. Deus o.o homem do que deste A Morte"!


,. , sonéto de um home~ profundamente religioso. Pois é esse
Como se ve, . e 0

esse mesmo Góngora quem, -


noutra ocasiao, faz soneto feri-
homem religioso,
. d
che10 e • -erve e de
.
bumcu- populâr espanhol contra Cerwam-
·
nnmente satírico,

• •• Julio Cejador -r Frau~ca, no ena&io "El Quijote y la
tea, segundo i,rorma •
82

.l engun. cn.stelln.nn.", colocado com.o int~Qdução n.o "Don Quijote de La liMcba

(Jon.quin Gil- Editor, _- Buenos Aires, 1944, pg. 25).

A hisf,ÓJ\iill. desse soneto atribuído o.. Góngorn. é#a seguintes o Rei Filipe

que re1nn.va nn.quele tempo, casara-se 4om umn. Infanto. ingles~, ~ qual, pn.ra

casar-se, abjurara o Cn.lvinismo protestante de suo. terra. Nasceu n.o casal

o Principe Filipe Dominico e, para n.s festas do batizado dele,_ a Ingln.ter-

ra enviou numerosa embaixada n Espanha. As festas durara~ dias e din.~,gn.a-


. ,
tn.ndo-se neln.s muito dinheiro e muito vinho. O Rei, · como ~ra costume na e-

poca, resolveu encomendar n. um escritor umn. descriçBo desan.s festas, e Cer•


• • •
l
vn.nteà foi o escolhido. Góngoro., ou in~ignado virtuosnment~ ~om os gn.atos,
lt
.

• •
ou enciumn.do porque Cervo.ntes tinhn. sido preferido a ele, fez o seguinte

soneto, que também trnduzi: •

A Rn.inhn. pariu. O Inglês mesquinho


.c hegou com seus herejes e heresias.
-
Gn.stn.mos um mi;lbuo êm ·quinze dias

pra dar-lhes joias, !hospedagem, vinho!

Fizemos um alarde, •
UJD desatino,
.
~ umas festas que fornm tropeliaa,

.

só parn. festejar ess~s Espias

do Rei que jura a paz sobre Calvino!


Batizou-se o menino Dominico

que nasceu, para tanto, nas Espanhaa.


Tudo foi um sarau de encantamento.

Ficamos pobres. O Inglês, mais rico!

Elinda mand~ cantar ,asas façanhas


. .

por ·Dom guixote, Sancko e seu jumentol


' .

s. - Contradição Bn.rroca em Gregório de ltatoa.

'~fatos _ mn.s com umR. garra braai~.eira mais cortute - en-


Em Gregório de D ,.

- aparente 1ntre o riao popular e o ebaceno


contramoa eaaa mesma dilaceraçao
83.
de um lado, é o misticismo meio agônico de seu tempo por outro - para uaar
-
umn expresa(\,o caro. a Miguel de Uno.muno. No soneto intitulado "Buscando a

Cristo Crucificado um Pecador, co111 Verdadeiro Arrependimento", Gregório

de Matos mostro.-se o homem religioso que verdadeiramente erar

"A vós correndo vou, Br'o.ços sagrooos,


nessa Cruz sacrossanto. descobertos;

que pn.ra receber-me estais abertos,

e -
por nao castigar-me estn.is cravados.

A vós, Divinos olhos, eclips,dos,


de tanto sangue e l&gri~as cqbertos;
pois para perdoar-me estais despertos,
e por não condenar me estáis fechados.

A vós, pregados Pés, por n~o deixar-me:


'
-
'

a vós, Sangue vertido para ungir-me:


a Tós, Cabeça baixa por cham~r-me:


vós, Lado patente, quero un1r~e:

R.l:

a Tós, CraTos preciosos, quero atar me,


.
p~ra fico.r ·unido, atado . e firme".
(Em "Antologia. dos Poetas.Brn.sileiroa da

Fase Colonial", Sergio Buarque de BollBn-


do., ed~ . cit., vol.I, pg 65).

Entretanto, e, esse mesmo· Gregório de Matos que enviou "À. 11mn. Freira,
'
- quis que
que nao . outra Freira m(l.ndasse ao.' Autor um peixe,o. que

Vermelho" umas décimas, das _quo.1·s a último. é a seguinte:


.

"Assim como é verdade

que Pe lo yosso conselho ,


pérdi eu o meu vermelho,

percais TÓS a virgindnde:


que vo-la arrebo.te um frade'

84.
• •
ma1s 1sto, que praga é:
.
pr~za a Deus que um c

vos plante tBl mnngará,

que pn.rn.is um pn.iaiá


• •
mo.1s negro do que um guiné".

(Gregório de Mn.tos,"Obrn.s Completas",EdiçÕes Cul-


-
turo.,So.o Pa\ulot, 19~, Tomo II, pg. 281).
A ogressivüdade sexual da formo. de ce 'tos frutos, floraçÕes e folhagens

brasileiras repercute nas asperezas dn. li~guagem do nosso Povo, e qualquer


~4 • I )

ndolesc,nte sn.be o que significa, aí, o ~nng~rá, pendão vermelho dn. bana-
'
neiro., empreg~o em sentido obsceno :por Gregório de Matos- que,n.li4s,era

.
rn.cista,observe-se de pn.ssagem.f somente neste sentido obsceno que ele a-
'
proveita o"in:venttirio po.rodisíaco" das &.rvores, peixes,frutos,bichos mnr.!,

. • •
nhos e terrestres brasileiros,procutando ~empre pnrn. tudo um sentido duplo,

~
... \ ...... ' .. \ t .
como faz,nestas déc~mas,com o vermelho.G~gório de Matos se interessa mn.ia
-
·pelo grotesco .do comportno1ento humano,do ~un.l escarnece sem piedade.Quudo

sn.i dn.Í; talvez pelo remorso, é pn.rn.


.
n.cen~un.r
-
o reverso barroco do. floro.ço.o
-
da Vida' isto é, o pó e a cinza da Morte,~ omo, por exemplo~ no soneto inti-
. . )

tuln.do '~Moralidade sobre o Dia de Qut\J"to.-Feira de Cinza":


"mue és terra, oh Homem,é em iterrn. hás de tornn.r-te, ·

hoje te aviso. Deus por sua Igreja:



de pó te faz o Espelho, :em qu~ se vejn.

a · vil matéria de que quis formn.r-te.

Lembra-te Deus que és pó, para humilhar-te;

e como teu Bo.ixel sempre fraq, ejo.


••

nos Mares do. vaidade, on,Pe pe ~ejo.,

te; pÕe à vista a terra opde a~lvo.r-te.

alerta, p01S o vento berro.; •


Alerto.,
. e se sopra a vaidade' e incha o pano,
• J


• ferra •
tens, ama1no.,
na proa a . terra •
85 •
.
Todo o Lenho mort~l Bn.:ixe 1 bum~no,
'
s:e busca a Salvação, tome hoj~ terra,

que o. Terra de hoje é Porto sobern.no".

( "Antol~gin."e'tc., ed. c i t., pg. 69).


Pn.rece que estamos ouvindo o mn.gistrn.l início do "Sermno do. Cinza", de

An~Ônio . Vieir~, ou n.s apóstrofes desesperadas e pessimista.& de Matin.s Ai- .


res nn.s
-
.
"Refl~xoes sobre a Vaidn.de ;os H~mens". NÔ:o se pode crer que esse

.
espírito religioso seu fosse resultp.do de. hipocrisin., pois,pel.o que ae

conhece . de sun. biograf'ia,Gregório d' Mo.tos era. bnstn.nte desnbusn.do e cor_!


joso e
-
na.o iria. fingir aquilo que
-
nn.o
. .
n.c*ditava. Assim, só pode ser,mes-

mo, resultado da unin.o barroca de - contrá~ioá que Gregório de Mn.tos - homem

brasileiro ~sical, erótico, orgiático, que acompanhava aeua cantares jo-


r'
.
viais e : obscenos ao som de uma Viol&- ti~esse, ao mesmo tempo, umn. çona~

ciência. ( tno n.gudn. e desesperado. do beco-sem-saído. do Mundo, do. indecifr'-.

vel Máquina: do mundo, do jogo dolor6sc;>"e ·t .r3gico do Destino humn.no:

"Nasce o Sol, e nn.o durá. mn.i•· que um dia; -


depois do. Luz, se segue ~ a no~te escura;
.
em tristes sombras morre a Formosura;

em contínuas tristezas ~ Alegria.

..
Porém, se acaba o Sol,- P,Or que nascia?

s~ formosa a Luz é, por .que -


nao dura?
• I

Como a Beleza assim se tro.nsfJgura?


-
Como o gost~, da pena aqsim s~ fio.?

Mas no Sol, e .na Luz, falte a firmeza,

na Formosura, n;o se dê constância,

e -na alegria, .sinta-se o. tristeza •


o A o

Comece o Mundo,enfim, pela lgnoranclo.,


.

·
pois tem qua que r dos bens, por 1 naturez~,

• A o "

o. .firmeza somente na inconsto.nclo. •


. ("Antológia." etc.,ed.cit,pg. 76) •





86 •
Lem?s estT soneto,ou a.quele outro den~minado 11 1 Pondern.ç~o do Dia do

Juízo Final, e Universal", e logo, ·nllm jbgo de contrn.stes, pBsan.mos ao


contra.ponto bn.rroco do orgilitico, presente nn.s décimns intituln.dns "A UID

-
C~pitao de

Infantnrin, que Acharnm em Colóquio Amoroso com uma Preta"&

"Ontem, senhor 'Cn.pitb.o, -


vos vimos deitar a pranchn,
..
e embarcar-vos numa 1ançhn
de gentil navegn.çB.o: -
..-..
a lnneh~ ern um gBleno

que joga trint~ por bnndB.,


.
grande popa, n.ltB varn.nda,
-
tn.o grn.nde pop~ que dar

p~ia o cu a beijar

õ,. mn.ior urcn. de~ Holn.lído..

-
Ern. to.o o.zevichnda,
tÃo luzente e tÃo fln.mn.nte,
que eu cri que pn.quele · instnnte ·

saiu do porto pi,cn.dn.,,

Estavn. tão estancado.


.

que se encruzo.vo. na trligua,


,
e assim tive grande mn.goo.

dA lancha, por ver q~e quando

n estBveis cn.lBfetando,
. ~ • #

entao fazia mo.1s agu~•

Vós logo destes _à bo~ba

com tal pressa e tal nfinco,


'
que ~

pusestes como um brinco,

mais lisa que u'n. pitombo.;

como w
ft lancha erà mazombo.,

jogava. tanto de quilha,


81.
que tive por marn.vilhn
- A

nao come-In. o mn.r


sn.l-n.do·
tS •
# •

mn.s vos tínlteis p cuidndo

de lhe ir metendo a CaVl"lh Q." • • •

/ ("Obrn.s Complf>tn.s",ed. e tomo cita. ,pgs.312/

313).

Poder-se-in. levn.r muito longe o. citação dos ver~os místicos por um ln.do,

I

obscenos e populn.res por outro, mn.s todos iremetidos a umn. unidade pelo. for-

mn., que é sempre bem cuidn.dn. e vigoroso., com o. gn.rrn. dionisío.cn. contido. num

despojo.mento sóbrio e n.cerndo. )fn.s, pn.rn. ó q~e quero dizer, é suficiente c!


tn.r duas estrofes dn.s décimn.s intitu!lndn.s .•rverdn.des". Nos "Diálogos dt\s Gro._!!

dezo.s do Brn.sil" existem ref'erêncin.s1 expr~sso.s i\ fnrinho. de mn.ndiocn entre


I

os nossos mantimentos, e nos gun.ribn.• entre os n.nimn.is. Pois nn.s referida•


décimas, diz Gregório de Mn.tos:


• . "A fn.rinhn. do Brn.si~l:

primeiro foi mn.ndioco.i


milho estn.lBdo é·( pipoco.,

o go.to todo é sutil.

Três .ba.rris e uml bn.rril


·enchem todos nmn.: -p ipa;

nao se fo.z caso. sem ripa,


. ,
ou vo.rn. com seu c1po,
.
_., , - ,
quem nno tem n1nguem e so,
todo bom cn.valo esquipn..

Sempre é bon. a espndo. nova,


,
mas n. velho. e sn.ro.mngo,

homem que gn.guejn. é g~go,

todn. bo.nn.no. é pn.covo.;


quem morreu, vo.i pn.ro. n. covn.,

o olho do cu é mato.co,

&gua de fl or de sovaco

88.
deu sell1pre vidn. n. um morto,

o que tem um olho é torto,


-
guaribn. nn.o é ma.cnco".

(Idem,pg~ 143).

Tenho escolhido essas décimn.s porque, do ponto de vistn. n.té dn. forma,

eln.s
-
sn.o herdeiras diretas do Século de Cur o ~ ~ ~"n.11h ol: é a mesma décimn.

que era usRdn. por Quevedo, o mesmo tipo de estrofe usado por Cn.lderón em

"A Vida é Sonho"~ E a. Cultura bn.rroco-ibéricn. entr~nhou-se de tal modo . no


-

chn.o . e no sn.ngue dn Culturn. popular brasileira que os nossos Cn.ntndores e


folhetistn.'s do Romn.nceiro
. Populn.r do
.
Nor4.esfe usam n.
~\
décima, com n. mesma
-.
, , .
metricn de sete s1ln.bn.s e n.s rimns coloc~n.s exatnmente nos mesmos lugares
.
dn.s de Lope de Vegn. ou Bocn.ge, ignorando ··a origem e~uditn. dn. formn. de seus
• j

versos. Escolhi de propósito n.s duns estPofes em décimas que citei por úl-
• •

timo,porque elas, além dn. forma., possuem ·também um sentido muito semelhante
""'
n.o dn.queln.s que ngorn. vou citn.r, de· um+cn.~tndor nordestino, Luis Dantas Que-
'
sn.do, citndn.s por Leonardo Motn.. Como se pode verificar pelo.
1
~imples leitu-
- -
'

..
rn., é o mesmo processo enumerativo de enunciar umB porçn.o de afirmaçoes,

tanto no Poeta barroco brasileiro do século XVII quanto no Cn.ntn.dor nordea-

tino do . século XX:


"Nunca tive valentia,·
sou manso e muito prudente •••

E certo que,estando qbente,

n~o respeito fidalguia.

De mim, ninguém desconfia,

comigo tudo se Bjeita.

Se 4
-
coisa nao for direita
,

' nestn. cidade do . Crato~

brigo, dou, apn.~o e mato: •

.homem nenhum me desfeita.

Juazeiro é po.u d1e espinho,

t~o moleque é ~analh~,


89.
lichu de besta. é cangn.FhB,

bebidn. de. bro.nco é vinlro.

O pn.u que riscn é grn.:ni:nho,


o jantar A noite é ceia
. '
casa de preso é cadeia
t
I

homem de força é Sn.nsão,


.
c
banho de cabra é facno,

:Pn.letó de negro é peio. •.

Nem toda água é corrente,


~em todo 84oçndo é mel,

nem tudo que amargo. é f~l,

~em todo dia é sol quente.

~em todo CBbro. é valente,

~em toda roda tem veio,

~em todo matuto é feio,

n~m todo mato é floresta,

nem todo bonito prestn., .

nem todo pau dá esteio":.


\

(Leonardo Mota, "Cantadores", Livraria Cn.stilho,Rio,


1921, ·pgs. 131/132).

E basta.. Muita coisa. ainda. poderio. ser dita, mas concluo dizendo que os
Barrocos vegetais brasileiros - como Manuel Botelho de Oliveirn. e Frei
.
lfa-

nuel de · Santn.
. . Mo.rin. Itn.pn.ricn., por exemplo. - organizaram umn. visão pn.radi-

sía.ca da natureza feminina, materna e esverdeada da Ilhn Brasil. O judeu

Ambrósio Fernandes Brn.ndo.o, - obs ~ rvo.ado com aguçado olhar, a imagem edênica

dos nossos 1ndios acobreados bnbitndores do Jardim e do Poma r do. ilha., in-

sinuou o, primeira de núncia de um Inferno d e nntropof ngin., mo.ssn.cres de pri-

sioneir.o s e outros costumes best i ais' oculto entre os habitantes desse E-

den. Iniciou também o uso do obsceno e do riso popular na Poesin, cortesB

e erudito. dos ' pós-cn.moni n.nos brasileiros . . Gregório de Afn.tos levou tud.o is-

so Bdinrite, e · introduziu dialeticam~nte na Ilha. vege ~nl e ddênica ~dia-


90.

c6rdia do -Riso, o pó e a cinza da liorte, o obsceno e orgi~tico do Dionisía-

co - um universo de ruina e morte, de Sol violento e vida selvagem •



Capítulo V

O SER B O DEVIa MO BARROCO BRASILEIRO

~culo XVIII

1. - A Laa, a MUlher e a Ilba Braail.

~uel Botelho de OliYeira Ti.eu de 1638 a lTll e ' ' portanto, Poe-
ta •~i• do aéculo X11I. EacreYeu aeua .eraoa e• Latim, Eapanhol, Italia-
no e Portuguêa. Era, portanto, u• repreaentante típico da Poeaia "culta"

de aeu tempo, leitor de Virgílio, CamÕea e outroa. Na "Eneida~ a Atrodit.

protetora doa Troianoa ae transfigura Da "Vênua, u;. e protetora doa Lat!


noa'', -
protetora e Kae que, noa "Lua{adaa", ae inainua como poaaiTelmente
...J
ldentificáTel co• a Mae celeate.
'
No Poeta
.
brasileiro, poré•, j& começa a
-
ralorizaçao da Virgem, conaid•rada auperior a Vênu• - a quea aubatitui de
tato - e já quaae ••upe~ior à própria condição humana, o que terminar' por
•• conaubatanoiar noa •ubterrâneo• do inconaciente do PoTo braaileiro. A
eatrofe final do poema "1 Ilha da Uf.'r;e. c~Jlclui aa•l•a
"Outra Capela aqui •• reconhece,
.
cujo nome a engrandece,
poia ae dedlca - aagrada
A Conceiçao
.
da Virgem pura aempre i•aculada,
que foi por aingular e •~ia termoaa
••• •anchaa Lua, ••• eapinhoa Ro•a.
Eata Ilb~ de Maré, ou de alegria,
que é termo da Bahia,
te• qua•• tudo q~anto o Braail todo,
que de todo 0 Bruil é hreYe apodoJ

8 •• alru- te•po Citeréia a achara,


por eata, aua Chipre deapresara,


poré• tem COID Maria yerdadeira
oatra Vênu• .elhor por padroeira".
(Ea "Antologia do• Poeta• . aae Colonial,

ed • oi t. ' Pl•• 144/143 •


.... ~. ftri .. ala•Õ.• •ipifioati~, todu brotada• elo nb-
B•t.a ••trote .OD...,.
92.
consciente doa poYoa da ft-iDh d u · ft
na a o e1o-uia. E. pri.. iro lugar, entre a• d~
-
yoçoea braaileiraa ocupa lugar proeminente a Virge• da Concepção, a Mulher
Veatida de Sol do "Apocalipse", a Virge• auaTe e terrÍTel, emprenhada •i•-
terioaamente pela for~a d o Eap í r i to Santo lu•1noao,
· .
• e, por iaao, "Teatida
de Sol". Segundo o Poeta barroco b~asileiro do a4oulo XVII, ela é Laa aem

•Ancha • Ro•~ ••• 11piDho1. Depot1, ele dia olar...nte que, no 1eu uniYer~
. -
.ao poetico, a Ilhn. 'Vegetal e paradisíaca que é na "pátria" é, també•, re-
aumo • -
condenaaçao do Brasil todo. Finalmente, atraTéa da Vênua latina,ele

mostra a Mulher Vestida de Sol como identificação e superação da Afrodite .


- A
antiga, por aua vez Teraao grega de DiTiDdadea femen.a egípcia• ' aemíticaa •
2. - ~ante,Cnmoea
. - e a "Ilha" de Itn.parica.
-
Entramo• eDtao no século XVIII, do qual, por antecipação, já analiaa•oa
alguns Teraoa de Frei

Manuel de Santa'Maria Itapn.rica. De DOTO é conTenien-
·~

te uma referência n. Virgílio e a aeu mestre, Homero. Eate, Da 111 Rapaódia


da "Odisséia" deacreTe uma descida ~e. ijli.tl.aea ao Badea, o que inspira a Vi.!:,
-
gílio a "excuraao infernal" de Enéias, descrita no Canto VI da "Eneida".Nea-
ta, a entrada do Haclea - espécie de aTeaao do Eden 1 com a "máquina do Mando"
servindo de ponte de ligação entre oa doia - aitua-ae auma Ilha, a Eubéia.
Foi a partir deaae Canto VI da "Eneida" que Dante concebeu aua própria "e.!
cura;o épica" e Tiaionária, pelo Int~rno, Purgatório e Paraíso - e não jerá
.
por acaso que algumas daa invençÕes poéticas maia aignificatiTaa da Cultura
brasileira serÃo ·concebidas a partir do tema da"Ilha de face dupla~ e aob o
signo daa imagena dante•caa e camonianas - a Virge• coao Roaa, a Ilha Afor-
tunada e edênica co• a "irYore da perpétua aaraTilba" e co• u• aTeaao maldi-
to etc. ~ 0 que acontece, por exe•plo, co• "A Ilha de Cipango", de Auguato

doa Anjo•, e com a "InTenção de .Orfeu", de Jorge de Li•••


oema "Euatáquidoa", descreve o Braail co•o u•a Terra
Itaparica, no .eu P
"e~condida 8 ocultada"t ·por u• lado. - terra coa ua futuro •
-
u.a Yiaaao p~

deatinada - e paradiaíaca, por outroa


...
de n6a de•cóubecido e icnorado,

• oaj&a praid bate


11ar profuDdo
93.
DDnca ategora de
lenho arAdoa
o clima alegre, fértil e ju cund o,

e o chão de árvorea IRlit.aa poToodo,


e no Yerdor das folhas julguei que era

ali aempre contínua a PrimaTera.

Delas estaYam pomos peDduradoa


diTersoa na fragrância e na pintura,
nem doa homena carecem aer plantado•,
_mas _a grestes ae dão, e sem cultur&J
e entre os troncos muitos le?antadoa,
que ainda a fantasia me figura,
baYia um pau de tinta IIRii ~fecunda,

transparente na cor, e rabicunda.

Pássaros muitos de diTeraaa cores


se Yiam Tário.a ondu tranafoJ"mando
' '
·· e doa tronco• auaTÍ&aimoa licores
em cópia grande esta dimanandoa
peixes Yi. na grandeza auperiorea,
,
e animais quodrúpedea saltando,
a Terra tem do metal louro as Yeiaa,
que de alguna rios •• acha naa areia•"•
("Antologia" etc., ed.cit., pg•. 186/167) •

Quer dizer1 no século XVIII, ao lado d.a "Ilha Vegetal" e paradiaíaca,


começa a aer reatiTado o outro Mito barroco por excelência, o do "Eldora
-
·do", poia minas de Ouro, Teios do "Metal lour "
Ya• a
..
-
ser encontrados ~oa . rioa e serras do Sertao. Entretanto, Frei Manuel
apenae alude de passagem ao Eldorado& na "terra escondida e ocultada" do
Brasil, escolhe, como pátria espiritual • poética aaa, a Ilha da qual to-
mou 0 nome quando profeaaoa co•o Frade franoiecano. I a terra de ••u D&a-

oi..nto, a que• ele .felebra i~i •




94.
"Em
. . o Bra.ail, proTincia deaeja.da
pelo metal luzente que •• ai cria,

que antigamente descoberta e achnda


foi de Cabral ' que 08 ·~·~ ·discorria,

perto donde está hoje situada

a opulenta e ilustríssima Bahia,


.
jaz a ilha chamada Itaparica,
'

tem tAmbém aer rica" •


.
(Idem, pga~ 171/172). •

lfn.nue 1 de Santn. Maria It n.p~r1ca


· escolheu .: o nome · da Virgea para integrar
o aeu de Fro.de, e aJ·untou ao d e 1a o d a Ilha.~ Com audáciaa •aiorea do que
aa de .CamÕes, faz alusÕes ao c o~p~, f e1•t o d e incendioa de fogo e .n eve· para,
A

de Vênus, que daria


. eaaa neve e eaaea• i ncend ioa ao deua do Mar, ea troca
A

da Ilha& ·

"Se a Deusa Ci teréio. co~~e.erP.o..

deáta Ilha ·celebrada a for•oaura,


eu fico que a Netuno prometera
o que a outros negou cruel e dura:
- de boa mente ' lbe oferecera
entao
entre incêndios de fogo a• neve pura,
e se de alguma sorte a alcançara,
por eata a sua Chipre desprezara".
(Idem, pg. 173).
.
O PoTo caatanho da Rainha do Meio-Dia já começa a ae formar, coa oa Ne-

groa ficando maia claro• ao ae cruzarem com oa Ibéricoa, coa eatea gerando
M~elucoa maia morenoa das 1ndi~a cor de cobre, e todoa ficando, alinal,coa
.

a cor "adusta" da Onça castanha do Povo braaileiro. E curioao que Itn.parica



em aeu .ubconaciente, a Raça
cba•e oa Negros aempre . ~e ~t{opea, ligando,
ele deacreYe a caça à Balela,
fricana ao PoYo da rainhA de Sab&. E quando
"o monatro do Mar 11
ai• dea.. dido", nu• poe•a aliáa forte e que poderia aer-

Tir de contraponto barroco e br..ileiro ao "Uob,r Dick", de U.lTilles



9:5 •

"Os Na.utaa .;o E4.1•opea


" robua t os,
e outros maia do an.ngue miaturMlo
. '
alguns Mestiços em a cor nduatoa,
.
cada qual pelo esforço aaainalndot
outro ali Tai também, que 8em ter IU8~08
"" da corda pendurado,
leva o arpa.o
também , que no ofício a Glauco ofu.ca,
e para isto Br'ailo ae busca" •
.
(Idem, pg. 171).
Novamente é necessário fugir à tentação de
...
citar tudo, e a••i•· eacolbo ·

mais apenas duas estrofes na qual Itaparica, revelando a influência que


provavelmente sofreu de Manuel Botelho de Oliveira, descreve a natureza~


.
xuberante e edênicà. de sua Ilha vegetal, . ináiatindo na auperio~idade doa
Frutos brasileiros e apresentando o Ananás, o Abacaxi, coao o Rei de todoa
08 do mundoa
-
"Oa meloes excelentes e .oloroaoa .
.
' fazem doa próprios ramos galariaa
também estende os aeua muito viçosoa
a pevidosa e doce melanciaa
oa figoa de cor .
roxa grac1osoa'

poucos ae logram, salvo se à porfia


se defendem de que com os biquinboa
os vão picando oa ievea pasaarinhoa •

U& coroa de espinhO& graC108a,


a auperfície tendo matizada


. . '
da cor que Citeréia deu " roaaJ
'
.
e .uatentando a croa levantada
' junto coa vestidura deooroaa,
está mo•trando tanta gravidade,
lhe tribut U~jeatad•"•
que a• fru t,a• I )
(P1•• 188 189 •
96.

Entretanto, seguindo a trilb~ de Uli•t•• pelo Mar grego, a de Enéiaa pe-

lo Mar latino e os passos de Dante ~ela felva aelvagea viaionada na terra


.

florentina, Frei Manuel de Santa Maria I~aparica aabe que eaaa floreacênoia
exuberante de vida é açn.dR, sem cesaa~, por um fogo inf.e rnal, funeato,que

ldtto • a-
.

maldiÇoado do Paraíso edênico:•

"Jaz no centro da Terra uma taTerna


.

de áspero, tosco e lúgubre e4ifício,


onde nunca do Sol entrou luctrna.,

nem de pequena luz se viu in4íc~o.

Ali o horror e a sombra é aeepiterna


por _um pungente e fúnebre artifício,

cujas .fenestraa, que tu Monairo inflnmaa,
. -
respiradouros sao de negraa obamas •••

Ardente serpe de sulfúre~ ch~aa


•••
os centros gira deste Alver~ umbroao,

sBo as faíscas hórridas esc a,


e fumo negro dente venenos~

0

as lavaredas das volantes fl~aa


asas compÕem ao Monstro teae~oao,
'

que quanto queima,despedaça & come,


isso mesmo alimenta, que cons~me •••

o maia alto deste aólio~ infando, .


• •• Em
em um trono de chamas aempre &rdentea

jBZ túclfer, a quem eatão trotando


· 08 aerpea pestil&ntea;
áspides negr '
A ~ com furor bromaldo
Ele com i r~ ·
. d co• agudos denteÂ,
ae despe aça
'

dano e et.erno iado


sêod o para aeu
. . Fiscal e Algoz irado.
de •i pr6pr!O




'
97.
Víboras po~ cabelos cento a cento
t

por olhos tem doi, l


.:•;,t ~t> ~ l'.enegrid oa
·'
por boca um Cocodr i l o tru•:u ·.ento,
por ann.oa, - coia Baailiscos r :~ torcidos'
'

•• '
por , ·:E:~:-ebrc~ '·" soberba, ·e o t ormento
,.,. .'
por c: c)~~açn.·~~ :n po1~ membros os ln.tidoa,

por :,. te~~~nas dun.s (c obras sib i .l antes,


•. .
por ·pés do::. ~ , Monr~ibelo~ tem t'lfUDn.nter '•

(lciE!tt\, pgs. 16.'-:/162/164).


1

2uer dize~: e~ca.rn.do ••"· pr•rt1·r


• ~ t p ponto de v:· ata, o penaa•ento
d n.·i um Cer
.
' ...

que informo. a "visaott J>C,fiti.-:a' de F: ·e i ltàpn.rica já· une,J uma concepçÍÍo ampla,

prof~nda e enrique<~idn. d.n Bolezo.,ti .nto o t:Belo e o Grn.cic· so dn. visão clássi-

ca como as formas .wn.is ~.n per·n.s do 1~ io e llo Grandioso, çue se i .ntegram na


-
unin.o de contrários do conjunto. De · outró ponto de vistr- , ele apresenta a
- positiva do Ser (.tJ~epunta nqt elb.•ottt'ra que, Ó.o mec..mo tempo a contra-
visa.o

diz e complemento. - ~\ -d.o. Ru:~na, d o Vir-r,..;Ser, fogo tenelroso e contrndit6-

rio, feito de floresc..êt~c. iia, tlortEt c resttúrreição que"quanto queimn.,dtlpeda-


-
••

çn. e come, isso mesmo «~.1 iLm8J.l1;a, ~-ru• ... consdme". E assim auu.11cio. a vian.o-clo-
-
mnudo de Mn.tias Aires.
' ~: . - y, tias A~ires, o Ser e o Trô.nai to.

Um dia e sere vere i ma.i u dc:1·,idtunet ~e 'aol:fte ele,


. - '

nao posao deixn.r de


• •
me referir .de passagem, nqui., o. e &i: e gran•e homem, o qual; n.lém do grave

.
pensamento que nos· legcu, escreve· r.e stn. e~traordinó.ria Língua portuguesa
.'
com tanta dignidade, tanto. eloquénl in. ver6ndeira, tanto Tigor, tanta con-
. '
.... '

· -
c1sn.o, e sob re t u d. o com Uu
· "" gume too "Cerado
~ .
' ~" serviço do ·9sco.r# nio do mundo

e dos homens, tateando n <C) escuro, r o barr9 e no fogo que queima o a.podre-
.•


c ido, À ·procura do lume da Verdade !· ·até que, quando o encontra ·cai a obre
'I

ele como. um Gavi;o, com uma forçn ,; ~ rapinn. realmente espantoso..


~ :. " .

Mo.tin.s Aires parte da . :lntuição do Mundo como se ele fosse n.quele "fron-
'

· t a i e sordemn ao qunl ele ~ o refere numa· dea-


tispício cujo ;ornat o conJ 1B e n

- . d r•rqu 1·tdturo.s e ~ s eultur._ s. Nesse !ront~spício 1 o homem


eriçao barroco. e ~ ~

18 Yê ar.-emeasado S(..,
~m consulta., e v resul ~a.do é a inaef:uro.nça, a Tanidade
98.
que informa o próprio f d.
'1:-:. ~mento

d '' Ser , · ren.ll
" "dn.de a um t empo poderosa e
fró.gil' dn. , qlinl P(\.rtic_:·. -:>~uu. o hol!Jem e o Unl·-erso •

.. de coiHo.s reais que o en-


volve. :Assim, o Ser, j:t·.:lt. n.•..uentalme lte po ~ iti· -o, ,.
.. e ~(' . ~: a( o em seua funda-
. '
mentos ".pela destru!·~ ção . l . ' lir-a-Se 1··, J ·•
for ~~B negati~· e c or triria. M~a,aa-
I
t .
como o Ser tem es. '' · o.:""ção de ?ia.do. i :--:,3 ertn. ne: e , o V: r-n.-Ser, cujos
I
,.
ngentes'· nefastos s~ ·o c\.) Te ml>O e A r.
'.
o. lforte, : ontêm to.tlbém em si, com R. Deatru_!
N •~
çao, um elemento erót :.cc, e vitn.l d~ ·~ Ress....rreiç~o, .. 1unn no" ~ possibilid~e
•·. .,.,. .. a

de renovn.çn.o e fi orescÉ~JV' i e. rl~ n. Vidt.,, idé ·_a que poster:~ ort. 9nte é ret.omo.da

pelo Pensamento brasile·:.l. o ntrn.vé• de Jo:o Ribeiro.


• •
. . .
' # ,. r •

Esta. e a primeiro. ur.: .• o·<i.e-contr·~rios ~brtsileiro. que c. \racteriza o


••
(
pensamento de l!atin.s .A.iJ•f s . Outr~ ~ cons ~ate em afi1~n.r j nplicitamente a
• ' •, •
.
I
i - lj •

no.turezn. complexo. E~ exd ~ ;s: i t,ico. - 9 nao símples e clar~ - lo. Belezo..
I

-4. - O Belo e o F• i ·~,F..lement~s dn. Beleza •


,

' • •

J ó. n.t irme i, n.n tE s, q-:-...E · t:.ma das nfirmtLçoes fundRm•:· :, .l~d . 'iE1 destn. tese é a
,\- ,., . . - .

de que .
~
- '
'
Tisn.9 brn.e ilei7 r. c·n. Belezn t nn.~ pode se - esg v·,~ar e se explicar com
..
n. do Belo clássico, ist ~ i, com o.qu.-~le t~po especi11.l d.E I )leza criado

pn.rtir do que ~ nn. Nn ·ture·:z n j &. é belo, e q~ se carn.cter.·i ~o pelo. sereilidnde,


; ~

peln. me~ido., pelo. O·:r."dem e I elo. lumi ~osid~e sereno. do r .11.c .i onnl. A Beleza, .
I
I • '

po.rn. os povos co.sto.:ahos 11 ~ Rainhn. d > .Meior Dia em geral ·· l pn.r11. os B~n.ai-
.

leiros em pn.rticul.a :- - i :n.~..:: l :.~ i neces ~ariM'~ nte outro.s Co::·l . :oriBS maia ó.ape-
i )

rn.s, criadn.s ~ po.r·t .i r dn 1·..ilo que, 10. No.t~reza, é feio, ~~· ·otesco e até re-
l )

pugno.nte. E essa id·.tin. ~ · i a.>tl.rece eli Mn.tias Aires quo.ndo e-le escreve:

"A Arte. levo. con~; i~ o umn. esp' ;tCie d~ rudeza.; n. f t•rm... aura atrai só
• •

ppr si,~ e nBo pel. . ., 8··1n. reguli .rido.de; desta sabe ~ .faatn.r-se a no.tu-

. ~· t-( e' c ·, 1 ~ ,·3 e esfor~'. ·o. e p~oduz coisn.s o.dmiráveia; do fu- ·


rezn., & en " ·" .. 1].

.
gir das propc.•rç(;e s e do.s medj dn.s, ~sul tn. mui tn.s ve zea uma f'antn.aia
. ' ,.
tosco. e iwpoJ idc.~ , li n.n brilbt\l '~e e f-orte n. ( "Ref lex' ~• a obre a Vai-
• .

dn.de do• Homfns• ·, r i ''rBria J~ sé Ol~pio Editoro., R5 o, 19:53 (lt di-


'

ç~o publicn.dt en : ~ 5!)' pg. l f)•


1
••
I

Assim, ele afirme w


,..
8 .1 ·~
J
J1. êncio. do t Bele:U'
. baseado. em. tud, aquilo que ,o.o


· é desprcporci•mndo e_ asaimétri:o, tosco e impo-
contrário do Belo c:llissi ; c •
99 .
lido, mas brilh~nte e cheio de r
orç~. Entretnnto, ele n~o esque ce nem des-
prez~ o tipo oposto de Belez~
' aquele que se bnseia no Belo e no Gr c io s o .
No Vl\rin.d o e eni ~mático campo dl\ Belez~ -
,., tno ciiversificndn. em s un. uni à :vie
finAl, dt\, trunbém, · t ~
lmpor nncil\ igu~l ao Belo, sej~ o da Arte, sejn o dn Na-
turezCL. Diz eles
-
"Nao temos liberdnde pnrn.
,. de · xn.r
1 ,. de
n.mnr a formosurn. do Mundo e dns
suns pBrtes ••• A variedade dns cores, o movimento dos brutos, o cnn
-
to das aves, o elevndo dos montes, o nméno dos vnlea, n verdura dos
.

c~mpoa, 1\ suavidnde dns flores, o cristn.lin~ das ngun.a, tudo n.trni


a -
nossn. admiraçao" ••• (Ob. cit.,pgs •• ll0/111) •

Mn.s, tendo · olhos pn.rn. estas partes amenn.a, suaves e tranquiln.s dnquilo
n. que ele chNDB de "insigne mnquinn." do Mundo e de complicoon "fnbricn. do
I

Universo" - velho.· idéia que jn vimos aparecer nn. "Ilha n.legóric.n dos Amores,
- • •'

de Camoes - Mn.tin.s Aires vê, também, A Beleza de tipo oposto n.o desta - a

Beleza dA de$ordem, do Feio, do horrív~l ~' -·da ruinn., do terrível, do aubli-

me e do GrAndioso, tipos de Beleza cuja fruiçao é misturada a sentimento• -


'
de repuls~ e de terror. E diz, ~través de seus giros barrocos:

· ''A meam~ -
desordem e confusao nas coisas nos recreia; o furor doa •
-
elementos forma um espetnculo perfeito: o ar com os aeua bramidos,

a terra com os aeua tremores; a água com oa aeua combates e o fogo

com os aeus incêndioa. No Tento, n.dmirn.moa 1\r, ou e&pÍri to invi.-

aível, cujA força se empreg~ na ruin~ de muit~a coiaas aólidaa; os

terremotos j ' reduziram em montes as planícies, e fizeram planíciea

doa montea, como ae o mundo n;o tivera o seu n.aaento firme1a• ~na

entre ai se quebram e despedaçam, e quanto maia borríveia e ngit" -


· noa mostram em líquido
dn.s, tanto ma1a . teatro mil viatoana nparên-

CiASJ O fogo, · dA
AlD qu"'ndo
u
parece raio, noa diverte, e aindn. qu&uulo

abrasa Alumeia; a f'!!'_mosur~ até se sabe introduzir na fealdBcJe, no

t "
horror, !lo .e&P,R.D o • (Ob.cit• , pgs. 111/112).
,. A
Como ae ve, Mn.tias ires
é a.o mesmo tempo laorrorizado e faacinn.do pela

t , ,. em aua paasiUPell inceaaa.nte da flores


1
viaÃo do Ser em aua múdança ·con nuw, ~ -


100.
cência à ruina e à re · -
asurrelçao. Faz aaa~m, a seu modo, a indagação funda-
mental do pensamento, · a tentativa aaia opaada do Conbeci..nto puramente h~
mano - aquela que investiga 0 eni~n t
e-M ranaparente e perigoso do âmago da
máquina do Mundo. E a pergunta sobre
o Ser e o Vir-a-Ser, aebre eaaa enig-
mática Mudança destruidora a que ele
mesmo, noutro paaao de aeu liTro uar
-
go, chama de Trânsito, isto é, paa.aagem • ..E por -ias.o que, atirwnnd~ que "o
últ.imo grau de perfeição co ser o primeiro nA ordem da corrupção"(pg.
151), chega ~dizer textualmente, auma co.ntida mas deaeaperada ponderação
que parece saída doa lábios daquele grBT• pensodor.qua foi Beráclitoa

"Naa coisas, é trânait.o o que noá ~ pa~ece permanência ••• De •orte
que propriamente só podemos dizer ique as coiáas eatão acabando,e
-
nao que -
eatao sendo"~ (Ob. cit., I'~· •1).
guer dizera nao e somente a destruiçaó:, pela Morte, do• •ere• TiTos,que
- # -

impressiona o pensador barroco brasileir~do século XVIII- é a destruição


.
de tudo, a~é daa ·coisas inanimndaa, das rochas e •ineraia aparentemente l · ' -· -···

'
• •
'

firmes e inde•trutÍTeia. Como no aoneto d~ Gregório de M~toa "A BreTidade


doa Gostos da Vida, em Contemplaçat doa Jâia Objetos", nao ê ao - - #

dode da Vida «t ·de aeua gottoa..que impresei ona lrfatiaa Aires, é també• a do

Mundo e de seus objetos, que nos parecem maia imunes e permanente•&


'
"As pedras, de que ae formam oa padroea, Tao perdendo a uni ao de - - -
suas pn.rtes, em que consiste a sua('' durezn., até que Tê• a redasir-••
ao princípio comum de tudoa terra~ pó".{Pga. 40/41).
Outras vezes, parece que estamos ouvindo, através dele, gritos e •olu-
.
çoa ~
an~ecessorea dos p
· e na-~orea
·~ existenoiai• oonteaporâneoa, principalmente
neaaea instantes 008 quais ele aparece asaim, fa•cinado pela •·uina deTa•ta-
. .

dora dea,ocade4da pelo contínuo Vir-a-Serf


.
"A fatal revolução do tempo e o aett curao rápido,que coi•a Dehh~
para D81D suspende'· tudO arraeta, 8 rtudo leva conaigo ao profundo de
·d-~e ~'este
.
abi••o donde ·tudo entra e nada •ai, •• vao pre -
. .4.....
uma e .,.,rnl "" • "' -
cipitar . todo• oa auceaao•••• O• no•ao• antepaa•adoa já Yiera. e J'
• •

aer tubé• ailt,epaaaadoa doa que
•• fora~~J • a6a daqui • pouoo
101.
-
hao d~ Yir. Aa idadea •• r
eQoYaa, ~· figura do .aDdo •••pre ~~ada, o•
YiYoa • o• aortoa oontt
~ . nua.e~te •t aacede•, aada rtoa, tudo •• ••••
tudo •caba". (Pg. 3&).

· li. - Eaa~ncia e Exiatência,Verdade e DáYida.


Comoi conae,quência deaaa fascinação pe~o Vir-a-ser, aparece• outr&8 carac-
teríati~aa
. ~
e~ietenciaia e "a.ônic••"
~ w. no ,enaamento deaae graDde bArroco qae
teria entuai~mculo Unomuno - cuo eate 0 ;,t;1Teaae c:oDhecido, o que nao
- creio •

Ele parece i~ainuar a precedência da exi~tên~ia aobre a ·eaaência, da dÚYida


e daa aparência• engano•aa aobre a poa•ikilid-~e
~ . ·~ de penetraçao
- efetiY& do

Real a

WVemo•~ confuaamente aa aparência•~• que o -


o ae co.poet oa noa-
~o• di~curao• raramente encontr l!Com a Yerdade, co• ·a dÚTida aempret
.. -
de sorte q~e a ciência humana tod. conaiate .•• dÚYidaá. Aiuda •••
. ~
primeiros princípios YiaíYeia e mdteriaia, a6 conhece••• a exiatêo-
éia,
. -
a ~·. natureza n"OJ porque a. c&n ra do uniYerao I •• ai unida

que na orde• clb.a auaa parte• não •• pode• coDhe


ct regular, •• for
-
éer um~• aem ae coDhecere• tõda•J ~or iaao ~odaa •• igDor.. , porque
nenhuma ae conhece". (Pg. 4T).
&. ·o Eu-'ujeito e o Mando objeto.
Indagar-ae~á, então, ae Matiaa Airea é~ u• "filóaofo do Ser" ou do WVir•-
a-Ser", ~a eaeência ou da existência, do lbjeto real ou do Eu-aujelt,.Creio
que ele .:t ende ~antea a unir dialetic nte• eaaea contr,rioa, deixando en""·--·
ver aua .fascinação pela face dupla e dúp~ice deaaea Enigmas bifroaiea que
aÃo toclo11 UlD •6. Por
.
lado, ele Yê ama laae finae aa natureza de cada

coiaa - e neaae• momen~o• é aeduzido pelo ~Ser. Por outro, Ti que, no .uado

e D~ homem,
a~eatruição, a ruina, é iapécie de fogo que tudo redas a
, \

e
quêYéaae meamo fogo e é eaaa ....a cinza que torna. poa•i~l
cinza - iDas •
-
DOTa flore~cência, ·outra reaaurreiçao~ ! o .e•••

pen•...nto que, DO

c...ço do •éeuto xx, vai reaparecer e• Jo~ Ribeiro, quBDdo ele af 1

"Tudo, he•te .uado,


- ',

é •orte e re••drreiçao •••


Tudo ' aaturesa e ..a


. -
.6, • h' doi• vMM~•• ••t.f-lo• 'bo UDiver•o••• que .ao u dau
86
'
erh.. Wxi••• • Jaor • • llorte~ • .AIIor espliea • et.enai..,de, •
-- ---
102.
a Morte a juYentude do Unin Y~
f~o··~ A Morte ••• traça fronteira• ao•
~erea (que já fecundara~~ d& i ,_..
~ ~ ' Yar • 1 Wie ao eterno, • ll&llt'• a junn-
tude ÚniYereal" • ("Págino.a de Eatftica", Lhraria Clúaica Editora,
:iabo~, 1905, pga. 91, 124; 123 ). ~

Aaai~, Mat,io.a Airea, ao mesmo teppo qte constata eaaa realidade do Ser,
- ' '

aente -.a atr_p çao estranha por eaae:. incefia ... nte ' ' ""
~ ·• paaaar da ruina a floreacea
'

cia e da Yidá à morte - e então t, ' ;\o


-
. conhecimento·do Vir-a-Ser, ea•e o11tro
tnigma, : originndo deaao. porção de Nada e ~de raina introdusida .na eni

ca natureza do Ser. i por iaao que •• celtaa p~aa~ena de aeu lino ele ••

•• '
refere à "desordem do .lco.ao" e à ''miaéri~ d~ Tempo" (pg. tsO), e aTança . .

• •

'~A natureza de cada coiaa t~bém ,fe compÕe de aeu defeito". ("Ref'l
I

~~xÕea ~obre·· a Vaidnde doa Bo~ena" ,b ed. cit., pg. 152). · ~


~ . ~
Ma a, t' como I ias e de pua agem, outro enigma bifronte que parece •eduzir
.. '\.. -~ .., .
Matiaa Airea i que, também, é fundamenta~ para a teae que ?enho auaten
.
.•
do, é aquele ~tr~Téa do qual ele un• a importância da Realidade exterior
da. coi•ft• Ado aeu reflexo na Conaciênci~ humana. Katiaa Airea pri.. lro
.

o partido
T '

parece tomar doa objetiTiltaa, quando ai 1


.

!O yerdâdeiro aer daa coiaaa não de~ende da aproYação do no••• go~


' I ;Ó . t
~
,..,
to". (ôb. cit., pg. 153).
~ ~
Ma• é eaae ·me amo Mat.iu A.irea quem diz·, logo depota, parecendo dize1._

no• que a controYéraia 4 Tã e que objetiTiataa e aubjetiTiataa, •••~o aea



tomar conhecimento conaciente di•••t'· afirâaa fundaMntal•ent.e a •aaa eo!


Q

••• •

" . coi~aa pArece que recebe• . laai• la tor•a que •• lbea d,, que da

a~~ure~a que tê•"• (Pg. 16T).


à me~ yer, ~oi 0 penandor negro PlotinÓ - naacido no Norte da Arrica •
' .

portanto~ •urgi~o
'
de doa Poyoa tor•adoràa da Raça caat a da Rainha do
..."
Meio-Di~ _ aqu~l• que forneceu aa iadioaço•• •aia talio•aa • profunda•
f'

definida por· ele co.o reaaltaate "do do.ÍDlo


r a o ent'end iMnto d a Bel.z. '• l
• •
da roraa· •obr• 0 ob•oaro da Mat4rta•. Por ·ai •• .ê a l.,ortâaoia ••••• .-
103.
forla•o de Matiaa Airea• tanto 1
. ' _. • . porq,anto nele a ' ' ao ....o ~·--
po, a do "Terdadeiro aer daa cola "
aa e .,~ela "que •• lhea d'"' i•to 4,
la que o eapírito humano lhea acreacent , _
· al~o ae aplicar a aaa apreeDaao oa
iatuiçao. I -i8 ou menoa neeae últbao .,~tido que ele ali que
"aa coiaaa parece que •• eapiri~M•ltza•
"~- . -- para •• entregare• a D6• aaaia
que aa _ imaginNDo•"• (Pg. 88) • .

'I • .- .Liberdade• e Neceaaidade •

Daataria ~ exiatência da Morte p~ra tt.rnar trágico o pr6prio fuDd.-ento


do Dest~no humano. Entretanto, por ~ma clntradição curiosa, quando nóa DOa

colocamo• como eapectadorea - conai~eran~o-~oa alheioa, indiferente• e aa-


-.
d' Mundo -


per1orea ao que ae representa no palco •••• ••••o Deatino huma-

no noa parece um eapet&culo cômico e até~roteaco, riaÍ?el,de qualquer ••-


neira. Trágico e Cô•ico dependem de c~o f,•e encru-RII a Liberdade e a Fataltda4
. . •I
Ora, para Matiaa Airea - dentro de aua concepção barroca e brasileira -
o Mundo,, é te~tro, e a Vida uma repr~a.~açao. - De •odo que Tai depender
now~mente de :um~ união de contrário• o âagulo aob o qual ae conaidera a
Vidaa o• ela' fundamentalmente uma ;Tragldia- coa -.pectoa rieiTeia- ou
então ' ·ama Faraa grotesca e cômica~ •oal~apectoa trágicoa, uma Faraa tr&-
gica. Se o home• aaaume o aeu papel .de Liberdnde e tenta enfrentar a Nece~
aidade cega, cruel e enigmÁtica que o de~pedaça, ' u• peraonage• fund D
.
tal•ente trágico. Se asau•e oa •odoa da Neceaaidode, como •• procura••• ua
acordo com ela e recuaaado-•e a Ter oa f~damentoa dolorosos e dilacerado
rea do aeu deatino, ao qual ele •• aobre;õe, cowo eapectador iudiferente,
.urge 0 peraonagea c&.ico- e ~bo• : •e aBraça. e •• identific.. no eatranbo

Jogo da ;Vida.-·
Uattaa Air•• pri.eiro parece •• inclidar para o lado do• que acentua.
qu. 0 de•tino· humano é dODlinado pela nec-.aidftde, pela fatalidade, tuto

.
t 1 "deaor~• do Acaso" - face do Cao•,
aeai• que, co•o já Ti•o•, a a na
·d " fatalidade, da nece•a.i dRde - e na "•1-'ria do Te•po" - •erTo do triDai-

to, da Morte e da •-
~in•. Entretanto, e• outros texto•
..
••a•, ele ae atir.a

coao defen•or da liberdade total do h~•, o a .H ~tecipar a~


0

.Aeaotat• porq11e ~eelara .-• •


-
la.... ••• repet.e -
.
••ate ao• pea•ador••·•si •~ ·
104.
cada • - • •• las a •I . . .
at.rari•• de attD• 1 iweaa
"O -
h~ aao Ye• ao •ado •••&.r•• w.- 'I que é ,
... o ••• par•••• aã. 'Y•
feito, ' Ye• faser-•e•. (Ob • elt.., 111• 81).

8• ~ O Mando oo.o !eatro. •

i ••••

-
~· uniao de contr,rio•~que ~eaide ~ailo que Calder&n de la
'

'

Barca cl;t ~~ "0 Grande Teatro do v..~ o" Jlo


.,__... ·
~ •· •uuuo, pa1co batido e warrido
pela ~e.tani .. de fogo do Vir-a-Ser . repruenta '
. '4 .- -•• o eapet calo da Yida,f111•·
4 ODOIDfÇão, representação, Tragldi, e t~aa ao .. ~~ teapot .
- •'
"tu• •., 08 h n• •aia do qa, apaç;nciaa de teatro? ••• A Yaidade e
• fortpna
- ..

aao a• que ro•e•·n-. a fG(•a deata Yidaf cada u• •• pÕe


·~- teaf,ro c.om a pompa coa que â .·yYdade e a fortuna o pÕeaJni

. ,,
eacolh' o _papelf coda n• rec,be o 'ue lhe dão. Aquele que aai •e•
~auato, nem cortejo, e que l9go'a~·roato indica que é aujeito A

4or, -
à j afliçao e à miaéria, ••se ~o que repre•enta o papel de bo
...
t • • -

~•• A,morte que eatá de aen~inel~ •• •ao te• o rel6gio do te•


-
JO, na. outra te• a foice fat•l, • fO. eata, de . . 1olpe certeiro •
'

~DeYitfYel, d' fi• A tragédit, coqre a cortiaa • •••aparece".



}('I••
'T/88)t ~,
E aa r~nioef- de contrário• •• auc~e•• feaae
pelo de•tino fundamental•nte trágieo do ta•••, e pcwoado de aerea enipá-
ticoa entre o• qual• ele, o boa.•, I o aer enA& tico por excelência, o de
-
aengano le aga4a conaci•ncia do deaconcertf desce• oo•o . . raio, qnando ..-
DOI 10b la fi~ra e a máacara da esperiêacJa exiateaoial • a,ôaica da Morte.
. -
ilbaçao que o•
-.1

illfaaa, !ftenta11 n•ti-la de ouropéia; a ti• de cobrir, c• a •o de cal doa


aepalcrd. e••' bo•tilidade

ino•iná'Yál.
-
.
"HI• diapo•içoea de aaa po.pa túne-

bre", o ~ue oa ho•ena qué a• organt•.. telt é que "di.ertido e ••pr•cado,


o aoaao ~en•~nto chegue a c~nte•plar Yiito•a a no••• ..... •orte • laaida
a ••••• ..... ia•bra"
-
(P1 • 14). 11.- lf.odo ~••e ••torto 4 ne, porq•• a 11
.

4 al1 e laad.-a"al ••••ar••• ..ra • .............. lla &MM • .. ifi•~•


106.
huau.o~ e ae! peasoaa' inexpHcaTel,.nt.e furpreaaa •
borrorisada•, eyerg•
• •

dt reJNtnte "' cadáYer naquilo que , ··


. ~ ra ~ aer YiYo,
'10 me111po que •
depoi•, ae ae ri., '
e iato porque f~nal••rte Yeio a deafazer-ae o edifício
:• aia ~obre, mai• regul
ar e ~aia •therboJ a .. lhor arquitetura jas
por t.'rra1
,
°• mármore• fic-,am ae' lustro, aa colanaa aem torça,
~ 08
po~icoa ••• orde•, oa o~natoayaem graçaa já ae não Yêe• ·~não

~orre' abatidas, IRiroa arraqcadoa; friaoa r · e•


:flaaa lf&O
- há parte, por •ai• paíni•t que seja, e• que a aaafna -
Df'O
. •

~eja ~iTeraal. I ruina e~ que nãf ppde ba.er reparo1 é templo cu-
- .. ..
Ua de~ta·uição não ae pode r•difitar por artea o• •ateriaia collfu-

•o•, ei• J'' perdida a Proportão, a medida, a oorr~apondfDeta,
I

~ polijmento, e ainda a ••••~ aubajincia da •atéria, tendem de,orde-


·~
pada••t• a uma tranafn• -~ fat~l, impura, ''tida, TermiDoaa •
horre~aJ

a terra piedoaamea~e·\elà~re, c para recolher ou .e•-
conderl em seu seio o ~••o q~e ti~a aaído delet co. a difereaça
laa~i~•a de receber e• u• chdáTe~, •fmbolo do eapanto e da triat~
.
*•'
. aqllilo
.
...
amo que baYia eptre~ •• ho..., •í•bolo da alegria
• da $idade". (Pg•~ · 104/Ioat •

, poré•, é •omente •• podto de


partida \para • intuição pe••i•i•ta t bar~ca daquela e•pécie de fatatidade
.
que iateecioa• o• alicerce• do próptio .._do, do qual o hoaae• ' apeDCI8 a.

.
pvfrel I •

e oa bronze• em que ae traTam o• eo•bat••l corrompe.-••


.
da márjore• em que •• eaculp4• oa 'riunfoa, e apeear doa •11~••

da ••t4mpa, tamb'm ae de1Tan4ce• a6 eadênciaa da pro•a e• qae ••

.-acrete• a• empre•a•, e •• diaeip~ aa h~onia• do Terao •• '~•


.e depd•itam aa.Yit6ria•f tudo ced' à Toracidade erael do te•pb.A-
ae tradiçÕea .ulto ~tea 'u• acabe o OJ porgae a brdea

do• aude••o• aão •• taolutz aei tábrlc.~ do ~Dinr,•ol ' eoi1a est•rior
• I
. • A

eJ tDdilfereate • • • Atada .. ••t'-u ljaatllftdu pareee . ... te• a t.eapo


108.
perto~· 'Yidaa .. peclraa, d, que .. r ........ padrÕ.a, .;. pefdealt
- .
P uni,o daa .._. par~ea, •• ~ue o~aiate a ••• daresa, at' qu• 98•
P redqzi~-al •• Jrinc{pio c~ d' tudoa terra e p6".(Pca.40/fl).
-
Nao rejo q ritao da pro•a barro~ e p~aaiaiata de Uatiaa Airea co•o in-
ferior pa ad~iráTeia cadência• do ~órdtt do "Se - da Cinsa", de v•eir&J
e o ••utpena~ento é, ••• dÚYida, ~ia Yigoroao, profuado • acer.do. ~Mai~
gente j~ tem fOmparado a proaa barrpca e ~aeiacentl•t• de Vieira co• t de
Eaclyde~ da ~nha, enaolarada e aer~anej~. A .eu Yer, Uatiaa Àire• ••ria

t&l'Y8Z Jl&ia rrYelador, ll1Dl eatudo cpiÍipar-fiYO entr• a8 "ReflexÕea IO~re a


.
VaidBdetdoa Hpmena",
. "Quincaa Borbar e "~ SertÕea".
- .
Nao 'uero,, porém,
\

fazer iaeo agora• PJ1ettro concluir esta introcluvão ao




·de escr~tor bfaaileiro, Gilberto Fr,yre. ~atia• Airea, que ace~ua ••1• o
p6 e a finza ~a 11orte do que a flor,acên4ta da Vida, inicia aeu lin-e cola
a . •e~i•t• re,lexaol - '

da Yida li•it_.o, -
D_, te• limite a no••• T&idad~f por-
que d11fa maia do que n61 ••o•, e. ae introclas noa apn.ratoa ú•ti•o•

~a mor~•· Dae aaior proTa do1que -.. fábrica de eleYado


. .

lfo ail,ncio de uma urua ~epo.itu lrpa bomena aa aua.a •emóriaa, l.pa.ra,

•untuo8idiule do lo air.a~de i~pirar --


Yeneraçao, como ae fo••••
.
»elíquta• aa eua• cinzaa, e que cdtra por conta do• jaapea a oon,l-
duaç;~,do relpeito. gue frfy;lo caldndol
I
E••• triate reato daqbilo
'
4a• 'rot bomea J' parece u• {dolo, ~olocado •• ·~eTe .aa •ob~rtib do
.
# - •

~icfli+, que a yaidade edifidou p~a habitaçao de uma cinza frla,e ·


deata 4eclara a ta1 crição o da.e e'a graudeza. A T&idade •• ••'•Dd•
.
~ enriquecer de adorno• at' ó •••'- po~re horror da ••pal.tara"~•. (Pg•
• • ••

SJ).I .
Doi• ~'cald• depoia, Gilberto Fr~e, tue te• l• teudência a iualatir
-•- ~ ~ 1 de Vida e ~lto•dtoniaíaoo da Zona da Mata,,pa-
Da flor.. cêno•• ••gewa . .
. ... poato •• latão-de eoatrú-'i o• •lt.o lara•ilelra,a
reee iao'orpor.lr' . . ooa.,ra I
108.
cligênria pelo que foi b ~
o ra yu fu~açao de &Dtepaaaado ••• Oco~re~
aoa, ~eate propósito, a recfrdaç~ de curiosa experiênci&s- a A•
~ermos . um dia comparecid .
. : o ao,ente~o de Telha aenhora pernAmbqc~

~a ••• Fhegadoa ao Cem~tÍrio fe S~o Amaro Terifica•oa que éra-


~ 08
&pPnaa três oa que acomp~nháT~oa o corpo da Telhinba·ao t!
Jftllo. ralo que pedimos a patra~o que noa ajudaaae a condu,ir
0
-
cai~o,
.
da porta do cemitério a~ túmulo •.Ca•inha.oa cemitér~o
.a ,dent!f, por entre palmeirallj impe,iaia, at4 o jazigo da r ílJa
da mo~a. Era um túmulo com ~lgum~ c~iaa de •onnmental• Mandara-
• •

b lev~tar família opulenta ~o te~po~do I•Pério. Seu chefe fora


'\

illinisfiro de Pedro II. Abandqruulo, ~arruinRdo, sujo, o tÚIIRilo Jta-
ttria.rqal abria-se naquela t ..de d·~ chuTa, longos aooa depoi• ~ de
I

~er f~lecido o grande do Im~ério -ue o maDdara leTantar noa •eua


'J
diaa ~· morador de sobrado dfe azu,ejo da Boa-Vi ata, ·de dono ~ de

~arru~em forrada de veludo1e 'iba-necida de lanterna• de prat~,

~ara ~eceber o corpo magro - veat,do simplesmente de chita br~nca


.
~om •tlpicoa azuis de
-
mao c~egara a atrair as clá~aicaa~aeia peaaoaa neceaaáriaa
.
confução decente ·de qualq~er at4úde. Entretanto, por
I

la coDt.raa

-
;te irfnico, aquele corpo de iYe Ih~ pobre e •oradora de casa .térrea,
iia ae1Jilltar-ae não eaa coTa •aaa -f igual Aquela em ·que, outro ~ dia
triatt, TiDI08 anmir-ae DA t.rra pteta e pegajenta do 1188110 C.ité-
rio dt Santo A.ma~o do Recife o c~po de um Wanderley antigo· et au-

.

tê~ti.o, velho flamengamen~~ lou~ e alvo, filho de aenh~r d• en- ·

genho ido Sul de Pern~aabuco • dono\ D08 seus di"• de aenb o,de
doa melhores cavaloa~e de •lguna doa maia braToa
a1gun • .
ga daqueles sítios -aaaa.; 'jaziglo de r amíl ia com al cota de

• va_o. · era sem raz'o qu~a g~nte antiga do Recife cMGa&Ta


monumental. " - .
.
.. ia do ceotro dafcidade ao Ceaitlrio de Santo Aaano de
ao bebo que
ngueb~a-Rôço"• "Roço" 4 bralilei~amo que quer dizer - en•ia•
. Uea-
. ...
tre R~olfO. Garoia·- . "pre.Uçao, hidade, orgulho". E é co.o l o
109.
"'empo re atraYé8 do t · ..
empo, t d1a~luçao daa in8tituiçoea, e ~ao ~
... ..

~enaa a
~ r
do • 1· Dd"1YÍduoa- age 5 8obr~aa caaaa e o8

'onume~taia e não pé (
. . a naa 08 •odea~az quebrando-lbea o roço". Gil-
-erto f~e:yre' "Sobradoa e Mufamboaf, 4~ ed., Lif'J'aria Joaé Ol1J1pio
~itor~, Rio, 1968, Intr. à Seg. El., pga. ~XLII).
Como ~ ae vê• a admiráyel meditaçã• de Gjlberto Freyre aobre a Mort~­
esaa •á•cara ~errificante que o Virta-Se~aaau•e ·~relação aoa YiYo~-

alia de ~modo barroco, dialético e b'aail~ro, aa aluaÕea ao pó, à ci~aa


e à rui•a, de t Matiaa Aire8, incluaiTe co~referênciaa irônica• e
. •

aoa mániorea • adorno• eaculturaia cJos tú6tuloa, à Yaidade, ao orgulbQ e ·


àa -
pret~naoea í. em que elea impli 1 • ali~ ~udo
'..
iaao a referência• Yegetaia

àa "t\J·Y.~res ptof'iláticaa", capazes ~ como f a copci.íba de que fala Frei ~Vi-


cente do SalT~or- de sarar ferimeáto~ e~ cortea malignoa,e aptaa, .a o
..J
• I' ... ,.,

· mesmo t~mpo, • aervir de 6leo aagra4o pa~ aa unçoea e aagraçoea rituaia.

Capiatrdno deiAbreu, com ar~· pouc• afperior de bono•ia, elogia "o



••

popula~J' quaat folclórico" daquele extraordinário biatoriador braail•iro

doa aéculoa xt'I-XVII• Mas é que Capiatra• de Abreu, apeaar de aer o llo
táYel e •intatígável pesquiaador quelfoi, "
~acreYia quaae aal. Be• e .uito
bem, ·de - ~ .. aoclo .,. ià~luaive àpto a exlreaaa't caracteríatica profund._._
. .
mente bJfa•ilelra de na região, que.& .eacr~Te é Gilberto Freyre - ni•a;o
wi to •dperiot a Capi•truo de Abred e tã• bom, à na aue"ira, quut,o
t

Frei Vi ciente -cio SalTador e Ambróa~o ~ernaDdea •


Capft.ulo VI
.

O IASCDO.Yro DO IIDIAWISIIO

Séoulo XVIII

1.~ .O Herói Ibérico e a Mulher tadia.

Orclinari
----------------· -------
Dt.e, aa peaaoaa que eatudaa o IDdiaai
braaileiro
, do •'cu-
lo XIX atribue• aua aparição à influência de Chateaubriand e J. Feni•ore

Cooper. Muito •aia importante poréa para iaao foi o pr6prio IDdian.ia•o bra
-
- ~i.leiro do Século XVIII, principalmente enquanto eoDfigurado por Builio

da Gama e Frei Joaé de Santa Rita Darão.
'
Aliáa, ua certo iadianiaao edênico, proto-ro.ântico e idealisado, J'
.
aparece na Carta de Pero Vaz de Caminha, aqui citAda atraTéa da tranacri
- -
çao de VarDhagen ("Biatória Geral'do Braail", ed. cit., Toao 11, pga. 74/
75/76). Depoia, D08 "Diálogo• daa Gr~ndezaa do Brasil", ou na• Tigoroaaa
-
deacriçoea de Gabriel Soarea e Fret Vicente do SalTador, eaae proto-ro.aa-
ti meio idealiaador e Tago cede lugar a a• realiaao aaia &IU'litlco.llu
oa Poetas braaileiroa do aécalo XVII - com exceção de Gregório de Matoa,
que é iaeio raciata -
. .
- •

Toltul à exaltaçao da terra do Braail, de aua D&tu-


.
• •

reza paradisíaca e, de certa f'orwa, também à do h acobreado e edênioo


..

que a habita. E poré• no •'calo XVIII brasileiro que naace o Indlani..o


que aerá coDaolentemente leTado adiante, co-o u. Terdadeiro MoTi•ento, no
aécalo JIX, por Poetaa coao GonçalTea Diaa e proa~orea coeo Joaé de Al

car.

Aliáa, o apareci•ento de 1Ddioa procedente• da J.érica Latina na Europa


do aéculo XVI - aaaia co-o aa narro.tiYaa de Tia~aatea a reapeito ~elea,t~
bém ali publicada• DÃo aó ne••• aéculo como noa XVII • XVIII - f'ol fuadame!.

tal para 0 na•cimento do Jdito do "bOII aelTage•", mea•o an~• de Jean Jacque•
' •

Roaaaeaa. Montaigoe . - aliá• repetiodo, carioaa.ente, aa legendaa aarradaa

por Platão·• Ariatótele• aobr• • CoQtinente ou ilha da Atlântlda e aobre a

Yi-.e• doa Cartagin•••• ao Bra•il - prati


.
....
, •• do Mito • que D08 reteri•o•· Di• ele; DO capitulo "Doa Canibal•"•
"Daraat.e •it.e wapo ,,.,.. a •• ·l ado aa la-• que perMDecera ••• •
111.
doze anos nessa parte do
, Novo 'undo deaco ber~o neste
seculo, .no lugar em que tomou pe, Villegaignon e a que
deu o nome de "Pran ,
. ça Antartica". Bssa descoberta de
um imenso, pa{s parec d
e e grande importância e presta-
se a serias
· refle - _
xoe~··· Platao mostra-nos SÓlon atir
mando ter. ouvido dos sacerdotes de Sais no Bgi to que -
t , ' - ,
an es . do diluvio existia em ~rente de Gibraltar uma
grande ilha . chamada Atlântida •.• • lião há mui tos indÍcios
ent~etanto de que seja a . Atlântida o Novo J!Undo que a-
cabamos de descobri . r ••• 0utro te~temunbo da ~tiguida-
de ' que se quer aplicar a esse · descobrimento se encon
. ' ...
traria em ·Aris~Óteles, 'se for de sua autoria a obra in
. -
titulada Maravilhas extraordinárias·!.. Nela se conta que
alguns cartagines~s, tendo-s.e aventurado· pelo Atlânti-
co a fpra,
,
além do estreito de Gibraltar,. teriam acaba
. -
do, apos . uma longa navegação, por descobrir uma grande
ilha fértil, coberta'de bosques, regada por grandes e
profundos rios, e muito afastada da ~erra firme. B que
atraÍdos ,_ eles e outros mais tarde, pela qualidade e
• • .

fertilidade do solo, para ali teria~ .. transportado

.
suas mulheres e filhos, ·nela se fixando ••• Esta narra -
tiva de Aristóteles,
· ..
'
tal qual a de SÓlon,
.
não deve -
re
feri~-se às nossas noyas terr~~"· (MOntaigna, "Ensaios",
trad. brasileira
.
de Sergio Milliet, Bditora . ~lobo -Bio,
.
Porto Alegre, São Paulo, 1961, Livro I, Cap . . IXII,"Dos
Canibais", pgs. 259/260) •

Como . se vê, Montaigne já se apercebe do "grande alcance"


e importância do Brasil; fala da ~~rtilidade da Ilha e se
bem que não acredite que essa e ilha da Atlântida ou
a outra, descobe;ota pelos cartagineses, "coberta de bosques" ~

e "regada por grandes rios",seja o Novo MUndo ond~ "tomou_pe


. , -
VillegaigiÍt>n" _ isto e, o Brasil - prova como essas
-
versoes
eram correntes no século XVI; tanto asstm que, em passagens
que gt'itei, · ele se limita a dizer que •não há muitos ind!-
oios" de que . tal ilha seja a nossa, ou que a tiva. de
Aristótele• ~nãodeYe retctrir-se" àa novas te • B ele
112
continua, ~ora ~naistindo
na imagem· utÓpica de uma terra e-
dênica onde homens
acobreados .vivem uma nova Idade de Ouro:
"laias voltando ao a&s\Ult -
. o, ~ao ~8 ~ 0 C:~ nada de bárbaro
ou ,selvagem no que di~em . d~quêles povos; .e na verdade,
cada qual considera bárbar ,
' o o que nao se pratica em
sua terra. • •. Esaes_rJpovos não me parecem, pois,. merecer
o qualificativo de selvagens somente por não 'terem si-
do senão
·
muito ·
pouc 0 mo dit· .
~cados pela ingerência do es
1
p1ri to humano
·. . e nã h
o averem quase nada perdido de sua -
simplicidade
· . . . primiti
. A ·
va. e le~s da natureza, não ainda
pervertidas pela imisçã~ dos nossos, regem-nos até ago-
. r~ e m~t~yeram-se tão puras que lamento por vezes não

a~ tenha o , nosso mundo ~onhecido antes, quando havia


homens capazes de apx-~ciá las • . ~amento que Licurgo e
. .
P~atão .·.não . ~enham ouvido . fala~ de~as, pois sou de op,!
-
niao que .o que vemos prat~carem esses povos, .não somen

te ultrapassa as magnÍficas descrições que nos deu a


-
poesia da idade de. ouro, e tudo o que' imaginou como '
I
suscet1vel d~ realizar a telicida4e perfeita . sobre. a ·
- -
.

,
terra,.. mas tambem as conc~pçoes e aspiraçoes da tiloso - -
fia". (Ob. e vol. cits, .p g. 261/262).
,
Tambem sobre. a visao
.
- das Ilhas desse

novo mundo como Ilhas
' , .
paradis1acas e . utop~cas, outro estrange1ro i _lustre, . !homas 142.
rua, cria uma espécie de ligação entre elas e a RepÚblica pl~
tÔnica evocada a!, como se vê, po~ Montaigne, através de sua
,
I~h~.de qtppia. j curioso que, na "Utopia", o homem que _da n~
tÍoia a Morus da Ilha do governo perfeito, é um navegado~ po~
. .
tug~ês, Rafael Hitlodeu, .do qual se diz:
"Ele navegou, é certo, mas não como Palinuro. Navegou c~
mo Ulisses, e até m•emo como Platão ••• Conhece bastaute
' ..
bem o· .latim e ·domina o grego co~ perfeição. O estudo da
. .~ . . .
A

tilosotia, ao _qual se devotou exclusivamente, fe-~o ~~


tivar a 1!ngua de Atenas de preferencia a de. Roma ••• Po~


. A '

tugal é 0 seu pa!s. Jovem ainda, abandonou seu cabedal


aos . irmãos; e devorado pela pai de correr mundo, _
rou-se à peseoa e à fortuna de Amérioo VespÚcio. lão 4•!
11).
xou por um ao' 1nstante t
as três . · es e grande navegador durante
das quatro Últimas viag· e '
lê ho~e ns, cuja narrativa se
~ em todo o mundo • Porem
, nao- voltou para a Buro
'
pa com ele ••• Rafael me contou como , -
de v , ' a~os a partida
espucio, ele e seus companhe1·ros
-- , com afabilidade
e bons serviços gran·
. ' Jearam a amizade dos ind!genas,e
como v1veram
· com eles em paz e na malhor harmonia •••
No Equador, acrescentava Hi~lodeu,
" '
de uma parte e de
out~a, no espáço co-preendid~ P~la Órbita do sol, não
viram, senão vastas ao lid-oes. et~rnamente devoradas por
um ceu. · de fogo • • • ua· t d
. s an o-se do Equador,a natureza
se abrandava pouco . a pe>nco, o calor e, menos abrasador,
a terra se cobre de uma ri dente verdura e os animais
-
s~ menos selvagens. Mais longe ainda, aparecem povoa~

oida~es, povoaçõ~s·, em que se taz um comércio ativo


por terra e por mar, não somente no interior e com aa
fronteiras, mas en~r~ naQÕes muito distantes ••• Seria
muito extenso se relatasse aqui tudo o que Rafael viu
em suas viagens. Aliás não é esa.a a finalidade desta
obra. Comple i talv-e z a sua narrativa outro li
-
vro em que darei detalhes, principalmente, dos báoitoa,
•·
costumes e sábias instituições dos povos civilizados
que frequentou Rafael ••• Nesta relatarei apenas o que
Rafael nos contou dos costumea,einatituiçoes - do povo
utopiano". (Thomas Jlorus, "A ._U topia", tradução brasi-

leira de Luis de Andrade, ldipões de Ouro, Rio, 1961,

pga. 31/32/33/34).
,
ESsas referências e imagens edêDicas ou utopicas de lb~
taigne e Thomas MOrus irão repercutir no Brasil, mesmo o do
século XX, através da "Invenção de ~rteu", de Jorge de Lima•
. Mas 0 aparecimento de "selvagens" bra~ileiros na Europa em
geral e na ·Prança em particular - para o caso de M;)ntaigne -
.
seria fundamental, oomo 88 viu, para o estabelecimento 4o ml
. , ,
to do "bom selvagem"
.
... ct~sde_. o seoulo. X~~. como ja assinalou,

entre outros escritores brasileiros, AtoDSo Arinos de Mello
franco. ooinoi4ência ourioaa
· Por outro ladO~ Dão 4tix& ele ser

114.
que um dos primeiros casais aqui t d _
orma os pela uniao de ''He-
'i • i'k, .
ro ' uer1co com Mulher "selvagem" t Dh 1 ,
e a do a Prança: toi o
casal Diogo llvares - Para
. · · . guaçu. Essa moça acobreada apaixo-
nou-se
· pelo aventureiro ibérico ' salvo''
. ._..-0 , ba"' ·
.,~zou-se,
...
.,omou
o nome de Catarina, e os dois tora•
o ~ 08 h 'i
ero a o poema ep oo i do '

brasileiro que, no século ÍVII~ e ~untamente com o de BasÍlio


• o •

da Gama, iniciou o nosso lndianismo: 0 "C~amuru", de lrei . Jg_


sé de Santa Rita Durão (1722 ? - 1784). o

Prei Vicente do__S~vador comete um engano soore seu nome:


diz que .ela se . chamava Luisa - o que contraria as outras re
ferências . que a His~Ória b~asileira lhe faz. Mas conta sua
-
o
o

ida..Oil Diogo Alvares, o Caramuru, à !Prança, coisa que Varnba-


,. .
-én,.· contesta~ sem razao, segundo Capistrano de Aoreu, que diz:
"A Diogo Álvares Car~uru consagrou Varnhagen um de seus
. P~imeiros estudos ••• Devia ter chegado à Bahia cerca de
1510, em circunstâno~as ainda não conhecidas; que o

uso do bacamarte ~ . tQrnasse temido e_ poderoso entre os
indÍgenas é bem poss~vel, mas caramuru designava e de-
signa ainda ho~e uma: moreia, e. ibreia assinava-se,tra-
. '

duzindo a alcunha, um descendente, que deu muito que


o ,

falar com suas mi.n,as>;- de, prat~ ate agora encobertas; que
.
.tives-se ido à Prança;; _c ontesta. Varnbagen e af'irma Prei
o •

Vicente ••• e não há ~otivos sérios para por em dÚvida


0
.asserto".(Nota à n}tistÓria do.;_
Brasil" de lr.· Vicente
do Salvador, ed. ci t,~ , pg. 100) • • o

P.rei Vicente do Salvador, descrevendo a ohegada,ao Brasil,


de Tomé de Sousa, dá 0 núcleo histórico da legenda que iria
inspirar o poema "0aramuru••: ,
.· "Com toda esta gente (Tomé de Sousa) chegou a a a
smo':'. ano e desembarcou na vila velha
29 de março do me
Pereira deixou edificada logo. à entrada
que Pranc 1 sco . . . · .
· ·. . d achou··· 8 Diogo Ál~res Caramuru, de quem
da barra, on e ·~ ·
, · !tulo do livro· segundo que foi li-
disse no setimo .cap
l tiiha de um Índio principal que dele
.vre da morte pe a . ~·~id 1
· · al ~mbaroando-se ele dfpois ·~ o m
se rou, a qu ' r:- . ·
. . ,. e~ aq ' ui veio carregar de pau • • indo
. navio .trances ~u_ -~- . . o • • 'Oh!.
~a o na o ·a ' : ·
gando à Pran . 115.
Ál ça, batizando-se ela e chamando-se Luisa
vares' se casar8JD &mbo 8
8 depois os tornaram a tra-
zer os trancesea em o
· ·
mesmo navio prometendo-lhes e
le de lho t_azer_carregar por ' -
, . seus cunhados. Porém che
gando a Bahia e ancorando no -
, rio de Paraguaçu, junto
a . ilha dos lrancesea, lhes JDandou uma noite cortar aa
. amarras ' com que dera '
· m a costa e, despo~ado~ de quan-
·
t~ traziam, . toram todos mortos e couu.· dos
dos gentios,
dizendo-lhes Luisa ÁlvareS, sua parenta, que àqueles
eram inimigos e só seu marido era amigo, e como tal
tornava a buscá-los e queria·~iver entre eles,como dê
feito viveu até a vinda de tomé de Sousa e depois mui
tos anos ••• MOrreu muito velha e viu em sua vida to- -
das as suas !ilhas e algumas netas casadas com os prin
cipais po~tugueses d~ terra, e De~ o mereciam. também -
· por pa~te de seu progenitor Diogo Álvares Oaramuru" •••

·("HistÓria do Bras~.l", ed. cit., pgs. 143/144) •
A . .

Como se ve, nessa primeira tase do . Indianismo, a setecen-


, , .
~. tis ta, o "He.r oi" epico é aj;~da o Ayentu~~iro e navegador po~
_. tuguês; a M..tlher .
é que pertence à p~imitiva Raça acobreada
'

·. do
.
Brasil. Ao "HerÓi" indÍgena .. ·t ica .reservado o papel de a- '

.
mante infeliz e trágico d~ ;~Qlher de sua raça,que pret~re,a
· ele·, o. Marinheiro ibérico, , ,
.
. . ~ ee torna tambem tragica caso S!.
.
.
~a por .
este.. despreza4a.
. - ,

2. - O "Oaramuru".

No ••caramuru" de Santa R! ta Durão vamos encontrar aquelea


'

.:temas obsessivos a que já me referi . várias vezes antes.


'
Os •

crí ti coa atribuem essas apai'ições e reaparições dos mesmos ·...


• •

temas à talta de imaginação -dos nossos escritores, mas eu ~


. , .

não creio nisso _ porque, como ja vimos, a maioria deles e_



ra de bons prosadores e ~oétas, sendo que alguns revelavam ·
.um excepcional dom!nio ·da torm~. A consciência nascente da
. ,
graqdeza ·e importância do ~rasil aparece ate em Montaigne,
como acabamos de demonstrar, de mo~o que
.
e apenas por
-
nao
,

.
.talt~ de . imaginação . que 0 8 .._tor do "Caràllluru" reitera:
,
•Dá princÍpio ,na America opulenta
·àa pro~!nQi&a do Império lue~tano,
• •
118.
-
o Grao-Pará' que u• ID"r
•• noa representa,
lo, em meio à terra, do Oceano"•••

("Antologia doa Poetas Braaileiroa da Faae


Colonial",ed.cit.,pg. 213).
-
E a deacriçao do grande Império em que, na i•aginação meaai&nica doa
aoasoa PoetaaJo Brasil j& começa a ae tornar continuaa no "waato Maranhão
4 • água opu1 ento" , Yê-ae "11•a I lha bela, que ae e atende à praia" J ·no Cea-

rá, onde o "Gentio imenso" é"maia fero que outros", é também onde, e• co~
-
penaaçao, ae pescam "nas profundas minas aa braaílicaa pérola. maia tina•"•
N• Paraíba, Ilha "amena, fértil~,rfca e poYoada". Em Pernambuco, te•o•
.
"a pingue caça, a pesca, a frata grata, a madeira entre aa outraa •aia

preciosa". E
.

•••i• Tam~a percorrendo um Reino poético que vai até o Rio


da Prata e que logo ae ~ealizará cómo Império, porque

~il e cinquenta e aeia léguaa de Coata,


de Yale• • arvoredoa reTe•tida,
tem a terra Braa{lica, co•poata
de montea de grandeza de idaa
oa Gaararàpea, Borborema posta
sobre aa nuTen• na cima recreacida,

a aerra dt Aimd~ea,
#
que ao po1o e- ra i a,

a• de Iboticat~ · e Itatiaia".

(Pg~ 2ltl).

llod ifiéada pela imaginação, aquela cena ·de .Diogo


No canto IV, aurge,
D ~ cara~ela francesa. -
Mae nao é Paraguaçu
.UYarea Car emb arcaodo • 'v .

t d ~ um" •~ltid;o de Moças indígena•, daa quaia


-
que• nada atraa da Naus e
#
o " y_..,_.. .r--
te nas ondaa. O C to ~ é
i
aquela que maia ama - Moema - morre trag camen
_ adisíaca da Ilha Brasil. Tr creYere i ape-
1111a deacriçao da oatureza par ·
à Flor do Maracuját a do Abacaxi
aaa aa ••trote• referente• ao Ananáw • . •

i a ••guinter
d o raia a •ai• louYad&
"Da• t ru t a • ,.
é o Régio .ADanáf, fruta t,ao boa,
a Nataresa n..orada
que_• .....
111.
quia como 6 .Rei- cingi-la da coroaa
-
tao grato ~heirt dá, que talhada

aurpreode ·~ olf.to de qualquer peasoa


que
- '

a nao t.er dl Ano.náa diatinto &'Yiao,


.

fragrância, a cu"-ará do Parai ao" • •


.
(Pg. 2q) • .

~ Aa qu.-. deacreTe• a Flor do ilaraclaijá acentuua - coao já fizera, ante a cl!,


. •

l~ .,Frei Vicente do SalTador - o aent'ido religioso e místico du f da

· flora
.
"Nem tu me ~aquecer4a,flor admirada,
-
, em . quem nao sei ae a graça,ae a natura
· fez da . -
Paixao do Redentor Sagrq.da

uma formoaa e natural pinturaa


pende c~• pomoa •il sobre a latada,

, ondoa na figqra,
aureoa na cor, '

·o âiDago fresco, cloce e. rubicundo,

. que o a&ugue iDd~ca que aalYar~ . o

·· Com deuaa qópia • folha ae derrama,


·. · que 81Ui to àl. va.lgtlr Hera é parecida,
.
.. entreaaachando ~la verde rama .
·. mil quadroli da PAixão do Autor da Yidas .

.. •i lagre natural' que a mente cbJUB&

co• impul8Q8 da araça, que a COPTida,


a pintar adbre a .f lor · aoa noaaoa olboa
.a Cruz de ~ilto~u Chaga• e oa abrolho••

~ na for•a redonda, qual diadema, '

de pontas, oomo eapinhoa, rodeada,


a coluna no. meio~ e um claro e•bleaa

da• Chaga• •antd e da Cruz a


~rê• ora•o• e,na parte estreaa,
y....... O• .. ,
118.
com arte a cruel lança figurada , .

a cor é branca, maa de Um


. roxo exa&Dgae,
salpicada recorda o pio aangue.

Prodígio raro, estranha maravilha


com que tanto mistério se
'
retrata!
Onde em meio daa trevas a fé brilha,

que tanto desconhece a gente ingrata 1


aaaim do lado seu nascendo filha
a humana espécie, Deua 'iedoao trata,
e faz que quando a Graça em ai despreza;
lhe pregue co•eata flor ·a natureza".

Um s4,culo depois, Teremoa um poe~a romântico· e pessimista - Fagandea


• •

Varela - tomar o mesmo tema, aeguir )paaso a paaao a descrição daa .ea•a•
imagens e. emblemas, mas entatiza.ndo o significado aenaual e até sexual

da dúplice interpretaçao
.
-brasileira das formas
.
desaa Flor. O poema dele
.
•.

é dirigido a uma MUlher e feito em forma de jur to de amor a ela. De-


pois, aa imagens sexuais simbólicas se repetema fonte, cálice, plu•aa,
, .
chagaà roxeadaa, páaaaroa etc. E como se o corpo da"Sinha" a que• o Poe-

ia ae dirige tosse a paradisíaca Ilha Brasil com um Eldorado~míatico e ·~

xual ao ~esmo
. -
tempo,encraTado no aeu centro, no seu Sertao desértico - oa
.

"tesouros oculto• •a• minas do Sinc6rá".O próprio poe•a e ".l Flor

•o Maracujá" • é o aeguinte 1
"Pela• roeaa, pelos lírioa,

pela• abelhas, •inhá,


.

pela• Dotas maia choroa&l

do canto do •abiá,
pelo ~álice de angústias -
. . da flor do maracujá%

Pelo Ja••i•, pelo goiYo;

pelo agre•t• á,
119.
pelas gotaa de sereno
.

naa folhaa do gr~v~tá,


pela coroa de eapinhoa

. da flor do mo.racuj&l

Pe laa traDçaa da mGe-d • áa•a


que junto da fonte eatá, .

pelos colibri• que brinca.


naa alTaa 'pl do ubá,
pelos craToa deaenluuloa
na flor do maracujá.

Pelas azuis borboleta•



que· descem do Peu1nmá,
.
pelos tesouros o~ultoa

naa minas do Sincorá,

pelaa chaga• roxeadaa

da flor do mo.rac.ujál

pelaa montanha•, 1inhál


. ·.

. Pelaa florestas :imensa&


.· que tal de JeoTÁl
Pela lança enaanguentoda
da flor do aBracujáJ

. .
Por tudo 0 que o céu revela,
.

por .tudo 0 que a terra dá,


. .
eu te juro que m~nb'alma
de tua ala& escràTa está! •••

' ou~rda contigo eate embl

da flor do
• •
-
Nao ae enojem teua ouv~oa
120.

de tantBa rimas em a
r-'
ma.a ouve meus juramentaa'

meus cantos ouve, Sinh&!


.

te peço pelos aia~ério~


da flor de maracu~á"l

(Fagun.d ea :; -v,~
.....elft,

- np . "
oeala ' Livraria Agir Editora,
Rio, 1961, pga. 63/64 ). ·

Anoté-ae de passagem que, assim rcomo Gregorio de Matos, no século XVI, A

adotava ' a forma da décima vindo. do Sécül 0 de Ouro espanhol e agora adota
t
-
do. pelo~ Cantadores nordestinos, Fa~ndea Varela, ao deixar, no aéculo
... .
nx, seu to• habitualmente deaeaperfado e pessimista para assnmi'r aquele

que acabamoa de ver - fcuniliar·, aen~ual e quase "cant&vel"· .. adota inaen


-
aiTelmente a aextilha, Tinda d~ Poe~ia medieval ibérica, onde é rara •aa
.
ex1ste,
•'
.Para o Romanceiro Popular do Nordeste, onde é a base doa desafio•
•·· P.!.,lejris doa Cantadores.

3. - O Sonho de Catarina !lTarea-Paraguaçu.

Em sua "Hiatória do Brasil",.., Pedr.o Calmon distingue . cuidadoao•ente · o


.

que é Hi~tória e o que é legen~a na -v ida de Diogo AlTares e do. Mulher in


.·.
' .
-
dígeno. q~e foi a d.•le. Ou melh,r, du llulberea índias que foram dele,poia
-
r

parece que o patriarca bo.hio.no teve .,:aaia de uma, se be• que nn.o tenha ido

-

>

ta~ longr ni••o quanto Jerônimo de Albuquerque em PernNmbuco. Uma delaa


'

aalTott-o, mas Paraguaçu era ou~ra, ~alvez da meama tribo da primeira. Pe-

dro Calmon, porém, a.fiJ•ma que, ,à luz doa documentos maia recentemente acb.!.
••I .

G

doa, é hoje fora de dúvida que Diogo e Catarina eatiTer~ no. França, aeudo
~

'

ela batizada a 30 de julho de 1528 em Saint~aloa


.

"O nom~, Cátarina, deu-lhe em França, a madrinha, Caterine dea Gra~


oa oa be
che•, mulher de Jo.cquea Carti9r, o célebre nAvegador de -
miafério•• Juntou-lhe a ~rodifÃo, ignora-•• quando, o enfático Pa-

r
!!i!' que pode . aer auperla.,iv~ respeitoao, no •eu tupi do•éati-
--~ " (Pedro lalaon, "Biat6ria do Braail",
coa •eDhora do mar gru.uue • • •

.-

121 •
. LiTraria José Olympio Editora, 2t ed., Rio, 1963, Vol. I,pga.14T/

148).

Cito tudo iato pn.ra. concluir a. ) eferência ao poema. "Cara!II!Qru" atraTé•


-
da descriçao que o Poeta faz ~a FeT do lla.r, a Baleia, e da legenda aegun-
.
do a qual a Mulher índia, Par~aç~ teria tido
'
I;
-
Yiao.o da Mulher Veati-
..
d~ de Sol, a Virgem da Concep~ào, ~clusive · com o Demônio aos péa aob for-

'

aa de Serpente, como o descreve o ~~poca.lipse". A natureza edênica. e vege-


t ' l da Ilha Brasil tem o cont~aponto barroco do Monstro mnrinho, a Balei&J


p~r outro lado, a Eva acobreada desse Jo.!dim .selvngem, auo.ve e o.greate ao
.esmo tempo, a Paraguaçu ou S!nhor~: do M~r Grande, anuncia a outra Mulher,
'
.
a vencedora da Serpente: poia . Mo.ri~. - como noa ensina AntÔni• Vieira uua
~ :

aermão religioao e profético ~ sig~"ficn. também "Domina 110.ria", lenbora

do lfar.
' -
A descriçao da Baleia é a •egui~e:
.

"Tem por

. ~ -

espinbo.s ~ osaoS,.~ desmn.rcn.dos,

o ferro as duras 'pele-~ representam,


donde pendem mil ~búzioe ape~g~o.~d~o~a~,L---~-----

que de qua.ntó lh. chupb.m se -' sustentam:



não parecem da f~onte leparndos

c"\os yo.atos corpos ~ que ~a areia aasen , •

·entre oa oihos medonho• se ergue a tromba,


- -

que ondas yomi ta,~ como ~·~aquo.'t 1·1 bomba •


1

Na boca horrível' ~
~
como ,
L
.~
.~va.sta gJ•uto.,

doze palmos compr~do. a :.1íngua peude


r

d b imensa e bruto. . -
sem dentes; mas ~ oc~
- . 1 onD"O estendes
barbatanas quaren~a ao~ -e , --

t "' o.~ transwuta


com elas para ,o e ~ om ~
· to.1 n•~a . prende,
quanto por a 1 men: ~
car• e do elemento
~ peixe, ou ta1v e' _ R 1
_

he d~ austento •
a tez i1111nda' qu 8 11
122.

Duas asas nos ombros tem por


braçoa,
que aos lodos vinte palmos se d·~ d
· l&Un em,
com asa e cauda oê líqu'dos
"" espaços
batendo remam, quando 0 mftr
~ confundem:
. e exci to.ndo no péln.ooo ~ racn.ssoa,
~ ...
chorros d'~m1~ na•~ nwua. de longe infundem;
·~-

e andando o monstro sobre o mar boi~nte


.... -e Ilha o '
cre que inexperto nn.vegft.Dte".
("An tologia dos Poetas Br.asileiros
. da Fase Colonial",
ed. cit6, pgs~ 202/233).
-
A descriçao
' .

poderá parecer tedio.sa, sobretudo a se 1evar em con~a que '

o~tros poetas brasileiros ~nt4riore~ já tinhWD descrito a Baleia e auo.

~;sca. lfo.s as pessoas :que n.cluim is·s 'o tedioso serão o.a mesm~ que não per-

d~am. ~ Melville as desmesurnd~s e ~~nucioso.s descriçÕes e repetiçÕes com


. .

a~ quai• ele volteio., obsedadq, em torno da figura do Cachalotea não •• a-

p~~cebem que é iaao que vai configurando, aos poucos, a natureza demoníaca
,I

. , •

d'\Cluele rMonatro marinho, emblema da~l desordem, do mal e do Caos •


-

~ Em Santa Rita Durao, é como se a 1 Natureza brasileira- da qual, no Yar, •

brota esse Monstro - tivesse ifn.mbém:~ o. outra f·a ce, a edênica. Ampl iancio
imagem, :é como se a Natureza d~ terra inte ira, que dá monstros e répteis
'

. '

- ~ntre ~os quais a Serpente demoníada, o Dragao ~ fosse tambem a meamo. Na-
I . - I>

turezo. que produziu a, Rosa vermelha. e .Virgem pura do. espécie humana
.
- a
lmJher vestido. de Sol. A descr~çao ~ita pelo ·Poeta brasileiro do século

.XVI. II a ~espei to da Virgem que Co.ta~ina Po.ro.guaçu viu num sonho é menos
fo~te dd que a do "Apocalipse" judo.:fco. Lembra,. mais,
-
as descriÇ~es de

Dante no "Paraíso" e
-
as de Jorge de tiwa na "I_nvençao de Orfeu":

"Maia bela que esse ~ Sol, que o Mundo gira, 1

e com.. cor - disse - de p1Jrpúrea Rosa,-


,

vi formar-se no cé~ nuv~ serena,


qual nasce a AurorA em àmdrugada amena.

Vi luzeiros de ch~aa,ru~ilante
'
123.
sobre a esfera tecer
e~n.ro dindema,
de matéria m~ia PUra
que o di n.mn.nte
que obrn. pn.re ce de . - '
lnv~çao Suprema.
Luzi~ cnda estre 1" t- .
,. n.o brilhante
que pn.recia um Sot . '
' precloso emblema
de admirável belíssima peason.,
'
que a roda dn. cabeça cinge n. cor·oa. • •

. .

••• Aos pés dn,. ).{Àe piedosn.,superrula

v•-se a antiga Se~pente insidiosa,


de que a fronte, •a cul~n. levn.ntada ,
quebra a planta v:irgín-. gloriosa:
.

e enroscando os mqrtn.is . j& quebrantada,

ao eco aó da Virgem poderosa,


.
no maia fundo do abismo se submerge,

e o feral antro do Teneno asperge".

(Pgs. 234/237).

4. - D~m Quixote, O Judeu,o Cômico e o ionho.

A.ssiJQ, no "Caro.muru", o Der.oi é· o nn.vegn.dor ibérico moreno, e a Heroína

é ~ o.co~eada e mítica lfulher índiaf.Pn.rn.gun.çu. O Her6i indígena, "o braYo

· Jararaca, Príncipe d·o s Caetés",, teiD que se conformar com o papel de o.mante

desdenhado e trágico, desprez~o pela Princesa Po.rn.guo.çu, que,· por ainal,


é, no p.o ema, filha de "um Príncipe ~ poàsante••, Taparica, "que domina e _d&

nome à. fértil I lha". •

Fato semelhante ocorre no "UrRgUn.i", de José Basílio da. GBma (1740-1795) f

se bem que aqui o Herói já seja ·índio, Cacrunbo, sua figura. desaparece diante

de Lindóia,_ figuro. que o Poeta mitifica, ·daDdo-lhe uma. morte semelhante à

da "faatoaa Ra.i nho. ·e gípcia", Cleópn.~a: Lindóio. morre num lugar ·pn.radiaía-
1

. .
co~ Yegeto.l, picRda no seio pelo. Serpente.
.
~ai o 1 éculo XVIII não c~ncluiria sem que outro J~deu, Antônio José da

Sil\-a -
(170:5-1739), contribuÍ8•• piU"a a uniao de contrário• bradl•ira atra-
124.
yjs de aeu Teatro. Ma.tiaa Airr a ..
0
·. 'Yl ' Afundo como uma representn.ç6o tentral
Trágic~, dominnda pela ruina ·,
3
1
pe ~ Morte • Antônio José, O Judeu, via-o
A •
p ass1m o pintou no sen
o

com1co Tea~: p
. r ~ • 0
or ironia da sorte, n. Vidn. termi-
nou, pn.rn ele, em Farsa trágica cnm 0 d . ·
~ ' ;.- a ef1nia Mn.tias Aires: Bento Teixei
-...
ra foi ~penas preso pela Inquisi ~
. · r ç ~' morrendo tuberculoso em c ~nsequenciA
d~s quarro nnos de Cadeia que~ sofre~,. AntA . J ~ . '
. ~ lr' ' on1o ose da S1lva mo~reu queima-
do n.os a4 nnos de idnde, em Lisboa · Escreveu d · 1
. [ ~ un.a peças, pe o menos, de
ID\lito ipteresse para nós: ''Gu,rrn.s .~o Alecrim e Manjerona" e "Dom Quixote".
O~dinar~amente se diz que nBo ~ exis~e qun.lidn4e brasileira nenhuma em seu
T~atro, ~ escrito em Lisboa. Maf bas~ enumerar algumas cn.racteríaticas dea-

l.jiro. q~e lhe é negada, o.o Au~or. E&n primeiro lugar, ele, de certn. mn.neirn.,
-
r~toma ~ tro.diçao de Gil Vice.te - ~omo acontece nos rudimentar~& Autos

- •

dq tro.diçao popular brn.sileirlj., Au~s do tipo de "0 Castigo dn. ~oberba" ,de
. •.

.

S- lvino ;Pirn.uá Lima., Cantn.dor pn.rO.i,.ano, ou em "0 Homem do. Vaca' e o Podér
da Fortúna",
.
moro.lida.de de Frànciscp Sales Areda, folhetista pernambucano •
' .
~ segu~do lugar, ele introdu~ em ajas peças a. Música e o Canto, assim co-
m~, fn.z~ndo ;teatro dentro do teatro; usa · títeres e mamulengos m~sturn.dos a
attores de carne e osso - e bastariall
••
essn.s três características para ligá-
lo l trádição do Teatro bro.sil~iro ~undndo por Anchieta e talvez outros,d.e.!.
I

d~ o sédulo XVI, e retomado, d~pois ~do Judeu, por Martins Pena, no século

XIX.
Por dutro lado, assim co~o parti.os de - -
Cn.moes para dar n. versao poética
..
é ~dêni~ do. Ilha que aporto.ri·n. no trasil, poderíamos partir de Cervo.ntea
• .
para
. a · -
~rso.o cômica
. do. Ilha. d.·
~ Bn.r~~ar1a. a vertente ibérica do. Cultura
./IÂ- • •

bras i leia-a chegaria aqui n.ssim~ bifr~te e bipartida- os Portugueses


.
com

, · 0 ... n.risto;cró.tica
aua Ilha,; vegetal e a 1egor1 ... , . . e
_ pft.J'n.diáin.ca,
. . os Espanhóia
· · . Sn.nc~ Pança, tendo a. seu ·ln.do o contraponto
coi o sobho da Ilha popular de
· e':
p icl
,· de ·Dom 2uixote, personagena do espanhol
do Sonho'~ da 1 oucurn. sagrada e

pelo B~asileir·d judeu e bar~oco, Antônio José.


CtPYante~, retomBdos
com.ços do século XIX, vendo a miasn.o -
'Poder!amos então entrar peles .
. . .. ;

'
125 •

apocalíptica, messianic~_ e se~astiarista do Brasil prefigurnd~ no poem~


-
.
"A Assunçao"' de Frei Frn.ncisqo de eR.o ~ar los (1763-1829), no qual ele

descreve n. sun. Pó.trin., prediz ~o aeul.g;rn.ndioso futuro e Tê ne.l n "a Cidn.de


d~, Virgem: bem como elo. é Cidlfle de .Deus, risonho. e belo.".
1

M~is importn.nte, porém, p~~n o q'e pretendemo• mostro.r aerin. BDO.lianr-


-
mo• ~ visao-do-mundo,barrocn. ~ contJnditóri~ entre si,que dois l'oeta.a nos
. .

- .
oferecem em sun.s obr~s, num~ ~iao 4 i~lético. · e bro.sileirn. In3cio· Joaé de

Alvn.rengo. Peixoto {1744 1793) ~um p~ema que dedicou A Rainha de Portugal,
Dono. Mo.ria I, A Louca- pn.rn escapa~
.
à -
condeno.çno que _levou Tiradentes '
a

forcn. - fn.z uma identifico.ç;o ~ític4 de Br~sil com o ·rochedo imenso do

p;o-de-Açúcar, e funde os prec. osisqps b~rrocoa de C~Ões com um certo I~


diànism~ que já prefiguro. o de ~ Gonç~lves Di~s e José de Alencnr:

"Eu vi -•

o Pao de ~
Açu9o.r l~:vn.ntn.r-se

e no meio dns .ondo.' tr~sformar-s~

no. figura de
. :'\ .
um IncJio o il~is gentil,
. .

representando s~ ~odo o ~rasil.


Pendente o.o tiracol de _. bt a.nco o.x·minbo,

côncavo dente de o.nimo.l llo.rinho . ·

as preciosas armo.s ;lhe g'o.rdn.vo.: .


c.
era tesouro e junt~ente ~o.ljnvn..

De -pontas de diamo.nte er~ o.s seto.s,


as básteo.s de ouro,\ mns as penas pretas,

que o lndio vn.lero~, o.t t~o e fo~te,



- mn.nd a. se t o. q ue
nao hão m$nde " morte.

Zona. de penas de viatosaJ cores,

guarnecido. ·de bárbo.~os lNVores,


JJi1 tes
de tolbetas e pérolas pe en . '
.. ~ . t tlzios itro.nspo.rentea'
finos cr1sta1s, op
. . ~ .
s -~
peles de So.l~as,
em reco.m,~n. .
· fl
· rubia,e dio.mn.ntea, .
sofito.s,

esmeralda escirecia
em campo d e

.' •



126.
a linda estrela qbe noé traz o d. "
' .L lQ. •••
~

("Antologjia do\ Poetn.s Brasileiros dn. Fn.se .Colonial",


. '.
\1 :a.,
ed. cit. , vol ·~ 11, pg~ 48).
~ '

Entrftnnto, outro Poetn · br~sile~o barroco, que viveu dos mendoa do


\ \ ll
s!culo
,
. ~li n.té os começos d~ sé·c~o
.. -.)
XIX, Francisco de 1:telo Frnnco (1757/
1~23)'
....

~ferece-nos a vis;o re~listJ I
. ~ 'r·' comJ.cn. e snt1.rica do mundo, opoata A • ,

1l •
a pesse ~'Sonho" de Al vn.reng~
'
ixot1~ Para. Francisco de Melo Frf\Dóo,

o

.' t
ld.ndo é~ "0 Reino dn. Estupidez , dn. ~n.ndice, do ridículo e do gl!oteaco, o
J
• • c •

• ~ . .1
mQndo ~squ1nho e mn.ldoso que fez 4~ Dom Quixote um Heroi ·doloros~ente
-~. .. )

r~dículb. A Cidn.de, pl.ntoda ptr Frefi Francisco de são Cnrlos c~mo "riaonhn ~

~ .
e visto. por Alvn.reng.. Pei4to através dess·e Sonho indi.nniato.,apa-
. . ~ i
. . ~

ráce,I'
no ''Rei~o dn. Esj,upidez" ~ ao~ «» formo. de Coimbrn., descrito.. de modo rea-

..
ltsta e !. impiedoso como • "imundd., irr'egul(\r
• . e mo.l ca.~çndo.". Como i!mblema do '
t' • ~

cdrtejo ~ da Vida human.a., .desfi Jn poJ{ ní umn. Cavo.lgl\da composta de Fro.dea e


I. . :'1 • "

Ddutore,, todos servos dB. Div~ndndJgrotesc~, a E-.tupidez. E o ~oeta bra-


. 1 '~ .
. , ,. I , . .

ai'leiro ~sente invencível nece~sidacfe de evocar. a Muao. quixoteac'a e cervan-


. •
r"
. tfn~ para descrever B cenn.:
.
~ ••'

"Em dua.s grandes


os barrigudos e
• ~ .

~ "(
acompanham sn.udosós esta grn.to.

e deles sempre a.madn. Padroeira •


• • •

. t E
A nobre comitiva dos Doutores
t. :
entre os braços a rtoma, :.'" qual primeir~
l
e quase ao colo n3 Berlinda a mete.
~ ~
Logo montados pel~s rua~ tomam,
f;-
.
que de mais Povo s,
_no se~.pre
.
assistidas~
1
~; 0 todos cobertos;
Uns de encarno.do t ·c

altivos ·
soberboe~,
- · 1·
con~l
go . assentnm ·•

' ) n
-
" • J

figuras
que nao h ~
a n o Univ.erso
1
outras
~,

-
contempln.ç~o,
I

d~
oA

.
m~ls
respeito;
de mais •

!.1

o vermelho durant~ As Jesto.s serve


-
127.
de compridas gualdrapaa; outros
picam
o fogoso Cavalo, quando pnssnm

pelà porta de tal, ou tal Senh ora.

De preto muitos vão; porém os Frades


vestem ao mesmo tempo várias cores
'
branco com preto, azul com encarnado.

Se tu, -
ó grao Fidalgo de la Mn.ncha,

f amoso ·nom Quixote! esta aventura

nos teus. andantes . dias encontrasses


'
a" sem-par Dulcinéia, quantos destes

a render vo.ssn.lo.gem mo.ndn.rins"?


'
(Ob. e ·vol. eits., pgs. 157/158) •
-

. ! entn.o sob esse signo de Fn.ce dupln que entramos pelo século XIX, do
.

qual . poderí~os
. .
escolher v~rios .prosadores
. e Poetas paro. o.nn.lisar.
..
Entre-
.

tanto vamos referir-nos com mais vngn.r o. dois - José de Alencar e Fo.gun-
des Vo.relo. - porque através deiles s~ n.nuncinm a Ilha sombria, pessimista
.
e :e sverderuio. de · Augusto dos hjos e o Eldorado também sombrio mas casta-

Dho e ensolarado de Eucl)'des dn. Cunlía.


Capítulo VII
O IRDIO 1 O BEI\!AIIEJO
~cnalo nx

1• ~ J~•' de Aleaoar • "0 Gaar i".


Como eatamoa aoa poucos e 1
•c areceDdo, depoia do ·a•calo ~nicial e taDda-
dor, .. o XVI, a Cultura braailei ..a _
oa Afrieaaoa nep-oa Da• ext.re•o, e
o~ oa Ibérico• . branco• ao outro ·- ~-t
· •" 18 ·
acaa o a partir de .. cen-
tro acobreado fornecido pelo contin~ente doa r-~to.,
ou, para aer ~~aia esa
-e.

to, daa MUlherea índiaa, que, caaando-ae coa


...

brancoa ou aeDdo wiblád ..


-
08

por eles, ia• aoa poucos gerando aquela raça de Sértanejoa •ameluooa
q~al Euclydea da Cunha ~ria "a Rocha YiTa da Raça bralileira".
-
:· A.a expreaaoee
. . .

1 i terártaa da Cal tura br~aileira que Yiewoa


.
.
nanei o at.4
. .

aqui - do eéculo XVI at' o XVIII - aão adaptasõea braalleiraa da Caltara t-


·bérica.· Entretanto, no ·campo daa Artea p•áaticaa, o Barroco braaileiro co-
.
Mçaria logo a ae at
. .
de modo. bastante diferente e peculiar, •• o co.-
. .. .
pararmo• com o ib,rico - por aua Tes tão diferente do Barroco do reato da
EUropa, e tao aaia aparentado com o Romanico eapanhol e catalao do qual
- A -

deacende. O que aualiaar &cora, D& -


introduçao deate Capitulo, ·ref
ae .aia l _imitadUlente ao No~eatea Yale por'• para o Braail todo. Porque
quando eu talo, por exemplo, no• Sertanejo• •a.elaco1, tenho ae•pre •• Yie-
ta a adYertência de Euclyde• da Cuaba para que• oa Sertanejo• nordeatino•
era~~
• •

"
a ••••a Raça, apurad·a e fortalecida ·por coDJliçoe• aata aaperaa, do• -
. •

Sertaniata•. que partir~ de são Paulo já cruaadoa coa Malberea indfceaaa


.

t, pcwoando o Sertão dat~ J.fina•-Gerai•,


-
•abir• para ·o Sertao da ta, de

Penuabaco, da _P arafba, do Ceará ou do Piauf.


Poi• beaa •e ·comparanao• a ..-quite~ura, a E•caltura • a Pintura bra•i-
.ltiraa do •'calo XVIII 0011 a p 081 ta e a Proaa nu conteliporâaeaa, Ter•o•
...

que, Daa Arte• pl&•tica•, a garra br..ileira j' ••t' ..tto . .ta pr••••te.
Poet,u
A que 18
deye 1110
? A • • yer, ao fato de que 01 _no••~• prosador•• •

~rooo1 do •4calo J11II er.. ~oalto•". • _•ai• rlcoa, eaquanto que ••


"'• l•oal,oroe t Moetroe-do-Obr&l .,.. "ilaor..t.e• o pertoaooatoe la · ~
d.- aaia pobree do PoToa Dd
apre i~ a trabalhar •• aaaa reapectiYaa Arte•
coa mestre• conTenciouaie e quaee ..
. •pre ••• força, aaia rococóa do qae
barroco• - Jeauit~• e Franciaoanoa .
· ~ · que' apeaar de Padre a, tas i . . a.a Art.e
que aomente pelo aangue ib,rico •• aalY d ·
a-..a • aeguir oa cuillhoa do Barro
co italiano, francêa ou &Uitríaco, t ... · d t -
ao i ereatea dOIIDOIIOe baia, DOII08
Pintorea, eacultorea e entalhadore• ·do .• 'culo lVIII tent torpe•ente
imitar aeua Me1tree. Felizmente não o conaegat.. e ter.ina... por esced'-

loa, criando aqui noTa Arte brasileira, co. caracter{aticaa orlei ia,
.
esat~ente. por ter eido •ergulhada no aangue popalar e recebido, aa•bl, •


gume e a enercia que eram bem menoa acer'adoa •• aeua aodeloa.
~ por ia~o que, naquele meamo aéculo XVIII, e~quanto a Poeaia e a pr~
.
aa aomente aqui e ali exGgera e excerba o ib,rico no Castanho braaileiro,
nossa Arquitetura aparece ·com Yermelhoa quentea, loa-ouro, de asul

iiolento e áaperoa arenitos eaculpidoa. UniDdo, j&, oa el toa aaia di-


• •

ferentea ·e contrários - oa mai• ardentemente religioaoa, por · lado, aoa


~ia
.
aelYagemente -
J»~Lg&oa, por outro. Aqu·i, aobri nte clá••icaJ cabriolas_ ,
do ali, ~a feata dionisíaca, em foz·maa .alucinadas de gárgulaa • cari,ti-
dea, com lereiaa entremeadaa por folhagena coleantea, lianaa e paraaitaa,
adornGndo, pagã e eatraohUI~nte, fachadas de igreja• iacJ•aat.adaa de pedra

oa de cerâmica.

gaanto à Pintura e à Eacultura, · ocorre coi8a aemelhante. Se olh...-oa-


coa olho• -
capazea de yer- a . Igreja da Conceiçao doa Uilitarea, do Recife,
Yeremoa que 001 aeua púÍpito• e ·altarea eaculpidoa e ·entalhado• •• -.del-
ra, existem alguma• cariáti~··· c011 rosto• •~•t.içoa de ib,rico • {Ddio.No
paintl do forro da ·naY8, . há u•a No•••. Senhora b8l{aai•a, de grandea olho•,

·t e
euol'vida por uma I erpen e • •aaa de anjo•
.
- a Mulher Veatida de Sol. O
painel é pin 0
em ton·a quente• de yenaelbo, pardo ~ nrde-lodo~ u• Yerde

que eombreiG oe grGnde• olho• dá Virg.. , impluat.ado• roet.o qae •• OT~a


dando-lhe ..a expre•aão eatr , tacldla
• •• afina d·e repente no que i so,

·. I• é o painel do torro qae •erYe de


t _en~ática. O mai• t•portante, por ' .
. 1 11111 para c..-•orar à Batalha doa Oaara-
Piao ao coro, piatado ao ••cu10 .. .
. bolaad•••• •··· al•l• ·• t•rlor• A plat.v&t
Pt•, .pelo• Br&lileiro• •••
• • 131 •
do País e da Tida de aeu Poyo Por
• exemploa
de a1guna roaaDcea, at.r·~e-•
...
tentou . aer o intérprete da Tida urbana braaileira do
. aeu t.eapo, atraYéa
ele outroa, da vida rurál Quant, 0
. . • ao eapaço braaileiro, "O Gaúcho" cobre
o Rio Grande do Sul, "O Tronco do IpeA" u r· ~
. •a aseuua do vale do Paraíba,Do
Estado do Ri~; "A. Minas de Prata" n~ Bahia, ·"A Guerra doa llaacat.ea" ea
Pernambuco e "0 Sertanejo"
. no Ceará - Do . ser•=o
~..
ce areDae,para aer aaia e
-
sat.o . Do ponto de Ti ata do tem~o, "O Guarani" .tem na ação aituada no fi•
elo aéculo XVI para o começo do XVII', "Aa Min•a de Pra•· n
paaaa-•• -
aeca
o .~a DO
-
lo XVII, tendo como peraonagem, aliáa, Doa Diogo de Variz, filho de Do.

AntÔnio de lfariz e personagem, também, do romance anterior - o que deaoDa


-
tra como José de Alencar eataTa ·consciente do caráter épico de al que . .
. - .
.
' .

aua. obra e atava aaaumindo em re laçao · ao Brft.ail 1 ·"O Sertanejo" tea aua h ia
.

. . ~ .

.
. .' ' ' - ' . '
. . ' '

tório. . colocada. DO . aéculo XVIII' ·. ••o ' 'Tronco cio 'IP'" e ntroa DO •'culo nx,
' ' • '
' . I '

'

de modo que o• quatro aéculoa de Biatóri..;


' . ·bruileira
.
que Al•ncar encontroa
- presente• .

'
• •
' .
eatao no aeu trabalho.
.. .

Se ac o• traçoa,aa•madoa por ele, da biografia de Do• htônio

de Mariz, Temo• imediatamente que ••••• traço• aegue• a própria ro.-.açao -


histórica e cultural do Braail, Dis Joaé de Jle~car, logo no Capí\ulo II

de "O Guarani", depoi• de ter deacr'ito a Cn.aa do Paquequera


'

"A habitação que deacreTemoa pertencia a Dom Antônio de Mariz, tida!


go portuguêa de cota d • arma• e u• doa ft~ndn.dorea da cidade do Rio

de Janeiro. Era doa cavalheiros que maia ·ae baTi~ diatinguido


guerra• de conquiata,contra a -
inTaaao doa franceaea e oa ataque•
.

,..._ 11r.6T acompuhou }fe• de Sá ao Rio de Janeiro e,de


do. •• 1Tagena. ~ u . -

poia da Titória alcançada pelos portugueaea, auxiliou o goTerDador


.
no• trabalho• da fundação da cidade e
-
conaolidaçao do do.ínio de PoL
. --
tugal neaaa· capitauia. Fez parte •• 1678 da o'leb~e expedlçao do~·
Antônio de Salema contra o• franceae•, que haTiGm e•tabelecido uaa
•••. fazer•• o contrabando de pau-bra•il.S.~
· feitoria em Cabo Frio P... ••
~ o de prcwedor da real taaeDda, e depola da
Yiu por eate _._.o ~••P .
· JaaeiroJ •o•trou •t.pre •••••• ..pr•1•• • ..lo
altâadeca d~ Rio de
130
cujo tom predominante
' o caatanho-aTermelhado - e que por iaao parece
maia sertaneja do que da z d
ona a Mata • reúne,
uaidade 'pica Gd•irá~l,
o maia forte ~arroco brasileiro a 1
· ' e ementoa popalarea e priaitiYoa, rea-
lizando, por iaao, oa aaia inesperad .
oa r~encoatroa,para que• a olha .de
uma perspectiTa já do século XX - poi
•,.ea certoa trechoa, o noaao pai-
nel evoca o quadro
tal que Rouaaaau, o Jduaneiro, pintou aobre o•
desastres da Guerra.

. Entretanto, DO século nx., a ··itua,ça-o -ai i


• •• nYerter - talYez por caa
. -
aa da influência, nas Artea pláaticaa, da Mi~aão Francesa YiDda para c'
-
a chamado de Dom Joao VI. E aí que surgem a pintura· de Pedro. Américo, aca-
dêmico e italianizante, e, noutro Campo,
--
·•u i ca d e car 1 os Gomea. Enqu
to iaao, na Literatura, a garra brasileira •• aTa e acastanhaYa - 0

que ae · deTeu a itaa circunatânciaa que vaaoa r• ir atraYéa: doa noaea


de José de . Alencar e SylYio Romero- eate t6Ddo por tráa de ai o


tíaaimo MoYimento que foi a Escola do Recife.


No ensaio que eacreTeu como intro4uçao a - -
ediçao recente de "0 Gua-
rani", o crítico e profeaaor de Literatura João Alexandre Barboaa .eacren
.

que Joaé de Alencar foi "u• fundad.o r", títu~o de glória que baata a qual-

quer escritor, a qualquer · Poeta - ·e·Alencar foi Poeta,


. -
nao a6 pelo aopro
épico que está por trás de auaa ob~aa •n.iore•,. como no sentido •• que ae
.
.

diz que Cer~ante• foi o Poeta nacional da Ea • Maa creio que, quaado
. .

JoÃo Alexandre Barbosa dizia iaao, · pensaYa no. campo uia .. geral · • uplo da

.

Cultura braaileira, .da qual Joaé de Alencar foi, ••• dúYida, doa tunda-

dorea.maia importante•• Maa no campo específico que era o aeu- o do B~­


ance e da Nonla épica - ele não foi apenaa 1111 doa fuadadorea - foi, ~e
tato, o Fundador. (João ·A lexandre Barbosa, "Leitura ·de Jo•' de Alencar",

ft.
.
"O Guarani" t . Editora .üica, São Paulo, 19'16, PC• 8) •
2. - Iadiaui e Sebaat.ianiao.

A de Joaé de Alencar co.o conjunto Ter•••• que ele


Se esamion.r•o• a Obru
1 tanto qu.u to po••!Yel o011pleto da
Prtteodea realizar, · co• ela, . . mura .,
.
.., • t ..béa eaquaato •••• tet.al
Cultura bra•ileira, enquaato t

132.
pel~ repúblic~ e a sua dedicação ao rei.
Ro.ea de valor, esperi..~
tado na guerra, ativo, afeito a combater oa indioa
, preatou gran -
des serviços na~ descobertas e -
exp 1oraçoea do interior de Minaa e
Espírito Santo. Em recompensa do 8 .. . •
· eu •erec&mento, o goTernador Mea
de Sá lhe baTia dBdo uma sesmaria de
légua. coa fuDd o a obre ·o
-
sertao, a qual,depoia de haver explorado, deixou·por muito teapo
deToluta". (José de Alencar ' "0 Guar~ni" , L·1Trar1a
· Progreaao ..... it
. .
~ o -
ra, Salvador, Bahia, 1954, 11 Volume, .Pgs. '1/s)·.
guer dizer1 Dom Antônio de Mariz é a pr~pri~ figuraç~o do Ibérico que
ae torna aoa poucoa Brasileiro, no •'culo XVI. Casa-ae com lfulher já bra-
aileira, a pauliata Dona Lauriana. Tem trêa filhos, doa quaja duaa aão
lb~rea, Ceci e Iaabel, e o outro é -
'YBrao, .
CLquele DO. Diogo de Mariz que
.

reaparece em "Aa Yinaa de Prata". Ceci é filha legítima, de Dona Lauriana• •

Isabel é mameluca e bastarda, filha :de uma Í~ia. No capítulo aignificati-



vaanente intitulado "Loura e Morena"; Alencar no a diz que Ceci tinha "gru-
dea olhos azuia", "tez alTa e pura", ·"lábios lboa e úmidoa" e "lGngoa

cabelos louro•"· QÚanto a Isabel,


.
"era um tipo inteirBID8nte diferente do de Cecília; era o tipo bra-

aileiro em toda a sua graça e formosura; . com o encantodor . contr~


• •
! . . • o • '
...
. ' I •

._ te de languidez e malícia, de indolência- e YiYacidade. Ga olboa


grandes e negros, o rosto mo~~no e rosado, cabeloa pretoa, lábio•
desdenhosos, sorriso proYocador, do.Y8111 & este rosto· poder de

sedução irreaistíYel". (Ob. cit., pga. 30/31/32).


Na famosa polê•ica que manteYe com José de Alencar, Joaquim Nabuco a-
firma que, com a criaç;o desses doia personagens - Ceci e Isabel - o ro-
•anciata braaileiro quia·, apenas repetir o aeu eterno e canaati'YO contra.! ....;.,..__
nBO ae apercebeu da impor~ância
te d.e heroína• loura• e morenaa. Nabuco

' d d 01· 8 emblemas teaininoa repreaenta'Ya.Iaa-
b~aaileira que o contraate oa

. . . atanha de Ceci a é por iaao que ela, 1.!
bel ê a Yeraão braaileira e ca
, i llyaro de sáj e é por iaao que Ceci, ao~a
Ca e. bra•ileira, 0 iber co A · •

érico 4eaeja ·. inconaoient....nte o Herói aco-


Da ,q~al . pred omiDa o aanp• ib '
133.
breado Feri, que e1n., também • ·
~·r
1Dconacientemente, id en~1 ica com a• Mouro,
homem cn.stanho pertencente a outra Raça~m=ft~s~~---------­
,. pelo qual, por isso •••o, ela
-
1ente atrnçao sexual.

Um outro ponto importante a nssinn.lar é


que, em "O Guarani", o lli to ibé-
rico e brasileiro do Sebastianismo de h
' sempen a um papel importn.nte no deaen
-
~ear da açao. De fato, é a morte de Dom Sebaatião na batalha de Alcáce-•z-
-

Duibir,·· .•• 1578, que leva Dom Antônio de lfcu-iz ao exílio voluntário do Pa-
.

quequer et ·conaequentemente, à aua morte e a todoa que 08 acontecimentos


envolveram sua família. Inclusive, Joaé de Al,ncar faa referência expreaaa
ao fato de que, depois da morte do Rei DoQI Sebastião, Dom Pedro ela Cunha -
~oatrando-se profeticamente consciente .da importância messiânica do Br il

.
-
como verdadeira realizaçao do Iwpério- quia fazer do ·novo País a sede da
Monarquia portuguean.. Diz José de Alencar:

"A. derrota de Alcace~quibir e o domín{o espanhol que se lhe seguiu,


.
vieram modificn.r a Tida de D. Antônio de Mariz. Portuguêa ~· Ulti-
, . •

ga têmpera, tidalgo leal, entendia que esta'a preso ao rei de Por



tugal pelo juramento dn. nobreza, e _que aó a ele devia preito e ..-
nagem. gu~do poia,em 1582, ·foi acl~Bdo no Brasil D. Filipe II c~
.

mo o aucesaor da monarq~ia portuguesa, o Yelho fidalgo embainhou a


espAda e retirou-se do sex·viço. Por alga• tempo esperou a projeta-
da expedição de D. ·P edro da Cunha, que pretendeu transportar ao

Braail _a coroa portuguesa, colocada entÃo sobre a cabeça do aeu 1.!


• •

g{timo herdeiro, D. Antônio, pri~r do Crato. Depois, Tendo que esta


- nao
expediçao - ae reAlizava
.. ••• tomou- oa aeua penates, -
o aeu brasao,

aa auBa armas, 'a aua família, e foi estabelecer-se nn.quela •• ia


sL .
qu• lhe concedera em e G••• · P.;a: Dom
· ·, Jrl Antônio
d · e para aeus companhe!

·a
roa a quem e 1e av1
h imposto a aua
. .fidelidade, eaae
.
-
pedaç~ do sertao

- - to de · Portugal li~e, de sua pátria primit!
nao era aenao um fr~en

Y&J aÍ aÓ ·
ae reconhecia como re1 ao duque de Bragauça, legíti•o h•L

deiro da coroa". (Pc••. 8111 )•


a 0 -~uaão
o au eatabelecida entre o Prior do Crat.o •
I dit{cil decifrar
.
88
134.
0 .Duque de Brngn.nço. é resul tn."te de .
. ' terro hlatórico OQ de um~ fua;o propo
aito.da entre o "Rei popular" aclamn.d -
. , r \ ·-lro pelo populacho português aebaatia-
nista1e o tronco da Mo1;1a.rquia brn.8 ; 1 eir · . . .
. ~ n., da d1nast1a que 1ria estabelecer,
três séculos depois, os f'undn.mentoa.Ad 1 -·
-~ o mperio brasileiro. De qualquer .a
neira, porém, está presente de 8 d
-
e ~ prime iraa páginas de "0 Guarani" e
t

no espírito de seu crin.dor, a im • "'


· por~nncia desse Mito aebastianiata que a
. -
caba de ser estudado com o.dmir&.vel .J ucidez e t ·-
t pene raçao pela portuguesa
f
Dalila L. Pereira da Costa,_ no seu ~ivro "Duas Epopéias daa Américaa"(Lel
-
lo & Irmaos Editores, Porto; 1974). ,:
-

Agora, -
outra observaçn.o import~te n. se fazeri 0 "Sertão" do qual José

d~ Ale~ear fala em "O Guarani·~ é i~eirn.mente diferenté daq~ele descrito


.
por Euclydea da Cunha, por exemplo •.~ ! um Sertão vegetal, Ilba paradisíaca
.

de frut~s e f' ol hagens verdes : é port~nto m'n.i s apto a encá.ntn.r o t idalgo


.

Português, como possibilidade de ~n~uln.mento, _ abrigo materno e edênico.E


. ~

assim -
nao

admira que a _E va loura e Jovem, que é Ceci, termine sentindo a


-
. - -
traçao sexual inconsciente pelo Adaó n.cobrendo
,
desse Jardim e pomar 1 ael-

vagem e agreste mo.s acolhedor,· Peri , Nn.s "Minas de Prata" surgirá o Eldorado •

·o s mitos e emblemo.s mais caracte~ísticos da psicologia do Povo braai-


.
• .
leiro su~cedem-se em "O Guarani·''
.
a c® o. passo,. . a . tal. ponto que. é impoaaível . .
. ~
'
'
•' • '

.. .

.

c·~tá-ios todos. V s . limitar-~os ·_ a )1alguna, .. doa mais expreaaivoa. Por e-

xemplo: doa "tótena" a que o Modern_i:~mo brasileiro do aéculo XX fará refe-

rência, José de .·Alenco.r relacionn. expressamente a Onça - que ele chama i.,!

dHerentemente de Onça ou Tigre- e~ Anta., ou Tapir, aos quaia atribui


"

Yalor simbÓlico, ajuntando-lhes na ~~zes - se bem que menos frequentemen-

te, a Cobra, a Serpente, qu.a se sempr; nomen.da como "réptil monatruoao".Pa-


- " , b 1·, d"' ferocid.nde" e o Tapir é "símbolo dn. força"a


ra ~ éle, a Onça e a1m o o "' .. · . ' . --
- de n~sso. terra desde a _parn.aità ~imoaa at'
"gueas conhece o. vegetaçao , .
.1.. einõ ·tulimal · desce do tigre e do ~npir '
o cedro· gigante; quem nu r
. .

1 . f . . •d-~8 e da f4>rça, até 0 lindO beijn.f'lor 8 0 iD88-·


•~mbolos da eroc1 ~
,. passa do maia puro anil ao~ re-
tô dourado; quem .olho. _eate ceu que

· ~. o.s grandes borrascas; quem Yiu, aob


flexoa bronzeado• que o,DuDClBID
. .
136.
a verde pelúcia da relvft,. esmo.l tado.
#
de flores que cobre aa noaaaa
vo.rzeo.s, deslizar mil re· t
p 818 .
. =
que lev~ a morte num átomo de Te-
neno, . compreende 0 que AL '~vftro
,. sent lU
· ( lS
· t o e,
• entenderia que a
. . .
Natureza brasileira era ·ao
_ · · . mesmo tempo o retrato fiel e a explic~
ço.o verdadeiro. do. grn.ndezo. e d · . -
n. un1o.o de contrários de que era fei
ta a alma de Peri). Com efeito, 0 que exprime essa. cBdein. que liga
-
os dois extremos de tudo 0 que constitui a vida? ·Que quer dizer a

f orçn. no ápice do poder o.l in.do. B, r'rn.quezo.


_ com todo 0

seu muDOJ
I

be le zn. e o. -gr_n..ç_o.
- -- sucedendo ftos
,.. d '
rn.mn.s terr1veis e aos monstros re
• -
pulsivos; a morte horrível ~ par dn. vido. brilhn.nte"?. (Pg. 178) •
A Serpente ora aparece assim, deslizando sob o. pelúcia dn. relva eamal-

tnda, oro. como Monstro aquático que moro. no. raiz de uma Rocha aubmers~ noa

Rios e .riachos, oro. assume seu valor integro.l de símbolo, "o Anjo em' face
do Demônio, n. Mulher em face da Serpente". Qs mitos e os emblemn.s, oa aím
' -
bolos e signos característicos da Epopéia surdem, assim, n. cnda paaao. O
-
que nn.o é de n.dmiro.r, pois "0 Guarani", "Iracema" e outros livros de Jo-
, -
se de Alencar sao apenas os fragmentos falbndos, os destroços de gro.n-

de poema épico que ele sonhou escrever, ·"Os Filho.s de Tup~" e do qual d.!.

·sistiu depois • .
Mas é preciso concluir e, para isso, digo que é necessário notar e re-

.

petir que, pa.ra Cecília - brasileira ainda meio-ib~rica e loura - o tndio


. .

• #1ft# • •

acobreAdo é uma espécie de nova versao do que os Mouros foram po.ra as Mu-
. .
'

lheres ibéricas na. Península, isto é·, ·uma poaaibilidBde de "acaatanhamen-


- . .
.
to" pela uniBo sexual. Desejando-o incon~cientemente, Ceci pede a Peri que
. . . .

·ae batize e 0
Indio o. princípio recusa. Ela zanga-se, tro.ncn.-se no quarto,
. . .. .
'

pega uma Viola


ibérico. e canta uma xácara na qual revela o que, de fato,
'

aignifica par·a ela 0 Herói edênico e acobreado do Brasil:


· Ceci vai te ensinar a conhecer o Senhor
"-. Olha, continuou a ·men1na;
m e ler bonitas histórias. Quando aouberea ··
do céu, e a rezar tBmbé
, -~
elo. bordará um manto de seda para ti; teraa uma eap~a,
.
tudo isto,
e uma cruz no
.peito. s.111'•)
,
· 0 1 a a crescerJ a flor precisa de agua para
- A planta pre·c iao. de • P r
abrir; Peri precis~ ·de liberdnde par .
~ 'YlVer •••
Cecília bateu pé em ainftl 0
,. de impaciência.
-
- Nao te zanguea, senhora.

-
-
Nao fazes o que Ceci te pede?.
Pois Ceci nÃo te quer m~is bem1
nem te chcunará mais • -
seu amigo. Vê; ja nao guardo a flor que me
deste.

E a linda menina, machucando a flor que


arrancou dos cabelos,cor-
reu para o seu quarto e bateu t
a por a com violência. O índio vol-
tou pesaroso à sua cabanft. De t
,. repen e .cortou o silêncio da noite •
voz argentina, que cantava uma. antiga xácara portuguesa com •enti
mento e - . : ' -
expressao arrebatodora. Os sons doces de uma guitarra espa
. -
nhola fazi~ o acompanhamento da música. A x~cara . dizia assim:"Foi.
um dia -
. -
lnf'n.nçn.o mour~ deixou alcáçar de prato. e ouro. Montado no

seu corcel, partiu, sem pn.gem, sem anadel. Do castelo à·· barbacã
cbegou, viu formosa
-
castela.
.
Aos pés dnquela a quem nma, jurou ser
fiel à sua dam~. A gentil dona e senhor~ sorriu; aiJ que isent~ ela
- - -

nao fora.-Tu és mouro, eu sou crista - -falou a formosn castela.-You-


ro, tens o meu n.mor;
-
.
cristao,
. .

ser.ís-meu nobre senhor. Sua voz era.


. .

um enco.nto; o olhn.r quebrado pedin.


.
tanto! - Antes de ver-te, senho-
.
. .

rn., fui Rei • sere'i teu escrn.vo o.gora. Por ti, deix.o meu alc&çn.r fi-
.;;.....;;...-.-,._ ' • • a • a 1 r

el' _meus ~n:,ç_os de, O}l_~o. e "d.e n&_c~r; por ti, deixo o p_araís~: meu céu

.
é teu mimoso sorriso. A dona em um doce enleio tirou seu lindo colar
-
..

do seio. E dun.s almas cristÃs, na · cruz, um beijo tor.Dou ir...""maa" •


.
voz (de Ceci) sun.ve e meigo. perdeu~se no silêncio do ermo; o .e co r~

petiu um momento as suas doces modulaçÕes." . (Pgs~ 252-255).


Quanto a Peri, 0 qúe significo. Ceci pn.rn. ele? Nada mais, nnda menos do

que a Iara, .umn. versn.o


- terrestre d n. v·1rgem, da Nossa Senhora luna~,que ele,

filho ~o Sol, pode possuir n.trn.vés dn.queln. Virgem 1


d
"De repente, . entre o dossel e verdurn. que cohria
"'~"
esta cenn., OUTlu-

d
se um grito vibrante e uma pn.ln.vrn. e língua estranha: - Iara!

um vocábulo guarani: 8 ipifica n. senh~ra. ... (Pg. 138) •


,

13'1.
Est~ é ~ primeir~ vez que Cec·1 ~ P . •

ve . erl, este J' aalwando sua vida • . E


ele, -por -
~lusoes
·
indiretas expli
· _ ' ca como ae apaixonou por elo., julgaado-a
umn. versn.o terrestre da Mulh~r Vestidn de Sol
. ~. ,. - que tem a Lun. aob oa péa
e umn. coron. de doze estrelas sobre a c b •
n. eça • . •

"Nn. cn.sn. dn. cruz, no meio do fogo, Peri .t inhB viato a senhora doa
.

bro.ncos; e r o.. n.l vn. como o. filha da lu.a; erf\· belo. como a garça do
'

rio. Tinhn. n. c9r do céu nos olhos·, -'·--~~~~~


.,. ··cor do aol noa cabelos; eata-
. . '

va vestido. de núvens, com um ·cinto de estreln.a e uma pluma de lus

. ·~· A virge~ ~rn.ncn. npn.receu. Era .a senhorn..que Feri tinha visto •••
'

Peri disse: A senhora desceu do céu, porque o. lua,· àua mile, deixou.
Peri, filho ~o Sol, o.compo.nhn.rá o. senhora no. terrn.".(Pgs.l42/143).
De modo que fico. perfeitamente claro que, pelo menos no subconsciente
de José de Alencar, em uo Guarani" os elementos lunares e aolarea da Cul
, .
. -
turn. brasileira começn.m a ser o.trn.1dos um pelo outro, o.nuncin.ndo' u•" tu-
-

sao êo.sto.nba que o Indio.nismo inicia na Ilha vegetal do. l.lo.ta e que aerÁ

consumado. pelo Sertanismo posterior - nn.quele Sertao inaulodo do Nordeate -


para o qual o.os poucos os Brasileiros esto.vam sendo impulaionndoa pelo ou-

tro Mito, o d·n,a l.finas de prata e ouro do Eldorado. ·


.
3 - O Eldorado e o Sertanejo.

Aliás, no romance indianista., José de Alencar já anuncia "Aa l.linaa de


. '

Prata", versão brn.sileiro. do Eldorado. Em "0 Guarani" já Tem tro.nacrito o


"Roteiro verídico e exo.to em que se trata da roto. que tez Robério
.
'
· Dias, 0 pai, em 0 ano da graça de 1587 As paragens de Jo.cobina,on-

de descobriu com O f n-or


••• de 'Deus aa maia ricaa minn.a de prataria

que exiatem no mundo; com a a1amn. de todas n.a


-
indicn.çoea de ao.rcoa,

'al onde demoram aquelas dita• minn.aJ com~
balizas e linho. equ i no 1
C .

. ·.

diÓ. do mártir são Sebaatiao, e terminodo na -
çado em 20 de JR.Delro,
b co• a mercê da ProYidên
primeira domingB de Páscoa em que c egBJDoa -

S :o Salvador". (Pg. 132) •


cio. nesta cidade de o
das ·
allll\& de prat~,
-
encobertaa no Sertao de
Por coincidência, o roteiro
traçado no dia de são Sebaatião, aaato, aártir e He-
Jacobina, · começa a ••r
188.
roi aolnr. De posse desse roteiro é
que ~OID Diogo de ltlaris, depoia da catá,!
trofe que des~roi ~ Casa do Pa ue
q quer, t~rna-ae o peraonage• principal de
I

"As Minaa de Prata". Entret~to,


ia importante do que iaao é o fato de
'

·que o. Sertaaejo Arnaldo Louredo 'é · ...


. . . - a conaumaça.o .llraaileira e cutanba · do
. '
• •
.
lndio apenas acobreado, .Peri. Aa situaçÕes .;0 abaolu paralela• e

repetitivas: Casa do Paquequer, Casa da fàzenda Oiticica; no. Antônio de
Mariz,
-
Capitao-mor Gonçalo Pires Campelo; Ceci, filha do primeiro, Flor,
• .
filha do segundo; Peri, ~ . Índio cor de cobre, apaixonado por deci, Arnaldo,
sertanejo moreno, apaixonado por Dona Flor; e aasi• por diante, de modo que
"0 Sertanejo" é uma consumo.ção e exac.e rbação castanha e brasileira de "0
.
Guarani". Numa das cenas iniciais de "0 Guarani" ~ i

morta por um" imensa Pedra que Tai cair aobre ela, deaprendenclo-ae de maa
... •
...
elevaçao de terro. coberta pela vegetaçao paradisíaca da Mata; numa daa ce-

,.
naa iniciais de "0 Sertanejo'', .Arnaldo aalva l'lor de morrer ·queimada por

. •

um incêndio ateado de repente, com o Fogo devorando .a Caa••aca •••i-árida


... . . •

do Sertao nordestino.
...
V~jftlllos, porém, umo. só comparaçao, que ·aervirá de exemplo pa~a·. todaa.
(

Em t•o Guarani", às voltas com uma Onça que ele 'deseja capturar TiYa para

Ceci, Pe~i é descrito assimz


."Em pé, no meio do espaço que formava a grande ab6bada de ,r.,.orea,

.encoatBdo
. .
a um Telho tronco decepado pelo raio, Tia-ae um 1udio na
~

flor da idade. Uma simples túnicB de algod~o, a que oa indígena. •

cbBmavom aimBr&, apertnda A cintura por uma faixa de penas eacarl~ :-


. ombros ·a té ao -meio dB perna, e deaenhaTa o talhe
tes, caía-lhe dos
mo um J·unco selvagem. Sobre a alTUra diátana do
delgado e es be lt o Co
- pele cor. de cobre brilhava com reflex.oa dourado•• oa
algodao, a sua .
ios exteriorea erguidos para a ftente; 'P.!
olhos grandes com os can
"' . . tiln.nte J a boca forte aaa bea aodelGda • P"!.
pila negra, mob1 1 ' ClD
davam ao roato pouco oTal a beltsa iacal~
necida de dentes a 1yoa, · ·
. . da i~teligênoia. TiDha a cabeça cingida por ..a
da craç~,
da torça • .
· ;. prea4iaa do lado eaqu...lo daaa pl.... _,,_
ti~a de couro, à qual
131.
zadaa, que descrevendo 1llla lo .
· aga f 8 Piral, Yillh.. roçar co• aa poa
taa negras o peacoço flex{y•I. -
. · ~ Erf de alta eatafluraJ tliDha u ~~ao•
del1cndaa; a perna ~il 8 ·
-~ D4t~oa._ ornnda COII uma uorca de trato•
amareloa, apoiaTa-ae sobre um é · ,
· P ,-queno, •• fi .... no andar e Te-
loz na corrida. SeguraTa o arco ~
e~ ae flecha• com.a -.o .direita cal
da, e . com a esquerda mantinha .,. f.i . ~ -
. .. . ·. r,
e calm~nte d1ante de ai 1oaao u•
forcft4o de pau enegrecido pelo ro•o. Per.~o dele
- .
chao ·uma claTina tauxiad
"' .,
·
eataTa atirada ao
· . a, uma pe'uena bolaa de couro que .deTia ·
,_ , I I .

conter waniçoea e uma ri t e


' . . ca aca ~lamenga, PQjo uao foi depoi1
• •

.P roibido em Portugal e no Brasil. ~Nease instante erguia a cabeça


e fit"Ta os olhos- numa a eb e ,d e r.o Ih aa que ae eleTaf'a a Tinte pu-
1
soa de distância, e ee agit&Ta im,erceptiTelmente. Ali, por entre
'
a folhagem, distinguiam-se aa/ ond~laçÕea felinaa de u• dorao ae-

gro, brilhante, marchetado de par4GJ àa Tezea Tia~~-ae brilhar aa


aombra doia ráioa TÍtreoa e pálid~, que ae..lhaT.. oa reflexo•


.... '!
de alguma criatalizaçao· de rocha, rerida pela, lus do •ol. Ira ua
onça enorme". (Pga. 22/23). a
. ....
Seria intereaaaute cotejar eata deacr~ao com outraa aemelhantea do
. .
"Caramu.ru", de "0 Uraguai" ou do poema "~Sonho", de Al.Tarellia Peixoto •
.
S_obretud·o com ~ e ate último, poia Per i, co• um CaTaleiro iblrico, ·t,taha
. t
. .

a1 auae ,corea, dada• por Ceci, aua da•a1 •zul e braaco, ~· core• de No•-
aa Senhora. Aaaim, -
a deacriçao de Joaé deAAleúcar '
?e• •• linha reta do

Indianiamo braaileiro do aéculo. XVIII. lfaia intereaaante, poréa, é Yer a.-


• •
deacÉ.ição d.o Vaqueiro aertanejo no qual Plri •• coan• e exacerba aob a.
t ·Já muito •aia Terdndeir nte braaiJeiraa
.

~0 C&Taro cardão,que ele •ont&T&t pairecia COapreeudê-lo 8 ausili,-10

nà empreaaf não era preciso que a. ~dea lhe iudicaaae o ca•1Dho1 O


.
inteligente ani ••bi•
w •
qun.ndo ae ~eTia meter
.
.ai• pelo •ato, •

qUando ~odia ••• receio apro:dmar-b do c•boio. Wan por entre


~- .
.ai .....-oJ'ea de
. l"'reza adairáYel f .... quebrar 08 galhol ae• rua-
com " ,· .
lbar. o a"oredo. fiall• o oaYalo u \»ort.e alt.o • ltDIIa ••.,..,.....
.... 140•
~eaaa pcaaiao, al'• da fculi
ga da ~nga Yiage• que deYia e•acrecê-
1o, aqbretudo por uma seca t ....o ri . .
_ · . I' ~roaa, o &Di•al MO coDhe-
~ia que nao era ocasi~o de
enteitv-ae, rifar e dar •oatraa de .aa
'"
galhardia. De feito tinha maia o ...
. ~peoto de grande cao •ontado I

por aeu aenhor, do que de


core~. Era 0 Yiajante •oço de Yinte
e um anos, de estatura re 1 ·,
· gu ar, fie!l' e delgado de talhe. So•bre
Ta-lhe ~ o rosto, queimado pelo 0 1 ·.
. . • _ .• . '~ um .buço ne ...::.,_· c011o oa compridoa
cabeloa que anelaTo•-ae 1 · . ·
. . pe o peaco~o •. Seus olhos, ra8gados e YÍYi-
doa (e que Joaé de Alencar l · ·d.. · ·· · · ·
. . . . ' ogo _,.poi~, esc1àre_c~ que erRJD "fero•
olhos :oegros)·, dardejaTam n;a ~Yeem~c-iaa
· t . .
i
um coraç~o ndomaYel •••
·
,.,,. .
de ·· · . . .
.

~eaaea ,: agachoa de caç~or a 41agueita~-ae pelo aa~o, percebia-se •


.
.. . .

llexibtlidade do t que roja ~ra


,..
. arremeaa~r o bote.Veatia o
. . . . . .

moço 11~ trajo completo de . couro ·detfYe~o," curtid~ A fetçã~ de. oa-
• •

murça. Compunha-sé d~ Yéatia e gib~o , com l~Yorea de estampa e bA-o


-
toea de prataJ -
calçoes estreitos, l otaa compridas e chapéu à es-
panhola com uma aba reTirada à bau~a e tamb'• pregada por vw botão
de prata. Ainda hoje eaae trajo pitoresco e tradicional do aertane-
j~, ·e maia eapecialmente do •
vaquei~o, conserva com pouca diferença
-
a · f e iça~ da antiga moda port'u uvlafi pela qual ro
1

talhadas as
# ' A
p.-imeir,a s roupas de couro. Uli te • ja coatumnm faze-las de fei-
tio mod~rno, maa aão tlm o Yalor e~atimação ·daa outraa, cortadaa
.
pelo molde primitiTo. Trazia o aer~ane o euspenaa à cinta, ca-
....
tana larga e curta com bainha do m~mo couro da roupa~ e na garu,.

a maleta de pelego de carneiro, co~uma claTiDa atraTeeaada e
máço de ·relho". (José de Alencar, -
"t Sertanejo", Edit.ora !t.~ca,Sao . .
.
Paulo, 197&, pgs. 15/16).
Sublinbei, de propósito, algumas exprea6Õea, atraTéa du.;quàia, por .en-
tre 0 palaTreodo ideali•ador e romântico, l aaperezá da "oiTllização do

ooaro" j.O oomefA a •urgir 811 Jo•' de l.UeDollr • a aDUDoiar luol,.t .. da C.Dha.
.O ~ v ueiro 8 ertanejb - tu• •••o• .ar1ir ai aa.a eapécie
, ra, • •••• ·meamo aq .. . .. ..

d•.· ~··· : d.
•0 0
· : iL.t•too ·0· ... ·0 Guerreiro !adio - · ••••• plaiaati depoia,·
CaY&le iro .,.. . .,.. . .
J. 1.
passa uma noite inteira dormindo
numn. rede . nd
· ,. ' n.rm a nos g~lhos de u :..1 e1 o•·-
me Jncn.rn.ndn, sem se incom d .
o ar absolutamente
."' do . d com uma Onça que lhe ' n z. c ~: .
panhl u. rm1.n o um pouco m . • -
0.1s nbn.1xo·
. t •
"Recostn.ra-se o serto.nejo
outra ve ' d
. z n. ~e e quo.ndo a. rn.mn.gem cns co.lhou
pert.o e os galhos do jn.cn.randá
estremeceram abn.lftdos por nl ~u ma for-
-
te percussn.o. Arnaldo pôs
a cabe~n.
~
fora d d
a re e, e perscrutando
folhagem descobriu duns t
. ochn.s n.ceso.s no meio das trevas, mns de u
mn. luz baça. e sulfúrea. o -
·. s mn.is intrépidos caça.dores do aert;\o' cu r
tidos pn.ro. todo ·o ~erigo, nno 8~ podem -
exim~r de um súbito nrrepio
quando lhes chamejam no escuro dn mntn
,. esses olhos vidrent os
,. u
c~ jos

lumes gáseos fervilham dentro n'nlmn.


~ ,. H,. ....
n. um quer que sejn de sntn-

n1co na pupila da. onça, como nn. de.todn. a raça felino.; e é por ea-
sn. nfinidn.de que nas antigas lendas o príncipe das trevn.s npnrece
mais frequentemente · sob n. f1·m1rn
b- ~
de 1 t
gn. o negro, mininturn do ti

gre 11 • (O b • c i t. , pg. 3 3 ) •
1m
-
Logo depois, Arnaldo n.pn.rece diante ·de Dona Flor, arrastando uc a •
I . 1
,.., n
~ ,. ,

assim como Peri n.rrn.stn.ra a suo. paro. perto de Ceci, ocn.sino que Al encAr a-

prove i tn. para d n.r uma descrição do "tigre brasileiro" mo.ia ou meu o~ .s e ma-

lhnnte Õ. de Frei Vicente do Sa.lvndor· e à dos ."Diálogos das Grn.ndezas do


Brasil" (Pg. 57).
-
4. - O Sertn.o como Unidade de Contrnri oa.
Entretanto, o que me parece mais importante de tudo é que, pBra J csé de
. .
Alencar, o SertBo integra dentro de ai - como uma espécie de terra insula-

da. - umn Cn.stela semi-deséttico. e uma. Ilhn. edênico. e vegeta.!, com aun f a.ce

dupla. de Sert~o de inverno e Sert;o nn. seca, tema repetido depois, n.lina,

por Euclydea dn Cunha e pelo Romanceiro Popular do Nordeste. -


~ a veran.o

·nova. e braaileira da velha duo.lidnde ·semítica e judaica- Deserto a. aer


,..,
atravessado e Cn.nao. pnradis1o.Co. como
, .
,..
prem1o.
-
Quando José de Alencar descreve o Sertao na aeca, ele aparece como ch~

pBda desértica,
.-
insulada no meio da vastidao e, por iaao mesmo, np tn

produzir aquele profetismo e IDeaaianismo religioso e político que, J ~ t1 oia,

Euol yde• da Cunha n.mpl iBrÁ e aprofundará. llaa qualquer peaaoa que ~e de-
142.
tiver numa leitura atenta do trecho ·que
paaao B citBr há de ver que ~ proa~
de José de Alenc~r marcou .fortemente
N
a de Euclydes da Cunha em su~s uescri-
çoes do. Caatinga sertaneja:

"A chn.pl\do. que os v· ·


laJo.ntes o.tr~veasavo.m· neste momento, tinha o nspec
to desolndo e prof d
un o.mente triste que tomft~ ftquelfts regioes
-
-
no tem
po dn. seco.• Nessa , - 'IIIMI "'

epoca o sertao p~rece a terra combuata do profeta;


"'

dir-se-in.' que por aí passou o fogo e consum 1·u tod d ,


a a ver ura, que e
o sorriso dos campos e o. galo. das árvores, ou o seu mnnto, como cha-
mo.vam ·poeticamente os indígenn.a. Pela vasto. planura que se estende a

perder de vista, se erriçom os. troncos ermos e nus com ôs esgn.lhos


.
rijos e encn.rquilhndos, que figur~ o vasto oasuário do. antiga flo-
resta. O co.pim, que outrora cobria ·a· superfície da terra de verde al
' -
catifo., roído até n. raiz pelo dente faminto do animal e triturado pe
-
lo. p~ta do gado, fico~ reduzido a uma cinza espessa que o menor bof~
jo do ·: vento_ levanta em nuvens pa.rdace·n tas. O •ol ardentíssimo coa a-
.

través do mormaço da terra abrasado. uns raios baços que vestem de

mortalha lívido. e poenta os esqueletos irBdoa una


após outros como uma lúgubre
. -
procisan.o de
.
mortos.· Apenas ao longe se
.
destaco. n. folhagem de uma oiticicn., de ·um juazeiro ou outra Brvore

vivaz do sert3o, que elevando a sua copa virente por aobre aquela d~

vastação profunda, parece o derradeiro arranco da seiva da terra •-


xausta a remontar ao céu. Estes ares, em outra época povondos de


.

turbilhÕes de pássaros loquazes, cuja brilhante plumagem rutilava

aos raioa do sol, agora ermos e mudos como a terra, -


sao apenas cor-

tn.dos pelo vôo pesado d~s urubus que farejam a carniça.A~ vezea o~

gr ftvetos. são as reses que vagam por esta ao~


ve-se o crepitar dos ,. .
- cair mais longe, qu~imndas pelo. sede abrnsn-
bra de mato, e que vno
·nanidas pela fome. Verdadeiros eapectros,ea-
dora ainda mais do que 1
ftos últimos arqueJ·oa da vida, inapi-
"88 movem aind a ,.
sas cn.rcaçn.s que

.
lendas aertanistaa dos boia encantados, que oa ant!
raram outrora as
143.
gos vaqueiros' deitn.doa ao relent·o
no terreiro da fazenda, contavam
n.os rapazes nn.s noites de lunr. nuem
_ . ~ pela primeira vez percorre o
sertn.o nessa qundra, d~pois de
• longo. aecn., sente confrQ.Dger-se-lhe
o. almo. n.té os últimos refolhos
. em face ·dessn inanição da vida,desse
imenso holocausto dn. terra. E· maia fúnebre do que um cemitério. Na

cidn.de dos mortos as lousas ....


estao . cercn.~n.a por uma vegetação que •
.
-
Vl.

.·çn. e floresce; mo.s aqui a vida abo.ndon~ n. terra, e toda essa regiÕ:o
que se estende por centenas de 1egun.s
~ · nn.o
- · e mais do que o vasto ja- #

zigo de umn. nn.turezn. extinta e o ~epulcro da ·própria crin.ç~o". ("O


. ..
11
Sertanejo , ed. cit., pgs. 13/14).

As semelhanças com Euclydes do. Cunho. sn.ltnm à vista: terrn. combustn. do


.
profetn., pln.nurn. em vez de planície, esgn.lhos rijos e encn.rquilJto.dos,vn.s-
to ossuário, sol ardentíssimo, mortalha lívida e poenta, em vez de poei-

renta, lúgub~e procissão de, ~p~t~s, tudo isto,se nBo prova~insinua que Eu

-
clydes da Cunhn. no mínimo leu muitas vezes - e talvez até. tenho. decorado

ou gravado no seu subconsciente - trechos como esse, ·de José de Alencar,

começando assim n. forjn.r dentro de si os ritmos do. linguagem com a qual


iria erguer n.quele universo estranho, fúnebre, ensolarado, épico e caat!_
'

nho que é o.: Epopéia ou "monstruoso poema. de bruto.lidn.de e 4e .·~o~ça"~como

ele próprio chn.mo.vo. "Os SertÕes" (Cn.rtn. o. Agustin de Vedia., em "Obro. Co,!!-
pleta", Comp(I.Jlhi~ José Aguilnr Editor~, Rio, 1966, Vol. II,pgs •. 695/696).
,
O.l.
Qun.nto o.os "bois · encn.nto.dos" aos quais José de Alencar se refere

de pn.ssn.gem, n.d i a.nte ele transcreve trechos de cn.n.t_ig,a_s, épicn.s sobre


'
.
d ~ · "0 Boi Espácio" e "0 Rabicho
dois desses n.nimn.is sertanejos 1egen o.r1.os,
"b' · meio artificial de "0 Guarn.-
~a Geraldo.". Quer dizer: a xácn.rn. 1 er1ca e , •
,.nho brftsileiro em "0 Sertanejo" e, n.~ mea
ni" tn.mbém se exacerbo. no Cn.st ,. "' -
udos d. e Sylvio Romero ou proceaaoa criadorea
11o tempo, mn.r.cn. e o.nuncin. est
-
de Euclydea do. Cunhn. e Guimnro.es Roso.a
"Vinde ca\ meu Doi Espácio,
,
meu boi preto co.ro.uno.;

por serea .do.s pontn.s liso


~os deitei a unha.
sempre •
Criou-se o meu Bol· Ea PBClO
- .
,._
no sertno das Aroeiras;
comia nos Cipoaia,

malhava nas capoeiras.

Foi este meu Boi Esp&.cio ·


.

um boi corredor de fama•


'
tanto corria no dur.o, .
como na vnrge de ln-n '••~n••

Nunca., temeu a vaqu~iro'

nem a vara de ferrao; -


.
temeu n José de CBstro
. -
montado em seu o.ln.zn.o".

(Pg. 95).

"Espácio" é nome que,


-
no Sertn.o,
.
se dft a um boi com os chifres muito a-
-
bertos, - com ·um espaço ln.rgo entre os doia. Aí, a cln.ssificaçn.o termina co-
.

mo nome próprio do animal legendário, o "Boi Eapó.cio". Já o boi "Rabicho"

tem acrescentado . ao seu o nome de sua dono., Gern.lda:


"Eu fui o liso Rn.bicho,
boi de fama conhecido,
nuncn. houve neste mundo
outro boi t;o destemido.

-
Minha f~n. era tn.o grn.nde
-
que enchia todo o sertao;
vinhBm· de .longe vaqueiros
.
-
pro. me botarem no cbn.o.

On~e anos eu andei


peln.s cn.n.tingn.s fugidof
minha senhora Gern.lda
já me tinha por perdido".
(Pgs~ 109/110).
1~.
No romance sertanejo de José d
. e Alenca~ , n. pega do boi "Dourndo" -
e
sublinhnd~ pelos versos épic d ·
. os o. cantiga "O Rabicho do. Geraldo."' no.
qu~l já se usa um processo muLt
. 1 o Usndo em
"romances" e "folhetos" poate
riores do Rom~ceiro Popular d
o
N
ordeste: 0 11 #
-
eroi - nnimo.l legendário ou
Cangaceiro - é quem conta sun próprl·ft
gesta, ii.s veze 8
~o P~aa~o, porque
Qo

jt\ morreu. E José de Alencar mostra ft . -


,. COD~l cçn.o
íntima de· que eatnvn. poa
suído sobre o carc\ter épico, não só de . -
sua obra c~mo dns n.çÕea do Vaquei-
ro, seu personagem; durn.nte n. pega do.. "D ourt~o"'
... ..:a
uma pessoa vn.i com
po.r~rido -·o Doi ou os heroís~os .dn.queles q~e 0 · · -
. . . pers~guem com personagens
. .
ou .' incidentes nn.rrn.do · c - · ·· · ··
. s por . n.moes em "Os liusí.ndns!' • N~ página 116' por e-
sempl~, . oa ·versos citados como comentário da ft~:0 s=o
,.~,. ,.. 08 aeguinteaa
"2un.l o touro cioso que se ensaio.

pn.ro. n. ermo. pelejo., os cornos tentt\'


.

no tronco de um .cR.rva.lho óu n.lto. fo.in.,

e o nr ferindo, as forças experimento....

Depois, na página. 119, vem o contraponto cômico dos famoaoa veraoa que
dizem "Olá Veloso amigo, aquele outeiro é melhor de descer do que aubir"J
.
e assim por diante.
-
5. - O Sertao como Ilha Edênica.
Como Euelydes dn Cunha fn.rá depois com verdadeira obsessão ·e insistente-
.
mente,- José de Alencar afirma de passn.gem em certn altura:

"A . cn.vn.lgn.da n.trn.vessa a.gorn. uma zonn., onde ·o sertao ainda inculto -
ostento. n riquezn de suo. yó.rin. form.n.çao geológico.". (Pg. 102) •

Mn.s agora choveu, e o Sertão n.ssume sun. ·outrn. face, a pn.radiaí~ca e ed!
. •

nicn., que José de Alencn.r descr.e ve, inclusive fo.zendo referências ao cap1m

mimoso e ao pn.nn.sco, variedades às quais Euclydes da Cunha depois aludirá
-
em "Os Sertoes":

"Era então o. força do inverno. Por tód~ esta vn.sta regin.o, - na qual
-
um mês antes forn. difícil encontrn.r umn. gotn. d'ngun. . n nn.o •


fundo de alguma cn.cimbn., rolam as torrentes impetuoaaa de r1oa
146.
caudais formados em uma noite.
A terra combustft~, onde nao
- se dea-
cobria nem mesmo uma ralz
· seca d .
f. e c~plm, vestia-se de bn.stn.a mea-
ses de mimoso, que · -
a Vlraçn.o. dn. mn.nbà anedin.va como a crinn. de um
corcel. E ern.m · ~ - ·
Jn. tno altn.s n.s relvas do pasto, que inclinn.ndo-ae

descobriam ali as reses ocultas ' . A vegetaçno i~cuboda por muito


tempo desenvolvia-se com tamn.nho n.rrojo,
· que mn.1s

pn.recin. uma ex
-
plosn.o; sentin.m-se os ímpetos dn terra n. n.brolhar .
-
'
essa prodigiosa
vn.riedo.de de plantas que se d 1"sputnvnm
~· ~ o solo, e n.cumuln.vnm-se u-
.

mn.s sobre outras. Ern.m como c.n.scnt na d e verdura
- n. despenhnrem-se
pelos vn.rgedos, confundidas num turbilhão de folhas e flores, e
soçobrn.ndo
-
nn.o só o. terrn., e como n.$ águn.s que n. .inundavn.m. A su~
perfície de cn.da. umn. dessas grandes t lngon.s efêmeras, produzidn.a
'

pelo inverno, tornn.ra.-se um solo fecundo, onde mil plnnta.s . pn.lus


-
tres erg~in.m seus piimpo.nos, formn.nd1o umn. floresta. ~quR.ticA. Oa

c~vo.los em bo.ndos e· os mn.gotes de égun.s, . sol toa peln. · -yárzea, ni-


.,
. .
trin.m alegremente ao n.vistn.r a comitivn., e n. seguiam por algua

tempo rifn.ndo de prn.zer,


.
enqun.nto ,.
o§ poldrinhos curvet.eAvo.m trn.-
-
vessos B. colo. dn.s mo.es. Ao tropel do·s animais . surdirun do.s toucei-

ras de pn.nasco os novilhos e garrotes mansos, que deitavam

correr pelo campo; mas o ·g ado mocwmbeiro esgueirava-se pelAs moi


.
ta.s, e escondia-se manhoso õ. visto. d"os vaqueiros. ":(Joaéi·de.;;,Alen-

CBr!f ... "O ~-~ se~tanejo", ed. cit., pg. 10'2)


Os próprios c.n .ctos _ mando.carus e
-
xiquexlques - que, nn. seca, apArecem

Agresaivnmente isoiooos, trAnsfiguram-se no. . tempo do.a ciguaa: .


"Ma.ia 1 onge o.s touce 1· rfta de cardos exltre lo.çam suo.a ho.at~a .crivo.dn.a
&•

_ _.» ns de 1 indos frut'ós esco.r lates' que atraem


de espinhos e Orn u.u.&•
enxn.me. de colibris". (Pg. 102) •
té seu~ -
silfos, numa veraao sertaneja
Mas essa. Idade de Ouro - que tem a
,,.~
do ~en e • H , · des - completa o pn.raíao vegetal com o can-
do Jn.rd1m das eaper1

tar e a plnma.gem colorida do• páa~aroaa


-
"Nao ern. somente no. ter
147.
. ro., mn.s
tamb! m no espo.ço, que " vida. aopi-
tada durante a maior parte do
n.no ' :. JOrrn.vo.
· agora. com uma energia.
admiráve 1 .. Hn.vin. fest . .
~ nos ares: n.· festn. t
~ sun uoan. da n~turezn..No
meio da orquestra concertado. pelos· cantos
•••
dos so.biáa, das graúnas
. e dn.s. pn.tn.tivo.a' retinin.m os cln.mores
. dns warncunãa, os estriduloa
.

das n.rn.pongn.s, · e os gritos dos tiés e


dn.s arnrns. Agorft... ern. um bn.n
.

do de jnndain.s que atrn.vessnvn. 0


••
-
e~paço grnsno.ndo e ralhnndo,em de
mn.ndn. de outra c n.rnn.u-bn. onde pousn.r. -
Pnssn.va depois a trinn.r
- . I


multidn.o de galos de campina, à cn.ta do milh~l; ou um enxame
de
~ .
xexeus que pousava em um jn.tobá se~o, e cobrindo-lhe os gn.lhoa mor
-
~os e nus de folhn.s' formava .uma. c~pn. artificial com a sua luzidia.
~lumn.gem negra mn.rchetndn. de ouro ,:· púrpura. Aa jaçanns
- esvon.ço.vam
por cimn. dn.s ln.gon.s e pousn.vnm entre os juncos. Os corrupiÕea brin

-
cn.vnm nos galhos da co.jnzeiro. ••• Nada., porém, maia gracioso e ale-

gre do que os periquitos verdes, d' bico branco, do trumnnho de um


beija-flor ••• Na cor, parecem esmer.~ a.ldn.s "ft voftr•, ·
... e no m1mo e gen-
tileza figuram os silfos desses c~pos, que tomo.saem o.quelo. formo.
delicn.dn. paro. escondex:-em-se ao sei~ dns magnólias ailvestrea"(Pga.•

102/103).

Assim, fica demonstrado que José de Alencar já começo. a dizer que o


-
Se:rtn.o - o.o mesmo tempo desértico, grandioso e épico na Seca, belo, grn-
...•
cioso e _fértil quando fecundado pelas chu~as do Inverno- é quem realiza,

de fato, o verdadeiro Brasil, segundo anunciado em "0· Guarani" e, mo.ia


.,
. ~ .

ainda, em "O Sertanejo"; o Brasil como unido.de messiânica e profético. de



t· '

contrários ~"regiÕ:o . remota" e "terra comblista 'do Profeta.. por um lado, e


. ,. .
terra paro.disín.ca, com "auras impregnadas ~ e perfumes agrestes, nas quais
.

o homem comunga. n. seiva. dessa. nn.tureza. poiaa.nte"; a. gra.ndeza. o.uatera. e. a


.

dourado; Céu azul e re-
graça cheia de encantação; Onça feroz e Beijnflor
tlexo bronzeado de tempestade; Ca.cto cheio de espinhos,. ·ma.s ornBdo de fru-
148.

t,os esca.rln.tes; comunidade inauln.da, da qtn.l brotnm Heróis casto.nhos, como

Arnaldo, profetas como o Velho Jó e tipos como Aleixo Mourão, que, como o
Aires Gomes, de "0 Gua.ra.ni ", (pn.rece sn.ído dos "graciosos" do Tentro ibéri-
.
co; Relva. verde de capim mimoso .e pnnn.sco, Cobra coral ou Serpente co.acnvel
que se escondem sob ela.; Ilh~ vegetal e Eldorndo de sol é pedro.s, eaconden-
-
do dentro de si, nn. sun. vo.stidao, n.o mesmo tempo um Roteiro de tesouros •
uma. Legenda. de épicos heroísmos e profecias •


Cn.pítulo VIII

O ESTRANIIO SERTÃO DE CANUDos


Séculos XIX-XX

1. - José de Alencar • Euclydea da Cunha.

Tendo examinado a descri~ão ·


~ que José de Alencnr f d
,. ez e aeu Vn.queiro aer
tanejo, é fundn.mentn.l pn.ra no a ao estudo compn.rct -
- 1" com a que Euclydea da
Cunha faz do seu:

"0 seu aspecto record


"' vn.gwmente, à primeiro. Yiata, O de guerrei-
ro n.ntigo exn.usto da refrega. As vestes são uma armadura. Envolto
. -
no gibao de couto curtido, de bode ou de vn.queta; apertado no cole
te trunbém de couro; calçando as perneiras, de couro curt 1·d ol ainda,
-
muito justn.s, cosidas às pernas e subindo até as virilhas, articula

-
dns em joelheiras de sola; e resguardados os péa e as m~os pelas lu-
vn.s e g~nrdn-pés de pele de veado - é como a forma grosseira de um
campeador medieval desgarrado em nosso tempo. Eato. o.rmadura,porém,de
um veJ•melho pnrdo, como ae foaae de bronze flexível, não tem cinti-
- -
laçoea, nao rebrilho. ferida pelo aol. E fosco. e poerito.. Envolve ao
.

combatente de umo.. batalho.. aem vi tório.• •• ·• A sela da montaria, feita


por ele mesmo, imito.. o lombilho rio~grnnd~nae, mn.a é maia curta e
c~vadn, - -
sem os apetrechos luxuosos daquele. Sao aceasorioa uma manta
de pele de bode, um couro resistente cobrindo as ancaa do animal,~i-

tornia que lhe resguardam o peito, e ns joelheiras apreailhadna '


u

juntas. Este equipamento do homem e do -


cnvn.lo talha-se à feiçao do

meio. Vestidos doutro modo n~o romperiam, incólumes, o.a cnntingna e

os pedregais cortantes. Nada maia monótono e feio, entretanto,do que

esta vestimenta original,de uma só cor - o pnrdo avermelh~o do cou-


ro curtido _ sem umn. variante, sem uma listn sequer diverao.mente co-

1 nna rn.raa enc~isndas em que, aoa


loridn.· Apenas, de longe em onge,
1 b as boro..a fatigaa, aurge uma
deacantes da viola, · o matuto des em ra
l:SO.
novidade - um colete . .
Ylstoso de
pele de gato do mn.to ou de •uçuara-
na, com o pelo moaquendo .
-~--------------­
Tlrndo para f ora, ou uma bromélia rubra e
áln.cre fincn.dn. no cbnp'u de
, couro" • ("Os SertÕes"' 25i ed • 'Li Yrru-ia
Francisco Alves, Rio, 1957
' pg. lOS}.
-
Da descriçno de José d e Al encnr pnrn. estn h.
•• a uma diferença aena{velz a
aspereza sertaneja eatR. mui to maia n.cernda nqu. • t _
1,. a ace otimiatn. da viaao
romÂntica de Alencar foi substituída por
um realismo de certa maneira tão
RDULrgo quanto o pessimismo bn.rroco de Matin.s Aires ",..a t 1
• •aw , a Tez ao con
rio do que imaginava Euclydea da Cunh
a ao começar a.conwe. .r aun. obra o
.• '
universo que foi levantado em "Os SertÕea" não foi forjado a partir de ob-
-
serTaçoes científicas, foi resultado de nma estrnnha e poderosa criação

poético.. Para se compreender bem "Os SertÕes" é preciao ter sempre em ~i•-
ta o ·rato de que esse livro foi o resultado de umn. conversao:
- Eu~lydea da
Cunha saiu do Sul com uma cultura formada pelo Positiviamo"científico" por

um lado, e pela "bela época" por outro - e foi com o ouuilgamn. estranho u-
.
sim formn.do que ele teve que interpretar, recriar e tranafiprar aquela

realidade nova, áspera, pedregosa e bruta, que perturbou e subverteu todoa

os conceitos que ele tinha da Beleza. Saiu de la, como um cruzado da Repú-

blicn., para lutar contra os lfona.rquiatRs"broncos•; bárbaroa e"fanáticoa" de

Antônio Conselheiro - e terminou tomando o lodo deles contra o da aocieda-


.
de urbana que o fo1·mn.ra. E assim por diante, de modo que é de ·tais contra-

diçÕes que surgem .erros de julgBJDento, conceitos opostos que se cho em

página• diferente• etc. JA vezes, sentimos que um certo aspecto da realida-

de aertaneja ou de sua Arte impressionou profundamente o escritor que, no

entanto, movido pelos conceito• estéticos dn. "bela época", reage contra a

impressão e cobre de insultos 0 objeto que a causou. Outra• yeze•, ele re-

Yela eltrn.nha falta de observação e de pesquisa num autor que pretendi- ser

tientífico. No trecho que acabamoa de citar, sente-se perfeit~ente a atra-

ção que a roupa de couro pardo do Vaqueiro exerce aobre aeu eapírito. Maa
o "estetn. dn be ln época" que h lSl.
R.Tia nele b
- re eln.-ae contra a atração ditada
pelo. gênio, e lá vêm os .inaultoa .
- Yeatimenta monótona fei
E , , a, foaca, poen-
ta... nem sequer existe coerência e -
correçBo científica noa
·' · 1
al1BS v1o entoa demn.ia pnr~ ~ aeua ataquea,
"' " suposta se "d
. - renl Rde cientificai ele deaconhece
a re~lidooe do Sertao,do qual partiu ·
. . ""' pn.ra criar o aeu' a ponto de não aaber
que a Onça auçuarnna nn.o p'od ia dar u t
. . ·.. . . m oque "mosqueado" ao gibão pardo do
:yaqu~.i~.. o~ simplesmente porque ~· Suçuarana n;·o ·

. . é .· onça··malbada não ., t&mbé•
•J' •
j • ' I ' ' . ,

parda-avermelhnda como o gibão.

De qualquer mnneira, porém, sentimos nele


umn. audança do ângulo de •
Vl8&0 -
quando compn.rQ.Dlos o uni verso de "Os SertÕes"
com o de "O Sertanejo". !aaa
diferença deve-se na sua maior parte ao 't
.
carn er peculiar e ao gênio de Eu-
clydes da Cunhn.; . mn.s existe algo ma 1·s- e esse a 1go maia '

. . é Sylvio Romero e
a Escola. do Recife.


.
Terei, um
din., que escrever mais detidamente sobre esse MoTimento, tal-
••

vez o maia importante jB havido no campo dn. Cultura brasileira. Por enquan
-
to, aou obrigado a me contentar. com uma análise rápida do aeu papel,o que

farei atravéa de Sylvio Romero e de Clovis Bevilaqua, poia a aimplea tran 8


- . -
eriçao de . n.lgumaa idéias deles é suficiente para aquilatar a torça · e a•pli
-
tude do trabalho que o Movimento inteiro levou a cabo.

CloYia Bevllaqua, por exemplo, no ensaio intitulado "Esboço Sintético do


lfovimento RomiUltico Bro.aileiro", mostra como o Romantiamo foi moTimento

múltiplo, que trazia em si possibilidade• várias, entre aa quaia o naciona-


liamo e o regionalismo - e não só o individualismo. Este, com a tendência

ao aentimentRliamo e à egolatria., seria resultante da faae de decadência,



quBndo ·o "cla•aicismo" acBdêmico,esclerosado e rotineiro j& tinha aido der-

rotado, e 0 espírito de luta e -


renovação doa RomÂntico• nao tinba •aia nada

•• que ae nplico.r. Diz Clóvia Devilo.quo.a


"Depoi• da queda do clasaiciamo, o movimento romântico, qu• era u-a


-
reaçao, agitou-se no ~&cu~. Asaiatiu-ae,
y
então, ao deploráYel fenô-

meno de ugot nto de energi~• em pur~ perda, do diapêndio ••·


talento em bannlidndea C . 152.
, • n.lu-ae na manin. das
elegias, ••• ex~geroa•
se o Indo pessoal da poea·1 b .
· " yron1ana ••• Era o período de decndên-
cia, n. diasoluçBo que c~egn.ra
ao romantismo. De auns ruinn.a brotou
a escola realista ou t
na urn.listã, ainda .tão mal
-
uns, tno invectivnda por outroa e
compreendida por
por alguns tão eX«gerrida". (Cló-
vis Beviló.quo., "Epocas e I d
n ividun.lidndea"- Estudos Litertirioa",lt
.milheiro, Livraria Magalh;\e 8 , Bn.h 1• ",
~ 1895, pg. 22).
Bastaria esse texto pn.ra o.clarnr aa d iferenç,.s -
,. entre a Tiaao romântica,
otimista e nacionalista de José d al
e A encar e a de . Euclydea da Cunha - que

procurn.Ta a todo custo ser realista e naturaliata, inclusive com com-


01
promiasoa positivistas e científicos aem 01 · 1 -
qua1a e e , nao entendia posai-

nl a primeira parte. Clóvis Beviláqua está atento às causas políticaa • ·


'

econômicas do romn.ntis~o _e ·mostra, de paaaagem, como 0 Romantismo poiíti-


.
c~,ligndo a Dom Pedro I e ao movimento da Independência, é uma ·daa cauaaa

do ambiente que resultaria no aparecimento de José de Alencar. Diz elea


"O romantismo político surgira com a efervescência patriótica da iDde
- -
pepdência, dando-nos uma produçao ainda hoje fetichia te adorada
por alguns - a Carta Constitucional outorgada por D. Pedro"{Pg. 38).
Recorde-se que o Mn.nto imperial escolhido por Dom Pedro I e depoia uaa-
do por Dom -
. Pedro li era enfeitBdo propoaitadnmente nao com arminho• euro-

peua, e aim com pn.Eos


'
~e tucn.no: e Dom Pedro I -
nao se cansava de afia·mar
.
que aaaim· o fizera porque desejava identificar sua realeza com a doa Cac.!,
.

que1 índioa. Também n~o devemos esquecer que nos dias imediatos que ae s~
.
guiram ao 7 d~ setembro de 1822, o Braail era um Reino, sendo uma Coroa

real a que encimava o Escudo nacional. Dom Pedro I' porém, mudou o nome P.!
'

ra Império do Braail; a Coroa d~ escudo transformou-se em Imj)e,rta.l. - • tudo

iaao era feito de propósito porque somente a dignidade e u grandeza• dq

Iapério convinh àa dimensÕes continentais do País.


.
b. t de Impe'rl·o índio - Guatimozim, nome prete~a te
Co•o •• Te, o am leD e
A
.
d Dom Pedro I - prepar~#a adairaTel..nte
A
aate.ca, era o pseudônimo JDAçonico e .
0 Bmbiente pnra a o.pnrição ...
. .
' Ja no reinado de Dom Pedro
·.~rge ele com Gonçnlvea Dia a II, do Indianismo.
e toma realmente
corpo com Joaé de Alencar
segundo Clóvis Bevilnqun. po.saà.
a moatrar i · '
"À idéio. de uma poesia or· .
1g1nal brasileiro.
inapirn.ndo-se nos coa-
tumes selvagens
' 0 ind· .
1an1smo fo·
'
' 1 uma de auo.a criaçÕes (de Gonçal
ves Dias). Tnbirn., I-Juco.-Pi . -
-.-...;;..=..::......:..::~r~om~.~~n.' }we l.t o de F o1has ~r
- . Yerdes, lfnro.bá,
ao.o poes1ns que todos
repetem ainda h · ·
OJe... 0 insigne maranhenae
experimentou-se ainda d
no rn.mo., na crítica,
na etnologia ••• o indi

anlsmo a que ele havia dedl"cA~o
"" boa soma de aeua esforços, viu alar-
-
garem-se-lhe os horizontes com o apnreciwento de
José lfartiniano de
Alencar (1829-1877), e com ele mesmo transviou-se
além dn.a .rain.a que lhe haviam traçado as condiçÕes
.
. ' prolongando-ae
hiatóricaa".(Pga.
46/47).

O importante ·é queClóvis Beviláqua,


.
J·a em 1895
, -~· apercebe do i•pulao
nacional que ·era a preocupação funda•ental de José . de Alencar_ 8
não di-
• •
m1nu1 o seu alcance,apesar de consciente do que havia de artificial
falao no Indianismo:

· "Alencar ••• foi a meu ver, e aem desconhecer o. valor de Gonçalvea
.
Dio.a, o vulto ia ~ eminente do romantismo brasileiro ••• Forcejou
quanto possível para possuir-se, para saturar-se do gênio nacional,

bebendo a inspiração de suas obras na índole do nosso povo, ~ que


levou-o algumas vezes a exageros. Seu mn.ior empenho foi favorecer


a - •
asp1raçao, .
engrossar a • -
corrente que marchava para a fundaçao de .

uma literatura nossa.l. Tiverrum esse grande alcance social oa aeua


.
romances, que foram as primeiras aementes do romance verdndeir

· te nacional. Nas suas mãos· o indianismo foi principalmente uma pode-

rosa arma de .combate, não obstante n. falsa -


i~tuiçno que o fez pref~

rir ••• Que importa-nos, a nós, leitores seduz~doa pela magia daa

." .

déscriçÕes ••• que 0 mundo.em que giram Peri, Cecília, lraceaa, Lá-

cia, .Carolina, seja um mundo abaurd~~ impoasÍTel? O encanto •• pro-

longa até o te da leitura e 1Ó no• lembramo• de aferir aquela Y.t


da tantáatica Peta obata realidade que nos circnpda quando, paaaadaa


. . . ... 154
as pr1melras 1mpreaaoea, meditomoa
~obre o drama a que aasiatimo•
como testemunhas mudas
mn.a intereasadn.a". Pga. 47-51).
Assim, apesar da falsidade em que i .
mp 1 lCn.vn., o Indianiamo era um legado

importante que nos, Brasileiros tínhamo b . -
' a o r1gaçn.o de aprofundar, tornan-
do-o mais verdndeiro, maior, com uma garra mais brnaileira e castanha a
' '

acerá-lo. Como seria possível isso? Através de · . # ·

umn ·especie de cruzndn. que


..
convencesse os Brasileiros de que n- 0 ·• · · é '

n. . e ramos mn.is
.
· Ib ri coa puros, nem Afri-
. ·.

canos puros nem tndios puros - mas Mestiço~ ra.cin.is e culturais como ensi-
. J
'

Jmro. jt\ o mestre de Clóvis Bevilaiqua, de Euclydes do. Cunho. e de todos nós,
..
~lvio · ROmero. Os Ibéricos, raço. vencedora no confronto militar, político e
'

econômico hn.vido, já estava maia do que valorizado ante a psicologia nn.cio-

nal; o Indianismo, mesmo idealizn.dor e romBntico, reabilitara o Indígena;


faltaTa reabilitar o Negro - pois quando surgiram o Condoreiriamo libertá-
. •

rio de Tobias Bo.rretto e Castro Alvez, e a própria. Escola do ~ecife, a Ea-


-
cravatura n.indo. nno foro. abolida.

E Clóvis BeTiláqua comenta, a propóaito


de Sylvio Romero:

"Infeliz sino. o. desta raça (a Negra)! Até na literatura a quisera•

tratar como a eterna subordinada., a vil escrn.vn. de todos oa tempoa,

que não devia ser . levn.do. em oontn.. Só depois doa erudi toa estudo•

de
'

Celso de Magalhães e Syivio Romero é que começou a ser conside-

rado esse fator do. nossa civilização ••• Assim, fica eata.belecido
- e~
que o brnsi 1eiro nao 0 índio, como se nfigurou
. a muita gente,ne•

o portuguea, como qu1s insinuar uma reaçno inconsciente partida de


· A •

da combina
além-mar e largamente eaprn.i.n.da. a.qui. !,sim,a resultante - •

-
çao des.s ea trêa fatore•• • ~~'iOb.cit~ '·pga. 29/30) •
. Recife ruitecipo.-se' de certo. fora,a, a Euclyclea da Cu-
Assim,. a Escola do
este e o. Monteiro
A Lobato, ali&a, porque Eu-
llhB e a Gilberto Freyre. Maia ...
~'~eluco aertanejo e castanho, enquanto Kon-
Clyde• da Cunha vo.l ori zo. mn.ia O Jn
Gilberto Freye centraliza a Cultura bra•i-
teiro Lobato prefere o lfulo.to, •
espírito luso-tropical ao qual Sengbor a-
letra no Portuguêa e no Negro, no
lude significativamente, ai t, t. 155
n e izn.ndo-o na r- .
.· · . ormuln. genin.l .de Lua i tn.nidnde e
Negritude (Léopold Sédnr Senghor ·
· · _, ' "Lua
,
i tanidnde N
e egritude", Editóra Nova
Fronteiro., Rio, 1975). ·.

Aliás, Sylvio Romero não se 1


imitou a : conaiderar como Brasileiro típico
~uele resultante do
cruzn.mento dn.a três . rn. .. . .- .
· . . çn.s' lato e' o Mestiço purtUDen-
te · raclal. Dó. grande importâncin. t
a es e, . tan~o assim que Clóvis Bevi13qua,
comentando suas idéias, diz:
I .

"Umn. de suas n.f 1rmaçoes


• - mn.is. importantes,
porque é o pedestal em que
se assenta o método dom·1 t
nan e em toda a obra ·(a "História da Lite-
ratura Brasileira.", de Sylvio Romero) e"'
a relativa a noaaa consti-
-

tuiçao étnica. A nação brasileira não e' um t od o homogêneo, uma raça

distinta, um grupo étnico original; possui, entretanto, elemento~


que devem conduzi-la naturalmente a esse resultn.do. Para confiz·wru-

sua. crença, recorre Sylvio Romero à nossa formagâo histórica e A

nossa · geografia. Nós somos o amálgnmn. de três· raças diversas: - n.


· n.rin.na. (principalmente portugueses), a negra (bantus) e a MJerica-
.

nn. (guarn.nis)". (l'lpocn.s e Individual idades" ,ed. cit. ,pgs.l31/132). I

· lfas Sylvio Romero está perfeitn.mente consciente de que o fator .cultural


'
é mui to mais importn.nte ~o que o r ã_c ial, tanto assim que o.t
"Quando a.fo.lo no mestiço nÃo quero me referir somente ao mestiço fi-
. siológico ••• Refiro-me n. todos os filhos da Colônia, todos oa crio~

los, que 0 eram num sentido lato; porquanto ainda que nascessem de
rn.çn.a puras, 0 er~ em sentido moral ••• Sabiam n.s lendas do _Caipora;

· do Sn.ci-Cererê, da Io.rn., do Zumbi". ~ (sylvio Romero, "História da Li-


.

tern.turn. . Brasileiro.".' 5 ~ ed., Livraria José Olympio, Rio, 1953, Tomo

II, pg. 413).

Isto nn. ÇQlÔnia, isto e ', nos se"'culos ·XVI, XVII e XVIII. Com o correr.do
e cndn. vez maia para o cn.sta.nho,
tempo', o. mestiçagem brn.sileirn. encami nh n.vn.~s
'
de. modo que Clóvis Bevilliqua: escreve: .
~ , o mestiço das três rn.ças fusionadaa nes-
"0 genuíno bro.sile1ro, que e .
. . . d 1 distibto e que Yai · pouco a pouco indi- ,
te pedaço do mundo, mn.s e o.~ ·
vidualizando seu tipo, r 156.
. icar& dominando na

luta pelB Tida, como o
•ai• apto para d'àenvolver-a~ nest .
· . "'· e me 1 o • •


cosm1co, porque nele gerou-
se, recebendo de seus i1niorea,
p.or hereditariedade, a nptidno
amoldnr-se nossfts na
,. cond"lÇOea
-
existe 1318
· · -

~c • Teremos entno nma Tida


nt~l completnmente
independente como .• t .
, · Ja emoa a nossa autonomia
políiica ••• Os primeiros rudiment d
· .os e nossa nutononria intelectual
Ter, pequenos, obscuros, mas viá~wia· e.promissiToa de

opulências~. (Ob. cit., pga. 133/Í34).

Q ~lcance do pensamento de Sylvio Romero e· -


tao ~ande que recenteaente
foi aintetizado assim por José Paulo Pnea:
-
"Sylvio Romero nao se
.

contentou com ordennr cronologica=ente autores

e estimBr-lhea os méritos em função de critérios ret6ricoa ou de "bo•

gosto". Foi além: procurou, dentro de nma orientaç;o confessadruente

nacionaliatn, fil 11.ar .um conceito orgânico da litertltura brasileira,


-

que ele concebia co:no a expressao diferencial do "gênio, do carÁter,


,•
do espírito" de nosso poyo. Antecipando-se a Gilberto Fre)re, Sylvio

Romero considerava tal carÁter próprio como resultado daquele procea-

ao de "mestiçamento moral" por cujo intera~dio lográramos amalga•ar,

un-a cultura nacional, o contributo negro, europeu e indígena ••• Fá-

-lo dentro dos esquemas déte1·ainistas de Taine e Bckle, •aa a ob~e-

decer-lbes ortodoxamente, e superando-os inclusive »3 medida que,


com minimi zn.r o dete1"tiin1amo. ~~·
geogr'" 1co oftu. rftc1·ft1
- - ' cuida de eatabéle
_

ce r - 8 ão 80 na próprias palavras , - -
~n:.::s:....!r..:e:..:l:.:.:a~ç;:.:o~e:..:s::.....:d::.;:e;....;n;.;;o;..;;;s;..;s;..a;...._v..;;i_d_"_i_n_t_e-_.

lectual com a história ~olítica, social e econômica da nnç;o".(Em


I •

,
"Pequeno Dicionario d e L1·teratura
- Brasileira", org. e dirigido
. por

José Paul o Po.es e 1fassaud ..'fo 1• 8 e"'a, Editora Cultrix, São Paulo,l967,

pga. 219/220).
- --~ essas afil·mn.çÕea' ofuscar o brilho do
Esclareço que nao preteuuo, co•
11eatre"mngnificante, potente, fe~
lraDde é a cri tor que é Gilberto Freyre' •

já me cbnmou. Principalgente porque e•-


dante, irradiante" como ele ·mesmo
tou de inteiro acordo coa a
. -
afirmaçao do
próprio Gilberto Freyre, qunndo,fa-
157.
lnndo sobre as influências que re b
. ce eu de Sylvio Romero e outros diz:
"Nunca me senti runesquinhn.do pela . . _
lD&lnuaçao de ter me inspirado pa
ra isto em Boas ou em Walter Pnter -
pn.rn. aquilo em # •

! possível que ' •


S1lvio Romero •••

-
possam ser identificadas t-
' a e, taia inapiraçoea - ou
auges toes • Mn.s cn.da uma delas terá sofrido uma tal
gilbertiza.ção
que - modéstia à parte a "dé · -
- 1 1n. ou n. augestao ou a. informn.çno alhiia
que continha nasceu de novo. Gilbertizou-se". ("A Propósito de
Intlu-
ênciaa", Diário de . Pernrunbuco, Recife, 13 de julho de 1975 ).
-
NG.o posso concordar é quando ele acusa Eucl~es dft Cunh d
JW M a e aer racista,
por ter valorizado o Sertanejo como o Brasileiro maia autêntico. Quando Eu-

cl~ea dn. Cunha fnz -


isso nno é negando que exista sangue negro no Sertanejo,

nem dando mostrar de uma secreta hostilidade contra o·a Negros. Ele diz que,

no Sertanejo, n "mescla de sangue africano" foi men'ol' do que a d~ índio,


..

mas n;o que ela ní\o exista ("Os SertÕes", ed. cit., pg 89). Assim, o

que

Euclydes da Cunho. valoriza . no


-
Sertanejo nao
,
e nenhum "arianismo" ou "iodia-

· nismo", mas sim o começo da esta.bil idnde no co.stn.nho e.. ~o . pardo, ~ue é para

. . . ...
onde rios · ·impele aquilo que Clóvis Beviláqua chcunava de fuaao, ou fuaionnme.!!.

to e amó.lgama, das três raças.

3. - Euclydes do. Cunha e Gilberto Freyre.

Já afirmei, antes, que Euclydea da Cunha era. contraditório - o que -


n~o

digo, também, em sentido pejorativo. Contraditório e genial é també• o li-


.
... · · d
1TO que expressou o seu tuwul tuo.do ,n. p~1~ e 1 o.·1 cero.do
. universo
· interior,

- ' t ·
"Oa Sertoea", e asa Epopéia aspern, rta te e grn.ndiosa, pnra usar uma ex,•res-
.... E umn. Tragédia em três atos, "A
sao de Clóvia BevilBqua aobre outra obrn.
• represent~tivo e infortunado -uma
Terra" "6 Homem" e "A Luta", com um llerol
' . .
· que enfrenta de mOdo meio demente
''pécie de Rei bnrbnro e Profeta sertnnJO
. . 1 _~ 0 _ AntônioConselbeiro.
o seu Destino e tombo. a.n1qu1 U4l
ato dessa Epopéia., "0 Homem"' Euclydea da Cunha
Logo no início do segunto ... .
~ opólogos cons1
·deram Brasil,iro• maia autent1coa
diz qua alguna dos nossos an"r .
, . O·tros dando "largas ao devnn•ic
aa~a ibertca. u '
~uelea noa quais predomina a ~
158.
aupervo.loriznm os 1ndios - "dev .
o.ne1oa ~ que f
nem ~ltam a metrific~ção e
as rimo.à, porque invndem n. c i~ · ·
encla na vibração 1't .
r m1ca dos versos de Gon-
çalves Dio.s". Outros "e xagern.mfn.
. influência do
nfricano". (Pga. 62/63)a
"Surge o muln.to. Proclnmn.m-no 0 m •
ala característico tipo ~a nossa sub-
categoria. étnico.. Ó n.ssunto assim vai d ·
er1vn.ndo, multiforme e dúbio".
(Ed. e pgs. cits.).
-
Ento.o ele o.firma. que somente com a estnb
•• 1
·1 1·d-~e, "
u.u
f
em uturo remoto'' , é
que poderemos, ta. I vez, t _e r u~idn.de de ro.çn.. Mn.s essa. unidn.de do. na.ça DBO
. - •

Tir~ com exclusn.o dos Negros ~em do sangue negro, como Gilberto Freyre lhe

fez n. injustiça de afirmn.r. O pn.rdo n.o qual Euclydes da Cunha ae refere in


- -
clui sempre essa noçn.o indispensável da estnbilidnde .pnro. a qual caminha.

u trêa · Raço.s formadoras do Brasileiro. Tanto assim que ele . ~itmo. exprea-

saunente: •

"0 brn.sileiro, tipo abstrato que se procura, mesmo no caso fo.voráTel

acima ~irmndo, só pode surgir de um entreln.çBmento conaideravelmen-

te - co~plexo. · Teoricnmente ele seria o pardo, p~ro. que .convergem os


cru~~mentos sucessivos do mulato, (isto é, do mestiço de brnnco e Ne-

gro), do curiboca (i~to é, do mestiço de brnnco Ibérico e . índio) e

do co.fuz"..:.iato é do mestiço de 1ndio e Negro. (Pg. 62) • ...:


Assim, enquanto esse futuro nBo chegava, o Sertanejo era o tipo que mais

se aproxima.va. desse pn.rdo ro.cin.l e· ·c ultural - e por isso era. o Brasileiro

· 1
IIB18 pe cu 1 iar , si ngu ar e
verd-~e
'"" 1
· ro, "a rocha viva da nossa Raça". Eucly-

dea da Cunha constn.ta. que não temos unidade de ro.ço.:


- histórica em futuro remoto,
"Predestinn.mo-nos a formn.çn.o de uma. rn.ça

ae o permiti r d iln.tndo tempo de vida. nn.cioMl Q.UtÔnOIIIIl" • (Pg •. 63) •

·u umn. -~· -
contru.u1çao .:en tre esso. afirmatiTa
E responde a um crítico que Tl .
·
e a outra sobre o Sertp.nejo como rocha. VlVn. . ·dn. Raça: •
• ... .
- 1" h. a.cerco. da nossn. genea1s,ae
"Quem segue a.s consideraçoes que a lD el
- t . unidBde de ro.çà., .admite tcu;:bém que
compreende que de fo.to no.o . emos
odos eu en~ontrei no tipo aertanejo uma
noa vários caldeamento• oper ·
159.
sub-e~tegoria étnica já formod
. , 1. "··· 2uer d.lzer que neste
composto in
d e f 1n1ve - o br~sl- 1eiro -encontrei . ·~ -
· algum~ coisa que é estnTe}, um
ponto de resistência reebrdnndo
a moléculà · t
- . . . : · ln egrande das criataliu-
çoes 1n1C1nrlns. E era nnt .
· urn 1 que, admitid .
. " · l o. a arroJa.dn. e animadora
çouJeturo. d.e q\le e$tR.moa deetiD~oa ' . .
~ ~nte~rldlde D~cion~l, eu Ti•ae
naqueles rijos caboclos o núcleo de for~n d . -
~ a nossa constituiçno futu-
rn., a rocha viva dn. nossa raça ••• Sigamos das "d
Cl ndea do litoral pn-
rn. os Tilarejos do sert~o A . , .
• prlnclp~o, nma dispersão estonteadora
de atributos que vão de todas as
nuances dn cor a todos os aspectos
,
do cnrnter.
-
Nno h~ distinguir~se
.
o brasileiro no intrincndo misto de
.

brancos, negros e mulátos ·de todos 08 sangues e de todos os 11ati zea.


Estamos à superfície da nossa gens ••• calcamos 0 humus indefinido da

nossa raça. lfns, entranhando-nos na t.erra, vemos os pr1meiroa


· grupos
.

fixos - o CR.lp1ra,

no sul, e o tn.bnréu, no norte - onde já ae torn.-

raros o brnnco, o negro e o índio puros. A mestiçagem generalizada

produz, entretanto, ainda todas as va.riedndes das dosagens díapo.rea

do cruzamento. lias, à medida que ·pro•seguimos, estas últimas ae ate-

nuam. Vai-se notando maior unifol'midnde de caracteres físicos e mo-

raia. Por fim a rocha Tiva - o sertanejo". (Pgs. 546/547).

Quer dizer: para Euclydes da Cunha,


-
nno é
- .
que · o Sertanejo nao tenha aan-
.

gue .t:legro, advindo daí, dessa falta de negri tude, sua superioridade a obre os
..
~estiços neurastênico~ do litoral" • .E que
.
.nestes, o
.
cru~~ nto doa três aan-

gue1 foi feito em dosAgens diferentes, ·caus(\ndo diapn.ridndea e inatrlbilidM.,e-•


enquanto que no ·Sertanejo a mestiçngem se estabilizou no pardo, no caatooho,

no bronzeado; ma.ia equilíbrio, inclusive na personalidade.


. . .., •
cu.r1oaa
Aliás, essa pnrditude de Euclydes da Cunha., por uma contradiçao

.

do autor de "Casa Grande & Senzala"' terminou sendo . batizoda com n~


lelhor por Gilberto Freyre. Este, premido pel~ ,negritude - definida por Sen
h d o 8 30 - e impelido, tambéa, por
I or' Aimé Céso.ire e outros a po.rtir os •
BD

,.., · te..a~inou
_ encontrando
~"ro lado, pela verdade bras i 1e1r~, a-

160.
pr&" teorin., for:nulndn n.ntea dele mas - -· •

DBo bntiznda, por Sylvio Romero e


Eucl~es da Cunha.: morenidnde. 't' t
J~ ~n retanto, apesnr do
-
do nome - e tn.l vez por nno querer nbàndonar s .
achndo extrnordinnrio
,
'

ua ~lscut1ve1 "luso-tropicolo-
gi~", misto npenns
de lusitn.nidl\de e !legritude_ - Gilberto Fre;e de ~z em
qutUl~O volta. r\ n.tacnr n teoria do Brn.sileiro nnrdo
.
~,. , moreno e castanho de

Euclydes da. Cunbn. em termos como estes. que ne :
t gnm a moren1dnde:
"Coelho Neto '
chegou n ser' no nosso pn.ís' um "'"tor 1"1 t ernrio,
- - ~w.
. glori
fico.díssimo pelos contemporâneos._•• Escrever bem _ penanvM' mui toa
-
nn.s primeiras décadas deste século, no Brns1·1 . - etn. coe 1ho Neto que

ao seu extraordinário poder verbal juntnvn essa óutra Tirtude: ou-

via os anseios, os sofrimentos, n.a paixÕes dos fúaticoa aertanejoa •


.

Sobretudo dos sertanejos considerndos jn, por alguns predeceasorea


da moderna. místicn. serta.nejista, os . genuinos brn.sileiros ••• Oa aer-


tanejos do n.lins nao sertanejo
.
-maranhense seriam auperados pelo• que
.
Euclides da Cunha, crítico exagerado do Exército de que se desligara

adolescente, sublimnria em heróis étnicos - com eTidente racismo -

e socia.is. Não conta.minados pelos "mestiços degenerados" do litoral.

lfestiços tocados, auuitos deles, de sangue o.fricanoJ -


pcu-a nao poucos,
•'
na época, snngue inferior. O aert~nejiamo nos 1eus começo• euclidi~-

nos, foi a seu modo ora quase arinnista, ora glorificodor da mescla
.
"grego"-tnpuia". (Gilberto Freyre, "Coelho Neto esquecido depois <de

por uns curtos anos superglorificàdo", Diário de Pernambuco, 12 de

·r -
J·a' vimos que uma das preocupaçoes de S:rl
Ora, quanto à Escola d o Rec1 e,
a import~ncia do~
T
Negros c omo elemento forsu,dor
1i9· Romero fora reo.bilitnr •

l ad Clóvis BeTi1nqua
da raça . e .sobretudo da Cultura brasileira. Por seu o, .
•' · tA · 'd·o s Negros em relação aoa 1ndioa:
Ja auatentavB o. tese do. maior impor anela .
~

. . . ·a poderosamente que a indígena para a


"A raça pretn contr1bu1u mal
-
f orumçao o d br ...
..- al·lel· ro". ( ~ . •. e Individualidade•" ,ed. c i t. '1895,
··.wpocas .

pg. 30).
_ , •nuelea.
nao esta nem com _, que acentu~
2uanto a Euclydea da Cunh~, ele
• 161 •
mia o va.lor do snngu~ ibérico no
Brasileiro
~ - como parece acontecer

co~ J•
A. Nogue1rn; nem com n.queles, como que
'· Gi ~berto~ Freyre e Clóvis Bevi 1 nqu~··
--,-
o.cen-

. \
tuom mn.is o vnlor ·do rortuguês ·e
do Negro. I·~ra ele
o ideal Brasileiro er~
0 pardo; o cn.stn.nho surgido pelo cruzn.mento
. * '
'l( do snngue negro com o branco e
o índio.

4
• - Euclydes ,dn Cunha e J.O.de lfeirEL Pennn. •
Tnmbém sem nenhum desdouro


pnrn ou~ro grnnde escritor brnaileiro - poia
.

considero seu 1 i vro "Em Berço Esplêndido" um ensnio dos maiores que já ae

~screveram de
-
interpretn.çn.o do Brnsil - di~cordo de J. o. de !!eira Penno.
.,
. .

quo.ndo ele atribui n. mo.ior cnpncidnde de ~ssimilnçào dionisíaca, erótica


\
- .
e feminina do Bro.sileiro em relnçno ~ dos ..) béricos à mestiçagem negra, De
(


" -
• .
'
acordo com J • O. de !feira. Penno. - que, nisso, estn 1le acordo com Keyaerling
-~

e Gilberto Freyre - "a forte dose de snngue.{ nfricn.no de nossn.


.
identidade

antropológico. contribuiu poderosnmente pnrn salientnr(no.POYo: brnaileiro)


.

cert~s facetas cnrncterísticn.s do temperamento da Raça Yorena, particular-


mente o aspecto n.fetivo ou erótico, o seu grn.nde calor emocional e o ae:n

indisfarçável pendor dionisíaco musical" (Ed. cit., pg. 84).

Para J. o. de )~eira Penna, no Brasil, oã Negros aeriBJD uma espécie de

~wros muçulmanizndos e eróticos; os ·!ndios e os Sertanejos seriam como os

Judeus do Velho· Testamento. Sobre Judeus · á Arnbes, es ele:


. .... .
"Se 08 judeus representam hoje, em v i.rtude de sua dura exper1enc1a

histórica. de respeito n.os prece i toa ~a· Lei {a. Torá), n;:~ sociedade
b -
d ·o Isla de eroticismo •
eminentemente patrinrcn.l e lógica - ~rans Qr a
' ..
• • ensu alidnde árBbe, 1r~Ç&8 à tolerBDCia
ann.rqu1co que se insinuou nn

moro.! do Profeta.". (Pg. 76).


te esquecido de que os Judeus
J. O~ de }!eira. Pennn parece aí momentnnen.men
s la Rainha do l!eio-Di« e' nea._a qu~
também pertencem à Onça. cnstanha dos povo
1 l!i tos IPJ i to u.is pod.!.
onde se f'orljn.rom a g1JDS
lidade criarruo o estranho LiVT 0
.
roaoa e ic::portnntes para nós do que oá . GregOS•
também a~olbe ele a tese de Keyaerling so-
Sobre o• 1ndios e os Sertnnejos
162
bre ~s . cnracterísticns ofídicas
' de Serpente d0
' snngue deles, frio, peri-
goso e npolíneo, . em comp~~~ão
• com a vitalidade t
.. umultuosn e dionisínca doa
Negros: •

"lfeyserl~ng insiste repet·d .


1 nmente · ntl inércin do
. SBngue índio, n~ au~
frinldnde específic~. A fri~ldnde do
ofídio. • • Se esans suns obaeJ"•
- -
-
vnçoes, porém, ano vnlidns
no que diz respeito a' . 1 ogin dos po-
ps1eo
vos bisp~no-nmcríndios dos Àndes e se
nplicrum,em parte, nos mamelu-
cos, caboclos do sertão e jngunços da
.. cnntingo., não deixn de notar a
"vitalidnde tu~ltuosn e o urnnde 1 ·
~ ~ ca or emoc~onnl" do "snngue negro".
E ao negro. que, em contraste. com 0 "sangue
. , t"l
frio" do rep 1
.
lmpero.n-
te no resto do continente, atribui ~ey~erling a impresa;o de"calor

hun:a.no" dei:xo.do pelo brnsileiro. O ~esmo calor conferido pelo portu


-
guês, pois o luso t~bém supera o e·.. po.nhol na expressão ardente e

cordial de sun afetividade''• (Pg. 208).

Assim, parece que, no espírito desses iptérpretes, a linhngem brnsileira



.
e ~ioniSÍnCa mais -CtlrncterÍStiCR. e legÍtim~ Seguiria UIIJ4. linho. que, Vinda dOS
.

!rnbes, pn.ssn.sse por Portugn,l (. ~ pelos Neg~os, consumando-se no luso-tropica-

lismo afro-brasileiro do. Zonn. da !.fo.ta. A. outra - · meio judaica, dn Espanha e .

Índia·, consuTMdn no Sertão, era dura. como · ~ Pedra sertaneja e com n.s carac-
.

teríaticas letn.is e n~o muito bro.sileirn.s ~" : serpente. B que J. o. de Meira

~enna ~aqueceu-se d~ duns ·outras n.gudns


. -
ob$ervnçoes
.
suas. A priceira, refere-

-se ao én.ráter nmbivo.le.n te e o.mbíguo, ppoft;mdo e complexo da Serpente, símb~

lo, tnmbém, dn. unino de contrários. A outrá afirma que, no subconsciente daa

Raças femininas, eróticas e nssimiládoras, :fusionndorns, a Divindade materna

não se encontra somente nn• florestas e pomares edênicos - encontra-se tam-


.

bém "nos sítios ermos, entre os cerros n.gre'Stes". (Pg. 58).


Cunhe viu . do Sert~o COI10 um lugar ngreate'
ft

E é por i~so que Euclydes d ~ "


cerros n.,.,ctrest.es, de modo que pÔde fundir
1UDa Ilha, ·um lugar insuln.do entre •

ne1e tanto o mito do. Ilha edênica e •


-egetn.~ - mais Portuguesa e moura
.
-
da Castela des&rtica, judaico e ensolarado.
quanto o do Eldorndo - mais
163.
5. - "Ós Sertoeah
- e "0 Sert MeJO
. "•
. ,
AI 1ns para
.
m1m, que prefiro n
•• Li teraturo.~ à, sOClo
. 1ogiB, . ·
criadora de "Os -
Sertoes" vem do
a grnnde força
fato ~e que_, em. vez de
' a ser ele um ensaio
.
.
I '

sociológico, é um livl'o povon.do de M"t 1 os ~ umn criação • •

{ poetica, u.m univer-


10 poderoso e estranho que seu autor _ misto d P
e oeta e Profeta - levn.ntou
• -
~aças a umn 1nvençno, ou, mais do qae isso, -
n uma vis·no. E um 1 i vro "de du
ende", como o chnmo.rin. Gn.rcio. Lorcn •
.
-

Basennd o-se em Sérgio Bunrque de Hollandn.


Rodrigo Mello Franco de An-
'
drtulé e outros escritores bro.sileiros, J.O. de Veiro. ·Penna estabelece a
~
existêncin de três mitos importa.ntes pn.rn. o_ Brasil: 0 da Visão do Paraíso,
..
~

o do Inferno Verde e o do Eldorado. A ·meu ver, o fn.lso "Infe'r no verde" da


.
..... , .. .... ' ~ ..... .
floresta auu\zOnl. cn., e apenns uma o.mplinçao ~~ e:xncerbaçao d.o Paraíso edêni-
t I ·

co e vegetn.l da Zona. dn. Mn.tn., de modo , que e~ses três mi't os aão, de fato,

dois; e ambos se
-
fundem na concepça.o din.lét~ca.
.
dn IlhlL Brasil. !ssim, quan-

do. Euclydes dn Cunha forjou n estro.nbá e visiontirin. crin.çao de sua Epopéia -


-
bÁrbara, não se esqueceu dn. unino de contrastes brnsileirn, e fundiu no seu

Sert'o tanto o Eldorn.do quanto o Pomar edênico e vegetal. Vamos vê-loa, a-

traTés de auns próprias pn.ln.vt"as:


'

a) O 'E ldorBdo. - O Sebastianismo.


'

"lforite-5aáto é um lugar lendnriÓ. Qua~do, no século XVII, aa desco-


.

bettns das minas determinaram 4 atração do interior ~obre o litoral,

os aventureiros que fto


~
norte investi~an
~
com o sertão, demandando

serras de Jacobina, arrebntndoà ·pela :mirngem das minas de prata e


de Belchior Dias, Bli estacionn-
ro.strenndo o itinerário enigcnático
, . - riqunrn.çá dos rotejroa e a-
a
Tam longo te~po. A serra solitarlB - -
. . t . · norteava-lhes a marcha Tacilan-
pricbosos - domino.ndo os borlzon es, . •
.

si mesma, irresistivelmente. E que ea
te. Além ·disto, atraía-os por • .

. ·t s em caligrafia ciclópica com grandes pe-


um de seus flancos, escr1 n. .
- 1 t BS singulBres - um A, um L e um S - ~~
dr"s orrumnda.s, npn.recinm e r, -
q ue eatATa ali e nao. aT~
d modo o.·:fBzerem crer
deddo.s por uma. cruz, e
164.
te, pnro. o ocidente ou Pnra
-. o sul, .o el-dor n.d o apetecido". ("Os Se1,.._
c~•t .,
toes'', ed. pg. 127).

Como se vê, é n mesma refettência no


, . I
-
Sertno de Jncobinn, ao qunl José de
Alencar 4 ~. se ~eferirn. A morte de
Dom Sebastino e o desastre de Alcncer-

Quibir q'1e des~ncndeinm. a aç~o em "O .Gunrani" ..:, e


. . ~ . '. consequentemente, a bua-
cn. do tes,ouro ~e lo r~teiro em "As Minns de Prntn"
.
..:. tncbém npnrecem em "Oa
-
• •
l . )O

Sertoes"·, mns com um cn~nter J·n mu 1·to mais,


' cn:stnnho
e brasileiro de formndo
res e gerndores de Mito: ...
.
• •
-
.:. '• •
"(A hern.nçn. do Catolicismo ibérico d,o século )..'VI) no sertno ficou in-
.
-
tnctn.. Trouxe~nm-nn ns gentes impr~ásionnveis, que nfluírBm pnrn

nossa terra, depois de desfeito no Qriente o sonho miraculoao dn In


":> -

din. Vinham cheias daquele misticisf.áo feroz em que o fervor religi-


• '1. '
... . .... .
oso reverberava n. cnde~cia forte da' fogueiras inquiaitorinia,lnvrn~
.
d~ inte~sna
(
na Península. Er~. pnrcelaa
.. do mesmo povo que em Lisboa, .
sob o. -
o~sessno dolorosa dos m~lngre f ·e nssB.ltado de súbi tna alucinB-
-
çoes, v i a, sobre o paço dos reis, atnúdea agoureiros, lí~mana de fl~

ma:s mist.erio.sns' cn.tervas de mouros de albornozes brnncoa, paaan.ndo

processionnlmente., comba.tes de· pnlo.dinos nns alturas ••• E da meamn.

gente que, após Alcácer-Quibir ••• pFocurnva; ante a ruína iminente,


• A

como sa.lvnç~o únic~, n fórmula· super.ior das esperanças m~asianicaa •••

De feito ·, considerando o.s desordens ·!sertnneja.s, ~ hoje,· . e os mea-

sias ·insnnos ·que ns ·provocam, irres ~tivelmente nos assa.lt ew


'

polgnntes, as figura.~ dos profetas peninsulares de outrora - o re1 ~·

re 1. d~ Er 1·ceira ••• ~ra coWPleto.r o símile, o mia-


de Pennmncor, O u.

, d Sebnst · nnismo. ~tinto em Portugal, ele per~is-


t i ci sm o p o 11 t i c o o ::.::.;;..::'•;.::...::::..;:;;..;.;;.._--
1

·e de modo
.

singulntment~ impressiona.dor'

noa aertoea do -
t e · tod o, , 1lOJ , .

• •

norte". (Pgs. 123/124).


b) A Pedra Bonita, ou Pedra do Reino.
·
. t importnntíssimo da. Eacola do Recife-
Arnripe Júnior - outro 1ntegrnn e
bucano Antônio A~tico de Souza Leite ea-
bo.seado na "Memória" que o pernRID . ·
. . tos da redra do.· Reino, publicou' um romance •!.
crevera sobre os acontec1men
165.
bre o assunto. Euclydes dn C nh
. u n leu o rom~nce
e n -
.xmpressn.o que essa lei-
turn. lhe cn.usou - juntamente com
n. de notícins snídns em jornnl - ficou m~r
-
cn.dn. em "Os Sertoes", com 0 Eldorn.do e
'
-
. o Spbnstin.nismo de novo indissoluvel
mente li,ndos, nmbos como expresaã~· do -
mes~o Mito messiânico:
'
"No termo de Pn.jeú, em p
ern~b~co, o~ últimos rebentos dns formnçÕes
grn.níticns dn. costa. se n.lteio.m,
. . --. em .formns cnprichosn.s, na serra. Tn-
1\ln.dn., dominando, majestosos, . tod,. ,. .-
~ •• reg1no em torno e convergindo

em ln.rgo anfiteatro ncessível . apen"s


,. por estreita. gn.rgnntn,entre mu-
rn.lhns n. pique • No âmbito dn.que le, ·.Como pu~Ip 1· to
gignntesco, ergue-ae
um bloco solitário- n. Pedra Bonitn.• Este lugn.r foi, em 1837, teatro

de cenn.s que recordam as sinistras solenidades religiosas doa Acbnn-



.
tis. Um: mrunéluco ou co.fuz, umr ilum:fpn.do, ali congr:egou toda. a popu-
....
l~çn.o dos sítios convizin~os ~' engr impn.ndo-se à pedra, n.nuncin.vn.,
c~nvicto, o próximo ndvento do reirt~ encantado de D. Sebastino (o

r~mo.nce de Arn.ripe Júnior intitulavn.-se "0 Reino Encnntn.do"). Que-


4

. . .,. .

b~n.da. n.·: pedrn., o. que subirn., :ç1n.o n. pancil.dn.s · de · mtu-reta, mas pela
-
QÇno miraculosa do sangue dn.s crio.~~ns;
.
espnrzido sobre ela em bolo
-
cn.usto, : o gro.nde rei irromper in envpl to
. . . .. de sun. guardo. fulgurante,
cn.stiga.ndo' inex~rável' ' I
Q. humn.l;lidn.d~ ingrato., mas cumulando de riqu.!.
..4 '

zas os que houvessem contribuído pa~n. o desencnnto.Passou pelo aer-

t~o um frêmito de nev·rose·•• ~ O trn.njvin.d ~ encontrn.ra meio propício

Bq contágio do. suo. insnnio.. Em tornb dn. n.ra monstruoso. compriminm-se

o.S mnes ~ erguendo os filhos ~e 1ueni~OS e lutn.vnm, procurandotlhea A·

p~imn.zi 4 no so.crifício ••• O sdngue ~spwdanavo. sobre a roch~ jo~rn.n-


. .

do,

ncu~ulnndo-se em torno; e j afirmam os .jornais do tempo, em cópia

túl que ' depois de desfeito. aquela ~úgubre farsa, era impossível
; o

. ,.. . no lugo.r infeccionado''.··c(Pgs. 126/.127) •


pêrma;nenc1a
.
Esse trecho ·de "Os SertÕes" - o.lina, do... maneirn. que o.í está, mngnifica-
- · l ."dod pela extraordinária, e involuntário.,
mente def~ormn.do em reln.ço.o à. rea 1 ·e'
- ~ d CUnha - i está na. gênese,tanto de "Pedra
imagino.ç"o crin.dorn de EuclJ-es ~
B·o ni tn" e "Ca.n.gnceiros" d 166 .
' e José Lins d R
Pedra. do Reino e 0 Principe do
r ego, quant o de me u "Romnn c~ d'Ã
Sangue d~ Vai-e-Volta" •

c) O Sertão lcoc o Insula, ou Terra Inaol~ a.


Logo nas priu:e iras Páginl\-s de no -
~ Sertoes" , preparando o cennrio estranho
e . áspero de ~ua nspern. e estranha. E •.
- . pope t.. , Euclydea da Cnc~a Eleaerete o Ser-
1

tao como uma terra insulada, nmn Ilha bntl· d~


-
turno de serras pedregosas. Oa nomes dos
~
~ de sol e apertnd~ por ~= cin-
,
-
do Sertao", ''Terra. Ignota", "Insulrurento
cnp1tulos ae sucedea - "A Entrnda

no Deserto~ etc. Depois, literAl-


mente, ele é possuído por uma vis~o: todo 0 Serta-o e'
"o fundo recém-subleva-
do de um car extinto" (Pg. 16). t daí u ·l •

q ~· se or1g1na o aspecto queimoao e


escalvad,o da Caa.tinga., o desrmdnmentco da ~erra., as pedras e la.jedoa
naa es-
carpas dlUI serranin.s. Na sua visão -; ou "sonho de geólogo" cc>tao ele pre!ere

dizer - ~clydes da Cunha imagina o tempo ·:em que tudo aquilo ern l'ar, e vê
os cnmes das serras sertnnejns COri! O grande(& Ilhn.s:
-
·~ntao, destacadas dns grandes ilhas · e~er~entes
. • o '

t.ns das nossas cordilheiraa mal apontavnm ao norte, D'L solidão ineo
sa .das águas" ••• (Pg. 17).
-

Entretanto, o caráter de terra insul ad a; cowo se Tiu, é do Sertno intei- -


ro, apertê.do pelo
. -
cinturno dn.s serranins, i dando tnmbém, de vez em qunndo,
. ... '
...., ..
a quem o olha, à ia:pressao do l!n.r. Eaan su~estao é tao !orte, que outro gra~

de e~critor brasileiro, Ruy Barbos3, inclusi ve evocBndo de p3Sangea Teraos

de "Os Lusindas", escreveu tJma de suas comparaçoes mais famosas sobre o te- -
-
ma "O Sertno e o llar" : ·
"A.o por os pés no Ii.min.r dos aert~es babin.nos, ·alguEJCl- coisa .::e atalha

e . auspende 0 ânimo . preso de u~ · sentimento : novo, t.al como iea.gino ha-

via de ser 0 do· naTegante à beira . de T,I:J mar desconh-ecido. De proa

poat-a. ao rum·o , de -el•


.. ~e tend idU
.
0.0 Ttnto t
-
na O &8
,
detém O barCO DA
.
rota:' deliberada, nem a m.ã o do timoneito lhe fr~ueja no
-
- do piloto lbe treme no peito. :Una urA impreaaao desuao.da ae
coraçao

1na~nua no · nn1mo
• resoluto
#O do mareo.nte
• ,:.i atraído pela. -
yoca.çao da honra
-

t , ·
·ou do destino aos seios do mia erio qu~ lhe aéena do pego e do hori-
167
zonte, enqunnto a ré lhe Vni
fug indo n estel·rft.,. dft.. s1. ngrn.d ur\\ e ns
ondns couver.snm
co~ " quilha
· no mnr.nlho dessns solidÕes nunca dantes
n~vegnda.s' rebentn.ndo-lhe em
cristais no costndo, orvnlhnndo-lhe de
ntnpet~do-lhe de prfttft
... o au 1co espumoso.
_ _ u o
sertao ~no conhece 0 mnr. 0
mar nao conhece o aertno. - -
- se toe~.
-
Nao se vêem. Kno ae busc.n.._.... l!aa há em nrrbos
NBo

a mesc;;;~ grn.nceza, a aea-


. ...

ma lmponencin, n mesmn inescrutnbilid-~e.


{~ Sobre um e outro se esten-
de esse mesmo enlga·· : a dns majestndes,. indec.: s- , •
. .. .u.rnve1s. De ng e outro rea
- -
salta. n. mesmn . expressao de energia, forçn. e poder
a que se nno resis - -
te ••.• Ante um e outro nos sent. imos nulos, en. todo
~ o acnnhaeento do
nQ.sso na.dn, e . -
te~os . a visao da
'

imenaidade, a aensaça.o do infinito,a -


-
iz;pregnnçno do eterno. E ~
ft c o~oçno
- re 1·lglos~,
• ~ue vibrnta entre oa
• • •
P~ 1 me1ros nnvegndóres, ~andot ao Ntistarem a ourela das pr~iaa,onde

se franja o pélago aznlndo, l~es s~ía d'alva todo hino em ua so


#

gr.ito: 'O ma.r! o mar lnrgo" • .A..ssim ~e re~ntiava., há pouco, do seio,

ao dar com os olhos ~a. primeira orl*Õura. dft. região das eatu e du

serras, este clnmor íntimo de · alTo~ço: "O sertão: o aert;o livre!M


.
(Ruy Barbosa, "Coletânea Literária"~ 52 ed., Cia. Editora NacionAl,

Rio,s. Paulo ,_Recife ,Bahia, rarti,Potto-!legre, 1945,pga.293/294) •


Rny Barbosa escreveu isso em 1919. Prov$veloente tinha lido "Os Sertoes",

-
I

- -
de modo. que qua.ndo diz que o Sertao nao coihece o llar e o l!ar nao conhece -
o Sert;o,~· tnlvez estivesse repetiDdo ecos da profe-cia. de Antônio Con•elbei-

ro: 1~96 há de rebanhos ~il correr da praia. para o -


sertao; -
entao o aer

tão virara práía e a praia virará sertão".f"Os SertÕes", ed.ci~.,p~. 150).


~'- ent;o,
vu '"" no so.riho Mess1· a""'n 1· co e seb. ~
.-.e·t ianiáta: "Das ondas do D. Sebas-

tiao sairá e~ todo o seu exército" (Pg. 1~1).


E~tretanto, é 0
próprio Euclydes d'a CunhA quer:, corrigindo Hegel, di.z
- t ' t ses". e t portánto, -
nniao de -
contrário• -nao c~be
que o Sertao - "jogo de an 1 e · '
Lfi eonTencion~ie. Eat~ aeriaat "a~ eat•pca
trêa cAt•goric.a geog-ra. ca• . .
16 8.
snmente ;irrigâdos; os
litorais e ns 'ilhns''.. (rg. 45). O Sertno, terra insul~
dn, n~
. -
seca e ·Como
"vasta.s planícies nmidn.s" aue
-
"n'no ntrn.em. p.n.t ent ein.m• sempre o meemo

cenário de umn monotonin nca-



brunhndora, com n variante ú · ·d
nncn ~ cor: um ocenno
. imóvel , se= Ta.-
ghs e S·em prains • Têm a f or~ ~ centr. l#fug l'\
~ . ,. do deserto: repelem; de.u-
nem;
..
dlspersnm.
-
No.o se podeo l i~~~ . n.'
. ~ '~ huQnnid ade pelo vinculo nupcial
d'o sulco dos a.rndos. são um 1··sol---~or ,
'~ etnico coc o ns cordilheiras e
o mnr, ou ns estepes do. Mongólia., Tn.rejn.dns,
'
em corrid:\s doidaa,pe-
.
las cnt.e rvns turbulentas dos tártn.~os errnbundos".(Pg. 45) •

Entretanto, esses mesmos _SertÕes, ~indo a. chuva, revel~e "nn. segunda


-
su.bdivisn.o", n. dos "vnles férteis'' - e entno trn.nsformt1m sua face enigzáti
.
-
cn,
. reve~n.ndo-~e
. como um Pnrniso (Pg~ 43) ; um rocnr edênico:
•• • •

· "P~netra;ndo-lhes n. atmo.sfern n.r dente, os ventos duplicnm n ca.pa.cida-


.
d~ higr,ométricn., e
-
vn.o,
.
dia ·a dia., ~'"absorvendo a nmidnde exígun
.
dn

t~rra - reabrindo o ciclo inflexível dns secas. Entao, a trnvessiB



-
. .
da.s ver~edn.s sertnnejtis é mais exausti vn. que a de tUM estepe nuâ.Xe.!.
..

ta, ao menos, o viajante tem o d~s~ogo de um horizonte largo e a


• •
perspectiva das pln.nurn.s frn.ncna. Ao pnsso que a cn.ntingn. o afoga;
.
abrevin-lhe o olhar; ngride-o e es~onteia-o;- enlaça-o na trama ea-

pines~ente e não o ntrai; repulsa-~ com ns folhas urticantes, com

0 :: espinho, .com os gravetos estn.ln.dos em lanças; e desdobra· se-lhe


ná frente léguas e Ié,g uBs, imatnve F· no aspecto desolado: árvores


,/

sém folhas, de galhos extorcidos e }secos, reToltos, entrecruzndoa,


e~irando-se flexuosos pelo •olo,
apontando rijamente no espaço ,on
· ;menso, de tdrturn, da flora ~on izante ••• O
lémbrn.ndo um brnceJBr A

.. , ' fDrçóso ; .:evit'nr, iludir ou col:lbo.ter ••• Este-


sol e o inicigo que e
os ares urentes; ecpedrn.~se -
o chn.o, gretn.ndo, recresta-
riliznm se
e, ~omo nc cilício dilacerador, a
do; ruge o Nordeste nos eJ·mos;
t 4 BS rBmngens de espinhos ••• ~aa no
cd~ting~ estende sobre a err
. . tarde qualq~er,de~ ~~rço, rÁpidas tarde• sem cr~
empardecer de uma
# 169.
pusculos '

.. ' ' prestes · aro~adn.a


na ~no i te ~
ns estrelns peln pri=eir a T~z
'oJ

c intila~ vi t
. . varnen e. ~uvens vol~osnf ft b .
' ~ a rre1r ~ no lo~e os h ori zo n
tes, recortnndo-os em ~l . . -
· evos :. l ~ pon entes
, d t -~
e con nw..~\\8 ne trru ••• I'J;!.
brnsc n.C o em minutos 0 f. · -
' . lrm~,nto g?lpeia-se de relncpn.r;os precip i-
tes, sucessivos, snr~~cdo íund
~ ~ent' n i c:rr ii:i:ndura ceer:1 d~ torce n-
• • •

- o

'
ttl. Reboam ruidosamente ns t ...~ o o .. •

r~vo ,~na fortes. As bn te ~~s de chuT~ t~


br~ gross~s, espnçadnmente, · sobre
o

-
::I
-
O; chno, ndunnndo-se logo e m ~~a-
ceiro diluvinno ••• E ao tornar d~
' '
• t r nveasia o Tinjante, pnsEo, não vê
CA:is o deserto. Sobre o solo' , nue '1·
~ a' ~n r1 lS· ntnpetnm res surge tri-
' '
u~nlmeqte n flora tropical. E. nmn. ~uta çno de npoteose. Os a:uluneus
-
rotundos, à borda do.s cnc 1·cb ,., · :
· ns c •.e1,_s, estn.deinm a &pura. das larg as

flores vermelhns, sem espertu- peln.st folbns; n.s ca.rníbna .e bn.raúnaa


"

nltns refrondescem à margem dos rib~irÕes


,
rer'ertos; rnmnlham, resson.n-

tes, os :n:nrizeiros es~allutdos, à. pnisngem das Tirn.çÕes aunves; o.sso-


.,

mnm, vivazes, n:Dortecendo as truncndurns dns quebra.das, as quixn.bei-

ras de folhns pequeninns e frutos que lecbrnm contas de onix; maia

virentes, ndensnm-se os icoseiros ptlas várzeas, sob o ondular feati


'

o
-
vo das copas dos ouricuris: ondeiam ; móveis, avivando a paisagem,nca-

mando-se nos plninos, arredondando As encostas, aa ~oitaa.floridaa do


'

nlecrim dos tnbuleiros, de cnules f j nos e flexíveis; ns umburnnaa pe~

fnmn.m os ares, filtrand~os nas fro~des enfolhadas, e - dominando a


. ....
rev1vescenc1n
. ""er~l
b
-
- nn.o jtt pela altura.
. .
senno pelo gracioso do - o
.
por~e,

os umbuzeiros alevnntnm dois metros 2sobre o -


chao, ~rradiantea em cír
- , , Re
culo, os· ga11tos mnneroso S • • • _..~.E!...~o~s~e=.;:dt:::
··~to.~o:.....::e~'(!~m::_.~pnr
_ . n 1 s o. s surge no ~ee s-

· t t dft~
DO tempo a fnnnn res1s en e ~ caatingns: disparam pelas bnixnda~ ú-

midas os caititus esquivos; passnm em varas. pelas tiguerns, num estri


. · d ·tns percutinqo os queixarlas de cnnela ruiya;co~
dnlo estrep1ta.r e mAXl . .'
altos, em· bnndes, esporeando-se
-
c~ os fePrPróes de
rem pelos tabuleiros
Telocíssiml\S; é as seriemn.s de yozea lnmentoaa•,
sob as nsas, as emas
cantam nol bnlsedos, à fímbria doa banhndoa,
e ns sericóias vibrantes,
170.
onde v~m beber 0 t .
, - t\Plt:_ est.~cl\ndo um mo~ento
no seu trote brutnl,in-
{lexiv~lcente retil'
. e o, pel~ cn~tin~n, d
. ln_ .b ,
, . ~ err1 nndo nrvores, e na
proprlas suçunranns· t
· · · · . ' '\ e r r n.nd o os IIl o c o' s
espertos que se ~~inhnm nos
pares, -. nn.s lurn.s do~ - fraguedC?s, pu.lnm,
nl~gres, n~s mnceg~s nltn•,
nntes ge quedarem n~s

tocaias trni~oeirns nos veados nriscos ou no-

~ilhos - des~nrrndos Su
t:» • • • cedem-se ~nnhns sem par, em._que o irrn.d in.r
do lev~nte incendido retinge · ,
.n pur.purn dns eritrinns e destncn me-
lhor engrinnldn.ndo b -
· ' - ns um ur~nns de cnscí\ n.rroxendn, os festoes
multi cores, da.s bigônins. Anilunm-se . os nPes nnmra -
. . '~ -~ ~ pnlpitnçno de ~sns,
• •

G_. élere~. , rufln.ndo. - Sulcn---qos


,wo- ..
~- s ~- no•,,s d e clarins estra.nhoa. Num'4 \. '"'•

~umult'fn.r de desencontrados ~ôos, pnss


,
ombas brn-

Y;ns qu~ remtgram, e rolnm ns ..turbn~.. turbulentas dns maritacna estri
'· -
~entes •. • • enqunnto feliz, de~lembr4do de mngon.s, segue o cnmpeiro

~elos nrrnstndores, tangendo -a boi~n. fnrta, e entoando n. cnniiga


"

predileta.". (Pgs. 34/44). .' ·'l

A # ~ ·~

Como se ve, e umo. COI!Íirmn.çno e uma exq.cerbaçno dn.quilo que José de A-

lencnr descreveu em "0 Sertanejo" • .A.pa.recem ns emns, cujas uns Frei Vicen-

te do Sà.lva.dor e Ambrósio. Fernn.ndes Bra.ndo.o tinhnm comparado, nn. corrida, -


'•

a velas . ln.tinn.s. Surgem o Tnpir e o, _Onça. ·~}.~n.s, sobretudo importante, é que,

no Sertão, "a. nn.tureza. comprnz-se em: um j~o de n.ntíteses" (Pg. 46). Suna
• . .
terrns sào, no. mesmo tempo, "bárbn.rnmente ~ stéreis" e "maraYilhosnmente exu-

bera.ntes" (Pg. 46):

"Na.. plenjtude dns secas são positivnmente


.
o deserto ••• Ao sobrevir
-
• ~

. ,
das chu~n.s, o. terrn, como vimos, transfigura-se em mutaçoes fnntns-

t .
~ca.s, cont rn.s t nndo com a desolnçã~ anterior. Os vn.les secos fn.zem-

·
se r1os.
I 1 e
nsu run-s .08 cômoros
. , esca.ivndos, repentinamente verdejnn-

-
.
de flores ·
c obrindo-os,
-
os grotoes esc~ce-
tes. A vegetnçao recnma ' ·
lados, e disfarça. o. dureza dn.a bn.rra~cns e arredonda em colinas os

. . ngidos - de :&orte que n.s chnpndns grBndes,in-


acervos de blocos d lSJU ·
ligam em ~urv~s mnis sunves n.oa tabuleiros
térmendas de convn.les, se

Co~ ; o desaparecer das soalbeirna nnula-se
o.ltos. Cni a tempern.turo.. .
n. se curo. nnormnl dos . T
171.
nres. Novos t
ons nB p .lisngem: a. trnns pnrê nc in
do esp~ço snljenta. ~ l"nh
. . l ns IJlnis ligc;rns, em tod
-. u n.s :ua -rarif\.Otea
d~ foru;n. e da D ·
c~r. il&tam-se os horl·zontes.
v O fir~~ento se~ o a.-
zul cn.rreundo
o
dos desertos, alteia-se
~nis profundo, nnte o expon-
.

dir revivescente dn terrn - t- ',


• .~ o ser no
'
e uc ~ale fértil. ! u~ po~~r
vastíssimo, se~ dono". (rg. 46 ).
l'ui ta. cài sa. se poderin mostrnr ainda sobre "Cs SertÕes". !'o r execpl o:

~ostrnr ~o~o vários noces próprios referidos nn


t
J •

e imorta~ de Canudos, renpnrecem, de propósito,


creio, no "Grande -
Sert~o:

-
Veredas" ~.•. de Jono Guimftrftea Rosft. T~b.em
,.
-
UI UI
' l

q~and o Euclydes da. Cunha, • nuzca .

cena de extraordinária forçn criadora, imngina a ~ltidão pnra a qunl pre-

ga. Antôni•o Conselheiro,e relaciona, l!lll por ; um, os ehefes jngunços maia i~
portnntes de Canudos, já prefigura pt;ocess·o idêntfco seguido por Joio Gui-
-
marnes Rosa.

.

l:ns, pa.rn terminar, lembro somente que, . pnra os Sertanejos,. Canudos era.

nmn -
versao brnsileirn de -
Canna, -
da Terra da Pro~issBo a ser atingida depoia
d~ traves.s in e dn. proTnçao do Deserto: - ' •

"O.s aliciadores da. sei ta (de Antôn'io



-Conselheiro) se ocupnm em persu.!.

di.r o póvo de que todo nquele que sê quiser salvn.r precisa. vir para ·

Cnnudosi porque nos outros lugares ~udo estn contnminndo e ~erdido

peln Repúbl icn. Ali, porém, n~ é preciso trnbnlhn.r, é n. terrn. . dn.


-
promiss~o, onde cor·r e um . e sa.o de cus cus de milho
-- r1· o d..e lei te -
·
bnrrnncns". ' · de Fre1· u"Toão. E.v n.ngelista de llonte-l'arcin.no,
( Relatorl.o

· Cl.t.
· por ~
~uc lyd es d. ~ . , "Os SertÕes'', ed.cit.,pg. 175}.
ft Cunha.

· ernm ns prova& de que aquela ern nrna novn. Ca-


- ver qun1s
Causa. compa.ixa.o
.-
naa. - . um rio de leite e bnrrancns d e CU scus

de milho, ns bBses dn. sóbrin. a-

l~entaçao . · l'as são coisns semelhnntes ns que aparecem n~ssn.


- dos Sert~neJOS. 1

nova llbn. :da Utopia sertaneja que e , 0 · "Pa.Ítt de São Snruê", concebido, nu~

Tislumbre ·de gênio, pel~· poeta popular e Crmtndor parn.ibn.no ltn.nuel Cn.milo
. , 1 . nh em rn obrn de J oaé de Alencar, ~
doa Santos - o que njuntn numa so 1 ng .
1 -~
'-·
obrns de gênio de Euclydes d~ Cunha

e João Guie~r;es Rosa e o Ro~artceiro

ropulnr do Norde.s t e, desigu~is nas proporçÕes, ~~s todas assentndns nesse


ch~o, nes s e san~e e nesse subterrâneo da Culturn brasileir~.


Capitulo IX
A. lUlA. E O AVESso DO lftlNDo

S'culo n

1. - &ac1-1 d
J~es a
eunha e Augusto doa Anjos
Em 1970, escrevendo eobre 0
liYro de contos "h E.boscadas da Sorte", de
Maximiano Campos, eu dizia o eeguintea

"Quando escrevi a primeira Yez sobre


Maximiano Campos e sua noTela
_,s_e_m_Le..;..;:.i...;:n~em=-.Re:.::.,:.i,' procure i ' -_maia ' ai tuá-1 o no -
cnmpo da trndiçao do
roumnce brasileiro em ge 1 .
ra e nordestlno em particular. Filiei seu
livro Aquela --~~--~-~~r~a~n~e~J~a
linhnge,m se t . .
que, começando romântica

com José de Alencar, continuou com o romance cearense do século XIX •


- . '
com Os Sertoea de Euclydea da Cunha, com Cangaceiros do paraibano
. . .
Carlos Dias _ Fernand~a, e vem apor~ar no romance duplo "Pedra-Bonita-·
-cangaceiros" de Joaé dl Aléncara por maia diferentes que ·seja• u-
'
aaa obrBa quanto a mérito e características formais, guardam o
..

de família do tema e da linhagem comuna. Referi , tcunbém,A marca


deixada no eapírito _d o jovem autor· de Sem Lei ~em Rei pelo romance

regionalista, isto desde A ceira - romance sertanejo de


-- h o-

mem do Brejo - até o "Ciclo da Cana de Açúcar", Terdadeiro mural da


Tida doa Engenhos paraibanos, traçado _por um escritor aí naacido •
. Procurava eu, assim, _mostrar aa semelhanças de atitude ante a vida
e de Tiaão do mnndo existente• entre Maximiano Campoa, Joaé Améri-
co de Almeida e Joaé Lina do Rego, todos trêa fiéia ao pn~aado de
sua terra e ao meamo tempo inconformn.doa com oa erros e aa injuati-

.
çaa desse paa~ado. De fato, todos nóa que escreTemoa, no Nordeste,
depois da geração de escritore~ doa anos de 30, temoa u~ grande i~
fluência doa Regionaliataa, reunidos em torno da figura de Gilberto

tanto no meu caso, como no de Uaximi~o Camp~a,a


Freyre, sendo que,
influência de José Lin• do Rego foi a maia profunda de todaa. Espli

ca-aea tant~ eu como ele aomoa ·~i• aeduzidoa pela Poeaia, pelo ~~
de ~odo que liwo• como "Poco llorto" ou co•o "P.!.
•ance, pelo Teatroj
drn. Bonito.
. -
c&Dgaceiroa" ter·
174.

. ao, n.liáaa . todos nóa


liUD que nos tocar maia. lfaia do que i•-
' agora, formamoa, de fato, é uma eapécie de
. qui.nto epiaÕdio da grande E 1
aco a Nordestina que, depoia do período
barroco - séculos XVI XVII · .
' e XVIII - teve n~ ~scola do Recife
• • o
pr1me1ro grande momento
' DA segunda metnde do aeculo XIX. A Escola
do Recife, reunida em torno de Tobias
Bnrreto e SylTio Romero,teria
um papel decisivo na c · - d .
rln.çao " Llternturo. nordestina e enorme in-
fluência
. sobre toda a Literaturn
. b . .
,. ras1 1e1rn • Una teria, to.mbém,gr~

de importânci~ pelo movimento que deflagrou depois, n~ geração pos-


. •

terior," e que, como J,erc!!ir!l eJ:!isódio da Escol~ Nordeatinl\ viria a


. '
dar origem a doia livJ•oa que ae o.ssemelhnm aob Tárioa aspectoaz Oa
-
Sertoes, de Euclydea da Cunha, e o Eu, de Augusto doa Anjos. De fa
. - -
to, Os Sertoea e Euclydes da Cunha pertencem à 1 inhBgem de Syl vi o

Romero, e o Eu result~, também, da Escola do Recife, porque a poe-


aia de Augusto doa Anjoa é que iria realizar tudo aquilo que A po-
-
e·aia cientÍfica de lfn.rtins Júnior sonhara e não fizera. Ambos aBo

-liYJ•oa solitários, grandes, arrevesados, ásperos. Ambos padecem de


- •
cientifiamo; Bmboa ao.o livros de duende, po.ra usar uma expressao de -

Gnrcia Lorca. O duende de todos dois é fúnebre, se bem que hajn, aí,

uma diferença, porque o duende de Augusto doa Anjos é mo.ia noturno


e esverdeado, e o de Euclydes da Cunha JDBis ensolarado e po.rdo, o

que talvez se deva àa própri~• diferenças entre a Mata e o Serto.o". -


(Ariano Suaaauna, em ".U Emb~acBdaa da Sorte" de Maximiano Campoa,

Prefá~io '.
Editora Univerait&ria, Recife, 197l, pga.
. .
IITit.
'

d Cunh e a.. ~ 1 &to doa Anjoa têm outra coi


Acrescento agora que Euclydea a a ~... -

la em comum _ ambo• fazem parte do grupo de escritorea que eu cbnmo de "Oa


'
qual também pertencem, noutra medida e cada um a. aeu
Poeta• do ATeaao''. e ao

_modo, Graciliano Romoa e Joao Cabral de }fello Neto. ·

2 ·- A. Ilha de CamÕea e a de Auguato doa Anjoa.

alegóriaa doa Amorea, eataTa, incruatado, o


No centro da Ilha yegetal e
A que Augaato doa ADJo• ina e cria
. Clobo enigmático da M&quiDA dO KaDdO•
175.
nos começos do século XX braaileiro,levnnta-ae a partir da Ilha Afortunada,

da Ilha Brasil' de Cipango. Mas ela, apesar de ter no seu centro umn.".ú-vore

dn. perpétua mn.ravU.ha" - a cuja ao11bra os Navegadores se acolhiam para dca-

cansar seu merecido repouso, co11o na Ilha doa Amores - é uma Ilha maldita,c~
- .
jn. viso.o - sob forma de Paraíso enganoso ou Eldonulo 1nalciiftçlivel - torna

também o.maldiçonda a existência de quem a entrevê& o pessimismo romButico,b~


roco ou pós-romcintico. acentua antes o carliter nefasto da Máquina ou teia dia-

bólica do l!undo - e o fogo do. cinza e do pó, como um hlilito envenenado do In-
. .

ferno,queima
' '
Q otimismo clássico. O p~ema de Auguato.doa Anjoa intitulG-ae
lllllit~ significátivo.mente "A. Ilha de Cipango"; começa usiml

''Eatou sozinho! A eatradG ae desdobrG


como 11m3 imensa e z·utilGnte cobrG
.
de epiderme finíaaima de areia ••• ·.

E por eaal\ finíssima epiderme


eis-me pn.aseo.ndo como um grn.nde verme


que, ao aol,em plenB podrl.d-


ao,paasela.
. '"

A1~ ,e.:
~, como. a._,
~.logo de· início,o Poeta, acentuMd o o CGráter fGtídico,enigmá-

tico e t~anapn.rente da Mnquina estranha d o mundo ' encGrnaaae o homem, todoa


oa homena; e como ae eaaa enorme e achatada cobra f oaae a enigmática, ambiTa
-

lente e aagro.do. serpente dll Terra, aobre cujas rutilantes eacamn.a de a.re1a
.

o homem caminha aeu estrllnho destino. E o poema proaaeguea


"A agonia do .aol vai ter começo!
Co.io de joelhos, trêmulo ••• Ofereço
. . d
prece• B. Deua e amor e de respeito.

~wuaa 1e · r•trAtA,
E o OcBIO . qu.e n 38 -e.- .

Ditidamente repr oduz ' exata,


a aaudode interior que há no meu peito.

- d
Tenho alucinaçoea e toda a aorte •••
~

Iwpre••ionado sem cessar com a Uorte


lázaro não sente,
• 8 entindo o que
em negra.a· nuon • 116.
çna lugubrea e az1agaa
·
Vejo terribilíaaimaa . ad~a,
atravessando 08
atea bruac~ente • .

Oa olhos volTo
Para o céu divino
e observo-me· pigmeu e pequenino
atrn.véa . de minúa.culo.a eapelboa.
• I ' • ~ ' ' , • ' I •

Assim, quem din.nte de ~ cordilhi!i~rn.,


-
pn.ra,entre ~
ftesomb ros,pe 1a vez . primeira,

aente vontade de cair de joelhoal"


Segue-se uma estrofe no. qual 8e "'
ve que esse Poeta, nascido no Engenho
Po.udarco, pertencia porém muito maia o.o Sert:o ed
~ P regoao de Euclydea da
Cunha do que à Hn.ta de seus conterrân~oa do Brejo:
"Soa o rumor fatídico doa ventos
. •
' •

anunciando deamorono.mentos

de mil lajedos sobre mil lajedos •••


E ao longe soam trágicos fracassos

de heróia,partindo e fratur~ndo os braços


.
nu pontaa escarpadu doa rochedos!" ·

S6 depoia de tal estrofe é que aparece a Ilha verde e floral, aliáa a I-


lha Brasil ou. Afortunada, jt\ assinalada nos Mapas e cartas du No.Tegaçoea,
.
-
incluaiYe na provavelmente falsa carta de Toscanelli a Colombo:

~n.s de repente, num enleio doce,


qual se num sonho arrebn.to.do fosse,
na ilha encantada de Cipango tombo,

da qual,no meio,em luz perpétua,brilha

" árvore da perpétuo. mt\rBvilha,


à cuja •ombra descansou Colombo!

Foi neaaa illl "'


•• encantcwla de Cipango,

._6' do' a forma de um losango,


t
verde, a&e an ·
.a. d.o amplo fi.,ral riaonho,
rica, oaten"AD
• 177 •
que Toacnnelli viu ·aeu aonho
.
extinto •
,~
E . como sucedeu ftw ~onao Quinto
foi sobre
. ·
eas~L
.
· ilbft .
w que ext
. 1· ngu 1• _~..
m~u aouuol

Lembro-me bem. Nesse mn,ldito dià:


"" .
o genio s.i nguln.r da Fantasia . .
. .

convidou-me a sorr 1·r pftra


,. um· .
passe1o •• •

Irínmos o. umm.
~-· pn.í_s
_ _ .de
_ e.t ,erno..s pn.z.es
onde em cndn. deserto há mil oásis

e em cnda rocha. um Cristn,lino veio.

Gozei numa horn, séculos de o.fagos,


banhei-me. nn. água de risonhos lngos
e finalmente me cobri de flores •••

lfn.s veio o vento· que a Desgraça espalha

e cóbriu-me com o pn,no da mortalha


que estou cosendo para os meus amores!

-
Desde entao para cá fiquei sombrio!

Um penetrante e corrosivo frio

anestesiou-me a sensibilidade,
,
e o. grandes golpes arrancou as ra1zes

que prendiam meus din.a infelizes


a um sonho o.ntigo de ·.felicidade!

Invoco oa Deuses sn,lvndorea do er~o.

Pftssa
A tarde morre • ,. o seu enterro!

A luz d escreve Zl
·guezn~es torto•
. ~-
enviando à terra os derradeiros beijos.

Pela estrada feral dois realejos


.

-
e atAo chorando meus amores mortos!
.
. . 178.
.E ..Augusto doa AnJ· 0.8 c ·
onclui se
_ u extraordinário poema com una veraos cu-
jos ecos ressoarn.o depois, de modo . .
. . . talvez lnconsciente e long' '"'~-
. d '!- d · . 1nquo, na D '"'
qu1nà o ,11un o" de outro"Poet d
. . a o avesso",. cn.rlos Drummond de Andrnde:
"E n. trevo. ocup~ tod~ n.
estrndn. . · lona.n,
-e..; • • •

O Firmamento é umn. cn.vernft,. oblonga

em cujo fundo n. Vin.-Látea existe.

E co~o agora. o.. lun. chéin. brilha!

Ilha. mn.ldita vinte vezes, n. ilha

que pa.rn. todo o sempre me fez tr.iste1"


~1

(Augusto dos Anjos, "A Ilha. de Cipn.ngo", em

"Eu - I•oesin.s Completaa", 292 ed., Li vro.rio.


...
Sn.o José, Rio, 1963, Pga. 148/150).

3. - A Mó.qui~a do }fundo - CMlÕea e Drummond •


Como se vê, o tema do. Ilha., ·n.nunciado pelos Ibéricos, agora.· atinge à,
-
sun. verdadeira consumn.çn.o, pelo aprofundamento castanho a. que o levn.,n.trn.-

~
ves de seua Poetn.s, o. Raçn. cn.stn.nhn. do Povo brasileiro. O mesmo sucederia

com ~ te~n. correJo.to dn. Mó:quinn. do Mundo. Ã crítica. brasileira jB tem n.pon-

tn.do, no poema. "A Máquina do Mundo", de Drummond, a influência. do Co.nto IX


.
e do X de "Os Lusín.dn.s", n.ssim como o. de Dó.nte, por CBU&o. da forma. .em tere!.

tos• Recentemente, por exemplo, Gilberto Mendonça. Teles comentava. a eaae re.!

peitoz •

"(A. Mnquinn. do Mundo) é o penúltimo · poemn. da últimn. pn.rte de Cln.ro Enig-

ma., como é também o último episódio de n.ventura (ou de revel~ç~o) no


de Os Lusíadas. Temn.ticn.mente (e até pela forma eatrófi-


último cn.nto .

ca), poemB pode guardn.r similitudes com n. obra de Dante, como


- DB.O
0

!

-
deixa de ter também ~o.sto.nt.e coincidência com a história da tent~çn.o
.

de Jesus (Mn.teus, 4,1~~1)". (Comen~_ó.rio A "Seleta em Proaa e Verao"

de Co.~ lo~ . Drummond de ·. An.fro4e 1 .Livraria José Olympio Editoro., Rio,

• •
1971, pg. 146).
DA.Ilte e de "0• I.Daíadaa 11 - que jct aaainalei em Frei Uuuel
A pre•ença de
179
de Sn.ntn. Mn.rin. Ito.pn.ricn., entre outro ., . •
. · s - e· Vl&lvel no poema, estou de acor-

do; entretanto, ao que eu saiba, ainda ninguém atentou para um~ preaença ca-
moni~nn. muito mn.is - .
proxlmn. em ."A !.11\q~inn. do Mundo": é n. dn. "Elegin. VIII",pu-
-
blico.<Jn. nn. ediçno .crític~ dn. "Lírico. de
'I

Cn.mÕes", orgo.nizn.dn. por José Mn.rio.


Rodrigues e Afonso Lopes Vieirn., Imprensn. dn. Univcrsidnde de Coimbra, 1932,


pgs. ~15/319. Oro., essn. E~egin. é escrita em tercetos; o verso é decn.ssiln-

bico, como o do poemn. de Cn.rlos Drummond dê Andrade; finalmente, seu nssun-

to é umn.
-
indn.gnçn.o filosófico. sobre
.
o enigmn. do mundo. Se n.juntn.rmoa n. iaso
-
o fn.to de que, no poemn. de Drummond, n. "ação" se pn.s!la numo. estrf\dn. - como
'
acontece c·om "A Ilhn. de Cipn.ngo" - teremos ·demonstrn.do que o. linhn.gem desse

estrn.nho e genin.l poemn. que é !tA ·Máquino. d~ Mund·o" pn.saa pelo. Ilho. o.legóri-
.

ca de CamÕes e pelo. Ilha maldito. e esverdeado. de Augusto dos Anjos pnro. o.ss~

mir um significado mo.ia profundo e o.cero.do ~ no do Poeta mineiro •


.
A "Elegia. VIII" , de Co.mÕes, inicio. logo' anuncio.ndo o co.rctter de indn.gn.-
N

çn.o .d e que se · reveste:


"Se .qul\Dd.o contempln.mos o.s secretas
ca.usn.s por que este mundo se. sustento.,
e 0 revolver dos céus .e dos planetas;

E se quando. à memórin. . s~ presenta.


. este curso do Sol, tão bem medido

que um Ponto ,
So não míngua nem se a.umenta;

..... ~................
• ti • • • • • • • • • • • • • • • • • .•
.

Dem vê, se d~
- - .
rn.za.o se nn.o desv1o.,

aquele único Ser, alto e. divino, •

que tudo pode, mn.ndn e move e crio.;

rincípio: um Ser contino;


Sem fim e sem P
quem tudo .é possíbil,
um Padre gra.nde, a.
dificulte humo.no o.ti~o;
por mB1S que .o

1. ncompreensíbil;
um sa.ber infinito,
que naa coisn.s a.ndn.,
umn. verdn.de
T
iaíbil ·e invisíbil.
que moro. no
180.
Estn. Potêncin.,enfim,que
tudo manda ,
est·n. Cn.usn. dn.s caus"'s
.
,. , revestida
foi destn. nosso. cn.rne misern.nda.

•••••••••••••••
···!••···········
O Crist~o descuidado e negligente:
l'onderO.-o com d.iscurso ·repousn.do
..
. '
e ver-te-ás ndvertido -fn.ci1mente •

• • • • • • • • • • • • • •. • • • • • • • ••• • • • • • • • • • •
....
Nao vês que ~ g~~nde máquina inquieta

do mundo se desfaz toda em tristeza,

e
-
nn.o por causo. nn.tura1 secreta?

- A
Nn.o ves como se perde a natureza?

o nr se turbn.? o mar, bn.tendo, · geme,


~----------------
desfazendo das pedrn.s n. dureza?'' etc.

(Ob.cit.,pgs. 315/316).

Agora, é só exn.minar o poemn. de Drummond, a partir dns chaves que noa


-
sao fornecidas por essa Elegia e pelo. Ilha de Cipn.ngo:

"E como eu pn.lmilhn.sse vn.gn.mente

umn. estrn.dn. de Alinn.s, pedregosn.,


.
e no fecho do. tarde um sino rouco

se misturasse ao som de meus sn.patos



que era pn.usn.do e seco; e aves pn.1rnssem

·no céu de chumbo, e sun.s formas pretas

lentamente se fossem diluindo

no. escurid~o mn.ior, vindn dos montes

e do meu próprio aor desengn.nn.do,


, . .
a. mn.qu1nn. do mundo s.e entren.brlu

. d ,. romper já se esquivn.vn.
pn.rn. quem e w
181.
e só de o ter pensado se cn:rpia" •

. (Cf~ "Seletn. em l'ros~~: e Verso",ed.cit.,pgs.l42/146).


Dn.í em dia.nte' n.s alusÕes sobre o sentido dn. t!riquinn. do
. ·,.
~!undo se sucedccu
0
que ela ofereCe ao l'oeto. - como intérprete e crindor qte ele é - é "o pru-

to inédito da n~~:turezo. mítica do.s coisas", uma "ciência sublim& e formid 1\vel,

mn.s hermética", uma "explicação total da Vida", "o nexo primeiro e singular"
do mundo e do destino humnno: •

"e o absurdo originnl e seus enigmns, •

suns verdades nltns mnis que tantos


monumentos erguidos n verdnde;

e a. memória. dos deuses, e o solene

sentimento do. morte, que floresce


'

no caule da. exist~ncio. mn.is glorioso.,-


tudo se apresentou nesse relnn~e

e me chamou pnro. seu reino augusto,

o.finn.l submetido a. visto. bumo.nn" •.

Mas o poetn. - ·que não tem o. fé de Cnmoes-


- reluta em responder n.o "o.pelo

mnrn:vilhoso", bn.ixa 08 olhos' "incur.ioso,- ;ln.sso, desdenhando colher a coisa

o~ e r to. que se n.brin. grn.t Ul· t n. u o, seu engenhp:

"A trevn. mn.is .estrita já pousn.rn.


sob·. re o. estrndn. de Minn.s' pedregoso.,.
, .
e o. mn.qu1nn. do mundo,. ·r epelida,

se ·f 01. ml·udamente . recompondo,


. 1.
enqun.nto eu' n.vn. lO. ndo o que
.
perdera,
: .

.
seguia. vagaroso, .
. de mn.os pensas " •
.
- d
. . , . Andrad~' o. meu ver, é um Ob
Esse poemn. de Cn.rlos Druunnond de , . . .. . . : • . .
.. . - ., ·. por seu vn.lor e suo. ,formo. como pelo &lgnlflcndo
1
Literatura universo. ' n~o so . ' .

· que assume no co.mpo da Culturo. brasileiro..


,.
.
.'
I
182.

4. - A llh~ Utópico. do Dr~sil.

O cn.ró.ter meio utópico que a. llhn. ('fortqnn.do. do Bro.ail n.saume desde oa


. .... t.

começos do. configurn.ço.o do Mito - e mesmo num poemn nmnrgo como "A I l ht\ de
. .

Cipo.ngo"-, de Augusto doa Anjos - termino. po~ se encn.minhn.r n.bertn.mente, no


.... .
século XX, no.s direÇoes tro.ço.do.a por Pln.tào, Montn.igne e Thomn.a Morua - o

do Reino ou República perfeita, o Oásia e pn.ís de eternas pnzes, com ~ Ar-


.

vore do. perpétun. mn.ro.vilhn. finc~n. no centro de seu .Pomo.r pn.rn.diaín.co.l!ea-

. mo qun.ndo esaa I lho. do. Uto_p in. bro.sileirn é ,aonhn.do. num tom irônico, como

acontece com n. mítico. pn.só.rg.o.d~ -de. M~nuel Bo.ndeiro.:

"Vou-me embora. prn. Pa.sá.rgn.d.n.


lá sou n.migo do rei


.

ló. tenho ·O. mulher que quer·o

nn. cn.mn. que escolherei

Vou-me .emborn. pro. .Pn.sárgndn.

Vou-me emborn. pro. Po.sárgo.do.

Aqui eu não sou feliz

LÓ. a existêncin. é ;umo. ~enturn.

de to.l modo inconsequenie

que J on.nn. o. Louco.


. de Espa.nho.

rn.1·nhft
. u· e fn.lsn. demente
vem n. ser contro.pn.rente
t'
do. noro. que nunca. lVe

E como fo.rei ginástica.

· ·
Andarei de blÇlC 1eto.

. em burro brn.bo.
montn.reJ.
. . no pn.u de sebo
aub1re1
tomn.rel '
. banhos de ma.r •.

. do eltiver cansa.do
E qun.n
b ·ra
81 Cio rio
deito na
- -d t , guo.
n.r ·a mn.e o.
mando c h ~ ·
8 biat6ri~•
prn. IDO 0outa.r o.
183.
que no tempo de .
eu men~ no
Rosa. Vinho. me .
contn.r
Vou-me embora
Pro. Pn.sárgn.dn..
,

Em Pasfirgft...~,.
'"" '" tem $tudo
E outra civ·l· -
1 1zaça.o

Tem um proceaso segurOl

de ~mpedir a. conçepça.o:
-
.
Tem telefone automático
tem n.lcn.loido a vontnde
tem prostitutns .bonitn.a

para. a gente nn.mQrnr .

E quando eu estiver mn.is triste -'

ma.s triste de não ter jeito


quando de noite me der


vontade de me mn.tn.r
. #

- lá sou amigo do rei -


l.

te~ei a mulher q~e eu ~uero

na cnma que escolherei

Vou-me embora. prn. Pa.sárgndn.". •

(Manuel Bn.ndeira., ".P oesias", Livraria José


'

Olympio Editoin.,Rio,l955, Pi•• 218/219).


Entretanto, a .obra contempornnea brasil ~ira que iria fundir, numa barro-
-
~ .

. .
ca e ca.stanhn unia.o de
contrários, todos os elementos míticos do. Cultura brn.
-
. -
sileirn. o. que viemos aludindo desde o· começo é, sem dúvida, o estranho e for-

te poema - épico e lírico, otimista. e deses~erndo, do ser e da ruino., vegetal


e pedregoso - que é o. ." Invenç;o de Olrfeu", n e Jorge de Lima •. AI i ais, o ei-.nto


-

.
Primeiro do poema. chn.ma.-se "Fundnçn.o do. Ilh:n" e começa. o.ssim, já revelo.ndo

que o Poeta. bra.sfleiro partiu de Co.mÕes, dando, porém, um significado maior

à I lho. utópica. que a Divindade fêmea - 3


-
"uin.e dI nguo." de Pnatirgn.do. - reser-
184
vn. pn.rn. seus filhos, BarÕes n.ssinn.lndos
e Navegndores sea brnsno do I ovo
bro.si le ir o:

"Um bn.r~o
"' n.ssinn.la.do
-
sem brnsn.o, sem gume e famn.

cumpre npen~s o seu fndo:

nmar, louvar sun. ~nmo.,

dia e noite n~veo-n.r


o ,

que e de n.quém e de além-mar

n. ilha que busco. e n.mor que nma." •


.

(Jorge de Limo., "lnvenç~o de Orf eu'', Clás sicos


Brasileiros, Tecnoprint Gráfico. S.A., Rio,l967,
pg. 33).

O cn.rnter ambíguo ·e o.mbivo.lente de· união de contrários estn presente no


- .
sub-título ou tentn.tiva de explicnçno que o próprio nutor colocou no poema:
11
Biografin. Epica, 1Jiogrn.fio. Toto.l e

- . -
nno Umn. Simples De s cr iqn.o de Viagem ou

de .Aventurn.s. Biografia. com Sondn.gens; Relativo, Absoluto e Uno. ~.!esmo o


.
Mnior Canto é Denominado - Biogrnfia.". E as
- -
o.lusoes so.o tantas que nova.me.!!.

te temos que fazer um esforço para no.o citar tudo: -


"Mesmo nesse fim .de ma.r

qun.lquer ilha. se encontrava,

mesmo aem mnr e sem fim,



mesmo sem terra e sem m1m.

• • • • •• • • • • • • • • • • •• • • • • • • • •

Chegados nunca chego.mos

eu e 3 ilha ~ovediçn..

1!6vel terra, c&u incerto,


mundo jo.mn.is descoberto".

(Pg. 3~) •
. . gostnvn. de se referir, seguindo Cn-
Dento TelXelrn.
O "n.ljofre" o.o quo.l
de ·nvocar.ao o.o tarroco e
..
ns
,
pe-
-
·- i com seu po d er l ~
moes, também aparece aqu ' •

rolas: .'

"Roso.-de-Ventos no. testa,



185 •
mBre rasB . I"· f •
. ' a JO re, perolns,
domingos de pascoelas.

E esse veleiro sem veln.s"!

(rg. 34).
A ut6picn Ilbt\ Drn.sil, n,p r dn.d
ro un n n~ Torrn do Drnsil, e n~orn r ecri ndn
. no.vo.mente sob f ormn. de s
h p •
on °' ou ·nsn.rgn.d
. n., te m um .M."'r -
,. novo em r e lnçno no
. ibérico, pois o Brnsil é um meio-cnm1·nho - -
, um elemento de fusno e lignçno c~
tre n PenínsJa, n. África e n Indin.:
"Re1.ventnmos
. o mnr para essa. ilhó.
-
que possui "cn.bos-na.o '' n. ser dobrn.dos ·

. e terras e brn.sis com ,boa. n.gun.dn.

· para . n.s naves que vo.o pn..rn. o oriente".

(Pg. 36) • .

Como no poema de Frei Mn.nuel de Sn.ntn. ~fnria Ita.pnricn., lu\ uma n.lus~o õ.

descida no Hndes, empreendida por Enéins no poema de Virgílio e depois re-

petidn. por este e por Dn.nte, nn. "Divina Comédin.":


.' .....
"Vós sn.beis onde estn.o ns .lo.titudes
long itudes, limites, tordesilhn.s
e as fronteiras fechadas para n.s ilhns.
Un.s Blém dessas firmes certitudes
há. o túnel que Virg ílio descobriu
e onde o ódio torcicolo. n.s criaturas,
, .
suor e pranto correndo num .
rlo; so
e hei o.s boco.s so.gitnis - corolas durn.s,
os lábios quais dois calos,e o.s ilho.rgo.s
como as nso.s dos pássn.ros convulso~,
po.tns ungu e ndns ' breves mo.s o.mo.rgn.s,
.
· · · ·de si expulsas
nga.rro.d o.s n s 1 ' .
pelo tubo do.s ventas q~e tremeu
um bramido t~o fundo,~n.o danado
, ·o
ue o proprl ódio desencn.rcerndo,
q
do inferno que o f erveu " •
ziguezagueou
(Póg. 37) •
· n. !lho. Brns il é n. consuma.-
quo.nt·o n.o f o.to de que
,
N~o resta, dúvida, porem,· . d
sonbo.dns pel os Nn.vega.d ores - o. e
~ ca.stnnhn. d aque l.o.s
çno bnrroca, áspero. e
- Drnndno,
Sno - Cipo.no-o Af
186 .
b ' n o~tunndn, n. dns Sete c1 li '"'e s
· . l - .:1
- n Il h n OJ !tt c se
ren.l i zn.rá, enfim, 0 sonho de
Dom Sebn.stino
do que efetivn.ró. profet· ' ·o ne j Enc obe rt o, o He i n c se jn-
lcn.ment e ' messlnnic
· nmente -
mais contrn,rlitório ' n. miss no c~ o Drnsil ; por
e pobre que el e nos O.Jlnreçn.
e m sun. g rn.nde zn r en l:
"C ontempl 0 n.s r o h ,
c ns purns que n.ssistirnm •
pn.ssn.r por es sns t n.rdes cnrnveln.s•
o 1 . . ,
su co lndn foi ontem, doce Olnin.:
Tu jn.zins nos An.JOs, ( co1sn.
. estrn.nhn)!
descobrimos nn.s ondn.s essas n.lgn.s,
essns !ndin.s, tão nuns esses ventos ,
essn.s n.dmirn.çÕes em '
S~o - •

Drnndn.o!
. .
E depois escrevemos umn ( n. de Cnminhn)
cnr~n
contando tuns grn.çns, nessns prn.ins,
sobre os giolhos dns moçn.s, nns verc;ouhns.
No entretanto, n.li e stno o.:s outro.s fn.ces.
Ah!ns prn.ias e n.s trn.gédins e n.s Ineses,
e os pressó.gios bilingues, multilingues

e n.s v1soes - - •

-
.tn.o fn.tn.is ., tn.o desn.bridn.s.

O desn.pn.recidos, ó encobertos,
,
o perdidos nn.s guerrn.s e nn.s copln.s,
eu moro junto n. vós, nesses rocl1edos
dn.s certezas finn.is desencontrndn.s,
reis desejados, sopros ocultn.dos,
esperança e renúncia, ó Dom José,
-
queridn.s confusoes, graçn.s vos dou".
(Pg. 59) •
.
.A Ilha., como ·P ero Vn.z de Caminha. mo.ndou dizer n.o Re i Dom Mnnuel, é pn-
. .
rn.disín.ca, .de bons ares e · bons n.gurudns, com arvoredo edênico onde um Povo
. . .
pn.rdo, que vai ser o núcleo n.cobren.do do. futura. Onçn. cn.stnnhn dn. n~inhn do

MeiÓ-Din., , o Povo brasileiro, bn.nhO.-se nn.s águo.s e dn.n ça.- como Povo ten.tral,
.' . .• .
dn.nçn.rino, musical e plástico que é:
"Essa terra do.nçn.dn., Dom Uo.nuel,
de ponta. a ponta é todn. de o.rvored os .
E todn de arvoredos e de nr hom ,
,
como 0 a.r bom de Entre-Douro-e-Uinho,e ns o.gun.s

8 ~ 0 muita.s, .infinita.s, tudo dnndo,

------- ~- ---------- •
dn.ndo peixe 1 187 .
. . . ' · · u.vnnd o ·
ln.mbend , . ~. c ~rne nu~,
# .

o os pes dn selv
A feiç. ~o · # ~ emb nr nç os n.

e ser p d
Bons nr n, b6ns nnrizes
vcrgonhns nuns b •
' on.s cnrns".
(Pgs. 63/64).
No nmbiente mítico já •
Plntndo por Frei Vicente
pns s nm
monstros' homens do ~11 r.• 'a.4
n.,.. e d o·s •
• • rlos, n I pupinrn ou I pup'I nrn:
ti
••• Cnnibn.les •

'
cnnibnis ' upup·
- l.nrns, -
cn.es e pe ixes
~-----

homens fluvi . ,
. n.l.s' nos índios' curiqucns •
• •• ••••• •••••••••••• • • •• •• ••••
• •• • • • • • •
T'l
L
~
eu cenino .oe queno, t Qd o penns
, ...
.cu J.ndio diferente, . mn.u. selvll trem
•o '

bom selvagem nn.scido prn. o humn.nismo


'
n. lei dn. no.turezn. me despindo. .
. '

con pilotos· e epístolns,cnbr nis,


-
nnveg nçoes e vingens e rnw~sios
~ ·
sn.ntns-cruzes ' vespucl.os, ' ·
pnus-bra.sis".
(rg. 64). ·

As madeiras do Brasil nno s~o


"' npenn.s úteis, sno tn1nbém - '
S:'\.cr - ~,
'-"õru.u n.s, pois

fornecem tipos de óleo que' como d lZln.


. . Frei . Vicente do Sn.lvnd or, servem

tnrr:bém pnrn. os ri tu,nl·


·~ s f unernr1.os
,.. ·· de unçno
- '.e consngrnç~o: -
..
Uf"
vonh eço p 1nntas prn grudar
.i
memória.s ' .

bons embirns amnrrnndo --os cantos


'
r e sinns, cnscas pnrn funerais,
pnrn cnçndns, cantos de pescnr,
ó filns de antas, tnqunrais, cannstrns,
ruídos tristes, lnrgndos, desn.bn.dos".
(Pg . 65).

! fn.s os Portugueses e l!:spri.nhóis, . n.o fundarem .e encontrarem n Ilhn Drn.sil

-
o. sudoeste, nno esto.vnm somente encontrando e reinve!lto.ndo o reino vegeto.l
• •

er.sol nr nd o, pe-
dn _Vênus-Afrodite: estavnm também fundindo tom ele


o Reino

dre goso e cheio de cné:tos, do


-
estro.nho Serto.o cantado por Euclydes dn Cu-
...•

nho., misto de inferno estiva.l e fden de fru~os estrelados e verClelhos de

Co.rdeir os , Z l 2 orn.do de prn.tns r~=otas e pedras incrustadas, dominndos pelo

si gno solnr do Leno · e com Foibos-Apólon como divindade t a t elnr:


. '
,,.-- . .J!
I .~ ' ~. ? ~·~ "'10 -· oi/'\ ;,~ . :f t
;,.... !" .•"'-' \: a.AL. v tW'\
.
. -
.
. .' . ' '
. . . :
. .
. , ..

~ .. '

-
'

l eao uilü.
. .

-
..•• - . - - e o s el eexe .•
~iva;

\.L!:ori:.-es g l.rr..ssol.s cuj_a.a ·a.rde:ete laT:,..s


..... .,...._ . .
sao a ig-niíic.açao ~'lis 'pur.s-ente
..
e ~1.is IUil"~). •

.t
'

C-ertos dias esse ttiTo é -


ta.o f'or t .e e . -
t.~o dUro
.
·:3"::e
- r~areeez 03 ~ ois cua.s r~~-·oi taTa.s

e a. fa_zer os cactos ••
.
• •

«i..! e r diz~ r: li i ::etri a. ~~·ice ia


. ~-

e= colocar espiDh~ OD~ e


r

dos ra.c etedos nast:-o.s . ,verdes


d.e g~~nos. e$t4rihu~-di%Ad!Js
. ,.
f!:u-o-», fort-es, blind~os cc.cr.o
-
~ de· destra içao e
. .
!tri&,
'

3!1 it i~ha.:..se o san"E;ce ~a F-<:claa


es:t.rir.en·io y·a.que i ros e . uin-a
de r.~rtos tr-es?~ssa:doi: ~"C:arrlo
,..
.. ,
di st.ra1c os perpa.sst\"'•Te-se


- -..
... -" ...
"'

t!'""•

sa--....

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l ()of: O.
- ~

-
.:=.. -· . O.., •
O !C~G lo:' -
-
c -
e o S"'.l C.? s s o r casta:. h o do. s 1 t ,..:f l- Q-

--- ~

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tro!::.co,

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·.
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1 i:.'G l. C1 E • • • J1~l U õ ~
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re7oluçc·~ê 11
-
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r::.cs s.eus ~.sso:&~l:.r os , e le .s;

Oc -· -
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r.ro
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c-e - at T'·! i"'ie s

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ce e ~ - - ···- f-... ~ -­
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- - ~
~~--C'_.,.

-
----,
~-~ e e -- .~-
! .~1$11'· - .........
t ··· -
...
,...,
··~

to, da ?aa ir;~a co 1~eio-Dia: • •

- ~~
"' ~ ~a ~-- o •~eil ~""e stif I o ·
\'epe za t.4"""
~'"'r OI:: -'"~
- ._ ,._ ' -.·'!!: ~ "' • --r ..... ,
-
sno seus cnbelos 190 .
resse:nnnte -velo,
n bn.rbn · 1 í~pidn, # •

eol i,n· bnrbn.tr"'na.;


o senso esfrin a ~1· .
o or~n co~o · ~elo·
o J

me~ein. n. test.n.,o:s brnvos desen~nnn:


Durn. inquietr.ç~o d 'n.lmn e desso. vida.
colonin dos i~p~rios ~nl~nns cidn.
A • '

ror que tnntn ocennin, tnntn eti6pin,


por fog o e ferro se~pr~ co nquistr~as?
Por que tanta aflição por t anta cópia ,
so.lvndores de terras f.ntigadn.s?
·Cornunl hns desse .wur!do, cornucópin
d e : promessas jo.~is renlizndn.s? ·

Por que esse messinn1smo vos lisonje •

pretendeis encarnar o ·que estn lóng e~~


••

Eis nqui .essn resteln :nve canora,


em penns de cn~snnd ra .~ennscidn,
coleira. circundada cor~e-o..corn.;

o.ve fa.dn.dn -
nn.o ino.dvertidn,
• •

edin.ilte dos sucessos r.e ~ er.:orn

a sombra projetndn pela vidn.


-
C nve de cla.roes nssinn. la.dos
de vôos dentro do tei:lp,O recunrlos •

-
Xao II!e extasio diante
.•
das viagens
. ..
' l

mns de quem fez os ~ar~s me e~tnsio,

de quem dotou ns .plnntas, de plumagens


e de pltu::ns . dotou esse navio
que nnvegn. entre .síobolos e imo.g~ns

restelndo no pél~go vnzio •
Eis Ciro e Cambises rei da Pérsia,
. ~
perse1uns, rerseu de nlta solércia.
dn.s

E is re rseu Co...
~ sun. nmà e rocim pag o

. e g-o,lrro corredor e Sa.neho e ln.nça.


o b

e pendências ec
·
'
. .
- 0
vn.
de • -
vno estrago,

de válida invençÕ:o e b~n. a.ncnnçn,


f ·'·
de Amn.d ises le lS o ~undo vnuo
~ ." . ..-o .
.. . , t . do o · que nos .res t~u. pór. hernnçn.
que e u . ,
.lh o escudo qqueo; o som
Adin.nte o brl . 9' ·~ .
. ~n t es do Do~.
nntcs do. voz' Qu i x ote ,

l:ssn crônicn r l· e 1 cl r" . 191.
v l l · e r.f\ C\
t,.. .l
.Be ne <Jut:.C' v C
:ng eli es . ..
. crlvno-mor· a'e ln l' n. ·
em toroent os ~ , .. act~ n.
. Slc bolo s. cccpetc
com n. nventurn. _'r eal ~
que s e des~~nc h~
e se refnz
· . · em
. poem n e· .•10~ 0 . r epe te ,.

em luz e so6brn, ec .
cl ~rid nd e e ~nnch •
que tudo é n.asim, n fn~ula. vul g~r .n,
que funde no homem • . .
' c eu, terrns. e mn.rtt.

(Pgs. 81/82).
A estra.dn. do mundo, "n. imensn. e
rutiln.n~e Cobro." da mó.qu i n n do
pnrece, ~nrebém re~erida em tercetos . . ~~nd o,n-
' como .no poema. de : D....,n•-ond
·~ , e t n~b ém
-
com.:umn. nlusno no Cristo, como nn El~gin
Cnt!cn i n.nn :
~O longínquo país tão pnrnl~=~I~o---------------­
com seus rostos d~ so m~ rn.s nne lnnte~
,
porem n. serpe' s e._mpre n s erp€· nn t 1gn..
.
'

A estn.tura da vidn nive l nrln


I

em dor e · suor, e·m '


sar~~ e e gue rrn i mund n,
l
em oividos de céu nntes e n.r; Ós •

E só pressentime~tos, só ns horns
"
~\ '
.a curta clnridade entre os nbismos
que nos nssustam ·onde quer que vnmos •
. . . .. . .. .. . .. .. . ...•...............
· ~· ··
•• •

Ern o rincho rnst~iro e era n asn cinza,


"I •

e os ginetés dns so~br~s gn lo p~ndo


.
. '
ncaso ·entre sig ilos obri gnd os. •
....

,
I'es -
e mnos como Aquele, redimindo.
E tnntns
. -
puniçoes e tnntns cul pas.
{Vem pnrn o bnile agorn, soluçando!)~
(Pgs. 314/316) •.

Como se vê, o. mt\q:uinn. do Mundo r\.qu i tetn -l\ce ntua.d o o seu cnrát er i nfe rnal;

. • .

qu~e domi nn. t ud o é n. Rosn v e r~e l bn,
porem, mais do que o Cristo,· n. Divindone
#

f '\

vestid~ de Sol, feminin~ e mnterna, n~me protetor dn Ilbn cnstnnh n do nrnsil;

- a R4inhn. do Meio-Dia.:
"Todn.vio. re s piro essn roseirn
I ,

tuteln.r. nego .... a. . o qu e ~nxertos, o



que tintBS mais que. rô sens . :QunnàO que ro
ela. nÃo quer. Retrai-s e e~ si~ Pa.d e~o •

Repouso 192.
eo se~s es p intios: sin~
. t
re g1s . u O ns ll! i\O S
ro ess t . - '
, ns rnlçoes,comp ll"co ns hnstes
corro1dns · pelo e~p
. ~ nço ~ nmadas pelo
renitente horizonte dos
. tleus ol hos •

~
A ros~ ~rdente col be-me
, em seus rnios :
e uma.
, engrenn.rr
-. . e.m lu'"cl·d·n
~~ em destino,
e· od •
e r n sempre ~odn, rosn rubrn.
Circulo ne sse nr.d or · circunvolvido
. ,
testn.
.
e pés ' serpe unida., céu redondo,
girn.ssol ou tr:lle~a' cruz obscura.
Cresço em brnços·. Along o-n:e. Teu rosto.
Teus cn.nsn.ços e . mnos p_;s obr o.nc~ lhas'
és formosa em clarins~ ~nda Rosa,
soçobrada em lic~r, t~rei bebido?
Terei yinhos, terei m~didos ~ pnssos,
terei copos? Terei? Sonos em runs?
Dormirins comigo, rosa rubrn?
Cobririas ~eu rosto em. teus libidos?
Soprnrin.s teus reais em meu candeeiro"?
.
(Pg. 313). i·

-
Entn.o,
~.
será por causa dessa turvn. ' e npa~xon~ n exnltaç~o dioniaíncn que
.
o l>oeta, encn.rnnndo todo o Povo brasileiro. em suns zmíltipln.s cont rn.diçoes
-

.fundidas em unidade estranhn. de contrastes, exal tn esse mesmo ·Povo como o

hnbitB.n te dn.nça.rino e épico da. Ilha Dro.sit; rn.ci ona.l e intuitivo:

"Kessn. geogrnfia, .eis o pnntocimo.


.Ah! o P antoõllii!lo! l~lt~plo i c:! itnndo
I I

mitos, seres e coisn.s


.
•.
.. resscn.lmente.
Convictamente é tudo e.til potencial.
Ma.is vn.le
. .
-
convic~ao qu.~ esso. teorin,
que nqu.e le dicionário, . e n.quela. Cólchida~
Mímico rn.cionnl. Ah! o pn.ntocimo, .
' I
..
- esse intuitivo~ Mon~~tro. e semideus.
. l"lhn. ,
.; e 1e ~ n.nço. n i lLn.
Ele povoa. a. . , ,
Ele heroízn. n. il bn , ·elle e popelZB·

Desarticulnç~o f~lannmente.

!~da dramaturgia. se possess.o, - .
• •
bufo.
se fábula, se in~ui, se histrlno,se
·b~nte
.Ah! cor1 u.
~lóuico,
o ·
;Ao
nlins lóg .
i co,
. te nng~stia. · - a fnce
linguagem trnnsp~ren '
flexíveis 0 lh 193.
os, ·membros 1
Pa nvrenndo.
Desnrticuln~-no ~~ -b -
~ ' 1 ertn.çno.
O contingêncià: d
esnrt~culnr,
dançnr, pnrecer 1·
. ; lvre, ~ exteriormente·
e ser-ae """d ·
-~
j • '
o, e ser-se bnilnrino
,
nos b~ilnrinos, todos ~ns f ~
. . '
unnmbulos,
todos uns fulnnos • . Então, d:mcei me.
Perpétuo Orfeu e tudo. Pulo e chno •

Polichinelo, polich~o dessa ilh~".
(Pg. 84) 4!
. . ..
.....
5 - S.Q.Q Snrue,
. . ou .-"A T•
'--'.topia Popnl~r.
Finalmente, parn concluir est~ te~e, nn~n melhor do qu e u~a referi~cin
.. c -
e pc o t , . . d "'r· s-o.o so.rue",
.. .
a onc .;n u op1.cn a •1a.gem n •
do ennto.dor e fol he t i stn l 'n-
• '"
nuel Camilo dosSa.ntos. Eu gostn.rin n.indn. de exa.ninr..r e lignr a p iotu rn de

Frn.ncisco Brennnnd aos Pe>etns barrocos bn.hinnos do século XVII; n. Gr avura


,
feita. por Gilvan Sn.mico e a. l:úsicn comp osta. p or Antônio José l~ndurcirn {'. O
. .

gnoe· ncerndo e cortn.nte da. prosa. de Euclyàes da. Cunhn; de ligar 'C.s
.

' . ...
.
Sertoes''

Pedrn. Bonito. - Cnngnceiros", de José Lins do Rego, assim co~o a


11
a essa. ge-
..
.... 11 d J -- .
,. • .......
nial obra.-pric:;n que o "Grnnd e Sertn.o: Vere d ns , e · on.o uu1rurnes .. f'>
osn •.T"Je-

pois, num giro barroco, vÓltnria no começo~ lignndo novnceote n pintura de


• ••
Frnncisco Brennand à. t:Úsica · de Villn-tlobosc

1r
~.; as e' preciso concluir, de .::odo que, mu~to de · p~op ósito, escol ho, . par!:S.
. .

1sso, os versos a.tro.vés dos quais o roetn. ·r;opulnr, co= o~. pés fin: ec t.-::.te

-
· finco.d os no Cl1no su b.t.erro.ne · brá~ileirn,
• 0 dn.,. Cultura. ·. ... . - oarece unir I tcp.nric a.
...
. .
e os fiéis de Antônio Conselheiro (ntravés ~ de Eticlydes d~ Cunh a ) par n f unC:a.r ,
.. .

trut:bém, a sua I lha de Utopia.:.


.
rrnoutor n:-estre pensamento

~

c~ disse no dia: - voce


Camilo ·vn
'. visit~

0 país -
"Sao Saru~
"
'
...

. ....~ - o
pOlB luuar
e
melhor
,..
que nes t e mundo . se · ve.
• • • • • • • • • • • • • • • • • ••••
• • •

Iniciei n viagem
à.s duns dn. madrugada
tome i
.0 cn.rro d~«• b risn
.
Pnssei peln. 1 ·
. ( n vorn.d n
JUnt~ do quebrn.r dn.
eu · bnrrn
Vl o. nurora
nbismncta..
• • • • •• •• • •• •• • •• •
• • • • • •• •
Ao romper · d
n novn nurorn.
~enti o enrro Pnr ~r·
oll1ei e ~i .
umn prnin
subi ime. de e· ncnntnr
· · .
o mnr revolt 0 b n.nhnnd
.
o
n.s dunns dn be.lrn.-ülnr.
.

:!-.r • . •
.. a.Is nd In.nte uma 'cidnde
como nuncn vi igunl
todn. coberta de ouro
e forrOrln. de cristal
. nli
-
nno
.
existe pobre
,
e tudo rico em geral.

········~········~···
Ln, eu vi rios de : lei~~
barreira de· C&rne ~ nssndn
1 n.gon. de me 1 de nbe lltn.s
.
atoleiro de c on lb-t..ua
~ ..
nçude de vinho _quinndo
. . .
monte de ·. carne guisndn •
• • • • • • • • • • • • • • • •. • •. ••••
., •

~~do ln é bom e fácil


-
nao precisa se comprar
-
nno . hn fome e nem doençB y

o povo vive ·a gozar •

-
tem tudo e nn.o falto. nn.dn.
.
sem precisn.r trn.bnlhar m.
1

(Em . "Litero.turn~ .l' opúlnr e:t Verso", An tolog il".,


Tomo
.
r, · :.~inistério
') -
da Educn.ça.o e Culturn,Cãsa.•


I .

de Rui .Barbosa, Rio, 1964,pgs.555/55 8) .


• •

Como se vê é UI:ln. I)asárgnda. ou Ilbn. ;Utópica. populn.r. l!ns nessn Ilha , além

do Ócio bem-a.venturndo, existem outros· liitos brasileiros, co:no, por exemplo,


0 do Eldorado, nliás descrito num est{lo bnrroco-primitivizado bnstnnte ex-
1S5

press1vo:

nL{\ os tijolos das cnsn.S


-
sno de cristnl e :mnrfim
as portas b~rrns de prntn
fechaduras de rubim
.
ns telhas, folhns de ouro
e o piso de cetim".
(l}g.556 ) •
.

Em nlguns lugares do. ámérico. 'L n.tina. o mito do Eldorado ~ s : .... _ _u :. f , c e

da. Fonte .dn. Eterno. Juventude, que substitui o Ouro solnr peln. i mortnlidí'. -

-.· . ..
de. No "Pa.ís de Sno Sn.ruê" essa. r ·ormn. do mito . renpnrece - e que é t a~ to

mn.is importante porque, como em Pnsnrgn.d n., o número de mulheres cu j os cor-

pos sno jnrdins repletos "de crn.vo e rosn" é grn.nde:


"Lá teo. um rio chnm~do


'

o. bnnho dn mocidade
onde um velho de cem anos
.
tomn.ndo bn.nho à vontade
quando sai fora parece
ter 20 anos de idnde •

., nn.o
Ln. ·- se ve" x:mlher feia.
e toda moça._é formosa
a.lva, rico. e bem _ dece~te

fnntnsinrln e cheirosa.
igun.l a u~ lindo j~rdim

repleto de crn.vo e rosa.".

(Pgs.557/55S).
• :1 . •
-
.
dn. Terra dn Promiss no :
pnra encerrar, o velho mito , JUa~~co
Finnlmente,
'
. •o é de beleza.
"Lá. existe tudo qu ~n "'
to é bom belo e bonito ,
tudo quan '
e bend i to
parece um lugnr snnto
dn. Di vinn. Natureza.
ou 0 jardim
. m~ta.
. · to bem pela. grandeza.
1 mu1 _
t . promissno
n terra da. nn ~gn -
\( · .. s e .An.rno
pa.rn. onde i) tOl se :
·d ·a. o povo de Israel
con uz1 .
ue corria 'leite ~ mel
onde dizem q _
. do '~ céu no c1no
1 "•
e cnín. ma.nJa.r - ' •

{Pg._ 558) •
Desse modo, 0
folhet o dn. "Vi ngem ·a S~o Sn.r u.ê 11 , i nci nd o coro es trofe~ em
.

sextilhn, teri::inn. cor.1 duns estrofes fe itn.s nn. formn. c no r it,uo d o ".~ r r te lo
-
n..s~~l.Oj)n.d o, o que pro p orciono. u m COI:i!e nt ~Íri o s i~aif icat ivnDcr~tc n.·t o enc c r-
- ,1.

t• 1 • ~
ro.r esta tese: porque o ~.::!'_ve ... o- sur g i d o dn. dccitun. i béric n do Século de Cu-
Á

..
"'
ro - é jn, pororn , umtL -
crin.ço.o 'brn.sileira e
.
c n.st.n.nh o. do nosso I'ovo, de u od o

que essn. estrofe citn.dn. tertainn. por nos r elig nr a o p onto de ond e }"Ji'. r t i~o s ,

_ 0
-
l'ov o cn.stnnh o da Ilhn. Dro.sil como centro e consumo.çn o d o. l 'eal~ ;'!.:;uLl. Ibc"' -

r i c o.' d os ')).<ou r o ~hJ '


dos J ·t ldeus ' dn. \.f ri c n ' d n,n r nd i n,s - o verJ. r:-Je :. r o c en tro

,
e ponto de encontro. (1n. lln.inno. d o l...' el.o
• n·
J 10..
197.

1. A.B .i.n.EU Cn.nJ.:Ii s +.r nn o '-rle '~


or i n
I .... •
" ' - '" - I''Q ?.n ,s IIH • , ·
1st
4

~'t do Dr n.s i l'~ ' de Fr ei Vi cente


:i • ... ' " {\ ';

t
d o .lSn.l
_ vad or. (V. e s t e · )•
nome: . .
~ .. '

u
. ~~C :'1·
•• • -l

~
\I
n ~.,

' ... ~
) H~
I'.
......

' Cn.r~ i strn.no de - Not ns
.
n ,;~I i st'
;

O~ l n. Ge r n.l d o Dr ns i l ", de F . A•
de ~V~1·nha.gen . (v . est~ n op1e} .
i I
:I
I

2. " ""ite f lexoes


,..,. sobre n. Vo.id ad e
..
dos Homens n Li '\'T nr i n. J o- •
I

..
se Olymp io Editora Ri o. I g ·~ t')
f.lt .

'
' ' ' ~ \)(). t~
3. A L~NC An, J:o s é d e - " O Gua.rn.ni I ', _Li- v rn,..__ in. n
, ,.,..._ .... l. r ogr e.ss o--Bd i t Gr á. , Snlvati or,
.
Bnhi n. , 1 954, 2 vols. ,'• tl

• •

.A L~~NCJ.l1. , Jo s é de- " 0 Sertanejo"}, Lnd.. 1. t 0"":"' n ~ .; C n - 'D " o , 1 ''~ro


"1 "" .
• \" · .;."..L , .,, \;!
..;)no . d l.UJ..
..
4. .A..t\1)RA.J::C, C.nr 1 os Dru.r;1mond de - li n. ' •' rHt
A \:..i' n.qul "
ao ~~urul o 11 , em "Seleta e.m
II •

I 'ros n. e Verso, Livra.rin. J ,<) s é Ol:y-rup i o Ed i t orn , Rio, 197 1 •

v-.

..~~J OS , Aug usto dos - "A Ilhn. de :Ci pn.n~ o", e m "Eu - Poe .s ins Coc:1p le t ns'',

'
29~. ed . ,Livraria são José~;, llio; 1963.

·s.

BA.NDE IRA, ~- r n.nuel - "Poesio.s", Li~"rn.ri t\ J os é Clymp io Ed itor a , Rio ,l 955 .


_,
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Ed itorn. ./ltica, Sn.o rn.ulo, . 1975 !' -


8. B)-.4'1BOSA , l1tiy - "Coletânea Li teró.tin.u ,-.-.C ia . Filitora Na.c ionnl,
-
Sn.o Pau-
,

' . .,
I'
1o
>

t 1 9~1 5.
...•
..
'
9. BEVIL;\QUA;. Clovis
, - nr.:pocC'\
- a e Ir.'dl.Vl'du
. \" lidn Aes ·:- Estudos Literftrio s ", (hll (.. (I;U>

Li vrnrin. ~ing n.lh~es, Bahia., 1895 .


~ "• un ... ,.;: un.s Grandezas do Brns il",
1O. BHA.J""DÃO (?) ·, Awbrósio Fernandes - · - lrl..~;.;ogos

2 ~ cd •· integral' St;gundo o npóg r n.fo de Leiden, ntn:lc nt nd n., ,por


Gonso.1ves de ' Mell6, I ~.: .prensn. Univer s i tir i n. , Reci-
•' Jo s é Antônio
.
\
fe, l0 6 G. •

·1" i T' ·
r, ,, .h'r,rla• Jose' Ol yulpio :d i t orn. ,
·rn.s1
D , - ~-·A
11. CAL\f CN, Pedro - " Tl istório. do
. ..'
~~ 6d., Rio, 1963,7 vols. l
'!,rn".nue 1" • . Trechos c i tnd os por
21-! ei Dom · ~~ ·
12. C..~1I NHA , Pero Vo.z - "Cn.rtn. a. . . Texto integral citado por
[ ,_1..,. 1\. de ! v o.r nhngen.
A • :sou to ~. ! n. i or e - •
...
~
1 , c(V estes n othe s ) •
T'edto . n. ruon •
13. I u is de .._ l SS.
" Os LU!.> Í n.dns ", C" ' " O'tJrn Col::r.>l cLn",
n . l ('..:~ G 3 .
lJ!
r:.gu i l nr Ld i t orn J
; ~ lo,

-..
·C.;\).!üE.S ·, Luis d e - tt r ír· 't ,., -
.u lCn. u e t, CUJoes''
' or g . por J o::;é ~fn.r i n. n oc ri ~tte ..;
e ..:\f on .s o Lope~
~
v·lelrn.,
· ! ~pren s a da u ·
·n lver s i d ru.;e de CoiClbr a.
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ffA n tolo r:r J'. n d os roe tns Br a sile ir os dn
H0LlÃí\11.A, Sérgio Dun.rque d e - .~. e- u·

• , . da Etlucn.ç~o e Saúde, I nstituto Na-


Fn.se Colonial", 1linister10
d~ I mprensa No.cionnl, P..i o ,l 053 ,
ci on n l do Livro, Depn.rtnmento .

2 vols.
Ll'Cl <~ssicos Drn.sileiros ' Te cHc-
"
20. - "Invençn.o de Orfeu , "·

print Grn'f' <'A ., Hio, I9ô7.


· 1cn u•
21 • -
"!·-~f 'T
l ~, -
·- Y ,~ •r.)• , Bn o - "Ev
nnge lho" de ~{..
Ed
p rovndn. e m 1842 paln · R . 1 ·-
.... o. o ?.In. teus
' .• feita a pnrtir cl n n-
"' ~.n. ln Ht Y.~ ona :\:nrin.
s/n elo eul
r· t or,Lisbon,
Prn. çn Lui s de c' nm-o e s ' 2 O' 1 D19 •
'
22. h~AT OS , Grer: o'r 1· 0 d~... - ''Ob rns .
~
~

~omp l e tns" -
Ediçoes Cnl t .urn, ~~o Jlnulo,
'
23. MELLO, Jose ' 1ntônio Gons,nlvt:\s · de ,,"n.r.. s t ud os .
~~ \;i -
Pernambucnnoo11 Impren
sn Unive rsitária, Recife, 1960 .

. i) '
-
.
' 24. MELVI LLE Hern:nn - ''1foby Dick" tr d · ·
' ' a • bras . de Bere nice Xn.Yier,Li-
vr n.ri n. Jo sé Olympio Editoro,
\.. .t~.io,l957, 2 vols. "! )

25. MONTAIGJ\"E , ~.f . de - "Ensn.ios" ·•


trnd. liras. de Sergio 1\!illiet·, Ld itorn.
'
Glo b o ~ Por t o Alegre, l 9ô l.
26. !.!ORUS , Th omn.s - "A Utopin", trnd. brn.s. de Luis de .A.ndrn.de, l:d içoea -
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e diri g- . por José I'o.ulo Pn.es e: Mnssnud r~.1 oisés, Editoro. Cultrix,
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Sn.o Pn.ulo, 1967.
3~. PENNA, J.O de 1\leirn.- 11Em Berço Esplêndido- Ensaios de I"sicologio.

Col c t ivn. Brnsileirn.", Liv~nrín. José Olympio Editora,Rio,l974.

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'33 •

SALVADOR , Fre i Viccnte .do u.

• A '

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'\jl..
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