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Como citar este artigo: Rabelo DR, Goes BT.

A era da Fisioterapia
Baseada em Evidências: o despertar de uma nova forma de ser
fisioterapeuta. J Evidence-Bas H. 2019;9(1):x-x.
Artigo conceitual

A era da Fisioterapia Baseada em Evidências:


o despertar de uma nova forma de ser fisioterapeuta
The Age of Evidence-Based Physiotherapy: the awakening of a new
way of being a physiotherapist

Diego Ribeiro Rabelo1, Bruno Teixeira Goes2


1
Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública. Salvador, Bahia, Brasil. ORCID: 0000-0003-2527-4625. rabelodiegoo@gmail.com
Autor para correspondência. Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública. Salvador, Bahia, Brasil. ORCID: 0000-0002-5782-6394. btgoes@gmail.com
2

Você já fez esses testes de atenção disponíveis Com o intuito de driblar esses contratempos
na internet? Em um deles, o comando é conta- muitas estratégias foram e continuam sendo
bilizar quantas vezes três garotos passam uma utilizadas (Quadro 1). Porém, todas elas car-
bola de futebol (mão a mão) entre si. Focado regam alto teor especulativo e uma grande
em olhar quantas vezes isso acontece, a maio- possibilidade de gerar resultados enviesados.
ria das pessoas (inclusive nós) não percebe que Para não incorrer nesses equívocos os clínicos
uma tabela de basquete ao fundo do cenário precisam se basear em pesquisas científicas de
desaparece aos poucos. Guiados pelo comando qualidade que produzem resultados com menos
dado, a tendência é focar na atividade propos- incertezas e aumentam a probabilidade de
ta e esquecer todo o resto. A consequência disso acertar (esse é o ponto!). É nesse contexto que
é a interpretação equivocada da realidade e surge a Fisioterapia Baseada em Evidências
uma tendência a fazer más escolhas. (FBE). Tudo começou em 1990 quando Gordon
Guyatt da universidade de McMaster cunhou o
E o que isso tem a ver com a fisioterapia? No termo Medicina Baseada em Evidências (MBE).
exercício da sua profissão, o fisioterapeuta será Avançando um pouco mais no tempo, em 1992
exposto a muitas informações e estímulos diaria- foi criado o primeiro grupo de trabalho sobre
mente. Como foi visto no exemplo anterior, esse MBE que teve como uma de suas primeiras ati-
terapeuta pode dar mais valor a alguns relatos/ tudes publicar o artigo Evidence-based medici-
sinais/sintomas em detrimento de outros e pre- ne: a new approach to teaching the pratice of
judicar a sua tomada de decisão clínica. É im- medicine1. A difusão internacional do conteúdo
portante frisar que essa conclusão não se trata deste paper e de outros que se seguiram con-
de uma questão de opinião, Daniel Kahneman feriram notoriedade a esse conceito, em partes,
dedicou parte de sua vida a demonstrar como recém-surgido e abriu caminho para sua conso-
a mente humana – sozinha – é ruim em tomar lidação que perdura até os dias atuais.
decisões racionais, o que inclusive lhe rendeu o
prêmio Nobel de Economia em 2002.

Submetido 12/12/2018, Aceito 20/12/2018, Publicado 08/02/2019


J Evidence-Bas H, Salvador, 2019 Junho;1(1):x-x
Editor responsável: Luís Cláudio Lemos Correia
Quadro 1. Tipos de Fisioterapia

Rapidamente outras áreas da saúde entenderam de atuação clínica. Mais recentemente, já consolida-
a relevância desse novo modelo de tomar decisões da, vem acontecendo o reconhecimento desta área
clínicas e perceberam que tais conceitos poderiam da saúde pelos consumidores, demais profissionais
ser extrapolados para suas realidades. Essas ini- e sociedade em geral. A mais nova mudança de
ciativas deram origem aos termos Prática Baseada paradigma vem se caracterizando pela efetivação
em Evidências (PBE), Enfermagem Baseada em da ideologia da FBE, que por ser recente, natural-
Evidências e FBE. Especialmente na fisioterapia, mente, enfrentará inúmeras barreiras e resistências
a criação do Centro de Fisioterapia Baseada em ao longo deste processo.
Evidências (CEBP, em inglês) em 1999 deu voz a
esse debate e fomentou a discussão sobre o uso de Características e desafios da utilização da FBE
evidências para ajudar nas decisões clínicas.
Os conhecimentos e habilidades dos fisioterapeutas
A implementação desse novo modelo de tomar deci- em PBE não são diferentes de outros profissionais2.
sões clínicas representa uma grande transformação Todavia, muitos estudos ao redor do mundo se de-
no modo de pensar a atuação do fisioterapeuta e dicaram a mapear o perfil desses profissionais que
não é a primeira vez que uma mudança profunda aplicam a PBE (leia-se FBE) a partir da análise de
de paradigma como essa acontece. A fisioterapia diferentes parâmetros, como é possível observar no
começou com uma abordagem técnica e lutou muito Quadro 2.
para se tornar profissão. Após essa conquista passou
a organizar as suas diferentes áreas e seus limites

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Quadro 2. Avaliação do perfil da FBE

Especialmente no Brasil, há um movimento impor- 2) Organizar e ampliar o ensino da FBE nas esco-
tante de estudantes e profissionais apoiando esta las de fisioterapia. Comumente, os estudantes são
“causa”. O que no passado se configurava como levados a crer que há uma dicotomia entre ciência
raro, atualmente vem se tornando cada vez mais e prática clínica e assim criam um abismo entre elas
frequente: palestras, cursos e componentes curricu- que não deveria existir. Através de um sólido eixo
lares de instituições de ensino superior “baseados de componentes curriculares que trabalhem pensa-
em evidências” assim como blogs e perfis em redes mento científico, metodologia científica e bioestatís-
sociais com o mesmo enfoque. Dessa forma, a fisio- tica não apenas orientados para a elaboração de
terapia brasileira dá indícios que está disposta a projetos científicos, mas de forma integrada com os
sair da escuridão do dogmatismo e caminhar em di- componentes e estágios curriculares.
reção a luz da incerteza científica. No entanto, como
na maioria dos processos de construção, alguns en- A necessidade dessas intervenções se expressa em
traves se fazem perceptíveis durante essa trajetó- salas de aulas e cursos livres, em eventos científi-
ria. Levando em consideração o ecossistema expos- cos e encontros profissionais e nas simples conversas
to (o brasileiro), pensamos que atualmente deva-se do dia a dia entre os entusiastas das boas práticas
investir prioritariamente tempo e esforço em: fisioterapêuticas. Felizmente, essas impressões com
base na vivência já começam a ser discutidas e vali-
1) Promover uma mudança de cultura real e efetiva dadas pela comunidade científica brasileira através
em fisioterapeutas que já possuem suas crenças pro- de pesquisas, como pode ser visto na Quadro 3.
fissionais, rotinas de trabalho e organização deter-
minística do raciocínio clínico estabelecidas, muitas
vezes com pouco ou nenhum espaço para “voltar a
estudar” ou se atualizar;

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Quadro 3. Características da FBE no Brasil

Analisando mais profundamente o panorama des- Isso tudo cria um campo fértil para o surgimento
crito acima, fica evidente que muitos fisioterapeu- de “gurus” que vendem informações pseudo-cientí-
tas acreditam na importância e utilidade da FBE e ficas... Enfim, este é o ônus da popularização de um
reconhecem suas limitações para execução prática conceito tão rico como o que está em pauta. Em con-
deste conhecimento. Porém, a transição desse pa- trapartida, essa popularização vem aumentando
radigma determinístico posto na fisioterapia bra- a confiança dos próprios fisioterapeutas em si e o
sileira para um probabilístico só será sedimentado apoio de outros profissionais da área e da socieda-
a partir de uma força-tarefa conjunta entre todos de de uma forma geral. Consequentemente, surge
os atores envolvidos (profissionais, escolas de fisio- uma bem-vinda representação política e midiática
terapia, serviços clínicos, entidades de classe e a que podem facilitar e acelerar o processo de mu-
sociedade). A boa notícia é que o primeiro passo dança que esta nova forma de pensar representa.
para esta transformação já foi dado com a iden-
tificação do perfil e características da FBE e das Entretanto, ao que parece, nnão é tão simples assim
principais questões que dificultam ou facilitam sua conseguir aplicar no dia a dia clínico os fundamen-
aplicabilidade e ensino (vide os Quadros 2 e 3). tos da FBE de forma eficiente. Embora os fisiotera-
peutas a considerem importante e que precisam me-
Estratégias para implementação eficiente da FBE lhorar seus conhecimentos sobre a mesma, eles não
se sentem responsáveis ou não alcançam sucesso na
Apesar do evidente prestígio que a FBE vem ad- sua aplicação3, 7, 11. Como demonstrado no trabalho
quirindo, é bem verdade que ainda é difícil sepa- de Scurlock-Evans L e cols. em 20147, as estratégias
rar atitudes legítimas de meras “modinhas”. Via de de implementação da FBE são variadas e de dife-
regra, ao presenciar um debate sobre esse tema rentes tipos. No Quadro 4 são descritos os resulta-
nota-se claramente a existência de uma série de dos deste trabalho sobre a forma de abordagem e
mitos e falsas interpretações da filosofia por trás efetividade destas intervenções.
do uso de evidências durante a tomada de decisão.

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Quadro 4. Estratégias para implementação da FBE

Além de informativa, este quadro pode ser útil antes aprendida na faculdade ou disponibilizada pelo
de planejar o emprego da FBE em ambientes clíni- serviço; II) conivência. Para agradar as exigências
cos ou acadêmicos. Mas cuidado, deve-se dar uma dos pacientes vale tudo, mesmo quando se sabe que
atenção especial para estas abordagens antes de o procedimento é desnecessário; III) medo. Para sen-
usá-las pois há discrepâncias entre os países com tir mais segurança, realiza-se o máximo de condu-
relação a formação profissional, ensino da FBE e tas para o mesmo desfecho na esperança de que
sistema de saúde12. “fazer mais” gere melhores resultados.

Pensando em futuro, uma demanda importante é ex- Ainda assim, independente dos reveses associados à
pandir a abrangência geográfica dos dados aqui utilização da FBE, a fisioterapia atualmente ocupa o
apresentados e particularmente torná-los mais ro- mais alto nível já alcançado e se encontra em franca
bustos e amplos, abrangendo às diversas possibi- evolução. A passos largos tem aprimorado a forma-
lidades existentes de implementar a FBE. Contudo, ção de novos profissionais e a qualidade dos ser-
talvez, a mais importante questão a ser resolvida viços prestados, isso deve ser valorizado. Portanto,
é a demonstração do melhor custo-benefício (não esse momento deve ser aproveitado para estrutu-
apenas o financeiro) em adotar esse modelo. rar bases sólidas que a mantenham em expansão.
Dessa forma, motivados por esse desejo e buscando
ajudar na sua “materialização”, deixamos algumas
mensagens finais em forma de sinceros pedidos:
Mensagem final
• às autoridades em FBE: divulgue a FBE com o
É uma tarefa fácil compreender porque a fisiote- respeito, a seriedade e a honestidade que ela
rapia praticada atualmente se encontra onde está, merece. Você tem a missão de formar novas
afastada dos preceitos da FBE. Para tanto, basta autoridades pois sozinho não mudará o cená-
analisar o que escreveu Kahneman: “Tirar conclusões rio nacional. Esteja “disposto (a) a se indispor”
precipitadas é eficaz se há grande probabilidade quando necessário, é você quem deve “dar a
de que as conclusões estejam corretas e se o custo cara a tapa”;
de um ocasional erro for aceitável, e se o “pulo” • aos profissionais: o “novo” é assustador, nós sa-
poupa grande tempo e esforço”13. Este tipo de ra- bemos. Você não é o (a) primeiro (a) e não será
ciocínio ainda é algo pouco palpável entre os fisio- o (a) último a se sentir assim. Durante a gradua-
terapeutas de todas as partes do mundo por ainda ção e já na vida profissional, por diversas vezes,
imperarem a I) comodidade. Para não “dar muito nos incomodamos quando uma crença que tínha-
trabalho” opta-se por seguir a “receita de bolo” mos foi questionada. Mudar é difícil (ainda mais

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depois de formado) mas a humildade (admitir 5. Alshehri MA, Alalawi A, Alhasan H, Stokes E.
ignorância sobre algo) deve ser seu guia e é Physiotherapists’ behaviour, attitudes, awareness, knowledge
and barriers in relation to evidence-based practice
nela que sua evolução se encontra... fale mais implementation in Saudi Arabia: A cross-sectional study. Int
vezes “eu não sei”; J Evid Based Healthc. 2017;15(3):127-41. doi: 10.1097/
• aos estudantes: seus conceitos estão em forma- XEB.0000000000000106
ção, se aproxime continuamente dos preceitos da
ciência durante a graduação e não tenha medo 6. Yahui HC, Swaminathan N. Knowledge, attitudes,
and barriers towards evidence-based practice among
de questionar verdades absolutas impostas. A physiotherapists in Malaysia. Hong Kong Physiother J.
fisioterapia não deve ser uma profissão dogmá- 2017;37:10-18. doi: 10.1016/j.hkpj.2016.12.002
tica (baseada em verdades que não podem ser
questionadas) e é a sua geração que permiti- 7. Scurlock-Evans L, Upton P, Upton D. Evidence-Based
rá que isso mude. Você tornará a Fisioterapia Practice in physiotherapy: A systematic review of barriers,
enablers and interventions. Physiother. 2014;100:208-19.
Baseada em Evidência uma realidade, por isso doi: 10.1016/j.physio.2014.03.001
precisamos que você se mantenha firme nesse
propósito. 8. Silva TM, Costa LCM, Garcia AN, Costa LOP. What do
physical therapists think about evidence-based practice?
A systematic review. Man Ther. 2015;20(3):388-401. doi:
10.1016/j.math.2014.10.009
Contribuições dos autores
9. Queiroz PS, Santos MJ. Facilidades e habilidades do
fisioterapeuta na procura, interpretação e aplicação do
Ambos, Rabelo DR e Goes BT, contribuíram com conteúdo intelectual e
conhecimento científico na prática clínica: um estudo piloto.
crítico e escreveram e revisaram o manuscrito.
Fisioter em Mov. 2013;26(1):13-23. doi: 10.1590/S0103-
51502013000100002
Conflitos de interesses
10. Santos PS, Soares NS, Assunção G, Melo TA. Fisioterapia
Nenhum conflito financeiro, legal ou político envolvendo terceiros baseada em evidências: nível de conhecimento dos
(governo, empresas e fundações privadas, etc.) foi declarado para acadêmicos da rede privada em Salvador - BA. Rev Pesq
nenhum aspecto do trabalho submetido (incluindo mas não limitando-
Fisio. 2018;8(4):455-462. doi: 10.17267/2238-2704rpf.
se a subvenções e financiamentos, conselho consultivo, desenho de
estudo, preparação de manuscrito, análise estatística, etc.).
v8i4.2054

11. Salbach NM, Guilcher SJT, Jaglal SB, Davis DA.


Determinants of research use in clinical decision making
among physical therapists providing services post-stroke:
Referências A cross-sectional study. Implement Sci. 2010;5:77. doi:
10.1186/1748-5908-5-77
1. Evidence-Based Medicine Working Group. Evidence-
based medicine. A new approach to teaching the practice of 12. Upton P, Scurlock-Evans L, Stephens D, Upton D. The
medicine. JAMA;268(17):2420-5. adoption and implementation of evidence-based practice
(EBP) among allied health professions. Int J Ther Rehabil.
2. Upton D, Upton P. Knowledge and use of evidence-based 2012;19(9):497-503. doi: 10.12968/ijtr.2012.19.9.497
practice by allied health and health science professionals in
the United Kingdom. J Allied Health. 2006;35(3):127-33. 13. Kahneman D. Rápido e devagar: duas formas de pensar.
Rio de Janeiro: Objetiva; 2012.
3. Silva TM, Costa LCM, Costa LOP. Evidence-based practice:
A survey regarding behavior, knowledge, skills, resources,
opinions and perceived barriers of Brazilian physical
therapists from São Paulo state. Brazilian J Phys Ther.
2015;19(4):294-303. doi: 10.1590/bjpt-rbf.2014.0102

4. Ramírez-Vélez R, Bagur-Calafat MC, Correa-Bautista JE,


Girabent-Farrés M. Barriers against incorporating evidence-
based practice in physical therapy in Colombia: Current state
and factors associated. BMC Med Educ. 2015;15:1-11. doi:
10.1186/s12909-015-0502-3

J Evidence-Bas H, Salvador, 2019 Junho;1(1):x-x

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