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GEOGRAFIA FIN DE SIECLE: O DISCURSO SOBRE A ORDEM ESPACIAL DO

MUNDO E O FIM DAS ILUSÕES.


PAULO CÉSAR DA COSTA GOMES

Num primeiro momento o autor vai destacar a imagem da Geografia como um ideal
de contemplação do século XIX, presente no discurso A. Humboldt, de K. Ritter, entre
outros, ou o ideal da “descrição animada” de Vidal de La Blache, no começo do século XX,
e as posições atuais, um longo percurso foi percorrido. Sendo que neste trajeto, a
complexidade de seu campo de estudos foi se afirmando e os sucessivos debates teórico-
metodológicos são, neste sentido, uma companhia necessária e inseparável. Nesse itinerário
surgiram algumas ilusões que se associaram a Geografia em determinados momentos de
sua evolução e foram se perdendo de forma mais ou menos definitiva.

O FIM DAS ILUSÕES

A primeira grande ilusão a ser perdida a ser assinalada é a da ciência de síntese,


difundida no final século XVIII e ao longo do século XIX. Período do renascimento da
razão e de sua aplicação, período, também, da criação de grandes eixos explicativos, gerais
e sintéticos, que funcionaram como uma espécie de vertebração para todo conhecimento. A
intenção era a de encontrar grandes matrizes capazes de explicar o todo e a parte, o detalhe
e o global, indo do simples ao complexo. Época dos grandes sistemas filosóficos, de Kant,
Hegel, de Comte e Marx, na intenção de produzir uma interpretação ordenada e total.

Comum a todos esses sistemas há a idéia de síntese, verdadeira finalidade do


conhecimento científico. Como também foi um período em que várias disciplinas estavam
adquirindo assento nas instituições acadêmicas, havia a necessidade de delinear seus
limites, suas propriedades, sua especificidade e seu programa de resultados.

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A primeira “boa” idéia da Geografia foi se apresentar com o campo de estudos da
Terra, conforme apontou BERDOULAY (1980) E CAPEL (1977), idéia que pode revelar o
complexo jogo de interações de fatores e elementos do qual ela, a Terra, é o resultado
síntese.

A idéia forte desta pretensão é a da Terra vista como um todo, composto por
diversas engrenagens de múltiplas relações de causa e efeito, que se estrutura na metáfora
do mundo visto como uma máquina. Ou, ainda, em uma versão concorrente, a terra vista
como um composto orgânico, composto de parcelas com forma e função diferenciadas e
complementares, presentes na metáfora do mundo visto como um organismo. Nesses
conjuntos o papel da geografia seria de compreender as leis do todo e a integração do
conjunto. No primeiro caso, a dinâmica dos diversos fatores naturais, em conjunto com a
ação humana, agiria num sentido de produzir um equilíbrio. No segundo caso, o
organicismo, a harmonia das partes com o todo era o valor supremo a ser demonstrado.

A descrição da realidade deveria, pois, sempre colocar em relevo a conjunção dos


elementos físicos e humanos que resulta na estruturação de um espaço, que é a síntese da
ação múltipla e diferenciada e relacional destes elementos. Há, por assim dizer, uma
isonomia (regido pela mesma lei) entre a natureza das coisas e a natureza humana que
resulta em produtos sintéticos, recortes da superfície, que passam a ser concebidos como
verdadeiros objetos da ciência geográfica.

Todos os conceitos utilizados pelos geógrafos deste período, como região,


paisagem, estado, cidade, têm esse traço comum de unidade reveladora do equilíbrio e da
harmonia, de resultado síntese de uma dinâmica complexa. Um dos exemplos era que o
geógrafo se diferenciaria dos demais estudiosos, que também estudavam os fenômenos que
ocorriam à superfície da Terra, através da forma do seu olhar, “o olhar geográfico”,
englobando e dominando todos os outros campos do conhecimento, como a geologia,
climatologia, botânica, etc. Sem, no entanto, se especializar em nenhum deles e, portanto,
sem superposição com outros profissionais, uma vez que seu objetivo final era a síntese.

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Renascendo a idéia de produzir grandes cosmografias, começando com grandes descrições
da Terra pelos viajantes do século XVIII e XIX.

No final do século XIX e início do XX, começa a se atribuir a fundação da


Geografia moderna a A. Von Humboldt e a K. Ritter. Ao primeiro, a idéia de que foi o
fundador se deve ao plano e a metodologia de sua obra maior, O Cosmos, que correspondia,
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em grande parte, ao temário das cosmografias renascentistas. Se preocupava com a
necessidade de procurar a conexão entre os fenômenos como uma preocupação
metodológica maior, necessária ao conhecimento da “física do mundo”. Aí estaria, pois, a
semente de um conhecimento propriamente geográfico, na conexão entre os fenômenos; aí
estava, pois, a pedra angular da disciplina científica que deveria a ser ensinada nas
instituições acadêmicas.

No caso de Ritter, havia grande preocupação com a noção do todo. Sabe-se também
o quanto os movimentos, Romantismo e Idealismo alemão, foram reativos à idéia de
análise de base racionalista, portanto, a idéia de síntese é uma constante no pensamento de
Ritter.
A geografia elegeu esses dois autores como fundadores de uma ciência sintética,
abrangente e total. Surge a seguinte questão: sobre que critérios deve-se procurar a
conexão?

Na falta de um recorte temático mais definido, passou-se a dizer que a geografia se


interessa pelos fenômenos que acontecem sobre a superfície da Terra, definição nada
satisfatória, quando se percebe que existe diversos fenômenos que ocorrem aí e não fazem
parte da pauta de interesse dos geógrafos. Começava-se, desde então, certa orientação para
a especialização, devido à impossibilidade de se trabalhar com uma gama tão grande de
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Renascimento: movimento de renovação intelectual e artística que atinge seu apogeu no século XVI,
influenciando várias regiões da Europa. Com origem no humanismo, a noção de renascimento diz respeito à restauração
dos valores do mundo clássico greco-romano. O ideal de renascentista é marcado pela crença em uma capacidade
ilimitada da criação humana. A invenção da imprensa contribui para a disseminação de idéias. O espírito de inquietação
estende-se à geografia e à cartografia, e o impulso de investigar o mundo leva às grandes navegações e ao descobrimento
do Novo Mundo. Como conseqüência, ocorrem progressos técnicos e conceituais, além de questionamentos que abrem
caminho para as reformas religiosas.

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informações, que logo depois resultou no desenvolvimento de verdadeiras subáreas quase
independentes como a geomorfologia.

Outra receita dos geógrafos foi a de simplesmente localizar os eventos sobre a


superfície sem a preocupação de explicá-los. As descrições regionais transformando-se em
um protocolo geral e uniforme a ser sempre seguido com completa submissão crítica. O
temário era sempre o mesmo, a seqüência descritiva também e então o gênero empobreceu
pela rigidez do modelo, que segue quase sempre a mesma ordem: o relevo, o clima, a
vegetação, a história, a população e as atividades econômicas para cada região descrita.

Se na descrição de Vidal o singular ainda era dado pela combinação única dos
elementos que estruturam e dão forma e “personalidade” a uma região, no período
imediatamente posterior o ÚNICO foi visto como sendo propriamente os elementos da
paisagem, a Geografia transforma-se no elenco de características ou fatos singulares dos
diversos lugares. Surge a valorização do elemento visível daquilo que é diferente como
ponto de apoio para a valorização regional. O interessante a perceber é que os limites dessa
variação não são discutidos, a unidade regional é um fato, emergindo uma aversão a teoria,
pois a Geografia é a ciência do empírico e o geógrafo é um inventariante do visível.

Descrever basta, e descrever somente aquilo que aparece, é o que o autor vai chamar
de um Kantismo empobrecido. Empobrecido, pois na Crítica da Razão Pura (1987), as
categorias analíticas constituem um recurso fundamental da explicação, e a descrição e a
experimentação só adquirem valor quando referenciadas a estas categorias. Ainda que o
espaço, segundo a estética transcendental, seja uma categoria a priori do conhecimento, a
Geografia, enquanto ciência, só pode pensar nos fenômenos que ocorrem no espaço
utilizando-se de conceitos.

Sabe-se que a “realidade” e as maneiras que dispomos para compreendê-la são


produtos sociais e históricos. As formas, em grande parte, são produtos de nossa percepção

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histórica e social e dependem também dos instrumentos epistemológicos desenvolvidos
para as identificarmos.

Nesse período a Geografia também começou a fazer várias classificações, porém,


poucas vezes seus princípios classificatórios são discutidos, o encadeamento formal parece
se impor por si mesmo, pela ordem natural das coisas. Ora, sem um processo de construção
do objeto, não há questões que desafiem o conhecimento, pois tudo que podemos dizer
sobre os dados da “realidade” já foram ditos ou são facilmente subassumidos pelo senso
comum.

A ilusão da forma, que elegeu os aspectos visíveis, ou os fenômenos que têm


expressão espacial, como objetos, manteve uma relação ambígua com a cartografia. O
mapa passa a ser um produto da pesquisa geográfica, e não um instrumento, um meio, de
reflexão. Os problemas da Geografia são os problemas representação, são problemas
geométricos. Localização e distancia são vistas com as questões essenciais ao campo da
teoria da geográfica e desta simplificação herdamos uma série de modelos e tipologias que
ainda são vistos como temário obrigatório da epistemologia da Geografia.

A descrição simples da forma não pode dar conta de todos os significados e todas as
práticas sociais que tem sede aí. Parece que tão pouco nos interessa a geometria se não a
relacionarmos às relações sociais, conflitos, usos e contextos sob os quais esta forma existe
e resiste em tempos diversos. O visível depende assim dos nossos óculos conceptuais.

Da mesma maneira, a forma em si não pode ser alçada à posição de um objeto


epistemológico sob a pena de não conseguirmos dizer nada que se possa acrescentar ao
conhecimento prévio que já dispomos sobre ela. Santos (1996) nos ensina que o espaço é
uma forma-conteúdo, ou seja, uma forma que só existe em relação aos usos e significados
que nela existem e que têm nela sua mesma condição de existência. Se a ciência não
consegue duvidar do senso comum, do óbvio, daquilo que se apresenta como dado, então
para que criaríamos conceitos e operacionalizaríamos categorias de análise?

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Outra ilusão do geógrafo, diz respeito quanto a definição de seu objeto de estudo.
Estamos acostumados a ouvir que a Geografia trata da relação entre a sociedade e a
natureza, isto é, esse conhecimento é definido pela síntese produzida pelo encontro de suas
principais parcelas: Geografia humana e Geografia física. Esses dois ramos só encontram
sua operacionalidade última quando relacionados, sendo UMA das especificidades do
conhecimento geográfico face às outras disciplinas. O primeiro problemas dessa definição é
que ela nos conduz forçosamente a conceber estes dois termos como mutuamente
excludentes, ou seja, o que nos interessa é a relação entre estes dois núcleos, então podemos
distinguir com clareza e isolar a sociedade da natureza e vice-versa. Natureza é neste
sentido, algo externo ao homem, mas completa e objetivamente acessível ao seu
conhecimento.

Ao procedermos assim, estaremos impregnados pelo objetivismo positivista, que


pensa que a natureza é passível de ser isolada pela ação de raciocínio e de um método. Por
outro lado, é este mesmo racionalismo metodológico que nos permitiria pensar na
sociedade sem levar em conta que fazermos parte dela e somos por isso reprodutores
históricos de certa reflexão comprometida com o contexto e, por conseguinte,
definitivamente limitada. Tem a sua origem no positivismo clássico. 2

A objetividade positivista é mantida também pela aproximação com as ciências


matemáticas e naturais. Os modelos da física, a lógica matemática, a linguagem formal
foram alguns dos instrumentos desta aproximação que resultou em leis banais ou em
correlações espúrias. (não genuínas, falsas).

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Positivismo: Corrente de pensamento formulada na França por Auguste Comte (1798-1857).
Consiste em de procurar as causas íntimas dos fenômenos para, através da observação e do método científico,
estabelecer as leis gerais que os regem. O estado positivo, portanto, corresponde à maturidade do espírito
humano que não é mais enganado por explicações vagas, uma vez que pode alcançar o real, o certo e o
preciso.

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Hoje, cada vez mais se impõe a idéia de que o homem é, sobretudo, um produtor de
valores e de cultura, e a dificuldade constitui-se justamente em afastá-lo de uma realidade
que o contém completamente.

Os laços com o naturalismo se fizeram fundamentalmente com base em três níveis,


o primeiro é aquele que estabelece uma isonomia entre a natureza das coisas e a natureza
humana, o segundo é a afirmação de certa teleologia (doutrina que identifica presença de
metas), responsável pela integração destas duas esferas. Finalmente, o terceiro nível é
aquele que o discurso da síntese procura afirmar-se e legitimar-se através do reconhecido
discurso das ciências naturais. Os exemplos são inúmeros, e podemos citar alguns
recorrentes, como, por exemplo, o de fazer apelo a territorialidade animal para dela extrair
conceitos como competição, domínio, seleção, etc., para depois os correlacionarmos aos
fenômenos territoriais que ocorrem na sociedade, que passam a ser ungidos de uma
essência imutável e geral.

O ato de limitar espaços e as estratégias para controlá-los só podem ser


compreendidos no contexto histórico da vida humana, social e culturalmente determinados.
Nem os objetivos, nem os instrumentos, nem as dinâmicas são os mesmos, não há
correlação explicativa possível entre esses dois mundos.

Não se pode finalizar esta descrição das ilusões sem mencionar a história, o recurso
é bastante conhecido e difundido. Para explicar os fenômenos atuais, recua-se no tempo e ,
através de uma reconstrução cronológica, explicamos o presente pelo passado. Neste
percurso, estabelecemos marcos fundamentais, nexos causais, pelos quais os eventos se
encadeiam. Os perigos desta conduta já nos forma alertados há muito tempo, talvez desde a
Antiguidade, e já se mostrava que o passado nada mais era do que uma invenção do
presente. (PESSANHA,1992).

A reconstituição é sempre uma escolha e que, dos eventos, só destacaremos aquilo


que interessa aos nossos propósitos demonstrativos. Ao mesmo tempo, concedemos ao fato

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histórico uma objetividade que ele não tem. Há sempre uma intenção no resgate do
passado, e o que cabe discutir não é propriamente a objetividade do fato histórico, mas sim
a relação entre esta intenção e o relato que dela resulta, ou seja, o sentido que se procura
neste resgate. (LYOTARD, 1969). Neste sentido, a história deixa de ser um “historicismo”,
e passa a ser vista com uma narrativa. Só analisando a narrativa e os sentidos que ela
procura é que podemos obter uma análise objetiva. A reconstituição histórica é uma
construção e só assim pode ser pensada.

A GEOGRAFIA COMO UM DISCURSO SOBRE A ORDEM DO MUNDO

A descrição destas ilusões que sustentaram o discurso geográfico tentou mostrar as


insuficiências, as limitações e as contradições com as quais a epistemologia da Geografia se
defronta. Paralelamente, se faz necessário apontar novos rumos ou, pelo menos, novas
leituras que possam construir, ou melhor, restabelecer, uma imagem renovada, operacional
e sistemática do saber geográfico.

Uma primeira constatação é obrigatória. A despeito de todas as críticas e da


incapacidade de se produzir um conteúdo epistemológico consistente, o saber geográfico
continua a ser valorizado. Segundo LACOSTE este saber é útil para “fazer a guerra”, ou
seja, para traçar estratégias espaciais de domínio e controle. Esta faceta não parece ser
suficiente para motivação, uma vez que a Geografia não é exclusividade dos ‘estados
maiores” militares, nem dos grandes capitalistas. Ela é um termo de largo interesse da
sociedade, tem certo lugar nos meios de comunicação, certo respeito acadêmico e, talvez o
mais importante, é considerada em diversos sistemas educacionais como disciplina
obrigatória do currículo básico.
As cosmogonias seriam os primeiros relatos geográficos gerados por um gênero de
curiosidades sobre a ordem das coisas no mundo. Neste sentido, a Geografia tem um
compromisso fundamental que é o de produzir uma cosmovisão. Ela é assim, o campo de
conhecimento onde se procura uma ordem para o diverso, para o espetáculo da dispersão

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espacial original. Não importa que esse esforço se coroe de êxito no sentido de produzir leis
gerais ou uma explicabilidade total.

Chamamos a atenção para o fato de que o saber geográfico, visto como a descrição
da ordem do mundo, que tem uma identidade historicamente fundamentada, não se resume
ao inventário das coisas sobre o espaço. A notificação dos objetos espaciais não é em si
matéria geográfica. Observamos que alguns geógrafos têm a tendência de confundir análise
geográfica com simples notação de fenômenos espaciais. Saem apressados em busca das
novidades do momento, em geral apresentados como momentos originais ameaçadores. O
único sentido de seus discursos é procurar nos convencer de que somos testemunhas de
mudanças sem paralelos na história, mudanças que nos conduzem a um desfecho sombrio.

Esta ordem espacial das coisas quer dizer que sua distribuição tem uma lógica, uma
coerência. É esta lógica do arranjo espacial a questão geográfica por excelência. Neste
sentido. Não importa se estamos diante de fenômenos físicos ou sociais, e sim do princípio
da ordem que buscamos. Evidentemente, o que preside as causas e os significados destas
lógicas são diferentes se trabalhamos com tipos de vegetação ou se trabalhamos com a
distribuição da população urbana. Este, aliás, é um ponto fundamental na discussão da
geografia e, na verdade, o que estamos afirmando é que não há unidade ou
complementaridade entre a Geografia dita física e a geografia humana, isso para usarmos o
vocabulário corrente.

O que existe de similar é a busca por princípios de coerência dentro da ordem


espacial, o que permite que se continue, pois, a denominar esse tipo de saber de geográfico.

A geografia é, assim, uma ato de estabelecer limites, colocar fronteiras, fundar


objetos espaciais, orientá-los, ou, em poucas palavras, O ATO DE QUALIFICAR O
ESPAÇO; mas é também simultaneamente a possibilidade de pensar estas ações dentro de
um quadro lógico, de refletir sobre esta ordem e sobre seus sentidos.

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Chamamos a atenção para que este arranjo físico das coisas é que vai permitir que
determinadas ações se produzam, ou seja, AS PRÁTICAS SOCIAIS SÃO
DEPENDENTES DE UMA CERTA DISTRIBUIÇÃO OU “ARRUMAÇÃO” DAS
COISAS. Não há, por assim dizer, uma determinação ou um simples reflexo da sociedade
no espaço. PARA QUE DETERMINADA AÇÕES SE PRODUZAM, É NECESSÁRIO
QUE CERTO ARRANJO FÍSICO-ESPACIAL SEJA CONCOMITANTEMENTE
PRODUZIDO.

Efetivamente o objeto da Geografia é este espaço, que simultaneamente é a


disposição física das coisas e práticas sociais que ali ocorrem. Desta maneira, não há uma
dicotomia entre a geografia física e a geografia humana, o que existem são lógicas e
coerências diferentes. O que interessará a um geomorfólogo como intervenção humana na
paisagem não é a discussão da lógica social que o levou até aquele lugar, tampouco suas
motivações econômicas, políticas ou culturais, o que importará para ele enquanto objeto de
pesquisa será a ação desta intervenção na aceleração ou não de processos físicos que
ocorrem sobre o terreno. Por isso esta denominação, limitada, da ação antrópica para
caracterizar este tipo de intervenção. Similarmente, a sociedade, em seu processo de
arrumação do espaço, os processos físicos interessam como constituinte básicos, como
limitadores, como contexto e a eles não se pode atribuir uma conexão causal com os
fenômenos sociais, pois não possuem valor explicativo.

A análise geográfica deve examinar o espaço como um texto, onde as formas são
portadoras de significados e sentidos, isto é, o arranjo espacial das coisas é uma linguagem.

Enquanto atividade, a Geografia é a ação no mundo, é a perpétua geração de nexos


na ordem espacial das coisas, é sentido e comunicação, discurso e intervenção. Assim
procedendo, abandonamos definitivamente a concepção do espaço sob a perspectiva da

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forma formata, do dado fixo, da palavra imóvel e, ao contrário, concebemos o espaço como
composição de forma formans, de contínuo processo de produção de sentidos e ações.

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