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Definição de Lesão Desportiva - Uma Revisão da Literatura

Article · January 2009

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3 authors:

Tiago Atalaia Ricardo Jorge Albino Pedro


Escola Superior de Saùde da Cruz Vermelha Portuguesa Escola Superior de Saùde da Cruz Vermelha Portuguesa
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Cristiana Santos
Escola Superior de Saùde da Cruz Vermelha Portuguesa
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Footedness influences on human locomotion View project

Joint stability and Human Movement Variability View project

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ISSN 1646-6586

Revista Portuguesa de

FiSIOTERAPIA
NO DESPORTO
JULHO 2009 | VOLUME 3 | NÚMERO 2

EDITORIAL
Um Triénio Diversificado!
Marco Jardim

ARTIGO ORIGINAL
Interleucina 6 participa nos Ajustes Metabólicos Desencadeados na Fase Aguda da Imobilização Articular - Estudo em Ratos
Carlos Alberto da Silva, Marcial Zanelli de Souza, Eliete Luciano, Luciano Julio Chingu
www.apfisio.pt/gifd_revista

REVISÃO DA LITERATURA
Definição de Lesão Desportiva
Tiago Atalaia, Ricardo Pedro, Cristiana Santos

Calor, Desidratação e Degradação Muscular no Exercício


José Macieira

Publicação Oficial do Grupo de Interesse em Fisioterapia no Desporto


da Associação Portuguesa de Fisioterapeutas
PROPRIEDADE OBJECTIVO
Associação Portuguesa de Fisioterapeutas A Revista Portuguesa de Fisioterapia no Desporto é uma publicação oficial
Rua João Villarett, 285 A do Grupo de Interesse em Fisioterapia no Desporto da Associação
Urbanização Terplana Portuguesa de Fisioterapeutas. Esta revista pretende divulgar um conjunto
2785-679 – São Domingos de Rana de informações indispensáveis para a prática clínica e desenvolvimento
Portugal profissional contínuo dos fisioterapeutas que actuam na área do desporto,
Tel: (+351) 214 524 156 Fax: (+351) 214 528 922 bem como, temas de áreas relacionadas. Pretende-se abranger temáticas
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Web: http://www.apfisio.pt resultantes da prática desportiva. Contempla estudos experimentais, quasi-
NIF: 501790411 experimentais, descritivos/observacionais (levantamentos epidemiológicos,
estudos de caso, descrição de experiências), revisões sistemáticas de
ÓRGÃOS literatura, meta-análises e artigos de opinião sobre a prática da fisioterapia
DIRECTOR | Marco Jardim no desporto, bem como em áreas relacionadas. Os artigos a publicar são
DIRECTOR ADJUNTO | Raúl Oliveira submetidos a análise criteriosa pelo Conselho Editorial da revista. Esta
SUB-DIRECTOR | José Esteves publicação dirige-se a todos os fisioterapeutas, bem como a outros
profissionais da área da Saúde e do Desporto.
EDITOR
Grupo de Interesse em Fisioterapia no Desporto SUBMISSÃO DE ARTIGOS
Para submissão de trabalhos por favor consulte http://www.apfisio.pt/
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Grupo de Interesse em Fisioterapia no Desporto – gifd@apfisio.pt
CONSELHO EDITORIAL
SUBSCRIÇÃO
COORDENADOR A Revista Portuguesa de Fisioterapia no Desporto é uma publicação de
Raúl Oliveira distribuição livre para todos os sócios da Associação Portuguesa de
Faculdade de Motricidade Humana Fisioterapeutas.

António Cartucho PERIODICIDADE


Hospital da CUF Descobertas Semestral (Janeiro e Julho)
António Carvalhais Figueiredo
Clínica CUF – Stª Maria de Belém PROJECTO GRÁFICO E CONTEÚDOS
Fernando Pereira Grupo de Interesse em Fisioterapia no Desporto
Faculdade de Motricidade Humana
Henrique Relvas PUBLICIDADE
Escola Superior de Saúde da Cruz Vermelha Para anunciar na Revista Portuguesa de Fisioterapia no Desporto deverá
Jacob Friscknetch entrar em contacto com o Grupo de Interesse em Fisioterapia no Desporto
Federação Portuguesa de Judo
Jan Cabri ISSN 1646-6586
Faculdade de Motricidade Humana
João Paulo Sousa REGISTO I.C.S nº 125207
Faculdade de Motricidade Humana
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Faculdade de Motricidade Humana SEDE DE REDACÇÃO
Ricardo Matias Associação Portuguesa de Fisioterapeutas
Escola Superior de Saúde de Setúbal
Rui Torres
Escola Superior de Saúde do Vale do Sousa Grupo de Interesse em Fisioterapia no Desporto
Rui Soles Gonçalves 1985 - 2009
Escola Superior de Saúde de Coimbra
Susana Veloso Associação
Universidade Lusófona
Themudo Barata Portuguesa de
Faculdade de Motricidade Humana Fisioterapeutas
ÍNDICE

EDITORIAL
Um Triénio Diversificado! 4
Marco Jardim

ARTIGO ORIGINAL
Interleucina 6 participa nos Ajustes Metabólicos Desencadeados na Fase Aguda da Imobilização Articular - 5
Estudo em Ratos
Carlos Alberto da Silva, Marcial Zanelli de Souza, Eliete Luciano, Luciano Julio Chingu

REVISÃO DA LITERATURA
Definição de Lesão Desportiva 13
Tiago Atalaia, Ricardo Pedro, Cristiana Santos

Calor, Desidratação e Degradação Muscular no Exercício 22


José Macieira
Revista Portuguesa de Fisioterapia no Desporto

EDITORIAL

Um Triénio Diversificado
Marco Jardim1

Presidente do Grupo de Interesse em Fisioterapia no Desporto 1

Em Julho do corrente ano concluiu-se mais um ciclo


de actividade do Grupo de Interesse em Fisioterapia
no Desporto (GIFD). Nestes últimos 3 anos,
desenvolveram-se várias acções e iniciativas diversas,
que pensamos terem ido ao encontro das necessidades
e expectativas dos fisioterapeutas que actuam na área
do Desporto.
Numa primeira fase, privilegiou-se a nossa participação
na elaboração e divulgação das competências do
fisioterapeuta no Desporto, através de iniciativas Figura 1 – Número de Membros Activos e Observadores. Dados
nacionais e internacionais promovidas pela International referentes a Maio de 2007
Federation of Sports Physiotherapy. Posteriormente deu-se
especial enfoque a actividades de formação de curta e Neste contexto, o presente número, desta vez num
longa duração, onde se destacaram os cursos com formato mais curto, conta apenas com um artigo ori-
formadores internacionais – Henning Langberg e Jenny ginal, relacionado com um estudo realizado em ani-
McConnell, assim como, a primeira pós-graduação em mais, sobre os processos de imobilização articular da
Fisioterapia no Desporto, numa parceria realizada com tíbio-társica Este artigo tem a particularidade de ser o
a Faculdade de Motricidade Humana. primeiro artigo internacional publicado na Revista,
Neste mesmo período desenvolveram-se outras considerando o trabalho de um grupo de investigado-
iniciativas de colaboração e apoio a vários eventos de res de uma faculdade brasileira de elevado prestígio.
natureza científica, como por exemplo, as 1as Jornadas O segundo e terceiro artigos, foram submetidos por
da FisioGaspar e o 8º Congresso Nacional de autores portugueses, duas revisões da literatura, sendo
Fisioterapeutas. Paralelamente, divulgou-se o primeiro que uma está relacionada com a definição “lesão
documento de caracterização dos membros do GIFD, desportiva”, constatando-se a problemática e a difi-
onde se realça um total de 88 membros, 60 inscritos culdade de uniformização de termos em estudos de
na categoria de observadores e 28 na categoria de levantamento e monitorização de lesões, e a outra so-
activos (Figura 1). Curiosamente, 58% do total de bre os fenómenos do calor, desidratação e degrada-
membros pertencem ao distrito de Lisboa e 73% ção muscular no exercício. Esta última revisão retrata
desenvolvem a sua prática em clubes desportivos e/ essencialmente os efeitos da hipertermia activa no or-
ou federações. ganismo e conta com o conhecimento e expertise do
Este mesmo triénio foi pautado por mais uma pareceria consultor em nutrição e desporto - José Macieira, um
internacional, neste caso com o – Journal Orthopaedic dos responsáveis pelos excelentes resultados do alpi-
and Sport Physical Therapy, com benefícios de acesso e nista João Garcia nos “assaltos aos topos do mundo”.
consulta on line para todos os sócios da Associação No topo do mundo, ainda não está a Revista Portuguesa
Portuguesa de Fisioterapeutas e em particular para os de Fisioterapia no Desporto, mas está com certeza no topo
membros do GIFD. das preferências de consulta e leitura dos fisioterapeutas
Por último, destaca-se a criação da primeira publicação portugueses.
em fisioterapia no desporto da Associação Portuguesa
de Fisioterapeutas – Revista Portuguesa de Fisioterapia no Boa leitura!
Desporto. Desde o seu número inaugural, a revista tem
publicado vários artigos das mais diversas áreas da
Saúde e do Desporto.

4
Revista Portuguesa de Fisioterapia no Desporto

ARTIGO ORIGINAL

Interleucina 6 Participa dos Ajustes Metabólicos Desencadeados na


Fase Aguda da Imobilização Articular - Estudo em Ratos.

Carlos Alberto da Silva 1, Marcial Zanelli de Souza 2,Eliete Luciano 3, Luciano Julio Chingui 4.

Professor Doutor na Universidade Metodista de Piracicaba. Programa de Pós-Graduação em Fisioterapia - UNIMEP - Piracicaba -S.P - Brasil 1
Correspondência para: casilva@unimep.br
Curso de Fisioterapia - UNIMEP - Piracicaba - S.P - Brasil 2
Departamento de Educação Física - UNESP – Rio Claro - S.P - Brasil 3
Faculdades Anhanguera - Piracicaba - S.P - Brasil 4

Resumo

Introdução/objectivo: Este estudo avaliou a participação da interleucina 6 (IL6) sobre parametros fisiológicos da musculatura
esquelética de ratos nos três primeiros dias de imobilização articular da tibio-társica na posição de 90o (I). Metodologia: Ratos Wistar
foram divididos em 4 grupos experimentais com n=6 e denominados: Controle, imobilizado 1 (I1), 2 (I2) e 3 dias (I3). Os ratos foram
anestesiados com pentobarbital sódico (50mg/Kg, ip) e o sangue colectado para avaliação da concentração plasmática de ácidos gordos
livres (AGL) e IL6. Os músculos esqueléticos solhar (S) e gémeos (G) foram utilizados para avaliação das reservas de glicogénio (GLI) e
a relação DNA/proteínas totais (DNA/PT). Para a análise estatística dos dados, inicialmente, foi aplicado o teste de normalidade
Kolmogorov-Smirnov e o teste de homocedasticidade (critério de Bartlett). Posteriormente, foi realizada a análise de variância (ANOVA)
seguida do teste de Tukey. Em todos os cálculos foi fixado um nível crítico de 5% (p<0,05). Resultados/Discussão: No I1 o S não
apresentou modificação no GLI, no entanto, G apresentou redução de 20%. No I2 e I3 houve redução no GLI (S; 40 e 60%, e GB; 33
e 56% respectivamente) e elevação na IL6 (266% maiores em I1, estabilizado em valores médios 246% em I2 e I3), acompanhado pela
elevação no AGL (107%, 35% e 16% respectivamente no 1º, 2º e 3º dia da imobilização). No que se refere à relação DNA/PT, G
apresentou redução (27% e 30% em I2 e I3). Os resultados sugerem que a interleucina 6 é uma citocina secretada nas fases iniciais do
desuso muscular, e exerce um importante papel no processo de hipotrofia induzida pela imobilização. Conclusões: A IL6 pode ter a
função de promover ajustes metabólicos que permitam minimizar as alterações quimio-metabólicas que acompanham o desenvolvimento
da hipotrofia.

Palavras chave: Interleucina, Músculo esquelético, Imobilização, Atrofia muscular.

Abstract

Introduction/Objective: This study evaluates the participation of interleukin-6 (IL6) on physiological parameters of skeletal musculature
of rats during the first three days of ankle joint immobilization at 90º (I). Methodology: Wistar male rats were divided into 4 groups
(n=6): Control, immobilized with acrylic resin orthesis 1 (I1), 2 (I2) and 3 days (I3). The rats were anesthetized with sodium pentobarbital
(50mg/Kg, ip) and a blood collected for evaluation of the plasmatic concentrations of free fatty acids (FFA) and IL6. The soleus muscle
(S) and the gastrocnemius muscle (G) were used for evaluation of the glycogen reserves (GLY) and the total DNA/protein rate (DNA/
PT). In the statistical analysis we used the test of Kolmogorov-Smirnov and homocedasticidade test by Bartlett criteria. After that, we
used ANOVA and Tukey teste, p<0,05. Results/Discussion: In I1, S didn’t present modification in GLY but G presented a reduction
(20%). In I2 and I3 there was reduction in GLY (S 40 and 60%; G 33 and 56%, respectively) and elevation of IL6 (266% greater in the
I1 and stabilizing at average values 246% larger in I2 and I3) accompanied by a rise in FFA (107%, 35% and 16% respectively in the 1st,
2nd and 3rd day of I). In relationship DNA/PT, G presents a reduction (27% and 30% smaller in I2 and I3). The results suggest that IL6
is a cytokine secreted in the initial phases of muscular disuse, occupying an important role in the hypotrophy process induced by the
immobilization. Conclusion: The IL6 could have a function of promoting metabolic adjustments that allow for minimization of
chemical and metabolic alterations which accompany the hypotrophy.

Key words: Interleukin, Skeletal muscle, Immobilization, muscle atrophy.

Introdução disponibilidade às necessidades fisiológicas. Neste


sentido, as dinâmicas que determinam o padrão
A homeostasia metabólica das fibras musculares funcional podem ser comprometidas por diferentes
depende de um constante suprimento de substratos factores, como por exemplo, bloqueio da junção
metabolizáveis que ajusta constantemente a neuromuscular, desnervação ou ainda pelo desuso

5
Revista Portuguesa de Fisioterapia no Desporto

(Kannus et al, 1998). Em especial no que se refere à insulina acompanha o processo de hipotrofia muscular
imobilização muscular, tem sido observado hipotrofia induzida pelo desuso. Simultaneamente, esses autores
em associação com alterações ortopédicas como na observaram também uma redução na expressão de
osteoartrite crónica, no tratamento de fracturas, proteínas nos músculos hipotrofiados correlacionaram-
hipogravidade, em situações de manutenção por na com a redução na efectividade da proteína IRS-1,
longos períodos na cama por razões médicas ou outro factor importante observado foi a redução na
cirúrgicas ou ainda frente a lesões classicamente actividade da enzima Akt, facto que indica alterações
observadas no meio desportivo (Desplanches et al, nas vias citosólicas responsáveis pela glicogénese e
1990; Reardon et al, 2001). também pela glicólise. Essas observações evidenciam
Concomitante ao desuso muscular crónico, observa- o comprometimento na sinalização insulínica, e
se instalação de resistência à insulina, facto que conseguintemente elucidam parte dos mecanismos
potencializa o estado catabólico, a geração de fibrose inerentes ao processo de hipotrofia.
intramuscular, redução da extensibilidade muscular
Outro factor que possivelmente esteja ligado aos
além de limitação da liberdade de movimento articular
mecanismos hipotróficos é a formação de citocinas,
(Ploug et al, 1987; Reardon et al, 2001). Apesar de o
que são proteínas de baixo peso molecular, as quais
desuso muscular crónico e da imobilização serem
actuam de forma autócrina, parácrina e endócrina e
condições que modificam o perfil metabólico, as
modulam várias funções celulares. Dentre as citocinas,
dinâmicas acivadas por estas condições ainda não são
a interleucina 6 (IL-6) merece destaque devido à sua
totalmente conhecidas, porém, há indícios de que as
actividade pró e inflamatória (Maldoveanu et al, 2001;
alterações mais relevantes da hipotrofia possam ocorrer
Jawa et al, 2006). A IL-6 está entre os mediadores mais
nos dias iniciais da imobilização (Hirose et al, 2000).
potentes da resposta aguda ao trauma, ela participa de
Diversos autores procuram caracterizar a hipotrofia.
uma cascata de reações que inicia com o dano tecidular
Assim há consenso de que pode haver um caracter
e que objectiva, em última instância, a restauração do
comportamental específico para cada tipo de músculo.
tecido (Crane & Miller, 1983). Estudos que focalizaram
Dessa maneira as fibras do tipo I possuem menor
fenômenos ocorrentes em situações catabólicas,
adaptação em relação às fibras do tipo II, por isso, são
evidenciaram elevação na concentração plasmática de
mais afectadas pelo desuso (Talmadge, 2002). Na
IL-6 (Benedetti et al, 1997). Nos músculos esqueléticos,
década de 90 foi sugerido que músculos cuja acção é
a IL-6 tem sido relacionada à proteólise muscular
anti-gravitacional possuem maior grau de hipotrofia
evidenciada clinicamente pela hipotrofia muscular.
em situações de desuso (Caiozzo et al, 1996).
Lieskovska et al (2002) relataram que ratos transgênicos
Observações mais recentes pontuaram maior
para a IL-6 apresentaram hipotrofia muscular que foi
susceptibilidade à hipotrofia em fibras lentas oxidativas
inibida por anticorpos anti-receptor desta citocina, já
(Tanaka et al., 2004). Dessa maneira, destaca-se o facto
que a IL-6 pode mediar à actividade do sistema
de que o músculo solhar foi o mais comprometido
proteolítico lisosomal. Sua participação na proteólise
em situações de desuso por ser predominantemente
muscular tem sido estudada por diferentes
formado por fibras do tipo I, ao passo que o extensor
pesquisadores, indicando que a IL-6 também pode
comum dos dedos que possui predomínio de fibras
interferir no eixo GH/IGF-I.
do tipo II é menos comprometido (Kasper, 2002,
Diante desse contexto, o objetivo deste estudo foi
Tanaka et al, 2004).
avaliar a concentração plasmática de interleucina 6, o
Nesse contexto, também tem sido observado que as
conteúdo de glicogénio dos músculos solhar e gémeos
fibras lentas em situação de desuso apresentam
porção branca, a concentração plasmática de ácidos
marcantes alterações histo-fisiológicas como
gordos livres e a relação proteína total/DNA em ratos
irregularidades no retículo sarcoplasmático, fibrilas
submetidos à imobilização articular de membro
desintegradas, lesão mitocondrial, linhas Z estendidas,
posterior na posição tibio-társica em 90o, esse trabalho
com condensação e fragmentação da cromatina nuclear
e redução de sarcômeros em paralelo (Lu et al, 1997). enfatizou os primeiros três dias do desuso.
Alguns estudos têm tentado elucidar as alterações
metabólicas decorrentes da imobilização. Hilder et al,
(2003), estudaram o método de imobilização através Metodologia
da suspensão de membros posteriores de ratos e Foram utilizados ratos albinos Wistar com 3 meses de
demonstraram que em músculos esqueléticos de idade, fornecidos pelo Biotério da UNESP – Rio
contração lenta, como o músculo solhar, a resistência à Claro, SP, Brasil, alimentados com ração (Purina® para

6
Revista Portuguesa de Fisioterapia no Desporto

roedores) e água ad libitum, submetidos a ciclos foto isolado para determinação da concentração plasmática
periódicos de 12h claro/escuro e distribuídos em 4 de ácidos gordos livres através de kit de uso
grupos experimentais com n=6, a saber: controle (C) laboratorial (NEFA C; Wako, Richmond, VA). A seguir,
e imobilizados 1 dia (I1), imobilizados 2 dias (I2) e os músculos solhar e o gémeo porção branca, foram
imobilizados 3 dias (I3). cuidadosamente retirados e encaminhados para
Após anestesia com pentobarbital sódico (50mg/ avaliação das reservas glicogénicas pelo método
kg,i.p), a pata posterior esquerda dos animais foi proposto por Siu et al, (1970), da concentração de
imobilizada com o modelo de ortótese de resina acrílica proteína total através de kit laboratorial da marca Bio
proposto por Silva et al. (2006) como pode ser Diagnóstica® e quantidade de DNA segundo o método
obser vado na figura 1. Após o período de proposto por Giles & Myers (1965).
imobilização os animais foram novamente anestesiados Para a análise estatística dos dados, inicialmente, foi
e duas amostras de sangue foram colectadas da veia aplicado o teste de normalidade Kolmogorov-Smirnov
renal, uma das amostras foi direcionada à extração do e o teste de homocedasticidade (critério de Bartlett).
soro para avaliação da concentração plasmática de Posteriormente, foi realizada a análise de variância
interleucina 6 pelo método ELISA (Kit R&D Systems, (ANOVA) seguida do teste de Tukey. Em todos os
Minneapolis, MN) e a outra foi centrifugada e o plasma cálculos foi fixado um nível crítico de 5% (p<0,05).

A B
Figura 1 – Em (A) observa-se a ortótese de resina acrílica composta de uma bota de acrílico (1), rotadores (2) e cinta abdominal
(3). Em (B) pode-se observar a ortótese adaptada ao corpo do rato mantendo a articulação do tibio-társica na posição de 90º.

Resultados No que se refere ao comportamento da reserva


Um consenso na literatura científica é que a reserva glicogénica do músculo gémeo (fibra tipo II) pode-se
muscular de glicogénio é imprescindível para a observar na figura 2 que, nas primeiras 24 horas houve
manutenção de condições energéticas ideais, pois redução de 20% ao passo que no segundo e terceiro
deter mina a eficiência da contração muscular. dia, a redução foi contínua e progressiva e atingiu 33%.
Inicialmente foi avaliado o comportamento das
reservas glicogénicas do músculo solhar (fibra tipo I). Na continuidade da proposta, passou-se à avaliação
Foi observado que nas primeiras 24 horas de desuso, da concentração plasmática de interleucina 6 (figura 3),
não houve diferença entre os grupos controle e e foi observado uma elevação significativa de 166%
imobilizado (figura 2). logo nas primeiras 24h do desuso (p<0,05). No
segundo e terceiro dia da imobilização as concentrações
Por outro lado, houve redução significativa das reservas plasmáticas estabilizaram-se em valores médios 146%
glicogénicas no segundo e terceiro dia da imobilização, maiores quando comparadas ao controle (p<0,05). Ao
após 48h de imobilização houve redução de 40% nas verificar-se a expressiva elevação na concentração
reservas, a redução foi ainda maior no grupo plasmática de IL6, passou-se a avaliar a concentração
imobilizado durante 3 dias, onde foi observado plasmática de ácidos gordos livres e foi observado
redução de 60% (p<0,05). que houve elevação de 107% nas primeiras 24h do

7
Revista Portuguesa de Fisioterapia no Desporto

0,6

Glucogénio ( mg/100mg) 0,5 *

*
0,4
*
0,3
* *
0,2

0,1

0
CS I1S I2S I3S CGB I1GB I2GB I3GB

Figura 2. Valor da média±epm do conteúdo de glicogénio (mg/100mg) dos músculos solhar (S) e gémeo porção branca (GB)
dos grupos controle (C) e imobilizados 1 dia (I1), 2 dias (I2) e 3 dias (I3) na posição tibio-társica 90º, n=6. *p<0,05 comparado
ao controle.

800
Interleucina 6 (pg/mL)

*
* *
600

400

200

0
C I1 I2 I3

Figura 3. Valor da média±epm da concentração plasmática de interleucina 6 (pg/mL) dos grupos controle (C) e imobilizados
1 dia (I1), 2 dias (I2) e 3 dias (I3) na posição tibio-társica de 90º , n=6. *p<0,05 comparado ao controle.

desuso (p<0,05). No segundo dia do desuso, a A seguir, passou-se a avaliar a razão proteína total/
concentração plasmática ainda permanecia elevada e DNA nos diferentes grupos experimentais e como
atingiu valores 31% maiores que o controle. No terceiro pode ser observado na tabela 2 houve redução somente
dia ainda apresentava valores 16% maiores, como no músculo gémeo branco no segundo e terceiro dia
mostra a figura 4. do desuso como mostra a tabela 1.

1
Ácidos graxos livres

*
0,8
(mmol/L)

0,6 *
*
0,4

0,2
0
C I1 I2 I3

Figura 4. Valor da média±epm da concentração plasmática de ácidos gordos livres (mmol/L) dos grupos controle (C) e
imobilizados 1 dia (I1), 2 dias (I2) e 3 dias (I3), n=6. *p<0,05 comparado ao controle.

8
Revista Portuguesa de Fisioterapia no Desporto

Tabela 1. Razão Proteínas totais/DNA (mg/100mg) nos músculos solhar e gémeos dos animais controles e submetidos
à imobilização (I) por 1, 2 e 3 dias (média + epm, n=6).

Controles I 1 dia I 2 dias I 3 dias


Solhar 137,82+14,5 116,03+3,86 105,84+11,6 106,21+18,07
Gémeos 181,04+9,79 146,85+13,84 131,55+15,5* 125,84+17,2*
*
Diferente de controles (p<0,05)

Discussão
submetidos a um curto período de imobilização (48
horas) verificaram redução significativa na população
O músculo esquelético é um dos principais tecidos
dos transportadores GLUT1 e GLUT4 além da
ligados ao controle glicémico por apresentar
redução na actividade das vias glicogénicas e sugeriram
mecanismos responsáveis pela captação, metabolização
o desenvolvimento do quadro de resistência no desuso.
e reserva de glicose. Esta capacidade decorre da
Ainda em relação às reservas musculares de glicogénio,
expressão génica de transportadores do tipo 1
o nosso estudo demonstra que no músculo gémeo
(GLUT1) envolvidos na captação basal da glicose e
branco (fibra tipo II), houve a maior redução no
transportadores do tipo 4 (GLUT4) cuja actividade
conteúdo quando comparado ao solhar (fibras tipo I).
mostra ser dependente da insulina e do aumento na
Neste sentido, temos a considerar que a ortótese
actividade contrátil (Fernandez & Leroith, 2005). Cerca
permitia a descarga de peso no membro imobilizado
de 70 a 85% da glicose captada é direcionada à
e este fato pode ter contribuído para a diferenciação
formação de reservatórios de glicogénio ou pode ainda
do efeito se comparado ao músculo solhar, uma vez
ser oxidada para geração de energia (Henriksen et al,
que é um músculo postural. Assim, os dados deste
1990). Neste aspecto, destaca-se que as reservas
trabalho corroboram com a literatura e rectificam que
musculares de glicogénio são uma importante fonte
a ortótese aqui utilizada como modelo de imobilização
de energia durante a actividade contrátil. Desta forma,
mostrou ser um modelo gerador de resistência à
flutuações no seu conteúdo, podem interferir no
insulina à partir do comprometimento da homeostasia
desempenho muscular, ou seja, concomitante à elevação
das vias metabólicas musculares.
nas reservas glicogénicas observa-se melhora na
Entre os anos 70 e 80, havia contradição quanto ao
resistência muscular durante actividade física, porém,
tipo de fibras mais susceptíveis à hipotrofia, foi descrito
pequenas quantidades de glicogénio estão associadas a
que as fibras brancas (tipo II) eram mais susceptíveis
situações de fadiga muscular (Sesti, 2006).
enquanto outros autores referiram-se às fibras
Hirose et al. (2000) estudaram a via sinalizadora da
vermelhas (tipo I) como as mais susceptíveis. No
insulina em ratos que tiveram a pata imobilizada por
entanto, há trabalhos que não evidenciaram qualquer
fixação do joelho e tornozelo à 90o, durante sete dias,
diferença no comportamento dos diferentes tipos de
e verificaram redução na transdução do sinal insulínico,
fibras à hipotrofia (McDougall et al, 1980). Em
esses factos indicam défice na activação do receptor e
consenso tem-se verificado que o decréscimo mais
nas enzimas activadas a partir deste, inclusive a
pronunciado do diâmetro das fibras ocorre durante a
fosforilação do IRS-1 (substrato 1 do receptor de
primeira semana de imobilização e em estudos
insulina) e a activação da PI3-K. Esses dados
realizados com animais e com tempos de imobilização
demonstram que o quadro de resistência à insulina,
variáveis, foi demonstrado que as fibras tipo I são as
também pode ser desencadeado na imobilização. Essa
que apresentam sinais mais evidentes de hipotrofia, essas
alteração na dinâmica de sinalização da insulina pode
ponderações demonstram que tal facto ocorra devido
explicar os resultados deste estudo, onde foi observado
à redução da actividade das enzimas oxidativas. Neste
que sob condição aguda de imobilização, houve
sentido, os diferentes trabalhos diferenciam-se quanto
redução nas reservas musculares de glicogénio.
ao período de desuso. Contudo, os resultados deste
Este estudo mostra que no músculo solhar, houve
estudo mostram que já existem alterações significativas
redução significativa no conteúdo de glicogénio
desencadeadas precocemente, ou seja, nos primeiros
somente a partir do segundo dia do desuso. Neste
dias do desuso. Cabe salientar que a homeostasia
sentido, Ploug et al. (1995) ao estudarem o
energética do músculo gémeo branco já ficou
comportamento metabólico de músculos vermelhos
comprometida nos primeiros dias da imobilização.

9
Revista Portuguesa de Fisioterapia no Desporto

A escolha de direcionar o estudo à posição tíbio-társica fase inicial da imobilização há uma expressiva elevação
à 90º, se deve ao facto de ser a posição anatómica na concentração plasmática da IL-6, isso pode estar
mais utilizada na clínica e também há trabalhos que associado à diferentes factores ligados à imobilização,
mantiveram a imobilização tíbio-társica na posição de como por exemplo o desenvolvimento de lesão nas
90o, juntamente com a imobilização das articulações fibras musculares.
do joelho e anca, o que diferencia de nossa proposta Dentro do perfil metabólico, foi observado que a
onde a articulação do joelho e anca mantém-se livres imobilização promove uma expressiva redução na
(Ploug et al, 1995; Hirose et al, 2000). Dentro destas reserva de glicogénio, facto relacionado à redução na
considerações, a órtese foi capaz de promover na actividade da cascata sinalizadora da insulina, por outro
musculatura, alterações metabólicas e na taxa proteína lado, se deve considerar que concomitante à redução
total/DNA e indicar o desenvolvimento de proteólise, nas reservas de glicogénio a níveis que comprometam
uma vez que, esta relação serve como índices de a geração de energia e afectam a actividade contrátil,
tamanho celular (Albanes et al, 1990). tem sido descrito elevação na liberação de IL-6 pelo
Recentemente foi estudada a inatividade muscular em tecido muscular (Pedersen & Febraio, 2005; Pedersen
membros posteriores de ratos com observações de & Fischer, 2007). Esses eventos justificam estes
que o músculo solhar sofre hipotrofia em relação ao resultados onde foi observado elevação na
longo extensor dos dedos, provavelmente isto tem concentração plasmática de IL-6 concomitante a
relação com o tipo de fibra e função muscular durante imobilização.
a condição normal de descarga de peso. Tanaka et al. No músculo imobilizado foi observado redução no
(2004) também associaram o tipo de fibras ao grau de peso e redução na razão proteína total/DNA, estas
hipotrofia muscular, sabendo-se que o solhar possui observações demonstram que há instalação de um
maior número de fibras tipo I e o extensor longo dos estado catabólico que se intensifica após 48h do desuso.
dedos mais fibras do tipo II, o primeiro músculo sofre Vale salientar que a IL-6 direta ou indiretamente
mais durante a imobilização, devido à menor solicitação intermedia estados catabólicos (Bodell et al, 2008).
das fibras posturais (Ploug et al, 1995). Diversos autores estudaram as relações entre a
Dentro desta linha de raciocínio, observou-se que o concentração plasmática de IL-6 e o exercício físico; e
músculo gémeo branco foi o mais afectado pela sugeriram que a elevação pronunciada na concentração
imobilização e possivelmente se deve ao facto de ser plasmática de IL-6 pode estar associada à lipólise
bi-articular e neste modelo de desuso, apresenta (Wallenius et al, 2002; Pedersen & Febbraio, 2005).
limitação na sua condição fisiológica. Assim, por haver Neste sentido, observamos que frente à imobilização,
descarga de peso, o músculo solhar recebia estimulo houve elevação significativa na concentração plasmática
constante enquanto o animal deambulava. Uma vez de ácidos graxos livres durante a flutuação da
que, tem sido descrito que frente à elevação da concentração plasmática da IL-6, esse evento indica
actividade contrátil há elevação na captação de glicose que pode haver integração nas relações funcionais, e
decorrente da translocação de transportadores GLUT sugere que a IL-6 possa participar do controle de vias
4, é sugestivo o facto que o solhar adquiriu um status metabólicas e promove melhoria da disponibilidade
energético diferenciado dos outros músculos, razão de substratos metabolizáveis (Pedersen et al, 2003).
pela qual os dados diferem do consenso presente na Este estudo é pioneiro em demonstrar acções da
literatura. interleucina-6 na fase inicial da imobilização sendo
Além das reservas energéticas, a relação proteína total/ sugestivo novos estudos que abordem diferentes
DNA muscular também foi comprometida pela tempos e posições da imobilização articular, bem como
imobilização do membro, a alteração dessa relação foi a avaliação de protocolos da prática fisioterapeutica
significante a partir do 2º dia e com especificidade no aplicados precocemente ao início do desuso. Ressalta-
músculo gémeo branco, essa observação reitera que se ainda, o facto da IL-6 promover síntese protéica e
dentro da especificidade deste modelo de imobilização activar a formação de factores de crescimento
as fibras brancas são afectadas precocemente. insulínicos (Gleeson, 2000). Estas acções podem fazer
No que se refere às relações entre a homeostasia do parte de um conjunto de sistemas precocemente
músculo esquelético e as citocinas, é sabido que há activados e envolvidos na reparação tecidular.
elevação na produção de citocinas pro-inflamatórias,
em especial a IL-6, associado à lesão tecidual, como já Conclusão
observado em actividade física de alta intensidade
(Keller et al, 2001, Pedersen et al, 2004; 2007). Nesse A fase inicial da imobilização muscular é acompanhada
sentido, os resultados deste trabalho revelam que na de elevação na produção e secreção de interleucina 6, a

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Revista Portuguesa de Fisioterapia no Desporto

qual promove mobilização das reservas energéticas e Kannus P., Jozsa L., Jarvinen T.L.N., Kvist M., Vieno T.,
assim dá suporte nutricional aos processos de reparação Jarvinen T.A H., Natri A., Jarvinen M. Free mobilization an
ou regeneração tecidulares. Dessa maneira, temos que low to high-intensity exercise in immobilization-induced
destacar que estas respostas fisiológicas são muscle atrophy. J. Appl. Physiol. 1998, 84(4): 1418-1424.
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12
Revista Portuguesa de Fisioterapia no Desporto

REVISÃO DA LITERATURA

Definição de Lesão Desportiva – Uma Revisão da Literatura

Tiago Atalaia1, Ricardo Pedro2, Cristiana Santos3

Fisioterapeuta Mestre. Escola Superior de Saúde da Cruz Vermelha Portuguesa 1


Fisioterapeuta Licenciado. Escola Superior de Saúde da Cruz Vermelha Portuguesa 2
Fisioterapeuta Licenciada. Escola Superior de Saúde da Cruz Vermelha Portuguesa 3
Correspondência para: cristiana_santos@clix.pt

Resumo

Introdução: A prática desportiva traz associado o risco de lesão. Para se reduzir esse risco, é necessário recorrer-se a estudos de
epidemiologia das lesões para se estabelecerem programas de prevenção eficazes. A existência de diversas definições de lesão desportiva,
torna difícil e pode invalidar a comparação entre estudos. Objectivos: Fazer uma revisão da literatura, pesquisando através de artigos,
as definições de “lesão desportiva” e verificar a existência de uma harmonia entre as definições encontradas que tenda a um consenso de
utilização. Relevância: Perceber quais as definições mais utilizadas e se existe uma definição sem ambiguidades que possa ser aplicável
a uma amostra universal. Uma definição comum é fundamental para a avaliação e quantificação da incidência de lesões, assim como para
determinar o risco de ocorrência das mesmas. Metodologia: Foi realizada uma pesquisa electrónica, em bases de dados da B-On, Cochrane
Library e PEDro, utilizando combinações de palavras-chave. Após leitura dos títulos e resumos dos artigos, aplicaram-se os critérios de
exclusão, resultando daí os artigos incluídos, dos quais se recolheram as definições de lesão encontradas. Resultados: Identificaram-se
cerca de 2400 artigos (incluindo artigos repetidos). Foram incluídos 29 neste estudo que abordam assuntos relacionados com epidemiologia,
prevenção e incidência de lesões em desportos de equipa ou individuais. Discussão: Encontraram-se diversas referências ao facto da
progressão na epidemiologia das lesões desportivas ser frequentemente impedida pela grande disparidade na definição de lesão e na forma
como uma lesão é descrita. Conclusões: Na expressão da pesquisa efectuada, não se verifica a existência de um consenso. Verifica-se
contudo que existem definições aplicáveis a três desportos (críquete, futebol e râguebi), estabelecidas segundo consensos internacionais.

Palavras-chave: lesão desportiva, definição de lesão, conceito de lesão, consenso.

Abstract

Introduction: Sports practice brings the risk of injury. When we try to reduce that risk, it’s necessary to do epidemiological studies of
match injuries so we can do sports injury prevention. The existence of several sports injury definitions make these studies difficult to
compare. Purpose: To search for papers that include “injury definition” and to verify if there is a connection between those definitions
that can result in a consensus. Relevancy: To understand which definitions are commonly use. To understand if there is a definition that
can be apply to a universal sample. It is necessary a common definition for injuries evaluation, quantification and incidence and to
determine injury’s risk. Methodology: B-On, Cochrane Library and PEDro databases were used to search for papers that have proposed
consensus injury definitions or examined injury definitions. After reading, exclusion criterions have been applied. Injury definitions were
collected from the selected articles. Results: There were found about 2400 articles (included the repeated ones). 29 studies were
included. These articles talked about injuries epidemiology, prevention and incidence in individual or team sports. Discussion: There
were found several references to an impossibility of progression in epidemiology of injuries because of disparity between injury
definition and injury description. Conclusion: In this search it was elusive an existence of a sport injury consensus as a result of the
inconsistencies in the injury definitions used. However there are 3 specific definitions of sports injuries only applied in cricket, soccer and
rugby, established according to international consensus.

Key words: sports injury, sports damage, injury definition, injury concept, injury consensus.

Introdução de trazer muitos benefícios a quem a pratica, também


traz associado o risco de lesão. Na qualidade de
Numa altura em que a actividade desportiva, amadora profissionais de saúde na área do desporto, enquanto
ou profissional, enquanto actividade de lazer ou de promotores do desporto e da actividade física na
competição, por questões de saúde, prazer, necessidade perspectiva da saúde, temos o dever de tornar a
de relaxar, meio de socialização ou meramente por participação desportiva o mais segura possível. Para se
interesse pessoal, vai conquistando cada vez mais reduzir o risco de lesão, é necessário recorrer-se a
adeptos, é importante termos consciência que, apesar estudos de epidemiologia das lesões como base para

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Revista Portuguesa de Fisioterapia no Desporto

se estabelecerem programas de prevenção eficazes. Dos de carga ou no aumento da capacidade do corpo


estudos realizados na área do desporto, em especial humano de tolerar ou reagir aos padrões de carga.
naqueles que abordam a epidemiologia das lesões Tem-se apostado principalmente em planos de
desportivas, tem sido notória alguma falta de prevenção que impedem o desgaste de estruturas
unanimidade em relação à definição de lesão a ser aquando duma exposição prolongada, contudo
utilizada, gerando-se problemáticas relacionadas com existem factores que complicam todos os modelos
a metodologia dos trabalhos. Para se tornarem os propostos. Esses factores estão relacionados com a
estudos sobre lesões comparáveis, é necessário que se natureza competitiva e repetitiva do desporto e com
utilizem os mesmos conceitos base. O objectivo deste os factores comportamentais, fisiológicos e as
estudo é então fazer uma revisão da literatura, adaptações biomecânicas que acompanham a
pesquisando, através de artigos, as definições de “lesão competição. A elevada exigência física, a repetição do
desportiva” e verificar a existência de uma harmonia gesto técnico e o desgaste duma prática intensiva
entre as definições encontradas que tenda a um consenso aumentam a probabilidade da ocorrência de lesões.
de utilização.
Importância da prevenção de lesões
A dimensão desportiva nos dias de hoje Apesar de todos os benefícios associados à prática
Nos dias que correm, cada vez existem mais pessoas desportiva, a participação no desporto também traz o
por todo o mundo a participarem nas mais variadas risco de lesões aos atletas, quer participem em desportos
modalidades desportivas, pelos mais diversos motivos de competição, quer o façam a nível recreativo, como
que variam entre o interesse pessoal, a descontracção e referido por Olsen, Myklebust, Engebretsen, Holme e
a manutenção física, passando ainda, por questões de Bahr (2005).
saúde (Fong et al., 2007). São cada vez menos aqueles Segundo Fong et al. (2007), o desporto é uma das
que conseguem ficar indiferentes à máxima de que o maiores causas de lesões, em comparação com
desporto é saudável e que contribui para o aumento acidentes de viação, acidentes em casa, acidentes de
do bem-estar físico e psicológico. Um estilo de vida lazer, acidentes laborais ou violência, sendo que as lesões
fisicamente activo e a participação no desporto e na desportivas podem resultar em dor, afastamento dos
actividade física é importante para todas as idades. São jogos ou do trabalho e gastos médicos. E se para aqueles
muitas as razões para participar no desporto e na que vivem o desporto de forma amadora, uma lesão
actividade física, como o prazer e a necessidade de pode trazer pequenas alterações ao seu dia-a-dia,
relaxar, a competição, a socialização, e a manutenção e podendo não comprometer de todo as suas tarefas
melhoria da condição física e da saúde. Contudo, a de vida diária, para os que têm no desporto a sua
participação desportiva também implica o risco de lesão actividade profissional, podem de acordo com Kujala,
por uso excessivo, bem como por lesões agudas (Bahr Orava, Parkkari, Kaprio e Sarna (2003) ter a sua carreira
et al., 2003). comprometida. De qualquer forma, há que ter em
Esse risco torna-se ainda maior quando se trata de conta que uma situação não é menos importante que
desporto de competição. De acordo com Timpka, outra, já que as lesões desportivas são um dos grupos
Ekstrand e Svanström (2006), os meios de comunicação de lesões mais comuns das sociedades modernas
contribuíram para que as competições desportivas se ocidentais. O seu tratamento é por vezes difícil, implica
tornassem uma parte importante da industria do gastos económicos e de tempo, sendo que estratégias
entretenimento global, sendo que a possibilidade de se de prevenção de lesões são cada vez mais necessárias,
acompanhar o desempenho dos melhores atletas na tanto por imposições a nível económico como para
televisão se tornou um dos passatempos mais populares segurança dos atletas.
de todo o mundo. A exigência e competitividade
geradas à volta dos mais variados tipos de desportos Porquê fazer uma revisão da literatura sobre a
levaram a que o risco de lesão se tornasse muito elevado, definição de lesão desportiva?
tal como documentado para o futebol (Hägglund, Quando se conduzem (e também quando se
Waldén, Bahr & Ekstrand, 2005), para o críquete interpretam os resultados de) estudos epidemiológicos
(Orchard et al., 2005), para o râguebi (Hoskins, Pollard, das lesões desportivas, levantam-se uma série de
Hough & Tully, 2006) e para o triatlo (Gosling, Gabbe questões metodológicas. A primeira questão importante
& Forbes, 2007). é a definição de lesão desportiva. Em geral, a lesão
Como referido por McIntosh (2005), as intervenções desportiva é um nome colectivo para todos os tipos
que têm sido feitas com o objectivo de controlar o de lesões susceptíveis de ocorrerem no decurso de
risco de lesão, têm-se centrado na redução dos níveis actividades desportivas. Contudo, vários estudos de

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Revista Portuguesa de Fisioterapia no Desporto

incidência definem o termo «lesão desportiva» de Metodologia


formas diferentes (Bahr et al., 2003).
Segundo Brooks e Fuller (2006), os dados obtidos a Foram realizadas 181 pesquisas electrónicas, entre o
partir de estudos epidemiológicos sobre lesões dia 10 de Abril e 6 de Maio de 2008, e 36 pesquisas
desportivas, são um requerimento essencial para o electrónicas, entre o dia 2 de Junho e 4 de Junho de
desenvolvimento da prevenção de lesões, tratamento 2008, nas bases de dados Current Contents, ISI Proceedings,
e estratégias de reabilitação. Embora muitos autores PubMed, Web of Science, das Bases Referenciais da B-On
tenham discutido os pontos fortes e fracos dos e nas bases de dados Annual Reviews, Science Direct
métodos de pesquisa aplicados na epidemiologia, os (Elsevier), Oaister, Wiley Interscience, Taylor & Francis,
efeitos potenciais das variações entre os desenhos da SpringerLink, das Ciências da Saúde da B-On; e ainda
pesquisa e dos métodos de análise podem levar a que na Cochrane Library e na PEDro, utilizando as seguintes
as conclusões não tenham sido claramente ilustradas. combinações de palavras-chave: sports AND injury
Esta potencial ambiguidade remete-nos para a questão AND definition; sports AND injury AND concept; sports
dos conceitos base que servem de ponto de partida a AND injury AND consensus; sports AND damage AND
estes estudos. As várias definições de «lesão desportiva» definition; sports AND damage AND concept; sports AND
existentes podem contribuir para a pouca clarividência damage AND consensus; sports AND “injury definition”; sports
entre estes estudos. Fazer uma revisão da literatura vai AND “injury concept”; sports AND “injury consensus”; sports
possibilitar o levantamento das definições de lesão AND “damage definition”; sports AND “damage concept”;
desportiva existentes no contexto da amostra em sports AND “damage consensus”; “sports injury definition”;
estudo, permitindo verificar se nessa amostra existe uma “sports injury concept”; “sports injury consensus”; “sports damage
definição consensual na qual os estudos acerca de lesões definition”; “sports damage concept”; “sports damage consensus”.
desportivas se possam basear, facilitando os processos Os artigos foram seleccionados após leitura dos seus
de recolha e interpretação de dados. Como refere títulos e resumos e aplicação dos seguintes critérios de
Fortin (1999), “uma revisão dos documentos teóricos exclusão: (1) artigos noutra língua que não o inglês ou
e empíricos pertinentes para um domínio de interesse, o português; (2) artigos sem relevância para o tema;
permite determinar o nível actual dos conhecimentos (3) artigos sem resumo; (4) documentos que não sejam
relativamente ao problema de investigação em estudo”. artigos. De seguida fez-se a recolha integral dos artigos
A revisão da literatura permite uma visão dos conceitos seleccionados, dos quais se retiraram as definições de
ou da teoria que servirão de quadro de referência. lesão desportiva.
Espera-se que este estudo, dentro da janela de pesquisa
efectuada, dê a conhecer quais as definições mais Resultados
utilizadas pelos autores incluídos e a partir dessa recolha
se criem bases que possam ser o ponto de partida de Num total de 217 pesquisas electrónicas, foram
outros trabalhos, orientando-os numa necessidade de identificados aproximadamente 2400 artigos (incluindo
se estabelecer uma definição precisa e dando-lhes a artigos repetidos), seleccionados de acordo com as
conhecer o cuidado necessário na selecção duma palavras-chave aplicadas. Após aplicação dos critérios
definição adequada. Pretende-se perceber ainda que de exclusão, foram incluídos 29 artigos neste estudo.
definições têm sido utilizadas nos processos de Um dos estudos aborda assuntos metodológicos
comparação entre dados recolhidos, podendo ser relacionados com epidemiologia das lesões desportivas;
também um contributo para que, em estudos futuros, três falam na incidência e risco de lesões no desporto;
se estabeleça uma definição mais abrangente, que um dá indicações sobre lesões desportivas em atletas
forneça uma unifor midade essencial para o jovens; 10 falam de lesões específicas em desportos de
desenvolvimento de planos de prevenção de lesões, equipa (cinco no futebol, três no râguebi, um no hóquei
tratamento e estratégias de reabilitação. no gelo e outro no críquete) e dois em desportos
A urgência de se estabelecer uma definição de lesão individuais (um no triatlo e outro na ginástica); dois
surge não apenas pela necessidade de existir uma abordam a epidemiologia de lesões no râguebi, outros
definição teórica acessível a todos como ponto de dois no futebol; um fala de prevenção de lesões no
partida para os mais diversos estudos, mas sobretudo, desporto; dois tratam da implementação e validação
pela necessidade de se fornecerem critérios operacionais de instrumentos de recolha de dados (um no râguebi e
para registos de casos. outro no futebol); duas revisões da literatura abordam
a questão da definição de lesão desportiva (uma
questiona se deveria englobar todas as lesões e outra se
se deveria basear no tempo de afastamento dos jogos)

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Revista Portuguesa de Fisioterapia no Desporto

e por último, três apresentam uma definição concreta não apresentam uma definição concreta de lesão
de lesão desportiva aplicada ao respectivo desporto desportiva, fazem antes sugestões sobre que parâmetros
(críquete, futebol e râguebi), definida segundo um devem ser abordados numa possível definição. A síntese
consenso internacional. Muitos dos autores consultados das definições encontradas é apresentada na Tabela 1.

Tabela 1 – Síntese das definições de lesão desportiva encontradas

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fisiológica. O resultado de uma lesão é a alteração, limitação ou fim da
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Junge et al., (2002), American “Qualquer lesão tecidular.”
Journal of Sports Medicine
Weaver et al. (1999), Medicine and “Qualquer dano físico causado por um incidente relacionado com o desporto,
Science Sports Exercise quer resulte ou não em qualquer incapacidade do participante.”
Prager et al. (1989), American “Uma definição de lesão que inclua o factor tempo e a componente severidade
Journal of Sports Medicine deveria ser adoptada por todos os estudos de vigilância de lesões no desporto; a
definição de lesão deveria ainda incluir o contexto da lesão.”
Orchard et al. (2005), British “Qualquer lesão ou qualquer outra condição médica que (a) impeça um jogador
Journal of Sports Medicine de estar disponível para ser seleccionado para um jogo ou (b) durante um jogo,
impeça um jogador de bater, lançar ou defender o wicket quando imposto pelas
regras ou por ordens do capitão de equipa.”
Fuller et al. (2006), Clinical “Qualquer queixa física feita por um jogador que resulte de um jogo ou de um
Journal of Sport Medicine treino de futebol, independentemente da necessidade de avaliação médica ou
afastamento das actividades relacionadas com o futebol. Qualquer lesão em que o
jogador tenha de receber intervenção médica deve ser referida como uma lesão
que necessita de “atenção médica” e uma lesão que resulte na impossibilidade do
jogador participar numa grande parte do treino ou jogo de futebol deve ser
referida como uma lesão baseada no “tempo de retorno à actividade desportiva.”
Fuller et al. (2007), Clinical “Qualquer queixa física causada por uma transferência de energia que excedeu a
Journal of Sport Medicine capacidade do corpo de manter a sua integridade estrutural e/ou funcional, que
foi sofrida por um jogador durante um jogo ou treino de râguebi,
independentemente da necessidade de atenção médica ou afastamento das
actividade do râguebi. Uma lesão que implique observação por parte do médico é
referida como uma lesão que necessita de “atenção médica” e uma lesão que
resulta na impossibilidade do jogador participar na totalidade de um treino ou
jogo futuros, é referida como lesão baseada no “tempo de retorno à actividade
desportiva.”

16
Revista Portuguesa de Fisioterapia no Desporto

Discussão eficiência, no sentido de registarem apenas as lesões


semanalmente, em vez de o fazerem no dia da
Na maioria dos estudos incluídos neste trabalho, os ocorrência da lesão. Pode dar-se uma perda de
autores fizeram referência ao facto da progressão na exactidão em relação a alguns componentes da recolha
epidemiologia das lesões desportivas ser de dados como resultado desse adiamento; alguns
frequentemente impedida pela grande disparidade na recursos dos cuidados de saúde (por exemplo, custos
definição de lesão e na forma como uma lesão é de tratamento) continuam a dedicar-se às lesões de
descrita, tal como defendido por Orchard e Seward forma a não causarem afastamento dos jogos, e de
(2002). Hagglund, Walden e Ekstrand (2005), afirmam facto, esse tratamento de qualidade pode permitir que
que face às inconsistências em relação às definições e o jogador continue a participar na actividade mesmo
desenhos de estudo, qualquer diferença na incidência com uma lesão que numa situação normal causaria o
de lesões ou padrões de lesão entre países pode ser seu afastamento. Uma outra definição referida baseia-
causada pelas diferenças metodológicas, mais do que se na lesão dos tecidos, que segundo alguns autores é
pela diferença no panorama actual das lesões. menos subjectiva, mas de acordo com Hägglund et al.
De todas as definições de lesão desportiva encontradas, (2005), também não é muito prática porque apesar do
a maioria dos estudo faziam referência a uma definição diagnóstico das lesões tecidulares ser objectivo quando
baseada no “tempo de retorno à actividade realizado através de exames complementares de
desportiva”, na qual as únicas lesões descritas são diagnóstico, como ressonâncias magnéticas, raio-x ou
aquelas que “resultam numa ou mais sessões de outros, revela-se dispendioso e na ausência destes,
participação limitada após a data da lesão” como torna-se subjectivo pois depende de quem avalia. Para
referido no estudo de Meeuwisse e Love (1997). Outra além destas definições mais comummente utilizadas,
definição também bastante comum é a de “necessidade surgem outras completamente diferentes. Segundo
de atenção médica”. Segundo Brooks, Fuller, Kemp e Watson (1993, citado por McManus, 2000), a maioria
Reddin (2005), uma definição que envolva o tempo dos estudos utiliza as bases de dados dos hospitais
de retorno é uma definição mais quantificável do que sobre lesões que impedem os jogadores de
uma lesão que necessite de atenção médica, devido à participarem, em pelo menos um jogo, sendo que com
abrangência deste termo. De acordo com Walden et isto a verdadeira incidência de lesões não é evidente.
al. (2005), as definições baseadas no tempo de retorno Belechri, Petridou, Kedikoglou, Trichopoulos e “Sports
apresentam limitações. Um exemplo disso é que este Injuries” European Union group (2001), criaram após
tipo de definição vai depender da frequência dos treinos unanimidade, uma definição de lesão desportiva.
e dos jogos. Outros factores, como a disponibilidade Segundo eles, “de forma a facilitar as comparações
de tratamento médico ou a importância do jogo, entre estudos, as lesões desportivas foram definidas
também vão influenciar a participação (Junge & consensualmente como: uma série de eventos não
Dvorak, citados por Walden et al., 2005). Para além desejados que ocorreram no envolvimento entre o
disso, este tipo de definição também não é muito jogador e o ambiente durante a actividade física,
específico para se poder aplicar a um número variado competitiva ou recreativa, resultando em incapacidade
de desportos: uma fractura num dedo não vai afastar física ou incapacidade, devido ao corpo humano ou
um jogador de futebol da prática, mas pode afastar parte dele ter sido sujeito a uma força que excedeu o
um jogador de andebol. Também Orchard, Hoskins e limiar de tolerância fisiológica. O resultado de uma
Chiro (2007), referem algumas críticas em relação à lesão é a alteração, limitação ou fim da participação de
definição baseada no tempo de retorno à actividade um atleta na respectiva actividade, por pelo menos um
desportiva: “não é útil para desportos individuais, onde dia”. Para Timpka, Risto e Björmsjö (2008), a definição
a competição ocorre raramente (ginástica, natação); de lesão “inclui qualquer lesão que ocorra durante os
sujeita o limiar da recolha de lesões a um viés onde o jogos de futebol e que resulte em uma ou mais das
tempo entre os jogos se desvia de um calendário seguintes condições: avaliação médica, impossibilidade
estabelecido (um jogo por semana); existe um grande de completar o jogo, ou afastamento do jogo
viés acerca das lesões ocorridas no último jogo de uma subsequente”. Em 2006, Hoskins, Pollard, Hough e
época pois não existem mais jogos de referência dos Tully, fizeram uma revisão sobre a incidência, localização
quais o jogador pudesse estar afastado; os jogadores e mecanismos de lesão ocorridos na rugby league, onde
que usem analgésicos para jogar não são considerados mencionaram definições de alguns autores. Seward et
“lesionados” se nunca ficarem afastados de um jogo; al. (1993) definem as lesões como impeditivas da
pode haver um encorajamento em relação aos selecção dos jogadores para os jogos, participação nos
indivíduos que recolhem os dados, no interesse da treinos ou que necessitem de tratamento médico

17
Revista Portuguesa de Fisioterapia no Desporto

específico. Gabbett e Domrow (2005), registaram as parte da definição de lesão, mas isto pode variar desde
lesões feitas em jogos com base no período de o afastamento de qualquer jogo ou tempo de prática
afastamento dos mesmos. Gissane et al. (2002), (DeLee & Farney, citados por Goldberg et al., 2007),
definiram lesão como causadora de afastamento de ao afastamento de uma competição completa ou
um jogo. Hodgson-Phillips et al. (1998, citados por treino. Walden, Hagglund e Ekstrand (2005), concluíram
Hoskins et al., 2006), usaram uma definição semelhante que provavelmente não existirá uma definição ideal de
à anterior mas incluíram também as lesões passageiras, lesão e que todas as definições conhecidas podem ter
aquelas que não implicaram afastamento de jogos ou vantagens e desvantagens, dependendo do propósito
treinos. Gabbett (2004), definiu lesão como qualquer de cada estudo. Apesar de tudo, foram encontradas
dor ou incapacidade sofrida por um jogador durante três definições consensuais, estabelecidas
um jogo e rapidamente avaliada pelo treinador internacionalmente, para o críquete, futebol e râguebi.
principal durante ou imediatamente após o jogo. Segundo o grupo reunido para estabelecer um consenso
Segundo Hoskins et al., quando as definições de lesão para o críquete, uma lesão neste desporto deve ser
incluem lesões menores, as lesões musculares são as definida como: “qualquer lesão ou qualquer outra
mais comuns seguidas das contusões e lesões articulares. condição médica que (a) impeça um jogador de estar
Contudo, estas lesões podem não implicar tempo de disponível para ser seleccionado para um jogo ou (b)
afastamento dos jogos. Quando a definição inclui lesões durante um jogo, impeça um jogador de bater, lançar
de maior, aquelas que resultam em afastamento dos ou defender o wicket quando imposto pelas regras ou
jogos, as lesões articulares e ligamentares tornam-se por ordens do capitão de equipa” (Orchard et al., 2005).
prevalentes, assim como as fracturas e luxações. Neste O grupo estabelecido para o futebol definiu-a como:
pequeno exemplo podemos observar que a simples “qualquer queixa física feita por um jogador que resulte
dimensão da lesão utilizada para se constituir uma de um jogo ou de um treino de futebol,
definição, vai influenciar no mesmo estudo, a análise independentemente da necessidade de avaliação médica
de quais os tipos de lesões mais comuns neste desporto ou afastamento das actividades relacionadas com o
em particular. Goldberg et al. (2007), afirmam que não futebol. Qualquer lesão em que o jogador tenha de
existe consenso sobre uma definição de lesão. Segundo receber intervenção médica deve ser referida como
eles, as definições utilizadas nos estudos mais recentes uma lesão que necessita de “atenção médica” e uma
têm sido tão específicas como “qualquer lesão tecidular” lesão que resulte na impossibilidade do jogador
(Junge et al., 2002) ou qualquer dano físico causado participar numa grande parte do treino ou jogo de
por um incidente relacionado com o desporto, quer futebol deve ser referida como uma lesão baseada no
resulte ou não em qualquer incapacidade do “tempo de retorno à actividade desportiva” (Fuller et
participante (Weaver et al., 1999). Muitos autores al., 2006). Para o râguebi, a definição estabelecida foi
concordam que incluir o tempo de retorno à actividade “qualquer queixa física causada por uma transferência
desportiva na definição de lesão, reduz o viés associado de energia que excedeu a capacidade do corpo de
com a incidência estimada (Meeuwisse, Sellmer & Hage; manter a sua integridade estrutural e/ou funcional, que
McKay, et al.; Thompson, et al., citados por Goldberg foi sofrida por um jogador durante um jogo ou treino
et al., 2007). Prager et al. (1989) sugerem que uma de râguebi, independentemente da necessidade de
definição de lesão que inclua o factor tempo e a atenção médica ou afastamento das actividade do
componente severidade deveria ser adoptada por râguebi. Uma lesão que implique observação por parte
todos os estudos de vigilância de lesões no desporto. do médico é referida como uma lesão que necessita
Segundo eles, a definição de lesão deveria ainda incluir de “atenção médica” e uma lesão que resulta na
o contexto da lesão. Estudos que definiram impossibilidade do jogador participar na totalidade de
simplesmente uma lesão como um evento (Prager et um treino ou jogo futuros, é referida como lesão
al.; Waller et al., citados por Goldberg et al., 2007) ou baseada no “tempo de retorno à actividade desportiva”
incidente (McLain & Reynolds, citados por Goldberg (Fuller et al., 2007).
et al., 2007), satisfazendo certos critérios de severidade Como limitações deste estudo aponta-se o facto de a
ou tratamento, negligenciando a diferenciação de “lesão selecção dos artigos ter sido feita apenas com a leitura
desportiva” de outros eventos médicos ou relacionados dos títulos e resumos, o que de certa forma pode ter
com a saúde, ou de lesão similares que não tenham limitado a amostra já que poderiam existir alusões às
sido feitas durante a prática desportiva (Weaver et al., definições na continuidade do artigo. Poderão também
citados por Goldberg et al., 2007) também são muitas existir limitações decorrentes do processo de
vezes encontrados. A maioria dos estudos mais recentes retrotradução dos estudos, já que determinadas
utiliza o tempo de retorno à actividade desportiva como expressões são demasiado específicas para se encontrar

18
Revista Portuguesa de Fisioterapia no Desporto

um sinónimo adequado na língua portuguesa e com Brooks, J. & Fuller, C. (2006). The Influence of
isto ter-se perdido/afastado um pouco o significado Methodological Issues on the Results and Conclusions
original. from Epidemiological Studies of Sports Injuries –
Illustrative Examples. Sports Med, 36 (6), 459-472.
Conclusões Brooks, J.H., Fuller, C.W., Kemp, S.P. & Reddin, D.B.
(2005). Epidemiology of injuries in English professional
De toda a recolha realizada neste artigo, constatamos rugby union: part 1 match injuries. Br J Sports Med., 39
que a falta de consenso em relação a uma definição de (10), 757-766.
lesão desportiva sempre foi uma preocupação e um
ponto de chamada de atenção no meio de todos os Brooks, J.H., Fuller, C.W., Kemp, S.P. & Reddin, D.B.
estudos realizados dentro desta temática. (2005). Epidemiology of injuries in English professional
Pensa-se que os objectivos foram atingidos, já que com rugby union: part 2 training Injuries. Br J Sports Med.,
base na literatura recolhida neste estudo, não se 39 (10), 767-775.
conseguiu verificar um consenso mas pensa-se ser Caine, D.J. & Nassar, L. (2005). Gymnastics injuries.
possível a inexistência do mesmo sendo reconhecido Med Sport Sci., 48, 18-58.
que não existe uma definição amplamente usada do
Emery, C.A., Meeuwisse, W.H. & Hartmann, S.E.
que uma lesão desportiva constitui. Facto confirmado
(2005). Evaluation of risk factors for injury in adolescent
pela constante referência em diversos artigos de que a
soccer: implementation and validation of an injury
progressão na epidemiologia das lesões desportivas é
surveillance system. Am J Sports Med., 33 (12), 1882-
frequentemente impedida pela grande disparidade na
1891.
definição de lesão e na forma como é descrita. Apesar
disso, foram descobertas neste artigo três definições Fong, D., Hong, Y., Chan, L., Yung, P. & Chan, K.
consensuais, estabelecidas e aceites internacionalmente, (2007). A Systematic Review on Ankle Injury and Ankle
com a particularidade de só poderem ser aplicadas ao Sprain in Sports. Sports Med, 37 (1), 73-94.
desporto para o qual foram determinadas. Não Fortin, M. F. (1999). O Processo de Investigação – Da concepção
podendo afirmar que apenas estes desportos possuem à realização. Loures: Lusociência.
uma definição específica de lesão desportiva, em nosso
entender uma obtenção de um consenso poderia Fuller, C.W., Ekstrand, J., Junge, A., Andersen, T.E.,
derivar de uma colecção de definições de lesão Bahr, R., Dvorak, J., Hägglund, M., McCrory, P. &
desportiva específica de cada modalidade desportiva Meeuwisse, W.H. (2006). Consensus statement on injury
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Revista Portuguesa de Fisioterapia no Desporto

REVISÃO DA LITERATURA

Calor, Desidratação e Degradação Muscular no Exercício

José Macieira 1
Licenciado em Dietética. Consultor em Nutrição e Desporto 1

Correspondência para: josemacieira@yahoo.com

Resumo

O calor, a intensidade e duração do exercício, o tipo de contracção prevalente, o estado prévio de hidratação e de aclimatação e
possivelmente a existência de degradação muscular provocada por exercício anterior, influenciam o desempenho físico. Por outro lado,
indivíduos envolvidos na mesma actividade e ambiente, podem ter capacidades diferentes de tolerância ao stress térmico. A temperatura
corporal não é universal, existindo variabilidade entre indivíduos saudáveis, tal como na taxa de sudorese, na capacidade de conservar
electrólitos e provavelmente existirão factores de predisposição que influenciam a adaptação ao calor. A degradação muscular é acentuada
pela severidade do stress térmico e este agravado pela desidratação. Beber adequadamente significa conhecer as reais necessidades e
limitações fisiológicas do organismo em esforço. A desidratação leva à fadiga e ao comprometimento do desempenho físico. Uma ingestão
forçada de líquidos que utrapasse a taxa de sudorese pode conduzir a um perigoso estado de hiponatremia. O estabelecimento de
protocolos personalizados de hidratação é uma recomendação relevante, sobretudo nos atletas submetidos a esforços físicos em ambiente
quente. Esta curta revisão tem como objectivo invocar alguns conceitos e impactos da hipertermia activa com particular relevância na
degradação muscular para reforço das recomendações práticas de hidratação dos atletas aos treinadores e a todos os profissionais de saúde
envolvidos.

Palavras-chave: Calor, Hipertermia, Stress Térmico, Termoregulação, Hidratação, Desidratação, Degradação Muscular

Abstract

Heat, intensity and exercise duration, main type of muscular contraction used, previous hydration status and acclimatation and probably previous muscle
damage, have all impact on physical performance. Similar exercise and heat stress could lead to different individual thermo tolerance. Among healthy people,
there are different core temperatures, sweat rates, electrolyte conservative capacity and most probably there should be predisposition factors for acclimation.
Muscle damage is exacerbated by high core temperature and dehydration has a negative effect on it. Adequate fluid intake at exercising should mean knowing
the body’s physiological limits and needs. Dehydration leads to exhaustion and jeopardise performance. Individuals should avoid drinking more fluid than the
amount needed to replace theirs sweat losses since this could lead them to a fatal state of hyponatremia. Establishing rehydration protocols is a wise
recommendation, mainly for athlete’s engaging in strenuous physical exercise in hot weather. This mini-review has the main goal to enlighten some basic
concepts and active hyperthermia impacts, particularly on muscle damage, to reinforce the athlete’s fluid replacement guidelines to trainers and all health
professional supporting competitive and recreational athletes.
Keywords: Heat Stress; hyperthermia; thermoregulation; hydration; dehydration; muscular damage

Introdução
estímulos provindos de receptores térmicos periféricos
(na pele) e centrais (nele próprio e em órgãos internos),
Este artigo pretende fazer uma revisão actual sobre ou seja reagindo às diferenças de temperatura periférica
alguns conceitos – Stress Térmico, Termoregulação, e interna. O hipotálamo actua voluntária e
Desidratação, Degradação Muscular - e os efeitos que involuntariamente sobre o tecido muscular, sobre as
a hipertermia activa exerce sobre o organismo, com glândulas sudoríparas e sobre as arteríolas da pele. O
particular relevância na degradação muscular, tendo a objectivo é manter a temperatura interna do corpo
finalidade de reforçar as recomendações práticas dadas dentro dos limites de homeoestasia interna. Na realidade
aos treinadores e a todos os profissionais de saúde estes limites não são assim tão universais, existindo uma
envolvidos sobre a hidratação dos atletas. significativa variabilidade individual. Numa pessoa
Stress Térmico saudável a temperatura normal pode verificar-se aos
36ºC ou menos e noutra encontrar-se aos 37,5ºC
Células nervosas localizadas no hipotálamo actuam (Guyton and Hall, 2006a). Independentemente destas
como centro regulador da temperatura, reagindo aos diferenças, o organismo reage às variações de

22
Revista Portuguesa de Fisioterapia no Desporto

temperatura, procurando manter o seu valor óptimo. nestas situações não se verificam perturbações
Um ambiente quente que dificulte a dissipação de calor neurológicas tão significativas e ao invés, surgem sinais
através do gradiente térmico (radiação, condução/ de lesão dos tecidos ou disfunção dos órgãos, para
convecção e evaporação) e uma produção interna além da disfunção cardiovascular (DuBose et al., 2003).
aumentada, resultante da actividade muscular, são um Considerando estas diferenças foram sendo adoptados
desafio aos mecanismos de termoregulação. A fadiga outros termos para distinguir o quadro clínico
instala-se progressivamente quando são atingidas característico resultante da contribuição do exercício
temperaturas internas acimas de ~38ºC, tendo um no desequilíbrio térmico, nomeadamente - exertional
efeito esgotante em indivíduos não treinados, enquanto heat injury (Casa et al., 2000; DuBose et al., 2003),
atletas aclimatados chegam a suportar 41ºC (Nybo, exertional heat exhaustion (McDermott et al., 2009) e
2008). Na realidade, o aumento ligeiro da temperatura exertional heatstroke (Glazer, 2005; Armstrong et al., 2007;
corporal e em particular do tecido muscular é benéfico Howe and Boden, 2007; McDermott et al., 2009) que
para o desempenho físico. Acelera a taxa metabólica tomamos a liberdade de traduzir respectivamente estes
celular, aumenta a velocidade de propagação dos últimos para «exaustão pelo calor em esforço» (ECE)
estímulos nervosos e potencia a troca de oxigénio entre e «golpe pelo calor em esforço» (GCE). Associado ao
o sangue e os tecidos (Astrand et al., 2006c), para além calor e à desidratação podem surgir ainda as conhecidas
de diminuir a viscosidade dos tecidos (Shellock and cãibras de esforço no calor provocadas pela excessiva
Prentice, 1985). É a razão pela qual os atletas procedem perda de água e sódio pelo suor e pela fadiga muscular
a rotinas de “aquecimento” antes de iniciarem (Eichner, 2007).
actividade física mais intensa. Conforme lembra Lars
Sensivelmente até aos 40ºC de temperatura interna, vai
Nybo, Asmussen e Bøje demonstraram há mais de 60
surgindo uma sintomatologia de ECE, entre as quais
anos que o desempenho físico de uma corrida realizada
sede, fraqueza, tonturas, dores de cabeça e má
sobre uma bicicleta ergométrica melhorou cerca de
disposição geral que reverte com facilidade através de
5% por cada 1ºC de aumento da temperatura do tecido
rehidratação e arrefecimento (Glazer, 2005). Acima dos
muscular resultante do aquecimento inicial, activo ou
40ºC de temperatura interna, o organismo entra em
passivo (Nybo, 2008). No entanto, a incapacidade de
hipertermia de esforço. Ocorre durante o exercício, a
manter o equilíbrio térmico entre a produção e a
diferentes níveis de intensidade e duração, quando a
libertação de calor, dentro de limites específicos, resulta
acumulação de calor gerado pelo músculo é mais rápida
na exaustão pelo calor - heat exhaustion, caracterizado
do que aquele que o organismo consegue eliminar, com
principalmente pelo comprometimento do sistema
consequente diminuição da capacidade física (Nybo,
cardiovascular. De maior severidade e num processo
2008) e mental (Hancock, 1986; Gonzalez-Alonso,
de contínuo desequilíbrio da termoregulação resulta o
2007). A temperatura rectal, acima dos 40ºC, é por
golpe de calor - heatstroke. É uma emergência médica.
vezes a única diferença observável no terreno que
O simples afastamento da causa (calor ambiente e
distingue a exaustão pelo calor em esforço do golpe
exercício) não faz necessariamente diminuir a
pelo calor em esforço, verificado neste último
temperatura corporal, não só porque o sistema de
(Armstrong et al., 2007), embora seja normalmente
ter moregulação está afectado, como porque a
encontrado no primeiro um estado neurológico estável
temperatura a que o organismo se encontra quase que
(Howe and Boden, 2007).
duplica a taxa das reacções químicas intracelulares
Acima dos 42ºC de temperatura interna a destruição
(Guyton and Hall, 2006c). A imersão em água fria ou
celular ocorre mais rapidamente e de forma massiva,
água e gelo parece ser o método mais eficaz para repor
tendo esta sido proposta como o limiar térmico
a normalidade térmica (McDermott et al., 2009). O
humano (Bynum et al., 1978).
sistema nervoso central pode assim ser severamente
Quando o organismo perde a capacidade de equilibrar
afectado agudizando os sinais de disfunção como
a produção de calor gerado pelo exercício físico,
sejam a irritabilidade, ataxia – deficiente coordenação
agravada ou não pelo meio ambiente, a reposição do
dos movimentos - confusão mental, convulsões e coma.
equilíbrio térmico exige proactividade imediata do
Outros sinais poderão surgir nomeadamente arritmias,
indivíduo. Designa-se por termoregulação
insuficiência renal e hepática, rabdomiólise entre outros
comportamental e é uma regulação psicológica natural
(Glazer, 2005). Conforme sublinhado por DuBose, a
pela procura do conforto térmico. O corpo requer
sintomatologia resultante do desequilíbrio da regulação
adaptação comportamental, sendo diminuída a carga
térmica corporal, quando associada à actividade física
de trabalho da actividade, conforme demonstrando
intensa não traduz exactamente o modelo clássico, i.e.
por Morante e colegas na alteração táctica (diminuição

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Revista Portuguesa de Fisioterapia no Desporto

do tempo de cada ponto) num jogo de ténis sob stress Hall, 2006a). A aclimatação promoveu a conservação
térmico (Morante and Brotherhood, 2008). de sódio mesmo num período inferior (10 dias) (Buono
et al., 2007) e resultou em significativa conservação de
Termoregulação outros minerais e electrólitos, como o cálcio, cobre e o
O controlo da temperatura corporal visa o equilíbrio magnésio (Chinevere et al., 2008).
entre a produção e a libertação de calor. Vários factores Ora, suar mais para perder calor, significa, para além
influenciam a produção de calor, incluindo o da deslocação forçada de água intersticial e intracelular
metabolismo basal, a acção hormonal (principalmente para o plasma e para fora do corpo, um esforço
a tiroxina), a actividade química acelerada sobretudo considerável para o sistema cardiovascular que se
quando a temperatura celular é aumentada, o efeito multiplica em fornecer oxigénio arterial aos músculos,
termogénico resultante do metabolismo dos alimentos ao mesmo tempo que transporta calor para a periferia.
(digestão, absorção e armazenamento) e de forma Inicialmente, uma redução da perfusão aos orgãos
muito expressiva a actividade muscular. A actividade internos pode compensar a redistribuição da circulação
muscular pode aumentar a produção de calor 10 a 20 entre a aumentada vasodilatação periférica e os
vezes em relação ao repouso (Astrand et al., 2006a). O músculos, mas o aumento da frequência cardíaca é
calor interno precisa ser conduzido para a periferia inevitável. O equilíbrio térmico pode assim ser mantido,
(pele) para que aí possa ser libertado. O sistema apesar do aumento da circulação periférica, mas se a
cardiovascular é o «motor» deste processo de desidratação aumentar e a temperatura corporal não
transferência de energia, através da vasodilatação estabilizar, o volume sistólico acaba por diminuir,
periférica e do aumento da frequência cardíaca e do provavelmente como resultado da diminuição do
volume sistólico, canalizando a libertação de calor para volume plasmático e do aumento da frequência
fora do corpo. Numa situação de repouso e desde cardíaca (Gonzalez-Alonso et al., 2000). A fadiga não
que a temperatura ambiente não seja superior à da pele é no entanto o resultado da diminuída perfusão
- acima dos 35ºC o gradiente térmico para a convecção muscular. O efeito do aumento da temperatura interna
é invertido e o corpo recebe calor do ambiente sobre o sistema nervoso central é o que limita a
(Morante and Brotherhood, 2008), os mecanismos de capacidade de continuar a carga de trabalho, isto é, a
radiação (perda de calor por radiação de causa de fadiga (Gonzalez-Alonso et al., 2008; Nybo,
infravermelhos) e de condução/convecção são 2008). Antes de haver risco para a saúde, a capacidade
relevantes sistemas de eliminação de calor. A de desenvolver exercício aeróbio fica diminuída,
perspiração insensível e a perda de calor pelas vias sobretudo em ambiente quente (> 30ºC), conforme
respiratórias não podem ser modelados para efeitos evidenciado por diferentes estudos revistos
de regulação térmica uma vez que resultam da contínua recentemente (Maughan and Shirreffs, 2008).
difusão de moléculas de água através da pele e das vias
respiratórias (Guyton and Hall, 2006a). O mesmo não Desidratação
acontece com o mecanismo da evaporação promovido Sob a classificação de evidência de categoria “A”
pela sudação, tornando-se absolutamente determinante (recomendação baseada em evidências consistentes e
no exercício. Para o efeito, as glândulas sudoríparas de elevada qualidade) Lawrence E. Armstrong e colegas
são estimuladas e podem proporcionar uma perda de sublinharam o impacto negativo da desidratação do
calor por evaporação 10 vezes superior à taxa normal. atleta em actividade declarando que esta reduz a
E o importante é que a evaporação ocorra. Um grama capacidade de desenvolver trabalho aeróbio, acelera o
de suor que se perca (por exemplo por ficar retido no aparecimento da fadiga e promove a acumulação de
vestuário), significa uma perda de 0,58 kcal que não é calor (Armstrong et al., 2007). A hidratação é um factor
transferida. Se a humidade for elevada, a evaporação determinante na termoregulação. Confor me
fica diminuída e também a eficiência do sistema de evidenciado por diversos autores citados por Edward
transferência de energia. Conseguir produzir maior Coyle, por cada 1% de perda de massa corporal devido
quantidade de suor é uma vantagem. Um dos efeitos à desidratação, a frequência cardíaca aumenta 5 a 8
da aclimatação ao calor é precisamente o aumento da vezes por minuto e o débito cardíaco diminui
taxa de sudorese e do volume plasmático. Se um significativamente, enquanto a temperatura interna
indivíduo não aclimatado exposto ao calor produz ~1 aumenta 0,2 a 0,3ºC (Coyle, 2004). A desidratação
L·h-1 de suor, após exposição ao calor durante 1 a 6 verificada em ambientes quentes (31 - 32ºC) e húmidos
semanas pode conseguir produzir 2 a 3 L·h-1 e com que resultem numa diferença ponderal superior a 2%
muito menor perda de cloreto de sódio (Guyton and compromete o trabalho aeróbio e afecta as capacidades

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Revista Portuguesa de Fisioterapia no Desporto

cognitivas e mentais (Sawka et al., 2007; Tomporowski idênticas circunstâncias (Godek et al., 2005). O vestuário
et al., 2007; Adam et al., 2008; Shirreffs, 2009). E utilizado influencia a capacidade evaporativa (Parsons,
mesmo uma modesta desidratação (<3% massa 1999), e ao invés, a excelente condutibilidade térmica
corporal) afectou significativamente o tempo de sprints (convecção) proporcionada aos nadadores pelo seu
curtos (5 e 10 metros) (Magal et al., 2003), diminuíu a meio deverá contribuir para as diminutas taxas de
memória visual (-2.5 +/- 0.63% massa corporal) e a sudorese registadas. Perdas hídricas de 0,79 L·h-1 (0,69
percepção de fadiga (Patel et al., 2007). A progressiva a 0,88) foram evidenciadas em atletas de pólo aquático
desidratação até aos 4% de perda de massa corporal em competição e apenas 0,37 L·h-1 em nadadores em
em resultado de exercício moderado sob calor, treino (Cox et al., 2002). Um valor bastante superior
conforme estudos citados por González-Alonso num foi partilhado por Michael Bergeron num caso de
artigo de revisão sobre os desafios cardiovasculares estudo sobre um jogador de ténis com propensão para
resultantes do exercício no calor, conduz a uma gradual contrair cãibras registando uma taxa de 2,5 L·h-1 em
redução do fluxo sanguíneo sistémico, muscular e competição simulada sob stress térmico (31,6ºC, 62%
periférico, aumento da temperatura interna e muscular, humidade) (Bergeron, 1996). Sobretudo em actividades
maior dependência do glicogénio muscular como fonte prolongadas, a recomendação para compensar a perda
energética, aumento do metabolismo celular e uma hídrica não pode ser entendida como a maximização
tendência para a diminuição do consumo de oxigénio da ingestão de líquidos. Na realidade a ingestão
muscular aquando da instalação da fadiga (Gonzalez- exagerada de água (dipsomania) pode conduzir a um
Alonso et al., 2008). A ingestão de líquidos durante o quadro de hiponatremia (Noakes, 2003; Richter et al.,
exercício tem como objectivo central prevenir uma 2007) pelo que a recomendação mais adequada deverá
excessiva desidratação, identificada como a diminuição ser a de optimizar e não a de maximizar a ingestão de
do massa corporal acima de 2% (Rodriguez et al., fluidos durante a realização de exercícios extremos
2009) e o desequilíbrio de electrólitos de forma a não (Noakes et al., 2004; Armstrong et al., 2006). A
comprometer o desempenho (Sawka et al., 2007). hiponatremia, definida pela diminuição da concentração
A diminuição de água corporal pode comprometer e plasmática de Na+ < 135 mmol/L, provoca a invasão
mesmo impossibilitar a capacidade do organismo de do líquido extracelular pelo intracelular com
manter a temperatura interna entre valores compatíveis manifestações sobretudo neurológicas - dores de
com a vida. A desidratação involuntária não é invulgar. cabeça, letargia, confusão, podendo chegar ao coma.
Quando desidratados, os adultos mais velhos sofrem A severidade é tanto maior quanto mais rápida for a
uma degradação da percepção da sede e são assim sua instalação e a descida absoluta da concentração
mais lentos a promover uma adequada hidratação plasmática de sódio (Singer and Brenner, 2008). Um
voluntária (Sawka et al., 2007). A vontade de beber estudo recente sugere que mesmo uma pequena adição
não é um bom indicador do estado de hidratação de sódio (19,9 mmol/L) à bebida ingerida durante
durante o exercício em ambiente quente (Bergeron et actividades prolongadas (3 horas) sob stress térmico
al., 1995) e nem sempre assegura a melhor hidratação (30ºC), permite atenuar a diminuição da concentração
(Greenleaf, 1992; Ormerod et al., 2003). A adequada plasmática de sódio e evitar a perda deste mineral que
ingestão de líquidos não se traduz para a prática de pode conduzir a hiponatremia quando o volume da
forma directa e universal. Independentemente dos ingestão de líquidos é contrabalançado com a água
vários factores externos que influenciam as necessidades perdida pelo suor (Anastasiou et al., 2009).
hídricas (sobretudo as características do exercício e do
ambiente) as mais recentes recomendações (Rodriguez Degradação Muscular
et al., 2009) vêm reafir mar a importância da Estima-se que a meia-vida das proteínas musculares
individualização na determinação de rotinas de seja de 7 a 15 dias e que o estímulo do exercício sobre
hidratação, dada a grande variabilidade de adaptação o turnover das mesmas, seja por aumento da síntese
existente (Casa et al., 2000; Sawka et al., 2007). Esta sobre as fibras rápidas (tipo 2) e/ou pela diminuição
variabilidade resulta da massa corporal, de factores da taxa de degradação das fibras lentas (tipo 1), resulta
genéticos, da eficiência metabólica, do nível de treino no aumento do conteúdo proteico (Astrand et al.,
e aclimatação, influenciando a taxa de sudorese do atleta 2006b), essencialmente por hipertrofia muscular
apesar da sua associação à modalidade. Godek e (Guyton and Hall, 2006b). A disponibilidade de
colegas, verificaram taxas de sudorese em jogadores aminoácidos essenciais é provavelmente o principal
de futebol americano, sob ambiente quente (26-34ºC determinante para a síntese proteica (Bennet et al.,
e 44-71% humidade), da ordem dos 2,14 L·h-1, contra 1989; Kumar et al., 2009) que mostra ter um limite de
1,77 L·h-1 produzidos por atletas de Cross-Country em saturação e parece depender essencialmente da sua

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Revista Portuguesa de Fisioterapia no Desporto

concentração extracelular (Bohe et al., 2003). Durante foram significativamente aumentados em 5 homens
a actividade física, no entanto, a síntese proteica fica saudáveis, desidratados (diminuição de 3,3% de massa
diminuída (Rose and Richter, 2009) aumentando horas corporal) pelo exercício num ambiente quente (40ºC e
depois, numa resposta fisiológica adaptativa à carga 75% humidade relativa) (Cleary et al., 2005). Face ao
de trabalho anteriormente imposta. A resposta resultado, recomendaram que indivíduos não
hormonal ao exercício vai modelando esta adaptação. habituados a novas cargas de trabalho, em ambientes
Qualquer outro factor, para além do tipo de exercício, quentes e húmidos e envolvidos em exercícios com
que consiga influenciar o equilíbrio entre as hormonas uma elevada componente de contracções excêntricas
anabólicas (testosterona e hormona do crescimento) e (contracção dinâmica em alongamento contra uma
catabólicas (cortisol) tem impacto na melhor ou menor força externa) devem realizar frequentes paragens para
adaptação ao esforço. Estudos vários citados por descansar e hidratar. A realização de exercício com
Judelson e colegas, suportam que a hipohidratação no predominância de contracções excêntricas num
exercício aeróbio, independentemente da existência de indivíduo desidratado pode potenciar a degradação
stress térmico, amplifica o estímulo do exercício à do músculo esquelético como resultado da redução
resposta de cortisol, noradrenalina e nalguns casos de água intracelular e aumentar a predisposição do
adrenalina (Judelson et al., 2008). Relativamente ao atleta para contrair uma lesão mais severa durante o
exercício de resistência o efeito da desidratação sobre exercício (Cleary et al., 2006). A mesma equipa de
a modelação hormonal foi ainda pouco investigada. investigadores repetiu basicamente o mesmo estudo,
Judelson e colegas evidenciaram (n = 7) um impacto mas proporcionou ao grupo desidratado (n = 5),
significativo da hipohidratação (diminuição de 4,8% descanso e regresso ao estado de normotermia, antes
de massa corporal) no aumento de cortisol e de submetê-los a igual exercício com elevada
noradrenalina circulantes e na diminuição da resposta componente de contracções excêntricas (corrida
de testosterona após um exercício de resistência descendente com 12º de inclinação). Com esta alteração,
(Judelson et al., 2008). Estes resultados sugerem que regresso à normotermia mas taxa de desidratação
um atleta cronicamente desidratado envolvido em próxima, pretenderam identificar o efeito isolado da
exercícios de resistência está a limitar a sua adaptação desidratação sobre a DMT (Cleary et al., 2006). A
ao esforço. No mesmo ano, uma equipa de moderada desidratação induzida (diminuição de 2,7%
investigadores procurou verificar (n = 7) se o estado massa corporal) não ampliou a extensão das
de desidratação (diminuição de ~5% de massa características da DMT observadas. Este estudo
corporal) combinado com o efeito do exercício de demonstrou que foi possível induzir uma desidratação
resistência evidencia dano muscular, através da com 2,7% de redução de massa corporal simplesmente
quantificação dos marcadores mioglobina e andando (4,83 km/h) numa passadeira eléctrica
creatinaquinase (Yamamoto et al., 2008). A horizontal num ambiente quente (40ºC e 85% humidade
hipohidratação não aumentou o dano muscular, relativa) durante 45 minutos. E que apesar da moderada
mantendo a creatinaquinase plasmática (presente na desidratação, sem concomitante aumento de
presença de lesão do sarcolema ou por permeabilidade temperatura interna, não ter sido suficiente para agravar
aumentada) valores significativamente idênticos aos de as lesões causadas pelo exercício neste grupo, acima de
repouso. 2,7% de diminuição de massa corporal por
A dor muscular tardia (DMT) - delayed-onset muscle soreness desidratação, fica por determinar o eventual efeito
- ocorre quando é aplicada uma carga de trabalho prejudicial.
demasiado intensa para o indivíduo e é sentida 24 a 48 O processo inflamatório desencadeado pelas lesões
horas depois, podendo durar 1 a 4 dias. Os músculos originadas pelo exercício e intensificado pelo stress
afectados ficam doridos, sensíveis, inchados, em térmico que origina a tumefacção dos tecidos
resultado da resposta inflamatória e há redução de musculares afectados, com infiltração de leucócitos,
força. Representam danos nas estruturas miofibrilares aumento de citoquinas circulantes entre outros agentes,
e no tecido conectivo próximo (Stauber et al., 1990) é semelhante ao que ocorre na sequência de uma
embora a sua recuperação fortaleça o músculo e o infecção aguda (Montain et al., 2000). O stress térmico
torne menos susceptível a lesões futuras (Astrand et bem como o exercício parecem influenciar o sistema
al., 2006d). Como indicador de lesão muscular e imunitário segundo um processo fisiopatológico
relativa baixa severidade a DMT tem sido objecto de semelhante (DuBose et al., 2003). Considerando a
investigação em humanos. Michelle Cleary e colegas infecção um risco para o aumento da susceptibilidade
evidenciaram que os micro danos no músculo de contrair um síndrome provocado pelo calor em
esquelético, indirectamente evidenciados pela DMT esforço, Mountain e colegas evidenciaram que uma

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Revista Portuguesa de Fisioterapia no Desporto

lesão muscular pode aumentar a temperatura corporal sugerem a influência de factores de predisposição,
no organismo sujeito a exercício sobre stress térmico como seja a drepanocitose – eritrócito falciforme
(Montain et al., 2000). Isto é, é possível que a lesão (Koppes et al., 1977; Hynd et al., 1985; Harrelson et
muscular possa ter um impacto negativo na al., 1995).
termoregulação. Esta questão merece ser explorada, Existem muitas outras causas de rabdomiólise não
porquanto pode vir a determinar novas recomendações associadas à actividade física. A mais comum são os
práticas em resultado do melhor conhecimento sobre traumatismos. Como Kao e colegas sublinharam, a
o efeito do exercício sob stress térmico intermitente e/ rabdomiólise foi originalmente reconhecida pelas
ou realizado durante dias seguidos. Lesões internas descrições de Bywaters e Beall a propósito dos
pouco expressivas poderão vir a afectar negativamente acidentes provocados pelos bombardeamentos da
o atleta num dia posterior em que o clima esteja até cidade de Londres na II Guerra Mundial (Kao et al.,
menos agressivo. Um recente estudo de Bergeron e 2000). A hipocaliemia (Kao et al., 2000; Ghacha and
colegas não suporta totalmente esta assunção embora Sinha, 2001), hipernatremia severa (Denman, 2007),
tenham focado a sua atenção em jovens atletas septicémia, intoxicação alcoólica, abuso de drogas e
especificamente sobre indicadores térmicos e até mesmo a injecção de anabolisante num culturista
cardiovasculares (Bergeron et al., 2009). (Farkash et al., 2009) ou a ingestão de alguns
Independentemente da causa, um interessante estudo suplementos dietéticos, nomeadamente a alga Spirulina
retrospectivo (1999 - 2005) sobre o desempenho de - Arthrospira platensis (Mazokopakis et al., 2008) ou a
tenistas no campeonato nacional norte-americano, Sinefrina (Burke et al., 2007), provocam ou provocaram
conseguiu evidenciar que os resultados desportivos dos este síndrome. Regressando à rabdomiólise de esforço
jogos da tarde estavam significativamente relacionados importa sublinhar que esta é uma complicação séria,
com o stress térmico (graus-minutos) a que tinham sido com degradação concomitante do tecido muscular,
sujeitos os atletas nos jogos da manhã (Coyle and está fortemente associada ao uso excessivo do músculo
Roberts, 2006). esquelético, é agravada pela hipertermia (Glazer, 2005;
Uma condição bem mais severa que a DMT pode ser Armstrong et al., 2007; Gagliano et al., 2009) e esta
confundida pelo atleta que procura assistência médica pela desidratação (Murray, 1996).
com queixas algo semelhantes como sejam o
aparecimento tardio de sintomas a seguir ao esforço Conclusões e Recomendações
físico (Gagliano et al., 2009), dores musculares, As condições ambientais, a intensidade, o tipo de
tumefacção e fraqueza muscular, associados ou não a contracção prevalente e a duração do exercício, o estado
stress térmico (O’Connor et al., 2008). Pode ainda de hidratação prévio, o estado de aclimatação e
apresentar limitação de movimentos, urina escura, possivelmente a existência de degradação muscular,
alterações do equilíbrio electrolítico (hipercaliemia, mesmo que pouco sintomática provocada por
hiperfosfatemia, acidose, hipo e hipercalcemia) e nos exercício anterior, influenciam o desempenho físico.
casos mais severos resultar em insuficiência renal aguda, Por outro lado, indivíduos envolvidos na mesma
distúrbios da coagulação (Koppes et al., 1977) e morte actividade e ambiente, podem ter níveis diferentes de
súbita (Harrelson et al., 1995). A concentração tolerância ao stress térmico. Há variações significativas
plasmática aumentada de creatinaquinase de cinco ou entre a temperatura corporal normal de indivíduos
mais vezes o valor normal, ou a presença de mioglobina saudáveis, nas taxas de sudorese (Bergeron, 1996; Cox
na urina sem hematúria confirma o diagnóstico de et al., 2002; Godek et al., 2005) e na capacidade de
rabdomiólise de esforço (RE) (exertional rhabdomyolysis) conservação dos electrólitos pelo suor. Existem
(O’Connor et al., 2008). É um síndroma caracterizado provavelmente factores de predisposição à maior ou
pela destruição muscular (necrose celular) com menor tolerância ao calor e também não se deve confiar
libertação para o sangue de enzimas, electrólitos e em absoluto no estímulo da sede (Ormerod et al., 2003)
mioglobina. A exaustão pelo calor em esforço (exertional não parecendo ser este um bom indicador do estado
heat exhaustion) que evolua para o golpe de calor em de hidratação (Bergeron et al., 1995).
esforço (exertional heatstroke) pode originar rabdomiólise Estamos já longe dos tempos em que prevaleciam os
de esforço (Glazer, 2005; Ruiz et al., 2006). No entanto, argumentos a favor da privação de rotinas de reposição
vários estudos de caso têm evidenciado que a hídrica durante o exercício (Bula, 1967). No entanto, o
intensidade do esforço ou do stress térmico não são os excesso de rehidratação e sem reposição de electrólitos
únicos determinantes e que por vezes este síndrome (sobretudo sódio), após perdas consideráveis de suor
ocorre em circunstâncias muito menos extenuantes nas actividades de longa duração, podem revelar-se
(Sharma et al., 1999; Gagliano et al., 2009). Evidências práticas fatais dado o risco de hiponatremia (Noakes,

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Revista Portuguesa de Fisioterapia no Desporto

2003; Richter et al., 2007). Este facto não suporta a história prévia de golpe pelo calor em esforço,
prática do reforço hídrico ad libitum, como isento de privação de sono, disfunção das glândulas
riscos. sudoríparas, queimadura solar, doença viral,
Recentes recomendações genéricas sobre nutrição e diarreia e certos medicamentos (Armstrong et al.,
desempenho físico, publicadas em conjunto pela 2007)
American Dietetic Association, Dietitians of Canada e a • Os adultos mais velhos quando desidratados
American College of Sports Medicine (Rodriguez et al., 2009), sofrem uma degradação da percepção da sede
reiteram as recomendações anteriormente publicadas intrínseca ao processo de envelhecimento o que
por esta última instituição relativamente ao exercício e os torna mais lentos a promover uma adequada
à reposição hídrica (Sawka et al., 2007). Algumas hidratação voluntária (Sawka et al., 2007)
evidências qualificadas e recomendações expressas neste • O consumo de líquidos que exceda a perda de
último, bem como as recomendações da American água pelo suor é o principal factor que conduz à
College of Sports Medicine relativamente ao síndrome do hiponatremia do exercício (Sawka et al., 2007)
calor em esforço durante o treino e a competição A imersão em água fria resulta na melhor taxa de
(Armstrong et al., 2007), importam ser salientadas, entre arrefecimento corporal e a menor morbilidade e
outras, não obstante a relevância de uma leitura sobre mortalidade associada ao «golpe pelo calor em
os originais. esforço» (Armstrong et al., 2007)

Sobre a Desidratação Recomendações


• Reduz a capacidade de desenvolver exercício Deve ser estabelecido um protocolo de hidratação para
aeróbio, diminui o tempo de instalação da fadiga os atletas que considere a taxa de sudorese e preferências
e aumenta a acumulação de calor (Armstrong et individuais, o estado de aclimatação, as condicionantes
al., 2007) do desporto (duração, intensidade, intervalos, acesso a
• A diminuição de mais de 2% da massa corporal, líquidos) e as condições ambientais (Casa et al., 2000).
resultante da desidratação, pode degradar a Os atletas devem iniciar a actividade bem hidratados.
capacidade de desenvolver exercício aeróbio, Um exemplo de prática pré exercício pode consistir
especialmente em ambiente quente (Sawka et al., na ingestão gradual de água ou bebida que forneça
2007) sensivelmente 5 a 7 ml·kg-1 de massa corporal pelo
• Perdas entre 3 a 5% de perda de massa corporal, menos 4 horas antes do esforço (Rodriguez et al., 2009).
resultante de desidratação, não diminui a Rotinas de aferição da variação de massa corporal dos
capacidade de desenvolver exercício anaeróbio atletas antes e depois do exercício permitem estimar a
nem a força muscular (Sawka et al., 2007) taxa de sudorese individual e personalizar rotinas de
• Pode aumentar a probabilidade de ocorrência de rehidratação (Sawka et al., 2007).
insuficiência renal aguda no seguimento da Durante o esforço, em função da taxa de sudorese do
rabdomiólise de esforço (Sawka et al., 2007) atleta e considerando uma concentração média de sódio
do suor de 1g/L (embora a variação seja muito
Sobre a Sudorese diferenciada entre atletas), a reposição de líquidos deverá
• A actividade física pode provocar elevadas taxas ter como objectivo evitar diferenças ponderais
de sudorese e significativas perdas de água e superiores a 2%. O equilíbrio hídrico pode ser difícil
electrólitos durante o exercício continuado, de atingir, sobretudo quando a taxa de sudorese
especialmente durante o tempo quente (Sawka et ultrapassa a velocidade de esvaziamento gástrico,
al., 2007) limitado e com variabilidade individual (Coyle, 2004).
• Há grande variedade individual e entre diferentes Fluidos hipertónicos atrasam o esvaziamento gástrico,
actividades nas perdas de água e de electrólitos pelo que bebidas isotónicas com concentração de
(Sawka et al., 2007) açúcar entre 6 a 8% são recomendados para actividades
que ultrapassem uma hora de duração. A adição de
Factores de influência sódio à bebida estimula a sede o que promove maior
• As seguintes condições aumentam o risco de ingestão de líquidos e contribui para a retenção de
contrair «golpe pelo calor em esforço» (heatstroke) fluidos (Rodriguez et al., 2009).
ou «exaustão pelo calor em esforço» (exertional heat Após o exercício a rehidratação tem como objectivo
exhaustion): obesidade, condição física reduzida, repor a água e os electrólitos perdidos. A reposição
falta de aclimatação ao calor, desidratação, uma hídrica pode ser obtida com a ingestão de 450 a 675

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Revista Portuguesa de Fisioterapia no Desporto

ml por cada 500 g de diferença ponderal verificada Astrand, P.-O., Rodahl, K., Dahl, H.A. and Stromme,
durante a actividade (Rodriguez et al., 2009) ou 1,5 S.B.: Efeitos indesejáveis do treinamento. In: Artmed
litros por cada kg de água perdida (Sawka et al., 2007). (Ed.), Tratado de Fisiologia do Trabalho, 2006d, pp.
O excesso de líquido proposto serve para compensar 324-328.
a produção de urina aumentada pela rápida ingestão
Bennet, W.M., Connacher, A.A., Scrimgeour, C.M.,
de volumes consideráveis de líquidos. A adição de
Smith, K. and Rennie, M.J.: Increase in anterior tibialis
electrólitos na bebida de recuperação promove
muscle protein synthesis in healthy man during mixed
igualmente uma maior retenção de fluidos. Se existir
amino acid infusion: studies of incorporation of [1-
tempo suficiente o consumo de refeições e bebidas
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