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Guerra Híbrida

Nova Via Violenta para a Tomada do Poder


Carlos Alberto Pinto Silva
8 de dezembro de 2016

Cartas imprevisíveis, isto é, cenários que apesar de altamente


improváveis, não podem ser descartados. Assim, sempre é útil reservar pelo
menos um pequeno espaço mental para “pensar o impensável”, pois a
história está repleta de eventos que começaram como altamente improváveis
e depois se tonaram a mais pura realidade.1
A Guerra Híbrida é, para alguns, o termo cunhado em 2009 pelo
jornalista norte-americano Frank Hoffman e antecipado por George Ken-
nan em 1948 e é tão antigo como a própria guerra. Trata-se de uma fusão
de soldados com e sem uniforme, paramilitares, táticas terroristas, ciberde-
fesa, conexões com traficantes de drogas, insurgência urbana e fuzis AK-47.
É uma combinação de meios e instrumentos, do previsível e do imprevisível.
Não há fronteiras entre o legal e o ilegal, entre a violência e a não violência.
Não há uma distinção real entre guerra e paz.2
Os atores da Guerra Híbrida são caracterizados por grupos armados
de insurgentes, terroristas, milícias e organizações criminosas. Estes grupos
veem o conflito como uma continuação da política e utilizam violentas operações
irregulares que perduram por um longo período, buscando atingir um controle
coercitivo sobre as populações locais. (CLÉMENT-NOGUIER, 2003).3
A Guerra Híbrida, portanto, implica um mínimo objetivo político,
no que se diferencia do banditismo e do gangsterismo ligados ao crime
organizado.
Roger Trinquier4, Coronel do Exército Francês explica: A Guerra
Moderna difere fundamentalmente da guerra do passado, pois a vitória não
resulta do choque de dois exércitos no campo de batalha. A guerra é agora

1
Livro Riqueza Revolucionária – O Significado da Riqueza no Futuro – Alvin e Heidi Toffler- pag 128.
2
Diz Félix Arteaga, pesquisador de Segurança e Defesa do Real Instituto Elcano.
3
Artigo - Intervenções para a paz em conflitos assimétricos: desafios na formulação de estratégias de
estabilização no século XXI em relação a novos atores beligerantes - Rafael Assumpção Rocha.
4
Roger Trinquier, Coronel do Exército Francês (originalmente um Colonial – Infantaria da Marinha Fran-
cesa) foi um notável operador de guerra irregular. Em 1953, o Major Trinquier era o responsável por todas
as operações atrás das linhas inimigas na Indochina.
um sistema articulado de ações – política, econômica, psicológica, militar
– que visa à derrubada da autoridade estabelecida no país e sua substitui-
ção por outro regime.”
Mas, afinal, o que é a Guerra Híbrida? Pode-se cogitar ser um con-
flito no qual os atores, Estado ou Não-Estado, exploram todos os modos de
guerra simultaneamente, empregando armas convencionais avançadas, táti-
cas irregulares, tecnologias agressivas, terrorismo e criminalidade visando
desestabilizar a ordem vigente.5
Exemplos de Conflitos Híbridos:
É a guerra de Putin? A que o presidente russo leva a cabo na Ucrâ-
nia, um conflito que os analistas qualificam de “híbrido” porque une forças
regulares e não regulares, desinformação, e uma pomposa presença militar
em uma ofensiva limitada.
O Hezbollah formulou uma estratégia que aliava táticas e capacida-
des do combate convencional a operações de guerra de guerrilha. Sendo a
Força mais fraca no conflito, o Hezbollah percebeu que não poderia destruir
as FDI ou sobrepujar a determinação israelense com combates de encontro
de grande porte. A importância desse conflito até hoje é que a combinação,
por parte da milícia xiita, de táticas militares convencionais com atividades
de guerrilha e terrorismo pareceu representar uma abordagem inovadora em
relação à guerra, que revolucionaria os conflitos no século XXI.6 O Hezbollah
não conduziu uma verdadeira guerra de guerrilha nem uma autêntica guerra
convencional, e sim algo entre os dois extremos. Embora não constitua uma
nova forma de combate na história, o fenômeno da guerra híbrida representa
um desafio enorme.
A Venezuela, num sentido ofensivo, busca expandir ideais revoluci-
onários e fomentar o estabelecimento de regimes de relações socialistas, se
armou como uma ferramenta-chave para explorar as vulnerabilidades políti-
cas e econômicas de oponentes e para modificar a situação em benefício pró-
prio7. Para tanto poderia aplicar as técnicas de um conflito híbrido, patroci-
nando grupos não governamentais (Fornecendo armamento pesado e leve,

5
Frederico Aranha Advogado e Historiador
6
Como Derrotar as Ameaças Híbridas do futuro http://webcache.googleusercontent.com/search?q=ca-
che:http://usacac.army.mil/CAC2/MilitaryReview/Archives/Portuguese/MilitaryRe-
view_20131031_art008POR.pdf&gws_rd=cr&ei=ZDX4V_72OsaTwgS8tIHADQ
7
Luiz Gonzaga Schröeder Lessa http://www.reservaer.com.br/est-militares/perigo-venezuelano.html

2
munição e recursos financeiros), com intuito verdadeiro de fomentar a
expansão do bolivarianismo8
Honduras: Manágua, 28 Jun 2009 (agência EFE). – O presidente
da Venezuela, Hugo Chávez, advertiu hoje na Nicarágua que haverá uma
"revolução violenta" em Honduras se os militares dispararem contra o povo
que protesta a favor do presidente Manuel Zelaya, destituído pelo Parla-
mento. "Que os militares de Honduras não arremetam com suas armas contra
o povo desarmado, porque estariam abrindo o caminho para revoluções vio-
lentas", disse o governante venezuelano. Chávez reafirmou que a agressão
contra Honduras "é a agressão contra todos os povos deste continente", e fez
um apelo às "burguesias destas terras", às quais acusou de perder capacidade
de raciocinar, a não romper as regras da democracia. "Se as oligarquias deste
continente rompem as regras do jogo, de maneira tal como o fizeram neste dia
(em Honduras), os povos terão o direito à resistência e ao combate", avisou.9
Um pouco de história:
Como escreveu Engels, citando Marx: “Que a violência, porém,
ainda desempenha outro papel na história” (além de ser agente do mal), “um
papel revolucionário, que ela, nas palavras de Marx, é a parteira de toda a
velha sociedade que anda grávida de uma nova”. (Anti-Dühring)10
Para a revolução ser vitoriosa não bastam a indignação e a revolta
popular. É preciso, antes de tudo, que o movimento de massas seja guiado
por uma teoria revolucionária e dirigido por uma vanguarda organizada. Tal
lição foi sintetizada por V.I. Lênin, grande líder da Revolução Socialista
Soviética, de 1917, na frase “sem teoria revolucionária não há movimento
revolucionário”.
Em sua “teoria do murro no paralítico” Lenine prescreve a desa-
gregação da máquina do Estado, antes do golpe de força. Trata-se de
aumentar a indecisão governamental e de “apodrecer” as instituições e os
grandes órgãos do Estado.
Em O Estado e a Revolução, diz Lenine: É na insurreição armada
que se deve repousar o movimento no impulso revolucionário do povo.

8
http://www.defesanet.com.br/pensamento/noticia/20260/Guerra-Hibrida---E-a-guerra-de-Putin--
Seria-a-guerra-do-Maduro--Seria-a-guerra-do-Evo-Morales-/
9
Chávez prevê "revolução violenta" em Honduras se militares atacarem civis. http://g1.globo.com/Noti-
cias/Mundo/0,,MUL1211088-5602,00-CHAVEZ+PREVE+REVOLUCAO+VIOLENTA+EM+HONDU-
RAS+SE+MILITARES+ATACAREM+CIVIS.html
10
Entre os livros canônicos da tradição marxista, A revolução da ciência segundo o senhor Eugen Dühring
(Anti-Dühring), de Friedrich Engels, foi para muitas gerações, ao lado do Manifesto Comunista, a principal
via de acesso ao pensamento de Karl Marx.

3
Mas é preciso antes, proceder à educação sistemática do povo. O primeiro
objetivo consiste na formação de um partido operário “capaz de tomar o
poder, de dirigir e organizar um regime novo, de ser o educador, o guia de
todos os trabalhadores para a organização de sua vida social. A substitui-
ção do Estado burguês pelo proletário é impossível sem revolução violenta.
(Obras Completas. Tomo 33)
Em outras palavras, a tarefa dos revolucionários não é, de maneira
nenhuma, adaptar-se ou conciliar com os setores atrasados ou subordinar-se
a ideologia burguesa, mas sim, elevar a consciência das massas para com-
preender a necessidade não só de uma revolução, mas de que ela só é pos-
sível se tiver uma vanguarda organizada, se sua parcela mais consciente
se organizar partidariamente e revolucionariamente.11
Todos os meios são bons, se conduzem ao fim12
Temas que podem ser explorados em uma campanha de prepara-
13
ção para o desencadeamento de atividades de Guerra Híbrida visando
a tomada do poder:
Campo Externo:
- Denuncias nos órgãos multilaterais (ONU, OEA, e etc.).
- Busca de apoio de Nações ideologicamente amigas.
- Denuncias as instituições ligadas aos Direitos Humanos.
- Busca do apoio internacional através das redes sociais.
Campo Interno:
- Aproveitamento de descontentamento real da sociedade com o
momento político, social e econômico difícil.
- Possibilidade da criação de grupos reativos, ideológicos, e oportu-
nistas ampliando a massa de manifestantes.
- Crime Organizado e falta de segurança: A deterioração drástica da
situação é motivo para mudança.
- Educação: Os professores precisam ser atiçados. Eles precisam ser
encorajados ou haverá um risco. Nós temos que convencê-los de que os
temos como alta esfera da sociedade; eles detêm uma responsabilidade que
valorizamos muito. Os professores vão motivar os estudantes. Quem irá
influenciá-los? Como nós vamos tocá-los?

11
(Exposição apresentada pelo PCR no 15º Seminário Internacional “Problemas da Revolução na América
Latina, realizado de 11 a 15 de julho de 2011 em Quito, Equador)
12
Lenine.
13
Visa a desagregação da máquina do Estado, antes do golpe de força,

4
- Jovens: A cooptação precisa ser dirigida para os jovens em geral,
não só para os estudantes universitários.
- Economia: Explorar a situação econômica do país e a necessidade
de diminuir a desigualdade social.
- Governo: Cobrar a redistribuição da riqueza e a defesa das minorias,
todos devem ter uma oportunidade.
- Atacar o presidencialismo de coalisão.
- Passeatas, protestos, com uso dos sindicatos e movimentos sociais.
- Invasão e ocupação de escolas fazendo com que aumente a partici-
pação dos jovens.
Passagem às atividades de Guerra Híbrida: Início da fase vio-
lenta para a conquista do poder:14
Campo Externo:15
- Prossegue a busca do apoio internacional nas Instituições Multila-
terais, nas Nações simpáticas ideologicamente, e as denúncias às instituições
ligadas aos Direitos Humanos.
- Busca do apoio material das Nações simpáticas ideologicamente em
especialistas em Guerra Irregular, Guerra em Rede16 e Guerra Psicológica17.
- Busca do apoio material das Nações simpáticas ideologicamente em
recursos militares (Armamento e munição).
Campo Interno:
- Uso da experiência de conflitos semelhantes em outros países.18

14
A Guerra em Rede Social e a Situação Atual no Brasil. http://www.defesanet.com.br/pensamento/noti-
cia/12778/A-Guerra-em-Rede-Social-e-a-Situacao-Atual-no-Brasil-/
15
Conduzido sobre o tabuleiro de xadrez mundial. Em que o essencial da luta não se joga no terreno dos
combates (Violência), mas fora dele.
16
A Guerra em Rede pode ser composta por conflito travado contra um estado por terroristas, criminosos,
ou por grupos militantes da sociedade civil - Guerra em Rede Social (GERS).
17
A Guerra Psicológica Mediática é realizada por especialistas de guerra psicológica infiltrados na socie-
dade civil. Esses expert se aproveitam do fato mediático, obtido por intermédio do emprego planejado da
propaganda e da ação psicológica, para direcionar a conduta das pessoas.
18
No Brasil Tatiana Farah informa que: O Globo, 23/06/2013. Passe Livre se inspira em zapatistas do
México. Jovens que iniciaram protestos no país trocam experiências com exército pacífico indígena de
Chiapas.“SÃO PAULO "Abajo y a la izquierda está el corazón". A frase do subcomandante Marcos, do Exér-
cito Zapatista de Libertação Nacional, do México, embala o discurso do Movimento do Passe Livre (MPL),
que deu início às manifestações pelo país, forçando a queda no preço das tarifas de transporte público.
"Abaixo" estão os grupos marginalizados e as minorias, que o MPL chama de "os de baixo". E "à esquerda",
o discurso anticapitalista. Formado por universitários da USP e trabalhadores da periferia, o movimento
se intitula anticapitalista, apartidário, pacífico, autônomo e horizontal

5
- Uso violento de paramilitares, táticas terroristas, conexões com tra-
ficantes de drogas e criminosos, insurgência urbana. Com a intenção de de-
sestabilizar o governo, de desmoralizar as autoridades constituídas, os ór-
gãos de segurança pública, e atemorizar a população.
- Busca da criação de mártir (manifestante morto ou ferido grave-
mente) para poder radicalizar o movimento;
- Com a violência inviabilizar as atividades de Saúde e Educação.
- Usar como massa de manobra as organizações sociais, os sindica-
tos, e os estudantes universitários e secundaristas..
- Uso de ONGs e sites políticos para apoio logístico e de comunicações.
Conclusão:
É preciso criar novas estratégias de Defesa do Estado Democrático
de Direito, justamente porque a nova realidade para a tomada do Poder de
forma violenta não se alinha com as antigas fronteiras de relacionamento de
poder existente, alterada com a mudança de foco dos conflitos com o surgi-
mento da Guerra Híbrida.
Se o próprio povo não estiver preparado para, se necessário, tomar
parte da defesa do seu país, não poderá em longo prazo ser protegido. Clau-
sewitz.

O autor é General-de-Exército, Ex-Comandante do Comando de Operações Terres-


tres (COTer), do Comando Militar do Sul e do Comando Militar do Oeste, Vice-
Presidente da Academia Brasileira de Defesa (ABD) e Membro Efetivo do Centro
Brasileiro de Estudos Estratégicos (CEBRES).

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