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3. GRECO Fimo, Tutela .... p. 86-87.
4. Sobre essa visão histórica do júri, ver Tuco, Direitos e garantias..., p. 131-133.
5. Têm-se travado grandes debates em tomo da manutenção do júri no sistema brasileiro,
com ardorosos defensores e ferrenhos críticos da instituição. Ver a respeito os comen-
166 PROCESSO PENAL CONSTITUCIONAL
a) o da plenitude da defesa;
b) o do sigilo das votações;
c) o da soberania dos veredictos;
d) o da competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida.
Garante-se (letra a) a plenitude de defesa. Todavia, no mesmo art. 5.°, já se
assegura a todos os litigantes e aos acusados em geral a ampla defesa (inciso LV).
Foi o legislador redundante? Mostra GUILHERME DE SOUZA Nuca, ao analisar os
vários preceitos do júri, que nâo. São dois os princípios, ainda que correlatos. Quis
o legislador constituinte, além da ampla defesa geral de todos os acusados,
assegurar ao acusado do júri mais, ou seja, a defesa plena, levando em conta prin-
cipalmente o fato de que, diferentemente das decisões judiciais nos processos
em geral, a decisão dos jurados não é motivada. Pode o juiz, no seu julgamento, de
ofício, admitir em favor do acusado tese não apresentada pela defesa, mas os
jurados não podem. Assim, há que se exigir mais do advogado no júri, e, daí, a
necessidade de que se garanta ao acusado a plenitude da defesa, ou seja, uma
defesa completa. Trata-se de garantia especial e que se aplica à fase do plenário.6
Mostra o autor a importância de que a plenitude de defesa abarque o mo-
mento da escolha dos jurados e continue em plenário abrangendo: a formação do
Conselho de Sentença, com o direito às recusas e a possibilidade de conhecer os
jurados; os debates; a formulação e a votação dos quesitos. Extrai interessantes
conclusões, como, por exemplo, a de que o réu, quando for necessário para a
defesa plena, tem direito: a ouvir mais testemunhas do que lhe permite o rol; a
tempo maior para os debates, submetendo, é certo, sua pretensão à apreciação do
juiz; a inovar na tréplica sua tese de defesa. 7 Ao juiz incumbe o controle da
defesa eficiente, declarando, quando se fizer necessário, o réu indefeso, ou
tários feitos por GUILHLRMI DE SOUZA Nuca, na obra Jtiri - Princípios constitucionais, p.
179-184. Ver também GRECO FILHO, Tutela..., p. 87-88, que se posiciona contrariamente
ao júri, e lembra a manifestação sempre citada de FREDERICO MAuqn>, A instituirão do
jiíri, São Paulo, Saraiva, 1963, p. 8.
6. GUILHERME DE SOUZA Nuca, Júri...,p. 139-141.
7. Refere o autor que, neste ponto, as opiniões doutrinárias têm sido em sentido oposto
(HERMÍNIO ALBERTO MARQUES PORTO, ADRIANO MARREY, TOURINHO FILHO), mas prefere a tese
esposada pelos magistrados DIRCEU DE MELLO, CELSO LIMDNGI e JAMES TUBENCHLAK (Tri-
bunal do Júri..., p. 157). Cita (p. 157) acórdão relatado pelo Desembargador DLRCEU DE
MELLO, no qual este salientou: "Entendo, com efeito, que falar por último (tréplica), com
possibilidade, inclusive, de modificar linha de defesa até entào seguida, é uma das pou
cas vantagens que se oferece ao réu nos julgamentos pelo júri (...) Assim, quantas vezes,
ante a ausência de réplica do Promotor, fica o Defensor impedido de expor, aos jurados,
argumentos que, pressuroso, teria reservado para a oportunidade da tréplica".
0JÚR1, SEUS PRINCÍPIOS E SUA COMPETÊNCIA 167
Para a jurisprudência, o sigilo das votações não viola o arl, 93, IX, da CF,
que impõe a publicidade nos julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário. En-
tende-se que a própria Constituição previu tal sigilo e, ainda, no próprio art, 93,
IX, é feita ressalva no sentido de que a lei, se o interesse público o exigir, poderá
"limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados,
ou somente a estes".16
A soberania dos veredictos foi prevista pela primeira vez em texto consti-
tucional na Constituição de 1946. Foi mantida na Constituição de 1967 (art.
150, § 18). Contudo, a Emenda 1, de 1969, apesar de conservar o Tribunal do
Júri, não se referiu à sua soberania, gerando grande controvérsia. Para FREDERICO
MARQUES poderia o legislador ordinário admitir plena devolução aos tribunais
nas apelações contra decisões do Tribunal do júri. 17 Essa solução chegou a ser
alvitrada em projetos de lei.18 Mas, não tendo sido alterada a redação do Código de
Processo Penal, continuou o entendimento de que permanecia a soberania do
júri, não podendo o Tribunal de justiça alterar a decisão dos jurados. Retorna,
agora, a soberania dos veredictos ao texto da Constituição.
A soberania não significa suprimir do processo de júri qualquer outro
juízo. Há durante o processo um prévio controle judicial sobre a admissibili -
dade do julgamento, sobre a competência e sobre a ocorrência de excludente de
ilicitude. Pode o juiz pronunciar (art. 413 do CPP) ou impronunciar o réu (art.
414 do CPP) Na primeira decisão, o acusado será levado a julgamento pelos
jurados, ficando, por isso, respeitada a soberania. Na segunda, contudo, o juiz
impede que o caso seja submetido a julgamento do Júri, concluindo que não há
indícios de autoria ou prova da existência do crime. O mesmo sucede quando o
juiz absolve o réu sumariamente (art. 415). São soluções que se justificara.
Não há razão para sobrevida de relações jurídicas processuais não sustentadas
em um suporte razoável quanto à autoria e à materialidade, sen do preferível a
solução legal da decisão de impronúncia, ficando os autos no aguardo de
melhor prova. Quanto à absolvição sumária, há decisão de mérito, mas
justificada porque os autos evidenciam conduta lícita, não existindo mo tivo
para submeter o acusado ao constrangimento do julgamento em plenário. Deve o
juiz, contudo, agir com cautela para não subtrair dos jurados a apreciação do fato
criminoso. Não ofende a soberania o fato de ser possível ao Tribunal, em grau de
apelação, nos casos de decisão manifestamente contrária à prova
15. Ver ainda sobre o sigilo das votações e a garantia da publicidade o capítulo destinado ao
estudo dessa garantia.
16. Assim: RT 679/372 e 658/321.
17. FREDERICO MARQUES, Notas e apontamentos sobre o júri, p. 12.
18. É o que refeie HERMÍNIO ALBERTO MARQUES PORTO, Júri..., p. 48-49.
O JÚRI, SEUS PRINCÍPIOS E SUA COMPETÊNCIA 169
dos autos, encaminhar o réu a novo julgamento (art. 593, III). O júri, acentua
GUILHERME DE SOUZA NUCCI, é soberano, mas não é onipotente. O constituinte
impôs o respeito à votação dos jurados, mas não pretendeu que a decisão fosse
única.1S O que não pode o tribunal é afastar uma qualifkadora admitida pelos
jurados ou incluir a qualificadora por eles excluída; aí, há ofensa à soberania
dos veredictos.20
Há duas situações relativas aos processos do júri que merecem destaque:
a absolvição sumária em casos de inimputabilidade, com aplicação de medida
de segurança ao acusado, e a absolvição em revisão criminal de réu condenado.
O Supremo Tribunal Federal, em posição contrária à orientação prestigiada
em outros tribunais, decidira que a aplicação de medida de segurança represen-
tava restrição de liberdade ao réu e, assim, não se podia subtrair dos jurados a
possibilidade de proferirem decisão absolutória mais ampla, sem o constrangi -
mento do cumprimento da medida de segurança. n
O novo art. 415 manteve no inciso III a absolvição sumária fundada na
demonstração de causa de isenção de pena, e, no parágrafo único, exclui a apli-
cação dessa regra ao caso de inimputabilidade, satvo quando esta for a única
tese defensiva. Não foi a melhor solução. Será imposta medida de segurança,
com cerceamento da liberdade do acusado. Preferível, na linha do que decidira o
Supremo, encaminhar sempre o inimputável ao julgamento em plenário pelo juiz
natural da causa, o tribunal do júri.
É firme a orientação na doutrina e na jurisprudência de que o Tribunal de
Justiça pode, em sede de revisão criminal, absolver o réu condenado pelo
Tribunal do Júri, com o argumento de que a revisão criminal é garantia implí -
cita da Constituição e, entre duas garantias, deve prevalecer a mais favorável à
liberdade, no caso a garantia da revisão sobre a garantia da soberania dos
veredictos. Outra orientação levaria à utilização de uma garantia instituída
22. Entendem que é possível, na revisão criminal, absolver réu condenado pelo júri: FRE
DERICO MARQUES (O jiiri..., p. 222-223), HERMÍNIO ALBERTO MARQUES PORTO (/uri..., p. 52),
JAMES TUBENCHLAK (Tribunal do júri,,,, p. 162), TOURINHO FILHO (Processo penal, v. 4, p.
588), MAGALHÃES NORONHA (Curso..., p. 389-390), MIRABETE (Processo penal, p. 649),
GRECO FILHO (Manual..., p. 397). Cita GUILHERME DE SOUZA NUCCI (Júri..., p. 110-112)
várias decisões nesse sentido; arrola nove argumentos favoráveis a essa orientação (op.
cit., p. 112-113), mas entende que podem ser todos afastados (op. cit., p. 113-114).
23. Têm sido poucas as vozes contra a orientação francamente majoritária: GERALDO Luís
WOIIUTRS (Revisão criminal e soberania, p, 230 e ss.) e GUILHERME DE SOUZA Nuca. Este
entende que é possível a revisão com solução contrária à da decisão dos jurados quan
do há prova posterior de que estes julgaram com base em depoimentos, exames ou
documentos comprovadamente falsos e, também, quando há prova nova posterior da
inocência do réu. Nào concorda, contudo, com revisão fundada no fato de ter sido a
decisão condenatória contrária a evidência dos autos, porque os jurados decidiram com
base nessa mesma prova e chegaram a conclusão diversa, sem que fossem obrigados a
motivar o veredicto. Para este caso, entende que o réu deveria ser mandado a novo jul
gamento pelo Tribunal do Júri (op. cit., p. 114-116).
24. Por isso é que, com GRLNOVER e MAGALHÃES, na obra Recursos na processo penal, p. 649,
afirmamos que essa solução é a que visa a "garantir os direitos de defesa e a própria
liberdade"
O JÚRI, SEUS PRINCÍPIOS E SUA COMPETÊNCIA 171
crimes dolosos contra a vida, não permitindo que lhes sejam subtraídos, mas
não restringiu a sua competência a esses crimes. 25
Quando alguém, em face de sua função, deve ser submetido a julgamento
originário por Tribunal e essa regra é da Constituição Federal, por ser especial,
prevalece sobre a regra geral de competência do júri para julgamento dos crimes
dolosos contra a vida. Não, contudo, se a competência por prerrogativa de fun-
ção estiver estabelecida em Constituição Estadual. 26