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DIREITO CONSTITUCIONAL I
ÍNDICE
Direito Constitucional. Natureza. Definição. Objeto................................................................2
Constitucionalismo .................................................................................................................................. 4
Poder Constituinte....................................................................................................................20
A Constituição ......................................................................................................................................... 39
Hermêutica Constitucional.......................................................................................................72
Controle de Constitucionalidade..............................................................................................87
Direitos e Garantias Fundamentais ................................................................................................. 149
Direitos e garantias fundamentais em espécie.....................................................................191
Direitos sociais ..................................................................................................................................... 222
Direitos de nacionalidade .................................................................................................................. 233
Direitos políticos......................................................................................................................238
Repartições de Competência ............................................................................................................ 245
O direito constitucional se diferencia não apenas por seu objeto e tarefas, mas também por
peculiaridades, como o seu grau hierárquico, a classe de suas normas, as condições de sua
validade e a capacidade para se impor perante a realidade social.
O caráter aberto da constituição (textura aberta) permite a sua comunicação com outros
sistemas. A abertura do sistema constitucional, no entanto, não é ilimitada, pois se apresenta
apenas na medida suficiente para garantir a margem de ação necessária À liberdade do processo
político, permitindo a persecução de diferentes concepções e objetivos, de acordo com as
mudanças técnicas, econômicas e sociais.
“De forma sintética, consiste no estudo da teoria das constituições e da constituição do Estado
brasileiro, em particular”; “De forma analítica, como conjunto de princípios e normas que regulam
a própria existência do Estado moderno, na sua estrutura e no seu funcionamento, o modo de
exercício e os limites de sua soberania, seus fins e interesses fundamentais, e do Estado
brasileiro, em particular” (TEIXEIRA, Meirelles);
2. Objeto
O direito constitucional é dividido pela doutrina em 03 grandes ramos:
Não confundir direito comparado com as simples notícias do direito estrangeiro. Naquele, há o
cotejo entre sistemas normativos diversos; nestas, apenas referências a características ou a
institutos do direito estrangeiro, sem que exista efetiva comparação. Exemplo: as menções que
porventura se façam à "teoria dos poderes implícitos" do direito constitucional norte-americano.
A doutrina aponta que Abade de Sieyès foi o formulador do conceito moderno de Constituição
(através da publicação do livro “O que é o Terceiro Estado?”). Destaca-se, em seu pensamento,
o deslocamento de eixo de legitimidade do poder político – antes calcado em bases teocráticas
– para um substrato de legitimidade alicerçado na soberania da nação.
A partir do Séc. XIX, teve início o que se chamou de CONCEITO IDEAL DE CONSTITUIÇÃO
(CANOTILHO), segundo o qual toda nação deveria ter uma constituição, que, por sua vez,
deveria ter 03 elementos: 1) Sistema de garantias da liberdade (implementado a partir da
existência de direitos individuais e da participação popular no parlamento); 2) Princípio da
separação dos poderes (Montesquieu) e 3) Forma escrita.
Já no Séc. XX, surgiu a ideia da RACIONALIZAÇÃO DO PODER: já não basta a previsão dos
direitos fundamentais, é preciso garantir condições mínimas para que um poder democrático
possa subsistir.
A) direito constitucional em sentido científico: ramo do direito público interno que estuda as
normas que organizam e estruturam o Estado e suas relações de poder. Esse o sentido, por
exemplo, do conceito de direito constitucional elaborado por JOSÉ AFONSO DA SILVA, para
quem se trata do "ramo do direito público que expõe, interpreta e sistematiza os princípios e
normas fundamentais do
Estado" (1998, p. 36);
B) direito constitucional em sentido objetivo: sistema normativo encarregado da organização e
da estruturação do Estado e das relações de poder que envolvem órgãos estatais. Nesse sentido,
o conceito de UADI BULOS, segundo o qual o direito constitucional é "o conjunto de normas
supremas, encarregadas de organizar a estrutura do Estado e delimitar as relações de poder"
(2010, p. 1); e
C) direito constitucional em sentido subjetivo: posição jurídica de vantagem que se deve
reconhecer a alguém, em virtude da incidência concreta das normas integrantes do direito
constitucional objetivo. Essa é acepção do termo, por exemplo, quando se afirma que alguém
tem o "direito constitucional" de ir e vir.
3. Origem
4. Fontes de Juridicidade
Utilizando como paradigma a classificação adotada por Norberto Bobbio (1996), as fontes de
juridicidade pode ser divididas em originárias e derivadas.
Nos países de civil law, a fonte originária do direito constitucional é a constituição escrita que,
na condição de fonte principal e suprema, pode delegar competências a outros poderes ou
reconhecer, ainda que implicitamente, normatividade em outras fontes. As fontes derivadas
delegadas são as resultantes de competências atribuídas pela constituição a órgãos inferiores
para a produção de normas jurídicas regulamentadoras (exemplo, leis, decretos e
jurisprudência). As fontes derivadas reconhecidas compreendem em normas jurídicas
produzidas antes e durante a vigência de uma constituição e que são por ela acolhidas (exemplo,
leis recepcionadas e dos costumes constitucionais).
As normas pode ser regras ou princípios. Enquanto aquelas fornecem razões definitivas para a
decisão, estas fornecem apenas razões contributivas;
A doutrina (ou dogmática jurídica), em seu sentido mais amplo, abrange concepções teóricas
e metodológicas, parâmetros e critérios de decisão, assim com enunciados dogmáticos
formulados por estudiosos do direito ou extraídos da jurisprudência de tribunais nacionais ou
estrangeiros. Trata-se de um a disciplina “pluridimensional” que mescla, pelo menos, três
atividades : 1) a descrição do direito vigente (dimensão empírico-descritiva); 2) sua análise
sistemática e conceitual (dimensão lógico-analítica) e 3) a elaboração de propostas para
a solução de casos jurídicos problemáticos (dimensão prático-normativa).
Em sua dimensão normativa, a doutrina busca fornecer critérios para a redução de incertezas do
direito. A partir da antecipação de conflitos constitucionais, a doutrina fornece um conjunto de
soluções pré-eleboradas capazes de servir como diretriz para solução de casos concretos.
A doutrina é uma fonte indireta, embora não possuam um caráter vinculante e obrigatório,
desempenham duas funções extremamente relevantes no processo de criação judicial do
direito (razões contributivas para interpretação e aplicação de textos e normas – caráter
persuasivo; contribuem para constituir e estruturar os atributos judiciais – atuação dos juízes está
situada neste contexto de “infusão de significados” – quanto mais arraigada a concepção
doutrinária acolhida por um juiz, maior será sua influência na construção da norma de decisão
do caso concreto).
Ponto. Constitucionalismo
1) Introdução:
2) Conceito de Constitucionalismo:
Como se pode observar, há uma íntima conexão entre constitucionalismo, história, direitos
humanos etc. Por tal motivo o professor CANOTILHO diz o seguinte: “O constitucionalismo é
uma teoria normativa da política”, vale dizer, através da Constituição escrita a decisão política
transformou-se por escrito em norma jurídica mais importante do sistema. O constitucionalismo
é o repositório das decisões políticas fundamentais.
a) Limitação do poder;
b) Garantia dos Direitos;
c) Separação dos Poderes;
A limitação do poder do Estado é buscada através da repartição dos poderes, para que
não haja a concentração do poder nas mãos de uma só pessoa (como era no absolutismo). Além
disso, há uma ideia de garantia de direitos. Durante toda a evolução histórica do
constitucionalismo, percebem-se as 3 ideias acima relacionadas.
4) Dois sentidos:
Separação dos poderes (Kant e Montesquieu): limitação dos poderes um pelos outros. Poderes
de fiscalização, sistema de freios e contra-pesos. Se contrapõe a ideia de absolutismo.
(Constitucionalismo X Absolutismo). Constitucionalismo como a busca do homem pela limitação
do poder político.
Garantia dos direitos: Qual a finalidade da limitação dos poderes? Para que os direitos dos
cidadãos sejam assegurados.
Poder deve ser limitado para que os direitos sejam assegurados.
Art. 16, da Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão só se pode falar em
Constituição se limitar o poder do estado e assegurar os direitos do cidadão, sob pena de ser
apenas Constituição formal e não material e legitimada.
A “limitação do governo pelo direito” é apontada por Charles Howard Mcllwain (1977) como a
mais antiga e autentica característica do constitucionalismo.
5) Fases do Constitucionalismo:
A primeira experiência considerada como constitucional foi o Estado Hebreu. Este estado
era teocrático, em que os dogmas religiosos eram considerados a primeira limitação do poder do
soberano. Os dogmas limitavam tanto os súditos quanto os governantes. Em suma, principais
características: i) inexistência de leis não escritas ao lado dos costumes (opinio juirs et
necessitatis); principal fonte dos direitos; II) forte influência da religião; iii) predomínio
dos meios de constrangimento para assegurar o respeito aos padrões de conduta da
comunidade (ordálias) e manter a coesão do grupo; iv) tendência a julgar os litígios de
acordo com soluções dadas a conflitos semelhantes.
Antiga Grécia: “Estado político plenamente constitucional” - na qual foi adotada a mais
avançada forma de governo: a democracia constitucional. Em suma principais características: i)
a inexistência de constituições escritas; ii) a prevalência da supremacia do Parlamento;
iii) a possibilidade de modificação das proclamações constitucionais por atos legislativos
ordinários; e iv) a irresponsabilidade governamental dos detonadores do poder.
Roma; constitutio – designava determinadas normas editadas pelos imperadores romanos
com valor de lei. A democracia romana, condicionou estruturas muito características e
forneceu verdadeiros modelos conceituais, tais como “principado” e “res pública”.
Inglaterra (Rule of law): maior contribuição da Idade Média para a história do
constitucionalismo, foi “a afirmação de que todo o poder político tem que ser legalmente
limitado” (princípio da primazia da lei). Ademias, principais características: i) supremacia
do Parlamento; ii) a monarquia parlamentar; iii) a responsabilidade parlamentar do
governo; iv) a independência do Poder Judiciário; v) a carência de um sistema formal de
direito administrativo; e vi) a importância das convenções constitucionais.
i) Constituições consuetudinárias – até o fim do sec.XVIII não existia constituição escrita. Todas
eram consuetudinárias, ou seja, costumeiras, baseadas nos precedentes judiciais e nos
costumes.
ii) Existência de direitos perante o Monarca, limitando o seu poder.
iii) Supremacia do Parlamento (característica típica do sistema constitucional inglês) – (Nos países
do Common Law, até o ano 2.000, não se entendia que a Supremacia era da Constituição, mas
sim do Parlamento).
Apesar de não haver constituição escrita, essa época foi considerada como
constitucionalismo, pois nela já existiam limitações ao poder do monarca, seja através de pactos,
como de dogmas religiosos, outros documentos, etc.
- Fase compreendida entre as revoluções liberais do final do século XVIII e a promulgação das
constituições pós-bélicas, a partir da segunda metade do século XX.
- (Revolução liberais – Francesa e Norte Americana) até o fim da 2ª Guerra Mundial (1945):
- foi a partir do Sec. XVIII que surgiram as primeiras constituições escritas, formais e rígidas.
Antes eram Constituições baseadas em costumes, como por exemplo da Inglaterra (Magna
Carta, Bil of rights, constituição consetudinária, documentos esparsos).
- A partir do Séc XVIII: Surge a ideia de rigidez constitucional, documento com elaboração mais
solene que as leis ordinárias. Antes não havia distinção entre elaboração de leis e Constituição.
Dentro do Constitucionalismo Moderno há duas subfases:
Experiência da França:
1- O constitucionalismo francês é permeado por duas ideias básicas: a garantia dos direitos
e a separação dos poderes. O principal precedente desta concepção, o celebre artigo 16 da
Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789), estabelece que “toda
sociedade na qual não é assegurada a garantia dos direitos, nem determinada a separação dos
poderes, não possui Constituição”.
O constitucionalismo europeu passou por significativas mudanças após o fim da Segunda Guerra
Mundial (1945). Esta nova fase do constitucionalismo é denominada, por parte da doutrina, de
neoconstitucionalismo (uma das acepções desse termo). Luis
Características marcantes:
Antes, até a metade do Século XX não eram vistas as Declarações de Direitos Fundamentais
como vinculantes na Europa, porque a visão era idealista do Parlamento, sem necessidade de
vincular o Poder Legislativo. Existiam as normas programáticas = diretrizes / conselhos
programas de ação que não vinculavam o legislador. Após a metade do séc. XX alterou-se o
cenário com grande contribuição do Konrad.
No Brasil demorou esse reconhecimento da força da CF/88, pelos anos 2000 chegou aqui
concepção da força normativa vinculante da CF, de que as normas programáticas não são meras
diretrizes. HOJE TODOS OS DISPOSITIVOS CONTIDOS NA CONSTITUIÇAO SÃO
VINCULANTES E OBRIGATÓRIOS!
Ademais, significa que as Constituições passaram a consagrar em seu texto normas que
anteriormente estavam contempladas no âmbito infraconstitucional. Passaram a ter como
exemplo a constituição analítica francesa. Hoje dificilmente se encontra uma Constituição
sintética. Causa experiências autoritárias fascismo na Itália, ditaduras militares na América
Latina... Houve a necessidade de dar proteção qualificada a determinados assuntos, para não
deixar a cargo do legislador.
Objetivos fundamentais (art.3) não são inerentes ao Estado Brasileiro, são objetivos, metas que
os poderes públicos devem alcançar dependem de políticas públicas
Princípios que regem o Brasil nas relações internacionais (art. 4)
Dentro dessa rematerialização também foi consagrado o direito de 5ª GERAÇÃO,
segundo Paulo Bonavides, Direito à paz
Ex: Art. 5 com princípios processuais civis e penais, direitos civis, garantias penais. Art. 7 (direito
trabalhista). Art. 37, CF. (direito administrativo) Art. 150 (tributário), Ordem social (normas de
direito previdenciário).
2) Filtragem constitucional – interpretação conforme a CF (será estudado no controle de
constitucionalidade): consiste na interpretação das normas de outros ramos do direito a luz da
Constituição. (óculos constitucionais). Passar os dispositivos da lei pelo filtro da constituição,
para retirar o sentido mais harmônico com a Constituição.
Ex1: ADPF 54, interpretação da antecipação terapêutica de parto de feto anencéfalo não é crime
de aborto do CP/1940.
Ex 2: ADI reconhecimento dos direitos das uniões heteros para as uniões homos. Interpretação
ao art. 1.723, CC, com base nos princípios da isonomia, não discriminação, dignidade da pessoa
humana, pluralismo.
3) A eficácia horizontal dos direitos fundamentais (será estudado nos direitos fundamentais):
quando foram consagrados os direitos fundamentais nas primeiras constituições liberais eram
apenas de eficácia vertical, apenas oponíveis ao Estado, não eram oponíveis a outros
particulares. Na Constituição Americana apenas faz referência ao respeito do Poder Público.
Com o passar do tempo se percebeu que a opressão ao particular vinha também de outros
particulares. Evoluiu no sentido que os direitos fundamentais se aplicam nas relações entre
particulares (mesmo nível jurídico, ausência de subordinação).
ATENÇÃO!
Constitucionalismo do Futuro
a) Verdade
b) Solidariedade
c) Continuidade
d) Participação
e) Integração
f) Universalização
Verdade- A Constituição terá compromisso com a verdade, vale dizer, a Constituição não
trará promessas não factíveis em seu texto. O Constitucionalismo do Futuro então trará dois
2 J. J. Gomes Canotilho adverte que o mais correto seria referir-se a “movimentos constitucionais,
ao invés do termo constitucionalismos. In: CANOTILHO, J. J. Gomes. Direito Constitucional e Teoria da
Constituição. 7 ed. Almedina. 2003. pag. 51.
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grandes grupos: i) normas inalcançáveis – que devem ser retiradas da Constituição; ii) normas
que não se concretizam por problemas da vivência política, por falta de motivação ou vontade
política etc. Estas devem ser mantidas no texto constitucional, e a concretização deve ser
cobrada dos responsáveis por meio do Judiciário, Ministério Público etc.
Participação – A Constituição dará ensejo cada vez mais a uma participação sempre mais
ativa, mais integral e mais equilibrada do povo e da sociedade nos processos político-decisórios,
promovendo a democracia participativa em seu mais elevado grau.Obs.: “Teledemocracia” –
utilização de instrumentos tecnológicos para propiciar um grau de democracia maior em um
Estado, a exemplo da possibilidade de votar por meio de mecanismos de internet. Já há em
alguns Estados a possibilidade de se votar pela internet. Inclusive discute-se um direito
fundamental novo: o direito ao acesso à internet. Há inclusive uma PEC (proposta de emenda à
constituição) prevendo esse talvez futuro direito fundamental.
Constitucionalismo Globalizado
Tem relação com a fase de universalização que o José Roberto Dromini faz referência.
Traz a ideia da ampliação dos ideais e princípios jurídicos ocidentais para todos os povos. Deve
ser analisada sempre à luz do relativismo cultural.
É de difícil implementação, haja vista, a título de exemplo, a própria ideia de direitos
humanos tal qual nós compreendemos não é muito bem aceita em alguns países.
É uma concepção filosófica do direito. Deve ser entendido como uma metateoria, ou seja,
uma teoria sobre a teoria do direito (que, por sua vez, tem por objeto estudar o fenômeno de
aplicação do direito, isto é, a dogmática jurídica). A dogmática jurídica busca estabelecer critérios
racionais para que as decisões jurídicas não sejam decorrentes do puro arbítrio.
* Positivismo Jurídico:
Para esta concepção, não existe uma conexão necessária entre direito e moral
(princípio da autonomia – autonomia entre direito e moral). O que caracteriza o
positivismo jurídico é que para os positivistas não existe uma conexão entre direito e
moral. O direito é uma ciência autônoma em relação à esfera moral, especialmente a
ética e a política. Por isso Kelsen falava em Teoria Pura do Direito (se está na lei é direito,
não importando se é justo ou injusto).
Hoje, o positivismo jurídico se subdivide em 2 concepções:
* Não Positivismo:
Por isso foi dito que o pós-positivismo é o marco filosófico da teoria neoconstitucionalista.
Quando se fala que a teoria neoconstitucionalista tem tanto um caráter descritivo quanto
prescritivo, fala-se em neoconstitucionalismo metodológico ou pós-positivismo metodológico.
A teoria do direito deve ter tanto um caráter descritivo (dizendo como o direito é), quanto
um caráter prescritivo (dizer como o direito deve ser).
Para o positivismo, a teoria do direito deve apenas descrever como o direito é. O
neoconstitucionalismo metodológico e o pós-positivismo metodológico deve, também, dizer
como o direito deve ser.
Então, a teoria neoconstitucionalista diferencia-se da concepção positivista, pois, segundo
esta, a teoria do direito deve ter um caráter meramente descritivo (princípio da neutralidade – a
teoria deve ser neutra, não devendo ter juízos de valor; não podendo dizer se o direito está certo
ou errado, se deve ser assim ou de outra maneira). Já os pós-positivistas e os
neoconstitucionalistas dizem que não se pode apenas dizer o que o direito é, mas sim como o
direito deve ser, tendo o caráter descritivo (dizer o que é) e também prescritivo (dizer como o
direito deve ser).
Teorias que o Neoconstitucionalismo prescreve como teorias adequadas para lidar com as
transformações e fenômenos ocorridas nos Estados Constitucionalistas (quais são as fontes, as
normas e as formas de interpretações adequadas para os novos modelos de Estado).
Teoria das Fontes do Direito → (Quais são as principais mudanças que devem ocorrer na teoria
das fontes para que as teorias se adequem ao novo modelo de Estado Constitucionalistas) →
Substituição do legicentrismo juspositivista pela centralidade da constituição. A lei (antiga
principal fonte do direito), como centro do ordenamento, é substituída pela Constituição como
centro. Por isso, alguns falam em Estado Constitucional Democrático, isto é, para destacar essa
mudança de paradigma.
Teoria das Normas → (principal alteração proposta na teoria das normas) → Na principal teoria
das normas tradicional, era feita uma distinção entre norma e princípio. No juspositivismo, a
distinção que os juspositivistas faziam era entre princípio e norma. Os princípios gerais do direito
eram antes aplicados em último caso (quando não fosse possível aplicar a lei, analogia ou
costumes); agora, eles estão no topo do ordenamento jurídico (Paulo Bonavides fala: “Dos
Princípios Gerais do Direito aos Princípios Constitucionais”). Então, essa distinção entre
princípios e normas foi reformulada: hoje há o gênero NORMA, com as espécies PRINCÍPIOS e
REGRAS, de modo que tanto as regras como princípios possuem normatividade. Os principais
autores que falaram sobre essa reformulação das teorias das normas foram Ronald Dworkin
(pós-positivista e neoconstitucionalista) e Robert Alexy (pós-positivista e neoconstitucionalista).
substituição do formalismo interpretativo (juiz como “boca da lei”, não podendo interpretar a lei,
somente exteriorizando a vontade do legislador) e a ideia de subsunção por procedimentos como
a argumentação jurídica e a ponderação. A subsunção não foi abandonada. A mudança é que,
antes, só se admitia a subsunção lógica [premissa maior (norma) + premissa menor (fato) =
subsunção lógica (aplicação da norma ao fato)], sendo que hoje, além da subsunção, há
interpretação e a ponderação.
Obs: Ponderação – Pode ser utilizada de várias formas, inclusive de formas equivocadas. Alexy,
quando trata da ponderação, não fala que ela implica em ativismo judicial ou que leva a uma
decisão conforme o pensamento pessoal do juiz. A ponderação não pode servir para resolver
tudo, nem pode ser considerada uma coisa inaceitável.
No Brasil, pós CF/88, os adeptos (Luís Roberto Barroso, Lênio Streck, Ana Paula de Barcellos
etc.) e críticos (Dimitri, Humberto Ávila etc.) do neoconstitucionalismo apontam suas principais
características como sendo: valorização dos princípios, adoção de métodos ou estilos mais
abertos e flexíveis na hermenêutica jurídica, com destaque para a ponderação, abertura da
argumentação jurídica à moral, reconhecimento e defesa da constitucionalização do Direito e do
papel de destaque do Judiciário na Agenda de concretização dos valores constitucionais.
Marco histórico: i) reformas políticas europeias após a 2ª Guerra Mundial; ii) no Brasil, após a
CF/88;
IMPORTANTE:
Teoria pessimista: Neoconstitucionalismo como corrente de pensamento criada para defender
o enfraquecimento da supremacia constitucional em favor da atenuação do excesso de rigidez e
do caráter voluntarista das constituições contemporâneas.
No final do século XVIII a França era governada pelo rei Luiz XVI. Havia uma crise
econômica, financeira, social e política no Estado Francês que precisava de recursos para
combater esses problemas. Ao mesmo tempo vigorava um regime estamental na França, que
dividia a sociedade em estamentos (era um legado da Idade Média). E esse regime estamental
era baseado em privilégios de determinados estamentos sociais. Obs.: não é correto falar em
“classe social”, que é um conceito Marxista que apareceu depois (fala-se em “estamentos”).
Esses estamentos eram três: a) clero; b) nobreza; c) restante. Isso gerava uma
desigualdade jurídica. Dentre elas, a desigualdade tributária destacava-se, pois aqueles que não
eram nem do clero e nem da nobreza (1º e 2º estamento respectivamente) não pagavam
impostos (era denominado de antigo regime). Havia desigualdade formal, a lei desigualava a
sociedade.
O rei Luiz XVI convocou a Assembleia dos Notáveis, que era uma assembleia altamente
aristocrática, formada principalmente por membros do clero, para tentar por meio dela resolver
os problemas financeiros que a França enfrentava. Essa Assembleia recusou-se a fazer uma
reforma tributária, pois esta reforma iria contra os privilégios dos membros da própria assembleia,
já que os membros do clero e da nobreza não pagavam impostos.
Em 1788, Luiz XVI resolver convocar uma outra Assembleia, a Assembleia dos Estados
Gerais do Reino. Foi convocada para se reunir a partir de 1º de maio de 1789, e conclamou os
franceses a apresentarem suas ideias. 40 mil publicações foram feitas na França naquela época,
sendo que 4 publicações foram de Emmanuel Joseph Sieyès, e uma delas era a obra “O que
é o terceiro Estado?”.
A Assembleia dos Estados Gerais do Reino (criada em 1302 pelo Felipe IV) não se
reunia desde 1614, e tinha como características ser um órgão consultivo (que aconselhava o
rei), e o voto era por Estado. O 1º Estado era uma representação do Clero (1º Estamento), o 2º
Estado era uma representação da Nobreza (2º Estamento) e o 3º Estado era uma representação
dos burgueses, camponeses sem terra etc (3º Estamento).
Quando conjugamos os Estados gerais do Reino e o regime de privilégios, quando fosse
colocado em pauta a questão dos impostos essa proposto iria perder por óbvio. Exatamente por
isso, Emmanuel Joseph Sieyèsfez algumas propostas para alterar a forma de composição e
deliberação. Quais foram essas propostas? 1) Propõe que o Terceiro Estado fosse composto por
verdadeiros representantes do 3º Estado; 2) Que houvesse uma igualdade entre o número de
representantes do 3º Estado e o número de representantes da soma das classes privilegiadas
(1º e 2º Estado); 3) que fosse adotado na Assembleia o voto por cabeça, e não o voto por Estado.
Aqueles que eram contrários à ideia de Emmanuel Joseph Sieyès alegaram que a
forma pela qual o Estado Francês constitui-se e a forma pela qual a Assembleia dos Estados
Gerais do rei existe não admite qualquer mudança. Assim, Emmanuel Joseph Sieyèsdefende
a necessidade de uma Assembleia Nacional Constituinte para fundar um novo contrato social,
vale dizer, Emmanuel Joseph Sieyèsfaz distinção entre a lei fundamental (que é a Constituição)
– uma expressão do direito natural- ,que é fruto de um Poder Constituinte, e os Poderes
Constituídos.
Emmanuel Joseph Sieyès traz a ideia de que a nação não é escrava da Constituição,
e por isso a nação pode alterar a Constituição por meio de representantes extraordinários em
uma Assembleia Nacional Constituinte. Sieyès faz menção expressa ao “Poder Constituinte” pela
primeira vez na história na seguinte passagem: “A nação existe antes de tudo, ela é a origem de
tudo. Sua vontade é sempre legal, é a própria lei. Antes dela e acima dela só existe o direito
natural. (...) Em cada parte, a Constituição não é obra do poder constituído, mas do poder
constituinte”.
Temos o Poder Constituinte derivando os demais Poderes, que são os constituídos.
Os Estados Gerais do Reino foram abertos em um hotel na cidade de Versales, com
279 representantes do Clero, 287 representantes da nobreza, e 556 representantes do 3º Estado.
Sendo assim, a ideia de Emmanuel Joseph Sieyès foi uma ideia que deu frutos, mas houve
uma indefinição acerca do procedimento de votação: vota-se por Estado ou por cabeça (cada
membro tem um voto)? Houve um conflito entre a burguesia (3º Estado) e os outros Estados.
Nesse conflito, Luiz XVI tentou dissolver os Estados Gerais do Reino, e no dia 15 de junho de
1789 o 3º Estado instituiu uma Assembleia Nacional. No dia 09 de julho de 1789 esta Assembleia
Nacional com apoio de deputados do chamado “Baixo Clero” (para mencionar alguns membros
do parlamento que não tinham tanta importância política como os membros do “Alto Clero”) e
deputados da pequena nobreza juntaram-se ao Terceiro Estado, e esta Assembleia se
autoproclamou como Assembleia Nacional Constituinte. No dia 14 de julho houve a queda da
bastilha. No dia 04 de agosto de 1789 foram abolidos os antigos privilégios feudais, sendo
decretada a igualdade tributária (todos passaram a ser iguais) – todos deveriam pagar tributos
da mesma forma. No dia 26 de agosto foi promulgada a Declaração dos direitos do Homem e
do Cidadão da Assembleia Francesa, que vai inaugurar a 1ª geração de Direitos Fundamentais.
Luiz XVI não aceitou sancionar estas inovações, e isso acabou por fortalecer a ideia de que a
nação é a titular do Poder Constituinte, tendo uma autoridade anterior ao direito positivo e ao rei.
O rei Luiz XVI foi deposto, preso e guilhotinado no dia 21 de janeiro de 1793. Um pouco antes
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do rei ir para guilhotina, em 1791 foi promulgada a 1ª Constituição escrita da França (4 anos
depois da Constituição Norte-americana de 1787.
No Brasil não se admite a ideia de direito natural. Por isso, fala-se que a natureza jurídica
do Poder Constituinte no Brasil é de poder de fato.
A partir da segunda metade do século XX, com o fenômeno do neoconstitucionalismo,
tratado nas nossas aulas, ganhou força a ideia que o fundamento do direito, e, portanto, da
Constituição e do próprio Poder Constituinte é a dignidade da pessoa humana. Na nossa
Constituição isso fica claro em seu artigo 1º, inciso III, quando se afirma que a dignidade da
pessoa humana é um dos fundamentos do Estado Democrático de Direito.
Qual a diferença entre uma Assembleia Nacional Constituinte Soberana e uma não
Soberana?
Soberana é aquela cujos trabalhos (cujas deliberações) não estão limitados (as) nem
por um plebiscito anterior a sua realização e nem por um referendo posterior. É aquela que não
tem limites. É aquela que não tem limites na vontade do titular do poder manifestada seja por um
plebiscito ou por um referendo. A vontade do titular do poder não limita. A vontade do titular do
poder pode limitar no bojo do seu funcionamento, das deliberações cotidianas, mas não há
limitação antes da Assembleia (plebiscito) e nem por referendo.
Não Soberana é aquela que tem uma limitação por um plebiscito ou referendo.
Aprofundamento:
Poder Constituinte Originário. É o poder que cria a norma constitucional, tornando-a exigível,
cria e põe em vigor a norma constitucional (Estrutura do Estado, Divisão dos Poderes e outros).
Visa a criar a Constituição, a estabelecer a estrutura do Estado. Ele se manifesta em momentos
de crise (não necessariamente violenta), porque instaura uma Nova Ordem Constitucional
(crises jurídica, econômica, social e política). O Poder Constituinte legitima a estrutura do Poder.
O adjetivo “originário” é empregado para diferenciar o poder criador de uma nova constituição
daqueles instituídos por esta para alterar o seu texto (Poder Constituinte Derivado) ou elaborar
as constituições dos Estados-membros da federação (Poder Constituinte decorrente).
(Inicialmente, Sieyes pensava no Poder Constituinte tendo como titular a nação, o que foi depois
evoluído para povo.
4 Poder político (governo): em sentido amplo, pode ser entendido como uma espécie
institucionalizada (organizado e permanente) de poder social: possibilidade de alguém (Estado) impor sua
vontade sobre os outros e exigir o cumprimento de suas ordens (leis). É preciso ressaltar que o poder
político não é exclusivo: permite a existência de outros poderes paralelos (poder econômico, poder social,
poder sindical etc.) mas está acima de todos eles. PRINCIPAL CARACTERÍSTICA: capacidade de editar
normas jurídicas e de fazê-las cumprir. (CELSO BASTOS, cap. II).
5 Povo é o conjunto de pessoas que têm a mesma nacionalidade, ou seja, ligação jurídica a um
determinado Estado (povo é um conceito jurídico). Difere da idéia de população (conceito demográfico),
que é a expressão numérica dos habitantes de um Estado (inclui os estrangeiros residentes) e difere da
idéia de nação (conceito sociológico, cultural), que é o conjunto de pessoas que têm em comum fatores
culturais, étnicos, históricos e/ou lingüísticos. OBS: Povo mas não nação: cidadãos da antiga Iugoslávia.
Nação mas não povo: os palestinos (já que a Palestina não é um Estado) e os curdos (pode-se falar em
nação curda mas não em povo curdo, já que não há um Estado Curdo).
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O fenômeno Constituinte
A transição constitucional que tem como nota distintiva a observância das competências e
formas de agir preestabelecidas, é marcada por um dualismo; enquanto a nova constituição
´preparada, a anterior subsiste. Poder ser: 1) Espontânea (decidida pelos detentores do
poder por livre opção) e transição provocada (resultante das convulsões políticas ou de
outros eventos, internos ou externos); 2) transição unilateral (levada a cabo no âmbito dos
órgãos constitucionais em funções, sem interferência das forças políticas de oposição) e
transição por transação (feita por acordo entre as forças identificadas com o regime até
então vigente e as forças da oposição); 3) transição democrática ou pluralista (passagem
de regime político de concentração de poder para regime pluralista) e transição não
pluralista ( de sentido inverso).
6 Há um direito à revolução, quando o povo esteja sendo oprimido pelas instituições jurídico-políticas.
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A análise da legitimidade do Poder Constituinte Originário pode ser feita sob dois primas distintos.
Do ponto de vista subjetivo, a legitimidade está relacionada à titularidade e ao exercício do poder.
Sob o prisma objetivo, o Poder Constituinte deve consagrar na constituição um conteúdo
valorativo em conformidade com determinadas limitações materiais e/ou correspondente aos
anseios de seu titular.
Estados que não diferenciam as emendas da revisão, no Brasil, não há essa nítida distinção, já
que a previsão de revisão foi pontual. a) Emenda – será uma revisão pontual; b) Revisão – será
uma revisão total; c) Tratados equivalentes à emenda (EC/45); 2) INFORMAIS – são as que
modificam a CF sem alterar o seu texto; ocorrem por meio de: interpretação evolutiva,
jurisprudência, doutrina, aplicação de conceitos jurídicos indeterminados. A isso se dá o nome
de MUTAÇÃO, que a doutrina admite. Neste ponto, destaca-se o que parte da doutrina chama
de “Poder Constituinte Difuso”.
MUTAÇÃO CONSTITUCIONAL não ofende o texto da lei, a sua literalidade (artigo 5 o., XI, CF).
MUTAÇÃO INCONSTITUCIONAL (artigo 102, § 2o., CF) – as decisões definitivas de mérito
admitem efeito vinculante, mas, por meio de decisão do STF admitiu-se o efeito vinculante da
decisão liminar, com nítida ofensa à literalidade da constituição; dizer que a liminar tem efeito
vinculante viola-se a literalidade da CF, sem mudar o texto.
As mutações informais são fruto de um “PODER CONSTITUINTE DIFUSO” (JELLINEK).
Limite Temporal
Esse limite consiste no estabelecimento de prazo. A Constituição Federal de 1988 não tem. A
Constituição Federal de 1824 tinha.
Limite Circunstancial
A Constituição não pode ser alterada em algumas circunstâncias, sob o fundamento legitimador
de que o ânimus do legislador estará alterado: estado de defesa; estado de sítio e intervenção
federal (§ 1o.). Esse limite é absoluto, mas provisório; a emenda pode ser proposta, mas, se for
discutir, há divergência doutrinária; agora a partir de votar não pode. A emenda pode ser até
discutida.
Limite Material
Por força desse limite, excluem determinada matéria do Poder Constituinte derivado reformador,
por ser superior no ordenamento nacional. Os limites materiais podem ser: EXPRESSOS ou
IMPLÍCITOS:
Limite Expresso
Limitação material expressa. PROPOSTA de emenda tendente a abolir. O limite expresso trata
das cláusulas de intangibilidade ou cláusulas pétreas (art. 60, § 4º ).
Não será objeto de DELIBERAÇÃO, ou seja, o processo sequer pode chegar ao final, o vício é
anterior à deliberação da emenda, hipótese de controle de constitucionalidade preventivo e
judicial, cabimento de MS impetrado por parlamentar (STF). O voto obrigatório NÃO é cláusula
pétrea, ele existe na CF, mas, pode ser abandonado por emenda, adotando-se voto facultativo.
Quanto aos direitos e garantias individuais há uma discussão sobre qual a interpretação que
deve ser utilizada. Assim, dependendo da interpretação, haverá consequências distintas em
relação à aplicação da limitação prevista no dispositivo. Se a INTERPRETAÇÃO for: 1) LITERAL:
ficam afastados os direitos sociais, difusos, coletivos; sendo objeto de proteção somente os
direitos e garantias puramente individuais. O STF ainda não foi decisivo quanto a isso, mas, já
entendeu que existem cláusulas pétreas fora do artigo 5 o; 2) TELEOLÓGICA OU SISTEMÁTICA:
é uma posição mais moderna, por meio da qual, deve-se entender como objeto da proteção do
artigo todos os DIREITOS FUNDAMENTAIS. O inciso IV, do § 4o, deve ser interpretado
ampliativamente, para restringir a emenda. Deve ser entendido que os DIREITOS
FUNDAMENTAIS são cláusulas pétreas, sejam individuais, coletivos, difusos ou sociais. Há
direitos fundamentais que são FORMALMENTE FUNDAMENTAIS, mas não têm substância de
direitos fundamentais, assim, não são cláusulas pétreas, somente os que têm substância de
direito fundamental não poderão ser abolidos, sem os quais não há vida humana digna. Fazendo
interpretação sistemática e teleológica, o STF entendeu que medida provisória pode tratar de
matéria penal, desde que seja para beneficiar o réu. (RE 254818/PR, julgado em 08/11/2000)
Limite Implícito
Redução de cláusula pétrea e a titularidade do Poder Constituinte Originário (não pode existir
emenda que restrinja a titularidade do poder constituinte originário); emenda modificando o
exercente do poder reformador; as limitações metajurídicas; modificação do processo de
emendas futuras, facilitando ou dificultando (há quem diga que pode dificultar) os processos de
emenda, se permitir que dificulte, o reformador está limitando a si próprio o que não é possível
juridicamente. Pode haver uma nova revisão constitucional como foi em 1993? Está relacionado
com a possibilidade de poder facilitar a revisão constitucional; o rol de cláusulas pétreas, o
conteúdo é fluido no tempo, a questão é saber se pode ou não modificar o rol, há quem diga que
pode aumentar (ROBÉRIO acha que não, mesmo motivo acima), a possibilidade de reduzir traz
a discussão de possibilidade de DUPLA REVISÃO (ou teoria da dupla reforma da reforma em
“dois tempos”). JORGE MIRANDA afirma que existem 03 posições: 1) insuperáveis, não podem
ser reduzidas; 2) ilegítimas, há quem diga que não pode existir porque o povo de hoje não pode
condicionar o povo do futuro, a geração atual não pode criar amarras para as gerações futuras;
3) Legítimas, mas superáveis, pela TEORIA DA DUPLA REVISÃO = 1a. emenda para retirar do
rol de cláusulas pétreas que está incomodando; 2 a. modificar realmente, sem nenhum
desrespeito ao texto já em vigor após a modificação anterior. (visa possibilitar que os conteúdos
protegidos pelas cláusulas pétreas sejam modificados por intermédio de emenda constitucional).
No Brasil, a tese da dupla revisão é rejeitada pela esmagadora maioria da doutrina nacional,
que a considera verdadeira fraude a autoridade do poder constituinte originário.
Mutação Constitucional
Permite a alteração da constituição sem alteração do texto constitucional, adequação da
constituição à realidade social. O fundamento de validade para a mutação constitucional está na
Teoria dos Poderes Implícitos (poderes necessários para dar cumprimento às suas
competências, aos seus objetivos e aos seus deveres). A mutação demonstra um resquício do
Poder Constituinte na atuação do judiciário. Pode ocorrer a mutação pelas seguintes técnicas:
1) Interpretação - posição do STF que se modifica no tempo; 2) Construção Constitucional -
trata-se de uma teoria norte-americana, que consiste em conjugar dois preceitos constitucionais
para extrair o sentido do preceito. Alguns autores afirmam que isso na verdade é interpretação
sistemática; 3) Prática Constitucional - utilização reiterada do costume de uma determinada
sociedade, pode estabelecer o conteúdo do texto constitucional; 4) Prática Inconstitucional:
mesmo que o anterior, mas ofende a constituição, é método ilegítimo e não pode ser
reconhecido. A mutação constitucional pode ocorrer por intermédio do Poder Legislativo,
quando ele pretende regulamentar algum preceito constitucional, e depois modificar a lei que
tenha anteriormente feito. Por outro lado, o Poder Judiciário também pode ser responsável por
mutação, quando determina os limites do alcance da norma constitucional.
Revisão Constitucional
Estava prevista no artigo 3o, do ADCT, e submetida a um LIMITE TEMPORAL – 05 anos depois
de promulgada a constituição; LIMITE FORMAL – unicameral por voto de maioria absoluta. É
cabível o controle de constitucionalidade das emendas de revisão constitucional.
Tratados Internacionais
Atualmente, há nova forma de alteração formal do texto constitucional, nos termos do novo
§ 3o., do artigo 5o., CF. Alguns defendem a inconstitucionalidade do dispositivo, porque teria
dificultado a absorção dos tratados de direitos humanos, que já poderiam ingressar no
ordenamento com menos exigência, a teor do § 2 o. O STF não confere status constitucional ao
tratado que ingressou na forma do art. 5 º do § 2 º, da CF. Há quem diga que, havendo maioria
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simples, os tratados ingressariam como lei ordinária. O dispositivo somente cria uma nova
possibilidade de emenda constitucional. O STF, em 03.12.08 (RE 466.343-SP e HC 87.585-TO),
atribuiu status supralegal para os tratados de direitos humanos não aprovados com o quorum
qualificado previsto no art. 5º, § 3º, da CF (tese vencedora do Min. Gilmar Mendes). Para Celso
de Mello, vencido, ingressariam no ordenamento jurídico brasileiro ou como norma constitucional
(posição da doutrina avalizada pelo Min. Celso de Mello – HC 87.585-TO, seja em relação aos
tratados aprovados com quorum qualificado, seja em relação aos tratados de direitos humanos
vigentes no Brasil antes da EC 45/2004
8 Classificação doutrinária tradicional (e suponho que majoritária) reduz o poder constituinte derivado
decorrente ao poder constituinte dos Estados-membros, não incluindo o poder de os municípios
elaborarem suas próprias Leis Orgânicas.
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Poder Poder
Constituinte Desconstituinte
Por emenda
Poder Judiciário
Outros Porderes
Poder Executivo
Ministério Público
OUTRAS CLASSIFICAÇÕES:
Poder Constituinte
é aquele que se manifesta na
fundação do Estado (quando da
primeira Constituição). No Brasil
Fundacional (histórico) tivemos este quando o Estado
Brasileiro foi fundado pela
primera vez na Constituição de
1824.
Golpe de Estado:
Tomada do Poder por
parte daqueles que já
exercem o Poder
Conservadora
Belicosos (conflito
armado)
Denomina-se:
Não belicosos (sem
TRANSIÇÃO
conflito armado)
CONSTITUCIONAL
nulidade e a extinção direito a indenização ou a ações contra a União, salvo, na forma da lei,
quanto às benfeitorias derivadas da ocupação de boa fé.
- ADCT, artigo 18: Ficam extintos os efeitos jurídicos de qualquer ato legislativo ou
administrativo, lavrado a partir da instalação da Assembleia Nacional Constituinte, que tenha por
objeto a concessão de estabilidade a servidor admitido sem concurso público, da administração
direta ou indireta, inclusive das fundações instituídas e mantidas pelo Poder Público (= para o
Poder Constituinte não há que se falar em ato jurídico perfeito, coisa julgada, direito
adquirido – não há limites jurídicos ao Poder Constituinte Originário).
Ponto . A Constituição
Conceito
A doutrina aponta que Abade de Sieyès foi o formulador do conceito moderno de Constituição
(através da publicação do livro “O que é o Terceiro Estado?”). Destaca-se, em seu pensamento,
o deslocamento de eixo de legitimidade do poder político – antes calcado em bases teocráticas
– para um substrato de legitimidade alicerçado na soberania da nação.
A partir do Séc. XIX, teve início o que se chamou de CONCEITO IDEAL DE CONSTITUIÇÃO
(CANOTILHO), segundo o qual toda nação deveria ter uma constituição, que, por sua vez,
deveria ter 03 elementos: 1) Sistema de garantias da liberdade (implementado a partir da
existência de direitos individuais e da participação popular no parlamento); 2) Princípio da
separação dos poderes (Montesquieu) e 3) Forma escrita.
Já no Séc. XX, surgiu a ideia da RACIONALIZAÇÃO DO PODER: já não basta a previsão dos
direitos fundamentais, é preciso garantir condições mínimas para que um poder democrático
possa subsistir.
CONCEITO IDEAL DE CONSTITUIÇÃO (surgiu no século XIX por Carl Schmitt) não
corresponde a nenhum movimento concreto, e abrange três elementos (de acordo com
Canotilho):
1) Documento escrito (formal)
2) Garantia das liberdades (previsão de direitos fundamentais) e da participação
política do povo (participação popular no parlamento)
3) Limitação do Poder (separação de poderes) por meio de programas
constitucionais – ex.: Freios e contra pesos.
Ademais, é uma Lei fundamental do Estado, que visa organizar os seus elementos
constitutivos, como a formação dos poderes, as formas de Estado e de governo, a
separação de poderes e as limitações ao exercício do poder político (supremacia
constitucional). Destarte, a Constituição tem por objeto estabelecer a estrutura do Estado,
a organização de seus órgãos, o modo de aquisição do poder e a forma de seu exercício,
limites de sua atuação, assegurar os direitos e garantia dos indivíduos, fixar o regime
político, e disciplinar os fins socioeconômicos do Estado, bem como os fundamentos dos
direitos econômicos, sociais e culturais.
Além disso, consiste num diploma legal que estabelece os direitos, as garantias e os
deveres dos cidadãos, além de determinar as competências relativas à edição de normas
jurídicas, legislativas ou administrativas. A Constituição é um conjunto sistemático e
orgânico de normas que visam concretizar os valores que correspondem a cada tipo de
estrutura social. Assim sendo, em sentido material, pode-se conceituar um texto constitucional
como um conjunto de princípios que expressam concepções decorrentes de valores morais,
sociais, culturais e históricos, que asseguram os direitos dos cidadãos e condicionam o exercício
do poder.
estabelecem a estrutura essencial do Estado; II) em sentido formal, com “as normas jurídicas
distintas das legislativas ordinárias em razão do seu processo de formação mais difícil, mais
solene e mais longo; e III) em sentido documental, como particular ato normativo solene que
encerra a maioria das normas substancialmente constitucionais.
Em seu sentido jurídico contemporâneo, a constituição pode ser definida como o conjunto
sistematizado de normas originárias e estruturantes do Estado cujo objeto nuclear são os direitos
fundamentais, a estruturação do Estado e a organização dos poderes.
Concepções da Constituição
O entendimento sobre o que é Constituição pode variar. Conforme você adote uma
determinada concepção teórica, o entendimento sobre o que é Constituição varia. Há três
concepções clássicas sobre o que é Constituição:
1) Concepção Sociológica (Ferdinand Lassalle)
2) Concepção Política
3) Concepção Jurídica
Constituição é soma dos fatores reais de poder. Em uma sociedade temos a Constituição
escrita (formal) que estabelece determinadas regras, e ao mesmo tempo temos dentro desta
mesma sociedade os fatores reais de poder. O poder está fragmentado em diversos atores ou
fatores. Então, temos poder político, limitado, econômico, religioso etc. Estes atores na arena
social lutam por seus interesses e pretensões, e eles entram em choque entre si, e acabam
chegando a uma dada acomodação. Esta acomodação (soma dos fatores reais de poder) é a
Constituição real e efetiva de um determinado Estado. A Constituição escrita só vale se ela
coincide com a soma dos fatores reais de poder. Se a Constituição escrita diz uma coisa e a
soma dos fatores reais de poder diz outra, prevalecerão os fatores reais de poder, e a
Constituição escrita será descartada. Ex.: Constituição de 1988 dizia que a taxa de juros reais
não poderia ser superior a 12% ao ano. Retirado da Constituição em razão dos fatores reais de
poder. A Constituição escrita é uma “mera folha de papel”.
Ademais, Constituição é, em essência, a soma dos fatores reais de poder que regem
um determinado Estado, a Constituição não é um mero produto da razão, algo inventado pelo
homem, mas sim o resultado concreto do relacionamento entre as forças sociais.
Características do enfoque sociológico: 1) a Constituição é vista mais como fato do que como
norma, prioriza-se a perspectiva do ser e não a do dever-ser; 2) a Constituição não está
sustentada numa normatividade superior transcendente (como seria o direito natural), está
baseada nas práticas desenvolvidas na sociedade. (JOSÉ AFONSO DA SILVA, Aplicabilidade,
p. 26
9 A concepção jurídica da Constituição tem em Hans Kelsen seu principal representante. Neste
sentido a Constituição é vista essencialmente como norma jurídica, norma fundamental ou lei fundamental
de organização do Estado e da vida jurídica de um país. – A Constituição é considerada como norma
pura, puro dever-ser, completamente desligada da sociologia, da política, da filosofia ou da moral. A Teoria
Pura do Direito de Kelsen visa exatamente tornar puro o objeto de estudo da ciência jurídica (as normas
jurídicas) livrando-o de qualquer juízo de valor moral ou político, social ou filosófico. – Constituição em
Kelsen tem dois sentidos: 1) sentido lógico-jurídico: Constituição = norma hipotética fundamental. Como
Kelsen não admite que o direito se fundamente em qualquer elemento sociológico, político ou filosófico,
ele teve que cogitar de uma norma fundamental, meramente hipotética, que existe apenas como
pressuposto lógico da validade da própria Constituição. O teor desta norma hipotética fundamental seria
mais ou menos este: “obedeça a tudo o que está na Constituição”. 2) sentido jurídico-positivo: é a
Constituição positiva. É a norma positiva suprema; conjunto de normas que regulam a criação de outras
normas. É a Constituição que confere a unidade ao ordenamento jurídico de um Estado. Com efeito, no
ápice do ordenamento jurídico está a Constituição. – Esta é o fundamento de validade de todas as outras
normas jurídicas. É da Constituição que se extrai a validade de todas as outras normas infra-constitucionais
em qualquer órbita: federal, estadual ou municipal. – Consideração sobre Hans Kelsen: elogia-se a grande
racionalidade e a lógica que Kelsen imprimiu à ciência do direito. A grande objeção é que seu intento de
purificar o direito, livrando-o da moral, da ética, da política não pode ser de todo satisfeito. Isto porque se
é correto e aceitável que todas as normas infra-constitucionais devam buscar na Constituição seu
fundamento de validade; é altamente arriscado e diria até inaceitável que o fundamento de validade da
própria Constituição seja simplesmente uma suposta norma hipotética fundamental. A construção teórica
genial de Kelsen, se não estiver ligada a uma concepção filosófica, política, respeitadora dos direitos
humanos, pode ser utilizada tanto pelos Estados mais democráticos e justos quanto pelos mais injustos e
autoritários. Não se poderia aceitar, por exemplo, uma norma constitucional que estabelecesse como um
dos objetivos do Estado exterminar uma parcela da população. (JOSÉ AFONSO DA SILVA, Aplicabilidade;
e MICHEL TEMER).
10 BONAVIDES: O formalismo de Kelsen ao fazer válido todo conteúdo constitucional, desde que
devidamente observado o modus faciendi legal respectivo, fez coincidir em termos absolutos os conceitos
de legalidade e legitimidade, tornando assim tacitamente legítima toda espécie de ordenamento estatal ou
jurídico ... até o Estado nacional-socialista de Hitler fora Estado de Direito.
É no fundo uma resposta ao Lassale (da concepção sociológica, que diz que Constituição
mesmo é a soma dos fatores reais de poder). A força normativa é uma crítica a este pensamento.
A Constituição escrita é um produto da realidade, mas ao mesmo tempo ela é também é uma
norma, ela tem poder normativo. Por isso que no choque entre a Constituição escrita e a
realidade, deveria a Constituição prevalecer e modificar a realidade política e social. A
Constituição possui, portanto, força normativa. A Constituição não é um mero conselho.
A Constituição não um objeto hermético e fechado. Ela tem que estar aberta a novos
interesses e necessidades da sociedade e do Estado. A Constituição se abre pela possibilidade
de modificação (previsão de revisão, emendas, mutação constitucional). Pode haver também a
abertura por meio de conceitos jurídicos indeterminados (cuja intepretação pode variar no
tempo)que serão preenchidos pela doutrina, jurisprudência etc.
Também se fala em ausência de monopólio interpretativo, vale dizer, a Constituição não
tem um dono, ou seja, não é um único grupo que pode interpretá-la. Para Peter Haberle a
interpretação da Constituição deve ser interpretada por uma sociedade aberta de intérpretes,
pelo cidadão comum, e uma perspectiva pluralista e democrática (grupos, cidadão, opinião
pública, por toda a sociedade civil) – a interpretação da Constituição não é unicamente estatal.
Teoria da constituição como um processo público - peter haberle
A verdadeira constituição é o resultado (temporário) de um processo de interpretação aberto,
historicamente condicionado e conduzido à luz da publicidade.
Elementos da Constituição
Conforme classificação elaborada por José Afonso da Silva, as normas constitucionais podem
ser diferenciadas ou separadas em diversas categorias levando-se em conta a sua estrutura
normativa e conteúdo, sendo que essas "categorias" são denominadas de "elementos". São eles:
a) elementos orgânicos, contemplam as normas estruturais da Constituição, tendo em vista
que contêm normas que regulam a estrutura do Estado e do Poder, que se concentram,
predominantemente, nos Títulos II (Da organização do Estado), IV (Da organização dos Poderes
e Sistemas de Governo), Capítulos II e III, do Título V (Das Forças Armadas e da Segurança
Pública) e VI (Da Tributação e do Orçamento);
b) elementos limitativos, são normas que existem para limitar o poder de atuação do Estado,
que se manifestam nas normas que consagram o elenco dos direitos e garantias fundamentais
(do Título II da Constituição-Dos Direitos e Garantias Fundamentais), excetuando-se os Direitos
Sociais (condutas positivas do Estado), que entram na categoria seguinte;
Classificação da Constituição
Divisão clássica:
Quanto à forma:
Atenção: A Constituição de 1988 nasce codificada (unitária), mas ela passe hoje por um
processo de descodificação. Passamos a encontrar normas escritas de natureza constitucional
fora daquele texto único, denominado de Constituição da República Federativa do Brasil.
Exemplo: Tratados Internacionais de direitos humanos aprovados na forma do art. 5º, § 3º,
equivalentes às emendas: 1) Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com
Deficiência e seu Protocolo Facultativo, assinados em Nova York, em 30 de março de 2007,
sendo que o Decreto Legislativo 186 de 09/07/2008 aprovou o texto da Convenção, e o Decreto
Presidencial n. 6.949 de 28/08/2009 promulgou a Convenção (normas escritas com natureza
constitucional – são equivalentes às emendas); 2) Emendas à Constituição de forma autônoma
– as Emendas podem modificar simplesmente o texto originário (adicionar artigos, suprimir), mas
também podem conter normas autônomas, que permanecem apenas no texto das emendas, que
não vão para a parte dogmática e nem para o ato das disposições Constitucionais transitórias
(não se integram ao texto principal da Constituição) – exemplo: EC 32/2001 – artigo 2º: “As
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Atenção II: A Constituição escrita pode conter elementos não escritos. Exemplo: artigo 5º,
§ 2º da CF/88: os direitos e garantias fundamentais expressos na Constituição não excluem
outros decorrentes do regime ou dos princípios por ela adotados, ou dos Tratados Internacionais.
É possível, portanto, ter direitos fundamentais implícitos (não escritos, não expressos na
Constituição), a exemplo: direito fundamental implícito ao duplo grau de jurisdição (embora
não seja absoluto, a exemplo da instância originária no STF).
É fruto de uma participação popular muito intensa, por meio da eleição de uma
assembleia popular constituinte (o povo delega a uma assembleia o poder de escrever uma
Constituição).
No Brasil, quais foram as Constituições promulgadas?
Constituições democráticas:
- Constituição de 1891
- Constituição de 1934
- Constituição de 1946
- Constituição de 1988
Constituições outorgadas:
- Constituição de 1824 (chegou a existir uma Assembleia Constituinte, mas Dom Pedro
dissolveu essa Assembleia)
- Constituição de 1937 (Era Vargas)
- Constituição de 1967 (foi aprovada pelo Congresso Nacional na forma do artigo 1º,
parágrafo 1º do Ato Institucional número 4/1966 – obs.: O Congresso Nacional era poder
legislativo, não foi eleito como assembleia constituinte – é uma espécie rara de outorga pelo
Executivo com aprovação do legislativo).
- Constituição de 1969 – a rigor foi a Emenda Constitucional número 1 à Constituição
de 1967, aprovada na forma do Ato Institucional número 12 de 1969. Este documento também é
considerado não democrático (imposto).
Alguns autores dizem que a Magna Carta é uma Constituição pactuada. Contudo, esta
afirmação é tecnicamente impreciso, pois magna carta não foi Constituição, mas sim um contrato
de domínio.
Este tipo de Constituição pactuada não se coaduna com a modernidade, pois hoje o
titular do Poder Constituinte é único, que é o povo.
a) Constituição rígida
b) Constituição flexível
ATENÇÃO: Na prática, por força das circunstâncias políticas, sociais e culturais, é muito
mais difícil mudar a Constituição Inglesa por uma lei do parlamento do que a Constituição
brasileira (emenda à Constituição). Isso não por uma questão formal, mas sim por questões
culturais, políticas e sociais.
c) Constituição semirrígida
É aquela que é parte rígida e parte flexível. Vale dizer, uma parte da Constituição só
pode ser alterada por um procedimento especial de emenda (parte rígida), ao passo que a outra
parte pode ser alterado por um procedimento comum (parte flexível).
A Constituição Imperial do Brasil de 1824 era semirrígida – artigo 178 da referida
Constituição: É só Constitucional o que diz respeito aos limites, a atribuições respectivas dos
Poderes Políticos, e individuais dos cidadãos. Tudo o que não é Constitucional, pode ser alterado
sem as formalidades referidas, pelas legislaturas ordinárias.
É a flexível por algum tempo, findo o qual se torna rígida (UADI LAMEGO BULOS).
Exemplos: Constituição de Baden de 1947 e da Irlanda de 1937, durante os três primeiros anos
de vigência.
É aquela que nada prevê sobre sua mudança formal, sendo alterável somente pelo
próprio poder originário (KILDARE GONÇALVES). Obs.: o Poder Originário quando se
manifesta, ele o faz trazendo uma nova Constituição e não a uma emenda a uma Constituição
anterior.
De toda forma, o que caracteriza uma Constituição fixa é o seu silencia quanto ao
método de alteração. Exemplos: Estatuto do Reino da Sardenha, de 1948 e a Carta Espanhola
de 1876.
É aquela que se pretende eterna, fundando-se na crença de que não haveria órgão
competente para proceder à sua reforma. Pode estar relacionada a fundamentos religiosos. Os
exemplos são os mesmos da Constituição fixas.
Essas Constituições que não admitem modificação são fadadas ao perecimento rápido,
ao abandono muito célere. Isso em razão das necessidades da sociedade. A sociedade muda.
g) Constituição super-rígida
a) Constituição ortodoxa
É aquela que é formada por uma só ideologia (como a Constituição soviética de 1977)
Quanto à extensão:
Quanto à finalidade:
Tem por objetivo estabelecer um projeto de Estado para o futuro (programação dos
rumos do Estado). Ex.: CF/88
c) Constituição balanço
Ela nem garante e nem dirige. Ela somente descreve e registra a organização política
atual, estabelecida. Ex.: Constituições soviéticas.
a) Constituição normativa
É aquela em que há uma adequação do que está no texto e a realidade social. Essa
Constituição tem o texto como fator dominante da realidade.
É aquela que tem uma força normativa muito forte na sociedade, e domina os processos
políticos e sociais.
c) Constituição semântica
Não há adequação entre texto e realidade. Está a Constituição a serviço das classes
dominantes. Essas Constituições traem o verdadeiro significado do termo “constituição”, servindo
para legitimar práticas autoritárias de Poder.
Quanto ao sistema:
a) Principiológica
b) Preceitual
Quanto à função
Quanto à origem
São aquelas adotadas a partir de outro (s) Estado (s) ou de organismos internacionais,
por negociação ou imposição. Ex.: as primeiras Constituições do Canadá, da Austrália e da Nova
Zelândia que foram aprovadas pelo Parlamento Inglês (que eram colônias e se transformaram
em Estados independentes). No processo de independência, o Parlamento Inglês redigiu as
Constituições desses Estados, dentro desse processo negociado. São, portanto, Constituições
heterônomas, que tem sua origem vinculada a outro Estado.
a) Constituição-lei
É aquela que está no mesmo nível das leis ordinárias, não havendo hierarquia e nem
supremacia da Constituição. A Constituição não vincula o legislador. É a Constituição flexível.
É aquela Constituição que serve como uma lei fundamental do Estado e da vida social,
dominando este Estado e esta sociedade em todos os seus aspectos. Reduz o espaço de
atuação do legislador. A atividade do legislador é dominada pela Constituição-fundamento. A
atuação do legislador é estreita. A Constituição total domina os espaços de discricionariedade.
c) Constituições-moldura
seria resultante de combinações desses materiais feitas pela “politica constitucional”. Em outras
palavras: a constituição deve ser compreendida “mais como um centro a alcançar que como um
centro do qual partir”. O adjetivo “dúctil” ou “suave” é utilizado com o intuito de expressar a
necessidade de a constituição acompanhar a descentralização do Estado a refletir o pluralismo
social, político e econômico. A “ductibilidade constitucional” deve ser associada a “coexistência”
e “compromisso” com uma visão política de “integração através de valores e procedimentos
comunicativos”.
Segundo o STF, o preâmbulo não tem força coercitiva (cogente) e, portanto, não
pode servir de parâmetro para o exercício do controle de constitucionalidade. As
Constituições Estaduais e as leis orgânicas municipais podem ou não apresentar preâmbulo,
pois não se trata de norma de repetição obrigatória. Para o Supremo, o preâmbulo é mero
instrumento de interpretação, não tem força obrigatória, não é de repetição obrigatória.
Situa-se no domínio da política, e não do direito. Para o STF, o Preâmbulo não é norma jurídica,
não é norma constitucional, mas um enunciado de princípios políticos, sem força jurídica para
obrigar, proibir ou permitir com uma eventual sanção por seu descumprimento. Segundo o STF,
conclui-se, o descumprimento ao contido no Preâmbulo não enseja a aplicação de uma sanção
jurídica, porquanto o Preâmbulo não seja norma jurídica.
Art. 60. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta: I - de um terço, no mínimo, dos
membros da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal; II - do Presidente da República; III
- de mais da metade das Assembleias Legislativas das unidades da Federação, manifestando-
se, cada uma delas, pela maioria relativa de seus membros. § 1º - A Constituição não poderá
ser emendada na vigência de intervenção federal, de estado de defesa ou de estado de
sítio. § 2º - A proposta será discutida e votada em cada Casa do Congresso Nacional, em
dois turnos, considerando-se aprovada se obtiver, em ambos, três quintos dos votos dos
respectivos membros. § 3º - A emenda à Constituição será promulgada pelas Mesas da
Câmara dos Deputados e do Senado Federal, com o respectivo número de ordem. § 4º - Não
será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir: I - a forma federativa
de Estado; II - o voto direto, secreto, universal e periódico; III - a separação dos Poderes;
IV - os direitos e garantias individuais. § 5º - A matéria constante de proposta de emenda
rejeitada ou havida por prejudicada não pode ser objeto de nova proposta na mesma sessão
legislativa.
Esclarecimentos Preliminares
A compreensão da diversidade dos efeitos produzidos pelas normas constitucionais é de
fundamental importância na concretização da constituição. A fim de evitar imprecisões
Considera-se existente a norma elaborada por uma autoridade aparentemente competente para
a sua criação. A existência da norma no mundo jurídico é denominada de vigência. Uma norma
está vigente se existente e não revogada.
Em geral, a doutrina utiliza os termos vigência e vigor como equivalente. Todavia, Tércio
Sampaio Ferraz Jr. adverte que designam qualidades distintas, porquanto o vigor de uma norma
não está relacionado com sua imperatividade, com sua força vinculante, não se ligando
necessariamente à sua vigência (“tempo de validade”), como ocorre no caso de ultratividade.
A validade, em termos jurídicos, traduz uma relação de conformidade entre norma inferior e a
norma superior (“fundamento de validade) 11. Uma norma é válida se produzida em conformidade
com as que disciplinam o procedimento de sua criação e delimitam o seu conteúdo, com ocorre
com as leis em relação à Constituição. Quando se diz que uma norma é válida até a declaração
de sua inconstitucionalidade, o termo “validade” está sendo utilizado no sentido de
obrigatoriedade da observância daquela norma, não no sentido de pertinência desta a um
sistema.
Eficácia (eficácia jurídica) é a aptidão da norma em produzir os efeitos que lhe são próprios.
Uma norma é eficaz quando capaz de produzir efeitos ou de ser aplicada. Em regra, a eficácia
surge no mesmo momento da vigência, exceto nas hipóteses em que é diferida, ou seja, adiada
para o futuro, como no caso das leis que criam e majoram tributos (CF, art. 150, III, “b”).
A efetividade (eficácia social) está relacionada à produção concreta de efeitos. O fato de uma
norma existir, ser válida, vigente e eficaz não garante, por si só, que os efeitos por ela pretendidos
serão efetivamente alcançados. Para ter efetividade, é necessário que a norma cumpra sua
finalidade, atenda à função social para a qual foi criada. Algumas normas constitucionais, em
especial as que tratam de direitos fundamentais sociais, apresentam sérios problemas de
efetividade em razão de limitações orçamentárias ou de omissões inconstitucionais em sua
regulamentação, por exemplo nos artigos 6º; 7º e 37, VIII da CFRB/88.
11Robert Alexy (2008) aponta a existência de três conceitos distintos de validade: I) teoria sociológica da validade
(“obediência regular à prescrição normativa, aliada a um sentimento de vinculação {Alf Ross}, ou a alternativa entre
cumprimento e sanção para o não cumprimento e sanção para o não cumprimento {Theodor Geiger}); II) teoria
jurídica da validade (“edição por uma autoridade cuja competência deriva de uma norma de nível superior
{Kelsen}”); e, III) teoria ética da validade (quando se vê uma razão moral – como, e.g., uma lei natural – com o
fundamento de validade {Kant}). Utilizamos, aqui, o conceito jurídico de validade.
E-mail: cadernos2016@outlook.com CI: 3259
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pendentes de atos jurídicos verificados antes dela. Ou seja, a lei nova atinge as prestações
vencidas, mas ainda não adimplidas. Ex: lei que diminuísse a taxa de juros e se aplicasse aos já
vencidos, mas não pagos(prestação vencida , mas não adimplida); 3) Máxima ou restitutória: a
lei ataca fatos consumados. Verifica-se "quando a lei nova prejudica a coisa julgada (sentença
irrecorrível) ou os fatos jurídicos já consumados". Portanto, a lei alcança fatos já consumados no
passado, inclusiva pela coisa julgada.
Segundo Jurisprudência do STF, as normas constitucionais, salvo disposição em contrário,
se aplicam de imediato, alcançando sem limitações, os efeitos de fatos passados. Essa eficácia
especial das normas constitucionais recebe a denominação de retroatividade mínima. No Brasil,
os dispositivos de uma constituição nova têm vigência imediata, alcançando os efeitos futuros
de fatos passados (retroatividade mínima), salvo disposição constitucional expressa em
contrário, dessa forma, é possível a retroatividade máxima e média da norma introduzida pelo
constituinte originário desde que haja expressa previsão. Assim, no Brasil, não havendo
norma expressa determinando a retroatividade – caso houvesse, está sempre seria
possível –, no texto constitucional alcançará apenas os efeitos futuros de negócios
celebrados no passado (retroatividade mínima).
Cumpre destacar que, a irretroatividade da lei aplica-se tanto às leis de ordem pública (jus
cogens) quanto às leis dispositivas (jus dispositivum).
b) Social: É a norma que tem ressonância na sociedade. Por isso se diz norma de eficácia
social. Há normas que estão na constituição, mas não possuem eficácia social. A eficácia social
consiste na efetividade da norma constitucional, ou seja, a norma que é sentida e reconhecida
pelo cidadão. Ex. art. 7º, IV – tem eficácia jurídica, mas não tem eficácia social (norma do salário
mínimo).
IMPORTANTE: Eficácia – é a aptidão da norma para produzir os efeitos que lhes são próprios –
a eficácia positiva é a aptidão da norma para ser aplicada aos casos concretos; a eficácia
negativa é a aptidão da norma para invalidar outras normas incompatíveis com ela, ou seja,
implica a paralisação de qualquer norma ou ato jurídico que contrarie um princípio; é também
conhecida como eficácia jurídica;
1) Plena (aplicabilidade imediata): desde a promulgação, está apta a produzir todos os seus
efeitos, não necessitando de regulamentação infraconstitucional. Ademais, é aquela que
desde a sua entrada em vigor, está apta a produzir todos os seus efeitos. É norma de
aplicabilidade direta, imediata e de efeitos integrais, que só poderá sofrer limitações por outra
norma constitucional, ou seja, outra norma do mesmo patamar.
Estão aptas a produzir, desde sua entrada em vigor, seus efeitos essenciais (eficácia
positiva e negativa). Por terem aplicabilidade integral, estas normas não podem sofrer
restrições por parte do legislador infraconstitucional, o que não significa a
impossibilidade de regulamentação de certo interesses nela consagrados.
Como exemplos a doutrina aponta normas que criam órgãos ou atribuem competências (art. 2º,
19, 20, 21, 22, 24, etc.). Ex: A língua portuguesa é o idioma oficial da República Federativa do
Brasil; Ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei –
princípio da legalidade (É/SÃO);
As normas de eficácia limitada, embora geralmente não possuam eficácia positiva desde sua
entrada em vigor, são dotadas de eficácia negativa, no sentido de ab-rogar a legislação
precedente incompatível e impedir a edição de normas em sentido oposto ao assegurado pela
constituição.
É norma de aplicabilidade indireta, mediata, reduzida ou diferida. Depende de regramento
posterior para apresentar eficácia social. Vale lembrar que tais normas possuem o mínimo efeito
de vincular o legislador infraconstitucional aos seus vetores. Ex: O Estado promoverá, na forma
da lei, a defesa do consumidor. (Verbo da norma é voltado para o futuro /Ex: será, estabelecerá/
+ nos termos/ segundo/ de acordo com a lei Ex: “nos termos da lei, definidos em lei específica”).
ATENÇÃO: Para Maria Helena Diniz utiliza a nomenclatura “norma com eficácia relativa
complementável”.
Ex. art. 33, 88, 91, § 2º da CF. São normas que contêm esquemas gerais de estruturação de
instituições, órgãos ou entidades. Ex. art. 18, §2º, 33, 102, §1º. Ex: A lei disporá sobre a
organização administrativa e judiciária dos Territórios – art. 33 da CRFB/88;
Jose Afonso da Silva observa que o dever de legislar decorrente destas normas, apesar de ter
natureza jurídica, é pouco eficaz, por não haver sanção específica e pela impossibilidade de se
constranger o legislador a legislar. Não obstante, havendo lei interpretativa preexistente, esta
não poderá ser simplesmente revogada (vácuo legislativo), pois a discricionariedade do
legislador só se verifica no tocante à iniciativa.
Classificação proposta por Celso Bastos e Carlos Ayres Brito (Normas de aplicação e
normas de integração)
As normas de integração são aquelas que permitem a composição com uma vontade
legislativa ordinária, podendo ser de duas espécies: restringíveis e complementáveis, As
restringíveis são configuráveis apenas mediante expressa previsão. Por terem um
arquétipo superabundante, a regulamentação legislativa terá por finalidade restringir ou
reduzir o seu âmbito de incidência. As complementáveis são normas que demandam um
aditamento, uma soma de conteúdo, independentemente da existência de qualquer
previsão explicita.
Técnicas de Interpretação:
C) Regras: Regras são mandamentos de definição, ou seja, normas que ordenam que algo
seja cumprido na medida exata de suas prescrições. O conteúdo das regras caracteriza-se
por expressar determinações obrigatórias mais completas e precisas. A lógica da regra é o
“tudo ou nada”. O processo de aplicação da regra é a subsunção.
Para explicar a não aplicação do direito infraconstitucional conflitante com a nova ordem
constitucional, há pelo menos três teorias doutrinárias:
A) Teoria da simples revogação: o caso é de conflito de direito intertemporal (lex posterior derogat
priori), que acarreta a simples revogação da legislação incompatível, numa colisão a ser resolvida
no plano da vigência da norma. Segundo POLETTI, a norma revogada por outra de natureza
constitucional é norma desfeita, e não regra que contraria a constituição. É a posição majoritária
da doutrina, especialmente de KELSEN, CARLOS MÁRIO DA SILVA VELLOSO, CELSO
RIBEIRO BASTOS e OSWALDO LUIZ PALU.
No Brasil, tradicionalmente, o STF adota a teoria da simples revogação (alínea Ha", acima
tratada), também chamada teoria do conflito cronológico. Esta posição foi ratificada na ADln 2/DF
e é igualmente observada quanto aos efeitos das reformas constitucionais (ADln i.993/ DF).
Como sintetizou o Ministro CELSO DE MELLO: "Em se tratando de leis anteriores à Constituição
Federal vigente, não há de se cogitar – como tem entendido o STF - de inconstitucionalidade,
mas sim (e se for o caso) de revogação, matéria estranha à representação de
inconstitucionalidade" (ADln 2/DF).
ou Municípios), entendemos que a recepção deve ser admitida, como regra, a fim de se evitar
um vácuo legislativo.
Cumpre destacar que, pela própria teoria do poder constituinte originário (caráter
Inaugural e Ilimitado), que rompe por completo com a antiga ordem jurídica, instaurando
uma nova, um novo Estado, o fenômeno da recepção material só será admitido se houver
expressa manifestação da nova Constituição, caso contrário, as normas da Constituição
anterior, como visto, serão revogadas. O denominado fenômeno da recepção material de
normas constitucionais somente é admitido mediante expressa previsão na nova Constituição.
Portanto, leis infraconstitucionais anteriores compatíveis com a nova Constituição (recepção
automática/tácita); normas constitucionais anteriores (recepção com expressa previsão na nova
Constituição).
Quando duas normas possuem a mesma densidade normativa e são emanadas do mesmo
órgão, a posterior revoga a anterior nos casos de: I) declaração expressa; II) incompatibilidade;
ou III) regulação integral da matéria.
Quanto à forma, a revogação pode ser expressa quando a norma posterior enumera os
dispositivos revogados por ela. Para isso, os dispositivos revogados devem ser elencados
textualmente, não bastando a expressão genérica “ficam revogadas as disposições em
contrário”. A revogação tácita ocorre em razão da (1) incompatibilidade material entre duas
normas produzidas pelo mesmo órgão ou quando uma (2) uma norma posterior regula
inteiramente a matéria tratada por uma norma anterior, hipótese denominada de “revogação por
normação geral”.
Quanto à extensão, a revogação pode ser total (ab-rogação), se abranger toda a lei ou todo o
dispositivo, ou parcial (derrogação), se atingir apenas parte deles. Nos casos de surgimento de
uma nova constituição ocorre a revogação integral da constituição anterior (“revogação por
normação geral”), salvo se houver expressa disposição em outro sentido.
Ex: Sob a Constituição de 1967, determinada matéria cível era objeto de lei ordinária e, de fato,
havia lei ordinária sobre ela. Em momento ulterior, sobreveio a Constituição de 1988, que confiou
à lei complementar a matéria em causa. Anos depois, sob a nova ordem constitucional, foi
promulgada emenda constitucional que recolocou a matéria em questão no campo da lei
ordinária. Neste contexto, após a emenda constitucional, uma medida provisória pode revogar
no todo ou em parte a legislação anterior referida. É mister não esquecer de que uma norma só
pode ser revogada por outra de mesma densidade normativa e que seja produzida pelo mesmo
órgão. A Constituição não revoga a lei incompatível com ela, o termo correto utilizado é a não
recepção da lei. A medida provisória não revoga, apenas suspende a eficácia de uma lei. Caso
seja rejeitada a medida provisória, a lei retorna a produzir efeito, ocorre o efeito repristinatório
tácito.
3) Repristinação: É o fenômeno jurídico pelo qual se restabelece a vigência de uma lei revogada
pelo fato de uma lei revogadora ter sido posteriormente revogada. Importante destacar não há
repristinação automática, se o legislador, por ventura, quiser restabelecer a vigência de uma lei
anteriormente revogada por outra, terá que fazê-lo expressamente, conforme dispõe o parágrafo
3º do artigo 2º da Lei de Introdução as Normas do Direito Brasileiro (LINDB) que “Salvo
disposição em contrário expressa, à lei revogada NÃO se restaura por ter a lei revogadora
perdido a vigência”.
5) Vacatio Constitutionis: Lapso temporal que inicia no momento em que uma Constituição
é publicada até o momento em que ela começa a vigência. Vale salientar que, no período de
vacatio, continua vigendo a Constituição anterior. No Brasil, as constituições, ao serem
promulgadas e publicadas, já entram em vigor; não visualizamos aqui o fenômeno da Vacatio
constitutionis.
que não se altera no tempo: a alteração da norma superior não tem o condão de tornar válida
uma norma originalmente inválida” (Ávila, 1999). Este o entendimento adotado pelo Supremo
Tribunal Federal.
O poder constituinte derivado reformador tem competência para "corrigir", em relação a casos
futuros, interpretações constitucionais anteriormente dadas pelo STF. Cuida-se do que se
costuma impropriamente chamar de interpretações corretivas.
Tais correções devem fazer-se, necessariamente, por meio da aprovação de emendas
constitucionais que contradigam, total ou parcialmente, entendimentos anteriores do STF acerca
da Constituição. Exemplo: a EC 58, de 23-9-2009, alterou a definição do número máximo de
vereadores, superando assim a interpretação dada pelo STF ao inciso IV do art. 29 da
Constituição no RE 197.917/SP. Simples mudanças legislativas não podem ser utilizadas para
inovar entendimentos acerca das normas constitucionais (ver STF, Pleno, ADln 2.797/DF e ADln
2.860/DF).
Todavia, uma das implicações lógicas da recusa da "constitucionalidade superveniente" é a
impossibilidade de que interpretações corretivas procedam à convalidação retroativa de
situações inconstitucionais. Ou seja, se a emenda constitucional não pode sequer
constitucionalizar ex nunc uma lei originariamente inconstitucional, menos ainda poderia
convalidar, retroativamente (ex tunc), inconstitucionalidades, sobretudo as que já tenham assim
sido declaradas pelo STF. Por isso mesmo, como não admite a constitucionalização
superveniente, o STF negou que a alteração promovida pela EC 32/2001 na redação do inciso
VI do art. 84 da Constituição tivesse efeitos convalidatórios sobre decretos originalmente
inconstitucionais baixados pelo Governador do Tocantins (ADln p32/TO, ADln 3.983/TO e ADln
3.990/TO).
Contudo, a jurisprudência do STF mostra-se contraditória a respeito.
Para ilustrar, veja-se o seguinte caso. Ao interpretar o inciso XVI do art. 37 da Constituição de
1988, o Plenário do STF considerou inconstitucional a acumulação de proventos de
aposentadoria de servidor público com a remuneração de cargo, emprego ou função pública,
incluindo os casos em que a pessoa aposentada reingressasse no serviço público por meio de
novo concurso público – ressalvados os cargos acumuláveis na forma da Constituição, os cargos
eletivos e os cargos em comissão declarados em lei de livre nomeação e exoneração (v. RE
163.204/SP).
Porém, a EC 20, de 15-12-98, embora tenha tornando explícita a proibição reconhecida pelo STF
(§ 10 acrescido ao art. 37 da Constituição), acabou por convalidar a situação dos "membros de
poder" e dos "inativos, servidores e militares" que, até a publicação da emenda, tivessem
"ingressado novamente no serviço público por concurso público de provas ou de provas e títulos,
e pelas demais formas previstas na Constituição Federal" (art. 11 da EC 20/98).
Trata-se, portanto, de tentativa de constitucionalizar, por emenda constitucional, e com efeitos
retroativos, situação inconstitucional que já fora reconhecida pela jurisprudência do STF. No
entanto, essa convalidação indevida vem sendo aceita sem discussão pela jurisprudência do
próprio STF (v. g., ADln 1.541/MS e RMS 24.737/DF).
Outro exemplo: diante de leis estaduais que instituíram Municípios antes da necessária
regulamentação do § 4º do art. 18 da Constituição (na redação dada pela EC 15/96), o STr instou
o Congresso Nacional a editar lei complementar que resolvesse o problema dos Municípios já
criados. Daí ter sido editada a EC 57/2008, pela qual o Congresso Nacional, numa autêntica
tentativa de constitucionalização superveniente, mas feita a pedido de julgados do próprio STF
(ADl 2.240/BA, 3-316/MT, 3.489/SC e n. 3.489/SC), convalidou "os atos de criação, fusão,
incorporação e desmembramento de Municípios, cuja lei tenha sido publicada até 31 de
dezembro de 2006, atendidos os requisitos estabelecidos na legislação do respectivo Estado à
época de sua criação" (art. 96 acrescentado ao ADCT).
9) Filtragem Constitucional
Parte da doutrina, na trilha de PAULO RICARDO SCHIER, fala em filtragem constitucional para
se referir a três consequências automáticas da edição de nova constituição:
A) as normas preexistentes recepcionadas, bem como os princípios gerais de todos os ramos do
direito, devem ser reinterpretados à luz das regras e princípios, expressos e implícitos, da ordem
constitucional mais recente;
B) as normas infraconstitucionais desconformes com a nova constituição tornam-se inválidas; e
C) salvo se não foram exequíveis por si mesmas, as normas constitucionais são diretamente
aplicáveis, independentemente da preexistência de leis infraconstitucionais intermediárias ou a
despeito do conteúdo em contrário das leis infraconstitucionais porventura existentes
anteriormente.
Diz-se retroativa a norma cujas consequências jurídicas são aplicadas a eventos ocorridos
anteriormente à sua entrada em vigor. Porém, desde os romanos, desenvolve-se a tese da
ilicitude da retroatividade normativa. Como é impossível predizer quais serão editadas no futuro,
normas retroativas contrariam os ideais de certeza e segurança valorizados pela ciência jurídica.
Por isso, é princípio geral de direito , atos normativos não devem surtir efeitos retroativos.
De fato, mais do que em qualquer outro ramo jurídico, o direito constitucional enfrenta frequentes
problemas referentes a cada um desses tipos de lacunas. Exemplos extraídos da atual
Constituição:
A) de lacuna normativa: não existe norma constitucional a definir se é na Câmara dos Deputados
ou no Senado Federal que deva começar a tramitação dos projetos de lei de iniciativa do
Procurador- Geral da República;
B) de lacuna técnica: as normas constitucionais programáticas precisam de outras normas
(infraconstitucionais) para desenvolverem eficácia plena;
• ATENÇÃO!
GUASTINI aponta o caso das normas programáticas como exemplo de lacuna Axiológica por
entender que se trata da falta de uma norma inferior cuja edição é exigida pela nonna
(constitucional) superior. Contudo, nada impede que a hipótese seja enquadrada em ambos os
tipos de lacuna.
D) de lacuna institucional: o direito de receber assistência jurídica gratuita prestada pelo Estado
(art. 5°, LXXIV) exige a implementação tática de serviços de defensoria pública (art. 24, XIII, c/c
art. 134), mas há unidades federativas brasileiras que ainda não estruturaram
tais órgãos, embora já estejam contemplados em lei. Parte da doutrina cuida de outra
classificação particularmente interessante ao direito constitucional. Em relação à
intencionalidade do órgão produtor de direito, as lacunas dividem-se em:
A) lacunas intencionais (ou descobertas ou voluntárias): ocorrem quando o poder constituinte foi
consciente acerca da necessidade de uma regulação jurídico-constitucional, mas se omitiu em
fazê-lo por alguma razão (LOWENSTEIN). Consistem, assim, na intencional ausência de
regulação de certas situações por parte do constituinte, geralmente porque preferiu delegar tal
disciplina a algum ato normativo específico ou a outro órgão produtor de normas jurídicas.
Exemplo clássico: as normas de eficácia limitada, nas quais o constituinte remete ao legislador
infraconstitucional, ao administrador e até aos juízes, a incumbência de disciplinar determinadas
situações nelas mencionadas;
B) lacunas não intencionais (ou ocultas ou involuntárias): são as que se produzem quando, no
momento da criação da constituição, não se podia prever ou nem sequer existia a necessidade
de disciplinar juridicamente uma situação determinada (LOWENSTEIN).
Envolvem também os descuidos do constituinte no emprego de técnicas legislativas que acabam
por fazer com que se pareça regulado um caso que na verdade não está ou que deixam de
regular um caso que deveria ter sido regulado. Exemplo: a omissão da redação original (antes
da EC 45/2004) dos incisos IV e V do art. 203 da CF/88, no tocante à legitimidade ativa da
Câmara Legislativa e do Governador do Distrito Federal para ajuizar ação direta de
inconstitucionalidade.
ATENÇÃO: Mesmo um sentido ou significado óbvio não pode ser extraído de alguma
expressão linguística antes da atividade interpretativa. Ou seja, somente após interpreta-
la é que pode concluir que uma disposição é clara. Daí se considerar, hoje, inteiramente
superada a velha máxima segundo o qual, se o texto normativo for claro, não cabe
interpreta-lo (in claris non fit interpretativo).
B) Teoria objetivista (dinâmica ou não originalista ou não voluntarista): a interpretação não deve
apegar-se à intenção daqueles que produziram o enunciado normativo a se interpretar, mas sim
buscar o sentido inerente e atual que dele se extrai.
A finalidade da interpretação só pode ser o sentido do que é agora juridicamente determinante
(mens legis). Nesse rumo, já se posicionou o Plenário do STF que a "interpretação do direito tem
caráter constitutivo e consiste na produção, pelo intérprete, a partir de textos normativos e da
realidade, de normas jurídicas a serem aplicadas à solução de determinado caso, solução
operada mediante a definição de uma norma de decisão" (ADPF 153/DF).
Na melhor doutrina, porém, há quase um consenso de que a interpretação não se deve fazer só
com base numa ou noutra dessas teorias. Como ensina LARENZ, a atividade interpretativa deve
buscar resultados a partir de processos de pensamento que considerem tanto o sentido
normativo do enunciado interpretado quanto as intenções da regulação e as ideias normativas
do legislador histórico. Por isso mesmo, o conceito de interpretação adotado no item acima não
se relaciona à descoberta, mas à atribuição de sentido a alguma expressão linguística.
Embora o nome possa induzir ao contrário, na corrente interpretativista é onde o juiz possui
menor autonomia para exercer a atividade interpretativa, ele não pode transcender os
limites do texto legal. Já na corrente não-interpretativista, é onde o juiz possui uma maior
autonomia para ir além do texto e empregar valores pessoais, substantivos, na atividade
interpretativa. Ademais, Não existe relação hierárquica fixa entre os diversos critérios de
interpretação da CF, pois todos os métodos conhecidos conduzem sempre a um resultado
possível, nunca a um resultado que seja o unicamente correto. Essa pluralidade de métodos se
converte em veículo da liberdade do juiz, mas essa liberdade é objetivamente vinculada, pois
não pode o intérprete partir de resultados preconcebidos e, na tentativa de legitimá-los, moldar
a norma aos seus preconceitos, mediante a utilização de uma pseudo-argumentação.
A derrotabilidade das normas tem a ver com a não aplicação, total ou parcial, de certa norma
jurídica, apesar de exteriorizados os pressupostos a partir dos quais se deveria aplicá-la em
condições "normais". Embora o assunto seja ainda pouco enfrentado pela doutrina brasileira,
merece algumas reflexões, pois há indícios de que será em breve cobrado nos melhores
concursos jurídicos.
~ ATENÇÃO!
O fenômeno da derrotabilidade das normas jurídicas não é novidade na doutrina estrangeira.
Pelo contrário, a expressão "derrotabilidade" (defeasibility) surgiu no vocabulário jurídico a partir
de fragmento de texto doutrinário escrito por HART ainda em 1949- E, nas últimas décadas, o
tema tem merecido série de obras específicas por doutrinadores de vários países (por todos, v.
CARLOS ALCHOURRÔN, PABLO NAVARRO, HENRY PRAKKEN, GIOVANNI SARTOR, e
BRUCE CHAPMAN). No Brasil, o primeiro texto a tocar no assunto foi publicado por JULIANO
TAVEIRA BERNARDES em 2005. Porém a derrotabilidade só ganhou tratamento mais profundo
em dissertação de mestrado escrita em 2009 por FERNANDO ANDREONI VASCONCELLOS.
Num resumo simplório, a teoria da derrotabilidade normativa parte da premissa segundo a qual
as normas jurídicas se baseiam em raciocínios cujas justificativas podem ser "derrotadas" diante
~ IMPORTANTE:
A "derrotabilidade" tem a ver com os raciocínios lógicos que, diante da ocorrência de situações
não consideradas, superam as conclusões anteriormente obtidas. Assim, quando se formula, por
exemplo, enunciado condicional do tipo: "se Maria sair de casa às 19h, deverá chegar ao
aeroporto às i9h30", a verificação do consequente esperado (chegar ao aeroporto às 19h30) não
depende só da exteriorização do antecedente (se Maria sair de casa às i9h). Trabalha-se, na
verdade, com a ocorrência de inúmeros pressupostos (se não houver acidentes, se o tráfego
estiver normal, se o carro não estragar) que se devem somar ao antecedente, para que o
consequente realmente suceda como se anteviu. Logo, a se exteriorizar qualquer situação não
considerada (se houver acidente, se o tráfego estiver ruim ou se o carro apresentar defeito), a
conclusão será "derrotada", isto é, não mais se sustentará.
A derrotabilidade das normas jurídicas pode surgir como consequência da aplicação: ou (a) de
normas explícitas de exceção contidas no sistema jurídico; ou (b) de normas implícitas de
exceção identificáveis no sistema jurídico, incluindo as obtidas a partir de princípios cuja
concretização implique antinomia que se resolva pela não aplicação da norma "derrotada".
Exemplo do primeiro caso: o inciso li do art. 23 do CP é regra de exceção expressa e que exclui
a ilicitude da prática de fatos tipificados como crime. Exemplo do segundo caso: as chamadas
excludentes "supralegais" de culpabilidade, tal como detectadas pelos estudiosos do direito
penal, são regras implícitas que "derrotam" a configuração delituosa de fatos cuja prática é
explicitamente prevista como crime.
Pois bem. Segundo lições de doutrinadores como DWORKIN (1995, p. 140), pode-se concluir
que somente os princípios são normas derrotáveis, pois qualquer regra comporta a prévia e
completa enunciação de todas as respectivas exceções e hipóteses nas quais não se aplique -
seja mediante a identificação das demais regras em sentido contrário, seja pela revisão ou
atualização do enunciado original da regra considerada. Assim, quando eventualmente se
identificar um caso a excepcionar uma regra, não se tratará do que se ora denominou de
"derrotabilidade" normativa, mas apenas da constatação de que o enunciado da regra não havia
sido completamente identificado, pois lhe faltava adicionar a exceção posteriormente detectada.
Porém, a maioria dos autores hoje considera que mesmo as regras estão sujeitas à
"derrotabilidade", uma vez que é impossível estabelecer, a priori ou em abstrato, toda a lista de
exceções que podem "derrotar" uma regra. Segundo ALEXV, a própria decisão de um caso
concreto pode redundar na introdução de cláusulas de exceção à regra baseadas em princípios.
Logo, "ao contrário do que pensa DWORKIN, as cláusulas de exceção introduzíveis às regras
com base em princípios não são sequer teoricamente enumeráveis" (2001, p. 100). Enfim, tanto
as regras como os princípios são tipos de normas sujeitas a cláusulas de exceções implícitas.
São normas que se devem aplicar a casos concretos, "a menos que ... " identificadas situações
anormais se traduzam em normas explícitas ou implícitas de exceção.
Por essas e outras razões, atualmente, a melhor doutrina contemporânea (por todos, KLAUS
GÜNTHER, 1995 e 2004) já ensina que, após analisadas todas as circunstâncias de um caso
concreto (all things considered), uma norma determinada, mesmo que abstratamente válida do
ponto de vista constitucional (plano da validez), poderá não ser aplicada da mesma forma que
abstrata e inicialmente tenha sido prevista (plano de aplicação). Acerca de exemplo concreto de
aplicação da derrotabilidade
Normativa.
• ATENÇÃO!
O leitor mais atento logo percebe que, aplicada a teoria da derrotabilidade normativa também às
regras, o direito toma-se bem menos •determinável", se não indeterminado. daro que isso gera
muitas discussões na filosofia juridica. Mas é melhor que as regras sejam assim •derrotáveis".
Primeiro porque são poucos os verdadeiros casos fronteiriços (hard cases) em que condições
anormais ou imprevistas, articuladas com base em prinápios, implicam exceções implícitas às
regras positivadas.
Segundo porque, como adverte HART, entender as regras sob rigidas concepções formais,
atribuindo-se a cada regra o mesmo sentido para todos os casos nela previstos, "é conseguir
uma medida de certeza ou previsibilidade à custa de considerar. de forma cega e preconceituada,
o que deve fazer-se numa série de casos futuros, sobre cuja composição nos encontramos em
estado de ignorância" (2001, p. 142).
1) Métodos de Interpretação
Considera a Constituição como uma lei. Assim, interpretar a Constituição é interpretar uma lei.
Utiliza para desvendar o sentido das normas constitucionais os seguintes elementos: (a)
elemento gramatical, (b) elemento lógico-sistemático, (c) elemento histórico, (d) elemento
telelógico e (e) elemento genético.
E) Autêntica: é aquela que emana do próprio poder que elaborou o ato normativo, processando-se
por intermédio de elaboração de leis interpretativas cuja finalidade precípua é determinar o
sentido de uma determinada norma jurídica;
suficiente. Devemos saber que esse método tem três pressupostos – um subjetivo e dois
objetivos: (1) o pressuposto subjetivo, representado pela pré-compreensão do intérprete, (2) o
contexto (realidade social) em que é realizada a interpretação e (3) o círculo hermenêutico,
que consiste no movimento de “ir e vir” efetuado pelo intérprete entre o texto e contexto.
C) Método Integrativo ou científico espiritual (Rudolf Smend): A Constituição não pode ser
entendida como um estatuto de organização que estrutura o estado e que faculta e impõe certas
atividades ao mesmo, mas sim como uma forma vital dos cidadãos que participam do Estado.
Assim, a Constituição deve ser interpretada como algo dinâmico e que se renova
constantemente, no compasso das modificações da vida em sociedade.
A Teoria Estruturante do Direito trabalha com a Teoria da Ação. Nesse sentido, opera
indutivamente e não dedutivamente, tendo recebido influência da Semântica Prática. A teoria
surge da necessidade de superar a fase positivista do desenvolvimento jurídico. Conforme
Friedrich Müller, para esse fim é que foi desenvolvido o método normativo-estruturante.
Segundo o método citado, o texto da norma é produto da atividade do legislador, e não se
confunde com a norma. Portanto, faz-se necessária a distinção entre texto e norma. Embora a
interpretação do teor literal seja um dos elementos mais importantes no processo de
concretização, é somente um elemento, pelo que a normatividade não é uma qualidade
substancial (estática e dada pelo legislador) dos textos de normas, e sim um processo efetivo,
temporalmente estendido e cientificamente estruturável, que parte dos textos de normas e
encontra neles seus limites. O texto da norma é o conjunto de símbolos linguísticos. É apenas
um enunciado. Já a norma é o resultado da interpretação do texto. Ainda para o método
normativo-estruturante, o texto da norma e realidade são coisas distintas, sendo, pois, incabível
se falar em interpretação. O correto é concretização para se atingir a norma de decisão.
Esses 7 princípios instrumentais são extraídos das obras de Konrad Hesse e de Frederich
Muller.
Conceito – Por esse princípio, a constituição deve ser interpretada de modo a evitar
conflitos, contradições e antagonismos entre suas normas. É uma especificação da interpretação
sistemática de Savigny.
Segundo a interpretação sistemática, a norma não existe sozinha, mas faz parte de um
sistema de normas, devendo, portanto, ser interpretada em conjunto com as demais normas do
sistema.
Ex. direito de propriedade, que deve ser interpretado em conjunto com o princípio da função
social da propriedade.
Ex. proteção do consumidor e livre iniciativa.
Esse princípio afasta a tese da “hierarquia das normas constitucionais”.
[Essa tese foi defendida por um autor chamado de Otto Bachof, em seu livro “Normas
constitucionais inconstitucionais?”. Neste livro, o autor comenta várias situações de uma
Constituição, nas quais algumas normas poderiam ser consideradas como normas superiores,
em relação a outras normas (consideradas normas inferiores). Por isso, ele cria a tese da
hierarquia dentro da Constituição, havendo, então 2 níveis de normas constitucionais: as normas
superiores e as inferiores.]
Ex. STF ADI 4.097 – Nesse caso, o PSC ajuizou essa ADI questionando o art.14, §4º, da CF,
que diz que os analfabetos são inelegíveis. O PSC pediu ao STF que declarasse inconstitucional
o art.14, §4º. Ocorre que esse artigo foi feito pelo poder constituinte originário. Para pedir a
inconstitucionalidade, o PSC alegava que esse dispositivo, apesar de ter sido feito pelo poder
constituinte originário, violaria normas superiores da constituição, como o princípio da isonomia,
o princípio do sufrágio universal, e o princípio da não discriminação. A decisão do STF se baseou
no princípio da unidade, afastando a tese de “hierarquia de normas constitucionais”, com
inadmissibilidade da ação.
EMENTA: ADI 4.097. Inadmissibilidade. Art. 14, § 4º, da CF. Norma constitucional originária.
Objeto nomológico insuscetível de controle de constitucionalidade. Princípio da unidade
hierárquico-normativa e caráter rígido da Constituição brasileira. Doutrina. Precedentes.
Carência da ação. Inépcia reconhecida. Indeferimento da petição inicial. Agravo improvido. Não
se admite controle concentrado ou difuso de constitucionalidade de normas produzidas pelo
poder constituinte originário.
RE 476.361/SC - DECISÃO:
Vistos. União interpõe RE, com fundamento na alínea “a” do permissivo constitucional, contra
acórdão da Segunda Turma do TRF da 4ª Região, assim ementado: “QUEBRA DE SIGILO
BANCÁRIO PELA AUTORIDADE ADMINISTRATIVA. COLISÃO DE DIREITOS
FUNDAMENTAIS. INTIMIDADE E SIGILO DE DADOS VERSUS ORDEM TRIBUTÁRIA HÍGIDA.
ART. 5º, X E XII. PROPORCIONALIDADE.
1. O sigilo bancário, como dimensão dos direitos à privacidade (art. 5º, X, CF) e ao sigilo de
dados (art. 5º, XII, CF), é direito fundamental sob reserva legal, podendo ser quebrado no caso
previsto no art. 5º, XII, in fine, ou quando colidir com outro direito albergado na Carta Maior. Neste
último caso, a solução do impasse, mediante a formulação de um juízo de concordância prática,
há de ser estabelecida através da devida ponderação dos bens e valores, in concreto, de modo
a que se identifique uma relação específica de prevalência entre eles.
2. No caso em tela, é possível verificar-se a colisão entre os direitos à intimidade e ao sigilo de
dados, de um lado, e o interesse público à arrecadação tributária eficiente (ordem tributária
hígida), de outro, a ser resolvido, como prega a doutrina e a jurisprudência, pelo princípio da
proporcionalidade.
3. Com base em posicionamentos do STF, o ponto mais relevante que se pode extrair desse
debate, é a imprescindibilidade de que o órgão que realize o juízo de concordância entre os
princípios fundamentais – a fim de aplicá-los na devida proporção, consoante as peculiaridades
do caso concreto, dando-lhes eficácia máxima sem suprimir o núcleo essencial de cada um –
revista-se de imparcialidade, examinando o conflito como mediador neutro, estando alheio aos
interesses em jogo. Por outro lado, ainda que se aceite a possibilidade de requisição extrajudicial
de informações e documentos sigilosos, o direito à privacidade, deve prevalecer enquanto não
houver, em jogo, um outro interesse público, de índole constitucional, que não a mera
arrecadação tributária, o que, segundo se dessume dos autos, não há” (fl. 160).
(...) Decido. Como visto, o recurso especial da União foi conhecido e provido pelo STJ, implicando
na aplicação imediata do dispositivo mencionado. Ante o exposto, julgo prejudicado o RE.
Esse princípio parte da premissa de que “não existem direitos absolutos”, pois todos
encontram limites em outros direitos ou interesses coletivos também consagrados na
Constituição. Se se entendesse um direito como absoluto, dever-se-ia entender, também, que
ele sempre deveria prevalecer em qualquer conflito. Mas, se deve haver coordenação entre os
princípios e sua relativização, é porque eles não são absolutos.
Segundo a doutrina, mesmo alguns direitos que são tidos como absolutos, são
relativizáveis. Ex. Dignidade da pessoa humana.
Obs: Norberto Bobbio sustenta duas exceções à relatividade. Ele considera como tendo caráter
absoluto os direitos a não ser torturado e o direito a não ser escravizado.
magistrados e Tribunais, inclusive aquelas que decorrem do poder geral de cautela conferido aos
juízes, como o poder de decretar a indisponibilidade dos bens pertencentes a pessoas sujeitas
à investigação parlamentar. A circunstância de os poderes investigatórios de uma CPI
serem essencialmente limitados levou a jurisprudência constitucional do Supremo
Tribunal Federal a advertir que as CPIs não podem formular acusações e nem punir
delitos, nem desrespeitar o privilégio contra a auto-incriminação que assiste a qualquer
indiciado ou testemunha, nem decretar a prisão de qualquer pessoa, exceto nas hipóteses
de flagrância.
OS DIREITOS E GARANTIAS INDIVIDUAIS NÃO TÊM CARÁTER ABSOLUTO. Não há, no
sistema constitucional brasileiro, direitos ou garantias que se revistam de caráter absoluto,
mesmo porque razões de relevante interesse público ou exigências derivadas do princípio de
convivência das liberdades legitimam, ainda que excepcionalmente, a adoção, por parte dos
órgãos estatais, de medidas restritivas das prerrogativas individuais ou coletivas, desde que
respeitados os termos estabelecidos pela própria Constituição. O estatuto constitucional das
liberdades públicas, ao delinear o regime jurídico a que estas estão sujeitas - e considerado o
substrato ético que as informa - permite que sobre elas incidam limitações de ordem jurídica,
destinadas, de um lado, a proteger a integridade do interesse social e, de outro, a assegurar a
coexistência harmoniosa das liberdades, pois nenhum direito ou garantia pode ser exercido em
detrimento da ordem pública ou com desrespeito aos direitos e garantias de terceiros.
A QUEBRA DO SIGILO CONSTITUI PODER INERENTE À COMPETÊNCIA INVESTIGATÓRIA
DAS CPIs - O sigilo bancário, o sigilo fiscal e o sigilo telefônico (sigilo este que incide sobre os
dados/registros telefônicos e que não se identifica com a inviolabilidade das comunicações
telefônicas) - ainda que representem projeções específicas do direito à intimidade, fundado no
art. 5º, X, da Carta Política - não se revelam oponíveis, em nosso sistema jurídico, às CPIS, eis
que o ato que lhes decreta a quebra traduz natural derivação dos poderes de investigação que
foram conferidos, pela própria CF, aos órgãos de investigação parlamentar. As Comissões
Parlamentares de Inquérito, no entanto, para decretarem, legitimamente, por autoridade própria,
a quebra do sigilo bancário, do sigilo fiscal e/ou do sigilo telefônico, relativamente a pessoas por
elas investigadas, devem demonstrar, a partir de meros indícios, a existência concreta de causa
provável que legitime a medida excepcional (ruptura da esfera de intimidade de quem se acha
sob investigação), justificando a necessidade de sua efetivação no procedimento de ampla
investigação dos fatos determinados que deram causa à instauração do inquérito parlamentar,
sem prejuízo de ulterior controle jurisdicional dos atos em referência (CF, art. 5º, XXXV). As
deliberações de qualquer CPI, à semelhança do que também ocorre com as decisões judiciais
(RTJ 140/514), quando destituídas de motivação, mostram-se írritas e despojadas de eficácia
jurídica, pois nenhuma medida restritiva de direitos pode ser adotada pelo Poder Público, sem
que o ato que a decreta seja adequadamente fundamentado pela autoridade estatal. (...)
A QUESTÃO DA DIVULGAÇÃO DOS DADOS RESERVADOS E O DEVER DE PRESERVAÇÃO
DOS REGISTROS SIGILOSOS.- A CPI, embora disponha, ex propria auctoritate, de
competência para ter acesso a dados reservados, não pode, agindo arbitrariamente, conferir
indevida publicidade a registros sobre os quais incide a cláusula de reserva derivada do sigilo
bancário, do sigilo fiscal e do sigilo telefônico. (...) Constitui conduta altamente censurável - com
todas as conseqüências jurídicas (inclusive aquelas de ordem penal) que dela possam resultar -
a transgressão, por qualquer membro de uma CPI, do dever jurídico de respeitar e de preservar
o sigilo concernente aos dados a ela transmitidos. (...)
POSTULADO CONSTITUCIONAL DA RESERVA DE JURISDIÇÃO: UM TEMA AINDA
PENDENTE DE DEFINIÇÃO PELO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. (...) A cláusula
constitucional da reserva de jurisdição - que incide sobre determinadas matérias, como a busca
domiciliar (CF, art. 5º, XI), a interceptação telefônica (CF, art. 5º, XII) e a decretação da prisão
de qualquer pessoa, ressalvada a hipótese de flagrância (CF, art. 5º, LXI) - traduz a noção de
que, nesses temas específicos, assiste ao Poder Judiciário, não apenas o direito de proferir a
última palavra, mas, sobretudo, a prerrogativa de dizer, desde logo, a primeira palavra, excluindo-
se, desse modo, por força e autoridade do que dispõe a própria Constituição, a possibilidade do
exercício de iguais atribuições, por parte de quaisquer outros órgãos ou autoridades do Estado.
Por esse princípio, na aplicação da constituição, deve ser dada preferência às soluções
concretizadoras de suas normas, que as tornem mais eficazes e permanentes.
A principal função que esse princípio vem desempenhando na jurisprudência do STF é
afastar interpretações divergentes. Segundo o STF, quando há interpretações divergentes sobre
a CF, a força normativa da CF é enfraquecida.
Súmula 343, STF - “Não cabe ação rescisória por ofensa a literal disposição de lei, quando a
decisão rescindenda se tiver baseada em texto legal de interpretação controvertida nos
tribunais”.
Atenção! Não se pode dizer que a súmula 343 está revogada. Essa distinção é chamada de
distiguishing, ou seja, o precedente não é superado, mas é feita uma distinção em relação a um
aspecto considerado fundamental.
(Muitas vezes o STF tem a jurisprudência em um determinado sentido e dá uma decisão num
sentido diferente do precedente. Ocorre que isso não significa que ele mudou de posição, mas
sim que naquele caso em julgamento há um aspecto fundamental que distingue aquela situação
do precedente anterior).
Art.5º, §1º, CF - “As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação
imediata”.
Conceito - Geralmente invocado no âmbito dos direitos fundamentais, este princípio impõe que
lhes seja atribuído o sentido que confira a maior efetividade possível para que os direitos
fundamentais cumpram a sua função social.
Ex. instrumentos específicos para proteger os direitos e conferir maior efetividade possível aos
direitos – MS, HD, HC, MI.
Ex. STF – Reclamação (RCL) 2.600 AgR/SE. Nessa decisão, o STF havia concedido uma liminar,
em que estabeleceu uma interpretação X. Vários juízes de primeiro grau, seguindo a orientação
da liminar dada pelo STF, também decidiram dessa forma X e as decisões transitaram em
julgado. Quando o STF deu a decisão de mérito, prevaleceu outro entendimento. As decisões
dos outros juízes que foram conforme a liminar (utilizando uma a interpretação divergente à
decisão de mérito), foram objeto de ação rescisória, para oportunizar uma nova decisão igual a
decisão de mérito do STF. Isto em razão do princípio da máxima efetividade das normas
constitucionais.
EMENTA: ADI. Julgamento. Sentença de mérito. Oponibilidade erga omnes e força vinculante.
Efeito ex tunc. Ofensa à sua autoridade. Caracterização. Acórdão em sentido contrário, em ação
rescisória. Prolação durante a vigência e nos termos de liminar expedida na ADI. Irrelevância.
Eficácia retroativa da decisão de mérito da ADI. Aplicação do princípio da máxima efetividade
das normas constitucionais. Liminar concedida em reclamação, para suspender os efeitos do
acórdão impugnado. Agravo improvido. Voto vencido. Reputa-se ofensivo à autoridade de
sentença de mérito proferida em ADI, com efeito ex tunc, o acórdão que, julgando improcedente
ação rescisória, adotou entendimento contrário, ainda que na vigência e nos termos de liminar
concedida na mesma ADI.
Conceito – Esse princípio tem por finalidade impedir que os órgãos encarregados da
interpretação constitucional cheguem a um resultado que subverta ou perturbe o esquema
organizatório-funcional estabelecido pela CF. A conformidade funcional significa que cada poder
deve agir segundo a função que lhe foi atribuída. Na realidade, é mais um princípio de
Nesse caso, a doutrina critica que o STF estaria violando o princípio da conformidade
funcional. Ao atribuir à sua própria decisão um efeito que não é constitucionalmente previsto, e,
por consequência, usurpar uma competência prevista na CF para o Senado, este entendimento
dos ministros Gilmar Mendes e Eros Grau seria incompatível com o princípio da conformidade
funcional (eles estão restringindo uma competência do Senado e ampliando as suas próprias
competências).
posterior prevalece sobre norma anterior (fraco); b)especialidade: norma especial prevalece
sobre norma geral (médio); c) hierárquico: norma superior prevalece sobre norma inferior (forte).
Maria Helena Diniz classifica as antinomias, quanto aos critérios de colisão, em: a)de primeiro
grau: o choque envolve apenas um dos critérios de solução de conflito; b)de segundo grau: o
choque envolve dois critérios de solução de conflito.
Nem toda norma constitucional pode ser parâmetro. Podem ser invocadas como parâmetro
para o controle de constitucionalidade todas as normas formalmente constitucionais (ou seja,
que tiveram o processo mais dificultoso).
No caso brasileiro, a CF tem 3 partes – preâmbulo (parte introdutória), parte permanente
(art.1º ao art.250), e parte transitória (ADCT). O preâmbulo, por não ser norma formalmente
constitucional, não pode ser invocado com parâmetro para controle de constitucionalidade.
Então, normas do ADCT podem sim servir de parâmetro.
Obs: Princípios implícitos podem servir de parâmetro? Sim. O parâmetro abrange não apenas
normas expressas, mas também princípios implícitos. Ex. Princípio da razoabilidade.
Obs: Com a reforma do judiciário, passou-se a ter como parâmetro de controle os tratados
internacionais de direitos humanos aprovados com quórum de emenda constitucional (com
quórum de 3/5 e 2 turnos de votação, cf. Art.5º, §3º, CF).
Ex. Tratado aprovado no Brasil pelo Decreto 4.969/09 – tratado sobre direitos dos portadores de
deficiência.
Obs: O pacto de São José da Costa Rica não é parâmetro de controle, pois não é formalmente
constitucional (foi aprovado antes da EC/45 – sem o quórum de emenda).
Essa expressão surgiu no direito francês, através de um autor chamado “Louis Favoreu” e
foi utilizada para designar normas com status constitucional. Este autor criou a expressão
mencionada, pois na França o bloco de constitucionalidade compreende a Constituição Francesa
de 1958 e, por exemplo, a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789, o
preâmbulo da Constituição Francesa de 1946, princípios formulados pelo Conselho
Constitucional, dentre outras normas (ex. Na França, a dignidade humana é um princípio que o
Conselho Constitucional criou, assim como princípio da continuidade do serviço público).
No Brasil, os sentidos de “Bloco de Constitucionalidade” são:
b) Sentido amplo – Abrange não apenas as normas constitucionais, mas também normas
infraconstitucionais vocacionadas a desenvolver preceitos da Constituição.
Ex. Lei que estabelece o valor do salário mínimo – como essa lei é imprescindível para que a
pessoa possa ter salário mínimo, ela faria parte do bloco de constitucionalidade em sentido
amplo.
Ex: Pacto São José da Costa Rica, que faz parte do bloco de constitucionalidade em sentido
amplo.
3.1.1) Inconstitucionalidade por AÇÃO: Ocorre quando há uma conduta comissiva (um agir) do
poder público, incompatível com a Constituição. Então, o poder público age de uma maneira que
não é permitida pela CF.
Ex. HC 82.959/SP – STF considerou que a vedação da progressão de regime era
inconstitucional, incompatível com o princípio da individualização da pena – art.5º, XLVI, CF.
3.1.2) Inconstitucionalidade por OMISSÃO: Ocorre quando o Poder Público se omite diante de
um dever estabelecido pela Constituição. Nesses casos, a norma não é dirigida diretamente ao
particular, mas ao poder público.
Ex. Art.37, VII, CF (direito de greve do servidor público).
Os instrumentos específicos que a CF possui para assegurar esses direitos decorrentes
da omissão inconstitucional são o Mandado de Injunção (ex. MI 708 e MI 712) e a ADO (Ação
Direta de Inconstitucionalidade por Omissão).
Atenção! No caso da omissão, ela pode ser total (ex. Direito de greve do servidor público)
ou parcial (ex. Caso do salário mínimo – há uma inconstitucionalidade por omissão parcial,
pois havia lei prevendo valor do salário mínimo, mas essa lei previa um valor de salário
mínimo insuficiente para atender tudo aquilo que a CF determina). A inconstitucionalidade
por omissão parcial é a mesma coisa do que a inconstitucionalidade por ação parcial, pois
o poder público agiu, mas agiu de forma incompleta.
Art. 61, §1º, CF - São de iniciativa privativa do Presidente da República as leis que:
I - fixem ou modifiquem os efetivos das Forças Armadas;
II - disponham sobre:
a) criação de cargos, funções ou empregos públicos na administração direta e autárquica ou
aumento de sua remuneração;
b) organização administrativa e judiciária, matéria tributária e orçamentária, serviços públicos
e pessoal da administração dos Territórios;
c) servidores públicos da União e Territórios, seu regime jurídico, provimento de cargos,
estabilidade e aposentadoria;(Redação dada pela EC nº 18, de 1998)
d) organização do Ministério Público e da Defensoria Pública da União, bem como normas
gerais para a organização do Ministério Público e da Defensoria Pública dos Estados, do
Distrito Federal e dos Territórios;
e) criação e extinção de Ministérios e órgãos da administração pública, observado o disposto
no art. 84, VI (Redação dada pela EC nº 32, de 2001)
f) militares das Forças Armadas, seu regime jurídico, provimento de cargos, promoções,
estabilidade, remuneração, reforma e transferência para a reserva.(Incluída pela EC nº 18, de
1998)
Ex. Art.61, §1º, II, “c”, CF – relativa a servidores públicos. Quem pode propor lei sobre esse
assunto é apenas o presidente da república. Foi feita uma lei que reduzia a jornada de trabalho
dos servidores, com iniciativa do projeto de lei de um deputado. O STF declarou a
inconstitucionalidade formal subjetiva dessa lei (ADIN 3.739).
Obs: A sanção da lei pelo presidente supre o vício de iniciativa? Vide Súmula nº 05 – STF:
Sum.05, STF - “A sanção do projeto supre a falta de iniciativa do Poder Executivo - SUPERADA”.
Esta súmula, após a CF/88, foi superada, não mais sendo aplicada pelo STF. O
Entendimento do STF, após a CF/88, é de que o vício de origem é insanável, não podendo ser
suprido pela sanção presidencial !!!
EMENTA - ADI 2.220/SP: ADI. CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DE SÃO PAULO. ARTS. 10, § 2º,
ITEM 1; 48; 49, CAPUT, §§ 1º, 2º E 3º, ITEM 2; E 50. CRIME DE RESPONSABILIDADE.
COMPETÊNCIA DA UNIÃO. (...) 2. A definição das condutas típicas configuradoras do crime de
responsabilidade e o estabelecimento de regras que disciplinem o processo e julgamento das
agentes políticos federais, estaduais ou municipais envolvidos são da competência legislativa
privativa da União e devem ser tratados em lei nacional especial (art. 85 da Constituição da
República). Precedentes. (...) 3. Ação julgada parcialmente prejudicada e na parte remanescente
julgada procedente.
Obs: O STF não faz especificação quanto à inconstitucionalidade formal “orgânica” (não utiliza
essa classificação), falando tão somente em “inconstitucionalidade formal”.
Obs: O STF pode analisar a relevância e urgência da MP? O STF admite a analise desses
pressupostos, mas somente quando a inconstitucionalidade for flagrante e objetiva.
3.3.1) Inconstitucionalidade TOTAL: Ocorre quando o vício atinge toda a lei ou quando atinge
todo o dispositivo ao qual se está fazendo referência.
Ex. ADIN 2.808/RS, que declarou a inconstitucionalidade de toda uma portaria.
EMENTA: ADI. 2. Lei Do Estado do Rio Grande do Sul. Instituição do Pólo Estadual da Música
Erudita. 3. Estrutura e atribuições de órgãos e Secretarias da Administração Pública. 4. Matéria
de iniciativa privativa do Chefe do Poder Executivo. 5. Precedentes. 6. Exigência de consignação
de dotação orçamentária para execução da lei. 7. Matéria de iniciativa do Poder Executivo. 8.
Ação julgada procedente.
3.3.2) Inconstitucionalidade PARCIAL: Ocorre quando o vício atinge pelo menos uma parte da
lei ou uma parte de determinado dispositivo.
No veto presidencial não pode haver veto de apenas uma palavra ou expressão. Essa
vedação não existe com relação à declaração de inconstitucionalidade.
CF/67/69 CF/88
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Lei de 1980 Lei de 1990
Ex. HC 82.959/SP.
3.5.2) Inconstitucionalidade indireta: Ocorre quando há algum ato interposto entre o objeto
impugnado e a CF.
DECISÃO ADI 2.578: Trata-se de ação direta de inconstitucionalidade, que, proposta pelo
eminente Senhor PGR, Professor GERALDO BRINDEIRO, tem por finalidade questionar a
validade jurídico-constitucional do "(...) artigo 11 da Emenda n.º 49, de 13 de junho de 2001, à
Constituição do Estado de Minas Gerais, na parte em que acrescenta ao ADCT da Constituição
estadual os artigos 105 a 107 (...)". (...)
Ressalte-se, inclusive, que, no âmbito do Poder Legislativo, foi editada, conforme informação da
Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais (fl. 45), a Resolução n° 463, de 19.09.1990
(fls 6/67), que regulamentou a aplicação do art. 4° da Lei n° 10.254, de 1990, quanto aos direitos
e obrigações dos servidores estatutários detentores de função pública.
Vale referir, de outro lado, ante a extrema pertinência de suas observações, o magistério exposto
por JORGE MIRANDA: "A inconstitucionalidade consequente vem a ser a que decorre
como corolário desse juízo ou a que inquina certo acto por inquinar outro acto de que ele
depende. A inconstitucionalidade consequente pode ser de um mesmo acto ou diploma
relativamente a uma norma que dele conste ou de um acto relativamente a outro em que
tenha o seu fundamento de validade 'v.g.', a inconstitucionalidade de um regulamento ou
acto administrativo consequente de inconstitucionalidade da respectiva lei(...)."
Obs: Existe a possibilidade de um decreto violar diretamente a CF? Sim. Se o decreto tratar de
um assunto que não tem previsão legal, ele estará ligado diretamente à CF. Então a
inconstitucionalidade desse decreto será direta. Nesse caso, cabe ADI, ADC, ADPF ou RE.
Ex. ADIN 3.132; ADIN 996 – MC/DF.
EMENTA ADI 3.132: ADI: descabimento: caso de inconstitucionalidade reflexa. Portaria nº 001-
GP1, de 16.1.2004, do Presidente do TJSE, que determina que o pagamento por via bancária
dos emolumentos correspondentes aos serviços notariais e de registro - obtidos através do
sistema informatizado daquele Tribunal - somente pode ser feito nas agências do Banco do
Estado de Sergipe S/A - BANESE. Caso em que a portaria questionada, editada com o propósito
de regulamentar o exercício de atividade fiscalizatória prevista em leis federais (L. 8.935/94; L.
10.169/2000) e estadual (L.est. 4.485/2001), retira destas normas seu fundamento de validade e
não diretamente da Constituição. Tem-se inconstitucionalidade reflexa - a cuja verificação não
se presta a ação direta - quando o vício de ilegitimidade irrogado a um ato normativo é o
desrespeito à Lei Fundamental por haver violado norma infraconstitucional interposta, a cuja
observância estaria vinculado pela Constituição.
4.1.2) Controle político: É aquele controle exercido por um órgão que não tem natureza
jurisdicional (conceito por exclusão). Ex. Controle pelo legislativo e pelo executivo.
O sistema de controle depende do tipo de controle principal que é adotado pelo país.
Um sistema existente é o sistema jurisdicional. No sistema jurisdicional, o controle, em
regra, é exercido pelo poder judiciário. O nosso sistema de controle (Brasil) é o sistema
jurisdicional. Também é o caso dos EUA.
Alguns países não adotam o sistema jurisdicional, adotando o sistema político. Nesse
sistema, quem faz o controle não é o judiciário. Ex. França (Na França existe um órgão de cúpula
4.2.1) Controle Preventivo: Esse controle é para evitar que a inconstitucionalidade ocorra. Então,
é aquele que ocorre durante o processo de elaboração do ato normativo. Aqui no Brasil há
controle preventivo exercido por todos os poderes, assim:
b) Controle exercido pelo Poder Executivo – é feito através do veto jurídico (art.66, §1º,
CF).
Art. 66, CF - A Casa na qual tenha sido concluída a votação enviará o projeto de lei ao
Presidente da República, que, aquiescendo, o sancionará.
§1º - Se o Presidente da República considerar o projeto, no todo ou em parte,
inconstitucional ou contrário ao interesse público, vetá-lo-á total ou parcialmente, no
prazo de quinze dias úteis, contados da data do recebimento, e comunicará, dentro de
quarenta e oito horas, ao Presidente do Senado Federal os motivos do veto.
O veto através do qual o presidente exerce o controle é chamado de veto jurídico.
O veto em razão da contrariedade ao interesse público é o veto político.
c) Controle exercido pelo Poder Judiciário – o controle preventivo pelo judiciário é feito
excepcionalmente. A única hipótese em que o judiciário faz controle preventivo no Brasil
é no caso de Mandado de Segurança impetrado por Parlamentar por inobservância do
devido processo legislativo constitucional. Esse MS só pode ser impetrado por
parlamentar (ele é o único legitimado). Ademais, é só por parlamentar da casa na qual
o projeto esteja em tramitação.
Este controle preventivo feito pelo judiciário visa, principalmente, a assegurar a
supremacia da Constituição ou proteger o direito do parlamentar? Esse MS é para
proteger precipuamente um direito subjetivo do parlamentar, ou seja, o direito à
observância do devido processo legislativo constitucional (pois ele, enquanto
parlamentar, participa do processo legislativo – discussão e votação).
Obs: Atenção!! Para caber o MS, deve haver o objetivo de proteger norma de processo
legislativo prevista na CF (pois é “devido processo legislativo constitucional”)!!! Então,
se for uma norma exclusivamente do regimento interno, não cabe o MS (pois não está
havendo violação ao devido processo legislativo constitucional).
Ex. art.60, §4º, CF: Não pode haver sequer deliberação sobre emenda que viole
cláusulas pétreas. Se houver proposta de lei nesse sentido, cabe o MS para que não
haja sequer discussão e deliberação.
4.2.2) Controle Repressivo: Depois que a inconstitucionalidade ocorre, tenta-se reparar a lesão.
Também pode ser exercido pelo judiciário, legislativo e executivo. Mas, atenção! No
controle repressivo, quem vai atuar é o judiciário. O judiciário pode exercer esse controle
repressivo de duas maneiras: via controle difuso e via controle concentrado.
b) Controle repressivo pelo legislativo: O poder legislativo pode exercer esse controle
repressivo em 3 situações:
Primeiro caso:
Obs: Prefeito → Por não ser legitimado para propor a ADIN, deve só
negar o cumprimento.
4.3.1) Controle CONCRETO (controle incidental/ por via de defesa/ por via de exceção/
processo constitucional subjetivo): É aquele que surge a partir de um caso concreto e
que tem como principal finalidade a proteção de direitos subjetivos.
Lembrar de: Concreto – surge a partir de um caso concreto (a partir de uma violação
concreta de um direito subjetivo).
Ex. uma lei que reduz o valor do benefício de um aposentado. Ele ajuíza uma ação para
proteger o seu direito de irredutibilidade do seu benefício. O aposentado não está
preocupado com a supremacia da CF. Para que o direito do aposentado no caso seja
protegido, o juiz deverá declarar a inconstitucionalidade da lei, que será analisada
incidentalmente. O juiz julgará o pedido para declarar o direito do aposentado de receber
os seus valores, e não se a lei é constitucional ou não.
4.3.2) Controle ABSTRATO (ou controle abstrato/ por via principal/ por via de ação/ por
via direta/ processo constitucional objetivo): Tem como principal finalidade a proteção
4.4.1) Controle DIFUSO: É aquele que pode ser exercido por qualquer juiz ou tribunal.
Esse controle também é chamado de controle ABERTO, já que não há uma reserva
para exercê-lo. Qualquer juiz ou tribunal pode exercer esse controle, dentro da sua
competência. O que caracteriza o controle difuso é essa competência aberta a todos os
órgãos do judiciário. O sistema de controle difuso também é conhecido como SISTEMA
NORTE-AMERICANO.
Constituição Estadual TJ
ATENÇÃO!!!
seu governo para o cargo de juiz federal, entre elas, Marbury. Contudo, ao assumir o
governo, Jefferson nomeou Madison como seu Secretário de Estado e, por entender
que a nomeação de Marbury era incompleta, por não lhe ter sido entregue, até aquele
momento, a sua comissão, determinou que Madison não mais efetivasse a nomeação
de Marbury.
Marbury, então, impetrou writ of mandamus em face de Madison, a fim de buscar a sua
nomeação. A Suprema Corte entendeu que: qualquer lei incompatível com a
Constituição é nula e que os tribunais e os demais departamentos são vinculados a ela.
Decidiu que “havendo conflito entre a aplicação de uma lei em um caso concreto e a
Constituição, deve prevalecer a Constituição por ser hierarquicamente superior.”
Na verdade, Marshall decidiu que a Suprema Corte não tinha competência para julgar
o caso (writ de Marbury, haja vista não estar entre as autoridades que atrairia a
competência originária da Suprema Corte para o mandamus).
Efeitos da Decisão (no que diz respeito às decisões do controle difuso feito pelo STF):
a) Efeitos da decisão com relação ao aspecto subjetivo: Quem é atingido pela decisão
do STF quando ele declara uma lei inconstitucional pelo controle difuso? A regra é o
efeito inter partes, não atingindo terceiros, mas somente aqueles que fazem parte do
processo.
Ex. RCL 10.403/RJ – “(...) Adite-se ainda, que os efeitos da referida decisão
proferida pelo E. Superior tribunal federal é 'inter partes', não possuindo eficácia
erga omnes. (...)”.
Nota– com efeito, o STF entende pela não aplicação da cláusula de reserva de plenário
(full bench) na hipótese de interpretação conforme à Constituição, in verbis: “STF - RE
n. 460.971, rel. Min. Sepúlveda Pertence (DJ 30.03.2007): Controle incidente de
neoconstitucionalidade: reserva de plenário (CF, art. 97). Interpretação que restringe a
aplicação de uma norma a alguns casos, mantendo-a com relação a outros, não se
identifica com a declaração de inconstitucionalidade da norma que é a que se refere o
art. 97 da Constituição."
Marcelo Novelino leciona que a cláusula de reserva de plenário, deve ser observada
não apenas no controle difuso, mas também no concentrado, sendo que neste a Lei
n. 9.868/99 exigiu o quorum de maioria absoluta também para a hipótese de declaração
de constitucionalidade. A observância da cláusula NÃO É NECESSÁRIA na hipótese
de reconhecimento da constitucionalidade (princípio da presunção de
constitucionalidade das leis), inclusive em se tratando de HIPOTESES EXTRAÍDAS DA
JURISPRUDENCIA E DOUTRINA: interpretação conforme; às decisões de juízes
singulares; decisões das turmas recursais dos juizados especiais; não-recepção de
normas anteriores à Constituição (lembrando que a recepção exige: compatibilidade
formal e material com a constituição antiga, compatibilidade apenas material com a
constituição nova); nos casos de indeferimento de cautelar; na declaração de
inconstitucionalidade pelas turmas do STF quando julgam RE. Ainda: “Não caracteriza
ofensa aos termos da Súmula Vinculante 10, mas tão somente ao art. 10 da Lei
9.868/1999, o deferimento de medida liminar, em sede de controle concentrado de
constitucionalidade, por maioria simples dos membros de Órgão Especial de Tribunal
de Justiça” (Rcl 10.114-AgR, rel. min. Teori Zavascki, julgamento em 18-12-2013,
Plenário, DJEde 19-2-2014.)
Interpretação conforme
"Controle incidente de inconstitucionalidade: reserva de plenário (CF, art. 97).
‘Interpretação que restringe a aplicação de uma norma a alguns casos, mantendo-a com
relação a outros, não se identifica com a declaração de inconstitucionalidade da norma
que é a que se refere o art. 97 da Constituição.’ (cf. RE 184.093, Moreira Alves, DJ 5-9-
1997)." (RE 460.971, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, julgamento em 13-2-2007, Primeira
Turma, DJ de 30-3-2007.) bem como Rcl 12107, Plenário.
Obs: por não se admitir a declaração de nulidade parcial sem redução de texto no
controle difuso, o STF acaba por afastar a necessidade com relação à interpretação
Efeitos da decisão
Em regra, a decisão, no controle difuso, é inter partes e ex tunc (efeitos retroativos desde
a edição da lei), uma vez que a lei em discussão se torna nula somente para as partes
em litígio, em razão de sua não aplicação no caso concreto. Contudo, em determinados
casos, o STF já tem entendido que os efeitos da declaração de inconstitucionalidade,
por questões de razoabilidade e atendido o princípio da proporcionalidade, podem ser
mitigados, sendo ex nunc ou pro futuro (art. 27 da lei . 9868/99)
Porém, no contexto da CF/88 (que previu no controle abstrato múltiplas ações com
eficácia erga omnes - que antes não havia, além da amplitude conferida ao controle
abstrato de normas e da possibilidade de que se suspenda, liminarmente, a eficácia de
leis ou atos normativos com eficácia geral), faz-se necessária uma releitura do papel do
Senado, à luz da força normativa da CF e do papel do STF, para corrigir essa
incoerência. Para Gilmar Mendes, a justificativa deste instituto, que se inspirava
diretamente numa concepção de separação de Poderes – hoje necessária e
inevitalmente ultrapassada. Se o STF pode, em uma ADI, suspender, liminarmente, a
eficácia de uma lei, até mesmo de uma emenda constitucional, por que haveria a
declaração de inconstitucionalidade, proferida no controle incidental, valer tão-somente
para as partes?
O papel do Senado seria o de conferir publicidade, de forma obrigatória, à decisão do
STF. Perderia a discricionariedade, e a decisão do STF já teria eficácia erga omnes no
controle incidental.
Entende Gilmar Mendes, portanto, que teria ocorrido a chamada mutação constitucional
sobre o art. 52 X da CF (alteração da norma sem modificação do texto da constituição).
Seria o que se convencionou de abstrativização do controle difuso de
constitucionalidade, com base na força normativa da constituição e na teoria da
transcendência dos motivos determinantes que imporiam o necessário respeito dos
órgãos, entes e cidadãos subordinados ao dispositivo e às razões de decidir (quando
essenciais no decisum) do posicionamento do STF, independente de se tratar de
controle difuso ou concentrado. Essa tese ainda não é pacífica no próprio STF.
Caso concreto: inconstitucionalidade da lei de crimes hediondos (progressão de
regime). Um juiz declarou que não seguiria a decisão do STF, por não estar a ela
vinculado, por haver efeitos inter partes. Veio uma reclamação. Mas esta só seria
cabível se houvesse eficácia erga omnes. GM e Eros Grau já manifestaram o
entendimento de que há eficácia erga omnes (Joaquim Barbosa e Pertence foram
contra). OBJETO DA Rcl 4335 AINDA EM APRECIAÇÃO NO STF.
INFORMATIVO – A referida Rcl 4335/AC foi julgada em definitivo no ano de 2014, in
verbis:
“Reclamação. 2. Progressão de regime. Crimes hediondos. 3.
Decisão reclamada aplicou o art. 2º, § 2º, da Lei nº 8.072/90,
declarado inconstitucional pelo Plenário do STF no HC
82.959/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, DJ 1.9.2006. 4.
Superveniência da Súmula Vinculante n. 26. 5. Efeito ultra partes
da declaração de inconstitucionalidade em controle difuso.
Caráter expansivo da decisão. 6. Reclamação julgada
procedente. (Rcl 4335/AC, Tribunal Pleno, Rel. Min. Gilmar
Mendes, julgado em 20/03/2014; publicado em 22/10/2014).
Para Gilmar Mendes, ao fazer a modulação de efeitos em casos de controle incidental,
o STF já partiu da premissa de que sua decisão tem efeito vinculante e eficácia erga
omnes. Afinal, a modulação de efeitos deve ter a preocupação com as relações não
abrangidas pelo processo.
Nas duas hipóteses há previsão legal para a participação do amici curiae (plural de
amicus curiae). Esse instrumento perde o caráter subjetivo e passa a ter, de forma
decisiva, a função de defesa da ordem constitucional objetiva.
Exemplificando, o STF decidiu na ADI 4071 que é flagrantemente improcedente o
pedido de ADI, merecendo ter sua inicial rejeitada, quando impugnar norma que já tenha
sua constitucionalidade reconhecida pelo plenário do STF ainda que no âmbito de
recurso extraordinário. EM SUMA, NÃO SE PODE IMPUGNAR POR ADI O QUE JÁ
FOI DECLARADO INCONSTITUCIONAL EM RE.
“EMENTA Agravo regimental. Ação direta de
inconstitucionalidade manifestamente improcedente.
Indeferimento da petição inicial pelo Relator. Art. 4º da Lei nº
9.868/99. 1. É manifestamente improcedente a ação direta de
inconstitucionalidade que verse sobre norma (art. 56 da Lei nº
9.430/96) cuja constitucionalidade foi expressamente declarada
pelo Plenário do Supremo Tribunal Federal, mesmo que em
recurso extraordinário. 2. (...) .“ (ADI 4071 AgR/DF, Tribunal
Pleno, Rel. Min. Menezes Direito, j. 22/04/2009, public.
16/10/2009)
Aqui, serão estudadas a ADI, ADC (reguladas pela Lei 9.868/99) e a ADPF (Lei
9.882/99).
Apesar de ADI e ADC terem a mesma natureza, existe uma pequena diferença
entre essas ações, qual seja a ADC possui um pressuposto de admissibilidade que a
ADI não tem. Esse pressuposto é a existência de controvérsia judicial relevante.
Caráter subsidiário da ADPF - Só é cabível ADPF quando não existir outro meio igualmente
eficaz para sanar a lesividade.
Quando se fala em “outro meio igualmente eficaz”, é importante ter em mente que esse meio tem
que ter a mesma efetividade, amplitude e imediaticidade que a ADPF. Geralmente, o meio será uma ADI
ou uma ADC, pois dificilmente um meio será tão amplo, efetivo e imediato quanto a ADPF e não seja uma
ADI ou uma ADC.
Ex. Cabe HC – a ADPF também cabe, pois o HC não possui a mesma efetividade, amplitude e
imediaticidade da ADPF.
Mas isso não significa que jamais haverá um meio alheio ao controle abstrato que possua a
mesma amplitude, eficácia e imediaticidade.
Ex. Em determinado caso, pediu-se que uma Súmula Vinculante fosse declarada incompatível com a CF.
A lei 11.417/06 trata da SV. A SV foi objeto de uma ADPF no STF e o STF entendeu que não cabia ADPF
tendoE-mail:
comocadernos2016@outlook.com CI:específico
objeto SV. Isto porque, na Lei 11.417/06 existe outro meio 3259 que possui a mesma
eficácia, efetividade e amplitude da ADPF, que é o pedido de revisão ou cancelamento da Súmula. Então,
nesse caso, a ADPF não é cabível, pois ela é subsidiária.
120
Art. 4º, Lei 9.882/99 - A petição inicial será indeferida liminarmente, pelo relator, quando
não for o caso de ADPF, faltar algum dos requisitos prescritos nesta Lei ou for inepta.
§1º Não será admitida ADPF quando houver qualquer outro meio eficaz de sanar a
lesividade.
Conceito
Tem por objeto principal a própria declaração de inconstitucionalidade de lei ou ato
normativo em tese.
Objeto
a) Leis (art. 59 da CF): emendas constitucionais (por emanarem do poder constituinte
derivado reformador), leis complementares, leis ordinárias, leis delegadas, medidas
provisórias (por terem força de lei, mas desde que em plena vigência, ou seja, não
convertidas ainda em lei ou não tendo perdido a sua eficácia por decurso de prazo),
decretos legislativos e resoluções (esses dois últimos somente se estiverem revestidos
de generalidade e abstração), leis orçamentárias;
b) Atos normativos: qualquer ato revestido de indiscutível caráter normativo:
b.1)resoluções administrativas dos Tribunais;
b.2)os regimentos internos dos Tribunais. Ayres Britto destacou uma peculiaridade:
estes regimentos internos possuem natureza dúbia, porquanto podem ter natureza de
atos primários, quando dispõem sobre competência e funcionamento dos órgãos
jurisdicionais e administrativos de cada qual deles (tribunais); e de atos secundários,
quando dispuserem sobre o dever de observância das normas de processo e das
garantias processuais das partes.
b.3)deliberações administrativas dos órgãos judiciários;
b.4)as deliberações dos Tribunais Regionais do Trabalho (salvo as convenções
coletivas de trabalho);
b.5)medidas provisórias: os requisitos da relevância e urgência somente podem ser
apreciados em casos excepcionais (ADI 2.213 – etc). As medidas provisórias para
abertura de créditos orçamentários extraordinários podem ser objeto de controle
concentrado quanto aos requisitos da imprevisibilidade e urgência (art. 62, c/c art. 167,
§3º), na forma do decidido pelo STF na ADI 4.048-MC.
b.6)resoluções do Conselho Internacional de Preços (ADin 8-0/DF);
b.7)resoluções do Senado Federal (art. 52, VII, VIII e IX e art. 155, § 2º, V, alíneas a e
b, todos da Constituição Federal);
b.8)decreto - regulamento autônomo - (art. 84, VI, CF);
b.9)resolução do Conselho Nacional de Justiça;
b.10)resolução do TSE;
b.11)Leis orçamentárias: excepcionalmente, se se demonstrar que referida lei tem certo
grau de abstração e generalidade, o STF tem admitido seja ela objeto de controle
abstrato de constitucionalidade (ADI 2.925/DF, em 2003).
Ato normativo primário = retira sua validade da própria CF (daí podendo inovar no
ordenamento e, por conseguinte, ser objeto de controle de constitucionalidade).
c) Tratados internacionais (qualquer deles):
c.1) Tratados internacionais sobre direitos humanos e aprovados, em cada Casa do
Congresso Nacional, em 2 turnos, por 3/5 dos votos de seus respectivos membros (art.
5, § 3º, da CF) equivalem a emendas constitucionais e, portanto, podem ser objeto de
controle de constitucionalidade.
c.2) Tratados internacionais sobre direitos humanos aprovados pela regra anterior à EC
45/2004 têm natureza supralegal (porém infraconstitucional) e, portanto, podem ser
objeto de controle de constitucionalidade (RE 466.343, 03 de dezembro de 2008).
c.3) Tratados internacionais de natureza diversa equivalem a meras leis ordinárias e
podem, portanto, ser objeto de controle de constitucionalidade.
d) Políticas públicas: desde que configurada hipótese de evidente e arbitrária
abusividade governamental, em violação a concretização dos direitos mínimos
existenciais do ser humano (direitos sociais, econômicos e culturais), devendo ainda se
verificar, no caso concreto, a razoabilidade da pretensão, bem como a disponibilidade
financeira do Estado para a implementação da referida política pública. O controle
concentrado de constitucionalidade de políticas públicas, em verdade, analisa os
instrumentos normativos nas quais estão delineadas, de sorte que devem se enquadrar
em uma das hipóteses presentes nas letras e itens anteriores.
Não podem ser objeto de controle concentrado:
a) Súmulas: por não possuírem grau de normatividade qualificada pela generalidade e
abstração, mesmo no caso de súmula vinculante. No caso de SV, há procedimento de
revisão, na forma da Lei nº 11.417/2006.
Obs: também não cabe ADPF. "A arguição de descumprimento de preceito fundamental
não é a via adequada para se obter a interpretação, a revisão ou o cancelamento de
súmula vinculante." (ADPF 147-AgR, rel. min. Cármen Lúcia, julgamento em 24-3-
2011, Plenário, DJE de 8-4-2011.) Vide: ADPF 80-AgR, rel. min. Eros Grau, julgamento
em 12-6-2006, Plenário
b) Regulamentos ou decretos regulamentares expedidos pelo Executivo e demais atos
normativos secundários: por não estarem revestidos de autonomia jurídica. Trata-se, no
E-mail: cadernos2016@outlook.com CI: 3259
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g) Respostas emitidas pelo Tribunal Superior Eleitoral às consultas que lhe forem
endereçadas (JÁ VIMOS QUE AS RESOLUÇÕES DO TSE SÃO PASSIVEIS DE ADI):
por se tratar de ato de caráter meramente administrativo, não possuindo eficácia
vinculativa aos demais órgãos do Poder Judiciário.
h) A divergência entre a ementa da lei e o seu conteúdo não caracteriza situação de
controle de constitucionalidade, pois não é suficiente para configurar afronta a ela.
Obs.: A posterior ab-rogação ou derrogação, com sua substancial alteração, da
Constituição, por afetar o próprio paradigma (parâmetro) de confronto invocado no
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Apelo ao legislador
No direito alemão, entende-se que a decisão é de improcedência (lei constitucional),
porém há um obiter dictum (fundamento não vinculante) que faz um apelo ao legislador:
a lei é ainda constitucional, tomem cuidado porque poderemos mudar de posição no
futuro. Foi muito usado na Alemanha em casos de omissão parcial. Note-se que o apelo
ao legislador é uma técnica processual. Pode decorrer, por exemplo, da mutação
constitucional quanto à interpretação de um parâmetro de controle.
ATENÇÃO! A lei ainda é constitucional, mas que por uma realidade fática indesejada
está se tornando inconstitucional, então é feito um apelo ao legislador para que ele
melhore a lei sob pena de ser declarada inconstitucional. Há uma correlação com a
inconstitucionalidade progressiva, às avessas.
Município putativo
Eros Grau entendeu que, ainda que a Lei nº 7.619/2000, do Estado da Bahia, que criou
o Município de Luís Eduardo Magalhães, tenha violado frontalmente o artigo 18, § 4º,
da CF, não seria razoável declará-la inconstitucional. Isso porque o citado Município foi
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efetivamente criado, por uma decisão política de caráter institucional, assumindo, por
conseguinte, existência de fato, como ente federativo dotado de autonomia municipal,
há mais de 6 anos, e daí resultando diversos efeitos jurídicos, os quais não podem ser
ignorados.
Consagrou-se, assim, os seguintes princípios: o da reserva do impossível, o da
continuidade do Estado, o federativo, o da segurança jurídica, o da confiança (Karl
Larenz), o da força normativa dos fatos (Georg Jellinek), bem como o da situação
excepcional consolidada (ante a inércia do Poder Legislativo em não editar a LC).
Posteriormente, houve voto-vista de Gilmar Mendes: a solução do problema não poderia
advir da simples decisão da improcedência do pedido formulado, haja vista o princípio
da nulidade das leis inconstitucionais, mas que seria possível primar pela otimização de
ambos os princípios por meio de técnica de ponderação. Gilmar Mendes fez Eros Grau
ajustar seu voto, estabelecendo a inconstitucionalidade da lei, mas com efeito pro-futuro,
determinando prazo de 24 meses para a elaboração de lei estadual que fixasse os
parâmetros de formação do município, a partir da lei complementar federal prevista no
art. 18, §4º, para a qual declararam a inconstitucionalidade por omissão, determinando
ao Legislador que a elaborasse em 18 meses. Utilização do art. 27 para evitar o caos
jurídico.
Adotou-se a técnica da declaração de inconstitucionalidade sem pronúncia de nulidade.
Foi reconhecida, então, a omissão com apelo ao legislador. Não se pode negar, ainda,
que nessa hipótese excepcional foi aceito fenômeno da constitucionalidade
superveniente, que permite que uma lei que nasceu viciada venha a se tornar
constitucional posteriormente, desde que realizados determinados ajustes ou
modificado o parâmetro (obs: em regra não é aceito).
É importante observar que a EC 57/2008 buscou convalidar todos os atos de criação de
município que possuíam vício formal, numa tentativa de aplicação da
constitucionalidade superveniente e afronta à decisão do STF.
“Art. 96. Ficam convalidados os atos de criação, fusão,
incorporação e desmembramento de Municípios, cuja lei tenha
sido publicada até 31 de dezembro de 2006, atendidos os
requisitos estabelecidos na legislação do respectivo Estado à
época de sua criação. (Incluído pela Emenda Constitucional nº
57, de 2008).”
O STF considerou prejudicada a ação que impugnava a criação do Municópio de Pinto
Bandeira/RS em face da edição superveniente da EC 57 (ADI 2381).
Não se pode negar que o CN modificou a decisão do STF que conferia prazo para a
correção do vício formal no processo de criação dos municípios, passando a
simplesmente afirmar que essas criações, ainda que viciadas, estariam convalidadas.
Ocorre que é cediço que inconstitucionalidade é vício insanável.
Competência
Lei ou ato normativo federal ou estadual em face da CF: competência do STF;
Lei ou ato normativo estadual ou municipal em face da CE: competência do TJ local;
Observe-se que, na hipótese de tramitação simultânea de ações, uma buscando
declarar a inconstitucionalidade de lei estadual perante o STF (confronto em face da
CF) e outra perante o TJ local (confronto em face da CE), tratando-se de norma repetida
da CF na CE, dever-se-á suspender o curso da ação proposta no TJ local até o
julgamento final da ação intentada perante o STF.
Lei ou ato normativo municipal em face da CF: não há controle concentrado, só difuso.
Há, porém, a possibilidade do ajuizamento de ADPF.
Lembre-se, contudo, de que, em caso de haver repetição de norma da CF pela CE,
apesar de incabível o controle de constitucionalidade perante o STF, será perfeitamente
possível perante o TJ local, confrontando-se a lei municipal em face da CE que repetiu
norma da CF.
Lei ou ato normativo distrital de natureza estadual em face da CF: competência do STF.
Lei ou ato normativo distrital de natureza municipal em face da CF: não há controle
concentrado, só difuso. Há, porém, a possibilidade do ajuizamento da ADPF.
Lei ou ato normativo distrital em face da Lei Orgânica Distrital: competência do TJDFT
local. Previsão na lei nº 11.697/2011.
IMPORTANTE! Lei ou ato normativo municipal em face da Lei Orgânica do Município:
Não há controle de constitucionalidade, tratando-se, pois, de simples caso de controle
de legalidade.
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Legitimidade
Consoante o art. 103, da CF/88, são legitimados para a propositura de ADI perante o
STF, para se questionar a constitucionalidade de lei ou ato normativo federal ou estadual
em face da própria CF, os seguintes:
a)Presidente da República (Legitimação Ativa Universal e Capacidade Postulatória);
b)Mesa do Senado Federal (Legitimação Ativa Universal e Capacidade Postulatória);
c)Mesa da Câmara dos Deputados (Legitimação Ativa Universal e Capacidade
Postulatória);
Observe-se que a Mesa do Congresso Nacional não tem legitimidade para a propositura
de ADI.
d)Mesa das Assembleias Legislativas ou da Câmara Legislativa do Distrito Federal
(Legitimação Especial, na qual se deve demonstrar pertinência temática, ou seja, o seu
interesse na propositura da ação relacionado a sua finalidade institucional, e
Capacidade Postulatória);
e)Governadores de Estado ou do Distrito Federal (Legitimação Especial);
ADI ajuizada por governador e legitimidade: Plenário, por maioria, negou provimento a
agravo regimental interposto de decisão proferida pelo Min. Dias Toffoli, relator, em sede
de ação direta de inconstitucionalidade ajuizada pelo Governador do Estado de Alagoas.
Nesta decisão, o Relator não conhecera de anterior agravo interno, haja vista que a
peça não teria sido subscrita pelo procurador-geral, mas por um dos procuradores do
estado-membro. Anotou-se que, nessa hipótese, faleceria legitimidade recursal ao ente
federado. ADI 1663 AgR/AL, rel. Min. Dias Toffoli, 24.4.2013 INFORMATIVO 703 – EM
SUMA: ESTADO-MEMBRO NÃO DISPÕE DE LEGITIMIDADE PARA INTERPOR
RECURSO EM CONTROLE ABSTRATO, AINDA QUE A ADI TENHA SIDO AJUIZADA
PELO GOVERNADOR (NA VERDADE, NENHUMA PESSOA, FORA AS
LEGITIMADAS, TEM TAL PODER. MESMA INTELIGÊNCIA QUE NEGA
POSSIBILIDADE DE RECURSO AO AMICUS CURIAE).
f)Procurador-Geral da República (Legitimação Ativa Universal e Capacidade
Postulatória);
g)Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (Legitimação Ativa Universal e
Capacidade Postulatória);
h)Partido Político com representação no Congresso Nacional (Legitimação Ativa
Universal – necessita de advogado)
Segundo o STF, a representação do partido político é preenchida com a existência de
apenas um parlamentar, em qualquer das Casas Legislativas.
Ademais, a representação do partido político na ação dar-se-á pelo Diretório Nacional
ou pela Executiva do Partido, de acordo com a sua constituição, não se admitindo a
legitimidade ativa ao Diretório Regional ou Executiva Regional, na medida em que não
podem agir nacionalmente.
Por sua vez, o novo entendimento do STF é no sentido de que a perda de representação
política do partido no Congresso Nacional posterior ao ajuizamento da ação, esse sim
momento em que o partido político deva estar devidamente representado, não mais
extingue a sua legitimidade ativa, não sendo, destarte, óbice ao prosseguimento
da ação.
Por fim, lembre-se ainda de que o STF tem entendido ser imprescindível a presença de
advogado para que esses legitimados possam propor ação de controle concentrado de
constitucionalidade de lei ou ato normativo federal ou estadual perante o STF. (ADI 131
/ RJ - RIO DE JANEIRO 1989)
DICA! CEP (CONFEDERAÇÃO, ENTIDADE DE CLASSE E PARTIDOS – necessitam
de advogado).
i)Confederação Sindical ou Entidade de Classe de âmbito nacional (Legitimação
Especial, na qual se deve demonstrar pertinência temática, ou seja, o seu interesse na
propositura da ação relacionado a sua finalidade institucional – necessita de advogado)
IMPORTANTE (2015): AG. REG. NA ADI N. 4.600-DF, RELATOR: MIN. LUIZ FUX(…)
As associações que congregam mera fração ou parcela de categoria profissional por
conta de cujo interesse vem a juízo não possuem legitimidade ativa para provocar a
fiscalização abstrata de constitucionalidade.
Procedimento
Encontra-se previsão nos §§ 1° e 3° do art. 103 da CF/88, nos arts. 169 a 178 do RISTF,
bem como na Lei n° 9.868/99.
Quando imprescindível a presença de advogado, a procuração deverá ser outorgada
com poderes especiais, indicando, ainda, objetivamente, a lei ou ato normativo que
estejam sendo levados à apreciação do Judiciário e respectivos preceitos caso não se
trate de impugnação de toda a lei.
Se a petição inicial for inepta, por não indicar o dispositivo da lei ou do ato normativo
impugnado, ou não for fundamentada ou for manifestamente improcedente, poderá o
relator indeferi-la liminarmente, cabendo, no entanto, contra tal decisão recurso de
agravo.
Não sendo o caso de indeferimento liminar, regra geral, o relator pede informações aos
órgãos ou às entidades das quais se emanou a lei ou o ato normativo impugnado, as
quais deverão prestá-las no prazo de 30 dias, a contar do recebimento do pedido. Pode
o relator, ainda, sendo relevante, solicitar a manifestação de outros órgãos ou entidades.
Após as informações, são ouvidos, sucessivamente, o AGU e o PGR, que devem se
manifestar, cada qual, no prazo de 15 dias. Sempre se entendeu, ademais, que o AGU
deveria, necessariamente, defender o ato impugnado, enquanto o PGR poderia dar
parecer tanto favorável quanto desfavorável. Contudo, o STF vem afirmando que o AGU
não está obrigado a defender tese jurídica sobre a qual o STF já se pronunciou pela sua
inconstitucionalidade.
Sobre o papel do AGU: a CF diz que será citado para defender o ato impugnado.
Descobriu-se, posteriormente, que muitas vezes há conflito (Presidente ajuíza a ADI e
o AGU vai defender?). Para Gilmar Mendes, o AGU não deve ser entendido como parte,
e sim como uma instituição que é chamada para se manifestar, podendo dizer o que
entende. Hoje, isso se consolidou. Há direito de manifestação, sem obrigatoriedade de
defesa do ato impugnado, notadamente quando há um interesse da União na
inconstitucionalidade da lei. É basicamente um parecer concorrente ao do PGR. O
leading case: exigir da AGU defesa em favor do ato impugnado em casos como o
presente, em que o interesse da União coincide com o interesse do autor, implicaria
retirar-lhe sua função primordial que é a defender os interesses da União (CF, art. 131).
Além disso, a despeito de reconhecer que nos outros casos a AGU devesse exercer
esse papel de contraditora no processo objetivo, constatou-se um problema de ordem
prática, qual seja, a falta de competência da Corte para impor-lhe qualquer sanção
Por fim, é vedada a desistência da ação já proposta (art. 5°, caput, da Lei n° 9.868/99),
bem como é irrecorrível (salvo a interposição de embargos declaratórios) e irrescindível
a decisão proferida (art. 26 da Lei n° 9.868/99).
IMPORTANTE! Não se aplicam prazos diferenciados para fazenda pública ou Ministério
Público (prazos singulares).
Causa de pedir aberta: em vista da natureza objetiva da ação de controle concentrado
de constitucionalidade, não fica o STF condicionado à causa petendi apresentada pelo
postulante, mas apenas ao seu pedido, motivo pelo qual ele poderá declarar a
inconstitucionalidade da norma impugnada por teses jurídicas diversas.
Medida cautelar na ADI: será concedida, salvo no período de recesso, por decisão da
maioria absoluta dos membros do STF, observado o quorum mínimo para a sua
instalação, após a audiência, exceto nos casos de excepcional urgência, dos órgãos ou
autoridades dos quais emanou a lei ou ato normativo impugnado, que se pronunciarão
no prazo de 5 dias. Se o relator ainda julgar indispensável, serão ouvidos o AGU e o
PGR, no prazo de 3 dias cada. Art. 10, caput e §§, da Lei nº 9.868/99. E ainda é facultada
a sustentação oral aos representantes judiciais da parte requerente e dos órgãos ou
autoridades responsáveis pela expedição do ato, na forma estabelecida pelo RISTF.
Procedimento “sumário” (art. 12) em face da relevância da matéria e de seu especial
significado para a ordem social e a segurança jurídica, poderá o relator, após a
prestação das informações, no prazo de 10 dias, e a manifestação do AGU e do PGR,
sucessivamente, no prazo de 5 dias, submeter o processo diretamente ao Tribunal, que
terá a faculdade de julgar definitivamente a ação. Art. 12 da Lei nº 9.868/99.
Medida cautelar: dotada de eficácia contra todos (erga omnes), será concedida com
efeito ex nunc, salvo se o Tribunal entender que deva conceder-lhe eficácia retroativa
(ex tunc). O caráter vinculante da decisão cautelar será aferida pelo STF na análise do
caso. Gilmar Mednes defende a existência do efeito vinculante na Cautelar em ADI, eis
que opera no plano da vigência da lei atacada. Ademais, a concessão da medida
cautelar torna aplicável a legislação anterior acaso existente (EFEITO
REPRISTINATORIO TÁCITO NA CAUTELAR), salvo expressa manifestação em
sentido contrário. Art. 11, §§ 1º e 2º, da Lei nº 9.868/99 (efeito repristinatório).
Obs.: O INDEFERIMENTO DA CAUTELAR, EMBORA PRESERVE A LEI, NÃO
AMPARA RECLAMAÇAO.
AGRAVO REGIMENTAL NA RECLAMAÇÃO. AÇÃO CIVIL
PÚBLICA POR ATO DE IMPROBIDADE. EX-PREFEITA.
ALEGAÇÃO DE AFRONTA À DECISÃO QUE INDEFERIU
MEDIDA CAUTELAR NA AÇÃO DIRETA DE
INCONSTITUCIONALIDADE 2.797. AGRAVO REGIMENTAL
AO QUAL SE NEGA PROVIMENTO. 1. A decisão
de indeferimento de medida cautelar em ação direta de
inconstitucionalidade não se presta como paradigma para o
ajuizamento de reclamação. Rcl 3267, julgada em 21/10/09.
1. Noção e finalidades
O amicus curiae (art. 138 do CPC/2015) é terceiro admitido no processo para
fornecer subsídios instrutórios (probatórios ou jurídicos) à solução de causa revestida
de especial relevância ou complexidade, sem, no entanto, passar a titularizar
posições subjetivas relativas às partes – nem mesmo limitada e subsidiariamente,
como o assistente simples. Auxilia o órgão jurisdicional no sentido de que lhe traz
mais elementos para decidir. Daí o nome de “amigo da corte”.
O amicus curiae não assume a condição de parte. E sua intervenção não se
fundamenta no interesse jurídico na vitória de uma das partes, diferenciando-se, sob
esse aspecto inclusive da assistência. Por isso, ele não assume poderes processuais
sequer para auxiliar qualquer das partes. Ainda que os seus poderes sejam definidos
em cada caso concreto pelo juiz (art. 138, § 2º, do CPC/2015), na essência serão
limitados à prestação de subsídios para a decisão
A participação do amicus curiae, com o fornecimento de subsídios ao julgador,
contribui para o incremento de qualidade das decisões judiciais. Amplia-se a
possibilidade de obtenção de decisões mais justas – e, portanto, mais consentâneas
com a garantia da plenitude da tutela jurisdicional (art. 5º, XXXV, da CF/1988). Por
outro lado, sobretudo nos processos de cunho precipuamente objetivo (ações diretas
de controle de constitucionalidade; mecanismos de resolução de questões repetitivas
etc.), a admissão do amicus é um dos modos de ampliação e qualificação do
contraditório (art. 5º, LV, da CF/1988).
O ingresso do amicus curiae no processo pode derivar de pedido de uma das partes
ou do próprio terceiro. Pode também ser requisitado de ofício pelo juiz. Portanto, essa
é uma modalidade de intervenção que tanto pode ser espontânea (voluntária) quanto
provocada (coata).
2. A regra geral e a previsão em normas esparsas
Diversas regras contidas em leis esparsas preveem hipóteses de intervenção que se
enquadram na moldura geral do amicus curiae: art. 32 da Lei 4.726/1965 (Junta
Comercial);Lei 6.385/1976 (Comissão de Valores Mobiliários – CVM); art. 7º, § 2º,
da Lei 9.868/1999(ADI); art. 6º, § 1º, da Lei 9.882/1999 (ADPF); art. 14, § 7º, da Lei
10.259/2001 (Juizados Especiais Federais); art. 3º, § 2º, da Lei 11.417/2006 (Súmula
Vinculante); art. 118 da Lei 12.529/2011 (CADE); art. 896-C, § 8º, da CLT, acrescido
pela Lei 13.015/2014 (recursos de revista repetitivos).
Não há identidade absoluta entre os regimes jurídicos extraíveis das disposições ora
citadas. Mas de todas extrai-se um núcleo comum: permitir a colaboração processual
de um terceiro, que nem por isso passa a titularizar posições jurídico-processuais de
parte. O art. 138 do CPC/2015 aplica-se a todas elas subsidiariamente.
Podem ser amici curiae tanto pessoas naturais quanto jurídicas – e, nesse caso, tanto
entes públicos como privados; entidades com ou sem fins lucrativos. Mesmos órgãos
internos a outros entes públicos podem em tese intervir nessa condição.
Mas a proibição recursal não deve ser aplicada aos embargos de declaração, que se
destinam meramente a esclarecer ou complementar a decisão.
123, do CPC/2015), por não assumir nem mesmo subsidiariamente a gama de direitos
atribuída às partes.
9. Ausência de modificação de competência
A intervenção do amicus curiae não importa alteração de competência (art. 138, § 1º,
do CPC/2015). Assim, quando uma pessoa de direito público, órgão ou empresa
pública federal ingressa como amicus em processo em trâmite na Justiça estadual, a
competência não se deslocará para a Justiça Federal. Dado o papel processual
restrito do amicus, não se aplicam à hipótese o art. 109, I, da CF/1988 e o art. 45 do
CPC/2015.
Efeitos da decisão
A ação em comento possui caráter dúplice ou ambivalente, nos termos do art. 24 da Lei
nº 9.868/99, segundo o qual: “Proclamada a constitucionalidade, julgar-se-á
improcedente a ação direta ou procedente eventual ação declaratória; e, proclamada a
inconstitucionalidade, julgar-se-á procedente a ação direta ou improcedente eventual
ação declaratória.” Regra geral, a decisão proferida na ADI possui os seguintes efeitos:
a)erga omnes;
b)ex tunc;
c)efeito vinculante em relação aos demais órgãos do Judiciário e à Administração de
todos os entes políticos. Obs.: não vincula o Poder Legislativo quanto ao desempenho
de sua atividade legiferante, sob pena de fossilização constitucional;
Contudo, excepcionalmente, por motivos de segurança jurídica ou de excepcional
interesse social, poderá o STF, por manifestação qualificada de 2/3 de seus membros
(8 Ministros), declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo sem a pronúncia
de sua nulidade, restringindo os efeitos da referida declaração ou decidindo que ela só
tenha eficácia a partir de seu trânsito em julgado ou de outro momento que venha a ser
fixado, ou seja, atribuindo-lhe efeito ex nunc, nos termos do art. 27 da Lei nº 9.868/99.
Ademais, ressalte-se que, nesse último caso, os referidos efeitos só se iniciarão a partir
do trânsito em julgado da decisão (e não a partir da publicação da ata de julgamento no
DJU). QUORUM MODULAÇÃO DE EFEITOS = 2/3. EFEITOS DA DECISÃO = SÓ A
PARTIR DO TRANSITO EM JULGADO.
Reclamação
Tem por finalidade garantir a autoridade da decisão proferida, em sede de ADI, pelo
STF. Serve também para reafirmar a competência da Corte e observância de sumulas
vinculantes.
Quando o ato que se alega ter desrespeitado a decisão do STF for judicial, não poderá
ele já ter transitado em julgado, pois seria usada como sucedâneo de ação rescisória.
Após o julgamento da Reclamação nº 1.880, em 07.11.2002, ampliaram-se os
legitimados para a propositura de reclamação, não mais se restringindo ao rol constante
no art. 103 da CF e no art. 2º da Lei nº 9.868/99, para considerar legitimados todos
aqueles que forem atingidos por decisões dos órgãos do Poder Judiciário ou por atos
da Administração Pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual, municipal e
distrital contrários ao entendimento firmado pelo STF, em julgamento de mérito proferido
em ADI, em decorrência da eficácia vinculante atribuída as suas decisões (Art. 28, pú
da Lei nº 9.868/99 e art. 102, § 2º, da CF, com redação dada pela EC 45/2004).
Nessa linha de ampliação do instituto da reclamação, foi introduzido, pela EC 45/2004,
o § 3º do art. 103-A, a fim de se exigir também a observância das súmulas vinculantes
editadas pelo STF.
Nesse sentido:
No caso dos autos, trata-se de ação ajuizada perante Juizado
Especial da Fazenda Pública, a qual se submete ao rito previsto
na Lei 12.153/2009. A lei referida estabelece sistema próprio
para solucionar divergência sobre questões de direito material.
(...) Nesse contexto, havendo procedimento específico e
meio próprio de impugnação, não é cabível o ajuizamento
da reclamação prevista na Resolução 12/2009 do STJ. (...)
Efeitos da decisão
Regra geral, a decisão proferida da ADC terá efeitos:
a) erga omnes (contra todos);
b) ex tunc;
c) vinculante em relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à Administração
Pública, direta ou indireta, federal, estadual, municipal e distrital. Desde que surgiu ela
tem efeito vinculante.
Em caso de decisão de procedência: poderá ser ajuizada ADI. Em decorrência das
mudanças de fatos (ADC/1 min. Carlos Veloso), lei pode ser constitucional no presente
e no futuro pode ser inconstitucional. Nesse sentido, ocorreu a revisão do entendimento
sobre o critério de miserabilidade contido na Lei 8742/93, conforme excerto abaixo:
Aduziu-se ser possível que o STF, via julgamento da presente
reclamação, pudesse revisar o que decidido na ADI 1232/DF e
exercer nova compreensão sobre a constitucionalidade do § 3º
do art. 20 da Lei 8.742/93. Obtemperou-se que, hodiernamente,
o STF disporia de técnicas diversificadas de decisão para
enfrentar problemas de omissão inconstitucional. Se fosse
julgada hoje, a norma questionada na ADI 1232/DF poderia ter
interpretação diversa, sem necessidade de se adotar posturas
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141
Conceito
A ADI por omissão tem por finalidade tornar efetiva norma constitucional de eficácia
limitada, não regulamentada por omissão do Poder Público ou órgão administrativo.
Essa omissão pode ser total, quando não houver o cumprimento constitucional do dever
de legislar (ex.: art. 37, inciso VII, da CF); ou parcial, quando houver lei
infraconstitucional integrativa, porém, regulamentando de forma insuficiente. Omissão
parcial propriamente dita: quando a lei existe, mas regula de forma deficiente o texto
(ex.: art. 7º, inciso IV, da CF). Omissão parcial relativa: quando a lei existe, outorgando
determinado benefício a uma certa categoria, porém deixando de conceder a outra que
deveria também ter sido contemplada (ex.: súmula nº 339 do STF). Chamada exclusão
de benefício incompatível com o princípio da igualdade. Advém do direito alemão.
Mandado de Injunção – combate a síndrome de inefetividade das normas
constitucionais de eficácia limitada. Mas, o controle é difuso. Não há fungibilidade, diante
da diversidade de pedidos. O STF (MI 395 – QO) decidiu pela impossibilidade de
aplicação do princípio da fungibilidade entre a ADO e o MI, em razão de se tratarem de
pedidos diversos. ATENÇÃO! A lei que disciplina o processo e o julgamento do
mandado de injunção (Lei 13.300/16).
Objeto
O objeto aqui é amplo, pois são impugnáveis, na ADI por omissão, não apenas a inércia
do Legislativo em editar atos normativos primários, mas também a inércia do Executivo
em editar atos normativos secundários, como regulamentos e instruções, e até mesmo
eventual inércia do Judiciário em editar os seus próprios atos.
O STF entende que, pendente de julgamento a ADI por omissão, se a norma que não
tinha sido regulamentada é revogada, ou se é encaminhado projeto de lei ao Congresso
Nacional sobre a referida matéria, haverá perda do objeto.
A regra é que, desencadeado o processo legislativo, não há que se cogitar de omissão
inconstitucional do legislador. Contudo, essa orientação deve ser adotada com
temperamentos. A inércia deliberandi das Casas Legislativas pode ser objeto da ADI
por omissão, sendo que o STF reconhece a mora do legislador em deliberar sobre a
questão, declarando, assim, a inconstitucionalidade por omissão.
Em 2007, o STF, por unanimidade, julgou procedente a ADI 3682, ajuizada pela
Assembléia Legislativa do Estado do Mato Grosso contra o Congresso em razão da
mora na elaboração da LC federal a que se refere o § 4º do art. 18 da CF/88, na redação
da EC 15/96. Asseverou-se, entretanto, que não se poderia afirmar uma total inércia
legislativa, haja vista os vários projetos de lei complementar apresentados e discutidos
no âmbito das Casas Legislativas. Não obstante, entendeu-se que a inertia deliberandi
(discussão e votação) também poderia configurar omissão passível de vir a ser reputada
morosa, no caso de os órgãos legislativos não deliberarem dentro de um prazo razoável
sobre o projeto de lei em tramitação. Aduziu-se que, na espécie, apesar dos diversos
projetos de lei apresentados restaria configurada a omissão inconstitucional quanto à
efetiva deliberação da lei complementar em questão, sobretudo, tendo em conta a
pletora de Municípios criados mesmo depois do advento da EC 15/96 (...). (Info 466).
Competência
A apreciação da ADI por omissão é de competência originária do STF. Art. 103, § 2º, da
CF, c/c, analogicamente, o art. 102, inciso I, alínea a, da CF. Quanto à eventual
inconstitucionalidade por omissão de órgãos legislativos estaduais em face da CF/88,
Gilmar Mendes afirma que a competência é do STF.
Legitimidade
São os mesmos legitimados para a propositura da ADI (art. 103 da CF), inclusive, com
as observações sobre a pertinência temática para alguns deles.
Procedimento:
Lei 9868/99, com a alteração da lei 12.063/2009.
da Advocacia Geral (12-E, §2º). Esta deverá ocorrer quando for o caso, após a
apresentação das informações pelas autoridades responsáveis pela eventual omissão,
no prazo de 15 dias.
É possível a concessão de medida cautelar: excepcional urgência e relevância da
matéria podem ensejar tal concessão, após a audiência dos órgãos ou autoridades
responsáveis pela omissão inconstitucional, que deverão pronunciar-se no prazo de 5
(cinco) dias.
A medida cautelar poderá consistir na suspensão da aplicação da lei ou do ato normativo
questionado, no caso de omissão parcial, bem como na suspensão de processos
judiciais ou de procedimentos administrativos, ou ainda em outra providência a ser
fixada pelo Tribunal.
Em caso de omissão imputável a órgão administrativo, as providências deverão ser
adotadas no prazo de 30 (trinta) dias, ou em prazo razoável a ser estipulado
excepcionalmente pelo Tribunal, tendo em vista as circunstâncias específicas do caso
e o interesse público envolvido.
Efeitos da decisão
A jurisprudência no STF sempre foi no sentido de que a ADI por omissão servia para
comunicar ao Congresso acerca do dever de legislar. Mas isso vem mudando um pouco,
como no caso da criação dos Municípios, em que se fixou um prazo.
A decisão tem caráter mandamental, constituindo em mora o poder competente que
deveria ter elaborado a lei e não o fez.
Quando a omissão for de órgão administrativo, este terá o prazo de 30 dias para saná-
la ou em prazo razoável quando a excepcionalidade do caso assim recomendar.
Caso da criação dos Municípios (art. 18, § 4º): o Congresso não editou a LC necessária
para a criação dos Municípios. Muitos municípios foram criados de forma
inconstitucional. Houve várias ADIs contra as leis que criaram Municípios, e ADI por
omissão em relação ao art. 18, § 4º da CF. O STF declarou a omissão inconstitucional
e inconstitucionalidade, sem pronúncia de nulidade, das leis municipais (com modulação
de efeitos). Fixou-se um prazo de 18 meses para a LC, e 24 meses para a subsistência
das leis municipais. Raciocínio: criada a LC, as leis municipais poderiam ser criadas no
prazo. O Congresso não criou a LC, mas fez EC para ratificar a criação dos Municípios.
Fungibilidade
Para Gilmar Mendes, há uma certa fungibilidade entre ADI por omissão parcial e ADI
(entendimento já adotado pelo CESPE) – já com relação ao Mandado de Injunção e a
ADO não se reconhece fungibilidade. O que vai diferenciar as duas são as técnicas de
decisão: num caso, será determinada a complementação; no outro, será declarada a
nulidade da lei. Excerto: asseverou-se ter-se uma relativa, mas inequívoca fungibilidade
entre a ADI (da lei ou do ato normativo) e o processo de controle abstrato da omissão,
haja vista que os dois processos, o de controle de normas e o de controle da omissão,
acabariam por possuir o mesmo objeto, formal e substancialmente, ou seja, a
inconstitucionalidade da norma em razão de sua incompletude. ADI 875/DF, rel. Min.
Gilmar Mendes, 24.2.2010.
Localização
Previsto no § 1º do art. 102 da CF, com redação dada pela EC 03/93, regulamentado
pela Lei nº 9.882/99. Saliente-se que, antes do advento da aludida Lei, entendia o STF
que o art. 102, § 1º, da CF encerrava norma constitucional de eficácia limitada. Sendo
assim, enquanto inexistente lei regulamentando, o referido dispositivo constitucional não
podia o STF sequer apreciar as ações de argüição de descumprimento de preceito
fundamental.
Hipóteses de cabimento
Requisitos: controvérsia constitucional relevante. Lei ou ato do poder público (F, E, M),
inclusive anteriores à CF por expressa disposição legal.
Na hipótese de arguição autônoma, prevista no art. 1º, caput, da Lei nº 9.882/99, tem-
se por objeto evitar (preventivo) ou reparar (repressivo) lesão a preceito fundamental,
resultante de ato do Poder Público, qualquer que seja esse ato administrativo.
Já, na hipótese de arguição incidental, por equivalência ou equiparação,
disciplinada pelo pú do art. 1º da Lei nº 9.882/99, tem-se por objeto a existência de
controvérsia (divergência jurisprudencial) constitucional, com fundamento relevante,
sobre lei ou ato normativo federal, estadual, municipal e distrital, incluídos os anteriores
à CF/88, violadores de preceito fundamental. A previsão se deu por lei. Competência
originária do STF. Há quem diga que seria inconstitucional. Para Gilmar Mendes,
decorre da jurisdição constitucional.
Convém advertir ainda que, por ora, não cabe ADPF incidental (cisão funcional
vertical15), em relação a controvérsias constitucionais concretamente já postas em juízo,
salvo se vier a ser editada emenda constitucional com previsão expressa a esse
respeito. Gilmar Mendes defende isso na ACP.
Hoje, porém, se admite a impugnação de decisões judiciais por meio da ADPF, antes
mesmo de estarem maduras para um RE. Leva-se uma questão constitucional presente
no debate de 1ª instância para abreviá-lo. Nesse ponto, há uma certa semelhança com
o incidente de inconstitucionalidade do controle concreto europeu. Ex: importação de
pneus usados. Admite-se também o controle de leis revogadas.
TIPOS DE ADPF
ADPF AUTÔNOMA AJUIZAMENTO INDEPENDENTEMENTE DE ESTAR EM
ANDAMENTO OUTRO PROCESSO JUDICIAL
ADPF INCIDENTAL
AJUIZAMENTO REQUER NECESSÁRIA REFERÊNCIA A
PROCESSO JUDICIAL EM CURSO
15Na cisão funcional vertical de competência, a questão constitucional será examinada de forma cindida
do mérito da causa, de forma incidental, mas, por órgão hierarquicamente superior ao qual examinará o
pedido principal. Referido incidente enseja a separação da questão constitucional, para o seu julgamento,
não pelo Pleno do Tribunal ou por seu órgão Especial, mas, diretamente, pelo STF. Em vez de cisão
funcional no plano horizontal, tal como prevista no art. 97 da CF, ter-se-ia uma cisão funcional do plano
vertical. Daí o inevitável símile com técnica consagrada nos modelos de controle concentrado de normas,
que determina que seja a questão submetida diretamente à Corte Constitucional toda vez que a norma
for relevante para o julgamento do caso concreto e o juiz ou tribunal considera-la inconstitucional (art.
1º, paragrafo 1º, I da Lei 9.882/199 – ADPF incidental).
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147
Preceito fundamental
Tanto a CF como a lei infraconstitucional deixaram de conceituar preceito fundamental.
Nesse sentido, entende a doutrina que preceito fundamental seriam aqueles preceitos
que informam todo o sistema constitucional, estabelecendo os comandos basilares e
imprescindíveis à defesa dos pilares da manifestação constituinte originária e, por
conseguinte, veiculando princípios e servindo de vetores de interpretação das demais
normas constitucionais. Como exemplo, são citados os princípios fundamentais dos
arts. 1º a 4º, as cláusulas pétreas do art. 60, § 4º, os princípios constitucionais sensíveis
do art. 34, inciso VII, os direitos e garantias individuais dos arts. 5º a 17, os princípios
gerais da ordem econômica e financeira do art. 170 etc.
Por sua vez, o STF apenas tem resolvido, em cada caso concreto, se se trata ou não
de preceito fundamental, não definindo de forma ampla o que se entende por preceito
fundamental. O veto não pode ser contestado por meio de ADPF, já que se tratada de
manifestação de ato político.
Competência
A apreciação da ADPF é da competência originária do STF. Art. 102, § 1º, da CF.
Legitimidade
São os mesmos legitimados para a propositura da ADI.
Havia um dispositivo no projeto de lei que legitimava que qualquer pessoa pudesse levar
a ADPF ao STF. Foi vetado pelo Presidente da República. E ainda, qualquer
interessado, entendido esse como sendo qualquer pessoa lesada ou ameaçada por ato
do poder público (inciso II vetado do art. 2º da Lei nº 9.882/99), mediante representação,
solicitando a propositura da ação ao PGR, que, examinando os fundamentos jurídicos
do pedido, decidirá acerca do cabimento de seu ingresso em juízo. A legitimada, na
realidade, é a PGR.
Procedimento
A petição inicial, além dos requisitos do art. 282 do CPC (art. 319, caput, I a VI NCPC),
deve conter: a) a indicação do preceito fundamental que se considera violado; b) a
ADI interventiva
Conceito
A ADI interventiva é pressuposto para a decretação de determinada hipótese de
intervenção da União nos Estados, no Distrito Federal ou nos Municípios localizados em
Território Federal, bem como dos Estados em seus respectivos Municípios, na medida
em que, através dela, é que se verificará a presença de seus pressupostos.
Há situações em que não se faz necessário o prévio ajuizamento e, por conseguinte, a
procedência de ADI interventiva para se decretar a intervenção federal ou estadual.
Trata-se de um controle concentrado de constitucionalidade de lei ou ato normativo em
tese realizado em um caso concreto. Controle concentrado e concreto.
Luis Roberto Barroso entende tratar-se de um litígio constitucional, de uma relação
processual contraditória, contrapondo União e Estado-membro, cujo desfecho pode
resultar em uma intervenção federal.
A ADI interventiva federal depende de provimento de representação do PGR.
Objeto
Lei ou ato normativo, ou omissão, ou ato governamental estaduais ou distrital de
natureza estadual, contrários aos princípios sensíveis da CF; bem como lei federal cuja
execução esteja sendo recusada.
São princípios sensíveis: a) forma republicana, sistema representativo e regime
democrático; b) direitos da pessoa humana; c) autonomia municipal; d) prestação de
contas da administração pública, direta e indireta; e) aplicação do mínimo exigido da
receita resultante de impostos estaduais, compreendida a proveniente de
transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços
públicos de saúde. Art. 34, inciso VII, da CF.
Obs.: afronta ao princípio republicano e ao sistema representativo, face à existência de
esquema de corrupção generalizada, foram os motivos do pedido de intervenção no DF
no governo Arruda (IF 5179).
Competência
STF
Legitimidade ativa
PGR (ÚNICO LEGITIMADO).
Procedimento
Julgada a ADI interventiva procedente, pela maioria absoluta de seus membros (art. 97
da CF), requisitará o STF ao Presidente da República que decrete a intervenção. O
Presidente, por sua vez, limitar-se-á, através de Decreto, a suspender a execução do
ato impugnado e, apenas se essa medida não for suficiente para o restabelecimento da
normalidade, decretará a intervenção, nomeando interventor, bem como afastando as
autoridades responsáveis de seus cargos. §§ 1º e 3º do art. 36 da CF. Quando ocorrer
o afastamento do gestor estadual e nomeação de interventor, o decreto deve ser
enviado para apreciação do CN no prazo de 24 horas.
Decretação da intervenção = Presidente da República (José Afonso da Silva – ato
vinculado - lei 1.079, art. 12, III – seria crime de responsabilidade do Presidente da
República se não decretar a intervenção a partir da decisão do STF; Zeno Veloso -
discricionário).
Objeto
Lei ou ato normativo, ou omissão, ou ato governamental municipais contrários aos
princípios sensíveis indicados na CE; bem como lei, ou ordem, ou decisão judicial não
cumpridas.
Competência
TJ local.
Legitimidade ativa
Procurador-Geral de Justiça (art. 129, IV, da CF).
Procedimento
Igual ao da ADI interventiva federal. Julgada procedente a ação, pela maioria absoluta
dos membros de seu órgão especial (art. 97 da CF), comunicará o Presidente do TJ
local a decisão ao Governador do Estado, o qual, por sua vez, se limitará, através de
Decreto, a suspender a execução do ato impugnado e, apenas se essa medida não for
suficiente para o restabelecimento da normalidade, decretará a intervenção, nomeando
interventor, bem como afastando as autoridades responsáveis de seus cargos.
Controle abstrato de constitucionalidade nos Estados-Membros
Regras gerais
Previsto no art. 125, § 2º, da CF. Segundo Pedro Lenza, embora o referido dispositivo
constitucional apenas mencione a possibilidade de se instituir, no âmbito estadual, a
representação de inconstitucionalidade, a qual corresponderia à ADI, deve-se permitir
também, pelo princípio da simetria, a implementação dos demais meios de controle,
quais sejam, ADC, ADI por omissão etc.
Objeto
Somente leis ou atos normativos estaduais ou municipais.
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Competência
É de competência originária do TJ local.
Legitimados
A CF não especificou os legitimados para a propositura, em âmbito estadual, de
representação de inconstitucionalidade, porém proibiu a sua atribuição a um único
órgão.
Sendo assim, deixou que cada Constituição Estadual estabelecesse os seus
legitimados, observando-se o princípio da simetria, em vista de se tratar de
manifestação do poder constituinte derivado decorrente. Ex: Governador, Mesa da
Assembleia, Conselho Estadual da OAB etc.
IMPORTANTE! O STF tem aceitado a ampliação, pelas Constituições Estaduais, de
seus respectivos legitimados para a propositura de representação de
inconstitucionalidade, em âmbito estadual, sem guardar simetria com o art. 103 da CF.
Por sua vez, quanto a restrição desse rol, ainda não houve manifestação pelo STF a
respeito, lembrando-se apenas de que a CF, em seu art. 125, § 2º, proibiu a atribuição
de legitimação para agir a um único órgão.
Considerações finais
O TJ local apenas realizará controle concentrado e abstrato de lei ou ato normativo
estadual ou municipal, ou ainda distrital, em face de Constituição Estadual. Contudo, se
se tratar de controle difuso, será possível que o TJ, através do Pleno ou de seu Órgão
Especial, aprecie, de maneira incidental, a constitucionalidade de lei federal em face da
Constituição Federal.
Por sua vez, o STF, em controle concentrado e abstrato, somente apreciará lei ou ato
normativo federal ou estadual, ou ainda distrital de caráter estadual, em confronto com
a CF. Excepcionalmente, porém, poderá o STF analisar lei municipal perante a CF, só
que em sede de ADPF.
Observe-se, então, que as leis estaduais sofrem dupla fiscalização, em controle
concentrado e abstrato, seja perante o TJ e tendo como parâmetro a Constituição
Estadual, seja perante o STF e tendo como parâmetro a CF.
E haverá simultaneidade de ações diretas de constitucionalidade, se a mesma lei
estadual for objeto de controle concentrado no TJ e no STF. Nesse caso, o controle
estadual deverá ficar suspenso, aguardando o resultado do controle federal.
E, se o STF declarar a inconstitucionalidade da lei estadual perante a CF, a ação
estadual perderá o seu objeto, uma vez que a referida lei não mais produzirá efeito
algum. Por outro lado, se o STF declarar a constitucionalidade da lei estadual perante a
CF, prosseguirá ainda a ação estadual, pois a referida lei, ainda que compatível com a
CF, poderá não sê-la em relação à Constituição Estadual.
Também, se a ação for proposta primeiramente perante o TJ e este declarar a
constitucionalidade da lei estadual em relação à Constituição Estadual, ainda assim será
possível o seu exame, em confronto com a CF, no futuro, pelo STF, por ser ele o
intérprete máximo da Constituição, cujo julgamento, por sua vez, prevalecerá inclusive
sobre a coisa julgada estadual. Porém, se o TJ declarar a inconstitucionalidade da lei
estadual, não haverá mais sentido de seu controle perante o STF, uma vez que a
referida lei já terá sido retirada do ordenamento jurídico.
Regra geral, da decisão do TJ, em controle concentrado e abstrato de lei estadual ou
municipal perante a Constituição Estadual, não cabe recurso para o STF. Contudo,
excepcionalmente, se o parâmetro da Constituição Estadual for norma de reprodução
obrigatória da CF pelos Estados-Membros (e.g. TCU, CPI, processo legislativo), será
possível, a fim de se evitar que haja usurpação de competência do STF, a interposição
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152
de recurso extraordinário contra o referido acórdão do TJ para que o STF examine a lei
estadual ou municipal em confronto com a CF.
E a decisão desse recurso extraordinário pelo STF produzirá, via de regra, efeitos erga
omnes, ex tunc e vinculante, uma vez que ainda se trata de controle concentrado e
abstrato.
Trata-se de controle concentrado e abstrato. Ainda, que utilizado o RE como veículo,
logo não haverá participação do Senado – art. 52, X, da CF/88).
Atenção! O §1º, do art.5º, CF apesar de estar no artigo 5º, não se refere somente aos
direitos previstos nesse artigo, mas sim a todos os direitos fundamentais.
fundamentais são subjetivos e exigíveis pelo seu titular. Neste sentido: Dirley da Cunha
Jr.
3ª Corrente) Esse dispositivo não deve ser interpretado como uma regra, mas sim como
um princípio. Isso significa que os direitos fundamentais devem ser aplicados de forma
imediata na maior medida possível, de acordo com as possibilidades fáticas e jurídicas
existentes. Em outras palavras, esse dispositivo não pode ser interpretado como uma
regra, mas como um princípio, no sentido que Robert Alexy utiliza. Só se aplica de forma
imediata quando for possível. Nesse sentido Ingo Sarlet. É a interpretação mais usual.
Já foi cobrada na prova do Cespe.
4ª Corrente) A regra geral é que os direitos fundamentais têm aplicação imediata. As
exceções são aqueles casos em que o próprio legislador constituinte exigiu
expressamente uma lei regulamentadora. Então, o §1º é uma regra geral que comporta
exceções, quais sejam, os casos em que o próprio legislador constituinte disse,
expressamente, “nos termos da lei”, “nos termos de lei complementar”, “na forma da lei”.
Segundo Novelino, se todos os direitos fundamentais pudessem ser aplicados
imediatamente, não haveria necessidade de mandado de injunção. Nesse sentido,
Marcelo Novelino (entende que é forçar a barra dizendo que esse dispositivo é um
princípio).
De acordo com parte da doutrina, este dispositivo consagra uma teoria material
dos direitos fundamentais. Isso significa que os direitos fundamentais seriam
identificados não por sua forma, mas sim por seu conteúdo (material = matéria =
substância = conteúdo).
Obs: Os direitos e garantias referidos neste parágrafo não são apenas os individuais
(art.5º), mas todos os fundamentais.
Exemplo. É com base neste dispositivo que alguns internacionalistas importantes dizem
que aqueles direitos consagrados nos Tratados Internacionais de Direitos Humanos (ex.
Pacto de São José da Costa Rica), independente do §3º, da CF teriam status de norma
constitucional. Esse é o entendimento de Flávia Piovesan e Cansado Trindade.
Regime Constitucional
Direitos Fundamentais Título II + Tratados Internacionais de Direitos Humanos
E-mail: cadernos2016@outlook.com Outros na Constituição
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155
(Consagração
Sistemática)
RE 466.343 - EMENTA: PRISÃO CIVIL. Depósito. Depositário infiel. Alienação fiduciária. Decretação da medida
coercitiva. Inadmissibilidade absoluta. Insubsistência da previsão constitucional e das normas subalternas.
Interpretação do art. 5º, inc. LXVII e §§ 1º, 2º e 3º, da CF, à luz do art. 7º, § 7, da Convenção Americana de
Direitos Humanos (Pacto de San José da Costa Rica). Recurso improvido. Julgamento conjunto do RE nº
349.703 e dos HCs nº 87.585 e nº 92.566. É ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja a
modalidade do depósito.
Obs: Valério Mazuoli chama de Controle de Convencionalidade aquele que tem como
parâmetro um Tratado Internacional de Direitos Humanos (com nível constitucional ou
supralegal).
Obs: Distinção entre Direitos Fundamentais x Direitos Humanos: Essa distinção não é
pacífica na doutrina. Existem autores, inclusive, que nem fazem distinção entre esses
termos. No entanto, existe uma distinção que é a mais adotada no direito brasileiro
(inclusive pela CF), no sentido de que ambos os direitos se assemelham por estarem
relacionados aos direitos de liberdade e igualdade, consagrados com o objetivo de
proteger ou promover a dignidade da pessoa humana. A diferença é que os direitos
Art.60, §4º, CF - Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir:
(...)
IV - os direitos e garantias individuais.
Obs: Jellinek, em sua teoria fala de 4 status: status negativo, positivo, ativo e
passivo. O status passivo (ou status subjectionis) não entrou na classificação
acima, pois ele não corresponde a nenhum direito, mas sim a um conjunto de
deveres. O status passivo é aquele no qual o indivíduo se encontra submetido ao
Estado na esfera das obrigações individuais. Neste caso, o indivíduo está numa
posição de sujeição em relação ao Estado, que pode lhe impor um determinado
dever, cujo atendimento é obrigatório.
Ex. alistamento eleitoral é um dever do indivíduo.
Essa teoria foi defendida por Robert Alexy e Ernst Wolfgang Böckenförde. Por essa
teoria, a aplicação dos direitos fundamentais às relações entre particulares deve ocorrer
por meio de lei (eficácia indireta). No entanto, se esta não existir, é possível que ocorra
a aplicação direta (eficácia direta). Essa teoria se chama “integradora”, pois ela integra
as teorias da eficácia horizontal direta e indireta.
16 Ele afirma que criou uma teoria alternativa, mas isso não se justifica, dá para
enquadrá-lo na teoria da eficácia direta e imediata.
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163
O termo "eficácia diagonal dos direitos fundamentais"' foi utilizado pelo chileno Sergio
Gamonal Contreras, que defende a necessidade de proteger os particulares em
relações que envolvam, por si só, desequilíbrio ou desproporcionalidade. Fala-se aqui
em uma relação diferenciada entre particular - particular. A despeito do Estado não
participar da relação, uma das partes encontra-se em desvantagem na relação perante
outro particular e, por isso, merece uma proteção diferente. A título de exemplo, cita-se
o relacionamento do empregado com o seu empregador.
Veja que, embora sejam particulares, não é propriamente uma relação entre iguais, uma
vez que a empresa, muitas vezes, demonstra poderes desproporcionais aos dos
trabalhadores no contrato de trabalho. Da mesma forma ocorre nas relações de
consumo, em que se visualiza a hipossuficiência de uma das partes.
17
INFO – 827 STF: O Poder Judiciário pode obrigar o Município a fornecer vaga em
creche a criança de até 5 anos de idade. A educação infantil, em creche e pré-escola,
representa prerrogativa constitucional indisponível garantida às crianças até 5 anos
de idade, sendo um dever do Estado (art. 208, IV, da CF/88). Os Municípios, que têm
o dever de atuar prioritariamente no ensino fundamental e na educação infantil (art.
211, § 2º, da CF/88), não podem se recusar a cumprir este mandato constitucional,
juridicamente vinculante, que lhes foi conferido pela Constituição Federal. STF.
Decisão monocrática. RE 956475, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 12/05/2016
(Info 826).
INDIVIDUAIS
CLASSIFICAÇÃO FORMAL DA
CF/88
Há também outros espalhados COLETIVOS
pela CF. SOCIAIS
NACIONALIDADE
POLÍTICOS
ilícito de entorpecentes ou drogas a fim. O STF firmou posição, por outro lado, de que o
ato estatal que reconhece a naturalização é meramente declaratório, logo possibilitando
a retroação de seus efeitos:
Outra distinção entre brasileiros repousa na disposição do LXXIII, que permite o
ajuizamento da Ação Popular somente por cidadão (pleno gozo de direitos políticos)
seja naturalizado ou nato. Há direitos que somente estão voltados para as mulheres.
Exemplo: direito da presa de amamentar os filhos; licença maternidade; proteção do
mercado de trabalho da mulher, mediante incentivos políticos.
O inciso LII é um dispositivo voltado somente para estrangeiros, ao estabelecer que não
será permitida a extradição de estrangeiros por crime político ou de opinião. A CF fala
de crime político em outro dispositivo: o juiz federal é competente para processar e julgar
os crimes políticos da União (artigo 109, I, CF). O crime político do artigo 5o é o
mesmo do artigo 109? É óbvio que não, porque o crime político do estrangeiro é
aquele que foi praticado no estrangeiro, sendo que a competência do juiz federal
está relacionada com a nossa lei de segurança nacional.
Concurso: O julgamento do crime político está submetido à RECURSO ORDINÁRIO
para o STF, (ARTIGO 102, II, b).
São somente os estrangeiros residentes que não podem ser extraditados por motivos
políticos? Ou o estrangeiro que esteja passando pelo Brasil possui também essa
proteção? Não há como não se entender que o artigo 5 o estará tutelando todos os
estrangeiros residentes ou não residentes.
Há direitos que não poderão ser exercidos pelos estrangeiros, porque somente estão
voltados para brasileiros. Exemplo: a ação popular, que somente pode ser ajuizada por
brasileiro.
Pessoas jurídicas: também estão protegidas pelos direitos
constantes no artigo, desde que sejam compatíveis com a sua
natureza, ou seja, poderão usufruir dentro do razoável.
Obviamente, o direito à vida é direito de pessoa humana e não
de pessoa jurídica. Exemplo: impetração de MS pode ser feita
por pessoa jurídica, já o HC não é compatível.
Concurso: as pessoas jurídicas de direito público usufruem os direitos fundamentais?
Toda a teoria dos direitos fundamentais está relacionada à proteção do cidadão, por
meio dos direitos fundamentais. Atualmente, a teoria deve ser temperada, para
entender-se que alguns dos incisos do artigo 5 o são usufruídos pelo Estado. Exemplos:
o Município pode impetrar um MS contra uma autoridade federal; os entes políticos têm
direito aos princípios do contraditório, do devido processo legal, direito de ser ouvido em
juízo, direito ao juiz predeterminado por lei.
APLICABILIDADE
Estabelece o dispositivo que os direitos fundamentais têm aplicabilidade imediata,
ou seja, sem a necessidade de atuação do legislador, trata-se de regra que se aplica
a todos os direitos fundamentais (sociais, coletivos e outros). Essa é a regra geral.
Contudo, há direitos fundamentais que demandam a atuação do legislador ordinário
(normas de eficácia limitada).
Mas há direitos fundamentais que estão submetidos à atuação do legislador ordinário.
O § 1o traz uma presunção de que os direitos fundamentais serão normas de eficácia
plena ou contida, mas na tentativa de dar maior aplicabilidade a esse dispositivo, não
se pode fugir do razoável, assim, há casos em que os direitos fundamentais terão
eficácia limitada.
Exemplo 01: norma de eficácia CONTIDA (inciso XIII – “é livre o exercício de qualquer
trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei
E-mail: cadernos2016@outlook.com CI: 3259
167
alimentação que agora repousam expressamente no caput do artigo 6o. Outro direito
fundamental implícito é o direito à tutela penal. Não é muito comum a existência de
direitos fundamentais implícitos em uma constituição prolixa. Adotou-se um SISTEMA
ABERTO DE DIREITOS FUNDAMENTAIS no Brasil, não se podendo considerar
taxativo o rol do artigo 5º. É possível, a partir das normas do próprio catálogo dos direitos
fundamentais e dos princípios constitucionais elementares da Lei Maior, deduzir a
existência de outros direitos fundamentais. Seu caráter fundamental decorre de sua
referência a posições jurídicas ligadas ao valor da DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA.
É legítimo cogitar de direitos fundamentais previstos expressamente no catálogo da
Carta e de direitos materialmente fundamentais, que estão fora da lista. Direitos não
rotulados expressamente como fundamentais podem ser tidos como tal, a depender da
análise do seu objeto e dos princípios adotados pela Constituição. No Título II da
CRFB/88 que trata dos Direitos e Garantias Fundamentais encontram-se incluídos os
direitos individuais e coletivos; direitos sociais; direitos à nacionalidade; direitos políticos
e direitos dos partidos políticos.
Além do mais, o Supremo Tribunal Federal já teve oportunidade de assentar, como, por
exemplo, na ADI 939: “a norma que, estabelecendo outras imunidades impede a criação
de impostos (art. 150, III) sobre: "b"): templos de qualquer culto; "c"): patrimônio, renda
ou serviços dos partidos politicos, inclusive suas fundações, das entidades sindicais dos
trabalhadores, das instituições de educação e de assistência social, sem fins lucrativos,
atendidos os requisitos da lei; e "d"): livros, jornais, periodicos e o papel destinado a sua
impressão; 3. Em consequência, e inconstitucional, também, a Lei Complementar n. 77,
de 13.07.1993, sem redução de textos, nos pontos em que determinou a incidência do
tributo no mesmo ano (art. 28) e deixou de reconhecer as imunidades previstas no art.
150, VI, "a", "b", "c" e "d" da C.F. (arts. 3., 4. e 8. do mesmo diploma, L.C. n. 77/93).
O dispositivo do art. 5°, §3°, reconhece que nos tratados internacionais pode haver a
previsão de direitos humanos, que passam a gozar de status de emenda constitucional,
se forem aprovados nas duas casas, em dois turnos, pelo quórum de 3/5.
Caso não sejam aprovados pelo quórum constitucional, os tratados em direitos humanos
revestem-se de supralegalidade. Sem alterar a constituição, eles bloqueiam a legislação
federal que lhes seja contrária. Se o tratado não versar sobre direitos humanos, mantém
a sua hierarquia infraconstitucional e equivalente à lei ordinária.
O julgamento relativo à prisão do depositário infiel estabelece tais balizas e afasta a
prisão neste caso, seja qual for a modalidade de depósito. Atente-se para o fato de que
está mantida a disposição que permite a prisão, porém toda a legislação
infraconstitucional não pode ser aplicada, dada a supralegalidade da vedação à prisão
inserta no Pacto de San José da Costa Rica.
Continuando com esse mesmo entendimento, o STF aprovou a súmula vinculante nº 25
que assim dispõe: “é ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja a
modalidade da prisão”.
a) Princípios:
Ex. Vide ADPF 101 (livre iniciativa x direito à saúde e ao meio ambiente) – Caso da
importação de pneus usados.
b) Regras:
As regras são normas que sempre devem ser satisfeitas ou não. Se uma regra é
válida e não comporta qualquer exceção, então se deve fazer exatamente aquilo que
ela exige. Ou seja, no caso da regra, existe outra lógica, que, segundo Dworkin, seria
uma lógica do “tudo ou nada”.
A natureza das razões que essas duas normas fornecem são distintas: os
princípios fornecem razões chamadas de “razões prima facie” e as regras fornecem
razões definitivas.
a) Princípios:
As razões prima facie para a decisão são aquelas que podem ser afastadas por
outras razões de peso maior. Existe um autor chamado Peczenik que diz que os
princípios fornecem razões “contributivas” para a decisão, o que auxilia no entendimento
desse caráter prima facie.
O princípio é um comando de otimização. De acordo com as possibilidades fáticas
e jurídicas existentes no caso, pode ser que um grupo de princípios prevaleça sobre
outros. Ou seja, as razões que o princípio fornece não são definitivas, mas apenas prima
facie, podendo ser afastadas em um caso concreto, em razão de outras razões mais
fortes.
b) Regras:
As regras fornecem razões definitivas para a decisão. As razões de uma regra são
consideradas “decisivas” (Peczenik) por serem conclusivas para se chegar a uma
determinada solução. São razões definitivas, pois determinam a decisão.
Obs: Diferença entre a teoria do Alexy e a teoria do Dworkin: Segundo Ronald Dworkin,
os princípios fornecem sempre razão prima facie e as regras possuem sempre um
caráter definitivo.
Para Robert Alexy, diversamente, tanto os princípios quanto as regras possuem
um caráter prima facie, ainda que no caso das regras, este seja essencialmente mais
forte do que no dos princípios. Segundo Alexy, apenas quando não possuem qualquer
exceção é que as regras têm um caráter definitivo.
Ex. Não avançar o sinal vermelho regra. Essa regra sempre prevalecerá ou poderá,
em algum caso, ser afastada? Ex. ambulância pode avançar o sinal se estiver levando
um acidentado para o hospital. Então, segundo a teoria de Robert Alexy, por
comportarem exceção, as regras também tem caráter prima facie.
Ex. Segundo Bobbio, a proibição de trabalho escravo não comporta qualquer exceção.
Então, essa regra, para Alexy, não tem caráter prima facie, mas sim definitivo.
Art. 1º, CF - A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e
Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como
fundamentos:
I - a soberania;
II - a cidadania;
III - a dignidade da pessoa humana;
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
V - o pluralismo político.
A maioria dos livros no Brasil menciona a dignidade humana, não como mais um
fundamento da república, mas sim como o valor constitucional supremo.
Até o fim da 2ª guerra mundial, praticamente nenhuma constituição mencionava a
dignidade humana. A segunda guerra mundial e a barbárie do nazismo foram os motivos
para a consagração da dignidade humana nos textos constitucionais.
O fato de a dignidade humana não estar no art.5º da CF não impede que ela seja
considerada um direito fundamental. A dignidade pode ser reconhecida como direito
fundamental. Mas a pergunta que se faz é se ela é um direito fundamental. A maioria da
doutrina avançada nesse tema entende que a dignidade humana não é um direito
fundamental, mas uma qualidade intrínseca a todo ser humano. Isso significa que a
pessoa possui dignidade independentemente de qualquer condição (origem, raça,
nacionalidade, sexo, etc.). Todo o ser humano tem dignidade, por mais baixo que seja
o nível que ele desça. Não é o Estado que confere dignidade a uma pessoa. Ela é
condição inerente ao ser humano, e deve ser respeitada, em seu mínimo que seja.
Muitos autores dizem que a dignidade não é algo relativo, mas absoluto. Mas, o
STF, por exemplo, disse em várias oportunidades, que não existem direitos nem
princípios absolutos. Então, o que significa que a dignidade é algo absoluto? Significa
que ela não comporta gradações. Ou seja, não existe ser humano com mais dignidade
ou menos dignidade. A pessoa pode até ter a sua dignidade desrespeitada. Mas isso
não significa que ela tem menos dignidade que as outras. É nesse sentido que ela é
considerada como algo absoluto.
Dentro dessa linha de raciocínio, se considerarmos que a dignidade não é um
direito, mas uma condição intrínseca de todo ser humano, quais são as consequências
jurídicas da consagração da dignidade na CF, art.1º, III? A consagração da dignidade
no texto constitucional impõe ao Estado e, em alguns casos, aos particulares, o dever
de respeito, proteção e promoção de condições dignas de existência.
Se a dignidade humana não é um direito (e, se não é um direito, não é nem mesmo
um direito fundamental), qual a ligação entre ela e os direitos fundamentais?
A dignidade da pessoa humana é o núcleo em torno do qual gravitam os direitos
fundamentais. É ela que confere a esses direitos um caráter sistêmico e unitário. A
dignidade é, então, o ponto em comum, que liga todos os direitos fundamentais. Os
direitos fundamentais são considerados um sistema, pois gravitam em torno da
dignidade humana. Por isso os direitos fundamentais existem: para proteger e promover
a dignidade humana.
Quando se fala em proteção da dignidade, diz-se que a proteção está ligada
principalmente aos direitos individuais, notadamente, os direitos de liberdade e
igualdade. A dignidade exige que o ser humano seja tratado como livre e igual, não só
pelo Estado, mas também pela sociedade e por outros particulares.
Na jurisprudência do STF, é importante observar que a dignidade humana é citada
não como a norma de decisão fundamental (ela não é uma norma autônoma de decisão;
o caso não é decidido com base na dignidade humana), mas sim como um reforço
argumentativo ou como um vetor interpretativo (art.5º, caput, CF). Isso acontece porque
a dignidade humana tem várias concretizações, por meio de várias outras normas
específicas (que são as normas de direitos fundamentais, essas sim utilizadas como o
fundamento da decisão). É como se a dignidade fosse um selo de legitimidade da
decisão. Isso não significa que a dignidade nunca possa ser usada como fundamento
autônomo da decisão, o que pode ocorrer quando não houver uma norma específica
sobre o direito fundamental.
Quando se fala em promoção de condições dignas de existência, os direitos
que promovem essas condições dignas são os direitos sociais, como a saúde, a
educação, moradia, etc.
Aqui entra um termo chamado de “mínimo existencial”, que é um termo que surgiu
no direito alemão e foi adotado no Brasil. O mínimo existencial é o conjunto de bens e
utilidades indispensáveis a uma vida humana digna.
Por fim, quando se fala em concretização do respeito à dignidade, existe uma
regra específica que concretiza esse dever de respeito, que é o artigo 5º, III, CF:
DIREITO À PRIVACIDADE
Tem seu núcleo no inciso X, do art. 5º da CF. O direito à privacidade está dividido em
quatro dimensões:
1 - intimidade – é o direito de estar só; é a garantia da solidão.
2 - vida privada – é o direito que o indivíduo tem de ser de uma determinada
forma, sem a intervenção de outrem.
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Deve estar caracterizada a adequação da medida ao fim pretendido, bem assim a sua
efetiva necessidade.
Privacidade e inviolabilidade de domicílio – O STF vê como objeto de garantia
qualquer compartimento habitado, qualquer aposento ocupado de habitação coletiva e
qualquer compartimento onde alguém exerce profissão ou atividade. Assim o conceito
de domicílio abrange todo lugar privativo, ocupado por alguém, com direito próprio e de
maneira exclusiva, mesmo sem caráter definitivo ou habitual. Abrangência ampla,
alcançando não somente o escritório de trabalho, como também o estabelecimento
industrial e clube recreativo (aposento de habitação coletiva, trailer, etc.).
O direito à inviolabilidade do domicílio tem nítida eficácia horizontal. Repele a ação
estatal e também de outros particulares.
Há exceções ao direito à inviolabilidade do domicílio: 1) em caso de flagrante delito, a
qualquer momento; 2) em caso de desastre ou para prestar socorro, 3) através de
autorização judicial, durante o dia.
Importante decisão do STF validou o ingresso em escritório de advocacia e a realização
de escuta ambiental, mesmo no período noturno. Entendeu-se que é excepcional a
situação do advogado que é também investigado e que não foi aniquilado o núcleo
do direito fundamental:
“Observou-se, de início, que tais medidas não poderiam jamais
ser realizadas com publicidade alguma, sob pena de intuitiva
frustração, o que ocorreria caso fossem praticadas durante o dia,
mediante apresentação de mandado judicial. Afirmou-se que a
Constituição, no seu art. 5º, X e XI, garante a inviolabilidade da
intimidade e do domicílio dos cidadãos, sendo equiparados a
domicílio, para fins dessa inviolabilidade, os escritórios de
advocacia, locais não abertos ao público, e onde se exerce
profissão (CP, art. 150, § 4º, III), e que o art. 7º, II, da Lei
8.906/94 expressamente assegura ao advogado a
inviolabilidade do seu escritório, ou local de trabalho, de seus
arquivos e dados, de sua correspondência, e de suas
comunicações, inclusive telefônicas ou afins, salvo caso de
busca ou apreensão determinada por magistrado e
acompanhada de representante da OAB. Considerou-se,
entretanto, que tal inviolabilidade cederia lugar à tutela
constitucional de raiz, instância e alcance superiores
quando o próprio advogado seja suspeito da prática de
crime concebido e consumado, sobretudo no âmbito do seu
escritório, sob pretexto de exercício da profissão. Aduziu-se
que o sigilo do advogado não existe para protegê-lo quando
cometa crime, mas proteger seu cliente, que tem direito à ampla
defesa, não sendo admissível que a inviolabilidade transforme o
escritório no único reduto inexpugnável de criminalidade.
Enfatizou-se que os interesses e valores jurídicos, que não têm
caráter absoluto, representados pela inviolabilidade do domicílio
e pelo poder-dever de punir do Estado, devem ser ponderados
e conciliados à luz da proporcionalidade quando em conflito
prático segundo os princípios da concordância. (...)”.
PRINCÍPIO DA LEGALIDADE
“Ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa
senão em virtude de lei”.
No que respeita aos particulares, tem ele como corolário a afirmação de que somente
a lei pode criar obrigações e, por outro lado, a asserção de que a inexistência de lei
proibitiva de determinada conduta implica ser ela permitida. Relativamente ao Poder
Público, o princípio consagra a ideia de que o Estado se sujeita às leis e o ato de
governar é atividade cuja realização exige a edição de leis. (pode fazer apenas o
permitido em lei).
“Reserva legal” – quando o texto constitucional exige expressamente regulação
mediante lei para uma matéria específica. José Afonso da Silva diferencia o princípio
da legalidade e o de reserva de lei. O primeiro significa a submissão e o respeito à lei,
ou atuação dentro da esfera estabelecida pelo legislador. O segundo consiste em
estatuir que a regulamentação de determinadas matérias há necessariamente de
fazer-se por lei formal, na maneira estabelecida constitucionalmente para tanto. A
legalidade é mais abrangente e pode ser atendida com a edição de medida provisória,
a reserva legal, a seu turno, requer a edição de lei propriamente dita.
Nossa jurisprudência consagra o entendimento de que obrigações acessórias podem
ser instituídas mediante atos infralegais.
INVIOLABILIDADE DE CORRESPONDÊNCIAS E COMUNICAÇÕES
É inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de dados e
das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses
e na forma que a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução
processual penal. As violações de correspondência e de comunicação telegráfica são
crimes previstos no CP (art. 151 e parágrafos) e na Lei nº 6538/78, que dispõe sobre os
serviços postais. Na vigência de estado de defesa ou de sítio poderão ser estabelecidas
restrições à inviolabilidade de correspondência (arts. 136, I, b, e 139, III).
Somente em se tratando da inviolabilidade de comunicação telefônica, a CF admite a
quebra de sigilo para fins de investigação criminal ou instrução processual penal (art.
5º, XII). Esse dispositivo foi regulamentado pela Lei nº 9296/96. a interceptação
telefônica depende de autorização judicial e somente pode ser permitida para a
apuração de crimes, mas não para qualquer tipo, pois a lei veda quando a prova puder
ser produzida por outros meios ou o fato investigado for punido, no máximo, com pena
de detenção.
A atuação do magistrado na autorização de escuta telefônica é limitada pelo texto
constitucional, pois somente poderá autorizar em caso de investigação criminal ou
instrução processual penal, na hipótese de crime apenado com reclusão. Os crimes
apenados com detenção e que são conexos, também podem se sujeitar à interceptação,
no mesmo contexto em que estejam sendo investigados aquele punidos com reclusão.
O STF já decidiu ser inadmissível a interceptação telefônica no curso de processo
de extradição. A intercepção telefônica nai se confunde com os registros de
ligação, já que a primeira não pode ser ordenada por CPI, enquanto a segunda
medida pode.
Quanto à prorrogação da interceptação telefônica, foi dito pelo STF no Iq 2424/RJ:
“Considerou-se, também, a orientação fixada pelo Supremo no julgamento o HC
83515/RS (DJU de 4.3.2005), no sentido de ser lícita a prorrogação do prazo para
interceptação telefônica, ainda que de modo sucessivo, quando o fato seja complexo e
o imponha a sua investigação, o que sucedera na espécie. Frisou-se que o prazo
máximo de 30 dias para a manutenção da interceptação da comunicação não pode ser
injustificadamente alargado, mas pode o magistrado, com outro motivo, e diversa
motivação, determinar nova interceptação do mesmo telefone”.
O STF também considera prova lícita a gravação telefônica feita por um dos
interlocutores da conversa, sem o conhecimento do outro (ex: Caso do Senador Delcídio
do Amaral). Afastou-se o argumento de afronta ao art. 5º, XII da CF ("XII - é inviolável o
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sigilo das comunicações telefônicas, salvo por ordem judicial, nas hipóteses e na forma
que a lei estabelecer ..."), uma vez que esta garantia constitucional refere-se à
interceptação de conversa telefônica feita por terceiros, o que não ocorre na hipótese,
sobretudo quando a gravação é feita para defesa prórpia em procedimeno criminal e
não pese contra tal divulgação alguma específica razão jurídica de sigilo nem de reserva
(ex. Relação profissional, ministerial ou de particular tutela da intimidade). A gravação
é clandestina, mas não ilícita.
Na interceptação telefônica ilícita, a gravação deve ser feita por terceiro, de forma
clandestina, sem conhecimento de nenhum dos interlocutores. Dessa forma, é
considerada válida a gravação realizada por uma pessoa que vem sendo ameaçada de
morte por telefone. Observa-se que o juiz, nos termos do art. 147 do CP, não poderia
sequer autorizar a interceptação telefônica, pois o crime de ameaça é punido apenas
com detenção.
Somente em se tratando de crimes mais graves, em razão de serem punidos com
reclusão, a interceptação telefônica poderia se autorizada judicialmente. Nesses casos,
se a conversa telefônica for gravada por um dos interlocutores, ou por um terceiro de
forma consentida, mesmo sem autorização judicial, a prova será considerada válida (HC
75.338 – RJ, Rel. Min. Nelson Jobim, informativo nº124 do STF).
A gravação ambiental é a captação por meio de fita magnética ou por qualquer outro
meio eletrônico ou ótico, de conversa ou imagem entre presentes. O STF já admitiu sua
validade quando a pessoa era vítima de concussão. A ilicitude da prova seria excluída
pela circunstância excludente da criminalidade denominada legítima defesa (RE
21.2081/RO, Rel. Min. Octávio Gallotti). Mas, o próprio STF, já considerou inválida essa
prova quando gravada numa “conversa informal” com presos, violando o direito ao
silêncio, também assegurado pela CF (HC 80.949/RJ, Rel. Min. Sepúlveda Pertence).
A lei de combate às organizações criminosas expressamente autoriza a interceptação
ambiental mediante circunstanciada autorização judicial.
DIREITO À IGUALDADE
Consiste em afirmar que todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
natureza (art. 5º, caput). Não se admite discriminação de qualquer natureza em relação
aos seres humanos.
Tudo o que está no artigo 1o pressupõe a existência de igualdade, bem como nos artigos
3º e 4o.. Também no artigo 5o. há expressas menções à igualdade.
Igualdade consiste em tratar igualmente os iguais, com os mesmos direitos e
obrigações, e desigualmente os desiguais.
Humberto Ávila estatui que a igualdade pode funcionar como regra, prevendo a
proibição de tratamento discriminatório; como princípio, instituindo um estado
igualitário como fim a ser promovido; e como postulado, sendo, neste último sentido,
como forma de estruturar a aplicação do próprio ordenamento jurídico.
Igualdade na lei x Igualdade perante a lei: Igualdade na lei é direcionada ao
legislador, que, no processo de formação do ato legislativo, não poderá incluir fatores
de discriminação responsáveis pela ruptura da isonomia. Já Igualdade perante a lei se
dirige aos aplicadores do direito, que não poderá aplicá-lo de forma discriminatória.
Discriminações (discriminação arbitrária) x Diferenciações (ou discriminação lícita,
adequada, razoável)
Como resultado final a CF busca a igualdade material (efetiva, real, concreta ou situada).
Para aplicação do princípio são necessárias as ações afirmativas para a garantia da
igualdade material, Exemplos: mercado de trabalho da mulher, cotas de vagas sem
serviços públicos, cotas em universidades. O princípio da igualdade não veda o
tratamento discriminatório entre indivíduos quando há razoabilidade para a
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Limites dos limites: Da análise dos direitos individuais pode-se extrair a conclusão que
direitos, liberdades, poderes e garantias são passíveis de limitação. Contudo, tais
restrições são limitadas e as restrições decorrem da própria Constituição Federal, no
intuito de preservar o núcleo essencial do direito fundamental. Esta temática está
relacionada às condições formais e materiais que devem balizar a atuação do legislador
infraconstitucional na criação de restrições legislativas ao conteúdo dos direitos
fundamentais (“limites dos limites”). A expressão “limites dos limites” foi utilizada por
Karl August Betterman, em uma conferência realizada em Berlin (1964), na qual
sustentou que “as limitações aos direitos fundamentais, para serem legitimas, devem
atender a um conjunto de condições materiais e formais estabelecidas na Constituição,
que são os limites dos limites dos direitos fundamentais.
Na CF/88, embora não exista previsão expressa de um regime de restrições, os “limites
dos limites” podem ser deduzidos de vários princípios nela consagrados, dentre eles, o
princípio do Estado de direito (art. 1º), o princípio da legalidade e da reserva legal, o
princípio da segurança jurídica e p princípio da razoabilidade.
No sistema constitucional brasileiro, podem ser claramente identificados alguns
requisitos a serem necessariamente observados pela norma restritiva de direitos
fundamentais.
I) Requisito formal: atua como espécie de “zona de proteção formal” dos
direitos fundamentais. É o caso da exigência de lei para a restrição de um
direitos fundamental (principio da reserva legal). A restrição deve estar
expressa ou implicitamente autorizada (reserva de lei restritiva).
II) Requisitos materiais: assegurar a conformidade substancial da lei restritiva
com os princípios e regras da constituição, dentre os quais o princípio da não
retroatividade, o postulado da proporcionalidade, o princípio da generalidade
e abstração e o princípio de proteção do núcleo essencial.
PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE
Reconhece-se ao legislador o poder de conformação dentro dos limites estabelecidos
pela Constituição. No entanto, o excesso de poder no âmbito da discricionariedade
legislativa pode ensejar a censura judicial. A utilização do princípio da proporcionalidade
ou da proibição do excesso envolve a apreciação da necessidade e adequação da
providência legislativa. O meio é adequado se, com sua utilização, o evento pretendido
puder ser alcançado; é necessário, se o legislador não dispõe de outro meio eficaz e
menos restritivo aos direitos fundamentais. Uma lei será inconstitucional, por infringente
ao princípio da proporcionalidade se existirem outras medidas menos lesivas.
Humberto Ávila trata a proporcionalidade, assim como a igualdade, como
POSTULADO, valendo como critério de controle de atos do Poder Público. O
primeiro problema que surge refere-se à sua aplicação, visto que o conceito de
proporção perpassa sem limites ou critérios na teoria do direito e na ciência jurídica.
Explica o autor que a ideia de proporção de que se cuida repousa numa relação de
causalidade entre dois elementos empiricamente discerníveis: um meio e um fim, (...)
“de tal sorte que se possa proceder aos três exames fundamentais: o da adequação
(dentre os meios disponíveis e igualmente adequados para promover o fim, não há outro
meio menos restritivo do(s) direito(s) fundamentais afetados?) e o da proporcionalidade
em sentido estrito (as vantagens trazidas pela promoção do fim correspondem às
desvantagens provocadas pela adoção do mesmo?)” A segunda dificuldade que deflui
desse conceito refere-se a seu funcionamento, especialmente, no que tange à
adequação (os meios escolhidos devem ser necessários dentre aqueles disponíveis).
*Dizer o Direito
CONCEITO
O Estado de Coisas Inconstitucionais ocorre quando verifica-se a existência de um
quadro de violação GENERALIZADA e SISTÊMICA de direitos fundamentais, causado
pela inercia ou incapacidade reiterada e persistente das autoridades públicas em
modificar a conjuntura, de modo que apenas transformações estruturais da atuação do
Poder Público e a atuação de uma pluralidade de autoridades podem alterar a situação
inconstitucional.
Obs.: conceito baseado nas lições de Carlos Alexandre de Azevedo Campos (O Estado
de Coisas Inconstitucional e o litígio estrutural. Disponível em:
http://www.conjur.com.br/2015-set-01/carloscampos-estado-coisas-inconstitucional-
litigio-estrutural), artigo cuja leitura se recomenda. Exemplo: no sistema prisional
brasileiro existe um verdadeiro "Estado de Coisas
Inconstitucional".
ORIGEM
A ideia de que pode existir um Estado de Coisas Inconstitucional e que a Suprema Corte
do país pode atuar para corrigir essa situação surgiu na Corte Constitucional da
Colômbia, em 1997, com a chamada "Sentencia de Unificación (SU)". Foi aí que
primeiro se utilizou essa expressão.
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Depois disso, a técnica já teria sido empregada em mais nove oportunidades naquela
Corte.
Existe também notícia de utilização da expressão pela Corte Constitucional do Peru.
PRESSUPOSTOS
Segundo aponta Carlos Alexandre de Azevedo Campos, citado na petição da ADPF
347, para reconhecer o estado de coisas inconstitucional, exige-se que estejam
presentes as seguintes condições:
a) Vulneração massiva e generalizada de direitos fundamentais de um número
significativo de pessoas;
b) Prolongada omissão das autoridades no cumprimento de suas obrigações para
garantia e promoção dos direitos;
c) A superação das violações de direitos pressupõe a adoção de medidas
complexas por uma pluralidade de órgãos, envolvendo mudanças estruturais, que
podem depender da alocação de recursos públicos, correção das políticas públicas
existentes ou formulação de novas políticas, dentre outras medidas; e
d) Potencialidade de congestionamento da justiça, se todos os que tiverem os seus
direitos violados acorrerem individualmente ao Poder Judiciário
CONSEQUÊNCIAS
O que a Corte Constitucional do país faz após constatar a existência de um ECI?
O ECI gera um “litígio estrutural”, ou seja, existe um número amplo de pessoas que são
atingidas pelas violações de direitos. Diante disso, para enfrentar litígio dessa espécie,
a Corte terá que fixar “remédios estruturais” voltados à formulação e execução de
políticas públicas, o que não seria possível por meio de decisões mais tradicionais.
A Corte adota, portanto, uma postura de ativismo judicial estrutural diante da omissão
dos Poderes Executivo e Legislativo, que não tomam medidas concretas para resolver
o problema, normalmente por falta de vontade política.
APLICAÇÃO
É medida excepcional.
O reconhecimento do Estado de Coisas Inconstitucional é uma técnica que não está
expressamente prevista na Constituição ou em qualquer outro instrumento normativo e,
considerando que "confere ao Tribunal uma ampla latitude de poderes, tem-se
entendido que a técnica só deve ser manejada em hipóteses excepcionais, em que,
além da séria e generalizada afronta aos direitos humanos, haja também a constatação
de que a intervenção da Corte é essencial para a solução do gravíssimo quadro
enfrentado. São casos em que se identifica um “bloqueio institucional” para a garantia
dos direitos, o que leva a Corte a assumir um papel atípico, sob a perspectiva do
princípio da separação de poderes, que envolve uma intervenção mais ampla sobre o
campo das políticas públicas." (Trecho da petição inicial da ADPF 347).
10.5.1. ADPF e o sistema penitenciário brasileiro
Em maio de 2015, o Partido Socialista e Liberdade (PSOL) ajuizou ADPF pedindo que
o STF declare que a situação atual do sistema penitenciário brasileiro viola preceitos
fundamentais da Constituição Federal e, em especial, direitos fundamentais dos presos.
Em razão disso, requer que a Corte determine à União e aos Estados que tomem uma
série de providências com o objetivo de sanar as lesões aos direitos dos presos.
Na petição inicial, que foi subscrita pelo grande constitucionalista Daniel Sarmento,
defende-se que o sistema penitenciário brasileiro vive um "Estado de Coisas
Inconstitucional". São apontados os pressupostos que caracterizam esse ECI:
a) violação generalizada e sistêmica de direitos fundamentais;
b) inércia ou incapacidade reiterada e persistente das autoridades públicas em
modificar a
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conjuntura;
c) situação que exige a atuação não apenas de um órgão, mas sim de uma
pluralidade de
autoridades para resolver o problema.
A ação foi proposta contra a União e todos os Estados-membros.
1) Medidas requeridas na ação
Na ação, pede-se que o STF reconheça a existência do "Estado de Coisas
Inconstitucional" e que ele expeça as seguintes ordens para tentar resolver a situação:
1.1) O STF deveria obrigar que os juízes e tribunais do país:
a) quando forem decretar ou manter prisões provisórias, fundamentem essa
decisão dizendo expressamente o motivo pelo qual estão aplicando a prisão e não uma
das medidas cautelares alternativas previstas no art. 319 do CPP;
b) implementem, no prazo máximo de 90 dias, as audiências de custódia (sobre as
audiências
de custódia, leia o caderno de processo penal);
c) quando forem impor cautelares penais, aplicar pena ou decidir algo na execução
penal, levem em consideração, de forma expressa e fundamentada, o quadro dramático
do sistema penitenciário brasileiro;
d) estabeleçam, quando possível, penas alternativas à prisão;
e) abrandar os requisitos temporais necessários para que o preso goze de
benefícios e direitos, como a progressão de regime, o livramento condicional e a
suspensão condicional da pena, quando ficar demonstrado que as condições de
cumprimento da pena estão, na prática, mais severas do que as previstas na lei em
virtude do quadro do sistema carcerário; e
f) abatam o tempo de prisão, se constatado que as condições de efetivo
cumprimento são, na prática, mais severas do que as previstas na lei. Isso seria uma
forma de "compensar" o fato de o Poder Público estar cometendo um ilícito estatal.
1.2) O STF deveria obrigar que o CNJ:
g) coordene um mutirão carcerário a fim de revisar todos os processos de execução
penal em
curso no País que envolvam a aplicação de pena privativa de liberdade, visando a
adequá-los às medidas pleiteadas nas alíneas “e” e “f” acima expostas.
1.3) O STF deveria obrigar que a União:
h) libere, sem qualquer tipo de limitação, o saldo acumulado do Fundo Penitenciário
Nacional (FUNPEN) para utilização na finalidade para a qual foi criado, proibindo a
realização de novos contingenciamentos.
2) O STF ainda não julgou definitivamente o mérito da ADPF, mas já apreciou o pedido
de liminar. O que a Corte decidiu?
O STF decidiu conceder, parcialmente, a medida liminar e deferiu apenas os pedidos
"b" (audiência de custódia) e "h" (liberação das verbas do FUNPEN).
O Plenário reconheceu que no sistema prisional brasileiro realmente há uma violação
generalizada de direitos fundamentais dos presos. As penas privativas de liberdade
aplicadas nos presídios acabam sendo penas cruéis e desumanas.
Diante disso, o STF declarou que diversos dispositivos constitucionais, documentos
internacionais (o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, a Convenção contra
a Tortura e outros Tratamentos e Penas Cruéis, Desumanos e Degradantes e a
Convenção Americana de Direitos Humanos) e normas infraconstitucionais estão sendo
desrespeitadas.
Os cárceres brasileiros, além de não servirem à ressocialização dos presos, fomentam
o aumento da criminalidade, pois transformam pequenos delinquentes em “monstros do
crime”. A prova da ineficiência do sistema como política de segurança pública está nas
altas taxas de reincidência. E o reincidente passa a cometer crimes ainda mais graves.
Vale ressaltar que a responsabilidade por essa situação deve ser atribuída aos três
Poderes (Legislativo, Executivo e Judiciário), tanto da União como dos Estados-
Membros e do Distrito Federal.
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a) O direito de permanecer vivo: Ninguém tem direito a tirar a vida de outrem (salvo
guerra);
b) Direito a uma vida digna: Interpretação conjunta do art. 1º, III e art. 170.
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e
Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem
como fundamentos: III - a dignidade da pessoa humana;
A doutrina costuma dizer que todos direitos fundamentais são irrenunciáveis. Isso quer
dizer que não se pode abrir mão de forma definitiva do direito; pode ocorrer apenas o
seu não exercício temporário.
Quando a constituição diz que o direito à vida é inviolável, não significa que ele seja
absoluto.
Direito à vida de uma pessoa X Direito à vida de outra: um dos dois terá que ceder,
como ocorre no estado de necessidade, na legítima defesa, no caso de a vida da
gestante estar em risco em razão da gravidez, em que o Código Penal permite o aborto
(ABORTO TERAPÊUTICO).
Direito à vida de uma pessoa X Outros direitos assegurados pela Constituição: uma
prova de que o direito à vida não é absoluto está no próprio texto constitucional, quando
é consagrada a pena de morte, no artigo 5º, XLVII.
CF Art. 5º
XLVII - não haverá penas:
a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX;
Exemplo feito pelo legislador é o do art. 128, II, CP, caso em que o legislador penal
permite o aborto em caso de ESTUPRO.
Feita esta análise, pode-se perceber que o direito à vida não é absoluto.
Vejamos as polêmicas:
1.2. TESTEMUNHAS DE JEOVÁ E O DIREITO À VIDA
Não admitem transfusão de sangue. Vida X DPH (Liberdade religiosa).
Segundo o STJ, o direito à vida sempre deve permanecer, uma vez que é um direito
antecedente, por isso, sempre prevalece no caso do direito à liberdade de religião.
1.3. EUTANÁSIA E O DIREITO À VIDA
Vida X DPH. Vida não é só permanecer vivo, é viver com dignidade.
1.4. ABORTO E O DIREITO À VIDA (DEBATE: LEGALIZAÇÃO DO ABORTO)
1.4.1. Argumentos contrários a legalização
- Vida humana começa com a concepção/nidação (7 a 10 dias após a concepção),
quando a gravidez se torna vida viável/Sistema nervoso central (+ ou - 14 dias).
O Código Penal, em seu art. 128, traz duas hipóteses em que o aborto é permitido:
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Segundo o texto expresso do CP, essas são as duas únicas hipóteses em que o aborto
é permitido no Brasil.
Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por médico: Aborto necessário
I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante;
Aborto no caso de gravidez resultante de estupro
II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da
gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal.
1.5.3. Feto anencéfalo, segundo Min. Marco Aurélio (Relator da ADPF)
Anencefalia consiste na malformação do tubo neural, a caracterizar-se pela ausência
parcial do encéfalo e do crânio, resultante de defeito no fechamento do tubo neural
durante o desenvolvimento embrionário.
Essa má-formação é doença congênita letal, pois não há possibilidade de
desenvolvimento de massa encefálica em momento posterior, pelo que inexiste, diante
desse diagnóstico, presunção de vida extrauterina, até porque é consenso na medicina
que o falecimento é diagnosticado pela morte cerebral.
O CFM, mediante a Resolução 1.752/2004, considera os anencéfalos natimortos
cerebrais.
Desse modo, segundo o Min. Marco Aurélio, os fetos anencéfalos jamais se tornariam
pessoa. Assim, não se trata de vida em potencial, porém, seguramente, de morte.
1.5.4. Argumentos utilizados na ADPF a favor do aborto anencefálico
A ação foi assinada por Luís Roberto Barroso, hoje Ministro do STF, e tinha, entre
outros, os seguintes argumentos:
1) Como o feto anencéfalo não desenvolveu o cérebro, ele não teria qualquer
condição de sobrevivência extrauterina;
2) Perdurar a gestação por meses seria apenas prolongar o sofrimento da mãe,
considerando que a morte da criança ao nascer, ou mesmo antes do parto, seria
cientificamente inevitável;
3) Rigorosamente, não haveria nem mesmo aborto porque o feto anencéfalo é
desprovido de cérebro e, segundo a Lei n.º 9.434/1997, o marco legislativo para se aferir
a morte de uma pessoa ocorre no momento em que se dá sua morte cerebral
Os autores da ADPF falam que na época do CP não havia exames que diagnosticavam
a anencefalia, por isso não foi previsto no CP. Então, por uma interpretação evolutiva,
poder-se-ia acrescentar essa hipótese.
Expressão de Barroso, “desacordo moral razoável”. São as questões limite, onde não
há uma opinião moral bem definida, pois ambos os argumentos são moralmente e
racionalmente defensáveis. Diante de um caso desses, o Estado não deve impor
condutas externas imperativas, ou seja, não pode punir um dos argumentos, deve o
Estado deixar que cada pessoa decida de acordo com a sua consciência.
1.5.5. Argumentos utilizados na ADPF contra o aborto anencefálico
Outros setores da sociedade e, em especial a Igreja Católica, mostram-se
completamente contrários à possibilidade de aborto de fetos anencefálicos.
1) O feto já pode ser considerado um ser humano e deve ter seu direito à vida
respeitado;
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A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) chegou, inclusive, a pedir para
intervir na ADPF como amicus curiae (intervenção processual atípica de terceiros), o
que, no entanto, foi negado pelo Ministro Relator da ação
1.5.6. Decisão do STF
É inconstitucional a interpretação segundo a qual a interrupção da gravidez de feto
anencéfalo seria conduta tipificada nos arts. 124, 126 e 128, I e II, do CP. A interrupção
da gravidez de feto anencéfalo é atípica. Não se exige autorização judicial para que o
médico realize a interrupção de gravidez de feto anencéfalo
Assim, médicos que fazem a cirurgia e as gestantes que decidem interromper a gravidez
não cometem crime de aborto. Esta conduta é considerada atípica (atipicidade formal).
1) A equipe médica precisa de autorização para a retirada do feto anencefálico?
NÃO. Para interromper a gravidez de feto anencéfalo não é necessária autorização
judicial ou qualquer outra forma de permissão do Estado. Basta o diagnóstico de
anencefalia do feto.
Não é necessária autorização judicial por três motivos:
1) A equipe médica não está praticando qualquer fato típico;
2) Não há lei exigindo alvará judicial neste caso;
3) Nos casos do art. 128 do CP também não se exige autorização judicial (posição
majoritária).
1.5.7. Conflito aparente entre direitos fundamentais
Não há conflito entre o direito à vida dos anencéfalos e o direito da mulher à dignidade.
Isso porque, segundo o Min. Relator, direito à vida de anencéfalo seria um termo
antitético considerando que o anencéfalo, por ser absolutamente inviável, não seria
titular do direito à vida.
Assim, o alegado conflito entre direitos fundamentais seria apenas aparente. Assentou
que o feto anencéfalo, mesmo que biologicamente vivo, porque feito de células e tecidos
vivos, seria juridicamente morto, de maneira que não deteria proteção jurídica,
principalmente a jurídico-penal.
Corroborou esse entendimento ao inferir o conceito jurídico de morte cerebral da Lei
9.434/97, de modo que seria impróprio falar em direito à vida intra ou extrauterina do
anencéfalo, natimorto cerebral.
Destarte, a interrupção de gestação de feto anencefálico não configuraria crime contra
a vida, porquanto se revelaria conduta atípica.
2. DIREITO À PRIVACIDADE (ART. 5º, X)
2.1. CONCEITO E ESPÉCIES
CF Art. 5º, X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das
pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de
sua violação;
Nesse sentido, a esfera mais próxima seria a da intimidade, que são os segredos,
confidências etc. Exemplo: Diário.
Logo, a esfera pessoal, que diz respeito às relações com o meio social. Como por
exemplo, uma festa na casa de amigos, a ida a um clube, ambiente de trabalho, sigilo
bancário etc.
A outra esfera seria a da publicidade. Esta já não estaria protegida pela Constituição.
Exemplo: Artista em show está abrindo mão do direito à privacidade. Outro exemplo:
Informações em processo judicial que não tramita em segredo de justiça, informações
que caíram em domínio público etc. Nada disso está protegido, pois tudo está na esfera
da publicidade e não da privacidade.
-Licitude da informação
-Forma adequada de transmissão
-Contribuição para o debate de interesse geral ou relevância para formação da opinião
pública, eixo em torno do qual gira o direito à informação.
2.3. PRIVACIDADE X LIBERDADE DE INFORMAÇÃO
São restrições legítimas à privacidade:
Pode ser uma gravação ambiental (câmera escondida), pessoal (gravador de bolso) ou
telefônica, feita por um dos interlocutores sem o conhecimento dos demais.
Nem sempre a gravação é ilícita, podendo ser utilizada como prova se houver uma justa
causa para tal.
A definição de justa causa depende de uma ponderação. Mas que fique claro: qualquer
limitação de direito fundamental só é justificada quando para salvaguardar outro direito
constitucional, que no caso concreto mereça ser sobreposto em relação aquele.
1- Gravação feita pelo réu no processo penal para sua defesa: Prevalece o direito
à liberdade e ampla defesa do réu sobre o direito à privacidade.
A gravação clandestina sem justa causa é vedada pelo art. 5º, X (privacidade).
2.3.2. Quebra de sigilos de dados (art. 5º X veda – privacidade e XII para alguns)
Consiste no acesso ao registro de determinadas informações, tais como: extratos
bancários, declarações de imposto de renda, registro de ligações telefônicas e dados
constantes de arquivos de computador.
Pode ocorrer a quebra de sigilo:
• Bancário:
• Fiscal: acesso as informações declaradas ao fisco;
• Telefônico: acesso ao registro das ligações telefônicas, não há acesso às
conversas da pessoa. Apenas se sabe os números, o tempo de ligação. O conteúdo das
conversas não fica gravado.
• Informático: acesso a dados de computador, pendrive.
Existe uma divergência sobre o enquadramento destes direitos. Para alguns, estariam
protegidos pelo direito à privacidade (art. 5º, X). No entanto, há quem entenda, inclusive
dentro do STF, que estariam protegidos pelo art. 5º, XII.
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas,
assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua
violação;
Prima facie estes sigilos não podem ser quebrados, salvo se houver justificação para
isso.
1) Legitimados para pedir quebra de sigilo bancário
a) Poder Judiciário e CPI
Sigilo bancário poderia ser quebrado tanto pelo Poder Judiciário quanto por CPI federal
(um dos poderes próprios seria o da quebra de sigilo bancário) ou estadual (ACO
730/RJ).
O STF entendeu, na ACO 730/RJ, por 6 votos a 5, que a CPI estadual poderia quebrar
o sigilo bancário (não estendida aos municípios).
b) MP
O MP não tem legitimidade para requisitar diretamente a quebra de sigilo, deve fazer
através do Poder Judiciário. Porém, houve uma exceção quando se tratou de dinheiro
público. Desta forma, entende o STF, que, em regra, o MP não pode solicitar
diretamente a quebra de sigilo bancário, salvo quando houver verba pública envolvida.
c) TCU 18
O TCU, órgão auxiliar do Poder Legislativo na fiscalização do Poder Executivo, não pode
quebrar sigilo bancário.
d) Autoridade administrativa (Dizer o Direito)
Autoridade administrativa, em 2001 foi feita uma lei complementar (105/01), que dava
poderes às autoridades fazendárias, ao fisco para requisitar dados bancários
diretamente, sem necessidade de ordem judicial.
A lei foi objeto de diversas ações de inconstitucionalidades, o tema foi pacificado em
fevereiro de 2016, pelo STF. Vejamos o que foi decido:
O STF entendeu que esse repasse das informações dos bancos para o Fisco não pode
ser chamado de "quebra de sigilo bancário". Isso porque as informações são passadas
para o Fisco (ex: Receita Federal) em caráter sigiloso e permanecem de forma sigilosa
na Administração Tributária. Logo, é uma tramitação sigilosa entre os bancos e o Fisco
e, por não ser acessível a terceiros, não pode ser considerado violação (quebra) do
sigilo.
Assim, repito, na visão do STF, o que o art. 6º da LC 105/2001 faz não é quebra de
sigilo bancário, mas somente a “transferência de sigilo” dos bancos ao Fisco. Os dados,
até então protegidos pelo sigilo bancário, prosseguem protegidos pelo sigilo fiscal. Pode
parecer um eufemismo, no entanto, é importante ficar atento porque isso pode ser
exigido nas provas de concurso.
Para o STF, o simples fato de o Fisco ter acesso aos dados bancários do contribuinte
não viola a garantia do sigilo bancário. Só haverá violação se esses dados "vazarem"
18
INFO 819 – STF: Em auditoria realizada pelo TCU para apurar a gestão administrativa do Poder
Legislativo, os servidores indiretamente afetados pelas determinações do Tribunal não possuem
direito de serem ouvidos no processo fiscalizatório. Não existe, no caso, desrespeito ao devido
processo legal. A atuação do TCU ficaria inviabilizada se, nas auditorias realizadas, fosse necessário
intimar, para integrar o processo administrativo de controle, qualquer um que pudesse ser
alcançado, embora de forma indireta, pela decisão da Corte. STF. 1ª Turma. MS 32540/DF, Rel. Min.
Marco Aurélio, julgado em 29/3/2016 (Info 819)
INFO 818 – STF: A iniciativa de projetos de lei que tratem sobre a organização e o funcionamento
dos Tribunais de Contas é reservada privativamente ao próprio Tribunal (arts. 73 e 96, II, “b”, da
CF/88). É possível que haja emendas parlamentares em projetos de lei de iniciativa do Tribunal de
Contas, desde que respeitados dois requisitos: a) guardem pertinência temática com a proposta
original (tratem sobre o mesmo assunto); b) não acarretem em aumento de despesas.
para pessoas estranhas ao órgão fazendário. Aí sim haveria quebra do sigilo bancário
por ter sido exposta a intimidade do contribuinte para terceiros. Em casos de vazamento,
a LC 105/2001 prevê punições ao responsável, que estará sujeito à pena de reclusão,
de 1 a 4 anos, mais multa, além de responsabilização civil, culminando com a perda do
cargo (art. 10).
Posição do STJ
O novo entendimento do STF já era adotado, em parte, pelo STJ, que possui, inclusive,
um Recurso Especial repetitivo sobre o tema (REsp 1.134.665/SP). Na ocasião, o STJ
firmou a tese de que a autoridade fiscal pode solicitar diretamente das instituições
financeiras, ou seja, sem autorização judicial, informações sobre operações realizadas
pelo contribuinte, requerendo, até mesmo, os extratos de contas bancárias. Assim, para
o STJ, no âmbito do processo administrativo fiscal, para fins de constituição de crédito
tributário, é possível a requisição direta de informações pela autoridade fiscal às
instituições bancárias sem prévia autorização judicial.
Não há mais dúvidas de que o Fisco poderá requisitar diretamente as informações
bancárias. Isso está previsto no art. 6º da LC 105/2001, é constitucional e não configura
quebra de sigilo. Tudo bem. Mas esses dados poderão ser utilizados em processos
criminais ou somente em processos administrativo-tributários?
STJ
O STJ, antes da decisão do Supremo, entendia que os dados obtidos pela Receita
Federal com fundamento no art. 6º da LC 105/2001, mediante requisição direta às
instituições bancárias no âmbito de processo administrativo fiscal sem prévia
autorização judicial, não poderiam ser utilizados no processo penal. Nesse sentido: STJ.
5ª Turma. REsp 1.361.174-RS, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 3/6/2014
(Info 543).
Assim, para o STJ, o Fisco pode requisitar, sem autorização judicial, informações
bancárias das instituições financeiras para fins de constituição de créditos tributários.
Contudo, tais informações obtidas pelo Fisco não poderiam ser enviadas ao MP para
servirem de base para a propositura de uma ação penal, salvo quando houver
autorização judicial, sob pena de configurar quebra de sigilo bancário.
STF
No julgamento acima comentado do STF, os Ministros não deixaram explícito se as
informações bancárias obtidas diretamente pela Receita poderão ser utilizadas em
processos penais. No entanto, penso que, pelos votos proferidos, a tendência seja que
o STF afirme que é válido o aproveitamento de tais elementos também na esfera
criminal.
Assim, entendo que o STF permitirá que os dados bancários obtidos pela Receita sejam
utilizados tanto em processos administrativo-tributários (constituição definitiva do crédito
tributário) como também nos processos penais por crimes contra a ordem tributária.
Dessa forma, a previsão é de que o entendimento dicotômico do STJ acima mencionado
seja superado.
Devemos, no entanto, aguardar para ter uma certeza.
SIGILO BANCÁRIO
Os órgãos poderão requerer informações bancárias diretamente das instituições
financeiras?
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204
O direito ao sigilo das comunicações é previsto no art. 5º, XII da CF/88, e abrange o
sigilo das comunicações telefônicas, telegráficas, dados e correspondências.
Apesar de o sigilo ser um direito, sabemos que nenhum direito é absoluto, podendo, no
caso concreto ser limitado. Ou seja, se no caso concreto, em um juízo de ponderação e
proporcionalidade, for verificada a necessidade de mitigar o direito à privacidade ou
sigilo de correspondência em benefício de outro direito, nada impede que assim o seja
feito.
‘Topos’ do STF: Direitos fundamentais não podem ser usados como escudos para
práticas
ilícitas.
b) Sigilo de Dados
Art. 5º
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas,
assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua
violação;
XII - é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de dados
e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses
e na forma que a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução
processual penal;
Tércio Sampaio Ferraz Jr. e Manuel Gonçalves Ferreira Filho entendem que esses
dados seriam apenas informáticos.
Para o STF, a proteção dada pelo o art. 5º, XII refere-se apenas à comunicação dos
dados, e não aos dados em si. O que não muda muito, pois os dados em si ficariam
protegidos pelo direito à inviolabilidade da vida privada e intimidade (inc. X).
É o único que recebeu tratamento especial da CF no art. 5º, o qual estabeleceu três
requisitos para ser violada em estados de normalidade:
1-Ordem judicial
2-Na forma da lei (Lei 9.296/96)*
3-Fim de investigação criminal ou instrução processual penal.
Reserva de jurisdição: Cabe ao judiciário dar, não apenas a última (como ocorre
normalmente), mas também a primeira palavra sobre a questão.
PARA LEMBRAR:
OBS: Tem regulamento da CPI que diz ser permitida a prisão, daí o motivo dos HCs
preventivos na época do mensalão. Não obstante isso, o STF já se posicionou no
sentido de o referido regulamento não ter sido recepcionado pela CF.
IMPORTANTE: A prova obtida com interceptação telefônica (para fins penais) pode ser
usada em PAD contra os mesmos acusados no processo penal ou até mesmo contra
outros servidores (prova emprestada) INQ (QO-QO) 2424/RJ. Na primeira decisão, o
STF tinha admitido somente contra os mesmos réus da investigação criminal. Logo
após, mudou o entendimento.
As provas decorrentes da escuta telefônica não autorizada são igualmente ilícitas por
aplicação da doutrina “fruits of a poisonous tree”.
Vale dizer que violar domicílio significa adentrar ou permanecer na casa sem o
consentimento do dono.
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208
1ª Situação: Emergencial: São situações nas quais há um perigo e não tem como
esperar ordem judicial para invadir a casa. São os casos de desastre, prestação de
socorro e flagrante delito (mesmo pra fugir). Nessas situações, a casa pode ser invadida
em qualquer horário.
ATENÇÃO!
OBS: Flagrante em sentido estrito. Não o sentido amplo do Direito processual penal.
Resumindo:
Fiscal tributário pode entrar à força no estabelecimento? Tem legislação antiga que
permitia, dizendo que o fiscal podia requisitar a força policial.
No entanto o STF diz que tal lei não foi recepcionada neste ponto. A auto executoriedade
da Administração Tributária cedeu lugar diante da inviolabilidade do domicílio. Deve
requisitar autorização judicial. Isso é em relação tão somente em fiscalização para fins
de tributo.
Prevê o art. 5º, caput que todos são iguais perante a lei, não se admitindo distinções de
qualquer natureza.
A essência do princípio da isonomia preconiza que todos devem ser iguais em questão
de dignidade humana.
Com base nisso, não se quer dizer que não possam haver diferenciações, mas devem
ser feitas com justificativa razoável, sempre na busca de um bem maior.
Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à
melhoria de sua condição social:
XXX - proibição de diferença de salários, de exercício de funções e de critério de
admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil;
XXXI - proibição de qualquer discriminação no tocante a salário e critérios de admissão
do trabalhador portador de deficiência;
XXXII - proibição de distinção entre trabalho manual, técnico e intelectual ou entre os
profissionais respectivos;
Poderia haver distinção de cor? CABM (Celso Antônio Bandeira de Mello) diz que sim.
Exemplo:
de pesquisas com determinada raça.
3.2. IGUALDADE MATERIAL X IGUALDADE FORMAL
3.2.1. Distinções
1) Igualdade formal (civil, jurídica ou igualdade perante a lei)
A igualdade material é consagrada no art. 5º, caput c/c art. 3º, IV e Direitos Sociais.
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-
se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à
vida, à liberdade, À IGUALDADE, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
Distinção:
No Brasil, essa distinção não tem muita utilidade, pois apesar de a CF falar em “perante
a lei”, todo o poder legislativo é vinculado aos preceitos constitucionais. Assim, todos os
poderes públicos são destinatários do princípio da igualdade (eficácia vertical), e além
deles os particulares também são destinatários do princípio da igualdade (eficácia
horizontal).
OBS: ADI 3324 lei 9.536/97, art. 1º. Admitia a transferência ex officio (sem processo
seletivo), no caso de transferência/remoção de servidor público federal, entre as
universidades. STF decidiu, mediante interpretação conforme a Constituição, que essa
transferência só poderá se dar entre instituições congêneres (pública pública,
particular particular), salvo impossibilidade, ou seja, se o local para onde foi transferido
não possui universidade particular.
3.5. IGUALDADE ENTRE HOMENS E MULHERES (ART. 5º, I)
A lei pode estabelecer distinções entre homens e mulheres?
A própria CF estabelece, basta ver a licença gestante, aposentadoria etc. Mas e a lei
poderia?
Sim, a lei também pode estabelecer distinções, DESDE QUE seja para atenuar
desníveis existentes.
Ex: Lei Maria da Penha.
Muitos a consideram inconstitucional. Teve tanta ação questionando que foi proposta
uma ADC (19), sendo foi julgada procedente pelo STF em 2012. A Convenção que
protege os direitos da mulher (sistema universal ou global) e a Convenção de Belém do
Pará (sistema regional interamericano) consagram a discriminação positiva, através de
ações afirmativas.
4. DIREITOS DE LIBERDADE
4.1. INTRODUÇÃO
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-
se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à
vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
As liberdades não são absolutas, porém para que o poder público possa restringi-las,
alguns limites devem ser observados (limites dos limites, ver acima).
Não pode haver restrição que viole núcleo essencial do direito, que não obedeça à
reserva legal etc. Se isso não for observado, não há legitimidade da restrição.
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Exceções: O STF admite quando o bilhete constitui o próprio corpo de delito do crime
(ex: carta injuriosa é o corpo de delito do crime contra a honra, logo é válida). Outra
hipótese que o STF admite, dá-se quando o bilhete sem assinatura é produzido pelo
próprio acusado (ex: bilhete que o sequestrador pede o resgate). Claro que a utilização
do elemento como prova dependerá de perícia etc.
4.3. LIBERDADE DE INFORMAÇÃO (ART. 5º, XIV)
*Dirley da Cunha Jr.
4.3.1. Conceitos
Art. 5º, XIV - é assegurado a todos o acesso à INFORMAÇÃO e resguardado o sigilo da
fonte, quando necessário ao exercício profissional;
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Temos aqui três aspectos: direito de informar, direito de se informar e direito de ser
informado.
A CF reconhece esse direito no art. 220, caput, quando estatui que a informação sob
forma alguma, processo ou veículo não sofrerá qualquer restrição. Ou seja, caráter
negativo, o estado se compromete a não intervir, mas também não dá os meios para
que a informação seja transmitida. Excepcionalmente, neste inc. V do art. 5º, podemos
enxergar o caráter positivo deste direito, pois aqui, quando o indivíduo tem a honra
maculada devido ao “direito à informação” ou “manifestação do pensamento”, terá direito
de resposta transmitida por esse mesmo meio de comunicação.
Diferenciações:
religião não tem importância. Significa que não pode haver favorecimentos ou prejuízos
em relação à determinada religião.
Não se quer dizer que não possam ser usados argumentos religiosos, mas para que
isso ocorra deve haver a chamada Tradução Institucional, ou seja, traduzir o argumento
religioso para um argumento racionalmente justificável. Foi o que o STF afirmou na
ADPF do aborto de fetos anencéfalos.
4.4.3. Escusa de consciência (art. 5º, VIII)
É a possibilidade de a pessoa invocar o chamado imperativo de consciência, para se
eximir de determinadas obrigações. O sujeito invoca uma convicção pessoal (religiosa,
política ou filosófica) para se eximir de obrigação a todos imposta, devendo, no caso,
prestar obrigação alternativa. Habernas: Não se pode obrigar uma pessoa praticar algo
impossível.
CF, VIII - ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de
convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a
todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei;
A pessoa não pode ser obrigada a fazer algo que viole a sua consciência, seja no
aspecto religioso, filosófico ou político. Desta forma, esta pessoa pode se recusar a
cumprir obrigação imposta a todos, mas deve cumprir a prestação alternativa fixada em
lei.
O Estado deve criar esta lei para que a pessoa tenha a opção em caso de violação de
sua consciência. Exemplo clássico é o serviço militar obrigatório.
Em razão do imperativo de consciência pode deixar de prestar o serviço obrigatório
(obrigação legal), mas deve cumprir a prestação alternativa (determinada pelo Estado
em lei).
Se o estado não edita a lei, não pode a pessoa ser penalizada.
Outro exemplo pertinente é o do voto obrigatório, alegando um imperativo de
consciência o indivíduo pode deixar de votar. Caso não cumpra a prestação alternativa
terá que cumprir a pena prevista no art. 15, IV, CF (suspensão dos direitos políticos).
Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão só se dará
nos casos de:
IV - recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa (SOMENTE
A NEGATIVA DE CUMPRIMENTO DE PRESTAÇÃO ALTERNATIVA QUE GERA), nos
termos do art. 5º, VIII);
Característica distintiva:
Art. 5º, XVI - todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao
público, independentemente de autorização, desde que não frustrem outra reunião
anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à
autoridade competente;
4.5.4. Associação
Art. 5º XVII - é plena a liberdade de associação para fins lícitos (acepção positiva),
vedada a de caráter paramilitar;
Art. 5º, LXX - o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por:
a) partido político com representação no Congresso Nacional;
b) organização sindical, entidade de classe ou ASSOCIAÇÃO legalmente
constituída e em funcionamento há pelo menos um ano, em defesa dos interesses de
seus membros ou associados;
STF:
SÚMULA Nº 629 - A IMPETRAÇÃO DE MANDADO DE SEGURANÇA COLETIVO POR
ENTIDADE DE CLASSE EM FAVOR DOS ASSOCIADOS INDEPENDE DA
AUTORIZAÇÃO DESTES.
SÚMULA Nº 630 - A ENTIDADE DE CLASSE TEM LEGITIMAÇÃO PARA O MANDADO
DE SEGURANÇA AINDA QUANDO A PRETENSÃO VEICULADA INTERESSE
APENAS A UMA PARTE DA RESPECTIVA CATEGORIA.
4.5.5. Sindicato
Art. 8º, III - ao SINDICATO cabe a defesa dos direitos e interesses coletivos ou
individuais da categoria, inclusive em questões judiciais ou administrativas;
Não há necessidade de autorização expressa dos sindicalizados, logo é hipótese de
substituição processual. (Posição do STJ)
ATENÇÃO! Vale ressaltar que o STJ tem firme posição em sentido contrário, ou seja,
para ele as associações não precisam de autorização expressa dos seus filiados. Nesse
sentido:
5. DIREITO DE PROPRIEDADE
5.1. REGIME JURÍDICO DO DIREITO DE PROPRIEDADE
José Afonso da Silva: O regime é de DIREITO PÚBLICO, isso porque a base do direito
à propriedade é constitucional.
A disciplina do direito de propriedade está consagrada na Constituição. O que o Código
Civil disciplina são as relações civis decorrentes do direito de propriedade.
5.2. FUNÇÃO SOCIAL (ART. 5º, XXII)
Ver Direitos Reais. Cristiano Chaves.
Função social não é apenas uma limitação; ela faz parte do próprio regime, da própria
estrutura do direito de propriedade.
1ª: Afonso da Silva: por a função social fazer parte da estrutura do direito de
propriedade, este só é garantido se a propriedade atender à sua função social. CESPE.
Crítica: Por essa interpretação, se o MST invade uma propriedade improdutiva (sem
função social), tal atitude seria legítima. Não há como compactuar com algo assim.
Mesmo não cumprindo a função a propriedade tem uma proteção. Ninguém pode ser
privado arbitrariamente de sua propriedade.
O STF, em jurisprudência passiva, entende que a invasão de terra (MST) é ilegítima. O
direito de propriedade, na verdade, recebe uma proteção constitucional mesmo quando
não atender a sua função social, a propriedade está protegida.
2ª: Daniel Sarmento: Se a propriedade cumpre a sua função social ela terá uma proteção
maior do que aquela que não cumpre, ou seja, não é pelo fato de não cumprir a função
social que o direito à propriedade deixa de ser garantido.
Conforme o STF ninguém pode ser privado do direito de propriedade sem observância
do devido processo legal. STF MS 23006/PB.
Art. 182, § 2º - A propriedade URBANA cumpre sua função social quando atende às
exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano diretor.
Art. 139. Na vigência do ESTADO DE SÍTIO decretado com fundamento no art. 137, I,
só poderão ser tomadas contra as pessoas as seguintes medidas:
[...]
VII - requisição de bens.
Art. 5º, XXIV - a lei estabelecerá o procedimento para desapropriação por necessidade
ou utilidade pública, ou por interesse social, mediante justa e prévia indenização em
dinheiro, ressalvados os casos previstos nesta Constituição;
Na desapropriação SEMPRE haverá indenização. De acordo com a CF, deve ser uma
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221
Art. 182, § 4º - É facultado ao Poder Público municipal, mediante lei específica para área
incluída no plano diretor, exigir, nos termos da lei federal, do proprietário do solo urbano
não edificado, subutilizado ou não utilizado (falta de cumprimento da função social), que
promova seu adequado aproveitamento, sob pena, sucessivamente, de:
I - parcelamento ou edificação compulsórios;
II - imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana progressivo no tempo;
(imposto extrafiscal)
III - desapropriação com pagamento mediante títulos da dívida pública de emissão
previamente aprovada pelo Senado Federal, com prazo de resgate de até dez anos, em
parcelas anuais, iguais e sucessivas, assegurados o valor real da indenização e os juros
legais.
NÃO. ERRADO. Art. 184, §5º. São isentas apenas de IMPOSTOS. Isenção aqui é o
mesmo que imunidade.
SIM. No entanto, não podem para fins de reforma agrária, pois não haveria interesse
social.
Art. 185.
Art. 185. São insuscetíveis de desapropriação para fins de reforma agrária (para outros
fins pode! necessidade pública, por exemplo):
I - a pequena e média propriedade rural, assim definida em lei, desde que seu
proprietário não possua outra; II - a propriedade produtiva.
Parágrafo único. A lei garantirá tratamento especial à propriedade produtiva e fixará
normas para o cumprimento dos requisitos relativos a sua função social.
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Os Estados podem desapropriar por interesse social, mas não para fins de reforma
agrária, sendo, neste caso, atribuição da União (JSCF).
Art. 184. Compete à UNIÃO desapropriar por interesse social, para FINS DE REFORMA
AGRÁRIA, o imóvel rural que não esteja cumprindo sua função social, mediante prévia
e justa indenização em títulos da dívida agrária, com cláusula de preservação do valor
real, resgatáveis no prazo de até vinte anos, a partir do segundo ano de sua emissão, e
cuja utilização será definida em lei.
5.3.4. Diferença desapropriação x requisição x confisco
Art. 243. As propriedades rurais e urbanas de qualquer região do País onde forem
localizadas culturas ilegais de plantas psicotrópicas ou a exploração de trabalho escravo
na forma da lei serão expropriadas e destinadas à reforma agrária e a programas de
habitação popular, sem qualquer indenização ao proprietário e sem prejuízo de outras
sanções previstas em lei, observado, no que couber, o disposto no art. 5º. (EC 81/14)
Parágrafo único. Todo e qualquer bem de valor econômico apreendido em decorrência
do tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e da exploração de trabalho escravo
será confiscado e reverterá a fundo especial com destinação específica, na forma da lei.
5.3.6. Usucapião
A CF/88 prevê duas formas da chamada usucapião especial ou constitucional.
1) Usucapião especial de Imóvel urbano (pró-moradia ou pro misero)
Art. 183. Aquele que possuir como sua área urbana de até duzentos e cinquenta metros
quadrados, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua
moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário de
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223
O § 2º dispõe que esse direito é reconhecido apenas uma vez ao possuidor, não
incidindo sobre imóveis públicos.
5. Usucapião especial de Imóvel rural (pro labore)
Art. 191. Aquele que, não sendo proprietário de imóvel rural ou urbano, possua como
seu, por cinco anos ininterruptos, sem oposição, área de terra, em zona rural, não
superior a cinquenta hectares, tornando-a produtiva por seu trabalho ou de sua família,
tendo nela sua moradia, adquirir-lhe-á a propriedade.
Os prazos de posse do bem previstos na CF são menores (05 anos) que os do CC (05,
10, 15...), por se tratar de modalidade especial de usucapião. Por isso, os requisitos são
mais profundos para que a pessoa adquira o imóvel.
6. Características comuns
*Requisitos tradicionais: Posse por cinco anos mansa, pacífica, ininterrupta, precária
(não pode ser um comodato, por exemplo).
*Requisitos especiais:
a) Usar o imóvel para moradia;
b) Necessidade de não ter outro imóvel (urbano ou rural).
c) Metragem máxima: Urbano: 250m²; Rural: 50hec.
Por fim, no imóvel rural ainda é necessário que torne a propriedade produtiva com seu
trabalho ou de sua família.
Imóveis públicos não podem ser adquiridos por usucapião (art. 183, §3º e 191, parágrafo
único).
Classificação por José Afonso da Silva (1964 – porém atende melhor) Divide as normas
constitucionais em:
1. EFICÁCIA
Umas terão eficácia maior, outras menor, mas todas têm eficácia. Não existe lei
constitucional sem eficácia, nem que seja para invalidar outras que sejam contrárias.
1.1. EFICÁCIA PLENA
Aquela norma que tem aplicabilidade DIRETA, IMEDIATA e INTEGRAL.
o Normas que estabelecem vedações (art. 19) o Proibições (145, §2º) o Isenções
(art. 184, §5º)
o Imunidades (art. 53) ou prerrogativas (art. 128, §5, I)
Art. 53. Os Deputados e Senadores são invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer
de suas opiniões, palavras e votos.
Norma de eficácia plena, não pode ser restringida por lei, o legislador não poderia criar
uma lei dizendo que a imunidade dos parlamentares só valeria dentro do Congresso
Nacional.
Agora, se uma lei diz que só tem imunidades se as palavras forem em razão do exercício
da atividade parlamentar, não teria problema, pois estaria regulamentando e não
restringindo.
A norma de eficácia plena pode ser regulamentada, desde que não haja uma restrição
das hipóteses previstas por ela.
b) IMEDIATA: é aplicada imediatamente aos casos previstos por ela, não depende
de nenhum tipo de condição para ser aplicada.
CESPE: A norma de eficácia contida enquanto não restringida por lei, é uma norma de
eficácia plena? NÃO. A norma de eficácia contida enquanto não restringida por lei
PRODUZ OS MESMOS EFEITOS que uma norma de eficácia plena (não é de eficácia
plena, pois esta não poderá ser restringida...).
Por exemplo: Advogado – Rábulas, pessoas sem formação que exerciam a advocacia
prática...agora deve ser bacharel em direito e passar no exame da ordem.
OBS: Às vezes a restrição está contida em outro dispositivo da constituição. EX: Art. 5º,
XVI Liberdade de reunião – plena? Art. 136 e 139 – durante o estado de sítio a liberdade
de reunião poderá ser restringida.
VII - o direito de greve será exercido nos termos e nos limites definidos em lei específica;
(NORMA DE EFICÁCIA LIMITADA – Jurisprudência do STF pacífica nesse sentido.)
A norma de eficácia limitada pode ser de Princípio (José Afonso da Silva – fins
didáticos):
o Institutivo: também conhecida como norma de princípio organizatório. São aquelas
que dependem de um ato intermediador para dar forma ou estrutura a instituições
previstas por ela. Ela determina a criação de um órgão, instituição, pessoa jurídica, mas
não estabelece a forma, ela deixa para que a lei a faça.
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EX: art. 102, §1º – ADPF. Diz que a arguição de descumprimento de preceito
fundamental será processada e julgada pelo STF na forma da lei: antes da lei
estabelecer a estrutura da ADPF, alguém poderia ajuizar uma ADPF? Não. A lei
9.882/99 que ligou a ADPF aos casos concretos, permitindo sua utilização que até então
não era possível.
OBS: Toda norma constitucional tem eficácia, inclusive a norma limitada (o que não tem
é efetividade...). Enquanto a lei não é feita ela não tem eficácia positiva, mas tem eficácia
NEGATIVA (invalida as normas que lhe são contrárias).
Ex: caso do art. 9º, se existisse uma lei feita antes da CF dizendo que a greve não
poderia ser feita, esta seria invalidada, isto por conta da eficácia negativa/invalidante da
norma constitucional de eficácia limitada.
Não gera uma omissão inconstitucional (não cabe MI nem ADI por omissão) se não
fizer, pois é uma norma facultativa.
*Vide abaixo em direitos sociais quanto à aplicação das normas programáticas que
tratam de direitos sociais e as controvérsias, intervenção judicial, etc.
Exemplo: Art. 3º CF – objetivos Fundamentais da Republica- diz quais são, mas não
quais meio para se chegar neles.
Canotilho: se recusa a utilizar as normas programáticas, na tradição europeia uma
norma programática não tinha obrigatoriedade, eram apenas para aconselhar. Hoje,
todas as normas são obrigatórias.
o Para se adiar uma decisão para o futuro, quando não há consenso se joga a
decisão para frente.
Novelino: pode ser útil em determinado sentido, desde que as forças contrárias na
oposição, parcela na sociedade questione o não cumprimento, pode ser interessante.
Tem-se uma bandeira para poder lutar.
2. OUTRAS CLASSIFICAÇÕES
2.1. Normas de eficácia absoluta/ “supereficazes” (Maria Helena Diniz)
Estaria acima da norma de eficácia plena. A aplicabilidade é igual a plena (direta,
imediata, integral). MHD faz a seguinte distinção: a norma de eficácia plena não poderia
ser restringida apenas por lei, mas por EC sim. A ‘norma de eficácia absoluta’ não
poderia ser restringida nem por lei nem por EC. As normas de eficácia absoluta de MHD
são na verdade as “cláusulas pétreas”.
2.2. Normas de eficácia exaurida/esvaída (Carlos Ayres Britto):
Isso significa que ele já teve eficácia, mas que não tem mais. São as normas do ADCT.
1. INTRODUÇÃO
Os direitos sociais são consagrados em normas de “textura aberta” (geralmente
princípios), ou seja, a concretização destes direitos fica a cargo dos poderes públicos.
Isso é próprio de uma sociedade pluralista, como a brasileira, pois assim os poderes
públicos podem concretizar estes direitos de acordo com a vontade da maioria.
“Escolhas trágicas”: são as opções que o estado deve fazer em razão de suas limitações
orçamentárias.
Importante destacar que o art. 6º da CF, que traz os direitos sociais, já foi alterado
algumas vezes. Sempre para incluir mais algum direito social, a última alteração foi em
2015 e incluiu o transporte como um direito social.
Além disso, a maioria dos direitos sociais é previsto em normas não autoaplicáveis
(eficácia limitada), normas de princípio programático. De outro lado, os direitos de
defesa são quase totalmente autoaplicáveis (eficácia plena ou contida). Daí a diferença
de efetividade entre eles.
Essa disposição dos direitos sociais em normas programáticas não pode ser vista como
um defeito. Além disso, se explica: trata-se de uma característica da sociedade
pluralista. O constituinte deixa que o legislador ordinário (representante das maiorias)
defina os direitos sociais que devem ser priorizados a cada época, uma vez que não é
possível que todos os direitos sejam priorizados ao mesmo tempo.
Art.5º §1º da CF: Estabelece que as normas definidoras dos direitos e garantias
fundamentais tem aplicação imediata.
Art. 5º, § 1º - As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação
imediata.
Ex: salário mínimo. Se não existisse uma lei fixando o salário, não teria efetividade
imediata esse dispositivo.
Nem todos direitos sociais estão consagrados em princípios, que dependem de outras
normas para terem efetividade. Muitos direitos sociais estão consagrados em regras.
Ex: art. 208, inc. I – aqui temos uma regra, a ser aplicada na medida exata de suas
prescrições.
Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de:
I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de
idade, assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ela não tiveram
acesso na idade própria; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 59, de 2009)
(Vide Emenda Constitucional nº 59, de 2009)
4. INTERVENÇÃO JUDICIAL
Implementação de políticas públicas é tarefa atribuída prioritariamente ao legislativo e
ao executivo. O que se discute é se o judiciário tem este papel, é se o executivo e o
legislativo não agirem, até onde o judiciário pode ir? Quais são os limites para a atuação
do poder judiciário?
4.1. PRIMEIRA FASE: AUSÊNCIA DE NORMATIVIDADE DOS DIREITOS SOCIAIS
CONSAGRADOS EM NORMAS PROGRAMÁTICAS.
Na década de 90, STJ tinha decisões adotando o entendimento que norma de direito
social não gerava direito subjetivo, o cidadão não podia exigir do estado baseado em
uma norma de princípio programático.
De repente, começa a haver uma onda de intervenções do poder
judiciário.
4.2. SEGUNDA FASE: INTERVENÇÃO ATUANTE DO PODER JUDICIÁRIO, MAS SEM
O ESTABELECIMENTO DE CRITÉRIOS.
Observa-se que, hoje, a atuação do poder judiciário neste ramo é uma atuação bastante
forte, em razão da omissão deliberada do legislador, judiciário mandando entrega de
medicamentos, internações, etc.
Exemplo: caso dos medicamentos, o processo não deve ser encarado pelo juiz de modo
bilateral – autor e réu - mas de forma multilateral, uma macrojustiça, pois neste caso,
não condiz apenas aos envolvidos no processo, e sim a uma coletividade.
STF: tem feito várias audiências públicas, para saber até onde o estado deve intervir,
quais parâmetros devem ser utilizados para o fornecimento de prestações relacionadas
à saúde.
Eficácia apenas negativa de alguns direitos sociais: têm aptidão apenas para invalidar
normas contrárias. Não são autoaplicáveis. Dependem de intervenção legislativa.
Não tem eficácia positiva: não tem aptidão para ser aplicada ao caso concreto. Por não
terem eficácia positiva, não gerariam direitos subjetivos.
Quando se fala em DS, as normas que os consagram, tem uma “textura aberta” – “open
texture”, essa textura aberta das normas de DS, tem por finalidade permitir a
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Doutrina: quando o judiciário atua dizendo que o estado tem de fazer isso ou aquilo,
está violando a divisão de poderes, pois quem foi eleito para isso foi o legislativo e o
executivo, está invadindo a seara dos outros poderes, sendo uma ação antidemocrática.
4.5. ARGUMENTOS FAVORÁVEIS À INTERVENÇÃO JUDICIAL
1º- Déficit democrático das instituições representativas.
Quando se tem uma situação ideal em que cada poder faz sua parte, de fato, o judiciário
não deve intervir.
SITUAÇÃO IDEAL: não é a que nos encontramos hoje. Sabe-se que o legislativo tem
se omitido, tem retardado o cumprimento dos direitos. A credibilidade no legislativo hoje
é muito pequena. Ele age de forma incompatível com o sentimento da sociedade do que
é correto, acaba havendo um encolhimento natural do legislativo, e ao se encolher, os
outros poderes crescem (já falamos sobre isso em omissões, e veremos mais um pouco
na organização do estado, ver abaixo).
3º- Democracia
Min. Celso de Mello: “É que, se tais poderes do Estado agirem de modo irrazoável ou
procederem com a clara intenção de neutralizar, comprometendo-a, a eficácia dos DS,
econômicos e culturais, afetando, como decorrência causal de uma injustificável inércia
estatal ou de um abusivo comportamento governamental, aquele núcleo intangível
consubstanciador de um conjunto irredutível de condições mínimas necessárias a uma
existência digna e essenciais a própria sobrevivência do indivíduo, aí , então, justificar-
se-á, como precedentemente já enfatizado -e até mesmo por razões fundamentadas em
um imperativo ético-jurídico -, a possibilidade de intervenção do Poder Judiciário, em
ordem a viabilizar, a todos , o acesso aos bens cuja fruição lhes haja injustamente
recusada pelo estado.”
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Como regra geral a ser adotada, é vedado à Administração Pública fornecer fármaco
que não possua registro na ANVISA. Apenas em casos excepcionais, cuja verificação
ocorrerá em concreto, a importação de medicamento não registrado poderá ser
autorizada pela ANVISA.
3) Tratamento oferecido pelo SUS (regra)
Como regra geral, deverá ser privilegiado o tratamento fornecido pelo SUS em
detrimento de opção diversa escolhida pelo paciente, sempre que não for comprovada
a ineficácia ou a impropriedade da política de saúde existente; essa sistemática
pressupõe, porém, a necessidade de revisão periódica dos protocolos existentes e de
elaboração de novos protocolos - uma vez que o SUS adotou a teoria da Medicina com
base em evidências conjuntamente com um Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas;
Essa conclusão não afasta, contudo, a possibilidade, ainda que excepcional, de o Poder
Judiciário, ou de a própria Administração, decidir que medida diferente da custeada pelo
SUS deve ser fornecida a determinada pessoa que, por razões específicas do seu
organismo, comprove que o tratamento fornecido não é eficaz no seu caso. Assim, em
casos excepcionais, os Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas do SUS poderão
ser contestados judicialmente.
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e
Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem
como fundamentos:
I - a soberania;
II - a cidadania;
III - a dignidade da pessoa humana;
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; V - o pluralismo político.
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes
eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.
Tais normas são tão jurídicas e vinculativas que, na hipótese de não realização destas
normas e destes direitos por inércia dos órgãos de direção política (Executivo e
Legislativo), caracterizada estará a inconstitucionalidade por omissão.
6. RESERVA DO POSSÍVEL
6.1. CONCEITO E DIMENSÕES
Histórico: expressão criada pelo Tribunal Constitucional da Alemanha em 1972. A
decisão tratava do seguinte assunto:
Tem autores que contestam essa aplicação da expressão no Brasil (Andreas Krell –
Direitos sociais uma análise no Brasil e na Alemanha). Segundo Andreas Krell, não é
possível uma transposição da reserva do possível para o direito brasileiro, devido à
diferença de realidades entre os dois países. Na Alemanha o grau de efetivação dos DS
já alcançou um nível muito superior, onde já existe um padrão otimizado de bem -estar
social, na medida em que o desenvolvimento e aplicação da Reserva do Possível é mais
condizente com aquela realidade, no Brasil, não se tem um mínimo de efetivação dos
DS. Ou seja, o Estado brasileiro não poderia alegar a Reserva do Possível.
Entretanto, Daniel Sarmento diz que a reserva do possível é um conceito muito mais
necessário aqui do que na própria Alemanha, em razão da limitação orçamentária e a
escassez de recursos que temos. Aqui, a dificuldade de se implementar os DS é muito
maior, se não estabelecer quais critérios, acaba-se criando uma desigualdade...para
evitar isso é que a reserva do possível teria uma grande utilidade, para que todos
possam usufruir dos mesmos direitos.
Existem três dimensões utilizadas quando se fala em reserva do possível (Ingo Sarlet):
Obviamente, o limite deve ser analisado, mas não como algo absoluto, porque senão
para qualquer coisa poderia ser usado o argumento da falta de orçamento.
Não se pode invocar a teoria da reserva do possível, importada do Direito alemão, como
escudo para o Estado se escusar do cumprimento de suas obrigações prioritárias.
Realmente as limitações orçamentárias são um entrave para a efetivação dos direitos
sociais. No entanto, é preciso ter em mente que o princípio da reserva do possível não
pode ser utilizado de forma indiscriminada.
Na verdade, o direito alemão construiu essa teoria no sentido de que o indivíduo só pode
requerer do Estado uma prestação que se dê nos limites do razoável, ou seja, na qual
o peticionante atenda aos requisitos objetivos para sua fruição.
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Nesse caso, qualquer pleito que vise a fomentar uma existência minimamente decente
não pode ser encarado como sem razão (supérfluo), pois garantir a dignidade humana
é um dos objetivos principais do Estado brasileiro.
É por isso que o princípio da reserva do possível não pode ser oposto a um outro
princípio, conhecido como princípio do mínimo existencial. Somente depois de atingido
esse mínimo existencial é que se poderá discutir, relativamente aos recursos
remanescentes, em quais outros projetos se deve investir.
IMPORTANTE:
Em provas práticas do MP ou da Defensoria Pública, o candidato, ao preparar uma ação
civil pública requerendo a implementação de alguma política pública, deverá pedir que
a verba necessária para essa medida seja incluída no orçamento estatal a fim de evitar
a alegação de violação aos arts. 4º, 6º e 60 da Lei n. 4.320/64 (que preveem a
necessidade de previsão orçamentária para a realização das obras em apreço).
7. MÍNIMO EXISTENCIAL
7.1. CONCEITO
Essa expressão foi utilizada pela primeira vez pelo Tribunal Administrativo Federal, por
uma decisão de 1953, migrando logo após para o Tribunal Constitucional Federal da
Alemanha (TCA). No Brasil, a expressão começou a ser usada após a CF/88 pelo
professor Ricardo L. Torres.
Por que ao invés de restringir os direitos sociais da CF não ampliamos para outros que
não estão ali?
Paradoxo: quanto maior a consagração do DS no papel, muitas vezes o efeito acaba
sendo o contrário do desejado, eles ficam na Constituição, mas na prática não são
implementados.
a) Princípio da DPH
b) Liberdade material (para ter liberdade material precisamos ter igualdade material
ou substancial)
c) Princípio do Estado Social (bem estar social).
• Educação Fundamental
• Direito à saúde
• Direito de assistência aos desamparados
• Acesso à Justiça (fundamental na hipótese de esses direitos acima não serem
implementados pelo estado, a pessoa através desse instrumento possa garantir a
efetividade desses direitos).
• Direito à moradia (há quem o defenda aqui. Moradia no Brasil como mínimo
existencial – local, abrigo para pelo menos se recolher durante a noite.
Obs.: alguns direitos sociais são princípios e outros são regras; quanto a estes não se
pode falar em mínimo, pois eles devem ser resguardados na exata medida de suas
prescrições.
STJ adotou a tese REsp 1.185.474/SC. Informativo 431. Diz que o Estado só pode
utilizar este argumento quando se tratar pela real insuficiência de recursos em razão da
baixa arrecadação, quando se tratar de falta de recursos por “escolhas trágicas”, não
poderia alegar a reserva do possível.
7.3.2. Daniel Sarmento: exigirá maior ônus argumentativo
De um lado temos os Direitos Sociais, de outro Princípio Democrático/Separação dos
Poderes/Direito de terceiros. Quando o Mínimo Existencial estiver nesta ponderação,
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ele exigirá do Estado um ônus argumentativo ainda maior para o caso de não cumprir o
direito.
A VRS está ligada à concretização dos DS pelos poderes públicos. Os PP não podem
retroceder na concretização dos DS.
Crítica: O poder público acaba ficando engessado pelas prioridades estabelecidas pelos
governantes anteriores, pois não pode restringir o orçamento dado para outros direitos
sociais a fim de concretizar novas prioridades. Ela praticamente elimina a liberdade de
conformação legislativa.
Obs.: a exceção refere-se a ambos os pais a serviço de seu país ou um deles deve estar
apenas acompanhando o outro. Assim, um diplomata que casa com uma brasileira e
tem um filho não será aplicada a exceção, uma vez que esta não o estava
acompanhando e nem era sua esposa.
Obs.: Os pais devem estar a serviço de seu próprio país. Desta forma, se um argentino
a serviço da Espanha tem um filho no Brasil este será brasileiro nato.
O segundo critério é o sanguíneo ou jus sanguis, geralmente ocorre em países
de emigração. Adotam este critério para que sejam mantidos os laços com o país de
origem. O Brasil, igualmente, no art. 12, I, b, CF adotou o critério sanguíneo em
conjugação com o critério funcional. Desta forma, são brasileiros natos:
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Art. 12, I, b) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasileira, desde que
qualquer deles esteja a serviço da República Federativa do Brasil;
Obs.: Neste caso, apenas um dos pais precisa estar a serviço do Brasil. Assim, caso
um brasileiro a serviço do Brasil tenha um filho com uma italiana este será considerado
brasileiro nato.
A terceira hipótese adota o critério sanguíneo conjugado com o registro na repartição
brasileira competente.
c) os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe brasileira, desde que sejam
registrados em repartição brasileira competente (EC 54/07) ou venham a residir na
República Federativa do Brasil e optem, em qualquer tempo, depois de atingida a
maioridade, pela nacionalidade brasileira;
Obs.: Antes da EC 54/07 os nascidos no exterior de pai ou mãe brasileira (jus sanguis)
que não estavam a serviços do Brasil, só seriam considerados brasileiros natos se
viessem a residir no Brasil e optassem pela nacionalidade brasileira. Começou a surgir
inúmeros brasileirinhos apátridas (sem nacionalidade). Com a EC 54/07, passou a ser
possível que o filho de brasileiro ou de brasileira, mesmo que não venha residir no Brasil,
poderá ser brasileiro desde que o pai faça o registro em uma repartição pública do Brasil
no país em que estão residindo.
Pode acontecer de os pais estarem em algum país que não admite a dupla
nacionalidade, neste caso o pai deixou de registrar o filho na repartição brasileira
competente. Nestas hipóteses, a criança pode a qualquer tempo, quando vier a residir
no Brasil, optar pela nacionalidade brasileira, ocasião em que será considerado
brasileiro nato.
Há uma quarta hipótese, não prevista no texto constitucional, que é defendida por parte
da doutrina como sendo de nacionalidade originária, são os casos de adoção. Estes
autores, com base no art. 227, § 7º, CF, sustentam que seria possível atribuir a
nacionalidade originária aos filhos adotados (não é um entendimento pacífico).
1.2. Nacionalidade secundária (adquirida):
Confere ao indivíduo o status de brasileiro naturalizado. Está prevista no art. 12, II, CF.
Decorre de um ato de vontade, ou seja, o indivíduo é que opta pela nacionalidade
brasileira. Possui duas hipóteses: a primeira é chamada de naturalização tácita ou
grande naturalização e segunda é denominada de naturalização expressa.
Na naturalização tácita o individuo não precisa manifestar a sua vontade, basta que
não faça nada. É adotado, geralmente, por países que querem aumentar o seu índice
populacional. No Brasil, ocorreu na CF imperial e na CF de 1891, com o intuito de
aumentar a população brasileira, assim à época bastava o estrangeiro residir no Brasil
para ser considerado brasileiro naturalizado, salvo se manifestasse vontade de não o
ser.
A CF/88 adotou apenas a naturalização expressa que pode ser: a) ordinária (art. 12, II,
a) e a b) extraordinária (art. 12, II, b).
Art. 12, II - naturalizados:
a) os que, na forma da lei (Estatuto do Estrangeiro 6.815/80), adquiram a
nacionalidade brasileira, exigidas aos originários de países de língua portuguesa (válida
a todos os países de língua portuguesa e não apenas a Portugal) apenas residência por
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a) Cargos privativos – alguns cargos só poderão ser ocupados por brasileiros natos.
A CF estabelece dois critérios: i) linha sucessória do Presidente da República e ii)
segurança nacional.
§ 3º - São privativos de brasileiro nato os cargos:
I - de Presidente e Vice-Presidente da República;
II - de Presidente da Câmara dos Deputados (representante da Casa do Povo);
III - de Presidente do Senado Federal (representante dos Estados);
IV - de Ministro do Supremo Tribunal Federal (todos os ministros do STF devem ser
brasileiro nato, uma vez que a presidência do STF é rotativa. O presidente do CNJ deve
ser brasileiro nato, vez que o cargo é exercido por ministro do STF);
V - da carreira diplomática;
VI - de oficial das Forças Armadas.
VII - de Ministro de Estado da Defesa
b) Conselho da República – art. 89, VII, seis dos assentos deste conselho devem
ser reservados aos brasileiros natos, tendo em vista que este é um órgão de conselho
do Presidente da república.
Art. 89. O Conselho da República é órgão superior de consulta do Presidente da
República, e dele participam:
I - o Vice-Presidente da República;
II - o Presidente da Câmara dos Deputados;
III - o Presidente do Senado Federal;
IV - os líderes da maioria e da minoria na Câmara dos Deputados;
V - os líderes da maioria e da minoria no Senado Federal;
VI - o Ministro da Justiça;
VII - seis cidadãos brasileiros natos, com mais de trinta e cinco anos de idade, sendo
dois nomeados pelo Presidente da República, dois eleitos pelo Senado Federal e dois
eleitos pela Câmara dos Deputados, todos com mandato de três anos, vedada a
recondução.
d) Extradição: brasileiro nato não pode ser extraditado em hipótese alguma (art. 5º,
LI, CF). Em relação ao brasileiro naturalizado a CF prevê duas hipóteses: i) crime
praticado antes da naturalização permite extradição e ii) crime praticado após a
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naturalização irá gerar a extradição, desde que seja o crime de tráfico de entorpecentes
e drogas afins.
Segundo a súmula 421 STF, o estrangeiro casado com brasileira ou pai de brasileiro
pode ser extraditado: “Não impede a extradição a circunstância de ser o extraditado
casado com brasileira ou ter filho brasileiro”. Não pode ser confundida com a súmula 01
STF (“É vedada a expulsão de estrangeiro casado com brasileira, ou que tenha filho
brasileiro, dependente da economia paterna”), que se refere à expulsão de estrangeiro,
neste caso não é possível.
No caso de extradição, o indivíduo pratica um crime em outro país e este requer ao
Estado brasileiro que efetue a extradição ao país de origem. Na expulsão o ato nocivo
é praticado dentro do território nacional, ocasião em que será expulso do país.
“Entrega” (“surrender”) é diferente de extradição. Na extradição o indivíduo é entregue
à jurisdição de outro país diferente, por isso não se admite a extradição de um brasileiro
nato, sendo admitida apenas de estrangeiro ou de naturalizado. No caso da entrega a
pessoa é entregue a uma jurisdição internacional, da qual o próprio Brasil faz parte e
manifestou expressamente a sua adesão, ou seja, no caso do Tribunal Internacional, o
indivíduo não está sendo entregue a uma jurisdição de outro país. Por isso, Novelino
entende que não há nada que impeça um brasileiro nato ser entregue a um Tribunal
Penal Internacional.
6. PERDA DA NACIONALIDADE
Art. 12, § 4º, CF, ocorre através de:
a) Ação de cancelamento da naturalização: somente se aplica a brasileiros
naturalizados.
Art. 12, § 4º - Será declarada a perda da nacionalidade do brasileiro que: I - tiver
cancelada sua naturalização, por sentença judicial (competência da justiça federal), em
virtude de atividade nociva ao interesse nacional;
Obs.: a ressalva feita pela alinha “a” do § 4º, do art. 12, CF, se aplica apenas aos
brasileiros natos.
Imagine que um brasileiro nato, voluntariamente, adquira a nacionalidade de outro país,
porém este não admite a dupla nacionalidade. Nesta hipótese, ele perde a nacionalidade
brasileira passando a ser um estrangeiro. Pode, posteriormente, adquirir novamente a
nacionalidade brasileira? Na hipótese do inciso I não pode. Em relação ao inciso II é
possível. Neste caso, passa a ser brasileiro nato ou será considerado brasileiro
naturalizado? Na doutrina há posicionamento nos sois sentidos. Jose Afonso da Silva
entende que se quiser novamente adquirir a nacionalidade brasileira será brasileiro nato
(minoritário). Porém, o posicionamento majoritário (defendido por Valério Mazuoli,
Alexandre de Morais), afirmam que será considerado brasileiro naturalizado, uma vez
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que a partir do momento que ele, voluntariamente, adquiriu outra nacionalidade seu
status é de estrangeiro, para voltar a ser brasileiro terá que passar por um procedimento
de aquisição de nacionalidade (manifestação de vontade) e não por meio originário.
Os direitos políticos podem ser divididos em dois grandes grupos: direitos políticos
positivos e direitos políticos negativos.
Os direitos políticos positivos permitem a participação do indivíduo na vida política do
Estado (votar, ser votado). Divide-se em: direito de sufrágio, alistabilidade (capacidade
eleitoral ativa - votar) e elegibilidade (capacidade eleitoral passiva – ser votado).
Os direitos políticos negativos importam em limitações aos direitos políticos, ou seja,
impede que o indivíduo exerça os direitos políticos. Divide-se em inelegibilidades, perda
dos direitos políticos ou suspensão dos direitos políticos.
1.1.2. Alistabilidade – capacidade eleitoral ativa.
Características do voto no Brasil:
a) Direto – o povo escolhe seus representantes. Possui como exceção o art. 81, §
1º, CF.
Porém, esta não é uma norma de observância obrigatória;
b) Igual – o voto possui o mesmo valor para todos (art. 14, CF). “On person, one
vote”
c) Livre – escrutínio secreto (cláusula pétrea), liberdade de escolha;
d) Periodicidade: manifesta-se através das eleições.
e) Personalíssimo: trata-se de algo intransferível. Somente o próprio titular é que
pode exercer o seu direito de voto.
No Brasil tanto o alistamento eleitoral quanto o voto são obrigatórios para alguns e
facultativos para outros.
O voto é obrigatório para as pessoas que possuem entre 18 e 70 anos, lembrando que
esta obrigatoriedade não é cláusula pétrea (alguns sustentam que é implícita). O voto
será facultativo para os que possuem idade entre 16 e 18 anos; maiores de 70 anos e
para os analfabetos.
As pessoas que possuem faculdade para votar podem exercê-la mesmo que estejam
alistados.
Art. 14, § 1º - O alistamento eleitoral e o voto são: I - obrigatórios para os maiores de
dezoito anos; II - facultativos para: a) os analfabetos;
b) os maiores de setenta anos;
c) os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos.
Inalistáveis
O STF faz uma distinção entre as condições de elegibilidade (direitos políticos positivos
art. 14, § 3º) e outras hipóteses de inelegibilidade (direitos políticos negativos – art. 14,
§ 9º).
Art. 14, § 9º Lei complementar (LC135/10) estabelecerá outros casos de inelegibilidade
e os prazos de sua cessação, a fim de proteger a probidade administrativa, a moralidade
para exercício de mandato considerada vida pregressa do candidato, e a normalidade
e legitimidade das eleições contra a influência do poder econômico ou o abuso do
exercício de função, cargo ou emprego na administração direta ou indireta.
2.1. ESPÉCIES:
2.1.1. Inelegibilidades
Absoluta: somente podem ser estabelecidas pela própria CF, não admitem
desincompatibilização. Não pode ser declarada inconstitucional em razão do princípio
da unidade da CF.
Art. 14, § 4º - São inelegíveis os inalistáveis (conscritos e estrangeiros) e os analfabetos.
Relativa: podem ser criadas por lei complementar (art. 14, § 9º). Em alguns casos,
admite-se a desincompatibilização. Podem ser: i) decorrentes de determinados cargos:
STF (RE 366.488/SP): a simples substituição não impede que o vice possa concorrer à
reeleição.
- Responsabilidade
• Penal: a CF consagra a chamada irresponsabilidade penal relativa (art. 86, § 4º), ou
seja, o Presidente só responde penalmente pelos crimes realizados durante o mandato
e que se relacionem com a sua função. Os crimes praticados antes ou durante o
mandato, que não se relacionem com a função, serão processados no término do
mandato. Quem julga é o STF, com a autorização pela Câmara dos Deputados (2/3).
§ 4º - O Presidente da República, na vigência de seu mandato, não pode ser
responsabilizado por atos estranhos ao exercício de suas funções.
Este dispositivo NÃO pode ser reproduzido por constituições estaduais ou leis orgânicas
municipais.
• Política: existem duas formas:
a) Impeachment – ocorre quando o Presidente pratica um crime de
responsabilidade. Também é necessária a autorização da Câmara dos Deputados (2/3)
para que ele seja processado. Quem julga é o Senado Federal, também por 2/3.
Art. 86. Admitida a acusação contra o Presidente da República, por dois terços da
Câmara dos Deputados, será ele submetido a julgamento perante o Supremo Tribunal
Federal, nas infrações penais comuns, ou perante o Senado Federal, nos crimes de
responsabilidade.
b) Recall (não é adotada no Brasil) – permite que o eleitorado se pronuncie
diretamente a cerca da permanência ou não de um governante no poder, ou seja, quem
julga o governante não é o órgão constituído. Há uma espécie de referendo e os
eleitores se manifestam.
Para alguns autores, a CF de 88 não estabeleceu distinção entre estas duas espécies
de competências (Gilmar Mendes, Fernanda Menezes).
Para outros, apesar da CF não ter feito uma distinção rigorosa, doutrinariamente
é possível fixá-la.
A competência privativa é atribuída a apenas um ente, mas admite delegação
(competência complementar ou competência suplementar). A competência exclusiva
não admite delegação.
Para não confundir: a competência exclusiva exclui a possibilidade de
delegação.
Competência exclusiva (com decisões do STF)
Art. 21. Compete à União:
I - manter relações com Estados estrangeiros e participar de organizações
internacionais;
II - declarar a guerra e celebrar a paz;
III - assegurar a defesa nacional;
IV - permitir, nos casos previstos em lei complementar, que forças estrangeiras
transitem pelo território nacional ou nele permaneçam temporariamente; V - decretar o
estado de sítio, o estado de defesa e a intervenção federal;
VI - autorizar e fiscalizar a produção e o comércio de material bélico;
VII - emitir moeda;
VIII - administrar as reservas cambiais do País e fiscalizar as operações de natureza
financeira, especialmente as de crédito, câmbio e capitalização, bem como as de
seguros e de previdência privada;
IX - elaborar e executar planos nacionais e regionais de ordenação do território e
de desenvolvimento econômico e social;
X - manter o serviço postal e o correio aéreo nacional;
XI - explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão, os
serviços de telecomunicações, nos termos da lei, que disporá sobre a organização dos
serviços, a criação de um órgão regulador e outros aspectos institucionais;
XII - explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão: a) os
serviços de radiodifusão sonora, e de sons e imagens;
b) os serviços e instalações de energia elétrica e o aproveitamento energético dos
cursos de água, em articulação com os Estados onde se situam os potenciais
hidroenergéticos;
c) a navegação aérea, aeroespacial e a infraestrutura aeroportuária;
d) os serviços de transporte ferroviário e aquaviário entre portos brasileiros e
fronteiras nacionais, ou que transponham os limites de Estado ou Território;
e) os serviços de transporte rodoviário interestadual e internacional de passageiros;
f) os portos marítimos, fluviais e lacustres;
XIII - organizar e manter o Poder Judiciário, o Ministério Público do Distrito Federal
e dos Territórios e a Defensoria Pública dos Territórios;
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XIV - organizar e manter a polícia civil, a polícia militar e o corpo de bombeiros militar
do Distrito Federal, bem como prestar assistência financeira ao Distrito Federal para a
execução de serviços públicos, por meio de fundo próprio; XV - organizar e manter os
serviços oficiais de estatística, geografia, geologia e cartografia de âmbito nacional;
XVI - exercer a classificação, para efeito indicativo, de diversões públicas e de
programas de rádio e televisão;
XVII - conceder anistia;
XVIII - planejar e promover a defesa permanente contra as calamidades públicas,
especialmente as secas e as inundações;
XIX - instituir sistema nacional de gerenciamento de recursos hídricos e definir
critérios de outorga de direitos de seu uso; (Regulamento)
XX - instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano, inclusive habitação,
saneamento básico e transportes urbanos;
XXI - estabelecer princípios e diretrizes para o sistema nacional de viação;
XXII - executar os serviços de polícia marítima, aeroportuária e de fronteiras;
XXIII - explorar os serviços e instalações nucleares de qualquer natureza e exercer
monopólio estatal sobre a pesquisa, a lavra, o enriquecimento e reprocessamento, a
industrialização e o comércio de minérios nucleares e seus derivados, atendidos os
seguintes princípios e condições:
a) toda atividade nuclear em território nacional somente será admitida para fins
pacíficos e mediante aprovação do Congresso Nacional;
b) sob regime de permissão, são autorizadas a comercialização e a utilização de
radioisótopos para a pesquisa e usos médicos, agrícolas e industriais;
c) sob regime de permissão, são autorizadas a produção, comercialização e
utilização de radioisótopos de meia-vida igual ou inferior a duas horas;
d) a responsabilidade civil por danos nucleares independe da existência de culpa;
XXIV - organizar, manter e executar a inspeção do trabalho;
XXV - estabelecer as áreas e as condições para o exercício da atividade de
garimpagem, em forma associativa.
Federal e Municípios, obedecido o disposto no art. 37, XXI, e para as empresas públicas
e sociedades de economia mista, nos termos do art.
173, § 1°, III;
XXVIII - defesa territorial, defesa aeroespacial, defesa marítima, defesa civil e
mobilização nacional; XXIX - propaganda comercial.
Parágrafo único. Lei complementar poderá autorizar os Estados a legislar sobre
questões específicas das matérias relacionadas neste artigo
Art. 215. O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às
fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das
manifestações culturais.
§ 1º O Estado protegerá as manifestações das culturas populares, indígenas e afro-
brasileiras, e das de outros grupos participantes do processo civilizatório nacional.
2º A lei disporá sobre a fixação de datas comemorativas de alta significação para os
diferentes segmentos étnicos nacionais.
3º A lei estabelecerá o Plano Nacional de Cultura, de duração plurianual, visando ao
desenvolvimento cultural do País e à integração das ações do poder público que
conduzem à:
I defesa e valorização do patrimônio cultural brasileiro;
II produção, promoção e difusão de bens culturais;
III formação de pessoal qualificado para a gestão da cultura em suas múltiplas
dimensões;
IV democratização do acesso aos bens de cultura; V valorização da diversidade
étnica e regional.
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso
comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e
à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações
(sustentabilidade) .
Neste caso, a União limitar-se-á a editar normas gerais, ao passo que os Estados e o
DF, com competência suplementar (complementar e suplementar), a editar normas
específicas.
OBS.: Os Municípios não podem fixar o horário de funcionamento dos bancos, compete
à União. No entanto, podem fixar com relação à medida de segurança (guardas), tempo
de espera em fila (conforto, rapidez).
Não é toda a competência que os Municípios poderão suplementar, existem algumas
ressalvas. Não será cabível legislação municipal para suplementar as leis federais ou
estaduais decorrentes de competência privativa ou exclusiva da União ou dos Estados.
Observações acerca dos parágrafos do art. 24 CF:
a) A União, na competência concorrente, limitar-se-á a editar normas gerais. Não
há um consenso acerca do que sejam as normas gerais. No entanto, segundo o STF: é
possível identificar no Tribunal ao menos duas concepções distintas. A primeira
concepção é a do Ministro Carlos Veloso, as normas gerais seriam as normas dotadas
de maior abstração, a exemplo dos princípios. A segunda concepção, adotada pelo
Ministro Carlos Ayres Brito, normas gerais são aquelas que têm a possibilidade de
aplicação uniforme para todos os entes federativos. Assim, a União estabelece as
diretrizes que serão especificadas pelos demais entes, de acordo com as suas
peculiaridades.
Na hipótese de Lei Federal (art. 22) e Lei Estadual (art. 25, §1º) não estaremos diante
de hierarquia de normas.
Em se tratando de competências exclusivas ou privativas, não há hierarquia entre leis
federais, estaduais e municipais, uma vez que se trata de repartição horizontal de
competências.
c) Em matéria de competência concorrente a União é que deve estabelecer as
normas gerais,
contudo pode ser que a União seja omissa, ocasião em que o Estado poderá exercer a
competência legislativa plena, a fim de não ficar limitados. Assim, os Estados poderão
elaboram tanto a norma geral quanto a norma específica, tratando da matéria como um
todo através de Lei Estadual.
Alguns autores (André Ramos Tavares, Alexandre de Moraes) fazem uma distinção,
que era adotada antes da CF/88, acerca da competência suplementar:
• Competência supletiva (art. 24, § 3º): quando a União não faz a norma geral e o
Estado trata de todo assunto;
• Competência complementar (art. 24, § 2º): quando a União estabelece a norma
geral e o Estado complementa através de sua competência suplementar.
No entanto, esta distinção não deve ser adotada, uma vez que a CF não se refere a
isso. Segundo José Afonso da Silva, após a CF/88, a distinção entre competência
supletiva e complementar teria sido abandonada.
Art. 24, § 3º - Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados exercerão a
competência legislativa plena, para atender a suas peculiaridades.
d) Nada impede que a União edite as normas gerais. No entanto, a lei federal não
irá revogar a lei estadual, apenas suspende sua eficácia, naquilo que for contrária.
Art. 24, § 4º - A superveniência de lei federal sobre normas gerais suspende a eficácia
da lei estadual, no que lhe for contrário.
O Estado exerceu a competência legislativa plena, em seguida, a União edita normas
gerais, suspendendo a eficácia, no que era contraria, das normas gerais feitas pelo
Estado. Caso a União edite outra Lei Federal que revogue a anterior, a Lei Estadual
poderá voltar a ter sua eficácia, ocorrendo um efeito repristinatório tácito. Nota-se que
só é possível porque a Lei Estadual não foi revogada, mas sim suspensa na sua eficácia.
É o mesmo caso da ADI.
O mesmo ocorre com a Lei e Medida Provisória.
4. ORGANIZAÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA DO ESTADO BRASILEIRO
Há dois artigos extremamente importantes que tratam sobre este assunto: art. 1º
e art. 18.
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e
Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem
como fundamentos:
I - a soberania;
II - a cidadania;
III - a dignidade da pessoa humana;
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; V - o pluralismo político.
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes
eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.
Tanto o art. 1º quanto o art. 18 deixam claro que os entes federativos que compõem o
Estado brasileiro são: a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios. Assim,
está expresso na CF que os Municípios são entes federativos (1º argumento). Além
disso, todos os entes são autônomos (organização, legislação, governo e
administração), portanto, não há como afirmar que os Municípios não são entes
federativos.
# O federalismo brasileiro é um federalismo de 2º ou de 3º grau (CESPE)? Após a CF/88,
o Brasil passou a ter um federalismo de 3º grau, no qual, além dos Estados e da União,
os Municípios também são considerados entes federativos.
Argumentos contrários ao reconhecimento do Município como ente federativo (José
Afonso da Silva):
• Os Municípios não participam da formação da vontade nacional (feita através
dos Estados por meio dos Senadores);
• Não existe federação de Municípios. A federação é um pacto/união entre os
Estados. Se considerarmos que os Municípios fazem parte da federação sua natureza
será de um Estado.
Na concepção de José Afonso da Silva, Município seria um ente meramente
administrativo, assim como os territórios.
Como ainda não há lei complementar que regulamente a criação de novos municípios,
todos os municípios que forem criados, incorporados fundidos ou desmembrados, por
lei estadual, após 31/12/2006 são inconstitucionais.
4.1. TERRITÓRIOS
Atualmente, não existem territórios no Brasil.
É uma autarquia territorial.
Caso sejam criados os territórios serão governados por um Governador, nomeado pelo
Presidente da República. Igualmente, por não serem entes federativos, não elegem
senadores, apenas deputados (quatro).
A União continua responsável pela organização de DF, caso se formem
territórios no Brasil.
4.2. DISTRITO FEDERAL
4.2.1. Natureza jurídica
ADI 3756 – Câmara Legislativa do DF, tendo em vista os gastos com as despesas de
pessoa, afirmava que o DF, como Município, precisava de 6% para gastar com o
pessoal, e não os 3% que são destinados aos Estados.
O DF não é Município nem Estado, mas uma Unidade Federada com competência
parcialmente tutelada pela União, a exemplo do Poder Judiciário, do Ministério Público
do Distrito Federal e dos Territórios e da Defensoria Pública dos Territórios (mudança
recente, a partir de agora a organização da DP é do DF e não mais da competência da
União), Polícia Civil, Polícia Militar e Bombeiro Militar (art. 21, art. 28)
Sua estrutura se assemelha muito mais a um Estado do que a um Município.
A distinção entre as duas espécies, neste caso, irá depender da existência ou não das
mesmas competências e do mesmo número de representantes entre os entes
federativos de mesmo nível.
Por exemplo, os estados deveriam ter o mesmo número de representantes.
Dependendo deste número é que se caracterizaria um federalismo simétrico ou
assimétrico (José Luiz Quadros).