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EM PORTUGAL
DAS ACÇÕES COLECTIVAS
EM PORTUGAL
Ângela Frota
Cristina Rodrigues de Freitas
Teresa Madeira
ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE DIREITO DO CONSUMO
2007
Das Acções Colectivas em Portugal
FICHA TÉCNICA
Título:
Das Acções Colectivas em Portugal
Autoria:
Ângela Frota - Cristina Rodrigues de Freitas - Teresa Madeira
- APDC - Associação Portuguesa de Direito do Consumo
Edição:
Direcção-Geral do Consumidor
Concepção:
Direcção-Geral do Consumidor
Impressão e acabamento:
Facsimile-Offset e Publicidade, Lda.
Tiragem:
350 exemplares
Depósito Legal:
267117/07
ISBN:
978-972-8715-31-1
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Das Acções Colectivas em Portugal
Nota Introdutória
Esta actuação e o resultado que dela possa vir a decorrer interfere necessariamente no
funcionamento do mercado económico, forçando os agentes económicos a adequar os
comportamentos/práticas comerciais aos direitos e legítimos interesses dos consumidores.
Concorrência que deve ser considerada como um bem público essencial para a
prossecução do bem-estar da sociedade.
De entre os princípios gerais que devem presidir a essa tarefa encontramos, entre
outros, a eficiência do procedimento, a garantia da boa-fé dos peticionários, a
substituição dos direitos individuais pelo poder colectivo e viabilidade económica
reforçada e a economia de meios e potenciação dos efeitos das decisões.
A presente monografia visa contribuir para colocar na ordem do dia uma matéria de
grande relevância para o futuro da defesa dos consumidores, em Portugal e na Europa.
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Das Acções Colectivas em Portugal
Os pontos de vista dos autores, se bem que não coincidentes em diversas matérias
com aqueles que esta Direcção-Geral perfilha, lançam uma discussão que se pretende
prolífica sobre a matéria da acção colectiva na sociedade civil portuguesa - discussão essa
em cujo desencadear assim participámos com muito gosto e na convicção de estar a
contribuir para o fortalecimento da política de defesa dos consumidores em Portugal.
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Das Acções Colectivas em Portugal
ÍNDICE
I Parte
Do Direito ao Acesso
à Justiça Colectiva
II
Do Direito de Acção
III
Dos Pressupostos Processuais
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Das Acções Colectivas em Portugal
II Parte
CAPÍTULO I
Do processo
CAPÍTULO II
Da eficácia do caso julgado
1. Generalidades ..................................................................................... 56
2. Na acção inibitória .............................................................................. 57
3. Na acção popular................................................................................ 60
CAPÍTULO III
Do regime dos recursos
1. Generalidades ..................................................................................... 64
2. O regime dos recursos nas acções inibitórias ......................................... 70
3. Acção popular ..................................................................................... 72
CAPÍTULO IV
Das custas
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Das Acções Colectivas em Portugal
CAPÍTULO V
Registo nacional de cláusulas abusivas
1. Razão de Ordem.................................................................................. 78
2. O registo suporte da publicidade dos actos - emanação oficial............... 80
3. Os registos informais – o CLAB na órbita da Comissão Europeia ............ 81
CAPÍTULO II
Registo nacional de cláusulas abusivas
1. Decisão ............................................................................................... 83
2. Notificação do tribunal a quo ................................................................. 84
3. O serviço: estruturação do serviço e sua actualização ............................ 85
CAPÍTULO III
Reflexos de Registo
CAPÍTULO IV
Do Fundo de Direitos Colectivos Lato Sensu
CAPÍTULO V
Das Especialidades
1. Generalidades ..................................................................................... 96
2. A legitimatio ad causam ....................................................................... 97
3. Caso julgado ....................................................................................... 103
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Das Acções Colectivas em Portugal
III PARTE
DA EXPERIÊNCIA PORTUGUESA
CAPÍTULO I
A Dimensão Social, Cultural e Económica
1. Antecedentes........................................................................................ 114
2. A dimensão política.............................................................................. 115
3. A dimensão cultural.............................................................................. 117
4. A dimensão económica ........................................................................ 117
CAPÍTULO II
O Estado da Questão
CAPÍTULO III
A CONFLITUALIDADE SUBSISTENTE E
O VALIMENTO DOS MEIOS PROCESSUAIS
AO ALCANCE DOS CONSUMIDORES
E SUAS INSTITUIÇÕES
CAPÍTULO IV
RAZÕES PARA A INOPERÂNCIA DOS
MEIOS PROCESSUAIS
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Das Acções Colectivas em Portugal
IV PARTE
DE JURE CONDENDO
CAPÍTULO I
Unidade ou pluralidade tipológica das acções
CAPÍTULO II
Propostas de Solução
ANEXOS
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Das Acções Colectivas em Portugal
ABREVIATURAS
INTRODUÇÃO
1
Com efeito, o considerandum (2) da Directiva em epígrafe di-lo expressamente: “considerando que os mecanismos vigentes a nível
nacional e comunitário para assegurar o cumprimento das referidas directivas, nem sempre permitem que se ponha termo [tempestiva-
mente] às violações prejudiciais dos interesses colectivos dos consumidores; que por interesses colectivos se entende os interesses que
não incluem a cumulação dos interesses dos indivíduos que tenham sido prejudicados por uma infracção, que tal não prejudica as acções
intentadas por indivíduos que tenham sido prejudicados por uma infracção…”
Ademais, enquanto na acção inibitória prevista na LDC os consumidores individuais, prejudicados ou não, detêm legitimidade proces-
sual activa, no quadro da Directiva a que se alude – e de harmonia com o seu artigo 3.º, só “entidades competentes dotar-se-ão de
legitimidade para instaurar as pertinentes acções: “entende-se por “entidade competente”, qualquer organismo ou organização que,
devidamente constituídos segundo a legislação de um Estado-membro, tenha interesse legítimo em fazer respeitar as disposições referi-
das no artigo 1.º designadamente
a) Um ou vários organismos públicos independentemente, especificamente responsáveis pela protecção dos interesses previstos no arti-
go 1.º, nos Estados-membros em que esses organismos existam;
b) As organizações que tenham por finalidade proteger os interesses previstos no artigo 1.º, de acordo com os critérios previstos na res-
pectiva legislação nacional.”
2
O artigo 13 da LDC dispõe expressamente: “têm legitimidade para intentar as acções previstas nos artigos anteriores:
a) os consumidores directamente lesados
b) os consumidores e as associações
c) o Ministério Público e a [Direcção-Geral do Consumidor] quando estejam em causa interesses individuais homogéneos, colecti-
vos ou difusos.
E, concretamente, o artigo 20 – no que tange ao Ministério Público – estabelece: “Incumbe também ao Ministério Público a defesa dos
consumidores no âmbito da presente lei e no quadro das respectivas competências, intervindo em acções administrativas e cíveis ten-
dentes à tutela dos interesses individuais homogéneos, bem como de interesses colectivos ou difusos dos consumidores.”
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Das Acções Colectivas em Portugal
A diversidade dos moldes que se ajustam à acção colectiva não é nem satis-
fatória nem desejável.
A acção popular – no que ora importa -, em conformidade com o que dispõe
a Constituição da República no n.º 3 do seu artigo 52 e o n.º 2 do artigo 1.º da
Lei n.º 83/95, de 31 de Agosto, visa a prevenção, a cessação ou a perseguição
de acções e omissões susceptíveis de lesar relevantes interesses imbricados na
– saúde pública
– ambiente
– qualidade de vida
– protecção do consumidor ante produtos e serviços disponíveis no mercado
de consumo
– o património cultural e
– o domínio público, como se assinalou.
12
Das Acções Colectivas em Portugal
I PARTE
DA ACÇÃO COLECTIVA
CAPÍTULO I
Do Direito ao Acesso
à
Justiça Colectiva
3
Código de Processo Civil anotado, volume I, pág. 3, José Lebre de Freitas, João Redinha, Rui Pinto.
15
Das Acções Colectivas em Portugal
referem a direitos de que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas liga-
das entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica de base, v.g. por
um contrato.
Os interesses, de que ora nos ocupamos, encontram acolhimento constitucio-
nal (v.g art. 9.º, alíneas d) e e), 60.º, 64.º, 66.º, 73.º, 74.º e 78.º da CRP).
Naturalmente, que para defesa destes mesmos interesses, exige-se a corres-
pondente acção, de molde a que possa efectivar-se o direito à jurisdição de que
atrás faláramos.
Centrando-nos no meio processual idóneo para defesa dos interesses colecti-
vos, consagra a nossa lei fundamental, no seu artigo 52.º, no capítulo relativo
aos direitos liberdades e garantias de participação política, o que segue:
“1 – Todos os cidadãos têm o direito de apresentar, individual ou colectiva-
mente, aos órgãos de soberania ou a quaisquer autoridades petições, repre-
sentações, reclamações ou queixas para defesa dos seus direitos, da
Constituição, das leis ou do interesse geral e bem assim o direito de serem
informados, em prazo razoável, sobre o resultado da respectiva apreciação.
Segundo a visão clássica de acção popular, como ensina Mariana Sotto Maior
“O direito de acção popular é um direito de acção judicial, em que a legitimida-
de não é averiguada de modo concreto e casuístico, afastando-se a noção de inte-
resse pessoal e directo, sendo antes aferida em termos gerais e abstractos, a par-
tir da integração objectiva de certas qualidade ou, inserção em determinada cate-
goria de indivíduos.
O interesse a prosseguir deve ser suficientemente difuso e geral para não se
identificar com o interesse pessoal do seu agente. Está em causa a prossecução
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Das Acções Colectivas em Portugal
3 – Da responsabilidade civil
Da lesão dos interesses de que, aqui, tratamos, direitos individuais homogéneos,
interesses difusos e colectivos advém um dano, que poderemos qualificar como
“colectivo”, ou comunitário indivisível e, naturalmente, podem advir prejuízos, danos
individualizados, personalizados (quer patrimoniais, quer extrapatrimoniais) que
deverão ser ressarcidos, ou seja, colocar o sujeito, ou sujeitos, lesados, na situação
em que estariam caso não tivesse ocorrido a lesão, a violação desses mesmos direi-
tos ou interesses legalmente (como já referido, constitucionalmente), protegidos.
Sendo certo que, quando se alude à acção popular, é logicamente da defesa
de interesses difusos, colectivos, e individuais homogéneos que se trata. Direitos
que estão para além de interesses meramente individuais e egoísticos. E não é
menos certo que as infracções cometidas (v.g, contra a saúde pública, os direitos
dos consumidores, a qualidade de vida, a preservação do ambiente e do patri-
mónio cultural), geram ou podem gerar lesões directas a sujeitos determinados.
Tal facto não passou despercebido ao legislador ao estabelecer, num primei-
ro momento, a nível constitucional, a possibilidade de ser requerida para o lesa-
do ou lesados a correspondente indemnização.
Tal como reza o n.º 3 do artigo 52.º da Constituição:
“É conferido a todos, pessoalmente ou através de associações de defesa dos
interesses em causa, o direito de acção popular nos casos e termos previstos
na lei, incluindo o direito de requerer para o lesado ou lesados a corres-
pondente indemnização,...”.
Como refere Carlos Adérito Teixeira “... quem se apresentar em juízo a inten-
tar uma acção popular pode provocar a tutela jurisdicional de danos com titulares
determinados e ainda peticionar um quantum indemnizatório que seja expressão
do dano comunitário indivisível, mesmo que não quantificado”.
Tal decorre do regime especial de representação processual previsto pelo arti-
go 14.º da Lei.
Nos seus termos:
“Nos processos de acção popular, o autor representa por iniciativa própria, com
dispensa de mandato ou autorização expressa, todos os demais titulares dos direi-
tos ou interesses em causa que não tenham exercido o direito de auto-exclusão
previsto no artigo seguinte, com as consequências constantes na presente lei”.
Não se ficou por aqui, no entanto, a Lei da Acção Popular. Com efeito, foi
mais além da responsabilidade meramente subjectiva, vindo a consagrar, de igual
modo, a responsabilidade civil objectiva, ou seja, estabelecendo a obrigação de
indemnizar por danos independentemente de culpa “... sempre que de acções ou
omissões do agente tenha resultado ofensa de direitos ou interesses protegidos
nos termos da presente lei e no âmbito ou sequência de actividade objectivamen-
te perigosa” (de acordo com o seu artigo 23.º).
Entramos, assim, no domínio da responsabilidade pelo risco, em que a obri-
gação de indemnizar nasce do risco próprio de certas actividades, independente-
mente de culpa do sujeito infractor.
Contudo, talvez fosse relevante, nesta matéria, o legislador clarificar o con-
ceito de “actividade objectivamente perigosa”, se não criando uma lista de acti-
vidades tidas como perigosas, pelo menos aportando alguns indícios que permi-
tissem o preenchimento do conceito.
No que tange, não já à Acção Popular, e sim, à Acção Inibitória (também ela,
colectiva), a Lei do Consumidor, não inovou muito, no domínio da responsabili-
dade civil.
Com efeito, se o artigo 12.º contempla, no seu n.º 1, a responsabilidade
subjectiva, estabelecendo expressamente que: "O consumidor tem direito à ind-
emnização dos danos patrimoniais e não patrimoniais resultantes do fornecimen-
to de bens ou prestações de serviços defeituosos", estabelece-se, de igual passo,
a responsabilidade objectiva, ou pelo risco, no caso, do produtor: "o produtor é
responsável, independentemente de culpa, pelos danos causados por defeitos de
produtos que coloque no mercado, nos termos da lei", nos termos já regulados
pelo Decreto-Lei n.º 383/89, de 6 de Novembro.
De referir, apenas, que, caso a acção inibitória seja intentada por um con-
sumidor directamente lesado, estaremos, em princípio, ou a maioria das vezes,
perante uma responsabilidade contratual, é dizer perante prejuízos advindos da
celebração de um contrato, pese embora os direitos tutelados devam ter valor e
carácter comunitários, tornando-se necessário que se trate de um interesse geral.
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Das Acções Colectivas em Portugal
CAPÍTULO II
DO DIREITO DE ACÇÃO
1. DO DIREITO DE ACÇÃO
4
Peças Processuais da Acção Judicial intentada pelos Consumidores contra a Portugal Telecom, S. A., Revista Portuguesa de Direito do
Consumo, n.º 3, de Julho de 1995, p. 171 e ss.
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Das Acções Colectivas em Portugal
5
“Os Interesses Difusos e as Acções Colectivas, in Revista Portuguesa de Direito do Consumo, n.º 0, Novembro de 1994.
6
Introdução do processo Civil, Coimbra Editora, 1996, p. 53.
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Das Acções Colectivas em Portugal
Acção Inibitória
A Lei das Condições Gerais dos Contratos - Decreto-Lei n.º 446/85, de 25 de
Outubro - consagrou pela primeira vez o direito à acção inibitória e que se des-
tinava a obter a condenação na abstenção do uso ou da recomendação de cláu-
sulas contratuais gerais.
No entanto, a LDC, consignou, também pela primeira vez, mas desta feita,
com carácter geral, a acção inibitória como meio de tutela da posição jurídica do
consumidor.
A anterior lei apenas outorgava o direito à acção sempre que em causa se
achasse a lesão de interesses colectivos dos consumidores – a denominada acção
civil pública.
Contudo, também a Lei n.º 25/2004, de 8 de Julho, que vem transpor para
o ordenamento jurídico nacional a Directiva 98/27/CE, do Parlamento
Europeu e do Conselho, de 19 de Maio, relativa às acções inibitórias em
matéria de protecção dos interesses dos consumidores faz o seu enfoque nas
práticas lesivas.
Compulsando toda a legislação que regula a acção inibitória fácil será con-
cluir que a mesma se destina a prevenir, corrigir ou fazer cessar práticas lesivas
dos direitos dos consumidores, nomeadamente:
– os que atentem contra a sua saúde e segurança física7,
– se traduzam no uso de cláusulas contratuais proibidas;
– consistam em práticas comerciais expressamente proibidas por lei.
Acção Popular
A Acção Popular encontra consagração na Lei n.º 83/95, de 31 de Agosto, e
tutela os interesses ligados à saúde pública, ao ambiente, à qualidade de vida, à
protecção do consumo de bens e serviços, ao património cultural e ao domínio
público.
7
Cfr. Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 6 de Dezembro de 2001, onde: “I - Sem embargo de preembularmente, o autor ter
definido a acção como inibitória, para protecção e defesa do seu direito como consumidor, mas resultando de todo o articulado que o
que se pretende é a impugnação do Estado e, da medida governamental de implementação do processo de co-inceneração para trata-
mentos dos lixos tóxicos, e a sua neutralização, a solução, nunca poderia resultar da aplicação do artigo 2, n. 1, da Lei n. 24/96, de
31 de Julho, que estabelece, o regime aplicável à defesa dos consumidores. II - Assim, e porque a intervenção do Estado se concretiza
na "conduta dum órgão da administração no caso, o Governo, num exercício dum poder público e, num verdadeiro acto administrati-
vo, o órgão judicial competente, é a Secção do contencioso administrativo, do S.T.A.”
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Das Acções Colectivas em Portugal
A Acção popular correctiva tem natureza cívica, quiçá, política e funda-se num
direito subjectivo. O cidadão/consumidor sendo titular de um interesse e direito
de carácter geral e objectivo fundado na legalidade, passa a ser titular de um
direito que reveste natureza cívica.
A Acção popular substitutiva assume carácter exclusivamente de substituição
processual. O titular do direito de acção prossegue em seu nome, conta, risco e
interesse próprio o direito de uma outra entidade, sendo esta uma forma de exer-
cer na esfera do direito privado funções pública. Neste domínio veja-se
Chiovenda, a sua obra “Principii di Diritto Processuale Civile”
25
Das Acções Colectivas em Portugal
Mas certo é que serão as três classes e interesses e direitos classificadas como
transindividuais, isto, no sentido de se traduzirem numa situação de plurisubjecti-
vidade dotada e um âmbito mínimo de factores determinantes de uma agrega-
ção, necessários à sua legitimação em termos de tratamento processual unitário.
E esta tónica é importante, como mais adiante se verá, uma vez que os insti-
tutos jurídicos da lei processual civil, quer o da coligação, quer o do litisconsór-
cio, se mostram inoperantes e desadequados face a esta nova realidade de inte-
resses e direitos transindividuais, no que concerne à protecção dos interesses e
direitos dos consumidores, e os demais que a lei estabelece que sejam merece-
dores da sua tutela.
Existe uma pulverização dos sujeitos titulares dos interesses e direitos legal-
mente protegidos.
3.2 COLECTIVOS
26
Das Acções Colectivas em Portugal
mente considerados mas uma comunidade de interesses, de que são titulares pes-
soas indeterminadas ligadas por circunstâncias de facto9.
Vejamos, no campo do serviço telefónico, se existir um pedido colectivo que
tenda para que o valor das chamadas telefónicas sejam fixadas tendo em conta
determinados parâmetros, tal pretensão configura a tutela de interesses colectivos.
Veja-se uma associação de consumidores que representa os interesses dos
consumidores em geral – supra ou meta-individuais – e pretende ver retirado do
mercado um produto perigoso.
3.3 DIFUSOS
9
Veja-se o Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça de 18 de Novembro de 1999: “O objecto da acção popular é antes de mais, a
defesa de interesses difusos: os radicados na própria colectividade, deles sendo titular, afinal, uma pluralidade indefinida de sujeitos....
o objecto da acção popular é, antes de mais, a defesa de interesses difusos, pois sendo interesses de toda a comunidade, deve recon-
hecer-se aos cidadãos uti cives e não uti singuli, o direito de promover, individual ou associadamente, a defesa de tais direitos.”
10
In Documentação e Direito Comparado, n.ºs 75/76, 1998.
11
Cfr. Acórdão do Tribunal Central Administrativo Sul, de 8 de Fevereiro de 2006, onde: “1. O conceito de interesses difusos reconduz-
se a interesses sem titular determinável, meramente referíveis, na sua globalidade, a categorias indeterminadas de pessoas. 2. Só por
si, a colocação de dois sinais de trânsito proibido num determinado arruamento urbano sem residentes e a construção não licenciada
de uma cerca e alpendre, não configuram a violação de interesses difusos da concreta comunidade urbana.”
12
In Para uma Tutela Jurisdicional dos Interesses Difusos, boletim da Faculdade de Direito , volume LX, 1984, pág. 201.
27
Das Acções Colectivas em Portugal
te individuais, e por isso não fornece a legitimação nem para a acção diante
do juiz ordinário, nem para o recurso perante o juiz administrativo,
c) O interesse difuso põe, por sua vez, uma série de interrogações e de pro-
blemas à função dos juízes nos confrontos sociais e nas relações entre a socie-
dade e os poderes públicos, quer à administração pública e seus meios,
mediante os quais ela pode explicar a sua actividade, sob o pressuposto de
recursos e de confrontos entre interesses individuais e colectivos,
d) Os meios utilizados e por vezes acolhidos, pela introdução dos interesses difu-
sos no processo civil e no processo administrativo, enquanto comportam uma
extrapolação dos esquemas processuais clássicos função da acção individual, con-
sentem só, na melhor das hipóteses, a realização parcial dos interesses difusos13”
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Das Acções Colectivas em Portugal
CAPÍTULO III
DOS PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS
1. DAS PARTES
1.1 PERSONALIDADE
1.2. CAPACIDADE
15
“Instituciones de Derecho Procesal Civil”, tradução espanhola, II, pág. 264.
29
Das Acções Colectivas em Portugal
1.3 LEGITIMIDADE
GENERALIDADES
16
Obras Completas Professor Doutor João de Castro Mendes, Direito Processual Civil, volume II, 1987, edição da Associação
Académica da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, pág. 47.
17
Obras Completas Professor Doutor João de Castro Mendes, Direito processual Civil, volume II, 1987, edição da Associação
Académica da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, pág. 187.
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Das Acções Colectivas em Portugal
Contudo e, no âmbito das Acções colectivas a legitimidade não terá que pre-
encher o requisito pessoal.
Temos que ir à conceptualização dos interesses e direitos que as acções colec-
tivas visam tutelar.
Ficou assente que são interesses e direitos plurisubjectivos.
O n.º 3 do artigo 52.º da Constituição da República Portuguesa estatui, em
termos de legitimidade que é conferido a todos, pessoalmente ou através de asso-
ciações de defesa dos interesses em causa, o direito de acção popular nos casos
e termos previstos na lei, incluindo o direito de requerer para o lesado ou lesados
a correspondente indemnização, nomeadamente para:
a) Promover a prevenção, a cessação ou a perseguição judicial das infracçõ-
es contra a saúde pública, os direitos dos consumidores, a qualidade de vida
e a preservação do ambiente e do património cultural;
b) Assegurar a defesa dos bens do Estado, das regiões autónomas e das
autarquias locais18.
18
Cfr. Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa de 20 de Junho de 2006, onde “1. O direito de acção popular, como direito
fundamental, visa a protecção dos interesses difusos. A defesa destes interesses, é concedida aos cidadãos uti cives e não uti sin-
guli, precisamente porque são interesses de toda a comunidade, e, por isso, os cidadãos uti cives têm o direito de promover a
defesa de tais interesses, individual ou associativamente. 2. O art.º 52.º, n.º 3 da C.R.P. alarga a legitimidade activa a todos os
cidadãos, independentemente do seu interesse individual ou da sua posição específica com os bens ou interesses em causa. E, de
uma forma exemplificativa, enumera os seguintes interesses difusos susceptíveis de tutela: a saúde pública, os direitos dos con-
sumidores, a qualidade de vida, a preservação do ambiente e do património cultural. 3. A Lei n.º 83/95 de 31-08 (lei do direito
de participação procedimental e de acção popular) veio regulamentar a acção popular especial para a tutela dos interesses difu-
sos, e possibilitar que fossem interpostas acções no âmbito do contencioso administrativo, na jurisdição civil (cf. art.º 12.º) e per-
mitir a intervenção especial no processo penal. 4. O art.º 26.º-A do Cód. Proc. Civil (na redacção do Dec. Lei n.º 180/96, de 25-
09) deve ser articulado com o regime estabelecido na Lei n.º 83/95, de 31-08. O art.º 26.º-A do Cód. Proc. Civil trata da legit-
imidade difusa. E os critérios desta legitimidade são diferentes dos previstos no art.º 26.º do Cód. Proc. Civil. Segundo o art.º 26º-
A do Cód. Proc. Civil, a acção popular tem cabimento quando estejam em causa interesses ligados à saúde pública, ao ambiente,
à qualidade de vida, à protecção do consumo de bens e serviços, o património cultural e o domínio público (art.º 1.º da Lei n.º
85/93). E a legitimidade para estas acções é conferida aos titulares referidos no art.º 2.º e ao Ministério Público, nos termos esta-
belecidos no art.º 16.º da Lei n.º 83/95.”
31
Das Acções Colectivas em Portugal
O Código de Processo Civil, no seu artigo 26.º A, sob a epígrafe “Acções para
a tutela de interesses difusos” estabelece que têm legitimidade para propor e
intervir na acções e procedimentos cautelares destinados, designadamente, à
defesa da saúde pública, do ambiente, da qualidade de vida, do património cul-
tural e do domínio público, bem como à protecção do consumo de bens e servi-
ços, qualquer cidadão no gozo dos seus direitos civis e políticos, as associações
e fundações defensoras dos interesses em causa, as autarquias locais e o
Ministério Público nos termos previstos na lei19.
Veremos que associações, colectividades e indivíduos, quer em nome próprio,
quer na salvaguarda dos demais indivíduos têm legitimidade para a intentar.
Este requisito da visão tradicionalista da legitimidade, não é atendível para a
verificação do preenchimento deste pressuposto processual.
No plano de estudos que ousámos elaborar, correcto será atermo-nos sobre
a legitimidade activa no que às acções colectivas concerne, a legitimatio ad cau-
sam.
Dado que a legitimidade passiva, reveste a natureza geral que grassa nas dis-
posições do Código de Processo Civil.
19
Cfr. Acórdão do Tribunal da Relação do Porto de 10 de Abril de 2007, onde “Legitimidade activa do Ministério Público e interesse
em agir. Invoca este a seu favor o disposto no art. 26-A CPC: “Acções para a tutela de interesses difusos - têm legitimidade para pro-
por e intervir nas acções e procedimentos cautelares destinados, designadamente, à defesa da saúde pública, do ambiente, da quali-
dade de vida, do património cultural e do domínio público, bem como à protecção do consumo de bens e serviços, qualquer cidadão
no gozo dos seus direitos civis e políticos, as associações e fundações defensoras dos interesses em causa, as autarquias locais e o
Ministério Público, nos termos previstos na lei.” Salvo o devido respeito, a legitimidade activa do M.º P.º e mesmo o interesse em agir,
são manifestos.”
32
Das Acções Colectivas em Portugal
A LDC, oferece, na pobreza dos seus termos, aos consumidores em geral uma
nova esperança, alargando a acção inibitória a todos os domínios que aos con-
sumidores concernem.
E no que toca ao seu poder de intervenção em juízo, ou seja, a legitimidade
processual activa ou legitimatio ad causam, como referiam os romanos, há que
contemplar o artigo 13.º que constitui, no domínio específico dos consumidores,
inovação, que confirma, de resto, abertura iniciada com a Lei da Acção Popular.
Assim, nos termos do supra mencionado dispositivo normativo têm legitimida-
de para intentar acções inibitórias:
a) os consumidores directamente lesados,
b) os consumidores e as associações de consumidores, ainda que não direc-
tamente lesados, nos termos da Lei n.º 83/95, de 31 de Agosto;
c) o Ministério Público e a Direcção-Geral do Consumidor quando em causa
estejam interesses individuais homogéneos, colectivos ou difusos.
Mas desde que a mesma se destine a prevenir, corrigir ou fazer cessar práti-
cas lesivas dos direitos dos consumidores, nomeadamente:
– os que atentem contra a sua saúde e segurança física,
– se traduzam no uso de cláusulas contratuais proibidas20;
– consistam em práticas comerciais expressamente proibidas por lei.
Mas, de par com a norma que estabelece a legitimidade para aquele tipo de
acções, isto é, se destine a prevenir, corrigir ou fazer cessar práticas lesivas dos
direitos dos consumidores, encontramos a especificidade que vem consagrada no
Regime Jurídico das Condições Gerais dos Contratos.
20
Crf. Acórdão da Relação de Lisboa de 25 de Maio de 2006: I - Com o regime jurídico das cláusulas contratuais gerais o legislador,
confrontado com um fenómeno de tráfego negocial de massas, procurou salvaguardar o contraente mais fraco, protegendo-o de
cláusulas abusivas e susceptíveis de ocasionar um desequilíbrio entre os contraentes, posto que a contratação baseada em condições
negociais gerais tem implícita uma certa posição de poder do utilizador das cláusulas decorrente do próprio modo de formação do con-
trato. II - Com tal desiderato foram traçadas, no essencial, formas de assegurar a tutela dos interesses dos contraentes mais desprote-
gidos contra cláusulas contratuais absolutamente proibidas ou relativamente proibidas pela via da fiscalização ex post do controlo inci-
dental (declaração de nulidade no quadro de apreciação de um contrato singular) e da fiscalização ex ante do controlo abstracto (acção
inibitória). III – Com a acção inibitória visa-se que os utilizadores de condições gerais desrazoáveis ou injustas sejam condenados a
abster-se do seu uso ou que as organizações de interesses que recomendem tais condições aos seus membros ou associados sejam
condenadas a abandonar essa recomendação.”
33
Das Acções Colectivas em Portugal
Aquele diploma legal estabelece que detêm legitimidade para a acção inibi-
tória de molde a obter-se condenação tendente à abstenção do uso ou da reco-
mendação de cláusulas contratuais gerais:
a) associações de defesa do consumidor dotadas de representatividade, no
âmbito previsto na legislação respectiva;
b) associações sindicais, profissionais ou de interesses económicos legalmen-
te constituídas, actuando no âmbito das suas atribuições;
c) Ministério Público, oficiosamente, ou por indicação do Provedor de Justiça,
ou quando entenda fundamentada a solicitação de qualquer interessado.
DA ACÇÃO POPULAR
1.4.1 DA OBRIGATORIEDADE
GENERALIDADES
DA ACÇÃO POPULAR
2. DOS TRIBUNAIS
DA JURISDIÇÃO
Nos termos da lei processual civil, as causas que não sejam atribuídas a outra
ordem jurisdicional cabem à ordem judicial.
Já o Estatuto dos Tribunais Administrativos e Fiscais prescreve no seu artigo 1.º
que "Os tribunais administrativos da jurisdição administrativa e fiscal são os órgãos
de soberania com competência para a administrar a justiça em nome do povo, nos
litígios emergentes das relações jurídicas administrativas e fiscais".21
21
Cfr. Acórdão do tribunal da Relação de Coimbra, de 7 de Novembro de 2006, onde: “1. As acções de responsabilidade civil extra-
contratual das pessoas colectivas de direito público (artigo 4.°, al. g) do ETAF), bem como as que visam promover a prevenção, ces-
sação e reparação de violação de interesses difusos em matéria de ambiente, urbanismo, ordenamento do território, qualidade de vida,
património cultural e bens do Estado, quando cometidas por entidades públicas (al. l) e todas as outras previstas no mesmo artigo 4.°,
são da competência dos tribunais administrativos e fiscais quando o litígio assenta numa relação jurídica administrativa ou fiscal.
2.O âmbito de aplicação da acção popular administrativa e da acção popular civil depende, não da natureza dos interesses em causa,
mas sim da natureza da relação jurídica concreta subjacente ao litígio.
3. São da competência dos tribunais administrativos e fiscais as acções populares administrativas, referidas no artigo 12.°, n.º 1 da Lei
83/95, de 31/08 - acções populares cuja relação jurídica litigiosa é de natureza administrativa ou fiscal. E serão do foro comum as
acções populares de natureza civil referidas no n.º 2 do artigo 12.º.
4. O tribunal civil comum é competente, em razão da matéria, para conhecer do pedido feito, em acção popular, por um cidadão con-
tra a Junta de freguesia, pedindo a alteração de construções do seu domínio privado, por forma a obedecer ao Regime Municipal das
Edificações Urbanas e às normas ambientais, a retirar as placas que induzem à identificação errónea das construções e ainda a res-
ponder por danos emergentes das alegadas violações.
39
Das Acções Colectivas em Portugal
imperii; contudo, ao acrescentar tal preceito a equiparação dos entes públicos aos
privados, fica o Estado desapossado do seu poder de supremacia22.
Assim, o n.º 2 de tal dispositivo normativo diz expressamente: “Consideram-
se incluídos no âmbito da presente lei os bens, serviços e direitos fornecidos, pres-
tados e transmitidos pelos organismos da Administração Pública, por pessoas
colectivas públicas, por empresas de capitais públicos ou detidos maioritaria-
mente pelo Estado, pelas Regiões Autónomas ou pelas autarquias locais e por
empresas concessionárias de serviços públicos”.
Donde, caem por terra todos os argumentos que poderiam esgrimir-se no sen-
tido de tais relações se integrarem no conceito de “relação jurídica administrativa”.
Mas, tal não tem sido o entendimento maioritário do Tribunal de Conflitos23.
22
Cfr. acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 6 de Dezembro de 2001, onde: “I - Sem embargo de preambularmente, o autor ter
definido a acção como inibitória, para protecção e defesa do seu direito como consumidor, mas resultando de todo o articulado que o
que se pretende é a impugnação do Estado e, da medida governamental de implementação do processo de co-incineração para trata-
mentos dos lixos tóxicos, e a sua neutralização, a solução, nunca poderia resultar da aplicação do artigo 2, n.º 1, da Lei n.º 24/96, de
31 de Julho, que estabelece, o regime aplicável à defesa dos consumidores. II - Assim, e porque a intervenção do Estado se concretiza
na "conduta dum órgão da administração no caso, o Governo, num exercício dum poder público e, num verdadeiro acto administrati-
vo, o órgão judicial competente, é a Secção do contencioso administrativo, do S.T.A.”
23
Veja-se a este respeito a argumentação esgrimida no Acórdão de 17 de Maio de 2006 do Tribunal de Conflitos, na Acção Popular
que a ACOP - Associação de Consumidores de Portugal intentou contra a empresa Águas da Figueira: “Está em causa a definição da
jurisdição competente relativamente a providência cautelar não especificada instaurada pela requerente contra as “A…” (concessioná-
ria do serviço público de captação tratamento e distribuição de água bem como do sistema de recolha, qualidade essa atribuída pelo
respectivo Município através do competente concurso) no Tribunal Judicial da Figueira da Foz (TJFF) em que a requerente pretende, em
síntese, que seja decretada a suspensão de todo o tarifário de consumo de água, saneamento e de disponibilidade, entrado em vigor
em 2005.01.01, no concelho da Figueira da Foz (com a consequente reposição do que vigorava anteriormente a essa data), e o decre-
tamento da suspensão da chamada “tarifa de disponibilidade”. Como se viu, quer o TJFF, quer o Tribunal da Relação de Coimbra (TRC),
que em recurso apreciou decisão da 1ª instância, são no sentido de que a competência material cabe aos tribunais administrativos,
essencialmente por duas ordens de razões: - por um lado, o acto jurídico que se visa impugnar – o aludido tarifário do serviço público
respectivo – tem natureza exclusivamente administrativa, por haver sido fixado unilateralmente por entidade administrativa (Município
da Figueira da Foz, concretamente por deliberação da Assembleia Municipal); - por outro lado, entre aquele Município e as “A…”, foi
outorgado um contrato de concessão tipicamente administrativo e cuja validade a requerente também pretende por em causa. A reque-
rente da providência faz assentar o entendimento de que a competência pertence à jurisdição comum na seguinte ordem de pondera-
ções: - A espécie controvertida é de natureza exclusivamente privatística - consumidores versus fornecedor de água (cf. Lei 24/96 - arti-
gos 2° e 9°, nos 1 e 8), estando em causa um singelo contrato de consumo; - por outro lado, “os contratos de concessão de serviços
de interesse geral subsumem-se em toda a sua disciplina - e para todos os efeitos - ao direito do consumo: Lei do Consumidor e diplo-
mas avulsos de desenvolvimento”... A competência (ou jurisdição) de um tribunal afere-se pela forma como o autor configura a acção,
definida pelo pedido e causa de pedir, ou seja, pelos objectivos prosseguidos pelo mesmo. Tal competência, em geral, e como é recor-
dado em recente acórdão deste TC (proferido a 18.05.06-Proc. n.º 04/05), resulta da medida da jurisdição atribuída aos diversos tri-
bunais, do modo como entre si fraccionam e repartem o poder jurisdicional que, tomado em bloco, pertence ao conjunto dos tribunais
(cf. Prof. Manuel de Andrade, Noções Elementares de Processo Civil, Ed. de 1979, págs. 88/89). As regras de competência judiciária
ratione materiae são, assim, atinentes à distribuição das matérias pelas diversas espécies de tribunais dispostos horizontalmente (cf. ac.
40
Das Acções Colectivas em Portugal
DA ACÇÃO POPULAR
TC n.º 114/2000, de 22 de Fevereiro, in BMJ 494/48). Como é sabido, os tribunais comuns detêm competência genérica, exercendo
jurisdição em todas as áreas não atribuídas a outras ordens jurídicas (cf. art.º 211, n.º 1, da CRP, 66.º do CPC e 18.º, n.º1, da Lei n.º
3/99 - LOTJ, de 13 de Janeiro, alterada pela Lei n.º 101/99, de 26 de Julho, pelos DL n.º 323/2001, de 17 de Dezembro, n.º
38/2003, de 8 de Março, e n.º 105/2003, de 10 de Dezembro), pelo que cumpre indagar se a matéria que integra o pedido dos autos
se encontra deferida à jurisdição administrativa, tal como foi decidido. Prescreve o art.º 212.º, n.º 3, da CRP, que, “compete aos tribu-
nais administrativos e fiscais o julgamento das acções e recursos contenciosos que tenham por objecto dirimir os litígios emergentes das
relações jurídicas administrativas e fiscais.”
...
Preceitua, por seu lado, o art.º 1° do Estatuto dos Tribunais Administrativos e Fiscais (ETAF vigente) que, "Os tribunais administrativos da
jurisdição administrativa e fiscal são os órgãos de soberania com competência para a administrar a justiça em nome do povo, nos lití-
gios emergentes das relações jurídicas administrativas e fiscais" (n.º 1). Importa ainda atentar no art.º 4.º n.º 1 do mesmo ETAF que
enuncia o âmbito da jurisdição administrativa e fiscal através de enumerações, definindo a título exemplificativo, pela positiva os litígios
nela incluídos, e pela negativa os litígios dela excluídos (cf. n.º 2 e 3).
...
É o caso da alínea d) do referido n.° 1, que aqui importa particularmente ter em atenção, nos termos da qual compete aos tribunais da
jurisdição administrativa e fiscal a apreciação de litígios que tenham por objecto a fiscalização da legalidade das normas e demais actos
jurídicos praticados por sujeitos privados, designadamente concessionários, no exercício de poderes administrativos.
Sublinhe-se que a requerente da providência pretende que seja decretada a suspensão do aludido tarifário respeitante ao consumo de
água, saneamento e de disponibilidade e o decretamento da suspensão da “tarifa de disponibilidade”, tarifário esse fixado pela enti-
dade pública concedente como contrapartida do aludido serviço público, ao abrigo de normas de direito administrativo [sendo que, a
actividade de “Captação, tratamento e distribuição de água para consumo público…”, nos termos da alínea a) do n.º 1 da Lei n.º 88-
A/97 de 25 de Julho, é vedada a empresas privadas e a outras entidades da mesma natureza, salvo quando concessionadas] questio-
nando-se a sua legalidade.
...Estamos, assim, perante uma questão fiscal, entendendo-se como tal, “todas as que emergem da resolução autoritária que imponha
aos cidadãos o pagamento de qualquer prestação pecuniária com vista à obtenção de receitas destinadas à satisfação de encargos públi-
cos do Estado e demais entidades públicas, bem como o conjunto de relações jurídicas que surjam em virtude do exercício de tais fun-
ções ou que com elas estejam objectivamente conexas” – cfr. citado acórdão deste TC de 2006.05.18 (Proc. n.° 4/05), e vasta juris-
prudência ali registada. Pode pois concluir-se que a jurisdição competente para conhecer do litígio em apreciação é, assim, a jurisdi-
ção dos tribunais administrativos e fiscais, concretamente os tribunais tributários, atento o disposto no art.° 49.º, n.° 1, alínea e)-i) e iv),
do ETAF vigente.”
41
Das Acções Colectivas em Portugal
nado pelo artigo 312.º do Código de Processo Civil, isto é, o equivalente à alça-
da da Relação e mais 0,01€.
A forma do processo ora aplicável dependerá do valor atribuído à acção,
sendo certo que assumirá forma sumária ou ordinária.
Se o valor exceder a alçada do Tribunal da Relação, empregar-se-á a forma
de processo ordinário. Caso o não exceda, empregar-se-á a forma de processo
sumário - veja-se a este respeito o artigo 462.º do Código de Processo Civil.
Assim, as acções colectivas que sejam intentadas pelo consumidor de per si,
e que tenham por objecto o cumprimento de obrigações, a indemnização pelo
não cumprimento ou pelo cumprimento defeituoso e a resolução do contrato por
falta de cumprimento, seguem o regime do artigo 74.º.
Contudo, e caso o objecto da acção colectiva seja distinto dos já enunciados,
bem como, sendo uma associação representativa dos consumidores, então tere-
mos que nos socorrer da norma ínsita no artigo 86.º do mesmo diploma legal e
que prevê claramente que se o demandado for o Estado, ao tribunal do domicílio
42
Das Acções Colectivas em Portugal
Mas excepção foi consagrada para a Acção Inibitória que lança mão a Lei das
Condições Gerais dos Contratos deverá ser intentada, nos termos do artigo 28.º
da citada lei, no Tribunal a comarca onde se localiza o centro da actividade prin-
cipal do demandado ou, não se situando em território nacional, o da comarca
da sua residência ou sede; se estas se localizarem no estrangeiro será competen-
te o tribunal do lugar em que as cláusulas contratuais gerais foram propostas ou
recomendadas.
Consideramos, contudo, que deveria existir norma especial geral para a atri-
buição da competência territorial no que às acções colectivas concerne.
Assim, deveria ser contemplada a competência do territorial do tribunal do
domicílio do consumidor, caso as acções colectivas por si sejam intentadas. Caso
sejam intentadas por associações de consumidores, então deveriam ser compe-
tente territorialmente o tribunal da sede das associações representativas dos inte-
resses e direitos dos consumidores.
tos já enunciados, é aplicável a lei desse outro país. Uma conexão manifesta-
mente mais estreita com um outro país poderá ter por base, nomeadamente, uma
relação preexistente entre as partes, tal como um contrato, que tenha uma liga-
ção estreita com a responsabilidade fundada no acto lícito, ilícito ou no risco em
causa.
Existindo contudo norma no que às acções colectivas concerne e que estipula
que, sem prejuízo da disposição que estatuí que sempre que a pessoa cuja res-
ponsabilidade é invocada e o lesado tenham a sua residência habitual no mesmo
país no momento em que ocorre o dano, é aplicável a lei desse país, a lei apli-
cável a uma obrigação extracontratual no que diz respeito à responsabilidade de
uma pessoa que age na qualidade de trabalhador ou de empregador, ou das
organizações que representam os respectivos interesses profissionais, pelos danos
decorrentes de acções colectivas, pendentes ou executadas, é a lei do país no
qual a acção tenha ocorrido ou venha a ocorrer.
Caso nos encontremos perante litígio que não respeite obrigações extra-
contratuais, e esteja em causa parte que tenha residência ou sede na União
Europeia, então a Lei processual civil estabelece que a competência internacional
dos tribunais portugueses depende da verificação de alguma das seguintes
circunstâncias:
a) Ter o demandado ou algum dos demandados domicílio em território portu-
guês, salvo tratando-se de acções relativas a direitos reais ou pessoais de gozo
sobre imóveis sitos em país estrangeiro, considerando-se domiciliada em
Portugal a pessoa colectiva cuja sede estatutária ou efectiva se localize em
território português, ou que aqui tenha sucursal, agência, filial ou delegação.
b) Dever a acção ser proposta em Portugal, segundo as regras de competên-
cia territorial estabelecidas na lei portuguesa;
c) Ter sido praticado em território português o facto que serve de causa de
pedir na acção, ou algum dos factos que a integram;
d) Não poder o direito invocado tornar-se efectivo senão por meio de acção
proposta em território português, ou não ser exigível ao autor a sua proposi-
tura no estrangeiro, desde que entre o objecto do litígio e a ordem jurídica
nacional haja algum elemento ponderoso de conexão, pessoal ou real.
44
Das Acções Colectivas em Portugal
II Parte
Capítulo I
Do Processo
ses indivisíveis, verifica-se por um lado que a pretensão do novo interessado não
é superior ou mais atendível do que a dos autores representantes, e, por outro
lado, não lhe está vedado de fazer chegar ao Ministério Público as razões da sua
discordância relativamente à condução do processo ou da prestação do autor
popular, por forma a convencer o Ministério Publico a intervir a título principal no
processo.
ACÇÃO INIBITÓRIA
No que toca às acções inibitórias o regime previsto no âmbito quer da Lei n.º
24/96, de 31 de Julho quer do DL n.º 446/85, de 25 de Outubro, com as alte-
rações introduzidas pelo DL n.º 220/95, de 31de Agosto e pelo DL n.º 249/99,
de 7 de Julho não determina qualquer especificidade relativa ao indeferimento da
petição inicial ou da citação seguindo-se os termos do processo sumário previs-
to no Código de Processo Civil.
ACÇÃO POPULAR
Todavia, cremos que isto dependerá das situações, podendo até coexistir na
mesma acção, por exemplo a acção popular ser intentada em conjunto por uma
associação e um particular aparecendo aquela como substituto processual, agin-
do em seu nome e defendendo os interesses dos seus associados, e o particular
além de defender o seu interesse individual, defende também interesses indivi-
duais de outros titulares determinados, aparecendo como representante daque-
les. No que concerne aos interesses difusos tanto a associação como o particular
têm um interesse directo, visto partilharem a titularidade desses interesses.
Se relacionarmos este aspecto com as possibilidades que os demais titulares
dos interesses em causa, citados na pendência da lide popular têm, verificamos
que os mesmos têm duas opções: ou excluem-se da representação - opt out -
acautelando-se dos efeitos do caso julgado ou se os titulares nada disserem, tal
passividade vale como aceitação da representação.
Este critério do opt out, constante no artigo, sobre o qual, ora nos debruça-
mos, define a forma de submissão de um terceiro ao caso julgado sendo próprio
das “class actions” previsto no ordenamento norte-americano.
Se a acção popular tiver como objecto um interesse difuso stricto sensu, nen-
hum titular se pode auto-excluir dessa acção e por isso todos eles ficam abrangi-
dos pelo caso julgado da decisão que nela for proferida.
A solução será diferente se tiver em causa um interesse colectivo. Neste caso
o titular pode auto-excluir-se dessa acção precavendo-se contra a sua vinculação
ao caso julgado da decisão que nela venha a ser proferida. Assim o titular que se
auto-excluir de uma acção que tem por objecto um interesse colectivo não fica
vinculado ao caso julgado da respectiva decisão, o que significa que ele não
pode retirar qualquer vantagens dessa decisão, nem pode ser prejudicado pelo
conteúdo daquela decisão.
Se a acção popular recair sobre um interesse colectivo nenhum interessado
fica vinculado ao caso julgado na acção popular se a sua condição for diferente
da situação daqueles que foram representados nesta acção por, qualquer factor
de diferenciação pessoal é suficiente para o afastar da vinculação a esse caso jul-
gado.
A diferença entre os interesses difusos stricto sensu e os interesses colectivos
condiciona a resposta à questão de saber se o titular do interesse difuso lato
sensu, que antes procurara obter a tutela dos seus interesse numa acção indivi-
dual, pode beneficiar ou pode ser prejudicado pela decisão que vier a ser profe-
rida na acção. A resposta não é problemática quando a acção individual for jul-
gada procedente e a posterior acção popular vem a ser julgada improcedente,
visto poder haver lesão do interesse individual, justificando assim a acção indivi-
dual, sem haver violação de qualquer interesse difuso, o que conduz à improce-
dência da acção colectiva. Assim o titular do interesse individual não pode ser
prejudicado pela posterior improcedência da acção popular.
A questão é complexa quando a acção individual for julgada improcedente e
a posterior acção popular vem a ser considerado procedente. Discute-se se o
autor da acção individual pode beneficiar do caso julgado favorável desta acção
colectiva. A resposta a esta problemática é distinta consoante o objecto da acção
popular em causa. Se o objecto for um interesse difuso stricto sensu, o titular que
não conseguiu obter a procedência da acção individual beneficia da decisão de
procedência da acção popular, uma vez que aquele interesse recai sobre um bem
indivisível, nenhum titular pode ser excluído do seu gozo. A solução já serás dis-
tinta se o objecto da acção popular for um interesse colectivo, visto que a pro-
52
Das Acções Colectivas em Portugal
positura de uma acção individual por qualquer dos seus titulares deve ser enten-
dida como uma auto-exclusão de qualquer acção colectiva, nos termos do arti-
go 15.º, n.º 1 Lei da Acção Popular.
Entende-se que o titular do interesse difuso que procurou obter a tutela dos
seus interesses através de uma acção individual e não conseguiu a procedência
da acção não tem legitimidade popular, não beneficiando do caso julgado da
acção popular.
3. ACTIVIDADE PROBATÓRIA
55
Das Acções Colectivas em Portugal
CAPÍTULO II
Da Eficácia do Caso Julgado
1. GENERALIDADES
2. NA ACÇÃO INIBITÓRIA
decisão. Este regime vale tanto para as cláusulas que constem de contratos cele-
brados antes da decisão inibitória como para as cláusulas inseridas em contratos
concluídos depois dessa decisão.
O regime legal que resulta do caso julgado da decisão proferida na acção
inibitória do uso ou recomendação de uma cláusula contratual geral pode ser
resumido ao que segue:
O interessado não beneficia do caso julgado da decisão que proíbe o uso ou
recomendação da cláusula contratual. Porém este interessado, poderá alegar, em
proveito próprio, a declaração de nulidade da cláusula que é proferida, a título
incidental, na acção inibitória. Com esta alegação, o novo demandante vincula
o tribunal e o demandado a aceitar a declaração de nulidade subjacente à deci-
são de procedência proferida na acção.
A particularidade deste regime, resulta do facto de se permitir a um terceiro
invocar em seu benefício a declaração incidental da nulidade da cláusula con-
tratual sem que aquela seja dotada de eficácia de caso julgado material.
Em conclusão:
O artigo 32.º, n.º 2 da Lei das Cláusulas Contratuais Gerais permite concluir
que no âmbito subjectivo do caso julgado da acção inibitória do uso ou reco-
mendação de um cláusula geral o que é definido no plano supra-individual não
vale no plano individual, pois nem o novo demandante da acção individual, nem
o demandado na acção inibitória e na acção individual podem invocar em seu
benefício o caso julgado da decisão proferida na acção colectiva. Verifica-se,
pois, a consagração de uma solução unilateral em que o demandante pode invo-
car a declaração incidental de nulidade da cláusula contratual geral, porém o
demandado não pode invocar o caso julgado absolutório da acção inibitória,
nem tão pouco, beneficiar de um conhecimento oficioso da excepção de caso jul-
gado. O facto da cláusula contratual geral não ter sido declarada contrária à boa
fé não significa que não possa ser abusiva.
o que foi apreciado e decidido apenas pode ser invocado por aquele deman-
dante. Esta desigualdade é reforçada pela concordância da decisão da acção
individual com a sentença de procedência proferida na acção inibitória.
Todavia a eficácia do caso julgado também protege o proponente da cláusu-
la, uma vez que o consumidor só poder invocar a declaração incidental de nuli-
dade da cláusula contratual geral, não podendo assim alegar em proveito pró-
prio o caso julgado da decisão inibitória, sendo facultado ao proponente deman-
dado na acção individual a alegação de que, no caso concreto, a cláusula con-
tratual foi objecto de uma negociação, não sendo contrária à boa fé. Verifi-
cava-se, pois, a existência de um compromisso entre a protecção concedida ao
consumidor e a possibilidade de defesa pelo proponente.
3. NA ACÇÃO POPULAR
O artigo 19.º da LAP vem regular os efeitos do caso julgado no que concer-
ne à acção popular estipulando-se o que segue:
“1 – As sentenças transitadas em julgado proferidas em acções ou recursos
administrativas ou em acções cíveis, salvo quando julgadas improcedentes por
insuficiência de provas, ou quando o julgador deve decidir por forma diversa
fundado em motivações próprias do casos concreto, têm eficácia geral, não
abrangendo, contudo, os titulares dos direitos ou interesse que tiverem exerci-
do o direito de se auto excluírem da representação.
2 – As decisões transitadas em julgado são publicadas a expensas da parte
vencida e sob pena de desobediência, com menção do trânsito em julgado,
em dois dos jornais presumivelmente lidos pelo universo dos interessados no
seu conhecimento, à escolha do juiz da causa, que poderá determinar que a
publicação se faça por extracto dos seus aspectos essenciais, quando a sua
extensão desaconselhar a publicação por inteiro”.
do que não violou ou que não ameaçou o interesse difuso, podendo esta parte
arguir a excepção de caso julgado numa outra qualquer acção relativa ao mesmo
objecto proposta por outro sujeito. É necessário ter em consideração que da vin-
culação à decisão de improcedência só ficam afastados os titulares do interesse
difuso que expressamente se tenham auto-excluído da acção popular, nos termos
do artigo 15.º, n.º 1 e 19.º, n.º 1 da LAP. A decisão de improcedência também
fundamenta a arguição de excepção de caso julgado pelo mesmo demandado
numa posterior acção individual que contra ele seja proposta.
Pode, contudo, concluir-se que a excepção do caso julgado na acção popu-
lar pode ser oposta pelo demandado ao novo demandante obstando a uma nova
apreciação de mérito da acção, excepto se a decisão absolutória se fundamen-
tar num non liquet.
63
Das Acções Colectivas em Portugal
CAPÍTULO III
DO REGIME DOS RECURSOS
1. GENERALIDADES
A par de outras alterações que, por motivo sistemático, se não versará, não se
pode, no entanto deixar passar em branco a alteração à Lei n.º 3/99, de 13 de
Janeiro (Lei de Organização e Funcionamento dos Tribunais Judiciais), nomeada-
mente ao seu artigo 24º, elevando-se em matéria cível a alçada dos tribunais da
Relação para €30 000 e a dos tribunais de 1.ª instância para €5 000.
Naturalmente que o objectivo de tal alteração se prende com a limitação do
acesso - em via recursal - ao Supremo Tribunal de Justiça, medida que se presu-
me não encontrará eco nos espíritos mais preocupados com as garantias da rea-
preciação das decisões, que ora parece falecerem nestes domínios...
Com efeito, nos termos do artigo 18º da LAP:
“ Mesmo que determinado recurso não tenha efeito suspensivo, nos termos
gerais, pode o julgador, em acção popular, conferir-lhe esse efeito, para evitar
dano irreparável ou de difícil reparação”.
Ou seja, aos recursos que, nos termos gerais, teriam efeito meramente devo-
lutivo, não suspendendo, como tal, a imediata exequibilidade da sentença da 1.ª
instância, pode o julgador conferir-lhe esse efeito.
Alude-se, naturalmente, aos casos em que haja sido o autor a perder a lide,
e a interpor recurso da decisão da 1.ª instância e entende-se o porquê de tal
medida consagrada pelo legislador.
A própria natureza dos interesses em causa (tais como a saúde pública, o
ambiente, a qualidade de vida, a protecção no quadro do consumo de produtos
e serviços, o património cultural e o domínio público) o impõe.
Se o recurso tivesse efeito meramente devolutivo, tal poderia levar a lesões que
dificilmente poderiam ser reparadas (pense-se numa infracção cometida contra o
meio ambiente e na possibilidade de o sujeito infractor continuar a praticar actos lesi-
vos do meio ambiente enquanto o acórdão do tribunal superior não fosse proferido).
Quanto à acção inibitória, quer a relativa às cláusulas contratuais gerais,(pre-
vista no Decreto–Lei n.º 446/85, de 25 de Outubro), quer a acção inibitória, mais
abrangente, tal como definida pela Lei n.º 24/96, de 31 de Julho, (Lei do
Consumidor), o respectivo regime nada aporta de novo em relação ao regime
dos recursos pelo que aplicar-se-á o regime processual civil, geral.
Apenas se dirá, a este respeito, que será sempre tal decisão passível de recur-
so para o Supremo Tribunal de Justiça, uma vez que muito embora siga a forma
de processo sumário de declaração (artigo 11.º, n.º 1 da Lei do Consumidor e
artigo 28º do diploma relativo às Condições Gerais dos Contratos, tem o valor
correspondente ao da alçada da Relação mais 1 cêntimo (de acordo com a
redacção da lei).
Pelo exposto, quanto ao valor, a reforma dos recursos operada pelo já citado
Decreto-Lei n.º 303/2007, de 24 de Agosto, não acarretará consequências
nefastas neste sentido.
65
Das Acções Colectivas em Portugal
O valor da causa, tal como definido no artigo da Lei das Condições Gerais
dos Contratos, excede em 1 cêntimo o valor da alçada da Relação: ora fixado em
30 000€.24
Daí que eventual decisão definitiva admita recurso ordinário de apelação e de
revista.
O regime das impugnações em processo civil comporta
• reclamações
• recursos
B) Recurso ordinário
24
Art.º 24 da L 3/99, de 13 de Janeiro, com a redacção dada pelo art.º 5 do DL 303/2007, de 24 de Agosto.
66
Das Acções Colectivas em Portugal
25
Na alegação, o recorrente deve indicar, sob pena de rejeição, as razões pelas quais a apreciação da questão é claramente necessária
para uma melhor aplicação do direito; as razões pelas quais os interesses são de particular relevância social; os aspectos de identidade
que determinam a contradição alegada, juntando cópia do acórdão – fundamento com o qual o acórdão recorrido se encontra em
oposição.
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Das Acções Colectivas em Portugal
Recursos extraordinários
Recurso de revisão
O recurso de revisão, tal como emerge da reforma que há dias veio a lume,26
absorve o denominado recurso extraordinário de oposição de terceiro (assente em
acto simulado dos pretensos litigantes e com reflexos na esfera jurídica de terceiro).
Daí que os fundamentos - ínsitos no artigo 771.º saído da reforma do regime
recursal - se perfilem como segue:
“A decisão transitada em julgado só pode ser objecto de revisão quando:
a) Outra sentença transitada em julgado tenha dado como provado que a
decisão resulta de crime praticado pelo juiz no exercício das suas funções;
26
Decreto-Lei n.º 303/2007, de 24 de Agosto, que altera profundamente o regime recursal no que toca ao direito processual de índole
privatística.
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Das Acções Colectivas em Portugal
Este é, em geral, o regime dos recursos, tal como ora se desenha no Código
de Processo Civil.
Nos passos subsequentes revelar-se-á o regime que quadra em particular às
acções inibitórias e às acções populares.
No artigo 29.º da Lei das Condições Gerais dos Contratos se define: “1- A
acção destinada a proibir o uso ou recomendação de cláusulas contratuais gerais
que se considerem abusivas segue os termos do processo sumário de declaração
e está isenta de custas.
2- O valor das acções referidas no número anterior excede 1 cêntimo ao fixa-
do para a alçada da Relação”.
Daí que as bases para a construção do regime recursal sejam análogas às que
se esquiçaram no quadro da acção inibitória em geral.
A mera remissão para o ordenamento jurídico interno, e a que, por seu turno,
a Lei da Acção Inibitória Transnacional formula para os normativos internos per-
mite asseverar que o regime será o mesmo da acção inibitória geral e da acção
popular (artigo 2.º), se bem que prejudicada por virtude a acção inibitória não
haver sido regulamentada.
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Das Acções Colectivas em Portugal
Ainda que lhe aproveitem as regras do valor, noutro ponto expressas, e con-
sequentemente as das vias de impugnação das decisões que sucessivamente
recaírem sobre o objecto da acção. Ao menos, em tese.
3. ACÇÃO POPULAR
A Lei da Acção Popular estabelece no n.º 2 do seu artigo 12.º que “a acção
popular civil pode revestir qualquer das formas previstas no Código de Processo
Civil”.
Daí que possa – enquanto acção declaratória - assumir, em princípio, quer a
forma de processo sumaríssimo, quer a de processo sumário, como a de ordi-
nário.
É o valor da causa que define a forma de processo.
O CPC, no n.º 1 do seu artigo 305.º, dispõe que ”a toda a causa deve ser
atribuído um valor, expresso em moeda legal, o qual representa a utilidade eco-
nómica do pedido”.
E, no n.º 2, refere congruentemente:
“ a este valor se atenderá para determinar a competência do tribunal, a forma
do processo comum e a relação da causa com a alçada do tribunal [para efeitos
meramente recursais].
Os critérios gerais para fixação do valor inscrevem-se no artigo 306.º do
CPC.27
Critérios especiais aplicáveis, na circunstância, são tão só os que entroncam
no valor da acção determinada pelo valor do acto jurídico28 ou sobre interesses
imateriais.29
Empregar-se-á, porém, o processo ordinário se o valor da causa exceder o da
alçada da Relação, isto é, se ultrapassar em 1 cêntimo os 30 000 ¤, ora alçados
a valor da alçada.
Adoptar-se-á o processo sumário se o valor não exceder a alçada da Relação
e a acção se não destinar ao cumprimento de obrigações pecuniárias, à indem-
27
Que reza o seguinte: “1. Se pela acção se pretende obter qualquer quantia certa em dinheiro, é esse o valor da causa, não sendo
atendível impugnação nem acordo em contrário; se pela acção se pretende obter um benefício diverso, o valor da causa é a quantia
em dinheiro equivalente a esse benefício. 2. Cumulando-se na mesma acção vários pedidos, o valor é a quantia correspondente à soma
dos valores de todos eles; mas quando, como acessório do pedido principal, se pedirem juros, rendas e rendimentos já vencidos e os
que se vencerem durante a pendência da causa, na fixação do valor atende-se somente aos interesses já vencidos. 3. No caso de pedi-
dos alternativos, atender-se-á unicamente ao pedido de maior valor e, no caso de pedidos subsidiários, ao pedido formulado em
primeiro lugar.”
28
O artigo 310 prescreve: “1. Quando a acção tiver por objecto a apreciação da existência, validade, cumprimento, modificação ou
resolução de um acto jurídico, atender-se-á ao valor do acto determinado pelo preço ou estipulado pelas partes. 2. Se não houver
preço nem valor estipulado, o valor do acto determinar-se-á em harmonia com as regras gerais. 3. Se a acção tiver por objecto a anu-
lação do contrato fundada na simulação do preço, o valor da causa é o maior dos dois valores em discussão entre as partes.”
29
O artigo 312 preceitua o seguinte: “As acções sobre o estado das pessoas ou sobre interesses imateriais consideram-se sempre de
valor equivalente à alçada da Relação e mais 1cêntimo.”
72
Das Acções Colectivas em Portugal
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Das Acções Colectivas em Portugal
CAPÍTULO IV
DAS CUSTAS
O que se coenvolve nas custas judiciais mais não é do que a noção de encar-
go, de preço, do custo da administração da justiça assegurada pelo Estado: a
noção comporta ainda uma ideia de sanção a suportar por quem não haja obtido
ganho de causa e haver lançado mão da actividade jurisdicional quando, em prin-
cípio, uma serena ponderação dos interesses poderia, em tese, dispensar o recurso
às instâncias jurisdicionais para se dirimir o conflito que entretanto estalara.
O facto é que o molde da acção inibitória em geral não tem logrado aplica-
ção nas concretas espécies de facto suscitadas perante os tribunais.
Daí que em concreto se não suscitem eventuais controvérsias no que tange à
fórmula da isenção de custas.
De harmonia com o que prescreve a LDC, no seu artigo 11º, confere-se isen-
ção de custas nas acções inibitórias em geral, em termos singelos [“a acção inibi-
tória… segue os termos do processo sumário e está isenta de custas”].
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Das Acções Colectivas em Portugal
5. ACÇÃO POPULAR
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Das Acções Colectivas em Portugal
É evidente que, ainda que não haja disposições particulares no que tange à
protecção jurídica dos entes que se socorrem dos meios grupais de tutela, as
associações e fundações se lhes falecerem os recursos para diligências do estilo,
sempre poderão, comprovada a exiguidade de meios financeiros, obter gracio-
samente o patrocínio judiciário e a isenção total de custas se eventualmente
decair por qualquer circunstância, na pretensão deduzida em juízo. Para obviar
às consequências materiais da sorte da lide.
Já em 1998, uma instituição de consumidores viu denegada legitimidade em
acção proposta contra o Estado e as seguradoras e condenada em custas, em cir-
cunstâncias particularmente penosas por não haver – em juízo de prognose pós-
tuma - intuído que :
• lhe seria denegada legitimidade
• lhe seria negada razão nos autos face aos princípios e ao direito material
33
Cfr. o artigo 456 do CPC que dispõe com inegável valimento que
”Responsabilidade no caso de má-fé – Noção de má-fé)”
1. Tendo litigado de má-fé, a parte será condenada em multa de uma indemnização à parte contrária, se esta a pedir.
2. Diz-se litigante de má-fé quem, com dolo ou negligência grave:
a) Tiver deduzido pretensão ou oposição cuja falta de fundamento não devia ser ignorar;
b) Tiver alterado a verdade dos factos ou omitido factos relevantes para a decisão da causa;
c) Tiver praticado omissão grave do dever de cooperação;
d) Tiver feito do processo ou dos meios processuais um uso manifestamente reprovável com o fim de conseguir um objectivo ilegal,
impedir a descoberta da verdade, entorpecer a acção da justiça ou protelar, sem fundamento sério, o trânsito em julgado da decisão.
3. Os honorários são pagos directamente ao mandatário, salvo se a parte mostrar que o seu patrono já está embolsado.”
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Das Acções Colectivas em Portugal
CAPÍTULO V
REGISTO NACIONAL DAS CLÁUSULAS ABUSIVAS
I
GENERALIDADES
1. RAZÃO DE ORDEM
34
No sentido em que defendemos com maior propriedade a expressão “condições gerais dos contratos”, vide Paulo Luiz Neto Lôbo,
Condições Gerais dos Contratos e Cláusulas Abusivas, Saraiva, São Paulo, 1991, págs. 29 e ss., maxime 33.
35
A LCGC - sob a epígrafe “serviço de registo” - consigna: “1- Mediante portaria do Ministério da Justiça, a publicar dentro dos seis
meses subsequentes à entrada em vigor do presente diploma, será designado o serviço que fica incumbido de organizar e manter actua-
lizado o registo das cláusulas contratuais abusivas que lhe sejam comunicadas, nos termos do artigo anterior. 2- O serviço referido no
número precedente deve criar condições que facilitem o conhecimento das cláusulas consideradas abusivas por decisão judicial e pres-
tar os esclarecimentos que lhe sejam solicitados dentro do âmbito das respectivas atribuições.”
78
Das Acções Colectivas em Portugal
36
Adaptando, os tribunais devem remeter, no prazo de trinta dias, ao Registo Nacional, cópia das decisões que, por aplicação dos
princípios e das normas constantes da LCGC, hajam proibido o uso ou a recomendação das condições gerais.
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Das Acções Colectivas em Portugal
37
Cfr. Portaria n.º 1093/95, de 6 de Junho, que comete ao, ao tempo, Gabinete de Direito Europeu do Ministério da Justiça uma tal
incumbência.
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38
Como se observa, o registo compreende não só países da UE, como do EEE – Espaço Económico Europeu. Nele se não incluem os
10 países que integraram a União em 2004.
39
Parecer [(2001/C 116/25), in JOCE 116, de 20 de Abril de 2001], cujo relator foi o português A. Ferreira.
81
Das Acções Colectivas em Portugal
40
A remissão que no original se faz para outro passo do parecer permite situar a observação nestes termos: o CES convida igualmente
a Comissão e os Estados-membros a unirem esforços no sentido de examinar a possibilidade de uma nova abordagem a toda esta
matéria, fazendo apelo, designadamente, à experiência norte-americana na elaboração de “leis-quadro” ou “leis uniformes”, no intu-
ito de se avançar de modo mais consistente, na tentativa de uma real convergência dos direitos nacionais, ao menos em aspectos sec-
toriais (v.g., seguros, actividade bancária, transportes, serviços essenciais), deste modo melhor se ultrapassando as dificuldades da coex-
istência, na U.E., de sistemas jurídicos baseados em conceitos não coincidentes”.
41
Parecer de Iniciativa INT/203 intitulado “A Política dos Consumidores após o Alargamento da U.E.”, Bruxelas, de 10 de Fevereiro de
2005.
42
CLAB Europa – The European Database on Unfair Terms, in Journal of Consumer Policy, Springer, vol. 28, n.º 3, September 2005,
pág. 326.
43
Os autores acrescentam, porém: “a look into CLAB, into its strength and weaknesses, wright help to initiate a debate on an ambitious
project, which has survived for nearly 10 years without attracting the interest from practitioners and / or academics that it’s merits”.
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Das Acções Colectivas em Portugal
CAPÍTULO II
REGISTO E TRÂMITES REGISTRAIS
1. A DECISÃO
Decisão inibitória
Declaração incidental
de nulidade
44
E, como se não ignora, uma decisão diz-se passada ou transitada em julgado quando não seja susceptível de recurso ordinário, nos
termos do artigo 676 do Código de Processo Civil. E as decisões neste particular, sempre que se trate de acções inibitórias, são sus-
ceptíveis de recurso e, mercê do valor, não só do recurso ordinário de apelação, como do de revista, a menos que o transcurso prazo
de interposição (10 dias após a notificação) o não consinta. Porque, ex vi artigo 29 n.º 1 da Lei das Condições Gerais dos Contratos,
o seu valor excede em 1 cêntimo a alçada da Relação.
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Das Acções Colectivas em Portugal
Na realidade, a eficácia do caso julgado que é, não erga omnes, mas ultra
ou supra partes (em acepção adaptável), permite, nos termos do n.º 2 do artigo
32 da LCGC, a quem haja celebrado com o demandado vencido na acção
inibitória um contrato singular, que invoque em seu favor a decisão proferida na
aludida acção que constituirá para as vítimas de contratos singulares que
absorvam na íntegra, como cláusulas, as condições gerais oferecidas pelo pre-
disponente uma declaração incidental de nulidade.
E, por conseguinte, também essas decisões terão de ser carreadas para o
Registo Nacional das Cláusulas Abusivas.
Donde, caber aos tribunais em que em definitivo sejam julgadas tais acções,
comunicar de ofício, via notificação, ao Registo Nacional (leia-se: o Serviço que
lhe serve de suporte), a decisão na íntegra para inserção no repositório de que
se trata.
45
O identificado artigo prescreve nos n.ºs 2 e 3: “2. A notificação serve para, em quaisquer outros casos, chamar alguém a juízo ou dar
conhecimento de um facto. 3. A citação e as notificações são sempre acompanhadas de todos os elementos e de cópias legíveis dos
documentos e peças do processo necessários à plena compreensão do seu objecto.”
46
O artigo 34 da LCGC prescreve: “Os tribunais devem remeter, no prazo de 30 dias, ao serviço previsto no artigo seguinte, cópia das
decisões transitadas em julgado que, por aplicação dos princípios e das normas constantes do presente diploma, tenham proibido o
uso ou a recomendação de cláusulas contratuais gerais ou declarem a nulidade de cláusulas inseridas em contratos singulares.”
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Das Acções Colectivas em Portugal
47
Cfr. a LC – Lei do Consumidor - que, no seu artigo 20 prescreve:
“Incumbe também ao Ministério Público a defesa dos consumidores no âmbito da presente lei e no quadro das respectivas competên-
cias, intervindo em acções administrativas e cíveis tendentes à tutela dos interesses individuais homogéneos, bem como de interesses
colectivos ou difusos dos consumidores”.
Cfr. ainda o artigo 13 da LC que, na sua alínea c), estabelece:
“Têm legitimidade para intentar as acções previstas nos artigos anteriores:
O Ministério Público e o Instituto do Consumidor quando estejam em causa interesses individuais homogéneos, colectivos ou difusos.”
E a alínea c) do artigo 26 da LCGC que, em período anterior ao da publicação e vigência da LC, conferia legitimatio ad causam ao
Ministério Público para as acções inibitórias especialmente destinadas a proibir o uso ou a recomendação de condições gerais cabíveis
nas listas negras e cinzentas da Lei ou atentatórias da boa fé objectiva, como subjectiva.
48
Cfr. no endereço electrónico que segue: www.dgsi.pt/gdep.nsf.
85
Das Acções Colectivas em Portugal
tos com o timbre ou valor cunhado pela autoridade judicial ou equiparada, sem
aludir a iniciativas outras que em ordenamentos distintos poderão relevar de auto-
ridades administrativas ou na órbita da administração pública: nos países nórdicos
é o caso do ombudsman; em França e na Bélgica das Comissões das Cláusulas
Abusivas ou do Office of Fair Trading, na Grã-Bretanha.
MP vs
Supremo
Acção 08/03/200 AEGON - 25 de Relação
Tribunal de DL 446/85 Acórdão
inibitória 1 Union Outubro de Lisboa
Justiça
Seguradora
49
O Registo das Cláusulas Abusivas que é susceptível de se detectar numa página disponível do Gabinete de Relações Internacionais,
Europeias e de Cooperação do Ministério da Justiça de Portugal, força é dizê-lo, não tem qualquer valimento, não apresenta qualquer
préstimo, antes constitui uma autêntica decepção, sem critério, pejado de erros ortográficos, sem que da maior parte dos arestos haja
sequer uma súmula, já que figura tão somente o órgão de judicatura, a data e o n.º do processo. Jamais nos havíamos apercebido do
descaso – do desfastio com que formalmente se “cumpriria” (e cumprir é, neste passo, extraordinária força de expressão) o manda-
mento legal da constituição e funcionamento do Registo (Nacional) das Cláusulas Abusivas. Os objectivos imbricados no Registo foram
pura e simplesmente trucidados pelo mau serviço e pela insensibilidade do gabinete após a substituição do director que tanto se empen-
hara na concretização de um tal desideratum... Seria preferível que não houvesse eventual Registo das Cláusulas Abusivas. Ou, por
outra, confundir um Registo com o que se nos oferece é algo de uma miopia arrepiante. Um escândalo que merece ser denunciado
urbi et orbi, tal a expressão que assume ou de que se reveste... Ao que chegou a administração pública que os gravosos impostos dos
contribuintes alimentam em manifesta desproporção às prestações dispensadas!!!... Ao que se chegou...
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SUMÁRIO
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CAPÍTULO III
REFLEXOS DO REGISTO
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Cfr. o n.º 2 do artigo 32.º da LCGC que prescreve: “Aquele que seja parte, juntamente com o demandado vencido na acção
inibitória, em contratos onde se incluam cláusulas gerais proibidas, nos termos referidos no número anterior, pode invocar a todo o
tempo, em seu benefício, a declaração incidental de nulidade contida na decisão inibitória.” O “a todo o tempo” está em con-
sonância com o que prescreve o Código Civil português no seu artigo 286: “A nulidade é invocável a todo o tempo por qualquer inter-
essado e pode ser declarada oficiosamente pelo tribunal.”.
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Das Acções Colectivas em Portugal
2. A PREVENÇÃO GERAL
A eficácia do caso julgado, qualquer que seja, ante a difusão que dos julga-
dos se faça, tem em si mesma virtualidades de prevenção geral.
Predisponentes ou terceiros que se permitam elaborar formulários em que figu-
rem condições gerais dos contratos ou que delas se sirvam noutros suportes51 têm
aí uma fonte privilegiada para não lograr cometer análogos atropelos, proscre-
vendo, pois, de entre as condições gerais a adoptar, as que hajam sido proibidas
ou por se acharem incursas nas listas negras ou cinzentas (respectivamente, abso-
luta ou relativamente proibidas) ou por ofenderem o princípio geral ou a cláusu-
la geral da boa fé, nas vertentes por que se desdobra – a objectiva como a sub-
jectiva52.
Se os operadores económicos ou terceiros se propuserem oferecer, no merca-
do, condições gerais ilícitas, a despeito da proibição decretada por decisões defi-
nitivas com trânsito em julgado, tal facto relevará para efeitos de apreciação da
litigância de má fé nas lides em que intervierem53.
51
Cfr. n.º 1 do artigo 1.º da LCGC, a saber, “(condições gerais dos contratos) elaboradas sem prévia negociação individual, que pro-
ponentes ou destinatários indeterminados se limitem, respectivamente, a subscrever ou aceitar, regem-se pelo presente diploma”.
E o artigo 2.º que reza: “O presente diploma aplica-se igualmente às cláusulas inseridas em contratos individualizados, mas cujo con-
teúdo previamente elaborado o destinatário não pôde influenciar.”
52
Cfr. artigo 16 da LCGC que define: “Na aplicação da norma anterior devem ponderar-se os valores fundamentais do direito, rele-
vantes em face da situação considerada, e, especialmente: a) A confiança suscitada, nas partes, pelo sentido global das cláusulas con-
tratuais em causa, pelo processo de formação do contrato singular celebrado, pelo teor deste e ainda por quaisquer outros elementos
atendíveis; b) O objectivo que as partes visam atingir negocialmente, procurando-se a sua efectivação à luz do tipo de contrato uti-
lizado.”
53
Com efeito, litiga de má fé quem, com dolo ou negligência grave:
“a) Tiver deduzido pretensão ou oposição cuja falta de fundamento não devia ignorar;
b) Tiver alterado a verdade dos factos ou omitido factos relevantes para a decisão da causa;
c) Tiver praticado omissão grave do dever de cooperação;
d) Tiver feito do processo ou dos meios processuais um uso manifestamente reprovável, com o fim de conseguir um objectivo ilegal,
impedir a descoberta da verdade, entorpecer a acção da justiça ou protelar, sem fundamento sério, o trânsito em julgado da decisão.”
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Das Acções Colectivas em Portugal
Daí que a APDC haja proposto, sem sucesso, a constituição de uma Comissão
das Cláusulas Abusivas54, de pendor administrativo, que houvesse por escopo a
análise dos formulários em circulação e de outras hipóteses de facto a eles recon-
duzíveis, a fim de fornecer tempestivamente ao Ministério Público o trabalho de
base para a proposição de acções que as circunstâncias recomendassem ou
impusessem.
54
A Comissão das Cláusulas Abusivas, em França, criada pelo Décret n.º 78-464, de 24 de Março de 1978, a que ora se repor-
ta o artigo R 132-2 do Code de la Consommation, de 26 de Julho de 1993, compreende 13 membros repartidos por diferentes estratos
e estamentos, a saber: um magistrado da ordem judicial, que preside à Comissão; dois magistrados da ordem judicial ou administrativa
ou membros do Conseil d’État; duas personalidades de reconhecido mérito do mundo do direito ou da técnica contratual, escolhidas
mediante parecer do Conselho Nacional do Consumo; quatro representantes dos fornecedores; quatro representantes dos consumidores;
A função de comissário do Governo será exercida pelo director-geral da Concorrência, do Consumo e da Repressão de Fraudes ou um
seu representante. O presidente e os membros da Comissão são nomeados por decreto do ministro que exerce a tutela do consumo, por
um mandato, renovável, de três anos. A nomeação dos magistrados é feita sob proposta do ministro da Justiça. A Comissão é assistida
por um secretário-geral e por um ou mais relatores permanentes postos à disposição do ministro do Consumo. A Comissão reúne em
sessão plenária ou em uma ou várias formações restritas compostas pelo presidente ou vice-presidente e pelos membros da Comissão
designados para o efeito pelo presidente. Distribui de par com o secretário-geral os processos pelos relatores.
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Das Acções Colectivas em Portugal
3. A PREVENÇÃO ESPECIAL
55
No que tange às proibições provisórias, como se assinalou noutro passo, seguem, com as devidas adaptações, os termos fixados na
lei processual para os procedimentos cautelares não especificados. Cfr. artigos 381 e 399 do Código de Processo Civil português e o
n.º 2 do artigo 31 da LCGC.
56
O Código Civil português, no seu artigo 829-A, disciplina a sanção pecuniária compulsória, nestes termos: “1. Nas obrigações de
prestação de facto infungível, positivo ou negativo, salvo nas que exigem especiais qualidades científicas ou artísticas do obrigado, o tri-
bunal deve, a requerimento do credor, condenar o devedor ao pagamento de uma quantia pecuniária por cada dia de atraso no cum-
primento ou por cada infracção, conforme for mais conveniente às circunstâncias do caso. 2. A sanção pecuniária compulsória prevista
no número anterior será fixada segundo critérios de razoabilidade, sem prejuízo da indemnização a que houver lugar. 3. O montante da
sanção pecuniária compulsória destina-se, em parte iguais, ao credor e ao Estado. 4. Quando for estipulado ou judicialmente determi-
nado qualquer pagamento em dinheiro corrente, são automaticamente devidos juros à taxa de 5% ao ano, desde a data em que a sen-
tença de condenação transitar em julgado, os quais acrescerão aos juros de mora, se estes forem também devidos, ou à indemnização
a que houver lugar.
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CAPÍTULO IV
DO FUNDO DE DIREITOS COLECTIVOS
LATO SENSU
CAPÍTULO V
DAS ESPECIALIDADES
1. GENERALIDADES
57
A acção popular portuguesa: é uma análise comparativa, in “RPDC – Revista Portuguesa de Direito do Consumo, CEDC, Coimbra,
ano II, n.º 5, Março de 1996, págs 7 e ss.
96
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2. A LEGITIMATIO AD CAUSAM
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Das Acções Colectivas em Portugal
interesse directo em demandar; o réu é parte legítima quando tem interesse direc-
to em contradizes.
2. O interesse em demandar exprime-se pela utilidade derivada da procedên-
cia da acção; o interesse em contradizer, pelo prejuízo que dessa procedência
advenha.
3. Na falta de indicação da lei em contrário, são considerados titulares do inte-
resse relevante para o efeito da legitimidade os sujeitos da relação controvertida,
tal como é configurada pelo autor”.
60
A LDC prescreve no artigo 17: “1- As associações de consumidores são associações dotadas de personalidade jurídica, sem fins lucra-
tivos e com o objectivo principal de proteger os direitos e os interesses dos consumidores em geral ou dos consumidores seus associa-
dos. 2- As associações de consumidores podem ser de âmbito nacional, regional ou local, consoante a área a que circunscrevam a sua
acção e tenham, pelo menos, 3000, 500 ou 100 associados, respectivamente. 3- As associações de consumidores podem ser ainda de
interesse genérico ou de interesse específico: a) São de interesse genérico as associações de consumidores cujo fim estatutário seja a
tutela dos direitos dos consumidores em geral e cujos órgãos sejam livremente eleitos pelo voto universal e secreto de todos os seus asso-
ciados; b) São de interesse específico as demais associações de consumidores de bens e serviços determinados, cujos órgãos sejam livre-
mente eleitos pelo voto universal e secreto de todos os seus associados. 4- As cooperativas de consumo são equiparadas, para os efeitos
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Das Acções Colectivas em Portugal
do disposto no presente diploma, às associações de consumidores.” E, nos termos do artigo 18: “… c) Direito a representar os con-
sumidores no processo de consulta e audição públicas a realizar no decurso da tomada de decisões susceptíveis de afectar os direitos e
interesses daqueles; e) Direito a corrigir e a responder ao conteúdo de mensagens publicitárias relativas a bens e serviços postos no mer-
cado, bem como a requerer, junto das autoridades competentes, que seja retirada do mercado publicidade enganosa ou abusiva; l)
Direito à acção popular; m) Direito de queixa e denúncia, bem como direito de se constituírem como assistentes em sede de processo
penal e a acompanharem o processo contra-ordenacional, quando o requeiram, apresentando memoriais, pareceres técnicos, sugestão
de exames ou outras diligências de prova até que o processo esteja pronto para decisão final.”
61
Cfr. LDC – artigo 13 – “Têm legitimidade para intentar as acções previstas nos artigos anteriores: a) Os consumidores directamente
lesados; b) Os consumidores e as associações de consumidores ainda que não directamente lesados, nos termos da Lei n.° 83/95, de
31 de Agosto; c) O Ministério Público e o [Instituto do Consumidor] quando estejam em causa interesses individuais homogéneos, colec-
tivos ou difusos.”e À Direcção-geral é reconhecida legitimidade processual e procedimental em processos principais e cautelares junto
dos tribunais administrativos e judiciais bem como de entidades reguladoras quanto aos direitos e interesses que lhe cumpre defende.
62
O artigo 1.º da Directiva em epígrafe estabelece: “1. A presente directiva tem por objecto aproximar as disposições legislativas, regu-
lamentares e administrativas dos Estados-membros relativas às acções inibitórias referidas no artigo 2.º, para a protecção dos interesses
colectivos dos consumidores incluídos nas directivas enumeradas no anexo, para garantir o bom funcionamento do mercado interno.
2. Para efeitos da presente directiva, entende-se por infracção todo e qualquer acto contrário ao disposto nas directivas enumeradas no
anexo, transpostas para a ordem jurídica interna dos Estados-membros, e que prejudique os interesses colectivos referidos no n.º 1”
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63
O artigo 4º, sob uma tal epígrafe, estabelece por seu turno: “1. Cada Estado-membro tomará as medidas necessárias para assegu-
rar que, em caso de infracção com origem nesse Estado-membro, qualquer entidade competente de outro Estado-membro em que os
interesses por ela protegidos sejam afectados pela infracção possa recorrer ao tribunal ou à autoridade administrativa referidos no arti-
go 2º, mediante a apresentação da lista prevista no n.º 3. Os tribunais ou as autoridades administrativas aceitarão essa lista como prova
da capacidade jurídica da entidade competente, sem prejuízo do seu direito de analisar se o objecto da entidade competente justifica
que esta intente uma acção num determinado caso. 2. Para efeitos de infracções intracomunitárias, e sem prejuízo dos direitos recon-
hecidos a outras entidades pela legislação nacional, os Estados-membros comunicarão à Comissão, a pedido das respectivas entidades
nacionais competentes, que essas entidades são competentes para intentar uma acção ao abrigo do artigo 2º Os Estados-membros infor-
marão a Comissão do nome e objecto dessas entidades competentes. 3. A Comissão elaborará uma lista das entidades competentes
referidas no n.º 2, especificando o seu objecto. Essa lista será publicada no Jornal Oficial das Comunidades Europeias; as alterações
dessa lista serão publicadas sem demora e a lista actualizada será publicada semestralmente. 1. Cada Estado-membro tomará as medi-
das necessárias para assegurar que, em caso de infracção com origem nesse Estado-membro, qualquer entidade competente de outro
Estado-membro em que os interesses por ela protegidos sejam afectados pela infracção possa recorrer ao tribunal ou à autoridade
administrativa referidos no artigo 2º, mediante a apresentação da lista prevista no n.º 3. Os tribunais ou as autoridades administrativas
aceitarão essa lista como prova da capacidade jurídica da entidade competente, sem prejuízo do seu direito de analisar se o objecto da
entidade competente justifica que esta intente uma acção num determinado caso. 2. Para efeitos de infracções intracomunitárias, e sem
prejuízo dos direitos reconhecidos a outras entidades pela legislação nacional, os Estados-membros comunicarão à Comissão, a pedido
das respectivas entidades nacionais competentes, que essas entidades são competentes para intentar uma acção ao abrigo do artigo 2º
Os Estados-membros informarão a Comissão do nome e objecto dessas entidades competentes. 3. A Comissão elaborará uma lista das
entidades competentes referidas no n.º 2, especificando o seu objecto. Essa lista será publicada no Jornal Oficial das Comunidades
Europeias; as alterações dessa lista serão publicadas sem demora e a lista actualizada será publicada semestralmente.”
64
O artigo 5º, sob uma tal epígrafe, estabelece: “1. Os Estados-membros podem prever ou manter em vigor disposições que estipulem
que a parte que tenciona intentar uma acção inibitória só o poderá fazer depois de ter tentado pôr termo à infracção, em consulta com
o requerido ou com o requerido e uma entidade competente na acepção da alínea a) do artigo 3º, do Estado-membro em que será inten-
tada a acção inibitória. Cabe aos Estados-membros decidir se a parte que tenciona intentar essa acção deve consultar a entidade com-
petente. Se a cessação da infracção não se concretizar no prazo de duas semanas a contar da recepção do pedido das consultas, a parte
em causa pode intentar imediatamente uma acção inibitória.” 2. A Comissão será notificada das regras da consulta prévia adoptadas
pelos Estados-membros, que serão publicadas no Jornal Oficial das Comunidades Europeias.
65
Previstas no artigo 10º da Lei 24/96, de 31 de Julho
66
Contemplada no n.º 2 do artigo 12º da Lei 83/95, de 31 de Agosto.
100
Das Acções Colectivas em Portugal
67
O procedimento de inscrição consta do artigo 5.º da Lei n.º 25/2004, de 8 de Julho, que reza o seguinte: “1 – Para efeitos do arti-
go anterior e sem prejuízo do disposto no n.º 5, devem as entidades interessadas solicitar a sua inscrição na lista, através de requeri-
mento dirigido ao Presidente do Instituto do Consumidor, acompanhado de documento comprovativo da sua denominação e objecto
estatutário. 2 – Na apreciação do pedido, o Presidente do Instituto do Consumidor deve certificar-se de que a entidade requerente
prossegue objectivos de defesa dos interesses dos consumidores. 3 – O despacho sobre o pedido de inscrição deve ser proferido no
prazo máximo de 30 dias. 4 – Do despacho de indeferimento do pedido de inscrição cabe recurso, nos termos da lei, com efeito mera-
mente devolutivo. 5 – O Ministério Público e o [Director-Geral do Consumidor] constarão da lista a que se refere o artigo anterior por
direito próprio e sem dependência de requerimento de inscrição.”
68
Cfr. Castro Mandes, Direito Processual Civil, vol II, Associação Académica, Lisboa, 1980, pág 153 e 154, revela que: a determina-
ção da legitimidade começou por fazer-se casuisticamente - em relação a cada acção indicava-se quem a podia propor como autor e
contra quem podia sê-lo como réu. Os requisitos que se indicavam mostravam abranger-se na legitimidade figuras que em rigor se
deviam distinguir. Ainda quando a doutrina se elevou deste método a uma construção geral, na primeira fase desta construção ela apre-
senta-se-nos como uma concepção global ou complexa – a legitimidade aparece-nos como abrangendo o conjunto dos pressupostos
processuais subjectivos relativos às partes, e por vezes algumas condições da acção (também relativas às partes). Uma análise mais cui-
dadosa foi distinguindo neste “complexo de circunstâncias, condições e qualidades” vários pressupostos diferentes – a personalidade
judiciária, a capacidade judiciária, o interesse em agir. Mas ainda recentemente o Prof. PAULO CUNHA sustentava que os requisitos da
legitimidade eram o interesse, a capacidade legal, a identidade das partes, a não exclusão por lei expressa e a realidade de litígio e o
Prof. BARBOSA DE MAGALHÃES a identidade, capacidade e interesse A esta concepção complexa da legitimidade tem-se procurado
substituir uma concepção simples da figura, atendendo a um único critério para a determinar, e reduzindo-a apenas a um pressuposto
processual. Mas ficaram dos tempos passados duas tendências que muito têm prejudicado este domínio: a tendência para considerar
requisitos de legitimidade todas as circunstâncias relativas às partes cuja verificação é necessária para que o tribunal atenda o pedido
(e, portanto, para considerar causas de ilegitimidade todas as razões de absolvição que dizem respeito aos sujeitos); a tendência para
fazer da legitimidade um pressuposto processual mais importante que os outros, diferente destes, movendo-se noutro plano. Qualquer
das duas tendências é errónea – a legitimidade é um pressuposto processual subjectivo relativo às partes, e nada mais”.
101
Das Acções Colectivas em Portugal
• personalidade jurídica;
• o figurar expressamente nas suas atribuições ou nos objectivos estatutários
a defesa dos interesses em causa no tipo de acção de que se trata;
• não exercerem qualquer tipo de actividade económica ou profissional con-
corrente com a das empresas ou de profissionais liberais.
De tal sorte que Teixeira de Sousa entende que - mercê das remissões na alí-
nea b) do artigo 13.º da LDC – a acção inibitória é uma autêntica acção popu-
lar, asserção que não merece obviamente a nossa concordância.
Além do mais, há quem entenda que como o molde da legitimidade proces-
sual activa é mais largo na acção inibitória em geral, o artigo 26.º da LCGC deve
abrir-se de modo a nele caber, enquanto titulares da legitimatio ad causam, nas
acções que visam à condenação na abstenção do uso ou da recomendação de
condições gerais dos contratos apostas em formulários pré-redigidos ou em
suportes outros seja qual for a configuração que assumirem, os consumidores
prejudicados ou não pelas cláusulas unilateralmente impostas.
Ou, como outros pretendem, ante a estreiteza do caso julgado, a adopção
da acção popular para obviar às dificuldades postuladas a quem houver cele-
brado já contratos singulares com base nas condições gerais proibidas, objecto
do pleito.
Para que, como na oportunidade se revelará, se colha uma eficácia plena –
“erga omnes” – que não a que emerge do regime privativo da Lei das
Condições Gerais dos Contratos e é desvalorizante porque obriga à inusitada
reprodução processual – a eficácia ultra partes – que não dispensa a proposi-
tura de uma acção singular de declaração de nulidade se o aderente – consu-
midor ou não – pretender prevalecer-se da declaração incidental ínsita na deci-
são inibitória.
E não se nos afigura saudável tamanha dispersão e prolixidade.
3. CASO JULGADO
69
Manuel A. Domingues de Andrade, in “Noções elementares de Processo Civil, Coimbra, 1976, pág 304
103
Das Acções Colectivas em Portugal
A LAP prescreve no seu artigo 19º sob a epígrafe “efeitos do caso julgado”:
“1. As sentenças transitadas em julgado proferidas em acções ou recursos
administrativos ou em acções cíveis, salvo quando julgadas improcedentes por
falte de provas, ou quando o julgador deva decidir por forma diversa fundado em
motivações próprias do caso concreto têm eficácia geral, não abrangendo, contu-
do, os titulares dos direitos ou interesses que tiverem exercido o direito de se auto-
excluírem da representação.
2. As decisões transitadas em julgado são publicadas a expensas da parte ven-
cida e sob pena de desobediência, com menção do trânsito em julgado, em dois
dos jornais presumivelmente lidos pelo universo dos interessados no seu conheci-
mento, á escolha do juiz da causa, que poderá determinar que a publicação se
faça por extracto dos seus aspectos essenciais, quando a sua extensão desacon-
selhar a comunicação por inteiro.”
106
Das Acções Colectivas em Portugal
70
In “A Ação Popular Portuguesa: Uma Análise Comparativa”, RPDC – Revista Portuguesa de Direito do Consumo, CEDC, Coimbra,
ano II, n.º 5, Março de 1995, pág. 12 e ss.
107
Das Acções Colectivas em Portugal
A aplicação prática da Lei n. 83/95 dirá se o instituto do opt out terá mais sorte
em Portugal.
cedeu pelo facto de a parte demandada ter provado que não violou ou não
ameaçou o interesse difuso, pelo que essa parte poderá arguir a excepção de
caso julgado numa qualquer outra acção relativa ao mesmo objecto proposta
por qualquer outro sujeito (art.ºs 497.º e 498.º do Código de Processo Civil).
O mesmo vale se, após a improcedência da acção popular, alguém pretender
tutelar em juízo o seu interesse individual.
Resta acrescentar que a decisão proferida na acção popular e o respectivo
caso julgado podem ser impugnados nos termos gerais. Importa especialmen-
te referir que qualquer terceiro, ou seja, qualquer interessado que não tenha
intervindo na acção popular, pode impugnar essa decisão, ainda que transita-
da em julgado, através do recurso extraordinário de oposição de terceiro, sem-
pre que se tenha verificado uma simulação processual entre as partes daque-
la acção (art.º 778.º, n.º 1, do Código de Processo Civil).
b. A decisão que proíbe o uso ou a recomendação de cláusulas contratuais
gerais deve especificar o âmbito da proibição, designadamente através da refe-
rência concreta do seu teor e a indicação do tipo de contratos a que a proibi-
ção se reporta (art.º 30.º, n.º 1, do Decreto-Lei n.º 446/85; art.º 11.º, n.º 2, da
Lei n.º 24/96); essa decisão será publicitada (art.º 30.º, n.º 2, do Decreto-Lei
n.º 446/85; art.º 11.º, n.º 3, da Lei n.º 24/96) e registada em serviço próprio
(art.º 34.º do Decreto-Lei n.º 446/85). Quanto à eficácia subjectiva do caso jul-
gado da decisão que decreta a inibição do uso ou recomendação de uma cláu-
sula contratual geral, importa referir que, como acima se mostrou, essa acção
inibitória também pode ser uma acção popular, pelo que há que concluir que o
regime especial definido para aquela acção no art.º 32, n.º 2, do Decreto-Lei
n.º 446/85 prevalece, na parte em que haja divergência, sobre o regime geral
estabelecido para esta última no art.º 19.º, n.º 1, da Lei n.º 83/95.
O trânsito em julgado da decisão inibitória implica que as cláusulas contratuais
gerais que forem objecto de proibição definitiva, ou outras cláusulas que se
lhes equiparem substancialmente, não podem ser incluídas em contratos que o
demandado (isto é, o proponente das cláusulas) venha a celebrar, nem conti-
nuar a ser recomendadas por essa mesma parte (art.º 32.º, n.º 1, do Decreto-
Lei n.º 446/85; art.º 11.º, n.º 4, da Lei n.º 24/96). Assim, aquele que venha
a ser parte, juntamente com o demandado vencido na acção inibitória, em
contratos onde se incluam cláusulas gerais proibidas, pode invocar a todo o
tempo, em seu benefício, a declaração incidental de nulidade contida na deci-
são inibitória (art.º 32.º, n.º 2, do Decreto-Lei n.º 446/85; art.º 11.º, n.º 4, da
Lei n.º 24/96). Isto é, permite-se que qualquer interessado se possa servir, na
acção proposta contra o proponente vencido, da declaração incidental da nuli-
dade da cláusula contratual geral realizada na acção inibitória.
Neste ponto, há uma diferença entre o regime geral da acção popular e o regi-
me especial da acção inibitória do uso ou recomendação de cláusulas contra-
111
Das Acções Colectivas em Portugal
tuais gerais. Na verdade, a solução estabelecida para esta acção inibitória apre-
senta a seguinte diferença em relação ao regime respeitante à eficácia do caso
julgado da decisão proferida na acção popular: enquanto, no regime geral da
acção popular, o demandado pode opor a um novo demandante a excepção
de caso julgado e pode, portanto, obstar a uma nova apreciação do mérito da
acção (excepto se a decisão absolutória se fundamentou num non liquet: artº
19.º, n.º 1, da Lei n.º 83/95), no regime previsto para a acção inibitória do uso
ou recomendação de cláusulas contratuais gerais o demandado nunca pode
opor essa excepção de caso julgado a nenhum novo demandante.
Segundo o regime definido no art. 19.º, n.º 1, da Lei n.º 83/95 para o âmbi-
to subjectivo do caso julgado na acção popular, o que é definido no plano abs-
tracto (ou seja, independentemente de qualquer caso concreto) vale igual-
mente no plano concreto. É isto que justifica que, sempre que a improcedên-
cia dessa acção não resulte de uma situação de non liquet, o caso julgado nela
formado seja oponível em qualquer acção individual proposta por qualquer
interessado que não se tenha auto-excluído (cfr. art.ºs 15.º, n.º 1, e 1.º, n.º 1,
da Lei n.º 83/95). Pelo contrário, na acção inibitória do uso ou recomendação
de uma cláusula contratual geral, o que é definido no plano abstracto não vale
no plano concreto, pois que a circunstância de, na acção inibitória proposta, a
cláusula contratual geral não ter sido declarada contrária à boa fé não signifi-
ca que, no caso concreto, ela não possa ser considerada abusiva.
Isto também demonstra que a restrição à eficácia erga omnes do caso julgado
decorrente da insuficiência de prova como fundamento da decisão absolutória
constante do art. 19.º, n.º 1, da Lei n.º 83/95 não é transponível para a acção
inibitória do uso ou recomendação de uma cláusula contratual geral. Como
ficou demonstrado, não é apenas quando a anterior acção inibitória terminou
com a absolvição do pedido com base numa situação de non liquet que o
demandado não pode opor a excepção de caso julgado: ele também não o
pode fazer quando a acção inibitória improcedeu por qualquer outro motivo.”
71
A acção popular no direito português, in Sub Júdice, 2003, n.º 24, págs. 20 e 21. Do mesmo passo, o Código, no seu artigo 822,
conferia legitimidade aos eleitores ou contribuintes para recorrer das deliberações havidas por ilegais: “A qualquer eleitor, ou con-
tribuinte do Estado, no gozo dos seus direitos civis ou políticos, é permitido recorrer das deliberações que tenha por ilegais, tomadas
pelos corpos administrativos das circunscrições em que se ache recenseado, ou por onde seja colectado e, pelas demais entidades referi-
das nos n.ºs 2, 3 e 4 do artigo 820 com jurisdição da mesma área.”
112
Das Acções Colectivas em Portugal
3.3.2 Concluindo,
113
Das Acções Colectivas em Portugal
III PARTE
DA EXPERIÊNCIA PORTUGUESA
CAPÍTULO I
A DIMENSÃO SOCIAL, CULTURAL E ECONÓMICA
DAS ACÇÕES COLECTIVAS
1. ANTECEDENTES
114
Das Acções Colectivas em Portugal
Nos n.os 3 dos artigos 66 e 78, porém, consagra-se o direito de acção popu-
lar em matérias específicas – ambiente e património cultural.
E aí se reconhece a todos o direito de promover, nos termos da lei a prevenção
ou cessação de factores de degradação do ambiente e do património cultural.
O artigo 33, porém, consagra um específico direito de acção popular penal.
A revisão de 1989, concentrou em um só dispositivo – o n.º 3 do artigo 52 –
as previsões que de forma esparsa refulgiam dos n.ºs 3 dos artigos 66 e 78.
Aí se consagrou: “É conferido a todos, pessoalmente ou através de associaçõ-
es de defesa de interesses em causa, o direito de acção popular nos casos e ter-
mos previstos na lei, incluindo o direito de requerer para o lesado ou lesados a
correspondente indemnização, nomeadamente para:
a) Promover a prevenção, a cessação e a perseguição judicial das infracções
contra a saúde pública, os direitos dos consumidores, a qualidade de vida e a
preservação do ambiente e do património cultural;
b) Assegurar a defesa dos bens do Estado, das regiões autónomas e das autar-
quias.”
116
Das Acções Colectivas em Portugal
E tal dimensão deve ser incensada ante a dissolução dos magnos interesses
da comunidade e a alienação reinante materializável e mensurável pelos níveis de
abstenção nos actos eleitorais e no abandono da res publica, em desvirtuamen-
to do próprio sufrágio e de uma efectiva representatividade.
3. A DIMENSÃO CULTURAL
4. DIMENSÃO ECONÓMICA
74
A Lei 13/85, de 6 de Julho, estabelece emblematicamente que “qualquer cidadão no uso dos seus direitos civis, bem como qualquer
associação de defesa do património legalmente constituída tem., nos casos e termos definidos na lei, o direito de acção popular em defe-
sa do património cultural”.
117
Das Acções Colectivas em Portugal
118
Das Acções Colectivas em Portugal
CAPÍTULO II
O ESTADO DA QUESTÃO
75
No Anteprojecto do denominado Código do Consumidor a formulação adoptada é mais ampla. Aí – no artigo 558 – se refere expres-
samente: “mediante decisão judicial pode ser determinada a proibição, a correcção ou a cessação de comportamentos capazes de lesar
os direitos reconhecidos pelo presente Código, designadamente quando estejam em causa:
a) A saúde ou a segurança das pessoas;
b) Práticas comerciais desleais das empresas face aos consumidores;
c) Contratos ao domicílio e equiparados;
d) Crédito ao consumo;
e) Exercício de actividades de radiodifusão televisiva;
f) Viagens, férias e circuitos organizados;
g) Publicidade dos medicamentos para uso humano;
h) Contratos de aquisição de direitos de habitação periódica;
i) Contratos celebrados à distância;
j)Contratos de compra e venda de bens de consumo e garantias a eles relativos;
l) Comercialização à distância de serviços financeiros;
m) Prestação de serviços da sociedade da informação, em especial do comércio electrónico;
n) O uso ou a recomendação de cláusulas contratuais gerais que contrariem o disposto nos artigos…”
119
Das Acções Colectivas em Portugal
76
O artigo, após o refazimento do diploma em 31 de Agosto de 1995, pelo DL 220/95.
121
Das Acções Colectivas em Portugal
77
Com efeito, a LAP, no seu artigo 16, estabelece que o Ministério Público representa o Estado quando for parte na causa, os ausentes,
os menores e demais incapazes (quer sejam demandantes quer demandados9. O Ministério Público poderá representar ainda outras
pessoas colectivas públicas quando tal for autorizado por lei. Porém no âmbito das suas missões enquanto garante da legalidade, o
Ministério Público poderá, querendo substituir-se ao demandante em caso de desistência da lide bem como de transacção ou de com-
portamentos lesivos dos interesses em causa.
78
No aresto se estabelece: “1. Em causa apenas a validade da cláusula Kodak.
A apreciação desta cláusula e a sua inserção nos sacos de revelação terá de ser feita, como se pede, em abstracto e não casuistica-
mente, isto é, terá de ser apreciada ex ante, sem esperar que o direito seja concretamente exercido por “cada cliente”.
Quando alguém se apresenta para ser revelado um filme ou um rolo, estabelece com a Kodak um contrato através do qual deposita a
película e solicita da Ré a prestação de um serviço (a revelação) contra um preço.
Ao depositar a película no saco para transporte e identificação encontra-se incerta aquela cláusula, cuja validade é questionada.
Quer o extravio quer o estragar da película – causas que escapam totalmente ao controlo do “cliente” e estão apenas no domínio do con-
traente “mais forte” - dão causa a um prejuízo que a kodak deve ressarcir, princípio eu na cláusula é aceite pela Ré (no estragar deve-se
considerar englobado o cumprimento defeituoso, pois que aquela causa abrange quer o estragar de todo ou de parte da película).
A qualificação desse prejuízo (que antes deverá ser qualificado) não é uniforme e variará consoante cada caso (aqui entramos no domí-
nio do ónus de alegar e da prova).
A Ré pretende através dessa cláusula, limitar (exclusivamente) o montante indemnizatório (substituição por igual metragem de película
virgem), o que, se num grande número de casos não ferirá quer o equilíbrio contratual, quer um critério de proporcionalidade, noutros
será manifestamente desproporcionado e desfavorecendo quem, contratando os serviços, depositou a película (a parte “mais fraca” do
contrato).
De salientar neste diálogo de “mais forte” e o “mais fraco”, ainda um outro aspecto muito importante – o princípio da protecção da con-
fiança que, no caso concreto de uma empresa como a Kodak ou da mesma dimensão, adquire um especial relevo.
O “cliente” recorre a uma empresa que, pela sua posição e créditos firmados ao longo do tempo e no mercado quer nacional, quer
internacional, é larga e preferencialmente solicitada para este tipo de contratos.
2. A Ré, perante o “cliente” – o consumidor -, surge numa posição dominante, sem prejuízo do mesmo poder recorrer a uma outra empre-
sa, esta também normalmente gozando ou de idêntica posição em relação àquele ou funcionando como sua representante ou mesmo
como auxiliar, como intermediária.
A Ré é a parte “mais forte” e a cláusula em questão é imposta (em termos de adesão) a quem quiser recorrer aos seus serviços – a alter-
nativa que lhe resta é não aderir.
Discutida durante bastantes anos a validade de certas cláusulas em contratos de adesão ou afins 8afins, pelo menos, na parte em que
as incluem) e adoptadas várias soluções procurando salvaguardar a parte “mais fraca” (v.g., a proibição de letra miúda
122
Das Acções Colectivas em Portugal
Normas
Data Demandante Demandado Objecto
Violadas (LCGD)
A nulidade de 7
cláusulas de
contrato tipo
20 Junho 1995 MP CGD Artigo 21 al. e)
de adesão de
utilização de
cartão Multibanco
Artigos 21 f) e g) -
Banco Fonsecas
17 Junho 1999 MP 22 nº 1 b)
e Burnay, SA
Cartão caixa
23 Novembro Artigo 22 nº1 b)
MP CGD automática
1999
Multibanco
- Inutilidade
superveniente da
lide porque retirou
no decurso da
10 Maio 2001 MP Seguradora
acção dos con-
tratos celebrados
e a celebrar
as cláusulas
Direito de Artigos 22 nº 1 b)
26 Junho 2003 MP Seguradora
resolução - 19 C) -20
Artigos 18 c)
19 Setembro 2006 MP Empresa de ALD
e 21 f)
Artigos 32 nº 1
Aplicação de e 33 nº 1
Banco Pinto &
17 Maio 2007 DECO sanção pecuniária - utilização
Sotto Mayor
compulsória de cláusulas já
proibidas
123
Das Acções Colectivas em Portugal
Decidido no
Supremo em 20.de
Junho de 1995
16 Junho 1994 MP CGD
- 1º da lista
- confirmada a
decisão no Supremo
Confirmada a
decisão
5 Abril 2001 MP BES
no Supremo em 11
Outubro 2001
Sanção pecuniária
compulsória
- confirmada a
Banco Pinto
26 Setembro 2006 DECO decisão
& Sotto Mayor
no Supremo
acórdão
17 Maio 2007
124
Das Acções Colectivas em Portugal
AS ACÇÕES POPULARES
125
Das Acções Colectivas em Portugal
80
O Código Administrativo (DL 31095, de 31 de Dezembro de 1940), no seu artigo 369 rezava: “Qualquer contribuinte, no gozo dos
seus direitos civis e políticos, pode intentar, em nome e no interesse das autarquias locais em que tiver domicílio há mais de dois anos,
as acções judiciais necessárias para manter, reivindicar ou reaver bens e direitos do corpo administrativo que hajam sido usurpados ou
de qualquer modo lesados. 1. As acções referidas neste artigo só podem ser intentadas quando o corpo administrativo as não tiver pro-
posto nos três meses posteriores à entrega de uma ex+posição circunstanciada acerca do direito que se pretende fazer valer e dos meios
probatórios de que dispõe para o tornar efectivo. 2. Os que obtiverem vencimento, no todo ou em parte, nas acções de que trata este
artigo terão direito ao reembolso das quantias que houvessem gasto com o pleito, até 2/3 do valor real dos bens ou direitos mantidos
ou readquiridos.”
126
Das Acções Colectivas em Portugal
81
“(…) A mencionada acção popular e o seu inerente direito, só é reconhecida nos casos e nos termos previstos na lei (ordinária que
não na Constituição da República Portuguesa). Ou seja o direito de acção popular não é dos tais direitos directamente aplicáveis, pois
como a própria Constituição Portuguesa estatui, ela só existe se, e na medida em que, a lei ordinária a regulamentar”. (…) No elenco
dos direitos das associações de consumidores não consta o de, em nome dos consumidores em geral, propor acções de natureza civil,
de cariz indemnizatório ou outro. (…) Não foi intenção do legislador atribuir às associações de consumidores em geral o direito de inten-
tar acções civis tendentes à tutela de interesses colectivos dos consumidores, senão tê-lo-ia dito expressamente em alguma das referidas
alíneas (do artigo 13 da Lei 29/81. (…)” 82 “- Os interesses eventualmente violados pela R. são de natureza colectiva e não são, por isso
mesmo, interesses difusos; - Logo, não cabe à A. a defesa de eventuais violações a tais direitos; - A acção popular visa a defesa de inter-
esses difusos; - Acresce que é duvidoso que as acções populares possam ser dirigidas aos Tribunais, atento o princípio da independên-
cia, consagrado na Lei Fundamental (cf. art.º 206 e 208); - Assim sendo, a A. Ér parte ilegítima na presente acção (apenas pode inter-
vir como assistente em acção que o MP venha a intentar – aliás, é legítimo concluir que tal veio a acontecer face ao teor da certidão
requerida a fls 27); - O despacho recorrido não violou disposição legal, nomeadamente os art.ºs 10.º, n.º 3 e 13, al. h) da Lei n.º 29/81,
de 22 de Agosto, nem os art.ºs 52 e 60 da Lei Fundamental. Improcedem, destarte, todas as conclusões da agravante.”
127
Das Acções Colectivas em Portugal
83
E o decaimento pode resultar de deficiente entendimento dos tribunais, a despeito das vias de recurso que se abrem…
130
Das Acções Colectivas em Portugal
CAPÍTULO III
A CONFLITUALIDADE SUBSISTENTE E
O VALIMENTO DOS MEIOS PROCESSUAIS AO ALCANCE
DOS CONSUMIDORES E SUAS INSTITUIÇÕES
84
Kazuo Watanabe, in Código Brasileiro de Defesa do Consumidor
85
Código Brasileiro de Defesa do Consumidor, 5.ª edição, Forense Universitária, Biblioteca Jurídica, São Paulo, 1998, pág. 611.
131
Das Acções Colectivas em Portugal
132
Das Acções Colectivas em Portugal
CAPÍTULO IV
RAZÕES PARA A INOPERÂNCIA DOS MEIOS PROCESSUAIS
garam no âmbito dos interesses colectivos lato sensu, publicara até 2001 o
denominado “Boletim de Interesses Difusos” que circulava pelas suas estrutu-
ras orgânicas.
• Relativo desinteresse conduziu à sua suspensão em Abril de 2001. Recente
decisão, porém, permite entrever que se retome a iniciativa, abandonando-se
o modelo assente em suporte físico – papel – para se confinar ao digital: é o
que consta, aliás, do sítio da Procuradoria-Geral da República
(www.pgr.pt/interessesdifusos).
• A carência de meios das instituições de consumidores, - na admissão de
juristas com formação específica e enquanto experimentados profissionais do
foro – é também responsável pela relativa inacção verificada.
134
Das Acções Colectivas em Portugal
IV PARTE
De Jure Condendo
CAPÍTULO I
Unidade ou pluralidade tipológica das acções
1. GENERALIDADES
86
O Código Civil português prescreve no seu artigo 829-A: "1. Nas obrigações de prestação de facto infungível, positivo ou negativo,
salvo nas que exigem especiais qualidades científicas ou artísticas do obrigado, o tribunal deve, a requerimento do credor, condenar o
devedor ao pagamento de uma quantia pecuniária por cada dia de atraso no cumprimento ou por cada infracção, conforme for mais
conveniente às circunstâncias do caso. 2. A sanção pecuniária compulsória prevista no número anterior será fixada segundo critérios de
razoabilidade, sem prejuízo da indemnização a que houver lugar. 3. O montante da sanção pecuniária compulsória destina-se, em parte
iguais, ao credor e ao Estado. 4. Quando for estipulado ou judicialmente determinado qualquer pagamento em dinheiro corrente, são
automaticamente devidos juros à taxa de 5% ao ano, desde a data em que a sentença de condenação transitar em julgado, os quais
acrescerão aos juros de mora, se estes forem também devidos, ou à indemnização a que houver lugar." Em aplicação de um tal dis-
positivo, o artigo 33 do DL 446/85, de 25 de Outubro estabelece: "1- Se o demandado, vencido na acção inibitória infringir a
obrigação de se abster de utilizar ou de recomendar cláusulas contratuais gerais que foram objecto de proibição definitiva por decisão
transitada em julgado, incorre numa sanção pecuniária compulsória que não pode ultrapassar o dobro do valor da alçada da Relação
por cada infracção. 2- A sanção prevista no número anterior é aplicada pelo tribunal que apreciar a causa em 1.ª instância, a requeri-
mento de quem possa prevalecer-se da decisão proferida, devendo facultar-se ao infractor a oportunidade de ser previamente ouvido.
3- O montante da sanção pecuniária compulsória destina-se, em partes iguais, ao requerente e ao Estado."
135
Das Acções Colectivas em Portugal
87
Com as alterações:
- Declaração de Rectificação n.º 114-B/95, de 31 de Agosto.
- Decretos-Lei n.° 220/95, de 31 de Agosto
- Decretos-Lei n.° 249/99, de 7 de Julho.
- A outorga de legitimidade processual activa deve ter-se por alargada face ao que prescreve o artigo 13.° da Lei n.° 24/96,
de 31 de Julho, devendo para tanto considerar-se como titulares da acção inibitória:
- os consumidores directamente lesados;
- os consumidores, ainda que não lesados, nos termos da Lei n.° 83/95, de 31 de Agosto;
- o Instituto do Consumidor.
- Decretos-Lei n.° 323/2001, de 17 de Dezembro.
136
Das Acções Colectivas em Portugal
CAPÍTULO II
Propostas de solução
88
Na realidade, a reforma intercalar de 1996, ao lado do conceito de legitimidade singular, aditou o artigo 26-A consagrando uma
regra de legitimidade para as acções e procedimentos cautelares de natureza transindividual para da r cobertura desde logo à disci-
plina da acção popular e das acções inibitórias, entretanto trazidas a lume, respectivamente em 1995, 1986 e 1996.
137
Das Acções Colectivas em Portugal
Essa será, a nosso ver, a solução mais adequada, de molde a obviar à profu-
são normativa e à dispersão da disciplina do próprio direito processual.
2.2. Valor
2.4. Litispendência
138
Das Acções Colectivas em Portugal
3. DE LEGE FERENDA
142
Das Acções Colectivas em Portugal
Opt-out
O PAPEL DO JULGADOR
A acção colectiva deverá ser promovida com fundamento nos interesses dos
consumidores e não na possível compensação que daí possa advir. Para tal, a
compensação resultante deveria ser canalizada de molde a promover os interes-
ses e a proteger os direitos dos consumidores em geral.
146
Das Acções Colectivas em Portugal
4. Que a acção, sem prejuízo das garantias da defesa, deve seguir uma forma
expedita, mantendo-se a susceptibilidade de recurso, esgotando-se as vias
jurisdicionais para o efeito;
5. Que se confira ao Ministério Público a possibilidade de firmar termos de
ajustamento de conduta, como modalidade transaccional susceptível de
homologação judicial para evitar o recurso sistemático a acções que possam
protrair-se no tempo por virtude do recurso sistemático aos meios impugnató-
rios, o que permitirá obviar a todos esses contratempos;
6. Que no quadro da acção inibitória especial, sempre que se trate de cláu-
sulas estruturalmente idênticas, há que prever-se um mecanismo que, de
forma simplificada, permita que através de um mero requerimento o juiz do
tribunal a quo estendendo os efeitos do caso julgado a situações estrutural-
mente idênticas;
7. Que a eficácia do caso julgado se afirme, em geral, secundum eventum litis
et secundum probationem;
8. Que se prevejam mecanismos de mediação colectiva, por forma a preve-
nir-se o recurso sistemático às vias jurisdicionais e lograr-se a composição
amigável dos interesses, se a tanto for possível;
9. Que a adopção de meios processuais que se socorram das acções colec-
tivas salvaguarda, no mercado, uma salutar concorrência e contribui para
equilíbrios que de outro modo dificilmente de atingiriam, se as entidades legi-
timadas fizerem uso – sempre que necessário – dos meios processuais ao seu
alcance;
10. Que se constitua um fundo de interesses e direitos colectivos em sentido
lato que, administrado com eficiência e competência, possa servir como
suporte ao desenvolvimento e às actividades de promoção dos interesses e
protecção dos direitos do consumidor
148
Das Acções Colectivas em Portugal
ANEXOS
CONSTITUIÇÃO DA
REPÚBLICA PORTUGUESA
Artigo 13.º
(Princípio da igualdade)
1. Todos os cidadãos têm a mesma dignidade social e são iguais perante a lei.
2. Ninguém pode ser privilegiado, beneficiado, prejudicado, privado de qualquer direito ou
isento de qualquer dever em razão de ascendência, sexo, raça, língua, território de origem, reli-
gião, convicções políticas ou ideológicas, instrução, situação económica, condição social ou
orientação sexual.
Artigo 20.º
(Acesso ao direito e tutela jurisdicional efectiva)
1. A todos é assegurado o acesso ao direito e aos tribunais para defesa dos seus direitos e inte-
resses legalmente protegidos, não podendo a justiça ser denegada por insuficiência de meios
económicos.
2. Todos têm direito, nos termos da lei, à informação e consulta jurídicas, ao patrocínio judi-
ciário e a fazer-se acompanhar por advogado perante qualquer autoridade.
3. A lei define e assegura a adequada protecção do segredo de justiça.
4. Todos têm direito a que uma causa em que intervenham seja objecto de decisão em prazo
razoável e mediante processo equitativo.
5. Para defesa dos direitos, liberdades e garantias pessoais, a lei assegura aos cidadãos proce-
dimentos judiciais caracterizados pela celeridade e prioridade, de modo a obter tutela efectiva
e em tempo útil contra ameaças ou violações desses direitos.
149
Das Acções Colectivas em Portugal
Artigo 52.º
(Direito de petição e direito de acção popular)
1. Todos os cidadãos têm o direito de apresentar, individual ou colectivamente, aos órgãos de
soberania, aos órgãos de governo próprio das regiões autónomas ou a quaisquer autoridades
petições, representações, reclamações ou queixas para defesa dos seus direitos, da
Constituição, das leis ou do interesse geral e, bem assim, o direito de serem informados, em
prazo razoável, sobre o resultado da respectiva apreciação.
2. A lei fixa as condições em que as petições apresentadas colectivamente à Assembleia da
República e às Assembleias Legislativas das regiões autónomas são apreciadas em reunião ple-
nária.
3. É conferido a todos, pessoalmente ou através de associações de defesa dos interesses em
causa, o direito de acção popular nos casos e termos previstos na lei, incluindo o direito de
requerer para o lesado ou lesados a correspondente indemnização, nomeadamente para:
a) Promover a prevenção, a cessação ou a perseguição judicial das infracções contra a
saúde pública, os direitos dos consumidores, a qualidade de vida e a preservação do ambien-
te e do património cultural;
b) Assegurar a defesa dos bens do Estado, das regiões autónomas e das autarquias locais.
Alterado pela Lei Constitucional n.º 1/2004 de 24.07.
Artigo 60.º
(Direitos dos consumidores)
1. Os consumidores têm direito à qualidade dos bens e serviços consumidos, à formação e à
informação, à protecção da saúde, da segurança e dos seus interesses económicos, bem como
à reparação de danos.
2. A publicidade é disciplinada por lei, sendo proibidas todas as formas de publicidade oculta,
indirecta ou dolosa.
3. As associações de consumidores e as cooperativas de consumo têm direito, nos termos da
lei, ao apoio do Estado e a ser ouvidas sobre as questões que digam respeito à defesa dos con-
sumidores, sendo-lhes reconhecida legitimidade processual para defesa dos seus associados ou
de interesses colectivos ou difusos.
150
Das Acções Colectivas em Portugal
A Assembleia da República decreta, nos termos dos artigos 52.º, n.º 3, 164.º, alínea d), e 169,
n.º 3, da Constituição, o seguinte:
CAPÍTULO I
Disposições gerais
Artigo 1.º
Âmbito da presente lei
1. A presente lei define os casos e termos em que são conferidos e podem ser exercidos o direi-
to de participação popular em procedimentos administrativos e o direito de acção popular para
a prevenção, a cessação ou a perseguição judicial das infracções previstas no n.º 3 do artigo
52 da Constituição.
2. Sem prejuízo do disposto no número anterior, são designadamente interesses protegidos pela
presente lei a saúde pública, o ambiente, a qualidade de vida, a protecção do consumo de bens
e serviços, o património cultural e o domínio público.
Artigo 2.º
Titularidade dos direitos de participação procedimental
e do direito de acção popular
1. São titulares do direito procedimental de participação popular e do direito de acção popular
quaisquer cidadãos no gozo dos seus direitos civis e políticos e as associações e fundações
defensoras dos interesses previstos no artigo anterior, independentemente de terem ou não inte-
resse directo na demanda.
2. São igualmente titulares dos direitos referidos no número anterior as autarquias locais em
relação aos interesses de que sejam titulares residentes na área respectiva circunscrição.
Artigo 3.º
Legitimidade activa das associações e fundações
Constituem requisitos da legitimidade activa das associações e fundações:
a) A personalidade jurídica;
b) O incluírem expressamente nas suas atribuições ou nos seus objectivos estatutários a
defesa e interesses em causa no tipo de acção de que trate;
c) Não exercerem qualquer tipo de actividade profissional concorrente com empresas ou
profissionais liberais.
151
Das Acções Colectivas em Portugal
CAPÍTULO II
Direito de participação popular
Artigo 4.º
Dever de prévia audiência na preparação de planos ou na localização
e realização de obras e investimentos públicos
1. A adopção de planos de desenvolvimento das actividades da Administração Pública, de pla-
nos de urbanismo, de planos directores e de ordenamento do território e a decisão sobre a loca-
lização e a realização de obras públicas ou de outros investimentos públicos com impacte rele-
vante no ambiente ou nas condições económicas e sociais e da vida em geral das populações
ou agregados populacionais de certa área do território nacional devem ser precedidos, na fase
de instrução dos respectivos procedimentos, da audição dos cidadãos interessados e das entida-
des defensoras dos interesses que possam vir a ser afectados por aqueles planos ou decisões.
2. Para efeitos desta lei, considera-se equivalente aos planos a preparação de actividades coor-
denadas da Administração a desenvolver com vista à obtenção de resultados com impacte rele-
vante.
3. São consideradas como obras públicas ou investimentos públicos com impacte relevante para
efeitos deste artigo os que se traduzam em custos superiores a um milhão de contos ou que,
sendo de valor inferior, influenciem significativamente as condições de vida das populações de
determinada área, quer sejam executados directamente por pessoas colectivas públicas quer por
concessionários.
Artigo 5.º
Anúncio público do início do procedimento para elaboração dos planos
ou decisões de realizar as obras ou investimentos
1. Para a realização da audição dos interessados serão afixados editais nos lugares de estilo,
quando os houver, e publicados anúncios em dois jornais diários de grande circulação, bem
como num jornal regional, quando existir.
2. Os editais e anúncios identificarão as principais características do plano, obra ou investi-
mento e seus prováveis efeitos e indicarão a data a partir da qual será realizada a audição dos
interessados.
3. Entre a data do anúncio e a realização da audiência deverão mediar, pelo menos, 20 dias,
salvo casos de urgência devidamente justificados.
Artigo 6.º
Consulta dos documentos e demais actos do procedimento
1. Durante o período referido no n.º 3 do artigo anterior, os estudos e outros elementos pre-
paratórios dos projectos dos planos ou das obras deverão ser facultados à consulta dos inte-
ressados.
2. Dos elementos preparatórios referidos no número anterior constarão obrigatoriamente indi-
cações sobre eventuais consequências que a adopção dos planos ou decisões possa ter sobre
os bens, ambiente e condições de vida das pessoas abrangidas.
3. Poderão também durante o período de consulta ser pedidos, oralmente ou por escrito, escla-
recimentos sobre os elementos facultados.
152
Das Acções Colectivas em Portugal
Artigo 7.º
Pedido de audiência ou de apresentação de observações escritas
1. No prazo de cinco dias a contar do termo do período da consulta, os interessados deverão
comunicar à autoridade instrutora a sua pretensão de serem ouvidos oralmente ou de apresen-
tarem observações escritas.
2. No caso de pretenderem ser ouvidos, os interessados devem indicar os assuntos sobre que
pretendem intervir e qual o sentido geral da sua intervenção.
Artigo 8.º
Audição dos interessados
1. Os interessados serão ouvidos em audiência pública.
2. A autoridade encarregada da instrução prestará os esclarecimentos que entender úteis duran-
te a audiência, sem prejuízo do disposto nos artigos seguintes.
3. Das audiências serão lavradas actas assinadas pela autoridade encarregada da instrução.
Artigo 9.º
Dever de ponderação e de resposta
1. A autoridade instrutora ou, por seu intermédio, a autoridade promotora do projecto, quan-
do aquela não for competente para a decisão, responderá às observações formuladas e justifi-
cará as opções tomadas.
2. A resposta será comunicada por escrito aos interessados, sem prejuízo do disposto no artigo
seguinte.
Artigo 10.º
Procedimento colectivo
1. Sempre que a autoridade instrutora deva proceder a mais de 20 audições, poderá determi-
nar que os interessados se organizem de modo a escolherem representantes nas audiências a
efectuar, os quais serão indicados no prazo de cinco dias a contar do fim do período referido
no n.º 1 do artigo 7.º.
2. No caso de os interessados não se fazerem representar, poderá a entidade instrutora escol-
her, de entre os interessados, representantes de posições afins, de modo a não exceder o núme-
ro de 20 audições.
3. As observações escritas ou os pedidos de intervenção idênticos serão agrupados a fim de que
a audição se restrinja apenas ao primeiro interessado que solicitou a audiência ou ao primeiro
subscritor das observações feitas.
4. No caso de se adoptar a forma de audição através de representantes, ou no caso de a apre-
sentação de observações escritas ser em número superior a 20, poderá a autoridade instrutora
optar pela publicação das respostas aos interessados em dois jornais diários e num jornal regio-
nal, quando exista.
Artigo 11.º
Aplicação do Código do Procedimento Administrativo
São aplicáveis aos procedimentos e actos previstos no artigo anterior as pertinentes disposições
do Código do Procedimento Administrativo.
153
Das Acções Colectivas em Portugal
CAPÍTULO III
Do exercício da acção popular
Artigo 12.º
Acção procedimental administrativa e acção popular civil
1. A acção procedimental administrativa compreende a acção para defesa dos interesses refe-
ridos no artigo 1.º e o recurso contencioso com fundamento em ilegalidade contra quaisquer
actos administrativos lesivos dos mesmos interesses.
2. A acção popular civil pode revestir qualquer das formas previstas no Código de Processo
Civil.
Artigo 13.º
Regime especial de indeferimento da petição inicial
A petição deve ser indeferida quando o julgador entenda que é manifestamente improvável a
procedência do pedido, ouvido o Ministério Público e feitas preliminarmente as averiguações
que o julgador tenha por justificadas ou que o autor ou o Ministério Público requeiram.
Artigo 14.º
Regime especial de representação processual
Nos processos de acção popular o autor representa por iniciativa própria, com dispensa de
mandato ou autorização expressa, todos os demais titulares dos direitos ou interesses em causa
que não tenham exercido o direito de auto-exclusão previsto no artigo seguinte, com as conse-
quências constantes da presente lei.
Artigo 15.º
Direito de exclusão por parte de titulares dos interesses em causa
1. Recebida petição de acção popular, serão citados os titulares dos interesses em causa na
acção de que se trate, e não intervenientes nela, para o efeito de, no prazo fixado pelo juíz, pas-
sarem a intervir no processo a título principal, querendo, aceitando-o na fase em que se encon-
trar, e para declararem nos autos se aceitam ou não ser representados pelo autor ou se, pelo
contrário, se excluem dessa representação, nomeadamente para o efeito de lhes não serem apli-
cáveis as decisões proferidas, sob pena de a sua passividade valer como aceitação, sem preju-
ízo do disposto no n.º 4.
2. A citação será feita por anúncio ou anúncios tornados públicos através de qualquer meio de
comunicação social ou editalmente, consoante estejam em causa interesses gerais ou geogra-
ficamente localizados, sem obrigatoriedade de identificação pessoal dos destinatários, que
poderão ser referenciados enquanto titulares dos mencionados interesses, e por referência a
acção de que se trate, à identificação de pelo menos o primeiro autor, quando seja um entre
vários, do réu ou réus e por menção bastante do pedido e da causa de pedir.
154
Das Acções Colectivas em Portugal
3. Quando não for possível individualizar os respectivos titulares, a citação prevista no número
anterior far-se-á por referência ao respectivo universo, determinado a partir de circunstância ou
qualidade que lhes seja comum, da área geográfica em que residam ou do grupo ou comuni-
dade que constituam, em qualquer caso sem vinculação à identificação constante da petição
inicial, seguindo-se no mais o disposto no número anterior.
4. A representação referida no n.º 1 é ainda susceptível de recusa pelo representado até ao
termo da produção de prova ou fase equivalente, por declaração expressa nos autos.
Artigo 16.º
Ministério Público
1. O Ministério Público fiscaliza a legalidade e representa o Estado quando este for parte na
causa, os ausentes, os menores e demais incapazes, neste último caso quer sejam autores ou
réus.
2. O Ministério Público poderá ainda representar outras pessoas colectivas públicas quando tal
for autorizado por lei.
3. No âmbito da fiscalização da legalidade, o Ministério Público poderá, querendo, substituir-se
ao autor em caso de desistência da lide, bem como de transacção ou de comportamentos lesi-
vos dos interesses em causa.
Artigo 17.º
Recolha de provas pelo julgador
Na acção popular e no âmbito das questões fundamentais definidas pelas partes, cabe ao juíz
iniciativa própria em matéria de recolha de provas, sem vinculação a iniciativa das partes.
Artigo 18.º
Regime especial de eficácia dos recursos
Mesmo que determinado recurso não tenha efeito suspensivo, nos termos gerais, pode o julga-
dor, em acção popular, conferir-lhe esse efeito, para evitar dano irreparável ou de difícil repa-
ração.
Artigo 19.º
Efeitos do caso julgado
1. As sentenças transitadas em julgado proferidas em acções ou recursos administrativos ou em
acções cíveis, salvo quando julgadas improcedentes por insuficiência de provas, ou quando o
julgador deva decidir por forma diversa fundado em motivações próprias do caso concreto, tem
eficácia geral, não abrangendo, contudo, os titulares dos direitos ou interesses que tiverem exer-
cido o direito de se auto-excluírem da representação.
2. As decisões transitadas em julgado são publicadas a expensas da parte vencida e sob pena
de desobediência, com menção do trânsito em julgado, em dois dos jornais presumivelmente
lidos pelo universo dos interessados no seu conhecimento, a escolha do juíz da causa, que
poderá determinar que a publicação se faça por extracto dos seus aspectos essenciais, quando
a sua extensão desaconselhar a publicação por inteiro.
155
Das Acções Colectivas em Portugal
Artigo 20.º
Regime especial de preparos e custas
1. Pelo exercício do direito de acção popular não são exigíveis preparos.
2. O autor fica isento do pagamento de custas em caso de procedência parcial do pedido.
3. Em caso de decaimento total, o autor interveniente será condenado em montante a fixar pelo
julgador entre um décimo e metade das custas que normalmente seriam devidas, tendo em
conta a sua situação económica e a razão formal ou substantiva improcedência.
4. A litigância de má-fé rege-se pela lei geral.
5. A responsabilidade por custas dos autores intervenientes é solidária, nos termos gerais.
Artigo 21.º
Procuradoria
O juíz da causa arbitrará o montante da procuradoria, de acordo com a complexidade e o valor
da causa.
156
Das Acções Colectivas em Portugal
CAPÍTULO IV
Responsabilidade civil e penal
Artigo 22.º
Responsabilidade civil subjectiva
1. A responsabilidade por violação dolosa ou culposa dos interesses previstos no artigo 1.º
constitui o agente causador no dever de indemnizar o lesado ou lesados pelos danos causados.
2. A indemnização pela violação de interesses de titulares não individualmente identificados é
fixada globalmente.
3. Os titulares de interesses identificados tem direito à correspondente indemnização nos termos
gerais da responsabilidade civil.
4. O direito à indemnização prescreve no prazo de três anos a contar do trânsito em julgado
da sentença que o tiver reconhecido.
5. Os montantes correspondentes a direitos prescritos serão entregues ao Ministério da Justiça,
que os escriturará em conta especial e os afectará ao pagamento da procuradoria, nos termos
do artigo 21.º, e ao apoio no acesso ao direito e aos tribunais de titulares de direito de acção
popular que justificadamente o requeiram.
Artigo 23.º
Responsabilidade civil objectiva
Existe ainda a obrigação de indemnização por danos independentemente de culpa sempre que
de acções ou omissões do agente tenha resultado ofensa de direitos ou interesses protegidos nos
termos da presente lei e no âmbito ou na sequência de actividade objectivamente perigosa.
Artigo 24.º
Seguro de responsabilidade civil
Sempre que o exercício de uma actividade envolva risco anormal para os interesses protegidos
pela presente lei, deverá ser exigido ao respectivo agente seguro da correspondente responsa-
bilidade civil como condição do início ou da continuação daquele exercício, em termos a regu-
lamentar.
Artigo 25.º
Regime especial de intervenção no exercício de acção penal
dos cidadãos e associações
Aos titulares do direito de acção popular é reconhecido o direito de denúncia, queixa ou parti-
cipação ao Ministério Público por violação dos interesses previstos no artigo 1.º que revistam
natureza penal, bem como o de se constituírem assistentes no respectivo processo, nos termos
previstos nos artigos 68, 69 e 70 do Código de Processo Penal.
157
Das Acções Colectivas em Portugal
CAPÍTULO V
Disposições finais e transitórias
Artigo 26.º
Dever de cooperação das entidades públicas
1. É dever dos agentes da administração central, regional e local, bem como dos institutos,
empresas e demais entidades públicas, cooperar com o tribunal e as partes intervenientes em
processo de acção popular.
2. As partes intervenientes em processo de acção popular poderão, nomeadamente, requerer
as entidades competentes as certidões e informações que julgarem necessárias ao êxito ou à
improcedência do pedido, a fornecer em tempo útil.
3. A recusa, o retardamento ou a omissão de dados e informações indispensáveis, salvo quan-
do justificados por razões de segredo de Estado ou de justiça, fazem incorrer o agente respon-
sável em responsabilidade civil e disciplinar.
Artigo 27.º
Ressalva de casos especiais
Os casos de acção popular não abrangidos pelo disposto na presente lei regem-se pelas nor-
mas que lhes são aplicáveis.
Artigo 28.º
Entrada em vigor
A presente lei entra em vigor no 60.º dia seguinte ao da sua publicação.
158
Das Acções Colectivas em Portugal
A Assembleia da República decreta, nos termos dos artigos 161.º, alínea d), e 169.º, n.º 3, da
Constituição, o seguinte:
Artigo 10.º
Direito à prevenção e acção inibitória
1 - É assegurado o direito de acção inibitória destinada a prevenir, corrigir ou fazer cessar
práticas lesivas dos direitos do consumidor consignados na presente lei, que, nomeadamente:
a) Atentem contra a sua saúde e segurança física;
b) Se traduzam no uso de cláusulas gerais proibidas;
c) Consistam em práticas comerciais expressamente proibidas por lei.
2 - A sentença proferida em acção inibitória pode ser acompanhada de sanção pecuniária com-
pulsória, prevista no artigo 829.º-A do Código Civil, sem prejuízo da indemnização a que hou-
ver lugar.
Artigo 11.º
Forma de processo da acção inibitória
1 - A acção inibitória tem o valor equivalente ao da alçada da Relação mais 1$, segue os ter-
mos do processo sumário e está isenta de custas.
2 - A decisão especificará o âmbito da abstenção ou correcção, designadamente através da
referência concreta do seu teor e a indicação do tipo de situações a que se reporta.
3 - Transitada em julgado, a decisão condenatória será publicitada a expensas do infractor, nos
termos fixados pelo juiz, e será registada em serviço a designar nos termos da legislação regu-
lamentar da presente lei.
4 - Quando se tratar de cláusulas contratuais gerais, aplicar-se-á ainda o disposto nos artigos
31.º e 32.º do Decreto-Lei n.º 446/85, de 25 de Outubro, com a redacção que lhe foi dada
pelo Decreto-Lei n.º 220/95, de 31 de Agosto.
Artigo 12.º
Direito à reparação de danos
1 - O consumidor tem direito à indemnização dos danos patrimoniais e não patrimoniais resul-
tantes do fornecimento de bens ou prestações de serviços defeituosos.
2 - O produtor é responsável, independentemente de culpa, pelos danos causados por defeitos
de produtos que coloque no mercado, nos termos da lei.
(redacção dada pelo DL 67/2003, de 8 de Abril)
159
Das Acções Colectivas em Portugal
Artigo 13.º
Legitimidade activa
Têm legitimidade para intentar as acções previstas nos artigos anteriores:
a) Os consumidores directamente lesados;
b) Os consumidores e as associações de consumidores ainda que não directamente lesa-
dos, nos termos da Lei n.º 83/95, de 31 de Agosto;
c) O Ministério Público e o Instituto do Consumidor quando estejam em causa interesses
individuais homogéneos, colectivos ou difusos.
Artigo 14.º
Direito à protecção jurídica e direito a uma justiça acessível e pronta
1 - Incumbe aos órgãos e departamentos da Administração Pública promover a criação e
apoiar centros de arbitragem com o objectivo de dirimir os conflitos de consumo.
2 - É assegurado ao consumidor o direito à isenção de preparos nos processos em que preten-
da a protecção dos seus interesses ou direitos, a condenação por incumprimento do fornecedor
de bens ou prestador de serviços, ou a reparação de perdas e danos emergentes de factos ilí-
citos ou da responsabilidade objectiva definida nos termos da lei, desde que o valor da acção
não exceda a alçada do tribunal judicial de 1.ª instância.
3 - Os autores nos processos definidos no número anterior ficam isentos do pagamento de cus-
tas em caso de procedência parcial da respectiva acção.
4 - Em caso de decaimento total, o autor ou autores intervenientes serão condenados em mon-
tantes, a fixar pelo julgador, entre um décimo e a totalidade das custas que normalmente seriam
devidas, tendo em conta a sua situação económica e a razão formal ou substantiva da impro-
cedência.
Artigo 15.º
Direito de participação por via representativa
O direito de participação consiste, nomeadamente, na audição e consultas prévias, em prazo
razoável, das associações de consumidores no tocante às medidas que afectem os direitos ou
interesses legalmente protegidos dos consumidores.
160
Das Acções Colectivas em Portugal
CAPÍTULO VI
Disposições processuais
Artigo 25.º
Acção inibitória
As cláusulas contratuais gerais, elaboradas por utilização futura, quando contrariem o disposto
nos artigos 15, 16, 18, 19, 21 e 22 podem ser proibidas por decisão judicial, independente-
mente da sua inclusão efectiva em contratos singulares.
Artigo 26.º
Legitimidade activa
1 - A acção destinada a obter a condenação na abstenção do uso ou da recomendação de
cláusulas contratuais gerais só pode ser intentada:
a) Por associações de defesa do consumidor dotadas de representatividade, no âmbito pre-
visto na legislação respectiva;
b) Por associações sindicais, profissionais ou de interesses económicos legalmente constitu-
ídas, actuando no âmbito das suas atribuições;
c) Pelo Ministério Público, oficiosamente, por indicação do Provedor de Justiça ou quando
entenda fundamentada a solicitação de qualquer interessado.
2 - As entidades referidas no número anterior actuam no processo em nome próprio, embora
façam valer um direito alheio pertencente, em conjunto, aos consumidores susceptíveis de virem
a ser atingidos pelas cláusulas cuja proibição é solicitada.
Artigo 27.º
Legitimidade passiva
1 - A acção referida no artigo anterior pode ser intentada:
a) Contra quem, predispondo cláusulas contratuais gerais, proponha contratos que as
incluam ou aceite propostas feitas nos seus termos;
b) Contra quem, independentemente da sua predisposição e utilização em concreto, as
recomende a terceiros.
2 - A acção pode ser intentada, em conjunto, contra várias entidades que predisponham e uti-
lizem ou recomendem as mesmas cláusulas contratuais gerais, ou cláusulas substancialmente
idênticas, ainda que a coligação importe ofensa do disposto no artigo seguinte.
Artigo 28.º
Tribunal competente
Para a acção inibitória é competente o tribunal da comarca onde se localiza o centro da activi-
dade principal do demandado ou, não se situando ele em território nacional, o da comarca da
sua residência ou sede; se estas se localizarem no estrangeiro, será competente o tribunal do
lugar em que as cláusulas contratuais gerais foram propostas ou recomendadas.
161
Das Acções Colectivas em Portugal
Artigo 29.º
Forma de processo e isenções
1 - A acção destinada a proibir o uso ou a recomendação de cláusulas contratuais gerais que
se considerem abusivas segue os termos do processo sumário de declaração e está isenta de
custas.
2 - O valor das acções referidas no número anterior excede 1$ ao fixado para a alçada da
Relação.
Artigo 30.º
Parte decisória da sentença
1 - A decisão que proíba as cláusulas contratuais gerais especificará o âmbito da proibição,
designadamente através da referência concreta do seu teor e a indicação do tipo de contratos
a que a proibição se reporta.
2 - A pedido do autor, pode ainda o vencido ser condenado a dar publicidade à proibição
pelo modo e durante o tempo que o tribunal determine.
Artigo 31.º
Proibição provisória
1 - Quando haja receio fundado de virem a ser incluídas em contratos singulares cláusulas
gerais incompatíveis com o disposto no presente diploma, podem as entidades referidas no arti-
go 26 requerer provisoriamente a sua proibição.
2 - A proibição provisória segue, com as devidas adaptações, os termos fixados na lei proces-
sual para os procedimentos cautelares não especificados.
Artigo 32.º
Consequências da proibição definitiva
1 - As cláusulas contratuais gerais objecto de proibição definitiva por decisão transitada em
julgado, ou outras cláusulas que se lhes equiparem substancialmente, não podem ser incluídas
em contratos que o demandado venha a celebrar nem continuar a ser recomendadas.
2 - Aquele que seja parte, juntamente com o demandado vencido na acção inibitória, em con-
tratos onde se incluam cláusulas gerais proibidas, nos termos referidos no número anterior, pode
invocar a todo o tempo, em seu benefício, a declaração incidental de nulidade contida na deci-
são inibitória.
3 - A inobservância do preceituado no n.º 1 tem como consequência a aplicação do artigo
9.º.
Artigo 33.º
Sanção pecuniária compulsória
1 - Se o demandado, vencido na acção inibitória infringir a obrigação de se abster de utilizar
ou de recomendar cláusulas contratuais gerais que foram objecto de proibição definitiva por
decisão transitada em julgado, incorre numa sanção pecuniária compulsória que não pode
ultrapassar o dobro do valor da alçada da Relação por cada infracção.
2 - A sanção prevista no número anterior é aplicada pelo tribunal que apreciar a causa em 1.ª
instância, a requerimento de quem possa prevalecer-se da decisão proferida, devendo facultar-
se ao infractor a oportunidade de ser previamente ouvido.
3 - O montante da sanção pecuniária compulsória destina-se, em partes iguais, ao requeren-
te e ao Estado.
162
Das Acções Colectivas em Portugal
Artigo 34.º
Comunicação das decisões judiciais para efeito de registo
Os tribunais devem remeter, no prazo de 30 dias, ao serviço previsto no artigo seguinte, cópia
das decisões transitadas em julgado que, por aplicação dos princípios e das normas constantes
do presente diploma, tenham proibido o uso ou a recomendação de cláusulas contratuais gerais
ou declarem a nulidade de cláusulas inseridas em contratos singulares.
163
Das Acções Colectivas em Portugal
CAPÍTULO VII
Disposições finais e transitórias
Artigo 35.º
Serviço de registo
1 - Mediante portaria do Ministério da Justiça, a publicar dentro dos seis meses subsequentes
à entrada em vigor do presente diploma, será designado o serviço que fica incumbido de orga-
nizar e manter actualizado o registo das cláusulas contratuais abusivas que lhe sejam comuni-
cadas, nos termos do artigo anterior.
2 - O serviço referido no número precedente deve criar condições que facilitem o conheci-
mento das cláusulas consideradas abusivas por decisão judicial e prestar os esclarecimentos que
lhe sejam solicitados dentro do âmbito das respectivas atribuições.
164
Das Acções Colectivas em Portugal
Transpõe para a ordem jurídica nacional a Directiva n.º 98/27/CE, do Parlamento Europeu e
do Conselho, de 19 de Maio, relativa às acções inibitórias em matéria de protecção dos inte-
resses dos consumidores.
A Assembleia da República decreta, nos termos da alínea c) do artigo 161.º da Constituição,
para valer como lei geral da República, o seguinte:
Artigo 1.º
Objecto
A presente lei procede à transposição para o direito interno da Directiva n.º 98/27/CE, do
Parlamento Europeu e do Conselho, de 19 de Maio, relativa às acções inibitórias em matéria
de protecção dos interesses dos consumidores.
Artigo 2.º
Âmbito
1 - As normas previstas na presente lei aplicam-se à acção inibitória prevista no artigo 10.º da
Lei n.º 24/96, de 31 de Julho, bem como à acção popular contemplada no n.º 2 do artigo 12.º
da Lei n.º 83/95, de 31 de Agosto, destinadas a prevenir, corrigir ou fazer cessar práticas lesi-
vas dos direitos dos consumidores.
2 - Para efeitos do disposto na presente lei, bem como para efeitos da definição do âmbito do
direito de acção inibitória previsto no artigo 10.º da Lei n.º 24/96, de 31 de Julho, considera-
se que o conceito de prática lesiva inclui qualquer prática contrária aos direitos dos consumi-
dores, designadamente as que contrariem as legislações dos Estados membros que transpõem
as directivas comunitárias constantes do anexo a esta lei, da qual faz parte integrante.
Artigo 3.º
Práticas lesivas intracomunitárias
1 - Quando a prática lesiva que se pretende fazer cessar tenha origem em Portugal, mas afec-
te interesses localizados noutro Estado membro da União Europeia, a correspondente acção
inibitória pode ser directamente intentada por entidade deste último Estado que consta da lista
actualizada das entidades competentes, relativa às acções inibitórias em matéria de protecção
dos interesses dos consumidores, elaborada pela Comissão Europeia e publicada no Jornal
Oficial da União Europeia.
2 - As entidades referidas no número anterior estão obrigadas a apresentar, em anexo à peti-
ção inicial, cópia do Jornal Oficial da União Europeia contendo a publicação mais recente da
lista onde se encontram inscritas.
3 - O disposto no número anterior não prejudica a possibilidade de o tribunal averiguar se, no
caso concreto, existe justificação atendível para o pedido formulado.
165
Das Acções Colectivas em Portugal
Artigo 4.º
Entidades nacionais
1 - O exercício transnacional do direito de acção a que se refere o artigo 2.º pelas entidades por-
tuguesas que, nos termos previstos na lei, têm legitimidade para propor e intervir nas acções e pro-
cedimentos cautelares está dependente de inscrição em lista disponível no Instituto do Consumidor.
2 - Compete ao Instituto do Consumidor a elaboração e a permanente actualização da lista das
entidades portuguesas competentes para exercer, na União Europeia, o mencionado direito de
acção.
3 - O Instituto do Consumidor deve dar conhecimento da referida lista e respectivas actualiza-
ções à Comissão Europeia.
Artigo 5.º
Inscrição
1 - Para efeitos do artigo anterior e sem prejuízo do disposto no n.º 5, devem as entidades inte-
ressadas solicitar a sua inscrição na lista, através de requerimento dirigido ao presidente do
Instituto do Consumidor, acompanhado de documento comprovativo da sua denominação e
objecto estatutário.
2 - Na apreciação do pedido, o presidente do Instituto do Consumidor deve certificar-se de que
a entidade requerente prossegue objectivos de defesa dos interesses dos consumidores.
3 - O despacho sobre o pedido de inscrição deve ser proferido no prazo máximo de 30 dias.
4 - Do despacho de indeferimento do pedido de inscrição cabe recurso, nos termos da lei, com
efeito meramente devolutivo.
5 - O Ministério Público e o Instituto do Consumidor constarão da lista a que se refere o artigo
anterior por direito próprio e sem dependência de requerimento de inscrição.
Artigo 6.º
Entrada em vigor
A presente lei entra em vigor 90 dias após a sua publicação.
166
Das Acções Colectivas em Portugal
ANEXO
167
Das Acções Colectivas em Portugal
Sumário:
1 – Significado social e político da tutela dos interesses ou direitos transindividuais; 2 – O siste-
ma de common law: as class actions norte-americanas; 3 – O sistema de civil law: o tratamen-
to da matéria nos países de Ibero-América; 4 – A necessidade de um Código Modelo de
Processos Coletivos para Ibero-América; 5 – O modelo do Código: um sistema supra-nacional
adequado à realidade dos países da comunidade ibero-americana; 6 – Breve síntese do conte-
údo do Código; 7 – Conclusão.
1 - Tem sabor de lugar comum a afirmação de que o processo tradicional não se presta à defe-
sa dos direitos e interesses transindividuais, cujas características os colocam a meio caminho
entre o interesse público e o privado, sendo próprios de uma sociedade globalizada e resulta-
do de conflitos de massa. E igualmente clara é a dimensão social do reconhecimento e tutela
dos direitos e interesses transindividuais, por serem comuns a uma coletividade de pessoas, e
somente a estas. Interesses espalhados e informais à tutela de necessidades coletivas, sintetica-
mente referíveis à qualidade de vida. Interesses de massa, que comportam ofensas de massa e
que colocam em contraste grupos, categorias, classes de pessoas. Não mais se trata de um feixe
de linhas paralelas, mas de um leque de linhas que convergem para um objeto comum e indi-
visível. Aqui se inserem os interesses dos consumidores, ao meio ambiente, dos usuários de ser-
viços públicos, dos investidores, dos beneficiários da Previdência Social e de todos aqueles que
integram uma comunidade compartilhando de suas necessidades e de seus anseios.
O reconhecimento e a necessidade de tutela desses interesses puseram em relevo sua confi-
guração política. Em conseqüência, a teoria das liberdades públicas forjou uma nova “geração”
de direitos fundamentais. Aos direitos clássicos de primeira geração, representados pelas
tradicionais liberdades negativas, próprias do Estado liberal, com o correspondente dever
de abstenção por parte do Poder Público; aos direitos de segunda geração, de caráter econó-
mico-social, compostos por liberdades positivas, com o correlato dever do Estado a um dare,
facere ou praestare, a teoria constitucional acrescentou uma terceira geração de direitos fun-
damentais, representados pelos direitos de solidariedade, decorrentes dos referidos interesses
sociais. E, à medida em que o direito constitucional dá a esses interesses a natureza jurídica de
direitos, não há mais razão de ser para a clássica discussão em torno dessas situações de van-
tagem configurarem interesses ou direitos.
2 - Nos sistemas do common law a tutela dos interesses ou direitos transindividuais é tradi-
cional: o instituto das class actions do sistema norte-americano, baseado na equity e com
antecedentes no Bill of Peace do século XVII, foi sendo ampliado de modo a adquirir aos pou-
cos papel central do ordenamento. As Federal Rules of Civil Procedure de 1938 fixaram, na
regra 23, as normas fundamentais retoras das class actions. As dificuldades práticas, quanto
à configuração e requisitos de uma ou outra de suas categorias, com tratamento processual
próprio, levaram o Advisory Committee on Civil Rules a modificar a disciplina da matéria na
revisão feita pels Federal Rules de 1966, as quais estão sendo novamente trabalhadas para
eventuais modificações.
168
Das Acções Colectivas em Portugal
3 - Nos sistemas do civil law, coube ao Brasil a primazia de introduzir no ordenamento a tutela
dos interesses difusos e coletivos, de natureza indivisível, antes de tudo pela reforma de 1977
da Lei da Ação Popular; depois, mediante lei específica de 1985 sobre a denominada “ação
civil pública”; a seguir, em 1988, elevando a nível constitucional a proteção dos referidos inte-
resses; e finalmente, em 1990, pelo Código de Defesa do Consumidor (cujas disposições pro-
cessuais são aplicáveis à tutela de todo e qualquer interesse ou direito transindividual). Este
Código foi além da dicotomia dos interesses difusos e coletivos, criando a categoria dos cha-
mados interesses individuais homogêneos, que abriram caminho às ações reparatórias dos pre-
juízos individualmente sofridos (correspondendo, no sistema norte-americano, às class actions
for damages).
O Código Modelo de Processo Civil para Ibero-América recepcionou a idéia brasileira da tute-
la jurisdicional dos interesses difusos, com algumas modificações em relação à legitimação (que
inclui qualquer interessado) e ao controle sobre a representatividade adequada (que no Brasil
não é expresso). Com relação à coisa julgada, o regime brasileiro do julgado erga omnes, salvo
insuficiência de provas, foi igualmente adotado.
No Uruguai, o Código Geral de Processo de 1989 repetiu as regras do Código Modelo de
Processo Civil.
Na Argentina, primeiro a jurisprudência e depois o Código de Código Civil e Comercial da
Nação, de 1993, seguiram o Código Modelo Ibero-Américano, até que a Constituição de 1994
contemplou, no art. 43, os chamados “direitos de incidência coletiva”, para cuja tutela prevê o
“amparo” e a legitimação ampla para o exercício de sua defesa. Mas a doutrina preconiza a
introdução, no ordenamento, de ações específicas, à semelhança das existentes no modelo bra-
sileiro. A jurisprudência, mesmo sem textos legais, tem avançado com criatividade para asse-
gurar a tutela concreta dos direitos e interesses coletivos.
Em 1995, Portugal deu um passo à frente, com a Lei da Ação Popular, da qual também se extrai
a defesa dos direitos individuais homogêneos. Em 1996, Portugal também criou ações inibitó-
rias para a defesa dos interesses dos consumidores. E, desde 1985 o sistema já conhecia ações
relativas às cláusulas gerais, com legitimação conferida ao Ministério Público, e portanto diver-
sa da prevista para a ação popular, que é limitada ao cidadão, às associações e fundações com
personalidade jurídica e às autarquias locais.
A seguir, outros ordenamentos ibero-americanos introduziram, de alguma forma, a tutela dos
interesses difusos e coletivos em seus sistemas. No Chile, foi ampliada a abrangência da ação
popular, com regulamentação em várias leis especiais e no art. 2.333 do Código Civil. No
Paraguai, a Constituição consagra o direito individual ou coletivo de reclamar da autoridade
pública a defesa do ambiente, da saúde pública, do consumidor e outros que por sua natureza
pertençam à coletividade, mas não contempla expressamente instrumentos processuais para
esse fim. No Peru, há alguma legislação esparsa e específica para a tutela de certos direitos
coletivos, no campo das organizações sindicais e das associações dos consumidores. Na
Venezuela, a nova Constituição prevê a possibilidade de qualquer pessoa entrar em juízo para
a tutela de seus direitos ou interesses, inclusive coletivos ou difusos, mas não há lei específica
que regule a matéria. A jurisprudência venezuelana reconhece legitimação para os mesmos fins
ao Ministério Público, com base na legitimação geral que lhe confere a Constituição. Na
Colômbia, a Constituição de 1991, no art. 88, atribuiu nível constitucional às ações populares
e de grupo e autorizou o legislador a definir os casos de responsabilidade objetiva pelo dano
causado a interesses e direitos coletivos. A lei 472 de 1998, que entrou em vigor a 5 de agos-
to de 1999, regulamentou o referido art. 88 da Constituição, definindo o regime das açãos
populares e de grupo. O art. 70 cria o Fundo para a Defesa dos Direitos e Interesses Coletivos
169
Das Acções Colectivas em Portugal
e o art. 80 cria um registro público das ações populares e de grupo, a ser gerido pela
Defensoria do Povo de forma centralizada. (Fonte: Ramiro Bejarano Guzmán, “Processos decla-
rativos”, ed. Temis, 2001, 159-219, especialmente 160-163). É importante ressaltar que a ação
popular destina-se à tutela dos direitos difusos e as ações de grupo à defesa dos que o Código
Modelo chama “direitos individuais homogêneos”.
Na Espanha, a reforma processual civil de 2.000 contempla a defesa de interesses transindivi-
duais mas, segundo parte da doutrina, de maneira incompleta e insuficiente.
4 - Vê-se daí que a situação da defesa dos direitos e interesses transindividuais, em Ibero-
América, é às vezes insuficiente e muito heterogênea. E também se percebe que diversos países
ainda não têm legislação alguma, ou legislação abrangente sobre a matéria.
A idéia de um Código Modelo de Processos Coletivos para Ibero-América surgiu em Roma,
numa intervenção de Antonio Gidi, membro brasileiro do Instituto Ibero-Americano de Direito
Processual, reunido em maio de 2.002, no VII Seminário Internacional co-organizado pelo
“Centro di Studi Giuridici Latino Americani” da “Università degli Studi di Roma – Tor Vergata”,
pelo “Istituto Italo-Latino Americano” e pela “ Associazione di Studi Sociali Latino-Americani”. E
foi ainda em Roma que a Diretoria do Instituto Ibero-Americano amadureceu a idéia, incorpo-
rando-a com entusiasmo. E, em Assembléia, foi votada a proposta de se empreender um tra-
balho que levasse à elaboração de um Código Modelo de Processos Coletivos para Ibero-
América, nos moldes dos já editados Códigos Modelo de Processo Civil e de Processo Penal.
Ou seja, de um Código que pudesse servir não só como repositório de princípios, mas também
como modelo concreto para inspirar as reformas, de modo a tornar mais homogênea a defesa
dos interesses e direitos transindividuais em países de cultura jurídica comum. O Código – como
sua própria denominação diz – deve ser apenas um modelo, a ser adaptado às peculiaridades
locais, que serão levadas em consideração na atividade legislativa de cada país; mas deve ser,
ao mesmo tempo, um modelo plenamente operativo.
Incumbidos pela Presidência do Instituto de preparar uma proposta de Código Modelo de
Processos Coletivos para Ibero-América, Ada Pellegrini Grinover, Kazuo Watanabe e Antonio
Gidi apresentaram o resultado de seu trabalho nas Jornadas Ibero-Americanas de Direito
Processual, de Montevidéu, em outubro de 2002, onde a Proposta foi transformada em
Anteprojeto.
O Instituto Ibero-Americano de Direito Processual convocou então uma plêiade de professores
ibero-americanos para manifestarem sua opinião sobre o Código, papel este coordenado por
Antonio Gidi (Brasil) e Eduardo Ferrer MacGregor (México). Os trabalhos foram publicados pela
Editorial Porrúa sob o título “A tutela dos direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos –
Rumo a um Código Modelo para Ibero-América” e apresentados no decorrer do XII Congresso
Mundial de Direito Processual, realizado na Cidade do México, de 22 a 26 de setembro de
2003.
Com os aportes acima referidos, a Comissão Revisora, integrada por Ada Pellegrini Grinover,
Aluisio G. de Castro Mendes, Anibal Quiroga León, Antonio Gidi, Enrique M. Falcón, José Luiz
Vázquez Sotelo, Kazuo Watanabe, Ramiro Bejarano Guzmán, Roberto Berizonce e Sergio Artavia
procedeu a aperfeiçoar o Anteprojeto, surgindo assim sua 2a Versão, que em sua redação defi-
nitiva foi revista pelo professor do Uruguai Angel Landoni Sosa. O Anteprojeto foi discutido em
Roma, recebendo algumas sugestões de aperfeiçoamento. Estas foram acolhidas, tendo os
membros da Comissão Revisora, por sua vez, apresentado outras.
Finalmente, votadas as novas propostas, o Anteprojeto converteu-se em Projeto, que foi apro-
vado pela Assembléia Geral do Instituto Ibero-Americano de Direito Processual, realizada em
170
Das Acções Colectivas em Portugal
5 - O modelo ora apresentado inspira-se, em primeiro lugar, naquilo que já existe nos países
da comunidade ibero-americana, complementando, aperfeiçoando e harmonizando as regras
existentes, de modo a chegar a uma proposta que possa ser útil para todos. Evidentemente,
foram analisadas a sistemática norte-americana das class actions e a brasileira das ações cole-
tivas (aplicada há quase 20 anos), mas o código afasta-se em diversos pontos dos dois mode-
los, para criar um sistema original, adequado à realidade existente nos diversos países ibero-
americanos.
Tudo isto foi levado em conta para a preparação do Código, que acabou, por isso mesmo, per-
dendo as características de um modelo nacional, para adquirir efetivamente as de um verda-
deiro sistema ibero-americano de processos coletivos, cioso das normas constitucionais e legais
já existentes nos diversos países que compõem nossa comunidade.
171
Das Acções Colectivas em Portugal
rios, tanto do perito como dos advocatícios, prevendo-se incentivos para a pessoa física, os
sindicatos e as associações autoras, sobre a interrupção do prazo de prescrição para as
pretensões individuais como consequência da propositura da ação coletiva, etc. Finalmente,
cuida-se aqui dos efeitos da apelação, em regra meramente devolutivo e da execução provisó-
ria, matérias em que alguns ordenamentos ibero-americanos são omissos.
O Capítulo IV detém-se sobre as acões coletivas em defesa de interesses ou direitos individuais
homogêneos e, particularmente, sobre a ação coletiva reparatória dos danos individualmente
sofridos (a class action for damages norte-americana), movida pelos legitimados sem necessi-
dade de indicação da identidade das vítimas. Dá-se conhecimento do ajuizamento da ação aos
possíveis interessados, para que possam intervir no processo, querendo, como assistentes ou
coadjuvantes, sendo-lhes vedado, porém, discutir suas pretensões individuais no processo
coletivo de conhecimento. Cuidado especial tomou-se com as notificações. Em caso de acolhi-
mento do pedido, a sentença poderá ser genérica, declarando a existência do dano geral e
condenando o vencido à obrigação de indenizar a todas as vítimas e seus sucessores (ainda não
identificados). Caberá a estes, individualmente ou pelos legitimados coletivos, provar na liqui-
dação da sentença o seu dano pessoal, o nexo causal com o dano global reconhecido pela
sentença, e quantificar o prejuízo individualmente sofrido. Mas o Código também prevê a pos-
sibilidade de o juiz, na sentença condenatória, fixar as indenizações individuais, quando isto
for possível. Cuida-se, também, do caso de concurso de créditos e se prescreve que, decorrido
um ano sem habilitação de interessados em número compatível com a gravidade do dano,
haverá execução coletiva da importância devida a título de danos causados, cuidando de
sua destinação a um fundo. Aqui o Código adota a solução da fluid recovery do sistema norte-
-americano.
O Fundo de Direitos Difusos e Individuais Homogêneos tem regras específicas sobre a gestão e
as atividades, a serem controladas pelo juiz.
No Capítulo V são tratados a conexão, a litispendência e a coisa julgada. Conexão litispen-
dência têm regras claras, incluindo as relações entre ações coletivas ou entre uma ação coleti-
va e as ações individuais. Também está prevista a possibilidade de conversão de várias ações
individuais numa ação coletiva. Para os interesses ou direitos difusos, o regime da coisa julga-
da é sempre de eficácia da sentença erga omnes, em caso de procedência ou improcedência
do pedido, salvo quando a improcedência se der por insuficiência de provas, hipótese em que
a demanda pode ser repetida, com novas provas. Esta solução já é tradicional nos países de
Ibero-América, mas o Código avança, admitindo nova ação, com base em provas novas, no
prazo de 2 (dois) anos a partir da descoberto de prova nova, superveniente ao processo coleti-
vo (coisa julgada secundum probationem, como decorrência especial da clásula rebus sic stan-
tibus). Com relação aos interesses ou direitos individuais homogêneos, a escolha da legislação
brasileira, mantida no Código, é da coisa julgada secundum eventum litis: ou seja, a coisa
julgada positiva atua erga omnes, beneficiando a todos os membros do grupo; mas a coisa jul-
gada negativa só atinge os legitimados às ações coletivas, podendo cada indivíduo, prejudica-
do pela sentença, opor-se à coisa julgada, ajuizando sua ação individual, no âmbito pessoal.
Outras normas cuidam do transporte, in utilibus, da coisa julgada positiva resultante de uma
ação em defesa de interesses ou direitos difusos, em proveito das vítimas individuais do mesmo
evento danoso.
O Capítulo VI introduz uma absoluta novidade para os ordenamentos de civil law: a ação cole-
tiva passiva, ou seja a defendant class action do sistema norte-americano. Preconizada pela
doutrina brasileira, objeto de tímidas tentativas na práxis, a ação coletiva passiva, conquanto
mais rara, não pode ser ignorada num sistema de processos coletivos. A ação, nesses casos, é
172
Das Acções Colectivas em Portugal
proposta não pela classe, mas contra ela. O Código exige que se trate de uma coletividade
organizada de pessoas, ou que o grupo tenha representante adequado, e que o bem jurídico a
ser tutelado seja transindividual e seja de relevância social. A questão principal que se punha,
nesses casos, era o do regime da coisa julgada: em obséquio ao princípio geral de que a sen-
tença só pode favorecer os integrantes do grupo quando se trata de direitos ou interesses indi-
viduais homogêneos, o mesmo princípio devia ser mantido quando a classe figurasse no pólo
passivo da demanda. Assim, quando se trata de bens jurídicos de natureza indivisível (interesses
difusos), o regime da coisa julgada é erga omnes, simetricamente ao que ocorre quando o
grupo litiga no pólo ativo (mas sem o temperamento da improcedência por insuficiência de pro-
vas, inadequado quando a classe se coloca no pólo passivo); mas, quando se trata de bens jurí-
dicos de natureza divisível (interesses ou direitos individuais homogêneos), a coisa julgada posi-
tiva não vinculará os membros do grupo, categoria ou classe, que poderão mover ações pró-
prias ou discutir a sentença no processo de execução, para afastar a eficácia da sentença em
sua esfera jurídica individual. Mutatis mutandis, é o mesmo tratamento da coisa julgada secun-
dum eventum litis para os interesses ou direitos individuais homogêneos, quando a classe litiga
no pólo ativo. No entanto, tratando-se de ação movida contra o sindicato, a coisa julgada,
mesmo positiva, abrangerá sem exceções os membros da categoria, dada a posição constitu-
cional que em muitos países o sindicato ocupa e sua representatividade adequada, mais sólida
do que a das associações.
Por último, o Capítulo VII trata das disposições finais, contemplando uma recomendação ao
intérprete e determinando a aplicação subsidiária dos diversos Códigos de Processo Civil e legis-
lações especiais pertinentes, no que não forem incompatíveis.
Outubro de 2004
173
Das Acções Colectivas em Portugal
Capítulo I
Disposições gerais
Art. 1.º Cabimento da ação coletiva. A ação coletiva será exercida para a tutela de:
I - interesses ou direitos difusos, assim entendidos os transindividuais, de natureza indivisí-
vel, de que seja titular um grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas por circunstâncias
de fato ou vinculadas, entre si ou com a parte contrária, por uma relação jurídica base;
II - interesses ou direitos individuais homogêneos, assim entendido o conjunto de direitos
subjetivos individuais, decorrentes de origem comum, de que sejam titulares os membros de
um grupo, categoria ou classe.
Par. 1.º Para a tutela dos interesses ou direitos individuais homogêneos, além dos requisitos indi-
cados nos n.ºs I e II deste artigo, é também necessária a aferição da predominância das ques-
tões comuns sobre as individuais e da utilidade da tutela coletiva no caso concreto.
Par. 2.º Na análise da representatividade adequada o juiz deverá analisar dados como:
a - a credibilidade, capacidade, prestígio e experiência do legitimado;
b - seu histórico na proteção judicial e extrajudicial dos interesses ou direitos dos membros
do grupo, categoria ou classe;
c - sua conduta em outros processos coletivos;
d - a coincidência entre os interesses dos membros do grupo, categoria ou classe e o obje-
to da demanda;
e - o tempo de instituição da associação e a representatividade desta ou da pessoa física
perante o grupo, categoria ou classe.
174
Das Acções Colectivas em Portugal
Par. 1.º O requisito da pré-constituição pode ser dispensado pelo juiz, quando haja manifesto
interesse social evidenciado pela dimensão ou característica do dano, ou pela relevância do
bem jurídico a ser protegido.
Par. 2.º Será admitido o litisconsórcio facultativo entre os legitimados.
Par. 3.º Em caso de relevante interesse social, o Ministério Público, se não ajuizar a ação ou não
intervier no processo como parte, atuará obrigatoriamente como fiscal da lei.
Par. 4.º Em caso de inexistência do requisito da representatividade adequada, de desistência
infundada ou abandono da ação por pessoa física, entidade sindical ou associação legitimada,
o juiz notificará o Ministério Público e, na medida do possível, outros legitimados adequados
para o caso a fim de que assumam, querendo, a titularidade da ação.
Par. 5.º O Ministério Público e os órgãos públicos legitimados poderão tomar dos interessados
compromisso administrativo de ajustamento de sua conduta às exigências legais, mediante
cominações, que terá eficácia de título executivo extrajudicial.
175
Das Acções Colectivas em Portugal
Capítulo II
Dos provimentos jurisdicionais
Art. 4.º Efetividade da tutela jurisdicional. Para a defesa dos direitos e interesses protegidos
por este código são admissíveis todas as espécies de ações capazes de propiciar sua adequa-
da e efetiva tutela.
Art. 5.º Tutela jurisdicional antecipada. O juiz poderá, a requerimento da parte, antecipar,
total ou parcialmente, os efeitos da tutela pretendida no pedido inicial, desde que, com base
em prova consistente, se convença da verossimilhança da alegação e
I - haja fundado receio de ineficácia do provimento final ou
II - fique caracterizado o abuso de direito de defesa ou manifesto propósito protelatório do
demandado.
Par. 1.º Não se concederá a antecipação da tutela se houver perigo de irreversibilidade do pro-
vimento antecipado, a menos que, num juízo de ponderação dos valores em jogo, a denega-
ção da medida signifique sacrifício irrazoável de bem jurídico relevante.
Par. 2.º Na decisão que antecipar a tutela, o juiz indicará, de modo claro e preciso, as razões
de seu convencimento.
Par. 3.º A tutela antecipada poderá ser revogada ou modificada a qualquer tempo, em decisão
fundamentada.
Par. 4.º Se não houver controvérsia quanto à parte antecipada na decisão liminar, após a opor-
tunidade de contraditório esta se tornará definitiva e fará coisa julgada, prosseguindo o pro-
cesso, se for o caso, para julgamento dos demais pontos ou questões postos na demanda.
Art. 6.º Obrigações de fazer e não fazer. Na ação que tenha por objeto o cumprimento da
obrigação de fazer ou não fazer, o juiz concederá a tutela específica da obrigação ou determi-
nará providências que assegurem o resultado prático equivalente ao do adimplemento.
Par. 1.º O juiz poderá, na hipótese de antecipação de tutela ou na sentença, impor multa diá-
ria ao demandado, independentemente de pedido do autor, se for suficiente ou compatível com
a obrigação, fixando prazo razoável para o cumprimento do preceito.
Par. 2.º O juiz poderá, de ofício, modificar o valor ou a periodicidade da multa, caso verifique
que se tornou insuficiente ou excessiva.
Par. 3.º Para a tutela específica ou para a obtenção do resultado prático equivalente, poderá
o juiz determinar as medidas necessárias, tais como busca e apreensão, remoção de coisas e
pessoas, desfazimento de obra, impedimento de atividade nociva, além de requisição de força
policial.
Par. 4.º A conversão da obrigação em perdas e danos somente será admissível se por elas optar
o autor ou se impossível a tutela específica ou a obtenção do resultado prático correspondente.
Par. 5.º A indenização por perdas e danos se fará sem prejuízo da multa.
Art. 7.º Obrigações de dar. Na ação que tenha por objeto a obrigação de entregar coisa,
determinada ou indeterminada, aplicam-se, no que couber, as disposições do artigo anterior.
Art. 8.º Ação indenizatória. Na ação condenatória à reparação dos danos provocados ao
bem indivisivelmente considerado, a indenização reverterá ao Fundo dos Direitos Difusos e
Individuais Homogêneos, administrado por um Conselho Gestor governamental, de que parti-
176
Das Acções Colectivas em Portugal
177
Das Acções Colectivas em Portugal
Capítulo III
Dos processos coletivos em geral
Art. 10.º Pedido e causa de pedir. Nas ações coletivas, o pedido e a causa de pedir serão
interpretados extensivamente.
Par. 1.º Ouvidas as partes, o juiz permitirá a emenda da inicial para alterar ou ampliar o obje-
to da demanda ou a causa de pedir.
Par. 2.º O juiz permitirá a alteração do objeto do processo a qualquer tempo e em qualquer
grau de jurisdição, desde que seja realizada de boa-fé, não represente prejuízo injustificado
para a parte contrária e o contraditório seja preservado.
Art. 11.º Audiência preliminar. Encerrada a fase postulatória, o juiz designará audiência pre-
liminar, à qual comparecerão as partes ou seus procuradores, habilitados a transigir.
Par. 1.º O juiz ouvirá as partes sobre os motivos e fundamentos da demanda e tentará a conci-
liação, sem prejuízo de sugerir outras formas adequadas de solução do conflito, como a media-
ção, a arbitragem e a avaliação neutra de terceiro.
Par. 2.º A avaliação neutra de terceiro, obtida no prazo fixado pelo juiz, é sigilosa, inclusive para
este, e não vinculante para as partes, sendo sua finalidade exclusiva a de orientá-las na tenta-
tiva de composição amigável do conflito.
Par. 3.º Preservada a indisponibilidade do bem jurídico coletivo, as partes poderão transigir
sobre o modo de cumprimento da obrigação.
Par. 4.º Obtida a transação, será homologada por sentença, que constituirá título executivo
judicial.
Par. 5.º Não obtida a conciliação, sendo ela parcial, ou quando, por qualquer motivo, não for
adotado outro meio de solução do conflito, o juiz, fundamentadamente:
I - decidirá se a ação tem condições de prosseguir na forma coletiva;
II - poderá separar os pedidos em ações coletivas distintas, voltadas à tutela, respectiva-
mente, dos interesses ou direitos difusos e individuais homogêneos, desde que a separação
represente economia processual ou facilite a condução do processo;
III - fixará os pontos controvertidos, decidirá as questões processuais pendentes e determi-
nará as provas a serem produzidas, designando audiência de instrução e julgamento, se for
o caso;
IV - esclarecerá os encargos das partes quanto à distribuição do ônus da prova, de acordo
com o disposto no parágrafo 1.º do artigo 12.
Art. 12.º Provas. São admissíveis em juízo todos os meios de prova, desde que obtidos por
meios lícitos, incluindo a prova estatística ou por amostragem.
Par. 1.º O ônus da prova incumbe à parte que detiver conhecimentos técnicos ou informações
específicas sobre os fatos, ou maior facilidade em sua demonstração. Não obstante, se por
razões de ordem econômica ou técnica, o ônus da prova não puder ser cumprido, o juiz deter-
minará o que for necessário para suprir à deficiência e obter elementos probatórios indispensá-
veis para a sentença de mérito, podendo requisitar perícias à entidade pública cujo objeto esti-
178
Das Acções Colectivas em Portugal
Art. 13.º Julgamento antecipado do mérito. O juiz decidirá desde logo a demanda pelo
mérito, quando não houver necessidade de produção de prova.
Parágrafo único. O juiz poderá decidir desde logo parte da demanda, quando não houver
necessidade de produção de prova, sempre que isso não importe em prejulgamento direto ou
indireto do litígio que continuar pendente de decisão, prosseguindo o processo para a instrução
e julgamento em relação aos demais pedidos nos autos principais e a parte antecipada em
autos complementares.
Art. 15.º Custas e honorários. Nas ações coletivas de que trata este código, a sentença con-
denará o demandado, se vencido, nas custas, emolumentos, honorários periciais e quaisquer
outras despesas, bem como em honorários de advogados.
Par. 1.º No cálculo dos honorários, o juiz levará em consideração a vantagem para o grupo,
categoria ou classe, a quantidade e qualidade do trabalho desenvolvido pelo advogado e a
complexidade da causa.
Par. 2.º Se o legitimado for pessoa física, sindicato ou associação, o juiz poderá fixar gratifica-
ção financeira quando sua atuação tiver sido relevante na condução e êxito da ação coletiva.
Par. 3.º Os autores da ação coletiva não adiantarão custas, emolumentos, honorários periciais
e quaisquer outras despesas, nem serão condenados, salvo comprovada má-fé, em honorários
de advogados, custas e despesas processuais.
Par. 4.º O litigante de má-fé e os responsáveis pelos respectivos atos serão solidariamente con-
denados ao pagamento das despesas processuais, em honorários advocatícios e no décuplo
das custas, sem prejuízo da responsabilidade por perdas e danos.
Art. 17.º Interrupção da prescrição. A citação válida para a ação coletiva interrompe o prazo
de prescrição das pretensões individuais e transindividuais direta ou indiretamente relacionadas
com a controvérsia, retroagindo o efeito à data da propositura da demanda.
179
Das Acções Colectivas em Portugal
Art. 18.º Efeitos da apelação. A apelação da sentença definitiva tem efeito meramente devo-
lutivo, salvo quando a fundamentação for relevante e puder resultar à parte lesão grave e de
difícil reparação, hipótese em que o juiz pode atribuir ao recurso efeito suspensivo.
Art. 19.º Execução definitiva e execução provisória. A execução é definitiva quando passa-
da em julgado a sentença; e provisória, na pendência dos recursos cabíveis.
Par. 1.º A execução provisória corre por conta e risco do exeqüente, que responde pelos preju-
ízos causados ao executado, em caso de reforma da sentença recorrida.
Par. 2.º A execução provisória permite a prática de atos que importem em alienação do domí-
nio ou levantamento do depósito em dinheiro.
Par. 3.º A pedido do executado, o juiz pode suspender a execução provisória quando dela puder
resultar lesão grave e de difícil reparação.
180
Das Acções Colectivas em Portugal
Capítulo IV
Da ação coletiva para a defesa
de interesses ou direitos individuais homogêneos
Art 20.º Ação coletiva de responsabilidade civil. Os legitimados poderão propor, em nome
próprio e no interesse das vítimas ou seus sucessores, dentre outras (art.4º), ação civil coletiva
de responsabilidade pelos danos individualmente sofridos, de acordo com o disposto nos arti-
gos seguintes.
Parágrafo único. A determinação dos interessados poderá ocorrer no momento da liquidação
ou execução do julgado, não havendo necessidade de a petição inicial estar acompanhada da
relação de membros do grupo, classe ou categoria. Conforme o caso, o juiz poderá determi-
nar, ao réu ou a terceiro, a apresentação da relação e dados de pessoas que se enquadram no
grupo, categoria ou classe.
Art. 21.º Citação e notificações. Estando em termos a petição inicial, o juiz ordenará a cita-
ção do réu e a publicação de edital no órgão oficial, a fim de que os interessados possam inter-
vir no processo como assistentes ou coadjuvantes.
Par. 1.º Sem prejuízo da publicação do edital, o juiz determinará sejam os órgãos e entidades de
defesa dos interesses ou direitos protegidos neste Código notificados da existência da demanda
coletiva e de seu trânsito em julgado a fim de que cumpram o disposto no caput deste artigo.
Par. 2.º Quando for possível a execução do julgado, ainda que provisória, ou estiver preclusa
a decisão antecipatória dos efeitos da tutela pretendida, o juiz determinará a publicação de edi-
tal no órgão oficial, às custas do demandado, impondo-lhe, também, o dever de divulgar nova
informação pelos meios de comunicação social, observado o critério da modicidade do custo.
Sem prejuízo das referidas providências, o juízo providenciará a comunicação aos órgãos e
entidades de defesa dos interesses ou direitos protegidos neste código, para efeito do disposto
no parágrafo anterior.
Par. 3.º Os intervenientes não poderão discutir suas pretensões individuais no processo coletivo
de conhecimento.
181
Das Acções Colectivas em Portugal
Art 24.º Execução coletiva. A execução poderá ser coletiva, sendo promovida pelos legitima-
dos à ação coletiva, abrangendo as vítimas cujas indenizações já tiverem sido fixadas em liqui-
dação, sem prejuízo do ajuizamento de outras execuções.
Parágrafo único. A execução coletiva far-se-á com base em certidão das decisões de liquida-
ção, da qual constará a ocorrência , ou não, do trânsito em julgado.
Art 27.º Liquidação e execução pelos danos globalmente causados. Decorrido o prazo de
um ano sem habilitação de interessados em número compatível com a gravidade do dano,
poderão os legitimados do artigo 3.º promover a liquidação e execução coletiva da indeniza-
ção devida pelos danos causados.
Parágrafo único. O valor da indenização será fixado de acordo com o dano globalmente cau-
sado, que será demonstrado por todas as provas admitidas em direito. Sendo a produção de
provas difícil ou impossível, em razão da extensão do dano ou de sua complexidade, o valor da
indenização será fixado por arbitramento.
182
Das Acções Colectivas em Portugal
Capítulo V
Da conexão, da litispendência e da coisa julgada
Art. 29.º Conexão. Se houver conexão entre as causas coletivas, ficará prevento o juízo que
conheceu da primeira ação, podendo ao juiz, de ofício ou a requerimento da parte, determinar
a reunião de todos os processos, mesmo que nestes não atuem integralmente os mesmos sujei-
tos processuais.
Art. 30.º Litispendência. A primeira ação coletiva induz litispendência para as demais ações
coletivas que tenham por objeto controvérsia sobre o mesmo bem jurídico, mesmo sendo dife-
rentes o legitimado ativo e a causa de pedir.
Art. 31.º Relação entre ação coletiva e ações individuais. A ação coletiva não induz litis-
pendência para as ações individuais, mas os efeitos da coisa julgada coletiva (art. 33) não bene-
ficiarão os autores das ações individuais, se não for requerida sua suspensão no prazo de 30
(trinta) dias, a contar da ciência efetiva da ação coletiva.
Parágrafo único – Cabe ao demandado informar o juízo da ação individual sobre a existência
de ação coletiva com o mesmo fundamento, sob pena de, não o fazendo, o autor individual
beneficiar-se da coisa julgada coletiva mesmo no caso da demanda individual ser rejeitada.
Art. 32.º Conversão de ações individuais em ação coletiva. O juiz, tendo conhecimento da
existência de diversos processos individuais correndo contra o mesmo demandado, com o
mesmo fundamento, notificará o Ministério Público e, na medida do possível, outros represen-
tantes adequados, a fim de que proponham, querendo, ação coletiva, ressalvada aos autores
individuais a faculdade prevista no artigo anterior.
Art. 33.º Coisa julgada. Nas ações coletivas de que trata este código, a sentença fará coisa
julgada erga omnes, exceto se o pedido for julgado improcedente por insuficiência de provas,
hipótese em que qualquer legitimado poderá intentar outra ação, com idêntico fundamento
valendo-se de nova prova.
Par. 1.º Mesmo na hipótese de improcedência fundada nas provas produzidas, qualquer legiti-
mado poderá intentar outra ação, com idêntico fundamento, no prazo de (2) dois anos conta-
dos da descoberta de prova nova, superveniente, que não poderia ser produzida no processo,
desde que idônea, por si só, para mudar seu resultado.
Par. 2.º Tratando-se de interesses ou direitos individuais homogêneos, em caso de improcedên-
cia do pedido, os interessados poderão propor ação de indenização a título individual.
Par. 3.º Os efeitos da coisa julgada nas ações em defesa de interesses ou direitos difusos não pre-
judicarão as ações de indenização por danos pessoalmente sofridos, propostas individualmente ou
na forma prevista neste código, mas, se procedente o pedido, beneficiarão as vítimas e seus suces-
sores, que poderão proceder à liquidação e à execução, nos termos dos artigos 22 a 24.
Par. 4.º Aplica-se o disposto no parágrafo anterior à sentença penal condenatória.
Par. 5.º A competência territorial do órgão julgador não representará limitação para a coisa
julgada erga omnes.
Art. 34.º Relações jurídicas continuativas. Nas relações jurídicas continuativas, se sobrevier
modificação no estado de fato ou de direito, a parte poderá pedir a revisão do que foi estatuí-
do por sentença.
183
Das Acções Colectivas em Portugal
Capítulo VI
Da ação coletiva passiva
Art. 35.º Ações contra o grupo, categoria ou classe. Qualquer espécie de ação pode ser
proposta contra uma coletividade organizada ou que tenha representante adequado, nos ter-
mos do parágrafo 2.º do artigo 2.º deste código, e desde que o bem jurídico a ser tutelado seja
transindividual (artigo 1.º) e se revista de interesse social.
Art. 36.º Coisa julgada passiva: interesses ou direitos difusos. Quando se tratar de inte-
resses ou direitos difusos, a coisa julgada atuará erga omnes, vinculando os membros do grupo,
categoria ou classe.
Art. 37.º Coisa julgada passiva: interesses ou direitos individuais homogêneos. Quando
se tratar de interesses ou direitos individuais homogêneos, a coisa julgada atuará erga omnes
no plano coletivo, mas a sentença de procedência não vinculará os membros do grupo, cate-
goria ou classe, que poderão mover ações próprias ou defender-se no processo de execução
para afastar a eficácia da decisão na sua esfera jurídica individual.
Parágrafo único – Quando a ação coletiva passiva for promovida contra o sindicato, como
substituto processual da categoria, a coisa julgada terá eficácia erga omnes, vinculando indivi-
dualmente todos os membros, mesmo em caso de procedência do pedido.
184
Das Acções Colectivas em Portugal
Capítulo VII
Disposições finais
Art. 39.º Princípios de interpretação. Este código será interpretado de forma aberta e flexí-
vel, compatível com a tutela coletiva dos interesses e direitos de que trata.
Art. 40.º Especialização dos magistrados. Sempre que possível, as ações coletivas serão pro-
cessadas e julgadas por magistrados especializados.
Art. 41.º Aplicação subsidiárias das normas processuais gerais e especiais. Aplicam-se
subsidiariamente, no que não forem incompatíveis, as disposições do Código de Processo Civil
e legislação especial pertinente.
Agosto de 2004
185
Das Acções Colectivas em Portugal
ANTEPROJETO DE
CÓDIGO BRASILEIRO DE PROCESSOS COLETIVOS
Janeiro de 2.007
Ministério da Justiça – Última versão
Incorporando sugestões da Casa Civil, Secretaria de Assuntos Legislativos, PGFN e dos
Ministérios Públicos de Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul e São Paulo
EXPOSIÇÃO DE MOTIVOS
1 – A Lei n. 7.347/85 – a denominada lei da ação civil pública - acaba de completar 20 anos.
Há muito com o que se regozijar, mas também resta muito a fazer. Não há dúvidas de que a lei
revolucionou o direito processual brasileiro, colocando o país numa posição de vanguarda entre
os países de civil law e ninguém desconhece os excelentes serviços prestados à comunidade na
linha evolutiva de um processo individualista para um processo social. Muitos são seus méritos,
ampliados e coordenados pelo sucessivo Código de Defesa do Consumidor, de 1990. Mas
antes mesmo da entrada em vigor do CDC, e depois de sua promulgação, diversas leis regula-
ram a ação civil pública, em dispositivos esparsos e às vezes colidentes. Podem-se, assim, citar
os artigos 3.º, 4.º, 5.º, 6.º e 7.º da Lei n.º 7.853, de 24 de outubro de 1989; o artigo 3.º da
Lei n.º 7.913, de 7 de dezembro de 1989; os artigos 210, 211, 212, 213, 215, 217, 218,
219, 222, 223 e 224 da Lei n.º 8.069, de 13 de junho de 1990; o artigo 17 da Lei n.º 8.429,
de 2 de junho de 1992; o artigo 2.º da Lei n.º 9.494, de 10 de setembro de 1997; e os arti-
gos 80, 81, 82, 83, 85, 91, 92 e 93 da Lei n.º 10.741, de 1.º de outubro de 2003.
Outras dificuldades têm sido notadas pela concomitante aplicação à tutela de direitos ou inte-
resses difusos e coletivos da Ação Civil Pública e da Ação Popular constitucional, acarretando
problemas práticos quanto à conexão, à continência e à prevenção, assim como reguladas pelo
CPC, o qual certamente não tinha e não tem em vista o tratamento das relações entre proces-
sos coletivos. E mesmo entre diversas ações civis públicas, concomitantes ou sucessivas, têm sur-
gido problemas que geraram a multiplicidade de liminares, em sentido oposto, provocando um
verdadeiro caos processual que foi necessário resolver mediante a suscitação de conflitos de
competência perante o STJ. O que indica, também, a necessidade de regular de modo diverso
a questão da competência concorrente. Seguro indício dos problemas suscitados pela compe-
tência concorrente é a proposta de Emenda Constitucional que atribui ao STJ a escolha do juízo
competente para processar e julgar a demanda coletiva.
Assim, não se pode desconhecer que 20 anos de aplicação da LACP, com os aperfeiçoamentos
trazidos pelo Código de Defesa do Consumidor, têm posto à mostra não apenas seus méritos,
mas também suas falhas e insuficiências, gerando reações, quer do legislativo, quer do execu-
tivo, quer do judiciário, que objetivam limitar seu âmbito de aplicação. No campo do governo
e do Poder Legislativo, vale lembrar, por exemplo, medidas provisórias e leis que tentaram limi-
tar os efeitos da sentença ao âmbito territorial do juiz, que restringiram a utilização de ações
civis públicas contra a Fazenda Pública e por parte das associações – as quais, aliás, necessi-
tam de estímulos para realmente ocuparem o lugar de legitimados ativos que lhes compete. E,
no campo jurisdicional, podemos lembrar as posições contrárias à legitimação das defensorias
públicas, ao controle difuso da constitucionalidade na ação civil pública, à extração de carta de
186
Das Acções Colectivas em Portugal
sentença para execução provisória por parte do beneficiário que não foi parte da fase de con-
hecimento do processo coletivo, assim como, de um modo geral, a interpretação rígida das nor-
mas do processo, sem a necessária flexibilização da técnica processual.
E ainda: a aplicação prática das normas brasileiras sobre processos coletivos (ação civil públi-
ca, ação popular, mandado de segurança coletivo) tem apontado para dificuldades práticas
decorrentes da atual legislação: assim, por exemplo, dúvidas surgem quanto à natureza da
competência territorial (absoluta ou relativa), sobre a litispendência (quando é diverso o legiti-
mado ativo), a conexão (que, rigidamente interpretada, leva à proliferação de ações coletivas e
à multiplicação de decisões contraditórias), à possibilidade de se repetir a demanda em face de
prova superveniente e a de se intentar ação em que o grupo, categoria ou classe figure no pólo
passivo da demanda.
Por outro lado, a evolução doutrinária brasileira a respeito dos processos coletivos autoriza a
elaboração de um verdadeiro Direito Processual Coletivo, como ramo do direito processual civil,
que tem seus próprios princípios e institutos fundamentais, diversos dos do Direito Processual
Individual. Os institutos da legitimação, competência, poderes e deveres do juiz e do Ministério
Público, conexão, litispendência, liquidação e execução da sentença, coisa julgada, entre
outros, têm feição própria nas ações coletivas que, por isso mesmo, se enquadram numa Teoria
Geral dos Processos Coletivos. Diversas obras, no Brasil, já tratam do assunto. E o país, pio-
neiro no tratamento dos interesses e direitos transindividuais e dos individuais homogêneos, por
intermédio da LACP e do CDC, tem plena capacidade para elaborar um verdadeiro Código de
Processos Coletivos, que mais uma vez o colocará numa posição de vanguarda, revisitando os
princípios processuais e a técnica processual por intermédio de normas mais abertas e flexíveis,
que propiciem a efetividade do processo coletivo.
2 – Acresça-se a tudo isto a elaboração do Código Modelo de Processos Coletivos para Ibero-
América, aprovado nas Jornadas do Instituto Ibero-americano de Direito Processual, na
Venezuela, em outubro de 2004. Ou seja, de um Código que possa servir não só como repo-
sitório de princípios, mas também como modelo concreto para inspirar as reformas, de modo a
tornar mais homogênea a defesa dos interesses e direitos transindividuais em países de cultura
jurídica comum.
Deveu-se a Ada Pellegrini Grinover, Kazuo Watanabe e Antonio Gidi a elaboração da primeira
proposta de um Código Modelo, proposta essa que aperfeiçoou as regras do microssistema
brasileiro de processos coletivos, sem desprezar a experiência das class-actions norte-america-
nas. Muitas dessas primeiras regras, que foram apefeiçoadas com a participação ativa de outros
especialistas ibero-americanos (e de mais um brasileiro, Aluísio de Castro Mendes), passaram
depois do Código Modelo para o Anteprojeto de Código Brasileiro de Processos Coletivos.
187
Das Acções Colectivas em Portugal
Guidoni Filho e Camilo Zufelato. Depois, no encerramento do curso de 2004, outra turma de
pós-graduandos, juntamente com a primeira, aportou aperfeiçoamentos à proposta, agora
também contando com a profícua colaboração de Carlos Alberto Salles e Paulo Lucon. Nasceu
assim a primeira versão do Anteprojeto, trabalhado também pelos mestrandos, doutorandos e
professores da disciplina, durante o ano de 2005. O Instituto Brasileiro de Direito Processual,
por intermédio de seus membros, ofereceu diversas sugestões. No segundo semestre de 2005,
o texto foi analisado por grupos de mestrandos da UERJ e da Universidade Estácio de Sá, sob
a orientação de Aluísio de Castro Mendes, daí surgindo mais sugestões. O IDEC também foi
ouvido e aportou sua contribuição ao aperfeiçoamento do Anteprojeto. Colaboraram na reda-
ção final da primeira versão do Anteprojeto juízes das Varas especializadas já existentes no país.
Foram ouvidos membros do Ministério Público da União, do Distrito Federal e de diversos
Estados, que trouxeram importantes contribuições. Enfim, a primeira versão do Anteprojeto foi
apresentada pelo Instituto Brasileiro de Direito Processual ao Ministério da Justiça, em dezem-
bro de 2005. Submetido a consulta pública, sugestões de aperfeiçoamento vieram de órgãos
públicos (Casa Civil, Secretaria de Assuntos Legislativos, PGFN e Fundo dos Interesses Difusos),
bem como dos Ministérios Públicos de Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul e São Paulo.
Após novos debates, as sugestões foram criteriosamente examinadas por professores e pós-gra-
duandos da turma de 2006 da disciplina “Processos Coletivos” da Faculdade de Direito da USP
e diversas delas foram incorporadas ao Anteprojeto. Este é agora reapresentado ao Ministério
da Justiça, como versão final, datada de dezembro de 2006.
5 – O Anteprojeto engloba os atuais processos coletivos brasileiros – com exceção dos relativos
ao controle da constitucionalidade, que não se destinam à defesa de interesses ou direitos de
grupos, categorias ou classes de pessoas -, sendo constituído de VI Capítulos.
O Capítulo I inicia-se com a enumeração dos princípios gerais da tutela jurisdicional coletiva.
Não foi incorporado no texto a exclusão de certas demandas, pela matéria, hoje constante do
parágrafo único do art. 1.º da Lei da Ação Civil Pública, uma vez que representa uma injustifi-
cada vulneração aos princípios do acesso à justiça, da universalidade de jurisdição e da eco-
nomia processual, bem como inaceitável privilégio da Fazenda Pública. O Capítulo cuida das
demandas coletivas em geral, aplicando-se a todas elas e tratando de manter diversos disposi-
tivos vigentes, mas também regrando matérias novas ou reformuladas – como o pedido e a
188
Das Acções Colectivas em Portugal
causa de pedir, a conexão e a continência, a relação entre ação coletiva e ações individuais, a
questão dos processos individuais repetitivos. Também novas são as normas sobre interrupção
da prescrição, a prioridade de processamento da demanda coletiva sobre as individuais e a uti-
lização de meios eletrônicos para a prática de atos processuais, a preferência pelo processa-
mento e julgamento por juízos especializados, a previsão de gratificação financeira para seg-
mentos sociais que atuem na condução do processo. A questão do ônus da prova é revisitada,
dentro da moderna teoria da carga dinâmica da prova. As normas sobre coisa julgada, embo-
ra atendo-se ao regime vigente, são simplificadas, contemplando, como novidade, a possibili-
dade de repropositura da ação, no prazo de 2 (dois) anos contados do conhecimento geral da
descoberta de prova nova, superveniente, idônea para mudar o resultado do primeiro processo
e que neste não foi possível produzir. Os efeitos da apelação e a execução provisória têm regi-
me próprio, adequado às novas tendências do direito processual, e subtraindo-se a sentença
proferida no processo coletivo do reexame necessário.
O Capítulo II, dividido em duas seções, trata da ação coletiva. Preferiu-se essa denominação à
tradicional de “ação civil pública”, não só por razões doutrinárias, mas sobretudo para obstar a
decisões que não têm reconhecido a legitimação de entidades privadas a uma ação que é deno-
minada de “pública”. É certo que a Constituição alude à “ação civil pública”, mas é igualmente
certo que o Código de Defesa do Consumidor já a rotula como “ação coletiva”. Certamente, a
nova denominação não causará problemas práticos, dado o detalhamento legislativo a que ela
é submetida. Trata-se apenas de uma mudança de nomenclatura, mais precisa e conveniente.
A Seção I deste Capítulo é voltada às disposições gerais, deixando-se expresso o cabimento da
ação como instrumento do controle difuso de constitucionalidade. A grande novidade consiste
em englobar nas normas sobre a legitimação ativa, consideravelmente ampliada, requisitos fixa-
dos por lei, correspondentes à categoria da “representatividade adequada”. A representativida-
de adequada é, assim, comprovada por critérios objetivos, legais, para a grande maioria dos
legitimados, com exceção da pessoa física – à qual diversas constituições ibero-americanas con-
ferem legitimação – em relação a quem o juiz aferirá a presença dos requisitos em concreto.
Por outro lado, a exigência de representatividade adequada é essencial para o reconhecimento
legal da figura da ação coletiva passiva, objeto do Capítulo III, em que o grupo, categoria ou
classe de pessoas figura na relação jurídica processual como réu.
A regra de competência territorial é deslocada para esse Capítulo (no CDC figura indevida-
mente entre as regras que regem a ação em defesa de interesses ou direitos individuais homo-
gêneos, o que tem provocado não poucas discussões), eliminando-se, em alguns casos, a regra
da competência concorrente entre Capitais dos Estados e Distrito Federal ou entre comarcas,
motivo de proliferações de demandas e de decisões contraditórias. Para as demandas de índo-
le nacional é fixada a competência territorial do Distrito Federal, único critério que possibilitará
centralizá-las, evitando investidas do Legislativo atualmente consubstanciadas em proposta de
Emenda Constitucional que pretende atribuir ao STJ a competência para decidir a respeito do
foro competente. Regras de competência devem ser fixadas pela lei e não pelos tribunais. De
outro lado, a relativa centralização da competência vem balanceada pela maior flexibilidade da
legitimação entre os diversos órgãos do Ministério Público, que poderão atuar fora dos limites
funcionais e territoriais de suas atribuições (quer em relação ao inquérito civil, quer em relação
à propositura da demanda – conforme, aliás, já permite a Lei Nacional do Ministério Público).
A mesma flexibilidade é atribuída a outros entes legitimados.
O inquérito civil é mantido nos moldes da Lei da Ação Civil Pública, mas se deixa claro que as
peças informativas nele colhidas só poderão ser aproveitadas na ação coletiva desde que sub-
metidas a contraditório, ainda que diferido. Afinal, a Constituição federal garante o contraditó-
189
Das Acções Colectivas em Portugal
rio no processo administrativo, conquanto não punitivo, em que haja “litigantes” (ou seja, titu-
lares de conflitos de interesses), obtendo-se de sua observância, como resultado, a maior pos-
sibilidade de lavratura do termo de ajustamento de conduta e da própria antecipação de tute-
la, com base nas provas colhidas no inquérito, que poderão atender ao requisito da “prova
incontroversa”.
O termo de ajustamento de conduta é objeto de normas mais minuciosas, esbatendo dúvidas
que existem nessa matéria a respeito dos procedimentos utilizados pelo Ministério Público.
Deixa-se ao Ministério Público maior liberdade para intervir no processo como fiscal da lei. A fixa-
ção do valor da causa é dispensado quando se trata de danos inestimáveis, evitando-se assim
inúmeros incidentes processuais, mas seu valor será fixado na sentença. A audiência preliminar
é tratada nos moldes de proposta legislativa existente para o processo individual, com o intuito
de transformar o juiz em verdadeiro gestor do processo, dando-se ênfase aos meios alternativos
de solução de controvérsias; deixa-se claro, aliás, até onde poderá ir a transação – outra dúvida
que tem aparecido nas demandas coletivas - bem como seus efeitos no caso de acordo a que
não adira o membro do grupo, categoria ou classe, em se tratando de direitos ou interesses indi-
viduais homogêneos. O Fundo dos Direitos Difusos e Coletivos, dividido em federal e estaduais,
é regulamentado de modo a resguardar a destinação do dinheiro arrecadado, cuidando-se tam-
bém do necessário controle e da devida transparência. Além disso, norma de relevante interesse
para os autores coletivos atribui ao Fundo a responsabilidade pelo adiantamento dos custos das
perícias, verba essa que deverá ser incluída no orçamento da União e dos Estados.
A Seção II do Capítulo II trata da ação coletiva para a defesa de interesses ou direitos indivi-
duais homogêneos. E, com relação à ação de responsabilidade civil reparatória dos danos pes-
soalmente sofridos, inova no regime das notificações, necessárias não só no momento da pro-
positura da demanda – como é hoje – mas também quando houver decisões que favoreçam os
membros do grupo: com efeito, o desconhecimento da existência de liminares ou da sentença
de procedência tem impedido aos beneficiados a fruição de seus direitos. Outra novidade está
na sentença condenatória que, quando possível, não será genérica, mas poderá fixar a indeni-
zação devida aos membros do grupo, ressalvado o direito à liquidação individual. Estabelecem-
se novas regras sobre a liquidação e a execução da sentença, coletiva ou individual, amplian-
do as regras de competência e a legitimação, tudo no intuito de facilitar a fruição dos direitos
por parte dos beneficiários. É mantida a fluid recovery, mas com a novidade de que, enquanto
não prescritas as pretensões individuais, o Fundo ficará responsável pelo pagamento, até o limi-
te da importância que lhe foi recolhida.
O Capítulo III introduz no ordenamento brasileiro a ação coletiva passiva originária, ou seja a
ação promovida não pelo, mas contra o grupo, categoria ou classe de pessoas. A denomina-
ção pretende distinguir essa ação coletiva passiva de outras, derivadas, que decorrem de outros
processos, como a que se configura, por exemplo, numa ação rescisória ou nos embargos do
executado na execução por título extrajudicial. A jurisprudência brasileira vem reconhecendo o
cabimento da ação coletiva passiva originária (a defendant class action do sistema norte-ame-
ricano), mas sem parâmetros que rejam sua admissibilidade e o regime da coisa julgada. A
pedra de toque para o cabimento dessas ações é a representatividade adequada do legitimado
passivo, acompanhada pelo requisito do interesse social. A ação coletiva passiva será admitida
para a tutela de interesses ou direitos difusos ou coletivos, pois esse é o caso que desponta na
“defendant class action”, conquanto os efeitos da sentença possam colher individualmente os
membros do grupo, categoria ou classe de pessoas. Por isso, o regime da coisa julgada é per-
feitamente simétrico ao fixado para as ações coletivas ativas.
O Capítulo IV trata do mandado de segurança coletivo, até hoje sem disciplina legal. Deixa-se
190
Das Acções Colectivas em Portugal
claro que pode ele ser impetrado, observados os dispositivos constitucionais, para a defesa de
direito líquido e certo ligado a interesses ou direitos difusos, coletivos e individuais homogêne-
os, espancando-se assim dúvidas doutrinárias e jurisprudenciais. Amplia-se a legitimação para
abranger o MP, a Defensoria Pública e as entidades sindicais. De resto, aplicam-se ao manda-
do de segurança coletivo as disposições da Lei n. 1.533/51, no que não forem incompatíveis
com a defesa coletiva, assim como o Capítulo I do Código, inclusive no que respeita às custas
e honorários advocatícios.
O Capítulo V trata das ações populares, sendo a Seção I dedicada à ação popular constitucio-
nal. Aplicam-se aqui as disposições do Capítulo I e as regras da Lei n. 4.717/65, com a modifi-
cação de alguns artigos desta para dar maior liberdade de ação ao Ministério Público, para pre-
ver a cientificação do representante da pessoa jurídica de direito público e para admitir a repro-
positura da ação, diante de prova superveniente, nos moldes do previsto para a ação coletiva.
A Seção II do Capítulo V cuida da ação de improbidade administrativa que, embora rotulada
pela legislação inerente ao MP como ação civil pública, é, no entanto, uma verdadeira ação
popular (destinada à proteção do interesse público e não à defesa de interesses e direitos de
grupos, categorias e classes de pessoas), com legitimação conferida por lei ao Ministério
Público. Esta legitimação encontra embasamento no art.129, IX, da Constituição. Aqui também
a lei de regência será a Lei n.8.429/92, aplicando-se à espécie as disposições do Capítulo I do
Código, com exceção da interpretação extensiva do pedido e da causa de pedir, que não se
coaduna com uma ação de índole sancionatória.
Finalmente, o Capítulo VI trata das disposições finais, criando o Cadastro Nacional de Processos
Coletivos, a ser organizado e mantido pelo Conselho Nacional de Justiça; traçando princípios
de interpretação; determinando a aplicação subsidiária do Código de Processo Civil, no que
não for incompatível, independentemente da Justiça competente e notadamente quanto aos
recursos e dando nova redação a dispositivos legais (inclusive em relação à antecipação de tute-
la e à sua estabilização, nos moldes do référé francês e consoante Projeto de Lei do Senado).
Revogam-se expressamente: a Lei da Ação Civil Pública e os arts. 81 a 104 do Código de
Defesa do Consumidor (pois o Anteprojeto trata por completo da matéria); o parágrafo 3.º do
art. 5.º da Lei da Ação Popular, que fixa a prevenção da competência no momento da propo-
situra da ação, colidindo com o princípio do Capítulo I do Anteprojeto; bem como diversos dis-
positivos de leis esparsas que se referem à ação civil pública, cujo cuidadoso levantamento foi
feito por Marcelo Vigliar e que tratam de matéria completamente regulada pelo Anteprojeto.
A entrada em vigor do Código é fixada em cento e oitenta dias a contar de sua publicação.
6 - Cumpre observar, ainda, que o texto ora apresentado representa um esforço coletivo, sério
e equilibrado, no sentido de reunir, sistematizar e melhorar as regras brasileiras sobre processos
coletivos, hoje existentes em leis esparsas, às vezes inconciliáveis entre si, harmonizando-as e
conferindo-lhes tratamento consentâneo com a relevância jurídica, social e política dos interes-
ses e direitos transindividuais e individuais homogêneos. Tudo com o objetivo de tornar sua apli-
cação mais clara e correta, de superar obstáculos e entraves que têm surgido na prática legis-
lativa e judiciária e de inovar na técnica processual, de modo a extrair a maior efetividade pos-
sível de importantes instrumentos constitucionais de direito processual.
191
Das Acções Colectivas em Portugal
Capítulo I
Das demandas coletivas
Art. 1.º Conteúdo do Código – Este Código dispõe sobre os processos coletivos relativos às
ações coletivas ativas, à ação coletiva passiva originária, ao mandado de segurança coletivo, à
ação popular constitucional e à ação de improbidade administrativa.
Art. 2.º Princípios da tutela jurisdicional coletiva – São princípios da tutela jurisdicional
coletiva:
a. acesso à justiça e à ordem jurídica justa;
b. universalidade da jurisdição;
c. participação pelo processo e no processo;
d. tutela coletiva adequada;
e. boa-fé e cooperação das partes e de seus procuradores;
f. cooperação dos órgãos públicos na produção da prova;
g. economia processual;
h. instrumentalidade das formas;
i. ativismo judicial;
j. flexibilização da técnica processual;
k. dinâmica do ônus da prova;
l. representatividade adequada;
m. intervenção do Ministério Público em casos de relevante interesse social;
n. não taxatividade da ação coletiva;
o. ampla divulgação da demanda e dos atos processuais;
p. indisponibilidade temperada da ação coletiva;
q. continuidade da ação coletiva;
r. obrigatoriedade do cumprimento e da execução da sentença;
s. extensão subjetiva da coisa julgada, coisa julgada secundum eventum litis e secundum
probationem;
t. reparação dos danos materiais e morais;
u. aplicação residual do Código de Processo Civil;
v. proporcionalidade e razoabilidade.
Art. 3.º Efetividade da tutela jurisdicional – Para a defesa dos direitos e interesses indica-
dos neste Código são admissíveis todas as espécies de ações e provimentos capazes de pro-
piciar sua adequada e efetiva tutela, inclusive os previstos no Código de Processo Civil e em
leis especiais.
§ 1.º O juiz, instaurado o contraditório, poderá desconsiderar a pessoa jurídica, nas hipóteses
previstas no artigo 50 Código Civil e no artigo 4.º da Lei n.º 9.605/98.
§ 2.º Para a tutela dos interesses e direitos previstos nas alíneas II e III do artigo 3.º e observa-
da a disponibilidade do bem jurídico protegido, as partes poderão estipular convenção de arbi-
tragem, a qual se regerá pelas disposições do Código de Processo Civil e da Lei n.º 9.307, de
23 de setembro de 1996.
Art. 4.º Objeto da tutela coletiva – A demanda coletiva será exercida para a tutela de:
I – interesses ou direitos difusos, assim entendidos os transindividuais, de natureza indivisível, de
que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato;
192
Das Acções Colectivas em Portugal
Art. 5.º Pedido e causa de pedir – Nas ações coletivas, a causa de pedir e o pedido serão
interpretados extensivamente, em conformidade com o bem jurídico a ser protegido.
Parágrafo único. A requerimento da parte interessada, até a prolação da sentença, o juiz per-
mitirá a alteração do pedido ou da causa de pedir, desde que seja realizada de boa-fé, não
represente prejuízo injustificado para a parte contrária e o contraditório seja preservado,
mediante possibilidade de nova manifestação de quem figure no pólo passivo da demanda, no
prazo de 10 (dez) dias, com possibilidade de prova complementar, observado o parágrafo 3º
do artigo 10.
Art. 6.º Relação entre demandas coletivas – Observado o disposto no artigo 22 deste
Código, as demandas coletivas de qualquer espécie poderão ser reunidas, de ofício ou a reque-
rimento das partes, ficando prevento o juízo perante o qual a demanda foi distribuída em pri-
meiro lugar, quando houver:
I – conexão, pela identidade de pedido ou causa de pedir ou da defesa, conquanto diferentes
os legitimados ativos, e para os fins da ação prevista no Capítulo III, os legitimados passivos;
II – conexão probatória, desde que não haja prejuízo à duração razoável do processo;
III – continência, pela identidade de partes e causa de pedir, observado o disposto no inciso
anterior, sendo o pedido de uma das ações mais abrangente do que o das demais.
§ 1.º Na análise da identidade do pedido e da causa de pedir, será considerada a identidade
do bem jurídico a ser protegido.
§ 2.º Na hipótese de conexidade entre ações coletivas referidas ao mesmo bem jurídico, o juiz
prevento, até o início da instrução, deverá determinar a reunião de processos para julgamento
conjunto e, iniciada a instrução, poderá determiná-la, desde que não haja prejuízo à duração
razoável do processo;
§ 3.º Aplicam-se à litispendência as regras dos incisos I e III deste artigo, quanto à identidade
de legitimados ativos ou passivos, e a regra de seu parágrafo 1º, quanto à identidade do pedi-
do e da causa de pedir ou da defesa.
Art. 7.º Relação entre demanda coletiva e ações individuais – A demanda coletiva não
induz litispendência para as ações individuais em que sejam postulados direitos ou interesses
próprios e específicos de seus autores, mas os efeitos da coisa julgada coletiva (art. 13 deste
Código) não beneficiarão os autores das ações individuais, se não for requerida sua suspensão
no prazo de 30 (trinta) dias, a contar da ciência efetiva da demanda coletiva nos autos da ação
individual.
§ 1.º Cabe ao demandado informar o juízo da ação individual sobre a existência de demanda
coletiva que verse sobre idêntico bem jurídico, sob pena de, não o fazendo, o autor individual
beneficiar-se da coisa julgada coletiva mesmo no caso de a ação individual ser rejeitada.
§ 2.º A suspensão do processo individual perdurará até o trânsito em julgado da sentença cole-
tiva, facultado ao autor requerer a retomada do curso do processo individual, a qualquer tempo,
193
Das Acções Colectivas em Portugal
independentemente da anuência do réu, hipótese em que não poderá mais beneficiar-se da sen-
tença coletiva.
§ 3.º O Tribunal, de ofício, por iniciativa do juiz competente ou a requerimento da parte, após
instaurar, em qualquer hipótese, o contraditório, poderá determinar a suspensão de processos
individuais em que se postule a tutela de interesses ou direitos referidos a relação jurídica subs-
tancial de caráter incindível, pela sua própria natureza ou por força de lei, a cujo respeito as
questões devam ser decididas de modo uniforme e globalmente, quando houver sido ajuizada
demanda coletiva versando sobre o mesmo bem jurídico.
§ 4.º Na hipótese do parágrafo anterior, a suspensão do processo perdurará até o trânsito em
julgado da sentença coletiva, vedada ao autor a retomada do curso do processo individual
antes desse momento.
Art. 8.º Comunicação sobre processos repetitivos. O juiz, tendo conhecimento da existên-
cia de diversos processos individuais correndo contra o mesmo demandado, com identidade de
fundamento jurídico, notificará o Ministério Público e, na medida do possível, outros legitima-
dos, a fim de que proponham, querendo, demanda coletiva, ressalvada aos autores individuais
a faculdade prevista no artigo anterior.
Parágrafo único. Caso o Ministério Público não promova a demanda coletiva, no prazo de 90
(noventa) dias, o juiz, se considerar relevante a tutela coletiva, fará remessa das peças dos pro-
cessos individuais ao Conselho Superior do Ministério Público, que designará outro órgão do
Ministério Público para ajuizar a demanda coletiva, ou insistirá, motivadamente, no não ajuiza-
mento da ação, informando o juiz.
Art. 9.º Efeitos da citação –A citação válida para a demanda coletiva interrompe o prazo de
prescrição das pretensões individuais e transindividuais direta ou indiretamente relacionadas
com a controvérsia, retroagindo o efeito à data da propositura da ação.
Art. 11.º Provas – São admissíveis em juízo todos os meios de prova, desde que obtidos por
meios lícitos, incluindo a prova estatística ou por amostragem.
§ 1.º Sem prejuízo do disposto no artigo 333 do Código de Processo Civil, o ônus da prova
incumbe à parte que detiver conhecimentos técnicos ou informações específicas sobre os fatos,
ou maior facilidade em sua demonstração.
§ 2.º O ônus da prova poderá ser invertido quando, a critério do juiz, for verossímil a alega-
ção, segundo as regras ordinárias de experiência, ou quando a parte for hipossuficiente.
§ 3.º Durante a fase instrutória, surgindo modificação de fato ou de direito relevante para o jul-
gamento da causa (parágrafo único do artigo 5.º deste Código), o juiz poderá rever, em deci-
são motivada, a distribuição do ônus da prova, concedendo à parte a quem for atribuída a
incumbência prazo razoável para sua produção, observado o contraditório em relação à parte
contrária (artigo 25, parágrafo 5.º, inciso IV).
§ 4.º O juiz poderá determinar de ofício a produção de provas, observado o contraditório.
§ 5.º Para a realização de prova técnica, o juiz poderá solicitar a elaboração de laudos ou rela-
tórios a órgãos, fundações ou universidades públicas especializados na matéria.
194
Das Acções Colectivas em Portugal
Art. 12.º Motivação das decisões judiciárias. Todas as decisões deverão ser especificamen-
te fundamentadas, especialmente quanto aos conceitos jurídicos indeterminados.
Parágrafo único. Na sentença de improcedência, o juiz deverá explicitar, no dispositivo, se
rejeita a demanda por insuficiência de provas.
Art. 13.º Coisa julgada – Nas ações coletivas de que trata este código, a sentença fará coisa
julgada erga omnes, exceto se o pedido for julgado improcedente por insuficiência de provas,
hipótese em que qualquer legitimado poderá intentar outra ação, com idêntico fundamento
valendo-se de nova prova.
§ 1.º Tratando-se de interesses ou direitos individuais homogêneos (art. 3º, III, deste Código),
em caso de improcedência do pedido, os interessados poderão propor ação a título individual.
§ 2.º Os efeitos da coisa julgada nas ações em defesa de interesses ou direitos difusos ou cole-
tivos (art. 4.º, I e II, deste Código) não prejudicarão as ações de indenização por danos pesso-
almente sofridos, propostas individualmente ou na forma prevista neste Código, mas, se proce-
dente o pedido, beneficiarão as vítimas e seus sucessores, que poderão proceder à liquidação
e à execução, nos termos dos arts. 34 e 35.
§ 3.º Aplica-se o disposto no parágrafo anterior à sentença penal condenatória.
§ 4.º A competência territorial do órgão julgador não representará limitação para a coisa jul-
gada erga omnes.
§ 5.º Mesmo na hipótese de sentença de improcedência, fundada nas provas produzidas, qual-
quer legitimado poderá intentar outra ação, com idêntico fundamento, no prazo de 2 (dois)
anos contados do conhecimento geral da descoberta de prova nova, superveniente, que não
poderia ser produzida no processo, desde que idônea para mudar seu resultado.
§ 6.º A faculdade prevista no parágrafo anterior, nas mesmas condições, fica assegurada ao
demandado da ação coletiva julgada procedente.
Art. 14.º Efeitos do recurso da sentença definitiva – O recurso interposto contra a senten-
ça tem efeito meramente devolutivo, salvo quando a fundamentação for relevante e puder resul-
tar à parte lesão grave e de difícil reparação, hipótese em que o juiz, ponderando os valores em
jogo, poderá atribuir ao recurso efeito suspensivo.
Parágrafo único. As sentenças que julgam as demandas coletivas não se submetem ao reexa-
me necessário.
Art. 16.º Execução definitiva e execução provisória – A execução é definitiva quando pas-
sada em julgado a sentença; e provisória, na pendência dos recursos cabíveis.
§ 1.º A execução provisória corre por conta e risco do exeqüente, que responde pelos prejuízos
causados ao executado, em caso de reforma da sentença recorrida.
§ 2.º A execução provisória permite a prática de atos que importem em alienação do domínio
ou levantamento do depósito em dinheiro.
§ 3.º A pedido do executado, o tribunal pode suspender a execução provisória quando dela
puder resultar lesão grave e de difícil reparação.
195
Das Acções Colectivas em Portugal
Art. 17.º Custas e honorários – Nas demandas coletivas de que trata este código, a senten-
ça condenará o demandado, se vencido, nas custas, emolumentos, honorários periciais e quais-
quer outras despesas, bem como em honorários de advogados, calculados sobre a conde-
nação.
§ 1.º Tratando-se de condenação a obrigação específica ou de condenação genérica, os hono-
rários advocatícios serão fixados levando-se em consideração a vantagem para o grupo, cate-
goria ou classe, a quantidade e qualidade do trabalho desenvolvido pelo advogado e a com-
plexidade da causa.
§ 2.º O Poder Público, quando demandado e vencido, incorrerá na condenação prevista neste
artigo.
§ 3.º Se o legitimado for pessoa física, entidade sindical ou de fiscalização do exercício das pro-
fissões, associação civil ou fundação de direito privado, o juiz, sem prejuízo da verba da sucum-
bência, poderá fixar gratificação financeira, a cargo do Fundo dos Direitos Difusos e Coletivos,
quando sua atuação tiver sido relevante na condução e êxito da demanda coletiva, observados
na fixação os critérios de razoabilidade e modicidade.
§ 4.º Os autores da demanda coletiva não adiantarão custas, emolumentos, honorários peri-
ciais e quaisquer outras despesas, nem serão condenados, salvo comprovada má-fé, em hono-
rários de advogados, custas e despesas processuais.
§ 5.º O litigante de má-fé e os responsáveis pelos respectivos atos serão solidariamente con-
denados ao pagamento das despesas processuais, em honorários advocatícios e em até o décu-
plo das custas, sem prejuízo da responsabilidade por perdas e danos.
Art. 18.º Juízos especializados – Sempre que possível, as demandas coletivas de que trata este
Código serão processadas e julgadas em juízos especializados.
Parágrafo único. Quando se tratar de liquidação e execução individuais dos danos sofridos em
decorrência de violação a interesses ou direitos individuais homogêneos (artigo 34 deste
Código), a competência para a tramitação dos processos será dos juízos residuais comuns.
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Das Acções Colectivas em Portugal
Capítulo II
Da ação coletiva ativa
Seção I
Disposições gerais
Art. 19.º Cabimento da ação coletiva ativa. A ação coletiva ativa será exercida para a tute-
la dos interesses e direitos mencionados no artigo 4º deste Código.
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Das Acções Colectivas em Portugal
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Das Acções Colectivas em Portugal
§ 2.º Ajuizada a demanda perante juiz territorialmente incompetente, este remeterá incontinen-
ti os autos ao juízo do foro competente, sendo vedada ao primeiro juiz a apreciação de pedido
de antecipação de tutela.
§ 3.º No caso de danos de âmbito nacional, interestadual e regional, o juiz competente pode-
rá delegar a realização da audiência preliminar e da instrução ao juiz que ficar mais próximo
dos fatos.
§ 4.º Compete ao juiz estadual, nas comarcas que não sejam sede da Justiça federal, proces-
sar e julgar a ação coletiva nas causas de competência da Justiça federal.
Art. 23.º Inquérito civil. O Ministério Público poderá instaurar, sob sua presidência, inquérito
civil, nos termos do disposto em sua Lei Orgânica, ou requisitar, de qualquer organismo públi-
co ou particular, certidões, informações, exames ou perícias, no prazo que assinalar, o qual não
poderá ser inferior a 10 (dez) dias.
§ 1.º Aplica-se às atribuições do Ministério Público, em relação ao inquérito civil, o disposto no
parágrafo 5.º do artigo 20 deste Código.
§ 2.º Nos casos em que a lei impuser sigilo, incumbe ao Ministério Público, ao inquirido e a
seu advogado a manutenção do segredo.
§ 3.º A eficácia probante das peças informativas do inquérito civil dependerá da observância
do contraditório, ainda que diferido para momento posterior ao da sua produção;
§ 4.º Se o órgão do Ministério Público, esgotadas todas as diligências, se convencer da inexis-
tência de fundamento para a propositura de ação coletiva, promoverá o arquivamento dos
autos do inquérito civil ou das peças informativas, fazendo-o fundamentadamente.
§ 5.º Os demais legitimados (art. 20 deste Código) poderão recorrer da decisão de arquiva-
mento ao Conselho Superior do Ministério Público, conforme dispuser o seu regimento.
§ 6.º O órgão do Ministério Público que promover o arquivamento do inquérito civil ou das
peças informativas encaminhará, no prazo de 3 (três) dias, sob pena de falta grave, os respec-
tivos autos ao Conselho Superior do Ministério Público, para homologação e para as medidas
necessárias à uniformização da atuação ministerial.
§ 7.º Deixando o Conselho de homologar a promoção do arquivamento, designará, desde
logo, outro membro do Ministério Público para o ajuizamento da ação.
§ 8.º Constituem crime, punido com pena de reclusão de 1 (um) a 3 (três) anos, mais multa, a
recusa, o retardamento ou a omissão de dados técnicos ou informações, quando requisitados
pelo Ministério Público.
Art. 24.º Da instrução da inicial e do valor da causa – Para instruir a inicial, o legitimado
poderá requerer às autoridades competentes as certidões e informações que julgar necessárias.
§ 1.º As certidões e informações deverão ser fornecidas dentro de 15 (quinze) dias da entrega,
sob recibo, dos respectivos requerimentos, e só poderão ser utilizados para a instrução da ação
coletiva.
§ 2.º Somente nos casos em que a defesa da intimidade ou o interesse social, devidamente jus-
tificados, exigirem o sigilo, poderá ser negada certidão ou informação.
§ 3.º Ocorrendo a hipótese do parágrafo anterior, a ação poderá ser proposta desacompan-
hada das certidões ou informações negadas, cabendo ao juiz, após apreciar os motivos do inde-
ferimento, requisitá-las; feita a requisição, o processo correrá em segredo de justiça.
§ 4.º Na hipótese de ser incomensurável ou inestimável o valor dos danos coletivos, fica dis-
pensada a indicação do valor da causa na petição inicial, cabendo ao juiz fixá-lo em sentença.
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Das Acções Colectivas em Portugal
Art. 25.º - Audiência preliminar – Encerrada a fase postulatória, o juiz designará audiência
preliminar, à qual comparecerão as partes ou seus procuradores, habilitados a transigir.
§ 1.º O juiz ouvirá as partes sobre os motivos e fundamentos da demanda e tentará a conci-
liação, sem prejuízo de sugerir outras formas adequadas de solução do conflito, como a media-
ção, a arbitragem e a avaliação neutra de terceiro.
§ 2.º A avaliação neutra de terceiro, de confiança das partes, obtida no prazo fixado pelo juiz,
é sigilosa, inclusive para este, e não vinculante para as partes, sendo sua finalidade exclusiva a
de orientá-las na tentativa de composição amigável do conflito.
§ 3.º Preservada a indisponibilidade do bem jurídico coletivo, as partes poderão transigir sobre
o modo de cumprimento da obrigação.
§ 4.º Obtida a transação, será homologada por sentença, que constituirá título executivo judicial.
§ 5.º Não obtida a conciliação, sendo ela parcial, ou quando, por qualquer motivo, não for
adotado outro meio de solução do conflito, o juiz, fundamentadamente:
I – decidirá se a ação tem condições de prosseguir na forma coletiva, certificando-a como tal;
II – poderá separar os pedidos em ações coletivas distintas, voltadas à tutela, respectivamente,
dos interesses ou direitos difusos e coletivos, de um lado, e dos individuais homogêneos,
do outro, desde que a separação represente economia processual ou facilite a condução do
processo;
III – decidirá a respeito do litisconsórcio e da intervenção de terceiros, esta admissível até o
momento do saneamento do processo, vedada a denunciação da lide na hipótese do artigo 13,
parágrafo único, da Lei n.º 8.078, de 11 de setembro de 1990 - Código de Defesa do
Consumidor.
IV – fixará os pontos controvertidos, decidirá as questões processuais pendentes e determinará
as provas a serem produzidas, designando audiência de instrução e julgamento, se for o caso;
V – Na hipótese do inciso anterior, esclarecerá as partes sobre a distribuição do ônus da prova,
de acordo com o disposto no parágrafo 1.º do artigo 11 deste Código, e sobre a possibilida-
de de ser determinada, no momento do julgamento, sua inversão, nos termos do parágrafo 2.º
do mesmo artigo;
VI – Se não houver necessidade de audiência de instrução e julgamento, de acordo com a natu-
reza do pedido e as provas documentais juntadas pelas partes ou requisitadas pelo juiz, sobre
as quais tenha incidido o contraditório, simultâneo ou sucessivo, julgará antecipadamente a
lide.
Art. 26.º Ação reparatória – Na ação reparatória dos danos provocados ao bem indivisivel-
mente considerado, sempre que possível e independentemente de pedido do autor, a condena-
ção consistirá na prestação de obrigações específicas, destinadas à compensação do dano
sofrido pelo bem jurídico afetado, nos termos do artigo 461 e parágrafos do Código de
Processo Civil.
§ 1.º Dependendo da especificidade do bem jurídico afetado, da extensão territorial abrangida
e de outras circunstâncias consideradas relevantes, o juiz poderá especificar, em decisão fun-
damentada, as providências a serem tomadas para a reconstituição dos bens lesados, poden-
do indicar a realização de atividades tendentes a minimizar a lesão ou a evitar que se repita,
dentre outras que beneficiem o bem jurídico prejudicado;
§ 2.º Somente quando impossível a condenação no cumprimento de obrigações específicas, o
juiz condenará o réu, em decisão fundamentada, ao pagamento de indenização, independen-
temente de pedido do autor, a qual reverterá ao Fundo de Direitos Difusos e Coletivos, de natu-
reza federal ou estadual, de acordo com a Justiça competente (art. 27 deste Código).
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Das Acções Colectivas em Portugal
Art. 27.º Do Fundo dos Direitos Difusos e Coletivos. O Fundo será administrado por um
Conselho Gestor federal ou por Conselhos Gestores estaduais, dos quais participarão necessa-
riamente, em composição paritária, membros do Ministério Público e representantes da comu-
nidade, sendo seus recursos destinados à realização de atividades tendentes a minimizar as lesõ-
es ou a evitar que se repitam, dentre outras que beneficiem os bens jurídicos prejudicados, bem
como a antecipar os custos das perícias necessárias à defesa dos direitos ou interesses difusos,
coletivos e individuais homogêneos e a custear o prêmio previsto no parágrafo 3º do artigo 17.
§ 1.º Além da indenização oriunda da sentença condenatória, prevista no parágrafo 2º do arti-
go 26, e da execução pelos danos globalmente causados, de que trata o parágrafo 3º do arti-
go 36, ambos deste Código, constitui receita do Fundo, dentre outras, o produto da arrecada-
ção de multas, inclusive as decorrentes do descumprimento de compromissos de ajustamento
de conduta.
§ 2.º O representante legal do Fundo, considerado funcionário público para efeitos legais, res-
ponderá por sua atuação nas esferas administrativa, penal e civil.
§ 3.º O Fundo será notificado da propositura de toda ação coletiva e sobre as decisões mais
importantes do processo, podendo nele intervir em qualquer tempo e grau de jurisdição na fun-
ção de “amicus curiae”.
§ 4.º O Fundo manterá e divulgará registros que especifiquem a origem e a destinação dos
recursos e indicará a variedade dos bens jurídicos a serem tutelados e seu âmbito regional;
§ 5.º Semestralmente, o Fundo dará publicidade às suas demonstrações financeiras e ativida-
des desenvolvidas.
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Das Acções Colectivas em Portugal
Seção II
Da ação coletiva para a defesa de interesses ou direitos individuais homogêneos
Art. 28.º Da ação coletiva para a defesa de interesses ou direitos individuais homogê-
neos – A ação coletiva para a defesa de interesses ou direitos individuais homogêneos será
exercida para a tutela do conjunto de direitos ou interesses individuais, decorrentes de origem
comum, de que sejam titulares os membros de um grupo, categoria ou classe.
§ 1.º Para a tutela dos interesses ou direitos individuais homogêneos, além dos requisitos indi-
cados no artigo 19 deste Código, é necessária a aferição da predominância das questões
comuns sobre as individuais e da utilidade da tutela coletiva no caso concreto.
§ 2.º A determinação dos interessados poderá ocorrer no momento da liquidação ou execução
do julgado, não havendo necessidade de a petição inicial vir acompanhada da respectiva rela-
ção nominal.
Art. 29.º Ação de responsabilidade civil – Os legitimados poderão propor, em nome próprio
e no interesse das vítimas ou seus sucessores, dentre outras (artigo 2.º deste Código), ação cole-
tiva de responsabilidade pelos danos individualmente sofridos, de acordo com o disposto nos
artigos seguintes.
Art. 30.º Citação e notificações – Estando em termos a petição inicial, o juiz ordenará a cita-
ção do réu e a publicação de edital, de preferência resumido, no órgão oficial, a fim de que os
interessados possam intervir no processo como assistentes, observado o disposto no parágrafos
5.º e 6.º deste artigo.
§ 1.º Sem prejuízo da publicação do edital, o juiz determinará sejam os órgãos e entidades de
defesa dos interesses ou direitos indicados neste Código comunicados da existência da deman-
da coletiva e de seu trânsito em julgado, a serem também comunicados ao Cadastro Nacional
de Processos Coletivos
§ 2.º Concedida a tutela antecipada e sendo identificáveis os beneficiários, o juiz determinará
ao demandado que informe os interessados sobre a opção de exercerem, ou não, o direito à
fruição da medida.
§ 3.º Descumprida a determinação judicial de que trata o parágrafo anterior, o demandado
responderá, no mesmo processo, pelos prejuízos causados aos beneficiários.
§ 4.º Quando for possível a execução do julgado, ainda que provisória, o juiz determinará a
publicação de edital no órgão oficial, às expensas do demandado, impondo-lhe, também, o
dever de divulgar, pelos meios de comunicação social, nova informação, compatível com a
extensão ou gravidade do dano, observado o critério da modicidade do custo. Sem prejuízo das
referidas providências, o juízo providenciará a comunicação aos órgãos e entidades de defesa
dos interesses ou direitos indicados neste Código, bem como ao Cadastro Nacional de
Processos Coletivos.
§ 5.º A apreciação do pedido de assistência far-se-á em autos apartados, sem suspensão do
feito, recebendo o interveniente o processo no estado em que se encontre.
§ 6.º Os intervenientes não poderão discutir suas pretensões individuais na fase de conheci-
mento do processo coletivo.
Art. 31.º Efeitos da transação - As partes poderão transacionar, ressalvada aos membros do
grupo, categoria ou classe a faculdade de não aderir à transação, propondo ação a título indi-
vidual.
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Das Acções Colectivas em Portugal
Art. 32.º - Sentença condenatória – Sempre que possível, o juiz fixará na sentença o valor da
indenização individual devida a cada membro do grupo, categoria ou classe.
§ 1.º Quando o valor dos danos individuais sofridos pelos membros do grupo, categoria ou
classe for uniforme, prevalentemente uniforme ou puder ser reduzido a uma fórmula matemáti-
ca, a sentença coletiva indicará o valor ou a fórmula de cálculo da indenização individual.
§ 2.º O membro do grupo, categoria ou classe que divergir quanto ao valor da indenização
individual ou à fórmula para seu cálculo, estabelecidos na sentença coletiva, poderá propor
ação individual de liquidação.
§ 3.º Não sendo possível a prolação de sentença condenatória líquida, a condenação poderá
ser genérica, fixando a responsabilidade do demandado pelos danos causados e o dever de
indenizar.
Art. 34.º Liquidação e execução individuais. A liquidação e execução serão promovidas indi-
vidualmente pelo beneficiário ou seus sucessores, que poderão ser representados, mediante ins-
trumento de mandato, por associações, entidades sindicais ou de fiscalização do exercício das
profissões e defensorias públicas, ainda que não tenham sido autoras na fase de conhecimen-
to, observados os requisitos do artigo 20 deste Código.
§ 1.º Na liquidação da sentença caberá ao liquidante provar, tão só, o dano pessoal, o nexo
de causalidade e o montante da indenização.
§ 2.º A liquidação da sentença poderá ser dispensada quando a apuração do dano pessoal,
do nexo de causalidade e do montante da indenização depender exclusivamente de prova docu-
mental, hipótese em que o pedido de execução por quantia certa será acompanhado dos docu-
mentos comprobatórios e da memória do cálculo.
§ 3.º Os valores destinados ao pagamento das indenizações individuais serão depositados em
instituição bancária oficial, abrindo-se conta remunerada e individualizada para cada benefi-
ciário, regendo-se os respectivos saques, sem expedição de alvará, pelas normas aplicáveis aos
depósitos bancários.
§ 4.º Na hipótese de o exercício da ação coletiva ter sido contratualmente vinculado ao paga-
mento de remuneração ajustada por serviços prestados, o montante desta será deduzido dos
valores destinados ao pagamento previsto no parágrafo anterior, ficando à disposição da enti-
dade legitimada.
§ 5.º A carta de sentença para a execução provisória poderá ser extraída em nome do credor,
ainda que este não tenha integrado a lide na fase de conhecimento do processo.
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Das Acções Colectivas em Portugal
Art. 36.º Liquidação e execução pelos danos globalmente causados – Decorrido o prazo
de um ano sem habilitação de interessados em número compatível com a gravidade do dano,
poderão os legitimados do artigo 20 deste Código promover a liquidação e execução coletiva
da indenização devida pelos danos causados.
§ 1.º Na fluência do prazo previsto no caput deste artigo a prescrição não correrá.
§ 2.º O valor da indenização será fixado de acordo com o dano globalmente causado, que
poderá ser demonstrado por meio de prova pré-constituída ou, não sendo possível, mediante
liquidação.
§ 3.º O produto da indenização reverterá ao Fundo (art. 27 deste Código), que o utilizará para
finalidades conexas à proteção do grupo, categoria ou classe beneficiados pela sentença.
§ 4.º Enquanto não se consumar a prescrição da pretensão individual, fica assegurado o direi-
to de exigir o pagamento pelo Fundo, limitado o total das condenações ao valor que lhe foi
recolhido.
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Das Acções Colectivas em Portugal
Capítulo III
Da ação coletiva passiva originária
Art. 38.º Ações contra o grupo, categoria ou classe – Qualquer espécie de ação pode ser
proposta contra uma coletividade organizada, mesmo sem personalidade jurídica, desde que
apresente representatividade adequada (artigo 20, I, “a”, “b” e “c”), se trate de tutela de inte-
resses ou direitos difusos e coletivos (artigo 4.º, incisos I e II) e a tutela se revista de interesse
social.
Parágrafo único. O Ministério Público e os órgãos públicos legitimados à ação coletiva ativa
(art. 20, incisos III, IV, V e VI e VII deste Código) não poderão ser considerados representantes
adequados da coletividade, ressalvadas as entidades sindicais.
Art. 39.º Coisa julgada passiva –A coisa julgada atuará erga omnes, vinculando os membros
do grupo, categoria ou classe e aplicando-se ao caso as disposições do artigo 12 deste Código,
no que dizem respeito aos interesses ou direitos transindividuais.
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Das Acções Colectivas em Portugal
Capítulo IV
Do mandado de segurança coletivo
Art. 42.º Legitimação ativa – O mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por:
I – Ministério Público;
II – Defensoria Pública;
III – partido político com representação no Congresso Nacional;
IV – entidade sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em funciona-
mento há pelo menos um ano, em defesa dos interesses de seus membros ou associados, dis-
pensada a autorização assemblear.
Parágrafo único – O Ministério Público, se não impetrar o mandado de segurança coletivo,
atuará como fiscal da lei, em caso de interesse público ou relevante interesse social.
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Das Acções Colectivas em Portugal
Capítulo V
Das ações populares
Seção I
Da ação popular constitucional
Seção II
Ação de improbidade administrativa
Art. 45.º Disposições aplicáveis – A ação de improbidade administrativa rege-se pelas dis-
posições do Capítulo I deste Código, com exceção do disposto no artigo 5º e seu parágrafo
único, devendo o pedido e a causa de pedir ser interpretados restritivamente, e pelas disposi-
ções da Lei n. 8.429, de 2 de junho de 1992,
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Das Acções Colectivas em Portugal
Capítulo VI
Disposições finais
Art. 47.º Instalação de órgãos especializados – A União, no prazo de 180 (cento e oitenta)
dias, e os Estados criarão e instalarão órgãos especializados, em primeira e segunda instância,
para o processamento e julgamento de ações coletivas.
Art. 48.º Princípios de interpretação – Este Código será interpretado de forma aberta e flexí-
vel, compatível com a tutela coletiva dos direitos e interesses de que trata.
Art. 52.º Vigência – Este Código entrará em vigor dentro de cento e oitenta dias a contar de
sua publicação.
Dezembro de 2006.
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