Sie sind auf Seite 1von 7

RAÍZES

HISTÓRICAS
DA QUESTÃO FUNDIÁRIA NO BRASIL
Olímpio J. de Arroxelas Galvão1
Resumo explain the major determinants of the remotas da explicação tanto do su-
O artigo objetiva analisar as ori- historical backwardness of the cesso quanto do insucesso das eco-
gens mais remotas da questão fun- Brazilian economy. The study stres- nomias das nações colonizadas pe-
diária no Brasil. O argumento cen- ses that the case of Brazil offers an los europeus após os grandes des- co-
tral do estudo é o de que fatores do- ample set of evidence that show how brimentos. Mais especificamente, este
mésticos – expressos, por exemplo, the behavior or the local elites, with estudo pretende demonstrar que as
na forma como a terra foi original- respect to land distribution and raízes do atraso brasileiro podem ser
mente apropriada e no papel das eli- appropriation, exerted a strong and encontradas no enorme poder de
tes locais – constituem a base para a decisive influence in the course and suas elites agrárias, durante o regi-
explicação dos principais determi- the results of Portuguese coloniza- me colonial, e que a vasta legislação
nantes do atraso histórico da econo- tion in Brazil, in spite of the demo- portuguesa relativa ao regime de dis-
mia brasileira. O estudo ressalta que cratic nature of the Sesmarias Laws tribuição de terras era intrinseca-
o caso do Brasil oferece um amplo specifically aimed at the country. mente democrática e contrária ao la-
conjunto de evidências que mostram The work still attempts to show that tifúndio improdutivo. Como, já no
como o comportamento das elites the social and economic exclusion período colonial, a fonte do poder
locais, no que diz respeito às políti- of a vast and majority part of the no Brasil era essencialmente local,
cas de distribuição e apropriação de Brazilian population in the modern os interesses provinciais constante-
terras, influenciou decisivamente o stage of the country’s development mente se chocavam contra os do go-
curso e os resultados da coloniza- is deeply rooted in the political verno português, o qual nunca teve
ção portuguesa no Brasil, a despeito action from the local agrarian elites força suficiente para bloquear as ini-
do caráter em princípio democráti- since the colonial period. ciativas das elites agrárias brasilei-
co da legislação das sesmarias es- ras. O caso do Brasil, como será vis-
pecificamente destinadas ao país. O Key-words: Roots of the agrarian to no decorrer deste trabalho, ofere-
trabalho ainda procura mostrar que question; Local Power; Influence of the ce um amplo conjunto de evidênci-
a ação das elites agrárias brasilei- agrarian elite; Agrarian Policies in as que mostram como o comporta-
ras, no período colonial, está nas Brazil Colônia; The Sesmaria Law; mento das elites locais influenciou
origens do processo que levou à ex- Remote origins of the Brazilian Delay. significativamente o curso e os re-
clusão social de uma vasta e majori- sultados da colonização portugue-
tária parcela da população do país, 1. Introdução sa no país.
que ingressou na era moderna do Este artigo procura mostrar que o
desenvolvimento nacional na condi- crescimento econômico dos países 2.O caráter democrático das
ção de moradores e agregados à de colonização recente foi conseqü- leis das sesmarias e a inefe-
grande propriedade. ência da conjugação de uma série de tividade do poder imperial
condições internas favoráveis e que português
Palavras-chave: Raízes da questão nas origens de seu desenvolvimen- As origens do sistema de distri-
fundiária. Poder local. Poder das eli- to tais condições internas podem ter buição da terra no Brasil são encon-
tes agrárias. Políticas fundiárias no sido muito mais importantes do que tradas no regime de sesmarias da
Brasil colônia. A Lei das Sesmarias. os entraves decorrentes das políti- era colonial. É largamente aceito na
Origens remotas do atraso brasileiro. cas mercantilistas de suas “matri- literatura que a generosidade com
zes” coloniais. O argumento central que as concessões de terra realiza-
Abstract deste ensaio é o de que fatores do- das por Portugal nos mais de três
The work aims at analyzing the mésticos – expressos, por exemplo, séculos de dominação lusa, junta-
most remote origins of the land issue na forma como a terra foi original- mente com a constante preocupação
in Brazil. The central argument of the mente apropriada e no papel das eli- da Coroa portuguesa de ligar o Bra-
study is that domestic factors – tes locais – constituem as raízes mais sil às correntes do comércio interna-
expressed in terms, for example, in 1
Ph.D em Economia pela Universidade de Londres, Mestre em Economia pela Universidade de Yale. Profes-
the way land was originally distri- sor aposentado da UFPE, professor titular em tempo integral do Curso de Mestrado em Gestão Empresarial
buted and in the role played by the da Faculdade Boa Viagem, no Recife, e Pesquisador bolsista nível I do CNPq. E-mail: olimpio.galvao@uol.
local elites – constitute the basis to com.br e olimpio.galvao@pesquisador.cnpq.br.

RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO Ano VIII • Nº 14 • Julho de 2006 • Salvador, BA 5


“ ... a Lei das
Sesmarias era,
integridade para a colônia america-
na, era, em sua real essência, contrá-
ria à grande e improdutiva proprie-
dade.
gime de exploração do solo sem o domí-
nio dos grandes proprietários” (ver tam-
bém a esse respeito, Faoro (1975),
vol.1, pág. 123 e segs).
sem qualquer Concebida ao final do Século 14 Da consulta à vasta literatura do-
e inserida nos vários códigos pro- cumentada sobre a questão fundiária
ambigüidade, mulgados nos séculos seguintes (as em Portugal, pode ser extraída a con-
especificamente voltada Ordenações Reais Portuguesas: clusão de que a legislação portugue-
Afonsinas, de 1446, Manuelinas, de sa com respeito ao uso da terra era,
para evitar que 1511 e Filipinas, de 1603), a Lei das em geral, democrática tanto em seu
Sesmarias era, sem qualquer ambi- conteúdo, quanto na prática, que seu
a terra permanecesse güidade, especificamente voltada objetivo era, claramente, o de impe-
para evitar que a terra permaneces- dir a formação do latifúndio e de pro-
inculta pelo seu se inculta pelo seu proprietário – a priedades ociosas, e que tinha a in-
proprietário... não obediência a essa lei (ou seja, a tenção deliberada de estimular o de-

cional, foi responsável pela emer-


gência do processo de apropriação
” não utilização produtiva da terra)
implicando a perda da propriedade
e a sua transferência para alguém
que necessitasse do solo agrícola e
senvolvimento da agricultura, atra-
vés da promoção de uma vasta clas-
se de pequenos agricultores.
A rica legislação portuguesa que
privada de imensos tratos de solo desejasse o seu cultivo. tinha, como foi visto, plena aplica-
agrícola em terras brasileiras e, con- De acordo com Porto (op. cit), na ção na metrópole e que deveria ser-
sequentemente, pela exclusão soci- época em que as primeiras conces- vir de base para a colonização das
al de uma vasta e majoritária parce- sões de terra foram feitas no Brasil, terras brasileiras, desde muito cedo
la da população brasileira que in- “a norma romana de repulsa ao solo in- demonstrou o seu completo fracas-
gressou na era moderna do desen- culto” fornecia as bases de toda a le- so na colônia, como é largamente
volvimento nacional na condição de gislação portuguesa sobre o uso da reconhecido. Todavia é essencial
posseiros, sitiantes, moradores ou terra, de sorte que o solo sem cultura aqui assinalar, que as autoridades
agre- gados à grande propriedade. era considerado “um crime contra a portuguesas tentaram aplicar essas
Entretanto, a questão da origem coletividade, contra o bem comum, con- mesmas leis no Brasil, desde o iní-
do sistema fundiário dos tempos tra o interesse geral” (pág. 26). Nesta cio da colonização, e que esse objeti-
coloniais é muito mais complexa e mesma linha, Rodrigues (1951, pág. vo permaneceu bem vivo durante
rica do que aparenta. 82) assinala que “a lei das sesmarias todo o período colonial, como atesta
Nas obras dos muitos autores era uma instituição jurídica e econômi- uma série de iniciativas da metró-
que estudaram as origens do proble- ca contrária ao latifúndio” e Bandecchi pole – a seguir discutidas – na for-
ma fundiário no Brasil, encontram- (1963, pág. 24) afirma que as leis ma de legislações suplementares es-
se evidências bastante sólidas de que fundiárias portuguesas, fortemente pecialmente promulgadas para se-
a exclusão do pequeno agricultor e inspiradas no Direito Romano, es- rem obedecidas pelos prepostos
a implantação das imensas proprie- tabeleciam enfaticamente o princípio portugueses na colônia.
dades que vieram a dominar o cená- de que “a terra pertencia a quem a cul- Com efeito, as primeiras peças
rio rural do país, não eram objetivo tivava”. legislativas elaboradas pelo Gover-
da política de colonização, nem logo No que diz respeito ao efetivo no de Portugal para disciplinar o
após o seu início e muito menos no cumprimento das leis portuguesas, processo de distribuição das terras
curso dos séculos seguintes. Esses os autores citados e outros, afirmam no Brasil – os Decretos Reais a se-
autores fornecem evidência suficien- não ser matéria de disputa entre os rem aplicados pelos primeiros dona-
te para se concluir que o contrário, historiadores, a real eficácia das leis tários – estabeleciam muito clara-
de fato, era a verdadeira intenção da das sesmarias em Portugal. Lobo mente a intenção da Coroa portu-
vasta legislação portuguesa sobre (1969, pág. 268), por exemplo, com- guesa. Esses decretos, que envolvi-
matéria fundiária. parando a experiência do Brasil com am a concessão de imensos tratos de
Rodrigues (1951), Guimarães a de Portugal, assinala que “o Lati- terra a particulares, conferiam enor-
(1968), Cirne Lima (1954), Porto (s.d.), fúndio não foi uma característica da mes poderes políticos aos donatá-
Faoro (1975), Bandecchi (1963), metrópole, em virtude de a Lei das rios, mas não o direito à proprieda-
Lobo (1969), entre tantos autores bra- Sesmarias, de 26 de maio de 1375, re- de de todo o solo agrícola concedido
sileiros que estudaram com profun- querer o efetivo cultivo do solo pelos seus (Porto, op.cit., pág. 21; Bandecchi,
didade as origens e a evolução do proprietários”. Na mesma linha de ar- op.cit, págs. 28-29). De acordo com
sistema de concessões de terra no gumento, Diegues Jr. (1967, pág. 52) as cartas de concessão, as sesmarias
Brasil, concordam unanimemente afirma que “com raras exceções, a ati- concedidas eram divididas em duas
que a instituição jurídica das sesma- vidade agrícola na metrópole estava ba- partes: uma, que pertencia ao dona-
rias, que se originou em Portugal seada na pequena propriedade” e que tário (aproximadamente 1/5 do to-
antes de ser transplantada em sua “a divisão da terra havia criado um re- tal), sobre a qual o seu titular exerce-

6 Ano VIII • Nº 14 • Julho de 2006 • Salvador, BA RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO


ria o total domínio; e a outra – os 4/ pulado que o efetivo cultivo deveria divíduos que operavam proprieda-
5 restantes – com a clara especifica- se materializar dentro de um certo des médias e grandes (utilizando o
ção de serem distribuídas entre os período de tempo, que variou, segun- braço escravo), quer por pequenos
demais colonos (PORTO, pág. 22)2. do a época, de dois a oito anos. E, proprietários, posseiros ou sitiantes
As condições para a efetiva apli- finalmente, a terra deveria ainda ser (usando mão-de-obra familiar). Mas,
cação das leis portuguesas no Bra- concedida a todos os que a desejas- nos famosos “Diálogos da Grande-
sil, contudo, eram inteiramente dife- sem para cultivo, “independentemen- za do Brasil”, de 1618, BRANDÃO
rentes das que prevaleciam em Por- te da qualidade e condição” do deman- já inquiria porque “havia tanta cares-
tugal. O enorme tamanho do país e dante. tia” em meio “à grande fertilidade e
a urgência do povoamento da colô- O precoce sucesso da economia abundância [de terras]” (Brandão, pág.
nia – necessária para evitar a sua de plantation na costa brasileira ain- 52 e pág. 328)4 – uma clara indica-
perda para outras potências estran- da na primeira metade do século XVI ção, ao que parece, de que um pro-
geiras – aliados à escassez da popu- – seguido, não muito depois, pela cesso de concentração da terra esta-
lação da metrópole e à relativa po- emergência da atividade criatória va se desenvolvendo com toda a for-
breza do Estado Português, impeli- nos sertões – desde muito cedo ge- ça, já antes de terminado o primeiro
ram a Coroa a tomar consciência de rou uma profunda divisão social na século da colonização.
que somente oferecendo vantagens colônia, criando uma classe de pou- Com efeito, é possível encontrar-
especiais poderia a colonização ser cos mas poderosos latifundiários e se evidência suficiente de que a mo-
agilizada e ter-se garantida a ocu- um vasto número de anônimos colo- nopolização da terra via expropria-
pação do Brasil. Não é de surpreen- nos, dedicados à produção de ali- ção de pequenos colonos – possei-
der, portanto, que os primeiros go- mentos e ao pequeno criatório, seja ros, sitiantes, etc. – começou em da-
vernadores gerais da colônia tenham para subsistência ou para fins co- tas muito remotas no Brasil, e que a
recebido a incumbência específica de merciais. colônia – que tinha ao final do seu
arregimentar “homens de cabedal para Nos primeiros anos da coloniza- segundo século de existência não
estabelecerem engenhos de açúcar e qual- ção, as poucas evidências parecem mais que uns poucos milhares de
quer outra indústria” na colônia 3. sugerir a não ocorrência de graves habitantes de origem européia5 – es-
O resultado dessa preocupação problemas fundiários em decorrên- tava experimentando o problema da
portuguesa de ocupar a colônia foi cia do padrão de apropriação da ter- escassez de terra e alguma espécie
a de tornar o governo luso muito ge- ra que ia tomando curso no Brasil. de pressão demográfica já desde os
neroso com respeito à concessão de Embora a documentação para este primeiros anos de sua vida econô-
terras, pela óbvia razão de que ape- período histórico seja bastante escas- mica.
nas mediante o oferecimento de subs- sa, há autores que assinalam “que Documentação encontrada em
tanciais vantagens poderiam ricos havia abundância de alimentos e que não fontes contemporâneas fornece evi-
empreendedores portugueses se sen- se verificava qualquer espécie de escas- dências, datadas ainda do século
tir motivados a se deslocarem para sez [na oferta de alimentos] nos primei- XVII, da existência de reclamações
o Brasil e embarcarem, quase às suas ros anos da colonização no Brasil” às autoridades coloniais no Brasil e
próprias expensas, em caras e arris- (LINHARES, 1979, pág. 33). Outro em Portugal, com respeito ao fato de
cadas operações. Data, também des- autor, em seu prefácio a um livro ori- que muitos colonos estavam sendo
ta época, a autorização da Coroa ginalmente publicado no início dos deixados sem qualquer pedaço de
para a introdução da escravidão na 1600s, sugere que a produção de ali- terra para cultivarem ou para im-
colônia, seja através do aprisiona- mentos era uma atividade bastante plantarem pequenas criações de ani-
mento do ameríndio, seja pela impor- lucrativa no início da época coloni- mais, porque alguns indivíduos ha-
tação do negro africano. al (CAPISTRANO DE ABREU, 1968, viam recebido, ou apropriado à for-
Mas, deve ser bem enfatizado que, pág. 27), quer fosse praticada por in- ça, terras em quantidades muito
embora estivesse sendo aberta uma
larga avenida para a introdução do
2
latifúndio no Brasil, o critério oficial A famosa Carta de Concessão a Duarte Coelho, por exemplo, datada de 1530 e referente à Capitania de
de distribuição de terras, sob o novo Pernambuco (todas as demais tinham o mesmo conteúdo), estabelecia explicitamente que as terras deviam
ser dadas e concedidas “a quaisquer pessoas de qualquer qualidade e condição que sejam, conquanto
regime dos Governadores Gerais, que sejam cristãos, livremente, sem foro nem direito algum, somente o dízimo que serão obrigados a
não sofreu nenhuma mudança nos pagarem” à Igreja [e este apenas sobre o produto da terra] (...) e que “as sesmarias” [deveriam ser
seus princípios básicos. A terra de- doadas] na forma e maneira que se contém em minhas Ordenações”, ou seja, aquelas que vigiam em
veria continuar sendo concedida Portugal. Cf. Cartas de Concessão a D. Coelho e a M.A. de Sousa - reproduzidas em Porto (op.cit., pág
.149) e Bandecchi (op.cit, págs. 29-30), respectivamente.
apenas em quantidades que poderi- 3
am ser exploradas produtivamente Cf. Regimento de Tomé de Sousa, primeiro Governador Geral do Brasil, de 1549, reproduzido em diversos
trabalhos de historiadores brasileiros.
pelo beneficiário, e continuava ain- 4
A resposta de Brandão, todavia, foi a de que a escassez e a carestia na colônia se deviam à “negligência
da prevalecendo o princípio do efe- comum e pouca indústria dos seus povoadores” (pág.328).
tivo cultivo como condição essenci- 5
A população branca no Brasil, ao final do século XVII, é estimada em aproximadamente 100 mil, de um total
al para a confirmação do direito à de 300 mil habitantes, incluindo nesta cifra os escravos indígenas e africanos, e os mestiços livres. Cf.
propriedade. Além do mais, foi esti- Furtado (1963, pág. 81).

RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO Ano VIII • Nº 14 • Julho de 2006 • Salvador, BA 7


maiores do que a sua efetiva capaci- históricos no Brasil, documentam as mar”, e nele, segundo Boxer, “o Rei
dade de cultivo6. constantes e reiteradas tentativas do ordenava que o Governador Geral inves-
Ocorre que, no curso dos primei- governo português, para remediar a tigasse cuidadosamente o assunto e to-
ros dois séculos de colonização, questão fundiária na colônia. masse medidas enérgicas contra magna-
aqueles que haviam recebido doação Uns poucos exemplos dessas ten- tas da terra que fossem considerados cul-
de grandes sesmarias começaram a tativas são descritos a seguir. pados de tais práticas, forçando-os a res-
adicionar mais terras às suas pro- Em 1682, um Edito Real foi pro- tituírem toda e qualquer terra ilegalmente
priedades – tanto por meios legais, mulgado, conferindo poderes ao adquirida” (pág. 229).
quanto ilegais, especialmente por Governador da Bahia para tomar de Assim, evidências tanto da de-
esta última forma. Este fato veio a volta as propriedades de sesmeiros terminação da Coroa portuguesa em
dar origem, num curto espaço de que haviam descumprido a obriga- impor a sua vontade em questões
tempo, à formação de uma “aristo- ção de cultivar as terras recebidas, e relativas ao uso e distribuição da ter-
cracia” de invasores de terra, cons- ordenava que este as concedesse a ra, quanto da ineficácia de suas
tituída de plantadores de produtos quem desejasse cultivá-las, dando- ações, podem ser extraídas da vasta
de exportação e de pecuaristas – que se preferência aos colonos que já re- e ao mesmo tempo vã, legislação so-
passaram, pouco a pouco, a exercer sidiam na Capitania (GUIMARÃES, bre o sistema sesmarial no Brasil,
influência decisiva nos negócios in- 1968, pág. 54). Um decreto Real de que se estende desde praticamente o
ternos da colônia. 1695, objetivando restringir o tama- início da colonização até as primei-
Porto, dentre vários outros auto- nho das novas sesmarias a serem ras décadas do século XIX.7
res, assinala que são encontrados concedidas, estipulava 5 léguas Vários autores fazem detalhado
registros de sérias disputas fundiá- como a máxima dimensão que uma relato de inúmeras outras tentativas
rias entre sesmeiros e posseiros no sesmaria poderia alcançar. Dois do governo português, ao longo aos
Brasil, ainda no transcorrer do Sé- anos depois, outro decreto restrin- século XVIII e XIX, de interferir na
culo XVII (pág. 71). Tais disputas, gia esta área para apenas 3 léguas, questão fundiária da Colônia. Rodri-
explica Porto, resultavam do siste- um outro, logo a seguir, a reduzia gues (1951, pág. 79), dá ênfase a um
ma de distribuição de terras que veio para 2 léguas e, mais adiante, ou- decreto Real de 1711, e às Provisões
a prevalecer na colônia, através do tros decretos ordenavam reduções de 1727 e 1743, assinalando que “o
qual não apenas a Coroa portugue- ainda maiores, para uma légua e espírito dos editos era o mesmo: a idéia
sa tinha o poder de conceder sesma- para meia légua, em alguns casos de colocar em cultivo o solo não cultiva-
rias, mas também diversas autorida- (PORTO, op. cit. pág. 74). Em 1699, do, re-dividir a grande propriedade e
des coloniais que residiam no Bra- um novo decreto “ameaçava os lati- favorecer a agricultura”. Na mesma
sil, desde os Governadores Gerais até fundiários de expropriação das terras que linha, Porto (op.cit. pág.98), cita um
mesmo meros funcionários provin- eles não podiam ou não queriam culti- edito Real de 1753, que determinava
ciais. Desta forma, como as autori- var, em favor de outras pessoas que po- que “se desse preferência aos que tive-
dades coloniais no Brasil eram for- deriam ou queriam cultivá-las” e, nas rem roteado e cultivado os sítios, mesmo
temente sujeitas à influência das eli- suas justificativas assinalava que uma em se tratando de rendeiros, pelo princí-
tes locais, excessos na distribuição das razões principais pelas quais os pio de que as sesmarias foram dadas
de terra tornaram-se muito cedo prá- sertões do Brasil não eram adequa- para exploração e não para se darem de
tica comum na colônia. damente povoados e cultivados, de- renda”. Uma menção final deve ser
É interessante assinalar que as corria da “voracidade dos grandes se- feita ao Edito Real de 1795, que é
inúmeras queixas e reclamações nhores de terra” (BOXER, 1962, pág. considerado, dentre a vasta legisla-
acerca dos abusos cometidos, sejam 228). Um outro Edito Real, também ção portuguesa especificamente diri-
por antigos beneficiários de sesma- datado de 1699 e citado por Boxer gida ao Brasil, como talvez a mais
rias, sejam pelos agentes reais na (op. cit., pág. 229), fazia menção “a completa e minuciosa Lei de Sesma-
colônia, provocaram uma pronta poderosos indivíduos nos sertões opri- rias do período colonial. Este edito
reação do governo português, atra- mindo os pobres e os humildes, que se estabelecia que “os governadores não
vés de uma série de medidas volta- sentiam temerosos até de ousarem recla- deverão conceder, principalmente em
das para coibir as arbitrariedades da
política de concessão de terras e para 6
Cf. Livro das Terras, 1860, de Vasconcelos, J.M.P., que reproduz documentos históricos dos arquivos do
impedir os excessos de poder dos Governo da Bahia e dos arquivos da Fazenda Portuguesa. Apud Guimarães (1968, págs. 53-54; e Leite
grandes latifundiários brasileiros. A (1963, págs. 33-35).
7
literatura histórica disponível ofere- É interessante ressaltar que, logo após a Independência, o Imperador Pedro I suspendeu o regime de
concessão de sesmarias, sob a alegação de que, com o seu ato, o Brasil poderia praticar uma nova
ce bastantes evidências a respeito política de distribuição de terras capaz de estimular a imigração e facilitar o processo de conversão do
dessa questão. país de uma economia baseada na escravidão para outra centrada na mão-de-obra livre. Alguns anos
Um vasto número de editos, de- depois, o Imperador Pedro II fazia candentes apelos ao Parlamento para que fosse aprovada uma lei
cretos, instruções, provisões, regula- justa e democrática de distribuição de terras. Todavia, depois de muitas discussões, a nova Lei da Terra
finalmente aprovada pelo Congresso brasileiro, no ano de 1850,teve um caráter extremamente conser-
mentos e outros instrumentos legais vador, legitimando todas as terras ocupadas, legal ou ilegalmente pelos grandes fazendeiros e elimi-
da época, originários de Portugal e nando, na prática, qualquer possibilidade de legalização, titularização e aquisição de lotes ocupados
que estão disponíveis nos arquivos por pequenos posseiros ou moradores (BROWNE, 1972, pág.222 e segs.)

8 Ano VIII • Nº 14 • Julho de 2006 • Salvador, BA RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO



áreas próximas às capitais ou das mar- mica e política. Uma melhor distri-
gens de estradas e de rios navegáveis, buição das terras servia aos interes-
... a terra se tornou
mais do que meia légua de terra, para ses da Coroa portuguesa de várias e a fonte por excelência de
que a igualdade possa prevalecer entre simultâneas maneiras. Primeiro,
todos os moradores” (apud Rodrigues, porque facilitaria a ocupação e o renda, de riqueza, de
op. cit., pág. 80). Esta mesma lei proi- povoamento de um vasto território
bia, ademais, a concessão de mais que era objeto de disputa por outras prestígio e, acima de
de uma sesmaria para cada pessoa, nações européias, as quais, insisten-
tudo, de poder...

justificando-se tal proibição sob o ar- temente, invocavam o princípio da
gumento de que “ninguém deveria re- efetiva ocupação (a lei internacional
ceber mais terra do que poderia ser ca- do Uti Possidetis, vigente na Europa mente pela expansão da oferta de
paz de cultivar por si mesmo ou com logo após os grandes descobrimen- gêneros alimentícios e pela diversi-
ajuda de escravos”, e reiterava, mais tos) como a única forma de um país ficação da economia – demandava,
uma vez, o princípio da devolução, poder reclamar o direito à posse das por razões óbvias, uma melhor dis-
no caso de verificada a impossibili- novas terras descobertas. Segundo, tribuição das sesmarias, e aqui é
dade de cultivo (idem, pág. 80). O porque ajudaria a resolver o impor- possível localizar uma primeira fon-
conteúdo “revolucionário” deste tante problema da oferta de alimen- te de explicação das tentativas por-
edito Real era tão forte que, mesmo tos na colônia – um problema que tuguesas de frear a contínua expan-
diante da tradição de não obediên- Portugal não poderia resolver sozi- são do latifúndio.
cia às leis portuguesas no Brasil, nho, dadas às limitações de sua pró- Essas tentativas, contudo, desde
desta vez as elites locais formalmen- pria economia. Vale a este respeito muito cedo geraram um grave con-
te se opuseram à Coroa portuguesa, assinalar que, como as grandes plan- flito de interesses entre o governo
obrigando o Rei a revogar o edito tations e as fazendas pecuárias, quan- português e as elites proprietárias da
cerca de um ano após a sua promul- do muito cuidavam de suas próprias colônia, porque estas últimas pas-
gação (ibidem, pág. 80). necessidades, a escassez de gêneros saram a ver, na aplicação das leis de
É desnecessário multiplicar, aqui, alimentícios alcançava, com muita sesmarias, uma limitação ao seu di-
as evidências referentes às disputas freqüência, um estado de calamida- reito de propriedade e uma séria
entre colonos pobres e ricos proprie- de pública nas vilas e cidades brasi- ameaça ao monopólio da terra.
tários, às inumeráveis demandas de leiras, criando sérios embaraços para Como muito cedo no Brasil, a ter-
residentes contra a expropriação de a administração portuguesa. Além ra se tornou a fonte por excelência
suas terras, e à abundante legisla- do mais, como a escassez de alimen- de renda, de riqueza, de prestígio e,
ção portuguesa voltada para frear o tos constituía, em si mesma, um obs- acima de tudo, de poder, a reação dos
processo de monopolização da ter- táculo à política de povoamento e de grandes proprietários de terra foi a
ra na era colonial. As evidências já penetração do interior, a monopoli- de desenvolver uma crescente auto-
assinaladas são suficientes para se zação da terra veio a ser vista, aos nomia vis-à-vis a metrópole, como
concluir que o padrão de uso e dis- olhos de Portugal, como claramente forma de resistência ao cumprimen-
tribuição da terra, que o Brasil her- danosa aos interesses imperiais. Uma to de uma legislação fundiária que,
dou sob o domínio português, foi outra importante razão que levou o se favorecia aos interesses imperiais,
certamente derivado do sistema de governo português a desejar uma claramente não atendia aos das eli-
sesmarias, mas não da vontade e das melhor distribuição das terras foi a tes agrárias da colônia.
legislações portuguesas – desde as própria necessidade que Portugal Não é de estranhar, portanto, que
primeiras cartas de concessão, até as sentiu de promover a diversificação desde também muito cedo o governo
sucessivas e reiteradas peças legisla- da base econômica da colônia. O português tenha se dado conta de
tivas promulgadas para o Brasil du- declínio da atividade açucareira, já que o excessivo poder das elites ru-
rante mais de três séculos de jugo co- na primeira metade dos 1600s e, no rais brasileiras constituía formidá-
lonial. Ao contrário, todas as evidên- século seguinte, o da mineração, re- vel obstáculo à consecução de vári-
cias sugerem que o regime fundiário presentaram duros golpes para o Te- os objetivos da metrópole8. E aqui é
que efetivamente veio a prevalecer na souro português, de modo que a bus- encontrado outro motivo que estava
colônia foi, de forma essencial, o re- ca de outras alternativas produtivas por trás das tentativas portuguesas
sultado do poder e da influência das na colônia se tornava uma questão de promover uma melhor distribui-
elites rurais brasileiras. de vital importância para uma me- ção das terras no Brasil, através do
É importante assinalar que as trópole que se via num processo apelo ao cumprimento da lei das
tentativas de Portugal de corrigir e inexorável de empobrecimento. sesmarias: como esta lei continha,
redirecionar seja a sua política de A consecução dos objetivos da como principal provisão, a devolu-
concessão de terras, seja, principal- Coroa – que passavam necessaria- ção à Coroa de todas as terras con-
mente, a de seus agentes na colônia,
não resultou de qualquer magnani- 8
Faoro assinala que o indígena, o estrangeiro e o senhor de terras eram os três grandes inimigos do
midade do governo português, mas reino português e afirma que o último era, de todos, o maior inimigo das autoridades coloniais (FAORO,
de sólidas razões de ordem econô- 1975, vol. 1, pág.123 e págs.143-8).

RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO Ano VIII • Nº 14 • Julho de 2006 • Salvador, BA 9



condicionantes locais deixaram mar- seado na propriedade da terra, a Co-
... a autonomia dos ca profunda nos rumos do desenvol- roa portuguesa e suas altas autori-
senhores de terra sobre- vimento do país, de tal sorte que é dades na colônia puderam ser cons-
possível concluir que forças domés- tantemente e eficazmente desafiadas
viveu a todas as ticas, talvez mais que externas, ope- pelas elites políticas locais (que in-
raram como fatores determinantes do cluíam as cooptadas autoridades
tentativas portuguesas atraso do Brasil colonial, influenci- portuguesas de escalões inferiores),
ando, redirecionando e alterando o alcançando-se uma situação em que
de centralização...

cedidas mas não cultivadas, a sua


aplicação claramente exerceria o efei-
” curso e os resultados da colonização.
Comparado ao Brasil, Portugal
era uma pequena e decadente potên-
cia imperialista. Em nível mundial,
as políticas portuguesas para a co-
lônia tinham remotíssimas chances
de sucesso se não contassem com o
decidido apoio das elites rurais bra-
to de enfraquecer o poder dos senho- esse país se apresentava como um sileiras ou se conflitassem com os
res de terra e, consequentemente, a império em franco e inexorável interesses dessas mesmas elites.
sua autonomia perante as autorida- declínio. A colônia, ao contrário, A experiência brasileira apresen-
des coloniais9. devido às suas dimensões e poten- ta inúmeras evidências de que ten-
Mas a autonomia dos senhores cialidades, tornou-se, desde cedo, dia sempre ao fracasso a implemen-
de terra sobreviveu a todas as tenta- uma das principais fontes externas tação de qualquer iniciativa da Co-
tivas portuguesas de centralização. de sustentação econômica de uma roa que fosse vista como danosa aos
Na verdade, aumentaram, com o metrópole empobrecida. Todavia, interesses das elites locais. Este foi o
tempo, o poder político e a autono- por ter desenvolvido uma economia caso, por exemplo, de uma série de
mia das elites proprietárias brasilei- quase exclusivamente de base lati- medidas na área econômica que,
ras, em larga medida por conta do fundiária, os negócios internos da embora ditadas por interesses impe-
fato de que enquanto a base econô- colônia passaram a ser crescente- riais, mesmo assim teriam produzi-
mica do Brasil se expandia, a de Por- mente controlados por uma aristo- do implicações positivas para o de-
tugal declinava, no que resultava o cracia de grandes proprietários, que senvolvimento da colônia, tais como
enfraquecimento do poder metropo- monopolizaram muito precocemen- a obrigatoriedade da construção de
litano sobre a sua vasta e relativa- te vastas extensões de terras produ- estradas contida nas cláusulas de
mente próspera colônia. Além do tivas, impediram a diversificação da doação de terras, os apelos à produ-
mais, deve ser assinalado que as agricultura e bloquearam a emergên- ção de alimentos, os incentivos à di-
políticas portuguesas no Brasil cia de uma classe de pequenos e versificação de culturas, as tentati-
eram, não raro, ambíguas e contra- médios agricultores, os quais, em vas de melhorar a distribuição das
ditórias. Se Portugal tomava, de um outros países de colonização recen- terras e a promoção da imigração de
lado, medidas às vezes drásticas te, contribuíram decisivamente para pequenos colonos, além de várias
para frear o poder dos latifundiários, dar origem, em fase posterior, a um outras iniciativas que poderiam ter
de outro, não poderia ir muito longe desenvolvimento capitalista mais resultado em melhorias tecnológicas
na sua oposição aos interesses das democrático e avançado, tanto polí- tanto na agricultura, quanto nas ati-
elites rurais, já que o governo luso tica quanto economicamente. vidades da mineração – as quais,
dependia dessa mesma classe para Em virtude do fato de a principal eventualmente, poderiam ter propi-
a realização da relação colonial – ou fonte de poder, ao longo de todo o ciado o desenvolvimento de uma
seja, para que fosse implementado o período colonial, ter tido origem lo- embrionária produção manufaturei-
mecanismo de transferência de re- cal ou no máximo provincial, e ba- ra ainda na época colonial11.
cursos da colônia para a metrópole.
9
E, por fim, vale ressaltar que as au- O cumprimento da lei das sesmarias foi apenas uma das várias maneiras pelas quais o governo português
toridades portuguesas no Brasil ge- tentou resistir ao poder das elites agrárias brasileiras. Um conjunto de outras iniciativas podem ser citadas,
tanto compreendendo medidas diretamente destinadas a aumentar o controle da administração portugue-
ralmente se aliavam às poderosas sa sobre os negócios internos da colônia, quanto através de medidas indiretas, voltadas para o estímulo
elites locais, ambas, muito frequen- à formação de novos grupos sociais, de modo a tornar mais difusas as fontes de poder na sociedade
temente, até mesmo se contrapondo colonial. O alargamento da burocracia do Estado, a fundação de vilas e cidades (criando-se, assim, uma
à causa real – especialmente em as- base urbana na colônia para servir de contrapeso ao poder das elites rurais), a instalação de câmaras
municipais, as constantes substituições dos quadros dirigentes na colônia por novos funcionários mais
suntos relativos ao uso e distribui-
leais à Coroa, o ostensivo apoio à classe dos comerciantes e mercadores, e as inúmeras tentativas de
ção da terra10. promover a imigração de colonos açorianos para o Brasil - são ilustrações de algumas das iniciativas do
governo português dirigidas ao aumento dos poderes centralizadores da metrópole (para uma discussão
3. Conclusões das tentativas portuguesas de aumentar o seu poder político na colônia vis-à-vis as elites locais, ver, por
exemplo, Boxer (1962), Faoro (1975), Queiroz (1976), Guimarães (1968) e Roett (1984). No que se refere
Os fatos e argumentos aqui apre-
às iniciativas do governo português de fomentar a imigração de pequenos colonos durante o período
sentados enfatizaram a enorme im- colonial, ver particularmente Browne (1972).
portância de fatores internos na for- 10
Há uma vasta literatura disponível que enfatiza e documenta a autonomia que as elites rurais brasilei-
mação social do Brasil colônia. No ras gozavam durante a época colonial. Ver particularmente os trabalhos de Guimarães (1968), Queiroz
curso dos três séculos e duas déca- (1976), Linhares (1979), Faoro (1975), Boxer (1962), Roett (1984) e Prado Jr. (1979).
11
das do domínio colonial português, Novais (1979) descreve, com detalhes, o vasto número de iniciativas do governo português neste sentido.

10 Ano VIII • Nº 14 • Julho de 2006 • Salvador, BA RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO


Na mesma linha de raciocínio, BROWNE, G.P. Government Immigration LINHARES, M.Y.Leite. História do Abas-
também foi o caso de um amplo es- Policy in Imperial Brazil. 1822-1870. Dis- tecimento – Uma Problemática em Ques-
pectro de medidas proibitórias – sertação Doutoral, The Catholic Uni- tão (1530-1918). Binagri Edições, Minis-
versity of America, 1972. tério da Agricultura, Brasília, 1979.
dentre as quais se destacam, especi-
almente, o famoso Edito Real de 1785 CAPISTRANO DE ABREU, J. “Introdu- LOBO, E.M.Lahmeyer. “Conflict and
ção”. In Brandão, A.F.: Diálogos das Gran- Continuity in Brazilian History”. In
proibindo a produção de tecidos, e
dezas do Brasil. Tecnoprint Gráfica S.A., Keith, H.H. e Edwards, S.F. (Eds.):
os esforços para a eliminação do Conflict and Continuity in Brazilian
Rio de Janeiro, 1968.
contrabando na colônia, que tantos Society. The University of South Caro-
prejuízos causavam ao erário impe- CIRNE LIMA, R. Pequena História Terri- lina Press, 1969.
rial – que as autoridades portugue- torial do Brasil. Ed. Sulina, 2ª edição,
Porto Alegre, 1954. NOVAIS, F.A. Portugal e Brasil na Crise
sas não tiveram poder suficiente do Antigo Sistema Colonial, 1777-1808. Ed.
para efetivá-las12. DIEGUES JR. M. Estabelecimientos Rurales Hucitec, São Paulo, 1979.
De todo o exposto, é possível con- en America Latina. Editorial Universita-
Estrutura e Dinâmica do Antigo Sistema
cluir, então, que a efetiva capacida- ria de Buenos Aires, B. Aires, 1967. Colonial – Séculos XVI-XVIII. Cadernos
de que Portugal teve de bloquear o FAORO, R. Os Donos do Poder – Forma- CEBRAP, nº 17, São Paulo, 1974.
desenvolvimento da colônia foi mui- ção do Patronato Político Brasileiro. PORTO, C. O Sistema Sesmarial no Brasil.
to menor do que se costuma acredi- Ed. Globo/Ed. da Universidade de São Ed. Universidade de Brasília, Brasília, (s.d.).
tar, e que, de fato, o verdadeiro po- Paulo, 2ª edição revista e aumentada, 2
vols., São Paulo, 1975. PRADO JR., C. The Colonial Background
der de obstrução do desenvolvimen- of Modern Brazil. University of Cali-
to do Brasil colonial resultou do com- FURTADO, C. The Economic Growth of fornia Press, Berkeley, 1971.
portamento das elites rurais brasi- Brazil – a Survey from Colonial to
Modern Times. University of Califor- QUEIROZ, M.I. Pereira de. O Mando-
leiras – estas sim, na realidade, os nismo Local na Vida Política Brasileira e
nia Press, Berkeley, 1963.
grandes e poderosos agentes políti- Outros Ensaios. Ed. Alfa-Omega, São
cos na colônia. GALVÃO, O. J. de A. Regional Develop- Paulo, 1976.
O regime de monopolização da ment in Brazil: A Study of Economic RODRIGUES, J.H. “A Concessão de
Integration in an Unevenly Developed Terras no Brasil – Das Sesmarias à Lei
terra e outras características perver-
Country. Dissertação Doutoral, Uni- 601 de 1850”. In Rodrigues, J.H.: Notícia
sas do sistema de uso do solo que a versidade de Londres, 1988. de Vária História, Livraria São José, Rio
colônia herdou na época da inde- de Janeiro, 1951.
GUIMARÃES, A.P. Quatro Séculos de La-
pendência – e que ainda se preser-
tifúndio. Editora Paz e Terra, Ed. revis- Notícia de Vária História, Livraria São
varam no Brasil moderno – expli- ta, Rio de Janeiro, 1968. José, Rio de Janeiro, 1951.
cam, sem dúvida, mais do que qual-
quer outro fator externo, o lento de- LEITE, A.C.T. Gênese Sócio-econômica do ROETT, R. Brazil: Politics in a Patrimonial
Brasil. Livraria Sulina, Porto Alegre, Society. Praeger Publishers, 3ª edição,
senvolvimento do mercado interno,
1963. 1984.
o retardamento da industrialização
e a ausência de uma rede inter-regi-
onal eficiente de transportes (ferro-
vias, principalmente) – todos esses
fatores constituindo, na verdade, os
grandes obstáculos para que o Bra-
sil emergisse, no século XXI, como
uma nação desenvolvida e com pa-
drões de distribuição de renda soci-
almente aceitáveis.
Departamento de Ciências Sociais Aplicadas
Referências bibliográficas
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO
EM DESENVOLVIMENTO REGIONAL E URBANO
BANDECCHI, B. Origem do Latifúndio
no Brasil. Ed. Fulgor, São Paulo, 1963.
BOXER, C.R. The Golden Age of Brazil.
1695-1750 – Growing Pains of a Colo-
nial Society. University of California
Press, Berkeley, 1962.
BRANDÃO, A.F. Diálogos das Grandezas
do Brasil (1618). Tecnoprint Gráfica S.A.,
Rio de Janeiro, 1968.

12
Uma análise detalhada da ineficácia dessas e ou-
tras tantas medidas proibitórias encontra-se em
Galvão (1988).

RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO Ano VIII • Nº 14 • Julho de 2006 • Salvador, BA 11

Das könnte Ihnen auch gefallen