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O uso de substâncias

psicoativas no Brasil

Sistema para detecção do


Uso abusivo e dependência de substâncias
Psicoativas:
Encaminhamento, intervenção breve,
Reinserção social e
Acompanhamento
Módulo 1
O USO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS
NO BRASIL

São Paulo
2018
ATENÇÃO!!
Crédito institucional, ficha catalográfica e ISBN em processo de registro
na Biblioteca Nacional. A data de liberação do arquivo final será avisada
pelo seu tutor.
USO DE SUBSTÂNCIAS
PSICOATIVAS NO
BRASIL

INTRODUÇÃO

A história da presença das bebidas alcoólicas e de outras


substâncias psicoativas na cultura brasileira foi influenciada tanto
pelos hábitos e crenças da população nativa como pelos de nossos
colonizadores. A compreensão dessa história é de extrema impor-
tância para que se entenda a origem de estigmas moralistas e outras
ideias equivocadas relacionadas à utilização do álcool e de outras
drogas. Isto é fundamental para que ações adequadas de prevenção,
detecção precoce, intervenções breves e tratamento dos usuários
sejam implementadas.
Para embasar sua reflexão sobre o tema, você lerá textos e
será convidado a ver filmes, ler livros e principalmente a discutir com
seus colegas e tutores temas como a estigmatização dos usuários, que
frequentemente os impede de procurar ajuda para lidar com os pro-
blemas associados ao uso de álcool e outras drogas. Você verá que nas
diferentes fases da vida, bem como em distintos grupos populacionais,
encontramos fatores que podem aumentar o risco de desenvolvimen-
to destes problemas. Você aprenderá a reconhecer a influência dos di-
ferentes fatores, um aspecto fundamental para desenvolver melhores
estratégias para a mudança de hábitos de consumo.
É de grande importância também que pessoas como você, que
lidam diariamente com estes problemas saibam quais são as drogas
mais frequentemente utilizadas pelos diferentes grupos da população
e em que circunstâncias. Apenas por meio de dados estatísticos popula-
cionais confiáveis pode-se avaliar o uso de drogas em uma determinada
população e planejar a implantação de políticas públicas adequadas.

Objetivos de ensino

Ao final do Módulo, você será capaz de:

99 Reconhecer os principais fatores culturais que influenciam


o consumo de álcool e de outras drogas no Brasil;

99 Conceituar o que é estigma, quais os fatores que


contribuem para o seu aparecimento e manutenção e
o que pode ser feito para reduzi-lo;

99 Reconhecer a necessidade de atendimento dos


usuários de substâncias psicoativas em serviços não
especializados como um meio de desestigmatização;

99 Conhecer os principais fatores de vulnerabilidade ao


uso de substâncias em diferentes faixas etárias (em
especial adolescentes e idosos) na população indígena;

99 Identificar as principais fontes de dados disponíveis


para auxiliar no diagnóstico do uso de drogas na região
em que atua;

99 Conhecer os principais dados sobre a prevalência do


uso, abuso e dependência das drogas mais utilizadas no
país entre os diferentes grupos populacionais e regiões;
CAPÍTULOS

1. A presença das bebidas alcoólicas e outras substâncias


psicotrópicas na cultura brasileira
2. A estigmatização associada ao uso de substâncias como
obstáculo à detecção, prevenção e tratamento
3. Fatores de risco e proteção em diferentes grupos de
usuários: adolescentes, idosos, mulheres e indígenas
4. Epidemiologia do uso de substâncias psicoativas no Brasil:
peculiaridades regionais e populações específicas
Capítulo 1

A presença das bebidas


alcoólicas e outras substâncias
psicotrópicas na cultura brasileira

Tarcisio Matos de Andrade


Carlos Geraldo D’Andrea (Gey) Espinheira (In memoriam)
Ana Regina Noto
Tópicos
A história do álcool 10

Embriaguez e alcoolismo 13

Maconha, inalantes e crack/cocaína e outras drogas 16

O uso de drogas na forma de automedicação 21

Bibliografia 22

Sobre os autores 25
oBJETIVOS
99 Adquirir noções básicas sobre os contextos
culturais nos quais o álcool e outras drogas têm sido
consumidos no decorrer da história;

99 Identificar as diferenças entre as drogas (substâncias)


e suas propriedades farmacológicas (estimulantes,
depressoras ou perturbadoras) e compreender que
os efeitos de uma droga dependem da interação de
três elementos: a substância, o indivíduo e o contexto/
cultura;

99 Aprender a utilizar termos corretos para evitar a


estigmatização dos usuários;

99 Conhecer o papel da mídia em relação às substâncias


psicoativas e refletir sobre os riscos e a cultura da
automedicação.
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A história do álcool
Em primeiro lugar, você vai ficar sabendo como começou o uso das substân-
cias psicoativas em nosso país. Quando os portugueses chegaram ao Brasil, no início
da colonização, descobriram o costume indígena de produzir e beber uma bebida forte,
fermentada a partir da mandioca, denominada “cauim”. Ela era utilizada em rituais e em
festas, dentro, portanto, de uma pauta cultural bem definida. Os índios usavam também
o tabaco, que era desconhecido dos portugueses e de outros europeus. No entanto, os
portugueses conheciam o vinho e a cerveja e, logo mais, aprenderiam a fazer a cachaça,
coisa que não foi difícil, pois para fazer o açúcar a partir da cana-de-açúcar, no processo
de fabricação do mosto (caldo em processo de fermentação), acabaram descobrindo
um melaço que colocavam no cocho para animais e escravos, denominado de “cagaça”,
que depois veio a ser a cachaça, destilada em alambique de barro e, muito mais tarde,
de cobre.

A cachaça é conhecida de muito tempo, desde os primeiros momentos em que


se começava a fazer do Brasil o Brasil. O antropólogo Darcy Ribeiro descreveu como “o
açúcar para adoçar a boca dos europeus da amargura da escravidão; a cachaça para
alterar a consciência, para calar as dores do corpo e da alma, para açoitar espíritos em
festas, para atiçar coragem em covardes e para aplacar traições e ilusões...”. Para tudo,
na alegria e na tristeza, o brasileiro justifica o uso do álcool, da branquinha à amarelinha,
do escuro ao claro do vinho, sempre com diminutivos.

Qual é o lugar do álcool e das outras drogas em nossa cultura?

Veja abaixo o que dizem a respeito desse assunto dois importantes pensadores
da cultura ocidental:

“Parece improvável que a humanidade em geral seja algum dia capaz de dispensar
os ‘paraísos artificiais’, isto é, [...] a busca de autotranscendência através das drogas
ou [...] umas férias químicas de si mesmo... A maioria dos homens e mulheres
levam vidas tão dolorosas - ou tão monótonas, pobres e limitadas, que a tentação
de transcender a si mesmo, ainda que por alguns momentos, é e sempre foi um dos
principais apetites da alma”. (Aldous Huxley, escritor inglês)

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“Porque os homens são mortais e não podem se habituar a essa ideia, o néctar e
a ambrosia são fantasmas encontrados em todas as civilizações. Plantas mágicas,
bebidas divinas, alimentos celestiais que conferem imortalidade, as invenções são
múltiplas e todas, na falta de sucessos práticos, expressam e traem o terror diante
da inevitável necessidade.” (Michel Onfray, filósofo francês)

O desejo de beber não depende simplesmente da vontade das pessoas, po-


dendo ser interpretado como uma imposição da cultura, das adversidades da vida, ou
mesmo um estranho e imperioso chamado, como a suavidade do canto de sereia que
encanta, enfeitiça e enlouquece. Mas nada é tão simples assim, já que a bebida está bem
entranhada na cultura brasileira. O ato de beber faz parte da nossa maneira de ser social.

Sendo assim:

 Cada povo, cada grupo social, cada pessoa tem a sua condição de responder
a determinados estímulos produzidos em seu meio. Podemos dizer que
temos uma pauta cultural em que as coisas são normalmente dispostas. Por
exemplo, o licor na festa de São João, o vinho no Natal, a cerveja no carnaval,
e assim por diante; não que sejam exclusivos, mas os mais representativos
de cada uma dessas festas.

 A cachaça é uma bebida forte e íntima da po pulação. Tem baixo custo e,


com pouco dinheiro, pode-se beber o suficiente para perturbar a si e aos
demais que estiverem à sua volta.

 É a forma social e individual de beber que está em jogo, quando se fala em


consumo de álcool, já que há uma larga disposição social para consumi-lo na
forma das mais diversas bebidas – destiladas ou fermentadas, fortes ou fracas.

É necessário considerar o uso de álcool no conjunto da vida social e não só


em si mesmo, como muita gente o faz, ou seja, considera o álcool um agente
autônomo e o culpa por suas consequências, como se fosse um ser animado
que agisse por conta própria. No sentido oposto, é preciso também considerar a
disposição social para o consumo de drogas.

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Para refletir

Por que as pessoas procuram as drogas? Por que as pessoas bebem? Se usam
drogas, e dentre elas o álcool, por que as consomem dessa ou daquela
maneira? Moderada ou abusivamente? Por que será que sob o efeito da
mesma quantidade de álcool algumas pessoas ficam alegres, outras ficam
agressivas ou mesmo violentas? Por que será que um derivado de opioide,
como a meperidina, por exemplo, para algumas pessoas é apenas um
analgésico potente e para outras, além desse efeito, é uma fonte de prazer
a ser buscada de forma repetida? E ainda: Por que uma mesma pessoa
sente de maneira diferente os efeitos de uma mesma droga, em diferentes
circunstâncias e contextos?

O que se pode concluir é que os efeitos de uma droga dependem da interação


de três elementos:

Substância

Interação

Pessoa Contexto e
cultura

1. A droga (substância) e suas propriedades farmacológicas (estimulantes,


depressoras ou perturbadoras);

2. A pessoa que a usa, suas condições físicas e psíquicas, inclusive suas expectativas;

3. O contexto e a cultura de uso dessa droga, tais como as companhias, o lugar de


uso e o que representa esse uso socialmente.

As possibilidades de interação são múltiplas, de forma que o mesmo ambiente e


o mesmo contexto influenciam diferentemente as pessoas. Isso também ocorre em rela-
ção às propriedades farmacológicas da droga, uma vez que a expressão dos seus efeitos
depende da capacidade de metabolização daquela droga por cada usuário, e mesmo de
suas condições psíquicas e mentais no momento do uso.

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Embriaguez e alcoolismo
“O alcoolismo é uma noção que apareceu pouco tempo após as circunstâncias
que ele caracterizou, contemporâneo dos anos seguintes à industrialização, um
desejo desesperado de responder a condições de vida deploráveis”. O filósofo fala da
bebida com respeito e simpatia, como acontece com muita gente, mas acrescenta:
“A embriaguez do alcoolista supõe um homem tornado objeto, incapaz, a partir
de então, de se abster de bebidas perturbadoras. Muitas vezes sua dependência está
relacionada a uma incapacidade de encontrar em si próprio o que permitiria um
domínio, uma resistência às dores do mundo”. (Michel Onfray, filósofo francês)

Quando uma pessoa perde o controle sobre a ação de beber, a bebida pode
perturbar a sua consciência para além do domínio que a pessoa tem de si mesma. Eis a
embriaguez em sua forma mais simples, uma leitura sem preconceitos, mas ao mesmo
tempo carregada com tintas muito fortes, porque nem todos os que bebem são domi-
nados pela bebida.

Entretanto, quando o álcool não é utilizado para aumentar a espirituosidade,


mas para incentivar, encorajar ou consolar amargura, ele se torna um poderoso fator de
desorganização do sujeito como ser social, isto é, para além de si como indivíduo e de
suas relações com os outros, com os íntimos e com os de cerimônia. Quando advém a
embriaguez e, com a frequência do uso, o alcoolismo, toda a magia da bebida é substi-
tuída pela perversidade da forma como ela é consumida.

Termos que devem ser evitados: Em função dos inúmeros equívocos de


interpretação sobre a dependência do álcool, surgiram termos que deve ser
evitados, como é o caso das palavras “alcoólatra”, “alcoolista”, “alcoólico” ou
“bêbado(a).

“Alcoólatra” faz referência a quem “idolatra”, enquanto “alcoolista” identifica


quem tem afinidade com o álcool da mesma forma como, por exemplo, um flamenguista
tem com o Flamengo. “Alcoólico” significa “o que contém álcool”, enquanto “bêbado(a)”
reduz a pessoa ao comportamento de beber. Todos esses termos conferem uma identi-
dade e impõem um estigma, que anula todas as outras identidades do sujeito, tornan-

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do-o tão somente aquilo que ele faz e que


Nota: De acordo com a nomen-
é socialmente condenado, não por fazê-lo,
clatura oficial da Classificação
mas pelo modo como o faz. Internacional de Doenças na
sua 10a revisão (CID-10) da
Apesar dessa argumentação, Organização Mundial de Saúde
em português, os termos “alcoólatra” e os diversos diagnósticos rela-
cionados ao uso de álcool são
“alcoolista” continuam sendo usados, quase agrupados sob a categoria
que indistintamente, por diferentes autores, “F10 – Transtornos mentais e
de comportamento decorrentes
mas equivalendo em geral a “dependente de
do uso de álcool”.
álcool”. Essa seria, na realidade, a expressão
mais adequada cientificamente.

É muito importante, portanto, o cuidado com as palavras, com os termos que


usamos para classificar coisas e pessoas, porque essas palavras e termos têm
poder de conferir identidade e, assim, estigmatizar publicamente, reduzir uma
pessoa a uma única condição, apagando, negando todas as demais identidades,
como mãe, pai, amigo ou trabalhador.

O uso inadequado dos termos tem entre suas consequências a internalização


desse lugar social, vindo a pessoa a constituir, por si mesma, um obstáculo ao desenvol-
vimento de outro percurso, socialmente valorizado. Como as pessoas vivem em socie-
dade, o reconhecimento é fundamental para a identidade, e esta é fundamental para o
reconhecimento social.

SAIBA MAIS

A discriminação compromete a autoestima, a esperança e a vinculação


com serviços de cuidado, agravando-se na medida em que a dependência
avança. Para romper o ciclo é importante que os profissionais estejam
prontos ao acolhimento e conscientes dos estigmas sociais que emergem de
uma cultura com graves distorções conceituais. Tais distorções são, muitas
vezes, reforçadas pela mídia.

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Em relação às substâncias psicoativas,


qual é o papel da mídia?
Como já dissemos, cachaça, fumo e maconha estão na origem da civilização
brasileira. Hoje, as bebidas são produzidas por grandes empresas e anunciadas vivamen-
te pelos meios de comunicação, em sofisticadas propagandas comerciais, em todos os
lugares e em quase todos os horários. As cervejarias, por exemplo, gostam de explorar
a imagem da mulher, valorizando mais o apelo sexual do que qualquer outra dimensão
humana. A todo momento, pela via das propagandas comerciais, somos convidados a
beber e as propagandas nos dizem que seremos melhores, teremos mais sorte, ficare-
mos mais fortes e alegres e, sobretudo, ficaremos mais espertos, chegaremos à frente,
se bebermos essa ou aquela marca, esse ou aquele tipo de bebida, que pode ser a cer-
veja, o vinho, o uísque ou a cachaça, dentre outras tantas à disposição dos gostos e da
capacidade aquisitiva dos consumidores.

A mídia, ao mesmo tempo em que nos informa, muitas vezes não demonstra
responsabilidade social, tornando-se fonte de muitos equívocos e desinformações,
devido ao seu comprometimento com o mercado de anunciantes.

No livro Rodas de Fumo, os autores chamam a atenção para o papel exercido


pela imprensa a partir de meados dos anos 50, enfatizando a característica de “desor-
deiras” e de “desvio de caráter” atribuída às pessoas que usavam maconha. Nesse par-
ticular, o papel exercido pela mídia foi mais intenso do que as revelações das pesquisas
científicas da época. Isso foi em grande parte responsável pela maneira como as novas
gerações foram instruídas sobre esse assunto.

Para refletir

Nas últimas décadas, o crack ganhou visibilidade na imprensa. As pessoas


que o usam passaram a ser retratadas como perigosas, violentas e responsáveis
por suas supostas “escolhas”.Mas será que é uma questão de escolha? Ou
será que essa leitura desconsidera a complexidade de vulnerabilidades
relacionadas ao uso e às situações de rua (desemprego, exclusão social,
cultura, entre outros)? Será que essa visão não estaria desviando a atenção
dos reais problemas sociais que favorecem o uso?

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Ainda mais grave é o discurso moralizante marcado por expressões como


“zumbis”e “noias” que reforçam preconceitos, ou mesmo ideias alarmistas, como a da
suposta “epidemia do crack”. Estudos brasileiros sobre como as drogas são mencionadas na
imprensa (Noto, 2006; Ronzani, 2009) confirmaram esse viés, assim como o predomínio
de matérias sobre drogas ilegais comparado à pouca cobertura jornalística sobre o álcool. Os
próprios jornalistas admitem que o viés ocorre, alegando que “dá trabalho” assumir posição
contrária aos valores da sociedade. Apesar das distorções, infelizmente a imprensa brasileira
é considerada referencial da verdade para a população geral, exercendo forte influência
no sistema de cuidado e na prática profissional. Daí a necessidade de os profissionais
desenvolverem visão crítica e contextualizada sobre o tema.

Maconha, inalantes e crack/


cocaína e outras drogas
Maconha
Registros sobre o uso de maconha com propósitos medicinais datam de 2.700
a.C. Largamente utilizada na Europa com esse propósito, durante os séculos XVIII e XIX,
ela foi introduzida no Brasil pelos africanos escravizados e difundida também entre os
indígenas, sendo no início usada com propósitos medicinais e nas atividades recreativas,
como a pesca, ou nas rodas de conversa nos finais de tarde. Nos Estados Unidos, ela já
era conhecida pelos índios quando os mexicanos a levaram para aquele país.

No Brasil, no final do primeiro quarto do século XX, segundo descrição de Pernambuco


Filho e Botelho (1924), distinguiam-se duas classes de “vícios”: os “vícios elegantes”,
que eram o da morfina, da heroína e da cocaína, consumidos pelas elites (brancas, em
sua maioria), e os “vícios deselegantes”, destacando-se o alcoolismo e o maconhismo,
próprios das camadas pobres, em geral, formadas por negros e seus descendentes.
Segundo esses mesmos autores, não tardou para que o produto (a maconha) trazido da
África viesse a “escravizar a raça opressora”. Essas afirmações mostram, além da origem

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da maconha no país, que, já naquela maconha, que na periferia das grandes ci-
época, ocorria a difusão do seu consumo dades são muito mais severas do que nas
por todas as classes sociais. áreas mais ricas e socioeconomicamente
mais favorecidas.
Esse é um fato incontestável dian-
te da realidade nacional; entretanto per-
manece no imaginário social a associação Nota: Atualmente a palavra
“vício” deve ser evitada, pois tem
“pobre - preto - maconheiro - marginal -
um sentido negativo, associado
bandido”, traduzida nas ações policiais di- a problema de caráter ou moral.
rigidas às pessoas autuadas pelo porte de

Inalantes
Visto de perto, o uso de drogas preenche expectativas e necessidades de um
dado momento na cultura, economia e condições sociais da vida de um povo. Nas déca-
das de 80 e 90, vários estudos apontavam para um maior uso de inalantes entre crian-
ças e adolescentes de minorias étnicas e socialmente menos favorecidas.

SAIBA MAIS

Os inalantes mais populares são a cola de sapateiro, esmalte, benzina, lança-


perfume, loló, gasolina, acetona, tíner, éter, aguarrás e tintas.

Hoje, além do consumo de inalantes, o consumo de crack vem aumentando em função


das mesmas condições de vida nas ruas, evidenciando que essas condições não são
consequência do uso de uma determinada droga, mas sim que, diante da ausência do
Poder Público, da falta de ações voltadas para o cuidado das pessoas, estas buscam,
dentro do que está ao seu alcance, os meios de sobreviver às adversidades.

Os inalantes também são usados com outras finalidades e contextos


socioculturais. No carnaval e em outros tipos de festas de rua (como os denominados
“Pancadões”) estas substâncias são usadas para diversão e interação social (Dos Santos
et al., 2018). O uso de inalantes em festas é geralmente esporádico e pontual.

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Crack/cocaína
A cocaína é uma substância extraída de uma planta nativa da América do Sul,
Erythroxylon coca, também conhecida popularmente como “coca”. A folha de coca tem
sido usada milenarmente pelos povos andinos para reduzir a fadiga e o cansaço das
longas jornadas de trabalho. A cocaína também já foi comercializada livremente pelo
laboratório Bayer, no passado, e enaltecida por suas qualidades medicinais. O Manual
MERCK, um livro muito utilizado na área de saúde, em sua primeira edição no último
quarto do século XIX, trazia a indicação de cocaína com a dosagem a ser utilizada para
situações de cansaço e desânimo.

Em nossa cultura, algumas pessoas fazem uso de cocaína para se manterem


acordadas e atentas por mais tempo que o habitualmente suportável. Um estudo entre
adolescentes que procuraram tratamento na cidade de São Paulo encontrou como
principal motivo do uso de cocaína (64,7%) o “alívio do desânimo”.

O crack, uma forma de cocaína de uso relativamente recente em nosso país,


teve os primeiros registros científicos de seu consumo no início dos anos 90, portanto,
há cerca de 30 anos. Ela não é uma droga diferente da cocaína, mas a própria cocaína
preparada para consumo por via inalatória (fumada). A rapidez e intensidade de seus
efeitos, que se devem à intensa absorção da cocaína existente na fumaça no nível dos
pulmões, são fatores que favorecem a dependência dessa droga.

Você já pensou por que o consumo de crack tem se expandido tanto em nosso
meio? Veja algumas das razões para isso:

 Efeito rápido e intenso;

 Menor custo, em relação ao pó de cocaína, adequando-se ao perfil de baixa


renda da maioria de muitos dos seus consumidores;

 Fácil utilização, dispensando a necessidade do uso de seringas;

 Constitui uma alternativa ao uso de drogas injetáveis, em virtude dos riscos


associados à infecção por HIV e hepatites.

 A forma como é consumido (fumado), algumas vezes misturado ao tabaco


e à maconha (pistilo, mesclado), chama menos a atenção e é mais aceitável
socialmente do que o uso de drogas injetáveis;

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O crack e as cracolândias
De acordo com a “Pesquisa Nacional Sobre o Uso de Crack” (Bastos e Bertoni,
2014), foram identificadas nas cenas de uso pessoas predominantemente jovens (média
de 30 anos), de baixa escolaridade, “não brancos”, sem trabalho regular e sem moradia
fixa. Esse perfil não representa os demais usuários de crack no Brasil, mas evidencia as
inúmeras vulnerabilidades psicossociais que ajudam a compreender a presença do crack
e as cracolândias no país.

E o Oxi? Você se lembra do Oxi?


Pois é! Apesar de ter sido estampado na mídia como a “nova droga da morte”,
já não se fala mais dele. Em um primeiro momento o Oxi (também chamado de Oxidado)
foi encontrado no Acre, disseminando-se por outras regiões do país. Análises toxicológi-
cas indicaram que o Oxi não era uma droga nova, mas sim uma variação da pasta-base
de cocaína.

Esteroides anabolizantes
A crescente valorização do corpo nas sociedades de consumo pós-industriais
– refletida nos meios de comunicação de massa, que expõem como modelo ideal e de
masculinidade um corpo inflado de músculos – tem possivelmente contribuído para que
um número crescente de jovens se envolva com o uso de esteroides anabolizantes, na
intenção de rapidamente desenvolver massa muscular.

Quais são as principais motivações evidenciadas pelas pesquisas para o consumo


de anabolizantes em nosso país? Confira no quadro a seguir os dados de uma pesquisa
realizada em Salvador (Iriart; Chaves; De Orleans, 2009; Iriart; Andrade, 2002).

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Estudos conduzidos na cidade de buscam no consumo de esteroides


Salvador apontaram que o uso de anabolizantes uma forma de atingir
esteroides anabolizantes está bastante rapidamente resultados na mudança
associado à motivação estética. Em corporal.
muitas situações há uma insatisfação
Em contrapartida, ainda existe
com o corpo, especialmente quando
falta de informação entre jovens
em comparação ao apontado pela
praticantes de musculação sobre
mídia como “corpo ideal”, motivando
os prejuízos à saúde associados ao
ou incrementando o consumo pelos
consumo de esteroides anabolizantes.
jovens.
Entre alguns, a busca pelo “corpo
Por medo da rejeição social e na ideal” acaba se sobrepondo à
busca do ideal ostentado pelos meios percepção dos riscos presentes no
de comunicação, muitas pessoas consumo da substância.

Drogas sintéticas e a música eletrônica


No final dos anos 80, surgiu a cena eletrônica acompanhada de um movimento
jovem caracterizado pelo uso da tecnologia, pacifismo, diversidade e dança ao som
da música eletrônica. Na década seguinte, surgiram no Brasil as primeiras raves e, em
seguida, as megaraves e os festivais de música eletrônica. Inserido nesse movimento
cultural, o uso de êxtase e de outras drogas sintéticas ganhou popularidade em diversos
países do mundo.

O uso de drogas sintéticas, no Brasil, permaneceu restrito a alguns contextos e


subgrupos populacionais específicos. O uso se manteve predominantemente em festas
da cena eletrônica, entre jovens adultos, universitários ou com atividade produtiva e
renda (Battisti et al, 2006). Trata-se de uma cultura de uso muito diferente do crack,
por exemplo. Daí a importância do conhecimento sobre o perfil, crenças e valores dos
diferentes contextos e padrões de uso, cada qual demandando uma forma específica de
atenção e de cuidado.

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O uso de drogas na
forma de automedicação
Essa é outra marca da nossa cultura. É bastante comum que o uso de drogas,
sejam elas lícitas ou ilícitas, se constitua, em parte, em uma forma de automedicação
ou prescrição informal, o que é tão bem exemplificado pela existência das farmácias
domésticas e pelo frequente uso de medicações por indicação de familiares, vizinhos e
amigos. Essa situação é favorecida, entre outras razões, pela dificuldade de acesso aos
serviços de saúde por uma parcela expressiva de nossa população.

Desse modo, alguns bebem para relaxar e, se começam a ficar “de porre”,
“cheiram” (cocaína) e/ou usam “energéticos” para “levantar o moral” e, ao final da jor-
nada, por não conseguirem conciliar o sono, fazem uso de um tranquilizante.

Trata-se de uma busca de autocontrole das sensações à custa de um conheci-


mento farmacológico absolutamente informal e, por isso, mais exposto a riscos, inclu-
sive de morte, como não raro ocorre na situação de uso de múltiplas drogas, conforme
explicitado acima, pois as quatro drogas mencionadas têm efeito prejudicial sobre o
funcionamento cardíaco.

Esse controle de si, e por si mesmo associado ao controle social existente no


pequeno grupo, na comunidade, na sociedade como um todo, tem sido desconsiderado
pelas políticas públicas, sobretudo por aquelas pautadas na repressão, centralizadas na
droga e que reduzem o usuário ao produto que consome.

LEMBRE-SE

Essas informações podem ajudar você, profissional de saúde, a refletir de


modo mais realista sobre o uso de drogas, tornando menos árduas e mais
eficazes suas intervenções dirigidas aos usuários dessas substâncias.

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Bibliografia
ANDRADE, T. M. Condições psicossociais e exposição ao risco de infecções pelo HIV
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SOBRE OS
AUTORES

Tarcisio Matos de Andrade


Graduado em Medicina pela Universidade Federal da Bahia (1980), com Especiali-
zação em Medicina Tropical (1982) pela Universidade de São Paulo, Mestre (1988)
e Doutor (1996) em Medicina pela Universidade Federal da Bahia, Psicanalista
pelo Círculo Psicanalítico da Bahia e Círculo Brasileiro de Psicanalise (1985), com
estágios de aperfeiçoamento em Pesquisa pela Universidade da Califórnia, Berkely
(1993, 1998 e 2003). Professor Titular do Departamento de Saúde da Família da
Faculdade de Medicina da Bahia/UFBA, Professor do Programa de Pós-graduação
em Medicina e Saúde da Faculdade de Medicina da Bahia/UFBA. Coordenador do
Serviço de Extensão Permanente Aliança de Redução de Danos Fátima Cavalcanti
da Faculdade de Medicina da Bahia, da Universidade Federal da Bahia, e Fundador
e ex-coordenador (de 2012 e 2015) do Centro de Atenção Psicossocial para pes-
soas que usam álcool e outras drogas – CAPS-ad Gregório de Matos. Membro do
Programa Especial de Participação dos Professores Aposentados da UFBA (desde
2016). Membro do Conselho Acadêmico de Pesquisa e Extensão - CAPEX/UFBA,
do Conselho Superior de Ensino Pesquisa e Extensão - CONSEPE/UFBA e da Con-
gregação da Faculdade de Medicina da Bahia - FMB/UFBA (2011-2015), do Con-
selho Técnico Científico da Rede de Pesquisa sobre Drogas/Secretaria Nacional de
Políticas sobre Drogas - SENAD, e do Conselho Editorial da revista Toxidependên-
cias, editada pelo Ministério da Saúde - Instituto da Droga e da Toxicodependência
de Portugal.

Lattes: http://lattes.cnpq.br/6237398170331425
Carlos Geraldo D’Andrea (Gey) Espinheira (In memoriam)
Graduado em Ciências Sociais – Universidade Federal da Bahia (UFBA); Doutor em
Sociologia – Universidade de São Paulo (USP); Professor de Graduação e de Pós-
Graduação em Ciências Sociais do Departamento de Sociologia da Faculdade de
Filosofia e Ciências Humanas da UFBA; Colaborador do CETAD (Centro de Estudos
e Tratamento do Abuso de Drogas) – FAMED – UFBA, do Centro Aliança Fátima
Cavalcanti).

Ana Regina Noto


Psicóloga e Bioquímica, Mestre e Doutora pela Escola Paulista de Medicina da
Universidade Federal de São Paulo, na qual é chefe da Disciplina de Medicina e
Sociologia do Abuso de Drogas, orientadora do Programa de Pós-Graduação em
Psicobiologia (nota 7 da CAPES). Coordenadora do Núcleo de Pesquisa em Saúde
e Uso de Substâncias (NEPSIS) e Vice-Coordenadora do curso SUPERA. Orientou
14 teses de Doutorado e 14 de Mestrado e publicou mais de 100 artigos em re-
vistas indexadas.

Lattes: http://lattes.cnpq.br/1146514655934224
Capítulo 2

A estigmatização associada
ao uso de substâncias como
obstáculo à detecção, prevenção
e tratamento

Tarcisio Matos de Andrade


Telmo Mota Ronzani
Pollyanna Santos da Silveira
Tópicos
Estigmatização e problemas de saúde 30

Quais as consequências do processo de estigmatização? 32

Estigma internalizado 36

Bibliografia 43

Sobre os autores 45
oBJETIVOS
99 Definir o que é um processo de estigmatização;

99 Compreender as consequências do estigma social e


internalizado;

99 Conhecer as principais estratégias de redução de


estigma.
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento

Estigmatização e
problemas de saúde
Por que a sociedade estigmatiza os usuários de drogas?
Com certeza, não existe uma única resposta para a questão, pois se trata de
uma situação complexa, com múltiplos determinantes. Porém, aqui, apresentaremos
como o estigma representa uma barreira para o desenvolvimento e implementação de
estratégias efetivas para problemas de saúde.

Estigmatização, estereótipos e preconceitos


O termo estigma pode ser definido como uma marca física ou social, de co-
notação negativa, que leva seu portador a ser marginalizado ou excluído de algumas
situações sociais. O ato de marcar um indivíduo como portador de uma característica
negativa impede a percepção de outras características desse mesmo indivíduo, redu-
zindo-o apenas à sua marca, o que pode ser considerado como uma manifestação dos
processos mais gerais da estigmatização.

Muitas condições de saúde são estigmatizadas não só pela população em ge-


ral, mas também pelos profissionais de saúde. O uso de álcool e outras drogas é uma
das condições que mais apresentam conotação moralizante do mundo. A definição de
estigma envolve:

1. A rotulação de indivíduos baseada em características pessoais;

2. A construção de estereótipos grupais a partir do rótulo;

3. A consequente separação desses indivíduos do convívio social pleno, a partir da


aplicação desses estereótipos;

4. A perda de status e discriminação, os quais são expressos em uma situação


de poder que permite que esses componentes se cruzem e gerem o estigma
denominado público (Link & Phelan, 2001).

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SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento

Os estereótipos são características pessoais ou sociais atribuídas a determina-


das pessoas ou grupos, antes mesmo de ser realizada uma avaliação mais cuidadosa sobre
essas características. No Brasil, por exemplo, existem estereótipos sobre o comportamen-
to de pessoas de determinadas regiões. Imagine uma pessoa nascida na região nordeste
ou na região sul, ou em algum estado, como Minas Gerais ou Rio de Janeiro. É bem prová-
vel que você tenha uma concepção ou ideia de como essas pessoas falam, se comportam,
se vestem ou se colocam perante as outras. Muitas vezes, fazemos essas generalizações
como se todas as pessoas de um determinado grupo fossem exatamente iguais.

Os estereótipos possibilitam categorizar rapidamente os indivíduos com base em


informações simples e acessíveis que permitem classificá-los minimamente como perten-
centes a um grupo. Contudo, na maior parte das vezes, tais informações acabam por ser
generalizadas, caracterizando todos os indivíduos de um grupo em função de um único
atributo tido como típico do grupo, sem considerar as diferenças individuais.

Já o preconceito pode ser definido como uma atitude hostil ou negativa


com relação a um determinado grupo. Por outro lado, a discriminação se caracteriza por
limitar os direitos e ser direcionada para causar danos ao objeto em questão. Na maior
parte das vezes, ações discriminatórias são baseadas em atitudes preconceituosas em
direção a um grupo minoritário.

LEMBRE-SE

Cotidianamente, atribuímos determinados rótulos a indivíduos ou grupos


a fim de identificar ou definir essas pessoas ou grupos. Assim, ao aplicar
um rótulo nos tornamos capazes de antecipar alguns comportamentos, o
que pode facilitar nossos relacionamentos ou distorcer nossas percepções.

Portanto, a estigmatização envolve a concepção de algo como “problema” in-


desejável de se lidar, sendo considerada negativa e influenciando diretamente o pla-
nejamento, a busca e o acesso ao cuidado em saúde. Tal situação influencia direta ou
indiretamente a condição de saúde da pessoa estigmatizada, provocando diversas con-
sequências, inclusive o agravamento da situação.

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SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento

Quais as consequências do
processo de estigmatização?
Na área da saúde, muitas vezes temos a mesma tendência de classificar o com-
portamento das pessoas de acordo com o problema de saúde ou a “marca” que defini-
mos para elas. Essa tendência é prejudicial tanto ao profissional, que deixa de perceber
ou conhecer o problema mais a fundo, quanto ao paciente, que deixa de receber uma
intervenção mais adequada ao seu problema.

Por exemplo, há alguns anos, ao falar de doenças, tais como hanseníase (an-
tigamente denominada lepra) ou tuberculose, havia uma ideia extremamente negativa
tanto da doença quanto das pessoas que portavam tal problema. A “marca” ou estigma
que essas pessoas carregavam era colocada tanto pela população em geral quanto pe-
los profissionais de saúde, que muitas vezes evitavam tratar estes pacientes ou reco-
mendavam seu isolamento total. Ao longo da história, essas doenças foram perdendo
a conotação negativa e os resultados do tratamento se tornaram melhores, em função
não somente do maior conhecimento técnico sobre elas, mas também da diminuição da
visão estigmatizada do problema.

Dentre as várias consequências da estigmatização para o indivíduo é possível


destacar, além do isolamento social, a piora da qualidade de vida e, principalmente,
a perda de oportunidade de acesso a um tratamento adequado.

No contexto brasileiro, o uso de substâncias está associado a muitos problemas


de saúde pública.  Contudo, é visto como uma escolha pessoal ou um desvio de caráter
e, por isso, os usuários tendem a ser evitados e até considerados invisíveis socialmente, o
que contribui para o aumento da situação de vulnerabilidade. A condição de estigmatiza-
çãos dos usuários de drogas ilícitas pode afetar sua saúde geral e se constituir como uma
barreira para acessar os serviços de saúde, contribuindo para o agravamento da condição.

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Podemos observar que existe uma forte conotação moral que dificulta aborda-
gens mais adequadas e maior aproximação dos usuários. Existe uma associação equi-
vocada, por parte da sociedade e inclusive de muitos profissionais de saúde, de que o
usuário é “fraco”, “sem força de vontade”, “mau caráter” ou que o uso e a dependência
são “problemas sem solução”.

lEMBRE-SE

Outras ideias equivocadas que permeiam nossa sociedade são: “Drogas


matam” e “Uma droga leve é a porta de entrada para drogas pesadas”. Frases
como essas, quando analisadas criticamente, não apenas são ineficazes do
ponto de vista preventivo como são prejudiciais.

Conheça alguns dados que podem contrapor tais ideias:

 Um estudo epidemiológico sobre o uso de drogas nos EUA, de 1998, aponta


que 35% fizeram uso de substâncias psicoativas (SPA) ilícitas na vida e
somente 10% relataram uso recente de SPA, confirmando que nem todo
uso é necessariamente um uso problemático;

 92% dos jovens entre 12-17 anos que experimentam drogas não continuaram
a fazer uso regular.

É muito mais adequado falar de consumo leve e consumo pesado do que de


drogas leves e pesadas, uma vez que, desconsiderando-se o fato de se tratar de drogas
lícitas ou ilícitas, a intensidade do consumo está muito mais ligada aos prejuízos biológi-
cos, psíquicos e sociais do que ao tipo de droga utilizada.

O tratamento e a prevenção adequados devem, portanto, ter bases científicas,


levando em consideração o nível de conhecimento, a capacidade de discernimento
e as escolhas da população a que se destinam.

Outra imagem muito comum que os profissionais de saúde têm sobre o usuário
de drogas, sobretudo o usuário de drogas ilícitas, é a de uma pessoa ligada diretamente
ao crime, que não tem amor-próprio, que não se cuida, que não tem família, ou aquela
pessoa que fica caída na sarjeta, lembrando-nos do “bêbado de sarjeta”. O propósito das

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imagens poderia exemplificar o trabalho com populações nos lugares e nas condições em
que vivem, mas também pode contribuir para a estigmatização.

Atualmente, temos acompanhado o problema do uso de crack e toda a reper-


cussão junto à opinião pública e à mídia, que muitas vezes generalizam o uso e o usuário
de crack, fazendo uma rápida associação entre o consumo dessa droga por moradores
de rua e as “cracolândias” nas grandes cidades, como se todos os usuários de crack
estivessem ligados a comportamentos violentos e fossem todos iguais, de uma maneira
negativa.

A despeito da gravidade e da possível evolução dos problemas relacionados ao


consumo de crack, essa generalização muitas vezes exclui e afasta os usuários de um
cuidado, de uma percepção e de intervenções adequadas para cada caso.

Sobre essa equivocada superposição entre uso de crack e outras drogas e cri-
minalidade, falta de amor-próprio e autodestruição, seguindo alguns estudiosos desse
tema, podemos afirmar que as políticas repressivas, justificadas pelas questões legais,
ligadas ao tráfico, contribuem de modo significativo para a exclusão social dos consumi-
dores. Na maioria das vezes, as condições nas quais se dá o consumo desses produtos
(sobretudo no caso das drogas ilícitas, cujo consumo ocorre sem qualquer controle de
qualidade e em precárias condições de higiene) agravam em muito os seus efeitos pri-
mários e aumentam as consequências negativas para a saúde, o que fortalece a imagem
de autodestruição atribuída a essa população.

De acordo com o estudo realizado pela Fiocruz (2013), os usuários de crack no


Brasil são, em sua maioria, homens, com média de idade de 30 anos, “não brancos”, sol-
teiros, com baixa escolaridade. Ainda que não se possa afirmar que os usuários de crack
são uma população de rua, a proporção de usuários nessa situação é expressiva, cerca
de 40% dos 370 mil usuários (Fiocruz, 2013). Verifica-se que os trabalhos esporádicos
ou autônomos foram as principais estratégias de obtenção de dinheiro para o consumo
de crack (65%), ao passo que o envolvimento com atividades ilícitas, como o tráfico
de drogas e furtos, foi relatado por uma pequena parcela da amostra (9%), mas quase
metade dos usuários entrevistados (41,6%) relatou ter sido presa pelo menos uma vez
na vida (Fiocruz, 2013).

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SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento

Por conta dessa imagem distorcida do usuário, o profissional de saúde perde


uma oportunidade importante de intervir em grande parte da população usuária, por
achar que somente aquelas pessoas com o “estereótipo” do usuário de álcool e outras
drogas devem ser abordadas e encaminhadas a serviços especializados.

Vejamos agora como a estigmatização e os estereótipos interferem na preven-


ção, no diagnóstico e no tratamento do uso e abuso de álcool e outras drogas.

No Brasil, até muito recentemente, o uso e abuso de drogas se constituía num


problema à parte dos serviços de saúde e, portanto, do âmbito de serviços especializa-
dos. O problema maior era que grande parte dos profissionais não recebia informações
adequadas para desenvolver estratégias de prevenção e cuidado integral aos usuários
de drogas.

Somente nos últimos anos é que, por meio de várias Portarias, o Ministério da
Saúde tem estendido a atenção ao uso e abuso de drogas aos serviços de saúde em
geral, inclusive aos Programas de Atenção Básica à Saúde (Programa de Agentes Comu-
nitários de Saúde – PACS e Estratégia Saúde da Família – ESF). Essas mudanças, entre-
tanto, ainda se encontram distantes de ser plenamente efetivadas devido a deiversos
fatores, dentre os quais:

 A estigmatização e os estereótipos relacionados às pessoas que usam


drogas, sobretudo as ilícitas, que as afastam dos serviços de saúde;

 A falta de profissionais de saúde com treinamento mínimo necessário para


realizar os cuidados básicos e o encaminhamento adequado dessa população.

Por outro lado, os levantamentos domiciliares, de estudantes de nível funda-


mental, médio e universitário, e mais recentemente com usuários de crack, demonstram
que há esforços dos pesquisadores, muitos dos quais patrocinados pela SENAD, em
conhecer melhor essa realidade brasileira, para assim elaborar intervenções condizentes
com a realidade.

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Estigma internalizado
Outra consequência do estigma social ocorre quando os indivíduos concordam
ou internalizam esses preconceitos e passam a ter atitudes negativas em relação a si
próprios, o que pode levar à diminuição da autoestima e autoeficácia. Esse processo é
conhecido como Estigma Internalizado.

Estigma internalizado é, então, a desvalorização, a vergonha e a exclusão


desencadeadas pela atribuição de estereótipos negativos a si próprio, ou seja,
a pessoa acaba por internalizar ou concordar com as características negativas
atribuídas a ela.

A internalização do estigma traz uma série de consequências negativas para


essa pessoa, que vão desde o afastamento da rede de cuidado até maior vulnerabilidade
social e agravamento da condição de saúde.

Outras consequências do Estigma Internalizado são:

 Perda da autoestima;

 Perda da autoeficácia e perspectivas limitadas de recuperação;

 Restrição de oportunidades e das redes sociais;

 Antecipação da rejeição, levando ao isolamento, ao desemprego e ao baixo


rendimento.

Os dados a seguir exemplificam o que acaba de ser dito:

 Pesquisas têm demonstrado que apenas 5% a 10% das pessoas com


problemas decorrentes do uso de álcool e outras drogas procuram tratamento
especializado;

 Aproximadamente 20% das pessoas que procuram a rede de cuidados


primários de saúde têm problemas por uso de drogas, na maioria das vezes,
não revelados durante a consulta.

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Esse distanciamento em relação ao uso e abuso de álcool e outras drogas,


mantido no âmbito dos serviços de saúde, em geral, tem como produto a ausência de
diagnóstico ou o subdiagnóstico dessas condições.

Vejamos agora como se traduz essa exclusão dos usuários de drogas no coti-
diano da atenção à saúde.

Muitos pacientes internados em Hospitais Gerais, inclusive nos Hospitais Uni-


versitários, apresentam enfermidades relacionadas ao abuso de álcool e outras drogas,
como é o caso de alguns pacientes diabéticos, com pancreatites, com hepatopatias,
todas doenças relacionadas ao uso de álcool, ou que desenvolvem câncer de pulmão
e outras doenças respiratórias, relacionadas ao uso de tabaco. Também AIDS e outras
infecções são relacionadas ao uso de drogas injetáveis.

Por ausência da detecção do uso ou do diagnóstico do abuso ou dependência


de drogas, esses pacientes não recebem a atenção merecida, relacionada à prevenção
e ao tratamento para problemas decorrentes do consumo dessas substâncias. Esse fato
tem papel relevante na reinternação desses pacientes, com custos significativos do pon-
to de vista social e econômico, para eles próprios e para o Sistema de Saúde.

Considerando especificamente a prevenção, vamos ver agora os efeitos da es-


tigmatização e dos estereótipos na prevenção primária, ou seja, quando se busca evitar
o uso de drogas pela primeira vez.

Para refletir

Você certamente já percebeu que, ao se referir ao uso de drogas ilícitas, o


discurso oral ou escrito dá a impressão de que as drogas têm vida própria e
são, por si mesmas, capazes de determinar o comportamento das pessoas.
É por isso que você escuta frases como: “As drogas estão destruindo a
sociedade” ou “Guerra às drogas”. O grande problema dessa “demonização”
das drogas ilícitas é o seu reflexo no usuário, que vai se “demonizando”
junto com o produto e passa a ser visto, ele próprio, como uma pessoa má.

Você também sabe muito bem que todos nós temos uma grande preocupação
com nossas crianças e jovens para que não se iniciem no uso de drogas, sobretudo das
drogas ilícitas.

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SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento

Mas, por conta da estigmatização e do estereótipo do usuário, essas mesmas


crianças e jovens, que são alvo de todo o nosso zelo e atenção, uma vez flagradas com
um cigarro de maconha, por exemplo, passam a ser vistas como maconheiras, drogadas
e marginais.

Para refletir

Assista aos filmes: Bicho de Sete Cabeças – filme brasileiro com direção
de Laís Bodanzky, lançado em 2000, com Rodrigo Santoro, Othon Bastos
e Cássia Kiss no elenco. O Lado Bom da Vida – filme dirigido por David
O. Russel, lançado no Brasil em 2013.

O que fazer para diminuir o estigma?


Algumas estratégias são propostas para combater o Estigma Público ou Inter-
nalizado. Vejamos algumas:

 Contato: alguns autores defendem que o contato entre estigmatizadores e


estigmatizados contribui para a diminuição do desejo de distância social e
discriminação, uma vez que as pessoas que estigmatizam podem começar a
perceber, por esse contato cotidiano, que a generalização feita nem sempre
se aplica a todos os casos.

 Protesto: geralmente feito por grupos ou associações, apresenta efetividade,


uma vez que procura sensibilizar a opinião pública e os gestores de políticas
públicas sobre os malefícios da discriminação resultante do estigma. Isso
geralmente é feito a partir da mobilização de grupos, campanhas na mídia,
nas redes sociais ou até mesmo em comunidades.

 Educação: a educação de grupos ou pessoas estratégicas no cuidado ou


convivência de determinados grupos, como profissionais de diversas áreas,
escola, pais e familiares. Essa educação vai além da simples transmissão
de conteúdo, utilizando também componentes para estimular mudanças de
atitudes e a sensibilização sobre as condições de vulnerabilidade em função
do estigma.

 Estratégias de Redução do Estigma Internalizado: numa perspectiva


individual, pode-se fornecer ferramentas e estratégias para que pessoas ou
grupos possam lidar com essa situação. Por exemplo, treino de habilidades

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sociais para enfrentamento de situações de discriminação, planejamento de


futuro e aumento do sentimento de autoeficácia.

SAIBA MAIS

Como avaliar o Estigma Internalizado: um grupo de pesquisadores


brasileiros do Centro de Referência em Pesquisa, Intervenção e Avaliação
em Álcool e Drogas (CREPEIA), da Universidade Federal de Juiz de Fora
(UFJF), vem trabalhando com técnicas para redução de estigma. No site
do grupo (www.ufjf.br/crepeia) há mais informações sobre como realizar
ações de redução de estigma e como avaliar Estigma Internalizado através
da escala ISMI-BR (International Stress Management Associations).

O lugar social ocupado pela droga e pelos usuários, quando internalizado pelos
profissionais de saúde e educadores, torna muito difícil a relação com os usuários, inter-
ferindo na percepção dos seus valores como pessoas e reduzindo-os a uma só condição:
a de usuários de drogas. Isso, evidentemente, afasta essas pessoas dos serviços de edu-
cação, suporte social e saúde, agravando ainda mais os desvios porventura existentes.

Sem dúvida, aquele profissional que tem uma visão pré-formada e preconceitu-
osa do usuário e do uso de drogas terá maior dificuldade para realizar um trabalho, seja
de prevenção, tratamento ou reinserção social.

LEMBRE-SE

A mudança de postura do profissional frente à questão beneficiará tanto o


usuário, que poderá receber uma abordagem mais adequada e realista de
seu problema, quanto o profissional, que se beneficiará de conhecimentos
técnicos bem fundamentados de abordagens mais adequadas, bem como
de resultados mais favoráveis de seu trabalho.

Essa nova postura tem feito parte dos princípios e práticas da Redução de Da-
nos. Com base nesses princípios, os usuários de álcool e outras drogas:

 Deixam de ser simplesmente alvo das ações de saúde, passando a ser


também os seus protagonistas;

 Participam ativamente como agentes de saúde (Redutores de Danos), como


educadores de outros usuários, e na formação de associações em defesa
dos seus direitos;

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 Têm sido alvo de pesquisas de natureza demográfica, epidemiológica e


psicossocial, realizadas no sentido de orientar os profissionais de saúde
sobre a realidade de cada população para quem as ações de prevenção e
tratamento serão dirigidas.

Pesquisas realizadas no Brasil com profissionais de Atenção Primária à Saúde


(ESF e UBS) demonstraram que muitos ainda apresentam uma visão moralista dos usuá-
rios de álcool e outras drogas por eles atendidos. O mesmo estudo demonstra que o uso
de álcool e outras drogas é mais estigmatizado ao se comparado com outras condições
de saúde, como portadores do vírus da imunodeficiência adquirida (HIV/AIDS), esquizo-
frenia e depressão, dentre outras. A consequência direta dessa postura do profissional
vai desde a desatenção até um cuidado de menor qualidade ou a indisposição para en-
caminhamento dos casos mais graves para os serviços especializados.

Portanto:

 A estigmatização do usuário de álcool e outras drogas não resolve o problema,


que continuará existindo em sua comunidade;

 A visão de que todos os usuários são pessoas “sem caráter” e, portanto,


não merecem sua ajuda, é equivocada. A maioria dos usuários é formada de
pessoas comuns, que devem ser tratadas como tal;

 O uso de álcool e outras drogas é um problema de saúde como outros;

 A postura moralista aumenta a dificuldade de abordar o tema.

Quais serão, então, os ganhos de uma nova postura?

 Os pacientes ficarão mais satisfeitos, pois se sentirão respeitados pela for-


ma como você os trata;

 Os resultados da intervenção se tornam mais evidentes, portanto, você se


sentirá um profissional mais competente;

 Ao invés de “colocar a poeira debaixo do tapete”, você conseguirá enfrentar


o problema e perceberá os resultados disso em médio prazo;

 Você se beneficiará mais com a qualificação técnica, pois conseguirá utilizar


seus conhecimentos de forma mais abrangente.

40
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento

Os primeiros passos para ser um bom profissional de saúde, em especial para


aqueles que trabalham com comunidades, são:

 Saber identificar e entender o que acontece na sua localidade;

 Respeitar as diferenças e as características das pessoas e das respectivas


culturas.

Portanto, um passo importante para os profissionais participantes desse curso


é a necessária reflexão sobre suas próprias concepções a respeito do uso de álcool e
outras drogas, revendo conceitos e buscando capacitar-se para conseguir de fato iden-
tificar, prevenir e tratar os problemas decorrentes do uso dessas substâncias.

SAIBA MAIS

A qualidade de seu trabalho estará diretamente relacionada à forma como


você e sua equipe encaram o problema.

Outra iniciativa fundamental é que, uma vez mudada a concepção sobre os


usuários dessas substâncias, numa perspectiva de saúde pública, o profissional de saúde
utilize sua inserção na comunidade para trabalhar com toda a rede social e com as pes-
soas da comunidade, para que estas também tenham uma concepção mais adequada
sobre o consumo de drogas.

Essa ação com certeza facilitará todo o trabalho do profissional junto aos fami-
liares, usuários e outras pessoas envolvidas.

Assim, podemos concluir, primeiramente, que é extremamente relevante que


os profissionais que atuam em todos os níveis de cuidado com a saúde sejam
capacitados na atenção ao uso e abuso de drogas. Ao lado da capacitação
em cuidados primários e encaminhamento adequado aos usuários de álcool e
outras drogas, um ponto essencial é ter o conhecimento, proveniente de estudos
científicos, sobre a real situação do consumo de drogas e seus determinantes
entre os usuários desses serviços.

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Imagens obtidas a partir


do trabalho de campo
da ARD-FC, Faculdade
de Medicina/UFBA,
mostrando a ação dos
Agentes Comunitários
de Saúde (devidamente
identificados, à direita) e
dos Redutores de Danos,
durante treinamento para
integrar a atenção ao
uso abusivo de drogas à
Atenção Básica à Saúde.

SAIBA MAIS

Os termos Atenção Básica e Atenção Primária à Saúde podem ser


utilizados como sinônimos na maioria das vezes, sem que se torne um
problema conceitual; porém existem algumas críticas quanto à origem
e a diferenças conceituais. Nas literaturas nacional e internacional há
produções científicas em que os dois termos aparecem. Porém, o termo
Atenção Básica no contexto do Sistema Único de Saúde – SUS é mais
utilizado nos documentos oficiais do Ministério da Saúde (MELLO, G. A.;
FONTANELLA, B. J. B.; DEMARZO, M. P. Atenção Básica e Atenção
Primária à Saúde: origens e diferenças conceituais. Rev. APS, v. 12, n. 2, p.
204-13, abr.-jun. 2009).

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44
SOBRE OS
AUTORES

Tarcisio Matos de Andrade


Graduado em Medicina pela Universidade Federal da Bahia (1980), com Especiali-
zação em Medicina Tropical (1982) pela Universidade de São Paulo, Mestre (1988)
e Doutor (1996) em Medicina pela Universidade Federal da Bahia, Psicanalista
pelo Círculo Psicanalítico da Bahia e Círculo Brasileiro de Psicanalise (1985), com
estágios de aperfeiçoamento em Pesquisa pela Universidade da Califórnia, Berkely
(1993, 1998 e 2003). Professor Titular do Departamento de Saúde da Família da
Faculdade de Medicina da Bahia/UFBA, Professor do Programa de Pós-graduação
em Medicina e Saúde da Faculdade de Medicina da Bahia/UFBA. Coordenador do
Serviço de Extensão Permanente Aliança de Redução de Danos Fátima Cavalcanti
da Faculdade de Medicina da Bahia, da Universidade Federal da Bahia, e Fundador
e ex-coordenador (de 2012 e 2015) do Centro de Atenção Psicossocial para pes-
soas que usam álcool e outras drogas – CAPS-ad Gregório de Matos. Membro do
Programa Especial de Participação dos Professores Aposentados da UFBA (desde
2016). Membro do Conselho Acadêmico de Pesquisa e Extensão - CAPEX/UFBA,
do Conselho Superior de Ensino Pesquisa e Extensão - CONSEPE/UFBA e da Con-
gregação da Faculdade de Medicina da Bahia - FMB/UFBA (2011-2015), do Con-
selho Técnico Científico da Rede de Pesquisa sobre Drogas/Secretaria Nacional de
Políticas sobre Drogas - SENAD, e do Conselho Editorial da revista Toxidependên-
cias, editada pelo Ministério da Saúde - Instituto da Droga e da Toxicodependência
de Portugal.

Lattes: http://lattes.cnpq.br/6237398170331425
TELMO MOTA RONZANI
Graduado em Psicologia pela Universidade Federal de Juiz de Fora, Mestre em
Psicologia Social pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Doutor em
Ciências pelo Programa de Pós-Graduação em Psicobiologia da Universidade Fe-
deral de São Paulo (2005), com Pós-Doutorado pela Universidade de São Paulo
(USP) e Estágio Pós-doutoral pela University of Connecticut Health Center (UCHC)
(2007), na área de Álcool e Outras Drogas, Professor da Universidade Federal de
Juiz de Fora, Consultor ad hoc da Secretaria Nacional de Políticas Sobre Drogas
(SENAD), Editor-Chefe da Revista Psicologia em Pesquisa (Qualis CAPES B1). Parti-
cipa da Comissão de Avaliação de Pós Graduação na área de Psicologia da CAPES.
Coordena o Centro de Referência em Pesquisa, Intervenção e Avaliação em Álcool
e Drogas (CREPEIA) da UFJF.

Lattes: http://lattes.cnpq.br/9239252166751422

POLLYANNA SANTOS DA SILVEIRA


Graduada em Psicologia pela Universidade Federal de Juiz de Fora, Mestre em Psi-
cologia pela Universidade Federal de Juiz de Fora, Doutora em Ciências da Saúde
pelo Programa de Pós-Graduação em Psicobiologia da Universidade Federal de
São Paulo, tem Pós-doutorado pela Universidade Federal de Juiz de Fora, com
ênfase em álcool e outras drogas, Pesquisadora do Centro de Referência, Pesquisa
e Intervenção em Álcool e Outras Drogas (CREPEIA), Professora-Adjunta da Uni-
versidade Católica de Petrópolis (UCP).

Lattes: http://lattes.cnpq.br/0346176675857863

LEONARDO FERNANDES MARTINS


Professor do Programa de Pós-graduação Stricto Sensu em Psicologia da Univer-
sidade Salgado de Oliveira (UNIVERSO), Doutor em Psicologia pela Universidade
Federal de Juiz de Fora (UFJF), Pesquisador do Centro de Referência em Pesquisa,
Intervenções e Avaliações em Álcool e Outras Drogas da UFJF.

Lattes: http://lattes.cnpq.br/6867296937779440
Capítulo 3

Fatores de risco e proteção em


diferentes grupos de usuários:
adolescentes, idosos, mulheres e
indígenas
Flavio Pechansky
Lisia Von Diemen
Denise De Micheli
Cleusa Pinheiro Ferri
Tassiane Cristine Santos de Paula
Tópicos
Adolescentes 50

Idosos  54

Mulheres 58

Indígenas 63

Bibliografia 69

Sobre os autores 74
oBJETIVOS
99 Compreender os fatores associados e as
particularidades do uso de álcool e outras drogas
(incluindo medicamentos) por adolescentes, idosos,
mulheres e indígenas, assim como os impactos
deste uso nas funções cognitivas, no risco de
desenvolvimento de dependência e outros problemas
médicos e psicossociais.
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Adolescentes
A adolescência é considerada um período de grandes transformações e des-
cobertas. Não há uma definição clara e consensual para o seu início e término. A
Organização Mundial da Saúde (OMS) a compreende como o período entre 10 e 20 anos,
assim como o Ministério da Saúde do Brasil (Brasil, 2007 a) e o IBGE (Brasil, 2007
b). Já o ECA (Brasil, 2007 c) a define como a faixa etária que vai dos 12 aos 18 anos de
idade. São várias as concepções sobre a adolescência na contemporaneidade e, embora
haja algumas divergências entre elas, todas concordam que se trata de uma fase de im-
portantes mudanças biopsicossociais (UNICEF, 2011; Brasil, 2007c).

Estudos destacam a adolescência como uma das mais ricas fases do desenvolvi-
mento humano, repleto de possibilidades de aprendizagem, experimentação e inovação.

Dados do UNICEF (2015) indicam que o Brasil apresenta atualmente uma po-
pulação de cerca de 21 milhões de adolescentes, sendo esse número considerado o
recorde demográfico dessa população. Por essa razão, nosso país vive o que tem sido
chamado de “bônus demográfico”. Ou seja, o Brasil nunca teve uma população tão gran-
de de adolescentes em sua história e, considerando as últimas estatísticas de natalidade,
muito provavelmente não voltará a ter. Estamos vivendo um momento singular, do pon-
to de vista demográfico e, portanto, propício para a construção de um novo olhar sobre
e para a adolescência, bem como para os processos de desenvolvimento que acontecem
nessa fase da vida.

De modo geral, a adolescência é um período de maior envolvimento em com-


portamentos de risco, entre eles pode-se destacar o uso de substâncias. Isso se deve ao
fato de que essa é uma fase de maior exposição e suscetibilidade às influências externas
e maior exposição aos riscos em virtude do processo natural do jovem em querer co-
nhecer e saber sobre todas as coisas que lhe são oferecidas. Além disso, outros fatores,
como necessidade de aceitação pelo grupo de amigos, desejo de experimentar compor-
tamentos vistos como “de adultos” (incluindo o uso de álcool e outras drogas), sensação
de onipotência (“comigo isso não acontece”), mudanças corporais que geram insegu-
rança, início de relacionamento afetivo, aumento da impulsividade e busca de sensações
novas, contribuem decisivamente para o envolvimento em comportamentos de risco.

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Em relação ao uso de álcool e outras drogas na adolescência, outros aspectos


importantes merecem destaque:

 Durante a adolescência o cérebro se encontra em franco processo de


maturação e o uso de álcool e outras drogas, especialmente nessa fase,
pode comprometer significativamente esse processo;

 Estudos epidemiológicos indicam que o início do uso de substâncias ocorre,


em geral, na adolescência. Sabe-se que os jovens, apesar do pouco tempo
de uso de substâncias, passam muito rapidamente de um estágio de
consumo para outro, além de fazerem uso de múltiplas substâncias. Por
outro lado, uma grande parcela deles diminui significativamente o consumo
no início da idade adulta, para adequar-se às expectativas e obrigações da
maturidade, como trabalho, casamento e filhos;

 Vários estudos demonstram associação positiva entre precocidade do uso


de substâncias e desenvolvimento de dependência;

 O envolvimento em atividades ilegais e o fato de ter pais ou familiares


próximos com problemas relacionados ao uso de bebidas alcoólicas
aumentam as chances de abuso ou dependência de álcool na idade adulta.

A OMS aponta o álcool como sendo a substância psicoativa mais consumida por
crianças e adolescentes. A média de idade, no Brasil, para o primeiro uso de álcool é de
12,5 anos. A forma mais comum de uso do álcool por adolescentes é o binge (uso epi-
sódico e em grandes quantidades). Além disso, estudos epidemiológicos têm mostrado
que o início do consumo de álcool, cigarro e outras drogas ocorre predominantemente
durante a adolescência.

Sexualidade e uso de drogas na adolescência


Na adolescência, é prevalente a associação entre o uso de algumas substâncias
e comportamento sexual. Isso porque a ação de algumas drogas, como o álcool, por
exemplo, é capaz de causar desinibição e sensação de aumento do desejo sexual, favo-
recendo práticas sexuais de risco. Alguns estudos mostram que, apesar de os adoles-
centes iniciarem sua vida sexual antes do consumo de drogas e saberem claramente as
formas de transmissão das doenças sexualmente transmissíveis (DSTs), incluindo o HIV,

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muitos não utilizam medidas de proteção. Além disso, os adolescentes que iniciam pre-
cocemente o consumo de drogas se mostram ainda mais propensos a práticas sexuais
de risco. Pesquisas realizadas com usuários de álcool, cocaína, maconha, anfetaminas e
êxtase indicam a relação entre consumo de drogas e o aumento da incidência das prá-
ticas sexuais de risco e da infecção pelo HIV.

Esses dados evidenciam a importância de identificar os adolescentes que


apresentam maiores chances de desenvolver problemas relacionados ao uso
de álcool e outras drogas. Diversos fatores de risco já são conhecidos, sendo
classificados em ambientais, familiares e individuais.

Fatores Ambientais
Fatores de risco de natureza ambiental dizem respeito a:

 Disponibilidade da substância em determinado ambiente ou contexto;

 Tolerância da sociedade e/ou grupo em relação ao uso (ou mesmo abuso)


da substância;

 Normas da sociedade favoráveis ao uso de determinadas substâncias.

O uso de álcool é um bom exemplo, uma vez que se trata de uma substância de
fácil acesso e aquisição, facilmente disponível em vários contextos e sem grandes restrições
relacionadas ao seu uso, ainda que para adolescentes. Pesquisas indicam que os jovens
adquirem bebidas alcoólicas tanto em estabelecimentos comerciais quanto em ambientes
familiares e de amigos. A falta de fiscalização e/ou atribuição de penalidades em relação à
venda de bebidas alcoólicas para menores de 18 anos também é um fator agravante.

Fatores Familiares
Entre os fatores familiares destacam-se:

 Uso de álcool e outras drogas pelos pais;

 Ausência de vínculo afetivo familiar;

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 Conflitos familiares;

 Estrutura familiar precária;

 Pouca supervisão dos pais;

 Ausência de regras claras e/ou de limites em relação ao comportamento


dos filhos;

 Situações estressantes (mudança de cidade, perda de um dos pais).

Estudos mostram que adolescentes cujos pais os monitoram e supervisionam,


como por exemplo para saber onde e com quem estão, o que gostam e como se sentem,
o que fazem e como gastam o seu dinheiro, quem são seus amigos etc., são os que apre-
sentam menores taxas de envolvimento com drogas e comportamentos de risco em geral.

Fatores Individuais
Fatores individuais são aqueles relacionados a características do próprio sujeito
e sua forma de reagir e encarar a vida. Por exemplo, adolescentes que encaram o uso
de álcool e outras drogas como algo “normal”, justificando que tal comportamento não
apresenta prejuízos ou que o uso está “sob controle”.

Entre as características relacionadas aos fatores individuais, facilitadoras para o


uso de substâncias, encontram-se:

 Características de personalidade: baixa autoestima, baixa autoconfiança,


agressividade, busca de novas sensações, impulsividade, rebeldia, baixa
tolerância à frustração;

 Transtornos psiquiátricos: transtorno de conduta, transtorno de


hiperatividade e déficit de atenção (principalmente se associado ao
transtorno de conduta), depressão, ansiedade e outros transtornos de
personalidade;

 Características genéticas e familiares: história familiar de problemas com


álcool ou outras drogas é um fator de risco para desenvolvimento de
alcoolismo ou dependência de outras substâncias;

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 Outros: sexualidade precoce, início precoce de consumo de álcool e tabaco,


amigos que fazem uso de substâncias, baixo desempenho na escola,
sentimento de rejeição pelos amigos, ter sofrido abuso físico ou sexual.

A chance de um adolescente fazer uso prejudicial de drogas depende do balanço


entre a quantidade e o tipo de fatores de risco e fatores de proteção presentes
na sua vida.

Alguns fatores de proteção contra o uso de drogas são conhecidos,


especialmente com relação à família, entre eles: bom relacionamento familiar,
supervisão ou monitoramento dos pais em relação ao comportamento dos filhos
e noções claras de limites, bem como valores familiares de religiosidade ou es-
piritualidade. Outros fatores de proteção são relacionados à escola, como o en-
volvimento em atividades escolares e esportivas e bom desempenho acadêmico.

Idosos
O consumo abusivo de álcool na terceira idade pode ser classificado em
dois tipos:

 Idosos que iniciaram um consumo pesado na juventude e o mantiveram ao


longo da vida;

 Idosos que iniciaram o consumo pesado na maturidade.

A tabela a seguir apresenta aspectos característicos desses grupos:

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Comparação entre alcoolismo com início na juventude e na maturidade


Início na juventude Início na maturidade
Luto (família, amigos, status social ou
Histórico familiar de alcoolismo
Fatores ocupação)
Baixo nível socioeconômico Isolamento social
associados História de múltiplos problemas
Doenças físicas e crônicas
físicos
Algum transtorno de personalidade Dificuldade de locomoção

Maior prevalência de esquizofrenia Comprometimento cognitivo

(Fonte: GAMBERT; ALBRECHT, 2005. KELLY; et al. 2018.)

O envelhecimento
O processo de envelhecimento é caracterizado por profundas mudanças não só
orgânicas, mas também nos âmbitos social, familiar e ocupacional. Estudos demonstram
que idosos são mais vulneráveis à depressão, pois muitos deles vivenciam perdas e limi-
tações, como doenças físicas. O processo de aposentadoria e a perda de relacionamen-
tos pessoais podem predispor o consumo abusivo de álcool, benzodiazepínicos, além de
outras medicações. Álcool, tabaco e sedativos são geralmente usados para mascarar a
solidão e a perda de autoconfiança, induzir o sono e provocar relaxamento.

ATENÇÃO
Os idosos podem experimentar uma variedade de problemas ao consumir álcool
em excesso, especialmente aqueles que fazem uso de medicação e já apresentam
algum problema de saúde.

Idosos são os maiores consumidores de medicamentos prescritos ou vendidos


sem receita médica. A prescrição simultânea de muitos medicamentos diferentes e o uso
concomitante de álcool, é comum nessa faixa etária.

É importante saber que:

 O tabaco é um dos principais fatores associados à morte de pessoas idosas


de ambos os sexos, principalmente aquelas que apresentam doenças
cardíacas e/ou pulmonares;

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 O padrão de consumo de bebidas alcoólicas no padrão binge também


ocorre na população idosa e, portanto, deve sempre ser investigado;

Estudos mostram que os idosos respondem tão bem ao tratamento para de-
pendência e abuso de substâncias quanto a população mais jovem.

A identificação de alcoolismo no idoso muitas vezes é difícil, mas alguns sinais e


sintomas comuns podem ajudar. Por exemplo: uso diário de álcool, períodos de amnésia,
manutenção de uso de álcool mesmo após ser aconselhado a parar, habilidades cogni-
tivas alteradas, anemia, alterações nos exames do fígado, fraturas, quedas frequentes
e convulsões.

ATENÇÃO

É possível que os profissionais de saúde não identifiquem o consumo


excessivo de álcool no idoso com a mesma frequência que em pessoas mais
jovens, porque:
• Os idosos geralmente evitam falar sobre a bebida, pois se sentem
constrangidos.
• Os profissionais de saúde podem confundir os efeitos do álcool com
problemas físicos ou mentais.

Entre os idosos o abuso de substâncias lícitas, em especial medicamentos para


tratamento de depressão, ansiedade e outras doenças, é o mais comum. O consumo de
drogas ilícitas era raro entre idosos, mas o número vem aumentando, principalmente no
grupo que iniciou o uso quando jovem. Os fatores de risco para manutenção do uso de
drogas nessa faixa etária são, principalmente, envolvimento em crimes, disponibilidade
da substância e comorbidade psiquiátrica.

A presença de comorbidades psiquiátricas é comum em idosos com transtor-


no por uso de álcool e/ou outras drogas. Entre as comorbidades frequentes estão a
depressão, ansiedade, demência e outras alterações cognitivas, delirium e síndromes
próprias do uso, como abstinência e intoxicação. Estima-se que até 20% dos idosos com
depressão apresentam também transtorno por uso de álcool. Além disso, a presença de
sintomas de depressão ou ansiedade parece ser fator importante para o aumento das
taxas de suicídio.

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Devido às alterações físicas que acontecem nesse período da vida, os efeitos


do álcool e das outras drogas são diferentes, podendo ocasionar problemas mesmo em
pequenas quantidades.

O efeito do álcool em idosos é mais rápido do que é para o jovem, pois há


um aumento da sensibilidade que reduz a tolerância do corpo ao álcool. Isso
coloca os idosos em maior risco de queda, acidente de carro e outras lesões não
intencionais, resultantes dos efeitos do álcool.

Há também alguns problemas específicos da terceira idade que predispõem ao


abuso de substâncias em geral, como:

 Problemas de saúde: são comuns em idosos, mas o consumo em excesso


pode piorar problemas, como a diabetes, pressão alta, insuficiência
cardíaca, problemas no coração e fígado, artrite e osteoporose,
neuropatias, câncer, problemas de memória e distúrbios de humor.

 Problemas visuais e auditivos: correspondem a perdas funcionais comuns,


que podem ocorrer com o avançar da idade e produzem sentimentos de
isolamento, solidão e tristeza. Nesse sentido, o álcool e as outras drogas
podem ser usados para lidar com os sentimentos desagradáveis ou
esquecer os problemas.

lembre-se

Pesquise o consumo de álcool e outras drogas dos pacientes idosos, mesmo


que nada conste nos registros médicos anteriores.

Os idosos tendem a criar suas próprias estratégias para controlar seu consumo
de álcool. No entanto, o aconselhamento do profissional de saúde deve deixar claro o
que é beber em excesso e quais os riscos à saúde. O próprio ceticismo do idoso em re-
lação aos riscos de seu consumo pode interferir na adesão ao tratamento. Portanto, é
importante compreender o contexto em que o idoso bebe para propor estratégias que
previnam ou reduzam os danos causados pelo consumo excessivo de álcool por ele.

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Mulheres
O uso, abuso e dependência de álcool e outras drogas são mais fre-
quentes em homens, mas essa diferença vem diminuindo ao longo dos anos.
Por exemplo, a prevalência de consumo de álcool no Brasil é de 62% entre os
homens e 38% entre as mulheres, indo para 26% e 25%, respectivamente, entre
14 e 17 anos.

As mulheres enfrentam problemas muito específicos quando se trata do uso de


álcool e outras drogas, sendo essas diferenças influenciadas pelo sexo (diferenças bioló-
gicas) e gênero (diferenças baseadas em papéis culturalmente definidos). Os problemas
podem estar relacionados a hormônios, ciclo menstrual, fertilidade, gravidez, amamen-
tação e menopausa. Além disso, as próprias mulheres referem motivos que levam ao uso
de drogas, como o controle do peso, o combate à exaustão e a tentativa de lidar com
problemas de saúde mental.

As mulheres usam drogas em quantidades menores que os homens, mas podem


experimentar os efeitos com maior impacto, pois os efeitos físicos são mais
intensos, devido a uma menor taxa de metabolização.

Os hormônios sexuais podem tornar as mulheres mais sensíveis que os homens


aos efeitos de algumas drogas e, além disso, algumas drogas podem aumentar a proba-
bilidade de infertilidade e início precoce da menopausa.

Uma característica importante é que o processo entre o início do uso, primeiros


sintomas de dependência e busca por tratamento é mais rápido entre as mulheres, não
só para álcool, mas para outras drogas também. Os aspectos relacionados ao uso de
álcool em mulheres são muito diferentes dos relacionados ao uso de outras drogas e,
por isso, serão abordados separadamente.

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Álcool
A relação com o uso de álcool é diferente entre os gêneros e algumas carac-
terísticas biológicas, psicológicas e psicossociais contribuem para tal. O corpo feminino
tem menor quantidade de água que o masculino (51% versus 65%, respectivamente) o
que determina que, com a mesma quantidade de álcool, a concentração será maior no
organismo feminino.

Outra particularidade feminina é a menor quantidade de álcool desidrogenase


(ADH), a enzima responsável pela primeira etapa de metabolização do álcool no orga-
nismo, o que faz com que a mulher atinja maiores concentrações de álcool no sangue e
demore mais tempo para metabolizá-lo do que o homem, bebendo quantidades equiva-
lentes. As alterações hormonais também são importantes nas mulheres, pois o período
pré-menstrual está associado a um aumento do consumo de álcool. Aquelas que apre-
sentam tensão pré-menstrual (TPM) têm maior probabilidade de desenvolver abuso ou
dependência de álcool do que as que não apresentam esse problema, provavelmente
devido ao uso para busca de alívio para a tensão.

Fatores de risco para o desenvolvimento de problemas relacionados ao uso de


álcool por mulheres:

 História familiar de problemas com álcool;

 Idade: mulheres mais jovens são usuárias de álcool com maior frequência
do que as mais idosas;

 Estado civil: solteira, separada ou divorciada;

 Trabalhar em ambiente com predominância de homens;

 Ter um parceiro ou parceira com problemas relacionados ao uso de álcool;

 Ter sofrido abuso físico, emocional ou sexual na infância, ou ter sido vítima
de violência nos relacionamentos amorosos na idade adulta;

 Uso precoce de álcool, nicotina e outras drogas;

 Problemas de comportamento na infância relacionados ao controle de


impulsos;

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 Fatos estressantes durante a infância e adolescência, como morte de um


dos pais, privação econômica e doença na família, também aumentam a
chance de problemas decorrentes do uso abusivo de álcool.

ATENÇÃO

Os transtornos psiquiátricos mais associados ao alcoolismo em mulheres


são: depressão, transtornos de ansiedade, transtornos alimentares
(principalmente bulimia do tipo purgativo) e transtorno de estresse pós-
traumático. O tratamento adequado dessas patologias é fundamental para
a superação dos problemas com álcool.

Em geral, as mulheres dependentes de álcool:

 Iniciam o consumo e têm problemas com o álcool em idade mais tardia;

 Consomem quantidades significativamente menores de álcool do que os


homens;

 Têm mais comorbidades psiquiátricas;

 Mais frequentemente identificam um evento estressante como o


desencadeador do início do consumo excessivo de álcool;

 Apresentam mais tentativas de suicídio;

 Procuram tratamento, em função de problemas de saúde ou familiares,


e mais comumente abusam de outras substâncias lícitas (tranquilizantes,
anfetaminas).

Outras drogas
Como o consumo de álcool, o uso de outras substâncias é menos prevalente
nas mulheres.

Algumas particularidades são identificadas nas mulheres dependentes de ou-


tras drogas, em comparação às dependentes de álcool, como:

 São significativamente mais jovens;

 Procuram tratamento por conta própria;

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 Têm menos relacionamentos estáveis;

 Apresentam mais tentativas de suicídio e transtornos de personalidade.

Vale ressaltar também suas diferenças, em relação aos homens usuários ou


dependentes de outras drogas, nos seguintes aspectos:

 Fatores genéticos: nas mulheres, o início do uso de maconha e cocaína


está mais relacionado a fatores ambientais, mas a evolução para abuso ou
dependência está mais condicionada a fatores genéticos;

 Fatores psicológicos: as comorbidades psiquiátricas são mais comuns


em mulheres com problemas com drogas, principalmente depressão e
ansiedade;

 Fatores biológicos: o ciclo hormonal interfere no efeito das drogas nas


mulheres. Na fase folicular (início do ciclo menstrual até a ovulação) os
efeitos reforçadores da cocaína são mais intensos. As tentativas de parar
de fumar são mais eficazes na primeira fase do ciclo menstrual do que na
segunda. O uso de maconha é mais alto entre as mulheres que têm mais
sintomas de tensão pré-menstrual;

 Fatores socioculturais: A pressão social para manter um corpo perfeito


é muito grande entre as mulheres, e observa-se um elevado consumo
de drogas associadas a controle de peso, como anfetaminas, nicotina,
cocaína e outros estimulantes. Outra questão importante é que os médicos
prescrevem medicamentos com potencial aditivo, como anfetaminas e
tranquilizantes, mais frequentemente para mulheres do que para homens.
Finalmente, o consumo de drogas pelas mulheres, principalmente as
ilícitas, é altamente influenciado por parceiros sexuais.

Uso de álcool e outras drogas durante a gestação e


a amamentação
O uso de bebidas alcoólicas e outras drogas na gestação pode causar uma série
de prejuízos para a mãe e o bebê. O uso dessa substância por mulheres grávidas pode
acarretar ao feto a Síndrome fetal alcoólico (dismórfico) (SFA), classificada na CID-10

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como Q86.0, que se caracteriza pela presença de defeitos congênitos ocasionados pelo
consumo materno de álcool durante a gravidez. Ela é considerada a causa mais comum
de retardo mental infantil de natureza não hereditária.

Outra condição apresentada na literatura é a Síndrome de Abstinência Neonatal


(SAN) decorrente do uso de drogas e de alguns medicamentos durante a gravidez, e que
pode levar o recém-nascido a apresentar sintomas de abstinência como: coloração da
pele manchada; diarreia; choro excessivo ou agudo; febre; aumento da frequência car-
díaca; irritabilidade; má alimentação; respiração rápida; convulsões; problemas de sono;
ganho de peso lento; tremedeira; vômito. Alguns bebês precisarão de tratamento para
sintomas de abstinência durante os primeiros seis meses.

Além disso, os efeitos do uso indevido de drogas e medicações na gestação


podem levar a consequências de longo prazo a fatais, como: anomalias congênitas; bai-
xo peso ao nascer; nascimento prematuro; perímetro cefálico pequeno; e síndrome de
morte súbita infantil.

Pesquisas já apontam uma série de complicações que acometem tanto o de-


senvolvimento do feto quanto o desenvolvimento do bebê após o nascimento. O uso
do tabaco, por exemplo, está associado ao parto prematuro, restrição de crescimento
intrauterino, deslocamento de placenta, abortamentos espontâneos, asma e infecções
respiratórias, bem como impacto negativo sobre o QI (Quociente de Inteligência) e em
distúrbios do comportamento. Por sua vez, a cocaína, o crack e seus derivados estão
associados a anomalias congênitas, como hidrocefalia, problemas cardíacos, fissura pa-
latina e alterações no aparelho digestivo e urinário.

ATENÇÃO

É necessário investigar o uso de álcool, tabaco e outras drogas em todas as


pacientes gestantes durante o acompanhamento pré-natal. A gestação é uma
oportunidade ímpar de tratamento do uso de substâncias em mulheres,
pois a ideia de proteger o bebê pode ser um importante fator de motivação.
Algumas drogas, como maconha, álcool, tabaco e certos medicamentos,
podem ser encontradas no leite materno. Assim, a preocupação com o
uso de álcool e outras drogas deve se estender além da gestação, devido à
transmissão do efeito das drogas ao bebê durante a amamentação.

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Tratamento
A progressão do tratamento para mulheres também é diferente da dos homens.
Existem barreiras que impedem a mulher de buscar ou aderir ao tratamento para uso de
drogas, como o receio de prejudicar o trabalho, os cuidados domiciliares, os cuidados
infantis e outras responsabilidades familiares. Tais receios podem ainda se intensificar
durante ou após a gravidez exatamente pelos possíveis medos legais ou sociais e falta
de cuidados com a criança durante o tratamento.

Para um tratamento bem-sucedido é necessário fornecer um nível maior de


suporte para atender a essas necessidades. Os programas de tratamento devem levar
em consideração o contexto e os possíveis temores envolvidos, bem como oferecer as-
sistência infantil, capacitação ao profissional e orientação para a família.

Indígenas
Segundo dados extraídos do censo de 2010 do IBGE, no Brasil, a população
indígena é de 896.900 mil pessoas, o que corresponde a 0,4% da população brasileira.
Ao longo da história, situações como pobreza, perda da identidade cultural, migração
forçada e falta de autonomia têm acarretado à população indígena inúmeros problemas
sociais e de saúde, entre eles a alta taxa de suicídios e o consumo excessivo de bebidas
alcoólicas; sendo esse último uma das principais causas de morte entre os indígenas nos
países em desenvolvimento e com prevalência cada vez maior nos países da América
Central e da América do Sul.

Alguns estudos realizados pela FUNASA (Fundação Nacional de Saúde) indicam


o uso abusivo de álcool (e a dependência) como sendo um dos principais agravos de
saúde das populações indígenas brasileiras. Um estudo realizado pela SENAD sobre o
uso de drogas pelas populações indígenas indicou que as comunidades do Amazonas
foram as que relataram maior consumo de bebidas alcoólicas (47,7%), com 8,9% dos
indígenas consumindo-as apenas em rituais religiosos. A menor proporção foi no Mato
Grosso do Sul (20,2%) e no Paraná foi observada a menor proporção de dependentes de
álcool (DUARTE; STEMPLIUK; BARROSO, 2009).

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O padrão de consumo, bem como as razões associadas ao uso de bebidas alco-


ólicas pela população indígena, tem se diferenciado ao longo do tempo. Antigamente, o
uso era associado a rituais místico-religiosos e, atualmente, a festas e diversão. Estudos
indicam que tal mudança se deve especialmente à grande urbanização próxima às co-
munidades indígenas, favorecendo o ingresso de índios na sociedade urbana, bem como
a entrada de diferentes tipos de bebidas alcoólicas nas aldeias.

Para MAIS

A proximidade entre áreas urbanas e comunidades indígenas favoreceu


o aumento do consumo de álcool entre os índios, comportamento antes
relacionado a situações de cunho místico-religioso. Atualmente, o uso de
bebidas alcoólicas entre a população indígena é fonte de grande preocupação
para setores da saúde.

Uso de bebidas e rituais


Dentro de seu contexto cultural, os povos indígenas tradicionalmente vêm fa-
zendo uso de bebidas fermentadas e de outras substâncias, tais como as plantas medici-
nais. O consumo dessas bebidas possui vários significados que não unicamente o de em-
briagar, fazendo parte das cerimônias ritualísticas como o “batismo do milho”, a “chicha”
e outras, e sendo socialmente aceito, de caráter coletivo e orientado pelos líderes locais.

Existem significados específicos para o “beber” entre os índios, à semelhança do


que ocorre entre os “não índios”. O uso de bebidas tradicionais normalmente tinha a fun-
ção de intermediar a comunicação entre as pessoas e diferentes divindades. Em algumas
etnias da Amazônia, por exemplo, servia também para o alívio de tensões sociais, para
marcar diferenças de gênero, com um sentido lúdico e para o reforço de vínculos sociais.

A maioria dos povos indígenas conhecia as bebidas alcoólicas tempos antes da


chegada do “homem branco”, obtidas pela fermentação de frutas, legumes e/ou raízes
(milho, mandioca etc.), mas não havia relatos de casos do que chamamos hoje de “de-
pendência”. Havia um controle social do consumo de bebidas, uma demarcação cerimo-
nial e religiosa que limitava ou restringia a ocorrência de alcoolismo entre os índios. A
partir do contato com outros grupos e culturas, especialmente associadas ao “homem
branco”, o padrão de consumo passou a mudar assim como o significado associado a

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esse uso. Foram introduzidos outros tipos de bebidas, principalmente as destiladas, com
maior teor alcoólico, que passaram a ser usadas fora do contexto cultural no qual eram
anteriormente consumidas.

Vale destacar, entretanto, que, mais do que a mudança do tipo de bebida, é no


contexto social dessas populações e em suas transformações que deveremos buscar as
respostas para os problemas que elas vêm enfrentando atualmente.

Dados epidemiológicos
Pesquisas indicam que quanto mais próximos das cidades mais vulneráveis se
encontram os índios. Apesar de não existirem fartos dados epidemiológicos sobre o as-
sunto, observa-se que o aumento do consumo de álcool entre índios tende a se repetir
em várias populações e etnias indígenas existentes no Brasil.

Em um estudo realizado por pesquisadores de Londrina/PR (SALGADO, 2003)


sobre o uso de bebidas alcoólicas e alcoolismo entre os Kaingang, identificou-se um
perfil epidemiológico preocupante: um alto índice de subnutrição ligada à mudança de
hábitos alimentares, doenças infectorrespiratórias, infectocontagiosas, parasitoses in-
testinais, crônico-degenerativas, tuberculose, entre outras. O início do uso de bebidas
alcoólicas entre os Kaingang foi de 11 anos, com relatos de consumo por volta de 7
anos. Além de bebidas alcoólicas, houve relatos de consumo de produtos como álcool
de farmácia e desodorantes entre membros do grupo.

De modo geral, o alcoolismo aparece como um agravo importante entre jo-


vens índios, acima de 12 anos de idade e adultos, associado a outras patologias, como
cirrose, diabetes, hipertensão arterial, depressão, doenças do coração e do aparelho
digestivo. Além disso, várias crianças de comunidades indígenas apresentam patologias
relacionadas direta ou indiretamente ao uso de álcool pelos pais, como a desnutrição e
a Síndrome Fetal pelo Álcool (SFA).

Segundo o psiquiatra Juberty Antônio de Souza, da Universidade Federal do Mato


Grosso do Sul, que vem trabalhando com populações indígenas há vários anos, um estudo
de prevalência, realizado entre os Terena (MS), detectou que 10,1% daquela população re-
latavam ter consumido álcool de modo abusivo nos últimos 12 meses. Entretanto, quando
consideradas as pessoas acima de 15 anos, a proporção de indígenas com características

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sugestivas de alcoolismo era de 17,6% na população aldeada e de 19,7% na população


indígena que vivia na periferia da cidade de Sidrolândia (MS). Essa diferença aumenta ain-
da mais quando se compara população aldeada e não aldeada por gênero. Na população
indígena feminina moradora na periferia da cidade essa proporção é de 17,1%, enquanto
que os valores encontrados para a população feminina aldeada caem para 1,6%. Ou seja,
uma proporção 10 vezes maior para as índias que vivem nas periferias urbanas. Essa pro-
porção também é maior quando comparada ao consumo por mulheres não índias.

Segundo a Lei nº 9.836/1999, que dispõe sobre a saúde indígena, as popu-


lações indígenas devem ter acesso garantido ao Sistema Único de Saúde – SUS, em
âmbito local, regional e de centros especializados, de acordo com suas necessidades,
compreendendo a atenção primária, secundária e terciária à saúde. Essa lei insere o
Capítulo V, ao Título II – Do Sistema Único de Saúde, na Lei nº 8.080/1990 e cria o Sub-
sistema de Saúde Indígena (SasiSUS). A gestão do SasiSUS é de responsabilidade federal
e esse Subsistema visa garantir a atenção integral ao indígena articulando com o SUS.
Na prática, cria um Sistema de Atenção Básica para as áreas indígenas (BRASIL, 1999).

Mas, entre os desafios para implantar essas ações de saúde em áreas indígenas,
destacam-se a difícil localização de boa parte das aldeias e a necessidade de capacitação
de profissionais de saúde e de uma atenção diferenciada aos índios. Essas iniciativas exi-
gem a participação das esferas federal, estadual e municipal do Sistema Único de Saúde
– SUS, em uma relação que respeite as diferentes culturas e promova o diálogo entre o
saber indígena e os conhecimentos da medicina ocidental.

No que tange a bebidas alcoólicas, segundo o artigo 58, III, da Lei nº 6.001/1973,
é proibida a venda de bebidas alcoólicas aos índios. Para saber mais: Estatuto do Índio.
Lei nº 6.001, de 19 de dezembro de 1973. Disponível em: <http://www.planalto. gov.
br/ccivil_03/ Leis/L6001.htm>.

Projeto educacional de prevenção ao uso de álcool e


outras drogas entre populações indígenas
Em reconhecimento ao fato de que os povos indígenas necessitam de atendi-
mento diferenciado, com programas desenhados a partir de suas características e rea-

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lidade de vida, a Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas, em parceria com a Fun-
dação Nacional do Índio (FUNAI), planejou um estudo denominado “Projeto Educacional
de Prevenção ao Uso Indevido de Álcool e Outras Drogas entre Populações Indígenas”,
com a proposta de capacitar representantes das comunidades indígenas e técnicos que
atuam junto a elas para promover o desenvolvimento de ações de prevenção ao uso
problemático de álcool e outras drogas mediante o envolvimento das pessoas que vivem
na aldeia e a articulação e o fortalecimento das redes locais.

Uma das ações previstas no desenvolvimento do projeto será a de levantar dados


que fornecerão informações sobre os aspectos sociodemográficos e sobre saúde, educa-
ção, trabalho e moradia nas aldeias pesquisadas. Esse projeto terá como desdobramentos
a adoção, pelas próprias comunidades indígenas, de alternativas para a prevenção ao uso
indevido de álcool e outras drogas e a articulação e o fortalecimento das redes comunitá-
rias locais de prevenção e atendimento nas aldeias indígenas e cidades vizinhas.

Saúde indígena
A Secretaria Especial de Saúde Indígena – SESAI é a área do Ministério da Saúde
responsável pela gestão do Subsistema de Atenção à Saúde Indígena (SasiSUS) e pela
implementação da Política Nacional de Saúde Indígena em todo o território nacional.

Além disso, a Secretaria é responsável por orientar o desenvolvimento das ações


de Atenção Integral à Saúde Indígena e Educação em Saúde segundo as peculiaridades,
perfil epidemiológico e condições sociossanitárias dos Distritos Sanitários Especiais In-
dígenas (DSEIs).

O Brasil conta hoje com 34 DSEIs, que são Unidades Gestoras do SasiSUS, di-
vididas estrategicamente segundo a ocupação geográfica das comunidades indígenas,
considerando suas características étnicas e culturais e perfil epidemiológico, dentre ou-
tras. Atuam em conjunto com postos de saúde, polos-base, Casas de Saúde Indígena
(CASAIs) e com o restante da estrutura do Sistema Único de Saúde. O DSEI é composto
por diversas estruturas de Saúde, como os Polos-Base (em cada região), Posto de Saú-
de (nas aldeias) e as Casas de Saúde Indígenas. Sendo assim, essas estruturas estão
submetidas ao DSEI e trabalham em conjunto, ou melhor, articuladas, com as demais
estruturas do SUS (GUIMARÃES; GRUBITS, 2007).

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Segundo a FUNASA, algumas diretrizes relacionadas aos cuidados com a saúde


indígena vêm sendo elaboradas, no sentido de evitar a descontinuidade da prestação de
serviços às populações indígenas e melhor gerir os recursos financeiros, fazendo com
que cheguem aonde são necessários.

Algumas das principais metas são a queda dos indicadores epidemiológicos de


problemas de saúde, a redução da desnutrição, a implantação de programas que promo-
vam a saúde da mulher indígena, a saúde bucal e a prevenção ao alcoolismo e ao suicídio.

O que se tem observado, ao longo da história, é que os grupos indígenas, assim


como as demais sociedades, modificaram-se, reelaborando os elementos de sua cultura,
porém sempre se identificando como indígenas. Ao invés de sua extinção ou assimilação
na cultura branca, como se imaginava no passado, o que se tem verificado nas últimas
décadas é uma resistência à perda da identidade étnica dos grupos indígenas brasileiros.

Muitas vezes somos levados a ter uma visão romântica do índio, isolado em sua
aldeia, com seus costumes tradicionais. Na atualidade, a maioria dos índios possui um
contato avançado e dinâmico com a sociedade envolvente, contato esse que não pode
ser negado ou evitado.

Nesse sentido, os trabalhos a serem desenvolvidos com essas populações de-


vem valorizar e respeitar sua cultura, buscando a integralidade no cuidado à saúde, o
que inclui a prevenção e o tratamento daqueles que têm problemas relacionados ao uso
de álcool e outras drogas.

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Acesso em 27 setembro 2018.

72
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento

NA INTERNET

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em: https://www.drugabuse.gov/publications/drugfacts/substance-use-in-women.
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SUBSTANCE USE IN WOMEN. National Institute on Drug Abuse (NIDA). Disponível


em: https://www.drugabuse.gov/publications/research-reports/substance-use-in-
women. Acesso em: 27 setembro 2018.

73
SOBRE OS
AUTORES
FLAVIO PECHANSKY
Professor Titular e Diretor do Centro de Pesquisa em Álcool e Drogas da UFRGS,
e do Centro Colaborador em Álcool e Drogas HCPA/SENAD, localizado no Hospital
de Clínicas de Porto Alegre (HCPA). Psiquiatra com especialização em dependência
química desde 1987, além de Mestre e Doutor pela UFRGS. Foi fellow da Johns
Hopkins School of Public Health entre 1993 e 1994. Foi Coordenador do Progra-
ma de Mestrado Profissional em Prevenção e Assistência a Usuários de Álcool e
outras Drogas do HCPA, e é professor visitante das Universidades da Pennsylvania
e Kentucky e bolsista de Produtividade 1-D do CNPq. Também é Chefe do Serviço
de Psiquiatria de Adição do HCPA. Tem uma extensa carreira em treinamento,
consultoria e publicações na área de álcool e drogas, com mais de 190 produções
incluindo livros, capítulos, editoriais e artigos originais em jornais Brasileiros e in-
ternacionais nas áreas de epidemiologia e tratamento do alcoolismo e abuso de
drogas, experimentação de álcool e drogas por adolescentes, comportamentos
de risco e transmissão do HIV entre usuários de drogas, e temas relacionados ao
beber e dirigir. Já foi consultor do governo brasileiro e coordenador ou membro de
comitês científicos de instituições internacionais e brasileiras, bem como editor e
membro de conselhos editoriais de periódicos nacionais e internacionais. É revisor
para diversos periódicos científicos e foi Editor Assistente Regional do periódico
Addiction por 10 anos. É Member-at-Large do International Council on Alcohol,
Drugs and Traffic Safety, Membro do Comitê sobre Álcool e Drogas do Transporta-
tion Research Board. Dentre os vários prêmios que recebeu, destaca-se o Award
of Excellence in International Leadership do The National Institute on Drug Abuse.

Lattes: http://lattes.cnpq.br/3384627608811915
LISIA VON DIEMEN
Graduada em Medicina pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2000),
Mestre (2006) e Doutora (2013) em Ciências Médicas: Psiquiatria pela Universi-
dade Federal do Rio Grande do Sul. Atualmente Professora do Departamento de
Psiquiatria e Medicina Legal da UFRGS, Chefe da Unidade de Ensino e Pesquisa do
Serviço de Adição do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Vice-Diretora do Centro
de Pesquisa em Álcool e Drogas do HCPA/UFRGS e professora da Pós-Graduação
em Psiquiatria e Ciências do Comportamento da UFRGS.

Lattes: http://lattes.cnpq.br/6636853828035713

DENISE DE MICHELI
Psicóloga (1997), Doutora (Departamento de Psicobiologia) na Universidade Fe-
deral de São Paulo (2000), com Pós-Doutorado em Ciências (Departamento de
Pediatria) na Universidade Federal de São Paulo. Professora Adjunta IV do Depar-
tamento de Psicobiologia da Universidade Federal de São Paulo. Coordenadora do
Programa de Pós-Graduação em Educação e Saúde na Infância e Adolescência da
UNIFESP. Researcher ID: B-7715-2016

Lattes: http://lattes.cnpq.br/2246867228137055

CLEUSA PINHEIRO FERRI


Médica Psiquiatra e Epidemiologista, Mestre em Psicobiologia (1991) e Doutora
em Psiquiatria e Psicologia Médica (1999) pela Escola Paulista de Medicina da Uni-
versidade Federal de São Paulo. Mestre em Epidemiologia pela Escola de Higiene
e Medicina Tropical da Universidade de Londres - LSHTM (2001). Tem Pós-Douto-
rado pelo Institute of Psychiatry, King’s College London (2012). Professora afiliada
e professora orientadora credenciada no programa de Pós-Graduação do Depar-
tamento de Psicobiologia da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal
de São Paulo. Researcher ID: B-2922-2010

Lattes: http://lattes.cnpq.br/2524029270331859
TASSIANE CRISTINE SANTOS DE PAULA
Psicóloga, Especialista em Farmacodependências (2007) e Mestre em Psiquiatria
e Psicologia Médica (2016) pela Escola Paulista de Medicina da Universidade Fe-
deral de São Paulo, e Doutoranda (2018) pelo Departamento de Psicobiologia da
Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo. Researcher ID:
C-5527-2012

Lattes: http://lattes.cnpq.br/1137427787279151
Capítulo 4

Epidemiologia do
uso de substâncias
psicoativas no Brasil:
peculiaridades regionais e populações
específicas
José Carlos Fernandes Galduróz
Ana Regina Noto
Danilo Polverini Locatelli
André Bedendo de Souza
Tópicos
Epidemiologia do uso, abuso e dependência de substâncias
psicoativas 80

Objetivos dos de estudos epidemiológicos nessa área 81

Dados recentes sobre o consumo de drogas no país 82

As drogas mais usadas no país 85

Outras drogas (energéticos, êxtase e esteroides


anabolizantes) 95

Bibliografia 97

Sobre os autores 99
oBJETIVOS
99 Entender o que é um estudo epidemiológico e qual sua
importância;

99 Conhecer a prevalência das principais drogas


psicotrópicas utilizadas no país.
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento

Epidemiologia do uso, abuso


e dependência de substâncias
psicoativas
Alguns conceitos básicos sobre epidemiologia

Epidemiologia: a palavra vem do grego, Epedeméion (aquele que visita).

Epí (sobre) | Demós (povo) | Logos (palavra, discurso, estudo).

A palavra epidemiologia significa “ciência (ou estudo) do que ocorre com o povo”.

Por exemplo: quantas pessoas estão infectadas com o vírus HIV, ou quantas
são fumantes, ou ainda quantas ganham salário mínimo, são questões com as quais se
preocupa a epidemiologia.

Prevalência: é a proporção de casos de certa doença ou fenômeno, em uma


população determinada, em um tempo determinado.

Por exemplo: quantos fumantes havia entre os moradores da cidade de São Paulo
em 2001 (casos existentes em uma população determinada em um tempo determinado).

Mais adiante, você verá, com detalhes, como diagnosticar o uso de risco e a
dependência de substâncias, mas para que você possa entender os dados das pesquisas
epidemiológicas é importante definirmos o que é:

 Uso na vida: qualquer uso (inclusive um único uso experimental) alguma


vez na vida;

 Uso no ano: uso, ao menos uma vez, nos últimos 12 meses que
antecederam a pesquisa (ou o momento no qual foi feita a avaliação);

 Uso no mês: uso, ao menos uma vez, nos últimos 30 dias que antecederam a
pesquisa;

80
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento

 Uso frequente: uso, em 6 ou mais  Dependência: conjunto de sinais


vezes, nos últimos 30 dias que e sintomas que determinam que
antecederam a pesquisa; a pessoa está dependente da
substância.
 Uso pesado: uso, em 20 ou mais
vezes, nos últimos 30 dias que
abusivo1: Nas versões mais recentes
antecederam a pesquisa;
dos sistemas de classificação de doen-
ças (CID e DSM)a palavra abuso ou
 Uso abusivo1: padrão de uso que
uso abusivo foi abolida, preferindo-se
tenha causado um dano real à categorizar o uso como nocivo ou pre-
saúde física ou mental do usuário, judicial ou dependência com diferentes
mas a pessoa ainda não preenche níveis de gravidade. Entretanto para
permitir a comparação de estudos ao
critérios para ser considerada
longo do tempo a expressão “uso abu-
dependente; sivo’ ainda é utilizada.

Objetivos dos de estudos


epidemiológicos nessa área
 Fazer o diagnóstico epidemiológico do uso de drogas em uma determinada
população;

 Obter dados que possibilitem a implantação de políticas adequadas à


população avaliada.

Tipos de estudos
1. Levantamentos epidemiológicos (fornecem dados diretos sobre o consumo
de drogas):

 Domiciliares (pesquisa entre moradores de residências);

 Com estudantes (alunos do ensino fundamental, médio ou de cursos


superiores);

81
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento

 Com crianças e adolescentes em situação de rua (crianças e adolescentes


que vivem a maior parte do tempo na rua);

 Com outras populações específicas, por exemplo: profissionais do sexo,


trabalhadores da indústria, policiais etc.

2. Indicadores epidemiológicos (fornecem dados indiretos sobre o consumo de


drogas de uma determinada população):

 Internações hospitalares por dependência;

 Atendimentos ambulatoriais de usuários de drogas e/ou álcool;

 Atendimentos em salas de emergências por overdose;

 Laudos cadavéricos de mortes violentas (fornecidos pelo IML – Instituto


Médico Legal);

 Apreensões de drogas feitas pelas Polícias Federal, Estadual ou Municipal;

 Prescrições de medicamentos (ex.: benzodiazepínicos e anfetamínicos);

 Mídia (notícias veiculadas pelos meios de comunicação sobre as drogas);

 Casos de violência decorrentes do uso de drogas;

 Prisões de traficantes.

Dados recentes sobre o


consumo de drogas no país
Agora você irá conhecer alguns dados sobre o consumo de álcool e outras dro-
gas no Brasil. Os dados diretos que serão apresentados a seguir foram obtidos a partir
de quatro levantamentos: domiciliar, com estudantes do ensino fundamental e médio,
universitários e com crianças e adolescentes em situação de rua, patrocinados pela Se-
cretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (SENAD).

82
SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento

 Levantamentos Domiciliares: Realizados em 2001 e 2005 pelo CEBRID


(Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas), na época setor do
Departamento de Psicobiologia da UNIFESP, englobou as 108 maiores
cidades do país (aquelas com mais de 200 mil habitantes). Foram utilizadas
amostras representativas de cada cidade, com base nos dados do IBGE.
Foram entrevistadas 7.939 pessoas, selecionadas por sorteio, na faixa
etária de 12 a 65 anos de idade.

 VI Levantamento Nacional sobre o Consumo de Drogas Psicotrópicas


entre Estudantes do Ensino Fundamental e Médio da Rede Pública e
Privada de Ensino nas 27 Capitais Brasileiras – Realizado em 2010 pelos
pesquisadores do CEBRID, com amostra representativa das 27 capitais
brasileiras,constituída por 50.890 estudantes, sendo 31.280 da rede
pública de ensino e 19.610 da rede particular;

 II Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (LENAD), realizado


em 2012 por pesquisadores do INPAD – Instituto Nacional de Ciência e
Tecnologia para Políticas Públicas do Álcool e outras Drogas, da Unidade
de Pesquisa em Álcool e Drogas (UNIAD) do Departamento de Psiquiatria
da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), avaliou os padrões
de consumo de álcool e outras drogas na população brasileira. Foram
realizadas 4.607 entrevistas, em 149 municípios brasileiros;

 Uso de Bebidas Alcoólicas e Outras Drogas nas Rodovias Brasileiras,


realizado em 2010 por pesquisadores vinculados à Universidade Federal
do Rio Grande do Sul, foi um estudo transversal utilizando como pontos
de coleta postos da Polícia Rodoviária Federal que se localizassem no
perímetro das regiões metropolitanas das 26 capitais de estados brasileiros
e do Distrito Federal. Foram entrevistados 3.398 motoristas;

SAIBA MAIS

Um estudo é considerado “transversal” quando é realizado em determinado


momento do tempo e longitudinal quando os dados são colhidos ao longo
do tempo.

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 I Levantamento com Crianças e Adolescentes em Situação de Rua,


realizado em 2004 pelo CEBRID. Foram entrevistadas 2.807 crianças e
adolescentes que vivem em situação de rua, isto é, vivem a maior parte
do tempo na rua e frequentemente recebem assistência do governo ou de
organizações não governamentais (ONGs), na forma de refeições e roupas,
porém não se encontram em abrigo permanente. A pesquisa abrangeu
todas as capitais do Brasil, incluindo jovens de 10 a 18 anos de idade;

 I Levantamento Nacional sobre Drogas entre Universitários, realizado


em 2010 coordenado por pesquisadores do Departamento de Psiquiatria
da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).
Participaram da pesquisa 12.711 estudantes universitários das 27 capitais
brasileiras.

 Pesquisa Nacional sobre o uso de crack: quem são os usuários de


crack e/ou similares do Brasil? Quantos são nas capitais brasileiras?
O estudo foi realizado por pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz. O
perfil dos usuários foi levantado através de entrevistas com 7.381 usuários
de crack ou similares que relataram uso em 25 dias ou mais nos últimos 6
meses. As entrevistas ocorreram entre os anos de 2011 e 2012 em todo o
Brasil. A estimativa do número de usuários foi realizada em 2012 através
de inquérito domiciliar indireto com aproximadamente 25 mil pessoas nas
capitais brasileiras e no Distrito Federal.

Os dados indiretos (indicadores epidemiológicos) que serão apresentados


adiante foram obtidos a partir de pesquisas realizadas nos prontuários do Instituto Mé-
dico Legal de São Paulo; de apreensões feitas pela Polícia Federal; de internações hospi-
talares por dependência de drogas; de dados do Detran-SP (Departamento de Trânsito),
bem como de dados sobre vendas de medicamentos ansiolíticos (aqueles que diminuem
a ansiedade e o nervosismo) e anorexígenos (aqueles que diminuem o apetite, usados
em dietas).

Agora que você já sabe a origem dos dados, vamos conhecê-los?

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As drogas mais usadas no país

Comparações entre dois Levantamentos Domiciliares


(2001 e 2005)
Em uma pesquisa realizada em 2005, não considerando o uso de de tabaco e
álcool, 22,8% da população pesquisada já fizera uso na vida de alguma droga (legalizada
ou não), correspondendo a 10.746.991 pessoas. Em 2001 o mesmo tipo de uso foi re-
latado por 19,4% (9.109.000 pessoas). Em pesquisa semelhante realizada nos EUA, em
2004, o uso na vida foi relatado por 45,4% da população.

PARA REFLETIR

Existem diferenças importantes entre os países. Por isso, nem toda política
ou intervenção desenvolvida no exterior aplica-se adequadamente à nossa
realidade.

A estimativa de dependentes de álcool em 2005 foi de 12,3% e de tabaco,


10,1%, o que corresponde a populações de 5.799.005 e 4.760.635 pessoas, respectiva-
mente. Observa-se um aumento de 1,1%, quando as porcentagens de 2001 e 2005 são
comparadas, tanto para álcool como para tabaco.

O uso na vida de maconha em 2005 aparece em primeiro lugar entre as dro-


gas ilícitas, com 8,8% dos entrevistados, um aumento de 1,9% em relação a 2001.
Comparando-se o dado de 2005 com o de outros estudos, pode-se verificar que esta
porcentagem é bem menor do que as de outros países, como EUA (40,2%), Reino Unido
(30,8%), Dinamarca (24,3%), Espanha (22,2%) e Chile (22,4%), porém superior às da
Bélgica (5,8%) e Colômbia (5,4%).

Embora as porcentagens sejam, numericamente, maiores na comparação entre os


levantamentos de 2001 e 2005, segundo as margens de erro das análises estatísticas
aplicadas, cientificamente isso pode não indicar um aumento real do uso.

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Em segundo lugar entre as drogas com maior uso na vida (exceto tabaco e ál-
cool) ficaram os solventes (6,1%), havendo um pequeno aumento (em 2005) de 0,3%
em relação a 2001. Estas porcentagens foram inferiores às encontradas nos EUA (9,5%)
mas superiores às de países como Espanha (4,0%), Bélgica (3,0%) e Colômbia (1,4%).

Entre os medicamentos usados sem receita médica, os benzodiazepínicos (an-


siolíticos) foram mencionados como tendo sido usados na vida por 5,6% dos entrevis-
tados, com 2,3% acima do observado em 2001 e inferior ao verificado nos EUA (8,3%).

Quanto aos estimulantes (medicamentos anorexígenos), o uso na vida foi relata-


do por 3,2% em 2005, indicando um aumento de 1,7% em comparação a 2001, porcen-
tagem próxima à de vários países como Holanda, Espanha, Alemanha e Suécia, mas muito
inferior à dos EUA (6,6%). Essa foi a única categoria de drogas cujo aumento de 2001
para 2005 foi considerado significativo, de acordo com a margem de erro das estatísticas.

Em relação à cocaína, 2,9% dos entrevistados declararam ter feito uso na vida.
Em relação aos dados de 2001 (2,3%), houve um aumento de 0,6% no número de pes-
soas utilizando esse derivado das folhas de coca.

Diminuiu o número de entrevistados de 2005 (1,9%) em relação aos de 2001


(2,0%), que relataram o uso de xarope à base de codeína. O uso na vida de heroína em
2001 foi de 0,1%; em 2005 houve sete relatos, correspondendo a 0,09%. Esses dados
são menores do que os achados em estudos nos EUA (1,3%).

Álcool
A Figura 1 abaixo mostra as porcentagens de entrevistados de ambos os sexos
que preencheiam os critérios para dependência de álcool.

Figura 1: Comparação entre os levantamentos de 2001 e 2005, segundo porcentagem de pessoas com dependência de
álcool, entre os entrevistados das 108 cidades com mais de 200 mil habitantes do Brasil.

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Internações hospitalares para tratamento da


dependência de álcool
No passado, as internações por dependência de álcool foram responsáveis por
90% de todas as internações provocadas por uso de drogas, a maioria na faixa etária entre
31 e 45 anos, com predomínio de homens, numa relação cerca de 10 vezes superior à de
mulheres. A análise das internações ao longo de 20 anos, de 1988 a 2008, indicou redu-
ção do total de internações no período analisado (de 64.702 internações em 1988 para
24.001 em 2008). Esta redução pode ser reflexo das ações adotadas nos últimos anos no
Brasil, com destaque para a criação dos Centros de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas
(CAPS-AD) a partir de 2002, e do desestímulo às internações em hospitais psiquiátricos.

Padrão de consumo de bebidas alcoólicas pelos


brasileiros
O II LENAD trouxe vários dados sobre o uso de álcool: o número de adultos que
bebem pelo menos uma vez por semana subiu 20% (de 45% da população total em
2006 para 54% em 2012). Apesar de o número de pessoas que relataram ter consumido
álcool no último ano ter diminuído entre 2006 e 2012 (de 52% para 50%), o padrão de
beber pesado episódico, ou binge, em pelo menos uma vez no ano anterior à entrevista,
aumentou entre essa parcela da população. Dados do I LENAD indicavam que a cerveja
era a bebida mais consumida nessas ocasiões. Além disso, o estudo apontou que 6,8%
dos entrevistados eram dependentes de álcool (10,5% da população masculina e 3,6%
da feminina).

Beber e dirigir
No estudo sobre o uso de bebidas alcoólicas nas rodovias brasileiras, 309 mo-
toristas (12,8% do total) relataram ter bebido no dia da entrevista. A maioria relatou que
havia bebido na própria casa ou na residência de outra pessoa (54,7%). Apenas 6% dos
entrevistados que ingeriram bebidas alcoólicas declararam que sua habilidade para dirigir
não estaria prejudicada. Por outro lado, 60,2% dos motoristas entrevistados relataram

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ter sido passageiros de motoristas que tinham bebido antes de dirigir. Os acidentes de
trânsito e suas consequências estão bastante associados ao consumo de bebida alcoólica.

Em estudo realizado em São Paulo, identificou-se que 56% dos motoristas que
morreram em acidentes de trânsito entre os anos de 2006 e 2008 estavam sob o efeito
de bebida alcoólica. Segundo dados do II LENAD, houve uma redução de 20% nos moto-
ristas que dirigiram no último ano sob o efeito de bebida alcoólica, comparando-se aos
anos de 2006 (27,5%) e 2012 (21,6%). O padrão de beber e dirigir é mais comum entre
os homens (27,3% em 2012) do que entre as mulheres (7,1% no mesmo ano).

A redução do índice de beber e dirigir possivelmente está associada à lei que


estabeleceu punição mais severa aos que forem flagrados nesse comportamento, bem
como à fiscalização para cumprimento dessa lei.

Para refletir

Além do álcool, 4,6% dos motoristas apresentou teste positivo para outras
drogas, sendo 2,1% cocaína, 1,5% maconha e 1% benzodiazepínicos.
Leia o relatório do estudo “Uso de Bebidas Alcoólicas e outras drogas nas
Rodovias Brasileiras – 2010”, apoiado pela SENAD.

Tabaco
De acordo com o levantamento domiciliar, verificou-se que, em 2005, mais ho-
mens preencheram critérios para dependência de tabaco, comparados às mulheres (Figura 2).

12,0% 11,3%
PORCENTAGEM DE DEPENDENTES

10,1% 10,1%
10,0% 9,0% 9,0%
7,9%
8,0%
DE TABACO

6,0%

4,0%

2,0%

0,0%
Total Masculino Feminino

Ano 2001 Ano 2005

Figura 2: Comparação entre porcentagem de pessoas do sexo masculino e feminino com dependência
de tabaco, em relação aos dados dos levantamentos domiciliares de 2001 e 2005. Entrevistados das 108
cidades com mais de 200 mil habitantes do Brasil.

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Outras drogas psicotrópicas (exceto tabaco e álcool)


A Figura 3 mostra o uso na vida, nos anos de 2001 e 2005, de 15 substâncias
psicoativas. Houve um aumento de prevalência, de 2001 para 2005, em nove classes de
drogas (maconha, solventes, cocaína, estimulantes, benzodiazepínicos, alucinógenos,
crack, anabolizantes e barbitúricos); diminuição em quatro (orexígenos, opiáceos, xaropes
com codeína e anicolinérgicos), e níveis semelhantes de consumo em duas (heroína e merla).

10,0%
8,8%
PORCENTAGEM DE USO NA VIDA DE OUTRAS DROGAS

9,0%

8,0%

7,0%
(EXCETO ÁLCOOL E TABACO)

6,1%
5,8%

5,6%

6,0%
4,3%

5,0%
4,1%
3,3%

3,2%

4,0%
2,9%
2,3%

3,0%
2,0%
1,9%
1,5%

1,4%
1,3%

2,0%
1,1%

1,1%

0,9%
0,7%

0,7%
0,6%

0,5%
0,5%

0,4%

0,3%
1,0%

0,2%

0,1%
0,2%
0,0%

Ano 2001 Ano 2005

Figura 3: Uso na vida de outras drogas, exceto álcool e tabaco.


Comparação entre os levantamentos de 2001 e 2005 com entrevistados das 108 cidades com mais de 200 mil
habitantes do Brasil.

Maconha
A substância ilícita com maior prevalência de uso na população brasileira é a
maconha. Do total da população adulta, 6,8% (ou seja, 7,8 milhões de brasileiros) decla-
raram já ter usado maconha pelo menos uma vez na vida. No II levantamento domiciliar,
2,6% dos brasileiros adultos declaram ter usado maconha nos últimos 12 meses, repre-
sentando mais de 3 milhões de adultos em todo o país.

Foi observada redução no número de estudantes de ensino fundamental e médio


que relataram uso na vida de maconha, de 7,6% em 2004 para 5,7% em 2010. No levanta-

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SUPERA | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento

mento entre universitários, o uso de maconha na vida foi relatado por 26,1% dos pesquisados
e o uso nos últimos 12 meses por 13,8%.

A apreensão de maconha (em kg) feita pela Polícia Federal no período de 2003 a
2016 pode ser vista na Figura 4. Embora esse indicador epidemiológico tenha um signifi-
cado restrito, pois não se conhece o universo do tráfico e nem se refere diretamente ao
número de usuários, pode-se observar um aumento nas quantidades apreendidas a partir
de 2013.

270.919
KG DE MACONHA APREENDIDAS PELA

222.225 224.829
208.463
193.247
188.939
174.224
POLÍCIA FEDERAL

168.867 167.553
151.565 155.072
167.553
131.365
111.231

2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016

Figura 4: Apreensões de maconha, em kg, feitas pela Polícia Federal no período de 2003 a 2016. Fonte: Polícia Federal.

Solventes
Os solventes, ou inalantes, são as drogas com maior uso na vida entre os es-
tudantes do ensino fundamental e médio, quando não consideramos álcool e tabaco.
Teresina foi a capital que apresentou a maior porcentagem de uso (19,2%) e Aracajú,
a menor (6,4%) no levantamento realizado em 2010. O Brasil é o maior consumidor de
solventes da América do Sul, considerando os índices de uso na vida de solventes entre
os estudantes de 15 a 16 anos (10,8%), sendo ultrapassado apenas por Irlanda, França
e Alemanha. O uso na vida de solventes também está entre as substâncias mais comu-
mente relatadas entre a população domiciliar (6,1%), universitários (26,1%) e crianças e
adolescentes em situação de rua (44,4%).

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16,0% 15,0%
14,0%
% DE USO NA VIDA DE INALANTES

12,0%
12,0% 11,0% 10,8%
10,0% 9,0% 9,0%
8,0%
6,0% 6,0% 5,9% 5,9%
6,0% 4,6% 4,5% 4,3%
4,0%
4,0% 3,0% 2,6%
2,0%
0,0%

Figura 5: Uso na vida de solventes, por estudantes de 15 e 16 anos no Brasil e de outros países.
Dados expressos em porcentagens. Fontes: ESPAD (2007), SIDUC (2006) e CEBRID (2010).

Benzodiazepínicos
Na segunda pesquisa domiciliar, o uso na vida de benzodiazepínicos foi re-
latado por 5,6% da amostra, um índice inferior ao observado nos EUA (8,3%). A de-
pendência de benzodiazepínicos foi estimada em 0,5% para o Brasil, estando as maio-
res porcentagens na região Sudeste, com 0,8% de dependentes. Uma proporção cinco
vezes maior de mulheres relatou usar benzodiazepínicos, em comparação aos homens.
No levantamento entre universitários, 12,4% relataram o uso na vida de tranquilizantes/
ansiolíticos, enquanto 5,3% dos estudantes de ensino fundamental e médio disseram já
ter experimentado essas drogas alguma vez na vida.

Anfetamínicos
Assim como para benzodiazepínicos, na pesquisa domiciliar, o uso na vida de
anfetamínicos (medicamentos estimulantes e para tirar a fome) foi maior entre as mu-
lheres do que entre os homens, em todas as faixas etárias estudadas. O uso na vida
desses estimulantes foi relatado por 3,2%. Na pesquisa entre estudantes do ensino
fundamental e médio, o uso na vida de anfetamínicos foi de 2,2%, sendo um dos me-
nores usos mundialmente. Por outro lado, entre universitários, 13,8% relataram já ter
consumido anfetamínicos alguma vez na vida, índice superior ao de universitários norte
-americanos e europeus.

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A Figura 6 mostra a proporção de prescrições de anfetamínicos entre mulheres


e homens (razões sobre as colunas. Por ex.: Há 10 prescrições de anfepramona para mu-
lheres para cada prescrição feita para um homem). Note que as mulheres recebem bem
mais prescrições desses medicamentos do que os homens. Esses dados foram obtidos
pela análise dos receituários especiais que são necessários para comprar esse tipo de
remédio. Atualmente, esse receituário especial é denominado de receituário B2 (azul).

Anorexígenos - distribuição por sexo dos pacientes


10/1

10/1
NÚMERO DE PRESCRIÇÕES

6/1

Anfepramona Fenproporex Mazindol

Homens Mulheres

Figura 6: Análise da Prescrição e Dispensação de Medicamentos Psicotrópicos. (Fonte: CEBRID)

Cocaína/crack
Em 2004, o uso na vida de cocaína foi mencionado por 2,0% dos estudantes.
Na comparação com 2010 foi observado aumento para 2,5%. O uso na vida de cocaína
relatado por estudantes brasileiros é menor do que o de países como EUA (5,4%), Espa-
nha (4,1%) e Chile (3,7%), porém superior ao do Paraguai (1,6%), de Portugal (1,3%),
da Venezuela e da Grécia (1,0%).

Dados do II LENAD indicam que, em 2012, o uso na vida de cocaína relatados


pela população adulta foi de 4,0% e o uso no ano de 2,0%. Esses dados foram seme-
lhantes aos observados no II Levantamento Domiciliar do CEBRID de 2005 (2,9%).

O uso de cocaína sob a forma de crack foi mencionado por 0,6% dos estu-
dantes do ensino fundamental e médio do Brasil, porcentagem inferior à relatada por

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estudantes da França (6,0%), Chile (3,3%), Argentina (3,1%), Suíça (2,0%) e Colômbia
(1,5%). Entre universitários pesquisados em 2010, o uso na vida foi relatado por 1,2%
dos entrevistados.

No ano de 2014, foi lançada a “Pesquisa Nacional sobre o Uso de Crack”, es-
timando que existam 370 mil usuários regulares (com relato de mais de 25 dias de uso
nos últimos 6 meses) de crack e/ou similares nas capitais brasileiras, o que representaria
0,81% do total da população residente nos municípios avaliados. Desses, aproximada-
mente 50 mil seriam crianças ou adolescentes. A região Nordeste apresentou a maior
proporção de usuários (1,3%) e em números absolutos (aproximadamente 150 mil). Em
estimativas percentuais, a região Sudeste apresentou a menor proporção de usuários
(0,56%), porém em números absolutos, a região é a segunda com maior número de
usuários de crack (113 mil).

Essa pesquisa também apresentou o perfil dos usuários, que foi analisado atra-
vés de entrevistas realizadas em território nacional. Identificou-se que, em média, os
usuários possuem 30 anos, cerca de 79% são homens e 79% não são da etnia branca.
Nas capitais, usam o crack e/ou similar há cerca de 91 meses, em média (mais de 7
anos), enquanto que nas cidades do interior foi relatado o uso em média há 59 meses
(quase 5 anos), o que pode indicar uma interiorização maior do uso da substância.

Outros dados relevantes desses estudos indicam que, apesar de 77% dos en-
trevistados relatarem ter vontade de realizar tratamento para o uso de drogas, e cerca
de 80% afirmarem que acessariam serviços de atendimento para pessoas que usam
drogas, caso existissem próximo de onde vivem, poucos de fato acessaram os serviços
de saúde (27%) ou assistência social (13%) nos 30 dias anteriores à pesquisa. Os dados
também revelam que essa é uma população em situação de alta vulnerabilidade.

SAIBA MAIS

Obtenha o estudo na íntegra em: <https://www.icict.fiocruz.br/sites/www.


icict.fiocruz.br/files/Pesquisa%20Nacional%20sobre%20o%20Uso%20
de%20Crack.pdf>.

Cerca de 30% das mulheres usuárias de crack relataram recebimento de di-


nheiro ou da substância em troca de sexo e mais de um terço do total relatou não ter

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usado preservativo nas relações vaginais nos 30 dias anteriores à pesquisa. Identificou-
se também que 5% dos entrevistados eram HIV positivo e 2,6% tinham infecção por
Hepatite C, índices muito superiores aos projetados para a população brasileira geral.

A apreensão de cocaína (em kg) feita pela Polícia Federal no período de 2003 a
2016 pode ser vista na Figura 7. Pode-se observar um aumento nas quantidades apre-
endidas a partir do ano de 2013.

Cocaína (cloridrato, crack e pasta base) - kg


27.223

41.741 39.311
33.858
18.897
21.318 24.155
9.883 14.243
7.485 27.074
17.530
24.052
19.848

2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016

Figura 7: Apreensões de cocaína, em kg, feitas pela Polícia Federal entre os anos de 2003 e 2016.

Alucinógenos
Cerca de 1% da população domiciliar brasileira relatou uso na vida de LSD-25,
chá de cogumelo, mescalina ou êxtase, uso menos frequente do que entre estudantes
do ensino fundamental e médio (2,3% - LSD e êxtase). Entre universitários, o uso na vida
de alucinógenos foi ainda maior (7,6%), superando também os relatados por universi-
tários europeus, mas menos frequente do que os de universitários norte-americanos.

Anticolinérgicos
O uso na vida de drogas com efeitos anticolinérgicos (Artane® e Akineton®,
medicamentos usados no tratamento da doença de Parkinson) entre os estudantes foi
de 0,5% no Brasil, mesma prevalência da população domiciliar. Entre as regiões, a Nor-
deste e Sudeste apresentaram as maiores prevalências, 1,3% e 1,2%, respectivamente.
Estudantes universitários (1,2%) também relataram ter usado essas drogas alguma vez

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na vida. Entre crianças e adolescentes em situação de rua, o uso de Artane® foi men-
cionado por 1,6% dos entrevistados.

Heroína
O uso na vida de heroína, uma droga frequentemente citada na mídia, foi relata-
do por apenas 0,04% dos entrevistados (apenas 4 entrevistados) na pesquisa domiciliar
de 2001 e por 0,09% em 2005 (apenas 7 entrevistados), ou seja, prevalências extrema-
mente baixas. Se comparadas a outros países, essas porcentagens estão muito abaixo da
média americana (1,3%) e das relatadas na Colômbia (1,5%). Apesar disso, 29,6% dos en-
trevistados relataram a percepção de que “obter heroína era fácil”. Essa baixa proporção
de relatos de uso na vida de heroína também foi observada entre estudantes universitários
(0,2%), do ensino fundamental e médio (0,3%). Contudo, não houve sequer um relato de
uso de heroína no último mês entre as populações domiciliar e de estudantes.

A discrepância entre o número de pessoas que mencionaram o uso e a propor-


ção de pessoas que mencionaram facilidade de obtenção provavelmente é potenciali-
zada pelo imaginário popular criado pela mídia, favorecendo a percepção da facilidade
com que a população acredita ser possível obter drogas nas grandes cidades brasileiras,
mesmo quando seu uso é extremamente baixo.

Outras drogas (energéticos,


êxtase e esteroides
anabolizantes)
Entre os dados do VI Levantamento entre estudantes, merece destaque o uso
na vida de bebidas energéticas em mistura com álcool, relatado por 15,4% dos estudan-
tes do ensino fundamental e médio. O uso na vida de esteroides anabolizantes (1,4%)
também merece atenção, sendo a distribuição heterogênea entre as capitais.

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Já entre universitários, destacam-se o uso na vida de álcool e energéticos


(74,3%), de êxtase (7,5%), de analgésicos opiáceos (5,5%) e de esteroides anabolizan-
tes (3,8%), frequências superiores às de outras populações no Brasil.

Comparando dados....
Pode parecer estranho que, para uma mesma droga, apareçam porcentagens
diferentes de uso. Isso ocorre porque cada tipo de levantamento estuda uma determinada
população com particularidades próprias. A Tabela a seguir ilustra essa questão. É pos-
sível notar, por exemplo, que na pesquisa domiciliar (incluindo pessoas de 12 a 65 anos
de idade) o uso na vida de solventes foi relatado por 5,8% dos entrevistados, enquanto
entre jovens (estudantes do ensino fundamental e médio e também universitários, além
de crianças e adolescentes em situação de rua) as porcentagens foram bem maiores.

Por isso, quando se pretende aplicar um programa preventivo ou uma inter-


venção, é importante conhecer antes o perfil daquela população específica, pois suas
peculiaridades são relevantes para um planejamento adequado.

Levantamentos
Estudantes Crianças e
do ensino adolescentes
Drogas Domiciliar Universitários
fundamental e em situação
médio de rua
Maconha 6,9 5,7 26,1 40,4

Solventes 5,8 8,7 20,4 44,4

Cocaína 2,3 2,5 7,7 24,5

Comparação do uso na vida de algumas drogas em três diferentes populações


pesquisadas. Dados expressos em porcentagens.

É preciso lembrar, ainda, que, embora já existam estudos sobre o panora-


ma do uso de drogas no Brasil, os dados disponíveis nem sempre são suficientes para
avaliações específicas e, além disso, o uso de drogas é algo dinâmico, em constante
variação de um lugar para outro e mesmo em um determinado lugar, em épocas dife-
rentes. Por essas razões, há a necessidade de programas permanentes de pesquisas
epidemiológicas, para novas tendências possam ser detectadas e para que programas
de prevenção e intervenção sejam adequadamente desenvolvidos e avaliados.

O conhecimento de dados epidemiológicos é essencial para a construção de


intervenções e seu monitoramento fundamental para avaliar os resultados obtidos.

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cas. Disponível em: https://obid.senad.gov.br/nova-arquitetura/publicacoes/pesquisas/
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1999- 2000 National Household Survey on Drug Abuse. Rockville: U.S. Department
of Health and Human Services, 2001. Disponível em: <http://www.samhsa.gov>. Aces-
so em: 27 setembro 2018.

98
SOBRE OS
AUTORES
JOSÉ CARLOS FERNANDES GALDURÓZ
Médico Psiquiatra, Mestre (1992) e Doutor em Ciências (1996) pela UNIVERSIDA-
DE FEDERAL DE SÃO PAULO (UNIFESP), Professor Associado do Departamento de
Psicobiologia da UNIFESP.

Lattes: http://lattes.cnpq.br/8366139801463833

ANA REGINA NOTO


Psicóloga e Bioquímica, Mestre e Doutora pela Escola Paulista de Medicina da
Universidade Federal de São Paulo, na qual é chefe da Disciplina de Medicina e
Sociologia do Abuso de Drogas, orientadora do Programa de Pós-Graduação em
Psicobiologia (nota 7 da CAPES). Coordenadora do Núcleo de Pesquisa em Saúde
e Uso de Substâncias (NEPSIS) e Vice-Coordenadora do curso SUPERA. Orientou
14 teses de Doutorado e 14 de Mestrado e publicou mais de 100 artigos em re-
vistas indexadas.

Lattes: http://lattes.cnpq.br/1146514655934224
DANILO POLVERINI LOCATELLI
Graduado em Psicologia pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e Mestre em
Ciências pelo Departamento de Psicobiologia da Universidade Federal de São Pau-
lo (UNIFESP). Tem formação na área de saúde coletiva e possui como tema de
pesquisa a epidemiologia e os aspectos associados ao uso de drogas entre adoles-
centes e os processos formativos na área de álcool e outras drogas. Atualmente, é
pesquisador da Associação Fundo de Incentivo à Pesquisa (AFIP), colaborador do
Núcleo de Pesquisa em Saúde e Uso de Substâncias (NEPSIS) do Departamento de
Psicobiologia da UNIFESP, coordenador-adjunto do Centro Regional de Referência
CRR-DIMESAD-UNIFESP e professor da Faculdade Messiânica.

Lattes: http://lattes.cnpq.br/3611783959177382

ANDRÉ BEDENDO DE SOUZA


Graduado em Psicologia pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Mestre
em Psicobiologia pela UNIFESP, Doutor em Psicobiologia pela UNIFESP, Pesquisa-
dor do Núcleo de Pesquisa em Saúde e Uso de Substâncias – NEPSIS/UNIFESP.
Nome em citações: Bedendo, A.

Lattes: http://lattes.cnpq.br/3903686208576562

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