ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO ESPECIALIZAÇÃO EM GESTÃO PÚBLICA MUNICIPAL – UAB/PNAP (O liberalismo excludente)
Disciplina: Desenvolvimento e Mudança no
Estado brasileiro Profa. Sueli Goulart A transição: do Império para a República
A larga expansão das forças produtivas e o progresso
material a que assistimos nos últimos decênios do Império ainda se ativarão mais com o advento da República. Os anos que se seguem e o primeiro decênio do século atual [SÉCULO XX] assinalam o apogeu desta economia voltada para a produção extensiva e em larga escala, de matérias-primas e gêneros tropicais destinados à exportação [...]. Em nenhum momento ou fase do passado o país tivera diante de si, neste sentido, perspectivas mais amplas. A transição: do Império para a República
Para isso concorrem ao mesmo tempo, estimulando-
se reciprocamente, fatores externos e internos. Entre aqueles encontramos o grande incremento adquirido pelo comércio internacional; era o fruto do considerável desenvolvimento da população européia e norte-americana em particular, da ascensão do seu nível de vida, da industrialização, e finalmente, do aperfeiçoamento técnico, tanto material – os sistemas de transporte – como da organização do tráfico mercantil e financeiro. A transição: do Império para a República
E tudo isto condicionado e estimulado pelo amplo
liberalismo econômico que proporcionava a todos os países e povos da terra uma igual e equitativa oportunidade comercial. Como resultado disto, alargavam-se os mercados para as matérias-primas e gêneros alimentares tropicais de países como o Brasil. A conjuntura interna, igualmente favorável, completará este quadro para oferecer ao país um máximo de possibilidade no terreno econômico. A transição: do Império para a República
A solução do problema da mão-de-obra, a grande
questão do passado, fora completa: de um lado pela abolição da escravidão se removera o obstáculo oposto ao desenvolvimento do trabalho livre; doutro, pela imigração subvencionada e contando com o superpovoamento de várias regiões da Europa, se conseguira canalizar para o Brasil uma forte e regular corrente de trabalhadores. A transição: do Império para a República
Não se devendo esquecer que este afluxo
considerável de imigrantes só foi possível graças ao aperfeiçoamento técnico da navegação, bem como ao próprio desenvolvimento econômico do país, de que ele seria um dos principais estimulantes. O entrelaçamento de causas e efeitos é neste caso, como sempre, completo. A transição: do Império para a República
É, aliás em boa parte o progresso da técnica
moderna que permitirá aquele acentuado desenvolvimento da produção brasileira, pondo a seu serviço não somente a maquinaria indispensável (sem os aperfeiçoados processos de preparação do café não teria sido possível a larga expansão de sua cultura) e a energia necessária para acioná-la (a eletricidade), como também os transportes ferroviários e marítimos indispensáveis para a movimentação através de grandes distâncias, dos volumes imensos da produção agrícola do país. A transição: do Império para a República
A par destes fatores imediatos, concorre nesta fase
para o estímulo das atividades econômicas brasileiras a convulsão ocasionada pelo advento da República. Não que esta tivesse profundezas políticas e sociais; a mudança de regime não passou efetivamente de um golpe militar, com o concurso apenas de reduzidos grupos civis e sem nenhuma participação popular. O povo, no dizer de um dos fundadores da República, assistira “bestializado” ao golpe, e sem consciência alguma do que se passava. A transição: do Império para a República
Mas a República agiu como bisturi num tumor já
maduro; rompeu bruscamente um artificial equilíbrio conservador que o Império até então sustentara, e que dentro de fórmulas políticas e sociais já gastas e vazias de sentido, mantinha em respeito as tendências e os impulsos mais fortes e extremados que por isso se conservavam latentes. Estes se fazem então sentir com toda sua força longamente reprimida, abrindo perspectivas que a monarquia conservadora contivera ou pelo menos moderara muito. A transição: do Império para a República
No terreno econômico observaremos a eclosão de um
espírito que se não era novo, se mantivera no entanto na sombra e em plano secundário: a ânsia de enriquecimento, de prosperidade material. Isto, na monarquia nunca se tivera como um ideal legítimo e plenamente reconhecido. O novo regime o consagrará. A transição: do Império para a República
O contraste destas duas fases, anterior e posterior ao
advento republicano, se pode avaliar, entre outros sinais, pela posição respectiva do homem de negócios, isto é, do indivíduo inteiramente voltado com suas atividades e atenções para o objetivo único de enriquecer. No Império ele não representa senão figura de segundo plano, malvista aliás e de pequena consideração. A República levá-lo-á para uma posição central e culminante. A transição: do Império para a República
A transformação terá sido tão brusca e completa que
veremos as próprias classes e os mesmos indivíduos mais representativos da monarquia, dantes ocupados unicamente com a política e funções similares, e no máximo com uma longínqua e sobranceira direção de suas propriedades rurais, mudados subitamente em ativos especuladores e negocistas. Ninguém escapará aos novos imperativos da época. A transição: do Império para a República
Os próprios governantes terão sua parte nestas
atividades, e até o espetáculo de ministros e altas autoridades metidas em negócios – coisa que nunca se vira no Império – será frequente. [...] Em suma, a República, rompendo os quadros conservadores dentro dos quais se mantivera o Império apesar de todas suas concessões, desencadeava um novo espírito e tom social bem mais de acordo com a fase de prosperidade material em que o país se engajara. A transição: do Império para a República
Transpunha-se de um salto o hiato que separava
certos aspectos de uma superestrutura ideológica anacrônica e o nível das forças produtivas em franca expansão. Ambos agora se acordavam. Inversamente, o novo espírito dominante, que terá quebrado resistências e escrúpulos poderosos até havia pouco, estimulará ativamente a vida econômica do país, despertando-a para iniciativas arrojadas e amplas perspectivas. A transição: do Império para a República
Nenhum dos freios que a moral e a convenção do
Império antepunham ao espírito especulativo e de negócios subsistirá; a ambição do lucro e do enriquecimento consagrar-se-á como um alto valor social. O efeito disto sobre a vida econômica do país não poderá ser esquecido nem subestimado. (Extraído de PRADO JÚNIOR, Caio. Apogeu de um sistema. In: ______. História econômica do Brasil. São Paulo: Brasiliense, 2004. Cap. 21, p. 207- 217.) O liberalismo excludente
O liberalismo excludente (1889-1930): forma política
característica do primeiro período republicano. O caráter liberal no Brasil: não havia regulação por instâncias estatais e jurídicas O caráter excludente: poder econômico e político concentrado na elite; afastamento dos grupos sociais da base da estrutura social O liberalismo excludente
Unidade empresarial mais importante: as fazendas
exportadoras de produtos primários Crescimento da economia cafeeira Generalização do trabalho assalariado (chegada de imigrantes); mecanização das operações de beneficiamento e malha ferroviária de transporte (Extraído de: NOGUEIRA, Antônio Mazzei. O paradigma brasileiro de gestão. In: ______. Teoria geral da administração para o século XXI. São Paulo: Ática, 2007. Cap. 12, p. 251-285.) O liberalismo excludente
É eterna a ilusão (quando não má-fé) dos reformistas
de todos os tempos. Uma reforma qualquer, quando não é compreendida como simples etapa, mero passo preliminar para ulteriores reformas mais amplas e completas, torna-se em força de reação. (PRADO JÚNIOR, Caio. História econômica do Brasil. São Paulo: Brasiliense, 2004, p. 178)