Revolução r8t7 65o

européia em função da polírica

"recolonizadora" da, Cà.tes
portuguesas.
Para outros, contudo, foi o meio através
do
qual o projeto do império luso-brasileiro,
corn o centro no Rio de
Janeiro, poderia ser
preservado - já que, suspenso
provisoriamente, serie reconduzido sob a
liderança do imperador do Brasil e futuro rei
de Portugal. Para a maioria, talvez, a ruprura
dos laços com a anrige metrópole
possivelmenre inregrou alternativos projecos
revolucionários de construção de uma nação
em que as idéias de liberdade e de igualdade
ultrapassavem, mesmo que tênue e
contradicoriamente, os interesses da
propriedade.
Cada vez mais recorrente e polissêmico em
meio às tensões que marcaram a crise do
Primeiro Reinado e o período regencial, o
termo revolução tornou-se objeto de crescente
cautela, expresse até mesmo pelos liberais
que formulavam as críticas mais radicais aos
"excessos de autoridade"
de D. pedro I.
Assim, o significado da sua abdicação, em
7 de abrrl de I8 )1, foj anrecipado por
Evaristo da Veiga uma das lideranças
- Nordeçe: r8t7. São pauio, perspectiva,
liberais mais imporrantes do período _ com a
famosa afirmação, publicada no jornal Aurora
Fluminense, em 25 de junho de rgZg: ,,Nada
de excessos. Queremos a Constituição. Não
queremos a Revolução." Em meio às
múltiplas revoltas do período regencial, o
termo revolugão não só reve a mulciplicidade
de sentidos ampliada como sofreu crescenre
desqualificação, sobretudo quando
identificado à ruprura e à rransformação
social, adquirindo com freqüência as
conotações de desordem, anarquia,
desgoverno, excesso de liberdaàe, caos,
perigo. Não foi por acaso que, como
observou Ilmar Mattos, os conservadores
que
implemenrarem a política regressista, a perrir
de I8 )7, fornularam uma "redefinição
semântica" do conceico de revoluçao.
Recuperando um dos senridos originais do
termo latino - "ato de aetorarar', _,
conceberam a "revolução como restauração',.
Assim, lSZZ significou, parâ os regressisras,
a garanria da manurenção de tr-, o.d"_
hisroricamenre consriruída a partir da
colonização, ameaçada p"lo,
""."rro,
arbitrários e autoricários da metrópole
absolurisra. A emancipação políti.a seria a
conrinuidade de um rempo passado e não
uma ruptura; um "ponto de chegada,' e não
o
"início de um novo rempo,'. A iJéia
da
revolução como restauração foi vicoriosa,
o que significou a desqualificação das
concepções liberais e o sepultamento dos
muitos ourros significados que o rermo
adquiriu enrre os segmenros sociais pobres
ou despossuídos livres, libertos e cacivos.
(MGE)
B, Remeter
E,rnancipação política, Liberaiismo, Império,
Regresso
g) Referências B ibli ográfi c as
MATTOS, I. O tempo Saquarema, São paulo,
Hucitec, I9B7; MOTA, C. G. Idíia de rewluçao no
Brasil, r78g-l 8or. petrópolis, Vozes, I979;
1972; _. (org.). tBzz: Dimensões. São paulo,
Perspectiva, r972; RODRIGUES, J. H.
Independência: revolugão e contra-reyohzçã0.
Rio de
Janeiro, Francisco Alves, L975.
Movimento de tendência autonomista e
republicana, que eclodiu no Recife em 6 de
merço de I8 17, identificado pela maior
parte
da historiografìa brasileira como um marco
no caminho pâra a Independência.
Denunciados pela organização de janrares
e
assembléias em que se emitiam princípios
sediciosos, o governador Caerano pinio de
Miranda Montenegro ordenou a prisão de
alguns militares. Ao reagir, u- dà,
implicados feriu mortalmenre o seu
comandante e provocou um motim que se
alastrou pelas ruas, com quebra-quebras e
tumultos, dirigidos em especial contra os
neturâis de Porcugal. Após refugiar-se em um
forte, logo cercado pelos amotinados, o
gouernador, porém, negociou sua retirada
pera o Rio de Janeiro, sem esboçar qualquer
reação.
Senhores da situação, os revoltosos
instituíram um governo provisório,
composto de cinco membros. Representavam
o comércio (Domingos José Martins), a
agricultura (Manuel Correia de Araúio), a
magistratura (José Luís de Mendonça), a
tropa (Domingos Teotônio Jorge) e o clero
(padre João Ribeiro), e eram assessorados
por um conselho de nocáveis locais, como o
desembargador Antônio Carlos Andrada e suporte ne zone açucareira da mata sul.
Silva, o dicionarista Antônio de Morais Silva
e o deão da Sé, Bernardo Luís Ferreira
Portugal, servindo Miguel Joaquim de
Almeida e Castro, o padre Miguelinho,
professor de retórica do Seminário de
Olinda, de secretário. As primeiras
providências consistiram na concessão de um
aumen[o de soldo aos militares e na abolição
de alguns impostos. Em seguida' Para evitar
os tumultos, diversas proclamações
procuraram conter o arraigado
ancilusitanismo da arraia-miúda e garantir o
apoio das províncias de Alagoas, Paraíba e
Rio Grande do Norte, que tinham
espontaneamente aderido ao movimento.
Numa nítida influência da Revolução
Francesa, outras medidas incluíram a
substituição do tratamento de "vossa mercê"
pelo "vós" e de "senhor" por "patriota", com
o objetivo de abolir alguns costumes
patriarcais considerados servis. No entanto, a
corrcepção unitária de t789, que pretendia
eliminar os particularismos locais, casave-se
mal com a tendência autonomista e que opôs a"nobreza da terra" aos
federalista pernambucana, motivo pelo qual o
modelo norte-emericano tendeu a ser
preferido. Um pouco mais tarde, chegou-se a
redigir uma Lei Orgânica, para alguns de
autoria de frei Caneca, mas saída da pena de
Antônio Carlos, segundo Cabral de Mello.
Pregando a liberdade de imprensa e a
tolerância religiosa, era o esboço de uma
constituição que, embora concentrâsse no
governo provisório os poderes Executivo e
Legislativo, limitava o período de sua
vigência até a elaboração de uma futura Carta
provincial.
No plano externo, os revoltosos buscaram
apoio em Washington e Londres, mas sem
sucesso, e, no interno, hesitações e
dissenções, como o receio dos propriecários
de que fosse abolida a escravidão,
enfraqueceram o movimento. Contidos pelo
bloqueio marítimo estabelecido em I5 de
abril, os rebeldes não resistiram às forças
enviadas por cerra da Bahia e que obtiveram
Capitulando o Recife em I9 de maio, se guiu-
se ume impiedosa devassa que executou os
principais líderes do movimento, dentre eles
o padre Miguelinho, e condenou quase 25o
indivíduos - cerce de IIo/o dos quais eram
eclesiásticos - aos cárceres da Bahia, onde
permaneceram até o indulto concedido pelas
Cortes de Lisboa em I82I.
Embora contivesse, sem dúvida' sentimentos
autonomistas e ideais republicanosJ Parece
mais difícil, hoie em dia, aceitar-se a
interpretação tradicional da Revolução de
ISIT,construída pela historiografia regional
como um prenúncio da Independência de
tSzz e aú da República de r889. Na
realidade, o movimento pode ser
compreendido como resultante de diversos
fatores, dentre os quais se destaca o
imaginário próprio da província, elaborado
em decorrência da participação nas lutas
contra os holandeses no século XVII e
consolidado por ocasião da Guerra dos
Mascates (rZro-I I), essarfronda dos malgmbos,
comerciantes reinós e estimulou um
acentuado antilusitanismo' Num segundo
plano, a criação do Seminário de Olinda pelo
bispo Azeredo Coutinho, em I8oo, uma
instituição de ensino única na colônia,
modelada na reforma pombalina da
R- revolução
Porto
Universidade de Coimbra, permitiu a
formação de toda uma geração, sobretudo de
clérigos, afinada com os ideais reformisras
que gravitavam em rorno de Rodrigo de
Souza Coutinho, e que, com o aparecimento
da Maçonaria, na segunda década do século
XIX, enconrrou um espaço próprio de
sociabilidade para desenvolver-se.
Finalmente, após mais de um século de
decantação desse imaginário narivisra, os
ideais reformisras das elites pernambucanas
viram-se frustrados em suas esperanças de
que â instalação da Corte na América
significasse uma mudança. De faro, em vez
de regalias e privilégios pera as províncias, a
rransferência do governo de LisÈoa pera o
Rio de Janeiro acarretou um excesso de
cobranças e imposições, culminando com os
tribucos exigidos para cusrear a campanha
militar na Cisplatina, no exato momento em
que a seca de I8I6 agravâve os crônicos
problemas de abastecimenco das cidades
nordestinas e acentuava as carências da
população miúda. Condensou-se, essim,
em Pernambuco um ambiente de
descontentamento, que perpessavâ e
hierarquia social de alto , b"iro e que só
aguardava um esropim para inflam"r_r".
Mais do que uma antecipação da
Independência, a revolta de I8I7 pod" ,e,
compreendida como uma daquelas explosões
de violência, rão freqüenres no Ancigá
Regime, que constituíam, na ausência de
outros mecanismos de negociação, a única
forma de proresro possível numa situação_
limite. Por ourro lado, o movimenro
denunciou de forma clara o papel de
metrópole que o Rio de Janeiro assumira
com a presença da Corte, revelando
insatisfações regionais que se iriam
manifestar, repecidamente, no primeiro
Reinado e no período regencial. (Guilherme
Pereira das Neves)
&) Remeter
Confederação do Equador, Frei Caneca, Reino
Unido, Padre Miguelinho
w
rã-ã3a
652 DrcroNÁnro
b*, Referênci as B ibli ográfi cas
LEITE, G. L. Pernambuco tBt7, estrutura e
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de.
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(t8+o). ln ed. Recife, Imprensa Industrial, r9I7.
$D ftsyolução do Porto
Movimenro que eclodiu na cidade do porto
em 24 de agosto de r 82o e deu início à lenta
agonia do Antigo Regime porruguês. Como
convinha a uma conjun[ura dominada pela
política conservadora da Santa Aliança, após a
derrota de Napoleão, em I g I 5, e à ótica das
mitigadas Luzes ibéricas, o movimenro do
Porto preocupou-se em evitar os tumultos,
"filhos da anarquia", rípicos de uma
revolução. Em seu lugar, propunha uma
política que procedesse a umâ
regeneraçõo
reforma inspirada por idéias liberais.
Prometendo desrerrar o despotismo,
considerado responsável por rodas as
opressões, rocou a sensibilidade das
demais regiões do império português,
sobrerudo o Brasil.
O núcleo dos insurgentes do porro era
consrituído, em sua maior parte, por
milicares, comercianres e magist.rdo, filiados
ao Sinídrio, sociedade secrera consriruída em
I8I8 ao redor de Manuel Fernandes Tomás,
o líder do movimenro, que serviu de instância
de sociabilidade para a discussão das idéias
que forneceram as bases do Vintismo ou
vintista. Moderados, só desejavam o
Regeneração
regresso do monarca, que se encontrava no