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CULTURA SÁBADO, 20 DE FEVEREIRO DE 2010

MÚSICA

CELSO LOUREIRO CHAVES·


como professor. E um dia desembarquei da
crítica musical. Me deu uma. vontade danada
ma vez fui crítico musical de citar Manuel Bandeira citando Olavo Bilac:
e não foi em outra vida, foi "Que outros, não eu, a pedra cortem" ... De lá
mesmo nesta. O lendário para cá tomei outros caminhos, para além
P.E Gastal me levou para da crítica, masdas críticas daqueles tempos
o mesmo espaço na im-
prensa que era dividido
por Paulo Antônio e Aldo.
Obino, críticos musicais de
longa data, junto com' Her-
bert Caro que ocupava a
de crítico ficaram registros incríveis. o argentino Mau-
ricio Kagel e suas ações musico-teatrais, Svi
Shankar e seu sitar, Pierre Boulez e a Filarmô-
nica de Nova York.Acima de tudo a estreia da
cantata sinfônica Os Campeadores, do gaúcho
Bruno Kiefer,sobre versos do também gaúcho
sua coluna dos sábados para apresentar, com dever-se-ia também reduzir o coro. Isso não Carlos Nejar.
muito humor e melhor ironia, os vinis que na- acontecendo, muitas vezes este acabará por Também sinto falta de crítica de música
quela época eram fartos e frequentes. Fico um obscurecer elementos orquestrais igualmente erudita. Mas não para compor uma história
pouco magoado quando só Obino, Caro e Pau- importantes, o que de fato aconteceu terça-fei- da música erudita do Rio Grande do Sul, que
lo são lembrados como críticos musicais atu- ra última. Além disso, a interpretação da obra esta está sendo composta em outros meios
antes, pois também Maria Abreu, Bruno Kiefer de Haydn foi pontilhada, toda ela, por desacer- e com muito mais competência e pormenor.
e eu fizemos a crônica da música de concerto' tos maiores e menores". Isso em 1974! Nem para fazer registros da movimentação lo-
de então. É que faz muito tempo: me dediquei O concerto foi numa terça-feira, a crítica foi cal, como se fazia nos tempos bravos dos 1970.
à crítica musical entre 1974 e 1976.Ainda nem publicada no jornal de sexta e na terça seguín-: A crítica de música hoje deixou de ser apenas
tinha terminado o curso de música ria univer- te eu tinha aula de regência com Kornlós. Uma ter um pouco mais de modéstia quando es- o registro de fatos específicos para se tornar
sidade e já lançava frases e mais frases com sequência de eventos não muito auspiciosa. crevesse, observando aqui e acolã os limites realmente crítica ao derivar em direção a ou-
uma coragem que não sei de onde vinha, pois Nunca esqueci a frase com que Komlós da cortesia, fazendo esforço para perder a tras áreas, fazendo conexões, estabelecendo
às vezes cutucavam com vara curta os meus me recebeu, sentado ao piano como sempre piada e não perder o amigo. paralelos, assinalando divergências. Aí sim, ela
próprios professores. ' ficava nas aulas; um charuto meio apagado Mas, como escreveu há pouco Ion Carama- se afasta da futilidade e se torna útil. Se não,
Foi numa dessas ocasiões que-Pablo Kornlós, entre os dedos: "Tengo uma pelea contigo ..." nica na sua resenha no The New York Times qualquer agenda de eventos em site da inter-
maestro da sinfônica local e meu professor de - assim no portunhol escorreito com o qual sobre uma biografia recente de [ohn Lennon, net terá maior serventia. Não fazer crítica mu-
regência, me presenteou com uma lição de pa- se fazia entender perfeitamente. Sentou-me Corn Plakes with Iohn Lennon, "Fã, incentiva- sical não é lavar as mãos. Fazer crítica não é se
ciência (ou complacência) que nunca esqueci. a sua frente e, com uma calma que a situa- dor, juiz, legista, voz discordante':" um crítico equilibrar na corda bamba. No que me toca,
Ele tinha regido a Missa em Tempo de Guer- ção talvez não justificasse, se pôs a explicar pode ser qualquer uma ou todas essas coisas. tudo que sei é do dever cumprido e cumprido
ra, de Haydn, num dos seus concertos e lá fui que nunca, jamais, absolutamente, um coro Mas ser amigo? Não". Se Komlós foi paciente há décadas. E lá vem Bilac de novo ..."que ou-
eu criticar: "a realização da Missa foi bastante poderia obscurecer a voz da orquestra. Deu - e foi a melhor lição que tive dele -, outros tro - não eu! - a pedra corte". Oh, céus, mas
menos feliz que a da sinfonia de Beethoven. O exemplos. Tocou um pouco de piano. Canta- foram bem menos. Elogios poucos. Ameaças que maçada! Será que foi só falar em crítica
problema mais grave, ao nosso ver, ocorreu no rolou um outro pouco. Sempre com calma e muitas. erudita e já me fui transformando em parna-
desequilíbrio entre as forças orquestrais e co- paciência. Se foi P.E Gastal quem confiou em Cheguei à conclusão que seria impossível siano de ocasião?
rais. Uma vez que se reduz a orquestra (como mim para que escrevesse crítica musical, foi me manter a criticar o próprio meio no qual'
é costume, ao interpretar Haydn e Mozart), Pablo Komlós quem me ensinou a lição de eu me inserira como músico, como teórico, * Músico

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