Beruflich Dokumente
Kultur Dokumente
Transporte
Para Cursos
Técnicos e Tecnológicos
INTRODUÇÃO
CAPÍTULO I
PRINCÍPIOS E DEFINIÇÕES
1
operação unitária é uma etapa básica de um processo industrial regida pelas mesmas leis da física e da química.
4 Parte Um: Introdução
GRANDEZAS FÍSICAS.
Uma quantidade ou grandeza física pode ser definida como o conceito que descreve qualitativa e
quantitativamente as relações entre as propriedades observadas no estudo de um fenômeno. A
descrição é qualitativa porque pode diferenciar conceitos distintos como grandezas distintas, e é
quantitativa porque pode exprimir o conceito matematicamente, a partir da medição1 desta grandeza,
através de valores numéricos e de uma unidade de medida.
As grandezas físicas podem ser classificadas em escalares, vetoriais ou tensoriais. Uma grandeza
escalar precisa somente de um valor numérico (intensidade) e uma unidade para ser definida; a massa,
a temperatura e a energia são exemplos de grandezas escalares. Uma grandeza vetorial necessita, para
ser completamente definida, além de uma unidade e de um valor numérico que quantifique sua
intensidade, de uma representação espacial que determine a orientação (direção e sentido) da grandeza.
São exemplos típicos de grandezas vetoriais: a velocidade, a aceleração e a força. As grandezas
tensoriais ou tensores, numa abordagem mais restrita2, são grandezas que têm uma magnitude e duas
direções associadas a ela, além da respectiva unidade de medida. O momento de inércia, o estado de
tensão e de deformação em torno de um ponto são exemplos de tensores.
As grandezas físicas também podem ser classificadas em primitivas, aquelas que não dependem
de outras para serem definidas, e em derivadas, as quais são definidas através de uma relação entre as
grandezas fundamentais. São exemplos de grandezas primitivas: a massa, o comprimento e o tempo;
enquanto que a velocidade, a potência e o fluxo magnético são exemplos de grandezas derivadas.
SISTEMAS DE UNIDADES.
A necessidade de medir é muito antiga e remonta à origem das civilizações. Para efetuar medidas
é necessário fazer uma padronização, escolhendo unidades para cada grandeza. Por longo tempo cada
país ou região, teve o seu próprio sistema de medidas, baseado em unidades arbitrárias e imprecisas.
Até o final do século XVIII, todos os sistemas de medidas existentes eram consuetudinários, ou seja,
baseados nos costumes e nas tradições. Os primeiros padrões utilizados para medir eram partes do
corpo humano – palma da mão (palmo), polegada, pé, braço (côvado3) – e utensílios de uso cotidiano,
como cuias e vasilhas. Com o tempo, cada civilização havia definido padrões e fixado suas próprias
unidades de medidas. Daí a multiplicidade de sistemas de medição existente desde a Antiguidade.
1
A medição de uma grandeza física é a comparação desta grandeza com outra da mesma espécie, definida como padrão e
denominada unidade de medida. Assim, medir uma grandeza consiste em verificar quantas vezes a unidade de medida está
contida na grandeza sob medição, segundo uma escala pré-definida.
2
Tensores de ordem igual a dois.
3
Um côvado era definido na antiguidade como a distância do cotovelo até a ponta do dedo médio, com o antebraço em
ângulo reto com o braço e com a mão aberta.
Fenômenos de Transporte para Cursos Técnicos e Tecnológicos
Capítulo I: Definições e Princípios 5
Em 1795, a França institui o Sistema Métrico Decimal, inicialmente com três unidades-base de
medidas: o metro (comprimento), o litro (volume) e o quilograma (massa), todas baseadas em
constantes naturais. Posteriormente, muitos outros países adotaram o sistema, inclusive o Brasil,
aderindo em 1921 à Convenção do Metro1. Entretanto, o desenvolvimento científico e tecnológico
passou a exigir medições cada vez mais precisas e diversificadas. Assim, após algumas revisões, o
Sistema Métrico Decimal deu origem, em 1960, ao Sistema Internacional de Unidades (SI), constituído
por sete unidades básicas. No Brasil, o SI foi adotado em 1962 e ratificado pela Resolução nº 12 de 12
de outubro de 1988 do CONMETRO2, tornando desde então seu uso obrigatório no país.
Apesar da obrigatoriedade do Sistema Internacional de Unidades no Brasil, e do fato de que
muitos livros, manuais e periódicos relacionados às ciências naturais e tecnológicas utilizam
atualmente somente o SI, outros sistemas ainda são comumente utilizados, tais como o sistema CGS e
o sistema FPS, nas relações internacionais, no ensino e no trabalho científico e industrial. Por este
motivo, tais sistemas também serão aqui sucintamente discutidos, bem como serão apresentados os
fatores de conversão entre as unidades destes sistemas e aquelas do Sistema Internacional de Unidades.
1
A Convenção do Metro é uma convenção internacional, inicialmente assinada por 17 nações, em 1875 na cidade de Paris,
com o propósito de estabelecer internacionalmente uma autoridade e um sistema de unidades.
2
CONMETRO é a sigla do Conselho Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial, que é um colegiado
interministerial que exerce a função de órgão normativo do Sistema Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade
Industrial brasileiro.
3
CGPM é a sigla da Conferência Geral sobre Pesos e Medidas que, instituída pela Convenção do Metro, é constituída por
delegados dos estados membros e observadores dos países associados. Uma de suas principais atribuições é discutir e
analisar os mecanismos necessários para assegurar a propagação e o aperfeiçoamento do SI.
4
A temperatura termodinâmica é tomada numa escala absoluta. Por este motivo, suas unidades não devem receber o
anteposto grau, como nas temperaturas de escala relativa (grau Celsius e grau Fahrenheit).
5
No Brasil, o plural da unidade "mol" é dicionarizado (Aurélio, Houaiss, Michaelis) como "mols" (grafia também adotada
pelo INMETRO), embora o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa da ABL registre as grafias "móis" ou "moles".
Hugo L. B. Buarque
6 Parte Um: Introdução
Os nomes e símbolos dos prefixos estabelecidos pelo sistema para representar os múltiplos e
submúltiplos decimais das unidades são mostrados na Tabela I.2, enquanto que algumas das principais
unidades derivadas utilizadas no âmbito dos Fenômenos de Transporte estão relacionadas, juntamente
com seus símbolos, na Tabela I.3.
1
O radiano é um nome especial para o número um e que pode ser usado para fornecer informações sobre a unidade
considerada. Na prática, o símbolo rad é usado quando apropriado, mas símbolos para a unidade derivada “um” é
geralmente omitido ao se especificar os valores de grandezas adimensionais.
Fenômenos de Transporte para Cursos Técnicos e Tecnológicos
Capítulo I: Definições e Princípios 7
O símbolo da unidade sempre seguirá o valor numérico da medida, com um espaçamento de até
um caractere, na representação do resultado da medida.
Os símbolos dos prefixos são impressos em caracteres romanos (verticais), sem espaçamento
entre o símbolo do prefixo e o símbolo da unidade. Todos os nomes dos prefixos são impressos em
letras minúsculas, exceto no início da frase. O conjunto formado pelo símbolo do prefixo ligado ao
símbolo da unidade constitui um novo símbolo inseparável, que pode ser elevado a uma potência
positiva ou negativa e que pode ser combinado a outros símbolos de unidades para formar os símbolos
de unidades derivadas. Similarmente, o nome deste agrupamento também é indissociável. Assim, o
milímetro (mm), o micropascal (µPa) e o meganewton (MN) são palavras únicas e compostas por
derivação prefixal. Os prefixos formados pela justaposição de vários prefixos SI não são admitidos.
Um prefixo não deve ser empregado sozinho.
Exercício Resolvido I.1 – Converta de “centímetro” para “metro” nas unidades as seguir:
a) 1 cm3 b) 1 cm-1 c) 1 W/cm
Resolução:
a) 1 cm3 = (10-2 m)3 = 10-6 m3
b) 10 cm-1 = 10·(10-2 m)-1 = 103 m-1
c) 1 W/cm = (1 W)/(10-2 m) = 102 W/m
Destaque-se, ainda, que todas as unidades existentes podem ser expressas em função das
unidades-base do SI. Contudo, consideram-se como unidades derivadas do SI aquelas que são produtos
de potências das unidades básicas e que não incluem fatores numéricos diferentes de um. Também, os
nomes e símbolos de algumas das unidades assim obtidas podem ser substituídos por nomes e
símbolos especiais que podem ser usados para se formar expressões e símbolos de outras unidades
derivadas, como já exemplificado na Tabela I.3.
1
O grau Celsius é o nome especial de kelvin utilizado para expressar temperaturas relativas. O grau Celsius e o kelvin são
iguais em tamanho, de modo que o valor numérico de uma diferença de temperatura é o mesmo em ambas as escalas.
Hugo L. B. Buarque
8 Parte Um: Introdução
Sistema CGS.
Conquanto haja tendência de unificação internacional por meio do SI, o Sistema CGS ainda é
bastante utilizado em várias áreas por diversas razões: elas parecem ser mais convenientes em alguns
contextos; muito da antiga literatura de física ainda usa tais unidades; elas ainda são largamente
empregadas em astronomia.
Em alguns países, um sistema de unidades não-decimal tem sido usado desde longa data no
comércio e na indústria. Este sistema é conhecido como Sistema Inglês (English System),
particularmente nos Estados Unidos, ou, em muitos outros países, como Sistema Imperial (Imperial
System). Mais recentemente, tem recebido a denominação de Sistema FPS, por se basear nas unidades
inglesas pé (foot), libra (pound) e segundo (second). As principais unidades do Sistema FPS são
apresentadas na Tabela I.5.
O uso desse sistema disseminou-se através da Grã-Bretanha e das colônias britânicas.
Atualmente, ainda é adotado como sistema de unidades oficial somente nos Estados Unidos, na Libéria
e na União de Mianmar. Igualmente, embora o Parlamento britânico tenha decidido pela adesão do
país ao Sistema Internacional de Unidades há décadas, a população inglesa continua utilizando o
antigo sistema no seu cotidiano.
Conversão de Unidades.
1
International Steam Table.
Hugo L. B. Buarque
10 Parte Um: Introdução
Uma equação dimensionalmente homogênea é aquela na qual todos os termos têm as mesmas
unidades. Tais unidades podem ser as unidades-base ou as derivadas. Fatores de conversão não são
necessárias quando unidades consistentes são utilizadas. Equações derivadas diretamente a partir de
leis físicas e químicas são dimensionalmente homogêneas. Conquanto que equações obtidas por
métodos empíricos, normalmente não são dimensionalmente homogêneas e contêm termos em várias
diferentes unidades.
Exercício Resolvido I.3 – Avalie se a equação (Lei de Bond) para determinação da energia
consumida para moer uma unidade de massa de sólido, expressa a seguir, é dimensionalmente
homogênea,
1 1
W k C wi ,
D D
2 1
em que – W é a energia consumida em HPh; C é a capacidade do moinho, em toneladas por
hora; wi é conhecido como índice de trabalho, em kWh/t; D1 e D2 os diâmetros médios do sólido,
em cm, antes e depois da moagem, respectivamente; e k é uma constante empírica.
Resolução:
Adotando o SI, convertendo adequadamente as unidades das grandezas apresentadas, e
analisando dimensionalmente a equação,
kg J 1 1 kg J kg
[J] [ ][ ] [J] [ ] [ ] [cm 0,5 ] [J] [ 2 0,5 ] [J]
s s [cm] [cm] s s s cm
Pode-se verificar que as unidades não são consistentes na equação, indicando a não
homogeneidade dimensional da mesma.
O leitor deve estar atento para homogeneidade dimensional das equações. Para tanto, um sistema
de unidades (e.g., SI, CGS, FPS) pode ser selecionado. Então, quando necessário, unidades devem ser
substituídas para cada termo na equação e aquelas iguais canceladas. Neste livro, todas as equações
são dimensionalmente homogêneas, exceto quando contrariamente explicitado.
Fenômenos de Transporte para Cursos Técnicos e Tecnológicos
Capítulo I: Definições e Princípios 11
OS FLUIDOS E O CONTINUUM.
Fluido é uma espécie que se deforma continuamente quando submetida a uma tensão de
cisalhamento, não importando o quanto pequena possa ser essa tensão. Uma força de cisalhamento é a
componente tangencial da força que age sobre a superfície e, dividida pela área da superfície, dá
origem à tensão de cisalhamento média sobre a área. Diferentemente, um sólido não se deforma
continuamente quando é submetido a uma mínima tensão de cisalhamento. Sendo mais pragmático,
por fluidos entendem-se os líquidos e os gases (ou vapores), principalmente, e os plasmas1.
Em nossa definição de fluido não se fez nenhuma referência à sua estrutura molecular. Todos os
fluidos compõem-se de moléculas em constante movimento. Entretanto, na maioria das aplicações
industriais, interessa-nos a média ou os efeitos macroscópicos do conjunto de numerosas moléculas.
São estes efeitos macroscópicos que podemos perceber e medir. Assim sendo, trataremos qualquer
fluido como uma substância ou mistura que pode ser dividida ao infinito, um contínuo (continuum),
sem nos preocuparmos com o comportamento individual de suas moléculas. Tal assunção é importante
no tratamento matemático das leis que regem as propriedades e o comportamento dos fluidos.
Ressalte-se, ainda, que operações envolvendo sistemas fluidos integram o cotidiano da indústria.
A maioria das unidades industriais utiliza água, vapor, ar comprimido, combustíveis líquidos e gasosos
nos seus processos, bem como originam produtos, subprodutos ou efluentes residuais fluidos.
Pressão.
A razão entre a força normal resultante ( FN ) agindo sobre a superfície de um corpo e a área (δA)
desta superfície é definida como a pressão (P) agindo sobre esta superfície. A pressão num ponto é a
relação entre a força normal e a área quando esta tende a um valor limite infinitesimal sempre
contendo o ponto. A Equação (I.1) expressa esta última definição.
FN
P lim . (I.1)
A 0 A
Ressalte-se que a pressão não é uma força, mas uma grandeza escalar que produz uma força
resultante, em direção à superfície (força compressiva), por sua ação sobre a superfície de um corpo.
1
Plasma é um gás parcialmente ionizado, constituído por íons, átomos neutros e elétrons livres em proporções variadas, e
que apresenta um comportamento coletivo diferente dos sólidos, líquidos e gases, sendo por este motivo considerando um
estado físico da matéria.
Hugo L. B. Buarque
12 Parte Um: Introdução
Exercício Resolvido I.4 – Um aluno aperta um prego entre os dedos, com uma força de 6 N. A
cabeça do prego, com área de 0,15 cm2, está apoiada no polegar, e a ponta, com área 10-6 cm2,
apoiada no dedo indicador. Determine as pressões exercidas pela tachinha sobre ambos os
dedos. O aluno perfurará o dedo? Considere que a pressão necessária para perfurar a pele
humana seja, aproximadamente, igual a 3,0 x 106 Pa.
Resolução:
Considerando que a força que a tachinha exerce sobre os dedos é igual a 6 N, as pressões que a
mesma imprime sobre os dedos serão de:
6N
dedo polegar: P 5
P 4,0 10 5 Pa .
1,5 10 m 2
6N
dedo indicador: P 10 2 P 6,0 1010 Pa .
10 m
Como átomos, moléculas e outras entidades elementares possuem dimensões muito reduzidas, e
uma pequena quantidade de matéria assume números extremamente grandes de entidades, torna-se
conveniente mensurar a quantidade de matéria (n) em unidades de mol. Muitas leis e princípios físicos
e químicos consideram a quantidade de matéria na sua formulação e aplicação. Deste modo, é muitas
vezes necessário se determinar o número de mols envolvidos nos fenômenos estudados.
Mol é a quantidade de matéria de um sistema que contém tantas entidades elementares quanto
são os átomos contidos em 0,012 kg de carbono-12 em seu estado fundamental. Deste modo, o número
de entidades elementares contido em um mol corresponde à Constante de Avogadro1, cujo valor
aproximado é igual a 6,02 x 1023 mol-1. Assim, por exemplo, dois mols de moléculas de água
correspondem a aproximadamente 12,04 x 1023 moléculas desta substância.
A definição de mol também pode ser utilizada na determinação da massa de uma espécie ou
conjunto de espécies químicas, haja vista que a massa de átomos2, de moléculas e de outras partículas
subatômicas, também é definida em relação ao isótopo do carbono-12. A propriedade que relaciona a
massa e o número de mols de uma dada substância ou mistura é a massa molar, a qual expressa a
massa de um mol de espécies ou entidades elementares, em gramas por mol.
1
Lorenzo Romano Amedeo Carlo Avogadro (1776 – 1856), advogado e físico italiano, foi um dos primeiros cientistas a
distinguir átomos de moléculas. Elaborou a hipótese que enunciava que "volumes iguais de gases diferentes, à mesma
temperatura e pressão, contêm o mesmo número de moléculas".
2
A massa atômica indica quantas vezes a massa de um átomo ou de outra entidade é maior que 1/12 da massa do isótopo
do carbono-12, quantidade definida como uma unidade de massa atômica (u).
Fenômenos de Transporte para Cursos Técnicos e Tecnológicos
Capítulo I: Definições e Princípios 13
Exercício Resolvido I.5 – Um recipiente contém 920 g de etanol (C2H6O). Sabendo que a massa
molar do álcool etílico é 46 g/mol, determine o número mols, o número de moléculas e o número
de átomos do álcool no recipiente.
Resolução:
Da massa molar,
46 g
1 mol
n 20 mols.
920 g
n
Também, da Constante de Avogadro,
1 mol
6,02 10 23 moléculas
x 1,204 10 25 moléculas .
20 mols
x
E finalmente,
1 molécula de C 2 H 6 O
9 átomos
y 1,0836 10 26 átomos.
1,204 10 25
moléculas
y
Temperatura.
Hugo L. B. Buarque
14 Parte Um: Introdução
Várias escalas térmicas têm sido introduzidas ao longo do tempo, mas o Sistema Internacional de
Unidades utiliza como unidade de temperatura termodinâmica (absoluta) o kelvin, definida como a
fração 1/273,16 da temperatura termodinâmica do ponto triplo da água, e grau Celsius, definido
atualmente como de igual magnitude que a unidade kelvin, como unidade de temperatura relativa.
Deste modo, uma diferença de temperatura pode ser expressa tanto em kelvin como em graus Celsius.
Outras duas unidades muitos utilizadas em países de língua inglesa são: o grau Fahrenheit
(escala relativa) e o Rankine (escala absoluta). As fórmulas apresentadas nas equações (I.2) a (I.4)
podem ser usadas na conversão do valor da temperatura entre as escalas.
[º C ] [ K ] 273,15 . (I.2)
[º F ] 1,8 [ K ] 459,67 . (I.3)
[º R ] 1,8 [K] . (I.4)
Nas equações, os símbolos entre colchetes [K], [ºC], [ºF] e [ºR] representam os valores das
temperaturas nas escalas kelvin, grau Celsius, grau Fahrenheit e grau Rankine, respectivamente. Uma
comparação dos valores de temperatura para os pontos de ebulição, de fusão e do zero absoluto são
apresentados na Figura I.1.
Figura I.1 – Comparação entre as principais escalas de temperatura.
Fonte: O autor.
Volume.
O volume (V) de um corpo é uma grandeza que mensura o espaço ocupado por esse corpo.
Assim, depende da quantidade de matéria do corpo considerado. As medidas de volume possuem
grande importância nas situações envolvendo sistemas fluidos e sólidos.
EQUAÇÕES DE ESTADO.
O estado físico de uma substância se define por suas propriedades físicas. O estado de um fluido
puro fica determinado pelos valores do volume V, ocupado por uma quantidade de n moles deste
fluido, mantido a uma dada temperatura, T, e pressão, P. A experiência evidenciou que estas grandezas
podem ser relacionadas para um gás puro através da equação funcional mostrada na Equação (I.5):
f P, T, V, n 0 . (I.5)
Formas específicas da Equação (I.5) são conhecidas como equações de estado. Assim, cada
substância se descreve por sua própria equação de estado. Desta forma, equações de estado podem ser
usadas para estimar propriedades e descrever o equilíbrio de fases de substâncias, além de se constituir
uma ferramenta poderosa na predição do comportamento complexo de misturas multicomponentes.
Muitas equações de estado têm sido propostas, e várias são de uso comum e com diferentes
aplicações. Conquanto, é consenso que as equações de estado mais precisas para gases a baixas e
moderadas pressões podem ser escritas através da expressão dada na Equação (I.6):
PV Bi
1 , (I.6)
i 1 V n
i
nRT
Hugo L. B. Buarque
16 Parte Um: Introdução
A Equação (I.6) é conhecida como Equação Virial e está bem fundamentada na Teoria Cinética
dos Gases.1. Ressalte-se também que o termo no primeiro membro desta equação é conhecido como
fator de compressibilidade e, muitas vezes, é representado pela letra Z.
De maneira geral, gases sob pressões moderadas requerem o uso da Equação (I.6) com dois ou
mais coeficientes virial não-nulos. Contudo, à medida que a pressão do gás é reduzida, os demais
termos do segundo membro da equação vão se tornando desprezíveis em relação ao termo unitário e,
dessa forma, em pressões baixas (até 200 kPa para a maioria dos gases), aqueles termos tendem a zero
e a equação de estado pode ser expressa através da Equação (I.7):
PV
1 (I.7)
nRT
A Equação (I.7) é amplamente conhecida como Equação de Clapeyron2 e expressa a Lei dos
Gases Ideais3. Contudo, quando o comportamento de um gás se afasta da idealidade, equações de
estado mais satisfatórias são obviamente requeridas.
Também, é válido mencionar neste momento um grupo de equações de estado semi-empíricas,
conhecidas como equações de estado cúbicas4. Tais equações, embora tenham pouca fundamentação
teórica, são largamente empregadas em cálculos de processos industriais pela sua simplicidade, haja
vista que apresentam, na grande maioria delas, apenas dois parâmetros ajustáveis, os quais procuram
contabilizar os desvios do comportamento ideal da substância.
A mais antiga equação de estado cúbica, ainda muito utilizada em aplicações mais simples ou de
cunho acadêmico, foi proposta por Johannes Diderik van der Waals (1837-1923), em 1873, e considera
dois efeitos negligenciados na Lei dos Gases Ideais: as forças intermoleculares de atração e repulsão e
o volume ocupado pelas moléculas. A equação de van der Waals é expressa na Equação (I.8):
P a ~
~
V 2 V b RT (I.8)
~
em que V é o volume molar, V/n, do fluido; e a e b são coeficientes empíricos denominados
coeficientes de van der Waals, os quais dependem da substância considerada. A Tabela I.9 apresenta
~
os valores dos coeficientes de van der Waals para alguns gases. Ressalte-se que os termos a/ V ² e b na
equação contabilizam as interações intermoleculares e o volume das moléculas, respectivamente.
1
A Teoria Cinética dos Gases, cujos preceitos foram inicialmente propostos por Daniel Bernoulli (1700-1782), no início do
século XVIII, estabelece a conexão entre as descrições microscópicas e macroscópicas dos gases, incorporando conceitos
estatísticos à abordagem dada pela Mecânica Newtoniana.
2
Benoît Paul Émile Clapeyron (1799-1864) foi um engenheiro e físico francês que, dentre outras contribuições, combinou,
em 1834, as leis empíricas de R. Boyle (1627-1691) e E. Mariotte (1620-1684), e de J. A. C. Charles (1746-1823), e
J. L. Gay-Lussac (1746-1823), enunciando a lei dos gases ideais, e determinando também a Constante Universal dos Gases.
3
A Lei dos Gases Ideais ou Perfeitos, proposta por Clapeyron em 1834, assume que um dado gás hipotético é formado por
partículas pontuais (volume desprezível), sem interações entre si e cujos choques são perfeitamente elásticos.
4
O termo “equações de estado cúbicas” aplica-se a equações empíricas ou semi-empíricas que, quando expandidas, contêm
termos (e.g., volume molar) elevados à terceira potência.
Fenômenos de Transporte para Cursos Técnicos e Tecnológicos
Capítulo I: Definições e Princípios 17
Tabela I.9 – Coeficientes de van der Waals, a e b, para alguns gases puros.
a b a b
Gás puro Gás puro
[atm L2 mol-2] [10-2 L/mol] [atm L2 mol-2] [10-2 L/mol]
Argônio, Ar 1,363 3,219 Kriptônio, Kr 2,349 3,978
Metano, CH4 2,283 4,278 Nitrogênio, N2 1,408 3,913
Gás carbônico, CO2 3,640 4,267 Neônio, Ne 0,2135 1,709
Hidrogênio, H2 0,2476 2,661 Oxigênio, O2 1,378 3,183
Hélio, He 0,03457 2,370 Xenônio, Xe 4,250 5,105
Fonte: James e Lord (1992); Weast (1993).
Adicionalmente, outras equações de estado cúbicas podem ser encontradas em Poling et al.
(2001) e na literatura especializada. Outrossim, equações de estado totalmente empíricas ou
essencialmente teóricas também são muito empregadas no estudo do comportamento de fluidos.
As equações de estado empíricas são úteis na representação do comportamento de fluidos e, por
possuírem geralmente mais que cinco parâmetros ajustáveis, elas são muito precisas na estimativa de
propriedades termodinâmicas, tanto quanto aumenta a complexidade matemática do seu emprego.
Duas equações de estado empíricas bastante populares e precisas são: a Equação de Beattie-Bridgman
(BEATTIE, BRIDGEMAN, 1927), expressa na Equação (I.9), e a Equação de Benedict-Webb-Rubin
(BENEDICT et al., 1940), expressa na Equação (I.10).
RT A1 T 3 ~ A A A
P ~2 1 ~ V A 2 1 ~3 ~ 4 1 ~5 (I.9)
V V V V 2 V
RT A RT A 2 A 3 T 2 A 4 RT A 5 A 5 A 6 A7 T2 A8 A8
P ~ 1 ~2 ~3 ~6 ~ 3 1 ~ 2 exp ~ 2 (I.10)
V V V V V V V
em que A1 a A5 na Equação (I.9) e A1 a A8 na Equação (I.10) são coeficientes empíricos determinados
a partir de um adequado conjunto de dados experimentais.
Equações de estado teóricas também podem ser eficientemente utilizadas nas situações para as
quais foram desenvolvidas com a vantagem de não necessitarem de muitos dados experimentais para
seu desenvolvimento. Em geral, estas equações baseiam-se em teorias de base molecular, tais como a
teoria da expansão virial ou da função distribuição.
A obtenção de equações de estado para líquidos é pouco incentivada, haja vista a maior
complexidade do estado líquido e o fato de ser relativamente mais fácil medir o volume de líquidos,
nas mais diversas condições de temperatura e pressão. Além disso, é pequena a influência destas
grandezas no volume de líquidos. Mencione-se que a Equação BWR pode ser adequadamente aplicada
ao estado líquido desde que o volume molar não seja muito inferior a dois terços do volume molar
crítico da substância considerada.
Hugo L. B. Buarque
18 Parte Um: Introdução
Exercício Resolvido I.4 – Estime o valor do volume molar do oxigênio a 273 K e a 0,75 atm
utilizando as seguintes equações de estado:
a) lei dos gases ideais b) equação virial c) equação de van der Waals
Resolução:
~ RT 0,082056 273 ~
a) Lei dos Gases Ideais: V Vgi 29,868 L/mol .
P 0,75
~
PV B
b) Equação virial truncada no segundo coeficiente virial: 1 ~1
RT V
~ RT ~ RT ~ ~ ~
V2 V B1 0 V 2 29,868 V 0,657096 0 Vvirial 29,890 L/mol .
P P
a ~
c) Equação de van der Waals: P ~ 2 V b RT
V
~ RT ~ 2 a ~ a b ~ ~ ~
V3 b V V 0 V 3 29,900 V 2 1,837 V 0,05848 0
P P P
~
VvdW 29,839 L/mol
Os desvios observados para as estimativas variaram de 0,010% a 0,087%. Tais resultados ainda
mostram que para gases elementares, sob baixas pressões, a Lei dos Gases Ideais pode ser a
mais adequada, haja vista que os coeficientes da Equação Virial e de van der Waals são
normalmente determinados numa ampla faixa de pressões, inclusive com dados obtidos sob
pressões mais elevadas.
Exercício Resolvido I.5 – Mostre que a Equação de van der Waals não pode ser expressa na
forma da Equação (I.3).
Resolução:
Tomando a Equação (I.5) e fazendo as devidas manipulações matemáticas, pode-se obter que:
P V a RT P b a b RT P V P Vb 1 - a RT a b RT
1 1
n RT V n RT V n 2 n RT n RT V n Vn V n2
~ - a RT a b RT
Z (1 b V) 1 1 ~ ~ 2
V V
~ ~
Pode-se verificar que a Equação de van der Waals difere da Equação (I.3) pelo fator V V b .
PROBLEMAS.
1. Determine fatores para converter:
(a) ft-lbf para kWh (b) cm3 para gal (1 gal = 231 in.3) (c) Btu/lb-mol para J/mol
2. Muitas vezes, no bombeamento de água para os reservatórios de residências ou edifícios, o
funcionamento do conjunto motor-bomba não é contínuo. Nestes casos, a ABNT recomenda a
expressão a seguir:
D 0,586 t 0, 25 V
r
em que Dr é o diâmetro da tubulação de recalque, em metros; t é tempo de funcionamento diário,
é a vazão, em m3/s.
em horas; e V
Resposta:
B B B B B B B B A A
(a) Z 1 ~1 ~ 22 ~ 33 ~ 44 ~ 55 ~ 66 ~ 77 ~ 88 , em que B1 A1 2 33 ;
V V V V V V V V RT RT
2
A5 A7 A5A6 A7 A8 A 7 A 83
B2 A 4 ; B3 0 ; B 4 0 ; B5 ; B6 ; B 7 0 ; B8 .
RT RT 3 RT 2RT 3 3RT 3
Hugo L. B. Buarque
CAPÍTULO II
Massa Específica.
m
, (II.1)
V
onde Δm é a massa do fluido contido num dado volume ΔV.
Sob condições de escoamento, particularmente em gases, a densidade absoluta pode variar muito
através do fluido. Num ponto particular do fluido a massa específica pode ser definida como mostrado
na Equação (II.2):
m
lim
, (II.2)
V V V
em que δV é o menor volume circundando o ponto considerado para o qual a média estatística são
significativas. Este limite é ilustrado na figura a seguir.
1
Uma propriedade intensiva independe da quantidade de matéria que se considera na sua medição, diferentemente de uma
propriedade extensiva, a qual depende.
22 Parte Um: Introdução
Figura II.1 – Massa específica num ponto de fluido: limite entre o domínio molecular e o contínuo.
Fonte: O autor.
Tabela II.1 – Massas específicas de líquidos (20oC e 1 atm) e gases (0oC e 1 atm).
Líquido [kg/m3] Líquido [kg/m3] Gás [kg/m3]
Água 998 Óleo de soja 930 a 980 Ar atmosférico 1,29
Acetona 790 Tolueno 870 Hidrogênio 0,09
Álcool etílico 790 n-Hexano 660 Metano 0,71
Amônia 610 Mercúrio 13.546 Oxigênio 1,43
Ainda, é importante destacar que, apesar das unidades kg/m3, g/mℓ e lb/ft3 serem as mais usadas,
outras unidades, caracterizando as densidades absolutas em graus, têm sido comumente utilizadas em
certos setores industriais, como nas indústrias do petróleo e nas usinas de álcool; são exemplos típicos
destas unidades as escalas ºAPI e Beaumé. As relações de tais unidades com a massa específica
previamente definida são apresentadas na Equação (II.4) e na Equação (II.5), respectivamente.
140 145
º Be 130 , para 4 º C < 1 g/mℓ; º Be 145 4 º C , para 4 º C > 1 g/mℓ; (II.4)
4ºC
141,5
º API 4 º C 131,5 . (II.5)
em que 4 º C é a massa específica do fluido a 4ºC.
Fenômenos de Transporte para Cursos Técnicos e Tecnológicos
Capítulo II: Propriedades e Escoamento dos Fluidos 23
Densidade Relativa.
Volume Específico.
O volume específico, Vs, é definido como o inverso da massa específica. Tem-se então que:
1
Vs . (II.7)
Peso Específico.
O peso específico, , de um fluido é definido como o peso da unidade de volume desse fluido. É
variável com a posição, já que depende da aceleração da gravidade, g. Da definição,
g . (II.8)
Exercício Resolvido II.1 – Certo fluido, encaminhado ao laboratório, foi colocado no interior
de um balão volumétrico com capacidade para conter 250 mililitros e levado a uma balança.
A massa medida (balão e fluido) foi igual a 3,474 kg. Sabendo que a massa do balão vazio é
igual a 86 gramas e a aceleração da gravidade igual a 9,81 m/s2, determine qual das
propriedades físicas a seguir aplica-se ao fluido em questão.
Resolução:
3,474 0,086 13.552 kg / m 3 d
13.552
13,55
250 10 6 1.000
1
13.552 9,81 132,9 kN / m 3 Vs 7,379 10 5 m 3 / kg
13.552
Hugo L. B. Buarque
24 Parte Um: Introdução
Viscosidade Absoluta.
Na Figura II.2 um corpo fluídico é colocado entre duas placas paralelas bem grandes de modo
que as perturbações nas bordas possam ser desprezadas. As placas também estão bem próximas,
distando entre si da distância dz. A placa inferior é fixa, e uma força muito pequena é aplicada na placa
superior, a qual exerce uma tensão de cisalhamento zx na substância entre as placas. Quando a força
aplicada movimenta a placa superior com uma velocidade (não nula) constante, dvx, não importando
quão pequena seja a intensidade desta força, pode-se concluir que a substância entre as duas placas é
um fluido. Vale destacar que o fluido em contato com a superfície sólida tem a mesma velocidade que
esta superfície, isto é, não há escorregamento na superfície. Este é um fato experimental.
Figura II.2 – Fluido deformando (escoando) entre duas placas planas e paralelas.
Fonte: O autor.
A experiência também mostra que, mantendo-se outras grandezas constantes, para muitos
fluidos, uma tensão de cisalhamento aplicada, zx , será proporcional à taxa de cisalhamento ou
deformação, dvx/dz, do fluido. Esta relação pode ser equacionada, para uma deformação numa única
direção x, como:
dv x
, zx (II.9)
dz
em que o fator de proporcionalidade é por definição a viscosidade absoluta do fluido, e a
Equação (II.9), para uma viscosidade constante com a velocidade de deformação, é denominada como
lei de Newton da Viscosidade.
Assim, a viscosidade absoluta ou dinâmica, , de um fluido é a propriedade que indica a
resistência que este fluido oferece ao escoamento. Quanto maior a resistência ao cisalhamento (menor
fluidez) maior será a viscosidade. Ressalte-se que é bastante usual a apresentação de dados de
viscosidade absoluta em poise ou centipoise, cujo símbolo é cP.
A viscosidade de gases é oriunda dos choques, principalmente, e das fracas interações
intermoleculares durante o escoamento. Nestes choques há transferência de quantidade de movimento
das espécies mais rápidas para as mais lentas, como também para o contorno sólido.
Consequentemente, o atrito entre as moléculas do gás e destas com uma parede sólida ao longo do
escoamento provoca a dissipação de energia do fluido. Assim, a viscosidade dos gases deverá
aumentar à medida que a temperatura aumenta, visto que isto provocará o aumento na frequência dos
choques intermoleculares.
A Teoria Cinética dos Gases reforça este conceito, exprimindo a viscosidade de um gás perfeito
através da Equação (II.10).
M T 2 , (II.10)
em que é o diâmetro molecular e todas as unidades sendo tomadas no SI. Para gases reais tal
conceito não se aplica, haja vista que a viscosidade a altas pressões é também dependente da pressão.
A viscosidade de líquidos é muito superior à dos gases, como se vê na Tabela II.3, haja vista que
naquele fluido a fase contínua de moléculas compactadas está sempre sujeita à ação das forças
intermoleculares. A viscosidade dos líquidos diminui rapidamente á medida que a temperatura
aumenta, visto que este a dilatação deste tipo de fluido resulta no afastamento das moléculas, com a
consequente diminuição das interações intermoleculares existentes, minimizando o atrito com as
moléculas do líquido.
Viscosidade Cinemática.
No estudo da Mecânica dos Fluidos é bastante comum ocorrer a razão entre a viscosidade
absoluta, , e a massa específica, , na dedução de relações matemáticas que modelem os sistemas
estudados. A esta razão, expressa a seguir, dá-se o nome de viscosidade cinemática ou difusividade de
quantidade de movimento, ,
. (II.11)
De modo análogo à viscosidade absoluta, é bastante usual a apresentação de dados de
viscosidade cinemática em unidades do sistema CGS, o stokes. Outras unidades também são usadas,
sendo ainda comuns a saybolt, a engler e a redwood, conforme o tipo de equipamento (viscosímetro)
utilizado na medida desta propriedade.
Exercício Resolvido II.2 – Uma tensão de cisalhamento de 0,4 N/m2 causa uma velocidade de
deformação de angular de 1 rad/s num fluido newtoniano cuja massa específica é de
890 kg/m3. Qual é a viscosidade absoluta, em cP, e a viscosidade cinemática do fluido em
cSt?
Resolução:
0,4 1.000 cP
0,4 kg m 1 s 1 400 cP
d dt 1 kg m 1 s 1
4 g cm 1 s 1 100 cSt
449 cSt
0,89 g cm 3 1 cm 2 / s
Hugo L. B. Buarque
26 Parte Um: Introdução
Coeficiente de Compressibilidade.
Pressão de Vapor.
Se certa quantidade de um líquido puro for colocada num recipiente evacuado, cujo volume é
maior que o do líquido, uma porção de líquido irá evaporar de modo a preencher com vapor o volume
restante do recipiente. Desde que permaneça algum líquido depois que o equilíbrio se estabeleceu, a
pressão do vapor no recipiente é uma função apenas da temperatura do sistema. A pressão
desenvolvida é a pressão de vapor do líquido, Pv, que é uma propriedade característica de cada líquido.
A existência de uma pressão de vapor e o seu aumento com a temperatura são conseqüências da
distribuição de energia das moléculas presentes no sistema. Isto porque mesmo a temperaturas baixas,
uma fração das moléculas oriundas de uma fase condensada tem, em virtude da distribuição de
energia, energia em excesso além da energia de coesão desta fase, formando assim uma fase vapor.
Como a fração de moléculas com energia em excesso aumenta rapidamente com o aumento da
temperatura, tem-se um rápido aumento da pressão de vapor com o aumento da temperatura.
Fenômenos de Transporte para Cursos Técnicos e Tecnológicos
Capítulo II: Propriedades e Escoamento dos Fluidos 27
Isto implica que, numa dada temperatura, um líquido com maior energia de coesão (i.e., um
grande calor molar de vaporização) terá uma menor pressão de vapor que um líquido com uma
pequena energia de coesão. A equação de Clausius-Clapeyron, expressa a seguir, é bastante utilizada
para relacionar a pressão de vapor, a temperatura e o calor de vaporização de substâncias puras.
Q vap
Pv p e RT
(II.13)
em que T é a temperatura absoluta do sistema, R é a constante universal dos gases e p é uma outra
constante dependente do sistema.
Vale ainda destacar que a temperatura na qual a pressão de vapor de um líquido é igual a 1 atm é
o ponto normal de ebulição do líquido. Alguns sólidos suficientemente voláteis também podem
produzir pressões de vapor iguais a 1 atm, quando então sublimam. A temperatura na qual isso ocorre
é chamada ponto normal de sublimação. O ponto de ebulição e o ponto de sublimação dependem da
pressão imposta à substância.
Calor Específico.
O calor específico, cp, de uma substância é a quantidade de calor que deve ser fornecida para
uma unidade de massa dessa substância de modo que sua temperatura aumente em um grau. Para
definir completamente o calor específico, deve-se especificar as condições segundo as quais o calor é
transferido para o sistema. No SI, a unidade do calor específico é o J.kg-1.K-1. É bastante usual
encontrar representações de calores específicos com outras unidades, tais como a kcal.kg-1.oC-1 ou
Btu.lb-1.oF-1.
Capacidade Térmica.
Condutividade Térmica.
A condutividade térmica, k, é uma propriedade dos materiais que indica a quantidade de calor
que fluirá através de uma área unitária se o gradiente de temperatura for unitário. Ela é função,
geralmente, da pressão e temperatura do sistema.
Hugo L. B. Buarque
28 Parte Um: Introdução
Exercício Resolvido II.3 – Para o zinco metálico líquido temos os seguintes dados de pressão
de vapor:
pv, mmHg 10 40 100 400
o
T, C 593 673 736 844
Resolução:
6
Ln (Pv)
0
-4 -4 -3 -3 -3
8.0x10 9.0x10 1.0x10 1.1x10 1.2x10
-1
1/T (K )
Fonte: O autor
A equação da reta sugerida para representar o conjunto de dados a partir da regressão aos
dados experimentais pode ser:
1
Ln Pv 18,693 14.200,23 ,
T
Tensão Superficial.
Na interface entre um líquido e um gás, ou entre dois líquidos imiscíveis, parece que se forma
uma película ou camada especial no líquido, aparentemente devido à atração das moléculas abaixo da
superfície. É uma experiência simples colocar uma pequena agulha na superfície da água em repouso e
observar que a mesma é sustentada pela película. É também fácil notar que as gotas de chuva formam
pequenas pérolas de água na superfície de um carro recém-lavado e que pequenos grãos de areia
molhados permanecem unidos, mas que são facilmente afastados quando secos ou completamente
submersos em água. Tais fenômenos são provocados por uma propriedade nos líquidos, denominada
tensão superficial ().
Num líquido, cada molécula se move sempre sobre a influência das moléculas vizinhas. Uma
dada molécula dentro do líquido está completamente cercada por outras que a atraem. Entretanto, uma
molécula na superfície não está completamente cercada e interage apenas com as moléculas abaixo e
ao lado. Assim, as moléculas na superfície sentem uma atração na direção do interior do líquido. Para
uma molécula chegar à superfície ela deve superar esta atração. Noutras palavras, a sua energia
potencial deve aumentar, ou seja, deve-se realizar trabalho para levá-la até a superfície. Portanto,
tornar a superfície de um líquido maior requer um gasto de energia e a quantidade de energia
necessária por área superficial é a tensão superficial do líquido.
Percebe-se então que a magnitude da tensão superficial de um líquido depende das forças de
atração entre as moléculas deste líquido. Quando as forças de atração são grandes a tensão superficial é
grande. A tensão superficial também é uma função da temperatura do líquido. Aumentando-se a
temperatura diminui a eficiência das forças de atração moleculares, visto que as moléculas estarão
mais agitadas, de forma que a tensão superficial diminuirá. Na Tabela II.3 estão apresentados alguns
valores de tensão superficial de líquidos a 20oC.
Por causa da tensão superficial, a superfície livre de um líquido tende sempre a se contrair, já que
o estado de menor energia (maior estabilidade) para um dado volume de líquido ocorre quando sua
área superficial é mínima. Isto corresponde ao menor número de moléculas superficiais com alta
energia.
Hugo L. B. Buarque
30 Parte Um: Introdução
altura h, no interior do tubo capilar, de diâmetro d, que está parcialmente imerso no líquido. Para
líquidos que não molham o sólido, como o mercúrio, a tensão superficial causa um rebaixamento do
menisco num tubo capilar.
Esforços de Superfície.
Nos fluidos, as forças ou esforços de superfície se desenvolvem pelo contato físico entre as
partículas fluidas ou entre estas e o sólido em contato. Estas forças se classificam em: força de tração,
força de compressão e força de cisalhamento. A tração é extremamente pequena nos fluidos, podendo
ser desprezada: os líquidos resistem à tração de apenas 40 N/m2, que é cerca de 10 milhões de vezes
menor que a do aço. A compressão é reduzida nos líquidos, embora seja elevada nos gases.
A resultante dos esforços de superfície, F , tendo uma direção qualquer em relação à superfície
elementar A, pode ser decomposta numa componente normal à superfície (esforço de compressão) e
numa componente tangencial à superfície (esforço cisalhante).
Tensão em um ponto.
O conceito de tensão envolve uma força de contato e a área da superfície na qual ela atua. Para
se especificar as componentes da tensão, que têm a dimensão de força por unidade de área,
necessitamos da indicação da direção da componente da força e, também, da indicação da orientação
da superfície onde atua a tensão (um elemento de área tem orientação dada pelo vetor unitário normal
à superfície). As componentes da tensão atuando na direção i, ij , sobre o elemento infinitesimal de
Hugo L. B. Buarque
32 Parte Um: Introdução
Fluidos Newtonianos.
De maneira geral, a partir de um estudo reológico, os fluidos podem ser classificados em fluidos
newtonianos e fluidos não newtonianos. No fluido newtoniano existe uma relação linear entre o valor
da tensão de cisalhamento aplicada e a taxa de deformação resultante e assim, a viscosidade tem valor
constante1 no sistema, dependendo somente da natureza do fluido.
Figura II.6 – Classificação
reológica de fluidos.
Fluidos Não Newtonianos.
Enquanto nos fluidos newtonianos, um valor de viscosidade caracteriza o fluido, para o não
newtoniano, o valor desta grandeza varia com a força aplicada produzindo diferentes tipos de
comportamento em função da tensão cisalhante. As curvas da tensão de cisalhamento como função da
taxa de deformação para alguns deste tipos são mostradas na figura ao lado.
Quando um aumento da tensão aplicada diminui a fluidez do sistema, diminuindo a viscosidade
do fluido independentemente do tempo de surgimento da força, ter-se-á um fluido denominado
pseudoplástico. Ao cessar a causa da deformação, o fluido volta a ter a viscosidade aparente inicial. No
caso oposto, quando um fluido sob agitação aumenta sua resistência ao movimento por efeito de uma
força uniforme aplicada ao fluido, voltando à viscosidade aparente inicial ao cessar a força aplicada,
independente do tempo de aplicação da força, tal fluido é denominado fluido dilatante.
Em outros casos, nos quais os efeitos produzidos pela aplicação da força externa de deformação
perduram parcialmente quando cessa a força aplicada sobre o fluido, isto é, o fluido demora um tempo
maior ao de aplicação da força para retornar ao seu estado inicial de viscosidade aparente, ele é
denominado fluido não newtoniano dependente do tempo, podendo ser classificado como fluido
tixotrópico ou reopético.
Algumas espécies não deformam sob a ação de pequenas forças externas, sendo, portanto,
semelhantes a um sólido que pode escorrer quando é tencionado, exibindo plasticidade. Estas espécies
somente são postas em movimento quando a tensão cisalhante aplicada excede um determinado valor
o. Embora tais espécies não se enquadrem estritamente na definição de fluido, muitos autores as
consideram fluidos plásticos, denominando-as fluidos de Bingham. São exemplos de fluidos
Binghamianos o purê de batata, a mostarda, o catchup e o chocolate.
Fluidos dependentes do tempo são aqueles para os quais rearranjos estruturais ocorrem durante a
deformação do fluido. Como resultado, a tensão cisalhante varia com o tempo.
Fluidos tixotrópicos, tais como a maionese, fluidos de perfuração, e algumas tintas, exibem, para
uma velocidade de deformação constante, uma diminuição da tensão de cisalhamento com o tempo. O
tixotropismo pode ser atribuído a ligações de hidrogênio entre micelas coloidais rompidas pela
agitação e que voltam a se formar no sistema em repouso.
O comportamento reopético é o oposto do tixotrópico, e assim, a tensão cisalhante aumenta com
o tempo em uma taxa de deformação constante. Tal comportamento pode ser observado em sóis de
bentonita, sóis de pentóxido de vanádio, em suspensões de sulfato de cálcio em água, bem como em
algumas soluções de poliéster.
1
Valor constante com relação à taxa de cisalhamento.
Hugo L. B. Buarque
34 Parte Um: Introdução
TIPOS DE FLUIDOS.
Além da classificação óbvia dos fluidos, quanto ao seu estado de agregação: em líquidos e gases
(ou vapores), e também quanto ao seu comportamento reológico: fluidos newtonianos e não
newtonianos, é oportuno conceituar outros tipos de fluidos reais e idealizados: fluidos viscosos e não
viscosos; fluidos compressíveis e não compressíveis; e fluidos ideais ou perfeitos.
O Método de Lagrange.
O Método de Euler.
Outro método de estudo na Cinemática dos Fluidos é o de Euler, que consiste em adotar certo
intervalo de tempo, escolher um ponto fixo no espaço e exprimir as grandezas características das
partículas que passam por esse ponto. Corresponde a considerar as linhas de corrente num dado
instante (ver tópico a seguir). No método de Euler o observador é fixo. Devido às facilidades que
ocorrem na prática, este método é normalmente preferido para estudar o movimento dos fluidos.
De modo geral, a velocidade e pressão exercida por cada partícula serão funções do tempo e das
coordenadas espaciais; por sua vez, as coordenadas podem ser ou não dependentes do tempo.
Trajetórias.
Linhas de Corrente.
No método de Euler, ao traçar a curva que seja tangente, em cada ponto, às velocidades das
partículas, nos instantes considerados, no interior da massa fluida, obtém-se a curva conhecida como
linhas de corrente ou linhas de fluxo.
Hugo L. B. Buarque
36 Parte Um: Introdução
A linha de corrente é uma curva imaginária, tomada através do fluido, para indicar a direção da
velocidade em diversos pontos, conforme ilustrado na Figura II.7. As linhas de corrente não podem se
cruzar, pois em caso positivo, a partícula que estivesse no ponto de interseção das linhas de corrente
teria velocidades diferentes ao mesmo tempo, o que não é Figura II.7 – Linha de corrente.
possível. Em cada instante e em cada ponto, passa uma e somente
uma linha de corrente. Considerando um conjunto de linhas de
corrente, em cada instante, o fluido move-se sem atravessá-las. Fonte: O autor.
Supondo duas curvas fechadas, formar-se-á um tubo de corrente ou veia líquida quando, ao se
considerar todas as linhas de corrente que tocam naquelas curvas fechadas num dado instante, o campo
de velocidades for contínuo nesse instante. Percebe-se que as curvas fechadas são a diretriz do tubo.
Quando esta diretriz abrange uma área infinitesimal, a porção da corrente fluida tomada no interior do
tubo de corrente é denominada de filamento de corrente Figura II.8 – Tubo e filamento de corrente.
no fluido. Neste caso, o eixo do tubo confunde-se com o
próprio filamento. Nenhuma partícula de fluido pode
penetrar no filete de corrente nem dele sair. Quando a
diretriz tende a zero, cada filamento se transforma numa
linha de corrente. A Figura II.8 ilustra um tubo e um
Fonte: O autor.
filamento (filete) de corrente.
TIPOS DE ESCOAMENTO.
Os escoamentos de fluidos podem ser classificados, segundo aspectos geométricos, de trajetória,
tempo, rotação e comportamento do fluido. A seguir são descrito alguns tipos principais de
escoamentos.
escoamento variem em função das três coordenadas espaciais, diz-se que este escoamento é
tridimensional. O tratamento matemático destes dois tipos de escoamento apresenta um maior grau de
complexidade que o unidimensional, fornecendo, na maioria das vezes, sistemas sem solução analítica.
Fonte: O autor.
Hugo L. B. Buarque
38 Parte Um: Introdução
Um escoamento uniforme é aquele em que todos os pontos da mesma trajetória têm a mesma
velocidade. É um caso particular do escoamento permanente: a velocidade pode variar de uma
trajetória para outra, mas na mesma trajetória, todos os pontos têm a mesma velocidade (o módulo, o
sentido e a direção são constantes). No escoamento não uniforme ou variado, os diversos pontos de
uma mesma trajetória não apresentam velocidade constante no intervalo de tempo considerado. O
perfil de velocidades de um fluido nestes escoamento é exemplificado na Figura II.10.
Figura II.10 – Perfil de velocidades de um fluido em escoamento uniforme e variado.
Fonte: O autor.
Neste tipo de escoamento, cada partícula fluida está sujeita a uma velocidade angular em relação
ao seu centro de massa. Usualmente, para simplificar o estudo da mecânica dos Fluidos, despreza-se a
característica rotacional do escoamento, passando a considerá-lo irrotacional. No tipo irrotacional, as
partículas de fluido não se deformam, pois se faz uma concepção matemática do escoamento,
desprezando a influência da viscosidade. Em virtude da viscosidade, o escoamento dos fluidos reais é
sempre do tipo rotacional.
Os escoamentos nos quais as variações das densidades dos fluidos são desprezíveis denominam-
se incompressíveis. Quando estas variações não são negligenciáveis, os escoamentos são ditos
compressíveis.
É muito comum querer-se afirmar, de um modo geral, que todos os escoamentos de líquidos são,
essencialmente, incompressíveis e os de gases são compressíveis. Entretanto, esta afirmativa nem
sempre é verdadeira, devendo-se avaliar a compressibilidade dos fluidos durante o escoamento para
um tratamento correto do problema estudado.
A maior parte dos escoamentos gasosos é compressível nos casos em que a velocidade do
escoamento (v) é pequena com relação à velocidade do som no fluido (v’). Assim, tais escoamentos
podem ser considerados incompressíveis quando o número de Mach (M), definido pela
Equação (II.14), for menor que 0,3.
v
M . (II.14)
v'
Hugo L. B. Buarque
40 Parte Um: Introdução
PROBLEMAS.
1. Classificar os seguintes fluidos quanto ao seu comportamento reológico:
Resposta:
(a) fluido newtoniano. (b) fluido newtoniano. (c) fluido não-newtoniano.
Hugo L. B. Buarque
PARTE DOIS
PRINCÍPIOS DE FLUIDOESTÁTICA E
SUAS APLICAÇÕES
“Aquele que tentou e não conseguiu é superior àquele que nada tentou”.
Arquimedes (287 a.C. – 212 a.C.).
Exercício Resolvido III.1 – Um reservatório aberto contém água (ρ = 1.000 kg/m3) até a
altura de 5 m. A pressão atmosférica no local é de 1 atm. Calcular a pressão manométrica,
em cmH2O (centímetros de água) e a pressão absoluta na superfície interna do fundo deste
reservatório, em Pascal.
Resolução:
1
Simon Stevin (1548/49 – 1620) foi um engenheiro, físico e matemático flamengo (Bélgica), o qual explicou o chamado
paradoxo hidrostático, demonstrando experimentalmente que a pressão exercida por um fluido depende fortemente da
altura da coluna fluida.
Exercício Resolvido III.2 – Torricelli tomou um tubo aberto em Figura III.4 – Experimento
uma extremidade e fechado na outra, encheu-o de mercúrio de Torricelli.
(ρ=13.600 kg/m3), tampou a extremidade aberta e emborcou o
tubo, verticalmente, em uma cuba contendo mercúrio. Ao
destampar no tubo a extremidade colocada dentro da cuba, o
mercúrio desceu até o ponto A e ali permaneceu na altura de
760 mm (ao nível do mar e sob gravidade de 9,81 m/s2). Acima do
ponto A na coluna de mercúrio formou-se um vácuo parcial, ou
seja, uma região de pressão praticamente nula (ver Figura III.4).
Determine a pressão atmosférica em Pascal.
Resolução:
PA 0 e PB Patm Fonte: O autor.
Exercício Resolvido III.3 – Um reservatório aberto contém água (ρ = 1.000 kg/m3) até a
altura de 5 m. A pressão atmosférica no local é de 1 atm. Calcular a pressão manométrica,
em cmH2O (centímetros de água) e a pressão absoluta na superfície interna do fundo deste
reservatório, em Pascal.
Resolução:
PA Patm óleo g h1 PA 1,26 105 825 9,81 1,60 Fonte: O autor.
PB PA água g h2 PB 1,39 105 1.000 9,81 1,20 PB 1,39 105 0,12 105
PB 1,51 10 5 Pa
Hugo L. B. Buarque
48 Parte Dois: Mecânica dos Fluidos
Princípio de Pascal.
O princípio de Pascal1 estabelece que o acréscimo de pressão produzido num fluido confinado, e
em equilíbrio, transmite-se integralmente a todos os pontos do fluido e às paredes do recipiente que o
contém. Isto torna possível uma grande “multiplicação” de forças, como se fosse uma alavanca fluida.
Este princípio se aplica, por exemplo, às prensas e aos elevadores hidráulicos, a sistemas de freios e
amortecedores, e a outras máquinas hidráulicas.
Exercício Resolvido III.5 – Um macaco hidráulico tem as Figura III.6 – Macaco hidráulico.
dimensões apresentadas na Figura III.6. Um carro pesando
20 kN (força F2) é colocado sobre o pistão de maior
diâmetro. Despreze o peso dos pistões. Determine:
d1 d 2 A 2 A1 d1 20 52 1,52 d1 22,2 cm
1
Blaise Pascal (1623 – 1662) foi um físico, matemático, filósofo moralista e teólogo francês que, estudando a mecânica dos
fluidos, esclareceu o princípio barométrico, a prensa hidráulica e a transmissibilidade das pressões.
Fonte: O autor.
Hugo L. B. Buarque
50 Parte Dois: Mecânica dos Fluidos
Fonte: O autor.
Fonte: O autor.
Fonte: O autor.
Fonte: O autor.
Exercício Resolvido III.5 – Com o auxílio da Figura III.12 (na Figura III.12 – Manômetro
qual se vê um manômetro diferencial), determinar a pressão diferencial deste exercício.
manométrica, em Pascal, no ponto a, sabendo-se que o
líquido A tem densidade relativa 0,70 e que o líquido B tem
densidade relativa 1,30. O líquido nas vizinhanças do ponto a é
a água (ρ = 1.000 kg/m3). O reservatório da esquerda é aberto
à atmosfera.
Resolução:
A partir da aplicação da lei de Stevin nos pontos a, b e c,
chega-se à solução do problema: Fonte: O autor.
A partir da aplicação da lei de Stevin nas superfícies da água, pode-se determinar a pressão
efetiva do ar:
P Patm P ef água g R sen
Hugo L. B. Buarque
52 Parte Dois: Mecânica dos Fluidos
Fonte: O autor.
FR P dA P A (III.5)
A
em que P é a pressão média e A é a área da placa plana. Para uma distribuição de pressão uniforme, o
centro de pressão coincide com o centróide1 da área da placa.
Fonte: O autor.
1
Centróide é o ponto no interior de uma forma geométrica (objeto) que define o seu centro geométrico.
A magnitude da força resultante (FR) atuando sobre o centro de pressão pode ser determinada a
partir da Equação (III.6):
FR PC A (III.6)
em que PC é a pressão no centróide (pressão média) da área e A é a área da placa plana. Em contato
com o fluido.
O ponto de aplicação (cota vertical) da força resultante na superfície da placa pode ser obtido a
partir da Equação (III.7):
z P FR z P dA (III.7)
A
Exercício Resolvido III.7 – Uma placa retangular, com 8 m de Figura III.16 – Canal de água.
altura e 5 m de largura, bloqueia a lateral de um canal de água
(γ = 10 kN/m3) com 6 m de profundidade, como ilustrado na
Figura III.16. A placa tem uma dobradiça, em torno de um eixo
horizontal, ao longo do lado superior num ponto O, e sua
abertura é bloqueada por um ressalto no ponto A. Determine a
força exercida pelo ressalto sobre a placa.
Fonte: O autor.
Resolução:
O centróide da área da placa em contato com a água está localizado a 3 m da superfície livre do
líquido (tomada como datum, z = 0), e desta forma, a cota vertical do centróide é z C 3 m .
Inicialmente, deve-se considerar que as superfícies secas da placa estão submetidas à pressão
atmosférica, esta pode ser subtraída, trabalhando-se apenas com a pressão manométrica. A
partir da Equação (III.6) e da Equação (III.7) pode-se determinar a intensidade da força
resultante e a posição do centro de pressão na placa retangular.
FR PC A zC A 10 kN / m3 3 m 6 m 5 m FR 900 kN
Esta força, age na direção horizontal, no centro de pressão (Ponto P), que é determinado para o
problema através da expressão:
h h2 2
z z dy dz
1 1 h
z P dA
z C h 0
zP z 2
dz z h
PC A 0 0 3 zC
P
FR A 3
em que ℓ e h são respectivamente a largura e a altura vertical, respectivamente, da superfície
submersa da placa. Assim,
z P 4 m
A partir da análise do momento sobre o Ponto O, pode-se finalmente determinar a força exercida
pelo ressalto contra a placa:
Hugo L. B. Buarque
54 Parte Dois: Mecânica dos Fluidos
EMPUXO.
Empuxo de flutuação.
O empuxo de flutuação ( E ), ou simplesmente empuxo, é definido como a força hidrostática
resultante que é produzida em um corpo sólido que está totalmente ou parcialmente submerso num
fluido, quando este fluido está submetido a um campo gravitacional. O empuxo existe graças às
diferentes pressões hidrostáticas atuando no corpo. Como já se sabe, a pressão será maior na parte
inferior do corpo, pois estará à maior profundidade, e menor nas menores profundidades, gerando uma
força resultante ascendente.
Assim, a força de flutuação (empuxo) pode ser determinada pela diferença entre duas forças
hidrostáticas: a componente vertical resultante agindo sobre a superfície inferior do corpo, de maior
intensidade, e a componente vertical resultante agindo na superfície superior do corpo, de menor
intensidade. Consequentemente, a intensidade do empuxo de flutuação (E) pode ser determinada para
qualquer corpo sólido a partir da Equação (III.8):
E f V
(III.8)
em que f é o peso específico do fluido e V é o volume do corpo submerso ou parcialmente submerso.
Assim, pode-se concluir que a força de flutuação que age sobre um corpo é igual ao peso do
líquido deslocado pelo corpo. Nota-se também que o empuxo não depende da distância entre o corpo e
a superfície do livre do fluido ou da massa específica do corpo.
Exercício Resolvido III.8 – Um corpo sólido de forma cúbica está Figura III.17 – Cubo imerso
submerso em água (γ = 10 kN/m3), como ilustra a Figura III.17. O em água.
cubo tem aresta igual a 4 cm e sua face superior dista 20 cm da
superfície livre do líquido. Determinar o empuxo de flutuação do
corpo.
Resolução:
As forças hidrostáticas atuando nas faces laterais do cubo são
iguais e resultam em resultantes nulas na direção horizontal.
Entretanto, as forças atuando na face superior e na face inferior Fonte: O autor.
são diferentes e produz uma resultante vertical no sentido
ascendente, o empuxo de flutuação.
E [Po f (z s a)] A face Po f z s A face f a A face
Neste exercício, a Equação (III.8) foi deduzida a partir de um corpo com geometria simples.
Porém, ela também pode ser deduzida para qualquer corpo, independentemente da sua forma.
Exercício Resolvido III.9 – Um cubo com 1 ft de aresta está Figura III.18 – Cubo imerso
mergulhado e em repouso no seio de uma mistura de líquidos em sistema bifásico.
imiscíveis, água (ρ=62,43 lbm/ft3) e óleo (d=0,8), como indica a
Figura III.18. A mistura está a pressão atmosférica (14,696 psia).
Calcular a força hidrostática da água no fundo do cubo, em lbf, e o
empuxo de flutuação neste corpo, em Newton.
Resolução:
F fundo Patm óleo g h1 água g h2 A fundo
Fonte: O autor.
lb f lb ft s 2 in 2
F fundo 14,696 2 32,174 m 144 2 óleo g h1 água g h2 1 ft 2
in lb f ft
lb lb ft lb ft
F fundo 68.087,4 2 m 0,8 62,43 m3 32,174 2 5 ft 62,43 m3 32,174 2 4 ft 1 ft 2
s ft ft s ft s
lbm ft lb f s 2
F fundo 84.156,4 F fundo 2.615,7 lb f
s2 32,174 lbm ft
ft lbm ft 1 N s2
E água g V 62,43 32,174 1 ft 3
2.008,6 E 277,7 N
s2 s2 7,233 lbm ft
Princípio de Arquimedes.
O Princípio de Arquimedes1 estabelece que “um corpo imerso num fluido está sujeito a um
empuxo que age para cima no centróide do volume deslocado e é igual, em magnitude, ao peso do
fluido deslocado pelo corpo”. Por conseguinte, para corpos flutuantes, a fração de volume submersa do
corpo é igual à razão entre a massa específica média do corpo ( ρ s ) e a massa específica do fluido
( ρ f ), conforme apresentado na Equação (III.9).
V t ρs / ρ f
im / V (III.9)
im e V t são, respectivamente o volume submerso e o volume total do corpo sólido.
em que V
1
Arquimedes (287 a.C. a 212 a.C) foi um famoso matemático, físico e inventor grego que fez importantes descobertas em
matemática e física, além de diversas invenções de máquinas de uso militar e civil.
Hugo L. B. Buarque
56 Parte Dois: Mecânica dos Fluidos
PROBLEMAS.
1. Marque (V) para verdadeira e (F) para falsa, nas afirmativas abaixo:
( ) manômetro é um instrumento para medir a pressão absoluta;
( ) os manômetros de líquido são os mais utilizados na indústria para medir pressões elevadas;
( ) uma pressão manométrica negativa implica numa pressão absoluta não-negativa;
( ) sobre uma superfície plana, o empuxo exercido por um líquido varia apenas com a área dessa
superfície;
( ) a diferença de pressão no interior de uma massa fluida é igual ao peso dessa coluna de fluido.
2. O Departamento financeiro de determinada companhia está Figura III.20 – Reservatórios e
comprando um equipamento a laser de R$ 50.000,00 para medir a manômetro neste problema.
diferença de níveis d’água de dois grandes reservatórios. É
importante que pequenas diferenças de níveis sejam medidas com
exatidão. Você sugere que a tarefa seja desempenhada pela
adequada instalação de um manômetro de R$ 600,00, ver figura ao
lado. Um óleo (menos denso do que a água) pode ser usado para
proporcionar o aumento de 15:1 do movimento do menisco. Assim,
pequena diferença de níveis dos reservatórios produzirá nos níveis
dos óleos do manômetro deflexão 15 vezes maior. Determinar a
densidade relativa do óleo capaz de produzir esta deflexão. Fonte: O autor.
FLUIDODINÂMICA:
EQUAÇÕES FUNDAMENTAIS
“Não existem métodos fáceis para resolver problemas difíceis”.
René Descartes (1596–1650)
dp s
F , (IV.3)
dt
em que p s v dm v dV
, e v é a velocidade do elemento infinitesimal de massa.
s s
Desta lei, verifica-se que a quantidade de movimento se conserva num sistema mecanicamente
isolado, isto é, num sistema cuja resultante das forças externas é nula. Outrossim, quando a massa do
corpo é constante, verifica-se a forma popularizada desta lei:
d
dM s dv s dv s
F M s v s v Ms Ms Ms a . (IV.4)
dt dt dt dt
E assim, tem-se que a força resultante aplicada a um sistema é diretamente proporcional ao
produto entre sua massa inercial ( M s ) e a aceleração ( a s ) adquirida pelo mesmo.
Momento da Quantidade de Movimento.
O momento da quantidade de movimento, também denominado quantidade de movimento
angular, momentum angular ou momento angular, de um sistema ( H s ) é a grandeza física que
relaciona a distribuição da massa desse sistema, ao redor de um eixo de rotação, com sua velocidade
angular. A forma mais comum de se determinar a quantidade de movimento angular é através do
produto do momento de inércia do sistema (Js) e sua velocidade angular ( s ), isto é, H s J s s .
Também pode ser determinada através do produto vetorial do raio do movimento angular ( r ) e da
quantidade de movimento linear ( p ) do corpo, H s r p . O torque aplicado a um corpo produz uma
variação da quantidade de momento angular, como mostrado na Equação (IV.5):
dH s
T , (IV.5)
dt
em que T é o torque aplicado e H s r v dm r v dV
.
s s
Fonte: O autor.
Hugo L. B. Buarque
60 Parte Dois: Mecânica dos Fluidos
t t
dV
t t
dV t t
IV II
. (IV.12)
t
Assim, no limite quando t tende a zero,
dV
t t
dV t t
Lim
IV II
, (IV.13)
t 0 t
resultando em:
dN s
dV
v dA , (IV.14)
dt t V .C. S. C .
dN s
t V .C.
em que é a taxa de variação da propriedade N no sistema, dV
é a taxa de variação
dt
da propriedade N no volume de controle, e v dA é o fluxo de N através da superfície de
S. C .
controle.
em que n é o vetor unitário normal ao elemento de área da superfície de controle.
A Equação (IV.15) pode facilmente ser estendida para representar um balanço global de massa
para um dado componente i ao se adicionar um termo de geração ( R i ) no segundo membro da
equação.
Exercício Resolvido IV.1 – Aplicar o balanço global de massa a Figura IV.2 – Escoamento
um escoamento permanente num trecho de tubo de corrente, como em tubo de corrente.
ilustrado na Figura IV.2, entre as seções 1 e 2.
Resolução:
Ao se fazer um balanço global de massa (Equação IV.15) para o
tubo de corrente em estado permanente, assumindo que a massa
específica do fluido é constante em qualquer posição nas seções Fonte: O autor.
consideradas, que não há escoamento através da parede do tubo, e
que o fluido
0 atravessa as seções 1 e 2 perpendicularmente a estas:
dV v n dA 0 1 A1
1 1
t V.C. S.C A1 A1
v dA 2 A 2
A2 A2
v dA 0
2 A 2 v 2 1 A1 v1 0
1
A A
em que v v dA é a definição de velocidade media ou global do escoamento numa
seção A.
Da equação obtida conclui-se que a vazão mássica do sistema é constante ao longo do
escoamento para as restrições consideradas:
dm1 dm dm 2
1 v1 A1 2 v2 A 2 ,
dt dt dt
ou ainda,
1 m
m m
2.
Caso o escoamento também seja incompressível (ρ constante), a vazão volumétrica do sistema
também será constante:
v1 A1 v 2 A 2 ,
ou ainda,
V
V 1 V
2.
Hugo L. B. Buarque
62 Parte Dois: Mecânica dos Fluidos
r 2
rR
1 2 R v max 2 R
v 1 r dr d v r 3 dr d
2
v max
R2 0 0
R R4 0 0
v max
v .
2
Exercício Resolvido IV.3 – Inicialmente, um tanque, como ilustrado na Figura IV.3 – Tanque
Figura IV.3, contém 500 kg de salmoura contendo 10% de sal. No agitado com salmoura.
ponto (1) no volume de controle (figura ao lado), uma solução salina
entra a uma vazão constante de 10 kg/h contendo 20% do sal. Uma
corrente de salmoura deixa o ponto (2) a uma taxa constante de 5 kg/h.
O tanque está bem agitado. Derive uma equação relacionando a fração
mássica wa do sal no tanque em qualquer tempo t em horas.
Resolução:
Ao se fazer um balanço global de massa (Equação IV.15) para o
sistema descrito no enunciado: Fonte: O autor.
dV v n dA 0 dM 5 10 0
t V.C. S.C t V.C.
M V.C. dM V.C. M t
5 0 5 dM V.C. 5 dt
t dt 500 0
M V.C. 5t 500 .
A equação logo acima relaciona a massa total, M V.C. , do tanque (volume de controle) em
qualquer tempo t. Agora, ao se realizar um balanço global de massa para o sal (componente A),
usando novamente a Equação (IV.15):
dM A 5 w A 10 0,20 0 M V.C. w A 5w A 2 0
d
t V.C. dt
5w A 2 0 5w A 5t 500 5w A 2 0
dM V.C. dw A dw A
w A M V.C.
dt dt dt
wA dw A t dt
0,10 2 10w A 0 5t 500
2
100
w A 0,2 0,1 .
100 t
dQ dW v2 v2
u g z dV u g z v n dA (IV.16)
dt dt t V.C. 2 S.C
2
em que u é a energia interna de uma unidade de massa de fluido (energia interna específica).
Exercício Resolvido IV.4 – Água entra em uma caldeira a Figura IV.4 – Caldeira
18,33oC e 137,9 kPa através de um tubo com uma discutida neste exercício.
velocidade média de 1,52 m/s. Este sistema é ilustrado na
Figura IV.4. Vapor sai da caldeira a uma altura (z) de
15,2 m acima da entrada de líquido, com pressão,
temperatura e velocidade média de 137,9 kPa, 148,9oC e
9,14 m/s, respectivamente. Quanto calor deve ser
adicionado por kg de vapor em estado permanente? O fluxo
nas duas linhas é turbulento.
Resolução: Fonte: O autor.
Aplicando o balanço global de energia (Equação IV.16) para o fluido que atravessa a caldeira,
considerando estado permanente e somente a realização de trabalho mecânico de
expansão/compressão: 0
0
v2 v2
P v n dA 0u g z v n dA
dQ
g z dV u
dt S.C t V.C. 2 S.C
2
P v2 v2
g z v n dA g z v n dA ,
dQ dQ
u h
S.C
dt 2 dt S.C
2
P
em que a entalpia específica h u .
Considerando que o escoamento através dos contornos (1) e (2) é unidimensional e que a
variação de altura, de densidade e de entalpia é desprezível nas seções transversais de entrada
(ponto 1) e de saída (ponto 2):
dQ v3 v3
h 2 2 g z 2 2 v 2 A 2 h 1 1 g z1 1 v1 A1 ,
dt 2v 2
2 v1
1 1
em que v 3
A A
v 3 dA e v v dA .
A A
O termo v 3 v pode ser substituído por v 2 , onde é o fator de correção da velocidade da
energia cinética. O fator tem sido avaliado para vários escoamentos em tubos e é 1/2 para
escoamento laminar e aproximadamente igual à unidade para escoamento turbulento. Também,
do balanço global de massa para o sistema:
Hugo L. B. Buarque
64 Parte Dois: Mecânica dos Fluidos
dm1 dm 2 dm
1 v1 A1 2 v 2 A 2
dt dt dt
Assim,
v2 v2
h 2 h 1 2 1 g z 2 z1 .
dQ
dm 2 2
Das tabelas de entalpia para a água: h1 = 76,97 kJ/kg e h2 = 2.771,4 kJ/kg, o que resulta em:
9,14 2 1,52 2
9,81 15,2
dQ
2,6944 10 6
dm 2 2
dQ
2,6946 10 6 J kg .
dm
Exercício Resolvido IV.5 – Água está escoando numa vazão de Figura IV.5 – Bocal
horizontal deste exercício.
0,03154 m3/s através de um bocal horizontal (ver Figura IV.5) e
descarrega na atmosfera (ponto 2). O bocal está fixado no
ponto 1 e forças de fricção são consideradas desprezíveis. O
diâmetro interno no ponto 1 é 0,0635 m e no ponto 2 é 0,0286 m.
Calcule a força resultante do fluido sobre o bocal. A densidade
da água é 1.000 kg/m3.
Fonte: O autor.
Resolução:
Aplicando o balanço global de momentum (Equação IV.17) para o fluido que atravessa o bocal,
considerando estado permanente e escoamento incompressível na direção axial (direção x):
0
F v dV v v n dA F v v x dA
t V . C. S. C S. C
2 2
Fx v dA
2 v x , 2 v x ,1 .
Fx V
S.C
x
v x , 2 v x ,1
O termo v 2 v pode ser substituído por v , onde é o fator de correção da velocidade do
momentum. O fator tem sido avaliado para vários escoamentos em tubos e é 3/4 para
escoamento laminar e varia de 0,95 a 0,99 para escoamento turbulento. Assim, tomando 1 e
calculando as velocidades médias nas seções 1 e 2:
V 4 0,03154 4 0,03154
Fx 1.000 0,03154 v x , 2 v x ,1 Fx 31,54
V
A 2 A 1 0,0286
2
0,0635 2
Fx 1234,3 N
Do balanço global de energia para o sistema (Equação IV.16), reescrevendo h u P / ,
obtém-se o valor aproximado da componente de F x relacionada à diferença de pressão entre os
pontos 1 e 2:
dQ0 P v3 P v3 P v2 P v2
u 2 2 2 g z 2 2 v 2 A 2 u 1 1 1 g z1 1 v1A1 2 2 1 1 ;
dt 2v 2
2 v1
2 2
v 2 v12 D2
Fpx P1 P2 A1 2 Fpx 3.660,3 N
2 4
Sabendo que a força resultante Fx atuando sobre o fluido tem como componentes a força de
pressão, Fxp , e a força do sólido (bocal) sobre o fluido, R x : Fx Fpx R x , tem-se que:
R x Fx Fpx 1.234,3 3.660,3 R x 2.426 N .
Assim, a força o fluido sobre o bocal é R x , cujo valor é igual a 2.426 N.
Hugo L. B. Buarque
66 Parte Dois: Mecânica dos Fluidos
t
xyz (v x ) x (v x ) x x yz (v y ) y (v y ) y y xz (v z ) z (v z ) z z xy . (IV.18)
v x v y v z , (IV.20)
t x y z
ou numa notação (vetorial) mais concisa,
v 0 (IV.21)
t
onde t é a taxa de aumento de massa por unidade de volume e v é a taxa líquida de adição
de massa por convecção por unidade de volume.
5 x 2 y 2 5x 2x 5 x 2 y 2 5y 2 y
0
5 x 2 y2 5 x 2 y2
0 00
x 2 y2
2
x 2 y2
2
x 2 y2
2
x 2 y22
Fenômenos de Transporte para Cursos Técnicos e Tecnológicos
Capítulo IV: Fluidodinâmica - Equações Fundamentais 67
u
t
v 2
v u
v 2
q v g P v v ,
2
(IV.29)
2
em que q é o vetor fluxo de calor.
Hugo L. B. Buarque
68 Parte Dois: Mecânica dos Fluidos
ainda, a força resultante relacionada à pressão e a força gravitacional agindo sobre o fluido na direção
x podem ser equacionadas, respectivamente, como:
yz Px Px x ; (IV.33)
g x xyz ; (IV.34)
e, após dividir todos os termos da equação por ΔxΔyΔz, fazendo em seguida Δx, Δy e Δz tenderem a
zero, pode-se chegar à seguinte equação diferencial para o balanço de quantidade de movimento na
direção x, como segue:
P
v x v x v x v y v y v y v y xx yx zx g x (IV.35)
t x y z x y z x
Escrevendo também os balanços de quantidade de movimento para as direções y e z e
adicionando vetorialmente todas estas equações, obtém-se a equação do movimento para um fluido
puro:
v v v P g (IV.36)
t
que é válida para qualquer meio contínuo.
Para um fluido escoando com ρ e μ constantes, a Equação do Movimento pode ser reescrita
como:
v
v v v P g (IV.37)
t
sendo conhecida como Equação de Navier-Stokes.
A Equação do Movimento também pode ser reescrita para um fluido considerado não-viscoso (forças
viscosas desprezíveis) e escoando com massa específica constante como:
v
t
v v P g , (IV.38)
PROBLEMAS.
1. Na seção 1 de um conduto pelo qual escoa água, ilustrado Figura IV.7 – Conduto deste
na Figura IV.7, a velocidade média é 1 m/s e o diâmetro é problema.
0,5 m. Este mesmo fluido passa pela seção 2 onde o
diâmetro é 1 m. Determine a vazão e a velocidade média na
seção 2.
Fonte: O autor.
T
P
CP v T k 2 T T v
t T
Dica: use a Segunda Lei de Fick juntamente com as equações fundamentais apresentadas.
5. Mostre a dedução da Equação de Navier-Stokes (Equação IV.37) a partir da Equação do
Movimento (Equação IV.36).
Hugo L. B. Buarque
CAPÍTULO V
“Somos muito mais frequentemente enganados por nosso raciocínio do que por nossos sentidos”
Leonhard Euler (1707 – 1783).
FLUIDOS IDEAIS.
Um fluido ideal, como definido no Capítulo II, tem uma viscosidade igual a zero e a ciência que
lida com tais fluidos é chamada de hidrodinâmica teórica. Desde que ar e água têm baixas
viscosidades, pode ser admitido normalmente, exceto quando o Número de Reynolds é baixo, que tais
fluidos devam se comportar como fluidos ideais.
1
P g z v v v v (V.2)
2
em que z é a elevação no campo gravitacional.
Ao se dividir a Equação (V.2) por ρ e, em seguida, multiplicá-la pelo vetor unitário na direção do
escoamento (linha de corrente), s v v , obtém-se:
0
1 1
2
s P g s z s v2 s v v (V.3)
2 ds
1 d 2 1 dP
v
ds
g
dz
ds
0 (V.4)
1
2
1
d v 2 dP g dz 0
(V.5)
72 Parte Dois: Mecânica dos Fluidos
1
2
dP g dz 0
1
(V.6)
2
1 2
v 2 v12
P2 1
P1
dP g z 2 z1 0 (V.7)
2
1
v 2 v12 P2 P1 g z 2 z1 0
1 2
(V.8)
Do balanço global de energia, considerando um volume de controle no qual um fluido escoa sem
atrito, em regime permanente, e realizando somente trabalho mecânico de expansão/compressão, bem
como assumindo que as únicas formas de energia variando são: a energia interna, energia cinética e
energia potencial; tem-se que:
P v2
g z v n dA
dQ
u
(V.9)
S.C
dt 2
Considerando que a variação de altura, de massa específica e de entalpia é desprezível nas seções
transversais de entrada (Ponto 1) e de saída (Ponto 2) do volume de controle:
dQ P2 v2 P v2
u 2 2 g z 2 2 v 2 A 2 1 u 1 1 g z1 1 v1 A1 (V.10)
dt 2 2 1 2
Do balanço global de massa para o fluido, sob as mesmas condições, ainda se tem que:
dm
1 v 1 A 1 2 v 2 A 2 (V.11)
dt
Assim,
dQ P2 v2 dm P1 v2 dm
u 2 2 g z 2 u 1 1 g z1 (V.12)
dt 2 2 dt 1 2 dt
dQ P2 v 22 P v2
g z 2 1 1 g z1 u 2 u 1 (V.13)
dm 2 2 1 2
P1 v12 P v2 dQ
g z1 2 2 g z 2 u 2 u 1 (V.14)
1 2 2 2 dm
Assumindo que não há dissipação de energia mecânica, isto é todo calor produzido será oriundo
da variação de energia interna:
P1 v12 P2 v 22
g z1 g z2 (V.15)
1 2 2 2
Para um escoamento incompressível do fluido a Equação (V.15) assume a seguinte forma:
P1 v12 P v2
g z1 2 2 g z 2 (V.16)
2 2
2
1
v 2 v12 P2 P1 g z 2 z 1 0
1 2
(V.17)
Novamente, a Equação de Bernoulli foi deduzida, mas agora, a partir de outras restrições
impostas ao escoamento do fluido. Sejam elas: escoamento permanente e incompressível, inexistência
de outras formas de trabalho que não o trabalho mecânico de expansão/compressão, inexistência de
dissipação de energia mecânica, e propriedades uniformes nas seções transversais consideradas
(pontos 1 e 2).
É importante comentar que a última restrição apresentada, atendendo-se às demais, é dispensável
ao se considerar a velocidade média do fluido nos pontos 1 e 2 nos casos em que o escoamento seja
turbulento (fator de correção da velocidade da energia cinética aproximadamente igual à unidade):
2
1
v 2 v12 P2 P1 g z 2 z 1 0
1 2
(V.18)
Exercício Resolvido V.1 – O ar escoa com baixa velocidade por um Figura V.1 – Bocal
bocal horizontal que descarrega na atmosfera (ver Figura V.1). A deste exercício.
área do bocal à entrada mede 0,1 m2 e à saída mede 0,02 m2. O
escoamento é, essencialmente, de fluido incompressível e de atrito
desprezível. Determinar a pressão manométrica, Pef, necessária à
entrada do bocal para produzir a velocidade de saída de 50 m/s.
Considerar ρ = 1,23 kg/m3. Fonte: O autor.
Resolução:
Considerando o escoamento permanente, incompressível, sem atrito e ao longo de uma linha de
corrente, entre os pontos 1 e 2 da figura apresentada (na mesma cota vertical):
P1 v12 P2 v 22
g z1 g z2
2 2
v 22 v 12
P1ef P1 Patm
2
Da equação da continuidade aplicada ao escoamento, tem-se que:
2
A
1 v1 A1 2 v 2 A 2 v v 2
2
1
2
2
A1
Assim, por substituição:
A 22 1,23 502
v 22 0,12
P
ef
1 1
2
P1ef 1.476 Pa
2 A12
1
2 0,02
Hugo L. B. Buarque
74 Parte Dois: Mecânica dos Fluidos
PROBLEMAS.
1. O dispositivo mostrado na Figura V.3, denominado tubo de Pitot, é Figura V.3 – Tubo de Pitot.
utilizado para determinar a velocidade de um líquido escoando
(ponto 1). É constituído de um tubo cuja extremidade inferior é
dirigida para montante e cujo ramo vertical é aberto à atmosfera. O
impacto do líquido na abertura (ponto 2) força o mesmo a subir no
ramo vertical a uma altura Δh acima da superfície livre do líquido.
Determinar a expressão da velocidade no ponto 1.
Fonte: O autor.
2. Um tubo em U, como ilustrado na Figura V.4, funciona como sifão. A Figura V.4 – Sifão.
curva deste tubo está 1 m acima da superfície da água e a saída situa-se
7 m abaixo da mesma superfície. Se o escoamento em primeira
aproximação processa-se com atrito nulo, e o jato de saída jorra à
pressão atmosférica, determinar (depois de listar as restrições
necessárias): a velocidade do jato livre; a pressão absoluta do fluido ao
escoar pela curva (ponto A).
Fonte: O autor.
FLUIDOS REAIS.
Embora a teoria dos fluidos ideais seja útil em diversas situações práticas, a maioria dos
problemas industriais requer a resolução das equações fundamentais do escoamento de fluidos para
fluidos reais, onde as forças viscosas devem ser consideradas na avaliação desse escoamento.
Fonte: O autor.
Para o escoamento sobre uma placa plana, a espessura da camada limite aumenta a partir de um
valor nulo, obtido no bordo de ataque, desde um perfil para o escoamento laminar até outro perfil para
escoamento turbulento, como mostrado na figura abaixo. Na Figura VI.2 também é apresentada uma
comparação ilustrativa entre o escoamento sobre uma placa plana e no interior de um tubo cilíndrico.
76 Parte Um: Introdução
Figura VI.2 – Comparação entre escoamentos sobre placa plana e no interior de tubos cilíndricos.
Fonte: O autor.
P v2
g z v n dA
dQ
u (VI.1)
S.C
dt 2
Considerando que a variação de altura, de massa específica e de entalpia é desprezível nas seções
transversais de entrada (ponto 1) e de saída (ponto 2) do volume de controle e tomando a equação do
balanço global de massa:
P1 v12 P v2 1 dQ
z1 2 2 z 2 u 2 u 1 (VI.2)
1 2g 2 2g g dm
1 dQ
O termo h p u 2 u1 é referente à perda de carga e, assim, a Equação de Bernoulli
g dm
pode ser adaptada para:
P1 v12 P2 v 22
z1 z2 hp (VI.3)
1 2g 2 2g
P v2
g z v n dA
dQ dWe
u (VI.4)
S.C
dt dt 2
Considerando que a variação de altura, de massa específica e de entalpia é desprezível nas seções
transversais de entrada (ponto 1) e de saída (ponto 2) do volume de controle, tomando a equação do
balanço global de massa, e assumindo que não há dissipação de energia mecânica, isto é todo calor
produzido será oriundo da variação de energia interna:
dWe P v2 P v2
g 2 2 z 2 1 1 z 1
m (VI.5)
dt 2 2g 1 2g
Definindo as relações entre a carga de uma bomba (ou compressor) ou de uma turbina e o
trabalho de eixo realizado sobre o sistema, respectivamente como:
dWe
m
gHB (VI.6)
dt
dWe
m
g HT (VI.7)
dt
em que HB e HT são, respectivamente a carga da bomba e a carga da turbina, a Equação de Bernoulli
pode ser reescrita como segue:
P1 v12 P2 v 22
H z1 z2 (VI.8)
1 2g 2 2g
em que H é a carga do equipamento adicionando trabalho de eixo (energia) ao fluido.
P1 v12 P v2
H z1 2 2 z 2 h p (VI.9)
1 2g 2 2g
Hugo L. B. Buarque
78 Parte Um: Introdução
a perda de carga distribuída, hp,d, que ocorre ao longo dos trechos retos de tubulação, entre as
duas seções consideradas, devido ao atrito viscoso;
a perda de carga localizada, hp,l, devido aos acessórios ou acidentes localizados em dadas
posições nas tubulações, tais como válvulas, curvas, variações na seção transversal etc.
Assim, tem-se a perda de carga total, entre duas seções consideradas, dada por:
h p h p ,d h p ,l (VI.10)
A parede dos dutos retilíneos causa uma perda de pressão distribuída ao longo do comprimento
do tubo, fazendo com que a pressão total vá diminuindo gradativamente ao longo do comprimento e,
por isso, é denominada de Perda de Carga Distribuída.
Esta perda de carga depende do diâmetro, D, e do comprimento, L, do tubo; da rugosidade ε da
parede; das propriedades do fluido, da massa específica ρ, da viscosidade μ e da velocidade v do
escoamento. Dentre as propriedades do fluido, a viscosidade é a mais importante na dissipação de
energia. Além de ser proporcional à perda de carga, sua relação com as forças de inércia do
escoamento fornece um número adimensional, o número de Reynolds, Re, que é o parâmetro que
indica o regime do escoamento.
Com o intuito de estabelecer correlações que possam estimar a perda de carga em condutos, já há
cerca de dois séculos estudos vêm sendo realizados. Além do estudo teórico, várias experiências foram
efetuadas para o desenvolvimento de fórmulas que expressem satisfatoriamente a perda de carga
distribuída, destacando-se entre outros, os trabalhos de Moody-Rouse, de Hazen-Williams.
Atualmente, a expressão universalmente utilizada para análise do escoamento em tubos, proposta em
1845, é a conhecida equação de Darcy-Weisbach:
L v2
h p ,d f (VI.11)
D 2g
onde h p ,d é a perda de carga ao longo do comprimento do tubo, f é o fator de atrito de Darcy-
O fator de atrito, f, que pode ser determinado experimentalmente, é função das propriedades do
fluido e da tubulação, representadas por dois parâmetros adimensionais: o Número de Reynolds, Re, e
a rugosidade relativa da parede do tubo, ε/D, que nada mais é que a relação entre a rugosidade absoluta
e o diâmetro interno da tubulação. Mas não se encontrou logo uma maneira segura para determinação
do fator de atrito de Darcy-Weisbach. Somente em 1939 é que se estabeleceu definitivamente uma lei
para fator de atrito, f, a equação de Colebrook-White:
1 D 2,51
2 log 10 (VI.12)
3,7 Re f
f
A equação de Colebrook-White tem sido considerada como a mais precisa lei de resistência ao
escoamento e vem sendo utilizada como padrão referencial. Mas, apesar disto e de todo o
fundamentalismo e embasamento teórico agregado à mesma, tal equação tem uma particularidade: é
implícita em relação ao fator de atrito, ou seja, a grandeza f está presente nos dois membros da
equação, sem possibilidade de ser explicitada em relação às demais grandezas. Sua resolução requer
um processo iterativo.
Diversos outros pesquisadores têm desenvolvido equações explícitas, que embora mais simples
que equação de Colebrook-White, são menos precisas ou, quando precisas são mas mais complicadas.
A Tabela VI.1 a seguir apresenta um pequeno conjunto destas equações compiladas da literatura.
f 1,564 LnRe - 3
4.000 < Re < 108;
Konakov 1 (VI.15) tubo hidraulicamente liso.
tubos rugosos;
f 0,0275 D 68 Re
0, 25 para tubos lisos coincide
Altshul (VI.16) com a equação de
Blasius.
1 D 2,18 D 14,5
Shacam 1,7372 Ln Ln (VI.17) tubos rugosos
f 3,7 Re 3,7 Re
1 D 5,74 tubos rugosos;
Swamee e 1,7372 Ln 0 ,9 (VI.18) 5.000<Re<108;
3,7 Re 10–6 D 10–2.
Jain
f
1 12
16
16
32
8
12
7
0,9
D 37530 tubos rugosos;
f 2 2,457 Ln
Re
Churchill (VI.19) qualquer regime.
Re
Re 3,7
Hugo L. B. Buarque
80 Parte Um: Introdução
Para a estimativa do fator de atrito, além do Número de Reynolds, a rugosidade relativa do tubo
deve ser conhecida. A rugosidade da parede da tubulação, que é definida como a altura média das
saliências da superfície interna do tubo, depende do material de fabricação do duto, bem como do seu
estado de conservação. De maneira geral um tubo usado apresenta uma rugosidade maior que um tubo
novo. Valores médios de rugosidade para alguns tipos de tubos mais comuns, incluindo a condição de
uso para alguns deles, são amplamente conhecidos e estão apresentados na Tabela VI.2.
O fator de atrito para o escoamento num duto pode ser facilmente obtido, com o auxílio do
diagrama mostrado na Figura VI.3, a partir da determinação do Número de Reynolds e da rugosidade
relativa da parede do duto. Este diagrama foi confeccionado primeiramente por Moody a partir de
dados de vários pesquisadores e por esse motivo recebe o nome de Diagrama de Moody.
A Perda de Carga Localizada é causada pelos acessórios de canalização, isto é, as diversas peças
necessárias para a montagem da tubulação e para o controle do fluxo do escoamento (válvulas, curvas,
reduções, etc.), que provocam variação brusca da velocidade, em módulo ou direção, intensificando a
perda de energia nos pontos onde estão localizadas. A seguir veremos os métodos de cálculo da Perda
de Carga Localizada.
Fonte: O autor.
O comprimento equivalente local é definido como um comprimento de tubulação reta, ℓeq, que
causa a mesma perda de carga que o acessório. Os comprimentos equivalentes dos acessórios presentes
na tubulação são “adicionados” ao comprimento físico da tubulação, L, fornecendo um comprimento
equivalente total, Leq. Matematicamente o comprimento equivalente total pode ser calculado pela
expressão:
L eq L eq (VI.13)
Este comprimento equivalente total permite tratar o sistema de transporte de líquido como se
fosse um único conduto retilíneo. Nessa condição a perda de carga total do sistema pode ser avaliada
pela equação da Fórmula Universal (Darcy-Weisbach).
O comprimento equivalente de cada tipo de acessório pode ser determinado experimentalmente,
e o valor obtido é válido somente para o tubo usado no ensaio. Para uso em tubos diferentes os valores
devem ser corrigidos em função das características do novo tubo. Existem também tabelas e
nomógrafos de fácil utilização onde são constados os comprimentos equivalentes dos principais
componentes de um sistema hidráulico.
Hugo L. B. Buarque
82 Parte Um: Introdução
O acessório tem sua perda de carga localizada calculada através do produto de um coeficiente de
perda de carga característico, K, pela carga cinética que o atravessa. Cada tipo de acessório tem um
coeficiente de perda de carga característico. A perda causada pelo acessório é calculada pela
expressão:
v2
h p ,l K i (VI.14)
i 2g
O método de cálculo através da carga cinética é mais geral, pois o valor do coeficiente K não
depende do tubo usado no ensaio como ocorre com o comprimento equivalente. A Tabela VI.3
apresenta alguns coeficientes de perda de carga localizada (K) sugeridos (aproximados) para válvulas e
acessórios a serem utilizados nos exercícios deste capítulo. Valores reais devem ser buscados na
literatura especializada.
Tabela VI.3 – Coeficientes de perda de carga sugeridos (aproximados) para acessórios de aço.
Acessórios K Acessórios K
Comporta aberta 1,00 Pequena derivação 0,05
Controlador de vazão 2,50 Saída de canalização 1,00
Cotovelo ou joelho 45º 0,40 Tê de passagem direta 0,60
Cotovelo ou joelho 90º 0,90 Tê de saída bilateral 1,80
Crivo 0,75 Tê de saída de lado 1,30
Curva (raio longo) de 22,5º 0,10 Válvula borboleta aberta 0,30
Curva (raio longo) de 45º 0,20 Válvula de ângulo aberta 5,00
Curva (raio longo) de 90º 0,40 Válvula de gaveta aberta 0,20
Entrada de borda 1,00 Válvula de pé 1,75
Entrada normal 0,50 Válvula de retenção ou segurança 2,50
Junção 0,40 Válvula globo aberta 10,00
Válvula de gaveta
h/d 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%
K ∞ 190 45,0 18,0 8,10 4,00 2,10 0,95 0,40 0,30 0,20
Válvula esférica
θ 5º 10º 15º 20º 25º 30º 40º 45º 50º 55º 67º
K 0,05 0,30 0,90 1,80 3,50 6,00 21,0 41,0 95,0 275 ∞
Válvula borbuleta
θ 5º 10º 15º 20º 30º 40º 50º 60º 65º 70º 90º
K 0,35 0,50 0,90 1,50 3,90 11,0 33,0 118 256 751 ∞
Exercício Resolvido VI.1 – Considere um escoamento de água, com vazão V igual a
0,02 m3/s, num duto horizontal de ferro galvanizado de seção transversal circular com
diâmetro D = 10 cm. O duto tem comprimento L = 300 m e rugosidade relativa ε/D igual a
0,0015. Considere que ρágua igual a 1.000 kg /m3 e μágua igual a 0,001 Pa•s, determine a perda
de carga distribuída e a correspondente queda de pressão no duto.
Resolução:
Utilizando a Equação de Darcy-Weisbach:
L v2
h p ,d f
D 2g
h p ,d f
D 2 2 3.000 4 0,02 2
300 4V
f
0,10 2 9,81 19,62 0,10 2
h p,d 991,5 f
O fator de atrito pode ser determinado a partir do Diagrama de Moody. Para isso,
calcula-se o Número de Reynolds (Re) para o escoamento:
4 0,02
1.000 0,10
v Dh 0,10 2
Re
0,001
Re 2,55 10 5
e o utilizamos juntamente com a Figura VI.4 – Uso do diagrama de Moody neste exercício.
rugosidade relativa (ε/D) na
estimativa do fator de atrito a partir
daquele diagrama (ver Figura VI.4)
e da perda de carga distribuída:
f 0,023
h p,d 22,8 m
Da Equação de Bernoulli
pode-se determinar a queda de
pressão no duto ao longo do Fonte: O autor.
escoamento:
P1 v12 P v2
H z 1 2 2 z 2 h p ,d
2g 2g
P2 P1
h p ,d
g
P 22,8 1.000 9,81
P 223.668 Pa
Ou seja, a queda de pressão é de cerca de 223,7 kPa.
Hugo L. B. Buarque
84 Parte Um: Introdução
Exercício Resolvido VI.2 – O esquema de uma instalação com uma Figura VI.5 – Bomba
bomba, como mostra a Figura VI.5, eleva água com vazão igual a deste exercício.
0,02 m3/s. Os manômetros instalados nas seções (1) e (2) indicam,
respectivamente, as pressões P1 = 80 kPa e P2 = 330 kPa. O duto de
sucção tem diâmetro D igual a 10 cm e o tubo de descarga um
diâmetro d igual a 5 cm. Considerando que existe perda de carga hp =
12 m de água entre as seções (1) e (2), sendo ρágua = 1.000 kg /m3 e Δz
= 20 m, determine a potência fornecida pela bomba ao escoamento.
Resolução:
Fonte: O autor.
Considerando o escoamento permanente e incompressível,
4V 4 0,02
v1 2,55 m / s , e
D 2
0,12
4V 4 0,02
v2 10,2 m / s
d 2
0,05 2
e, da Equação de Bernoulli aplicada para o fluido escoando entre as seções (1) e (2), tem-se
que:
P P1 v 22 v12
H B 2 z 2 z1 h p,d
g 2g
H B 62,5 m
dWe
12,2 kW
dt
PROBLEMA.
1. Água está sendo bombeada de um grande lago para um reservatório aberto, 25 m acima, e a uma
vazão de 25 L/s, por uma bomba de 10 kW (potência fornecida à bomba). Se a perda de carga do
sistema de tubulação for de 7 m, determine a eficiência mecânica da bomba.
2. Água escoa a uma vazão de 18 L/s através de um tubo horizontal, cujo diâmetro constante é de
3 cm. A queda de pressão através de uma válvula gaveta do tubo é medida como 2 kPa. Determine:
(a) a perda de carga da válvula;
(b) o coeficiente de perda de carga da válvula;
(c) a potência útil de bombeamento necessária para superar a queda de pressão resultante.
Fonte: O autor.
Hugo L. B. Buarque
PARTE TRÊS
TRANSMISSÃO DE CALOR
CAPÍTULO VII
MECANISMOS BÁSICOS DE
TRANSFERÊNCIA DE CALOR
"Não se pode ensinar alguma coisa a alguém, pode-se apenas auxiliar a descobrir por si mesmo."
Galileu Galilei (1564 – 1642).
Fonte: O autor.
Hugo L. B. Buarque
92 Parte Três: Transmissão de Calor
Fonte: O autor.
MECANISMOS COMBINADOS.
Na grande maioria das situações reais, ocorrem ao mesmo tempo dois ou mais mecanismos de
transferência de calor. Nos problemas da engenharia e operação de processos químicos, quando um
dos mecanismos domina quantitativamente, soluções aproximadas, embora menos precisas, podem ser
obtidas desprezando-se todos, exceto o mecanismo dominante. Contudo, deve ficar entendido que
variações nas condições do problema podem fazer com que um mecanismo, anteriormente desprezado,
torne-se importante.
PROBLEMAS.
1. Quais são os mecanismos de transferência de calor? Como se pode distinguir um do outro?
3. Qual a ordem de magnitude da condutividade térmica de: (a) metais? (b) materiais sólidos
isolantes? (c) líquidos? (d) gases?
5. Considere uma liga de dois metais cujas condutividades térmicas são iguais a k1 e k2 (k1 < k2). A
condutividade térmica da liga será inferior a k1, superior a k2 ou entre ambos os valores?
CONDUÇÃO DE CALOR
Devemos aprender durante toda a vida, sem imaginar que a sabedoria vem com a velhice.
Platão (427/28 a.C – 347 a.C.).
LEI DE FOURIER.
A relação básica para o fluxo de calor por condução é a proporcionalidade entre o fluxo de calor
e o gradiente de temperatura. Esta relação é conhecida como Lei de Fourier, cuja expressão geral é:
dq dA k T , (VIII.1)
onde q é a taxa de transferência de calor na direção normal à superfície; A é a área superficial; k é o
tensor condutividade térmica do meio; e T é a temperatura.
Considerando um material isotrópico1, a Equação (VIII.1) pode ser escrita em coordenadas
cartesianas, cilíndricas e esféricas, respectivamente, como apresentado nas equações (VIII.2 a VIII.4).
dq T T T
k î ĵ k̂ , (VIII.2)
dA x y z
dq T 1 T ˆ T
k r̂ k̂ , (VIII.3)
dA r r z
dq T 1 T ˆ 1 T ˆ
k r̂ . (VIII.4)
dA r r r sen
1
Material isotrópico tem propriedades físicas independentes das coordenadas espaciais. A maioria dos sólidos homogêneos
e líquidos é isotrópica. Os principais materiais anisotrópicos são os cristais não cúbicos e os sólidos fibrosos e laminados.
94 Parte Três: Transmissão de Calor
A CONDUTIVIDADE TÉRMICA.
A constante de proporcionalidade k entre o fluxo de calor e o gradiente de temperatura é uma
propriedade de física denominada condutividade térmica. A Lei de Fourier estabelece que a
condutividade térmica seja independente do gradiente de temperatura, mas não necessariamente da
temperatura.
Experimentos confirmam a independência da condutividade térmica para uma larga faixa de
gradientes de temperatura, exceto para sólidos porosos, onde a radiação trocada entre as partículas não
segue uma relação linear e torna-se uma importante parte do fluxo total de calor. Contudo, tal
propriedade é, em geral, uma função levemente dependente da temperatura. Para pequenas faixas de
temperatura, a condutividade térmica pode ser considerada constante, enquanto que para faixas
maiores a condutividade térmica pode ser aproximada por uma relação linear com a temperatura:
k a bT , (VIII.5)
onde a e b são constantes empíricas.
As condutividades térmicas dos metais podem ser encontradas numa ampla faixa de valores,
desde 17 W/m·oC (10 Btu/ft·h·oF) para o aço inoxidável até 415 W/m·oC (240 Btu/ft·h·oF) para a
prata. A Tabela VIII.1 apresenta condutividades térmicas para alguns outros metais.
Os gases têm condutividades térmicas com valores inferiores àqueles observados para os
líquidos em cerca de uma ordem de grandeza. Para um gás ideal, a condutividade térmica é
proporcional à velocidade molecular média, ao caminho livre médio, e à capacidade térmica molar.
Para gases monoatômicos, considerando um modelo de esfera rígida, pode-se utilizar a seguinte
correlação para estimativa da condutividade térmica de um gás:
0,5
0,0832 T
k , (VIII.6)
2 M m
em que k é a condutividade térmica, em W/m·K; é o diâmetro efetivo de colisão, em Å; e T é a
temperatura, em K; Mm é a massa molecular do gás.
As condutividades térmicas de gases são praticamente independentes da pressão. A
Tabela VIII.3 apresenta as condutividades térmicas de gases a pressão atmosférica (101,3 kPa) e a
300 K disponibilizadas na literatura.
Informações sobre a condutividade térmica de diferentes tipos de materiais são dadas, em geral,
pelos fornecedores de tais materiais.
Hugo L. B. Buarque
96 Parte Três: Transmissão de Calor
x
T
q k A î . (VIII.7) Fonte: O autor.
x
Caso a condutividade térmica não seja constante, mas uma função escalar e linear da temperatura
(k = a + bT), a expressão para o fluxo de calor resulta em:
T
q k m A î , (VIII.8)
x
em que k m é um valor médio de k , dado pela equação: k m a b T1 T2 / 2 ; sendo a e b
parâmetros empíricos.
Exercício Resolvido VIII.2 – Através de 1m2 seção transversal de uma placa plana de 2,5 cm
de espessura, constituída por um material isolante com condutividade térmica 0,2 W/mºC, é
conduzido uma taxa de calor de 3 kW. Determine a diferença de temperatura entre as faces
do isolante.
Resolução:
Considerando um fluxo de calor unidimensional em regime permanente, pode-se utilizar a
Equação VIII.7 como segue:
T W T
q k A î 3.000 W î 0,2 1 m2 î T 375 º C .
x mºC 0,025 m
A diferença de temperatura entre as superfícies expostas da placa igual a 375ºC. Ressalte-se
que o fluxo de calor tem direção oposta ao gradiente de temperatura, isto é, na direção da
temperatura mais quente para a mais fria.
2 L
q k T r̂ . (VIII.9)
Ln r2 / r1 Fonte: O autor.
Neste momento, é muito útil uma comparação da condução unidimensional de calor com os
circuitos elétricos. No estudo de circuitos elétricos, a Lei de Ohm estabelece que a taxa de
transferência de elétrons (corrente) é igual à razão entre a diferença de potencial elétrico (voltagem) e a
resistência elétrica. Num transporte molecular, sob condições de regime permanente e sem geração ou
consumo de calor, a taxa de transferência de calor, q, é análoga à corrente elétrica, e a diferença de
temperatura (potencial térmico), T , é análoga à voltagem. Assim, os demais termos das equações
apresentadas podem ser agrupados e denominados resistência térmica. A analogia à Lei de Ohm
aplicada à transferência de calor pode ser equacionada como segue:
T
q ŵ . (VIII.11)
R
em que R é a resistência térmica e ŵ é o vetor de base da direção unidimensional do fluxo de calor.
O conceito de resistência é comumente aplicado a uma grande variedade de problemas
relacionados a fenômenos de transporte. Tal conceito é certamente muito importante na resolução de
problemas domésticos e industriais não somente de condução de calor, mas também de convecção,
como será visto posteriormente.
Hugo L. B. Buarque
98 Parte Três: Transmissão de Calor
Perfis de Temperatura
O balanço diferencial de energia (calor) para um material sólido ou um fluido estático pode ser
expresso como segue:
T dq
cp qG , (VIII.15)
t dA
em que é a massa específica, cp é o calor específico e k é a condutividade térmica do material, T é a
temperatura, e q G é a taxa de geração ou consumo de calor (por reação química, mudança de fase,
reação nuclear ou corrente elétrica), e t é a coordenada temporal.
Em regime permanente, o fluxo de calor é constante e a temperatura não varia com o tempo
( T / t 0 ). Assim, considerando a condutividade térmica constante, a equação anterior resulta em:
qG
2T . (VIII.16)
k
T x
qG 2
x C1 x C2 . (VIII.17)
2k
No caso da ausência de geração ou consumo de calor, o perfil de temperaturas assume a forma
de uma função linear. As constantes C1 e C2 são determinadas ao se especificar duas condições de
contorno para o sistema.
Exercício Resolvido VIII.5 – Mostre que a temperatura varia hiperbolicamente com o raio
para a condução de calor unidimensional (direção radial), em estado permanente e sem
geração ou consumo de calor, através da parede de uma esfera oca na direção radial.
Resolução:
Tomando a Equação (VIII.16), com geração de calor nula,:
2 dT d 2 T
Tr C 2
dT C1 dr C1
2T 0 2 0
r dr dr
dr r 2
dT C r1 2
r
.
r2 T2 T1 r1
T(r ) T1 1 .
r2 r1 r
Cuja curva está plotada na Figura VIII.4.
Fonte: O autor.
Exercício Resolvido VIII.6 – Calor está sendo gerado uniformemente (na direção axial) por
uma reação química em um longo reator cilíndrico de raio 300 mm. A taxa de geração de
calor no eixo central é constante e igual a 60 W/m3. As paredes do cilindro são continuamente
resfriadas de modo que a temperatura da parede é mantida em 310 K. A condutividade
térmica do material do reator é igual a 0,90 W/m•K. Determine a temperatura To no eixo
central do reator em regime permanente.
Resolução:
Considerando um fluxo de calor unidimensional na direção radial em regime permanente,
podem-se utilizar a Equação VIII.16 como segue:
qG 1 d dT qG dT q dT q
2T r r G rdr r G r 2 C1 .
k r dr dr k dr k dr 2k
Hugo L. B. Buarque
100 Parte Três: Transmissão de Calor
dT(r 0)
Sabendo que 0 , haja vista que o calor é gerado uniformemente no eixo central,
dr
tem-se que C1 0 , e assim:
dT q TP q
G r dT G
R
rdr T( r )
4k
qG 2 2
R r Tp
dr 2k T(r) 2k r
qG 2
Para r 0, T(0) To To R Tp .
4k
Assim, To
60
0,32 310 To 311,5 K .
4 0,90
b) Paredes em Paralelo
Supondo também que uma parede plana constituída de duas ou mais camadas colocadas lado a
lado em paralelo (ver Figura VIII.6), e cuja direção do fluxo unidimensional de calor por condução
seja perpendicular ao plano da superfície exposta de cada parede, a taxa total de calor transferida será a
soma das taxas de calor fluindo através de cada parede em paralelo. Assim, a taxa total de calor pode
ser equacionada como segue:
k A k A kA
q q q ... q T î T î ... T î (VIII.21)
x x x
em que q i , k i , x i e Ti são, respectivamente, a taxa de transferência de Figura VIII.6 – Parede
calor, a condutividade térmica, a espessura e a diferença de temperatura de plana em multicamadas em
uma camada i qualquer. Se ainda for assumido que as temperaturas de paralelo.
cada superfície exposta são idênticas para cada camada em paralelo
( T T T ... T ), tem-se que:
k A k A kA
q ... T î
(VIII.22)
x x x
A mesma expressão poderia ter sido obtida ao se considerar a parede
composta uma associação de resistências em paralelo, na qual a resistência
equivalente, Req, é igual a soma dos inversos das resistências térmicas das
camadas distintas, isto é, 1 / R eq 1 / R 1 / R ... 1 / R . Assim,
tomando a Equação 8 para cada camada, ter-se-ia que:
1 k A k A kA
... . (VIII.23)
R eq x x x
Fonte: O autor.
Hugo L. B. Buarque
102 Parte Três: Transmissão de Calor
Exercício Resolvido VIII.7 – Uma câmara fria tem uma parede composta constituída por
uma placa de cortiça (k = 0,042 W.m-1.ºC-1), com 10 cm de espessura, entre duas paredes de
madeira (k = 0,108 W.m-1.ºC-1), cada uma com 2 cm de espessura. As temperaturas da parede
composta são, respectivamente, Ti = -11ºC e Te = 25ºC, na superfície interna e externa.
Considerando regime permanente, determine a taxa de transmissão de calor, por unidade de
área, através da parede da câmara fria. Calcule também a temperatura na interface da placa
de madeira mais externa e a placa de cortiça.
Resolução:
O fluxo de calor entre as superfícies expostas da parede pode ser determinado como segue:
x m x c x m 0,02 0,1 2,75
R 2 R .
kmA kcA kmA 0,108 A 0,042 A A
q
T q
î
25 12 q W
î 13,1 2 î .
R A 2,75 A m
A temperatura interfacial pode ser determinada pela lei de Fourier como segue:
m Te T î 13,1 î 25 T î T 22,6º C .
q k 0,108
A x m 0,02
PROBLEMAS.
1. As temperaturas superficiais de uma parede plana de 15 cm de espessura são 370 e 93ºC. A parede é
feita de um vidro especial com as seguintes propriedades: k=0,78ºW/m∙ºC, ρ=2.700 kg/m3,
cp=0,84 kJ/kg∙ºC. A área de cada uma das duas superfícies é de 10 m2. Qual o fluxo de calor através
da parede em regime permanente?
2. Uma parede composta de um forno é esquematizada na Figura VIII.7 – Parede condutiva
Figura VIII.7. Ela está exposta a um ambiente com composta em série e em paralelo.
temperatura de 30ºC. A temperatura dos gases no interior
do forno é de 700ºC. Os coeficientes de película para os
gases de combustão e para o ar ambiente, em regime
permanente, são, respectivamente, 40 W/m2.ºC e
10 W/m2.ºC. As condutividades térmicas das camadas da
parede são dadas na tabela abaixo. A área de troca térmica
da camada C é o dobro da camada B. Determine o fluxo de
calor unidimensional por unidade de área, transferido
através do sistema parede composta.
CONVECÇÃO DE CALOR
Exercício Resolvido IX.1 – Ar quente a 70oC escoa ao longo de uma superfície plana, cuja
área é igual a 10 m2 e cuja temperatura é igual a 20ºC. Determine a taxa de transferência de
calor do ar para a placa, considerando que o coeficiente médio de transferência convectiva
de calor no sistema é igual a 50 W m-2 ºC-1.
Resolução:
Usando a Equação (IX.3):
q 50 10 70 20 q 25.000 W .
Assim, a taxa de transferência de calor do ar para a superfície é igual a 25 kW.
Embora a Lei de Newton do Resfriamento, como apresentado na Equação (IX.3), tenha uma
aparência simples, toda a complexidade do fenômeno convectivo está embutido no coeficiente de
película, que é, por conseguinte, de difícil determinação, já que depende das diversas propriedades do
fluido e da superfície sólida e dos aspectos do escoamento.
Mencione-se ainda que coeficientes de transferência de calor por convecção podem ser
determinados experimentalmente, mas são usualmente estimados de dois modos distintos: por relações
adimensionais ou por equações dimensionais.
NÚMERO DE NUSSELT.
Em estudos de fenômenos de transporte, é comum adimensionalizar as equações e combinar as
variáveis, que se agrupam em números adimensionais, de modo a reduzir o número total de variáveis.
O coeficiente de transferência de calor por convecção pode ser agrupado e adimensionalizado usando o
Número de Nusselt1, Nu, definido como
h Le
Nu . (IX.4)
k
em que k é a condutividade térmica do fluido e Le é um comprimento característico do sistema.
O Número de Nusselt representa o aumento da transferência de calor através de uma camada de
fluido como resultado da convecção em relação à transferência por condução na mesma camada de
fluido. Assim, quanto maior o valor de Nu, mais relevante a convecção na transferência de calor. Um
valor de Nu = 1 para uma camada de fluido traduz uma transferência de calor em toda a camada
somente por condução.
1
Ernst Kraft Wilhelm Nußelt (1882-1957) foi um engenheiro e professor alemão, que desenvolveu a análise dimensional
do transporte de calor, como também desenvolveu importantes avanços no campo dos trocadores de calor.
Hugo L. B. Buarque
106 Parte Três: Transmissão de Calor
NÚMERO DE PRANDTL.
O Número de Prandtl1 (Pr) é o parâmetro adimensional que melhor descreve o desenvolvimento
da camada limite hidrodinâmica em relação à camada limite térmica, expressando a razão entre a
difusividade molecular de quantidade de movimento e a difusividade molecular de calor:
cp
Pr
. (IX.5)
k
em que k é a condutividade térmica, µ é a viscosidade dinâmica e cp é o calor específico do fluido.
O Número de Prandtl é muito menor que a unidade para metais líquidos, enquanto que os valores
de Pr são muito maiores que a unidade para óleos pesados, indicando que o calor difunde-se muito
rapidamente nos metais e muito lentamente nos óleos em relação à quantidade de movimento. Gases
possuem valores de Pr próximos da unidade, enquanto que a água apresentam valores de Pr variando
de cerca de 2,0 até pouco mais que 13,5.
1
Ludwig Prandtl (1875-1953) foi um físico alemão que desenvolveu a base matemática para os princípios fundamentais da
aerodinâmica subsônica. Entre seus estudos mais importantes, estão a camada limite hidrodinâmica, os aerofólios finos e a
teoria linha de sustentação.
CONVECÇÃO FORÇADA.
A convecção forçada ocorre comumente na vida cotidiana, seja nos sistemas de condicionamento
de ar, nas linhas de energia, no resfriamento de processadores de computadores e em muitas outras
situações. Na indústria, o projeto e a operação de muitos processos requerem a compreensão do
fenômeno convectivo nos escoamentos externos e internos, como o estudo aerodinâmico na indústria
automotiva e aeronáutica, a avaliação de trocadores de calor e algumas outras operações unitárias na
indústria química.
Os campos de escoamento e as geometrias para a maioria das situações envolvendo a convecção
são muito complexos para serem resolvidos analiticamente, fazendo-se geralmente o uso de
correlações baseadas em dados experimentais na predição de parâmetros de processos convectivos.
Assim, considerando que a maior parte dos fenômenos que afetam a transferência de calor por
convecção é traduzida no Número de Nusselt, a maioria das correlações experimentais é determinada
em relação a tal grandeza adimensional.
Os valores para o Número de Nusselt local (Nux) e o Número de Nusselt médio (NuLe) podem
geralmente serem estimados com boa precisão a partir das formas funcionais
Nu x f x L e , Re x , Pr , e (IX.6)
Nu Le f Re Le , Pr . (IX.7)
em que x é a coordenada espacial considerada, Le é o comprimento característico, Rex é o Número de
Reynolds local, ReLe é o Número de Reynolds para o comprimento característico considerado, e Pr é o
Número de Prandtl para o sistema.
Quando efeitos de dissipação viscosa ou outros fatores (e.g., faixa de temperatura) são relevantes
no processo convectivo, tais efeitos devem ser contabilizados de modo a serem obtidas estimativas
precisas para os parâmetros de transferência de calor por convecção, fazendo o Número de Nusselt
assumir uma forma funcional mais abrangente, conforme mostrado a seguir:
v2
Br . (IX.9)
k Ts T f
em que µ, v e k são, respectivamente, a viscosidade dinâmica, a velocidade e a condutividade térmica
do fluido; Ts é a temperatura da superfície isotérmica em contato com o fluido com temperatura média
no seio do fluido igual a Tf..
Os dados experimentais para a transferência convectiva externa de calor são muitas vezes
adequadamente representados, com boa precisão, através de uma relação de lei de potência, expressa
da seguinte forma
Nu Re mLe Pr n , (IX.10)
em que α, m, n são parâmetros que dependem da geometria e do tipo de escoamento do sistema.
Hugo L. B. Buarque
108 Parte Três: Transmissão de Calor
Nu x 1,596 Re x Ln Re x
2,584
Pr1 / 3 , (IX.15)
Em muitas situações reais, o escoamento inicia laminar, a partir do bordo de ataque da placa,
tornando-se turbulento, a uma distância crítica xcr, quando a placa plana é suficientemente longa.
Entretanto, nem sempre se pode desprezar a região de escoamento laminar. Nestes casos, a integração
da Equação (IX.2) se dá em duas partes e o coeficiente médio de transferência de calor ao longo de
toda a placa plana pode ser obtido a partir da correlação a seguir:
Nu L 0,037 Re 4L / 5 871 Pr1 / 3 , (IX.16)
para 0,6 ≤ Pr ≤ 60 e 5x105 ≤ ReL ≤ 107; e
Nu L [1,963 Re L Ln Re L
2,584
871] Pr1 / 3 , (IX.17)
para 0,6 ≤ Pr ≤ 60 e Re > 107.
Destaque-se que as constantes nestas duas relações serão diferentes ao se assumir um Número de
Reynolds crítico diferente de 5x105.
Para sistemas com valores de Pr < 0,05, típicos daqueles em que se usam metais líquidos
(e.g., mercúrio) para se obterem elevadas taxas de transferência de calor, a equação diferencial da
energia pode ser resolvida de modo a se obter que:
Nu x 0,565 Re x Pr ,
1/ 2
(IX.18)
Churchill (1976) e Rose (1979) propuseram ainda relações aplicáveis a todos os fluidos, números
de Reynolds e números de Prandtl, determinadas empiricamente com muito boa exatidão, para os
números de Nusselt local e médio. Tais relações são expressas a seguir:
Exercício Resolvido IX.3 – Um óleo automotivo a 80oC escoa na direção de seu comprimento
com velocidade média igual a 2,0 m/s, ao longo de uma placa plana de 5 m de comprimento e
2 m de largura, cuja superfície está submetida a uma temperatura de 40oC. Determinar a taxa
de transferência de calor ao longo de toda a placa. As propriedades do óleo na temperatura
do filme, 60ºC, são: ρ=863,9 kg/m3, ν=8,565x10-5 m2/s, k=0,1404 W m-1 K-1, Pr=1.080.
Resolução:
O Número de Reynolds do escoamento pode ser determinado para o comprimento da placa:
vL 2,0 5
Re L 5
Re L 1,2 10 5 .
8,565 10
Considerando o Número de Reynolds crítico igual a 5x105, tem-se um escoamento laminar,
podendo-se utilizar a Equação (IX.13) para se estimar o Número de Nusselt:
Nu L 0,664 1,2 105 1.080
1/ 2 1/ 3
Nu L 2.360 .
Assim,
Nu k 2.360 0,1404
h h 66,27 W m 2 º C 1 .
L 5
Assim, a taxa de transferência de calor ao longo da placa é igual a:
q h A Tf Ts 66,27 W m 2 º C 1 5 m 2 m 80 40 º C
q 26.508 W .
Hugo L. B. Buarque
110 Parte Três: Transmissão de Calor
1
Situação em que um fluido em contato direto com um sólido adere na superfície devido aos efeitos viscosos, não havendo
escorregamento.
2
Jean Claude Eugène Péclet (1793-1857) foi um eminente físico francês. O Número de Péclet, denominado em sua
homenagem e cujo símbolo é Pe, é um número adimensional que no âmbito da transferência de calor é equivalente ao
produto do Número de Reynolds e do Número de Prandtl, relacionando a velocidade de advecção de um fluxo e a
velocidade de difusão térmica.
Para o escoamento sobre uma esfera, Whitaker (1972) determinou a correlação a seguir, válida
para 0,71 ≤ Pr ≤ 380, 3,5 ≤ ReD ≤ 76.000 e 1,0 < µf /µs <3,2:
Hugo L. B. Buarque
112 Parte Três: Transmissão de Calor
Hexágono
Le
5.000 a 100.000 Nu Le 0,153 Re 0Le,638 Pr1 3 (IX.29)
Elipse
Le
2.500 a 15.000 Nu Le 0,248 Re 0Le,612 Pr1 3 (IX.30)
Hugo L. B. Buarque
114 Parte Três: Transmissão de Calor
Exercício Resolvido IX.5 – Água a 20ºC deve ser aquecida a 80ºC ao passar por um feixe de
hastes de resistência de aquecimento, cada haste de 1 cm de diâmetro e 2 m de comprimento
com temperatura superficial mantida a 100ºC. O escoamento é cruzado e a velocidade
máxima da água no banco de tubos é de 2,0 m/s. As hastes são organizadas em linha com
passos transversal e longitudinal iguais a 4 cm e 5 cm, respectivamente. Estime o coeficiente
de transferência convectiva de calor, assumindo que o feixe de hastes possui pelo menos
16 fileiras de tubos.
Resolução:
As propriedades da água na temperatura média do processo de aquecimento (50ºC) são:
ρ=988,1 kg/m3, k=0,644 W m-1 K-1, µ=5,47x10-4 kg m-1 s-1, Pr=3,55. Também, O Número de
Prandtl da água na temperatura superficial dos tubos (100ºC) é igual a Prs=1,75.
Deste modo, o Número de Reynolds do escoamento pode ser determinado como prevê a
Equação (IX.31):
v max D 988,1 2,0 0,01
Re D Re D 36.128 .
5,47 10 4
O Número de Nusselt médio pode ser então estimado através da Equação (IX.34):
Nu D 0,27 Re 0D,63 Pr 0,36 Pr/ Prs Nu D 0,27 36.128 3,550,36 3,55 / 1,750,25
0, 25 0, 63
Nu D 378,2 .
Assim, o coeficiente de transferência de calor por convecção médio é estimado como:
Nu D k 378,2 0,644
h h 24.356 W m 2 º C 1 .
D 0,01
vr r dr ,
2 R
v (IX.40)
R2 0
Tr vr r dr ,
2 R
T (IX.41)
vR2 0
em que v(r) e T(r) são as velocidades e temperaturas na coordenada radial r de uma seção transversal
do tubo cilíndrico.
Hugo L. B. Buarque
116 Parte Três: Transmissão de Calor
D
3,66 4,66
Retângular a/b
1 2,98 3,61
b 2 3,39 4,12
3 3,96 4,79
a 4 4,44 5,33
6 5,14 6,05
8 5,60 6,49
∞ 7,54 8,24
Elíptica a/b
1 3,66 4,36
b 2 3,74 4,56
4 3,79 4,88
a
8 3,72 5,09
16 3,65 5,18
Triângular (isósceles) θ
10º 1,61 2,45
30º 2,26 2,91
60º 2,47 3,11
90º 2,34 2,98
120º 2,00 2,68
Ressalte-se, neste momento, que para o escoamento laminar em tubos circulares (ReD ≤ 2.300),
os comprimentos hidrodinâmico (Lh) e térmico (Lt) da região de entrada podem ser estimados
respectivamente através das equações a seguir apresentadas:
L h 0,05 Re D , e (IX.45)
L t 0,05 Re Pr D . (IX.46)
Ainda, quando a diferença entre a temperatura superficial do tubo e a temperatura média do fluido é
grande, o Número de Nusselt médio pode ser determinado mais precisamente considerando-se a
variação da viscosidade do fluido, conforme proposto por Sieder e Tate (1936):
f
0 ,14
1/ 3
Re Pr D
Nu 1,86 ,e (IX.47)
L s
em que as propriedades do fluido devem ser determinadas na temperatura média do fluido, exceto µs
que deve ser determinado na temperatura da superfície.
Hugo L. B. Buarque
118 Parte Três: Transmissão de Calor
f
0,14
Nu 0,027 Re Pr
4/5
,
1/ 3
(IX.49)
s
em que 0,7 ≤ Pr ≤ 17.600 e Re ≥ 104, e que as propriedades do fluido devem ser determinadas na
temperatura média do fluido, exceto µs que deve ser determinado na temperatura da superfície.
Ainda, para sistemas com Número de Prandtl muito baixo, típicos de metais líquidos, as
equações de Sleicher e Rouse (1975), expressas a seguir para escoamento turbulento com temperatura
superficial constante e fluxo de calor constante, respectivamente, são mais adequadas.
Nu 4,8 0,0156 Re 0,85 Prs0,93 , (IX.50)
Nu 6,3 0,0167 Re 0,85 Prs0,93 , (IX.51)
em que 0,004 < Pr < 0,01 e 104 < Re < 106.
Para a região de entrada térmica, existem correlações muito precisas na literatura, mas, em geral,
aquelas para escoamento completamente desenvolvido também são utilizadas para estimativas
aproximadas do coeficiente de transferência convectiva de calor em todo o tubo. Ressalte-se que em
tubos não circulares as equações apresentadas para os circulares podem ser igualmente utilizadas,
desde que o diâmetro hidráulico da seção não circular, definido na Equação (IX.42), seja usado no
cálculo do Número de Reynolds do sistema. Ainda, para escoamentos no espaço anular de tubos
concêntricos, correlações específicas ou fatores de correção para as equações apresentadas estão
disponíveis na literatura para a estimativa dos coeficientes de película.
Exercício Resolvido IX.7 – Um fluido quente escoa num duto de 20 m de comprimento com
velocidade superficial de 2,0 m/s. A seção transversal do duto é retangular com 0,2 m de
altura e 0,3 m de largura. Determinar o coeficiente de transferência de calor por convecção,
sabendo que as propriedades do fluido na temperatura média calculada para as condições
dadas são: ν=2,0x10-5 m2 s-1, k=0,02 W m-1 ºC-1 e Pr=0,80.
Resolução:
O diâmetro hidráulico para o sistema é determinado através da Equação (IX.42):
4 0,2 0,3
Dh 0,24 m .
2 0,2 2 0,3
O Número de Reynolds do escoamento pode então ser calculado como segue:
v D h 2,0 0,24
Re D Re D 24.000 .
2,0 10 5
Então, o escoamento é turbulento, já que Re D > 10.000 (Re crítico para escoamento
turbulento). Assim, o comprimento da região de entrada térmica pode ser estimado a partir
da relação a seguir:
L t 10 D h L t 10 0,24 L t 2,4 m .
Já que o comprimento da entrada térmica estimado é muito menor que o comprimento do
tubo, assumir-se-á um escoamento completamente desenvolvido e o Número de Nusselt médio
será estimado através da Equação (IX.48):
Nu D 0,023 24.000 0,81/ 3 NuD 68,17
4/5
.
Assim, o coeficiente de transferência de calor por convecção médio é estimado como:
Nu D k 68,17 0,02
h h 5,68 W m 2 º C 1 .
Dh 0,24
Hugo L. B. Buarque
120 Parte Três: Transmissão de Calor
CONVECÇÃO NATURAL.
Considerações Iniciais
Muitos equipamentos de transferência de calor operam sob condições de convecção natural, haja
vista que dispensam o uso de dispositivos de deslocamento de fluido, apesar dos menores coeficientes
de transferência convectiva de calor em relação à convecção forçada.
A magnitude da transferência de calor por convecção natural está relacionada à movimentação
natural do fluido, a qual depende fortemente do equilíbrio dinâmico entre o empuxo de flutuação e o
atrito ocorrendo entre porções do fluido. Este equilíbrio está associado às diferenças térmicas e a
algumas propriedades do fluido (e.g., viscosidade, massa específica, coeficiente de expansão
volumétrica), as quais são funções das temperaturas do sistema. Também depende da geometria e
orientação da superfície em contato com o fluido.
As equações e condições obtidas no estudo da convecção natural também podem ser
adimensionalizadas fornecendo um parâmetro que, analogamente ao Número de Reynolds na
convecção forçada, irá reger o regime de escoamento (laminar ou turbulento) na convecção natural.
Este parâmetro adimensional, definido na Equação (IX.52), é denominado Número de Grashof1 (Gr) e
representa a razão entre o empuxo e a força viscosa agindo sobre um fluido.
g Ts T f L3e
GrLe , (IX.52)
2
em que g é a intensidade da aceleração da gravidade, β é o coeficiente de expansão volumétrica, Ts é a
temperatura da superfície, Tf é a temperatura do fluido suficientemente distante da superfície, ν é a
viscosidade cinemática do fluido e Le é o comprimento característico da geometria do sistema.
Contudo, aquelas equações dificilmente apresentam soluções analíticas, excetuando-se em
alguns casos simples. Assim, as relações de transferência de calor por convecção natural são baseadas
em dados experimentais e uma grande parte das correlações empíricas existentes na literatura para o
Número de Nusselt médio assume a forma de uma relação de lei de potência, expressa da seguinte
forma
Nu Ra nLe , (IX.53)
em que α e n são parâmetros que dependem da geometria e do regime de escoamento do sistema, e Ra
é o Número de Rayleigh2, definido através da Equação (IX.54), como o produto do Número de
Grashof (Gr) e o Número de Prandtl (Pr):
Ra Le GrLe Pr , (IX.54)
Quando o valor do Número de Rayleigh é inferior a um dado valor crítico para um fluido, a
transferência de calor ocorre primariamente na forma de condução; quando excede aquele valor crítico,
a transferência térmica é primariamente na forma de convecção. O valor do parâmetro n é, em geral,
igual a 1/4 para escoamento laminar e igual a 1/3 para escoamento turbulento. Enquanto que os valores
assumidos pelo parâmetro α são geralmente inferiores à unidade. Para a maioria dos propósitos em
engenharia, o valor do número de Rayleigh é elevado, algo em torno de 106 e 108.
1
Franz Grashof (1826-1893) foi um engenheiro e professor alemão, quem desenvolveu algumas relações para o
escoamento de vapor. O Número de Grashof foi assim denominado em sua homenagem, embora ele não tenha nenhuma
contribuição no campo da convecção natural.
2
John William Strutt (1842-1919), mais conhecido como Lord Rayleigh, foi um renomado físico inglês, co-descobridor do
elemento Argônio, do espalhamento Rayleigh e das ondas de superfície, dentre outros trabalhos. O Número de Rayleigh foi
denominado em sua homenagem.
Placa horizontal
com área A e perímetro p
Esfera
com diâmetro externo D
≤ 1011 Nu 2
0,589 Ra 1D/ 4
(IX.61)
D
(Pr ≥ 0,7) [ 1 (0,469 Pr) 9 16 ] 4 9
Hugo L. B. Buarque
122 Parte Três: Transmissão de Calor
Então, o Número de Nusselt médio pode ser determinado a partir da Equação (IX.60) como:
2
0,387 5,61 10 6
16
Nu 0,6 Nu 23,89 .
[1 (0,559 0,72) 9 16 ]8 27
Assim, o coeficiente de transferência de calor por convecção médio é estimado como:
Nu k 23,89 0,0274
h h 6,55 W m 2 º C 1 .
D 0,10
Finalmente, a taxa de transferência de calor será dada pela Lei de Newton do Resfriamento:
q h A Ts Tf 6,55 D L 80 20 393 q 1.235 W m 2 º C 1 .
Nu comb Nu fn Nu n
1n
, (IX.62)
em que Nuf é o Número de Nusselt determinado para a convecção forçada somente, Nuℓ é o Número
de Nusselt determinado para a convecção natural somente, e n é um parâmetro que depende da
geometria do sistema. Assumir-se-á o sinal positivo para escoamento assistido ou transversal e o sinal
negativo para escoamento oposto, pelos motivos já apresentados.
Hugo L. B. Buarque
124 Parte Três: Transmissão de Calor
PROBLEMAS.
1. O coeficiente de transmissão de calor para uma esfera de 50 cm de diâmetro em ar calmo é
6,0 kcal/h∙m2 ºC. Determine a quantidade de calor transmitida por unidade de tempo por convecção,
se o ar está a 30ºC e a superfície da esfera está a –180ºC.
2. Um fluido petrolífero escoando inicialmente a 70oC é aquecido ao passar através de um tubo de
5 cm de diâmetro com velocidade constante de 0,5 m/s. Estime a taxa de transferência de calor ao
longo de 10 m do tubo se nesse comprimento for mantida uma condição de fluxo de calor constante
na parede, sendo a temperatura da parede 40oC acima da temperatura do fluido ao longo de todo o
tubo. Qual será o aumento da temperatura do fluido?
As propriedades do fluido na faixa de temperatura considerada podem ser consideradas iguais a:
ρ=816 kg/m3; cp=1.525 J kg-1 ºC-1; k=0,085 W∙m-1∙ºC-1. O Número de Nusselt estimado para o
sistema foi igual a 50,6.
3. Considere uma camada de isolamento (condutividade térmica igual a k) que pode ser instalada ao
redor de um tubo circular. A temperatura interna do isolamento é fixada em Ti, e a superfície
externa do isolamento troca calor com o ambiente a T∞. Determine a expressão para a obtenção do
raio externo de isolamento, re, que irá maximizar a transferência de calor, considerando um
coeficiente de película entre o isolamento e o ambiente igual a h.
4. Água entra num tubo de 2 cm de diâmetro e 3 m de comprimento cujas paredes são mantidas a
100oC, com uma temperatura da massa de fluido de 25ºC e uma vazão de 3 m3/h. Desprezando os
efeitos de borda de entrada e assumindo o escoamento turbulento, o número de Nusselt pode ser
determinado a partir da seguinte correlação: Nu = 0,023 Re0,8 Pr0,4. Estime o coeficiente de
transferência de calor por convecção, sabendo que nas condições dadas a água tem as seguintes
propriedades: k = 0,610 W/m.ºC; Pr = 6,0; µ = 9,0x10-4 kg/m.s; ρ = 1.000 kg/m3.
5. Um tubo horizontal de 10 m de comprimento e de 5 cm de diâmetro atravessa um ambiente cuja
temperatura é de 20ºC. Se a temperatura da superfície externa do tubo é de 120ºC, determine a taxa
de transferência de calor por convecção natural do tubo para o ambiente.
6. A parede de um forno é constituída de duas camadas: 0,2 m de tijolo refratário (k = 1,2 kcal/h.m.ºC)
e 0,13 m de tijolo isolante (k = 0,02 kcal/h.m.ºC). A temperatura do forno é 1700ºC e o coeficiente
de película (convecção) da parede interna é 60 kcal/h.m2.ºC e da parede externa é 10 kcal/h.m2.ºC.
Determine o fluxo de calor por unidade de área para uma temperatura ambiente externa de 27ºC.
RADIAÇÃO TÉRMICA
“Nada na vida deve ser receado. Tem apenas que ser compreendido”.”
Marie Curie (1867 – 1934).
Pode-se definir radiação como a propagação ou emissão de energia por meio de ondas ou
partículas através da matéria ou do vácuo. Assim, as radiações eletromagnéticas transportam energia
por meio de ondas eletromagnéticas ou fótons, sendo oriundos de campos elétricos e magnéticos em
movimento, como resultado de diferentes mecanismos, tais como das mudanças nas configurações
eletrônicas dos átomos e moléculas, reações nucleares, etc.
As radiações eletromagnéticas viajam na velocidade da luz1 e são caracterizadas por sua
frequência (ν) ou seu comprimento de onda (λ). A frequência depende apenas da fonte da radiação,
enquanto que o comprimento de onda depende do meio de propagação. Estas duas propriedades estão
relacionadas pela Equação (X.1):
c
λ , (X.1)
ν
em que c é a velocidade de propagação da onda no meio.
A velocidade de propagação da onda, em m/s, pode ser determinada para um dado meio por
intermédio da Equação (X.2),
2,9979 108
nr , (X.2)
c
que define o índice de refração2 (nr) do meio de propagação da onda.
Ademais, sabe-se da física quântica que cada fóton irradiado, de uma dada frequência, propaga
uma energia (Eν) de intensidade dada pela Equação (X.3):
c
Eν h , (X.3)
λ
em que h é constante de Planck3.
Portanto, as radiações de menores comprimentos de onda (maiores frequências) são mais
energéticas que aquelas de maiores comprimentos de onda.
1
A velocidade da luz no vácuo (co) é igual a 2,9979 x 108 m/s.
2
O índice de refração é a razão entre a velocidade da luz no vácuo e a velocidade de propagação da onda no meio. O valor
de nr é aproximadamente igual à unidade para o ar e para vários gases, cerca de 1,5 para o vidro e 1,33 para a água.
3
O valor da constante de Planck é igual a 6,626069 x 10-34 J∙s.
126 Parte Três: Transmissão de Calor
Exercício Resolvido X.1 – Fótons de raios X, cuja frequência é de 1019 Hz, estão se
propagando através de uma placa de vidro. Determine:
Fonte: O autor.
10
-1
4
10
-2
3
10
10
2
500 K
1
10 250 K
0
10
-1
10 100 K
-2
10
-3
10
-4
10
-2 -1 0 1 2 3
10 10 10 10 10 10
(m)
Fonte: O autor.
1
O poder emissivo espectral é a quantidade de energia radiante emitida por um corpo negro numa dada temperatura e
comprimento de onda, por unidade de tempo, por unidade de área e por unidade de comprimento de onda.
Hugo L. B. Buarque
128 Parte Três: Transmissão de Calor
Analisando a Figura X.2 se observa que: a radiação emitida é função contínua do comprimento
de onda para qualquer temperatura dada e com um valor máximo de potência emissiva; a quantidade
de radiação emitida aumenta com a temperatura para qualquer comprimento de onda; as curvas de
potência emissiva espectral deslocam-se para a esquerda, para a região de ondas mais energéticas, com
a elevação da temperatura.
Na figura anterior também é mostrado um gráfico da lei de Wien do deslocamento, descrita na
Equação (X.5), a qual pode ser deduzida diferenciando a equação anterior em termos do comprimento
de onda e igualando a função resultante a zero. A partir da lei de Wien do deslocamento pode-se
determinar o comprimento de onda na qual a potência emissiva é máxima para uma dada temperatura.
λTpotência
máxima
2897,8 μm K . (X.5)
Pode ainda ser observado na Figura X.2 que a radiação emitida pelo Sol, cuja superfície
comporta-se como um corpo negro com aproximadamente 5800 K, atinge sua potência emissiva
máxima na região visível do espectro (0,40 μm a 0,76 μm), o que lhe confere uma cor branca (apesar
de ser visto como amarelo no céu terrestre, o que se deve à dispersão dos raios na atmosfera).
Ademais, verifica-se naquela figura que superfícies de corpos negros, e mesmo de corpos reais, com
temperaturas inferiores a 800 K emitem radiação quase que exclusivamente na região infravermelha do
espectro, a qual não é visível aos nossos olhos.
A energia radiante total emitida por um corpo negro, por unidade de tempo e por unidade de área
é outra grandeza importante no estudo da radiação, particularmente para o estudo da transferência de
calor. A relação para determinar esta grandeza foi determinada experimentalmente por Joseph Stefan e
verificada teoricamente por Ludwig Boltzmann, no final do século XIX, a qual pode ser deduzida a
partir da integração da lei de Planck para todos os comprimentos de onda, resultando na
Equação (X.6), conhecida como lei de Stefan-Boltzmann:
E cn T 4 , (X.6)
em que Ecn é fluxo radiante ou poder emissivo total do corpo negro, em W m-2; σ é a constante de
Stefan-Boltzmann1; e T é a temperatura absoluta da superfície do corpo, em K. A variação do poder
emissivo total do corpo negro com a temperatura é mostrada na Figura X.3.
Figura X.3 - Poder emissivo espectral hemisférico de um corpo negro para várias temperaturas diferentes
e linha de máxima potência emissiva espectral..
10
10
9
10
8
10
7
10
6
10
Ecn (W m )
-2
5
10
4
10
3
10
2
10
1
10
0
10
0 1000 2000 3000 4000 5000 6000
Temperatura (K)
Fonte: O autor.
1
O valor da constante de Stefan-Boltzmann é igual a 5,670 x 10-8 W/m2.
Resolução:
(c) o poder emissivo total da esfera é obtido por meio da Equação (X.6):
E cn 5,670 108 1000 E cn 56,7 kW / m 2 .
4
(d) a quantidade total de radiação emitida pelo corpo esférico em 10 minutos é calculada
como se segue:
Qrad E cn A t t 56.700 πD2 600s 56.700 π 0,22 600 Qrad 4.275 kJ .
Facilmente se verifica que a energia radiante produzida pela esfera durante os 10 minutos
seria capaz de aquecer cerca de 10 litros de água de 0°C a 100°C.
Muitas vezes, é desejável determinar somente uma fração da radiação emitida pela superfície de
um corpo. A energia radiante emitida por um corpo negro, por unidade de área, sobre uma faixa de
comprimento de onda de λ1 a λ2, pode ser determinada a partir da integração da lei de Planck, como
apresentado na Equação (X.7):
λ2
E cn , λ1 a λ 2 E cn , λ dλ , (X.7)
λ1
em que E cn , λ1 a λ 2 é a quantidade de radiação emitida sobre uma faixa de comprimento de onda (λ1 a λ2),
em W/m2.
Hugo L. B. Buarque
130 Parte Três: Transmissão de Calor
Emissividade
A emissividade de uma superfície (real) representa a razão entre a radiação emitida pela
superfície e a radiação emitida por um corpo negro na mesma temperatura. Desta forma, a
emissividade é uma grandeza adimensional que varia entre 0 e 1, igualando-se à unidade para uma
superfície se comportando como um corpo negro.
Esta propriedade depende da temperatura, do comprimento de onda e da direção das radiações
emitidas. Por este motivo, diferentes emissividades podem ser definidas como mostrado no
Quadro X.1.
Quadro X.1 – Definições dos diferentes tipos de emissividades.
TIPOS DE EMISSIVIDADE DEFINIÇÃO
razão entre a intensidade da radiação emitida pela superfície
num determinado comprimento de onda em uma determinada
Emissividade espectral direcional
direção e a intensidade da radiação emitida por um corpo
negro na mesma temperatura e mesmo comprimento de onda.
razão entre a intensidade da radiação total emitida pela
superfície numa determinada direção e a intensidade da
Emissividade total direcional
radiação total emitida por um corpo negro na mesma
temperatura.
razão entre o poder emissivo espectral da superfície e o poder
Emissividade espectral hemisférica
emissivo espectral de um corpo negro na mesma temperatura.
razão entre o poder emissivo total da superfície e o poder
Emissividade hemisférica total
emissivo total de um corpo negro.
ε (T)
0
ε λ (λ, T) E cn ,λ (λ, T) dλ
, (X.8)
σT 4
em que ελ (λ,T) é a emissividade espectral hemisférica num dado comprimento de onda na temperatura
da superfície.
Como se vê, para determinar a emissividade média de uma superfície, é necessário conhecer a
variação da emissividade espectral com o comprimento de onda na temperatura estabelecida, o que
muitas vezes é extremamente complicado. O que justifica assumir alguns materiais com superfície
difusa ou com superfície cinza, duas novas idealizações: uma superfície é difusa quando suas
propriedades são independentes da direção; e é cinza quando as propriedades independem do
comprimento de onda.
Ressalte-se que uma superfície cinza deve emitir tanta radiação quanto a superfície real que ela
representa. Ademais, no estudo da radiação, considera-se normalmente que as superfícies são
emissoras difusas com uma emissividade igual ao valor da emissividade direcional normal. Valores
típicos de emissividade de diversos materiais comuns está apresentada no Quadro X.2.
Quadro X.2 – Emissividades típicas de diferentes superfícies.
MATERIAL T (K) ε MATERIAL T (K) ε
Aço inoxidável Água 273 a 373 0,95 a 0,96
polido 300 a 1000 0,17 a 0,30 Alumina 800 a 1400 0,65 a 0,45
oxidado 600 a 1000 0,30 a 0,80
Amianto 300 0,96
Alumínio
polido 300 a 900 0,04 a 0,06 Areia 300 0,90
oxidado 400 a 800 0,20 a 0,33 Borracha
Chumbo dura 300 0,93
polido 300 a 500 0,06 a 0,08 macia 300 0,86
oxidado 300 0,63 Concreto 300 0,88 a 0,94
Cobre Gelo 273 0,95 a 0,99
polido 300 a 500 0,04 a 0,05 Gesso branco 300 0,93
oxidado 600 a 1000 0,5 a 0,8
Pele humana 300 0,95
Ferro
polido 300 a 500 0,05 a 0,07 Teflon 300 a 500 0,85 a 0,92
fundido 300 0,44 Tijolo
forjado 300 a 500 0,28 comum 300 0,93 a 0,96
enferrujado 300 0,61 refratário 1200 0,75
oxidado 500 a 900 0,64 a 0,78 Tintas
Latão alumínio 300 0,40 a 0,50
polido 350 0,09 preta 300 0,88
oxidado 450 a 800 0,6 a óleo 300 0,92 a 0,96
Níquel acrílico branco 300 0,90
polido 500 a 1200 0,07 a 0,17 Vidro
oxidado 450 a 1000 0,37 a 0,57 janela 300 0,90 a 0,95
Zinco pirex 300 a 1200 0,82 a 0,57
polido 300 a 800 0,02 a 0,05 piro cerâmico 300 a 1500 0,85 a 0,57
oxidado 300 0,25
Pode ser notado que, em geral, os metais apresentam emissividades baixas, particularmente para
superfícies polidas, enquanto que não metais e materiais orgânicos têm elevadas emissividades. Além
disso, a emissividade dos metais aumenta com a elevação da temperatura. Destaque-se, ainda, que a
oxidação provoca aumentos significativos na emissividade dos metais.
Ressalte-se que, em virtude das propriedades de radiação depender fortemente da superfície do
material, tais como a rugosidade, a oxidação, etc., valores bem estabelecidos e precisos de
emissividades são dificilmente bem descritos na literatura.
Hugo L. B. Buarque
132 Parte Três: Transmissão de Calor
As equações (X.9), (X.10) e (X.11) podem ser usadas para definir a absortividade, refletividade e
transmitividade de um meio, respectivamente.
G
α abs , 0 α 1 , (X.9)
G
Gref
ρ , 0 ρ 1, (X.10)
G
G
τ tr , 0 τ 1 , (X.11)
G
em que G é o fluxo de radiação incidente sobre a superfície do meio; Gabs, Gref e Gtr são as partes
daquele fluxo absorvida, refletida e transmitida, respectivamente.
Considerando a primeira lei da termodinâmica aplicada ao fenômeno ilustrado na Figura X.6,
pode-se deduzir a Equação (X.12) para uma superfície qualquer. Ressalte-se que para superfícies, tem-
se que o valor da transmitância é nulo.
α ρ τ 1 (X.12)
Mencione-se, ainda, que há dois tipos idealizados de reflexões de radiação: a especular e a
difusa. Quando o ângulo do feixe refletido é igual ao ângulo do feixe de radiação incidência (θ), a
reflexão é dita especular. Caso haja uma reflexão uniforme da radiação incidente em todas as direções,
a reflexão é denominada difusa. Na prática, como sempre acontece com idealizações, nenhuma
superfície real produz uma reflexão especular ou difusa. Entretanto, a reflexão a partir de superfícies
lisas ou polidas se aproxima da reflexão especular, enquanto que a partir de superfícies rugosas se
aproxima da reflexão difusa.
Lei de Kirchoff
Uma importante relação entre a emissividade e a absortividade foi desenvolvida por Gustav
Kirchhoff, em 1980, e estabelece que a emissividade hemisférica total de uma superfície em dada
temperatura é igual a sua absortividade hemisférica total para a radiação proveniente de um corpo
negro na mesma temperatura, conforme explicitado na Equação (X.13).
ε (T) α (T ) . (X.13)
Esta lei se aplica nas situações em que a temperatura da superfície irradiada é próxima da
temperatura da fonte de radiação. A lei de Kirchhoff também pode ser deduzida na forma espectral
(para um determinado comprimento de onda), e na forma espectral direcional (para um determinado
comprimento de onda e direção).
Fenômenos de Transporte para Cursos Técnicos e Tecnológicos
Capítulo X: Radiação Térmica 133
Fator de Forma
O fator de forma (Fij) de um sistema irradiante, também chamado fator de visão, de ângulo ou de
configuração, é um parâmetro puramente geométrico que contabiliza o efeito da orientação das
superfícies uma em relação às outras sobre a transferência de calor por radiação e pode ser definido
como a fração de energia que, deixando uma superfície i, incide diretamente sobre uma superfície j.
Para desenvolver uma expressão geral para o fator de forma Fij, tomam-se incialmente dois
objetos emissores e refletores difusos, cujas superfícies Ai e Aj estão arbitrariamente orientadas.
Consideram-se, então, duas superfícies diferenciais dAi e dAj sobre as correspondentes superfícies dos
objetos, como mostrado na Figura X.5. A distância entre as duas superfícies diferenciais é r. Os
ângulos formados entre os vetores normais (ni e nj) a dAi e dAj e a reta que liga tais superfícies são,
respectivamente, i e j.
Figura X.5 – Geometria arbitrária para determinação de expressão geral para o fator de forma F12.
Fonte: O autor.
Para o sistema ilustrado, pode ser mostrado que:
cos i cos j
Fij A i dA i dA j . (X.14)
Ai A j r 2
Em geral, a determinação do fator de forma é um problema complexo. Contudo, fatores de forma
têm sido avaliados para muitas geometrias mais simples. Expressões analíticas ou gráficas obtidas para
este parâmetro geométrico podem ser encontradas na literatura especializada. Algumas dessas
expressões para geometrias selecionadas são apresentadas no Quadro X.3.
Hugo L. B. Buarque
134 Parte Três: Transmissão de Calor
2
1 ri rj h
2 2
r 2
rj2 h 2
2
4ri2 rj2
Fij
i
(X.16)
2 ri2
Placas inclinadas de comprimento
infinito (plano perpendicular ao
papel), mesma largura e uma
aresta em comum
1
Fij 1 sen (X.18)
2
Ademais, algumas relações úteis podem ser empregadas na determinação dos fatores de formas de
geometrias mais complexas:
a) Regra de reciprocidade
Esta relação, deduzida para a troca térmica por radiação entre um par de superfícies emissoras e
refletoras difusas e expressa na Equação (X.20), permite que se determine a contrapartida de um dado
fator de forma conhecido a partir das áreas dessas superfícies.
Fij A i Fji A j . (X.20)
b) Regra do somatório
Fj 1
ij 1. (X.21)
c) Regra da sobreposição
A regra da simetria, representada na Equação (X.23), enuncia que fatores de forma de superfícies
simétricas j e k, em relação uma dada superfície i, são iguais entre si.
Fij Fik . (X.23)
em que q i é a taxa líquida de calor radiante trocado pela superfície i; σ é a constante de Stefan-
Boltzmann; Ai é a área da superfície negra i; Fij é o fator de forma da superfície i para a superfície j; Ti
e Tj são as temperaturas absolutas das superfícies i e j, respectivamente.
Deve-se destacar que um valor positivo de q i indica que a taxa líquida de transporte de calor por
radiação é da superfície i para as demais, enquanto que um valor negativo revela que a transferência de
calor é para a superfície i.
Hugo L. B. Buarque
136 Parte Três: Transmissão de Calor
em que os termos Ai Fij Ji e Aj Fji Jj representam, respectivamente, a radiação oriunda de uma dada
superfície i que atinge uma superfície j e a radiação oriunda da superfície j que atinge a superfície i.
N é o número de superfícies no recinto, incluindo a superfície i.
Novamente, é fácil notar que um valor positivo de q i ocorre quando a taxa líquida de transporte
de calor por radiação é da superfície i para as demais, enquanto que um valor negativo indica que a
transferência de calor é para a superfície i. Ainda, é importante ressaltar que quando uma dada
superfície tem um ganho líquido de energia, sua temperatura somente permanecerá constante se algum
mecanismo de transporte remover esta energia através do corpo.
Ademais, as Equações (X.27) e (X.28) podem ser combinadas e rearranjadas, em analogia à Lei
de Ohm, resultando na Equação (X.29):
(E cn ,i J i )
N J i Jj
, (X.29)
R ,i j 1 R ,ij
em que os numeradores consistem de diferenças de potencial térmico, enquanto que os denominadores,
Rε,i e Rε,ij, são as resistências à radiação da superfície e do espaço para corpos cinzas, difusos e opacos,
respectivamente; as quais estão definidas nas Equações (X.30) e (X.31):
1 i
R ,i , (X.30)
Ai i
1
R ,ij . (X.31)
A i Fij
A resistência da superfície à radiação pode ser entendida como a maior oposição à transferência
de calor radiante que a superfície apresenta por não se comportar como um corpo negro (efeito da
refletividade), conquanto que a resistência do espaço à radiação subtende a resistência ao transporte de
radiação térmica imposta pela geometria do sistema.
Uma rede de resistências à radiação entre Figura X.7 – Resistências à radiação entre duas
duas superfícies i e j está ilustrada na superfícies opacas, cinzas e difusas.
Figura X.7. Para tal sistema, um recinto com
duas superfícies cinzas, difusas, opacas, a taxa
líquida de transferência de radiação pode ser
equacionada como na Equação (X.32): Fonte: O autor.
q
E cn ,i E cn , j
Ti4 Tj4 . (X.32)
R ,i R ,ij R , j 1 i 1 1 j
A i i A i Fij A j j
Aplicações da Equação (X.32) para alguns recintos de geometrias típicas de duas superfícies são
apresentadas no Quadro (X.4).
As Equações (X.28) e (X.29) são comumente usadas na análise de problemas de transferência de
calor por radiação, os quais resultam num sistema dessas equações que devem ser resolvidos por
métodos de álgebra linear e computação numérica, constituindo o denominado método da matriz ou
método direto para a análise do transporte de calor radiante num recinto.
Outra abordagem muito utilizada atualmente para a análise da radiação de um recinto é o
método da rede, no qual se avalia a rede de resistências à radiação para o sistema estudado para a
resolução do problema de transferência de calor no recinto. Obviamente, o método da rede torna-se
menos prático e mais complexo à medida que é maior o número de superfícies no recinto avaliado.
Hugo L. B. Buarque
138 Parte Três: Transmissão de Calor
Quadro X.4 – Taxas líquidas de transferência de radiação em recintos com duas superfícies.
Sistema/Geometria Equação
Corpo pequeno em grande cavidade
Ai
0
Aj
q A i i Ti4 Tj4 (X.33)
Fij 1
A i ri
q
A i Ti4 Tj4 (X.35)
A j rj 1 (1 j ) ri
Fij 1 i j rj
Esferas concêntricas
A i ri2 q
A i Ti4 Tj4
2
(X.36)
A j rj2 1 1 j ri
Fij 1 i j rj
As superfícies reirradiantes
A superfície reirradiante é uma superfície idealizada, caracterizada por uma transferência líquida
nula de calor radiante, isto é, a fração absorvida da radiação incidente é igual à radiação emitida por
essa superfície. É fácil deduzir, a partir da Equação (X.26), que a relação expressa na Equação (X.37) é
válida para uma superfície reirradante i:
J i G i E cn , i , (X.37)
em que Ji, Gi, Ecn,i são a radiosidade, a irradiação e a potência emissiva de um corpo negro na mesma
temperatura da superfície i reirradiante, respectivamente.
Superfícies reais, cuja transferência convectiva de calor é desprezível no lado radiante e cujo
lado oposto é bem isolado, aproximam-se muito do comportamento de uma superfície reirradiante,
como as paredes refratárias de alguns fornos industriais em estado permanente.
Os escudos de radiação
Em muitas aplicações de transferência de calor por radiação, é muitas vezes desejável reduzir a
transferência líquida de calor entre superfícies irradiantes. Nestes casos, faz-se uso de escudos ou
barreiras de radiação, as quais proporcionam resistências térmicas adicionais (blindagem) ao transporte
de calor radiante. Na prática, escudos de radiação são placas ou cascas finas de elevadas refletividades
(muito baixas emissividades) inseridas entre as superfícies transferindo calor radiante, recebendo e
reemitindo radiação para essas superfícies, e equilibrando-se numa temperatura intermediária.
A taxa de transferência líquida de calor por radiação entre duas superfícies i e j, com N escudos
de radiação (de lados α e β) entre elas, conforme ilustrado na Figura X.8, pode ser representada como
na Equação (X.38).
Figura X.8 – Resistências à radiação entre duas superfícies opacas, cinzas e
difusas com N escudos de radiação entre elas.
Fonte: O autor.
q
Ti4 Tj4 (X.38)
1 i 1 1 1 1 1 1 1 2 1 N 1 1 j
A i i A i Fi1 A1 1 A1 1 A1 F1 2 A 2 2 A N N A N FNj A j j
Hugo L. B. Buarque
140 Parte Três: Transmissão de Calor
PROBLEMAS.
1. Suponha que duas placas planas de emissividade constante estejam dispostas paralelamente, que
elas sejam tão grandes que possam ser consideradas de área infinita e sejam mantidas a
temperaturas, respectivamente, iguais a 2.000 K e 1.000 K. Se as placas forem mantidas a 4.000 K e
1.000 K, qual será a razão entre o novo fluxo de calor radiante e o fluxo de calor radiante original.
2. Duas placas cinzentas e paralelas de 0,5 por 1,0 m estão separadas por uma distância de 0,5 m. O
fator de forma calculado para o sistema radiante é de 0,285. Uma placa (emissividade igual a 0,25)
é mantida a 1.000oC e a outra (emissividade igual a 0,67) a 500oC. Qual a transferência líquida de
calor entre elas?
3. Duas placas paralelas, comportando-se como um corpo negro, de 0,5 m por 1,0 m estão separadas
por uma distância de 0,5 m. O fator de forma calculado para o sistema radiante é de 0,460. Uma
placa é mantida a 627°C e a outra a 1.477°C. Determine a taxa de transferência líquida de calor
radiante entre elas?
4. Dois discos paralelos e separados por uma curta distância, cujas áreas são 2,0 m² e 3,0 m²,
respectivamente, estão trocando calor predominantemente por radiação. A temperatura do disco
menor é igual a 1000 K e a do disco maior é de 2000 K. Os fatores de forma e de emissividade
calculados para o estes discos (sistema) são, respectivamente, 0,78 e 0,234. Determine a taxa
líquida de calor radiante trocado entre os discos e a distância entre eles.
BASTOS, F.A.A. Problemas de Mecânica dos Fluidos. Rio de Janeiro: Guanabara Dois, 1983.
BEATTIE, J.A.; BRIDGEMAN, O.C. A new equation of state for fluids. I. Application to gaseous
ethyl ether and carbon dioxide. Journal of the American Chemical Society, v. 49, p. 1665-1667,
1927.
BENEDICT, M.; WEBB, G.B.; RUBIN, L.C. An empirical equation for thermodynamic properties of
light hydrocarbons and their mixtures: i. methane, ethane, propane, and n-butane. J. Chem. Phys., v.
8, p. 334–345, 1940.
BIRD, R.B.; STEWART, W.E.; LIGHTFOOT, E.N. Transport Phenomena. 2nd ed. New York: John
Wiley e Sons, 2002.
ÇENGEL, Y. Transferência de Calor e Massa: uma abordagem prática. 3ª ed. Bangcoc: McGraw-
Hill, 2009.
ÇENGEL, Y.; CIMBALA, J. M. Mecânica dos Fluidos: fundamentos e aplicações. 1ª ed. São Paulo:
McGraw-Hill, 2007.
CHURCHILL, S. W.; BERNSTEIN, M. A correlation equation for forced convection from gases and
liquids to a circular cylinder in cross flow. Journal of Heat Transfer, v. 94, p. 300–306, 1977.
CHURCHILL, S.W. A comprehensive correlation equation for forced convection from a flat plate.
AIChE Journal, v. 22, 264-268, 1976.
EDWARDS, D.K.; DENNY, V.E.; MILLS, A.F. Transfer Processes. 2nd ed. Washington, USA:
Hemisphere, 1979.
Referências e Bibliografia Consultada 160
FOX, R.W.; MCDONALD, A.T. Introdução à Mecânica dos Fluidos. 3a edição. Rio de Janeiro:
Guanabara, 1988.
GEANKOPLIS, C.J. Transport Processes and Unit Operations. 3rd ed. New Jersey: Prentice Hall,
1993.
GRAY, D.E. (ed.) American Institute of Physics Handbook. New York: McGraw-Hill, 1972.
GRISKEY, R. G. Transport phenomena and unit operations: a combined approach. New York:
John Wiley & Sons, 2002. 448p.
HOLMAN, J.P. Transferência de calor. São Paulo: Makron Books do Brasil, 1983.
ISHIGURO, R.; SUGIYAMA, K.; KUMADA, T. Heat transfer around a circular cylinder in a liquid-
sodium cross flow. International Journal of Heat and Mass Transfer, v. 22, p. 1041-1048, 1979.
JAMES, A.M., LORD, M. P. Macmillian’s Chemical and Physical Data. London: Macmillian, 1992.
KREITH, F.; BOHN, M.S. Princípios de Transferência de Calor. 1ª ed. São Paulo: Thomson
Pioneira, 2003.
LIVI, C.P. Fundamentos de Fenômenos de Transporte – Um Texto para Cursos Básicos. Rio de
Janeiro: LTC, 2004.
POLING, B.E.; PRAUSNITZ, J.M.; O’CONNELL, J.P. The properties of gases and liquids. 5th ed.
New York: McGraw-Hill, 2001.
ROSE, J.W. Boundary layer flow on a flat plate. International Journal of Heat and Mass Transfer,
v. 22, p. 969-969, 1979.
SLEICHER, C.A.; ROUSE, M.W. A convenient correlation for heat transfer to constant and variable
property fluids in turbulent pipe flow. International Journal of Heat and Mass Transfer, v. 18,
p. 1429-1435, 1975.
WEAST, R.C. (ed.) Handbook of Chemistry and Physics. Boca Raton: CRC Press, 1993.
WHITAKER, S. Forced convection heat transfer correlations for flow in pipes, past flat plates, single
cylinders, single spheres, and for flow in packed beds and tube bundles. AIChE Journal, v. 18,
p. 361-371, 1972.
WITTE, L.C. An experimental study of forced-convection heat transfer from a sphere to liquid
sodium. Journal of Heat Transfer, v. 90, p. 9-12, 1968.
ZUKAUSKAS, A. Convective heat transfer in cross flow. In: KAKAC, S.; SHAH, R.K.; AUNG, W.
(eds.) Handbook of Single-Phase Convective Heat Transfer. New York: Wiley-Interscience, 1987.
Hugo L. B. Buarque