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Fenômenos de

Transporte
Para Cursos
Técnicos e Tecnológicos

HUGO LEONARDO DE BRITO BUARQUE


Engenheiro Químico e Doutor em Física

INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO CEARÁ


FORTALEZA, CEARÁ
2016
SUMÁRIO

CAPÍTULO I – PRINCÍPIOS E DEFINIÇÕES


O que são fenômenos de transporte ................................................................................................................. 3
Grandezas físicas ................................................................................................................................................ 4
Sistemas de unidades ......................................................................................................................................... 4
Os fluidos e o continuum .................................................................................................................................. 11
Pressão, quantidade de matéria, temperatura e volume ................................................................................ 11
Equações de estado.......................................................................................................................................... 15
Problemas ......................................................................................................................................................... 19

CAPÍTULO II – PROPRIEDADES E ESCOAMENTO DOS FLUIDOS


Principais propriedades dos fluidos ................................................................................................................. 21
Esforços nos fluidos .......................................................................................................................................... 30
Reologia dos fluidos ......................................................................................................................................... 31
Tipos de fluidos ................................................................................................................................................ 34
Definição de escoamento e a cinemática dos fluidos ...................................................................................... 34
Método de Lagrange e método de Euler ......................................................................................................... 35
Trajetórias, linhas e tubos de corrente ............................................................................................................ 35
Tipos de escoamento ....................................................................................................................................... 36
Problemas ......................................................................................................................................................... 40

CAPÍTULO III – PRINCÍPIOS DE FLUIDOESTÁTICA E SUAS APLICAÇÕES


Conceitos e fundamentos básicos .................................................................................................................... 45
Medição da pressão – barômetro e manômetros: definições e classificação ................................................. 49
Forças sobre superfícies planas ........................................................................................................................ 52
Empuxo ............................................................................................................................................................. 54
Problemas ......................................................................................................................................................... 56

CAPÍTULO IV – FLUIDODINÂMICA: EQUAÇÕES FUNDAMENTAIS


Sistema e volume de controle .......................................................................................................................... 57
Leis básicas dos sistemas.................................................................................................................................. 57
A formulação do volume de controle na determinação da variação de uma propriedade do sistema .......... 59
Balanço global de massa, energia e quantidade de movimento (momentum) ............................................... 61
Balanço diferencial de massa, energia e quantidade de movimento (momentum) ........................................ 66
Problemas ......................................................................................................................................................... 69
CAPÍTULO V – ESCOAMENTO DE FLUIDOS IDEAIS
Fluidos ideais .................................................................................................................................................... 71
Equação de Bernoulli – dedução e restrições .................................................................................................. 71
Problemas ......................................................................................................................................................... 74

CAPÍTULO VI – ESCOAMENTO DE FLUIDOS REAIS


Fluidos reais ...................................................................................................................................................... 75
O conceito de camada limite hidrodinâmica.................................................................................................... 75
O conceito de perda de carga .......................................................................................................................... 76
Perda ou ganho de energia pelo uso de equipamentos .................................................................................. 77
Extensão da equação de Bernoulli para fluidos reais....................................................................................... 77
Avaliação da perda de carga em tubulações .................................................................................................... 78
Problemas ......................................................................................................................................................... 85

CAPÍTULO VII – MECANISMOS BÁSICOS DE TRANSFERÊNCIA DE CALOR


Conceitos e fundamentos básicos .................................................................................................................... 89
Transmissão de calor por condução ................................................................................................................. 90
Transmissão de calor por convecção ............................................................................................................... 90
Transmissão de calor por radiação................................................................................................................... 91
Mecanismos combinados ................................................................................................................................. 92
Problemas ......................................................................................................................................................... 92

CAPÍTULO VIII – CONDUÇÃO DE CALOR


Fundamentos da condução de calor ................................................................................................................ 93
Lei de Fourier .................................................................................................................................................... 93
A condutividade térmica .................................................................................................................................. 94
Condução unidimensional em regime permanente num sólido ou num fluido estático ................................ 96
Problemas ....................................................................................................................................................... 102

CAPÍTULO IX – CONVECÇÃO DE CALOR


Fundamentos da convecção de calor ............................................................................................................. 103
Lei do resfriamento de Newton ..................................................................................................................... 104
Número de Nusselt......................................................................................................................................... 105
Camada limite térmica ................................................................................................................................... 106
Número de Prandtl ......................................................................................................................................... 106
Convecção forçada ......................................................................................................................................... 107
Convecção forçada externa – correlações ..................................................................................................... 108
Convecção forçada interna – correlações ...................................................................................................... 115
Convecção natural .......................................................................................................................................... 120
Convecção combinada: natural e forçada ...................................................................................................... 123
Problemas ....................................................................................................................................................... 124
CAPÍTULO X – RADIAÇÃO TÉRMICA
Fundamentos da radiação térmica................................................................................................................. 125
Radiação de corpo negro................................................................................................................................ 127
Propriedades das superfícies irradiantes ....................................................................................................... 130
Transferência de calor por radiação............................................................................................................... 133
Problemas ....................................................................................................................................................... 140

REFERÊNCIAS E BIBLIOGRAFIA CONSULTADA


PARTE UM

INTRODUÇÃO
CAPÍTULO I

PRINCÍPIOS E DEFINIÇÕES

“A ciência é a aproximação progressiva do homem com o mundo real”


Max Planck (1858 – 1947).

O QUE SÃO OS FENÔMENOS DE TRANSPORTE?


Os Fenômenos de Transporte constituem um ramo bem desenvolvido e eminentemente útil da
física que permeia muitas áreas das ciências aplicadas. Os Fenômenos de Transporte fornecem os
princípios teóricos e empíricos, juntamente com a Termodinâmica, a Cinética Química, etc., das
operações unitárias1 industriais. Sendo assim, fundamentais para o projeto, a operação e o
aprimoramento dos processos industriais.
O escopo dos Fenômenos de Transporte inclui três tópicos intimamente relacionados: a
Mecânica dos Fluidos, a Transferência de Calor e a Transferência de Massa. A Mecânica dos Fluidos
lida principalmente com o transporte de quantidade de movimento, a transferência de calor com o
transporte de energia e a transferência de massa diz respeito ao transporte de espécies químicas num
dado meio material.
Este capítulo introdutório procura descrever o escopo e os objetivos dos Fenômenos de
Transporte, além de conceitos e definições importantes. Tais informações são indispensáveis para o
estudo do assunto e das inter-relações dos vários tópicos individuais que a ele dizem respeito.
Ressalte-se que os fenômenos de transporte devem, no nível introdutório aqui proposto, ser
estudados juntos pelas razões a seguir mencionadas: os mecanismos moleculares subjacentes a estes
fenômenos de transporte estão intimamente relacionados, e consequentemente, as equações básicas
que descrevem tais fenômenos também estão intimamente relacionados; as ferramentas matemáticas
necessárias para descrever tais fenômenos são muito similares; e eles ocorrem muito frequentemente
de forma simultânea em processos químicos industriais, biológicos, meteorológicos, ambientais etc.
Assim, pelos motivos mencionados, alguns tópicos selecionados da Mecânica dos Fluidos, do
Transporte de Calor e do Transporte de Massa serão abordados nas próximas seções deste livro. Ainda,
subjacentes aos Fenômenos de Transporte estão alguns conceitos básicos. Haja vista que tais conceitos
são tratados mais extensivamente em outras disciplinas das engenharias ou de cursos técnicos e
tecnológicos, eles serão brevemente discutidos aqui.

1
operação unitária é uma etapa básica de um processo industrial regida pelas mesmas leis da física e da química.
4 Parte Um: Introdução

GRANDEZAS FÍSICAS.
Uma quantidade ou grandeza física pode ser definida como o conceito que descreve qualitativa e
quantitativamente as relações entre as propriedades observadas no estudo de um fenômeno. A
descrição é qualitativa porque pode diferenciar conceitos distintos como grandezas distintas, e é
quantitativa porque pode exprimir o conceito matematicamente, a partir da medição1 desta grandeza,
através de valores numéricos e de uma unidade de medida.
As grandezas físicas podem ser classificadas em escalares, vetoriais ou tensoriais. Uma grandeza
escalar precisa somente de um valor numérico (intensidade) e uma unidade para ser definida; a massa,
a temperatura e a energia são exemplos de grandezas escalares. Uma grandeza vetorial necessita, para
ser completamente definida, além de uma unidade e de um valor numérico que quantifique sua
intensidade, de uma representação espacial que determine a orientação (direção e sentido) da grandeza.
São exemplos típicos de grandezas vetoriais: a velocidade, a aceleração e a força. As grandezas
tensoriais ou tensores, numa abordagem mais restrita2, são grandezas que têm uma magnitude e duas
direções associadas a ela, além da respectiva unidade de medida. O momento de inércia, o estado de
tensão e de deformação em torno de um ponto são exemplos de tensores.
As grandezas físicas também podem ser classificadas em primitivas, aquelas que não dependem
de outras para serem definidas, e em derivadas, as quais são definidas através de uma relação entre as
grandezas fundamentais. São exemplos de grandezas primitivas: a massa, o comprimento e o tempo;
enquanto que a velocidade, a potência e o fluxo magnético são exemplos de grandezas derivadas.

SISTEMAS DE UNIDADES.
A necessidade de medir é muito antiga e remonta à origem das civilizações. Para efetuar medidas
é necessário fazer uma padronização, escolhendo unidades para cada grandeza. Por longo tempo cada
país ou região, teve o seu próprio sistema de medidas, baseado em unidades arbitrárias e imprecisas.
Até o final do século XVIII, todos os sistemas de medidas existentes eram consuetudinários, ou seja,
baseados nos costumes e nas tradições. Os primeiros padrões utilizados para medir eram partes do
corpo humano – palma da mão (palmo), polegada, pé, braço (côvado3) – e utensílios de uso cotidiano,
como cuias e vasilhas. Com o tempo, cada civilização havia definido padrões e fixado suas próprias
unidades de medidas. Daí a multiplicidade de sistemas de medição existente desde a Antiguidade.

1
A medição de uma grandeza física é a comparação desta grandeza com outra da mesma espécie, definida como padrão e
denominada unidade de medida. Assim, medir uma grandeza consiste em verificar quantas vezes a unidade de medida está
contida na grandeza sob medição, segundo uma escala pré-definida.
2
Tensores de ordem igual a dois.
3
Um côvado era definido na antiguidade como a distância do cotovelo até a ponta do dedo médio, com o antebraço em
ângulo reto com o braço e com a mão aberta.
Fenômenos de Transporte para Cursos Técnicos e Tecnológicos
Capítulo I: Definições e Princípios 5

Em 1795, a França institui o Sistema Métrico Decimal, inicialmente com três unidades-base de
medidas: o metro (comprimento), o litro (volume) e o quilograma (massa), todas baseadas em
constantes naturais. Posteriormente, muitos outros países adotaram o sistema, inclusive o Brasil,
aderindo em 1921 à Convenção do Metro1. Entretanto, o desenvolvimento científico e tecnológico
passou a exigir medições cada vez mais precisas e diversificadas. Assim, após algumas revisões, o
Sistema Métrico Decimal deu origem, em 1960, ao Sistema Internacional de Unidades (SI), constituído
por sete unidades básicas. No Brasil, o SI foi adotado em 1962 e ratificado pela Resolução nº 12 de 12
de outubro de 1988 do CONMETRO2, tornando desde então seu uso obrigatório no país.
Apesar da obrigatoriedade do Sistema Internacional de Unidades no Brasil, e do fato de que
muitos livros, manuais e periódicos relacionados às ciências naturais e tecnológicas utilizam
atualmente somente o SI, outros sistemas ainda são comumente utilizados, tais como o sistema CGS e
o sistema FPS, nas relações internacionais, no ensino e no trabalho científico e industrial. Por este
motivo, tais sistemas também serão aqui sucintamente discutidos, bem como serão apresentados os
fatores de conversão entre as unidades destes sistemas e aquelas do Sistema Internacional de Unidades.

Sistema Internacional de Unidades.

O Sistema Internacional de Unidades, instituído oficialmente na 11ª CGPM3, em 1960, e


posteriormente aperfeiçoado, adota sete unidades-base independentes entre si, além de definir as regras
para os prefixos e para as unidades derivadas, estabelecendo assim uma especificação internacional
coerente de unidades de medida. As sete grandezas e respectivas unidades-base do SI, bem como o
símbolo associado a tais unidades são apresentados na Tabela I.1.

Tabela I.1 – Unidades-base do SI.


Grandeza Unidade Símbolo
Comprimento metro m
Massa quilograma kg
Tempo segundo s
Corrente elétrica ampère A
Temperatura termodinâmica4 kelvin K
Quantidade de matéria mol5 mol
Intensidade luminosa candela cd

1
A Convenção do Metro é uma convenção internacional, inicialmente assinada por 17 nações, em 1875 na cidade de Paris,
com o propósito de estabelecer internacionalmente uma autoridade e um sistema de unidades.
2
CONMETRO é a sigla do Conselho Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial, que é um colegiado
interministerial que exerce a função de órgão normativo do Sistema Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade
Industrial brasileiro.
3
CGPM é a sigla da Conferência Geral sobre Pesos e Medidas que, instituída pela Convenção do Metro, é constituída por
delegados dos estados membros e observadores dos países associados. Uma de suas principais atribuições é discutir e
analisar os mecanismos necessários para assegurar a propagação e o aperfeiçoamento do SI.
4
A temperatura termodinâmica é tomada numa escala absoluta. Por este motivo, suas unidades não devem receber o
anteposto grau, como nas temperaturas de escala relativa (grau Celsius e grau Fahrenheit).
5
No Brasil, o plural da unidade "mol" é dicionarizado (Aurélio, Houaiss, Michaelis) como "mols" (grafia também adotada
pelo INMETRO), embora o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa da ABL registre as grafias "móis" ou "moles".
Hugo L. B. Buarque
6 Parte Um: Introdução

Os nomes e símbolos dos prefixos estabelecidos pelo sistema para representar os múltiplos e
submúltiplos decimais das unidades são mostrados na Tabela I.2, enquanto que algumas das principais
unidades derivadas utilizadas no âmbito dos Fenômenos de Transporte estão relacionadas, juntamente
com seus símbolos, na Tabela I.3.

Tabela I.2 – Prefixos SI.


Submúltiplos Múltiplos
Fator Prefixo Símbolo Fator Prefixo Símbolo
10–1 deci d 101 deca da
10–2 centi c 102 hecto h
10–3 mili m 103 kilo k
10–6 micro µ 106 mega M
10–9 nano n 109 giga G
10–12 pico p 1012 tera T
10–15 femto f 1015 peta P
10–18 atto a 1018 exa E
10–21 zepto z 1021 zetta Z
10–24 yocto y 1024 yotta Y

Tabela I.3 – Algumas unidades derivadas do SI.


(continua)
Unidade Derivada Coerente com o SI
Grandeza Nome Símbolo Em termos das Em termos de
especial especial unidades-base SI outras unidades SI
Ângulo plano radiano1 rad m/m 1
2
Área - - m -
Atividade catalítica katal kat mol/s -
- -1
Calor específico - - m² s ² K J kg K-1
-1

Calor molar de vaporização - - kg m2 s-2 mol-1 J/mol


-1
Coeficiente de compressibilidade - - m s² kg m2/N
Concentração - - mol/m3 -
- -1
Condutividade térmica - - kg m s ³ K W K-1 m-1
Difusividade mássica - - m2/s -
2
Difusividade térmica - - m /s -
-
Energia, trabalho, calor joule J kg m² s ² Nm
-
Força newton N kg m s ² -
2 –3 –1
Força eletromotriz volt V kg m s A W/A
-1
Frequência hertz Hz s -
Massa específica - - kg/m3 -
Massa molar - - kg/mol -
-2 -2
Peso específico - - kg m s N/m3
Potência, fluxo de calor watt W kg·m² s-³ J/s
-1 -
Pressão, tensão pascal Pa kg m s ² N/m²
- -
Resistência elétrica ohm Ω kg·m² s ³ A ² V/A

1
O radiano é um nome especial para o número um e que pode ser usado para fornecer informações sobre a unidade
considerada. Na prática, o símbolo rad é usado quando apropriado, mas símbolos para a unidade derivada “um” é
geralmente omitido ao se especificar os valores de grandezas adimensionais.
Fenômenos de Transporte para Cursos Técnicos e Tecnológicos
Capítulo I: Definições e Princípios 7

Tabela I.3 – Algumas unidades derivadas do SI.


(conclusão)
Unidade Derivada Coerente com o SI
Grandeza Nome Símbolo Em termos das Em termos de
especial especial unidades-base SI outras unidades SI
Temperatura relativa grau Celsius1 ºC K -
-
Tensão superficial - - kg s ² N/m
Velocidade - - m/s -
Velocidade de deformação - - s-1 rad/s
Viscosidade cinemática - - m2/s -
-1 -1
Viscosidade dinâmica - - kg m s -
3
Volume - - m -
3
Volume específico - - m /kg -

O símbolo da unidade sempre seguirá o valor numérico da medida, com um espaçamento de até
um caractere, na representação do resultado da medida.
Os símbolos dos prefixos são impressos em caracteres romanos (verticais), sem espaçamento
entre o símbolo do prefixo e o símbolo da unidade. Todos os nomes dos prefixos são impressos em
letras minúsculas, exceto no início da frase. O conjunto formado pelo símbolo do prefixo ligado ao
símbolo da unidade constitui um novo símbolo inseparável, que pode ser elevado a uma potência
positiva ou negativa e que pode ser combinado a outros símbolos de unidades para formar os símbolos
de unidades derivadas. Similarmente, o nome deste agrupamento também é indissociável. Assim, o
milímetro (mm), o micropascal (µPa) e o meganewton (MN) são palavras únicas e compostas por
derivação prefixal. Os prefixos formados pela justaposição de vários prefixos SI não são admitidos.
Um prefixo não deve ser empregado sozinho.

Exercício Resolvido I.1 – Converta de “centímetro” para “metro” nas unidades as seguir:
a) 1 cm3 b) 1 cm-1 c) 1 W/cm

Resolução:
a) 1 cm3 = (10-2 m)3 = 10-6 m3
b) 10 cm-1 = 10·(10-2 m)-1 = 103 m-1
c) 1 W/cm = (1 W)/(10-2 m) = 102 W/m

Destaque-se, ainda, que todas as unidades existentes podem ser expressas em função das
unidades-base do SI. Contudo, consideram-se como unidades derivadas do SI aquelas que são produtos
de potências das unidades básicas e que não incluem fatores numéricos diferentes de um. Também, os
nomes e símbolos de algumas das unidades assim obtidas podem ser substituídos por nomes e
símbolos especiais que podem ser usados para se formar expressões e símbolos de outras unidades
derivadas, como já exemplificado na Tabela I.3.

1
O grau Celsius é o nome especial de kelvin utilizado para expressar temperaturas relativas. O grau Celsius e o kelvin são
iguais em tamanho, de modo que o valor numérico de uma diferença de temperatura é o mesmo em ambas as escalas.
Hugo L. B. Buarque
8 Parte Um: Introdução

Sistema CGS.

O Sistema CGS é um sistema de unidades, cujas unidades-base são o centímetro para o


comprimento, o grama para a massa e o segundo para o tempo. Foi introduzido em 1874 pela British
Association for the Advancement of Science usando prefixos variando de “micro” a “mega” para
expressar múltiplos e submúltiplos decimais. As unidades-base e algumas unidades derivadas do
sistema CGS são apresentadas na Tabela I.4.

Tabela I.4 – Algumas unidades CGS.


Equivalência com as
Grandeza Unidade Símbolo
unidades-base CGS
Comprimento centímetro m -
Massa grama g -
Tempo segundo s -
Força dina dyn g cm s-2
Energia, trabalho, calor erg erg g cm2 s-2
Potência, fluxo de calor erg por segundo erg/s g cm2 s-3
Pressão bar bar 106 g cm-1 s-2
Viscosidade dinâmica poise P g cm-1 s-1
Viscosidade cinemática stokes St cm2/s

Conquanto haja tendência de unificação internacional por meio do SI, o Sistema CGS ainda é
bastante utilizado em várias áreas por diversas razões: elas parecem ser mais convenientes em alguns
contextos; muito da antiga literatura de física ainda usa tais unidades; elas ainda são largamente
empregadas em astronomia.

Sistema FPS (Sistema Inglês de Engenharia).

Em alguns países, um sistema de unidades não-decimal tem sido usado desde longa data no
comércio e na indústria. Este sistema é conhecido como Sistema Inglês (English System),
particularmente nos Estados Unidos, ou, em muitos outros países, como Sistema Imperial (Imperial
System). Mais recentemente, tem recebido a denominação de Sistema FPS, por se basear nas unidades
inglesas pé (foot), libra (pound) e segundo (second). As principais unidades do Sistema FPS são
apresentadas na Tabela I.5.
O uso desse sistema disseminou-se através da Grã-Bretanha e das colônias britânicas.
Atualmente, ainda é adotado como sistema de unidades oficial somente nos Estados Unidos, na Libéria
e na União de Mianmar. Igualmente, embora o Parlamento britânico tenha decidido pela adesão do
país ao Sistema Internacional de Unidades há décadas, a população inglesa continua utilizando o
antigo sistema no seu cotidiano.

Fenômenos de Transporte para Cursos Técnicos e Tecnológicos


Capítulo I: Definições e Princípios 9

Tabela I.5 – Algumas unidades FPS.


Equivalência com
Grandeza Unidade Símbolo
outras unidades FPS
polegada in. -
Comprimento
pé ft 12 in.
Massa libra ou libra-massa lb -
Tempo segundo s -
Força libra-força lbf 32,174 lb ft s-2
Temperatura termodinâmica grau Rankine ºR -
Temperatura relativa grau Fahrenheit ºF ºR
Energia, trabalho pé libra-força ft lbf 32,174 lb s-2
Calor unidade térmica britânica1 Btu 778,1693413128 ft lbf
Potência, fluxo de calor horsepower HP 550 ft lbf s-1
Pressão libra-força por polegada quadrada psi lbf/in.2

Conversão de Unidades.

A conversão de unidades de um sistema para outro é feita facilmente se as quantidades são


expressas como uma função das unidades-base. Fatores de conversão são usados para converter
diferentes unidades. O fator de conversão é o número de unidades de um dado sistema contido em uma
unidade correspondente em outro sistema. Os fatores mais comuns para as diferentes grandezas são
apresentados na Tabela I.6.

Tabela I.6 – Alguns típicos fatores de conversão de unidades.


Sistema de Unidades
Grandeza
SI CGS FPS Outra unidade
Área 1 m2 = 104 cm2 = 10,7639 ft2 = 1550 in2
Calor 1J = 107 erg = 9,478x10-4 Btu = 0,239 cal
Comprimento 1m = 100 cm = 39,3701 in. = 3,28084 ft
Energia, trabalho 1J = 107 erg = 0,73756 ft lbf = 3,725x10-7 HP h
Força 1N = 105 dyn = 0,22481 lbf = 0,10197162 kgf
Massa 1 kg = 1000 g = 2,20462 lb = 0,0685218 slug
Massa específica 1 kg/m3 = 10-3 g/cm3 = 0,062428 lb/ft3 = 10-3 g/cm3
Potência, fluxo de calor 1W = 107 erg/s = 1,341x10-3 HP = 3,4121 BTU/h
Pressão 1 Pa = 10-5 bar = 1,4503x10-4 psi = 9,8692x10-6 atm
Quantidade de matéria 1 mol = 1 g-mol = 0,0022 lb-mol = 10-3 kg-mol
Temperatura 1K = 1K = 1,8 ºR = -
Tempo 1s = 1s = 1s = 2,7778x10-4 h
Viscosidade cinemática 2
1 m /s = 104 St = 10,7639104 ft2/s = 1550,0031 in.2/s
Viscosidade dinâmica 1 kg m-1 s-1 = 10 P = 0,672 lb ft-1 s-1 = 0,102 kgf s m-2
Volume 1 m3 = 106 cm3 = 35,3147 ft3 = 1000 ℓ

1
International Steam Table.
Hugo L. B. Buarque
10 Parte Um: Introdução

Equações Dimensionalmente Homogêneas e Unidades Consistentes.

Uma equação dimensionalmente homogênea é aquela na qual todos os termos têm as mesmas
unidades. Tais unidades podem ser as unidades-base ou as derivadas. Fatores de conversão não são
necessárias quando unidades consistentes são utilizadas. Equações derivadas diretamente a partir de
leis físicas e químicas são dimensionalmente homogêneas. Conquanto que equações obtidas por
métodos empíricos, normalmente não são dimensionalmente homogêneas e contêm termos em várias
diferentes unidades.

Exercício Resolvido I.2 – Avalie se a equação para determinação da distância vertical


percorrida por um corpo em queda livre, s, com velocidade inicial vo durante o tempo t, dada a
seguir, é dimensionalmente homogênea,
1
s  vo t  g t 2 ,
2
em que g é a aceleração da gravidade no local.
Resolução:
Adotando o SI e analisando dimensionalmente a equação,
m m m m
[m]  [ ]  [s]  [ 2 ]  [s] 2  [m]  [ ]  [s ]  [ 2 ]  [s 2 ]  [m]  [m]  [m]  [m]  [m]
s s s s
Assim, pode-se verificar que as unidades em cada termo da equação reduzem-se àquela de
comprimento, indicando a homogeneidade dimensional da equação.

Exercício Resolvido I.3 – Avalie se a equação (Lei de Bond) para determinação da energia
consumida para moer uma unidade de massa de sólido, expressa a seguir, é dimensionalmente
homogênea,
 1 1 
 W  k  C  wi    ,
 D D 
 2 1 
em que – W é a energia consumida em HPh; C é a capacidade do moinho, em toneladas por
hora; wi é conhecido como índice de trabalho, em kWh/t; D1 e D2 os diâmetros médios do sólido,
em cm, antes e depois da moagem, respectivamente; e k é uma constante empírica.
Resolução:
Adotando o SI, convertendo adequadamente as unidades das grandezas apresentadas, e
analisando dimensionalmente a equação,
kg J  1 1  kg J kg
[J]  [ ][ ]   [J]  [ ]  [ ]  [cm 0,5 ]  [J]  [ 2 0,5 ]  [J]
s s  [cm] [cm]  s s s cm
Pode-se verificar que as unidades não são consistentes na equação, indicando a não
homogeneidade dimensional da mesma.
O leitor deve estar atento para homogeneidade dimensional das equações. Para tanto, um sistema
de unidades (e.g., SI, CGS, FPS) pode ser selecionado. Então, quando necessário, unidades devem ser
substituídas para cada termo na equação e aquelas iguais canceladas. Neste livro, todas as equações
são dimensionalmente homogêneas, exceto quando contrariamente explicitado.
Fenômenos de Transporte para Cursos Técnicos e Tecnológicos
Capítulo I: Definições e Princípios 11

OS FLUIDOS E O CONTINUUM.
Fluido é uma espécie que se deforma continuamente quando submetida a uma tensão de
cisalhamento, não importando o quanto pequena possa ser essa tensão. Uma força de cisalhamento é a
componente tangencial da força que age sobre a superfície e, dividida pela área da superfície, dá
origem à tensão de cisalhamento média sobre a área. Diferentemente, um sólido não se deforma
continuamente quando é submetido a uma mínima tensão de cisalhamento. Sendo mais pragmático,
por fluidos entendem-se os líquidos e os gases (ou vapores), principalmente, e os plasmas1.
Em nossa definição de fluido não se fez nenhuma referência à sua estrutura molecular. Todos os
fluidos compõem-se de moléculas em constante movimento. Entretanto, na maioria das aplicações
industriais, interessa-nos a média ou os efeitos macroscópicos do conjunto de numerosas moléculas.
São estes efeitos macroscópicos que podemos perceber e medir. Assim sendo, trataremos qualquer
fluido como uma substância ou mistura que pode ser dividida ao infinito, um contínuo (continuum),
sem nos preocuparmos com o comportamento individual de suas moléculas. Tal assunção é importante
no tratamento matemático das leis que regem as propriedades e o comportamento dos fluidos.
Ressalte-se, ainda, que operações envolvendo sistemas fluidos integram o cotidiano da indústria.
A maioria das unidades industriais utiliza água, vapor, ar comprimido, combustíveis líquidos e gasosos
nos seus processos, bem como originam produtos, subprodutos ou efluentes residuais fluidos.

PRESSÃO, QUANTIDADE DE MATÉRIA, TEMPERATURA E VOLUME.


Muitas propriedades, necessárias no projeto e operação de processos industriais, não são
diretamente mensuráveis, podendo, entretanto, serem indiretamente determinadas a partir de
propriedades volumétricas (pressão, volume e temperatura), as quais podem ser medidas diretamente.

Pressão.

A razão entre a força normal resultante ( FN ) agindo sobre a superfície de um corpo e a área (δA)
desta superfície é definida como a pressão (P) agindo sobre esta superfície. A pressão num ponto é a
relação entre a força normal e a área quando esta tende a um valor limite infinitesimal sempre
contendo o ponto. A Equação (I.1) expressa esta última definição.

FN
P  lim . (I.1)
A 0 A

Ressalte-se que a pressão não é uma força, mas uma grandeza escalar que produz uma força
resultante, em direção à superfície (força compressiva), por sua ação sobre a superfície de um corpo.

1
Plasma é um gás parcialmente ionizado, constituído por íons, átomos neutros e elétrons livres em proporções variadas, e
que apresenta um comportamento coletivo diferente dos sólidos, líquidos e gases, sendo por este motivo considerando um
estado físico da matéria.
Hugo L. B. Buarque
12 Parte Um: Introdução

Exercício Resolvido I.4 – Um aluno aperta um prego entre os dedos, com uma força de 6 N. A
cabeça do prego, com área de 0,15 cm2, está apoiada no polegar, e a ponta, com área 10-6 cm2,
apoiada no dedo indicador. Determine as pressões exercidas pela tachinha sobre ambos os
dedos. O aluno perfurará o dedo? Considere que a pressão necessária para perfurar a pele
humana seja, aproximadamente, igual a 3,0 x 106 Pa.

Resolução:
Considerando que a força que a tachinha exerce sobre os dedos é igual a 6 N, as pressões que a
mesma imprime sobre os dedos serão de:
6N
dedo polegar: P  5
 P  4,0  10 5 Pa .
1,5  10 m 2

6N
dedo indicador: P  10 2  P  6,0  1010 Pa .
10 m

Assim, o aluno perfurará somente o dedo indicador.

Quantidade de Matéria ou Número de Mols.

Como átomos, moléculas e outras entidades elementares possuem dimensões muito reduzidas, e
uma pequena quantidade de matéria assume números extremamente grandes de entidades, torna-se
conveniente mensurar a quantidade de matéria (n) em unidades de mol. Muitas leis e princípios físicos
e químicos consideram a quantidade de matéria na sua formulação e aplicação. Deste modo, é muitas
vezes necessário se determinar o número de mols envolvidos nos fenômenos estudados.
Mol é a quantidade de matéria de um sistema que contém tantas entidades elementares quanto
são os átomos contidos em 0,012 kg de carbono-12 em seu estado fundamental. Deste modo, o número
de entidades elementares contido em um mol corresponde à Constante de Avogadro1, cujo valor
aproximado é igual a 6,02 x 1023 mol-1. Assim, por exemplo, dois mols de moléculas de água
correspondem a aproximadamente 12,04 x 1023 moléculas desta substância.
A definição de mol também pode ser utilizada na determinação da massa de uma espécie ou
conjunto de espécies químicas, haja vista que a massa de átomos2, de moléculas e de outras partículas
subatômicas, também é definida em relação ao isótopo do carbono-12. A propriedade que relaciona a
massa e o número de mols de uma dada substância ou mistura é a massa molar, a qual expressa a
massa de um mol de espécies ou entidades elementares, em gramas por mol.

1
Lorenzo Romano Amedeo Carlo Avogadro (1776 – 1856), advogado e físico italiano, foi um dos primeiros cientistas a
distinguir átomos de moléculas. Elaborou a hipótese que enunciava que "volumes iguais de gases diferentes, à mesma
temperatura e pressão, contêm o mesmo número de moléculas".
2
A massa atômica indica quantas vezes a massa de um átomo ou de outra entidade é maior que 1/12 da massa do isótopo
do carbono-12, quantidade definida como uma unidade de massa atômica (u).
Fenômenos de Transporte para Cursos Técnicos e Tecnológicos
Capítulo I: Definições e Princípios 13

A massa molar de um elemento químico ou de uma substância é numericamente igual à massa


atômica desse elemento ou do total das massas atômicas dos átomos constituintes da substância dada,
em unidades de massa atômica (u). Como exemplo, considere-se a água (H2O), cuja massa atômica dos
seus elementos constituintes, hidrogênio e oxigênio, são 1 u e 16 u, respectivamente; a massa da
molécula da água é igual a 18 u e, por conseguinte, sua massa molar é igual a 18 g/mol. Deste modo, o
número de mols de uma massa de 9 g de água é igual a 0,5 mol.

Exercício Resolvido I.5 – Um recipiente contém 920 g de etanol (C2H6O). Sabendo que a massa
molar do álcool etílico é 46 g/mol, determine o número mols, o número de moléculas e o número
de átomos do álcool no recipiente.

Resolução:
Da massa molar,
46 g 
 1 mol
 n  20 mols.
920 g 
 n
Também, da Constante de Avogadro,
1 mol 
 6,02  10 23 moléculas
 x  1,204  10 25 moléculas .
20 mols 
 x
E finalmente,
1 molécula de C 2 H 6 O 
 9 átomos
 y  1,0836  10 26 átomos.
1,204  10 25
moléculas 
 y

Assim,920 g do álcool tem 20 mols ou 1,204x1025 moléculas e 1,0836x1026 átomos.

Temperatura.

A conceituação da temperatura (T) é muito mais abstrata que a da pressão. A temperatura de um


sistema tem sua definição formal fundamentada no conceito de equilíbrio térmico e está relacionada ao
conteúdo energético deste sistema. Deste modo, embora a temperatura possa ser definida como a
grandeza escalar que indica que dois ou mais sistemas estão ou estarão em equilíbrio térmico, quando
seu valor for o mesmo para tais sistemas, ela também dá um indicativo do grau de agitação ou da
energia cinética das espécies constituintes do sistema.
Assim, apesar da definição dada fornecer uma relação entre a temperatura e o equilíbrio térmico,
a mesma não fundamenta o desenvolvimento de uma escala de medição de temperatura. Escalas de
temperatura nos permitem usar uma base comum para medidas de temperatura, devendo ser gerais,
reprodutíveis e independentes das propriedades do sistema a ser mensurado.

Hugo L. B. Buarque
14 Parte Um: Introdução

Várias escalas térmicas têm sido introduzidas ao longo do tempo, mas o Sistema Internacional de
Unidades utiliza como unidade de temperatura termodinâmica (absoluta) o kelvin, definida como a
fração 1/273,16 da temperatura termodinâmica do ponto triplo da água, e grau Celsius, definido
atualmente como de igual magnitude que a unidade kelvin, como unidade de temperatura relativa.
Deste modo, uma diferença de temperatura pode ser expressa tanto em kelvin como em graus Celsius.
Outras duas unidades muitos utilizadas em países de língua inglesa são: o grau Fahrenheit
(escala relativa) e o Rankine (escala absoluta). As fórmulas apresentadas nas equações (I.2) a (I.4)
podem ser usadas na conversão do valor da temperatura entre as escalas.

[º C ]  [ K ]  273,15 . (I.2)
[º F ]  1,8  [ K ]  459,67 . (I.3)
[º R ]  1,8  [K] . (I.4)
Nas equações, os símbolos entre colchetes [K], [ºC], [ºF] e [ºR] representam os valores das
temperaturas nas escalas kelvin, grau Celsius, grau Fahrenheit e grau Rankine, respectivamente. Uma
comparação dos valores de temperatura para os pontos de ebulição, de fusão e do zero absoluto são
apresentados na Figura I.1.
Figura I.1 – Comparação entre as principais escalas de temperatura.

Fonte: O autor.

Volume.
O volume (V) de um corpo é uma grandeza que mensura o espaço ocupado por esse corpo.
Assim, depende da quantidade de matéria do corpo considerado. As medidas de volume possuem
grande importância nas situações envolvendo sistemas fluidos e sólidos.

Fenômenos de Transporte para Cursos Técnicos e Tecnológicos


Capítulo I: Definições e Princípios 15

EQUAÇÕES DE ESTADO.
O estado físico de uma substância se define por suas propriedades físicas. O estado de um fluido
puro fica determinado pelos valores do volume V, ocupado por uma quantidade de n moles deste
fluido, mantido a uma dada temperatura, T, e pressão, P. A experiência evidenciou que estas grandezas
podem ser relacionadas para um gás puro através da equação funcional mostrada na Equação (I.5):
f P, T, V, n  0 . (I.5)
Formas específicas da Equação (I.5) são conhecidas como equações de estado. Assim, cada
substância se descreve por sua própria equação de estado. Desta forma, equações de estado podem ser
usadas para estimar propriedades e descrever o equilíbrio de fases de substâncias, além de se constituir
uma ferramenta poderosa na predição do comportamento complexo de misturas multicomponentes.
Muitas equações de estado têm sido propostas, e várias são de uso comum e com diferentes
aplicações. Conquanto, é consenso que as equações de estado mais precisas para gases a baixas e
moderadas pressões podem ser escritas através da expressão dada na Equação (I.6):

PV Bi
1  , (I.6)
i 1 V n 
i
nRT

em que os coeficientes Bi são denominados coeficientes virial, sendo dependentes da temperatura e


independentes da pressão para gases puros; e R é a constante universal dos gases. Valores da constante
universal dos gases em diferentes unidades e do segundo coeficiente virial (B1) para alguns gases estão
dispostos, respectivamente, na Tabela I.7 e na Tabela I.8.

Tabela I.7 – Valores da Constante Universal dos Gases.


Valor de R Unidade Valor de R Unidade
8,31447 J mol-1 K-1 0,082056 atm ℓ mol-1 K-1
8,31447 Pa m3 mol-1 K-1 1,9858 Btu lb-mol-1 ºR-1
1,9859 cal mol-1 K-1 10,7316 psi ft3 lb-mol ºR-1

Tabela I.8 – Coeficiente virial B1 para alguns gases puros.


B1 [10-3 L mol-1] B1 [10-3 L mol-1]
Gás puro Gás puro
T = 273 K T = 373 K T = 273 K T = 373 K
Argônio, Ar -21,7 -4,2 Kriptônio, Kr -62,9 -28,7
Metano, CH4 -53,6 -21,2 Nitrogênio, N2 -10,5 6,2
Gás carbônico, CO2 -142 -72,2 Neônio, Ne 10,4 12,3
Hidrogênio, H2 13,7 15,6 Oxigênio, O2 -22,0 -3,7
Hélio, He 12,0 11,3 Xenônio, Xe -153,7 -81,7
Fonte: Gray (1972); James e Lord (1992).

Hugo L. B. Buarque
16 Parte Um: Introdução

A Equação (I.6) é conhecida como Equação Virial e está bem fundamentada na Teoria Cinética
dos Gases.1. Ressalte-se também que o termo no primeiro membro desta equação é conhecido como
fator de compressibilidade e, muitas vezes, é representado pela letra Z.
De maneira geral, gases sob pressões moderadas requerem o uso da Equação (I.6) com dois ou
mais coeficientes virial não-nulos. Contudo, à medida que a pressão do gás é reduzida, os demais
termos do segundo membro da equação vão se tornando desprezíveis em relação ao termo unitário e,
dessa forma, em pressões baixas (até 200 kPa para a maioria dos gases), aqueles termos tendem a zero
e a equação de estado pode ser expressa através da Equação (I.7):
PV
1 (I.7)
nRT
A Equação (I.7) é amplamente conhecida como Equação de Clapeyron2 e expressa a Lei dos
Gases Ideais3. Contudo, quando o comportamento de um gás se afasta da idealidade, equações de
estado mais satisfatórias são obviamente requeridas.
Também, é válido mencionar neste momento um grupo de equações de estado semi-empíricas,
conhecidas como equações de estado cúbicas4. Tais equações, embora tenham pouca fundamentação
teórica, são largamente empregadas em cálculos de processos industriais pela sua simplicidade, haja
vista que apresentam, na grande maioria delas, apenas dois parâmetros ajustáveis, os quais procuram
contabilizar os desvios do comportamento ideal da substância.
A mais antiga equação de estado cúbica, ainda muito utilizada em aplicações mais simples ou de
cunho acadêmico, foi proposta por Johannes Diderik van der Waals (1837-1923), em 1873, e considera
dois efeitos negligenciados na Lei dos Gases Ideais: as forças intermoleculares de atração e repulsão e
o volume ocupado pelas moléculas. A equação de van der Waals é expressa na Equação (I.8):

P  a ~
 ~

V 2  V  b  RT (I.8)
~
em que V é o volume molar, V/n, do fluido; e a e b são coeficientes empíricos denominados
coeficientes de van der Waals, os quais dependem da substância considerada. A Tabela I.9 apresenta
~
os valores dos coeficientes de van der Waals para alguns gases. Ressalte-se que os termos a/ V ² e b na
equação contabilizam as interações intermoleculares e o volume das moléculas, respectivamente.

1
A Teoria Cinética dos Gases, cujos preceitos foram inicialmente propostos por Daniel Bernoulli (1700-1782), no início do
século XVIII, estabelece a conexão entre as descrições microscópicas e macroscópicas dos gases, incorporando conceitos
estatísticos à abordagem dada pela Mecânica Newtoniana.
2
Benoît Paul Émile Clapeyron (1799-1864) foi um engenheiro e físico francês que, dentre outras contribuições, combinou,
em 1834, as leis empíricas de R. Boyle (1627-1691) e E. Mariotte (1620-1684), e de J. A. C. Charles (1746-1823), e
J. L. Gay-Lussac (1746-1823), enunciando a lei dos gases ideais, e determinando também a Constante Universal dos Gases.
3
A Lei dos Gases Ideais ou Perfeitos, proposta por Clapeyron em 1834, assume que um dado gás hipotético é formado por
partículas pontuais (volume desprezível), sem interações entre si e cujos choques são perfeitamente elásticos.
4
O termo “equações de estado cúbicas” aplica-se a equações empíricas ou semi-empíricas que, quando expandidas, contêm
termos (e.g., volume molar) elevados à terceira potência.
Fenômenos de Transporte para Cursos Técnicos e Tecnológicos
Capítulo I: Definições e Princípios 17

Tabela I.9 – Coeficientes de van der Waals, a e b, para alguns gases puros.
a b a b
Gás puro Gás puro
[atm L2 mol-2] [10-2 L/mol] [atm L2 mol-2] [10-2 L/mol]
Argônio, Ar 1,363 3,219 Kriptônio, Kr 2,349 3,978
Metano, CH4 2,283 4,278 Nitrogênio, N2 1,408 3,913
Gás carbônico, CO2 3,640 4,267 Neônio, Ne 0,2135 1,709
Hidrogênio, H2 0,2476 2,661 Oxigênio, O2 1,378 3,183
Hélio, He 0,03457 2,370 Xenônio, Xe 4,250 5,105
Fonte: James e Lord (1992); Weast (1993).

Adicionalmente, outras equações de estado cúbicas podem ser encontradas em Poling et al.
(2001) e na literatura especializada. Outrossim, equações de estado totalmente empíricas ou
essencialmente teóricas também são muito empregadas no estudo do comportamento de fluidos.
As equações de estado empíricas são úteis na representação do comportamento de fluidos e, por
possuírem geralmente mais que cinco parâmetros ajustáveis, elas são muito precisas na estimativa de
propriedades termodinâmicas, tanto quanto aumenta a complexidade matemática do seu emprego.
Duas equações de estado empíricas bastante populares e precisas são: a Equação de Beattie-Bridgman
(BEATTIE, BRIDGEMAN, 1927), expressa na Equação (I.9), e a Equação de Benedict-Webb-Rubin
(BENEDICT et al., 1940), expressa na Equação (I.10).

RT  A1 T 3   ~  A  A  A 
P ~2 1  ~  V  A 2 1  ~3   ~ 4 1  ~5  (I.9)
 
V  V   V  V 2  V 

RT A RT  A 2  A 3 T 2 A 4 RT  A 5 A 5 A 6 A7 T2  A8   A8 
P ~  1 ~2  ~3  ~6   ~ 3  1  ~ 2   exp   ~ 2  (I.10)
V V V V V  V   V 
em que A1 a A5 na Equação (I.9) e A1 a A8 na Equação (I.10) são coeficientes empíricos determinados
a partir de um adequado conjunto de dados experimentais.
Equações de estado teóricas também podem ser eficientemente utilizadas nas situações para as
quais foram desenvolvidas com a vantagem de não necessitarem de muitos dados experimentais para
seu desenvolvimento. Em geral, estas equações baseiam-se em teorias de base molecular, tais como a
teoria da expansão virial ou da função distribuição.
A obtenção de equações de estado para líquidos é pouco incentivada, haja vista a maior
complexidade do estado líquido e o fato de ser relativamente mais fácil medir o volume de líquidos,
nas mais diversas condições de temperatura e pressão. Além disso, é pequena a influência destas
grandezas no volume de líquidos. Mencione-se que a Equação BWR pode ser adequadamente aplicada
ao estado líquido desde que o volume molar não seja muito inferior a dois terços do volume molar
crítico da substância considerada.

Hugo L. B. Buarque
18 Parte Um: Introdução

Exercício Resolvido I.4 – Estime o valor do volume molar do oxigênio a 273 K e a 0,75 atm
utilizando as seguintes equações de estado:

a) lei dos gases ideais b) equação virial c) equação de van der Waals

Compare também as estimativas obtidas com o valor experimental de 29,865 L/mol.

Resolução:

~ RT 0,082056  273 ~
a) Lei dos Gases Ideais: V    Vgi  29,868 L/mol .
P 0,75
~
PV B
b) Equação virial truncada no segundo coeficiente virial:  1  ~1
RT V
~ RT ~ RT ~ ~ ~
V2  V  B1  0  V 2  29,868 V  0,657096  0  Vvirial  29,890 L/mol .
P P
 a  ~
 
c) Equação de van der Waals:  P  ~ 2  V  b  RT
 V 
~  RT  ~ 2 a ~ a b ~ ~ ~
V3  b  V  V   0  V 3  29,900 V 2  1,837 V  0,05848  0 
 P  P P
~
VvdW  29,839 L/mol

Os desvios observados para as estimativas variaram de 0,010% a 0,087%. Tais resultados ainda
mostram que para gases elementares, sob baixas pressões, a Lei dos Gases Ideais pode ser a
mais adequada, haja vista que os coeficientes da Equação Virial e de van der Waals são
normalmente determinados numa ampla faixa de pressões, inclusive com dados obtidos sob
pressões mais elevadas.

Exercício Resolvido I.5 – Mostre que a Equação de van der Waals não pode ser expressa na
forma da Equação (I.3).

Resolução:

Tomando a Equação (I.5) e fazendo as devidas manipulações matemáticas, pode-se obter que:

P V a RT P b a b RT P V P Vb 1 - a RT a b RT
   1    1  
n RT V n RT V n 2 n RT n RT V n Vn V n2
~  - a RT a b RT 
Z  (1  b V) 1  1  ~  ~ 2 
 V V 

~ ~

Pode-se verificar que a Equação de van der Waals difere da Equação (I.3) pelo fator V V  b . 

Fenômenos de Transporte para Cursos Técnicos e Tecnológicos


Capítulo I: Definições e Princípios 19

PROBLEMAS.
1. Determine fatores para converter:
(a) ft-lbf para kWh (b) cm3 para gal (1 gal = 231 in.3) (c) Btu/lb-mol para J/mol
2. Muitas vezes, no bombeamento de água para os reservatórios de residências ou edifícios, o
funcionamento do conjunto motor-bomba não é contínuo. Nestes casos, a ABNT recomenda a
expressão a seguir:

D  0,586  t 0, 25  V
r
em que Dr é o diâmetro da tubulação de recalque, em metros; t é tempo de funcionamento diário,
 é a vazão, em m3/s.
em horas; e V

Verifique a consistência dimensional desta relação empírica.

Resposta: a equação não é dimensionalmente consistente.


3. Estime a pressão a qual está submetido 0,61 m3/kmol de argônio a 300 K, utilizando as seguintes
equações de estado, e discuta os resultados obtidos sabendo que o valor experimental da pressão é
igual a 4000 kPa:
a) Lei do Gás Ideal; b) Equação de van der Waals; c) Equação de Beattie-Bridgeman
Os coeficientes da Equação de Beattie-Bridgeman para o argônio são: A1 = 59900 m3 K3 kmol-1;
A2 = 0,03931 m3/kmol; A3 = 0; A4 = 30,7802 kPa m3 kmol-2; A5 = 0,02328 m3/kmol.
4. A Equação de Benedict-Webb-Rubin (BWR) é uma conhecida equação de estado com oito
parâmetros ajustáveis e, por isso, muito precisa na predição de propriedades termodinâmicas de
fluidos.
(a) Mostre que esta equação pode ser escrita na forma da Equação (I.3), e derive equações para os
coeficientes virial B1 a B8 em termos das dos coeficientes empíricos da Equação (I.7).
(b) As constantes BWR para o isobutano são: A1 = 1,3754x10-1 L/mol; A2 = 10,2326 atm L2 mol-2;
A3 = 8,499x10-1 atm L2 K2 mol-2; A4 = 4,2435x10-2 L2/mol2; A5 = 1,9376 atm L3 mol-3;
A6 = 1,074x10 L /mol ; A7 = 2,86x10 atm L K mol ; A8 = 3,4x10 L /mol2. Determine os
-3 3 3 5 3 2 -3 -2 2

coeficientes virial B1 a B8 e estime o fator de compressibilidade para o isobutano numa


temperatura de 300 K e um volume molar de 5,0 L mol-1.

Resposta:

B B B B B B B B A A
(a) Z  1  ~1  ~ 22  ~ 33  ~ 44  ~ 55  ~ 66  ~ 77  ~ 88   , em que B1  A1  2  33 ;
V V V V V V V V RT RT
2
A5 A7 A5A6 A7 A8 A 7 A 83
B2  A 4   ; B3  0 ; B 4  0 ; B5  ; B6   ; B 7  0 ; B8  .
RT RT 3 RT 2RT 3 3RT 3

(b) B1  0,27814 L mol ; B 2  0,09281 L2 mol 2 ; B 3  0 ; B 4  0 ; B5  8,4535  10 -5 L5 mol 5 ;


B6  7,4614  10 -5 L6 mol 6 ; B 7  0 ; B8  1,6912  10 -6 L8 mol 8 ; Z = 0,9480.

Hugo L. B. Buarque
CAPÍTULO II

PROPRIEDADES E ESCOAMENTO DOS


FLUIDOS
Não há só um método para estudar as coisas.
Aristóteles (384 a.C. – 322 a.C.)

PRINCIPAIS PROPRIEDADES DOS FLUIDOS.


O conhecimento de propriedades de fluidos é essencial para o projeto e operação de processos,
equipamentos e produtos industriais. Contudo, quando um fluido está em movimento, as quantidades
associadas com o estado e com o movimento do fluido variarão ponto a ponto. Além disso, as
propriedades fluídicas dependem da natureza das moléculas do fluido, bem como das condições sob as
quais ele está submetido. Por este motivo, é importante que conceitos e definições relacionadas a
algumas das principais propriedades dos fluidos sejam abordadas neste capítulo.

Massa Específica.

A massa específica,  , de um fluido, também conhecida como densidade absoluta, é uma


propriedade intensiva1 definida como a massa por unidade de volume desse fluido. Assim, pela
definição, a massa específica média,  , de um fluido pode ser equacionada como apresentado na
Equação (II.1):

m
,  (II.1)
V
onde Δm é a massa do fluido contido num dado volume ΔV.
Sob condições de escoamento, particularmente em gases, a densidade absoluta pode variar muito
através do fluido. Num ponto particular do fluido a massa específica pode ser definida como mostrado
na Equação (II.2):

m
  lim
, (II.2)
V V V

em que δV é o menor volume circundando o ponto considerado para o qual a média estatística são
significativas. Este limite é ilustrado na figura a seguir.

1
Uma propriedade intensiva independe da quantidade de matéria que se considera na sua medição, diferentemente de uma
propriedade extensiva, a qual depende.
22 Parte Um: Introdução

Figura II.1 – Massa específica num ponto de fluido: limite entre o domínio molecular e o contínuo.

Fonte: O autor.

O conceito da massa específica em um ponto matemático, isto é, em ΔV = 0, é ficcional. Porém,


a definição dada na Equação (II.2) é extremamente útil, já que nos permite descrever o escoamento do
fluido em termos de funções contínuas.
A densidade absoluta de um fluido pode ser obtida a partir da sua equação de estado, conforme
relação expressa na Equação (II.3):

PM
 , (II.3)
Z RT

em que M é a massa molar do fluido. Massas específicas de fluidos podem ser obtidas a partir de
tabelas e cartas termodinâmicas disponíveis em literatura específica. Complementarmente, na
Tabela II.1 estão dispostos as massas específicas de alguns líquidos e gases.

Tabela II.1 – Massas específicas de líquidos (20oC e 1 atm) e gases (0oC e 1 atm).
Líquido  [kg/m3] Líquido  [kg/m3] Gás  [kg/m3]
Água 998 Óleo de soja 930 a 980 Ar atmosférico 1,29
Acetona 790 Tolueno 870 Hidrogênio 0,09
Álcool etílico 790 n-Hexano 660 Metano 0,71
Amônia 610 Mercúrio 13.546 Oxigênio 1,43

Ainda, é importante destacar que, apesar das unidades kg/m3, g/mℓ e lb/ft3 serem as mais usadas,
outras unidades, caracterizando as densidades absolutas em graus, têm sido comumente utilizadas em
certos setores industriais, como nas indústrias do petróleo e nas usinas de álcool; são exemplos típicos
destas unidades as escalas ºAPI e Beaumé. As relações de tais unidades com a massa específica
previamente definida são apresentadas na Equação (II.4) e na Equação (II.5), respectivamente.
140 145
º Be   130 , para  4 º C < 1 g/mℓ; º Be  145  4 º C , para  4 º C > 1 g/mℓ; (II.4)
 4ºC

141,5
º API  4 º C  131,5 . (II.5)

em que  4 º C é a massa específica do fluido a 4ºC.
Fenômenos de Transporte para Cursos Técnicos e Tecnológicos
Capítulo II: Propriedades e Escoamento dos Fluidos 23

Densidade Relativa.

A densidade relativa, d, de um fluido é a razão entre a massa específica,  , deste fluido, e a


massa específica,   , de outro fluido tomado como referência:

d . (II.6)

A água, cuja massa específica é igual a 1.000 kg/m3 à pressão normal (101.325 Pa) e temperatura
de 4oC, é bastante utilizada como fluido de referência para o cálculo das densidades relativas de
líquidos; enquanto que o hidrogênio (H2) e o ar atmosférico (mistura dos gases N2, O2, H2O, CO2 etc.)
são os fluidos de referência mais comumente utilizados no cálculo de densidades relativas de gases.
Como se adota a mesma unidade para ambas as massas específicas, ρ e ρ*, a densidade relativa é
uma grandeza adimensional (desprovida de unidade). Em outras palavras, a densidade relativa de um
fluido tem o mesmo valor numérico em qualquer sistema de unidades.

Volume Específico.

O volume específico, Vs, é definido como o inverso da massa específica. Tem-se então que:

1
Vs  . (II.7)

Peso Específico.

O peso específico,  , de um fluido é definido como o peso da unidade de volume desse fluido. É
variável com a posição, já que depende da aceleração da gravidade, g. Da definição,

  g . (II.8)

Exercício Resolvido II.1 – Certo fluido, encaminhado ao laboratório, foi colocado no interior
de um balão volumétrico com capacidade para conter 250 mililitros e levado a uma balança.
A massa medida (balão e fluido) foi igual a 3,474 kg. Sabendo que a massa do balão vazio é
igual a 86 gramas e a aceleração da gravidade igual a 9,81 m/s2, determine qual das
propriedades físicas a seguir aplica-se ao fluido em questão.

a) ρ=1,35 kg/m3 b) γ=132,9 N/m3 c) d=13,55 d) Vs=7,524x10-3 m3/N

Resolução:


3,474  0,086  13.552 kg / m 3 d
13.552
 13,55
250 10 6 1.000

1
  13.552 9,81  132,9 kN / m 3 Vs   7,379  10 5 m 3 / kg
13.552

A opção correta é a opção (c).

Hugo L. B. Buarque
24 Parte Um: Introdução

Viscosidade Absoluta.

Na Figura II.2 um corpo fluídico é colocado entre duas placas paralelas bem grandes de modo
que as perturbações nas bordas possam ser desprezadas. As placas também estão bem próximas,
distando entre si da distância dz. A placa inferior é fixa, e uma força muito pequena é aplicada na placa
superior, a qual exerce uma tensão de cisalhamento zx na substância entre as placas. Quando a força
aplicada movimenta a placa superior com uma velocidade (não nula) constante, dvx, não importando
quão pequena seja a intensidade desta força, pode-se concluir que a substância entre as duas placas é
um fluido. Vale destacar que o fluido em contato com a superfície sólida tem a mesma velocidade que
esta superfície, isto é, não há escorregamento na superfície. Este é um fato experimental.
Figura II.2 – Fluido deformando (escoando) entre duas placas planas e paralelas.

Fonte: O autor.

A experiência também mostra que, mantendo-se outras grandezas constantes, para muitos
fluidos, uma tensão de cisalhamento aplicada,  zx , será proporcional à taxa de cisalhamento ou
deformação, dvx/dz, do fluido. Esta relação pode ser equacionada, para uma deformação numa única
direção x, como:
dv x
,  zx   (II.9)
dz
em que o fator de proporcionalidade  é por definição a viscosidade absoluta do fluido, e a
Equação (II.9), para uma viscosidade constante com a velocidade de deformação, é denominada como
lei de Newton da Viscosidade.
Assim, a viscosidade absoluta ou dinâmica,  , de um fluido é a propriedade que indica a
resistência que este fluido oferece ao escoamento. Quanto maior a resistência ao cisalhamento (menor
fluidez) maior será a viscosidade. Ressalte-se que é bastante usual a apresentação de dados de
viscosidade absoluta em poise ou centipoise, cujo símbolo é cP.
A viscosidade de gases é oriunda dos choques, principalmente, e das fracas interações
intermoleculares durante o escoamento. Nestes choques há transferência de quantidade de movimento
das espécies mais rápidas para as mais lentas, como também para o contorno sólido.
Consequentemente, o atrito entre as moléculas do gás e destas com uma parede sólida ao longo do
escoamento provoca a dissipação de energia do fluido. Assim, a viscosidade dos gases deverá
aumentar à medida que a temperatura aumenta, visto que isto provocará o aumento na frequência dos
choques intermoleculares.

Fenômenos de Transporte para Cursos Técnicos e Tecnológicos


Capítulo II: Propriedades e Escoamento dos Fluidos 25

A Teoria Cinética dos Gases reforça este conceito, exprimindo a viscosidade de um gás perfeito
através da Equação (II.10).
 
     M T  2 , (II.10)

em que  é o diâmetro molecular e todas as unidades sendo tomadas no SI. Para gases reais tal
conceito não se aplica, haja vista que a viscosidade a altas pressões é também dependente da pressão.
A viscosidade de líquidos é muito superior à dos gases, como se vê na Tabela II.3, haja vista que
naquele fluido a fase contínua de moléculas compactadas está sempre sujeita à ação das forças
intermoleculares. A viscosidade dos líquidos diminui rapidamente á medida que a temperatura
aumenta, visto que este a dilatação deste tipo de fluido resulta no afastamento das moléculas, com a
consequente diminuição das interações intermoleculares existentes, minimizando o atrito com as
moléculas do líquido.

Tabela II.2 – Viscosidades de líquidos e gases a 20ºC e 1 atm.


Líquido  [cP] Líquido  [cP] Gás  [cP]
Água 1,01 Azeite de oliva 0,84 Ar atmosférico 0,0181
Álcool etílico 1,21 Óleo de rícino 9,86 Gás Carbônico 0,0143
Éter etílico 1,24 Querosene 2,49 Cloro 0,0135
Mercúrio 1,54 Glicerina 830,00 Dióxido de enxofre 0,0123

Viscosidade Cinemática.

No estudo da Mecânica dos Fluidos é bastante comum ocorrer a razão entre a viscosidade
absoluta,  , e a massa específica,  , na dedução de relações matemáticas que modelem os sistemas
estudados. A esta razão, expressa a seguir, dá-se o nome de viscosidade cinemática ou difusividade de
quantidade de movimento,  ,
   . (II.11)
De modo análogo à viscosidade absoluta, é bastante usual a apresentação de dados de
viscosidade cinemática em unidades do sistema CGS, o stokes. Outras unidades também são usadas,
sendo ainda comuns a saybolt, a engler e a redwood, conforme o tipo de equipamento (viscosímetro)
utilizado na medida desta propriedade.

Exercício Resolvido II.2 – Uma tensão de cisalhamento de 0,4 N/m2 causa uma velocidade de
deformação de angular de 1 rad/s num fluido newtoniano cuja massa específica é de
890 kg/m3. Qual é a viscosidade absoluta, em cP, e a viscosidade cinemática do fluido em
cSt?
Resolução:
 0,4 1.000 cP
   0,4 kg  m 1  s 1     400 cP
d dt  1 kg  m 1  s 1
 4 g  cm 1  s 1 100 cSt
      449 cSt
 0,89 g  cm 3 1 cm 2 / s

Hugo L. B. Buarque
26 Parte Um: Introdução

Coeficiente de Compressibilidade.

O coeficiente de compressibilidade de um fluido, , pode ser definido com o módulo do


quociente entre a variação relativa de volume deste fluido, dV/V, e a variação de pressão, dP, que
ocasionou aquela variação. Da definição obtém-se:
dV V  .
 (II.12)
dP
Os gases, em geral, possuem elevados valores de coeficiente de compressibilidade, enquanto que
os líquidos têm, na sua grande maioria, valores comparativamente bem menores para esta propriedade,
isto é, estes fluidos não sofrem grande variação de volume com o aumento da pressão.
A unidade SI do coeficiente de compressibilidade é o m2/N. Vale ressaltar que também é usual
expressar a compressibilidade de um fluido em termos do inverso do coeficiente de compressibilidade,
grandeza denominada módulo de elasticidade volumétrica.

Calor Molar de Vaporização e Sublimação.

O calor ou entalpia molar de vaporização, Qvap, é a quantidade de calor absorvida na


transformação de um mol de uma substância do estado líquido para o vapor, quando este líquido se
encontra em equilíbrio com o seu próprio vapor, sob pressão atmosférica. Como a vaporização é o
processo oposto ao da condensação, o termo calor molar de condensação também pode ser usado de
maneira equivalente.
A transformação direta do estado sólido para o vapor ou do estado gasoso para o sólido é
chamada sublimação e a quantidade de calor absorvida ou liberada, respectivamente, para um mol de
material nessa transformação é denominada calor molar de sublimação, Qsub. A unidade SI dos calores
de vaporização ou de sublimação é o J/mol (kg.m2.s-2.mol-1).

Pressão de Vapor.

Se certa quantidade de um líquido puro for colocada num recipiente evacuado, cujo volume é
maior que o do líquido, uma porção de líquido irá evaporar de modo a preencher com vapor o volume
restante do recipiente. Desde que permaneça algum líquido depois que o equilíbrio se estabeleceu, a
pressão do vapor no recipiente é uma função apenas da temperatura do sistema. A pressão
desenvolvida é a pressão de vapor do líquido, Pv, que é uma propriedade característica de cada líquido.
A existência de uma pressão de vapor e o seu aumento com a temperatura são conseqüências da
distribuição de energia das moléculas presentes no sistema. Isto porque mesmo a temperaturas baixas,
uma fração das moléculas oriundas de uma fase condensada tem, em virtude da distribuição de
energia, energia em excesso além da energia de coesão desta fase, formando assim uma fase vapor.
Como a fração de moléculas com energia em excesso aumenta rapidamente com o aumento da
temperatura, tem-se um rápido aumento da pressão de vapor com o aumento da temperatura.
Fenômenos de Transporte para Cursos Técnicos e Tecnológicos
Capítulo II: Propriedades e Escoamento dos Fluidos 27

Isto implica que, numa dada temperatura, um líquido com maior energia de coesão (i.e., um
grande calor molar de vaporização) terá uma menor pressão de vapor que um líquido com uma
pequena energia de coesão. A equação de Clausius-Clapeyron, expressa a seguir, é bastante utilizada
para relacionar a pressão de vapor, a temperatura e o calor de vaporização de substâncias puras.
Q vap

Pv  p  e RT
(II.13)
em que T é a temperatura absoluta do sistema, R é a constante universal dos gases e p é uma outra
constante dependente do sistema.
Vale ainda destacar que a temperatura na qual a pressão de vapor de um líquido é igual a 1 atm é
o ponto normal de ebulição do líquido. Alguns sólidos suficientemente voláteis também podem
produzir pressões de vapor iguais a 1 atm, quando então sublimam. A temperatura na qual isso ocorre
é chamada ponto normal de sublimação. O ponto de ebulição e o ponto de sublimação dependem da
pressão imposta à substância.

Calor Específico.

O calor específico, cp, de uma substância é a quantidade de calor que deve ser fornecida para
uma unidade de massa dessa substância de modo que sua temperatura aumente em um grau. Para
definir completamente o calor específico, deve-se especificar as condições segundo as quais o calor é
transferido para o sistema. No SI, a unidade do calor específico é o J.kg-1.K-1. É bastante usual
encontrar representações de calores específicos com outras unidades, tais como a kcal.kg-1.oC-1 ou
Btu.lb-1.oF-1.

Capacidade Térmica.

A capacidade térmica, C, de um corpo é o quociente entre a quantidade de calor fornecida ao


corpo e o correspondente acréscimo de temperatura. No SI, a unidade de capacidade térmica é o J/K.

Condutividade Térmica.

A condutividade térmica, k, é uma propriedade dos materiais que indica a quantidade de calor
que fluirá através de uma área unitária se o gradiente de temperatura for unitário. Ela é função,
geralmente, da pressão e temperatura do sistema.

Hugo L. B. Buarque
28 Parte Um: Introdução

Exercício Resolvido II.3 – Para o zinco metálico líquido temos os seguintes dados de pressão
de vapor:
pv, mmHg 10 40 100 400
o
T, C 593 673 736 844

Utilizando a equação de Clausius-Clapeyron e lançando os dados adequadamente num


gráfico, determine o calor de vaporização do zinco e o seu ponto normal de ebulição.

Resolução:

Linearizando a equação de Clausius-Clapeyron, tem-se: Ln Pv  Ln P  Q vap / RT

Assim, tomando-se as temperaturas absolutas, recalculando os dados experimentais para se


adequarem à equação linearizada e plotando num diagrama x-y (Figura II.3):

Ln pv, mmHg-1 2,3 3,7 4,6 6,0


-1 -3 -3 -4
1/T, K 1,15x10 1,06x10 9,91x10 8,95x10-4

Figura II.3 – Diagrama x-y plotado neste exercício.


10

6
Ln (Pv)

0
-4 -4 -3 -3 -3
8.0x10 9.0x10 1.0x10 1.1x10 1.2x10
-1
1/T (K )

Fonte: O autor
A equação da reta sugerida para representar o conjunto de dados a partir da regressão aos
dados experimentais pode ser:
1
Ln Pv  18,693  14.200,23  ,
T

 p  e18,693  131.300.612 mmHg


e desta equação, tem-se que:   .
Q vap  14.200,23  R  28,2 kcal / mol

O ponto normal de ebulição (a 760 mmHg) é calculado como segue:

760  131.300.612  e 28.215/ 1,987T   T  1.177,5 K

Resumindo, tem-se que: Q vap  28,2 kcal / mol e Tb,n  904,5o C

Fenômenos de Transporte para Cursos Técnicos e Tecnológicos


Capítulo II: Propriedades e Escoamento dos Fluidos 29

Tensão Superficial.

Na interface entre um líquido e um gás, ou entre dois líquidos imiscíveis, parece que se forma
uma película ou camada especial no líquido, aparentemente devido à atração das moléculas abaixo da
superfície. É uma experiência simples colocar uma pequena agulha na superfície da água em repouso e
observar que a mesma é sustentada pela película. É também fácil notar que as gotas de chuva formam
pequenas pérolas de água na superfície de um carro recém-lavado e que pequenos grãos de areia
molhados permanecem unidos, mas que são facilmente afastados quando secos ou completamente
submersos em água. Tais fenômenos são provocados por uma propriedade nos líquidos, denominada
tensão superficial ().
Num líquido, cada molécula se move sempre sobre a influência das moléculas vizinhas. Uma
dada molécula dentro do líquido está completamente cercada por outras que a atraem. Entretanto, uma
molécula na superfície não está completamente cercada e interage apenas com as moléculas abaixo e
ao lado. Assim, as moléculas na superfície sentem uma atração na direção do interior do líquido. Para
uma molécula chegar à superfície ela deve superar esta atração. Noutras palavras, a sua energia
potencial deve aumentar, ou seja, deve-se realizar trabalho para levá-la até a superfície. Portanto,
tornar a superfície de um líquido maior requer um gasto de energia e a quantidade de energia
necessária por área superficial é a tensão superficial do líquido.
Percebe-se então que a magnitude da tensão superficial de um líquido depende das forças de
atração entre as moléculas deste líquido. Quando as forças de atração são grandes a tensão superficial é
grande. A tensão superficial também é uma função da temperatura do líquido. Aumentando-se a
temperatura diminui a eficiência das forças de atração moleculares, visto que as moléculas estarão
mais agitadas, de forma que a tensão superficial diminuirá. Na Tabela II.3 estão apresentados alguns
valores de tensão superficial de líquidos a 20oC.

Tabela II.3 – Tensão superficial de líquidos a 20oC.


  
Líquido Líquido Líquido
[mN/m] [mN/m] [mN/m]
Acetato de etila 23,9 Acetona 23,7 Água 72,7
Álcool metílico 22,6 Álcool etílico 22,7 Benzeno 28,8
Éter etílico 17,0 n-Hexano 18,4 Tetracloreto de carbono 26,9
Tolueno 28,5 Mercúrio 465,0 Glicerina 63,1

Por causa da tensão superficial, a superfície livre de um líquido tende sempre a se contrair, já que
o estado de menor energia (maior estabilidade) para um dado volume de líquido ocorre quando sua
área superficial é mínima. Isto corresponde ao menor número de moléculas superficiais com alta
energia.

Hugo L. B. Buarque
30 Parte Um: Introdução

Outro fenômeno relacionado à tensão superficial é a capilaridade, Figura II.4 – Elevação de


que ocorre quando um líquido se eleva num tubo capilar imerso um líquido em tubo capilar.

parcialmente neste liquido, como ilustrado na Figura II.4. A elevação


capilar depende da tensão superficial e da relação entre a adesão líquido-
sólido e a coesão do líquido. Um líquido que molha o sólido (ângulo de
contato θ < π/2) tem uma adesão maior que a coesão, e nesse caso,
observa-se que devido à tensão superficial o líquido se eleva, de uma Fonte: O autor.

altura h, no interior do tubo capilar, de diâmetro d, que está parcialmente imerso no líquido. Para
líquidos que não molham o sólido, como o mercúrio, a tensão superficial causa um rebaixamento do
menisco num tubo capilar.

ESFORÇOS NOS FLUIDOS

Forças de Corpo e de Superfície.

De uma maneira geral, as forças podem ser classificadas em duas classes:


 Forças de corpo ou de campo – aquelas que se manifestam através da interação com um
campo e atuam sem a necessidade de um contato entre as superfícies dos corpos. São
exemplos: o peso, devido ao campo gravitacional; e a força eletromagnética, devido a um
campo eletromagnético.
 Forças de superfície ou de contato – aquelas que atuam sobre um sistema através de contato
com a fronteira deste. São exemplos: as forças de atrito; as forças devidas à pressão; e as
forças devidas às tensões cisalhantes nos escoamentos.
As forças de corpo são proporcionais ao volume V dos corpos, enquanto que as forças de
superfície são proporcionais à área A da superfície sobre a qual atuam. No fluido em repouso não há
esforços tangenciais.

Esforços de Superfície.

Nos fluidos, as forças ou esforços de superfície se desenvolvem pelo contato físico entre as
partículas fluidas ou entre estas e o sólido em contato. Estas forças se classificam em: força de tração,
força de compressão e força de cisalhamento. A tração é extremamente pequena nos fluidos, podendo
ser desprezada: os líquidos resistem à tração de apenas 40 N/m2, que é cerca de 10 milhões de vezes
menor que a do aço. A compressão é reduzida nos líquidos, embora seja elevada nos gases.

A resultante dos esforços de superfície, F , tendo uma direção qualquer em relação à superfície
elementar A, pode ser decomposta numa componente normal à superfície (esforço de compressão) e
numa componente tangencial à superfície (esforço cisalhante).

Fenômenos de Transporte para Cursos Técnicos e Tecnológicos


Capítulo II: Propriedades e Escoamento dos Fluidos 31

Tensão em um ponto.

O conceito de tensão envolve uma força de contato e a área da superfície na qual ela atua. Para
se especificar as componentes da tensão, que têm a dimensão de força por unidade de área,
necessitamos da indicação da direção da componente da força e, também, da indicação da orientação
da superfície onde atua a tensão (um elemento de área tem orientação dada pelo vetor unitário normal
à superfície). As componentes da tensão atuando na direção i,  ij , sobre o elemento infinitesimal de

área Aj circunscrevendo um dado ponto, podem ser definidas como:


Fi
 ji  lim . (II.14)
A j 0 A j

onde Fj é a componente da força F atuando sobre o ponto na direção i. Nesta notação, se os índices
forem iguais (i = j), tem-se uma componente de tensão normal ou de compressão, enquanto se os
índices forem distintos (i  j), tem-se uma componente de tensão tangencial (tensão de cisalhamento).

Para um sistema de coordenadas cartesiano, a tensão em um ponto, T , pode ser especificada
pelas nove componentes (ver Figura II.5) da seguinte matriz, conhecida como tensor tensão:

  xx  xy  xz  Figura II.5 – Componentes da


  tensão num elemento de fluido.
T   yx  yy  yz  . (II.15)
 zx  zy  zz 

Se um fluido estático exerce uma pressão contra a sua
vizinhança (e.g., paredes de um recipiente), então sua vizinhança
exercerá uma reação sobre o fluido que será de compressão, e assim,
 
P  ii  i . (II.16)
Fonte: O autor.
REOLOGIA DE FLUIDOS.
O termo Reologia foi inventado pelo professor Bingham para definir o “estudo do escoamento
ou deformação da matéria”. Esta definição foi aceita quando a American Society of Rheology foi
fundada em 1929. O conhecimento de Reologia é essencial, nos dias de hoje, nos mais variados
campos envolvendo profissionais atuantes em indústrias de tintas, detergentes, óleos, plásticos, etc.,
bem como profissionais acadêmicos com interesse em diversas áreas. A Reologia tem como objetivo
predizer a força necessária para causar uma dada deformação ou escoamento em um corpo, ou então,
predizer a deformação ou escoamento resultante da aplicação de um dado sistema de forças em um
corpo. Dessa maneira, a Reologia nos permite analisar quantitativamente o comportamento de um
fluido em interação com um sistema de processamento, através da formulação e resolução de equações
que descrevem o processo.

Hugo L. B. Buarque
32 Parte Um: Introdução

Fluidos Newtonianos.

De maneira geral, a partir de um estudo reológico, os fluidos podem ser classificados em fluidos
newtonianos e fluidos não newtonianos. No fluido newtoniano existe uma relação linear entre o valor
da tensão de cisalhamento aplicada e a taxa de deformação resultante e assim, a viscosidade tem valor
constante1 no sistema, dependendo somente da natureza do fluido.
Figura II.6 – Classificação
reológica de fluidos.
Fluidos Não Newtonianos.

Nos fluidos não newtonianos a relação entre a tensão cisalhante e a


taxa de cisalhamento é não linear. O tipo de relação não linear é utilizado
para classificar os diversos tipos de fluidos não newtonianos. A
Figura II.6 ilustra essa relação para fluidos não newtonianos. Para tais
fluidos, o quociente entre a tensão cisalhante e a taxa de deformação é
denominado viscosidade aparente. Fonte: O autor.

Enquanto nos fluidos newtonianos, um valor de viscosidade caracteriza o fluido, para o não
newtoniano, o valor desta grandeza varia com a força aplicada produzindo diferentes tipos de
comportamento em função da tensão cisalhante. As curvas da tensão de cisalhamento como função da
taxa de deformação para alguns deste tipos são mostradas na figura ao lado.
Quando um aumento da tensão aplicada diminui a fluidez do sistema, diminuindo a viscosidade
do fluido independentemente do tempo de surgimento da força, ter-se-á um fluido denominado
pseudoplástico. Ao cessar a causa da deformação, o fluido volta a ter a viscosidade aparente inicial. No
caso oposto, quando um fluido sob agitação aumenta sua resistência ao movimento por efeito de uma
força uniforme aplicada ao fluido, voltando à viscosidade aparente inicial ao cessar a força aplicada,
independente do tempo de aplicação da força, tal fluido é denominado fluido dilatante.
Em outros casos, nos quais os efeitos produzidos pela aplicação da força externa de deformação
perduram parcialmente quando cessa a força aplicada sobre o fluido, isto é, o fluido demora um tempo
maior ao de aplicação da força para retornar ao seu estado inicial de viscosidade aparente, ele é
denominado fluido não newtoniano dependente do tempo, podendo ser classificado como fluido
tixotrópico ou reopético.
Algumas espécies não deformam sob a ação de pequenas forças externas, sendo, portanto,
semelhantes a um sólido que pode escorrer quando é tencionado, exibindo plasticidade. Estas espécies
somente são postas em movimento quando a tensão cisalhante aplicada excede um determinado valor
o. Embora tais espécies não se enquadrem estritamente na definição de fluido, muitos autores as
consideram fluidos plásticos, denominando-as fluidos de Bingham. São exemplos de fluidos
Binghamianos o purê de batata, a mostarda, o catchup e o chocolate.

Fenômenos de Transporte para Cursos Técnicos e Tecnológicos


Capítulo II: Propriedades e Escoamento dos Fluidos 33

Fluidos Pseudoplástico e Dilatantes.

O efeito pseudoplástico é um dos mais encontrados em fluidos não newtonianos e caracteriza-se,


em linhas gerais, pela diminuição da viscosidade com o aumento da taxa de cisalhamento em
escoamentos cisalhantes estacionários. Dá-se normalmente de maneira que se possa caracterizar
matematicamente como não linear a relação entre as grandezas anteriores. Tal efeito pode estar
acompanhado por outros fenômenos como certa elasticidade do fluido. Muitos fluidos biológicos
exibem este efeito como, por exemplo, o sangue que apresenta diversos graus de pseudoplasticidade de
acordo com a geometria em que esteja escoando e com a sua composição, basicamente, protéica.
O efeito contrário à pseudoplasticidade, muito raramente encontrado é denominado dilatância.
Para os fluidos dilatantes, observa-se o aumento da viscosidade com o aumento da taxa de deformação
em escoamentos estacionários. Para os fluidos pseudoplásticos e dilatantes, existe uma faixa muito
grande de taxas de cisalhamento para as quais as curvas são linhas retas, sendo conveniente descrever
seu comportamento pela seguinte expressão:
n
 dv 
 zx     x  (II.17)
 dz 
em que a n é frequentemente chamado de índice de comportamento do escoamento e K é o índice de
consistência.
A Eq. (II.12) não se aplica a trabalhos precisos sobre uma grande faixa de dux/dz; entretanto, é de
grande utilidade para muitas aplicações em engenharia. Para fluidos newtonianos, os quais incluem
todos os gases e a maioria dos líquidos de baixos pesos moleculares, n é unitário e K é desta maneira,
igual a viscosidade. Quando n é menor que a unidade, o fluido é pseudoplástico; quando n é maior que
a unidade o fluido é dito dilatante.

Fluidos Tixotrópicos e Reopéticos.

Fluidos dependentes do tempo são aqueles para os quais rearranjos estruturais ocorrem durante a
deformação do fluido. Como resultado, a tensão cisalhante varia com o tempo.
Fluidos tixotrópicos, tais como a maionese, fluidos de perfuração, e algumas tintas, exibem, para
uma velocidade de deformação constante, uma diminuição da tensão de cisalhamento com o tempo. O
tixotropismo pode ser atribuído a ligações de hidrogênio entre micelas coloidais rompidas pela
agitação e que voltam a se formar no sistema em repouso.
O comportamento reopético é o oposto do tixotrópico, e assim, a tensão cisalhante aumenta com
o tempo em uma taxa de deformação constante. Tal comportamento pode ser observado em sóis de
bentonita, sóis de pentóxido de vanádio, em suspensões de sulfato de cálcio em água, bem como em
algumas soluções de poliéster.

1
Valor constante com relação à taxa de cisalhamento.
Hugo L. B. Buarque
34 Parte Um: Introdução

TIPOS DE FLUIDOS.
Além da classificação óbvia dos fluidos, quanto ao seu estado de agregação: em líquidos e gases
(ou vapores), e também quanto ao seu comportamento reológico: fluidos newtonianos e não
newtonianos, é oportuno conceituar outros tipos de fluidos reais e idealizados: fluidos viscosos e não
viscosos; fluidos compressíveis e não compressíveis; e fluidos ideais ou perfeitos.

Fluidos Viscosos e Não Viscosos.

Todos os fluidos possuem viscosidade não nula (fluidos viscosos) e, consequentemente, os


escoamentos de fluidos viscosos são de grande importância no estudo da Mecânica dos Fluidos dos
meios contínuos. Entretanto, para fins de simplificação, é bastante comum analisar o escoamento de
um fluido, admitindo-se a hipótese deste fluido ter viscosidade nula (fluido não viscoso), chegando-se
muitas vezes nesta análise a resultados satisfatórios. Embora tal fluido realmente não exista, alguns
gases com viscosidades muito pequenas podem ser adequadamente tratados como não viscosos.

Fluidos Ideais e Fluidos Reais.

A hipótese do fluido ideal ou perfeito estabelece que: a pressão e a velocidade, em um ponto


qualquer da corrente fluida, não variam com o tempo; a viscosidade do fluido é nula (fluido não
viscoso); a pressão atua na direção normal à superfície; nenhum trabalho é requerido para modificar a
forma do fluido. Vale destacar que o fluido ideal não existe na natureza. No entanto, para facilitar os
estudos da cinemática dos fluidos, esta hipótese é normalmente adotada.
O fluido real, como o próprio nome diz, é aquele encontrado nas aplicações práticas, tendo as
seguintes características: geralmente as partículas fluidas deslocam-se segundo trajetórias curvilíneas e
irregulares; entrecruzam-se de tal modo que é impossível identificar suas trajetórias; o fluido é viscoso;
e a distribuição das pressões não seguem as leis da Fluidoestática (ver Capítulo III).

DEFINIÇÃO DE ESCOAMENTO E A CINEMÁTICA DOS FLUIDOS.


O cisalhamento (esforço cortante) deforma o fluido, fazendo com este escoe, ou seja, mude de
forma facilmente. Deste modo, pode-se definir escoamento com a fácil mudança de forma do fluido
sob a ação do esforço tangencial. É a chamada fluidez. O escoamento orientado do fluido, isto é, seu
deslocamento com direção e sentido bem determinados, é denominado corrente fluida.
A cinemática dos Fluidos é a parte da Mecânica dos Fluidos que estuda o escoamento dos
líquidos e gases sem considerar suas causas.

Fenômenos de Transporte para Cursos Técnicos e Tecnológicos


Capítulo II: Propriedades e Escoamento dos Fluidos 35

MÉTODO DE LAGRANGE E MÉTODO DE EULER.

O Método de Lagrange.

Um dos métodos de estudo na Cinemática dos Fluidos é o de Lagrange, que descreve o


movimento de cada partícula acompanhando-a na trajetória total, e representando através de equações,
num dado instante, a sua velocidade e demais características com relação a uma origem arbitrária. O
observador desloca-se, simultaneamente, com a partícula. Para as partículas fluidas as trajetórias serão
linhas, havendo uma correspondência biunívoca entre as partículas e as trajetórias, isto é, cada
partícula corresponde a uma trajetória e vice-versa. A posição de cada partícula é perfeitamente
determinada em cada instante.
O método de Lagrange é bastante simples quanto à descrição do movimento das partículas, mas
apresenta grandes dificuldades nas aplicações práticas. Além disso, na maioria dos casos, não interessa
o movimento individual da partícula, mas sim o comportamento do conjunto de partículas no processo
do escoamento.

O Método de Euler.

Outro método de estudo na Cinemática dos Fluidos é o de Euler, que consiste em adotar certo
intervalo de tempo, escolher um ponto fixo no espaço e exprimir as grandezas características das
partículas que passam por esse ponto. Corresponde a considerar as linhas de corrente num dado
instante (ver tópico a seguir). No método de Euler o observador é fixo. Devido às facilidades que
ocorrem na prática, este método é normalmente preferido para estudar o movimento dos fluidos.
De modo geral, a velocidade e pressão exercida por cada partícula serão funções do tempo e das
coordenadas espaciais; por sua vez, as coordenadas podem ser ou não dependentes do tempo.

TRAJETÓRIAS, LINHAS E TUBO DE CORRENTE.

Trajetórias.

Independente da abordagem, uma trajetória se determina ao se traçar o caminho percorrido por


uma partícula de fluido em movimento.

Linhas de Corrente.

No método de Euler, ao traçar a curva que seja tangente, em cada ponto, às velocidades das
partículas, nos instantes considerados, no interior da massa fluida, obtém-se a curva conhecida como
linhas de corrente ou linhas de fluxo.

Hugo L. B. Buarque
36 Parte Um: Introdução

A linha de corrente é uma curva imaginária, tomada através do fluido, para indicar a direção da
velocidade em diversos pontos, conforme ilustrado na Figura II.7. As linhas de corrente não podem se
cruzar, pois em caso positivo, a partícula que estivesse no ponto de interseção das linhas de corrente
teria velocidades diferentes ao mesmo tempo, o que não é Figura II.7 – Linha de corrente.
possível. Em cada instante e em cada ponto, passa uma e somente
uma linha de corrente. Considerando um conjunto de linhas de
corrente, em cada instante, o fluido move-se sem atravessá-las. Fonte: O autor.

Tubo e Filamento de Corrente.

Supondo duas curvas fechadas, formar-se-á um tubo de corrente ou veia líquida quando, ao se
considerar todas as linhas de corrente que tocam naquelas curvas fechadas num dado instante, o campo
de velocidades for contínuo nesse instante. Percebe-se que as curvas fechadas são a diretriz do tubo.
Quando esta diretriz abrange uma área infinitesimal, a porção da corrente fluida tomada no interior do
tubo de corrente é denominada de filamento de corrente Figura II.8 – Tubo e filamento de corrente.
no fluido. Neste caso, o eixo do tubo confunde-se com o
próprio filamento. Nenhuma partícula de fluido pode
penetrar no filete de corrente nem dele sair. Quando a
diretriz tende a zero, cada filamento se transforma numa
linha de corrente. A Figura II.8 ilustra um tubo e um
Fonte: O autor.
filamento (filete) de corrente.

TIPOS DE ESCOAMENTO.
Os escoamentos de fluidos podem ser classificados, segundo aspectos geométricos, de trajetória,
tempo, rotação e comportamento do fluido. A seguir são descrito alguns tipos principais de
escoamentos.

Escoamentos unidimensional, bidimensional e tridimensional.

O escoamento unidimensional é aquele cujas propriedades e características podem ser expressas


como função do tempo e de apenas uma coordenada espacial. Este tipo de escoamento constitui, em
rigor, uma abstração, pois os movimentos dos fluidos não são, exatamente, unidimensionais. Embora,
na prática, possa se chegar ao escoamento unidimensional ao estabelecer que: a variação da seção
transversal é gradual, as linhas de corrente são retilíneas ou de pequena curvatura, a curva de
distribuição das velocidades é constante nas seções transversais da corrente.
Quando as grandezas do escoamento variam em duas coordenadas espaciais, além de poder
variar com o tempo, este escoamento pode ser denominado bidimensional. Caso as propriedades do

Fenômenos de Transporte para Cursos Técnicos e Tecnológicos


Capítulo II: Propriedades e Escoamento dos Fluidos 37

escoamento variem em função das três coordenadas espaciais, diz-se que este escoamento é
tridimensional. O tratamento matemático destes dois tipos de escoamento apresenta um maior grau de
complexidade que o unidimensional, fornecendo, na maioria das vezes, sistemas sem solução analítica.

Escoamentos Laminar e Turbulento.

No escoamento laminar as partículas do fluido percorrem trajetórias paralelas. O escoamento


laminar é também conhecido como escoamento lamelar, tranquilo ou de Poiseuille. No escoamento
turbulento, as trajetórias dos fluidos são bastante irregulares, isto é, as trajetórias se entrecruzam
formando uma série de redemoinhos. Neste caso, há trajetórias erráticas, cuja previsão de traçado é
impossível. Em cada ponto da corrente fluida, a velocidade varia em módulo, direção e sentido.
Industrialmente, o escoamento dos fluidos quase sempre é turbulento. Os perfis de trajetória de um
fluido escoando sob tais regimes de escoamento é ilustrado na Figura II.9.
Figura II.9 – Perfil de trajetórias de um fluido em escoamento laminar e turbulento.

Fonte: O autor.

No estudo da Mecânica dos Fluidos freqüentemente se identificam parâmetros adimensionais


relacionando as forças presentes nos fluidos em movimento (forças devidas à inércia, à viscosidade, à
pressão, à gravidade, à tensão superficial e à compressibilidade). Na década de 1880, o engenheiro
britânico Osborne Reynolds, estudando a transição entre o escoamento laminar e o turbulento,
percebeu que o parâmetro adimensional Re (número de Reynolds) constitui o critério pelo qual pode
ser determinado o estado do escoamento. O número de Reynolds pode ser expresso como:
  v  Le
Re  , (II.13)

em que Re é o número de Reynolds,  é a massa específica do fluido, v é a velocidade média do
fluido escoando, Le é o comprimento característico descritivo do campo de escoamento, e  é a
viscosidade absoluta do fluido.
O número de Reynolds expressa a razão entre as forças de inércia e as forças viscosas. Números
de Reynolds “elevados” caracterizam escoamentos turbulentos. Escoamentos para os quais as forças de
inércia são “pequenas” comparadas às forças viscosas, são, tipicamente, escoamentos laminares. A
Tabela 4 apresenta faixas típicas de valores de números de Reynolds para a transição entre o regime
laminar e turbulento para alguns tipos de escoamentos. Vale salientar que, dadas certas condições
especiais, as faixas de valores apresentados podem não ser válidos.

Hugo L. B. Buarque
38 Parte Um: Introdução

Tabela 4 – Faixas típicas de números de Reynolds para distintas configurações de escoamento.


Regime de Escoamento
Configuração do Escoamento
Laminar Transição Turbulento
Escoamento no interior de tubos lisos Re < 2.100 2.100  Re  2.500 Re > 2.500
Escoamento sobre placa plana Re < 2x105 2x105  Re  3x106 Re > 3x106
Escoamento sobre bancos de tubos Re < 100 100  Re  500 Re > 500
Escoamento em leitos de enchimento incompressíveis Re < 1 1  Re  104 Re > 104

Escoamentos Permanente e Não permanente.

No escoamento permanente, a velocidade e a pressão, em determinado ponto, não variam com o


tempo. A velocidade e a pressão podem variar de ponto a ponto do escoamento, mas são constantes em
cada ponto imóvel do espaço, a qualquer tempo. Este escoamento é também denominado de
estacionário e diz que a corrente fluida é “estável”.
No caso contrário, isto é, quando a velocidade e a pressão de uma partícula fluida, variam com o
tempo, em um determinado ponto de um escoamento, diz-se que este escoamento é não permanente,
variável, transitório ou transiente. Agora, neste caso, a pressão e a velocidade em um ponto dependem
tanto das coordenadas espaciais como também do tempo.

Escoamentos Uniforme e Não uniforme.

Um escoamento uniforme é aquele em que todos os pontos da mesma trajetória têm a mesma
velocidade. É um caso particular do escoamento permanente: a velocidade pode variar de uma
trajetória para outra, mas na mesma trajetória, todos os pontos têm a mesma velocidade (o módulo, o
sentido e a direção são constantes). No escoamento não uniforme ou variado, os diversos pontos de
uma mesma trajetória não apresentam velocidade constante no intervalo de tempo considerado. O
perfil de velocidades de um fluido nestes escoamento é exemplificado na Figura II.10.
Figura II.10 – Perfil de velocidades de um fluido em escoamento uniforme e variado.

Fonte: O autor.

Fenômenos de Transporte para Cursos Técnicos e Tecnológicos


Capítulo II: Propriedades e Escoamento dos Fluidos 39

Escoamentos Rotacional e Irrotacional.

Neste tipo de escoamento, cada partícula fluida está sujeita a uma velocidade angular em relação
ao seu centro de massa. Usualmente, para simplificar o estudo da mecânica dos Fluidos, despreza-se a
característica rotacional do escoamento, passando a considerá-lo irrotacional. No tipo irrotacional, as
partículas de fluido não se deformam, pois se faz uma concepção matemática do escoamento,
desprezando a influência da viscosidade. Em virtude da viscosidade, o escoamento dos fluidos reais é
sempre do tipo rotacional.

Escoamentos de Fluidos Compressíveis e Incompressíveis.

Os escoamentos nos quais as variações das densidades dos fluidos são desprezíveis denominam-
se incompressíveis. Quando estas variações não são negligenciáveis, os escoamentos são ditos
compressíveis.
É muito comum querer-se afirmar, de um modo geral, que todos os escoamentos de líquidos são,
essencialmente, incompressíveis e os de gases são compressíveis. Entretanto, esta afirmativa nem
sempre é verdadeira, devendo-se avaliar a compressibilidade dos fluidos durante o escoamento para
um tratamento correto do problema estudado.
A maior parte dos escoamentos gasosos é compressível nos casos em que a velocidade do
escoamento (v) é pequena com relação à velocidade do som no fluido (v’). Assim, tais escoamentos
podem ser considerados incompressíveis quando o número de Mach (M), definido pela
Equação (II.14), for menor que 0,3.

v
M . (II.14)
v'

Escoamentos Internos e Externos.

Os escoamentos completamente limitados por superfícies sólidas são chamados escoamentos


internos ou em dutos. Os escoamentos externos ocorrem ao redor de corpos imersos em massas fluidas
ilimitadas. O escoamento de líquidos cujos condutos não estão completamente cheios – nos quais há
uma superfície livre sujeita à pressão constante – é denominado escoamento em canal.

Hugo L. B. Buarque
40 Parte Um: Introdução

PROBLEMAS.
1. Classificar os seguintes fluidos quanto ao seu comportamento reológico:

(a) du/dy, rd/s 0 0,5 1,1 1,8


τ, N/m 2
0 2 4 6

(b) du/dy, rd/s 0 0,3 0,6 0,9 1,2


τ, N/m 2
0 2 4 6 8

(c) du/dy, rd/s 0 0,4 0,8 1,2 0,8 1,0 0,6


τ, N/m 2
0 2 4 6 8 6 4

Resposta:
(a) fluido newtoniano. (b) fluido newtoniano. (c) fluido não-newtoniano.

2. Explique por que as gotas de chuva são aproximadamente esféricas.


3. A altitude elevada, o gelo e a neve desaparecem gradualmente sem derreter. Por quê?
4. A uma dada temperatura, o álcool metílico evapora muito mais rapidamente do que o
propilenoglicol (aditivo de alimentos). Qual dessas substâncias possui atrações intermoleculares
mais fracas?
5. O calor de vaporização da água é cerca de 1,5 vezes o do tetracloreto de carbono. Qual dos
líquidos deve ter a maior tensão superficial? Explique.
6. Dê uma explicação razoável para o fato de que o calor latente de vaporização ser maior para a
água do que para o HF.
7. Explique por que compostos com forças atrativas intermoleculares fortes têm pontos de ebulição
mais altos que compostos com forças atrativas intermoleculares fracas.
8. O calor de vaporização da água é 44.016 J/mol. O ponto normal de ebulição é 100oC. Estime o
valor da constante p da equação de Clausius-Clapeyron e determine a pressão de vapor da água a
25oC.
9. Uma tensão de cisalhamento de 4 dinas/cm2 causa, num fluido newtoniano, uma velocidade de
deformação de angular de 1 rd/s. Qual é a viscosidade do fluido em centipoises?
10. Marque (V) para verdadeira ou (F) para falsa nas afirmativas abaixo:
( ) o escoamento de um fluido pode ser entendido com sua fácil mudança de forma;
( ) corrente fluida é uma massa fluida em quantidade considerável;
( ) no método de Euler o observador é fixo;
( ) as linhas de corrente são curvas reais conhecidas também como linhas de fluxo;
( ) as linhas de corrente só podem entrecruzar-se no escoamento turbulento;
( ) no estudo da Mecânica dos Fluidos, é preferível tratar de escoamentos tridimensionais dada a
simplicidade;
( ) num dado ponto do escoamento transiente, as propriedades do fluido não variam com o
tempo;
( ) se um fluido tem suas partículas aceleradas pela gravidade, seu escoamento pode ser dito
variado;
( ) o escoamento de um gás ideal cuja pressão e temperatura duplicam é dito transiente e
compressível;
( ) um rio pode ter seu escoamento caracterizado como externo.

Fenômenos de Transporte para Cursos Técnicos e Tecnológicos


Capítulo II: Propriedades e Escoamento dos Fluidos 41

11. Chamamos de turbulento o regime nos tubos lisos em que:


a) Re < 100; b) Re < 2.100; c) Re > 2.300; d) Re > 104.
12. Um óleo, com viscosidade dinâmica igual a 98,9 cP e massa específica igual a 801,3 kg/m3, escoa
no interior de um tubo de 24,55 cm de diâmetro. Calcular o número de Reynolds e através dele
avaliar se o escoamento é laminar ou turbulento quando a velocidade média do fluido for de:
a) 1 m/s;
b) 6 m/s.

13. Para os campos de velocidades ( v ) abaixo, determinar (a) se o escoamento é uni, bi, ou
tridimensional; (b) se o escoamento é permanente ou não-permanente (x, y e z são as coordenadas
espaciais cartesianas, t a coordenada temporal e as quantidades a, b e c são constantes):
  
a) v  (ae  by )î ; d) v  by 2 ĵ  cyk̂ g) v  (ax  by  cz)k̂
   
b) v  axy î  byztk e) v  ay 2 î  bxĵ  cxy k̂ h) v  aĵ  xt k̂
  
c) v  axî  byĵ  (t  cz)k̂ f) v  2byî  ab y ĵ  cye t k̂ i) v  ax î  bx 2 e ct ĵ
14. Sabendo que para um escoamento tridimensional, com campo de velocidades dado por

v  v 1î  v 2 ĵ  v 3 k̂ , ser definido como irrotacional ele deve atender às seguintes condições:
v 1 v 2 v 1 v 3 v 2 v 3
 ;  e  . Determine se os escoamentos com campos de velocidades
y x z x z y
a seguir são rotacionais ou irrotacionais:

a) v  xyzî  x 2 y 2 zĵ  yz3 k̂ ;

b) v  x 2 î  y 2 ĵ  z 2 k̂ ;

c) v  e x Ln (e x  e y )î  e y Ln (e x  e y ) ĵ .
15. Um certo óleo SAE-30 escoa com velocidade média de 1,8 m/s em um tubo de 300 mm de
diâmetro. Nas condições do escoamento, uma amostra deste óleo foi analisada para se determinar
sua densidade e viscosidade absoluta. Uma massa de 200 g da amostra ocupou um volume de
222,1 cm3. Num viscosímetro, quando submetida a uma tensão cisalhante de 0,59 N/m2, a amostra
teve uma taxa de deformação de 6,12 rad/s. Avalie através do número de Reynolds se o
escoamento é laminar ou turbulento.
16. Para escoamentos laminares totalmente desenvolvidos em tubulações lisas de seção circular, o
coeficiente de atrito, f, pode ser expresso como f = 64/Re (Relação de Hagen-Poiseuille). Para
escoamentos turbulentos, nestas tubulações, a relação empírica f = 0,316Re–1/4 (Fórmula de
Blasius) pode ser frequentemente aplicada.
Em um tubo hidraulicamente liso, com 25 mm de diâmetro e 3,3 m de comprimento, a água a
20oC ( = 10–6 m2/s) escoa com a velocidade de 2,2 m/s.
Pede-se:
a) Calcular o número de Reynolds, Re, e classificar o regime de escoamento;
b) obter o coeficiente de atrito, f.
17. Mostre que a distribuição (perfil) de velocidades (v) para um escoamento unidimensional, em
regime estacionário, de um fluido newtoniano incompressível, no interior de um tubo cilíndrico e
horizontal, de raio ro, pode ser expressa por v  v max [1  (r / ro ) 2 ] , onde vmax é a velocidade no
centro da tubulação e r é a coordenada radial do tubo cilíndrico.
Dica: um balanço de forças sobre o elemento cilíndrico de fluido, de raio r, resulta em
(πr2).ΔPx = (2πLr).τrx.

Hugo L. B. Buarque
PARTE DOIS

MECÂNICA DOS FLUIDOS


CAPÍTULO III

PRINCÍPIOS DE FLUIDOESTÁTICA E
SUAS APLICAÇÕES
“Aquele que tentou e não conseguiu é superior àquele que nada tentou”.
Arquimedes (287 a.C. – 212 a.C.).

CONCEITOS E FUNDAMENTOS BÁSICOS.


A Mecânica dos Fluidos é a ciência que estuda o comportamento dos fluidos em repouso ou em
movimento. O ramo desta ciência que estuda o comportamento dos fluidos em repouso (estático) pode
ser denominado Fluidoestática (ou hidrostática quando o fluido é a água). Enquanto que a
Fluidodinâmica é a parte da Mecânica dos Fluidos que estuda os fluidos em movimento (escoando).
O conhecimento e compreensão dos princípios e conceitos básicos desta ciência é essencial para
a análise de qualquer sistema no qual um fluido é um meio gerador ou sumidouro de trabalho ou
energia. Por este motivo, a determinação de pressões e forças envolvidas em sistemas fluidos estáticos,
inclusive aqueles em que corpos sólidos encontram-se submersos, o desenvolvimento de instrumentos
de medida de pressão, etc., relacionados à Fluidoestática; bem como a seleção das máquinas de fluxo
(e.g., bombas, compressores e turbinas) ou o projeto de sistemas de resfriamento ou aquecimento num
processo industrial, e outras inúmeras atividades e aplicações, exigem o conhecimento daqueles
princípios e conceitos. Ressalta-se então que a Mecânica dos Fluidos é tema cuja importância se
estende desde simples atividade do nosso cotidiano até a moderna tecnologia científica e industrial.

Pressão Absoluta e Pressão Efetiva.


A pressão pode ser determinada tomando-se como referência das medidas o zero absoluto (vácuo
perfeito), obtendo-se, nesse caso, a pressão absoluta (Pa). Assim, a pressão nula corresponde ao vácuo
total e, portanto, a pressão absoluta é sempre positiva.
Quando a pressão naqueles pontos é determinada tomando-se como Figura III.1 – Tubo e
referência ou origem das medidas a pressão atmosférica, Patm, cada uma filamento de corrente.
destas medidas denomina-se pressão efetiva ou relativa (Pef) no referido
ponto. Estes conceitos estão apresentados comparativamente na
Figura III.1. A pressão efetiva pode ser: positiva, quando é superior a
Patm; nula, quando é igual a Patm; e negativa, quando é inferior a Patm (no
caso de vácuo parcial). A pressão efetiva é conhecida também como
pressão manométrica, devido ao fato dos manômetros, geralmente,
efetuarem a medida desta pressão relativa. A Equação (III.1) relaciona a
pressão efetiva e a pressão absoluta medida num dado ponto de um Fonte: O autor.
sistema fluido.
P a  P ef  Patm (III.1)
Destaque-se que nas leis físicas e químicas, a grandeza utilizada para mensurar as forças
aplicadas pelas moléculas de um fluido sobre as suas vizinhanças é a pressão absoluta, não se devendo
utilizar a pressão efetiva para tais aplicações.
46 Parte Dois: Mecânica dos Fluidos

Equação Fundamental da Fluidoestática – Lei de Stevin.


A Lei de Stevin1, também conhecida como equação Figura III.2 – Pressões num fluido estático.
fundamental da fluidoestática, enuncia que a diferença de
pressão (P) entre dois pontos A e B (ver Figura III.2), no
interior da massa fluida (em equilíbrio estático e sob ação da
gravidade), é equivalente ao peso por unidade de área da
coluna de fluido com altura igual à distância vertical (direção
da aceleração da gravidade), z, entre os dois pontos. A Lei de
Stevin é expressa na Equação (III.2).
dP
   g (III.2) Fonte: O autor.
dz
Outrossim, para um fluido em repouso, nas condições dadas, com a massa específica e a
aceleração da gravidade praticamente constante na direção vertical, a Lei de Stevin assume a forma
dada pela Equação (III.3).
P  PA  PB    g  z    g  z B  z A  (III.3)
A partir da Equação (III.4), pode-se obter a seguinte expressão para pontos arbitrários A, B, C,...
PA P P
 z A  B  z B  C  z C  ...  H  constante (III.4)
  
De onde se conclui que as extremidades dos Figura III.3 – Cargas num fluido estático.
segmentos representativos de PA /  , PB /  e PC /  estão no
mesmo plano horizontal (nível da água). É usual dar à altura
de posição ou cota vertical ( z A , z B , z C etc.) a denominação
de carga de posição, e dar à altura PA/γ, PB/γ, PC/γ, etc., o
nome de carga piezométrica. Então, o plano horizontal
(nível da água) é o plano de carga estático efetivo. A sua
cota H, em relação ao plano de referência ou datum, é Fonte: O autor.
constante. Estas cargas e cotas são ilustradas na Figura III.3.

Exercício Resolvido III.1 – Um reservatório aberto contém água (ρ = 1.000 kg/m3) até a
altura de 5 m. A pressão atmosférica no local é de 1 atm. Calcular a pressão manométrica,
em cmH2O (centímetros de água) e a pressão absoluta na superfície interna do fundo deste
reservatório, em Pascal.

Resolução:

Patm  1 atm  1,01  10 5 Pa e Pfundo


ef
 5 mH 2 O  Pfundo
ef
 500 cmH 2 O
ef
Pfundo   água  g  h  Pfundo
ef
 1.000  9,81  5  Pfundo
ef
 0,49  10 5 Pa
a
Pfundo  Pfundo
ef
 Patm  Pfundo
a
 0,49  105  1,01 105  Pfundo
a
 1,50  105 Pa

1
Simon Stevin (1548/49 – 1620) foi um engenheiro, físico e matemático flamengo (Bélgica), o qual explicou o chamado
paradoxo hidrostático, demonstrando experimentalmente que a pressão exercida por um fluido depende fortemente da
altura da coluna fluida.

Fenômenos de Transporte para Cursos Técnicos e Tecnológicos


Capítulo III: Princípios de Fluidoestática e suas Aplicações 47

Exercício Resolvido III.2 – Torricelli tomou um tubo aberto em Figura III.4 – Experimento
uma extremidade e fechado na outra, encheu-o de mercúrio de Torricelli.
(ρ=13.600 kg/m3), tampou a extremidade aberta e emborcou o
tubo, verticalmente, em uma cuba contendo mercúrio. Ao
destampar no tubo a extremidade colocada dentro da cuba, o
mercúrio desceu até o ponto A e ali permaneceu na altura de
760 mm (ao nível do mar e sob gravidade de 9,81 m/s2). Acima do
ponto A na coluna de mercúrio formou-se um vácuo parcial, ou
seja, uma região de pressão praticamente nula (ver Figura III.4).
Determine a pressão atmosférica em Pascal.
Resolução:
PA  0 e PB  Patm Fonte: O autor.

PB  PA   Hg  g  h  Patm  13.600  9,81  0,760  Patm  1,0110 5 Pa

Exercício Resolvido III.3 – Um reservatório aberto contém água (ρ = 1.000 kg/m3) até a
altura de 5 m. A pressão atmosférica no local é de 1 atm. Calcular a pressão manométrica,
em cmH2O (centímetros de água) e a pressão absoluta na superfície interna do fundo deste
reservatório, em Pascal.

Resolução:

Patm  1 atm  1,01  10 5 Pa e Pfundo


ef
 5 mH 2 O  Pfundo
ef
 500 cmH 2 O
ef
Pfundo   água  g  h  Pfundo
ef
 1.000  9,81  5  Pfundo
ef
 0,49  10 5 Pa
a
Pfundo  Pfundo
ef
 Patm  Pfundo
a
 0,49  105  1,01 105  Pfundo
a
 1,50  105 Pa

Exercício Resolvido III.4 – Um tanque de armazenamento de Figura III.5 – Sistema


3
líquido contém água (ρ = 1.000 kg/m ) com um nível de 1,20 m e, fluidoestático deste exercício.
sobre esta água, óleo diesel da massa específica 825 kg/m3,
formando uma camada de 1,60 m de espessura de óleo. O tanque
está sob pressão de 1,25 atm (ver Figura III.5). Calcular a pressão
sobre a camada de água (ponto A) e na base do tanque (ponto B),
expressando os resultados em Pascal.
Resolução:

Patm  1,25 atm  1,25  1,01  10 5 Pa  Patm  1,26  10 5 Pa

PA  Patm  óleo  g  h1  PA  1,26  105  825  9,81  1,60  Fonte: O autor.

PA  1,26  10 5  0,13  10 5  PA  1,39 10 5 Pa

PB  PA   água  g  h2  PB  1,39  105  1.000  9,81  1,20  PB  1,39  105  0,12  105 

PB  1,51  10 5 Pa

Hugo L. B. Buarque
48 Parte Dois: Mecânica dos Fluidos

Princípio de Pascal.
O princípio de Pascal1 estabelece que o acréscimo de pressão produzido num fluido confinado, e
em equilíbrio, transmite-se integralmente a todos os pontos do fluido e às paredes do recipiente que o
contém. Isto torna possível uma grande “multiplicação” de forças, como se fosse uma alavanca fluida.
Este princípio se aplica, por exemplo, às prensas e aos elevadores hidráulicos, a sistemas de freios e
amortecedores, e a outras máquinas hidráulicas.

Exercício Resolvido III.5 – Um macaco hidráulico tem as Figura III.6 – Macaco hidráulico.
dimensões apresentadas na Figura III.6. Um carro pesando
20 kN (força F2) é colocado sobre o pistão de maior
diâmetro. Despreze o peso dos pistões. Determine:

(a) a força F1 que deve ser aplicada na alavanca para


equilibrar o peso do carro;
(b) o deslocamento (d1) do pistão ligado à alavanca no
ponto B, quando o carro sobe 20 cm (d2).

Resolução: Fonte: O autor.

(a) A pressão resultante no pistão de maior diâmetro será:


20.000 N
P2  A 2  20.000 N  P2   P2  1,02  10 7 N / m 2
(  0,05 2 / 4)
A superfície do líquido (óleo) em contato com os pistões está no mesmo nível, e assim, não há
diferença de pressão (PB = P2), conforme a Lei de Stevin. Assim, a força no pistão menor será
igual a:
P2  A B  FB  1,02  10 7  (  0,0152 / 4)  FB  FB  1.800 N
Numa alavanca em equilíbrio, o produto da força potente por seu braço deve ser igual ao
produto da força resistente pelo respectivo braço. Assim, a força atuando sobre a alavanca pode
ser determinada a partir da análise do momento de equilíbrio no ponto C:
0,33 m  F1  1.800 N  0,03 m  F1  163,64 N
(b) Segundo o Princípio de Pascal, o incremento de pressão, necessário para deslocar o pistão
em B, será transmitido ao outro pistão, e assim, a forças F1 e F2 estarão relacionadas pela
seguinte expressão:
P1  F1 A1  F2 A 2  P2
Ademais, admitindo-se que não há perdas (trabalho) no macaco hidráulico, tem-se que:
F1  d1  F2  d 2
Assim, pode-se deduzir a razão d1/d2 como d1 d 2  A 2 A1 , o que resolve o problema proposto:

d1 d 2  A 2 A1  d1 20  52 1,52  d1  22,2 cm

1
Blaise Pascal (1623 – 1662) foi um físico, matemático, filósofo moralista e teólogo francês que, estudando a mecânica dos
fluidos, esclareceu o princípio barométrico, a prensa hidráulica e a transmissibilidade das pressões.

Fenômenos de Transporte para Cursos Técnicos e Tecnológicos


Capítulo III: Princípios de Fluidoestática e suas Aplicações 49

MEDIÇÃO DA PRESSÃO – BARÔMETRO E MANÔMETROS: DEFINIÇÕES


E CLASSIFICAÇÃO.
Barômetro é o instrumento usado para medir o valor absoluto da pressão atmosférica. Pode ser
do tipo coluna de mercúrio ou do tipo aneróide. Ao nível do mar, a pressão atmosférica é de
aproximadamente 101.325 Pa ou 76 cmHg.
Manômetro é o instrumento utilizado para medir a pressão efetiva de fluidos. De acordo com a
aplicação pode receber diferentes denominações:
(a) vacuômetro – é o manômetro que indica, além de pressões efetivas positivas e nulas, as pressões
efetivas negativas.
(b) piezômetro – é a mais simples forma de manômetro. Também chamado de tubo piezométrico,
consta de um tubo aberto nas extremidades, uma das quais irá coincidir com o ponto A do líquido,
onde se deseja medir a pressão efetiva. A outra extremidade aberta do tubo fica em contato com a
atmosfera. Por motivos óbvios, os piezômetros não servem para medir a pressão dos gases.
Alguns barômetros típicos e um manômetro do tipo piezômetro são mostrados na Figura III.7.
Figura III.7 – Alguns típicos barômetros e piezômetro.

Fonte: O autor.

Em geral, há duas grandes classes de manômetros: os manômetros de líquido e os manômetros


metálicos. Os manômetros de líquido são tubos transparentes e recurvados, geralmente em forma de U,
ou de duplo U (um deles invertido) ou de múltiplo U. A Figura III.8 ilustra alguns manômetros em
forma de U típicos. Os tubos contêm o líquido manométrico (líquido destinado a medir a pressão do
fluido). Para grandes pressões, usa-se normalmente o mercúrio (Hg) como líquido manométrico; e para
pequenas pressões, usam-se os líquidos de pequena densidade (álcoois, óleos, etc.). Os manômetros
metálicos medem as pressões dos fluidos através da deformação de um tubo metálico recurvado ou de
um diafragma (membrana) que cobre um recipiente hermético de metal. Eles são os mais utilizados na
indústria, particularmente na medição de pressões elevadas. A Figura III.9 ilustra um manômetro
metálico típico, o manômetro de Bourdon, enquanto que a Figura III.10 mostra o esquema de outros
manômetros metálicos típicos (helicoidal, de fole e de diafragma).
É ainda comum encontrar os manômetros diferenciais e os micromanômetros (ver Figura III.11).
Os manômetros diferenciais são utilizados para medir a diferença de pressão entre dois pontos de um
sistema fluido (mesmo fluido ou fluidos distintos). Os micromanômetros são usados na medição de
pressões muito reduzidas, as quais têm medição difícil e imprecisa em manômetros de líquido ou
piezômetros convencionais. Assim, nestes instrumentos, o tubo manométrico é inclinado de um
pequeno ângulo com a horizontal, aumentando-se a precisão da leitura da altura manométrica.

Hugo L. B. Buarque
50 Parte Dois: Mecânica dos Fluidos

Figura III.8 – Manômetros de líquido do tipo em forma de U.

Fonte: O autor.

Figura III.9 – Manômetro de Bourdon.

Fonte: O autor.

Figura III.10 – Outros manômetros metálicos típicos.

Fonte: O autor.

Figura III.11 – Ilustração de manômetro diferencial e de micromanômetro.

Fonte: O autor.

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Capítulo III: Princípios de Fluidoestática e suas Aplicações 51

Exercício Resolvido III.5 – Com o auxílio da Figura III.12 (na Figura III.12 – Manômetro
qual se vê um manômetro diferencial), determinar a pressão diferencial deste exercício.
manométrica, em Pascal, no ponto a, sabendo-se que o
líquido A tem densidade relativa 0,70 e que o líquido B tem
densidade relativa 1,30. O líquido nas vizinhanças do ponto a é
a água (ρ = 1.000 kg/m3). O reservatório da esquerda é aberto
à atmosfera.

Resolução:
A partir da aplicação da lei de Stevin nos pontos a, b e c,
chega-se à solução do problema: Fonte: O autor.

Pa  Pb   água  g  h 1  1.000  9,81  0,13  0,26  3.825,9 Pa

Pb  Pc   A  g  h 2  0,70  1.000  9,81  0,26  1.785,4 Pa

Pc  Patm   B  g  h 3  1,30  1.000  9,81  0,92  0,38  6.886,6 Pa


______________________________________________________________________________________________________ _________________

Pa  Patm  3.825,9  1.785,4  6.886,6  Paef  8.927,1 Pa .

Exercício Resolvido III.6 – Um manômetro de tubo Figura III.13 – Micromanômetro


inclinado (micromanômetro), como indica a Figura III.13, deste exercício.
com θ = 15o está conectado a um reservatório de água de
grandes dimensões (admitir que a superfície livre do líquido
permanece a nível constante). Sabendo-se que R = 2,66 m,
determine a pressão efetiva do ar sobre a água em Pascal.

Resolução: Fonte: O autor.

A partir da aplicação da lei de Stevin nas superfícies da água, pode-se determinar a pressão
efetiva do ar:
P  Patm  P ef   água  g  R  sen 

P ef  1.000  9,81  2,66  sen 15 o  P ef  6.753,8 Pa

Hugo L. B. Buarque
52 Parte Dois: Mecânica dos Fluidos

FORÇAS SOBRE SUPERFÍCIES PLANAS

Distribuição uniforme de pressão.


Uma placa plana é uma superfície plana de forma arbitrária. A descrição da pressão em todos os
pontos ao longo de uma placa plana é chamada de distribuição de pressão. Quando a pressão é a
mesma em cada ponto, como ilustrado na Figura III.14, a distribuição de pressão é chamada de
distribuição de pressão uniforme. Esta distribuição de pressão pode ser representada por uma força
resultante, também ilustrada na figura citada. Para uma distribuição uniforme da pressão, a intensidade
da força resultante, FR, pode ser expressa pela Equação (III.5).
Figura III.14 – Distribuição uniforme de pressão e força resultante.

Fonte: O autor.

FR   P  dA  P  A (III.5)
A

em que P é a pressão média e A é a área da placa plana. Para uma distribuição de pressão uniforme, o
centro de pressão coincide com o centróide1 da área da placa.

Distribuição de pressão hidrostática.


Quando uma distribuição de pressão é produzida por um fluido em equilíbrio hidrostático, como
mostrado na figura a seguir, ela é denominada distribuição de pressão hidrostática e apresenta um
perfil linear agindo na direção normal à superfície. Esta distribuição de pressão também pode ser
representada por uma força resultante agindo sobre um centro de pressão localizado abaixo do
centróide da área da superfície, também apresentado na Figura III.15.
Figura III.15 – Distribuição de pressão hidráulica e força resultante.

Fonte: O autor.

1
Centróide é o ponto no interior de uma forma geométrica (objeto) que define o seu centro geométrico.

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Capítulo III: Princípios de Fluidoestática e suas Aplicações 53

A magnitude da força resultante (FR) atuando sobre o centro de pressão pode ser determinada a
partir da Equação (III.6):
FR  PC  A (III.6)
em que PC é a pressão no centróide (pressão média) da área e A é a área da placa plana. Em contato
com o fluido.
O ponto de aplicação (cota vertical) da força resultante na superfície da placa pode ser obtido a
partir da Equação (III.7):
z P  FR   z  P  dA (III.7)
A

em que z é a localização vertical de cada pressão p na distribuição e z P é a localização vertical do


centro de pressão, tomando com nível de referência (datum) a superfície superior do fluido.

Exercício Resolvido III.7 – Uma placa retangular, com 8 m de Figura III.16 – Canal de água.
altura e 5 m de largura, bloqueia a lateral de um canal de água
(γ = 10 kN/m3) com 6 m de profundidade, como ilustrado na
Figura III.16. A placa tem uma dobradiça, em torno de um eixo
horizontal, ao longo do lado superior num ponto O, e sua
abertura é bloqueada por um ressalto no ponto A. Determine a
força exercida pelo ressalto sobre a placa.
Fonte: O autor.

Resolução:
O centróide da área da placa em contato com a água está localizado a 3 m da superfície livre do
líquido (tomada como datum, z = 0), e desta forma, a cota vertical do centróide é z C  3 m .
Inicialmente, deve-se considerar que as superfícies secas da placa estão submetidas à pressão
atmosférica, esta pode ser subtraída, trabalhando-se apenas com a pressão manométrica. A
partir da Equação (III.6) e da Equação (III.7) pode-se determinar a intensidade da força
resultante e a posição do centro de pressão na placa retangular.

 
FR  PC  A    zC  A   10 kN / m3   3 m  6 m  5 m  FR  900 kN
Esta força, age na direção horizontal, no centro de pressão (Ponto P), que é determinado para o
problema através da expressão:
  h h2 2
   z  z   dy  dz  
1 1  h
  z  P  dA 
  z C   h 0
zP  z 2
dz    z   h
PC  A 0 0 3  zC
P
FR A 3
em que ℓ e h são respectivamente a largura e a altura vertical, respectivamente, da superfície
submersa da placa. Assim,
z P  4 m
A partir da análise do momento sobre o Ponto O, pode-se finalmente determinar a força exercida
pelo ressalto contra a placa:

M O  0  FR  OP  FA  OA  0  900  2   4  FA  2   6  FA  675 kN .

Hugo L. B. Buarque
54 Parte Dois: Mecânica dos Fluidos

EMPUXO.

Empuxo de flutuação.

O empuxo de flutuação ( E ), ou simplesmente empuxo, é definido como a força hidrostática
resultante que é produzida em um corpo sólido que está totalmente ou parcialmente submerso num
fluido, quando este fluido está submetido a um campo gravitacional. O empuxo existe graças às
diferentes pressões hidrostáticas atuando no corpo. Como já se sabe, a pressão será maior na parte
inferior do corpo, pois estará à maior profundidade, e menor nas menores profundidades, gerando uma
força resultante ascendente.
Assim, a força de flutuação (empuxo) pode ser determinada pela diferença entre duas forças
hidrostáticas: a componente vertical resultante agindo sobre a superfície inferior do corpo, de maior
intensidade, e a componente vertical resultante agindo na superfície superior do corpo, de menor
intensidade. Consequentemente, a intensidade do empuxo de flutuação (E) pode ser determinada para
qualquer corpo sólido a partir da Equação (III.8):
E   f V
 (III.8)
em que f é o peso específico do fluido e V é o volume do corpo submerso ou parcialmente submerso.
Assim, pode-se concluir que a força de flutuação que age sobre um corpo é igual ao peso do
líquido deslocado pelo corpo. Nota-se também que o empuxo não depende da distância entre o corpo e
a superfície do livre do fluido ou da massa específica do corpo.

Exercício Resolvido III.8 – Um corpo sólido de forma cúbica está Figura III.17 – Cubo imerso
submerso em água (γ = 10 kN/m3), como ilustra a Figura III.17. O em água.
cubo tem aresta igual a 4 cm e sua face superior dista 20 cm da
superfície livre do líquido. Determinar o empuxo de flutuação do
corpo.

Resolução:
As forças hidrostáticas atuando nas faces laterais do cubo são
iguais e resultam em resultantes nulas na direção horizontal.
Entretanto, as forças atuando na face superior e na face inferior Fonte: O autor.
são diferentes e produz uma resultante vertical no sentido
ascendente, o empuxo de flutuação.
E  [Po   f  (z s  a)]  A face  Po   f  z s  A face   f  a  A face

em que Po , z s e a são, respectivamente, a pressão atuando na superfície livre da água (datum), a


cota vertical da face superior do corpo e a aresta do cubo. As áreas da face inferior e superior
  a  A face , e assim,
do sólido são iguais a Aface. Para o objeto cúbico, V

  10.000 N / m 3  0,04 m  E  0,64 N .


E   f V
3

Neste exercício, a Equação (III.8) foi deduzida a partir de um corpo com geometria simples.
Porém, ela também pode ser deduzida para qualquer corpo, independentemente da sua forma.

Fenômenos de Transporte para Cursos Técnicos e Tecnológicos


Capítulo III: Princípios de Fluidoestática e suas Aplicações 55

Exercício Resolvido III.9 – Um cubo com 1 ft de aresta está Figura III.18 – Cubo imerso
mergulhado e em repouso no seio de uma mistura de líquidos em sistema bifásico.
imiscíveis, água (ρ=62,43 lbm/ft3) e óleo (d=0,8), como indica a
Figura III.18. A mistura está a pressão atmosférica (14,696 psia).
Calcular a força hidrostática da água no fundo do cubo, em lbf, e o
empuxo de flutuação neste corpo, em Newton.
Resolução:
F fundo  Patm   óleo  g  h1   água  g  h2  A fundo 
Fonte: O autor.
 lb f lb  ft  s 2 in 2 
F fundo  14,696 2  32,174 m  144 2   óleo  g  h1   água  g  h2   1 ft 2 
 in lb f ft 
 
 lb lb ft lb ft 
F fundo   68.087,4 2 m  0,8  62,43 m3  32,174 2  5 ft  62,43 m3  32,174 2  4 ft   1 ft 2 
 s  ft ft s ft s 

lbm  ft lb f  s 2
F fundo  84.156,4   F fundo  2.615,7 lb f
s2 32,174 lbm  ft

ft lbm  ft 1 N  s2
E   água  g  V  62,43  32,174  1 ft 3
 2.008,6   E  277,7 N
s2 s2 7,233 lbm  ft

Princípio de Arquimedes.
O Princípio de Arquimedes1 estabelece que “um corpo imerso num fluido está sujeito a um
empuxo que age para cima no centróide do volume deslocado e é igual, em magnitude, ao peso do
fluido deslocado pelo corpo”. Por conseguinte, para corpos flutuantes, a fração de volume submersa do
corpo é igual à razão entre a massa específica média do corpo ( ρ s ) e a massa específica do fluido
( ρ f ), conforme apresentado na Equação (III.9).
V  t  ρs / ρ f
 im / V (III.9)
 im e V t são, respectivamente o volume submerso e o volume total do corpo sólido.
em que V

Exercício Resolvido III.10 – Um cubo de madeira de densidade Figura III.19 – Cubo de


relativa igual a 0,6 é colocado flutuando em um recipiente madeira flutuando em água.
contendo água, como ilustra a Figura III.19. Sabendo que a aresta
do cubo mede 30 cm, calcule a altura da parte imersa do cubo.
Resolução:
Como o cubo encontra-se flutuando (equilíbrio de força), o peso do cubo
é igual, em intensidade, ao empuxo de flutuação provocado pelo fluido. Fonte: O autor.
Desta forma,
Vimerso h imerso  A base
 cubo  g  Vcubo   água  g  Vimerso  d cubo   d cubo 
Vcubo h cubo  A  base

h imerso  d cubo  h cubo  h imerso  0,6  30 cm  h imerso  18 cm .

1
Arquimedes (287 a.C. a 212 a.C) foi um famoso matemático, físico e inventor grego que fez importantes descobertas em
matemática e física, além de diversas invenções de máquinas de uso militar e civil.
Hugo L. B. Buarque
56 Parte Dois: Mecânica dos Fluidos

PROBLEMAS.
1. Marque (V) para verdadeira e (F) para falsa, nas afirmativas abaixo:
( ) manômetro é um instrumento para medir a pressão absoluta;
( ) os manômetros de líquido são os mais utilizados na indústria para medir pressões elevadas;
( ) uma pressão manométrica negativa implica numa pressão absoluta não-negativa;
( ) sobre uma superfície plana, o empuxo exercido por um líquido varia apenas com a área dessa
superfície;
( ) a diferença de pressão no interior de uma massa fluida é igual ao peso dessa coluna de fluido.
2. O Departamento financeiro de determinada companhia está Figura III.20 – Reservatórios e
comprando um equipamento a laser de R$ 50.000,00 para medir a manômetro neste problema.
diferença de níveis d’água de dois grandes reservatórios. É
importante que pequenas diferenças de níveis sejam medidas com
exatidão. Você sugere que a tarefa seja desempenhada pela
adequada instalação de um manômetro de R$ 600,00, ver figura ao
lado. Um óleo (menos denso do que a água) pode ser usado para
proporcionar o aumento de 15:1 do movimento do menisco. Assim,
pequena diferença de níveis dos reservatórios produzirá nos níveis
dos óleos do manômetro deflexão 15 vezes maior. Determinar a
densidade relativa do óleo capaz de produzir esta deflexão. Fonte: O autor.

3. Um manômetro de tubo inclinado (micromanômetro), com θ = 6o está conectado a um reservatório


de água de grandes dimensões (admitir que a superfície livre do líquido permaneça a nível
constante). Sabendo-se que R = 3,05 m, determine a pressão efetiva do ar sobre a água em mmHg e
em Pascal.
4. Um sólido cúbico, cujo volume é 3,375 L, está mergulhado numa Figura III.21 – Cubo
mistura de água e óleo, a 10oC, como ilustra a Figura III.21. flutuando numa interfase.
Sabendo-se que 20% do volume do cubo se encontram na fase
oleosa, calcule o empuxo da água no fundo do corpo cúbico e o
empuxo de flutuação neste sólido.
5. Um cubo de densidade relativa 0,5 é colocado num recipiente
contendo mercúrio (massa específica igual a 13600 kg/m3).
Sabendo-se que a aresta do cubo mede 20 cm, determine a altura
Fonte: O autor.
da parte imersa.
6. Um corpo sólido pesando 100 N, quando totalmente imerso em água, tem o peso aparente
(diferença entre o a força peso e a força empuxo) igual a 80 N. Qual a densidade relativa do corpo?
Assumir a aceleração da gravidade igual a 10 m/s2.
7. Um bloco (paralelepípedo) de peso 2.000 N, com 4 m de altura, 20 m de largura e 8 m de
profundidade, flutua em água pura. Quanto ele afundará quando um carro pequeno (peso igual a
1.200 N) se mantiver sobre ele (g = 10,0 m/s2).

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CAPÍTULO IV

FLUIDODINÂMICA:
EQUAÇÕES FUNDAMENTAIS
“Não existem métodos fáceis para resolver problemas difíceis”.
René Descartes (1596–1650)

SISTEMA E VOLUME DE CONTROLE.


Pode-se definir um sistema como uma porção de matéria de identidade fixa, sendo assim
caracterizado por possuir uma quantidade definida de matéria (massa ou número de mols) distinta de
todo o meio restante (vizinhança). A fronteira de um sistema é uma superfície fechada que pode variar
com o tempo, desde que contenha sempre a mesma massa.
O volume de controle (V.C.) é uma região fixa no espaço (sistema aberto). A fronteira de um
volume de controle é a superfície de controle (S.C.). A forma e o tamanho da superfície de controle
são totalmente arbitrários.

LEIS BÁSICAS DOS SISTEMAS.


As leis para a conservação de massa, energia e momentum são todas estabelecidas em termos de
um sistema, em que tais leis representam a interação entre um sistema com suas vizinhanças. A título
de revisão, algumas das principais leis físicas para os sistemas são a seguir apresentadas.

Lei da Conservação de Massa.


A Lei da Conservação de Massa ou da Matéria, também conhecida como Lei de Lomonosov-
Lavoisier, estabelece que a massa de um sistema fechado, Ms, permanecerá constante, independente do
processo agindo dentro do sistema. Isto implica que a massa total de um sistema fechado se conserva
para qualquer processo químico:
dM s
 0, (IV.1)
dt
em que M s   dm     dV
 ; dm e dV
 são, respectivamente, elementos infinitesimais de massa e
s s
volume; e  a massa específica de cada um destes elementos. O substcrito s se refere ao sistema.

Segunda Lei de Newton.



A quantidade de movimento linear, p , também chamada de momento linear ou momentum
linear é uma grandeza física que está associada à inércia de um corpo e para um sistema fechado pode
ser definida como:
 
ps  Ms  vs , (IV.2)

em que v s é a velocidade do sistema.
A Segunda Lei de Newton enuncia que a taxa de variação do momento linear de um sistema em

relação ao tempo é igual a resultante das forças ( F ) que agem sobre este corpo:
58 Parte Dois: Mecânica dos Fluidos

 dp s
F , (IV.3)
dt
   
em que p s   v  dm   v    dV
 , e v é a velocidade do elemento infinitesimal de massa.
s s

Desta lei, verifica-se que a quantidade de movimento se conserva num sistema mecanicamente
isolado, isto é, num sistema cuja resultante das forças externas é nula. Outrossim, quando a massa do
corpo é constante, verifica-se a forma popularizada desta lei:
 d  
 dM s  dv s dv s 
F  M s v s    v  Ms  Ms  Ms  a . (IV.4)
dt dt dt dt
E assim, tem-se que a força resultante aplicada a um sistema é diretamente proporcional ao

produto entre sua massa inercial ( M s ) e a aceleração ( a s ) adquirida pelo mesmo.
Momento da Quantidade de Movimento.
O momento da quantidade de movimento, também denominado quantidade de movimento

angular, momentum angular ou momento angular, de um sistema ( H s ) é a grandeza física que
relaciona a distribuição da massa desse sistema, ao redor de um eixo de rotação, com sua velocidade
angular. A forma mais comum de se determinar a quantidade de movimento angular é através do
  
produto do momento de inércia do sistema (Js) e sua velocidade angular ( s ), isto é, H s  J s s .

Também pode ser determinada através do produto vetorial do raio do movimento angular ( r ) e da
   
quantidade de movimento linear ( p ) do corpo, H s  r  p . O torque aplicado a um corpo produz uma
variação da quantidade de momento angular, como mostrado na Equação (IV.5):

 dH s
T , (IV.5)
dt
     
em que T é o torque aplicado e H s   r  v  dm   r  v   dV
 .
s s

Primeira Lei da Termodinâmica.


A energia de um sistema se conserva:
dE s dQ dW
  , (IV.7)
dt dt dt
em que E s   e  dm   e    dV
 e e é a energia específica do elemento de fluido.
s s

Segunda Lei da Termodinâmica.


dSs 1 dQ
  , (IV.8)
dt T dt
em que Ss   s    dV
 e s é a entropia específica do elemento de fluido.
s

Fenômenos de Transporte para Cursos Técnicos e Tecnológicos


Capítulo IV: Fluidodinâmica - Equações Fundamentais 59

A FORMULAÇÃO DO VOLUME DE CONTROLE NA DETERMINAÇÃO DA


VARIAÇÃO DE UMA PROPRIEDADE DO SISTEMA.
No estudo do escoamento de fluidos, partículas individuais não são, em geral, facilmente
identificáveis. Assim, é mais conveniente observar uma dada região fixa do espaço (volume de
controle) através da qual o fluido escoa, que focar a atenção em uma dada massa de fluido (sistema)
escoando.
Deste modo, procurar-se-á agora deduzir uma relação entre a variação de uma dada propriedade
do sistema e as variações da propriedade num volume de controle. Para isso, considere-se inicialmente
que, de forma generalizada, uma propriedade Ns qualquer do sistema possa ser representada como
segue:
N s       dV
 , (IV.9)
s
em que  é a propriedade específica relacionada a Ns.
Para um sistema fluido escoando, ao longo de um intervalo de tempo t , como ilustra a
Figura IV.1,
Figura IV.1 – Fluido escoando através de um volume de controle arbitrário.

Fonte: O autor.

a variação da propriedade Ns do sistema pode ser equacionada como segue:


N s,t t  N s,t   N III  N IV t t   N I t . (IV.10)

Reescrevendo a Equação (IV.10) considerando a propriedade do sistema em elementos


infinitesimais de volume nas regiões do escoamento:

Hugo L. B. Buarque
60 Parte Dois: Mecânica dos Fluidos

N s,t t  N s,t    III


       dV
    dV 
IV

t  t
       dV  ,
I t
(IV.11)

 é o elemento de volume do sistema.


em que dV
Ao somar e subtrair       dV  ao segundo membro e dividindo por t , tem-se que:
II t  t

N s, t t N       dV       dV         dV  t  t


 
s,t III II I t

t t

      dV
 
t  t
       dV  t  t

IV II
. (IV.12)
t
Assim, no limite quando t tende a zero,

N s, t t  N s,t       dV


  t  t
       dV
 
 Lim 
V . C. V . C. t
Lim
t 0 t t 0 t

      dV
 t  t
       dV  t  t
 Lim
IV II
, (IV.13)
t 0 t
resultando em:
dN s   
      dV
       v  dA , (IV.14)
dt t V .C. S. C .

dN s 
t  V .C.
em que é a taxa de variação da propriedade N no sistema,     dV
 é a taxa de variação
dt
 
da propriedade N no volume de controle, e      v  dA é o fluxo de N através da superfície de
S. C .

controle.

Fenômenos de Transporte para Cursos Técnicos e Tecnológicos


Capítulo IV: Fluidodinâmica - Equações Fundamentais 61

BALANÇO GLOBAL DE MASSA, ENERGIA E QUANTIDADE DE


MOVIMENTO (MOMENTUM).

Balanço Global de Massa.


Ao se considerar a Lei da Conservação da Massa (Equação IV.1) e tomando-se a equação do
balanço global (Equação IV.14) para esta propriedade, pode-se chegar à forma geral do balanço global
de massa:
  
  dV    v  n  dA  0 (IV.15)
 t V.C. S.C


em que n é o vetor unitário normal ao elemento de área da superfície de controle.
A Equação (IV.15) pode facilmente ser estendida para representar um balanço global de massa
para um dado componente i ao se adicionar um termo de geração ( R i ) no segundo membro da
equação.

Exercício Resolvido IV.1 – Aplicar o balanço global de massa a Figura IV.2 – Escoamento
um escoamento permanente num trecho de tubo de corrente, como em tubo de corrente.
ilustrado na Figura IV.2, entre as seções 1 e 2.
Resolução:
Ao se fazer um balanço global de massa (Equação IV.15) para o
tubo de corrente em estado permanente, assumindo que a massa
específica do fluido é constante em qualquer posição nas seções Fonte: O autor.
consideradas, que não há escoamento através da parede do tubo, e
que o fluido
0 atravessa as seções 1 e 2 perpendicularmente a estas:
  
 dV    v  n  dA  0   1  A1
1 1

t V.C. S.C A1 A1
v dA   2  A 2
A2 A2
v dA  0 

 2  A 2  v 2  1  A1  v1  0
1
A A
em que v  v dA é a definição de velocidade media ou global do escoamento numa
seção A.
Da equação obtida conclui-se que a vazão mássica do sistema é constante ao longo do
escoamento para as restrições consideradas:
dm1 dm dm 2
 1  v1  A1   2  v2  A 2  ,
dt dt dt
ou ainda,

1 m
m  m
 2.
Caso o escoamento também seja incompressível (ρ constante), a vazão volumétrica do sistema
também será constante:
v1  A1  v 2  A 2 ,
ou ainda,
 V
V 1  V
2.

Hugo L. B. Buarque
62 Parte Dois: Mecânica dos Fluidos

Exercício Resolvido IV.2 – Para um escoamento laminar e incompressível através de um tubo


   r 2 
cilíndrico de raio R, o perfil de velocidade é parabólico, v  v max 1    , como visto no
  R  
Capítulo I. Determine o valor da velocidade média para este escoamento.
Resolução:
1
A A
Da definição dada, v  v dA , tem-se que

  r 2 
  rR 
1 2 R v max 2 R
v   1     r dr d  v  r 3 dr d 
2
v max
R2 0 0
  R   R4 0 0

v max
v .
2

Exercício Resolvido IV.3 – Inicialmente, um tanque, como ilustrado na Figura IV.3 – Tanque
Figura IV.3, contém 500 kg de salmoura contendo 10% de sal. No agitado com salmoura.
ponto (1) no volume de controle (figura ao lado), uma solução salina
entra a uma vazão constante de 10 kg/h contendo 20% do sal. Uma
corrente de salmoura deixa o ponto (2) a uma taxa constante de 5 kg/h.
O tanque está bem agitado. Derive uma equação relacionando a fração
mássica wa do sal no tanque em qualquer tempo t em horas.
Resolução:
Ao se fazer um balanço global de massa (Equação IV.15) para o
sistema descrito no enunciado: Fonte: O autor.

   
  dV    v  n  dA  0  dM  5  10  0 
 t V.C. S.C  t  V.C.
M V.C. dM V.C. M t
5  0   5   dM V.C.  5 dt 
t dt 500 0

M V.C.  5t  500 .
A equação logo acima relaciona a massa total, M V.C. , do tanque (volume de controle) em
qualquer tempo t. Agora, ao se realizar um balanço global de massa para o sal (componente A),
usando novamente a Equação (IV.15):

dM A  5  w A  10  0,20  0  M V.C.  w A   5w A  2  0 
d

t V.C. dt
 5w A  2  0  5w A  5t  500   5w A  2  0 
dM V.C. dw A dw A
 w A  M V.C. 
dt dt dt
wA dw A t dt
0,10 2  10w A   0 5t  500 
2
 100 
w A  0,2  0,1    .
 100  t 

Fenômenos de Transporte para Cursos Técnicos e Tecnológicos


Capítulo IV: Fluidodinâmica - Equações Fundamentais 63

Balanço Global de Energia.


Considerando que a energia do sistema (E) varia somente em relação às energias interna, cinética
e potencial (   u  v 2 / 2  g z ), como geralmente ocorre em sistemas fluidos na indústria química, e
tomando-se a Primeira Lei da Termodinâmica (Equação IV.7) e a equação do balanço global
(Equação IV.14) para aquela propriedade, pode-se obter uma expressão para o balanço global de
energia nas condições dadas como segue:

dQ dW   v2   v2    
    u   g z   dV    u   g z   v  n  dA (IV.16)
dt dt t V.C.  2  S.C
 2 
em que u é a energia interna de uma unidade de massa de fluido (energia interna específica).

Exercício Resolvido IV.4 – Água entra em uma caldeira a Figura IV.4 – Caldeira
18,33oC e 137,9 kPa através de um tubo com uma discutida neste exercício.
velocidade média de 1,52 m/s. Este sistema é ilustrado na
Figura IV.4. Vapor sai da caldeira a uma altura (z) de
15,2 m acima da entrada de líquido, com pressão,
temperatura e velocidade média de 137,9 kPa, 148,9oC e
9,14 m/s, respectivamente. Quanto calor deve ser
adicionado por kg de vapor em estado permanente? O fluxo
nas duas linhas é turbulento.
Resolução: Fonte: O autor.

Aplicando o balanço global de energia (Equação IV.16) para o fluido que atravessa a caldeira,
considerando estado permanente e somente a realização de trabalho mecânico de
expansão/compressão: 0
0
     v2   v2    
  P v  n  dA   0u   g z   v  n  dA 
dQ
 g z   dV    u 
dt S.C t V.C.  2  S.C
 2 
P v2      v2    
 g z   v  n  dA   g z   v  n  dA ,
dQ dQ
    u     h 
S.C 
dt  2  dt S.C
 2 
P
em que a entalpia específica h  u  .

Considerando que o escoamento através dos contornos (1) e (2) é unidimensional e que a
variação de altura, de densidade e de entalpia é desprezível nas seções transversais de entrada
(ponto 1) e de saída (ponto 2):

dQ  v3   v3 
 h 2  2  g z 2   2 v 2 A 2   h 1  1  g z1  1 v1 A1 ,
dt  2v 2 


 2 v1 

1 1
em que v 3  
A A
v 3 dA e v   v dA .
A A
O termo v 3 v pode ser substituído por v 2  , onde  é o fator de correção da velocidade da
energia cinética. O fator  tem sido avaliado para vários escoamentos em tubos e é 1/2 para
escoamento laminar e aproximadamente igual à unidade para escoamento turbulento. Também,
do balanço global de massa para o sistema:

Hugo L. B. Buarque
64 Parte Dois: Mecânica dos Fluidos

dm1 dm 2 dm
 1  v1  A1   2  v 2  A 2 
dt dt dt
Assim,
 v2 v2 
 h 2  h 1    2  1   g  z 2  z1  .
dQ
dm  2 2 
Das tabelas de entalpia para a água: h1 = 76,97 kJ/kg e h2 = 2.771,4 kJ/kg, o que resulta em:
 9,14 2 1,52 2 
  9,81  15,2 
dQ
 2,6944  10 6   
dm  2 2 

dQ
 2,6946  10 6 J kg .
dm

Balanço Global de Momentum.


Agora, tomando-se a equação do balanço global (Equação IV.14) para a quantidade de
movimento linear, e considerando a Segunda Lei de Newton (Equação IV.3), pode-se obter a equação
do balanço global de momentum:
      
F    v dV    v v  n  dA (IV.17)
t V.C. S.C

Exercício Resolvido IV.5 – Água está escoando numa vazão de Figura IV.5 – Bocal
horizontal deste exercício.
0,03154 m3/s através de um bocal horizontal (ver Figura IV.5) e
descarrega na atmosfera (ponto 2). O bocal está fixado no
ponto 1 e forças de fricção são consideradas desprezíveis. O
diâmetro interno no ponto 1 é 0,0635 m e no ponto 2 é 0,0286 m.
Calcule a força resultante do fluido sobre o bocal. A densidade
da água é 1.000 kg/m3.
Fonte: O autor.
Resolução:
Aplicando o balanço global de momentum (Equação IV.17) para o fluido que atravessa o bocal,
considerando estado permanente e escoamento incompressível na direção axial (direção x):
  0       
F    v dV    v v  n  dA  F   v  v x  dA 
t V . C. S. C S. C

 2 2 

Fx   v  dA 
2    v x , 2  v x ,1  .
Fx    V
S.C
x
 v x , 2 v x ,1 
 
O termo v 2 v pode ser substituído por v  , onde  é o fator de correção da velocidade do
momentum. O fator  tem sido avaliado para vários escoamentos em tubos e é 3/4 para
escoamento laminar e varia de 0,95 a 0,99 para escoamento turbulento. Assim, tomando   1 e
calculando as velocidades médias nas seções 1 e 2:
 V     4  0,03154 4  0,03154 
Fx  1.000  0,03154  v x , 2  v x ,1   Fx  31,54  
V
     
 A 2 A 1     0,0286
2
  0,0635 2 

Fenômenos de Transporte para Cursos Técnicos e Tecnológicos


Capítulo IV: Fluidodinâmica - Equações Fundamentais 65

Fx  1234,3 N
Do balanço global de energia para o sistema (Equação IV.16), reescrevendo h  u  P /  ,
obtém-se o valor aproximado da componente de F x relacionada à diferença de pressão entre os
pontos 1 e 2:
dQ0  P v3   P v3  P v2 P v2
 u 2  2  2  g z 2   2 v 2 A 2   u 1  1  1  g z1  1 v1A1  2  2  1  1 ;
dt   2v 2 


  2 v1 
  2  2
v 2  v12 D2
Fpx  P1  P2   A1    2   Fpx  3.660,3 N
2 4
Sabendo que a força resultante Fx atuando sobre o fluido tem como componentes a força de
pressão, Fxp , e a força do sólido (bocal) sobre o fluido, R x : Fx  Fpx  R x , tem-se que:
R x  Fx  Fpx  1.234,3  3.660,3  R x  2.426 N .
Assim, a força o fluido sobre o bocal é  R x , cujo valor é igual a 2.426 N.

Hugo L. B. Buarque
66 Parte Dois: Mecânica dos Fluidos

BALANÇO DIFERENCIAL DE MASSA, ENERGIA E QUANTIDADE DE


MOVIMENTO (MOMENTUM).

Balanço Diferencial de Massa (Equação da Continuidade).


Equações de continuidade são as mais fortes Figura IV.6 – Elemento diferencial de volume.
formas locais de leis de conservação. Uma equação da
continuidade é uma equação diferencial que descreve o
transporte conservativo de algum tipo de grandeza.
Desde que massa, energia, momentum, e outras
quantidades naturais são conservadas, uma vasta
variedade de grandezas pode ser descritas com equações
de continuidade.
Desde modo, ao se realizar um balanço de massa
sobre um elemento diferencial de volume ( xyz ),
fixo no espaço, como ilustrado na Figura IV.6, através
do qual o fluido está escoando, obtém-se: Fonte: O autor.


t
     
xyz  (v x ) x  (v x ) x  x yz  (v y ) y  (v y ) y y xz  (v z ) z  (v z ) z  z xy . (IV.18)

Dividindo a equação por  xyz e tomando o limite quando  x , y , z tendem a zero:

 (v x ) x  x  (v x ) (v y ) y y  (v y ) y (v z ) z  z  (v z )


  Lim x
 Lim  Lim z
. (IV.19)
t x 0 x y 0 y z 0 z
Usando a definição de derivada parcial, chega-se à Equação da Continuidade:

     
  v x  v y  v z  , (IV.20)
t  x y z 
ou numa notação (vetorial) mais concisa,
  
    v   0 (IV.21)
t
 
onde  t é a taxa de aumento de massa por unidade de volume e     v é a taxa líquida de adição
de massa por convecção por unidade de volume.

Exercício Resolvido IV.6 – O escoamento ao redor de um dado corpo bojudo é representado


 5x   5y
por: v x   2  2  ; vy  2
2 
; v z  0 . Mostre que a equação da continuidade é
 x y  x  y2
satisfeita. Considerar escoamento permanente (  t  0 ) e incompressível (  constante).
Resolução:
 v  v y  v z    5x    5y  v z 0
   x     0    2  2      0 
 x y z  x  x  y 2  y  x 2  y 2  z


   
5  x 2  y 2  5x  2x  5  x 2  y 2  5y  2 y 
  0 

5  x 2  y2 5  x 2  y2


0  00
 
x 2  y2
2
 
x 2  y2
2
 x 2  y2
2
x 2  y22
 
Fenômenos de Transporte para Cursos Técnicos e Tecnológicos
Capítulo IV: Fluidodinâmica - Equações Fundamentais 67

Balanço Diferencial de Energia.


Inicialmente, ao se considerar que há somente duas formas de energia sendo transferida a partir
de e para um elemento de volume (ΔxΔyΔz) de fluido fixo no espaço, sejam elas a energia interna e a
energia cinética, e que essa transferência se dá por convecção (movimento global do fluido) e por
transporte molecular (condução), tem-se que:
a taxa de acúmulo no volume de controle é dada por:
 v 2 

xyz   u  ; (IV.22)
t  2 
a taxa líquida de energia entrando e saindo do elemento de volume por convecção na direção x pode
ser expressa como:
   v 2     v 2 
yz   v x  u    yz  v x  u   ; (IV.23)
  2  x   2   x  x
a taxa líquida de energia (calor) entrando e saindo do elemento de volume por condução na direção x
pode ser expressa como:
yz  q x x  q x x  x  ; (IV.24)
ainda, o trabalho líquido realizado pelo sistema sobre sua vizinhança, na direção x, pode ser tomado
como a soma dos trabalhos líquidos feitos contra a força gravitacional, contra a pressão estática, P, e
contra as forças viscosas, representados respectivamente nas Equações (IV.25) a IV.27):
   xyz  v x g x  ; (IV.25)
yz  Pv x x  x  Pv x x  ; (IV.26)

yz   xx v x   xy v y   xz v z x  x   xx v x   xy v y   xz v z x ;  (IV.27)
em que gx é a componente da força gravitacional na direção x.
Assim, tomando-se equações similares às Equações (IV.23) a (IV.27) nas direções y e z,
escrevendo-se um balanço de energia, de maneira análoga àquela da dedução da Equação da
Continuidade, dividindo tudo por ΔxΔyΔz, e fazendo Δx, Δy e Δz tenderem a zero, pode-se chegar à
seguinte equação diferencial para o balanço de energia, como segue:
 v 2       v 2      v 2      v 2  
 u       v x  u     v y  u     v z  u   
t  2   x   2  y   2  z   2  
 q q y q z  
  x     v x g x  v y g y  v z g z    P v x  

P v y    P v z  (IV.28);
 x y z   x y z 

   xx v x   xy v y   xz v z  

 yx v x   yy v y   yz v z    zx v x   zy v y   zz v z 

 x y z 
ou numa notação (vetorial) mais concisa,


 u 
t 
v 2    
    v  u 
 
v 2          
    q   v  g     P v       v ,
2 
  (IV.29)
2   

em que q é o vetor fluxo de calor.

Hugo L. B. Buarque
68 Parte Dois: Mecânica dos Fluidos

Balanço Diferencial de Quantidade de Movimento (Equação do Movimento).


Mais uma vez, realizando um balanço global de quantidade de movimento sobre um elemento
diferencial de fluido, fixo no espaço e com volume ΔxΔyΔz, numa dada direção x, sabendo que:
a taxa de acúmulo no volume de controle na direção x é dada por:

xyz   v x  ; (IV.30)
t
a taxa líquida de momentum entrando e saindo do elemento de volume por convecção na direção x
pode ser expressa como:

yz   v x v x    v
x x 
v x x  x ; (IV.31)
a taxa líquida de momentum entrando e saindo do elemento de volume por transporte molecular na
direção x pode ser expressa como:
 
yz   xx x   xx x  x   xz   yx y   yx y  y  xy   zx z   zx z  z  ; (IV.32)

ainda, a força resultante relacionada à pressão e a força gravitacional agindo sobre o fluido na direção
x podem ser equacionadas, respectivamente, como:
yz  Px  Px  x  ; (IV.33)
  g x  xyz ; (IV.34)
e, após dividir todos os termos da equação por ΔxΔyΔz, fazendo em seguida Δx, Δy e Δz tenderem a
zero, pode-se chegar à seguinte equação diferencial para o balanço de quantidade de movimento na
direção x, como segue:
      P
v x      v x v x     v y v y     v y v y     xx  yx   zx     g x (IV.35)
t  x y z   x y z  x
Escrevendo também os balanços de quantidade de movimento para as direções y e z e
adicionando vetorialmente todas estas equações, obtém-se a equação do movimento para um fluido
puro:
     
v     v  v         P   g (IV.36)
t
que é válida para qualquer meio contínuo.
Para um fluido escoando com ρ e μ constantes, a Equação do Movimento pode ser reescrita
como:

v   
   
    
   v    v        v    P   g (IV.37)
t
sendo conhecida como Equação de Navier-Stokes.
A Equação do Movimento também pode ser reescrita para um fluido considerado não-viscoso (forças
viscosas desprezíveis) e escoando com massa específica constante como:


v
t
   
 
  v    v    P   g ,  (IV.38)

recebendo comumente a denominação de Equação de Euler para fluidos não-viscosos.

Fenômenos de Transporte para Cursos Técnicos e Tecnológicos


Capítulo IV: Fluidodinâmica - Equações Fundamentais 69

PROBLEMAS.
1. Na seção 1 de um conduto pelo qual escoa água, ilustrado Figura IV.7 – Conduto deste
na Figura IV.7, a velocidade média é 1 m/s e o diâmetro é problema.
0,5 m. Este mesmo fluido passa pela seção 2 onde o
diâmetro é 1 m. Determine a vazão e a velocidade média na
seção 2.
Fonte: O autor.

2. Escoamento potencial, bidimensional, ao redor de um cilindro circular é representado por:


a  a 
v r  cos    2  b  e v   sen   2  b  , em que a e b são constantes; e r e θ são as
r  r 
coordenadas radial e angular do sistema. Neste caso, a Equação da Continuidade é satisfeita?
3. Mostre que o fator de correção da velocidade da energia cinética é igual a 0,50 para o escoamento
laminar de um fluido newtoniano.
4. Mostre que para um fluido newtoniano e incompressível com condutividade térmica k constante, a
Equação Diferencial do Balanço de Massa pode assumir a forma:

 T   
 
  P   
CP   v  T   k 2 T  T       v    
 t   T  
Dica: use a Segunda Lei de Fick juntamente com as equações fundamentais apresentadas.
5. Mostre a dedução da Equação de Navier-Stokes (Equação IV.37) a partir da Equação do
Movimento (Equação IV.36).

Hugo L. B. Buarque
CAPÍTULO V

ESCOAMENTO DE FLUIDOS IDEAIS

“Somos muito mais frequentemente enganados por nosso raciocínio do que por nossos sentidos”
Leonhard Euler (1707 – 1783).

FLUIDOS IDEAIS.
Um fluido ideal, como definido no Capítulo II, tem uma viscosidade igual a zero e a ciência que
lida com tais fluidos é chamada de hidrodinâmica teórica. Desde que ar e água têm baixas
viscosidades, pode ser admitido normalmente, exceto quando o Número de Reynolds é baixo, que tais
fluidos devam se comportar como fluidos ideais.

EQUAÇÃO DE BERNOULLI – DEDUÇÃO E RESTRIÇÕES.


A Equação de Bernoulli para o escoamento permanente de fluidos não-viscosos é uma das mais
famosas equações na fluidodinâmica clássica. Esta equação pode ser deduzida a partir da Equação de
Euler do Movimento ou a partir do Balanço Diferencial de Energia.

Equação de Euler e a Equação de Bernoulli.


A Equação de Euler (ver Capítulo IV) pode ser escrita para um escoamento permanente como
segue:
   
  
  v v P   g  0 (V.1)

 
  1       
   P   g   z       v  v   v    v  (V.2)
2 
em que z é a elevação no campo gravitacional.
Ao se dividir a Equação (V.2) por ρ e, em seguida, multiplicá-la pelo vetor unitário na direção do
  
escoamento (linha de corrente), s  v v , obtém-se:

  
0
1     1     

 2
 
 s    P  g  s    z  s    v2  s  v    v (V.3)

2 ds
 
1 d 2 1 dP
v  
 ds
 g
dz
ds
0 (V.4)

1
2
  1
d v 2   dP  g  dz  0

(V.5)
72 Parte Dois: Mecânica dos Fluidos

Quando a Equação (V.5) é integrada de um ponto 1 a um ponto 2 na mesma linha de corrente,


tem-se:
1 2

2 1
 
d v2  
2 1

1 
2
 dP  g  dz  0
1
(V.6)

2

1 2

v 2  v12  
P2 1

P1 
 dP  g z 2  z1   0 (V.7)

A Equação (V.7) é denominada Equação de Bernoulli e foi deduzida considerando o escoamento


de uma partícula fluida incompressível, deslocando-se ao longo de uma linha de corrente, sem atrito e
em regime permanente, devendo ser aplicada quando tais restrições forem atendidas.
Ainda, para um escoamento incompressível, a Equação (V.7) assume a forma mais comumente
difundida:

2
 1


v 2  v12  P2  P1   g z 2  z1   0
1 2
(V.8)

Equação do Balanço de Energia (Primeira Lei da Termodinâmica) e a Equação de Bernoulli.

Do balanço global de energia, considerando um volume de controle no qual um fluido escoa sem
atrito, em regime permanente, e realizando somente trabalho mecânico de expansão/compressão, bem
como assumindo que as únicas formas de energia variando são: a energia interna, energia cinética e
energia potencial; tem-se que:
P v2    
 g z   v  n  dA
dQ
    u 
 (V.9)
S.C 
dt  2 
Considerando que a variação de altura, de massa específica e de entalpia é desprezível nas seções
transversais de entrada (Ponto 1) e de saída (Ponto 2) do volume de controle:
dQ  P2 v2  P v2 
   u 2  2  g z 2   2  v 2  A 2   1  u 1  1  g z1  1  v1  A1 (V.10)
dt   2 2   1 2 
Do balanço global de massa para o fluido, sob as mesmas condições, ainda se tem que:
dm
 1  v 1  A 1   2  v 2  A 2 (V.11)
dt
Assim,
dQ  P2 v2  dm  P1 v2  dm
   u 2  2  g z 2     u 1  1  g z1  (V.12)
dt   2 2  dt  1 2  dt
dQ  P2 v 22   P v2 
    g z 2    1  1  g z1   u 2  u 1  (V.13)
dm   2 2   1 2 
P1 v12 P v2  dQ 
  g z1  2  2  g z 2   u 2  u 1   (V.14)
1 2 2 2  dm 

Fenômenos de Transporte para Cursos Técnicos e Tecnológicos


Capítulo V: Escoamento de Fluidos Ideais 73

Assumindo que não há dissipação de energia mecânica, isto é todo calor produzido será oriundo
da variação de energia interna:
P1 v12 P2 v 22
  g z1    g z2 (V.15)
1 2 2 2
Para um escoamento incompressível do fluido a Equação (V.15) assume a seguinte forma:
P1 v12 P v2
  g z1  2  2  g z 2 (V.16)
 2  2

2
 1


v 2  v12  P2  P1   g z 2  z 1   0
1 2
(V.17)

Novamente, a Equação de Bernoulli foi deduzida, mas agora, a partir de outras restrições
impostas ao escoamento do fluido. Sejam elas: escoamento permanente e incompressível, inexistência
de outras formas de trabalho que não o trabalho mecânico de expansão/compressão, inexistência de
dissipação de energia mecânica, e propriedades uniformes nas seções transversais consideradas
(pontos 1 e 2).
É importante comentar que a última restrição apresentada, atendendo-se às demais, é dispensável
ao se considerar a velocidade média do fluido nos pontos 1 e 2 nos casos em que o escoamento seja
turbulento (fator de correção da velocidade da energia cinética aproximadamente igual à unidade):

2
 1


v 2  v12  P2  P1   g z 2  z 1   0
1 2
(V.18)

Exercício Resolvido V.1 – O ar escoa com baixa velocidade por um Figura V.1 – Bocal
bocal horizontal que descarrega na atmosfera (ver Figura V.1). A deste exercício.
área do bocal à entrada mede 0,1 m2 e à saída mede 0,02 m2. O
escoamento é, essencialmente, de fluido incompressível e de atrito
desprezível. Determinar a pressão manométrica, Pef, necessária à
entrada do bocal para produzir a velocidade de saída de 50 m/s.
Considerar ρ = 1,23 kg/m3. Fonte: O autor.
Resolução:
Considerando o escoamento permanente, incompressível, sem atrito e ao longo de uma linha de
corrente, entre os pontos 1 e 2 da figura apresentada (na mesma cota vertical):
P1 v12 P2 v 22
  g z1    g z2
 2  2
v 22  v 12
P1ef  P1  Patm  
2
Da equação da continuidade aplicada ao escoamento, tem-se que:
2
A 
1  v1  A1   2  v 2  A 2  v  v   2
2
1
2
2

 A1 
Assim, por substituição:
A 22  1,23  502
 v 22   0,12 
P 
ef
 1  1  
2 
P1ef  1.476 Pa
2  A12 
1
2  0,02 
Hugo L. B. Buarque
74 Parte Dois: Mecânica dos Fluidos

Exercício Resolvido V.2 – O esquema de um reservatório de Figura V.2 – Reservatório


grandes dimensões com um pequeno orifício na parede lateral e com pequeno orifício .
localizado a uma profundidade h em relação à superfície livre da
água é mostrado na Figura V.2. Desprezando o atrito viscoso,
determine a expressão para a velocidade do jato livre de água que
sai do orifício.
Fonte: O autor.
Resolução:
Considerando o escoamento permanente, incompressível, sem atrito e sem dissipação de energia
mecânica, e fazendo o ponto 1 na superfície livre do líquido (distante do orifício) e o ponto 2 no
orifício de saída:
0
P1 v2 P v2
 1  g z1  2  2  g z 2
 2  2
v 22
 g z 1  z 2 
2
v 2  2gh

PROBLEMAS.
1. O dispositivo mostrado na Figura V.3, denominado tubo de Pitot, é Figura V.3 – Tubo de Pitot.
utilizado para determinar a velocidade de um líquido escoando
(ponto 1). É constituído de um tubo cuja extremidade inferior é
dirigida para montante e cujo ramo vertical é aberto à atmosfera. O
impacto do líquido na abertura (ponto 2) força o mesmo a subir no
ramo vertical a uma altura Δh acima da superfície livre do líquido.
Determinar a expressão da velocidade no ponto 1.
Fonte: O autor.

2. Um tubo em U, como ilustrado na Figura V.4, funciona como sifão. A Figura V.4 – Sifão.
curva deste tubo está 1 m acima da superfície da água e a saída situa-se
7 m abaixo da mesma superfície. Se o escoamento em primeira
aproximação processa-se com atrito nulo, e o jato de saída jorra à
pressão atmosférica, determinar (depois de listar as restrições
necessárias): a velocidade do jato livre; a pressão absoluta do fluido ao
escoar pela curva (ponto A).

Fonte: O autor.

Fenômenos de Transporte para Cursos Técnicos e Tecnológicos


CAPÍTULO VI

ESCOAMENTO DE FLUIDOS REAIS

“Aprender sem pensar é tempo perdido."


Confúcio (551 a.C. – 479 a.C).

FLUIDOS REAIS.
Embora a teoria dos fluidos ideais seja útil em diversas situações práticas, a maioria dos
problemas industriais requer a resolução das equações fundamentais do escoamento de fluidos para
fluidos reais, onde as forças viscosas devem ser consideradas na avaliação desse escoamento.

O CONCEITO DE CAMADA LIMITE HIDRODINÂMICA.


A camada limite hidrodinâmica é a região próxima ao sólido onde o movimento do fluido é
afetado pela presença da superfície sólida. Esta camada está ilustrada na Figura VI.1. No seio do
fluido, fora da camada limite, o escoamento é, geralmente, governado pela teoria dos fluidos ideais. Ao
contrário, as forças viscosas são grandezas importantes no interior da camada limite. A espessura da
camada limite, δ, é normalmente definida como a distância a partir da superfície na qual a velocidade
do fluido atinge 99% do valor da velocidade do fluido no seio do fluido.
Figura VI.1 – Camada limite hidrodinâmica.

Fonte: O autor.
Para o escoamento sobre uma placa plana, a espessura da camada limite aumenta a partir de um
valor nulo, obtido no bordo de ataque, desde um perfil para o escoamento laminar até outro perfil para
escoamento turbulento, como mostrado na figura abaixo. Na Figura VI.2 também é apresentada uma
comparação ilustrativa entre o escoamento sobre uma placa plana e no interior de um tubo cilíndrico.
76 Parte Um: Introdução

Figura VI.2 – Comparação entre escoamentos sobre placa plana e no interior de tubos cilíndricos.

Fonte: O autor.

O CONCEITO DE PERDA DE CARGA.


A experiência mostra que no escoamento dos fluidos reais, uma parte de sua energia mecânica se
dissipa em forma de calor e nos turbilhões que se formam na corrente fluida por causa do atrito
viscoso. Essa parte da energia é consumida pelo fluido real ao vencer diversas resistências, que não
foram levadas em conta ao tratarmos do fluido ideal. Uma das resistências é causada pela viscosidade
do fluido real; outra é provocada pelo contato do fluido com a parede interna do conduto (efeito da
camada limite). Também, várias resistências são causadas na tubulação por peças de adaptação ou
conexão (curvas, joelhos, tês, registros, etc.). Assim, a carga (energia por unidade de peso do fluido)
no fluido real não é mais aquele valor visto na Equação de Bernoulli para os fluidos ideais, pois uma
parte da carga ficou perdida no fluido real (a chamada perda de carga). Do balanço global de energia,
considerando um fluido escoando em regime permanente, bem como assumindo que as únicas formas
de energia variando são a energia interna, energia cinética e energia potencial, tem-se que:

P v2    
 g z   v  n  dA
dQ
    u  (VI.1)
S.C 
dt  2 
Considerando que a variação de altura, de massa específica e de entalpia é desprezível nas seções
transversais de entrada (ponto 1) e de saída (ponto 2) do volume de controle e tomando a equação do
balanço global de massa:

P1 v12 P v2 1  dQ 
  z1  2  2  z 2    u 2  u 1   (VI.2)
 1 2g  2 2g g  dm 
1  dQ 
O termo h p    u 2  u1   é referente à perda de carga e, assim, a Equação de Bernoulli
g  dm 
pode ser adaptada para:

P1 v12 P2 v 22
  z1    z2  hp (VI.3)
 1 2g  2 2g

Fenômenos de Transporte para Cursos Técnicos e Tecnológicos


Capítulo II: Propriedades e Escoamento dos Fluidos 77

PERDA OU GANHO DE ENERGIA PELO USO DE EQUIPAMENTOS.


Quando um trabalho de eixo é realizado pelo ou sobre o fluido, devido à ação de um
equipamento sobre o sistema, a energia envolvida deve ser contabilizada. Do balanço global de
energia, considerando um fluido escoando em regime permanente, com trabalho de eixo sendo
realizado sobre o fluido, bem como assumindo que as únicas formas de energia variando são: a energia
interna, energia cinética e energia potencial; tem-se que:

P v2    
 g z   v  n  dA
dQ dWe
     u  (VI.4)
S.C 
dt dt  2 
Considerando que a variação de altura, de massa específica e de entalpia é desprezível nas seções
transversais de entrada (ponto 1) e de saída (ponto 2) do volume de controle, tomando a equação do
balanço global de massa, e assumindo que não há dissipação de energia mecânica, isto é todo calor
produzido será oriundo da variação de energia interna:

dWe P v2  P v2 
  g   2  2  z 2   1  1  z 1 
m (VI.5)
dt   2 2g   1 2g 
Definindo as relações entre a carga de uma bomba (ou compressor) ou de uma turbina e o
trabalho de eixo realizado sobre o sistema, respectivamente como:

dWe
 m
 gHB (VI.6)
dt
dWe
  m
 g  HT (VI.7)
dt
em que HB e HT são, respectivamente a carga da bomba e a carga da turbina, a Equação de Bernoulli
pode ser reescrita como segue:

P1 v12 P2 v 22
H   z1    z2 (VI.8)
 1 2g  2 2g
em que H é a carga do equipamento adicionando trabalho de eixo (energia) ao fluido.

EXTENSÃO DA EQUAÇÃO DE BERNOULLI PARA OS FLUIDOS REAIS.


Considerando as perdas e os ganhos de energia já discutidos, a Equação de Bernoulli pode ser
escrita numa forma mais geral como:

P1 v12 P v2
H   z1  2  2  z 2  h p (VI.9)
 1 2g  2 2g

Hugo L. B. Buarque
78 Parte Um: Introdução

AVALIAÇÃO DA PERDA DE CARGA EM TUBULAÇÕES.


Como já mencionado, a perda de carga, hp, corresponde à parcela de energia mecânica do
escoamento que é irreversivelmente convertida em energia térmica por causa do atrito viscoso do
fluido entre duas seções consideradas. Considera-se a perda de carga total como a soma de dois tipos
diferentes de perda de carga, que são:

 a perda de carga distribuída, hp,d, que ocorre ao longo dos trechos retos de tubulação, entre as
duas seções consideradas, devido ao atrito viscoso;

 a perda de carga localizada, hp,l, devido aos acessórios ou acidentes localizados em dadas
posições nas tubulações, tais como válvulas, curvas, variações na seção transversal etc.
Assim, tem-se a perda de carga total, entre duas seções consideradas, dada por:

h p   h p ,d   h p ,l (VI.10)

Perda de Carga Distribuída.

A parede dos dutos retilíneos causa uma perda de pressão distribuída ao longo do comprimento
do tubo, fazendo com que a pressão total vá diminuindo gradativamente ao longo do comprimento e,
por isso, é denominada de Perda de Carga Distribuída.
Esta perda de carga depende do diâmetro, D, e do comprimento, L, do tubo; da rugosidade ε da
parede; das propriedades do fluido, da massa específica ρ, da viscosidade μ e da velocidade v do
escoamento. Dentre as propriedades do fluido, a viscosidade é a mais importante na dissipação de
energia. Além de ser proporcional à perda de carga, sua relação com as forças de inércia do
escoamento fornece um número adimensional, o número de Reynolds, Re, que é o parâmetro que
indica o regime do escoamento.
Com o intuito de estabelecer correlações que possam estimar a perda de carga em condutos, já há
cerca de dois séculos estudos vêm sendo realizados. Além do estudo teórico, várias experiências foram
efetuadas para o desenvolvimento de fórmulas que expressem satisfatoriamente a perda de carga
distribuída, destacando-se entre outros, os trabalhos de Moody-Rouse, de Hazen-Williams.
Atualmente, a expressão universalmente utilizada para análise do escoamento em tubos, proposta em
1845, é a conhecida equação de Darcy-Weisbach:
L v2
h p ,d  f (VI.11)
D 2g
onde h p ,d é a perda de carga ao longo do comprimento do tubo, f é o fator de atrito de Darcy-

Weisbach, L é o comprimento do tubo, D é o diâmetro interno do tubo, v é a velocidade superficial


média do fluido no interior do tubo e g é a aceleração local da gravidade.
Fenômenos de Transporte para Cursos Técnicos e Tecnológicos
Capítulo II: Propriedades e Escoamento dos Fluidos 79

O fator de atrito, f, que pode ser determinado experimentalmente, é função das propriedades do
fluido e da tubulação, representadas por dois parâmetros adimensionais: o Número de Reynolds, Re, e
a rugosidade relativa da parede do tubo, ε/D, que nada mais é que a relação entre a rugosidade absoluta
e o diâmetro interno da tubulação. Mas não se encontrou logo uma maneira segura para determinação
do fator de atrito de Darcy-Weisbach. Somente em 1939 é que se estabeleceu definitivamente uma lei
para fator de atrito, f, a equação de Colebrook-White:

1  D 2,51 
 2 log 10   (VI.12)
 3,7 Re f 
f  
A equação de Colebrook-White tem sido considerada como a mais precisa lei de resistência ao
escoamento e vem sendo utilizada como padrão referencial. Mas, apesar disto e de todo o
fundamentalismo e embasamento teórico agregado à mesma, tal equação tem uma particularidade: é
implícita em relação ao fator de atrito, ou seja, a grandeza f está presente nos dois membros da
equação, sem possibilidade de ser explicitada em relação às demais grandezas. Sua resolução requer
um processo iterativo.
Diversos outros pesquisadores têm desenvolvido equações explícitas, que embora mais simples
que equação de Colebrook-White, são menos precisas ou, quando precisas são mas mais complicadas.
A Tabela VI.1 a seguir apresenta um pequeno conjunto destas equações compiladas da literatura.

Tabela VI.1 – Correlações típicas para o fator de atrito de Darcy.


Autor Equação Aplicabilidade
regime laminar;
Hagen-
Poiseuille f  64 Re (VI.13) qualquer tipo de tubo
hidraulicamente liso.
5.000 < Re < 105;
f  0,361 Re
-0,25
Blasius (VI.14) tubo hidraulicamente liso.

f  1,564  LnRe - 3
4.000 < Re < 108;
Konakov 1 (VI.15) tubo hidraulicamente liso.
tubos rugosos;
f  0,0275   D  68 Re 
0, 25 para tubos lisos coincide
Altshul (VI.16) com a equação de
Blasius.

1    D  2,18   D 14,5 
Shacam  1,7372  Ln   Ln   (VI.17) tubos rugosos
f   3,7  Re  3,7 Re 
1   D 5,74  tubos rugosos;
Swamee e  1,7372 Ln  0 ,9  (VI.18) 5.000<Re<108;
 3,7 Re  10–6   D 10–2.
Jain
f
1 12
  16
16 
32

 8 
12
  7 
0,9
 D    37530   tubos rugosos;
f  2     2,457 Ln       
Re   
Churchill (VI.19) qualquer regime.
 Re  


 Re  3,7  
 
 

Hugo L. B. Buarque
80 Parte Um: Introdução

Para a estimativa do fator de atrito, além do Número de Reynolds, a rugosidade relativa do tubo
deve ser conhecida. A rugosidade da parede da tubulação, que é definida como a altura média das
saliências da superfície interna do tubo, depende do material de fabricação do duto, bem como do seu
estado de conservação. De maneira geral um tubo usado apresenta uma rugosidade maior que um tubo
novo. Valores médios de rugosidade para alguns tipos de tubos mais comuns, incluindo a condição de
uso para alguns deles, são amplamente conhecidos e estão apresentados na Tabela VI.2.

Tabela VI.2 – Rugosidades absolutas típicas de tubos comerciais.


 
Material Material
(mm) (mm)
Aço comercial novo (com costura) 0,0450 Ferro galvanizado 0,1500
Aço laminado novo 0,0400 a 0,1000 Ferro forjado 0,0500
Aço soldado novo 0,0500 a 0,1000 Ferro fundido novo 0,2500 a 0,5000
Aço soldado usado limpo 0,1500 a 0,2000 Ferro fundido com leve oxidação 0,3000
Aço soldado moderadamente oxidado 0,4000 Ferro fundido oxidado 1,0000 a 1,5000
Aço soldado revestido de asfalto 0,0500 Ferro fundido centrifugado 0,0500
Aço revestido de epóxi ou PVC 0,0015 Ferro fundido com cimento centrifug. novo 0,0500
Aço rebitado novo 1,0000 a 3,0000 Ferro fundido com cimento centrifug. usado 0,1000
Aço rebitado em uso 6,0000 Ferro fundido com revestimento asfáltico 0,1200 a 0,2000
Aço austenítico 0,0050 Concreto centrifugado novo 0,1600
Aço extrudado e trefilado 0,0200 Concreto armado liso, vários anos de uso 0,2000 a 0,3000
Aço ou ferro galvanizado 0,1500 Concreto com acabamento normal 0,9000 a 9,0000
Fibrocimento 0,5000 PVC 0,0015
Cimento amianto novo 0,0250 Teflon 0,0100
Alumínio 0,0040 Cobre, latão, chumbo ou vidro extrudado 0,0015

O fator de atrito para o escoamento num duto pode ser facilmente obtido, com o auxílio do
diagrama mostrado na Figura VI.3, a partir da determinação do Número de Reynolds e da rugosidade
relativa da parede do duto. Este diagrama foi confeccionado primeiramente por Moody a partir de
dados de vários pesquisadores e por esse motivo recebe o nome de Diagrama de Moody.

Perda de Carga Localizada.

A Perda de Carga Localizada é causada pelos acessórios de canalização, isto é, as diversas peças
necessárias para a montagem da tubulação e para o controle do fluxo do escoamento (válvulas, curvas,
reduções, etc.), que provocam variação brusca da velocidade, em módulo ou direção, intensificando a
perda de energia nos pontos onde estão localizadas. A seguir veremos os métodos de cálculo da Perda
de Carga Localizada.

Fenômenos de Transporte para Cursos Técnicos e Tecnológicos


Capítulo II: Propriedades e Escoamento dos Fluidos 81

Figura VI.3 – Diagrama de Moody.

Fonte: O autor.

a) Método do Comprimento Equivalente

O comprimento equivalente local é definido como um comprimento de tubulação reta, ℓeq, que
causa a mesma perda de carga que o acessório. Os comprimentos equivalentes dos acessórios presentes
na tubulação são “adicionados” ao comprimento físico da tubulação, L, fornecendo um comprimento
equivalente total, Leq. Matematicamente o comprimento equivalente total pode ser calculado pela
expressão:

L eq  L    eq (VI.13)
Este comprimento equivalente total permite tratar o sistema de transporte de líquido como se
fosse um único conduto retilíneo. Nessa condição a perda de carga total do sistema pode ser avaliada
pela equação da Fórmula Universal (Darcy-Weisbach).
O comprimento equivalente de cada tipo de acessório pode ser determinado experimentalmente,
e o valor obtido é válido somente para o tubo usado no ensaio. Para uso em tubos diferentes os valores
devem ser corrigidos em função das características do novo tubo. Existem também tabelas e
nomógrafos de fácil utilização onde são constados os comprimentos equivalentes dos principais
componentes de um sistema hidráulico.

Hugo L. B. Buarque
82 Parte Um: Introdução

b) Método do Coeficiente de Perda em Função da Carga Cinética

O acessório tem sua perda de carga localizada calculada através do produto de um coeficiente de
perda de carga característico, K, pela carga cinética que o atravessa. Cada tipo de acessório tem um
coeficiente de perda de carga característico. A perda causada pelo acessório é calculada pela
expressão:

v2
h p ,l   K i  (VI.14)
i 2g
O método de cálculo através da carga cinética é mais geral, pois o valor do coeficiente K não
depende do tubo usado no ensaio como ocorre com o comprimento equivalente. A Tabela VI.3
apresenta alguns coeficientes de perda de carga localizada (K) sugeridos (aproximados) para válvulas e
acessórios a serem utilizados nos exercícios deste capítulo. Valores reais devem ser buscados na
literatura especializada.

Tabela VI.3 – Coeficientes de perda de carga sugeridos (aproximados) para acessórios de aço.
Acessórios K Acessórios K
Comporta aberta 1,00 Pequena derivação 0,05
Controlador de vazão 2,50 Saída de canalização 1,00
Cotovelo ou joelho 45º 0,40 Tê de passagem direta 0,60
Cotovelo ou joelho 90º 0,90 Tê de saída bilateral 1,80
Crivo 0,75 Tê de saída de lado 1,30
Curva (raio longo) de 22,5º 0,10 Válvula borboleta aberta 0,30
Curva (raio longo) de 45º 0,20 Válvula de ângulo aberta 5,00
Curva (raio longo) de 90º 0,40 Válvula de gaveta aberta 0,20
Entrada de borda 1,00 Válvula de pé 1,75
Entrada normal 0,50 Válvula de retenção ou segurança 2,50
Junção 0,40 Válvula globo aberta 10,00
Válvula de gaveta
h/d 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%
K ∞ 190 45,0 18,0 8,10 4,00 2,10 0,95 0,40 0,30 0,20
Válvula esférica
θ 5º 10º 15º 20º 25º 30º 40º 45º 50º 55º 67º
K 0,05 0,30 0,90 1,80 3,50 6,00 21,0 41,0 95,0 275 ∞
Válvula borbuleta
θ 5º 10º 15º 20º 30º 40º 50º 60º 65º 70º 90º
K 0,35 0,50 0,90 1,50 3,90 11,0 33,0 118 256 751 ∞

Fenômenos de Transporte para Cursos Técnicos e Tecnológicos


Capítulo II: Propriedades e Escoamento dos Fluidos 83

Exercício Resolvido VI.1 – Considere um escoamento de água, com vazão V igual a
0,02 m3/s, num duto horizontal de ferro galvanizado de seção transversal circular com
diâmetro D = 10 cm. O duto tem comprimento L = 300 m e rugosidade relativa ε/D igual a
0,0015. Considere que ρágua igual a 1.000 kg /m3 e μágua igual a 0,001 Pa•s, determine a perda
de carga distribuída e a correspondente queda de pressão no duto.
Resolução:
Utilizando a Equação de Darcy-Weisbach:
L v2
h p ,d  f
D 2g

h p ,d  f
 

 D 2 2 3.000  4  0,02  2
300 4V
  f
0,10 2  9,81 19,62    0,10 2 
h p,d  991,5  f
O fator de atrito pode ser determinado a partir do Diagrama de Moody. Para isso,
calcula-se o Número de Reynolds (Re) para o escoamento:
 4  0,02 
1.000     0,10
  v  Dh    0,10 2 
Re  
 0,001
Re  2,55  10 5
e o utilizamos juntamente com a Figura VI.4 – Uso do diagrama de Moody neste exercício.
rugosidade relativa (ε/D) na
estimativa do fator de atrito a partir
daquele diagrama (ver Figura VI.4)
e da perda de carga distribuída:

f  0,023

h p,d  991,5  0,023

h p,d  22,8 m

Da Equação de Bernoulli
pode-se determinar a queda de
pressão no duto ao longo do Fonte: O autor.
escoamento:
P1 v12 P v2
H   z 1  2  2  z 2  h p ,d
 2g  2g
P2  P1
 h p ,d
g
P  22,8  1.000  9,81
P  223.668 Pa
Ou seja, a queda de pressão é de cerca de 223,7 kPa.

Hugo L. B. Buarque
84 Parte Um: Introdução

Exercício Resolvido VI.2 – O esquema de uma instalação com uma Figura VI.5 – Bomba
bomba, como mostra a Figura VI.5, eleva água com vazão igual a deste exercício.
0,02 m3/s. Os manômetros instalados nas seções (1) e (2) indicam,
respectivamente, as pressões P1 = 80 kPa e P2 = 330 kPa. O duto de
sucção tem diâmetro D igual a 10 cm e o tubo de descarga um
diâmetro d igual a 5 cm. Considerando que existe perda de carga hp =
12 m de água entre as seções (1) e (2), sendo ρágua = 1.000 kg /m3 e Δz
= 20 m, determine a potência fornecida pela bomba ao escoamento.
Resolução:
Fonte: O autor.
Considerando o escoamento permanente e incompressível,

4V 4  0,02
v1    2,55 m / s , e
D 2
  0,12

4V 4  0,02
v2    10,2 m / s
d 2
  0,05 2
e, da Equação de Bernoulli aplicada para o fluido escoando entre as seções (1) e (2), tem-se
que:

 P  P1   v 22  v12 
H B   2      z 2  z1   h p,d
 g   2g 

 330.000  80.000   10,2 2  2,55 2 


HB        20  12  25,5  5,0  20  12
 1.000  9,81   2  9,81 

H B  62,5 m

A partir da carga da bomba (H) determinada, pode-se calcular a potência útil da


bomba:

dWe   g  H B  1.000  0,02  9,81  62,5


 m
 g  HB    V
dt

dWe
  12,2 kW
dt

Fenômenos de Transporte para Cursos Técnicos e Tecnológicos


Capítulo II: Propriedades e Escoamento dos Fluidos 85

PROBLEMA.
1. Água está sendo bombeada de um grande lago para um reservatório aberto, 25 m acima, e a uma
vazão de 25 L/s, por uma bomba de 10 kW (potência fornecida à bomba). Se a perda de carga do
sistema de tubulação for de 7 m, determine a eficiência mecânica da bomba.

2. Água escoa a uma vazão de 18 L/s através de um tubo horizontal, cujo diâmetro constante é de
3 cm. A queda de pressão através de uma válvula gaveta do tubo é medida como 2 kPa. Determine:
(a) a perda de carga da válvula;
(b) o coeficiente de perda de carga da válvula;
(c) a potência útil de bombeamento necessária para superar a queda de pressão resultante.

3. Um destilado 35ºAPI, a 27oC, está sendo transferido de um tanque de armazenamento a 1 atm


absoluto para um tanque pressurizado a 3,5 atm de pressão relativa, através do sistema de
canalização mostrado na Figura VI.6. O líquido escoa a uma vazão mássica de 10.500 kg/h através
de um cano de aço de 3 polegadas (nominal) da série 40 (Schedule 40), com 140 m de
comprimento. Calcular o valor mínimo da potência fornecida a uma bomba que trabalhe com
rendimento de 60%. As propriedades do destilado a 27ºC são: viscosidade 3,4 cP; densidade
absoluta 0,83 g/cm3. O diâmetro interno do cano é 7,8 cm.

Figura VI.6 – Esquema ilustrativo do sistema de bombeamento deste Problema.

Fonte: O autor.

Hugo L. B. Buarque
PARTE TRÊS

TRANSMISSÃO DE CALOR
CAPÍTULO VII

MECANISMOS BÁSICOS DE
TRANSFERÊNCIA DE CALOR
"Não se pode ensinar alguma coisa a alguém, pode-se apenas auxiliar a descobrir por si mesmo."
Galileu Galilei (1564 – 1642).

CONCEITOS E FUNDAMENTOS BÁSICOS.


Sempre que existir um gradiente de temperatura no interior de um sistema, ou entre dois sistemas
colocados em contato, ocorrerá transferência de energia da região de mais alta para a de mais baixa
temperatura. Este processo de transferência é denominado transmissão ou transporte de calor e deve
obedecer aos princípios da Termodinâmica, que ensina que a energia em trânsito, chamada calor, não
pode ser medida ou observada diretamente, mas seus efeitos são susceptíveis à medição e à
observação.
A transmissão de calor suplementa as leis da Termodinâmica e fornece leis e regras
experimentais que podem ser empregadas para estabelecer as taxas de transferência de energia. Assim,
o estudo do transporte de calor não se destina a explicar simplesmente como o calor pode ser
transferido, mas também avaliar as taxas em que esta transferência ocorre sob certas condições
especificadas.
A transmissão de energia ocorre em praticamente todas as operações e processos químicos, tais
como na secagem e na umidificação, na destilação, nos processos de combustão, na evaporação, etc., e
por este motivo, as leis da transferência de calor devem ser desenvolvidas e compreendidas para o
adequado projeto e operação de atividades da indústria química.
A transferência de calor pode ocorre através de um, ou mais, dos três mecanismos básicos de
transporte de calor: a condução, a convecção e a radiação. Estritamente falando, apenas a condução e a
radiação deveriam ser classificadas como modos de transmissão de calor, pois somente esses dois
mecanismos dependem, para sua operação, de mera existência de uma diferença de temperatura. A
convecção não concorda estritamente com a definição de transmissão de calor, pois também depende
do transporte mecânico de massa. Contudo, como ela também efetua o transporte de energia de regiões
de mais alta para as de menor temperatura, o termo “transmissão de calor por convecção” é geralmente
aceito.
90 Parte Três: Transmissão de Calor

TRANSMISSÃO DE CALOR POR CONDUÇÃO.


A condução é o processo pelo qual o calor flui de uma região de temperatura mais alta para uma
de temperatura mais baixa, no interior de um meio material (sólido, líquido ou gasoso) ou entre meios
diferentes em contato físico direto. A transmissão se dá quando as moléculas em uma região adquirem
uma energia cinética média maior do que as moléculas da região adjacente, o que se manifesta por uma
diferença de temperatura. Assim, as moléculas com maior energia transmitirão parte de sua energia
para as moléculas da região de temperatura mais baixa.
Na transferência de calor por condução, a energia é transmitida por meio de comunicação
molecular direta, sem apreciável deslocamento das moléculas. Mais especificamente, na condução, o
transporte de energia pode-se dar pelo impacto elástico ou quase elástico das moléculas (característico
dos fluidos) ou por difusão de elétrons de movimento rápido (típico dos metais) das regiões de alta par
as de baixa temperatura. A Figura VII.1 ilustra o fenômeno da condução.
Figura VII.1 – Condução de calor através de sólido.

Fonte: O autor.

A condução é o mecanismo mais importante para a transmissão de calor em sólidos opacos. A


condução também é importante nos fluidos, mas nos meios não-sólidos ela é usualmente combinada
com a convecção e, em alguns casos, também com a radiação.

TRANSMISSÃO DE CALOR POR CONVECÇÃO.


A convecção é um processo de transporte de energia pela ação combinada da condução de calor,
armazenamento de energia e movimento de mistura. A convecção é principalmente importante como
mecanismo de transferência de energia entre uma superfície sólida e um fluido.
A transferência de energia por convecção de uma superfície cuja temperatura está acima daquela
do fluido envolvente tem lugar em várias etapas: primeiro, o calor fluirá por condução da superfície
para as partículas adjacentes do fluido. A energia transmitida servirá para aumentar a temperatura e a
energia interna dessas partículas fluidas. Então, as partículas se movimentarão para uma região de
menor temperatura no fluido, onde se misturarão e transferirão uma parte de sua energia para as outras
partículas fluidas. Quando a temperatura da superfície é inferior àquela do fluido, as etapas
supramencionadas e o fluxo de energia se darão no sentido inverso.

Fenômenos de Transporte para Cursos Técnicos e Tecnológicos


Capítulo VII: Mecanismos Básicos de Transferência de Calor 91

Assim, a energia é realmente armazenada nas partículas fluidas e transportada


predominantemente como resultado do movimento de massa destas partículas. A convecção não
depende somente de uma diferença de temperatura para sua operação. Entretanto, o resultado final
consiste num transporte de energia na direção de um gradiente de temperatura, sendo também
classificado como uma forma de transmissão de calor.
A transmissão de calor por convecção é classificada, de acordo com o Figura VII.2 – Sistema de
convecção natural.
modo de motivação do fluxo de calor, como convecção natural ou convecção
forçada. Quando movimento das partículas de fluido resulta meramente das
diferenças de densidade causadas pelos gradientes de temperatura, referimo-
nos à convecção natural ou livre. Quando o movimento das partículas é
induzido por algum agente externo (e.g., bomba, ventilador, agitador),
referimo-nos à convecção forçada. A Figura VII.2 ilustra o transporte de
Fonte: O autor.
calor por convecção natural.

TRANSMISSÃO DE CALOR POR RADIAÇÃO.


O termo “radiação” é geralmente aplicado a todas as formas de ondas eletromagnéticas.
Contudo, na transmissão de calor, são de interesse apenas os fenômenos de ondas eletromagnéticas que
resultam da diferença de temperatura e que podem transportar energia através de um meio transparente
ou através do espaço, mesmo na ausência de matéria. A energia transportada dessa maneira é
denominada calor radiante. Deste modo, definir-se-á aqui a radiação como o processo pelo qual o
calor é transmitido de um corpo a alta temperatura para um de mais baixa temperatura, quando tais
corpos estão separados no espaço, ainda que exista vácuo entre eles.
A energia radiante viaja na velocidade da luz (3x108 m/s) e, fenomenologicamente, assemelha-
se à radiação da luz. De fato, segundo a teoria eletromagnética, a luz e a radiação térmica diferem
apenas nos respectivos comprimentos de ondas. O calor radiante é emitido por um corpo na forma de
impulsos (quanta) de energia e quando encontra algum outro corpo sua energia é absorvida próximo à
sua superfície. Todos os corpos emitem calor radiante continuamente. A intensidade das emissões
depende da temperatura e da natureza da superfície e a transmissão de calor por radiação se torna mais
importante quanto maior a temperatura do corpo. A Figura VII.3 apresenta o espectro eletromagnético
com os seus comprimentos de onda característicos e a temperatura dos corpos emitindo radiação
térmica nestes comprimentos.

Hugo L. B. Buarque
92 Parte Três: Transmissão de Calor

Figura VII.3 – Espectro eletromagnético da radiação térmica.

Fonte: O autor.

MECANISMOS COMBINADOS.
Na grande maioria das situações reais, ocorrem ao mesmo tempo dois ou mais mecanismos de
transferência de calor. Nos problemas da engenharia e operação de processos químicos, quando um
dos mecanismos domina quantitativamente, soluções aproximadas, embora menos precisas, podem ser
obtidas desprezando-se todos, exceto o mecanismo dominante. Contudo, deve ficar entendido que
variações nas condições do problema podem fazer com que um mecanismo, anteriormente desprezado,
torne-se importante.

PROBLEMAS.
1. Quais são os mecanismos de transferência de calor? Como se pode distinguir um do outro?

2. Relacione alguns bons e alguns maus condutores de calor.

3. Qual a ordem de magnitude da condutividade térmica de: (a) metais? (b) materiais sólidos
isolantes? (c) líquidos? (d) gases?

4. Qual é a ordem de magnitude do coeficiente de convecção na : (a) convecção natural?


(b) Na convecção forçada? (c) Na ebulição?

5. Considere uma liga de dois metais cujas condutividades térmicas são iguais a k1 e k2 (k1 < k2). A
condutividade térmica da liga será inferior a k1, superior a k2 ou entre ambos os valores?

Fenômenos de Transporte para Cursos Técnicos e Tecnológicos


CAPÍTULO VIII

CONDUÇÃO DE CALOR

Devemos aprender durante toda a vida, sem imaginar que a sabedoria vem com a velhice.
Platão (427/28 a.C – 347 a.C.).

FUNDAMENTOS DA CONDUÇÃO DE CALOR.


Se um gradiente de temperatura existe num meio contínuo, um fluxo de calor pode ser observado
sem qualquer movimento de matéria, o que caracteriza o transporte de calor por condução. Em metais,
há uma correspondência intrínseca entre a condução térmica e a condução elétrica, haja vista que
ambos os fenômenos resultam do movimento de elétrons livres para o transporte de energia, embora
alguma transferência de energia devida à vibração da grade de átomos também ocorra. Em sólidos não
condutores de eletricidade e em muitos líquidos, a condução térmica resulta predominantemente da
transferência de momentum entre moléculas ou átomos vibrando adjacentemente. Em gases, a
condução ocorre pelo movimento aleatório de moléculas que colidem entre si transferindo energia e
momentum, tanto que o calor difunde de regiões de mais altas para regiões de menores temperaturas.

LEI DE FOURIER.
A relação básica para o fluxo de calor por condução é a proporcionalidade entre o fluxo de calor
e o gradiente de temperatura. Esta relação é conhecida como Lei de Fourier, cuja expressão geral é:
 

dq dA  k  T , (VIII.1)


onde q é a taxa de transferência de calor na direção normal à superfície; A é a área superficial; k é o
tensor condutividade térmica do meio; e T é a temperatura.
Considerando um material isotrópico1, a Equação (VIII.1) pode ser escrita em coordenadas
cartesianas, cilíndricas e esféricas, respectivamente, como apresentado nas equações (VIII.2 a VIII.4).

dq  T T T 
 k   î  ĵ  k̂  , (VIII.2)
dA  x y z 

dq  T 1 T ˆ T 
 k   r̂   k̂  , (VIII.3)
dA  r r  z 

dq  T 1 T ˆ 1 T ˆ 
 k   r̂    . (VIII.4)
dA  r r  r  sen  

1
Material isotrópico tem propriedades físicas independentes das coordenadas espaciais. A maioria dos sólidos homogêneos
e líquidos é isotrópica. Os principais materiais anisotrópicos são os cristais não cúbicos e os sólidos fibrosos e laminados.
94 Parte Três: Transmissão de Calor

A CONDUTIVIDADE TÉRMICA.

A constante de proporcionalidade k entre o fluxo de calor e o gradiente de temperatura é uma
propriedade de física denominada condutividade térmica. A Lei de Fourier estabelece que a
condutividade térmica seja independente do gradiente de temperatura, mas não necessariamente da
temperatura.
Experimentos confirmam a independência da condutividade térmica para uma larga faixa de
gradientes de temperatura, exceto para sólidos porosos, onde a radiação trocada entre as partículas não
segue uma relação linear e torna-se uma importante parte do fluxo total de calor. Contudo, tal
propriedade é, em geral, uma função levemente dependente da temperatura. Para pequenas faixas de
temperatura, a condutividade térmica pode ser considerada constante, enquanto que para faixas
maiores a condutividade térmica pode ser aproximada por uma relação linear com a temperatura:
  

k  a  bT , (VIII.5)
  
onde a e b são constantes empíricas.
As condutividades térmicas dos metais podem ser encontradas numa ampla faixa de valores,
desde 17 W/m·oC (10 Btu/ft·h·oF) para o aço inoxidável até 415 W/m·oC (240 Btu/ft·h·oF) para a
prata. A Tabela VIII.1 apresenta condutividades térmicas para alguns outros metais.

Tabela VIII.1 – Condutividades térmicas de metais a 300 K.


k k k
Metal Metal Metal
(W/m·oC) (W/m·oC) (W/m·oC)
Cobre 398 Zinco 120 Estanho 67
Alumínio 273 Níquel 91 Aço carbono, 1% C 43
Magnésio 156 Ferro 80 Chumbo 35

A condutividade térmica de metais é, em geral, aproximadamente constante ou diminui


levemente com o aumento da temperatura. Ressalte-se que a condutividade de ligas é menor que a do
respectivo metal puro. Para o vidro e para a maioria dos materiais não porosos, as condutividades
térmicas são muito menores, variando desde aproximadamente 0,35 até 3,5 W/m·oC, podendo
aumentar ou diminuir com o aumento da temperatura.
Para muitos líquidos, a condutividade térmica é menor que a dos sólidos, com valores típicos da
ordem de 0,17 W/m·oC, e diminuindo cerca de 3 a 4% para um aumento na temperatura de cerca de
10°C. A água é uma exceção, com um valor típico de 0,60 W/m·oC. A Tabela VIII.2 apresenta as
condutividades térmicas, disponibilizadas na literatura, de alguns materiais a 101,3 kPa.

Fenômenos de Transporte para Cursos Técnicos e Tecnológicos


Capítulo VIII: Condução de Calor 95

Tabela VIII.2 – Condutividades térmicas de líquidos a 101,3 kPa e a 300 K.


k k k
Líquido Metal Metal
(W/m·oC) (W/m·oC) (W/m·oC)
Metanol 196 Tolueno 132 n-Hexano 120
Etanol 160 n-Octano 130 Iodobenzeno 100
Benzeno 145 n-Heptano 123 R-12 69

Os gases têm condutividades térmicas com valores inferiores àqueles observados para os
líquidos em cerca de uma ordem de grandeza. Para um gás ideal, a condutividade térmica é
proporcional à velocidade molecular média, ao caminho livre médio, e à capacidade térmica molar.
Para gases monoatômicos, considerando um modelo de esfera rígida, pode-se utilizar a seguinte
correlação para estimativa da condutividade térmica de um gás:
0,5
0,0832  T 
k   , (VIII.6)
 2  M m 
em que k é a condutividade térmica, em W/m·K;  é o diâmetro efetivo de colisão, em Å; e T é a
temperatura, em K; Mm é a massa molecular do gás.
As condutividades térmicas de gases são praticamente independentes da pressão. A
Tabela VIII.3 apresenta as condutividades térmicas de gases a pressão atmosférica (101,3 kPa) e a
300 K disponibilizadas na literatura.

Tabela 3 – Condutividades térmicas típicas de gases a 101,3 kPa e 300 K.


k k k
Gás Gás Gás
(W/m·oC) (W/m·oC) (W/m·oC)
Amônia 0,0246 Dióxido de Carbono 0,0166 Oxigênio 0,0267
Argônio 0,0177 Metano 0,0343 R 11 0,0078
Butano 0,0160 Nitrogênio 0,0260 R 22 0,0109

Informações sobre a condutividade térmica de diferentes tipos de materiais são dadas, em geral,
pelos fornecedores de tais materiais.

Exercício Resolvido VIII.1 – Estime a condutividade térmica do gás argônio a 300 K,


sabendo que a massa molecular e o diâmetro efetivo de colisão do gás são, respectivamente,
igual a 39,948 u e 3,542 Å. Determine o erro relativo em relação ao valor experimental de
0,0177 W/mºC.
Resolução:
Usando a Equação VIII.6:
0,5
0,0832  300  W
k calc  2
   k calc  0,0182 .
3,542  39,948  mºC
k  k exp 0,0182  0,0177
O erro relativo é igual a r  100%  calc  100%    r  2,82% .
k exp 0,0177
Percebe-se que a assunção do modelo de gás com moléculas esféricas rígidas foi bastante
satisfatório na estimativa da condutividade térmica do argônio.

Hugo L. B. Buarque
96 Parte Três: Transmissão de Calor

CONDUÇÃO UNIDIMENSIONAL EM REGIME PERMANENTE NUM


SÓLIDO OU NUM FLUIDO ESTÁTICO.

Condução de calor através de uma placa plana ou um filme fluido


Figura VIII.1 – Condução
Considerando um fluxo de calor unidimensional através de uma numa parede plana.
parede plana ou de um filme fluido (ver Figura VIII.1), em que a área da T1
T1 > T2
seção transversal, A, e a condutividade térmica, k, são constantes, pode- (q/A)x

se reescrever a Equação (VIII.2) como apresentada na Equação (VIII.7). T2

x
 T
q  k  A  î . (VIII.7) Fonte: O autor.
x
Caso a condutividade térmica não seja constante, mas uma função escalar e linear da temperatura
(k = a + bT), a expressão para o fluxo de calor resulta em:
 T
q  k m  A  î , (VIII.8)
x
em que k m é um valor médio de k , dado pela equação: k m  a  b  T1  T2  / 2 ; sendo a e b
parâmetros empíricos.

Exercício Resolvido VIII.2 – Através de 1m2 seção transversal de uma placa plana de 2,5 cm
de espessura, constituída por um material isolante com condutividade térmica 0,2 W/mºC, é
conduzido uma taxa de calor de 3 kW. Determine a diferença de temperatura entre as faces
do isolante.
Resolução:
Considerando um fluxo de calor unidimensional em regime permanente, pode-se utilizar a
Equação VIII.7 como segue:
 T W T
q  k  A  î  3.000 W î  0,2  1 m2  î  T  375 º C .
x mºC 0,025 m
A diferença de temperatura entre as superfícies expostas da placa igual a 375ºC. Ressalte-se
que o fluxo de calor tem direção oposta ao gradiente de temperatura, isto é, na direção da
temperatura mais quente para a mais fria.

Condução através de um tubo cilíndrico oco

Considerando um fluxo de calor através da parede de um tubo Figura VIII.2 – Condução na


parede de um tubo.
cilindro oco, na direção radial (ver Figura VIII.2), em que a
condutividade térmica, k, é constante, pode-se reescrever a
Equação (VIII.3) como apresentada na Equação (VIII.9).

 2 L
q  k   T r̂ . (VIII.9)
Ln r2 / r1  Fonte: O autor.

Fenômenos de Transporte para Cursos Técnicos e Tecnológicos


Capítulo VIII: Condução de Calor 97

Exercício Resolvido VIII.3 – Uma tubulação cilíndrica de ebonite (borracha vulcanizada)


com parede espessa, raio interno de 5 mm e raio externo de 25 mm, está sendo utilizado
temporariamente como uma serpentina de resfriamento em um banho. Água gelada escoa
rapidamente no interior da tubulação mantendo a temperatura da superfície interna da
parede igual a 2ºC. A temperatura da superfície externa da parede será mantida igual a 27ºC.
Calor deve ser removido do banho a uma taxa de 10 W pela serpentina de borracha. Supor a
condutividade térmica da ebonite, na faixa de 0 a 30ºC, igual a 0,15 W/m•K. Determine o
comprimento daquele tubo necessário para esta tarefa.
Resolução:
Considerando um fluxo de calor unidimensional na direção radial em regime permanente,
pode-se utilizar a Equação VIII.9 como segue:
 2 L 2  L
q  k   T r̂  10 r̂  0,15   27  2 r̂  L  68,3 cm .
Ln r2 / r1  Ln 0,025 / 0,005
O comprimento do tubo será de 68,3 cm.

Condução através de uma esfera oca


Considerando um fluxo de calor através da parede de uma esfera Figura VIII.3 – Condução
na parede de um tubo.
oca, na direção radial (ver Figura VIII.3), em que a condutividade térmica,
k, é constante, pode-se reescrever a Equação (VIII.4) como apresentada na
Equação (VIII.10).
 4
q  k   T r̂ . (VIII.10)
1 / r1  1 / r2 Fonte: O autor.

Resistência Térmica – Conceito e Analogia com a Lei de Ohm

Neste momento, é muito útil uma comparação da condução unidimensional de calor com os
circuitos elétricos. No estudo de circuitos elétricos, a Lei de Ohm estabelece que a taxa de
transferência de elétrons (corrente) é igual à razão entre a diferença de potencial elétrico (voltagem) e a
resistência elétrica. Num transporte molecular, sob condições de regime permanente e sem geração ou
consumo de calor, a taxa de transferência de calor, q, é análoga à corrente elétrica, e a diferença de
temperatura (potencial térmico), T , é análoga à voltagem. Assim, os demais termos das equações
apresentadas podem ser agrupados e denominados resistência térmica. A analogia à Lei de Ohm
aplicada à transferência de calor pode ser equacionada como segue:
 T
q ŵ . (VIII.11)
R
em que R é a resistência térmica e ŵ é o vetor de base da direção unidimensional do fluxo de calor.
O conceito de resistência é comumente aplicado a uma grande variedade de problemas
relacionados a fenômenos de transporte. Tal conceito é certamente muito importante na resolução de
problemas domésticos e industriais não somente de condução de calor, mas também de convecção,
como será visto posteriormente.
Hugo L. B. Buarque
98 Parte Três: Transmissão de Calor

Mais especificamente na transferência de calor unidimensional, com a condutividade térmica


constante, nos casos já discutidos, após os agrupamentos e substituições necessárias, tem-se na
condução através de uma placa plana ou filme fluido que:
x
R
, (VIII.12)
kA
Ln r2 / r1 
R , (VIII.13)
2 kL
na condução através da parede de um tubo cilíndrico oco;
1 / r1  1 / r2
R . (VIII.14)
4 k
na condução através da parede de uma esfera oca.

Exercício Resolvido VIII.4 – Um tanque de armazenagem de aço (k = 45 W/m.ºC), de


formato esférico, tem raio interno de 0,5 m e espessura de 10 mm. As temperaturas das faces,
interna e externa, do tanque são mantidas, respectivamente, a -50ºC e a 10ºC. Determine a
taxa de transferência de calor através da parede do tanque, bem como a resistência térmica
condutiva do sistema, supondo regime permanente e fluxo unidimensional de calor na direção
radial.
Resolução:
Considerando um fluxo de calor unidimensional na direção radial em regime permanente,
podem-se utilizar a Equação VIII.10 e a Equação VIII.14 como segue:
 4 4 
q  k   T r̂  45   10   50 r̂  q  848,23 kW r̂ .
1 / r1  1 / r2 1 1

0,5 0,51
T 60 1 / r1  1 / r2 1 / 0,5  1 / 0,51
R      R  0,07º C / kW .
q 848,23 4 k 4  0,045

Perfis de Temperatura

O balanço diferencial de energia (calor) para um material sólido ou um fluido estático pode ser
expresso como segue:
T   dq 
cp       qG , (VIII.15)
t  dA 
em que  é a massa específica, cp é o calor específico e k é a condutividade térmica do material, T é a

temperatura, e q G é a taxa de geração ou consumo de calor (por reação química, mudança de fase,
reação nuclear ou corrente elétrica), e t é a coordenada temporal.
Em regime permanente, o fluxo de calor é constante e a temperatura não varia com o tempo
( T / t  0 ). Assim, considerando a condutividade térmica constante, a equação anterior resulta em:
qG
2T   . (VIII.16)
k

Fenômenos de Transporte para Cursos Técnicos e Tecnológicos


Capítulo VIII: Condução de Calor 99

Assim, considerando um fluxo unidimensional de calor na direção x (coordenadas cartesianas), o


perfil de temperaturas poderá ser expresso como:

T x   
qG 2
x  C1 x  C2 . (VIII.17)
2k
No caso da ausência de geração ou consumo de calor, o perfil de temperaturas assume a forma
de uma função linear. As constantes C1 e C2 são determinadas ao se especificar duas condições de
contorno para o sistema.

Exercício Resolvido VIII.5 – Mostre que a temperatura varia hiperbolicamente com o raio
para a condução de calor unidimensional (direção radial), em estado permanente e sem
geração ou consumo de calor, através da parede de uma esfera oca na direção radial.
Resolução:
Tomando a Equação (VIII.16), com geração de calor nula,:
2 dT d 2 T
Tr   C 2 
dT C1 dr C1
2T  0   2 0 
r dr dr

dr r 2
  dT  C  r1 2

r
.

Tomando as condições de contorno: T(r1) = T1 e T(r2) = T2.


Figura VIII.4 – Curva temperatura versus raio.
r2 T2  T1 
C1  r1 ; e
r2  r1
r2 T2  T1 
C 2  T1  ,
r2  r1
resultando em:

r2 T2  T1   r1 
T(r )  T1   1   .
r2  r1  r
Cuja curva está plotada na Figura VIII.4.
Fonte: O autor.

Exercício Resolvido VIII.6 – Calor está sendo gerado uniformemente (na direção axial) por
uma reação química em um longo reator cilíndrico de raio 300 mm. A taxa de geração de
calor no eixo central é constante e igual a 60 W/m3. As paredes do cilindro são continuamente
resfriadas de modo que a temperatura da parede é mantida em 310 K. A condutividade
térmica do material do reator é igual a 0,90 W/m•K. Determine a temperatura To no eixo
central do reator em regime permanente.
Resolução:
Considerando um fluxo de calor unidimensional na direção radial em regime permanente,
podem-se utilizar a Equação VIII.16 como segue:
qG 1 d  dT  qG dT q dT q
2T    r   r   G  rdr  r   G r 2  C1 .
k r dr  dr  k dr k dr 2k

Hugo L. B. Buarque
100 Parte Três: Transmissão de Calor

dT(r  0)
Sabendo que  0 , haja vista que o calor é gerado uniformemente no eixo central,
dr
tem-se que C1  0 , e assim:

dT q TP q
  G r   dT   G 
R
rdr  T( r ) 
4k

qG 2 2
R  r  Tp 
dr 2k T(r) 2k r

qG 2
Para r  0, T(0)  To  To  R  Tp .
4k

Assim, To 
60
0,32  310  To  311,5 K .
4  0,90

Condução Unidimensional através de Paredes Compostas.

a) Paredes em Série Figura VIII.5 – Parede plana em


Considerando agora um fluxo de calor unidimensional multicamadas em série.
através de uma parede plana multicamadas de mais de um
material (ver Figura VIII.5), com mesma área A, numa condição
de regime permanente, a taxa de calor, q, deve ser a mesma em
cada camada (α, β, ...) e pode equacionada como segue:
 k A k  A k  A
q  T ĵ   T ĵ  ...   T ĵ (VIII.18)
x  x  x 
em que k i , x i e Ti são, respectivamente, a condutividade
térmica, a espessura e a diferença de temperatura numa camada i.
Resolvendo cada equação para Ti , e as adicionando
mutuamente, as temperaturas internas são eliminadas, resultando
na seguinte expressão para o fluxo de calor:
Fonte: O autor.

q
T2  T1  ĵ (VIII.19)
x  x  x 
  ... 
kA kA kA
em que T1 e T2 são as temperaturas das superfícies externas, normais ao fluxo de calor, da parede
plana composta, respectivamente, nos pontos 1 e 2 (direção contrária ao fluxo de calor).
A mesma expressão poderia ter sido obtida ao se considerar a diferença global de temperatura e a
parede composta uma associação de resistências em série, na qual a resistência equivalente, Req, é igual
a soma das resistências térmicas das camadas distintas, isto é, R eq  R   R   ...  R  . Assim,
tomando a Equação (VIII.12) para cada camada, ter-se-ia que:
x  x  x 
R eq    ...  , (VIII.20)
kA kA kA
e a Equação (VIII.19) teria sido obtida pelo uso da Equação (VIII.11) e Equação (VIII.20). A mesma
analogia se aplica para paredes cilíndricas ou esféricas multicamadas em série.

Fenômenos de Transporte para Cursos Técnicos e Tecnológicos


Capítulo VIII: Condução de Calor 101

b) Paredes em Paralelo

Supondo também que uma parede plana constituída de duas ou mais camadas colocadas lado a
lado em paralelo (ver Figura VIII.6), e cuja direção do fluxo unidimensional de calor por condução
seja perpendicular ao plano da superfície exposta de cada parede, a taxa total de calor transferida será a
soma das taxas de calor fluindo através de cada parede em paralelo. Assim, a taxa total de calor pode
ser equacionada como segue:

  k A   k  A   kA 
q  q   q   ...  q       T î     T î   ...    T î  (VIII.21)
 x    x    x  
em que q i , k i , x i e Ti são, respectivamente, a taxa de transferência de Figura VIII.6 – Parede
calor, a condutividade térmica, a espessura e a diferença de temperatura de plana em multicamadas em
uma camada i qualquer. Se ainda for assumido que as temperaturas de paralelo.
cada superfície exposta são idênticas para cada camada em paralelo
( T  T  T  ...  T ), tem-se que:

 k A k A kA 
q       ...  T î
 (VIII.22)
 x  x  x  
A mesma expressão poderia ter sido obtida ao se considerar a parede
composta uma associação de resistências em paralelo, na qual a resistência
equivalente, Req, é igual a soma dos inversos das resistências térmicas das
camadas distintas, isto é, 1 / R eq  1 / R   1 / R   ...  1 / R  . Assim,
tomando a Equação 8 para cada camada, ter-se-ia que:
1 k A k A kA
     ...  . (VIII.23)
R eq x  x  x 

Fonte: O autor.

Hugo L. B. Buarque
102 Parte Três: Transmissão de Calor

Exercício Resolvido VIII.7 – Uma câmara fria tem uma parede composta constituída por
uma placa de cortiça (k = 0,042 W.m-1.ºC-1), com 10 cm de espessura, entre duas paredes de
madeira (k = 0,108 W.m-1.ºC-1), cada uma com 2 cm de espessura. As temperaturas da parede
composta são, respectivamente, Ti = -11ºC e Te = 25ºC, na superfície interna e externa.
Considerando regime permanente, determine a taxa de transmissão de calor, por unidade de
área, através da parede da câmara fria. Calcule também a temperatura na interface da placa
de madeira mais externa e a placa de cortiça.
Resolução:
O fluxo de calor entre as superfícies expostas da parede pode ser determinado como segue:
x m x c x m 0,02 0,1 2,75
R    2  R .
kmA kcA kmA 0,108  A 0,042  A A
 

q
T q
î   
25  12 q W
î   13,1 2 î .
R A 2,75 A m
A temperatura interfacial pode ser determinada pela lei de Fourier como segue:

  m Te  T  î  13,1 î   25  T  î  T  22,6º C .
q k 0,108
A x m 0,02

PROBLEMAS.
1. As temperaturas superficiais de uma parede plana de 15 cm de espessura são 370 e 93ºC. A parede é
feita de um vidro especial com as seguintes propriedades: k=0,78ºW/m∙ºC, ρ=2.700 kg/m3,
cp=0,84 kJ/kg∙ºC. A área de cada uma das duas superfícies é de 10 m2. Qual o fluxo de calor através
da parede em regime permanente?
2. Uma parede composta de um forno é esquematizada na Figura VIII.7 – Parede condutiva
Figura VIII.7. Ela está exposta a um ambiente com composta em série e em paralelo.
temperatura de 30ºC. A temperatura dos gases no interior
do forno é de 700ºC. Os coeficientes de película para os
gases de combustão e para o ar ambiente, em regime
permanente, são, respectivamente, 40 W/m2.ºC e
10 W/m2.ºC. As condutividades térmicas das camadas da
parede são dadas na tabela abaixo. A área de troca térmica
da camada C é o dobro da camada B. Determine o fluxo de
calor unidimensional por unidade de área, transferido
através do sistema parede composta.

Condutividades Térmicas (W/m∙oC)


A B C D Fonte: O autor.
150,0 50,0 25,0 2,0

Fenômenos de Transporte para Cursos Técnicos e Tecnológicos


CAPÍTULO IX

CONVECÇÃO DE CALOR

"Diante de Deus todos somos igualmente sábios e igualmente tolos."


Albert Einstein (1879 – 1955).

FUNDAMENTOS DA CONVECÇÃO DE CALOR.


A transferência de calor por convecção já foi sucintamente discutida Figura IX.1 – Movimento
anteriormente. Do mesmo modo que na condução, que é o mecanismo de da massa do fluido.
transferência de calor através de sólidos ou de fluidos em repouso, a
convecção requer a existência de um meio material para que ela ocorra.
Porém, pressupõe-se que ocorra na transferência de calor convectiva o
movimento macroscópico da massa do fluido (advecção), além da condução
de calor propriamente dita numa pequena película de filme fluido (ver
Figura IX.1), na interfase do fluido com a superfície sólida. Este movimento
no seio do fluido aumenta a transferência de calor, uma vez que contata um
número maior de regiões quentes e frias do fluido quando comparada com a
condução, promovendo elevadas taxas de condução em um maior número de
pontos do fluido. Assim, quanto maior a velocidade de movimentação do Fonte: O autor.
fluido, maior será a taxa de transferência de calor.
A convecção pode ser classificada como convecção natural (ou livre) ou convecção forçada,
dependendo de como é provocado o movimento do fluido. Na convecção natural, o movimento do
fluido é inteiramente causado por meios naturais, como o empuxo causado por diferenças de densidade
de porções de massas fluidas. Na convecção forçada, massas fluidas são forçadas a se movimentar
sobre uma superfície ou dentro de um duto por meios externos, tais como bombas ou agitadores.
Também, sob a ótica da transferência de calor, os processos evaporativos e de condensação podem ser
considerados casos especiais de processos convectivos.
A convecção ainda pode ser classificada quanto ao confinamento do escoamento como interna
ou externa, dependendo se o fluido é forçado a fluir livre sobre uma superfície (não confinado) ou a
fluir confinado no interior de superfícies sólidas (dutos). Nos escoamentos externos, as camadas
limites hidrodinâmicas podem evoluir livremente, sem as restrições impostas por paredes adjacentes,
desenvolvendo-se continuamente. Ademais, sempre existirá uma região de escoamento, exterior à
camada limite, na qual os gradientes de velocidade, de temperatura ou de concentração são
desprezíveis. No caso dos escoamentos internos, o confinamento do escoamento faz com que as
camadas limites, que estão crescendo ao longo da direção do escoamento, se encontrem, e a partir
deste ponto seus crescimentos são interrompidos.
Do exposto, observa-se que não somente a natureza do escoamento (laminar ou turbulento,
compressível ou incompressível, etc.), mas também a teoria da camada limite irá influenciar a
transferência de calor por convecção. Assim, conhecer as diversas propriedades e a velocidade do
fluido, como também a geometria e a rugosidade da superfície sólida em contato, além do tipo de
escoamento é indispensável no estudo de um processo de transferência convectiva de calor.
104 Parte Três: Transmissão de Calor

LEI DE NEWTON DO RESFRIAMENTO.


Apesar da complexidade da convecção, verifica-se que a taxa de transferência de calor por
convecção ainda é proporcional ao potencial térmico (diferença de temperatura) e é muito bem descrita
pela Lei de Newton do Resfriamento, expressa pela Equação (IX.1), a seguir:
q   h  A   Tconv , (IX.1)
em que qℓ é a taxa de transferência local convectiva de calor, h é o coeficiente local de transferência
convectiva de calor ou coeficiente de película, Aℓ é a área de troca térmica local, e ΔTconv é a diferença
entre a temperatura da superfície sólida isotérmica e a temperatura do fluido suficientemente distante
da superfície.
A definição dada pela Equação (IX.1) para o coeficiente de transferência de calor por convecção,
h, apesar de ser arbitrária, pois depende da temperatura considerada para o fluido (a temperatura média
ou a temperatura de uma dada região do fluido), sempre expressa a taxa de transferência de calor entre
uma superfície sólida e um fluido por unidade de área e por unidade de diferença de temperatura. O
coeficiente de película, em geral, varia ao longo de toda a superfície de troca térmica. Contudo, é
possível determinar um coeficiente médio de transferência convectiva de calor, h , através da média do
coeficiente local de película ao longo de toda a superfície, conforme equacionado a seguir:
1
A 
h h dA , (IX.2)
A

em que A é a área total de troca térmica por convecção.


Assim, a Equação (IX.1) pode ser reescrita em termos da área total de troca térmica, A,
assumindo que a temperatura da superfície isotérmica, Ts, é maior que a temperatura média no seio do
fluido, Tf, como segue:
q  h  A  (Ts  Tf ) , (IX.3)
em que q é a taxa total de transferência de calor ao longo da superfície de troca térmica. Caso a
temperatura da superfície seja a menor, o sinal da equação deve ser invertido.

Exercício Resolvido IX.1 – Ar quente a 70oC escoa ao longo de uma superfície plana, cuja
área é igual a 10 m2 e cuja temperatura é igual a 20ºC. Determine a taxa de transferência de
calor do ar para a placa, considerando que o coeficiente médio de transferência convectiva
de calor no sistema é igual a 50 W m-2 ºC-1.
Resolução:
Usando a Equação (IX.3):
q  50  10  70  20  q  25.000 W .
Assim, a taxa de transferência de calor do ar para a superfície é igual a 25 kW.

Embora a Lei de Newton do Resfriamento, como apresentado na Equação (IX.3), tenha uma
aparência simples, toda a complexidade do fenômeno convectivo está embutido no coeficiente de
película, que é, por conseguinte, de difícil determinação, já que depende das diversas propriedades do
fluido e da superfície sólida e dos aspectos do escoamento.
Mencione-se ainda que coeficientes de transferência de calor por convecção podem ser
determinados experimentalmente, mas são usualmente estimados de dois modos distintos: por relações
adimensionais ou por equações dimensionais.

Fenômenos de Transporte para Cursos Técnicos e Tecnológicos


Capítulo IX: Convecção de Calor 105

NÚMERO DE NUSSELT.
Em estudos de fenômenos de transporte, é comum adimensionalizar as equações e combinar as
variáveis, que se agrupam em números adimensionais, de modo a reduzir o número total de variáveis.
O coeficiente de transferência de calor por convecção pode ser agrupado e adimensionalizado usando o
Número de Nusselt1, Nu, definido como
h  Le
Nu  . (IX.4)
k
em que k é a condutividade térmica do fluido e Le é um comprimento característico do sistema.
O Número de Nusselt representa o aumento da transferência de calor através de uma camada de
fluido como resultado da convecção em relação à transferência por condução na mesma camada de
fluido. Assim, quanto maior o valor de Nu, mais relevante a convecção na transferência de calor. Um
valor de Nu = 1 para uma camada de fluido traduz uma transferência de calor em toda a camada
somente por condução.

Um Número de Nusselt médio ( Nu ) pode ser calculado quando se considera no agrupamento


das variáveis o coeficiente médio de transferência de calor por convecção ( h ). Ressalte-se também
que como o Número de Nusselt pode ser diferentemente definido para um dado sistema, de acordo
com o comprimento característico considerado. Assim, é comum expressar esta grandeza adimensional
com um índice que indicará o comprimento característico a que ele se refere. Por exemplo, para
sistemas tubulares (cilíndricos), nos quais se assume o comprimento característico como o diâmetro do
tubo, é comum encontrar correlações para o NuD; enquanto que para fluidos escoando sobre placas
planas, nas quais o comprimento da placa na direção do escoamento é tomado como comprimento
característico, comumente se determinam correlações para o NuL. Ainda, é importante mencionar que
diferentemente do exposto, o índice x, muitas vezes utilizado em Nux, normalmente indica que o
Número de Nusselt foi calculado para um coeficiente local de transferência convectiva de calor.

Exercício Resolvido IX.2 – Um fluido petrolífero é aquecido ao escoar através de um tubo de


5 cm de diâmetro. Estime o calor transferido ao longo de 10 m do tubo se nesse comprimento
for mantida uma condição de fluxo de calor constante na parede, sendo a temperatura da
parede 50ºC acima da temperatura do fluido ao longo de todo o tubo. O calor específico, a
condutividade térmica e a massa específica do fluido na faixa de temperatura considerada
podem ser consideradas respectivamente iguais a: 1.525 J∙kg-1 ºC-1, 0,085 W∙m-1∙ºC-1 e
816 kg/m3. O Número de Nusselt médio estimado para o sistema foi 50.
Resolução:
A partir da definição do Número de Nusselt, pode-se determinar o coeficiente de tranferência
de calor por convecção:
50,0  0,085 W m 1 º C 1
h  h  85,0 W m 2 º C 1 .
0,05 m
Assim, a taxa de transferência de calor do tubo para o fluido é igua:
q  85,0 W m 2 º C 1  0,05 m    10 m  50º C  q  6.676 W .

1
Ernst Kraft Wilhelm Nußelt (1882-1957) foi um engenheiro e professor alemão, que desenvolveu a análise dimensional
do transporte de calor, como também desenvolveu importantes avanços no campo dos trocadores de calor.
Hugo L. B. Buarque
106 Parte Três: Transmissão de Calor

CAMADA LIMITE TÉRMICA.

Em capítulo anterior discutimos a camada limite hidrodinâmica. De maneira análoga, uma


camada limite térmica se desenvolve quando um fluido numa dada temperatura escoa ao longo de uma
superfície que se encontra a uma temperatura diferente.
A figura ao lado ilustra o escoamento de um fluido inicialmente a uma temperatura uniforme Tf
sobre uma placa plana isotérmica à temperatura Ts, em que Tf é maior que Ts. No escoamento, as
partículas do fluido na camada adjacente à superfície sólida atingem o equilíbrio térmico, ficando com
a mesma temperatura da placa plana. Tais partículas trocam calor com a camada fluida adjacente e este
processo se propaga camada a camada até uma região de escoamento livre na qual a temperatura do
fluido é igual à inicial.
A região do escoamento sobre a superfície em que a variação de temperatura na direção normal à
superfície é significativa é a camada limite térmica. Sua espessura δt em qualquer local ao longo da
superfície é assim definida como a distância a partir da superfície na qual a diferença de temperatura
T – Ts equivale a 99% da diferença Tf – Ts. Ademais, a espessura da camada limite térmica aumenta na
direção do escoamento. Assim, como a taxa de transferência de calor por convecção em qualquer lugar
ao longo da superfície é diretamente proporcional ao gradiente local de temperatura, a forma do perfil
de temperatura na camada limite térmica define esta transferência de calor. Ressalte-se que as
propriedades do fluido também variam com a temperatura e, portanto, com a posição através da
camada limite térmica. Contudo, a fim de contabilizar esta variação, as propriedades do fluido são, em
geral, avaliadas na chamada temperatura do filme, definida como a média aritmética da temperatura da
superfície (Ts) e da temperatura do escoamento livre (Tf).
Também é importante mencionar que a camada limite hidrodinâmica e a camada limite térmica
se desenvolvem simultaneamente num fluido escoando sobre uma superfície mais quente ou mais fria.
Como o perfil de velocidade do fluido influencia fortemente o perfil de temperatura, o
desenvolvimento de uma camada em relação à outra é decisivo na transferência convectiva de calor.

NÚMERO DE PRANDTL.
O Número de Prandtl1 (Pr) é o parâmetro adimensional que melhor descreve o desenvolvimento
da camada limite hidrodinâmica em relação à camada limite térmica, expressando a razão entre a
difusividade molecular de quantidade de movimento e a difusividade molecular de calor:
  cp
Pr 
. (IX.5)
k
em que k é a condutividade térmica, µ é a viscosidade dinâmica e cp é o calor específico do fluido.
O Número de Prandtl é muito menor que a unidade para metais líquidos, enquanto que os valores
de Pr são muito maiores que a unidade para óleos pesados, indicando que o calor difunde-se muito
rapidamente nos metais e muito lentamente nos óleos em relação à quantidade de movimento. Gases
possuem valores de Pr próximos da unidade, enquanto que a água apresentam valores de Pr variando
de cerca de 2,0 até pouco mais que 13,5.

1
Ludwig Prandtl (1875-1953) foi um físico alemão que desenvolveu a base matemática para os princípios fundamentais da
aerodinâmica subsônica. Entre seus estudos mais importantes, estão a camada limite hidrodinâmica, os aerofólios finos e a
teoria linha de sustentação.

Fenômenos de Transporte para Cursos Técnicos e Tecnológicos


Capítulo IX: Convecção de Calor 107

CONVECÇÃO FORÇADA.
A convecção forçada ocorre comumente na vida cotidiana, seja nos sistemas de condicionamento
de ar, nas linhas de energia, no resfriamento de processadores de computadores e em muitas outras
situações. Na indústria, o projeto e a operação de muitos processos requerem a compreensão do
fenômeno convectivo nos escoamentos externos e internos, como o estudo aerodinâmico na indústria
automotiva e aeronáutica, a avaliação de trocadores de calor e algumas outras operações unitárias na
indústria química.
Os campos de escoamento e as geometrias para a maioria das situações envolvendo a convecção
são muito complexos para serem resolvidos analiticamente, fazendo-se geralmente o uso de
correlações baseadas em dados experimentais na predição de parâmetros de processos convectivos.
Assim, considerando que a maior parte dos fenômenos que afetam a transferência de calor por
convecção é traduzida no Número de Nusselt, a maioria das correlações experimentais é determinada
em relação a tal grandeza adimensional.
Os valores para o Número de Nusselt local (Nux) e o Número de Nusselt médio (NuLe) podem
geralmente serem estimados com boa precisão a partir das formas funcionais
Nu x  f x L e , Re x , Pr  , e (IX.6)
Nu Le  f Re Le , Pr  . (IX.7)
em que x é a coordenada espacial considerada, Le é o comprimento característico, Rex é o Número de
Reynolds local, ReLe é o Número de Reynolds para o comprimento característico considerado, e Pr é o
Número de Prandtl para o sistema.
Quando efeitos de dissipação viscosa ou outros fatores (e.g., faixa de temperatura) são relevantes
no processo convectivo, tais efeitos devem ser contabilizados de modo a serem obtidas estimativas
precisas para os parâmetros de transferência de calor por convecção, fazendo o Número de Nusselt
assumir uma forma funcional mais abrangente, conforme mostrado a seguir:

Nu  f Re, Pr,  f  s , Br  , (IX.8)


em que Re é o Número de Reynolds, Pr é o Número de Prandtl, , µf é a viscosidade dinâmica na
temperatura média do seio do fluido, µs é a viscosidade dinâmica na temperatura da superfície sólida e
Br é o Número de Brinkman.
O Número de Brinkman é outra grandeza adimensional, definida através da Equação (IX.9)
expressa a seguir, cujo valor mensura a razão entre o calor gerado por dissipação viscosa e o calor
transferido por condução,

 v2
Br  . (IX.9)
k Ts  T f 
em que µ, v e k são, respectivamente, a viscosidade dinâmica, a velocidade e a condutividade térmica
do fluido; Ts é a temperatura da superfície isotérmica em contato com o fluido com temperatura média
no seio do fluido igual a Tf..
Os dados experimentais para a transferência convectiva externa de calor são muitas vezes
adequadamente representados, com boa precisão, através de uma relação de lei de potência, expressa
da seguinte forma

Nu    Re mLe Pr n , (IX.10)
em que α, m, n são parâmetros que dependem da geometria e do tipo de escoamento do sistema.

Hugo L. B. Buarque
108 Parte Três: Transmissão de Calor

CONVECÇÃO FORÇADA EXTERNA – CORRELAÇÕES.


Escoamento Paralelo sobre Placas Planas.
O Número de Nusselt local numa posição x qualquer do escoamento sobre uma placa plana lisa e
aquecida, isotermicamente, desde o bordo de ataque pode ser determinado, ao se resolver a equação
diferencial da energia, e expresso, dependendo do tipo de escoamento, como:

Nu x  0,332 Re1x/ 2 Pr1 / 3 , (IX.11)


para escoamento laminar e Pr > 0,6; e

Nu x  0,0296 Re 4x / 5 Pr1 / 3 , (IX.12)


para escoamento turbulento com 0,6 ≤ Pr ≤ 60 e 5x105 ≤ Rex ≤ 107.
A partir de uma análise das duas equações anteriores, observa-se que os coeficientes de
transferência de calor são mais elevados nos escoamentos turbulentos que nos escoamentos laminares.
Além disso, hx atinge seu maior valor quando o escoamento se torna completamente turbulento,
diminuindo, subsequentemente, na direção do escoamento.
O Número de Nusselt médio ao longo de toda a placa é determinado substituindo, na
Equação (IX.2), as relações dadas na Equação (IX.11) e na Equação (IX.12), e efetuando as devidas
integrações, resultando em:

Nu L  0,664 Re1L/ 2 Pr1 / 3 , (IX.13)


para escoamento laminar ao longo de toda a placa e ReL < 5x105; e

Nu L  0,037 Re 4L / 5 Pr1 / 3 , (IX.14)


para escoamento turbulento ao longo de toda a placa ou quando a região de escoamento laminar é
muito pequena em relação à região de escoamento turbulento, com 0,6 ≤ Pr ≤ 60 e 5x105 ≤ ReL ≤ 107.
Também, aplicando-se as correções necessárias, correlações para o Número de Nusselt local
pode ser obtidos para valores de Re > 107:

Nu x  1,596 Re x Ln Re x 
2,584
Pr1 / 3 , (IX.15)
Em muitas situações reais, o escoamento inicia laminar, a partir do bordo de ataque da placa,
tornando-se turbulento, a uma distância crítica xcr, quando a placa plana é suficientemente longa.
Entretanto, nem sempre se pode desprezar a região de escoamento laminar. Nestes casos, a integração
da Equação (IX.2) se dá em duas partes e o coeficiente médio de transferência de calor ao longo de
toda a placa plana pode ser obtido a partir da correlação a seguir:

 
Nu L  0,037 Re 4L / 5  871 Pr1 / 3 , (IX.16)
para 0,6 ≤ Pr ≤ 60 e 5x105 ≤ ReL ≤ 107; e

Nu L  [1,963 Re L Ln Re L 
2,584
 871] Pr1 / 3 , (IX.17)
para 0,6 ≤ Pr ≤ 60 e Re > 107.
Destaque-se que as constantes nestas duas relações serão diferentes ao se assumir um Número de
Reynolds crítico diferente de 5x105.

Fenômenos de Transporte para Cursos Técnicos e Tecnológicos


Capítulo IX: Convecção de Calor 109

Para sistemas com valores de Pr < 0,05, típicos daqueles em que se usam metais líquidos
(e.g., mercúrio) para se obterem elevadas taxas de transferência de calor, a equação diferencial da
energia pode ser resolvida de modo a se obter que:

Nu x  0,565 Re x Pr  ,
1/ 2
(IX.18)

Churchill (1976) e Rose (1979) propuseram ainda relações aplicáveis a todos os fluidos, números
de Reynolds e números de Prandtl, determinadas empiricamente com muito boa exatidão, para os
números de Nusselt local e médio. Tais relações são expressas a seguir:

0,3387 Re1x/ 2 Pr1 / 3


Nu x  , (IX.19)
[1  (0,0468 / Pr) 2 / 3 ]1 / 4

0,6774 Re1L/ 2 Pr1 / 3


Nu L  , (IX.20)
[1  (0,0468 / Pr) 2 / 3 ]1 / 4
Também, quando uma placa plana é submetida a um fluxo uniforme de calor, ao invés de uma
temperatura uniforme, o Número de Nusselt local pode ser expresso como:

Nu x  0,453 Re1x/ 2 Pr1 / 3 , (IX.21)


para escoamento laminar; e

Nu x  0,0308 Re 4x / 5 Pr1 / 3 , (IX.22)


para escoamento turbulento.

Exercício Resolvido IX.3 – Um óleo automotivo a 80oC escoa na direção de seu comprimento
com velocidade média igual a 2,0 m/s, ao longo de uma placa plana de 5 m de comprimento e
2 m de largura, cuja superfície está submetida a uma temperatura de 40oC. Determinar a taxa
de transferência de calor ao longo de toda a placa. As propriedades do óleo na temperatura
do filme, 60ºC, são: ρ=863,9 kg/m3, ν=8,565x10-5 m2/s, k=0,1404 W m-1 K-1, Pr=1.080.
Resolução:
O Número de Reynolds do escoamento pode ser determinado para o comprimento da placa:
vL 2,0  5
Re L   5
 Re L  1,2  10 5 .
 8,565  10
Considerando o Número de Reynolds crítico igual a 5x105, tem-se um escoamento laminar,
podendo-se utilizar a Equação (IX.13) para se estimar o Número de Nusselt:


Nu L  0,664  1,2  105   1.080
1/ 2 1/ 3
 Nu L  2.360 .
Assim,
Nu  k 2.360  0,1404
h   h  66,27 W m 2 º C 1 .
L 5
Assim, a taxa de transferência de calor ao longo da placa é igual a:
q  h  A  Tf  Ts   66,27 W m 2 º C 1  5 m  2 m  80  40 º C 
q  26.508 W .

Hugo L. B. Buarque
110 Parte Três: Transmissão de Calor

Escoamento sobre Cilindros e Esferas.


Escoamentos sobre cilindros e esferas são frequentemente encontrados nos processos industriais.
O escoamento cruzado, por exemplo, sobre corpos sólidos com tais geometrias apresenta padrões
complexos de escoamento. E estes padrões influenciam fortemente a transferência de calor, motivo
pelo qual alguns conceitos devem ser apresentados e discutidos.
A região suficientemente distante do corpo, fora da camada limite hidrodinâmica, é denominada
região do escoamento livre. A velocidade do fluido (V) nessa região, a velocidade do escoamento
livre, é em geral assumida uniforme e constante, como também igual à velocidade do fluido
aproximando-se do corpo sólido, denominada velocidade de aproximação.
Na interface do fluido com o corpo sólido (bordo de ataque), no ponto onde a pressão do fluido
assume seu maior valor, conhecido como ponto de estagnação, o escoamento em corrente livre se
divide, circundando o corpo e formando uma camada limite que envolve o sólido. Devido à condição
de não deslizamento1, a velocidade do fluido junto à superfície é a mesma do corpo. A pressão do
fluido diminui na direção do escoamento, ao passo que a velocidade do fluido aumenta.
À jusante do corpo, nos pontos interfaciais, denominados pontos de separação, onde o fluido se
separa do corpo sólido, cria-se uma região de baixa pressão atrás do corpo, chamada região de
separação, onde ocorre escoamento com recirculação e com refluxo. Os efeitos da separação do
escoamento se fazem sentir muito à jusante do corpo, na forma de uma redução na velocidade, em
relação à velocidade à montante do sólido. A região do escoamento onde a presença do corpo sólido se
faz sentir na velocidade do fluido é denominada região de esteira ou, simplesmente, esteira.
A região de separação chega ao fim quando as duas correntes do escoamento se unem
novamente, no ponto de religação. Assim, observa-se que a região de separação possui um volume
delimitado e restrito, enquanto que a região de esteira continua crescendo atrás do sólido até que o
fluido recupere novamente um perfil de velocidade quase plano. Ressalte-se que os efeitos viscosos e
rotacionais são mais significativos na camada limite, na região de separação e na esteira.
Assim, dada a dificuldade de tratar analiticamente os escoamentos externos sobre cilindros e
corpos esféricos, tais escoamentos têm sido estudados experimental ou numericamente e várias
correlações empíricas têm sido desenvolvidas para o coeficiente de transferência de calor. Destaque-se
ainda que o comprimento característico de um cilindro circular ou de uma esfera num escoamento
externo sempre é tomado nestas correlações como sendo o diâmetro externo do sólido, devendo-se
usar o ReD nestas correlações. Outros comprimentos característicos devem ser adequadamente
definidos para cilindros com seções transversais não cilíndricas. O Número de Reynolds crítico para
tais sistemas é, em geral, de aproximadamente 2x105.
Das muitas correlações existentes para o Número de Nusselt médio, NuD, de um escoamento
cruzado sobre um cilindro circular, a proposta por Churchill e Bernstein (1977), expressa na Equação
(IX.23), parece ser uma das mais úteis, já que normalmente correlaciona com boa precisão dados de
sistemas com Número de Péclet2, PeD, igual ou superior a 0,2; novamente, as propriedades do fluido
são avaliadas na temperatura do filme (média da temperatura do escoamento livre e da superfície
sólida).

1
Situação em que um fluido em contato direto com um sólido adere na superfície devido aos efeitos viscosos, não havendo
escorregamento.
2
Jean Claude Eugène Péclet (1793-1857) foi um eminente físico francês. O Número de Péclet, denominado em sua
homenagem e cujo símbolo é Pe, é um número adimensional que no âmbito da transferência de calor é equivalente ao
produto do Número de Reynolds e do Número de Prandtl, relacionando a velocidade de advecção de um fluxo e a
velocidade de difusão térmica.

Fenômenos de Transporte para Cursos Técnicos e Tecnológicos


Capítulo IX: Convecção de Calor 111

0,62 Re1D/ 2 Pr1 / 3


Nu D  0,3  , para ReD < 10.000;
[1  (0,04 / Pr) 2 / 3 ]1 / 4

0,62 Re1D/ 2 Pr1 / 3   Re D 1 2 


Nu D  0,3   1     , para 10.000 ≤ ReD ≤ 400.000; (IX.23)
[1  (0,04 / Pr) 2 / 3 ]1 / 4   282000  
45
0,62 Re1D/ 2 Pr1 / 3   Re D  5 8 
Nu D  0,3   1     , para ReD > 400.000.
[1  (0,04 / Pr) 2 / 3 ]1 / 4   282000  

Para o escoamento sobre uma esfera, Whitaker (1972) determinou a correlação a seguir, válida
para 0,71 ≤ Pr ≤ 380, 3,5 ≤ ReD ≤ 76.000 e 1,0 < µf /µs <3,2:

Nu D  2  [0,4 Re1D/ 2  0,06 Re 2D/ 3 ] Pr 2 / 5  f  s 


14
. (IX.24)
em que as propriedades do fluido devem ser determinadas na temperatura do escoamento livre, exceto
µs que deve ser determinado na temperatura da superfície.
Ressalte-se que ambas as correlações anteriores, apesar de geralmente fornecerem estimativas
com boa precisão, também podem fornecê-las com desvios relativamente elevados, motivo pelo qual
alguns projetistas e operadores preferem correlações ainda mais restritas para estimativas do Número
de Nusselt médio. Por exemplo, para escoamento cruzado de sódio líquido sobre um corpo sólido
cilíndrico ou esférico, a Equação (IX.25), proposta por Ishiguro et al. (1979), e a Equação (IX.26),
obtida por Witte (1968), respectivamente, são normalmente mais utilizadas.

Nu D  1,125 Pe D  0, 413 , (IX.25)


em que 1 < PeD < 100.

Nu D  2  0,386 Pe D  1 / 2 , (IX.26)


em que 3,6x104 < ReD < 1,5x105.
É ainda importante mencionar que o Número de Nusselt médio para escoamentos sobre cilindros
é muitas vezes expresso na forma compacta dada na Equação (IX.10), inclusive para cilindros com
seção transversal não circular. A Tabela IX.1 apresenta algumas correlações empíricas para o Número
de Nusselt médio de um gás fluindo em escoamento cruzado sobre cilindros não circulares.
Finalmente, destaque-se que as correlações apresentadas, até o momento, foram determinadas
para o escoamento sobre um único cilindro ou para um conjunto de cilindros nos quais o escoamento
sobre eles não é afetado pela presença dos demais.

Hugo L. B. Buarque
112 Parte Três: Transmissão de Calor

Tabela IX.1 – Correlações empíricas para o NuLe de um escoamento externo


cruzado de um fluido gasoso sobre cilindros não circulares.
Seção transversal do
Faixa de ReLe Número de Nusselt
cilindro
Quadrado
5.000 a 100.000 Nu Le  0,102 Re 0Le,675 Pr1 3 (IX.27)

Quadrado inclinado a 45º


5.000 a 100.000 Nu Le  0,246 Re 0Le,588 Pr1 3 (IX.28)

Hexágono

Le
5.000 a 100.000 Nu Le  0,153 Re 0Le,638 Pr1 3 (IX.29)

Elipse

Le
2.500 a 15.000 Nu Le  0,248 Re 0Le,612 Pr1 3 (IX.30)

Exercício Resolvido IX.4 – Um corpo esférico de 20 cm de diâmetro com temperatura


uniforme e igual a 300ºC é submetido a um escoamento de ar (pressão de 1 atm e
temperatura de 20ºC) com velocidade superficial média de 2,0 m/s. Neste processo, a
temperatura da esfera diminui para 100ºC, após um certo intervalo de tempo. Determinar a
taxa média de transferência de calor convectivo durante o resfriamento.
Resolução:
As propriedades do ar a 1 atm e 20oC são as seguintes: ρ=1,204 kg/m3, Pr=0,7309,
µ=1,825x10-5 kg m-1 s-1 e k=2,514x10-2 W m-1 K-1. Também, a viscosidade do ar a 200ºC
(temperatura média da placa no processo) é igual a µ=2,577x10-5 kg m-1 s-1.
Deste modo, o Número de Reynolds do escoamento pode ser determinado como:
 v D 1,204  2,0  0,20
Re D    Re D  26.389 .
 1,825  10 5
O Número de Nusselt médio pode ser então estimado através da Equação (IX.24):
14
 1,825  10 5 
Nu D  2  [0,4  (26.389) 1/ 2
 0,06  (26.389) 2/3
]  0,7309 2/5
  
5 
 Nu D  97,6 .
 2,577  10 
Assim,
Nu D  k 97,6  2,514  10 2
h   h  12,3 W m 2 º C 1 .
D 0,20
Assim, a taxa de transferência de calor média ao longo do resfriamento é:
q  h  A  Tf  Ts   12,3 W m 2 º C 1   0,20 m 2  200  25 º C 
q  270,5 W .

Fenômenos de Transporte para Cursos Técnicos e Tecnológicos


Capítulo IX: Convecção de Calor 113

Escoamento sobre Bancos de Tubos. Figura IX.2 – Banco de


tubos.
Ao se analisar a transferência de calor num banco de tubos com
escoamento cruzado (ver Figura IX.2), a qual normalmente ocorre em
trocadores de calor, sistemas de condicionamento de ar, e em alguns outros
equipamentos industriais, vários tubos de um dado feixe devem ser
considerados de uma só vez, já que o escoamento sobre um tubo é
influenciado pela presença dos demais. Fonte: O autor.
Nos bancos tubulares, os tubos são organizados Figura IX.3 – Arranjos de bancos tubulares.
em linha ou escalonados, na direção do escoamento, ℓL
ℓL
como ilustrado na Figura IX.3, e o diâmetro externo dos ℓD

tubos, D, é usado como comprimento característico.


ℓT
Ressalte-se que o arranjo dos tubos no banco é ℓT
caracterizado pelo passo transversal, ℓT, pelo passo
longitudinal, ℓL, e pelo passo diagonal, ℓD.
Também, as características do escoamento são
dominadas pela velocidade máxima do escoamento, Tubos em linha Tubos escalonados

vmax, ao invés da velocidade de aproximação. E, assim, Fonte: O autor.


o Número de Reynolds deve ser determinado como:
 v max Le
Re Le  . (IX.31)

em que ρ, µ e vmax são a massa específica, a viscosidade dinâmica e a velocidade máxima do fluido,
enquanto que Le é o comprimento característico do sistema, que para tubos cilíndricos circulares é o
diâmetro externo do tubo.
Uma vez que o tratamento analítico do escoamento cruzado através de bancos de tubos é muito
complexo, várias correlações, todas baseadas em dados experimentais, têm sido propostas para o
Número de Nusselt médio de tais sistemas. Algumas das correlações propostas por Zakauskas (1987),
muito bem aceitas atualmente, estão apresentadas na Tabela IX.2 a seguir. Todas as propriedades do
fluido a serem usadas nas equações devem ser tomadas na média aritmética da temperatura de entrada
e de saída do fluido no banco de tubos, exceto Prs que deve ser determinado na temperatura superficial
dos tubos. O parâmetro φ expressa a razão entre o valor do passo transversal e do passo longitudinal.
Tabela IX.2 – Correlações empíricas para o NuD do escoamento cruzado sobre um banco de tubos.
Arranjo Faixa de ReD Número de Nusselt*
Nu D  0,9 Re 0D, 4 Pr 0,36 Pr/ Prs 
0, 25
0 a 100 (IX.32)
Nu D  0,52 Re 0D,5 Pr 0,36 Pr/ Prs 
0, 25
100 a 1.000 (IX.33)
Em linha
Nu D  0,27 Re 0D,63 Pr 0,36 Pr/ Prs 
0, 25
1.000 a 200.000 (IX.34)
Nu D  0,033 Re 0D,8 Pr 0, 4 Pr/ Prs 
0, 25
200.000 a 2.000.000 (IX.35)
Nu D  1,04 Re 0D, 4 Pr 0,36 Pr/ Prs 
0, 25
0 a 500 (IX.36)
500 a 1.000 Nu D  0,71Re 0, 5
D Pr/ Prs 
Pr 0,36 0, 25
(IX.37)
Escalonado
Nu D  0,35  Re Pr 0,36 Pr/ Prs 
0, 2 0, 6 0, 25
1.000 a 200.000 D (IX.38)
Nu D  0,31 0, 2 Re 0D,8 Pr 0,36 Pr/ Prs 
0, 25
200.000 a 2.000.000 (IX.39)
Nota: o valor de Pr deve estar compreendido entre 0,7 e 500, e devem haver pelo menos 16 linhas de tubos no banco.
As correlações apresentadas foram obtidas para tubos não aletados. Outras relações podem ser
encontradas na literatura especializada para tubos aletados ou diferentes condições e geometrias.

Hugo L. B. Buarque
114 Parte Três: Transmissão de Calor

Exercício Resolvido IX.5 – Água a 20ºC deve ser aquecida a 80ºC ao passar por um feixe de
hastes de resistência de aquecimento, cada haste de 1 cm de diâmetro e 2 m de comprimento
com temperatura superficial mantida a 100ºC. O escoamento é cruzado e a velocidade
máxima da água no banco de tubos é de 2,0 m/s. As hastes são organizadas em linha com
passos transversal e longitudinal iguais a 4 cm e 5 cm, respectivamente. Estime o coeficiente
de transferência convectiva de calor, assumindo que o feixe de hastes possui pelo menos
16 fileiras de tubos.
Resolução:
As propriedades da água na temperatura média do processo de aquecimento (50ºC) são:
ρ=988,1 kg/m3, k=0,644 W m-1 K-1, µ=5,47x10-4 kg m-1 s-1, Pr=3,55. Também, O Número de
Prandtl da água na temperatura superficial dos tubos (100ºC) é igual a Prs=1,75.
Deste modo, o Número de Reynolds do escoamento pode ser determinado como prevê a
Equação (IX.31):
 v max D 988,1  2,0  0,01
Re D    Re D  36.128 .
 5,47  10 4
O Número de Nusselt médio pode ser então estimado através da Equação (IX.34):
Nu D  0,27 Re 0D,63 Pr 0,36 Pr/ Prs   Nu D  0,27  36.128 3,550,36 3,55 / 1,750,25 
0, 25 0, 63

Nu D  378,2 .
Assim, o coeficiente de transferência de calor por convecção médio é estimado como:
Nu D  k 378,2  0,644
h   h  24.356 W m 2 º C 1 .
D 0,01

Fenômenos de Transporte para Cursos Técnicos e Tecnológicos


Capítulo IX: Convecção de Calor 115

CONVECÇÃO FORÇADA INTERNA – CORRELAÇÕES.


Considerações Iniciais
Como já discutido anteriormente, soluções teóricas exatas não são obtidas para problemas de
convecção forçada, exceto nos casos mais simples ou idealizados, como o escoamento laminar
completamente desenvolvido num tubo circular. Por este motivo, resultados experimentais e relações
determinadas empiricamente também são utilizados para a maioria dos casos em que há convecção
forçada interna.
Ainda, no escoamento interno é conveniente se trabalhar com uma velocidade média do fluido,
diferentemente do escoamento externo, em que se utiliza nas correlações a velocidade do escoamento
livre. Também, à medida que um fluido, sendo aquecido ou resfriado, escoa através de um tubo, sua
temperatura em qualquer seção transversal varia da superfície até o centro deste tubo. Assim, no
escoamento interno é mais adequado se considerar uma temperatura média do fluido que se assumirá
constante em dada seção transversal. Para tubos cilíndricos de raio R, a velocidade média, v , e a
temperatura média, T , do fluido na seção transversal de um escoamento incompressível podem ser
determinadas, respectivamente, a partir das expressões a seguir:

 vr   r dr ,
2 R
v (IX.40)
R2 0

 Tr   vr   r dr ,
2 R
T (IX.41)
vR2 0

em que v(r) e T(r) são as velocidades e temperaturas na coordenada radial r de uma seção transversal
do tubo cilíndrico.

Além disso, como a temperatura média T varia ao longo do comprimento do tubo, as


propriedades do escoamento no escoamento interno devem ser avaliadas na média aritmética das
temperaturas médias de entradas e saída do fluido no tubo, denominada temperatura média da massa
de fluido.
É também importante ressaltar que para o escoamento interno em tubos cilíndricos, o
comprimento característico que define o Número de Reynolds é o diâmetro do tubo. Para escoamento
através de tubos não circulares, o Número de Reynolds e o Número de Nusselt são obtidos para um
comprimento característico denominado diâmetro hidráulico, Dh, definido como:
4A
Dh  , (IX.42)
p
em que A é a área e p é o perímetro da seção transversal do tubo.
Finalmente, deve-se conceituar a região de entrada hidrodinâmica e a região completamente
desenvolvida hidrodinamicamente. A primeira se inicia na entrada do tubo e se prolonga até o ponto
no qual a camada limite hidrodinâmica do escoamento se funde na parte central, e a partir do qual o
perfil de velocidades está completamente desenvolvido. A outra região é aquela, além da entrada, no
qual o perfil de velocidades está completamente desenvolvido e se mantém inalterado. De maneira
análoga, pode-se definir uma região de entrada térmica e uma região completamente desenvolvida
termicamente, no qual se considera o perfil de temperaturas ao invés do perfil de velocidades.

Hugo L. B. Buarque
116 Parte Três: Transmissão de Calor

Convecção Interna com Escoamento Laminar.


O Número de Nusselt para o escoamento laminar, incompressível, permanente e completamente
desenvolvido de um fluido num tubo circular ou não circular, no qual a temperatura ou o fluxo de
calor na superfície interna do tubo é constante, independe dos números de Reynolds e Prandtl, e seu
valor, também constante, pode ser determinado a partir da Tabela IX.3.
Tabela IX.3 – Correlações empíricas para o Número de Nusselt de um escoamento laminar,
incompressível, permanente e completamente desenvolvido no interior de tubos de diferentes seções
transversais.
Seção transversal Número de Nusselt
do cilindro Temperatura superficial constante Fluxo de calor constante
Círcular

D
3,66 4,66

Retângular a/b
1 2,98 3,61
b 2 3,39 4,12
3 3,96 4,79
a 4 4,44 5,33
6 5,14 6,05
8 5,60 6,49
∞ 7,54 8,24
Elíptica a/b
1 3,66 4,36
b 2 3,74 4,56
4 3,79 4,88
a
8 3,72 5,09
16 3,65 5,18
Triângular (isósceles) θ
10º 1,61 2,45
30º 2,26 2,91

60º 2,47 3,11
90º 2,34 2,98
120º 2,00 2,68

Para o escoamento em um tubo circular ou entre placas paralelas isotérmicas de comprimento


total L, o Número de Nusselt médio para a região de entrada térmica pode ser determinado a partir
das correlações de Edwards et al. (1979), respectivamente equacionadas a seguir:
0,065 (D / L) Re Pr
Nu  3,66  ,e (IX.43)
1  0,04 [(D / L) Re Pr]2 / 3
0,03 (2b / L) Re Pr
Nu  7,54  , para Re ≤ 2.800, (IX.44)
1  0,04 [(2b / L) Re Pr]2 / 3
em que D é o diâmetro do tubo circular e b é o espaçamento entre as placas paralelas.

Fenômenos de Transporte para Cursos Técnicos e Tecnológicos


Capítulo IX: Convecção de Calor 117

Ressalte-se, neste momento, que para o escoamento laminar em tubos circulares (ReD ≤ 2.300),
os comprimentos hidrodinâmico (Lh) e térmico (Lt) da região de entrada podem ser estimados
respectivamente através das equações a seguir apresentadas:
L h  0,05 Re D , e (IX.45)
L t  0,05 Re Pr D . (IX.46)
Ainda, quando a diferença entre a temperatura superficial do tubo e a temperatura média do fluido é
grande, o Número de Nusselt médio pode ser determinado mais precisamente considerando-se a
variação da viscosidade do fluido, conforme proposto por Sieder e Tate (1936):

f
0 ,14

1/ 3
 Re Pr D 
Nu  1,86      ,e (IX.47)
 L   s 
em que as propriedades do fluido devem ser determinadas na temperatura média do fluido, exceto µs
que deve ser determinado na temperatura da superfície.

Exercício Resolvido IX.6 – Um líquido é bombeado no interior de um tubo circular de 0,5 m


de diâmetro e 250 m de comprimento com uma velocidade superficial média de 2 m/s. O
fluido é admitido no tubo a 20ºC. A temperatura da superfície interna do tubo é igual a 5ºC.
Determinar a taxa de transferência convectiva de calor a partir do líquido. As propriedades
do líquido a 20oC são: ρ=850 kg/m3, µ=0,85 kg m-1 s-1, k=0,05 W m-1 ºC-1, cp=1.600 J kg-1 ºC-
1
e Pr=8.000.
Resolução:
Como não se sabe a temperatura de saída do fluido, as propriedades do fluido serão tomadas
excepcionalmente a 20ºC, e não na temperatura média do líquido. O Número de Reynolds do
escoamento pode então ser determinado como segue:
 v D 850  2  0,5
Re D    Re D  1.000 ,
 0,85
Então, o escoamento é laminar, já que Re D < 2.300 (Re crítico para escoamento laminar).
Assim, o comprimento da região de entrada térmica pode ser estimado a partir da
Equação (IX.46):
L t  0,05 (1.000) (8.000) (0,5)  L t  200.000 m .
Já que o comprimento da entrada térmica estimado é muito maior que o comprimento do
tubo, assumir-se-á um escoamento em desenvolvimento térmico e o Número de Nusselt médio
será estimado através da Equação (IX.42):
0,065 (0,5 / 250) (1.000) (8.000)
Nu D  3,66 
1  0,04 [(0,5 / 250) (1.000) (8.000)]2 / 3
Nu D  43,06 .
Assim, o coeficiente de transferência de calor por convecção médio é estimado como:
Nu D  k 43,06  0,20
h   h  17,2 W m 2 º C 1 .
D 0,5

Hugo L. B. Buarque
118 Parte Três: Transmissão de Calor

Convecção Interna com Escoamento Turbulento.

O Número de Nusselt local numa posição x qualquer do escoamento no interior de um tubo


circular de diâmetro D, aquecido isotermicamente ou com fluxo de calor constante, pode ser
determinado a partir das correlações propostas por Deissler (1953) apud Çengel (2009).
Pode-se perceber a partir de tais correlações que o Número de Nusselt assume um valor
constante a uma distância axial de menos de dez vezes o diâmetro do tubo e, deste modo, o
escoamento pode ser considerado completamente desenvolvido para x > 10 D.
O Número de Nusselt médio para escoamentos turbulentos também podem ser determinados por
correlações empíricas que, muitas vezes, aplicam-se igualmente para sistemas com temperatura
superficial constante quanto para fluxo constante de calor e dão estimativas precisas para muitos
problemas de operação e projeto de processos térmicos.
Ainda, é importante mencionar que a rugosidade outras irregularidades da superfície sólida
afetam fortemente o escoamento e, por isso, influenciam decisivamente o coeficiente de película dos
escoamentos turbulentos, contrariamente ao que ocorre no escoamento laminar. Por este motivo, as
correlações para tais sistemas são muito específicas, como também são mais facilmente encontradas
equações para tubos lisos.
Uma delas, a equação de Colburn para o escoamento turbulento completamente desenvolvido em
tubos lisos, reproduzida a seguir, ainda é muito utilizada:

Nu  0,023 Re 4 / 5 Pr1 / 3 , (IX.48)


para 0,7 ≤ Pr ≤ 160 e Re ≥ 104.
Contudo, a equação de Sieder e Tate (1936), a seguir mostrada, é preferível quando as
propriedades do fluido variam muito com a diferença de temperatura.

f 
0,14

Nu  0,027 Re Pr 
4/5
 ,
1/ 3
(IX.49)
 s 
em que 0,7 ≤ Pr ≤ 17.600 e Re ≥ 104, e que as propriedades do fluido devem ser determinadas na
temperatura média do fluido, exceto µs que deve ser determinado na temperatura da superfície.
Ainda, para sistemas com Número de Prandtl muito baixo, típicos de metais líquidos, as
equações de Sleicher e Rouse (1975), expressas a seguir para escoamento turbulento com temperatura
superficial constante e fluxo de calor constante, respectivamente, são mais adequadas.
Nu  4,8  0,0156 Re 0,85 Prs0,93 , (IX.50)
Nu  6,3  0,0167 Re 0,85 Prs0,93 , (IX.51)
em que 0,004 < Pr < 0,01 e 104 < Re < 106.
Para a região de entrada térmica, existem correlações muito precisas na literatura, mas, em geral,
aquelas para escoamento completamente desenvolvido também são utilizadas para estimativas
aproximadas do coeficiente de transferência convectiva de calor em todo o tubo. Ressalte-se que em
tubos não circulares as equações apresentadas para os circulares podem ser igualmente utilizadas,
desde que o diâmetro hidráulico da seção não circular, definido na Equação (IX.42), seja usado no
cálculo do Número de Reynolds do sistema. Ainda, para escoamentos no espaço anular de tubos
concêntricos, correlações específicas ou fatores de correção para as equações apresentadas estão
disponíveis na literatura para a estimativa dos coeficientes de película.

Fenômenos de Transporte para Cursos Técnicos e Tecnológicos


Capítulo IX: Convecção de Calor 119

Exercício Resolvido IX.7 – Um fluido quente escoa num duto de 20 m de comprimento com
velocidade superficial de 2,0 m/s. A seção transversal do duto é retangular com 0,2 m de
altura e 0,3 m de largura. Determinar o coeficiente de transferência de calor por convecção,
sabendo que as propriedades do fluido na temperatura média calculada para as condições
dadas são: ν=2,0x10-5 m2 s-1, k=0,02 W m-1 ºC-1 e Pr=0,80.
Resolução:
O diâmetro hidráulico para o sistema é determinado através da Equação (IX.42):
4 0,2  0,3
Dh   0,24 m .
2  0,2  2  0,3
O Número de Reynolds do escoamento pode então ser calculado como segue:
v D h 2,0  0,24
Re D    Re D  24.000 .
 2,0  10 5
Então, o escoamento é turbulento, já que Re D > 10.000 (Re crítico para escoamento
turbulento). Assim, o comprimento da região de entrada térmica pode ser estimado a partir
da relação a seguir:
L t  10 D h  L t  10  0,24  L t  2,4 m .
Já que o comprimento da entrada térmica estimado é muito menor que o comprimento do
tubo, assumir-se-á um escoamento completamente desenvolvido e o Número de Nusselt médio
será estimado através da Equação (IX.48):
Nu D  0,023 24.000 0,81/ 3  NuD  68,17
4/5
.
Assim, o coeficiente de transferência de calor por convecção médio é estimado como:
Nu D  k 68,17  0,02
h   h  5,68 W m 2 º C 1 .
Dh 0,24

Hugo L. B. Buarque
120 Parte Três: Transmissão de Calor

CONVECÇÃO NATURAL.

Considerações Iniciais
Muitos equipamentos de transferência de calor operam sob condições de convecção natural, haja
vista que dispensam o uso de dispositivos de deslocamento de fluido, apesar dos menores coeficientes
de transferência convectiva de calor em relação à convecção forçada.
A magnitude da transferência de calor por convecção natural está relacionada à movimentação
natural do fluido, a qual depende fortemente do equilíbrio dinâmico entre o empuxo de flutuação e o
atrito ocorrendo entre porções do fluido. Este equilíbrio está associado às diferenças térmicas e a
algumas propriedades do fluido (e.g., viscosidade, massa específica, coeficiente de expansão
volumétrica), as quais são funções das temperaturas do sistema. Também depende da geometria e
orientação da superfície em contato com o fluido.
As equações e condições obtidas no estudo da convecção natural também podem ser
adimensionalizadas fornecendo um parâmetro que, analogamente ao Número de Reynolds na
convecção forçada, irá reger o regime de escoamento (laminar ou turbulento) na convecção natural.
Este parâmetro adimensional, definido na Equação (IX.52), é denominado Número de Grashof1 (Gr) e
representa a razão entre o empuxo e a força viscosa agindo sobre um fluido.

g  Ts  T f  L3e
GrLe  , (IX.52)
2
em que g é a intensidade da aceleração da gravidade, β é o coeficiente de expansão volumétrica, Ts é a
temperatura da superfície, Tf é a temperatura do fluido suficientemente distante da superfície, ν é a
viscosidade cinemática do fluido e Le é o comprimento característico da geometria do sistema.
Contudo, aquelas equações dificilmente apresentam soluções analíticas, excetuando-se em
alguns casos simples. Assim, as relações de transferência de calor por convecção natural são baseadas
em dados experimentais e uma grande parte das correlações empíricas existentes na literatura para o
Número de Nusselt médio assume a forma de uma relação de lei de potência, expressa da seguinte
forma

Nu    Ra nLe , (IX.53)
em que α e n são parâmetros que dependem da geometria e do regime de escoamento do sistema, e Ra
é o Número de Rayleigh2, definido através da Equação (IX.54), como o produto do Número de
Grashof (Gr) e o Número de Prandtl (Pr):
Ra Le  GrLe Pr , (IX.54)
Quando o valor do Número de Rayleigh é inferior a um dado valor crítico para um fluido, a
transferência de calor ocorre primariamente na forma de condução; quando excede aquele valor crítico,
a transferência térmica é primariamente na forma de convecção. O valor do parâmetro n é, em geral,
igual a 1/4 para escoamento laminar e igual a 1/3 para escoamento turbulento. Enquanto que os valores
assumidos pelo parâmetro α são geralmente inferiores à unidade. Para a maioria dos propósitos em
engenharia, o valor do número de Rayleigh é elevado, algo em torno de 106 e 108.

1
Franz Grashof (1826-1893) foi um engenheiro e professor alemão, quem desenvolveu algumas relações para o
escoamento de vapor. O Número de Grashof foi assim denominado em sua homenagem, embora ele não tenha nenhuma
contribuição no campo da convecção natural.
2
John William Strutt (1842-1919), mais conhecido como Lord Rayleigh, foi um renomado físico inglês, co-descobridor do
elemento Argônio, do espalhamento Rayleigh e das ondas de superfície, dentre outros trabalhos. O Número de Rayleigh foi
denominado em sua homenagem.

Fenômenos de Transporte para Cursos Técnicos e Tecnológicos


Capítulo IX: Convecção de Calor 121

Correlações para a Convecção Natural sobre Superfícies


Algumas relações simples para o Número de Nusselt médio para a convecção natural sobre
superfícies isotérmicas com diferentes geometrias são apresentadas na Tabela (IX.4). Nesta tabela
também estão indicados o comprimento característico e a faixa de números de Rayleigh em que a
relação é aplicável. Ressalte-se que as propriedades do fluido devem ser determinadas na temperatura
do filme (a média entre a temperatura da superfície sólida e a temperatura do fluido em repouso
distante da superfície).
Tabela IX.4 – Correlações empíricas para o Número de Nusselt médio para a convecção natural sobre
algumas superfícies isotérmicas com diferentes geometrias.
Geometria Comprimento
Faixa de Ra Número de Nusselt médio
do Sistema Característico
Placa vertical
com altura L

104 a 109 Nu  0,59 Ra 1L/ 4 (IX.55)


L
1010 a 1013 Nu  0,10 Ra 1L/ 3 (IX.56)

Placa horizontal
com área A e perímetro p

104 a 107 Nu  0,54 Ra 1L/ 4 (IX.57)


A/p
107 a 1011 Nu  0,15 Ra 1L/ 3 (IX.58)
superfície superior de uma
placa quente (ou superfície
inferior de uma placa fria).
Placa horizontal
com área A e perímetro p

A/p 105 a 1011 Nu  0,27 Ra 1L/ 4 (IX.59)


superfície inferior de uma
placa quente (ou superfície
superior de uma placa fria).
Cilindro horizontal circular 2
com seção de diâmetro externo D  
 
Ts  0,387 Ra 1D/ 6 
D ≤ 1012 Nu  0,6  9 8  (IX.60)
 [1  (
0,559 16 27
) ] 
D  Pr 

Esfera
com diâmetro externo D
≤ 1011 Nu  2 
0,589 Ra 1D/ 4
(IX.61)
D
(Pr ≥ 0,7) [ 1  (0,469 Pr) 9 16 ] 4 9

A literatura ainda disponibiliza correlações mais precisas e abrangentes, apesar de mais


complexas, para tais geometrias, bem como para muitas outras não abordadas aqui.

Hugo L. B. Buarque
122 Parte Três: Transmissão de Calor

Exercício Resolvido IX.8 – Um tubo cilíndrico horizontal de 10 m de comprimento e 10 cm de


diâmetro externo, no interior do qual escoa um fluido térmico, troca calor externamente com
o ar ambiente (pressão atmosférica), cuja temperatura é mantida a 20ºC. A temperatura da
superfície externa é mantida em 80ºC ao longo de todo o comprimento do tubo. Determinar a
taxa de transferência de calor por convecção natural da superfície do tubo para o ambiente.
Resolução:
A temperatura do filme é a média das temperaturas do ar e da superfície externa do tubo,
sendo igual a 50ºC. As propriedades do ar a 1 atm e na temperatura média calculada são:
ν=1,8x10-5 m2 s-1, k=0,0274 W m-1, β=3,09x10-3 ºC-1 e Pr=0,72. O comprimento
característico do sistema é o diâmetro externo do tubo. Assim, o Número de Rayleigh será:
g  Ts  T  D 3 9,81  3,09  10 3 80  20 0,10
3
Ra D   Pr   0,72  Ra D  5,61 10 6 .
 2
1,8 10 
5 2

Então, o Número de Nusselt médio pode ser determinado a partir da Equação (IX.60) como:

 
2

 0,387 5,61  10 6
16


Nu  0,6    Nu  23,89 .

 [1  (0,559 0,72) 9 16 ]8 27 

Assim, o coeficiente de transferência de calor por convecção médio é estimado como:
Nu  k 23,89  0,0274
h   h  6,55 W m 2 º C 1 .
D 0,10
Finalmente, a taxa de transferência de calor será dada pela Lei de Newton do Resfriamento:
q  h A Ts  Tf   6,55   D L  80  20  393   q  1.235 W m 2 º C 1 .

Correlações para a Convecção Natural entre Placas ou em Espaços Fechados


O escoamento de convecção natural através de um canal formado por duas placas paralelas,
aletadas ou não, é normalmente encontrado em situações práticas, tais como em dissipadores de calor
ou em placas de circuito de dispositivos eletrônicos. Igualmente, a transferência de calor por
convecção livre através de espaços fechados (retangulares, cilíndricos ou esféricos) é de interesse
prático. Assim, a literatura também disponibiliza várias correlações empíricas para o tratamento destes
tipos de sistema.

Fenômenos de Transporte para Cursos Técnicos e Tecnológicos


Capítulo IX: Convecção de Calor 123

CONVECÇÃO COMBINADA: NATURAL E FORÇADA.


Um fluido escoando na presença de um gradiente de temperatura, sob influência de um campo
gravitacional, a qual sempre se manifesta na quase totalidade dos problemas práticos, origina correntes
de convecção natural, além daquelas de convecção forçada, que implica que na prática a transferência
de calor por convecção forçada sempre é acompanhada da transferência por convecção natural.
Contudo, os valores dos coeficientes de transferência de calor obtidos na convecção forçada são
geralmente maiores que aqueles encontrados na convecção natural, haja vista as maiores velocidades
superficiais do fluido associadas à convecção forçada. Porém, nem sempre é possível desprezar a
contribuição da convecção natural num processo combinado, particularmente para baixas velocidades
do fluido.
Tem-se observado que, para um dado fluido, que o parâmetro Gr/Re2 indica a importância da
contribuição da convecção natural em relação à convecção forçada. De maneira geral, valores muito
baixos de Gr/Re2 (e.g., Gr/Re2 < 0,1) indicam que a convecção natural é desprezível, enquanto que
valores muito elevados (e.g., Gr/Re2 > 10) sugerem que a convecção forçada é insignificante. Valores
intermediários para o parâmetro indicam que ambos as formas de convecção devem ser consideradas
na análise do processo de transporte de calor.
Ressalte-se, ainda, que a convecção natural pode contribuir positiva ou negativamente no
processo de transferência convectiva combinada de calor, dependendo das direções relativas dos
escoamentos convectivos devido à convecção livre (flutuação induzida) e à forçada. No escoamento
assistido, a convecção natural contribui positivamente com a convecção forçada, aumentando o
transporte de calor; no escoamento oposto, a convecção natural contribui negativamente com a
forçada, diminuindo a transferência de calor; no escoamento transversal, a maior mistura do fluido
resultante aumenta o transporte convectivo de calor.
A estimativa do Número de Nusselt para a convecção combinada (Nucomb) tem sido tratada na
literatura como uma função explicitada na forma da Equação (IX.62):


Nu comb  Nu fn  Nu n 
1n
, (IX.62)
em que Nuf é o Número de Nusselt determinado para a convecção forçada somente, Nuℓ é o Número
de Nusselt determinado para a convecção natural somente, e n é um parâmetro que depende da
geometria do sistema. Assumir-se-á o sinal positivo para escoamento assistido ou transversal e o sinal
negativo para escoamento oposto, pelos motivos já apresentados.

Hugo L. B. Buarque
124 Parte Três: Transmissão de Calor

PROBLEMAS.
1. O coeficiente de transmissão de calor para uma esfera de 50 cm de diâmetro em ar calmo é
6,0 kcal/h∙m2 ºC. Determine a quantidade de calor transmitida por unidade de tempo por convecção,
se o ar está a 30ºC e a superfície da esfera está a –180ºC.
2. Um fluido petrolífero escoando inicialmente a 70oC é aquecido ao passar através de um tubo de
5 cm de diâmetro com velocidade constante de 0,5 m/s. Estime a taxa de transferência de calor ao
longo de 10 m do tubo se nesse comprimento for mantida uma condição de fluxo de calor constante
na parede, sendo a temperatura da parede 40oC acima da temperatura do fluido ao longo de todo o
tubo. Qual será o aumento da temperatura do fluido?
As propriedades do fluido na faixa de temperatura considerada podem ser consideradas iguais a:
ρ=816 kg/m3; cp=1.525 J kg-1 ºC-1; k=0,085 W∙m-1∙ºC-1. O Número de Nusselt estimado para o
sistema foi igual a 50,6.
3. Considere uma camada de isolamento (condutividade térmica igual a k) que pode ser instalada ao
redor de um tubo circular. A temperatura interna do isolamento é fixada em Ti, e a superfície
externa do isolamento troca calor com o ambiente a T∞. Determine a expressão para a obtenção do
raio externo de isolamento, re, que irá maximizar a transferência de calor, considerando um
coeficiente de película entre o isolamento e o ambiente igual a h.
4. Água entra num tubo de 2 cm de diâmetro e 3 m de comprimento cujas paredes são mantidas a
100oC, com uma temperatura da massa de fluido de 25ºC e uma vazão de 3 m3/h. Desprezando os
efeitos de borda de entrada e assumindo o escoamento turbulento, o número de Nusselt pode ser
determinado a partir da seguinte correlação: Nu = 0,023 Re0,8 Pr0,4. Estime o coeficiente de
transferência de calor por convecção, sabendo que nas condições dadas a água tem as seguintes
propriedades: k = 0,610 W/m.ºC; Pr = 6,0; µ = 9,0x10-4 kg/m.s; ρ = 1.000 kg/m3.
5. Um tubo horizontal de 10 m de comprimento e de 5 cm de diâmetro atravessa um ambiente cuja
temperatura é de 20ºC. Se a temperatura da superfície externa do tubo é de 120ºC, determine a taxa
de transferência de calor por convecção natural do tubo para o ambiente.
6. A parede de um forno é constituída de duas camadas: 0,2 m de tijolo refratário (k = 1,2 kcal/h.m.ºC)
e 0,13 m de tijolo isolante (k = 0,02 kcal/h.m.ºC). A temperatura do forno é 1700ºC e o coeficiente
de película (convecção) da parede interna é 60 kcal/h.m2.ºC e da parede externa é 10 kcal/h.m2.ºC.
Determine o fluxo de calor por unidade de área para uma temperatura ambiente externa de 27ºC.

Fenômenos de Transporte para Cursos Técnicos e Tecnológicos


CAPÍTULO X

RADIAÇÃO TÉRMICA

“Nada na vida deve ser receado. Tem apenas que ser compreendido”.”
Marie Curie (1867 – 1934).

FUNDAMENTOS DA RADIAÇÃO TÉRMICA.

Pode-se definir radiação como a propagação ou emissão de energia por meio de ondas ou
partículas através da matéria ou do vácuo. Assim, as radiações eletromagnéticas transportam energia
por meio de ondas eletromagnéticas ou fótons, sendo oriundos de campos elétricos e magnéticos em
movimento, como resultado de diferentes mecanismos, tais como das mudanças nas configurações
eletrônicas dos átomos e moléculas, reações nucleares, etc.
As radiações eletromagnéticas viajam na velocidade da luz1 e são caracterizadas por sua
frequência (ν) ou seu comprimento de onda (λ). A frequência depende apenas da fonte da radiação,
enquanto que o comprimento de onda depende do meio de propagação. Estas duas propriedades estão
relacionadas pela Equação (X.1):
c
λ , (X.1)
ν
em que c é a velocidade de propagação da onda no meio.
A velocidade de propagação da onda, em m/s, pode ser determinada para um dado meio por
intermédio da Equação (X.2),
2,9979  108
nr , (X.2)
c
que define o índice de refração2 (nr) do meio de propagação da onda.
Ademais, sabe-se da física quântica que cada fóton irradiado, de uma dada frequência, propaga
uma energia (Eν) de intensidade dada pela Equação (X.3):
c
Eν  h , (X.3)
λ
em que h é constante de Planck3.
Portanto, as radiações de menores comprimentos de onda (maiores frequências) são mais
energéticas que aquelas de maiores comprimentos de onda.

1
A velocidade da luz no vácuo (co) é igual a 2,9979 x 108 m/s.
2
O índice de refração é a razão entre a velocidade da luz no vácuo e a velocidade de propagação da onda no meio. O valor
de nr é aproximadamente igual à unidade para o ar e para vários gases, cerca de 1,5 para o vidro e 1,33 para a água.
3
O valor da constante de Planck é igual a 6,626069 x 10-34 J∙s.
126 Parte Três: Transmissão de Calor

Exercício Resolvido X.1 – Fótons de raios X, cuja frequência é de 1019 Hz, estão se
propagando através de uma placa de vidro. Determine:

(a) a energia de um mol destes fótons;


(b) o comprimento de onda da radiação eletromagnética na placa de vidro.
Resolução:
(a) a energia dos fótons é determinada por meio da Equação (X.3):
E total  n  E ν  n  hν  6,02 1023  6,626 10-34 1019  E total  4 GJ .
(b) o comprimento de onda da radiação eletromagnética na placa é obtida a partir da
combinação da Equação (X.1) e da Equação (X.2):
2,9979 108 2,9979 108
λ   λ  2  1011 m .
no  ν 1,5 1019

Os fenômenos eletromagnéticos envolvem muitos tipos de radiação, desde as ondas de energia


elétrica e de rádio, de baixa energia, até aos raios gama e raios cósmicos, altamente energéticos. A
Figura X.1 reitera tais comprimentos de onda.
Figura X.1 – Espectro de ondas eletromagnéticas, destacando a faixa da radiação visível.

Fonte: O autor.

O tipo de radiação eletromagnética relacionada à transferência de calor é a radiação térmica,


emitida como resultado das transições de energia de moléculas, átomos e elétrons de um corpo. A
temperatura é uma medida da importância destas atividades no nível microscópio, o que significa que a
radiação térmica é continuamente emitida por todos os materiais cuja temperatura seja superior a zero
absoluto, como também que a taxa de emissão de radiação térmica aumenta com o aumento da
temperatura.
Assim, pode-se definir a radiação térmica como a energia radiante emitida por um meio em
virtude de sua temperatura. Esta radiação é emitida em todas as direções a partir da superfície de um
corpo, ao longo de uma vasta faixa de valores de λ, entre 10-4 a 10-7 metros, os quais incluem a
totalidade das radiações infravermelha (IR) e visível, bem como parte da radiação ultravioleta (UV).

Fenômenos de Transporte para Cursos Técnicos e Tecnológicos


Capítulo X: Radiação Térmica 127

RADIAÇÃO DE CORPO NEGRO.

A quantidade de energia de radiação térmica emitida a partir de um corpo num determinado


comprimento de onda deveria depender, em condições ideais, somente da temperatura do corpo.
Porém, é sabido que a quantidade de energia emitida depende também da natureza e das condições em
que se encontram esse corpo. Por exemplo, a radiação emitida por gases, líquidos, sólidos
transparentes e sólidos opacos têm características próprias de cada meio.
Um corpo negro ou irradiador ideal é definido como um perfeito emissor e absorvedor de
radiação térmica. Este irradiador é apenas um conceito teórico, mas extremamente útil na comparação
e estudo das características de radiação de outros meios.
Assim, por definição, a superfície de um corpo negro não somente emite uma quantidade de
energia de radiação monocromática que depende somente da temperatura do corpo, como também
nenhuma outra superfície pode emitir mais energia radiante que este irradiador ideal. Ele também
emite radiação uniformemente em todas as direções (emissor difuso), assim como absorve toda
radiação incidente sobre ele, independente do comprimento de onda dessa radiação.
Uma expressão para calcular o poder emissivo espectral1 de um corpo negro foi deduzida por
Max Planck, em 1901, e por isso chamada lei de Planck, a qual está apresentada na Equação (X.4):
3,74177  108 n r
E cn , λ  , (X.4)
 14387,8

λ 5  e λ T  1
 
 
em que Ecn,λ é o poder emissivo espectral do corpo negro, em W m-2 μm-1; nr é o índice de refração do
meio de propagação; λ é o comprimento de onda da radiação, em μm; e T é a temperatura absoluta da
superfície do corpo, em K.
A distribuição da potência emissiva de corpo negro espectral com o comprimento de onda para
várias temperaturas é apresentada na Figura X.2.
Figura X.2 - Poder emissivo espectral hemisférico de um corpo negro para várias temperaturas diferentes
e linha de máxima potência emissiva espectral..
10
10
10
9 T = 2897,8 m K (potência máxima)
8
10
7
5800 K (solar)
10
6
10
5 2000 K
Ecn, W m m )

10
-1

4
10
-2

3
10
10
2
500 K
1
10 250 K
0
10
-1
10 100 K
-2
10
-3
10
-4
10
-2 -1 0 1 2 3
10 10 10 10 10 10
 (m)
Fonte: O autor.

1
O poder emissivo espectral é a quantidade de energia radiante emitida por um corpo negro numa dada temperatura e
comprimento de onda, por unidade de tempo, por unidade de área e por unidade de comprimento de onda.
Hugo L. B. Buarque
128 Parte Três: Transmissão de Calor

Analisando a Figura X.2 se observa que: a radiação emitida é função contínua do comprimento
de onda para qualquer temperatura dada e com um valor máximo de potência emissiva; a quantidade
de radiação emitida aumenta com a temperatura para qualquer comprimento de onda; as curvas de
potência emissiva espectral deslocam-se para a esquerda, para a região de ondas mais energéticas, com
a elevação da temperatura.
Na figura anterior também é mostrado um gráfico da lei de Wien do deslocamento, descrita na
Equação (X.5), a qual pode ser deduzida diferenciando a equação anterior em termos do comprimento
de onda e igualando a função resultante a zero. A partir da lei de Wien do deslocamento pode-se
determinar o comprimento de onda na qual a potência emissiva é máxima para uma dada temperatura.
λTpotência
máxima
 2897,8 μm K . (X.5)

Pode ainda ser observado na Figura X.2 que a radiação emitida pelo Sol, cuja superfície
comporta-se como um corpo negro com aproximadamente 5800 K, atinge sua potência emissiva
máxima na região visível do espectro (0,40 μm a 0,76 μm), o que lhe confere uma cor branca (apesar
de ser visto como amarelo no céu terrestre, o que se deve à dispersão dos raios na atmosfera).
Ademais, verifica-se naquela figura que superfícies de corpos negros, e mesmo de corpos reais, com
temperaturas inferiores a 800 K emitem radiação quase que exclusivamente na região infravermelha do
espectro, a qual não é visível aos nossos olhos.
A energia radiante total emitida por um corpo negro, por unidade de tempo e por unidade de área
é outra grandeza importante no estudo da radiação, particularmente para o estudo da transferência de
calor. A relação para determinar esta grandeza foi determinada experimentalmente por Joseph Stefan e
verificada teoricamente por Ludwig Boltzmann, no final do século XIX, a qual pode ser deduzida a
partir da integração da lei de Planck para todos os comprimentos de onda, resultando na
Equação (X.6), conhecida como lei de Stefan-Boltzmann:
E cn   T 4 , (X.6)
em que Ecn é fluxo radiante ou poder emissivo total do corpo negro, em W m-2; σ é a constante de
Stefan-Boltzmann1; e T é a temperatura absoluta da superfície do corpo, em K. A variação do poder
emissivo total do corpo negro com a temperatura é mostrada na Figura X.3.
Figura X.3 - Poder emissivo espectral hemisférico de um corpo negro para várias temperaturas diferentes
e linha de máxima potência emissiva espectral..
10
10
9
10
8
10
7
10
6
10
Ecn (W m )
-2

5
10
4
10
3
10
2
10
1
10
0
10
0 1000 2000 3000 4000 5000 6000
Temperatura (K)
Fonte: O autor.

1
O valor da constante de Stefan-Boltzmann é igual a 5,670 x 10-8 W/m2.

Fenômenos de Transporte para Cursos Técnicos e Tecnológicos


Capítulo X: Radiação Térmica 129

Exercício Resolvido X.2 – Considerando uma esfera de 200 mm de diâmetro, numa


temperatura de 1000 K, suspensa no ar e comportando-se como um corpo negro, determine:
(a) o comprimento de onda onde o poder emissivo espectral da esfera é máximo;
(b) o poder emissivo espectral para o comprimento de onda determinado;
(c) o poder emissivo total da esfera;
(d) a quantidade total de radiação emitida pelo corpo esférico em 10 minutos, em condições
permanentes.

Resolução:

(a) o comprimento de onda correspondente à potência máxima é calculado por intermédio da


Equação (X.5):
2897,8 2897,8
λ potência    λ potência  2,9 μm .
máxima T 1000 máxima

(b) o poder emissivo espectral é determinado por meio da Equação (X.4):


3,74177  108 1,0
E cn ; 2,9 nm   E cn; 2,9 nm  12.867 W m 2 μm 1 .
 14387,8

2,95  e 2,91000  1
 

(c) o poder emissivo total da esfera é obtido por meio da Equação (X.6):
E cn  5,670  108  1000  E cn  56,7 kW / m 2 .
4

(d) a quantidade total de radiação emitida pelo corpo esférico em 10 minutos é calculada
como se segue:
Qrad  E cn  A t  t  56.700  πD2  600s  56.700  π  0,22  600  Qrad  4.275 kJ .
Facilmente se verifica que a energia radiante produzida pela esfera durante os 10 minutos
seria capaz de aquecer cerca de 10 litros de água de 0°C a 100°C.

Muitas vezes, é desejável determinar somente uma fração da radiação emitida pela superfície de
um corpo. A energia radiante emitida por um corpo negro, por unidade de área, sobre uma faixa de
comprimento de onda de λ1 a λ2, pode ser determinada a partir da integração da lei de Planck, como
apresentado na Equação (X.7):
λ2
E cn , λ1 a λ 2   E cn , λ dλ , (X.7)
λ1

em que E cn , λ1 a λ 2 é a quantidade de radiação emitida sobre uma faixa de comprimento de onda (λ1 a λ2),
em W/m2.

Hugo L. B. Buarque
130 Parte Três: Transmissão de Calor

PROPRIEDADES DAS SUPERFÍCIES IRRADIANTES.


A maioria das superfícies encontradas na prática não se comporta como um corpo negro. Além
disso, embora a maior parte dos materiais encontrados nas aplicações industriais seja opaca à radiação
térmica, alguns outros materiais, como o vidro, a água e o ar permitem a penetração de radiação visível
a consideráveis profundidades antes que qualquer absorção significativa ocorra, enquanto que são
opacos para radiações em outros comprimentos de onda. Assim, no estudo das propriedades de
radiação de um material, deve-se levar em conta a natureza do corpo e a influência do comprimento de
onda.
Acrescente-se que para caracterizar as propriedades de radiação de superfícies não negras são,
em geral, usadas quantidades adimensionais, como a emissividade e a absortividade, as quais
relacionam as características do fenômeno radiativo de uma superfície real com aquelas de um corpo
negro.

Emissividade
A emissividade de uma superfície (real) representa a razão entre a radiação emitida pela
superfície e a radiação emitida por um corpo negro na mesma temperatura. Desta forma, a
emissividade é uma grandeza adimensional que varia entre 0 e 1, igualando-se à unidade para uma
superfície se comportando como um corpo negro.
Esta propriedade depende da temperatura, do comprimento de onda e da direção das radiações
emitidas. Por este motivo, diferentes emissividades podem ser definidas como mostrado no
Quadro X.1.
Quadro X.1 – Definições dos diferentes tipos de emissividades.
TIPOS DE EMISSIVIDADE DEFINIÇÃO
razão entre a intensidade da radiação emitida pela superfície
num determinado comprimento de onda em uma determinada
Emissividade espectral direcional
direção e a intensidade da radiação emitida por um corpo
negro na mesma temperatura e mesmo comprimento de onda.
razão entre a intensidade da radiação total emitida pela
superfície numa determinada direção e a intensidade da
Emissividade total direcional
radiação total emitida por um corpo negro na mesma
temperatura.
razão entre o poder emissivo espectral da superfície e o poder
Emissividade espectral hemisférica
emissivo espectral de um corpo negro na mesma temperatura.
razão entre o poder emissivo total da superfície e o poder
Emissividade hemisférica total
emissivo total de um corpo negro.

Para as aplicações do transporte de calor, a emissividade hemisférica total (ε), ou simplesmente


emissividade média, da superfície é a definição mais importante. Esta definição pode ser equacionada
como se segue:

ε (T) 

0
ε λ (λ, T)  E cn ,λ (λ, T) dλ
, (X.8)
σT 4
em que ελ (λ,T) é a emissividade espectral hemisférica num dado comprimento de onda na temperatura
da superfície.

Fenômenos de Transporte para Cursos Técnicos e Tecnológicos


Capítulo X: Radiação Térmica 131

Como se vê, para determinar a emissividade média de uma superfície, é necessário conhecer a
variação da emissividade espectral com o comprimento de onda na temperatura estabelecida, o que
muitas vezes é extremamente complicado. O que justifica assumir alguns materiais com superfície
difusa ou com superfície cinza, duas novas idealizações: uma superfície é difusa quando suas
propriedades são independentes da direção; e é cinza quando as propriedades independem do
comprimento de onda.
Ressalte-se que uma superfície cinza deve emitir tanta radiação quanto a superfície real que ela
representa. Ademais, no estudo da radiação, considera-se normalmente que as superfícies são
emissoras difusas com uma emissividade igual ao valor da emissividade direcional normal. Valores
típicos de emissividade de diversos materiais comuns está apresentada no Quadro X.2.
Quadro X.2 – Emissividades típicas de diferentes superfícies.
MATERIAL T (K) ε MATERIAL T (K) ε
Aço inoxidável Água 273 a 373 0,95 a 0,96
polido 300 a 1000 0,17 a 0,30 Alumina 800 a 1400 0,65 a 0,45
oxidado 600 a 1000 0,30 a 0,80
Amianto 300 0,96
Alumínio
polido 300 a 900 0,04 a 0,06 Areia 300 0,90
oxidado 400 a 800 0,20 a 0,33 Borracha
Chumbo dura 300 0,93
polido 300 a 500 0,06 a 0,08 macia 300 0,86
oxidado 300 0,63 Concreto 300 0,88 a 0,94
Cobre Gelo 273 0,95 a 0,99
polido 300 a 500 0,04 a 0,05 Gesso branco 300 0,93
oxidado 600 a 1000 0,5 a 0,8
Pele humana 300 0,95
Ferro
polido 300 a 500 0,05 a 0,07 Teflon 300 a 500 0,85 a 0,92
fundido 300 0,44 Tijolo
forjado 300 a 500 0,28 comum 300 0,93 a 0,96
enferrujado 300 0,61 refratário 1200 0,75
oxidado 500 a 900 0,64 a 0,78 Tintas
Latão alumínio 300 0,40 a 0,50
polido 350 0,09 preta 300 0,88
oxidado 450 a 800 0,6 a óleo 300 0,92 a 0,96
Níquel acrílico branco 300 0,90
polido 500 a 1200 0,07 a 0,17 Vidro
oxidado 450 a 1000 0,37 a 0,57 janela 300 0,90 a 0,95
Zinco pirex 300 a 1200 0,82 a 0,57
polido 300 a 800 0,02 a 0,05 piro cerâmico 300 a 1500 0,85 a 0,57
oxidado 300 0,25

Pode ser notado que, em geral, os metais apresentam emissividades baixas, particularmente para
superfícies polidas, enquanto que não metais e materiais orgânicos têm elevadas emissividades. Além
disso, a emissividade dos metais aumenta com a elevação da temperatura. Destaque-se, ainda, que a
oxidação provoca aumentos significativos na emissividade dos metais.
Ressalte-se que, em virtude das propriedades de radiação depender fortemente da superfície do
material, tais como a rugosidade, a oxidação, etc., valores bem estabelecidos e precisos de
emissividades são dificilmente bem descritos na literatura.

Hugo L. B. Buarque
132 Parte Três: Transmissão de Calor

Absortividade, refletividade e transmitividade Figura X.4 – Irradiação sobre um material


semitransparente.
Já que todos os corpos (acima de 0 K) emitem
radiação, eles também devem estar constantemente
sendo irradiados pelos materiais que os rodeiam. Esta
radiação incidente (irradiação), ao atingir a superfície
de um corpo, pode ser absorvida, refletida ou
transmitida, conforme ilustrado na Figura X.4.
A fração de irradiação absorvida pela superfície é
denominada de absortividade ou absorbância (α); a
fração de radiação incidente refletida pela superfície é
chamada refletividade ou refletância (ρ); e a fração de
irradiação transmitida através do meio é denominada
transmitividade ou transmitância (τ).
Fonte: O autor.

As equações (X.9), (X.10) e (X.11) podem ser usadas para definir a absortividade, refletividade e
transmitividade de um meio, respectivamente.
G
α  abs , 0  α  1 , (X.9)
G
Gref
ρ , 0  ρ  1, (X.10)
G
G
τ  tr , 0  τ  1 , (X.11)
G
em que G é o fluxo de radiação incidente sobre a superfície do meio; Gabs, Gref e Gtr são as partes
daquele fluxo absorvida, refletida e transmitida, respectivamente.
Considerando a primeira lei da termodinâmica aplicada ao fenômeno ilustrado na Figura X.6,
pode-se deduzir a Equação (X.12) para uma superfície qualquer. Ressalte-se que para superfícies, tem-
se que o valor da transmitância é nulo.
α  ρ  τ 1 (X.12)
Mencione-se, ainda, que há dois tipos idealizados de reflexões de radiação: a especular e a
difusa. Quando o ângulo do feixe refletido é igual ao ângulo do feixe de radiação incidência (θ), a
reflexão é dita especular. Caso haja uma reflexão uniforme da radiação incidente em todas as direções,
a reflexão é denominada difusa. Na prática, como sempre acontece com idealizações, nenhuma
superfície real produz uma reflexão especular ou difusa. Entretanto, a reflexão a partir de superfícies
lisas ou polidas se aproxima da reflexão especular, enquanto que a partir de superfícies rugosas se
aproxima da reflexão difusa.

Lei de Kirchoff
Uma importante relação entre a emissividade e a absortividade foi desenvolvida por Gustav
Kirchhoff, em 1980, e estabelece que a emissividade hemisférica total de uma superfície em dada
temperatura é igual a sua absortividade hemisférica total para a radiação proveniente de um corpo
negro na mesma temperatura, conforme explicitado na Equação (X.13).
ε (T)  α (T ) . (X.13)
Esta lei se aplica nas situações em que a temperatura da superfície irradiada é próxima da
temperatura da fonte de radiação. A lei de Kirchhoff também pode ser deduzida na forma espectral
(para um determinado comprimento de onda), e na forma espectral direcional (para um determinado
comprimento de onda e direção).
Fenômenos de Transporte para Cursos Técnicos e Tecnológicos
Capítulo X: Radiação Térmica 133

TRANSFERÊNCIA DE CALOR POR RADIAÇÃO.


Até o momento, abordamos a natureza da radiação térmica e as propriedades dos materiais
irradiantes, devendo agora considerar a taxa de transferência de calor por radiação entre superfícies,
subsidiando diversos processos e operações industriais, tais como a secagem, a combustão, a
permutação de calor, etc.
A análise da troca de calor radiante entre superfícies é normalmente complicada devido à
reflexão e à configuração geométrica do sistema de troca térmica. O efeito da geometria do sistema é
contabilizado pelo uso de um fator de forma, enquanto que a não idealidade das superfícies irradiantes
é tratada pelo uso de parâmetros tais como a emissividade, radiosidade, etc.

Fator de Forma
O fator de forma (Fij) de um sistema irradiante, também chamado fator de visão, de ângulo ou de
configuração, é um parâmetro puramente geométrico que contabiliza o efeito da orientação das
superfícies uma em relação às outras sobre a transferência de calor por radiação e pode ser definido
como a fração de energia que, deixando uma superfície i, incide diretamente sobre uma superfície j.
Para desenvolver uma expressão geral para o fator de forma Fij, tomam-se incialmente dois
objetos emissores e refletores difusos, cujas superfícies Ai e Aj estão arbitrariamente orientadas.
Consideram-se, então, duas superfícies diferenciais dAi e dAj sobre as correspondentes superfícies dos
objetos, como mostrado na Figura X.5. A distância entre as duas superfícies diferenciais é r. Os
ângulos formados entre os vetores normais (ni e nj) a dAi e dAj e a reta que liga tais superfícies são,
respectivamente, i e j.
Figura X.5 – Geometria arbitrária para determinação de expressão geral para o fator de forma F12.

Fonte: O autor.
Para o sistema ilustrado, pode ser mostrado que:
cos i cos  j
Fij A i    dA i dA j . (X.14)
Ai A j r 2
Em geral, a determinação do fator de forma é um problema complexo. Contudo, fatores de forma
têm sido avaliados para muitas geometrias mais simples. Expressões analíticas ou gráficas obtidas para
este parâmetro geométrico podem ser encontradas na literatura especializada. Algumas dessas
expressões para geometrias selecionadas são apresentadas no Quadro X.3.
Hugo L. B. Buarque
134 Parte Três: Transmissão de Calor

Quadro X.3 – Expressões do fator de forma para algumas geometrias típicas.


Geometria Equação
Retângulos de tamanho finito,
paralelos e alinhados  1
 2 
2a 2   b 2c2 2 b 1  b a  c 
2
Fij  Ln 1  4   
2 2
a c tg
bc   a  a 2 b 2  a 2 c 2  a 2  a 2  c2 
 

c c a 2  b 2 b 1  b  c 1  c  
 2 a 2  b 2 tg1 2  tg    tg   (X.15)
a a b 2
a a a  a 
Discos de tamanho finito,
paralelos e coaxiais

 2
1  ri  rj  h 
2 2
 r 2
 rj2  h 2 
2
 4ri2 rj2 

Fij  
i
 (X.16)
2 ri2 
 

Retângulos de tamanho finito,



perpendiculares com uma aresta 1  1  c  4a 1  c  4 a 2  b 2 1  c 
comum Fij   4 tg    tg    tg  

4  b b a b  a b
2 2


c b
 (a 2  c 2 ) (b 2  c 2 )  b  b 2 (a 2  b 2  c 2 )  c
 Ln    Ln  2 2 
 a b c  (a  b ) (b  c ) 
2 2 2 2 2

a2

 a (a  b  c )  
2 2 2 2 bc
 Ln  2 2   (X.17)
 (a  b )(a  c )  
2 2


Placas inclinadas de comprimento
infinito (plano perpendicular ao
papel), mesma largura e uma
aresta em comum
1 
Fij  1  sen    (X.18)
2 

Placa infinita e uma fileira de


cilindros
D 2 D 1  a 2 

Fij  1  1  2  tg  1 (X.19)
a a  D2 
 

Ademais, algumas relações úteis podem ser empregadas na determinação dos fatores de formas de
geometrias mais complexas:

Fenômenos de Transporte para Cursos Técnicos e Tecnológicos


Capítulo X: Radiação Térmica 135

a) Regra de reciprocidade

Esta relação, deduzida para a troca térmica por radiação entre um par de superfícies emissoras e
refletoras difusas e expressa na Equação (X.20), permite que se determine a contrapartida de um dado
fator de forma conhecido a partir das áreas dessas superfícies.
Fij A i  Fji A j . (X.20)
b) Regra do somatório

A regra do somatório ou do fechamento, aplicável para um recinto constituído por N superfícies


trocando radiação térmica e deduzida a partir do princípio da conservação da energia, enuncia que a
soma dos fatores de forma de uma dada superfície i de um recinto para as demais superfícies do
recinto, e para ela própria, deve ser igual à unidade, como representado na Equação (X.21).
N

Fj 1
ij  1. (X.21)

c) Regra da sobreposição

A relação da sobreposição ou superposição, expressa na Equação (X.22), exprime que o fator de


forma de uma superfície i para uma superfície j é igual à soma dos fatores de forma da superfície i para
as partes constituintes (α, β, ... , γ) da superfície j.
Fij  Fi  Fi  ...  Fi . (X.22)
d) Regra da simetria

A regra da simetria, representada na Equação (X.23), enuncia que fatores de forma de superfícies
simétricas j e k, em relação uma dada superfície i, são iguais entre si.
Fij  Fik . (X.23)

Transferência de calor radiante entre corpos negros


A análise da troca de calor radiante entre superfícies de corpos assumidos negros é
consideravelmente simplificada, dada a ausência de reflexão nestes corpos. Assim, para o caso mais
geral em que um recinto constituído por N superfícies negras em temperaturas superiores a zero
absoluto, a taxa líquida de transferência de calor por radiação, q i , a partir de qualquer superfície i
deste recinto, pode ser expressa pela Equação (X.24):
N
q i  σ A i Fij (Ti4  Tj4 ) , (X.24)
j 1

em que q i é a taxa líquida de calor radiante trocado pela superfície i; σ é a constante de Stefan-
Boltzmann; Ai é a área da superfície negra i; Fij é o fator de forma da superfície i para a superfície j; Ti
e Tj são as temperaturas absolutas das superfícies i e j, respectivamente.
Deve-se destacar que um valor positivo de q i indica que a taxa líquida de transporte de calor por
radiação é da superfície i para as demais, enquanto que um valor negativo revela que a transferência de
calor é para a superfície i.

Hugo L. B. Buarque
136 Parte Três: Transmissão de Calor

Transferência de calor radiante entre corpos difusos e cinzentos


A análise da troca de calor radiante entre superfícies não negras é normalmente complicada
devido ao fenômeno da reflexão de radiação térmica, entre outros aspectos. Desta forma, para uma
análise mais simples, assume-se normalmente que o recinto a ser analisado seja constituído por
superfícies opacas, difusas (emissoras e refletoras), Figura X.6 – Radiação incidindo e
cinzas e isotérmicas. Ademais, admite-se que as abandonando uma superfície.
radiações trocadas por cada superfície sejam uniformes.
Neste ponto, é importante ressaltar que a troca
térmica radiante entre superfícies deve considerar toda a
energia de radiação abandonando as superfícies do
recinto, independentemente de sua origem. Assim, é
importante que se defina uma quantidade representativa
da taxa na qual a energia de radiação emitida e refletida
abandona uma unidade de área da superfície em todas as
direções. Tal grandeza é denominada radiosidade, J, e
pode ser expressa para uma dada superfície i cinza e
opaca como mostrado na Equação (X.25). A Figura X.6 Fonte: O autor.
ilustra a definição apresentada.
J i  ρi G i  i E cn ,i  (1  i ) G i  i E cn ,i . (X.25)
em que Ji, Gi, Ecn,i, ρi e εi são a radiosidade, a irradiação, a potência emissiva de corpo negro, a
refletividade e a emissividade da superfície i, respectivamente.
Então, é fácil abstrair que o fluxo líquido de calor por radiação transferido a partir de uma
superfície i cinza e opaca pode ser determinado por meio da Equação (X.26):
q i Ai   J i  G i , (X.26)
que, combinada com a Equação (X.25), resultará na Equação (X.27), uma forma útil para o cálculo da
taxa líquida de calor radiante transportado a partir de uma dada superfície i.
Ai i
q i  (E cn ,i  J i ) . (X.27)
1  i
Num recinto constituído por superfícies difusas, cinzas e opacas, mantidas a temperaturas
uniformes, o transporte líquido de calor por radiação entre uma dada superfície i e as demais também
pode ser avaliado por meio da soma das transferências líquidas de calor radiante da superfície i para
cada uma das superfícies do recinto, conforme exprime a Equação (X.28):

q i   A i Fij J i  A j Fji J j    A i Fij J i  J j .


N N
(X.28)
j 1 j 1

em que os termos Ai Fij Ji e Aj Fji Jj representam, respectivamente, a radiação oriunda de uma dada
superfície i que atinge uma superfície j e a radiação oriunda da superfície j que atinge a superfície i.
N é o número de superfícies no recinto, incluindo a superfície i.
Novamente, é fácil notar que um valor positivo de q i ocorre quando a taxa líquida de transporte
de calor por radiação é da superfície i para as demais, enquanto que um valor negativo indica que a
transferência de calor é para a superfície i. Ainda, é importante ressaltar que quando uma dada
superfície tem um ganho líquido de energia, sua temperatura somente permanecerá constante se algum
mecanismo de transporte remover esta energia através do corpo.

Fenômenos de Transporte para Cursos Técnicos e Tecnológicos


Capítulo X: Radiação Térmica 137

Ademais, as Equações (X.27) e (X.28) podem ser combinadas e rearranjadas, em analogia à Lei
de Ohm, resultando na Equação (X.29):
(E cn ,i  J i )

N J i  Jj
, (X.29)
R ,i j 1 R ,ij
em que os numeradores consistem de diferenças de potencial térmico, enquanto que os denominadores,
Rε,i e Rε,ij, são as resistências à radiação da superfície e do espaço para corpos cinzas, difusos e opacos,
respectivamente; as quais estão definidas nas Equações (X.30) e (X.31):
1  i
R ,i  , (X.30)
Ai i
1
R  ,ij  . (X.31)
A i Fij
A resistência da superfície à radiação pode ser entendida como a maior oposição à transferência
de calor radiante que a superfície apresenta por não se comportar como um corpo negro (efeito da
refletividade), conquanto que a resistência do espaço à radiação subtende a resistência ao transporte de
radiação térmica imposta pela geometria do sistema.
Uma rede de resistências à radiação entre Figura X.7 – Resistências à radiação entre duas
duas superfícies i e j está ilustrada na superfícies opacas, cinzas e difusas.
Figura X.7. Para tal sistema, um recinto com
duas superfícies cinzas, difusas, opacas, a taxa
líquida de transferência de radiação pode ser
equacionada como na Equação (X.32): Fonte: O autor.

q 
E cn ,i  E cn , j


 Ti4  Tj4  . (X.32)
R ,i  R ,ij  R , j 1  i 1 1 j
 
A i  i A i Fij A j j
Aplicações da Equação (X.32) para alguns recintos de geometrias típicas de duas superfícies são
apresentadas no Quadro (X.4).
As Equações (X.28) e (X.29) são comumente usadas na análise de problemas de transferência de
calor por radiação, os quais resultam num sistema dessas equações que devem ser resolvidos por
métodos de álgebra linear e computação numérica, constituindo o denominado método da matriz ou
método direto para a análise do transporte de calor radiante num recinto.
Outra abordagem muito utilizada atualmente para a análise da radiação de um recinto é o
método da rede, no qual se avalia a rede de resistências à radiação para o sistema estudado para a
resolução do problema de transferência de calor no recinto. Obviamente, o método da rede torna-se
menos prático e mais complexo à medida que é maior o número de superfícies no recinto avaliado.

Hugo L. B. Buarque
138 Parte Três: Transmissão de Calor

Quadro X.4 – Taxas líquidas de transferência de radiação em recintos com duas superfícies.
Sistema/Geometria Equação
Corpo pequeno em grande cavidade

Ai
0
Aj 
q  A i  i Ti4  Tj4  (X.33)
Fij  1

Placas paralelas infinitamente grandes


Ai  A j  A q 

A Ti4  Tj4  (X.34)
1 1
Fij  1  1
i  j

Cilindros concêntricos infinitamente longos

A i ri
 q 

A i Ti4  Tj4  (X.35)
A j rj 1 (1   j ) ri

Fij  1 i  j rj

Esferas concêntricas

A i ri2 q 

A i Ti4  Tj4 
 2
(X.36)
A j rj2 1 1   j  ri 

Fij  1 i  j  rj 

Fenômenos de Transporte para Cursos Técnicos e Tecnológicos


Capítulo X: Radiação Térmica 139

As superfícies reirradiantes
A superfície reirradiante é uma superfície idealizada, caracterizada por uma transferência líquida
nula de calor radiante, isto é, a fração absorvida da radiação incidente é igual à radiação emitida por
essa superfície. É fácil deduzir, a partir da Equação (X.26), que a relação expressa na Equação (X.37) é
válida para uma superfície reirradante i:
J i  G i  E cn , i , (X.37)
em que Ji, Gi, Ecn,i são a radiosidade, a irradiação e a potência emissiva de um corpo negro na mesma
temperatura da superfície i reirradiante, respectivamente.
Superfícies reais, cuja transferência convectiva de calor é desprezível no lado radiante e cujo
lado oposto é bem isolado, aproximam-se muito do comportamento de uma superfície reirradiante,
como as paredes refratárias de alguns fornos industriais em estado permanente.

Os escudos de radiação
Em muitas aplicações de transferência de calor por radiação, é muitas vezes desejável reduzir a
transferência líquida de calor entre superfícies irradiantes. Nestes casos, faz-se uso de escudos ou
barreiras de radiação, as quais proporcionam resistências térmicas adicionais (blindagem) ao transporte
de calor radiante. Na prática, escudos de radiação são placas ou cascas finas de elevadas refletividades
(muito baixas emissividades) inseridas entre as superfícies transferindo calor radiante, recebendo e
reemitindo radiação para essas superfícies, e equilibrando-se numa temperatura intermediária.
A taxa de transferência líquida de calor por radiação entre duas superfícies i e j, com N escudos
de radiação (de lados α e β) entre elas, conforme ilustrado na Figura X.8, pode ser representada como
na Equação (X.38).
Figura X.8 – Resistências à radiação entre duas superfícies opacas, cinzas e
difusas com N escudos de radiação entre elas.

Fonte: O autor.

q 

 Ti4  Tj4  (X.38)
1  i 1 1  1 1  1 1 1   2 1   N 1 1 j
       
A i  i A i Fi1 A1 1 A1 1 A1 F1 2 A 2  2 A N  N A N FNj A j j

Hugo L. B. Buarque
140 Parte Três: Transmissão de Calor

PROBLEMAS.
1. Suponha que duas placas planas de emissividade constante estejam dispostas paralelamente, que
elas sejam tão grandes que possam ser consideradas de área infinita e sejam mantidas a
temperaturas, respectivamente, iguais a 2.000 K e 1.000 K. Se as placas forem mantidas a 4.000 K e
1.000 K, qual será a razão entre o novo fluxo de calor radiante e o fluxo de calor radiante original.
2. Duas placas cinzentas e paralelas de 0,5 por 1,0 m estão separadas por uma distância de 0,5 m. O
fator de forma calculado para o sistema radiante é de 0,285. Uma placa (emissividade igual a 0,25)
é mantida a 1.000oC e a outra (emissividade igual a 0,67) a 500oC. Qual a transferência líquida de
calor entre elas?
3. Duas placas paralelas, comportando-se como um corpo negro, de 0,5 m por 1,0 m estão separadas
por uma distância de 0,5 m. O fator de forma calculado para o sistema radiante é de 0,460. Uma
placa é mantida a 627°C e a outra a 1.477°C. Determine a taxa de transferência líquida de calor
radiante entre elas?
4. Dois discos paralelos e separados por uma curta distância, cujas áreas são 2,0 m² e 3,0 m²,
respectivamente, estão trocando calor predominantemente por radiação. A temperatura do disco
menor é igual a 1000 K e a do disco maior é de 2000 K. Os fatores de forma e de emissividade
calculados para o estes discos (sistema) são, respectivamente, 0,78 e 0,234. Determine a taxa
líquida de calor radiante trocado entre os discos e a distância entre eles.

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REFERÊNCIAS E BIBLIOGRAFIA
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