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Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES

Centro de Ciências Sociais Aplicadas – CCSA: Curso de Direito


Disciplina: Direito do Internacional Público
Professor: Marcelo Brito

Acadêmicos: Amanda Tofani Barbosa, Athos Aléf Sandes Oliveira, Emanuela Marques
Gomes, Luany Veloso Correia, Maria Luiza Alvez Silveira, Querém Hapuque
Nascimento Rodrigues

CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS


CASO FAVELA NOVA BRASÍLIA VS. BRASIL
SENTENÇA DE 16 DE FEVEREIRO DE 2017

Montes Claros
Dezembro/2018
1. Analise os direitos humanos violados no caso em julgamento e a previsão legal da
sua proteção no âmbito internacional.
A Corte Interamericana de Direitos humanos, julgou o caso Nova Brasília vs.
Brasil, proferindo sentença no dia 16 de fevereiro de 2017. O caso trata-se do homicídio de 26
homens e violência sexual contra 3 mulheres, crimes praticados por policiais na ocasião de
incursão à Favela Nova Brasília. A sentença dispõe acerca das falhas, omissões, demora na
investigação e punição dos responsáveis pelos crimes já citados. As mortes foram registradas
pelas autoridades policiais sob a categoria de “atas de resistência à prisão” e “tráfico de
drogas, grupo armado e resistência seguida de morte”. Consta também que, três mulheres,
duas delas menores, teriam sido vítimas de tortura e atos de violência sexual por parte de
agentes policiais. Além disso, se alega ainda, que a investigação dos fatos mencionados teria
sido realizada supostamente com o objetivo de estigmatizar e revitimizar as pessoas falecidas,
pois, o foco teria sido dirigido à sua culpabilidade e não à verificação da legitimidade do uso
da força.
A partir das alegações das partes e do Relatório de Mérito da Comissão, a Corte
julgou o caso à luz das provas constituídas e das Convenções Interamericanas de Direitos
Humanos, para Prevenir e Punir a Tortura e para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra
a Mulher (Convenção do Belém do Pará). Desta forma, considerou o Estado Brasileiro
culpado por violar o direito às garantias judiciais de independência e imparcialidade da
investigação, devida diligência e prazo razoável, estabelecidas no art. 8.1 da Convenção
Americana de Direitos Humanos:
8.1. “Toda pessoa tem direito a ser ouvida, com as devidas garantias e dentro de um
prazo razoável, por um juiz ou tribunal competente, independente e imparcial,
estabelecido anteriormente por lei, na apuração de qualquer acusação penal formulada
contra ela, ou para que se determinem seus direitos ou obrigações de natureza civil,
trabalhista, fiscal ou de qualquer outra natureza.”

O referente artigo é compatível com a Constituição Federal Brasileira, no que está


disposto no seu art 5º, incisos LIV e LV. Estes incisos tratam do devido processo legal,
contraditório e ampla defesa.
“Art. 5º -

LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido


processo legal;

LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados


em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a
ela inerentes;”

A Corte, considerou que a longa duração das investigações fez com que os
familiares das vítimas mortas permanecessem em situação de incerteza. E por tal razão, sem o
fim necessário que buscasse a culpabilidade, é como se os familiares das vítimas de homicídio
e as vítimas de abuso sexual revivessem os fatos e se com sensação de impunidade, além do
descredito nos organismos policiais.
Ao direito à proteção judicial estabelecida no artigo 25 da Convenção Americana de
Direitos Humanos.
“Art. 25º -
1. Toda pessoa tem direito a um recurso simples e rápido ou a qualquer outro recurso
efetivo, perante os juízes ou tribunais competentes, que a proteja contra atos que violem
seus direitos fundamentais reconhecidos pela constituição, pela lei ou pela presente
Convenção, mesmo quando tal violação seja cometida por pessoas que estejam atuando
no exercício de suas funções oficiais.
2. Os Estados Partes comprometem-se:
a. a assegurar que a autoridade competente prevista pelo sistema legal do
Estado decida sobre os direitos de toda pessoa que interpuser tal recurso;
b. a desenvolver as possibilidades de recurso judicial; e
c. a assegurar o cumprimento, pelas autoridades competentes, de toda decisão em
que se tenha considerado procedente o recurso.”
O dispositivo legal define que toda pessoa humana tem direito a um recurso simples e
rápido, ou qualquer outro recurso efetivo que à proteja de violação aos direitos fundamentais
garantidos pela Constituição. A Constituição Brasileira também traz mecanismos para
proteção e garantias destes direitos, como os remédios constitucionais, as ações diretas de
inconstitucionalidade e os recursos extraordinários. Como por exemplo os incisos XXXV “a
lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito” e LXXVIII “a
todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e
os meios que garantam a celeridade de sua tramitação”. Portanto a Corte concluiu que não
houve duração razoável do processo, celeridade, não exclusão da apreciação do Poder
Judiciário a lesão ou ameaça ao direito.
Houve violação também aos direitos à proteção judicial e às garantias judiciais
previstos nos arts. supracitados e aos arts. 1, 6 e 8 da Convenção Interamericana para Prevenir
e Punir a Tortura (CIPPT), bem como o art. 7 da Convenção Belém do Pará (Convenção
Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher – CIPPEVM) em
detrimento das três mulheres vítimas de violência sexual.
“Art. 7º -
Os Estados Partes condenam todas as formas de violência contra a mulher e convêm
em adotar, por todos os meios apropriados e sem demora, políticas destinadas a
prevenir, punir e erradicar tal violência e a empenhar-se em:
a. abster-se de qualquer ato ou prática de violência contra a mulher e velar por
que as autoridades, seus funcionários e pessoal, bem como agentes e instituições
públicos ajam de conformidade com essa obrigação;
b. agir com o devido zelo para prevenir, investigar e punir a violência contra a
mulher;
c. incorporar na sua legislação interna normas penais, civis, administrativas e de
outra natureza, que sejam necessárias para prevenir, punir e erradicar a violência
contra a mulher, bem como adotar as medidas administrativas adequadas que forem
aplicáveis;
d. adotar medidas jurídicas que exijam do agressor que se abstenha de
perseguir, intimidar e ameaçar a mulher ou de fazer uso de qualquer método que
danifique ou ponha em perigo sua vida ou integridade ou danifique sua propriedade;
e. tomar todas as medidas adequadas, inclusive legislativas, para modificar ou
abolir leis e regulamentos vigentes ou modificar práticas jurídicas ou consuetudinárias
que respaldem a persistência e a tolerância da violência contra a mulher;
f. estabelecer procedimentos jurídicos justos e eficazes para a mulher sujeitada a
violência, inclusive, entre outros, medidas de proteção, juízo oportuno e efetivo acesso
a tais processos;
g. estabelecer mecanismos judiciais e administrativos necessários para assegurar
que a mulher sujeitada a violência tenha efetivo acesso a restituição, reparação do dano
e outros meios de compensação justos e eficazes;

h. adotar as medidas legislativas ou de outra natureza necessárias à vigência


desta Convenção.”

Os artigos 1, 6 e 8 da CIPPT tratam da prevenção e punição da tortura, devendo o


Estado tomar as medidas efetivas para sua eficácia, bem como julgar imparcialmente as
denúncias de pessoas submetidas a esta. Já o artigo 7 da Convenção do Belém do Pará, impõe
deveres aos Estados-membros para prevenir, punir e erradicar qualquer tipo de violência
contra a mulher, os quais possuem a obrigação de estabelecer políticas apropriadas e sem
demora para sua efetivação. Desta forma, a Corte definiu que o fato se traduziu em completa
denegação de justiça em detrimento das vítimas, não sendo possível garantir-lhes, material e
juridicamente, a proteção judicial. Além de que a postura assumida pelo Estado, não ofereceu
qualquer recurso efetivo que tutelasse os seus direitos contra os atos daqueles que as
violentaram. Em âmbito interno, supõe-se que o princípio da igualdade, previsto
constitucionalmente, é respeitado por todos. Entretanto, a própria construção histórica e
cultural da população brasileira comina em atitudes machistas e patriarcalistas dos homens. É
por tal razão que em 2009, o Código Penal brasileiro afim de proteção não a cultura ou os
costumes, mas sim a dignidade e liberdade sexual, e em 2006, foi editada a Lei Maria da
Penha (n. 11.340), que protege a figura feminina da violência e abusos daquele que é
considerado mais forte fisicamente e emocionalmente. Enfim, apesar de todas estas medidas,
ainda não foi suficiente, para que casos grotescos como este pudessem ser revistos e concluída
a investigação. Mais uma vez, o Estado falhou na efetivação e aplicação das suas leis.
Violou o direito à integridade pessoal previsto no art. 5.1 “toda pessoa tem o direito de
que se respeite sua integridade física, psíquica e moral” da Convenção Americana de Direitos
Humanos em detrimento das vítimas de violação sexual e de alguns dos familiares das vítimas
descritas no parágrafo 271 da decisão.
“271. Em vista do acima exposto, este Tribunal considera provado que, em
consequência da falta de investigação, julgamento e punição dos responsáveis pelas
mortes de seus familiares, os senhores e as senhoras Mônica Santos de Souza
Rodrigues; Evelyn Santos de Souza Rodrigues; Maria das Graças da Silva; Samuel
da Silva Rodrigues; Robson Genuíno dos Santos Jr.; Michelle Mariano dos Santos;
Bruna Fonseca Costa; Joyce Neri da Silva Dantas; Geni Pereira Dutra; Diogo da
Silva Genoveva; João Alves de Moura; Helena Vianna dos Santos; Otacílio Costa;
Pricila Rodrigues e William Mariano dos Santos padeceram um profundo sofrimento
e angústia, em detrimento de sua integridade psíquica e moral.”
Portanto, a Corte julgou que os atos dos policiais causaram sofrimento adicional
àqueles que padeceram em consequência das circunstâncias particulares das violações
cometidas contra seus entes queridos, e em decorrência das posteriores ações ou omissões das
autoridades estatais frente aos fatos. A negligência e imprudência de todos os envolvidos
impediu que os familiares e as vítimas encontrassem paz e influenciou na descredibilização
dos órgãos públicos e do Sistema Judiciário como um todo.

2. Explique o procedimento utilizado para apurar os fatos


O caso tramitou preciamente na Comissão Interamericana. Em 3 de novembro de
1995 e em 24 de julho de 1996, a Comissão recebeu as petições apresentadas pelo Centro pela
Justiça e o Direito Internacional (CEJIL) e pela Human Rights Whatch Americas, as quais
atribui-se os números 11.566 e 11.694, respectivamente. Em 25 de setembro de 1998 e 22 de
fevereiro de 2001 foram emitidos os relatórios de admissibilidade das referidas petições. Dia
31 de outubro de 2011, com a emissão do Relatório de Mérito os dois casos foram unidos e
passaram a tramitar em conjunto, por possuírem o mesmo padrão de conduta. No último
documento, ficou concluído que Brasil seria responsável, internacionalmente, pela violação de
direitos previstos pela Convenção Americana devendo seguir as Recomendações emitidas.
O Relatório de Mérito foi notificado ao Estado em 19 de janeiro de 2012,
concedendo a este um prazo de dois meses para informar sobre o cumprimento das
recomendações. Após dois adiamentos, a Comissão constatou que o Brasil não havia
cumprido as recomendações, submetendo então o caso à Corte, no dia 19 de maio de 2015.
Foi solicitado ao tribunal que declarasse a responsabilidade internacional do Brasil pelas
violações constantes no Relatório de Mérito, e que se ordenasse ao Estado, como medidas de
reparação, as recomendações que figuram no referido Relatório.
O Brasil apresentou sete exceções preliminares:
“Em seu escrito de contestação, o Estado apresentou sete exceções preliminares sobre:
A) a inadmissibilidade do caso na Corte, em virtude da publicação do Relatório de
Mérito da Comissão; B) a incompetência ratione personae quanto a vítimas não
identificadas ou sem reapresentação; C) a incompetência ratione temporis a respeito
de atos anteriores à data de reconhecimento da jurisdição da Corte e em relação à
Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a
Mulher (Convenção de Belém do Pará); D) a incompetência ratione materiae, por
violação do princípio de subsidiariedade do Sistema Interamericano (fórmula da
quarta instância); E) a incompetência ratione materiae quanto a supostas violações de
direitos humanos previstos na Convenção Interamericana para Prevenir e Punir a
Tortura bem como na Convenção de Belém do Pará; F) falta de esgotamento prévio de
recursos internos; e G) a inobservância do prazo razoável para submeter à Corte a
pretensão de investigação criminal.”
A Corte aceitou parcialmente a exceção preliminar do Estado sobre a
incompetência ratione personae e considerou como supostas vítimas no presente caso
unicamente as pessoas identificadas e listadas no Relatório de Mérito da Comissão
Interamericana. Também foi aceito, parcialmente, a exceção preliminar sobre incompetência
ratione temporis, no sentido de que possui competência para conhecer sobre os fatos
posteriores a 10 de dezembro de 1998, data de reconhecimento da jurisdição da Corte por
parte do Estado. Por outro lado, a Corte rejeitou as demais exceções preliminares interpostas
pelo Brasil.
A Corte realizou a análise jurídica sobre os fatos, e definiu violações aos seguintes
direitos: a) garantias judiciais e proteção judicial; b) integridade pessoal, e c) circulação e
residência.
A Corte estabeleceu que sua sentença constitui, per si, uma forma de reparação e,
adicionalmente, ordenou ao Estado:
“I) conduzir eficazmente a investigação em curso sobre os fatos relacionados às
mortes ocorridas na incursão de 1994, com a devida diligência e em prazo razoável,
para identificar, processar e, caso seja pertinente, punir os responsáveis; II) iniciar ou
reativar uma investigação eficaz a respeito das mortes ocorridas na incursão de 1995;
III) avaliar se os fatos referentes às incursões de 1994 e 1995 devem ser objeto de
pedido de Incidente de Deslocamento de Competência; IV) iniciar uma investigação
eficaz a respeito dos fatos de violência sexual; V) oferecer gratuitamente, por meio de
suas instituições de saúde especializadas, e de forma imediata, adequada e efetiva, o
tratamento psicológico e psiquiátrico de que as vítimas necessitem, após
consentimento fundamentado e pelo tempo que seja necessário, inclusive o
fornecimento gratuito de medicamentos; VI) realizar as publicações indicadas na
Sentença; VII) realizar um ato público de reconhecimento de responsabilidade
internacional em relação aos fatos do presente caso e sua posterior investigação,
durante o qual deverão ser inauguradas duas placas em memória das vítimas da
presente Sentença, na praça principal da Favela Nova Brasília; VIII) publicar
anualmente um relatório oficial com dados relativos às mortes ocasionadas durante
operações da polícia em todos os estados do país e com informação atualizada
anualmente sobre as investigações realizadas a respeito de cada incidente que redunde
na morte de um civil ou de um policial; IX) estabelecer os mecanismos normativos
necessários para que, na hipótese de supostas mortes, tortura ou violência sexual
decorrentes de intervenção policial, em que prima facie policiais apareçam como
possíveis acusados, desde a notícia criminis se delegue a investigação a um órgão
independente e diferente da força pública envolvida no incidente, como uma
autoridade judicial ou o Ministério Público, assistido por pessoal policial, técnico
criminalístico e administrativo alheio ao órgão de segurança a que pertença o possível
acusado, ou acusados; X) adotar as medidas necessárias para que o Estado do Rio de
Janeiro estabeleça metas e políticas de redução da letalidade e da violência policial;
XI) implementar, em prazo razoável, um programa ou curso permanente e obrigatório
sobre atendimento a mulheres vítimas de estupro, destinado a todos os níveis
hierárquicos das Polícias Civil e Militar do Rio de Janeiro e a funcionários de
atendimento de saúde; XII) adotar as medidas legislativas ou de outra natureza
necessárias para permitir às vítimas de delitos ou a seus familiares participar de
maneira formal e efetiva da investigação de delitos conduzida pela polícia ou pelo
Ministério Público; XIII) adotar as medidas necessárias para uniformizar a expressão
“lesão corporal ou homicídio decorrente de intervenção policial” nos relatórios e
investigações da polícia ou do Ministério Público em casos de mortes ou lesões
provocadas por ação policial. O conceito de “oposição” ou “resistência” à ação
policial deverá ser abolido; XIV) pagar as quantias fixadas na Sentença, a título de
indenizações por dano imaterial e pelo reembolso de custas e gastos; XV) restituir ao
Fundo de Assistência Jurídica de Vítimas da Corte Interamericana de Direitos
Humanos a quantia desembolsada durante a tramitação do presente caso, e XVI)
dentro do prazo de um ano contado a partir da notificação da Sentença, apresentar ao
Tribunal um relatório sobre as medidas adotadas para seu cumprimento. ----- A Corte
Interamericana de Direitos Humanos supervisionará o cumprimento integral desta
Sentença, no exercício de suas atribuições e em cumprimento de seus deveres,
conforme a Convenção Americana sobre Direitos Humanos, e dará por concluído o
presente caso tão logo o Estado tenha dado cabal cumprimento ao que nela se dispõe.”
3. Estabeleça o papel da Comissão Interamericana e da Corte Interamericana no
caso analisado.
As autoridades estatais brasileiras foram omissas e negligentes em relação ao caso
“Favela Nova Brasília”, por necessidade de obtenção de justiça, o mesmo foi submetido à
jurisdição da Corte pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos em 19 de maio de
2015. As ações e omissões referem-se às falhas e à demora na investigação e punição dos
responsáveis pelos homicídio de 26 pessoas e violência sexual contra três mulheres no âmbito
das incursões policiais feitas pela Polícia Civil do Rio de Janeiro.
A Comissão Internacional de Direitos Humanos é um órgão principal e autônomo
da Organização dos Estados Americanos (OEA) encarregado da promoção e proteção dos
direitos humanos no continente americano. Composta por sete membros, que atuam a título
pessoal, independentemente, portanto, dos Estados dos quais são nacionais. Poderá ser
acionada pelos Estados, órgãos da OEA ou, ainda, dentro de determinadas condições por
indivíduos e determinadas instituições. Dentre suas competências, pode apresentar
recomendações aos Estados-partes; elaborar estudos; criar relatorias especiais; conduzir
investigações "in loco"; preparar relatórios; analisar petições individuais de qualquer pessoa
ou grupo, vítimas ou não.
É importante salientar que a Comissão deve sempre atender às consultas dos
Estados em questões relacionadas com os direitos humanos e prestar-lhes o apoio possível.
Sendo assim, deverá analisar as petições individuais e comunicações que lhe forem dirigidas.
Poderá também investigar denúncias de violação de direitos humanos. Atuará, por fim,
expressando suas conclusões e recomendações por meio de relatórios, que conterão as
informações pertinentes.
Diante de sua função principal de promover a observância e a defesa dos direitos
humanos, a Comissão, pode formular recomendações aos Estados para que adotem medidas
progressivas em prol da promoção dos direitos humanos, situação que ocorreu quando
submetido à sua apreciação o caso “Favela Nova Brasília”.
A Comissão recebeu dos representantes as petições em 3 de novembro de 1995 e
em 24 de julho de 1996 e teve sua devida tramitação e recomendações foram emitidas. Dentre
elas, constava que deveria haver a condução de uma investigação exaustiva, imparcial e
efetiva das violações descritas no Relatório de Mérito, em prazo razoável, por autoridades
judiciais independentes da polícia, com vistas a determinar a verdade e punir os responsáveis.
A investigação deveria levar em conta os vínculos existentes entre as violações de
direitos humanos descritas no Relatório e o padrão de uso excessivo da força letal por parte da
polícia. Também consideraria as possíveis omissões, atrasos, negligências e obstruções na
justiça provocadas por agentes do Estado.
Foi recomendado que eliminasse imediatamente a prática de registrar
automaticamente as mortes provocadas pela polícia como “resistência à prisão” e a adoção de
todas as medidas necessárias para garantir uma compensação adequada e completa, tanto
pelos danos morais como pelos danos materiais ocasionados pelas violações descritas no
Relatório.
Buscou-se também que houvesse a erradicação da impunidade da violência
policial em geral, adaptando a legislação interna, os regulamentos administrativos, os
procedimentos e os planos operacionais das instituições com competência em políticas de
segurança cidadã, a fim de garantir que sejam capazes de prevenir, investigar e punir qualquer
violação de direitos humanos decorrente dos atos de violência cometidos por agentes do
Estado. Dentre outras recomendações.
O Estado brasileiro não avançou de maneira concreta e eficaz no cumprimento das
recomendações previstas no Relatório de Mérito emitido pela Comissão, razão pela qual foi
submetido à jurisdição da Corte Interamericana de Direitos Humanos o caso da “Favela Nova
Brasília”.
Dentre as ações e omissões constatadas pela Comissão, destacam-se a forma
inadequada em que foram realizadas as investigações, com o objetivo de responsabilizar as
vítimas falecidas, e não para cumprir o ônus de verificar a legitimidade do uso da força letal;
o descumprimento dos deveres de devida diligência e prazo razoável a respeito da
investigação e punição da morte das 26 pessoas, no âmbito de ambas as incursões policiais,
bem como a respeito dos atos de tortura e violência sexual sofridos por três vítimas no âmbito
da primeira incursão; e a omissão na reabertura das investigações pelos atos de tortura e
violência sexual, em relação aos quais prescreveu a ação penal, apesar de se tratar de graves
violações de direitos humanos.
Com base nas ações e omissões do Estado brasileiro, a Comissão, diante de seu
papel à frente da proteção e promoção dos direitos humanos solicitou que o Tribunal
declarasse a responsabilidade internacional do Brasil pelas violações constantes do Relatório
de Mérito, e o ordenasse que cumpra as recomendações, como mediadas de reparação,
presentes no relatório.
Assim sendo, a Corte Interamericana de Direitos Humanos em face de sua
competência para conhecer do presente caso, em virtude de o Brasil ser parte da Convenção
Americana e de ter reconhecido a competência da Corte em 10 de dezembro de 1998, realizou
a análise jurídica sobre as alegadas violações aos direitos humanos previstos no Pacto de São
José da Costa Rica.
A Corte Interamericana de Direitos Humanos é órgão jurisdicional com
competência para conhecer de qualquer caso relativo à interpretação e aplicação das
disposições da Convenção Americana de Direitos Humanos por meio de suas decisões
judiciais e pareceres. Logo, a sentença estabelecida, quando acionada pelos Estados ou pela
Comissão Interamericana de Direitos Humanos, é obrigatória, definitiva e inapelável.
Ademais, as sentenças que determinem indenização compensatória poderão ser executadas no
país respectivo pelo processo interno vigente para a execução de sentenças contra o Estado.
Proferida sentença em 16 de fevereiro de 2017, Corte Interamericana, declarou a
responsabilidade Internacional do Estado brasileiro pela violação do direito às garantias
judiciais de independência e imparcialidade da investigação, devida diligência e prazo
razoável, do direito à proteção judicial e do direito à integridade pessoal, com respeito às
investigações sobre as incursões policiais na “Favela Nova Brasília”, na cidade do Rio de
Janeiro, nos anos de 1994 e 1995, que resultaram no homicídio de 26 homens e com atos de
violência sexual contra três mulheres.
A corte destacou que toda violação de uma obrigação internacional que tenha
provocado dano implica o dever de repará-lo adequadamente com base no disposto no artigo
63.1 da Convenção americana. A reparação do dano ocasionado pela infração de uma
obrigação internacional requer, sempre que seja possível, a plena restituição. Caso isso não
seja viável, o Tribunal determinará medidas para garantir os direitos violados e reparar as
consequências que as infrações provocaram.
Diante disso, verifica-se a importância da Corte Interamericana de Direitos
Humanos no Sistema Interamericano de proteção desses direitos ao poder apreciar de
questões envolvendo denúncia de violação, por qualquer Estado Parte, de direito protegido
pela Convenção. Assim, ao reconhecer que efetivamente ocorreu a violação à Convenção,
determinará a adoção de medidas que se façam necessárias à restauração do direito então
violado, podendo condenar o Estado, inclusive, ao pagamento de uma justa compensação à
vítima.
Por fim, a Corte estabeleceu que sua sentença constitui, per se, uma forma de
reparação, adicionalmente ordenou ao Estado a adoção de diversas medidas de reparação e no
exercício de suas funções e de seus deveres, fiscalizará o cumprimento integral de sua
sentença.

4. Analise a solução encontrada no caso, a sentença prolatada pela Corte


Interamericana e sua efetividade.
Para proferir a sentença, a Corte Interamericana levou em consideração
recomendações da Comissão Interamericana e as exceções propostas pelo Brasil, buscando a
máxima efetivação dos Direitos Humanos, buscando que o Estado brasileiro efetivamente as
cumpra. Essa sentença tem por propósitos evitar que futuras situações semelhantes, e
sancionar o Brasil por sua negligência e inércia diante dos fatos e violações de Direitos
Humanos que se deram.
A Corte Interamericana condenou o Brasil a adotar uma diversas de condutas de
prevenção e repressão relacionadas aos crimes cometidos durante as incursões da Polícia Civil
à Favela Nova Brasília ocorridas em 1994 e 1995. A sentença contém também várias
recomendações não imperativas ao Estado visando evitar situações semelhantes.
Tais condutas e recomendações consistem em:
 Da condução pelo Brasil de investigação dos fatos relacionados às incursões de 1994 e
1995 com a devida diligência e em prazo razoável. Devendo, também, garantir acesso
e capacidade de agir aos familiares das vítimas em todas as etapas da investigação e
abster-se de recorrer a qualquer obstáculo processual para eximir-se dessa obrigação;
 Da investigação em relação aos fatos de violência sexual, a ser realizada por
funcionários capacitados em casos similares e em atenção a vítimas de discriminação e
violência de gênero;
 Do oferecimento de tratamento psicológico e psiquiátrico, gratuitamente, às vítimas
que necessitem, pelo tempo necessário, com o fornecimento gratuito de
medicamentos;
 Da publicização da sentença, que se dará pela publicação de resumo da Sentença no
Diário Oficial e em jornal de grande circulação, e da disponibilização da totalidade da
sentença por um período de três anos, em uma página eletrônica. Sendo que, a
publicação da sentença completa, deve ser divulgada por meio de feito um post
semanal, no prazo mínimo de um ano, nas contas das redes sociais Twitter e Facebook,
da Secretaria Especial de Direitos Humanos do Ministério da Justiça, do Ministério
das Relações Exteriores, da Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro, da Secretaria de
Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro;
 Da realização, pelo Estado, de um ato de reconhecimento de responsabilidade
internacional, em relação aos fatos do presente caso e sua posterior investigação. Esse
ato deve ocorrer em cerimônia pública e ser divulgado. Nesse mesmo ato deverão ser
inauguradas duas placas em memória das vítimas, na praça principal da Favela Nova
Brasília, uma relativa aos fatos de 1994 e outra relativa aos fatos de 1995;
 Da publicação anula de um relatório oficial com os dados relativos às mortes ocorridas
durante operações da polícia em todos os estados do país. Esse relatório deve também
conter informação atualizada anualmente sobre as investigações realizadas a respeito
de cada incidente que resulte na morte de um civil ou de um policial;
 Da recomendação de que em hipóteses de supostas mortes, tortura ou violência sexual
decorrentes de intervenção policial em que prima facie policiais apareçam como
possíveis acusados, o Estado tome as medidas necessárias para que a investigação seja
realizada por órgão diverso à força policial envolvida no incidente;
 Da determinação de que o estado do Rio de Janeiro estabeleça metas e políticas de
redução da letalidade e da violência policial;
 Da especificação de que o Estado implemente um programa ou curso permanente e
obrigatório sobre atendimento a mulheres vítimas de estupro, destinado a todos os
níveis hierárquicos das Polícias Civil e Militar do Rio de Janeiro e a funcionários de
atendimento de saúde;
 Da determinação que o Estado adote medidas para permitir que as vítimas de delitos
ou seus familiares participem da investigação, sem prejuízo da necessidade de reserva
legal ou confidencialidade dos procedimentos;
 Da ordem de que o Estado adote medidas para uniformizar a expressão “autos de
resistência” nos relatórios e investigações realizadas pela polícia ou pelo Ministério
Público do Rio de Janeiro em casos de morte ou lesão provocadas pela atuação
policial. O conceito de oposição ou resistência à atuação policial também deve ser
abolido;
 A Corte insta que o Estado busque a aprovação de medidas que estabeleçam normas
para preservar os meios de prova em relação à perícia técnica, à coleta e à conservação
de provas, e a uma investigação isenta por parte dos órgãos do sistema de justiça
mediante a aprovação diligente da referida Lei;
 Da fixação da soma de US$35.000,00 (trinta e cinco mil dólares dos Estados Unidos
da América), a ser paga pelo Estado uma única vez, para cada uma das vítimas de
violações dos direitos às garantias judiciais, à proteção judicial e à integridade pessoal
e a soma adicional de US$15.000,00 (quinze mil dólares dos Estados Unidos da
América) para L.R.J., C.S.S. e J.F.C., individualmente;
 Da determinação de que o Estado pague a soma de US$ 20.000,00 (vinte mil dólares
dos Estados Unidos da América) ao ISER e US$35.000,00 (trinta e cinco mil dólares
dos Estados Unidos da América) ao CEJIL.

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