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PARTE I

S U P R E M O TRI B U NAL F E D E RAL


constatasse não ocorrida a prescrição com base na
DIREITO PENAL – STF
pena concreta entre a publicação da sentença
(INFORMATIVOS 770-819) condenatória e o acórdão, passaria imediatamente
a conferir se o novo prazo prescricional, calculado
ANO DE 2014 de acordo com a pena concreta, teria ocorrido
entre: a) a data do fato e o recebimento da
denúncia ou queixa; b) o recebimento da denúncia
Prescrição penal retroativa e constitucionalidade ou queixa e a pronúncia; c) a pronúncia e sua
-1 confirmação por acórdão; d) a pronúncia ou o seu
É constitucional o art. 110, § 1º, do CP (―§ 1º acórdão confirmatório e a sentença condenatória;
A prescrição, depois da sentença condenatória e e) o recebimento da denúncia ou queixa e a
com trânsito em julgado para a acusação ou depois publicação da sentença condenatória, no caso de
de improvido seu recurso, regula-se pela pena crimes não dolosos contra a vida. Essa modalidade
aplicada, não podendo, em nenhuma hipótese, ter de prescrição seria denominada ―retroativa‖
por termo inicial data anterior à da denúncia ou porque contada para trás, da condenação até a
queixa‖), na redação dada pela Lei 12.234/2010. pronúncia ou recebimento da denúncia ou queixa,
Essa a conclusão do Plenário que, por maioria, conforme a espécie de crime. Com a promulgação
denegou ―habeas corpus‖ em que se pleiteava o da nova lei, a prescrição, depois da sentença
reconhecimento da prescrição da pretensão condenatória com trânsito em julgado para a
punitiva em favor do paciente, na modalidade acusação ou depois de improvido seu recurso,
retroativa, entre a data do fato e o recebimento da seria regulada pela pena aplicada, e não poderia
denúncia, diante da pena em concreto aplicada, ter por termo inicial data anterior à da denúncia ou
por decisão transitada em julgado para a acusação. queixa. Desse modo, fora vedada a prescrição
No caso, ele fora condenado à pena de um ano de retroativa incidente entre a data do fato e o
reclusão, como incurso nas sanções do art. 240 do recebimento da denúncia ou queixa. Nesse
CPM (furto). Alegava-se que a citada inovação contexto, não se operaria a prescrição retroativa
legislativa teria praticamente eliminado as durante a fase do inquérito policial ou da
possibilidades de se reconhecer a prescrição investigação criminal, período em que ocorrida a
retroativa, e que o direito à prescrição seria apuração do fato, mas poderia incidir a prescrição
qualificado, implicitamente, como um dos direitos da pretensão punitiva pela pena máxima em
fundamentais dos cidadãos pela Constituição. O abstrato. Ademais, a norma não retroagiria, para
Colegiado realizou retrospectiva histórica a não prejudicar autores de crimes cometidos antes
respeito da prescrição retroativa na legislação de sua entrada em vigor.
pátria, a culminar na alteração promovida pela Lei HC 122694/SP, rel. Min. Dias Toffoli,
12.234/2010. O dispositivo do art. 110 do CP, 10.12.2014. (HC-122694)
antes do advento da mencionada lei, tratava da
prescrição calculada pela pena concretamente Prescrição penal retroativa e constitucionalidade
fixada na sentença condenatória, desde que -3
houvesse trânsito em julgado para a acusação ou O Tribunal mencionou a existência de
desde que improvido seu recurso. corrente doutrinária defensora da
HC 122694/SP, rel. Min. Dias Toffoli, inconstitucionalidade dessa alteração legislativa,
10.12.2014. (HC-122694) por supostamente violar a proporcionalidade e os
princípios da dignidade humana, da humanidade
Prescrição penal retroativa e constitucionalidade da pena, da culpabilidade, da individualização da
-2 pena, da isonomia e da razoável duração do
A Corte consignou que a diferença entre a processo. Outra corrente afirmaria a extinção da
prescrição retroativa e a intercorrente residiria no prescrição na modalidade retroativa pela Lei
fato de esta ocorrer entre a publicação da sentença 12.234/2010. A Corte aduziu, entretanto, que essa
condenatória e o trânsito em julgado para a defesa; inovação estaria inserta na liberdade de
e aquela seria contada da publicação da decisão conformação do legislador, que teria legitimidade
condenatória para trás. A prescrição seria democrática para, ao restringir direitos, escolher
novamente computada, pois, antes, tivera seu os meios que reputasse adequados para a
prazo calculado em função da maior pena possível consecução de determinados objetivos, desde que
e, depois, seria verificada de acordo com a pena não lhe fosse vedado pela Constituição e nem
aplicada na sentença. Por essa razão, se o julgador violasse a proporcionalidade, a fim de realizar
uma tarefa de concordância prática justificada pela O Plenário iniciou julgamento conjunto de três
defesa de outros bens ou direitos ―habeas corpus‖ impetrados contra julgados que
constitucionalmente protegidos. O Plenário mantiveram condenação dos pacientes por crime de
ponderou, ainda, que os fluxos do sistema de furto e afastaram a aplicação do princípio da
justiça criminal no Brasil seriam pouco eficientes, insignificância. No HC 123.108/MG, o paciente fora
e que a taxa de esclarecimento de crimes seria condenado à pena de um ano de reclusão e dez dias-
demasiado baixa, a indicar a impossibilidade de se multa pelo crime de furto simples de chinelo
investigar, com eficiência, todos os crimes avaliado em R$ 16,00. Embora o bem tenha sido
praticados. Isso demonstraria a vinculação da restituído à vítima, o tribunal local não substituíra
nova lei com a realidade. Nesse sentido, dada a a pena privativa de liberdade por restritiva de
impossibilidade financeira de o Estado atender, direitos em razão da reincidência. No HC
em sua plenitude, a todas as outras demandas 123.533/SP, a paciente fora condenada pela
sociais, seria irreal pretender que os órgãos da prática de furto qualificado de dois sabonetes
persecução devessem ser providos de toda a líquidos íntimos avaliados em R$ 40,00. O
estrutura material e humana para investigar, com tribunal de origem não aplicara o princípio da
eficiência e celeridade, todo e qualquer crime insignificância em razão do concurso de agentes e
praticado. A avassaladora massa de delitos a a condenara a um ano e dois meses de reclusão,
apurar seria uma das causas da impunidade, dada em regime semiaberto e cinco dias-multa. Por fim,
a demora ou impossibilidade no seu no HC 123.734/MG, o paciente fora sentenciado
esclarecimento, na verificação da responsabilidade pelo furto de 15 bombons caseiros, avaliados em
penal e na punição do culpado, assim reconhecido R$ 30,00. Condenado à pena de detenção em
definitivamente. Dessa maneira, o legislador regime inicial aberto, a pena fora substituída por
optara por não mais prestigiar um sistema de prestação de serviços à comunidade e, embora
prescrição da pretensão punitiva retroativa que reconhecida a primariedade do réu e a ausência de
culminava por esvaziar a efetividade da tutela prejuízo à vítima, o princípio da insignificância
jurisdicional penal. Demais disso, essa não fora aplicado porque o furto fora qualificado
modalidade de prescrição, calculada a partir da pela escalada e pelo rompimento de obstáculo. O
pena aplicada na sentença, constituiria Ministro Roberto Barroso (relator) concedeu a
peculiaridade da lei brasileira, que não encontraria ordem em todos os ―habeas corpus‖, por entender
similar no direito comparado. Nas legislações cabível o princípio da insignificância e, por
alienígenas, a prescrição da pretensão punitiva conseguinte, reconheceu a atipicidade material das
seria regulada pela pena máxima em abstrato, e condutas dos pacientes e anulou os efeitos penais
nunca pela pena aplicada, a qual regularia apenas dos processos em exame. Pontuou que, segundo
a prescrição da pretensão executória. Isso estatísticas do Departamento Penitenciário
demonstraria que, embora a pena justa para o Nacional, 49% das pessoas estariam presas por
crime fosse a imposta na sentença, seria questão crimes contra o patrimônio e, dentre esse número,
de política criminal, a cargo do legislador, 14% da população carcerária brasileira estaria
estabelecer se a prescrição, enquanto não ocorrido presa por furto simples ou qualificado. Lembrou
o trânsito em julgado, deveria ser regulada pela que a comissão que elaborara o anteprojeto do
pena abstrata ou concreta, bem como, nesta Código Penal — ainda em deliberação no
hipótese, definir a expansão dos efeitos ―ex tunc‖. Congresso Nacional — teria proposto significativa
Vencido o Ministro Marco Aurélio, que concedia descarcerização do furto em geral, com previsão
a ordem e assentava a inconstitucionalidade do art. expressa do princípio da insignificância. Nos
110, § 1º, do CP. Assinalava que não se poderia termos desse anteprojeto, também não haveria fato
chancelar a possibilidade de o Ministério Público criminoso quando, cumulativamente, se
ou o titular de ação penal privada não ter prazo verificassem as seguintes condições: ―a) mínima
para atuar, ainda que houvesse dados suficientes ofensividade da conduta do agente; b)
para a propositura de ação penal, reduzidíssimo grau de reprovabilidade do
independentemente de investigação. comportamento; e c) inexpressividade da lesão
HC 122694/SP, rel. Min. Dias Toffoli, jurídica provocada‖.
10.12.2014. (HC-122694) HC 123108/MG, rel. Min. Roberto Barroso,
10.12.2014. (HC-123108)
HC 123533/SP, rel. Min. Roberto Barroso,
Princípio da insignificância: reincidência e
crime qualificado - 1 10.12.2014. (HC-123533)
HC 123734/MG, rel. Min. Roberto Barroso, HC 123108/MG, rel. Min. Roberto Barroso,
10.12.2014. (HC-123734) 10.12.2014. (HC-123108)
HC 123533/SP, rel. Min. Roberto Barroso,
10.12.2014. (HC-123533)
Princípio da insignificância: reincidência e
crime qualificado - 2 HC 123734/MG, rel. Min. Roberto Barroso,
O relator frisou que os ―habeas corpus‖ ora 10.12.2014. (HC-123734)
sob julgamento seriam emblemáticos:
envolveriam furto de bens de valor inferior a R$ Princípio da insignificância: reincidência e
50,00. Em dois deles, os pacientes teriam sido crime qualificado - 3
condenados à pena de prisão em regime O relator assinalou que, no caso do HC
semiaberto e estariam presos se a liminar não 123.108/MG, a reincidência do paciente — antes,
tivesse sido deferida. Não obstante, em matéria de ele furtara roupas em um varal e, agora, um
descaminho, se a sonegação de impostos somasse chinelo — não deveria ser tratada como
R$ 20.000,00, não haveria incriminação porque a impedimento a que fosse aplicado o princípio da
fazenda pública não executaria dívidas de valor insignificância. Caso se entendesse que o furto de
inferior ao mencionado. Ademais, o entendimento coisa de valor ínfimo pudesse ser punido em caso
do STF seria no sentido de não haver crime, em de reincidência do agente, seria necessário admitir
face do princípio da insignificância. O desconforto que a insignificância passaria do domínio da
que a existência dessa dualidade causaria aos tipicidade para o da culpabilidade. Não seria
cidadãos, acrescido à realidade carcerária, não possível afirmar, à luz da Constituição, que uma
poderia passar despercebido à Corte. Asseverou mesma conduta fosse típica para uns e não fosse
que a ausência de critérios claros quanto ao para outros — os reincidentes — sob pena de se
princípio da insignificância geraria o risco de ter configurado inaceitável direito penal do autor e
casuísmos, além de prejudicar a uniformização da não do fato. Ademais, para que a reincidência
jurisprudência e agravar a precária situação do excluísse a incidência do princípio da
sistema carcerário. Observou que precedentes do insignificância, não bastaria mera existência de
STF admitiriam o princípio da insignificância em inquéritos ou processos em andamento, mas
caso de furto desde que o agente não fosse condenação transitada em julgado e por crimes da
reincidente e que não tivesse sido hipótese de mesma espécie. Necessário, ainda, que a sanção
furto qualificado. Apontou que toda a teoria do guardasse proporcionalidade com a lesão causada.
princípio da insignificância deveria ser O encarceramento em massa de condenados por
reconduzida aos princípios da razoabilidade ou da pequenos furtos teria efeitos desastrosos, não
proporcionalidade. Assim, o referido postulado apenas para a integridade física e psíquica dessas
incidiria quando, embora a conduta fosse pessoas, como também para o sistema
formalmente típica, o desvalor da ação ou do penitenciário como um todo e, reflexamente, para
resultado se mostrasse irrelevante. A circunstância a segurança pública. Propôs que eventual sanção
de se tratar de réu reincidente ou presente alguma privativa de liberdade aplicável ao furto de coisa
qualificadora não deveria, automaticamente, de valor insignificante fosse fixada em regime
afastar a aplicação do princípio da insignificância. inicial aberto domiciliar, afastando-se, para os
Seria necessária motivação específica à luz das reincidentes, a aplicação do art. 33, § 2º, do CP.
circunstâncias do caso concreto, como o alto Embora a prisão domiciliar somente fosse prevista
número de reincidências e a especial na LEP em hipóteses restritas, a realidade do
reprovabilidade decorrente de qualificadoras. De sistema prisional obrigaria juízes e tribunais de
todo modo, a caracterização da reincidência todo o País a recorrer a essa alternativa, a fim de
múltipla, para fins de rejeição do princípio da que o condenado não se submetesse a regime mais
insignificância, exigiria a ocorrência de trânsito gravoso do que aquele a que tivesse direito por
em julgado de decisões condenatórias anteriores, falta de vagas. Ponderou que a pena privativa de
que deveriam ser referentes a crimes da mesma liberdade em regime aberto domiciliar deveria ser,
espécie. Mesmo quando afastado o princípio da como regra, substituída por pena restritiva de
insignificância por força da reincidência ou da direitos, a afastar as condicionantes previstas no
qualificação do furto, o encarceramento do agente, art. 44, II, III e § 3º, do CP, que deveriam ser
como regra, constituiria sanção desproporcional, interpretadas à luz da Constituição, sob pena de
inadequada, excessiva e geradora de malefícios violação ao princípio da proporcionalidade.
superiores aos benefícios. Assentou que as sanções restritivas de direito
teriam caráter ressocializador muito mais evidente
em comparação com as penas privativas de judiciária, bem como a precariedade de certos
liberdade, notadamente em casos alcançados pelo pronunciamentos judiciais. Nesse sentido, uma
princípio da insignificância. Somente em caso de vez admitido pelo sistema penal brasileiro o
descumprimento da pena restritiva deveria haver a conhecimento do conteúdo da folha penal como
reconversão para sanção privativa de liberdade em fator a se ter em conta na fixação da pena, a
regime aberto domiciliar. No HC 123.108/MG, à presunção deveria militar em favor do acusado. O
época dos fatos em questão, o paciente teria duas arcabouço normativo não poderia ser interpretado
condenações transitadas em julgado por crime de a ponto de gerar perplexidade.
furto simples e esse fato não afastaria a aplicação RE 591054/SC, rel. Min. Marco Aurélio,
do princípio da insignificância, ante o desvalor do 17.12.2014. (RE-591054)
resultado, traduzido pelo ínfimo valor do bem
subtraído. Em seguida, o julgamento foi suspenso. Inquéritos e ações penais em andamento e maus
HC 123108/MG, rel. Min. Roberto Barroso, antecedentes - 5
10.12.2014. (HC-123108) O Plenário asseverou que o transcurso do
HC 123533/SP, rel. Min. Roberto Barroso, quinquênio previsto no art. 64, I, do CP não seria
10.12.2014. (HC-123533) óbice ao acionamento do art. 59 do mesmo
HC 123734/MG, rel. Min. Roberto Barroso, diploma. Por outro lado, conflitaria com a ordem
10.12.2014. (HC-123734) jurídica considerar, para a majoração da pena-
base, processos que tivessem resultado na
aceitação de proposta de transação penal (Lei
Inquéritos e ações penais em andamento e maus 9.099/1995, art. 76, § 6º); na concessão de
antecedentes - 4 remissão em procedimento judicial para apuração
Inquéritos policiais ou ações penais sem de ato infracional previsto no ECA, com aplicação
trânsito em julgado não podem ser considerados de medida de caráter reeducacional; na extinção
como maus antecedentes para fins de dosimetria da punibilidade, entre outros, excetuados os
da pena. Esse o entendimento do Plenário que, em resultantes em indulto individual, coletivo ou
conclusão de julgamento e por maioria, desproveu comutação de pena. Por fim, as condenações por
recurso extraordinário — v. Informativo 749. O fatos posteriores ao apurado, com trânsito em
Colegiado explicou que a jurisprudência da Corte julgado, não seriam aptas a desabonar, na primeira
sobre o tema estaria em evolução, e a tendência fase da dosimetria, os antecedentes para efeito de
atual seria no sentido de que a cláusula exacerbação da pena-base. No ponto, a incidência
constitucional da não culpabilidade (CF, art. 5º, penal só serviria para agravar a medida da pena
LVII) não poderia ser afastada. Haveria quando ocorrida antes do cometimento do delito,
semelhante movimento por parte da doutrina, a independentemente de a decisão alusiva à prática
concluir que, sob o império da nova ordem haver transitado em julgado em momento prévio.
constitucional, somente poderiam ser valoradas Deveria ser considerado o quadro existente na
como maus antecedentes as decisões data da prática delituosa. O Ministro Teori
condenatórias irrecorríveis. Assim, não poderiam Zavascki, ao aditar seu voto, ressalvou que as
ser considerados para esse fim quaisquer outras ações penais que já contivessem sentença
investigações ou processos criminais em condenatória, ainda que não definitiva, não
andamento, mesmo em fase recursal. Esse ponto deveriam receber o mesmo tratamento dos
de vista estaria em consonância com a moderna inquéritos ou das ações penais pendentes de
jurisprudência da Corte Interamericana de Direitos sentença para fins de maus antecedentes. Assim,
Humanos e do Tribunal Europeu dos Direitos do processos em andamento não poderiam ser
Homem. Ademais, haveria recomendação por considerados como maus antecedentes, a não ser
parte do Comitê de Direitos Humanos das Nações que se cuidasse de ação penal em que houvesse
Unidas, no sentido de que o Poder Público deveria sentença condenatória proferida. Entretanto, no
abster-se de prejulgar o acusado. Colacionou, caso concreto, em nenhum dos processos
também, o Enunciado 444 da Súmula do STJ (―É envolvidos já existiria sentença, de modo que
vedada a utilização de inquéritos policiais e ações manteve a conclusão proferida anteriormente.
penais em curso para agravar a pena-base‖). O Vencidos os Ministros Ricardo Lewandowski
lançamento, no mundo jurídico, de enfoque ainda (Presidente), Rosa Weber, Luiz Fux e Cármen
não definitivo e, portanto, sujeito a condição Lúcia, que proviam o recurso.
resolutiva, potencializaria a atuação da polícia RE 591054/SC, rel. Min. Marco Aurélio,
17.12.2014. (RE-591054)
Porte de drogas para consumo próprio e medida no aparelho estatal, um de seus precípuos
socioeducativa de internação - 1 destinatários.
É incabível a imposição da medida HC 124682/SP, rel. Min. Celso de Mello,
socioeducativa de internação ao adolescente que 16.12.2014. (HC-124682)
pratique ato infracional equiparado ao porte de
drogas para consumo próprio, tipificado no art. 28 Porte de drogas para consumo próprio e medida
da Lei 11.343/2006. Com base nessa orientação, a socioeducativa de internação - 2
2ª Turma não conheceu de pedido formulado em A Turma ressaltou, por outro lado, que o art.
―habeas corpus‖, mas concedeu, de ofício, a 28 da Lei 11.343/2006 — que pune a posse de
ordem para invalidar a imposição da medida drogas para consumo próprio — não autorizaria
socioeducativa de internação aplicada ao ora sequer a privação da liberdade do autor desse
paciente, sem prejuízo da aplicação de qualquer ilícito penal, ainda que cometido por pessoa
outra das medidas previstas no artigo 112 do plenamente imputável. O citado dispositivo da Lei
ECA, contanto que não resultasse, em qualquer de Drogas somente cominaria, para esse delito,
dessas outras hipóteses, privação, ainda que penas meramente restritivas de direitos. Portanto,
parcial, de sua liberdade de locomoção física. O revelar-se-ia contrário ao sistema jurídico, por
Colegiado destacou, inicialmente, que a criança e subverter o princípio da proteção integral do
o adolescente receberiam especial amparo, que menor inimputável, impor ao adolescente — que
lhes seria dispensado pela própria Constituição, eventualmente praticasse ato infracional
cujo texto consagraria, como diretriz fundamental consistente em possuir drogas para consumo
e vetor condicionante da atuação da família, da próprio — a medida extraordinária de internação,
sociedade e do Estado, o princípio da proteção pois, como verificado, nem mesmo a pessoa maior
integral (CF, art. 227). Nesse contexto, as medidas de 18 anos de idade, imputável, poderia sofrer a
socioeducativas orientar-se-iam, nos casos de atos privação da liberdade por efeito de transgressão ao
infracionais cometidos por adolescente, no sentido referido art. 28 da Lei 11.343/2006.
de neutralizar a situação de perigo ou de risco em HC 124682/SP, rel. Min. Celso de Mello,
que esse se encontrasse, quando, por ação ou 16.12.2014. (HC-124682)
omissão, se colocasse em estado de conflito com o
ordenamento positivo. Buscar-se-ia, sempre, não
obstante o caráter excepcional daquelas medidas, PPE: terrorismo e dupla tipicidade
a adoção de providências que, respeitado o estágio A 2ª Turma resolveu questão de ordem,
de desenvolvimento e a capacidade de suscitada pelo Ministro Celso de Mello (relator),
compreensão do menor inimputável, viabilizassem para declarar extinto pedido de prisão preventiva
sua reintegração ao convívio social e, para fins de extradição, em razão da omissão do
notadamente, à vida familiar. O sistema de direito Estado requerente em produzir a documentação
positivo, ao dispor sobre o menor adolescente em que se lhe exigira com suporte no Tratado de
situação de conflito com a lei, objetivaria Extradição entre a República Federativa do Brasil
implementar programas e planos de atendimento e a República do Peru. No caso, apesar de instado
socioeducativo mediante ações articuladas nas formalmente a produzir as informações
áreas de educação, saúde, assistência social, complementares que lhe foram requisitadas, o
capacitação para o trabalho, cultura e esporte, isso referido Estado deixara de produzir, não obstante
no sentido de conferir efetividade e dar concreção a obrigação imposta em sede convencional,
aos fins a que se destinariam as medidas elementos de informação necessários à descrição
socioeducativas, cuja função estaria definida no dos fatos imputados, do tempo e do local de sua
art. 1º, § 2º, da Lei 12.594/2012. Outrossim, o alto suposta ocorrência, do órgão judiciário
significado social e o irrecusável valor competente para o processo e julgamento, além da
constitucional de que se revestiria o direito à disciplina normativa, naquele ente político, da
proteção da criança e do adolescente — ainda prescrição penal. A Turma asseverou que os
mais se considerado em face do dever que elementos informativos faltantes constituiriam
incumbiria, ao Poder Público, de torná-lo real, documentos de produção obrigatória,
mediante concreta efetivação da garantia de indispensáveis à regular formalização do pleito
assistência integral à criança e ao adolescente — extradicional, ou do pedido de prisão cautelar,
não poderiam ser menosprezados pelo Estado, sob consoante resultaria da determinação constante do
pena de grave e injusta frustração de um Estatuto do Estrangeiro (art. 80, ―caput‖, ―in
inafastável compromisso constitucional, que teria, fine‖) e, também, do referido Tratado de
Extradição (Artigo 19, n. 1). Seria encargo O crime do art. 1º, I, do Decreto-Lei 201/1967
processual cuja satisfação incumbiria ao Estado (―Art. 1º São crimes de responsabilidade dos
que postulasse a prisão cautelar, ou a extradição, Prefeitos Municipal, sujeitos ao julgamento do
sob pena de, em não o cumprindo, expor-se ao Poder Judiciário, independentemente do
indeferimento liminar do pedido. Por outro lado, e pronunciamento da Câmara dos Vereadores: I -
a despeito do que consignado, não haveria, apropriar-se de bens ou rendas públicas, ou
igualmente, a possibilidade de prosseguimento do desviá-los em proveito próprio ou alheio‖), é
feito, isso em decorrência da impossibilidade, no próprio, somente podendo ser praticado por
caso, de observância do princípio da dupla prefeito, admitida, porém, a participação, nos
tipicidade, eis que, tratando-se do delito de termos do art. 29 do CP. Com base nesse
terrorismo, inexistiria, quanto a ele, no sistema de entendimento, a Segunda Turma recebeu denúncia
direito positivo nacional, a pertinente definição oferecida contra deputado federal pela suposta
típica. Mostrar-se-ia evidente a importância dessa prática do referido crime. De inicio, rejeitou
constatação, porquanto a comunidade requerimento formulado no sentido de que o
internacional ainda não teria sido capaz de chegar processo em comento fosse julgado em conjunto
a uma conclusão acerca da definição jurídica do com AP 644/MT. Assinalou que a reunião de
crime de terrorismo. Inclusive, seria relevante ações penais conexas seria a regra, salvo se o juiz
observar a elaboração, no âmbito da ONU, de ao reputasse conveniente a separação, por motivo
menos 13 instrumentos internacionais sobre a relevante (CPP: ―Art. 80. Será facultativa a
matéria, sem que se chegasse, contudo, a um separação dos processos quando as infrações
consenso geral sobre quais elementos essenciais tiverem sido praticadas em circunstâncias de
deveriam compor a definição típica do crime de tempo ou de lugar diferentes, ou, quando pelo
terrorismo ou, então, sobre quais requisitos excessivo número de acusados e para não lhes
deveriam considerar-se necessários à configuração prolongar a prisão provisória, ou por outro motivo
dogmática da prática delituosa de atos terroristas. relevante, o juiz reputar conveniente a
Tornar-se-ia importante assinalar, no entanto, no separação‖). Ocorre que os feitos estariam em
que se refere aos compromissos assumidos pelo situação processual diversa. Em um deles, a
País, que os novos parâmetros consagrados pela instrução processual já estaria encerrada, enquanto
Constituição determinariam uma pauta de valores no outro, a denúncia sequer teria sido apreciada.
a serem protegidos na esfera doméstica mediante Assim, a reunião das ações seria inviável. No
qualificação da prática do terrorismo como delito mérito, a Turma destacou que o denunciado, em
inafiançável e insuscetível da clemência soberana comunhão de esforços com prefeito, seria acusado
do Estado (CF, art. 5º, XLIII). Essas diretrizes de desviar rendas públicas em proveito próprio e
constitucionais — que evidenciariam a posição alheio. Sua conduta teria consistido em apresentar
explícita do Estado brasileiro de frontal repúdio ao emenda parlamentar ao orçamento da União,
terrorismo — desautorizariam qualquer inferência autorizando o repasse de recursos para aquisição
que buscasse atribuir às práticas terroristas de ambulância. Realizada licitação na modalidade
tratamento benigno de que resultasse o tomada de preços, o certame teria sido direcionado
estabelecimento, em torno do terrorista, de em favor de determinada empresa. Para a fase
inadmissível círculo de proteção, a torná-lo imune processual de análise de recebimento da denúncia,
ao poder extradicional do Estado. os elementos seriam suficientes para demonstrar
PPE 730/DF, rel. Min. Celso de Mello, não apenas o direcionamento da licitação, mas
16.12.2014. (PPE-730) também o desvio dos recursos públicos, mediante
a prática de sobrepreço. Ademais, haveria
indicativos da existência de organização criminosa
dedicada à canalização de recursos do orçamento
para aquisição de ambulâncias, com posterior
direcionamento de licitações. Outrossim, a
ANO DE 2015 apresentação de emenda parlamentar para
financiar a compra, somada a depoimentos
colhidos no sentido de que o denunciado teria
Conduta contribuído para o direcionamento da licitação,
Art. 1º, I, do Decreto-Lei 201/1967 e seriam indícios suficientes de participação, para
admissibilidade de participação esta fase processual.
Inq 3634/DF, rel. Min. Gilmar Mendes,
2.6.2015. (Inq-3634) Crime tributário e prescrição - 2
(Informativo 788, 2ª Turma) Não há que se falar em aplicação retroativa ―in
malam partem‖ do Enunciado 24 da Súmula
Extinção de Punibilidade Vinculante (―Não se tipifica crime material contra
Cumprimento de decreto presidencial e extinção a ordem tributária, previsto no art. 1º, incisos I a
da punibilidade IV, da Lei nº 8.137/90, antes do lançamento
O Plenário, ao resolver questão de ordem em definitivo do tributo‖) aos fatos ocorridos
execução penal trazida pelo Ministro Roberto anteriormente à sua edição, uma vez que o aludido
Barroso (relator), declarou extinta a punibilidade enunciado apenas consolidou interpretação
de condenado, nos autos da AP 470/MG (DJe de reiterada do STF sobre a matéria. Com base nessa
22.4.2013), à pena de 4 anos e 8 meses de orientação, a Primeira Turma, em conclusão de
reclusão e 180 dias-multa pelo crime de corrupção julgamento, desproveu recurso ordinário em
ativa (CP, art. 333). O Colegiado registrou que o ―habeas corpus‖ no qual se pleiteava o
apenado efetuara o pagamento integral da multa e reconhecimento da prescrição da pretensão
que cumpriria a pena desde 15.11.2013. Ademais, punitiva estatal em razão da alegada
atenderia os requisitos objetivos e subjetivos do impossibilidade de incidência retroativa do
Decreto 8.380/2014, por meio do qual a referido enunciado. Na espécie, o recorrente fora
Presidência da República concedeu indulto denunciado pela suposta prática do crime previsto
natalino e comutação de penas. no art. 1º, I, II e III, da Lei 8.137/1990, em virtude
EP 1 QO/DF, rel. Min. Roberto Barroso, de condutas que teriam sido perpetradas entre
4.3.2015. (EP-1) 1990 e 1992. Após o recebimento da denúncia em
(Informativo 776, Plenário) 18.9.2009, o ora recorrente fora condenado à pena
de três anos e nove meses de reclusão, por
Marco temporal da prescrição em 2ª instância: sentença proferida em 2.5.2012 — v. Informativo
sessão de julgamento ou publicação do acórdão 753. A Turma afirmou que o Enunciado 24 da
A prescrição da pretensão punitiva do Estado, em Súmula Vinculante não teria inovado no
segundo grau de jurisdição, se interrompe na data ordenamento jurídico. Com o julgamento do HC
da sessão de julgamento do recurso e não na data 81.611/DF (DJU de 13.5.2005), o Plenário teria
da publicação do acórdão. Com base nesse assentado sua jurisprudência no sentido de que ―a
entendimento, a 1ª Turma, por maioria, negou consumação do crime tipificado no art.1º da Lei
provimento a recurso ordinário em ―habeas 8.137/1990 somente se verifica com a constituição
corpus‖ em que se alegava a extinção da do crédito fiscal, começando a correr, a partir daí,
punibilidade do delito pela ocorrência da a prescrição‖ (HC 85.051/MG, DJU de 1º.7.2005).
prescrição da pretensão punitiva. O Colegiado Assim, a prescrição não estaria caracterizada,
afirmou que, por se tratar de acórdão, a publicação tendo em conta que os crimes imputados ao
do ato ocorreria com a realização da sessão de recorrente teriam como termo de constituição o
julgamento. O Ministro Roberto Barroso enfatizou momento em que finalizado o processo
que a prescrição seria a perda de uma pretensão administrativo tributário, em 24.9.2003. (HC
pelo seu não exercício, dentro de um determinado 85.051/MG, DJU de 1º.7.2005).
prazo. Portanto, a prescrição estaria associada à RHC 122774/RJ, rel. Min. Dias Toffoli,
inércia do titular do direito. Dessa forma, com a 19.5.2015. (RHC-122774)
realização da sessão de julgamento, não se poderia (Informativo 786, 1ª Turma)
reconhecer essa inércia. Vencido o Ministro
Marco Aurélio, que dava provimento ao recurso. Ação penal e prescrição em perspectiva
Reputava que a interrupção da prescrição só Não se admite a denominada prescrição em
ocorreria com a publicação da sentença ou perspectiva, haja vista a inexistência de previsão
acórdão condenatório recorrível (CP, art. 117, IV). legal do instituto. Com base nessa orientação, a
Pontuava que o acórdão somente se tornaria Primeira Turma negou provimento a agravo
recorrível com a sua confecção. Observava que a regimental em que se impugnava decisão
publicação do aresto teria ocorrido cinco meses monocrática que determinara o prosseguimento de
depois da sessão de julgamento. inquérito, ouvindo-se o Ministério Público Federal
RHC 125078/SP, rel. Min. Dias Toffoli, quanto a possíveis diligências. Na espécie, em
3.3.2015. (RHC-125078) face da diplomação de um dos investigados no
(Informativo 776, 1ª Turma) cargo de deputado federal, os autos foram
remetidos ao STF. A Turma destacou que, por do ressarcimento integral do dano causado à
ocasião do julgamento do presente recurso, o vitima do estelionato.
agravante não mais deteria prerrogativa de foro, RHC 126917/SP, rel. Min. Teori Zavascki,
porém, competiria ao STF processar e julgar o 25.8.2015. (RHC-126917)
agravo regimental em que se impugna decisão (Informativo 796, 2ª Turma)
monocrática de integrante da Corte. Apontou a Advogado: inexistência de sala de Estado Maior
inadequação da decisão do juízo de origem que e prisão domiciliar - 2
teria prejulgado ação penal que sequer fora Em conclusão de julgamento, o Plenário assentou
proposta, ao aventar uma possível penalidade e, a o prejuízo de pedido formulado em favor de
partir da pena hipotética, pronunciar a prescrição advogada para que aguardasse em prisão
da pretensão punitiva. Afastada a prescrição e o domiciliar, na falta de sala de Estado Maior. No
arquivamento dos autos, a Turma determinou a caso, ela se encontrava presa, por força de
remessa do inquérito ao juiz da vara criminal sentença condenatória recorrível, em penitenciária
competente. feminina em cela separada de outras detentas. A
Inq 3574 AgR/MT, rel. Min. Marco Aurélio, Presidência do Supremo deferira liminar e
2.6.2015. (Inq-3574) determinara a prisão domiciliar — v. Informativo
(Informativo 788, 1ª Turma) 575. O Colegiado registrou que fora proferida
sentença de extinção da punibilidade da
ED: interesse recursal e reconhecimento da interessada pelo cumprimento integral da pena, da
prescrição da pretensão punitiva - 2 qual não fora interposto recurso.
Em conclusão de julgamento, a Primeira Turma, Rcl 8668/SP, rel. Min. Cármen Lúcia,
por maioria, rejeitou embargos de declaração em 26.11.2015. (Rcl-8668)
que se discutia a existência de omissão e (Informativo 809, Plenário)
contradição no julgado, uma vez que, ao
desclassificar a conduta descrita na denúncia, essa
Corte deveria, por ser supostamente mais Princípio da consunção: homicídio e posse ilegal
favorável ao acusado, ter reconhecido, de de arma
imediato, a prescrição da pretensão punitiva com A 1ª Turma, por maioria, julgou extinto ―habeas
base na pena cominada em abstrato, e não ter corpus‖ em que se discutia a aplicabilidade do
prosseguido no julgamento do feito, proferindo princípio da consunção em hipótese de prática de
decreto condenatório, para, só então, reconhecer a homicídio com o uso de arma de fogo de
prescrição com base na pena aplicada em concreto numeração raspada. No caso, o paciente fora
— v. Informativo 789. A Turma ressaltou que não absolvido sumariamente em relação ao delito de
haveria utilidade ou necessidade na prestação homicídio, uma vez sua conduta haver
jurisdicional, na medida em que o Colegiado teria caracterizado legítima defesa. Não obstante,
efetivamente declarado a prescrição da pretensão remanescia a persecução penal no tocante ao
punitiva estatal, sendo irrelevante se com crime de posse e porte de arma de fogo. A Turma
fundamento na pena em concreto ou em abstrato, reputou que os tipos penais seriam diversos, e que
pois o resultado prático seria o mesmo. Vencidos a excludente de ilicitude reconhecida quanto ao
os Ministros Roberto Barroso (relator) e Luiz Fux, homicídio não alcançaria a posse ilegal de arma de
que acolhiam os embargos. fogo com numeração raspada. Vencido o Ministro
AP 530 ED-segundos/MS, rel. Min. Roberto Luiz Fux (relator), que concedia a ordem de
Barroso, red. p/ o acórdão Min. Marco Aurélio, ofício, por entender incidir o princípio da
30.6.2015. (AP-530) (Informativo 792, 1ª Turma) consunção.
HC 120678/PR, rel. orig. Min. Luiz Fux, red. p/
Estelionato e extinção de punibilidade o acórdão Min. Marco Aurélio, 24.2.2015. (HC-
A causa especial de extinção de punibilidade 120678)
prevista no § 2º do art. 9º da Lei 10.684/2003, (Informativo 775, 1ª Turma)
relativamente ao pagamento integral do crédito
tributário, não se aplica ao delito de estelionato Lei de drogas e princípio da consunção
(CP, art. 171). Esse o entendimento da Segunda A Segunda Turma conheceu parcialmente e, nessa
Turma, que negou provimento a recurso ordinário extensão, concedeu, em parte, a ordem em
em ―habeas corpus‖ em que se pleiteava a ―habeas corpus‖, para restabelecer a sentença
declaração da extinção da punibilidade em razão imposta ao paciente pelo juízo singular, com o
decotamento da confissão espontânea fixado em
2º grau. Na espécie, ele fora condenado pela o cumprimento de pena aplicada em patamar
prática de tráfico de drogas e associação para o inferior a quatro anos, exclusivamente em razão
tráfico (Lei 11.343/2006, artigos 33 e 35). O da exasperação da pena-base. No caso, os
tribunal local, ao apreciar as apelações da pacientes foram condenados à pena de dois anos e
acusação e da defesa, reduzira a pena referente ao seis meses de detenção pela suposta prática de
tráfico, mas condenara o réu com relação aos crime contra a ordem econômica (Lei 8.176/1991,
delitos dos artigos 33, § 1º, I; e 34 da Lei art. 1º, I), o que, segundo alegado, ensejaria a
11.343/2006. No ―habeas‖, sustentava-se a fixação do regime aberto, nos termos do art. 33, §
existência de irregularidades quanto às 2º, c, do CP. O Colegiado destacou que, na
transcrições de escutas telefônicas colhidas em espécie, embora a pena final fixada fosse inferior
investigação; a ilegalidade quanto à pena-base; a a quatro anos, duas das circunstâncias judiciais
ocorrência do princípio da consunção, contidas no art. 59 do CP seriam desfavoráveis
considerados os delitos de tráfico e dos artigos 33, aos pacientes — as circunstâncias e as
§ 1º, I; e 34 da Lei 11.343/2006; a inexistência do consequências do crime —, o que, nos termos do
crime de associação para o tráfico; a ilegalidade § 3º do art. 33 do CP (―A determinação do regime
quanto à incidência da agravante do art. 62, I, do inicial de cumprimento da pena far-se-á com
CP; e a ocorrência de tráfico privilegiado. A observância dos critérios previstos no art. 59 deste
Turma assinalou não haver nulidade quanto às Código‖) e do Enunciado 719 da Súmula do STF
transcrições de interceptações telefônicas, que (―A imposição do regime de cumprimento mais
teriam sido devidamente disponibilizadas, sem severo do que a pena aplicada permitir exige
que a defesa, entretanto, houvesse solicitado a motivação idônea‖), impediria a aplicação do
transcrição total ou parcial ao longo da instrução. regime inicial mais brando. Nessa perspectiva, não
Ademais, entendeu que, dadas as circunstâncias haveria dúvidas de que, por ocasião da sentença, o
do caso concreto, seria possível a aplicação do magistrado ―a quo‖ cumprira satisfatoriamente a
princípio da consunção, que se consubstanciaria exigência de fundamentação da decisão, tendo em
pela absorção dos delitos tipificados nos artigos vista que apresentara justificativa plausível,
33, § 1º, I, e 34 da Lei 11.343/2006, pelo delito amparada pelo ordenamento jurídico, para
previsto no art. 33, ―caput‖, do mesmo diploma determinação do regime inicial semiaberto.
legal. Ambos os preceitos buscariam proteger a HC 124876/SP, rel. Min. Gilmar Mendes,
saúde pública e tipificariam condutas que — no 24.2.2015. (HC-124876)
mesmo contexto fático, evidenciassem o intento (Informativo 775, 2ª Turma)
de traficância do agente e a utilização dos
aparelhos e insumos para essa mesma finalidade Crime de tortura e regime inicial de
— poderiam ser consideradas meros atos cumprimento da pena
preparatórios do delito de tráfico previsto no art. O condenado por crime de tortura iniciará o
33, ―caput‖, da Lei 11.343/2006. Quanto às cumprimento da pena em regime fechado, nos
demais alegações, não haveria vícios aptos a termos do disposto no § 7º do art. 1º da Lei
redimensionar a pena-base fixada, bem assim 9.455/1997 - Lei de Tortura. Com base nessa
estaria demonstrada a existência de associação orientação, a Primeira Turma denegou pedido
para o tráfico. Além disso, a suposta ocorrência de formulado em ―habeas corpus‖, no qual se
tráfico privilegiado não poderia ser analisada, por pretendia o reconhecimento de constrangimento
demandar análise fático-probatória. Por fim, a ilegal consubstanciado na fixação, em sentença
questão relativa à incidência do art. 62, I, do CP, penal transitada em julgado, do cumprimento das
não teria sido aventada perante o STJ, e sua penas impostas aos pacientes em regime
análise implicaria supressão de instância. inicialmente fechado. Alegavam os impetrantes a
HC 109708/SP, rel. Min. Teori Zavascki, ocorrência de violação ao princípio da
23.6.2015. (HC-109708) individualização da pena, uma vez que
(Informativo 791, 2ª Turma) desrespeitados os artigos 33, § 3º, e 59 do CP.
Apontavam a existência de similitude entre o
Fixação de regime inicial de cumprimento de disposto no artigo 1º, § 7º, da Lei de Tortura e o
pena e circunstâncias judiciais previsto no art. 2º, § 1º, da Lei de Crimes
A 2ª Turma denegou a ordem em ―habeas corpus‖ Hediondos, dispositivo legal que já teria sido
no qual se sustentava a existência de ilegalidade declarado inconstitucional pelo STF no
em sentença condenatória que teria fixado de julgamento do HC 111.840/ES (DJe de
forma automática o regime inicial semiaberto para 17.12.2013). Salientavam, por fim, afronta ao
Enunciado 719 da Súmula do STF. O Ministro social e personalidade voltada para o crime, e de
Marco Aurélio (relator) denegou a ordem. que as circunstâncias e motivos seriam
Considerou que, no caso, a dosimetria e o regime deploráveis — embasarem a reprimenda do
inicial de cumprimento das penas fixadas paciente. Reputou que essa fundamentação
atenderiam aos ditames legais. Asseverou não genérica também não poderia ser considerada para
caber articular com a Lei de Crimes Hediondos, esse fim. Os Ministros Ricardo Lewandowski
pois a regência específica (Lei 9.455/1997) prevê (Presidente e relator) — que reajustou seu voto —
expressamente que o condenado por crime de , Teori Zavascki, Edson Fachin e Rosa Weber,
tortura iniciará o cumprimento da pena em regime embora ressalvassem seu entendimento pessoal,
fechado, o que não se confundiria com a acompanharam a orientação firmada no recurso
imposição de regime de cumprimento da pena com repercussão geral, em respeito ao princípio da
integralmente fechado. Assinalou que o legislador colegialidade. Vencidos a Ministra Cármen Lúcia
ordinário, em consonância com a CF/1988, teria e o Ministro Luiz Fux, que denegavam a ordem
feito uma opção válida, ao prever que, em ambos os casos. Por fim, o Tribunal, tendo em
considerada a gravidade do crime de tortura, a conta as manifestações proferidas e o fato de se
execução da pena, ainda que fixada no mínimo tratar de ―habeas corpus‖, pronunciou-se no
legal, deveria ser cumprida inicialmente em sentido da possibilidade de rever a tese firmada no
regime fechado, sem prejuízo de posterior precedente em repercussão geral, em recurso
progressão. Os Ministros Roberto Barroso e Rosa extraordinário a ser oportunamente submetido à
Weber acompanharam o relator, com a ressalva de apreciação da Corte.
seus entendimentos pessoais no sentido do não HC 94620/MS rel. Min. Ricardo Lewandowski,
conhecimento do ―writ‖. O Ministro Luiz Fux, 24.6.2015. (HC-94620)
não obstante entender que o presente ―habeas HC 94680/SP, rel. Min. Ricardo Lewandowski,
corpus‖ faria as vezes de revisão criminal, ante o 24.6.2015. (HC-94680)
trânsito em julgado da decisão impugnada, (Informativo 791, Plenário)
acompanhou o relator.
HC 123316/SE, rel. Min. Marco Aurélio, Aumento da pena e continuidade delitiva
9.6.2015. (HC-123316) A Segunda Turma indeferiu pedido formulado em
(Informativo 789, 1ª Turma) ―habeas corpus‖ no qual se pretendia fosse
afastada a aplicação da fração de aumento da
Princípio da não-culpabilidade: processos em pena, em decorrência da continuidade delitiva,
curso e maus antecedentes - 2 prevista no art. 71, ―caput‖, do CP, em seu grau
O Plenário, em conclusão de julgamento e por máximo. Alegava o impetrante que o STJ, ao
maioria, concedeu, em parte, a ordem em dois aumentar a fração de 1/6 para 2/3, teria efetuado a
―habeas corpus‖ para determinar ao juízo das reanálise do acervo fático-probatório, o que seria
execuções penais que proceda ao novo cálculo da vedado pelo Enunciado 7 da Súmula daquela
pena imposta aos pacientes, devendo considerar Corte. Apontava que, no caso, por não se saber
como circunstâncias negativas, na primeira fase da com certeza quantas teriam sido as infrações
dosimetria, somente a culpabilidade e as penais cometidas pelo paciente, o aumento da
consequências do crime. Em ambos os casos, pena, em razão da continuidade delitiva, não
discutia-se a possibilidade de inquéritos policiais e poderia ser aplicado em seu grau máximo, de
ações penais sem trânsito em julgado poderem ser modo que deveria ser restabelecida a fração de
considerados como elementos caracterizadores de aumento de pena fixada pelo tribunal local, em
maus antecedentes — v. Informativo 538. observância ao princípio do ―in dubio pro reo‖. A
Prevaleceu o voto do Ministro Teori Zavascki. Turma entendeu que, como já decidido pelo STF,
Salientou recente posicionamento do STF a nova valoração de elementos fático-probatórios
respeito do tema, firmado no julgamento do RE não se confundiria com reapreciação de matéria
591.054/SC (DJe de 25.2.2015), com repercussão probatória. Asseverou que, na espécie, como toda
geral, no sentido da impossibilidade de se a matéria fática teria sido bem retratada na
considerar esses elementos como maus sentença e no acórdão do tribunal local, o STJ
antecedentes para fins de dosimetria da pena. teria se limitado a lhe emprestar a correta
Salientou, ainda, que no HC 94.620/MS, também consequência jurídica. Consignou, ademais, que o
haveria outra discussão, a respeito da aumento de 2/3 da pena se harmonizaria com a
admissibilidade de alegações genéricas — de que jurisprudência pacífica da Corte, no sentido de que
o agente possuiria conduta inadaptada ao convívio o ―quantum‖ de exasperação da pena, por força do
reconhecimento da continuidade delitiva, deveria maus antecedentes para efeito de fixação da pena,
ser proporcional ao número de infrações conforme previsão do art. 64, I, do CP [―Para
cometidas. Considerou, por fim, que a imprecisão efeito de reincidência: I - não prevalece a
quanto ao número de crimes praticados pelo condenação anterior, se entre a data do
paciente não obstaria a incidência da causa de cumprimento ou extinção da pena e a infração
aumento da pena em seu patamar máximo, desde posterior tiver decorrido período de tempo
que houvesse elementos seguros, como na espécie, superior a 5 (cinco) anos, computado o período de
que demonstrassem que vários seriam os crimes prova da suspensão ou do livramento condicional,
praticados ao longo de dilatadíssimo lapso se não ocorrer revogação‖]. Esse é o entendimento
temporal. da Segunda Turma, que, em conclusão de
HC 127158/MG, rel. Min. Dias Toffoli, julgamento e por maioria, concedeu a ordem em
23.6.2015. (HC-127158) ―habeas corpus‖ para restabelecer a decisão do
(Informativo 791, 2ª Turma) tribunal de justiça que afastara os maus
antecedentes, considerada condenação anterior ao
Sonegação fiscal e circunstâncias judiciais período depurador (CP, art. 64, I), para efeito de
A Segunda Turma denegou a ordem em ―habeas dosimetria da pena — v. Informativo 778. A
corpus‖ impetrado em face de decisão que Turma afirmou que o período depurador de cinco
condenara o paciente à pena de 4 anos e 8 meses anos teria a aptidão de nulificar a reincidência, de
de reclusão pela prática do crime previsto no art. forma que não poderia mais influenciar no
1º, I, da Lei 8.137/1990 (―Art. 1° Constitui crime ―quantum‖ de pena do réu e em nenhum de seus
contra a ordem tributária suprimir ou reduzir desdobramentos. Observou que seria assente que a
tributo, ou contribuição social e qualquer ―ratio legis‖ consistiria em apagar da vida do
acessório, mediante as seguintes condutas: I - indivíduo os erros do passado, já que houvera o
omitir informação, ou prestar declaração falsa às devido cumprimento de sua punição, de modo que
autoridades fazendárias‖). O impetrante alegava seria inadmissível atribuir à condenação o ―status‖
que as circunstâncias e as consequências do crime, de perpetuidade, sob pena de violação aos
no caso, constituiriam elementares do tipo penal princípios constitucionais e legais, sobretudo o da
de sonegação fiscal, não devendo ser valoradas ressocialização da pena. A Constituição vedaria
para majorar a pena. A Turma afirmou que o ardil expressamente, na alínea b do inciso XLVII do
utilizado pelo paciente — omissão do seu nome art. 5º, as penas de caráter perpétuo. Esse
do quadro societário da empresa —, valorado dispositivo suscitaria questão acerca da
quando da fixação da pena-base, tivera como proporcionalidade da pena e de seus efeitos para
objetivo acobertar sua real condição de além da reprimenda corporal propriamente dita.
administrador da empresa investigada e, com isso, Nessa perspectiva, por meio de cotejo das regras
furtar-se de possível aplicação da lei penal. Esse basilares de hermenêutica, constatar-se-ia que, se
fato não possuiria relação necessária com as o objetivo primordial fosse o de se afastar a pena
declarações falsas apresentadas à Receita Federal, perpétua, reintegrando o apenado no seio da
meio empregado para a prática do crime previsto sociedade, com maior razão dever-se-ia aplicar
no art. 1º, I, da Lei 8.137/1990. O ardil esse raciocínio aos maus antecedentes. Ademais, o
considerado, portanto, não seria aquele inerente ao agravamento da pena-base com fundamento em
tipo penal do crime contra a ordem tributária. condenações transitadas em julgado há mais de
Ademais, nos delitos de sonegação — como cinco anos não encontraria previsão na legislação
ocorreria em outras infrações penais que pátria, tampouco na Constituição, mas se trataria
provocassem lesão ao erário — a extensão do de uma analogia ―in malam partem‖, método de
dano causado poderia ser utilizada na primeira integração vedado em nosso ordenamento. Por
fase da dosimetria, como critério para exasperação fim, determinou ao tribunal de origem que
da pena-base, sem que isso implicasse ―bis in procedesse à nova fixação de regime prisional,
idem‖. sem considerar a gravidade abstrata do delito, nos
HC 128446/PE, rel. Min. Teori Zavascki, termos do art. 33, §§ 2º e 3º, do CP. Vencidos os
15.9.2015. (HC-128446) Ministros Teori Zavascki e Cármen Lúcia, que
(Informativo 799, 2ª Turma) concediam parcialmente a ordem, apenas quanto à
fixação do regime prisional.
Maus antecedentes e período depurador - 2 HC 126315/SP, rel. Min. Gilmar Mendes,
As condenações transitadas em julgado há mais de 15.9.2015. (HC-126315)
cinco anos não poderão ser caracterizadas como (Informativo 799, 2ª Turma)
sanção de cinco anos de reclusão. Entretanto, a
“Reformatio in pejus” e causa de diminuição de fundamentação utilizada quando daquele
pena julgamento não seria idônea para impedir a
A Primeira Turma, em conclusão de julgamento e incidência da minorante em questão. Seria certo
por maioria, deu provimento a recurso ordinário que a primariedade técnica do réu não conduziria
em ―habeas corpus‖ para determinar ao juízo de à automática concessão do benefício, mas deveria
origem a aplicação da causa de diminuição de ser demonstrada concretamente a dedicação do
pena prevista no art. 33, § 4º, da Lei 11.343/2006, sentenciado às atividades criminosas ou mesmo a
como entendesse de direito. No caso, o recorrente sua integração a alguma organização criminosa.
fora condenado à pena de cinco anos e dez meses Nada disso teria sido feito pela decisão então
de reclusão, no regime inicial fechado, pela exarada, que se limitara a afirmar que o réu
prática do crime de tráfico de entorpecentes. cometera tráfico de substância com alto poder
Naquela oportunidade, o magistrado de primeiro viciante e que havia sido preso em flagrante. A
grau ressaltara que, ante a reincidência, o réu não partir dessas informações, próprias do tipo do art.
teria direito à causa de diminuição de pena 33 da Lei 11.343/2006, não se poderia presumir
prevista no art. 33, § 4º, da Lei 11.343/2006. Já que o réu fosse integrante de organização
em sede de apelação, o tribunal de justiça dera criminosa, devendo ser aplicada a causa de
parcial provimento ao recurso defensivo, para, ao diminuição. Vencidos os Ministros Dias Toffoli
desconsiderar a reincidência, porquanto (relator) e Rosa Weber, que entendiam não estar
inexistente, redimensionar a pena para cinco anos caracterizada na espécie, a ―reformatio in pejus‖.
de reclusão. Contudo, apesar de ter diminuído a RHC 117756/DF, rel. Min. Dias Toffoli, red. p/
pena aplicada, a Corte também afastara a o acórdão Min. Luiz Fux, 22.9.2015. (RHC-
minorante, mas com esteio em razão diversa, 117756)
asseverando não ser possível a diminuição em (Informativo 800, 1ª Turma)
razão da quantidade e do alto teor viciante da
droga apreendida e pelas circunstâncias que teriam Substituição de pena e lesão corporal praticada
permeado o flagrante. Alegava o recorrente que o em ambiente doméstico
tribunal de origem teria promovido indevida Não é possível a substituição de pena privativa de
inovação de fundamentação ao agregar motivos liberdade por restritiva de direitos ao condenado
diversos daqueles invocados pelo juízo de piso pela prática do crime de lesão corporal praticado
para vedar a aplicação do privilégio legal, isso em em ambiente doméstico (CP, art. 129, § 9º, na
recurso exclusivo da defesa, configurando-se, redação dada pela Lei 11.340/2006). Esse o
portanto, a ―reformatio in pejus‖. Os Ministros entendimento da Segunda Turma, que denegou a
Luiz Fux e Marco Aurélio, ao dar provimento ao ordem em ―habeas corpus‖ impetrado em face de
recurso, entenderam configurada, na hipótese, a decisão que denegara a substituição de pena a
―reformatio in pejus‖, dado que o tribunal ―a quo‖, condenado, pela prática do delito em questão, a
apesar de afastar a reincidência, não dera o devido três meses de detenção em regime aberto. A
efeito a isso, fazendo a compensação com Turma destacou que a substituição da pena
argumento próprio. Assim, a situação do privativa de liberdade por sanções restritivas de
recorrente fora piorada — apesar de a pena ter direitos encontrar-se-ia condicionada ao
sido diminuída no julgamento da apelação —, preenchimento dos requisitos objetivos e
porquanto tivesse sido feita a redução, ante a subjetivos elencados no art. 44 do CP (―Art. 44.
constatação da inexistência da reincidência, a pena As penas restritivas de direitos são autônomas e
seria ainda menor se não tivesse havido a substituem as privativas de liberdade, quando: I –
compensação com outro argumento. O Ministro aplicada pena privativa de liberdade não superior
Roberto Barroso igualmente deu provimento ao a quatro anos e o crime não for cometido com
recurso, porém por fundamento diverso. Ressaltou violência ou grave ameaça à pessoa ou, qualquer
não haver ―reformatio in pejus‖ quando o tribunal que seja a pena aplicada, se o crime for culposo; II
de 2º grau, ao apreciar recurso exclusivo da – o réu não for reincidente em crime doloso; III –
defesa, mantivesse ou reduzisse a pena aplicada a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social
em 1º grau, com justificativas distintas daquelas e a personalidade do condenado, bem como os
utilizadas na sentença recorrida. Na situação em motivos e as circunstâncias indicarem que essa
comento, a conclusão da Corte de apelação substituição seja suficiente‖). Assim, a execução
acarretara uma redução de dez meses em relação à do crime mediante o emprego de violência seria
pena inicialmente imposta, resultando numa circunstância impeditiva do benefício. Com
advento da Lei 9.099/1995, acentuada parcela da Primeira Turma, que, em conclusão de julgamento
doutrina passara a sustentar que a vedação abstrata e por maioria, denegou a ordem em ―habeas
prevista no art. 44 do CP, ao menos em relação corpus‖ no qual se sustentava a não incidência da
aos crimes de menor potencial ofensivo, mencionada majorante, porque o agente teria
implicaria violação ao princípio da adquirido a substância entorpecente no mesmo
proporcionalidade, ou seja, não haveria razão para Estado em que fora preso. Segundo o Colegiado,
impedir a conversão da reprimenda a autores de existiriam provas suficientes quanto à finalidade
delitos que poderiam, em tese, ser agraciados com de consumar a ação típica, a saber: a) o paciente
a transação penal ou suspensão condicional do estava no interior de ônibus de transporte
processo. Essa linha argumentativa, porém, não interestadual com bilhete cujo destino final seria
teria espaço em relação ao crime de lesão corporal outro Estado da Federação; e, b) a fase da intenção
praticado em ambiente doméstico, por duas e a dos atos preparatórios teriam sido
razões: a) a pena máxima prevista para esse delito ultrapassadas no momento em que o agente
— três anos —, a impedir a transação penal (Lei ingressara no ônibus com a droga, a adentrar a
9.099/1995, art. 61); e b) a existência de comando fase de execução do crime. O fundamento da
proibitivo previsto no art. 41 da Lei Maria da punição de todos os atos de execução do delito
Penha (―Aos crimes praticados com violência responderia ao fim político-criminal e preventivo
doméstica e familiar contra a mulher, que presidiria o Direito Penal. Essa a razão porque
independentemente da pena prevista, não se aplica a tentativa seria punível, em atenção à necessidade
a Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995‖). político-criminal de estender a ameaça ou
Portanto, o principal fundamento — aplicação da cominação penal, prevista para os tipos delitivos
Lei 9.099/1995 — daqueles que militariam pelo consumados, também às condutas que, embora
abrandamento do art. 44 do CP deixaria de existir não consumassem o delito, estariam próximas da
quando o cenário fosse de crime de lesão corporal consumação e se realizariam com a vontade de
no seio familiar. Ademais, não seria crível obter essa efetividade. Consoante a dogmática
imaginar que a Lei Maria da Penha, que teria penal, o âmbito do fato punível começaria quando
vindo justamente tutelar com maior rigor a o sujeito iniciasse a execução do delito
integridade física das mulheres, tivesse autorizado diretamente por fatos exteriores, ainda que não
a substituição da pena corporal, mitigando a regra fosse necessário o efetivo começo da ação
geral do CP, que a proíbe. Nesse contexto, tipificada no verbo nuclear do tipo penal. Assim, o
perderia sustento a alegação de que o art. 17 da transporte da droga, uma vez iniciado, se
Lei 11.340/2006 autorizaria a substituição de pena protrairia no tempo, a revelar crime de
(Art. 17: ―É vedada a aplicação, nos casos de consumação permanente. Isso permitiria o
violência doméstica e familiar contra a mulher, de flagrante durante a execução desse transporte.
penas de cesta básica ou outras de prestação Vencido o Ministro Marco Aurélio, que afastava a
pecuniária, bem como a substituição de pena que causa de aumento versada no inciso V do art. 40
implique o pagamento isolado de multa‖). da Lei 11.343/2006. Apontava que haveria
HC 129446/MS, rel. Min. Teori Zavascki, distorção no fato de se ter como consumado crime
20.10.2015. (HC-129446) interestadual e tentado quanto à causa de aumento
(Informativo 804, 2ª Turma) de pena.
HC 122791/MS, rel. Min. Dias Toffoli,
Tráfico de entorpecente e transposição de 17.11.2015. (HC-122791)
fronteira (Informativo 808, 1ª Turma)
A incidência da causa de aumento de pena
prevista na Lei 11.343/2006 [―Art. 40. As penas Princípios e Garantias Penais
previstas nos artigos 33 a 37 desta Lei são
aumentadas de um sexto a dois terços, se: (...) V - Princípio da insignificância: reincidência e
caracterizado o tráfico entre Estados da Federação crime qualificado - 4
ou entre estes e o Distrito Federal‖] não demanda A incidência do princípio da insignificância deve
a efetiva transposição da fronteira da unidade da ser feita caso a caso. Essa a orientação do Plenário
Federação. Seria suficiente a reunião dos ao concluir julgamento conjunto de três ―habeas
elementos que identificassem o tráfico corpus‖ impetrados contra julgados que
interestadual, que se consumaria mantiveram a condenação dos pacientes por crime
instantaneamente, sem depender de um resultado de furto e afastaram a aplicação do mencionado
externo naturalístico. Esse é o entendimento da princípio — v. Informativo 771. No HC
123.108/MG, o paciente fora condenado à pena de penalmente irrelevantes, não seriam aceitáveis
um ano de reclusão e dez dias-multa pelo crime de socialmente. Ante a inação estatal, poder-se-ia
furto simples de chinelo avaliado em R$ 16,00. chegar à lamentável consequência da justiça
Embora o bem tenha sido restituído à vítima, o privada. Assim, a pretexto de favorecer o agente, a
tribunal local não substituíra a pena privativa de imunização de sua conduta pelo Estado o deixaria
liberdade por restritiva de direitos em razão da exposto a uma situação com repercussões
reincidência. Nesse caso, o Colegiado, por decisão imprevisíveis e mais graves. Desse modo, a
majoritária, denegou a ordem, mas concedeu aferição da insignificância como requisito
―habeas corpus‖ de ofício para fixar o regime negativo tipicidade, mormente em se tratando de
aberto para cumprimento de pena. No HC crimes contra o patrimônio, envolveria juízo
123.533/SP, a paciente fora condenada pela muito mais abrangente do que a simples expressão
prática de furto qualificado de dois sabonetes do resultado da conduta. Importaria investigar o
líquidos íntimos avaliados em R$ 40,00. O desvalor da ação criminosa em seu sentido amplo,
tribunal de origem não aplicara o princípio da traduzido pela ausência de periculosidade social,
insignificância em razão do concurso de agentes e pela mínima ofensividade e pela ausência de
a condenara a um ano e dois meses de reclusão, reprovabilidade, de modo a impedir que, a
em regime semiaberto e cinco dias-multa. Na pretexto da insignificância do resultado
espécie, o Pleno, por maioria, denegou a ordem, meramente material, acabasse desvirtuado o
mas concedeu ―habeas corpus‖ de ofício para fixar objetivo do legislador quando formulada a
o regime aberto para cumprimento de pena. Por tipificação legal. Aliás, as hipóteses de
fim, no HC 123.734/MG, o paciente fora irrelevância penal não teriam passado
sentenciado pelo furto de 15 bombons caseiros, despercebidas pela lei, que conteria dispositivos a
avaliados em R$ 30,00. Condenado à pena de contemplar a mitigação da pena ou da persecução
detenção em regime inicial aberto, a pena fora penal. Para se conduzir à atipicidade da conduta,
substituída por prestação de serviços à portanto, seria necessário ir além da irrelevância
comunidade e, não obstante reconhecida a penal prevista em lei. Seria indispensável
primariedade do réu e a ausência de prejuízo à averiguar o significado social da ação, a
vítima, o juízo de piso afastara a incidência do adequação da conduta, a fim de que a finalidade
princípio da insignificância porque o furto fora da lei fosse alcançada.
praticado mediante escalada e com rompimento de HC 123108/MG, rel. Min. Roberto Barroso,
obstáculo. No caso, o Colegiado, por decisão 3.8.2015. (HC-123108)
majoritária, denegou a ordem. HC 123533/SP, rel. Min. Roberto Barroso,
HC 123108/MG, rel. Min. Roberto Barroso, 3.8.2015. (HC-123533)
3.8.2015. (HC-123108) HC 123734/MG, rel. Min. Roberto Barroso,
HC 123533/SP, rel. Min. Roberto Barroso, 3.8.2015. (HC-123734)
3.8.2015. (HC-123533) (Informativo 793, Plenário)
HC 123734/MG, rel. Min. Roberto Barroso,
3.8.2015. (HC-123734) Princípio da insignificância: reincidência e
(Informativo 793, Plenário) crime qualificado - 6
No que se refere aos casos em que fora imposto o
Princípio da insignificância: reincidência e regime inicial semiaberto para cumprimento de
crime qualificado - 5 pena, o Colegiado afirmou que seria
O Plenário aduziu ser necessário ter presentes as desproporcional para a reprovação e prevenção
consequências jurídicas e sociais que decorrem do quanto à conduta imputada. De acordo com a
juízo de atipicidade resultante da aplicação do jurisprudência da Corte, seria necessário valorar
princípio da insignificância. Negar a tipicidade os vetores subjetivos a respeito da causa penal
significaria afirmar que, do ponto de vista penal, (CP, art. 59), no sentido de individualizar a pena.
as condutas seriam lícitas. Além disso, a A pena privativa de liberdade deveria se restringir
alternativa de reparação civil da vítima seria às hipóteses de reconhecida necessidade, tendo em
possibilidade meramente formal e inviável no vista seu custo elevado, as consequências
mundo prático. Sendo assim, a conduta não seria deletérias para infratores primários, ocasionais ou
apenas penalmente lícita, mas imune a qualquer responsáveis por delitos de pequena significação.
espécie de repressão. Isso estaria em descompasso Haveria situações que, embora enquadráveis no
com o conceito social de justiça, visto que as enunciado normativo, não mereceriam as
condutas em questão, embora pudessem ser consequências concebidas pelo legislador. Caberia
ao intérprete calibrar eventuais excessos e mantida pelo STJ. A Turma consignou que o
produzir a solução mais harmônica com o sistema crime de dirigir sem habilitação seria absorvido
jurídico. Dever-se-ia ter presente a regra geral de pelo delito de lesão corporal culposa em direta
proporcionalidade, compatível com a natureza e a aplicação do princípio da consunção. Isso porque,
repercussão do delito. Seria indispensável, porém, de acordo com o CTB, já seria causa de aumento
que a avaliação se desse caso a caso, pois a de pena para o crime de lesão corporal culposa na
uniformização de tratamento não seria desejável, direção de veículo automotor o fato de o agente
tendo em vista as díspares realidades sociais, não possuir permissão para dirigir ou carteira de
econômicas e culturais existentes no País. O habilitação. Assim, em decorrência da vedação de
Ministro Roberto Barroso (relator) reajustou seu ―bis in idem‖, não se poderia admitir que o mesmo
voto. Vencidos, no HC 123.108/MG, a Ministra fato fosse atribuído ao paciente como crime
Rosa Weber e os Ministros Celso de Mello, que autônomo e, simultaneamente, como causa
concediam a ordem; Edson Fachin, que não especial de aumento de pena. Além disso, o crime
conhecia do ―habeas corpus‖; e Marco Aurélio, do art. 303 do CTB, imputado ao paciente, seria
que denegava a ordem. Quanto ao HC de ação pública condicionada à representação,
123.533/SP, ficaram vencidos os Ministros Celso que, como se inferiria da própria nomenclatura, só
de Mello e Rosa Weber, que não conheciam do poderia ser perseguido mediante a representação
―habeas corpus‖, mas concediam a ordem de do ofendido. Diante da ausência de representação,
ofício; Edson Fachin, que não conhecia do seria imperativo reconhecer a extinção da
―habeas corpus‖; e Marco Aurélio, que denegava a punibilidade do crime de dirigir sem habilitação.
ordem. No que se refere ao HC 123.734/MG, HC 128921/RJ, rel. Min. Gilmar Mendes,
ficaram vencidos os Ministros Edson Fachin e 25.8.2015. (HC-128921)
Rosa Weber, que não conheciam do ―habeas (Informativo 796, 2ª Turma)
corpus‖; e o Ministro Celso de Mello, que
concedia a ordem. Tipicidade
HC 123108/MG, rel. Min. Roberto Barroso,
3.8.2015. (HC-123108) Desobediência eleitoral e absolvição sumária
HC 123533/SP, rel. Min. Roberto Barroso, Para configuração do crime de desobediência
3.8.2015. (HC-123533) eleitoral, previsto no art. 347 do Código Eleitoral
HC 123734/MG, rel. Min. Roberto Barroso, (―Recusar alguém cumprimento ou obediência a
3.8.2015. (HC-123734) diligências, ordens ou instruções da Justiça
(Informativo 793, Plenário) Eleitoral ou opor embaraços à sua execução‖) é
necessária a demonstração da ciência do agente
Crime de dirigir sem habilitação e lesão corporal em relação à ordem tida por descumprida, e que
culposa na direção de veículo esta seja emitida de forma direta e individualizada.
A Segunda Turma concedeu a ordem de ―habeas Com base nesse entendimento, a Segunda Turma
corpus‖ para restabelecer a decisão de 1º grau que resolveu questão de ordem suscitada pelo Ministro
rejeitara a denúncia quanto ao crime de dirigir sem Teori Zavascki (relator) e absolveu sumariamente
habilitação. No caso, o paciente teria sido acusado da prática do referido delito, aplicado o
denunciado pela suposta prática do delito em quanto disposto no art. 397, III, do CPP (―Art.
comento (CTB, art. 309), uma vez que, ao 397. Após o cumprimento do disposto no art. 396-
conduzir automóvel em via pública sem A, e parágrafos, deste Código, o juiz deverá
documento, colidira com outro automóvel, absolver sumariamente o acusado quando
causando lesões em passageiros de seu veículo. O verificar: ... III - que o fato narrado evidentemente
juízo entendera que o delito do art. 309 do CTB não constitui crime‖). A Turma afirmou que a
teria sido absorvido pela conduta de praticar lesão ordem supostamente descumprida na hipótese — a
corporal culposa na direção de veículo automotor, não realização de carreatas ou passeatas eleitorais
tipificada no art. 303 do CTB, crime de ação em determinado local — não teria sido dirigida
pública condicionada à representação, que não especificamente ao ora acusado, mas a todos os
fora formalizada no caso concreto, o que teria candidatos, partidos, coligações e cidadãos,
dado ensejo à extinção da punibilidade. Em mediante encaminhamento de ofício-circular pelo
seguida, a apelação interposta pelo Ministério juiz eleitoral. Entretanto, para configuração do
Público fora provida para anular a sentença e crime de desobediência eleitoral seria necessário
determinar o prosseguimento do feito referente ao que a ordem tida por descumprida fosse direta e
crime de dirigir sem habilitação, decisão que fora individualizada ao agente, o que, como visto, não
teria ocorrido, tendo em conta o caráter geral e
abstrato da referida orientação da Justiça Eleitoral. Transação Penal
Por outro lado, não haveria nos autos elementos
mínimos e suficientes a indicar que o acusado Transação penal e efeitos próprios de sentença
tivesse ciência do ofício-circular elaborado pelo penal condenatória - 4
juiz eleitoral e que o teria deliberadamente As consequências jurídicas extrapenais, previstas
descumprido. Nesse contexto, verificar-se-ia a no art. 91 do CP, são decorrentes de sentença
ausência do elemento subjetivo do tipo, no caso, o penal condenatória. Isso não ocorre, portanto,
dolo. quando há transação penal, cuja sentença tem
AP 904/RO, rel. Min. Teori Zavascki, natureza meramente homologatória, sem qualquer
14.4.2015. (AP-904) juízo sobre a responsabilidade criminal do
(Informativo 781, 2ª Turma) aceitante. As consequências geradas pela
transação penal são essencialmente aquelas
Descumprimento de ordem judicial e ciência estipuladas por modo consensual no respectivo
Configura-se o crime de responsabilidade de instrumento de acordo. Com base nesse
prefeito, nos termos da segunda parte do inciso entendimento, o Plenário proveu recurso
XIV do art. 1º do Decreto-Lei 201/1967 (―Art. 1º. extraordinário em que se discutia a possibilidade
São crimes de responsabilidade dos Prefeitos de imposição de efeitos extrapenais acessórios de
Municipais, sujeitos ao julgamento do Poder sentença penal condenatória à transação penal
Judiciário, independentemente do pronunciamento prevista na Lei 9.099/1995. No caso,
da Câmara dos Vereadores: ... XIV - Negar procedimento penal fora instaurado em desfavor
execução à lei federal, estadual ou municipal, ou do ora recorrente para apurar a prática de
deixar de cumprir ordem judicial, sem dar o contravenção tipificada no art. 58 do Decreto-Lei
motivo da recusa ou da impossibilidade, por 3.668/1941 (―Explorar ou realizar a loteria
escrito, à autoridade competente‖), a existência de denominada jogo do bicho, ou praticar qualquer
inequívoca ciência da determinação judicial. A ato relativo à sua realização ou exploração‖). Por
mera comunicação da ordem a terceiros não ocasião da lavratura do termo circunstanciado, a
atende as exigências legais. Com base nessa motocicleta de propriedade do investigado fora
orientação, e por não existir prova de ter o réu apreendida em virtude de suposto uso na execução
concorrido para a infração penal (CPP, art. 386, do ilícito. Ocorre que o Ministério Público
V), a Primeira Turma absolveu o réu. Na espécie, ofertara transação penal que, aceita pelo
quando prefeito ao tempo dos fatos, fora acusado recorrente e integralmente cumprida, culminara
de descumprir ordem judicial sem dar o motivo da em sentença extintiva da punibilidade, a qual, no
recusa ou da impossibilidade de fazê-lo, por entanto, impusera a perda do veículo
escrito, à autoridade competente. A Turma anteriormente apreendido. O recorrente sustentava
apontou que a projeção desse entendimento se que somente a sentença condenatória seria capaz
guiaria pelos mesmos parâmetros utilizados para de produzir o confisco de bens como efeito
aferição do dolo nos delitos em que o ato de automático. Além disso, alegava: a) ofensa ao
desobedecer figurar como elementar do tipo, cuja direito de propriedade, porquanto não observado o
previsão genérica é a do art. 330 do CP, sobre o devido processo legal; e b) afronta ao princípio da
qual doutrina e jurisprudência seriam unânimes presunção de inocência, uma vez que teriam sido
em exigir a ciência inequívoca do agente quanto à aplicados à transação os efeitos equivalentes ao
ordem descumprida. Esclareceu que a decisão ato de confissão — v. Informativo 748. O
liminar, cujo descumprimento criminoso fora Tribunal afirmou que a Lei 9.099/1995 introduzira
atribuído ao acusado, bem como aquela que no sistema penal brasileiro o instituto da transação
ampliara os seus efeitos, não teriam sido penal, que permitiria a dispensa da persecução
endereçadas ao prefeito, mas aos seus penal pelo magistrado em crimes de menor
procuradores judiciais. Por fim, ponderou que o potencial ofensivo, desde que o suspeito da prática
fato de o Município não ser pequeno poderia do delito concordasse em se submeter, sem
implicar a possibilidade de que a gestão qualquer resistência, ao cumprimento de pena
administrativa fosse desconcentrada e restritiva de direito ou multa que lhe tivesse sido
descentralizada para além do gabinete do prefeito. oferecida pelo representante do Ministério Público
AP 555/SC, rel. Min. Rosa Weber, 6.10.2015. em audiência (art. 76). Assim, a lei teria
(AP-555) relativizado, de um lado, o princípio da
(Informativo 802, 1ª Turma) obrigatoriedade da instauração da persecução
penal em crimes de ação penal pública de menor Inq 3731/DF, rel. Min. Gilmar Mendes,
ofensividade e, de outro, teria autorizado ao 2.2.2016. (Inq-3731)
investigado dispor das garantias processuais (Informativo 813, 2ª Turma)
penais que o ordenamento lhe conferisse. Por sua
vez, as consequências geradas pela transação Licitação e demonstração de prejuízo ao erário
penal seriam apenas as definidas no instrumento ou favorecimento - 4
do acordo. Além delas, o único efeito acessório A Turma mencionou, quanto à inexigibilidade de
gerado pela homologação do ato estaria previsto licitação, que teria sido fundada no art. 25, II, da
no § 4º do art. 76 da Lei 9.099/1995 (―... Lei 8.666/1993. O objeto da contratação fora
registrada apenas para impedir novamente o enquadrado como ―serviço técnico de treinamento
mesmo benefício no prazo de cinco anos‖). Os e aperfeiçoamento de pessoal, de natureza
demais efeitos penais e civis decorrentes das singular, com profissionais de notória
condenações penais não seriam constituídos (art. especialização‖. O colegiado afirmou que a
76, § 6º). Outrossim, a sanção imposta com o hipótese não se harmonizaria ao dispositivo legal,
acolhimento da transação não decorreria de pois a empresa que formulara proposta para
qualquer juízo estatal a respeito da culpabilidade prestar o serviço contratado não demonstrara a
do investigado, tratando-se de ato judicial especialização exigida. Essa pessoa jurídica teria
homologatório. Além disso, o juiz, em caso de acostado atestados de competência técnica
descumprimento dos termos do acordo, não referentes à capacitação e aperfeiçoamento de
poderia substituir a medida restritiva de direito pessoal voltado para as áreas de administração e
consensualmente fixada por pena privativa de ―marketing‖, mas não para área atinente ao
liberdade compulsoriamente aplicada. treinamento pretendido — capacitação de
RE 795567/PR, rel. Min. Teori Zavascki, educadores do ensino de jovens e adultos.
28.5.2015. (RE-795567) Ademais, a procuradoria administrativa teria
(Informativo 787, Plenário) opinado pela viabilidade da contratação, mas
alertara para a necessidade da justificativa de
ANO DE 2016 preços. No entanto, a procuradoria-geral do
Estado-Membro considerara que a adoção de
parecer anterior suprimiria a necessidade. Ocorre
Tipicidade que o parecer mencionado não faria qualquer
menção à justificativa do preço. A realização de
Licitação e demonstração de prejuízo ao erário pesquisa de mercado após a escolha da
ou favorecimento - 3 fornecedora, muito embora não provasse, por si
A Segunda Turma rejeitou denúncia imputada à só, qualquer ilícito, levantaria suspeita para o
deputada federal, então secretária de estado, pela a direcionamento indevido da contratação. Esses
prática do crime disposto no art. 312, ―caput‖, do seriam elementos adicionais a indicar que a
CP (peculato desvio), desclassificou essa conduta contratação direta não teria sido a decisão
para a prevista no art. 315 do CP e pronunciou a juridicamente correta. Contudo, a jurisprudência
prescrição da pretensão punitiva do Estado, com a do STF, ao interpretar o art. 89 da Lei 8.666/1993,
consequente extinção da punibilidade da exigiria a demonstração do prejuízo ao erário e a
denunciada. Além disso, rejeitou a peça acusatória finalidade específica de favorecimento indevido
quanto ao suposto cometimento do crime do art. para reconhecer a adequação típica. O objetivo
89 da Lei 8.666/1993 (inexigibilidade indevida de desse entendimento seria separar os casos em que
licitação). No caso, segundo a inicial acusatória, a ocorrera interpretação equivocada das normas, ou
indiciada teria desviado vultosa quantia de mesmo puro e simples erro do administrador
convênio entre Estado-Membro e o Fundo daqueles em que a dispensa buscara efetivo
Nacional de Desenvolvimento da Educação - favorecimento dos agentes envolvidos.
FNDE. Teria, também, deixado de exigir licitação Mencionou que, a despeito disso tudo, os
fora das hipóteses previstas em lei, ao contratar elementos não demonstrariam que a denunciada
determinada empresa para prestar serviços de tivesse agido com intenção de causar prejuízo ao
capacitação de professores — v. Informativo 795. erário ou favorecer a contratada. Não haveria
A Turma assinalou, no que se refere ao art. 312 do elemento que indicasse que a denunciada tivesse
CP, não haver plausibilidade da acusação, uma pessoalmente exercido influência na escolha.
vez que os recursos teriam sido incorporados ao Assim, em princípio, a denunciada teria agido
Tesouro — caixa único do Estado. com a crença de que a contratação seria
conveniente e adequada e de que a licitação seria A Segunda Turma, em conclusão de julgamento,
inexigível de acordo com os critérios jurídicos. reputou improcedente acusação formulada contra
Por fim, não vislumbrou elementos suficientes a deputado federal pela suposta prática do crime
indicar vontade de causar prejuízo ao erário ou previsto no art. 34, ―caput‖, da Lei 9.605/1998
favorecer a contratada. (―Pescar em período no qual a pesca seja proibida
Inq 3731/DF, rel. Min. Gilmar Mendes, ou em lugares interditados por órgão competente:
2.2.2016. (Inq-3731) Pena - detenção de um ano a três anos ou multa,
(Informativo 813, 2ª Turma) ou ambas as penas cumulativamente‖) — v.
Informativo 791. No caso, de acordo com o
Pureza da droga e dosimetria da pena relatório de fiscalização, a autoridade ambiental
O grau de pureza da droga é irrelevante para fins abordara o deputado e outras duas pessoas em
de dosimetria da pena. Essa a conclusão da embarcação fundeada em área marítima
Segunda Turma, que indeferiu a ordem em pertencente à unidade de conservação federal de
―habeas corpus‖ impetrado em favor de proteção integral. A Turma, de início, afastou a
denunciado pela suposta prática do crime descrito preliminar de inépcia da denúncia. Observou que
no art. 33, ―caput‖, c/c o art. 40, I e III, todos da essa peça processual descreveria de forma
Lei 11.343/2006. A defesa sustentava que deveria detalhada a ação empreendida, com menção ao
ser realizado laudo pericial a aferir a pureza da dia, ao local e às circunstâncias do ato tido por
droga apreendida, para que fosse possível verificar criminoso, a possibilitar o pleno exercício da
a dimensão do perigo a que exposta a saúde ampla defesa e do contraditório. Em seguida,
pública, de modo que a reprimenda fosse reputou não existir, no caso concreto, o requisito
proporcional à potencialidade lesiva da conduta. A da justa causa a propiciar o prosseguimento da
Turma entendeu ser desnecessário determinar a ação penal, especialmente pela mínima
pureza do entorpecente. De acordo com a lei, ofensividade da conduta do agente, pela ausência
preponderam apenas a natureza e a quantidade da de periculosidade social da ação, pelo reduzido
droga apreendida para o cálculo da dosimetria da grau de reprovabilidade do comportamento e pela
pena. inexpressividade da lesão jurídica provocada.
HC 132909/SP, rel. Min. Cármen Lúcia, Assim, apesar de a conduta do denunciado
15.3.2016. (HC-132909) amoldar-se à tipicidade formal e subjetiva, não
(Informativo 818, 2ª Turma) haveria a tipicidade material, consistente na
relevância penal da conduta e no resultado típico,
Regime inicial e tráfico de drogas em razão da insignificância da lesão produzida no
bem jurídico tutelado. A jurisprudência seria no
É legítima a fixação de regime inicial semiaberto, sentido da aplicabilidade do princípio da
tendo em conta a quantidade e a natureza do insignificância aos crimes ambientais, tanto com
entorpecente, na hipótese em que ao condenado relação aos de perigo concreto — em que haveria
por tráfico de entorpecentes tenha sido aplicada dano efetivo ao bem jurídico tutelado —, quanto
pena inferior a 4 anos de reclusão. Esse o aos de perigo abstrato, como no art. 34, ―caput‖,
entendimento da Segunda Turma ao indeferir a da Lei 9.605/1998. No processo em exame, não se
ordem em ―habeas corpus‖. O Colegiado destacou produzira prova material de qualquer dano efetivo
que, no caso, o acórdão recorrido fixara o regime ao meio ambiente. Ademais, mesmo diante de
inicial semiaberto baseando-se na quantidade e crime de perigo abstrato, não seria possível
natureza do entorpecente, observado o quanto dispensar a verificação ―in concreto‖ do perigo
disposto no art. 33, § 2º, ―b‖, e § 3º, do CP c/c o real ou mesmo potencial da conduta praticada pelo
art. 42 da Lei 11.343/2006, em harmonia com a acusado com relação ao bem jurídico tutelado.
jurisprudência consolidada do STF (HC Esse perigo real não se verificaria na espécie
131.887/SC, DJe de 7.3.2016). vertente. Portanto, seria imperioso assentar a
HC 133308/SP, rel. Min. Cármen Lúcia, atipicidade material da conduta, pela completa
29.3.2016. (HC133308) ausência de ofensividade ao bem jurídico tutelado
(Informativo 819, 2ª Turma) pela norma penal. O acusado estaria em pequena
embarcação quando teria sido surpreendido em
Tipicidade contexto de pesca rústica, com vara de pescar,
linha e anzol. Não estaria em barco grande,
Crime ambiental e dano efetivo ao bem jurídico munido de redes, arrasto nem com instrumentos
tutelado - 2 de maior potencialidade lesiva ao meio ambiente.
Inq 3788/DF, rel. Min. Cármen Lúcia,
1°.3.2016. (Inq-3788)
(Informativo 816, 2ª Turma)
período além do razoável por força de decisão em
DIREITO PROCESSUAL PENAL – STF
processo criminal. Dada a configuração fática
(INFORMATIVOS 770-819) daquele caso — constrangimento ilegal decorrente
de mora na prestação jurisdicional no âmbito
processual penal; persistência do afastamento
ANO DE 2014 cautelar em razão do recebimento da denúncia
pelo STJ; e afastamento do paciente por lapso
temporal excessivo —, a ação de ―habeas corpus‖
Medida cautelar de afastamento de cargo seria a via processual adequada para o pleito.
público e cabimento de “habeas corpus” - 1 Portanto, apesar das decisões em sentido
A 2ª Turma iniciou julgamento de ―habeas contrário, se o afastamento imposto decorresse de
corpus‖ impetrado em face de decisão do STJ que decisão em processo penal ou investigação
determinara o afastamento do ora paciente de suas criminal, e houvesse dúvida quanto à justeza do
funções de Conselheiro do Tribunal de Contas do tempo, seria cabível o ―habeas corpus‖, porquanto
Estado do Amapá, além do impedimento de sua se trataria, na hipótese, de um tipo de restrição
entrada nas dependências da referida corte de associada a processo criminal ou investigação
contas, a proibição de utilização de veículos e de criminal. Não se trataria, portanto, de usar o
recebimento de vantagens decorrentes do efetivo referido ―writ‖ constitucional para outro objeto
exercício no cargo, como passagem aérea, diárias, diferente daquilo que a Constituição preconizaria.
ajuda de custo, telefone e quaisquer outros bens HC 121089/AP, rel. Min. Gilmar Mendes,
do tribunal, até a apreciação de denúncia oferecida 2.12.2014. (HC-121089)
em seu desfavor. O impetrante sustenta que: a) a
decisão seria nula, visto que o afastamento por
prazo indeterminado não teria sido requerido pelo Medida cautelar de afastamento de cargo
Ministério Público; b) o afastamento do cargo se público e cabimento de “habeas corpus” - 2
daria por prazo desproporcional, e, portanto, seria No mérito, o relator asseverou que o
verdadeira antecipação de pena; c) a medida não afastamento do paciente do cargo perduraria por
seria necessária, tendo em conta a conclusão das mais de quatro anos, tendo-se iniciado em
investigações; e d) o ato coator seria baseado 10.9.2010, interrompido este período por apenas
exclusivamente na gravidade do delito. O Ministro 31 dias. A acusação fora formalizada em
Gilmar Mendes (relator) concedeu a ordem para 13.4.2012, sem que sua admissão tivesse sido
desconstituir a decisão do STJ no ponto em que analisada. Apesar da complexidade da
fora determinado o afastamento do paciente do investigação e da posterior acusação que levara ao
cargo, além de impostas outras medidas afastamento, este último já perduraria além do
cautelares. Primeiramente, rejeitou questão aceitável. No referido precedente — HC
preliminar relativa à suposta inadequação da via 90.617/PE —, consignara-se que o prazo de dois
eleita em razão de não haver, no caso, ameaça à anos, para além do qual o STF teria dado por
liberdade de locomoção do paciente. Afirmou que configurado ―excesso de prazo gritante‖ para
inexistiria divergência teórica quanto ao fato de o prisões, poderia ser transportado para as medidas
―habeas corpus‖ se destinar a proteger o indivíduo cautelares de afastamento de cargo ou de função
contra qualquer medida restritiva à liberdade de ir, pública. No caso em análise, mesmo que
vir e permanecer (CF, art. 5º, LXVIII). Ademais, a descontada a fase de investigação, o referido prazo
jurisprudência do STF seria prevalecente no estaria ultrapassado. Há mais de dois anos teria
sentido de que o aludido remédio constitucional sido superada a fase de acusação e resposta na
teria como escopo a proteção da liberdade de ação penal, a pender a análise da admissibilidade
locomoção. Seu cabimento teria parâmetros da acusação, e nada indicaria demora imputável à
constitucionalmente estabelecidos, justificando-se defesa. Além disso, não haveria sequer sinalização
a impetração sempre que alguém sofresse, ou se de data para julgamento pelo STJ. Ou seja,
achasse ameaçado de sofrer, violência ou coação existiria justo receio de que a medida tendesse a se
em sua liberdade de ir e vir, por ilegalidade ou tornar perene. Em seguida, pediu vista dos autos a
abuso de poder. Porém, a despeito da força que Ministra Cármen Lúcia.
essa interpretação teria assumido na sua HC 121089/AP, rel. Min. Gilmar Mendes,
jurisprudência, o STF, quando do julgamento do 2.12.2014. (HC-121089)
HC 90.617/PE (DJe de 7.3.2008), decidira
reintegrar magistrado afastado do cargo por
Art. 383 do CP: “emendatio libelli” e Ministra Cármen Lúcia, que não concedia a ordem
“reformatio in pejus” por entender não ter havido, na situação dos autos,
Há ―reformatio in pejus‖ no acórdão que, a ―reformatio in pejus‖.
em julgamento de recurso exclusivo da defesa, HC 123251/PR, rel. Min. Gilmar Mendes,
reforma sentença condenatória para dar nova 2.12.2014. (HC-123251)
definição jurídica ao fato delituoso — ―emendatio
libelli‖ —, mantida a pena imposta, porém Busca e apreensão e autorização judicial - 1
desclassificado o crime de furto qualificado (CP, A 2ª Turma iniciou julgamento de ―habeas
155, § 4º, II) para o crime de peculato (CP, art. corpus‖ em que se alega a nulidade de provas
312, § 1º). Com base nesse entendimento, a 2ª obtidas a partir de mandado judicial inespecífico.
Turma denegou ―habeas corpus‖, mas, por No caso, ao cumprir mandado de busca e
maioria, concedeu a ordem de ofício apenas para apreensão que teria como alvo o endereço
reenquadrar a condenação no art. 155, § 4º, II, do profissional do paciente, localizado no 28º andar
CP, conforme constara na sentença condenatória. de edifício, foram apreendidos dois equipamentos
O Colegiado, em preliminar, afastou alegação de informática no endereço de instituição
relativa à suposta prescrição da pretensão financeira localizada no 3º andar do mesmo
punitiva. No mérito, afirmou que, de acordo com a edifício, sem que houvesse mandado judicial para
jurisprudência do STF, seria possível a realização esse endereço. O Ministro Gilmar Mendes
da ―emendatio libelli‖ (CP: ―Art. 383. O juiz, sem (relator) concedeu a ordem para determinar a
modificar a descrição do fato contida na denúncia imediata devolução do material apreendido à
ou queixa, poderá atribuir-lhe definição jurídica referida instituição financeira. De início,
diversa, ainda que, em conseqüência, tenha de reconheceu a legitimidade do ―habeas corpus‖
aplicar pena mais grave‖) em 2º grau de para aferir procedimentos de feição penal ou
jurisdição, mesmo nas hipóteses de recurso processual penal. Afirmou que a ―casa‖ seria
exclusivo da defesa, desde que respeitados os protegida contra o ingresso não consentido, sem
limites estabelecidos pelo art. 617 do CPP (―O autorização judicial, na forma do art. 5º, XI, da CF
tribunal, câmara ou turma atenderá nas suas (―a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém
decisões ao disposto nos arts. 383, 386 e 387, no nela podendo penetrar sem consentimento do
que for aplicável, não podendo, porém, ser morador, salvo em caso de flagrante delito ou
agravada a pena, quando somente o réu houver desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o
apelado da sentença‖). No caso, o tribunal de 2º dia, por determinação judicial‖).
grau, ao readequar a capitulação legal à narrativa HC 106566/SP, rel. Min. Gilmar Mendes,
apresentada — o fato descrito na acusação teria 9.12.2014. (HC-106566)
sido praticado por funcionário público equiparado
(CP, art. 327, § 1º) —, mantivera a pena privativa
de liberdade anteriormente aplicada, na tentativa Busca e apreensão e autorização judicial - 2
de não gerar prejuízo ao sentenciado. Porém, ao se O relator ressaltou que, embora a
ponderar atentamente os efeitos da condenação e Constituição empregasse o termo ―casa‖ à
as circunstâncias referentes à ―emendatio libelli‖ proteção contra a busca domiciliar não autorizada,
efetivada, seria inevitável concluir pela essa proteção iria além do ambiente doméstico. O
superveniência de vedada ―reformatio in pejus‖. art. 150, §4º, do CP, ao definir ―casa‖ para fins do
Com efeito, não se poderia olvidar não ser a pena crime de violação de domicílio, traria conceito
fixada o único efeito ou única circunstância a abrangente do termo (―A expressão ‗casa‘
permear uma condenação. Haveria regra compreende: I - qualquer compartimento
específica para os condenados pela prática de habitado; II - aposento ocupado de habitação
crime contra a Administração Pública, como o coletiva; III - compartimento não aberto ao
peculato: a progressão de regime do cumprimento público, onde alguém exerce profissão ou
da pena respectiva seria condicionada à reparação atividade‖). Assim, o conceito de ―casa‖ estender-
do dano causado ou à devolução do produto do se-ia aos escritórios profissionais. Reputou que a
ilícito praticado (CP, art. 33, § 4º). Na espécie, busca e apreensão de documentos e objetos
apesar de ter sido aplicado o regime inicial aberto realizados por autoridade pública no domicílio de
ao paciente, não se poderia descartar que, durante alguém, sem autorização judicial fundamentada,
a execução da reprimenda, este sofresse regressão revelar-se-ia ilegítima, e o material eventualmente
de regime e fosse prejudicado pela ―emendatio apreendido configuraria prova ilicitamente obtida.
libelli‖, aparentemente inofensiva. Vencida a Assim, refutou o argumento de que o mandado de
busca e apreensão não precisaria indicar endereço presunção deveria militar em favor do acusado. O
determinado. Enfatizou que a legislação arcabouço normativo não poderia ser interpretado
processual determinaria que o mandado a ponto de gerar perplexidade.
contivesse, precisamente, o local da diligência RE 591054/SC, rel. Min. Marco Aurélio,
(CPP, art. 243). A indicação, no caso concreto, 17.12.2014. (RE-591054)
não deixara margem para dúvidas e não teria
ocorrido equívoco na localização do endereço da Inquéritos e ações penais em andamento e maus
busca. O local não seria de difícil identificação, antecedentes - 5
como comumente ocorreria no meio rural. O Plenário asseverou que o transcurso do
Concluiu que, desde o início, os policiais teriam quinquênio previsto no art. 64, I, do CP não seria
identificado o 28º andar como alvo da diligência. óbice ao acionamento do art. 59 do mesmo
Em seguida, pediu vista a Ministra Cármen Lúcia. diploma. Por outro lado, conflitaria com a ordem
HC 106566/SP, rel. Min. Gilmar Mendes, jurídica considerar, para a majoração da pena-
9.12.2014. (HC-106566) base, processos que tivessem resultado na
aceitação de proposta de transação penal (Lei
9.099/1995, art. 76, § 6º); na concessão de
Inquéritos e ações penais em andamento e maus remissão em procedimento judicial para apuração
antecedentes - 4 de ato infracional previsto no ECA, com aplicação
Inquéritos policiais ou ações penais sem de medida de caráter reeducacional; na extinção
trânsito em julgado não podem ser considerados da punibilidade, entre outros, excetuados os
como maus antecedentes para fins de dosimetria resultantes em indulto individual, coletivo ou
da pena. Esse o entendimento do Plenário que, em comutação de pena. Por fim, as condenações por
conclusão de julgamento e por maioria, desproveu fatos posteriores ao apurado, com trânsito em
recurso extraordinário — v. Informativo 749. O julgado, não seriam aptas a desabonar, na primeira
Colegiado explicou que a jurisprudência da Corte fase da dosimetria, os antecedentes para efeito de
sobre o tema estaria em evolução, e a tendência exacerbação da pena-base. No ponto, a incidência
atual seria no sentido de que a cláusula penal só serviria para agravar a medida da pena
constitucional da não culpabilidade (CF, art. 5º, quando ocorrida antes do cometimento do delito,
LVII) não poderia ser afastada. Haveria independentemente de a decisão alusiva à prática
semelhante movimento por parte da doutrina, a haver transitado em julgado em momento prévio.
concluir que, sob o império da nova ordem Deveria ser considerado o quadro existente na
constitucional, somente poderiam ser valoradas data da prática delituosa. O Ministro Teori
como maus antecedentes as decisões Zavascki, ao aditar seu voto, ressalvou que as
condenatórias irrecorríveis. Assim, não poderiam ações penais que já contivessem sentença
ser considerados para esse fim quaisquer outras condenatória, ainda que não definitiva, não
investigações ou processos criminais em deveriam receber o mesmo tratamento dos
andamento, mesmo em fase recursal. Esse ponto inquéritos ou das ações penais pendentes de
de vista estaria em consonância com a moderna sentença para fins de maus antecedentes. Assim,
jurisprudência da Corte Interamericana de Direitos processos em andamento não poderiam ser
Humanos e do Tribunal Europeu dos Direitos do considerados como maus antecedentes, a não ser
Homem. Ademais, haveria recomendação por que se cuidasse de ação penal em que houvesse
parte do Comitê de Direitos Humanos das Nações sentença condenatória proferida. Entretanto, no
Unidas, no sentido de que o Poder Público deveria caso concreto, em nenhum dos processos
abster-se de prejulgar o acusado. Colacionou, envolvidos já existiria sentença, de modo que
também, o Enunciado 444 da Súmula do STJ (―É manteve a conclusão proferida anteriormente.
vedada a utilização de inquéritos policiais e ações Vencidos os Ministros Ricardo Lewandowski
penais em curso para agravar a pena-base‖). O (Presidente), Rosa Weber, Luiz Fux e Cármen
lançamento, no mundo jurídico, de enfoque ainda Lúcia, que proviam o recurso.
não definitivo e, portanto, sujeito a condição RE 591054/SC, rel. Min. Marco Aurélio,
resolutiva, potencializaria a atuação da polícia 17.12.2014. (RE-591054)
judiciária, bem como a precariedade de certos
pronunciamentos judiciais. Nesse sentido, uma Busca e apreensão e autorização judicial - 3
vez admitido pelo sistema penal brasileiro o Em conclusão de julgamento, a 2ª Turma
conhecimento do conteúdo da folha penal como concedeu a ordem em ―habeas corpus‖ para
fator a se ter em conta na fixação da pena, a
determinar a imediata devolução de material porquanto se trataria, na hipótese, de um tipo de
apreendido em procedimento de busca e apreensão restrição associada a processo criminal ou
realizado no bojo de persecução penal — v. investigação criminal. Não se trataria, portanto, de
Informativo 771. Na espécie, em cumprimento a usar o referido ―writ‖ constitucional para outro
mandado de busca e apreensão que teria como objeto diferente daquilo que a Constituição
alvo o endereço profissional do paciente, preconizaria. Vencida, no ponto, a Ministra
localizado no 28º andar de determinado edifício, Cármen Lúcia, que entendia incabível o ―writ‖,
teriam sido apreendidos equipamentos de dados os limites constitucionais do ―habeas
informática no endereço de instituição financeira corpus‖ — proteção à liberdade de locomoção —,
localizada no 3º andar do mesmo edifício, porém, o que inviabilizaria o conhecimento de questões
sem que houvesse mandado judicial para esse relativas ao referido afastamento e de eventual
endereço. O Colegiado, inicialmente, reconheceu nulidade da medida cautelar imposta. No mérito, a
a legitimidade do ―habeas corpus‖ para aferir Turma, ao reafirmar o quanto decidido no HC
procedimentos de feição penal ou processual 90.617/PE (DJe de 7.3.2008), destacou que o
penal, inclusive para o reconhecimento de afastamento do paciente do cargo perduraria por
eventual ilicitude de provas obtidas em inquérito mais de quatro anos, tendo-se iniciado em
policial. Quanto ao mérito, destacou que a busca e 10.9.2010, interrompido este período por apenas
apreensão de documentos e objetos realizados por 31 dias. A acusação fora formalizada em
autoridade pública no domicílio de alguém, sem 13.4.2012, sem que sua admissão tivesse sido
autorização judicial fundamentada, revelar-se-ia analisada. Apesar da complexidade da
ilegítima, e o material eventualmente apreendido investigação e da posterior acusação que levara ao
configuraria prova ilicitamente obtida. Assim, não afastamento, este último já perduraria além do
seria procedente o argumento de que o mandado aceitável. Leia o inteiro teor do voto condutor na
de busca e apreensão não precisaria indicar seção ―Transcrições‖ deste Informativo.
endereço determinado. A legislação processual HC 121089/AP, rel. Min. Gilmar Mendes,
determinaria que os mandados judiciais de busca e 16.12.2014. (HC-121089)
apreensão — notadamente de busca e apreensão
domiciliar — não poderiam revestir-se de
conteúdo genérico, nem poderiam mostrar-se ANO DE 2015
omissos quanto à indicação, o mais precisamente
possível, do local objeto dessa medida Ação Penal
extraordinária, em conformidade com o art. 243
do CPP. Ação penal e princípio da duração razoável do
HC 106566/SP, rel. Min. Gilmar Mendes, processo
16.12.2014. (HC-106566)
A Primeira Turma, por maioria, concedeu ―habeas
corpus‖, de ofício, para extinguir ação penal, com
Medida cautelar de afastamento de cargo
público e cabimento de “habeas corpus” - 3 resolução do mérito, e absolver o réu por
Em conclusão de julgamento, a 2ª Turma, por atipicidade de conduta. O acusado, à época
maioria, concedeu a ordem em ―habeas corpus‖ prefeito, fora denunciado por crime contra a Lei
para desconstituir decisão proferida pelo STJ, na de Licitações (Lei 8.666/1993), e magistrado
parte em que determinado o afastamento cautelar estadual recebera a inicial acusatória. Na
do ora paciente de suas funções de Conselheiro do sequência, o réu fora diplomado para o cargo de
Tribunal de Contas do Estado do Amapá e deputado federal e o juízo de origem declinara do
impostas outras medidas cautelares até a processo para o STF. O Ministro Roberto Barroso
apreciação da denúncia oferecida em seu desfavor (relator) destacou que, quando elaborara seu
— v. Informativo 770. O Colegiado, relatório e voto, no sentido da absolvição, o
primeiramente, rejeitou, por maioria, questão acusado ainda era titular de mandato, porém, não
preliminar relativa à suposta inadequação da via se reelegera e, por isso, não mais deteria o foro
eleita em razão de não haver, no caso, ameaça à por prerrogativa de função no STF. Ademais, o
liberdade de locomoção do paciente. Asseverou próprio Ministério Público teria opinado no
que se a eventual imposição de afastamento do sentido da absolvição. Assim, sem negar a
cargo decorresse de decisão em processo penal ou independência das esferas civil e penal, o
investigação criminal, e houvesse dúvida quanto à Colegiado frisou que haveria pedido formulado
justeza do tempo, seria cabível o ―habeas corpus‖, em ação civil pública que fora julgado
improcedente, além de uma decisão favorável ao Competência
paciente por parte do tribunal de contas estadual.
Feitas essas considerações, a Turma concluiu estar Interceptação telefônica e autoridade competente
caracterizada a atipicidade, nos termos do CPP -2
(―Art. 386. O juiz absolverá o réu, mencionando a Em conclusão de julgamento, a 1ª Turma negou
causa na parte dispositiva, desde que reconheça: ... provimento a agravo regimental e manteve
III - não constituir o fato infração penal‖). Por decisão que negou sequência a recurso
isso, deveria ser aplicado o princípio da duração extraordinário por falta de prequestionamento. No
razoável do processo, somado ao direito imanente caso, o juízo autorizara a quebra do sigilo
do réu de se ver livre da acusação. Vencida a telefônico do agravante, vereador à época dos
Ministra Rosa Weber, que declinava da fatos. Em seguida, o tribunal de origem declarara
competência para julgamento do feito pelo a incompetência dessa autoridade judicial com
magistrado estadual. Aduzia que o STF não teria base em norma da Constituição do Estado do Rio
amparo constitucional para condenar ou absolver de Janeiro que estabelece a competência do
cidadão que não estivesse no gozo de prerrogativa tribunal de justiça para processar e julgar ação
de função. Apontava que apenas poderia conceder contra vereador, mas legitimara as provas
a ordem de ofício se tivesse havido alguma produzidas na fase investigatória — v.
ilegalidade ou teratologia, o que não ocorrera. Informativo 640. O Colegiado, por maioria,
AP 568/SP, rel. Min. Roberto Barroso, rejeitou a proposta formulada pelo Ministro Dias
14.4.2015. (AP-568) Toffoli (relator) no sentido da concessão da
(Informativo 781, 1ª Turma) ordem, de ofício. O Ministro Luiz Fux salientou
que a nulidade não seria proclamada nas hipóteses
HC e trancamento da ação penal em que fosse possível a ratificação de atos
prolatados por juiz incompetente inclusive em
A Primeira Turma deu provimento a recurso desfavor do réu. O Ministro Marco Aurélio
ordinário em ―habeas corpus‖ para trancar ação sublinhou que a Constituição (CF, art. 28, X)
penal por falta de justa causa. No caso, a paciente garantiria ao tribunal de justiça a competência
fora denunciada, em setembro de 2013, por não ter para julgar os prefeitos. Entretanto, essa regra não
entregado ao seu constituinte valor resultante de poderia ser ampliada pelas Constituições estaduais
reclamação trabalhista. Na denúncia, consignara- para abarcar os vereadores. Pontuou, ademais, que
se que o prejudicado provocara a instauração de à época em que determinada à interceptação
procedimento disciplinar perante a Ordem dos telefônica, haveria decisão do Órgão Especial do
Advogados do Brasil - OAB. Ocorre que, no Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro
juizado especial cível, houvera acordo e a no sentido da inconstitucionalidade dessa
recorrente, então ré, assumira a obrigação de prerrogativa de foro. Vencido o proponente, que
realizar o pagamento. O magistrado determinara aduzia que a prova coligida seria nula, porquanto
que se oficiasse à delegacia de polícia, onde autorizada por magistrado sabidamente
apresentada a notícia do crime de apropriação incompetente.
indébita, sobre o referido ajuste. A Turma RE 632343 AgR/RJ, rel. Min. Dias Toffoli,
salientou que o acordo firmado no juízo cível que 3.3.2015. (RE-632343)
colocara fim à pendência ocorrera em novembro (Informativo 776, 1ª Turma)
de 2012 e que a denúncia fora formalizada quase
um ano após. Assim, não houvera a indispensável Criação de nova vara e “perpetuatio
comunicação, sendo o Judiciário acionado pelo jurisdictionis” - 4
Ministério Público. A excepcionalidade da A criação superveniente de vara federal na
situação seria suficiente para se trancar a ação localidade de ocorrência de crime doloso contra a
penal. Consignou, ainda, que a relação jurídica vida não enseja a incompetência do juízo em que
cível repercutira, inclusive, sobre cobrança junto já se tenha iniciado a ação penal. Com base nesse
ao juizado especial. Ademais, o acerto de contas entendimento, a Primeira Turma, em conclusão de
teria se dado em data anterior à propositura da julgamento e por maioria, denegou a ordem em
ação penal. ―habeas corpus‖ em que se pleiteava o
RHC 125283/SP, rel. Min. Marco Aurélio, reconhecimento de nulidade de acórdão do STJ,
4.8.2015. (RHC-125283) proferido em sede de reclamação, que cassara
(Informativo 793, 1ª Turma) decisão do juízo federal em Belo Horizonte/MG, o
qual havia declinado de sua competência ante a
criação de vara federal em Unaí/MG, local em que Recurso ordinário e devolução da matéria
teriam sido praticados homicídios de auditores- veiculada
fiscais do trabalho. Sustentava-se, ainda, a A questão referente à suposta incompetência da
ocorrência de cerceamento de defesa em face da justiça estadual para processar e julgar o feito não
ausência de intimação da parte interessada para se pode ser apreciada por essa Corte se a matéria não
manifestar sobre a referida reclamação — v. fora analisada pelo STJ, sob pena de supressão de
Informativo 722. O Colegiado, de início, afastou a instância. Com base nessa orientação, a Primeira
alegação de nulidade do julgamento da Turma deu parcial provimento a agravo
reclamação pelo STJ — sob a premissa de regimental e determinou que o STJ conheça e
eventual cerceamento de defesa —, visto que seria julgue, como entender de direito, se compete à
recomendável, mas não obrigatória, a intimação Justiça estadual ou à Justiça federal julgar o
do ora paciente para acompanhá-la na condição de agravante. Na espécie, o paciente (vereador) fora
interessado. Em relação à alegada incompetência denunciado, na companhia de outros acusados,
superveniente da vara federal de Belo porque teriam se associado, em unidade de ações e
Horizonte/MG, a Turma asseverou que incidiria, desígnios, de forma estável e permanente, para o
no campo do processo penal, a figura da fim de praticar diversos crimes, notadamente os
―perpetuatio jurisdicionis‖, reiterado o que delitos de fraude à licitação, superfaturamento de
decidido no RHC 83.181/RJ (DJU de 22.10.2004). compras e serviços pela prefeitura e pela câmara
Nesse julgado, o STF entendera que a criação de municipal. O STJ não conhecera da alegada
novas varas, por intermédio de modificações na lei incompetência absoluta da Justiça estadual, uma
de organização judiciária, não alteraria a vez que a matéria não fora suscitada no tribunal de
competência territorial do juízo criminal em que justiça local. A Turma asseverou que em recurso
instaurado o feito criminal de forma pretérita, ordinário haveria devolução de toda e qualquer
ressalvados os casos excepcionados no art. 87 do matéria ao órgão recursal (STJ), a exigir a análise
CPC (―Determina-se a competência no momento da matéria por aquela Corte.
em que a ação é proposta. São irrelevantes as RHC 125477/RJ, rel. Min. Roberto Barroso,
modificações do estado de fato ou de direito 9.6.2015. (RHC-125477)
ocorridas posteriormente, salvo quando (Informativo 789, 1ª Turma)
suprimirem o órgão judiciário ou alterarem a
competência em razão da matéria ou da Competência: foro por prerrogativa de função,
hierarquia‖). Partindo dessa premissa, não haveria prevenção e prorrogação - 1
que se falar em constrangimento ilegal flagrante, O Plenário resolveu três questões de ordem,
já que, ao se perpetuar a jurisdição da vara federal apresentadas pelo Ministro Dias Toffoli (relator),
de Belo Horizonte/MG, teria havido apenas a em inquérito — afetado pela Segunda Turma —
observância dessa regra processual de caráter no qual se apura a suposta prática de ilícito penal
geral aplicável ao processo penal (CPP, art. 3º). com a participação de senadora. As questões de
Ademais, seria preciso levar em conta o fato de ordem consistiam em: a) redistribuição do feito,
que outros corréus, também acusados dos crimes por alegada prevenção, ao Ministro Teori
em questão, já teriam sido julgados pelo referido Zavascki, tendo em vista ser o relator de
juízo. Portanto, eventual deslocamento do investigações já em andamento relacionadas a
processo-crime para Unaí/MG seria temeroso, fraudes no âmbito de sociedade de economia
uma vez que poderia comprometer o princípio da mista, que teriam relação com o presente
isonomia no julgamento dos envolvidos, que inquérito; b) cisão do inquérito, para que fosse
deveria ser observado nesses casos. Vencido o remetido à justiça federal, onde as investigações
Ministro Marco Aurélio (relator), que concedia a prosseguiriam no tocante aos não detentores de
ordem para fixar a competência da vara federal de foro por prerrogativa de função no STF, e aqui
Unaí/MG. permaneceriam apenas no que se refere à
HC 117871/MG, rel. Min. Marco Aurélio, red. senadora; e c) na hipótese de cisão do inquérito,
p/ o acórdão Min. Rosa Weber, 28.4.2015. (HC- encaminhamento do feito — no que diz respeito
117871) aos demais investigados — à Seção Judiciária do
HC 117832/MG, rel. Min. Marco Aurélio, red. Estado de São Paulo. Com relação ao item ―a‖, o
p/ o acórdão Min. Rosa Weber, 28.4.2015. (HC- Tribunal deliberou, por maioria, manter a decisão
117832) da Presidência da Corte que determinara a livre
(Informativo 783, 1ª Turma) distribuição do inquérito. Vencidos, quanto a esse
item, os Ministros Gilmar Mendes e Celso de
Mello, que reconheciam a prevenção do Ministro jurisdicional, para receber uma causa que
Teori Zavascki. No que se refere ao item ―b‖, o ordinariamente não se incluía nela. Nos casos de
Colegiado resolveu a questão de ordem no sentido conexão e continência, opera-se a prorrogação da
do desmembramento do feito, a fim de que a competência. Por fim, nas hipóteses de
investigação prossiga, no STF, apenas quanto à concentração da competência, exclui-se a
senadora. A respeito do item ―c‖, o Plenário, por competência de todos os órgãos judiciários
decisão majoritária, assentou a competência da teoricamente competentes para determinada causa,
Seção Judiciária Federal do Estado de São Paulo menos um, que dela ficará incumbido. Enquadra-
para investigar os demais envolvidos, preservada a se, na hipótese, a prevenção, ou seja, a
validade dos atos já praticados. Vencidos, no concentração, em um órgão jurisdicional, da
ponto, os Ministros Roberto Barroso, que não se competência que abstratamente já pertencia a dois
manifestou quanto ao juízo competente, e os ou vários, inclusive a ele. A prevenção seria,
Ministros Gilmar Mendes e Celso de Mello, que portanto, distinta das causas de prorrogação da
determinavam a remessa do feito — a respeito dos competência. Enquanto a prorrogação acrescenta
outros investigados — à 13ª Vara Federal da causas à competência de um juiz, retirando-as de
Seção Judiciária do Estado do Paraná. outro, a prevenção retira causas da competência de
Inicialmente, o Colegiado teceu considerações a todos os demais juízes potencialmente
respeito da colaboração premiada, que competentes, para que permaneça competente só
alegadamente serviria como subsídio para um deles. A prevenção, portanto, seria um critério
justificar a prevenção do feito. No ponto, afirmou de concentração da competência, razão pela qual,
que este seria mero meio de obtenção de prova, inicialmente, devem-se observar as regras
sendo possível que o agente colaborador trouxesse ordinárias de determinação da competência. Nos
informações a respeito de crimes que não teriam termos do art. 70 do CPP, a competência será, de
relação alguma com aqueles que, primariamente, regra, determinada pelo lugar em que consumada
fossem objeto da investigação. Esses elementos a infração. Ocorre que, quando se trata de
informativos sobre outros crimes, sem conexão infrações conexas, praticadas em locais diversos,
com a investigação primária, deveriam receber o deve-se determinar o foro prevalente. Para tanto, é
mesmo tratamento conferido à descoberta fortuita preciso que uma infração exerça força atrativa
ou o encontro fortuito de provas, como na busca e sobre as demais, prorrogando a competência do
apreensão e na interceptação telefônica. De toda juízo de atração. A fim de se estabelecer o juízo
sorte, ainda que válidos os elementos de prevalecente nesses casos, há de se observar o art.
informação trazidos pelo colaborador, 78 do CPP. Segundo esse dispositivo, a prevenção
relativamente a crimes distintos do objeto da constitui um critério meramente residual de
investigação matriz, o acordo de colaboração, aferição de competência.
como meio de obtenção de prova, não constituiria Inq 4130 QO/PR, rel. Min. Dias Toffoli,
critério de determinação, de modificação ou de 23.9.2015. (Inq-4130)
concentração da competência. (Informativo 800, Plenário)
Inq 4130 QO/PR, rel. Min. Dias Toffoli,
23.9.2015. (Inq-4130) Competência: foro por prerrogativa de função,
(Informativo 800, Plenário) prevenção e prorrogação - 3
Competência: foro por prerrogativa de função, O Tribunal repisou que a competência para
prevenção e prorrogação - 2 processar e julgar os crimes delatados pelo
colaborador, não conexos com os fatos objeto da
O Colegiado explicou os critérios sucessivos de investigação matriz, dependerá do local em que
determinação da competência: a) competência consumados, da sua natureza e da condição das
originária de algum órgão de superposição, em pessoas incriminadas (se detentoras de foro por
virtude de foro por prerrogativa de função (STF prerrogativa de função). Nos casos de infrações
ou STJ); b) competência de jurisdição; c) conexas e de concurso de jurisdições da mesma
competência originária; d) competência de foro ou categoria, o foro prevalente, em primeiro lugar,
territorial; e) competência de juízo; e f) será o do lugar da infração a que cominada a pena
competência interna (juiz competente). Por sua mais grave. Sendo de igual gravidade as penas,
vez, haveria hipóteses de modificação da prevalecerá a competência do lugar em que
competência, a saber, a prorrogação e o houver ocorrido o maior número de infrações. Por
desaforamento. Pelo fenômeno da prorrogação, fim, apenas se não houver diferença quanto à
alarga-se a competência de um órgão gravidade dos crimes ou quanto ao número de
infrações, firmar-se-á a competência pela não reconhecimento da prevenção de relator
prevenção. Assim, não haverá prorrogação da estender-se-ia ao juízo de 1º grau. Na espécie, as
competência do juiz processante — alargando-a supostas operações ilícitas de lavagem de dinheiro
para conhecer de uma causa para a qual, e de falsidade ideológica teriam relação com
isoladamente, não seria competente — se não prestadores de serviço situados,
estiverem presentes: a) uma das hipóteses de predominantemente, em São Paulo/SP. Assim,
conexão ou de continência; e b) uma das hipóteses estaria justificada a atração de todos os crimes
do art. 78, II, do CPP. Outrossim, ainda que o para a seção judiciária daquele Estado-Membro,
juízo processante, com base nos depoimentos do ressalvada a apuração de outras infrações conexas
imputado colaborador e nas provas por ele que, por força do art. 78 do CPP, justificassem
apresentadas, tenha decretado prisões e ordenado conclusão diversa quanto ao foro competente.
a realização de busca e apreensão ou de Inq 4130 QO/PR, rel. Min. Dias Toffoli,
interceptação telefônica, essa circunstância não 23.9.2015. (Inq-4130)
gerará sua prevenção, com base no art. 83 do CPP, (Informativo 800, Plenário)
caso devam ser primariamente aplicadas as regras
de competência atinentes ao local do crime ou de Desmembramento e foro por prerrogativa de
conexão e continência, uma vez que a prevenção é função
um critério subsidiário de aferição da O Plenário negou provimento a agravo regimental
competência. Assentadas essas premissas, a Corte em reclamação na qual se discutia alegada
verificou que, no caso concreto, os ilícitos em usurpação da competência do STF para o
apuração nos procedimentos encaminhados pelo processamento de detentor de foro por
juízo da Seção Judiciária do Paraná se referem a prerrogativa de função. Na espécie, o STF, em
repasses de valores por empresa prestadora de 19.12.2014, nos autos da Pet 5.245/DF, acolhera
serviços de informática na gestão de empréstimos requerimento de cisão processual, mantendo-se na
consignados de servidores federais, em Corte o trâmite de termos de depoimento em que
decorrência de acordo celebrado no âmbito do figurassem detentores de prerrogativa de foro,
Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão com remessa dos demais aos juízos e tribunais
com a suposta intermediação de empresas de com competência para processamento dos demais
fachada. Não haveria, portanto, nenhuma investigados. Assim, o reclamante fora
dependência recíproca entre esses fatos e a mencionado especificamente em determinado
apuração de fraudes e desvio de recursos no termo de depoimento, no âmbito de acordo de
âmbito de sociedade de economia mista. Não se colaboração premiada devidamente homologada,
justificaria, na situação dos autos, a unidade de havendo a instauração de procedimento autônomo
processo e julgamento. Ainda que os esquemas (Pet 5.278/DF), com o seguinte desmembramento
fraudulentos pudessem eventualmente ter um dos autos, para que prosseguissem no juízo
operador comum e destinação semelhante, seriam reclamado as investigações contra os demais
fatos ocorridos em âmbitos diversos, com matrizes investigados que não possuíssem prerrogativa de
distintas. O simples fato de a polícia judiciária ou foro no STF. A Corte afirmou que, nesse contexto,
o Ministério Público considerarem fases da com o desmembramento realizado e a remessa de
mesma operação uma sequência de investigações cópia dos termos à origem, eventual encontro de
sobre crimes diversos — ainda que sua gênese novos indícios da participação de parlamentar em
seja a obtenção de recursos escusos para a momento subsequente não invocaria, por si só,
consecução de vantagens pessoais e financiamento usurpação de competência, pois apurados por
de partidos políticos ou de candidaturas — não se autoridade judiciária que, por decisão do STF,
sobrepõe às normas disciplinadoras da prosseguira na condução de procedimentos
competência. O Plenário frisou não competir ao relativos aos mesmos fatos, todavia referentes a
STF formular juízo de admissibilidade de não detentores de prerrogativa de foro. Ademais,
denúncia formulada isoladamente contra imputado não mereceria prosperar a alegação de que teria
não detentor de prerrogativa de foro. Além disso, havido investigação direta do reclamante por parte
seria incongruente reconhecer a inexistência de do juízo reclamado. A violação de competência
prevenção do Ministro Teori Zavascki, ante a implicaria a realização de medidas investigatórias
ausência de conexão entre os ilícitos penais nas dirigidas às autoridades sujeitas à prerrogativa de
distintas investigações e ordenar, ainda assim, o foro e não a simples declaração de réu
retorno dos autos desmembrados à origem. A colaborador, com menção sobre a participação de
mesma inexistência de conexão que motivaria o detentores de foro por prerrogativa de função
durante audiência de instrução. Raciocínio inverso detentor de prerrogativa de foro, por violação do
levaria à conclusão de que toda vez que princípio do juiz natural (CF, art. 5º, LIII).
despontasse elemento probatório novo veiculado AP 933 QO/PB, rel. Min. Dias Toffoli,
aos fatos investigados, todos os processos e ações 6.10.2015. (AP-933)
penais em andamento haveriam de retornar ao (Informativo 802, 2ª Turma)
STF para novo exame, o que, além de
desarrazoado, inviabilizaria, na prática, a Pedofilia e competência
persecução penal. Outrossim, em casos de Compete à Justiça Federal processar e julgar os
desmembramento seria comum a existência, em crimes consistentes em disponibilizar ou adquirir
juízos diversos, de elementos relacionados tanto material pornográfico envolvendo criança ou
ao detentor de prerrogativa de foro quanto aos adolescente (ECA, artigos 241, 241-A e 241-B),
demais envolvidos. Contudo, a existência dessa quando praticados por meio da rede mundial de
correspondência não caracterizaria usurpação de computadores. Com base nessa orientação, o
competência. Pelo contrário, a simples menção do Plenário, por maioria, negou provimento a recurso
nome do reclamante em depoimento de réu extraordinário em que se discutia a competência
colaborador, durante a instrução, não processual para julgamento de tais crimes. O
caracterizaria ato de investigação, ainda mais Tribunal entendeu que a competência da Justiça
quando houvesse prévio desmembramento, como Federal decorreria da incidência do art. 109, V, da
no caso. CF (―Art. 109. Aos juízes federais compete
Rcl 21419 AgR/PR, rel. Min.Teori Zavascki, processar e julgar: ... V - os crimes previstos em
7.10.2015. (Rcl-21419) tratado ou convenção internacional, quando,
(Informativo 802, Plenário) iniciada a execução no País, o resultado tenha ou
devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou
Crime cometido por prefeito e competência do reciprocamente‖). Ressaltou que, no tocante à
TRE matéria objeto do recurso extraordinário, o ECA
A Segunda Turma resolveu questão de ordem para seria produto de convenção internacional,
conceder ―habeas corpus‖ de ofício e extinguir subscrita pelo Brasil, para proteger as crianças da
ação penal, por ausência de justa causa, nos prática nefasta e abominável de exploração de
termos do art. 395, III, do CPP. Na espécie, o imagem na internet. O art. 241-A do ECA, com a
Ministério Público Eleitoral denunciara o redação dada pela Lei 11.829/2008, prevê como
paciente, então prefeito, por supostamente ter tipo penal oferecer, trocar, disponibilizar,
oferecido emprego a eleitores em troca de voto, transmitir, distribuir, publicar ou divulgar por
com intermédio de empresa contratada pela qualquer meio, inclusive por meio de sistema de
municipalidade. A Turma frisou que o rito informática ou telemático, fotografia, vídeo ou
instituído pela Lei 11.719/2008, que alterara o outro registro que contenha cena de sexo explícito
CPP, deveria ser aplicado ao 1º grau de jurisdição ou pornográfica envolvendo criança ou
em matéria eleitoral. Observou que, recebida a adolescente. Esse tipo penal decorreria do art. 3º
denúncia em 1ª instância, antes de o réu ter sido da Convenção sobre o Direito das Crianças da
diplomado como deputado federal, e apresentada a Assembleia Geral da ONU, texto que teria sido
resposta à acusação, competiria ao STF, em face promulgado no Brasil pelo Decreto 5.007/2004. O
do deslocamento de competência, examinar, em art. 3º previra que os Estados-Partes assegurariam
questão de ordem, eventuais nulidades suscitadas que atos e atividades fossem integramente
e a possibilidade de absolvição sumária (CPP, art. cobertos por suas legislações criminal ou penal.
397), mesmo que o rito passasse a ser o da Lei Assim, ao considerar a amplitude do acesso ao
8.038/1990. Afirmou que, no caso de crime sítio virtual, no qual as imagens ilícitas teriam
eleitoral imputado a prefeito, a competência para sido divulgadas, estaria caracterizada a
supervisionar as investigações seria do TRE, nos internacionalidade do dano produzido ou
termos do Enunciado 702 da Súmula do STF. potencial. Vencidos os Ministros Marco Aurélio
Dessa forma, não poderia o inquérito ter sido (relator) e Dias Toffoli, que davam provimento ao
supervisionado por juízo eleitoral de 1º grau. recurso e fixavam a competência da Justiça
Além disso, não poderia a autoridade policial Estadual. Assentavam que o art. 109, V, da CF
direcionar as diligências para investigar e indiciar deveria ser interpretado de forma estrita, ante o
o prefeito. Assim, a usurpação da competência do risco de se empolgar indevidamente a
TRE constituiria vício que contaminaria de competência federal. Pontuavam que não existiria
nulidade a investigação realizada, em relação ao tratado, endossado pelo Brasil, que previsse a
conduta como criminosa. Realçavam que a citada praticadas no contexto de relações de trabalho. A
Convenção gerara o comprometimento do Estado Constituição teria considerado o ser humano como
brasileiro de proteger as crianças contra todas as um dos componentes axiológicos aptos a dar
formas de exploração e abuso sexual, mas não sentido a todo o arcabouço jurídico-constitucional
tipificara a conduta. Além disso, aduziam que o pátrio. Ademais, teria atribuído à dignidade
delito teria sido praticado no Brasil, porquanto o humana a condição de centro de gravidade de toda
material veio a ser inserido em computador a ordem jurídica. O constituinte, neste sentido,
localizado no País, não tendo sido evidenciado o teria outorgado aos princípios fundamentais a
envio ao exterior. A partir dessa publicação se qualidade de normas embasadoras e informativas
procedera, possivelmente, a vários acessos. de toda a ordem constitucional, inclusive dos
Ponderavam não ser possível partir para a direitos fundamentais, que integrariam o núcleo
capacidade intuitiva, de modo a extrair conclusões essencial da Constituição.
em descompasso com a realidade. RE 459510/MT, rel. orig. Min. Cezar Peluso,
RE 628624/MG, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Dias Toffoli, 26.11.2015.
red. p/ o acórdão Min. Edson Fachin, 28 e (RE-459510)
29.10.2015. (RE-628624) (Informativo 809, Plenário)
(Informativo 805, Plenário, Repercussão Geral)
1ª Parte: 2ª Parte: Crime de redução a condição análoga à de
escravo e competência - 7
Crime de redução a condição análoga à de A Corte ponderou que, diante da opção
escravo e competência - 6 constitucional pela tutela da dignidade intrínseca
Compete à justiça federal processar e julgar o do homem, seria inadmissível pensar que o
crime de redução à condição análoga à de escravo sistema de organização do trabalho pudesse ser
(CP, art. 149). Ao reafirmar essa orientação, o concebido unicamente à luz de órgãos e
Plenário, por maioria, deu provimento a recurso instituições, excluído dessa relação o próprio ser
extraordinário, afetado pela 2ª Turma, interposto humano. O art. 109, VI, da CF estabelece
contra acórdão que declarara a competência da competir à justiça federal processar e julgar os
justiça estadual — v. Informativos 556, 573 e 752. crimes contra a organização do trabalho, sem
O Tribunal aduziu que o caso dos autos seria explicitar quais delitos estariam nessa categoria.
similar ao tratado no RE 398.041/PA (DJe de Assim, embora houvesse um capítulo destinado a
19.12.2008), oportunidade em que se teria firmado esses crimes no Código Penal, inexistiria
a competência da justiça federal para processar e correspondência taxativa entre os delitos
julgar ação penal referente ao crime do art. 149 do capitulados naquele diploma e os crimes indicados
CP. Assinalou que o constituinte teria dado na Constituição, e caberia ao intérprete verificar
importância especial à valorização da pessoa em quais casos se estaria diante de delitos contra a
humana e de seus direitos fundamentais, de organização do trabalho. Além disso, o bem
maneira que a existência comprovada de jurídico protegido no tipo penal do art. 149 do CP
trabalhadores submetidos à escravidão afrontaria seria a liberdade individual, compreendida sob o
não apenas os princípios constitucionais do art. 5º enfoque ético-social e da dignidade, no sentido de
da CF, mas toda a sociedade, em seu aspecto evitar que a pessoa humana fosse transformada em
moral e ético. Os crimes contra a organização do ―res‖. A conduta criminosa contra a organização
trabalho comportariam outras dimensões, para do trabalho atingiria interesse de ordem geral, que
além de aspectos puramente orgânicos. Não se seria a manutenção dos princípios básicos sobre os
cuidaria apenas de velar pela preservação de um quais estruturado o trabalho em todo o País.
sistema institucional voltado à proteção coletiva Concluiu que o tipo previsto no art. 149 do CP se
dos direitos e deveres dos trabalhadores. A tutela caracterizaria como crime contra a organização do
da organização do trabalho deveria trabalho, e atrairia a competência da justiça
necessariamente englobar outro elemento: o federal. Afastou tese no sentido de que a extensão
homem, abarcados aspectos atinentes à sua normativa do crime teria como resultado o
liberdade, autodeterminação e dignidade. Assim, processamento e a condenação de pessoas
quaisquer condutas violadoras não somente do inocentes pelo simples fato de se valerem de
sistema voltado à proteção dos direitos e deveres trabalho prestado em condições ambientais
dos trabalhadores, mas também do homem adversas. Sob esse aspecto, um tipo aberto ou
trabalhador, seriam enquadráveis na categoria dos fechado deveria ser interpretado pela justiça
crimes contra a organização do trabalho, se considerada competente nos termos da
Constituição. Dessa maneira, a má redação ou a cerceamento de defesa ou nulidade de julgamento
contrariedade diante da disciplina penal de quando a audiência ocorrer no dia seguinte ao que
determinado tema não desautorizaria a escolha do tiver sido intimada. Com base nessa orientação, a
constituinte. O Ministro Luiz Fux pontuou que a Primeira Turma, por maioria, denegou a ordem
competência seria da justiça federal quando em ―habeas corpus‖ no qual discutida suposta
houvesse lesão à organização do trabalho, na nulidade processual, pela não intimação do
hipótese de multiplicidade de vítimas, de modo representante daquele órgão. Na espécie, apesar de
que o delito alcançasse uma coletividade de a Defensoria Pública ter sido intimada para a
trabalhadores. Na espécie, o delito vitimara 53 sessão de julgamento da apelação, e ter-lhe sido
trabalhadores, número expressivo suficiente para deferida a sustentação oral, o recurso não fora
caracterizar a ofensa à organização do trabalho. O julgado. Três meses depois, ela fora intimada de
Ministro Gilmar Mendes sublinhou que a lista de 90 processos — entre os quais o recurso
competência da justiça federal seria inequívoca de apelação — no sentido de que haveria sessão
quando ocorresse lesão à organização do trabalho, de julgamento marcada para o dia seguinte. A
como por exemplo, nas hipóteses de violação aos Turma destacou a jurisprudência da Corte,
direitos humanos, como no caso de negativa a um segundo a qual, embora a sustentação oral não se
grupo de empregados de sair do local. No mais, qualifique como ato essencial da defesa, mostra-se
seria matéria da competência da justiça estadual. indispensável intimação pessoal da Defensoria
O Ministro Ricardo Lewandowski (Presidente) Pública. Entrementes, houvera ciência quanto à
ressaltou que, em princípio, a competência poderia nova inclusão dos autos para julgamento em
ser concorrente. Vencido o Ministro Cezar Peluso, sessão do dia seguinte e a Defensoria Pública não
que negava provimento ao recurso. requerera adiamento. Vencido o Ministro Marco
RE 459510/MT, rel. orig. Min. Cezar Peluso, Aurélio, que concedia a ordem. Entendia que
red. p/ o acórdão Min. Dias Toffoli, 26.11.2015. deveria existir um interregno mínimo de 48 horas
(RE-459510) entre a intimação e o julgamento. Aduzia haver
(Informativo 809, Plenário) prejuízo para a parte, considerada a não atuação
da Defensoria Pública, como o fato de se terem
Comunicação de Atos Processuais lançado vários processos em uma única assentada,
a afrontar o devido processo legal.
Defensoria Pública e intimação pessoal HC 126081/RS, rel. Min. Rosa Weber,
A intimação da Defensoria Pública, a despeito da 25.8.2015. (HC-126081)
presença do defensor na audiência de leitura da (Informativo 796, 1º Turma)
sentença condenatória, se aperfeiçoa com sua
intimação pessoal, mediante a remessa dos autos. Conflito de atribuições
Com base nessa orientação, a Segunda Turma
concedeu a ordem em ―habeas corpus‖ para Conflito de atribuições: tribunal de justiça
determinar que a apelação alusiva ao paciente seja militar e Ministério Público
submetida a novo julgamento. Entendeu que a
intimação pessoal, para todos os atos do processo O Plenário, em julgamento conjunto e por
e com a remessa dos autos, constitui prerrogativa maioria, negou provimento a agravos regimentais
da Defensoria Pública, conforme estabelecido no em ações cíveis originárias que tratavam de
art. 370, § 4º, do CPP; art. 5º, § 5º, da Lei conflito de atribuições relativamente à apuração
1.060/1950; e art. 44, I, da LC 80/1994, bem de crime cometido por membro de tribunal de
como que sua não observância acarretaria justiça militar criado em âmbito estadual. Na
nulidade processual. espécie, órgão do Ministério Público no Estado do
HC 125270/DF, rel. Min. Teori Zavascki, Rio Grande do Sul, ao suscitar o conflito em
23.6.2015. (HC-125270) questão, entendera que o STJ seria o órgão
(Informativo 791, 2ª Turma) competente para processar e julgar o referido
magistrado, considerado o quanto disposto no art.
Intimação da Defensoria Pública e princípio 104, § 5°, da Constituição do Estado do Rio
geral das nulidades Grande do Sul (―Os Juízes do Tribunal Militar do
Estado terão vencimento, vantagens, direitos,
A Defensoria Pública, ao tomar ciência de que o garantias, prerrogativas e impedimentos iguais aos
processo será julgado em data determinada ou nas dos Desembargadores do Tribunal de Justiça‖), o
sessões subsequentes, não pode alegar que ensejaria a atribuição do MPU para atuar no
feito. As decisões agravadas, ao acatar a desnecessária prática de inúmeros atos de
argumentação do suscitante, assentaram a instrução, como a inquirição de testemunhas e a
atribuição do PGR. A Corte, mantendo esse produção de perícias. Ademais, a justa causa para
entendimento, destacou que a constitucionalidade a ação penal consistiria na exigência de suporte
do referido dispositivo da Constituição estadual probatório mínimo a indicar a legitimidade da
ainda estaria pendente de análise na ADI imputação e se traduziria na existência, no
4.360/RS. O fenômeno da prescrição e a inquérito policial ou nas peças de informação a
necessária maturação da questão constitucional instruir a denúncia, de elementos sérios e idôneos
proposta em sede de controle concentrado que demonstras sem a materialidade do crime e a
recomendariam que se resolvesse o presente existência de indícios razoáveis de autoria. No
conflito imediatamente, de acordo com as normas caso, o acusado, à época da concorrência
atualmente inseridas no ordenamento jurídico. As supostamente fraudada, da assinatura do contrato
referidas normas se presumiriam constitucionais, e de seus aditivos, da sua execução, das medições
não havendo prejuízo imediato para as partes no de obra e dos pagamentos à empresa contratada —
deslocamento das investigações para a questões atinentes ao objeto da ação penal em
Procuradoria-Geral da República. Os Ministros comento —, não mais seria o chefe do Poder
Teori Zavascki e Rosa Weber ressalvaram seu Executivo local, por haver renunciado ao seu
entendimento quanto ao conhecimento das ações. mandato. Por tanto, além de não subsistir relação
Vencido o Ministro Marco Aurélio, que provia os de subordinação hierárquica com os responsáveis
agravos para assentar a atribuição do Ministério pela licitação, o acusado não mais deteria qualquer
Público estadual para atuar no caso em comento. poder de mando sobre o curso do procedimento
ACO 1664 AgR/RS, rel. Min. Ricardo licitatório e a execução do contrato ora
Lewandowski, 7 e 8.10.2015. (ACO-1664) hostilizado. O simples fato de ser governador, à
ACO 1516 AgR/RS, rel. Min. Ricardo época em que determinada secretaria de Estado
Lewandowski, 7 e 8.10.2015. (ACO-1516) firmara o convênio objeto de apuração, não
(Informativo 802, Plenário) 1ª Parte: 2ª Parte: atrairia a sua responsabilidade penal pela fraude à
licitação subsequente e pelo eventual desvio de
Denúncia verbas na execução do contrato. Reiterou-se o que
decidido na AP 477/RS (DJe de 29.5.2009).
“Habeas corpus” de ofício e recebimento de Assim, à míngua de elementos probatórios
denúncia - 2 concretos, constituiria mera criação mental da
acusação a pretensa relação de causalidade entre
Ante a falta de justa causa (CPP, art. 395, III), a as doações eleitorais feitas ao réu e o seu suposto
Segunda Turma, em conclusão de julgamento, concurso para a fraude à licitação e ao desvio de
resolveu questão de ordem para conceder, de recursos públicos.
ofício, ordem de ―habeas corpus‖ e rejeitar AP 913 QO/AL, rel. Min. Dias Toffoli,
denúncia pela suposta prática dos crimes de fraude 17.11.2015. (AP-913)
à licitação (Lei 8.666/1993, art. 90) e peculato (Informativo 808, 2ª Turma)
(CP, art. 312) — v. Informativo 806. Na espécie,
após o recebimento de denúncia por juízo de Execução da Pena
primeiro grau, a diplomação do acusado como
deputado federal ensejara a remessa dos Inadimplemento de pena de multa e progressão
respectivos autos ao STF para prosseguimento do de regime - 1
feito. O Colegiado afirmou que, nos termos do art.
230-A do Regimento Interno do STF, em havendo O inadimplemento deliberado da pena de multa
deslocamento de competência para o STF, a ação cumulativamente aplicada ao sentenciado impede
penal deveria prosseguir no estado em que se a progressão no regime prisional. Essa regra
encontrasse, preservada a validade dos atos já somente é excepcionada pela comprovação da
praticados na instância anterior, em homenagem absoluta impossibilidade econômica do apenado
ao princípio ―tempus regitactum‖. Contudo, o STF em pagar o valor, ainda que parceladamente. Essa
não poderia permitir que uma ação penal inviável a conclusão do Plenário que, por maioria, negou
prosseguisse, pelo só fato de recebê-la no estado provimento a agravo regimental interposto em
em que se encontrasse, sob pena de manifesto face de decisão monocrática que indeferira o
constrangimento ilegal ao réu. Não bastasse isso, pedido de progressão de regime prisional — tendo
o prosseguimento do feito acarretaria a em vista o inadimplemento da multa imposta —
de condenado, nos autos da AP 470/MG (DJe de Por essa razão, deveria ser fixada com seriedade,
22.4.2013), à pena de seis anos e seis meses de proporcionalidade e, sobretudo, ser efetivamente
reclusão, em regime inicial semiaberto, bem assim paga. Assinalou que o art. 33 do CP e os artigos
à sanção pecuniária de 330 dias-multa, pela 110 e seguintes da LEP disciplinariam três
prática de corrupção passiva e lavagem de regimes diversos de cumprimento de pena
dinheiro. Alegava-se que o prévio pagamento da privativa de liberdade: fechado, semiaberto e
pena de multa não seria requisito legal para a aberto. Para cada uma dessas fases, haveria
progressão de regime, porquanto inexistente estabelecimentos penais próprios. De outro lado, o
prisão por dívida (CF, art. 5º, LXVII), bem assim art. 112 da LEP disporia sobre os requisitos gerais
que o art. 51 do CP proibiria a conversão da multa para que o julgador autorizasse a progressão de
em detenção. De início, o Colegiado, por decisão regime. Como regra geral, condenados com bom
majoritária, indeferiu pleito de sustentação oral comportamento poderiam progredir de um regime
formulado pela defesa. Sustentava-se, no ponto, para outro após o cumprimento de um sexto da
que o agravo teria por fundamento o art. 197 da pena no regime anterior. Não obstante, a
LEP e, por isso, estaria sujeito à mesma jurisprudência do STF demonstraria que a análise
sistemática do recurso em sentido estrito. O dos requisitos necessários para progressão não se
Plenário reputou, na linha da jurisprudência do restringiria ao art. 112 da LEP, pois outros
STF, e conforme deliberado ao longo do elementos deveriam ser considerados pelo
julgamento da AP 470/MG, que qualquer julgador para individualizar a pena.
impugnação de decisão monocrática desafiaria EP 12 ProgReg-AgR/DF, rel. Min. Roberto
agravo regimental (RISTF, art. 131, § 2º), Barroso, 8.4.2015. (EP-12)
inexistente, portanto, o direito de a defesa (Informativo 780, Plenário)
sustentar oralmente. Não caberia à Corte criar
situação excepcional. Ademais, a situação dos Inadimplemento de pena de multa e progressão
autos não se assemelharia às hipóteses de de regime - 3
cabimento de recurso em sentido estrito, pois o O Colegiado sublinhou que, especialmente em
agravo não seria dirigido a outro tribunal, uma vez matéria de crimes contra a Administração Pública,
que o relator traria sua decisão para que fosse a parte verdadeiramente severa da pena haveria de
homologada pelo próprio Plenário do qual faz ser a de natureza pecuniária, que teria o poder de
parte. Vencido o Ministro Marco Aurélio, que funcionar como real fator de prevenção, capaz de
admitia a sustentação oral da defesa. inibir a prática de crimes a envolver apropriação
EP 12 ProgReg-AgR/DF, rel. Min. Roberto de recursos públicos. Nessas condições, não seria
Barroso, 8.4.2015. (EP-12) possível a progressão de regime sem o pagamento
(Informativo 780, Plenário) da multa fixada na condenação. O condenado teria
o dever jurídico — e não a faculdade — de pagar
Inadimplemento de pena de multa e progressão integralmente o valor. Essa seria uma modalidade
de regime - 2 autônoma de resposta penal expressamente
prevista no art. 5º, XLVI, c, da CF, a exigir
No mérito, o Plenário rememorou que o art. 51 do cumprimento espontâneo por parte do apenado,
CP, em sua redação original, previa a independentemente de execução judicial. A
possibilidade de conversão da multa em pena de obrigatoriedade também adviria do art. 50 do CP.
detenção, quando o condenado, deliberadamente, O não recolhimento da multa por condenado que
deixasse de honrá-la. Posteriormente, a Lei tivesse condições econômicas de pagá-la, sem
9.268/1996 dera nova redação ao dispositivo, para sacrifício dos recursos indispensáveis ao sustento
não mais admitir essa conversão, bem como para próprio e de sua família, constituiria deliberado
permitir a correção monetária e a cobrança da descumprimento de decisão judicial e deveria
sanção como dívida ativa. A referida alteração impedir a progressão de regime. Além disso,
legislativa não retirara da multa o seu caráter de admitir-se o não pagamento da multa configuraria
pena, conforme disposição constitucional (CF, art. tratamento privilegiado em relação ao sentenciado
5º, XLVI) e legal (CP, art. 32, III). Acrescentou que espontaneamente pagasse a sanção pecuniária.
que, em matéria de criminalidade econômica, a Ademais, a passagem para o regime aberto
multa desempenharia papel proeminente. Mais até exigiria do sentenciado autodisciplina e senso de
do que a pena de prisão, caberia à sanção responsabilidade (LEP, art. 114, II), a pressupor o
pecuniária o papel retributivo e preventivo geral, cumprimento das decisões judiciais aplicadas a
para desestimular a conduta prevista penalmente. ele. Essa interpretação seria reforçada pelo art. 36,
§ 2º, do CP e pelo art. 118, § 1º, da LEP, que conforme o art. 123 da Lei 7.210/1984, a
estabelecem a regressão de regime para o autorização deveria ser concedida por ato
condenado que não pagar, podendo, a multa motivado, ouvidas as partes e a administração
cumulativamente imposta. Assim, o deliberado carcerária. O STJ, ao interpretar esse dispositivo,
inadimplemento da multa sequer poderia ser teria entendido que, na medida em que a norma
comparado à vedada prisão por dívida (CF, art. 5º, determina que a autorização deve ser concedida
LXVII), configurando apenas óbice à progressão por ato motivado, cada saída autorizada deveria
no regime prisional. Ressalvou que a exceção ser singularmente motivada, com base no histórico
admissível ao dever de pagar a multa seria a do sentenciado até então. Não haveria, contudo,
impossibilidade econômica absoluta de fazê-lo. essa necessidade, na medida em que um único ato
Seria cabível a progressão se o sentenciado, veraz judicial que analisasse o histórico do sentenciado
e comprovadamente, demonstrasse sua total e estabelecesse um calendário de saídas
insolvabilidade, a ponto de impossibilitar até temporárias, com a expressa ressalva de que as
mesmo o pagamento parcelado da quantia devida, autorizações poderiam ser revistas na hipótese de
como autorizado pelo art. 50 do CP. Ressaltou que cometimento de falta pelo sentenciado, seria
o acórdão exequendo fixara o ―quantum‖ da suficiente para fundamentar a saída mais próxima
sanção pecuniária especialmente em função da e as futuras. Se, por um lado, a decisão avaliaria a
situação econômica do réu (CP, art. 60), de modo situação contemporânea, afirmando que a saída
que a relativização dessa resposta penal mais próxima seria recomendável, por outro,
dependeria de prova robusta por parte do projetaria que, se não houvesse alteração fática, as
sentenciado. No caso, entretanto, não houvera saídas subsequentes também seriam
mínima comprovação de insolvabilidade, recomendáveis. A expressa menção às hipóteses
incabível, portanto, a exceção admissível ao dever de revisão deixaria claro às partes que, se surgisse
de pagar a multa. Vencido o Ministro Marco incidente, ele seria apreciado, podendo levar à
Aurélio, que provia o agravo para admitir a revogação da autorização. Ademais, a decisão
progressão de regime, independentemente do única também permitiria a participação suficiente
recolhimento da multa. Considerava que seria do Ministério Público, que poderia falar sobre seu
dever da Fazenda Pública executar a dívida, se cabimento e, caso alterada a situação fática,
necessário. pugnar por sua revisão.
EP 12 ProgReg-AgR/DF, rel. Min. Roberto HC 128763/RJ, rel. Min. Gilmar Mendes,
Barroso, 8.4.2015. (EP-12) 4.8.2015. (HC-128763)
(Informativo 780, Plenário) (Informativo 793, 2ª Turma)

Saída temporária e decisão judicial - 1 Saída temporária e decisão judicial - 2


É legítima a decisão judicial que estabelece O Colegiado ressaltou que, de qualquer forma,
calendário anual de saídas temporárias para visita poder-se-ia argumentar que a decisão do STJ não
à família do preso. Esse o entendimento da afetaria diretamente direito do sentenciado. De
Segunda Turma, que concedeu a ordem em fato, se o juízo das execuções penais determinasse
―habeas corpus‖ para restabelecer ato do Juízo das saídas temporárias em várias decisões sucessivas,
Execuções Penais do Estado do Rio de Janeiro, ao invés de em única decisão, a situação do preso
que concedera autorização de saída temporária seria a mesma. No entanto, a realidade da
para visita periódica à família do paciente. Essa execução penal demonstraria que esse tipo de
decisão, mantida em grau de recurso, fora, no decisão colocaria em risco o direito do
entanto, reformada pelo STJ, que assentara o sentenciado ao benefício. A força de trabalho das
descabimento da concessão de saídas varas de execuções penais seria um recurso
automatizadas, sendo necessária a manifestação escasso, que precisaria ter sua eficiência
motivada do juízo da execução, com intervenção maximizada. Na medida em que as decisões
do Ministério Público, em cada saída temporária, pudessem ser concentradas, sem perda substancial
reiterado o que decidido anteriormente em recurso de qualidade, seria recomendável que assim se
especial representativo da controvérsia. A Turma fizesse. Se a força de trabalho não fosse usada
afirmou que a saída temporária sem vigilância com eficiência, provavelmente os pedidos de
direta seria benefício destinado aos sentenciados autorização de saída só seriam apreciados após a
que cumprissem pena em regime semiaberto, na data da saída pretendida. A rigor, esse direito seria
forma do art. 122 da Lei 7.210/1984, com intuito negligenciado. No caso em comento, o juiz das
de reintegrá-los ao convívio social. Outrossim, execuções penais deferira autorizações de saída
para visita periódica à família do paciente, execução da sentença ao trânsito em julgado; bem
fixando, desde logo, calendário com as saídas assim o art. 397, II, do CPP, a proibir a absolvição
autorizadas: duas mensais, além de aniversário, sumária imprópria, em observância ao princípio
páscoa, dia das mães e dos pais, natal e ano novo. da não culpabilidade (CF, art. 5º, LVII). No caso,
O Estado do Rio de Janeiro concentraria suas o Presidente da República, ao implementar indulto
execuções penais em uma única vara, na capital. no tocante a internados em cumprimento de
Essa vara processaria todas as execuções penais, medida de segurança, nos moldes do art. 1º, VIII,
fossem de penas privativas de liberdade, do Decreto natalino 6.706/1998, não extrapolara o
restritivas de direito ou medidas de segurança, na permissivo constitucional. Precedentes citados:
capital e no interior do referido Estado-Membro. RE 612.862 AgR/RS (DJe de 18.2.2011) e HC
Relatório do mutirão carcerário promovido pelo 97.621/RS (DJe de 26.6.2009).
CNJ no período de 26.10.2011 a 16.12.2011 teria RE 628658/RS, rel. Min. Marco Aurélio, 4 e
apontado diversas dificuldades operacionais na 5.11.2015. (RE-628658)
serventia, ressaltando a demora no cumprimento (Informativo 806, Plenário, Repercussão Geral)
dos atos de ofício e o sistêmico atraso na 1ª Parte: 2ª Parte:
tramitação de expedientes para concessão de
benefícios aos apenados. Assim, esse cenário de “Sursis” e requisito temporal para a concessão
insuficiência deveria ser considerado para a de indulto - 2
análise da questão, presente, portanto, a ameaça Não é possível o cômputo do período de prova
concreta de lesão ao direito do paciente. cumprido em suspensão condicional da pena para
HC 128763/RJ, rel. Min. Gilmar Mendes, preenchimento do requisito temporal objetivo do
4.8.2015. (HC-128763) indulto natalino. Com base nessa orientação, a
(Informativo 793, 2ª Turma) Segunda Turma, em conclusão de julgamento e
por maioria, denegou a ordem em ―habeas corpus‖
Execução da Pena no qual se pleiteava tal contagem, relativamente
ao cumprimento de um quarto da pena privativa
Indulto e medida de segurança de liberdade, instituído pelo art. 1º, XIII, do
Reveste-se de legitimidade jurídica a concessão, Decreto 8.172/2013 (―Art. 1º Concede-se indulto
pelo presidente da República, do benefício coletivo às pessoas, nacionais e estrangeiras; …
constitucional do indulto (CF, art. 84, XII), que XIII – condenadas a pena privativa de liberdade,
traduz expressão do poder de graça do Estado, desde que substituída por restritiva de direitos, na
mesmo se se tratar de indulgência destinada a forma do art. 44 do Decreto-lei nº 2.848, de 7 de
favorecer pessoa que, em razão de sua dezembro de 1940 – Código Penal, ou ainda
inimputabilidade ou semi-imputabilidade, sofre beneficiadas com a suspensão condicional da
medida de segurança, ainda que de caráter pessoal pena, que, de qualquer forma, tenham cumprido,
e detentivo. Essa a conclusão do Plenário, que até 25 de dezembro de 2013, um quarto da pena,
negou provimento a recurso extraordinário em que se não reincidentes, ou um terço, se reincidentes‖)
discutida a possibilidade de extensão de indulto a — v. Informativo 787. A impetrante sustentava,
internados em cumprimento de medida de em suma, que o paciente reuniria todos os
segurança. O Colegiado assinalou que a requisitos necessários para a fruição do benefício,
competência privativa do presidente da República porque já teria cumprido mais de um quarto do
prevista no art. 84, XII, da CF abrange a medida período de prova para a suspensão condicional da
de segurança, espécie de sanção penal, inexistindo pena que lhe fora imposta. O Colegiado asseverou
restrição à concessão de indulto. Embora não seja que não se poderia confundir o tempo alusivo ao
pena em sentido estrito, é medida de natureza período de prova, exigido para a obtenção da
penal e ajusta-se ao preceito, cuja interpretação suspensão condicional da pena, com o requisito
deveria ser ontológica. Lembrou o HC 84.219/SP temporal objetivo previsto no art. 1º, XIII, do
(DJU de 23.9.2005), em que o período máximo da Decreto 8.172/2013, qual seja o cumprimento
medida de segurança fora limitado á 30 anos, parcial da pena. Reiterou, assim, o que decidido
mediante interpretação sistemática e teleológica no HC 117.855/SP (DJe de 19.11.2013). Vencido
dos artigos 75 e 97 do CP e 183 da LEP. Fora o Ministro Teori Zavascki, que concedia a ordem
reconhecida, na ocasião, a feição penal da medida por entender que o período de prova cumprido em
de segurança, a implicar restrição coercitiva da suspensão condicional da pena deveria ser
liberdade. Em reforço a esse entendimento, computado como tempo de cumprimento de pena
sublinhou o art. 171 da LEP, a condicionar a restritiva de liberdade. O Ministro Gilmar Mendes
reajustou seu voto para acompanhar o voto pena superior a dois anos e não excedente a quatro
divergente. anos. Vencido o Ministro Marco Aurélio, que
HC 123698/PE, rel. Min. Cármen Lúcia, concluía não ser possível a entrega do
17.11.2015. (HC-123698) extraditando. Lembrava que o Brasil subscrevera
(Informativo 808, 2ª Turma) o Pacto de São José da Costa Rica e, com isso,
fora revogada a prisão por dívida civil. Aduzia
Extradição que não se coadunaria com nosso ordenamento
jurídico a transformação de uma dívida em pena
Extradição executória e soberania estatal privativa de liberdade. Frisava que, em face do
A omissão de declarações ao fisco espanhol, princípio da simetria, se o crime tivesse ocorrido
objetivando a supressão de tributos, corresponde no Brasil, os cinco meses que teriam sido
ao crime de sonegação fiscal tipificado no art. 1º, acrescidos em razão do inadimplemento da pena
I, da Lei 8.137/1990, a satisfazer a exigência da de multa resultantes da transformação não seriam
dupla incriminação, que prescinde da absoluta cumpridos.
identidade entre os tipos penais. A Ext 1375/DF, rel. Min. Luiz Fux, 25.8.2015.
impossibilidade da conversão da pena de multa (Ext-1375)
em prisão em decorrência de seu descumprimento (Informativo 796, 1ª Turma)
é questão não afeta à jurisdição brasileira, sob
pena de afronta à soberania do Estado na Extradição e falsidade de registro civil de
regulação de seus institutos penais. Com base nascimento
nessa orientação, a Primeira Turma, por maioria, A Segunda Turma deferiu pedido de extradição
deferiu pedido de extradição formulado pelo instrutória, formulado pelo Governo do Paraguai
Governo da Espanha. Na espécie, tratava-se de em desfavor de seu nacional, para o
pleito de extradição executória para que o processamento de ação penal instaurada naquele
extraditando cumprisse o restante da pena, que país em razão de sua suposta participação em dois
fora acrescida de cinco meses em razão do crimes de homicídio doloso. A defesa sustentava a
inadimplemento da pena de multa. A Turma condição de brasileiro nato do extraditando, sendo
esclareceu não se tratar de dívida, porém, de pena falso seu registro civil no Paraguai, o que
acessória a uma pena criminal, com característica impediria o deferimento da extradição. A Turma
de sanção penal. Destacou que o Estado afirmou que o pedido de extradição fora
requerente deverá firmar o compromisso de devidamente instruído pelo Estado requerente,
descontar da pena o tempo de prisão do observando-se todos os requisitos legais. Assim,
extraditando no território brasileiro para fins de foram apresentadas cópias da ordem de prisão
extradição. Assinalou que a ausência de legislação expedida pela autoridade judiciária competente e
a respeito da competência do Estado requerente dos demais documentos exigidos, havendo
para o processo e o julgamento não teria indicações seguras e precisas sobre o local, a data,
relevância em face do princípio da territorialidade, a natureza, as circunstâncias e a qualificação legal
aplicável em se tratando de prática delituosa dos fatos delituosos. Ademais, estariam
contra o seu fisco. A alegada prescrição da configuradas, na espécie, a dupla tipicidade e a
pretensão punitiva seria impertinente, porquanto dupla punibilidade, na medida em que os fatos
se trataria de sentença penal transitada em julgado, delituosos imputados ao extraditando
vale dizer, de questão afeta à prescrição da corresponderiam, no Brasil, ao crime de homicídio
pretensão executória. A inexistência de qualificado, previsto no art. 121, § 2º, IV, do CP, e
comprovação dos marcos interruptivos do curso não teria ocorrido a prescrição da pretensão
prescricional não impossibilitaria verificar a punitiva, consoante os textos legais apresentados
inocorrência da causa extintiva da pena, mercê de pelo Estado requerente e a legislação penal
o art. 133 do Código Penal espanhol dispor que o brasileira (CP, art. 109, I). Relativamente à
prazo prescricional da pretensão executória suposta condição de brasileiro nato do
começaria a fluir do trânsito em julgado da extraditando, o Colegiado asseverou ser
sentença (2.2.2011), ou seja, entre o marco inicial incontroverso o fato de o extraditando ter dois
e a presente data não teria transcorrido o lapso assentos de nascimento, o primeiro lavrado no
prescricional de cinco anos previsto na legislação Paraguai, e o segundo, no Brasil, dez anos depois.
espanhola. De igual forma, não estaria Como os dois registros apontariam que o
configurada a prescrição segundo a lei brasileira, extraditando nascera, na mesma data, em ambos
que prevê o prazo prescricional de oito anos para a os países, a impossibilidade lógica e material de
sua coexistência seria manifesta. Outrossim, nos seria no sentido de que, tratando-se de ―habeas
termos do art. 1.604 do CC, ―ninguém pode corpus‖ originário, como na hipótese em comento,
vindicar estado contrário ao que resulta do registro não se exigiria que a matéria tivesse sido
de nascimento, salvo provando-se erro ou previamente discutida. Ademais, não caberia
falsidade do registro‖. Na espécie, juízo de transportar para o exame do ―habeas corpus‖
primeira instância, em ação anulatória de registro requisito próprio à recorribilidade extraordinária,
civil ajuizada pelo Ministério Público estadual, qual seja, o debate e a decisão prévios do tema
deferira pleito de antecipação dos efeitos da tutela veiculado na petição inicial do ―writ‖, que
jurisdicional e cancelara o assento de nascimento poderia, inclusive, ser subscrito por qualquer
do extraditando no Brasil. Assim, estando pessoa.
judicialmente afastada a presunção ―juris tantum‖ RHC 118622/ES, rel. Min. Roberto Barroso,
de veracidade do registro brasileiro, por decisão 17.3.2015. (RHC-118622)
que, não obstante provisória, continuaria a projetar (Informativo 778, 1ª Turma)
seus efeitos, não haveria óbice à análise do mérito
do pedido de extradição. Nesse particular, embora “Habeas corpus” e autorização para visitas
o pleito extradicional não fosse a sede própria para O ―habeas corpus‖ não é meio processual
a determinação da real nacionalidade do adequado para o apenado obter autorização de
extraditando, inúmeros elementos de prova visita de sua companheira no estabelecimento
constantes dos autos reforçariam a convicção de prisional. Com base nessa orientação, a Segunda
que ele seria natural do Paraguai, lá gozando da Turma não conheceu de ―writ‖ em que se alegava
condição de paraguaio nato. Nesse sentido, esses a ilegalidade da decisão do juízo das execuções
elementos corroborariam a decisão de 1º grau que criminais que não consentira na referida visita.
cancelara o seu registro civil brasileiro. Ante o HC 127685/DF, rel. Min. Dias Toffoli,
consignado, não seria aplicável ao caso em 30.6.2015. (HC-127685)
comento o art. 5º, LI, da CF, que veda a (Informativo 792, 2ª Turma)
extradição do brasileiro nato.
Ext 1393/DF, rel. Min. Dias Toffoli, 25.8.2015. Cabimento de HC em face de decisão de
(Ext-1393) Ministro do STF e colaboração premiada - 1
(Informativo 796, 2ª Turma) O Plenário denegou a ordem em ―habeas corpus‖
impetrado em face de decisão proferida por
Habeas Corpus Ministro do STF, mediante a qual homologado
termo de colaboração premiada. A defesa alegava
Cabimento de “habeas corpus” e que o paciente fora denunciado pela suposta
prequestionamento prática dos crimes de organização criminosa,
É desnecessária a prévia discussão acerca de corrupção ativa, corrupção passiva, lavagem de
matéria objeto de ―habeas corpus‖ impetrado dinheiro e uso de documento falso com base nas
originariamente no STJ, quando a coação ilegal ou declarações oriundas do referido acordo.
o abuso de poder advierem de ato de TRF no Sustentava, ainda, que o beneficiário do acordo
exercício de sua competência penal originária. não seria pessoa digna de confiança, e que o
Com base nesse entendimento, a 1ª Turma deu paciente, em razão de não ser parte no termo de
provimento a recurso ordinário em ―habeas colaboração, não poderia manejar recurso da
corpus‖ para determinar o retorno dos autos ao aludida decisão, motivo pelo qual o ―writ‖ seria o
STJ, para que conhecesse de impetração lá instrumento processual cabível. Além disso,
ajuizada e analisasse seu mérito. Na espécie, após argumentava que decisões monocráticas deveriam
o recebimento de denúncia em face do ora passar, necessariamente, pelo crivo do Colegiado,
recorrente — detentor de foro por prerrogativa de em obediência à organicidade das decisões
função no âmbito de TRF —, a defesa impetrara judiciais. Preliminarmente, ante o empate na
―habeas corpus‖ no STJ, no qual se alegava, votação, o Tribunal conheceu do ―habeas corpus‖.
dentre outras, a nulidade de prova decorrente de No ponto, aduziu que o ―writ‖ teria fundamento
interceptação telefônica. O STJ, todavia, não no art. 102, I, d, da CF, segundo o qual cabe
conhecera da impetração, porquanto substitutiva ―habeas corpus‖ contra atos do próprio STF. O
de recurso especial, e, além disso, não examinara Ministro Gilmar Mendes destacou que obstar o
a tese relativa à referida nulidade, em razão da uso do ―writ‖ na hipótese significaria dificultar a
ausência de prévio debate no tribunal de origem. garantia do art. 5º, XXXV, da CF, bem assim o
A Turma ressaltou que a jurisprudência do STF próprio ideário de proteção do ―habeas corpus‖. O
Ministro Marco Aurélio invocou, ainda, os artigos judicialmente homologado, confere ao
5º, LXVIII, e 102, I, i, da CF. Frisou que eventual colaborador o direito de: a) usufruir das medidas
manuseio de agravo regimental não teria eficácia de proteção previstas na legislação específica; b)
suspensiva, bem assim que não seria aplicável o ter nome, qualificação, imagem e demais
art. 5º, I, da Lei 12.016/2009, alusiva a mandado informações pessoais preservados; c) ser
de segurança. Lembrou que o ―habeas corpus‖ não conduzido, em juízo, separadamente dos demais
encontraria óbice sequer na coisa julgada, e que o coautores e partícipes; e d) participar das
Enunciado 606 da Súmula do STF (―Não cabe audiências sem contato visual com outros
habeas corpus originário para o Tribunal Pleno de acusados. Além disso, deverá ser feito por escrito
decisão de Turma, ou do Plenário, proferida em e conter: a) o relato da colaboração e seus
‗habeas corpus‘ ou no respectivo recurso‖) não possíveis resultados; b) as condições da proposta
seria referente a ato de Ministro da Corte. O do Ministério Público ou do delegado de polícia;
Ministro Celso de Mello sublinhou, ainda, o c) a declaração de aceitação do colaborador e de
Enunciado 692 da Súmula do STF (―Não se seu defensor; e d) as assinaturas do representante
conhece de ‗habeas corpus‘ contra omissão de do Ministério Público ou do delegado de polícia,
relator de extradição, se fundado em fato ou do colaborador e de seu defensor. Por sua vez,
direito estrangeiro cuja prova não constava dos esse acordo somente será válido se: a) a
autos, nem foi ele provocado a respeito‖). O declaração de vontade do colaborador for
Ministro Ricardo Lewandowski (Presidente) resultante de um processo volitivo, querida com
destacou que, uma vez cabível o recurso de agravo plena consciência da realidade, escolhida com
interno em face de decisão monocrática — liberdade e deliberada sem má-fé; e b) o seu
portanto via de envergadura menor —, não se objeto for lícito, possível, determinado ou
poderia falar em empecilho para o uso do remédio determinável. Destacou que a ―liberdade‖ de que
constitucional. Por sua vez, não conheciam do se trata seria psíquica, e não de locomoção.
―habeas corpus‖ os Ministros Edson Fachin, Assim, não haveria óbice a que o colaborador
Roberto Barroso, Rosa Weber, Luiz Fux e Cármen estivesse custodiado, desde que presente a
Lúcia. Entendiam incidir o Enunciado 606 da voluntariedade da colaboração. Ademais, no que
Súmula do STF. Além disso, o paciente não seria se refere à eficácia do acordo, ela somente
parte no acordo de colaboração premiada, cuja ocorreria se o ato fosse submetido à homologação
homologação seria o ato coator. Ademais, decisão judicial. Esta limitar-se-ia a se pronunciar sobre a
de Ministro do STF desafiaria agravo regimental regularidade, legalidade e voluntariedade do
e, caso se tratasse de terceiro prejudicado, aplicar- acordo. Não seria emitido qualquer juízo de valor
se-ia o art. 499 do CPC. a respeito das declarações eventualmente já
HC 127483/PR, rel. Min. Dias Toffoli, 26 e prestadas pelo colaborador à autoridade policial
27.8.2015. (HC-127483) ou ao Ministério Público, tampouco seria
(Informativo 796, Plenário) 1ª Parte: 2ª Parte: conferido o signo da idoneidade a depoimentos
posteriores. Em outras palavras, homologar o
Cabimento de HC em face de decisão de acordo não implicaria dizer que o juiz admitira
Ministro do STF e colaboração premiada - 2 como verídicas ou idôneas as informações
No mérito, o Plenário considerou que a eventualmente já prestadas pelo colaborador e
colaboração premiada seria meio de obtenção de tendentes à identificação de coautores ou
prova, destinado à aquisição de elementos dotados partícipes da organização criminosa e das
de capacidade probatória. Não constituiria meio infrações por ela praticadas ou à revelação da
de prova propriamente dito. Outrossim, o acordo estrutura hierárquica e da divisão de tarefas da
de colaboração não se confundiria com os organização criminosa. Por fim, a aplicação da
depoimentos prestados pelo agente colaborador. sanção premial prevista no acordo dependeria do
Estes seriam, efetivamente, meio de prova, que efetivo cumprimento, pelo colaborador, das
somente se mostraria hábil à formação do obrigações por ele assumidas, com a produção de
convencimento judicial se viesse a ser um ou mais dos resultados legais (Lei
corroborado por outros meios idôneos de prova. 12.850/2013, art. 4º, I a V). Caso contrário, o
Por essa razão, a Lei 12.850/2013 dispõe que acordo estaria inadimplido, e não se aplicaria a
nenhuma sentença condenatória será proferida sanção premial respectiva.
com fundamento exclusivo nas declarações do HC 127483/PR, rel. Min. Dias Toffoli, 26 e
agente colaborador. Assinalou que a colaboração 27.8.2015. (HC-127483)
premiada seria negócio jurídico processual, o qual, (Informativo 796, Plenário)
utilidade das informações prestadas, o que seria
Cabimento de HC em face de decisão de aferido posteriormente. Assim, também seria
Ministro do STF e colaboração premiada - 3 irrelevante eventual descumprimento de acordo
O Colegiado assentou que eventual coautor ou anterior pelo mesmo agente. Essa conduta não
partícipe dos crimes praticados pelo colaborador contaminaria a validade de acordos posteriores. O
não poderia impugnar o acordo de colaboração. Plenário asseverou, ainda, que o acordo de
Afinal, se cuidaria de negócio jurídico processual colaboração poderia dispor sobre efeitos
personalíssimo. Ele não vincularia o delatado e extrapenais de natureza patrimonial da
não atingiria diretamente sua esfera jurídica. O condenação. Na espécie, ele cuidaria da liberação
acordo, por si só, não poderia atingir o delatado, de imóveis do interesse do colaborador,
mas sim as imputações constantes dos supostamente produtos de crimes. Consignou que
depoimentos do colaborador ou as medidas essas cláusulas não repercutiriam na esfera de
restritivas de direitos que viessem a ser adotadas interesses do paciente. Todavia, seria legítimo que
com base nesses depoimentos e nas provas por o acordo dispusesse das medidas adequadas para
eles indicadas ou apresentadas. Sublinhou, a que integrantes de organizações criminosas
respeito, que, nas demais legislações a tratar de colaborassem para o desvendamento da estrutura
colaboração premiada, o direito do imputado organizacional. Como a colaboração exitosa teria
colaborador às sanções premiais independeria da o condão de afastar consequências penais da
existência de acordo judicialmente homologado. prática delituosa, também poderia mitigar efeitos
Nos termos da Lei 12.850/2013, após a de natureza extrapenal, a exemplo do confisco do
homologação do acordo, os depoimentos do produto do crime. A Corte registrou, ainda, que a
colaborador se sujeitariam ao regime jurídico sanção premial constituiria direito subjetivo do
instituído pela lei. Subsistiriam válidos os colaborador.
depoimentos anteriormente prestados pelo HC 127483/PR, rel. Min. Dias Toffoli, 26 e
colaborador, que poderiam, oportunamente, ser 27.8.2015. (HC-127483)
confrontados e valorados pelas partes e pelo juízo. (Informativo 796, Plenário)
Outrossim, negar-se ao delatado o direito de
impugnar o acordo de colaboração não implicaria “Habeas corpus” e cabimento
desproteção aos seus interesses. Sucede que O ―habeas corpus‖, cuja finalidade é a tutela da
nenhuma sentença condenatória poderia ser liberdade de locomoção, não é cabível para o
proferida com fundamento apenas nas declarações reexame de pressupostos de admissibilidade de
do colaborador. Ademais, sempre seria assegurado recursos. Com base nessa orientação, a Primeira
ao delatado o direito ao contraditório. Ele poderia, Turma, por maioria, não conheceu da impetração.
inclusive, inquirir o colaborador em interrogatório Na espécie, a paciente interpusera recurso especial
ou em audiência especificamente designada para cujo seguimento fora obstado por
esse fim. Além disso, o Tribunal reputou que a intempestividade. A petição fora apresentada por
personalidade do colaborador ou eventual correspondência eletrônica, no prazo final para
descumprimento de anterior acordo de sua interposição e o original fora protocolizado no
colaboração não invalidariam o acordo atual. dia subsequente. A defesa manejara agravo em
Primeiramente, seria natural que o colaborador, recurso especial, não conhecido ante a
em apuração de organização criminosa, extemporaneidade. Na sequência, fora indeferido
apresentasse, em tese, personalidade desajustada o ―habeas corpus‖ impetrado perante o STJ para
ao convívio social, voltada à prática de crimes afastar o óbice à sequência do recurso especial. A
graves. Assim, se a colaboração processual Turma esclareceu que o ―habeas corpus‖ seria
estivesse subordinada à personalidade do agente, o substitutivo de recurso. Apontou não se
instituto teria poucos efeitos. Na verdade, a depreender hipótese que justificasse a
personalidade constituiria vetor a ser considerado excepcionalidade da concessão da ordem de ofício
no estabelecimento das cláusulas do acordo de ante o próprio não conhecimento do feito. Não
colaboração, notadamente a escolha da sanção haveria flagrante ilegalidade ou teratologia.
premial, bem assim o momento da aplicação dessa Vencido o Ministro Marco Aurélio (relator), que
sanção, pelo juiz. Além disso, eventual deferia a ordem para que o recurso especial tivesse
―confiança‖ do poder público no agente seguimento. Reputava que o tribunal local teria
colaborador não seria elemento de validade do decidido em descompasso com os princípios da
acordo. Esta não adviria da personalidade ou dos confiança e da lealdade processual, ao olvidar a
antecedentes da pessoa, mas da fidedignidade e própria Portaria-Conjunta 73/2006. Essa norma
admite a interposição por correio eletrônico com apreciação do Colegiado, o que não subverteria o
exigência de apresentação do documento original quanto disposto no art. 3º, I, da Lei 8.038/1990.
em até cinco dias da data do término do prazo. Ademais, não haveria, na espécie, elementos
Ressaltava, ainda, que referida portaria fora suficientes para o prosseguimento do inquérito.
elaborada em conformidade com o disposto na Vencido o Ministro Marco Aurélio, que dava
Resolução 287/2004 do STF. Precedente citado: provimento ao agravo. Afirmava que a Lei
HC 122.867/SP (DJe de 3.9.2014). 8.038/1990 seria clara, não apresentando qualquer
HC 114293/MG, rel. orig. Min. Marco Aurélio, distinção no que junge a possibilidade de o relator
red. p/ o acórdão Min. Edson Fachin, arquivar o inquérito ao requerimento do
1º.12.2015. (HC-114293) Ministério Público. Ausente o requerimento, o
(Informativo 810, 1ª Turma) inquérito deveria ir à Turma, em questão de
ordem. Por outro lado, seria cabível investigação
Investigação Preliminar ante qualquer notícia de prática criminosa,
devendo-se viabilizar a atuação do Ministério
Arquivamento de inquérito e requerimento do Público em defesa da sociedade.
PGR Inq 3847 AgR/GO, rel. Min. Dias Toffoli,
A Primeira Turma, em conclusão de julgamento e 7.4.2015. (Inq-3847)
por maioria, negou provimento a agravo (Informativo 780, 1ª Turma)
regimental em que se impugnava decisão Ministério Público e investigação criminal - 20
monocrática que, com base no art. 21, XV, e, do O Ministério Público dispõe de competência para
RISTF, determinara o arquivamento de inquérito promover, por autoridade própria, e por prazo
[―Art. 21. São atribuições do Relator: ... XV – razoável, investigações de natureza penal, desde
determinar a instauração de inquérito a pedido do que respeitados os direitos e garantias que
Procurador-Geral da República, da autoridade assistem a qualquer indiciado ou a qualquer
policial ou do ofendido, bem como o seu pessoa sob investigação do Estado, observadas,
arquivamento, quando o requerer o Procurador- sempre, por seus agentes, as hipóteses de reserva
Geral da República, ou quando verificar: ... e) constitucional de jurisdição e, também, as
ausência de indícios mínimos de autoria ou prerrogativas profissionais de que se acham
materialidade‖]. O agravante apontava a investidos, em nosso País, os advogados (Lei
ilegitimidade da decisão impugnada, porquanto o 8.906/1994, art. 7º, notadamente os incisos I, II,
arquivamento de inquérito deveria decorrer de III, XI, XIII, XIV e XIX), sem prejuízo da
requerimento do PGR ou, quando menos, após a possibilidade – sempre presente no Estado
sua oitiva. Destacava, também, a aplicabilidade, democrático de Direito – do permanente controle
no caso, do precedente firmado quando do jurisdicional dos atos, necessariamente
julgamento do Inq 2.913 AgR/MT (DJe de documentados (Enunciado 14 da Súmula
21.6.2012) no qual se afirmara que o dispositivo Vinculante), praticados pelos membros dessa
do regimento interno utilizado como fundamento Instituição. Com base nessa orientação, o
da decisão ora agravada ofenderia o art. 3º, I, da Plenário, em conclusão de julgamento e por
Lei 8.038/1990 (―Art. 3º - Compete ao relator: I - maioria, negou provimento a recurso
determinar o arquivamento do inquérito ou de extraordinário em que discutida a
peças informativas, quando o requerer o constitucionalidade da realização de procedimento
Ministério Público, ou submeter o requerimento à investigatório criminal pelo Ministério Público.
decisão competente do Tribunal‖). A Turma No caso, o acórdão impugnado dispusera que, na
asseverou que a questão relativa à legitimidade da fase de recebimento da denúncia, prevaleceria a
determinação de arquivamento do inquérito estaria máxima ―in dubio pro societate‖, oportunidade em
superada na hipótese em comento, dado que, com que se possibilitaria ao titular da ação penal
a interposição do agravo regimental, a matéria ampliar o conjunto probatório. Sustentava o
estaria sendo apreciada pelo Colegiado. recorrente que a investigação realizada pelo
Outrossim, não existiria justa causa para a ―parquet‖ ultrapassaria suas atribuições funcionais
instauração do inquérito. O Ministro Dias Toffoli constitucionalmente previstas — v. Informativos
(relator), embora também negasse provimento ao 671, 672 e 693. O Tribunal asseverou que a
recurso, afirmara (na sessão de 30.9.2014) que questão em debate seria de grande importância,
eventual agravo regimental, interposto em face de por envolver o exercício de poderes por parte do
decisão monocrática que tivesse determinado o Ministério Público. A legitimidade do poder
arquivamento de inquérito, levaria a matéria à investigatório do órgão seria extraída da
Constituição, a partir de cláusula que outorgaria o Informativo 391. A Turma asseverou que a
monopólio da ação penal pública e o controle controvérsia sobre a legitimidade constitucional
externo sobre a atividade policial. O ―parquet‖, do poder de investigação do Ministério Público
porém, não poderia presidir o inquérito policial, fora pacificada na Corte com o julgamento do RE
por ser função precípua da autoridade policial. 593.727/MG — (acórdão pendente de publicação,
Ademais, a função investigatória do Ministério v. Informativo 785). Vencido o Ministro Marco
Público não se converteria em atividade ordinária, Aurélio, que concedia a ordem.
mas excepcional, a legitimar a sua atuação em HC 85011/RS, rel. orig. Min. Eros Grau, red. p/
casos de abuso de autoridade, prática de delito por o acórdão Min. Teori Zavascki, 26.5.2015. (HC-
policiais, crimes contra a Administração Pública, 85011)
inércia dos organismos policiais, ou (Informativo 787, 1ª Turma)
procrastinação indevida no desempenho de Arquivamento de inquérito policial e coisa
investigação penal, situações que, julgada
exemplificativamente, justificariam a intervenção O arquivamento de inquérito policial em razão do
subsidiária do órgão ministerial. Haveria, no reconhecimento de excludente de ilicitude não faz
entanto, a necessidade de fiscalização da coisa julgada material. Esse o entendimento da
legalidade dos atos investigatórios, de Segunda Turma, que, em conclusão de julgamento
estabelecimento de exigências de caráter e por maioria, denegou a ordem em ―habeas
procedimental e de se respeitar direitos e garantias corpus‖ em que se pleiteava o reconhecimento da
que assistiriam a qualquer pessoa sob investigação coisa julgada material e a extinção de ação penal.
— inclusive em matéria de preservação da No caso, em razão da suposta prática do delito de
integridade de prerrogativas profissionais dos homicídio tentado (CP, art. 121, § 2º, IV, c/c art.
advogados, tudo sob o controle e a fiscalização do 14, II), foram instaurados dois inquéritos — um
Poder Judiciário. Vencidos os Ministros Cezar civil e um militar — em face do ora paciente e de
Peluso (relator), Ricardo Lewandowski corréus. O inquérito policial militar fora arquivado
(Presidente) e Dias Toffoli, que davam em 21.10.1993, a pedido do Ministério Público,
provimento ao recurso extraordinário e que entendera que os agentes teriam agido em
reconheciam, em menor extensão, o poder de estrito cumprimento de dever legal. Já no
investigação do Ministério Público, em situações inquérito policial civil, o paciente fora denunciado
pontuais e excepcionais; e o Ministro Marco em 23.12.1998 e, instruída a ação penal,
Aurélio, que dava provimento ao recurso, condenado à pena de 10 anos de reclusão. O
proclamando a ilegitimidade absoluta do Colegiado, inicialmente, destacou que, à época em
Ministério Público para, por meios próprios, que proferida a decisão determinando o
realizar investigações criminais. arquivamento do inquérito policial militar, a
RE 593727/MG, rel. orig. Min. Cezar Peluso, Justiça Castrense seria competente para processar
red. p/ o acórdão Min. Gilmar Mendes, e julgar o paciente pelo delito em questão, já que
14.5.2015. (RE-593727) somente com o advento da Lei 9.299/1996 teria
(Informativo 785, Plenário, Repercussão Geral) sido deslocado o julgamento dos crimes dolosos
Prisão preventiva e HC de ofício - 3 contra a vida de civis para o tribunal do júri. Por
O Ministério Público dispõe de competência para outro lado, consoante o Enunciado 524 da Súmula
promover, por autoridade própria, e por prazo do STF, decisão proferida por juiz competente, em
razoável, investigações de natureza penal, desde que tivesse sido determinado o arquivamento de
que respeitados os direitos e garantias que inquérito a pedido do Ministério Público, em
assistem a qualquer indiciado ou a qualquer virtude de o fato apurado estar coberto por causa
pessoa sob investigação do Estado. Ao reafirmar excludente de ilicitude, não obstaria o
esse entendimento, a Primeira Turma, em desarquivamento quando surgissem novas provas,
conclusão de julgamento e por maioria, indeferiu reiterado o que decidido no HC 95.211/ES (DJe
―habeas corpus‖, porém, à unanimidade, de 22.8.2011). A decisão da Justiça Militar, na
implementou a ordem de ofício, para afastar a hipótese em comento, não afastara o fato típico
prisão provisória. Na espécie, a ordem fora ocorrido, mas sim sua ilicitude, em razão do
impetrada em favor de acusado pela suposta estrito cumprimento do dever legal, que o
autoria intelectual de homicídio em que pretendida Ministério Público entendera provado a partir dos
a declaração de nulidade do processo, a partir da elementos de prova de que dispunha até então.
denúncia, com o consequente relaxamento da Nesse diapasão, o eventual surgimento de novos
prisão preventiva contra ele decretada — v. elementos de convicção teria o condão de
impulsionar a reabertura do inquérito na justiça Convalidação de atos e nulidade
comum, a teor do art. 18 do CPP (―Depois de Se determinada decisão do STF declara a nulidade
ordenado o arquivamento do inquérito pela processual a partir de certo ―decisium‖ a
autoridade judiciária, por falta de base para a repercutir, inclusive, nos atos subsequentes, o
denúncia, a autoridade policial poderá proceder a órgão reclamado não pode os declarar
novas pesquisas, se de outras provas tiver convalidados. Com base nessa orientação, a
notícia‖). Na espécie, a simples leitura das provas Primeira Turma julgou procedente pedido
constantes dos autos apontaria uma nova versão formulado em reclamação e determinou fosse
para os fatos delituosos, em consequência do afastada a custódia que decorrera da prática dos
prosseguimento das investigações na justiça atos implementados de forma automática. No
comum, não havendo impedimento legal para a caso, ao apreciar ―habeas corpus‖ do reclamante, a
propositura da nova ação penal contra o paciente Primeira Turma anulara o que decidido por
naquela seara. Vencido o Ministro Teori Zavascki tribunal regional federal, uma vez demonstrada a
(relator), que entendia estar configurada a coisa impossibilidade de comparecimento do
julgada material. Leia o inteiro teor do voto representante processual à sessão de apreciação de
condutor na seção ―Transcrições‖ deste recurso em sentido estrito, com formal pedido de
Informativo. adiamento. Além disso, em embargos
HC 125101/SP, rel. orig. Min. Teori Zavascki, declaratórios, a Turma esclarecera que a nulidade
red. p/ o acórdão Min. Dias Toffoli, 25.8.2015. alcançara todos os atos posteriores ao exame do
(HC-125101) referido recurso, inclusive os alusivos à custódia e
(Informativo 796, 2ª Turma) ao julgamento popular. Ocorre que, ao reapreciá-
lo, a turma especializada do mencionado tribunal
Inquérito e acesso às provas restabelecera atos no processo-crime que teriam
Diligências determinadas a requerimento do sido afastados pela Primeira Turma do STF no
Ministério Público Federal são meramente campo da automaticidade, a caracterizar ofensa ao
informativas, não suscetíveis ao princípio do que decidido no ―habeas corpus‖ paradigma (HC
contraditório. Desse modo, não cabe à defesa 89.387/RJ, DJe de 8.6.2007).
controlar, ―ex ante‖, a investigação, de modo a Rcl 8823/RJ, rel. Min. Marco Aurélio,
restringir os poderes instrutórios do relator do 20.10.2015. (Rcl-8823)
feito para deferir, desde logo, as diligências (Informativo 804, 1ª Turma)
requeridas pelo Ministério Público que entender Interceptações telefônicas: compartilhamento e
pertinentes e relevantes para o esclarecimento dos autuação
fatos. Com base nessa orientação, a Segunda A Primeira Turma indeferiu a ordem em ―habeas
Turma negou provimento a agravo regimental em corpus‖ no qual se pretendia a anulação de ação
inquérito interposto contra decisão do relator que penal com argumento em prova ilícita. Na espécie,
deferira diligências advindas da Procuradoria- foram aproveitados dados alusivos a interceptação
Geral da República. Na espécie, a investigada telefônica verificada em outra unidade da
pretendia que a ela fosse concedida oportunidade Federação e em outro processo-crime, porém
de se manifestar previamente sobre relatório de autorizada judicialmente. A Turma entendeu que o
análise de informações bancárias e requerimento fato de a escuta telefônica ter visado elucidar outra
de diligências. A Turma destacou que o prática delituosa não impediria a sua utilização em
Enunciado 14 da Súmula Vinculante assegura ao persecução criminal diversa (compartilhamento).
defensor legalmente constituído do investigado o Além disso, não caracteriza ofensa ao art. 93, IX,
direito de pleno acesso ao inquérito, desde que se da CF o ato em que adotados como razões de
trate de provas já produzidas e formalmente decidir os fundamentos lançados na manifestação
incorporadas ao procedimento investigatório. do Ministério Público. Por fim, preenchidas as
Excluídas, consequentemente, as informações e exigências previstas na Lei 9.296/96 (Lei de
providências investigatórias ainda em curso de Interceptação Telefônica), descabe considerar
execução e, por isso mesmo, não documentadas ilícita a prova ante a suposta ausência de autuação.
nos autos. Precedente citado: HC 93.767/DF (DJe Tratar-se-ia de mera irregularidade, não violadora
de 1º.4.2014). dos elementos essenciais à validade da medida
Inq 3387 AgR/CE, rel. Min. Dias Toffoli, cautelar.
15.12.2015. (Inq-3387) HC 128102/SP, rel. Min. Marco Aurélio,
(Informativo 812, 2ª Turma) 9.12.2015. (HC-128102)
Nulidades (Informativo 811, 1ª Turma)
Princípios e Garantias Processuais situação jurídica daquele a quem busca favorecer.
Recurso exclusivo da defesa: redução da pena e Com base nessa orientação, a Segunda Turma
“reformatio in pejus” concedeu a ordem em ―habeas corpus‖ para cassar
Ante o empate na votação, a 2ª Turma concedeu a o acórdão do STJ que dera provimento a recurso
ordem em ―habeas corpus‖ impetrado em favor de especial, e julgar extinta a punibilidade pela
condenada pelo crime do art. 33, c/c o art. 40, I, da prescrição da pretensão punitiva (CP, artigos 107,
Lei 11.343/2006. No caso, a sentença de 1º grau IV; 109, VI e 110, § 1º). Na espécie, a paciente
impusera-lhe a pena de 7 anos e 9 meses de fora denunciada pela suposta tentativa de furto de
reclusão. Após apelação interposta pela defesa, 26 barras de chocolate, e o juízo da vara criminal,
dera-se parcial provimento ao recurso, para ao aplicar o princípio da insignificância, a
reduzir a reprimenda para 6 anos e 5 meses de absolvera sumariamente (CPP, art. 397, III). Na
reclusão. Alegava-se que a 2ª instância teria sequência, o tribunal de justiça mantivera a
incorrido em ―reformatio in pejus‖, pois, não absolvição por fundamento diverso (crime
obstante o total da pena tivesse sido reduzido, o impossível) e, em recurso especial do Ministério
tribunal fixara a pena-base em patamar superior ao Público, o STJ a condenara nos termos da
estabelecido anteriormente. A Turma registrou denúncia e determinara o retorno dos autos ao
que a quantidade da pena fixada não seria o único tribunal local para fixar a dosimetria da pena,
efeito a permear a condenação, e que o rearranjo estabelecida em quatro meses de detenção. A
da pena-base — levado a efeito quando do exame Turma apontou a impossibilidade de se agravar a
de recurso exclusivo da defesa — poderia situação jurídica da paciente. Ademais, ao se
provocar, por exemplo, o agravamento do regime anular a decisão do STJ que a condenara, a pena a
inicial de reprimenda. Seria vedado ao tribunal ser concretamente fixada na origem não poderia
agravar, qualitativa ou quantitativamente, a sanção mais ser agravada. Além disso, já ocorrera a
imposta. O STF, no entanto, admitiria que, em prescrição.
hipóteses como essa, fosse dada nova definição HC 126869/RS, rel. Min. Dias Toffoli,
jurídica ao fato delituoso, desde que não agravada 23.6.2015. (HC-126869)
a pena ou não piorada, de alguma forma, a (Informativo 791, 2ª Turma)
situação do apelante. No caso, embora, ao final, o
cálculo da pena tivesse resultado em número Desclassificação e aumento de pena imposta - 1
inferior, o tribunal reconhecera em desfavor da A Segunda Turma, por maioria, concedeu, em
paciente circunstâncias não firmadas na sentença. parte, a ordem em ―habeas corpus‖, para
Aparentemente sem prejuízo prático para a restabelecer pena fixada em sentença condenatória
condenada, a decisão reconhecera vetoriais de primeira instância, mantida, no entanto, a
negativas outrora inexistentes, o que configuraria tipificação imposta pelo STM em julgamento de
prejuízo e constrangimento ilegal. Assim, seria recurso de apelação. No caso, o paciente fora
necessário realizar nova dosimetria, mantidos, condenado, em primeiro grau, à pena de 1 ano e 6
quanto à pena-base, os termos definidos em 1º meses de reclusão, pela suposta prática do crime
grau. Os Ministros Teori Zavascki (relator) e de falsidade ideológica (CPM, art. 312), por ter
Cármen Lúcia indeferiam a ordem. Entendiam supostamente emitido declarações falsas de
que, ainda que em recurso exclusivo da defesa, o rendimentos em favor de outros corréus para a
efeito devolutivo da apelação permitiria a revisão obtenção de empréstimos consignados perante a
de toda a matéria e, portanto, dos critérios de Caixa Econômica Federal. O STM, contudo, dera
fixação da pena, respeitados os limites da parcial provimento à apelação interposta pelo
acusação e da prova produzida. Se, ao final, a Ministério Público para modificar a capitulação
pena fosse reduzida, não haveria que se falar em para a do delito de uso de documento falso (CPM,
―reformatio in pejus‖. art. 315, c/c o art. 311), fixando nova reprimenda
HC 103310/SP, rel. orig. Min. Teori Zavascki, em 2 anos de reclusão. A impetração sustentava:
red. p/ o acórdão Min. Gilmar Mendes, a) a incompetência absoluta da Justiça Militar da
3.3.2015. (HC-103310) União, pois a suposta ação delituosa não teria
(Informativo 776, 2ª Turma) ferido nenhum bem jurídico diretamente
relacionado às funções típicas das Forças
“Habeas corpus” e “reformatio in pejus” Armadas, previstas no art. 142 da CF; e b) a
A proibição da ―reformatio in pejus‖, princípio inexistência de correlação entre o que fora
imanente ao processo penal, aplica-se ao ―habeas postulado pelo Ministério Público nas razões da
corpus‖, cujo manejo jamais poderá agravar a referida apelação e o que fora decidido pela Corte
castrense, uma vez que o apelo ministerial teria processual do réu sem que a própria acusação a
buscado apenas a modificação da capitulação do tivesse almejado certamente implicaria violação a
delito, sem pedido expresso de aumento da pena princípios básicos do processo penal
imposta ao paciente. Em relação à alegada constitucional. Vencido o Ministro Dias Toffoli,
incompetência da Justiça Militar, a Turma que denegava a ordem por entender que não
asseverou ser inviável ao STF, em sede de caberia ao Ministério Público se manifestar sobre
―habeas corpus‖, decidir que o crime praticado qual a pena a ser aplicada no caso em comento,
seria o de estelionato e que, portanto, a vítima mas, sim, ao Poder Judiciário.
seria a Caixa Econômica Federal. Aliás, em HC 112382/RS, rel. Min. Teori Zavascki,
momento algum a denúncia teria aludido a 4.8.2015. (HC-112382)
prejuízo alheio, elementar normativa do delito (Informativo 793, 2ª Turma)
previsto no art. 171 do CP. Assim, se a Recurso exclusivo da defesa e “reformatio in
condenação se dera pela prática de uso de pejus” - 2
documento militar adulterado, previsto no art. 315 Ante o empate na votação, a Segunda Turma, em
do CPM, as condutas voltar-se-iam contra a ordem conclusão de julgamento, deu provimento a
da administração militar, circunstância recurso ordinário em ―habeas corpus‖ a fim de que
configuradora de crime militar impróprio, nos seja refeita a dosimetria da pena em relação ao
termos do art. 9º, III, a, do CPM. recorrente. Na espécie, afirmava-se a existência de
HC 112382/RS, rel. Min. Teori Zavascki, ―reformatio in pejus‖ em acórdão que, ao apreciar
4.8.2015. (HC-112382) recurso exclusivo da defesa, mantivera a
(Informativo 793, 2ª Turma) condenação do ora recorrente pela prática do
Desclassificação e aumento de pena imposta - 2 crime de furto tentado (CP, art. 155 c/c art. 14, II),
Quanto à alegação de ilegitimidade do aumento, afastada a qualificadora da escalada (CP, art. 155,
em sede recursal, da pena anteriormente imposta, § 4º, II), porém acrescida da causa de aumento do
a Turma assentou que, no caso, seria indevida a repouso noturno (CP, art. 155, § 1º) — v.
majoração em sede de apelação, pois dessa parte Informativo 781. Tratava-se de controvérsia
não teria recorrido a acusação. O recurso de relativa ao alcance da parte final do art. 617 do
apelação do Ministério Público teria CPP (―O tribunal, câmara ou turma atenderá nas
expressamente consignado que ―o apelo suas decisões ao disposto nos arts. 383, 386 e 387,
ministerial cinge-se unicamente na correção do no que for aplicável, não podendo, porém, ser
tipo penal a que o mesmo está incurso, pois sua agravada a pena, quando somente o réu houver
condenação deve se dar pela prática de uso de apelado da sentença‖), acerca do agravamento de
documento falso, consoante tipificação do art. 315 pena quando somente o réu houvesse apelado da
do Código Penal Militar, nos exatos termos da sentença. Prevaleceu a tese de que a melhor
fundamentação da sentença recorrida, inclusive interpretação a ser dada à parte final do art. 617 do
quanto ao apenamento ditado pelo Colegiado de 1ª CPP seria a sistemática, a levar em conta que a
Instância‖. O STM, ao dar parcial provimento ao norma estaria inserida em um conjunto organizado
recurso para modificar a adequação típica, como de ideias e, por isso, a vedação da ―reformatio in
postulado no recurso, desacolhera o pleito relativo pejus‖ não se restringiria à quantidade final de
à manutenção da reprimenda, aplicando a pena pena, porquanto não se trataria de mero cálculo
cominada ao crime do art. 315 do CPM. Não se aritmético, mas sim de efetiva valoração da
poderia, entretanto, admitir o agravamento da conduta levada a efeito pelo sentenciado. Ao fixar
reprimenda, de ofício, pelo STM, ainda que o a pena-base, o magistrado se ateria às vetoriais do
recurso tivesse sido da acusação. Seria certo que o art. 59 do CP. No caso, ao se comparar a pena
efeito devolutivo inerente ao recurso de apelação final do recorrente (1 ano, 5 meses e 23 dias de
permitiria que o tribunal o apreciasse em reclusão) com aquela imposta em 1ª instância (2
exaustivo nível de profundidade. O mesmo não anos, 7 meses e 15 dias de reclusão), o apelante
ocorreria, porém, no tocante à sua extensão — parecia ter sido beneficiado pela decisão de 2ª
limite horizontal —, que deveria se adstringir — instância. Observou-se que após o trânsito em
sobretudo em se tratando de recurso da acusação julgado para o Ministério Público, o tribunal de
— à matéria questionada e ao pedido formulado apelação reconhecera a existência de uma
na petição recursal, ressalvada sempre a circunstância qualificadora (delito praticado
possibilidade de concessão de ordem de ―habeas durante o repouso noturno), que em momento
corpus‖ de ofício. Em conclusão, chancelar o ato algum fora aventada. Contudo, ainda que
da Corte revisora que agravara a situação presentes todos os requisitos fáticos para a
aplicação dessa qualificadora, a ausência de fundamentação apta a justificar a necessidade da
recurso da acusação vedaria esse proceder, visto medida constritiva, bem como falta dos
se tratar de elemento desfavorável à defesa. pressupostos contidos no art. 312 do CPP — v.
Assim, a decisão de 2ª instância aumentara a pena Informativo 733. Inicialmente, a Turma superou o
atribuída a cada vetorial negativa reconhecida e óbice do Enunciado 691 da Súmula do STF.
agregara à decisão uma qualificadora inexistente, Destacou que a 1ª Turma concedera a ordem e
a gerar prejuízo e constrangimento ilegal. Por cassara o respectivo decreto prisional em outro
outro lado, os Ministros Dias Toffoli (relator) e ―habeas corpus‖ impetrado por corréu. Em
Teori Zavascki negavam provimento ao recurso. consequência, por se encontrar o paciente em
Admitiam a devolução, ao tribunal ―ad quem‖, de situação idêntica à do corréu, seria necessária a
todo o conjunto da matéria na sua requalificação aplicação do art. 580 do CPP [―No caso de
dos fatos aos tipos penais. Concluíam que, por não concurso de agentes (Código Penal, art. 25), a
ter havido agravamento, fosse da pena, fosse do decisão do recurso interposto por um dos réus, se
regime de cumprimento dela, não estaria fundado em motivos que não sejam de caráter
configurada a ―reformatio in pejus‖. exclusivamente pessoal, aproveitará aos outros‖].
RHC 126763/MS, rel. orig. Min. Dias Toffoli, Ademais, o decreto prisional fora motivado de
red. p/ o acórdão Min. Gilmar Mendes, forma genérica e abstrata, sem justificativas
1º.9.2015. (RHC-126763) concretas, amparadas em base empírica inidônea,
(Informativo 797, 2ª Turma) quanto aos fundamentos da cautelar.
Prisão Cautelar HC 119934/SP, rel. Min. Dias Toffoli, 3.2.2015.
Tráfico de drogas e liberdade provisória (HC-119934)
A Primeira Turma concedeu a ordem de ―habeas (Informativo 773, 1ª Turma)
corpus‖ para deferir o benefício da liberdade Investigação criminal promovida pelo Ministério
provisória do paciente com dispensa do Público e aditamento da denúncia - 10
pagamento de fiança e imediata expedição do O Plenário, em conclusão de julgamento e por
competente alvará de soltura, ressalvada, se maioria, concedeu em parte a ordem em ―habeas
cabível, a imposição de medidas cautelares do art. corpus‖ apenas para revogar o decreto de prisão
319 do CPP. Na espécie, o paciente fora preso em preventiva e manteve, hígida, a denúncia contra o
flagrante pela suposta prática do delito de tráfico paciente. Na espécie, pretendeu-se o trancamento
de drogas (Lei 11.343/2006, art. 33) e fora de ação penal movida contra acusado da suposta
beneficiado com a concessão da liberdade prática do crime de homicídio, e a invalidação da
provisória mediante o pagamento de fiança. decisão que decretara sua prisão preventiva. Para a
Ocorre que, em virtude do não recolhimento da defesa, não haveria base legal para a prisão, bem
fiança — e exclusivamente por essa razão — o como não seria admissível a investigação
paciente permaneceria preso. A Turma reputou ser promovida pelo Ministério Público, que viera a
injusto e desproporcional condicionar a expedição servir de base ao aditamento à denúncia, a partir
do respectivo alvará de soltura ao recolhimento da do qual o paciente fora envolvido na ação penal
fiança. Ademais, enfatizou que não tendo o — v. Informativos 471, 671, 672 e 693. O
paciente condições financeiras de arcar com o Tribunal destacou que houvera o deferimento da
valor da fiança, tendo em vista ser assistido pela medida acauteladora e consequente expedição de
Defensoria Pública, o que pressuporia sua alvará de soltura e, por isso, desde 2004 o paciente
hipossuficiência, nada justificaria a imposição da responderia ao processo em liberdade. Frisou que
prisão cautelar. os requisitos autorizadores descritos no art. 312 do
HC 129474/PR, rel. Min. Rosa Weber, CPP não teriam sido concretamente demonstrados
22.9.2015. (HC-129474) pelo juízo de 1º grau. O magistrado teria se
(Informativo 800, 1ª Turma) limitado a inferir a possível periculosidade do réu
Prisão Processual a partir da gravidade abstrata do delito, o qual
Prisão cautelar de corréu e isonomia - 2 teria, ademais, gerado intensa repercussão pública.
Em conclusão de julgamento, a 1ª Turma Aduziu que, nos termos de remansosa
concedeu ―habeas corpus‖ para cassar a prisão jurisprudência do Tribunal, seria exigido que a
preventiva decretada pelo tribunal de origem e prisão preventiva estivesse justificada em fatos
restaurar a decisão do magistrado de primeiro grau concretos. Não seria aceitável invocar
que impusera medidas cautelares previstas no art. abstratamente a possível perturbação da ordem
319 do CPP. No caso, a impetração alegara pública, de um lado, e tampouco a repercussão
constrangimento ilegal em face da ausência de negativa na comunidade. Refutou, de outro lado,
os argumentos da defesa quanto à insubsistência preventivamente e, em seguida, denunciado pela
da denúncia porque teria sido baseada apenas em suposta prática dos crimes previstos no art. 2º,
investigação por parte do Ministério Público. ―caput‖ e § 4º, II, III, IV e V, c/c o art. 1º, § 1º,
Asseverou que o Ministério Público não se ambos da Lei 12.850/2013; bem assim no art. 333,
fundara exclusivamente em investigações feitas parágrafo único, do CP e no art. 1º, c/c o § 2º, II,
por ele, ―Parquet‖, mas com base em provas da Lei 9.613/1998. A defesa sustentava ausência
colhidas na investigação policial e também de fundamento do decreto prisional e requeria
decorrentes de quebra de sigilo telefônico do expedição de alvará de soltura.
paciente autorizadas judicialmente. Salientou que HC 127186/PR, rel. Min. Teori Zavascki,
a peça acusatória, mesmo com o aditamento, 28.4.2015. (HC-127186)
poderia subsistir apenas com base nos elementos (Informativo 783, 2ª Turma)
produzidos no inquérito policial. Nesse ponto, a Prisão cautelar: requisitos e medidas alternativas
Corte esclareceu que a matéria atinente à eventual -2
possibilidade de investigação criminal pelo A Turma asseverou que a prisão seria a medida
Ministério Público seria oportunamente trazida acauteladora mais grave no processo penal, a
para análise do Colegiado. Por fim, apontou a desafiar o direito fundamental da presunção de
existência de fato novo, consistente em decisão da inocência, razão pela qual somente deveria ser
1ª Turma no HC 115.714/SP (DJe de 23.2.2015) decretada quando absolutamente necessária. Ela
em relação ao mesmo paciente. No referido somente se legitimaria em situações nas quais
julgamento, a Turma determinara que fosse fosse o único meio eficiente para preservar os
anulado parcialmente o processo principal, a partir valores jurídicos que a lei penal visa a proteger,
de interrogatório de corréus e, ainda, que o juízo segundo o art. 312 do CPP. Fora dessas hipóteses
―a quo‖ observasse o disposto no art. 188 do CPP. excepcionais, representaria mera antecipação de
Vencidos, em parte, os Ministros Cezar Peluso, pena, inadmissível pela jurisprudência da Corte.
Cármen Lúcia e Ayres Britto, que denegavam a Ademais, a prisão preventiva pressuporia prova da
ordem, e o Ministro Marco Aurélio (relator), que a existência do crime e indício suficiente de autoria.
implementava em maior extensão. Todavia, por mais grave que fosse o delito
HC 84548/SP, rel. orig. Min. Marco Aurélio, apurado e por mais robusta que fosse a prova
red. p/ o acórdão o Min. Gilmar Mendes, colhida, esses pressupostos não bastariam para
4.3.2015. (HC-84548) justificar o encarceramento preventivo. A eles
(Informativo 776, Plenário) deveria vir agregado, necessariamente, pelo
Prisão cautelar: requisitos e medidas alternativas menos mais um dos seguintes fundamentos,
-1 indicativos da razão determinante da medida: a)
A Segunda Turma, por maioria, concedeu garantia da ordem pública; b) garantia da ordem
parcialmente a ordem em ―habeas corpus‖ para econômica; c) conveniência da instrução criminal;
substituir a prisão preventiva imposta ao paciente ou d) segurança da aplicação da lei penal. O
pelas seguintes medidas cautelares: a) afastamento Colegiado destacou que eventual decretação da
da direção e da administração das empresas prisão preventiva não deveria antecipar o juízo de
envolvidas nas investigações, ficando proibido de culpa ou de inocência, sequer poderia servir de
ingressar em quaisquer de seus estabelecimentos, antecipação da reprimenda ou como gesto de
e suspensão do exercício profissional de atividade impunidade. Esse juízo deveria ser feito apenas na
de natureza empresarial, financeira e econômica; sentença final. Haveria, ainda, outra premissa: em
b) recolhimento domiciliar integral até que qualquer dessas situações, além da demonstração
demonstre ocupação lícita, quando terá direito ao concreta e objetiva dos requisitos do art. 312 do
recolhimento domiciliar apenas em período CPP, seria indispensável evidência de que
noturno e nos dias de folga; c) comparecimento nenhuma das medidas alternativas do art. 319 do
quinzenal em juízo, para informar e justificar mesmo diploma seria apta para, no caso concreto,
atividades, com proibição de mudar de endereço atender eficazmente aos mesmos fins (CPP, art.
sem autorização; d) obrigação de comparecimento 282, § 6º).
a todos os atos do processo, sempre que intimado; HC 127186/PR, rel. Min. Teori Zavascki,
e) proibição de manter contato com os demais 28.4.2015. (HC-127186)
investigados, por qualquer meio; f) proibição de (Informativo 783, 2ª Turma)
deixar o país, devendo entregar passaporte em até
48 horas; e g) monitoração por meio de Prisão cautelar: requisitos e medidas alternativas
tornozeleira eletrônica. No caso, ele fora preso -3
A Turma analisou que, no caso, quanto à fossem as condutas perpetradas, isso não seria
materialidade delitiva e aos indícios suficientes de suficiente para justificar a prisão processual. Da
autoria, o decreto prisional fizera minuciosa mesma maneira, não seria legítima a decretação da
análise do material probatório até então colhido, preventiva unicamente com o argumento da
para concluir, com fundadas razões, pelo credibilidade das instituições públicas. Ainda que
atendimento dos requisitos do art. 312 do CPP. a sociedade estivesse, justificadamente, indignada
Quanto aos fundamentos específicos, uma das com a notícia dos crimes em comento, a exigir
razões invocadas seria a possibilidade de fuga do resposta adequada do Estado, também deveria
paciente e, consequentemente, de risco à aplicação compreender que a credibilidade das instituições
da lei penal. No ponto, o decreto faria menção somente se fortaleceria na exata medida em que
genérica a todos os investigados dirigentes de fosse capaz de manter o regime de estrito
empresas com filiais e recursos econômicos cumprimento da lei, seja na apuração e julgamento
mantidos no exterior, bem assim que fariam dos delitos, seja na preservação dos princípios
frequentes viagens internacionais, o que constitucionais em jogo. Por fim, o Colegiado
representaria risco de fuga. Não haveria a registrou que, se num primeiro momento a prisão
indicação de atos concretos e específicos cautelar se mostrava indispensável, com o decurso
atribuídos ao paciente que demonstrassem sua do tempo a medida extrema não teria mais essa
efetiva intenção de furtar-se à lei penal. O fato de qualidade, podendo ser eficazmente substituída
ser dirigente de empresa com filial no exterior, por por medidas alternativas. Além de a situação
si só, não seria suficiente para a decretação da processual da causa não se assemelhar com a do
preventiva. A decisão estaria calcada na presunção momento da prisão, haveria de se considerar
de que o paciente, por poder fugir, o faria, também outras circunstâncias: a) os fatos
fundamento também rechaçado pela imputados teriam ocorrido entre 2006 e 2014; b) a
jurisprudência do STF. Outro fundamento segregação preventiva perduraria por
invocado seria a conveniência da instrução penal, aproximadamente seis meses; c) as empresas
pois teria ocorrido ameaça a testemunhas, juntada controladas pelo paciente estariam impedidas de
de documentação fraudulenta em juízo e contratar com a estatal investigada; e d) houvera o
cooptação de agentes públicos. A argumentação afastamento formal do paciente da direção dessas
também teria caráter genérico, sem especificar a empresas, com o consequente afastamento do
necessidade da medida em relação a cada acusado. exercício de atividades empresariais. O quadro
Entretanto, as razões invocadas, a princípio, demonstraria que os riscos, tanto no tocante à
autorizariam a custódia cautelar, de acordo com conveniência da instrução criminal quanto no que
orientação jurisprudencial. Sucede que o decreto se refere à garantia da ordem pública estariam
prisional considerara as circunstâncias presentes à consideravelmente reduzidos, se comparados aos
época em que editado. As referidas circunstâncias indicados no decreto de prisão. Essa substancial
não persistiriam e não se revestiriam da gravidade alteração factual permitiria viabilizar a
de outrora. A instrução criminal estaria substituição do encarceramento por medidas
praticamente concluída, tendo sido colhida toda a cautelares diversas, suficientes para prevenir
prova acusatória, e restaria apenas a tomada de eventuais perigos residuais que pudessem
alguns depoimentos da defesa. Assim, no que se remanescer (CPP, art. 282, § 6º). Além disso, se
refere à garantia da instrução, a prisão preventiva essa substituição fosse possível, seria um dever do
exaurira sua finalidade. magistrado (CPP, art. 319).
HC 127186/PR, rel. Min. Teori Zavascki, HC 127186/PR, rel. Min. Teori Zavascki,
28.4.2015. (HC-127186) 28.4.2015. (HC-127186)
(Informativo 783, 2ª Turma) (Informativo 783, 2ª Turma)

Prisão cautelar: requisitos e medidas alternativas Prisão cautelar: requisitos e medidas alternativas
-4 -5
A Turma afastou, de igual modo, fundamento A Turma enfatizou que teriam sido aplicadas
prisional referente à necessidade de resguardo da medidas acauteladoras diversas da prisão para
ordem pública, ante a gravidade dos crimes outros investigados com situação análoga à do
imputados, bem assim alusivo à necessidade de paciente, com a eficácia pretendida. Embora o
resguardar a confiança da sociedade nas paciente não tivesse se disponibilizado à
instituições. A jurisprudência da Corte, no ponto, colaboração premiada, essa circunstância não seria
afirmaria que, por mais graves e reprováveis que relevante, mesmo porque a custódia processual
não poderia servir de instrumento para obter A Segunda Turma, em julgamento conjunto, por
colaboração por parte do preso. Vencidos os entender presentes situação de flagrância, bem
Ministros Cármen Lúcia e Celso de Mello, que como os requisitos do art. 312 do CPP, referendou
denegavam a ordem. Entendiam cabível a prisão decisão do Ministro Teori Zavascki (relator), que
cautelar imposta, pois outras medidas não se decretara prisão cautelar de senador. Referendou,
mostrariam suficientes para garantir a instrução também, as demais decisões prisionais proferidas
processual. Em passo seguinte, a Turma, por em relação a assessor desse mesmo senador,
decisão majoritária, deliberou, com base no art. advogado e banqueiro. O Colegiado determinou,
580 do CPP, estender os efeitos dessa decisão — ainda, que os autos fossem imediatamente
inclusive quanto às medidas cautelares impostas remetidos ao Senado para que, pelo voto da
— a outros investigados contra os quais teria sido maioria de seus membros, resolvesse sobre a
decretada prisão preventiva, também dirigentes de prisão de seu integrante, nos termos do art. 53, §
empresas envolvidas nos fatos sob exame. 2º, da Constituição (―Art. 53. Os Deputados e
Analisou que os fundamentos utilizados para as Senadores são invioláveis, civil e penalmente, por
respectivas prisões, quando não idênticos, seriam quaisquer de suas opiniões, palavras e votos. ... §
assemelhados aos do decreto exarado em desfavor 2º. Desde a expedição do diploma, os membros do
do paciente. Assim, também seria cabível a Congresso Nacional não poderão ser presos, salvo
substituição da prisão por outras medidas, como em flagrante de crime inafiançável. Nesse caso, os
no caso do paciente (CPP, art. 282, § 6º). Não autos serão remetidos dentro de vinte e quatro
obstante, haveria outros investigados cuja situação horas à Casa respectiva, para que, pelo voto da
não seria semelhante, de modo a não caber a maioria de seus membros, resolva sobre a
extensão. Vencidos, no ponto, os Ministros prisão.‖). Na espécie, o Procurador-Geral da
Cármen Lúcia e Celso de Mello. República requerera medidas restritivas de
HC 127186/PR, rel. Min. Teori Zavascki, liberdade em relação às pessoas mencionadas pelo
28.4.2015. (HC-127186) fato de empreenderem esforços para dissuadir
(Informativo 783, 2ª Turma) outrem de firmar acordo de colaboração premiada
Gravidez e prisão preventiva submetido à homologação do STF. As tratativas
A Constituição assegura às presidiárias condições dos ora investigados com o pretenso beneficiário
para que possam permanecer com seus filhos do referido pacto compreendiam desde auxílio
durante o período da amamentação e enfatiza a financeiro destinado à sua família, assim como
proteção à maternidade e à infância. Com base promessa de intercessão política junto ao Poder
nessa orientação, a Segunda Turma concedeu a Judiciário em favor de sua liberdade. Nas
ordem em ―habeas corpus‖ para revogar a prisão conversas gravadas, os interlocutores discutiram a
preventiva decretada. Na espécie, a paciente fora possibilidade de o senador interceder
presa em flagrante pela suposta prática do delito politicamente junto a Ministros do STF para a
descrito no art. 33 da Lei 11.343/2006. Grávida de concessão de ―habeas corpus‖ que beneficiasse o
sete meses, ela fora recolhida a uma penitenciária pretenso colaborador na delação premiada. A
desprovida de estrutura física para acolhimento de Turma anuiu haver estado de flagrância na prática
presas nessa condição. A Turma reputou que a do crime do art. 2º, ―caput‖ e § 1º, da Lei
prisão provisória decretada em desfavor da 12.850/2013 (―Art. 2º. Promover, constituir,
paciente não atendera aos requisitos do art. 312 do financiar ou integrar, pessoalmente ou por
CPP, especialmente no que diz respeito à interposta pessoa, organização criminosa: ... § 1º.
indicação de elementos concretos que, ao Nas mesmas penas incorre quem impede ou, de
momento da decretação, fossem imediatamente qualquer forma, embaraça a investigação de
incidentes a ponto de justificar a constrição. infração penal que envolva organização
Asseverou, ainda, que não se poderia olvidar que a criminosa‖), porquanto os participantes atuariam
paciente estaria em estágio avançado de gravidez com repartição de tarefas e unidade de desígnios.
[CPP: ―Art. 318. Poderá o juiz substituir a prisão AC 4036 Referendo-MC/DF, rel. Min. Teori
preventiva pela domiciliar quando o agente for: ... Zavascki, 25.11.2015. (AC-4036)
IV – gestante a partir do 7º (sétimo) mês de AC 4039 Referendo-MC/DF, rel. Min. Teori
gravidez ou sendo esta de alto risco‖]. Zavascki, 25.11.2015. (AC-4039)
HC 128381/SP, rel. Min. Gilmar Mendes, (Informativo 809, 2ª Turma)
9.6.2015. (HC-128381) Senador e prisão preventiva - 2
(Informativo 789, 2ª Turma) Para o Colegiado, a menção a interferências, a
Senador e prisão preventiva - 1 promessas políticas no sentido de obter decisões
favoráveis por parte de Ministros do STF aqueles que resultem de violação às normas de
constituiria conduta obstrutiva de altíssima direito penal, a gravação de conversa feita por um
gravidade. O ostensivo desembaraço do dos interlocutores sem o conhecimento dos demais
congressista teria mostrado que a conduta em que é considerada lícita, para os efeitos da aludida
incorrera não causara a ele desconforto nem vedação constitucional, quando não esteja
exigira a superação de obstáculos morais. Isso presente causa legal de sigilo ou de reserva da
sinalizaria, por sua vez, que o mencionado conversação.
parlamentar não mediria esforços para embaraçar AC 4036 Referendo-MC/DF, rel. Min. Teori
o desenvolvimento das investigações encartadas Zavascki, 25.11.2015. (AC-4036)
na denominada ―Operação Lava Jato‖. Inclusive, AC 4039 Referendo-MC/DF, rel. Min. Teori
ele teria deixado transparecer que exploraria o Zavascki, 25.11.2015. (AC-4039)
prestígio do cargo que ocupa para exercer (Informativo 809, 2ª Turma)
influência sobre altas autoridades da República. Senador e prisão preventiva - 3
Conforme conversas gravadas, as partes A Turma asseverou que a conduta por parte do
envolvidas e demais interlocutores teriam filho do candidato à delação premiada no sentido
discutido, abertamente, meios e rotas de fuga do de gravar reuniões com o senador e demais
Brasil, por parte do candidato à delação premiada, participantes não revelaria violação à normativa
caso o STF viesse a conceder-lhe ―habeas corpus‖. constitucional. Portanto, não macularia os
Os Ministros aduziram que a participação de elementos de provas colhidos até agora. As provas
senador em planejamento de fuga de preso à concretas e específicas presentes nos autos teriam
disposição do STF constituiria situação, além de demonstrado as tratativas das partes para que a lei
verdadeiramente vexaminosa, incrivelmente penal não fosse aplicada. A representação
perigosa para a aplicação da lei penal, inclusive apresentada teria a participação de senador que
para outros investigados e réus na ―Operação Lava estaria atentando, em tese, com suas supostas
Jato‖. Essa participação traduziria claro condutas criminosas, diretamente contra a própria
componente de incentivo ao curso de ação jurisdição do Supremo Tribunal Federal. No
consistente na fuga: o respaldo de ninguém menos âmbito das prisões cautelares para os
que o líder do governo no Senado para representantes do Senado, somente se admitiria a
estratagema dessa estirpe funcionaria, modalidade de prisão em flagrante decorrente de
potencialmente, como catalisador da tomada de crime inafiançável em tese. Dos delitos apontados
decisão nesse sentido. A Turma enfatizou, ainda, como praticados pelo senador consta, dentre eles,
que o fato de um dos ora investigados possuir o de organização criminosa — crime permanente
cópia de minuta de anexo de acordo de —, a contemplar não só a possibilidade de
colaboração premiada, a ser submetido à flagrante a qualquer tempo como até mesmo a
homologação, revelaria a existência de perigoso chamada ―ação controlada‖, nos termos da Lei
canal de vazamento, com fortes indícios de terem 12.850/2013 (―Art. 8º. Consiste a ação controlada
sido obtidos de forma ilícita, cuja amplitude ainda em retardar a intervenção policial ou
seria desconhecida, o que afrontaria a Lei administrativa relativa à ação praticada por
12.850/2013 (―Art. 7º. O pedido de homologação organização criminosa ou a ela vinculada, desde
do acordo será sigilosamente distribuído, contendo que mantida sob observação e acompanha mento
apenas informações que não possam identificar o para que a medida legal se concretize no momento
colaborador e o seu objeto‖). Nesse contexto, o mais eficaz à formação de provas e obtenção de
requerimento de prisão preventiva teria informações‖). A hipótese presente é de
demonstrado de maneira robusta, com base no inafiançabilidade, nos termos do CPP [―Art. 324.
material indiciário colhido até o momento, a Não será, igual mente, concedida fiança: ... IV -
existência do ilícito - materialidade - e dos quando presentes os motivos que autorizam a
indícios suficientes de autoria. Indicaria ainda, a decretação da prisão preventiva (art. 312)‖].
possível existência de graves crimes contra a Segundo a Turma, a decisão ora referendada teria
Administração da Justiça, contra a Administração como um de seus principais fundamentos a
Pública, de organização criminosa e mesmo de garantia da instrução criminal, das investigações,
lavagem de dinheiro, para a consecução dos quais aliado à higidez de eventuais ações penais
teria havido supostamente importante participação vindouras, tendo em vista a concreta ocorrência e
dos requeridos. Embora o art. 5º, LVI, da a possibilidade de interferência no depoimento de
Constituição desautorize o Estado a utilizar-se de testemunhas e na produção de provas,
provas obtidas por meios ilícitos, considerados circunstâncias que autorizariam a decretação da
custódia cautelar, nos termos da juris prudência da declarada pelo STJ, para concluir pela existência
Corte. Assim, a necessidade de resguardar a de elementos probatórios idôneos para justificar a
ordem pública, seja pelos constantes atos pratica condenação. Apenas parte da apuração teria sido
dos pelo grupo (cooptação de colaborador, comprometida pelas provas obtidas a partir dos
tentativa de obtenção de decisões judiciais dados bancários encaminhados ilegalmente à
favoráveis, obtenção de documentos judiciais Receita Federal. Evidenciada, pela instância
sigilosos), pela fundada suspeita de reiteração ordinária, a ausência de nexo causal entre os
delitiva, pela atualidade dos delitos (reuniões elementos de prova efetivamente utilizados e os
ocorridas no corrente mês), ou ainda pela considerados ilícitos, não se poderia dizer que o
gravidade em concreto dos crimes, que atentariam suporte probatório ilegal contaminara todas as
diretamente contra os poderes constitucionalmente demais diligências.
estabelecidos da República, não haveria outra HC 116931/RJ, rel. Min. Teori Zavascki,
medida cautelar suficiente para inibir a 3.3.2015. (HC-116931)
continuidade das práticas criminosas, que não a (Informativo 776, 2ª Turma)
prisão preventiva. Produção antecipada de prova e necessidade de
AC 4036 Referendo-MC/DF, rel. Min. Teori fundamentação
Zavascki, 25.11.2015. (AC-4036) É incabível a produção antecipada de prova
AC 4039 Referendo-MC/DF, rel. Min. Teori testemunhal (CPP, art. 366) fundamentada na
Zavascki, 25.11.2015. (AC-4039) simples possibilidade de esquecimento dos fatos,
(Informativo 809, 2ª Turma) sendo necessária a demonstração do risco de
Provas perecimento da prova a ser produzida (CPP, art.
Prova ilícita: desvinculação causal e condenação 225). Essa a orientação da Segunda Turma ao
A 2ª Turma denegou a ordem em ―habeas corpus‖ conceder ordem de ―habeas corpus‖ para
em que alegada ausência de justa causa para a reconhecer a nulidade de prova testemunhal
propositura de ação penal em desfavor do produzida antecipadamente. Tal prova apresentava
paciente, então denunciado, em concurso de como justificativa que ―as testemunhas são
agentes, pela suposta prática do crime do art. 168- basicamente policiais responsáveis pela prisão,
A do CP e dos delitos previstos no art. 1º, I, II e cuja própria atividade contribui, por si só, para o
parágrafo único, da Lei 8.137/1990. A defesa esquecimento das circunstâncias que cercam a
sustentava que a peça acusatória embasara-se em apuração da suposta autoria de cada infração
prova ilícita, constituída por elementos colhidos penal‖. Em consequência, determinou-se o
mediante quebra de sigilo bancário requisitado desentranhamento dos respectivos termos de
diretamente pela Receita Federal às instituições depoimento dos autos.
financeiras. A Turma consignou que o STJ, ao HC 130038/DF, rel. Min. Dias Toffoli,
conceder parcialmente a ordem em ―habeas 3.11.2015. (HC-130038)
corpus‖ lá apreciado, reconhecera a nulidade da (Informativo 806, 2ª Turma)
prova colhida ilicitamente, mas deixara de trancar
a ação penal, tendo em conta remanescerem outros Recursos
elementos de prova, regularmente colhidos, que
seriam suficientes para atestar a materialidade e Recurso exclusivo da defesa e circunstância
autoria dos delitos. Ademais, tendo em conta essa fática não reconhecida em primeiro grau
decisão proferida pelo STJ, o juízo de 1º grau Não caracteriza ―reformatio in pejus‖ a decisão de
reanalisara a viabilidade da ação penal, a despeito tribunal de justiça que, ao julgar recurso de
das provas então consideradas nulas, e concluíra apelação exclusivo da defesa, mantém a
pela existência de justa causa amparada por outras reprimenda aplicada pelo magistrado de primeiro
provas. Na ocasião, não apenas as provas ilícitas grau, porém, com fundamentos diversos daqueles
foram retiradas dos autos, como os fatos a ela adotados na sentença. Esse o entendimento da 1ª
relacionados também foram desconsiderados. Turma que, em conclusão de julgamento e por
Posteriormente à impetração perante o STF, fora maioria, negou provimento a recurso ordinário em
prolatada sentença condenatória, na qual nenhuma ―habeas corpus‖ por ausência de constrangimento
prova produzida ilegalmente fora utilizada para a ilegal ou abuso de poder a ferir direito do
condenação. O juízo natural da ação penal, com recorrente. Na espécie, a defesa alegava que o
observância do contraditório, procedera ao exame tribunal ―a quo‖ teria promovido indevida
do suporte probatório produzido, e afastara dele o inovação de fundamentação ao agregar motivo —
que lhe poderia contaminar pela ilicitude personalidade voltada para o crime — que não
fora invocado pelo juízo de origem para exasperar e de 17.2.2014, respectivamente). Vencidos os
a pena-base em dez meses. A Turma asseverou Ministros Teori Zavascki, Edson Fachin, Roberto
que o tribunal local apenas procedera à correta Barroso e Rosa Weber, que indeferiam o pleito
qualificação de elemento equivocadamente por considerarem incabível a aplicação analógica
considerado pelo magistrado de primeira do art. 191 do CPC ao prazo previsto no art. 4º da
instância, na fixação da pena-base, como Lei 8.038/1990.
resultante da conduta social do agente, que deveria Inq 3983/DF, rel. orig. Min. Teori Zavascki,
ter se inserido na avaliação de sua personalidade. red. p/ o acórdão Min. Luiz Fux, 3.9.2015. (Inq-
Observou que o fato de o juízo de primeiro grau 3983)
haver afirmado não existirem elementos que (Informativo 797, Plenário)
permitissem a avaliação negativa da personalidade Denúncia e prazo em dobro para resposta à
do agente, e, ainda assim, analisá-los sob prisma acusação
diverso, não impediria que se reconhecesse o Em face da importância da fase pré-processual da
equívoco dessa mensuração. Dessa forma, ao denúncia, a Segunda Turma, por maioria, deu
proceder à correta classificação entre as provimento, em parte, a agravo regimental em
circunstâncias judiciais do art. 59 do CP, não inquérito para deferir o prazo em dobro para que o
significaria suplementação da fundamentação denunciado apresente sua resposta. Na espécie, o
adotada. Pontuou que, no caso, o que se haveria de requerente fizera dois pedidos: a) que tivesse
definir seria a amplitude do efeito devolutivo acesso à integralidade da prova disponível à
próprio do recurso de apelação. Frisou que a acusação, com a reabertura de prazo para a
apelação examinara o tema colocado pela defesa resposta preliminar; e b) que o prazo de 15 dias do
— dosimetria da pena — e, nesse ponto, o tribunal art. 4º da Lei 8.038/1990 (―Art. 4º - Apresentada a
poderia concluir e reexaminar a matéria, conforme denúncia ou a queixa ao Tribunal, far-se-á a
o fizera. Vencidos os Ministros Marco Aurélio e notificação do acusado para oferecer resposta no
Luiz Fux, que davam provimento ao recurso. O prazo de quinze dias‖) fosse contado em dobro,
Ministro Marco Aurélio aduzia que não se poderia por aplicação analógica do art. 191 do CPC (―Art.
utilizar de recurso da defesa para se corrigir o 191 - Quando os litisconsortes tiverem diferentes
pronunciamento da primeira instância, ainda que a procuradores, ser-lhes-ão contados em dobro os
pena tivesse sido mantida no mesmo patamar. prazos para contestar, para recorrer e, de modo
Destacava que, precluso o recurso para o geral, para falar nos autos‖). Quanto ao termo ―a
Ministério Público, não poderia o Estado-acusador quo‖ do prazo, a Turma denegou o pedido, porque
obter vantagem a partir do recurso da defesa. toda a documentação que teria relação direta com
RHC 119149/RS, rel. Min. Dias Toffoli, a denúncia estaria disponível na secretaria do STF
10.2.2015. (RHC-119149) para que a defesa procedesse à devida resposta.
(Informativo 774, 1ª Turma) Por outro lado, em nome do princípio da ampla
Requisito de Admissibilidade Recursal defesa, deferiu a concessão do prazo em dobro.
Litisconsórcio e prazo em dobro para a resposta Destacou que o art. 4º da Lei 8.038/1990
à acusação permitiria, nessa fase processual, que o
É cabível a aplicação analógica do art. 191 do denunciado oferecesse resposta às imputações
CPC (―Quando os litisconsortes tiverem diferentes penais que contra ele tivessem sido deduzidas pelo
procuradores, ser-lhes-ão contados em dobro os Ministério Público. A amplitude material da
prazos para contestar, para recorrer e, de modo defesa alcançaria não apenas preliminares ou
geral, para falar nos autos‖), ao prazo previsto no questões formais, mas também o próprio mérito da
art. 4º da Lei 8.038/1990 (―Apresentada a imputação penal. Abarcaria, ainda, a possibilidade
denúncia ou a queixa ao Tribunal, far-se-á a de o Tribunal, após o oferecimento da denúncia,
notificação do acusado para oferecer resposta no exercer o controle de admissibilidade da acusação
prazo de quinze dias‖). Com base nesse penal, ao acolher, receber ou rejeitar a denúncia e
entendimento, o Plenário resolveu questão de mesmo julgar improcedente o pedido e, em
ordem suscitada pelo Ministro Teori Zavascki consequência, proferir juízo de absolvição penal,
(relator) e, em consequência, deferiu, por maioria, nos termos da Lei 8.038/1990 (―Art. 6º - A seguir,
o pedido formulado por denunciado no sentido de o relator pedirá dia para que o Tribunal delibere
que lhe fosse duplicado o prazo de oferecimento sobre o recebimento, a rejeição da denúncia ou da
de resposta à acusação. A Corte reiterou, desse queixa, ou a improcedência da acusação, se a
modo, o que decidido na AP 470 AgR-vigésimo decisão não depender de outras provas‖). Vencido
segundo e vigésimo quinto/MG (DJe de 24.9.2013 o Ministro Teori Zavascki (relator), que negava
provimento ao agravo regimental. Apontava presente estágio processual seria prematuro, na via
tratar-se de um prazo em que a ação penal sequer sumaríssima do ―habeas corpus‖, proceder à
fora instaurada e, por isso, não se poderia aferir a configuração de dolo eventual. Anotava que o
existência de litisconsórcio, justamente porque as magistrado que estivesse a conduzir o processo
partes na ação penal ainda não estariam definidas. penal de conhecimento teria mais condições do
Afirmava que esse tipo de manifestação não teria que a Corte para, ao coligir todos os dados
relação com as situações previstas no CPC que informativos, formar a sua própria convicção.
pudessem estabelecer uma analogia, como seria o Assim, a partir desse ponto ele iria pronunciar ou
caso dos recursos. impronunciar o réu, desclassificar o delito para
Inq 4112/DF, rel. orig. Min. Teori Zavascki, outro que não se incluísse na competência penal
red. p/ o acórdão Min. Gilmar Mendes, do júri, ou até mesmo absolve-lo sumariamente.
1º.9.2015. (Inq-4112) HC 113598/PE, rel. Min. Gilmar Mendes,
(Informativo 797, 2ª Turma) 15.12.2015. (HC-113598)
Sentença (Informativo 812, 2ª Turma)
Tribunal do júri e novo enquadramento fático- Tribunal do Júri
jurídico Art. 478, I, do CPP e leitura de sentença
Se houver incorreto enquadramento fático-jurídico prolatada em desfavor de corréu
na capitulação penal, que repercuta na A leitura, pelo Ministério Público, da sentença
competência do órgão jurisdicional, admite-se, condenatória de corréu proferida em julgamento
excepcionalmente, a possibilidade de o anterior não gera nulidade de sessão de
magistrado, antes da pronúncia e submissão do réu julgamento pelo conselho de sentença. Com base
ao júri popular, efetuar a desclassificação para nesse entendimento, a 1ª Turma negou provimento
outro tipo penal e encaminhar o feito ao órgão a recurso ordinário em ―habeas corpus‖ em que
competente. Com base nessa orientação e, em face discutida a nulidade da sentença condenatória
da peculiaridade do caso concreto, a Segunda proferida pelo tribunal do júri. Apontava o
Turma, por maioria, concedeu, em parte, a ordem recorrente que o Ministério Público teria
em ―habeas corpus‖ para afastar o dolo eventual impingido aos jurados o argumento de autoridade,
homicida, com a retirada da competência do em afronta ao CPP (―Art. 478. Durante os debates
tribunal do júri. O magistrado competente deve as partes não poderão, sob pena de nulidade, fazer
então proceder ao correto enquadramento jurídico referências: I - à decisão de pronúncia, às decisões
mediante a análise do contexto fático-probatório, posteriores que julgaram admissível a acusação ou
mantida a higidez dos atos processuais até então à determinação do uso de algemas como
praticados, sem prejuízo de eventual ―mutatio argumento de autoridade que beneficiem ou
libelli‖. Na espécie, o paciente, após a ingestão de prejudiquem o acusado;‖). A Turma observou que,
significativa quantidade de bebida alcóolica, teria embora o STJ não tivesse conhecido do ―habeas
cedido a direção de seu veículo a outra pessoa, corpus‖, analisara a questão de fundo e, por isso,
também alcoolizada, que, em alta velocidade e não estaria caracterizada a supressão de instância.
sem o cinto de segurança, ocasionara o acidente No mérito, asseverou que o art. 478, I, do CPP
automotivo e o próprio óbito. No carro, também vedaria que, nos debates, as partes fizessem
teriam sido encontrados alguns miligramas de referência a decisões de pronúncia e às decisões
cocaína. A Turma destacou jurisprudência da posteriores que julgassem admissível a acusação
Corte firmada na excepcionalidade do como argumento de autoridade para prejudicar ou
trancamento da persecução penal na via do beneficiar o acusado. Apontou que a proibição
―habeas corpus‖. Tal medida seria recomendada legal não se estenderia a eventual sentença
tão somente quando indiscutível a atipicidade da condenatória de corréu no mesmo processo.
conduta, presente a causa extintiva de Destacou, ainda, a ausência de comprovação de
punibilidade ou, ainda, quando ausentes indícios que o documento, de fato, teria sido empregado
mínimos de autoria, o que não se aplicava à como argumento de autoridade e do prejuízo
hipótese dos autos. Apontou que pela descrição insanável à defesa.
fática contida na denúncia seria induvidosa a RHC 118006/SP, rel. Min. Dias Toffoli,
incompetência do tribunal do júri para processar e 10.2.2015. (RHC-118006)
julgar a demanda, a afastar qualquer subsunção (Informativo 774, 1ª Turma)
dos fatos investigados ao art. 121, ―caput‖, do Tribunal do júri: leitura de peça em plenário e
Código Penal. Vencido o Ministro Celso de nulidade
Mello, que denegava a ordem. Destacava que no
A 2ª Turma negou provimento a recurso ordinário vedaria toda e qualquer referência à pronúncia,
em ―habeas corpus‖ no qual se pleiteava a mas apenas a sua utilização como forma de
anulação de julgamento realizado por tribunal do persuadir o júri a concluir que, se o juiz
júri, em razão da leitura em plenário, pelo membro pronunciara o réu, logo este seria culpado. No
do Ministério Público, de trecho da decisão caso sob análise, porém, nada indicaria que a peça
proferida em recurso em sentido estrito interposto lida fora usada como argumento de autoridade.
pelo réu contra a decisão de pronúncia, o que, Aparentemente, estar-se-ia diante de pura e
segundo alegado, ofenderia o art. 478, I, do CPP, simples leitura da peça, e, portanto, não haveria
na redação dada pela Lei 11.689/2008 (―Art. 478. nulidade a ser declarada. O Ministro Celso de
Durante os debates as partes não poderão, sob Mello acrescentou que o art. 478 do CPP, na
pena de nulidade, fazer referências: I – à decisão redação conferida pela Lei 11.689/2008, ensejaria
de pronúncia, às decisões posteriores que julgaram grave restrição à liberdade de palavra do
admissível a acusação ou à determinação do uso representante do Ministério Público, o que
de algemas como argumento de autoridade que ocasionaria um desequilíbrio naquela relação
beneficiem ou prejudiquem o acusado‖). O paritária de armas que deveria haver entre as
Colegiado asseverou, inicialmente, que a norma partes, notadamente no plenário do júri.
em comento vedaria a referência à decisão de RHC 120598/MT, rel. Min. Gilmar Mendes,
pronúncia ―como argumento de autoridade‖, em 24.3.2015. (RHC-120598)
benefício ou em desfavor do acusado. Por outro (Informativo 779, 2ª Turma)
lado, a mesma lei que modificara a redação do
referido dispositivo — Lei 11.689/2008 — PSV: tribunal do júri e foro por prerrogativa de
estabelecera, no parágrafo único do art. 472, que função (Enunciado 45 da Súmula Vinculante)
cada jurado recebesse, imediatamente após prestar O Plenário acolheu proposta de edição de
compromisso, cópia da pronúncia ou, se fosse o enunciado de súmula vinculante com o seguinte
caso, das decisões posteriores que julgassem teor: ―A competência constitucional do tribunal do
admissível a acusação. A distribuição de cópia da júri prevalece sobre o foro por prerrogativa de
pronúncia seria explicável pelo fato de ser essa a função estabelecido exclusivamente pela
peça que resumiria a causa a ser julgada pelos Constituição Estadual‖. Assim, tornou vinculante
jurados. A redação original do CPP previa o o conteúdo do Verbete 721 da Súmula do STF.
oferecimento, pela acusação, do libelo acusatório, PSV 105/DF, 8.4.2015. (PSV-105)
com a descrição do fato criminoso, como admitido (Informativo 780, Plenário)
na decisão de pronúncia (artigos 416 e 417). Pronúncia e envelopamento por excesso de
Assim, se a denúncia contivesse circunstância em linguagem
relação à qual não fora admitida — uma Constatado o excesso de linguagem na pronúncia
qualificadora, por exemplo — o libelo narraria a tem-se a sua anulação ou a do acórdão que
acusação a ser submetida ao plenário já livre dessa incorreu no mencionado vício; inadmissível o
circunstância. Na sistemática atual, no entanto, simples desentranhamento e envelopamento da
abolida essa peça intermediária, seria a própria respectiva peça processual. Com base nessa
decisão de pronúncia que resumiria a causa em orientação, a Primeira Turma, por maioria, deu
julgamento. Isso explicaria porque a peça seria provimento a recurso ordinário em ―habeas
considerada de particular importância pela lei, a corpus‖ para anular o aresto por excesso de
ponto de ser a única com previsão de entrega aos linguagem. Na espécie, o excesso de linguagem
jurados. Além disso, muito embora recebessem apto a influenciar os jurados mostrara-se
apenas a cópia da decisão de pronúncia, os jurados incontroverso, reconhecido pelo STJ à
teriam a prerrogativa de acessar a integralidade unanimidade. A Turma asseverou que o abandono
dos autos, mediante solicitação ao juiz presidente da linguagem comedida conduziria principalmente
(CPP, art. 480, § 3º). Assim, ao menos em tese, o leigo a entender o ato não como mero juízo de
poderiam tomar conhecimento de qualquer peça admissibilidade da acusação, mas como título
neles entranhada. Dada a incoerência entre as condenatório. Assentada pelo STJ a insubsistência
normas que vedam a leitura da pronúncia e outras do acórdão confirmatório da pronúncia por
peças e, ao mesmo tempo, determinam o excesso de linguagem, a única solução
fornecimento de cópia da pronúncia e autorizam contemplada no ordenamento jurídico seria
os jurados a consultar qualquer peça dos autos — proclamar a sua nulidade absoluta, determinando-
incoerência essa apontada pela doutrina — seria se a prolação de outra. O simples envelopamento
cabível a redução teleológica. Em suma, a lei não da denúncia não se mostraria suficiente ante o
disposto no CPP (―Art. 472 ... Parágrafo único. O O fato de o delito ter sido cometido por brasileiro
jurado ... receberá cópias da pronúncia ou, se for o no exterior, por si só, não atrai a competência da
caso, das decisões posteriores que julgaram justiça federal, porquanto não teria ofendido bens,
admissível a acusação e do relatório do serviço ou interesse da União (CF, art. 109, IV).
processo‖). Vencido o Ministro Roberto Barroso, Com base nessa orientação, a Primeira Turma,
que negava provimento ao recurso. Assentava ser com ressalva da posição majoritária quanto não
satisfatória a solução do envelopamento porque os conhecimento da impetração, porque substitutiva
jurados não teriam acesso ao que nele contido, de recurso extraordinário, denegou a ordem de
além de ser compatível com a razoável duração do ―habeas corpus‖. No caso, tratava-se de crime em
processo. Precedentes citados: HC 123.311/PR que a fase preparatória iniciou-se no Brasil,
(DJe de 14.4.2015); RHC 122.909/SE (DJe de porém, a consumação ocorreu no estrangeiro. O
12.12.2014) e HC 103.037/PR (DJe de juízo de direito corregedor do tribunal do júri
31.5.2011). estadual declinou da competência para a justiça
RHC 127522/BA, rel. Min. Marco Aurélio, federal que, por sua vez, suscitou conflito
18.8.2015. (RHC-127522) negativo de competência. O STJ assentara
(Informativo 795, 1ª Turma) incumbir o julgamento a um dos tribunais do júri
estadual, competente o juízo da capital do Estado
onde por último residira o acusado. O inciso V do
art. 109 da CF prevê a competência da justiça
federal quando, ―... iniciada a execução no País, o
resultado tenha ou devesse ter ocorrido no
ANO DE 2016 estrangeiro...‖. No Brasil houve a prática de atos
meramente preparatórios. O ato criminoso fora
inteiramente cometido no exterior, a afastar a
Competência incidência da mencionada regra constitucional,
cuja interpretação há de ser estrita. Fixada a
Interceptação telefônica e competência competência da justiça estadual e definida a
A Segunda Turma denegou a ordem em ―habeas cidade de Ribeirão Preto como o último domicílio
corpus‖ em que discutida a competência para o do paciente no País, o julgamento compete a um
exame de medidas cautelares em procedimento de dos tribunais do júri do Estado de São Paulo, nos
investigação criminal. Na espécie, o juízo da vara termos do art. 88 do CPP (―No processo por
central de inquéritos de justiça estadual deferira crimes praticados fora do território brasileiro, será
interceptação telefônica e suas sucessivas competente o juízo da Capital do Estado onde
prorrogações nos autos da referida investigação. A houver por último residido o acusado. Se este
defesa alegava que esse juízo especializado seria nunca tiver residido no Brasil, será competente o
incompetente, pois o procedimento investigatório juízo da Capital da República‖).
seria incidente relacionado a ação penal atribuída HC 105461/SP, rel. Min. Marco Aurélio,
a outro juízo. O Colegiado reputou que o art. 1º da 29.3.2016. (HC-105461)
Lei 9.296/1996 (―A interceptação de (Informativo 819, 1ª Turma)
comunicações telefônicas, de qualquer natureza,
para prova em investigação criminal e em Extradição
instrução processual penal, observará o disposto
nesta Lei e dependerá de ordem do juiz Extradição: concurso material e limite de tempo
competente da ação principal, sob segredo de de pena
justiça‖) não fixa regra de competência, mas sim A Segunda Turma deferiu, com restrição, pedido
reserva de jurisdição para quebra de sigilo, o que de extradição formulado em desfavor de nacional
fora observado. Além disso, há precedentes do estadunidense, lá processado pela suposta prática
STF que admitem a divisão de tarefas entre juízes de diversos delitos equiparados aos crimes
que atuam na fase de inquérito e na fase da ação tipificados nos artigos 213 e 217-A do CP. O
penal. Colegiado ressaltou a inaplicabilidade, no Estado
HC 126536/ES, rel. Min. Teori Zavascki, requerente, da ficção jurídica do crime
1º.3.2016. (HC-126536) continuado. Assim, se aplicada a regra do cúmulo
(Informativo 816, 2ª Turma) material, o extraditando ficaria sujeito a pena
Competência e crime cometido no estrangeiro bastante superior a 30 anos, o máximo permitido
por brasileiro na legislação brasileira. Ainda que fosse possível
computar qualquer reprimenda, crimes de corrupção passiva (CP, art. 317, ―caput”
independentemente de sua duração, no sistema e § 1º, c/c art. 327, §§ 1º e 2º) e lavagem de
pátrio, seria vedado, por outro lado, executá-la dinheiro (Lei 9.613/1998, art. 1º, V, VI e VII, com
para além do teto de 30 anos. Assim, haveria a redação anterior à Lei 12.683/2012). Ainda, na
necessidade de o Estado requerente assumir, mesma assentada, a Corte, por maioria, recebeu
formalmente, o compromisso diplomático de denúncia oferecida contra ex-deputada, hoje
comutar em pena de prisão não superior a esse prefeita municipal, pelo suposto delito de
limite as reprimendas privativas de liberdade corrupção passiva. Por fim, julgou prejudicados os
eventualmente imponíveis no caso, considerada, agravos regimentais. Inicialmente, o Tribunal, por
inclusive, a exigência de detração penal. maioria, rejeitou as preliminares suscitadas.
Ext 1401/Governo dos Estados Unidos da Afirmou não prosperar a alegação de nulidade do
América, rel. Min. Celso de Mello, 8.3.2016. depoimento prestado pela denunciada perante o
(Ext-1401) Ministério Público, ao argumento de que teria sido
(Informativo 817, 2ª Turma) ouvida como testemunha e não como investigada,
Habeas Corpus o que comprometeria o direito de não
HC e desclassificação autoincriminação. Isso porque, embora ela tivesse
É incabível a utilização do ―habeas corpus‖ com a sido ouvida na condição de testemunha e
finalidade de se obter a desclassificação de assumido o compromisso de dizer a verdade,
imputação de homicídio doloso, na modalidade constaria do termo de depoimento que ela teria
dolo eventual, para homicídio culposo, na hipótese sido informada de que estariam ressalvadas
em que apurada a prática de homicídio na direção daquele compromisso ―as garantias
de veículo automotor. Isso porque os limites constitucionais aplicáveis‖. Afastou também a
estreitos dessa via processual impossibilitariam a pretensão do denunciado de ver suspenso o
análise apurada do elemento subjetivo do tipo processo, por aplicação analógica do art. 86, § 4º,
penal para que se pudesse afirmar que a conduta da CF, já que essa previsão constitucional se
do paciente fora pautada pelo dolo eventual ou destinaria expressamente ao chefe do Poder
pela culpa consciente. Essa a conclusão da Executivo da União. Desse modo, não estaria
Segunda Turma ao indeferir a ordem de ―habeas autorizado, por sua natureza restritiva, qualquer
corpus‖ em que pleiteada tal desclassificação. O interpretação que ampliasse a incidência a outras
Colegiado afirmou que a análise de mais de uma autoridades, notadamente do Poder Legislativo.
corrente probatória — dolo eventual ou culpa Rechaçou o alegado cerceamento de defesa,
consciente — no processo de competência do arguido em agravos regimentais, por meio dos
tribunal do júri exigiria profundo revolvimento de quais se buscava acessar o inteiro teor do acordo
fatos e provas, o que ultrapassaria a cognição do de colaboração premiada e respectivos termos de
procedimento sumário e documental do ―habeas depoimento de réu já condenado pela justiça
corpus‖, em flagrante transformação dele em federal por crimes apurados na denominada
processo de conhecimento sem previsão na ―Operação Lava Jato‖. Ressaltou que o
legislação vigente. Por outro lado, ressaltou que, Procurador-Geral da República juntara aos autos
na fase de pronúncia, vigoraria o princípio do ―in todos os depoimentos de colaboradores que se
dubio pro societate‖, segundo o qual somente as referiam ao acusado e aos fatos referidos na
acusações manifestamente improcedentes seriam denúncia.
inadmitidas. O juiz verificaria, nessa fase, tão Inq 3983/DF, rel. Min. Teori Zavascki, 2 e
somente, se a acusação seria viável, deixando o 3.2016. (Inq-3983)
exame apurado dos fatos para os jurados, que, no (Informativo 816, Plenário) Parte 1: Parte 2:
momento apropriado, analisariam a tese defensiva Inquérito: corrupção passiva e lavagem de
sustentada. dinheiro - 2
HC 132036/SE, rel. Min. Cármen Lúcia, Da mesma forma, o Tribunal entendeu que seria
29.3.2016. (HC-132036) improcedente a alegação de nulidade de
(Informativo 819, 2ª Turma) depoimentos complementares prestados por
Investigação Preliminar colaborador, em razão da ausência de nova
Inquérito: corrupção passiva e lavagem de homologação ou ratificação do acordo de
dinheiro - 1 colaboração premiada pelo Supremo Tribunal
O Plenário recebeu, parcialmente, denúncia Federal. Não se poderia confundir o acordo de
oferecida contra deputado federal, presidente da colaboração premiada, que estaria sujeito à
Câmara dos Deputados, pela suposta prática dos homologação judicial, com os termos de
depoimentos prestados pelo colaborador, que estaleiro para a construção de outro navio-sonda.
independeriam de tal homologação. Na espécie, o Todavia, o Colegiado afirmou que não ficara
acordo de colaboração premiada firmado entre o demonstrada concretamente a participação dos
Ministério Público Federal e colaborador teria denunciados nessa fase inicial de negociação da
sido devidamente homologado por juiz federal, construção dos navios-sonda. Assinalou que nada
nos termos da Lei 12.850/2013. À época, pelas fora produzido, em termos probatórios, que
declarações até então prestadas pelo colaborador, indicasse a efetiva participação dos denunciados
não haveria notícia de envolvimento de autoridade nos supostos crimes ocorridos na época da
com prerrogativa de foro no STF, razão pela qual celebração dos contratos, nos anos de 2006 e
seria inquestionável a competência daquele juízo 2007, ou mesmo que os acusados tivessem, no
para a prática do ato homologatório. Assim, a período imediato, recebido vantagem indevida
eventual desconstituição de acordo de colaboração para viabilizar a negociação ou se omitido em
teria âmbito de eficácia restrito às partes que o fiscalizar esses contratos, em razão do mandato
firmaram, de modo que não beneficiaria e nem parlamentar. Assim, ante a falta de apresentação
prejudicaria terceiros. Vencido o Ministro Marco de indícios de participação dos denunciados
Aurélio, ao fundamento de que o STF não seria quanto a esse período, a denúncia não mereceria
competente para julgar a denunciada, tendo em ser recebida.
vista que ela não gozaria de prerrogativa de foro Inq 3983/DF, rel. Min. Teori Zavascki, 2 e
perante esta Corte. Acolhia, por outro lado, a 3.2016. (Inq-3983)
preliminar de cerceamento de defesa, pela (Informativo 816, Plenário)
impossibilidade de acesso, como um todo, às Inquérito: corrupção passiva e lavagem de
delações premiadas pelos acusados. dinheiro - 4
Inq 3983/DF, rel. Min. Teori Zavascki, 2 e No tocante ao segundo momento delitivo, o
3.2016. (Inq-3983) Tribunal reputou que o aditamento à denúncia
(Informativo 816, Plenário) trouxera reforço narrativo lógico e elementos
Inquérito: corrupção passiva e lavagem de sólidos que apontariam ter ambos os denunciados
dinheiro - 3 aderidos à exigência e recebimento de valores
O Plenário sublinhou que as razões apresentadas ilícitos, a partir de 2010 e 2011. Nesse item, a
pelo Ministério Público teriam demonstrado peça acusatória narrara os fatos em tese delituosos
adequadamente a necessidade de a denunciada ser e a conduta dos agentes, com as devidas
processada e julgada no STF, em conjunto com o circunstâncias de tempo, lugar e modo, sem
deputado federal. No caso, a peça acusatória qualquer prejuízo ao exercício de defesa. A
imputara ao parlamentar condutas delituosas materialidade e os indícios de autoria, elementos
desdobradas em dois momentos distintos. No básicos para o recebimento da denúncia,
primeiro, o acusado teria solicitado e aceitado encontrar-se-iam presentes a partir do substrato
promessa de vantagens indevidas para garantir a trazido no inquérito. A Corte observou que a
continuidade de esquema ilícito implantado no interposta pessoa a que se referiria a denúncia
âmbito da Petrobras, assim como para manter seria a acusada, que, para coagir lobista a pagar
indicados políticos em seus cargos na referida valor ainda pendente, referente às aludidas
sociedade de economia mista. Em um segundo comissões ilegítimas, apresentara, por solicitação
momento, a percepção de valores indevidos teria do deputado, dois requerimentos à Comissão de
sido para pressionar o retorno do pagamento de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara dos
propinas, valendo-se de requerimentos formulados Deputados requisitando informações ao TCU e ao
por interposta pessoa e com desvio de finalidade Ministério de Minas e Energia acerca dos
na atuação legislativa. Relativamente à primeira contratos de interesse do lobista com a Petrobras.
fase, o acusado, entre junho de 2006 e outubro de A pressão exercida pelo acusado, por intermédio
2012, solicitara para si e para outrem e aceitara da denunciada, surtira efeito, uma vez que o
promessa de vantagem indevida em razão da lobista se vira compelido a pagar as quantias
contratação, pela Petrobras, de estaleiro para a prometidas. Ademais, a materialidade e os
construção de navio-sonda. Além disso, entre indícios de autoria relativos aos crimes de
fevereiro de 2007 e outubro de 2012, o lavagem de dinheiro, elementos básicos para o
parlamentar também solicitara, para si e para recebimento da denúncia, também se encontrariam
outrem e teria aceitado promessa, direta e presentes. Depoimento prestado pelo lobista no
indiretamente, de vantagem indevida, a fim de que âmbito de colaboração premiada indicaria que,
a Petrobras realizasse a contratação do mesmo para operacionalizar suposto pagamento de parte
da propina ao deputado, teriam sido transferidos aceito vantagem ilícita para praticar o ato. Seriam
valores de sua conta na Suíça. Ainda sobre necessários outros indicativos de adesão à conduta
entregas de valores para o acusado, outro réu viciada para que a acusação pudesse ser viável.
investigado no âmbito da ―Operação Lava Jato‖ Inq 3983/DF, rel. Min. Teori Zavascki, 2 e
confirmara que teriam sido realizadas em espécie. 3.2016. (Inq-3983)
Outros elementos probatórios apontariam para (Informativo 816, Plenário)
operação destinada ao pagamento de propina ao HC: denúncias anônimas e lançamento
deputado, realizada entre 21 de dezembro de 2011 definitivo - 1
e 30 de outubro de 2012, por meio de suposta Nos crimes de sonegação tributária, apesar de a
simulação de contratos de prestação de serviços de jurisprudência do STF condicionar a persecução
consultoria. Haveria, ainda, repasse ao acusado penal à existência do lançamento tributário
mediante simulações de contratos de mútuo. O definitivo, o mesmo não ocorre quanto à
parlamentar requerera, também, doações a investigação preliminar. Os crimes contra a ordem
determinada igreja como forma de saldar parte das tributária ou de outra modalidade delitiva podem
quantias supostamente a ele devidas, além de ser tentados e consumados e jamais se entendeu
pagamento em horas voo mediante fretamento de pela impossibilidade da investigação preliminar
táxi aéreo. durante a execução de um crime e mesmo antes da
Inq 3983/DF, rel. Min. Teori Zavascki, 2 e consumação. Com base nessa orientação, a
3.2016. (Inq-3983) Primeira Turma julgou extinto o ―writ‖, sem
(Informativo 816, Plenário) resolução do mérito. Assentou a inadequação da
Inquérito: corrupção passiva e lavagem de via processual, por se tratar de ―habeas corpus‖
dinheiro - 5 substitutivo do recurso ordinário constitucional.
O Tribunal concluiu que os elementos colhidos Porém, concedeu a ordem de ofício para trancar a
indicariam possível cometimento de crime de ação penal no que se refere aos crimes fiscais a
corrupção passiva majorada (CP, art. 317, ―caput” envolver apropriação e sonegação de
e § 1º), ao menos na qualidade de partícipe (CP, contribuições previdenciárias descontadas de
art. 29), por parte do deputado federal. Excluir-se- produtores rurais, ao crime de lavagem de
ia, todavia, do quanto recebido, a causa de dinheiro tendo por antecedente a sonegação dessas
aumento do art. 327, § 2º, do CP, incabível pelo mesmas contribuições previdenciárias, e ao crime
mero exercício do mandato popular, sem prejuízo de sonegação da Cofins pertinente à parte quitada.
da causa de aumento contemplada no art. 317, § 1º Afirmou, ainda, a inexistência de prejuízo na
(―A pena é aumentada de um terço, se, em continuidade da ação penal em relação ao restante
consequência da vantagem ou promessa, o da imputação. Na espécie, durante as
funcionário retarda ou deixa de praticar qualquer investigações, iniciadas para apurar crimes de
ato de ofício ou o pratica infringindo dever ordem tributária, foram revelados, fortuitamente,
funcional‖). A jurisprudência do STF exigiria, indícios de crimes mais graves, especificamente o
para tanto, imposição hierárquica não de corrupção de agentes públicos para acobertar as
demonstrada nem descrita nos presentes autos. Os atividades supostamente ilícitas. Os pacientes
indícios existentes apontariam também que a respondem a ação penal por apropriação indébita
acusada teria concorrido para a prática do delito previdenciária, associação criminosa, falsidade
de corrupção passiva, nos termos do já aludido art. ideológica, corrupção ativa e sonegação de
29 do CP (―Quem, de qualquer modo, concorre contribuição previdenciária. Além disso, são
para o crime incide nas penas a este cominadas, na acusados de omitir informação ou prestar
medida de sua culpabilidade‖). Assim, não declaração falsa às autoridades fazendárias.
assistiria razão à defesa da denunciada, de que a Pretendiam a nulidade da investigação porque: a)
conduta descrita na inicial acusatória seria de iniciada a partir de denúncia anônima; b) fora
outro tipo penal. Vencidos os Ministros Dias autorizada interceptação telefônica para apurar
Toffoli e Gilmar Mendes, que não recebiam a crimes fiscais sem que houvesse lançamento
denúncia oferecida contra a acusada. Pontuavam tributário definitivo; e c) os tributos sonegados
que a conduta imputada a ela seria a de assinar seriam, em parte, inválidos, e o remanescente teria
requerimento à Comissão de Fiscalização sido quitado e parcelado.
Financeira e Controle da Câmara dos Deputados, HC 106152/MS, rel. Min. Rosa Weber,
prática normal à atividade parlamentar. Não 29.3.2016. (HC-106152)
haveria, entretanto, prova de que a então (Informativo 819, 1ª Turma)
parlamentar tivesse solicitado, ou recebido, ou
HC: denúncias anônimas e lançamento atual jurisprudência do STF, que condicionaria a
definitivo - 2 persecução por crime contra a ordem tributária à
A Turma, de início, reafirmou o entendimento da realização do lançamento fiscal. O lançamento
Corte no sentido de que notícias anônimas não definitivo do crédito tributário constituiria
autorizam, por si sós, a propositura de ação penal atividade privativa da autoridade administrativa e,
ou mesmo, na fase de investigação preliminar, o sem tributo constituído, não haveria como
emprego de métodos invasivos de investigação, caracterizar o crime de sonegação tributária (HC
como interceptação telefônica ou busca e 81.611/DF, DJU de 13.5.2005). Apesar de a
apreensão. Entretanto, elas podem constituir fonte jurisprudência do STF condicionar a persecução
de informação e de provas que não pode ser penal à existência do lançamento tributário
simplesmente descartada pelos órgãos do Poder definitivo, o mesmo não ocorreria relativamente à
Judiciário. Assim, assentou a inexistência de investigação preliminar. Crimes poderiam ser
invalidade na investigação instaurada a partir de tentados e consumados e jamais se entendera pela
notícia crime anônima encaminhada ao MPF. impossibilidade da investigação preliminar
Destacou que em um mundo no qual o crime durante a execução de um crime e mesmo antes da
torna-se cada vez mais complexo e organizado, consumação. A afirmação seria válida tanto para
seria natural que a pessoa comum tivesse receio de crimes contra a ordem tributária como para
se expor ao comunicar a ocorrência de delito. Daí qualquer outra modalidade delitiva. O Colegiado
a admissibilidade de notícias crimes anônimas. ressaltou que o tema do encontro fortuito de
Nas investigações preliminares, ao se verificar a provas no âmbito de interceptação telefônica fora
credibilidade do que fora noticiado, a investigação abordado em alguns julgados da Corte. A validade
poderia prosseguir, inclusive, se houvesse da investigação não estaria condicionada ao
agregação de novas provas e se preenchidos os resultado, mas sim à observância do devido
requisitos legais, com o emprego de métodos processo legal. Na espécie, as provas dos crimes
especiais de investigação ou mesmo com a de corrupção fortuitamente colhidas no curso da
propositura de ação penal, desde que, no último interceptação não pareceriam se revestir de
caso, as novas provas caracterizassem justa causa. ilicitude, pelo menos no exame que comportam na
Elementos probatórios colhidos pelas autoridades via estreita do ―habeas corpus‖,
policiais teriam constatado a inexistência de independentemente do resultado obtido quanto aos
registro de bens, imóveis e veículos ou qualquer crimes contra a ordem tributária que motivaram o
propriedade em nome dos sócios constantes no início da investigação.
contrato social de empresa cujos lançamentos HC 106152/MS, rel. Min. Rosa Weber,
tributários eram expressivos, o que poderia 29.3.2016. (HC-106152)
caracterizar não serem os reais proprietários. Na HC: denúncias anônimas e lançamento
situação dos autos, fora a interceptação telefônica definitivo - 4
que revelara os indícios da prática de crimes mais A Turma frisou que os autos não estariam
relevantes. Não haveria que se falar, portanto, em instruídos com cópia dos lançamentos tributários,
utilização indevida da notícia crime anônima, cujo o que inviabilizaria uma análise precisa da alegada
tratamento observara a jurisprudência do STF. invalidade dos tributos constituídos. Entretanto,
Ademais, a investigação e a persecução penal em embargos opostos a sequestro incidente na
teriam prosseguido com base nas provas ação penal, o magistrado de primeiro grau teria
colacionadas a partir dela e não com fulcro prolatado sentença a reconhecer a
exclusivo nela. De igual forma, as diligências inconstitucionalidade de parte dos valores
mais invasivas, como a interceptação telefônica, lançados, com reflexo no sequestro decretado.
só foram deflagradas após a colheita de vários Ademais, os tributos lançados consistiriam em
elementos probatórios que corroboravam o teor da contribuições descontadas de produtores rurais
notícia anônima e que, por si só, autorizavam a pessoas físicas e incidentes sobre a receita
medida investigatória. proveniente da comercialização da produção de
HC 106152/MS, rel. Min. Rosa Weber, gado, tributo este reputado inconstitucional pela
29.3.2016. (HC-106152) Suprema Corte (RE 363.852/MG, DJe de
HC: denúncias anônimas e lançamento 23.4.2010). Declarados inconstitucionais tributos
definitivo - 3 lançados contra a empresa, estaria afetada, na
Quanto ao argumento de nulidade da investigação mesma extensão, a acusação da prática de crimes
porquanto iniciada antes da existência de fiscais. Contudo, remanesceria a validade da
lançamento tributário definitivo, a Turma citou a Cofins lançada, o que não acarretaria prejuízo para
a imputação de sonegação para esse crime, visto decisão que reconhecera a prescrição no tocante a
não ter sido apresentada prova inequívoca de que militar acusado da suposta prática de ato
o remanescente fora pago ou parcelado. De todo libidinoso com menor de idade. No caso, em razão
modo, o reconhecimento da inconstitucionalidade desse fato fora instaurado, contra o militar,
parcial das contribuições rurais lançadas e a procedimento administrativo em que alegada,
quitação total ou parcial da Cofins atingiriam desde o início, a prescrição. Esta, no entanto,
apenas a imputação pelos crimes tributários, e não somente fora declarada pelo STM, que concedera
os demais crimes objeto da denúncia, entre eles ―habeas corpus‖ de ofício. O recorrente sustentava
corrupção. Ao tempo da autorização da que o direito líquido e certo a fundamentar o
interceptação telefônica, não existiriam os fatos ―mandamus‖ seria o direito à ordem democrática e
extintivos das obrigações tributárias. Embora o à ordem jurídica, e que a concessão de ―habeas
julgamento de inconstitucionalidade pelo STF no corpus‖ de ofício teria sido aplicada
RE 363.852/MG fosse com efeitos retroativos, equivocadamente porque em sede administrativa.
não significaria que a autorização para a A Turma assinalou que o ―Parquet‖ militar,
interceptação tivesse sido arbitrária, porque atuando como ―custos legis‖, não teria
baseada em lançamentos tributários tidos como legitimidade ativa no tocante ao mandado de
hígidos e válidos. De igual forma, a quitação segurança. Os direitos à ordem democrática e à
posterior do tributo afetaria a pretensão punitiva, ordem jurídica não seriam de titularidade do
mas não atingiria retroativamente a validade dos Ministério Público, mas de toda a sociedade. O
atos de investigação praticados anteriormente. mandado de segurança, na espécie, se insurgiria
Prejudicada, ainda, a persecução penal no tocante contra decisão judicial, e não administrativa. Além
à sonegação dos tributos supervenientemente tidos disso, não houvera usurpação de competência que
como inválidos ou dos tributos quitados em pudesse ser considerada ilegalidade ou abuso de
momento posterior, mas sem afetação necessária poder, mesmo porque o acusado fora absolvido
do restante da imputação, que inclui crimes de em sede penal.
quadrilha e corrupção. Também prejudicada a RMS 32970/DF, rel. Min. Cármen Lúcia,
imputação do crime de lavagem de dinheiro no 16.2.2016. (RMS-32970)
que se refere à suposta ocultação e à dissimulação (Informativo 814, 2ª Turma)
das contribuições previdenciárias reputadas Crime sexual contra vulnerável e titularidade da
inconstitucionais. Afinal, se o crime antecedente é ação penal - 1
insubsistente, não poderia haver lavagem. O Plenário, por maioria, denegou a ordem em
HC 106152/MS, rel. Min. Rosa Weber, ―habeas corpus‖ impetrado com base na suposta
29.3.2016. (HC-106152) ilegitimidade do Ministério Público para intentar
Prisão ação penal pública contra o paciente, denunciado
Prisão preventiva e reincidência - 2 pela alegada prática, em 2007, do crime de
A Segunda Turma, em conclusão de julgamento, atentado violento ao pudor com violência
declarou prejudicado ―habeas corpus‖ em que presumida (CP, art. 214, c/c o art. 224, ―a‖, na
discutida ausência de fundamentação idônea, redação originária). No caso, o representante da
lastreada na necessidade de preservação da ordem vítima apresentara requerimento perante a
pública, a justificar a prisão preventiva do autoridade policial (CP, art. 225, na antiga
paciente — v. Informativo 773. O Colegiado redação) e ajuizara queixa-crime. Posteriormente,
registrou o trânsito em julgado de sentença penal o Ministério Público manifestara-se pela rejeição
condenatória. O Ministro Gilmar Mendes (relator) da queixa por ilegitimidade da parte e oferecera
reajustou o seu voto. denúncia. A queixa-crime fora, então, rejeitada, e
HC 124180/RS, rel. Min. Gilmar Mendes, a parte fora admitida como assistente da acusação.
1º.3.2016. (HC-124180) Prevaleceu o voto do Ministro Roberto Barroso,
(Informativo 816, 2ª Turma) no que acompanhado pelos Ministros Luiz Fux,
Gilmar Mendes e Dias Toffoli. Entendeu que a
Condições da Ação controvérsia acerca da recepção do art. 225 do CP
pela atual ordem constitucional não poderia levar
Mandado de segurança e legitimidade ativa do à eventual desproteção da vítima. Em outras
Ministério Público Militar palavras, não se poderia, num primeiro momento,
A Segunda Turma negou provimento a recurso declarar a inviabilidade de ação penal privada e,
ordinário em mandado de segurança interposto posteriormente, a impossibilidade de ação penal
pelo Ministério Público Militar, em face de pública, para deixar o bem jurídico violado sem
tutela. Assim, necessário interpretar esse liberdade. Ademais, a regra nova do preceito
dispositivo à luz do art. 227 da CF (―É dever da penal em comento não retroagiria, uma vez que
família, da sociedade e do Estado assegurar à prevalecia o disposto no art. 100 do CP, desde a
criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta entrada em vigor da Constituição. Portanto, a ação
prioridade, o direito à vida, à saúde, à penal, na hipótese, sempre seria pública. Além
alimentação, à educação, ao lazer, à disso, assentou que o princípio da retroatividade
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao de norma penal mais benéfica aplica-se às leis
respeito, à liberdade e à convivência familiar e penais, e não a entendimentos jurisprudenciais.
comunitária, além de colocá-los a salvo de toda Seria possível, contudo, que certo posicionamento
forma de negligência, discriminação, exploração, tivesse efeitos retroativos apenas se dissesse
violência, crueldade e opressão‖). Dessa forma, respeito à tipicidade ou não de determinada
interpretar o art. 225 do CP de modo a não conduta, mas, no caso, se cuidaria da legitimidade
entender cabível qualquer tipo de sanção em face ativa para exercício da ação penal. Ainda que essa
da conduta perpetrada implicaria negar aplicação legitimidade pudesse influir na punibilidade, não
ao art. 227 da CF. Necessário, portanto, se poderia sustentar que alguém tem o direito
excepcionar a aplicabilidade da redação antiga do subjetivo de não ser punido porque, no momento
art. 225 do CP para a situação dos autos, tendo em em que praticado o fato, entendia-se que a
conta a relevância do aludido dispositivo titularidade da ação penal pertencia a outrem, de
constitucional. O Ministro Luiz Fux ressaltou que acordo com a orientação jurisprudencial
eventual juízo de não recepção do art. 225 do CP dominante à época. Vencidos os Ministros Teori
poderia implicar insegurança jurídica, tendo em Zavascki (relator), Marco Aurélio e Ricardo
conta diversos casos já julgados de acordo com Lewandowski (Presidente), que concediam
essa norma. Ademais, em relação a possível parcialmente a ordem para reconhecer a
decadência do direito de ação em hipóteses ilegitimidade ativa do Ministério Público, com o
semelhantes, seria possível concluir que o menor, consequente arquivamento dos autos.
ao adquirir a maioridade, poderia propor ação HC 123971/DF, rel. orig. Min. Teori Zavascki,
penal no que se refere a bem jurídico que lhe red. p/ o acórdão Min. Roberto Barroso,
dissesse respeito. O Ministro Dias Toffoli 25.2.2016. (HC-123971)
salientou que o tema seria delicado por envolver (Informativo 815, Plenário)
relações e dramas familiares, e que não caberia ao Ação penal e “habeas corpus” de ofício - 4
Estado invadir essa problemática. O Ministro Em conclusão de julgamento, a Primeira Turma,
Gilmar Mendes frisou o princípio da proteção por maioria, resolveu questão de ordem no sentido
insuficiente para afirmar que a decisão da Corte de conceder ―habeas corpus‖, de ofício, para
não poderia implicar esvaziamento da tutela do trancar ação penal por ausência de justa causa. No
bem jurídico no caso concreto. caso, delegado de polícia, hoje parlamentar, teria
HC 123971/DF, rel. orig. Min. Teori Zavascki, autorizado o pagamento de diárias a policial para
red. p/ o acórdão Min. Roberto Barroso, viagens oficiais não realizadas. O juízo recebera a
25.2.2016. (HC-123971) denúncia referente ao crime de peculato apenas
(Informativo 815, Plenário) em relação à policial. O tribunal provera recurso
Crime sexual contra vulnerável e titularidade da do ―Parquet‖ para dar prosseguimento à ação
ação penal - 2 penal relativamente ao então delegado. Em
Por sua vez, os Ministros Edson Fachin e Rosa seguida, diplomado deputado, os autos vieram ao
Weber também denegaram a ordem, mas o STF. Instado a se pronunciar, o Procurador-Geral
fizeram com fulcro na não recepção, pela da República deixara de ratificar a denúncia e
Constituição, do art. 225 do CP, na redação requerera o arquivamento por entender ausente o
anterior à Lei 12.015/2009, na parte em que dolo do acusado, o que afastaria a justa causa da
estabelecia ser privada a ação penal quando o ação penal —v. Informativos 797 e 802. A Turma
crime fosse cometido contra criança ou observou que a alteração da competência inicial
adolescente. O Ministro Edson Fachin apontou em face de posterior diplomação do réu não
que o dispositivo viola o art. 227 da CF. invalidaria os atos regularmente praticados e o
Condicionar o exercício do poder punitivo estatal feito deveria prosseguir da fase em que se
em crimes graves à iniciativa dos representantes encontrasse, em homenagem, ao princípio
legais de crianças ou adolescentes não cumpriria ―tempus regit actum‖. Ressaltou que a denúncia
com o ditame de assegurar a essas pessoas, com teria sido regularmente recebida pelo então juízo
prioridade, o direito à dignidade, ao respeito e à natural. Não caberia, portanto, a ratificação da
peça, o novo oferecimento e consequentemente a meses, no Brasil, por força de outras condenações,
renovação do ato de recebimento. Por outro lado, impostas pelo Poder Judiciário brasileiro, desde
o pedido de arquivamento também não seria 2006. O Colegiado, de início, afastou tese
possível neste momento processual, na medida em defensiva de prescrição da pretensão executória.
que o titular da ação penal na origem exercera Anotou que a condenação pelo crime que
regularmente o recebimento da denúncia. motivara o pedido extradicional se tornara
Entretanto, não se poderia extirpar o direito de o definitiva em 2002 e que o prazo prescricional
Procurador-Geral da República não querer teria se interrompido tendo em conta a
encampar a acusação. reincidência, considerada a primeira condenação
AP 905 QO/MG, rel. Min. Roberto Barroso, no Brasil, transitada em julgado em 2006. Além
23.2.2016. (AP- 905) disso, citou o art. 116, parágrafo único, do CP,
(Informativo 815, 1ª Turma) segundo o qual ―depois de passada em julgado a
sentença condenatória, a prescrição não corre
Ação penal e “habeas corpus” de ofício - 5 durante o tempo em que o condenado está preso
Além disso, o STF não estaria vinculado ao por outro motivo‖. Por fim, a Turma, por maioria,
recebimento da denúncia pelo juízo de 1º grau. reconheceu a aplicação da detração do tempo da
Todavia, seria processualmente adequado o exame prisão cautelar para fins de extradição no tocante à
de eventual concessão de ―habeas corpus‖ de pena a ser cumprida no País requerente. Vencido,
ofício com base na manifestação do Procurador- no ponto, o Ministro Teori Zavascki, que não
Geral da República. Frisou que a orientação entendia aplicável a detração. Ressaltava que o
jurisprudencial do Tribunal seria no sentido de extraditando se encontrava cumprindo prisão
que o trancamento de ação penal pela via do penal por força de condenações no Brasil, e que o
―habeas corpus‖ só seria cabível quando período em que, concomitantemente, estava preso
estivessem comprovadas, desde logo, a atipicidade em razão do pedido de extradição deveria ser
da conduta, a extinção da punibilidade ou a considerado apenas como cumprimento de
evidente ausência de justa causa. Assinalou que o reprimenda imposta pelo Judiciário brasileiro.
Procurador-Geral da República concluíra pela Ext 1397/Governo do Chile, rel. Min. Dias
falta de justa causa. Constatou não haver nos autos Toffoli, 16.2.2016. (Ext-1397)
prova do dolo efetivo do acusado. Haveria, na (Informativo 814, 2ª Turma)
denúncia, um conjunto relevante de depoimentos, Habeas Corpus
no sentido de que o réu, como delegado chefe, “Habeas corpus” contra decisão monocrática
cumpriria função puramente burocrática. A Ao proferir decisão pelo não conhecimento do
atribuição de autorização do pagamento das ―writ‖, o Tribunal, por maioria, reafirmou sua
diárias seria, efetivamente, do chefe imediato da jurisprudência no sentido de não ser cabível
policial. Assim, o parlamentar estaria sendo ―habeas corpus‖ impetrado contra decisão
submetido a processo penal apenas pela sua monocrática de ministro da Corte. Na espécie, os
posição hierárquica, sem nenhum tipo de pacientes impugnaram decisão do Ministro Cezar
envolvimento direto com os fatos. Vencido Peluso, que prorrogara o prazo para a realização
Ministro Marco Aurélio e a Ministra Rosa Weber, de escutas telefônicas anteriormente autorizadas.
que entendiam não ser cabível o implemento da O Tribunal esclareceu que o ato apontado como
ordem de ofício à falta de flagrante ilegalidade, coator — decisão monocrática — não poderia ser
abuso de poder ou decisão teratológica. questionado pela via estreita do presente ―writ‖.
AP 905 QO/MG, rel. Min. Roberto Barroso, Ademais, o tema estaria materializado no
23.2.2016. (AP- 905) Enunciado 606 da Súmula do STF (―Não cabe
(Informativo 815, 1ª Turma) ‗habeas corpus‘ originário para o Tribunal Pleno
Extradição de decisão da Turma ou do Plenário, proferida em
Extradição: concomitância de prisão cautelar e ‗habeas corpus‘ ou no respectivo recurso‖).
penal e detração Destacou que não se trataria de impedir a revisão
A Segunda Turma deferiu pedido extradicional do ato do relator, mas que haveria outro caminho,
formulado pelo Governo do Chile em desfavor de conforme previsto no art. 38 da Lei 8.038/1990 e
nacional daquele País, lá condenado por crime de no art. 21, § 1º, do RISTF. Vencidos os Ministros
―roubo com intimidação‖, à pena de cinco anos e Marco Aurélio (relator), Dias Toffoli, Gilmar
um dia. No caso, o extraditando, preso em razão Mendes, Celso de Mello e Ricardo Lewandowski
do pleito extradicional em 2015, encontrava-se (Presidente), que admitiam a impetração.
cumprindo pena de reclusão de 21 anos e 11 Enfatizavam a importância da proteção judicial
efetiva que se materializaria no ―habeas corpus‖. criminal. Apontava-se a ilegitimidade da
Aduziam que o próprio texto constitucional instauração do referido procedimento por parte do
reconheceria cabível o ―habeas corpus‖ contra Ministério Público estadual para apurar os
autoridade submetida à Constituição, nos termos mesmos fatos objeto do Inq 3.738/SP, que fora
especificados, no caso, juízes do STF. previamente arquivado no STF — v. Informativo
HC 105959/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, 809. Prevaleceu o voto do Ministro Gilmar
red. p/ o acórdão Min. Edson Fachin, Mendes. Afirmou que, em tese, a situação em
17.2.2016. (HC-105959) comento se enquadraria na hipótese de cabimento
(Informativo 814, Plenário) da reclamação perante o STF, na forma do art.
102, I, ―l‖, da CF. Assim, de acordo com o art. 18
Investigação Preliminar do CPP, após o arquivamento do inquérito por
Inquérito e compartilhamento de provas - 3 falta de provas, poder-se-ia proceder a novas
A Primeira Turma, em conclusão de julgamento e pesquisas se de outras provas houvesse notícia.
por maioria, deu provimento a agravo regimental Por outro lado, a reabertura da investigação não
em que se discutia a possibilidade de compartilhar poderia decorrer da simples mudança de opinião
provas colhidas em sede de investigação criminal ou reavaliação da situação. Seria indispensável
com inquérito civil público, bem como outras que houvesse novas provas ou, ao menos, novas
ações decorrentes dos dados resultantes do linhas de investigação em perspectiva. Não seria
afastamento do sigilo financeiro e fiscal e dos possível, ademais, a reabertura de investigações
alusivos à interceptação telefônica — v. para aprofundar linhas investigativas já
Informativos 780 e 803. O Colegiado, ao assentar disponíveis para exploração anterior. No vertente
a viabilidade do compartilhamento de provas, caso, contudo, teria havido a simples reabertura de
reiterou o que decidido no Inq 2.424 QO-QO/RJ investigação arquivada a pedido do PGR. Os fatos
(DJe de 24.8.2007) e na Pet 3.683 QO/MG (DJe estariam inseridos no contexto de irregularidades
de 20.2.2009), no sentido de que ―dados obtidos que foram objeto original do Inq 3.738/SP. O
em interceptação de comunicações telefônicas e Ministro Dias Toffoli acresceu que a instauração
em escutas ambientais, judicialmente autorizadas do referido procedimento em âmbito estadual se
para produção de prova em investigação criminal qualificaria como ato de persecução criminal.
ou em instrução processual penal, podem ser Além disso, os fatos objeto dos distintos
usados em procedimento administrativo procedimentos seriam os mesmos, bem assim
disciplinar, contra a mesma ou as mesmas pessoas seriam idênticos os panoramas probatórios. A
em relação às quais foram colhidos, ou contra única distinção seria um acréscimo na capitulação
outros servidores cujos supostos ilícitos teriam legal dos fatos e uma tentativa de ampliar o
despontado à colheita dessa prova‖. Vencidos os período de investigação. Por fim, as supostas
Ministros Marco Aurélio (relator) e Edson Fachin, novas provas a embasar o procedimento seriam
que negavam provimento ao agravo regimental. O elementos de informação contidos em inquérito
relator afirmava que, em face do contido no art. civil, que fora trancado por envolver detentor de
5º, XII, da CF, não se poderia estender o prerrogativa de foro perante o STF e por possuir
afastamento do sigilo a situações concretas não características de investigação criminal, o que
previstas. Já o Ministro Edson Fachin destacava tornaria esses elementos de informação provas
que o compartilhamento de provas não seria, ilícitas. Em divergência, os Ministros Teori
peremptoriamente, vedado, porém sua Zavascki (relator) e Cármen Lúcia negavam
regularidade deveria ser examinada de acordo com provimento ao agravo. Asseveravam não caber
o caso concreto. reclamação para se verificar se novas provas são
Inq 3305 AgR/RS, rel. Min. Marco Aurélio, hábeis a ensejar a reabertura de investigação cujo
red. p/ o acórdão Min. Roberto Barroso, arquivamento fora determinado pelo STF. Além
23.2.2016. (Inq-3305) disso, não se trataria de persecução penal
(Informativo 815, 1ª Turma) propriamente dita, mas somente tomada de
Arquivamento de inquérito e procedimento providências no âmbito do Ministério Público
investigatório criminal - 2 estadual, fato que não implicaria ofensa à
Em conclusão de julgamento, a Segunda Turma, autoridade da decisão pelo arquivamento do Inq
ante o empate na votação (RISTF, art. 150, § 3º), 3.738/SP.
deu provimento a agravo regimental e acolheu Rcl 20132/SP, rel. orig. Min. Teori Zavascki,
pedido formulado em reclamação, para determinar red. p/ o acórdão Min. Gilmar Mendes,
o trancamento de procedimento investigatório 23.2.2016. (Rcl-20132)
(Informativo 815, 2ª Turma) revelaria quão distante se estaria da fórmula
Princípios e Garantias Processuais inversa, em que ao acusado incumbiria demonstrar
Presunção de inocência e execução provisória de sua inocência, fazendo prova negativa das faltas
condenação criminal - 1 que lhe fossem imputadas.
A execução provisória de acórdão penal HC 126292/SP, rel. Min. Teori Zavascki,
condenatório proferido em julgamento de 17.2.2016. (HC-126292)
apelação, ainda que sujeito a recurso especial ou (Informativo 814, Plenário)
extraordinário, não compromete o princípio Presunção de inocência e execução provisória de
constitucional da presunção de inocência. Esse o condenação criminal - 2
entendimento do Plenário, que, por maioria, O Plenário ressaltou que, antes de prolatada a
denegou a ordem em ―habeas corpus‖ que visava a sentença penal, haveria de se manter reservas de
desconstituição de acórdão que, em sede de dúvida acerca do comportamento contrário à
apelação, determinara a imediata prisão do ordem jurídica, o que levaria a atribuir ao acusado,
paciente por força de sentença condenatória de para todos os efeitos — mas, sobretudo, no que se
primeiro grau. A Corte afirmou que o tema refere ao ônus da prova da incriminação —, a
relacionado com a execução provisória de presunção de inocência. Nessa senda, a eventual
sentenças penais condenatórias envolveria condenação representaria juízo de culpabilidade,
reflexão sobre a) o alcance do princípio da que deveria decorrer da logicidade extraída dos
presunção da inocência aliado à b) busca de elementos de prova produzidos em regime de
necessário equilíbrio entre esse princípio e a contraditório no curso da ação penal. Para o
efetividade da função jurisdicional penal. Tal sentenciante de primeiro grau, ficaria superada a
equilíbrio deveria atender a valores caros não presunção de inocência por um juízo de culpa —
apenas aos acusados, mas também à sociedade, pressuposto inafastável para condenação —,
diante da realidade do intrincado e complexo embora não definitivo, já que sujeito, se houver
sistema de justiça criminal brasileiro. A recurso, à revisão por tribunal de hierarquia
possibilidade da execução provisória da pena imediatamente superior. Nesse juízo de apelação,
privativa de liberdade seria orientação a de ordinário, ficaria definitivamente exaurido o
prevalecer na jurisprudência do STF, mesmo na exame sobre os fatos e provas da causa, com a
vigência da CF/1988 (HC 68.726/DF, DJU de fixação, se fosse o caso, da responsabilidade penal
20.11.1992, e HC 74.983/RS, DJU de 29.8.1997). do acusado. Então, ali que se concretizaria, em seu
Essa orientação seria ilustrada, ainda, pelos sentido genuíno, o duplo grau de jurisdição,
Enunciados 716 e 717 da Súmula do STF destinado ao reexame de decisão judicial em sua
(―Admite-se a progressão de regime de inteireza, mediante ampla devolutividade da
cumprimento da pena ou a aplicação imediata de matéria deduzida na ação penal, tivesse ela sido
regime menos severo nela determinada, antes do apreciada ou não pelo juízo ―a quo‖. Ao réu
trânsito em julgado da sentença condenatória‖, e ficaria assegurado o direito de acesso, em
―Não impede a progressão de regime de execução liberdade, a esse juízo de segundo grau,
da pena, fixada em sentença não transitada em respeitadas as prisões cautelares porventura
julgado, o fato de o réu se encontrar em prisão decretadas. Desse modo, ressalvada a estreita via
especial‖, respectivamente). O plexo de regras e da revisão criminal, seria, portanto, no âmbito das
princípios garantidores da liberdade previsto em instâncias ordinárias que se exauriria a
nossa legislação — princípios do devido processo possibilidade de exame de fatos e provas e, sob
legal, da ampla defesa, do contraditório, do juiz esse aspecto, a própria fixação da
natural, da inadmissibilidade de obtenção de responsabilidade criminal do acusado. Portanto, os
provas por meios ilícitos, da não auto- recursos de natureza extraordinária não
incriminação, com todos os seus desdobramentos configurariam desdobramentos do duplo grau de
de ordem prática, como o direito de igualdade jurisdição, porquanto não seriam recursos de
entre as partes, o direito à defesa técnica plena e ampla devolutividade, já que não se prestariam ao
efetiva, o direito de presença, o direito ao silêncio, debate da matéria fática e probatória. Noutras
o direito ao prévio conhecimento da acusação e palavras, com o julgamento implementado pelo
das provas produzidas, a possibilidade de tribunal de apelação, ocorreria uma espécie de
contraditá-las, com o consequente reconhecimento preclusão da matéria envolvendo os fatos da
da ilegitimidade de condenação que não esteja causa. Os recursos ainda cabíveis para instâncias
devidamente fundamentada e assentada em provas extraordinárias do STJ e do STF — recurso
produzidas sob o crivo do contraditório — especial e extraordinário — teriam âmbito de
cognição estrito à matéria de direito. Nessas jurisprudência, de atribuir efeito apenas
circunstâncias, tendo havido, em segundo grau, devolutivo aos recursos especial e extraordinário
juízo de incriminação do acusado, fundado em — como previsto em textos normativos — seria,
fatos e provas insuscetíveis de reexame pela sob esse aspecto, mecanismo legítimo de
instância extraordinária, pareceria inteiramente harmonizar o princípio da presunção de inocência
justificável a relativização e até mesmo a própria com o da efetividade da função jurisdicional.
inversão, para a situação concreta, do princípio da HC 126292/SP, rel. Min. TeoriZavascki,
presunção de inocência até então observado. Faria 17.2.2016. (HC-126292)
sentido, portanto, negar efeito suspensivo aos (Informativo 814, Plenário)
recursos extraordinários, como o fazem o art. 637 Presunção de inocência e execução provisória de
do CPP e o art. 27, § 2º, da Lei 8.038/1990. condenação criminal - 4
HC 126292/SP, rel. Min. Teori Zavascki, O Plenário asseverou que seria possível tanto a
17.2.2016. (HC-126292) ocorrência de equívocos nos juízos condenatórios
(Informativo 814, Plenário) proferidos pelas instâncias ordinárias quanto em
Presunção de inocência e execução provisória de relação às instâncias extraordinárias. Todavia,
condenação criminal - 3 para essas eventualidades, sempre haveria outros
A Corte destacou, outrossim, que, com relação à mecanismos aptos a inibir consequências danosas
previsão constitucional da presunção de não para o condenado, suspendendo, se necessário, a
culpabilidade, ter-se-ia de considerá-la a execução provisória da pena. Assim sendo,
sinalização de um instituto jurídico, ou o desenho medidas cautelares de outorga de efeito
de garantia institucional, sendo possível o suspensivo ao recurso extraordinário ou especial
estabelecimento de determinados limites. Assim, a seriam instrumentos inteiramente adequados e
execução da pena na pendência de recursos de eficazes para controlar situações de injustiça ou
natureza extraordinária não comprometeria o excessos em juízos condenatórios recorridos. Por
núcleo essencial do pressuposto da não outro lado, a ação constitucional do ―habeas
culpabilidade, na medida em que o acusado corpus‖ igualmente comporia o conjunto de vias
tivesse sido tratado como inocente no curso de processuais com inegável aptidão para controlar
todo o processo ordinário criminal, observados os eventuais atentados aos direitos fundamentais
direitos e as garantias a ele inerentes, bem como decorrentes da condenação do acusado. Portanto,
respeitadas as regras probatórias e o modelo mesmo que exequível provisoriamente a sentença
acusatório atual. Nessa trilha, aliás, haveria o penal contra si proferida, o acusado não estaria
exemplo recente da LC 135/2010 - Lei da Ficha desamparado da tutela jurisdicional em casos de
Limpa, que, em seu art. 1º, I, expressamente flagrante violação de direitos. Vencidos os
consagraria como causa de inelegibilidade a Ministros Marco Aurélio, Rosa Weber, Celso de
existência de sentença condenatória por crimes Mello e Ricardo Lewandowski (Presidente), que,
nela relacionados, quando proferidas por órgão ao concederem a ordem, mantinham a
colegiado. A presunção de inocência não jurisprudência firmada a partir do julgamento do
impediria que, mesmo antes do trânsito em HC 84.078/MG (DJe de 26.2.2010), no sentido de
julgado, o acórdão condenatório produzisse efeitos que a prisão antes do trânsito em julgado da
contra o acusado. De todo modo, não se poderia condenação somente poderia ser decretada a título
desconhecer que a jurisprudência que assegura, cautelar, e de que a ampla defesa não poderia ser
em grau absoluto, o princípio da presunção da visualizada de modo restrito, porquanto englobaria
inocência — a ponto de negar executividade a todas as fases processuais, inclusive as recursais
qualquer condenação enquanto não esgotado de natureza extraordinária.
definitivamente o julgamento de todos os HC 126292/SP, rel. Min. Teori Zavascki,
recursos, ordinários e extraordinários — teria 17.2.2016. (HC-126292)
permitido e incentivado a indevida e sucessiva (Informativo 814, Plenário)
interposição de recursos da mais variada espécie, Câmara de tribunal de justiça composta por
com indisfarçados propósitos protelatórios. juízes de 1º grau - 2
Visaria, não raro, à configuração da prescrição da Não viola o princípio do juiz natural o julgamento
pretensão punitiva ou executória. Cumpriria ao de apelação por órgão colegiado presidido por
Poder Judiciário e, sobretudo, ao STF, garantir desembargador, sendo os demais integrantes
que o processo —único meio de efetivação do ―jus juízes convocados. Com base nessa orientação, a
puniendi‖ estatal —resgatasse sua inafastável Primeira Turma, por maioria, julgou extinto o
função institucional. A retomada da tradicional ―writ‖ sem resolução do mérito. Assentou a
inadequação da via processual, por se tratar de Termo de colaboração premiada e Súmula
―habeas corpus‖ substitutivo de recurso ordinário, Vinculante 14
impetrado contra acórdão do STJ — v. A Segunda Turma, por maioria, negou provimento
Informativo 801. A Turma tampouco concedeu a a agravo regimental em reclamação em que se
ordem de ofício. Consignou que a convocação pretendia a obtenção de acesso a termos de
excepcional e transitória de juízes de primeiro colaboração premiada colhidos em sede de
grau para fazer frente ao excessivo número de investigação criminal. No caso, a autoridade
processos e substituir desembargadores nas reclamada obstara acesso ao reclamante —
câmaras julgadoras, com respaldo em lei denunciado em ação penal — quanto a termos
específica, não caracterizar ofensa ao princípio do relativos a fatos não relacionados à inicial
juiz natural. Ao contrário, essa solução, longe de acusatória. Entretanto, permitira acesso no que se
caracterizar a criação de juízos de exceção ou ―ad refere ao termo no qual fundada a denúncia.
hoc‖, teria a virtude de tentar concretizar uma Sustentava-se ofensa ao Enunciado 14 da Súmula
prestação jurisdicional célere e efetiva, em plena Vinculante (―É direito do defensor, no interesse do
conformidade com a garantia constitucional da representado, ter acesso amplo aos elementos de
razoável duração do processo (CF, art. 5º, prova que, já documentados em procedimento
LXXVIII). Ou seja, não vulnera as garantias investigatório realizado por órgão com
fundamentais do processo, especialmente porque competência de polícia judiciária, digam respeito
observados critérios objetivos e com expressa ao exercício do direito de defesa‖). O Colegiado
autorização legal. Vencidos os Ministros Marco assinalou que esse enunciado sumular assegura ao
Aurélio (relator) e Edson Fachin que concediam a defensor legalmente constituído o direito de
ordem de ofício. acesso às provas já produzidas e formalmente
HC 101473/SP, rel. orig. Min. Marco Aurélio, incorporadas ao procedimento investigatório,
red. p/ o acórdão Min. Roberto Barroso, excluídas, consequentemente, as informações e
16.2.2016. (HC-101473) providências investigatórias ainda em curso de
(Informativo 814, 1ª Turma) execução e, por isso, não documentadas no
próprio inquérito ou processo judicial. Lembrou
Defensoria Pública e defensor público natural que o conteúdo dos depoimentos pretendidos pelo
A Segunda Turma denegou a ordem em ―habeas reclamante, embora posteriormente tornado
corpus‖ no qual se pretendia a incidência do público e à disposição, encontrava-se, à época do
princípio do defensor natural. No caso, defensor ato reclamado, submetido a sigilo. Assim,
público fora designado para exercer suas funções enquanto não instaurado formalmente o inquérito
em duas comarcas distintas, em dias da semana acerca dos fatos declarados, o acordo de
predeterminados. Por sua vez, o juízo no qual colaboração e os correspondentes depoimentos
processado o paciente determinara a realização de estariam sujeitos a estrito regime de sigilo.
audiência em dia no qual o defensor estaria em Instaurado o inquérito, o acesso aos autos é
comarca diversa, e designara outro advogado para restrito ao juiz, ao Ministério Público e ao
prestar-lhe assistência na oportunidade. Por essa delegado de polícia, como forma de garantir o
razão, alegava-se, no ―habeas‖, que haveria ofensa êxito das investigações. Assegura-se ao defensor,
à ampla defesa e ao defensor público natural, e no interesse do representado, amplo acesso aos
que o juízo deveria redesignar a audiência para dia elementos de prova que digam respeito ao
em que o defensor público estivesse disponível. A exercício do direito de defesa, devidamente
Turma afirmou que fora assegurado ao paciente o precedido de autorização judicial, ressalvados os
direito de contato prévio e privativo com seu referentes às diligências em andamento. Entendeu,
defensor ―ad hoc‖. Este exercera seu mister com ademais, que seria recomendável não julgar o
eficiência e exatidão, pois participara ativamente pleito prejudicado porque, entre o pedido do
dos depoimentos, formulando perguntas tanto para reclamante e o levantamento do sigilo, vários atos
o acusado quanto para as testemunhas do processuais teriam sido praticados. Dessa forma, a
Ministério Público. Além disso, a Defensoria prejudicialidade poderia implicar a anulação de
Pública deveria se acomodar ao Poder Judiciário, vários desses atos. Vencido o Ministro Dias
e não o contrário, pois a atuação da Defensoria Toffoli, que julgava prejudicado o agravo.
ainda seria insuficiente em alguns locais. Reputava que o termo de colaboração em debate
HC 123494/ES, rel. Min. Teori Zavascki, já fora disponibilizado, tendo em vista não estar
16.2.2016. (HC-123494) mais sob sigilo, razão pela qual não haveria mais
(Informativo 814, 2ª Turma) interesse processual.
S U PERIOR TRI BU NAL D E J U STIÇA
DIREITO PENAL – STJ a decretação da perda do cargo somente
pode ser ajuizada pelo Procurador-Geral de
(INFORMATIVOS 552-578) Justiça quando previamente autorizado pelo
Colégio de Procuradores, o que constitui
ANO DE 2014 condição de procedibilidade, juntamente com
o trânsito em julgado da sentença penal
condenatória. Com efeito, em se tratando de
DIREITO PENAL. MAIOR GRAU DE normas legais de mesma hierarquia, o fato
REPROVABILIDADE DA CONDUTA DE de a Lei Orgânica Nacional do Ministério
PROMOTOR DE JUSTIÇA EM CRIME DE Público prever regras específicas e
CORRUPÇÃO PASSIVA. diferenciadas das do Código Penal para a
perda de cargo, em atenção ao princípio da
O fato de o crime de corrupção passiva ter especialidade – lex specialis derogat generali
sido praticado por Promotor de Justiça no – , deve prevalecer o que dispõe a lei
exercício de suas atribuições orgânica. REsp 1.251.621-AM, Rel. Min.
institucionais pode configurar Laurita Vaz, julgado em 16/10/2014.
circunstância judicial desfavorável na
dosimetria da pena. Isso porque esse fato DIREITO PENAL. INAPLICABILIDADE DO
revela maior grau de reprovabilidade da ART. 92, I, DO CP A SERVIDOR PÚBLICO
conduta, a justificar o reconhecimento da APOSENTADO ANTERIORMENTE À
acentuada culpabilidade, dada as específicas CONDENAÇÃO CRIMINAL.
atribuições do promotor de justiça, as quais
são distintas e incomuns se equiparadas aos Ainda que condenado por crime praticado
demais servidores públicos latu sensu. durante o período de atividade, o servidor
Assim, a referida circunstância não é inerente público não pode ter a sua aposentadoria
ao próprio tipo penal. REsp 1.251.621-AM, cassada com fundamento no art. 92, I, do
Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em CP, mesmo que a sua aposentadoria
16/10/2014. tenha ocorrido no curso da ação penal. De
fato, os efeitos de condenação criminal
DIREITO PENAL. PROCEDIMENTO PARA previstos no art. 92, I, do CP – segundo o
DECLARAR A PERDA DO CARGO DE qual são efeitos da condenação criminal a
MEMBRO VITALÍCIO DO MINISTÉRIO “ perda de cargo, função pública ou mandato
PÚBLICO ESTADUAL. eletivo” – , embora possam repercutir na
esfera das relações extrapenais, são efeitos
Em ação penal decorrente da prática de penais, na medida em que decorrem de lei
corrupção passiva praticada por membro penal. Sendo assim, pela natureza
vitalício do Ministério Público Estadual, constrangedora desses efeitos (que
não é possível determinar a perda do acarretam restrição ou perda de direitos),
cargo com fundamento no art. 92, I, a, do eles somente podem ser declarados nas
CP. De acordo com o art. 92, I, a, do CP, é hipóteses restritas do dispositivo
efeito não automático da condenação a mencionado, o que implica afirmar que o rol
perda do cargo, função pública ou mandato do art. 92 do CP é taxativo, sendo vedada a
eletivo quando aplicada a pena privativa de interpretação extensiva ou analógica para
liberdade por tempo igual ou superior a um estendê-los em desfavor do réu, sob pena de
ano, nos crimes praticados com abuso de afronta ao princípio da legalidade. Dessa
poder ou violação de dever para com a maneira, como essa previsão legal é dirigida
Administração Pública. Entretanto, quanto à para a “ perda de cargo, função pública ou
perda do cargo de membro do Ministério mandato eletivo” , não se pode estendê-la ao
Público Estadual, há norma especial (Lei servidor que se aposentou, ainda que no
8.625/1993 – Lei Orgânica Nacional do decorrer da ação penal. Precedentes citados:
Ministério Público) que dispõe que a perda REsp 1.317.487-MT, Quinta Turma, DJe
do referido cargo somente pode ocorrer após 22/8/2014; e RMS 31.980-ES, Sexta Turma,
o trânsito em julgado de ação civil proposta DJe 30/10/2012. REsp 1.416.477-SP, Rel.
para esse fim. O art. 38, § 2º, da Lei Min. Walter de Almeida Guilherme
8.625/1993 ainda prevê que a ação civil para (Desembargador convocado do TJ/SP),
julgado em 18/11/2014. RECURSO REPETITIVO (ART. 543-C DO
CPC E RES. 8/2008-STJ). TEMA 916.
Consuma-se o crime de roubo com a
DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL. inversão da posse do bem, mediante
QUESTÃO PREJUDICIAL EXTERNA E emprego de violência ou grave ameaça,
CRIME DE DESCAMINHO. ainda que por breve tempo e em seguida a
perseguição imediata ao agente e
Ainda que o descaminho seja delito de recuperação da coisa roubada, sendo
natureza formal, a existência de decisão prescindível a posse mansa e pacífica ou
administrativa ou judicial favorável ao desvigiada. Como se sabe, o delineamento
contribuinte – anulando o auto de acerca da consumação dos crimes de roubo
infração, o relatório de perdimento e o e de furto foi construído com base no direito
processo administrativo fiscal – romano, cuja noção de furtum – elaborada
caracteriza questão prejudicial externa pelos operadores práticos do direito e pelos
facultativa que autoriza a suspensão do jurisconsultos –, mais ampla que a do furto
processo penal (art. 93 do CPP). O STF, do direito moderno, trazia a exigência da
por ocasião do julgamento do HC 99.740-RJ contrectatio (apreensão fraudulenta da
(DJe 1º/2/2011), firmou compreensão no coisa), visto que se exigia, necessariamente,
sentido de que a consumação do delito de o apossamento da coisa. É de se notar que,
descaminho e a abertura de processo-crime a partir das interpretações discrepantes da
não estão a depender da constituição palavra contrectatio – entendida
administrativa do débito fiscal porque o delito diversamente no sentido de trazer, de mover
de descaminho é formal e prescinde do de lugar, de tocar (materialmente) e pôr a
resultado. E, secundando o entendimento do mão –, explica-se a profusão de teorias sobre
Pretório Excelso, este STJ, por ambas as a consumação do furto. O desenvolvimento
Turmas com competência em matéria penal, desses conceitos, no âmbito do direito
vem também decidindo que o descaminho é romano, levou à distinção de quatro
crime formal, e que a persecução penal momentos da ação: (a) a ação de tocar o
independe da constituição do crédito objeto (contrectatio); (b) a ação de remover a
tributário, como se colhe em reiterados coisa (amotio); (c) a ação de levar a coisa,
precedentes. Do exposto, resulta que, sendo tirando-a da esfera patrimonial do proprietário
desnecessária a constituição definitiva do (ablatio); e (d) a ação de colocar a coisa em
crédito tributário para a tipificação do delito, lugar seguro (illatio). O porquê de tanto
não fica a ação penal – instaurada para a esforço intelectual pode ser encontrado no
apuração de crime de descaminho – no fato de o direito romano não ter desenvolvido
aguardo de processo administrativo, ação a ideia de “tentativa”, motivo pelo qual era
judicial ou execução fiscal acerca do crédito necessária a antecipação da consumação,
tributário, tendo em vista a independência considerando-se já consumado o furto com o
entre as esferas. Todavia, a existência de simples toque da coisa, sem necessidade de
decisão administrativa ou judicial favorável levá-la. Todavia, com o surgimento da noção
ao contribuinte provoca inegável repercussão de tentativa, ficou evidente que não se fazia
na própria tipificação do delito, necessária a antecipação da consumação
caracterizando questão prejudicial externa (attrectatio). Decorre daí o abandono das
facultativa que autoriza a suspensão do teorias radicais (consumação pelo simples
processo penal (art. 93 do CPP). REsp toque ou somente com a colocação da coisa
1.413.829-CE, Rel. Min. Maria Thereza de em local seguro). No Brasil, o histórico da
Assis Moura, julgado em 11/11/2014. jurisprudência do STF quanto ao tema
remete a dois momentos distintos. No
primeiro momento, observava-se, acerca da
ANO DE 2015 consumação do crime de roubo próprio, a
existência de duas correntes na
jurisprudência do STF: (i) a orientação
Recursos Repetitivos tradicional, que considerava consumada a
DIREITO PENAL. MOMENTO infração com a subtração da coisa, mediante
CONSUMATIVO DO CRIME DE ROUBO. violência ou grave ameaça, sem cogitar
outros requisitos, explicitando ser Recursos Repetitivos
desnecessário o locupletamento do agente DIREITO PENAL. MOMENTO
(HC 49.671-SP, Primeira Turma, DJ CONSUMATIVO DO CRIME DE FURTO.
16/6/1972; RE 93.133-SP, Primeira Turma, RECURSO REPETITIVO (ART. 543-C DO
DJ 6/2/1981; HC 53.495-SP, Segunda CPC E RES. 8/2008-STJ). TEMA 934.
Turma, DJ 19/9/1975; e RE 102.389-SP, Consuma-se o crime de furto com a posse
Segunda Turma, DJ 17/8/1984); e (ii) a de fato da res furtiva, ainda que por breve
orientação segundo a qual se exige, para a espaço de tempo e seguida de
consumação, tenha a coisa subtraída saído perseguição ao agente, sendo
da esfera de vigilância da vítima ou tenha prescindível a posse mansa e pacífica ou
tido o agente a posse pacífica da res, ainda desvigiada. O Plenário do STF (RE 102.490-
que por curto lapso (RE 93.099-SP, Primeira SP, DJ 16/8/1991), superando a controvérsia
Turma, DJ 18/12/1981; RE 96.383-SP, em torno do tema, consolidou a adoção da
Primeira Turma, DJ 18/3/1983; RE 97.500- teoria da apprehensio (ou amotio), segundo a
SP, Segunda Turma, DJ 24/8/1982; e RE qual se considera consumado o delito de
97.677-SP, Segunda Turma, DJ 15/10/1982). furto quando, cessada a clandestinidade, o
Para esta corrente, havendo perseguição agente detenha a posse de fato sobre o bem,
imediata ao agente e sua prisão logo em ainda que seja possível à vítima retomá-lo,
seguida com o produto do roubo, não haveria por ato seu ou de terceiro, em virtude de
que se falar em roubo consumado. Num perseguição imediata. Desde então, o tema
segundo momento, ocorreu a estabilização encontra-se pacificado na jurisprudência dos
da jurisprudência do STF com o julgamento Tribunais Superiores. Precedentes citados do
do RE 102.490-SP em 17/9/1987 (DJ STJ: AgRg no REsp 1.346.113-SP, Quinta
16/8/1991), no qual, de acordo com a referida Turma, DJe 30/4/2014; HC 220.084-MT,
orientação tradicional da jurisprudência (i), Sexta Turma, DJe 17/12/2014; e AgRg no
definiu-se que “Para que o ladrão se torne AREsp 493.567-SP, Sexta Turma, DJe
possuidor, não é preciso, em nosso direito, 10/9/2014. Precedentes citados do STF: HC
que ele saia da esfera de vigilância do antigo 114.329-RS, Primeira Turma, DJe
possuidor, mas, ao contrário, basta que 18/10/2013; e HC 108.678-RS, Primeira
cesse a clandestinidade ou a violência, para Turma, DJe 10/5/2012. REsp 1.524.450-RJ,
que o poder de fato sobre a coisa se Rel. Min. Nefi Cordeiro, Terceira Seção,
transforme de detenção em posse, ainda que julgado em 14/10/2015, DJe 29/10/2015
seja possível ao antigo possuidor retomá-la (Informativo 572).
pela violência, por si ou por terceiro, em Recursos Repetitivos
virtude de perseguição [...]”. Após esse
julgado, o STF, no que tange ao momento DIREITO PENAL. CONFIGURAÇÃO DO
consumativo do roubo, unificou a CRIME DE ESTUPRO DE VULNERÁVEL.
jurisprudência, para entender que se RECURSO REPETITIVO (ART. 543-C DO
consuma o crime de roubo no momento em CPC E RES. 8/2008-STJ). TEMA 918.
que o agente obtém a posse do bem, Para a caracterização do crime de estupro
mediante violência ou grave ameaça, ainda de vulnerável previsto no art. 217-A,
que não seja mansa e pacífica e/ou haja caput, do Código Penal, basta que o
perseguição policial, sendo prescindível que agente tenha conjunção carnal ou
o objeto subtraído saia da esfera de pratique qualquer ato libidinoso com
vigilância da vítima. Precedentes citados do pessoa menor de 14 anos; o
STJ: AgRg no REsp 1.410.795-SP, Sexta consentimento da vítima, sua eventual
Turma, DJe 6/12/2013; e EDcl no REsp experiência sexual anterior ou a
1.425.160-RJ, Sexta Turma, DJe 25/9/2014. existência de relacionamento amoroso
Precedentes citados do STF: HC 94.406-SP, entre o agente e a vítima não afastam a
Primeira Turma, DJe 5/9/2008; e HC ocorrência do crime. Inicialmente, registre-
100.189-SP, Segunda Turma, DJe se que a interpretação jurisprudencial acerca
16/4/2010. REsp 1.499.050-RJ, Rel. Min. do art. 224, “a”, do CP (antes da entrada em
Rogerio Schietti Cruz, Terceira Seção, vigor da Lei 12.015/2009) já vinha se
julgado em 14/10/2015, DJe 9/11/2015 consolidando no sentido de que respondia
(Informativo 572). por estupro ou por atentado violento ao pudor
o agente que mantinha relações sexuais (ou um critério objetivo para análise da figura
qualquer ato libidinoso) com menor de 14 típica, vale dizer, a idade da vítima”. Dessa
anos, mesmo sem violência real, e ainda que forma, não se pode qualificar ou etiquetar
mediante anuência da vítima (EREsp comportamento de crianças, de modo a
1.152.864-SC, Terceira Seção, DJe desviar a análise da conduta criminosa ou
1º/4/2014). Com efeito, o fato de alterações justificá-la. Expressões como
legislativas terem sido incorporadas pela Lei “amadurecimento sexual da adolescente”,
12.015/2009 ao “Título IV – Dos Crimes “experiência sexual pretérita da vítima” ou
contra a Dignidade Sexual”, especialmente mesmo a utilização das expressões “criança
ao “Capítulo II – Dos Crimes Sexuais contra prostituta” ou “criança sedutora” ainda
Vulnerável”, do CP, estanca, de uma vez por frequentam o discurso jurisprudencial, como
todas, qualquer dúvida quanto à irrelevância, se o reconhecimento de tais circunstâncias,
para fins de aperfeiçoamento do tipo penal em alguma medida, justificasse os crimes
inscrito no caput do art. 217-A, de eventual sexuais perpetrados. Esse posicionamento,
consentimento da vítima ao ato libidinoso, de todavia, implica a impropriedade de se julgar
anterior experiência sexual ou da existência a vítima da ação delitiva para, a partir daí,
de relacionamento amoroso entre ela e o julgar-se o agente. Refuta-se, ademais, o
agente. Isso porque, a despeito de parte da frágil argumento de que o desenvolvimento
doutrina sustentar o entendimento de que da sociedade e dos costumes possa
ainda se mantém a discussão sobre configurar fator que não permita a
vulnerabilidade absoluta e vulnerabilidade subsistência de uma presunção que toma
relativa, o tipo penal do art. 217-A do CP não como base a innocentia consilli da vítima.
traz como elementar a expressão Basta um rápido exame da história das ideias
“vulnerável”. É certo que o nomem iuris que a penais – e, em particular, das opções de
Lei 12.015/2009 atribui ao citado preceito política criminal que deram ensejo às
legal estipula o termo “estupro de vulnerável”. sucessivas normatizações do Direito Penal
Entretanto, como salientado, a brasileiro – para se constatar que o caminho
“vulnerabilidade” não integra o preceito da “modernidade” é antípoda a essa espécie
primário do tipo. Na verdade, o legislador de proposição. Deveras, de um Estado
estabelece três situações distintas em que a ausente e de um Direito Penal indiferente à
vítima poderá se enquadrar em posição de proteção da dignidade sexual de crianças e
vulnerabilidade, dentre elas: “Ter conjunção adolescentes, evoluiu-se, paulatinamente,
carnal ou praticar outro ato libidinoso com para uma Política Social e Criminal de
menor de 14 (catorze) anos”. Não cabe, redobrada preocupação com o saudável
destarte, ao aplicador do direito relativizar crescimento físico, mental e afetivo do
esse dado objetivo, com o fim de excluir a componente infanto-juvenil de nossa
tipicidade da conduta. A propósito, há população, preocupação que passou a ser
entendimento doutrinário no viés de que: compartilhada entre o Estado, a sociedade e
“Hoje, com louvor, visando acabar, de uma a família, com reflexos na dogmática penal.
vez por todas, com essa discussão, surge em Assim é que novas tipificações vieram
nosso ordenamento jurídico penal, fruto da reforçar a opção do Estado brasileiro – na
Lei nº 12.015, de 7 de agosto de 2009, o linha de similar esforço mundial – de
delito que se convencionou denominar de combater todo tipo de violência, sobretudo a
estupro de vulnerável, justamente para sexual, contra crianças e adolescentes. É
identificar a situação de vulnerabilidade que anacrônico, portanto, qualquer discurso que
se encontra a vítima. Agora, não poderão os procure considerar a modernidade, a
Tribunais entender de outra forma quando a evolução moral dos costumes sociais e o
vítima do ato sexual for alguém menor de 14 acesso à informação como fatores que se
(quatorze) anos. [...]. O tipo não está contrapõem à natural tendência civilizatória
presumindo nada, ou seja, está tão somente de proteger certos grupos de pessoas física,
proibindo que alguém tenha conjunção carnal biológica, social ou psiquicamente
ou pratique outro ato libidinoso com menor fragilizadas. Além disso, não há que se falar
de 14 anos, bem como com aqueles em aplicação do princípio da adequação
mencionados no § 1º do art. 217-A do Código social, porquanto no julgamento de caso de
Penal. Como dissemos anteriormente, existe estupro de vulnerável deve-se evitar carga de
subjetivismo, sob pena de ocorrência de vigorar com a seguinte redação: “Transitada
possíveis danos relevantes ao bem jurídico em julgado a sentença condenatória, a multa
tutelado – o saudável crescimento físico, será considerada dívida de valor, aplicando-
psíquico e emocional de crianças e se-lhes as normas da legislação relativa à
adolescentes – que, recorde-se, conta com dívida ativa da Fazenda Pública, inclusive no
proteção constitucional e infraconstitucional, que concerne às causas interruptivas e
não sujeito a relativizações. Ora, a tentativa suspensivas da prescrição”. Portanto, diante
de não conferir o necessário relevo à prática da nova redação dada ao CP, a pena de
de relações sexuais entre casais em que multa não mais possui o condão de
uma das partes (em regra, a mulher) é menor constranger o direito à locomoção do
de 14 anos, com respaldo nos costumes sentenciado (STF: AgRg no HC 81.480-SP,
sociais ou na tradição local, tem raízes em Primeira Turma, DJ 5/4/2002; e HC 73.758-
uma cultura sexista – ainda muito SP, Segunda Turma, DJ 24/9/1999). É
impregnada no âmago da sociedade imperioso frisar que a nova redação do art.
ocidental, sobretudo em comunidades 51 do CP trata da pena de multa como dívida
provincianas, segundo a qual meninas de de valor já a partir do trânsito em julgado da
tenra idade, já informadas dos assuntos da sentença penal condenatória, ou seja, em
sexualidade, estão aptas a manter momento, inclusive, anterior ao próprio
relacionamentos duradouros e estáveis cumprimento da pena privativa de liberdade
(envolvendo, obviamente, a prática sexual), ou da restritiva de direitos. Isso implica
com pessoas adultas. Ressalta-se, por fim, afirmar que o jus puniendi do Estado exaure-
que praticamente todos os países do mundo se ao fim da execução da pena privativa de
repudiam o sexo entre um adulto e um liberdade ou da restritiva de direitos,
adolescente – e, mais ainda, com uma porquanto, em nenhum momento, engloba a
criança – e tipificam como crime a conduta pena de multa, considerada dívida de valor a
de praticar atos libidinosos com pessoa ainda partir do trânsito em julgado da sentença
incapaz de ter o seu consentimento penal condenatória. Entendimento oposto, ou
reconhecido como válido. Precedentes seja, a possibilidade de constrição da
citados: AgRg nos EDcl no AREsp 191.197- liberdade daquele que é apenado somente
MS, Quinta Turma, DJe 19/12/2014; e AgRg em razão de sanção pecuniária, consistiria
no REsp 1.435.416-SC, Sexta Turma, DJe em legitimação da prisão por dívida, em
3/11/2014. REsp 1.480.881-PI, Rel. Min. afronta, portanto, ao disposto no art. 5º,
Rogerio Schietti Cruz, Terceira Seção, LXVII, da CF e, ainda, no art. 7º, 7, da
julgado em 26/8/2015, DJe 10/9/2015 Convenção Americana sobre Direitos
(Informativo 568). Humanos (Pacto de San José da Costa
Recursos Repetitivos Rica), cujo texto estabelece que “ninguém
DIREITO PENAL. EXTINÇÃO DA deve ser detido por dívida”. Dessa forma, o
PUNIBILIDADE INDEPENDENTEMENTE reconhecimento da pena de multa como
DO ADIMPLEMENTO DA PENA DE dívida de valor atribui à sanção pecuniária
MULTA. RECURSO REPETITIVO (ART. caráter extrapenal. Se a natureza da multa,
543-C DO CPC E RES. 8/2008-STJ). TEMA após o trânsito em julgado da condenação,
931. fosse compreendida como de caráter penal,
Nos casos em que haja condenação a mesmo diante da extinção da pena privativa
pena privativa de liberdade e multa, de liberdade ou da restritiva de direitos pelo
cumprida a primeira (ou a restritiva de cumprimento, os efeitos da sentença se
direitos que eventualmente a tenha conservariam até o adimplemento da pena
substituído), o inadimplemento da sanção pecuniária, porquanto não reconhecida a
pecuniária não obsta o reconhecimento extinção da punibilidade do apenado. Após a
da extinção da punibilidade. A Lei alteração legislativa que considerou a pena
9.268/1996 deu nova redação ao art. 51 do de multa como dívida de valor, deve-se
CP e extirpou do diploma jurídico a assinalar também a alteração da
possibilidade de conversão da pena de multa competência para a execução da sanção,
em detenção, no caso de inadimplemento da exclusiva, então, da Fazenda Pública,
sanção pecuniária. Após a alteração conforme disposto no enunciado da Súmula
legislativa, o mencionado artigo passou a 521 do STJ: “A legitimidade para a execução
fiscal de multa pendente de pagamento ainda, (c) se, para a configuração do delito
imposta em sentença condenatória é em questão, é dispensável a identificação
exclusiva da Fazenda Pública”. Portanto, individualizada dos titulares dos direitos
extinta a pena privativa de liberdade (ou autorais violados ou de quem os represente.
restritiva de direitos) pelo seu cumprimento, o Quanto ao primeiro ponto em debate (a),
inadimplemento da pena de multa não obsta realmente, o art. 530-D do CPP dispõe que
a extinção da punibilidade do apenado, "Subsequente à apreensão, será realizada,
porquanto, após a nova redação do art. 51 do por perito oficial, ou, na falta deste, por
CP, dada pela Lei 9.268/1996, a pena pessoa tecnicamente habilitada, perícia
pecuniária é considerada dívida de valor e, sobre todos os bens apreendidos e
desse modo, possui caráter extrapenal, de elaborado o laudo que deverá integrar o
forma que sua execução é de competência inquérito policial ou o processo". Entretanto,
exclusiva da Procuradoria da Fazenda ainda que esse dispositivo legal literalmente
Pública. REsp 1.519.777-SP, Rel. Min. disponha que a perícia deve ser realizada
Rogerio Schietti Cruz, Terceira Seção, sobre "todos os bens apreendidos", a
julgado em 26/8/2015, DJe 10/9/2015 materialidade do crime previsto no art. 184, §
(Informativo 568). 2º, do CP pode ser comprovada mediante
Recursos Repetitivos laudo pericial feito por amostragem do
DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL. produto apreendido, já que basta a
COMPROVAÇÃO DA MATERIALIDADE DO apreensão de um único objeto para que,
DELITO DE VIOLAÇÃO DE DIREITO realizada a perícia e identificada a falsidade
AUTORAL. RECURSO REPETITIVO (ART. do bem periciado, tenha-se como
543-C DO CPC E RES. 8/2008-STJ). TEMA configurado o delito em questão. Nesse
926. sentido, a Sexta Turma do STJ (HC 213.758-
É suficiente, para a comprovação da SP, DJe 10/4/2013) já definiu que "há
materialidade do delito previsto no art. critérios estatísticos aptos a permitir que o
184, § 2º, do CP, a perícia realizada, por perito conclua sobre a falsidade ou
amostragem, sobre os aspectos externos autenticidade dos bens a partir de
do material apreendido, sendo exemplares representativos da amostra
desnecessária a identificação dos apreendida [...] contraproducente a análise
titulares dos direitos autorais violados ou de dezenas ou mesmo de centenas de
de quem os represente. No que diz respeito produtos praticamente idênticos para fins de
à comprovação da materialidade dos delitos comprovação da materialidade do delito de
contra a propriedade intelectual, a Lei violação de direito autoral. Entender de forma
10.695/2003 (Lei Antipirataria), além de diversa o disposto no art. 530-D do Código
modificar o art. 184 do CP, incluiu, para de Processo Penal apenas dificultaria a
facilitar a apuração desses crimes, os arts. apuração do delito em questão e retardaria o
530-A e seguintes no CPP, prevendo a término do processo judicial, em
possibilidade de elaboração de laudo pericial inobservância ao princípio constitucional da
por apenas um perito. Previu-se, também, razoável duração do processo (CF, art. 5º,
nos crimes de ação penal pública LXXVIII)", de modo que "a exigência do
incondicionada - aos quais se aplica o legislador de que a perícia seja realizada
procedimento previsto nos arts. 530-B a 530- sobre todos os bens apreendidos se presta,
H -, a possibilidade de a autoridade policial na verdade, não para fins de comprovação
agir de ofício, apreendendo o produto ilícito e da materialidade delitiva, mas para fins de
tomando as medidas necessárias para dosimetria da pena, mais especificamente
cessar a atividade criminosa. Daí o debate para a exasperação da reprimenda-base,
sobre: (a) se a materialidade do crime uma vez que se mostra mais acentuada a
previsto no art. 184, § 2º, do CP pode ser reprovabilidade do agente que reproduz, por
comprovada mediante laudo pericial feito por exemplo, com intuito de lucro, 500 obras
amostragem do produto apreendido; (b) se é intelectuais, [...] do que aquele que, nas
suficiente a análise de características mesmas condições reproduz apenas 20". Do
externas do material apreendido para a mesmo modo, a Quinta Turma do STJ (AgRg
aferição da falsidade necessária à tipificação no REsp 1.451.608-SP, DJe 5/6/2015)
do delito descrito no art. 184, § 2º, do CP; e, também entende que a materialidade do
delito previsto no art. 184, § 2º, do CP pode Turma (HC 273.164-ES, DJe 5/2/2014)
ser comprovada mediante perícia por quanto a Sexta Turma (AgRg no AREsp
amostragem no material apreendido. Em 416.554-SC, DJe 26/3/2015) do STJ. Além
relação ao segundo ponto (b), deve-se disso, o tipo penal descrito no art. 184, § 2º,
destacar que o STJ já possui o entendimento do CP, é perseguido, nos termos do art. 186,
de que é dispensável excesso de formalismo II, do mesmo diploma normativo, mediante
para a constatação da materialidade do crime ação penal pública incondicionada, de modo
de violação de direito autoral, de modo que a que não é exigida nenhuma manifestação do
simples análise de características externas detentor do direito autoral violado para que
dos objetos apreendidos é suficiente para a se dê início à ação penal.
aferição da falsidade necessária à Consequentemente, não é coerente se exigir
configuração do delito descrito no art. 184, § a sua individualização para a configuração do
2º, do CP. Nessa perspectiva, registre-se delito em questão. Saliente-se, ainda, que o
que, conforme a Quinta Turma do STJ, a delito previsto no art. 184, § 2º, do CP é de
análise das características externas, tais natureza formal. Portanto, não demanda,
como a padronização das impressões para sua consumação, a ocorrência de
gráficas, presença de logotipo padrão, resultado naturalístico, o que corrobora a
códigos IFPI, nome do fabricante, cor do prescindibilidade de identificação dos
disco, e a conclusão de que os objetos não titulares dos direitos autorais violados ou de
possuem características de fabricação quem os represente para a configuração do
comuns, são suficientes a atestar a crime em questão. REsp 1.456.239-MG e
falsificação, "até mesmo porque, na maioria REsp 1.485.832-MG, Rel. Min. Rogerio
dos casos, o conteúdo da mídia falsificada é Schietti Cruz, Terceira Seção, julgado em
idêntico ao produto original, situando a 12/8/2015, DJe 21/8/2015 (Informativo 567).
diferença unicamente em seus aspectos Recursos Repetitivos
externos" (AgRg no REsp 1.359.458-MG, DIREITO PENAL. FURTO PRATICADO NO
DJe 19/12/2013). Ademais, seguindo o intuito INTERIOR DE ESTABELECIMENTO
da legislação pátria de facilitar o combate à COMERCIAL GUARNECIDO POR
pirataria, não seria razoável exigir minúcias MECANISMO DE VIGILÂNCIA E DE
no laudo pericial, como a análise do SEGURANÇA. RECURSO REPETITIVO
conteúdo das mídias apreendidas, mesmo (ART. 543-C DO CPC E RES. 8/2008-STJ).
porque "a caracterização da materialidade TEMA 924.
delitiva [...] pode ser afirmada [até mesmo] A existência de sistema de segurança ou
por exames visuais sobre a mídia fraudada" de vigilância eletrônica não torna
(AgRg no REsp 1.441.840-MG, Quinta impossível, por si só, o crime de furto
Turma, DJe 10/6/2014). Com a mesma cometido no interior de estabelecimento
compreensão, a Sexta Turma do STJ (AgRg comercial. O crime impossível –
no REsp 1.499.185-MG, DJe 9/3/2015). Por subordinado às regras da adequação típica –
fim, no tocante à terceira questão em debate se manifesta por meio de duas modalidades
(c), de fato, para a configuração do crime em clássicas (art. 17 do CP): (a) a ineficácia
questão, é dispensável a identificação absoluta dos meios empregados pelo agente
individualizada dos titulares dos direitos e (b) a absoluta impropriedade do objeto. A
autorais violados ou de quem os represente. primeira decorre dos meios empregados pelo
Isso porque a violação de direito autoral agente nos atos executivos. A segunda
extrapola a individualidade do titular do refere-se à hipótese em que o objeto do
direito, devendo ser tratada como ofensa ao crime não existe ou lhe falta alguma
Estado e a toda a coletividade, visto que qualidade imprescindível para configurar-se a
acarreta a diminuição na arrecadação de infração. No tocante à primeira modalidade
impostos, reduz a oferta de empregos (em torno da qual surge a discussão aqui
formais, causa prejuízo aos consumidores e enfrentada), há que se distinguir a
aos proprietários legítimos e fortalece o insuficiência do meio (inidoneidade relativa) –
poder paralelo e a prática de atividades deficiência de forças para alcançar o fim
criminosas conexas à venda desses bens, delituoso e determinada por razões de
aparentemente inofensiva. Sob essa qualidade, quantidade, ou de modo – da
orientação, posicionam-se tanto a Quinta ausência completa de potencialidade causal
(inidoneidade absoluta), observando-se que É de perigo abstrato o crime previsto no
a primeira (diferentemente da segunda) não art. 310 do Código de Trânsito Brasileiro.
torna absolutamente impossível o resultado Assim, não é exigível, para o
que consuma o delito, pois o fortuito pode aperfeiçoamento do crime, a ocorrência de
suprir a insuficiência do meio empregado. No lesão ou de perigo de dano concreto na
caso de furto praticado no interior de conduta de quem permite, confia ou entrega
estabelecimento comercial guarnecido por a direção de veículo automotor a pessoa não
mecanismo de vigilância e de segurança, habilitada, com habilitação cassada ou com o
tem-se que, embora os sistemas eletrônicos direito de dirigir suspenso, ou ainda a quem,
de vigilância tenham por objetivo evitar a por seu estado de saúde, física ou mental, ou
ocorrência de furtos, sua eficiência apenas por embriaguez, não esteja em condições de
minimiza as perdas dos comerciantes, visto conduzi-lo com segurança. Ao contrário do
que não impedem, de modo absoluto, a que estabelece o crime imediatamente
ocorrência de subtrações no interior de anterior (art. 309), ou mesmo o posterior (art.
estabelecimentos comerciais. Ora, não se 311), nos quais o tipo exige que a ação se dê
pode afirmar, em um juízo normativo de “gerando perigo de dano”, não há tal
perigo potencial, que o equipamento indicação na figura delitiva prevista no art.
funcionará normalmente, que haverá vigilante 310. Pode parecer uma incoerência que se
a observar todas as câmeras durante todo o exija a produção de perigo de dano para
tempo, que as devidas providências de punir quem dirige veículo automotor, em via
abordagem do agente serão adotadas após a pública, sem a devida Permissão para Dirigir
constatação do ilícito etc. Conquanto se ou Habilitação (art. 309) e se dispense o
possa crer que, sob a perspectiva do que risco concreto de dano para quem contribui
normalmente acontece, na maior parte dos para tal conduta, entregando o automóvel a
casos o agente não logrará consumar a quem sabe não habilitado ou, o que é pior, a
subtração de produtos do interior do quem notoriamente não se encontra em
estabelecimento comercial guarnecido por condições físicas ou psíquicas, pelas
mecanismos de vigilância e de segurança, circunstâncias indicadas no tipo penal, de
sempre haverá o risco de que providências conduzir veículo automotor. Duas
tomadas, por qualquer motivo, não frustrem a considerações, porém, enfraquecem essa
ação delitiva. Além disso, os atos do agente aparente contradição. Em primeiro lugar, o
não devem ser apreciados isoladamente, legislador foi claro, com a redação dada aos
mas em sua totalidade, uma vez que o arts. 309 e 311, em não exigir a geração
criminoso pode se valer de atos inidôneos no concreta de risco na conduta positivada no
início da execução, mas ante a sua art. 310. Poderia fazê-lo, mas preferiu
indiscutível inutilidade, passar a praticar atos contentar-se com a deliberada criação de um
idôneos. Portanto, na hipótese aqui risco para um número indeterminado de
analisada, o meio empregado pelo agente é pessoas por quem permite a outrem, nas
de inidoneidade relativa, visto que há situações indicadas, a condução de veículo
possibilidade (remota) de consumação do automotor em via pública. Em segundo lugar,
delito. Sendo assim, se a ineficácia do meio não há total identidade das situações
deu-se apenas de forma relativa, não é previstas nos arts. 309 e 310. Naquela,
possível o reconhecimento do instituto do cinge-se o tipo a punir quem dirige sem
crime impossível previsto no art. 17 do CP. habilitação; nesta, pune-se quem permite,
REsp 1.385.621-MG, Rel. Min. Rogerio confia ou entrega a direção de veículo
Schietti Cruz, Terceira Seção, julgado em automotor tanto a pessoa não habilitada, com
27/5/2015, DJe 2/6/2015 (Informativo 563). habilitação cassada ou com o direito de dirigir
Recursos Repetitivos suspenso quanto a quem, por seu estado de
DIREITO PENAL. CARACTERIZAÇÃO DO saúde, física ou mental, ou por embriaguez,
CRIME DE ENTREGA DE DIREÇÃO DE não esteja em condições de conduzi-lo com
VEÍCULO AUTOMOTOR A PESSOA NÃO segurança. Trata-se, na verdade, de uma
HABILITADA. RECURSO REPETITIVO visão que deve repousar mais corretamente
(ART. 543-C DO CPC E RES. 8/2008-STJ). no incremento do risco ocasionado com a
TEMA 901. entrega da direção de veículo para pessoa
não habilitada ou em quaisquer das outras
hipóteses legais. Conforme entendimento com areia, pede ao seu ajudante, não
doutrinário, em todas essas situações, a habilitado, que realize uma manobra de
definição do risco permitido delimita, poucos metros, em área rural desabitada e
concretamente, o dever de cuidado para sem movimento, para melhor posicionar a
realizar a ação perigosa de dirigir veículo carroceria do automóvel. Faltaria tipicidade
automotor em vias urbanas e rurais, material a tal comportamento, absolutamente
explicando o atributo objetivo contido no inidôneo para pôr em risco a segurança de
dever de cuidado objetivo. A violação da terceiros. Portanto, na linha de entendimento
norma constitui a criação de um risco não de autorizada doutrina, o art. 310, mais do
permitido, culminando, com o desvalor da que tipificar uma conduta idônea a lesionar,
ação, na lesão ao dever de cuidado objetivo. estabelece um dever de garante ao
Por todo exposto, afigura-se razoável atribuir possuidor do veículo automotor. Neste caso,
ao crime materializado no art. 310 a natureza estabelece-se um dever de não permitir,
de crime de perigo abstrato, ou, sob a ótica confiar ou entregar a direção de um
ex ante, de crime de perigo abstrato- automóvel a determinadas pessoas,
concreto, em que, embora não baste a mera indicadas no tipo penal, com ou sem
realização de uma conduta, não se exige, a habilitação, com problemas psíquicos ou
seu turno, a criação de ameaça concreta a físicos, ou embriagadas, ante o perigo geral
algum bem jurídico e muito menos lesão a que encerra a condução de um veículo
ele. Basta a produção de um ambiente de nessas condições. Precedentes citados: RHC
perigo em potencial, em abstrato, de modo 48.817-MG, Quinta Turma, DJe 28/11/2014;
que a atividade descrita no tipo penal crie e AgRg no RHC 41.922-MG, Quinta Turma,
condições para afetar os interesses DJe 15/4/2014. REsp 1.485.830-MG, Rel.
juridicamente relevantes, não condicionados, Min. Sebastião Reis Júnior, Rel. para
porém, à efetiva ameaça de um determinado acórdão Min. Rogerio Schietti Cruz,
bem jurídico. Embora seja legítimo aspirar a Terceira Seção, julgado em 11/3/2015, DJe
um Direito Penal de mínima intervenção, não 29/5/2015 (Informativo 563).
pode a dogmática penal descurar de seu Recursos Repetitivos
objetivo de proteger bens jurídicos de DIREITO PENAL. REMIÇÃO DE PENA EM
reconhecido relevo, assim entendidos, na RAZÃO DE ATIVIDADE LABORATIVA
dicção de Claus Roxin, como “interesses EXTRAMUROS. RECURSO REPETITIVO
humanos necessitados de proteção penal”, (ART. 543-C DO CPC E RES. 8/2008-STJ).
qual a segurança do tráfego viário. Não se TEMA 917.
pode, assim, esperar a concretização de É possível a remição de parte do tempo de
danos ou exigir a demonstração de riscos execução da pena quando o condenado,
concretos a terceiros para a punição de em regime fechado ou semiaberto,
condutas que, a priori, representam potencial desempenha atividade laborativa
produção de danos a pessoas extramuros. Segundo o art. 126, caput, da
indeterminadas, que trafeguem ou caminhem Lei de Execução Penal (LEP), “O condenado
no espaço público. O subsistema social do que cumpre a pena em regime fechado ou
tráfego viário exige o respeito a regras de semiaberto poderá remir, por trabalho ou por
observância generalizada, sem o qual se estudo, parte do tempo de execução da
enfraquece o princípio da confiança (aqui pena”. Ainda, dispõe o § 6º do referido
entendido, conforme o pensamento de Roxin, dispositivo legal que: “O condenado que
como princípio de orientação capaz de cumpre pena em regime aberto ou
indicar os limites do cuidado objetivo semiaberto e o que usufrui liberdade
esperado ou do risco permitido), condicional poderão remir, pela frequência a
indispensável para o bom funcionamento do curso de ensino regular ou de educação
trânsito e a segurança de todos. Não se profissional, parte do tempo de execução da
exclui, por óbvio, a possibilidade de pena ou do período de prova, observado o
ocorrerem situações nas quais a total disposto no inciso I do § 1º deste artigo”.
ausência de risco potencial à segurança Constata-se que os dispositivos supracitados
viária afaste a incidência do direito penal, não fizeram nenhuma distinção ou referência,
como se poderia concluir do exemplo de para fins de remição de parte do tempo de
quem, desejando carregar uma caminhonete execução da pena, quanto ao local em que
deve ser desempenhada a atividade atividade laborativa, não se há de impor ao
laborativa, de modo que se mostra condenado que exerce trabalho extramuros
indiferente o fato de o trabalho ser exercido os ônus decorrentes dessa ineficiência. Cabe
dentro ou fora do ambiente carcerário. Na
ressaltar que a supervisão direta do próprio
verdade, a lei exige apenas que o condenado
esteja cumprindo a pena em regime fechado trabalho deve ficar a cargo do patrão do
ou semiaberto (HC 206.313-RJ, Quinta apenado, cumprindo à administração
Turma, DJe 11/12/2013). Ademais, se o carcerária a supervisão sobre a regularidade
condenado que cumpre pena em regime do trabalho. Por fim, se concedida ao
aberto ou semiaberto pode remir parte da apenado pelo Juízo das Execuções Criminais
reprimenda pela frequência a curso de a possibilidade de realização de trabalho
ensino regular ou de educação profissional,
extramuros, mostrar-se-ia, no mínimo,
não há razões para não considerar o trabalho
extramuros de quem cumpre pena em regime contraditório o Estado-Juiz permitir a
semiaberto como fator de contagem do realização dessa atividade fora do
tempo para fins de remição. Além disso, insta estabelecimento prisional, com vistas à
salientar que o art. 36 da LEP somente ressocialização do apenado, e, ao mesmo
prescreve a exigência de que o trabalho tempo, ilidir o benefício da remição. REsp
externo seja exercido, pelos presos em 1.381.315-RJ, Rel. Min. Rogerio Schietti
regime fechado, por meio de “serviço ou
Cruz, Terceira Seção, julgado em
obras públicas realizadas por órgãos da
Administração Direta ou Indireta, ou 13/5/2015, DJe 19/5/2015 (Informativo 562).
entidades privadas, desde que tomadas as
cautelas contra a fuga e em favor da
disciplina”. Dessa forma, em homenagem,
sobretudo, ao princípio da legalidade, não
ANO DE 2016
cabe restringir a futura concessão de remição
da pena somente àqueles que prestam
Terceira Seção
serviço nas dependências do
estabelecimento prisional, tampouco deixar
de recompensar o apenado que, cumprindo a
pena no regime semiaberto, exerça atividade DIREITO PENAL. REITERAÇÃO
laborativa, ainda que extramuros. Na CRIMINOSA NO CRIME DE DESCAMINHO
verdade, a LEP direciona-se a premiar o
E PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. A
apenado que demonstra esforço em se
ressocializar e que busca, na atividade reiteração criminosa inviabiliza a aplicação
laboral, um incentivo maior à reintegração do princípio da insignificância nos crimes de
social: “A execução penal tem por objetivo descaminho, ressalvada a possibilidade de,
efetivar as disposições de sentença ou no caso concreto, as instâncias ordinárias
decisão criminal e proporcionar condições verificarem que a medida é socialmente
para a harmônica integração social do
recomendável. Destaca-se, inicialmente, que
condenado e do internado” (art. 1º). A
ausência de distinção pela lei, para fins de não há consenso sobre a possibilidade ou
remição, quanto à espécie ou ao local em não de incidência do princípio da
que o trabalho é realizado, espelha a própria insignificância nos casos em que fica
função ressocializadora da pena, inserindo o demonstrada a reiteração delitiva no crime de
condenado no mercado de trabalho e no 32 descaminho. Para a Sexta Turma deste
Tribunal Superior, o passado delitivo do
próprio meio social, minimizando suas
agente não impede a aplicação da benesse.
chances de recidiva delitiva. De mais a mais,
Já para a Quinta Turma, as condições
ausentes, por deficiência estrutural ou
pessoais negativas do autor inviabilizam o
funcional do Sistema Penitenciário, as
benefício. De fato, uma conduta formalmente
condições que permitam a oferta de trabalho
típica, mas materialmente insignificante,
digno para todos os apenados aptos à
mostra-se deveras temerária para o
ordenamento jurídico acaso não se analise o lesão jurídica provocada –, deve ser
contexto pessoal do agente. Isso porque se examinada a vida pregressa do agente. Note-
estaria instigando a multiplicação de se que a incidência do princípio da
pequenos crimes, os quais se tornariam insignificância nos casos de reiteração do
inatingíveis pelo ordenamento penal. Nesse crime de descaminho estaria legitimando a
sentido, o Plenário do STF, quando do conduta 77 criminosa, a qual acabaria por se
julgamento dos HC 123.734-MG (DJe tornar, em verdade, lícita. Ora, bastaria, por
2/2/2016), HC 123.533-SP (DJe 8/8/2014) e exemplo, que o agente fizesse o transporte
HC 123.108-MG (DJe 1º/2/2016), a despeito das mercadorias de forma segmentada.
de ter exarado que a aplicação do princípio Logo, a reiteração delitiva deve efetivamente
da insignificância “deve ser analisada caso a ser sopesada de forma negativa para o
caso pelo juiz de primeira instância, e que a agente. Esclareça-se que, ao somar um
Corte não deve fixar tese sobre o tema”, requisito de ordem subjetiva ao exame
acabou por traçar orientação no viés de que acerca da incidência do princípio da
a vida pregressa do agente pode e deve ser insignificância, não se está desconsiderando
efetivamente considerada ao se analisar a a necessidade de análise caso a caso pelo
possibilidade de incidência do preceito da juiz de primeira instância. Antes, se está
insignificância. Ressaltou-se, no mencionado afirmando ser imprescindível o efetivo exame
julgamento, que adotar indiscriminadamente das circunstâncias objetivas e subjetivas do
o princípio da insignificância, na hipótese em caso concreto, porquanto, de plano, aquele
que há qualificação ou reincidência, seria que reitera e reincide não faz jus a benesses
tornar a conduta penalmente lícita e também jurídicas. Dessa forma, ante a ausência de
imune a qualquer espécie de repressão previsão legal do princípio da insignificância,
estatal. Além disso, na mesma ocasião, deve-se entender que não há vedação à sua
salientou-se que a imunização da conduta do aplicação ao reincidente, o que não significa,
agente, ainda que a pretexto de protegê-lo, entretanto, que referida circunstância deva
pode deixá-lo exposto à situação de justiça ser desconsiderada. A propósito, ressalta-se
privada, na medida em que a inação do a teoria da reiteração não cumulativa de
Estado pode fomentar a sociedade a realizar condutas de gêneros distintos, a qual
“justiça com as próprias mãos”, com considera que “a contumácia de infrações
consequências imprevisíveis e penais que não têm o patrimônio como bem
provavelmente mais graves. Concluiu-se, jurídico tutelado pela norma penal (a exemplo
assim, que: “o Judiciário não pode, com sua da lesão corporal) não poderia ser valorada
inação, abrir espaço para quem o socorra. É como fator impeditivo à aplicação do princípio
justamente em situações como esta que se da insignificância, porque ausente a séria
deve privilegiar o papel do juiz da causa, a lesão à propriedade alheia” (STF, HC
quem cabe avaliar em cada caso concreto a 114.723-MG, Segunda Turma, DJe
aplicação, em dosagem adequada, seja do 12/11/2014). Destaca-se, ainda, que apenas
princípio da insignificância, seja do princípio as instâncias ordinárias, que se encontram
constitucional da individualização da pena”. mais próximas da situação que
Portanto, entende-se que, para aplicação do concretamente se apresenta ao Judiciário,
princípio da insignificância no crime de têm condições de realizar o exame do caso
descaminho, além de ser analisado o tributo concreto, por meio da valoração fática e
iludido e os vetores – (a) mínima probatória a qual, na maioria das vezes,
ofensividade da conduta do agente; (b) possui cunho subjetivo, impregnada pelo livre
nenhuma periculosidade social da ação; (c) convencimento motivado. Por fim, não se
reduzidíssimo grau de reprovabilidade do desconhece a estrutura objetiva do princípio
comportamento; e (d) inexpressividade da da insignificância. No entanto, preconiza-se a
ampliação de sua análise para se incorporar Fischer, julgado em 16/2/2016, DJe
elementos subjetivos que revelem o 24/2/2016 (Informativo n. 577). Quinta Turma
merecimento do réu. Isso não guarda relação
DIREITO PENAL. USO INDEVIDO DE
com o direito penal do autor, mas antes com
INFORMAÇÃO PRIVILEGIADA. Subsume-
todo o ordenamento jurídico penal, o qual
se à figura típica prevista no art. 27-D da Lei
remete à análise de mencionadas
particularidades para reconhecer o crime n. 6.385/1976 a conduta de quem, em função
privilegiado, fixar a pena-base, escolher o do cargo de alta relevância que exercia em
sociedade empresária, obteve informação
regime de cumprimento da pena, entre
outros. Nesse contexto, ainda que haja um sigilosa acerca da futura aquisição do
controle acionário de uma companhia por
eventual desvirtuamento da teoria da
insignificância em sua gênese, faz-se isso outra (operação cujo estudo de viabilidade já
com o intuito de assegurar a coerência do se encontrava em estágio avançado) – dado
capaz de influir de modo ponderável nas
ordenamento jurídico pátrio, tornando a
incidência do princípio da bagatela um decisões dos investidores do mercado,
verdadeiro privilégio/benefício, que, portanto, gerando apetência pela compra dos ativos da
sociedade que seria adquirida – e, em razão
deve ser merecido, não se tratando da mera
aplicação de uma teoria, haja vista, não raras dessa notícia, adquiriu, no mesmo dia, antes
vezes, ser necessária a adaptação de teorias da divulgação do referido dado no mercado
de capitais, ações desta sociedade, ainda
à nossa realidade. Precedentes citados do
STF: HC 120.662-RS, Segunda Turma, DJe que antes da conclusão da operação de
21/8/2014; HC 109.705-PR, Primeira Turma, aquisição do controle acionário. O art. 27-D
da Lei n. 6.385/1976 (“Utilizar informação
DJe 28/5/2014. EREsp 1.217.514-RS, Rel.
Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado relevante ainda não divulgada ao mercado,
em 9/12/2015, DJe 16/12/2015 (Informativo de que tenha conhecimento e da qual deva
manter sigilo, capaz de propiciar, para si ou
n. 575). QUINTA TURMA
para outrem, vantagem indevida, mediante
Quinta Turma negociação, em nome próprio ou de terceiro,
com valores mobiliários”) foi editado para
DIREITO PENAL. COMPENSAÇÃO DA
assegurar a todos os investidores o direito à
ATENUANTE DA CONFISSÃO equidade da informação, condição inerente à
ESPONTÂNEA COM A AGRAVANTE DA
garantia de confiabilidade do mercado de
PROMESSA DE RECOMPENSA. É possível capitais, sem a qual ele perde a sua
compensar a atenuante da confissão essência, notadamente a de atrair recursos
espontânea (art. 65, III, "d", do CP) com a para as grandes companhias. A legislação
agravante da promessa de recompensa (art. penal brasileira não explicitou, entretanto, o
62, IV). O STJ pacificou o entendimento no que venha a ser “informação relevante”,
sentido de ser possível, na segunda fase da fazendo com que o intérprete recorra a
dosimetria da pena, a compensação da outras leis ou atos normativos para saber o
atenuante da confissão espontânea com a alcance da norma incriminadora. A par disso,
agravante da reincidência (REsp 1.341.370- convém destacar que, segundo doutrina,
MT, Terceira Seção, DJe 17/4/2013). Esse "insider trading é, simplificadamente, a
raciocínio, mutatis mutandis, assemelha-se à utilização de informações relevantes sobre
presente hipótese, por se tratar da uma companhia, por parte das pessoas que,
possibilidade de compensação entre por força do exercício profissional, estão 'por
circunstâncias igualmente preponderantes, a dentro' de seus negócios, para transacionar
saber, a agravante de crime cometido com suas ações antes que tais informações
mediante paga com a atenuante da confissão sejam de conhecimento do público". Assim,
espontânea. HC 318.594-SP, Rel. Min. Felix "o insider compra ou vende no mercado a
preços que ainda não estão refletindo o descreve um mínimo de materialidade ou
impacto de determinadas informações sobre objetividade ou, noutros termos, a
a companhia, que são de seu conhecimento consciência mínima para permitir a sua
exclusivo". Cumpre esclarecer que as utilização por um investidor médio‟, ou seja, a
"informações" apenas terão relevância para a informação deve estar dotada de
configuração do crime do art. 27-D da Lei n. potencialidade para „influir, de modo
6.385/1976 se a sua utilização ocorrer antes ponderável, na decisão dos investidores do
de serem divulgadas no mercado de capitais. mercado de vender ou comprar valores
Isso porque os fatos com potencial de mobiliários emitidos pela companhia, tal
influência sobre as decisões dos investidores como prevê o artigo 157, § 4º, da Lei n.
devem ser comunicados publicamente, 6.404/1976‟”. Acrescenta-se, ainda, que,
conforme determinam os arts. 3º e 6º, “para que se possa fazer um juízo de
parágrafo único, da Instrução Normativa n. prognose relativamente à idoneidade da
358/2002 da CVM, bem como o art. 157, § informação”, sugere-se fazer “uma
4º, da Lei n. 6.404/1976. Da leitura dos comparação: 'se tal informação quando
referidos comandos normativos, conclui-se publicada fosse, num juízo de previsibilidade
que, quando o insider detiver informações reportado ao momento ex ante da operação,
relevantes sobre sua companhia, deverá suscetível de gerar apetência pela compra ou
informá-las ao mercado tão logo seja venda de ativos, tal informação revelava
possível (arts. 3º da Instrução Normativa n. idoneidade para influenciar a evolução da
358/2002 da CVM e 157, § 4º, da Lei n. cotação. Se as alterações que poderia induzir
6.404/1976), ou, no caso em que não puder fossem sensíveis, será informação
fazê-lo, por entender que sua revelação privilegiada”. Nessa linha intelectiva,
colocará em risco interesse da empresa (art. seguindo definição doutrinária, pode-se dizer
6º da Instrução Normativa), deverá abster-se que informação relevante é aquela que: "a)
de negociar com os valores mobiliários não foi tornada pública; b) é capaz de influir
referentes às informações privilegiadas, de modo ponderável na cotação de títulos ou
enquanto não forem divulgadas. Em termos valores mobiliários (price sensitive); c) seja
gerais, pode-se encontrar a definição de precisa ou concreta”. REsp 1.569.171-SP,
“informação relevante” nos arts. 155, § 1º, da Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em
Lei n. 6.404/1976 e 2º da Instrução n. 16/2/2016, DJe 25/2/2016 (Informativo n.
358/2002 da CVM. Registre-se, nesse 577). Quinta Turma
contexto, que a Instrução Normativa n.
DIREITO PENAL. USO INDEVIDO DE
358/2002 da CVM, em seu art. 2º, elenca 22
INFORMAÇÃO PRIVILEGIADA E
(vinte e duas) hipóteses como exemplos de
AUMENTO DE PENABASE. Representa
fatos potencialmente relevantes, o que
circunstância judicial idônea a exasperar a
constitui, sem dúvida, importante fonte
hermenêutica para a seara criminal, assim pena-base do condenado pelo crime de uso
como a Lei de Sociedade Anônimas. indevido de informação privilegiada (art. 27-D
da Lei n. 6.385/1976) o exercício de cargo de
Entretanto, compete ao aplicador da lei a
valoração em concreto da relevância da alta importância que possibilitou o acesso à
informação, conforme o momento e a “informação relevante”. Isso porque o crime
em questão não exige que o sujeito ativo seja
realidade em que ocorreram, até porque o rol
mencionado não é taxativo, mas ocupante de determinado cargo. O referido
exemplificativo. De mais a mais, conforme tipo penal estabelece apenas que a pessoa,
relativamente à informação, “tenha
entendimento doutrinário, “além desse
critério de índole normativa, a informação conhecimento e da qual deva manter sigilo”.
„deve ter em relação à realidade que Desse modo, o exercício de cargo de alta
relevância que possibilitou o acesso à
“informação privilegiada” demonstra maior operações “dólar-cabo” – nas quais são
culpabilidade na ação perpetrada, situação efetuados pagamentos em reais no Brasil,
que não se traduz em dupla punição pelo com o objetivo de disponibilizar, por meio de
mesmo fato (bis in idem). REsp 1.569.171- quem recebe tal pagamento, o respectivo
SP, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em montante em moeda estrangeira no exterior –
16/2/2016, DJe 25/2/2016 (Informativo n. preenchem os elementos do delito de evasão
577). Quinta Turma de divisas, na forma do art. 22, parágrafo
único, primeira parte, da Lei n. 7.492/1986,
DIREITO PENAL. ATIPICIDADE PENAL DO
que tipifica a conduta daquele que, “a
EXERCÍCIO DA ACUPUNTURA. 83 O qualquer título, promove, sem autorização
exercício da acupuntura não configura o legal, a saída de moeda ou divisa para o
delito previsto no art. 282 do CP (exercício exterior”. As regras que disciplinam a
ilegal da medicina, arte dentária ou transferência internacional de valores – e
farmacêutica). É cediço que o tipo penal que, portanto, estabelecem o significado de
descrito no art. 282 do CP é norma penal em saída de divisa ou moeda sem autorização
branco e, por isso, deve ser complementado legal – são diversas em relação à saída física
por lei ou ato normativo em geral, para que e à saída eletrônica. Para bem compreender
se discrimine e detalhe as atividades tais diferenças, transcreve-se integralmente o
exclusivas de médico, dentista ou art. 65 da Lei n. 9.069/1995, com a redação
farmacêutico. Segundo doutrina, “A vigente à época dos fatos: “Art. 65. O
complementação do art. 282 há de ser ingresso no País e a saída do País, de
buscada na legislação federal que moeda nacional e estrangeira serão
regulamenta as profissões de médico,
processados exclusivamente através de
dentista ou farmacêutico. Dispõem sobre o transferência bancária, cabendo ao
exercício da medicina a Lei n. 3.268, de estabelecimento bancário a perfeita
20.09.57 e o Dec. n. 20.931, de 11.01.32”. identificação do cliente ou do beneficiário. §
Das referidas leis federais, observa-se que 1º Excetua-se do disposto no caput deste
não há menção ao exercício da acupuntura. artigo o porte, em espécie, dos valores: I –
Nesse passo, o STJ reconhece que não há quando em moeda nacional, até R$
regulamentação da prática da acupuntura, 10.000,00 (dez mil reais); II – quando em
sendo da União a competência privativa para moeda estrangeira, o equivalente a R$
legislar sobre as condições para o exercício 10.000,00 (dez mil reais); III – quando
das profissões, consoante previsto no art. 22, comprovada a sua entrada no País ou sua
XVI, da CF (RMS 11.272-RJ, Segunda saída do País, na forma prevista na
Turma, DJ 4/6/2001). Assim, ausente regulamentação pertinente. § 2º O Conselho
complementação da norma penal em branco, Monetário Nacional, segundo diretrizes do
o fato é atípico. RHC 66.641-SP, Rel. Min. Presidente da República, regulamentará o
Nefi Cordeiro, julgado em 3/3/2016, DJe disposto neste artigo, dispondo, inclusive,
10/3/2016 (Informativo n. 578). Sexta Turma sobre os limites e as condições de ingresso
DIREITO PENAL. OPERAÇÕES “DÓLAR- no País e saída do País da moeda nacional.
CABO” E PRINCÍPIO DA § 3º A não observância do contido neste
INSIGNIFICÂNCIA. Nos casos de evasão de artigo, além das sanções penais previstas na
divisas praticada mediante operação do tipo legislação específica, e após o devido
“dólar-cabo”, não é possível utilizar o valor de processo legal, acarretará a perda do valor
R$ 10 mil como parâmetro para fins de excedente dos limites referidos no § 1º deste
aplicação do princípio da insignificância. artigo, em favor do Tesouro Nacional”. O
Conforme entendimento adotado pelo STF referido dispositivo excetua apenas o porte,
na AP 470, as transações conhecidas como em espécie, do valor de até R$ 10 mil ou o
equivalente em moeda estrangeira, além de de o delito ter sido cometido por organização
remeter ao 84 estabelecimento de outras criminosa complexa e bem estrutura pode ser
hipóteses, na forma prevista na valorado de forma negativa a título de
regulamentação pertinente. Assim, não circunstâncias do crime. Apesar de a Quinta
prospera a tese de que deve ser considerado Turma do STJ, no HC 123.760-SP (DJe
atípico o envio de moeda ou divisas ao 28/11/2011) ter decidido que a sofisticação e
exterior se o volume de cada operação não a complexidade do esquema voltado à
exceder a R$ 10 mil. Isso porque, em prática de operações financeiras clandestinas
primeiro lugar, ressalvada a hipótese do não poderiam ser consideradas
porte de valores em espécie, o ingresso no circunstâncias judiciais desfavoráveis, pois
país e a saída do país, de moeda nacional e seriam ínsitas ao tipo penal, tal entendimento
estrangeira “serão processados não deve prosperar. Isso porque a evasão de
exclusivamente através de transferência divisas pode ser praticada de diversas
bancária, cabendo ao estabelecimento formas, desde meios muito rudimentares –
bancário a perfeita identificação do cliente ou como a simples saída do país com porte de
do beneficiário” (art. 65, caput, da Lei n. dinheiro em valor superior a dez mil reais
9.069/1995). Ou seja, a legislação sem comunicação às autoridades brasileiras
excepcionou, em relação ao valor inferior a – até a utilização de complexos esquemas de
R$ 10 mil (ou seu equivalente em moeda remessas clandestinas. Assim, não parece
estrangeira), apenas a saída física de justo apenar da mesma forma condutas tão
moeda. No caso de transferência eletrônica, distintas como a mera saída física com
saída meramente escritural da moeda, a lei valores não declarados e um sofisticado
exige, de forma exclusiva, o processamento esquema de remessa ilícita, sendo correta,
através do sistema bancário, com perfeita neste último caso, a valoração negativa da
identificação do cliente ou beneficiário. Além vetorial das circunstâncias do delito na
disso, no caso da transferência clandestina fixação da pena-base do delito de evasão de
internacional, por meio de operações do tipo divisas. REsp 1.535.956-RS, Rel. Min. Maria
“dólar-cabo” ou equivalente, existe uma Thereza de Assis Moura, julgado em
facilidade muito grande na realização de 1º/3/2016, DJe 9/3/2016 (Informativo n. 578).
centenas ou até milhares de operações Sexta Turma
fragmentadas sequenciais. É muito mais
DIREITO PENAL. CRIME DE
simples do que a transposição física, por
CONTRABANDO E IMPORTAÇÃO DE
diversas vezes, das fronteiras do país com
COLETE À PROVA DE BALAS. 85
valores inferiores a R$ 10 mil. Admitir a
atipicidade das operações do tipo “dólar- Configura crime de contrabando a
cabo” com valores inferiores a R$ 10 mil é importação de colete à prova de balas sem
prévia autorização do Comando do Exército.
fechar a janela, mas deixar a porta aberta
para a saída clandestina de divisas. REsp A Portaria n. 18 do DLOG, publicada em
1.535.956-RS, Rel. Min. Maria Thereza de 19/12/2006, regulamenta as normas de
avaliação técnica, fabricação, aquisição,
Assis Moura, julgado em 1º/3/2016, DJe
9/3/2016 (Informativo n. 578). Sexta Turma importação e destruição de coletes balísticos
e exige determinadas condições aos
DIREITO PENAL. COMPLEXIDADE DO compradores e importadores desse tipo de
ESQUEMA CRIMINOSO COMO artefato, tais como, autorização prévia do
CIRCUNSTÂNCIA NEGATIVA NA Comando do Exército e restrição a
DOSIMETRIA DA PENA DO CRIME DE determinados órgãos e pessoas. Desse
EVASÃO DE DIVISAS. Na fixação da pena modo, a importação de colete à prova de
do crime de evasão de divisas (art. 22, balas está sujeita à proibição relativa e, por
parágrafo único, da Lei n. 7.492/1986), o fato conseguinte, configura crime de contrabando
quando realizada fora dos moldes previstos do cumprimento, mas não uma inidoneidade
nesse regulamento. RHC 62.851-PR, Rel. ou desnecessidade da pena. Vale ressaltar
Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em que essa interrupção, no caso do indulto, é
16/2/2016, DJe 26/2/2016 (Informativo n. um ato de clemência do Estado, que só será
577). reconhecido ao apenado após regular
procedimento judicial. Portanto, até a
DIREITO PENAL. INDULTO E DETRAÇÃO. prolação da decisão que extinguir a
O período compreendido entre a publicação punibilidade do agente, a sua custódia será
do decreto concessivo de indulto pleno e a
decorrente de uma prisão pena. A detração,
decisão judicial que reconheça o benefício por sua vez, é decorrência do princípio
não pode ser subtraído na conta de constitucional da não culpabilidade. A CF
liquidação das novas execuções penais, estabelece que "ninguém será considerado
mesmo que estas se refiram a condenações culpado até o trânsito em julgado de
por fatos anteriores ao decreto indulgente. A sentença penal condenatória". Ocorre que,
concessão do indulto, pleno ou parcial, atinge mesmo antes do trânsito em julgado, em
a pena. Será pleno quando extinguir a pena algumas situações, faz-se necessária a
por completo, resultando na extinção da constrição provisória do acusado. Essa, no
punibilidade. E será parcial, também entanto, é uma prisão cautelar. E, por vezes,
chamado de comutação, quando o ao final do julgamento, pode ocorrer a
afastamento da pena não se der por absolvição do agente ou a prescrição da
completo. No entanto, em ambos os casos, pretensão punitiva. Dessa forma, a detração
os demais efeitos penais e civis do crime visa impedir que o Estado abuse do poder-
permanecem inalterados. Assinale-se, ainda,
dever de punir, impondo ao agente uma
que o indulto não é aplicado de forma fração desnecessária da pena quando
automática. Necessita, assim, de um houver a perda da liberdade ou 86 a
procedimento judicial em que o juiz da internação em momento anterior à sentença
execução irá avaliar se o apenado preenche, condenatória. Em razão desses casos, para
ou não, os requisitos insculpidos no decreto amenizar a situação do réu, o CP
presidencial. Embora haja doutrina que regulamentou que: “Art. 42 - Computam-se,
defenda ser meramente declaratória a na pena privativa de liberdade e na medida
decisão concessiva de indulto, os decretos de segurança, o tempo de prisão provisória,
presidenciais, em geral, possuem condições no Brasil ou no estrangeiro, o de prisão
objetivas e subjetivas que necessitam de administrativa e o de internação em qualquer
avaliação judicial. Nessa medida, esse dos estabelecimentos referidos no artigo
trâmite processual certamente levará um anterior‟. Nessa linha intelectiva, a detração é
espaço de tempo para ser cumprido, o que uma operação matemática em que se subtrai
afasta a possibilidade de publicação do da pena privativa de liberdade (ou medida de
decreto concessivo do benefício em um dia segurança) aplicada ao réu ao final do
e, já no dia seguinte, a sua aplicação no caso processo, o tempo de prisão provisória,
concreto. Assim, o indulto somente poderá prisão administrativa ou internação em
produzir os seus efeitos após essa avaliação. hospital de custódia e tratamento psiquiátrico
Além disso, em regra, a concessão do indulto que o sentenciado já cumpriu anteriormente.
pressupõe a existência de uma sentença Frise-se que, em razão da equidade, admite-
penal condenatória com trânsito em julgado. se a detração inclusive em processos que
Uma vez transitada em julgado a sentença não guardem relação entre si, desde que a
penal condenatória, surge a pretensão de segregação indevida seja posterior ao crime
execução da pena. Se, posteriormente, o em que se requer a incidência do instituto.
Estado desistir de prosseguir na execução da Nestes casos, embora a prisão processual
pena, haverá, tão somente, uma interrupção
fosse necessária no momento em que foi sexualidade com conotação obscena e
realizada, ao final do julgamento do pornográfica. O art. 241-E do ECA (“Para
processo, a conduta do agente não resultou efeito dos crimes previstos nesta Lei, a
em uma punição efetiva. Dessa forma, é expressão „cena de sexo explícito ou
possível utilizar esse período para descontar pornográfica‟ compreende qualquer situação
a pena referente a crime praticado em data que envolva criança ou adolescente em
anterior. Conclui-se, portanto, que a detração atividades sexuais explícitas, reais ou
é um instituto que pretende amenizar as simuladas, ou exibição dos órgãos genitais
consequências de uma custódia processual, de uma criança ou adolescente para fins
abatendo-se da pena efetivamente aplicada o primordialmente sexuais”) trouxe norma
período em que o réu esteve preso por meio penal explicativa – porém não completa –
de medida cautelar, seja em razão de prisão que contribui para a interpretação dos tipos
provisória, prisão administrativa ou penais abertos criados pela Lei n.
internação em hospital de custódia e 11.829/2008. Nessa linha de intelecção, a
tratamento psiquiátrico. Assim, o instituto da definição de material pornográfico
detração não pode tangenciar o benefício do acrescentada por esse dispositivo 87 legal
indulto porque, enquanto o período não restringe a abrangência do termo
compreendido entre a publicação do Decreto pornografia infanto-juvenil e, por conseguinte,
Presidencial e a decisão que reconhece o deve ser interpretada com vistas à proteção
indulto, decretando-se a extinção da da criança e do adolescente em condição
punibilidade do agente, refere-se a uma peculiar de pessoas em desenvolvimento
prisão pena, a detração somente se opera (art. 6º do ECA). Desse modo, o conceito de
em relação à medida cautelar, o que impede pornografia infanto-juvenil pode abarcar
a sua aplicação no referido período. REsp hipóteses em que não haja a exibição
1.557.408-DF, Rel. Min. Maria Thereza de explícita do órgão sexual da criança e do
Assis Moura, julgado em 16/2/2016, DJe adolescente e, nesse sentido, há
24/2/2016 (Informativo n. 577). entendimento doutrinário. Portanto,
configuram os crimes dos arts. 240 e 241-B
DIREITO DA CRIANÇA E DO
do ECA quando subsiste incontroversa a
ADOLESCENTE E PENAL. TIPIFICAÇÃO
finalidade sexual e libidinosa de fotografias
DAS CONDUTAS DE FOTOGRAFAR CENA
produzidas e armazenadas pelo agente, com
PORNOGRÁFICA E ARMAZENAR enfoque nos órgãos genitais de adolescente
FOTOGRAFIAS DE CONTEÚDO – ainda que cobertos por peças de roupas –,
PORNOGRÁFICO ENVOLVENDO
e de poses nitidamente sensuais, em que
CRIANÇA OU ADOLESCENTE. Fotografar explorada sua sexualidade com conotação
cena e armazenar fotografia de criança ou obscena e pornográfica. REsp 1.543.267-SC,
adolescente em poses nitidamente sensuais, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura,
com enfoque em seus órgãos genitais, ainda julgado em 3/12/2015, DJe 16/2/2016
que cobertos por peças de roupas, e (Informativo n. 577).
incontroversa finalidade sexual e libidinosa,
adequam-se, respectivamente, aos tipos do DIREITO PENAL. AUMENTO DE PENA-
art. 240 e 241-B do ECA. Configuram os BASE FUNDADO NA CONFIANÇA DA
crimes dos arts. 240 e 241-B do ECA quando VÍTIMA NO AUTOR DE ESTELIONATO. O
subsiste incontroversa a finalidade sexual e cometimento de estelionato em detrimento de
libidinosa de fotografias produzidas e vítima que conhecia o autor do delito e lhe
armazenadas pelo agente, com enfoque nos depositava total confiança justifica a
órgãos genitais de adolescente – ainda que exasperação da pena-base. De fato, tendo
cobertos por peças de roupas –, e de poses sido apontados argumentos idôneos e
nitidamente sensuais, em que explorada sua diversos do tipo penal violado que
evidenciam como desfavoráveis as de pena-base no mínimo legal. Isso porque a
circunstâncias do crime, não há jurisprudência do STJ posiciona-se no
constrangimento ilegal na valoração negativa sentido de que a aplicação da causa de
dessa circunstância judicial (HC 86.409-MS, aumento em patamar acima do mínimo é
Sexta Turma, DJe 23/10/2014). HC 332.676- plenamente válida desde que fundamentada
PE, Rel. Min. Ericson Maranho na gravidade concreta do delito. HC 250.455-
(Desembargador convocado do TJ/SP), RJ, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em
julgado em 17/12/2015, DJe 3/2/2016 17/12/2015, DJe 5/2/2016 (Informativo n.
(Informativo n. 576). 576). Sexta Turma

DIREITO PENAL. APLICAÇÃO DE CAUSA DIREITO PENAL. APLICAÇÃO DA MESMA


DE AUMENTO DE PENA DA LEI DE CAUSA DE AUMENTO DE PENA DA LEI
DROGAS AO CRIME DE ASSOCIAÇÃO DE DROGAS A MAIS DE UM CRIME. A
PARA O TRÁFICO DE DROGAS COM causa de aumento de pena do art. 40, VI, da
CRIANÇA OU ADOLESCENTE. A Lei n. 11.343/2006 pode ser aplicada tanto
participação do menor pode ser considerada para agravar o crime de tráfico de drogas
para configurar o crime de associação para o (art. 33) quanto para agravar o de associação
tráfico (art. 35) e, ao mesmo tempo, para para o tráfico (art. 35) praticados no mesmo
agravar a pena como causa de aumento do contexto. Isso porque a causa especial de
art. 40, VI, da Lei n. 11.343/2006. De acordo aumento de pena incidiu sobre delitos
com a Lei n. 11.343/2006: “Art. 40. As penas diversos e totalmente autônomos, com
previstas nos arts. 33 a 37 desta Lei são motivação e finalidades distintas.
aumentadas de um sexto a dois terços, se: Precedentes citados: HC 183.441-RJ, Quinta
(...) VI - sua prática envolver ou visar a atingir Turma, DJe 2/9/2011; e AgRg no REsp
criança ou adolescente ou a quem tenha, por 1.412.950-MG, Sexta Turma, DJe 3/11/2014.
qualquer motivo, diminuída ou suprimida a HC 250.455-RJ, Rel. Min. Nefi Cordeiro,
capacidade de entendimento e julgado em 17/12/2015, DJe 5/2/2016
determinação”. Assim, é cabível a aplicação (Informativo n. 576).
da majorante se o crime envolver ou visar a
DIREITO PENAL. QUALIFICADORA DO
atingir criança ou adolescente em delito de
MOTIVO TORPE EM RELAÇÃO AO
associação para o tráfico de drogas
MANDANTE DE HOMICÍDIO
configurado pela associação do agente com
MERCENÁRIO. O reconhecimento da
menor de idade. Precedentes citados: HC
237.782-SP, Quinta Turma, DJe 21/8/2014; e qualificadora da “paga ou promessa de
recompensa” (inciso I do § 2º do art. 121) em
REsp 1.027.109-SC, Quinta Turma, DJe
16/2/2009. HC 250.455-RJ, Rel. Min. Nefi relação ao executor do crime de homicídio
Cordeiro, julgado em 17/12/2015, DJe mercenário não qualifica automaticamente o
delito em relação ao mandante, nada
5/2/2016 (Informativo n. 576). Sexta Turma
obstante este possa incidir no referido
DIREITO PENAL. APLICAÇÃO DE CAUSA dispositivo caso o motivo que o tenha levado
DE AUMENTO DE PENA DA LEI DE a empreitar o óbito alheio seja torpe. De fato,
DROGAS ACIMA DO PATAMAR MÍNIMO. no homicídio qualificado pelo motivo torpe
O fato de o agente ter envolvido um menor consistente na paga ou na promessa de
na prática do tráfico e, ainda, tê-lo retribuído recompensa (art. 121, § 2º, I, do CP) –
com drogas, para incentivá-lo à traficância ou conhecido como homicídio mercenário – há
ao consumo e dependência, 88 justifica a concurso de agentes necessário, na medida
aplicação, em patamar superior ao mínimo, em que, de um lado, tem-se a figura do
da causa de aumento de pena do art. 40, VI, mandante, aquele que oferece a
da Lei n. 11.343/2006, ainda que haja fixação recompensa, e, de outro, há a figura do
executor do delito, aquele que aceita a 4° a 7°: [...] III - ser o crime praticado em
promessa de recompensa. É bem verdade relação à prestação de serviços ou ao
que nem sempre a motivação do mandante comércio de bens essenciais à vida ou à
será abjeta, desprezível ou repugnante, saúde”) não se resolve com a mera
como ocorre, por exemplo, nos homicídios contraposição dos conceitos de “reserva
privilegiados, em que o mandante, por legal” e “lei penal em branco”. A hipótese, a
relevante valor moral, contrata pistoleiro para toda evidência, é de norma penal em aberto.
matar o estuprador de sua filha. Nesses Assim, ao prever que merece maior censura
casos, a circunstância prevista no art. 121, § penal aquele que pratica o crime contra a
2º, I, do CP não será transmitida, por óbvio, economia popular por meio de bens ou
ao mandante, em razão da incompatibilidade serviços “essenciais à saúde ou à vida”, a Lei
da qualificadora do motivo torpe com o crime n. 8.137/1990, sem perder a taxatividade,
privilegiado, de modo que apenas o executor propositalmente convocou o intérprete a dar
do delito (que recebeu a paga ou a promessa o alcance da referida expressão, cabendo ao
de recompensa) responde pela qualificadora julgador, caso a caso, fundamentar eventual
do motivo torpe. Entretanto, apesar de a recrudescimento da pena. Afinal, em vista da
“paga ou promessa de recompensa” (art. crescente multiplicidade de produtos e
121, § 2º, I, do CP) não ser elementar, mas serviços em uma economia de mercado,
sim circunstância de caráter pessoal do delito seria de todo inconveniente a utilização de
de homicídio, sendo, portanto, incomunicável qualquer expressão que limitasse a
automaticamente a coautores do homicídio, abrangência da majorante a determinadas
conforme o art. 30 do CP (REsp 467.810-SP, situações ou produtos, ou, ainda, que a sua
Quinta Turma, DJ 19/12/2003), poderá o incidência dependesse de norma penal
mandante responder por homicídio complementar a versar sobre quais seriam os
qualificado pelo motivo torpe caso o motivo bens ou serviços essenciais à saúde ou à
que o tenha levado a empreitar o óbito alheio vida. Nesse contexto, não há esforço
seja abjeto, desprezível ou repugnante. REsp exegético capaz de infirmar que
1.209.852-PR, Rel. Min. Rogerio Schietti medicamento seja bem essencial, no mínimo,
Cruz, julgado em 15/12/2015, DJe 2/2/2016 à saúde. Basta dizer, por exemplo, que o
(Informativo n. 575). 89 Sexta Turma Estado exerce forte atividade regulatória
sobre esse setor, justamente por conta de
DIREITO PENAL. VENDA DE sua relação direta com a saúde e o bemestar
MEDICAMENTOS VENCIDOS COMO da população. Portanto, a venda de
CAUSA DE AUMENTO DE PENA
medicamentos vencidos pode ensejar a
PREVISTA NO ART. 12, III, DA LEI causa de aumento de pena prevista no art.
8.137/1990. Quando o produto vendido for 12, III, da Lei n. 8.037/1990, porquanto
medicamento vencido, será possível aplicar a medicamentos, primo ictu oculi, são bens
causa de aumento prevista no art. 12, III, da essenciais à vida e à saúde. REsp
Lei n. 8.137/1990 na dosimetria da pena do 1.207.442-SC, Rel. Min. Nefi Cordeiro,
crime previsto no art. 7º, IX, da mesma Lei julgado em 1º/12/2015, DJe 11/12/2015
(“vender, ter em depósito para vender ou (Informativo n. 574).
expor à venda ou, de qualquer forma,
entregar matéria-prima ou mercadoria, em
condições impróprias ao consumo”).
Salienta-se, inicialmente, que a melhor
hermenêutica do art. 12, III, da Lei n.
8.137/1990 (“Art. 12. São circunstâncias que
podem agravar de 1/3 (um terço) até a
metade as penas previstas nos arts. 1°, 2° e
DIREITO PROCESSUAL PENAL – STJ perdimento do bem em favor da União.
Isso porque há identidade de demandas
(INFORMATIVOS 552-578) entre os embargos de terceiro que se
dirigiram contra a apreensão do veículo e a
ANO DE 2014 apelação interposta contra a decretação de
perdimento do automóvel em favor da União.
Isto é, há identidade de partes e de pedidos
DIREITO PROCESSUAL PENAL. (devolução do bem), bem como em relação à
INDICIAMENTO COMO ATRIBUIÇÃO causa de pedir (a suposta propriedade do
EXCLUSIVA DA AUTORIDADE POLICIAL. automóvel). Desse modo, constatado o
trânsito em julgado da decisão que julga
O magistrado não pode requisitar o improcedente os embargos de terceiro,
indiciamento em investigação criminal. observa-se a ocorrência de coisa julgada que
Isso porque o indiciamento constitui retira o interesse do autor dos embargos de
atribuição exclusiva da autoridade policial. De recorrer, na condição de terceiro prejudicado,
fato, é por meio do indiciamento que a contra a parte da sentença condenatória que,
autoridade policial aponta determinada ao final da ação penal, decretou o
pessoa como a autora do ilícito em apuração. perdimento do veículo. REsp 1.247.629-RJ,
Por se tratar de medida ínsita à fase Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado
investigatória, por meio da qual o delegado em 6/11/2014.
de polícia externa o seu convencimento
sobre a autoria dos fatos apurados, não se
admite que seja requerida ou determinada
pelo magistrado, já que tal procedimento
ANO DE 2015
obrigaria o presidente do inquérito à
conclusão de que determinado indivíduo
seria o responsável pela prática criminosa, DIREITO PROCESSUAL PENAL.
em nítida violação ao sistema acusatório ARQUIVAMENTO DO INQUÉRITO
adotado pelo ordenamento jurídico pátrio. POLICIAL.
Nesse mesmo sentido, é a inteligência do art. Na ação penal pública incondicionada, a
2º, § 6º, da Lei 12.830/2013, o qual consigna vítima não tem direito líquido e certo de
que o indiciamento é ato inserto na esfera de impedir o arquivamento do inquérito ou
atribuições da polícia judiciária. Precedente das peças de informação. Considerando
citado do STF: HC 115.015-SP, Segunda que o processo penal rege-se pelo princípio
Turma, DJe 11/9/2013. RHC 47.984-SP, Rel. da obrigatoriedade, a propositura da ação
Min. Jorge Mussi, julgado em 4/11/2014. penal pública constitui um dever, e não uma
faculdade, não sendo reservado ao Parquet
Sexta Turma um juízo discricionário sobre a conveniência
e oportunidade de seu ajuizamento. Por outro
DIREITO PROCESSUAL PENAL. lado, não verificando o Ministério Público
RESTITUIÇÃO DE COISA APREENDIDA E material probatório convincente para
RECURSO DE TERCEIRO PREJUDICADO. corroborar a materialidade do delito ou a
autoria delitiva ou entendendo pela
Se, em decisão transitada em julgado, atipicidade da conduta, pela existência de
decide-se pela improcedência de excludentes de ilicitude ou de culpabilidade,
embargos de terceiro opostos contra ou, ainda, pela extinção da punibilidade,
apreensão de veículo automotor – em pode requerer perante o Juiz o arquivamento
razão de não ter sido comprovada a do inquérito ou das peças de informação. O
propriedade, a posse ou a origem lícita magistrado, concordando com o
dos recursos utilizados na aquisição do requerimento, deve determinar o
automóvel – o autor dos referidos arquivamento, que prevalecerá, salvo no
embargos, na condição de terceiro caso de novas provas surgirem a viabilizar o
prejudicado, não tem interesse de recorrer prosseguimento das investigações pela
contra parte da sentença condenatória autoridade policial (art. 18 do CPP). Se
que, ao final da ação penal, decretou o discordar, porém, deve o magistrado
encaminhar o pedido de arquivamento, com investigações, nos termos do citado art. 18
o inquérito ou peças de informação, à do CPP. Nada obsta, ademais, que, surgindo
consideração do Procurador-Geral de novos elementos aptos a ensejar a
Justiça, o qual deverá: a) oferecer a persecução criminal, sejam tomadas as
denúncia, ou designar outro órgão ministerial providências cabíveis pelo órgão ministerial,
para fazê-lo; ou b) insistir no arquivamento, inclusive com a abertura de investigação e o
estando, nessa última hipótese, obrigado o oferecimento de denúncia. MS 21.081-DF,
Juiz a atender. Poderá, ainda, o Procurador- Rel. Min. Raul Araújo, julgado em
Geral requerer novas diligências 17/6/2015, DJe 4/8/2015 (Informativo 565).
investigatórias. Há, portanto, um sistema de Corte Especial
controle de legalidade muito técnico e DIREITO PROCESSUAL PENAL.
rigoroso em relação ao arquivamento de INAPLICABILIDADE DO ART. 28 DO CPP
inquérito policial, inerente ao próprio sistema NOS PROCEDIMENTOS INVESTIGATIVOS
acusatório. No exercício da atividade QUE TRAMITEM ORIGINARIAMENTE NO
jurisdicional, o Juiz, considerando os STJ.
elementos trazidos nos autos de inquérito ou Se membro do MPF, atuando no STJ,
nas peças de informações, tem o poder- requerer o arquivamento do inquérito
dever de anuir ou discordar do pedido de policial ou de quaisquer peças de
arquivamento formulado pelo Ministério informação que tramitem originariamente
Público. Não há, porém, obrigação de, em perante esse Tribunal Superior, este,
qualquer hipótese, remeter os autos para mesmo considerando improcedentes as
nova apreciação do Procurador-Geral. Assim, razões invocadas, deverá determinar o
se constatar pertinência nos fundamentos do arquivamento solicitado, sem a
pedido de arquivamento, o Juiz terá o poder- possibilidade de remessa para o
dever de promover o arquivamento, não Procurador-Geral da República, não se
cabendo contra essa decisão recurso. aplicando o art. 28 do CPP. Isso porque a
Ademais, no sistema processual penal jurisprudência do STJ é no sentido de que os
vigente, a função jurisdicional não contempla membros do MPF atuam por delegação do
a iniciativa acusatória, de maneira que, do Procurador-Geral da República na instância
mesmo modo que não poderá o Juiz especial. Assim, em decorrência do sistema
autoprovocar a jurisdição, não poderá obrigar acusatório, nos casos em que o titular da
o Ministério Público, diante de sua ação penal se manifesta pelo arquivamento
independência funcional, a oferecer a de inquérito policial ou de peças de
denúncia ou a ter, em toda e qualquer informação, não há alternativa, senão acolher
hipótese, reexaminado o pedido de o pedido e determinar o arquivamento. Nesse
arquivamento pela instância superior, o passo, não há falar em aplicação do art. 28
respectivo Procurador-Geral. Ao Ministério do CPP nos procedimentos de competência
Público cabe formar a opinio delicti e, se originária do STJ. Precedentes citados: Rp
entender devido, oferecer a denúncia. Desse 409-DF, Corte Especial, DJe 14/10/2011;
modo, uma vez verificada a inexistência de AgRg na Sd 150-SP, Corte Especial, DJe
elementos mínimos que corroborem a autoria 5/5/2008; e AgRg na NC 86-SP, Corte
e a materialidade delitivas, pode o Parquet Especial, DJ 11/6/2001. Inq 967-DF, Rel.
requerer o arquivamento do inquérito, e o Min. Humberto Martins, julgado em
Juiz, por consequência, avaliar se concorda 18/3/2015, DJe 30/3/2015 (Informativo 558).
ou não com a promoção ministerial. Uma vez Corte Especial
anuindo, fica afastado o procedimento DIREITO PROCESSUAL CIVIL E
previsto no art. 28 do CPP, sem que, com PROCESSUAL PENAL. LEGITIMIDADE DO
isso, seja violado direito líquido e certo da MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL PARA
possível vítima de crime de ver processado ATUAR NO ÂMBITO DO STJ.
seu suposto ofensor (RMS 12.572-SP, Sexta O Ministério Público Estadual tem
Turma, DJ de 10/9/2007). Cumpre salientar, legitimidade para atuar diretamente como
por oportuno, que, se a vítima ou qualquer parte em recurso submetido a julgamento
outra pessoa trouxer novas informações que perante o STJ. O texto do § 1° do art. 47 da
justifiquem a reabertura do inquérito, pode a LC 75/1993 é expresso no sentido de que as
autoridade policial proceder a novas funções do Ministério Público Federal
perante os Tribunais Superiores da União absolutamente nulo e, portanto, não
somente podem ser exercidas por titular do interromperá a prescrição. Precedente
cargo de Subprocurador-Geral da República. citado do STJ: REsp 819.168-PE, Quinta
A par disso, deve-se perquirir quais as Turma, DJ 5/2/2007. Precedente citado do
funções que um Subprocurador-Geral da STF: HC 63.556-RS, Segunda Turma, DJ
República exerce perante o STJ. É evidente 9/5/1986. APn 295-RR, Rel. Min. Jorge
que o Ministério Público, tanto aquele Mussi, julgado em 17/12/2014, DJe
organizado pela União quanto aquele 12/2/2015 (Informativo 555).
estruturado pelos Estados, pode ser parte e TERCEIRA SEÇÃO
custos legis, seja no âmbito cível ou criminal. Terceira Seção
Nesse passo, tendo a ação (cível ou penal) DIREITO PROCESSUAL PENAL.
sido proposta pelo Ministério Público COMPETÊNCIA PARA JULGAR CRIME
Estadual perante o primeiro grau de PRATICADO EM BANCO POSTAL.
jurisdição, e tendo o processo sido alçado ao Compete à Justiça Estadual – e não à
STJ por meio de recurso, é possível que Justiça Federal – processar e julgar ação
esse se valha dos instrumentos recursais penal na qual se apurem infrações penais
necessários na defesa de seus interesses decorrentes da tentativa de abertura de
constitucionais. Nessas circunstâncias, o conta corrente mediante a apresentação
Ministério Público Federal exerce apenas de documento falso em agência do Banco
uma de suas funções, qual seja: a de custos do Brasil (BB) localizada nas
legis. Isto é, sendo o recurso do Ministério dependências de agência da Empresa
Público Estadual, o Ministério Público Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT)
Federal, à vista do ordenamento jurídico, que funcione como Banco Postal.
pode opinar pelo provimento ou pelo Realmente, de acordo com o art. 109, IV, da
desprovimento da irresignação. Assim, CF, compete à Justiça Federal processar e
cindido em um processo o exercício das julgar “os crimes políticos e as infrações
funções do Ministério Público (o Ministério penais praticadas em detrimento de bens,
Público Estadual sendo o autor da ação, e o serviços ou interesse da União ou de suas
Ministério Público Federal opinando acerca entidades autárquicas ou empresas públicas,
do recurso interposto nos respectivos autos), excluídas as contravenções e ressalvada a
não há razão legal, nem qualquer outra competência da Justiça Militar e da Justiça
ditada pelo interesse público, que autorize Eleitoral”. Apesar de a ECT ser empresa
restringir a atuação do Ministério Público pública federal, ela presta serviços relativos
Estadual enquanto parte recursal, realizando ao Banco Postal, em todo território nacional,
sustentações orais, interpondo agravos como correspondente bancário de
regimentais contra decisões, etc. Caso instituições financeiras contratantes, às quais
contrário, seria permitido a qualquer outro cabe a inteira responsabilidade pelos
autor ter o referido direito e retirar-se-ia do serviços prestados pela empresa contratada,
Ministério Público Estadual, por exemplo, o em consonância com o disposto na Portaria
direito de perseguir a procedência de ações 588/2000 do Ministério das Comunicações e,
penais e de ações de improbidade em especial, na forma da Resolução
administrativa imprescindíveis à ordem 3.954/2011 do Bacen, segundo a qual o
social. EREsp 1.327.573-RJ, Rel. originário “correspondente [a ECT] atua por conta e
e voto vencedor Min. Ari Pargendler, Rel. sob as diretrizes da instituição contratante
para acórdão Min. Nancy Andrighi, [no caso, o BB], que assume inteira
julgado em 17/12/2014, DJe 27/2/2015 responsabilidade pelo atendimento prestado
(Informativo 556). Corte Especial aos clientes e usuários por meio do
DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL. contratado [...]”. Ora, se cabe à instituição
RECEBIMENTO DE DENÚNCIA POR financeira contratante dos serviços (no caso,
AUTORIDADE INCOMPETENTE E o BB) a responsabilidade pelos serviços
PRESCRIÇÃO. bancários disponibilizados pela ECT a seus
Quando a autoridade que receber a clientes e usuários, eventual lesão
denúncia for incompetente em razão de decorrente da abertura de conta corrente por
prerrogativa de foro do réu, o recebimento meio da utilização de documento falso
da peça acusatória será ato atingiria o patrimônio e os serviços da
instituição financeira contratante, e não os da particular titular do crédito. Ademais, ainda
ECT. Tanto é assim que, caso a empreitada que a conduta delituosa tivesse se
delituosa tivesse tido êxito, os prejuízos consumado, e o dano fosse suportado pelo
decorrentes da abertura de conta corrente na Banco do Brasil, seria mantida a
agência do Banco Postal seriam suportados competência da Justiça Estadual, a teor da
pela instituição financeira contratante. Desse Súmula 42 do STJ: "Compete à Justiça
modo, não há lesão apta a justificar a Comum Estadual processar e julgar as
competência da Justiça Federal para causas cíveis em que é parte sociedade de
processar e julgar a ação penal. Nesse economia mista e os crimes praticados em
sentido, inclusive, a Sexta Turma do STJ já seu detrimento". CC 133.187-DF, Rel. Min.
afirmou a competência da Justiça Estadual Ribeiro Dantas, julgado em 14/10/2015,
para processar e julgar ação penal relativa a DJe 22/10/2015.
suposta prática de roubo qualificado em caso Terceira Seção
no qual houve prejuízo decorrente da DIREITO PROCESSUAL PENAL.
subtração, em Banco Postal, de numerário UTILIZAÇÃO DE FORMULÁRIOS FALSOS
que pertencia integralmente ao Banco DA RECEITA FEDERAL E COMPETÊNCIA.
Bradesco (HC 96.684-BA, DJe 23/8/2010). O fato de os agentes, utilizando-se de
CC 129.804-PB, Rel. Min. Reynaldo Soares formulários falsos da Receita Federal,
da Fonseca, julgado em 28/10/2015, DJe terem se passado por Auditores desse
6/11/2015 (Informativo 572). órgão com intuito de obter vantagem
Terceiro Seção financeira ilícita de particulares não atrai,
DIREITO PROCESSUAL PENAL. por si só, a competência da Justiça
COMPETÊNCIA PARA PROCESSAR E Federal. Isso porque, em que pese tratar-se
JULGAR TENTATIVA DE RESGATE DE de uso de documento público, observa-se
PRECATÓRIO FEDERAL CREDITADO EM que a falsidade foi empregada, tão somente,
FAVOR DE PARTICULAR. em detrimento de particular. Assim sendo, se
se pudesse cogitar de eventual prejuízo
Compete à Justiça Estadual - e não à sofrido pela União, ele seria apenas reflexo,
Justiça Federal - processar e julgar na medida em que o prejuízo direto está
tentativa de estelionato (art. 171, caput, nitidamente limitado à esfera individual da
c/c o art. 14, II, do CP) consistente em vítima, uma vez que as condutas em análise
tentar receber, mediante fraude, em não trazem prejuízo direto e efetivo a bens,
agência do Banco do Brasil, valores serviços ou interesses da União, de suas
relativos a precatório federal creditado em entidades autárquicas ou empresas públicas
favor de particular. Dispõe a Constituição (art. 109, IV, da CF). CC 141.593-RJ, Rel.
da República: "Art. 109. Aos juízes federais Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado
compete processar e julgar: (...) IV - os em 26/8/2015, DJe 4/9/2015 (Informativo
crimes políticos e as infrações penais 568).
praticadas em detrimento de bens, serviços Terceira Seção
ou interesse da União ou de suas entidades DIREITO PROCESSUAL PENAL.
autárquicas ou empresas públicas, excluídas ESTELIONATO E FORO COMPETENTE
as contravenções e ressalvada a PARA PROCESSAR A PERSECUÇÃO
competência da Justiça Militar e da Justiça PENAL.
Eleitoral". Assim, embora na hipótese se Compete ao juízo do foro onde se
tenha buscado resgatar precatório federal, se encontra localizada a agência bancária
não há prejuízo em "detrimento de bens, por meio da qual o suposto estelionatário
serviços ou interesse da União ou de suas recebeu o proveito do crime – e não ao
entidades autárquicas ou empresas públicas, juízo do foro em que está situada a
excluídas as contravenções e ressalvada a agência na qual a vítima possui conta
competência da Justiça Militar e da Justiça bancária – processar a persecução penal
Eleitoral" (art. 109, IV, da CF), a competência instaurada para apurar crime de
para processar e julgar a causa é da Justiça estelionato no qual a vítima teria sido
Estadual. O eventual prejuízo causado pelo induzida a depositar determinada quantia
delito praticado por quem visava resgatar na conta pessoal do agente do delito. Com
precatório federal seria suportado pelo efeito, a competência é definida pelo lugar
em que se consuma a infração, nos termos Terceira Seção, DJe 2/3/2005; e CC 14.488-
do art. 70 do CPP. Dessa forma, cuidando-se PA, Terceira Seção, DJ 11/12/1995). Além
de crime de estelionato, tem-se que a disso, restringindo-se ainda mais o alcance
consumação se dá no momento da obtenção do termo “navio”, a jurisprudência do STJ
da vantagem indevida, ou seja, no momento também tem exigido que a embarcação de
em que o valor é depositado na conta grande porte se encontre em situação de
corrente do autor do delito, passando, deslocamento internacional ou em situação
portanto, à sua disponibilidade. Note-se que de potencial deslocamento (CC 116.011-SP,
o prejuízo alheio, apesar de fazer parte do Terceira Seção, DJe 1º/12/2011). Nesse
tipo penal, está relacionado à consequência sentido, a par da dificuldade de se delimitar a
do crime de estelionato e não propriamente à ideia de “potencial deslocamento”, cuja
conduta. De fato, o núcleo do tipo penal é análise impõe seja feita de maneira
obter vantagem ilícita, razão pela qual a casuística, revela-se ponto comum na
consumação se dá no momento em que os interpretação dada pela jurisprudência desta
valores entram na esfera de disponibilidade Corte o fato de que a embarcação deva estar
do autor do crime, o que somente ocorre apta a realizar viagens internacionais. CC
quando o dinheiro ingressa efetivamente em 118.503-PR, Rel. Min. Rogerio Schietti
sua conta corrente. No caso em apreço, Cruz, julgado em 22/4/2015, DJe 28/4/2015
tendo a vantagem indevida sido depositada (Informativo 560).
em conta corrente de agência bancária Terceira Seção
situada em localidade diversa daquela onde DIREITO PROCESSUAL PENAL.
a vítima possui conta bancária, tem-se que COMPETÊNCIA PARA APRECIAR PEDIDO
naquela houve a consumação do delito. CC DE QUEBRA DE SIGILO TELEFÔNICO EM
139.800-MG, Rel. Min. Reynaldo Soares da APURAÇÃO DE CRIME DE USO DE
Fonseca, julgado em 24/6/2015, DJe ARTEFATO INCENDIÁRIO CONTRA
1º/7/2015 (Informativo 565). EDIFÍCIO-SEDE DA JUSTIÇA MILITAR DA
Terceira Seção UNIÃO.
DIREITO PROCESSUAL PENAL. Compete à Justiça Federal – é não à
COMPETÊNCIA PARA PROCESSAR E Justiça Militar – decidir pedido de quebra
JULGAR CRIME COMETIDO A BORDO DE de sigilo telefônico requerido no âmbito
NAVIO. de inquérito policial instaurado para
Compete à Justiça Federal processar e apurar a suposta prática de crime
julgar o crime praticado a bordo de relacionado ao uso de artefato incendiário
embarcação estrangeira privada de contra o edifício-sede da Justiça Militar da
grande porte ancorada em porto brasileiro União, quando o delito ainda não possua
e em situação de potencial deslocamento autoria estabelecida e não tenha sido
internacional, ressalvada a competência cometido contra servidor do Ministério
da Justiça Militar. De fato, o art. 109, IX, da Público Militar ou da Justiça Militar. Isso
CF determina a competência da Justiça porque a CF estabelece que a Justiça Militar
Federal para processar e julgar “os crimes da União é órgão do Poder Judiciário da
cometidos a bordo de navios ou aeronaves, União. Desse modo, o edifício-sede da
ressalvada a competência da Justiça Militar”. Justiça Militar da União não integra
Contudo, em razão da imprecisão do termo patrimônio militar nem está subordinado à
“navio”, utilizado no referido dispositivo administração castrense, circunstância que
constitucional, a doutrina e a jurisprudência afasta a incidência da alínea “a” do inciso III
construíram o entendimento de que “navio” do art. 9º do CPM. Além disso, o ilícito
seria embarcação de grande porte – praticado não foi cometido contra servidor do
embarcação seria gênero, do qual navio uma Ministério Público Militar ou da Justiça Militar.
de suas espécies – o que, evidentemente, Em verdade, o evento delituoso em análise –
excluiria a competência para processar e sem autoria estabelecida – atingiu apenas a
julgar crimes cometidos a bordo de outros edificação em si, sem dano contra pessoa,
tipos de embarcações, isto é, aqueles que razão pela qual a hipótese em foco não se
não tivessem tamanho e autonomia subsume à alínea “b” do inciso III do art. 9º
consideráveis que pudessem ser deslocados do CPM. CC 137.378-RS, Rel. Min.
para águas internacionais (CC 43.404-SP,
Sebastião Reis Júnior, julgado em que visa garantir a igualdade de condições
11/3/2015, DJe 14/4/2015 (Informativo 559). entre as partes no processo penal.
Precedentes citados: AgRg nos EREsp
Terceira Seção 310.417-PB, Terceira Seção, DJe 27/3/2008;
DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL. REsp 258.826-TO, Sexta Turma, DJe
COMPETÊNCIA PARA PROCESSAR E 7/12/2009; e AgRg no REsp 1.102.059-MA,
JULGAR CRIME CARACTERIZADO PELA Quinta Turma, DJe 13/10/2009. EREsp
DESTRUIÇÃO DE TÍTULO DE ELEITOR. 1.347.303-GO, Rel. Min. Gurgel de Faria,
Compete à Justiça Federal – e não à julgado em 10/12/2014, DJe 17/12/2014
Justiça Eleitoral – processar e julgar o (Informativo 554).
crime caracterizado pela destruição de QUINTA TURMA
título eleitoral de terceiro, quando não Quinta Turma
houver qualquer vinculação com pleitos DIREITO PROCESSUAL PENAL.
eleitorais e o intuito for, tão somente, REQUISIÇÃO PELO MP DE
impedir a identificação pessoal. A simples INFORMAÇÕES BANCÁRIAS DE ENTE DA
existência, no Código Eleitoral, de descrição ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA.
formal de conduta típica não se traduz, Não são nulas as provas obtidas por meio
incontinenti, em crime eleitoral, sendo de requisição do Ministério Público de
necessário, também, que se configure o informações bancárias de titularidade de
conteúdo material do crime. Sob o aspecto prefeitura municipal para fins de apurar
material, deve a conduta atentar contra a supostos crimes praticados por agentes
liberdade de exercício dos direitos políticos, públicos contra a Administração Pública.
vulnerando a regularidade do processo É pacífico na doutrina pátria e na
eleitoral e a legitimidade da vontade popular. jurisprudência dos Tribunais Superiores que
Ou seja, a par da existência do tipo penal o sigilo bancário constitui espécie do direito à
eleitoral específico, faz-se necessária, para intimidade/privacidade, consagrado no art. 5º,
sua configuração, a existência de violação do X e XII, da CF. No entanto, as contas
bem jurídico que a norma visa tutelar, públicas, ante os princípios da publicidade e
intrinsecamente ligado aos valores referentes da moralidade (art. 37 da CF), não possuem,
à liberdade do exercício do voto, à em regra, proteção do direito à
regularidade do processo eleitoral e à intimidade/privacidade e, em consequência,
preservação do modelo democrático. Dessa não são protegidas pelo sigilo bancário. Na
forma, a despeito da existência da descrição verdade, a intimidade e a vida privada de que
típica formal no Código Eleitoral (art. 339: trata a Lei Maior referem-se à pessoa
“Destruir, suprimir ou ocultar urna contendo humana, aos indivíduos que compõem a
votos, ou documentos relativos à eleição”), sociedade e às pessoas jurídicas de direito
não há como minimizar o conteúdo dos privado, inaplicáveis tais conceitos aos entes
crimes eleitorais sob o aspecto material. CC públicos. Ademais, entendeu o STF que as
127.101-RS, Rel. Min. Rogerio Schietti “Operações financeiras que envolvam
Cruz, julgado em 11/2/2015, DJe 20/2/2015 recursos públicos não estão abrangidas pelo
(Informativo 555). sigilo bancário a que alude a Lei
Terceira Seção Complementar nº 105/2001, visto que as
DIREITO PROCESSUAL PENAL. TERMO operações dessa espécie estão submetidas
INICIAL DO PRAZO PARA O MP aos princípios da administração pública
RECORRER. insculpidos no art. 37 da Constituição
Quando o Ministério Público for intimado Federal” (MS 33.340-DF, Primeira Turma,
pessoalmente em cartório, dando ciência DJe de 3/8/2015). Decisão monocrática
nos autos, o seu prazo recursal se iniciará citada: STJ, RCD no HC 301.719-CE, DJe
nessa data, e não no dia da remessa dos 13/3/2015. HC 308.493-CE, Rel. Min.
autos ao seu departamento Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em
administrativo. Isso porque o prazo recursal 20/10/2015, DJe 26/10/2015 (Informativo
para o MP inicia-se na data da sua intimação 572).
pessoal. Trata-se de entendimento extraído Quinta Turma
da leitura dos dispositivos legais que regem a
matéria (arts. 798, § 5º, e 800, § 2º, do CPP),
DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL. autoridades competentes do Estado Parte
DESNECESSIDADE DE DUPLA requerido consentirem na extensão da
IMPUTAÇÃO EM CRIMES AMBIENTAIS. extradição para fins de detenção, julgamento
É possível a responsabilização penal da ou condenação da referida pessoa em
pessoa jurídica por delitos ambientais função de qualquer outro delito. 2. Para tal
independentemente da responsabilização efeito, o Estado Parte requerente deverá
concomitante da pessoa física que agia encaminhar ao Estado Parte requerido
em seu nome. Conforme orientação da pedido formal de extensão da extradição,
Primeira Turma do STF, “O art. 225, § 3º, da cabendo ao Estado Parte requerido decidir
Constituição Federal não condiciona a se a concede. O referido pedido deverá ser
responsabilização penal da pessoa jurídica acompanhado dos documentos previstos no
por crimes ambientais à simultânea parágrafo 4 do Artigo 18 deste Acordo e de
persecução penal da pessoa física em tese declaração judicial sobre os fatos que
responsável no âmbito da empresa. A norma motivaram o pedido de extensão, prestada
constitucional não impõe a necessária dupla pelo extraditado com a devida assistência
imputação” (RE 548.181, Primeira Turma, jurídica.” O princípio da especialidade
DJe 29/10/2014). Diante dessa interpretação, previsto no referido dispositivo se revela
o STJ modificou sua anterior orientação, de como uma proteção ao extraditando de não
modo a entender que é possível a ser detido, processado ou condenado por
responsabilização penal da pessoa jurídica delitos cometidos em datas anteriores à
por delitos ambientais independentemente da solicitação de extradição. Ademais, o pedido
responsabilização concomitante da pessoa de extradição supletiva ou suplementar (art.
física que agia em seu nome. Precedentes 14, § 2º) não viola tal princípio, sendo
citados: RHC 53.208-SP, Sexta Turma, DJe juridicamente possível (STF, Ext 1.052
1º/6/2015; HC 248.073-MT, Quinta Turma, extensão - Reino dos Países Baixos, Tribunal
DJe 10/4/2014; e RHC 40.317-SP, Quinta Pelo, DJe 5/12/2008). Precedente do STF:
Turma, DJe 29/10/2013. RMS 39.173-BA, Inq 731 QO/AG - Argélia, Tribunal Pleno, DJe
Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, de 20/10/1995). RHC 45.569-MT, Rel. Min.
julgado em 6/8/2015, DJe 13/8/2015 Felix Fischer, julgado em 4/8/2015, DJe
(Informativo 566). 12/8/2015 (Informativo 566).
Quinta Turma Quinta Turma
DIREITO PROCESSUAL PENAL. DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL.
EXTRADIÇÃO SUPLETIVA. FLAGRANTE NO CRIME DE CONCUSSÃO.
Caso seja oferecida denúncia pelo No crime de concussão, a situação de
Ministério Público por fato anterior e não flagrante delito configura-se pela
contido na solicitação de extradição da exigência – e não pela entrega – da
pessoa entregue, deve a ação penal vantagem indevida. Isso porque a
correspondente ser suspensa até que seja concussão é crime formal, que se consuma
julgado pedido de extradição supletiva, com a exigência da vantagem indevida.
nos termos do art. 14 do Decreto Assim, a eventual entrega do exigido se
4.975/2004 (Acordo de Extradição entre consubstancia mero exaurimento do crime
Estados Partes do Mercosul). O art. 14 do previamente consumado. HC 266.460-ES,
referido diploma dispõe que: “1. Do Princípio Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca,
da Especialidade. A pessoa entregue não julgado em 11/6/2015, DJe 17/6/2015
será detida, julgada nem condenada, no (Informativo 564).
território do Estado Parte requerente, por Quinta Turma
outros delitos cometidos previamente à data DIREITO PROCESSUAL PENAL.
de solicitação da extradição, e não contidos COMPROVAÇÃO DA MENORIDADE DE
nesta, salvo nos seguintes casos: a) quando VÍTIMA DE CRIMES SEXUAIS.
a pessoa extraditada, podendo abandonar o Nos crimes sexuais contra vulnerável, a
território do Estado Parte ao qual foi inexistência de registro de nascimento em
entregue, nele permanecer voluntariamente cartório civil não é impedimento a que se
por mais de 45 dias corridos após sua faça a prova de que a vítima era menor de
libertação definitiva ou a ele regressar depois 14 anos à época dos fatos. De início,
de tê-lo abandonado; b) quando as ressalte-se que a norma processual inscrita
no art. 155, parágrafo único, do CPP inciso III do art. 1º da CF. Cabe ressaltar, a
estabelece que o juiz, no exercício do livre propósito, que esse entendimento foi
convencimento motivado, somente quanto ao consolidado para, dando efetividade ao
estado das pessoas observará as restrições princípio do favor rei, impedir o início ou a
estabelecidas na lei civil. Ao enfrentar a continuidade de outro processo que tenha
questão, a Terceira Seção do STJ assentou por objetivo discutir os mesmos fatos que já
a primazia da certidão de nascimento da foram objeto de decisão anterior. A situação
vítima para tanto (EREsp 762.043-RJ, DJe em análise, entretanto, é peculiar. Existem
4/3/2009). Porém, o STJ tem considerado duas condenações transitadas em julgado,
que a mera ausência da certidão de sendo que a primeira foi proferida por juízo
nascimento não impede a verificação etária, estadual absolutamente incompetente e a
quando coligidos outros elementos hábeis à segunda pelo juízo constitucionalmente
comprovação da qualidade de infante da competente, tendo este estabelecido,
vítima (HC 81.181-SP, Quinta Turma, DJe inclusive, quantum de pena inferior ao
21/6/2010 e AgRg no AREsp 114.864-DF, definido anteriormente. Dessa forma, nessa
Sexta Turma, DJe 3/10/2013). AgRg no hipótese, considerando a situação mais
AREsp 12.700-AC, voto vencedor Rel. Min. favorável ao réu, bem como a existência de
Walter de Almeida Guilherme trânsito em julgado perante a justiça
(Desembargador convocado do TJ/SP), competente para análise do feito, deve ser
Rel. para acórdão Min. Gurgel de Faria, relativizada a coisa julgada, de modo a tornar
julgado em 10/3/2015, DJe 5/6/2015 possível a prevalência do princípio
(Informativo 563). fundamental da dignidade da pessoa
Quinta Turma humana. HC 297.482-CE, Rel. Min. Felix
DIREITO PROCESSUAL PENAL. Fischer, julgado em 12/5/2015, DJe
HIPÓTESE DE RELATIVIZAÇÃO DA COISA 21/5/2015 (Informativo 562).
JULGADA. Quinta Turma
Constatado o trânsito em julgado de duas DIREITO PROCESSUAL PENAL. LIMITE
decisões condenando o agente pela PARA APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA
prática de um único crime – a primeira INDIVISIBILIDADE DA AÇÃO PENAL
proferida por juízo estadual PRIVADA.
absolutamente incompetente e a segunda A não inclusão de eventuais suspeitos na
proferida pelo juízo federal queixa-crime não configura, por si só,
constitucionalmente competente –, a renúncia tácita ao direito de queixa. Com
condenação anterior deve ser anulada efeito, o direito de queixa é indivisível, é
caso se verifique que nela fora imposta dizer, a queixa contra qualquer dos autores
pena maior do que a fixada do crime obrigará ao processo de todos (art.
posteriormente. Em primeiro lugar, faz-se 48 do CPP). Dessarte, o ofendido não pode
necessário asseverar que o STJ já se limitar a este ou aquele autor da conduta tida
pronunciou no sentido de que “A sentença como delituosa o exercício do jus
proferida por juízo absolutamente accusationis, tanto que o art. 49 do CPP
incompetente impede o exame dos mesmos dispõe que a renúncia ao direito de queixa,
fatos ainda que pela justiça em relação a um dos autores do crime, a
constitucionalmente competente, pois, ao todos se estenderá. Portanto, o princípio da
contrário, estar-se-ia não só diante de indivisibilidade da ação penal privada torna
vedado bis in idem como também na obrigatória a formulação da queixa-crime em
contramão da necessária segurança jurídica face de todos os autores, coautores e
que a imutabilidade da coisa julgada visa partícipes do injusto penal, sendo que a
garantir” (RHC 29.775-PI, Quinta Turma, DJe inobservância de tal princípio acarreta a
25/6/2013). Com efeito, sopesando a renúncia ao direito de queixa, que de acordo
garantia do juiz natural em face do princípio com o art. 107, V, do CP, é causa de
do ne bis in idem, deve preponderar este extinção da punibilidade. Contudo, para o
último como decorrência do princípio reconhecimento da renúncia tácita ao direito
fundamental da dignidade da pessoa de queixa, exige-se a demonstração de que a
humana, princípio basilar do Estado não inclusão de determinados autores ou
Democrático de Direito, consoante explicita o partícipes na queixa-crime se deu de forma
deliberada pelo querelante (HC 186.405-RJ, DIREITO PROCESSUAL PENAL.
Quinta Turma, DJe de 11/12/2014). RHC MANUTENÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA
55.142-MG, Rel. Min. Felix Fischer, julgado APÓS CONDENAÇÃO RECORRÍVEL A
em 12/5/2015, DJe 21/5/2015 (Informativo REGIME PRISIONAL SEMIABERTO.
562). A prisão preventiva pode ser mantida por
Quinta Turma ocasião da sentença condenatória
DIREITO PROCESSUAL PENAL. recorrível que aplicou o regime
CABIMENTO DE HC PARA ANÁLISE DE semiaberto para o cumprimento da pena,
AFASTAMENTO DE CARGO DE desde que persistam os motivos que
PREFEITO. inicialmente a justificaram e que seu
É cabível impetração de habeas corpus cumprimento se adeque ao modo de
para que seja analisada a legalidade de execução intermediário aplicado. De fato,
decisão que determina o afastamento de não é razoável manter o réu constrito
prefeito do cargo, quando a medida for preventivamente durante o desenrolar da
imposta conjuntamente com a prisão. ação penal e, por fim, libertá-lo apenas
Precedente citado: AgRg no HC 316.286-SP, porque foi agraciado com regime de
Primeira Turma, DJe de 14/4/2015. HC execução diverso do fechado, permitindo-lhe
312.016-SC, Rel. Min. Felix Fischer, que, solto, ou mediante algumas condições,
julgado em 16/4/2015, DJe 5/5/2015 aguarde o trânsito em julgado da
(Informativo 561). condenação. Sufragar tal entendimento vai
Quinta Turma contra ao já sedimentado tanto no STF
DIREITO PROCESSUAL PENAL. quanto no STJ, no sentido de que, quando
HIPÓTESE EM QUE A AUSÊNCIA DE presentes as hipóteses autorizadoras da
INTIMAÇÃO PESSOAL DO DEFENSOR prisão preventiva, “Não há sentido lógico
DATIVO NÃO GERA RECONHECIMENTO permitir que o réu, preso preventivamente
DE NULIDADE. durante toda a instrução criminal, possa
A intimação do defensor dativo apenas aguardar o julgamento da apelação em
pela impressa oficial não implica liberdade” (STF, HC 89.089-SP, Primeira
reconhecimento de nulidade caso este Turma, DJ de 1º/6/2007). Por outro lado,
tenha optado expressamente por esta tendo em vista a imposição do regime
modalidade de comunicação dos atos semiaberto na condenação, se faz
processuais, declinando da prerrogativa necessário compatibilizar a manutenção da
de ser intimado pessoalmente. Não se custódia cautelar com o aludido modo de
desconhece o entendimento pacífico do STJ execução, sob pena de estar-se impondo ao
no sentido de que, a teor do disposto no art. condenado modo mais gravoso tão somente
370, § 4º, do CPP e do art. 5º, § 5º, da Lei pelo fato de ter optado pela interposição de
1.060/1950, a ausência de intimação pessoal recurso, em flagrante ofensa ao princípio da
da Defensoria Pública ou do defensor dativo razoabilidade. Precedentes citados: RHC
sobre ato do processo gera, em regra, a sua 39.060-RJ, Quinta Turma, DJe 10/3/2014; e
nulidade (HC 302.868-SP, Sexta Turma, DJe HC 244.275-SP, Sexta Turma, DJe
12/2/2015; e AgRg no REsp 1.292.521-GO, 18/3/2013. RHC 53.828-ES, Rel. Min. Jorge
Quinta Turma, DJe 3/10/2014). Ocorre que a Mussi, julgado em 14/4/2015, DJe
peculiaridade de o próprio defensor dativo ter 24/4/2015 (Informativo 560).
optado por ser intimado pela imprensa oficial, Quinta Turma
declinando da prerrogativa de ser DIREITO PROCESSUAL PENAL.
pessoalmente cientificado dos atos HIPÓTESE DE COMPETÊNCIA DA
processuais, impede o reconhecimento JUSTIÇA FEDERAL PARA JULGAR CRIME
dessa nulidade. Precedente citado: RHC DE LATROCÍNIO.
44.684-SP, Sexta Turma, DJe 11/2/2015. HC Compete à Justiça Federal processar e
311.676-SP, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado julgar crime de latrocínio no qual tenha
em 16/4/2015, DJe 29/4/2015 (Informativo havido troca de tiros com policiais
560). rodoviários federais que, embora não
Quinta Turma estivessem em serviço de patrulhamento
ostensivo, agiam para reprimir assalto a
instituição bancária privada. O art. 109 da
CF prevê que compete à Justiça Federal
processar e julgar “os crimes políticos e as
infrações penais praticadas em detrimento de
bens, serviços ou interesse da União ou de
suas entidades autárquicas ou empresas
públicas, excluídas as contravenções e
ressalvada a competência da Justiça Militar e
da Justiça Eleitoral”. Assim, se um servidor
público federal é vítima de um delito em
razão do exercício de suas funções, tem-se
que o próprio serviço público é afetado, o que
atrai a competência da Justiça Federal para
processar e julgar o feito (Súmula 147 do
STJ). No caso, observa-se que, embora os
policiais rodoviários federais não estivessem
em serviço de patrulhamento ostensivo,
possuem, como agentes policiais, o dever
legal de prender em flagrante quem estiver
praticando crime, nos termos do art. 301 do
CPP: “Qualquer do povo poderá e as
autoridades policiais e seus agentes deverão
prender quem quer que seja encontrado em
flagrante delito”. Assim, o certo é que era
incumbência dos policiais rodoviários
federais, naquele momento, reprimir a prática
criminosa, motivo pelo qual não há dúvidas
de que agiram no exercício de suas funções,
o que revela a competência da Justiça
Federal. Precedente citado: RHC 31.553-MT,
Quinta Turma, DJe 26/8/2013. HC 309.914-
RS, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em
7/4/2015, DJe 15/4/2015 (Informativo 559).
Quinta Turma
DIREITO PROCESSUAL PENAL.
ENCONTRO FORTUITO DE PROVAS NO
CUMPRIMENTO DE MANDANDO DE
BUSCA E APREENSÃO EM ESCRITÓRIO
DE ADVOCACIA.
É lícita a apreensão, em escritório de
advocacia, de drogas e de arma de fogo,
em tese pertencentes a advogado, na
hipótese em que outro advogado tenha
presenciado o 344
cumprimento da diligência por solicitação crimes, para solicitar, a posteriori, um
dos policiais, ainda que o mandado de mandado específico de busca e apreensão
busca e apreensão tenha sido expedido para o escritório do advogado. Essa medida
para apreender arma de fogo contrariaria o art. 301 do CPP: “Qualquer do
supostamente pertencente a estagiário do povo poderá e as autoridades policiais e seus
escritório – e não ao advogado – e mesmo agentes deverão prender quem quer que seja
que no referido mandado não haja encontrado em flagrante delito”. Desse modo,
expressa indicação de representante da não há excesso por parte dos policiais
OAB local para o acompanhamento da envolvidos na busca e apreensão, uma vez
diligência. De fato, o inciso II e o § 6º do art. que a busca em todo o escritório era
7º da Lei 8.906/1994 dispõem, necessária, haja vista que a arma de fogo
respectivamente, que são direitos do pertencente ao estagiário poderia estar
advogado “a inviolabilidade de seu escritório escondida em qualquer lugar do escritório, o
ou local de trabalho, bem como de seus que justifica a busca em todo o ambiente, e
instrumentos de trabalho, de sua não apenas nos locais, em princípio de
correspondência escrita, eletrônica, exercício da função de estagiário. Ressalte-
telefônica e telemática, desde que relativas se que a localização de elementos que
ao exercício da advocacia” e que “Presentes configuram outros crimes, praticados por
indícios de autoria e materialidade da prática pessoa que não figura como objeto do
de crime por parte de advogado, a autoridade mandado de busca e apreensão, insere-se
judiciária competente poderá decretar a na hipótese nominada pela doutrina de
quebra da inviolabilidade de que trata o “encontro fortuito de provas”. Ademais, em
inciso II do caput deste artigo, em decisão que pese a não indicação expressa de
motivada, expedindo mandado de busca e representante da OAB local para o
apreensão, específico e pormenorizado, a acompanhamento da diligência, foi solicitado,
ser cumprido na presença de representante pelos policiais nela envolvidos, que um
da OAB, sendo, em qualquer hipótese, advogado estivesse presente e
vedada a utilização dos documentos, das acompanhasse o cumprimento do mandado
mídias e dos objetos pertencentes a clientes de busca e apreensão no escritório. Sendo
do advogado averiguado, bem como dos assim, aplicando-se o princípio da
demais instrumentos de trabalho que instrumentalidade das formas, a finalidade da
contenham informações sobre clientes”. A norma foi atingida, não havendo que se falar
finalidade das normas acima transcritas é, em nulidade, mas sim, se muito, em mera
claramente, salvaguardar o sigilo da irregularidade. RHC 39.412-SP, Rel. Min.
profissão, respeitando-se as informações Felix Fischer, julgado em 3/3/2015, DJe
privilegiadas que os advogados recebem de 17/3/2015 (Informativo 557).
seus clientes, em homenagem ao princípio Quinta Turma
da ampla defesa, previsto no art. 5º, LV, da DIREITO PROCESSUAL PENAL. ANÁLISE
CF. No caso em análise, os policiais estavam DE HABEAS CORPUS A DESPEITO DE
legitimamente autorizados a ingressar no CONCESSÃO DE SURSIS.
escritório de advocacia por meio de mandado A eventual aceitação de proposta de
regularmente expedido, e a determinação de suspensão condicional do processo não
busca e apreensão se deu para o endereço prejudica a análise de habeas corpus no
profissional do investigado e não para uma qual se pleiteia o trancamento de ação
sala ou mesa específica. Não obstante o penal. Isso porque durante todo o período de
mandado de busca e apreensão tenha sido prova o acusado fica submetido ao
expedido para apuração de crime praticado cumprimento das condições impostas, cuja
pelo estagiário do escritório, verificou-se, inobservância enseja o restabelecimento do
coincidentemente, no cumprimento da curso do processo. Precedentes citados:
medida, a ocorrência flagrancial de dois AgRg no RHC 24.689-RS, Quinta Turma,
outros crimes que possuem natureza DJe 10/2/2012; e HC 210.122-SP, Sexta
permanente, ou seja, sua consumação se Turma, DJe 26/9/2011. RHC 41.527-RJ, Rel.
protrai no tempo. Contraria a razoabilidade Min. Jorge Mussi, julgado em 3/3/2015,
exigir-se dos policiais envolvidos na DJe 11/3/2015 (Informativo 557).
diligência que fingissem não ter visto os Quinta Turma
DIREITO PROCESSUAL PENAL. 251.735-RS, Sexta Turma, DJe 14/4/2014).
INTERVENÇÃO DE TERCEIROS EM RHC 45.589-MT, Rel. Min. Gurgel de Faria,
HABEAS CORPUS. julgado em 24/2/2015, DJe 3/3/2015
Admite-se a intervenção do querelante em (Informativo 556).
habeas corpus oriundo de ação penal Quinta Turma
privada. Embora a regra seja a DIREITO PROCESSUAL PENAL.
impossibilidade de intervenção de terceiros DISPENSA DE JUNTADA DE
em sede de habeas corpus, a jurisprudência PROCURAÇÃO COM PODERES
do STJ e do STF tem flexibilizado esse ESPECIAIS PELA DEFENSORIA PÚBLICA.
entendimento quando se trata de ação penal Quando a Defensoria Pública atuar como
privada, permitindo-se, por conseguinte, que representante do assistente de acusação,
o querelante participe do julgamento. é dispensável a juntada de procuração
Precedentes citados do STJ: HC 27.540-RJ, com poderes especiais. Isso porque o
Sexta Turma, DJ 27/6/2005, REsp 33.527- defensor público deve juntar procuração
AM, Sexta Turma, DJ 2/8/1993. Precedente judicial somente nas hipóteses em que a lei
citado do STF: Pet 423-SP AgR, Tribunal exigir poderes especiais (arts. 44, XI, 89, XI,
Pleno, DJ 13/3/1992. RHC 41.527-RJ, Rel. e 128, XI, da LC 80/1994). Ressalte-se que a
Min. Jorge Mussi, julgado em 3/3/2015, Defensoria Pública tem por função
DJe 11/3/2015 (Informativo 557). institucional patrocinar tanto a ação penal
Quinta Turma privada quanto a subsidiária da pública, não
DIREITO PROCESSUAL PENAL. havendo incompatibilidade com a função
VALIDADE DO DEPOIMENTO SEM DANO acusatória. Assim, nada impede que a
NOS CRIMES SEXUAIS CONTRA referida instituição possa prestar assistência
CRIANÇA E ADOLESCENTE. jurídica, atuando como assistente de
Não configura nulidade por cerceamento acusação, nos termos dos arts. 268 e
de defesa o fato de o defensor e o seguintes do CPP (HC 24.079-PB, Quinta
acusado de crime sexual praticado contra Turma, DJ 29/9/2003). HC 293.979-MG, Rel.
criança ou adolescente não estarem Min. Gurgel de Faria, julgado em 5/2/2015,
presentes na oitiva da vítima devido à DJe 12/2/2015 (Informativo 555).
utilização do método de inquirição Quinta Turma
denominado “depoimento sem dano”,
precluindo eventual possibilidade de DIREITO PROCESSUAL PENAL.
arguição de vício diante da falta de COMPETÊNCIA PARA JULGAR CRIME
alegação de prejuízo em momento ENVOLVENDO VERBA PUBLICA
oportuno e diante da aquiescência da REPASSADA PELO BNDES A ESTADO-
defesa à realização do ato processual MEMBRO.
apenas com a presença do juiz, do O fato de licitação estadual envolver
assistente social e da servidora do Juízo. recursos repassados ao Estado-Membro
Em se tratando de crime sexual contra pelo Banco Nacional de Desenvolvimento
criança e adolescente, justifica-se a Econômico e Social (BNDES) por meio de
inquirição da vítima na modalidade do empréstimo bancário (mútuo feneratício)
“depoimento sem dano”, em respeito à sua não atrai a competência da Justiça
condição especial de pessoa em Federal para processar e julgar crimes
desenvolvimento, procedimento aceito no relacionados a suposto superfaturamento
STJ, inclusive antes da deflagração da na licitação. De fato, a competência da
persecução penal, mediante prova Justiça Federal para apuração de crimes
antecipada (HC 226.179-RS, Quinta Turma, decorre do art. 109, IV, da CF, que afirma,
DJe 16/10/2013). Ademais, o STJ tem dentre outras coisas, que compete aos juízes
entendido que a inércia da defesa, em federais processar e julgar “as infrações
situações semelhantes à presente, acarreta penais praticadas em detrimento de bens,
preclusão de eventual vício processual, serviços ou interesse da União ou de suas
mormente quando não demonstrado o entidades autárquicas ou empresas públicas,
prejuízo concreto ao réu, incidindo, na excluídas as contravenções e ressalvada a
espécie, o art. 563 do CPP, que acolheu o competência da Justiça Militar e da Justiça
princípio pas de nullité sans grief (HC Eleitoral”. Entretanto, se houve
superfaturamento na licitação estadual, o regras do regime aberto – tendo o juízo da
prejuízo recairá sobre o erário estadual – e execução providenciado a infraestrutura
não o federal –, uma vez que, não obstante a necessária, atento ao princípio da
fraude, o contrato de mútuo feneratício entre razoabilidade e da proporcionalidade –, não
o Estado-Membro e o BNDES permanecerá se vislumbra o necessário enquadramento
válido, fazendo com que a empresa pública nas hipóteses excepcionais de concessão do
federal receba de volta, em qualquer regime prisional domiciliar. HC 299.315-RS,
circunstância, o valor emprestado ao ente Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em
federativo. Dessa maneira, o fato em análise 18/12/2014, DJe 2/2/2015 (Informativo 554).
não atrai a competência da Justiça Federal, Quinta Turma
incidindo, na hipótese, mutatis mutandis, a DIREITO PROCESSUAL PENAL.
ratio essendi da Súmula 209 do STJ, INCOMPATIBILIDADE ENTRE PRISÃO
segundo a qual “compete à justiça estadual PREVENTIVA E REGIME ABERTO OU
processar e julgar prefeito por desvio de SEMIABERTO.
verba transferida e incorporada ao patrimônio Caso o réu seja condenado a pena que
municipal”. Precedente citado: HC 41.240- deva ser cumprida em regime inicial
RJ, Quinta Turma, DJ 29/8/2005; e RHC diverso do fechado, não será admissível a
34.559-BA, Sexta Turma, DJe de 4/8/2014. decretação ou manutenção de prisão
RHC 42.595-MT, Rel. Min. Felix Fischer, preventiva na sentença condenatória.
julgado em 16/12/2014, DJe 2/2/2015 Inicialmente, insta consignar que a prisão
(Informativo 555). cautelar deve ser considerada exceção, já
Quinta Turma que, por meio desta medida, priva-se o réu
DIREITO PROCESSUAL PENAL. de seu jus libertatis antes do pronunciamento
UTILIZAÇÃO DE ATOS INFRACIONAIS condenatório definitivo, consubstanciado na
PARA JUSTIFICAR PRISÃO PREVENTIVA sentença transitada em julgado. Nesse
PARA A GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA. passo, a prisão preventiva, enquanto medida
A anterior prática de atos infracionais, de natureza cautelar, não pode ser utilizada
apesar de não poder ser considerada para como instrumento de punição antecipada do
fins de reincidência ou maus réu (STF: HC 93.498-MS, Segunda Turma,
antecedentes, pode servir para justificar a DJe de 18/10/2012; STJ: AgRg no RHC
manutenção da prisão preventiva como 47.220-MG, Quinta Turma, DJe de
garantia da ordem pública. Precedentes 29/8/2014; e RHC 36.642-RJ, Sexta Turma,
citados: RHC 44.207-DF, Quinta Turma, DJe DJe de 29/8/2014). Dessa forma,
23/5/2014; e RHC 43.350-MS, Sexta Turma, estabelecido o regime aberto ou semiaberto
DJe 17/9/2014. RHC 47.671-MS, Rel. Min. como o inicial para o cumprimento de pena, a
Gurgel de Faria, julgado em 18/12/2014, decretação da prisão preventiva inviabiliza o
DJe 2/2/2015 (Informativo 554). direito de recorrer em liberdade, na medida
Quinta Turma em que impõe a segregação cautelar ao
DIREITO PROCESSUAL PENAL. recorrente, até o trânsito em julgado, sob o
INEXISTÊNCIA DE CASA DE ALBERGADO fundamento de estarem presentes os
E CUMPRIMENTO DA PENA EM LOCAL requisitos ensejadores da prisão preventiva
COMPATÍVEL. insertos no art. 312 do CPP. Ao admitir essa
A inexistência de casa de albergado na possibilidade, chegar-se-ia ao absurdo de ser
localidade da execução da pena não gera mais benéfico ao réu renunciar ao direito de
o reconhecimento de direito ao benefício recorrer e iniciar imediatamente o
da prisão domiciliar quando o paciente cumprimento da pena no regime estipulado
estiver cumprindo a reprimenda em local do que exercer seu direito de impugnar a
compatível com as regras do regime decisão perante o segundo grau. Nessa
aberto. O STJ tem admitido, medida, a manutenção ou a imposição da
excepcionalmente, a concessão da prisão prisão cautelar consistiria flagrante
domiciliar quando não houver local adequado vulneração do princípio da proporcionalidade.
ao regime prisional imposto. Todavia, na Além disso, a prevalecer o referido
hipótese em que o paciente, em face da entendimento, dar-se-á maior efetividade e
inexistência de casa de albergado, esteja relevância à medida de natureza precária
cumprindo pena em local compatível com as (manutenção da segregação cautelar) em
detrimento da sentença condenatória (título A progressão de regime para os
judicial que, por sua natureza, realiza o condenados por tráfico de entorpecentes
exame exauriente da quaestio). Por e drogas afins dar-se-á, se o sentenciado
conseguinte, a individualização da pena for reincidente, após o cumprimento de
cederá espaço, indevidamente, à providência 3/5 da pena, ainda que a reincidência não
de cunho nitidamente provisório e seja específica em crime hediondo ou
instrumental, subvertendo a natureza e equiparado. O § 2º do art. 2º da Lei
finalidade do processo e de suas medidas 8.072/1990 determina que a transferência de
cautelares. É bem verdade que a regime para os condenados por delito
jurisprudência ora dominante no âmbito do hediondo ou equiparado dar-se-á após o
STJ tem se orientado pela compatibilidade resgate de 2/5 da pena, se o sentenciado for
entre o regime diverso do fechado imposto primário, e 3/5, se reincidente. O STJ,
na sentença e a negativa do apelo em interpretando especificamente esse
liberdade, desde que adequadas as dispositivo legal, firmou o entendimento de
condições da prisão provisória às regras do que o legislador não fez menção à
regime imposto. Entretanto, esse necessidade de a reincidência – que impõe o
posicionamento implica, na prática, o cumprimento de prazo maior da pena – ser
restabelecimento da orientação específica em crime hediondo ou equiparado
jurisprudencial antes prevalente na para que incida o prazo de 3/5 para fins de
jurisprudência STF, que admitia a execução progressão de regime. Em outras palavras,
provisória da pena, atualmente rechaçada, ao exigir que os condenados por delitos
ao entendimento de que ela vulnera o hediondos ou assemelhados, se reincidentes,
princípio da presunção de não culpabilidade cumpram lapso maior para serem
inserto no art. 5º, LVII, da CF. Isso porque, se progredidos de regime, a lei não diferenciou
a sentença condenatória ainda não transitou as modalidades de reincidência, de modo
em julgado, só se permite a segregação em que deve ser exigido do apenado reincidente,
decorrência da imposição de prisão cautelar, em qualquer caso, independentemente da
cuja principal característica, como já natureza do delitos antes cometido, o lapso
ressaltado, significa segregação total do réu. de 3/5. Precedentes citados: HC 273.774-RS,
Em outras palavras, a prisão cautelar não Quinta Turma, DJe 10/10/2014; e HC
admite temperamento para ajustar-se a 238.592-RJ, Sexta Turma, DJe 18/2/2014.
regime imposto na sentença diverso do REsp 1.491.421-RS, Rel. Min. Jorge Mussi,
fechado. Imposto regime mais brando, julgado em 4/12/2014, DJe 15/12/2014
significa que o Estado-Juiz, ao aplicar as (Informativo 554).
normas ao caso concreto, concluiu pela Quinta Turma
possibilidade de o réu poder iniciar o DIREITO PROCESSUAL PENAL.
desconto da reprimenda em circunstâncias DESNECESSIDADE DE PROVA PERICIAL
que não se compatibilizam com a PARA CONDENAÇÃO POR USO DE
imposição/manutenção de prisão provisória. DOCUMENTO FALSO.
Caso seja necessário, poderá se valer, É possível a condenação por infração ao
quando muito, de medidas alternativas disposto no art. 304 do CP (uso de
diversas à prisão, previstas no art. 319 do documento falso) com fundamento em
CPP, inquestionavelmente mais adequadas à documentos e testemunhos constantes
hipótese. Precedentes citados do STF: HC do processo, acompanhada da confissão
118.257-PI, Segunda Turma, DJe 6/3/2014; do acusado, sendo desnecessária a prova
HC 115.786-MG, Segunda Turma, DJe pericial para a comprovação da
20/8/2013; e HC 114.288-RS, Primeira materialidade do crime, mormente se a
Turma, DJe 7/6/2013. RHC 52.407-RJ, Rel. defesa não requereu, no momento
Min. Felix Fischer, julgado em 10/12/2014, oportuno, a realização do referido exame.
DJe 18/12/2014 (Informativo 554). Precedentes citados: AgRg no AREsp
Quinta Turma 78.480-SP, Quinta Turma, DJe 1º/2/2013; HC
DIREITO PROCESSUAL PENAL. 134.341-MS, Quinta Turma, DJe 19/12/2011;
PROGRESSÃO DE REGIME DO e HC 149.812-SP, Quinta Turma, DJe
REINCIDENTE CONDENADO PELO CRIME 21/11/2011. HC 307.586-SE, Rel. Min.
DE TRÁFICO DE DROGAS. Walter de Almeida Guilherme
(Desembargador convocado do TJ/SP), A tese absolutória de legitima defesa,
julgado em 25/11/2014, DJe 3/12/2014 quando constituir a tese principal
(Informativo 553). defensiva, deve ser quesitada ao
Quinta Turma Conselho de Sentença antes da tese
DIREITO PROCESSUAL PENAL. subsidiária de desclassificação em razão
COMPARTILHAMENTO DE PROVAS EM da ausência de animus necandi. De fato, o
RAZÃO DE ACORDO INTERNACIONAL DE § 4º do art. 483 do CPP (com redação dada
COOPERAÇÃO. pela Lei 11.689/2008) permite a formulação
Não há ilegalidade na utilização, em do quesito sobre a desclassificação antes ou
processo penal em curso no Brasil, de depois do quesito genérico da absolvição, ao
informações compartilhadas por força de estabelecer que, “Sustentada a
acordo internacional de cooperação em desclassificação da infração para outra de
matéria penal e oriundas de quebra de competência do juiz singular, será formulado
sigilo bancário determinada por quesito a respeito, para ser respondido após
autoridade estrangeira, com respaldo no o 2º (segundo) [questionamento acerca da
ordenamento jurídico de seu país, para a autoria ou participação] ou 3º (terceiro)
apuração de outros fatos criminosos lá [indagação sobre se o acusado deve ser
ocorridos, ainda que não haja prévia absolvido] quesito, conforme o caso”. Essa
decisão da justiça brasileira autorizando a opção do legislador – no sentido de conferir
quebra do sigilo. Em matéria penal, deve-se certa flexibilidade à ordem do aludido quesito
adotar, em regra, o princípio da da desclassificação – ocorreu tendo em vista
territorialidade, desenvolvendo-se na justiça eventuais dificuldades que poderiam surgir
pátria o processo e os respectivos incidentes, em alguns casos. No caso em análise, para
não se podendo olvidar, outrossim, de afirmar se o quesito sobre a desclassificação
eventuais tratados ou outras normas deve ser formulado antes ou depois do
internacionais a que o país tenha aderido, quesito genérico da absolvição, faz-se
nos termos dos arts. 1º do CPP e 5º, caput, necessária a ponderação de dois princípios
do CP. Tem-se, assim, que a competência jurídicos garantidos no art. 5º, XXXVIII, da
internacional é regulada ou pelo direito CF: “a competência para o julgamento dos
internacional ou pelas regras internas de crimes dolosos contra a vida” e a “plenitude
determinado país, tendo por fontes os de defesa”. Por um lado, por força da
costumes, os tratados normativos e outras “competência para o julgamento dos crimes
regras de direito internacional. Dessa forma, dolosos contra a vida”, o Conselho de
se a juntada da documentação aos autos se Sentença só pode proferir decisão
deu por força de pedidos de cooperação absolutória se previamente reconhecer a
judiciária internacional baseados no Acordo existência de crime doloso contra a vida ou
de Assistência Judiciária em Matéria Penal, conexo. Nesse sentido, há entendimento
tendo sido apresentada devidamente doutrinário no sentido de que a
certificada, de modo a se comprovar a desclassificação, em regra, deve ser
autenticidade e a regularidade na sua questionada antes do quesito genérico
obtenção, não há que se falar em ilegalidade relativo à absolvição, justamente porque visa
no compartilhamento das provas oriundas da firmar a competência do Tribunal do Júri para
quebra do sigilo bancário realizado em outro decidir o delito doloso contra a vida. Por
país. HC 231.633-PR, Rel. Min. Jorge outro lado, o princípio constitucional da
Mussi, julgado em 25/11/2014, DJe ampla defesa no Tribunal do Júri tem uma
3/12/2014 (Informativo 553). nuance que amplifica o seu significado. A
defesa, além de ampla deve ser plena, pode
SEXTA TURMA ser exercida mediante defesa técnica e,
também, autodefesa, de modo a cercar o
DIREITO PROCESSUAL PENAL. ORDEM acusado de maiores garantias diante de um
DE FORMULAÇÃO DO QUESITO DA tribunal popular leigo que pode se amparar
ABSOLVIÇÃO ENQUANTO TESE inclusive em convicção íntima, julgando sem
DEFENSIVA PRINCIPAL EM RELAÇÃO AO a obrigação da fundamentação das decisões
QUESITO DA DESCLASSIFICAÇÃO. imposta ao magistrado togado. Nessa
conjuntura, por força do princípio da
“plenitude de defesa”, o juiz-presidente pode na afirmação da existência de crime doloso
formular quesito com base no interrogatório contra a vida por incompatibilidade lógica
do acusado, como expressão do exercício entre a tentativa e a ausência de animus
pleno do direito de autodefesa. Do mesmo necandi). Além do mais, vale lembrar que o
modo, se o juiz-presidente inferir tese quesito relativo à absolvição é obrigatório,
alternativa do interrogatório, deve formular devendo ser formulado independente das
quesito a respeito, mesmo que antagônica teses defensivas sustentadas em Plenário, e
em relação à tese sustentada pela defesa sua falta é que induz à nulidade absoluta do
técnica, não podendo rejeitar as teses sob o julgamento (HC 137.710-GO, Sexta Turma,
fundamento de que são incompatíveis. DJe 21/2/2011). Por isso, visando conferir
Nestes casos – em que há teses alternativas maior eficácia ao princípio da plenitude da
–, eventual conflito deve ser solucionado pela defesa, deve ser considerada a tese
regra da subsidiariedade. Dessa forma, em defensiva principal com primazia na
favor da “plenitude de defesa” no Tribunal do aplicação da norma, mormente quando mais
Júri, a tese principal deve preceder, em todos favorável ao réu, de modo que a tese de
os aspectos, as eventuais teses subsidiárias desclassificação, quando subsidiária, deve
sustentadas na defesa técnica ou na ser questionada somente após o quesito da
autodefesa. Sendo assim, considerando o absolvição, em caso de resposta negativa,
fato de que há norma processual que permite sob pena de, acaso acolhida a tese
a formulação do quesito sobre a subsidiária, faltar o quesito obrigatório
desclassificação antes ou depois do quesito relativo à tese principal e suprimir do
genérico da absolvição, estando a defesa Conselho de Sentença a autonomia do seu
assentada em tese principal absolutória veredicto. REsp 1.509.504-SP, Rel. Min.
(legítima defesa) e tese subsidiária Maria Thereza de Assis Moura, julgado em
desclassificatória (ausência de animus 27/10/2015, DJe 13/11/2015 (Informativo
necandi), a tese principal deve ser 573).
questionada antes da tese subsidiária, sob Sexta Turma
pena de causar enorme prejuízo para a DIREITO PROCESSUAL PENAL. DIREITO
defesa e evidente violação ao princípio da A RECUSAS IMOTIVADAS DE JURADOS
amplitude da defesa. Acerca do tema, aliás, PREVISTO NO ART. 469, CAPUT, DO CPP.
invoca-se entendimento doutrinário segundo Em procedimento relativo a processo da
o qual, seja diante de desclassificação competência do Tribunal do Júri, o direito
própria ou de imprópria, “se a participação de de a defesa recusar imotivadamente até 3
menor importância for apenas uma tese jurados (art. 468, caput, do CPP) é
subsidiária, tendo postulado a defesa, como garantido em relação a cada um dos réus,
tese principal, a legítima defesa, o quesito da ainda que as recusas tenham sido
desclassificação deverá ser formulado depois realizadas por um só defensor (art. 469 do
do terceiro quesito, sobre a inocência do CPP). De acordo com o art. 468, caput, do
acusado. Isso porque haveria grande CPP, o direito a até três recusas imotivadas é
prejuízo para a defesa, ficando praticamente da parte. Como cada réu é parte no
prejudicada eventual tese principal de processo, se houver mais de um réu, cada
absolvição, se o quesito sobre a participação um deles terá direito à referida recusa. Dessa
de menor importância fosse formulado antes forma, se o direito de recusa é do réu – e não
do quesito sobre ser o acusado inocente”. do defensor –, ao não se permitir o direito de
Além disso, acolhida a tese principal recusa em relação a cada um dos réus,
absolutória, inexiste nulidade decorrente da estar-se-ia não apenas desconsiderando o
falta do quesito relativo à desclassificação caput do art. 468 do CPP, mas, também,
quando proveniente de tese subsidiária, até violando o direito constitucional da plenitude
porque a desclassificação própria – de defesa. REsp 1.540.151-MT, Rel. Min.
diferentemente da desclassificação imprópria Sebastião Reis Júnior, julgado em
– sequer demanda quesito específico, 8/9/2015, DJe 29/9/2015 (Informativo 570).
podendo ser inferida a partir da resposta aos Sexta Turma
demais quesitos (como ocorre, DIREITO PROCESSUAL PENAL.
exemplificativamente, no caso de resposta ILEGITIMIDADE DO CORRÉU PARA
positiva ao quesito da tentativa, que resulta AJUIZAR MEDIDA CAUTELAR DE
SEQUESTRO DE BENS DOS DEMAIS dispensável a autorização judicial para a
CORRÉUS. sua realização. Como se extrai do art. 53, II,
O corréu – partícipe ou coautor – que teve da Lei 11.343/2006, a ação controlada tem
seus bens sequestrados no âmbito de como finalidade “[...] identificar e
denúncia por crime de que resulta responsabilizar maior número de integrantes
prejuízo para a Fazenda Pública (Decreto- de operações de tráfico [...]”. Nesse sentido,
Lei 3.240/1941) não tem legitimidade para a doutrina afirma que a ação controlada
postular a extensão da constrição aos consiste em retardar a intervenção policial
demais corréus, mesmo que o Ministério com a meta de atingir o “peixe graúdo”, sem
Público tenha manejado medida cautelar que se dissemine a prisão dos meros
de sequestro de bens somente em relação carregadores de drogas ilícitas, atuando por
àquele. O Decreto-Lei 3.240/1941 – diploma ordem dos verdadeiros comandantes da
plenamente vigente no nosso ordenamento operação, traficantes realmente perigosos.
jurídico, consoante jurisprudência do STJ –, Assim, a investigação policial que almeja
ao tratar do sequestro de bens de pessoas apenas obter informações mais concretas
indiciadas por crimes de que resulta prejuízo acerca de condutas e de paradeiro de
para a Fazenda Pública, dispõe, em seu art. determinado traficante, sem pretensão de
2º, que a legitimidade para postular a identificar outros suspeitos, não configura
constrição é do titular da ação penal. Nesse ação controlada, sendo dispensável a
sentido, o deferimento ou não da medida autorização judicial para a sua realização.
depende de requerimento do Ministério RHC 60.251-SC, Rel. Min. Sebastião Reis
Público, que, no exercício de suas funções, Júnior, julgado em 17/9/2015, DJe
tem autonomia e independência funcional 9/10/2015 (Informativo 570).
para agir de acordo com suas convicções ao Sexta Turma
buscar a aplicação da lei. Em assim sendo, DIREITO PROCESSUAL PENAL.
ainda que a pretexto de defender direito UTILIZAÇÃO DA JUSTIFICAÇÃO
fundamental ao tratamento justo, o corréu CRIMINAL PARA NOVA OITIVA DA
que teve seus bens sujeitos a sequestro não VÍTIMA.
tem legitimidade para postular o sequestro de A via adequada para nova tomada de
bens dos demais corréus. Nesse contexto, é declarações da vítima com vistas à
irrelevante a comparação da situação jurídica possibilidade de sua retratação é o pedido
do denunciado que teve seus bens de justificação (art. 861 do CPC), ainda
sequestrados (se é mero partícipe ou, no que ela já tenha se retratado por escritura
máximo, coautor) com a dos demais corréus pública. A justificação é o único meio que se
a fim de se constatar possível ofensa aos presta para concretizar essa nova prova a fim
princípios da isonomia e da de instruir pedido de revisão criminal, pois
proporcionalidade. Ademais, se o titular da não serve para a ação revisional prova
ação penal entendeu por bem pleitear a produzida unilateralmente, como a juntada da
medida apenas com relação a um dos declaração da vítima firmada em cartório no
denunciados, o que se pode fazer é se sentido de que o condenado não foi o autor
insurgir contra este fato na via adequada, do crime. Tal prova só é válida se,
não contra o que não foi feito. RMS 48.619- necessariamente, for produzida na
RS, Rel. Min. Maria Thereza de Assis justificação judicial com as cautelas legais
Moura, julgado em 15/9/2015, DJe (RvCr 177-DF, Terceira Seção, DJ 4/8/1997).
30/9/2015 (Informativo 570). Ademais, a retratação da vítima nada mais é
DIREITO PROCESSUAL PENAL. do que uma prova substancialmente nova.
HIPÓTESE DE INOCORRÊNCIA DE AÇÃO Desse modo, não há razão para não garantir
CONTROLADA. ao condenado, diante do princípio da
A investigação policial que tem como verdade real, a possibilidade de, na ação
única finalidade obter informações mais revisional, confrontar essa retratação – se
concretas acerca de conduta e de confirmada em juízo – com os demais
paradeiro de determinado traficante, sem elementos de convicção coligidos na
pretensão de identificar outros suspeitos, instrução criminal. RHC 58.442-SP, Rel. Min.
não configura a ação controlada do art. Sebastião Reis Júnior, julgado em
53, II, da Lei 11.343/2006, sendo 25/8/2015, DJe 15/9/2015 (Informativo 569).
Sexta Turma Tribunal de Apelação o exame, por única
DIREITO PROCESSUAL PENAL. DEFESA vez, de conformidade mínima da decisão dos
PRÉVIA COM PEDIDO DE INDICAÇÃO DE jurados com a prova dos autos. Assim, não
ROL DE TESTEMUNHAS A POSTERIORI. configura desrespeito ou afronta à soberania
O magistrado pode, de forma motivada, dos veredictos o acórdão que, apreciando
deferir o pedido apresentado em resposta recurso de apelação, conclui pela completa
à acusação pela defensoria pública no dissociação do resultado do julgamento pelo
sentido de lhe ser permitida a indicação Júri com o conjunto probatório produzido
do rol de testemunhas em momento durante a instrução processual, de maneira
posterior, tendo em vista que ainda não fundamentada. Dessa forma, embora seja
teria tido a oportunidade de contatar o possível até a absolvição por clemência, isso
réu. De fato, ultrapassado o prazo não pode se dar em um primeiro julgamento,
processual adequado, há preclusão do direito sem possibilidade de reexame pelo tribunal,
de se arrolar testemunha, em que pese ser que pode considerar, sim, que a decisão é
possível a admissão da oitiva requerida a manifestamente contrária à prova dos autos
destempo como testemunha do juízo, nos e submeter ao réu em um segundo
termos do art. 209 do CPP, tendo em vista julgamento. REsp 1.451.720-SP, Rel.
ser o magistrado o destinatário da prova. Na originário Min. Sebastião Reis Júnior, Rel.
hipótese em foco, no momento da para acórdão Min. Nefi Cordeiro, julgado
apresentação da defesa prévia, houve pedido em 28/4/2015, DJe 24/6/2015 (Informativo
de indicação de rol de testemunhas a 564).
posteriori. Assim, não há preclusão, pois não Sexta Turma
houve inércia da defesa, ficando ao prudente DIREITO PROCESSUAL PENAL.
arbítrio do magistrado o deferimento do PROGRESSÃO DE REGIME DO
pedido formulado. Além disso, diante da REINCIDENTE CONDENADO POR CRIME
impossibilidade do contato do defensor HEDIONDO.
público com o acusado e da busca da A progressão de regime para os
verdade real, o deferimento do pedido não condenados por crime hediondo dar-se-á,
viola os princípios da paridade de armas e do se o sentenciado for reincidente, após o
contraditório. Vale anotar, a propósito, que cumprimento de 3/5 da pena, ainda que a
não se trata, em casos tais, de testemunha reincidência não seja específica em crime
do juízo de que cuida o artigo 209 do CPP hediondo ou equiparado. Isso porque,
porque não há produção de prova conforme o entendimento adotado pelo STJ,
testemunhal de ofício, decorrendo de a Lei dos Crimes Hediondos não faz
indicação da própria parte as testemunhas distinção entre a reincidência comum e a
que, assim, não extrapolam o limite de oito específica. Desse modo, havendo
previsto na lei. REsp 1.443.533-RS, Rel. reincidência, ao condenado deverá ser
Min. Maria Thereza de Assis Moura, aplicada a fração de 3/5 da pena cumprida
julgado em 23/6/2015, DJe 3/8/2015 para fins de progressão do regime.
(Informativo 565). Precedentes citados: HC 173.992-MS, Quinta
Sexta Turma Turma, DJe 10/5/2012, HC 273.774-RS, Rel.
DIREITO PROCESSUAL PENAL. Quinta Turma, DJe 10/10/2014, HC 310.649-
ANULAÇÃO DA DECISÃO ABSOLUTÓRIA RS, Sexta Turma, DJe 27/2/2015. HC
DO JÚRI EM RAZÃO DA 301.481-SP, Rel. Min. Ericson Maranho
CONTRARIEDADE COM AS PROVAS DOS (Desembargador convocado do TJ-SP),
AUTOS. julgado em 2/6/2015, DJe 11/6/2015
Ainda que a defesa alegue que a (Informativo 563).
absolvição se deu por clemência do Júri, Sexta Turma
admite-se, mas desde que por uma única DIREITO PROCESSUAL PENAL.
vez, o provimento de apelação ANULAÇÃO DA PRONÚNCIA POR
fundamentada na alegação de que a EXCESSO DE LINGUAGEM.
decisão dos jurados contrariou Reconhecido excesso de linguagem na
manifestamente à prova dos autos (alínea sentença de pronúncia ou no acórdão
“d” do inciso III do art. 593 do CPP). O confirmatório, deve-se anular a decisão e
CPP, em seu art. 593, § 3º, garante ao os consecutivos atos processuais,
determinando-se que outra seja prolatada, ESPECIAIS PARA OPOSIÇÃO DE EXEÇÃO
sendo inadequado impor-se apenas o DE SUSPEIÇÃO.
desentranhamento e envelopamento. De É exigível procuração com poderes
início, cabe ressaltar que a jurisprudência do especiais para que seja oposta exceção
STJ era no sentido de que, havendo excesso de suspeição por réu representado pela
de linguagem, o desentranhamento e Defensoria Pública, mesmo que o
envelopamento da sentença de pronúncia ou acusado esteja ausente do distrito da
do acórdão confirmatório seria providência culpa. Segundo o art. 98 do CPP “Quando
adequada e suficiente para cessar a qualquer das partes pretender recusar o juiz,
ilegalidade, uma vez que, além de deverá fazê-lo em petição assinada por ela
contemplar o princípio da economia própria ou por procurador com poderes
processual, evita que o Conselho de especiais, aduzindo as suas razões
Sentença sofra influência do excesso de acompanhadas de prova documental ou do
linguagem empregado pelo prolator da rol de testemunhas”. A recusa do magistrado
decisão (HC 309.816-PE, Sexta Turma, DJe por suspeição imputa parcialidade do juiz que
11/3/2015; e REsp 1.401.083-SP, Quinta não declarou sua suspeição ou impedimento
Turma, DJe 2/4/2014). Ocorre que ambas as quando supostamente deveria tê-lo feito de
Turmas do STF têm considerado inadequada ofício, vinculando pessoalmente o excipiente
a providência adotada pelo STJ, assentando acerca das alegações que podem, inclusive,
que a solução apresentada pelo STJ não só representar crime contra a honra. Assim, a
configura constrangimento ilegal, mas manifestação da inequívoca vontade da parte
também dupla afronta à soberania dos interessada na recusa do magistrado por
veredictos assegurada à instituição do Júri, meio da subscrição da petição pela própria
tanto por ofensa ao CPP, conforme se extrai parte ou, quando representada em juízo, por
do art. 472, alterado pela Lei 11.689/2008, meio de procuração com poderes especiais,
quanto por contrariedade ao art. 5º, XXXVIII, é exigência legal que não pode ser
“c”, da CF, uma vez que o acesso à decisão dispensada, sob pena de negativa de
de pronúncia constitui garantia assegurada vigência ao comando expresso da norma. A
legal e constitucionalmente, de ordem pública propósito, a regularidade da representação
e de natureza processual, cuja disciplina é de processual é garantia da própria parte,
competência privativa da União (HC 103.037- evitando que o representante atue contra a
PR, Primeira Turma, DJe 31/5/2011). Assim, vontade do representado. Ademais, não pode
concluiu o STF que a providência adequada ser confundida com substituição da parte que
é a anulação da sentença e os consecutivos se encontra ausente (ou foragido). Com
atos processuais que ocorreram no processo efeito, ainda que independa de mandato para
principal. Logo, diante da evidência de que o o foro em geral (art. 128, XI, da LC 80/1994),
STF já firmou posição consolidada sobre o o defensor público não atua na qualidade de
tema, o mais coerente é acolher o substituto processual, mas de representante
entendimento lá pacificado, sob o risco de processual, devendo juntar procuração
que, postergada tal providência, outros sempre que a lei exigir poderes especiais,
julgados do STJ venham a ser cassados, não havendo falar em violação qualquer do
gerando efeitos maléficos na origem, direito de acesso ao Poder Judiciário. REsp
sobretudo o atraso dos feitos relacionados ao 1.431.043-MG, Rel. Min. Maria Thereza de
Tribunal do Júri. Assim, reconhecida a Assis Moura, julgado em 16/4/2015, DJe
existência de excesso de linguagem na 27/4/2015 (Informativo 560).
sentença pronúncia ou no acórdão
confirmatório, a anulação da decisão é Sexta Turma
providência jurídica adequada. AgRg no
REsp 1.442.002-AL, Rel. Min. Sebastião DIREITO PROCESSUAL PENAL.
Reis Júnior, julgado em 28/4/2015, DJe IMPOSSIBILIDADE DE SEGURADORA
6/5/2015 (Informativo 561). INTERVIR COMO ASSISTENTE DA
Sexta Turma ACUSAÇÃO EM PROCESSO QUE APURE
DIREITO PROCESSUAL PENAL. HOMICÍDIO DO SEGURADO.
PROCURAÇÃO COM PODERES A seguradora não tem direito líquido e
certo de figurar como assistente do
Ministério Público em ação penal na qual ANALISA ASTREINTES IMPOSTAS POR
o beneficiário do seguro de vida é JUÍZO CRIMINAL.
acusado de ter praticado o homicídio do É de 5 dias (art. 536 do CPC/1973) – e não
segurado. De acordo com o disposto no art. de 2 dias (art. 619 do CPP) – o prazo para
268 do CPP, em todos os termos da ação a oposição, por quem não seja parte na
pública, poderá intervir, como assistente do relação processual penal, de embargos de
Ministério Público, o ofendido ou seu declaração contra acórdão que julgou
representante legal, ou, na falta, o cônjuge, agravo de instrumento manejado em face
ascendente, descendente ou irmão. de decisão, proferida por juízo criminal,
Entretanto, na situação em análise, a que determinara, com base no art. 3º do
seguradora não é vítima do homicídio. Isso CPP, o pagamento de multa diária prevista
porque, como o sujeito passivo do crime de no CPC/1973 em razão de atraso no
homicídio é o ser humano e o bem jurídico cumprimento de ordem judicial de
protegido é a vida, o fato de existir eventual fornecimento de informações decorrentes
ofensa ao patrimônio da seguradora não a de quebra de sigilo no âmbito de inquérito
torna vítima desse crime. É bem verdade, policial. Diferentemente dos casos em que a
todavia, que há certas hipóteses em que são matéria discutida tenha natureza
legitimados a intervir como assistente de induvidosamente penal – casos em que o
acusação pessoas ou entidades que não prazo para a oposição de embargos
são, de fato, ofendidas pelo delito. Por declaratórios será de 2 dias (art. 619 do
exemplo, a Lei 7.492/1996 prevê, em seu art. CPP), e não de 5 dias (art. 536 do
26, parágrafo único, que “será admitida a CPC/1973) –, no caso em análise, várias
assistência da Comissão de Valores circunstâncias indicam que o juízo criminal,
Mobiliários – CVM, quando o crime tiver sido ao aplicar multa cominatória ao terceiro
praticado no âmbito de atividade sujeita à responsável pelo fornecimento de dados
disciplina e à fiscalização dessa Autarquia, e decorrentes da quebra de sigilo determinada
do Banco Central do Brasil quando, fora em inquérito policial, estabelece com este
daquela hipótese, houver sido cometido na uma relação jurídica de natureza cível.
órbita de atividade sujeita à sua disciplina e Primeiro, porque o responsável pelo
fiscalização”. No mesmo sentido, o CDC, em cumprimento da ordem judicial não é parte
seu art. 80, reza que “No processo penal na relação processual penal, mas apenas
atinente aos crimes previstos neste código, terceiro interessado. Segundo, pois a decisão
bem como a outros crimes e contravenções judicial foi tomada com apoio no CPC/1973,
que envolvam relações de consumo, poderão tanto assim que foi objeto de agravo de
intervir, como assistentes do Ministério instrumento; usou, por analogia, o art. 3º do
Público, os legitimados indicados no art. 82, CPP, mas o fundamento da medida foi a
inciso III e IV, aos quais também é facultado questão das astreintes – ou seja, a
propor ação penal subsidiária, se a denúncia cominação de multa diária por atraso no
não for oferecida no prazo legal”. Nesses cumprimento de ordem judicial –, tema
casos expressamente previstos em lei, a tipicamente cível. Terceiro, porquanto houve
legitimidade para a intervenção como interposição de agravo de instrumento, meio
assistente do Ministério Público é ampliada. de impugnação também previsto apenas na
Na espécie em exame, entretanto, não existe legislação processual civil. Ademais, essas
regra que garanta esse direito à seguradora circunstâncias suscitam, no mínimo, uma
recorrente. Logo, não há falar em violação a dúvida razoável quanto à natureza – cível ou
direito líquido e certo a autorizar a concessão criminal – da matéria objeto dos embargos. O
da ordem. RMS 47.575-SP, Rel. Min. Maria que há, portanto, de solucionar a questão em
Thereza de Assis Moura, julgado em discussão é a boa-fé processual da parte
14/4/2015, DJe 23/4/2015 (Informativo 560). interessada, princípio que, aliás, está sendo
Sexta Turma ainda mais reforçado pelo Novo CPC, que o
DIREITO PROCESSUAL CIVIL E situa como norte na atuação de todos os
PROCESSUAL PENAL. PRAZO PARA sujeitos processuais em feitos cíveis, o que
OPOSIÇÃO DE EMBARGOS DE haverá de também incidir, conforme disposto
DECLARAÇÃO CONTRA ACÓRDÃO QUE no art. 3º do CPP, nos feitos criminais,
mutatis mutandis. Ora, se o próprio CPP,
como também o CPC/1973, permite a PENAL DOLOSO PARA A FORMA
aceitação de um recurso por outro, como CULPOSA DO CRIME.
expressão do princípio da fungibilidade Quando na denúncia não houver
recursal – quando, por uma questão de descrição sequer implícita de
interpretação, a parte interpõe um recurso circunstância elementar da modalidade
por outro, ausente a má-fé –, deve-se culposa do tipo penal, o magistrado, ao
considerar um ônus muito grande não proferir a sentença, não pode
permitir que a questão principal venha a ser desclassificar a conduta dolosa do agente
analisada, por uma interpretação de que o – assim descrita na denúncia – para a
prazo dos embargos de declaração opostos à forma culposa do crime, sem a
decisão colegiada seria de dois dias e não de observância do regramento previsto no
cinco, apenas porque a matéria teria surgido art. 384, caput, do CPP. Com efeito, o dolo
no bojo de um inquérito policial. REsp direto é a vontade livre e consciente de
1.455.000-PR, Rel. originária Min. Maria realizar a conduta descrita no tipo penal. A
Thereza de Assis Moura, Rel. para culpa, por sua vez, decorre da violação ao
acórdão Min. Rogerio Schietti Cruz, dever objetivo de cuidado, causadora de
julgado em 19/3/2015, DJe 9/4/2015 perigo concreto ao bem jurídico tutelado. A
(Informativo 559). par disso, frise-se que, segundo a doutrina,
Sexta Turma “no momento de se determinar se a conduta
DIREITO PROCESSUAL PENAL. do autor se ajusta ao tipo de injusto culposo
LEGITIMIDADE DO MP PARA PROMOVER é necessário indagar, sob a perspectiva ex
MEDIDA QUE GARANTA O PAGAMENTO ante, se no momento da ação ou da omissão
DE MULTA PENAL. era possível, para qualquer pessoa no lugar
O Ministério Público tem legitimidade para do autor, identificar o risco proibido e ajustar
promover medida assecuratória que vise à a conduta ao cuidado devido
garantia do pagamento de multa imposta (cognoscibilidade ou conhecimento do risco
por sentença penal condenatória. É certo proibido e previsibilidade da produção do
que, com a edição da Lei 9.268/1996, a qual resultado típico)”. Nesse passo, a prova a ser
deu nova redação ao art. 51 do CP, produzida pela defesa, no decorrer da
modificou-se o procedimento de cobrança da instrução criminal, para comprovar a
pena de multa, passando-se a aplicar as ausência do elemento subjetivo do injusto
regras referentes à Fazenda Pública. Cabe culposo ou doloso, é diversa. Assim, não
referir, por oportuno, que não obstante a descrevendo a denúncia sequer
pena de multa tenha passado a ser implicitamente o tipo culposo, a
considerada dívida de valor, não perdeu sua desclassificação da conduta dolosa para a
natureza jurídica de sanção penal. Todavia, culposa, ainda que represente aparente
na hipótese em análise, discute-se a benefício à defesa, em razão de imposição
legitimidade do MP não para cobrança de de pena mais branda, deve observar a regra
pena de multa – esta sim de legitimidade da inserta no art. 384, caput, do CPP. Isso
Fazenda Pública –, mas para promover porque, após o advento da Lei 11.719/2008,
medida assecuratória, a qual está qualquer alteração do conteúdo da acusação
assegurada tanto pelos termos do art. 142 do depende da participação ativa do Ministério
CPP quanto pela própria titularidade da ação Público, não mais se limitando a situações de
penal, conferida pela Constituição Federal. imposição de pena mais grave, como previa
Precedentes citados: Resp 1.115.275-PR, a redação original do dispositivo. Portanto, o
Quinta Turma, DJe 4/11/2011); e RMS fato imputado ao réu na inicial acusatória, em
21.967-PR, Quinta Turma, DJe 2/3/2009. especial a forma de cometimento do delito,
REsp 1.275.834-PR, Rel. Min. Ericson da qual se infere o elemento subjetivo, deve
Maranho (Desembargador convocado do guardar correspondência com aquele
TJ-SP), julgado em 17/3/2015, DJe reconhecido na sentença, a teor do princípio
25/3/2015 (Informativo 558). da correlação entre acusação e sentença,
Sexta Turma corolário dos princípios do contraditório, da
DIREITO PROCESSUAL PENAL. MUTATIO ampla defesa e acusatório. REsp 1.388.440-
LIBELLI E DESCLASSIFICAÇÃO DO TIPO ES, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em
5/3/2015, DJe 17/3/2015 (Informativo 557).
Sexta Turma É possível a aplicação analógica dos arts.
DIREITO PROCESSUAL PENAL. RÉU 61 e 62 da Lei 11.343/2006 para admitir a
DENUNCIADO POR DELITO NA FORMA utilização pelos órgãos públicos de
CONSUMADA E POSTERIORMENTE aeronave apreendida no curso da
CONDENADO NA FORMA TENTADA. persecução penal de crime não previsto
O réu denunciado por crime na forma na Lei de Drogas, sobretudo se presente o
consumada pode ser condenado em sua interesse público de evitar a deterioração
forma tentada, mesmo que não tenha do bem. Isso porque, em primeiro lugar, de
havido aditamento à denúncia. acordo com o art. 3º do CPP, a lei processual
Inicialmente, vale ressaltar que a tentativa penal admitirá interpretação extensiva e
não é uma figura autônoma, pois a vontade aplicação analógica, bem como o suplemento
contrária ao direito existente na tentativa é dos princípios gerais de direito. Assim, é
igual à do delito consumado. Também possível, sobretudo porque permitido pelo
segundo a doutrina, o delito pleno e a próprio CPP, o uso da analogia, que consiste
tentativa não são duas diferentes em processo de integração por meio do qual
modalidades de delito, mas somente uma se aplica a uma determinada situação para a
diferente manifestação de um único delito. qual inexiste hipótese normativa própria um
Como o réu não se defende da capitulação preceito que regula hipótese semelhante.
da denúncia, mas do fato descrito na exordial Ressalte-se, ainda, que, para o uso da
acusatória, não há a nulidade por ofensa ao analogia, não importam a natureza da
art. 384 do CPP, quando o magistrado limita- situação concreta e a natureza do diploma de
se a dar definição jurídica diversa (crime onde se deve extrair a norma reguladora. Em
tentado) da que constou na denúncia (crime segundo lugar, porque a exigência contida no
consumado), inclusive aplicando pena menos art. 61 da Lei 11.343/2006, referente à
grave. HC 297.551-MG, Rel. Min. Rogerio existência de interesse público ou social,
Schietti Cruz, julgado em 5/3/2015, DJe encontra-se cumprida no presente caso, qual
12/3/2015 (Informativo 557). seja, evitar a deterioração do bem
Sexta Turma apreendido. Por fim, em terceiro lugar,
DIREITO PROCESSUAL PENAL. LIMITES porque a preocupação em se prevenir que a
À FUNDAMENTAÇÃO PER RELATIONEM. demora nos processos judiciais venha a
É nulo o acórdão que se limita a ratificar a propiciar a degeneração do bem apreendido
sentença e a adotar o parecer ministerial, é atual, existindo, inclusive, no projeto do
sem sequer transcrevê-los, deixando de novo Código de Processo Penal (PL
afastar as teses defensivas ou de 8.045/2010), seção específica a tratar do
apresentar fundamento próprio. Isso tema, sob o título “Da utilização dos bens por
porque, nessa hipótese, está caracterizada a órgãos públicos”, o que demonstra a efetiva
nulidade absoluta do acórdão por falta de ocorrência de lacuna no Código atualmente
fundamentação. De fato, a jurisprudência tem em vigor, bem como a clara intenção de
admitido a chamada fundamentação per supri-la. Decisão monocrática citada: Inq 603,
relationem, mas desde que o julgado faça Min. Paulo Gallotti, DJ 14/11/2008. REsp
referência concreta às peças que pretende 1.420.960-MG, Rel. Min. Sebastião Reis
encampar, transcrevendo delas partes que Júnior, julgado em 24/2/2015, DJe 2/3/2015
julgar interessantes para legitimar o (Informativo 556).
raciocínio lógico que embasa a conclusão a Sexta Turma
que se quer chegar. Precedentes citados: HC DIREITO PROCESSUAL PENAL.
220.562-SP, Sexta Turma, DJe 25/2/2013; e NECESSIDADE DE APRECIAÇÃO DAS
HC 189.229-SP, Quinta Turma, DJe TESES SUSCITADAS NA DEFESA
17/12/2012. HC 214.049-SP, Rel. originário PRELIMINAR.
Min. Nefi Cordeiro, Rel. para acórdão Min. Após a fase de apresentação de resposta
Maria Thereza de Assis Moura, julgado em à acusação, o magistrado, ao proferir
5/2/2015, DJe 10/3/2015 (Informativo 557). decisão que determina o prosseguimento
Sexta Turma do processo, deverá ao menos aludir
DIREITO PROCESSUAL PENAL. àquilo que fora trazido na defesa
UTILIZAÇÃO POR ÓRGÃO PÚBLICO DE preliminar, não se eximindo também da
BEM APREENDIDO. incumbência de enfrentar questões
processuais relevantes e urgentes. De absoluta superveniente. Não se trata,
fato, na fase do art. 397 do CPP, nada contudo, do caso aqui analisado, em que,
impede que o juiz faça consignar após iniciada a ação penal, ocorre
fundamentação de forma não exauriente, sob modificação da competência em razão da
pena de decidir o mérito da causa. Contudo, investidura, pelo réu, no curso do processo,
o julgador deve ao menos aludir àquilo que em cargo que atraia foro por prerrogativa de
fora trazido na defesa preliminar. Incumbe- função. De fato, a competência, quando
lhe, ainda, enfrentar questões processuais fixada a partir de regras do sistema, a priori,
relevantes e urgentes ao confirmar o aceite não se modifica, em obediência ao princípio
da exordial acusatória. Com efeito, a do juiz natural. No entanto, uma das
inauguração do processo penal, por hipóteses em que se dá a modificação da
representar significativo gravame ao status competência, sem ofensa ao referido
dignitatis, deve, sim, ser motivada. Dessa princípio, ocorre quando há alteração ratione
maneira, suprimida tão importante fase personae, fruto do cargo ou da função que
procedimental, preciosa conquista alguém venha a ocupar no curso do
democrática do Processo Penal pátrio, de processo. Assim, iniciada a ação penal
rigor é o reconhecimento da nulidade. RHC perante determinado juízo, com a
46.127-MG, Rel. Min. Maria Thereza de superveniência de condição que atraia o foro
Assis Moura, julgado em 12/2/2015, DJe especial por prerrogativa de função, deve o
25/2/2015 (Informativo 556). processo ser remetido, no estado em que se
Sexta Turma encontra, ao novo juízo competente. Nesse
DIREITO PROCESSUAL PENAL. caso, devem ser mantidos íntegros todos os
VALIDADE DE ATOS PROCESSUAIS atos processuais até então praticados, sob
PRATICADOS ANTES DE CAUSA pena de violação ao princípio tempus regit
SUPERVENIENTE DE MODIFICAÇÃO DA actum, uma vez que o juiz era competente
COMPETÊNCIA. antes da modificação. Desnecessária,
No caso em que, após iniciada a ação portanto, qualquer ratificação, visto que os
penal perante determinado juízo, ocorra atos até então praticados são válidos.
modificação da competência em razão da Ademais, ainda que, por mero preciosismo,
investidura do réu em cargo que atraia ocorra a ratificação, ela não precisará seguir
foro por prerrogativa de função, serão as regras que deveriam ser observadas para
válidos os atos processuais – inclusive o a prática, em ação originária, de atos
recebimento da denúncia – realizados equivalentes aos atos ratificados. Isso
antes da causa superveniente de significa dizer que a ratificação do
modificação da competência, sendo recebimento de denúncia ofertada em
desnecessária, no âmbito do novo juízo, primeiro grau não precisaria ser apreciada
qualquer ratificação desses atos, que, pelo colegiado do Tribunal competente para
caso ocorra, não precisará seguir as o julgamento da ação originária, sendo
regras que deveriam ser observadas para possível ao relator realizar monocraticamente
a prática, em ação originária, de atos essa ratificação, conforme, aliás, já se
equivalentes aos atos ratificados. manifestou o STF (RHC 120.356-DF,
Realmente, reconhecida a incompetência, a Primeira Turma, DJe de 30/10/2014). HC
posteriori, de determinado juízo, deve o 238.129-TO, Rel. originária Min. Maria
processo ser encaminhado ao juízo Thereza de Assis Moura, Rel. para
competente, que pode aproveitar os atos já acórdão Min. Rogerio Schietti Cruz,
praticados. Nesse sentido, a jurisprudência julgado em 16/9/2014, DJe 25/2/2015
do STF afirma que, nos casos de (Informativo 556).
incompetência absoluta, é possível a Sexta Turma
ratificação tanto dos atos sem caráter DIREITO PROCESSUAL PENAL.
decisório quanto dos atos decisórios (AgR no REQUERIMENTO DE SUSTENTAÇÃO
RE 464.894-PI, Segunda Turma, DJe ORAL REALIZADO APÓS O HORÁRIO
15/8/2008). Nesse contexto, verifica-se que a LIMITE DETERMINADO PELA
ratificação de atos processuais é PRESIDÊNCIA DO ÓRGÃO JULGADOR.
procedimento intrinsecamente ligado à ideia O advogado que teve deferido pedido de
de nulidade por incompetência relativa ou sustentação oral previamente formulado
ao relator por meio de petição e que e qualquer processo, qual seja, a busca da
compareceu à sessão de julgamento justiça. Considerando o viés do respeito ao
antes de apreciada a apelação pelo devido processo legal, o CPP ainda
colegiado não pode ser impedido de estabelece, no parágrafo único do art. 610,
exercer o seu direito sob a justificativa de que, “Anunciado o julgamento pelo
que, no dia da sessão de julgamento, não presidente, e apregoadas as partes, com a
se inscreveu, antes do término do horário presença destas ou à sua revelia, o relator
fixado pela Presidência do órgão julgador, fará a exposição do feito e, em seguida, o
para sustentação. A CF assegura, como presidente concederá, pelo prazo de 10 (dez)
alguns de seus princípios fundamentais, a minutos, a palavra aos advogados ou às
observância do devido processo legal, da partes que a solicitarem e ao procurador-
ampla defesa e do contraditório. Vistos, geral, quando o requerer, por igual prazo”.
portanto, como um direito da parte, o Dessa forma, não é possível cercear o direito
contraditório e o respeito a todas as regras do advogado de realizar a sustentação oral
que subjazem ao devido processo legal se em um processo que ainda não tenha sido
concretizam no exercício dos poderes apreciado, apesar de ele estar presente no
processuais necessários para agir ou momento do julgamento, tão somente porque
defender-se em juízo e para poder influir de não se inscreveu, antes do horário fixado
modo positivo no convencimento judicial. pela Presidência do órgão julgador, para a
São, desse modo, entendidos como o direito realização de pedido de sustentação oral.
à observância das normas que evitam a Ressalte-se, por fim, que não há ilegalidade
lesão ao próprio direito da parte, tornando-se, alguma no fato de se estabelecerem
portanto, uma garantia para o correto regramentos para, em reforço às normas
desenvolvimento do processo. Ademais, o regimentais de cada tribunal, conferir maior
art. 133 da CF também dispõe que o racionalidade e eficiência no
advogado é indispensável à administração da desenvolvimento das sessões; mas, havendo
justiça, o que demonstra a importância da conflito entre direito da parte (e do advogado)
sua atuação no processo judicial. Sob essa de realizar sustentação oral já deferida e
perspectiva, a Lei 8.906/1994 estabelece, em eventual restrição regulamentar, há de
seu art. 2º, § 2º, que “No processo judicial, o prevalecer aquele direito. REsp 1.388.442-
advogado contribui, na postulação de DF, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz,
decisão favorável ao seu constituinte, ao julgado em 18/12/2014, DJe 25/2/2015
convencimento do julgador, e seus atos (Informativo 556).
constituem múnus público”. Por ser o Sexta Turma
advogado um partícipe no processo de DIREITO PROCESSUAL PENAL.
administração da justiça, é assegurado a DESCONSTITUIÇÃO DE ACÓRDÃO DE
esse profissional, dentre outras prerrogativas, REVISÃO CRIMINAL QUE NÃO
a possibilidade de realizar sustentação oral. CORRESPONDE AO JULGAMENTO DO
Cabe ressaltar que a sustentação oral ÓRGÃO COLEGIADO.
permite ao advogado apresentar O Tribunal pode, a qualquer momento e
pessoalmente ao colegiado os argumentos de ofício, desconstituir acórdão de
indicados, por escrito, nas peças processuais revisão criminal que, de maneira
e, ainda, buscar, com o poder da fala, melhor fraudulenta, tenha absolvido o réu,
explicitar dados fáticos e jurídicos inerentes à quando, na verdade, o posicionamento
causa sob julgamento. É importante que prevaleceu na sessão de julgamento
ferramenta para chamar a atenção, durante a foi pelo indeferimento do pleito revisional.
realização do próprio julgamento, de pontos O processo, em sua atual fase de
relevantes a serem analisados pelo órgão desenvolvimento, é reforçado por valores
julgador, oportunizando aos magistrados que éticos, com especial atenção ao papel
não tiveram a possibilidade de manusear o desempenhado pelas partes, cabendo-lhes,
processo, de terem conhecimento dos além da participação para construção do
principais pontos a serem discutidos. A provimento da causa, cooperar para a
realização da sustentação oral proporciona, efetivação, a observância e o respeito à
portanto, maior lisura ao julgamento, veracidade, à integralidade e à integridade do
condizente com a finalidade precípua de todo que se decidiu, conforme diretrizes do Estado
Democrático de Direito. A publicação empregado na espécie há de ser o mesmo.
intencional de acórdão apócrifo – não Embora a hipótese em análise não reproduza
autêntico; ideologicamente falso; que não o caso de certidão de óbito falsa, retrata a
retrata, em nenhum aspecto, o julgamento elaboração de acórdão falso, de conteúdo
realizado – com o objetivo de beneficiar uma ideologicamente falsificado, sobre o qual se
das partes não pode reclamar a proteção de pretende emprestar os efeitos da coisa
nenhum instituto do sistema processual julgada, da segurança jurídica e da inércia da
(coisa julgada, segurança jurídica, etc.), jurisdição, o que ressoa absolutamente
mesmo após o seu trânsito em julgado. Com incongruente com a própria natureza da
efeito, ao sistema de invalidades processuais revisão criminal que é a de fazer valer a
se aplicam todas as noções da teoria do verdade. Não se trata, portanto, de
direito acerca do plano de validade dos atos rejulgamento da revisão criminal, muito
jurídicos de maneira geral. A validade do ato menos se está a admitir uma revisão criminal
processual diz respeito à adequação do pro societate. Trata-se de simples decisão
suporte fático que lhe subjaz e lhe serve de interlocutória por meio da qual o Poder
lastro. Nesse passo, não é possível estender Judiciário, dada a constatação de flagrante
ao ato ilícito os planos de validade e de ilegalidade na proclamação do resultado de
eficácia destinados somente aos atos seu julgado, porquanto sedimentado em
jurídicos lícitos, principalmente quando o realidade fática inexistente e em
suporte fático que lastreou o ato impugnado correspondente documentação fraudada,
foi objeto de fraude, operada na publicação. corrige o ato e proclama o resultado
Vale dizer, nenhum efeito de proteção do verdadeiro (veredicto). Pensar de modo
sistema processual pode ser esperado da diverso ensejaria ofensa ao princípio do
publicação de um acórdão cujo conteúdo e devido processo legal, aqui analisado sob o
resultado foram forjados. Sob esse viés, a prisma dos deveres de lealdade, cooperação,
atitude do Tribunal cingiu-se, apenas, a probidade e confiança, que constituem
desconsiderar o ilícito, o que poderia, nessa pilares de sustentação do sistema jurídico-
ordem de ideias, ser feito em qualquer processual. O processo, sob a ótica de
momento, mesmo sem provocação da parte qualquer de seus escopos, não pode tolerar
interessada. Ademais, a manutenção dos o abuso do direito ou qualquer outra forma de
efeitos da publicação ilícita refoge à própria atuação que enseje a litigância de má-fé.
finalidade da revisão criminal que, ao superar Logo, condutas contrárias à verdade,
a intangibilidade da sentença transitada em fraudulentas ou procrastinatórias conspurcam
julgado, cede espaço aos imperativos da o objetivo publicístico e social do processo, a
justiça substancial. Nesse ponto, é bem merecer uma resposta inibitória exemplar do
verdade que a revisão criminal encontra Poder Judiciário. Portanto, visto sob esse
limitações no direito brasileiro, e a principal prisma, não há como se tolerar, como
delas diz respeito à modalidade de decisão argumento de defesa, suposta inobservância
que pode desconstituir. Desde que instituída à segurança jurídica quando a estabilidade
a revisão criminal na Constituição de 1891, é da decisão que se pretende seja obedecida é
tradição do processo penal brasileiro assentada justamente em situação de fato e
reconhecer – tomando o princípio do favor rei em comportamento processual que o
como referência – que somente as sentenças ordenamento jurídico visa coibir. REsp
de condenação podem ser revistas. 1.324.760-SP, Rel. Min. Sebastião Reis
Entretanto, embora entre nós não se preveja, Júnior, Rel. para acórdão Min. Rogerio
normativamente, a possibilidade de revisão Schietti Cruz, julgado em 16/12/2014, DJe
do julgado favorável ao réu, a jurisprudência 18/2/2015 (Informativo 555).
do STF autoriza a desconstituição da decisão Sexta Turma
terminativa de mérito em que se declarou DIREITO PROCESSUAL PENAL. EFEITOS
extinta a punibilidade do acusado, em DO ARQUIVAMENTO DO INQUÉRITO
conformidade com os arts. 61 e 62 do CPP, POLICIAL PELO RECONHECIMENTO DE
tendo em vista a comprovação, posterior ao LEGÍTIMA DEFESA.
trânsito em julgado daquela decisão, de que Promovido o arquivamento do inquérito
o atestado de óbito motivador do decisum policial pelo reconhecimento de legítima
fora falsificado. Assim, o raciocínio a ser defesa, a coisa julgada material impede a
rediscussão do caso penal em qualquer mesmo tempo em que prevê ser a ação
novo feito criminal, descabendo perquirir penal pública condicionada à representação
a existência de novas provas. Isso porque a regra tanto para os crimes contra a
a decisão judicial que define o mérito do caso liberdade sexual quanto para os crimes
penal, mesmo no arquivamento do inquérito sexuais contra vulnerável, parece dispor que
policial, gera efeitos de coisa julgada a ação penal do crime de estupro de
material. Ademais, a decisão judicial que vulnerável é sempre incondicionada. A
examina o mérito e reconhece a atipia ou a interpretação que deve ser dada ao referido
excludente da ilicitude é prolatada somente dispositivo legal é a de que, em relação à
em caso de convencimento com grau de vítima possuidora de incapacidade
certeza jurídica pelo magistrado. Assim, na permanente de oferecer resistência à prática
dúvida se o fato deu-se em legítima defesa, a dos atos libidinosos, a ação penal seria
previsão legal de presença de suporte sempre incondicionada. Mas, em se tratando
probatório de autoria e materialidade exigiria de pessoa incapaz de oferecer resistência
o desenvolvimento da persecução criminal. apenas na ocasião da ocorrência dos atos
Ressalte-se que a permissão de libidinosos – não sendo considerada pessoa
desarquivamento do inquérito pelo vulnerável –, a ação penal permanece
surgimento de provas novas contida no art. condicionada à representação da vítima, da
18 do CPP e na Súmula 524/STF somente qual não pode ser retirada a escolha de
tem incidência quando o fundamento do evitar o strepitus judicii. Com este
arquivamento for a insuficiência probatória – entendimento, afasta-se a interpretação no
indícios de autoria e prova do crime. Pensar sentido de que qualquer crime de estupro de
o contrário permitiria a reabertura de vulnerável seria de ação penal pública
inquéritos por revaloração jurídica e afastaria incondicionada, preservando-se o sentido da
a segurança jurídica das soluções judiciais redação do caput do art. 225 do CP. HC
de mérito, como no reconhecimento da 276.510-RJ, Rel. Min. Sebastião Reis
extinção da punibilidade, da atipia ou de Júnior, julgado em 11/11/2014, DJe
excludentes da ilicitude. Precedente citado 1º/12/2014 (Informativo 553).
do STJ: RHC 17.389-SE, Quinta Turma, DJe Sexta Turma
7/4/2008. Precedente citado do STF: HC DIREITO PROCESSUAL PENAL. INÉPCIA
80.560-GO, Primeira Turma, DJe 30/3/2001. DE DENÚNCIA QUE IMPUTE A PRÁTICA
REsp 791.471-RJ, Rel. Min. Nefi Cordeiro, DE CRIME CULPOSO.
julgado em 25/11/2014, DJe 16/12/2014 É inepta a denúncia que imputa a prática
(Informativo 554). de homicídio culposo na direção de
Sexta Turma veículo automotor (art. 302 da Lei
DIREITO PROCESSUAL PENAL. 9.503/1997) sem descrever, de forma clara
NATUREZA DA AÇÃO PENAL EM CRIME e precisa, a conduta negligente, imperita
CONTRA A LIBERDADE SEXUAL. ou imprudente que teria gerado o
Procede-se mediante ação penal resultado morte, sendo insuficiente a
condicionada à representação no crime de simples menção de que o suposto autor
estupro praticado contra vítima que, por estava na direção do veículo no momento
estar desacordada em razão de ter sido do acidente. Isso porque é ilegítima a
anteriormente agredida, era incapaz de persecução criminal quando, comparando-se
oferecer resistência apenas na ocasião da o tipo penal apontado na denúncia com a
ocorrência dos atos libidinosos. De fato, conduta atribuída ao denunciado, não se
segundo o art. 225 do CP, o crime de verificar o preenchimento dos requisitos do
estupro, em qualquer de suas formas, é, em art. 41 do CPP, necessários ao exercício do
regra, de ação penal pública condicionada à contraditório e da ampla defesa. De fato, não
representação, sendo, apenas em duas se pode olvidar que o homicídio culposo se
hipóteses, de ação penal pública perfaz com a ação imprudente, negligente ou
incondicionada, quais sejam, vítima menor de imperita do agente, modalidades de culpa
18 anos ou pessoa vulnerável. A própria que devem ser descritas na inicial acusatória,
doutrina reconhece a existência de certa sob pena de se punir a mera conduta de
confusão na previsão contida no art. 225, envolver-se em acidente de trânsito, algo
caput e parágrafo único, do CP, o qual, ao irrelevante para o Direito Penal. A imputação,
sem a observância dessas formalidades, Paciente (...)” (STF, Segunda Turma, DJe
representa a imposição de indevido ônus do 1º/12/2012). No RHC 116.013-SP, por sua
processo ao suposto autor, ante a ausência vez, decidiu-se que “O efeito devolutivo
da descrição de todos os elementos inerente ao recurso de apelação permite que,
necessários à responsabilização penal observados os limites horizontais da matéria
decorrente da morte da vítima. Configura, questionada, o Tribunal aprecie em exaustivo
ademais, responsabilização penal objetiva, nível de profundidade, a significar que,
derivada da mera morte de alguém, em razão mantida a essência da causa de pedir e sem
de acidente causado na direção de veículo piorar a situação do recorrente, é legítima a
automotor. HC 305.194-PB, Rel. Min. manutenção da decisão recorrida ainda que
Rogerio Schietti Cruz, julgado em por outros fundamentos” (STF, Segunda
11/11/2014, DJe 1º/12/2014 (Informativo Turma, DJe 21/10/2012). No STJ, por ambas
553). as Turmas que compõem a Terceira Seção,
Sexta Turma a questão tem sido enfrentada. É bem
DIREITO PROCESSUAL PENAL. EFEITO verdade que, na Sexta Turma, há julgados
DEVOLUTIVO DA APELAÇÃO E conferindo maior limitação à possibilidade de
PROIBIÇÃO DA REFORMATIO IN PEJUS. se agregar novos fundamentos à sentença
O Tribunal, na análise de apelação (v.g., HC 223.524-SP, DJe 27/9/2013).
exclusiva da defesa, não está impedido de Entretanto, há diversas decisões em sentido
manter a sentença condenatória recorrida permissivo ao afastamento da incidência da
com base em fundamentação distinta da ne reformatio in pejus, decidindo-se que essa
utilizada em primeira instância, desde que proibição “não vincula o Tribunal aos critérios
respeitados a imputação deduzida pelo e fundamentos adotados pelo Juízo
órgão de acusação, a extensão cognitiva monocrático, mas apenas o impede de
da sentença impugnada e os limites da agravar a situação do réu” (HC 218.858-SP,
pena imposta no juízo de origem. De fato, DJe 26/3/2012). A seu turno, a Quinta Turma
o princípio do ne reformatio in pejus tem por perfilha entendimento – mais pacificado no
objetivo impedir que, em recurso exclusivo da âmbito do referido órgão julgador – de que a
defesa, o réu tenha agravada a sua situação, proibição da reforma para pior não impede
no que diz respeito à pena que lhe foi acréscimo de fundamentos (sopesadas as
impingida no primeiro grau de jurisdição. Não mesmas circunstâncias fáticas) pelo Tribunal
se proíbe, entretanto, que, em impugnação ad quem, desde que mantida a pena imposta
contra sentença condenatória, possa o órgão na instância original (v.g., HC 133.127-SP
de jurisdição superior, no exercício de sua Quinta Turma, DJe 13/10/2009). Cabe
competência funcional, agregar fundamentos ressaltar, por fim, que o tema em questão
à sentença recorrida, quer para aclarar-lhe a não é idêntico aos casos – que têm merecido
compreensão, quer para conferir-lhe melhor o correto repúdio do STJ e do STF – nos
justificação. E nem seria razoável sustentar quais, em ação de habeas corpus, o tribunal
essa proibição. Nesse sentido grassam supre o vício formal da decisão do juízo
diversos julgados dos Tribunais Superiores, singular para acrescentar fundamentos que,
notadamente em tema de individualização da v.g., venham a demonstrar a necessidade
pena, nos quais, não raro, o Tribunal, em concreta de uma prisão preventiva. Nessas
recurso exclusivo da defesa, de situações, tem-se entendido que “os
fundamentação livre e de efeito devolutivo argumentos trazidos no julgamento do
amplo, encontra outros fundamentos em habeas corpus original pelo Tribunal a quo,
relação à sentença impugnada, não para tendentes a justificar a prisão provisória, não
prejudicar o recorrente, mas para manter-lhe se prestam a suprir a deficiente
a reprimenda imposta no juízo singular, sob fundamentação adotada em primeiro grau,
mais qualificada motivação. A propósito, no sob pena de, em ação concebida para a
HC 106.113-MT, consignou-se que, para se tutela da liberdade humana, legitimar-se o
cogitar da reformatio in pejus, a decisão do vício do ato constritivo ao direito de
Tribunal “teria que reconhecer, em desfavor locomoção do paciente” (RHC 45.748/MG,
do Paciente, circunstância fática não Sexta Turma, DJe 26/5/2014). Precedentes
reconhecida em primeiro grau, de modo que citados: HC 68.220-PR, Sexta Turma, DJe
o recurso da defesa causaria prejuízo ao 9/3/2009; HC 276.006-SP, Sexta Turma, DJe
de 8/9/2014; e AgRg no AREsp 62.070-MG, pequeno potencial ofensivo. Trate-se de
Quinta Turma, DJe 23/10/2013. HC 302.488- simples condição do exercício da jurisdição,
SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, aplicando o direito aos fatos narrados na
julgado em 20/11/2014, DJe 11/12/2014 denúncia para a solução de temas urgentes
(Informativo 553). de conhecimento necessário. Cuida-se de
Sexta Turma manifestação em tudo favorável à defesa,
DIREITO PROCESSUAL PENAL. pois permite incidir desde logo direitos do
EMENDATIO LIBELLI ANTES DA acusado. Impedir o exame judicial em
SENTENÇA. qualquer fase do processo como meio de
O juiz pode, mesmo antes da sentença, aplicar direitos materiais e processuais
proceder à correta adequação típica dos urgentes, de conhecimento obrigatório ao
fatos narrados na denúncia para viabilizar, juiz, faz com que se tenha não somente a
desde logo, o reconhecimento de direitos mora no reconhecimento desses direitos,
do réu caracterizados como temas de como até pode torná-los prejudicados.
ordem pública decorrentes da Prejuízo pleno também pode ocorrer, como
reclassificação do crime. Com efeito, é no direito à transação penal ou sursis
válida a concessão de direito processual ou processual se realizado o correto
material urgente, em tema de ordem pública, enquadramento típico na sentença, ou
mesmo quando o fundamento para isso seja acórdão de apelação. Ou no enquadramento
decorrência de readequação típica dos fatos da supressão de valores mediante fraude
acusatórios, em qualquer fase do processo bancária como estelionato ou furto, pois
de conhecimento. De fato, o limite do caso diferentes os locais da consumação e, como
penal são os fatos indicados na peça incompetência relativa, sem renovação dos
acusatória. Irrelevante é a adequação típica atos no foro adequado. Assim, há direito do
indicada pelo agente ministerial, que em acusado a ver reconhecida a incompetência,
nada limita a persecução ou as partes do a prescrição, o direito à transação, a
processo – o juiz e mesmo o acusador inexistência de justa causa, e, se isso pode
podem compreender até a sentença que os reconhecer o magistrado sem dilação
fatos descritos caracterizam crimes outros. probatória, pela mera aplicação do direito aos
Daí porque não cabe ao juiz corrigir defeito fatos denunciados, pode e deve essa decisão
de enquadramento típico da denúncia – na dar-se durante a ação penal, como temas de
sentença simplesmente enquadrará os fatos ordem pública, mesmo antes da sentença.
ao direito, na forma do art. 383 do CPP, Se a solução do direito ao caso penal dá-se
como simples exercício de jurisdição. É a em regra pela sentença – daí os arts. 383 e
emendatio libelli reservada para o momento 384 do CPP – temas de ordem pública
da prolação da sentença, ocasião em que o podem ser previamente solvidos. HC
magistrado, após encerrada a instrução e 241.206-SP, Rel. Min. Nefi Cordeiro,
debates, decidirá o direito aos fatos julgado em 11/11/2014, DJe 11/12/2014
acusatórios – sem qualquer limitação de (Informativo 553).
enquadramento típico. Ocorre que matérias Sexta Turma
de ordem pública, de enfrentamento DIREITO PROCESSUAL PENAL.
necessário em qualquer fase processual – HIPÓTESE DE INCOMPETÊNCIA DA
como competência, trancamento da ação, JUSTIÇA MILITAR.
sursis processual ou prescrição –, podem Compete à Justiça Comum Estadual – e
exigir como fundamento inicial o adequado não à Justiça Militar Estadual – processar
enquadramento típico dos fatos acusatórios, e julgar suposto crime de desacato
como descritos (assim independendo da praticado por policial militar de folga
instrução). Não se trata de alteração do limite contra policial militar de serviço em local
do caso penal pela mudança do tipo penal estranho à administração militar. Isso
denunciado – irrelevante aos limites do caso porque essa situação não se enquadra em
penal – e sim de decidir se há direito material nenhuma daquelas previstas no art. 9º, II, do
ou processual de ordem pública, como, por CPM, que considera crimes militares, ainda
exemplo, a definição do direito à transação que possuam igual definição na lei penal
penal, porque os fatos denunciados comum, quando praticados: “a) por militar em
configuram em verdade crime diverso, de situação de atividade ou assemelhado,
contra militar na mesma situação ou aplicação é imediata. Contudo, conquanto
assemelhado; b) por militar em situação de atualmente o STJ admita o intercâmbio de
atividade ou assemelhado, em lugar sujeito à informações entre as instituições financeiras
administração militar, contra militar da
e a autoridade fiscal para fins de constituição
reserva, ou reformado, ou assemelhado, ou
civil; c) por militar em serviço ou atuando em de crédito tributário, o certo é que tal
razão da 364 entendimento não se estende à utilização de
tais dados para que seja deflagrada a
função, em comissão de natureza militar, ou persecução penal. Isso porque, como é
em formatura, ainda que fora do lugar sujeito cediço, o sigilo bancário é garantido no art. 5º
à administração militar contra militar da da CF, e para que haja o seu afastamento
reserva, ou reformado, ou civil; d) por militar exige-se ordem judicial que, também por
durante o período de manobras ou exercício, determinação constitucional, precisa ser
contra militar da reserva, ou reformado, ou fundamentada (art. 93, IX). Na hipótese,
assemelhado, ou civil; e) por militar em todavia, consta do termo de constatação,
situação de atividade, ou assemelhado, retenção e intimação, firmado por auditor
contra o patrimônio sob a administração fiscal da Receita Federal, que a sociedade
militar, ou a ordem administrativa militar”. empresária apresentou diversas notas fiscais
Precedentes citados: RHC 33.361-SP, Sexta e cópias dos extratos bancários das contas
Turma, DJe 16/5/2014; CC 115.597-MG, por ela movimentadas após ser regularmente
Terceira Seção, DJe 11/4/2012; e CC intimada. RHC 66.520-RJ, Rel. Min. Jorge
114.205-SP, Terceira Seção, DJe 9/11/2011. Mussi, julgado em 2/2/2016, DJe 15/2/2016
REsp 1.320.129-DF, Rel. Min. Rogerio (Informativo n. 577). Quinta Turma
Schietti Cruz, julgado em 20/11/2014, DJe
11/12/2014 (Informativo 553). DIREITO PROCESSUAL PENAL.
REJEIÇÃO DE INICIAL ACUSATÓRIA
DESACOMPANHADA DE DOCUMENTOS
HÁBEIS A DEMONSTRAR, AINDA QUE DE
ANO DE 2016
MODO INDICIÁRIO, A AUTORIA E A
MATERIALIDADE DO CRIME. Deve ser
DIREITO PROCESSUAL PENAL. rejeitada a queixa-crime que, oferecida antes
UTILIZAÇÃO NO PROCESSO PENAL DE de qualquer procedimento prévio, impute a
PROVAS OBTIDAS PELA prática de infração de menor potencial
ADMINISTRAÇÃO TRIBUTÁRIA. Os dados ofensivo com base apenas na versão do
bancários entregues à autoridade fiscal pela autor e na indicação de rol de testemunhas,
sociedade empresária fiscalizada, após desacompanhada de Termo Circunstanciado
regular intimação e independentemente de ou de qualquer outro documento hábil a
prévia autorização judicial, podem ser demonstrar, ainda que de modo indiciário, a
utilizados para subsidiar a instauração de autoria e a materialidade do crime. Isso
inquérito policial para apurar suposta prática porque a imputação penal desacompanhada
de crime contra a ordem tributária. De fato, a de documentos hábeis a demonstrar, ainda
Primeira Seção do STJ, ao apreciar o REsp que de modo indiciário, a autoria e a
1.134.665-SP (DJe 18/12/2009), submetido materialidade do crime, destituída, desse
ao rito do art. 543-C do CPC, consolidou o modo, de base empírica idônea, implica
entendimento de que a quebra do sigilo ausência de “justa causa”, fato que, nos
bancário sem prévia autorização judicial para termos do art. 395, III, do CPP, desautoriza a
fins de constituição de crédito tributário é instauração da persecutio criminis in iudicio.
autorizada pela Lei n. 8.021/1990 e pela LC De fato, a despeito de o rito dos Juizados
n. 105/2001, normas procedimentais cuja Especiais Criminais ser pautado pelos
critérios da oralidade, simplicidade e
informalidade, a inicial acusatória (queixa- ação penal privada. Nesse contexto, seria
crime ou denúncia), mesmo nas infrações de temerário dar início à persecução penal,
menor potencial ofensivo, deve vir mesmo sob o rito da Lei n. 9.099/1995, com
acompanhada com o mínimo embasamento base apenas na versão do querelante acerca
probatório, ou seja, com lastro probatório dos fatos, sem qualquer lastro probatório
mínimo apto a demonstrar, ainda que de mínimo a embasar a queixa-crime. RHC
modo indiciário, a efetiva realização do ilícito 61.822-DF, Rel. Min. Felix Fischer, julgado
penal. Dessa forma, mesmo nas infrações de em 17/12/2015, DJe 25/2/2016 (Informativo
menor potencial ofensivo, é necessária n. 577). Quinta Turma
análise da justa causa, seja na denúncia ou
DIREITO PROCESSUAL PENAL.
na queixa-crime. Trata-se, portanto, de um
COMPLEMENTAÇÃO DE DENÚNCIA COM
pressuposto processual que deve ser
ROL DE TESTEMUNHAS. A intimação do
averiguado, de plano, pelo magistrado, sob
Ministério Público para que indique as provas
pena de rejeição da inicial acusatória. Além
disso, como, no caso em análise, a queixa- que pretende produzir em Juízo e a juntada
crime crime foi oferecida antes de qualquer do rol de testemunhas pela acusação, após a
apresentação da denúncia, mas antes da
procedimento prévio, essa inicial acusatória
não pode se eximir 81 de um controle formação da relação processual, não são
jurisdicional acerca dos pressupostos causas, por si sós, de nulidade absoluta. Isso
porque, a despeito da previsão legal do
processuais. Diferentemente, seria a
hipótese em que a persecução penal é momento processual adequado para o
deflagrada por um Termo Circunstanciado arrolamento das testemunhas tanto para a
acusação (art. 41 do CPP) quanto para a
enviado pela autoridade policial, na qual
haverá, imediatamente, uma fase preliminar, defesa (arts. 396 e 396-A), aspectos
já lastreada com um suporte probatório procedimentais devem ser observados pelas
partes, devendo-se proceder a uma visão
mínimo. E, ao final, na impossibilidade de
aplicação dos institutos despenalizadores, a global do todo previsto, interpretando
inicial acusatória (denúncia ou queixa-crime) sistematicamente o CPP. E, nos termos do
art. 284 do CPC, aplicado subsidiariamente
seria ofertada, conforme dispõe o art. 77 da
Lei n. 9.099/1995. As partes terão a ao processo penal, por força do art. 3º do
Diploma Processual Penal, "Verificando o juiz
oportunidade de compor civilmente os danos,
ou, não havendo a composição, será que a petição inicial não preenche os
analisada a possibilidade de oferecimento de requisitos exigidos nos arts. 282 e 283, ou
que apresenta defeitos e irregularidades
transação penal. Caso não haja a aplicação
dos institutos acima referidos, a inicial capazes de dificultar o julgamento de mérito,
acusatória será apresentada oralmente ou determinará que o autor a emende, ou a
complete, no prazo de 10 dias" e, acaso se
por escrito. Nesse momento, o magistrado
analisará o preenchimento das condições da mantenha inerte a parte autora, deverá o
ação e dos pressupostos processuais, uma magistrado, aí sim, nos termos do parágrafo
único do art. 284 do CPC, indeferir a petição
vez que a apresentação da ação penal é
postergada para o final da fase preliminar. inicial. Referida previsão legal foi aprimorada
Todavia, no caso aqui analisado, há uma no Novo CPC, o qual dispõe no seu art. 319
que o juiz tem o dever de, ao verificar que a
peculiaridade, na medida em que a
deflagração do procedimento criminal petição inicial não preenche os requisitos
ocorreu com o oferecimento, de imediato, da legais dos arts. 319 e 320 ou que apresente
defeitos e irregularidades capazes de
queixa-crime. Assim, imprescindível uma
análise, ainda que perfunctória, de seus dificultar o julgamento de mérito, determinar
pressupostos, dentre estes a justa causa da ao autor que emende a inicial ou a
complemente, indicando com precisão o que
deve ser corrigido ou completado, quando, para a defesa". E, no caso em análise, a
tão somente após, estará legitimado a determinação de correção da petição inicial
indeferir a petição inicial, caso o vício não acusatória pelo magistrado, sem a indicação
seja suprimido. Com efeito, o nosso sistema das provas que deveriam ser requeridas pelo
processual é informado pelo princípio da Ministério Público, não ensejou qualquer
cooperação, sendo pois, o processo, um prejuízo ao réu, pois, como já ressaltado, o
produto da atividade cooperativa triangular juiz de primeiro grau abriu vista ao Parquet
entre o juiz e as partes, no qual todos devem antes mesmo da intimação e citação do
buscar a justa aplicação do ordenamento acusado para o oferecimento de resposta à
jurídico no caso concreto, não podendo o acusação, tendo a defesa amplas
magistrado se limitar a ser mero fiscal de possibilidades de contraditar os elementos
regras, devendo, ao contrário, quando probatórios até então requeridos, situação
constatar deficiências postulatórias das que demonstra a inexistência de violação dos
partes, indicá-las, precisamente, a fim de princípios do contraditório e da ampla defesa
evitar delongas desnecessárias e a extinção e de qualquer prejuízo ao réu. Vale observar
82 do processo sem a análise de seu mérito. especificamente quanto ao rol de
Assim, ainda que não observado o referido testemunhas que, ainda que o Parquet não
momento processual adequado para a tivesse indicado nenhuma testemunha, o juiz,
indicação das provas que pretendia produzir, nos termos do art. 209 do CPP, poderia
o que, em tese, pode levar ao determinar, a qualquer momento do
reconhecimento da preclusão na prática do processo, a oitiva daquelas que julgasse
referido ato processual, o certo é que o necessárias. Além do mais, no sistema
magistrado, verificando a irregularidade na processual penal brasileiro, o órgão
denúncia que pode levar ao seu jurisdicional é o destinatário da prova
indeferimento por ser inepta, tem o poder- produzida no processo, uma vez que será o
dever de determinar a intimação da parte competente para o processo e o julgamento
para que proceda à correção da petição do delito, nos termos preconizados pelo art.
inicial, sob pena de não o fazendo, ter que 155. Entendimento em sentido diverso viola o
reconhecer nulidade posterior, ensejando o próprio princípio do impulso oficial, pois o
desnecessário ajuizamento de nova ação magistrado, ainda que verifique alguma
penal. Vale observar, igualmente, que não se irregularidade em atos processuais
verifica violação do sistema acusatório, pois, praticados pelas partes, estaria impedido de
como já ressaltado anteriormente, o juiz, no determinar o seu saneamento, só lhe
caso, verificando irregularidade na denúncia restando, ao final, reconhecer a nulidade do
que poderia ensejar o reconhecimento de ato e provocar o desnecessário e evitável
sua inépcia por ausência de condição da ajuizamento de nova ação penal. Por fim,
ação, intimou o Parquet para que este ressalte-se que, de modo distinto, a Sexta
esclarecesse sua pretensão de produzir Turma entendeu, por maioria de votos, nos
provas em juízo, devendo indicá-las em caso autos do RHC 45.921-SP (DJe 29/5/2015),
positivo, não tendo, em nenhum momento, reconheceu a impossibilidade do Juiz
indicado precisamente qual(is) prova(s) determinar a intimação do Parquet para que
seria(m) esta(s). Logo, sua atividade foi de procedesse à inclusão das testemunhas
prevenção de extinção do processo sem quando verificado a ausência de indicação do
julgamento de mérito e não de substituição respectivo rol e do protesto pela produção
da atividade probatória das partes. Ademais, das provas na denúncia, sob pena de
o art. 563 do CPP determina que "Nenhum violação do sistema acusatório e de
ato será declarado nulo, se da nulidade não subversão das fases procedimentais
resultar nenhum prejuízo para a acusação ou previstas no Diploma Processual. Precedente
citado do STJ: HC 320.771-RS, Quinta própria Suprema Corte, por ocasião da
Turma, DJe 30/9/2015. Precedente citado do apreciação da RvC 5.448-MG (DJe
STF: RHC 86.793-CE, Primeira Turma, DJ 2/10/2015) e da RvC 5.426-DF (DJe
8/11/2005. RHC 37.587-SC, Rel. Min. 15/2/2011). Portanto, desde que observados
Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em os demais requisitos, conclui-se que o fato de
16/2/2016, DJe 23/2/2016 (Informativo n. a questão haver sido julgada pelo STF em
577). HC não afasta a possibilidade de que seja
apresentada no STJ a revisão criminal. RvCr
Terceira Seção
2.877-PE, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado
DIREITO PROCESSUAL PENAL. REVISÃO em 25/2/2016, DJe 10/3/2016 (Informativo n.
CRIMINAL NA HIPÓTESE EM QUE A 578). QUINTA TURMA Voltar ao Sumário.
QUESTÃO ATACADA TAMBÉM TENHA Quinta Turma
SIDO ENFRENTADA PELO STF EM HC. O DIREITO PROCESSUAL PENAL. HC E
julgamento pelo STF de HC impetrado contra MEDIDAS PROTETIVAS PREVISTAS NA
decisão proferida em recurso especial não LEI MARIA DA PENHA. Cabe habeas
afasta, por si só, a competência do STJ para corpus para apurar eventual ilegalidade na
processar e julgar posterior revisão criminal. fixação de medida protetiva de urgência
Inicialmente, destaca-se que não pode consistente na proibição de aproximar-se de
subsistir o recente posicionamento adotado vítima de violência doméstica e familiar. O
pela Terceira Seção do STJ, no sentido de eventual descumprimento de medidas
ser inviável que o STJ, ao julgar revisão protetivas arroladas na Lei Maria da Penha
criminal, revise questão por ele decidida que pode gerar sanções de natureza civil (art. 22,
também fora enfrentada pelo STF em HC § 4º, da n. Lei 11.340/2006, c/c art. 461, §§
(AgRg na RvCr 2.253-RJ, DJe 28/4/2014). 5º e 6º do CPC), bem como a decretação de
Isso porque a perpetuidade desse prisão preventiva, de acordo com o art. 313,
entendimento significaria obstáculo III, do CPP (HC 271.267-MS, Quinta Turma,
intransponível ao manejo de revisão criminal DJe 18/11/2015). Ademais, prevê o CPP o
nessas hipóteses. De fato, quando o STJ seguinte: “Art. 647. Dar-se-á habeas corpus
julga determinada questão em recurso sempre que alguém sofrer ou se achar na
especial, afasta-se a competência do iminência de sofrer violência ou coação ilegal
Tribunal de origem para o processamento e na sua liberdade de ir e vir, salvo nos casos
julgamento de revisão criminal quanto ao de punição disciplinar”. Se o paciente não
tema, competência que passa a ser exercida pode aproximar-se da vítima ou de seus
pelo Tribunal Superior. Ademais, compete ao familiares, decerto que se encontra limitada a
STF processar e julgar, originariamente, a sua liberdade de ir e vir. Assim, afigura-se
revisão criminal de seus julgados (art. 102, I, cabível a impetração do habeas corpus. HC
“j”, da CF), sendo que, no Regimento Interno 298.499-AL, Rel. Min. Reynaldo Soares da
desse Tribunal, existe a previsão de se Fonseca, julgado em 1º/12/2015, DJe
admitir a revisão criminal dos processos 9/12/2015 (Informativo n. 574). Quinta Turma
findos cuja condenação tenha sido proferida
ou mantida no julgamento de ação penal DIREITO PROCESSUAL PENAL.
originária, recurso criminal ordinário (art. 263) HIPÓTESE DE DEFERIMENTO DE
ou, se o fundamento coincidir com a questão ASSISTÊNCIA À ACUSAÇÃO. É possível a
federal apreciada, recurso extraordinário (art. intervenção dos pais como assistentes da
263, § 1º). Assim, o STF não seria acusação na hipótese em que o seu filho
competente para o julgamento de revisão tenha sido morto, mas, em razão do
criminal proposta contra julgado proferido em reconhecimento de legítima defesa, a
HC. O que, aliás, já foi reconhecido pela denúncia tenha imputado ao réu apenas o
crime de porte ilegal de arma de fogo. Ministério Público. Assim, deve ser mitigado
Inicialmente, verifica-se que existe o rigor da análise acerca da presença do
controvérsia acerca da natureza jurídica da interesse jurídico que autorize a assistência,
assistência à acusação, pois enquanto parte afastando-se a exigência consistente na
da doutrina acentua que esse instituto absoluta vinculação entre a pretensão do
justifica-se pela necessidade de proteção de interveniente e o objeto jurídico do tipo penal
interesses de natureza privada no curso da imputado na denúncia. Isso porque, por
ação penal pública, outro segmento vezes, diante de peculiaridades do caso
doutrinário entende que existe interesse do concreto, interesses jurídicos podem assumir
assistente na própria justiça da sanção caráter metaindividual e, pulverizados sobre
imposta ao condenado, ressaltando a as relações que permeiam o núcleo da
harmonia do instituto com a visão demanda, podem merecer proteção jurídica
democrática do Estado e do processo e com igualmente legítima. RMS 43.227-PE, Rel.
a capacidade dele ser um instrumento hábil a Min. Gurgel de Faria, julgado em 3/11/2015,
viabilizar o controle, em caráter DJe 7/12/2015 (Informativo n. 574). Quinta
complementar àquele exercido pelo Poder Turma
Judiciário, da atividade acusatória do
DIREITO PROCESSUAL PENAL.
Ministério Público. Delineado isso, quanto à
MOMENTO DA APRESENTAÇÃO DE
análise da legitimidade para o exercício da
EXCEÇÃO DA VERDADE. Nas demandas
assistência à acusação, tem-se que o art.
268 do CPP autoriza a intervenção na ação que seguem o rito dos processos de
penal pública, como assistente do Ministério competência originária dos Tribunais
Superiores (Lei n. 8.038/1990), é tempestiva
Público, do ofendido ou de seu representante
legal, ou, na falta destes, de qualquer das a exceção da verdade apresentada no prazo
pessoas mencionadas no art. 31 do mesmo da defesa prévia (art. 8º), ainda que o
acusado tenha apresentado defesa
diploma processual (cônjuge, ascendente,
descendente ou irmão). A realização de preliminar (art. 4º). Como é cediço, a exceção
interpretação literal desse dispositivo poderia da verdade é meio processual de defesa
indireta do réu, podendo ser apresentada nos
levar à conclusão de que, no caso em que for
afastada a ilicitude em relação à morte do processos em que se apuram crimes de
calúnia (art. 138, § 3º, do CP) e de
filho dos habilitandos, pelo reconhecimento
da legítima defesa, e restringindo-se a difamação, quando praticados em detrimento
denúncia ao crime de porte ilegal de arma de de funcionário público no exercício de suas
funções (art. 139, parágrafo único, do CP).
fogo – que tem por vítima a própria
sociedade –, desapareceria a figura do Nesse contexto, o art. 523 do CPP, que cuida
ofendido prevista no art. 268 do CPP e, do rito relativo aos crimes contra a honra,
prevê a possibilidade de contestação à
consequentemente, o próprio interesse
jurídico da intervenção na ação penal. exceção da verdade, no prazo de 2 dias,
Entretanto, entende-se que a interpretação porém não dispõe sobre o prazo para sua
apresentação, que é a celeuma trazida na
do mencionado artigo, no concernente à
delimitação dos legitimados para o exercício presente discussão. Diante disso, tem-se
da assistência à acusação, deve tomar em entendido, por meio de uma interpretação
sistemática, que o referido instituto defensivo
consideração principalmente a finalidade da
intervenção. Sob esse aspecto, é salutar deve ser apresentado na primeira
tratar o instituto processual como expressão oportunidade em que a defesa se manifestar
nos autos, portanto, no momento da
do Estado Democrático de Direito e até
mesmo como modalidade de controle da apresentação da resposta à acusação, no
função acusatória atribuída privativamente ao prazo de 10 dias, previsto no art. 396 do
CPP. No entanto, o rito dos processos que
tramitam em Tribunais Superiores prevê a adotado, deve ser o primeiro momento para a
apresentação de defesa preliminar antes defesa se manifestar nos autos, após o
mesmo do recebimento da denúncia, no efetivo início da ação penal. Portanto, o
prazo de 15 dias, conforme dispõe o art. 4º prazo para a defesa apresentar a exceção da
da Lei n. 8.038/1990. Prevê, ademais, após o verdade, nos processos da competência de
recebimento da denúncia, o prazo de 5 dias Tribunal, deve ser o previsto no art. 8º da Lei
para a defesa prévia, contado do n. 8.038/1990. HC 202.548-MG, Rel. Min.
interrogatório ou da intimação do defensor Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em
dativo, nos termos do art. 8º da referida Lei. 24/11/2015, DJe 1º/12/2015 (Informativo n.
Nessa conjuntura, com base na Lei n. 574). Quinta Turma
8.038/1990, há quem defenda que a exceção
DIREITO PROCESSUAL PENAL.
da verdade deve ser apresentada no prazo
TRAMITAÇÃO DIRETA DE INQUÉRITO
do art. 4º e há quem entenda que o prazo
POLICIAL ENTRE A POLÍCIA FEDERAL E
deve ser contado nos termos do art. 8º. Um
O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL. Não é
exame superficial poderia levar a crer que a
primeira oportunidade para a defesa se ilegal a portaria editada por Juiz Federal que,
fundada na Res. CJF n. 63/2009, estabelece
manifestar nos autos, de fato, é no prazo de
15 dias, antes mesmo do recebimento da a tramitação direta de inquérito policial entre
denúncia. Contudo, sem o recebimento da a Polícia Federal e o Ministério Público
Federal. De fato, o inquérito policial
inicial acusatória, nem ao menos é possível
processar a exceção da verdade, que tramita “qualifica-se como procedimento
simultaneamente com a ação penal, devendo administrativo, de caráter pré-processual,
ordinariamente vocacionado a subsidiar, nos
ser resolvida antes da sentença de mérito.
Note-se que a exceção da verdade, em casos de infrações perseguíveis mediante
virtude da necessidade de se fazer prova do ação penal de iniciativa pública, a atuação
persecutória do Ministério Público, que é o
alegado, até mesmo por meio de instrução
processual, não pode de plano impedir o verdadeiro destinatário dos elementos que
recebimento da denúncia, porquanto compõem a „informatio delicti‟” (STF, HC
89.837-DF, Segunda Turma, DJe
demanda dilação probatória, inviável nesta
sede. De fato, no momento da defesa 20/11/2009). Nesse desiderato, a tramitação
direta de inquéritos entre a Polícia Judiciária
preliminar (art. 4º), nem ao menos se iniciou
a ação penal, razão pela qual não seria e o órgão de persecução criminal traduz
apropriado apresentar referida defesa antes expediente que, longe de violar preceitos
constitucionais, atende à garantia da duração
do recebimento da denúncia. Ademais,
conforme entendimento jurisprudencial e razoável do processo – pois lhe assegura
doutrinário, a exceção da verdade possui célere tramitação –, bem como aos
postulados da economia processual e da
natureza jurídica de ação declaratória
incidental, o que, igualmente, pressupõe a eficiência. Ressalte-se que tal constatação
prévia instauração da ação penal. Assim, não afasta a necessidade de observância, no
bojo de feitos investigativos, da chamada
cuidando-se a exceção da verdade de
instrumento que veicula matéria de defesa cláusula de reserva de jurisdição, qual seja, a
indireta de mérito, formalizada por meio de necessidade de prévio pronunciamento
judicial quando for necessária a adoção de
verdadeira ação declaratória incidental,
mostrase imprescindível a prévia instauração medidas que possam irradiar efeitos sobre as
da ação penal, por meio do efetivo garantias individuais. Ademais, não se pode
alegar que haveria violação do princípio do
recebimento da denúncia. Dessarte, o prazo
para apresentação da exceção da verdade, contraditório e do princípio da ampla defesa
independentemente do rito procedimental ao se impedir o acesso dos autos de
inquérito pelos advogados, o que também
desrespeitaria o exercício da advocacia como APÓS ENTRADA EM VIGOR DA LEI N.
função indispensável à administração da 11.689/2008. Após a entrada em vigor da Lei
Justiça e o próprio Estatuto da Advocacia, n. 11.689/2008, em 8 de agosto de 2008, o
que garante o amplo acesso dos autos pelos reexame necessário de decisão absolutória
causídicos. Isso porque o art. 5º da Res. CJF sumária proferida em procedimento do
n. 63/2009 prevê expressamente que “os Tribunal do Júri que estiver pendente de
advogados e os estagiários de Direito apreciação não deve ser examinado pelo
regularmente inscritos na Ordem dos Tribunal ad quem, mesmo que o
Advogados do Brasil terão direito de encaminhamento da decisão absolutória à
examinar os autos do inquérito, devendo, no instância superior tenha ocorrido antes da
caso de extração de cópias, apresentar o seu entrada em vigor da referida Lei. Por força do
requerimento por escrito à autoridade que dispõe o art. 2º do CPP, as normas
competente”. Faz-se mister destacar que, processuais possuem aplicação imediata
não obstante a referida Resolução do CJF quando de sua entrada em vigor. Assim, as
ser objeto, no STF, de ação direta de remessas necessárias não remetidas aos
inconstitucionalidade – ADI 4.305 –, o feito, Tribunais ou não julgadas por estes até 8 de
proposto em 2009 pela Associação Nacional agosto de 2008, data em que a Lei n.
dos Delegados de Polícia Federal, ainda está 11.689/2008 – que provocou a eliminação do
concluso ao relator, não havendo notícia de recurso de ofício nos casos de absolvição
concessão de pedido liminar. Assim, sumária – passou a ser exigida, em virtude
enquanto não existir manifestação da Corte da vacatio legis de 60 dias, não podem mais
Suprema quanto ao tema, deve ser mantida ser apreciadas, uma vez que tal
a validade da Resolução. Registre-se, procedimento, necessário apenas para dar
ademais, que não se olvida a existência de eficácia à sentença de absolvição sumária no
julgado do STF, nos autos da ADI 2.886, em procedimento do Tribunal do Júri, já não mais
que se reconhece a inconstitucionalidade de está em vigor, por força do princípio tempus
lei estadual que determinava a tramitação regit actum. Vale dizer, a norma adjetiva que
direta do inquérito policial entre o Ministério simplesmente altera o rito procedimental,
Público e a Polícia Judiciária, por entender sem qualquer desdobramento de direito
padecer a legislação de vício formal. Apesar material, tem aplicação imediata. Além disso,
de o referido julgamento ter sido finalizado não obstante a sentença de absolvição
em abril de 2014, convém destacar que se sumária e o encaminhamento da remessa
iniciou em junho de 2005, sendo certo que, necessária ao Tribunal ocorrer sob a égide
dos onze Ministros integrantes da Corte (que da antiga redação do CPP e o julgamento do
votaram ao longo desses nove anos), quatro recurso de ofício ser posterior à reforma
ficaram vencidos, e que, dos votos promovida pela Lei n. 11.689/2008, nessas
vencedores, três ministros não mais integram circunstâncias, a condição de eficácia da
o Tribunal. Assim, não há como afirmar como sentença de absolvição sumária não se
certa a possível declaração da encontra praticada a tempo, sendo atingida
inconstitucionalidade da Resolução do CJF pela nova legislação, tornando-se
objeto da ADI 4.305. RMS 46.165-SP, Rel. despicienda. Em outras palavras, o ato
Min. Gurgel de Faria, julgado em 19/11/2015, processual que serve de parâmetro para
DJe 4/12/2015 (Informativo n. 574). Quinta verificação da incidência do princípio tempus
Turma regit actum é o julgamento do recurso de
ofício e não o simples encaminhamento do
DIREITO PROCESSUAL PENAL.
procedimento para o Tribunal. Caso
REEXAME NECESSÁRIO DE SENTENÇA houvesse ocorrido o julgamento antes de 8
ABSOLUTÓRIA SUMÁRIA EM de agosto de 2008, não haveria dúvidas
PROCEDIMENTO DO TRIBUNAL DO JÚRI
acerca da validade do ato, ex vi da parte final convocado do TJ/PE), Rel. para acórdão Min.
do art. 2º do CPP. Ademais, convém apontar Felix Fischer, julgado em 9/6/2015, DJe
elucidativo entendimento doutrinário de que 30/11/2015 (Informativo n. 574). SEXTA
“a remessa necessária não é recurso, mas TURMA Voltar ao Sumário. Sexta Turma
condição de eficácia da sentença. Sendo
DIREITO PROCESSUAL PENAL.
figura processual distinta da do recurso, a ela
INQUIRIÇÃO DE TESTEMUNHAS PELO
não se aplicam as regras de direito
MAGISTRADO E AUSÊNCIA DO MP NA
intertemporal processual vigentes para eles:
AUDIÊNCIA DE INSTRUÇÃO. Não gera
a) o cabimento do recurso rege-se pela lei
vigente à época da prolação da decisão; b) o nulidade do processo o fato de, em audiência
de instrução, o magistrado, após o registro
procedimento do recurso rege-se pela lei
vigente à época da prolação da decisão”. Por da ausência do representante do MP (que,
essa razão, não é possível estender o mesmo intimado, não compareceu),
complementar a inquirição das testemunhas
raciocínio empregado para o cabimento do
protesto por novo júri em processos realizada pela defesa, sem que o defensor
sentenciados antes da Lei n. 11.689/2008 tenha se insurgido no momento oportuno
nem demonstrado efetivo prejuízo. Destaca-
para a remessa necessária ou recurso de
ofício, uma vez que estaríamos a comparar se, inicialmente, que a ausência do
institutos com diferentes naturezas jurídicas. representante do Ministério Público ao ato,
se prejuízo acarretasse, seria ao próprio
Isso porque o protesto por novo júri era
recurso, cujo pressuposto básico de órgão acusatório, jamais à defesa, e,
interposição, dentre outros, é a portanto, não poderia ser por esta invocado,
porquanto, segundo o que dispõe o art. 565
voluntariedade, ou seja, “a sua interposição
depende, exclusivamente, do desejo da parte do CPP, “Nenhuma das partes poderá arguir
de contrariar a decisão proferida”. Por sua nulidade [...] referente a formalidade cuja
observância só à parte contrária interesse”.
vez, a remessa necessária ou recurso de
ofício, “trata-se de terminologia equivocada De mais a mais, as modificações introduzidas
do Código de Processo Penal, uma vez que pela Lei n. 11.690/2008 ao art. 212 do CPP
não retiraram do juiz a possibilidade de
recurso é demonstração do inconformismo,
visando à reforma do julgado, motivo pelo formular perguntas às testemunhas, a fim de
complementar a inquirição, na medida em
qual não tem cabimento sustentar que o juiz,
ao decidir qualquer questão, 'recorre' de que a própria legislação adjetiva lhe incumbe
ofício de seu próprio julgado”. Nessa linha do dever de se aproximar o máximo possível
da realidade dos fatos (princípio da verdade
intelectiva, reconhecer o cabimento do
protesto por novo júri para processos já real e do impulso oficial), o que afasta o
sentenciados ao tempo da edição da Lei n. argumento de violação ao sistema
acusatório. Na hipótese em análise, a oitiva
11.689/2008 é dar primazia ao postulado
constitucional do devido processo legal, das testemunhas pelo magistrado, de fato,
garantindo ao réu condenado a pena igual ou obedeceu à exigência de
complementaridade, nos termos do que
superior a 20 anos de reclusão antes de 8 de
agosto de 2008 o direito a um novo determina o art. 212 do CPP, pois somente
julgamento. Em contrapartida, o reexame ocorreu após ter sido registrada a ausência
do Parquet e dada a palavra à defesa para a
necessário para as sentenças de absolvição
sumária não é direito, mas sim procedimento realização de seus questionamentos. Vale
de perfectibilização da coisa julgada, sem o ressaltar, ainda, que a jurisprudência do STJ
se posiciona no sentido de que eventual
qual, nos termos da Súmula n. 423 do STF,
ela não ocorreria. HC 278.124-PI, Rel. Min. inobservância ao disposto no art. 212 do
Leopoldo de Arruda Raposo (Desembargador CPP gera nulidade meramente relativa,
sendo necessário, para seu reconhecimento,
a alegação no momento oportuno e a voltada à prática de crimes hábil a justificar
comprovação do efetivo prejuízo (HC ameaça a garantia da ordem pública.
186.397-SP, Quinta Turma, DJe 28/6/2011; e Portanto, o cometimento de atos infracionais
HC 268.858-RS, Quinta Turma, DJe somente terão efeito na apuração de outros
3/9/2013). Precedentes citados: AgRg no atos infracionais, amparando, v.g., a
REsp 1.491.961-RS, Quinta Turma, DJe internação (art. 122, II, do ECA), e não a
14/9/2015; e HC 312.668-RS, Quinta Turma, prisão preventiva em processo criminal. HC
DJe 7/5/2015. REsp 1.348.978-SC, Rel. Min. 338.936- SP, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado
Rogerio Schietti Cruz, Rel. para acórdão Min. em 17/12/2015, DJe 5/2/2016 (Informativo n.
Nefi Cordeiro, julgado em 17/12/2015, DJe 576). Sexta Turma
17/2/2016 (Informativo n. 577). Sexta Turma
DIREITO PROCESSUAL PENAL.
DIREITO PROCESSUAL PENAL. INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA E ENVIO
PROIBIÇÃO DE AGRAVAR A PENA EM À INSTÂNCIA ESPECIAL DE DIÁLOGO
RECURSO EXCLUSIVO DA DEFESA. No ENVOLVENDO TERCEIRO NÃO
âmbito de recurso exclusivo da defesa, o INVESTIGADO DETENTOR DE
Tribunal não pode agravar a reprimenda PRERROGATIVA DE FORO. Durante
imposta ao condenado, ainda que reconheça interceptação telefônica deferida em primeiro
equívoco aritmético ocorrido no somatório grau de jurisdição, a captação fortuita de
das penas aplicadas. Isso porque, não tendo diálogos mantidos por autoridade com
o Ministério Público se insurgido contra o prerrogativa de foro não impõe, por si só, a
referido erro material, o Tribunal não pode remessa imediata dos autos ao Tribunal
conhecê-lo de ofício, sob pena de competente para processar e julgar a referida
configuração de reformatio in pejus. autoridade, sem que antes se avalie a
Precedentes citados: HC 115.501-MG, Sexta idoneidade e a suficiência dos dados
Turma, DJe 3/8/2015; e AgRg no HC colhidos para se firmar o convencimento
264.579-RS, Sexta Turma, DJe 1º/8/2013. acerca do possível envolvimento do detentor
HC 250.455-RJ, Rel. Min. Nefi Cordeiro, de prerrogativa de foro com a prática de
julgado em 17/12/2015, DJe 5/2/2016 crime. De fato, uma simples conversa, um
(Informativo n. 576). Sexta Turma DIREITO encontro casual ou mesmo sinais claros de
PROCESSUAL PENAL. REGISTRO DE amizade e contatos frequentes de indivíduo
ATOS INFRACIONAIS NÃO JUSTIFICA sob investigação com uma autoridade pública
PRISÃO PREVENTIVA. No processo penal, não pode, por si só, redundar na conclusão
o fato de o suposto autor do crime já ter se de que esta última participaria do esquema
envolvido em ato infracional não constitui criminoso objeto da investigação. Nem
fundamento idôneo à decretação de prisão mesmo a referência a favores pessoais, a
preventiva. Isso porque a vida na época da contatos com terceiros, a negociações
menoridade não pode ser levada em suspeitas implica, de per si, a inarredável
consideração pelo Direito Penal para nenhum conclusão de que se está diante de práticas
fim. Atos infracionais não configuram crimes criminosas merecedoras de imediata
e, por isso, não é possível considerá-los apuração, notadamente quando um dos
como maus antecedentes nem como interlocutores integra um dos Poderes da
reincidência, até porque fatos ocorridos ainda República e, portanto, pode ter sua
na adolescência estão acobertados por sigilo honorabilidade e imagem pública manchadas
e estão sujeitos a medidas judiciais pela simples notícia de que está sob
exclusivamente voltadas à proteção do investigação. Isto é: aquilo que se imagina
jovem. Por conseguinte, a prática de atos ser uma prerrogativa e uma proteção ao
infracionais não serve de lastro para a agente político, a depender da situação, pode
análise de uma pretensa personalidade converter-se em precipitada conclusão
tendenciosa e nefasta ao patrimônio moral da jurisdicional competente não só pode implicar
autoridade. Dito de modo mais específico, a prejuízo à investigação de fatos de particular
simples captação de diálogos de quem e notório interesse público, como também
detém foro especial com alguém que está representar sobrecarga acentuada aos
sendo investigado por práticas ilícitas não tribunais, a par de, eventualmente, engendrar
pode conduzir, tão logo surjam conversas prematuras suspeitas sobre pessoa cujas
suspeitas, à conclusão de que a referida honorabilidade e respeitabilidade perante a
autoridade é participante da atividade opinião pública são determinantes para a
criminosa investigada ou de outro delito continuidade e o êxito de sua carreira. De
qualquer, sendo mister um mínimo de outro lado, não tem sido hábito dos tribunais
avaliação quanto à idoneidade e à suficiência pátrios extrair conclusões tão rígidas de
de dados para desencadear o procedimento atrasos de atos processuais expressamente
esperado da autoridade judiciária previstos em lei, inclusive aqueles para os
responsável pela investigação. Em verdade, quais se prevejam prazos para sua prática.
há de se ter certo cuidado para não se Ao contrário, até mesmo quando há
extraírem conclusões precipitadas ante a desrespeito aos prazos procedimentais em
escuta fortuita de conversas. Em certos processos envolvendo réus presos, é
casos, a existência de proximidade espúria consolidado o entendimento jurisprudencial
da autoridade pública com as pessoas no sentido de não ser reconhecido o
investigadas somente vai ganhando constrangimento ilegal, ante critérios de
contornos na medida em que a investigação razoabilidade, sobretudo quando se cuida de
se aprofunda, sem que seja possível ao processos ou investigações com particular
magistrado delimitar, incontinenti, a complexidade, envolvendo vários réus ou
ocorrência dessa relação. Isso se justifica investigados. Portanto, é possível afirmar
pela própria natureza da interceptação que, tão somente em um claro contexto fático
telefônica, que, ao monitorar diretamente a do qual se possa com segurança
comunicação verbal entre pessoas, depreender, a partir dos diálogos dos
necessariamente acaba por envolver investigados com pessoa detentora de foro
terceiros, em regra não investigados, no especial, que há indícios concretos de
campo de sua abrangência. E, somente com envolvimento dessa pessoa com a prática de
a continuidade por determinado período das crime(s), será imperativo o envio dos
interceptações, afigura-se concreta a elementos de informação ao tribunal
possibilidade de serem alcançados competente. De mais a mais, a lei não
resultados mais concludentes sobre o estabelece prazo peremptório para o envio
conteúdo das conversas interceptadas, uma dos elementos de prova obtidos por meio da
vez que apenas os olhos de um observador interceptação telefônica. HC 307.152-GO,
futuro – munido do conjunto de informações Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, Rel. para
já coletadas, de modo que permitam a acórdão Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado
análise conjunta e organizada de todas as em 19/11/2015, DJe 15/12/2015 (Informativo
conversas – podem enxergar, com clareza e n. 575).
foco preciso, o que um apressado e
contemporâneo observador, provido de
diálogos desconexos e linearmente
apresentados, terá dificuldades para
perceber. Nessa linha intelectiva, a remessa
imediata de toda e qualquer investigação em
que noticiada a possível prática delitiva de
detentor de prerrogativa de foro ao órgão

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