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Apresentação Defesa

Ao nosso redor , notícias sobre os fechamentos dos modos de vida em nossa sociedade chegam
ao montes e com intensidade avassaladora. Ao nosso lado e nós mesmos pessoas adoecidas, inseguras,
esgotadas. Os deslizamentos desta sociedade interditaram todas as alternativas que conhecíamos.
Somos a vida rebaixada, esgotada, que não sabe o que fazer com isso.
Não há vigor, nos tornamos zumbis, manequins, máquinas, múmias. Vidas de plástico. Vida
besta, como diz Peter Pal Pelbart, uma vida que duvida de si, flutuando entre um oceano de
indiferenças. Todos nós temos nossa história diária de sobrevivência, como se estivéssemos
desorientados na selva, sozinhos. Desprovidos de sensibilidade, agimos por hábitos e reflexos. Temos
uma câmera na mão, para prestar testemunho, mas não temos palavras para expressar o que sentimos.
A anestesia das medicações, dos vícios vários não nos evita do confronto com o esgotamento de um
determinado modo de vida.
Um momento, um lugar, uma existência que agoniza sem chegar ao fim, não é deste afeto
(bio)político que estamos falando. Essa vida anêmica, pobre, desgastada é o que temos ao nosso dispor,
apenas isso, e ela persiste, tendendo ao zero. São os últimos dos homens, anunciado por Nietzsche. O
cansaço é sempre ainda o penúltimo suspiro, uma agonia que nunca chega se encerra. Trabalho e
transporte diários nos consomem, sobra pouco de nós para nós mesmos. Perdemos a capacidade de
transitar, todas as ruas foram fechadas, todos os fluxos, controlados. O cansaço é útil para o
capitalismo, ele é a imobilidade obediente. Já o esgotamento é o último suspiro, o anúncio de trombetas
dizendo que não dá mais! É o desgarramento, o desmoronamento, o deslocamento radical das forças
que sustentam o real.
É o corpo que não aguenta mais. E onde está esse corpo? Eliane Brum escreveu em um artigo:
Estamos exaustos e correndo. Exaustos e correndo. E a má notícia é que continuaremos exaustos e
correndo, porque exaustos e correndo virou a condição humana dessa época. E já percebemos que essa
condição humana um corpo humano não aguenta. O corpo então virou um atrapalho, um apêndice
incômodo, um não-dá-conta que adoece, fica ansioso, deprime, entra em pânico. E assim dopamos esse
corpo falho que se contorce ao ser submetido a uma velocidade não humana. Viramos exaustos-e-
correndo-e-dopados. Porque só dopados para continuar exaustos e correndo. Como nos diz Nietzsche,
concedemos nosso corpo e nosso coração ao Estado, ao lucro, a fim de não mais possuí-lo, sabemos
que nos sujeitamos a um duro trabalho diário com muito ardor e irreflexão, porque nos parece
necessário, antes de tudo, não ter consciência de nada. O corpo dói, grita, nos fala algumas coisas, mas
as medicações estão aí para silenciá-lo. É preciso desobstruir seus poros! O cansaço impede o corpo de
afetar e ser afetado! Este é seu mecanismo de controle, incapacidade de olhar para fora, pela janela. As
pálpebras estão cerradas, o pescoço está rígido, as mãos, fechadas, o ouvido entupido. Desse cansaço,
escrevo também do modo de existência que não só se conforma, mas que trata da sua servidão como se
tratasse da sua liberdade, expresso nos movimentos de desocupação e o discurso remetido a ele.
Precisamos nos formar, queremos fazer parte, o tempo está passando. Anúncios de uma vida que não se
pensa sobre ela mesma, cansada, mas faz parte.
Já o esgotamento é o corpo que estala, trinca e, finalmente, fissura ao meio. Nós vemos o
corpo partir-se em mil pedaços. Mas como esgotar-se ativamente?
Peter Pal Pelbart no seu livro “Avesso do Niilismo” nos questiona Não estamos nós todos nesse
ponto de sufocamento, que justamente por isso nos impele em uma outra direção? Ou seja, não é
justamente a partir dessa sensação de esgotamento que podemos transformar nossos modos de
existência em outra coisa?
A vida esgotada, pois, é o nosso campo de batalha. Este é o afeto dominante de nossos
tempos. Queremos voltar a sentir! Somente assim abriremos novas possibilidades. Precisamos
sacudir a poeira, alongar as juntas enferrujadas. Existem partes esquecidas de nós mesmos, cheias de
teias de aranha. Existem espaços de nós e do mundo que foram soterrados. Mas o esgotamento é o
avesso do avesso, é a carne viva que se mostra, é o nervo dá uma pontada, o pulso ainda pulsa…
O esgotamento de nós é ao mesmo tempo o esgotamento deste mundo que se apresenta! Este
mundo consome avidamente tudo que lhe cai nas redes não percebe, mas consome a si mesmo no
processo. Este modo de vida que diz sim a sua própria servidão, que descansa para ser explorado
melhor no dia seguinte, dissolve sua própria condição de existência ao chegar no limite de si mesmo,
chegar na borda e atravessar um limite. É a realidade como um todo que se esgota e se racha! As
fissuras causam barulhos assustadores, desesperadores.
O esgotamento é a condição do novo, quando a repetição se anula e permite a diferença brotar.
Do fundo do esgotamento, para além das possibilidades visíveis, nasce aquilo que ainda não
conhecemos. O tolerável torna-se intolerável. Do esgotamento nasce o impossível! Do fim de tudo que
conhecemos nasce o que ainda não sabemos, aquilo que ainda não temos palavras para descrever!
Queremos sentir! É aqui que queremos estar, era o que via, sentia surgir a partir desses
estudantes que ocuparam suas escolas. se até então parecia natural que quem decidia sobre os
equipamentos escolares eram os gestores, nos seus gabinetes, subitamente isso aparece como uma
aberração intolerável. Com isso, todo um conjunto de coisas torna-se intolerável. A mercantilização da
educação, as relações de poder vigentes dentro da escola, a disciplina panóptica, os modos desgastados
de ensino, aprendizado, avaliação, até mesmo o objetivo da escola. Diante do esgotamento, ninguém
aceita mais o que antes parecia inevitável (a escola disciplinadora, a hierarquia arbitrária, a degradação
das condições de ensino), e todos exigem o que antes parecia inimaginável (a inversão das prioridades
entre o público e o privado, o prevalecer da voz dos estudantes, a possibilidade de imaginar uma outra
escola, um outro ensino, uma outra juventude, inclusive uma outra sociedade.
O objetivo dessa tese era entender o que as ocupações secundaristas deram passagem. No
sentido de que ocupar uma escola, é ocupar um presente que tem se desertificado, cada vez mais, pelo
seu retrocesso e pela ansiedade de futuro. O que esses jovens, que são colocados como futuro da nação,
e habitam o território escolar entendido como uma preparação para o futuro, interrogaram sobre o
nosso presente, sobre o intolerável a qual temos nos conformado. Para isso, percorri algumas
ocupações estudantis pelo mundo e manifestações que contribuiram e construiram ao movimento ocupa
no Rio de Janeiro.
Os estudantes mostraram: estamos à espreita, observando cuidadosamente. Nosso objetivo é
dos escombros da sensibilidade esgotada encontrar um novo modo micropolítico de afetar e ser
afetado. É do esgotamento dos possíveis que irrompe o impossível.
Sabemos que o diagnóstico é ruim, quase apocalíptico, diríamos, mas isso não significa o fim.
Apenas o impotente vê o fim de um ciclo como o fim da existência, isso porque sua existência é
limitada demais para ver além da rebentação. Precisamos estar preparados para a dor, claro, mas toda
realidade que se amplia comporta uma quantidade aceitável de dor. O esgotamento pode ser a partida
do ser dentro da própria existência. Partimos em uma direção desconhecida porque estamos
cansados de ser nós mesmos. Mas não queremos nos suicidar e nem explodir o mundo, queremos
transvalorar a existência! temos a nosso dispor uma variedade de perspectivas. Sabemos nadar em
águas turbulentas, mas não sabemos o que seremos ao vencer a rebentação.
A potência não pede passagem, ela não pede permissão, ela abre caminhos, pacientemente como
a água furando a pedra, ou abruptamente, como o magma explodindo uma montanha.
O esgotamento é o chamamento da existência clamando por novas formas de vida. E foi a partir
desse esgotamento, desse intolerável que esses estudantes foram chamados a agir e nos dar a todos a
aula que nos deram.

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