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Assim, é cada vez mais comum a inclusão de pactos de jurisdição nos contratos
internacionais, pelo que é essencial conhecermos esta figura, que será muito útil a
qualquer jurista na sua vida prática.
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Direito Processual Civil I – Filipa Lemos Caldas – Subturmas A2, A3, A5 e A6
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Porém, esta regra não se aplica quando se está perante competências exclusivas do
art. 22.º ou competência convencional do art. 23.º (como refere a parte final do art.
4.º). Assim, quando se preencha o âmbito de aplicação do art. 22.º ou do art. 23.º,
ainda que o réu não tenha domicílio num Estado-Membro, o Regulamento é aplicável.
Temos então de saber quando é que se considera que a previsão do art. 23.º está
preenchida.
1- Pelo menos uma das partes deve ser domiciliada num Estado-Membro.
- Pode ser o autor ou o réu (até porque quando se celebra o pacto de jurisdição
não se sabe que posição processual as partes vão ocupar!);
- A parte pode ter vários domicílios, bastando que um deles seja num Estado-
Membro (tal como no art. 4.º);
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- Atenção: não basta, por exemplo, dizer que o tribunal competente é o que
certa parte escolher. Tem mesmo de definir tribunais ou ordens jurídicas.
- Este requisito não resulta do art. 23.º, e não é consensual entre a doutrina e
jurisprudência;
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- Assim, num caso prático, faz sentido averiguar qual a jurisdição competente
pela seguinte ordem (como vimos na aula):
1.º - 22.º;
3.º- 23.º;
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- O art. 25.º determina que se o pacto violar o art. 22.º, o tribunal se deve
declarar incompetente oficiosamente (isto é, sem necessidade de alegação
pelas partes);
Se o pacto de jurisdição se inserir num contrato, sendo apenas uma das suas
cláusulas, a nulidade do contrato não afecta a validade do pacto de jurisdição. Foi isso
que o TJCE decidiu no Ac. Benincasa c. Dentalkit, de 1997.
As convenções das partes acerca da competência podem assumir uma de três formas:
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A resposta a esta questão é muito relevante porque os requisitos do art. 95.º são muito
apertados: só aceitam a convenção de competência territorial, e mesmo assim nem
toda!
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10- O que acontece se nenhuma das partes for domiciliada num Estado-
Membro, mas celebrar um pacto de jurisdição em que atribui competência
aos tribunais de um Estado-Membro?
Como vimos anteriormente, se nenhuma das partes for domiciliada num Estado-
Membro não se aplica o art. 23.º, e não se aplica sequer o Regulamento (excepto se
tivermos perante uma situação do art. 22.º).
Assim sendo:
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Assim, se o autor propuser uma acção num tribunal que, de acordo com as regras do
Regulamento (arts. 2.º, 5.º ss ou 23.º), não fosse competente, mas o réu comparecer
em juízo e não arguir a incompetência do tribunal, este torna-se competente para
conhecer do litígio (excepto, mais uma vez, se for um dos casos do art. 22.º).
Podemos, então, concluir que só não se forma pacto tácito de jurisdição quando o réu
compareça em juízo só para arguir a incompetência (ou quando houver competência
exclusiva do art. 22.º). No entanto, o TJCE tem considerado que também não se forma
pacto de jurisdição se o réu contestar a competência do tribunal e, subsidiariamente,
apresentar a sua defesa quanto ao mérito (para não correr o risco de o tribunal se
considerar competente, e ficar na situação de não se ter defendido).
É, no entanto, controverso, o âmbito espacial: é necessário, como no art. 4.º, o réu ter
domicílio num Estado-Membro, ou basta, como no art. 23.º, que uma das partes o
tenha? Na doutrina estrangeira, há quem defenda qualquer uma destas soluções,
como há ainda quem defenda que nenhuma das partes necessita de ter domicílio num
Estado-Membro.
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No seu Relatório de Mestrado sobre o tema, SOFIA HENRIQUES defende que a solução
deve ser diferente conforme a competência que se afasta resulte das regras dos arts.
2.º e 5.º ss. do Regulamento, ou de um pacto de jurisdição. Assim, se o tribunal
competente seria, de acordo com o art. 5.º/2, um tribunal espanhol, e estamos a
avaliar se o pacto tácito se formou num tribunal alemão, a validade desse pacto tácito
depende de o réu ter domicílio num Estado-membro (pois é esse o requisito que o art.
5.º/2, que está a ser afastado, exige, por aplicação do art. 4.º). Pelo contrário, se o
tribunal competente seria espanhol, por efeito de um pacto de jurisdição, válido pelo
art. 23.º, e estamos a avaliar se se formou um pacto tácito face a um tribunal alemão,
a validade desse pacto tácito já só exige que alguma das partes tenha domicílio num
Estado-Membro (pois é esse o requisito que o art. 23.º, que está a ser afastado,
exige).
Quando um pacto de jurisdição é violado – ou seja, quando o autor propõe uma acção
num tribunal diferente do escolhido pelas partes - pode acontecer uma de duas coisas:
b. O réu comparece e não o alega (ou nem sequer comparece), mas não estão
reunidas as condições para se formar um pacto tácito, pois estamos perante
uma das situações do art. 22.º, logo, o juiz declara-se oficiosamente
incompetente – art. 25.º;
c. O réu comparece e não o alega, mas não estão reunidas as condições para se
formar pacto tácito, por não estar preenchido o âmbito espacial do
Regulamento – aplica-se, naturalmente, a lei nacional, porque o regulamento
não se aplica (art. 4.º), mais propriamente os arts. 96.º ss.;
d. O réu não comparece, logo, não se forma pacto tácito (art. 24.º), mas não se
aplicam os arts. 25.º (por não se tratar de competência do art. 22.º) nem o 26.º
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e. O réu não comparece, logo, não se forma pacto tácito (art. 24.º), não se aplica
o art. 25.º (por não se tratar de competência do art. 22.º), mas a acção foi
proposta num EM diferente do EM do seu domicílio – art. 26.º1;
Do art. 94.º CPC, ao contrário do art. 99.º do CPC antigo, resulta que, salvo
convenção em contrário, a competência do tribunal designado pelas partes se
presume exclusiva, tal como referimos em relação ao art. 23.º.
Do art. 94.º/1 CPC resulta que as partes só podem celebrar pactos de jurisdição se a
relação controvertida tiver conexão com mais do que uma ordem jurídica (corresponde
ao requisito de internacionalização que abordámos quanto ao art. 23.º). Quando o
litígio é puramente interno não se podem celebrar pactos de jurisdição.
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Ou seja, o Tribunal deve, oficiosamente, verificar se o tribunal onde a acção foi proposta é o
competente pelos arts. 5.º ss. ou pelo art. 23.º, logo, deve conhecer oficiosamente da
existência de um pacto de jurisdição – note-se que é o único caso em que isto acontece.
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a. Disponibilidade do objecto;
b. Respeito pela competência exclusiva dos tribunais portugueses (63.º);
c. Aceitação da competência pela lei do tribunal designado – quer quando a
competência atribuída é exclusiva quer quando é concorrente (esta parte,
quando diz respeito a lei estrangeira, os alunos não têm obrigação de saber,
logo, na resolução do caso prático devem presumir que é aceite, salvo se o
caso disser o contrário);
d. Existência de um interesse sério de uma das partes, e inexistência de um
interesse sério para a outra (v. também art. 19.º/g) LCCG). De acordo com
ABÍLIO NETO e o STJ, esse interesse não pode ser uma manifestação de
oportunismo, capricho ou mera comodidade;
e. Forma escrita ou verbal com confirmação por escrito (também n.º 4);
f. Referir expressamente o tribunal ou tribunais competentes – sendo que se
aplica inteiramente aqui o que anteriormente foi dito sobre a coincidência de
pactos de jurisdição e de competência (ponto 9);
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