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Direito Processual Civil I – Filipa Lemos Caldas – Subturmas A2, A3, A5 e A6

Algumas questões relevantes sobre os pactos de jurisdição previstos no


art. 23.º do Regulamento (CE) n.º 44/2001

Estes apontamentos não dispensam o estudo dos manuais, artigos e


outras fontes bibliográficas recomendadas, sendo apenas notas soltas
sobre a matéria para organizar o estudo.

Estes apontamentos foram pensados para os alunos das subturmas 2, 3, 5


e 6, para complementar e tendo em conta o que já foi dado (e ainda será)
nas suas aulas práticas.

Estes apontamentos não pretendem esgotar a matéria dos pactos de


jurisdição, nem se pode retirar a conclusão de que só é preciso saber o que
deles consta. No entanto, estão aqui expostas algumas das questões mais
relevantes da matéria.

Estes apontamentos substituem os anteriores, que ficaram desactualizados


com a entrada em vigor do novo CPC.

1- A autonomia da vontade no âmbito da competência internacional

Na determinação do tribunal internacionalmente para dirimir um litígio plurilocalizado, a


escolha das partes tem vindo a ganhar uma enorme importância, principalmente ao
nível do comércio comunitário e internacional.

Assim, é cada vez mais comum a inclusão de pactos de jurisdição nos contratos
internacionais, pelo que é essencial conhecermos esta figura, que será muito útil a
qualquer jurista na sua vida prática.

2- Noção de pacto de jurisdição

Um pacto de jurisdição é uma convenção pela qual as partes definem como


internacionalmente competentes os tribunais de um Estado, em princípio diverso dos
competentes por força das regras de competência internacional aplicáveis (sejam
estas internas, convencionais ou comunitárias).

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Os pactos de jurisdição podem ser, da perspectiva portuguesa:

a. Privativos – aqueles que submetem à jurisdição estrangeira uma causa para a


qual, segundo as regras aplicáveis, seriam competentes os tribunais
portugueses;

b. Atributivos – aqueles que submetem à jurisdição portuguesa uma causa para a


qual, segundo as regras aplicáveis, seriam competentes os tribunais de uma
jurisdição estrangeira, isto é, para a qual os tribunais portugueses seriam
incompetentes.

Note-se que um pacto de jurisdição se qualifica como privativo ou atributivo conforme


a perspectiva que se adopte. Se adoptamos a perspectiva portuguesa, os privativos
retiram jurisdição aos tribunais portugueses e os atributivos atribuem jurisdição aos
tribunais portugueses. Se adoptarmos a perspectiva de outro país, o mesmo pacto já
poderá ter uma qualificação diferente.

Isto será extremamente relevante ao nível das consequências da violação de um pacto


de jurisdição.

3- Pactos de jurisdição e pactos de competência

Enquanto os pactos de jurisdição determinam a competência internacional dos


tribunais para dirimir um determinado litígio, os pactos de competência determinam a
competência interna.

Na ordem jurídica portuguesa, os pactos de competência só podem incidir sobre


competência territorial, e não em razão da hierarquia, matéria, valor ou forma de
processo (art. 95.º CPC).

Quanto à relação entre estes dois pactos, ver questão 9.

4- A importância dos pactos de jurisdição na aplicação do Regulamento


(CE) n.º 44/2001

Recorde-se o que falámos nas aulas acerca dos âmbitos de aplicação do


Regulamento (CE) n.º 44/2001, em especial quanto ao âmbito espacial ou subjectivo:

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em regra, o Regulamento só é aplicável quando o réu tiver domicílio no território de um


Estado-Membro, nos termos do n.º 1 do art. 4.º.

Porém, esta regra não se aplica quando se está perante competências exclusivas do
art. 22.º ou competência convencional do art. 23.º (como refere a parte final do art.
4.º). Assim, quando se preencha o âmbito de aplicação do art. 22.º ou do art. 23.º,
ainda que o réu não tenha domicílio num Estado-Membro, o Regulamento é aplicável.

Temos então de saber quando é que se considera que a previsão do art. 23.º está
preenchida.

5- Qual o âmbito de aplicação do art. 23.º?

Há três requisitos para aplicarmos o art. 23.º:

1- Pelo menos uma das partes deve ser domiciliada num Estado-Membro.

- Pode ser o autor ou o réu (até porque quando se celebra o pacto de jurisdição
não se sabe que posição processual as partes vão ocupar!);

- A parte pode ter vários domicílios, bastando que um deles seja num Estado-
Membro (tal como no art. 4.º);

- Quando nenhuma das partes tem domicílio num Estado-Membro há ainda


uma questão a ter em conta, que veremos no ponto 10;

- Discute-se na doutrina quando se deve aferir o critério do domicílio (pois


desde o momento em que o pacto é celebrado, até ao momento em que o
litígio é submetido ao tribunal, o domicílio das partes pode alterar-se). Autores
como KROPHOLLER defendem que se deveria considerar o momento da
propositura da acção. MIGUEL TEIXEIRA DE SOUSA e DÁRIO MOURA VICENTE
defendiam para a Convenção de Bruxelas (que continha um artigo idêntico)
que basta considerar o momento da celebração do pacto. A letra do art. 23.º, o
princípio da boa fé e o princípio da estabilidade dos compromissos contratuais
parecem apontar neste último sentido, mas cada aluno poderá defender a sua
posição.

2- As partes devem designar um tribunal ou tribunais de um Estado-Membro.

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- Fundamento lógico: a UE não pode impor as suas normas a Estados


terceiros;

- O TJCE, quanto a uma norma semelhante na Convenção de Bruxelas, já


admitiu que as partes pudessem atribuir competência a vários Estados-
Membros (caso Meeth c. Glacetal, de 1978). O TJUE atribui uma grande
liberdade à autonomia das partes.

- Se as duas partes tiverem domicílio no mesmo Estado-Membro, o pacto de


jurisdição pelo qual atribuam a esse Estado-Membro competência internacional
só se integra no art. 23.º se derrogar a competência de outros Estados-
Membros (que a teriam, por exemplo, nos termos dos arts 5.º ss do
Regulamento).

- A doutrina discute se as partes se poderão limitar a excluir competências que


resultassem do Regulamento. Por exemplo, se o art. 2.º atribui competência à
jurisdição francesa, e o art. 5.º à jurisdição alemã, se o pacto se limitasse a
exclui a competência dos tribunais franceses, estaria implicitamente a escolher
os alemães. O TJCE já considerou que sim (Ac. Anterist, de 1986).

- Atenção: não basta, por exemplo, dizer que o tribunal competente é o que
certa parte escolher. Tem mesmo de definir tribunais ou ordens jurídicas.

- Segunda chamada de atenção: as partes podem escolher o tribunal que


quiserem! Simplesmente, para se aplicar o art. 23.º do Regulamento, têm de
ter escolhido o tribunal de um Estado Membro.

3- O conflito deve ser plurilocalizado

- Este requisito não resulta do art. 23.º, e não é consensual entre a doutrina e
jurisprudência;

- A questão é a seguinte: se a situação controvertida for meramente interna


(isto é, não tiver elementos de conexão com outras ordens jurídicas) as partes
podem conferir-lhe internacionalização, escolhendo os tribunais de outro
Estado-Membro, e passando a aplicar-se o Regulamento, em vez das regras
portuguesas? MIGUEL TEIXEIRA DE SOUSA e DÁRIO MOURA VICENTE, quanto à
Convenção de Bruxelas, defenderam que isso não seria possível, pois
permitiria “uma internacionalização artificial do litígio e a subtracção das partes

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às normas imperativas potencialmente aplicáveis”. Um Acórdão do STJ de


2003 parece apontar no mesmo sentido, e assim também MOTA CAMPOS. O
Prof. MIGUEL TEIXEIRA DE SOUSA nas suas novas lições não aborda esta
questão, pelo que ainda tentarei compreender se mantém esta posição ou se a
alterou. No entanto, podem sempre citar esta posição de 1997.

- SOFIA HENRIQUES defende que nem todos os elementos de conexão a outras


ordens jurídicas são relevantes para considerar se o conflito é plurilocalizado.
Seriam, por exemplo, o lugar de cumprimento da obrigação, o lugar de
celebração do contrato, etc. Mas exclui a nacionalidade, por entender que o
Regulamento lhe retira a relevância, não sendo possível considerar a diferença
de nacionalidade das partes um elemento de estraneidade (lembram-se desta
expressão?) relevante. No entanto, o Prof. MIGUEL TEIXEIRA DE SOUSA nada diz
quanto a esta questão, pelo que parece aceitar qualquer elemento de conexão;

- Atenção: desde que o conflito seja plurilocalizado, a jurisdição escolhida pelas


partes pode ser uma que não tenha qualquer conexão com a situação
controvertida! (veremos depois que a regra do CPC é diferente). Isto é, se a
situação tiver conexão com a Alemanha, Portugal e Espanha, as partes podem
escolher o Reino Unido. Tem é de haver elementos de conexão com o
estrangeiro, não pode ser puramente interna (para quem defenda que este
requisito existe).

- Segunda chamada de atenção: mesmo para quem defende esta posição, as


partes podem celebrar pactos de jurisdição quando as situações são
puramente internas! Só que não se aplica a esse pacto o art. 23.º do
Regulamento, mas sim as regras internas de cada Estado (ou outras regras
convencionais, se existirem).

6- Requisitos de validade dos pactos de jurisdição

Para além disto, em termos de validade o art. 23.º exige que:

1- O pacto de jurisdição tenha uma forma especial.

- Estas exigências de forma não podem ser afastadas pelas partes;

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- Se o pacto constar de cláusulas contratuais gerais, o TJCE considerou que é


necessário que o contraente com diligência normal constatasse a sua
existência (Ac. Estasis Salotti di Colzani c. Rüwa, de 1976);

- Quanto à “confirmação escrita” (art. 23.º/1/a)), esta considera-se satisfeita se,


depois do acordo verbal, a confirmação escrita for recebida pelo outro
contraente e este não formule qualquer objecção à mesma (não tem de haver
uma confirmação escrita das suas partes!).

2- O pacto indique quais os litígios que serão objecto de um processo ou qual a


relação jurídica que está na origem desses litígios.

- Não é válida a convenção pela qual as partes atribuam competência a um


tribunal para dirimir todos os litígios que as venham a opor. Pelo contrário, tem
de se delimitar bem a relação jurídica subjacente (por exemplo, todos os litígios
resultantes de um certo contrato).

3- O pacto não derrogue certas competências (art. 23.º/5).

- Não pode derrogar competências do art. 22.º, por serem exclusivas;

- Não pode derrogar regras especiais de competência, com requisitos mais


exigentes, em matéria de seguros (13.º), contratos celebrados por
consumidores (17.º) ou matéria laboral (21.º), por se destinarem a proteger a
parte mais fraca.

- Assim, num caso prático, faz sentido averiguar qual a jurisdição competente
pela seguinte ordem (como vimos na aula):

1.º - 22.º;

2.º- 13.º, 17.º ou 21.º, conforme a matéria;

3.º- 23.º;

4.º- 2º e 5.º ss.

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- O art. 25.º determina que se o pacto violar o art. 22.º, o tribunal se deve
declarar incompetente oficiosamente (isto é, sem necessidade de alegação
pelas partes);

7- A nulidade do contrato em que se insere o pacto de jurisdição

Se o pacto de jurisdição se inserir num contrato, sendo apenas uma das suas
cláusulas, a nulidade do contrato não afecta a validade do pacto de jurisdição. Foi isso
que o TJCE decidiu no Ac. Benincasa c. Dentalkit, de 1997.

8- Quais os efeitos dos pactos de jurisdição?

Os pactos de jurisdição têm, em regra, dois efeitos: atributivo de competência a um


tribunal, e derrogatório de competência a todos os outros.

De facto, o art. 23.º determina que, salvo se as partes convencionarem o contrato, a


atribuição de competência é exclusiva. Isto significa que se as partes escolhem os
tribunais portugueses, estão a escolher apenas os tribunais portugueses, retirando a
competência a todos os outros tribunais que, ainda que pelas regras do Regulamento
fossem competentes, deixam de o ser.

No entanto, as próprias partes podem definir que pretendem apenas “acrescentar”


uma jurisdição àquelas que o Regulamento já considerava competentes. Assim, a
competência não será exclusiva, mas sim alternativa, podendo o autor (que poderá ser
qualquer uma das partes, pois quando o pacto é celebrado ainda não há litígio) decidir
onde propõe a acção. É, ainda possível, na opinião de alguns autores, como MIGUEL
TEIXEIRA DE SOUSA as partes acordarem que uma delas só pode propor a acção num
tribunal, e que a outra tem esta competência alternativa que referimos.

Ainda quanto a outros efeitos, veja-se as questões 9 e 10.

9- Relações possíveis entre pactos de jurisdição e de competência

As convenções das partes acerca da competência podem assumir uma de três formas:

a. Determinam apenas a jurisdição competente, isto é, apenas a competência


internacional (ex. “tribunais portugueses”). Nestes casos, cabe à lei desse

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Estado-Membro (no nosso caso, CPC e LOFTJ) determinar qual o tribunal


concretamente competente a nível interno.

b. Determinam apenas o tribunal concretamente competente, isto é, a


competência territorial interna (ex. “tribunal de comércio de Lisboa”). Nestes
casos, considera-se que o pacto de jurisdição pode surgir de forma implícita
num pacto de competência. Isto é, se num conflito plurilocalizado, as partes
indicarem como tribunal competente o tribunal de Braga, resulta implicitamente
da sua vontade um pacto de jurisdição a favor nos tribunais portugueses.

Nestes casos, a convenção das partes vale como pacto de jurisdição, ao


atribuir competência internacional aos tribunais portugueses, e como pacto de
competência, por designar o tribunal territorialmente competente a nível
interno. Aceitaram já esta modalidade, em Portugal, por exemplo, um Ac. TRLx
de 2004 e um Ac. STJ 1991.

c. Determinam expressamente a competência internacional e interna. Neste caso,


há simultaneamente um pacto de jurisdição e um pacto de competência
expresso.

Das hipóteses b. e c. retira-se que o pacto de jurisdição e de competência podem


surgir em conjunto. Ao pacto de jurisdição, aplica-se o art. 23.º do Regulamento. É
questionável se ao pacto de competência não se poderá aplicar o Regulamento, pois
este não tem nenhuma norma autónoma para regular estas convenções. Por sua vez,
as ordens jurídicas internas contém, normalmente, regras para regular estas figuras
(em Portugal, os arts. 94.º - pacto de jurisdição - e 95.º CPC – pacto de competência).

A questão que se coloca é, portanto, a seguinte: perante um pacto de jurisdição que


contém um pacto de competência (b. e c.) aplicamos apenas o art. 23.º, que permite
que as partes convencionem o tribunal ou os tribunais do Estado Membro, e retiramos
dele a competência internacional e interna, ou aplicamos o art. 23.º à parte em que se
determina a competência internacional, e o art. 95.º CPC (no caso português), na
parte em que determina a competência interna?

A resposta a esta questão é muito relevante porque os requisitos do art. 95.º são muito
apertados: só aceitam a convenção de competência territorial, e mesmo assim nem
toda!

Assim, podemos imaginar três tipos de resposta:

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1- Se o pacto for válido, pelo art. 23.º do Regulamento, determina-se não só a


competência internacional, mas também interna, sendo competente (a nível
territorial, hierárquico, material, valor e forma de processo) o tribunal escolhido
pelas partes;

2- Se o pacto for válido, pelo art. 23.º do Regulamento, determina-se não só a


competência internacional mas também a territorial interna, sendo que a
matéria, hierarquia e forma de processo ficariam excluídos do art. 23.º,
devendo ser determinados pela lei interna (esta tese parece ser defendida,
actualmente, pelo Prof. MIGUEL TEIXEIRA DE SOUSA, o que faz sentido, tendo em
cona a sua visão do próprio Regulamento - sendo que, por exemplo, o art. 5.º
determinam não só a competência internacional, mas também interna territorial,
ainda que nunca a competência em razão da hierarquia e matéria);

3- O art. 23.º do Regulamento só tem vocação para determinar a validade do


pacto de jurisdição, sendo que o pacto de competência terá de passar pelo
crivo do art. 95.º CPC.

A segunda posição já foi adoptada num Ac. RLx em 2009, e é a actualmente


defendida pelo Regente. A terceira posição é defendida por KROPHOLLER e SOFIA
HENRIQUES.

10- O que acontece se nenhuma das partes for domiciliada num Estado-
Membro, mas celebrar um pacto de jurisdição em que atribui competência
aos tribunais de um Estado-Membro?

Como vimos anteriormente, se nenhuma das partes for domiciliada num Estado-
Membro não se aplica o art. 23.º, e não se aplica sequer o Regulamento (excepto se
tivermos perante uma situação do art. 22.º).

No entanto, se a acção vier a ser proposta nos tribunais de um Estado-Membro, o


tribunal desse Estado deverá analisar a sua competência à luz das suas regras de
competência internacional. Só depois de este se declarar internacionalmente
incompetente é que outro Estado-Membro poderá conhecer do litígio. É o que nos diz
o art. 23.º/3.

Assim sendo:

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a. O tribunal do Estado-Membro que foi escolhido pelas partes, e onde foi


proposta a acção, deve primeiro ver se a situação não preenche o art. 22.º do
Regulamento, e, se a resposta for negativa, deve então apreciar a sua
competência internacional de acordo com as regras da sua lei nacional sobre
pactos de jurisdição;
b. Se uma das partes propuser uma acção no tribunal de um Estado-Membro não
escolhido pelas partes, esse tribunal não deve conhecer o litígio, até que o
tribunal escolhido pelas partes no pacto de jurisdição se declare incompetente.
Se este já o tiver feito, deverá então apreciar a sua competência internacional
de acordo com as regras da sua lei nacional sobre pactos de jurisdição.

11- O que é um pacto tácito de jurisdição?

O pacto tácito de jurisdição vem previsto no art. 24.º do Regulamento.

Assim, se o autor propuser uma acção num tribunal que, de acordo com as regras do
Regulamento (arts. 2.º, 5.º ss ou 23.º), não fosse competente, mas o réu comparecer
em juízo e não arguir a incompetência do tribunal, este torna-se competente para
conhecer do litígio (excepto, mais uma vez, se for um dos casos do art. 22.º).

Podemos, então, concluir que só não se forma pacto tácito de jurisdição quando o réu
compareça em juízo só para arguir a incompetência (ou quando houver competência
exclusiva do art. 22.º). No entanto, o TJCE tem considerado que também não se forma
pacto de jurisdição se o réu contestar a competência do tribunal e, subsidiariamente,
apresentar a sua defesa quanto ao mérito (para não correr o risco de o tribunal se
considerar competente, e ficar na situação de não se ter defendido).

Esta prorrogação tácita da competência funda-se na presunção de que o réu, ao


comparecer perante o tribunal incompetente sem arguir a incompetência desse
tribunal, aceita tacitamente ser julgado por essa jurisdição.

Quando se aplica o art. 24.º? Têm, obviamente, de estar preenchidos os âmbitos


material e temporal de aplicação do Regulamento.

É, no entanto, controverso, o âmbito espacial: é necessário, como no art. 4.º, o réu ter
domicílio num Estado-Membro, ou basta, como no art. 23.º, que uma das partes o
tenha? Na doutrina estrangeira, há quem defenda qualquer uma destas soluções,
como há ainda quem defenda que nenhuma das partes necessita de ter domicílio num
Estado-Membro.
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Em Portugal, MIGUEL TEIXEIRA DE SOUSA e DÁRIO MOURA VICENTE defenderam, no


âmbito na Convenção de Bruxelas (que tem um artigo equivalente), que o pacto tácito
de competência tem de preencher os mesmos requisitos que o art. 23.º, pelo que só
se verifica se uma das partes tiver domicílio num Estado-Membro.

No seu Relatório de Mestrado sobre o tema, SOFIA HENRIQUES defende que a solução
deve ser diferente conforme a competência que se afasta resulte das regras dos arts.
2.º e 5.º ss. do Regulamento, ou de um pacto de jurisdição. Assim, se o tribunal
competente seria, de acordo com o art. 5.º/2, um tribunal espanhol, e estamos a
avaliar se o pacto tácito se formou num tribunal alemão, a validade desse pacto tácito
depende de o réu ter domicílio num Estado-membro (pois é esse o requisito que o art.
5.º/2, que está a ser afastado, exige, por aplicação do art. 4.º). Pelo contrário, se o
tribunal competente seria espanhol, por efeito de um pacto de jurisdição, válido pelo
art. 23.º, e estamos a avaliar se se formou um pacto tácito face a um tribunal alemão,
a validade desse pacto tácito já só exige que alguma das partes tenha domicílio num
Estado-Membro (pois é esse o requisito que o art. 23.º, que está a ser afastado,
exige).

12- Quais as consequências da violação de um pacto de jurisdição?

Quando um pacto de jurisdição é violado – ou seja, quando o autor propõe uma acção
num tribunal diferente do escolhido pelas partes - pode acontecer uma de duas coisas:

a. O réu comparece e não o alega, e estão reunidas as condições (âmbito


material preenchido e respeito pelo art. 22.º) para se formar um pacto tácito,
como dissemos no ponto 11 – art. 24.º;

b. O réu comparece e não o alega (ou nem sequer comparece), mas não estão
reunidas as condições para se formar um pacto tácito, pois estamos perante
uma das situações do art. 22.º, logo, o juiz declara-se oficiosamente
incompetente – art. 25.º;

c. O réu comparece e não o alega, mas não estão reunidas as condições para se
formar pacto tácito, por não estar preenchido o âmbito espacial do
Regulamento – aplica-se, naturalmente, a lei nacional, porque o regulamento
não se aplica (art. 4.º), mais propriamente os arts. 96.º ss.;

d. O réu não comparece, logo, não se forma pacto tácito (art. 24.º), mas não se
aplicam os arts. 25.º (por não se tratar de competência do art. 22.º) nem o 26.º
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(porque o R. tem domicílio no EM em que a acção foi proposta) – aplica-se a lei


nacional para determinar se é de conhecimento oficioso ou não;

e. O réu não comparece, logo, não se forma pacto tácito (art. 24.º), não se aplica
o art. 25.º (por não se tratar de competência do art. 22.º), mas a acção foi
proposta num EM diferente do EM do seu domicílio – art. 26.º1;

f. O réu comparece e alega-o, e o tribunal declara-se incompetente;

Em Portugal, a violação da competência internacional convencional, isto é, que resulta


da vontade das partes, tem como consequência a incompetência absoluta (art. 96.º/a)
CPC), que gera, neste caso, a absolvição do réu da instância (art. 99.º/1 e 3). Note-se,
que, esta incompetência não é de conhecimento oficioso (art. 97.º/1), sendo esta a
solução das alíneas c. e d.

13- Conjugação do art. 23.º do Regulamento com as regras internas sobre


pactos de jurisdição

O art. 94.º CPC regula a relevância da vontade das partes na determinação da


competência internacional. Este artigo só se aplica quando o art. 23.º do Regulamento
não se aplicar, isto é, quando os pressupostos e requisitos que vimos anteriormente
não se verificarem.

Como já explicámos anteriormente, os pactos de jurisdição podem ser atributivos ou


privativos de jurisdição.

Do art. 94.º CPC, ao contrário do art. 99.º do CPC antigo, resulta que, salvo
convenção em contrário, a competência do tribunal designado pelas partes se
presume exclusiva, tal como referimos em relação ao art. 23.º.

Do art. 94.º/1 CPC resulta que as partes só podem celebrar pactos de jurisdição se a
relação controvertida tiver conexão com mais do que uma ordem jurídica (corresponde
ao requisito de internacionalização que abordámos quanto ao art. 23.º). Quando o
litígio é puramente interno não se podem celebrar pactos de jurisdição.

Requisitos de validade do pacto (n.º 3):

1
Ou seja, o Tribunal deve, oficiosamente, verificar se o tribunal onde a acção foi proposta é o
competente pelos arts. 5.º ss. ou pelo art. 23.º, logo, deve conhecer oficiosamente da
existência de um pacto de jurisdição – note-se que é o único caso em que isto acontece.

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a. Disponibilidade do objecto;
b. Respeito pela competência exclusiva dos tribunais portugueses (63.º);
c. Aceitação da competência pela lei do tribunal designado – quer quando a
competência atribuída é exclusiva quer quando é concorrente (esta parte,
quando diz respeito a lei estrangeira, os alunos não têm obrigação de saber,
logo, na resolução do caso prático devem presumir que é aceite, salvo se o
caso disser o contrário);
d. Existência de um interesse sério de uma das partes, e inexistência de um
interesse sério para a outra (v. também art. 19.º/g) LCCG). De acordo com
ABÍLIO NETO e o STJ, esse interesse não pode ser uma manifestação de
oportunismo, capricho ou mera comodidade;
e. Forma escrita ou verbal com confirmação por escrito (também n.º 4);
f. Referir expressamente o tribunal ou tribunais competentes – sendo que se
aplica inteiramente aqui o que anteriormente foi dito sobre a coincidência de
pactos de jurisdição e de competência (ponto 9);

Como já referimos anteriormente, a violação de competência internacional


convencional determina a incompetência absoluta do tribunal (art. 96.º CPC), sendo
uma excepção dilatória (577.º/a) e 576.º/2), que conduz à absolvição do réu da
instância (278.º/1/a) e 99.º/1 e 3), mas não é de conhecimento oficioso (97.º/1 e 578.º
CPC + 24.º do Regulamento, se este se aplicar), podendo ser conhecida pelo tribunal
até ao trânsito em julgado da sentença proferida sobre o fundo da causa (97.º/1).

Assim, na medida em que não há conhecimento oficioso da incompetência por


violação de pacto de jurisdição, pode também formar-se pacto tácito na ordem interna.

14- Qual a relevância da distinção entre pactos atributivos ou privativos de


competência?

A distinção é relevante porque o regime em caso de violação de cada um deles é


distinto.

A violação de que falámos no final do ponto 13 é a violação de um pacto privativo de


jurisdição, que se dá quando um pacto de jurisdição retirava a competência à
jurisdição portuguesa e, ainda assim, a acção foi proposta nos seus tribunais. Assim,
os tribunais portugueses têm de apreciar a sua competência para dirimir aquele litígio,
sendo que só podem conhecer da violação do pacto de jurisdição que lhes retirava a
competência se o réu a alegar na contestação, como referimos.

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Já na violação de um pacto atributivo de competência à jurisdição portuguesa, a


violação ocorre precisamente porque a acção é proposta num tribunal estrangeiro.
Assim, os tribunais portugueses não têm oportunidade de conhecer dessa excepção
dilatória, porque a acção não corre nos seus tribunais. Deste modo, a violação do
pacto atributivo só será relevante em sede de revisão de sentença estrangeira em
Portugal (que os alunos à partida não têm de conhecer).

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