BOLETIM OPERÁRIO
Caxias do Sul, 30 de março de 2019 | Edição nº 539
A Opinião Pública
Pelotas, 09 de março de 1911.
Edição 56 – Ano XVI
Capa
Noticiário
A questão das 8 horas
O operariado de hoje vai reconhecendo seu
poderio e, ao mesmo tempo que vai tomando esse
conhecimento de si mesmo e das suas energias,
entra num caminho vasto de reivindicações
sociais. A situação, porém, do operário tende a
melhorar – o que constitui uma aspiração bastante
nobre. O movimento que ora se manifesta no Rio
Grande do Sul tem a sua justificativa na
concessão do direito. É verdade que, em Pelotas,
apenas começou a se esboçar, levemente, como
uma promessa dúbia, o protesto calmo das
consciências proletárias, enquanto nas outras
principais cidades do Estado já se tenha feito
sentir brilhantes resultados. O Brasil, dadas às
condições de rara população, não possui
movimentos fortes de greve geral, pela simples
razão de não termos ainda a necessária expansão
industrial que fomenta esses movimentos. Nos
países europeus ou mesmo na América do Norte,
o operariado tem na abundancia das industrias e
na concorrência uma grande dificuldade de
trabalho, ligada a carestia da vida dos centros
populosos. Ao mesmo tempo, porém, ele constitui
um elemento forte cuja renuncia ao trabalho
exorbitante acarreta gravíssimos prejuízos ao
comercio. No Brasil, essa falta de indústrias traz a
falta da concorrência, ligada aqui há uma certa e
relativa facilidade de vida. Contudo, certas
conquistas do operariado dos países industriais
não devem ficar sem eco. É o que, infelizmente
parecia acontecer. Agora, porém, um gesto nobre
e enérgico de um proletariado, como o de Porto
Alegre, foi o ponto de partida de movimentos
congêneres em outros pontos do Estado.
/BoletimOperario
A Opinião Pública
Pelotas, 11 de março de 1911.
Edição 58 – Ano XVI
Pelotas, segundo dizem os jornais acaba de fazer Capa
voz comum nessa campanha pacifica da limitação Noticiário
das horas de trabalho. Sob vários pontos de vista, As 8 horas
essa regulamentação é vantajosa não só para o A Comissão de Operários organizada para a
operariado, como também para o patrão. Não se entrega de circulares no sentido de obter-se as 8
julgue que em 10 ou mais horas de trabalho se horas de trabalho diário, e que, conforme
consiga maior produto, porquanto, após um certo noticiamos, iniciou ontem a sua missão, já conta
limite, o trabalho notadamente o produzido nas com apoio dos seguintes mestres e proprietários:
últimas horas, não pode ser expoente de grande Francisco de Assis Oliveira (mestre pintor)
energia física, dadas as condições precárias do José Lipnilk J. Casanova (ferrador)
organismo fatigado. O trabalho consciencioso, Narciso Ferreira (fabrica de carruagens)
regularizado e bem divido, terá melhor lucro, Francisco Geraldo da Silva (mecânico)
apesar de parecer o contrário. Além disso, o Juvenal Mallmann (mecânico)
patrão deve estar cada vez mais convencido de Antonio Lassimo dos Santos (mestre construtor)
que o operário é o seu elemento. Se o operário Rodrigues & C. (construtores)
precisa do patrão, que garante o trabalho pela Jeremias Nogueira Soares (mecânico)
manutenção das fábricas, doutro lado, o patrão Ulysses Simone (mecânico)
necessita do braço proletário. É um auxilio mutuo. Como noticiamos, realiza-se amanhã uma reunião
Ora, esse auxilio mutuo traz inegáveis vantagens do operariado em geral, na sociedade União
para o patrão que, as mais das vezes, desconhece Operária.
qual o elemento que trabalha dentro das suas
oficinas. O operário é um indivíduo que não se
pode chegar ao patrão, dele está separado por
uma hierarquia perniciosa. A autoridade, dele
patrão, chega ao operário, depois de ter
Está terminada a greve dos pedreiros e
atravessado a espessa camada de empregados
carpinteiros de Bagé. A maioria dos empreiteiros
subalternos, de sorte que, uma ordem emanada
e construtores cederam as reclamações dos
do primeiro, só atingirá os últimos, depois de
operários, consentindo em adotar o horário por
modificada e adulterada pelo temperamento, às
eles exigido. Os serviços foram reencetados em
vezes, bilioso ou mais rancoroso, dos outros
todas as obras.
empregados. É claro e é necessário que do lado
do proletariado, ora em atividade, deve existir uma
ideia pacifica e um procedimento calmo e ordeiro.
Do mesmo modo, é necessária a mesma atenção
por parte dos patrões, bem como das autoridades.
Sem esse procedimento de todas essas três
partes, tudo poderá descambar para o terreno
ingrato das represálias e das violências, sucessos
lamentáveis, que, esperamo-lo de coração, não se
realizarão. Ao movimento operário pelotense, aqui
deixamos os nossos votos de feliz sucesso. Léo
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