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Diretoras e diretores: é a primeira vez que me dirijo diretamente a vocês...

Há uma razão para isso. Dei-me conta, repentinamente, da sua importância. E isso porque fui
frustrado por uma diretora.
Foi assim: visitei uma escola. Passei o dia conversando com as crianças. Uma zorra deliciosa…
Contei estórias. A interação era total. A todo momento as crianças me interrompiam para contar algo que
lhes vinha à cabeça. Se na minha estória tinha um cachorro, elas logo se lembravam dos seus cachorros.
Se eu falava sobre os três porquinhos, elas se apressavam a contar o fim da estória. Nessa idade, a cabeça
das crianças ainda não foi treinada para fazer silêncio enquanto o adulto fala.Elas têm o que dizer.
Comecei então a contar como aquela cidade havia sido, muitos anos atrás. Os rios eram cristalinos.
Havia imensas matas de araucárias. Muitos animais silvestres. Aí comecei a contar o que os homens estão
fazendo, cortando árvores, florestas, espantando os bichos – tudo por causa do dinheiro e por aquilo a que
eles dão o nome de progresso.
Propus então que começássemos a reflorestar. Eu lhes daria sementes de araucária, pinhões. Elas
plantariam os pinhões num saquinho de plástico. Regariam.
Veriam as mudinhas botar a cara para fora da terra. Cuidariam delas no seu crescimento. Quando
estivessem grandinhas, iríamos juntos plantá-las. Há tantos espaços que precisam de plantas! Eu cumpri a
minha promessa. As crianças cumpriram a delas. Enviaram-me fotografias, elas sorridentes e os seus
pinheirinhos. Aí, quando chegou a hora do plantio, a diretora me escreveu dizendo que estava complicado
plantar as mudinhas e que, por isso, ela as havia dado a cada criança para que as plantassem no quintal…
Mas todo mundo sabe que uma araucária é árvore muito grande, não pode ser plantada num quintal.
Disse que eu fiquei frustrado. Mas que importa a minha frustração? O que importa é a frustração das
crianças. Elas haviam sonhado… Havíamos combinado que cada árvore teria o nome da criança que havia
cuidado dela… As crianças aprenderam duas lições: quem manda na escola e que é, de fato, muito difícil
reflorestar…
Aí fiquei pensando no seu poder. Diretores e diretoras têm poder… Vocês têm o poder para dizer
“sim” e para dizer “não”. Como diz o livro de Eclesiastes: para plantar ou para arrancar o que se plantou.
Existe em sociologia um conceito que se chama “outros significativos”. Todas as outras pessoas são
“outros”. Mas “outros significativos” são aqueles outros que levo em consideração no que penso e faço.
Diretores e diretoras (coordenadores e coordenadoras), em virtude de sua posição, são tentados a ter como
seu outro significativo a burocracia e suas regras.
Mas a diretora (gestora) que não é burocrata, que é verdadeiramente uma educadora, tem como
seus outros significativos as crianças. Por isso ela passa pouco tempo no escritório e muito tempo ouvindo
e conversando com as crianças.
E você : quais são os seus “outros significativos”?

RUBEM ALVES (1933- 2014)

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