CYAN MAGENTA AMARELO PRETO
Jornal do Brasil
internacional@jb.com.br
REINO UNIDO
Relatório indica
gastos de US$
20 bi anuais
com drogas
ONG compila dados oficiais
como custo com policiamento
Contrariando os responsáveis
pelas atuais políticas de combate
às drogas, que consideram a le-
galização do consumo e regu-
lamentação do comércio das dro-
gas ilícitas como uma alternativa
que geraria grandes prejuízos para
os cofres públicos, um estudo di-
vulgado ontem pela ONG bri-
tânica Transform Drug Policy ar-
gumenta que a legalização das
drogas resultaria numa economia
de mais de US$ 20 bilhões por ano
ao Estado britânico.
Segundo a organização, este é
o custo total do sistema de saúde
pública e da manutenção das po-
líticas de combate ao crime e do
comércio ilegal das substâncias no
Reino Unido.
Intitulado Uma comparação cus-
to-efetiva da proibição e regulamen-
tação das drogas, a pesquisa uti-
lizou, em sua maioria, dados do
governo sobre o custo de po-
liciamento do consumo e tráfico
de drogas para avaliar os poten-
ciais benefícios e desvantagens da
legalização.
“O governo alega especifica-
mente que os benefícios de uma
mudança da política de proibição
para a regulamentação legal das dro-
gas não compensariam o custo para
ARTIGO
Outras perdas
SOCIEDADE ABERTA
Silvio Saidemberg
PSIQUIATRA
legalização de drogas tem
A sido defendida através dos
tempos como uma medida
para se conter o crime e para se
possibilitar que governos em vez de
despenderem enormes esforços na
repressão possam participar dos lu-
cros referentes ao uso e abuso de
substancias recreativas através de
impostos. O mais provável é que
uma medida legalizadora não traga
os benefícios desejados.
Primeiro o governo vai ter de
legalizar o uso de algumas drogas,
não de todas elas. Segundo, com
uma legalização parcial ou total de
substancias para uso recreativo,
alguma regulamentação precisará
existir em defesa de crianças, ado-
lescentes, mulheres gestantes,
pessoas com problemas mentais e
mais vulneráveis às substancias re-
creativas.
Duas substâncias recreativas já
são legalizadas: uma é o álcool e a
outra o tabaco. Mesmo com todas
as medidas educativas a respeito
dessas duas substâncias, o impacto
desastroso à saúde da população não
pôde ser evitado. Quem já perdeu
o governo, que aumentaria muito.
Porém, nenhuma análise do cus-
to-benefício, ou até mesmo
uma avaliação apropriada do im-
pacto das atuais políticas de po-
liciamento e legislações foi realizada
aqui ou em qualquer outro lugar do
mundo até hoje”, critica o estudo.
A geração de impostos cobrados
sobre a venda das drogas também
geraria lucros significativos ao go-
verno, sugere a Transform. Citando
uma estimativa do centro de pes-
quisas Independent Drug Monito-
ring Unit, o estudo indica que o
governo britânico lucraria mais de
US$ 1,9 bilhões por ano se cobrasse
impostos de cerca de
US$ 1,50 na grama da resina de
maconha (haxixe), e um pouco me-
nos de US$ 3 na grama da ma-
conha.
Governo
No momento, o governo bri-
tânico descarta a possibilidade de
legalizar as drogas e insiste que essa
alternativa aumentaria o consumo.
Em resposta ao estudo, o Home
Office – braço do governo bri-
Reprodu
tânico responsável pelas políticas de
combate às drogas – defendeu sua
posição atual:
“Drogas são controladas porque
algum parente como conseqüência
direta ou indireta incluindo-se
doenças ou acidentes associados a
essas duas substancias sabe perfei-
tamente do que estou falando.
Acredito que alguns setores da
política, da mídia ou empresários
desejosos de explorar novas ideias
têm se deixado encantar pela idéia de
que a legalização do uso de subs-
tancias recreativas possa ser um ca-
minho para novas oportunidades.
A proibição do comércio de
drogas não faz desaparecer o uso de
drogas, mesmo que o contenha até
um certo ponto. A legalização não
conterá o crime como não o con-
trolou em lugar nenhum. Os cál-
culos econômicos que um novo
relatório no Reino Unido traz não
incluem todos os custos para os
pagadores de impostos. Os custos
para a saúde da população são muito
importantes mas medidos super-
ficialmente. Os custos para a pro-
dutividade de milhões de cidadãos
que ficam incapacitados física e
mentalmente precisariam ser me-
didos com mais precisão do que a
precisão do pregão da bolsa de
valores onde os números são belos
e encantadores mas, fictícios.
Coordenador de psiquiatria infantil e
adolescente do Northern Maine
Medical Center, Fort Kent, Maine, EUA.
Quarta-feira, 8 de abril de 2009
GOVERNO – Posição é que drogas são controladas por serem prejudiciais
são prejudiciais. A lei providencia
importantes mecanismos de dissua-
são e a legalização arriscaria aumentar
significativamente o consumo, com
um custo associado à saúde pública.
A legalização das drogas não eli-
minaria os delitos cometidos pelo
ção
’ECONOMIST’ – Polêmico debate
>> Terminologia
Legalização das drogas:
Aplica-se a modalidade de venda
de drogas controladas a serem
comercializadas como o tabaco
e o álcool.
Drogas controladas:
São drogas que os
Estados-membros da ONU
decidiram limitar para fins
médicos e científicos, devido
aos efeitos prejudiciais do seu
uso, bem como as
consequências negativas
advindas de seu tráfico ilícito
para a saúde e sociedade como
um todo. Exemplos dessas
drogas são as anfetaminas
(ATS), cocaína e sua pasta
base, crack, maconha,
alucinógenos (LSD), opiáceos
(ópio, heroína, morfina) e
sedativos hipnóticos.
Descriminalização do uso das
drogas:
Tratar o usuário de drogas
como um indivíduo que
necessita de serviços de
saúde e não de prisão.
|JB INTERNACIONAL |A23
Reuters
crime organizado e seus criminosos
profissionais; estes delinquentes sim-
plesmente buscariam novas fontes
ilícitas de verbas através do crime.
Um mercado regulado também não
eliminaria
a produção ilícita, como já foi
demonstrado pelo contínuo mer-
cado negro para a venda do álcool e
do tabaco.”
A Transform admite que, em-
bora o governo possa vir a sofrer
pressões com o possível crescimento
do consumo que o modelo de re-
ARTIGO
Questão de tempo
SOCIEDADE ABERTA
Luiz Paulo Guanabara
PSICÓLOGO
fim da proibição de drogas
O é uma questão de tempo.
Mas se nada for feito para
facilitar a transição do atual modelo
repressor para o modelo tolerante, o
custo será alto: o fim da proibição
será decorrente dos níveis insupor-
táveis de violência e criminalidade
que a guerra às drogas terá atingido.
Isso acarretará em dificuldade ainda
maior do que a existente na exe-
cução de medidas de saúde pública
para atendimento dos usuários.
Infelizmente, essa previsão som-
bria parece estar se confirmando. Os
recentes combates no Morro dos
Tabajaras, em Copacabana, parecem
indicar isso. Vimos na TV um nú-
mero de moradores da área afir-
mando que nunca antes tinham pre-
senciado tamanha violência. Ou seja,
o nível de violência no Rio de
Janeiro está aumentando, promo-
vido pela visão equivocada sobre o
Problema Mundial das Drogas, para
usar linguagem da ONU.
Para ir à raiz do problema é
preciso saber que a ONU é guardiã
de convenções sobre drogas, assi-
nadas até hoje por mais de 140 países,
TAB INTERNACIONAL 23
Reprodução
gulamentação possa gerar, o aumen-
to seria moderado por controles efe-
tivos da disponibilidade das drogas, o
preço e estratégias de marketing,
como as que atualmente visam re-
duzir o tabagismo.
Embora apoie a legalização, um
dos principais objetivos do estudo é
alertar que até agora, nenhum go-
verno realizou uma avaliação se-
melhante do custo-benefício da
proibição das drogas, embora usem o
prejuízo à economia como um dos
argumentas em favor das atuais po-
líticas de repreensão.
O documento segue um debate
em alta, refletido na edição do mês
passado da Economist que concluía:
“A proibição falhou; a legalização é
a menos pior solução”.
No mês passado, representantes
dos países-membros da ONU se
reuniram para definir uma nova po-
lítica internacional de drogas para a
próxima década. O resultado da reu-
nião dá mais relevância à necessidade
de equilibrar as ações de prevenção e
redução da demanda por drogas com
as ações repressivas.
>> Todos os destaques do mundo
chegam primeiro no seu celular.

Envie INT para 50015
Disponível para todas as operadoras.
R$ 0,10 por mensagem recebida
que obrigam esses Estados a manter
a proibição sobre a produção, venda
e consumo de certas drogas. Ou seja,
praticamente o mundo inteiro é
obrigado a se orientar por uma po-
lítica de drogas única e irrealista,
estabelecida em 1998, para um mun-
do livre de drogas em 10 anos.
Passados 11 anos, os resultados são
grupos de fora da lei cada vez mais
ricos e poderosos, com uma receita
estimada em algumas centenas de
bilhões de dólares e poder para cor-
romper todas as esferas institucionais.
E um aumento da demanda e da
oferta desses produtos ilícitos, cujos
preços para o consumidor em geral
não variam muito.
Em algumas regiões, o comércio
pode ter se estabilizado, mas na Amé-
rica Latina o problema foi exacer-
bado, como revela o relatório da
Comissão Latino-Americana sobre
Drogas e Democracia – que tem
entre os integrantes FHC. É in-
teressante notar que mesmo a co-
missão conservadora reivindica a
descriminalização de uma droga
proibida que é uma planta: a ma-
conha. Também afirmam o fracasso
da atual política de drogas baseada no
modelo americano, bélico, e pregam
mudança de paradigma.
Fundador do Centro Brasileiros de
Política de Drogas (Psicotropicus)