Sie sind auf Seite 1von 32

Uma no

sobre a introdução
raladores de metal e so
a produção e consumo
mandioca e do milho
zona costeira das Guian
durante o século X
ota
o de Uma nota
obre sobre a introdução de
raladores de metal e sobre
o da a produção e consumo da
mandioca e do milho na
o na zona costeira das Guianas
durante o século XVII
nas
XVII
M A RT I J N VA N D E N B E L
Inrap, Cayenne, Guiana Francesa / Leiden University, Países Baixos
van den Bel, M.

UMA NOTA SOBRE A INTRODUÇÃO DE RALADORES DE ME-


TAL E SOBRE A PRODUÇÃO E CONSUMO DA MANDIOCA E
DO MILHO NA ZONA COSTEIRA DAS GUIANAS DURANTE
O SÉCULO XVII
Resumo
A pesquisa arqueológica recente na Ilha de Caiena (Guiana Francesa)
mostrou que o milho foi um importante cultivo durante o Período Ce-
râmico Tardio (AD 900-1500) entre a população costeira desta parte
das Guianas. Já o Período Histórico (AD 1500-1900) e moderno des-
ta região, em particular, é dominado por relatos sobre o consumo da
mandioca, notadamente o beiju, a bebida de mandioca fermentada e,
por fim, a farinha. Esta dicotomia faz sentido quando discutimos vários
eventos por meio da leitura de documentos históricos do século XVII,
da comparação da cultura material e da interpretação da tradição oral
ameríndia. Nesse sentido, propomos que a introdução dos raladores de
metal pelos europeus favoreceu o consumo da mandioca em detrimento
do milho.
Palavras-chave: Guianas, raladores, ferramentas de ferro, mandioca,
milho

A NOTE ON THE INTRODUCTION OF METAL GRATERS AND


THE PRODUCTION AND CONSUMPTION OF MANIOC AND
MAIZE IN THE COASTAL ZONE OF THE GUIANAS DURING
THE 17TH CENTURY
Abstract
Recent archaeological research on Cayenne Island (French Guiana) sho-
wed that maize was a very important crop during the Late Ceramic Age
(AD 900-1500), at least among the coastal population of this part of
the Guianas. In contrast, the Historic Age (AD 1500-1900) and Mo-
dern Times of this particular region is dominated by reports on the
consumption of manioc, notably cassava, manioc beer and later on of
farinha. This dichotomy makes sense when discussing various events
during the 17th century by means of careful reading of the historical do-
cuments, the comparison of material culture and the interpretation of
local Amerindian oral tradition. In this manner, it is proposed that the
introduction of metal graters by Europeans has favored the consump-
tion of manioc over maize.
Keywords : Guianas, grater boards, metal tools, manioc, maize

102 Amazôn., Rev. Antropol. (Online) 7 (1): 100-131, 2015


Uma nota sobre a introdução de raladores de metal

UNE NOTE SUR L’INTRODUCTION DES RAPES METALLIQUES


ET LA PRODUCTION ET CONSOMMATION DE MANIOC ET
MAÏS DANS LA BANDE LITTORALE DES GUYANES DURANT
LE XVIIE SIECLE
Résumé
Des fouilles archéologiques récentes sur l’Île de Cayenne (Guyane fran-
çaise) ont démontré l’importance de la culture du maïs pendant l’Age
céramique tardive (AD 900-1500), au moins parmi la population de cette
partie des Guyanes. Au contraire, la Période historique (AD 1500-1900)
et moderne de cette région en particulière est dominée par des récits his-
toriques qui relatent principalement de la consommation de manioc, et
notamment de la cassave, la bière de manioc et plus tard le couac. Cette
dichotomie se comprend quant à la discussion de plusieurs développe-
ments au XVIIe siècle à travers la lecture des documents historiques,
la comparaison de la culture matérielle et l’interprétation de la tradition
orale des Amérindiens locaux. Ainsi il est proposé que l’introduction
de râpes métalliques par les Européens ait favorisé la consommation de
manioc au maïs.
Mots clés : Guyanes, râpes, outils en fer, manioc, maïs

Endereço para correspondência: INRAP Cayenne - 842, Chemin Saint


Antoine, 97300 Cayenne, Guiana Francesa.
E-mail: martijn.van-den-bel@inrap.fr

Amazôn., Rev. Antropol. (Online) 7 (1): 100-131, 2015 103


van den Bel, M.

INTRODUÇÃO gável à produção de mandioca brava, o


“De las Islas de Barlovento que
que é bastante interessante e chama a
son Cuba, la Española, Iamay- atenção para o uso de assadores, con-
ca, San Iuan no se que se usasse forme foi apontado por uma ‘‘nota’’
antiguame[nt]e el Mayz, oy dia usan famosa de Warren DeBoer (1975). A
mas la Yuca, y Caçavi, de que luego adaptação e o uso de certas ferramen-
dire” (Joseph d’Acosta 1590:236) tas, mudanças subsequentes no con-
No leste das Guianas bem como no sumo e preparação de alimentos são
Caribe, a pesquisa arqueológica tem documentadas em numerosas publica-
demonstrado a onipresença do milho, ções históricas que permitem traçar o
sendo processado e consumido por consumo e popularidades destes culti-
populações do período cerâmico tardio vares através do tempo.
(McKey et al. 2010, Iriarte et al. 2010, Atualmente, vários produtos feitos de
Iriarte & Dickau 2012, Perry 2001, Ri- mandioca brava tais como o beiju, a ta-
ghter 2002, Bonzani & Oyuela-Cayce- pioca, a bebida fermentada e couac (Fr.)
do 2006, Harris 2006, Lane et al. 2008, ou farinha, representam a base alimen-
Mickleburgh & Pagán Jiménez 2012, tar de amido para uma grande parte
Figueredo 2012, Rostain 2013) e histó- da população nas Guianas (ameríndia,
rico (Iriarte et al. 2012). A importância negra e, em menor grau, a população
do milho para as populações pré-co- crioula). Estes tubérculos crescem nas
lombianas, notadamente durante o pe- roças de corte e queima ou campos
ríodo pré-contato, foi antes enfatizada situados próximos ou longe da aldeia
no baixo Orinoco por Roosevelt (1980, principal e são abandonados depois
1997) e Perry (2002, 2004, 2005). de 3 ou 5 anos de cultivo (P. Grenand
Análises de amidos realizadas em con- 1979, Balée 1989, 1992, Arroyo-Kalin
centrações pretas de fuligem nas vasi- 2012).
lhas cerâmicas e de amido retirado das A imagem etnográfica ou do início do
fissuras nos assadores, bem como em século XX de aldeias ameríndias se-
vários implementos para assar de dois sí- mipermanentes (independentes), con-
tios LCA (Late Ceramic Age ou Período sumindo principalmente mandioca é
Cerâmico Tardio) da Ilha Caiena (Guia- amplamente distribuída nas Guianas
na Francesa), forneceram apenas uma (Gillin 1936, 1948, Kloos 1971, Rivière
amostra de mandioca para uma abun- 1969, 1984), mas também foi projetada
dância de amostras de milho e, em me- no passado para épocas pré-colombia-
nor quantidade, de batata doce, araruta nas, como se nada tivesse mudado des-
e feijões (Pagán Jiménez citado por van de então (Heckenberger et al. 2001).
den Bel et al. 2012, 2013, 2014). Entretanto, esta imagem contemporâ-
A ausência total do amido de mandioca nea é o resultado de um processo his-
e a presença do amido de milho nas fis- tórico de muitas mudanças em vários
suras dos assadores cerâmicos são no- níveis na sociedade ameríndia durante
táveis. Hoje, os assadores representam a época colonial, na qual, por exemplo,
um utensílio relacionado de modo ine- a introdução do machado de ferro é

104 Amazôn., Rev. Antropol. (Online) 7 (1): 100-131, 2015


Uma nota sobre a introdução de raladores de metal

vista como tendo um papel profundo tos para reduzir a polpa dos tubérculos.
de mudança na agricultura da socie- Além disso, a tradição oral ameríndia
dade ameríndia, até mesmo sugerindo sustenta a ideia de que os raladores de
que ‘‘o cultivo de roças, uma prática metal foram introduzidos pelos euro-
antiga na Amazônia, parece ter sido peus, gerando uma mudança na produ-
um mito’’ (Denevan 1992:161). ção e consumo da mandioca entre as
Seguindo um raciocínio similar, defen- populações nativas da costa das Guia-
nas e, talvez, mais além. Uma aborda-
do que os raladores ou tábuas retangu-
gem histórica “direta” é aplicada aqui
lares atuais, tanto com pequenas lascas
ao comparar a sociedade e a cultura
de pedra inseridas ou os de ferro, são
indígena histórica e atual (Fagan 1985;
cópias indígenas dos raladores de me-
Lyman and O’Brian 2001). Assim,
tal (cobre) que foram comercializados
analogias podem ser feitas entre os
pelos europeus entre os ameríndios no
dados arqueológicos pré-históricos ou
século XVII. A preferência por estas
proto-históricas e os dados históricos
ferramentas de metal da população
ou contemporâneos observados em
nativa costeira está relacionada ao as-
práticas culturais e objetos através de
pecto inovador das ferramentas de me-
leituras de documentos históricos e
tal – desconhecidas pela cultura ame- obras etnográficas (Hulme 1992; Whi-
ríndia – e a demanda econômica dos tehead 1995). No entanto, o fato das
europeus pela mandioca. Estes fatores, fontes históricas serem tendenciosas
assim como o possível abandono da não pode ser negligenciado, ainda que
agricultura nos campos elevados, pre- um certo grau de continuidade cultural
dominantemente relacionados à pro- possa ser esperado para as Guianas, o
dução de milho, devido a um declínio que não pode ser ignorado tampouco.
populacional e ao papel opressor do
colonialismo sobre as culturas amerín- Desse modo, discuto aqui que o con-
dias, favoreceram a produção e o con- sumo atual da mandioca é o resultado
sumo da mandioca em detrimento do de um processo histórico adaptativo a
milho. partir do qual a mandioca é preferida,
comparada ao milho, pela população
Em primeiro lugar, apresento dados costeira do leste das Guianas e, possi-
arqueológicos de sítios escavados nas velmente, nas Guianas em geral.
Ilhas de Caiena, sugerindo uma abun-
dância de milho durante o período ce-
OS OBJETOS ARQUEOLÓGICOS
râmico tardio (LCA = Late Ceramic
ANALISADOS
Age ou Periodo Ceramico Tardio). Em
seguida, discuto a pretensa existência As amostras (N=16) relativas a análises
de raladores no contexto arqueológico. de grãos de amido foram retiradas de
Finalmente, utilizo de documentos his- dois sítios contemporâneos na Ilha de
tóricos para mostrar a ausência desses Caiena, Rorota e Poncel, ambos datados
raladores arqueológicos, uma vez que no LCA e pertencendo ao mesmo com-
nos séculos XVI e XVII os ameríndios plexo cerâmico (van den Bel et al. 2012,
geralmente usavam outros implemen- 2013, 2014) (Figura 1).1 Suponho que

Amazôn., Rev. Antropol. (Online) 7 (1): 100-131, 2015 105


van den Bel, M.

cada um destes sítios tenha uma função satélite ou sítio de atividade de sítios
distinta: Rorota representa um grande habitação maiores. Além da localização
sítio habitação costeiro situado nas mar- geográfica, esta hipótese é sustentada
gens costeiras do Pleistoceno enquanto pelo baixo número de feições para o sítio
Poncel está situado no topo de uma co- Poncel e a grande quantidade de imple-
lina no interior de uma área pantanosa, mentos de ralar, notadamente de pedra,
provavelmente representando um sítio no primeiro sítio (Figuras 2 e 3).

Figura 1 – Mapa da Ilha de Caiena com os sítios escavados.

Figura 2 – Duas pedras de moer encontradas na Ilha de Caiena: (a) Rorota PK 11 (D4)
e (b) Cimitière paysager Poncel (L18). A flecha preta indica a localização da amostra..

106 Amazôn., Rev. Antropol. (Online) 7 (1): 100-131, 2015


Uma nota sobre a introdução de raladores de metal

Figura 3 – Xilogravuras do livro History of the World de Girolamo Benzoni (1857:84).


Ilha de Hispaniola em meados do século XVI. Modo de fazer “pão”: beiju ou tortilhas
(centro) e tamales (direita)2.

O milho domesticado foi claramente mandioca foram preparados e


identificado por Jaime Pagán Jiménez consumidos diferentemente.
em ambos os sítios em pedras de moer, (b) Em segundo lugar, também pode
assadores e artefatos cerâmicos, en-
estar relacionado ao fato de que
quanto a mandioca é quase que inexis-
a mandioca não foi preparada e
tente nas amostras3. É necessário dizer
nem consumida nestes sítios por
que a ausência de grãos de amido da
uma razão particular.
mandioca pode ser um viés da nossa
pesquisa: (c) Em terceiro lugar, é importante
(a) Primeiro, é possível que a amos- afirmar que o processo de ob-
tra dos implementos – a exem- tenção da polpa de mandioca, do
plo dos assadores cerâmicos, modo que conhecemos hoje e
das pedras de diferentes for- conforme descrito pelos antigos
mas e outros materiais, vasilhas cronistas, visa à extração do vene-
cerâmicas para cozinhar e para no do tubérculo ao separar o suco
conter bebidas – tenha sido venenoso da polpa, obtendo o
aparentemente usada não para amido como subproduto – o que
produtos derivados de mandio- deixa menos chances para o ar-
ca, desse modo os produtos de queólogo de encontrar amido na

Amazôn., Rev. Antropol. (Online) 7 (1): 100-131, 2015 107


van den Bel, M.

polpa e em seus derivados consu- está em debate, favorecendo uma ori-


míveis. gem natural, possivelmente refletindo
(d) Finalmente, de modo geral, é sa- ‘‘uma paisagem natural organizada’’
bido que os amidos de mandioca (McKey et al. 2014:93).
danificados (aquecidos) são mais
difíceis de identificar (Chandler-
-Ezell et al. 2006:111). OS RALADORES ARQUEOLÓGICOS
NATIVOS
Além da análise de amido na Ilha de
Caiena, o domínio do milho durante o Antes da análise de grãos de amido se
LCA tem sido registrado também nas tornar uma prática comum no Caribe
colunas de pólen do sítio K-VII, situ- e na Amazônia, os arqueólogos destas
ado a oeste do rio Kourou, na Guiana regiões tiveram como foco a tecnolo-
Francesa (Iriarte et al. 2012). É interes- gia e a morfologia a fim de determinar
sante que este sítio revelou a presença a função destes objetos, baseados na
de pólen de mandioca e de batata doce analogia etnográfica, conforme prática
no período colonial, embora ausente comum desde a New Archaeology.
no período pré-colonial (Iriarte et al. Cerca de três décadas atrás, Jeffery B
2012) sugerindo uma mudança nos .Walker foi provavelmente o primeiro
produtos cultivados. arqueólogo a associar microlitos, en-
Alguns autores propõem que a popu- contrados em sítios arqueológicos de
lação pré-colonial entrou em declínio Saint Kitts (Antilhas Menores) com os
depois do contato, resultando no aban- raladores nativos (Walker 1980) (Figu-
dono da agricultura dos campos eleva- ra 4). As relações entre os raladores de
dos, devido a um declínio do trabalho dentes – que são tidos como inseridos
agrícola, apresentando então um fator nas tábuas de madeira – e a mandioca,
plausível em relação a uma mudança já que a produção de polpa de mandio-
do milho para a mandioca. Entretan- ca tem sido tópico de muita discussão
to, a relação complexa e a natureza dos durante as últimas duas décadas (Barse
campos elevados no momento ainda 1989, 2008, Perry 2001, 2002, 2004).

Figura 4 – Três fases da


construção de tábuas de
madeira Taruma usadas
em raladores de acordo
com Roth (1924:278,
Figura 84)4.

108 Amazôn., Rev. Antropol. (Online) 7 (1): 100-131, 2015


Uma nota sobre a introdução de raladores de metal

A introdução de novas técnicas mi- Em minha opinião, as conclusões obti-


croscópicas (SEM, análise de amido das por Perry devem ao menos ser veri-
e de fitólitos) tem possibilitado novas ficadas em outras numerosas amostras,
interpretações sobre as ferramentas lí- preferivelmente naquelas contendo
ticas, as quais eram difíceis de analisar resina, a qual foi usada para fixar os
diretamente. Análises de marcas de uso dentes nas tábuas do Macusi de acordo
têm provado ser um meio importante com as analogias etnográficas (Farabee
para determinar a função de uma ferra- 1924:20-21).6 Como Harris (2006:68)
menta em particular, por meio de tes- aponta:
tes experimentais detecta-se a relação “os resultados de Perry não fal-
entre os tipos de ferramentas líticas e seiam as suposições de que os
os movimentos realizados. Entretanto, raladores de cerâmica contendo
microlitos foram usados em épo-
dentes de raladores ou lascas, prova-
cas pré-históricas para processar a
velmente por serem muito pequenos, mandioca amarga, mas eles revelam
ainda recebem pouca atenção na Ama- que estes artefatos foram usados
zônia, com poucas exceções (Crock & para processar uma ampla varie-
Bartone 1998, Nieuwenhuis 2002, Per- dade de plantas contendo amido,
ry 2005, Knippenberg 2012). incluindo o milho e que a evidência
arqueológica delas não deve mais ser
Esta pesquisa torna-se desafiadora,
vista de modo acrítico, como um in-
pois a maioria das supostas lascas de dicador que representa o cultivo da
raladores é feita de quartzo (Mourre mandioca” (Harris 2006: 68).
1996, 2004, van Gijn 2014) e análises
Na verdade, esta é também a conclusão
de marcas de uso sempre resultam em
de Debert & Sheriff (2007) que anali-
traços “similares na forma daqueles
sou as chamadas “raspaditas” do sítio
usados para esfregar materiais relati-
Santa Isabel (Nicarágua), representada
vamente suaves (ex., peles de animais) por pequenas lascas ‘‘pontudas’’.
em estudos experimentais” (Perry
2005:419).5
Outra técnica envolvendo a determi- AS EVIDÊNCIAS HISTÓRICAS
nação da função de uma ferramenta é Conforme apontado acima, o debate
a análise de grãos de amido, realizada sobre os raladores tem sua origem nas
por Linda Perry (2001) em pequenas analogias etnográficas, fato que me leva
lascas. Ela extraiu grãos de amido con- a examinar os documentos históricos,
tidos em pequenas lascas obtidas no notadamente aqueles dos séculos XVI
sítio Pozo Azul no Alto rio Orinoco, e XVII relativos às Guianas e Antilhas,
escavado por Barse (2008). Contudo, a fim de identificar tais objetos. Ao
Perry concorda com Barse, que diz ter acesso a esses documentos, devo
que é altamente especulativo atribuir a ter em mente sua visão eurocêntrica
presença de grãos de amido incrusta- e questionar a qualidade dos mesmos
dos em lascas não lavadas à atividade enquanto fonte (Fagan 1985, Pagden
de ralar em raladores de tábuas. 1986, Whitehead 1988, Raleigh 1997,

Amazôn., Rev. Antropol. (Online) 7 (1): 100-131, 2015 109


van den Bel, M.

Collomb & Dupuy 2009, Collomb & by it becommeth holesome, and if


van den Bel 2014). they will have it sweete, they will
seethe it but ordinary, if they will
Ao ler estes documentos mais antigos
have it sowre, they will seethe it ex-
observo que os ameríndios proto-his- traordinarily, and use it in manner
tóricos das Guianas Atlânticas, assim of sawce, and when they be sicke
como muitos outros grupos, não usa- they eat the same and bread only.
vam raladores retangulares de madeira The women also make drinke of
com lascas de pedras ou cobertos com this Cassava bread, which in their
uma placa de metal perfurada, tal qual Language they call Arepapa, by
conhecemos hoje ou são descritos em baking of it blacke, dry, and thinne,
numerosos estudos etnográficos7. then chewing it in their mouthes,
Os primeiros viajantes às Guianas they put it into earthen pots narrow
somente mencionam que a man- in the bottome and broad above,
dioca era simplesmente esfregada contayning some a Firkin, some a
Kilderkin, some a Barrell, set in a
ou amassada em uma pedra pelos
small hole in the ground, with fire
ameríndios (Masham 1890:194, Lei-
about them. Being well sod, they
gh 1906:313-314, Mocquet 1917:82, put it out into great Jarres of Ear-
Harcourt 1906:378-379), conforme th with narrow neckes, and there it
apontado por Hartsinck (1770:24) e will worke a day and a night, and
Roth (1924:277)8. A descrição feita por keepe it foure or five dayes till it be
Leigh (1604 citado por Purchas 1906) stale, and then gathering together
é uma das mais antigas de produção an hundred and more, they give
de mandioca amarga nas Guianas: os themselves to piping, dancing and
ameríndios do Baixo Rio Oiapoque es- drinking. They make drinke also of
fregavam ou amassavam seus tubércu- Cassava unchewed, which is small
los numa placa de pedra de superfície and ordinary in their houses. They
irregular: use also to make drinke of Potatos
which they paire and stampe in a
“Their bread they make of Cas-
Morter being sod, then putting
savia, a white Roble commonly a
water to it, drinke it” (Leigh 1604
span long, and almost so thicke,
citado por Purchas 1906:313-314).
which the women grate in an ear-
then panne against certaine grates Pode-se notar que as descrições de
of stone, and grate three or foure processamento de mandioca são qua-
busshels in a day: The juyce there- se sempre mais longas e detalhadas
of they crush out most carefully do que aquelas dos documentos mais
beeing ranke poyson raw, in a hose
antigos. Além do fato de que eles es-
of withe, which they hang up upon
tavam aparentemente intrigados com
an hooke, and afterward with a wei-
ghtie logge which they- hang at the o método sofisticado de extração do
other end they squeeze out the wa- veneno, mostram interesse na man-
ter into an earthen pan or piece of dioca em geral, porém, apenas poucas
a Gourd, and then seethe the same frases são geralmente dedicadas ao mi-
juice with their red Pepper where- lho ou ao anamu (Guinea weed) (Anôni-

110 Amazôn., Rev. Antropol. (Online) 7 (1): 100-131, 2015


Uma nota sobre a introdução de raladores de metal

mo 1996:13v, Masham 1890:189, Lei- quie, qu’ils pilent bien fort dans
gh 1906:310, Mocquet 1917:90, de la des roches, ou pierres creuses, es-
Mousse citado por Collomb 2006:221), pece de mortiers ; lequel pilé, ils le
um cultivar já conhecido e plantado no roulent en forme de saucisses, &
l’enveloppent dans des feüilles de
século XVI no sul da Europa (Anghera
Balliris, qu’ils font en apres cuire
1912, Dubreuil et al. 2006:281) 9. dan de l’eau boüillante, ce par apres
Os ameríndios obtinham farinha do servant de pain, qui (Dieu gra-
milho para fazer pão e bebida fermen- ces) substante tres-bien” (Coppier
tada de milho. Para os europeus, a man- 1645:79).
dioca estava quase sempre relacionada O principal objetivo dos primeiros
à produção de beiju (cassava, arepa) e, viajantes era comercializar com os
eventualmente, à preparação de bebida ameríndios locais, produtos tais como
fermentada de mandioca (cashiri). tinturas, tabaco, redes (de algodão) e
O Inglês Robert Harcourt comparou madeira, os quais deveriam ser vendi-
o beiju dos ameríndios do Baixo Rio dos novamente nas Antilhas, às colô-
Oiapoque a bolos e julgava que estes nias norte-americanas e na terra de ori-
últimos poderiam ser consumidos por gem. Notadamente na primeira metade
do século XVII – antes da implanta-
fazendeiros pobres em áreas isoladas
ção de grandes colônias europeias ao
da Inglaterra, tais como Peake e Sta-
longo da costa das Guianas –, estes
ffordshire, enquanto a bebida fermen-
navios precisavam armazenar boas
tada era vista como sendo um produto
quantidades de víveres para continuar
mais importante ou ‘‘noble’’, que podia
suas atividades de pirataria, o principal
ser mantida em grandes jarros por cer-
objetivo da viagem. Além disso, eles
ca de 10 dias (Harcourt 1906:378-379).
demandavam, da população amerín-
Outros produtos, fonte de amido, não dia, grandes quantidades de víveres tais
receberam muita atenção o que pode como peixe salgado, frutas, carne defu-
estar relacionado aos costumes culiná- mada e salgada (peixe bois) e pilhas de
rios, mas também à falta de algum inte- beijus; produtos que iriam durar suas
resse econômico específico ou cultural. longas viagens. Os derivados de milho
Os Europeus estavam familiarizados tais como os já mencionados tamales e
com sopa de milho ou refogado (Biet tortilhas claramente não se encaixavam
1664:377), beijus ou tortilhas (Herlein nesta categoria, uma vez que grandes
1718:143) e mesmo tamales (Hartsinck estoques de beijus eram comprados ou
1770), o que é bem ilustrado pelo Fran- trocados pelos europeus10.
cês Guillaume Coppier (1645) em seu Onde o beiju era apreciado como um
livro Histoire et voyage des Indes occidentales pão de longa duração, o milho era
entre as Ilhas Caribes, descrevendo a vida reputado como um cultivar impres-
diária dos Callinago das Antilhas Me- sionante; ele podia ser cultivado duas
nores: a três vezes por ano e uma espiga de
“Ils ont encor[e] du Maïs, ou Miio, milho fornecia mais do que mil se-
que nous appellons icy bled de Tur- mentes (Harcourt 1906:379, Barre

Amazôn., Rev. Antropol. (Online) 7 (1): 100-131, 2015 111


van den Bel, M.

1666:33-34). Apesar disso, o consumo estava principalmente baseado na troca


e a produção de mandioca chamava de ferramentas de ferro, tais como fa-
mais atenção entre os ingleses, holan- cas, machados e anzóis etc, mas também
deses e visitantes franceses, conforme contas de vidro e outros ornamentos
ilustrado pelos colonos franceses que (Lorimer 1989, Hulsman 2009).
desembarcaram na Ilha de Caiena em
1652, entre os Galibi:
“il n’y a dans cette Isle aucune INTRODUÇÃO DE FERRAMENTAS
beste venimeuse, plusieurs bonnes DE FERRO
racines s’y rencontrent, comme pa-
O antigo comércio do século XVII, de
tattes, et manioque duquel l’on fait
contas, sinos ou agulhas se expressa
du pain que l’on appelle cassave en
cette forte; L’on grege cette racine em contextos arqueológicos particula-
sans estre sechée, puis l’on met ce res, em enterramentos com urnas (an-
qui est gregé dans un petit sac de tropomorfas) a céu aberto ou em sítios
grosse toille, que l’on presse, afin de cavernas situados entre a boca do
d’en faire sortir le jus, qui est du Amazonas e do rio Oiapoque (Goeldi
poison, et en suitte on met le marc 1900, Meggers & Evans 1957, Petitjean
par poignée fur une platine de fer, Roget 1983, 1995, Nimuendajú 2004).
de la grandeur de nos platines de A maioria das urnas, tendo por base a
cuivre à empeser sur du feu, et le presença de objetos europeus, foi dis-
pain se fait incontinent sans autre tribuída na última fase do LCA ou nos
façon, ce pain semble d’abord cho- complexos cerâmicos proto-históricos,
quer l’esprit de ceux qui n’en ont a exemplo de Aristé, Mazagão, Aruá e
point mangé, mais je puis assurer
Maracá, sugerindo que estas ferramen-
que je l’aimerois mieux que le pain
tas de ferro foram altamente valoriza-
chalant de Paris. Il faut neuf mois
entiers pour estre en maturité, et das e rapidamente adquiriram um lugar
dans les Isles il faut un an et quinze na sociedade ameríndia12.
mois, mais pour toutes sortes de le- O ralador de mandioca feito de metal,
gumes, toutes racines, et tous autres conforme conhecemos hoje, é uma
fruits ils viennent en maturité trois placa de madeira com uma folha larga
fois l’année, et le bled de Turquie, de metal encaixada, no qual centenas
autrement du mil, meurit en deux de buracos foram perfurados com um
mois” (Laon 1654:109-110).
objeto pontiagudo (uma agulha). Estes
Este trecho é importante para a discus- tipos de raladores foram introduzidos
são que se segue porque se refere tam- pelos Holandeses nas Guianas duran-
bém ao uso de um assador de ferro para te o século XVII (Hulsman 2009:185;
fazer pão (achatado), demonstrando a 2011:188) e foram descritos pelo his-
adaptação e integração dos europeus aos toriador Holandês Jan Jacob Hartsinck
artefatos nos processos alimentares dos (1770:23) do seguinte modo: ‘‘Os rala-
ameríndios pelo menos desde 164011. É dores utilizado para este objetivo são
sabido que o comércio entre ameríndios feitos de cobre, tendo quinze a dezoi-
e europeus desde o fim do século XVI to polegadas de comprimento e dez a

112 Amazôn., Rev. Antropol. (Online) 7 (1): 100-131, 2015


Uma nota sobre a introdução de raladores de metal

doze polegadas de largura, pregado a une greige dans le pais, après estre
uma tábua de 3,5 pés de comprimento rappée on la met dans des sacs, que
e um pé no meio’’13 (Figura 5). De fato, l’on met dans une presse pour en
cerca 120 anos antes, o Padre Antoi- tirer le suc, on passe cette farine,
l’on en prend dans un plat que l’on
ne Biet observou raladores de metal
étend sur une platine de fer épaisse
semelhantes entre os Galibi de Caiena d’un doigt, que l’on met sur un petit
em 1652: feu, laquelle estante cuite d’un cos-
“Le pain se fait en cette sorte : l’on té, on la tourne de l’autre, cela est
ratisse cette racine comme un fait incontinent cuit, une personne en
un navet, on la rape avec une rapoire peut faire cuire pour le moins soi-
de fer ou de cuivre, que l’on appelle xante en un jour” (Biet 1664:336).

Figura 5 – Ralador de metal, encaixado em uma tábua de madeira14.


A incorporação de ferramentas de fer- seus bolos de aveia e eram mais sabo-
ro pela população ameríndia relaciona- rosos quando frescos e poderiam ser
da ao cultivo e produção de alimentos armazenados por um longo período,
– a exemplo de machados, cinzeis, as- criando uma grande demanda para este
sadores e raladores – representa mais produto. Por outro lado, estas novida-
um processo de mudança bastante rá- des feitas de ferro eram demandadas
pido. Supõe-se que na segunda metade pelos ameríndios enquanto os euro-
do século XVII todas as ferramentas peus forneciam estes artigos para asse-
foram substituídas por equivalentes de gurar uma grande produção de beijus;
ferro, conforme sugerido pelos docu- desse modo uma dupla vantagem era
mentos históricos sobre a população obtida.
costeira15. Além da demanda ameríndia, os eu-
Essas “novas” ferramentas alteraram o ropeus, sobretudo os holandeses,
modo de produção dos alimentos, con- manufaturavam réplicas de ferro das
forme sugerido pelo machado de ferro ferramentas ameríndias, tais como
e possivelmente aumentaram a produ- machados, assadores, cinzeis, enxa-
ção de beiju que era demandado em das e raladores, conforme explicado
grandes quantidades pelos europeus pelo historiador holandês Lodewijk
nas Guianas. Os europeus preferiam o Hulsman (2009, 2011)16. Por exem-
beiju uma vez que estes pareciam com plo, se levo em conta as observações

Amazôn., Rev. Antropol. (Online) 7 (1): 100-131, 2015 113


van den Bel, M.

feitas por Leigh em 1604 (em Pur- Esta hipótese tem implicações nas
chas 1906), que afirmou que as raízes questões levantadas pelas primeiras
de mandioca eram amassadas ou ra- pesquisas sobre raladores, mas aci-
ladas com uma pedra pelas mulheres ma de tudo reflete uma adaptação
‘‘numa frigideira de cerâmica com radical da população ameríndia du-
um tipo de ralador de pedra’’, perce- rante o século XVII. Todavia, esta
bo que estes ameríndios não usavam hipótese não exclui o fato de que
um ralador de madeira conforme co- os ameríndios proto-históricos ou os
nhecemos hoje (Figura 4). pré-colombianos não ralassem seus
alimentos; eles também poderiam ter
De acordo com a tradição oral Pali- inserido pequenas lascas em pedaços
kur, é sugerido que os europeus (des- de madeira para ralar ou em pratos ce-
tacando-se novamente os holandeses) râmicos. As atividades de ralar e amas-
exportavam e mesmo elaboravam sar devem certamente ter coexistido e
modelos de raladores de metal que se ambas foram usadas para produzir ali-
destinavam ao processamento das ra- mentos. Ressalta-se aqui que a forma
ízes de mandioca que foram depois de amassar os tubérculos espremendo
comercializados por víveres e outros ou ralando deve ter mudado com a in-
produtos. Desse modo, os holandeses trodução dos raladores de ferro ou de
criaram uma dependência econômica cobre em épocas históricas.
a fim de controlar o mercado local, Não obstante, fontes do século XVI
mas simultaneamente também restrin- estão disponíveis para os Tupinambá
giram a produção de outros cultivares, pelo francês Jean de Léry (1578), que
tal como o milho e produtos derivados relata o uso de um artefato semelhante
que se tornam menos populares entre ao ralador pequeno de noz-moscada
a população da costa. europeu, quando eles fabricavam fari-
Desse ponto de vista, pode ser suge- nha:
rido que os raladores modernos feitos ‘‘Primeiro, depois de os terem se-
a partir de uma tábua retangular com cado [os tubérculos] num fogo,
uma placa de metal contendo furos conforme irei descrever em algum
são réplicas dos raladores de metal ex- lugar, ou mesmo algumas vezes
tomando-os ainda verdes, ralando-
portados pelos holandeses dos séculos
-os em pequenas pedras pontia-
XVII e XVIII. Se for o caso, posso su- gudas, fixadas e arranjadas numa
gerir ainda, que as tábuas de madeira peça de madeira plana (da mesma
com pequenas lascas de pedra são có- forma que ralamos queijo e noz-
pias fiéis dos raladores de metal, enfa- -moscada) eles a reduzem a farinha,
tizando um novo desenvolvimento de a qual é branca como a neve” (Léry
ralar ao invés de amassar a mandioca 1578:132-133)17.
no período histórico, um desenvol- Jacob Jan Hartsinck também apontou
vimento inovador ao ralar em vez de que antes do contato, os ameríndios
amassar tubérculos de mandioca du- ralavam em tábuas de madeira feitas de
rante o período histórico. cedro com pequenas lascas de pedra ou

114 Amazôn., Rev. Antropol. (Online) 7 (1): 100-131, 2015


Uma nota sobre a introdução de raladores de metal

em placas rochosas: “Os índios antes que os portugueses descobriram e po-


de conhecer os europeus ralavam sua voaram o Brasil, eles levaram o milho e
mandioca em pedaços de madeira, cha- a mandioca para seus locais de comér-
mados Samarie, com pequenas lascas de cio na África, onde as populações lo-
pedra; ou em pedras pontiagudas que cais começaram a produzir e consumir
são encontradas no alto curso dos rios; estes produtos também (Jones 1959,
e assavam seus pães em panelas feitas Gaulme 2003). De início, os africanos
de argila” (Hartsinck 1770:24)18. Outro apenas descascavam e ferviam as raízes
exemplo de tábua é retirado dos Calli- de mandioca conforme provavelmen-
nago das Antilhas Menores por volta te foram ensinados pelos portugueses
1620, a qual é feita de lascas de “peder- que copiaram da população Tupinam-
neiras” (um tipo de sílex que produz bá, como testemunhado pelo alemão
faíscas quando percutido ou atritado), Samuel Brun ao longo da Costa dos
sendo também uma introdução euro- Escravos da África por volta de 1620:
peia: ‘‘Entre eles crescem os tubérculos tão
“Elles ratissent fort la racine avec grandes como a parte mais grossa da
un couteau ou coquille, qui est fort perna masculina, que eles chaman Ca-
propre à cela à celle fin de la dé- savy, batem-lhes e secam-nas ao sol,
pouiller de sa pelure, qui est quasi tornando-se branca como a melhor fa-
semblable et s’enlève comme celle rinha’’ (Brun 1913[1624]: 6)19.
d’un cerisier. Après ils la lavent fort
No entanto, após 1650, depois que os
et raclent sur un ais qu’ils nomment
chimali, qui est environ quatre pie-
raladores de metal tinham sido introdu-
ds de long et deux de large, au mi- zidos, começaram a fazer polpa em vez
lieu duquel il y a environ un pied de cozinhar tubérculos (ibid: 62-63).
et demi de petits cailloux à fusil si Na Ilha de São Tomé, por exemplo,
bien enchâssés qu’il est difficile de diz-se que a farinha de ‘‘mandihoka’’
les retirer, et là-dessus elles ratissent é obtida somente no Brasil (Dapper
leur racine en cette posture. Elles 1668b:77), contudo, em algumas par-
dressent leur dit chimali et mettent tes do sul da Etiópia, o ralador de me-
le bout d’en bas dans un petit ba- tal é usado (Dapper 1668a:601-602).
quet, pour recueillir ce qui tombe Finalmente, estes exemplos africanos
de ratissé, et appuient l’estomac sur confirmam uma preparação de tubér-
l’autre bout d’en haut en s’abaissant culos de mandioca sem raladores, que
un peu, ratissant après avec les
também parecem ser uma introdução
mains, et ce qui tombe dans le sus-
europeia, como nas Guianas.
dit baquet est comme de la pâte
fort blanche à cause du suc qui
est dans ladite racine qui est blanc
comme lait” (Anônimo de Carpen- A TRADIÇÃO ORAL AMERÍNDIA
tras 2013:54). A introdução de ferramentas de fer-
De modo interessante, a introdução de ro ainda é lembrada pela população
tábuas de ralar pelos europeus na Áfri- ameríndia (costeira) das Guianas. Por
ca mostra um padrão similar. Uma vez exemplo, é notável que a tradição oral

Amazôn., Rev. Antropol. (Online) 7 (1): 100-131, 2015 115


van den Bel, M.

dos Palikur, um grupo ameríndio do Sugere-se que além da intrusão e da


baixo Oiapoque e do rio Urucuá no guerra, Anacaioury obteve uma impor-
leste da Guiana Francesa e norte do tante posição sociopolítica, uma vez
Amapá (Brasil), indica que o Sauyune que ele controlava o comércio com os
(Povo das Ariranhas), uma tribo extin- ingleses e holandeses e, então, como
ta que foi incorporada pelo sistema clâ- intermediários, eles constituíram o
nico dos Palikur (Passes 2002, 2004), grupo ameríndio que introduziu as fer-
introduziu o ralador metálico entre os ramentas de ferro entre seus aliados e/
antigos Palikur (F. Grenand & P. Gre- ou entre os grupos ameríndios subju-
nand 1987:34, 40). gados, situados nas áreas ao redor da
Talvez tenha sido curioso para os Eu- bacia do Oiapoque, conforme dito pe-
ropeus escutar, de acordo com os mi- los Palikur atuais.
tos ameríndios, que outros ameríndios De modo interessante, a tradição oral
– e não os europeus – introduziram as Palikur nos propicia outro tipo de rala-
ferramentas de ferro. Isso, entretanto, dor: o de cerâmica. Paulo Noriño uma
pode ser explicado por meio da lei- vez me disse que os antigos Palikur
tura e interpretação de antigos docu- tinham raladores cerâmicos (tymah ou
mentos, lidando com o rio Oiapoque dente) para produzir polpa de mandio-
e a aceitação de uma poderosa tradição ca (van den Bel 1995:80) 20.
oral Palikur que remonta há 400 anos.
Ao fazer isso, é através destes Sauyune, Curt Nimuendaju (1926) confirmou
representantes da população históri- isso quando visitou os Palikur no rio
ca Yao, que se instalou na boca do rio Urucauá por volta de 1920: ele tinha
Oiapoque no início do século XVII (P. encontrado fragmentos descartados de
Grenand 2006:111). pratos cerâmicos com ranhuras, usa-
dos para ralar a mandioca, em antigos
Os Yao foram, de fato, refugiados que
cemitérios Palikur e em aldeias aban-
saíram das Ilhas de Trinidad onde fo-
donadas: ‘‘Outro produto de cerâmica
ram perseguidos pelos espanhóis e
Palikur [são] os pratos planos com ra-
seus aliados, os Arawaccas (Keymis
nhuras, nos quais se rala a mandioca,
1968[1596], Mocquet 1617, Leigh
sendo encontrados hoje apenas em
1906). Sob o comando de seu líder de
fragmentos em antigos locais de mora-
guerra, Anacaioury, os Yao deixaram Tri-
dia e em cemitérios dessas tribos e que
nidad e rapidamente ocuparam a bacia
tem sido substituído por tábuas retan-
do Baixo Oiapoque e se posicionaram
gulares nas quais agulhas de ferro são
como os intermediários dos europeus
inseridas’’ (Nimuendaju 1926:47)21.
e dos grupos autóctones das redon-
dezas (Collomb & van den Bel 2014). O arqueólogo Peter Paul Hilbert
De acordo com Harcourt, os últimos (1957:10-14, 18-24) encontrou artefa-
grupos foram tributários de Anacaiou- tos similares nas escavações da caverna
ry, constituindo uma ampla rede que se próxima a Vila Velha, situada à mar-
estendia do leste ao sul do Oiapoque gem direita do rio Cassiporé, no atual
(Harcourt 1906:368). estado do Amapá. Ele sugere que estes

116 Amazôn., Rev. Antropol. (Online) 7 (1): 100-131, 2015


Uma nota sobre a introdução de raladores de metal

objetos eram alguidares rasos em for- prospecções na Ilha de Caiena, no rio


ma de ‘‘ralo’’ e os atribuía ao complexo Oiapoque, nos rios Urucauá e Calçoe-
cerâmico Aristé. É notável que objetos ne, estão sendo estudadas para detec-
similares conhecidos como ‘‘raladores’’ tar a presença e realizar a identificação
sejam conhecidos em Mojos, região da de grãos de amido, a fim de determi-
Bolívia (Nordenskiöld 1913, Walker nar a função destes objetos cerâmicos
2011:124). do período tardio (LCA), os quais ao
Atualmente, amostras de resíduos menos os escavados estão quase sem-
provenientes de raladores cerâmicos pre relacionados aos poços funerários
encontrados durantes as escavações e Aristé (Figura 6).

Figura 6 – Foto de um “ralador cerâmica” (AP-CA-18.107-93.37) encontrado no sítio


megalítico Aristé, de Rego Grande, Calçoene, Amapá. Fotografia de Mariana Petry Ca-
bral (IEPA).

ADAPTAÇÃO dioca ainda está presente no período


histórico. Porém, mesmo se o amido
Embora grãos de amido de mandioca
não tenham sido recuperados nos sí- de mandioca tiver se “perdido” duran-
tios do período cerâmico tardio (LCA) te essa pesquisa, ainda é fascinante sa-
na Ilha de Caiena e os raladores de me- ber como o milho se perdeu durante o
tal tenham substituído os raladores in- período colonial, porque ele não é mais
dígenas, a dicotomia milho versus man- consumido em grandes quantidades no

Amazôn., Rev. Antropol. (Online) 7 (1): 100-131, 2015 117


van den Bel, M.

período histórico tardio e pela popula- couac na Guiana Francesa por volta do
ção moderna na costa da Guiana Fran- século XVII (Barrère 1743:55)23.
cesa. De fato, este produto de mandioca
É evidente que o milho não foi subs- reforçou a demanda e a produção de
tituído pela mandioca já que não te- mandioca ao invés do milho, mas ele
mos dados arqueológicos suficientes também diminuiu a importância di-
para sustentar tal hipótese, mas ele ária do beiju, que se tornou restrito a
certamente perdeu espaço e impor- fazer cerveja e caldo de tucupi com
tância cultural durante o período pimenta (kasilipo). Contudo, a farinha
histórico. Não obstante a estas mu- rapidamente obteve um papel impor-
danças, a sopa de milho, assim como tante na identidade dos pratos diários
outros produtos derivados de milho, da cozinha da população criola, negra
é ainda consumida entre os Kari’na e ameríndia, de tal maneira que agora
da costa e do leste do Suriname, con- é o mais importante produto derivado
forme explicou o Padre Alhbrinck no da mandioca na Guiana Francesa, Suri-
início do século XX. Ele descreve, name e no Amapá.
por exemplo, a preparação da bebida
fermentada de milho: O encontro colonial nas Guianas
certamente provocou mudanças nos
“Awasi ai-ćuru = bebida feita de
milho. Quando o milho seca bem
modos ameríndios de agricultura
ao sol, eles chamam os meninos e e de manutenção dos plantios (He-
as meninas para amassar o milho ckenberger 1998, Denevan 2001,
em 8 pilões. Depois eles colocam o 2006, Balée 2006, Iriarte et al. 2012).
milho numa canoa (...) Uma cabaça Isso pode estar relacionado à de-
cheia de milho ‘mastigado’ também manda econômica dos europeus para
é adicionada como kamira [para tipos específicos de alimentação e
fermentação]. A canoa é comple- à introdução subsequente de ferra-
tada com água e então cuidadosa- mentas de ferro. Os ameríndios da
mente coberta. Depois à noite a
costa adaptaram sua produção local
bebida é peneirada, sendo coberta
novamente. Depois de outra noite à demanda europeia de consumo de
a bebida está pronta” (Ahlbrinck alimentos, notadamente aqueles fei-
1931:125) 22. tos de mandioca (beiju) e em menor
quantidade os feitos de milho.
O abandono lento do milho em favor
da mandioca também reflete mudanças Além das vantagens tecnológicas das
ou a adaptação a uma nova situação ferramentas de ferro, o cultivo do mi-
sociopolítica na qual a identidade e a lho também foi afetado pela reorgani-
etnogênese tem um papel importante zação da situação sociopolítica ame-
(Wilk 1999, Garth 2013). A introdu- ríndia a partir da segunda metade do
ção mais tarde do couac – ou farinha na século XVI. A demanda de víveres e
Guiana Francesa – é, portanto, emble- escravos pelos espanhóis e seus aliados
mática. Os ameríndios e portugueses ameríndios – e mais tarde pelos euro-
do baixo Amazonas introduziram o peus do norte e seus aliados – (Yao)

118 Amazôn., Rev. Antropol. (Online) 7 (1): 100-131, 2015


Uma nota sobre a introdução de raladores de metal

mudaram as alianças ameríndias exis- de todos, foi o principal alimento


tentes e muitos grupos fugiram das em períodos de agregação quando
regiões coloniais “perigosas”, estabe- seu papel simbólico foi para refor-
lecendo-se em outros locais ao longo çar a solidariedade da comunidade
da costa ou indo se esconder nos rios por meio da redistribuição cerimo-
nial. De modo contrastante, os tu-
acima.
bérculos, os quais são encontrados
A guerra contínua, as apreensões de de modo silvestre, domesticado e
escravos e a instalação de missões re- semi-domesticado, foram o princi-
ligiosas desastrosas (reducciones), desde pal alimento em períodos de noma-
a segunda metade do século XVII, dismo’’ (Flowers 1994:254)24.
levaram a numerosos grupos a aban- De fato, a vida cerimonial e as fes-
donar a vida sedentária. Eles optaram tas em geral foram sendo reprimidas
por um estilo de vida mais nômade ou pelos missionários (deculturação) e
menos sedentário, para a qual o cultivo diminuindo rapidamente no fim do
da mandioca em roças de corte e quei- século XVIII devido a uma queda
ma era mais útil (Denevan 1992). Um de população como resultado das
plantio de milho adequado depende doenças, interdição do xamanismo e
altamente do cuidado humano (manu- indicação de capitães de aldeia pelos
tenção, irrigação, proteção contra ani- missionários na Venezuela, no Bra-
mais e insetos), enquanto a mandioca sil e nas Guianas (Whitehead 1988,
precisa de menos atenção para se obter 1993, Collomb & Tiouka 2000, Duin
uma colheita razoável. Com a ajuda de 2009, 2012, Collomb 2011, Santos-
machados de ferro para produzir pe- -Granero 2011). O consumo de be-
quenas roças, um estilo de vida nôma- bidas fermentadas e as festas ceri-
de foi desenvolvido pelos ameríndios, moniais representam a coesão social
que se retiravam para a floresta fugindo e economica da sociedade ameríndia
do contato europeu, mas enfrentando (Dietler & Hayden 2001, Erikson
outro confronto com grupos amerín- 2006, Duin 2009, 2012) ou ‘‘o cimen-
dios do interior. to da vida coletiva’’ de acordo com o
Além de se adaptar a um estilo de vida antropólogo Francês Pierre Grenand
mais nômade, uma questão adicional (1980:61).
deve ser levada em consideração quan- De modo geral, pode-se dizer que mu-
do se discute o consumo de milho em danças nos sistemas sociopolíticos,
relação a festividades: o consumo de hierarquia, redes de trocas, devido aos
milho é sempre relacionado às ativida- fatores acima mencionados, reduziram
des cerimoniais específicas, as quais fo- as cerimônias inter-regionais de lar-
ram abandonadas em épocas coloniais ga escala, bem como, o consumo de
tardias. Esse caso é ilustrado pelos Xa- alimentos a aldeias menores ou mes-
vante do Brasil: mo ao nível familiar. Estas mudanças
‘‘Um aspecto interessante do uso do demandaram “novas” identidades,
milho entre os Xavante é que este, criando então uma base firme para a
talvez o cultivar mais domesticado etnogênese nas Guianas conforme se

Amazôn., Rev. Antropol. (Online) 7 (1): 100-131, 2015 119


van den Bel, M.

conhece hoje (Whitehead 1996, Dietler NOTAS


1996, Hastorf 2006, Collomb & Du- 1
As escavações em PK 11 foram o resul-
puy 2009). tado de uma prospecção conduzida por Jé-
rome Briand em 2008 (Briand et al. 2008).
CONCLUSÃO Este sítio localizado ao longo do Igarapé
Rorota foi descoberto no final dos anos
Em suma, esta abordagem histórica 1960, tendo sido ali realizadas as primei-
combinada à tradição oral ameríndia ras escavações estratigráficas na Guiana
estabelece uma conexão entre os dados Francesa (Petitjean Roget & Roy 1976). Já
arqueológicos, históricos, etnográficos o sítio Pondel foi descoberto durante as
e contemporâneos mostrando que o prospecções conduzidas por Sylvie Jérémie
em 2002 e, anos mais tarde, prospectado
milho, como o principal produto bási-
quando a prefeitura de Rémire-Montjoly
co, perdeu lentamente terreno devido
quiz construir um cemitério paisagístico
a vários fatores; dentre eles, é possível (Hildebrand 2004).
destacar a demanda europeia pelo bei-
ju, a facilidade dos raladores de ferro,
2
Nas Guianas temos poucas imagens dos
a dependência geral das ferramentas séculos XVI e XVII sobre o modo de fazer
beiju ou pão, mas são existentes nas Gran-
de ferro, a diminuição demográfica e
des Antilhas, tais como as Xilogravuras,
a adaptação a estilos de vida nômades
encontradas no livro History of the World
de pequenos grupos que se tornaram de Girolamo Benzoni (1857:84), da Ilha de
mais móveis, para os quais eventual- Hispaniola em meados do século XVI.
mente a produção da mandioca é mais 3
Maiores explicações com relação a esta
bem adaptada do que a do milho.
pesquisa foram omitidas propositalmente
a fim de não focalizar as possíveis impli-
cações dos resultados. Os métodos apli-
AGRADECIMENTOS
cados por J. Pagán Jimenez (2007) podem
O autor gostaria de agradecer a Gé- ser encontrados na sua tese de doutorado
rard Collomb (LAIOS/CNRS, Fran- (Apêndice A e B).
ça), José Oliver (University College 4
A legenda diz: “Ralador de mandioca
London, Inglaterra), José Iriarte (Exe- com lascas de pedras. O diagrama mostra
ter University, Inglaterra), Dominique linhas ao longo das quais as lascas eram in-
Tilkin Galllois (Universidade de São seridas”.
Paulo), Jimmy Mans e Arie Boomert 5
André Prous testou a hipótese de uso de
(Leiden University, Países Baixos) por pequenas lascas inseridas em tábuas para
discutir as primeiras versões desse tex- ralar alimentos ao fabricar um ralador de
to que propiciaram preciosos insights. madeira (Prous et al. 2010:213-214)
Também gostaria de agradecer a Ma- 6
O ralador dos Macusi foi feito ‘‘colocan-
riana Petry Cabral e João Moura Sal- do pequenas pedras ponteagudas numa
danha (IEPA, Brasil) que organizaram tábua macia’’ (Farabee 1924:20). É notável
a segunda Reunião da SAB Norte em que Farabee (1924:21) diga que ‘‘Um nego-
Macapá, onde apresentei uma primeira ciante Taruma vivendo entre os Wapisha-
versão deste trabalho. nas casou com uma moça Waiwai, que era

120 Amazôn., Rev. Antropol. (Online) 7 (1): 100-131, 2015


Uma nota sobre a introdução de raladores de metal

uma boa fabricante de raladores e através 9


Nos documentos franceses, o milho é
da sua indústria ele fornecia a um amplo sempre chamado de ‘‘farinha de Índia’’
mercado’’. Outra fonte é Roth (1924:278- enquanto em português e espanhol é cha-
280) sobre a fabricação de uma tábua de mado de ‘‘milho’’ ou ‘‘millet”. Nas lín-
ralar Taruma (feita por uma índia Waiwai). guas do Caribe, encontramos aoüaβi (Biet
É tambem notável que Barse (2008) e Per- 1664:421), aüossy (Boyer 1654:396), aoussi
ry (2005) não se refiram à publicação cor- (Brûletout de Préfontaine 1763:79) e awa-
reta de Roth, o que também é o caso de si (Ahlbrinck 1931:125). Outra fonte a ser
Farabee na resposta de Barse a Perry. consultada é Carling et al. (2013).
7
Sobre o assunto, os seguintes autores 10
As fontes francesas desde o fim dos sé-
podem ser consultados? Schomburgk culos XVII e XVII também se referem a
(1922:30[1840-1844]), Brett (1686:30, nota uma  “pasta de ouicou” que era obtida dos
1), Crevaux (1883:260), Im Thurn (1883), ameríndios quando viajavam em canoas
Wallace (1889:336), Coudreau (1893:435), (Grillet & Bechamel 1698, Milhau 1732 –
F. Penard & A. Penard (1907i:109), Fara- Sixième Lettre, MSS 430).
bee (1918:21; 1924:21), Gillin (1936, Plate 11
Outro assador de ferro é mencionado por
7b), Delawarde (1966:524). Adriaen van Berkel (1695) entre os Arawak
8
Isto também é mencionado por Pedro nas proximidades da colônia Berbice por
Martyr d’Anghera (1912:64), ao falar so- volta de 1670. As Antilhas Menores do
bre a população indígena de Hispanio- Caribe utilizavam também um assador de
la: ‘‘Another root which they eat they ferro: ‘‘Pour les accomoder et réduire en
call yucca ; and of this they make bre- pain qu nous appelons cassava, on les net-
ad. They eat the ages either roasted or toie et gratte comme on fait les raves, puis
boiled, or made into bread. They cut the on les râpe comme une muscade ou pain
yucca, which is very juicy, into pieces, de sucre dessu une pièce de fer blanc per-
mashing and kneading it and then baking cée de même que nos râpes, et cette râpure
it in the form of cakes. It is a singular qui est blanche est mise dans un sac [tipiti],
thing that they consider the juice of the qu’on prese pour en faire sortir la liqueur
yucca to be more poisonous than that of semblable à du lait, qui est mortelle à qui
the aconite, and upon drinking it, death en boirait. Pluis étant ainsi épurée de jus
immediately follows. On the other hand, mortifière, on trouve la râpure subtile et
bread made from this paste is very appe- déliée comme de la farine, qu’on met sur
tising and wholesome: all the Spaniards une platine de fer et non de cuivre avec
have tried it. The islanders also easily du feu dessous pour la cuire, et en fait-on
make bread with a kind of millet, similar une galette de l’épaisseur de demi-doigt,
to that which exists plenteously amongst laquelle étant à demi-cuire d’un côté, on
the Milanese and Andalusians. This mil- la retourne de l’autre et puis on la met au
let is a little more than a palm in length, soleil pour l’achever de cuire. Ce pain est
ending in a point, and is about the thick- de telle substance que bien facilement nos
ness of the upper part of a man’s arm. Français s’y accoutument’’ (Anônimo de
The grains are about the form and size Saint-Christophe 2013 [1640]:124). No en-
of peas. While they are growing, they tanto, o Anônimo de Carpentras (2013:55)
are white, but become black when ripe. observa ainda o uso de assadores de ferro
When ground they are whiter than snow. chamados toucqué entre os Callinago das
This kind of grain is called maiz’’. Antilhas Menores.

Amazôn., Rev. Antropol. (Online) 7 (1): 100-131, 2015 121


van den Bel, M.

12
Acredito que é importante apontar que lb de pratos rasos de cobre de cor amare­
os objetos comercializados possuem um la’ (British Guiana Boundary Commission
valor diferente na perspectiva dos euro- 1898:129-130).
peus, conforme evidenciado por Catherine 17
‘‘Premierement apres les avoir seicher
V. Howard (2001:234-235) na sua disserta- au feu sur le boucan, tel que je le descriray
ção sobre a identidade Waiwai: ‘‘As obser-
ailleurs, ou bien quelques fois les prenans
vações de Ogilvie evidenciam um aspecto
toutes vertes, à force de les raper sur cer-
que é chave para compreender o sistema
taines petites pierres pointues, fischees &
regional de trocas: é o movimento de troca
arrengees sur une piece de bois plate (toute
de itens que é fundamental, não a sua per-
ainsi que nous raclons & ratissons les fro-
manência; seu valor é constituído não em
mages & noix muscades) elles les reduisent
possessão, mas num processo de aquisição
en farine, laquelle est aussi blanche que nei-
e dádiva. O contato com outras sociedades
ge’’ (Léry 1578:132-133).
deve ser medido em termos de acumulação
de bens, mas melhor do que isso, analisa- 18
“De Indiaanen, voor dat de Europe-
do em termos de como estas mercadorias aanen hen bekend waren, raspten hunne
fluem na rede de trocas e como seus sig- Cassave op Stukken Hout, Samarie, ge-
nificados foram transformados nestes ca- naamd, met kleine scherpe Steenen; of
nais’’. op scherpe Kliptsteenen, die boven in de
13
‘‘De Raspen daar toe gebruikt wordende Rivieren gevonden worden; en bakten de
zyn gemaakt van Kooper, vyftien of acht- Koeken op Pannen van Klei gemaakt’’
tien Duim lang, en tien tot twaalf Duim (Hartsinck 1770:24). Quandt (1807:189) e
breed, gespykerd op een Plank van drie en Kappler (1854:41) incluem em uma nota
een half Voet lang en één Voet in ’t mid- de rodapé que as tábuas ‘‘simari’’ foram co-
den breed’’ (Hartsinck 1770:23). Consultar mercializadas com o Macusi. Hoje, a tábua
também Jean-Baptiste du Tertre (1654). chama shumarli em Makusi (Siravo 2009).
De acordo com Ahlbrinck (1931) samaria-
14
O ralador de metal foi comprado pelo po em Kari’na é madeira de cedro (Cedrela
autor no mercado do lado brasileiro da odorata).
cidade de Oiapoque em 2012, situada na
margem direita do rio Oiapoque. Hoje, fo-
19
‘‘Bey ihnen wachsen Wurtzeln so grosz,
lhas de metal são perfuradas (com agulhas) alsz eines Mannsbein am dicksten, welche
e depois presas a uma estrutura de madeira wurtzen sie Casavy nennen, stampffen die-
que serve como ralador. selbig, und dörren sie an der Sonnen, wer-
den so weisz als das beste Mal’’ (Brun 1913
15
Deve-se acrescentar que nem todos os
[1624]:6)
ameríndios queriam ter contato direto com
os europeus e muitas famílias fugiam para 20
Nota-se a mesma raiz linguistica em Pa-
o interior, onde eles tanto se misturavam likur (tymah) e em Caribe (chimali) que é
com os outros ou continuavam vagando mencionado por Anônimo de Carpentras.
como um bando, a maior parte deles rejei- 21
‘‘Ein andres Produkt der Palikur-Töpfe-
tando o contato de todos os modos. rei, [sind] die flache, geriffelte Schüssel,
16
Uma lista exemplar de itens enviados in der man die Mandioca rieb, findet heu-
por navios ou ‘‘cargasoen’’ para a colônia te nur noch in Bruchstücken auf den al-
de Essequibo pode ser encontrada na ata ten Wohnplätzen und Friedhöfen dieses
da Cãmara WIC Zeeland datada de 30 de Stammes und ist durch ein rechteckiges
Junho de 1642, revelando a presença de ‘50 Reibbrett mit eingesetzten eisernen To-

122 Amazôn., Rev. Antropol. (Online) 7 (1): 100-131, 2015


Uma nota sobre a introdução de raladores de metal

pfsplittern ersetzt worden’’ (Nimuendaju Anghera, P. 1912. De Orbe Novo: The Eight
1926:47). Decades of Peter Martyr d’Anhera. NovaYork,
22
‘‘Awasi ai-ćuru = Drank uit mais ge- Londres: G. P. Putnam’s Sons.
trokken. Wanneer de mais goed uitge- Anônimo 1996. Histoire naturelle des Indes.
droogd is in de zon, roept men de jongens The Drake Manuscript in The Pierpont Morgan
en meisjes bijeen om in een 8-tal houten Library. Nova York: W.W. Norton & Com-
vijzels de maiskorrels fijn te stampen. De pany.
fijngestampte mais werpt men vervolgens Anônimo de Carpentras. 2013. Relation
in de boot (…). Een kalabas ‘gekauwde’ d’un voyage infortuné fait aux Indes occi-
mais gaat er eveneens in als kamira (zie dit dentales, in Voyageurs anonymes aux Antilles.
woord) [fermentation]. De boot wordt van Editado por B. Grunberg, pp. 17-111. Pa-
water voorzien, vervolgens zorgvuldig to- ris: L’Harmattan.
egedekt. Na een nacht gestaan te hebben
Anônimo de Saint-Christophe. 2013. Rela-
wordt de drank gezeefd. De samaku, waa-
tion des îles de Sainct Christofle, Garde-
rin men bij het zeven den drank opvangt,
louppe et la Martinique, in Voyageurs anony-
wordt wederom toegedekt. Na nog een na-
mes aux Antilles. Editado por B. Grunberg,
cht te hebben gestaan is de drank klaar’’
pp. 113-132. Paris: L’Harmattan
(Ahlbrinck 1931:125).
23
Deve-se apontar que os Kali’na conti- Arroyo-Kalin, M. 2012. Slash-burn-and-
nuaram a produzir beiju e apenas recen- churn: Landscape history and crop cultiva-
temente mudaram para a farinha ou couac tion in pre-Columbian Amazonia. Quater-
(comunicação pessoal Gérard Collomb nary International 249:4-18.
2014). Balée, W. 1989 The Culture of Ama-
24
‘‘An interesting aspect of Xavante use of zonian Forests. Advances in Economic Botany
maize is that this, perhaps the most com- 7:1-21.
pletely domesticated of all crops, was the _____. 1992 People of the fallow: A
primary food during periods of aggrega- historical ecology of foraging in lowland
tion when its symbolic role was to reinfor- South America, in Conservation of Neotropi-
ce the solidarity of the community throu- cal Forests: Building on Traditional Resource Use.
gh ceremonial redistribution. By contrast, Editado por K. H. Redford, & C. Padoch,
tubers, which are found in wild, domesti- pp. 35-57. Nova York: Colombia Univer-
cated, and semi-domesticated forms, were sity Press.
their staple during periods of nomadism’’ _____. 2006. The research program of
(Flowers 1994:254). historical ecology. Annu. Rev. Anthropol.
35:5-98.
Barre, L. de la. 1666. Description de la France
REFERÊNCIAS
Equinoctiale, cy-devant appellee Gvyanne, et par
Acosta, J., 1590. Historia Natural y Moral de les Espagnols El Dorado […]. Paris: Jean Ri-
las Indias (…). Sevilla: Juan de Leon. bov.
Ahlbrinck, W. 1931. Encyclopaedie der Karaï- Barrère, P. 1743. Nouvelle relation de la France
ben. Behelzend Taal, Zeden en Gewoonten Dezer Equinoxiale, contenant la description des côtes de
Indianen 27. Amsterdam: Koninklijke Aka- la Guiane, de l’isle de Cayenne, le commerce de
demie van Wetenschappen. cette colonie, les divers changements arrivés dans

Amazôn., Rev. Antropol. (Online) 7 (1): 100-131, 2015 123


van den Bel, M.

ce pays, et les moeurs et coûtumes des différents Berkel, A. An 1695. Amerikaansche Voyagien,
peuples sauvages qui l’habitent [...]. Paris: Piget, Behelzende een Reis na Rio de Berbice, Gelegen
Damonneville & Durand. op het vaste Land van Guiana, Aan de Wilde-
-Kust van America, Mitsgaders een andere na de
Barse, W.P. 1989. A preliminary archeological
Colonie van Suriname, Gelegen in het Noorder
sequence in the Upper Orinoco Valley, Territorio
Deel van het gemelde Landschap Guiana […].
Federal Amazonas, Venezuela. Tese de Dou-
Amsterdam: Johan ten Hoorn.
torado, Universidade Católica da América,
Estados Unidos. Biet, A. 1664 Voyage de la France Eqvi-
noxiale en l’Isle de Cayenne, entrepis par les
_____. 2008 Grater flakes, The Pozo
françois en l’année MDCLII. Paris: François
Azul Norte Site and Orinocan Subsistence
Clovzier.
Practices. International Journal of South Amer-
ican Archaeology 3:37-44. Bonzani, R.M., & A. Oyuela-Caycedo.
2006. The Gift of the Variation and Dis-
Bel, M. van den. 1995. Kamuyune: The Pali- persion of Maize. Social and Technological
kur Potters of French Guiana. Dissertação de Context in Amerindian Societies, in Histo-
Mestrado, Leiden University, Países Bai- ries of Maize: Multidisciplinary Approaches to
xos. the Prehistory, Linguistics, Biogeography, Domes-
______. 2014. Excavations at Poncel: An tication, and Evolution of Maize. Editado por
update of the Late Ceramic Age of Cay- J.E. Staller, R. Tykot, & B. Benz, pp. 343-
enne, in Antes de Orellana. Actas del 3er En- 356. Nova York: Academic Press.
cuentro Internacional de Arquéologia Amazônia. Boyer, P. 1654.Véritable relation de tout ce qui
Editado por Stéphen Rostain, pp. 75-88. s’est passé au voyage que monsieur de Bretigny fit à
Quito: IFEA. l’Amérique occidentale […]. Paris: Chez Pierre
Bel, M. van den, G. Delpech, J. Fronteau, Rocolet.
Pagán Jimenez & D. Todisco. 2012. “Le Brett, W. H. 1868. The Indian Tribes of Gui-
retour au Rorota” : site néoindien récent sur le ana; their condition and habits. Londres: Bell
littoral de l’île de Cayenne. INRAP. Relatório & Daldy.
de escavação arqueológica. Inédito. Briand, J., M. Hildebrand, V. Arrighi, e S.
Bel, M. van den. S. Delpech, G. Fronteau, Delpech. 2008. PK 11, Route des Plages, Rémire
J. Pagán Jimenez, e D. Todisco. 2013. Cime- (Guyane française). INRAP. Relatório de es-
tière paysager Poncel . Le morne Poncel : Un site cavação arqueológica.
néoindien récent dans l’arrière pays marécageux de British Guiana Boundary Commission.
l’île de Cayenne. INRAP. Relatório de escava- 1898. Arbitration with the United States of
ção arqueológica. Inédito. Venezuela, Appendix to the case on behalf of the
Bel, M. van den. J. Pagan-Jiménez, & G. Government of Her Britannic Majesty 1: 1593-
Fronteau. 2014. Le Rorota revisité: résul- 1723.
tats des fouilles préventives à PK 11, Route Brûletout de Préfontaine, J.A. 1763. Maison
des Plages, Île de Cayenne (Guyane fran- rustique, à l’usage des Habitans de la partie de la
çaise), inArchéologie caraïbe. Editado por B. France équinoxiale, connue sous le nom de Cayen-
Bérard, & C. Losier, pp. 37-76. Leiden: Si- ne. Paris: Chez J. B. Bauche
destone Press. Brun, S. 1913. Samuel Brun, des Wundartzet
Benzoni, G. 1857. History of the New World. und Burgers su Basel, Schiffarten: Welche er in
Londres: Hakluyt Society. etliche newe Länder und Insulen, zu fünff un-

124 Amazôn., Rev. Antropol. (Online) 7 (1): 100-131, 2015


Uma nota sobre a introdução de raladores de metal

derschiedlichen malen, mit Gottes Hülff, gethan Coppier, G. 1645. Histoire et Voyage des Indes
[…]. Basel: Johan Jacob Genath, 1624, in Wer- occidentales, et plusieurs autres Regions maritimes,
ken uitgegeven door de Linschoten Vereniging & esloignées. Lyon: Jean Huguetan.
6. Editado por S. P. L’Honoré Naber. Den
Coudreau, H. 1893. Chez nos Indiens, Quatre
Haag: Martinus Nijhoff.
années dans la Guyane française (1887-1891).
Carling, G., L. Eriksen, A. Holmer, & J. van Paris: Hachette.
de Weijer. 2013 Comparing Approaches
Crevaux, J. 1883. Voyages dans l’Amérique du
to Measuring Linguistic Differences, in
Sud. Paris: Hachette
Apporaches to measuring linguistic differences.
Editado por L. Borin, & A. Saxena, pp. 29- Crock, J.G., e R.N. Bartone. 1998. Ar-
56. Berlin: Mouton de Gruyter. chaeology of Trants, Montserrat (Part 4),
Flaked stone and stone bead industries.
Chandler-Ezell, K., D.M. Pearsall, e J.A.
Zeidler. 2006. Root and Tuber Phytoliths Annals of Carnegie Museum 67:197-224.
and Starch Grains Document Manioc Dapper, O. 1668a. Naukeurige Beschrijvinge
(Manihot Esculenta), Arrowroot (Maranta der Afrikaensche Gewesten van Egypten, Bar-
Arundinacea), and Llerén (Calathea sp.) at the baryen, Libyen, Biledulgerid, Negroslant, Guin-
Real Alto Site, Ecuador. Economic Botany ea, Ethiopiën, Abyssinie […]. Amsterdam:
60(2):103-120. Jacob van Meurs.
Collomb, G. 2006. Les Indiens de la Sinnama- _____. 1668b. Naukeurige Beschrijvinge der
ry. Journal du père Jean de la Mousse en Guyane Afrikaensche Eylanden als Madagaskar, of Sant
(1684-1691). Paris: Editions Chandeigne. Laurens, Sant Thomee, d’eilanden van Kanarien,
_____. 2011. Missionnaires ou chamanes? Kaep de Verd, Malta, en andere (…). Amster-
Malentendus et traduction culturelle dans dam: Jacob van Meurs.
les missions jésuites en Guyane, in La DeBoer, W. 1975. The Archaeological Evi-
Guyane au temps de l’esclavage. Discours, Pra- dence for Manioc Cultivation: A Caution-
tiques et Représentations, Actes du colloque 16 ary Note. American Antiquity 40(4): 419-
au 18 novembre 2010 à Cayenne. Editado por 433.
J.-P. Bacot, & J. Zonzon, pp. 435-456. Ma-
toury: Edition Ibis Rouge. Debert, J., e B.L. Sheriff. 2007. Raspadita: a
new lithic tool from the Isthmus of Rivas,
Collomb, G., & F. Tiouka. 2000. Na’na Nicaragua. Journal of Archaeological Science
Kali’na, histoire des Kali’na de Guyane. Matou- 34:1889-1901.
ry: Editions Ibis Rouge.
Delawarde, J.B. 1966. Activités des Indiens
Collomb, G., & F. Dupuy. 2009. Imag-
Galibi de la Mana et d’Iracoubo, (Guyane
ing group, living territory: a Kali’na and
française). Journal de la Société des Américanis-
Wayana view of history, in Anthropologies
tes 55(2):511–524.
of Guayana, Cultural Spaces in Northeastern
Amazonia. Editado por N.L. Whitehead, & Denevan, W.M. 1992. Stone vs metal axes:
S. Aleman, pp. 113-123. Tucson: Univer- the ambiguity of shifting cultivation in
sity of Arizona Press. prehistoric Amazonia. Journal of the Steward
Anthropological Society 20:153-165.
Collomb, G., & M. van den Bel (Eds.).
2014. Entre deux Mondes: Européens et _____. 2001. Cultivated landscapes of Native
Amérindiens avant la Colonie en Guyane (1570- Amazonia and the Andes. Oxford: Oxford
1627). Paris: Editions CTHS. University Press.

Amazôn., Rev. Antropol. (Online) 7 (1): 100-131, 2015 125


van den Bel, M.

_____. 2006. Pre-European forest cultiva- Figueredo, A.E. 2012 Manioc Dethroned
tion in Amazonia, in Time and Complexity and Maize Triumphant: Interpretations on
in Historical Ecology: Studies in the Neotropical the Ethnohistory and Archaeology of the
Lowlands. Editado por W. Balée, & C. Er- Bahamas (with Sundry Notes on Relations
ickson, pp. 153-163. Nova York: Colombia of Production), in Society for American Ar-
University Press. chaeology 77th Annual Meeting. Tennessee.
Dietler, M. 1996. Feasts and Commensal Flowers, N.M. 1994. Subsistence strategy,
Politics in the Political Economy: Food, Social Organization, and Warfare in Cen-
Power, and Status in Prehistoric Europe, tral Brazil in the Context of European
in Food and the Status Quest: An Interdisci- Penetration, in Amazonian Indians from Pre-
plinary Perspective. Editado por P. Wiessner, history to the Present, Anthropological Perspec-
& W. Schiefenhövel, pp. 87-125. Oxford: tives. Editado por A. Roosevelt, pp. 249-
Berghahn. 267. Tucson: University of Arizona Press.

Dietler, M., & B. Hayden (Eds.). 2001. Garth, H. (Ed.). 2013. Food and Identity in
Feasts: Archaeological and Ethnographic Perspec- the Caribbean. Londres: Bloomsbury Aca-
tives on Food, Politics, and Power. Washington: demic.
Smithsonian Press. Gijn, A.L. van 2014. Science and Interpre-
Dubreuil, P., M. Warburton, M. Chasta- tation in microwear studies. Journal of Ar-
net, D. Hoisington, e A. Charcosset. 2006. chaeological Science 48:166-169.
More on the introduction of temperate Gaulme, F. 2003. Le manioc et son traitement:
maize into Europe: large-scale bulk SSR De l’Amérique à l’Afrique équatoriale: La di-
genotyping and new historical elements. ffusion de la farinha, in Peuplements anciens et
Maydica 51:281-291. actuels des forêts tropicales. Editado por A.
Duin, R.S. 2009. Wayana Socio-Political Land- Froment, & J. Guffroy, pp. 249-254. Mont-
scapes: Multi-Scalar Regionality and Temporality pellier: IRD Éditions.
in Guiana. Tese de Doutorado, Universida- Gillin, J. 1936 The Barama River Caribs
de da Florida, Estados Unidos. of British Guiana. Papers of the Peabody Mu-
_____. 2012. Ritual Economy: Dy- seum of Archaeology and Ethnology 14 (2).
namic Multi-Scalar Processes of Socio- _____. 1948. Tribes of the Guianas, in
-Political Landscapes in the Eastern Handbook of South-American Indians. Edita-
Guiana Highlands, Revista Antropológica
do por J. Steward, pp. 799-860. Washing-
(117-118):127-174
ton: United States Government Printing
Erikson, Ph. (Ed.). 2006. La pirogue ivre: Office.
Exposition Bières traditionnelles d’Amazonie. 
Goeldi, E. 1900. Excavações archeologicas em
Sts Nicolas-de-Port: Musée Française de la
1895. Executadas pelo Museu Paranese no Litto-
Brasserie .
ral da Guyana Brazileira entre Oyapock e Ama-
Fagan, B.M. 1985. In the Beginning: an intro- zonas. Primera Parte. As cavernas funerarias
duction to archaeology. Boston: Little, Brown artificiaes de Indios hoje extinctos no Rio Cunany
& Co. (Goanany) e sua ceramica. Belém: Memórias
Farabee, W.C. 1918. The Central Arawaks. do Museu Paraense de Historia Natural e
Philadelphia: University of Pennsylvania. Ethnographia.
______. 1924 The Central Caribs. Phila- Grenand, F., e P. Grenand. 1987.La côte
delphia: University of Pennsylvania d’Amapá, de la bouche de l’Amazone à la

126 Amazôn., Rev. Antropol. (Online) 7 (1): 100-131, 2015


Uma nota sobre a introdução de raladores de metal

baie d’Oyapock, à travers la tradition orale & C. Erickson, pp. 87-126. Nova York: Co-
Palikur, Boletim do Museu Paraense Emílio Go- lumbia University Press.
eldi 3(1):1-77. Heckenberger, M. 1998. Manioc agricul-
Grenand, P. 1979. Commentaires à propos ture and sedentism in Amazonia: the Up-
d’un abattis wayapi (Guyane française). per Xingu example. Antiquity 72:633-648.
Cahier ORSTOM 16(4):299-303. Heckenberger, M., J. Petersen, e E. Góes
______. 1980. Introduction à l’étude de Neves. 2001. Of Lost Civilizations and
l’Univers Wayãpi, Etnoécologie des Indiens Primitive Tribes, Amazonia: Reply to Meg-
du Haut-Oyapock (Guyane française). Paris: gers. Latin American Antiquity 12(3):328-
CNRS/ORSTOM 333.
______. 2006 Que sont devenus les Herlein, J.D. 1718. Beschryvinge van de Volk-
Amérindiens de l’Approuague? Réflexions Plantinge Zuriname […]. Leeuwarden: Mein-
autour d’une histoire peu documentée, in dert Injema.
L’histoire de la Guyane, depuis les civilisations Hildebrand, M. 2004. Cimetière paysager Pon-
amérindiennes. Editado por S. Mam Lam cel. INRAP. Relatório de escavação arque-
Fouck, & J. Zonzon, pp. 105-126. Matoury: ológica. ms.
Editions Ibis Rouge. Hilbert, P. 1957. Contribuçao à Arquelogia
Grillet, J., & F. Bechamel. 1698. A Journal do Amapá. Boletim do Museu Paraense Emílio
of the Travels of John Grillet and Francis Be- Goeldi 1:1-39.
chamel into Guiana in the Year 1674. London: Howard, C.V. 2001. Wrought Identities: The
Samuel Buckley. Waiwai Expeditions in Search of the “Unseen
Harcourt, R. 1906. A Relation of a voyage Tribes” of Northern Amazonia, Tese de Dou-
to Guiana performed by Robert Harcourt torado, Universidade de Chicago, Estados
of Stanton Harcourt in the Countie of Unidos.
Oxford Esquier, in Hakuytus Posthumus or Hulme, P. 1992. Colonial Encounters: Eu-
Purchas His Pilgrimes, Contayning a History of rope and the Native Caribbean 1492-1797.
the World in Sea Voyages and Lande Travells by London: Methuen.
Englishmen and others. Editado por S. Pur-
Hulsman, L.A.H.C. 2009. Nederlands Ama-
chas, pp. 358-402. Glasgow: James MacLe- zonia. Handel met indianen tussen 1580 en
hose & Sons. 1680. Tese de Doutorado, Universidade de
Harris, D.R. 2006. The interplay of ethno- Amsterdam, Holanda.
graphic and archaeological knowledge in _____. 2011. Swaerooch: o comércio ho-
the study of past human subsistence in the landês com índios no Amapá. Revista Estu-
tropics. Journal of the Royal Anthropological dos Amazônicas 6(1):178-202.
Institute 12:63-78.
Im Thurn, E. F. 1883. Among the Indians of
Hartsinck, J.J. 1770. Beschrijving van Guiana, Guiana, Being sketches chiefly anthropologic from
of de Wilde Kust, in Zuid-America. Amster- the interior of British Guiana. Londres: Kegan
dam: Gerrit Tieleburg. Paul, Trench & Co.
Hastorf, C. 2006. Domesticated Food and Iriarte, J., R. Dickau. 2012. ¿Las Culturas
Society in Early Coastal Peru, in Time and del Maíz? Arqueobotanica de las Socie-
Complexity in Historical Ecology: Studies in the dades hidráulicas de las Tierras bajas su-
Neotropical Lowlands. Editado por W. Balée, damericanas. Amazônica 4(1): 30-58

Amazôn., Rev. Antropol. (Online) 7 (1): 100-131, 2015 127


van den Bel, M.

Iriarte, J., B. Glaser, J. Watling, A. Wain- Leigh, C. 1906. Capitaine Charles Leigh his
wright, J.J. Birk, D. Renard, S. Rostain, e D. voyage to Guiana and plantation there, in
McKey. 2010 Late Holocene Neo- Hakuytus Posthumus or Purchas His Pilgrimes.
tropical agricultural landscapes: phyto- Contayning a History of the World in Sea Voy-
lith and stable carbon isotope analysis of ages and Lande Travells by Englishmen and oth-
raised fields from French Guianan coastal ers. Editado por S. Purchas, pp. 309-323.
savannahs. Journal of Archaeological Science Glasgow: James MacLehose & Sons.
37:2984-2992. Léry, J. 1578. Histoire d’un voyage fait en la ter-
Iriarte, J., M.J. Power, S. Rostain, F.E. re du Bresil, autrement dite Amerique […]. La
Mayle, H. Jones, J. Watling, B.S. Whit- Rochelle: Antoine Chuppin.
ney, e D. McKey. 2012. Fire-free land
______. 2008 [1580]. Histoire d’un
use in pre-1492 Amazonian savannas. Pro-
voyage faict en la terre du Brésil 1578. Paris: Li-
ceedings of the United States National Academy
brairie Générale Française [1992].
of Science 109(17): 6473–6478. Disponí-
vel em www.pnas.org/cgi/doi/10.1073/ Lorimer, J. 1989. English and Irish Settlement
pnas.1201461109 on the River Amazon 1550-1646. Londres:
Hakluyt Society.
Jones, W.O. 1959. Manioc in Africa. Stan-
ford: Stanford University press. Lyman, R. L. & M. J. O’Brien. 2001. T h e
direct historical approach, analogical rea-
Kappler, A. 1854. Zes Jaren in Suriname. soning, and theory in American archaeolo-
Schetsen en tafereelen uit het maatschappelijke en gy, Journal of Archaeological Method and Theory
militaire leven in deze kolonie. Utrecht: W.F. 8(4):303–342
Dannenfelser.
Masham, T. 1890. The thirde voyage set
Keymis, L. 1968 [1596]. A Relation of the forth by Sir Walter Ralegh to Guiana, with
second Voyage to Guiana. New York & Am- a pinnesse called the Watte, in the yeere
sterdam: Da Capo Press. 1596, written by M. Thomas Masham a
Kloos, P. 1971. The Maroni River Caribs of gentleman of the companie, in The Voy-
Surinam. Assen: Van Gorcum. ages of the English Nation to America.
Editado por E. Goldsmid, pp.182-194.
Knippenberg, S. 2012 Archaeologi- Edinburgh: E. & G. Goldsmid.
cal Investigations at the Saint-Louis on
the Lower Maroni River: The Lithic Study. McKey, D., S. Rostain, J. Iriarte, B. Gla-
Journal of the Walther Roth Museum of Archae- ser, J.J. Birk, I. Holst, e D. Renard. 2010.
ology and Anthropology 17(2):53-77. Pre-Columbian Agricultural Landscapes,
Ecosystem Engineers, and Self-Organized
Lane, C.S., S. Horn, K.H. Orvis, e C.I. Patchiness in Amazonia. Proceedings of the
Mora. 2008. Earliest Evidence of Os- National Academy of Sciences 107(17):7823-
tionoid Maize Agriculture from the Interi- 7828.
or of Hispaniola. Caribbean Journal of Science
McKey, D. M. Ducréu, A. Solibiéda, Ch.
44(1):43-52.
Raimond, K. Lorena Adame Montoya,
Laon, J. 1654. Relation du Voyage des Francois J. Iriarte, D. Renard, L. Elena Suarez Ji-
Fait au Cap de Nord en Amerique, par les soings ménez, Stéphen Rostain, & A. Zangerlé.
de la Compagnie establie à Paris, & sous la con- 2014. New approaches to pre-Columbian
duite de Monsieur de Royville leur General […]. raised-field agriculture: ecology of season-
Paris: Chez Edme Pepingue. ally flooded savannas, and living raised

128 Amazôn., Rev. Antropol. (Online) 7 (1): 100-131, 2015


Uma nota sobre a introdução de raladores de metal

fields in Africa, as windows on the past nskaps- och Vitterhets-Samhälles Handlingar


and the futures, in Amazonía: memorias de las 31(2).
Conferencias Magistrales del 3er Encuentro In- ______. 2004. In Pursuit of a Past Ama-
ternacional de Arqueología Amazónica. Editado zon. Archaeological Researches in the Brazilian
por S. Rostain, pp. 91–136. Quito: EIAA/
Guyana and in the Amazon Region. Göteborg:
IKIAM/SNESCTI.
Världskulturmuseet.
Meggers, B.J., & C. Evans. 1957. Archaeolog-
Nordenskiöld, E. 1913. Urnengrâber und
ical Investigations at the Mouth of the Amazon.
Mounds im bolivianischen Flachlande. Baessler-
Washington: United States Government
Archiv, Band III, Berlin.
Printing Office.
Pagán Jiménez, J. R. 2007. De antiguos pue-
Milhau, A. 1732. Histoire de l’isle de Cayenne
blos y culturas botánicas en el Puerto Rico indíge-
et province de Guianne enrichie de plusieurs cartes
na. El archipiélago borincano y la llegada de los
et figures […].Aix-en-Provence : Bibliothè-
primeros pobladores agroceramistas. Oxford:
que Méjeanne.
Archaeopress.
Mickleburgh, H., e J.R. Pagán Jiménez.
Pagden, A. 1986. The Fall of Natural Man:
2012. New insights into the consump-
The American Indian and the Origins of Com-
tion of maize and other food plants in
the pre-Columbian Caribbean from starch parative Ethnology. Cambridge: Cambridge
grains trapped in human dental calculus. University Press.
Journal of Archaeological Science 39:2468- Passes, A. 2002. Both Omphalos and Mar-
2478. gin: On how the Pa’ikwené (Palikur) see
Mocquet, J. 1617. Voyage en Afrique, Asie, themselves to be at the center and on the
Indes Orientales et Occidentales. Fait par Iean edge at the same time, in Comparative Ar-
Mocquet, Garde du Cabinet des Singularitez du awakan Histories: Rethinking language family
Roi, aux Tuilleries […]. Paris: Iean de Heu- and culture area in Amazonia, Editado por
cqueville. J.D. Hill, & F. Santos-Granero, pp. 171-
195. Chicago: University of Illinois Press.
Mourre, V. 1996. Les industries en quartz
au Paléolithique: terminologie, methodolo- _____. 2004. The gathering of the Clans:
gie et technologie. Paleo 8:205-223. The Making of the Palikur Naoné, Ethno-
history 51(2): 257-291
______. 2004. Le débitage sur enclume au
Paléolithique moyen dans le Sud-Ouest de Penard, F. P., A. P. Penard. 1907. De men-
la France, Session 5: Paléolithique moyen, schetende Aanbidders der Zonneslang. Parama-
in Proceedings of the 14th UISPP Congress ribo: H. B. Heyde.
2001. Editado por P. van Peer, D. Bonjean, Perry, L. 2001. Prehispanic Subsistence in the
& P. Semal, pp. 29-38. Oxford: Archaeo- Middle Orinoco Basin: Starch Analysis Yield
press. New Evidence. Tese de Doutorado, Univer-
Nieuwenhuis, C.J. 2002. Traces on tropical sidade de Southern Illinois, Estados Uni-
tools. A functional study of chert artifacts from dos.
preceramic sites in Colombia. Leiden: Leiden ______. 2002. Starch Granule Size and the
University Press. Domestication of Manioc (Manihot escu-
Nimuendajú, C. 1926. Die Palikur-Indianer lenta) and Sweet Potato (Ipomoea batatas).
und ihre Nachbarn. Göteborgs Kungl. Vete- Economic Botany 56(4):335-349.

Amazôn., Rev. Antropol. (Online) 7 (1): 100-131, 2015 129


van den Bel, M.

______. 2004. Starch Analyses Reveal the ells by Englishmen and others. Glasgow: James
Relationship between Tool Type and Func- MacLehose & Sons.
tion: An Example from the Orinoco Valley Quandt, C. 1807. Nachricht von Suriname
of Venezuela. Journal of Achaeological Science und seinen Einwohnern. Gorlitz.
31(8):1069-1081.
Raleigh, W. 1997. The Discoverie of the
______. 2005. Reassessing the Traditional Large, Rich, and Beautiful Empyre of
Interpretation of “Manioc” Artifacts in Guiana. Transcribed, annotated and intro-
the Orinoco Valley of Venezuela. Latin duced by Neil L. Whitehead. The Ameri-
American Antiquity 16(4):409-426. can Exploration and Travel Series 77. Nor-
Petitjean Roget, H. 1983. Evolution et man: University of Oklahoma Press.
décadence de l’art funéraire des sites pré et Righter, E. (Ed.). 2002. The Tutu Archaeo-
post-colombiens de la baïe de l’Oyapock, logical village site: a multidisciplinary case study in
in Proceedings of the Ninth Internatinal Con- human adaptation. Londres: Routledge.
gress for the Study of the pre-Columbian Cultures
Rivière, P. 1969. Marriage among the Trio, a
of the Lesser Antilles, Santo Domingo 1981.
principle of social organization. Oxford: Clar-
Editado por L. Allaire, & F.-M. Mayer, pp. endon Press.
183-200. Montréal: Centre des Recherches
Caraïbes, Université de Montréal. ______. 1984. Individual and society in Gui-
ana: a comparative study of Amerindian Social
______. 1995. Fouille de sauvetage urgent, Organization. Cambridge: Cambridge Uni-
Site n° 97112314.16, Trou Delft: un site versity Press.
funéraire post-colombien sur l’Oyapock
en Guyane française, in Proceedings of the Roosevelt, A.C. 1980. Parmana: Prehistoric
XV Congress of the International Association Maize and Manioc Subsistence along the Amazon
of Caribbean Archaeology, San Juan de Puer- and Orinoco. Nova York: Academic Press.
tà Rico1993. Editado por R. Alegría, &M. ______. 1997. The Excavations at Corozal,
Rodríguez, pp. 377-392. San Juan de Porto Venezuela:Stratigraphy et Ceramic Seriation.
Rico: Centro de Estudios Avanzados de New Haven: Yale University Press.
Puerto Rico y el Caribe. Rostain, S. 2013. Islands in the rainforest: land-
Petitjean Roget, H., & D. Roy. 1976. Site scape management in pré-Columbian Amazonia,
archéologique du Rorota, Guyane, in Pro- translated by M. Eliott. New frontiers in
ceedings of the 6th Congress of the International historical ecology 4. Walnut Creek: Left
Association for Caribbean Archaeology, Pointe- Coast Press.
à-Pitre 1975. Editado por R. P. Bullen, pp. Roth, W.E. 1924. An introductory study of
165–174. Pointe-à-Pitre. the Arts, Crafts, and Customs ofthe Gui-
Prous, A., M. Alonso, G. Neves de Sou- ana Indians, in Thirty Eighth annual report of
za, A. Pessoa Lima, e F. Amoreli. 2010. La the Bureau of American Ethnology to the Secre-
place et les caractéristiques du débitage sur tary of the Smithsonian Institution 1916-1917.
enclume (« polaire ») dans les industries Washington: United States Government
brésiliennes, Paléo 201-220. Disponível em Printing Office.
http://paleo.revues.org/1996 Santos-Granero, F. 2011. Captive identities,
Purchas, S. (Ed.). 1906. Hakuytus Posthumus or the genesis of subordinate quasi-ethnic
or Purchas His Pilgrimes. Contayning a History collectivities in the American Tropics, in
of the World in Sea Voyages and Lande Trav- Ethnicity in Ancient Amazonia: Reconstructing

130 Amazôn., Rev. Antropol. (Online) 7 (1): 100-131, 2015


Uma nota sobre a introdução de raladores de metal

Past Identities from Archaeology, Linguistics, and 1492-1992. Editado por J. Hill, pp. 20-35.
Ethnohistory. Editado por A. Hornberg, & Iowa City: University of Iowa Press.
J. Hill, pp. 335-348. Boulder: University Wilk, R.R. 1999. “Real Belizean Food”:
Press of Colorado. Building Local Identity in the Transna-
Schomburgk, R.H.1922. Richard Schom- tional Caribbean. American Anthropologist
burgk’s Travels in British Guiana, 1840-1844. 101(2):244-255.
Georgetown: Daily Chronicle. Whitehead, N. L. 1995b. The historical an-
Siravo, B. A. 2009. Beyond the natural: In- thropology of text: The interpretation of
digenous women’s contribution to making Raleigh’s Discoveries of Guiana. Current
the world. Archaeology and Anthropology, Jour- Anthropology 36(1):53–74.
nal of the Walter Roth Museum of Anthropology
16(1):1-29.
Tertre, J-B. 1654. Histoire générale des isles Recebido em 28/09/2014
de S. Christophe, de la Guadeloupe, de la Mar-
tinique, et autres dans l’Amérique […]. Paris: Aprovado em 11/02/2015
Chez Iacques Langlois.
Walker, J. 2011 . Ceramic assemblages
and landscape in the mid-1st millennium de
Mojos, Beni, Bolivia. Journal of Field Archae-
ology 36(2):119-131.
Walker, J.B. 1980. Analysis and replica-
tion of lithic artifacts from the Sugar Fac-
tory Pier site, St. Kitts, in Proceedings of the
Eighth International Congress for the Study of
Pre-Columbian Cultures of the Lesser Antilles.
Editado por S.M. Lewenstein, pp. 69-79.
Saint Kitts: Arizona State University.
Wallace, A. R. 1889. A Narrative of Travels
on the Amazon and Rio Negro, with an account
of the Native Tribes […]. Londres: Ward,
Lock & Co.
Whitehead, N.L. 1988. Lords of the Tiger
Spirit: A History of the Caribs in Colonial Ven-
ezuela and Guyana 1498-1820. Dordrecht:
Foris Publishers.
_____. 1993. Ethnic transformation and
historical discontinuity in native Amazonia
and Guyana, 1500-1900. L’Homme 126-
128:285-307.
_____.1996. Ethnogenesis and Ethnocide
in the settlement of Surinam, History, Power
and Identity, in Ethnogenesis in the Americas

Amazôn., Rev. Antropol. (Online) 7 (1): 100-131, 2015 131

Das könnte Ihnen auch gefallen