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Globalização e Mundo do Trabalho – Prof.

º Fernando de Gonçalves

Emile Durkheim e a Divisão do Trabalho Social

A obra do autor francês Émile Durkheim (1858-1917) teve um impacto mais duradouro na
Sociologia moderna do que a obra de Comte. Embora se apoiasse em determinados aspectos da
obra de Comte, Durkheim pensava que muitas das ideias do seu predecessor eram demasiado
especulativas e vagas, e que Comte não realizara com sucesso o seu programa - dar à Sociologia um
carácter científico.
Durkheim via a Sociologia como uma nova ciência que podia ser usada para elucidar
questões filosóficas tradicionais, examinando-as de modo empírico. Durkheim, como
anteriormente Comte, acreditava que devemos estudar a vida social com a mesma objectividade
com que cientistas estudam o mundo natural. O seu famoso princípio básico da Sociologia era
«estudar os factos sociais como coisas». Queria com isso dizer que a vida social podia ser analisada
com o mesmo rigor com que se analisam objectos ou fenómenos da natureza. A obra de Durkheim
abrange um vasto espectro de tópicos. Três dos principais temas que abordou foram: a importância
da Sociologia enquanto ciência empírica; a emergência do indivíduo e a formação de uma ordem
social; e as origens e carácter da autoridade moral na sociedade.
Encontraremos as ideias de Durkheim repetidas vezes nas nossas discussões teóricas
acerca da religião, do desvio e do crime, do trabalho e da vida económica. Para o autor, a principal
preocupação intelectual da Sociologia reside no estudo dos factos sociais. Em vez de aplicar
métodos sociológicos ao estudo de indivíduos, os sociólogos deviam antes analisar factos sociais -
aspectos da vida social que determinam a nossa acção enquanto indivíduos, tais como o estado da
economia ou a influência da religião.
Durkheim acreditava que as sociedades tinham uma realidade própria - ou seja, a
sociedade não se resume às simples acções e interesses dos seus membros individuais. De acordo
com o autor, factos sociais são formas de agir, pensar ou sentir que são externas aos indivíduos,
tendo uma realidade própria exterior à vida e percepções das pessoas individualmente. Outra
característica dos factos sociais é exercerem um poder coercivo sobre os indivíduos. No entanto, a
natureza constrangedora dos factos sociais raramente é reconhecida pelas pessoas como algo
coercivo, pois de uma forma geral actuam de livre vontade de acordo com os factos sociais,
acreditando que estão a agir segundo as suas opções. Na verdade, afirma Durkheim,
frequentemente as pessoas seguem simplesmente padrões que são comuns na sociedade onde se
inserem.
Os factos sociais podem condicionar a acção humana de variadas formas, que vão do
castigo puro e simples (no caso de um crime, por exemplo) a um simples mal-entendido (no caso
do uso incorrecto da linguagem). Durkheim reconhecia que os factos sociais são difíceis de estudar.
Os factos sociais não podem ser observados de forma directa, dado serem invisíveis e intangíveis.
Pelo contrário, as suas propriedades só podem ser reveladas indirectamente, através da análise dos
seus efeitos ou tendo em consideração tentativas feitas para as expressar, como leis, textos
religiosos ou regras de conduta estabelecidas. Durkheim sublinhava a importância de pôr de lado
os preconceitos e a ideologia ao estudar factos sociais. Uma atitude científica exige uma mente
aberta à evidência dos sentidos e liberta de ideias preconcebidas provenientes do exterior.
O autor defendia que os conceitos científicos apenas podiam ser gerados pela prática
científica. Desafiou os sociólogos a estudar as coisas tal como elas são e a construir novos conceitos
que reflectissem a verdadeira natureza das coisas sociais. Tal como os outros fundadores da
Sociologia, Durkheim estava preocupado com as mudanças que transformavam a sociedade do seu
tempo. Estava particularmente interessado na solidariedade social e moral - por outras palavras,
naquilo que mantém a sociedade unida e impede a sua queda no caos. A solidariedade é mantida
quando os indivíduos se integram com sucesso em grupos sociais e se regem por um conjunto de
valores e costumes partilhados.
Na sua primeira grande obra, A Divisão Social do Trabalho (1893), Durkheim expôs uma
análise da mudança social, defendendo que o advento da era industrial representava a emergência
de um novo tipo de solidariedade. Ao desenvolver este argumento, o autor contrastou dois tipos
de solidariedade - mecânica e orgânica relacionando-os com a divisão do trabalho e o aumento de
distinções entre ocupações diferentes. Segundo Durkheim, as culturas tradicionais com um nível
reduzido de divisão do trabalho caracterizam-se pela solidariedade mecânica. Em virtude da maior
parte dos membros da sociedade estar envolvida em ocupações similares, eles estão unidos em
tomo de uma experiência comum e de crenças partilhadas. A força destas últimas é de natureza
repressiva - a comunidade castiga prontamente quem quer que ponha em causa os modos de vida
convencionais.
Desta forma resta pouco espaço para dissidências individuais. A solidariedade mecânica
baseia-se, por conseguinte, no consenso e na similaridade das crenças. No entanto, as forças da
industrialização e da urbanização conduziram a uma maior divisão do trabalho, o que contribuiu
para o colapso desta forma de solidariedade. A especialização de tarefas e a cada vez maior
diferenciação social nas sociedades desenvolvidas haveria de conduzir a uma nova ordem
caracterizada pela solidariedade orgânica, defendia Durkheim. Este tipo de sociedades estão
unidas pelos laços da interdependência económica entre as pessoas e pelo reconhecimento da
importância da contribuição dos outros. À medida que a divisão do trabalho aumenta, as pessoas
tornam-se cada vez mais dependentes umas das outras, dado que cada uma necessita dos bens e
serviços que só outras pessoas com ocupações diferentes podem fornecer. Relações de
reciprocidade económica e de mútua dependência de reciprocidade económica e de mútua
dependência vêm substituir as crenças partilhadas na função de criar um consenso social.
No entanto, os processos de mudança no mundo moderno são de tal maneira rápidos e
intensos que dão origem a problemas sociais importantes. Podem ter efeitos dissolventes sobre os
estilos de vida tradicionais, a moral, as crenças religiosas e os padrões do quotidiano, sem no
entanto fornecerem novos valores de forma evidente. Durkheim relacionou este contexto
conturbado com a anomia, um sentimento de ausência de objectivos ou de desespero provocado
pela vida social moderna. Os padrões e meios de controlo tradicionais, fornecidos anteriormente
pela religião, são destruídos em larga medida pelo desenvolvimento social moderno, o que deixa
em muitos indivíduos das sociedades modernas um sentimento de ausência de sentido na sua vida
quotidiana.
Um dos estudos mais famosos de Durkheim dizia respeito à análise do suicídio. O suicídio
parece ser uma acção puramente pessoal, o resultado de uma infelicidade pessoal extrema. O
autor mostrou, contudo, que factores sociais exercem uma influência fundamental no
comportamento suicidário - sendo a anomia uma dessas influências. As taxas de suicídio mostram
padrões regulares de ano para ano, e esses padrões devem ser explicados sociologicamente.
GIDDENS, Anthony. Sociologia. Fundação Calouste Gulbenkian. Lisboa, 2008.

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