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Imigração brasileira.

Da visão gerencialista de risco às novas perspectivas da nova


lei migratória

Este artigo tece reflexões sobre a possibilidade de políticas de gerenciamento de risco


terem sido aplicadas, durante a vigência da Lei nº 6.815/1980, pelas autoridades migratórias
brasileiras a partir da década de 1980, e que essa possibilidade de gerenciamento estava pautada
num caráter eficientista. Ao final, mostrar que houve uma mudança de paradigma com a entrada
em vigor da nova lei de imigração.
O trabalho de Klélia Canabrava Aleixo e Janine Fernanda Fanucchi de Almeida
Melo1 “ambivalências e contradições nas ciências criminais”, a partir da análise da obra de
Coñedo e Fonseca2 apontou para essa direção de gerenciamento de risco no Brasil na mesma
época de vigência do Estatuto do Estrangeiro.3 Da mesma forma, Ana Luiza Zago de Moraes4
traz a possibilidade de reflexo de gerenciamento de risco nos controles migratórios brasileiros; e
na mesma linha, porém com os olhos na Europa dos anos de 2000, Gabriel Haddad Teixeira5 que
foca a influência das teorias de Justiça Atuarial no estabelecimento das políticas migratórias, e
que aos nossos olhos, serviu de parâmetro à política migratória brasileira, mostrando as
influências das políticas migratórias da Europa e também a americana.
Hoje o controle migratório brasileiro não enxerga mais os imigrantes como na década
de 1980, pautada em gerenciamento de grupos de riscos6, agora com visão mais humanista, mais
sedimentada na observância de direitos fundamentais. Esse novo modelo reflete mudanças de
pensamento do controle estatal frente às mais diversas políticas criminais ao redor do mundo e,
demasiado, à situação humanitária de migrações mundiais, saindo de um viés eficientista para
um viés mais garantista de direitos dos imigrantes.

Do controle social e do controle migratório


A definição de controle social pode ser dada sob duas óticas: um controle formal, que é
aquele controle que o Estado faz sobre a sociedade interna usando de sua autoridade; e o controle
informal, exercitado pela sociedade contra o Estado, normalmente de setores organizados na

1
ALEIXO. K.C e MELO.J.F.F.A. Ambivalência e contradições nas ciências criminais. Trabalho apresentado no XXIV Encontro Nacional do
CONPEDI-UFS1 – Criminologias e Políticas Criminais pelas pesquisadoras. <Disponível em:
https://www.conpedi.org.br/publicacoes/c178h0tg/23r885k0/k01v4G97EgCol685.pdf> Acessado em: 09.10.2018
2
FONSECA, David. S. Assumindo riscos: a importação de estratégias de punição e controle social no Brasil. P. 297-338. In: FONSECA, David;
CÂNEDO, Carlos (Orgs.). Ambivalência, contradição e volatilidade no sistema penal. Leituras contemporâneas da sociologia da punição. Belo
Horizonte: UFMG, 2012. Disponível em: https://www.conpedi.org.br/publicacoes/c178h0tg/23r885k0/ k01v4G97EgCol685.pdf. Acessado em
: 01.10.2018.
3
Op. Cit. pag. 166.
4
É pesquisadora em Doutora em Ciências Criminais da PUC/RS. Com sua tese de doutoramento “Crimigração: a relação entre política migratória
e a política criminal no Brasil”, aprovada com voto de louvor e Menção Honrosa do Prêmio Capes de Teses no ano de 2016. Disponível
em<https://www.capes.gov.br/images/stories/download/pct/2016/Mencoes-Honrosas/Direito-Ana-Moraes.PDF>Acessado em: 03.10.2018.
5
TEIXEIRA, G.H. Crimigração e controle migratório no contexto da justiça atuarial. 2013. Fls XXX Dissertação de Mestrado. Programa de
Mestrado e Doutorado do Centro Universitário de Brasília. UniCeub.Brasília.2013.
6
O gerenciamento de risco que tangencia a repressão de crime conexo à imigração ilegal é combatido por delegacias especializadas, em todos
os aeroportos internacionais onde haja Polícia Federal, em situação diferenciada de controle migratório.
sociedade sob ações do Estado7. O controle migratório8 também é um controle social formal,
controla pessoas e coisas a fim de manter a ordem pública interna e prevenir possíveis
interferências ilícitas estrangeiras. No âmbito de sua aplicação nos aeroportos sobre estrangeiros,
fala-se em submissão a soberania brasileira.
Essas interferências externas podem ocorrer de diversas maneiras, a mais incomum e
assustadora é a invasão por forças nacionais estrangeiras, que embora o Brasil esteja
remotamente distante dessa possibilidade, não se exclui totalmente a probabilidade num futuro
mais remeto, pois aqui se guarda as maiores riquezas do mundo como a floresta amazônica e o
aquífero de Alter do Chão no Pará9.
Segurança interna não significa somente proteção contra forças estrangeiras, é também
proteger seus nacionais de potenciais riscos que possam causar instabilidade na harmonia interna
a que podemos numerar: tráfico de pessoas, tráfico de drogas, tráfico de armas10.
O contexto de defesa, de proteção nacional, de combate a ilícitos transnacionais faz do
controle migratório brasileiro a obrigatoriedade de selecionar pessoas, permitindo ou não a sua
admissibilidade. Em nome da segurança e do bem-estar de todos, restringe-se o direito subjetivo
de ir e vir.
Tabela 1 - Denegação de visto11 para estrangeiros no exterior/Por ano12

ANO QUANTIDADE
2017 2.414
2016 4.201
2015 10.428
Fonte: Polícia Federal brasileira
Os dados mostram o poder do Estado no controle social ao denegar visto de entrada a
estrangeiros. Essa denegação pode ser encarrada tanto perspectiva de política seletiva de
soberania, como numa seleção incapacitante de pessoas. Veja tabela de inadmitidos no Exterior

Tabela 2 – Brasileiros inadmitidos no Exterior/Por Ano

PAIS VALOR
Estados Unidos 1.814
Grã-Bretanha 1.320

7
IAMAMOTO, M. V. & CARVALHO, R. de. Relações Sociais e Serviço Social no Brasil: esboço de uma interpretação histórico-metodológica.
6.ed. São Paulo: Cortez/Celats, 1988.
8
Controle migratório abrange o controle da Polícia Federal, da ANVISA, Ministério da Agricultura e da Receita Federal do Brasil.
9
Fórum Alternativa Mundial da Água (FAMA). O FAMA se organiza em contraposição ao Fórum das Corporações – autodenominado 8º Fórum
Mundial da Água ocorrido em março de 2018, na Universidade de Brasília.
10
Estes são os crimes que mais fazem circular dinheiro e que mantem organizações criminosas, segundo a Nações Unidas sobre Drogas e Crime
(UNODC), agência da ONU.
11
BRASIL. Ministério das Relações Exteriores. Somente países que o Brasil exige visto de entrada. Disponível em:<
http://www.portalconsular.itamaraty.gov.br/tabela-de-vistos-para-cidadaos-brasileiros>. Acessado em: 05.11.2018.
12
Os dados refletem uma política denegatória de entrada no País nos anos de 2014 e 2015. Vê-se maior rigor na fiscalização. Em 2014 houve a
Copa do Mundo FIFA, fato excepcional, o que justifica um maior aumento na expedição de Visto para Copa 2014. Em 2016, ocorria as olimpíadas
do Brasil, justificando também uma maior expedição de Visto de Turista Olímpico, naquele ano, porém, ocorrida no mundo diversos atentados
terroristas que justificaria o fechamento de fronteiras e/ou impedimento de pessoas.
2
Espanha 1301
Portugal 161
Japão 132
Fonte: Polícia Federal brasileira
Quando se verifica os dados de brasileiros inadmitidos no exterior os números são
menores, mas podem retratar um caráter migratório, pois os países indicados (Tabela 2) são
países que tem maiores comunidades de brasileiros residentes no exterior e, ao mesmo tempo,
são onde aparecem os maiores números de crimes cometidos por brasileiros no exterior.
Tabela 3 – Impedimento13/Por nacionalidade em 2017

NACIONALIDADE VALOR
China 32%
Bolívia 15%
Paraguai 11%
Peru 8%
Congo 3%
Nigéria 3%
Estados Unidos 3%
Fonte: Polícia Federal brasileira
Para crimes transnacionais mencionados acima, o controle migratório é a porta entrada
e a saída de muitos deles. O Brasil utiliza, decerto, de uma política criminal na fiscalização a fim
de combatê-los. A repressão a esses crimes são os maiores problemas enfrentados pelo Estado,
pois, além de serem também problemas mundiais, afeta a ordem interna, e os controles
migratórios obrigam-se a um gerenciamento de criminosos por meio de políticas criminais mais
eficientes.
Tabela 4 – Inquéritos Policiais abertos nos últimos 5 anos pela Polícia Federal para um único tipo penal

ANO IPL TIPO PENAL


2018 1.68614 ART. 33 CC ART 40, I – 11.343/06
2017 3.069 ART. 33 CC ART 40, I – 11.343/06
2016 3.262 ART. 33 CC ART 40, I – 11.343/06
2015 3.784 ART. 33 CC ART 40, I – 11.343/06
2014 3.677 ART. 33 CC ART 40, I – 11.343/06
Fonte: Polícia Federal brasileira

O tráfico de drogas representa um dos crimes com maior lucratividade, atrás do tráfico
de drogas e de armas,15 e os controles migratórios representam o meio de um processo que se
inicia com políticas de prevenção até a repressão de fato. Os dados mostram uma constância no
crime de lei de drogas, com pouca variação, de 10% a 15% para mais ou para menos, por ano.
Não houve efetivamente uma redução com a implementação da lei do tráfico de drogas quando
comparado com os dados de dois anos depois a sua implementação (ver tabela 5).

13
O Brasil exige visto somente dos Estados Unidos, China, Congo e Nigéria. Estes dados acima são em comparação a tabela 3.
14
Dados disponíveis até agosto de 2018.
15
UNODC. Ver Escritório das Nações Unidas sobre Drogas.
3
Tabela 5 – Inquéritos Policiais abertos em 2 anos pela Polícia Federal para um único tipo penal

ANO IPL TIPO PENAL


2012 4.179 ART. 33 CC ART 40, I – 11.343/06
2013 4.421 ART. 33 CC ART 40, I – 11.343/06
Fonte: Polícia Federal brasileira
De certo, dados como esses são relevantes para a segurança pública, pois podem refletir
não só a necessidade de investimentos em determinados setores, como também à formulação ou
reformulação de políticas criminais não encarceradora. Dos números (Tabela 5), 22% por ano
são estrangeiros, ou seja, mais de 450 estrangeiros são presos no Brasil por uso de substâncias
proibidas.
Tabela 6 – Inquéritos Policiais abertos nos últimos 7 anos pela Polícia Federal para um único tipo penal
próprio do Estatuto do Estrangeiro.

ANO IPL TIPO PENAL


2018 2 ART. 125, INC XIII – Lei nº 6.815/1980
2017 22 ART. 125, INC XIII – Lei nº 6.815/1980
2016 12 ART. 125, INC XIII – Lei nº 6.815/1980
2015 53 ART. 125, INC XIII – Lei nº 6.815/1980
2014 56 ART. 125, INC XIII – Lei nº 6.815/1980
2013 48 ART. 125, INC XIII – Lei nº 6.815/1980
2012 236 ART. 125, INC XIII – Lei nº 6.815/1980
Fonte: Polícia Federal brasileira

Dos crimes previstos no Estatuto do Estrangeiro, os dados apontam para uma


descriminalização do imigrante que, quando pego em situação de flagrância ou não, poderia ser
condenado a até 5 anos de reclusão cominando com sua expulsão, em enchendo-se as prisões.
No entanto, em 2017 entrou em vigor a nova lei de migrações, que descriminalizou o art. 125 do
Estatuto do Estrangeiro e garantiu o devido processo legal aos imigrantes, razão pela qual os
números foram reduzidos significativamente.

Controle migratório intervencionista

A perspectiva de segurança nacional no Brasil ganhou força com a formatação da


sociedade brasileira a partir do “Estado Novo” de Getúlio Vargas16. Nesse período o código penal
ganhou vertente de política criminal intervencionista17; e, no mesmo viés, as leis imigratórias.
O Decreto-Lei nº 406, de 4 de maio de 193818 dispunha sobre a entrada de estrangeiros
no território nacional de imigrantes. Seu ponto principal era evitar a entrada no Brasil de pessoas
considerada perigosa à ordem interna. Aqui se começa a desenhar uma política migratória
intervencionista.

16
SEYFERTH, G. Colonização, imigração e a questão racial no Brasil.Revista USP, São Paulo, n.53, p.117-149, mar./mai.2002. Disponível
em:<https://www.revistas.usp.br/revusp/article/view/33192/35930>. Acessado em: 24.10. 2018.
17
Moraes. A.L.Z de. Crimigração: A relação entre a política migratória e política criminal no Brasil. Tese de doutorado. 2015. pag. 91 Disponível
em:< https://www.capes.gov.br/images/stories/download/pct/2016/Mencoes-Honrosas/Direito-Ana-Moraes.PDF> Acessado em: 24.10.2018
18
BRASIL. Decreto-Lei nº 406/1938. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/CCivil_03/Decreto-Lei/1937-1946/Del0406.htm>. Acessado
em 24.10.2018
4
Já em 1969, já houve alguns avanços não intervencionista, como o Decreto-Lei nº 941,
de 13 de outubro de 196919 que definiu a situação jurídica do estrangeiro no Brasil. Este decreto
excluiu alguns impedimentos de entrada de estrangeiros, mas manteve o impedimento de pessoas
que pudessem trazer algum problema à ordem pública. Inovou ao selecionar quais imigrantes
poderiam permanecer,20 e o rol de infrações e penalidades aplicadas aos estrangeiros reduziu-se.
Em ambos os institutos grande parte das penas eram de prisão.
O estatuto do estrangeiro, Lei nº 6.815/1980 inovou no século. Instituído ainda sob a
sombra do regime militar e em vigor até novembro de 2017, veio carregado de estigmas,
ideologias do mundo pós-guerra e ao alvitre da segurança nacional. As prisões ainda se faziam
presentes em situação de expulsão de estrangeiro por prática de crime contra a segurança
nacional, a ordem política ou social, a tranquilidade e a moralidade pública e a economia popular
ou em caso que se tornassem nocivo à conveniência e aos interesses nacionais, ou ainda pela
prática de fraude a fim de obter a sua entrada ou permanência no Brasil, ou que se sindicalizasse,
independentemente de ideologia.
Essas legislações brasileiras apontam para uma filosofia que considera a população de
imigrantes como grupos potenciais de riscos, o que legitima a prevenção e a repressão dessas
populações, mas que vai de encontro ao exercício de um direito subjetivo de migrar, conforme
retratou Kant.21 O que se vê é que nos institutos anteriores o modelo de prisão e expulsão como
prevenção era a melhor alternativa para manter a ordem e a segurança interna.

O gerenciamento de risco nos controles migratórios. O eficientismo estatal


Entende os criminólogos administrativistas que os criminosos são racionais, agem
baseado de cálculos racionais de vantagens e desvantagens da prática criminosa, medem
situações para cometimento de crime22.
O Estado, por meio dos agentes fiscalizatórios de imigração, age dentro dessa
perspectiva de procurar identificar o ambiente situacional do criminoso, influenciando em suas
decisões racionais, visando a prevenir o crime. Os agentes fiscalizatórios agiam, portanto, dentro
dessa perspectiva de criminologia administrativa, pois buscavam não só manipular o ambiente
criminoso como também influenciar nas decisões de crime a fim de evitar o medo geral na

19
BRASIL. Decreto-Lei nº 941/1969. Disponível em:< http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/1965-1988/Del0941.htm> Acessado em
24.10.2018
20
Op. Cit.
21
Lyra, J.F.D.C. A criminalização dos imigrantes irregulares e a edificação do subsistema penal de exceção (ou do inimigo): o triste exemplo da
legislação italiana e espanhola. Revista Brasileira de Ciências Criminais: 2016. Pag.2. Disponível em: <
https://bdjur.stj.jus.br/jspui/handle/2011/96531> Acessado em: 19.10.2018
22
MOLINA, Antonio García-Pablos de; GOMES, Luiz Flávio. Criminologia: introdução a seus fundamentos teóricos. 1997 . pag. 416. Disponível
em:<https://acervodigital.ssp.go.gov.br/pmgo/bitstream/123456789/133/38/Literatura20Complementar20-20Livro20-
20Criminologia2C20Gomes20-20PC3A1ginas2014820a20197.pdf> Acessado em: 23.11.2018
5
sociedade. Existia um clamor popular por uma presença mais eficiente das instâncias de controle
social para evitar tal medo2324.
Assim, quando o agente fiscalizador busca identificar e incapacitar determinados grupos
de risco, o que se busca é influenciar na decisão (abstenção) de possíveis crimes, porém tudo
resguardado sob o manto de uma polícia administrativa eficientista e não de um polícia judicial
repressiva. Neste sentido, impedir o acesso de persona non grata25, por exemplo, significa um
mecanismo de incapacitação eficiente, pois inadmitir pessoas pode prevenir crimes possíveis
crimes no Brasil. Para Lyra26, isso é técnica atuarial por gestão de risco.
Para as autoridades migratórias brasileiras era mais operativo focalizar a fiscalização
em grupos de riscos, já que, para o controle migratório, não é sua função conhecer as causas do
crime e derrotá-lo, mas incapacitá-lo antes que eventual crime posso ocorrer. Interessava também
a outros Estados soberanos tal incapacitação, evitando-se, assim a entrada de possíveis
criminosos.
No Brasil, acordos de cooperação foram firmados sob a vigência do Estatuto do
Estrangeiro para troca de informações numa tentativa de antecipação de crime. Esses acordos
consistiam em restringir a entrada ou permanência de determinadas pessoas ou grupo de pessoas
no Brasil. Um desses acordos de cooperação foi firmado com o Departamento de Segurança
Interna dos Estados Unidos27.
O controle migratório brasileiro passou a receber informações colhidas em processos de
investigação criminal28 nos Estados Unidos de pessoas que sobre elas pairavam suspeitas em
envolvimento de abusos sexuais.29 Com isso, podia-se impedir a entrada de pessoas cuja
procedência, origem e histórico de crimes pudessem trazer riscos30 a sociedade brasileira. Há
ainda os casos dos hooligans, dos barrabravas, até pessoas previamente indicados pelo
Organização das Nações Unidas.

23
ALEIXO. K.C e MELO.J.F.F.A. Ambivalência e contradições nas ciências criminais. Trabalho apresentado no XXIV Encontro Nacional do
CONPEDI-UFS23 – Criminologias e Políticas Criminais pelas pesquisadoras. p.161. <Disponível em:
https://www.conpedi.org.br/publicacoes/c178h0tg/23r885k0/k01v4G97EgCol685.pdf> Acessado em: 09.10.2018.
24
SACKSESKI. C. Da prevenção à “nova prevenção”. Disponível em: <http://www.criminologiacritica.com.br/arquivos/1311812448.pdf:
Acessado em 05.11.2018
25
Dizer que alguém é persona non grata, expressão com origem no latim, equivale a dizer que ela não é querida ou bem-vinda em um determinado
meio. Muitas vezes, na vigência do Estatuto de Estrangeiro bastava fazer manifestação política publicamente para ser considerada persona non
grata. Ato proibido no Estatuto de Estrangeiro.
26
Publicação disponível no site do Ministério Público de São Paulo e na Revista dos Tribunais e http://www.mpsp.mp.br/portal/page/
portal/documentacao_e_divulgacao/doc_biblioteca/bibli_servicos_produtos/bibli_boletim/bibli_bol_2006/RBCCrim_n.116.13.PDF
https://bdjur.stj.jus.br/jspui/handle/2011/96531 respectivamente.
27
Acordo de Cooperação sobre tratamento e de transferência de dados contidos nos registros de identificação dos passageiros pelos
transportadores aéreos para o departamento de segurança interna dos Estados Unidos da América. Passenger Name Record (PNR). Depois
regulamentada pelo Resolução ANAC nº 255, de 13.11.2012. Disponível em: http://www.anac.gov.br/participacao-social/audiencias-e-consultas-
publicas/audiencias/2012/22/3-resolucao-api-e-pnr-versao-final.pdf> Acessado em: 19.10.2018
28
Independentemente do trânsito em julgado
29
Angels Watch é o nome que recebe o sistema de colaboração entre a polícia federal brasileiro e o Departamento de Segurança Interna dos
Estados Unidos. Lei de Megan
30
Foi o caso dos hoolings ingleses, dos barras bravas argentinos e de abusos sexuais condenados nos Estados Unidos. Ver referência 11.
6
Note-se que no controle migratório brasileiro era válida a ação seletiva de pessoas ou
grupo, pois incapacitava futuras tentativas de crime, mesmo que em abstrato. Trata-se de um
processo de redimensionamento do direito penal instrumentalizada pelas vias administrativas
(acordos de cooperação) para evitar que os riscos se convertessem em situações concretas de
crime31. Moldava-se um perigo abstrato e uma provável situação de crime a uma nova penalogia32
feita por cooperação internacional. Embora o objetivo final não fosse o encarceramento, mas o
risco apresentado permitia a detenção até que houvesse o perigo abstrato cessado.33
A gerência de riscos, por sua vez, inicia administrativamente e, a depender da atividade
e seu potencial para produzir consequência danosa, passa a ser “atribuição do direito
penal[...]”3435.
O controle migratório brasileiro agia dentro da mesma lógica de política administrativa,
buscando racionalizar situações de operabilidade do criminoso com base em valorações
estatísticas e atuariais, conjecturando a criminalidade em estatísticas investigativas. Buscava-se
permitir incapacitar os mais propensos grupos de riscos, não lhes permitindo entrada ou se
permitindo, reduzindo-lhes prazos de estada ou ainda lhes dando obrigações que os incapacitasse
à possibilidade delitiva.
Analisando os percentuais de imigrantes impedidos de entrar no Brasil (Tabela 3),
infere-se que há alguns elementos que liga o seu impedimento com irregularidades
administrativas ou penais. É sabido, através de dados do Ministério do Trabalho e Emprego36
que parte dos imigrantes (Tabela 3) são as maiores vítimas do tráfico de pessoas e acabam se
tornando trabalhadores escravos, muitas vezes, pelos próprios nacionais.
Um agente estatal que atue no controle migratório fazendo entrevista de admissibilidade
atuava nessa perspectiva. O agente migratório tinha certa discricionariedade na admissibilidade
do migrante, podendo direcionar a entrevista de admissibilidade para forma subjetiva às questões:
porque veio visitar o Brasil? Tem dinheiro para se manter no Brasil durante esse tempo que
indicou? Ao invés de questões objetiva: tem passagem de retorno? Tem local para permanecer

31
ALEIXO. K.C e MELO.J.F.F.A. Ambivalência e contradições nas ciências criminais. Trabalho apresentado no XXIV Encontro Nacional do
CONPEDI-UFS31 – Criminologias e Políticas Criminais pelas pesquisadoras. Pag. 161 <Disponível em:
https://www.conpedi.org.br/publicacoes/c178h0tg/23r885k0/k01v4G97EgCol685.pdf> Acessado em: 09.10.2018
32
Ver Anitua. G.I. Histórias dos pensamentos criminológicos. Trad. Sergio Lamarão. Rio de Janeiro:Revan. Instituto Carioca de
Criminologia. 2018. Pag.815
33
Durante a copa do mundo de futebol, as olimpíadas, e jogos internacionais como copa libertadores, esse tipo impedimento foi muito utilizado
até que se houvesse encerrado os jogos.
34
Moraes. A.L.Z de. Crimigração: A relação entre a política migratória e política criminal no Brasil. Tese de doutorado. 2015. pag. 43 Disponível
em:< https://www.capes.gov.br/images/stories/download/pct/2016/Mencoes-Honrosas/Direito-Ana-Moraes.PDF> Acessado em: 24.10.2018
35
DIETER,M.S.Política criminal atuarial: criminologia do fim da história. Rio de Janeiro: Revan, 2013.p.176. Disponível em: <
https://acervodigital.ufpr.br/bitstream/handle/1884/28416/R%20-%20T%20-
%20MAURICIO%20STEGEMANN%20DIETER.pdf?sequence=1> Acessado em 21.1.2018.
36
BRASIL. MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO. Disponível em: <http://trabalho.gov.br/component/content/article?id=4428>
Acessado em: 13.11.2018
7
no Brasil? Quanto dinheiro você tem? Pretende ficar no Brasil quanto tem? E com isso
incapacitá-los.
Embora se tenha a consciência de que o Estado é soberano em permitir ou não entrada
e estada de imigração em território nacional, sabe-se que ao selecionar determinadas categorias
ou grupos de nacionalidade a fim de empregar maior rigor fiscalizatório, está-se agindo dentro
de uma perspectiva atuarial, numa visão prospectiva de perigo abstrato.
É a instrumentalização do direito penal no sentido de evitar se que convertam em
situação concreta de perigo. Um direito penal preventivo interferindo na teoria do crime, criando-
se bens jurídicos de características transindividuais e de tipo e de tipo penal de perigo abstrato
[...]37, como a crimigração.
“O Poder do Estado não pode mais ser considerado absoluto e ilimitado, pois há
imposições externa a serem cumpridas, como os direitos humanos, mas também não pode ser
discriminatória, segregativas”3839.
Essa nova penalogia enxerga um modelo punitivo estatal, porém agora a punição não é
baseada na culpabilidade do indivíduo, pois no controle migratório não há de se falar em culpa,
a não ser em situação de flagrante de delito, mas sim pelos riscos que ela representa para a
sociedade. As funções administrativas do Estado no controle migratório passaram a ser sujeitos
prioritário do direito penal. É uma verdadeira orientação criminológica que liga a imigração às
práticas penais40.
Outro ponto fundamental diz respeito aos custos com deportações de imigrantes. A
política de inabilitação tinha o objetivo de incapacitar para evitar mais custos com deportação de
estrangeiros41. Todos os custos eram bancados pelo governo brasileiro ao país origem do
imigrante.
Esses custos foram posteriormente transferidos aos transportadores dos imigrantes, que
ficavam obrigados a custear alimentação, estada, passagem de retorno ao país de origem, sem
falar nos custos das multas pelo transporte irregular do imigrante previstas na lei. Mais tarde,
todos esses custos pelo transporte irregular de imigrantes foram transferidos ao P&I Clubs42.

37
ALEIXO. K.C e MELO.J.F.F.A. Ambivalência e contradições nas ciências criminais. Trabalho apresentado no XXIV Encontro Nacional do
CONPEDI-UFS37 – Criminologias e Políticas Criminais pelas pesquisadoras. Pag. 163 <Disponível em:
https://www.conpedi.org.br/publicacoes/c178h0tg/23r885k0/k01v4G97EgCol685.pdf> Acessado em: 09.10.2018
38
TEIXEIRA, G.H. Crimigração e controle migratório no contexto da justiça atuarial. 2013. Fls XXX Dissertação de Mestrado. Programa de
Mestrado e Doutorado do Centro Universitário de Brasília. UniCeub.Brasília.2013.
39
Ver De Giorgi. El Gobierno de la excedencia: postfordismo y control de la multitud. Madrid.: traficantes de Sueños, 2006.
40
Lyra, J.F.D.C. A criminalização dos imigrantes irregulares e a edificação do subsistema penal de exceção (ou do inimigo): o triste exemplo
da legislação italiana e espanhola. Revista Brasileira de Ciências Criminais: 2016. Pag.12. Disponível em:
<https://bdjur.stj.jus.br/jspui/handle/2011/96531> Acessado em: 19.10.2018
41
Para Dieter, o custo são fator fundamental na política criminal atuarial. Pag. 179. DIETER, M.S. Política Criminal Atuaria. A criminologia do
fim da história.2012. Tese de Doutorado. Programa de Pós-graduação da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Paraná.UFPR.2012.
42
Protection and Indemnity. Consistem em associações mútuas de seguro. São os seguros dos marítimos. Seus membros são, ao mesmo tempo,
seguradores e segurados. Quando o ingresso se dá por via aérea, os custos são da própria companhia aérea que deve retorná-los ao país de origem
e/ou procedência.
8
Na Espanha, a legislação espanhola estabeleceu verdadeiro prática de controle atuarial
seguindo orientação europeia43. Da mesma forma, em razão do princípio da reciprocidade, o
Brasil adotou o mesmo tratamento dado aos brasileiros quando chegavam na Espanha, Itália,
também caracterizado verdadeiro controle atuarial44. Na Itália, chegou-se a multar o nacional
italiano que hospedasse imigrantes irregulares45.
Essa nova penalogia de gerenciamento de grupos de riscos na política migratória
brasileira anterior já trabalhava com a lógica atuarial de identificar, classificar, ordenar os grupos
através de dados estatísticos e informações privilegiadas vindas de acordo internacionais.

Conclusão
O Estatuto de Estrangeiro à época representou, decerto, um marco na política migratória
brasileiro das décadas de 1970 em diante. É possível entender que houve uma tendência mundial
irradiada pelos Estados Unidos de uma justiça atuarial baseada em gerenciamento de risco de
pessoas ou grupo, a fim de tentar frenar os altos índices de criminalidade e como uma política
ideológica, até porque os controles migratórios mundiais não são ilhas e, em algum momento, se
sujeitam às ideologias de imposição de políticas internacionais. Há certa dependência
regulatórias mundiais que, para darem certos, dependem de tratados e cooperações entre países.
No Brasil, acredita-se que não houve efetivamente uma política de encarceramento no
controle migratório, mas sim uma política gerencial que pairava uma justiça atuarial, calcadas
em acordos internacionais que visasse incapacitar pessoas.
Desse modo, é perfeitamente sabido que a nova lei de imigração brasileira, na contramão
das leis migratórias mundiais, deixa de ser uma política de segregação, de estigmatização e passa
a atuar dentro de uma perspectiva mais humana, mais fundada em direitos fundamentais, em
princípios. Agora já se pode falar em novo paradigma no controle migratório brasileiro. O
migrante não é mais inimigo, passa a ter acolhidas humanitárias.
Portanto, uma velha penalogia que agia sob a égide do Estatuto do Estrangeiro, deu
espaço a um novo paradigma. Com o advento da nova lei de imigração brasileiro, consegue o
Brasil se desvencilhar desse velho paradigma de restrição de pessoas e passar a adotar uma
política migratória mais fundamentada nos direitos humanos. Faz-se apenas a ressalva que as
políticas criminais estão sujeitas às intempéries da política tradicional.

43
Lyra, J.F.D.C. A criminalização dos imigrantes irregulares e a edificação do subsistema penal de exceção (ou do inimigo): o triste exemplo
da legislação italiana e espanhola. Revista Brasileira de Ciências Criminais: 2016. Pag.14. Disponível em:
<https://bdjur.stj.jus.br/jspui/handle/2011/96531> Acessado em: 19.10.2018
44
Nota Verbal de 29.03.2012, do Ministério das Relações Exteriores e Mensagem Circular Oficial da Coordenação Geral de Polícia de Imigração
da Polícia Federal.
45
Ver, Lyra, 2015...
9
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