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SUMÁRIO

CAPÍTULO 1
Desenvolvimento histórico de materiais, elementos e sistemas estruturais em
alvenaria 23
1.1 História dos materiais da alvenaria 24
1.2 Pedra 24
1.3 Tijolos cerâmicos 26
1.4 Blocos sílico-calcários 28
1.5 Blocos de concreto 28
1.6 Argamassa 29
1.7 Elementos tradicionais de construções 29
l .7. l Ganhando altura 30
1.7.2 Vencendo vãos 35
1.7.3 Definindo espaços infernos 43
1.8 Desenvolvimento da estrutura de edifícios 48
1.8.l Pilareviga 49
1.8.2 Abóbodas e cúpulas 49
l .8.3 Q<)tico 51
1.8.4 Edificações férreas em alvenaria estrutural 53
1.8.5 Edifícios de múltiplos pavimentos em alvenaria estrutural 53
1.9 Desempenho das estruturas ainda hoje existentes 55
1. 1O Restauração e reabilitação de estruturas históricas 56
1.11 Considerações finais 58
1.12 Exercícios 58

CAPÍTULO 2
Alvenaria contemporânea 61
2.1 Introdução 61
2.2 Elementos em alvenaria 61
2.2. l Definições 62
2.2.2 Paredes 65
2.2.3 Pilares e enrijecedores 71
12 COMPORTAMENTO E DIMENS!ONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL SUMÁRIO 13

2.2.4 Vigas, vergas e cintas 74 3.4.2 Desempenho acústico 130


2.3 Sistema~ estruturais de edificações em alvenaria 75 3.4.3 Estanqueidade 132
2.3. l Edificações térreas 75 3.4.4 Resistência ao fogo 132
2.3.2 Edifícios de múltiplos pavimentos 76 3.5 Estética 133
2.3.3 Edifícios híbridos 78 3.6 Compatibilização dos reguisitos , 136
2.4 Tipos de alvenarias estruturais 78 3.7 Concepção do edifício 139
1
2.4. l Alvenaria não armada 78
3.7. l Forma do edifício 139
2.4.2 Alvenaria armada 82
3.7.2 Fachada e elevações 141
2.4.3 Alvenaria pratendida 84
3.7.3 Planta 144
2.5 Desenvolvimento da normalização internacional 88 3.7.4 Configuração das paredes e layout 147
2.6 Desenvolvimento da alvenaria estrutural no Brasil 90 3.7.5 Lajes 151
3.7.6 Conexões 154
2.7 Normas brasileiras 93 3.7.7 Juntas de dilatação e controle 156
2.8 Considerações finais 95 3.7.8 Fundação 157
2.9 Exercícios 95 3.8 Aspectos econômicos 157
3.9 Considerações finais 158
CAPÍTULO 3
Projeto de edifícios 97 3. 1O Exercícios 159
3. 1 Introdução 97 CAPÍTUL04
3.2 Requisitos estruturais 98 Materiais da alvenaria 161
3.2.1 Critérios de dimensionamento 98 4.1 Introdução 161
3.3 Ações 1O1 4.2 Propriedades básicas dos blocos e tijolos 161
3.3.1 Ações horizontais: empuxo e desaprumo 104 4.2.1 Descrição de blocos e tijolos 161
3.3.2 Ação do vento 107 4.2.2 F;)rmas usuais 165
3. 3. 2. l Caso de edifício de múltiplos pavimentos de planto retangular 113 4.2.3 Propriedades das blocos 167
3.3.2.2 Outros casos l l 6 4.3 Blocos cerâmicos 174
3.3.3 Ações acidentais 117 4.3. l Produção 175
3.3.4 Outras ações 118 4.3.2 Formatos, tamanhos e classificação 177
3.3.5 Segurança em estruturas 120 4.3.3 Resistência à compressão 184
3.3:5. l Valores caraclerísticos e valores de cálculo 120 4.3.4 Resistência à tração 185
3.3.5.2 Coeficientes de majoração e combinação de ações 120 4.3.5 Absorção 1.85
3.3.5.3 Combinação das oções no ELU 121 4.3.6 Durabilidade 187
3.3.5.4 Combinação das ações no ELS 122 '4.3.7 Coeficiente de expansão térmica 188
3.3.5.5 Coeficientes de minoração dos materiais 123 4.3.8 Expansão higroscópico 188
3. 3 .6 Estados limites de serviço 124 4.3.9 Fluência 189

3.4 Requisitos de conforto térmico e acústico 126 4.4 Blocos de concreto 189
3 .4. 1 Desempenho térmico 127 4.4.1 Produção 189
4.4.2 Formatos, tamanhos e classificação 191
14 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL SUMÁR!O 15

4.4.3 Resistência à compressão 195 4. 11.3 Drenagem 224


4.4.4 ResistênGia à tração 197 4. 1 1.4 Revestimento e pintura 224
4.4.5 Absorção 197 4.12 Considerações finais 225
4.4.6 Durabilidade 197
4.4.7 Movimentação térmica 197 4.13 Exercícios 226
4.4.8 Retração 198
CAPÍTULOS
4.4.9 Fluência 198
Comportamento de elementos em alvenaria 229
4.5 Blocos de sílico-calcário 199
5.1 Introdução 229
4.5. 1 Produção 199
4.5.2 Classificação, tamanhos e formatos 199 5.2 Compressão simples 230
4.5.3 Resistência à compressão e troção 201 5.2.1 Introdução 230
4.5.4 Absorção 201 5.2.2 Ensaios padrão de prisma 230
4.5.5 Movimentação térmica, retraçào e fluência 201 5.2.3 Valor característico 233
4.6 Blocos de pedra e de vidro 201 5.2.4 Mecanismo usual de ruptura 234
5.2.5 Fatores que influenciam a resistência do prisma 238
4.7 Blocos especiais não convencionais 202
5. 2. 6 Relações tensão-deformação 248
4.7.1 Blocos especiais não convencionais 203 5.2.7 Relação entre resistência de parede e prisma 252
4.7. 2 Blocos de concreto celular 204 5.2.8 Resistêncio ã compressão paralela ã junta de assentamento 252
4.8 Argamassa 205 5.3 .Combinação de compressão e flexão 253
4.8. 1 Funções da argamassa 205 5.3.1 Introdução 253
4.8.2 Tipos de argamassa 205 5. 3. 2 Ensaios de prisma 254
4. 8. 3 Propriedades no estado fresco 207 5.3.3 Mecanismo usual de ruptura 255
4.8.4 Propriedades no estado endurecido 209 5.3.4 Fatores que afetam o diagrama tensão-deformação na flexão 257
4.8.5 Agregados para argamassa 215 5. 3 .5 Diagrama tensão-deformação na compressão 257
4.8.6 Aditivos e corantes 216
5.4 Tração ng flexão fora do plano 259
4.9 Graute 217
5 .4. 1 Introdução 259
4.9.1 Requisitos de trabolhabilidade 217 5.4.2 Métodos de ensaio 259
4.9.2 Tipos 218 5.4.3 Mecanismo de ruptura 263
4.9.3 Aditivos 219 5.4.4 Fatores que afetam a resistência de tração por aderência entre a bioca e a
4.9.4 Resistência à compressão 220 argamassa 2 65
4. l O Armaduras 221 5.4.5 Fatores que influenciam a resistência de tração na flexão de alvenaria
grauteada 269
4.1O.1 Bar;as de aço 221
5.4.6 Coeficiente dE; resistência ortogonal 271
4.10.2 Armadura para juntas de assentamento 222
5.4.7 Resistência biaxial 273
4.10.3 Conectares 222
4. 10.4 Cabos de protensão 222 5.5 Resistência ao cisalhamento ao longo da junta de assentamento 274
4. 10.5 Proteção contra corrosão 222 5.5.1 Introdução 274
4. 11 Materiais complementares 223 5.5.2 Métodos de ensoio 274
5.5.3 Modos de ruptura 275
4. 1 1. 1 Materiais para preenchimento de juntas 223
4.11.2 Impermeabilização 224 5.5.4 Reloções entre resistêncio ao cisalhamento ao longo da junta e pré·
compressão vertical 275
SUMÁRIO 17
16 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE AtVENARIA ESTRUTURAL

6.2. l O Considerações especiais 312


5 .5 .5 Interação entre cisalhamento e tração ao longo da junta 277
5. 5. 6 Fatores que influenciam a resistência ao cisalhamento ao longo da 6.2.11 Exemplo 6.1: Análise de uma seção de alvenaria armada sujeita a flexão
simples 313
junta 278
5.5.7 Resistência ao cisalhamento e juntas verticais 280 6.3 Comportamento e dimensionamento ao cisalhamento 318
5.6 Resistência de tração no plano da alvenaria 280 6.3. l Desenvolvimento das especificações para dimensionamento 318
6.3.2 Exemplo 6.2: Análise da forçp cortante 325
5.6. l Introdução 280
5.6.2 Métodos de ensaio 280 6.4 Comprimento de ancoragem, emendas e ancoragem nos apoios 327
5.6.3 Modos de ruptura 282 6.4. l Requisitos gerais 327
5.6.4 Fatores que influenciam a resistência de tração no plana da alvenaria 284 6.4.2 Comprimento de ancoragem e de emenda 327
5.7 Ações combinadas e resistência biaxial 286 6.4.3 Ancoragem nos apoios e em pontos intermediários 330
6.4.4 Exemplo 6.3: Ancoragem no apoio 332
5.7. l Introdução 286
5.7.2 Métodos de ensaio 286 6.5 Vigas de alvenaria protendida 332
5.7.3 Modos de ruptura 288 6.5. l Introdução 332
5.7.4 Fotores que influenciam a ruptura sob tensões biaxiois de compressão· 6.5.2 Comportamento e projeto de seções não fissuradas sob ações de
tração 288 serviço 333
5.8 Exemplos 289 6.5.3 Verificação da resistência à compressão da alvenaria 336
6.5.4 Perdas de pretensão 338
5.8. l Placa de apoio para ensaio de prisma 289
6.5.4. l Deformação elástico do olvenarla, movimentação higroscópico, efeítos
5.8.2 Especificação dos materiais 289
térmicos e fluência 338
5.8.3 Deformação axial 289
6.5.4.2 Atrito, acomodação das ancaragens e relaxação da aço 338
5.8.4 Coeficiente de ortogonalidade(~) da resistência à tração para tijolos
cerãmicos 290 6.5.5 Comportamento e projeto de seções fissuradas no estado limite último 339
5. 8 .5 Coeficiente de ortogonalidade (~I da resistência à tração para biocas de 6.5 .6 Dimensionamento ao cisalhamento 340
concreto 290 6.5 .7 Tensão de contato e ancoragem 340
5. 9 Considerações finais 291 6.5.8 Exemplo 6.4: Comportamento e dimensionamento de uma viga de
alvenaria pretendida 343
5 .1 O Exercícios 292
6.6 Distribuição de carregamentos em vergas 347
CAPÍTULO 6 6.6. l Comportamento 347
Vigas 295 6.6.2 Exemplo 6.5: Carregamento sobre uma verga 348

6.1 Introdução 295 6.7 Considerações finais 350

6.2 Comportamento e dimensionamento a flexão 296 6.8 Exercícios 350

6.2. l Hipóteses básicas 296


CAPÍTUL07
6.2.2 Comportamento de vigas com armadura de flexão 297
Painéis fletidos 353
6.2.3 Análise elástica de vigas 298
6.2.4 Análise de vigas pelo estado limite último 302 7.1 Introdução 353
6.2.5 Armadura dupla 305 7.2 Mecanismos resistentes 354
6.2.6 Estados limites de serviço 307
6.2.7 Armadura intermediária 310 7.3 Comportamento a flexão de alvenarias não armadas 358
6.2.8 Vigas-parede 310 7.3. l Considerações gerais 358
6.2.9 Armadura mínima 311
18 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL SUMÁRIO 19

7.3.2 Flexão vertical 358 7.9 Considerações finais 41 O


7.3.3 Efeito de carregamento vertical adicional 361
7.1 O Exercícios 411
7.3.4 Flexão horizontal 362
7.3.5 Flexão em duas direçães 365
7.3.6 Paredes duplos 368 CAPÍTULO 8
Paredes com compressão axial e flexão fora do plano 413
7.4 Análise e dimensionamento de painéis não armados 368
8. 1 Introdução 413
7.4. 1 Introdução 368
7.4.2 Dimensionamento por princípios elásticos simples 369 8.2 Visão geral da evolução dos critérios de dimensionamento 414
7.4.3 Métodos plásticos da linho de plastificação, da linha de ruptura e da linha 8. 2. 1 Evolução das recomendações poro projeto 4 14
de fratura 370 8.2.2 Tipos de paredes estruturais 415
7.4.4 Dimensionamento de acordo com o Método da linho de Ruptura 375
8.3 Evolução histórica da compreensão sobre comportamento de paredes
7.4.5 Exemplo 7.1: Flexão em duas direçães de um painel de alvenaria não
comprimidas 417
armado 379
7.4.6 Paredes com enrijecedores 383 8. 3. 1 Capacidade resistente 4 17
8.3.2 Efeito da altura da parede 418
7.5 Efeito arco para força horizontal 384
8.4 Interação entre carga axial e flexão 419
7.5.1 Mecanismos do efeito arco em apoios rígidos 384
7.5. 2 Mecanismo do efeito arco quando há folgas nas extremidades 387 8.4.1 Introdução 419
7.5.3 Influência do encurtamento axial no mecanismo de orca 388 8.4.2 Análise elástico-linear de seções não armadas 420
7.5.4 Influência da movimentação dos apoios no mecanismo de arco 389 8.4.3 Análise elástico-linear de seções armadas 423
7.5.5 Dimensionamento 389 8 .4.4 Análise no estado limite último 425
7.5.6 Exemplo 7.2: Efeito arco em um painel com flexão vertical 390 8 .5 Efeitos da esbeltez 431
7.6 Painéis fletidos em alvenaria armada 394 8.5.1 Introdução 431
7.6. 1 Introdução 394 8.5.2 Dimensionamento simplificado de acordo com a normalização
7.6.2 Flexão vertical 395 brasileira 432
7.6.3 Flexão horizontal 397 8.5.3 Efeito de esbeltez e excentricidade de carga para paredes com esbeltez
7.6.4 Flexão em duas direçães 399 pequena (kh/t ,; 30) 434
8.5.4 Dimensionamento de paredes esbeltas sob baixa compressão axial 438
7.7 Análise e dimensionamento de painéis armados 399
8.6 Paredes pretendidas 441
7.7. 1 Flexão vertical 399
7.7.2 Flexão horizontal 401 8.6.1 Considerações iniciais 441
7.7.3 Flexão em duas direçães 401 8.6.2 Análise elástico-linear 441
7.7.4 Poinéis com aberturas 401 8.6.3 Verificação do estado limite último 442
7.7.5 limites para taxo de armadura 401 8.6.4 Efeitos da esbeltez 442
7.7.6 Verificação do cisalhamento 402 8.7 Cargas concentradas 446
7.7.7 Ancoragem da armadura 402
8 .7. 1 Estado de tensões sob cargas concentradas 446
7.8 Exemplos de dimensionamento de painéis fletidos armados 402 8.7.2 Especificações para dimensionamento 449
7.8.1 Exemplo 7.3: Painel ormodo com flexão vertical 402 8.8 Cisalhamento no plano perpendicular à parede 453
7.8.2 Exemplo 7.4: Painel armado com flexão nas duas direções 406
8.8.1 Paredes armadas e não armadas 453
7.8.3 Exemplo 7.5: Painel armado com flexão horizontal 407
7.8.4 Exemplo 7.6: Dimensionamento de uma parede de vedoção 408 8.9 Exemplos de dimensionamento 453
20 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL SUN..ÁRIO 21

8.9. l Exemplo 8.1: Parede sob carga centrada 453 10.2 Influência do tipo e do layout das paredes de contraventamento 496
8.9.2 Exemplo 8.2: Parede sob carga excêntrica e força lateral 455
10.3 Comportamento e modos de ruptura 498
8.9.3 Exemplo 8.3: Parede dupla de tijolos cerâmicos, esbelta e
protendida 461 10.3. l Paredes não armadas 498
8.9.4 Exemplo 8.4: Carga concentrada 466 10.3.2 Paredes de contraventamento nâo armadas em edifício de múltiplos
pavimentos 50 l ,
8.1 O Considerações finais 466
10.3.3 Paredes de contraventamento/armadas 504
8.11 Exercícios 467 10.3.4 Paredes armadas e com aberturas 509
10.3.5 Paredes de contraventamento armadas em edifícios de múltiplos
CAPÍTULO 9 andares 51 O
Pilares e enrijecedores 469
10.4 Distribuição dos esforços em paredes de contraventamento 512
9. 1 Introdução 469
10.4. l Cargas verticais 512
9.2 Comportamento de pilares de alvenaria 471 10.4.2 Forças laterais 514
9.2. l lntroduçâo 471 l 0.4. 3 Fatores que afetam a distribuição das forças laterais 519
9.2.2 Modos de ruptura e resistência à compressão 472 10.5 Efeitos de aberturas na rigidez da parede e distribuição da força
9.2.3 Efeitos de esbeltez 473 lateral 521
9.3 Limitações no dimensionamento de pilares 473 l 0.5. l
Combinação de segmentos de paredes verticais e horizontais 521
9 .4 Dimensionamento de pilares e enrijecedores para flexão normal (em uma 10.5.2 Rigidez de paredes com aberturas em edifícios baixos 522
direção) 474 l 0.5.3Exemplo l 0.1: Distribuição da força lateral em uma edificação térrea 524
10.5.4 Paredes de contraventamento de edifícios de múltiplos pavimentos 527
9.4.1 Seções não armadas 474
10.5.5 Exemplo 10.2: Esforços em pilares de pilotis de edifício de múltiplos
9.4.2 Seções armadas 475
pavimentos 530
9 .5 Efeitos da esbeltez 47 6 10.5.6 Análise limite em paredes de contraventamento em alvenaria armada 534
9.6 Dimensionamento de pilares para momento biaxial 477 10.6 Dimensionamento de paredes de contraventamento 536
9.7 Dimensionamento de acordo com a normalização brasileira 479 l 0.6. l Á_rea da seção transversal 536
9.8 Exemplos de dimensionamento de pilares de alvenaria 480 l 0.6.2 Paredes de contraventamento não armadas 537
10.6.3 Paredes de contraventamento armadas 540
9.8. l Exemplo 9.1: Pilares com carga axial excêntrica 480
l 0.6.4 ligação das paredes 546
9.8.2 Exemplo 9.2· Pilares com carga centrado 483
10.7 Exemplos 547
9.9 Dimensionamento de enrijecedores 485
10.7. l Exemplo l 0.3: Parede de contraventamento não armada 547
9.9. l lntroduçâo 485
l 0.7. 2 Exemplo l 0.4: Parede de contraventamento armada 551
9.9.2 Distribuição de esforços entre a parede e o enrijecedor 486
l 0.7.3 Exemplo l 0.5: Pilar em uma parede de contraventamento com
9.9.3 Exemplo 9.3: Proieto de um enrijecedor 487
abertura 557
9.1 O Considerações finais 492
10.8 Considerações finais 560
9.11 Exercícios 492
10.9 Exercícios 561

CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
Paredes de contraventamento 495
Paredes de preenchimento e efeito arco 565
10.1 Introdução 495
11 . 1 Introdução 565
22 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTU~l

11.2 Paredes de preenchimento em pórticos 566 CAPÍTULO 1.............................,_.,._.,.................,_....,......,_......,.....,._


11.2.1 Comportamento de paredes de preenchimento não ancoradas aos
elementos do pórtico 568
Desenvolvimento histórico de materiais, elementos e
11.2.2 Análise de pórticos preenchidos 572 sistemas estruturais em alvenaria
11.2.3 Resistência de pórticos preenchidos 576
11.2.4 Paredes de preenchimento com aberturas 577
11 .2.5 Paredes de preenchimento com iuntas no topo 580
11 .2.6 Exemplo 11.1: Análise da rigidez de um pórtico com alvenaria de
preenchimento 582
11 .2.7 Exemplo 11.2: Dimensionamento de uma alvenaria de preenchimento 583
11.3 Paredes sobre vigas 585
11.3.1 Introdução 585
11.3.2 Mecanismo de interação e modos de ruptura 585
11.3.3 Análise 587
11.3.4 limites da análise 590
11.3.5 Exemplo 11.3: Parede apoiada em viga 591
Figura 1.1 Pirâmide de Giza, Egito.
11.4 Considerações finais 592
l l .5 Exercícios 593
Atualmente o uso de alvenaria no Brasil, seja de vedação ou estrutural, ocorre com alto
ÍNDICE REMISSIVO 597 grau de aplicação de tecnologias racionalizadas. Para chegar a esse ponto, um longo caminho
foi percorrido. Relatos de construções em alvenaria no Brasil datam do século 16 e não é inco-
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 603 mum encontrar construções brasileiras marcantes em tijolos com mais de 200 anos.
Expandindo o contexto para nível mundial, exemplos de formas sofisticadas de cons-
truções em alvenaria datam de mais de 10 mil anos. Milhares de exemplos marcantes podem
ser encontrados desde então. Uma revisão dessas alvenarias históricas nos ajuda a conceber
melhor nossas construções atuais na medida em que servem de fonte de inspiração. Não seria
possível elaborar um livro completo sobre alvenaria sem comentar a enorme herança histórica
de construções em alvenaria da humanidade.
Muitos dos edifícios antigos em alvenaria foram projetados usando o peso dos pavi-
mentos e de espessas paredes para evitar a ocorrência de trações devidas a excentricidades de
carregamento e ações laterais. A estabilidade da edificação era garantida pela simples ação da
gravidade, o que, apesar de ser tecnicamente viável, impunha um limite ao uso de alvenaria
em função do alto gasto de material e consequente custo. Essa limitação motivou projetistas
a buscar soluções técnicas para permitir a diminuição da espessura das paredes, mantendo a
estabilidade da edificação.
Este capítulo pretende introduzir uma visão ampla do desenvolvimento das estruturas
em alvenaria, desde a antiguidade até os dias de hoje, analisando, do ponto de vista estrutural, o
progresso da mais simples até as mais complexas formas estruturais. Inicialmente apresenta-se
um breve histórico do desenvolvimento dos materiais, com o texto evoluindo para a descrição
dos primeiros elementos estruturais, até o desenvolvimento de grandes edifícios.
24 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL DESENVOtVIMENTO H!STÓR!CO DE MATERIAIS, ELEMENTOS E SISTEMAS ESTRUTURAIS EM AtVENAR!A 25

O desenvolvimento das estruturas em alvenaria foi muitas vezes limitado pela disponi-
bilidade de materiais, pelo grau de desenvolvimento de tecnologias construtivas, pela existên- ílr>rL:QO
~·~t:k:s.
cia de procedimentos para dimensionamento (seja por métodos intuitivos ou racionalizados)
e pelos custos. A importância de cada fator variou em cada época histórica, sendo talvez o .... u
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Q . ;;,,,tr'"
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custo o principal limitante ou incentivo para adoção do sistema. O extraordinário desenvol-
:.......,.{08~
vimento dos materiais da alvenaria, dos conceitos para projeto e das técnicas construtivas, em
muito contribuiu para o grande crescimento do uso da alvenaria estrutural como uma solução
Ç\,;:1\.J~º\····~~ . .. t'
(a) Pedras assentadas (b) Pedras encünhadas e (c) Pedras retangulares com
eficiente para nossas edificações modernas. com solo assentadas com argila junta seca

1 .1 História dos materiais da alvenaria

Muitos materiais foram utilizados para construir em alvenaria, geralmente aqueles


localmente encontrados. Nas civilizações desenvolvidas nas margens de rios, os depósitos
aluviais foram utilizados para criar uma arquitetura em tijolos. Na cultura mesopotâmica,
(d) Pedras poligonais com (e) Unidades cortadas (f} Unidades cortadas com
entre os rios Tigres e Eufrates, os atuais montes de solo petrificado em uma paisagem sem junta seca assentadas com argamassa junta seca
árvores ou rochas testemunham o largo uso de tijolos secos ao sol em edificações antigas.
Em civilizações vizinhas a montanhas de base rochosa, pedras eram usadas. Monumen- Figura 1.2 Alvenaria em pedra.
tais coustruções foram construídas pelos egípcios ao longo das fronteiras rochosas do vale do
Rio Nilo. Na congelada região do Ártico, blocos de gelo são usados para construção de iglus. Rochas sedimentares, especialmente arenito e pedra calcária, eram cortadas ao longo de
Em nossas modernas cidades, paredes são feitas até mesmo de blocos de vidro. seu berço natural usando enxadas, pés-de-cabra e cunhas e esculpidos em tamanhos menores
Atualmente, são mais comuns blocos de cerâmica, sílico-calcário e concreto. com ciséis. Areia era utilizada como um abrasivo para lixar e tornar planas as faces a serem
assentadas ou, em conjunto com lâminas de corte, para cortar blocos em menores dimensões.
Pedras maciças eram cortadas com serrotes (ver Figura 1.2).
1.2 Pedra O uso pesado de ferramentas e explosivos tornou a fabricação de alvenaria de pedra
muito mais simples. A maior parte das alvenarias de pedra atualmente é, na realidade, feita
As primeiras alvenarias eram um rudimentar empilhamento de pedras selecionadas. A com revestimentos·finos de pedra com finalidade estética apenas. Os tipos mais comuns hoje
argamassa, quando existia, era o próprio solo apertado entre estas. Com o desenvolvimento de são granito) arenito, mármore, ardósia entre outros.
ferramentas, as pedras começaram a ser grosseiramente lapidadas, empilhadas, encunhadas No Brasil existem vários relatos de construções em alvenaria de pedra logo após o des-
com pedras menores e assentadas com barro. cobrimento, especialmente na construção de casarões, igrejas e fortes nas primeiras cidades
A partir da melhoria da tecnologia, blocos de pedra começaram a ser moldados em uni- brasileiras. Um exemplo desse tipo de construção é mostrado na Figura 1.3.
dades poligonais ou retangulares, permitindo um fino ajuste das juntas. Finas juntas de cal eram
usadas, ou as pedras assentadas com junta seca, muitas vezes com tamanho grau de precisão
em que nem mesmo .uma fina lâmina de faca poderia ser inserida nessas juntas. Esse tipo de
construção é usualmente chamado de alvenaria de cantaria.
26 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE AtVENAR!A ESTRUTURAt DESENVOlVIMENTO HISTÓRICO DE MATERIAIS, ELEMENTOS E SISTEMAS ESTRUTURAIS EM ALVENARIA 27

os tijolos contribuiu muito para o aumento de sua resistência e durabilidade. Surgem os primeiros
fornos, cujo modelo mais rudimentar consistia na construção de pilhas de tijolos secos intercala-
das com camadas de lenha, cobertas externamente com urna camada de argila para reduzir a perda
de calor. O fogo era ateado em diversos pontos dependendo da direção do vento. Essa primitiva
condição de queima levava à grande variação na qualidade e nas dimensões dos tijolos. Urna me-
lhoria da qualidade foi posteriormente possível usando-se fornos especialmente construídos, cujos
tijolos secos eram empilhados em escavações no piso do forno com cornbustivel, sendo introduzi-
do e queimado de maneira controlada.
A produção de tijolos na Europa, desde a época do Império Romano até poucos séculos
atrás, era um processo lento. Tijolos secos ao sol muitas vezes deveriam ter cinco anos de
idade antes de serem utilizados em edificações. Na produção de tijolos queimados, era comum
escavar a argila no outono e deixá-la exposta ao tempo todo no inverno antes de moldar os
tijolos durante a primavera. Os tijolos não eram queimados em fornos até que tivessem idade
avançada, preferencialmente após dois anos de idade, sendo secos na sombra. As formas eram
bastante variadas, desde tijolos maciços prismáticos de 25 mm de espessura até as formas '
Figura 1.3 Muro em alvenaria de pedra ein fazenda histórica no interior de São Paulo. modernas. Algumas formas utilizadas pelos romanos são mostradas na Figura 1.5.

(200 mm)
1 .3 Tijolos cerâmicos

Tijolos cerâmicos são feitos há pelo menos 1O mil anos, talvez 12 mil. Tijolos secos ao
sol eram utilizados na Babilônia, Egito, Espanha, América do Sul, sudoeste norte-americano (38 mm) L
e outros lugares. Esse tipo de tijolo cerâmico é usualmente conhecido corno "adobe''. palavra 14
espanhola variante do árabe atob que quer dizer "seco ao sol''. (200 mm)

Os primeiros tijolos eram feitos pressionando torrões de barro ou argila, muitas vezes
na forma de grandes charutos, e deixando-os secar ao vento ou ao sol. Esses eram depois
assentados com barro em paredes em juntas aproximadamente horizontais ou em zigue-zague
ou em urna combinação de ambos (conforme Figura 1.4).
(75mm) [

Figura 1.5 Tijolos romanos fabricados em moldes.

No Brasil, a produção nacional de tijolos cerâmicos ocorre desde o século 17, havendo
registro de 1610 da Câmara Municipal de São Paulo com indicação de projetos em "tijolos cozi-
dos''. O primeiro registro de olaria mecanizada destinada à grande produção mensal é de 1967. 1
A evolução subsequente do processo de produção de blocos cerãmicos e suas principais
propriedades é tópico do capítulo seguinte.
Figura 1.4 "fijolos de adobe em forma de charuto assentados com barro.

Por volta de 3000 a.C., os tijolos eram feitos manualmente em moldes com estrume ou pa-
lha, incorporados para aumentar a resistência. Nessa época, descobriu-se que cozinhar ou queimar Lemos (1989).
li!i DESENVOLVIMENTO H!STÓR!CO DE MATERIAIS, ELEMENTOS E SISTEMA.$ ESTRUTURAIS EM ALVENARIA 29
28 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL

1 .4 Blocos sílico-calcários 1.6 Argamassa

Blocos sílico-calcários (de areia e cal) eram produzidos em épocas remotas pela molda- As primeiras argamassas eram usadas para preencher fissuras e permitir assentamento
gem de argamassa de cal na forma de tijolos, deixando-os secar ao ar. Esse tipo de produção uniforme das unidades da alvenaria. Essas podem ter sido de argila, betume ou misturas de
ocorreu até os anos 1880, apesar do tempo de secagem ser extremamente lento. O processo de argila e palha, cuja resistência ao tempo dependia muito das condições de exposição local. O
aceleração do endurecimento através da cura a vapor foi introduzido nos EUA em 1866. uso de argamassas finas permitiu maior durabilidade.
Apesar do avanço, o processo de endurecimento ainda era muito demorado. Outro Os precursores das argamassas' modernts foram o gesso, cal e pozolanas naturais. Os
avanço foi introduzido na Alemanha, em 1894, quando vapor sob grande pressão (autoclave) egípcios usavam gesso em suas argamassas milhares de anos atrás, gregos e romanos mistura-
foi utilizado para curar as unidades sílico-calcarias. Como resultado, tornou-se possível a rápi- vam cal e água e, com a adição de areia e pedra esmagada ou tijolo, produziam os primeiros
da produção de modernos blocos sílico-calcários. Esse tipo de unidade foi, então, introduzido tipos de concreto. Os romanos descobriram que a cal não endurecia com água, mas que se
em vários países, e continua a ser produzido a partir de uma mistura de areia, cal e água, sendo a misturassem com cinzas vulcânicas, poderiam produzir o que seria chamado de cimento
a areia o material que constitui cerca de 90 a 95% da mistura seca. A areia pode ser substituída pozolana. O nome pozolana vem de vila de Pozzuoli, perto do Vesúvio, a fonte da cinza vulcâ-
ou combinada com pedra moída ou pedregulho, e a cal pode ser cal virgem ou hidratada. nica. O Coliseu em Roma é um exemplo de estrutura romana feita com argamassa de pozolana
No Brasil, estudos para implementação de fábricas de blocos sílico-calcários existem que resistiu bem ao tempo durante muitos séculos.
desde o início do século 20, e a primeira fábrica efetivamente instalada ficava em Salvador, Até o século 18, poucos avanços ocorreram com as argamassas, quando John Smea- ,
BA, em 1970 (não mais operante). Apesar de existirem hoje outras fábricas de produtos sí- ton misturou pozolana ao calcário, com elevada taxa de argila, para produzir uma argamassa
lico-calcários, apenas um fabricante instalado no Estado de São Paulo produz, desde 1976, durável de endurecimento hidráulico. Esse material foi chamado cimento Portland, pois era
blocos para alvenaria estrutural. 2 parecido com as pedras da Ilha de Portland.
O outro grande avanço ocorreu com o desenvolvimento do cimento Portland por Jose-
ph Aspdin na Inglaterra, no começo do século 19. Misturando cimento Portland, areia, cal e
1 .5 Blocos de concreto água, produziu uma argamassa muito mais forte que qualquer anteriormente possível e tam-
bém de endurecimento hidráulico.
Blocos ou tijolos de concreto são produzidos a partir de meados do século 19, quando ci- Hoje se fala em argamassas "fortes" ou "fracas''. dependendo da quantidade de cimento
mentos de melhor qualidade foram desenvolvidos. Os primeiros blocos não tinham grande acei- e cal, sendo largamente reconhecido que as argamassas não devem ter resistência ou módulo
tação, pois eram maciços e pesados. Técnicas de produção de blocos vazados foram desenvolvidas de deformação superior à necessária para determinada aplicação. Isso porque argamassas "de-
a partir de 1866, quando moldes de madeira eram utilizados. Uma razoavelmente seca mistura formáveis" podem melhor acomodar pequenas deformações sem o aparecimento de fissuras.
de areia, cimento e água era lançada em moldes de madeira, que depois eram tampados e com- Recentement_e, nota-se o surgimento de argamassas especiais, industrializadas, com
primidos a mão. O molde era, então, removido e os blocos eram deixados para curar ao ar livre. aditivos, para junta fina, entre outras. Uma completa história das argamassas pode ser encon-
Durante as décadas seguintes, um razoável número de formas foi patenteado no Reino trada nas referências de Neville4 e Vitruvius. 5 As propriedades das argamassas modernas serão
Unido e nos EUA. Métodos de fabricação usando equipamentos simples foram sendo gradu- tratadas em tópico posterior.
almente melhorados, mas apenas em 1914 o tamponamento manual dos blocos foi substituí-
do por processo mecanizado. Em 1924, um equipamento mecanizado para desmoldagem foi
introduzido. Outro grande avanço foi feito em 1939, quando o tamponamento foi substituído 1.7 Elementos tradicionais de construções
por vibração sob grande pressão. Posteriores avanços na manipulação mecanizada dos mate-
riais resultou nas fábricas totalmente automatizadas de hoje. Existem dois problemas básicos em uma estrutura: como ganhar altura e como vencer
O primeiro relato de fábrica brasileira do precursor do bloco de concreto é de 1875. Os vãos abertos, em outras palavras, como viabilizar espaços verticais e horizontais. Para o pri-
blocos, então produzidos em moldes a partir de uma mistura de areia fina e cimento, eram meiro caso, são feitas construções de alvenaria em pilares, torres e paredes. O segundo caso é
muito mais caros que os tijolos cerâmicos e também não tiveram boa aceitação, o que só ocor- vencido com uso de vigas, vergas e arcos. Alguns elementos, como abóbodas (arco trasladado)
reu anos mais tarde.3 As propriedades e processo de produção dos modernos blocos vazados e cúpulas (arco rotacionado), vencem vãos horizontais e verticais ao mesmo tempo. Essas
de concreto são tópicos do capítulo seguinte.

2 Sabbatini (1984). 4 Neville (1972).


3 Lemos (1989). 5 Vitruvius (1960).
30 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DE MATERIAIS, ELEMENTOS E SISTEMAS ESTRUTURAIS EM ALVENARIA 31

formas estruturais clássicas são ilustradas neste item, com exemplos de construções antigas
encontradas principalmente no clássico trabalho de Sir Banister Fletcher, de 1896.6
~laté9,lm
l .7. l Ganhando altura
Mastaba em Gizé - Egito - 2400 a.e.
A maneira mais simples de se construir é empilhar unidades de alvenaria uma sobre a
outra. Os primeiros humanos construíram pilhas de pedra há cerca de 20 mil anos para permitir
esconderijo e proteção durante a caça. O homem moderno ainda constrói marcos de pedra
para marcar o topo de uma montanha ou locais importantes. Se pedras retangulares ou tijolos
são utilizados, uma pilha mais alta é possível, pois cada unidade se apoia uniformemente sobre
outra, transferindo seu peso e o peso das unidades de cima verticalmente sobre as unidades de
baixo até o solo ou outro apoio. Cálculos simplistas indicam que pedras de 42 MPa de resistên-
cia poderiam ser empilhadas a uma altura de 1,6 quilôlmetro antes que a primeira pedra fosse
esmagada pelas demais. Em termos práticos, a pilha se tornará instável muito antes dessa altura Ziggurat em Ur - 2600 a.C.
pela existência de apoios desbalanceados entre as unidades e pela falta de alinhamento vertical.
Além disso, forças laterais, como o vento, seriam predominantes.
Grande Pirâmide de Queops - Egito - 2580 a.e.

Pirâmides
Figura 1.6 Construções em forma de pirâmide.
A forma estrutural da pirâmide consiste no desenvolvimento lógico da pilha de pedras
(alargamento da base para garantir a estabilidade) e foi extensivamente utilizada por nossos
Paredes
ancestrais. Exemplos de construções na forma de pirâmides são mostrados na Figura 1.6. A
Paredes com faces verticais contêm muito menos material do que as pirâmides, mesmo
primeira pirâmide rudimentar, construída pelos egípcios por volta de 3000 a.C., eram tumbas
considerando paredes maciças e espessas em épocas antigas. Desde essas épocas, tais paredes
de tijolos de barro, chamadas de mastabas, de planta retangular com faces inclinadas em forma
eram tipicamente usadas em arrimos de contenção de terra, fortificações e presídios. Eram
de escada até o topo plano, na altura de cerca de 9,0 metros. Outro tipo antigo de pirâmide,
construídas de pedra, tijolos secos ao sol ou tijolos queimados, a partir de várias técnicas cons-
encontrado na região da Mesopotâmia, era o ziggurat, uma montanha artificial de tijolo e
trutivas distintas e variável qualidade.
barro construída na forma de escada, em alturas de até 53 metros, com escadas de acesso a um
Paredes de pedra eram feitas a partir de lascas até pedras polidas, cortadas até a forma
templo central no topo. O ápice da construção de pirâmides ocorreu por volta de 2600 a.C.,
desejada e assentadas com junta fina ou sem junta. Uma forma comum era a construção de
quando os egípcios usaram pedras lapidadas assentadas com argamassa para construir uma
paredes compostas com as faces externas precisamente construídas por pedreiro e pedras lapi-
estrutura com 147 metros de altura. Embora essa altura seja muito inferior ao máximo teórico,
dadas, sendo a parte interior posteriormente preenchida com lascas de pedra e argamassa. Os
foi por muito tempo, e até o início do século 20, a mais alta estrutura construída pelo homem.
romanos também usavam esse tipo de construção, conforme Figura 1.7.
Templos de forma piramidal também foram construídos nas Américas entre 900 a.C.
até 1400 d.C. Esses templos eram geralmente construídos de tijolos de barro on pedra, e fre-
quentemente tinham salas em vários níveis, chegando a altnras de 57 metros.
Para uma determinada altura, a forma piramidal, com sua base larga e lados inclinados,
é a mais estável das formas, além de distribuir bem o peso sobre uma grande área. Entretan-
to, essa é uma maneira antieconómica de uso dos materiais. A Grande Pirâmide de Giza foi
construída com cerca de dois milhões de pedras, cada uma com peso médio de 2,2 toneladas
e algumas com peso de até 13,4 toneladas. Mais informações sobre construções na forma de
pirâmide podem ser encontradas nas referências de Heyden & Gendrop 7 e de Lloyd & Miller. 8 (a) Parede de tijolos com (b) Paredes co1n fachadas em (e) Paredes com fachada
junta amarrada tijolos e algumas fiadas com apenas em tijolos
amarração
6 Musgrove (1987).
7 Heyden & Gendrop (1988). Figura 1. 7 Paredes de alvenaria romana.
8 Lloyd & Miller (1986).
32 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE AtVENARIA ESTRUTURAL DESENVOLVIMENTO H!STÓR!CO DE MATERIAIS, ELEMENTOS E SISTEMAS ESTRUTURAIS EM ALVENARIA 33

Outra forma antiga de construção consistia em utilizar tijolos de barro assentados Fazendo o equilíbrio em todas as seções, pode-se traçar a linha de empuxo ao longo da altura
com betume ou o próprio barro. A espessura junta de argamassa variava de desde 1 a 3 mm dessa estrutura. Se houve apenas a ação do peso próprio, a linha de pressão estará no centro, ou
até 40 mm. Um entrelaçado de palha era muitas vezes utilizado como armadura em algumas muito próxima deste, de cada seção ao longo da altura, e as tensões de compressões na base de
fiadas para melhorar a resistência e controlar a retração da parede. Embora as paredes ex- apoio serão uniformes ou perto disso, conforme Figura l.9(a).
ternas de edificações residenciais antigas fossem usualmente estabilizadas por enrijecedores Suponha agora que haja uma força lateral de vento cuja resultante F ocorra a uma altura
pouco espaçados, algumas vezes essas paredes eram concebidas de forma que a estabilidade y/2 na alvenaria sobre a seção A-A, conforme Figura l.8(c). Para que a parte superior não des-
fosse garantida pelo seu próprio peso. lize horizontalmente sobre a parte inferior, de1e haver uma força de cisalhamento horizontal
Um exemplo desse tipo de concepção é encontrada no palácio de Ctesifonte na Meso- V na seção A-A equilibrando a resultante de força de vento: V= F. Essa força de cisalhamento
potâmia, onde uma parede de tijolos de barro, com 5 metros de espessura na base, se eleva a é garantida pela aderência ou pelo atrito da junta de argamassa.
uma altura de 34,4 metros. A seção dessa parede é mostrada na Figura 1.8. Para equilíbrio vertical R = P e F =V, sendo que a resultante de R e V deve estar locali-
zada na posição onde a resultante de F e P cruzam a seção A-A. Isso pode ser obtido grafica-
mente ou através do equilíbrio de momento no ponto O:

R·r=F·I+P·a=;r=a+ F·y = a+e Equação 1.1


2 2P
A
A
Em cada seção, a reação vertical R e a força horizontal de cisalhamento V produzem
uma resultante inclinada formando a linha de empuxo. O valor de "r" e da excentricidade "e'
aumenta conforme se aumenta a força lateral de vento (ver Figura 1.9).

p
F

p
y

--
Vento

-
Linha de
A "t=.:!O=r.r"' A empuxa,
\ \
V
a e R
r
\ \
(a) Seção transversal (b) Parte superior (sem vento) (c) Parte superior (com vento)
\ \
Figura 1.8 Equilíbrio de uma parede de tijolos de barro no Palácio de Ctesifonte (550 d.C.).

A estabilidade dessa parede por ser entendida por meio de uma linha de empuxo, que
nada mais é do que o lugar geométrico dos pontos por onde passam as resultantes dos esforços
em cada seção de um elemento estrutural, permitindo acompanhar a transmissão dos esforços
tração
1
Canto
suspenso
\

-
Tombamento r
dentro da parede. 9 Considerando o equilíbrio da parede acima da seção A-A, em uma altura y (a) Sem vento (b) Vento fraco (c) Caso limite para (d) Suspensão do (e) Condição de
abaixo do topo, como mostrado na Figura l.8(b). O peso P da parede acima da seção A-A age, no apoio contínuo na base canto e separação tombamento
sentido vertical para baixo, no centro de gravidade de cada seção. A força de reação R será, então, da fundação
vertical para cima, aplicada no topo da alvenaria abaixo. Para equilíbrio, P = R em cada seção.
Figura 1.9 Estabilidade de uma parede conforme se aumenta a força lateral de vento.

9 Nunes (2009).
34 COMPORTAMENTO E D!MENSlONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DE MATER!A!S, ElEMENTOS E SISTEMAS ESTRUTURAIS EM ALVENARIA 35

As tensões na base da parede ou em qualquer seção ao longo da altura podem ser deter-
minadas em função do posicionamento da linha de empuxo, assumindo um comportamento
linear do material da fundação. Conforme a pressão de vento aumenta, a linha de empuxo é
movida para a face oposta à do vento. A distribuição de tensões na base é alterada de maneira
que a posição da resultante das tensões coincida com a linha de empuxo. Em certo estágio, a
linha de empuxo estará localizada a um terço da largura da base, a partir da face oposta ao ven-
to, conforme Figura l.9(c). Nesse ponto, se obtém um diagrama triangular de tensões onde a
tensão na face do vento é nula, e aumenta até o dobro da tensão obtida no caso apenas de peso
próprio (sem vento) na outra face. A partir desse ponto, o aumento da força de vento fará com
que o canto esquerdo seja suspenso, e levará a um menor contato na base e aumento das ten-
sões, conforme Figura l.9(d). Esse aumento de tensões finalmente pode levar ao esmagamento
da alvenaria no canto direito ou à ruptura da fundação. Caso essas condições não ocorram, ao
se aumentar mais a força de vento, a estrutura irá tombar quando a linha de empuxo cair fora
da base da parede, Figura l.9(e).
É simples perceber que as tensões na base de uma parede são menores e que a estabilidade
da parede será maior quanto maior for a largura dessa. Pode-se então economizar material incli-
nando as laterais da parede e, também, incorporando vazados no interior dela. Por esse motivo,
as paredes são muitas vezes mais espessas na base do que no topo e têm vazios ou aberturas.
Figura 1.10 Coluna de Trajan (113 d.C.) - adaptada de Heyden & Gendrop.1°
Torres e colunas
Uma seção transversal sujeita a momento é mais eficiente quando o material está con- A Catedral de Estrasburgo, na França, era o edifício mais alto no mundo até o século
centrado nas extremidades. Esse princípio foi utilizado na construção de estruturas na forma 20. Finalizada em 1439, tem altura de 142 metros, apenas um pouco mais baixa que a Grande
de torres onde as paredes perimetrais confinavam um espaço central vazio. Um exemplo desse Pirâmide.
tipo de construção é mostrado na Figura 1.10, construída em Roma, em 113 d.C., como um Embora as torres medievais sejam relativamente econômicas em termos de uso dos materiais,
dos "pilares da vitória". A estabilidade dessa coluna pode ser analisada em termos da linha de estas ainda seriam consideradas pesadas pelos padrões modernos. Vários exemplos sobreviveram
empuxo, como discutido anteriormente. Com o peso próprio apenas, a linha será praticamen- ao tempo, chegando a ter até 2,0 metros de espessura na base. Grandes tensões de compressão são
te central, havendo grande largura em qualquer direção para que esta linha seja deslocada impostas às fundações, e muitas torres europeias apresentam uma curva marcante, sendo a mais
lateralmente em razão de uma força de vento, mas ainda caia dentro da estrutura. famosa a Torre de Pisa.

l .7.2 Vencendo vãos

Vigas ou vergas
Espaços horizontais são mais facilmente vencidos concebendo uma viga sobre uma
abertura. Isso ocorre naturalmente quando um tronco de árvore cai sobre um pequeno rio.
O homem primitivo usava a mesma técnica, equilibrando uma pedra sobre duas outras.
Nessa construção em forma de pórtico de pilar e viga, a pedra usada como viga é fletida,
ocasionando tensões de compressão na face superior e de tração na face inferior desta. Como
a resistência à tração de pedra é baixa e sujeita a fissuras, a viga de pedra deve ter uma seção
transversal relativamente alta e é adequada para vãos pequenos. O pórtico é uma forma básica
de construção em alvenaria usada no mundo inteiro, com casos desde o círculo cerimonial de
pedra em Stonehenge, no Reino Unido, até à clássica arquitetura grega, como o Panteão em

10 Heyden & Gendrop (1988).


36 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DE MATERIAIS, ELEMENTOS E SISTEMAS ESTRUTURAIS EM ALVENARIA 37

Atenas.11 Vergas em pedra também são utilizadas como suporte para alvenaria sobre abertu- Considerando o equilíbrio de força, como mostrado na Figura Ll2(b), pode-se perce-
ras, apesar de esse método ser limitado pela dificuldade de manipulação. A Figura 1.11 mostra
ber que no vão central as forças verticais se equilibram e o cisalhamento é nulo nesse ponto.
o Portal do Leão em Micenas, onde a verga em pedra pesa entre 25 e 30 toneladas e vence um
Como a verga está simplesmente apoiada nos pilares, pode-se assumir que não existe reação
vão de apenas 3 metros. horizontal e, portanto, não há efeito arco na verga. O momento produzido pelo binário vertical
formado pela reação de apoio e carregamento deve ser equilibrado pelo momento produzido
pelo binário das forças internas da seção no meio do vão:
I
Binário das forças internas = Td = Cd Equação 1.2

.....
e
~ .1

\ / T = C para equilíbrio de forças horizontais

em que:
'· T = a resultante das tensões de tração na seção central da verga;
c = a resultante das tensões de compressão;
Figura 1.11 Portal do Leão (1250 a.C). d = o braço de alavanca entre T e C.

O equilíbrio dessa verga em pedra é ilustrado na Figura l.12. Assumindo que o peso Como não há reação horizontal, o conceito de linha de empuxo, mostrado anterior-
da pedra somado ao carregamento sobre esta seja de 30 tf, então, por simetria, cada reação mente, não pode ser aplicado aqui. Assumindo uma distribuição linear de tensões ao longo da
vertical será de 15 tf. A posição exata da reação de apoio não é determinada, pois depende do seção transversal, os diagramas de tensão de compressão e de tração serão triangulares, com a
contato entre a verga e os apoios. Se o contato não for uniforme, haverá a tendência de recal- resultante localizada a um terço da altura de cada diagrama. Para a altura total de 0,9 metro, o
que da região com concentração de tensão, finalmente levando à uniformização do contato ao braço de alavanca entre as resultantes de tração e compressão estará a dois terços dessa altura,
longo do tempo. ou seja, terá 0,6 metro. Assumindo que a reação vertical esteja localizada a 1,8 metro do centro
(a 0,3 metro da face do apoio) e equilibrando o binário externo com o interno, as resultantes de
tração e compressão na seção central serão:
30 tf

T · 0,6 = 15 · 0,9

Portanto, T = 22,5 tf e C = 22,5 tf.

(a) Desenho esquemático da verga em pedra do Portal do Leão


A parte superior da verga em pedra pode facilmente resistir a compressão de 22,5 tf,
mas como a pedra é relativamente fraca à força de tração, a força de 22,5 tf na parte inferior é
-----E,,.-.i.- e -
( 15tfl d=0,6m
'--.--'"--'l=l - y -
1 o ponto crítico. Foi esse tipo de força de tração que ocasionou o colapso de vários desses tipos
de verga em pedra.

r.0.9 n: i Arco primitivo


(b) Diagrama de corpo livre de metade da verga Um vão maior do que o possível em elementos fletidos pode ser conseguido usando
duas pedras inclinadas, apoiando uma sobre a outra de maneira a formar um arco primitivo.
Figura 1.12 Equilíbrio da verga em pedra. Um exemplo dessa concepção é o templo de Apolo em Delas (426 a.C.), onde um vão de 6,0
metros é vencido dessa forma. Nessa construção, grandes contrafortes de pedra resistiam à
reação horizontal necessária para equilíbrio do arco. Esse arranjo pode então ser analisado
11 Martin (1988). pelo conceito de linha de empuxo.
38 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL DESENVOLVIMENTO H!STÓR!CO DE MATERIAIS, ELEMENTOS E SISTEMAS ESTRUTURAIS EM ALVENARIA 39

Na verga inclinada mostrada na Figura l.13(a), P indica o peso de cada pedra e L,


Linhas de reação parabólica
o tamanho do vão. Para que as pedras não deslizem, deve haver reações horizontais R nos
apoios cuja posição exata depende da natureza do contato entre as superfícies. Devido à
simetria, a reação vertical em cada apoio será igual a P. Considerando o equilíbrio indicado
na Figura 1.13(b), pode-se perceber que é necessário uma força interna horizontal no coroa-
mento entre as duas pedras. Para equilíbrio de momento, é necessário que o binário vertical
PL/4 seja equilibrado pelo binário horizontal Rh, e, portanto:
p
;:f
- '

Reação
(a) Apoio uniforme (e) Distribuição de tensões para (a)
R=PL Equação 1.3
4h

em que h = é distância vertical entre as forças determinada pela inclinação da pedra e pela ---
natureza de contato entre as superfícies. +:--
_")!, R,
L
2
Ponto O (b) Apoio não uniforme
Linha de reação
PL
(d) Distribuição de tensões para (b)
4h
Figura 1.14 Linha de equilíbrio e diagramas de tensões em vergas inclinadas (arcos primitivos).
(a) Verga de duas pedras inclinadas PL
4h ---,-. A linha de empuxo mostrada na Figura l.14(a) seria adequada se os contatos entre cada

Vj p
pedra e os apoios e entre as pedras ocorressem de maneira uniforme (faces lisas e regulares
totalmente em contato). Se, entretanto, as faces do apoio estivessem alinhadas e as pedras

·~bt2T·'
Resultante P 2 fossem temporariamente escoradas durante a construção, então, com a remoção das escoras,
das reações
a deformação das pedras sob carregamento resultaria em uma linha de empuxo aproximada-
mente igual à mostrada na Figura l.14(b). A partir da equação 1.3 pode-se perceber que se h2
L L

f+-41
p
8 8 é 1Y2 vez h 1, então R2 é apenas igual a 2/3 da reação R1•
As tensões nas pedras podem ser examinadas a partir da linha de empuxo. Quando esta
(b) Diagrama de corpo livre (e) Diagrama de corpo livre de meia pedra coincide com o centroide da seção, as tensões serão uniformemente distribuídas na seção e
Figura l.13 Equilíbrio da verga inclinada (arco primitivo). apenas de compressão no caso do arco. Quando a linha de empuxo é excêntrica ao centroide
de uma seção do arco, a resultante das tensões coincide com a linha de empuxo, resultando em
uma distribuição de tensões não uniforme.
A posição da linha e o equilíbrio no centro de vão de uma das pedras podem ser encon-
trados considerando' o equilíbrio de meia pedra, como indicado na Figura l.13(c). Calculando Quando a linha de empuxo está localizada fora do terço médio da altura de um elemen-
o momento em torno do ponto O, tem-se: to de seção retangular, tensões de tração ocorrem na outra face da pedra. A pedra pode resistir
a uma pequena tração, mas a rótula, no encontro entre as pedras, não. Portanto, se a linha de
empuxo se localizar fora do terço médio da altura da seção no apoio ou no coroamento entre
Equação 1.4
pedràs, a junta irá abrir até que a linha de empuxo coincida com a altura de um terço da região
de contatd. Distribuições de tensão correspendentes às linhas de empuxo da Figura l.14(a)
Considerando as demais seções pode-se demonstrar que a linha de empuxo completa é e (b) são mostradas em (c) e (d), respectivamente. Estas razoavelmente respeitam a regra do
parabólica. Duas das várias possíveis formas da linha de empuxo são mostradas na Figura l.14(a) terço médio, que requer que a linha de empuxo caia dentro de um terço da altura de uma
e (b). seção retangular ao longo do comprimento do elemento para não produzir tensões de tração
ou abertura das juntas.
40 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DE MATERIAIS, ELEMENTOS E SISTEMAS ESTRUTURAIS EM ALVENARIA 41

Arcos de fiadas em balanço A forma da linha de empuxo depende do carregamento aplicado e pode ser determinada
Vergas de pedras são de difícil manuseio e pode ser vantajoso vencer aberturas usando matematicamente (tem forma invertida em relação ao diagrama de momento fletor de uma viga
unidades de alvenaria. Isso foi concebido em diversas partes do mundo usando-se a técnica das equivalente). Entretanto, o arco verdadeiro pode ser mais facilmente visualizado por analogia.
fiadas em balanço. Nessa técnica, a sequência de fiadas de pedras ou tijolos em cada lado da Um cabo, quando suspenso entre dois pontos, apresenta a forma da catenária sob seu peso pró-
abertura é projetada além da fiada inferior, ficando os blocos da fiada superior ligeiramente em prio e está submetido apenas à tração, conforme Figura l.16(a). Se se imaginar que o cabo foi
balanço sobre a fiada inferior, até que as faces inclinadas se encontrem no meio do vão. Até que feito rígido, invertido e apoiado nos mesmos dois pontos, seu peso próprio atuaria na direção
1
se encontrem, as fiadas em balanço têm equilíbrio precário, por isso usualmente elas são esco- contrária e o cabo estaria em compressão pura ad invés de tração. Uma catenária invertida é, por-
radas. O peso de fiadas acima é equilibrado pelo efeito arco da alvenaria. Um exemplo desse tanto, a forma ideal de um arco que precisa resistir ao seu peso próprio apenas. Se o arco resiste
tipo de construção é a fortaleza de Micenas, em Tirinto, mostrada na Figura 1.15. Esse método a outros carregamentos, então a forma adequada pode ser obtida adicionando pesos ao modelo
existe desde aproximadamente 2900 a.C., mas por conta de suas inerentes limitações não existem em cabo. A forma que o cabo toma depende da posição em que os pesos são adicionados e da
relatos de casos de vãos maiores que 3 metros, e, nesse caso, grandes pedras eram necessárias. O relativa magnitude desses em relação ao peso próprio. Em muitas aplicações práticas, o peso do
Portal do Leão (Figura 1.11) tinha alvenaria com fiadas em balanço sobre a verga de pedra para arco (cabo) é predominante, sendo instrutivo notar que se cargas adicionais de grande magnitu-
aliviar a carga sobre a verga. de forem adicionadas de maneira que o peso do arco (cabo) torne-se insignificante, três formas
comuns são obtidas. A primeira é a parábola, obtida adicionando pesos igualmente espaçados ao
longo do vão do cabo. A segunda é um arco semicircular, obtida aplicando cargas uniformemen- '
te distribuídas na direção radial do cabo. E, finalmente, o arco-gótico, de forma pontuda, obtida
adicionando uma carga concentrada no meio do vão ao carregamento radial uniforme. Esses
casos são mostrados na Figura l.16(b), (c) e (d), respectivamente.

Cabo Parábola
+: tracionado
Peso
uniforme •
Figura 1.15 Arco em alvenaria com fiadas em balanço. Tirinto, Grécia (600 a.C.).
do cabo • ,j;.
Arcos verdadeiros
Um avanço significativo nas estruturas ocorreu com a introdução dos primeiros arcos _Çatenária
Pressão externa Pressão externa
verdadeiros, por volta de 1400 a.C. Estes eram construídos em pedra ou tijolos em formato
de curva, chamados aduela, dispostos de modo a formar um semicírculo. Embora o primeiro
exemplo conhecido encontrado em Ur, na Mesopotâmia, tenha vão de apenas 0,8 metro, essa
forma de construção tem potencial para vencer grandes vãos. A explicação para a eficiência
dos arcos em alvenaria pode ser entendida analisando-se a linha de empuxo do arco primitivo
da Figura l. 14. Se as pedras fossem deslocadas de maneira que apenas uma fina faixa existisse,
centralizada com a linha de empuxo, então toda a seção estaria comprimida com distribuição t
(a) Arco comprimido (b) Arco parabólico (e) Arco semicircular (d) Arco pontudo (gótico)
de tensões uniforme ao longo da espessura do arco. Alvenaria sob compressão é muito eficien-
te e, portanto, esse método tem potencial de vencer grandes vãos. Figura 1.16 Analogia de cabo e arco.
A partir de cálculos simples pode-se demonstrar que alvenaria de pedra com resistência
à compressão de 42 MPa poderia vencer um vão de 800 metros antes do esmagamento de uma Embora as geometrias da catenária e da paráboloa sejam similares, assim como os carre-
pedra sobre a outra. Entretanto, em termos práticos, o arco perde a estabilidade lateral devido gamentos que produzem essas formas, a forma semicircular e seu carregamento radial são bem
à flambagem sob compressão de apenas seu peso próprio em vãos muito menores do que diferentes. A forma gótica é mais próxima da catenária e da parábola do que é do semicírculo.
esse. A mais longa ponte em arco construído, usando seções retangulares vazadas de concreto, A maioria dos carregamentos comuns em arcos de edifícios são verticais e uniforme e,
construída em Gladesville, Austrália, tem vão livre de 305 metros. portanto, a linha de empuxo, na maiorias dos arcos, é aproximadamente parabólica. O semicír-
culo não é, portanto, a melhor forma a ser usada em edifícios. Entretanto, arcos semicirculares
42 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DE MATERIAIS, ELEMENTOS E SISTEMAS ESTRUTURA!$ EM ALVENARIA 43

foram largamente utilizados no período do Império Romano (300 a.C.-365 d.C.), provalvel-
mente mais devido à facilidade de montar essa forma do que devido a qualquer noção de linha
de empuxo. 12
A sobrevivência dos arcos semicirculares só foi possível evidendemente porque estes
eram espessos o bastante para que a linha de empuxo, aproximadamente parabólica, caísse
dentro do arco ou porque havia alvenaria suficiente ao redor do arco para que a linha de
empuxo passasse com segurança fora da linha do arco, como mostrado na Figura l.17(a) e
(b). Apesar dessas limitações, o arco semicircular foi utilizado para vencer grandes vãos, como
uma ponte perto de Aosta, Itália, com vão de 35,7 metros. Um avanço no arco semicircular (25,3 m)
não ocorre antes do século 4. Um impressionante, embora pesado, exemplo de construção
em arco de forma aproximadamente parabólica encontra-se em Ctesifonte, Iraque {550 d.C.), Figura 1.18 Tiíolos de barro remanescentes do Palácio de Ctesifonte, Iraque, 550 a.C. - adaptada de
onde tijolos de barros ainda hoje são remanescentes. Este tem 7,3 metros de espessura na base, Ward-Perkins. 16
altura de 36,6 metros e vão de 25,3 metros, conforme Figura 1.18.
Arcos pontudos foram introduzidos na Síria ao longo do século 613 e posteriormente .7.3 Definindo espaços internos
desenvolvidos como uma elegante arte pelos mestres construtores góticos entre os séculos 12
e 16. 14 Embora o arco gótico não seja de forma parabólica, ele pode ser facilmente montado Os elementos estruturais definidos até aqui não permitiam enclausurar espaço interno
usando arcos circulares e, como mostrado na Figura l.17{c), pode acomodar melhor uma significante. Em alguns casos, o espaço interno era praticamente inexistente, como é o caso
linha de empuxo parabólica do que os arcos semicirculares. da Grande Pirâmide, onde cerca de apenas 1/4000 do volume total era ocupado pela câmara
Embora tenham forma mais eficiente e tenham sido construídos de maneira mais re- funerária do rei, conforme ilustrado na Figura 1.19. Na realidade, esse espaço foi criado re-
quintada, os arcos góticos não excederam os vãos obtidos com os arcos precursores. O mais petindo a construção em pilar e viga de pedra descrita anteriormente. Em cada camada, nove
longo arco gótico, finalizado em 1598, tem vão de 22,3 metros sobre a nave da Catedral de enormes vergas de pedra, com vão de 5,2 metros, são posicionadas lado a lado para formar a
Gerona, na Espanha. A maioria dos arcos góticos tem vãos pequenos. 1' cobertura da câmara de 10,4 metros de altura. De certa forma, essa concepção pode ser consi-
derada como translação lateral da forma em pilar e viga.
Elementos estruturais que vencem vãos verticais e horizontais e, portanto, permitem
enclausurar espaços internos e podem ser obtidos pela translação lateral do arco formando a
abóboda ou pela rotação de um arco em torno de seu eixo central, formando a cúpula.

Abóbodas
Os primeiros elementos em abóbodas foram construídos usando a técnica de alvenaria
em balanço. As fiadas superiores de duas paredes paralelas eram progressivamente projetadas
sobre a fiada inferior até se encontrarem no meio. Como os arcos em alvenaria em balanço, as
abóbodas de alvenaria em balanço eram muito limitadas em termos do tamanho do vão a ser
construído sem que houvesse escoramento durante a construção.
(a) Arco semicircular espesso (b) Arco semicircular fino (e) Arco gótico

Figura 1.17 Linhas de empuxo de arcos comuns.

12 Ward-Perkins (1988).
13 Hoag (1987).
14 Grodecki (1985).
15 Ward-Perkins (1988). 16 !d. ibid.
44 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAl
DESENVOLVIMENTO HlSTÓR!CO OE MATERIAIS, ELEMENTOS E SISTEMAS ESTRUTURAIS EM ALVENARIA 45

Urna camada adicional de fino tijolo de barro é adicionado ao arco inicial, sendo a adesão da
Nove vergas de
Câmara
argamassa de barro suficiente para manter os tijolos na posição sem que estes escorregassem,
pedra em cada camada
funerária até a finalização do arco. Portanto, a abóboda era literalmente urna série de arcos construídos
do rei Câmara lado a lado, conforme Figura l.20(b). Um exemplo antigo desse tipo de construção é o sistema
funerária de drenagem em abóbodas de tijolos no Palácio de Sargon, na Pérsia. Essas abóbodas, cons-
do rei
truídas aproximadamente em 720 a.C., eram ligeiramente pontudas. Um exemplo marcante
existia no Palácio de Ctesifonte, onde hoje apery~s o último arco é remanescente (Figura 1.18).

Cúpulas
Outro elemento estrutural que permite enclausurar espaços é a cúpula. Esta pode ser
pensada com a forma de um arco rotacionado em torno de seu eixo vertical.
(a) Localização da câmara funerária do rei (b) Detalhes da câmara funerária do rei
Novamente, as primeiras cúpulas eram construídas pela técnica da alvenaria em balanço,
Figura 1.19 Câmara funerária do rei na Grande Pirâmide - adaptada de Ward-Perkins. 17 que proporciona cúpulas ligeiramente pontudas. Nesse caso, cada fiada forma um anel horizontal
no qual, em grande parte, cada unidade de alvenaria é impedida de girar e cair pelas unidades ad-
jacentes, formando um anel de compressão. Para que essa ação seja efetiva, as juntas de argamassa
ou o atrito devem garantir resistência suficiente para impedir a expansão de cada anel. Se a cúpula
for enterrada, essa resistência é aumentada pela pressão de empuxo do solo que age em sentido
contrário à tendência de expansão de cada anel, e, portanto, permitindo a construção de grandes
vãos. Um exemplo desse tipo de construção é a Tumba de Agamenon, construída em 1325 a.C.
Esta tem 14,5 metros de diâmetro e 13,5 metros de altura interna, corno mostrado na Figura 1.21.

(a) Construção de abóboda que requer (b) Construção de abóboda usando as paredes
escoramento durante a construção da extremidade e depois as construídas
previamente para garantir a estabilidade
durante a construção

Figura 1.20 Construções em arcos verdadeiros.

Abóbodas em forma de arcos verdadeiros eram feitas assentando-se pedras ou tijo-


los em fiadas horizontais com a face inclinada seguindo raios centrais, corno mostrado na Figura 1.21 Tumba de Agamenon, 1325 a.C. - adaptada de Ward-Perkins. 18
Figura l.20(a). Escoramento e forma de madeira temporários eram necessários durante a
construção até que a abóboda, construída simultaneamente a partir de cada apoio, era com- Cúpulas verdaderias consistiam de fiadas horizontais de alvenaria com juntas aproxi-
pletada no coroamento central. madamente radiais. As unidades eram de faces inclinadas para permitir que fossem assentadas
Os romanos usavam esse método frequentemente, em urna combinação de tijolos e com junta seca ou com junta fina. Alternativamente, juntas espessas eram utilizadas quando as
concreto. Um exemplo impressionante, finalizado em 313 d.C., é a abóboda semicircular na unidades eram de faces paralelas não inclinadas. Cúpulas verdadeiras tinham de ser escoradas
Basílica de Constantino, que tem vão de 25 metros. durante a construção, especialmente na região do coroamento.
Outro método de construção de abóbodas consiste em assentar as unidades de alvenaria A estabilidade das abóbodas e cúpulas verdadeiras pode ser entendida de forma seme-
em uma série de anéis ou arcos lado a lado, de forma que a abóboda cresce longitudinalmente lhante à dos arcos. O comportamento de urna abóboda pode ser examinado considerando
a partir de uma extrernindade. Essa técnica permitiu que as abóbodas fossem construídas sem urna seção unitária como se fosse um arco. A linha de empuxo de um arco torna-se urna
a necessidade de escoramento de madeira. A construção começa com as unidades sendo as- superfície de empuxo em uma abóboda ou cúpula.
sentadas em um pequeno apoio na parede do fundo até que um arco completo seja finalizado.

17 !d. ibid. 18 Id. ibid.


46 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DE MATERIAIS, ELEMENTOS E SISTEMAS ESTRUTURAIS EM ALVENARIA 47

A estabilidade de cúpulas pode ser imaginada em termos de uma superfície de empuxo. Outra maneira de resistir à tração nos anéis inferiores de cúpulas hemisféricas é
O caso mais simples consiste em imaginar uma cúpula semicircular ou hemisférica. Uma bo- utilizar armadura. Embora se saiba que os romanos usaram presilhas de metal em ferro
lha de sabão resiste à pressão interna inserida durante a sua formação assumindo uma forma ou bronze em arcos de alvenaria para prender uma pedra contra a outra, esse método apa-
esférica e desenvolvendo tensões superficiais de tração (é um elemento de membrana). O fino rentemente não foi utilizado em cúpulas hemisféricas. Armadura em anéis de cúpulas foi
filme da bolha de sabão não resiste à compressão ou cisalhamento. Portanto, essa bolha está usada pela primeira vez em uma cúpula de forma gótica na Catedral de Florença, finalizada
submetida à tração pura que, por simetria, é igual em todas as direções. Por analogia, uma bola em 1462. 21
de pingue-pongue submersa em água está submetida à pressão externa uniforme e, portanto, em Tensões de tração podem ser e~itadas s1 apenas 40% da parte no topo do hemisfério
um estado de compressão pura. Portanto, a superfície de empuxo de uma pressão externa uni- for utilizada. Nesse caso, além da reação verticai, a reação horizontal na base deve ser resistida
forme é uma esfera. Embora as tensões de compressão sejam uniformes em todas as direções, é pelos apoios. Esse tipo de cúpula de altura baixa em relação ao vão é característica da arqui-
mais simples e suficiente tratar matematicamente o problema considerando apenas duas com- tetura bizantina, e um excelente exemplo foi construído no topo da Igreja de Santa Sofia, em
ponentes: uma na direção da cada anel horizontal e outra perpendicular a essa. Se a esfera for di- Constantinopla (Istambul), em 537 d.C. 22
vidida em hemisférios, então as tensões de compressão no anel horizontal ainda são equilibradas
internamente, porém a componente de compressão vertical terá de ser equilibrada por apoios
externos. Portanto, uma bola de pingue-pongue (de peso desprezível) cortada ao meio, apoiada
em uma mesa plana e sujeita à pressão externa radial uniforme, ainda está em compressão pura.
Acontece que o hemisfério não é a superfície de empuxo de tipos de carregamentos que não seja
a compressão radial uniforme. Na prática, uma cúpula fina em forma de hemisfério, sujeita a seu
peso próprio, não terá tensões uniformes em todas as suas superfícies e desenvolverá tração nos
anéis horizontais abaixo de 60% da altura da cúpula, 19 conforme Figura 1.22.
Existem várias maneiras de solucionar o problema das tensões de tração. A maneira
mais comum em tempos antigos era usar uma cúpula de grande espessura, de maneira que a
superfície de empuxo caísse dentro da espessura. Outro método era aumentar a espessura da
cúpula em sua parte inferior, de maneira que, embora a superfície interna permanecesse esfé-
rica, a superfície da espessura média correspondia melhor à real superfície de reação de uma
cúpula sob seu peso próprio (que não é esférica). Essas soluções foram usadas pelos romanos
na construção do Panteão, em 123 d.C. 20 Essa cúpula de tijolo e concreto tem vão de 43,6 me- 43,6m 7m
tros e se apoia em paredes de 7 metros de espessura. Esse vão não foi superado por nenhuma
cúpula construída em alvenaria. Figura 1.23 O PanteãO em Roma, 123 d.C. - adaptada de Heyden & Gendrop. 23

A solução completa do ponto de vista da engenharia é fazer a forma da cúpula coincidir

-+t Compressão
exatamente com a superfície de empuxo. Essa solução sofisticada ao problema imposto pela
cúpula hemisférica, que na realidade era usada exclusivamente pelos romanos, foi usada por

-- r,1:::::,: ~
Compressão
0,6h
h
construtores de cúpulas muito antes. 24 Cabanas na forma de colmeia moldadas em barro eram
usadas desde 9000 a.C. e grande número de casas de tijolos de barro de cúpulas de forma pa-
rabólica eram construídas em Chipre por volta de 5650 a.C. A Figura l.24(a) dá uma ideia das
proporções desses edifícios. Exemplo posterior é a cúpula de pedra assentada sem argamassa,
mostrada na Figura l.24(b), na Igreja de Ezra, Síria, construída em 515 a.C., ainda em uso hoje.
\

Figura 1.22 Estado de tensões em um cúpula na forma de hemisfério sujeito a seu peso próprio.
21 Murray (1985).
22 Mango (1985).
19 Cowan (1977). 23 Heyden & Gendrop (1988).
20 Ward-Perkins (1988). 24 Mango (1985).
4d 48 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL
DESENVOLVlMENTO HISTÓRICO DE MATERIAIS, ELEMENTOS E SISTEMAS ESTRUTURAIS EM AlVENARIA 49

A superfície de empuxo de cúpulas se aproxima da forma gótica, a qual era muito co- e à cobertura do prédio, sendo usada por condições estéticas, de conforto e durabilidade, é
mum na Europa entre os séculos 15 e 19, parcialmente pela facilidade de construção. Um relativamente recente.
exemplo dessa forma de construção, mostrada na Figura l.24(c), é a cúpula da Basílica de São Desde idades remotas, as pessoas constroem abrigos para satisfazer suas necessidades,
Pedro, em Roma, finalizada em 1590. Entretanto, desde a sua construção, pelo menos dez cor- assim como para cultos religiosos, túmulos, edificações governamentais e para comércio.
rentes de ferro foram inseridas em torno de seu perímetro em diferentes épocas para prevenir Além de simplesmente usar as cavernas, o homem primitivo também construía cabanas e
que a base da cúpula se abrisse. 25 divisórias de galhos, palha, pele anima\, barro e edra. Os primeiros edifícios parecem ter sido
construídos com planta circular, com a transiç40 para plantas retangulares acontecendo entre
9000 e 7000 a.C.
Com o desenvolvimento da tecnologia construtiva, apenas madeira e alvenaria começa-
ram a ser utilizadas como estrutural de todas edificações importantes. A dificuldade de vencer
vãos horizontais com alvenaria restringiu seu uso pelos primeiros construtores, que sempre
utilizavam madeira para essa função. Pavimentos intermediários eram de madeira e telhados
eram feitos de ripados de madeira, estuque, telhados de palha, entre outros.

l. 8. 1 Pilar e viga
3a8m
(a) Casa do Chipre, 5650 a.e. Muitos dos edifícios antigos eram feitos inteiramente de madeira, usando os elementos
Pedra cortada, básicos de pilar e viga. Como as estruturas de madeira queimam, elas têm vida curta, e seria
sem argamassa desnecessário dizer que nehuma das primeiras estruturas de madeira existe até hoje. Edifica-
ções culturais mais permanentes eram feitas de pilares e vergas de pedra, ao invés de madeira.
2,7m 42m
7,6m Nesses edifícios de pedra, colunas pouco espaçadas serviam de apoio à verga de pedra,
(e) Cúpula da Basílica de São Pedro, que por sua vez eram apoios de vergas menores ou lajes de pedras de maneira a formar uma
Roma, 1590 d.e.
cobertura plana. Alternativamente, a construção poderia ter ainda uma cobertura com estru-
tura de madeira e telhas cerâmicas.
Essa substituição de madeira por pedras é observada nas colunas de alvenaria do
Egito e Creta, que eram entalhadas de maneira a representar palhas ou imitar madeira, e nos
pilares e vergas em Stonehenge, que eram ligados por juntas tipo macho e fêmea.

1.8.2 Abóbodas e cúpulas


~I
9,1 m
O desenvolvimento do arco substituiu as vergas feitas das desajeitadas pedras ou de vul-
(b) Igreja em Ezra, Síria, 515 a.C.
neráveis madeiras com alvenaria de pedra ou tijolo vencendo maiores vãos. De maneira seme-
Figura 1.24 Exemplos de cúpulas com forma aproximada às superfícies de empuxo. lhante, abóbodas e cúpulas permitiram a construção de coberturas de grandes vãos e à prova
de fogo, embora a madeira ainda fosse frequentemente utilizada como estrutura para telhas.
Grande engenhosidade era frequentemente vista em combinações de abóbodas para criar agra-
1 .8 Desenvolvimento da estrutura de edifícios dáveis edifícios. O ápice desse desenvolvimento foi a abóboda em cruz. Exemplos de abóbodas
são mostradas na Figura 1.25.
Na maioria das construções antigas, se não em todas, a alvenaria era parte da estrutura, Cúpulas hemisféricas eram feitas sobre paredes cilíndricas ou de forma mais interessan-
na medida em que resistiam a todo o carregamento imposto ao prédio, além de seu peso te sobre parede poligonais, ou mesmo quadradas. Nesses últimos casos, as paredes de apoio
próprio. O conceito de alvenaria de vedação, em que a parede não serve de apoio aos pisos eram grossas o bastante para conter a base da cúpula, ou paredes mais finas eram usadas em
conjunto com vergas em seus cantos para apoiar a cúpula. Uma solução elegante, para apoiar
uma cúpula sobre uma área quadrada, usava partes de outra superfície hemisférica chamada de
25 Cowan (1977).
cúpula pendente. Nessa solução, a cúpula superior tinha diâmetro igual ao lado do quadrado da
50 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL DESENVOlV!MENTO HISTÓRICO DE MATERIAIS, ELEMENTOS E SISTEMAS ESTRUTURAIS EM AlVENARlA 51

área abaixo. A cúpula pendente era um hemisfério que continha o quadrado subscrito, porém a compressão dos materiais, mas sim pela necessidade de a linha de empuxo estar contida
truncado na base da cúpula superior e nas !aterias verticais do quadrado, como indicado na dentro da espessura do elemento.
Figura 1.26. Essa concepção concentrava a carga da cúpula nos quatro cantos, mas permitia
que o espaço quadrado fosse ampliado pela adição de abóbodas ou cúpulas de meio hemisfério. .8.3 Gótico

Três grandes avanços ocorreram para permitir a transformação desse tipo de constru-
ção pesada na leve e aberta construção em estilo gótico posterior. Primeiro, vigas mestras em
forma de arco foram incorporados nas estruturas de cobertura, permitindo a redução da es-
pessura da alvenaria entre estas. Segundo, foi usada a forma de arco pontudo ao invés do arco
semicircular, permitindo maior redução na espessura, pois essa forma se aproxima mais da
linha de empuxo. O arco pontudo permitia maior flexibilidade arquitetônica porque a altura
de um arco, abóboda ou cúpula não era mais determinada apenas pelo seu vão. Por exemplo,
(a) Abóboda simples (b) Abóbodas em série (e) Abóbodas laterais quando abóbodas de diferentes vãos se interceptam sobre uma área retangular, uma elegante e
(perpendiculares) perfeita junção é possível se ambas tiverem a mesma altura. Eficientes e interessantes estrutu-
ras de cobertura podem ser criadas sobre uma malha retangular usando-se combinações dessa ,
junção, conforme Figura 1.27.
A terceira grande inovação foi a substituição das pesadas paredes de apoio que eram
atravessadas pela linha de empuxo por contrafortes suspensos e torres mais alinhados com o
encaminhamento das cargas definido pela linha de empuxo. Três avanços, combinados com
estruturas aporticadas de alvenaria, cujo pórtico era formado pelo arco-mestre, pelo contra-
forte suspenso e pela torre.
(d) Abóbodas laterais (paralelas) (e) Abóbodas em cruz (f) Abóbodas múltiplas em cruz

Figura 1.25 Exemplos de abóbodas combinadas.

/
/ /
Cúpula / /
/
/
/
Cúpula pendente
Possibilidade de extensão
' ' /

com meia cúpula 1

Possibilidade de extensão
,'' l~I11
..)"" ',

- 1rí co1n cúpula menor ,."' 1 ........ ~,'I


'
'' ili /

1 '11>º~

Possibilidade de extensão ,,. .,.. \ Area quadrada Área retangular sob junção
com abóboda
Figura 1.27 Intersecção de abóbodas pontudas (góticas).
Figura 1.26 Combinação de cúpulas e abóbodas.
Esse pórtico de alvenaria era preenchido com finas abóbodas de alvenaria no teto e por
Essas construções em cúpulas e abóbodas, apesar de serem de elegante geometria, eram uma malha de arcos, painéis de alvenaria e vidros coloridos nas paredes. Uma estrutura de
pesadas e essencialmente estruturas em casca com coberturas de simples ou dupla curvatura. madeira era usualmente criada no telhado para proteger a cobertura contra intempéries. Um
A grande espessura das paredes não era determinada pela possibilidade de rompimento com exemplo desse tipo de estrutura é a Catedral de Beanvais, na França, iniciada em 1220 d.C.,
mostrada na Figura 1.28.
52 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DE MATER!A!S, ELEMENTOS E SISTEMAS ESTRUTURAIS EM ALVENARIA 53

O encaminhamento das cargas para a fundação pode ser totalmente explicado em ter-
mos da linha de empuxo. O peso do teto em alvenaria é distribuído aos arcos-mestres, que
encaminham o carregamento para baixo através das paredes e colunas e, lateralmente, via os
contrafortes suspensos, para as paredes ou torres. Essas paredes ou torres com contrafortes
direcionavam o carregamento para baixo até a fundação, sendo muitas vezes sua estabilidade
melhorada por pesos adicionados no topo por meio de estátuas ou pináculos. 26
Antigas formas construtivas de edifícios em alvenaria usando arcos, abóbodas e cúpulas
raramente são usadas hoje por conta do alto custo de mão de obra inerentes a essas intrigantes
formas e também por conta da mudança de estilo nas edificações modernas. Urna das poucas
tentativas de incorporar essas formas em construções modernas foi feita pelo arquiteto espa-
nhol Gaudi no final do século 19. 27 Ele construiu estruturas de forma livres que seguiam linhas
e superfícies de empuxo. Um exemplo é a Colônia Guell perto de Barcelona, Espanha, mos-
trada na Figura 1.29. Ele obteve as formas experimentalmente, pendurando pesos em panos
e cabos em urna versão tridimensional da analogia de cabo-arco descrita anteriormente. Esse
Figura 1.29 Cripta da Colônia Guell, Espanha, 1914.
conceito não foi mais desenvolvido e muitas das formas das antigas construções em alvenaria
tiveram que ser adaptadas para materiais e concepções modernas.
1.8.4 Edificações térreos em alvenaria estrutural

Contrafortes suspensos transferem reações horizontais Edificações térreas contemporâneas foram desenvolvidas a partir de simples edifica-
das abóbodas para as torres
ções residenciais, como as construídas pelos romanos nos quatro primeiros séculos depois de
Cristo. O menor tipo de moradia da época consistia em um cômodo único com urna abertura
frontal, formado por paredes de alvenaria que servia de apoio a um sótão e cobertura de ma-
Pesos no topo ajudam deira com telhado cerâmico. Apesar de essas paredes poderem ser consideradas estruturais,
encaminhamento das na medida em que resistiam à carga do telhado, a carga vertical era praticamente desprezível.
cargas para o solo
A função estrutural crítica dessas paredes era resistir a forças laterais advindas de vento ou
terremoto. Conseguia-se isso usando-se paredes espessas contraventadas por paredes nas ex-
Colunas leves resistem às reações
horizontais dos contrafortes ~ tremidades para melhorar sua estabilidade contra forças laterais.
suspensos
. 8 .5 Edifícios de múltiplos pavimentos em alvenaria estrutural

Urna versão de múltiplos pavimentos da pequena moradia térrea também foi construí-
da pelos romanos durante o século 1. 29 Esses blocos de apartamentos tinham cinco ou mais an-
dares. Um bloco de apartamento ou insula era geralmente urna planta retangular dividida em
cômodos, circulação e escada com paredes de concreto de J ,0 metro de espessura revestidas
em tijolos cerâmicos, corno mostrado na Figura 1.30. A natureza celular dessa planta assegura-
va estabilidade adequada contra forças laterais de vento ou terremoto. Corno essa construção
(14 m)
se assemelha às de hoje, esses edifícios antigos têm urna aparência surpreendentemente mo-
Figura 1.28 Catedral de Beauvais na França - adaptada de Ward-Perkins.28 derna. De fato, para edifícios residenciais baixos, os princípios de concepção estrutural pouco
mudaram desde então.

26 ld. ibid.
27 Guidoni (1987); Martinelli (1975).
28 Ward-Perldns (1988). 29 Musgrove (1987).
54 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DE MATERIAIS, ELEMENTOS E SISTEMAS ESTRlffURAIS EM ALVENARIA 55

Em um edifício comprido, as paredes laterais na extremidade forneciam travamento


desprezível para a seção no meio do comprimento da parede de fachada maior. Esse trecho
pode ser analisado considerando uma seção unitária da parede. A lógica do projeto desses edi-
fícios era provavelmente conceber as paredes de forma que a linha de empuxo, resultante do.
peso da parede, do telhado e de pavimentos e da força de vento, caísse dentro do terço médio
da espessura da parede em todos os pavimentos, conforme Figura L3l(b) .

1. 9 Desempenho das estruturas ainda hoje existentes


Elevação Planta Várias estruturas de alvenaria com vários séculos de idade, construídas na base da in-
tuição e experiência prévia, ainda estão de pé. Essas estruturas são basicamente não armadas e
Figura 1.30 Primeiros edifícios de múltiplos pavimentos em Ostia - adaptada de McKee. 30
contam com seu peso para estabilidade. Se forem analisadas com requisitos atuais de desempe-
nho para alvenaria não armada, que devem ter seções não fissuradas, eventualmente se poderia
r- Peso da cobertura chegar a conclusão de que essas construções são inseguras. Em contrapartida, análises simplistas ,
Peso do pavimento +- podem limitar a nossa habilidade em entender o comportamento dessas estruturas e sua respos-
ta a carregamentos. Especificamente falando, como existe grande redundância estrutural nessas
Piso de madeira
Linha de empuxo construções, a fissuração de uma parede de alvenaria não armada em um ou mais pontos não
significa necessariamente que essa estrutura é insegura. O exemplo a seguir de um arco gótico
Colunas de Peso do pavimento ilustra a vantagem de se olhar para a estrutura como um todo.
madeira Considera-se um arco pontudo (gótico), composto de dois segmentos de um círculo,
Peso do pavimento
+- Pressão de vento como mostrado na Figura L32(a). O peso do arco é uniforme ao longo de seu comprimento
Corte +-
e, portanto, a linha de empuxo se aproxima de uma catenária invertida. Nesse exemplo, o
arco tem a espessura exata para que a catenária esteja contida exatamente no terço médio.
Esse elemento não é capaz de resistir a uma carga pesada no coroamento no topo, pois com o
aumento dessa carga pontual, a linha de empuxo torna-se aproximamente reta, introduzindo
flexão no arco curvo.
Para ilustrar..esse comportamento, o arco é examinado quando uma pequena carga apli-
(a) Planta (b) Seção da parede cada no topo é aumentada até o colapso. Inicialmente, antes de qualquer carga ser aplicada,
a estrutura pode ser considerada um elemento contínuo e analisado pela teoria elástica, pois
Figura 1.31 Concepção de edifícios comerciais de múltiplos pavimentos antigos. espera-se que sob seu peso próprio apenas o material esteja sob compressão. A análise deve
confirmar que a linha de empuxo esteja dentro do terço médio para que essa condição seja ver-
Edifícios comerciais dadeira, como mostrado na Figura L32(a). Conforme mostrado na Figura l.32(b), a linha de
Em edifícios comerciais com necessidade de espaço aberto nos pavimentos, as paredes empuxo, na realidade, cai fora desse limite perto do apoio e, portanto, a simples verificação das
internas eram substituídas por colunas de madeira para apoio do piso. Portanto, a natureza ce- tensões admissíveis levaria à necessidade de aumento da espessura do arco, uma vez que não
lular do edifício era perdida, e como a estrutura interna de madeira era relativamente flexível, se permite tensões de tração em alvenaria não armada. Entretanto, ocorrerá que a junta infe-
as paredes de fachada resistiam sozinhas às forças laterais. Esse tipo de construção, concebido rior próxima ao apoio abrirá conforme a tração aumenta, formando uma rótula nesse ponto A
com uma espessa parede perimetral, muitas vezes não recebia nenhum travamento lateral da (Figura L32(c)). O contato é virtualmente pontual nos apoios conforme a junta fissura e abre
estrutura interna de madeira, continuou a ser feito até o começo do século 20. A Figura l.3l(a) nesses pontos. Em uma análise simples, seria esperado que o aumento de carregamento faria
mostra esse princípio. a linha de empuxo cair totalmente fora do apoio e a estrutura ruir. Entretanto, esses pontos
de contato simplesmente rotacionam, tornando o elemento um arco biarticulado. A linha de
empuxo torna-se mais reta à medida que P aumenta, até que esta atinja o topo do arco, con-
30 McKee (1973). forme Figura l.32(d). Uma terceira rótula é formada, transformando o arco em triarticulado,
56 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DE MATERIAIS, ELEMENTOS E SISTEMAS ESTRUTURAIS EM ALVENARIA 57

ainda estaticamente possível. Aumentado-se P, a linha de empuxo irá tocar a face do arco no desempenho da edificação histórica. Em trabalhos de restauro ou reabilitação de estruturas
ponto B, Figura l.32(e), criando novas rótulas e estrutura hipostática. Esse mecanismo levará históricas, alguns pontos-chave devem ser inicialmente discutidos:
ao colapso da estrutura.
Muito provavelmente os construtores dos arcos góticos não tinham esses conceitos e • Qual a importância histórica da estrutura e que nível de intervenção é permitido?
essas estruturas foram concebidas na base da tentativa e erro até que se mostrassem estáveis. • Quando e como intervenções prévias foram feitas?
• Como foram feitas e quai~ as condições atuais da fundação, pisos, paredes, cober-
Linha de reação iP (Pequeno) turas, esquadrias e outros elemenibs da edificação?
Linha de
• Quais são as causas dos problemas manifestados na edificação?
reação • Qual será o tipo de uso final da estrutura e que normas estruturais, de desempe-
fora do nho de segurança contra fogo devem esta atender?
terço
• Em projetos de adaptação do uso, quais as faixas de temperatura e umidade inter-
médio
na atuais? Novas alterações não devem alterar drasticamente o comportamento e
4,12 m desempenho da edificação para não causar outros problemas.
• Quais são as fontes de umidade na construção e como direcionar essas fontes de
(a) Arco gótico (b) Fissura na base sob (e) Formação de rótula na base
ação do peso próprio
umidade para fora da fundação e das paredes?
sob a ação de carga pontual
• Existe vegetação antiga, particularmente grandes árvores ou trepadeiras, que po-
ct (Elevado) Í P (Colapso) dem influenciar na estrutura da construção?

Rótula~
Importantes trabalhos em edificações históricas têm sido realizados, especialmente na
Europa. 31 O processo de restauração ou reabilitação é muitas vezes complicado e requer coor-
denação e várias especialidades. Algumas etapas desse processo muitas vezes incluem:

• Determinação das reais propriedades dos materiais empregados.


(d) Formação de rótula no topo (e) Condição para colapso • Determinação do nível de deterioração dos elementos existentes em relação às
com o acréscimo da carga pontual
condições ambientais verificadas.
Figura 1.32 Comportamento de um arco gótico sob acréscimo de carga pontual. • Avaliação experimental no local da construção.
• Constr.ução de modelos analíticos para estimativa de tensões e deformações crí-
ticas de forma a identificar elementos que precisam ser restaurados ou reforça-
1. 1O Restauração e reabilitação de estruturas históricas dos, em que a modelagem adequada de fissuras pode ser fundamental.
• Identificação de materiais atuais adequados para restauro que sejam compatíveis
A restauração e reabilitação de estruturas históricas é um vasto campo de estudo. Não com os materiais existentes.
se pretende aqui discutir a fundo esse tópico, apenas introduzir breves comentários sobre esse • Elaboração e prescrição da técnica de restauro ou reforço.
campo. Algumas das edificações históricas podem não ter o nível de segurança prescrito na • Monitoração e avaliação da estrutura após o restauro ou reforço.
normalização atual, podem ter sido deterioradas com o tempo ou, ainda, terem sido descon- • Elaboração de guia de manutenção para prevenir deteriorização futura da edi-
figuradas de sua função ou aparência inicial. Fatores como recalque de fundação, efeitos de ficação.
longo tempo dos carregamentos e deterioração dos materiais podem levar ao desempenho
inadequado da construção histórica, o que pode ter sido agravado por falta de manutenção. Nesses projetos, é muito frequente a especificação de repreenchimento das juntas de
Nota-se nas últimas décadas um forte aumento no interesse da humanidade em preser- argamassa deterioradas ou fissuradas. É muito importante que a argamassa usada nesse preen-
var construções históricas, o que levou a um grande desenvolvimento desse campo de estudo chimento seja a mais próxima possível da argamassa horizontal. Um erro frequente é querer
da engenharia e arquitetura. Na análise desse tipo de construção, é de fundamental impor- usar uma argamassa mais forte e resistente no restauro. Esse procedimento pode causar a
tância que profissionais envolvidos com o caso conheçam a história dos materiais, as técni- concentração de tensões nos pontos preenchidos com argamassa mais rígida, levando a novas
cas construtivas e concepções utilizadas, e sejam sensíveis à importância e às necessidade de
31 Binda & Noland (1986, 1987).
58 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DE MATERIAIS, ELEMENTOS E SISTEMAS ESTRUTURAIS EM ALVENARIA 59

fissuras ou mesmo rompimentos localizados dos blocos ou tijolos originais. Por exemplo, se a 3. Escolha um tipo de edifício comentado neste capítulo e descreva sobre o contexto his-
alvenaria original tiver sido assentada com argamassa de cal, não se deve fazer restauro com tórico, materiais, elementos estruturais e a forma do elemento.
argamassa forte de cimento.
Outra fonte de problemas causados por restauros inadequados é a aplicação de reves- 4. Muitas das formas estruturais relatadas nas construções históricas existem hoje em
timentos ou pinturas em paredes externas para reduzir a penetração de água, mas que em igrejas, fábricas, edifícios históricos. Procure exemplos na sua região e os descreva por
contrapartida não permitem a evaporação natural de água da parede. Se a umidade ficar presa meio de fotografias ou desenhof, comen7ando sobre o comportamento desses elemen -
atrás da nova camada protetora, pode ocorrer rompimento localizado dos blocos ou desbota- tos e as ações a que resistem. !
mento da alvenaria.
Em reabilitações, qualquer projeto de aumento da capacidade resistente da estrutura,
como, por exemplo, habilitação para novos carregamentos verticais ou horizontais de vento
ou eventualmente terremotos, deve levar em conta a rigidez das alvenarias existentes, que
muitas vezes são espessas e pesadas. Se um novo sistema estrutural em elementos flexíveis
for adicionado à estrutura inicial, deve-se ter em mente que para esse sistema funcionar, uma
razoável deformação deve ocorrer. Nesse caso, é preciso verificar se a alvenaria é capaz de ser
submetida a essa deformação sem fissurar excessivamente. Se isso não for possível, o sistema a
ser adicionado deve ter sua rigidez aumentada ou a alvenaria deve ser reforçada para aumentar
sua ductilidade.

1.11 Considerações finais


Muita coisa pode ser aprendida na análise das estruturas históricas de alvenaria, e os
projetistas de hoje podem apreciar e valorizar os feitos de seus antecessores. Entretanto, em
grande parte, as regras empíricas que foram desenvolvidas ao longo do tempo, tiveram origem
no sucesso dessas construções. As regras de dimensionamento de hoje são mais precisas e ba-
seadas em um conhecimento detalhado da alvenaria estrutural. Tudo isso é parte da evolução
do sistema construtivo.

1. 12 Exercícios

!. Resolva:

a) Usando tijolos cerâmicos ou blocos de madeira, faça o esboço de um arco com


0,6 metro de altura, com tijolos em balanço de 1/ 3 da espessura destes. Descreva e
comente o método construtivo e a estabilidade desse elemento.
b) Demonstre ou explique como arcos melhorados podem ser construídos. Que
aspectos levam à melhoria no comportamento estrutural?

2. Usando um barbante, papel ou outro material flexível, construa dois exemplos de arcos
verdadeiros, conforme discutido neste capítulo (cola epóxi de cura rápida, ou outro
tipo de cola e pintura podem ser utilizadas para enrijecer a forma de catenária). Teste e
comente sobre a estabilidade desses arcos.
CAPÍTULO 2 .....................,......,........,._,.,..,._.__,,..........,........,_.......,.....,._
Alvenaria contemporânea

Figura 2.1 Construção recente de conjunto de edifícios residenciais.

2.1 Introdução

Conforme visto no capítulo anterior, muitas das construções históricas foram construídas
em alvenaria, usando o peso dos pavimentos e de espessas paredes para evitar tensões de tração
causadas por excentricidades da carga vertical e por ações laterais. Determinar a estabilidade
da estrutura por meio apenas do peso impõe um limite econômico em relação às dimensões da
construção em alvenaria. Essa constatação levou os projetistas e construtores a buscarem uma
maneira de reduzir a espessura da parede, mantendo a estabilidade estrutural.
As significantes melhorias nos materiais e os avanços na produção dos blocos, nos mé-
todos de cálculo e nas técnicas construtivas muito contribuíram para que a alvenaria estru-
tural seja hoje reconhecida como uma solução economicamente eficiente para a construção
contemporânea de edifícios. Blocos de alta resistência são hoje disponíveis em uma variada
gama de materiais, formas, cores e texturas. Características como potencial de variação di-
mensional higroscópica, isolamento térmico e acústico foram muito melhoradas ao longo do
último século. Argamassas e grautes industrializados e pré-misturados são hoje disponíveis
e contribuem para o aumento de controle e produtividade da obra. Aditivos para melhorar a
trabalhabilidade ou alterar as cores dos elementos estão atualmente disponíveis e usados em
nossas obras. Detalhes sobre as propriedades dos materiais serão discutidos nos capítulos 4
e 5. O desenvolvimento de alvenaria armada e pretendida permite o uso desses elementos
estruturais em situações antes impensadas para alvenaria não armada.
Este capítulo apresenta uma visão geral das edificações contemporâneas em alvenaria
estrutural, incluindo tipos de construções, elementos e sistemas em alvenaria.

2.2 Elementos em alvenaria

Os elementos usuais de hoje diferem muito dos concebidos nas construções históricas.
Vários tipos de paredes, pilares ou ,S\)1}#1.~s,_yig~s ~.verg~~ são considerados nesta seção.
62 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL ALVENARIA CONTEMPORÂNEA 63

2.2.1 Definições • Enrijecedor: elemento usualmente de alvenaria, vinculado a uma parede estru-
tural, com a finalidade de produzir um enrijecimento na direção perpendicular
As recentes normas brasileiras trazem uma série de definições básicas sobre os elemen- ao seu plano; geralmente utilizado quando a parede está sujeita à ação lateral
tos e componentes da alvenaria estrutural, reproduzidas abaixo: fora de seu plano ou em paredes altas.
• Diafragma: elemento estrutural laminar admitido como rígido em seu próprio
• Componente: menor unidade que compõe um elemento da estrutura, incluindo: plano, sendo normalmente a laje dl' concreto armado que distribui as cargas ho-
- Bloco: a unidade básica que forma a alvenaria; rizontais para as paredes (conforrrle será visto nos próximos capítulos).
- Junta de argamassa: componente utilizado na ligação entre os blocos; • Área bruta, líquida ou efetiva
- Reforço de graute: componente utilizado para preenchimento de espaços - Bruta: área de um componente (bloco) ou elemento (parede) considerando-se
vazios de blocos, com a finalidade de solidarizar armaduras à alvenaria ou as suas dimensões externas, desprezando-se a existência dos vazios.
aumentar sua capacidade resistente. - Líquida: área de um componente (bloco) ou elemento (parede) consideran-
• Elemento: parte da estrutura suficientemente elaborada constituída da reunião do-se as suas dimensões externas, descontada a existência dos vazios.
de dois ou mais componentes - Efetiva: área de um elemento (parede) considerando apenas a região sobre a
- Elemento de alvenaria não armado: elemento de alvenaria no qual a armadu- qual a argamassa de assentamento é distribuída, desconsiderando vazios.
ra é desconsiderada para resistir aos esforços solicitantes. • Prisma: corpo de prova obtido pela superposição de blocos unidos por junta de '
- Elemento de alvenaria armado: elemento de alvenaria no qual são utiliza- argamassa, grauteados ou não, a ser ensaiado a compressão. Oferece informação
das armaduras passivas que são consideradas para resistência dos esforços básica sobre resistência à compressão da alvenaria e é o principal parâmetro para
solicitantes (definição alterada em relação a outras normas mais antigas, que projeto e controle da obra.
exigiam taxa de armadura mínima para todos os elementos da construção • Amarração direta ou indireta
para ser considerada alvenaria armada). - No plano da parede:
- Elemento de alvenaria protendido: elemento de alvenaria no qual são utiliza- • Direta: padrão de distribuição dos blocos no qual as juntas verticais se
das armaduras ativas, impondo uma pré-compressão antes do carregamento. defasam de, no mínimo, 1/ 3 do comprimento dos blocos.
• Parede estrutural ou não estrutural • Indireta (não amarrada): quando o padrão de distribuição dos blocos não
- Estrutural: toda parede admitida como participante da estrutura (serve de atende o acima (junta prumo).
apoio às lajes e outros elementos da construção). - Entre paredes:
- Não estrutural: toda parede não admitida como participante da estrutura • Direta: existe intertravamento dos blocos obtido com a interpenetração
(apoia e impõe um carregamento às lajes ou outro elemento da estrutura). illternada de 50% das fiadas de uma parede na outra.
e Viga, contraverga, cinta ou coxim • Indireta: existe junta a prumo no encontro das paredes, sem sobreposição
- Viga: elemento estrutural colocado sobre os vãos de aberturas com a finali- dos blocos, devendo existir uma armação metálica (grampos ou telas) so-
dade exclusiva de resistir a carregamentos, usualmente composta de uma ou bre a junta entre as paredes.
mais canaletas grauteadas e armadas. • Pilar ou parede: elementos que resistem predominantemente a cargas de com-
Contraverga: elemento estrutural colocado sob os vãos de aberturas; tem por pressão, sendo considerado:
finalidade resistir a tensões concentradas nos cantos da abertura, usualmente Pilar: elemento cuja maior dimensão da seção transversal não excede cinco
composta de uma canaleta grauteada e armada. vezes a menor dimensão.
- Cinta: elemento estrutural apoiado continuamente na parede, ligado ou não - Parede: elemento cuja maior dimensão da seção transversal não excede cinco
às lajes, vergas ou contravergas, usualmente composta de uma canaleta grau- vezes a menor dimensão.
teada e armada; tem por finalidade distribuir cargas contínuamente apoiadas • Vão efetivo: no dimensionamento de elementos estruturais define-se o vão efe-
sobre a parede, ou aumentar a resistência da parede para ação fora do plano tivo como a soma da distância entre as faces internas dos apoios - acrescida, em
da parede ou na direção horizontal do plano da parede. Geralmente é com- cada lado, do menor valor entre a distância da face ao eixo do apoio e altura da
posta de uma fiada de canaletas armadas. viga - dividida por 2.
- Coxim: elemento estrutural não contínuo, apoiado na parede, para distribuir
cargas concentradas, normalmente composto de canaleta grauteada ou peça A seguir, detalha-se melhor cada tipo de elemento em alvenaria.
de concreto armado.
64 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL
ALVENARIA CONTEMPORÂNEA 65

Área bruta Área líquida Área efetiva

Área de argamassa

Figura 2.2 Area bruta, líquida e efetiva.

Figura 2.5 Prisma de 2 blocos.

Graute Armadura
horizontal

Figura 2.6 Amarração indireta (esquerda) e direta (direita).

2.2.2 Paredes

Geralmente,·as paredes são construídas com Y2 junta amarrada no seu plano com amar-
ração em Y2 bloco, ou seja, cada junta vertical é posicionada no meio do bloco da fiada inferior.
Esse padrão produz uma sobreposição simétrica de blocos ao longo da fachada da parede e
Figura 2.3 Verga, contraverga, graute e armadura. usualmente permite que os cantos sejam feitos também com amarração direta, sem a neces-
sidade de blocos especiais caso as unidades de alvenaria tenham o comprimento igual a duas
vezes sua espessura (como em blocos usuais de 14 x 29 cm ou 19 x 39 cm), conforme Figura
2.8(a). Blocos vazados são produzidos de maneira em que os vazados coincidam a cada fiada
se for feita amarração direta, de forma a facilitar o posicionamento de grautes e armaduras
(veja Figura 2.8(b). Outros padrões de amarração são possíveis. Juntas amarradas a 1/ 3 são às
vezes utilizadas particularmente quando o comprimento do bloco é igual a 3 vezes a largura
deste, facilitando que a amarração direta do encontro de paredes seja feita sem quebra de
blocos, conforme Figura 2.8(c). O uso de amarração direta aumenta consideravelmente a in-
tegridade estrutural da parede e a sua resistência à flexão quando submetida a ações laterais.
Normas internacionais geralmente trazem o requisito mínimo de amarração a 14 para garantir
Figura 2.4 Parede com enrijecedor.
melhor comportamento estrutural. A prescrição da normalização brasileira indica considerar
junta amarrada com superposição de no mínimo um terço do comprimento do bloco.
66 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL AlVENARIA CONTEMPORÂNEA 67

Para funções decorativas, paredes com junta a prumo no plano da parede, conforme Tipos comuns de paredes são indicadas a seguir.
Figura 2.8(d), são às vezes utilizadas, devendo destacar que essas paredes têm uma resistência
à flexão perpendicular à junta vertical muito baixa. Nesses casos é necessário armar horizon-
talmente as paredes para aumentar sua resistência e controle de fissuras. Parede e encontros de
paredes devem preferencialmente ser construídos com amarração direta, havendo perda no
desempenho estrutural em casos de amarração indireta. Paredes construídas com junta não
amarrada em seu plano devem a princípio serem consideradas de vedação ou ser comprovada
experimentalmente a eficiência do detalhe utilizado.
L

(a) (b) (e) (d) (e)

Juntas amarradas
Esforços se distribuem
llllillll Juntas a prumos
Esforços não se distribuem
Figura 2.8 Tipos de paredes simples.

Paredes simples: paredes simples têm sua espessura igual à espessura do bloco e podem ser ,
construídas de blocos maciços, vazados ou perfurados com ou sem armadura. Geralmente,
paredes simples são utilizadas em alvenaria de vedação ou estrutural. Em paredes externas é
recomendável ter a preocupação de prevenir permeabilidade de água e de se limitar a trans-
missão .térmica. Armaduras podem ser necessárias em paredes esbeltas para resistir aos esfor-
ços de desaprumo.
!'Opção O uso de junta seca com a aplicação de urna fina camada de revestimento reforçado
zn Opção com fibras, corno na Figura 2.8(e), tem sido desenvolvido recentemente como alternativa ao
Armaduras
Canaletas
nas juntas assentamento tradicional e também pode ser aplicado corno um revestimento arquitetonica-
armadas
mente agradável.

Elevação Cortes Paredes maciças e compostas: no passado, alvenarias maciças eram frequentemente feitas atra-
182 vés da construção J.e duas paredes de pedra ou tijolos e preenchimento do espaço entre estas
com concreto ou pedregulhos. Alvenarias maciças recentes têm duas ou mais paredes construídas
'' /
/
' /
muito próxímas, ligadas por tijolos de amarração ou ancoragens metálicas, com as juntas ouva-
'' /
' /

/
zios preenchidos com argamassa ou graute, conforme Figura 2.9. Quanto maior for a espessura
g g das paredes maciças em relação a paredes simples, maior é a resistência e impermeabilidade desta.
/
' ' Alguns tipos de paredes compostas são mostrados a seguir, não sendo seu uso comum
/ / ' em alvenarias estruturais no Brasil.
/
/ ' /
'
l"' 0,98 m'
' / ! "'0,42 m'
'
,, ,,
/
- - - - -< ' /
- -<
'
'

tvento tvento

Figura 2.7 Influência de juntas amarradas ou não amarradas à rigidez lateral.


68 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL ALVENARIA CONTEMPORÂNEA 69

Armadura vertical em
cavidade grauteada -

Conector Armadura
metálico na junta
horizontal
I
(a) Amarração comum (b) Amarração inglesa (e) Amarração indireta (a) Armadura nas juntas de tijolos (b) Armaduras em cavidades de tijolos

(c) Armadura em juntas de blocos (d) Armadura nos vazados dos blocos
(d) Cavidade grauteada (e) Parede composta com conector metálico
Figura 2.1 O Localização de armações em paredes.
Figura 2.9 Amarração de paredes compostas.
Paredes duplas: muitas das paredes duplas antigas consistiam de duas paredes simples, se-
Paredes simples e compostas podem ser armadas. Armaduras podem ser dispostas nas paradas por um espaço vazio, conectadas por blocos de amarração. Quando os blocos de
juntas de assentamentos, nos espaços entre duas paredes compostas, em vazados grauteados, amarração eram pouco espaçados, a parede se comportava como uma parede duplo-aletada,
em vazios grauteados entre tijolos maciços. Barras de armadura podem ser posicionadas hori- formando uma série de seções I. A versão moderna das paredes duplas foi introduzida na
zontalmente em paredes de blocos vazados com o uso de canaletas grauteadas. A Figura 2.10 Grã-Bretanha no começo do século 19 e consistia de duas paredes de tijolos de 110 mm de
mostra exemplos de alvenarias armadas. Quando as armaduras são espaçadas regularmente espessura, espaçadas de 50 mm, ligadas por conectores metálicos. Esses conectores eram ini-
em grandes intervalos, a parede pode ser entendida como composta de faixas de alvenaria cialmente feitos de aço galvanizado, sendo cada vez mais frequente o uso de aço inoxidável.
armada com faixas de alvenaria não armada entre elas. Um exemplo é o caso de um painel de Na construção em paredes duplas, cada parede pode ser feita do mesmo material ou de
alvenaria apoiado na sua parte inferior e superior com armação vertical espaçada em interva- materiais diferente;: Um exemplo comum do último caso é a construção de uma parede exter-
los razoáveis, submetida a uma ação lateral. A faixa armada se comportará como um elemento na de tijolos cerâmicos e a interna de blocos de concreto. Se construídas corretamente, paredes
apoiado na parte inferior e superior, enquanto as faixas não armadas entre elas irão se apoiar duplas garantem grande impermeabilidade à construção, uma vez que a água eventualmente
horizontalmente entre estas. Outra possibilidade é usar canaletas para prover armaduras hori- percolada na face externa da parede externa correrá para baixo na face interna dessa parede e
zontais, com painéis de alvenaria não armada apoiando-se verticalmente entre estas. Também pode ser levada para fora novamente por meio de furos na base dessa parede. O espaço de ar
é comum o uso de armaduras verticais e horizontais em painéis submetidos a ações laterais, entre as paredes melhora também o isolamento térmico, que pode ser ainda melhorado se esse
que nesse caso se comportam como elementos fletidos em duas direções, Figura 2.lO(b). espaço for preenchido com material isolante.
Na maioria das aplicações apenas a parede interna suporta o carregamento vertical dos
pisos e telhados superiores, uma vez que deformações diferenciais entre cada parede e também
o deslocamento da laje, sendo apoiada, tenderia a aliviar o carregamento em uma das paredes.
No caso da ação lateral, ambas paredes trabalham em conjunto, uma vez que, caso os conec-
tores metálicos tenham boa rigidez axial, o deslocamento horizontal de ambas paredes será
o mesmo, sendo a ação lateral aproximadamente dividida de maneira proporcional à rigidez
de cada painel. Em alguns casos, apenas a parede interna é dimensionada para resistir à ação
lateral, sendo a parede externa de vedação geralmente definida como parede de revestimento.
70 COMPORTAMENTO E OIMENS!ONAMENTO OE ALVENARIA ESTRUTURAL AlVENARIA CONTEMPORÂNEA 71

ou ainda como paredes duplas unidas por almas (aletas ou enrijecedores) também em alvenaria,
que são ancoradas ou amarradas nas paredes externas, de maneira a garantir comportamento
Armadura na junta
estrutural conjunto tanto para ação vertical quanto horizontal. A rigidez desse tipo de parede é
muito superior do que a soma das rigidezes das duas paredes isoladas. A alma deve ser dimen-
sionada para resistir ao cisalhamento.
Exemplos de paredes duplo-ale1;0das são mostrados na Figura 2.13. O uso de conectores
pode trazer a vantagem da não necessidade de cÍ>rte de blocos pelo fato de cada parede poder ser
construída de forma independente e por ser possível manter o mesmo padrão de amarração nas
elevações de cada parede. No caso do uso de blocos especiais de amarração, o uso de conectores é
dispensado. É importante ressaltar que os conectores metálicos ou as juntas de amarração devem
resistir a uma tensão vertical de cisalhamento para manter a integridade do conjunto, tanto no
Figura 2.11 Conectores entre paredes duplas. caso de ações verticais quanto horizontais laterais, possibilitando contar com a seção integral do
conjunto de paredes.
Paredes de revestimento: uma parede de revestimento consiste de uma alvenaria de vedação O comportamento conjunto da seção, em contraponto das paredes duplas apenas, em
ancorada em uma base estrutural, com função estética e de garantir maior durabilidade. A muito aumenta a rigidez à flexão e possibilita que paredes duplo-aletadas possam vencer gran- '
base estrutura! pode ser outra parede de alvenaria ou de concreto, ou ainda de steel-frame ou des alturas e elevadas ações laterais. A resistência à flexão aumenta proporcionalmente ao
wood-frame. Se a parede de revestimento é fina, ela pode ser assentada sobre a base ou, ainda, aumento da distância entre cada parede. Os blocos ou tijolos devem ser do mesmo material
ancorada com conectores metálicos) mas em ambos os casos, esse revestimento não deve ser em todo o conjunto para prevenir contra deformações diferenciais.
considerado como parte da seção resistente. Quando os tijolos de revestimento são assentados
sobre a base, deve-se tomar cuidado na escolha correta da argamassa e especificações de deta~
lhes de juntas que permitam a movimentação diferencial entre a base e revestimento.
Quando a parede de revestimento é ancorada na base, um espaço de pelo menos 50 mm
é deixado entre eles para prevenir que a água eventualmente incidente na parede externa chegue
à parede interna. Em vários países, paredes de revestimento ancoradas incorporam camada de
isolamento térmico e barreiras contra penetração de ar e vapor d'água. Paredes de revestimento
típicas são mostradas na Figura 2.12.
Revestimentos em paredes de tijolos foram desenvolvidos na Grã-Bretanha, a partir
de 1780, em edifícios de estruturas de madeira, e hoje são comumente utilizados em edifícios
metálicos ou mesmo de alvenaria estrutural em diversos países.
(a) Conector met<ilico (b) Amarração direta

Figura 2.13 Paredes duplo-aletadas.

Paredes sob ação em seu plano: as discussões anteriores neste capítulo levaram em conta prin-
cipalmente paredes sob ação lateral fora do plano. O dimensionamento desses elementos será
discutido nos capítulos 7 e 8. Quando as paredes são submetidas à ação lateral em seu plano,
estas são tratadas como paredes de contraventamento, conforme detalhado no capítulo 10.
Alternativamente, essas paredes podem ser de preenchimento, atuando em conjunto com pór-
ticos de concreto armado ou metálicos conforme detalhado no capítulo 11.
Figura 2.12 Detalhes típicos de paredes de revestimento.
2.2.3 Pilares e enrijecedores
Paredes duplo-aletadas (diafragma): paredes duplo-aletadas, também conhecidas como pare-
Pilares de alvenaria são elementos isolados que transmitem cargas concentradas, perma-
des diafragma a partir de. sua definição em inglês, podem ser entendidas como paredes vazadas
nentes ou variáveis, para a fundação. O termo "pilarete" é muitas vezes utilizado para descrever
72 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL AlVfNARIA CONTEMPORÂNEA 73

um trecho curto de alvenaria entre aberturas. Um pilar é geralmente de seção retangular com
relação entre lados não maior que 3. Outras formas são possíveis. Idealmente, a reação de outro
Conectores metálicos
elemento sobre a coluna deve ocorrer de forma centrada para minimizar esforços de flexão. A
capacidade resistente da seção de uma coluna pode ser aumentada utilizando blocos e argamas-
sas mais resistentes ou, ainda, preenchendo os vazados da coluna com graute. Algumas confi-
gurações possíveis de pilares são mostradas na Figura 2.14. Por conta de sua função estrutural
crítica, como suporte de pisos e telhados, e porque colunas são muitas vezes mais vulneráveis
aos efeitos causados por danos ou sobrecarregamentos, seu projeto e execução deve ser mais ri-
goroso. Por esse motivo, a normalização norte-americana permite apenas pilares em alvenaria
Tijolos a1narrados
armada. No caso da normalização brasileira, assim como em outras normas internacionais) o Tijolos amarrados com enrijecedor
Tijolos com amarração indireta
uso de alvenaria não armada é permitido com o aumento do coeficiente redutor da resistência projetados de dois lados
do material para projeto.
Um enrijecedor é geralmente uma parte de maior espessura de uma parede, às vezes
podendo ser entendido como um pilar acoplado. O enrijecedor pode ser projetado para um
ou para os dois lados da parede e ser conectado através de blocos de amarração (amarração
direta) ou conectores metálicos (amarração indireta). Exemplos de enrijecedores são mostra-
dos na Figura 2.15. Enrijecedores podem ter quatro funções estruturais. Primeiro, podem ser
dimensionados como um pilar para resistir à carga concentrada de uma viga, treliça ou outro Bloco-coluna
elemento estrutural apoiado sobre a parede. Uma significante excentricidade de carregamento
pode ocorrer na direção perpendicular à parede. A segunda função pode ser a de aumentar
Blocos amarrados Blocos não amarrados
a capacidade resistente de uma parede alta, que serve de suporte a uma laje, por exemplo,
diminuindo a esbeltez da parede e aumentando sua resistência à flambagem. A terceira função Amarração indireta

ocorre em paredes sob ação lateral, onde o enrijecedor forma uma seção T conjunta com a Figura 2.15 Enrijecedores.
parede, aumentando consideravelmente a resistência à flexão. A quarta função é o aumento da
estabilidade de paredes em balanço. O uso de armadura aumenta a resistência à compressão de pilares e enrijecedores, desde
que estribos sejam previstos para confinar a armadura longitudinal e impedir a flambagem
dessas barras. Os estribos também aumentam a resistência ao cisalhamento, além de confinar
a região grauteada central e aumentar a ductilidade do elemento. Se um carregamento vertical
centrado for aplicado, o aumento da resistência à compressão pelo uso de armadura não é ele-
vado (especialmente se não houver estribos). Por esse motivo, a atual normalização brasileira
Cavidade pode ser não contempla o uso de armadura para aumento da resistência à compressão de alvenarias. No
grauteada e annada caso de flexão, a disposição de armaduras aumenta consideravelmente a resistência da seção.
A armadura longitudinal principal é geralmente colocada nos vazados de blocos ou de es-
paços formados pela disposição de vários tijolos, conforme Figura 2.16. Estribos são facilmente
posicionados em vazados grauteados, mas também podem ser alocados nas juntas horizontais
de assentamento, desde que sejam de pequeno diâmetro. No caso de enrijecedores submetidos
à flexão apenas, o uso de estribos pode ser dispensado, desde que a alvenaria resista ao cisalha-
menfo lateral. O projeto de pilares e enrijecedores será tratado no capítulo 9.

Figura 2.14 Pilares.


74 COMPORTAMENTO E D!MENSl01'1AM.ENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL ALVENARIA CONTEMPORÂNEA 75

Para pequenos vãos, na maioria das vezes estribos verticais podem ser prescindidos. No
caso de vãos maiores com maior esforço de cisalhamento, estribos podem ser necessários. No caso
de uso de armadura dupla para resistir à flexão, são necessários estribos para impedir a flambagem
das barras comprimidas. O projeto de vigas e vergas será tratado no capítulo 6.

2.3 Sistemas estruturais de edifiJações em alvenaria


Figura 2.16 Armaduras em pilares.
Os elementos em alvenaria descritos anteriormente são combinados em sistemas es-
truturais de edificações que podem ser classificados em edificações térreas ou de múltiplos
2.2.4 Vigas, vergas e cintas
pavimentos em alvenaria estrutura] ou edificações hibridas.
Nas construções em alvenaria, muitos tipos de vigas são utilizados, mas comumente vigas
2. 3. l Edificações térreas
de telhados, vigas de pavimentos e vigas de fundação. Cintas de respaldo são geralmente usadas
na fiada de apoio de pavimentos ou telhados e têm a dupla função de conectar as paredes ao lon-
Edificações térreas compõem parte das construções em alvenaria estrutural, havendo ,
go do perímetro da edificação e, também, de servir como enrijecedores de telhados ou pavimen-
casos de residências, depósitos, ginásios, bancos e lojas comerciais. Nesses casos, as pare-
to funcionando como diafragma, distribuindo a ação lateral para a parede de contraventamento.
des estruturais formam o envelope externo da construção. A Figura 2.18 mostra elementos e
A verga é um tipo de viga colocada sobre vão de porta ou janela para suportar o carregamento
ações principais de edificações térreas.
sobre esses vãos. Peças de concreto, geralmente pré-moldadas, ou eventualmente elementos me-
Geralmente, paredes não armadas de pequena espessura não são viáveis para a maio-
tálicos, também podem ser usados nas paredes com função de verga.
ria desses tipos de construções. Como paredes em balanço têm muito pouca estabilidade,
Todas as vigas são armadas, uma vez que a resistência à tração de alvenarias é muito
especialmente as de pequena espessura, a estabilidade das paredes é garantida pelas paredes
baixa e não deve ser levada em conta para cargas permanentes. Para vergas de pequenos vãos,
transversais nas extremidades do envelope externo, pelo uso de enrijecedores ao longo da
tipicamente sobre portas, a armadura é muitas vezes alocada na junta horizontal. Em outros
parede, apoios na parte superior das paredes ou pela combinação destes. Apoios horizontais
casos, a armadura longitudinal é colocada em canaletas ou eventualmente em cavidades grau-
no topo das paredes geralmente são garantidos pelo telhado ou laje de cobertura, conforme
teadas formadas por vários tijolos maciços.
Figura 2.18.
Pressões (ou sucções) de vento agindo nas paredes de fachada são transmitidas aos
apoios laterais na )_aje de cobertura, telhado, paredes de extremidade ou enrijecedores. A
Armadura na j~nta ~ Cavidade grauteada ~
parcela da ação lateral encaminhada à laje ou ao telhado é, por sua vez, encaminhada aos
de assentamen~
Estribos~ enrijecedores, à parede de extremidade e às demais paredes de contraventamento pelo efeito
diafragma da laje ou telhado. Por cisalhamento, a ação lateral é transmitida através desses
Espaço grauteado elementos de contraventamento para a fundação.
A parede A na Figura 2.18 é provavelmente o elemento _crítico em relação à ação do
vento, uma vez que tem apoios apenas nas partes inferior e superior. Com um telhado leve e
paredes de pequena espessura, a flexão vertical pode produzir tensões de tração levando à ne-
Posicioi1amento após Bloco para grauteamento
vertical e horizontal
cessidade de armar a parede. A compressão axial e a força horizontal geralmente são pequenas
canaleta superior
nesses tipos de construções térreas, não sendo críticas para o dimensionamento, mesmo com
Bloco paredes de pequena espessura.
Posicionada junto co1n canaleta
a armadura inferior
Viga com estribo

Figura 2.17 Vigas e vergas.


7Ó COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE AlVENAR!A ESTRUTURAl ALVENARIA CONTEMPORÂNEA 77

Parede de contraventamento de concreto ou aço, para resistir à ação lateral. Nesse tipo de construção, as paredes servem de
Vento de sucção apoio às lajes, e também à parede do andar de cima posicionada exatamente sobre a parede dos
ou sobrepressão Vento de sucção
Paredes 1 1 andares inferiores. A laje de concreto age corno um diafragma rígido, distribuindo a ação lateral
fletidas
\ \ 1 '''-""~­ 1 1 1 para as paredes de contraventarnento, que por sua vez transmitem as ações para a fundação.
1
-Vento Um esquema do comportamento estrutural típico de um edifício em alvenaria estrutu-
Vento =de ral é mostrado na Figura 2.19. As lajes e paredes devem ser convenientemente ligadas para que
\t;s;===d'i!í!:'b=<:::i~ -- sucção o sistema estrutural funcioue conforrn~ essa copcepção.
Seção transversal Pressão interna
Paredes de contraventamento resistem à ação na direção transversal
Paredes do corredor e externas resistem ao vento
na direção longitudinal

Telhado diafragma +-
Paredes
fletidas +-
Carga Ação
vertical lateral
+-
Parede de
contraventamento +-

Vento ~arede A
Laje de concreto funciona como
"-.,j!--- diafragma rígido transferindo
Figura 2.18 Elementos e ações em edificações térreas. Ligação entre parede e piso ações a todas paredes Elevação de uma parede de
deve transferir ação horizontal contraventamento
2.3.2 Edifícios de múltiplos pavimentos
(a) Edifício com paredes de (b) Elevação de uma parede de
contraventamento contraventamento
Muitos edifícios baixos, e mesmo altos, foram construídos usando o conceito de utilizar
o peso próprio das paredes para contrabalancear tensões de tração provenientes de ações late- Figura 2.19 Resistência à ação lateral em um sistema estrutural típico de edifício em alvenaria estrutural.
rais. O maior deles foi o edifício Monadnock, construído em Chicago entre 1889 e 1891. Este
edifício de 16 pavimentos tem urna estrutura metálica aporticada interna com as juntas todas O efeito de tombamento devido à ação de vento em edifícios antigos era resistido pelas
articuladas e paredes maciças nas fachadas externas. Ele é marcado pela simplicidade de sua paredes de fachada, e nesse caso a espessura destas era de fundamental importância nesse tipo
concepção arquitetônica. Entretanto, as paredes têm cerca de 1,8 metro de espessura no térreo, de concepção. Edifícios modernos são concebidos de maneira que as paredes transversais, pa-
ocupando um valioso espaço e impondo um pesado carregamento vertical às fundações, que ralelas à ação do vento, são as responsáveis para garantir a estabilídade lateral. O comprimento
por volta de 1940 já haviam recalcado cerca de 50 cm no solo de argila mole. das paredes é o fator determinante na rigidez destas, ao invés de sua espessura. Se o efeito
Esse foi o último edifício alto construído em alvenaria estrutural, em Chicago, por mui- combinado da compressão sornado à tração devida à flexão não resultar em tensões de tração,
tas décadas. Pórticos.de aço, e depois de concreto armado, se tornaram as concepções estrutu- a parede pode ser não armada. Grandes áreas de janela na fachada são possíveis porque os
rais padrão para edifícios. Alvenaria de vedação, apoiada a cada andar do pórtico, tem função elementos ali dispostos não são mais determinantes na rigidez lateral do prédio. A arquitetura
de proteção ambiental e estética apenas. Os pórticos são projetados para serem estáveis, sem moderna da alvenaria estrutural não tem mais, portanto, essa limitação.
a ajuda da alvenaria. A estabilidade lateral contra a ação de vento, ou eventualmente sísmica, deve ser garan-
Apenas na década de 1930 percebeu-se que a alvenaria de preenchimento dentro de um tida em todas as direções. Isso é geralmente obtido lançando paredes estruturais bem distribuí-
pórtico metálico funciona corno urna parede de contraventarnento para resistir à tendência de das em duas direções principais do edifício, corno ilustrado na Figura 2.19. Devido à sua maior
distorção lateral do pórtico em seu próprio plano. Vinte anos depois idealizou-se que as alve- eficiência estrutural, os edifícios modernos são concebidos com paredes expressivamente mais
narias transversais em edifícios de múltiplos pavimentos funcionam corno paredes de contra- finas que as de construções antigas. Por exemplo, o edifício Líberty Park East Towers, de 21
ventarnento, estando ou não o pórtico de aço presente. A partir dos anos 1960, muitos edifícios pavimentos, tem paredes de 38 cm de espessura, conforme Figura 2.20. No Brasil, existem
altos foram construídos, em vários países, utílízando as paredes transversais, e não pórticos casos de edifícios de 22 andares com paredes de 19 cm de espessura.
78 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL ALVENARIA CONTEMPORÂNEA 79

fissuração, geralmente colocadas nas juntas ou canaletas horizontais. Esses elementos, portanto,
contam com a resistência apenas da alvenaria para resistir aos esforços. Como a alvenaria é muito
resistente à compressão e quase nada à tração, alvenarias não armadas resistem muito bem a car-
gas de compressão, porém seu uso está limitado a carregamentos que levam a tensões de tração.
Portanto, eventuais tensões de tração na alvenaria devem ser muito baixas e inferiores ao baixo
limite de resistência, ou aparecerão fissuras. O comportamento de alvenarias não armadas sob
cargas de compressão e sob ações laterais é consi1erado a seguir.
Considere inicialmente o corte do edifício mostrado na Figura 2.21(a). Aplicando os con-
ceitos descritos no capítulo 1, pode-se pensar em traçar as linhas de empuxo em cada parede, ana-
lisar sua estabilidade e verificar as cargas de compressão. Entretanto, essa análise não seria simples.
Vamos inicialmente supor, para uma determinada parede, que a localização da linha de
empuxo e a intensidade do empuxo são conhecidos na base e no topo da parede, como mos-
trado na Figura 2.21(b). Se não houver ação lateral e o peso das paredes for o carregamento
predominante, então a linha de empuxo deve ser aproximadamente vertical. A partir dessa
linha de empuxo e da geometria original da parede é possível determinar onde a tração (e
potencialmente fissuras) poderá ocorrer e também determinar diagramas de tensão em vários
Figura 2.20 Liberty Park East Towers, em Pittsburgh, EUA (cortesia da Brick Industry Association). pontos ao longo da altura da parede, como mostrado na parte esquerda na Figura 2.2l(b). A
linha de empuxo coincide com o centroide do diagrama de tensões em cada altura.
2. 3. 3 Edifícios híbridos

A alvenaria pode ser utilizada em conjunto com outros materiais, formando um sistema
estrutural híbrido. A alvenaria estrutural de contraventamento tem sido comumente utilizada
em edifícios com estruturas metálicas em paredes externas ou na caixa de escada e elevador
para resistir à ação lateral. Outro exemplo é o uso de alvenaria de preenchimento em estru-
turas aporticadas para aumentar a rigidez lateral do prédio. Deve-se tomar muito cuidado no
Laje de concreto
detalhamento e na construção para permitir a acomodação das deformações diferenciais ao
longo do tempo. Deformações de viga de suporte não suficientemente acomodado no encu-
nhamento do topo da parede podem causar sobrecarga e ruptura da parede. O detalhamento
p (a) Corte do edifício
de paredes de preenchimento será discutido no capítulo 1!.
t/2 t/2
1--1

2.4 Tipos de alvenarias estruturais Tensões de


compressão
Alvenaria fissurada
Até pouco te~po, todas as edificações em alvenaria estrutural, como as descritas até aqui, ,__1-- Linha de empuxo
eram feitas em alvenaria não armada. Como a espessura das paredes tem sido progressivamente re-
duzida e o tamanho dos vãos aumentado, foram introduzidas as alvenarias armadas e protendidas.
Linha de empuxo
2.4. l Alvenaria não armada

Alvenarias não armadas são comumente utilizadas em edifícios de baixa e média altura em p > 2/3t

regiões de baixa atividade sísmica, caso do Brasil. Alvenarias não armadas são muito simples para (b) Parede espessa (e) Parede fina
construir, mna vez que não contêm nenhum tipo de armadura, exceto as construtivas de cintas,
Figura 2.21 Linhas de empuxo de paredes não armadas.
vergas e contravergas. Podem ainda ter uma pequena quantidade de armadura para controle de
80 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL ALVENARIA CONTEMPORÂNEA 81

Vamos agora considerar uma parede não armada, como na Figura 2.22(a). A parede p p p p
tem apoios laterais apenas ao nível de cada laje do edifício. O peso dos andares de cima (P) e
0 peso da parede (W) são resistidos por uma reação vertical (R), na base da parede, que assu-
- i -ph/2
i -- L L
c:::J

-
mimos ser centrada nesse caso.
,, ~
Considerando a pressão de vento (p) uniforme, a reação lateral no topo e na base da pa-
t , V'"'"
rede será igual a ph/2. Considerando o equilíbrio de uma seção na metade superior da parede,
pode-se calcular a posição da linha de empuxo no centro da parede.
-- ,,
,,,
Centroide

Vtp - ,
,,
tp + W/2
Por equilíbrio de momento no centroide da seção (ponto c), na Figura 2.22(b), tem-se:

[--\v~
,

w
+ W/2
- ,,
-V-
Tensões nas seções

V
2
Equação 2.1 p-+ p--+
P+ W )·e= ph _.1:__ ph .!'..=>e= ph ;,......
( 2 2 2 2 4 8

Considerando as outras seções, a linha de empuxo completa pode ser traçada.


P+-
2
-- '

Excentricidade da linha
de empuxo
-
-+ Excentricidade da
linha de empuxo
É provável que nas antigas paredes, de grande espessura, a linha de empuxo esteja contida -+ Linha de empuxo -+ Linha de
dentro da seção da parede, como na Figura 2.22(a), com tensões de compressão ao longo de empuxo
toda a parede. Entretanto, da equação anterior pode-se perceber que a excentricidade da linha -+ -ph/2 -+ -ph/2
de empuxo depende da relação entre a intensidade do carregamento vertical e da ação lateral.
P+W P+W
p p p

~-i-'----,+,,-
(a) Parede espessa (b) Parede fina

- ~-i'--~- ph/2
i
,
,
~
ph/2 ph/2 Figura 2.23 Linhas de empuxo de paredes espessas ou finas.

- ,,
Essa análise é aproximadamente correta para paredes espessas do passado, uma vez que

- ph ,, h/2

::'.' . T
as deformações são pequenas e, portanto, a posição final da geometria do elemento pouco

r
W/2
interfere no equilíbrio. Para paredes finas e esbeltas, entretanto, os deslocamentos podem ser
, _h/2 consideráveis, levando a efeitos de 2' ordem e causando alterações significativas na posição da
w
h/
i 1 linha de empuxo, conforme Figura 2.2l(c). Os diagramas de tensão também são mostrados
nessa figura. A análise refinada é um pouco mais complicada, pois a fissuração causa a redução
-
L h
'-t/MR=P+W/2
da seção e o consequente reposicionamento da linha de empuxo. Outro ponto a ser levado em
conta é a possibilidade de a parede ter uma deformação inicial.
R=P+W/2
O conceito de linhas de empuxo é ainda válido para o dimensionamento de paredes
(b) Meia parede mostrando (e) Meia parede mostrando estruturais. Entretanto, deformações devidas à grande esbeltez da parede e outros aspectos
posição da linha de empuxo esforços internos levaram à criação de critérios de dimensionamento que não levam em conta o posicionamento
teórico da linha de empuxo, considerando a premissa apenas das ações aplicadas no topo e
base da parede.
-+ '--i~--'+'-- ph/2 · Com a crescente redução das espessuras das paredes (e a consequente redução do peso
destas) nas construções modernas, é possível que a posição da linha de empuxo, conforme equa-
P+W ção 2.1, caia fora da seção, ocasionando a necessidade de armadura. Essa situação ocorre princi-
(a) Parede interna mostrando todas ações
palmente em paredes altas de edificações térreas (depósitos, silos, galpões) e em edifícios altos.

Figura 2.22 Análise de paredes submetidas à carga vertical e ação lateral devidas ao vento.
82 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL ALVENARIA CONTE.MPORÃNE'A 83

2.4.2 Alvenaria armada

Embora todas as alvenarias antigas fossem não armadas, conectores metálicos eram
às vezes utilizados para ancorar um bloco ou tijolo no outro. Um exemplo do uso prévio de
barras de ferro embutidas na alvenaria, funcionando como armadura, é a Igreja de Saint Gene-
vieve em Paris, construída por volta de 1770. Um dos primeiros casos de uso de barras de ferro
em alvenaria ocorreu em 1825, na estrutura de shafts verticais para a construção do Túnel
Blackwall, sob o Rio Tâmisa. Mas a alvenaria armada, como conhecemos hoje, só começou a
!
ser extensivamente utilizada um século após, principalmente em áreas com probabilidade de Armadura horizontal
ações sísmicas na Índia, no Japão e nos Estados Unidos. Hoje é utilizada em muitos países. Armadura vertical "'----1----1-~~=Jll para resistir ao cisalhamento
para resistir à tração
Durante o terremoto de 1933 na Califórnia, EUA, muitas construções em alvenaria não devido à flexão
armada ruíram, indicando a necessidade de armação nas construções. Por esse motivo, o uso
Possível fissura diagonal
de alvenaria não armada foi proibida na costa leste norte-americana. O uso de alvenaria não Possível fissura
armada nos Estados Unidos só é permitido em regiões de baixa atividade sísmica; caso con- de flexão
trário, uma taxa de armadura mínima deve ser prevista.
As armaduras são realmente necessárias em alvenaria para resistir às tensões de tração
e cisalhamento e para melhorar a ductilidade. Os conceitos básicos de uma alvenaria armada,
sob ação de carga vertical e ação lateral, estão ilustrados na Figura 2.23.
As distribuições das tensões na base da parede sob vários níveis de ação lateral são mos-
tradas na Figura 2.2l(b). Inicialmente, as tensões devidas à flexão são pequenas em relação às
tensões de compressão simples. Com o aumento da ação lateral, eventualmente tensões de tra-
Distribuição de tensões sob Distribuição de tensões sob
ção irão resultar no bordo esquerdo da parede. Após atingir a resistência à tração da parede, essa pequena ação lateral maior tensão lateral
região fissura, devendo-se armar essa parede. Desprezando à resistência tração da alvenaria a
partir daí, o equilíbrio da seção é possível pela força de tração na barra de aço e pela resultante de
compressão da região comprimida, sendo ainda linear a distribuição das tensões de compressão.
Aumentando-se ainda mais a ação lateral, tanto a tração da parte esquerda quanto a compressão
na parte direita aumentam, levando a uma distribuição de tensões de compressão não linear, T=Af
em função da máxima deformação possível em cada ponto da seção. No estado limite último,
"
T=Af
"
e
a ruptura ocorrerá quando um dos materiais, aço ou alvenaria, não possuir mais resistência às
Distribuição de tensões após Distribuição de tensões· no
altas tensões agora aplicadas. Dependendo da quantidade de aço, este pode ou não escoar antes fissura por flexão estado limite último
da ruptura da seção.
Outra possibilidade de ruptura da parede é por cisalhamento. A alta força de cisalha- Figura 2.24 Dimensionamento de uma parede de contraventamento armada.
mento na base da parede produz !rações diagonais na parede que podem causar fissuras dia-
gonais, como mostr:ido na Figura 2.2l(a). Se as tensões forem maiores que as resistidas pela A armação das paredes permitiu o ganho de altura em edifícios com paredes relati-
alvenaria, a armação horizontal deve ser prevista para resistir a esses esforços. vamente pouco espessas. Nos EUA, um dos maiores edifícios de alvenaria estrutural tem 18
pavimentos, sendo o Hotel Excalibur, em Las Vegas (região de ação sísmica moderada), cons-
truído em 1989, com blocos de concreto de 30 cm de espessura e resistência de 27,5 MPa na
área líquida (cerca de 55 MPa na área bruta). As armaduras verticais inseridas nos vazados
grauteados dos blocos garantem a necessária resistência à tração e ductilidade para resistir às
ações gravitacionais e sísmicas. No Brasil, são comuns edifícios de 15 a 18 pavimentos, haven-
do ainda casos de construções com até 22 pavimentos.
84 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAl AlVENARIA CONTEMPORÂNEA 85

especiais: os indicadores de tração direta. Alternativamente, pode-se utilizar um torquímetro


para medir o torque aplicado, porém, nesse caso, deve-se levar em conta a dispersão da relação
entre torque/força na previsão da carga aplicada. Também pode-se utilizar um sistema de
bomba manual e macaco para pretensão com barras. Exceto pelo indicador de tração direta,
todos esses equipamentos são facilmente encontrados em fornecedores nacionais.
Quanto à mão de obra, não exiqtem grandes diferenças entre a construção de alvenarias
protendidas ou alvenarias não armadas. Deve-se.~er o cuidado de posicionar corretamente as bar-
ras ou cordoalhas de protensão, e a única "inovação" consiste na aplicação da força de pretensão,
que pode ser rapidamente absorvida com um pouco de inspeção, conforme pôde ser observado
nas obras já executadas no Brasil.
O dimensionamento é basicamente feito como alvenaria não armada, porém levando
Figura 2.25 Hotel Excalibur, Las Vegas, EUA, com 18 pavimentos em alvenaria estrutural. em conta a força de protensão, considerando as várias possibilidades de combinações de car-
regamentos e a perda da força de protensão.
2.4.3 Alvenaria protendida Os tipos de construções indicadas a serem feitas por meio da pretensão de alvenarias
incluem: arrimos, galpões, residências de até dois pavimentos, vigas, paredes corta-fogo, bar- ,
Colocar uma estátua pesada no topo de uma coluna de alvenaria para aumentar sua reira acústica, entre outras, em diversas partes do mundo. Estudos recentes incluem tópicos
resistência à ação lateral é hoje reconhecido como uma das formas antigas de pretensão. O uso como estudo de viabilidade de produção de alvenaria protendida com junta seca e utilização
de aço de alta resistência para pretender alvenaria é, entretanto, uma técnica recente. de cabos não metálicos para protensão
A protensão de alvenarias pode ser feita de maneira muito simples, utilizando barras Para a utilização de alvenaria estrutural protendida (AEP) são necessários cabos (bar-
roscadas de ~ço e aplicando a força de protensão com macaco hidráulico ou, ainda, pelo sim- ras ou cordoalhas) de protensão e blocos de boa qualidade, materiais facilmente encontrados
ples aperto de porcas de ancoragem. Internacionalmente, existem vários fornecedores de ma- nas mais diferentes regiões brasileiras. Construções indicadas para serem feitas em AEP são
teriais e equipamentos de pretensão de alvenaria com esse sistema. No Brasil, esses sistemas de aquelas em que há predominância de esforços de flexão. A partir dessa ideia básica, podem
protensão com barras de aço são utilizados em estruturas de contenção de terra pelo sistema ser levantadas algumas possibilidades para o uso da AEP no Brasil - basicamente os tipos de
de solo grampeado, podendo ser encontrados alguns fornecedores. Também é possível utilizar construções mostrados anteriormente.
o sistema tradicional com cordoalhas. Normalmente, as tipologias mais adequadas são as de paredes aletadas ou duplo-aleta-
das (Figura 2.27), o que não impede que a solução em alvenaria simples, sem enrijecedores,
seja utilizada em alguns casos.
Força de protensão
Muros de arrimo de alvenaria estrutural são feitos basicamente com paredes aletadas
(ou duplo-aletadas em altura maiores). O comprimento e espaçamento do enrijecedor e a es-
~ Pré-compressão
pessura do bloco são função da altura e tipo de vinculação do muro. Para um caso em balanço
de 3 metros de altura, por exemplo, pode-se pensar em utilizar enrijecedores de 14 x 74 cm
Momento devido ao esforço externo
it:" Tração/ compressão devidas à flexão a cada 1,15 metro aproximadamente, conforme Figura 2.28{a). Para alturas maiores pode-se

~ aumentar o comprimento do enrijecedor ou pensar na solução em parede duplo-aletada. Con-


forme já discutido anteriormente, relatos de casos de muros em balanço de até 10 metros de

~ Tensões finais (tração nula)


altura são encontrados na bibliografia.

Figura 2.26 Tensões em parede protendida.

Quando a protensão é feita por meio do aperto de porcas em barras roscadas, a garantia
de que a força de protensão necessária foi atingida pode ser feita com a utilização de arruelas
86 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL ALVENARIA CONTEMPORÂNEA 87

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Parede aletada Parede duplo-aletada


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(a) Muro de arrimo (b) Reservatório


Figura 2,27 Tipologias mais comuns para paredes protendidas.

Comparando o processo executivo em alvenaria protendida com a armada (AA), aso-


lução com pretensão traz a vantagem de possibilitar a eliminação do grauteamento vertical,
operação de execução não muito simples e sujeita a uma inspeção rigorosa.
Tecnicamente pode-se utilizar a AEP para níveis de esforços de flexão e, principalmen-
te, de cisalhamento maiores que os possíveis com a AA. Outras características importantes são
a maior ductilidade, controle de fissuras e estabilidade da solução em AEP. Se por um motivo
qualquer uma estrutura em AEP for submetida a esforços superiores à qual ela foi dimen-
sionada, muito provavelmente haverá ocorrência de grandes deformações e fissuras que, em (e) Painel de fachada (d) Pequena cobertura - passarelas
muitas situações, são totalmente recuperadas com a eliminação dos esforços. Como os efeitos
Figura 2.28 Sugestões para uso da AEP (dimensões em cm).
de retração e a fluência são previstos em projeto, é possível um melhor controle de fissuras em
estruturas de AEP. Observa-se um aumento na estabilidade quando os cabos de pretensão são
presos à parede.
Reservatórios de água (caixas d'água elevadas ou enterradas de edifícios, por exemplo)
podem ser executados em AEP. Em muitos casos, essa solução pode trazer vantagens quanto
à maior facilidade executiva quando comparada com a solução em concreto armado e maior
resistência e controle de fissuras quando comparada com alvenaria armada.
Galpões e outras edificações térreas também são indicados para serem executados em
AEP, podendo ser feitas paredes mais esbeltas do que as possíveis com AA. Pode-se pensar em
fazer vergas pré-moldadas no canteiro em AEP, eliminando a necessidade de escoramento des-
ses elementos. Elementos pré-moldados de fachada, barreiras acústicas (na lateral de rodovias, Espera ancorada
Último bloco grauteado
por exemplo), paredes corta-fogo, coberturas (Figura 2.28( e, d)), entre outras, são possibilidades na fundação
de uso hoje em dia. Entre possibilidades futuras encontra-se a de utilização de vigas de alvenaria
e de construção de paredes com junta seca.
(a) Viga protendida pré-fabricada (b) Parede de blocos vazados (e) Parede dupla de tijolos

Figura 2.29 Exemplos de elementos de alvenaria protendida.

O dimensionamento de alvenaria pretendida será visto nos capítulos 7 e 8.


88 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL ALVENARIA CONTEMPORÂNEA 89

2.5 Desenvolvimento da normalização internacional informações são necessárias antes que as regras possam ser formuladas. Uma
maior quantidade de dados é necessária para entender pontos-chave, como
Evoluções têm sido observadas para o esforço de desenvolver métodos racionais e pre- fatores que intervieram na estabilidade lateral e a resistência da parede à ação
cisos para o dimensionamento seguro de alvenarias estruturais, aumentando o grau de com- lateral. Para preencher essas necessidades) muitos outros ensaios são neces-
petitividade desse sistema construtivo. Embora as teorias para dimensionamento tenham sido sários para prover informações adicionais nas condições de contorno que
desenvolvidas ainda em meados do século 19, não foi antes de um século depois que essas afetam o desempenho da ;venaria. 32
teorias começaram a serem incorporadas em normas técnicas.
As primeiras pesquisas são concentradas no entendimento do comportamento da com- Em meados dos anos 1950, era nítida a ideia de que a alvenaria estrutural poderia aju-
pressão e foram retardadas pela baixa capacidade das máquinas de ensaio. A partir do final do dar a resolver a grande demanda por novas construções após a Segunda Guerra. Um grande
século 19, esses equipamentos de ensaio foram disponibilizados em algumas universidades e e importante estudo ocorreu na Suíça sob a coordenação de Paul Haller. Com a existência de
agências de pesquisas internacionais. Embora vários aspectos da alvenaria estrutural, incluin- uma máquina de ensaio de 8.900 kN, em Dubendorf, vários estudos foram possíveis. Após
do alvenaria armada, tenham sido estudados nesse período, suas conclusões demoraram em 10 anos de estudos no laboratório e com a ajuda de vários consultores e construtores, Haller
ser aproveitadas. Muito poucas alterações em normas internacionais foram feitas antes do final supervisionou a construção de vários edifícios de apartamentos de até 18 andares com paredes
da Segunda Guerra Mundial. de apenas 152 mm de espessura em alguns casos.
No período da multiplicação da quantidade de construções logo após a Segunda Guerra, Após esse extensivo programa experimental, ele chegou a uma série de conclusões sobre ,
as estruturas de concreto armado e aço estavam estabelecidas. Estruturas de alvenarias não a resistência da alvenaria:
eram proibidas, mas suas regras de cálculo eram as mesmas do século anterior, com prescrições
empíricas que tinham a necessidade de paredes espessas. Economicamente, esse tipo de cons- • Tijolos não devem ter fissuras na fabricação, sem muitos vazados, de peso unifor-
trução tornava-se inviável, pois a alvenaria era vista como eficiente para revestimento, pequenas me, com pouco desvio dimensional e ter baixa absorção.
edificações e prédio de alto valor arquitetônico. • Argamassas devem ser de alta resistência, à base de cimento e cal, uma vez que
Um dos primeiros marcos de transformação dessa situação foi a revisão da norma bri- argamassas apenas de cal são muito sensíveis aos efeitos da absorção do bloco.
tânica CP 111, em 1948. Com base nas pesquisas realizadas até então, novas regras foram • Tijolos devem ser assentados no prumo por pedreiros experientes, com todas as
criadas para o dimensionamento de paredes. Prescrições arbitrárias de necessidade de uma juntas de espessura mínima de 13 mm e completamente preenchidas com arga-
espessura mínima foram substituídas pelo conceito de índice de esbeltez, definido pela relação massa.
entre uma altura efetiva (aproximação do comprimento de flambagem) pela espessura efetiva • O projetista deve detalhar completamente enrijecedores, cantos, interseções e
(aproximação do raio de giração). A espessura efetiva era definida como a espessura da parede aberturas de paredes, não deve permitir corte de blocos, e deve realizar uma ins-
para paredes simples, ou dois terços da soma das paredes externas em paredes duplo-aletadas. peção._detalhada dos edifícios de maior importância.
O índice de esbeltez era limitado a 18. Tensões admissíveis de compressão eram determinadas
com coeficientes globais de segurança maior que 2, mas 25% de aumento era permitido para Por conta de todos esses fatores e dos parâmetros assumidos no cálculo, Haller indicou
picos de tensões em carregamentos excêntricos. Os projetistas não podiam admitir a resistên- que o coeficiente global de segurança de alvenaria estrutural deveria ser 4 e 5, o menor valor
cia à tração da alvenaria, porém regras para alvenaria armada foram criadas. Um grande grau para casos de rígido controle da obra, tanto durante a produção da parede quanto da realiza-
de conservadorismo foi imposto a esse texto, uma vez que, na época, entendia-se que eram ção de ensaios de controle de material. Ele também indicou que os parâmetros para projeto
necessários mais ensaios ainda. deveriam ser obtidos a partir de ensaios de pequenas paredes, realizados antes da obras, como
Nos Estados lJnidos, regras empíricas tiveram seu auge em 1953, quando o texto Ame- forma de entender o comportamento conjunto dos materiais a serem utilizados na construção.
rican Standard Association Building Code Requirements for Masonry (ASA A41.l-1953) foi Inicialmente, cada novo edifício era tomado como um projeto de pesquisa.
publicado. Embora baseado em regras empíricas, o texto é considerado de referência para o Os modelos de projeto britânicos foram utilizados no Canadá, onde conceitos para di-
projeto de alvenarias, trazendo alguns conceitos que foram a base para o desenvolvimento das mensionamento de alvenarias foram introduzidos no National Building Code of Canada, em
regras de dimensionamento modernas. Um dos parágrafos dos comentários do comitê que 1965. Regras elementares para dimensionamento de alvenarias armadas e não armadas, baseadas
produziu, texto diz: em paràmetros como análise de forças, momentos, esbeltez e tensões, foram conhecidas como
Alvenaria de Engenharia, em oposição às alvenarias empíricas.
Embora o comitê esteja ciente do desejo de um método mais racional para
o dimensionamento, que não a recomendação arbitrária de limitar a espes-
sura da parede a distância entre os apoios laterais, foi considerado que mais 32 American Standard Association Building Code Requirements for Masonry (1953, s/p).
90 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL ALVENARIA CONTEMPORÂNEA 91

Nos Estados Unidos, os resultados dos ensaios realizados nos anos 1960 levaram à pu- (pavimento com mais de uma opção de planta, previstas na fase de projeto) e para casos de
blicação de regras para dimensionamento de alvenaria não armada pelo Brick Institute of vãos médios moderados de cerca de 4 a 5 metros.
America e pelo National Concrete Masonry Association. Em 1978, o comitê 531 do AC! pu-
blicou a norma Requisitos para Edifícios em Alvenaria de Blocos de Concreto, que incluía con-
ceitos baseados no Método das Tensões Admissíveis para projeto de alvenaria armada e não
armada, tanto de bloco de concreto quanto cerâmico. Em 1988, novas normas para projeto
e execução foram publicadas, que evoluíram para as normas hoje produzidas pelo Masonry
Standards )oint Committee, geralmente revistas a cada três anos.

2.6 Desenvolvimento da alvenaria estrutural no Brasil

No Brasil, construções em alvenaria estrutural tiveram início na década de 1960, com


alguns casos de pouco sucesso. A partir da década de 1970, foram iniciadas pesquisas no
!PT - Instituto de Pesquisas Tecnológicas, Estado de São Paulo, no final da década de 1970
e, na década de 1980, na Escola Politécnica da USP - Universidade de São Paulo. No final
da década de 1980 e início dos anos 1990, o sistema construtivo ganhou força e as parcerias
Universidade-Empresa permitiram a criação de materiais e equipamentos nacionais para Figura 2.30 Conjunto de edifícios residenciais em alvenaria estrutural de blocos de concreto em cons-
produção de alvenaria. trução, em Porto Alegre, RS.
É a partir daí que podemos dizer que a "alvenaria estrutural" (dimensionada a partir
de conceitos técnicos e detalhada de forma racional, presente no mundo há cerca de 60 anos)
substituiu no Brasil a "estrutura de alvenarià' (em que as paredes servem de suporte estrutural,
mas são construídas e projetadas de forma empírica, apesar de existir com relativo sucesso há
mais de dez mil anos).
O uso da alvenaria não armada, ou com armaduras apenas cujo dimensionamento in-
dicava ser necessário (antes da revisão atual da norma, chamada de alvenaria parcialmente
armada), passou a ser corrente. Estudos comparativos chegam à conclusão que, para prédios
residenciais com vãos moderados e de baixa ou média altnra, a opção pela alvenaria estrutural
poderia levar a uma considerável redução no custo.
Hoje o sistema é extensivamente utilizado em todas as diferentes regiões do Brasil,
como pode ser observado nos exemplos das figuras 2.30 e 2.31, e é um ramo reconhecido da
Engenharia, sendo que as melhores universidades brasileiras têm a disciplina na grade curri-
cular do curso de Engenharia Civil. Assim, com o envolvimento de pesquisadores, projetistas,
associações, constru~ores e fornecedores presenciamos no momento uma indústria de alvena-
ria em avançado grau de desenvolvimento.
É comum observar o uso de alvenaria estrutural em empreendimentos habitacionais
de larga escala, onde as exigências de racionalização, planejamento, controle, rapidez e custo Figura 2.31 Conjunto de edifícios residenciais em alvenaria estrutural de blocos cerâmicos, em Porto
são mais bem contempladas pela opção do sistema de alvenaria estrutural. Inúmeros edifí- Alegre,RS.
cios são hoje construídos em alvenaria estrutural, especialmente edifícios residenciais. Ca-
sos de edifícios comerciais, ainda que menos frequentes, são comuns. Geralmente, o sistema Em relação à altura do edifício, a opção por alvenaria estrutural geralmente é mais
construtivo é indicado quando não há previsão de alterações na arquitetura (paredes não econômica em edifícios de poucos andares, até cerca de 15 pavimentos, embora caso de edi-
removíveis) ou quando essa possibilidade é limitada à alteração de algumas paredes apenas fícios mais altos sejam hoje comuns. A Figura 2.32 ilustra casos típicos. Nesses casos, tem-se
predominância da ação vertical e do esforço de compressão, em relação à ação horizontal de
92 COMPORTAMENTO E DIMENS!ONAMENTO OE ALVENARIA ESTRUTURAL ALVENARIA CONTEMPORÂNEA 93

menor intensidade, viabilizando o uso de alvenaria não armada ou pouco armada. Outras
possibilidades de uso do sistema, como em edifícios mais altos, são tecnicamente possíveis,
porém usualmente com menor ganho econômico em relação a outros sistemas construtivos.

(b) Conjunto de cinco pavimentos


(c) Edifício residencial de oito
(a) Edifício residencial de oito pavimen- pavimentos em Barueri, SP
tos em construção em Santa Maria, RS
Figura 2.32 Ver legenda para figura. Figura 2.34 Painel horizontal em alvenaria protendida com 5 metros de vão durante içamento pelas
extremidades (trabalho de mestrado: Eng. Paulo R. A. Souza, UFSCar).
A adequação de alvenaria não armada para edifícios de altura moderada está relacio-
nada com a boa resistência à compressão da alvenaria (Figura 2.33). Casos em que a ação
horizontal é predominante, como pequenas coberturas, paredes altas de edificações térreas, 2.7 Normas brasileiras
entre outros, tornam-se viáveis com o uso de pretensão ou alvenaria armada (Figura 2.34).
O projeto e execução de obras em alvenaria e a especificação e o controle dos compo-
nentes da alvenaria são padronizados pelas prescrições das seguintes normas da Associação
Alvenaria não armada Alvenaria pretendida ou armada
Brasileira de Normas Técnicas (ABNT):
-+ Resistência: -+ Resistência:
-+ Compressão t -+ Compressão t
• Especificação e controle de componentes
-+ Tração • -+ Tração t
a) Bl~cos cerâmicos:
i. Componentes cerâmicos - Parte 1 - blocos cerâmicos para alvenaria de
vedação - terminologia e requisitos - NBR 15270-1. Rio de janeiro, 2005.
ii. Componentes cerâmicos - Parte 2 - blocos cerâmicos para alvenaria es-
trutural - terminologia e requisitos - NBR 15270-2. Rio de Janeiro, 2005.
iii. Componentes cerâmicos - Parte 3 - blocos cerâmicos para alvenaria es-
Armadura ou cabo de pretensão trutural e de vedação - método de ensaio - NBR 15270-3. Rio de Janeiro,
2005.
Figura 2.33 Comportamento básico da alvenaria: boa resistência à compressão, baixa resistência à tração. b) Blocos de concreto:
i. Blocos vazados de concreto simples para alvenaria estrutural - NBR 6136.
Rio de Janeiro, 2006.
ii. Blocos vazados de concreto simples para alvenaria - métodos de ensaio -
NBR 12118. Rio de Janeiro, 2011.
c) Blocos sílico-calcários:
i. Bloco sílico-calcário para alvenaria - Parte 1: requisitos, dimensões e mé-
todos de ensaio - NBR 14974-1. Río de Janeiro, 2003.
94 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL ALVENARIA CONTEMPORÂNEA 95

d) Argamassa: 2.8 Considerações finais


i. Argamassa para assentamento e revestimento de paredes e tetos - prepa-
ro da mistura e determinação do índice de consistência - NBR 13276. Rio Complementando o capítulo 1, em que se encontra uma breve análise de alvenarias his-
de janeiro, 2005. tóricas, neste capítulo apresentamos ao leitor parâmetros e detalhes para a análise de constru-
ii. Argamassa para assentamento e revestimento de paredes e tetos - deter- ções contemporâneas. Ê notável como as alvenarias estruturais de hoje são distintas das antigas.
minação da retenção de água - NBR 13277. Rio de janeiro, 2005. Entretanto, e para nossa surpresa, o hoje comum edifício de vários pavimentos em alvenaria
iii. Argamassa para assentamento e revestimento· de paredes e tetos - de- estrutural nada mais é do que a evolução dos edtfícios residenciais existentes em Roma há cerca
terminação da densidade de massa e do teor de ar incorporado - NBR de dois mil anos. Ê também surpreendente verificar que foi necessário tanto tempo para que
13278. Rio de janeiro, 2005. uma efetiva evolução do sistema ocorresse, uma vez que as pesquisas no tema só ganharam
iv. Argamassa para assentamento e revestimento de paredes e tetos - deter- importância em meados do século passado.
minação da resistência à tração na flexão e à compressão - NBR 13279. Com as vantagens das detalhadas análises técnicas e procedimentos de dimensiona-
Rio de janeiro, 2005. mento, do avanço na ciência dos materiais e do crescente uso de equipamentos e procedimen-
v. Argamassa para assentamento e revestimento de paredes e tetos - deter- tos mecanizados, ainda existem várias oportunidades a serem exploradas antes de se atingir o
minação da densidade de massa aparente no estado endurecido - NBR completo potencial do sistema. Informações detalhadas para ajudar o leitor a conceber, proje-
13280. Rio de janeiro, 2005. tar e construir em alvenaria estrutural estão presentes nos capítulos seguintes.
e) Graute:
i. Ensaio à compressão de corpos de prova cilíndricos de concreto - NBR
5739. Rio de janeiro, 2007. 2.9 Exercícios
f) Parede:
i. Paredes de alvenaria estrutural - determinação da resistência ao cisalha- 1. Discuta e apresente exemplos de usos efetivos de enrijecedores na alvenaria estrutural,
mento - NBR 14321. Rio de janeiro, 1999. indicando situações e formas mais adequadas.
ii. Paredes de alvenaria estrutural - verificação da resistência à flexão sim-
ples ou à flexo-compressão - NBR 14322. Rio de Janeiro, 1999. 2. Pense em um experimento simples ou mostre, por meio de cálculos, como pode ser
iii. Paredes de alvenaria estrutural - ensaio à compressão simples - NBR eficiente o uso de seções aletadas ou duplo-aletadas para alvenarias sujeitas a ações fora
8949. Rio de janeiro, 1985. do plano.
• Projeto
a) Blocos de concreto: 3. Os edifícios ~e alvenaria estrutural de hoje tomam partido de concepções e modelos
i. Alvenaria estrutural - blocos de concreto - Parte 1: projetos - NBR estruturais muito diferentes das alvenarias históricas. Indique algumas diferenças mar-
15961-1 - 2011. cantes, ilustrando com exemplos.
b) Blocos cerâmicos:
i. Alvenaria estrutural- blocos cerâmicos - Parte 1: projetos - NBR 15812- 4. Identifique quais são as normas atualmente em vigor para especificação, projeto e con-
1. Rio de janeiro, 2010. trole de obras em alvenaria estrutural.
• Execução
a) Blocos de concreto: 5. Neste capítulo, várias formas de alvenarias são comentadas. Identifique algumas dessas
i. Alvenaria estrutural - blocos de concreto - Parte 2: execução e controle formas em construções perto de você (de preferência ainda em construção), comentan-
de obras - NBR 15961-2 - 2011. do sobre sua concepção e procedimento construtivo.
b) Blocos cerâmicos:
i. Alvenaria estrutural - blocos cerâmicos - Parte 2: execução e controle de 6. Identifique fornecedores de blocos estruturais e associações técnicas perto de você que
obras - NBR 15812-2. Rio de Janeiro, 2010. podem dar informações técnicas para projeto de alvenaria estrutural.
c) Blocos sílica-calcários:
i. Bloco sílica-calcário para alvenaria - Parte 2: execução e controle de 7. Conceitue as diferenças entre área líquida, bruta e efetiva.
obras - NBR 14974-2. Rio de janeiro, 2003.
96 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL

8. Ilustre detalhes de juntas amarradas e não amarradas e comente sobre o comportamen- CAPÍTULO 3.....,.......,_......,....................,......,...........,......,..............,_......._
to e vantagens/desvantagens de cada detalhe.
Projeto de edifícios

Figura 3.1 Conjunto de edifícios residenciais em alvenaria estrutural.

3.1 Introdução

Alvenarias estruturais em edifícios funcionam como elementos estruturais, suportando


ou resistindo aos carregamentos e ações, e também elementos de vedação ou arquitetõnicos, di-
vidindo ou protegendo os ambientes. Em ambas situações podem ser construídas aparentes, com
blocos texturizados, ou serem revestidas. Essa dupla função exige uma forte colaboração entre
o arquiteto, o engenheiro e o construtor nas fases de concepção, projeto e construção do prédio.
Os envolvidos no projeto de edifícios em alvenaria estrutural devem, portanto, ter um bom co-
nhecimento sobre edificações, incluindo tópicos de estrutura, instalações prediais, arquitetura,
conforto e aspectos construtivos. Nos capítulos seguintes serão detalhados esses tópicos, mas iu-
formações gerais são incluídas neste capítulo para possibilitar ao leitor situar cada tópico dentro
do contexto da concepção e do projeto do edifício.
O processo de elaboração do projeto é sequencial e interativo com decisões feitas para
escolher a melhor alternativa. A fase inicial envolve a definição das necessidades do cliente, in-
cluindo requisitos funcionais, estéticos e de custo. Um anteprojeto conceituai é então proposto,
indicando possíveis layouts que podem satisfazer os requisitos definidos. Na fase final as esco-
lhas são feitas no intuito de priorizar os requisitos em função do orçamento disponível. Durante
essa fase, o sistema estrutural é definido e um dimensionamento inicial, incluindo verificações
das condições de estabilidade e conforto, é elaborado para estimativa de custo. O projeto final
da estrutura inclui verificações detalhadas de cada elemento e compatibilização com as instala-
ções. Os desenhos de projeto executivo e especificações são preparados nessa fase.
98 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL PROJETO Dê EDlfiCIOS 99

Neste capítulo, requisitos estruturais, ambientais e estéticos, e a compatibilização destes, O edifício deve ter resistência suficiente para transferir todas as ações através de sua estru-
são inicialmente discutidos e posteriormente comentadas as implicações sobre o planejamen- tura para a fundação e para o solo, sem perda de sua integridade estrutural pela ruptura material
to e custo. Esses tópicos são tratados considerando-se técnicas de projeto e execução atuais. de determinada seção crítica em cada um de seus elementos, sem transformação de parte ou de
todo o edifício em um mecanismo de ruptura, e, ainda, garantida a estabilidade global (estados
limites últimos [ELU]). O critério de resistência é aplicável a todas as ações que podem ocorrer
3.2 Requisitos estruturais durante a vida útil da construção. Entretanto, por questões econômicas, a estrutura não pode ser
dimensionada para resistir a ações exce;sivamenie superiores às costumeiras ou grandes acidentes
3.2. l Critérios de dimensionamento sem apresentar algum tipo de dano. Sempre existe a possibilidade de que mn acidente localizado
(dano acidental), como mna explosão ou colisão, possa iniciar urna reação em cadeia de forma
Para ser estruturalmente estável, o edifício e cada um de seus elementos devem sa- que a ruptura de um elemento induza progressivamente à ruptura de outro elemento até à ruptura
tisfazer critérios de resistência, estabilidade e de serviço (conforto). Em áreas sujeitas a total da construção (colapso progressivo). Edifícios em alvenaria estrutural devem ser projetados
ações sísmicas, devem ainda satisfazer critérios de ductilidade e capacidade de absorver de forma que um eventual dano tenha efeito localizado, não produzindo colapso progressivo do
deformações. Cada um dos requisitos deve ser checado individualmente para cada ele- edifício. Urna construção com essa qualidade é dita robusta e geralmente possui trajetórias alterna-
mento e para o edifício como um todo (estabilidade global). Esses critérios são ilustrados tivas de encaminhamento das ações para fundação. A Figura 3.3 ilustra essa ideia, em que uma laje
na Figura 3.2 através de um diagrama idealizado de força-deslocamento para uma parede de piso funciona como uma membrana para transferir parte do carregamento vertical aos apoios, ,
de alvenaria armada com flexão vertical sujeita à ação fora de seu plano. Propriedades excluindo a parede de apoio danificada. Esse mecanismo de transferência de carga exige que haja
importantes incluem estado limite de serviço devido à fissuração e deformação, estado continuidade (ou emenda) da armadura positiva de laje sobre os apoios.
limite último e capacidade de absorção de energia. As propriedades de absorção de energia Um edifício deve, ainda, ser estável, de forma que a estrutura como um todo e cada
não são limitadas à máxima resistência, uma vez que pode haver redundância estática no um de seus elementos não percam o equilíbrio como corpo rígido. Esse critério indica, por
edifício e dissipação de esforços, permitindo absorção de energia após o pico de máxima exemplo, que o edifício inteiro ou cada uma das paredes de contraventamento não irão tombar
resistência. A ductilidade, entendida como a quantidade de deformação permitida após o quando sujeitos à ação lateral do vento, Figura 3.4.
escoamento do material, é uma indicação dessa desejada propriedade. A mesma relação
pode ser estendida ao comportamento do edifício como um todo, exceto que nesse caso
não é possível admitir comportamento pós-pico de máxima resistência.

Colapso
Parede danificada
P projeto
'
P fissuração
'' '' ''
'' ' '
' '
' ' ' '' ' ' ' '' ''
' ' ' '' '' ' ' ' Figura 3.3 Trajetória de carga alternativa.
' ' ' ' .6.

-1 '\__ Em serviço
Ductilidade

Figura 3.2 Critérios de dimensionamento estrutural ilustrados em um diagrama idealizado de for~


ça-deslocamento de uma parede em alvenaria armada sujeita à ação fora de seu plano.
100 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL PROJETO OE EDIFÍCIOS 10]

3.3 Ações
No estado limite último: A estrutura, em especial no edifício de alvenaria estrutural, estará sujeita a várias ações de
naturezas distintas. A Tabela 3.1 indica várias naturezas de ações que podem ocorrer em estrutu-
y, WL/2 ~ y, VH
ras. As ações verticais são definidas na norma NBR 612033 - cargas, para o cálculo de estruturas
em que Yi e Y2 são coeficientes majoradores de edificações. Para cálculo das ações yerticais permanentes, como peso próprio da estrutura e
de esforços adequados. dos elementos de construção, pode-se utilizar ds valores do peso específico dos materiais indi-
cados na Tabela 3.2. Por exemplo, um contrapiso sobre a laje, com 2 cm de espessura, feito com
argamassa de cimento e areia (peso específico igual a 21 kN/m3), resulta em um carregamento
vertical permanente de 0,02 · 21 = 0,42 kN/m' sobre a laje.
Figura 3.4 Estabilidade global (tombamento).
As ações verticais acidentais, de uso da edificação, são adotadas de acordo com a Tabela
3.3. Para edifícios residenciais deve-se considerar uma carga acidental de 1,5 kN/m 2 nas lajes
Em áreas sujeitas à grande atividade sísmica, não existente no Brasil, a estrutura deve de piso de dormitórios, sala, copa, cozinha e banheiro e de 2,0 kN/m' em áreas de despensa, de
ser dúctil e capaz de dissipar energia. Os critérios de serviço requerem que certo nível míni- serviço e lavanderia.
mo de desempenho deva ser atingido nas condições normais de uso da edificação (estados
limites de serviço [ELS]). Os estados limites de serviços não são geralmente ligados a condi- Tabela 3.1 Classificação das ações.
ções de segurança da estrutura, apesar de eventualmente poderem estar associadas à condição
Peso
de resistência última, como, por exemplo, quando pensamos na influência que determinada
Peso dos elementos de construção
abertura de fissura pode ter na corrosão de uma armadura. Os ELS são relativos à máxima Diretas
Peso dos elementos fixos
deformação que determinado elemento pode ter sem afetar seu uso eficiente ou sua aparência,
Empuxo de terra e líquidos
à máxima vibração admitida para não causar desconforto ou danificar determinado equipa-
Permanentes Recalques
mento e, ainda, a fissuras que podem afetar a aparência e a durabilidade da estrutura.
Retração
Inúmeras variáveis devem ser analisadas na busca por satisfazer todos os requisitos de
Indiretas Fluência
resistência, estabilidade, ductilidade e serviço. Inicialmente existem várias incertezas em de-
terminar todas as possíveis ações máximas que podem atuar sobre o edifício e, também, suas Erros de execução geométricos

combinações ao longo da vida útil. Além disso, os ensaios para avaliar a resistência dos materiais Protensão

utilizados permitem controle da qualidade, porém o resultado do ensaio não tem cem por cento Cargas acidentais

de correlação com o material aplicado na obra, que é alterado pela condição de execução, cura, Diretas Ação do vento
dimensões, entre outros. A quantidade de resistências possíveis de se obter na construção de uma Variáveis Cargas de construção
parede de alvenaria é inúmera, dependendo do bloco, da argamassa, graute e armadura utiliza- Variação de temperatura
Indiretas
das. Geralmente, o projetista apenas se importa em saber se a resistência efetivamente alcançada dinâmicas
com os materiais utilizados na construção é superior à especificada no projeto. Uma exceção a Furacão
essa regra simples é a resistência à tração da alvenaria, que deveria ser sempre cuidadosamente Excepcionais Indiretas Terremotos
avaliada. Ainda existem incertezas associadas a teorias relacionadas às resistências dos materiais Explosões
e às ações, a resistência e ductilidade do elemento estrutural. Por fim, existe a dificuldade em se
determinar o grau correto de segurança ou de condições de uso que deve ser geralmente garan-
tido e qual a extensão do dano permitido para ações acidentais.
Felizmente, normas técnicas de todos os países trazem prescrições mínimas a serem
atendidas para cada um dos problemas indicados no parágrafo anterior. Porém, mesmo quan-
do essas prescrições são fornecidas de forma quantitativa, o projetista é frequentemente so-
licitado a decidir como aplicá-las. Entretanto, a inerente resistência da alvenaria e as grandes
áreas de parede necessárias para atender a outros requisitos do edifício geralmente garantem
uma adequada resistênc.ia às ações previstas.
33 ABNT (1980).
PROJETO DE EDIFÍCIOS 103
102 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL

Tabela 3.2 Peso específico dos materiais de construção - NBR 6120. 34 Tabela 3.3 Valores mínimos de cargas acidentais - NBR 6120.Js

Arquibancadas 4

Basalto Mesma carga da peça com a qual se comunicam e uma


Balcões carga horizontal de 0,8 kN/m na altura do corrimão e uma
Rochas 30
carga vertical mínima de 2 kN/m na borda do balcão
Granito 28
Escritórios e banheiros / 2
Mármore e calcário 28 Bancos
Salas de diretoria e de 1,5
Blocos de árgamássa 22
Sala de leitura
Cimento amianto 20
Sala para depósito de livros 4
Lajotas cerâmicas l8 Bibliotecas
Blocos artificiais Sala com estantes de livros, a· ser determinada em cada caso,
Tijolos furados 13 ou 2,5 kN/m2 por metro de altura, observado, porém, o 6
Tijolos maciços 18 valor mínimo de
~~-·~~~~~~~~~~~~~--~~~~~~~~~~~~~~~-'-~~

Tijolos sílico-calcários 20 Incluindo o peso das máquinas; a ser determinada em cada


7,5
Casas de máquinas caso, com o valor mínimo de
Argamassa de cal, cimento e areia 19
Plateia com assentos fixos 3
Argamassa de cimento e areia 21
Revestimentos e Estúdio e plateia com assentos móveis 4
Argamassa de gesso 12,5 Cinemas
concreto Banheiro 2
Concreto simples 24
Sala de e de assembleia com assentos fixos 3
Concreto armado 25
Sala de assembleia com assentos móveis 4
Pinho, cedro 5 Clubes
Salão de e salão de 5
Louro, imbuia, pau-óleo 6,5
Madeiras Sala de bilhar e banheiro 2
Guajuvirá, guatambu, grápia 8
3
Angico, cabriúva, ipê-róseo 10 Corredores
Sem acesso ao 2
Aço 78,5
Cozinhas não residenciais com o mínimo de 3
Alumínio e ligas 28
A ser determinada em cada caso e; na falta de valores
Bronze 85 Depósitos
experimentais, conforme' o indicado na Tabela 3.2
114 Dormitórios, sala, cozinha e banheiro 1,5
Edifícios residenciais -,
Metais Cobre 89 área de e lavanderia 2
Ferro fundido 72,5 Com acesso ao púbHco 3
74 Escadas
Estanho Sem acesso ao 2,5
Latão 85 Anfiteatro com assentos fixos, corredor e sala de aula 3
72 Escolas
Outras salas 2
Alcatrão Escritórios Salas de uso 2
Asfalto 13 Forros Sem acesso a 0,5
Borracha 17 Galerias de arte o mínimo de 3
Materiais diversos
Papel 15 Galerias de A ser determinada em cada caso, 3
Plástico em folhas 21 Para veículos de passageiros ou semelhantes com carga
Garage:ns e estacionamentos 3
Vidro plano 26 máxima de 25 kN veículo
Ginásios de 5

34 Idem. 35 idem.
104 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO OE AlVENARIA ESTRUTURAL PROJETO OE EDIFÍCIOS 105

Tabela 3.3 Continuação ... Tabela 3.4 Características dos materiais de armazenagem - NBH. 6120. 36

Dormitórios, enfermarias, sala de recuperação, sala de ci- Areia com umidade natural 17 30º
sala de raios X e banheiro
2 ·-----~--- -----
Hospitais 18 25º
3
10 25º
Incluindo equipamentos, a ser determinada em cada caso, 10 45º
Laboratórios 3
com o mínimo de Materiais para
13
Lavanderias 3 construção
Cimento 14 25º
4
Clinker de cimento 15 30º
3
Pedra britada 18 40º
Palco 5
Seixo 19 30º
Teatros Demais dependências: cargas iguais às especificadas parà
Carvão mineral (pó) 7 25º
2 Carvão 4 45º
Combustíveis
3 30º
Terraços Inacessível a 0,5 Lenha 5 45º

Destinados a heliportos elevados: as cargas deverão ser for- 7,5 35º


necidas pelo órgão competente do ~inistério da Aeronáutica Arroz com casca 5,50 36º
Sem acesso ao público 1,5 Aveia 5 30º
Vestíbulo
Com acesso ao público 3 Batatas 7,5 30º
Café 3,5
3. 3. l Ações horizontais: empuxo e desaprumo Centeio 7 35º
Cevada 7 25º
As ações horizontais comuns em edifícios são as de vento (sempre presentes) e eventuais Produtos -------~--~

Farinha 5 45º
agrícolas
empuxos. A consideração do aumento de esforço de flexão no edifício pelo fato de as cargas ver- 7,5 31º
ticais serem deslocadas do centro geométrico quando há desaprumo no prédio também pode Feno 1,7
ser levada em conta impondo-se uma ação lateral que produza o mesmo efeito. Neste item, 3,5
comenta-se sobre empuxo e desaprumo, sendo a ação de vento detalhada no próximo item. Fumo 3,5 35º
Milho 7,5 27°
a) Cálculo de empuxo horizontal de líquidos e grãos ·----
7 29º
27°
O perfil de empuxo horizontal para grãos, em uma parede vertical, pode ser estimado a
partir do peso específico do material e do seu ângulo de atrito interno:
Por exemplo, considerando uma parede de contenção de uma terra composta de argila
arenosa com 3,0 metros de altura. Os dados para cálculo do empuxo (Tabela 3.4) serão peso
K, =tan
1
( 45-~) específico aparente =18 kN/m 3 e ângulo de atrito interno= 25º, obtendo-se:

2
F =K ·y h K, = tan'( 45- :)=0,405
" "

F,, = 0,405 · 18 · 3 = 21,9 kN/m 2

36 Idem.
l 06 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL PROJETO DE EDIFICIOS l 07

Para aproveitar o mesmo modelo de cálculo que utilizaremos para considerar a ação
lateral de vento, devemos calcular uma força F, ao nível do pavimento, na altura h, que produza
o mesmo momento na base. O momento dessa força F será M, = F · h.
Igualando Mp = Mf, chega-se ao valor da força horizontal F:

P·h·<p=F·h+F=P·<p

Geralmente, o efeito do desaprumo é relativamente mais importante em edifícios bai-


xos. Como a ação do vento não é grande nesses edifícios, o desaprumo pode ser a ação hori-
zontal principal. Por norma, deve-se considerar o valor do ãngulo de desaprumo <p = l/ 100.JH
Fh = 21,9 kN/m' com H igual à altura total do prédio.
O ângulo de desaprumo é ainda limitado ao máximo erro construtivo permitido para
a execução do edifício. Para construções em alvenaria estrutural geralmente se admite erro
b) Desaprumo máximo de desaprumo igual a 2,5 cm ou 0,025 metro no topo do edifício. Nesse caso, o valor
de <pé então limitado a 0,025/H ou 1/(40/H) (Hem metros).
Seja um edifício onde um determinado pavimento, a uma altura h, tenha o peso total
igual a P. Se esse edifício for construído com um desaprumo, cuja inclinação seja dada pelo 3.3.2 Ação do vento
ângulo <p, dado em radianos, na altura h, a excentricidade da carga P será igual ah · sen (<p), ou
aproximadamente apenas h . <p, considerando que o ângulo é pequeno. O momento causado A ação de vento deve ser considerada em praticamente todas as estruturas. O vento
pela carga P, na base do prédio, seja então igual a MP = P · e = P · h · <p. ocorre por diferença de pressões na atmosfera, causando movimento do ar. Quando há uma
barreira a essa movimentação (por exemplo, prédio), ocorre a força ou ação do vento, a qual
cp pode ser horizontal (por exemplo, nas fachadas verticais) ou vertical ou inclinada (por exem-
·11· - e
plo, em coberturas). Pode ainda ocorrer como pressão (interna ou externa a uma edificação)
ou sucção (também interna ou externa). A ação do vento, portanto, pode ocorrer nas mais
p variadas direções e sentidos. É uma ação de caráter bastante aleatório em relação a sua inten-
sidade, duração e sentido.
Para o projet_o de estruturas, a ação de vento é determinada de acordo com as pres-
crições da NBR 6123. 37 A força de vento a ser utilizada no projeto depende de vários fatores,
como:

• local (cidade);
(1)
• dimensões da edificação;
• tipo de terreno (plano, morro, topo de montanha);
• rugosidade do terreno (livre, com obstáculos);
<p 1_
= __ s __l _ tipo de ocupação (residencial, depósito, etc.).
100 {A- 40 H

Em função da cidade onde a estrutura será (ou foi) construída, deve-se utilizar uma ve-
H = altura total do prédio
locidade básica de vento (V0 ) que servirá de parâmetro para os demais cálculos. Essa velocida-
de básica é obtida por meio de registros históricos em estações distribuídas pelo Brasil, em que
F = peso do pavimento · cp são anotados os valores de uma rajada de 3 s a 10 metros acima do terreno, em campo aberto
e plano. A velocidade V0 é aquela que estatisticamente tem 63% de chance de ser excedida,

37 ABNT (1988).
108 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL PROJETO DE EDIFÍCIOS l 09

em média, uma vez em 50 anos. A partir desses dados, é construída a curva de isopletas, re- 70° Oº 3 55º
produzida nas figuras 3.6 e 3.7. Na região hachurada, o número de dados é pequeno e deve-se 1 30 50º
45° 40º
considerar a velocidade básica igual a 30 m/s.
A partir de V0, calcula-se a velocidade característica V" específica para a estrutura em
análise:

em que:
S1 =fator topográfico;
S2 = fator rugosidade do terreno;
S3 = fator estatístico em função do uso da edificação.

O fator topográfico S1 vale:


a) em terreno plano ou fracamente acidentado: S1 = 1,0;
b) em taludes e morros: depende do ponto onde a edificação será construída, valor variável,
conforme Figura 3.5;
c) em vales profundos, protegidos de ventos de qualquer direção: S1 = 0,9.

S,(z) s, = 1,0
B e Figura 3.6 Gráfico de isopletas - Brasil - NBR 6123. 38

L ;11, 4d .1
47º 45°
+
+ 20°

S,(z)
B 35
Ribeirão Pret~
Cássia dos Coqdeiros • '. - . .
e Mococa,
( Pirassunupga /
+ 40 +', +12°
Jaú 45 \ ,-
'\ ~onteAlegre oSuJ ·- ...... - "' . . __
S1 (z) = 1,0
\ ..,._,,,.....,, At l'b L l Ca!l)pinas ·- .1·'..Pi~damonhangaba
~1aeone......._ ,--- j ~ s
e::; 17º S,(z) = 1,0 + (2,5 - z/d) tg(S-3º) 21 T'}tUl~ " '?
São.Paulo
e 2 45º S,(z) = 1,0 + (2,5 - z/d) · 0,31 2 1

Figura 3.5 Fator topográfico S1 para taludes e morros.


+ 35

Figura 3.7 Gráfico de isopletas - Estado de São Paulo. 39

38 Idem.
39 Pitta (2001).
11 Q COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE AlVfNARIA ESTRUTURAL PROJETO DE EDIFÍCIOS 111

O fator estatístico S3 é baseado em conceitos estatísticos e considera o grau de seguran- menor. Explica-se, então, porque é considerado um tempo de rajada menor para a classe A,
ça requerido e a vida útil da edificação. O nível de probabilidade (63%) e a vida útil (50 anos) cujas dimensões são menores que as B e C.
adotados são considerados adequados para edificações normais destinadas a moradias, hotéis Pensando agora na velocidade de cada rajada, é intuitivo notar que uma rajada que dure 3 s
e escritórios (grupo 2). Para outros usos, o nível de segurança adequado pode ser maior (por terá intensidade maior que uma rajada de 10 s (as condições para manter uma determinada velo-
exemplo, hospitais) ou menor (por exemplo, parede de vedação). A Tabela 3.5 traz o valor a cidade máxima durante 3 s são mais fáceis de ocorrer do que no caso de mantê-la por 10 s). Esse
ser adotado para outras edificações. é o resultado esperado, classe A com vel?cidade característica maior que a B, que é maior que a C.
s;,
Outro fator, levado em conta através de é o fator topográfico, ou seja, número e altura
Tabela 3.5 Fator 53• dos obstáculos ao nível do solo entre o vento e a edificação. Também é intuitivo notar que
Grupo Descrição S3 quanto maior o número de obstáculos, menor será a velocidade de vento ao atingir o edifício.
Edificações cuja ruína total ou parcial pode afetar a segurança ou São definidas cinco categorias, conforme Tabela 3.6.
possibilidade de socorro a pessoas após uma tempestade destrutiva A partir desses parâmetros, tem-se:
1 1,10
(hospitais, quartéis de bombeiros e de forças de segurança, centrais de
comunicação, etc.).
S2 = b F, (z/10)'
Edificaçõe~ para hotéis e residências.
2 1,00
EdificaçõeS para comércio e indústria com alto fator de ocupação.
Edificações e instalações industriais com baixo fator de ocupação
em que:
3 0,95
(depósitos, silos, construções rurais, etc.). F, =fator de rajada, vale sempre o valor da categoria II;
4 Vedações (telhas> vidros, painéis de vedação, etc.). 0,88 z = altura do ponto onde se quer calcular a velocidade, em metros;
5 Edificações temporárias. Estruturas dos grupos 1 a 3 durante a construção. 0,83 b = parâmetro meteorológico;
p = expoente da lei potencial de variação de S2•
O fator S2 é utilizado para levar em conta a rugosidade do terreno - ou seja, número
de obstáculos entre o vento e a edificação em análise e altura do ponto de aplicação da car- A partir da definição da classe e categoria, calcula-se o valor de S2 para cada cota z
ga de vento - e as dimensões do edifício, as quais são levadas em conta a partir da definição (altura de cada andar) do edifício. Geralmente, as forças de vento são maiores nos andares
das três classes abaixo: superiores do edifício.

Classe A - Todas as unidades de vedação, seus elementos de fixação e peças in- Tabela 3.6 Categorias de rugosidade do terreno.
dividuais de estruturas sem vedação. Toda edificação na qual a maior dimensão Categoria .Descrição Exemplos
horizontal ou vertical não exceda 20 metros. Superfícies lisas de grandes dimensões, com mais de 5 -Mar calmo
• Classe B - Toda edificação ou parte de edificação para a qual a maior dimensão quilômetrOs de extensão, medidas na direção e no sentido - Lagos e rios
do vento incidente. - Pântanos sen1 vegetação
horizontal ou vertical da superfície frontal esteja entre 20 e 50 metros.
Terienos abertps em nível ou aproximadamente em - Zonas costeiras planas
Classe C - Toda edificação ou parte de edificação para a qual a maior dimensão nível, com pocices obstáculos isolados; tais como árvores - Pântanos com vegetação rala
horizontal ou vertical da superfície frontal exceda 50 metros, porém seja inferior li e edificaçõe~ baixas. Campos de <iviação
a 80 metros. ,·A cota média do topo dos obstáculos é collsiderada infe~ - Pradarias e charriecas
rior ou igual a 1,0 metró. - Fazendas sem sebes ou inuros
• Para edificações com dimensão superior a 80 metros, não são definidas classes e
Terrenos planos ou ondulados com obstáculos, tais como - Granjas e casas de campo, com
o tempo de rajada (definido em função das classes acima) é calculado para cada exceção das partes co1n mato
sebes e muros, poucos quebra-ventos de árvores, edifica-
caso, conforme Anexo A da NBR 6123. 40 III ções baixas e esparsas. - Fazendas com sebes e/ ou muros
A cota média do topo dos obstáculos é considerada igual - Subúrbios a considerável distân-
a 3 metros. cia do centro, com casas baixas e
Para cada uma das classes A, B ou C são definidos tempos de rajada a ser considerados esparsas
no projeto, respectivamente iguais a 3, 5 e 1O s. A ideia é considerar qual o tempo necessário - Zonas de parques e bosques com
para uma rajada de vento ser distribuída ao longo da área lateral (imagine um jato d'água dire- Terrenos cobertos por obstáculos numerosos e pouco muitas ár.votes
cionado a uma parede e a distribuição da água na parede). Em edifícios com menor dimensão, espaçados em zona florestal, industrial ou urbanizada. - Cidades pequenas e seus arredores
IV - Subúrbios densamente construí-
essa área é menor e, consequentemente, o tempo necessário para o vento ser distribuído é A cota média do topo dos obstáculos é considerada igual
a 10 metros. dos de grandes cidades
-Áreas industriais plena ou parciàl-
40 ABNT (1988).
mente desenvolvidas
COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL
PROJETO DE EDIFÍCIOS 113

Tabela 3.6 Continuação ... Tabela 3.8 Continuação ...


Categoria Descri!fã9 - e V Exemplos ""' Gategoria I Categoria II Categoria III Categoria IV Categoria V
- Florestas com árvores altas, de z (m) Classe Classe Classe Classe Classe
Terrenos cobertos por obstáculos numerosos, grandes,
V
altos e pouco espaçados.
copas isoladas
- Centros de grandes cidades
•A B e A B e A B e A B e A B e
A cota média do topo dos obstáculos é considerada igual
- Complexos industriais bem de- 140 J,29 1,29 1,28 1,25 1,24 1,24 1,22 1,22 1,20 1,18 1,16 1,14 1,10 1,09 1,07
ou superior a 25 metros.
senvolvidos
-160--- 1,30 1,30 l,29 1,27 1,26 1,25 1,24 1,23 1,22 1,20 1,18 1,16 1,12 1,11 1,10
.::.:18::.:0c__:::l=,3.::..l_::1:::,3:::1_::l:::,3::.:1_1::.::,2::.:8:_::.:l,:::27_:::1,=27c___:l:::,2::.6-'->_:_l:::,2:::5_::1:::,2::.:3_::.:l,2:.:2:_:::1,::.20:_:::1,=l=-8_::l:::,1:::4_::1::.:,1::.:4__:1, 12
A Tabela 3.7 indica valores dos parâmetros para cálculo de S2• A Tabela 3.8 traz valores cal-
200 1,32 1,32 1,32 1,29 1,28 1,28 1,25 1,23 1,21 1,20 1,16 1,16
culados. É interessante notar que quando as condições em que a velocidade básica foi registrada, a
250 1,34 1,34 1,33 1,31 1,31 1,31 1,30 1,29 1,28 1,27 1,25
Jometros de altura, para rajada de 3 se em campo aberto, ou Categoria II, Classe A, z = 10 metros,
300 1,34 1,33 1,33 1,32 1,32 1,31 1,29 1,27
$ 2 tem valor= 1,0. Nessas condições, Vk = V 0 para edificações de uso normal em campo aberto.
350 1,34 1,34 1,33 l,32 1,30 1,29 1,26 1,26 1,26
400 1,34 1,32 1,32 1,29 1,29 1,29
Tabela 3.7 Parâmetros para cálculo de S,.
420 1,35 l,35 l,33 1,30 1,30 1,30
. Máximaâltura ,. ___ ____________c_Ia_s_se_ _ __
Categoria 450
apl'icave
, l (m ) Parametro A B C 1,32 1,32 1,32
500 1,34 1,34 1,34
b 1,12
250
0,07
3. 3. 2. l Caso de edifício de múltiplos pavimentos de planto retangular
b 1,00 1,00 1,00
II 300 p 0,085 0,09 0,10
Este item trata do cálculo de ação de vento para o caso específico de um edifício de
Fr 1,00 0,98 0,95
múltiplos pavimentos de planta retangular, onde apenas a força de arrasto (com direção per-
b 0,94 0,94 0,93
lII 350 pendicular à fachada do prédio) é levada em conta. Diversos outros casos são previstos na
0,10 0,105 0,115
norma, como telhados e paredes de galpões, torres, edificações de planta circular, entre outras.
b 0,86 0,85 0,84
IV 420 No edifício pretende-se calcular a força lateral de vento a ser considerada em cada pa-
p 0,12 0,125 0,135
vimento, ao nível de cada laje. A partir da velocidade característica Vk, calcula-se a pressão
b 0,74 0,73 0,71 estática de vento (q), também para cada altura z em cada pavimento:
V 500
0,16
q = 0,613 V,2
Tabela 3.8 Valores de S .
Categoria I Categoria II Categoria III Categoria IV Categoria V q em N/m 2
vk em m/s
-z (m) A
Classe
B c A
Classe
B c A
Classe
B c A
Classe
B e A
Classe
B c
<5 1,06 1,04 1,01 0,94 0,92 0,89 0,88 0,86 0,82 0,76 0,73 0,74 0,72 0,67 No caso de força de vento em edifícios, o interesse está na força na direção perpendi-
10 1,10 1,09 1,06 1,00 0,98 0,95 0,94 0,92 0,88 0,86 0,83 0,80 0,74 0,72 0,67 cular à fachada (força horizontal, força de arrasto) em direções principais da planta da edifi-
15 1,13 1,12 . 1,09 1,04 1,02 0,99 0,98 0,96 0,93 0,90 0,88 0,84 0,79 0,76 0,72 cação (geralmente direções X e Y). Então, calcula-se, em cada altura de pavimento, um caso
20 1,15 1,14 1,12 1,06 1,04 1,02 1,01 0,99 0,96 0,93 0,91 0,82 0,80 0,76 de vento na direção X e outro na direção Y. A força de arrasto é obtida através da expressão:
30 1,17 1,17 1,15 1,10 1,08 1,06 1,05 1,03 0,85 0,82
40 1,20 1,19 1,17 1,13 1,11 1,09 1,08 1,06 1,04 1,01 0,99 0,96 0,91 0,89 0,86 Fa = Ca · q ·A
50 1,21 1,21 1,19 1,15 1,13 1,12 1,10 1,09 1,06 1,04 1,02 0,99 0,94 0,93 0,89
60 1,22 1,22 1,21 1,16 1,15 l,14 1,12 1,11 1,09 1,07 1,04 1,02 0,97 0,95 0,92 em que:
80 1,25 1,24 1,23 1,19 1,18 1,17 1,16 1,14 1,12 1,10 1,08 l,06 1,01 l,00 0,97 Fa = força de arrasto;
100 1,26 1,26 1,25 1,22 1,21 1,20 1,18 l,17 1,09 1,05 1,03 1,01 Ca = coeficiente de arrasto;
120 1,28 1,28 1,27- 1,24 1,23 l,22 1,20 1,20 1,12 1,07 1,06 1,04 A= área da fachada onde incide o vento (geralmente altura x largura do pavimento).
114 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL
PROJETO DE EDIFICIOS 115

É preciso, ainda, obter os coeficientes de arrasto da edificação. Esse coeficiente depende


.
·~
de o vento ser de alta ou baixa turbulência. Um vento de baixa turbulência tem direção bem ·~ 6
li / 1/ / . 1/ 1/
5
definida, quase reta, com poucos vórtices. Nesse caso, a intensidade componente horizontal da 17 !,
11 /
r
Vento ~1
força de vento é maior e existe uma baixa excentricidade de carga aplicada no pavimento. O . .

/
4 a bll·
vento de alta turbulência tem direção indefinida, com muitos vórtices, sendo a componente ho-
rizontal de menor intensidade, porém com alta excentricidade de carga aplicada no pavimento.
:;. 1
. e;/°"/ 1//
1
1
V- 3
' / ' 1 -- 2,5
Uma edificação pode ser considerada em vento de alta turbulência quando sua altura i ...,."
não excede duas vezes a altura média das edificações nas vizinhanças, estendendo-se estas, na
e/ I 2
direção e no sentido do vento incidente, a uma distância mínima de: I/
I
I 7
7 '17
!/ 1/
1,5
h/l,

~j_ I, ],

~
• 500 metros para uma edificação de até 40 metros de altura; !,
J ) '
• 1.000 metros para uma edificação de até 55 metros de altura; 1

• 2.000 metros para uma edificação de até 70 metros de altura; I / I o


i 1 I li
' A
• 3.000 metros para uma edificação de até 80 metros de altura.
,'
~j
I /
I I
J / 0,5
Uma vez estabelecida a consideração de baixa ou alta turbulência, obtém-se, para cada
4 3 2 1,5 0,8 0,6 0,4 0,3 0,2
direção, os coeficientes de arrasto, de acordo com as figuras 3.8 e 3.9. As excentricidades de
],/!,
carga a serem consideradas em cada caso são ilustradas na Figura 3.10.
Figura 3.9 Coeficiente de arrasto para vento de alta turbulência.
22
,, / , i i i
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8
Vento
"I a bl !,

b - - . .,--, 1
1

1e
1
b

v"
'
/ 1 Turbulência
6
9' . 1 1
5 h/I,

- "') li
V I I ' 4
.... ~
/ ..., 3
, 1
, .,_ ' 1' / 1
2,5

....... /
/
- 2
!,Q Figura 3.10 Excentricidades da força de vento a serem consideradas.
'~ ' .
1,5 1Vento
V 1 Resumidamente, é este o roteiro para cálculo da ação de vento:
/
,
/ /
"' . 1

' • Define-se V0 •
/ 1 I • Define-se S,.
>/
/ ' / 0,5 • Define-se categoria e classe.
4 3 2 1,5 0,8 0,6 0,4 0,3 0,2
• Define-se S3•
li!h • Define-se vento de alta ou baixa turbulência.
Figura 3.8 Coeficiente de arrasto para vento de baixa turbulência. • Para cada direção X, Y calcula-se Ca.
116 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE AlVENAR!A ESTRUTURAL
PROJETO DE EDIFÍCIOS 117

• Para cada direção X, Y e cada pé-direito de pavimento, calcula-se a área de facha-


siderar o efeito de vento no projeto dessas estruturas. Entre as boas referências bibliográficas,
da/pavimento.
com explicações e exemplos detalhados de aplicação, incluem-se Pitta42 e Gonçalves et al. 43
• Para cada altura z e direção X e Y:
- calcula-se S2 ;
3.3.3 Ações acidentais
- calcula-se V,;
- calcula-se q;
Ações acidentais ou anormais (ias vezes c.hamadas de ações extremas) são aquelas con-
- calcula-se Fa.
sideradas de probabilidade tão baixa que não são incluídas no projeto. Essas ações incluem
mudanças violentas na pressão de vento devido a urna explosão, impacto acidental de um
veículo, avião, grua, prática executiva inadequada, corno erro grosseiro de construção, altera-
ção não autorizada da estrutura, falta de manutenção, fogo, furacões, recalque expressivo da
fundação. Não se espera que alguma estrutura resista a essas ações em algum tipo de dano.
Entretanto, o dano não deve ser desproporcional à causa. O dano não deve se espalhar para
pontos localizados longe do ponto de aplicação da ação acidental, isto é, o colapso progressivo
não deve ocorrer.
Vento X VentoY O apropriado nível de confinamento de danos sequenciais depende da estrutura e de '
sua ocupação. Na maioria dos casos, basta confinar o dano aos vãos imediatamente adjacentes
e aos pisos superior e inferior ao acidente. Embora as consequências do colapso progressivo
sejam maiores em edifícios altos, o princípio de controle de dano deve ser aplicado em todas

vento ~L'--=ª--b-' l,
as edificações. Isso normalmente pode ser conseguido com boa prática de dimensionamento
e de detalharnento, sem adição de custo extra à construção.
Existem três maneiras de se lidar com a ação acidental: reduzindo sua probabilidade; usan-
do boas práticas de projeto; ou, ainda, incluindo essas ações no cálculo. A probabilidade de ocor-
1= 1/1,=
12 = hll, =
'
12 = hll, =
rência da ação acidental pode ser reduzida, por exemplo, usando barreiras de proteção ao redor
de pilares de garagem, usando janelas de ventilação em locais de armazenamento de explosivos e
Ca= Ca=
por manutenção adequada do edifício.
q(kNI
z (m) s, Vk (mls)
m')
A (m2) Fa (kN) vk (mls) q (kN/m2) A (m2) Fa (kN) Boas práticas de projeto incluem prever apoios laterais às paredes por meio de ligação
0,613·V; 0,613·V; com paredes transversais, prevendo trajetórias alternativas de cargas através do detalhamento
vo.s1.s2.s3 + 1000
Ca·q·A vo.s1.s2.s3 + 1000
Ca·q·A
da continuidade dos elementos estruturais (ligação entre lajes e entre paredes). Para a alvena-
ria em particular, vantagem significante é obtida com esse tipo de concepção. Muitos exemplos
existem de casos de ações acidentais em alvenarias, corno o caso mostrado na Figura 3.1 J, cujo
3.3.2.2 Outros cosos efeito arco impediu a ruína total da edificação. A Figura 3.12 mostra um caso de parede rompi-
da após explosão, onde o dano foi localizado apenas na parede atingida. Em situações em que
No projeto de qualquer estrutura deve ser considerada a ação de vento, seja o caso de se julgar importante, eventuais ações acidentais podem ser incluídas no dimensionamento,
torres, caixas d'água, cobertura, galpões. Essas estruturas podem ser executadas em alvenaria, nesse caso sendo o estado limite último aplicado com coeficientes de majoração de ações e
havendo várias situações em que o sistema construtivo é viável. minoração da resistência dos materiais adequados (reduzidos).
As especificações para obtenção do valor da força de vento a ser considerada no projeto
em cada um dos casos encontram-se na NBR 6123. 41 Não é a intenção deste livro discutir em
detalhes todas as aplicações dessa norma, devendo o leitor estar ciente da necessidade de con-

42 Pitta (2001).
41 Idem.
43 Gonçalves et al. (2007).
PROJETO DE EDlfÍClOS 119
] 18 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL

Paredes com aberturas são particularmente suscetíveis a essas ações, que muitas vezes
causam fissuras nos cantos das aberturas. Como descrito no capítulo seguinte, uma forma de
prevenção pode ser a prescrição de juntas de controle ou dilatação.
Uma situação particular tem a ver com a utilização de blocos cerâmicos envolvidos
em pórticos de concreto armado. Os efeitos de retração do concreto são somados ao efeito
da expansão da alvenaria cerâmica e! como mostrado na Figura 3.13, a alvenaria de preen-
chimento pode desenvolver elevados esforços de compressão tanto na direção vertical quanto
na horizontal enquanto o concreto está submetido a tensões de tração. A Figura 3.14 mostra
fissuras ao longo de todo o vão da viga, sendo um exemplo clássico desse tipo de situação.

Expansão por umidade da


alvenaria de tijolos cerâmicos
+-
+-
+-
+-
+-
+- Compressão nos tijolos
Figura 3.11 Efeito arco em parede após ação acidental (cortesia Clayford T. Grimm). Pilar de concreto encurta por +-
+-
deformação elástica, retração +-
+-
e fluência +-
+-
' - - - - - - - - - - + Tração na viga

(a) Forças devidas a movünentações diferenciais

Figura 3.13 Efeito de movimentação diferencial em painéis de alvenaria de preenchimento de pórticos.

Figura 3.12 Encaminhamento alternativo de ações após explosão (cortesia Odilon P. Cavalheiro).

Por definição, ações acidentais não podem ser previstas em normas. O projetista tem,
portanto, uma responsabilidade particular no seu trabalho em avaliar a possibilidade dessas
ações e tomar precauções para limitar seu efeito.

3.3.4 Outras ações

Várias outi:as ações podem ocorrer em uma estrutura. Ações durante a construção
podem ser importantes, pois, muitas vezes, a parede ainda não tem todos os seus apoios e
vínculos finalizados, além de poder estar com sua resistência inicial ainda baixa. O colapso
Figura 3.14 Fissuras em viga de concreto devidas à movimentação diferencial.
progressivo tem uma maior probabilidade de ocorrer durante a construção, e apoios e esco-
ras provisórias são, muitas vezes, necessárias.
Precauções devem ser tomadas para assegurar que a movimentação de elementos de
Recalques diferenciais da fundação podem ocorrer por diversos fatores, como maior
outros materiais não cause danos à alvenaria. Essa movimentação inclui expansão e contração
umidade em estações de chuva forte em solos expansivos. Essas movimentações, aliadas a
térmica de treliças de telhado e lajes de cobertura, retração e fluência de lajes ou vigas de con-
mudança de temperatura, retração, expansão e fluência, podem induzir esforços consideráveis
creto, e demais deformações lentas de elementos de apoio.
na estrutura.
w 120 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRlJRJRAl PROJETO DE EDIFÍCIOS 12 l

1
1
3.3.5 Segurança em estruturas 3.3.5.3 Combinação das ações no ELU

3.3.5. l Valores característicos e valores de cálculo As verificações dos estados limites últimos (ELU) devem refletir toda e qualquer possi-
bilidade de combinação de ações que possa levar à ruína ou inutilização da estrutura. Várias
O valor característico de uma determinada ação (f,), cuja representação estatística pos- combinações devem ser verificadas no dimensionamento da estrutura.
sui distribuição normal, é aquele que tem 5% de probabilidade de ser igualada ou ultrapassada As ações devem ser majoradas i;or coeficientes de segurança. Entretanto, quando mais
uma vez durante o período de vida útil da estrutura. de uma ação variável é levada em conta, é possível minorar o valor máximo de uma dessas
Da mesma forma, o valor característico da resistência do material (f,), cuja função de na combinação, pois a chance de duas ações variáveis atuarem simultaneamente em sua in-
probabilidade também apresente distribuição normal, é o valor que não é atingido por apenas tensidade máxima é muito pequena. Por exemplo, não se espera que, durante uma ventania
5% das resistências obtidas individualmente em ensaios realizados em uma quantidade repre- muito forte (com o valor máximo previsto em norma), esteja ocorrendo uma festa sobre um
sentativa de corpos de prova. determinado andar cuja concentração de pessoas sobre a laje leve a carga vertical acidental ser
Uma vez definidos os valores característicos para as variáveis, são determinados os a máxima prevista em norma (e, mesmo se estiver ocorrendo a festa, é razoável supor que as
valores de cálculo. Assim, resistências de cálculo (f) são obtidas dos valores característi- pessoas iriam evacuar o local antes do vendaval ou durante ele).
cos correspondentes, que são, em geral, minorados por meio do emprego de coeficientes y,,,, Quatro combinações de carregamento são definidas:
que possuem a função de cobrir as incertezas que ainda não possam ser tratadas estatisti-
camente. • Normais: é o caso de combinação esperada durante o uso previsto da edificação
e deve ser verificado para todas as combinações de ações possíveis para o Estado
Limite último (por exemplo, carga acidental somado ao vento).
• Especiais: refletem uma eventual possibilidade de uma ação de natureza ou in-
Por outro lado, ações e solicitações de cálculo (S,) são obtidas a partir de ações carac- tensidade especial ocorrer durante um curto período de tempo em relação à vida
terísticas F, e dos coeficientes de ponderação Yr das ações. útil da edificação (por exemplo, caminhão com carga especial atravessando uma
ponte). É ocasionalmente considerado para uma única combinação de ações.
• Excepcional: ação muito eventual de efeito catastrófico e de duração muito curta
(por exemplo, terremoto, furacão). É ocasionalmente considerado para uma úni-
3.3.5.2 Coeficientes de majoração e combinação de ações ca combinação de ações.
• De construção: reflete combinação possível de ocorrer durante a fase de cons-
Como a maioria das ações varia em função do tempo, define-se carregamento atuante trução_para um ou mais carregamento eventual (por exemplo, caminhão de
em um sistema estrutural como o conjunto de ações que tem probabilidade de atuação simul- transporte sobre laje do térreo).
tânea durante um período de tempo. Dessa forma, as ações devem ser combinadas de modo a
se conhecer os efeitos mais desfavoráveis de sua atuação simultânea. Devem ser estabelecidas A Tabela 3.10 indica as combinações do ELU e a Tabela 3.12, os principais coeficientes
tantas combinações quantas forem necessárias para que a segurança do sistema estrutural seja a serem considerados na ponderação de ações em edifícios residenciais.
verificada em relação aos possíveis estados limites.
A combinação das ações deve procurar evitar que sejam cometidos erros, como supor Tabela 3.10 Combinação de ações no estado limite último - NBR 6118. 44
que todas as cargas atuem simultaneamente com seu valor máximo, permitindo, assim, que Normal
um determinado componente seja dimensionado para um efeito total inferior à soma dos Especiais ou de construção
valores máximos das ações atuantes. As ações permanentes devem ser consideradas em sua Excepcionais
totalidade e devem figurar em todas as combinações efetuadas. As ações variáveis e móveis são
consideradas sempre que causarem efeitos desfavoráveis para a segurança. As ações móveis
devem ser consideradas em suas posições mais desfavoráveis para a segurança.

44 ABNT (2003).
122 COMPORTAMENTO E D!MENS!ONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL PROJETO DE EDIFÍC!OS 123

3.3.5.4 Combinação das ações no ELS Tabela 3.12 Principais coeficientes de combinação de ações normais de edifícios residenciais (ações
agrupadas).
Os estados limites de serviço (ELS) refletem possibilidades reais de ocorrência de ações Combinação "' " :'Fip~o i~ a"s:ãp : ~ ~ ~ Desfavorável Favorável
durante a fase de utilização da estrutura. Não refletem a possibilidade de ruína, mas sim si- Permanente
tuações que podem causar desconforto, geralmente temporário, ao usuário, como, por exem- Variável
plo, deformações excessivas e aparecimento de fissuras. As ações são consideradas por seu ELU -Normal
Variável - carga acidental sim.ultãnea
valor provável de realmente ocorrer. No ELS, geralmente as ações permanentes são conside- Variável de vento simtiltânea
radas em seu valor máximo (sem majorar, Yr, = 1,0) e as ações variáveis em seu valor provável
ELS-Quase Variável - carga acidental \Jf, = 0,4
minoradas por um ponderar menor que 1,0. permanente Variável - ação de vento 'V, = 0,3
Três combinações no ELS são definidas:
Variável - acidental = 0,3
ELS - Frequente
Variável - =O
• Quase permanentes: ações que podem atuar durante grande parte da vida útil
(*)Na norma de cálculo de alvenaria, optou~se por coeficientes de ponderação de ações permanentes diretas
da estrutura (quase sempre). Essa combinação é utilizada para verificar o estado favoráveis iguais a 0,9.
limite de deformações excessivas decorrentes de cargas verticais (relação flecha/
vão de um elemento estrutural). 3.3.5.5 Coeficientes de minoração dos materiais
• Frequentes: ações que podem atuar várias vezes durante a vida útil da estrutura
(frequentemente). Combinação utilizada para verificar o estado limite de forma- Para cálculo de estrutura, o valor característico da resistência dos materiais é ainda mi-
ção de fissuras, vibrações excessivas ou de deformações excessivas decorrentes da norado por um coeficiente de segurança. O valor desse coeficiente depende de fatores como:
ação do vento ou temperatura.
• Raras: ações que ocorrem algumas vezes durante a vida útil da estrutura (even- • Característica do material quanto à sua variabilidade de resistência (por exem-
tualmente). Combinação utilizada para verificar o estado limite de formação de plo, ao serem realizados vários ensaios com o material, o valor médio se aproxi-
fissuras em situações especiais, por exemplo, quando se quer aumentar a previsão ma dos valores máximo e mínimo?).
de durabilidade da estrutura. É geralmente utilizada no cálculo de algumas estru- Incertezas quanto à correlação entre o resultado obtido no ensaio e o valor real

turas de concreto protendido. da resistência do material aplicado (por exemplo, o valor da resistência à com-
pressão de um cilindro de "concreto, moldado em uma forma metálica que não
permite perda de água, curado em condições específicas, ensaiado em uma pren-
Tabela 3.11 Combinação de ações no estado limite de serviço - NBR 6118." sa que permite um certo grau de restrição ou confinamento lateral da base e topo
Quase permanente do corpo de prová' é o mesmo de um "concreto em um trecho de laje que foi
Frequente Fd,s~r = LF ik + '1'1 F lk + Í.:\j/2. F 'k moldado em uma forma de madeira que suga a água do conneto recém-lançado,
Rara Fd,ser = LF ik + F Jk + L'Vr F jk teve um melhor ou pior cuidado no procedimento de cura, tem condições de
restrição lateral e confinamento distintas"?).
• Incertezas quanto às definições geométricas (tamanho do corpo de prova e do
elemento estrutural real) e fragilidade ou ductilidade do material.

Geralmente as normas brasileiras consideram todas essas incertezas em um único coe-


ficiente de minoração para cada material, conforme Tabela 3.13.

Tabela 3.13 Valores de Yrn·


Combinações Alvenaria Concreto Aço
Normais 2,0 l,4
Especiais ou de construção 1,5 1,2 1,15
Excepcionais 1,5 1,2 1,0
45 Idem.
124 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL PROJETO DE EDIFICIOS 125

Tabela 3.14 Limites para deslocamento - NBR 6118."


Em algumas situações específicas, esses coeficientes podem ser modificados, como - .
quando o concreto é utilizado em pré-moldados, reduzido de 1,4 para 1,3, para análise de Tipo de efeito Razão da limitação Exemplo Deslocamento a Deslocamento
considerar limite
concreto ensaiado a partir de corpos de prova extraídos da estrutura executada (testemunhos),
Deslocamentos vi-
coeficiente de majoração dividido por 1,1 (por exemplo, 1,4/1,1). Nesses casos, as incertezas Visual síveis em elementos Total C/250
são menores. Em outras situações, as incertezas podem ser maiores, como em casos de ele- Aceitabilidade estruturais
sensorial
mentos de concreto elaborados em condições desfavoráveis, em que o coeficiente deve ser Vij:>rações Sel).tidas Devido a cargas
Outra f/350
aumentado de 1,4 para 1,5. no piso / acidentais
Superfícies que Coberturas e
devem drenar varandas
Total l/250'"
3.3.6 Estados limites de serviço
Pavimentos que Total f/350+contraflecha°'
Ginásios e pistas ·~e
devem permànecer
Conforme definido na NBR 6118, "estados limites de serviço são aqueles relacionados à Efeitos estrutu- boliche Ocorrido após a
plailOs f/600
rais em serviço construção do piso
durabilidade das estruturas, aparência, conforto do usuário e à boa utilização funcional das mes·
De acordo com
mas, seja em relação aos usuários, seja em relação às máquinas e aos equipamentos utilizados".46 Elementos que su- Ocorrido após
portam equipamen- Laboratórios recomendação do
São definidos os seguintes estados, aplicados em estruturas em geral: nivelamento do
tos sensíveis fabricante do equi-
equipamento
pamento
• Estado limite de abertura das fissuras (ELS-W): estado em que as fissuras se Alvenaria, caixilhos Após a construção C/500"' ou 10 mm
e revestimentos da parede ou 9 = 0,0017 rad'"
apresentam com aberturas iguais aos máximos especificados.
• Estado limite de deformações excessivas (ELS-DEF): estado em que as defor- Ocorrido após a
Divisórias leves e
instalação da .fJ2SO(c) ou 25 mm
mações atingem os limites estabelecidos para a utilização normal da construção. caixilhos telescópicos
divisória
• Estado limite de vibrações excessivas (ELS-VE): estado em que as vibrações Provocado pela ação
atingem os limites estabelecidos para a utilização normal da construção. Paredes
do vento para
Movimento lateral H/1700 ou H/850'°'
• Estado limite de formação de fissuras (ELS-F): estado em que se inicia a forma- combinação
de edifícios entre pavimentos<O
frequente
ção de fissuras. Admite-se que este estado limite é atingido quando a tensão de (ljl, = 0,30)
tração máxima na seção transversal for igual a fct,f. Provocado por dife-
Movimentos
Efeitos em rença de 1/400''' ou 15 mm
térmicos verticais
Para o caso de elementos protendidos, define-se ainda: elementos não
estruturais
Movimentos Provocado por
diferença de H/500
• Estado limite de descompressão (ELS-D): estado no qual, em um ou mais pon- térmicos horizontais
temperatura
tos da seção transversal, a tensão normal é nula, não havendo tração no restante Revestimentos Ocorrido após a
Forros 1/350
da seção. Verificação usual no caso do concreto protendido. colados construção do forro
• Estado limite de descompressão parcial (ELS-DP): estado no qual se garante a Revestimentos · Deslocamento
compressão na seção transversal, na região onde existem armaduras ativas. pendurados ou com ocorrido após a C/175
juntas construção do forro
• Estado limite de compressão excessiva (ELS-CE): estado em que as tensões de
Deslocamento
compressão atingem o limite convencional estabelecido. Desalinhamento de
Pontes rolantes provocado pelas
trilhos H/400
ações decorrentes da
Ainda de acordo com a NBR 6118, os limites para deslocamento são indicados na frenação
- - - - · - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - ' - - ·----------~
Tabela 3.14.

46 Idem. 47 Idem.
126 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL PROJETO DE EDIFÍCIOS 127

Tabela 3.14 Continua ão ... 3.4. l Desempenho térmico


~ "'~»~ ~ ~ ~"'~ ~
0

. ""' ' Desloca1nento a Deslocamento


Tipo de efeito Razão da hm1ta~ao Exemplo cons1·aerar . .1e
11m1
Considerações sobre efeitos térmicos em edifícios incluem o conforto do usuário e re-
Se os deslocamentos forem relevantes para o elemento considerado,
Efeitos em Afastamento em
seus efeitos sobre as tensões ou sobre a estabilidade da estrutura quisitos de eficiência energética de aquecimentos e aparelhos de ar-condicionado. Essas con-
elementos relação às hipóteses
devem ser considerados, incorporando-os ao modelo estrutural siderações podem influenciar na configuração e orientação do prédio, nas cores e texturas da
estruturais de cálculo adotadas
adotado. superfície, no tamanho, orientação e p~sicionamento de janelas e no sistema estrutural conce-
Notas bido. O ganho ou a perda de calor em um edifício depende de uma série de fatores, incluindo
- Todos os valores limites de deslocamentos supõem elementos em vão f, suportados em ambas as extremi-
dades por apoios que não se movem. Quando se tratar de balanços, o vão equivalente a ser considerado deve a transmissão através de forros e lajes e do fluxo de ar através de aberturas, porém o foco deste
ser o dobro do comprimento do balanço. · texto é sobre o papel de paredes de alvenaria.
- Para o caso de elementos de superfície, os limites prescritos consideram que o valor f é _o menor vão, exce~ Uma das funções fundamentais das paredes em edifícios é promover algum grau de iso-
to em casos de verificação de paredes e divisórias, onde interessa a direção na qual a parede ou divisória se
desenvolve, limitando-se esse valor a duas vezes o vão menor. lamento térmico entre os ambientes externo e interno. Calor é ganho ou perdido pelas paredes
- O deslocamento total deve ser obtido a partir da combinação das ações características ponderadas pelos externas por condutância. Os materiais da alvenaria têm condutividade térmica relativamente
coeficientes definidos na seção 11. alta, em outras palavras, a resistência térmica de paredes de alvenaria é relativamente baixa. A
- Deslocamelltos excessivos podem ser parcialmente compensados por contraflechas.
resistência aumenta conforme diminui a densidade do material, portanto a resistência térmica
(a) As superfícies deve1n ser suficientemente inclinadas ou o deslocarnento previsto compensado por contraílechas, de 1nodo a não
se ter acúmulo de água.
da parede pode ser aumentada utilizando-se blocos ou tijolos de alvenaria de materiais leves
(b) Os deslocarnentos podem ser parcialmente compensados pela especificação de contraflechas. Entretanto, a atuação isolada da (menos densos), como concreto celular ou de agregado leve. Uma superfície rugosa em um
contraílecha não pode ocasionar um desvio do plano maior que t/350.
(c) O vão f deve ser tomado na direção na qual a parede ou a divisória se desenvolve. bloco ou tijolo permite a formação de uma pequena película de ar na superfície, aumentando
(d) Rotação nos eleinentos que suportain paredes. a resistência. Esta também pode ser aumentada pelo aumento do comprimento do percurso de
(e) H é a altura total do edifício e H o desnível entre dois pavimentos vizinhos.
(f) Esse limite se aplica ao deslocame'nto lateral entre dois pavimentos consecutivos devido à atuação de ações horizontais. Não devem transmissão, pelo uso de paredes mais espessas ou com blocos vazados ou perfurados. A resis-
ser incluídos os deslocamentos devidos a deformações axiais nos pilares. O limite tambétn se aplica para o deslocamento vertical
relativo das extre1nidades de !intéis conectados a duas paredes de contraventamento, quando H; representa o comprimento do lintel.
tência térmica de uma parede pode ser melhorada incorporando-se um espaço vazio no centro
(g) O valor C refere-se à distância entre o pilar externo e o primeiro pilar interno. desta. Ao se incorporar material isolante nos vazados de blocos ou na face interna de uma pa-
rede, pode-se aumentar mais ainda a resistência térmica. Em países muito frios, onde é comum
o uso de parede dupla, pode ser necessário aumentar o espaçamento entre as paredes para
3.4 Requisitos de conforto térmico e acústico instalação do isolamento, com eventual necessidade de reforçar os conectores entre as paredes.
Em locais onde a temperatura diária permanece razoavelmente constante, como em re-
Um edifício pode ser estruturalmente estável, mas não oferecer um ambiente interno giões tropicais, o desempenho da parede depende basicamente da performance do isolamento
adequado. Em uma situação limite, um edifício pode vir a ser abandonado ou demolido se utilizado. Nesses ca~os, uma análise estática do desempenho térmico da parede é válida.
sua falta de funcionalidade for inaceitável. Felizmente, problemas tão drásticos com o am- Por outro lado, quando existe mesmo uma moderada variação entre a temperatura de
biente interno não são comuns. Entretanto, as características térmicas e acústicas do espaço dia e de noite, o efeito de inércia térmica da parede é dominante. Uma parede com elevada
de trabalho ou moradia e a existência de iluminação adequada têm importante influência na inércia térmica irá demorar em aquecer, e também para esfriar. Nesses casos, uma análi-
saúde física e mental dos ocupantes. Adicionalmente, condições de saúde e segurança depen- se da dinâmica térmica é necessária, pois uma análise estática subestimará o desempenho
dem da capacidade do edifício em excluir a umidade do ambiente e em resistir ao fogo. Nesta térmico da parede. A inércia térmica aumenta com o aumento da densidade, massa e calor
seção, consideram-se, de maneira geral, os requisitos para edifícios em alvenaria estrutural específico, mas diminui com o aumento da condutância. A alta densidade e o peso das pa-
em relação a temperatura, som, estanqueidade e fogo. Requisitos de desempenho de edifícios redes indicam que elas têm alta inércia térmica. É essa propriedade de paredes externas que
habitacionais foram recentemente discutidos no meio técnico brasileiro e estão disponíveis no muito melhora seu desempenho térmico, diminuindo a variação da temperatura interna ao
conjunto de norma NBR 15575, partes 1a6.48 longo de um período de 24 horas. O calor é armazenado quando a temperatura sobe e libe-
rado quando esta cai, diminuindo, portanto, as cargas de frio e calor. A inércia térmica das
paredes internas, que não fazem parte do envelope externo do prédio, aumenta esse efeito,
reduzindo, portanto, as flutuações na temperatura interna. É essa propriedade das paredes,
muitas vezes chamada de massa térmica, que pode ser utilizada tanto em projeto passivo ou
ativo de aquecimento solar de cómodos ou edifícios.

48 ABNT (2010).
128 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL PROJETO DE EDIF!ClOS 129

Para verificação do desempenho térmico, a NBR 15220-3 49 indica oito zonas biocli- Em relação à alvenaria, são feitas recomendações quanto às características desejadas
máticas no Brasil. A avaliação do desempenho pode ser feita de maneira simplificada, por para as paredes externas, classificando-as em leve, leve refletora e pesada, e indicando o uso de
modelagem computacional ou medição no local, devendo levar em conta parâmetros como: cada tipo de parede de acordo com a região climática, conforme Tabela 3.15.

- tamanho das aberturas para ventilação; 'fabela 3.15 Características térmicas admissíveis para paredes externas. 51
- proteção das aberturas; Transmitância t .
- vedações externas (tipo de cobertura e parede); e Vedações externas térmica .A vaso térmico Fator de calor Zona
(W/m'·K) (horas) solar(%) bioclimática
- condições de condicionamento térmico passivo.
Leve u,; 3,00 <p,; 4,3 FCS,; 5,0 le2
Paredes Leve refletora u,; 3,60 <p,; 4,3 FCS,; 4,0 3, 5 e 8
40 Pesada u,; 2,20 <p ~ 6,5 FCS,; 3,5 4, 6 e 7

Considerando as características dos materiais (concreto simples, argamassa e cerâmica) e


a forma dos blocos de 14 cm de espessura, Zechmeister52 traz o cálculo desses coeficientes para
blocos cerâmicos (maciços, de paredes vazadas ou de paredes maciças) e de blocos vazados de
concreto (Tabela 3.16). De acordo com essa análise simplificada, o uso de bloco com 14 cm de es-
pessura e revestimento externo de 2 cm e interno de 1 cm é suficiente para garantir o desempenho
térmico do componente construtivo em mais de 70% das cidades brasileiras.

Tabela 3.16 Propriedades térmicas de blocos revestidos ou não. 53

Pared e . 1
Ma t ena Tipode . Rev. Rev, p (kgim'') '(
"' Wim·K) e (kj/k g·K)
uni'dade interno externo
Zl -00,8% 01 1300 0,70
Z2 [l][IJ]]J 06,4% 02 1600 0,90
20 ---l-Z3 [:@,f§') 06,So/o 03 1800 1,00
Z4 -02,0% 04 2000 1,05
Cerâmica Maciça 0,92
z5 mJo5,6% 05 1300 0,70
f----+Z6 it$:k~i 12,6o/o -+-----' 06 1600 0,90
Z7 fillDill) 12,6% 1 cm 2cm
07 1800 1,00
Z8 L l 53,7% 08 2000
09 2400 1,75
Concreto Vazada 1,00
10 1 cm 2cm 2400 1,75
70 60 50 40

Figura 3.15 Zoneamento bioclimático - NBR 15220. 50

Os requisitos de norma indicam valores máximos (verão, entre 26 e 29º C) e mínimos (in-
verno, entre 12 e 17º C) de temperatura do ar interior, que devem ser atendidos para cada região.

51 Adaptada de Zechmeister (2005).


49 ABNT (2005). 52 !d. ibid.
50 Idem. 53 !d. ibid.
130 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAME!'.'fO DE AlVENARIA ESTRUTURAL PROJETO DE EDIFICIOS l 31

Tabela 3.16 Continuação ... e com parede cisalhada (blocos split) ou com superfície rugosa ou, ainda, blocos especiais com
1.'ipo de Rev. Rev. ranhuras podem ser usados para refletir o som dentro de determinado ambiente. Superfícies duras
'Parede Material 'd d . p (kgim') 'k (Wlm·K) e (kJ/kg·K)
:: uni a_, e 1n1erno ex1erno
e lisas, obtidas com revestimento e pintura, podem resultar em ambientes com alto nível de som
11 1300 0,70
refletido. Os níveis de som dentro de um ambiente podem ser enormemente alterados em função
12 1600 0,90 das propriedades acústicas do teto, piso e mobiliários.
----·
13 1800 1,00 O som pode ser transmitido através de paredes por vibrações forçadas ou por meca-
14 Paredes 2000 1,05 nismos de porosidade. O impacto de 'som é transmitido através de uma parede por vibração
15 vazadas 1300 0,70 forçada. O amortecimento do impacto irá reduzir esse efeito. O grau de isolamento sonoro
16 1600 0,90 contra vibrações forçadas de uma parede dependerá da sua inércia ou massa, sua rigidez, e do
!cm 2cm
17 1800 1,00 amortecimento interno.
~~----

18 2000 1,05 De acordo com a NBR 15575, deve-se ter uma redução do ruído externo para o interno,
Cerâmica - - - · 0,92
19 1300 0,70 medido em campo, em vedações externas de salas e dormitórios de, no mínimo, 35 dB quando
20 1600 0,90 o ensaio for realizado no laboratório, ou 30 dB para ensaio realizado em campo. Esses níveis
21 1800 1,00 devem ser elevados em 5 dB se a habitação for localizada junto a vias de tráfego intenso (ro-
22 Paredes 2000 1,05 doviário) ferroviário ou aéreo).
----
23 maciças 1300 0,70 Thomaz & Helene54 relatam ensaios realizados no !PT, onde as isolações aos sons aéreos
·----
24 1600 0,90 foram medidas iguais a 36 dB e 40 dB para blocos cerâmicos de paredes vazadas de 14 cm sem
!cm 2cm
25 1800 1,00 revestimento e com 3 cm de revestimento, respectivamente. O bloco de concreto de 14 cm
----
26 2000 1,05 apresentou isolação de 44 dB sem revestimento.
Por esses resultados, paredes executadas com blocos estruturais de 14 cm e pelo menos
3.4.2 Desempenho acústico 3 cm de revestimento permitem desempenho acústico superior ao mínimo recomendado para
paredes externas. No caso de paredes internas, os valores mínimos são mostrados na Tabela 3.17.
É desejável limitar tanto a quantidade de som que é refletida por uma parede quanto a
que passa por ela para áreas adjacentes, conforme mostrado esquematicamente na Figura 3.16 Tabela 3.17 Valor de isolamento de ruído aéreo mínimo. 55
Isolamento de ruído aéreo

___" 1
,,
Elen1ento (dB)) valor mínimo
----------·
Campo Laboratório
Fonte de barulho
" Parede entre ambient~s de uma mesma unidade habitacional 25 30
Parede Parede cozinhas entre uma unidade habitacional e áreas éomuns de
Som transmitido pela vibração da parede 30 35
trânsito eventual, como cçrredores, halls e escadaria
~ Parede de dormitórios entre uma unidade habitacional e áreas comuns de
40 45
trânsito ev.entual, como· corredores, halls e escadaria nos pavimentos~tipo
~ Som transmitido através de vazios na parede
Parede entre Uma unidade habitacional e áreas comuns de permanência de
Som refletido pessoas, ativida.des de lazer e atividades esportivas, como home theater, salas
45 50
de ginástica,playgróund, salão de festas, salão de jogos, banheiros e vestiários
coletivos, cozinhas e lavanderias coletivas

__,__"," 1
~""""--
Parede entre unidades habitacionais autônomas (parede de geminação) 40 45

Figura 3.16 Reflexão e transmissão sonora.

A redução do som em um determinado cômodo dependerá basicamente das propriedades


de absorção sonora das paredes. Quanto maior a porosidade do material e quanto mais rugosa for
54 Thomaz & Helene (2000).
a textura da parede, mais o som é absorvido pela superfície. Portanto, blocos com estrutura aberta
55 Adaptada da NBR 15575 (ABNT, 2010).
132 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL
PROJETO DE ED!FICIOS 133

3.4. 3 Estanqueidade incêndios. Embora seja desejável minimizar os efeitos dos custos devidos a danos causados
por incêndios, o foco maior é proteção à vida dos usuários.
o envelope externo do prédio, incluindo as paredes de alvenaria, funciona como uma Existem quatro maneiras básicas de se reduzir o risco dos usuários e bombeiros. Primei-
barreira para prevenir que umidade indesejável entre no edifício. Fontes de umidade do lado ro, deve-se selecionar materiais que diminuam o risco de pegar fogo, reduzindo a quantidade
externo do prédio incluem chuvas, vapor d'água do ar e umidade do solo. A falta de mão de
de material combustível na edificação e eliminando materiais que podem produzir fumaça em
obra qualificada na construção, ou fissuras nas paredes, pode resultar na penetração de água
excesso. A alvenaria como material niio combustível é excelente nesse aspecto. Segundo, um
de chuva através das paredes, particularmente sob ventos fortes, criando umidade na parte
sistema de alarme acionado a qualquer indício de fumaça ou fogo pode ser instalado. Terceiro,
interna. O uso de paredes duplas, tradicional em vários países, pode criar uma barreira para
uma vez que o fogo está instalado, os usuários devem ser capazes de achar um refúgio seguro,
a umidade externa. Agua encharcada no solo após fortes chuvas ou água subindo nas paredes
seja em uma câmara segura dentro do prédio ou rápida saída do edifício. Condição de pra-
por capilaridade podem ser fontes de umidade nas paredes. O vapor de água presente no
ticamente nenhuma fumaça deve ser mantida nesses compartimentos e em todas as rotas de
ar pode infiltrar através dos blocos, condensando nos vazios das paredes e escoando para a saída do prédio, por um período de tempo significativo em uma emergência devida a incên-
superfície interna. A umidade nas paredes muitas vezes é acompanhada de eflorescência, com dio. Finalmente, sistemas de sprinkler, extintores, mangueiras, reservas de água de incêndio,
depósito de sais brancos na superfície da parede com a evaporação da umidade. equipamentos de combate ao fogo, acesso facilitado aos bombeiros e outros meios de facilitar
Existe um longo histórico de problemas patológicos causados pela condensação de vapor a extinção do fogo devem ser previstos. Essas quatro medidas, tomadas de forma balanceada,
nas paredes. Entretanto, esse problema é bastante conhecido e práticas recomendadas para pre- podem reduzir muito risco e efeitos de incêndios.
venir patologias decorrentes são conhecidas. Se corretamente seguidas, o edifício será durável e
Uma análise racional de um projeto de proteção contra incêndio envolve três fases.
"à prova d'águá'. Quando há umidade nas paredes, geralmente há falta de detalhes construtivos, Primeiro, a estimativa da carga de fogo, através do levantamento da quantidade de material
falta de mão de obra qualificada, uso impróprio de materiais, falta de manutenção ou uma com- combustível dentro do prédio, a provável taxa de combustão e outros fatores. Segundo, uma
binação desses fatores. Detalhes como calhas, pingadeiras, barreiras de vapor e ar, membranas avaliação do desempenho ao fogo da parede de alvenaria. Por exemplo, paredes contendo
ou argamassas de impermeabilização, selantes e paredes duplas geralmente são utilizados para grandes aberturas não permitem impedir o espalhamento do fogo, e, nesse caso, as paredes
melhorar a estanqueidade de uma parede. Entretanto, esses detalhes às vezes alteram o com- devem ser apenas resistentes ao fogo. Em contrapartida, a alvenaria construída para proteger
portamento estrutural desta, por exemplo, com o uso de impermeabilização asfáltica sobre um pilar metálico deve ser resistente ao fogo e também permitir isolação térmica.
fiadas na base de uma parede, que pode diminuir a resistência ao cisalhamento desta. Finalmente, uma análise da resistência ao fogo de uma parede (estabilidade, integrida-
De acordo com a NBR 15575, as edificações devem ser estanques a água de chuva, umidade de, estanqueidade e isolação) deve levar em conta as propriedades térmicas do material, a for-
de solo e lençol freático. A prevenção de infiltração da água da chuva ou umidade pode ser feita ma e as dimensões dos elementos, os vínculos dos elementos, as ações a que estão submetidos
observando-se, entre outros, os seguintes pontos: e eventuais revestimentos.

- caimentos adequados de coberturas e telhados, uso de beirais, fixação correta de


telhas; 3 .5 Estética
- especificação e execução correta da impermeabilização da cobertura, terraços,
fundações, pisos em contato com o solo e outros elementos; Para que um edifício seja totalmente funcional, o prédio como um todo e cada um dos
- correto dimensionamento e execução do sistema de águas pluviais e do sistema cômodos internos devem satisfazer às necessidades humanas de estética agradável. O conforto
de drenagem do loteamento; visual pode ser tão importante como o conforto físico.
- 0 rejuntamento entre marcos e paredes de fachada, do correto funcionamento de
Internamente, um espaço agradável de trabalho ou de moradia pode ser obtido com o
drenos em portas e janelas; uso de blocos de várias texturas, cores, dimensões, formas e padrões nas paredes de alvenaria
- do correto detalhamento das ligações entre elementos construtivos, evitando que irão formar espaços abertos ou fechados da edificação. A forma retangular dos blocos é
passagem de umidade entre frestas. facilmente estendida de maneira lógica para formar paredes também retangulares simples ou
compostas. Esses elementos, de forma lógica, formarão, assim, espaços retangulares, simples
3.4.4 Resistência ao fogo ou complexos, que serão agradáveis, funcionais e estáveis. Além disso, apesar de sua forma
retangular, como os blocos geralmente têm dimensões pequenas e pela característica de cons-
O fogo é uma das principais causas de perdas de vidas e propriedades no mundo todo. trução com posicionamento individual de cada unidade, é possível arranjá-los de forma a con-
Todos os edifícios devem ser projetados e analisados levando em conta a segurança contra ceber paredes ligeiramente curvas. Essas características permitem uma grande variedade de
formas. Quando vista de perto, a alvenaria estabelece uma sutil referência padrão que confere
1 134 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL
PROJETO DE EDIFÍCIOS 135

um aspecto agradável ao espaço interno. Esse padrão pode ser acentuado variando-se a cor,
tanto do bloco quanto da argamassa, frisando as juntas, ou com o uso de iluminação nas pare-
1

des, formando um fundo decorativo para plantas e mobiliários.


Ili
A aparência externa de um edifício geralmente consiste na combinação de um limita-
do número de formas geométricas organizadas de maneira a formar uma agradável relação
Ili i lii
visual, cuja sensibilidade do arquiteto leva em conta aspectos como escala, proporção, sime- li] 1 1 lii
tria, transição gradual e repetição. Nos edifícios com alvenaria, a aparência externa pode estar
intimamente ligada à divisão do espaço interno e da concepção estrutural ou pode ainda ser ri li i li lil
concebida de maneira a camuflá-los. Por exemplo, em edificações com estrutura aporticada,
com uso de alvenaria de vedação, a natureza não estrutural dos painéis de alvenaria pode ser i lii
realçada expondo e ressaltando o pórtico ou, ainda, esta pode cobrir completamente a estru-
(a) Bnfase vertical (b) llnfase horizontal (e) Bnfase neutra, com
tura. Essa situação é comum em edificações comerciais, geralmente com estrutura de concreto
molduras destacadas
pré-moldado. Alternativamente, alvenaria policromática (usando blocos de cores distintas)
pode definir padrões às paredes externas, que podem ou não refletir a estrutura interna. A Figura 3.18 Influência do tratamento dado para as janelas na fachada externa.
Figura 3.17 ilustra esses casos.
Grandes janelas alinhadas na face externa da parede dão a impressão de leveza da cons-
trução, janelas alinhadas na face interna criam sombras que podem acentuar sua presença e
pequenas janelas ao longo da fachada dão a impressão de uma construção sólida. Esses pontos
são mostrados na Figura 3.19.

j1p1

(a) Estética reforça o pórtico (b) Fachada típica de (e) Padrão policromático lH1 1
1
111
alvenaria estrutural
11
1 1 1

Figura 3.17 Formas de tratamento da fachada externa de edifícios com estrutura aporticada.

Os dois elementos básicos de edifícios em alvenaria estrutural são as paredes estrutu- (a) Moldura alinhada na face (b) Moldura acentuada (c) Moldura profunda
rais e as lajes. A aparência do prédio é altamente influenciada pela ênfase que se dá a esses
elementos na fachada. Um maior ressalto nas paredes estruturais impõe um enfoque vertical à
fachada, enquanto o maior ressalto das lajes impõe um enfoque horizontal desta. Tratamentos Figura 3.19 Arranjos das janelas na fachada.
intermediários são possíveis.
Olhando de'longe, ou quando a parede é revestida, a identidade individual dos blocos Na Figura 3.20(a) apresenta-se um exemplo de um edifício em alvenaria estrutural apa-
é perdida e o tratamento dado às janelas tem um importante papel na definição do aspecto rente, onde vários recursos foram utilizados para permitir um aspecto agradável à fachada exter-
visual. Como mostrado na Figura 3.18(a), o alinhamento vertical das janelas diminui o as- na, com uso de arcos, paredes em balanço e outros. Na foto (b) tem-se um exemplo de edifício
pecto visual dos pisos horizontais e acentua os elementos estruturais verticais. Grandes áreas cujas paredes e divisões internas são todas retangulares, mas com a fachada externa concebida
envidraçadas entre os pisos diminuem a impressão de grandes elementos de suporte verti- de forma agradável.
cal, conforme Figura 3.18(b). )anelas ressaltadas na fachada permitem balancear o peso que
elementos verticais e horizontais impõem à fachada e podem permitir um aspecto neutro,
como mostrado na Figura 3.18(c), permitindo ainda a sensação de que as paredes não são
estruturais.
136 COMPORTAMENTO E DIMENS!ONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL PROJETO DE EDIFfCIOS 137

- definição das dimensões em planta e elevação (incluindo peitoris e dimensões


das aberturas), respeitando a modulação dos blocos;
- previsão de impermeabilização na fundação das paredes, pingadeiras ao longo da
altura da fachada, beiral com pingadeira na cobertura;
- uma aparência externa agradável;
- um ambiente interno de.moradia ou trabalho bem distribuído, quieto, confortá-
vel e agradável.

(a) (b)

Figura 3.20 Edifícios em alvenaria estrutural com agradável aparência externa.


Fonte: (a) Associação Brasileira da Construção Industrializada (ABCI). 56 (b) Guilherme Parsekian.

Muitas decisões realizadas em função da estética influenciam outros aspectos da con-


cepção do edifício. Por exemplo, o posicionamento dado a uma janela em uma parede trans-
versal irá influenciar no tamanho a ser considerado para as abas na parede de contraventa-
mento principal. O frisamento de juntas pode diminuir a resistência de paredes estruturais e
ter influência determinante na estanqueidade desta.

3.6 Compatibilização dos requisitos

A compatibilização de todos os requisitos do edifício é necessária para alcançarmos


Figura 3.21 Exemplo de instalação elétrica compatibilizada.
uma construção econõmica e de alta qualidade. Inevitavelmente, a compatibilização dos re-
quisitos estruturais, ambientais, estéticos, das instalações e outros ocorrerá durante a concep-
ção do projeto do edifício. Essa compatibilização será fraca se a análise de cada requisito for
feita de maneira isolada. A compatibilização das funções será muito mais bem alcançada se
houver colaboração próxima entre os vários profissionais envolvidos no projeto.
Alguns pontos que evidenciam uma boa compatibilização incluem:

- definição de paredes não estruturais quando a arquitetura determinar que estas são
removíveis ou quando houver previsão de instalação hidrossanitária embutida;
- previsão de shafts para passagem de instalações hidrossanitárias (geralmente em
banheiros e cozinhas) e para as instalações elétricas, telefones e afins (geralmente
no hall de entrada dos apartamentos);
- alocainento da distribuição horizontal das instalações hidrossanitárias em forros
sob a laje, em paredes de vedação, em enchimentos sobre o piso ou ainda em
revestimentos de parede;
- alocamento da distribuição horizontal das instalações elétricas dentro de lajes de
concreto armado (tomando-se o cuidado de evitar o cruzamento de eletrodutos) Figura 3.22 Exemplo de instalação hidrossanitária compatibilizada. Note shaft de descida de instalações
ou em forros sob a laje e posicionando as descidas verticais nos vazados de blocos; atrás do chuveiro (foto à esquerda). Instalações posicionadas fora da parede estrutural (demais fotos).

Embora uma boa compatibilização das funcionalidades possa eventualmente ter um


56 Associação Brasileira da Construção Industrializada (ABC!) (1991).
custo inicial maior, ter de solucionar problemas de incompatibilidades durante a construção
138 COMPORTAMENTO E D!MENS!ONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL PROJETO DE EDIFÍCIOS 139

pode levar a grandes prejuízos na forma de atrasos, demolição, reconstrução, custos extras, produção para medir e controlar as propriedades físicas dos materiais e os métodos de constru-
aumento da necessidade de manutenção e redução do valor do prédio. ção em termos quantitativos.
Tradicionalmente, a tarefa de compatibilizar todos os projetos era função do arquiteto. Resumindo, o envolvimento do arquiteto, do engenheiro e do construtor é ideal já na
Em alvenaria estrutural, particularmente para edifícios mais altos, o engenheiro de estruturas fase inicial do empreendimento para ser possível obter sucesso em compatibilizar e satisfazer
deve ser envolvido desde o início do projeto, sendo também importante a participação do todos os requisitos da edificação, tanto no planejamento quanto no projeto. Esses profissionais
projetista de instalações. Em projetos realizados de forma tradicional, o engenheiro de obras devem, ainda, ser incorporados no siptema de, garantia da qualidade para assegurar que a
é engajado no processo apenas quando a fase de planejamento está completa, com sua impor- construção pronta terá desempenho adequado.
tante contribuição acontecendo apenas em um estágio avançado. Cada vez mais e para todos
os tipos de edificações, percebe-se que as contribuições desse profissional familiarizado com
o gerenciamento da obra e com os métodos construtivos são essenciais já na fase de planeja- 3.7 Concepção do edifício
mento e projeto, possibilitando a compatibilização ótima de todas as funcionalidades. É na
fase inicial do projeto que as decisões e escolhas terão maior probabilidade de impactar nos A necessidade de compatibilizar os requisitos estruturais, ambientais, estéticos e de "cons-
métodos construtivos e no custo da obra. trutibilidade'; desde as fases iniciais até o final do empreendimento, foi comentada de maneira
Termos como "compatibilização" e "construtibilidade" são hoje usados para fazer refe- geral anteriormente. Aqui, as implicações específicas para a fase de projeto do edifício são discu-
rência à ótima integração dos conhecimentos construtivos e das experiências diversas na fase tidas mais detalhadamente. Inicialmente são feitas considerações sobre a forma, elevação e plan- ,
de planejamento e projeto. ta do prédio, seguidas de considerações sobre o layout de paredes, pisos e cobertura, conexões
Alguns dos elementos relativos à construtibilidade para os quais o empreiteiro de al- entre os elementos e fundação.
venaria ou o empreendedor podem emitir melhor parecer incluem projeto e planejamento
voltados para construção, sistemas construtivos preferenciais, sequência de trabalho ótima, 3.7. l Forma do edifício
implicações relativas às empresas fornecedoras, segurança da construção, praticidade das es-
pecificações técnicas e demais documentações, detalhes construtivos e anteprojetos, necessi- A forma externa de um edifício é em grande parte determinada pelo uso do "espação"
dade de treinamento de operários na obra, detalhamento das instalações, layouts respeitando interno, seja para fim de escritório, comercial ou residencial, e pode ser nma construção térrea
a coordenação modular, padronização e repetição de detalhes construtivos, construção sob ou de múltiplos pavimentos, com estrutura aporticada ou formada por paredes.
condições climáticas adversas, tolerâncias construtivas plausíveis, acessibilidade durante a A concepção geralmente envolve o desenvolvimento de um módulo padrão, que é a me-
construção, aquisição de materiais e controle de qualidade. nor dimensão a ser ajustada para os cômodos, e outros elementos como portas e janelas. Em
É clara a ideia de que todos os profissionais envolvidos na construção (engenheiros, construções de alvenaria, esse módulo deve levar em conta a dimensão dos blocos ou tijolos
arquitetos, construtores) entendem a qualidade da edificação de forma diferente. O arquiteto a serem utilizados. para a maior parte dos edifícios, a espessura do bloco é de 14 cm, sendo o
entende a qualidade em termos estéticos e no atendimento às necessidades de conforto do bloco padrão ideal igual a 14 x 29 cm, que, considerando uma junta de 1 cm, tem dimensão
usuário. A qualidade, nesse caso, é determinada pela inspeção visual do produto final (veri- modular de 15 x 30 cm. As dimensões ideais nesse caso são múltiplas de 15 cm, podendo ser
ficação estética) comparando-o com estágios prévios da construção. O engenheiro entende a utilizado um bloco de 5 cm para ajuste de porta. Em uma concepção menos racionalizada, é
qualidade pelo desempenho estrutural e das instalações. Nesse caso, a qualidade é medida pela possível ajustar também os vãos dos cômodos em múltiplos de 5 cm. Alternativamente, existe
inspeção e ensaios dos materiais e componentes durante a construção. O construtor entende o bloco padrão 14 x 39 cujas dimensões ideais em planta são múltiplas de 20 cm, havendo
a qualidade através do nível de "construtibilidade" e do desempenho funcional do edifício necessidade de utilização de blocos especiais para amarração nos encontros de parede. Blocos
como um todo, em. especial do envelope externo. Para assegurar a qualidade pretendida pelo de ajuste também são possíveis nesse caso, permitindo dimensões múltiplas de 5 cm, porém
arquiteto e engenheiro durante a construção, geralmente o construtor nomeia um supervisor recomendadas apenas para os vãos de porta.
ou superintendente para assegurar que sejam corretamente utilizados os materiais, traços,
procedimentos e mão de obra no dia a dia da obra. Tabela 3.18 Modulações mais comuns.
Os diferentes enfoques podem ser reunidos em um único sistema de garantia de qua- Dimensão Dimensão . _ _ .
. Dunensao dos vaos (planta de arquitetura)
lidade. A garantia da qualidade é uma ferramenta gerencial definida como o planejamento e modu1ar nom1na1
o uso de ações sistemáticas para assegurar que todos os requisitos sejam atendidos para que o 15 x30 14x29 Todos de 15 cm
edifício finalizado desempenhe bem todos os requisitos funcionais. O sistema de garantia da Tod,os múltiplos 'de 20 cm, normalmente utilizados em galpões ou depósitos,
20x40 19x39
· reservatórios, arrimas
qualidade envolve o planejamento e a realização das ações que devem ser tomadas e a resolução
de eventuais inconformidades. Este incorpora o controle de qualidade, que é uma ferramenta da 15 x40 14x 39 Em geral, múltiplos de 20 cm
140 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL PROJETO DE EDIF(C!OS 141

É muito importante para o processo que os vãos de portas e janelas sejam perfei- raora E=EHaol DO
o ºªºº 1-ª Fiada 2ll. Fiada

~
tamente resolvidos durante o desenvolvimento do projeto. Normalmente, são escolhidos
Bloco de 54 cm / ~ o
o
vãos de janelas de acordo com a familia dos blocos adotada. Por exemplo, para a familia para amarração o o
de 15 x 30, a dimensão horizontal das janelas deve ser múltipla de 15 cm (60 cm, 120 cm, o o Amarração em L
o o
150 cm). Para a família de 15 x 40, a dimensão horizontal das janelas deve ser múltipla de
20 cm (60 cm, 120 cm, 180 cm). As dimensões verticais (incluindo a altura do peitoril)
B
o
o
o
o
o
oo
8 '
1
o
o
o
L L
devem ser múltiplas de 20 cm. No caso de portas, isso nem sempre é possível e, nesse caso, o Amarração em T
8o o
pode-se utilizar blocos de ajuste de 4 cm. º1 Bloco de 34 cm o ,~
~ para amarração o 1-ª Fiada o
fL'.'iYIElôIEfõIOól CD:! -QQ~

l ;!1 Amarração em X
451 151 1 105 105 1
151 1 45 80 11 121 i 60 60 1 121 i 80 o
' ' Amarração em L
' '
'' ' '

o
o
o
14 301 14 301
R
14 L '
'
o
o
o
q14 ~ 261 261
o
114
- Legenda
o

Amarração em T 14 [QJ 14xl9xl9


RI ~
o
15 15
91-r H-91

~ ~
1~ Fiada
B
[J
o T O,
li
...
o
o
o
!c::::.ioCJI

l.Q1j]
14x54xl9
14x34xl9
DGO 00!50I5ôl51
1 1
c:iç1 ·1c·~001rTõfOEfl5;".l 8
Amarração em X 81 -"::'.:' . D o !Q [QJ
,2il. Fiada
íêiJBEiTqgloalClQ
o
= 14x39xl9

/k
~I Figura 3.24 Coordenação modular em planta para blocos de 14 x 39 (alternativa).
Bloco de 45 cm
para amarração
~.
Outros padrões modulares são possíveis, especialmente para edificações baixas de um
Legenda
ou dois pavimentos onde é possível o uso de blocos de 9 ou 11,5 cm de espessura, com com-
"
~
o
= 14x44xl9 primentos de 29 ou 39 cm. Em alguns casos, pode-se adotar a amarração de um terço do
comprimento do bloco.
~ 14x29xl9
B
u Em estruturas aporticadas, com alvenaria de vedação, os elementos do pórtico devem
2~ Fiada
t:fc [Déí . . C1 00 CJCl f'.'J llll 14x 14x 19 ter suas dimensões ajustadas em função do módulo da alvenaria. Um planejamento modular
resulta em uma construção mais econômica e limpa.
Figura 3.23 Coordenação modular em planta para blocos de 14 x 29 (ideal). Em edifícios de alvenaria estrutural, cujas paredes têm a dupla função de estrutura e
vedação, tanto a configuração geométrica quanto a forma estrutural são determinadas por
uma série de fatores como necessidade de espaço funcional, conforto ambiental, resistência es-
trutural e expressão arquitetônica. Não se pretende apresentar aqui uma discussão abrangente
e definitiva sobre o terna, mas algumas considerações relativas a elevação, planta e layout das
paredes em edifícios de alvenaria estrutural são indicadas a seguir.

3.7.2 Fachada e elevações

A fachada é a vista mais frequente do prédio, muitas vezes a primeira e a última impres-
são do observador. Uma das maiores influências no tipo de fachada é a altura do prédio. Em
geral, o edifício mais econômico é aquele que tem o menor número de andares possível para
alcançar a quantidade de metros quadrados de construção pretendida pelo empreendedor. O
custo do terreno também tem grande influência, sendo comum prédios de maior altura em
142 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO OE ALVENARIA ESTRUTURAl PROJETO DE EDIFÍCIOS 143

locais com terrenos mais caros. Edificações em alvenaria podem ser classificadas de acordo
'""-"""~'"'",,;,_~L, Edificações térreas
com sua altura em térreas, baixas, médias ou altas. (a)
O edifício térreo geralmente é residencial, industrial, comercial ou público, com fácil
acesso pelo nível do terreno. Boa parte do envelope externo desse tipo de prédio é a sua co-
bertura, que deve ser dimensionada corretamente de acordo com os requisitos estruturais e
1 1
(b)
1 1
gg (e) (d)
Edifícios baixos

ambientais. O prédio baixo pode ser definido como aquele que tem entre dois e quatro pavi-
mentos, que geralmente é o limite aceitável para que o acesso aos andares superiores seja feito
pela escada apenas (prédio sem elevador). Para ser viável sua concepção em alvenaria estru- Edifícios médios

tural, o andar tipo (assim como em prédios médios e altos) deve ser idêntico, com as paredes
estruturais sobrepostas a cada andar.
Pode-se considerar de média altura um prédio entre 5 e 8 andares, sendo o limite infe-
rior definido pela necessidade de se ter elevador (na maior parte das cidades). O limite superior
é intuitivamente determinado por entender que, até essa altura, a definição do tipo de alve- Edifícios altos
naria está mais relacionada com fatores ambientais e construtivos (proteção contra incêndio,
---+-
isolamento acústico, quantidade de armadura) do que com as ações atuantes na estrutura. Os ----·!..-

blocos a serem utilizados têm resistência moderada e podem ser fornecidos por uma grande (h) (i) (j)
quantidade de fornecedores em mais de uma opção de material (concreto ou cerâmico). Muitas
vezes, esses edifícios terão seus elementos todos de alvenaria não armada. Figura 3.25 Influência da concepção estrutural em função da elevação na "robustez" do prédio.
Acima desse limite, as ações passam a ser determinantes nas escolhas a serem feitas,
como no tipo de bloco a ser utilizado, na quantidade de armadura e até na espessura da parede. Janelas na fachada externa têm efeito no comportamento estrutural das paredes em
Em função do aumento do número de andares, a influência da estrutura no custo da obra passa vários níveis. Quando pequenas janelas são uniformemente distribuídas ao longo da fachada,
a ser relativamente maior. Figura 3.25(c), o efeito da presença destas é menor, podendo o conjunto de paredes se com-
Quanto maior a altura do prédio, maior a importância do desempenho estrutural de portar monoliticamente resistindo às ações laterais. As áreas críticas são localizadas nos cantos
cada elemento de alvenaria. De maneira genérica, a "robustez" do edifício (rigidez, resistência das aberturas e nas vergas e contravergas horizontais acima e abaixo delas. Como a força de
e capacidade de acomodar um dano localizado) diminui com a altura, conforme mostrado de cisalharnento horizontal (devida à ação do vento principalmente) aumenta cumulativamente
forma esquemática na Figura 3.25. Nessa figura é possível perceber que a "robustez" do prédio de cima para baixo no prédio, do ponto de vista estrutural, é possível diminuir os tamanhos
diminui quando descontinuidades são inseridas na estrutural, como, por exemplo, com a intro- das janelas em andares inferiores, caso (a). Janelas desalinhadas, caso (b), em contraponto às
dução de aberturas no nível térreo. Quando grandes descontinuidades são inseridas ao longo da alinhadas, permitem uma melhor conectividade das seções verticais, aumentando a rigidez e
altura, como no caso (f), é conveniente a previsão de juntas de dilatação verticais, de maneira a resistência às ações horizontais.
formar dois edifícios em separado, isolando essas descontinuidades. Nesse caso, uma dimensão
razoável deve ser prevista para essa junta, a fim de permitir um distanciamento entre os prédios
e evitar que um "batà' sobre o outro. Além disso, conexões flexíveis devem ser previstas no caso
de instalações que eventualmente !raspassem a junta que deve ainda ser dimensionada para
acomodar as movimentações diferenciais da estrutura. A eliminação de partes da laje ou de ra
paredes em níveis inferiores, casos (i) e (j), tem grande impacto na "robustez''. Essa descontinui-
dade vertical pode criar um "andar flexível" na parte de baixo do prédio, diminuindo muito a ItJ rn EJ
mt!I rn
rigidez do edifício. A interrupção de paredes em andares inferiores, sempre que possível, é uma
opção a ser evitada.

JZJ
Figura 3.26 Influência do posicionamento das janelas na rigidez das paredes estruturais.
144 COMPORTAMENTO E DIMENS!ONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL
PROJETO DE EDIFÍCIOS 145

Usando painéis de fechamento sob e sobre as aberturas, casos (d) e (e), na prática isolam A forma da pl"'.'t~ t~mbém é fundamental no comportamento do edifício em rela ão à
cada parte da parede, eliminando qualquer efeito de pórtico (cada parede funciona isoladamente sua capacidade de res1stir as ações laterais. Plantas simétricas e com distribuição aproxi~ada
engastada na fundação). Embora haja uma diminuição progressiva da rigidez dos casos (a) até de. ~are~es ao longo de ~ada direção principal são menos suscetíveis a torções da planta do
(e) (considerando as paredes não armadas ou armadas de maneira uniforme), a concentração de pre 1~'. tamanho_ dos vaos em cada direção depende do tipo de laje e da deformação máxima
tensões nas vigas sobre as aberturas é eliminada na figura (e), e a flexibilização do prédio tem o ~~rm1t1da em funçao de seu uso. A rigidez lateral do prédio ao longo de uma direção principal é
efeito desejável de eliminar vigas rígidas que são sujeitas à ruptura frágil por cisalhamento. Esse !fetamente
. relac10nada com
. • o comprimento
. , tot.al
. de uma pared e nessa d'1reçao.
• Ações laterais
sistema simples e de fácil análise, de pilares isolados, tem apresentado bom desempenho em ~":o:es reque;em um '."aior mdice de comprimehto de paredes (comprimento total das paredes
resistir às ações laterais sem apresentar fissuras, mesmo em regiões com ações sísmicas. As des- ~!Vldi~~ pela areado piso) para diminuir o deslocamento lateral e aumentar a resistência à força
continuidades impostas pelo deslocamento das janelas a cada piso (f) afetam em grande escala ~ c1~ .amento lakraL A .área total de paredes orientadas paralelamente a uma determinada
a rigidez das paredes de contraventamento, tornando as paredes, nesse tipo de concepção, fortes d1:eçao e um bom .md1cat1vo da capacidade de resistência do prédio à força lateraL Paredes
candidatas a sofrer dano severo no caso de ação lateral elevada. onentadas perpendICularmente à determinada direção têm resistência desprezível à ação lateral
As aberturas necessárias de portas e janelas diminuem a rigidez lateral das paredes e a nessa direção. A estabilidade lateral deve ser checada em ambas as direções principais.
sua capacidade em resistir às ações laterais e em minimizar o deslocamento lateral do prédio.
O efeito depende do tamanho e posicionamento das aberturas, sendo menos crítico para pré- Redução na eficiência do envelope externo
dios baixos do que para prédios altos cuja grande rigidez lateral é necessária. Em último caso,
a análise do posicionamento e dimensão das aberturas deve ser feita com cuidado. Uma maior 1
discussão sobre esse tópico é retomada no capítulo 10, sobre o dimensionamento de paredes
de contraventamento. Como a necessidade de grandes aberturas é maior nos andares térreos,
o
100%
o97%
1
10
88%
20
83%
30
76%
é provável que esses andares sejam mais flexíveis. Sempre que possível, essas grandes aberturas 1

w
o
devem ser evitadas no térreo, ou mesmo em qualquer andar. ""
JJ
Questões ambientais também influenciam o layout das paredes. A necessidade de ilumi- ~
V
1 1
1,4 1 1
04
nação natural, aquecimento solar passivo, proteção contra fogo e controle acústico são alguns
dos fatores que podem influenciar esse layout. Por razões econômicas, a altura livre do piso ao
teto do andar tipo é limitada ao mínimo possível para garantir conforto ao usuário (de acordo
fV
o
2D1
2
76%
Ll1
2
76o/o
1,1
74%
1C{J1

72% 71%

íl;
com o uso da edificação). O espaçamento vertical das lajes é, portanto, influenciado por esse "'·o"
1
·o"
1 1

3[bl
>V
valor, somado a eventuais forros necessários para a distribuição de instalações elétricas ou
hidrossanitárias.

3.7.3 Planta
"""
V

"o
'"
V-
~
2
3~] 2
Cb ~ 1
2 1
1,2
1,2
1
"'~ 71% 71% 71% 71% 66%

A forma da planta do edifício é determinada em razão de vários fatores, como a forma,


o tamanho e a orientação do terreno; relação com as edificações vizinhas; padrão de tráfe-
go interno; requisitos de iluminação natural; e função para a qual o prédio é projetado. Um
indicativo importante é a relação entre o perímetro externo e a área do piso. Esse índice dá .
1

3~1
66%
1%1
2

66%
lo 1

66%
@1
63%
1 1
10 1
01
62%
uma noção do custo do perímetro externo em relação à área de uso interna. Como o ganho
ou a perda de calor ocorre pela parede de fachada em edifícios de múltiplos pavimentos, essa Figura 3.27 Eficiência do envelope externo do prédio.
relação dá um indicativo da necessidade de maior ou menor custo de sistema de aquecimento
ou de ar-condicionado. _ A área de p.arede necessária depende do tamanho do piso, da altura do prédio, do nível de
A Figura 3.27 foi desenvolvida para mostrar a eficiência de várias formas da planta do açao lateral e do tipo de alvenaria utilizado. Outros aspectos, como conforto térmico e a , t'
e proteç· t i; d cus 1co
envelope externo do prédio em relação a esse tópico. As porcentagens foram obtidas campa - ao con ra ogo, po em também influenciar, especialmente em edifícios baixos em 'd'
Plnt · '· · e10s.
rando-se o comprimento do perímetro externo com a circunferência de um círculo de mesma a as s1metncas permitem uma melhor resistência à ação lateral uma vez que ui
tanted . . 'd . , ares .
área (índice de compacidade). Pode-se perceber que o quadrado é a mais eficiente das formas as açoes comc1 e aproXImadamente com o centroide da planta do prédio e, portanto,
retilíneas.
146 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE AlVENARIA ESTRUTURAL PROJETO DE EDIFiCIOS 147

produz pouco efeito de torção. Em plantas muito alongadas, essa consideração pode ser menos Redução na resistência à torção
verdadeira, uma vez que a ação lateral tende a ser menos uniforme ao longo de um comprimen-
to elevado, por isso a resultante dessa ação não irá coincidir com o centroide do prédio. Além
disso, essa forma será menos resistente à ação lateral, uma vez que a largura reduzida em uma
das direções torna o prédio mais esbelto e a estrutura menos estável. Plantas não simétricas es- 1 1/2

tarão sujeitas a grandes efeitos de torção devidos à ação lateral; quanto maior a assimetria, maior
esse efeito. Mudanças marcantes na forma geralmente resultam em grandes efeitos de torção. s
o
"'<:-
·I i 'i,
Portanto, grandes descontinuidades, recortes e outros detalhes que tornem a planta assimétrica ·"-~ 1 l/2
u
devem ser evitados. Em casos em que isso ocorre, sempre que possível é recomendável que o a
<V 100% 75o/o
projetista preveja juntas de dilatação, tornando cada parte aproximadamente simétrica. ·~ 'I, 'I,
ero
Para edifícios de mesma área em planta, mas com paredes distribuídas de forma dis- a 'I'
o '!,
tinta ao longo do perímetro externo, tem comportamento distinto. Nesse caso, quanto maior •ro
~
~
o perímetro externo, menor a rigidez. A Figura 3.28 ilustra esses casos. Plantas alongadas e 'I, '!, 'I,
""
V

não simétricas não apenas são mais suscetíveis à torção, como também são menos resistentes "' 'I,
à ação lateral total e mais deslocáveis. Uma parede de contraventamento tem maior resistên-
1 l/s 'I ;
cia à torção quanto maior sua distância ao centro de rigidez (ou centro de torção) da planta
55% 54% 41%
do prédio. As plantas não simétricas da figura têm as paredes externas aproximadamente
próximas ao centro de rigidez e são, portanto, menos eficientes.
De forma semelhante, considerações podem ser feitas sobre o posicionamento da caixa Figura 3.28 Efeito da forma do prédio na resistência à torção e à ação lateral.
de escada e shafts de elevador e serviços do prédio. Em geral, quanto maior a assimetria no posi-
cionamento desses elementos, maior o efeito de torção. O posicionamento de grandes aberturas
Diminuição da eficiência do diafragma de laje
no piso ou recortes tem o efeito de diminuir sua eficiência em funcionar como um diafragma
rígido. A diminuição da eficiência como diafragma rígido do piso e o aumento da assimetria
} Caixa de escada separada Caixa de escada com ligação rígida
com a introdução de grandes aberturas são ilustrados na Figura 3.29. Uma redução dramá-
tica na rigidez do piso, diminuindo seu efeito como diafragma rígido, terá grande influência D
na distribuição das ações laterais entre as paredes estruturais. Para diafragmas rígidos, a ação
lateral é distribuída entre cada parede de contraventamento proporcionalmente à sua rigidez.
No caso de diafragma não rígido, a distribuição da força lateral ocorrerá pela análise da área
de influência da cada parede. Neste último caso é possível que paredes curtas e menos rígidas,
posicionadas ao centro da fachada do prédio, por exemplo, recebam uma maior força lateral que
00
Caixa de escada
uma parede longa e de grande rigidez, porém posicionada no canto do prédio.

c1l\J '------'

Figura 3.29 Efeito do posicionamento da caixa de escada na eficiência do piso como diafragma rígido.

3.7.4 Configuração das paredes e layout

. ~aredes estruturais formam os limites verticais de espaços internos e seu arranjo es-
pacial e um problema complexo cuja solução envolve considerações estruturais, funcionais e
148 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL PROJETO DE EDIFICIOS 149

arquitetônicas e ambientais, sendo necessário a colaboração entre o arquiteto e o engenheiro


para resolvê-lo. Limites para a configuração das paredes incluem atender a côdigos de obras 1 Direção da ação
locais, áreas mínimas de cômodos e janelas, rotas de fuga e posicionamento das instalações.
Cargas gravitacionais são distribuídas das lajes e coberturas para as paredes que as en- '
caminham direta e verticalmente para as fundações. Em edifícios de múltiplos pavimentos, as Duplo-aletada
paredes de contraventamento também encaminham as ações laterais de piso a piso até às fun- "~ .____,--,____, ~

<.b Defasàda Serpentina


dações. Paredes estruturais devem, portanto, ser construídas com bom alinhamento vertical
~ 1 1
~
para minimizar qualquer excentricidade de carga. A não ser que haja outro tipo de elemento .g 1 1

na concepção estrutural, paredes bem distribuídas nas duas direções ortogonais principais
devem ser concebidas para permitir boa estabilidade lateral.
·g
<V
. . ..Aletada invertida

• . . . ..
Zigue-zague

A possibilidade de mudanças futuras no layout arquitetônico para permitir múltiplos usos ~ Com pilares

do edifício deve ser considerada. Se todas as paredes internas de um edifício forem concebidas "'"o 1 1 1 1 1 1 1 1
como estruturais, atinge-se o máximo desempenho estrutural, e provavelmente maior econo-
mia, porém tem-se menor flexibilidade do layout arquitetônico. A maior flexibilidade é possível
concebendo-se algumas paredes como de vedação, que podem futuramente ser removidas.
Raciocínio semelhante pode ser feito para as instalações. As instalações elétricas (e afins)
r
"'

Q
Aletada

Simples

são inseridas em eletrodutos que podem ser facilmente posicionados dentro dos vazados dos Dupla
blocos. A manutenção futura pode ser feita pela simples retirada da fiação e introdução de uma
Figura 3.30 Efeito da forma da parede na rigidez lateral (a área total é igual em todos os casos).
nova. O mesmo não ocorre com as instalações hidrossanitárias, cujos canos ficam permanen-
temente instalados dentro da parede. Para manutenção futura há necessidade de quebra da
parede, retirada da parte danificada e reposição desta. Por esse motivo, esse tipo de instalação Do ponto de vista estrutural, as paredes devem ser arranjadas de forma conveniente,
não deve ser feita em paredes estruturais. Se houver a possibilidade, a parede deve ser concebida possibilitando a transmissão das cargas verticais para a fundação, e existindo parede de con-
como de vedação. Alternativas mais racionais passam pelo uso de shafts, distribuição horizontal traventamento das duas direções para que o prédio, como um todo, tenha boa estabilidade la-
sob a laje e posicionamento das instalações fora da parede, sejam aparentes, escondidas em teral. Paredes com flanges transversais têm significativa maior inércia, resistência e ductilidade
carenagens ou em revestidos da parede. do que paredes simples, sendo recomendado ter várias paredes com esse arranjo distribuídas
Na maioria das aplicações, a configuração de uma parede em planta tem uma influência nas duas direções, especialmente para prédios mais altos. Se a seção da parede for ainda simé-
marcante na sua resistência. Para o caso comum de edifícios de múltiplos pavimentos, a parede trica, sua resposta é idêntica, independentemente do sentido do vento ou outra ação lateral.
geralmente tem apoio horizontal na base e no topo. Em construções térreas, entretanto, muitas As paredes de contraventamento são dimensionadas de maneira que o edifício como
vezes o topo da parede não possui travamento horizontal, sendo seu comprimento de flambagem um todo resista a forças laterais em duas direções principais e também à torção em planta. A
igual ao dobro da altura da parede, com grande influência na resistência tanto para cargas verti- grande maioria dos sistemas de laje comuns em edifícios de alvenaria estrutural não tem rigi-
cais quanto para ação lateral. Edificações térreas com paredes engastadas na base e livres no topo dez à flexão suficiente para ser considerada em conjunto com as paredes (em efeito de pórti-
são geralmente concebidas na forma de parede aletada ou duplo-aletada. O mesmo vale para co), tendo, entretanto, na maioria das vezes, rigidez axial suficiente para ser considerada como
muros de arrimo ou reservatórios e demais construções com ação lateral predominante. Outras diafragma rígido, igualando o deslocamento em cada parede a cada andar. Assim, as paredes
opções são possíveis, conforme mostrado na Figura 3.30{a). são geralmente dimensionadas independentemente do tipo de laje, com a preocupação apenas
Configurações permitindo que boa parte do material fique afastada no centroide da de detalhar corretamente a ligação entre esses elementos.
seção são mais resistentes e proporcionam maior rigidez. Algumas configurações para paredes Alguns arranjos simplificados são mostrados na Figura 3.31, com as paredes estruturais
isoladas, com variadas eficiências para resistir à ação lateral, são mostradas na Figura 3.30(b). mostradas com linha de dupla espessura e paredes de vedação com linhas finas. O arranjo
Outros fatores também levam em conta a definição da forma geométrica da seção, como a celular do caso (a), com paredes estruturais nas duas direções, é o mais robusto e de melhor
resistência à torção e à flexão na outra direção, espessura e comprimento dos blocos. estabilidade, uma vez que há contraventamento nas duas direções, as lajes trabalham em dois
Paredes com blocos vazados de forma simples têm baixa resistência à flexão na direção sentidos e há várias possibilidades de configurações estruturais estáveis caso uma das paredes
de menor inércia, que pode ser aumentada com a introdução de enrijecedores conveniente- seja removida por acidente. O apoio proporcional em duas direções dos painéis de laje é redu-
zido no caso (b) e sucessivamente até o caso (f), que se torna instável. Por esses vários layouts
mente espaçados.
150 COMPORTAMENTO E D!MENSlONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL
PROJETO DE EDIFÍCIOS 151

é fácil observar que aumentando o número de paredes de vedação diminui-se a rigidez do Embora se tenha discutido bastante a estabilidade lateral em edifícios de múltiplos pa-
prédio, devendo-se realizar o dimensionamento adequado em cada caso. vimentos, esse problema ocorre e pode ser relevante também em edificações térreas. A ação
Como comentado anteriormente, a rigidez à torção do prédio é também fundamental. lateral é menor nesses casos, mas muitas vezes a quantidade de paredes de contraventamento
Esta pode ser obtida com arranjos simétricos e posicionando paredes estruturais paralelas e de também, em caso de galpões, depósitos, entre outros. Deve-se atentar para esses casos a fim
grande rigidez com bom afastamento entre elas. De maneira genérica, um arranjo simétrico de não cair em situações de instabilidade à torção. Essa instabilidade pode ocorrer quando
com paredes estruturais concentradas no perímetro externo do prédio resulta na melhor re- inexistem paredes paralelas e de boa rigidez afastadas na planta do prédio, casos ilustrados na
sistência à torção. Figura 3.33. '
A Figura 3.32 mostra vários arranjos de paredes estruturais que impõem diferentes rigi-
dezes à torção ao prédio, assumindo que as paredes transversais são diretamente amarradas às

-
Sem resistência à torção
longitudinais. Nesse diagrama, a mesma área total de parede longitudinal é disposta em cada em torno deo
layout. A maior rigidez à torção é obtida no caso (a) com paredes simétricas e concentradas
nos cantos do prédio. Essa rigidez é proporcionalmente reduzida com o deslocamento do cen- - o

tro de rigidez por assimetria das paredes estruturais e com a concentração das paredes mais
próximas a esse centro.
Figura 3.33 Arranjos instáveis quanto à resistência à torção.
Diminuição na rigidez
3.7.5 Lajes

Os principais elementos estruturais em edifícios de alvenaria estrutural são as paredes,


lajes e coberturas e a fundação, Uma importante função estrutural tanto das lajes quanto de
coberturas é a de distribuir as ações laterais entre as paredes de contraventamento. Fora essa
função de diafragma, as lajes geralmente não têm nenhuma contribuição na resistência às
ações laterais. Lajes podem ser classificadas quanto ao seu comportamento para distribuir
as ações gravitacionais como apoiadas em uma ou duas direções. Também podem ser clas-
(d) Paredes cruzadas (e) Paredes cruzadas (f) Instável sificadas quanto ao seu método de construção, e a Figura 3.34 ilustra alguns casos. Podem
ser totalmente moldadas no local (a), parcialmente pré-moldadas em painéis pouco espessos
que formarão umaJaje maciça após a concretagem (b), totalmente pré-moldadas em painéis
Figura 3.31 Efeito do arranjo das paredes na "robustez" do prédio.
maciços (c), em lajes alveolares (d), ou em lajes íl (e), parcialmente pré-moldadas em vigotas
treliçadas que formarão um tipo de laje nervurada (g), entre outros.
Diminuição da rigidez à torção
A escolha do tipo de laje depende do número de andares, número de repetições da laje,
tamanho do empreendimento, disponibilidade de equipamentos, prazo de execução, entre ou-
tros. É importante que o tipo de piso e a espessura do contrapiso sejam definidos pela arquite-
tura, estrutura e a gerência da obra para que os carregamentos sobre a laje sejam corretamente
previstos. A necessidade de rebaixo em regiões de área molhada deve ser discutida; nas regiões
de banheiro, pode-se optar por utilizar piso elevado de acrílico ou poliéster no contorno do
box, evitando a necessidade de rebaixo.

Figura 3.32 Efeito do arranjo geométrico das paredes na resistência à torção.


152 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL PROJETO OE EDlffCIOS 153

Lajes pré-moldadas têm a vantagem de eliminar as formas e de poderem ser moldadas


com bom acabamento, muitas vezes dispensando outro acabamento na obra. Deve-se tomar
cuidado nas tolerâncias dimensionais para evitar erros na obra, e considerações devem ser feitas
sobre a necessidade de conexão entre os painéis para permitir o efeito de diafragma. As instala-
ções podem ser embutidas previamente na moldagem das peças, serem alocadas em eventuais
capeamentos, em vazios de lajes (comq as alveolares, por exemplo) ou, ainda, sob estas.
.. . . l
Quando o capeamento é executado, o escorameuto, se necessário, fica bastante facilitado.
(a) Moldada no local ' ·~,
O capeamento pode também servir para unir os painéis, melhorando a condição de diafragma
. ~~ rígido. Painéis alveolares, ou tipo !1, podem ser utilizados para grandes vãos e cargas elevadas,
X como no caso de garagens. Quando o capeamento armado com tela não é utilizado, é conve-
niente soldar inseris metálicos previamente ancorados nos painéis para melhorar a condição
de diafragma rígido, conforme Figura 3.35(d). Outras opções para a união dos painéis são in-
(b) Pré-moldada içada (e) Pré-moldada
dicadas nessa figura. Lajes pré-moldadas, sem nenhum detalhe que garanta a continuidade da
armadura positiva, não são tão robustas e têm redundância estrutural. A verificação de dano
acidental nesse caso só é possível considerando totalmente a perda de apoio em um dos lados '
do painel (uma laje apoiada nos quatro lados deve ser verificada com apenas três apoios para a
condição de dano acidental, com combinação para ações excepcionais).
(d) PréMmoldada alveolar com (e) Pré-moldada tipo PI
capeamento
Solda

,_____~-]~~ (d) Solda

(f) Vigota metálica com


capeamento de concreto
(g) Vigota e
capeamento
(h) Steel deck e

(b)
L24:1 (e) Solda

(i) PréMmoldada alveolar sem (j) Deck de madeira


capeamento
(e) (f)

Figura 3.34 Tipos de laje. Figura 3.35 Detalhe de ligação entre painéis de lajes pré-moldadas.

Lajes maciças geralmente são a opção de menor espessura e levam aos menores pés-direi- Para o caso de vigotas pré-moldadas, com enchimentos em blocos cerâmicos ou de iso-
tos do andar. Requerem grande uso de formas e concretagem no local e têm ainda a vantagem por, o escoramento é facilitado, pois o uso de armaduras treliçadas ou de vigotas protendidas
de poder ter o revestimento aplicado diretamente sob a face inferior da laje e de poder ter as garante uma boa condição de resistência das vigotas para resistir parcialmente às cargas de con-
instalações elétricas embutidas, ainda que mais recentemente o uso de instalações escondidas cretagem. As instalações, nesse caso, podem ser embutidas na laje. O efeito de diafragma dessas
sob a laje por um forro esteja se tornando mais frequente. Por serem totalmente moldadas no lajes depende se elas são armadas em uma ou duas direções e da espessura da capa. Geralmente
local, as lajes maciças oferecem um excelente efeito de diafragma. Para permitir resistência ao é aceitável a consideração desse efeito para esse tipo de laje em edifícios de até média altura.
dano acidental, é importante que haja continuidade da armadura positiva sobre os apoios. Para evitar patologias no último pavimento, deve ser prevista uma junta deslizante entre
as paredes do último andar, e a laje de cobertura também deve ser prevista, previsão de telhado
154 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL PROJETO DE EDJFÍCIOS 155

para proteção, juntas de controle nas lajes, entre outros detalhes. Alternativamente, uma efi- sendo suficiente a moldagem da laje sobre o topo da parede. Situações especiais devem ser
ciente proteção térmica da laje de cobertura, ainda associada ao uso de telhado e juntas entre convenientemente checadas. A Figura 3.37 ilustra o comportamento da ligação laje/parede.
os painéis, pode evitar o uso do apoio deslizante no topo das paredes. Em contrapartida, não se quer que haja transmissão de carga, vertical e lateral, da laje
A resposta da estrutura de edifícios de múltiplos pavimentos às ações laterais depende da para eventuais paredes de vedação. Nesse caso, a ligação é feita geralmente com uma argamas-
rigidez das lajes em seu plano para consideração do efeito de diafragma. O diafragma pode ser sa fraca apenas, após a construção de vários andares acima do andar da parede.
classificado como rígido ou flexível. Deve-se notar que a classificação não depende apenas do
tipo de laje, mas também da rigidez das paredes de contraventamento e do tipo de concepção
estrutural. Entretanto, como linha geral, uma laje de 60 mm produz um efeito de diafragma
rígido para a maioria das edificações. Força transferida do diafragma
De acordo com a NBR 6118, 57 a laje de um pavimento pode ser considerada como uma de laje para a parede
chapa totalmente rígida em seu plano, desde que não apresente grandes aberturas e cujo lado
maior do retângulo circunscrito ao pavimento em planta não supere em três vezes o lado me-
nor. A Figura 3.36 ilustra o conceito de diafragma rígido segundo a norma norte-americana
ASCE7.
Conforme comentado anteriormente, quando é possível a consideração do diafragma
Figura 3.37 Transferência de esforços do diafragma para as paredes.
horizontal como rígido, a distribuição das ações laterais é proporcional à rigidez de cada pa-
rede de contraventamento. No caso de diafragma flexível, a distribuição é feita pela área de
Em paredes de apoio de coberturas, geralmente se considera a estrutura do telhado sim-
influência. plesmente apoiada sobre as paredes. Nesse caso, o detalhe de ligação deve refletir essa hipótese,
além .de permitir a movimentação da cobertura sobre a parede.

Parede de Laje com junta para diminuir o


Considerado li("' contraventamento
diafragma tamanho dos panos
rígido se a < b

n Força lateral
' ' '

Figura 3.36 Definição de diafragma rígido conforme normalização norte-americana.

3 .7. 6 Conexões

Conexões adequadas de parede/cobertura, parede/laje e parede/parede são fundamen- Figura 3.38 Detalhe de parede de cobertura/laje.
tais para o desempenho estrutural do edifício. Estas devem ser estruturalmente adequadas,
protegidas contra ambiente adverso e satisfazer aspectos estéticos. Uma completa transferência de esforços entre paredes que se interceptam é comumente
Do ponto de vista estrutural, a conexão transfere esforços ou permite o movimento assumida no projeto, e, nesse caso, uma amarração, preferencialmente direta, deve ser detalha-
entre os elementos a serem ligados e determina, em grande parte, a validade das hipóteses da. Mais considerações são feitas no capítulo 10.
adotadas no cálculo. Ê, pois, fundamental que os detalhes de ligação previstos transfiram os . Quando uma parede de alvenaria é conectada a uma estrutura de concreto ou metáli-
esforços previstos no projeto e vice-versa. Em edifícios de alvenaria estrutural, a laje é assumi- ca, frequentemente se assume apenas a transmissão de esforços horizontais, querendo que a
da como um diafragma e, por isso, a ligação da laje com as paredes estruturais deve assegurar ligação permita a acomodação de deformações diferenciais. Ainda, existe a possibilidade de
que a força lateral seja transmitida na ligação. Geralmente, essa transmissão ocorre por atrito, considerar a alvenaria de preenchimento como parte do contraventamento do prédio, nesse
caso sendo necessário transferir os esforços no plano da parede. O detalhe de ligação deve
prever o comportamento adequado.
57 ABNT (2003).
PROJETO DE EDIFÍCIOS 157
156 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL

Em outras situações, deve-se projetar juntas para permitir a movimentação entre os


Encunhamento elementos estruturais. Por exemplo, uma parede de alvenaria cerâmica tende a expandir, au-
Deixar espaço de 3 cm e preencher com argamassa. Traço básico recomendado: 1:1:8 mentando de tamanho. A laje de concreto armado apoiada sobre ela tende a retrair e diminuir
(cimento:cal:areia), em volume+ aditivo adesivo PVA 1:15 (aditivo:água). de tamanho, especialmente nos primeiros anos. Nesse caso, uma junta deslizante é necessária
Fazer encunhamento após a execução de todas as paredes, aguardando pelo menos para permitir tais movimentos, porém também é necessária a transmissão das ações horizon-
15 dias, começando do último pavimento até o primeiro.
tais do diafragma (laje) para as paredes. Em certo grau, esses dois requisitos são contraditórios.
A solução consiste em prover o topo da pare& de uma superfície suficientemente lisa para
su permitir que a laje se mova livremente sobre a parede. O atrito entre a laje e a parede deve
º- ser suficiente para transmitir a força lateral. Para casos extremos de ações laterais de grande
~

V intensidade, conectores especiais podem ser previstos.


""'3 No dimensionamento das juntas, a movimentação prevista para cada elemento, a compres-
e
o
Tela para amarração N
·eo sividade do material selante e outros aspectos devem ser levados em conta. Como a junta normal-
a cada 3 fiadas mente fica exposta na fachada, seu aspecto visual e de durabilidade é importante, devendo ela ser
"'~ disfarçada ou escondida. Geralmente, as juntas devem ter dimensões próximas das costumeiras
Espaçamento entre .2-
usadas na construção da parede.
pilar e alvenaria de
Pilar 10
1,5 cm e 2,5 cm
Espaçamento entre pilar 3 .7. 8 Fundação
e alvenaria entre 1,5 cm e 2,5 cm
Junta horizontal entre O cm e 1,5 cm
As fundações de um edifício de alvenaria estrutural ficam bastante simplificadas quan-
Junta horizontal entre O cm e 1,5 cm do as paredes chegam até o solo. Como os carregamentos se distribuem entre as paredes es-
truturais, e estas geralmente são bastante extensas, são transmitidas tensões baixas ao solo.
Detalhe da ligação entre parede e pilar Quando o solo é de boa qualidade, o uso de sapatas corridas é uma solução bastante eficiente.
Se o solo não for de boa qualidade, podem ser utilizadas estacas de pequena capacidade, pouco
Pino de aço espaçadas, e vigas baldrame. Como as estacas são pouco espaçadas, as vigas têm dimensões
• • pequenas e não necessitam de armação pesada .
Entretanto, muitas vezes o pavimento térreo é aproveitado como garagem e/ou con-
tém grandes modificações arquitetônicas em relação ao pavimento-tipo, não permitindo que
Cantoneira de aço
as paredes estrutur~is cheguem ao solo. Nesses casos, a solução estrutural é a criação de um
Tela metálica
malha 15 x 15 mm pavimento de transição (comumente chamado de pilotis), lançando-se pilares e vigas para
fio 0 1,6 mm possibilitar a criação de espaços maiores e acomodar as necessidades da arquitetura. A fun-
dação desse tipo de edifício é bastante próxima dos casos em estrutura convencional, pois os
Figura 3.39 Detalhe típico de ligação de alvenaria de vedação e pilar de concreto em edifício residencial. carregamentos do prédio chegarão ao solo concentrados em pilares. Há apenas uma pequena
diminuição nas cargas, pois o peso próprio da estrutura/vedação de um edifício em alvenaria
3 .7.7 Juntas de dilatação e controle estrutural é um pouco menor.

juntas entre elementos frequentemente são ligações fracas onde umidade, som, calor,
vento e fogo podem penetrar e, portanto, devem ser protegidas contra esses fatores. Fissuras ou 3.8 Aspectos econômicos
mesmo abertura de juntas podem ocorrer devido à movimentação diferencial dos elementos.
A proteção contra a entrada de umidade é uma importante consideração em edifícios O desempenho econômico de qualquer edifício envolve custos associados a terreno,
de alvenaria. A execução de juntas é geralmente complicada pela necessidade de instalação de fundações, superestrutura, revestimentos, técnica construtiva, instalações, manutenção, ta-
barreiras impermeáveis, selantes, entre outros. Exceto se um detalhe especial for previsto, nor- xas, projeto, entre outros. Estes podem ser divididos em custos iniciais e de manutenção e
malmente a junta não transmite nenhum tipo de esforço, o que deve ser considerado no projeto. operação a longo prazo. A experiência mostra que quando a arquitetura é favorável, geral-
mente o custo da opção em alvenaria estrutural é menor quando comparada a outros sistemas

1
.J
158 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE AlVENAR!A ESTRUTURAl PROJETO DE EDlfÍC!OS 159

estruturais/construtivos. Estudos mostram que essa economia pode variar de 30% para pré- de maneira a produzir um edifício a um custo adequado, durável e com baixa necessidade de
dios baixos de quatro andares sem pilotis a 5% para edifícios altos de cerca de 20 pavimentos manutenção.
com pilotis, térreo e subsolo. A visão geral fornecida neste capítulo será aprofundada nos capítulos seguintes, que
Conforme discutido no item anterior, as fundações são normalmente simplificadas, tratam de dimensionamento dos elementos de alvenaria e do edifício como um todo. A im-
especialmente se as paredes estruturais chegam até o solo. A superestrutura consiste basi- portância do planejamento inicial não deve ser desprezada. As decisões feitas nessa fase inicial
camente de lajes e paredes, não sendo necessários detalhes especiais de ligação entre esses serão fatores-chave que influenciarão _nas demais fases do projeto e no custo e desempenho
elementos. O tipo de laje é normalmente escolhido pela opção mais econômica para a situação do edifício. /
do empreendimento (ver item anterior).
Geralmente, a opção de menor custo é aquela cuja maior parte das paredes é estrutural,
exceto aquelas onde existirão instalações hidrossanitárias ou a arquitetura considera a opção 3. 1O Exercícios
de removê-las para possibilitar variação na planta do apartamento.
A economia iudicada para o edifício em alvenaria estrutural está relacionada com a 1. Indique as principais fases no processo de projeto de um edifício.
diminuição de outros custos além da estrutura e vedação. Como os blocos são de excelente
qualidade, com rigoroso padrão dimensional, a construção rigorosa da parede, mantendo-se 2. Indique combinações de ações e coeficientes de minoração da resistência do material
o prumo e os demais requisitos geométricos, permite que a espessura do revestimento seja a utilizado no dimensionamento de alvenaria estrutural pelo Método dos Estados Limites.
mínima necessária, sendo este um importante fator redutor de custo.
A execução do edifício, apenas se necessitar de mão de obra para a construção das 3. Indique fatores que determinam as forças laterais (vento e desaprumo) a serem consi-
paredes, pode ser bastante econômica. Os blocos são assentados rapidamente na obra sem a deradas no projeto de um edifício de alvenaria estrutural.
necessidade de equipamentos especiais, e não são necessárias formas e armações complicadas
para essa etapa. Existem, portanto, menor quantidade de tipos de materiais e processos para 4. Considerando os envelopes externos abaixo, proponha a distribuição de cõmodos e
serem comprados, programados e controlados. A parede ganha resistência rapidamente e um de paredes estruturais. Considere o máximo vão de laje igual a 6,0 metros e a relação
tempo mínimo de espera é necessário antes da construção do pavimento superior. Casos de mínima entre o comprimento médio de paredes por m 2 de planta igual a 0,08 mim' em
construção de edifício com cada pavimento finalizado a cada três dias, quando a laje é pré- cada uma das direções X e Y.
-moldada, não são incomuns. Para lajes moldadas no local, é comum a construção de um
andar por semana. O assentamento dos blocos, de dimensão razoavelmente maior que de
um tijolo comum, é geralmente mais econômico e produtivo em razão de seu menor peso
e quando a distribuição destes é planejada de forma modular, sem cortes (padrão para alve-
naria estrutural). A múltipla função das paredes (estrutural, estética, de compartimentação, N
~r

~][==]·
isolamento térmico e acústico) permite uma grande competitividade da solução em alvenaria
a
estrutural. o
"'
Todos esses aspectos positivos podem ser otimizados na fase de concepção e projeto, de
acordo com as características de cada empreendimento. Se feita corretamente, a construção é
extremamente durável, com mínima manutenção, como podem atestar as inúmeras constru-
ções históricas ainda hoje existentes.
1 30m 1
~I 30m

(a) (b)

Figura 3.40 Planta para exercícios.


3.9 Considerações finais
5. Um edifício residencial de 10 andares (9 pavimentos-tipo+ térreo), altura total= 30,0 me-
Este capítulo tratou dos fatores principais a serem considerados no projeto de edifícios
tros, vai ser construído em uma pequena cidade do interior e será a primeira edificação
de alvenaria. O entendimento da multiplicidade de fatores envolvidos nas definições e nas
com mais de dois pavimentos da cidade. As dimensões em planta são as da Figura 3.39(a).
inter-relações entre os diferentes requisitos de desempenho é muito importante, especialmen-
Calcule a força de vento X e o desaprumo em cada andar e indique em que posição esta
te na fase de concepção do empreendimento. Os diferentes requisitos - estrutural, funcional,
deve ser considerada em planta.
ambiental, estético, que algumas vezes podem ser conflitantes - devem ser levados em conta
160 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL

6. Para o edifício do exercício anterior, calcule o fator de segurança contra tombamento,


considerando a direção X e carga vertical permanente média igual a 9 kN/m 2 em cada CAPÍTULO 4 ....................." " " " ' - - - - - - - - - - - - -
pavimento. Materiais da alvenaria
7. Ainda para o edifício anterior, calcule a máxima força de cisalhamento e o momento em
cada pavimento devido ao vento X e desaprumo.

8. Fotografe ou faça um esboço de um edifício em alvenaria estrutural de sua cidade e


avalie criticamente a concepção e distribuição das paredes em relação ao desempenho
estrutural, funcional, ambiental e estético.

Figura 4.1 Blocos para alvenaria estrutural.

4. 1 Introdução

Construções em alvenaria empregam blocos, argamassa, graute, armaduras, telas e


outros materiais, como os de impermeabilização. Neste capítulo, as características de cada
material, apresentadas individualmente, são discutidas com especial ênfase nas características
que influenciam a resistência e o desempenho a longo prazo. As interações e propriedades da
combinação entre esses materiais serão tratadas no capítulo seguinte.
As unidades de alvenaria, geralmente blocos quando têm função estrutural, são feitas
de cerâmica, solo-Gimento, concreto, sílico-calcário (areia e cal), pedra e vidro, sendo mais
comuns os de cerâmica e de concreto. O primeiro passo para o entendimento da alvenaria é
entender as propriedades básicas das unidades. A necessidade de determinar as propriedades
básicas dos materiais é brevemente discutida na seção seguinte. Nas demais seções apresen-
tam-se informações específicas para cada tipo de material.

4.2 Propriedades básicas dos blocos e tijolos


4.2. l Descrição de blocos e tijolos

Para ajudar na discussão a seguir é conveniente apresentar os termos mais comuns uti-
lizados para descrever blocos e tijolos. Como mostrado na Figura 4.2, os blocos estruturais ge-
ralmente são assentados com a maior dimensão na horizontal (comprimento) e com os furos
na vertical. A superfície vertical exposta é a face do bloco e define sua altura. As laterais são
as faces verticais perpendiculares às fiadas horizontais .. A Figura 4.2 indica essas referências.
Wfo/$';J;;c:_o .:~,;:o~,'1 ~'' '"'"0 :;,-;:~,~~ &ô Nm
t;;BlJ(JT~C,/1, ,~:.c:?·-l-rRAL
" l1LL\ íiitJ\IiED~"
1
162 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL MATERIAIS DA ALVENARIA 163

o comprimento e a altura dos blocos são padronizados para cada família dimensional. O
módulo vertical é geralmente padronizado em 20 cm, com junta horizontal de 10 mm de altura.
As dimensões horizontais para edifícios, normalmente construídos com blocos de 14 cm de
espessura, mais comuns são de 29 e 39 cm e junta de 1O mm, configurando módulo horizontal
de 15 ou 20 cm. No caso de edificações industriais e comerciais, é comum o bloco de 19 cm de
espessura e módulo vertical e horizontal de 20 cm, Figura 4.5.
unta ' 1
12 junta
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junta
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2
junta
600mm 600mm

Figura 4.4 Exemplos de modulação vertical e horizontal de 20 cm.

Figura 4.2 Definição de referência às dimensões do bloco, componente básico da alvenaria. 58

14
Dimensão nominal
15
Espaço de coordenação
(a) Maciço (b) Perfurado (e) Com rebaixo

Coordenação modular
Parede transversal ~ , -~Vazado
Figura 4.5 Dimensão nominal, espaço de coordenação e coordenação modular [cm]. 59

Parede central _ _ /
(d) Vazado
~
. Parede longitudinal
Tradicionalmente, as características das unidades são baseadas na área bruta (ver capítu-
lo 2 para definição de área líquida, bruta e efetiva) independentemente da existência de vazios
nos blocos. A normalização brasileira recentemente revista indica que o cálculo deve ser basea-
Figura 4.3 Formas e terminologia de blocos e tijolos. do na área bruta, excetuando-se algumas situações específicas. Entretanto, em algumas análises
mais refinadas, pode ser necessário o uso da referência área líquida, corno na verificação precisa
de esbeltez (paredes altas) ou da flexão. Nos casos em que as partes maciças do bloco não se
alinham perfeitamente na vertical ou em situação em que a argamassa é disposta apenas nas
paredes longitudinais dos blocos, é preciso verificar a área efetiva no dimensionamento.

58 Grabarz (2011). 59 !d. ibid.


MATERIAIS DA ALVENARIA 165
164 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE AlVENAR!A ESTRUTURAL

Os vazios que se estendem por toda a altura do bloco são chamados de vazados (quando 4.2.2 Formas usuais
a área do vazio é proporcionalmente grande em relação à área do bloco) ou furos (de menor
dimensão). Tijolos maciços, às vezes, possuem um rebaixo na parte central (Figura 4.3(c)), Os blocos estruturais de maior disponibilidade no mercado brasileiro e consequen-
para diminuir seu peso ou para possibilitar encaixes em sistemas modernos. Em alguns países temente utilizados são os de concreto e cerâmico. Blocos vazados (Figura 4. 7) são comuns,
é comum a existência de endentações nas extremidades de blocos vazados (Figura 4.3(e)) para existindo ainda outras formas apresentadas nos itens seguintes. Os componentes usuais são
apresentados na Tabela 4.1 e da Figur~ 4.8 à Figura 4.10. A coordenação modular de todos os
facilitar seu posicionamento.
Para blocos vazados, como o mostrado na Figura 4.3(d), as paredes do bloco ao longo componentes de edificações deve respeitar a NBR 15873:2010.60
de sua direção horizontal são chamadas paredes longitudinais, sendo as demais chamadas de
paredes transversais. A parede transversal do meio do bloco é muitas vezes chamada de parede
central. Blocos produzidos por processo de extrusão (como os cerâmicos) têm a seção cons-
tante ao longo da altura, não havendo variação na dimensão do vazado. Blocos produzidos em
moldes (como os de concreto) normalmente têm o vazado inclinado (variando de tamanho ao
longo da altura) para facilitar o desmolde.
Pequenos vazados ou furos próximos à parte central do bloco têm pouca influência no
momento de inércia e no módulo de resistência em torno do eixo longitudinal da parede (fle-
xão fora do plano). Portanto, unidades com menos de 25% de vazios (mais de 75% sólidos) são
geralmente caracterizadas como maciças. Como mostrado na Figura 4.6, a redução na inércia, Figura 4.7 Formas usuais de blocos vazados de concreto e cerâmicos. 61
nesses casos, é pequena e proporcionalmente bem menor que a redução de área. Como a re-
sistência à compressão é sempre especificada na área bruta, a simplificação de considerar esse Tabela 4.1 Padrões ~imensionais usuais para blocos. 62
bloco como maciço é a favor da segurança, apesar de pequenas diferenças ocorrerem quando
da verificação da flexão.
Blocos com menos de 75% de área maciça são chamados vazados (ou perfurados, se hou- Inteiro - princip'al
ver vários furos). Nesse caso, o erro em se considerar a área bruta para dimensionamento da fle- Nominal 14xl9x29 14xl9x39 19xl9x39 11,5X19 X 39 ll,5xl9x24
Coordenada 15x20x30 15x20x40 20x20x40 12,5 X 20 X40 12,5x20x25
xão é maior, e o projetista pode optar por verificações mais precisas considerando a área efetiva.
É interessante notar que blocos podem ser mais do que 75% maciços em relação à área Meia-peça

de projeção horizontal, mas ser muito menos de 75% maciços em relação à sua área da seção Nominal 14xl9xl4 14xl9xl9 19xl9xl9 ll,5x 19x 19 11,5 X 19 X 11,5
Coordenada 15x20xl5 15x20x20 20x20x20 12,5 X20 X20 12,5 X 20 X 12,5
vertical. Essa característica é parcialmente responsável pelo comportamento anisotrópico
Amarração
observado em alvenarias.
Nominal 14xl9x44 14xl9x54 11,5 X36,5 X 19
Coordenada 15x20x45 15 X20 X 55
-
12,5 X37,5 X20
-
Nominal l4x19x34
2 Coordenada - 15x20x35 - - -
Area bruta= 171,00 cm 1 1 1

Área líquida= 142,15 cm 2 A.JUS t e


Porcentagem maciça= 83% Nominal 14xl9x4 19xl9x4 ll,5xl9x4
-
Coordenada l5x20x5 20x20x5 12,5 X 20 X5
Momento de inércia
Nominal 14xl9x9 19xl9x9 11,5 X 19 X 9
Área bruta= 1154 cm4 -
12,5 X 20 X J0
Coordenada 15x20xl0 20x 20X10
Área líquida= 1132 cm 4
Relação líquida/bruta = 98%

60 ABNT (2010).
Figura 4.6 Pequenos vazados em tijolos maciços e sua pouca influência nas propriedades físicas.
61 Grabarz (2011).
62 !d. ibid.
l

MATERIAIS DA AlVENARIA 167


l 66 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO Df AlVENAR!A ESTRUTURAL

4. 2. 3 Propriedades dos blocos

Resistência à compressão
A resistência à compressão é utilizada há muito tempo como a principal medida de
qualidade de um bloco, bem como, indiretamente, para prever as demais características da al-
venaria. O ensaio à compressão dos blocos normalmente requer que estes sejam capeados para
reduzir a rugosidade e falta de planiddade da~ faces. Capeamentos rígidos, antes geralmente
feitos com enxofre, são hoje comuns em pasta ou argamassas de cimento, sendo tais capea-
mentos recomendados pelas normas brasileiras atuais. Alternativamente, capeamentos com
materiais macios, como forro pacote ou chapa dura de fibra de madeira, têm sido utilizados,
apesar de esse tipo de capeamento não ser normalizado. O uso de capeamentos macios tem a
vantagem de ser um procedimento a seco, sem necessidade de cura, que facilita e diminui o
Figura 4.8 Componentes básicos da família de blocos 14 x 19 x 39 cm. 63 tempo de preparação do ensaio. Também tem sido argumentado que esse tipo de capeamento
reduz os efeitos de confinamento das placas de aplicação de cargas da prensa, levando a resul-
tados mais representativos. Capeamentos rígidos geralmente levam a resultados de resistência
mais elevados, conforme indicado na Figura 4.11.
~19
w
r
30
li Capeamento rígido (pasta de cimento)
Capeamento macio (fibra de madeira)

19

Figura 4.9 Componentes básicos da família de blocos 19 x 19 x 39 cm."

lScm 20cm 20cm


Tamanho da unidade (bloco)

Figura 4.11 Influência do material de capeamento na resistência à compressão.

Figura 4.10 Componentes básicos da família de blocos 14 x 19 x 29 cm.65 A razão entre a altura e espessura do bloco pode levar a grandes diferenças na resis-
tência à compressão aparente. Isso ocorre principalmente pelo efeito de confinamento das
placas de ensaio. Sob uma compressão axial, o material tende a expandir lateralmente (efeito
63 !d. ibid.
de Poisson). Quando essa expansão é restrita pelo atrito das faces do bloco com as placas de
64 !d. ibid.
ensaio, tensões horizontais de confinamento surgem, resultando em um estado de tensões
65 !d. ibid.
168 COMPORTAMENTO E OIMENS!ONAMENTO OE ALVENARIA ESTRUTURAl MATERIAIS DA ALVENARIA 169

triaxial. O efeito de aumento da resistência à compressão nesse caso é largamente conhecido e


ocorre aqui também, havendo um aumento na resistência à compressão aparente e diminuição
das deformações axiais. Quando analisados os resultados desse ensaio, desde que esse efeito
seja reconhecido e as correções realizadas, não há maiores problemas em se adotar um capea-
mento rígido para controle de materiais. Entretanto, no caso de pesquisas e desenvolvimento
de produtos, modelos mais precisos e resultados mais representativos são desejáveis. O uso de
capeamento macio, folhas de teflon e engraxamento das placas de ensaio pode, em diferentes
níveis, reduzir o atrito e o efeito de confinamento em ensaios de blocos. Andolfato et al. 66
apresentam estudo comparativo com vários tipos de capeamento. (a) (b)
Recentemente tem-se tornado mais frequente o procedimento de retificação das faces Figura 4.13 (a) Placa tipo "escova''. (b) Ruptura de um tijolo.
do bloco para ensaio à compressão, atualmente permitido pela normalização de blocos de
concreto NBR 12118:2010,67 conforme Figura 4.12. Ensaios em pequenos corpos de prova prismáticos ou testemunhos retirados de um blo-
co normalmente resultam em propriedades distintas das observadas no ensaio do bloco. As
diferenças podem ser explicadas pela diminuição do efeito de confinamento, eliminação dos
efeitos da geometria do bloco e efeitos de escala genéricos. A resistência à compressão de blocos
na direção horizontal difere bastante da resistência na direção vertical (normal à face de assenta-
mento). Na maioria das vezes, essa diferença pode ser atribuída à geometria do bloco e efeitos de
confinamento das placas em função da diferente razão altura/ espessura. Em alguns casos, como
em blocos de pedra, essa diferença pode ser explicada por característica do próprio material.
O diâmetro prato rotulado de aplicação de carga em máquinas de ensaio à compressão é
geralmente menor que o comprimento de blocos. Portanto, para que haja uma razoável distri-
buição uniforme da força de compressão da máquina sobre a face do bloco, é necessário o uso,
ainda, de uma placa de apoio. Segundo a normalização norte-americana, a espessura dessa pla-
ca não pode ser inferior à distância entre a circunferência do prato e o canto mais distante do
bloco (ver figura na descrição do ensaio à compressão de prisma no capítulo seguinte). Para um
prato de 230 mm de diâmetro e blocos de 190 x 390 mm, a espessura mínima da placa de apoio
deve ser de 100 mm, Uma recente atualização na normalização brasileira68 trata o problema
de forma um pouco diferente, indicando espessura mínima da placa de apoio igual a 50, 75 ou
100 mm para cargas de ruptura até 1.000, 2.000 e 3.000 kN, respectivamente. O uso de placas
Figura 4.12 Retificação de blocos de concreto (cortesia Ernesto Silva Fortes). menos espessas propiciará resultados menores. A alternativa de ensaiar meio bloco (ou outras
partes) introduz diferentes efeitos de geometria e escala, e devem ser avaliados com cautela.
Outra maneira de reduzir esse atrito é através de uso de placas tipo "escovà', como Também existe uma preocupação na normalização brasileira em não submeter o bloco à
visto na Figura 4.13(a). Nesse tipo de placa, vários pinos tipo pregos formam a escova, que condição de cura diferente do seu procedimento usual de fabricação. Por exemplo, blocos de con-
tem resistência muito pequena ao deslocamento lateral e, portanto, não produzem efeitos de creto que foram molhados durante o procedimento de retífica não podem ser secados em estufa
confinamento uma vez que o bloco pode expandir lateral e livremente. com temperaturas elevadas, pois, nesse caso, estariam sendo submetidos a um processo que pode
elevar sua resistência à compressão de maneira não consistente com o processo de fabricação.

Módulo de elasticidade e diagrama tensão-deformação


Embora o módulo de elasticidade e o diagrama tensão-deformação de conjuntos de
alvenaria (como o prisma) sejam os utilizados em projetos, essas propriedades do bloco são

66 Andolfato et ai. (2008).


67 ABNT (2010). 68 Idem.
170 COMPORTAM€NTO E DIMENSIONAMENTO OE ALVENARIA ESTRUTURAL MATERIAIS DA ALVENARIA 17]

importantes para permitir análises precisas em pesquisas ou projetos com modelos refinad~s.
p
Tipicamente, 0 módulo secante entre Oe 33% da resistência do bloco é indicado como referência.
Embora os materiais da alvenaria sejam considerados frágeis, diagramas tensão-defor-
mação apresentando um trecho de curva de deformação descendente ou_ trech~s de softening
f= p
são normalmente obtidos em blocos de concreto. O rompimento repentino prox1mo ao pico ' -A

de tensão é geralmente resultado da falta de possibilidade de controle do equipamento de


ensaios, e não uma característica do material.
(b) Ensaio de tração na flexão
Resistência à tração p
Conhecer a resistência à tração de blocos de alvenaria é importante para entender de (a) Ensaio de tração direta
maneira correta os mecanismos de ruptura. Por exemplo, a flexão de um painel de alvenaria
Plano de fendilhamento
em um vão horizontal pode resultar em fissuras verticais passando pelo bloco em fiadas alter-
nadas. Nesse caso, a resistência à tração do bloco pode ser determinante na ruptura. A ruptura
de uma parede, quando submetida à carga de compressão, muitas vezes está relacionada com
o limite de resistência à tração do bloco.
Ensaios de tração direta podem ser realizados em blocos inteiros ou em corpos de pro-
va cortados do bloco. Entretanto, esses ensaios são difíceis de realizar e levam a resultados
(e) Ensaio de tração indireta
com grande variabilidade por conta da dificuldade de alinhamento do corpo de prova no
equipamento de ensaio e pela concentração de tensões associadas à prensagem dos apoios Figura 4.14 (a) Ensaio de tração direta. (b) Ensaio de tração na ruptura. (e) Ensaios de compressão
para prender o corpo de prova na máquina. Alternativamente, ensaios de tração na flexão transversal.
são utilizados com resultados estimados na básica teoria linear e elástica da resistência dos
materiais, como indicado na Figura 4.14(b). Como ocorre em outros tipos de materiais, ore- Massa, densidade, volume e área
sultado da resistência de tração na flexão é consideravelmente maior que o de tração direta. A A massa pode ser determinada simplesmente pesando-se o bloco após secagem em
explicação para esse fator é que, na flexão, apenas uma pequena parcela das fibras próximas à estufa conforme procedimento padronizado em normas" para remover toda a água que possa
extremidade está com deformações máximas e consequentemente tensões máximas, estando eventualmente haver nas unidades. Se o volume for bem definido (por exemplo, blocos de
a região central com baixas tensões e deformações. seção constante ao longo da altura, tijolos maciços), então a densidade é simplesmente o peso
Os dois métodos de ensaio anteriores exigem um tempo de preparação razoável e têm dividido pelo volume.
resultados com elevado coeficiente de variação. Outro ensaio normalmente realizado é o de Quando furos, vazados ou rebaixas têm inclinação, a determinação da área líquida e
tração indireta, no qual é aplicada uma compressão transversal e se consegue medir a resistên- volume é dificultada. Uma maneira de se estimar o volume é imergir o bloco em um recipiente
cia à tração por fendilhamento. A tensão calculada para a quase constante tração existente na cheio de água e verificar a alteração de volume. Um método mais preciso (especificado nas
parte central do corpo de prova sob a linha de carregamento tende a ser semelhante à obtida normas) é pesar o bloco suspenso dentro da água. O bloco é então retirado da água, enxugado
na tração direta, mas com coeficiente de variação menor. com um pano úmido e seu peso saturado, obtido. Seca-se, então, em uma estufa ventilada na
temperatura entre 100 e 115 ºC por não menos que 24 horas, até que duas medidas de peso
obtidas em intervalos de duas horas não resultem em diferença superior a 0,2%. A área líquida
pode, assim, ser obtida por:

69 ABNT (2010) e NBR 15270-3 (ABNT, 2005).


l 72 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL /IAll.TERIAIS DA ALVENARIA 173

em que: é chamado de índice de Absorção Inicial (AAI) e consiste inicialmente em obter o peso de
m em são as massas saturada (obtida após a retirada da água) e aparente (dentro d'água); água absorvido durante um minuto para um bloco com a face imersa 3 mm dentro da água. O
" '
y é a densidade da água; valor de AAI é então calculado e expresso em (g/193,55 cm2)/min.
H é a altura do bloco.
Variações volumétricas
O volume pode ser obtido multiplicando-se o resultado por H, e, com esse valor, ob- A variação dimensional que ocqrre em função da variação de temperatura é determina-
tém-se a densidade. Esse ensaio é fácil de ser realizado, mas deve-se tomar o cuidado de evitar da através do coeficiente de dilatação térmica, e para grande parte dos materiais utilizados na
que se perca água Jogo após a retirada do bloco de dentro dela, ou pode-se perder precisão e construção de edifícios é razoavelmente pequena na faixa de temperatura usual. O coeficiente
subestimar a área líquida. pode ser determinado pela medição do aumento de comprimento após um determinado in-
cremento de temperatura, sendo importante nesse ensaio certificar que todo o corpo de prova
tenha atingido a mesma temperatura e que não haja erros de medição na instrumentação.
Utilizando um relógio comparador de alta precisão, variações dimensionais em blocos
podem ser medidas para aferir propriedades de retração ou expansão higroscópicas. Essas
propriedades normalmente são expressas em termos da deformação obtida pela variação di-
mensional pelo comprimento do relógio comparador. De maneira semelhante, pode-se medir ,
Área líquida Resistência à compressão Retração
variações por fluência, que geralmente é expressa pelo coeficiente de fluência, obtido pela de-
formação ao longo do tempo pela deformação inicial sob determinado nível de tensão. Por
exemplo, se um corpo de prova é carregado até que tenha uma deformação de lOOxlO·' e
apresente uma deformação diferida ao longo do tempo (sob o mesmo carregamento constante)
igual a lOOxlO·', então o coeficiente de fluência é igual a 2,0. Existem várias expressões para
estimar a taxa de fluência ao longo do tempo, normalmente expressas linearmente em relação
Tolerância ditnensional Tolerância dimensional Absorção de água inicial ao logaritmo do tempo. Além de se levar em conta as deformações das unidades em projetos
largura cotnprünento de alvenaria, é muito importante conhecer as deformações dos materiais em conjunto: bloco,
argamassa e graute.

Eflorescência
Sais e outros materiais solúveis frequentemente existem em materiais básicos usados para
produzir blocos, argamassa e graute. Esses sais podem ser carregados para a superfície da alvena-
Desvio em relação Desvio em relação Espessura das paredes ria pela água migrando através da parede e, então, depositados na superfície após a evaporação
à planeza ao esquadro do bloco da água. Como mostrado na Figura 4.16(a), esses depósitos são conhecidos como eflorescência.
Quando essa manifestação é uniforme na superfície da parede e apenas ocorre em estágios iniciais
Figura 4.15 Ensaios das propriedades de blocos. da construção, a lavagem pela água da chuva ou com spray pode ser suficiente para limpá-la. En-
tretanto, a manifestação persistente ao longo do tempo pode levar ao desplacamento das paredes
Teor de umidade e índice de absorção de água dos blocos e prejudicar substancialmente o desempenho da parede. Uma vez verificada, existem
O teor de umidade de um bloco é simplesmente a diferença de peso antes de ele ser seco poucas ações possíveis para corrigir essa manifestação, a não ser impedir a entrada e saída de água
em estufa e o peso após a secagem dividido pelo peso seco (em%). O índice de absorção é da parede.
obtido de forma semelhante, porém com o peso inicial obtido após os blocos ficarem imersos Outro problema que ocorre com a migração de sais solúveis para superfície da parede é
em água por 24 horas em temperatura ambiente. Alternativamente, a massa saturada pode ser que a secagem rápida pode ocasionar a cristalização de sais dentro do bloco. As tensões inter-
obtida após 2 horas de imersão em água fervente. Em alguns países frios, limita-se a absorção nas resultantes dessa cristalização podem causar um dano mecânico e levar ao desplacamento
de água para haver uma maior durabilidade a ciclos de congelamento e descongelamento, e fissuras em casos extremos.
sendo o ensaio em água fervente mais relevante para essa situação.
Além da absorção total, a taxa de absorção tem uma importante influência na interação
entre a argamassa fresca e o bloco. O procedimento padronizado para medir essa propriedade
174 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL MATERIAIS DA AlVENARIA 175

4.3. l Produção

Materiais básicos
Blocos ou tijolos cerâmicos são em sua maioria produzidos de argila superficial for-
mada pela degradação de rochas por erosão, por ataque químico ou por atividade vulcânica.
Normalmente as jazidas são formadas,por proc,esso aluvial, em que pequenas partículas são
carregadas, encontradas à margem de rios. Também podem ser feitos de argila xistosa ou
refratária (muito resistentes ao calor). Esses materiais são formados por silicatos de alumina
com diferentes tipos e quantidades de óxidos metálicos e outras impurezas. Os óxidos metá-
licos, apesar de tecnicamente serem considerados impurezas, definem características como
Figura4.16 (a) Eflorescência. (b) Desplacamento. a coloração e temperatura de fusão e queima da argila. O óxido de ferro é encontrado em
cerâmicas vermelhas, que são queimadas a temperaturas por volta de 900 ºC.
O histórico de desempenho de um tipo particular de bloco é provavelmente o melhor Como os materiais básicos têm características variáveis, muitas vezes é necessária a
teste a ser realizado em relação ao potencial de eflorescência. Entretanto, a fonte dos sais pode mistura de mais de um tipo de argila de diferentes argilas para se obter um material com qua-
ser identificada por ensaios de laboratório (CSA A82-06). Um método é selecionar um par lidades e características desejadas. Grandes porções de argila passam por um processo inicial
de blocos, imergir um dos pares dentro de 25 mm de água destilada por sete dias em um de britagern e moagem.
ambiente seco e manter o outro bloco sem contato com a água, no mesmo ambiente. Qual-
quer diferença observada na superfície dos blocos em determinadas condições de distância e Processo de fabricação
iluminação indica a existência de eflorescência. Um interessante resumo sobre eflorescência O processo básico de fabricação não sofreu grandes alterações ao longo dos últimos
incluindo mecanismo de formação, cuidados para evitar, ensaios e remoção é encontrado em 200 anos. Melhorias ocorreram no processo de seleção e preparação dos materiais básicos, no
Miller & Mellander. 70 Outra boa referência é Uernoto." processo de queima, na mecanização e automação da fábrica.
Os três processos básicos de fabricação de tijolos ou blocos cerâmicos diferem no con-
Durabilidade teúdo de umidade do material argiloso após este ter sido transformado em uma massa plásti-
A observação do desempenho adequado de determinado tipo de bloco ao longo do ca, geralmente através da adição de água em um misturador onde esta é cortada e misturada.
tempo em condições reais de uso é o melhor indicativo de boa durabilidade. Em países sujeitos A massa passa ainda por um laminador, onde é novamente moída.
a condições climáticas de muito frio, um fator determinante para a durabilidade é a resistên- O processo mais desenvolvido envolve a extrusão da massa plástica para formar os blocos
cia a ciclos de congelamento e descongelamento. Em geral, a garantia de durabilidade está em uma extrusora (!'igura 4.17(a)), também chamada de rnarornba. A quantidade de água da
associada ao detalharnento do projeto, detalharnento e execução correta da construção, com mistura é entre 12 e 15% do peso seco, e sendo adicionada apenas a quantidade de água necessá-
especial atenção aos detalhes destacados no capítulo anterior. ria para plasticidade. Uma câmara a vácuo no interior da extrusora retira todo o ar ainda existen-
te na mistura. Por um sistema de rosca contínua de forma helicoidal, a massa é empurrada sob
pressão através de uma boquilha, que define a seção transversal do bloco, e eventuais texturas ou
4.3 Blocos cerâmicos ranhuras na superfície do bloco. É nessa etapa que o bloco é marcado e identificado. Após uma
barra de comprimento suficiente ter sido extrudada, os blocos são cortados em sua altura final
Tijolos cerâmicos são as unidades de alvenaria mais utilizadas ao longo do tempo em com o uso de fios. Em algumas fábricas, esse processo é contínuo, cortando-se individualmente
várias partes do mundo. Seu uso costuma ser economicamente viável pelo fato de existirem um bloco atrás do outro. Outro processo, que geralmente leva a menores dispersões na altura
jazidas de argila em diferentes regiões. O largo histórico de durabilidade e boa aparência final do bloco pronto, consiste em aguardar que uma barra de massa plástica de comprimento
com baixa manutenção tem contribuído para seu uso continuado em construções modernas. suficiente seja extrudada e, então, corta-se urna quantidade de blocos, sendo as pontas da barra
Tijolos cerâmicos, placas de revestimento e blocos vazados ou perfurados são hoje emprega- devolvidas para o processo inicial (Figura 4.17(a)). Na sequência, os blocos são armazenados
dos em alvenarias estruturais e de vedação. em vagonetes e levados a um secador, onde ficarão por um período antes de entrar no forno.

70 Miller & Mel!ander (2003).


71 Uemoto (1985).
176 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL MATERIAIS DA ALVENARIA 177

Figura 4.17 (a) Extrusão da massa. (b) Corte dos blocos.

Outro processo, geralmente utilizado em olarias de pequeno porte, consiste na confor-


mação dos tijolos pelo processo de prensagem, sendo o teor de umidade da massa mais eleva- Figura 4.18 Forno tipo túnel (cortesia de Brick Industry Association).
do, em torno de 20 a 30%. Os tijolos são conformados em moldes geralmente "lubrificados"
com areia fina ou água para evitar que a argila grude neles. A moldagem de tijolos "a mãô' é o Após os blocos saírem da fase final de resfriamento, em temperaturas entre 90 e 100 ºC,
método mais antigo de produção, ainda utilizado em regiões menos desenvolvidas. Um último eles estão secos. A exposição ao ambiente permite que este adquira alguma umidade. Assim
processo a seco é ainda possível, apesar de menos comum, que consiste na prensagem a alta como uma esponja expande ao ser molhada, os blocos ou tijolos cerâmicos apresentam ligeira
pressão de uma massa de argila seca ou semisseca em moldes metálicos. expansão dimensional ao longo do tempo. Essa expansão por umidade de produtos cerâmicos
Antes de iniciar a queima, os blocos devem ser secados para remover o excesso de água. é uma importante· característica a ser levada em conta no projeto, e será tratada com mais
A secagem normalmente dura entre 24 e 48 horas, em temperaturas variando de 40 a 205 ºC. detalhe em item e capítulos seguintes.
Em fábricas modernas, o forno é geralmente contínuo, do tipo túnel, onde o processo dura O tipo de material básico e o processo de produção alteram a densidade do produto
entre 20 e 80 horas e o bloco é exposto a temperaturas de pico de cerca de 1.000 ºC. Dentro cerâmico. A densidade de tijolos maciços geralmente é de 1.300 a 2.250 kg/m 3, sendo o valor
do forno, a queima é realizada em fases, em diferentes temperaturas, inicialmente menores, de 1.800 kg/m3 utilizado em projeto de estrutura. Blocos vazados apresentam uma densidade
até chegar ao pico e, depois, à fase de resfriamento. O tempo de queima e a temperatura de aparente inferior a esta, também variável em função de sua forma.
pico variam em cada fábrica, de acordo com as características da argila. Esse processo garante
uma queima uniforme e controlada de cada unidade onde todos os blocos são expostos à 4.3.2 Formatos, tamanhos e classificação
mesma condição de queima, garantido um produto final de melhor qualidade e uniformidade.
Na temperatura de pico, ocorre o processo de fusão da cerâmica (vitrificação). A vitrificação Blocos cerâmicos são classificados quanto à sua aplicação em "vedação" e "estrutural",
adequada permite a obtenção de um produto resistente e durável. Se temperaturas de pico havendo diferença em vários requisitos em função do destino, especialmente quanto à sua
forem menores ou maiores que a adequada para que a vitrificação seja atingida, então pode-se resistência (ver item seguinte). A NBR 1527072 indica as especificações desses componentes.
obter blocos "crus" ou "queimados''. Esses blocos ou tijolos, apesar de poderem ainda ser muito Neste item, comenta-se as especificações para blocos estruturais. Além do tradicional tijolo
resistentes, podem apresentar problemas de durabilidade ao longo do tempo. Para blocos ex- maciço e dos usuais blocos de oito furos utilizados para alvenaria de vedação, os blocos cerâ-
trudados, a presença de vazados ou de furos reduz a possibilidade de fissuras durante a fase de micos estruturais podem ser classificados como (Figura 4.19):
secagem e queima e permite uma queima mais uniforme de toda a massa do bloco.
• De paredes vazadas: as paredes externas e internas apresentam vazados .
• Com paredes maciças: as paredes externas são maciças e as internas podem
apresentar vazados, sendo a relação da área líquida para a área bruta não maior
que 65%.
• Perfurados: com vazados distribuídos em toda a sua face de assentamento, sendo
a relação da área líquida para a área bruta não maior que 75%.

72 ABNT (2005).
17$ COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL MATERIAIS DA ALVENARIA 179

Tabela 4.2 Especificações quanto à precisão dimensional de blocos cerâmicos estruturais.

. ~ Tolerância
D 1mensao (mm) Foto do ensaio Posição de medição

(a) De paredes vazadas (b 1) Co1n paredes maciças (paredes internas também maciças)

Comprimento

(b2} Com paredes maciças (paredes internas vazadas) (e) Perfurado

Figura 4.19 Formatos de blocos estruturais.

Largura
O bloco deve atender a requisitos de características visuais, não apresentando defeitos
como quebras, superfícies irregulares ou deformações que impeçam seu emprego na função
especificada. Caso seja utilizado sem revestimento, o fabricante e o comprador devem estabe-
lecer um critério mínimo para aparência a ser especificado no contrato de fornecimento. Na média
=±3
Durante a fabricação, cada bloco deve ser identificado pela gravação em alto ou baixo
- - - · - - - - Individual
relevo com as informações: identificação da empresa, dimensões de fabricação em centímetros =±5
(cm), largura (L), altura (H) e comprimento (C), (L x H x C), as letras EST (de estrntural) e um
número ou sigla que identifique o lote de fabricação. Na Figura 4.17(a) pode-se perceber que
a massa ainda plástica no bloco está sendo marcada logo após a sua extrusão.
Uma característica importante é a precisão dimensional dos blocos. A simples verifica- Altura
ção do atendimento dos requisitos indicados na Tabela 4.2 é um bom indicativo de que o bloco
tem boa qualidade. Durante o processo de fabricação, a retração por secagem, e subsequente
queima, pode alterar as dimensões dos blocos em cerca de 5 a 15%. No passado, a queima
não uniforme causava grandes variações dimensionais de blocos e tijolos. Atualmente, com o
uso de fornos-túnel, com controle computadorizado da curva de queima, o resultado é uma
variação dimensional expressivamente menor.
As tolerâncias dimensionais são baseadas em valores individuais e na variação média de
uma amostra. O tamanho usual da amostra é de 13 blocos. Os ensaios de controle das dimen-
sões do bloco são simples, basicamente é necessário medir cada uma das d.imensões e anotar Desvio em relação
valores mínimos e médios e a máxima diferença em relação ao mínimo e à média. ao esquadro

1
1
180 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRlJfURAL MATERIAIS DA AtVENARIA 181

Tabela 4.2 Continuação ...

Dimensão To(lerãn)cia Foto do ensaio Posição de medição


mm
"" ~ ~ '

·-----l-~--~-~-------..-.l

Desvio em relação
ao prumo

Na média
=±3
Individual
:::: ± 5

'----------~-----·----+-------- -----------+--··----------

Altura

Blocos vazados têm a área líquida entre 40 e 75% da área bruta da seção transversal. O
desenvolvimento de blocos de maior dimensão (em relação aos tijolos) contendo uma maior
porcentagem de vazios proporcionou uma graude economia na construção em alvenaria du·
rante as últimas décadas. Grandes dimensões nominais permitem que poucos blocos sejam
suficientes para a construção de uma determinada área de parede, e, ainda, os blocos não são
pesados, pois contêm grande volume de vazios. A presença de dois ou três vazados permite
fácil posicionamento de armaduras e graute. A Figura 4.19(a) e (b) indica formas comuns de
blocos cerâmicos vazados. A Figura 4.20 mostra uma linha completa de blocos cerâmicos em
diferentes tamanhos.
"'
IV
~

~
f
nQ peças/metro linear: 3,33 CJ30/7 n~ peças/metro linear: 2,5
peso: (formato do uso)
CJ40/7 ~
m
peso: (formato do uso) CJ30/9 CJ30/7 = 5,6 kg CJ40/9 1
o
CJ30/7 = 4,1 kg
CJ30/ll CJ30,9 = 6,0 kg CJ40/ll ~
CJ30,9 = 4,3 kg
CJ30/11 =4,6kg
CJ30ll l = 6,5 kg
peças/pacote: 288
8z
~
peçaslpacote: 256
ti
<il
ã
u 17,9,111
! 7, 9, 11 1
õ
~

n~peças/metro linear: 2,5 CC40/7


nQ peças/metro linear; 3,33 CC30/7 peso: (formato do uso)
peso: (formato do uso) CC30/9 CJ30/7 = 3,5 kg
CC40/9
'ro CJ30/7 = 2,6 kg CC40/ll
M
o CJ30,9 = 2,9 kg CC30/ll CJ30,9 = 3,9 kg

""[jro
~
CJ30/l l = 3,4 kg
peças/pacote:
CJ30/l I = 5,0 kg
peças/pacote:

S' CC30/7: 576


1
CC30/7: 512
CC30/9: 512
8 CC30/9: 576
ll'~ CC30fl 1: 256

~
u"
ro

área bruta: 362,25 cm 2 BE31,5


área bruta: 616 cm 2 BE45 área bruta: 476 cm 2 BE35 peso: 5,5 kg (formato de uso)
peso: 8,4 kg (formato de uso) peso: 6,5 kg (formato de uso) peças/pacote: 288
peças/pacote: 288 peças/pacote: 288
o
•ro
119 119
I
Figura 4.20 Continuação,,,

. .d

peso: 1,3 kg (individual)


peças/pacote: 1728

.,1•.' 19 BCI4/4
}0;2.i.
BC19/4 BCll/4
peso: 1,3 kg (jndividual) peso: 1,3 kg (individual) peso: l,l kg(individual)
?..--,/>, peças/pacote: I 728 peças/pacote: 1152 peças/pacote: 2304

~ BE20
:z 119 119
peso: 3,9 kg (formato de uso)
peças/pacote: 576

Figura 4.20 Continuação .. ,

~
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w
184 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL MATERIAIS DA ALVENARIA 185

4.3.3 Resistência à compressão Tabela 4.3 Cálculo de


Notação/parâmetros
Blocos cerâmicos modernos podem atingir resistências muito superiores às necessárias fbk = resistência característica estimada da amostra, expressa em MPa
fb;:sfu 2 , ... , fb, =valores dos resultados individuais dos ensaios de resistência à compressão dos corpos de prova
pelas especificações mínimas e exceder, com folga, o mínimo valor de resistência à compressão da amostra, ordenados em ordem crescente fb 1 < fb 2 < ... < fb
necessário. Entretanto, corno os registros de bom desempenho indicam, a durabilidade está i = n/2, se n for par '
i =(n -1)/2, se n for ímpar
ligada à resistência à compressão do bloco ou tijolo, sendo essa característica para satisfazer a
n é igual à quantidade de blocos da amostra
condição de serviço da construção ao longo do tempo, além de também garantir segurança e
resistência adequadas.
A NBR 15270-273 indica que blocos estruturais devem ter resistência mínima caracte- 6 7 8 9 !O 11 12 13 14 15 16 18
rística de 3,0 MPa, sendo recomendável valores maiores no caso de alvenarias aparentes. A 0,89 0,91 0,93 0,94 0,96 0,97 0,98 0,99 1,00 1,01 1,02 1,04
amostra para determinação da resistência à compressão é constituída de 13 unidades. A parte
3 dessa norma indica os procedimentos para ensaio, devendo as unidades serem ensaiadas
na condição saturada. O valor do fbk é calculado conforme indicações da Tabela 4.3. Blocos
estruturais de paredes vazadas e 6,0 MPa são encontrados nas diversas regiões do Brasil. Re-
sistências de até 12,0 MPa para esse mesmo tipo de bloco são encontradas em algumas regiões,
corno no Sudeste; nesse caso, normalmente com dimensões de 14 x 29 cm apenas. Blocos de n + fb n )
f.bk2 = f.bm (me'd'Ia d OS resu1tad OS ) = ( fb,. ......
paredes maciças e resistências de até 18 MPa são produzidos na região Sul, também apenas na
família de 14 x 29 cm. Resistências de blocos em valores superiores já foram produzidas no fbkJ = 0 x fb, (0 depende de n, de acordo com a tabela acima)
Brasil em diferentes épocas.
Nos Estados Unidos, as unidades extrudadas são encontradas com resistência à com- fbk4 = maior valor entre fbkl e fbk:>
pressão entre 12 e 200 MPa quando considerados seus valores na área líquida (os blocos pro-
duzidos no Brasil sempre têm a resistência relatada em relação à área bruta). No Canadá, a fb, = menor valor entre fbk2 e fbk 4
maioria das unidades é fornecida com valores entre 40 e 80 MPa também em relação à sua
área líquida.
4.3.4 Resistência à tração
Ensaios realizados em testemunhos cortados em três direções distintas das paredes de
blocos cerârnicos74 resultaram em diferentes resistências à compressão, indicando urna aniso-
Vários relatos de ensaios indicam que a resistência à tração, seja medida por tração na
tropia que pode estar relacionada à queima não uniforme. Corno comentado neste capítulo, o
flexão, seja por tração direta, aumenta de maneira diretamente proporcional à resistência à
tipo de capeamento, a relação entre as dimensões do corpo de prova e a restrição da placa de
compressão do bloco. Tipicamente, a resistência de tração na flexão é da ordem de 10% da
aplicação da carga podem alterar o resultado do ensaio de compressão. É importante compre-
resistência à compressão. A tração na flexão é cerca de 40 a 50% maior que a resistência de
ender que o ensaio padrão da resistência à compressão do bloco serve para assegurar a con-
tração direta. 75
formidade desse produto em relação às especificações. As demais características mecânicas
do bloco, e de um elemento de alvenaria, podem não ser diretamente relacionadas apenas à
4.3.5 Absorção
resistência à compressão, mas essas características, uma vez previamente caracterizadas, ten-
dem a se manter em blocos em conformidade.
Absorção de Água Inicial (AAI)
A absorção de água por capilaridade pelo bloco produz um efeito de sucção que retira
água da argamassa e graute. Corno descrito no item 4.2, essa característica é definida corno
Absorção de Água Inicial (AAI ou IRA, em inglês). Valores muito baixos ou muito elevadores de
AAI podem ser prejudiciais ao comportamento da alvenaria, prejudicando a aderência, poden-
do haver falta de sucção de argamassa para formar um bom contato com o bloco ou, no outro
extremo, haver excesso de sucção de água, o que torna a argamassa fraca sobre a superfície do

73 Idem.
74 Rad (1978). 75 Hamid & Drysdale (1982).
186 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL MA.TERIAlS DA ALVENARIA l 87

bloco. A Figura 4.21 mostra uma alta sucção acontecendo em tijolos cerâmicos. A AAI geral- Blocos aquecidos por conta da exposição ao sol irão absorver maior quantidade de água
mente tem valores entre 5 e 40 (g/193,55 cm2 )/min. Valores extremos entre aproximadamente do que a medida no ensaio de AAI dentro do laboratório. Na construção durante dias quentes,
0,5 e 92 (g/193,55 cm2)/min, com valores médios em torno de 16 (g/193,55 cm2)/min, são rela- os blocos devem ser protegidos do sol ou eventualmente molhados antes do assentamento.
tados em Subasic & Borchelt76 para unidades extrudadas. Essas recomendações gerais devem ser avaliadas em cada caso, levando-se em conta o tipo
Se o valor AAI é baixo, menor que 5 (g/193,55 cm2)/min, pode-se considerar esse com- de bloco, a argamassa e a condição ambiental. Essa variabilidade de variáveis tem impedido o
ponente como de baixa absorção. Essas unidades não absorvem muita água da argamassa e desenvolvimento de uma relação fixa ~ntre valores de AAI e da aderência. 79
tendem a flutuar sobre ela, produzindo uma alvenaria com baixa aderência e prejudicando a
resistência à flexão e impermeabilidade do elemento, e, consequentemente, sua durabilidade. Índice de absorção de água
Deve-se tomar o cuidado de especificar uma argamassa compatível com essa baixa absorção O índice de absorção de água pode ser obtido por dois procedimentos distintos, sa-
para se conseguir uma boa aderência. 77 O assentamento de unidades de baixa absorção nor- turando-se os blocos com 24 horas de imersão em água à temperatura ambiente (chamado
malmente pede a utilização de uma argamassa com baixa retenção de água (veja item seguin- absorção à água fria) ou em 2 horas sob imersão em água fervente. Em alguns países, o pro-
te), o que geralmente resulta em uma argamassa mais seca e de menor índice de consistência. cedimento com água fervente dura 5 horas, e ocorre depois da realização do ensaio em água
Unidades com AAI alto, maior que 30 (g/193,55 cm2)/min, são consideradas de alta fria. Basicamente, o procedimento com água fria mede a absorção relativa de água que o bloco
absorção. Essa característica pode resultar em elementos com baixa aderência. O bloco retira possui em condições normais. O segundo ensaio mede a quantidade adicional de poros dispo-
muita água da argamassa, que pode endurecer rapidamente e prejudicar o assentamento. Para nível em condição mais severa de alta temperatura e alguma pressão.
resolver esse problema, blocos ou tijolos podem ser molhados antes do assentamento." Esse Quando realizados os dois procedimentos, é possível calcular o coeficiente de saturação do
procedimento reduzirá a absorção de água durante a construção, porém há o empecilho de bloco (conhecido como relação C/B, do inglês cold!boiling, ou frio/fervente). Esse índice mede a
cada bloco poder estar com condição de umidade de água distinta durante o assentamento, relação entre a quantidade de poros facilmente preenchida para a quantidade total possível de ser
e, portanto, com distintas condições de compatibilidade com a argamassa. Para ajustar essas preenchida em um bloco. Esse é um indicativo de quanto espaço de poro ainda pode ser aberto
características, cada bloco deve ter sua face de assentamento seca durante a construção da após a livre absorção de água do ambiente pelo bloco. Em países muito frios, essa é uma impor-
alvenaria. Tijolos molhados podem agredir a mão do pedreiro assentador. Variações na quan- tante característica indicativa de durabilidade, uma vez que a água absorvida pelo bloco pode
tidade de água absorvida por cada bloco podem produzir variações na tonalidade da junta de congelar e aumentar de volume, devendo haver espaço nos poros para acomodar esse aumento.
argamassa. No Brasil não é comum medir o índice C/B. É realizado apenas um dos dois procedi-
mentos (com indicação de menor tempo de fervura), sendo requisito de que o bloco tenha
entre 8 e 22% de absorção de água. Normalmente, blocos cerâmicos estruturais têm índice de
absorção próximo de 15%.

A durabilidade do bloco está relacionada com várias propriedades, sendo resistência


à compressão um bom indicativo. Blocos de alta resistência característica usualmente têm
queima uniforme e a altas temperaturas, resultando em um material com boa resistência su-
perficial e com baixo nível de impurezas.
O ensaio de absorção em água fervente e o índice C/B também podem servir para in-
dicar boa durabilidade, especialmente para regiões onde há possibilidade de congelamento.
Além do índice C/B, que indica a porosidade do bloco (volume total de poros), estudos in-
dicam que o tamanho dos poros também é importante para bom desempenho.'° A escolha
de blocos tem bom histórico de desempenho ao longo do tempo e a prescrição de detalhes
Figura 4.21 Sucção de água em tijolos cerâmicos. construtivos que impedem a presença sistemática de umidade são fatores importantes para
garantir a durabilidade.
76 Subasic & Borchelt (!993).
77 Lawrence & So (1994). 79 Yorkdale (1982).
78 NBR 15270-3 (ABN1; 2005). 80 Crooks et a!. (1986).
188 COMPORTAMENTO E D!MENS!ONAMENTO DE AlVENARIA ESTRUTURAL MATERIAIS DA ALVENARIA 189

4.3.7 Coeficiente de expansão térmica A matéria-prima, a temperatura e o tempo de queima afetam a expansão higroscópica.
No projeto de alvenarias muito altas ou compridas, juntas de movimentação devem ser pre-
O coeficiente de expansão térmica de componentes cerâmicos normalmente tem valor vistas para impedir que tensões causadas por deformações térmicas ou higroscópicas causem
na faixa de 0,0045 a 0,0072 mm/m/ºC. Os menores valores são relativos a produtos refratá- patologias.
rios, valores intermediários referentes a produtos feitos a partir de argilito ("taguás"), e os
maiores valores para produtos feitos de argilas de superfície. A partir de levantamento feito 4.3.9 Fluência
em várias fontes, Grimm81 indica valores extremos entre 0,0031 e 0,0124 mm/m/ºC. Essa
referência indica ainda que os blocos geralmente têm uma expansão térmica 22% maior na Os valores geralmente relatados para a fluência em blocos cerâmicos são muito baixos
direção vertical quando comparada à da direção horizontal. e podem ser negligenciados. A alvenaria de blocos cerâmicos possui razoável deformação por
fluência devido à presença de argamassa. Esse aspecto deve ser levado em conta no projeto,
4.3.8 Expansão higroscópico conforme apresentado no capítulo seguinte.

Logo após a queima, os blocos começam a absorver umidade do ambiente, que provoca
reações químicas complexas na argila vitrificada e uma lenta e irreversível expansão higroscó- 4.4 Blocos de concreto
pica ao longo do tempo. Um gráfico típico da expansão ao longo do tempo pode ser visto na
Figura 4.22. Embora Ritchie82 tenha medido expansão de 0,016 a 0,028% depois de 500 dias, Os tipos mais comuns de artefato em concreto são blocos e tijolos para pavimento inter-
a expansão continua lentamente por muitos anos. Escalas logarítmicas são sugeridas para travado, conhecidos como pavers. Assim como o concreto evoluiu para seu moderno uso atual
modelar esse efeito. 83 Normalmente pode-se considerar que 50% da expansão que ocorrerá desde os últimos 100 anos, a história dos blocos de concreto começa no século 20. Esses com-
em 5 anos acontece em 6 meses e serão necessários 500 anos para dobrar a expansão medida ponentes começam a ser extensivamente utilizados no Brasil a partir dos anos 1960. Como
nos 5 primeiros anos. o aglomerante nesses produtos é o cimento, os blocos têm a resistência garantida a partir da
boa hidratação do cimento e muito da tecnologia do concreto é aplicada aqui também. Blocos
de concreto são hoje largamente utilizados no Brasil, tanto para alvenaria de vedação quanto
0,03
estrutural, enquanto os pavers são utilizados para pavimentação.

l Cada ponto representa a média de medidas em 3 blocos


Condição ambiental de 23 ºC e 50% de UR
4.4. l Produção

I" '
o

Produtos para alvenaria em blocos de concreto são basicamente produzidos de cimento


Portland, agregado ~ água, embora outros aglomerantes possam ser utilizados, como escória
de alto forno e cinza volante, e jillers inertes também podem ser adicionados. Aditivos como
.g
incorporadores de ar, materiais pozolânicos e pigmentos coloridos podem ser incluídos.
'e?. 0,01
ô A produção em massa de hoje acontece em fábricas altamente automatizadas. Na pro-
""
J dução, o concreto muito seco, de slump zero, é fornecido para uma vibro-prensa. O material
é compactado e vibrado dentro de moldes metálicos que definem a forma do bloco. Com a
moldagem de três ou mais blocos por vez, as máquinas automatizadas podem produzir mais
o 100 200 300 400 500 600 de mil blocos por hora. A Figura 4.23 mostra uma vibro-prensa moderna utilizada em várias
Dias partes do mundo. Na rápida produção moderna, é necessário que o molde seja retirado logo
após o concreto ser consolidado. Portanto, a mistura consolidada deve ter resistência e rigidez
Figura 4.22 Expansão higroscópica de blocos cerâmicos.84 suficientes logo após a compactação para permitir o desmolde e transporte sem deformar,
esmigalhar ou fissurar.
81 Grimm (1982a).
82 Ritchie (1975).
83 Baker et al. (1991).
84 Ritchie (1975).
190 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAl MATERIAIS DA ALVENARIA 191

O empilhamento automático e envelopamento com filme plástico também são comuns


em fábricas modernas. Pavers de concreto podem ser feitos pelo processo de extrusão, de ma-
neira semelhante aos blocos cerâmicos, com a diferença de geralmente não haver vazados. A
texturização da superfície, o corte com fios metálicos e o empilhamento seguem basicamente
os mesmos processos. Pavers prensados normalmente têm rebaixas em sua superfície.
Unidades à base de cimento geralmente têm uma coloração cinza. Entretanto, uma va-
riedade de cores pode ser obtida duranie o processo de produção com a adição de pigmentos.
Diferentes texturas de superfícies podem ser obtidas com o uso de diferentes tipos de agre-
gados, através de jato de areia ou, ainda, de lixamento da superfície. Também são produzidos
blocos com ranhuras verticais em uma das faces (bloco split), permitindo um interessante
acabamento aparente.
'11J==· _) - '.
t·1m\-~\::~1~ ~.·,~,)\;,_;' · 4.4.2 Formatos, tamanhos e classificação
Figura 4.23 Vibro-prensa moderna (cortesia de National Concrete Masonry Association).
A classificação dos blocos de concreto é especificada na NBR 6136, 85 que traz requisitos
para as dimensões mínimas, materiais utilizados na produção (água, agregados, aditivos e
A hidratação ou processo de endurecimento em fábricas modernas ocorre preferencial-
adições), resistência, absorção e retração. Os blocos são divididos em quatro classes:
mente pelo processo de cura a vapor por um período de cerca de 18 horas (Figura 4.24). A cura
em autoclave a alta pressão por um período de 4 a 12 horas também é possível. No Brasil, ainda é
a) Classe A: com função estrutural, para uso em elementos de alvenaria acima ou
comum encontrar processo de cura úmida, havendo nesse caso maior preocupação no controle de
abaixo do nível do solo. Para muros de arrimo, caixas d'água e outros elementos
cura e com o potencial de retração do produto. O traço da mistura depende da resistência espera-
enterrados, com fbk mínimo de 6,0 MPa e bloco de pelo menos 14 cm de espessura.
da e varia em quantidade de finos, densidade do agregado e quantidade de cimento. Alguns blocos
b) Classe B: com função estrutural, para uso em elementos de alvenaria acima do
têm uma estrutura porosa aberta, enquanto outros apresentam uma superfície lisa e compacta.
nível do solo. Essa classe é utilizada para edifícios de alvenaria estrutural com 3
ou mais pavimentos e tem fbk mínimo de 4,0 MPa e bloco de pelo menos 14 cm
de espessura.
c) Classe C: com função estrutural, para uso em elementos de alvenaria acima do ní-
vel do solo, para pequenas edificações de um ou dois pavimentos, com fbk mínimo
de 3,0 MPa. Para edificações térreas são aceitos blocos de 9 cm de espessura, sen-
do 11,5 cm a espessura mínima dos blocos para edificações de.dois pavimentos.
d) Classe D: para alvenaria de vedação (sem contato com o solo), com fbkmínimo de
2,0 MPa e espessura do bloco a partir de 7,5 cm.

Blocos de concreto podem ser de agregado normal ou leve, e geralmente são vazados
(com área líquida igual ou inferior a 75% da área bruta). As dimensões mínimas especificadas
na NBR 6136 estão resumidas na Tabela4.4. Note a necessidade de que o bloco tenha uma mí-
sula no encontro de sua parede transversal central com suas paredes longitudinais, conforme
Figura 4.25. As dimensões nominais e os requisitos das propriedades físicas estão resumidos
na Tabela 4.5, sendo permitidas tolerâncias nas dimensões dos blocos de ± 2,0 mm para a
largura e± 3,0 mm para a altura e para o comprimento.

Figura 4.24 Câmara de cura a vapor. 85 ABNT (2006).


MATERIAIS DA ALVENARIA 193
192 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO OE ALVENARIA ESTRUTURAL

Tabela 4.4 Características mínimas de blocos de concreto de acordo com a classe (adaptada da NBR ..
Tabela 4.5 Famílias de dimensões nominais de blocos (adaptada da NBR 6136). 88

. ~ Famílias de blocos

Coordenada 20 15 12,5 10 7,5


---··
Módulo M-20 M-15 M · 12,5 M-10 M-7,5
Designação
Amarração '!, l/2 t '!, / '/2 '!, '!, '!, '!, '!, '!,
20x 15 X 15x 12,5 X 12,5 X !2,5 X lOx !Ox 10 X 7,5 X
140 25 25 6,0 Linha
A 40 40 30 40 25 37,5 40 30 30 40
190 32 25 188
40
25 25 188 Largura (mm) 190 140 140 !15 115 !15 90 90 90 65
140 4,0
B 25 188 s; 13,0%
190 32 Altura (mm) 190 190 190 190 190 190 190 190
(média) 190 190
90 18 18 135
115 18 18 135 Inteiro 390 390 290 390 240 365 390 190 290 390
20 3,0
e 140 18 $ 10,0% $ 0,065
Meio 190 190 140 190 !15 190 90 190
190 18 18 s; 16,0%
(indivi-
65 15 15 113
dual)
'!, 240 190
90 15 15 !!3
15 15 !!3 2,0 '!, !15 90
D 115 Comprimento
140 15 15 !!3 (mm) Amarração L 340
190 15 15 113
Amarração T 540 440 365 . 365 290 290
(*) Soma das espessuras de todas as paredes transversais dividida pelo comprimento do bloco.
Compensador
90 90 90 90 90
A
Compensador
40 40 40 40 40
B

Existe uma grande variedade de componentes usuais em blocos de concreto, sendo os


principais indicados na Figura 4.27. Os tipos mais comuns em edificações residenciais têm 14
cm de espessura, embora blocos de 19 cm possam ser necessários em edifícios mais altos ou
em painéis de grande altura. Tanto a família de 15 x 30 quanto a de 15 x 40 são comuns em
blocos de concreto, devendo a arquitetura preferir o padrão modular eni planta da família
escolhida (módulo de 15 ou 20 cm), porém sempre respeitando o módulo mínimo de 5 cm. Na
altura deve-se respeitar o módulo de 20 cm. Normalmente os blocos são vazados de dois furos.
Figura 4.25 Raio de mísula para bloco de concreto (adaptada de NBR 6136)." Alternativamente, para pequenas edificações ou alvenaria de vedação, são fornecidos blocos
com módulo de 7,5, 10 e 12,5 cm, eventualmente com 3 vazados.
Como demonstrado na Figura 4.26, as paredes dos blocos estruturais possuem uma
inclinação, sendo estas mais espessas na parte superior. Isso facilita a desmoldagem durante a
fabricação e também facilita o trabalho do pedreiro ao segurar o bloco. A parte superior mais
espessa também facilita o assentamento de argamassa. Na Tabela 4.4 são indicadas as dimen-
sões mínimas das paredes dos blocos.

86 Idem.
88 Idem.
87 Idem.
194 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL
MATERIAIS DA ALVENARIA 195

Bloco inteiro Melo bloco 1


1, bloco 1
/ bloco Canaleta inteira Meia canaleta
1
Corte BB CorteAA l9x19x39 19xl9xl9 J9xf9x9 19xl9x4 14xl9x29 14xl9xl4
------··------------!
Blocos estruturais classe C e blocos de classe D-modulação 15x40
Figura 4.26 Corte do formato típico de blocos estruturais de concreto.

Bloco inteiro 1
Meio bloco 1, bloco '1 3 bloco Canaleta inteírn Meia canaleta Bloco elétrico
14xl9x39 14xl9x19 14xl9x9 J4xl9x4 14xl9x39 l4xl9xl9 14xl9xl9

Blocos estruturais classe C e blocos de classe 12,Sx40

Altura

Descrição: tipo de bloco


Dimensões: largura x altura x comprimento

Blocos estruturais classe 20x40


Bloco inteiro Meio bloco 1 1
1., bloco 18 bloco Canaleta inteira Meía canaleta
l l,5xl9x39 ll,5xl9x19 ll,5xl9x9 ll,5xl9x4 1 J,5x19x39 l l,5x19x39

Blocos estruturais classe C e blocos de classe !Ox40


·~.·
·;.. ..•·.•.•. ..

Bloco inteiro
19x19x39
Meio bloco
19xl9xl9

Blocos estruturais classe AB-modulação 15x40


'I, bloco
i9x19x9
' '18 bloco
19xl9x4
Canaleta inteira
19xl9x39
Meia canaleta
I9xl9xl9

Bloco inteiro
9xl9x39
Meio bloco
9xt9x19
1
\('

1,, bloco
9xl9x9
(:,

'Is bloco
9;d9x4
Meia canaleta
9x19xl9
Bloco elétrico
9x19x19

Blocos estruturais classe 7,Sx40

Bloco inteiro Meio bloco '!.,bloco '!~bloco Canaleta inteíra Meia canaleta Canaleta J Bloco amarração Bloco amarração
14xl9x9 14xl9x4 14xl9x39 14xl9xl9 H>28, 29 L34 L54
14x19x39 14x!9xl9
ou 31 l4xl9x34 14xl9x54
Bloco inteiro Meio bloco
l4xl9xl9 6,5xl9x39 6,5xl9xl9

Blocos estruturais classe AB-Modulação 15x30 Figura 4.27 Continuação ...

4.4.3 Resistência à compressão

A resistência à compressão de blocos ou pavers de concreto é importante por dois mo-


Bloco inteiro Meio bloco Canaleta inteira Meia canaleta Bloco amarração T44 tivos: quanto maior a resistência, maior a durabilidade; e, na alvenaria, a resistência do bloco,
14xl9x29 14xl9xl4 14x19x29 14xl9xl4 14x19x44
aliada à especificação adequada de argamassa e graute, é fundamental para a resistência à
Blocos estruturais classe AS-modulação 20x40 compressão do elemento estrutural.
Figura 4.27 Componentes usuais em concreto (cortesia Glasser Pisos e Pré-moldados).
196 COMPORTAMEl'.'TO E DIMENSIONAMENTO DE AlVENARlA ESTRUTURAL MATERIAIS DA ALVENARIA 197

Ensaios de resistência à compressão com capeamento rígido e carregamento em toda a 4.4.4 Resistência à tração
face vertical resultam em um formato de ruptura cônico, conforme mostrado na Figura 4.28.
Como comentado no item 4.2.3, essa forma de ruptura deve-se principalmente aos efeitos da Para tijolos maciços ou pavers, o ensaio de tração na flexão pode ser utilizado para
laca de carregamento. A NBR 1211889 indica que o capeamento deve ser feito sobre toda a indicar a resistência à tração. A resistência de tração na flexão geralmente está na faixa entre
p d . d-
face do bloco, mesmo que seja comum o assentamento dos blocos apenas com ms cor oes 10 e 20% da resistência à compressão.
sobre as paredes longitudinais destes. Alguns pesquisadores'° sugerem que a caract~rização Não existe um ensaio amplameute aceito, para medir a resistência à tração de um bloco
seja feita em corpos de prova prismáticos cortados da face lateral do bloco, o que trana resul- de concreto. Ensaios de tração direta e indireta' incluem procedimento de colar chapas de aço
tados mais coerentes. com epóxi nas faces dos blocos e realizar o ensaio de tração, ou mesmo colar com epóxi três
Em uma revisão de normas e critérios internacionais pode-se perceber que nem sempre blocos ao longo da altura e realizar o ensaio de tração na flexão-" Alternativamente, ensaios de
a área de referência é relativa à área bruta como no padrão brasileiro. Como nota histórica, tração indireta (tração por fendilhamento a compressão) nas faces laterais dos blocos resultam
pode-se destacar que o critério de área bruta era corrente em normas americanas e canadenses, em resistências entre 0,08 a 0,16 vez a resistência à compressão.
porém foi alterada para líquida. Basicamente, o mesmo tipo de concreto é utilizado em.bloc~s
ou tijolos (pavers), porém o resultado do ensaio à compressão será aparentemente mmto dis- 4.4.5 Absorção
tinto devido à restrição da placa de ensaio e, principalmente, por se utilizar a área bruta como
referência. Blocos vazados são mais comuns para alvenaria estrutural e são geralmente forne- A absorção do bloco está relacionada com o potencial de retração e a durabilidade des- '
cidos em resistências de 3 a 20 MPa, para construção de pequenas edificações a edifícios altos. te componente. Os limites deste ensaio são mostrados na Tabela 4.4. Não existe normalização,
A curva tensão deformação de blocos não difere muito da curva adotada em concretos como a existente para blocos cerâmicos, para ensaios de absorção inicial (AAI), mas essa pro-
normais. 9 1 Não linearidades devidas à microfissuração na interface dos agregados e pasta de priedade é importante para a obtenção de boa aderência com a argamassa. Por exemplo, se o
cimento começam a aproximadamente 35 a 50% da carga de ruptura. O formato da curva, bloco absorve muita água da argamassa, esta endurecerá, resultando em aderência ruim. Outros
especialmente para blocos mais resistentes, é sensível ao tipo de restrição da placa de ensaio. comentários sobre a compatibilidade do bloco e argamassa são apresentados no item seguinte.
Para blocos de menor resistência, normalmente é possível a fabricação de blocos de Como a absorção fornece um indicativo do volume de espaço nos poros, a permeabili-
agregados leves a um custo competitivo. O módulo de elasticidade do bloco geralmente está dade pode ter alguma relação com essa propriedade, apesar de uma correlação direta não ter
na faixa entre 500 e 1.000 vezes a sua resistência à compressão. O coeficiente de Poisson pode sido até hoje estabelecida. Blocos de agregados leves tipicamente têm maior absorção que os
ser admitido igual a 0,2. de agregado normal.

4.4.6 Durabilidade

Blocos de maior resistência apresentam maior durabilidade sob condições ambientais


extremas. Para muros de arrimo ou alvenarias aparentes podem ocorrer patologias como eflo-
rescência e fissuras. O uso de blocos de resistência elevada (recomenda-se fb> mínimo de 6,0
MPa) pode ajudar a prevenir esses problemas. De uma maneira geral, alvenarias de blocos de
concreto têm apresentado uma boa durabilidade.

4.4.7 Movimentação térmica

O coeficiente de expansão térmica do bloco depende da densidade e do tipo de agrega-


do utilizado. Blocos de agregado normal apresentam coeficiente de expansão térmica por volta
Figura 4.28 Ruptura de um bloco de concreto.
de 0,009 mm/m!°C, enquanto os de agregado leve, em torno de 0,008 mm/m/ºC. Esses coefi-
cientes são significantemente diferentes dos de blocos cerâmicos, o que indica necessidade de
cuidados especiais caso se pretenda utilizar esses dois materiais em uma mesma construção.
89 ABNT (2010).
90 Senbu & Baba (1985).
91 Nevil!e (1972). 92 Hamid & Drysdale (1982).

1
+f
MATERIAIS DA ALVENARIA 199
198 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL

!ativamente pouco se sabe a respeito dessa propriedade. Algumas observações são relatadas
4 .4. 8 Retração
em Fenton94 e em jessop: 93
Como em qualquer produto cimentício, alvenarias de blocos de concreto irão retrair
com o tempo. O controle dessa retração é importante, pois podem ocorrer fissuras em alvena- • A magnitude da fluência em blocos é menor que a medida em concreto de resis-
rias compridas, e o encurtamento de paredes muito altas pode afetar o desempenho de outros tência semelhante;
elementos estruturais ou de vedação. • Blocos autoclavados apre;entam melhor fluência que blocos com cura a vapor;
Dois tipos de retração podem ocorrer: por secagem ou carbonatação. A retração por • Com agregados leves, a fluência é maior que com agregados normais;
secagem ocorre com a diminuição geral das dimensões do bloco conforme a hidratação acon- • A fluência é aproximadamente proporcional ao nível de tensão aplicada; e
tece, e o bloco inicialmente úmido entra em equilíbrio com o ambiente menos úmido. Com • Após um ano sob tensão constante, a maior parte da deformação já terá ocorrido.
eventual molhagem do bloco, este vai expandir até próximo de sua dimensão original. Ciclos
repetidos de molhagem e secagem podem causar, portanto, retrações e expansões reversíveis. A fluência de alvenaria de blocos de concreto é discutida no capítulo seguinte.
Entretanto, sob condições ambientais normais, o resultado final é uma retração do bloco. A
retração por carbonatação ocorre devido à reação do produto de cimento Portland com o
dióxido de carbono presente no ar. Essa retração é lenta e irreversível ao longo de muitos anos. 4.5 Blocos de sílico-calcário
A deformação por retração depende muito do tipo de cura, da quantidade de cimento,
tipo de agregado e umidade relativa do ambiente. Boa parte da retração irá ocorrer na fábrica 4.5. l Produção
em processos de cura a vapor ou mesmo autoclave. Barbosa" realizou estudo sobre retração
de alvenarias de blocos de concreto, concluindo por maiores valores de retração em alvenarias Blocos de sílico-calcário, às vezes chamados de blocos de cal e areia, são fabricados a
produzidas por fabricantes de maior porte e com cura a vapor, conforme discutido no capítulo partir de mistura de cal e areia, que é prensada e submetida a processo de autoclavagem, pro-
seguinte. A Tabela 4.6 mostra a influência do tipo de cura e agregado no potencial de retração duzindo blocos de boa uniformidade, aparência e precisão dimensional. Como o aglomerante
é a cal, esses blocos diferem muito de blocos de concreto. São muito utilizados na Europa e
do bloco.
Austrália e em alguma extensão nos Estados Unidos e Brasil. Eventualmente são utilizados
Tabela 4.6 Valores de retração típicos.
pigmentos e tratamentos superficiais para permitir coloração e texturas aos blocos.

Vapor 0,02-0,05 4.5.2 Classificação, tamanhos e formatos


Normal
Autoclave 0,01-0,04
Bloco
Vapor 0,04-0,08 A NBR 14974-1 96 especifica classes de blocos de acordo com a sua resistência à com-
Leve
0,02-0,06
pressão, começand~ com a classe A para 4,5 MPa até à classe j para blocos de 35 MPa. Os
Autoclave
0,02-0,05
blocos são fornecidos em diversos formatos: maciço, furado, perfurado ou vazado. Quanto às
Tijolo Normal Vapor
dimensões, são fornecidos em duas famílias modulares, de 12,5 cm e 20 cm. As figuras 4.29 a
4.31 e as tabelas 4.7 e 4.8 indicam formatos e dimensões dos blocos.
Quando molhados, os blocos apresentam expansão. Se forem assentados dessa forma,
a retração ocorrerá após secarem dentro da parede. Estes nunca devem ser molhados antes da
construção, com exceção, talvez, feita a regiões com climas extremamente quentes e secos e,
ainda assim, com cautela e limitando-se a um leve umedecimento.

4.4.9 Fluência

Assim como ocorre com outros produtos cimentícios, blocos de concreto continuam
a retrair sob carregamento constante, fenômeno conhecido como fluência. Apesar de ser
comum o uso de blocos de concreto para construção de edifícios de até 20 pavimentos, re-
94 Fenton (1984).
95 Jessop (1980).
96 ABNT (2003).
93 Barbosa (2004).
200 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE AlVENARlA ESTRUTURAL MATERIAIS DA AtVENARIA 20]

Tabela 4.8 Formas e dimensões de blocos de silico-calcário, modulação de 20,0 cm (adaptada da NBR
14974-1).
Tipo Largura (cm) Altura (cm) Comprimento (cm)
Vazado (f) 9,00 19,00 39,00
Vazado (g) 14,00 19,00 39,00
Vazado (h) 19,00 19,00 39,00

(a) (b) 4.5.3 Resistência à compressão e tração

Figura 4.29 Bloco de sílico-calcário maciço, tipos (a) e (b) (adaptada da NBR 14974-1)."
Conforme a classificação da norma, os blocos são fornecidos em resistências de 4,5
a 35 MPa, porém blocos de até 70 MPa podem ser fabricados. A resistência de tração pode
ser medida nos tijolos maciços em ensaios de flexão e, normalmente, os resultados estão
na faixa de 2 a 5 MPa. Tanto a resistência à compressão quanto de tração dependem não
somente da quantidade de aglomerante (cal), mas também da pressão de prensagem e das
condições da autoclavagem.

4.5.4 Absorção

Figura 4.30 Bloco de sílico-calcário furado ou perfurado, tipos (e), (d) e (e) (adaptada da NBR 14974-1 ).98 A propriedade de absorção de água está relacionada com a durabilidade, e deve estar entre
10 e 18%. O ensaio de AAI para bloco de sílica-calcário ocasiona, muitas vezes, resultados enga-
nosos. Apesar de os resultados indicarem valores geralmente entre 10 e 20 (g/193,55 cm 2)/min, a
natureza do bloco faz com que a absorção continue por períodos de tempo superiores a um mi-
nuto. Para assegurar boa aderência entre o bloco e a argamassa, é necessário uma argamassa de
dosagem apropriada. Conforme comentado no item seguinte, a argamassa deve ter alta retenção
de água para compensar a usual alta sucção do bloco de sílico-calcário.

(f) 4.5 .5 Movimentçição térmica, retração e fluência


Figura 4.31 Blocos de sílico-calcário vazados, tipos (f), (g) e (h) (adaptada da NBR 14974-1). 99
O coeficiente de expansão térmica tem valor próximo a O,OIJ mm/m/ºC, e a retração
tipicamente ocorre em valores em torno de 0,03%, conforme Schubert. 100 Blocos de sílica-
Tabela 4.7 Formas e dimensões de blocos de sílico-calcário, modulação de 12,5 cm (adaptada da NBR
-calcário também apresentam fluência sob elevado carregamento constante.'°'
14974-1).
Tipo Largura (cm) Altura (cm) Comprimento (cm)
Maciço (a) 11,50 7,10 24,00
4.6 Blocos de pedra e de vidro
Maciço (b) 11,50 5,20 24,00
Furado, perfurado ou vazado (e), (f) 11,50 11,30 24,00
Blocos de pedra são usados em construções de alvenaria por milhares de anos. Entre-
Furado, perfurado ou vazado (d), (g) 14,00 11,30 24,00
tanto, seu uso hoje é mais voltado para vedação ou, mesmo, revestimentos. Entre os tipos nor-
Furado, ou vazado (e), (h) 17,50 11,30 24,00 malmente empregados de rochas incluem-se granito, arenito, mármore, ardósia, entre outros.
A Tabela 4.9 indica alguns valores mínimos de propriedades de algumas rochas.

97 Idem.
98 Idem. 100 Schubert (1982).
99 Idem. 101 Brooks (1986).
202 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL MATER!A!S DA AlYENARIA 203

Tabela 4.9 Propriedades físicas típicas de alguns blocos de pedra. • Blocos para assentamento a seco (sem argamassa), conforme Harris et al. 102 e Crofts. 103
, Grupo de Absorçã~ Densidade Re~istênc~a à co;npressâo Resis~ênci~ ~e tração na • Blocos leves feitos com pasta de cimento aerada, agregados leves, resíduos de
rocha máxima - % mínima - kg{m 3 m!nu:na - Mya flexao m1n1ma - MPa madeira, papel e outros.
12 1760 12 2,9
• Unidades incorporando materiais descartados, como vidro.
Calcário 7,5 2160 28 3,4
55 • Formas especiais para acomodar armaduras ou isolamentos térmicos.
8 2000 27,6
Arenito 3 2400 68,9 6,9 A maioria desses blocos ainda ~ão tem iiso comercial extensivo. A seguir comenta-se
1 2560 137,9 13,9
sobre blocos intertravados com junta seca e blocos de concreto celular.
Granito 0,4 131 10,4

Mármore 0,2 2305 a 2800 52 7 4.7. l Blocos especiais não convencionais

Os blocos de vidro vêm ganhando popularidade para aplicações em paredes de vedação Na maioria das vezes chamados de blocos com junta seca, vários sistemas de blocos
internas e externas. Além do impacto visual que permite, a utilização de blocos de vidro tem intertravados foram desenvolvidos ao longo dos anos, conforme Harris et al. 104 A construção
ainda as vantagens de reduzir a transmissão de raios ultravioleta, iluminação, reflexão solar, com esses blocos muitas vezes requer grauteamento parcial ou total ou revestimento à base
resistência ao fogo e isolamento térmico. Embora exista uma série de texturas, formas e cores, de fibras para permitir resistência e estabilidade adequadas. O intertravamento nas juntas de ,
geralmente a dimensão vertical e horizontal segue a modulação de 200 mm. As espessuras assentamento, verticais ou na combinação das duas, permite estabilidade durante a construção
comuns são de 6, 8 ou 1Ocm. e ajuda na estabilidade a longo prazo sob as ações de projeto.
Blocos de vidro são fabricados a partir da mistura de areia silicosa, soda (carbonato Para o caso de juntas secas, é necessário uma rigorosa tolerância dimensional na altura
de cálcio) e cal e outras substâncias, derretidas a temperaturas superiores a 1.260 ºC. O vidro e no comprimento dos blocos para assegurar o alinhamento necessário. Muitas versões do
fundido é cortado em tamanhos predefinidos para serem prensados no formato dos blocos. sistema de bloco único, como mostrado na Figura 4.33(a), foram desenvolvidas com variação
Esses blocos são, então, alocados em um forno de umidade e temperatura controlada para re- nos detalhes de encaixe das juntas horizontal e vertical e nas paredes transversais do bloco.
cozimento e esfriamento lento. As densidades para um bloco típico de 200 mm variam de 690 Alternativamente, um sistema que permite melhor intertravamento pode ser criado usando-se
a 960 kg/m'. A maioria dos blocos tem uma película de polivinil, permitindo uma superfície um bloco com dois componentes, como na Figura 4.33(b). Geralmente não existem grandes
áspera para a aderência adequada da argamassa. diferenças no comportamento de paredes feitas com esses dois tipos de sistemas, quando é pos-
teriormente feito um revestimento externo à parede ou grauteamento dos vazados dos blocos.

Bloco inteiro de altura padrão

Bloco inteiro com meia altura


Figura 4.32 Construções em blocos de vidro (cortesia de Pittsburgh Corning).
(a) Bloco com vazados para graute (b) Blocos formados por duas partes

Figur~ 4.33 Bloco para assentamento com junta seca. ws


4.7 Blocos especiais não convencionais
102 Harris et al. (1992).
Muitos tipos de blocos não convencionais de novos materiais, formatos e texturas têm
103 Crofts (1993).
sido desenvolvidos para aplicações especiais. Exemplos:
104 Harris et al. (1992).
105 !d. ibid.
204 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL MATERIAIS DA ALVENARIA 205

4.7.2 Blocos de concreto celular 4.8 Argamassa


Blocos de concreto celular são produzidos a partir de uma mistura de cimento, cal, 4.8. l Funções da argamassa
areia, água e agentes que formam gases expansores. Os blocos são curados em autoclave sob
alta pressão e vapor, transformado a mistura em um material duro e leve. 106 Os blocos têm A argamassa é usada para permitir um apoio uniforme e também a aderência de um
forma prismática retangular de grande dimensão, geralmente de 300 x 600 mm de largura x bloco sobre o outro, de maneira a forr;>ar elementos compostos que irão resistir às ações e às
comprimento. As espessuras mais comuns são de 100, 150 e 200 mm. As densidades variam de condições ambientais ao longo do tempo. Também pode servir para permitir aderência de
400 a 800 kg/m. 107 A resistência à compressão está na faixa de 2,4 a 7,0 MPa-'°8 A Tabela 4.10 eventuais armaduras nas juntas de assentamento, de maneira que estas possam ser considera-
mostra requisitos da NBR 13438. 109 Esse tipo de bloco foi desenvolvido na Suécia em 1924. No das integradas à alvenaria. A resistência mecânica e às variações ambientais e durabilidade são
Brasil, geralmente são utilizados para alvenarias de vedação e também para enchimentos em os requisitos-chave da argamassa endurecida. No estado plástico, a argamassa deve permitir o
lajes nervuradas. fácil assentamento dos blocos, além de servir para compensar as variações dimensionais das
unidades e do elemento em alvenaria.
Tabela 4.10 Requisitos para blocos de concreto celular autoclavado. A classificação, especificação e os procedimentos de ensaios de argamassas são relatados
Espessura da parede do bloco (mm) 70,0 (mínima) no conjunto de normas ABNT NBR 13276 a 13281. As normas de projeto e execução de alvena-
Tolerâncias dimensionais (mm) ±3,0 ria estrutural, NBR 15812 e NBR 15961, publicadas em 2010 e 2011, também trazem informa-
fm > 1,2 MPa
ções sobre a especificação, controle e ensaios de argamassas em obras de alvenaria estrutural.
e 12 f, > 1,0 MPa
fm > 1,5 MPa 4.8.2 Tipos de argamassa
e 15 f,> 1,2 MPa
Resistência à compressão
>2,5MPa Depois de séculos de uso de argamassas de cal, várias dosagens de argamassa de cimento,
C25
>2,0MPa
cal e areia foram desenvolvidas, apropriadas para aplicações particulares. Basicamente, o cimento
fm>4,5 MPa
C45 aumenta a resistência, a cal contribui para a trabalhabilidade e a areia é um agregado de baixo cus-
~ > 3,6MPa
to. As argamassas pré-dosadas e ensacadas existem desde a década de 1920. Atualmente existem
Cl2 <
vários tipos de argamassas industrializadas fornecidas em sacos de 20 kg, 40 kg ou em grandes vo-
e 15 < 500
Densidade aparente média (kg/m 3 ) lumes e, ainda, em silos. Estas podem conter cal para garantir trabalhabilidade ou, eventualmente,
C25 < 550
aditivos como incorporadores de ar. Deve-se tomar cuidado com o uso de aditivos de maneira a
C45 <650
limitar a quantidade _de ar incorporado para não prejudicar a aderência da argamassa.
90 X400 X 600
110 X 400 X 600
Argamassas são geralmente identificadas pelo volume relativo de materiais. Por exem-
140 X 400 X 600 plo, uma argamassa de cimento, cal e areia 1:1:6 tem volumes iguais de cimento e cal, sendo
Dimensões (mm) 170x400x600 o volume de areia seis vezes maior que o de cimento. Ao invés de especificar as proporções, é
190 X 400 X 600
250 X 400 X 600 mais conveniente especificar classificações. A NBR 13281 110 indica que a argamassa deve ser
classificada conforme sete diferentes requisitos: resistência à compressão (classificação PJ a
P6); densidade de massa aparente no estado endurecido (Ml a M6); resistência à tração na
flexão da argamassa (Rl a R6); coeficiente de capilaridade (Cl a C6); densidade de massa no
estado fresco (Dl a D6); retenção de água (Ul a U6); e resistência potencial de aderência à
tração. A argamassa é então classificada com uma combinação desses requisitos, por exemplo,
P3, M4, R5, C3, D4, U3 e A4,
As normas de projeto e execução de alvenaria estrutural referem-se especificamente à
resistência à compressão de argamassas tradicionais de cimento, cal e areia, usando a classifi-
106 Matthys & Nelson (1999). cação P 1 a P6 para especificar algumas propriedades físicas da alvenaria, como resistência ao
107 !d. ibid. cisalhamento e de tração na flexão, conforme comentado em capítulos seguintes.
108 Woodard et ai. (1999); Klingner et ai. (2003).
109 ABNT (1995). llOABNT (2005).
206 COMPORTAMENfO E DIMENSIONAMENTO DE AlVENARIA ESTRUTURAL MATERIAIS DA ALVENARIA 207

Para a escolha da argamassa deve-se levar em conta dois fatores geralmente antagôni- Tabela 4.11 Continuação ...
" ' "~~ ~~ " ~ ~ '
cos: resistência e capacidade de acomodar deformações. Quanto maior a quantidade de ci- T ( . Resistência ã Resistência ã ,,
raço c~mento: compressão compressão
mento na argamassa, melhor a sua resistência, porém pior sua trabalhabilidade e capacidade cal: a~e1a) em esperada aos 7 esperada aos Uso recomendado
de acomodar deformações e, consequentemente, maior a potencialidade de fissuras frente às vo ume dias (Mlla)
~
28 dias (Mlla)
>! M 0,

deformações a que 0 elemento de alvenaria está sujeito. De maneira inversa, quanto maior Baixa resistência à compressão, adequada apenas
a quantidade de cal, maior a capacidade de deformação e trabalhabilidade, porém menor a 1:2:9 1a1,5 .para alvenaria de vedação ou eventualmente para
resistência da argamassa. / reparo de edificações históricas.
1
A argamassa apresenta uma influência determinante na aderência bloco-argamassa que Baixa resistência à compressão, eventualmente ade-
1:3:12 0,2 a 0,3 0,4 a 0,5 quada apenas para alvenaria de vedação ou, ainda~
reflete na resistência de tração e inicial de cisalhamento da alvenaria, esforços que ocorrem para reparo de edificações históricas. ·
principalmente quando há forças laterais, como de vento em edifícios ou de empuxo de água
ou terra em caixas d'água ou arrimas. Quando há uma grande carga de compressão sobre a De acordo com as normas de projeto de alvenaria estrutural, o projetista da estrutura
alvenaria, a resistência ao cisalhamento e à flexão pode ser garantida também pela pré-com- deve especificar a resistência à compressão da argamassa. Antes do início de cada obra, devem
pressão existente, não s,endo a aderência do bloco-argamassa o único mecanismo que garante ser realizados ensaios de caracterização da resistência à compressão da argamassa (além do
resistência. Pode-se dizer que a resistência da argamassa é determinante em casos em que se bloco, grante e prisma), podendo a tabela apresentada servir como referência inicial. Para
tem a ação lateral predominante sobre a ação vertical. casos de argamassa sem cal ou com aditivos e adição, tanto a dosagem qnanto snas outras pro-
Quanto à resistência à compressão da alvenaria, conforme será descrito no capítulo se- priedades mecânicas, incluindo a aderência com o bloco, devem ser determinadas a cada caso.
guinte, a argamassa apresenta uma influência que, apesar de importante, não é predominante.
Não se deve especificar uma resistência à compressão da argamassa (f,) muito baixa em relação 4.8.3 Propriedades no estado fresco
ao f porém esta não deve ser inferior à resistência do material do bloco.
bk' Normalmente recomenda-se uma faixa de especificação de f, entre 70% de fbk (mínimo) As propriedades importantes de uma argamassa no estado fresco incluem trabalhabi ·
e 70% da resistência do material do bloco. De maneira geral, deve-se especificar f, dentro de !idade, retenção de ar, quantidade de ar incorporado e tempo de endurecimento. Não existe
uma faixa de 0,7 a 1,5 vez o valor de fbk. O valor correto é o "mínimo possível adequado'; ou uma definição simples e precisa de trabalhabilidade, pois ela depende do índice de absorção
seja, próximo do limite inferior quando a carga vertical é predominante (edifícios d~ múltiplos inicial do bloco, retenção de água e tempo de endurecimento da argamassa, além das condições
andares) ou do limite superior quando a ação lateral é predominante ou em ambientes mais ambientais durante a construção. Uma vez que não existe um ensaio de obra para avaliar a
agressivos (arrimas, caixas d'água, paredes de galpões, alvenarias em contato com o solo, apa· trabalhabilidade, a experiência e sensibilidade do pedreiro são importantes na definição dessa
rentes). A Tabela 4.11 traz a indicação de alguns traços, resistências e usos. característica. Boa trabalhabilidade indica que a argamassa irá aderir sobre a colher de pedreiro,
porém deslizar facilmente sobre ela; será espalhada rapidamente sobre os blocos; irá aderir em
Tabela 4.11 Alguns traços, resistência à compressão e uso de argamassas de cimento, cal e areia. superfícies verticais e ainda irá se deformar lateralmente nas juntas de maneira a permitir que
Resistência à Resistência à estas sejam limpas facilmente. Todas essas características permitem um assentamento fácil e efi-
Traço (cimento: ~ ~
. compressao compressao Uso recomendado ciente. A argamassa deve, ainda, suportar o peso das fiadas de bloco superiores sem sair do lugar.
cal: areia) em esperada·aos,,,7~esperada.aos~~---~-
volume dias (Mlla) 28 dias (Mlla) Uma maneira de medir a trabalhabilidade no laboratório é através do ensaio de consis-
Argamassa de alta resistência e, consequentemente, tência, descrito na NBR 13276.1" Nesse ensaio, a argamassa é moldada em um tronco de cone
baixa deformabilidade, recomendada apenas para e submetida a uma série de 30 golpes durante 30 segundos em uma mesa de consistência. Após
alvenaria de resistência muito elevada (blocos acima
1:0,25:2,5 9 a li 14al7,5 de 20 MPa). Pode eventualmente ser necessária o ensaio, é medido o diâmetro do cone espalhado. Os valores para boa trabalhabilidade nor-
para elementos enterrados e ambientes muito agres- malmente estão na faixa de 230 .mm. O índice de consistência é um indicativo de que a arga-
sivos com presença de sulfitos. massa é trabalhável e serve para padronização dos ensaios e definição do traço em laboratório.
Uso geral em elementos em contato com o solo e os
1:0,5:3,5 a 4,5 5 a 7,5 8,5 a 12,5
que estão sujeitos a ações laterais predominantes.
Resistência à compressão moderada e boa deformaM
bilidade. Recomendada para alvenarias não enterra~
1:1:4,5 a 6,0 2a3 3,5 a 5 das de resistência à compressão média e ação lateral
não predominante (blocos de até 6,0 MPa).

li lidem.
208 COMPORTAMENTO E DIMENS!ONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAl MATERIAIS DA ALVENARIA 209

condições do ambiente, e mais considerações serão feitas no capítulo sobre práticas executivas
e detalhes construtivos.
Agentes incorporadores de ar foram introduzidos em argamassas à base de cimento
para melhorar a trabalhabilidade e durabilidade. A falta de controle no tempo de mistura e as
condições ambientais podem influenciar muito o desempenho de argamassas produzidas com
esse tipo de aditivo. Um procedimento de mistura incorreto, por exemplo, com tempo acima
do recomendado, pode aumentar o te~r de ar incorporado na argamassa e prejudicar a ade-
rência do bloco-argamassa, com sério prejuízo ao desempenho da alvenaria. Algumas normas
Figura 4.34 Ensaio de índice de consistência conforme NBR 13276. ll 2 internacionais 113 limitam o teor de ar incorporado da argamassa ao valor máximo de 12%.

A retenção de água é a propriedade da argamassa que previne uma rápida perda de 4.8.4 Propriedades no estado endurecido
água da mistura para blocos de absorção elevada. Geralmente em normas internacionais, a
medida dessa propriedade é feita repetindo-se o ensaio de consistência após submeter a ~rga­ As características mais importantes da argamassa no estado endurecido que afetam
massa a uma pressão de vácuo equivalente a 51 mm de mercúrio, com consequente retirada construções em alvenaria são: aderência; resistência à compressão; variação volumétrica; e
de água sob essa pressão, sendo a retenção a diferença relativa de resultados. De acordo com durabilidade. De todas, talvez a aderência seja a propriedade mais importante, pois afeta a ,
a NBR 13277, a retenção é expressa apenas pelo ensaio de pressão de vácuo, sendo o resul- resistência a longo tempo e as condições em serviço da alvenaria. Comentários sobre essas ca-
tado a relação entre a diferença de peso da argamassa antes e depois da retirada de água sob racterísticas serão discutidos a seguir. Deve-se destacar que a aderência depende não somente
pressão sobre 0 peso inicial desta. Uma boa retenção de água é importante por três motiv~s: da argamassa, mas também das propriedades do bloco, além de outros fatores. Por essa razão,
primeiro, se previne que a água escoe e seja perdida da argamassa; segundo, a argamassa nao outros comentários sobre esse aspecto serão feitos no capítulo seguinte, sobre o comporta-
terá endurecimento precoce antes do assentamento; e terceiro, uma quantidade de água sufi- mento de elementos de alvenaria.
ciente é retida pela argamassa após o espalhamento sobre o bloco para permitir a hidratação
do cimento. Normalmente, são pretendidos valores de retenção elevados, acima de 90% de Aderência
acordo com 0 padrão nacional. Valores elevados tendem a ser mais compatíveis com blocos A argamassa deve ter aderência suficiente para permitir a estanqueidade da parede e para
de alta absorção. Não existe ensaio prático de obra para se medir essa propriedade. resistir a tensões de tração devidas a ações externas ou, ainda, em esforços internos devidos a
Durante a construção, a argamassa geralmente é colocada em caixotes ou masseiras deformações impostas de retração e variações térmicas. A aderência entre o bloco e a arga-
para ser, aos poucos, usada pelo pedreiro. Essa argamassa endurece com o tempo co'.'10 resul- massa é conseguida por intertravamento mecânico e possivelmente por algum grau de adesão
tado da evaporação de água e início da pega do cimento. Adicionar pequenas quantida~es de química, embora o preciso mecanismo de aderência ainda seja desconhecido. Entre os muitos
água na mistura da argamassa é um procedimento conhecido como retempero, o qual e uma parâmetros que afet~m a aderência incluem-se: tipo de argamassa; relação água/cimento; teor
prática largamente aceita para repor a água perdida por evaporação. Embora a relação água/ de ar incorporado; propriedades do bloco; mão de obra; e condições de cura. Altos teores de ar
cimento da mistura seja um pouco elevada com esse procedimento, com consequente perda de incorporado reduzem a aderência tanto química quanto mecânica. De maneira geral, a com-
resistência, 0 acréscimo de água é aceito para permitir que a trabalhabilidade seja mantida. A patibilidade entre a argamassa e o bloco é o fator-chave para uma boa aderência. A compati-
normalização brasileira permite o retempero, no máximo, duas vezes. Quanto ao tempo per- \ bilidade é obtida com argamassa de boa trabalhabilidade e retenção de água compatível com
mitido para uso da argamassa de assentamento depois de misturada, esse é o mesmo do tempo a absorção inicial de água do bloco, rugosidade da superfície deste e as condições ambientais
de pega de cimento, normalmente de duas horas e meia para temperaturas não elevadas. durante o assentamento. Deve-se ainda assegurar que uma boa aderência seja obtida em um
Uma velocidade de endurecimento adequada também é importante para que a constru- dia ou menos, após o assentamento. Assim que a argamassa no estado fresco é espalhada sobre
ção da alvenaria aconteça de forma econômica. Se a velocidade for muito lenta, a arga".'assa o bloco e entra em contato com a superfície deste, a pasta de cimento é succionada para os po-
pode não suportar o peso das fiadas superiores e cair fora da junta, conforme a elevaçao da ros do bloco, criando um mecanismo de aderência. Uma grande aderência inicial resulta desse
parede. Se for muito rápida, a argamassa irá endurecer antes do assentamento dos bloc~s, mecanismo, que também irá garantir boa aderência ao longo do tempo. Se os blocos são deslo-
não permitindo a aderência adequada, especialmente se forem estendidos extensos cordoes cados de sua posição nessa fase inicial, o mecanismo será quebrado e a aderência, prejudicada.
de argamassa durante 0 assentamento. A velocidade de endurecimento é influenciada pelas Embora a aderência seja reconhecida como uma característica importante para o de-
sempenho da alvenaria, poucos, ou eventualmente nenhum, ensaios de controle de obra são

!121dem. 113 Masonry Standards Joint Committee (2011).


21 Ü COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL
MATERIAIS DA ALVENARIA 211

especificados para avaliar essa característica. Como reflexo das especificações para dimen- para avaliar a resistência aos 7 ou 28 dias. A ruptura típica geralmente tem forma piramidal,
sionamento e controle de obras baseado principalmente na verificação de tensões de com- conforme ilustrado na Figura 4.35.
pressão, a resistência de aderência é garantida apenas pela experiência da mão de obra e do
projetista que especifica os materiais. Entretanto, a recente introdução de ensaios para avaliar
essa característica na normalização brasileira é um fator positivo. Nesse ensaio, um prisma de
cinco blocos de altura pode ser moldado e ensaiado à flexão na própria obra. Ainda que sua
execução não seja obrigatória, o procedimento para verificação da boa aderência está hoje
disponível. Outro ensaio rápido de campo possível de ser executado no uso de tijolos consiste
no procedimento de assentar lado a lado dois tijolos e tentar suspender o conjunto após um
ou dois minutos. Se um tijolo não se soltar do outro é porque se conseguiu uma boa aderência.
Especificações e ensaios de aderência são descritos no capítulo seguinte. Figura 4.35 Forma de ruptura típica de corpos de prova cúbicos de argamassa.
Em circunstâncias especiais, aditivos podem ser incorporados na argamassa para me-
lhorar a aderência. Por exemplo, conforme discutido anteriormente, blocos de sílico-calcário
tendem a apresentar alta sucção de água da argamassa por períodos superiores a um minuto,
indicado no ensaio de AAI, e, portanto, um aditivo retentor de água pode ser necessário para
garantir boa aderência. Baker et al. 114 indicam que o uso de aditivo à base de metilcelulose
pode contribuir para o aumento da retenção de água na argamassa e melhorar um pouco a
trabalhabilidade. Chu et a\. 115 mostram que o uso de polímeros solúveis em água aumenta a
retenção de água de argamassas, melhorando o tempo em aberto desta. (b)
As condições de cura têm grande influência na aderência final. O cimento Portland re- (a)
quer umidade para endurecer e desenvolver boa adesão. Alvenarias recém-construídas devem
ter algum grau de proteção para permitir o desenvolvimento dessa boa aderência. Esse grau
de proteção depende em grande parte das condições ambientais, como temperatura, umidade
e presença de ventos.
(e)
Resistência à compressão (d)
A resistência à compressão da argamassa é importante, pois tem certa influência na re-
Figura 4.36 Ensaio à-compressão de argamassa. 117

sistência à compressão da alvenaria e também porque geralmente é utilizada como medida do


controle de qualidade na produção da argamassa. O antigo corpo de prova cilíndrico para ava-
Valores máximos e mínimos para especificação da resistência à compressão foram dis-
liar essa característica foi substituído pelo cúbico de 4 cm, sendo este o padrão atual. De acordo
1 cutidos anteriormente. Considerando argamassas de cimento, cal e areia, Pinheiro'" realizou
com a NBR 13279, o ensaio à compressão deve ser feito após um prisma de 4 x 4 x 16 cm ter se
1 a caracterização de diversos traços, cujos resultados são mostrados na Tabela 4.12. A partir
rompido à flexão (Figura 4.36(a) e (b)), sendo cada um dos lados quebrados submetidos ao en-
~esses resultados é proposto o diagrama de dosagem mostrado na Figura 4.37, pelo qual é pos-
saio de compressão em uma área de 4 x 4 cm, conforme Figura 4.36(c). Como não é necessário
s1vel estimar o volume de cal e areia em razão do volume de cimento para a resistência à com-
o ensaio de flexão para controle de obra, as normas de execução de alvenaria permitem molda- !1 . pressão pretendida. Tanto a tabela quanto o diagrama disponibilizados aqui são válidos para
gem e ensaio direto do cubo de 4 cm, conforme Figura 4.36(d). Pinheiro 116 indica que para uma
cimento, cal e areia utilizados no trabalho, mas podem servir de base para novas dosagens.
faixa de resistência entre 4 e 15 MPa, os resultados obtidos com o CP cúbico são cerca de 15%
1
inferiores ao do CP cilíndrico. Deve-se notar que o corpo de prova é moldado em uma forma í
metálica estanque e, portanto, não absorvente. Normalmente, três exemplares são utilizados

114Baker et ai. (1991). 1


117 !d. ibid.
115 Chu et ai. (1999).
118 !d. ibid.
116Pinheiro (2011).
f

~1
/4ll"
~··
212 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL
MATERIAIS DA ALVENARIA 213

Areia (em volume)

65 70 75 80 85 90
areia )
Porcentagem de cal ( areia+cimento * 100 em peso

Figura 4.3 7 Diagrama indicativo de dosagem de argamassa. 12º

Embora ensaios de compressão em argamassas sejam importantes para controle de


qualidade, deve-se ter em mente que a resistência à compressão é geralmente menos impor.
lante que a aderência.
A quantidade de cimento é determinante na resistência da argamassa, enquanto a cal
permite melhor trabalhabilidade e aumenta a retenção de água, conforme Figura 4.38. Normal-
mente, diz-se que a argamassa é forte quando o cimento predomina, e fraca quando há mais
cal. Na maioria dos casos, o ideal é ter um meio termo entre a resistência e a trabalhabilidade
com o uso de argamassa com resultados na metade inferior do gráfico indicado. Conforme co-
mentado, a trabalhabilidade é mais importante que a resistência à compressão e deve-se tomar
o cuidado de especificar resistências adequadas à situação de uso pretendida. Argamassas de
resistências superiores a 20 MPa não são utilizadas nem mesmo em edifícios altos. Dentro da

- - - -- - - - - - - - - ---- - - - - -
faixa de resistência considerada adequada (ver item 4.8.2), um grande aumento na resistên-
cia à compressão da argamassa (f) traz um pequeno benefício à resistência à compressão da

-0·1-- 120 !d. ibid.


MATERIAIS DA ALVENARIA 215
21 A COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE AtVENARlA ESTRUTURAL

alvenaria (f.). Por exemplo, um aumento de 100% em f, normalmente proporciona aumento de A retração de argamassas é muitas vezes considerada da mesma maneira que o concre-
menos de i'o% em fk. A melhor trabalhabilidade resultará em melhor aderência e contribuirá to, na faixa entre 0,01a0,08%, sendo esta responsável por grande parte da retração da alvena-
para que a construção seja mais durável. Finalmente, deve-se destacar que a resistência à com- ria como um todo. Entretanto, os dados hoje disponíveis podem não ser válidos para o caso da
pressão medida no cubo de argamassa difere da real da argamassa entre os blocos. Na condição argamassa de assentamento, uma vez que os experimentos normalmente são feitos em corpos
real, entre os blocos, a argamassa tem sua quantidade de água reduzida pela sucção dos blocos de prova estanques. Esses corpos de prova não representam bem a fina faixa de argamassa
(portanto, é mais forte que no ensaio). Além disso, a aderência bloco-argamassa permite um existente na junta de assentamento, qu~ perde boa parte de sua água para os blocos, resultando
confinamento que também aumentará a resistência à compressão, conforme será discutido no em relação água/cimento bem menor e, portanto, com menor retração. Estudos sobre retração
de alvenaria (capítulo seguinte) são mais representativos.
próximo capítulo.
Argamassas fracas têm maior possibilidade de admitir deformações sem fissurar (ca-
racterística conhecida como resiliência) sob tensões aplicadas do que argamassas fortes. Isso
Resistência à compressão aos 28 dias MPa
significa que argamassas com maior teor de cal acomodam melhor pequenos movimentos.

30 /
.
..-
Grimm 122 indica que, após a fissuração, argamassas com alto teor de cal podem eventualmente
"fechar" pequenas fissuras ao longo do tempo. Como a cal era o principal aglomerante de
argamassas até o surgimento do cimento, muitas das construções históricas em alvenaria são
ainda hoje estáveis devido à boa resiliência de argamassas de cal.
./
25
/ Durabilidade
Para ser durável, a argamassa deve resistir às condições ambientais sem se deteriorar. As
20 principais causas de deterioração de argamassas são congelamento, erosão e ataque químico.
No caso de regiões muito frias, com ciclos de congelamento e descongelamento, a quantidade
/ de poros da argamassa é o ponto-chave para garantir boa durabilidade; nesse caso, essa carac-
15
/ terística é mais importante que a resistência. Para a maior parte das regiões brasileiras, sem
ciclos de congelamento, a durabilidade está mais ligada à resistência à erosão pelo vento e à
10 / presença de água, que geralmente depende de maior resistência da argamassa. Em algumas
situações, quando argamassas resistentes a sulfatos são importantes, o uso de cimentos resis-
5 tentes a esse agente aliado a outros cuidados pode ser necessário.
- - - Resistência à compressão
- Retenção de água
ol-~~--'-~.:_:_~-'-~~--'~~~-'-~~--' 4.8.5 Agregados para argamassa
Cimento ---+ 100 80 60 40 20 o
Cal -+O 20 40 60 80 100
Areia natural e artificial obtidas a partir de britagem de pedra geralmente são utilizadas
Proporção de cimento e cal (o/o}, areia= 3x (cimento+ cal} como agregados em argamassas e tipicamente são mais finas que a areia utilizada em concretos.
A areia é o componente de maior volume na argamassa e suas propriedades (tamanhos e granu-
Figura 4.38 Influência da quantidade de cimento e cal na resistência à compressão e retenção de água lometria) têm uma influência significativa nas propriedades da argamassa, tanto no estado fres-
(adaptada de Davison).' 21 co quanto endurecido. Areias graúdas normalmente produzem argamassas menos trabalháveis
e, portanto, o pedreiro geralmente prefere areias finas.
Variações volumétricas A granulometria pode ser descrita como a porcentagem de massa de areia que passa
A argamassa sofre variações em seu volume, incluindo encurtamento elástico ou por em cada peneira de diâmetro variável em uma série padronizada. Uma faixa de proporção em
fluência sob compressão, retração e movimentação térmica. Como essas variações geralmente cada diâmetro de peneira é permitida pela especificação, e quando essa faixa é plotada grafica-
são consideradas (e medidas) como parte da variação volumétrica global da alvenaria, esse mente, produz um envelope de granulometria permitido, conforme mostrado na Figura 4.39.
assunto será tratado no capítulo seguinte, com outras discussões nos demais capítulos. Aqui Quando a areia não tem granulometria dentro das curvas permitidas, ensaios de laboratório
são comentados apenas dois pontos: a retração da argamassa e o uso de argamassas fracas. são recomendados para avaliar o desempenho da argamassa, incluindo sua aderência com o

122 Grimm (1985).


121 Davison (1974).
216 COMPORTAMENTO E OJMENS!ONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL MATERIAIS DA ALVENARIA 217

bloco. Na prática, o uso de areia mais fina requer o aumento da quantidade de cimento, porém limitada a 10% do peso do cimento, e os pigmentos devem ser usados seguindo rigorosamente
este deve ser adicionado com cuidado para impedir retração elevada. A mistura de areias de as especificações do fabricante.
diferentes procedências pode ser necessária para melhorar a granulometria. Pigmentos óxidos geralmente se misturam com o cimento e cobrem os grãos de arga-
massa, e praticamente não descolorem. Estes são vendidos em pó ou em líquido e, em ambos os
100% casos, é importante que o pigmento seja disperso uniformemente na mistura e sua quantidade
limitada ao mínimo necessário. O uso, de quantidades elevadas pode reduzir a resistência da
90o/o
argamassa.
80% Pigmentos pretos de carbono podem ser utilizados para conseguir uma argamassa bem
70%
escura. A experiência indica que a quantidade deve ser limitada a 2% do peso do cimento, ou
ro a resistência pode ser prejudicada. Normalmente, argamassas com esse pigmento descolorem
""-ã 60o/o rapidamente quando expostas ao ambiente.
8~
u 50%
ro
ro

l
'#-
40% 4.9 Graute
30%
4.9. l Requisitos de trabalhabilidade
20%

10% Graute para alvenaria é uma mistura de cimento, agregado e água com alto slump, que é
lançado ou bombeado no local da obra. O graute é usado para preencher os vazados verticais
0%
0,00 0,50 1,00 1,50 2,00 2,50 3,00 3,50 4,00 4,50 5,00 ou horizontais da alvenaria, aumentando a resistência e permitindo aderência da armadura.
#Peneira Eventualmente, o graute pode ser utilizado para preenchimento de espaços entre duas ou mais
paredes ou outro elemento de alvenaria.
Figura 4.39 Curvas limites de granulometria e curva granulométrica da areia utilizada em Pinheiro. 123 As principais diferenças entre graute em relação ao concreto são o alto slump (20 a 25)
e elevada relação água/cimento. Essa mistura fluida permite boa plasticidade e preenchimento
4.8.6 Aditivos e corantes completo dos vazados, e quando dosado de forma correta, baixa segregação. A consistência
muito fluida é necessária porque os vazados a serem grauteados geralmente são pequenos,
Aditivos com possibilidade floinda de haver saliências de argamassa na seção a ser grauteada, e ainda
Entre os muitos aditivos disponíveis hoje encontram-se plastificantes, adesivos, ace- porque os blocos normalmente absorvem a água muito rápido após o lançamento, na prática
leradores e retardadores de pega. O uso desses aditivos normalmente tem uma influência na reduzindo a relação água/cimento do graute.
resistência e, portanto, devem ser utilizados com cuidado. Como regra básica, só devem ser A Figura 4.40(a) mostra o graute fluido após o ensaio de slump, e a 4.4l(b) ilustra a
aplicados quando especificados por engenheiro especialista e seguindo rigorosamente as es- alta absorção dos blocos após o lançamento do graute. Deve-se destacar que a absorção da
pecificações do fabricante. Usar aditivo em quantidade excessiva ou, ainda, exceder o tempo pasta de cimento do graute para os poros dos blocos é desejável para garantir boa aderência.
recomendado para a mistura causa grandes reduções na aderência e durabilidade. O slump do graute deve ser ajustado levando-se em conta a absorção do bloco e as caracterís-
ticas ambientais de temperatura e umidade. Por exemplo, o slump de 20 cm é adequado para
Corantes blocos de absorção moderada e espaços a serem grauteados relativamente maiores, enquanto
A aparência da alvenaria pode ser alterada significantemente com o uso de argamassas o slump de 25 cm (ou mais) é necessário para blocos de alta absorção e quando a área da seção
coloridas. O uso de cimento branco e areia levemente colorida pode produzir um contraste a ser grauteada é muito pequena.
interessante com blocos mais escuros ou uma bela mistura com blocos levemente coloridos. A
cor da argamassa pode ser alterada com uso de pigmentos. Óxidos minerais são especialmen-
te adequados para colorir argamassas, pois são inertes e quimicamente estáveis e, portanto,
dificilmente causarão problemas de eflorescência ou descoloração. Sua dosagem geralmente é

123 Pinheiro (2011).


218 COMPORTAMENTO E DIMeNS!ONAMENTO DE AlVENAR!A ESTRUTURAL MATERIAIS DA ALVENARIA 219

normalização brasileira permite o uso de argamassa para grauteamento quando a necessidade


) de aumento de resistência à compressão é pequena e quando não há presença de armadura.
Nesse caso, é necessário o aumento da quantidade de água da argamassa e a eficiência do
grauteamento deve ser comprovada por ensaios de compressão de prisma. O procedimento só
é possível se houver elevado controle na obra.

Tabela 4.13 Resultados de ensaios de alguns traços l!e graute grosso (cortesia Ernesto Silva Fortes).

Traço (vohune) Traço (massa) Á Resistência à Desvio Resistência SI


cimento: cal: cimento: cal: . gua
/
compressão padrão caraterística à ( umr
areia: brita O areia: brita O cimento média (MPa) (MPa) compressão (MPa) cm
(b) Água do graute fluido sendo absorvida pelo bloco,
(a) Ensaio de slump do graute fluido. resultando em umidade na superfície da parede (cor- 1:O,1 :2,4:2,2 1:0,06:2,55:2,28 0,70 18,3 0,94 17,6
tesia de Gary T. Suter). 1:0,1:1,8:1,8 1:0,06:2,28:2,28 0,62 23,7 23,l
22 ± 1
Figura 4.40 Graute fluido em alvenaria de grande absorção. 1:0,1:1,5:1,6 1:0,06:2,12:2,02 0,58 26,3 !,OI 25,4
1:0,1:1,0:1,3 1:0,06:1,42:1,64 0,45 36,5 35,9
Um tipo particular de graute, conhecido como autoadensável, tem sido desenvolvido
recentemente, 124 tendo como base a tecnologia semelhante utilizada com sucesso em concre- 4.9.3 Aditivos
tos125 desenvolvida no Japão. O graute autoadensável possui fluidez suficiente para dispensar
qualquer tipo de adensamento (manual ou mecânico com vibrador), se mantém homogêneo Vários aditivos estão disponíveis no mercado, e que podem ser úteis especialmente
antes e depois do lançamento e flui facilmente em espaços pequenos e regiões com armaduras. quando os blocos têm absorção elevada. Alguns aditivos podem ajudar a controlar a rápida
O traço é geralmente dimensionado com agregados finos e aditivos para conseguir a reologia perda de água do graute para o bloco e reduzir o potencial de aparecimento de fissuras devidas
adequada. A redução do agregado graúdo reduz o atrito entre as partículas da mistura, melho- à retração tanto no graute quanto na interface do graute e bloco. Os aditivos normalmente
rando a fluidez do graute. Pontos importantes em relação ao graute incluem: tipos, aditivos, contêm agentes ligeiramente expansores para compensar a retração.
resistência à compressão e lançamento. O efeito do aditivo (superplastificantes, polímeros, expansores, retentores de água e ou-
tros) foi avaliado de forma qualitativa pela inspeção visual de vazados grauteados em blocos
4.9.2 Tipos cerâmicos, conforme Kingsley et ai."' Esse estudo indica algumas das vantagens do uso de adi-
tivos para reduzir a quantidade de água, mantendo as características desejáveis. Nesse trabalho
Na maioria das aplicações em alvenaria, os espaços a serem grauteados são pequenos e a foi utilizado graute com um aditivo especial à base de pó de alumínio, um plastificante e um
dimensão do agregado deve ser escolhida de maneira apropriada. Quando a menor dimensão agente retentor de água. Devido à expansão, retenção de água e menor quantidade de cimento,
do vazado a ser grauteado não excede 5 cm, a areia de dimensão máxima de 6 mm pode ser a mistura se mostrou eficiente em minimizar qualquer tendência de separação da interface do
adotada. Para vazados maiores geralmente a máxima dimensão do agregado pode ser de 10 mm. graute com o bloco, contribuindo ainda para redução da retração. A proporção dos aditivos
A Tabela 4.13 mostra alguns resultados de ensaio de graute grosso, válidos para os materiais deve ser respeitada, sendo comum quantidades em torno de 1 kg de aditivo para cada 100 kg
utilizados nesses ensaios. Com base na dimensão do espaço a ser grauteado, a engenharia da de cimento. Como os aditivos expansores e os plastificantes são sensíveis ao tempo, nenhum
obra deve escolher entre o uso de graute fino ou grosso. atraso deve ser permitido no lançamento com o uso desses produtos. Por esse motivo, os
Para garantir a fluidez e plasticidade do graute e também diminuir sua retração, é possí- aditivos são incluídos na mistura apenas no local da obra, mesmo em caso de uso de graute
vel a utilização de cal até o máximo de 10% do volume de cimento. Em construções modernas industrializado. Uma redução elevada na quantidade de água pode causar uma excessiva rigi-
com uso de grautes industrializados, o uso da cal é eventualmente prescindido. É importante dez do graute com a absorção da água pelo bloco. Cloretos de cálcio não devem ser utilizados
que a mistura não apresente segregação. como aditivos devido ao risco que este causa em eventuais armaduras existentes.
A não ser que especificamente permitido pelo projetista estrutural, nem o concreto
nem a argamassa podem ser considerados como bons substitutos do graute. Entretanto, a

124 Ryan (2004).


125 Vachon (2002). 126 Kingsley et ai. (1985).
220 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL MATERIAIS DA ALVENARIA 221

4.9.4 Resistência à compressão Recomenda-se que a resistência do graute não seja inferior a 15 MPa, sendo esse o
valor mínimo obrigatório em pontos com armadura para garantir a aderência. Nas obras de
Ensaios de resistência à compressão de grautes são importantes do ponto de vista do maior vulto, deve-se proceder à dosagem experimental, sendo um indicativo para a resistência
controle de qualidade, e são utilizados para comprovar o atendimento às especificações do pro- do graute a mesma resistência do bloco, considerando a sua área líquida. O uso de graute de
jetista. A resistência do graute tem influência no comprimento de ancoragem de armaduras e, resistência muito superior à resistência do bloco na área líquida não traz benefícios à alve-
também, na resistência à compressão da parede (tópico discutido no capítulo seguinte). naria. Recomenda-se a especificação de graute~ em uma faixa de resistência próxima dessa
Alguns resultados de resistência à compressão de graute de moldes cilíndricos não ab- referência, eventualmente um pouco illferior. }j"o caso de blocos vazados de concreto e blocos
sorventes são indicados na Tabela 4.13. O ensaio dos cilindros de graute é a base do controle cerâmicos vazados, a relação de área bruta e líquida se aproxima de 2,0 e 2,5, respectivamente.
desse material em obra, entretanto a resistência real do graute lançado dentro do bloco geral- Nesse caso, uma estimativa inicial (indicativa) para a resistência do graute será de 2 a 2,5 vezes
mente é maior, pois, com a absorção de água pelo bloco, a relação água/ cimento é diminuída. A o fb,. Recomenda-se aproximar esse valor para as classes de resistência de concreto 15, 20 e 25
norma norte-americana ASTM C1019 especifica um molde feito com os blocos (Figura 4.42) MPa. E importante destacar que esses valores são indicativos, prevalecendo para o dimensio-
a serem utilizados para a construção do corpo de prova de graute, levando em conta nessa namento da alvenaria a resistência medida no ensaio de prisma cheio (bloco + argamassa +
moldagem a absorção do bloco. Normalmente, a resistência do graute dentro dos vazados dos graute), que em última análise é o resultado que interessa.
blocos (após absorção de água) é cerca de 50% superior ao do CP cilíndrico.

4. 1O Armaduras
Como no concreto armado a armadura é utilizada na alvenaria estrutural para resistir
a esforços de tração e cisalhamento, para aumentar a resistência a cargas centradas e para
permitir ductilidade em situações de ações excepcionais, como as sísmicas. Adicionalmente,
armaduras podem ser utilizadas para conectar paredes ou outros elementos distintos e para
controle de fissuração devido a deformações de retração, térmica, cargas concentradas ou
outras. Normalmente, como não se prevê o uso de estribos em armaduras verticais, estas não
são eficientes para o aumento da resistência à compressão.
Os tipos mais comuns de armaduras são barras de aço, armaduras de juntas, conectores
e cabos de protensão, sendo os dois primeiros os mais comuns. Recentemente, alguns proje-
Figura 4.41 Ensaio à compressão de graute em corpo de prova cilíndrico (cortesia Ernesto Silva Fortes). tistas têm recomendado o uso de armaduras treliçadas em canaletas. Outros materiais como
mantas, barras e cabos de polímeros plásticos têm sido estudados recentemente.

4. l O. l Barras de aço

O mesmo tipo de aço de concreto armado é utilizado em elementos como paredes,


Corpo de prova do graute vigas e pilares de alvenaria armada. O tipo mais comum é o CASO, com tensão de escoamento
de 500 MPa. Como não se tem conhecimento preciso da aderência da armadura + graute +
Contato com faces do bloco bloco, a normalização brasileira limita a tensão no aço a valores bem menores que essa tensão.
O diâmetro máximo permitido em alvenaria é de 25 mm em geral e 6,3 mm nas juntas de as-
sentamento. Também deve-se respeitar a taxa máxima de armadura por furo, que não pode ser
Bloco não absorvente nesta face superior a 8% da área da seção a ser grauteada, o que muitas vezes é o limitante do diâmetro
máximo. O módulo de elasticidade pode ser admitido igual a 210 GPa.

Figura 4.42 Molde para graute de acordo com ASTM Cl019 (adaptada desta norma).
222 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL MATERIAIS DA ALVENARIA 223

4.10.2 Armadura para juntas de assentamento Essas barras não precisam de outra proteção como pintura epóxi ou galvanização. Conectores
entre paredes e armaduras nas juntas de assentamento podem ser expostos a umidades consi-
Armaduras em forma de treliça plana ou "escadas", formadas por fios soldados e galva- deráveis, necessitando, portanto, de proteção especial. Armaduras em juntas de assentamento
nizados, foram desenvolvidas para serem utilizadas nas juntas de alvenaria como armaduras geralmente são galvanizadas. Aços inoxidáveis têm sido também utilizados. A especificação cor-
horizontais. Estas podem ser utilizadas especialmente para controle de fissuração em alve- reta de proteção contra a corrosão é muito importante para a durabilidade da alvenaria.
narias muito compridas, sob cargas concentradas, painéis de alvenaria ou, ain'cta, em vergas
e contravergas ou vigas. São formadas geralmente por fios de diâmetro máximo de 4 mm,
larguras de 5,0, 6,5, 11,5 e 17,5 cm para aplicação em alvenarias de diferentes espessuras, e 4. 11 Materiais complementares
comprimento próximo a 3,0 metros. A tensão de escoamento do aço geralmente é de 500 MPa.
Uma variedade de outros materiais está associada à construção em alvenaria. De ma-
neira geral, a função destes é permitir o controle de deformações e a proteção térmica e contra
umidade. Além de atender a essas funções particulares, cada material deve ser durável, não
corrosivo e fácil de instalar. A proteção contra umidade é de extrema importância e pode ser
obtida com o uso de vários materiais como membranas, argamassas, pinturas, perfis plásticos.
Mais informações sobre esses detalhes são fornecidas nos capítulos seguintes, sendo aqui co-
mentadas apenas algumas notas básicas.

4. 1 l . l Materiais para preenchimento de juntas

O controle das deformações a que a alvenaria está sujeita é feito com a especificação de
Figura 4.43 Armaduras para juntas de alvenaria. juntas que não oferecem maior resistência à expansão ou retração. Os materiais usados nessas jun-
tas devem permitir esses movimentos e também podem ser projetados para impedir a entrada
4. 1O. 3 Conectores de água. Os tipos de selantes mais comuns são de silicone, acrílicos, de poliuretano, polissulfetos,
asfálticos ou mesmo de borracha. Polissulfetos, poliuretanos e silicones são considerados selantes
Vários tipos de conectores são utilizados em alvenaria estrutural. O termo pode ser elásticos de alta performance e são, em geral, recomendados para edificações. 127 Perfis de borracha
utilizado para parafusos, telas e barras de amarração e outros tipos de conectores. Parafusos ou de plásticos (como o PVC) podem ser usados em conjunto, ou não, com os selantes.
são utilizados para prender elementos, como pré-moldados leves na alvenaria. Telas e barras
de amarração geralmente são usadas na ligação de paredes quando não há amarração direta.

4. 10.4 Cabos de protensão

Os mesmos cabos utilizados em concreto podem ser usados em alvenaria estrutural,


porém é preferível o uso de sistemas com barras e porcas. A tecnologia para protensão de
alvenaria é conhecida e, recentemente, recomendações para projeto e execução foram acres-
centadas à normalização brasileira.

4. 1O. 5 Proteção contra corrosão

Todos os tipos de aço usado nas construções em alvenaria devem ser protegidos contra
corrosão, a qual ocorre na presença de oxigênio e umidade tanto por oxidação quanto galvânica.
Quando a armadura está embutida em um graute denso e livre de contaminações, ela é provavel- Figura 4.44 Junta com perfil de plástico (cortesia Gary T. Suter).
mente tão resistente à corrosão quanto se estivesse embutida em concreto. Essa é uma situação
típica e comum de armaduras dentro de graute bem adensadas e com cobrimento adequado. 127Beall (1999).
224 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE AtVENARIA ESTRUTURAL MATERIAlS DA AtVENARIA 225

4. 11 .2 Impermeabilização entre a base de alvenaria e o revestimento não ocorre por adesão química, e sim mecânica, sendo
as duas propriedades descritas neste parágrafo essenciais para a aderência. Superfícies lisas e vitri-
A impermeabilização é obtida geralmente com 1a aplicação de um revestimento ou ficadas são mais difíceis de permitir uma boa aderência.
membrana contínua de materiais estanques, ou quase-dstanque, sobre a face da parede para Em relação à alcalinidade, os blocos (exceto os de concreto) normalmente são neutros,
impedir a entrada de água. Alvenarias em contato com o solo ou com água exigem proteções porém a argamassa é altamente alcalina. Blocos de concreto também são alcalinos, sendo os
de melhor qualidade, e é necessário o uso de materiais que podem acomodar deformações e blocos autoclavados de menor alcalinidade. A alcalinidade da base pode provocar uma reação
que sejam duráveis. química com certos tipos de pintura ~m esmalte sinteco ou tinta a óleo, sendo necessários
Argamassas de impermeabilização são aplicadas em duas ou mais camadas em sentido cuidados especiais quando usados esses tipos de pinturas.
cruzado. Normalmente, a parede deve ser molhada antes da aplicação de cada camada, res- A presença de sais solúveis nos blocos ou argamassa também pode prejudicar o reves-
peitando um tempo mínimo (de seis ou mais horas) entre cada camada. Para a impermeabi- timento. Se a quantidade de impurezas nesses componentes for elevada, pode ocorrer uma
lização de fundações, o revestimento com esse tipo de argamassa começa abaixo do solo e se patologia chamada etlorescência. A umidade que eventualmente entra na parede ou no re-
estende até uma altura acima deste, podendo ainda servir de base para uma segunda camada vestimento torna estes sais solúveis. Quando a água evapora, traz os sais para a superfície,
de proteção, como pintura asfáltica ou de outro tipo. ocasionando manchas conhecidas como etlorescência, que pode ainda causar o descolamento
do revestimento ou da pintura. A força exercida pela cristalização dos sais pode facilmente
4.11.3 Drenagem ser maior que a aderência da pintura ou do revestimento, causando essa patologia. A melhor
forma de evitá-la é escolher materiais de qualidade, sem impurezas. Uma vez instalada a pato-
Mantas e tubos (barbacãs) são utilizados para drenagem da água e impedir o contato logia, pode-se tentar minimizá-la impedindo a entrada de umidade na parede. Com o passar
destas em paredes. As mantas podem ser de drenagem tipo geotêxtil ou de impermeabilização do tempo, é provável que a patologia diminua.
como papel kraft, com camada de betume, podendo ser utilizados em conjunto ou não, de- Pinturas hidrofugantes geralmente são utilizadas em alvenarias aparentes, para propor-
pendendo da aplicação. Tubos de drenagem podem ser alocados nas juntas de assentamento e cionar a correção de pequenas imperfeições da superfície e impedir a penetração de água, mas
servem para eliminar a água acumulada na face impermeabilizada. ao mesmo tempo possibilitando que a parede "respire'; o que permite a passagem de vapor
d'água da face interna para o exterior. Essas pinturas podem ser à base de solventes ou água e
4. 1 1 .4 Revestimento e pintura conter uma quantidade de pigmentos e agente aglomerante. Como sua adesão é essencialmen-
te mecânica, espera-se ter uma boa textura da base. Silicones são comumente utilizados como
Em algumas situações, como muros ou alvenarias aparentes, o revestimento e a pintura pinturas hidrorrepelentes, embora a palavra silicone possa ser utilizada para uma grande fa-
da parede podem ser dispensados. Nesse caso é recomendável a especificação de bloco de mília de produtos químicos.
maior resistência (mais durável) e aplicação de camada de pintura hidrofugante, com, ainda, a Qualquer que_ seja o tipo de revestimento e pintura previstos, deve-se ter em mente
necessidade de manutenção dessa pintura de tempos em tempos. que o desempenho da parede será prejudicado com a entrada de umidade através de defeitos
Na maioria das construções, a alvenaria irá ainda receber um revestimento e pintura. na execução, detalhamento incorreto de juntas e outros detalhes. Na presença constante de
Os revestimentos podem ser de argamassa de cimento-cal, de argamassa de gesso, de gesso umidade, o revestimento e a pintura muito provavelmente irão descolar. A especificação e
liso ou cerâmico. Uma grande vantagem associada à construção em alvenaria estrutural é a o detalhamento correto do projeto de revestimento, aliados ao cumprimento das recomen-
sua precisão construtiva permitir que as espessuras de revestimentos sejam as mínimas neces- dações para execução, são as chaves para o desempenho adequado do sistema de alvenaria,
sárias especificadas em projeto. revestimento e pintura.
Vários fatores relacionados à base (alvenaria) interferem na especificação e no desem-
penho do revestimento, como porosidade, textura da superfície, alcalinidade e presença de
sais solúveis. A falta de atenção com essas características pode prejudicar o desempenho do 4. 12 Considerações finais
revestimento, prejudicando o da alvenaria.
A porosidade pode ser definida como qualquer espaço de dimensão mínima onde molécu- Este capítulo trouxe informações sobre os diferentes materiais utilizados na alvenaria
las estranhas à unidade, como de água, podem penetrar. 128 De acordo com essa definição, tanto os estrutural. Pode-se perceber que cada grupo de componente, como os blocos, traz diversas
blocos quanto as argamassas são porosos, devendo as argamassas de revestimento ser compatíveis alternativas quanto ao material a ser utilizado, cada um com propriedades físicas distintas.
com essa base. A textura da superfície afeta a aderência do revestimento. Geralmente, a aderência Para que a alvenaria tenha bom desempenho quanto ao seu estado limite último (ruína) e
de serviço (uso), a seleção correta dos materiais é importante, os quais também devem ser
128Sereda (1970). compatíveis.
226 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE AtVENAR!A ESTRUTURAL MATERIAIS DA ALVENARIA 227

Resistência e características elásticas de bloco, argamassa e graute foram discutidas nes- 14. Você recebeu um relatório de ensaios à compressão de treze blocos cerâmicos de 14 x 29
te capítulo. Quando estes materiais são combinados em conjunto com elementos de alvenaria, cm com os seguintes resultados: 6,2; 6,2; 6,2; 6,3; 6,4; 6,5; 6,6; 6,7; 6,1; 6,2; 6,4; 6,6; 6,8.
a resistência e a deformabilidade dependem da interação entre cada componente. Esse com- Calcule o fbk'
portamento é tópico do próximo capítulo. A especificação e o correto uso desses materiais em
obras de alvenaria, seguindo-se as recomendações de norma, são fundamentais para se obter 15. Considerando bloco com fbk = 6 MPa a ser usado para construção de um prédio de 4
uma construção segura e durável. pavimentos, especifique valores ,de resistência à compressão da argamassa e graute.

16. Organize uma visita a uma fábrica de blocos cerâmicos e identifique quais materiais são
4. 13 Exercícios utilizados como matéria-prima, os equipamentos e o processo de produção.

1. Indique os tipos de blocos cerâmicos existentes e suas principais propriedades físicas. 17. Organize uma visita a uma fábrica de blocos de concreto e identifique quais materiais
são utilizados como matéria-prima, os equipamentos e o processo de produção.
2. Indique os tipos de blocos de concreto existentes e suas principais propriedades físicas.
18. Em grupos de dois alunos, identifique uma tração de argamassa para resistência previs-
3. Estime qual é a resistência à tração de um bloco de concreto de 10 MPa. Discuta qual ta de 5,0 MPa e:
a importância dessa resistência. Qual é a influência do formato dos vazados nessa
resistência? a) Ajuste a quantidade de água para uma consistência de 115% e faça três corpos
de prova cúbicos para ensaio à compressão. Ajuste a quantidade de água para
4. Discuta fatores que afetam a resistência à compressão de blocos e tijolos. consistência de 130% e molda mais 3 CPs. Realize os ensaios aos 7 dias.
b) Usando blocos cerâmicos ou de concreto, construa uma pequena parede avalian-
5. Qual a diferença entre referência de resistência na área líquida e bruta? Qual o padrão do a trabalhabilidade e se existe boa aderência inicial.
nacional para bloco? c) Determine as demais propriedades da argamassa.
d) Faça um breve relatório técnico das suas experiências.
6. Qual a espessura mínima das paredes de um bloco vazado de concreto de classe B?
19. Prepare 3 corpos de prova de graute de dois traços distintos tentando atingir a resistên-
7. Qual a espessura mínima das paredes de blocos cerâmicos vazados? cia de 15 e 20 MPa. Realize os ensaios e escreva um breve relato com as suas conclusões.

8. Discuta como o procedimento de ensaio pode afetar a resistência à tração de um bloco 20. Localize um edifício em alvenaria estrutural e identifique o tipo de bloco utilizado e
de concreto. o sistema de revestimento e pintura, atentando para os detalhes executivos previstos
(juntas, etc.). Considerando a idade do revestimento e a presença ou não de patologias,
9. Defina AAI e discuta sua importância na aderência bloco e argamassa. avalie o desempenho deste.

10. Especifique a resistência mínima de um bloco de concreto e da argamassa para ser uti-
lizada na construção de um muro de arrimo.

11. Especifique a resistência mínima de um bloco cerâmico vazado e da argamassa para ser
utilizada na construção de uma residência com alvenaria aparente.

12. Comente sobre as principais características dos blocos (resistência, absorção, precisão
dimensional).

13. Quais características são importantes na definição da argamassa?


CAPÍTULO 5 ...............................................................................................................
Comportamento de elementos em alvenaria

Figura 5.1 Ensaio de prisma de blocos de concreto e cerâmicos.

5.1 Introdução

Um elemento em alvenaria é composto de alguns ou todos os materiais componentes:


bloco, argamassa, graute e armaduras. O conhecimento das interações entre esses materiais e
de outros aspectos que afetam as propriedades físicas e mecânicas do elemento é necessário
para entender o funcionamento básico da alvenaria. A partir dessa base, e reconhecendo algu-
mas limitações do conhecimento existente sobre alvenaria, espera-se que o leitor possa avaliar
corretamente as aplicações dos procedimentos para projeto e execução conforme normas e
também avaliar estruturas existentes. Não existem regras simples que permitam antecipar to-
das as situações.
Como comentado no capítulo 4, a determinação das propriedades físicas e mecânicas
de cada material individualmente é importante para manter o padrão de qualidade tanto do
fabricante quanto da obra. Além disso, é necessário certificar que as características de cada
material estão dentro de uma faixa previsível, uma vez que as características da alvenaria serão
estimadas em função dos materiais que a constituem. Por exemplo, para que seja razoável
adotar determinada resistência de tração na flexão, as propriedades do bloco e da argamassa
(e as condições de execução da obra) devem ser razoavelmente iguais às especificadas pelo
projetista.
Para atender aos requisitos necessários de tempo e custo tanto durante a fase de projeto
quanto de execução, é desejável que, sempre que possível, as propriedades especificadas para a
alvenaria sejam atestadas por ensaios simples e de custo não elevado nos materiais individuais.
Assim como no concreto, é comum certificar a qualidade da alvenaria em função de
sua resistência à compressão, medida por meio de ensaios de compressão de prismas de dois
blocos e uma junta de argamassa (Figura 5.1). A partir desses ensaios, calcula-se a resistên-
cia característica (a compressão) do prisma, o fpk' Várias tentativas foram feitas para tentar
determinar as características da parede por esse ensaio, entretanto elementos de alvenaria
se comportam de maneira bem complexa em função das interações entre os materiais que
.~TSlà<"..d!l J:e;!W1l1 ~" R'<tJ c..,-::in~~ "° ~M.
B!BL!OTE(:,;\ CF:t.!TR~~l
230 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE AlVENARIA ESTRUTURAL COMPORTAMENTO DE ELEMENTOS EM AtVENARIA 231

a compõem. Para saber precisamente o comportamento da alvenaria é preciso conhecer e Como mostrado na Figura 5.4, um prisma geralmente tem a dimensão de um bloco
avaliar precisamente as propriedades dos materiais também. pela largura e pelo comprimento, e pode ser construído de várias alturas, de 2 a 5 fiadas. Em-
A geometria dos blocos e os planos de fraqueza criados nas juntas de argamassa resul- bora o tipo de amarração (junta amarrada ou não amarrada no plano de parede) e a forma de
tam em um comportamento ortótropo da alvenaria, adicionando outros fatores à análise. A disposição da argamassa possam variar em cada construção e ter influência na resistência, o
grande variação de tipos, formas e dimensões dos blocos e tijolos e algumas diferenças nos prisma geralmente é padronizado.
métodos de ensaio contribuem para aparentes diferenças de comportamento mecânico. Além Para a determinação da resistênc;ia à compressão de alvenaria de blocos, a normalização
disso, diferenças em relação a qualidade da execução, idade e procedimento de cura são difí- brasileira padroniza o tipo A, com dois blocos e argamassa em toda a face do bloco, indepen-
ceis de medir nesse já heterogêneo material. dentemente se a construção é feita com assentamento de argamassa apenas sobre as laterais ou
Neste capítulo são descritos vários comportamentos e interações, com base em ensaios sobre toda a face dos blocos. Prismas de 5 blocos de altura são usados para ensaio de flexão,
representativos feitos com materiais e modelos específicos. O leitor deve entender que as des- conforme o item seguinte.
crições aqui feitas indicam tendências gerais, porém são específicas dos materiais estudados. Alternativamente, uma forma de tentar representar a resistência da parede como cons-
Casos particulares dos materiais a serem aplicados em cada construção devem ser avaliados truída é o prisma do tipo B, com duas juntas e com disposição de argamassa de acordo com a
com cautela. Quando n,ecessário, métodos de ensaios são apresentados. execução da obra.
Conforme será detalhado a seguir, para desenvolvimento de novos produtos e de pes-
quisa, recomenda-se que o prisma de blocos tenha pelo menos 4 fiadas de altura, e o de tijolos
5.2 Compressão simples pelo menos 5. Esses prismas têm a vantagem de serem suficientemente curtos para não sofrer
influência do efeito de esbeltez, porém compridos o suficiente para não serem influenciados
5.2. 1 Introdução pelo efeito de restrição das placas de aplicação de cargas nas extremidades do prisma. Outra
opção, ainda melhor para essas finalidades, é a realização de ensaios em pequenas paredes de
Com o atual uso de materiais de alta resistência, com unidades pouco espessas, are- dois blocos de comprimento e cinco fiadas de altura, conforme indicado no anexo B das NBRs
sistência à compressão é de extrema importância para a alvenaria estrutural. Como citado na 15812 e 15961 (Figura 5.2).
introdução, ensaios de resistência à compressão de prisma são utilizados para a determinação
da capacidade de resistência da parede e também para controle de obra. Essa importância fez Sentido de aplicação da carga

e~
do ensaio de prisma um dos principais ternas de pesquisa, além das relações dessa resistência
com resistência à compressão de blocos e paredes. Limitações em máquinas de ensaios, tanto Base para aplicação da
em relação à sua capacidade máxima quanto às suas dimensões limite, além de outras conside-
rações práticas, acabaram por definir o prisma corno o principal corpo de prova para avaliação
de alvenarias, ao invés de paredes em escala real ou mesmo pequenas paredes.
Extensômetros mecânicos

5.2.2 Ensaios padrão de prisma Defletômetros

Tanto a NBR 15961-2 quanto a 15812-2 no anexo A trazem especificações para deter- H

minar a resistência à compressão e de elasticidade de prismas de dois blocos. Essa especifica-


ção é em grande parte semelhante à de normas americana e canadense, a não ser pelo tipo de
capeamento permitido. A norma canadense CSA S304. l indica que o capeamento pode ser
feito com chapa de fibra de madeira (tipo soft) quando o desnível das faces dos prismas não
excede 1 mm em 406 mm. Caso contrário, a superfície deve ser previamente preparada em
capeamento "duro'' em pasta de cimento, enxofre ou gesso dental. Tanto a norma canadense
Figura 5.2 Ensaio de pequena parede conforme NBR 15812 e 15961.
quanto a americana permitem ensaios com capeamento duro, sem necessidade de chapa de
fibra de madeira. A normalização brasileira pede capeamento com pasta de cimento ou ar-
Um ponto importante em ensaios de prisma é o mecanismo de carregamento do topo
gamassa com resistência superior à do material do bloco, devendo a superfície ser plana e a
e da base do corpo de prova, incluindo tipo de capeamento (material e forma de disposição) e
espessura do capeamento inferior a 3 mm.
rigidez da placa de carregamento. Geralmente as máquinas de ensaio à compressão têm urna
232 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL COMPORTAMENTO DE ElEMENTOS EM ALVENARIA 233

rótula esférica de diâmetro de 200 a 250 mm, o suficiente para cobrir a largura de um bloco, • Deve-se destacar que o uso de várias placas para se obter a espessura final não é
porém inferior ao comprimento deste. Normas internacionais indicam que a espessura mí- considerado adequado, uma vez que a rigidez do conjunto não é a mesma de uma
nima da placa de carregamento deve ser igual à distância entre o canto mais distante da face única placa.
do bloco à rótula esférica (Figura 5.4). Por esse critério, para uma rótula de 230 mm e ensaio Muitas das máquinas de ensaio foram projetadas para cilindros de concreto, com
com bloco de 140 x 390 mm, a espessura da placa deve ter ao menos 87 mm. A normalização altura livre para ensaio entre 400 e 460 mm. Para acomodar essa dimensão, o pris-
brasileira não faz especificação relativamente a esse detalhe para o ensaio de prisma, sendo aqui ma de 2 blocos de altura, tem sido padrão. Deve-se, entretanto, reconhecer que
recomendado seguir as mesmas especificações da NBR 12118, que indica espessura mínima da a altura do prisma (e o número dé juntas) pode influenciar a resistência à com-
placa em função da carga de ruptura (ver capítulo anterior). pressão. Tanto a normalização americana quanto a canadense indicam fatores de
correção levando em conta a relação altura/espessura do prisma a serem aplicados
na análise dos resultados. Esses fatores de correção têm origem em ensaios de ca-
racterização bem antigos, descritos por Krefeld, 130 que são comentados no item
seguinte.
Seção transversal
do prisma

tl>~ a Método A Método B


Corte A-A

Corpo da máquina de ensaio ou


placa de carregamento inferior

Figura 5.3 Especificações americanas/canadenses para placa de carregamento em ensaios de prisma.


(a) Prisma para t = 30 cm nominal
alvenaria de tijolos (b) Prisma para alvenaria de blocos
A planicidade da placa de apoio e do prisma também é fundamental. São fatores impor-
tantes para ensaio: Figura 5.4 Possibilidade de prismas para avaliação da resistência à compressão (adaptada de CSA 304.1).

• Uma rótula esférica é necessária para aplicar o carregamento uniformemente no 5.2.3 Valor característico
prisma mesmo quando as extremidades não são perfeitamente paralelas. Seu uso
também permite acomodar deformações diferenciais entre cada parte do corpo A resistência 'à compressão do prisma é obtida, de acordo com a normalização brasilei-
de prova durante o ensaio. Portanto, excentricidades acidentais ou eventuais fa- ra, em seu valor característico, apesar de muitas vezes as normas internacionais trabalharem
lhas pontuais no corpo de prova (regiões mais fracas ou menos resistentes) irão com a referência do valor médio. Como exemplo, nos Estados Unidos é comum considerar a
resultar em deformações distintas, permitindo a fissuração dessas áreas. resistência do prisma a ser adotado em projeto como 80% do valor médio obtido em ensaios, o
• Limites práticos existem para a espessura máxima das placas de carregamento. que equivale a um coeficiente de variação da amostra de ensaio de cerca de 12%. Na Tabela 5.1
Os valores especificados acima têm sido utilizados com sucesso ao longo dos é apresentado um roteiro para cálculo de f,k' cuja única diferença em relação ao procedimento
anos. A análise de dados antigos, com uso de placas menos espessas, permite para cálculo da resistência característica de bloco é o limite de 0,85 da média, imposto como
avaliar o efeito do não atendimento dessa especificação. valor máximo. Esse valor foi imposto como forma de não mudar abruptamente o dimensiona-
Por exemplo, ensaios em blocos de concreto de 19 cm e capeamento rígido mostraram mento à compressão de alvenaria estrutural a partir das revisões de norma realizadas no início
um aumento de 9% quando a espessura da placa foi aumentada de 51 para 76 mm. da década de 2010, em relação aos procedimentos de versões antigas das normas. A conside-
Alternativamente, o uso de placas de alumínio entre 127 a 203 mm de espessura já foi ração do limite de 0,85 impõe considerar sempre um coeficiente de variação da amostra de
relatado positivamente como forma de minimizar o peso desse acessório. 129 prisma de no mínimo 9%, mesmo que os ensaios indiquem dispersão menor.

129 Maurenbrecher (1980) eHegemier et al. (1977). 130 Krefeld (1938).


234 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL COMPORTAMENTO DE ELEMENTOS EM ALVENARIA 235

Tabela 5.1 Cálculo de f k' valor característico. Modelos detalhados de ensaios de prisma são relatados, 132 os quais tentam explicar o
Notação/parâmetros mecanismo de ruptura e prever a resistência à compressão da alvenaria. Uma breve descrição
f 1 = resistência característica estimada da amostra expressa em MPa do mecanismo mais aceito, válido para casos em que a resistência à compressão da argamassa
2
f;;~s fp , ••• , fp; =valores dos resultados individuais dos ensaios de resistência à compressão dos corpos de
prova da amostra, ordenados em ordem crescente fp 1 < fp 2 < ... < fp, é inferior à do material do bloco, em que a ruptura ocorre por tração horizontal próxima à
i = n/2, se n for par junta (Figura 5.6(a)). Situações em que o bloco é mais fraco que a argamassa levam a formas de
i = (n-1)/2, se n for ímpar ruptura completamente diferentes, poi; esmagarpento à compressão do bloco (Figura 5.6(b)).
n é ígual à quantidade_::dc_e_::b:_loc:cc.os:_dc_a:._a_.-m_os_·t_ra_ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _~--,-
Porém, como não se recomenda essa combinaçâo de materiais, não se aprofunda aqui a análise
Quantidade
6 7 8 9 10 li 12 13 14 15 16 18 deste último comportamento.
de prismas
0 0,89 0,91 0,93 0,94 0,96 0,97 0,98 0,99 1,00 !,OI 1,02 1,04

f =f [fp,+pf,+ ... fp,_,]-f.


pki pk,est 2 . J
1-
P,

f ..• = 0,8S xf (média dos resultados) =Ü,8S· ~·~-~~


fp + ... +fp,)
P""' pm ( Il

f = 0 x fp (0 depende de n, de acordo com a tabela acima)


{ "'k·I = maior 'valor entre fpkl e fpk3 (a)
<k = menor valor entre fpk2 e fpk4
(b)
Figura 5.6 Forma de ruptura do prisma: (a) argamassa mais fraca que o bloco; (b) argamassa mais forte
5.2.4 Mecanismo usual de ruptura que o bloco (cortesia de Odilon P. Çavalheiro ).

Ensaios de prisma com baixa relação de altura/espessura (menor que 2:1) tendem a Prismas de blocos vazados ou tijolos com argamassa em toda a face de assentamento
ter uma ruptura cônica de cisalhamento-compressão, como mostrado na Figura 5.S(a). Esta A resistência à compressão de prismas é maior que a da argamassa e menor que a do
é similar ao tipo de ruptura comum de cilindros de concreto e pode ser explicada pelo efeito bloco, conforme é possível observar na Figura 5.7(a). Esse fenômeno pode ser explicado con-
de confinamento pelo atrito com as placas de aplicação de carregamento nas extremidade,s. siderando as diferenças de propriedades de cada material. 133 Sob compressão, a argamassa
Prismas com altura suficiente para minimizar os efeitos das placas de extremidade exibem menos resistente e/ ou mais deformável que o bloco tende a apresentar maior expansão lateral
fissuras verticais distribuídas nos bloco, como na Figura 5.5(b). que o bloco. Como mostrado na Figura 5.6(a), para uma mesma tensão, as deformações do
bloco e da argamass.à serão distintas e, também, a deformação lateral será maior na argamassa.

(a) Ruptura por cisalhamento típica


(b) Ruptura por fendilhamento
Figura 5.5 Tipos de ruptura de prismas.

Este último tipo de ruptura é observado em primas de baixa altura quando se toma o
cuidado de eliminar o efeito de confinamento, por exemplo, com o uso de placas tipo "escova
de aço". Esse padrão de fissuras verticais é observado em ensaios de paredes em escala real. 131
132 Francis et ai. (1970), Hilsdorf (1969), Brown & Whitlock (1982), Atkinson et ai. (1985), Hamid & Drysdale
(1979), Khoo & Hendry (1973) e Shrive (1983).
131 Marr (1992) e Structural Clay Products Research Foundation (1966). 133 Francis et ai. (1970) e Hilsdorf (1969).
236 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL COMPORTAMENTO DE ELEMENTOS EM ALVENARIA 237

o início da fissuração ainda dentro da curva de ruptura. Entretanto, independentemente da


Bloco sob compressão hipótese de modo de ruptura, o desenvolvimento de fissuras verticais é um fenômeno reco-
axial e tração biaxial
Bloco/tijolo nhecido. O aparecimento de fissura sob cargas bem inferiores à resistência do prisma indica
que cada parte separada de coluna vertical resultante da fissuração tem uma determinada
t,,1 Argamassa sob resistência, e uma combinação crítica de fissuras deve ocorrer para a ruptura final do prisma.
Argamassa tT
' compressão trirodal A diferença da resistência entre o bloco, e o prisma é maior em unidades sólidas (como tijolos)
e aumenta de maneira inversamente proporcion&l à relação altura do bloco/espessura da junta
Deformação vertical de argamassa. Em outras palavras, a resistência do prisma diminui conforme se aumenta a
(a) Diagrama tensão-deformação (b) Estado de tensões no bloco e argamassa quantidade de argamassa do conjunto, como aumento da espessura da junta de assentamento
ou com uso de tijolos maciços.
Ruptura idealizada de uma argamassa sob
estado triaxial de compressão em um prisma Prismas grauteados de blocos vazados
E B Ruptura idealizada sob
compressão axial e tração Dados de ensaios experimentais em blocos de concreto e cerâmicos 135 indicam que não
horizontal biro::ial é válido fazer a superposição de resistência do bloco mais seção grauteada para determinar a
resistência do prisma. O adensamento incompleto do graute, a retração plástica e por secagem,
Caminho de tensões na__/ a incompatibilidade entre curvas de deformação do bloco e graute e fatores geométricos po-
argamassa em um prisma Caminho de tensões em um dem explicar esse efeito.
bloco de um prisma
Trações iniciais devidas à retração do graute ou vazios criados pela compactação ina-

o_,
Tensão na l li fissura
dequada ou pela retração podem fazer o graute resistir a uma parcela do carregamento menor
Compressão Tração lateral que a esperada. Além disso, a diferença de deformação do bloco e graute (incluindo diferen-
tes coeficientes de Poisson) pode impor tensões horizontais adicionais ao bloco. Drysdale &
(c) Mecanismo de ruptura Tensões laterais
Hamid 136 relatam que essas forças laterais puderam ser verificadas pelas maiores deformações
A = Resistência de tração simples do bloco laterais medidas em ensaios de prismas grauteados em relação a medidas em prismas não
B = Resistência de compressão simples do bloco grauteados. Entretanto, essas maiores deformações também podem estar associadas à espessu-
C = Resistência de compressão simples da argamassa
D = Fissuração vertical no bloco ra variável das paredes dos blocos (de concreto), moldando uma forma trapezoidal do graute
ao longo da altura do bloco, que pode resultar !rações horizontais pelo efeito de cunha do
Figura 5.7 Comportamento de um prisma sob compressão simples. grauteamento.

Como mostrado na Figura 5.6(b ), para prisma construído com bloco "forte" (de elevado Prismas de blocos vazados com argamassa apenas nas faces laterais
módulo de elasticidade) e argamassa "fraca" (deformável), a expansão lateral da argamassa é
Prismas construídos com argamassa apenas nas laterais dos blocos exibem fissuras verti-
restrita pelo bloco. Essa restrição confina a argamassa e cria um estado triaxial de compressão,
cais através das paredes transversais dos blocos, como mostrado na Figura 5.8. Estudos analíticos
o que faz com que a resistência da argamassa seja superior à resistência de compressão sim-
indicam que os esforços transmitidos aos blocos ao longo das faces laterais produzem tensões
ples normalmente medida no ensaio de caracterização. A curva CE da Figura 5.6(c) indica a
verticais de compressão não uniformes ao longo da altura e largura do bloco. 137 Como efeito,
resistência da argamassa sob esse estado, sendo o ponto C a resistência de compressão simples.
são observadas tensões principais de tração no meio de cada parede transversal de cada bloco,
Para manter o equilíbrio, tensões horizontais de tração são impostas ao bloco na junta
conforme Figura 5.9. Considerando o padrão observado para as tensões laterais ao longo de cada
de argamassa. O aumento da tração horizontal biaxial no bloco é indicado pela curva OD na parede transversal, percebe-se que estas se assemelham à distribuição de tensões em uma viga-
Figura 5.6(c). Quando a combinação de compressão+ tração no bloco atinge o limite de resis- -parede, e, portanto, esse comportamento é, às vezes, chamado de analogia de viga-parede."'
tência idealizado pela curva AB, ocorrem fissuras verticais no bloco. Nesse ponto, a argamassa
ainda não rompe, uma vez que a curva de tensão solicitante OF não atinge a de resistência CE.
Opiniões e modelos matemáticos divergem sobre a magnitude e efeito relativo da tração 135 Drysdale & Hamid (1979), Chahine (1989) e Hamid & Chukwunenye (1986).
horizontal na junta de argamassa. Shrive 134 sugere que os defeitos nos blocos podem causar 136Drysdale & Hamid (1979).
137Hamid & Chukwunenye (1986).
134Shrive (1983). 138 Shrive (1982).
238 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL COMPORTAMENTO DE ElEMENTOS EM ALVENARIA 239

maciço. Essa redução é observada em ensaios, conforme Figura 5.11. Para a junta de 10 mm
de e~pessura, a relação prisma/bloco vale 0,49 e 0,74 para tijolos perfurados e maciços, res-
pectivamente, res,ultando n~ resistê~cia de prisma de tijolo perfurado igual a 69% da do tijolo
maci~o (nest~ analise, considera-se area líquida para ambos os casos). Pela simplificação, essa
relaçao sena igual 68%, valor próximo do anterior.

Figura 5.8 Fissuras verticais nas paredes transversais dos blocos em prismas com argamassa lateral. Seção transversal crítica com Seção transversal crítica
47% da área bruta A co1n 67% da área bruta
mm A

cr,
.§"
p.
o Área de argamassa igual a 65% da área bruta
Bloco
"""" 50
central Figura 5.10 Efeito de perfurações nos tijolos nas seções críticas para tração horizontal em cada direção.
~
1,2

(Jy-1,0 o.o 1,0 2,0 3,0 4,0 " a Tijolo maciço

Compressão Tração 1,0 • Tijolo perfurado


(69% maciço)
Figura 5.9 Distribuição de tensões horizontais (sY) na parede transversal ao longo da altura de um
prisma com argamassa lateral (MPa). o
' '
u ' '[j:P..._ "
5.2.5 Fatores que influenciam a resistência do prisma -"a
:ll
~
'b" .....
-""" - -
" '?!
·ep.
o
0,6
• "
%-
""
- -
Para prismas de tijolos maciços, de blocos vazados ocos ou grauteados, existem vários '"u- ••

aspectos geométricos e relativos às propriedades dos materiais que afetam a relação entre a ~
"' 0,4
G
••••
resistência do prisma e do bloco. Neste item, alguns pontos são discutidos.

Geometria do bloco
Como as fissuras verticais em prismas estão relacionadas com a tensão horizontal apli-
1. 0,2
Argamassa 1: 1:6, fa ,.., 5,0 MPa
f,k do tijolo maciço= 65,7 MPa
f,k do tijolo perfurado= 55,7 MPa
(ou 80,7 MPa, considerando área líquida)
·.---1

cada ao blocos, percebe-se que a resistência do prisma é afetada pela geometria do bloco.
Por exemplo, o prisma de tijolos cerâmicos perfurados normalmente vai apresentar menor
resistência de prisma do que tijolos maciços. Essa diferença pode ser explicada pela área de
Espessura média da junta de assentamento t mm
argamassa de assentamento e pela seção transversal do bloco que pode resistir à tração late- ""
ral. Como mostrado na Figura 5.10, uma redução de 31% na área líquida dos tijolos com a Figura 5.11 Efeito de perfurações nos tijolos e da espessura da junta horizontal na resistência à compressão
inclusão de perfurações pode resultar em uma redução de 53% na seção crítica para resistir à de prismas. 139
tração lateral (corte A-A). Desprezando fatores como concentração de tensões e outros, essa
análise simples indica uma redução para 47/69 = 0,68 da resistência do prisma se o tijolo fosse 139 Hilsdorf (1969).
240 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL COMPORTAMENTO DE ELEMENTOS EM ALVENARIA 241

Como geralmente os tijolos perfurados apresentam maior resistência devido à melhor


Blocos cerâmicos

f
queima através das perfurações, o efeito da diminuição da relação prisma/bloco é compensado 1,0
~az:o~u perfurad~
1-
pela maior resistência do bloco. Além disso, a melhora na durabilidade devido à melhor queima
será muito benéfica ao produto, mais até que o ganho de resistência.
Para blocos vazados de concreto e prismas com argamassa apenas nas laterais, ensaios 0,8
Q \_ tTodos os
feitos com blocos com quatro paredes transversais indicaram um aumento de 13% em relação o ' / tipos
ao bloco comum com 3 paredes transversais."º ·~
~

141
A altura do bloco também influencia a resistência à compressão do prisma, uma vez t 0,6 Tijolos maciços ou
8 prisma grauteado
que a expansão lateral do bloco, que se deve às diferentes propriedades do bloco e argamassa,
diminui com o aumento da altura do bloco. Geralmente, padroniza-se a altura de blocos em 190
mm e a espessura da argamassa em 1O mm.
'~
~ 0,4

D XO Resultado de ensaio
Altura do prisma 0,2
Como mencionado no item 5.2.2, prisma com relação altura/espessura próximo a 2,0 -{Fatores de correção de acordo
- - com a normalização canadense
normalmente apresenta uma forma de ruptura cônica por cisalhamento e compressão, que
não é consistente com a forma de ruptura observada em elementos de alvenaria. A Figura 5.13
. . . .
2 3 4 5
indica resultados de ensaios em prisma de blocos de concreto e de tijolos cerâmicos maciços Relação altura/espessura do prisma
com diferentes relações entre altura/espessura."'
A diminuição da resistência com o aumento da altura está associada à diminuição do efeito Figura 5.12 Efeito da relação altura/espessura do prisma na resistência à compressão em blocos ou
tijolos ·cerâmicos.
de confinamento dado pelos pratos de aplicação de carga, permitindo que a fissuração vertical
característica em elementos de alvenaria ocorra sem restrição. Além disso, prisma de dois blocos
com apenas uma junta de argamassa nem sempre permite a completa interação entre a junta de ar- A padronização de prisma de dois blocos é importante do ponto de vista prático e
gamassa e o bloco, como ocorre em paredes em escala real. Alguns pesquisadores"' defendem que pode ser utilizada para controle de qualidade. Nesse caso, o prisma moldado na obra pode
ter um número adequado de juntas é tão importante quanto a relação altura/ espessura do prisma. ser transportado mais facilmente e a altura do prisma permite o uso de vários tipos de má-
Conforme mostrado na Figura 5.13, a normalização canadense indica fatores de corre- quina de ensaio. Em contrapartida, ensaios para pesquisa, desenvolvimento de produtos ou
ção (diminuição) da resistência de prisma de tijolos ou blocos cerâmicos com relação altura/ outras situações especiais serão mais representativos do real comportamento da parede com
espessura menor que 5. Pode-se perceber um fator de correção entre 0,8 e 1,0 para prisma com o aumento da relação altura/espessura do prisma e da quantidade de juntas de assentamento.
relação menor que 5; para um prisma de bloco cerâmico vazado com relação 2,0, o fator de Os resultados de ensaios geralmente indicam uma redução de cerca de 15% na resistência à
correção vale 0,85, para blocos de concreto, adota-se o fator de 1,0 para prismas em geral, e 0,9 compressão em prisma de três ou quatro blocos quando comparados com de dois blocos. l4'
se o prisma for de dois blocos.
Resistência da argamassa
Como apresentado no item 5.2.4, as propriedades da argamassa influenciam a resistên-
cia do prisma. Os resultados de ensaio mostrados na Figura 5.13 mostram como a argamassa
!. de baixa resistência à compressão proporciona também prismas com baixa resistência. Essa
característica é mais notada especialmente para blocos de maior resistência. Embora aumentar
a resistência da argamassa ocasione um aumento da resistência de prisma, esse aumento é
menos perceptível à medida que a resistência da argamassa torna-se maior. Portanto, apesar de
uma resistência mínima de argamassa ser necessária, para fatores como trabalhabilidade e me-
nor potencial de fissura em argamassas mais deformáveis, recomenda-se não especificar uma
argamassa muito resistente em alvenarias. Em geral, indica-se que a resistência à compressão
140 Chahine (1989).
da argamassa deve ser a «mínima necessária de acordo com seu uso): sendo recomendável
141 Render & Phipps (1986).
142 Krefeld (1938), Hamid & Abboud (1986), Guo (1990), Boult (1979) e Page & Brooks (1985).
143 Boult (1979). 144Chahine (1989), Page & Brooks (1985) e Colville et ai. (1993).
COMPORTAMENTO DE EtEMENTOS EM ALVENARIA 243
242 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL

resistência entre 70% e 150% da resistência do bloco. Dentro dessa faixa, não se espera grande
influência da argamassa na resistência do prisma. O limite inferior é o mais adequado para '""'
""s'"
casos em que a carga vertical é predominante (caso de edifícios) e o superior quando a ação
horizontal é predominante (arrimos, caixas d'água, galpões) ou alvenarias aparentes. ·ê
40 • .
« • •• •
• 9
~
~

~og
• •8 ·['" 12,5
Valores aproximados
para área bruta
.,,""o • •.t. • .,,o • •
50 Blocos cerâmicos 14s
20
Blocos vazados de concreto 146
o 30
'"'
~
~

~
l •
8

' . .'
o
"'~
i....
10,0

7,5
S'o 20 • §
u u 5,0 ••
_,,., 15
'"'·8 10 '"'·8 Cada ponto representa o valor

'""'
40 .
'""' - ~- - -~t "
2,5 médio de 5 ensaios de prismas

• "
<V •V

••
de 4 blocos de altura
""s'"
~
·e
.,,""
V

·8o
30

Bloco de aproximadamente
""s'"
·ê
.,,""
V

·8
10 • •
Bloco de aproxiffiadamente
·*
V
,,,; 20 40 60 80
Resistência do tijolo, MPa

(a) Resistência do tijolo cerâmico 147


100 120 ] 7,5 10,0 12,5 15,0
Resistência do bloco, MPa

(b) Resistência do bloco vazado de concreto 148


17,5 20,0

<V
20 40MPa "
<V
.~
~
lOMPa

·*
V
,,,; ~
5
Prisma
oco
Prisma
grauteado
Figura 5.14 Efei~o da resistência do bloco na resistência do prisma.

....•
10 o
A
Levando em conta essa dispersão, tabelas com relações prisma/bloco encontradas em

.
Q

10
.
15
• 20
normas internacionais) como a canadense ou americana) geralmente são conservadoras e in-
dicam valores mínimos para relação prisma/bloco. Ensaios de prisma normalmente resultam
5 10 15 20 5
em valores superiores que os indicados nessas normas.
Resistência à compressão da argamassa, MPa Resistência à compressão da argamassa, MPa

Restrição devida ao atrito com a placa de carregamento


Figura 5.13 Efeito da resistência da argamassa na resistência do prisma.
O efeito da altura de prisma, discutido anteriormente nesta seção, é parte do efeito de
confinamento das extremidades devido ao atrito com a placa de carregamento. A Figura 5.15
Resistência do bloco
mostra a ruptura de prismas de dois blocos ensaiados com placas (a) de aço maciço e (b) tipo
Como mostrado na Figura 5. 14, a resistência à compressão do prisma depende muito da
escova de aço. Para -o caso (a), a ruptura é cônica, o que não representa bem a ruptura de uma
resistência do bloco. No caso de tijolos cerâmicos, a figura mostra que a relação não é linear, ha-
parede. No caso (b) percebe-se que há fissuras verticais, mais prôximas ao que ocorre em
vendo pouco aumento de resistência do prisma à medida que se aumenta a do bloco. Para blocos
uma parede. O uso de placa tipo escova, eliminando a restrição horizontal nas extremidades
vazados de concreto, percebe-se um efetivo aumento de resistência à compressão do prisma com
do prisma, ocasiona resultados menores que os resultantes do procedimento tipo (a).1''
o aumento do bloco, ao menos para a faixa usual de resistência de bloco. Como o mecanismo de
ruptura de um prisma é muito diferente que o de um bloco, fatores como resistência à tração e
geometria influenciam muito essa relação de resistência prisma/bloco, podendo-se observar nos
gráficos certa dispersão de resultados.

147 Monk (1967).

145 Monk (1967). 148 Chahine (1989).

146Drysdale & Hamid (1979). 149Guo (1990).


244 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL COMPORTAMENTO DE ELEMENTOS EM ALVENARIA 245

30 ....
Prisma cheio (grauteado)

(a) Ensaio com placa maciça (b) Ensaio com placa tipo escova de aço
Figura 5.15 Efeito do confinamento dado pela placa de apoio em prismas de dois blocos.
20 ....

t---------·-------

\
.... o
Amarração dos blocos ------ --~---g _______ _
Para melhor representar o comportamento da parede, deveriam ser construídos pris-
1
mas com o mesmo tipo de amarração e forma de disposição da argamassa como é construída O 1- Prisma oco ............... '
a parede. Em termos práticos e de padronização de ensaios, isso não é comum. O prisma é
construído com junta não amarrada, empilhando-se um bloco sobre o outro. Estudos compa- Resistências aproximadas
rativos em prismas de 4 fiadas de altura, com blocos assentados com junta amarrada ou não para área bruta
151 l
amarrada no plano das paredes, são relatados em Brown & Borchelt150 e em Hegemier et al.,
o 10 20
cujos resultados indicaram pequena redução de resistência de 15% para blocos cerâmicos va-
Espessura da junta (mm)
zados e de 4 a 13% para blocos vazados de concreto.
Figura 5.16 Influência da espessura da junta de assentamento na resistência do prisma de bloco vazado
Espessura da junta de assentamento de concreto. 153
Considerações práticas e estéticas proporcionaram a padronização da espessura de junta
de assentamento em 10 mm para a maioria dos tipos de alvenaria. Entretanto, a falta de mão de
obra qualificada ou a falta de coordenação modular dos demais componentes da obra podem Tabela 5.2 Influência da espessura da junta na resistência à co1npressão. 1s4
elevar a espessura de junta acima do limite permitido. Conforme se pode notar na Figura 5.16 Espessura (mm) Fator de redução
e Tabela 5.2, o aumento da espessura da junta causa a redução significativa da resistência do 6 1,00
prisma oco. Para alvenarias totalmente grauteadas, esse efeito é muito minimizado pela conti- 10 0,89
nuidade do graute. 152 13 0,75
Outra maneira de avaliar o efeito da espessura da junta é pela relação entre altura do
16
bloco e a espessura da junta. Conforme mostrado na Figura 5.17, ensaios em prismas de tijolos
20 0,48
cerâmicos resultaram em valores maiores com a diminuição da espessura da junta. Como
comentado no item 5.2.4, o aumento da espessura da junta diminui a resistência do prisma,
causando maior deformação lateral e fissuras sob cargas menores.

150 Brown & Borchelt (1990).


151 Hegemier et al. (1977). 153 Drysdale & Hamid (1979).
152 Brown & Whitlock (1982). 154 Camacho (1995).
COMPORTAMENTO DE ELEMENTOS EM ALVENARIA 247
246 COMPORTAMENTO E O!MENS!ONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL

o -;;;- • Prisma cheio


'"
~
~
60 "-< 30
o Prisma oco
V
M
C>.
6
E "E
ou
'"·d
40 - o
·EC>.
o
Superposição de
resistência ~ ............ ..
.. ,,. ...... --
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20 - o
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o 20
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~ -- -~-

~-.·;----r·çZJ·
M o C>.
o
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"iii o
o oE
u Regressão
0 •

E" -20 ....


o '" 10 I linear
V
u "'
«l
Resistência do bloco na
M
o -40
- O valor usual para tijolos é 6
"
1'

,/, área líquida= 19,7 MPa


C>.
o ·~
V
'"
Ü'
1 1 1
<Z

""'~"
1 1
-60
o 2 4 6 8 10 12 14 16 10 20 30 40
Relação entre altura do bloco/espessura da junta Resistência à compressão do graute (MPa)

Figura 5.17 Efeito da relação altura do bloco/espessura da argamassa.' 55 Figura 5.18 Efeito da resistência à compressão do graute na resistência do prisma. 156

Forma de disposição da argamassa de assentamento Relações prisma/bloco


A forma de ruptura de blocos vazados depende de a argamassa ser disposta sobre as A normalização brasileira não menciona tabelas de relação prisma/bloco; ao contrário,
paredes longitudinais do bloco (argamassamento lateral) ou sobre as paredes transve~sais e indica que ensaios de caracterização de prisma e de bloco devem ser sempre executados antes
longitudinais (argamassamento total). Ao se tomar como referência apenas a área efetiva de do início de uma construção ou pelo menos pelo fabricante dos blocos a cada seis meses.
argamassa, a resistência à compressão do argamassamento lateral é de cerca de 4 a 11 % n_i~ior Na Tabela 5.3 são indicadas algumas relações prisma/bloco estimadas, levando em conta a
do que com 0 argamassamento total. Considerando a área bruta ou a carga de ruptura, utilizar resistência do bloco, argamassa e eventual graute. Deve-se destacar que esta tabela é apenas
argamassa apenas nas laterais causará uma redução de cerca de 20% na resistência do prisma. indicativa, devendo cada situação ser avaliada por ensaios ou baseada no histórico daquele de-
terminado produto. Variações nesses valores foram observadas, especialmente para blocos de
Resistência do graute qualidade questionável. Como exemplo, relações prisma/bloco de até 0,30 são relatadas para
Como comentado no item 5.2.4, a alvenaria totalmente grauteada tem resistência à blocos cerâmicos de"qualidade ruim, ou de até 0,60 para blocos cerâmicos de bom fabricante
compressão inferior à que seria esperada pela simples superposição da capacidade do graute e resistência de 6,0 MPa. O fabricante do bloco deve fornecer ao seu cliente essa correlação.
mais a do bloco. Portanto, considerar o aumento de resistência de um prisma grauteado (f,()
em relação ao de um prisma oco (f,k), levando-se em conta apenas o aumento de área de ma-
terial devido ao grauteamento, pode levar a resultados contra a segurança. .
É importante que 0 projetista não tenha a ideia de que usar um graute de elevada resis-
tência resultará em um maior ganho à resistência da parede. Mesmo assim, como os vazados
de blocos normalmente ocupam uma grande porcentagem da área de seção transversal, mes-
mo não sendo diretamente proporcional ao aumento de área, o uso de graute é eficiente para
aumento da resistência à compressão.
A resistência de graute mostrada na Figura 5.18 foi obtida após a absorção de água do
graute pelo bloco. Corpos de prova cilíndricos moldados em forma estanque teriam resistência
igual a cerca de'! 3 desse valor• Pode-se perceber que o aumento progressivo da resistência do
graute causa pouco aumento na resistência do prisma.

156Drysdale & Hamid (1979).


155 Hendry ( 1981),
·-...-.. - ..

248 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL COMPORTAMENTO DE ELEMENTOS EM ALVENARIA 249

Tabela 5.3 Relações prisma/bloco estimadas. turamaior para blocos cerâmicos (0,32%) do que de concreto (0,18%). Outras referências trazem
, MPa f!' f resultados mais próximos, da ordem de 0,2%. Entretanto, como mostrado na Figura 5.19(b), a
Tipo de bloco ~--f------f-----f--~ fp/f1ik p/ bk
bk a k
deformação na tensão de pico pode variar em função da resistência do tijolo. A maioria dos en-
2,00 saios demonstra uma ruptura frágil após a carga de pico em máquinas de ensaio convencionais.
2,00 Essa não é uma indicação precisa do comportamento da alvenaria, mas sim função da dissipação
1,75 de energia acumulada na máquina de e,nsaio e no corpo de prova. Quando o ensaio é feito com
1,75 controle de deslocamento, existe uma clara curva descendente após a tensão de pico nas curvas
1,75 tensão-deformação. 157
1,60
1,60 - - Alvenaria de blocos cerâmicos Resistência do tijolo
~o 40
~
1,60 - - - · Alvenaria de blocos de concreto p., A: 71,7MPa
1,50
6o 30 B:45,3MPa

0,50
1,50
1,60
1,60
t
'&

u
30

20
""
~
~

~
S'
o 20
u
C: 25,5MPa

4,0 4,0 15,0 ,(<j ·ro A


6,0 6,0 15,0 0,50 1,60 ·g e
ro
·o B
<V
1' 10
8,0 6,0 20,0 0,50 1,60 ] 10 Blocos de 15 cm ~
·~
V
Argamassa 1:0,5:4,5 e
10,0 8,0 25,0 0,45 1,60
"' Argamassa 1:0,5:4,5
12,0 8,0 25,0 0,45 1,60 o 0,001 0,002 0,003 0,004 o 0,002 0,004 0,006
Deformação Deformação
10,0 8,0 20,0 0,60 1,60
(a) Alvenaria de blocos cerâmicos e de concreto 153 (b) Alvenaria de tijolos cerâmicos 159
15,0 12,0 25,0 0,60 1,60
Figura 5.19 Curvas tensão-deformação de alvenarias na compressão.

18,0 12,0 25,0 0,60 1,60


Módulo de elasticidade
(, "" resistência característica do bloco Como a curva tensão-deformação não é linear, o módulo de elasticidade pode ser de-
f, =- resistência média da argamassa
f, = resistência característica do prisma oco
finido como a secante ou corda de curva entre 5 e 30% da tensão de ruptura em ensaios de
~k =- resistência característica do prisina cheio prisma. Geralmente, essa região é ainda linear. A faixa inferior a 5% é ignorada, pois nesse co-
meço as deformações podem ainda estar associadas à acomodação das interfaces da argamassa
5. 2. 6 Relações tensão-deformação e bloco. Em elementos estruturais, essas acomodações ocorrem com o peso próprio.
Nos primeiros relatos sobre o módulo de elasticidade da alvenaria (E), este é estimado
Como a alvenaria não é homogênea, as deformações localizadas podem variar ao " como os mos-
entre 750 e 1000 vezes o valor da resistência de prisma (f,,). Resultados de ensaios,
longo da altura, comprimento e espessura de um elemento. Portanto, deformações devem trados na Figura 5.20, indicam valores muito dispersos, o que em parte pode ser justificado por
ser medidas em um comprimento razoável para se obter valores representativos. Uma base variações no ensaio de prisma, como sua configuração, carregamento, instrumentação e método
de medida de 200 mm permite levar em conta uma junta de argamassa e a altura de um blo- de cálculo. Ensaios posteriores 160 demonstram valores de 390 a 444 vezes o f,, para alvenaria
co. Para blocos de medidas não padrão, a base de medida deve ser de pelos menos a altura cerâmica e 554 a 633 para alvenaria de blocos de concreto. A normalização brasileira adota:
de um bloco mais uma junta de argamassa.

Curva tensão-deformação 157 Priestley (1986).


A Figura 5.19(a) mostra curvas tensão-deformação obtidas por meio de ensaios para al- 158 !d. ibid.
venarias grauteadas. A não linearidade a partir de cerca de 60% da carga de ruptura é evidente, 159 Hendry (1981).
especialmente para blocos de concreto. Os resultados indicam uma deformação máxima na rup-
160Grimm (1984), Hamid et a!. (1987), Wo!de-Tinsae (1993) e Lacika & Drysdale (1995).
250 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO OE ALVENARIA ESTRUTURAL COMPORTAMENTO DE ELEMENTOS EM ALVENARIA 251

• E' = 600 f pk para blocos cerâmicos; eia podem ser significativas para alvenarias. Os resultados de ensaios 163 indicam a relação entre
• E' = 800 fpk para blocos de concreto. deformação final e inicial entre 2 e 4, dependendo da propriedade dos blocos, argamassa, idade
e teor de umidade. 164
40 Seu mecanismo está associado à movimentação da água adsorvida na microestrutura
a
ro do material devido à pressão causada por uma força externa. Em comparação com outros
""
()
30 a tipos de alvenarias, as de blocos cerânticos têm uma deformação por fluência menor que de
"'"ro a tãi§18D aa
a
ªª blocos de concreto. Essa característica pode ser 1explicada pelo fato de ser criada uma camada
"""
"":g;;;
ro
20 .
.,,
D
.. ,,,,,
a tTa
a
~.
a\~á\ ªa
D ~
....
!l' ~ • cristalizada na superfície dos blocos cerâmicos após o processo de queima, o que os tornam
consideravelmente impermeáveis. Aliado ao fato de que toda a água é removida durante a
queima, a possibilidade de haver água adsorvida internamente nesses blocos é bastante impro-
"V
a D
'i!laªtã
tt1CI

""~ m~ a a a vável. Gomes 165 diz que a deformação lenta de blocos cerâmicos queimados a mais de 800 ºC
10 •B" ••::.'P •• é desprezível, sendo a fluência de alvenarias construídas com esse tipo de bloco dependente
"";;;:
•O
exclusivamente da argamassa. Em Parsekian 166 são sugeridos os seguintes valores de fluência
para projeto:
o 10

(a) Alvenaria de blocos cerãmicos 161 • Biocos de concreto: C = 0,5 mm/m/MPa;


• Blocos sílico-calcários: C = 0,5 mm/m/MPa;
• Blocos cerâmicos: C = 0,4 mm/m/MPa.
20 •
• • Esses valores são relativamente elevados, conduzindo a resultados conservadores. Ou-
15 o !i:: : tra opção é considerar o coeficiente de fluência, c, definido como a relação entre a deformação
por fluência e a deformação elástica inicial, igual a 3,0. 167
Para verificação das deformações no estado limite de serviço, nas recentes revisões na
normalização brasileira, é especificado considerar a deformação por fluência igual à deforma-
10 ção elástica inicial, ou seja, deformação final igual ao dobro da inicial.

Efeito do confinam.ento
Marcas cheias representam
5 Assim como no concreto, a resistência à compressão e a máxima deformação de ruptura
prisma cheio
podem ser aumentadas significativamente pelo efeito de confinamento lat.eral. Além disso, o
Marcas vazias representam comportamento pós-pico é mais estável com menor degradação da resistência. 168 Ensaios de
prisma oco
prismas em que placas de aço foram inseridas nas juntas de argamassa mostraram um aumen-
o 20 40 60 to de 40% na resistência. 169 A resposta pós-pico alterada pelo efeito de confinamento indicou
comportamento semelhante a modelos adotados para o concreto, como o de Kent-Park.
(b) Alvenaria de blocos de concreto 162

Figura 5.20 Módulo de elasticidade da alvenaria.

163 Lenczner (1980).


Efeito da fluência
O módulo de elasticidade indicado anteriormente é relativo a carregamentos de curta 164 Shrive & Tilleman (1995) e Brooks (1998).
duração. Assim como no concreto armado, deformações ao longo do tempo em razão da fluên- 165 Gomes (1983).
166 Parsekian (2002).
167 CSA S304.1 (2004).
161 Grimm (1984). 168 Priestley (1986) e Hart et al. (1988).
162 Hamid et al. (1987). 169 Ewing & Kowalsky (2003).
252 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL COMPORTAMENTO DE ELEMENTOS EM ALVENARIA 253

5. 2 .7 Relação entre resistência de parede e prisma na Figura 5.22, alvenarias grauteadas têm menor diminuição de resistência, enquanto valores
expressivos são verificados para paredes de blocos vazados não grauteados. A normalização
Para a maioria dos materiais, ensaios em corpos de prova de maior dimensão resultam brasileira indica uma redução de resistência de 50% para compressão paralela à junta em com-
em diminuição da resistência, o que pode ser explicado pela possibilidade de ocorrência si- paração com o prisma carregado perpendicularmente à junta, para blocos vazados comuns.
multânea de pequenas falhas. Paredes em escala real normalmente têm resistência inferior à
de prisma devido à esbeltez e possibilidade de distribuição não uniforme do carregamento.
A normalização brasileira assume que a resistência da parede (f,) é igual a 70% da resistência
50 • Bloco grauteado 172
do prisma (f,,). Entretanto, existem relatos de ensaios em prisma não confinados (sem res-
trição da placa de carregamento) cujos valores de resistência são superiores ao de pequenas e Bloco vazado 173
paredes. 170 Uma hipótese para esse resultado é que uma eventual falha na parede é menos 40 o Tijolos 174
significante em elementos de maior área.

5.2.8 Resistência à compressão paralelo à junto de assentamento 30


e
e
Como as paredes estruturais são basicamente dimensionadas para resistir à compres-
são, essa resistência é naturalmente associada à direção normal à junta de assentamento. En- 20 e
tretanto, elementos como vigas e painéis apoiados lateralmente possuem compressão na dire-
ção paralela à junta de assentamento. Nessa direção, a resistência pode ser significativamente
lO •
menor. 171 A Figura 5.21 mostra a ruptura de prismas rompidos nessa direção.
• •

10 20 30 40 50
Resistência à compressão normal à junta de assentamento (MPa)

Figura 5.22 Relação entre resistência à compressão normal e paralela à junta de assentamento.

5.3 Combinação de compressão e flexão


5. 3. l Introdução

Alvenarias submetidas a cargas de compressão geralmente estão sujeitas à flexão no


plano ou fora deste devido à:
1.
º excentricidade do carregamento;
• força lateral de vento (ou terremoto);
Figura 5.21 Fotos de ruptura à compressão paralela à junta de assentamento.
• continuidade com outros elementos estruturais (laje);
• excentricidade acidental ou variação das propriedades da parede.
Como os blocos têm resistências muito distintas dependendo da direção do carregamen-
to (blocos vazados, por exemplo), a alvenaria também apresentará diferenças. Como mostrado

172 Page (1982) e Lee et ai. (1985).


170 Hamid & Drysdale (1980, 1981) e Lee et ai. ( 1985). 173Page (1982) e Lee et ai. (1985).
171 Hamid & Drysdale (1980, 1981), Drysdale & Hamid (1982a), Lee et ai. (1985) e Davis & Hodgkinson (1988). 174Davis & Hodgkinson (1988).
254 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL COMPORTAMENTO DE ELEMENTOS EM ALVENARIA 255

Na combinação de compressão e flexão, a seção está sujeita a deformações variáveis ao


1,0 .------------~
longo do comprimento ou da espessura. O efeito do gradiente de deformação no comporta-
mento e no dimensionamento dos elementos em alvenaria é discutido a seguir.

5.3.2 Ensaios de prisma 0,8

Ensaios em prismas carregamentos com a mesma excentricidade inferior e superior e


extremidades simplesmente apoiadas são utilizados para verificar o efeito de deformações não 0,6

constantes na resistência à compressão e curva de tensão-deformação.


A Figura 5.23 mostra fotos da ruptura de prismas de blocos cerâmicos e de concreto
o
carregados excentricamente. Fissuras verticais ocorrem quando a excentricidade é pequena e 0,4
Blocos de 20 cm
toda a seção está comprimida. Para maiores excentricidades, ocorrerão fissuras na junta de ar-
gamassa. Eventualmente se observa o rompimento à compressão em grandes excentricidades, ~

próximas de t/2. 175 0,2 jV Grauteado


Vazado o
Como esperado, resultados de ensaio (Figura 5.24) indicam menores cargas de ruptura
75%maciço V
com maiores excentricidades. Pode-se perceber que a redução na capacidade resistência de 100% maciço x
seções com blocos vazados é menor do que em alvenarias grauteadas ou maciças. Isso pode ser o 0,lt 0,2t 0,3 0,4 0,St o t/6 t/3 St/12
explicado pela forma da seção. No caso de blocos vazados, a excentricidade de tombamento Excentricidade Excentricidade
(que leva a tensão nula no bordo mais afastado do CG) é maior do que em seções maciças.
(a) Tijolo cerâmico maciço 176 (b) Bloco vazado de concreto 177

Figura 5.24 Efeito da excentricidade na resistência à compressão.

(a) Tijolo cerâmico 5.3.3 Mecanismo usual de ruptura

Quando a análise de seções fletidas é feita assumindo tração nula na borda mais afasta-
da e distribuição linear de tensões e deformações (estádio I), considerando prismas de blocos
maciços, a resistência da fibra com máxima tensão de compressão é significantemente maior
que o caso de compressão uniforme com carga centrada.
(b) Bloco vazado de concreto Como se pode observar na Figura 5.25, esse aumento aparente pode ser muito signi-
ficativo, sendo relatados aumentos de 1,3 a 1,5 para prismas de tijolos maciços e de 1,5 a 2,0
para alvenaria de blocos grauteados. Entretanto, para alvenarias de blocos vazados o aumento
é pequeno, como se pode observar na Figura 5.24(b). A atual normalização brasileira adota a
resistência de compressão na flexão, para diagrama linear de tensão, igual a 1,5 vez a resistên-
cia de compressão simples.
(c) Bloco de concreto grauteado

e= t/6 e= St/12
Figura 5.23 Ruptura de prismas com carregamento excêntrico.

176Drysdale & Hamid (1982b).


175 Maurenbrecher (1983) e Drysdale & Hamid (1982b, 1983). 177 Drysdale & Hamid ( 1983).
256 COMPóRTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAl COMPORTAMENTO DE ELEMENTOS EM ALVENARIA 257

5.3.4 Fatores que afetam o diagrama tensão-deformação na flexão


1,6
3 1-
o
<ro
Além da magnitude da excentricidade, outros fatores ligados ao material e à geometria
1,5
~ do bloco têm influência no diagrama tensão-deformação e resistência de compressão na flexão.
"'e -a
ro
~
V
r - - - arg 1:1:6
o 1,4 ~---- arg 1:0,5:4,5
<ro .fü Influência de grautearnento dos blocos vazados

"
~
~
o
A Figura 5.25(b) mostra resultad~s de pridrnas grauteados com carregamento excêntrico.
V
"
o.
E
<ro
~
~ 1,3
//"-::===.1ª'g
// /,
1:1:6
,/ arg 1:0,5:4,5 2 1-
o "o.
u // Nesse caso, existe um aumento considerável da resistência com aumento da excentricidade. Entre-
·ro E //
ro o
·~ u 1,2
// tanto, esse resultado pode ser explicado pelo fato de o graute utilizado nos ensaios ter resistência
u .ro
e ro //
L7 .r· inferior ao material do bloco. Com o aumento da excentricidade, as extremidades dos blocos são
1' ·o 6y _,,.
~
·;;; e
~ t;
•V
1,1 ;;,,..--t mais carregadas, com tensões menores na parte central grauteada. Considerando os vários efei-
V ·;;;
~
ro
t.I , ,· k = 1,0 + 0,6 e/t tos que podem afetar a eficiência do grautearnento (como retração ou adensamento incompleto,


V
o õl
<ro
u-
o. ---Francis et al. 173
---HilsdorP" - .
forças laterais pelo efeito de cunha do graute, como visto no item 5.2.5), o considerável aumento
da resistência em prismas grauteados com cargas excêntricas, quando comparados com cargas
~ , ·-· ·- Drysdale & Hamid1ªº centradas, pode ser atribuído pelo fato de o graute ser menos solicitado por estar na parte central
' ' ' da seção. Além disso, a seção grauteada tem uma resistência de tração maior que a obtida apenas
t/6 t/3 t/2 o t/6 t/3 5t/12 pela aderência do bloco e argamassa.
(a) Alvenaria de tijolo cerâmico (b) Alvenaria de blocos de concreto 181
Resistência do material
Figura 5.25 Relação entre resistência de compressão na flexão e compressão simples considerando Para uma faixa de pequenas excentricidades de carregamentos à resistência do bloco,
distribuição linear de tensões. graute e argamassa não têm grande influência no aumento de resistência da compressão na
flexão. Entretanto, com o aumento da excentricidade e a possibilidade de esmagamento loca-
Quando a excentricidade é muito grande, próxima à metade da espessura do bloco, pode lizado da extremidade, espera-se uma maior influência desses materiais.
ocorrer 0 esmagamento localizado do bloco ou da argamassa. Caso contrário, o mesmo rn~~o
de ruptura com fissuras verticais mostrado na Figura 5.23 ocorre. Com base na mesma h1po- 5.3.5 Diagrama tensão-deformação na compressão
tese de aumento da resistência à compressão no estado triaxial resultante do confinamento da
argamassa, 0 aumento de resistência pode ser explicado pelo fato de apenas urna pequena pa:te Forma e modelos d<,> diagrama
da seção estar sob tensão elevada, sendo essa região confinada pelas partes com menor tensao. Geralmente) ensaios com carregamento centrado são realizados para determinar curvas
Considerando as limitações dessa hipótese simplista, esta é urna explicação razoável para esse tensão-deformação em diferentes materiais. Assume-se então que a mesma curva pode ser
comportamento. Urna análise mais refinada deve levar em conta que a distribuição de tensões utilizada para análise de flexão. Corno a real tensão em qualquer fibra ao longo da seção não
não é linear e, também, a pequena resistência à tração da alvenaria. O aumento menor no caso é conhecida, a única forma de analisar urna seção fletida é verificar a magnitude e posição das
de blocos vazados pode ser explicado pelo fato de as tensões serem aproximadamente constan- resultantes de força para vários diagramas de deformação.
tes sobre a parede longitudinal do bloco para a flexão em torno do menor eixo. Assim corno no concreto armado, pesquisas'" indicam que um diagrama simplificado
Deve-se destacar que o aparente efeito de aumento da resistência à compressão na fle- retangular pode ser utilizado para cálculo da resultante de compressão no estado limite último.
xão ocorre quando a análise é feita considerando tensões e deformações lineares (estádio l A Figura 5.26 mostra o diagrama real e idealizado para análise de seções fletidas. A altura 0,8x
ou II). Com a consideração da plastificação das tensões (estádio Ill), esse efeito aparente é no diagrama retangular é adotada na normalização brasileira. Em algumas normas interna-
naturalmente levado em conta, não sendo apropriado considerar o aumento da resistência de cionais, essa altura é reduzida conforme se aumenta a resistência da alvenaria. Por exemplo,
compressão na flexão nesse tipo de análise. a normalização canadense adota altura de 0,8x para f,k até 20 MPa (normalmente a grande
maioria dos casos), porém especifica reduzir essa altura em 0,1 para cada aumento de 10 MPa
178 Francis et ai. (1970). acima desse limite de 20 MPa.
179 Hilsdorf (1969).
180 Drysdale & Hamid (1982b).
181 !d. (1982b, 1983). 182Assis et ai. (1989) e Brown & Young (1988).
258 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRlffURAl

Também deve-se destacar que, na flexão, muitas vezes a compressão ocorre na di-
r
i
COMPORTAMENTO DE ElEMENTOS EM ALVENARIA 259

Resistência do bloco= 94,4 MPa Resistência do bloco= 19,4 MPa


reção paralela à fiada (horizontal). O fator "k" indicado na Figura 5.25(b) indica a relação 1 Resistência do graute = 18,5 MPa Resistência do graute = 27,9 MPa
entre resistência medida na direção vertical (prisma usual) e a resistência na direção ho- Argamassa 1:0,5:4,5 Argamassa 1:0,5:4,5
30 30
rizontal, valendo geralmente 0,5 para alvenarias não grauteadas e 1,0 para caso de toda a
seção grauteada (ver item 5.2.8). Axial ""'\.

' ~
/ f 6o 20
//'\_Flexão
// (no plano) ""
m
~

/ ~
0,4x 0,4x I
10 I 10 --a- Axial
I
0,8x I -+-Flexão (no plano)
X
e X C=O,Sx· b
I
I
I Deformação X 1o-3 Deformação X 10~ 3

o 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0 o 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0

Eixo de deformação igual a zero (a) Alvenaria de bloco cerâmico grauteado 184 (b) Alvenaria de bloco de concreto grauteado 185
Linha neutra
-
(b) Diagrama retangular de tensões Figura 5.27 Diagrama de tensões de compressão para alvenaria de 20 cm grauteada sob compressão
(a) Distribuição real de tensões
centrada e excêntrica.
Figura 5.26 Diagrama de tensões de co1npressão na alvenaria no estado limite último.

Máxima deformação de compressão i 5.4 Tração na flexão fora do plano


Também como no concreto, a máxima deformação em uma fibra comprimida com esfor-
ço de flexão é maior que se a seção inteira estiver sob o mesmo esforço de compressão sirnples.
183 1 5.4. l Introdução
1
Na Figura 5.27 encontram-se resultados de ensaios em prismas grauteados que indicam máxi- '
mas deformações na ruptura entre 0,25 e 0,4%. A resistência de tração na flexão fora do plano é importante para o dimensionamento
Ensaios sob controle de deformação indicam que deformações ainda podem ocorrer de alvenarias com a5ão horizontal, corno é o caso de painéis sujeitos à ação de vento, arrirnos,
após o pico de tensão, antes da redução da resistência ou perda de rigidez. Esse comportamen- reservatórios, silos, carregamentos excêntricos, entre outros. Dependendo dos apoios laterais,
to é importante para garantir a ductilidade dos elementos. As normas brasileiras de projeto de pode haver flexão em torno do eixo vertical ou horizontal ou ambos. A nomenclatura usual
alvenaria indicam deformação máxima de 0,35%, tanto para alvenaria de bloco de concreto 1 refere-se à direção da tração normal à fiada de assentamento (vão vertical) ou paralela à fiada
1
quanto cerâmicos. de assentamento (vão horizontal). A notação utilizada pela normalização brasileira para a
resistência de tração na flexão é f,,.

1 5.4.2 Métodos de ensaio

1 Tração normal à junta de assentamento


A aderência entre o bloco e a argamassa na junta de assentamento afeta tanto a resistên-
cia quanto a permeabilidade da parede. A seguir, são descritos alguns métodos de ensaio para
obter essa resistência, baseados em normas internacionais e brasileiras.

184Brown &Young (1988).


185 Assis et a!. (1989).
183 Hamid (1997), Drysdale & Hamid (1983) e Brown & Young (1988).
260 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL
COMPORTAMENTO DE ELEMENTOS EM ALVENARIA 261

1. ASTM Cl072: indica o ensaio de alavanca, adotado também no Canadá e na


Austrália. Um braço de alavanca fixado no bloco superior de um prisma, sendo
o bloco inferior preso dentro de uma estrutura de suporte, como esquematiza-
do na Figura 5.28(c) e mostrado na Figura 5.29(b). Depois de ensaiada a junta
superior, as inferiores também são testadas, permitindo a obtenção de vários
resultados no mesmo corpo de prova, contribuindo para a redução de dispersão
de resultado geralmente encontrado nos demais ensaios. (a) Ensaio de alavanca comprida usada na Austrália (b) Ensaios da ASTM Cl072
2. ASTM E518: indica o ensaio de viga biapoiada com carregamento concentrado Figura 5.29 Exemplos de acessórios e montagem do ensaio de alavanca.
em dois pontos ou distribuído uniformemente aplicado com o uso de um col-
chão de ar, conforme Figura 5.27(a). Esse ensaio geralmente ocasiona resultados A NBR 15961-2, no anexo C, indica um ensaio semelhante ao da ASTM Cl390, porém
com grande dispersão, porém permite a obtenção de um valor limite inferior, com poss1b1hdade de ser feito em obra (carregamento feito com 0 próprio bloco) ou em la-
pois a ruptura ocorre em uma junta com momento máximo e sem nenhum outro boratório (carregamento com equipamento de ensaio). Nesse ensaio, prismas com 5 blocos
mecanismo de resistência que não seja a aderência bloco-argamassa. de altura são construídos sob base nivelada e curados sob o peso de duas unidades por um
3. ASTM E72: indica ensaios de flexão em paredes verticais, como mostrado na tempo de 14 ou 28 dias. Depois disso, realiza-se o ensaio de flexão, como ilustrado na Figura
Figura 5.27(c). Nesse ensaio, a ruptura ocorre de maneira distribuída ao longo 5.30. Na Figura 5.31 se percebe um prisma construído (a) e ensaiado com carregamentos com
de vários blocos e, portanto, é menos sensível à existência de pontos localizados blocos (b). A foto (c) mostra que a aderência bloco-argamassa pode ser relativamente alta '
com baixa aderência. O apoio na base inferior é crítico para a obtenção de bom com a correta especificação dos materiais. O item (d) mostra um ensaio realizado com auxílio
resultado. Se houver atrito ou outro tipo de restrição horizontal na base, o ele- de máquina de ensaio.
mento se torna hiperestático com a existência de momento de engastamento na
base, que interfere no resultado. As tensões devidas ao peso próprio da parede
devem ser levadas em conta (descontadas) no cálculo da resistência final.
Sobrecarga

p p Carga em dois

21111111111111111
! !

Carga uniformemente distribuída


pontos

- Junta sendo
testada

Unidade fixa
(engastada)
Braço de
alavanca
i----4
.. -"'C"'I.~ Carga
i i ! l ! ! ! l l i em estrutura aplicada
21111111111111111 de suporte t
J
(a) ASTM E518 (viga biapoiada) (b) ASTME72 (e) ASTM C!072
(ensaio de parede) (ensaio de alavanca)

Figura 5.28 Ensaios para determinação da resistência de tração na flexão (normas internacionais).
Figura 5.30 Ensaios para determinação da resistência de tração na flexão NBR 15961/2011.
COMPORTAMENTO DE ELEMENTOS EM ALVENARIA 263
262 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE AlVENARIA ESTRlffiJRAl

Para o ensaio de alavanca, a simetria das juntas é fundamental para assegurar uma
distribuição simétrica das tensões. Podem ser utilizados corpos de prova como os mostrados
na Figura S.3l(b), desde que a distància da alavanca para a estrutura de suporte seja grande o
bastante para permitir todos os modos de ruptura. Quando a ruptura ocorre através das juntas
verticais e horizontais é difícil conseguir mais de um resultado por corpo de prova. Esse fato
elimina uma das vantagens do uso do, ensaio de alavanca, que é obter mais de um resultado
1
por corpo de prova.

(a) Prismas de 5 blocos (b) Ensaio com carregamento através de blocos (obra)

Altura de
1
/ bloco
2

!A.~
(d) Ensaio com carregamento através de máquina de
(c) Corpo de prova com boa resistência de tração na ensaio (laboratório)
flexão (a) Ensaio de viga (b) Ensaio de alavanca
Figura 5.31 Ensaios de tração na flexão.
Figura 5.32 Ensaios de tração na flexão paralela à junta.
Comparação de resultados
Ensaios em prismas de tijolos cerâmicos 186 indicam que o valor médio obtido com o Paredes ensaiadas de acordo com a ASTM E72 proporcionam resultados similares com
ensaio de alavanca é maior que o obtido com ensaios de viga. Ensaios de alavanca em paredes os de paredes em escala real. Para facilidade do ensaio, é preferível adotar apoios verticais para
de blocos vazados também resultaram em valores maiores do que os obtidos em ensaios de que o vão seja horizontal.
paredes.'" Para 0 caso de alvenaria com blocos grauteados, os métodos de ensaios de alavanca
e de viga biapoiada resultaram semelhantes.'" 5.4.3 Mecanisrrio de ruptura

Tração paralela à junta Como ilustrado na Figura 5.33, existem quatro formas básicas de ruptura, discutidas a
Os ensaios descritos nos parágrafos anteriores foram criados para medir a resistência seguir.
normal à junta. Entretanto, alguns pesquisadores adaptaram os procedimentos para medir a
resistência paralela à junta, como mostrado na Figura 5.32(a). Para o caso de ensaios de viga, a
largura do corpo de prova deve ser de pelo menos quatro fiadas para possibilitar a ocorrência
de ruptura em forma de escada Figura 5.33(f) ou em forma dentada Figura 5.33(e) através
das juntas verticais e horizontais. Deve-se adotar um número par de fiadas para que haja
uma mesma quantidade de juntas verticais e horizontais. Alternativamente é recomendado
realizar a primeira e última fiadas com blocos cortados a meia altura, como forma de garantir
a simetria e prevenir a ocorrência de torção.

186 Sarker & Brown ( 1987) e Baker & Franklin (1976).


187 Drysdale & Essawy (1988).
188 Hamid & Hakam (2001).
264 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRLJfURAL COMPORTAMENTO DE ELEMENTOS EM ALVENARIA 265

Ruptura nas juntas verticais e através dos blocos


Para tração paralela à junta, as fissuras geralmente começam nas juntas verticais e po-
dem se propagar através dos blocos em fiadas alternadas, como mostrado na Figura 5.33(c).
Para corpos de prova não grauteados, esse modo de ruptura está associado a blocos de re-
sistência relativamente menor que a resistência de cisalhamento da junta (no caso inverso, a
ruptura ocorre em forma dentada, co11forme parágrafo seguinte).
(a) Tijolo cerâmico: ruptura através da junta de assentamento Para alvenaria totalmente grauteada, a ~ontinuidade das colunas de graute tendem a
forçar que a ruptura ocorra através dos blocos no alinhamento das juntas verticais, em juntas
alternadas, como na Figura 5.33(d). Nesse caso, o grauteamento não contribui significante-
mente para a resistência de tração, porém força a fissura a ocorrer como descrito.

Ruptura em forma zigue-zague através das juntas verticais e horizontais


Para alvenarias com blocos relativamente fortes e argamassas fracas, no caso de tração
paralela à junta pode ocorrer uma combinação de ruptura por tração e por cisalhamento, em
(b) Bloco de concreto: ruptura através da junta de assentamento zigue-zague, como na Figura 5.33(e).

Ruptura diagonal - em forma de escada ao longo das juntas verticais e horizontais ou ao


longo do menor caminho através dos blocos
Ruptura em. forma de escada, como mostrada na Figura 5.33(f), é uma variação da
anterior, mostrada em (e). Quando o bloco é relativamente fraco ou colunas de grauteamento
aumentam significantemente a resistência ao longo da junta de assentamento, as fissuras dia-
gonais podem atravessar os blocos no caminho mais curto. Na prática, esse tipo de ruptura,
que lembra a ruptura de uma laje de concreto, está associada à flexão biaxial.
(c) Tijolo cerâ-mico: fissuras através da ruptura (d) Bloco de concreto grauteado: ruptura através da
vertical junta vertical
5 .4.4 Fatores que afetam a resistência de tração por aderência entre o bloco
e a argamassa

A resistência de tração na flexão depende da aderência entre o bloco e a argamassa.


Resultados de ensaio 189 com o ensaio de alavanca indicam valores entre 0,2 e 1,75 MPa. Os
fatores que influenciam essa aderência são brevemente discutidos aqui.

Tipo de argamassa e seus materiais constituintes


(e) Bloco de concreto: ruptura em forma dentada (f) Bloco vazado de concreto: ruptura em escada
Para a maioria dos tipos de blocos, a especificação de argamassa com maior quantidade
Figura 5.33 Modos de ruptura a tração.
de cimento proporciona maior resistência de tração, como se pode observar na Figura 5.34.
Observando o gráfico também é possível observar que a aderência é claramente influenciada
Ruptura (perda de aderência) ao longo da juuta de assentamento
pelas propriedades do bloco (absorção, textura da superfície e condições da superfície).
Para tração normal à junta, uma forma de ruptura é pela perda de aderência ao longo
Na Figura 5.35, o tijolo A tem absorção de água inicial (AAI) elevada, sendo possível
da junta de assentamento. O mecanismo de aderência da argamassa/bloco depende da adesão
perceber a diferença de aderência pela falta de cura adequada e pelo tijolo não ter sido molha-
química, e intertravamento mecânico e ainda não é completamente compreendido.
do antes do assentamento. No caso do tijolo B, não molhado antes do assentamento, percebe-se
Uma ruptura típica por esse modo para tijolos cerâmicos é mostrada na Figura 5.33(a), menor aderência quando comparado ao tijolo A, molhado antes.
e para blocos vazados de concreto, grauteados ou não, na Figura 5.33(b). No caso de alvenaria
grauteada, a continuidade do graute é o fator crítico. A ruptura ocorre na seção com menor
189Gazzola et al. (1985), Sarker & Brown (1987), Drysdale & Essawy (1988), Ghosh (1989), Borchelt et al. (1999) e
área de graute, como se pode perceber na parte direita da Figura 5.33(b). Brown & Melander (1999).
266 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL COMPORTAMENTO DE ELEMENTOS EM ALVENARIA 267

Em contrapartida, ensaios relatados em Borchelt & Tann"º com tijolo de baixa AAI
indicaram a mesma ordem de grandeza de aderência para diferentes tipos de argamassa. Na Ensaio de Ensaio de
alavanca viga
Figura 5.36 são mostrados resultados de ensaios função do AAI, sendo estes bastante disper- ~
:;:"'
~

sos. Provavelmente, para cada tipo de bloco deve existir um valor ótimo de AAI (nem muito :;: 1,5~ 1,5 >-
1:0,25:3,5 o •
1:0,5:4,5 o •
baixo ou alto) para melhor aderência. ·8
"
<V . ""
·o
•V
1:1:6 A •
. .
M
V
• "
V

"'"' 1.0~
..
' -g 1,0 >- o

2,0 d
Números indicam tempo e cura
28
D Tijolo 1
11!1 Tijolo 2
V

"'·o"' . V

"'·o"' • º&
o
~
A

li.o
" " 0,5
1,5
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- A•{l
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V V
o
28
"' .
i.. - - . ----------
- -

14 ' ' ' ' ' ' ' '


1,0 7
o 10 20 30 40 50 o 0,25 0,50 0,75 2,0
AAI, g/min/194 cm' AAI, kg/min/m'

(a) Yorkdale 191 (b) Gazzola et al. 192


0,5
Figura 5.36 Efeito de AAI na aderência de alvenaria cerâmica.

0,8 18
o
:;:"'
o. 0,90
1:0,5:4,5 1:1'6 1:0,5:4,5 1:1:6
~
:;:"'
Argamassa de Resistência de o.
Cal#! Cal#! Cal#2 Cal#2 ô cimento: cal: areia :;: 15
aderência 0,75
'~"' 0,6 ô
Tipo de argamassa
"'"' "' 12
~
~
V A 0,60
""
·o
•V
Figura 5.34 Efeito do traço de argamassa de cimento, cal e areia na resistência na aderência à tração. o" "
e. "
V

'"'
u- 0,4
so 9 "'"'
"'
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V
V

'"'
0,45 V

"'·o"'
~ 2,0 Tijolo A (cura protegida com plástico) -~ 6
:;: li molhado antes do assentamento "'·3 0,2
u
"
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0,30
'." !<
compressão
il Tijolo A, cura ao ar .,,t;"
<V -~
V
3
0,15
·~
~
D Tijolo B, cura protegida com plástico ~
O'---"'----''---'~-'-~-'-~-'---'
"'
180 190 200 210 220 230 240 250 .42 .44 .46 .48 .50 .52 .54
Consistência, mm Relação água/cimento

(a) Efeito da consistência 193 (b) Efeito da relação água/cimento 19 ·1

Figura 5.37 Efeito da consistência e relação água/cimento na aderência.

A importância de boa trabalhabilidade, indiretamente medida pelo ensaio de consistên-


cia, fica clara na Figura 5.37(a). Na parte (b) da figura, é interessante notar que a diminuição da
relação água/cimento da argamassa proporciona maior resistência à compressão desse material,
1:0,5:4,5 1:1:6
Traço de argamassa
porém a perda de trabalhabilidade com a diminuição da quantidade de água piora a aderência.

Figura 5.35 Efeito do tipo de cura na resistência na aderência à tração.


191 Yorkdale (1982).
192 Gazzola et al. (1985).
193Baker (1979b).
190 Borchelt & Tann (1996). 194 Isberner (1969).
268 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL
COMPORTAMENTO DE ELEMENTOS EM ALVENARIA 269

Absorção inicial de água e umidade do bloco ou tijolo


para a facilidade de assentamento. É mais difícil um bloco ou tijolo sair da posição logo após
o assentamento se este tiver um desses detalhes na sua superfície do que se forem maciços.
Assim que a argamassa entra em contato com a superfície do bloco, este "puxa" água (e
cimento) da argamassa para dentro de seus poros, criando uma ligação que garante boa ade- Exemplos ligados à mão de obra que podem afetar a aderência incluem preenchimento
rência quando há boa compatibilidade entre esses ·materiais. Se a AAI do bloco for baixa (por incompleto ou não preenchimento de juntas, movimentação do bloco após o assentamento,
exemplo, tente assentar argamassa sobre vidro), esse processo não ocorrerá, com prejuízo à quando já houve interação do bloco e argamassa e uso de argamassa "vencidà'. Juntas verticais
não preenchidas ou com frisamento inadequado podem diminuir em até 70% a resistência de
aderência (no exemplo, isto só é possível pela adesão química, e, portanto, com argamassa do-
tração paralela à junta de assentamento. 197 í
sada para isso). Se a AAI do bloco for excessiva (como os azulejos antigos com alta absorção),
rapidamente grande quantidade de água será "puxadà' para os poros do bloco, trazendo pouco
Cura
cimento para dentro deles. Nesse caso, a "pastà' que entrou no poro é pobre em cimento e não
Condições ambientais durante a construção e de cura podem diminuir consideravel-
haverá boa ligação entre bloco/argamassa quando esta endurecer. Além disso, a quantidade de
mente a aderência. É interessante notar que alguns ensaios realizados em laboratórios com
água que restou para a argamassa sobre o bloco será pequena, tornando-a seca. ..
condições ambientais muito secas podem ter causado resultados de aderência menores do
Conforme discutido no capítulo anterior, é recomendável molhar blocos ou l!Jolos ce-
râmicos que apresentem AAI maior que 30 (g/193,55 cm2)/min, como forma de diminuir que se fossem obtidos em condições ambientais comuns. Por exemplo, Melander & Conway 198
a quantidade de água a ser retirada da argamassa logo após o assentamento (como a antiga indicam resultados de ensaios de aderência em paredes curadas por 4 meses em condições
recomendação de molhar os azulejos antes do assentamento). Nesse caso é importante que o ambientais de chuva, neve e grandes variações térmicas com resultado de 0,87 MPa, maior
procedimento de molhagem dos blocos seja sempre o mesmo para que não haja variação das que corpos de prova semelhantes deixados dentro do laboratório em ambiente seco, onde
obtiveram resistência de 0,37 MPa.
condições da superfície de cada bloco, o que tornaria as propriedades da alvenaria variáveis
em cada unidade assentada. A influência da idade é outro fator, havendo um grande ganho de resistência nos pri-
Outras pesquisas 195 indicam ser possível obter boa aderência para unidades com AAI meiros dias. Apesar de geralmente a diferença de resistências a 14 e 28 dias não ser grande,
maior que 30, de até cerca de 45 AAI (g/193,55 cm 2)/min, com uso de argamassas específicas conforme a Figura 5.34(a), os resultados de ensaios indicam que a aderência continua a au-
(assim como não se molha mais azulejos hoje). mentar ao longo dos anos. Matthys & Grimm 199 indicam ter registrado aumento de até 50% na
resistência após 5 anos, quando comparados com resultados aos 28 dias.
Resistência da argamassa, consistência e retenção de água O efeito da cura adequada é claramente percebido na Figura 5.35. O prisma com tijo-
Para argamassas tradicionais, de cimento) cal e areia, sem aditivos ou adições, é comum
los A, curado dentro de saco plástico fechado com 100% de umidade, resultou em resistência
saber que quanto maior a resistência, maior a quantidade de cimento e, portanto, maior a consideravelmente maior que o com cura ao ar. A cura inicial inadequada, especialmente em
aderência. Porém, é importante destacar que nem sempre a resistência à compressão da ar- locais quentes e secos, pode ser muito prejudicial ao desempenho da alvenaria e seu efeito
é permanente.
gamassa aumenta a aderência. No caso de argamassa com aditivos é possível ocorrer que esta
tenha uma alta resistência à compressão, porém alto teor de ar incorporado, levando à baixa
resistência de aderência da alvenaria. 5 .4.5 Fatores que influenciam a resistência de tração na flexão de alvenaria
grauteada
A consistência adequada é importante, como se pode observar na Figura 5.37(a), a qual
deve ser menor em bloco com absorção pequena e maior para blocos com maior absorção. O
mesmo pode ser indicado para a retenção de água da argamassa, que geralmente deve ser alta, O grauteamento aumenta significativamente a resistência à flexão na direção normal à
especialmente para blocos de maior absorção. junta de assentamento, uma vez que a resistência de tração do graute é maior que a da aderên-
1. cia bloco-argamassa. Conforme seria de se esperar, esse efeito é maior conforme a quantidade
Qualidade da mão de obra e condições da superfície do bloco
de grauteamento. 200 A normalização canadense permite um aumento de resistência de flexão
normal à junta de 63% e 117% para alvenarias de blocos de vazados de concreto e cerâmicos,
A existência de camadas de pó, sujeira ou outro material qualquer sobre a superfície do
respectivamente, quando comparadas a alvenarias não grauteadas.
bloco tende a reduzir a aderência. 196 Hidrofugantes aplicados na superfície geralmente dimi-
nuem a aderência, exceto se as unidades tiverem absorção inicial muito elevada.
Não se conhece tentativas bem-sucedidas de aumentar a aderência criando superfícies
197Vekey & Ma Jun (1993).
mais ásperas. Entretanto, o uso de rebaixos ou a presença de dentes ou furos pode ser benéfico
198 Melander & Conway (1995).
199 Matthys & Grimm (1982).
195 Borchelt et al. (1999).
200Hamid & Drysdale (1988).
196 Hamid (1985).
270 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL COMPORTAMENTO DE ELEMENTOS EM ALVENARIA 271

te, porém não é tão grande. Para trações paralelas à junta, desde que haja uma resistência mínima
2,0 do graute para forçar que a ruptura ocorra nos blocos, essa resistência não tem maior influência.
Blocos de 20 cm e 21,1 MPa
Argamassa 1:0,5:4,5
2,0

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~ Blocos de 20 cm e 25,l MPa
e 53% de área maciça
- -O- -

o 1,0 2,0 3,0 4,0


o 50 60 70 80 90 100
Resistência de tração do graute, MPa
Porcentagem de área maciça dos blocos
Figura 5.39 Efeito da resistência do graute na resistência de tração na flexão.
Figura 5.38 Resistência de tração na flexão de alvenaria de blocos vazados de concreto com ou sem graute.
5.4.6 Coeficiente de resistência ortogonal
Para blocos com cerca de 50% de vazados, observa-se um aumento de cerca de 200%
na resistência normal à fiada. Para a direção paralela à fiada, verifica-se cerca de 100% de A relação entre a resistência de tração na flexão paralela e normal à junta de assen-
aumento, sendo observada a mudança do modo de ruptura em forma dentada através das tamento é aqui definida como coeficiente de resistência ortogonal, µ, que é influenciado por
juntas (Figura 5.33(e)) para ruptura ao longo da junta vertical (Figura 5.33(d)). A influência vários fatores. Essa é uma medida da anisotropia do material alvenaria e geralmente definida
do grauteamento é discutida a seguir. em valores próximos a 2,0 na maioria das normas internacionais. A normalização brasileira
adota esse valor.
Volume relativo de graute Valores entre 1,5 e 8,0 são relatados para alvenaria cerâmica, especialmente de tijolos.'01
Ensaios realizados com blocos maciços, perfurados (75% maciço) e vazados, mostrados A explicação é que a linha de ruptura deve percorrer um caminho mais longo através das
na Figura 5.38, indicam que quanto maior o aumento de área, maior o ganho de resistência juntas ou romper alguns blocos para que ocorra a ruptura na direção paralela. Alguns fatores
com grauteamento. Essa observação também é válida ao se calcular as tensões apenas baseadas que influenciam nesse coeficiente são mostrados a seguir.
na área efetiva de argamassa, ou seja, há um efetivo aumento de resistência e não apenas uma
maior área de seção resistente. Mesmo em blocos perfurados com grauteamento próximo ao Resistência do bloco ou tijolo
centro da seção e longe da fibra de extremidade, o grauteamento resultou em um aumento de Quando a tração paralela à junta de assentamento ocasiona o modo de ruptura, rom-
150%. Uma das hipóteses para esse aumento de resistência é que a argamassa consegue obter pendo blocos em fiadas alternadas (Figura 5.33(c)), é natural que a resistência do bloco tenha
e reter umidade após o grauteamento e, portanto, tem melhor cura. influência. Entretanto, o valor deµ depende também da aderência da argamassa. A Figura 5.40
mostra diversos valores deµ para diferentes resistências de bloco. É possível perceber que, para
Resistência do graute blocos com baixo módulo resistente, essa resistência não tem grande influência no valor deµ.
Para tração normal, a fissura deve passar através da seção de graute antes do rompimento,
e seria esperado que a resistência de tração do graute influenciasse expressivamente essa resistên-
cia. Entretanto, resultados de ensaios mostrados na Figura 5.39 indicam que essa influência exis- 201 Baker (1977) e Lawrence (1975).
---i:--
j

272 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL COMPORTAMENTO DE ELEMENTOS EM ALVENARIA 273

Grauteamento de blocos vazados Compressão vertical


Como se observa na Figura 5.38, o grauteamento tende a aproximar as resistências de Resultados de ensaios 201 indicam expressivo aumento da resistência de tração normal
flexão em cada direção. O grauteamento aumenta mais significativamente a resistência na à junta quando há pré-compressão, explicada pela simples soma das tensões resultantes, mas
direção normal, tornando 0 valor de R próximo de 1,0. Para blocos vazados de concreto, a também aumento da resistência na direção paralela (exceto para caso de blocos de baixa re-
redução deµ é de 2,4 para 1,2 quando toda alvenaria é grauteada. sistência), que pode ser explicada pelo aumento da resistência à torção da junta horizontal
devido ao aumento da força de atrito. ,
10
f = Resistência de tração na flexão normal à junta
l 11 1 \ O módulo de ruptura "'
9 111 1 \ do tijolo não é f<p= Resistência de tração na flexão paralela à junta
11
~.~...-crítico
1
nos trechos µ = ft/~n 0,6 Compressão axial = O, 1 MPa
=!. 8 li_...-.
fi \ \ \ de 1·in has t race1a
. das
f'tb =Módulo resistente do tijolo
-;â
o li\\ 1 Sem interação
o 7 Curvas experimentais indicam onde a resistência da .

-
s""
o
·3o
6
li 1 1 1
l \ \ \ \
\ \ \ \'
\ 1 \
argamassa controla a resistência na flexão horizontal
Compressão axial nula

'' ' ' r


'.,!l
5 \ I f' = 6 oMPa Família de curvas teóricas para vários valores do

.,,-
·~ \ ' ' { tb ' módulo resistente do tijolo
V
V
4
'
25
(~O) '
Linhas cheias indicam casos onde essa propriedade
é significativa na flexão horizontal
f f = .Tensões de tração na flexão
n' P normais e paralelas à junta
O :( f )2 +
1 n
1j 1 ftn
·~ 3 5S0(4~o)"<.:--
...
........ \." f f
tn' tp =
Resistência de tração na flexão 1
'lio 435 (3,0) ... - - - - . normal e paralela à junta
u 2 E,(f,,) 290 (2,0)~- - - - ? · 0,5 1,0
f,,

o 1,0 2,0 Figura 5.41 Flexão biaxial de alvenaria de tijolos com ruptura ao longo das juntas. 205
Resistência de tração na flexão normal à junta, MPa
5.4.7 Resistência biaxial
Figura 5.40 Coeficiente de resistência ortogonal. º
2 2

Ações fora do·plano produzem flexão nas direções vertical e horizontal de uma parede
Porcentagem maciça do bloco apoiada em suas extremidades. Quando o vão horizontal não é maior que 2 a 3 vezes o vertical,
Em geral, quando a ruptura na direção paralela ocorre com rompimento dos blocos,
a flexão biaxial pode resultar em um aumento na capacidade em cada direção quando compa-
quanto maior a porcentagem maciça dos blocos, maior será o valor de µ. rado à capacidade obtida, considerando apenas o vão vertical. Como indicado na Figura 5.41,
o normal seria considerar a resistência isolada de cada direção (linhas tracejadas), porém,
Relação comprimento/altura do bloco como se pode perceber no gráfico, os resultados dos ensaios relatados em Baker 206 indicam
O valor deµ é altamente influenciado pela relação comprimento/altura do bloco, con-
existir uma interação entre as duas direções, que pode ser descrita por uma relação parabólica,
forme relatado em Hamid,2º' uma vez que o caminho que a fissura precisa percorrer para que
conforme indicado na figura. Quando há ainda uma pré-compressão axial, as resistências de
0 rompimento na direção paralela ocorra depende dessa geometria. Portanto, exceto quando flexão em ambas direções são aumentadas aproximadamente na mesma porcentagem para o
a resistência dos blocos é muito pequena e a ruptura ocorre com rompimento destes, quanto 1
caso de modo de ruptura nas juntas (resistência do bloco maior que da junta de argamassa).
maior a relação comprimento/altura, maior o valor deµ. Quando não existem dados suficientes, adotar uma interação linear é uma forma sim-
ples e conservadora de aproximar essa interação. Entretanto, quando a tensão paralela à junta

204 Baker (l 979a).


202 Baker (1977). 205 ld. ibid.
203 Hamid (1981). 206 ld. ibid.
.
r
.

274 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE AlVENARIA ESTRUTURAL COMPORTAMENTO DE ElEMENTOS EM ALVENARIA 275

não é maior que a da tração normal, é razoável ignorar essa interação. Nessa análise não são 5.5.3 Modos de ruptura
contemplados casos de alvenaria com junta não amarrada, paredes grauteadas e ruptura atra-
vés dos blocos. A Figura 5.43 mostra modos de ruptura de ensaios de compressão de prismas de al-
venaria de tijolos cerâmicos. Na foto (a) o cisalhamento paralelo à junta de assentamento é
maior que a força de compressão normal à junta e ocorre ruptura por simples escorregamento.
5.5 Resistência ao cisalhamento ao longo da junta de Para prismas com juntas orientadas erp direção mais próxima do carregamento vertical (b),
assentamento percebe-se ruptura por fendilhamento e escorregamento da junta. Finalmente, quando a força
cortante é pequena frente à compressão ocorre ruptura por fendilhamento vertical. Observa-se
um comportamento semelhante em alvenaria de bloco de concreto.
5 .5. l Introdução
A ruptura da junta geralmente ocorre na interface de argamassa e blocos, e não no meio
Paredes de contraventarnento são dimensionadas para resistir ao cisalhamento devido da argamassa, mesmo em casos em que a compressão vertical permite um grande aumento da
à força lateral e também a esforços de compressão e de flexão, todas essas ações em seu plano. resistência ao cisalhamento.
Dependendo da forma de construção e do efeito combinado de compressão e momento fletor, a
ruptura por cisalhamento é caracterizada pelo escorregamento ao longo das juntas, por tração
diagonal ou por compressão-cisalhamento. 207 Este item trata do caso de ruptura por cisalha-
mento por escorregamento, que ocorre em paredes com baixa pré-compressão e momento. No
próximo item, discute-se o caso de ruptura por tração diagonal e, no seguinte, os demais casos.

5.5.2 Métodos de ensaio

Vários tipos de ensaio são propostos para medir essa resistência, como mostrado na Fi-
gura 5.42. Para os corpos de prova (a), (b) e (c), a intenção é minimizar as tensões de flexão
na junta e produzir deformação por cisalharnento uniforme ao longo desta. Nesses ensaios,
208
é possível ainda aplicar uma pré-compressão para medir o efeito do atrito na resistência. A
construção de corpos de prova com as juntas inclinadas em vários ângulos, corpo de prova (d),
(a) Escorregamento da junta de (b) Combinação de escorregamento
permite verificar várias combinações de força normal à junta e cisalhamento paralelo à junta. assentamento da junta e fendilhamento (e) Fendilhamento
Figura 5.43 Modos de ruptura ao cisalhamento por escorregamento da junta para várias co1nbinações
de força cortante e compressão axial.
Vazio

5 .5 .4 Relações entre resistência ao cisalhamento ao longo da junta e


pré-compressão vertical

! A Figura 5.44 mostra resultados de ensaios de compressão diagonal 209 para alvenarias
de tijolos cerâmicos e blocos de concreto. O aumento de resistência ao cisalhamento é pro-

(a) Tripleta (b) Tripleta modificado (e) Duplo (d) Compressão diagonal
! porcional ao aumento da força de atrito devido à pré-compressão. A inclinação da reta é dada
pelo coeficiente de atrito para tensões de pré-compressão baixas. Para compressão acima de
l 30 - 40% da resistência de prisma, a diminuição na resistência ao cisalhamento corresponde
Figura 5.42 Ensaios para medir cisalhamento por escorregamento.

207 Page et a!. (1991) e Hamid & Drysdale (1980).


208 Hamid et a!. (1979) e Drysdale, Vanderkyle & Hamid (1979). 209 Page et a!. (1991) e Hamid & Drysdale (1981).

1
.
276 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL

à mudança do modo de ruptura para fendilhamento vertical. O mesmo comportamento é


r
.

COMPORTAMENTO DE ELEMENTOS EM AlVENARIA 277

d::
observado para alvenaria de blocos vazados grauteados. 210 2,0 :;:
1 p"
~
Resistência do tijolo = 68,8 MPa Resistência do bloco= 19,7 MPa
·v

2
s
10
--
.......... 0

cl' Resistência do graute = 26,6 MPa 5 .....é •' Tijolo A, arg. 1:0,5:4,5
j. ~
-o.
• -O- - arg. 1:0,25:3,25
--+-- arg.1:0,5:4,5
- -<>- - arg. 1:1:6
-
~
"'
'6
•V
.
(forma com blocos)
7,5 1\rgamassa 1:0,5:4,5
~ -<>- ~Alvenaria
.grauteada
não "'<ii
.,,·"'
u
V

o
5

. _ ~ ~.,

.. ~-::"'
, .. ,,./",,
.e~-::-::"'
-:: ..

-o-
.....
-A-
T"lB
lJO o , arg. 1:0,5:4,_5
Tijolo C, arg. 1:0,5:4,5
TIJOOA+B,
.. 1
arg. 1:0,5:4,5#2
s - + - Alvenaria t'
5,0
graute'ada
"'o
~

o o
.L.Cf" -
J:I
....
'O.. • 1,0 2,0
Tensão de pré-compressão média, crn, MPa
~ 5
Tensão de pré-compressão média , a ,. MPa
10 15

'/ / ' '


' " \

"'' ' ' ''


' '
\
\
(a) Baixo nível de pré-compressão 212 (b) Alto nível de pré-compressão213

' Figura 5.45 Resistência de cisalhamento da junta de assentamento (escorregamento) versus tensão de '
o 10 20 30 40 50 o 2,5 5,0 7,5 10,0 12,5 15,0
pré-compressão para alvenaria cerâmica.

Tensão de pré-compressão média na ruptura, Tensão de pré-compressão média na ruptura, 5.5.5 Interação entre cisolhomento e tração ao longo do junto
O'n, MPa (Jn, MPa

Uma força lateral elevada somada a momento de tombamento também elevado si-
Figura 5.44 Relação entre resistência ao cisalhamento ao longo da junta e pré-compressão vertical.
t~ação comum em paredes de contraventamento, podem resultar em uma combinaçã~ de
c1salhamento e tração ao longo da junta de assentamento. Resultados de ensaio"' mostrados
Para ruptura ao cisalhamento, várias pesquisas mostram que a resistência de cisalhamento
~a Figura 5.46 realizados em prismas de alvenaria cerâmica com carregamento diagonal às
ao longo da junta é altamente dependente da aderência e da pré-compressão. A resistência segue
)Untas mostram a interação entre a tração e a resistência ao cisalhamento. Mesmo reconhe-
o critério de Coulomb, existindo uma parcela inicial da resistência em razão da aderência, que é
~endo que existe uma grande variação de resultados, é possível supor que uma interação
aumentada em função do nível de pré-compressão:
linear é uma aproximação razoável. Conforme se aumenta a tração, a resistência ao cisalha-
mento da junta diminui.
• T = T 0 + µcr

em que:
T =resistência de cisalhamento da junta (escorregamento);
T = resistência ao cisalhamento por aderência inicial;
0
µ = coeficiente de atrito;
j
a = tensão de pré-compressão normal à junta. '
l

Os resultados mostrados na Figura 5.46 mostram que esse modelo é válido para baixos
níveis de pré-compressão, porém não é aplicável a outros modos de ruptura que não sejam por
escorregamento da junta. 211

212 Hendry (1981).


210 Page et ai. (1991). 213 Drysdale, Vanderkyle & Hamid ( J 979).
211 Hamid et ai. (1979). 214 Drysdale & Hamid (1982a).
COMPORTAMENTO DE ELEMENTOS EM ALVENARIA 279
278 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL

alvenaria e concreto ou aço, e 1,0 para interface alvenaria/alvenaria. Para cálculo da resistência,
0,6 deve-se considerar 90% da força de compressão normal à junta.
15°
"'
o.. 30° t ' A A normalização brasileira adota o coeficiente de atrito alvenaria/alvenaria igual a 0,5,
'~ª
::;:: 0,5
p' devendo ser considerado 90% da força de compressão da ação permanente para cálculo da

~'~l
45°
'a"
'il
•V 0,4
resistência ao cisalhamento. Os valores da resistência característica ao cisalhamento por es-
corregamento ao longo da junta, de a~ordo com a normalização brasileira, são indicados na
t
E 0,3
V
Tabela 5.4. Deve-se destacar que esses valores' são válidos para argamassas tradicionais de
a cimento, cal e areia, sem aditivos ou adições.
"'
-"
"'·d
V
0,2 60°
Tabela 5.4 Resistência ao cisalhamento por escorregamento da junta, (k' segundo a normalização brasileira.
""o 0,1 75° Resistência média de compressão da argamassa (MPa)
'"'
~
~
~ 1,5 a 3,4 3,5 a 7,0 Acimade7,0
• •
o 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,10 + 0,5 s s; 1,0 0,15,+ 0,5 s ~ 1,4 0,35 + 0,5 s,;; 1,7
Tração normal às juntas, tn, MPa
215 o o /::.. Não grauteado
Figura 5.46 Interação entre cisalhamento e tração ao longo da junta.
5,0 °' • • Grauteado
Argamassa-! :0,5:4,5
À
5 .5 .6 Fatores que influenciam a resistência ao cisalhamento ao longo da iunta

Intuitivamente é possível pensar que os mesmos fatores que influenciam a aderência 3,0

entre o bloco e a argamassa (ver item 5.4.4) são também aplicáveis à resistência ao cisalhamen-
2,0
to inicial por aderência. Ensaios indicam que essa resistência é influenciada pela condição da
Q '\j\'I~ •
superfície do e AAI do bloco.21 6 Foram constatados valores entre 0,24 a 0,69 MPa, porém com
ó t' Resistência de tração
alta dispersão de resultados. São adotados valores em função da raiz quadrada da resistência indireta do bloco= 1,72 MPa
do prisma na normalização norte-americana e canadense, apesar de não ser encontrados re- O -3,0 -2,0 -I,0 O 1,0 o 1,0 2,0 3,0
sultados que confirmem precisamente essa correlação. Para argamassas tradicionais, a norma- Resistência de tração indireta
Tensão normal, MPa
lização brasileira adota valores entre 0,10 e 0,35 MPa. (compressão diametral) do graute, MPa
Como mostrado na Figura 5.47, o preenchimento dos vazados dos blocos com graute (a) Influência da tensão normal2 19 (b) Influência da resistência do graute e tensão normal2 2º
aumenta consideravelmente a resistência ao cisalhamento.'1 7 A magnitude ao aumento de-
pende da resistência de tração do graute à porcentagem de área a ser grauteada. Como mos- Figura 5.47 Resistência ao cisalhamento da junta de assentamento para alvenaria de blocos vazados
trado na parte (b), para uma relação de área líquida/bruta de 0,6 observa-se um aumento na não grauteados e grauteados.
resistência convencional de cisalhamento (com base na área da parede) entre 50 e 100%. A
normalização norte-americana permite um aumento de 60% na resistência ao cisalhamento Após o escorregamento inicial ao longo das juntas, o componente devido ao atrito da
quando todos os furos são grauteados. resistência ao cisalhamento permanece praticamente constante, apesar de ligeiramente menor
Com relação ao coeficiente de atrito, os resultados'" indicam valores entre 0,6 e 1,0, do que antes do escorregamento. Como será discutido em capítulo posterior, para alvenaria
dependendo das propriedades do material e da aspereza da superfície. A normalização ca- armada essa constatação é importante para a determinação da resistência última ao cisalha-
nadense adota esse coeficiente igual a 0,6 para interface entre uma superfície regularizada de mento levando em conta o efeito de pino de armaduras.
Na falta de outros resultados, o módulo de deformação transversal da alvenaria (G,)
pode ser adotado G, aproximadamente igual 0,4 Em, adotando o coeficiente de Poisson entre
0,15 (normalização brasileira) e 0,2 (normalização canadense).
215 !d. ibid.
216 Drysdale, Vanderkyle & Hamid (1979).
219 Hegemier et ai. (1978).
217Hamid et ai. (1979) e Hegemier et a!. (1978).
220Hamid et ai. (1979).
218 Drysdale, Vanderkyle & Hamid (1979) e Van der Pluijm (1993).
280 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE AlVENAR!A ESTRUTURAl COMPORTAMENTO DE EtEMENTOS EM AlVENARIA 281

5.5.7 Resistência ao cisalhamento e juntas verticais • f,, = 0,707 P /A

No caso de alvenarias em juntas não amarradas no plano, a resistência ao cisalhamento em que


ao longo das juntas verticais deve ser considerada igual a zero. Nesse caso, o único mecanismo P é a carga aplicada;
possível para garantir alguma resistência é pela existência de pré-compressão horizontal ou A a área da seção transversal da parede.
armaduras de ligação. Este pode ser o caso de juntas entre paredes não amarradas diretamente
ou quando os blocos são assentados "empilhados" no plano da parede, ambas situações não Uma dificuldade do ensaio é que' pela fonha como o carregamento é aplicado, tende-se
recomendáveis. Quando a junta é amarrada, o cisalhamento é garantido pela sobreposição dos a forçar que as fissuras ocorram na linha entre as forças aplicadas na extremidade. Este pode
blocos. Na normalização brasileira, a resistência especificada é de 0,35 MPa para o cisalha- não ser o caminho crítico das fissuras em algumas condições de contorno de paredes. Além
mento entre paredes amarradas. disso, as dimensões da sapata de carregamento podem fazer com que seja criada uma biela de
Outro fator ligado a juntas verticais tem a ver com o preenchimento ou não destas compressão após o aparecimento das primeiras fissuras. Algumas vezes, essa biela pode ser
e sua influência na resistência ao cisalhamento contra escorregamento da junta horizontal. ainda capaz de resistir a uma boa parcela de carga após o rompimento por tração diagonal. Em
Quando não há preenchimento da junta vertical, os resultados de ensaio"' indicam redução outras situações pode ocorrer ainda o rompimento localizado na alvenaria próxima à sapata
da resistência inicial ao cisalhamento de cerca de 60%. A parcela devida ao atrito parece não de carregamento, antes que haja a ruptura por cisalhamento. 222
ser significativamente afetada por esse procedimento. Essas incertezas proporcionaram a criação de outro método de ensaio, o da ASTM E72.
Como é possível observar na Figura 5.48(b), esse método indica a aplicação de uma força
lateral na fiada de topo de uma parede quadrada de 2,4 metros. A extremidade da parede
5.6 Resistência de tração no plano da alvenaria deve ser ancorada no piso para prevenir o tombamento do corpo de prova, e cargas verticais
também podem ser incluídas no ensaio. Os resultados obtidos são relevantes apenas para o
5 .6. l Introdução caso particular de carregamento e geometria da parede, porém pode servir para confirmar
especificações presentes na normalização. 223
A combinação de baixa resistência à tração e comportamento frágil torna a alvenaria Ensaios de tração indireta em paredes quadradas, Figura 5.48(c), também são usados
suscetível à fissuração por tração. Em edifícios de alvenaria estrutural, as paredes de con- para estudar os parâmetros que afetam a resistência. 224 Apesar de também aqui haver o pro-
traventamento resistem ao carregamento vertical e também à força horizontal e momento blema de se forçar o rompimento através de uma linha de fissuração entre as forças aplicadas
imposto pela ação de vento. Essa combinação de esforços cria tensões principais no plano da na extremidade, o ensaio é útil para entender esse modo de ruptura e os fatores que o influen-
parede que causarão fissuras quando a resistência de tração for superada pelo esforço solici- ciam. A tensão principal quase constante, f,,, pode ser calculada por:
tante. Além do potencial de desenvolvimento de fissuras verticais ou horizontais, associadas
à resistência de tração paralela ou perpendicular às juntas, várias formas de fissuras diagonais • f,, = 2 P / (it A), sendo A a área ao longo da linha de fendilhamento.
podem ocorrer.
Portanto, é importante que esse tipo de ruptura seja prevista considerando a magnitude
e direção das tensões principais, e várias combinações de materiais. Embora trações paralelas
ou normais à junta possam ocorrer devido à flexão no plano ou mesmo por retração impedida,
neste item é analisada a situação de tração principal devida ao cisalhamento e cargas axiais.

5.6.2 Métodos de ensaio

Tanto a ASTM Cl391 quanto a NBR ABNT 14321 (Figura 5.48(a)) especificam o método
de ensaio de compressão diagonal em uma parede de 1,2 x 1,2 metro para determinar a resis-
tência de tração diagonal. Tensões de pré-compressão podem ser também incluídas no ensaio
para avaliar seu efeito. Geralmente o corpo de prova rompe com fissuras paralelas à linha de
carregamento. A tensão de tração diagonal, f,,, pode ser calculada por: 222Frunzio et ai. (1995).
223 Abrams & Xu (1991).
221 Ramirez Vilató (2004). 224 Johnson & 1bompson (1969), Drysdale & Hamid (1982c) e Drysdale, Hamid & Heidebrecht (1979).
282 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL COMPORTAMENTO DE ELEMENTOS EM ALVENARIA 283

Carga P
_ _ _ Sapata para
Carregamento
carregamento
Parede
2,4 X 2,4 m
Corpo de prova (a)
l,2x 1,2 m Tração
normal à
junta de
assentamento
(b) ASTM E72 ensaio de força lateral
(a) ASTM Cl391, NBR 14321
ensaio de compressão diagonal

(b)
Tração
f st =2-1'_ ..( Plano de ruptura paralela à
rcA
junta de
assentamento
(e) Ensaio de tração por fendilhamento a compressão

Figura 5.48 Ensaios de cisalhamento padrão.

5.6.3 Modos de ruptura

Na Figura 5.49 pode-se perceber vários modos de ruptura em função do posicionamen- (e)
to da linha de carregamento. Quando esta está posicionada paralelamente à junta de assen- Tração
tamento, ocorre a ruptura por fendilhamento das juntas de assentamento, conforme a Figura diagonal

5.49(a). No caso de blocos grauteados, a coluna de graute também se rompe por tração.
Para linha de carregamento normal à junta de assentamento, o plano de ruptura ocorre
através de uma linha reta rompendo blocos e junta de argamassa em fiadas alternadas, como
se pode observar na Figura 5.49(b). Para blocos grauteados, a linha de ruptura ocorre fora da
Figura 5.49 Modos de ruptura de pequenas paredes submetidas ao ensaio de compressão diagonal.
coluna de grauteamento, não sendo, portanto, esperado aumento de resistência significativo
devido ao grauteamento. . Para alvenaria com baixa aderência bloco-argamassa, a ruptura para tração paralela à
No caso de carregamento a 45º, o plano de ruptura ocorre em uma linha a 90º da linha
)Unta ocorre na forma de escada ou dentada, atravessando as juntas, porém esse modo de rup-
de carregamento, conforme a Figura 5.49(c). O grauteamento tende a reforçar a junta de arga-
tura só é possível de ser observado no ensaio de tração direta. A Figura 5.50 mostra curvas de
massa, fazendo com que a ruptura ocorra também nos blocos.
tensão-deformação obtidas nesse ensaio. No caso de presença de grauteamento, o rompimento
ocorre com ruptura dos blocos também, com tensões mais altas.
284 COMPôRTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL COMPORTAMENTO DE ELEMENTOS EM ALVENARIA 285

0,16 . - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - ,
ro • Graute forte
o. o: 3,0

...
~ 1 ~
Graute fraco
1,0 • . .......... ----0. ....
0,12 :( • .~
o: .s ----- ....... g "'.so
~ o --- Vazado
... 2,0

/
ô •ro
~ '' •ro
~
•ro
~
ti Argamassa 1:0,5:4,5 ' ' ro

"'·E"'"
ti o.os fraco de 11,8 MPa' ',
"'·E" 0,5 Graute Tijolo
"'"o Graute forte de 36,2 MPa ' 'o Argamassa A
'9 1,0 1:1/4:3 o
.,.'""
•ro
~

" t; Resistências de grautes o


"
j!i
1:1/2:4 1/2 o •
~ obtidas com moldes de blocos ·~ À
~ 1:1:6
0,04
0,0 "'" o.o
f' tljolo 128 116 MPa

O' 45° O' 45°

o 0,2 0,4 0,6


Deslocamento, mm

Figura 5.50 Curvas tensão~deformação de alvenaria sob tração paralela à junta de assentamento. 225 (a) Alvenaria de bloco de concreto226 (b) Alvenaria cerâmica227

5 .6.4 Fatores que influenciam a resistência de tração no plano da alvenaria Figura 5.51 Resistência de tração indireta no plano de paredes de alvenaria.

Orientação das tensões principais Resistência do graute


A característica anisotrópica da alvenaria é claramente mostrada na Figura 5.Sl(a). Para Para tração normal à junta de assentamento ou diagonal, a linha de ruptura cruza as
alvenarias de blocos vazados não grauteados, para cada direção de carregamento se tem um colunas de graute, havendo grande influência deste na resistência. No caso de tração paralela
valor de resistência. Quando o grauteamento é executado, ocorre um aumento significativo da à junta, a linha de ruptura é também paralela à coluna de graute e ocorre fora deste, não ha-
resistência normal às juntas e as diferenças entre cada direção são menores. vendo, portanto, influência. Essas observações são claramente confirmadas na Figura 5.51(a).

Tipo de argamassa Resistência dos blocos


A aderência por tração é muito influenciada pela argamassa utilizada. Na Figura 5.Sl(b), No caso de tração paralela à junta ou diagonal, a configuração da linha de ruptura depende
percebe-se claro aumento da resistência com o uso de argamassas mais fortes. Também se nota da resistência dos blocos, se estes são mais fracos que a aderência bloco-argamassa da junta.
influência do tipo de bloco na aderência.
Variação da tensão ao longo da seção
O ensaio de tração indireta produz tensões quase constantes ao longo da seção e, por-
tanto, seus resultados são comparáveis com ensaios de tração direta e inferiores aos de tração
na flexão.
A Tabela 5.5 indica valores da resistência característica de resistência à tração na flexão,
de acordo com a normalização brasileira, válidos para argamassas tradicionais de cimento, cal
e areia, sem aditivos ou adições.

226 Drysdale, Hamid & Heidebrecht (1979).


225 Backes (1985). 227 Drysdale & Hamid (1982c).
286 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAl COMPORTAMENTO DE ELEMENTOS EM ALVENARIA 287

Tabela 5.5 Resistência característica de tração na flexão, ~k' de acordo com a normalização brasileira.
Ângulo Tração uniaxial Outras relações Compressão uniaxial
e ___cr/cr2 _
f----~
--
+a, +a,
Normal à fiada - ~k 0,25

--- -li-
Resistência média de compressão da argamassa (MPa)
'

-

Paralela à fiada - ftk 0,20 0,40 0,50
• a, a,

... -
+ + ·-
5.7 Ações combinadas e resistência biaxial ~-"~. -~

i" -li- -Jj-


+
5.7. l Introdução
22,5°
Paredes carregadas vertical e lateralmente estão submetidas a um estado biaxial de tensões.
''
Como comentado anteriormente, o material alvenaria é anisótropo, em cada direção há uma
resistência. A análise de um elemento no estado limite último deve levar em conta a direção em
+ + .
~ ~~~--------

que as tensões principais ocorrem para prever a carga de ruptura. t~ t


5.7.2 Métodos de ensaio

Configurações de paredes com juntas inclinadas (Figura 5.52) têm sido utilizadas para
45°

~ -~- -~-
se tentar medir o comportamento da alvenaria sob tensão biaxial. Diferentes tensões princi- t + .
~ ~~~···---
--~-~·-'"'-'~"-

~
pais são obtidas variando a intensidade de cada carregamento, a inclinação da junta e o sentido
de aplicação das tensões normais 0 1 e 0 2• A Figura 5.53 mostra vários casos. +

Compressão

l
67,5º

~ -~- -~-
+ 1 +
Tração +

l 1
90°

m -E- -li-
t
1

+
Figura 5.53 Modos de ruptura de pequenas paredes submetidas a tensões biaxiais. 228
Figura 5.52 Aplicação de tensão uniforme para tensão principal para vários ângulos de junta de assentamento.

228 Page (1982).


288 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL
COMPORTAMENTO DE ELEMENTOS EM ALVENARIA 289

5.7.3 Modos de ruptura 5.8 Exemplos

Ensaios em painéis de tijolos cerâmicos 229 com várias combinações de tensões normais . 5.8. l Placa de apoio para ensaio de prisma
a cada direção indicam os seguintes modos de ruptura:
Problema:
• Modo 1: perda de aderência entre o bloco e a argamassa nas juntas verticais e/ou Seguindo as considerações das normas canadense/americana (Figura 5.3), determine a
horizontais em linha reta ou em forma de escada. espessura mínima da placa de carrega~ento, cqhsiderando blocos de 14 x 39 cm e diâmetro
• Modo 2: rompimento dos blocos e perda de aderência entre o bloco e a argamas- da rótula de carga igual a 29 cm.
sa nas juntas verticais. Solução:
• Modo 3: combinação dos dois anteriores. A espessura deve ser igual à metade da distância do canto do bloco ao diâmetro da
rótula= ~( ~140'+390 2 -290) = 62 mm.
5.7.4 Fatores que influenciam a ruptura sob tensões biaxiais de compressão-
tração Observação: Pela NBR 12118, a espessura mínima da placa de apoio é igual a 50, 75 ou 100
mm para cargas de ruptura até 1.000, 2.000 ou 3.000 kN, respectivamente.
Compressão vertical e força cortante horizontal combinadas podem produzir um esta-
do biaxial de compressão-tração. Levando em conta que a resistência em cada direção é dis- 5.8.2 Especificação dos materiais
tinta, Page propõe a superfície de resistência indicada na Figura 5.54 para várias combinações
de tensões normais. Problema:
Considerando alvenaria de blocos de concreto de fbk = 12 MPa para construção de edi-
ª1 MPa fícios com paredes revestidas, especifique argamassa (fa), graute (fgk'
) prisma oco (fpk ) e prisma
(Tração)t cheio (f,;).
..., /
Solução:
Para edifícios residenciais com paredes revestidas, f, deve ser próximo ao valor míni-

cr,-+ mo de 0,7 · fbk = 0,7 · 12 = 8,4 MPa, devendo-se especificar então fa = 9,0 MPa. O graute deve
ser aproximadamente igual a 2 · fb, = 2 · 12 = 24, que aproximando para a classe de concreto
indica-se f, g
= C25. Consultando a Tabela 5.3, estima-se fp/f =O 7 e fpkpk
kbk'
*/f = 1,6, portanto
\
\ f,, = 12 · 0,7 = 8,4 M.Pa e f,,* = 8,4 · 1,6 = 13,4 MPa.
-.1. _, --+Oº
6 cr, MPa
5.8.3 Deformação axial
- _ _,, (Compressão)

,. ,., /
22,5º
Problema:
\(_ 45º Estime o encurtamento inicial e final de uma parede de 14 x 120 cm de área, feita com
/~
blocos cerâmicos de paredes vazadas e fbk = 6,0 MPa com 2,8 metros de altura e carga aplicada
/ \
total igual a 100 kN.

/
/
-
. -"' - 67,5º
Solução:
Para blocos cerâmicos de parede vazada e fbk = 6,0 MPa, tem-se f,, = 3,0 MPa (ver Tabela
" - - - - - - - " - - 90º
5.3). Nesse caso, E,= 600 · f,, = 600 · 3 = 1.800 MPa. Para carga de 100 kN, a tensão aplicada é
igual a 100.000/(140 · 1200) =O, 595 MPa. A deformação inicial será, então, igual a 0,595/1.800
Figura 5.54 Superfície de resistência da alvenaria sob tensões biaxiais. 230 = 0,00033, o que para uma altura de 2,8 metros resulta em um encurtamento inicial de 2.800 .
0,00033 = 0,924 mm. Considerando a deformação final igual ao dobro da inicial, essa será de
0,924 · 2 = 1,848 mm.
229 !d. ibid.
230 !d. ibid.
290 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAl COMPORTAMENTO DE ELEMENTOS EM ALVENARIA 291

1r
5.8.4 Coeficiente de ortogonalidade(~) da resistência à tração para tijolos • µ = 0,20 / 0,40 = 0,50
cerâmicos
O grauteamento aumenta consideravelmente a resistência normal à junta de assenta-
1
Problema: mento, mas pouco ajuda na resistência paralela. Considerando a contribuição à quantidade
Determine o coeficiente de ortogonalidade da resistência à tração no plano da parede de vazados a serem grauteados igual a 50% da área do bloco e resistência de tração do graute
feita com tijolos cerâmicos de 40 MPa, considerando argamassa de 1:0,5:4,5 MPa e resistência igual a 10% de f,k' tem-se:
de tração direta, f1, obtida em resultados de ensaios igual a 0,50 MPa.
0 ft,parnlela::::: Ü,20 • Ü,5 + Ü,l · 15 • 0,5 = 0,85
• f t,nor!lla1 = resistência de tração na flexão = 0,50 MPa
Considerando que não há aumento da direção normal em razão do grauteamento, uma
Solução: vez que as fissuras ocorrem em uma seção paralela à coluna de grauteamento, tem-se:
Para tração paralela à junta, as fissuras podem passar através da junta de argamassa e
pelo tijolo em fiadas alteradas. Nesses casos, assumindo a resistência de tração da junta vertical µ = 0,20 / 0,85 = 0,235
igual à da horizontal, e resistência de tração do bloco igual a 10% da resistência de tração,
tem-se: Deve-se destacar que os valores acima são válidos para tração direta. Para tração na
flexão, o grauteamento total fará com que a ruptura ocorra no bloco nas duas direções e, por-
• ft,para11e a = (0,50 + 0,1·40) I 2 = 2,25 MPa tanto,µ= 1,0 para tração na flexão com alvenaria 100% grauteada.

Entretanto, para esse tijolo de boa resistência é mais provável que a ruptura ocorra so-
mente na junta, na forma de jacaré (ver Figura 5.33(e)), e a resistência deve então ser avaliada 5.9 Considerações finais
pela soma da resistência de tração na flexão da junta vertical e da resistência ao cisalhamento
da junta horizontal. Considerando tijolos de 90 x 190 x 57 mm, tem-se: Neste capítulo várias informações sobre o comportamento do "material" alvenaria,
composto de bloco, argamassa e graute foram apresentadas. O leitor deve ter a consciência de
º f = f + _____:f'='':crê="'=''-x_á_re_a..::"="='h•:::m:::'":::"..::':.''c::""c::":_:h::::°'c:::izo:::"::::"I_ _ _ __ que os dados, as análises, as hipóteses e os resultados aqui apresentados foram reunidos com
t,patale!a tração
espessura do t!JO
.. 1o x (altura do liJO • 1o + 1O mm de Junta · ) a intenção de fornecer tuna visão geral do comportamento da alvenaria. Estes são, portanto,
= o, 50 + 0,50.(90·190/2) = 1,21 MPa ilustrativos de comportamentos médios típicos, porém a grande variabilidade de resultados
90·67 indica a necessidad~ de pesquisas contínuas para determinar comportamentos específicos
para cada situação particular.
µ = 0,50 / 1,21 = 0,41
Considerando a diversidade de materiais de características distintas formando um con-
5.8.5 Coeficiente de ortogonalidade(~) da resistência à tração para blocos junto anisótropo, torna-se difícil a formulação de modelos simples que poderiam ser aplica-
dos em várias situações. É compreensível, portanto, que as normas atuais incorporem várias
de concreto
simplificações levando em conta faixas usuais de valores das propriedades dos materiais e os
efeitos desses combinados para cada tipo de esforço em particular.
Problema:
Determine o coeficiente de ortogonalidade da resistência à tração no plano de uma Apesar disso, é importante que o projetista tenha um conhecimento mais detalhado
parede feita com bloco de concreto de fbk = 6 MPa, totalmente grauteada (f,, = Cl5), conside- sobre o comportamento da alvenaria para que possa adaptar as prescrições existentes e anali-
rando argamassa de 1: 1:6 MPa e resistência de tração, ft' obtida em resultados de ensaios igual sar situações de forma mais predsa. Por exemplo, neste capítulo é mostrado claramente que,
a0,20 MPa. dentro de uma faixa de valores adequados, o aumento excessivo da resistência à compressão
Solução:
da argamassa não implica necessariamente em grande aumento da resistência à compres-
Assumindo para tração paralela à junta ruptura com fissuras através da junta de arga- são da alvenaria. Além disso, apesar de o grauteamento ser um eficiente procedimento para
massa e pelo tijolo em fiadas alteradas, e resistência de tração do bloco igual a 10% do fbk: aumento da resistência à compressão, não é possível afirmar que esse aumento será igual
ao aumento de área proporcionado pelo grauteamento. Portanto, se o projetista especificar
• ft,para 11e a = (0,20 + 0,1 · 6) / 2 = 0,40 MPa uma argamassa muito forte e um graute de concreto de grande resistência obtida por uma
baixa relação de água/cimento, prejudicará o comportamento do conjunto, contra a situação
\
292 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE AtYENARIA ESTRIJTURAl
COMPORTAMENTO DE ELEMENTOS EM ALVENARIA 293

correta de especificar argamassa bem dosada e graute fluido o bastante para preencher todos 7. Usando os princípios da mecânica dos sólidos e dos dados experimentais e comentários
os vazados da parede. deste capítulo, estime:

a) O aumento porcentual da resistência ao cisalhamento da junta de assentamento


5.1 O Exercícios (por escorregamento) para um bloco vazado de concreto de 19 cm de espessura.
Tensão de aderência ao cis.alhamento, t, = 0,40 MPa, resistência do graute, obtida
1. Descreva com suas palavras o mecanismo de ruptura de um prisma de alvenaria com em ensaios em moldes absorvente~ feitos com os mesmos blocos da parede, de
bloco e argamassa especificados corretamente (f, < fbJ. Se a resistência da argamassa 20 MPa e bloco 54% maciços com espessura mínima da parede do bloco igual a
for muito grande, por exemplo, duas vezes maior que a do bloco, descreva como você 32mm.
espera que a ruptura do prisma ocorra. b) O aumento porcentual da resistência ao cisalhamento em alvenaria de blocos
cerâmicos devido à aplicação de um tensão de compressão de 1,4 MPa. Tensão
2. Considerando as prescrições de norma brasileira e as relações prisma/bloco estimadas de cisalhamento inicial igual a 0,35 MPa.
na Tabela 5.3, determine o valor do módulo de elasticidade da alvenaria para: c) O aumento porcentual na resistência de tração na flexão para parede de bloco
vazado de concreto de 19 cm de espessura, apoiado na direção vertical, devido
a) blocos de concreto sem graute, com f," = 20 MPa; ao grauteamento de todos os furos. Bloco 55% maciço e resistência de tração na
b) acima, com graute em todos os furos; flexão igual a 0,40 MPa. Graute com fgk (molde cilíndrico) de 15 MPa.
c) blocos cerâmicos de parede vazada, sem graute, com fbk = 10 MPa; d) O coeficiente de ortogonalidade para resistência de tração direta em alvenaria
d) blocos cerâmicos de parede maciça, sem graute, com fbk = 15 MPa. de bloco vazado de concreto sem graute e com todos os furos grauteados. Bloco
vazado de concreto de 19 cm de espessura, 60% maciço, com fb, = 12 MPa. O
3. Considerando blocos de concreto de fbk = 1O MPa e graute de f,k = 20 MPa, indique o graute tem resistência, obtida em moldes absorventes feitos com o mesmo bloco
seguinte: da parede, igual a 20 MPa (f,k obtido em molde cilíndrico igual a 15 MPa).

a) Qual resistência de parede, fk, seria esperada considerando válido o princípio de 8. Faça uma breve revisão da literatura sobre modos de ruptura de alvenaria de tijolos
simples superposição de resistência do bloco e graute. cerâmicos. Indique qual a resistência de prisma esperada, segundo essas teorias, para:
b) Explique por que alguns pesquisadores identificaram que muitas vezes quando se tijolos cerâmicos de 57 mm de altura, resistência à compressão de 55 MPa e de tração
adota a superposição de resistência se pode superestimar a resistência. Usando as igual a 4 MPa; argamassa de 14 MPa de resistência à compressão e junta com 10 mm de
relações estimadas na Tabela 5.3, indique qual o valor de fk esperado. espessura.

4. Considerando tijolos cerâmicos, assentados com junta amarrada no plano da parede,


argamassa 1:0,5:4,5, resistência de tração do tijolo igual a 5,5 MPa, determine o coefi-
ciente de ortogonalidade da resistência à tração.

5. "O grauteamento de todos os vazados dos blocos diminui o grau de anisotropia da alve-
1
naria''. Explique essa frase considerando a resistência à compressão, tração e ao cisalha- 1.

mento. Podem ser utilizados desenhos para melhor explicar a resposta.

6. Considerando as prescrições das normas canadense e americana, determine qual a mí-


nima espessura da placa de aplicação de carga para um prisma feito com bloco de con-
creto de 12 MPa, de dimensões 14 x 29 cm. Considerando a resistência de prisma a ser
obtida no ensaio 20% maior que a esperada pelas relações indicadas na Tabela 5.3 e as
prescrições da NBR 12118, identifique qual espessura mínima da placa seria necessária
por essa norma.
CAPÍTULO 6 ............_.......,....,.__,......,_.....,._......,......,.....,..,._.....,,,_
Vigas
_/

Figura 6.1 Viga de alvenaria armada.

6.1 Introdução

A resistência à tração da alvenaria resulta em uma fração muito pequena da resistência


à compressão desta. Vigas de alvenaria não armada rompem na região tracionada com um
carregamento consideravelmente inferior ao limite da região comprimida. Dessa forma, vigas
de alvenaria são geralmente armadas a flexão, de maneira semelhante a vigas de concreto,
permitindo expressivo aumento na resistência à flexão. O comportamento e o projeto de vigas
de alvenaria armada são tópicos deste capítulo, que abrange também elementos protendidos.
Entretanto, muitos dos conceitos aqui discutidos são aplicáveis a painéis· de alvenaria com
flexão fora do plano, conforme capítulo seguinte.
Vigas e vergas são elementos horizontais utilizados para vencer vãos sobre aberturas
em paredes, conforme mostrado na Figura 6.2(a), as quais podem ser construídas com tijolos
(Figura 6.2(b)), blocos canaletas (Figura 6.2(c)) ou ainda com blocos vazados. Blocos canale-
tas (unidades em forma de U, grauteadas) formam fiadas com armadura horizontal dentro de
uma parede e são utilizados para possibilitar resistência a flexão, tração ou cisalhamento da
alvenaria.
O dimensionamento de elementos fletidos deve levar em conta estados limites e de ser-
viço. A resistência à flexão e cisalhamento e a ancoragem da armadura são condições de estado
limite, enquanto o deslocamento e a abertura de fissuras são condições de serviço.
296 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL VlGAS 297

admite-se que o dimensionamento é preciso o suficiente para ser utilizado em projeto, exceto
se a viga estiver na classificação de viga-parede. Em algumas normas internacionais são consi-

~"""'~
deradas vigas-parede quando a relação vão/altura da viga é menor que 3 para vigas contínuas,
2 para biapoiadas ou 1 para balanços. Na normalização brasileira, considera-se vigas-parede
para relação vão/altura maior que 3. Nesses casos, as deformações devem ser consideradas não
lineares ao longo da seção e mais cuida,dos com ,a ancoragem são necessários.
V erga de alvenaria
(a) Vergas e vigas armada de tijolos
6.2.2 Comportamento de vigas com armadura de flexão
(b) Vigas e vergas de tijolos

Conforme se aumenta o carregamento em uma viga, são observados vários diferentes


:~· estágios de comportamento, conhecidos como estádios. Quando a tensão na fibra do bordo

. ,'--!
Bloco canaleta formando uma
tracionado é inferior à resistência de tração da flexão da alvenaria, a seção se encontra não
verga de baixa altura
Bloco canaleta fissurada à tração (M < M), estádio l, com diagrama momento-curvatura indicado no trecho
~ A da Figura 6.3. Quando a tração excede o limite de resistência da alvenaria, ocorrem fissuras
no bordo tracionado, que se propagam em direção à linha neutra até que seja possível se res-
tabelecer o equilíbrio da seção. Na maioria dos casos, as tensões de compressão na alvenaria
Viga de maior altura formada por ainda serão muito pequenas nessa fase e o aço ainda não escoa. Conforme os dois materiais
bloco canaleta e blocos vazados continuam a se deformar, o aumento de curvatura da seção é linear, porém com a rigidez
sendo continuamente reduzida (estádio II), conforme trecho B da Figura 6.3. O momento da
(e) Vergas e vigas de blocos vazados seção para cargas de serviço, M,, deve estar nessa região.
Figura 6.2 Vigas e vergas usuais em alvenaria.

--
Ruptura a compressão secundária
M para seção subarmada ---.......
Curva D
"
6.2 Comportamento e dimensionamento a flexão M ....._____ Escoamento da armadura
' Curva e /---:!. para seção subarmada
6. 2. 1 Hipóteses básicas ;:;;; " ' - _ Ruptura a compressão
§ para seção superarmada

§""
Para vigas, as hipóteses básicas nas quais o dimensionamento é baseado são:
M
;:;;; '
• Forças internas em qualquer seção estão em equilíbrio com as forças externas.
• Seções planas antes da flexão permanecem planas depois. As deformações ao LI E!"
' - - CurvaB
longo da seção são lineares, proporcionais à distância até a linha neutra. Elástica após fissuração
Após a fissuração, a resistência à tração da alvenaria é considerada nula. Curva A
Elg ----- Elástica antes da fissuração
.,.,.--
• Tanto o aço quanto a alvenaria têm comportamento elástico-linear para cargas
de serviço, levando a linha neutra a passar pelo centroide da seção transversal
Curvatura, <!>
fissurada equivalente.
• Existe perfeita aderência entre o graute e a armadura. Figura 6.3 Diagrama momento~curvatura para vigas de alvenaria.

Para forças de elevada magnitude, o comportamento não linear do material, os efei- Próximo ao momento de ruptura, as tensões na alvenaria passam a ser plásticas e se ob-
tos localizados de fissuração e o escorregamento da armadura invalidam a hipótese de seção serva um comportamento não linear (estádio III), conforme trecho C. Dependendo da quan-
plana. Entretanto, com o refinamento da consideração de diagrama tensão-deformação não tidade de armadura, o escoamento da armadura (com M = M y) pode ou não ocorrer antes do
linear obtém-se uma previsão razoável do momento resistente máximo na seção. Para baixas rompimento da alvenaria à compressão. Se a seção for superarmada, a alvenaria irá romper à
relações entre vão e altura da viga, a hipótese de deformações lineares é menos válida, porém compressão de maneira repetida (comportamento frágil). Entretanto, se a seção for subarmada,
/
298 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL VIGAS 299

a tensão de escoamento do aço define o momento máximo da seção, podendo-se calcular a de alvenaria que produz a mesma deformação. Levando em conta a relação entre módulos de
máxima tensão de compressão na alvenaria nesse ponto fazendo o equilíbrio da seção. elasticidade do aço e da alvenaria, essa área é igual a n . A,, com:
Após o escoamento da armadura (M > M,), o equilíbrio da seção para cada aumento
de momento aplicado só é possível com o deslocamento da linha neutra em direção do bordo n=E/E Equação 6.1
' '
comprimido e o consequente aumento do braço de alavanca e tensão de compressão. A rup-
tura final ocorrerá quando a deformação na fibra mais comprimida atingir a deformação de em que:
ruptura (esmagamento) da alvenaria (e). Essa ruptura geralmente é caracterizada pelo des- A, = área de aço; /
placamento das faces dos blocos, conforme se observa na Figura 6.4(a). Esse tipo de ruptura E,= módulo de elasticidade do aço= 210 GPa;
é chamado "ruptura secundária a compressão'; e é precedido por grandes deformações (ver
Figura 6.4(b)) e aberturas de fissura. Esse comportamento dúctil obtido em seções subarma-
E =mo. duo l t' 'd ade d aavenar1a=
l d eeas1c1 l . {800 fpk com blocos de concreto
.
a 600 fpk com blocos cerâmicos
das é desejável por conta da possibilidade de redistribuição de esforços para elementos menos
solicitados após o escoamento da armadura e, principalmente, pela possibilidade de se perce-
O centroide da seção equivalente, sem fissuras e medido a partir da fibra mais compri-
ber avisos na viga, caracterizados por grandes deslocamentos e aberturas de fissuras, antes de
mida, será:
sua ruptura. A ductilidade da viga pode ser percebida pela grande relação entre a deformação
na ruptura e a deformação quando do escoamento da armadura.
Y= [ bh%+( n-1 )A, d ]1[ bh +( n-1 )A, J Equação 6.2
350
Máximo"" 305 kN
300 Escoamento:_:=:.2~7J-8kN~--------r-_:::==--~- O termo (n-l)A, corresponde à.área de alvenaria ocupada pelo aço. O momento de
z inércia da seção equivalente não fissurada será:
~ 250

l
~ 200
Equação 6.3
~ 150
8 100
~l+·---·t
Fissuração = 49 kN
6,Sm Em algumas situações pode ser satisfatório e conservador ignorar a área de aço, com e
50
momento de inércia igual ao primeiro termo da equação 6.3. A tensão em qualquer ponto da
o w w w • ~ w m m ~ 100 seção transversal, fiu.,__é igual a:
Deslocamento do meio do vão, mm

Figura 6.4 Comportamento a flexão de vigas de alvenaria em blocos de concreto. 231 Equação 6.4

Quando a viga é superarmada, a armadura não atinge a tensão de escoamento antes em que:
do limite de resistência e de deformação da alvenaria, fazendo com que a ruptura ocorra sem M = momento aplicado;
aviso, com pequenos deslocamentos. Esse modo de ruptura não é desejado e o projetista deve Y, = distância do ponto em análise até a linha neutra.
evitá-lo. No limite da seção subarmada, pode-se determinar o momento balanceado, onde
ocorre ao mesmo tempo o escoamento da armadura e ruptura por esmagamento da alvenaria. A tensão no aço, f,. é calculada por:

6.2.3 Análise elástica de vigas Equação 6.5

Seção não fissurada. Antes do aparecimento de fissuras, as distribuições de tensões e as de- em que (d -y) é a distância da linha neutra até o centroide das armaduras.
formações ao longo da seção são lineares, conforme Figura 6.S(a). As propriedades da seção
podem ser calculadas pela seção equivalente, onde a área de aço é transformada em uma área
Seção fissurada. A alvenaria fissura quando a tensão no bordo tracionado excede a resistência
de tração na flexão desta. A seção fissurada continuará com comportamento elástico (Figura
231 Neis & Loefller (1983).
6.S(b)) até um certo limite de M. Ignorando a região da seção composta da alvenaria sujeita a
300 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL VIGAS 301

tração, a seção equivalente passa a ser formada pela região de alvenaria comprimida e "n" vezes Deve-se destacar que até a publicação das novas normas para projeto e execução de
a área de aço na região tracionada. A partir dessa seção equivalente, calcula-se as tensões e de- alvenaria estrutural em 2011, o cálculo pelo método elástico considerando tensões admissíveis
formações. Para uma seção retangular, o equilíbrio das forças de tração (T) e compressão (C) e era utilizado no Brasil (conforme NBR 10837/1989, não mais em vigor). A partir de 2011,
a compatibilidade de deformações entre o aço e alvenaria podem ser considerados conforme a as seções fletidas são dimensionadas considerando a plastificação da seção e o estado limite
equação 6.6. A posição da linha neutra (LN) é definida pela altura da região comprimida (kd): último, conforme item a seguir.

d-kd]
T = C-;. nA, - f
- f, =-2.bkd
[ kd Equação 6.6 f
2 "
y
Desenvolvendo a expressão acima (equações 6.6 e 6.7) e definindo p como a taxa geo- LN YI
métrica de armadura, p = A/(bd), pode-se calcular a posição da linha neutra (k) resolvendo a
equação do 2• grau (equação 6.8):
A
(n-llz' d-yl f,
n
kd
nA,(d-kd)=-bkd Equação 6.7
2 Seção equivalente Distribuição de Distribuição de
b deformações tensões
Equação 6.8 (a) Tensões admis~íveis, elástico, seção não fissurada
8

Com a área de aço transformada em uma área de alvenaria equivalente (nA,), pode-se
~
determinar o momento de inércia da seção fissurada:

b(kd)
3
2 d
kd
_LN
--
e

--'---'- + nA, (d- kd ) Equação 6.9 jd


3
nA,
A tensão de compressão máxima na alvenaria será:
J+-ol H
é\<ey f
f = M (kd) li Equação 6.10 --'-
' " (b) Tensões admissíveis, elástico, seção fissurada
n

com a tensão no aço igual a: 8 f,


H H
f = nM(d-kd)/I Equação 6.11 e
' " , +-
LN
Explicitando os valores das forças de tração (T) e compressão, tem-se: cJ -
d

e= i_,_bkd Equação 6.12 A,


2
o o
T=Af Equação 6.13
"
8>8
' r
O momento aplicado, M, deve então estar em equilíbrio com o momento interno dado (c) Estado limite último para caso de seção simples ou subarmada
pelo binário das forças Te C, com braço de alavanca igual a (d- kd/3):
Figura 6.5 Análise de vigas armadas.
M = C (d - kd/3) = T (d - kd/3) Equação 6.14
302 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL VIGAS 303

6.2.4 Análise de vigas pelo estado limite último A Figura 6.6 mostra a real distribuição de tensões na alvenaria em uma seção fletida e o
diagrama retangular aproximado utilizado para o dimensionamento, de maneira semelhante a
O estado limite último representa a condição final quando um elemento atinge sua · seções de concreto armado. 232 As diferenças para o concreto armado incluem a substituição da
máxima capacidade resistente. Nesse ponto, a alvenaria sob compressão está com comporta- resistência do concreto pela resistência da alvenaria (f,), a introdução do coeficiente "k'; que
mento não linear e a deformação máxima na fibra do bordo mais comprimido é limitada pela leva em conta a direção da compressão, e o maior coeficiente redutor da resistência do aço.
máxima deformação da alvenaria e,, Figura 6.5(c). Embora seja possível haver situações em Conforme capítulo anterior, de a~ordo com a normalização brasileira, adota-se f = 0,7
que o aço não escoa quando a quantidade de armadura é maior do que a da seção subarmada, f,, I 2,0. O coeficiente "k'' vale 1,0 para compres~ão normal à junta de assentamento (~esma
essa condição não é desejável no projeto. Os requisitos do projeto devem atender a condição condição do ensaio de prisma). Para compressão paralela à junta de assentamento deve-se
de ductilidade da seção, garantindo a condição de escoamento da armadura indicada na Fi- tomar k = 0,5 quando a seção não é grauteada ou quando há graute vertical em blocos vaza-
gura 6.S(c). Dessa forma, a força de tração será igual a T = A,f,k' sendo f,k igual à tensão de dos, mas estes são assentados com junta vertical em apenas dois cordões (na seção da junta
escoamento da armadura. Para projeto, deve-se ainda considerar o coeficiente de minoração de argamassa, a seção transversal será reduzida pela metade, não obstante haver graute em
da resistência do aço Y, = 1,15. todo o vazado do bloco). No caso de uso de bloco canaleta totalmente grauteado, o valor de k
A normalização brasileira impõe ainda que não se deve permitir uma tensão do aço\ será igual a 1,0, pois, nesse caso, a seção comprimida será continuamente cheia de graute. Em
maior que 50% da tensão de escoamento deste. Essa precaução, não encontrada em normas outras condições, o total ou parcial preenchimento de todos os vazados nas seções ao longo da
internacionais, foi imposta considerando o limitado número de pesquisas sobre vigas de alve- viga deve ser levado em conta para definição de "k".
naria e sobre a condição de perfeita aderência entre o graute e os blocos. Essa recomendação A altura da região comprimida define a posição da linha neutra (LN), indicada pela
apresenta taxas de armadura maiores do que se estivesse utilizando toda a tensão no aço e, de dimensão "x" na Figura 6.6. A altura do diagrama de tensões retangular equivalente é tomada
uma maneira simplista, pode ser entendida como um fator extra de segurança no dimensio- igual a 0,8 x. Conforme o capítulo anterior, o valor de 0,8 vale para a maioria das aplicações
namento a flexão. Nas deduções a seguir será adotada a condição de escoamento da armadura. em alvenaria, porém algumas normas internacionais indicam valores menores para blocos de
Alerta-se ao leitor incluir a consideração de limitar a tensão do aço no dimensionamento, o resistência superior a 10 MPa (ver 5.3.5).
que muitas vezes leva à necessidade do dobro de área de aço. Considerando todos os fatores A força de compressão (C) será, então, igual a 0,8 b x k f,. Considerando o coeficiente
acima, a força de tração será: de minoração da resistência da alvenaria, ym' igual a 2,0 e escrevendo a expressão em termos
da resistência de prisma, tem-se:
T=Af,iy
y s$
Equação 6.15 J
0,7fpk fk
c=0,8·b·x·k· --=0,56·b·x·k·__L Equação 6.16
Conforme comentado no capítulo anterior, o diagrama tensão-deformação da alvenaria Ym Ym
não é linear e depende de vários fatores e propriedades dos materiais. Uma maneira simples e
adequada de considerar uma distribuição retangular equivalente de tensões é diminuir a altura do Para equilíbrio T = C, então, igualando as equações 6.15 e 6.16 chega-se a:
diagrama para 0,8x (Figura 6.6). Também conforme o capítulo anterior, uma grande faixa de re-
sultados da deformação na ruptura de alvenarias é relatada na bibliografia, com valores variando
de 0,2% a 0,35%. A normalização brasileira adota o valor superior, igual a 0,35% ou 0,0035. Equação 6.17

kfd
I· b
·I '· = 0,0035 A l<--->i J_ í
Para equilíbrio de momento, M, = T (d - 0,4x), portanto, tem-se:

i
0,4x
0,8xl
A, ·f yk
e Md (d-0,4x) Equação 6.18
d _LN
Y,
-
• • T
T=Af
qd Considerando a taxa de armadura p = A/(bd), pode-se reescrever a equação 6.18:

Seção Distribuição de Distribuição real Distribuição retangular Equação 6.19


transversal deformações de tensões equivalente de tensões

Figura 6.6 Seção no estado limite último.


232Suter & Fenton (1986), Suter et ai. (1988) e Khalaf et ai. (1983).

:'!I
304 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL
VIGAS 305

Para levar em conta a prescrição de não limitar a tensão no aço a SO% da tensão de
em que:
escoamento, a área de armadura da equação 6.24 deve ser multiplicada por 2,0, mantendo-se
. o mesmo valor para o momento resistente na equação 6.2S.
Equação 6.20
Até o limite de momento de cálculo aplicado na seção indicado na equação 6.2S, basta
calcular a armadura simples utilizando a equação 6.21. Para momentos superiores, deve-se

o valor de K pode então ser tabelado para várias especificações de materiais (aço e alve- \ utilizar armadura dupla, conforme item, seguinte..
1
naria). Também se pode resolver a equação do 2º grau e calcular A, Considerando aço CASO, 6.2.5 Armadura duplo
~
da armadura, com unidades em kN e cm:
.
f =SOO MPa = SO kN/cm', y = l,lS e Ym = 2,0, pode-se reescrever a equação 6.18 para cálculo
Armaduras na região comprimida podem ser necessárias para servirem de apoio aos
estribos, para reduzir a deformação ao longo do tempo da viga, para reduzir a altura da linha
2.700,S·A; Equação 6.21 neutra e garantir ductilidade à seção, ou ainda por haver casos de carregamentos distintos
43,48·A,-d+Md =O
b·k·f pk com sentidos invertidos. Nessa armadura, pode ser levado em conta o dimensionamento,
desde que seja adequadamente travada pelos estribos para impedir a flambagem das barras
Para que as equações acima sejam válidas, a armadura deve escoar quando a alvenaria comprimidas. Nesse caso, o diâmetro mínimo recomendado para o estribo é de 6,3 mm, com
atingir 0 limite de deformação de 0,3S%. Por semelhança de triângulos na distribuição de espaçamento máximo igual a l 6x o diâmetro da armadura longitudinal comprimida e 48x o
deformações da Figura 6.6, e considerando a deformação no aço igual à de escoamento de um diâmetro do estribo. Uma armadura de compressão numa seção fletida com armadura dupla é
aço CASO ) ey = O)207% ) a máxima altura da linha neutra deve ser limitada a: mostrada na Figura 6.7(a), posicionada a uma distância d' do bordo comprimido.
i
0,3S
0,628 Equação 6.22 \ i I•
b
•I
0,3S+0,207 ~- em f,
e', e,
• ,• r
!\
d'

k1 e
Pode ainda ser recomendável seguir o limite da NBR 6118/2003, com limite x/d = 0,S
para garantir boa ductilidade da seção. d I
I
A área de aço equivalente à máxima altura da linha neutra é conhecida como área ba- I
I
lanceada, A , e corresponde à exata quantidade de armadura que leva ao escoamento da arma- A I
T
dura e rupt:ra da alvenaria ao mesmo tempo. É o limite entre o comportamento dúctil e frágil
e, por consequência, limita a máxima armadura simples da seção fletida na alvenaria armada.
• '• e,
I

~ln es> ey
T

(a) Seção (b) Comportamento elástico (e) Estado limite últi~o


A partir da equação 6.17, e considerando x/d = 0,628, pode-se determinar o valor de A,b:
Figura 6.7 Efeito da armadura dupla.
A5f ky-Ym Equação 6.23
0628·d=--~--
, O,S6·b·k·fpk·Y,
Conforme se nota na Figura 6.7(b), antes do estado limite último, a distribuição de
tensões é linear ao longo da altura. Até as revisões de norma de alvenaria estrutural em 2011,
Considerando aço CASO, f = SOO MPa = SO kN/cm 2, g, = l,lS e g"' = 2,0, pode-se
~ . .
reescrever a equação 6.23 para cálculo da área máxima de armadura e determmar o max1mo
. o dimensionamento era feito por esse critério. Com a adoção do estado limite último, esse
procedimento perde o interesse e não será discutido aqui (para armadura simples, o procedi-
momento de cálculo para armadura simples, com unidades em kN e cm: mento foi descrito para apresentar ao leitor as várias fases de comportamento de uma seção de
alvenaria armada fletida).
Asb =A s,max = 0,00404 ·d· b · k · fPk' com fPk em kN/cm' Equação 6.24
Propriedade da seção fissurada (estado limite de serviço). Considerando áreas equivalentes
às armaduras mostradas na Figura 6.7, posição da linha neutra, kd, para verificações em servi-
M =M = A,b ·SO (d-0,4 · 0,628d) ço, pode ser calculada igualando-se o momento estático da parte de cima e de baixo da linha
db d,ma:< l, l S
neutra (área de alvenaria fissurada, abaixo da LN, é desconsiderada):
M db =Md,max =01317·d'·b·k·fk,comfkemkN/cm
1
2 Equação 6.2S
P P
306 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE AlVENAR!A ESTRUTURAl
) VIGAS 307

Equação 6.26 Caso contrário, é preciso checar a tensão correspondente à deformação nessa fibra. Por
b(kd) kd +( n-1 )A; (kd-d )=nA, ( d-kd)
2 semelhança de triângulo, tem-se:

A parcela -lA' no termo (n-l)A' representa a área de alvenaria ocupada pela armadu- d' e; d' . d'
= - - > - - = - - - H =0,00S57-
' y Equação 6.33
ra negativa. Adotando r· = A'/(bd), o valor de k pode ser calculado por: Eu X Ü, 003S 0, 628d ' d

A tensão no aço será E', · E, e a área de ar~adura resulta em:


k= 2n p+p.d·J
d -2p.d·
d+ [ n ( p+p ') -p ']' -n (p+p ') +p ' Equação 6.27
(
Equação 6.34
e; ·E, ·(d-d')
O momento de inércia da seção fissurada será:
Para levar em conta a área de alvenaria substituída pela armadura comprimida, dever-se-ia
b(kd)' +nA, ( d-kd) 2 +( n-1 )A; (kd-d' )' Equação 6.28 o 7f
I " 3 x,.
subtrair a parcela k. = 'ympk de C,, o que geralmente é ignorado, pois o valor é relativamente

Estado limite último. Esta condição é indicada na Figura 6.7(c). Considerando que o valor de pequeno. Como a armadura da parte tracionada está escoando, basta adicionar uma área de aço
Md aplicado à seção é maior que o momento da seção balanceada (Mdb), e por isso pretende-se nessa região correspondente ao binário para resistir L\.M. Para aço CASO, unidades em kN e cm,
dispor uma armadura dupla, a posição da linha neutra é a da seção balanceada, com x = 0,628 tem-se: (dobrar o valor da área de armadura para f, = 50% f,)
d para aço CASO. Até o valor de M,b, a armadura simples é suficiente. A diferença de momento
L\.M
aplicado e o máximo da seção balanceada é definida por: A, =A,b + A, 2 =0,004044·d·b· k·f pk +0,023 (d-d') Equação 6.35

Equação 6.29
sendo o momento total resistido pela seção igual a:
O momento L\.M será resistido pelo binário formado pela armadura de compressão e
uma armadura de tração adicional. O braço de alavanca entre essas armaduras é definido pelo
M, = M,b + L\.M = 0,1317 ·d'· b · k · f,, + 43,78 fí, (d-d') [kN, cm, aço CASO] Equação 6.36
posicionamento destas, igual a z' = (d - d'). A força de compressão adicional na armadura
comprimida (igual à força de tração adicional) será: 6.2.6 Estados lir[1ites de serviço

Cy =L\.M/(d-d') Equação 6.30


Os estados limites a serem verificados no dimensionamento de vigas incluem a flecha
(ou a deformação) máxima, o controle de fissura e a proteção contra corrosão, a qual é tratada
É necessário verificar se a deformação na região comprimida na posição d' leva ao
pela especificação de cobrimento mínimo ou especificação de algum tratamento (por exem-
escoamento da armadura ou não. Se houver esse escoamento (e ignorando a área de alvenaria
plo, galvanização). As armaduras na junta de argamassa podem então ser de aço galvanizado
que é substituída pelo aço que, a rigor, deveria ser subtraída do cálculo), a força de compres-
(ou outro tratamento) ou devem ter cobrimento mínimo na direção horizontal de lS mm.
são na barra comprimida será:
No caso de armadura envolta por graute (vertical no vazado do bloco ou horizontal
em canaleta), deve-se respeitar o cobrimento mínimo (descontando-se qualquer espessura do
Cs =Xs f,
y
! '>]Is = L\.M ! (d - d')_. X = _Ll._M_·Y_,_ Equação 6.31 bloco ou canaleta) também de l S mm. Para garantir o posicionamento destas, é recomendável
y fyk-Cd-d')
o uso de espaçadores para alvenaria estrutural.
As fissuras por flexão geralmente ocorrem nas juntas de argamassa. Por exemplo, vigas
Para fyk = SO kN/cm 2 e unidades em kN e cm: de alvenaria construídas com blocos de 390 mm de comprimento tipicamente apresentam fis-
suras a cada 200 mm, correspondentes ao espaçamento das juntas verticais. Vigas de concreto
L\.M
X =0,023( Equação 6.32 normalmente apresentam fissuras menos espaçadas. Por esse motivo, as fissuras em vigas de
y d-d' ) alvenaria geralmente são mais concentradas e de maior espessura. Para determinada condição
308 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE AlVfNAR!A ESTRUTURAL VIGAS 309

de exposição ambiental, o projetista deve limitar a condição de exposição da armadura, limi- o caso de vigas que suportam paredes, a flecha é limitada a R/500, com t igual ao comprimento
tando a abertura de fissuras pela imposição de limites na tensão no aço para ações de serviço. do vão, e considerando o deslocamento que ocorre depois da construção da parede. Outros
casos foram apresentados no capítulo 3. Para casos comuns, geralmente é possível dispensar a
Abertura de fissuras. Esta é uma condição de serviço importante, e, na falta de procedimento verificação do deslocamento quando a altura útil da viga é maior que o comprimento do vão/] O.
mais preciso, a recomendação da norma canadense CSA S304.l, adaptada de recomendações se- O cálculo da flecha imediata, levando em conta a fissuração, pode ser realizado utilizan-
melhantes para concreto armado,233 pode ser adotada. Como as aberturas de fissuras são muito do os métodos desenvolvidos para elementos de concreto armado. O momento de inércia para
variáveis, a especificação não limita a abertura de fissuras, preferindo impor limites para força por cálculo da flecha pode ser tomado como um val;r intermediário entre o da seção não fissurada
metro linear em uma seção de concreto que envolve a barra de aço, indicada pelo termo "z" abaixo: (equação 6.3) e fissurada (equação 6.9), ponderado pela relação entre o momento de fissura-
ção e máximo aplicada na seção (valor em serviço, combinação quase-permanente de ações):
z=f~d
y '
·A Equação 6.37

em que: Equação 6.38


(=tensão no aço para combinação de ações em serviço (kN/cm 2);
d =distância do centro da armadura mais tracionada até o bordo mais tracionado (cm);
' área de concreto de envolvimento, especificado como a área de graute/bloco que tem o mes-
A= em que:
mo centroide de cada barra de aço (cm2). Para vigas com uma única camada de armadura, essa Ieq, Icr são os momentos de inércia equivalentes da seção não fissurada e fissurada, respectiva-
área é igual a duas vezes d, multiplicado pela largura da viga e dividido pelo número de barras mente;
da camada (Figura 6.8). Em qualquer situação, a largura e altura do retângulo utilizado para Mª =momento máximo em serviço na combinação quase-permanente;
cálculo de A devem ser tomadas com valores inferiores a 7,5 vezes o diâmetro da armadura; Mcr =momento
.
de fissuração= (f,k + crk) J ·
~'
O valor dez não deve ser superior a 300 kN/cm para alvenaria revestida ou 250 kN/cm para y,
alvenarias aparentes. Conforme o capítulo 3, deve-se utilizar a combinação frequente de ações ftk = resistência de tração na flexão;
para essa verificação. Entretanto, para uma verificação preliminar sugere-se estimar f, = 0,6 f,k' sk = tensão de compressão axial aplicada na seção;
ou ainda f, = 0,30 f,, caso seja seguida a normalização brasileira, que limita a tensão no aço a Y, = distância do centroide da seção não fissurada ao bordo mais tracionado.
50% da tensão de escoamento.
Lee et al."4 comparam deslocamentos obtidos com essa fórmula com os medidos em
A
A vigas reais com razoável grau de precisão para módulos de elasticidade obtidos em ensaios
A realizados na direção paralela à junta de assentamento (compressão horizontal). Entretanto,
uma vez que os resultados costumam ter grande variabilidade, o usual é considerar o mesmo
módulo de elasticidade medido no prisma com compressão normal à junta de assentamento
V
"O _J (600 f,k ou 800 f,k para blocos cerâmicos ou de concreto). Horton & Tadros235 testaram outras
opções. Para o caso de vigas contínuas, o valor de Im deve ser obtido como o valor médio
1 V
"O
N V
ponderado entre a seção crítica positiva e negativa.
"O A estimativa da flecha ao longo do tempo é feita tomando a flecha total igual ao dobro

__JI da inicial, de acordo com normalização brasileira. A norma canadense permite estimar esse
valor em função da armadura de compressão existente:

Figura 6.8 Determinação da área de graute/bloco envolvendo a armadura.


l
Flecha final = flecha inicial . ( 1+ S
1+50p'
J Equação 6.39

Deslocamento. Ainda no capítulo 3 foi discutida a necessidade de verificação do estado limite


de serviço de deformações excessivas, feita com a combinação quase-permanente de ações. Para
234 Lee et ai. (1983).
233 MacGregor & Barrett (2000). 235 Horton & Tadros (1990).
31 Ü COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRU1URAl
VIGAS 311

com p' ~ A'./bd na seção central do vão para vigas com dois apoios ou no apoio para vigas em Deve-se ainda verificar a compressão na região superior da parede. Recomenda-se dispor
balanço, e S dependendo do tempo de permanência do carregamento (igual a 1,0 para 5 anos, uma armadura em cada junta horizontal da face inferior da viga até a distância de 0,5 d ou 0,5 L"
0,7 para 1 ano e 0,6 para seis meses). (o que for menor), com área mínima de 0,04% da área da seção.

6.2.7 Armadura intermediária


1 l l l l1
Embora as prescrições anteriores possam permitir o controle adequado da fissuração
----+

~
na região próxima à armadura tracionada, é possível que fissuras se formem entre a armadura 1 1 1 1 1
F
principal de tração e a de compressão (se existir). Essas fissuras podem afetar a condição de ser- .,.,
N
'
viço da viga ou, ainda, diminuir a resistência ao cisalhamento. Por esse motivo, recomenda-se "' "!
N ! 1
1 1 1
.,,
li
especificar uma armadura intermediária (algo semelhante a uma armadura de pele em elemen-
tos de concreto armado) para vigas com altura maior que 60 cm a cada 20 cm. Considerando a
recomendação da NBR 6118, de que a armadura de pele seja igual a 0,2% da área de concreto
e espaçamento de 20 cm, chega-se a uma armadura intermediária mínima igual a 4% vezes a
--- F,
1

11
1
1 1

Leí= 1,151
1
A
' 1

1
largura da viga. Para blocos de 14 cm e 19 cm, chega-se a 0,56 cm' e 0,76 cm', respectivamente, 1
L
ficando aqui a recomendação de especificar uma barra longitudinal de 1Omm a cada 20 cm ao 1 1
longo da altura para vigas com três ou mais fiadas.
Figura 6.10 Dimensionamento de vigas-parede.

6.2.8 Vigas-parede
6.2.9 Armadura mínima
Quando a altura de uma viga é superior a 1I3 de seu vão, as seções não permanecem pla-
nas, e esta deve ser tratada como viga-parede, com encaminhamento dos esforços aos apoios Normalmente a taxa de armadura mínima de uma seção fletida está relacionada à área
por biela comprimida (Figura 6.9). de aço correspondente ao momento de fissuração. Para uma seção não armada, a máxima
tensão de tração e o braço de alavanca entre a força de compressão e a tração são indicados na
Figura 6.11.

h
/ /
1
J___ [
1
Biela
' '-.!"'--1--- comprimida ~--
H -----------------~--~

/ ' e
L Tirante tracionado

Figura 6.9 Comportamento de vigas-parede. ! ;

Geralmente se considera suficiente dimensionar a armadura principal calculando o


momento máximo no vão como uma viga normal e a armadura conforme a seguir:

T
• Viga-parede: h 2: L/3; +
0,7L
~~- ~-----'-----------~--~
• z:s; 2 ; f,
[ -H
3 Figura 6. I 1 Braço de alavanca e tensão máxima de tração pa_ra seção retangular não fissurada.
• MRd ~ Af,,z; onde f,, ::: 50% f,d .
312 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAl VlGAS 313

Para a seção retangular, o momento de fissuração será: 6.2.11 Exemplo 6.1: Análise de uma seção de alvenaria armada sujeita a
flexão sim pies
Equação 6.40
Viga (Figura 6.12) composta de três fiadas grauteadas, a primeira em canaleta e as de-
mais em blocos vazados, com altura útil de S3 cm, aço CASO, E, = 210 GPa, fbk = 10,0 MPa.
Considerando, de maneira aproximada, o braço de alavanca z = 2h/3, a armadura pode Determine:
ser estimada por:
a) Area de aço para seção balanceada;
A . = M" =O 2S f,bh Equação 6.41 b) O momento de projeto para seção balanceada (máximo momento para armadu-
s,mm f ' f
sz s ra simples);
c) O momento de projeto para uma barra de 16 mm;
A normalização brasileira traz especificações para a resistência característica de tração d) A quantidade de área de aço negativa (de compressão) para garantir a ductilidade
na flexão da alvenaria (aderência da argamassa), f,,, considerando o limite inferior dessa resis- da seção, caso sejam utilizadas duas barras de 16 mm para armadura positiva;
tência. Para cálculo da armadura mínima, deve-se considerar o limite superior de f,,. Fazendo e) O momento de projeto para o aço em (d);
analogia com a resistência de tração na flexão do concreto, especificada na NBR 6118, o limite f) Para um vão efetivo de 4,2 metros, aço em (e), carregamento permanente gk =
superior é cerca de 80% maior que o limite inferior. O máximo de resistência de tração na flexão 7 kN/m, calcule o máximo carregamento acidental para a viga biapoiada;
(para f, > 7 MPa e tração paralela à fiada) especificada para alvenaria é 0,50 MPa. Então, para g) Verifique a deformação para o caso (f);
cálculo da armadura mínima é razoável estimar f, = 1,80·0,50 = 0,9 MPa. Com f, para CASO h) Verifique o controle de fissuras para o caso (f).
limitado a 50% fyk = 217 MPa, chega-se a uma taxa de armadura mínima igual a 0,0104%bh. De
acordo com a normalização brasileira para projeto de alvenaria estrutural, tem-se
e,= 0,0035
As,mm. =0,10% bd Equação 6.42

Uma prescrição interessante existente na normalização canadense é a indicação de que


e
a armadura mínima pode ser desprezada caso a área de armadura em todas as seções da viga
seja 33% superior ao valor máximo indicado pelo cálculo.

6.2. l O Considerações especiais

As prescrições para vigas de alvenaria partem do pressuposto de que todas as seções


são inteiramente grauteadas e armadas, e não são permitidas juntas verticais não preenchidas.
Algumas razões para essas precauções incluem: (a) se a região comprimida da seção não for A, T
totalmente preenchida, não é possível contar com toda a seção da viga; (b) deve-se proteger
a armadura horizontal contra corrosão envolvendo-a com graute; (c) as prescrições para di-
mensionamento ao cisalhamento (a seguir neste capítulo) são baseadas em ensaios em vigas (a) Seção transversal (b) Condição para estado limite último
totalmente maciças ou grauteadas. Figura 6.12 Detalhes da viga do exemplo 6.1.
Quando a região comprimida não for formada por canaletas com grauteamento ho-
rizontal contínuo, deve-se considerar uma redução da seção, normalmente considerando o
a) Para fbk = 10 MPa será considerado prisma oco f,k = 7,0 MPa e prisma grauteado
valor de "k" (Figura 6.6, equação 6.16 em diante) igual a 0,S. Tome o exemplo de uma viga
executada com uma fiada inferior em canaleta grauteada e a fiada superior (comprimida) com
t,;= 12,25 MPa.
Considerando aço CASO, a seção balanceada tem x/d = 0,628 (equação 6.22).
bloco inteiro vazado, também grauteado. Em cada junta vertical, a argamassa estará provavel-
Da equação 6.24:
mente disposta em apenas dois cordões, portanto não preenchendo toda a seção, devendo-se
Asb =As,max = 0,004044 ·d· b · k · fpk = 0,004044 · S3 · 19 · 0,5 · 1,225 = 2,50 cm 2
nessa situação adotar k = 0,5.
314 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL VIGAS 315

Com k (redutor de resistência à compressão na direção horizontal) igual a 0,5, , __ LiM· 772· 15
A ---~--= =l,68cm2
pois a região comprimida é formada por blocos vazados e a junta vertical é preen- ' e';E, ·(d d') 0,000525·21,000·(53-5)
chida em dois filetes apenas. Nota: para f, = 50%f,,, divida as capacidades resistentes por 2,0 (aproximadamente).

b) Da equação 6.25:
e) O momento de projeto será M, =LiM + M,b = 7,72 + 43,l = 50,82 kN·m, com
M,b.= Md,m~ = 0,1317 ·d'· b · k · f,, = 0,1317 · 53 2 • 19 · 0,5 · 1,225 = 4305 kN·crn
M, = 50,82 I 1,4 = 36,3 kN·rn. Para levar em conta o limite de tensão no aço,
= 43,1 kN·m
considere metade desse valor: M, = 18,l kN·rn.

c) Para urna barra de 16 mm, A,= 2,0 cm'.


f) A viga biapoiada tem M = p 12/8, portanto p = 8. 18,1 / (4,2 2) = 8,2 kN/rn.
A posição da linha neutra pode ser obtida pela equação 6.17:
A máxima carga acidental será q, = p - gk = 8,2 - 7 = 1,2 kN/m.
A, ·f,, ·Ym 2,0·50·2,0
x= 26,7cm
0,56 · b · k · f,, · y, 0,56· 19·0,5·1,225· l,15 g) Corno a relação entre o vão e a altura da viga, igual a 430/53 = 8,1, é menor que
Pode-se perceber que x/d = 26,7/53 = 0,50 é menor que 0,628, então a armadura 10,0, normalmente não há problema de deformação limite, mas sempre é impor-
escoa, garantindo ductilidade para essa seção. tante fazer a verificação.
Da equação 6.18 pode-se calcular o momento de projeto: Do capítulo 3, considerando que a viga suporta urna parede, o deslocamento
A,· f,, limite será R/500 e deve-se realizar combinação de ações no ELS - quase perma-
MR,=--(d-0,4x)
Y, nente (F, = F,, + 0,4 F"'·'"''"'"1). O limite para flecha será 430 / 500 = 0,86 cm.
A carga a ser considerada será F, = 7 + 0,4 · 1,2 = 7,5 kN/rn, com o momento M,
2,0·50 = 7,5 · (4,3 2 /8) = 17,3 kN·rn.
= --(53-04·26,7) = 3680kN ·cm= 36,8 kN·m
1,15 O momento de inércia médio entre a seção fissurada e não fissurada é indicado

Nota: ao se levar em conta a prescrição da norma brasileira, o momento é dividido por 2,


resultando M., = 18,4 kN·rn.
~~ :r~;)'6;~q8~ [1-( ~: JJ ~ I,q. !"

Para a área de aço negativa calculada de 1,68 cm' será adotado uma barra de 16
d) Para duas barras de 16 mm, A, = 4,0 cm', quantidade superior à máxima de urna
mm, com A',= 2,0 cm'. As taxas de armadura são:
seção subarrnada calculada em (a), igual a 2,50 cm'. Para manter a linha neutra a
p = A'j(bd) = 2/(19 · 53) = 0,0020; p = A/(bd) = 4/(19. 53) = 0,0040.
0,628d e garantir que a armadura positiva escoe e, desta forma, permita a ducti-
Para f, = 12,25 MPa e blocos de concreto, E = 800 · f, = 9.800 MPa.
lidade para a seção, pode-se adicionar armadura de compressão negativa. p ' p
A relação entre módulos de elasticidade será n =E,/ E,= 210 ..000/9.800 = 21,4.
A diferença de aço da seção balanceada em relação ao realmente disposto é igual
Da equação 6.27 calcula-se k:
a A,2 = A, - A,b = 4,0 - 2,50 = 1,50 crn2•
LiM
Da equação 6.32, A,, = O, 023 (d-d')' k= 2n(p+p'~)-2p'~+[ n(p+p')-p']'-n(p+p')+p'
Considerando o cobrimento negativo igual a d'= 5 cm, tem-se:
LiM
2 · 21, 4 (o, 0040 +O, 00202_53 )- 2 ·O, 0020 2_53 + [21, 4 (O, 0040 +O, 0020 )-0, 0020)'
0,37 = 0,023-- ~ LiM = 772kN ·cm.
(53-5) - 21,4(0,0040 + 0,0020) + 0,0020
É preciso então alocar uma área de armadura negativa correspondente a esse = 0,3150.
momento. Primeiramente, deve-se verificar a deformação na seção na posição da Portanto, kd = 0,3150 · 53 = 16,7 cm. Da equação 6.28:
armadura comprimida (d'). Da equação 6.33:
d' 5 !" = b(kd)' +nA,(d-kd)2 +(n-l)A',(kd-d')'.
e',= 0,00557 d= 0,00557 = 0,000525 <e,, = 0,00207. 3
53 19 16 7
= ( , )' +21,4·4(53-16,7)2 +(21,4-1)·2·(16,7-5)2
A armadura então não escoa e a área de aço deve ser calculada de acordo com a 3
equação 6.34: = 141.748 cm'.
316 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE AlVfNARIA ESTRUTURAL VIGAS 317

Para seção não fissurada, o centroide pode ser calculado de maneira semelhante com M, = 7,36 · 4,3'/8 = 17,01kN-rn=1701 kN·crn. De acordo com a equação
ao deduzido na equação 6.2, porém incluindo a armadura negativa: 6.11, a tensão no aço será:
212 53 3 3
- 2:( A, y,) (n-1)· A, ·d+(n-1) ·A', ·d'+ bhh f, = nM(d-kd)/I" = 17,01 · 0( - l • l 8,88kN / crn 2
138900
y=
A, (n-1) ·(A,+ A',)+ bh Da equação 6.37, z=f,{/d, ·A, com A= 40 crn2, de acordo com a Figura 6.13,
(21,4-1). 4. 53 + (21,4-1). 2. 5+19 · 59h portanto: ,
z = 8,88!/./5 · 70 = 62 kN I cm< 250, {<erifica-se, portanto, essa condição.
(21,4-1)' ( 4+ 2) + 19' 59
Alternativamente, poder-se-ia ter estimado f, = 0,6 f,, = 0,6. 43,5 = 26,l kN/cm2, o
= 30,2 cm. que resultaria em z = 184 kN/crn e também seria verificada a condição de controle
Incluindo a armadura negativa na equação 6.3, tem-se: de fissura de urna maneira mais simplificada.
3
bh
I =-+bh (- h )' +(n-l)A (d-y)
y-- - 2 +(n-l)A' (y-d)
- 2
=
eq 12 2 s s
3
19·60
=--+19·59 (
30,2 59J' +(21,4-1)·4·(53-30,2) 2 +(21,4-1)·2·(30,2 5)2
12 2
= 410.469 crn4 •
Pode-se observar que a presença da armadura aumenta o momento de inércia
em 20%, em relação à seção de alvenaria apenas.
Para bloco de 10 MPa será considerada argamassa com f, = 8 MPa e resistência
de tração na flexão paralela à fiada[,"''"'= 0,50 MPa (ver capítulo 5). Calcula-se
então o momento de fissuração,
5
M = (f" +cr,)I,q = (0,0 +0) 307,656=540 kN·crn=5,4 kN·rn.
" y, 59-30,5
54 54 4
Im =( • )' 410.469+[1-( ' )']14L748=149.920crn •
17,3 17,3 7
1
A= 7 · 10
Note que para valores pequenos de M" , o valor de I é próximo a I . A flecha
Ma m cr

imediata de urna viga biapoiada é dada por:


2 4
_ 5pl' 5·7,5xl0- ·420 -0, 2 lcrn
0
384E,Im 384·980·149.920
De acordo com normalização canadense, a flecha final pode se calculada pela
equação 6.39:
1,0
Flecha final= flecha inicial· ( 1+l+ . ,
50 0 0027
)
= 0,21 · 1,88 = 0,42 cm.
- - -
4

5~
Pela normalização brasileira, adota-se flecha final igual ao dobro da inicial, por- Figura 6.13 Valor da área de graute envolvente à armadura para o exemplo 6.1.
tanto igual a 2. 0,21 = 0,42 cm. Ambas estimativas estão dentro do limite máxi-
mo de flecha(< 0,66 cm).

h) Admite-se que está atendido o estado limite de controle de fissuras quando z


(equação 6.37),:; 250 kN//crn.
Nessa verificação, a combinação de ações a ser utilizada é o ELS - frequente (F,
= Fg, + 0,3· Fq,·,aetc. 1cu ta1), portanto a carga vertical será F, = 7 + 0,3 · 1,2 = 7,36 kN.rn,
318 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE AlVENARIA ESTRUTURAL VIGAS 319

1 6.3 Comportamento e dimensionamento ao cisalhamento A tensão máxima ocorre no centroide da seção, com distribuição parabólica, como
1 mostrado na Figura 6. IS(a).
6.3. l Desenvolvimento dos especificações poro dimensionamento
Viga fissurada, sem estribos transversais. A tensão de cisalhamento calculada com a equação
Vigas de alvenaria armada devem ser dimensionadas ao cisalhamento, assim como à fle- 6.43 resulta em uma tensão principal de tração a 45º na linha neutra. Quando essa tensão é
xão. As forças cortantes máximas geralmente ocorrem próximas aos apoios. A ruptura por cisa- superior à resistência de tração diagona) da alvenaria, fissuras de cisalhamento se desenvolvem
lhamento, algumas vezes chamada de ruptura por tração diagonal, ocorre de maneira frágil (ver inicialmente na linha neutra. As fissuras diagondis resultantes podem cruzar os blocos e juntas
Figura 6.14) com deslocamentos muito pequenos, não permitindo aviso de ruptura iminente. na diagonal ou ocorrer em forma de escada, contornando as juntas verticais e horizontais.
Conforme se aumenta o carregamento, várias fases de comportamento podem ser definidas. No bordo tracionado, a tensão principal de tração é paralela à viga e ocorre por flexão.
Como mostrado na Figura 6.lS(b), as tensões de flexão se iniciam na parte inferior, com dire-
350,-----------------, ção perpendicular ao eixo da viga. Entretanto, nas regiões com maior cortante, as tensões de
<f-- Carga máxima 331 kN
cisalhamento cujos valores máximos ocorrem na parte central da seção causam tensões de prin-
cipais de tração inclinadas. Portanto, as fissuras verticais de flexão iniciais tendem a se inclinar
aproximadamente na direção perpendicular às tensões principais, como mostrado na Figura
t l,Otn 6.IS(c). Se o crescimento dessas fissuras não for impedido, elas podem penetrar na região com-
primida, causando a ruptura por cisalhamento e compressão, como mostrado na Figura 6.14( a).
1
ti+---• 2,0--->tm
}

10 W 30 ~ ~ ~ ro M W 100
t,1CJ1t,
Deslocamento no meio do vão, mm ~
Elemento ampliado
(a) Ruptura ao cisalhamento (cortesia de V. V. Neis) (b) Curva de força versus deslocamento
t
-"'-
(a) Viga não fissurada
Distribuição das
tensões de

i~nsão
Figura 6.14 Comportamento ao cisalhamento de viga de alvenaria em blocos de concreto. 236 cisalhamento
t, de cisalhamento
Viga não fissurada. Para momento fletores pequenos, quando a máxima tração na seção é principal= t,,
inferior à resistência de tração na flexão da alvenaria, pode-se assumir que a viga tem compor-
tamento elástico e homogêneo. A tensão de cisalhamento pode ser calculada por:

Equação 6.43 4101~


-- t,bdX Distribuição das
tensões de
em que: (b) Fissuras de flexão idealizadas cisalhamento
V = força cortante; !•
Q = momento estático em relação ao centroide da região da seção entre o ponto em que se
pretende determinar a tensão de cisalhamento e a fihra mais extrema;
1 = momento de inércia;
b = largura da seção.

(c) Crescimento das fissuras em direção à região comprimida

Figura 6.15 Análise do cisalhamento em vigas.


236Neis & Loefller (1983).
320 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL
VIGAS 321

Urna análise rigorosa do cisalharnento deve levar em conta o comportamento não li-
' ' ' ' ' '
near, efeito de pino da armadura, o real comprimento da fissura, efeito de engrenarnento e de
1,5 -
forças de atrito no plano de cisalharnento. Para fim de dimensionamento, algumas simplifica-
ções são possíveis, levando às recomendações existentes na maioria das normas. Analisando o
elemento à esquerda da Figura 6.lS(b), pode-se determinar a expressão para cálculo da tensão
de cisalharnento:
•••
L,F =O •
" Vbdx = (c + dC) - c = dC ... •.. •a
Corno, M = C(d - kd/3), dM = dC(d - kd/3), pode-se substituir dC, levando a: ••• •. . .. . ""' . . •.
.. • ••
.. .
..
~

'tb(d-kd/3)=dM
V dx •
Da mecânica dos sólidos, V = dM/dx, portanto pode-se escrever a expressão anterior corno: ' '
o 2 3 4 5 6 7
Relação a/d
Equação 6.44
Figura 6.16 Resistência ao cisalhamento em vigas versus relação a/d. 233

A tendência de menores vãos proporcionarem maior resistência (baixa relação a/d)


Corno (d - kd/3) é relativamente constante, independentemente do tipo de material e taxa pode ser explicada pelo efeito arco próximo aos apoios. Se urna analogia de arco atirantado
de armaduras, geralmente se considera um valor médio da tensão de cisalharnento dado por: for utilizada para urna viga fissurada, sem armadura transversal, é fácil observar (Figura 6.17)
que vigas curtas correspondem a maior efeito arco (em vãos longos, o arco será de pequena
V
't = - Equação 6.45 altura, não predominante). O aumento da resistência do tirante, garantido com o aumento da
V bd
armadura.de tração, que pode ser expresso pela taxa de armadura "p", também contribui para
o aumento da resistência do arco.
Ensaios em vigas de alvenaria arrnada237 indicam um comportamento semelhante às
de concreto armado. Corno mostrado na Figura 6.16, a resistência ao cisalharnento aumenta
A armadura de flexão
conforme se diminui a relação entre o vão e a altura útil, a/d. O aumento da taxa de armadura funciona como tirante
de flexão também causa aumento na resistência ao cisalharnento.

Ancoragem
adequada
necessária
Figura 6.17 Modelo de arco atirantado para vigas sem armadura transversal.

Para viga com blocos totalmente grauteados e com armadura de flexão perpendicular
ao plano de cisalharnento em furo grauteado, pode-se adotar a resistência ao cisalharnento:

237 Suter & Keller (1976) e Li et a!. (1994). 238 Suter & Keller (1976).
.
322 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE AlVENAR!A ESTRUTURAl Í VIGAS 323

f,, = 0,35 + 17,5 p :,; 0,7 MPa Equação 6.46 estribos inclinados ou armaduras dobradas tipo cavalete a princípio possam ser utilizadas,
1 seu uso não é construtivamente prático em elementos de alvenaria e não são considerados
aqui.
em que pé a taxa de geométrica de armadura= A/(bd). 1 Os estribos são verticais, geralmente espaçados de uma distância "s" igual ao módulo
O valor de 0,35 MPa corresponde à resistência da seção grauteada e pode ser entendido p~dr.ão d~ alvenaria (15 ou 20 cm), conforme Figura 6.18. É necessário que 0 espaçamento "s"
como um valor mínimo esperado. A rigor, espera-se maiores resistências com o aumento da seJa mfenor a d/2, de forma a garantir ';JUe a fissura diagonal será cortada pelo menor por um
resistência do graute e do bloco, porém a normalização brasileira indica apenas esse valor estribo. Outros requisitos quanto a espaçamentd máximo são:
1
único, que equivale a aproximadamente a resistência ·esperada para um concreto de 8 MPa.
d/2
A parcela relativa à taxa de armadura se deve ao aumento da resistência do tirante descrito
30 cm para vigas
anteriormente.
O valor de "á' pode ser entendido pela relação entre M max /V rnax do vão. M max é o maior 60 cm para paredes
valor do momento de cálculo na viga, Vm~ é o maior valor do esforço cortante de cálculo na s = espaçamento da armadura :,;
viga e d é a altura útil da seção transversal da viga. Em vãos curtos ou quando as cargas estão
próximas ao apoio, o valor da cortante em relação ao momento será maior e, portanto, menor para pilares
:o x diâmetro do estribo
11 20 x diâmetro da armadura
valor de "a".
Esse efeito de arqueamento é levado em conta nas especificações de normas brasileiras.
1
! longitudinal

Para vigas biapoiadas ou em balanço, a resistência característica ao cisalhamento pode ser 1


multiplicada pelo fator [2,5 - 0,25 M max I (V max d)], tomado sempre maior que 1,0, desde que a Fissura diagonal potencial
\
resistência característica majorada não ultrapasse 1,75 MPa.
A máxima força cortante será então: /
>· -
I

< -\(2,5-0,25 Mn,.x )· (0,35+17,5p)lbwd Equação 6.47


Vd _V, - V m,,d
2,0
l,75MPa
(a) Fissuração diagonal típica (b) Fissuras e forças idealizadas

Figura 6.18 Comportamento e dimensionamento ao cisalhamento.


Para vigas sujeitas à tração axial em razão de ações externas ou mesmo efeitos de re-
tração, fluência ou variação de temperatura, o valor da resistência ao cisalhamento deve ser
reduzido. Normalmente, essa redução é estimada igual à relação entre a tração aplicada e a Considerando a prescrição de limitar a tensão no aço a 50% de f , 0 valor da força de
tração Tw, em cada estribo será: ''
resistência à tração da seção, ambas em valores de projeto.
Deve-se ainda comentar que, em vigas sem estribos, a formação da fissura diagonal (de
Equação 6.48
cisalhamento) muitas vezes ocorre de maneira frágil, sem aviso. A especificação de uma arma-
dura mínima é importante para evitar uma ruptura brusca do elemento em viga de alvenaria,
em que A," é a área de aço do estribo e f,k é a tensão de escoamento do aço.
sendo recomendada a adoção de armadura transversal mínima para vigas com mais de uma
fiada (altura maior que 20 cm).
Para a fissura diagonal ide.alizada na Figura 6. l 8(b) (em um ângulo ligeiramente menor
que 45º), o número de estribos cruzando a fissura é d/s, e, portanto, a força cortante resistida
Viga fissurada, com estribos transversais. Usa-se armadura transversal na forma de es-
pelo aço no comprimento d será:
tribos perpendiculares ao eixo da viga para cortar as fissuras diagonais por cisalhamento,
permitindo controle de sua propagação antes que estas possam levar a uma ruptura por
cisalhamento-compressão. Ensaios indicam que o uso de estribos pode impedir a ruptura Equação 6.49
239
por cisalhamento, permitindo todo o desenvolvimento da resistência à flexão. Embora

239 Fereig (1994).


324 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE AlVENAR1A ESTRUTURAL r
1
VIGAS 325

A taxa de armadura mínima dos estribos geralmente é calculada para garantir duc- 1

tilidade à ruína por cisalhamento, tomando a área mínima igual àquela necessária para l l l l l l 1 l l 1

resistir ao mesmo esforço de tração resistido pela alma da seção de alvenaria. Por exemplo,
em vigas de concreto C20 e aço CASO, a taxa mínima é igual a 0,0884% b"s. A normalização
1
brasileira de alvenaria estrutural adota um valor inferior para armadura mínima:
s/2 , Área de estribos calculada fi.rea mínima .de estribo~
A,w,m;,, = 0,05% bw s (normalização brasileira) Equação 6.50 -+ 1 /cl ., Eixh de
simetria
(a) Localização dos estribos 1
Em contrapartida, normalmente a força cortante máxima é limitada pela máxima re-
sistência da alvenaria (ou concreto) para evitar a ruína da biela comprimida. Essa limitação
não é imposta na normalização brasileira de alvenaria. Na falta de uma especificação melhor,
sugere-se adaptar a recomendação da NBR 6118 e limitar a força cortante a: Diagrama de força cortante do cálculo

/
Vsw,mrn.
V,
o que para gm = 2,0 equivaleria a:

Equação 6.51 (b) Força cortante cálculo

Figura 6.19 Dimensionamento de Vigas ao cisalhamento.


A força cortante máxima resistida pela seção é igual à parcela resistida pela alvenaria (e
outros mecanismos), conforme equação 6.46, somada à parcela resistida pelo estribo (equa- Conforme descrito a seguir, é fundamental ainda checar requisitos de comprimentos
ção 6.49) limitada ao valor da equação 6.51: d: ~ncoragem e ~e. emendas, especialmente nos apoios. Ainda, ensaios com carregamentos
Equação 6.52
2
c1chcos reversos md1cam perda da capacidade de resistência da alvenaria nessa situação e
V,= V• +V :::; 0,12fpk b w d
~
nesse caso não é recomendável contar com a parcela de V . '
'
Para calcular a área de estribo necessária em uma determinada seção, tem-se:
6.3.2 Exemplo 6,2: Análise da força cortante

Equação 6.53 Para a viga do exemplo 6.1 (Figura 6.12), determine:

a) O .máximo ;'~lorde força cortante para um carregamento uniforme, para que não
Para levar em conta o efeito de arqueamento das tensões de cisalhamento próximas aos se1a necessana a colocação de estribo.
apoios, pode-se tomar o valor de V, a uma distância igual a d/2 dos apoios. b) A armadura mínima de estribo.
A Figura 6.19 resume os requisitos para dimensionamento, com cálculo de A,w a partir c) O valor da força cortante resistida pela armadura em (b) e a máxima força cor-
da distância d/2 do apoio. Em uma região intermediária, a quantidade de estribos será igual tante de projeto para esse caso.
à área mínima de aço até que não sejam necessários mais estribos em uma região central d) O val.or da máxima força cortante para essa viga.
onde V, é inferior a V,. Como a ruptura por cisalhamento em seções em armadura ocorre de e) Para o carregamento adotado no item (f) do exemplo 6.1, verifique se são neces-
maneira frágil, muitas vezes é conveniente estender a armadura mínima de estribo por toda a sários estribos.
viga, o que geralmente não acarreta aumento significativo de custo. O primeiro estribo deve
estar posicionado a uma distância s/2 próxima ao apoio.

240 !d. ibid.


VIGAS 327
326 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO Dê AlVENAR1A ESTRUTURAl

f) Considerando a viga do exemplo 6.1 com 3,0 metros de comprimento, armadura 300
de flexão positiva de 4,0 cm' e carregamento (gk + q.J uniforme de 20,0 kN/m, f) V, S 1( 2,5-0,25
4.53
)x( 0,35+ 17,5 ·0,002695)! 0,14x0,53

1,75 MPa
2

xlOOO = 31,3 kN
calcule a armadura dos estribos.
Força cortante máxima = 20 · 3 /2 = 30,0 kN
Solução - a. d'1stancia
' . d e d/2 d o ap010
. = vk = 30, o.--'-----'--
300/2-53/2 24,7 kN
Com re d uçao
a) Para que não seja necessário a armadura: • ! 300/2

2,5-0,25 Mm,, )x(0,35+17,5p)lbwd Vd = 1,4 · 24,7 = 35,5 kN


Vd :o; V,= \( Vm"d 2,0 l,15(V, V, )s
Asw=----- 1,15(35,5-31,3)-20 =O ' 08 cm 2 < A smin =O ,l 4 cm 2
1,75 MPa 0,5fykd 0,5·50·53 .
Considerando carregamento uniforme: Mm,,= pF/8 e V me<= pl/2, portanto Mm,/ Adotado armar a viga para A,w = 0,20 cm' com 05 mm c/ 20 cm
V = l/4.
C~;;,, l = 430 cm, d= 53 cm, bw = 14 cm e A,= 4,0 cm' chega-se a:
2 6.4 .Comprimento de ancoragem, emendas e ancoragem nos
p=--=0,002695
14·53 apoios
e:
430 6.4. l Requisitos gerais
2,5-0,25 )·(0,35+17,5·0,002695))0,14·0,53 ·1000= 29,4 kN
vd s (( 4.53
20
,
1,75 MPa Uma completa interação entre a armadura e alvenaria é fundamental para o comportamen-
to dos elementos estruturais, a qual só pode ser obtida após o desenvolvimento de um compri-
mento de ancoragem suficiente para transferir a tensão do aço para o graute. O detalhamento da
b) A =o 05% b s, paras= 20 cm,= 0,05% · 14 · 20 = 0,14 cm' c/ 20 cm
armadura deve levar em conta vários fatores, como sequência de execução, altura do grauteamen-
Ad;~~nd~ estrib~ de um ramo e $ = 5 mm, Asw = 0,20 cm2 e/ 20 cm to, comprimentos de ancoragem e de emenda, geometria e tamanho dos vazados, entre outros.
fk d 50 53 Deve-se respeitar a armadura máxima de 8% da área da seção a ser grauteada (área do
e) V =O 5A -'--=0,5·0,2·-·-= 11,SkN graute envolvendo a armadura, não contando a área do bloco), incluindo regiões de !raspasse
SW > SW 1,15 s 1,15 20
e os seguintes diâmetros máximos de armadura:
V d= 11,5 + 29,4 = 40,9 kN
• Armadura na junta de assentamento: 6,3 mm.
d) v d<o
-'
12fpkw'
b d com fpk· = 1,225 kN/cm', Vd s 0,12 · 1,225 · 14 · 53 = 109 kN
• Demais casos: 25 mm.

e) Gk + Qk = 8,2 kN/m O espaçamento mínimo entre barras é igual a:


Força cortante máxima= 8,2 · 4,8 /2 = 19,7 kN
. 480/2-53/2
Com redução à distância de d/2 do ap010 = Vk = 19, 7 · / 17,5 kN • diâmetro máximo do agregado mais 5 mm;
480 2
• 1,5 vez o diâmetro da armadura;
V= l,4· 17,5=24,5kN • 20mm.
c~mo 0 valor é menor que o limite do item (a), então não seria preciso estribo
nessa viga. Porém, note que foi utilizada armadura dupla no exeu:plo 6.1. Alér:' 6.4.2 Comprimento de ancoragem e de emenda
disso recomenda-se o uso de armadura mínima de estribos para vigas com mais
de uma fiada. Então, deve-se prever armadura transversal para impedir a flam- A não ser que algum tipo de ancoragem mecânica seja utilizada, é necessário um de-
bagem dessa armadura comprimida, sendo recomendado utilizar a armadura terminado comprimento de ancoragem, Cb, para considerar a armadura totalmente aderida ao
mínima do item (b). graute e, por consequência, ao bloco. Se não houver espaço para acomodar esse comprimento,
ganchos podem ser detalhados nas extremidades da barra de aço ou pode-se, ainda, utilizar
um número maior de barras de menor diâmetro.
328 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL VIGAS 329

O comprimento de ancoragem pode ser calculado igualando a força a ser transferida, 0,21 ,r::;:z
fctd =--·vis- =0,97MPa
igual à área de aço multiplicada pela sua tensão, à força de aderência tomada pela multiplica- 1,4
ção da tensão de aderência (fbd) pelo perímetro da seção da barra de aço e pelo comprimento
de ancoragem, como mostrado na Figura 6.20: fb<l = 2,5 · 1,0 · 1,0 · 0,97 = 2,42 MPa

- <jl 500/1,15
=} 1b'- • =45<jl Equação 6.57
4 2,~2
Equação 6.54

A normalização brasileira de alvenaria admite f,d = 2,2 MPa para barras corrugadas e
1,5 MPa para barras lisas. O valor para barra corrugada é um pouco inferior ao esperado para
em que: um graute mínimo de ClS, e nesse caso o comprimento de ancoragem deve ser recalculado
<jl500/11S '
fyd = tensão de escoamento do aço; chegando-se a 1, ' 49<jl.
fbd = tensão de aderência entre armadura e graute; 4 2,2
~ = diâmetro da barra de aço. Considerando que a normalização brasileira limita a tensão no aço a 50% do valor ado-
tado acima, seria possível reduzir o comprimento de ancoragem a Rb,neç = O, 6 . 49 "''t' = 29"'
't'•
Para emendas por !raspasse, esse comprimento deve ser aumentado multiplicando-o por 1,4,
1 1 --·-·------ -- -
db levando ao comprimento de emenda por !raspasse 1,4. 29 <jl = 4l<jl. Entretanto, é recomendável
e/
fbd

- A/y prever um comprimento de ancoragem que propicie à armadura desenvolver toda a sua ten-
- - -·--------- - 1
1

. e, / são, o que levaria a Rb.m = 49<jl e comprimento de emenda de 1,4. 49<jl = 69<jl.
r

(a) Viga (b) Barra de aço Emenda. De acordo com a normalização brasileira para alvenaria, deve-se especificar um
Figura 6.20 Cálculo do comprimento de ancoragem.
comprimento de emenda mínimo igual a 40<jl. Apesar de esse valor ser próximo ao raciocínio
desenvolvido acima, considera-se boa prática de projeto permitir a ancoragem total da barra
Quando a área de aço real detalhada é maior que a indicada pelo cálculo, geralmente de aço, e nesse caso o comprimento de emenda deveria ser cerca de 6S% maior que 0 especi-
ficado em norma.
é possível reduzir o comprimento de ancoragem pela relação Aneçcssári/ A<leta!hada' desde que essa
relação não seja menor que 0,6. Entretanto, considera-se boa prática de projeto adotar o com- O comprimento da emenda de barras de aço deve ser superior lS cm para barras corru-
primento de ancoragem necessário para completa aderência da armadura. Fazendo analogia gadas e 30 cm para b.arras lisas. Em cada furo grauteado, deve ser respeitada a distância de 40
f entre eventuais diversas emendas.
com os conceitos de concreto armado, pode-se tomar o valor de f,,
indicado na NBR 6118,
conforme abaixo:
Ganchos e ancoragens mecânicas. Ganchos comuns são considerados eficientes apenas para
Equação 6.55 armaduras tracionadas, não sendo permitido considerar ganchos em barras comprimidas, e
geralmente são dobrados a 90º ou 180º. A força de ancoragem desenvolve-se ao longo do com-
em que: primento do gancho, mas também pelo apoio do graute dentro do gancho. Embora a maior
11 1 = 1,0 para barra lisa (CA25), 1,4 para barra entalhada (CA60) e 2,S para barra de alta ade- tensão na parte interna da dobra, a tendência da força de tração em retificar a barra também
rência (CASO); implica no aparecimento de tensões na ponta da barra. Por esse motivo, ganchos e dobras de-
11 2 = 1,0 para região de boa aderância e 0,7 para região de má aderência; vem ter dimensões e formatos tais para que não provoquem concentração de tensões no graute
11, = 1,0 para barra de diâmetro até 32 mm. ou na argamassa que os envolve. Para barras de até 20 mm, o raio de dobra da barra deve ser
superior a 2,S vezes o diâmetro da barra sendo ancorada (f).
0,21 ,/C2f2 Equação 6.S6 O comprimento reto de um gancho ou dobra, após o trecho curvo, deve ser superior a:
(,d = - - · ~ '"' em MPa
1,4
a) 2 f para gancho semicircular;
Considerando o valor de(, como o mínimo a ser especificado para o graute igual a 15 b) 4 f para gancho em ângulo de 45º (interno);
MPa, aço CASO e região de boa aderência, tem-se: c) 8 f para dobra a 90º.
330 COMPORTAMENTO E D!MENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL V!GAS 331

No caso do uso de gancho, o comprimento de ancoragem pode ser reduzido para 0,7 Rb. b) Um comprimento efetivo de ancoragem equivalente a 12 0 mais metade da altu-
Ainda, quando a região para ancoragem for muito pequena, é possível utilizar uma ra útil d, desde que o trecho curvo não se inicie a uma distância inferior a d/2 da
ancoragem mecânica, cujo exemplo mais simples consiste em soldar uma placa de aço na ex- face do apoio.
tremidade da barra, com esta passando pelo centro do furo da placa. A solda deve ser realizada
nas duas faces da placa. Alternativamente, pode-se adotar as recomendações da NBR 6118, cujo comprimento
de ancoragem no apoio, a partir da face, '
deve ser; igual a (Anecessária. /Adetalhada ) . .eb, quando não há
Ancoragem de estribos. É muito importante que as extremidades dos estribos tenham gan- gancho, limitado a 0,3 · R,, 10 f e 10 cm. No caso de gancho na extremidade, o comprimento é
chos para ancoragem dessa armadura. Seguindo as prescrições da NBR 6118, deve-se obede- reduzido para (Aneccssári/ A<letalha<la) · 0,7 .eb, 0,3 · .eb' 8 f e 6 cm, o que for maior.
cer às seguintes prescrições: Deve-se ainda garantir uma área à armadura de flexão suficiente para equilibrar a força
diagonal de compressão (biela) junto ao apoio de extremidade (Figura 6.21). Considerando
• nas extremidades formadas por ganchos, estes podem ser semicirculares ou em um deslocamento do diagrama de momentos igual ªe o momento no apoio será igual ao valor
àngulo de 45º, com a ponta reta de comprimento superior a 5 vezes o diâmetro da força cortante multiplicada por este deslocamento:
do estribo ou 5 cm;
, para o caso de extremidade com dobra reta, a ponta reta deve ter comprimento Md.apoio =Vd ·ae Equação 6.58
mínimo de 10 vezes o diâmetro do estribo ou 7 cm, não sendo permitido esse
caso para barras e fios lisos. Considerando, de maneira aproximada, o braço de alavanca z igual à altura útil d (Figu-
ra 6.21), chega-se ao valor da força de tração a ser ancorada no apoio:
Deve-se ainda respeitar o diâmetro interno de curvatura do estribo mínimo, igual a 3
vezes o diâmetro da barra (válido para bitola menor que 10 mm).

6.4.3 Ancoragem nos apoios e em pontos intermediários => Rsd,apoio Equação 6.59

Ancoragem em pontos intermediários do vão. Nos elementos fletidos, toda barra longitu-
dinal deve se estender além do ponto em que não é mais necessária, pelo menos por uma A área de aço que deve haver no apoio será:
distância igual ao maior valor entre a altura útil d ou 12 vezes o diâmetro da barra. No caso de
_ Rsd
interrupção da armadura em regiões tracionadas, deve ainda atender às seguintes condições: As.apoio - f ;( Equação 6.60
yk
1,15
a) As barras se estendem em pelo menos o seu comprimento de ancoragem além do
ponto em que não são mais necessárias, somadas ainda à metade da altura útil da
O valor de a, não deve ser tomado inferior a 0,Sd. Se houver uma força de tração no
viga; apoio, esta deve ser somada à equação 6.59 e também ser ancorada no apoio.
b) A resistência de cálculo ao cisalhamento na seção onde se interrompe a barra é
maior que o dobro da força cortante de cálculo atuante;
c) As barras contínuas na seção de interrupção proveem o dobro da área necessária
para resistir ao momento fletor atuante na seção. Biela diagonal de
1-c
compressão
Ancoragem nos apoios. Deve-se garantir que pelo menos um terço da armadura de flexão do d
vão chegue até uma extremidade simplesmente apoiada. Essa quantidade é reduzida para um z
quarto no caso de apoio contínuo. Em uma extremidade simplesmente apoiada, cada barra v,
tracionada deve ser ancorada de um dos seguintes modos:
~l'---1---------.J--------> T------T
a) Um comprimento efetivo de ancoragem equivalente a 12 0 além do centro do
apoio, garantindo-se que nenhuma curva se inicia antes desse ponto.
v,
Figura 6.21 Forças em uma extremidade de uma viga.
332 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL
VlGAS 333

6.4.4 Exemplo 6.3: Ancoragem no apoio Ensaios comparativos realizados por Sinha & Pedreschi241 e também por Ng & Cerny242
indicam que vários conceitos do concreto protendido podem ser estendidos para a alvenaria.
Para a viga do exemplo 6.1 (Figura 6.12), vão efetivo de 4,3 metros, cada apoio com 40 Alguns ajustes são necessários, especialmente relativos às propriedades dos materiais, como
cm de largura, verifique e detalhe a ancoragem nos apoios, considerando (gk + qk) = 8,2 kN/m. parâmetros para previsão da deformação lenta, coeficiente de expansão térmica e módulo de
elasticidade, que irão impactar na perda de protensão. Parsekian 213 sugere, a partir da realiza-
• O valor da força cortante nos apoios é: 24,7 kN ção de ensaios experimentais, alguns J?arâmetros para materiais nacionais. Também deve-se
• Considerando a1 = 0,5, a área de aço a ser ancorada no apoio é: tomar cuidado com a transferência de esforço~ nas regiões de ancoragem dos cabos, espe-
l,15V, ·a 1 1,15·24,7·0,5·53 cialmente no caso de blocos vazados. A proteção contra corrosão é um outro detalhe a ser
A 0,33 cm 2
Y.•poio d·fyk 53·50/1,15 contemplado em projeto, assim como o procedimento executivo.
• Essa área é bem menor que a detalhada (2 · <j> 16 mm ou 4,0 cm'), portanto será Nesta seção admite-se que o leitor tenha conhecimento prévio básico sobre concreto
considerada a necessidade de ancoragem de 1/ 3 dessa área= 1,2 cm'. protendido e apresenta-se o comportamento e dimensionamento de vigas de alvenaria pro-
• Pela especificação das normas nacionais de alvenaria estrutural, o comprimento tendida. Deve-se destacar que a inclusão dos conceitos aqui descritos foram incorporados na
efetivo de ancoragem equivale a 12 f além do centro do apoio, igual a 12 . 1,6 normalização brasileira a partir de 201 O.
= 19 cm. Com apoio de 40 cm e considerando cobrimento de 4 cm, o máximo
comprimento reto possível a partir do centro do apoio seria de 40/2-4 = 16 cm. 6.5.2 Comportamento e projeto de seções não fissuradas sob ações de serviço
• Neste exemplo serão utilizadas as prescrições da NBR 6118, e o comprimento de
ancoragem, a partir da face, será o maior valor entre: A protensão é geralmente realizada com o uso de aço de alta resistência (fios, cordoa-
- (A,", 11,.,/ A"'""'") fb = 1,2/4) · 49 · 1,6 = 24 cm, com fb = 49 <j>; lhas ou barras) para aplicar uma pré-compressão no elemento. Para ações de serviço, as ten-
- 0,3 . eb = 0,3 . 49 . 1,6 = 24 cm; sões de compressão produzidas por essa protensão devem ser maiores que as trações de outras
- !Of= 16cm; ações no elemento, garantindo que a peça não fissure no ELS. A eliminação de fissuras permite
- 10 cm. maior durabilidade, melhor aparência e aumento de rigidez, proporcionando que seções mais
esbeltas sejam projetadas.
O maior valor necessário é de 24 cm. A partir da face, descontando o cobrimento de O cálculo e a combinação das tensões em serviço é feito de maneira muito direta, usando
4 cm, é possível um comprimento de 36 cm, maior que 24 cm, portanto, pode-se levar as a superposição dos esforços calculados por análise elástica simples. Considere, por exemplo,
barras positivas até a extremidade do apoio, menos o cobrimento. uma viga biapoiada de seção retangular, sujeita a uma força de protensão centrada P, = AP f,,,
como mostrado na Figura 6.22(a), com A igual à área do aço de protensão e f, a tensão nomi-
' p
na! nesse aço após p~rdas. A tensão de compressão, nesse caso uniforme na seção, será:
6.5 Vigas de alvenaria pretendida
Equação 6.61
6.5. l Introdução

Vigas de alvenaria tem sido utilizadas de maneira limitada em vãos pequenos principal- com A, igual à área efetiva da seção transversal de alvenaria.
mente por conta de limitações quanta a fissuração, deformações e quantidade de armadura. O Após aplicação de carga externa, o momento máximo no centro do vão irá causar ten-
uso da tecnologia de protensão, similar às vigas de concreto, permite aumento no tamanho dos sões de flexão máximas nas fibras superior e inferior (Figura 6.22(b)), que podem ser calcu-
vãos, além de eventual pré-fabricação. ladas por:
p M
Vários casos de obras em alvenaria protendida são encontradas no mundo a partir dos (j
inf,sup
=--d+--'
A - I Equação 6.62
anos 1980. Observa-se um grande aumento no momento de fissuração e um sensível aumento '
na rigidez a flexão sob ações em serviço. Vários casos e a discussão sobre possibilidades de uso
no Brasil foram apresentados no capítulo 2.

241 Sinha & Pedreschi (1991).


242 Ng & Cerny (1985).
243 Parsekian (2002).
334 COMPORTAMENTO E DIMENS!ONAMENTO DE AlVfNARIA ESTRUTURAL VIGAS 335

O dimensionamento da força de pretensão deve ser feito por meio da verificação de Para as seções de menor momento, especialmente sobre o apoio com Mk = O, a excentricidade
tração nula em serviço, considerando os coeficientes de ponderação em serviço das ações, com da força de pretensão deve ser limitada a:
coeficiente de minoração de esforços igual a 0,9 para efeito favorável da força de pretensão e
1,0 para as demais ações de efeito desfavorável, como cargas aplicadas e peso próprio. Deve-se _!1_ _ 6Pk e J< 0
levar em conta as perdas de pretensão, podendo inicialmente ser estimada uma perda de 20% ( bh bh 2 -
para blocos cerâmicos ou 30 a 35% para blocos de concreto. Se houver liberdade de movimen-
' =;e,; h/6 Equação 6.68
tação lateral dos cabos, esta deve ser levada em conta no dimensionamento.
Em resumo, verifica-se: Eventualmente é possível variar a excentricidade do cabo ao longo do comprimento da
Equação 6.63 viga, de maneira a diminuir a excentricidade proporcionalmente à diminuição do momento,
embora a execução de um cabo reto seja construtivamente mais simples.

• crP k= tensão característica devida à ação de pretensão favorável; ~


• r =coeficiente de redução de P devido às perdas de pretensão (0,20 ou 0,35 para
blocos cerâmicos ou de concreto, a ser verificado posteriormente);
• aQk,,,., = tensão característica devida à ação variável desfavorável;
• crGk,d<>f = tensão característica devida à ação permanente desfavorável.
hrc:J ·1....____r· ~
(a) Força de pretensão axial

Para o caso do exemplo, com seção retangular, a equação pode ser simplificada para:

pk 6Mk Equação 6.64


-O 9 (1-r ) - + - - 2$ 0
, bh bh

No caso da pretensão excêntrica (Figura 6.22(c)), deve-se levar em conta as tensões de


flexão devidas à excentricidade em cada seção: (b) Força de protensão e momento aplicado

p = _.!'t..+ pk ey Equação 6.65


k A - 1
'
Combinando essas tensões com as do momento aplicado (Figura 6.22(d)) chega-se a:
(e) Força de protensão excêntrica
pk pk ey M,
(j = --+--+-- Equação 6.66
inf,sup A - I - I !!!!!! !!!!!
E o dimensionamento da força de pretensão será:

-0 9(1-r) -Pk+6Pk
--
'

e ) +6Mk
-$0 Equação 6.67
p
A
~ +
Pe y
--'-
!
--
I
I=r
My

, ( bh bh 2
bh 2 (d} Força de protensão excêntrica e momento aplicado e
Tensões no meio do vão

Figura 6.22 Tensões na seção central de uma viga devidas a pretensão e momento.
No caso da força excêntrica, deve-se ainda considerar a possibilidade de inversão das
tensões positivas e negativas e também impor a condição de tração nula no bordo superior.
Para determinação da área de aço necessário deve-se atender a condição de limitar a
tensão no cabo a 70% da sua resistência última.
VIGAS 337
336 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRLITURAL

0 crQkd,tlexão :::::: tensão de projeto devida à ação variável;


A =_!L_ Equação 6.69

R<[; -[:°"=~d:: J7]::.:::·:::·~::::b<J~ d• p=d•


p O, 7fupk

em que (,k é tensão de ruptura do cabo de protensão.


fk = resistência característica à compressão simples da alvenaria.
6.5. 3 Verificação da resistência à compressão da alvenaria k =coeficiente que leva em conta a reduç'ão de res,istência em função da direção da compressão.
Ym = 2,0.
No meio do vão, a tensão de compressão no bordo superior será aumentada após apre-
tensão. Nos apoios, ou ainda nas fases em que o carregamento da viga ainda não foi aplicado , No caso d_a viga, consider~ndo que o cabo tem a movimentação lateral restrita, a condição
(por exemplo, logo após a protensão), é preciso verificar a resistência à compressão no bordo de maXJma tensao de compressao no bordo superior no meio do vão estará verificada quando:
inferior, especialmente se houver uma excentricidade grande.
O dimensionamento da alvenaria é feito como se esta fosse não armada. Deve-se ve-
rificar a resistência da alvenaria antes e depois da ocorrência de perdas por protensão, sendo 1,4(1-r)_!'t_ l,4[-(l-r)6Pk e+ 6Mk]
2
1,2 J
bh bh bh 2 ( (antes das perdas,r =0)
permitido reduzir o valor do coeficiente de ponderação da resistência da alvenaria em 20% -----+ <
o, 7kfpk 1, 5 . o, 7kfpk -
para verificação da resistência antes das perdas.
2,0 2,0 LO J
Na alvenaria não armada: ( (depois das perdas,r =%perdas)
Equação 6.71
• a resistência à compressão da alvenaria na compressão simples, fk' é igual a 70%
da resistência característica de prisma;
Simplificando a expressão acima, chega-se a:
• esse valor é multiplicado por 1,5 para determinar a resistência à compressão na
flexão.
1,2 J
Se os cabos tiverem seu deslocamento lateral restrito não é preciso levar em conta a (l- r )_!'t_+ [- (1-r )Pk e+ Mk ] < ( (antes das perdas,r =O)
força de protensão na consideração de esbeltez e possibilidade de ruptura por flambagem (o
4
bh
16
bh' bh' _ kfpkx ( 1,0 J
cabo continua centrado com deslocamentos laterais). Podem ser considerados restritos cabos
(depois das perdas,r =%perdas)
que estejam totalmente envolvidos com graute, ou que sejam presos à parede em pelos menos
3 pontos intermediários ao longo da altura da parede. Alternativamente, todo furo onde o Equação 6. 72

['
cabo está inserido pode ser grauteado.
Em resumo, considerando os cabos de protensão restritos lateralmente, verifica-se: É preciso ainda verificar a condição de M, = O, nesse caso com a máxima compressão
1 ocorrendo no bordo inferior:
'
1
crQ<l,comp. + crGd,comp. + crPd,comp- + crQct,11exão + crG<l,flexão + crPd.flexão < {1,0 após perdas '
Rkfk/
/Ym
kfk/
/Ym
l,Skfk/
/Ym
- 1,2 antes das perdas
1,2 J
( (antesdasperdas,r=O)

l
Equação 6.70 ( )pk (1-r)Pke
4 1 -r -+16 <kfkx
bh bh
2
p ( 1o J
em que:
.1
. (depois das perdas,~ =%perdas)
tensões de compressão simples
• crGkd.wmp =tensão de projeto devida à ação permanente; Equação 6.73
crQkd.wmp = tensão de projeto devida à ação variável;
• crP k<l,wmp = tensão de projeto devida à ação de protensão.
tensões de compressão na flexão
• crGkd,fl"'º = tensão de projeto devida à ação permanente;
VIGAS 339
338 COMPóRTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE AtVENARIA ESTRUTURAL

6.5.5 Comportamento e projeto de seções fissuradas no estado limite último


6.5 .4 Perdas de protensão

As perdas de pretensão devidas a relaxação do aço, deformação elástica da alvenaria, O momento máximo aplicado (Md) deve ser menor que o momento último (M ). No
movimentação higroscópica da alvenaria, fluência da alvenaria, acomodação das ancoragens, cálculo do momento último, considera-se a seção fissurada e determina-se a linha neu~ra da
seção (x) a partir da tensão no cabo (após perdas).
atrito e por efeitos térmicos podem ser calculadas de acordo com os itens a seguir.

6.5.4. l Deformação elástica da alvenaria, movimentação higroscópico, efeitos FP= força nh cabo de pretensão =A . cr
Fp < =
Jensao ' l no cabo
t - nom1na PP~
F ps
térmicos e fluência ' AP = área do cabo

A perda de pretensão devida a deformação elástica da alvenaria, movimentação higros-


~
-- Região
d = altura útil dos cabos
x = posição da linha neutra
F~ = força na alvenaria =k fd · b·x
cópica, efeitos térmicos e fluência e retração pode ser estimada pela expressão: comprimida
Por compatibilidade de esforços: F =F
Equação 6.74 • .o
.. x=A,-<J,,i(kf,·b)
' p

\ 1 = resistência à compressão da alvenaria


b = largura da parede


Lia= variação média da tensão de pretensão (perda);
a = razão entre os módulos de elasticidade do aço e da alvenaria (quando a
- ~
--~
._lL
M , =F, · z=A, ·a,,· (d-x/2)

.L
p;otensão for aplicada com apenas um cabo, adotar esse valor igual a zero, pois
não há perda por deformação elástica da alvenaria nesse caso);
..i.
1

• 0 - tensão de protensão inicial no centroide dos cabos de protensão; Figura 6.23 Eqmlíbno de seção fissurada.
Em - módulo de elasticidade do aço do cabo de protensão;
• E' - módulo de elasticidade da alvenaria; Para o caso de seções com largura uniforme, conforme Figura 6.23, tem-se:
• Li'T - variação da temperatura; 1
6
• k - coeficiente de dilatação térmica da alvenaria, igual a 6,0xl0- mm/mm/ºC· x=A p ·0ps /(fd ·b)
p~ra blocos cerâmicos, e 9,0xl0-6 mm/mm/°C- 1 para blocos de concreto; M u = A p · 0 ps · (d - x/2) Equação 6.75
• k - coeficiente de dilatação térmica do aço, podendo-se adotar o valor de
;
l l,9xl0·6 mm/mm/ºC; em que:
c - coeficiente de fluência, igual a 3,0 (relação entre deformação por fluência e 0,, =tensão nominal no cabo de protensão;

deformação inicial); A, = área dos cabos de protensão;
E - coeficiente de deformação unitária por retração igual a O (nula) para blocos d = altura útil da seção;

c;~âmicos e 0,5 mm/m bloco de concreto. fd;;;:;;, resistência à co1npressão da alvenaria;
b = largura da seção;
6.5.4.2 Atrito, acomodação das ancoragens e relaxação do aço x = posição da linha neutra.

As perdas por atrito, acomodação das ancoragens e relaxação do aço podem ser pr~­ O problema é determinar a posição de linha neutra "x'; uma vez que esta depende das
vistas de acordo com as recomendações do concreto protendido. Para o caso de alvenaria tensões e das deformações na alvenaria e aço. Tanto a normalização canadense quanto a ameri-
protendida com cabos retos e não aderidos não existe perda por atrito, assim como não há cana trazem formulações baseadas em análises semiempíricas para determinação de f,, e de x a
perdas por acomodação das ancoragens nos casos de protensão com barras. partir desse valor. São feitas considerações sobre a possibilidade de o cabo estar aderido, ter ou
não restrição lateral e do elemento ter algum grau de hiperestaticidade, e com possibilidade de
formação de rótulas de comportamento plástico. Fazendo algumas simplificações, favoráveis à
340 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL VIGAS 341

segurança, e considerando que o cabo tem o deslocamento lateral restrito, é possível adotar f,, =
b
tensão média nos cabos após as perdas de pretensão.

6.5.6 Dimensionamento ao cisalhamento

A pré-compressão aumentará a resistência ao cisalhamento da seção. Entretanto, poucos


estudos existem sobre esse tipo de comportamento. No caso de pretensão centrada, pode-se
verificar a resistência ao cisa!hamento computando a força de pretensão (após perdas), reduzi- Placas de d,
h
da por Ym = 0,9, para o cálculo do aumento da tensão devido à pré-compressão. ancoragem do
Para vigas não grauteadas, é possível apenas contar com a aderência da argamassa para cabo de protensão
uma parcela de ações variáveis (como vento). Uma simplificação possível é considerar apenas
a parcela devida ao atrito na resistência ao cisalhamento: f,k = 0,5 · 0, com 0 igual a 0,9 x ten-
y
são de pré-compressão (após perdas). No caso de seção totalmente grauteada é possível adotar
f,k = 0,35 + 0,5 · 0, em MPa.
Nas situações em que a distribuição de tensões na seção não é uniforme, ou quando X
os limites acima não forem atendidos, na falta de uma melhor análise, recomenda-se utili-
zar os conceitos de alvenaria armada para dimensionamento dos estribos. Figura 6.24 Dimensões utilizadas na equação 6.76.

6.5.7 Tensão de contato e ancoragem Para distribuição da força concentrada em uma determinada direção (vertical ou ho-
rizontal), a dimensão d, pode ser admitida como a distância entre os eixos da placas de anco-
A ancoragem do cabo de pretensão normalmente é feita através de conjunto de placa ragem ou duas vezes a distância do centro da placa até a face da alvenaria. Considerando as
e porca ou diretamente em base de concreto. Sob a placa de ancoragem dos cabos deve ser dimensões da Figura 6.24, d,;<; 2x ou d,;<; 2y. A distribuição de forças em cada direção pode ser
feita pelo menos uma fiada de alvenaria grauteada ou coxim de concreto, devendo as tensões distinta. Como o detalhamento de armadura horizontal transversal não é desejável, a lógica é
de contato ser corretamente verificadas. Quando as tensões são altas é necessário armar a adotar a largura da placa igual à largura da alvenaria.
região do contato contra o fendilhamento, e nesse caso é mais fácil prever o coxim de con-
creto. Nos itens seguintes são descritos conceitos para verificação da região da ancoragem Armadura de fretagem. Tensões elevadas de tração horizontal podem surgir nas regiões de
na alvenaria. ancoragem. Na falta de uma análise mais precisa, podem ser adotados os mesmos conceitos
do concreto protendído. Nesse caso, armaduras horizontais devem ser detalhadas nas duas
Forças de empuxo horizontal. A força de pretensão concentrada pode ser aplicada sobre direções, o mais próximo possível da placa de ancoragem. A armação deve ser capaz de resistir
uma pequena área, ª" x a,, da seção transversal, como as dimensões "à' iguais ao lado da placa a uma força horizontal igual a 0,04 P,, com a tensão no aço não superior a 50% de f ,. Os cantos
de ancoragem como mostrado na Figura 6.24. A força concentrada é distribuída para regiões nas extremidades da vigas são particularmente vulneráveis à ruptura. '
inferiores, produzindo forças de empuxo horizontais, Z, que podem ser estimados por:
Fendilhamento na região de ancoragem. É necessário checar o equilíbrio dos esforços na
z = 0,3P (1 - a/d,), com a= a, ouª" em cada direção Equação 6.76 região de ancoragem, definida em uma área com altura da viga e comprimento igual também
à altura da viga hb. Tensões de tração transversal, normais ao eixo da viga, ocorrem devido às
tensões de compressão sob as placas de ancoragem e podem causar fissuras por fendilhamento
ao longo da espessura. As tensões sob a placa de ancoragem devem estar em equilíbrio com as
tensões ao longo da seção transversal a uma distância hb, como mostrado na Figura 6.25(a).
VIGAS 343
342 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL

Teoricamente essa armadura deve ser disposta, a um espaçamento s, apenas em metade


da região de ancoragem. No entanto, a boa prática de projeto indica estender a armadura, com
o mesmo espaçamento, em toda região de ancoragem de comprimento h . Para vigas muito
largas, é possível existir tensões de fendilhamento ao longo da largura. Um procedimento
similar pode ser utilizado para verificar essa condição.

6.5.8 Exemplo 6.4: Comportamento e dimensionamento de uma viga de


alvenaria protendida
y
Para viga de 6,0 metros de comprimento com 3 fiadas totalmente grauteadas de blocos
Extremidad de concre;o de 19 cm de espessura e fbk = 20 MPa, a protensão será feita com barra de aço de
de aplicação (c) Momento vertical de fendilhamento alta res1stencia com fypk = 835 MPa, f,,k = 1030 MPa, diâmetro nominal de 15 mm com área
(a) Região de ancoragem
da protensão na região de ancoragem
de 176 mm 2 e E,= 210 GPa, relaxação de 3,2% após 1.000.000 h com 55% de f kº Assim:
"P

V a) Se duas barras forem utilizadas, determine a posição ótima destas e a força de


<---
protensão antes e depois das perdas;
b) Considerando a condição de serviço de tração nula, determine o momento
máximo;
c) Calcule a máxima carga possível de ser aplicada à viga;
d) Dimensione a resistência da alvenaria;
(b) Diagrama de corpo-livre de uma parte da região de ancoragem e) Verifique o momento no estado limite último;
f) Determine a resistência ao cisalhamento dessa viga e a armadura transversal, se
Figura 6.25 Região sujeita a fendilhamento próxima à ancoragem da pretensão.
for o caso;
g) Cheque as tensões na região de ancoragem nas extremidades da viga.
Usando o diagrama de corpo-livre de uma parte da região de ancoragem definida pela
altura y, Figura 6.25(b), o momento interno necessário para equilíbrio pode ser calculado fa-
h) Para não haver tração nos apoios deve-se limitar a excentricidade a
zendo equilíbrio de momento na seção cortada. Essa análise irá produzir a distribuição de mo- h 590
mentos ao longo da altura, a partir do qual se pode calcular o máximo momento, Mm,, Como e ó'. 6 = 6 = 98 mm. Posicionando a primeira barra no meio da altura, a se-
mostrado na Figura 6.25(b), é necessário um binário de forças internas para equilibrar esse
gunda barra deve estar a uma distância de aproximadamente 190 mm do centro
momento. Considerando cada força do binário a uma distância de h/2 entre estas e hb/4 de
(Figura 6.26(a)). Com duas barras iguais, a excentricidade será então de (295 +
cada extremidade da região de ancoragem, pode-se chegar à força vertical de fendilhamento:
485 - 590)/2 = 95 mm< 98, portanto adequada.

Equação 6.77
190
I• •I

A partir de F,q pode-se calcular a área vertical de armaduras (usualmente estribos) ne- "'
"'
N
"'"'
N
li "'
"'
li
,,__
cessárias para resistir ao fendilhamento: ""- "'
li
590 o """
F
'q
(hb)s
2 Duas barras de (n-l)A: p
Equação 6. 78 lSmm o
o,5f,d

Figura 6.26 Seção transversal da viga protendida do exemplo 6.3.


344 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL VIGAS 345

Para bloco de 20 MPa, estima-se o f,k = 14 MPa, porém, com toda a seção grauteada, d) Considerando a resistência à compressão horizontal igual a 100% da resistência
o prisma cheio é estimado em f pk = 22,4 MPa. Para blocos de concreto E, = 800 · de prisma, com graute contínuo nas 3 fiadas, k = 1,0, deve-se verificar:
22,4 = 17,92 GPa, porém, deve-se limitar a 16 GPa. A relação entre módulos de elas- Meio do vão, compressão no bordo superior
ticidade n =E /E = 210 / 16 = 13,1. Com área total A = 352 mm' e posição média
, ' p 1,2 )
das barras d = 390 mm, a seção equivalente será então igual a: ( (antesdasperdas,r=O)
pk [-(1-r)Pke M,]
4(1-r )-+l 6 + - <kf .
y=[ bh%+(n-l)A,d }[b h+(n-l)A,j bh bh' ' bh' ,- pk (1,0 )

=[190·590 5 ~0 +(13,1-1)·352·390 }[190·590+(13,1-1)·352]=298 mm


(depois das perdas, r = 0,3)

O momento de inércia de seção equivalente será:


4 (l-O) 255 +l 6[-(l-0)255·0,092 +
0,19·0,59 0,19·0,59 2
30,6
0,19·0,59 2
]<l
- ,
Of ·l
pk ,
2


I =-+bh y--
eq 12 2
( h)' ( )'
+(n-l)A, d-y f,k ~ 9,0 MPa
]<l
4(l-0, 3) 255 +l 6 [-(l-0,3)255·0,092 + 30,6 Of ·l O
190 59 590 2 0,19·0,59 0,19·0,59 2 0,19·0,59 2 - , pk ,
· o' + 190·590(298- )' +(13,1-1)·352·(390- 298)
12 2 f,k ~ 9,8 MPa
Considerando a máxima tensão na barra igual a 70% · 1035 = 724 MPa, a força Sobre o apoio, compressão no bordo inferior
total de protensão, antes das perdas, será 724 · 352 = 255 kN. Estimando as per-
das inicialmente em 30%, a força final será de 0,70 · 255 = 180 kN. 1,2
( (antes das perdas, r =O)
J
Considerando a barra reta dentro de um tubo plástico, sem perda por atrito, P (1-r)Pe
4(1-r)-' +16 ' ::;;kf .
bh bh 2 pk
nenhuma acomodação da porca de ancoragem e, ainda, que as duas barras serão
protendidas ao mesmo tempo (ou a primeira barra será protendida a uma ten-
!,O
( (depois das perdas, r = 0,3)
J
são ligeiramente maior para compensar a deformação elástica após pretensão da
segunda barra), não havendo perda por deformação elástica, pode-se estimar as 4(1-0) 255 +16(1-0)255·0,092 < .
12
0,19·0,59 o,!9·0,59' _l,Of,, '
perdas por:
1's=+Ep ·[(km -k)·1'T+E +c·0m /E] f,k ~ 12,3 MPa
s rns a

No CG das armaduras (y = 390 - 298) = 92 mm, e am


166000
190·590
166000·92·92
+ - - - -9 -
3,285·10
4(1 -0,3) 255
0,19·0,59
+
16(1-0,334)255·0,092
0,19·0,59 2
<l ,
Of ·l O
pk ,
208, com k, =igual 9,0xlü-6 mm/mm/°C- 1, k, = ll,9xl0- 6 mm/mm/ºC, e= 3, em, f,k ~ 16;3 MPa
= 0,3 mm/m, variação de temperatura de 20 ºC, tem-se: A resistência máxima do prisma é de 12,3 MPa. Considerando um bloco de 12 MPa
L;s = + 210.000 · [(9 - 11,9) x 10-6 • (-20) + 0,0005 + 3 · 2,08/16.000] = 199 MPa todo grauteado, tem-se uma resistência de prisma de 13,4 MPa, portanto, pode-se
A perda por relaxação do aço pode ser estimada como 3,2% de 0,7 · 724 = 16 MPa. reduzir a resistência do bloco para 12 MPa.
Portanto, a perda final será 199 + 16 = 215 MPa.
Porcentagem de perda= 215 I 724 = 30%, conforme estimado. e) Simplificadamente tem-se:
x=A,·0,)(f,·b)
b) Deve-se verificar a condição de tração nula: M u =Ap ·aps · (d-x/2)

P, +6Pke) 6Mk
,,
Considerando f, = 0,7 · 13,4 /2 = 9,38 MPa e a =O ,7 . 724 = 507 MPa
-o 9(1-r) ( - - +--:;;o
2 x = 3,72 · 507/(4,69 · 19) = 21,2 cm
, bh bh' bh
M" = 3,72 · 50,7 · (53 -21,2/2) = 7.997 kN·cm = 79,97 kN·m > 1,4. 30,6 = 42,8 kN·m
255 6·255·0,092) 6M, <O
-0,9(1-0,3) ( + 2 + 2
0,19·0,59 0,19·0,59 0,19·0,59 f) Para pk = 6,8 kN/m e vão de 6,0 metros-> v, = 1,4. 6,8. 6 /2 = 28,6 kN
Mk = 30,6 kN·m Considerando a seção totalmente grauteada (resistência ao cisalhamento de 0,35
MPa) e a pré-compressão depois das perdas, adota-se f,k = 0,35 + 0,5. 0,9. am =
c) Com Mk = p, l'/8-> 30,6 = pk 62/8-> pk = 6,8 kN/m. 0,35 + 0,5 · 0,9 · 2,08 = 1,29 MPa, porém deve-se respeitar o limite de(,= 0,7 MPa.
346 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL VIGAS 347

Verifica-se então: 590


V, ,;; f,, =; 28,6 = 255 < 700 = 350
bh 2 0,19·0,59 2
Não é necessário armadura transversal nessa viga, sendo recomendável detalhar 240
uma área mínima de estribos igual a 0,05%bs = 0,05/100 · 19 · 100 = 0,95 cm2/m
ou <P 5 mm c/ 20 cm.
14,8 kNm
100
g) Considerando placas de ancoragem em cada barra de dimensão 100 x 190 mm, a
90
dimensão d = 190 mm (espaçamento entre os centros das barras) e a= 100 mm,
da equação '6.76: 100

Z = 0,3P (1-a/d,)=0,3 · 255(1 - 100/190)= 36, kN 55


A armadura para resistir a essa força (estribo) será Asw = Z I (0,5 f,)
y = 36 / (0,5 · 1,34 MPa 4,36MPa
50/1,15) = 1,22 cm', portanto um estribo de 2 ramos de <P 10 mm, cerca de 5 cm
afastado da placa de ancoragem, é suficiente. Figura 6.27 Momentos na região de ancoragem para a viga protendida do exemplo.
Para o equilíbrio da região de ancoragem, usando duas placas de ancoragem de
190 x 100 mm, as tensões (com forças de protensão inicial) sob a placa e em uma
distância de 0,59 metro (altura da viga) da borda são mostradas na Figura 6.27. 6.6 Distribuição de carregamentos em vergas
O diagrama dessas tensões é mostrado na parte direita da figura.
Para o momento máximo de 14,8 kN·m e braço de alavanca de h/2 = 0,59/2 = 6.6. l Comportamento
0,295 metro, a armadura transversal necessária pode ser calculada pelas equa-
ções 6.77 e 6.78: Vergas vencem vãos sobre aberturas em paredes de alvenaria, como mostrado na Figura
2 2 6.28. A função da verga é encaminhar a carga acima dela aos apoios nas paredes laterais. Exis-
Mmax =Fcq -hb) =?feq =-Mmax =--14,8=50)2 kN
( 2 hb 0,59 tem dois tipos de cargas que podem apoiar em vergas:

50,2·(0,295)·0,2 -o 2
• Cargas distribuídas como o peso próprio da alvenaria acima, cargas de lajes ou
- ,14 cm coberturas.
0,5fy, 50
0,5·- • Cargas ~oncentradas de vigas, vigotas, terças ou outros elementos que se apoiam
1,15
na verga.
No caso, um estribo de um ramo só com barra de 5 mm c/ 20 cm na região de
ancoragem seria suficiente, porém como foi adotado anteriormente estribo de 2
ramos com cp 1O mm sob a placa de ancoragem, o mais simples é detalhar <P 1O Por conta do efeito arco, as vergas não recebem diretamente toda a carga sobre a aber-
mm c/ 20 cm (2 ramos), nos 60 cm próximos a cada ancoragem de extremidade. tura. Como mostrado na Figura 6.29(a), apenas a região formada pelo triângulo ABC pode ser
considerada como carga sobre a verga. Recomendações práticas244 indicam usar um triângulo
formado por um ângulo entre 45º e 60º para determinar a área do quinhão de carga que efetiva-
mente será suportado pela verga: a consideração de 45°, adotada na normalização brasileira, é
mostrada na Figura 6.28. Qualquer carga acima do ponto C (o vértice superior do triângulo) e
o peso próprio da parede em cada lado de fora do triângulo podem ser desconsiderados no di-
mensionamento da verga. Para que o arco funcione deve haver quantidade suficiente de alvena-
ria em cada lado da abertura para resistir ao empuxo horizontal que surge. Também é necessário
haver quantidade suficiente de alvenaria sobre o ponto C para resistir à compressão horizontal
que surge nessa região. Se a carga de laje ou cobertura é aplicada sob o ponto C, então não há
formação de arco e todo o carregamento deve ser considerado no dimensionamento da verga.

244 Brick Industry Association (BIA) (1999).


348 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE AlVENARIA ESTRUTURAL
V!GAS 349

p espaçados a cada 2,; metros. Considere a verga simplesmente apoiada. A parede acima da
verga pesa. 2,8 kN/m e a verga, totalmente grauteada, pesa 4,8 kN/m'. Assuma que há quanti-
, '' dade suficiente .d~ parede sobre a verga para resistir à compressão horizontal e nas laterais dos

e
'
,
,'
,
T' /\
30º' '2:2
apo10s para resistir ao empuxo horizontal. Solução:

, -' ,, 6Q°f\,
h , _, i. Co~sidera~do a altura da ,verga de ,0,20 metro e vão livre de 1,60 metro, o vão
,,
''

, ,, ''
'
efetivo sera igual ao vão livre mais metade da altura da verga de cada lado, tota-
,, D ' , >,' ' ' E lizando 1,8 metro.
'
,"") 45º I w=!
' a
ii. Considerando o majorado de ações igual a 1,4, o peso próprio da verga será· 1 4
· 0,20 · 4,8 kN/m 2 = p d,O = 1' 34 kN/m ' . '
B a= 1,15h
iii. O peso da parede sobre a verga (dentro do triângulo a 45º) terá forma triangular
com valor máximo ao centro igual a:
Carregamento da parede acima P,, 1 = 1,4 · (0,9 · 2,8) = 3,53 kN/m.
iv. A carga. concentrada se espalha na base do triângulo de distribuição desta em um
Carregamento, wp, da carga concentrada
compmnento igual a 2 · tan (30º) · 1,2 = 1,386 metro, que se estende sobre a verga por:
Carregamento do peso próprio x = 1,386 / 2 - 0,30 = 0,393 metro
e tem valor uniformemente distribuído igual a:
Figura 6.28 Carregamento de cargas concentradas em vergas.
p,,, = 1,4' (45/1,386) = 45,45 kN/m.

Cargas concentradas podem ser consideradas distribuídas sobre as vergas a partir de um O carregamento total, em valor de projeto, é mostrado na figura a seguir.
ângulo de distribuição da força igual a 60º,245 como mostrado na Figura 6.28. A parte do carrega-
mento no trecho DB é considerada sobre a verga, somada à carga de peso próprio e do quinhão 2,4m

da área triangular acima desta. Uma alternativa para esse método simples é utilizar o método P"= 1,4 · 45 kN P,= 1,4 · 45 kN
l,2m Um
analítico de efeito arco apresentado no capítulo 1O. '
-- 1
J\ \ .J \
1,2m
/
/30º
\ /
<l ' '
45º /
/30º \
\

Ir: ' 1,
/ )<. \
. .
0,2m
-~

e= l,8m ·41 x = 393 mm

Pd,2 P,,, = 45,45 kN/m

ílil ílil
da carga concentrada

Figura 6.29 Carregamento em vergas.


p"" = 3,53 kN/m
~ Carga da alvenaria acima
6.6.2 Exemplo 6.5: Corregomento sobre uma vergo
Peso próprio p d.o= 1,34 kN/ m
Determine o carregamento sobre a verga mostrada na Figura 6.30: devido ao peso pró-
prio e carregamento concentrado de valor característico igual a 45 kN de terças de telhado f t
Figura 6.30 Carregamento na verga do exemplo 6.5.
245 Idem.
350 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVCNARIA ESTRUTURAl VlGAS 351

6.7 Considerações finais p

Este capítulo comenta o comportamento e projeto de vigas e vergas em alvenaria estru-


tural, incluindo seu dimensionamento a flexão, cisalhamento e comprimento de ancoragem
da armadura. Os conceitos aqui apresentados e muitos dos procedimentos de cálculo serão
Vão =6,0 m
aproveitados nos capítulos seguintes para o dimensionamento de paredes, painéis e pilares em
alvenaria. As considerações feitas sobre vigas pro tendidas serão aproveitadas na descrição do
comportamento e projeto de paredes protendidas.
O comportamento e projeto de vigas altas foi apenas citado aqui, considerando as es-
- - - Estribos de 8 mm e/ 20 cm
pecificações de norma, uma vez que pouca informação existe sobre o comportamento deste
elemento em alvenaria. Projetistas podem utilizar os mesmos conceitos do concreto armado
para prever o comportamento e projeto de vigas altas.
Para quem está acostumado com o dimensionamento de vigas de concreto armado, as 430mm - Bloco de concreto de 10 MPa
-Aço CASO
semelhanças são evidentes, com a diferenciação do limite na tensão de escoamento do aço,
- Argamassa l :0,5:4,5
que é uma prescrição apenas presente na normalização brasileira, não encontrada em outras - Graute fgk = 15 MPa
normas internacionais. Detalhes construtivos e procedimentos executivos não são aqui apre- - Armadura de tração com duas barras de 16 mm
sentados, uma vez que existe boa bibliografia tratando desse assunto. !Oümm
- Armadura de compressão de uma barra de 16 mm

Seção transversal
6.8 Exercícios Figura 6.31 Viga do exercício 2.

!. Para uma viga de alvenaria armada de duas fiadas de blocos de 19 cm de fbk = 10 MPa,
3. Para a viga do exercício 2, estude a possibilidade de executá-la em alvenaria protendida.
aço CASOA e altura útil de armadura, para a seção balanceada, indique a distribuição
de tensões e deformações na seção mostrando:
4. Considere a verga da Figura 6.32 de bloco de concreto de 6,0 MPa de 19 cm em um
vão efetivo de 3,0 metros, continuamente engastada nos dois lados da parede de apoio.
a) a posição da linha neutra;
Determine a quantidade de armadura (positiva, negativa, estribos) necessária para a
b) a posição da resultante de compressão;
verga suportar uma parede com 3,0 metros de altura de blocos vazados sobre esta. Se
c) o braço de alavanca entre as resultantes de compressão e tração.
forem detalhadas juntas de controle nas extremidades da verga, tornando-a biapoiada,
qual seria o efeito sobre o dimensionamento?
2. Para a viga da Figura 6.31, indique:

a) O carregamento de projeto necessário para causar fissuras para resistência de


tração na flexão de 0,50 MPa.
b) O máximo valor característico de carregamento que essa viga pode resistir. !
c) A deformação no meio do vão desse carregamento.
d) Se os estribos detalhados são suficientes, considerando esse carregamento.
'
e) Em que posição na região central da viga não seria mais preciso detalhar estribos.
f) Cheque o comprimento de ancoragem necessário.

- '-- ' - - - - - - - '


I· 190mm

Figura 6.32 Viga do exercício 4.


CAPÍTULO 7 .................................,......,..,_....,_.......,..,.........,.....,.....,......,.......,
. Painéis fletidos

Figura 7.1 Construção de um painel de alvenaria (cortesia da National Concrete Masonry Association).

7. 1 Introdução
Paredes com baixa solicitação de carga vertical geralmente estão submetidas também
a uma ação lateral perpendicular ao seu plano, causando flexão em torno do eixo de menor
inércia (flexão fora do plano). Esses elementos são denominados painéis fletidos, uma vez que
o principal modo de ruptura ocorre por flexão, com pequeno ou insignificante nível de com-
pressão axial. As ações podem ser permanentes, como de muros de arrimas, ou variáveis, como
de vento. As paredes devem ainda ser suficientemente robustas para não serem danificadas
por forças incidentais, como de pessoas e equipamentos, e também devem resistir a ações aci-
dentais sem que haja efeito de dano desproporcional ao esforço. Normalmente essas ações são
consideradas como uniformemente distribuídas ao longo de toda a área da parede.
Em construções históricas, muitas vezes as unidades da alvenaria não possuíam ar-
gamassa de ligação e, portanto, apresentavam aderência nula. Entretanto, as paredes eram
espessas e massivas o suficiente, de forma que as tensões de flexão devidas à ação lateral se
l
1
i
tornassem insignificantes frente a elevadas tensões de compressão em razão do peso próprio e
de outras ações gravitacionais. Como discutido no capítulo !, muitas vezes essa protensão na-
!! tural era aumentada ao se adicionar uma torre ou outro elemento decorativo pesado no topo
1
t das paredes. Além disso, as aberturas tendiam a ser muito pequenas e a existência de paredes
354 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL PAINtlS FLETIDOS 355

transversais, enrijecedores ou outro tipo de engrossamento da seção, muitas vezes permitia NBR 15812-1 ), havendo ainda diferenças significativas na especificação da resistência à flexão. Os
que o painel massivo apresentasse flexão em duas direções. princípios básicos do comportamento e formas de análises são comentados a seguir.
Na alvenaria moderna, algumas vezes se confia na resistência à tração da alvenaria para
resistir a algumas das ações laterais. Regras empíricas foram desenvolvidas para determinar limi- Resistência de flexão por tração. Paredes simplesmente apoiadas e com apoios apenas na ver-
tes de esbeltez aceitáveis dados pela relação entre altura/espessura ou comprimento/espessura. tical devem resistir à ação lateral por flexão no vão vertical. Se a resistência de tração é despre-
Esses limites geralmente são conservadores, exceto quando a ação lateral devida ao vento (ou zada, a resistência à flexão é diretamente.relacionada à pré-compressão axial existente, P, como
outro tipo de ação) é muito elevada ou quando o projeto da estrutura elimina alguns graus de mostrado na Figura 7.2(a). Para comportamento ~lástico-linear, o momento resistente será:
redundância usualmente presentes em construções de alvenaria. Na alvenaria estrutural muitas
vezes se utiliza alvenaria armada para garantir a resistência à tração inerente de ações laterais. M=f ·S Equação 7.1
" '
Em muitas construções (especialmente as térreas), as paredes externas devem resistir a
uma compressão axial muito baixa (geralmente apenas o peso próprio, assim como paredes de em que:
vedação), porém à elevada força lateral de vento (ou sísmica). Nesse caso, regras simplificadas f, =a tensão de compressão axial (PIA,);
podem ser aplicadas apenas se uma elevada margem de segurança for considerada, de maneira A, = área efetiva considerando a disposição da argamassa de assentamento;
a permitir cobrir variados tipos de aplicação. Pode-se obter um projeto mais eficiente por meio S, = módulo resistente efetivo considerando área efetiva da seção transversal para flexão em
da análise racional detalhada do problema. torno do eixo de menor inércia.
Este capítulo trata do comportamento e dimensionamento de painéis fletidos, definidos
como paredes submetidas a ações laterais fora do plano onde o peso próprio ou outra ação P,
t/2 e
gravitacional têm pouca influência e não produzem efeitos de segunda ordem (flambagem ou ,1
1
momento de segunda ordem). Estes geralmente são aplicáveis em paredes de fechamento de f
construções esportivas (ginásios, estádios), comerciais (supermercados, lojas) e industriais (de- 111 li f,=-P/A,
pósitos, fábricas) com paredes de alturas consideráveis, geralmente térreas. O efeito significante
da pré-compressão axial é o adiamento do início da fissuração e algum aumento da tensão de +
compressão que pode causar um efeito secundário benéfico em alvenarias armadas. Quando as D
(i) Ação externa
condições de apoio permitem que haja efeito arco, haverá elevadas tensões de compressão. Mé- X
l+------>I
todos analíticos para levar em conta o efeito de arqueamento dos esforços em painéis também
são aqui apresentados. 0,0035
(ii) Deformação da seção transversal
(a) Tensões limite não admitindo resistência de
tração (material elástico-linear)
7.2 Mecanismos resistentes
Alvenarias não armadas dependem da resistência à tração e da pré-compressão axial
para resistir às ações laterais. Paredes de edificações de baixa altura ou de fechamento em
L...l-'-...l-J...J.l-'-1_,_l_,__,_,_ui1 f, = - PI A" (iii) Distribuição real de tensões
estruturas aporticadas são exemplos desses tipos de elementos. Nesses casos, mesmo uma pe-
quena pré-compressão axial pode ter uma importante influência, e mesmo o peso próprio de + I , o,sx •I
uma parede de edificação térrea pode ser importante para aumentar a resistência à flexão.
Em algumas situações, a análise do elemento estrutural considerando apenas a resistência
à flexão não é suficiente para explicar formas usuais de construção que apresentam desempenho
Ctb--r-__
""'Z1JJJ f, = MIS
< -ITIJW]r,
e
ft,~~~
satisfatório, mas que seriam consideradas inadequadas por procedimentos de dimensionamento
(iv) Distribuições de tensões equivalentes
simplificados. Algumas paredes ainda apresentam uma boa capacidade de resistir às ações laterais retangulares
mesmo após apresentarem fissuras. Essa capacidade é atribuída a mecanismos resistentes adi- (e) Capacidade resistente definida pela
cionais ao de flexão simples. As recomendações para dimensionamento de painéis de alvenaria (b) Tensões limite admitindo resistência à resistência à compressão, não ad1nitindo
encontradas em normas internacionais diferem significantemente (CSA S304.l-04, BS 5628 part tração (material elástico-linear) resistência à tração

1 & 2) ou, muitas vezes, simplesmente não existem (AC! 530/ ASCE 5/ TMS402, NBR 15961-1, Figura 7.2 Comportamento a flexão de uma seção de alvenaria não armada.
356 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE AlVENAR!A ESTRUTURAL PA!NÉ!S FLETIDOS 357

Como se pode observar na Figura 7.3, a linha A representa a relação entre a resistência Resistência de flexão por compressão. O ponto em que a tensão de tração atinge o limite de
à flexão e a carga axial, ignorando qualquer resistência à tração. Para uma determmada car~a resistência da alvenaria normalmente é definido como resistência de tração na flexão. Entre-
axial (ponto a), 0 ponto b representa a resistência à flexão da seção, obtida quando a açao . tanto, se a fissuração for permitida e a excentricidade limitada de maneira a não cair fora da es-
lateral faz com que a linha neutra da seção coincida com o bordo tracionado. Nesse ponto, a pessura da seção, uma força lateral pode ainda ser aplicada. Como mostrado na Figura 7.2(c),
relação entre 0 momento e a carga axial, admitida pela excentricidade a resistência ao momento externo, M = P, · e, é possível movendo-se a força de compressão em
direção à face comprimida a uma distâqcia do centroide, de maneira que o momento interno,
M
e=- Equação 7.2 C · e, equilibre o momento externo. Para uma se~ão não armada:
p

P · -~ =O, resu ltand o


. p Equação 7.5
é definida pela excentricidade de tração nula, e,, determmada por--+
A, S,
em:
onde o diagrama de tensões equivalente retangular é admitido, levando em conta o redutor de

e=-'
s Equação 7.3
resistência em função da direção da compressão (k), conforme apresentado no capítulo 6. Nesse
' A caso, a capacidade resistente é controlada pela resistência à compressão, e é chamada de resis-
' tência de compressão na flexão. Para diferentes magnitudes da força axial, o valor do momento
resistente depende da resistência à compressão da alvenaria. A resistência à compressão axial, P,,
incluindo a resistência à tração na capacidade de resistência à flexão da seção, Figura 7.2(b),
e ao momento fletor, M,, diminui até zero conforme a excentricidade aumenta até o limite de t/2.
levando ao momento de fissuração igual a:
Quando a fissuração é permitida, a resistência à tração é ignorada. Essa resistência é
M<:r = (fa + f<l)S Equação 7.4 pequena e pouco contribui para a resistência de flexão na compressão, além de, muitas vezes,
t e
haver perda de aderência após a fissuração. Essa perda de aderência ocorre nas duas faces da
com f igual à resistência de tração na flexão normal à junta de assentamento. parede quando há inversão do sentido de aplicação da ação externa, caso muito comum. A
''Nos casos em que não há pré-compressão, a resistência à flexão da seção é indicada pelo capacidade máxima à flexão (ignorando a resistência à tração) é representada pela linha C da
ponto c da Figura 7.3. Incluindo uma carga axial, a linha B representa o aumento no momento Figura 7.3, e para a força lateral a, o momento máximo é identificado pelo ponto e.
resistente (considerando a resistência de tração da alvenaria) e, para uma determinada carga
Resistência de flexão para seções armadas. Para completar as possibilidades de resistência à
axial a, o momento resistente é indicado pelo ponto d.
flexão, mostradas na Figura 7.3, a linha D mostra o diagrama de interação para seções leve-
mente armadas. Nesse caso, a ruptura normalmente ocorre por tração. Pode-se observar que o
Não fissurada Fissurada
p aumento da carga axial de compressão causa o aumento da resistência à flexão, pois diminui a
Compressão
a enas Não armada Armada
tração final. A linha E mostra o caso de seções altamente armadas, onde a ruptura geralmente
Compressão
e tração ocorre por compressão. Nesse caso, o aumento da carga axial de compressão diminui a resis-
tência à flexão. Essas relações são discutidas com mais detalhes no próximo capítulo.

Resistência à ação lateral pelo efeito arco. Quando o painel é construído entre apoios que
permitem restrição a qualquer movimento de expansão deste em seu plano (não permite au-
mento do comprimento ou da altura do painel), forças axiais são induzidas conforme ocorre
Levemente armada L/- Detalhe de parte do a flexão do painel. Essas tensões no plano podem retardar o aparecimento de fissuras e, após a
Pesadamente armada -+
diagrama de interação fissuração, podem causar um efeito arco, que aumenta consideravelmente a resistência quando
comparada apenas à análise de flexão. A existência desse mecanismo muitas vezes explica
MomentoM por que alvenarias projetadas de maneira empírica apresentam capacidade de resistir a ações
laterais superiores às previstas pela analise de flexão simples. 246
Figura 7.3 Interação entre carga axial e momento resistente para níveis baixos de carga axial.

246Baker (1990) e Baker & Franken (1976).


358 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL PAINÉIS FLETIDOS 359

7.3 Comportamento a flexão de alvenarias não armadas para cima igual a A/, por unidade de comprimento. É interessante observar o comportamento
dessa parede conforme se aumenta a força de vento. Inicialmente, a tração devida à flexão da
7.3.1 Considerações gerais parede sob ação lateral é compensada pela tensão de compressão em razão do peso próprio
da parede. A parede se comporta com um elemento engastado na base e apoiado no topo com
Painéis fletidos de alvenaria não armada são projetados para resistir a ações laterais e momento máximo na base igual a:
podem ser construídos com blocos ou tijolos maciços, vazados ou perfurados, assentados com
argamassa apenas na lateral ou sobre toda a face horizontal, e serem concebidos em paredes 'ph'
Mbase=-- Equação 7.6
simples ou eventualmente duplas. Além disso, os apoios em seu contorno podem ser simples 8
ou engastados, podendo ocorrer em dois, três ou nos quatro lados. O vão em edificações bai-
xas geralmente é limitado a um valor pequeno, pois a capacidade para resistir à ação lateral
depende somente da baixa resistência à tração da alvenaria. Uma previsão precisa e segura do Pressão
comportamento é fundamental para que o projetista possa determinar qual o máximo vão de vento
~
possível de ser concebido para o painel não armado. Efeitos relativamente pequenos, como o p"
do peso próprio, podem ser importantes nessa análise.
Como comentado no capítulo 5, a resistência de tração na flexão dada pela aderência
entre o bloco e a argamassa é bastante variável. Geralmente, para elementos construídos em (a) Parede antes da força de vento (b) Fissura na base da parede (e) Mecanismo de ruptura
laboratório, observa-se um coeficiente de variação entre 20 e 30% nos resultados de ensaios de
tração na flexão. Entretanto, deve-se observar que para um painel com várias fiadas e vários Figura 7.4 Painel não armado submetido a variados níveis de força lateral de vento.
blocos em cada fiada, a ocorrência de um único ponto com junta de baixa aderência não será
determinante na resistência máxima do painel, pois haverá uma redistribuição de esforços Conforme a força de vento aumenta, atinge-se o estágio onde a tração está prestes a se
para as juntas vizinhas. Mesmo com a remoção de alguns blocos (por exemplo, pela ocor- desenvolver na face de aplicação do vento, com uma distribuição triangular de tensões na base
rência de uma abertura), o painel ainda apresentará razoável capacidade resistente. Ensaios (Figura 7.2(a)). O aumento da força de vento resultará em uma tensão de tração na base igual a:
comparando a resistência à flexão de um painel com a resistência obtida em ensaios realizados
individualmente em cada junta indicam que a resistência do painel é ligeiramente menor, f;ph' -f
Equação 7.7
porém com menor coeficiente de variação. O caso de um painel simples apenas com flexão ' 8S '
vertical é discutido a seguir e serve de introdução aos conceitos que serão aplicados para casos
'
de flexão em duas direções. com f, ; (peso da p~rede) / (área efetiva argamassada A,) e S, igual ao módulo resistente da
seção efetiva.
7.3.2 Flexão vertical Considerando a resistência de tração na flexão normal à fiada ftk,norma1. , o limite da pres-
são lateral de vento para início da fissuração será:
Paredes com apoios contínuos na base e no topo resistem a forças laterais, como a do
vento, por flexão vertical entre estes apoios. As tensões de flexão ocorrem normais (perpen-
Equação 7.8
diculares) à junta horizontal. A ruptura geralmente ocorre por tração ao longo de uma linha
horizontal fissurada. O mecanismo de ruptura pode ser complexo dependendo do tipo de
apoios na base e no topo e do nível de compressão axial dado pelo peso próprio ou outra força
Devido à presença de membranas de impermeabilização, movimentações diferenciais, a
gravitacional ou eventualmente pela pré-compressão.
resistência à tração pode ser muito pequena ou mesmo igual a zero. Quando f, atinge o valor des-
sa resistência de tração, uma fissura se forma na base e a posição da reação vertical se move em
Efeito do peso próprio. Considere o caso de uma parede de altura h e espessura t construída
sentido contrário ao da aplicação da força de vento, como mostrado na Figura 7.2(b). A base, en-
sobre uma fundação de concreto armado e apoiada lateralmente na base e no topo, como
tão, se comporta como um apoio simples, mas localizado excentricamente ao centro da parede.
mostrado na Figura 7.4(a). O peso da parede produz uma tensão de compressão uniforme de
h Geralmente, a reação se posicionará muito próxima à extremidade oposta à força de
valor na base igual a f, ; (peso unitário da parede) · A
resultando em uma reação vertical vento devido ao giro elástico do painel. O peso da parede produz um momento contrário que
' tende a estabilizar o giro em torno da extremidade da parede; porém, com o aumento da força
360 COMPORTAIY\ENTO E DIMENSIONAMENTO DE AlVENARIA ESTRUTURAL PAINÊIS FLETIDOS 361

de vento, esse painel irá se comportar como um elemento simplesmente apoiado na base e no blocos na fiada, e logo se propagam ao longo da fiada inteira. Se a ação de vento for mantida, a
topo. Após a fissuração da base, o ponto de máxima tração ocorrerá em uma região próxima parede irá romper com a formação de um mecanismo, entretanto um reduzido incremento da
ao topo da parede. Esse ponto desloca-se em sentido ao meio da parede conforme se continua força de vento é ainda possível de ser resistido pelo efeito retificador do peso da parede. A de-
a aumentar a força de vento, até finalmente ocasionar uma segunda fissura nessa região, con- formação lateral reduz esse efeito retificador. Embora a resistência do painel seja normalmente
figurando um mecanismo de ruptura do painel como mostrado na Figura 7.4(c). Essa fissura bastante reduzida quando fissurado a meia altura, isso não é necessariamente verdade quando
não ocorre necessariamente no centro do vão) mas na posição crítica entre a capacidade resis- uma carga vertical adicional é aplicada 'lº topo, conforme discutido a seguir.
tente e forças aplicadas. Para o caso de resistência à tração nula e peso próprio desprezível, o !

efeito do engastamento na base será nulo, com o painel se comportando desde o início como 7.3.3 Efeito de carregamento vertical adicional
biapoiado e com fissura no centro deste. Ao contrário, se a aderência permitir uma boa resis-
tência à tração ou houver um elevado carregamento vertical, o efeito do engastamento da base Considerando o painel discutido no item anterior (Figura 7.S(a)), porém com uma car-
será maior, com fissura final dentro da metade superior da parede. ga adicional do topo igual a P,, produzindo uma tensão de pré-compressão igual a f" (Figura
O método comum de dimensionamento de um painel para resistir à força lateral de 7.S(b)), normalmente o projetista pode pensar em dimensionar esta parede simplesmente adi-
vento normalmente é baseado na verificação da tensão vertical (normal à fiada) no centro da cionando as tensões de compressão uniforme (devido ao peso próprio e à carga adicional) às
parede, assumindo que o elemento é simplesmente biapoiado. Para um comprimento unitário, tensões de flexão devidas ao vento:
a máxima pressão lateral p será:
f, ]8S,
8 Pr = [ ftk,normal +fas +2 b"2 Equação 7.12
P -<Se (ftk,norma! -f/2)-
a h2 Equação 7.9

O comportamento real pode ser analisado adicionando-se os efeitos indicados nas par-
Para simplificar o dimensionamento, pode-se assumir que a reação vertical na base
tes (a) e (b) da Figura 7.5. A carga adicional não apenas retarda o aparecimento de fissuras por
ocorrerá na extremidade oposta à aplicação da força de vento e que a segunda fissura ocorre
conta da pré-compressão, mas também, após a fissuração da base, esta carga resultará em um
no meio do painel. Pode-se então calcular as tensões normais à fiada em duas partes, uma re-
momento contrário ao de vento no meio do vão devido ao deslocamento da reação de apoio
lativa à flexão devida ao vento e outra devida à compressão axial excêntrica em razão do peso
vertical na base para a extremidade da parede. Esse efeito permite um aumento considerável
próprio e apoio base na extremidade da parede, conforme Figura 7.S(a). A tensão de tração
na força lateral aplicada em relação à hipótese usual de não haver excentricidade no apoio da
máxima no centro da parede será:
base, ocasionando o momento contrário no meio do vão.

f = ph -f
' 8S
2

' S 4
lA,t J- f,2 Equação 7.10 Ps =fas A•

' ' - ~---ph/2 ,...,_~-- fa,Act


e.--> 2h
Com o peso próprio no centro da parede, (A,f/2) produz um momento contrário ao do .s--+ /Compressão axial = O Compressão axial = í/2
Compressão axial = fª'
vento, com braço de alavanca igual a t/2. A força lateral crítica pode ser obtida igualando-se
o valor de f t da equação 7.10 à resistência da alvenaria, igual a f,t ,norma 1, sendo o valor da força h
5~
~
-:;-
___,.., º -Mo1nento = ph 2/8 . Momento= fa,Act

lateral de ruptura P, igual a: ')] __,..


~


!
"-<-
fAt fasAct
Pr== [
f tk,norma1 +f (A,tJ+.f,_J
a Se 4 2
8S, h2
Equação 7.11
-~-'4---ph/2 ' '
2h 2h
t/2-->lh
(a) Vento+ peso próprio
"' '
(b) Efeito de carga vertical adicional
Para fim de dimensionamento, deve-se aplicar os coeficientes de majoração dos esfor- (caso exista)

ços e de redução da resistência do material alvenaria, tomando Prk = p/1,4, ftd,normai = f11<,norma/2,0 Figura 7.5 Parede não fissurada submetida à força lateral.
e f,, reduzido para 0,9f, Pesquisas"' indicam que as fissuras se iniciam ao longo de dois ou três

247 Baker (1977, 1980).


362 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL PAINÉIS FLETIDOS 363

O caso de carregamento concêntrico no topo pode ser aplicável para carregamentos


Carga de compressão
que se mantêm centrados mesmo com a rotação da parede. No caso de paredes entre pisos
de concreto armado, não apenas o ponto de reação na base será realocado com a rotação
da parede, mas também o carregamento no topo se moverá para uma posição excêntrica no
topo conforme o elemento é fletido. Ensaios248 indicam que para uma tensão axial média de Apoio lateral
até 2 MPa, as excentricidades podem ser admitidas iguais a t/2 (nas extremidades da parede).
Mais discussões sobre o comportamento de alvenarias sob carga axial e flexão vertical serão
apresentadas no próximo capítulo.
Pressão de vento,~ --- . lateral
Apoio

7. 3 .4 Flexão horizontal
Não é comum uma parede ter flexão apenas na direção horizontal quando sujeita a Parede inferior
forças laterais, uma vez que esta sempre está apoiada sobre uma base que provê algum nível de
restrição horizontal. Entretanto, essa situação pode ocorrer quando a parede tem apoio livre
Figura 7.6 Painel não armado apenas com flexão horizontal.
no topo, está entre dois apoios verticais e a fiada inferior tem a aderência e coeficiente de atrito
reduzido devido à aplicação de algum revestimento ou pintura, como a impermeabílízação,
Quando a força lateral é aplicada, o painel se comporta de maneira elástica, porém exis-
conforme mostrado na Figura 7.6. Mesmo quando não há essa membrana, a parte superior
tem pequenas diferenças nas tensões que ocorrem na junta de argamassa e nos blocos devido
do painel apresenta praticamente apenas flexão horizontal quando a parede tem altura consi-
à diferente rigidez dessas seções. Tanto os blocos quanto as juntas serão fletidos, porém como
deravelmente maior que o comprimento horizontal. O entendimento do comportamento da
geralmente a tensãú de aderência da junta é muito inferior à resistência à tração do bloco,
alvenaria, quando fletida apenas na horizontal, será importante também para compreender a
atinge-se um primeiro estágio com a fissuração da junta vertical. Pelo fato de o procedimento
flexão em duas direções.
de execução das juntas verticais normalmente não ser tão cuidadoso quanto o de execução da
Painéis com flexão horizontal têm as tensões de flexão paralelas às fiadas. O compor-
junta horizontal, e também porque o peso vertical não contribui para compensar a retração na
tamento da alvenaria na flexão horizontal é, entretanto, mais complicado do que essa simples
direção horizontal (compensa apenas a retração vertical), geralmente a resistência de tração
descrição de distribuição de tensões sugere. Perto da força de ruptura, a resistência à flexão
da junta vertical é inferior à da junta horizontal. Pesquisas indicam que após a fissuração, as
das juntas verticais é reduzida, uma vez que elas fissuram, porém ainda existe uma resistência
juntas verticais contribuem muito pouco para a rigidez da parede de a!venaria. 250
à torção nas juntas horizontais. 249
Gráficos idealizados da curva força-deslocamento, mostrada na Figura 7.7(a) e (b), in-
Para ilustrar esse comportamento, a faixa superior da parede mostrada na Figura 7.6 é con-
dicam um comportãmento linear até o ponto b, onde ocorre a primeira fissura. Após esse
siderada em flexão horizontal pura. Ignorando inicialmente qualquer compressão axial e anali-
ponto, as juntas verticais contribuem muito pouco para a resistência à flexão, e a maior par-
sando essa faixa por flexão simples, considerando-a biapoiada, a máxima força lateral será igual a:
te do momento aplicado é resistida pela flexão dos blocos. Como essa flexão não pode ser

P- _ ftk, paralela
(ssp
f J Equação 7.13
transmitida de um bloco para outro pela junta vertical, a ligação acontece principalmente por
torção das juntas horizontais entre blocos adjacentes. 251
Se a resistência à flexão dos blocos é muito pequena, estes podem não ter capacidade de
suportar a flexão além da resistida pela junta, ocorrendo ruptura em uma linha vertical cru-
com: zando os blocos logo após a fissuração da junta vertical, conforme linha b-c da Figura 7.7(a).
f1k,paralela ::::: resistência de tração na flexão na direção paralela à fiada; Para blocos de maior resistência, a ruptura será retardada até o ponto d. Qualquer compressão
e= vão horizontal ou comprimento do painel; axial extra tem influência desprezível nesse tipo de ruptura.
s, =módulo resistente para flexão horizontal. Se tanto a resistência à torção da junta de assentamento quanto a resistência do bloco
forem adequadas, a força lateral pode ser aumentada consideravelmente antes da ruptura in-
dicada no ponto e, quando a ruptura ocorrerá em uma linha que passa pelas juntas verticais

248 Hendry (1973). 250 Lawrence (1983).


249 Baker (1973), Lawrence (1975), Lawrence (1978) e Base & Baker (1973). 251 Hendry (1973) e Baker (1979).
364 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL PAINÊIS FLETIDOS 365

e horizontais, em forma dentada. A pequena inclinação da linha e-f, após a obtenção da carga
máxima, ocorre em razão do atrito na junta horizontal, devido ao peso próprio. Se as juntas - - Maciço ou vazado ~ Pré-compressão
- - - 100% grauteado
horizontais forem pré-comprimidas por imposição de uma carga adicional, haverá aumento
da força de atrito, melhorando a resistência à torção dessas juntas e proporcionando aumen- h~.r§§ ~ g,...

to da capacidade de resistência à força lateral até o ponto g. Eventualmente pode ocorrer uma
/1 d .,,--§§Elevação
ruptura na forma de uma linha vertical passando pelos blocos, entre os pontos e e g, no caso
de os blocos não terem resistência suficiente para resistir ao aumento de flexão. O aumento / l WlJ Vista ~m Efeito da pré-compressão
por carga adicional
/ r---f planta das
do atrito devido à carga adicional diminui a inclinação da curva de descarregamento após o
ponto g antes que ocorra a ruptura. Ib § forças
externas

A linha a-h da Figura 7.7(a) representa a forma de ruptura observada em paredes de / e\..: Unidades muito fracas
blocos vazados totalmente grauteados, que normalmente romperiam em forma dentada se '''---:--:-----:--:----:--:---:--~
Deslocamento lateral no meio do vão
ª·<----,,---,-----:--:----:-:-----
Deslocamento lateral no meio do vão
não grauteados. Nesse caso, a coluna de graute cruzando as juntas horizontais aumenta a rigi- (a) Linha de ruptura vertical (b) Linha de ruptura em forma dentada
dez e a resistência desses pontos, forçando a ruptura através dos blocos em juntas alternadas
(ver capítulo 5). Pesquisas em tijolos cerâmicos252 mostram que a resistência à tração paralela Figura 7.7 Comportamento de pàredes com flexão horizontal.
à J'unta' ftk,paralda' pode ser relacionada à resistência normal à junta f,k ,norma1, podendo ser aproxi-
mada pelo menor valor entre as equações 7.14 e 7.15: 7.3.5 Flexão em duas direções

As duas seções anteriores tratam de flexão em uma direção. Na prática, a maioria dos
f,k, pornld' = 2 j{; (1+ f f,
l tk,normal
J Equação 7.14
painéis de alvenaria. tem apoios em três ou quatro lados, havendo portanto uma combinação
de flexão horizontal e vertical. Esses elementos são hiperestáticos e sua análise pode ser ainda
mais complicada quando se leva em conta a resistência à tração na flexão horizontal, ftk,paraieia>
Para a ruptura em forma dentada, desde que fkt ,norma1seJ·a maior que 0,15 MPa, com fa igual à que pode ser até cinco vezes à da flexão vertical, f,k ,norma 1•
pré-compressão axial;
ou para ruptura através dos blocos: Painéis apoiados em três lados. Um painel de alvenaria, como o mostrado na Figura 7.8,
pode ter atrito suficiente na base para garantir uma restrição horizontal. A parede irá então se
f tk,paralcla = o' 45f(,bloco + 0,55ftk,normal Equação 7.15
deformar elasticamente como uma placa apoiada em três lados. Se o painel tiver boa aderência
ou algum tipo de COJ:1tinuidade na base, esse apoio terá comportamento de engaste até que,
em que ft,bloco é a resistência de tração do bloco para tensão paralela às fiadas horizontais, po-
com o aumento da força lateral, fissuras ocorram e a parede passe a se comportar como sim-
<lendo ser estimada em 10% da resistência à compressão do material do bloco no caso de não
plesmente apoiada a partir desse ponto. O peso próprio (e qualquer carregamento adicional)
haver dados disponíveis.
tem efeito similar ao discutido anteriormente.
Com o aument.o da força lateral, as flexões horizontal e vertical provocarão tensões
principais de magnitudes e direções variadas ao longo da parede. Quando a tensão principal
em determinado ponto atinge a resistência da alvenaria, aparece uma fissura. Ensaios253 indi-
cam que essa primeira fissura se propaga rapidamente de maneira a formar um mecanismo
de ruptura, com a parede possuindo apenas uma resistência residual em razão do efeito es-
tabilizador do peso próprio. O formato típico das linhas de ruptura, mostrado na Figura 7.8,
depende da relação entre altura e comprimento do painel. A forma das fissuras representa de
maneira bastante aproximada as tensões principais de tração ao longo do painel. Estas tam-
bém lembram as linhas de plastificação observadas na ruptura de lajes de concreto armado. 254

253 Baker (1981), Lawrence (1978) e Baker et a!. (1985).


252 Lawrence (1975), Baker (1979) e Gairns (1983). 254Jones & Wood (1967).
366 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRVTURAL PAJN~IS ftfTl[X)S 367

I
s I I s
sos~' ,: si is
s ,' I
I s
Pressão
de vento
Pressão
de vento
.,,"""ro I
I
I
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ftp= 2fm
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I
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.11
o
ro
~
I
b'
I
s s
S = Apoio simples
'" f!p = 2f
R = Apoio engastado
t~

Figura 7.8 Padrões de :fissuração de painéis apoiados em três lados. ftp = f1n
g·'---

Painéis apoiados em qnatro lados. A Figura 7.9 mostra curvas força-deslocamento ilustrando Deslocamento lateral no centro Deslocamento lateral no centro
o comportamento de painéis apoiados nos quatro lados, com comprimento aproximadamente (a) Lados simplesmente apoiados (b) Lados engastados
igual a duas vezes sua altura. Conforme se aumenta a força lateral de um caso simplesmen-
Figura 7.9 Comportamento de painéis de alvenaria apoiados em todos os lados.
te apoiado (Figura 7.9(a)), o painel se deforma elasticamente, como indicado no trecho a-b.
Quando o momento vertical atinge a capacidade da junta de assentamento (ponto b ), uma fis-
A descrição anterior e as curvas de força-deslocamento são para um caso idealizado,
sura se inicia e a sequência do comportamento da parede depende do grau de ortogonalidade
porémvários ensaios255 confirmam esse comportamento. A Figura 7.10 mostra um ensaio de
da resistência à flexão. Se a resistência na direção vertical, que causa tensões normais à fiada,
parede carregada lateralmente com auxílio de um saco de ar para aplicar uma pressão unifor-
indicada por f,,, na figura, é igual à resistência de flexão na direção horizontal, f,, na figura,
me.256 A fissura inicial ocorreu na junta horizontal, com valor igual a 53% da carga de ruptura,
então não há uma reserva de resistência e a fissura se propaga ao longo de todo o comprimento
e foi gradualmente sendo estendida a cada incremento de carga até cobrir todo o comprimento
da junta horizontal (ponto e), formando um mecanismo de ruptura. Nesse caso, a resistência
da parede. As fissuras diagonais foram formadas na carga de ruptura. Outros ensaios'" con-
residual é pequena (ponto d) e ocorre devido ao peso próprio. Entretanto, a maioria das al-
firmam que uma parede não fissurada tem o mesmo mecanismo de ruptura de uma parede
venarias possui a resistência de flexão paralela à junta superior à resistência normal à junta.
previamente fissurada a meia altura.
Assim, quando a primeira fissura começa a se propagar, alcança-se uma configuração estável
Esse mesmo padrão de fissuras tem sido confirmado como aplicável a outras con-
no ponto e. O painel agora pode ser idealizado por dois subpainéis, cada um apoiado em três
dições de apoio. 258 Para o caso de painel com apoios contínuos, de maneira a poderem ser
lados e livre ao longo da junta fissurada (devido à simetria, o cisalhamento ao longo da junta
considerados engastados, este inicialmente se comporta elasticamente até que as extremida-
fissurada é nulo). Com o aumento da força lateral, cada subpainel se comporta como apoiado
des engastadas no topo e na base atinjam a capacidade da alvenaria na flexão vertical. Essas
em três lados, conforme descrito anteriormente, até que fissuras diagonais (Figura 7.10) se
juntas, então fissuras (linha b-c da Figura 7.9(b)), e o painel passam a se comportar como
iniciem no ponto f para o caso de ftp = 2ftn ou ponto h para f,p = 3ftn . Essas fissuras se propagam
simplesmente apoiados no topo e na base. Um aumento da força lateral faz com que apareça
rapidamente até formarem um mecanismo de ruptura, com uma resistência residual bem pe-
uma fissura horizontal próxima ao centro da parede (linha d-e), formando os dois subpai-
quena (ponto g ou i).
néis apoiados em três lados e livres ao longo da junta fissurada. Um aumento ainda da força
lateral inicia fissuras secundárias ao longo dos apoios verticais, formando um mecanismo de
ruptura (ponto f) com uma pequena resistência residual (ponto g) devida ao peso próprio.

255 Baker (1981) e Lawrence (1983).


256 Essawy (1986).
257 Baker (1981), Essawy (1986) e Drysdale & Essawy (1988).
258 Baker (1980, 1981).
. ,-
1 PAINÉIS FLETIDOS 369
368 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE AlVENARIA ESTRUTURAL

depende das vinculações dos apoios e das dimensões do painel. A ação limite ocorre quando
as linhas de plastificação diagonais, verticais e horizontais "fecham" uma configuração divi-
.<lindo a laje em partes menores, caracterizando um mecanismo de ruptura.
i
!· Consequentemente, algumas teorias foram desenvolvidas com base na mesma ideia do
modelo utilizado em lajes de concreto armado, porém considerando especificamente a com-
posição e o comportamento de alvenarias não armadas1 o método das linhas de plastificação, 259
da linha de ruptura 260 e da linha de fratura, 261 além do método do momento diagonal. 262

7.4.2 Dimensionamento por princípios elásticos simples

Uma maneira simples de prever o comportamento do painel, embora conservadora,


é realizar uma análise elástica simples. Para flexão acontecendo apenas na horizontal ou na
vertical, a teoria de viga pode ser utilizada. Para o caso de flexão em duas direções, o método
mais simples, porém conservador, é o de faixas transversais repartindo a ação lateral em deter-
minadas parcelas para cada direção horizontal e vertical, dividindo a força lateral distribuída
nas direções horizontal e vertical, de maneira que1
Figura 7.10 Padrão de fissuras na ruptura de um painel de alvenaria apoiado nos quatro lados.
Equação 7.16
7.3.6 Paredes duplas
i Para a mesma condição de apoio nos quatro lados, para que haja o mesmo deslocamen-
Os conceitos apresentados neste capítulo para paredes simples podem ser aplicados a .1 to no centro do painel, os valores de p" e Pv devem ser compatíveis com a rigidez relativa de
paredes duplas, com alguns ajustes. Paredes compostas podem ser tratadas de maneira seme- cada faixa vertical e horizontal!
lhante, porém com propriedades das seções e resistência dos materiais ajustadas. Uma parede
duplo-aletada composta de duas paredes simples conectadas por enrijecedores regularmente
espaçados tem um comportamento de seção composta e geralmente será dimensionada para
flexão vertical. pv = w d;1,vv
E I f'/(E a,hh J R')
I h 4 + Ea,vv Equação 7.17

em que:
7.4 Análise e dimensionamento de painéis não armados E,,h e E,,v são os módulos de elasticidade nas direções horizontal e vertical, respectivamente;
I" e Iv são os momentos de inércia nas direções horizontal e vertical, respectivamente;
7.4. l Introdução h e Rsão as dimensões da altura vertical e comprimento horizontal, respectivamente;
p" e Pv são os valores da pressão lateral resistidos pela faixa horizontal e vertical, respectiva-
As discussões anteriores permitem que o leitor projetista entenda o comportamento mente;
de paredes sob ação lateral fora do seu plano, porém alguns conceitos são necessários para o ; . wd é a pressão lateral total.
efetivo dimensionamento desses painéis. O enfoque mais simples para dimensionamento de I:
painéis fletidos em duas direções é considerar uma análise elástico-linear e calcular o máximo Um avanço natural dos métodos das faixas é utilizar uma grelha de faixas equivalentes,
momento em cada direção. Entretanto, esse tipo de dimensionamento despreza boa parte da similar ao comume.nte realizado para lajes. Esse método é especialmente útil no caso de haver
resistência do painel, que só pode ser determinada por uma análise plástica que descreva o aberturas que podem ser facilmente modeladas na grelha. Ainda, é possível utilizar tabelas
comportamento deste depois do início da fissuração.
Vários resultados de ensaios mostram que o padrão de ruptura de um painel de al- 259 Haseltine et a!. (1978).
venaria não armada, sujeita à ação lateral (perpendicular ao seu plano), muito se assemelha 260 Baker et al. (2005).
às formas usualmente verificadas em lajes de concreto armado com formação de charneiras 261 Sinha (1978).
plásticas a partir dos cantos do painel. A forma da configuração final das charneiras na ruptura 262 Griffith et al. (2005).
370 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL PAINÉIS FLETIDOS 371

clássicas de teoria de placas isótropas para prever o momento em cada direção, desprezando (BS 5628).265 A base para essa inclusão veio do trabalho de Haseltine et al., 266 que analisaram
o fato de que em geral os valores de E! são consideravelmente distintos nas direções vertical e a possibilidade de uso do método para prever o padrão de ruptura de painéis de alvenaria.
horizontal. Coeficientes para cálculo de momentos por essa teoria simples são reproduzidos Apesar de o método da linha de plastificação levar em conta o conhecido comporta-
na Tabela 7.1. O uso dessa tabela para painéis de alvenaria é, entretanto, limitado, pois, muitas mento ortótropo na resistência à flexão da alvenaria, este não leva em conta a também co-
vezes, estes são apoiados em três lados, a hipótese de comportamento isótropo pode não ser nhecida ortotropia de rigidez (módulo de deformação em cada direção) da alvenaria. Sinha267
válida e pode haver aberturas. indica que o método da BS superestima a ação limite e sugere adaptações para levar também
em conta a ortotropia de rigidez. Uma vez que oi módulo de deformação da alvenaria na dire-
263
Tabela 7.1 Coeficiente para cálculo de momento por análise elástica e isótropa. ção vertical difere do módulo da direção horizontal, o último autor indica que essa diferença
deve ser levada em conta no cálculo, propondo o aqui chamado Método da Linha de Fratura.
0,0479 0,0479 Para o caso de painéis submetidos à ação lateral uniformemente distribuída, soluções deste
1,0
0,0493
método são encontradas em Hendry et al. 268
1,1 0,0554
0,0501
Sinha et al. 269 argumentam que para aplicar o Método da Linha de Plastificação em alve-
1,2 0,0627
1,3 O,Q694 0,0530 I· ·I naria, um dos lados do painel deve ser virtualmente alterado no dimeusionamento. A mudan-
ça dever ser: Li= L, I ~,em que k =E/E, (a ortotropia de rigidez) e L,. é a dimensão virtual-
1,4 0,0755 0,0502
mente alterada do comprimento do lado Y. Para entender essa relação pode-se imaginar um
1,5 0,0812 0,0498
painel que se comporta como uma série de vigas verticais e horizontais, formando uma malha
1,6 0,0862 0,0492
de grelha nas direções X e Y, e que o carregamento total w<l será parcelado das direções X e Y:
1,7 0,0908 0,0486
h
1,8 0,0948 0,0479
w,=PX +P y Equação 7.18
1,9 0,0985 0,0471
2,0 0,1017 Por compatibilidade, os deslocamentos das vigas em cada direção nos pontos em que
3,0 0,1189 0,0406 elas se encontram podem ser calculados por:
4,0 0,1235 0,0384
5,0 0,1246 0,0375 px (l,x )' py ( Ly )'
>5,0 0,1250 0,0375 Equação 7.19
48Exlx 48E,I,

V= 0,3
M = momento para flexão horizontal (tensões paralelas à fiada horizontal); Como I, = I,
d,parnk!a
Md,normal = momento para flexão vertical (tensões normais à fiada horizontal);
w, =pressão lateral de projeto (majorada por g,). Equação 7.20
2
Nota: para h/€ < 1) usar €/hem vez de h/f, e (M<l,pataid)max = P1w<lf e (MJ,nonn..il)max = pwdf .
2

7.4.3 Métodos plásticos da linha de plastificação, da linha de ruptura e da Portanto, das equações 7.19 e 7.20:
linha de fratura

A teoria da linha de plastificação foi inicialmente desenvolvida por K. W. )ohansen'" Equação 7.21
como um método plástico para determinar a ação limite último no cálculo de lajes de con-
creto armado. O método foi incorporado na normalização britânica para projeto de alvenaria
265 British Standard Institution (1985).
266 Haseltine et al. (1978).
267 Sinha (1978).
263 Timoshenko (1959). 268 Hendry et al. (1997).
264 Johansen (apud JoNES & Woon, 1967). 269 Sinha et al. (1997).
372 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL
PAINÊIS FLETIDOS 373

O painel isótropo de dimensões virtualmente alteradas deve ter a mesma distribuição Nos três métodos são admitidos momentos constantes ao longo das charneiras, sendo
de ações do painel ortótropo real. Portanto: o valor do máximo carregamento lateral obtido pelo equilíbrio de esforços. Os momentos

l )'J
máximos no painel serão:
L E L, E,
P=P 1+ -"-
' L
( y
__;:_.
E
' P"'"" ortó<mpo ""'
[()']
=P l+ -
' L.
y
-
E
' P""" i<ó<mpo wm dimomõo; W<"'lm•"" ol«mdM
M,_,"' = aw,yp, direção paralela à junta de assentamento;
M<l.notmal = wd )}, direção normal à jun~a de assentamento;

=} (~)'
LE
E, = (;s_)' E,
LE
=} L . = L ff,E,
' ' EY em que:
y X y X Equação 7.22
µ = relação de resistência ortogonal;
Outro método encontrado na literatura é o Método das Linhas de Ruptura, que foi de- a = coeficiente para cálculo do momento - ver tabelas a seguir;
270 w, = carregamento uniformemente distribuído sobre área lateral;
senvolvido ao longo dos últimos anos e recentemente adotado na normalização canadense.
L = comprimento do painel.
Esse método é similar aos outros, exceto pelo fato de desconsiderar o momento na primeira
linha de plastificação (momento nesta charneira é considerado igual a zero no equilíbrio). De
acordo com as referências, o momento nulo na primeira charneira foi observado em ensaios Em todas as análises, assume-se uma configuração de linhas de ruptura/fratura/plasti-
de laboratório, resultando no refinamento proposto. A diferença conceitua! entre os métodos ficação de forma que, na ruptura, o painel estará dividido em partes. Após a aplicação de um
deslocamento virtual, os trabalhos internos e externos são calculados e a ação limite determi-
é ilustrada na Tabela 7.2 e na Figura 7.11.
nada, igualando esses trabalhos.
Um exemplo dessa análise para o caso de painel simplesmente apoiado nos quatro lados
Tabela 7.2 Comparação entre métodos plásticos.
. . Considera momento na é apresentado a seguir. Nesse exemplo, assume-se que o comprimento do painel (L) é suficien-
Considera ortotropia de Considera ortotrop1a de . . h . . temente maior que a altura (H), de forma que a primeira linha de ruptura será horizontal, e
Método . ,. . fl _ ? • 'd ? pr1me1ra e arne1ra 1gua1
res1stenc1a à exao. r1g1 ez. a zero?
não vertical. No caso geral, ambas possibilidades devem ser checadas. As notações adotadas
Sim Não Não no exemplo estão ilustradas na Figura 7.12.
Linha de plastificação
Sim Sim Não Em relação à direção da flexão, neste artigo adota-se a convenção utilizada na normali-
Linha de fratura
Sim Não Sim zação brasileira, chamando de flexão paralela à junta a que causa tensões paralelas à junta de
Linha de ruptura
assentamento, ou seja, causada pelo momento Mx com flexão do vão X. Analogamente, flexão
!'\. ~ Configuração de ruptura ,...?; normal será aquela que causa tensões perpendiculares à junta de assentamento, causada pelo
~ ?J momento My com flexão do vão Y.
~
;r~-7-7'
7f A notação adotada aqui é:

~ :;)'"';)Linha de plastific~ • m = momento último, constante na charneira, por unidade de comprimento ao


1~charneira
---- -- ,7J Linha de fratura
·. longo da junta de assentamento (My-. vão vertical);
• µm = momento último, constante na charneira, por unidade de comprimento
'~ Configuração de ruptura7f~
. perpendicular à junta de assentamento (Mx-. vão horizontal);
"';) ~ ,
~---··-- . . 7J
• µ = razão entre a resistência à flexão normal/paralela à junta de assentamento
~ Momento =O ~
(My/Mx);
íJ~m toda a 1~ charneir~ • k= Ex/Ey;

/'?J Linha de ruptura ~~.


, • w, =pressão uniformemente distribuída na área do painel.

Figura 7.11 Diferença básica entre o método das linhas de ruptura em comparação com os métodos
das linhas de plastificação e de fratura.

270 Baker et ai. (2005) e CSA 5304.1 (2004).


374 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE AlVENAR!A ESTRUTURAL PAINÉIS FLETIDOS 375

onde os termos negativos sombreados indicam o trabalho realizado na primeira charneira


horizontal que deve ser subtraída do total, de acordo com o Método das Linhas de Fratura,
My: - µm
· para o caso da linha de plastificação k = l, pois esse método não leva em conta a ortotropia
de rigidez. Com essas considerações, a equação 7.23 serve para os três métodos plásticos aqui
Fissura horizontal
em análise.
Tensões verticais
O trabalho externo pode ser expxesso por;

Mx:
w. a. u (3-2BJ / 6 Equação 7.24

f A solução para determinar o valor mínimo de momento que causaria o colapso


do painel é obtida igualando as equações 7.23 e 7.24, e resolvendo a equação diferencial
L'S·······b
m il(m/P)/il~,()y =O.

7.4.4 Dimensionamento de acordo com o Método da Linha de Ruptura

Considerações iniciais. Conforme comentado, o Método da Linha de Ruptura foi desenvolvi-


do no Canadá a partir de conceitos similares ao da Linha de Plastificação utilizados no Reino
Figura 7.12 Notação para flexão em cada direção. Unido. A principal diferença é desprezar a resistência à flexão ao longo da primeira fissura que
surge no painel.
Para determinar qual a capacidade de resistência, dada pela menor pressão lateral que
pode levar a um mecanismo de ruptura, é necessário prever todas as possíveis configurações
<l de ruptura. No caso de pressão uniforme e painéis retangulares, uma quantidade relativamen-
r 0 te pequena de configurações é possível. A Figura 7.14 indica formatos potenciais de ruptura
para o caso de apoio nos quatro lados, nos três lados com a extremidade superior livre e nos
três lados com uma lateral livre. Conforme descrito anteriormente, as incógnitas x e y são
<l 0 0 resolvidas para o caso da menor pressão lateral, que pode causar a ruptura do painel, com
,_, fissuras iniciais ou preexistentes não consideradas no cálculo.
?-

"'
CD
(1-2 P)L PL
L

Figura 7.13 Notação para dimensões e charneiras.

O trabalho interno pode ser expresso por:


Apenas linha
J
1

µm µm 2ma µm(1-2B) de fratura


-'--+-+
a(1-y) ay k~ ay
Equação 7.23

'l:;:,1

li
376 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL PAINÊIS FLETIDOS 377

as linhas a e b podem terminar no ponto 2 da abertura, ou ainda nos lados 1 ou 3 da abertura.


Independentemente de qual formato das linhas de ruptura determinará a menor carga de rup-
tura, um deslocamento virtual D em um determinado ponto permitirá que todos os demais
deslocamentos e rotações sejam calculados e o trabalho interno, calculado.

(a) Apoio nos quatro lados


d
X X

Figura 7.15 Formato potencial de linhas de fratura para um painel com abertura.

Aplicação do método para cálculo de painéis fletidos. Para que os cálculos detalhados não
(b) Três lados apoiados e topo livre
precisem ser constantemente repetidos, a norma canadense CSA 5304.1 274 traz coeficientes
X
para cálculo dos momentos máximos em cada direção pelo método da linha de fratura em pai-
néis retangulares com pressão uniformemente distribuída. São considerados casos apoiados
nos quatro lados e em três lados com o topo ou urna lateral livre. Para cada condição de apoio,
um determinado valor do coeficiente para cálculo de momento, ~r é fornecido em função da
relação h/R e do coeficiente de ortogonalidade da resistência à flexão, µm, determinado por:

Equação 7.25
(e) Três lados apoiados e um lado livre

em que:
Figura 7.14 Formatos potenciais de linhas de ruptura para painéis retangulares de alvenaria.
f1d,normal = resistência de tração na flexão normal à junta de assentamento;
f,, ,para1e1a = resistência de tração na flexão paralela à junta de assentamento; p
É interessante destacar que os mesmos conceitos podem ser aplicados para painéis com
P, = carga axial, geralmente tornada igual a 90% da carga permanente apenas, com - 1 não
formatos irregulares, com aberturas ou, ainda, com carregamentos laterais não uniformes. A,
Ensaios em painéis com aberturas"' e a análise subsequente272 indicam que o procedimen- superior a 0,15 MPa.
to tem bom resultado. Entretanto, corno tabelas com coeficientes de painéis com aberturas
não estão disponíveis, é necessário analisar detalhadamente o problema, considerando várias As áreas sombreadas na tabela representam capacidades máximas determinadas pela
possíveis formas de ruptura, conforme descrito em Baker et al. 273 Na Figura 7.15 é possível análise por faixas elásticas, onde ou o efeito em duas direções é insignificante ou a primeira
observar um exemplo, em que as fissuras iniciais c e/ou d podem se mover para cima ou para fissura determina a máxima capacidade resistente.
baixo ou podem, ainda, nem fazer parte da configuração final de ruptura. Neste último caso, O dimensionamento deve ser feito calculando-se o máximo momento por comprimen-
to linear nas duas direções:

271 Middleton & Drysdale (1995) e Chen (2002).


272 Baker et aL (2005).
273 ld. ibid. 274CSA S304.l (2004).
37$ COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL PAINÊIS FLETIDOS 379

Md,'"""" (flexão horizontal)= ~r w ,e


2
Equação 7.26
M,,00,m,1 (flexão vertical)= µm~f w de
2

com w<l igual à pressão lateral em valor de projeto (considerando o coeficiente majorador de
esforço).
0,152 0,152 0,193 0,256 0,321
0,116 0,139 0,159 0,159 0,208 0,276 0,344
Tabela 7.3 Coeficientes para cálculo de momentos de ruptura para painéis com carga uniformemente
0,123 0,156 0,167 0,167 0,227 0,229 0,373
0,91§ /9.o33> o;ô52 0,103 0,130 0,155 0,176 0,176 0,250 0,329 0,408
Q,Oi3 <·.o;Ó4Ó . .Qj063 j ~ 0,111 0,140 0,165 0,195 0,195 0,280 0,366 0,454
· o>05oc<>õ.Íl78
/ •.,-,_- 0,122 0,152 0,179 0,225 0,225 0,321 0,418 0,515

/Ô ,123/ q;~s7/1o:c):o89 l 0,128 0,160 0,194 0,244 0,244 0,347 0,451 0,556
,' /
·:0067'<
.,.,
--:..-----~

0,098 0,137 0,169 0,214 0,269 0,269 0,381 0,493 0,606


0,028 0,048 0,064 /ef,'123
0,024 0,029 0,040 0,052 0,069 0,086 0,103 0,122/ 0,12}
Em cada direção, os momentos de projeto máximos não devem exceder os momentos
0,025 0,031 0,042 0,057 0,075 0,093 0,112 '
0;118 q,12~ 0,123
·-··- de resistência de projeto determinados por:
0,027 0,033 0,044 0,063 0,082 0,102 0;!13/ ·ó,1Í8 0,122 /Ó,123
0,029 0,035 0,049 0,070 0,092 ·o,,1ó.~ <ó1fr /"Ó,118 .
o ' 122" 0123
"' , MRd,paraldo (flexão horizontal)= ftd,paraJdo X sparale!o
0,032 0,038 0,056 0,080 0,104 Ó,113 0,118 O,Ú2 /
~' )x S,omml
Equação 7.27
0,034 0,040 0,087 0,113 0,118 . 0,1,.z MRd.<>mm,1 (flexão vertical)= ( f,d.<mm;,I +

em que Spara1e1o e Snorma 1 são os módulos resistentes da alvenaria nas direções paralela e normal
à fiada.

Até a presente data, a aplicação do Método da Linha de Ruptura é limitada a painéis


com comprimento e altura inferiores a 50t e tamanho máximo do painel (altura x comprimen-
o;i'25 0,12 ;/'ô,12s' 0,1~

0,035
0,040
0,042
0,044
0,048
0,052
0,057
0,086
0,113
0,120
o,12s 0,125
0,125 • o,1w • o,12s ;©2~ . 0,12~.. c:a- to) limitado a 1350!2 para painel apoiado em três lados e 2025!2 para painel apoiado em quatro
lados. Esse método também só é aplicável para painéis construídos com alvenaria, com junta
amarrada no plano da parede.
0,038 0,047 0,063
0,040 0,053 0,070
7.4.5 Exemplo 7. l : Flexão em duas direções de um painel de alvenaria não
0,043 0,061 0,080 armada
0,066 0,087"

Problema: Calcule a máxima pressão de vento que pode ser resistida por uma parede feita
com blocos vazados de concreto de 19 cm de espessura e fbk = 6,0 MPa e argamassa com f, =
5,0 MPa, assentada apenas nas laterais dos blocos.

Solução A: Método da Linha de Ruptura. Por esse método deve-se inicialmente assumir uma
configuração de linhas de ruptura que proporcionem a menor carga de ruptura. Essa configu-
ração pode ser obtida fazendo-se uma revisão na literatura, por uma análise elástica simples,
por um modelo de elementos finitos ou ainda pelo simples método das faixas transversais.
275 Drysdale & Baker (2003).
PAINÉIS FLETIDOS 381
380 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAl

O trabalho interno é obtido multiplicando-se os momentos (assumidos constantes ao


Neste exemplo, todos os referenciais levam à conclusão de que a primeira fissura ocorrerá na
longo de cada charneira) pela rotação. A rotação em torno do eixo horizontal pode ser calcu-
horizontal, no meio do painel. Mesmo assim, no caso de haver dúvidas, o leitor pode testar
lada dividindo-se o deslocamento t. pelo comprimento de 1,8, sendo a rotação em torno do
uma configuração com a primeira fissura ocorrendo na vertical e verificar que esse não é o
eixo vertical determinada por t./x. Ao longo de cada charneira, o momento total será igual
caso crítico. Portanto, conforme mostrado na Figura 7.16(a), o painel pode ser subdividido em
ao momento em cada direção multiplicado pela projeção do comprimento dessa linha nessa
duas partes acima e abaixo da fissura. A única diferença entre cada parte seria o peso próprio
direção. No trecho bc, o momento em torno do eixo horizontal (perpendicular à fiada) tem
da alvenaria, cujo efeito não será considerado neste exemplo.
comprimento igual a x. A projeção dess'e trecho na vertical vale 1,8 metro. Assumindo valores
Por conta da simetria, é necessário analisar apenas uma das metades do painel, confor-
do momento constante ao longo de cada charneira como o máximo em cada direção M
me indicado na Figura 7.16(b). O método do trabalho virtual pode então ser aplicado a este M ' R,normal
e R,perpendicular' pode-se calcular o momento interno desse trecho, conforme o lado direito da
exemplo. Para formar um mecanismo de ruptura, a primeira fissura se estenderá até os cantos
equação 7.28. Como se admite que o momento é nulo na primeira fissura (trecho cd), o cálculo
das paredes, a partir dos pontos inicialmente indeterminados c e d a uma distância x de cada
do trabalho virtual interno é obtido somando-se os valores do trecho df, iguais ao trecho bc.
extremidade. As linhas fissuradas formam charneiras com rotação livre em torno de seu eixo
Os momentos máximos ao longo das charneiras podem ser determinados pela equação
e momento constante.
7.27, admitindo f<k,o0<mol = 0,25 MPa e f,k""''"' = 0,50 MPa para argamassa de 9,0 MPa. Conside-
Analisando cada região não fissurada como um corpo rígido e impondo um deslo-
rando bloco de 19 cm de espessura e dois cordões de argamassa de 3,5 cm de largura em cada
camento virtual t. nos pontos c e d, pode-se determinar o trabalho virtual externo (força x
face, o módulo resistente da seção (por um metro de comprimento) será:
deslocamento) e igualá-lo ao interno (momento x rotação):

2w l,8x t. +2w J,8x t. +w (6-2x) l,8t. =2M l,8t. l,8t. I


d 2 3 d 2 3 d 2 Rd,pornldo X + 2MRd,nocmol ~ Snormat =Sparalela =-
y
11 11 11 11 11 MRd,poc.ldo = 0,50 · 3,84/2 = 0,96 kN·m/m
abc & def bch & dfg cdfg bc &df bc&df MR<l,oo>m•I = 0,25 · 3,84/2 = 0,48 kN·m/m
Equação 7.28
e o valor de x na equação 7.28 é determinado para o menor valor possível de w,, que pode ser
1 =6m a Ll/x
1. e feito por derivação ou tentativas iterativas. Usando o método iterativo, inicialmente adota-se o
'Z: ILI /' valor de x igual a 2,0, calcula-se w,, altera-se o valor de x sucessivamente até se obter o menor
e d
valor de w,:
Deslocamento ao longo da linha acde
E LXJ f.XJ LI para x = 2,0-. w, = 0,6653 kN/m 2;
ar---"! e d r---'1 e l+'>I para x = 1,8-. w, = 0,6667 kN/m 2;
""
íkl,,m,fl •1~;i,s
"'li
..e: Fissura inicial para x = 1,93-> w, = 0,6647 kN/m 2 ->,solução considerada suficientemente precisa .
A maior pressão lateral de vento possível de ser resistida pela alvenaria não armada, em
valor característico, será igual a 0,647 /1,4 = 0,47 kN/m'.
Des ocamente Solução B: Método da Linha de Ruptura, usando os coeficientes da Tabela 7.3. Nesse caso,
(a) Localização da fissura inicial (b) Subpainel inferior após l li fissura ao longo de hc
o coeficiente de ortotropia é igual a µm = 0,25/0,5 = 0,5, a relação entre altura e comprimento
Figura 7.16 Análise de um painel simplesmente apoiado em quatro lados pelo método da linha de h!l = 3,6/6 = 0,60. Interpolando os valores de h/l entre 0,5 e 0,75 na Tabela 7.3, chega-se ao
ruptura. valor de P, = 0,0406.
Substituindo os valores do momento resistente na direção paralela à fiada na equação
O cálculo do trabalho externo é feito multiplicando-se a carga uniformemente aplicada, 7.26, chega-se a:
w,, pela área de cada região (determinando a força resultante na região) e, então, pelo desloca-
mento do CG desta região. Por exemplo, para a região abc, a área vale l,8x/2 e o deslocamento Md,p•rnldo = ~,w/ 2 _. 0,96 = 0,0406 w, 62 _. w, = 0,6568 kN/m 2
no CG (localizado a 1/ 3 do lado maior do triângulo) vale t./3. Para a região bch tem-se a mesma
área, porém o deslocamento do CG vale M3. Na região cdhg, o deslocamento é constante igual Exceto por arredondamentos e interpolações, esse valor confere com o encontrado na
a!'., com área dessa região igual a 1,8 (6 - 2x). Com esses valores pode-se calcular o trabalho solução A.
externo conforme o lado esquerdo da equação 7.28.
382 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL PAINÉIS FLETIDOS 383

Solução C: Método Linha de Plastificação, sem desprezar o momento na l' fissura. Para Sornando as duas parcelas, chega-se ao valor de w, = 0,34 kN/rn 2/rn.
contar com o momento resistente na charneira formada ao longo da l' fissura, deve-se sornar Discussão dos resultados. Inicialmente deve-se esclarecer que é difícil tirar conclusões gerais
o termo adicional abaixo na equação 7.28: a partir de um único exemplo, especialmente no caso da análise aqui descrita que depende
da adoção de vários parâmetros, corno resistência e rigidez em cada direção. Independente-
Trabalho interno na l' fissura = MRd o-cm•I ( 6 - 2x) .á. mente dessas hipóteses, pode-se destacar que a análise pela teoria de placa elástica leva a um
.' 1,8 resultado conservador, pois este apenas prevê o ponto de formação da primeira fissura. Dessa
forma, o aumento de 58% na capacidaêle prevista por meio do método da linha de ruptura é
Resolvendo novamente a equação, obtém-se o menor valor de w, = 0,643 kN/rn 2 na po- justificável e ainda mais conservador do que o encontrado por outros métodos, corno a linha
sição x = 2,75 m. Por esse método, adotado pela normalização britânica, chega-se a um valor de plastificação. Mesmo considerando que o método da linha de plastificação foi verificado
cerca de 15% superior ao encontrado pelo Método da Linha de Ruptura. por vários ensaios relatados na bibliografia e que este permite cargas um pouco maiores que
Solução D: Teoria de placa elástica. Para utilizar os valores de placa elástica, indicados na o da linha de ruptura, entende-se aqui ser mais adequado o uso deste último método. A prin-
Tabela 7.1, deve-se inverter as direções horizontais e verticais, urna vez que a dimensão h!R = cipal justificativa para essa adoção é ser difícil de confiar que trechos previamente fissurados
3,6/6 = 0,6 não existe. Utiliza-se então a relação f/h = 6/3,6 = 1,67, invertendo-se também as no painel (por exemplo, sob urna ação de vento que ocorreu e depois cessou) ainda tenham
direções dos momentos resistentes. Da tabela, chega-se a~= 0,088 e ~ 1 = 0,0488, e momentos capacidade resistente caso sejam novamente acionados.
máximos iguais a: O método das faixas transversais conduz a um valor ainda mais conservador por des-
prezar a rigidez de outras faixas mais próximas aos apoios. Vários ensaios indicam haver ainda
boa reserva de resistência após esse ponto.

7.4.6 Paredes com enrijecedores


(M,,para 11e a) max = ~ 1 wdh 2 = 0,0488 wd 3,6 2
Paredes com enrijecedores, corno as aletadas ou duplo-aletadas (ver capítulo 2), são
Substituindo para o momento resistente máximo normal à junta igual a 0,48 kNrn, che- concebidas geralmente para flexão na vertical. Dessa forma, têm comportamento conforme
ga-se a wd = 0,42 kN/rn 2• Na direção paralela à junta, com momento resistente igual a 0,96 kNrn, descrito na seção sobre flexão vertical, devendo-se apenas determinar as propriedades da se-
chega-se a w" = 1,52 kN/m 2 • O valor crítico então ocorre na direção vertical (normal à junta), ção formada pela alma e aba(s) de cada enrijecedor.
com valor bem inferior ao encontrado nas soluções anteriores. Na realidade, esse valor repre- Existe um limite para se determinar a área da seção formada pela alma e aba, conforme
senta o momento para a primeira fissura horizontal, que ocorre no centro do painel, e não o que a Figura 7.17. Algumas normas internacionais possuem limites mais rigorosos para o caso de
causa a ruptura, havendo ainda uma razoável capacidade resistente do painel após esse ponto. alvenaria armada, corno a norma canadense CSA 304. l, que limita o comprimento total da aba
Solução E: Método das faixas transversais. Considerando a flexão vertical corno crítica, a a 4t (apenas para alvenaria armada).
parcela de carga lateral nessa direção será:
.
1
bm :::; /) da altura da parede
h2 ·3,6 2 kN
M Rd,normal - - -
...., O' 48-=~~-
- Pv _..,, - =} p v -O
- '
30-/rn
2
8 8 m

Para compatibilidade de deslocamento no centro do vão L\ = L\:

-" fpr""'
"O
'
~ 6 bf

Portanto, a parcela de carga resistida pela faixa horizontal será: 1

_ Pvh' _ 0,30·3,6 _ 0
Ph - R' -
4
kN /
- ' 039 rn' rn l Figura 7.17 Limites para consideração de seção T.
384 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL
PAINÉIS FLETIDOS 385

Embora os enrijecedores sejam normalmente espaçados a distâncias maiores que os


tensão-deformação do material idealizado, conforme Figura 7.19(a). Considerando a sim-
limites permitidos para a consideração de aba, os trechos fora desse limite não devem ser leva-
plificação de assumir que as forças de compressão ocorrem nas extremidades das paredes,
dos em conta no dimensionamento da flexão vertical. O espaçamento pode ser determinado
observa-se. uma boa correlação com ensaios experimentais. As curvas reproduzidas na Figura
pelo limite de flexão horizontal da alvenaria entre os enrijecedores, por exemplo verificando
7.19 permitem obter a força de reação e o momento resistente em função do deslocamento
qual o espaçamento máximo para que não seja necessário armaduras fora do enrijecedor. A
do painel, das propriedades do material e da geometria da parede. Conforme se observa no
resistência ao cisalhamento da ligação entre a aba e a flange pode ser outro limitador, assim
gráfico, depois que a força de empuxo atinge um yalor máximo, quanto mais 0 painel deforma,
como a capacidade de resistência ao cisalhamento e de flexão do próprio enrijecedor.
menor passa a ser essa reação por conta da menor área de contato. Além disso, quanto maior
for o deslocamento no meio do vão, menor será o momento resistente por conta da diminui-
ção da altura do arco.
7.5 Efeito arco para força horizontal
L
Como comentado no final da seção 7.2, a resistência de paredes não armadas para for-
Carga aplicada
ças laterais pode ser muito aumentada considerando elevadas tensões de compressão no plano oi 1 1 1 1 ! 1 1 ! ! 1 Apoio
Fissura a:,
da parede, que ocorrem quando o painel deforma e é empurrado contra apoios rígidos. En- ___, !/rígido
1
saios experimentais'" mostram que, dentro de certas condições, painéis não armados podem
resistir a forças laterais muito maiores que as previstas pela simples análise de flexão. Esse fato
pode ser explicado pelo efeito arco.

7.5.1 Mecanismos do efeito arco em apoios rígidos e


{a) Painel na posição deslocada (b) Geometria no apoio
Quando uma parede é construída entre, e firmemente ligada a, apoios rígidos que res-
tringem qualquer movimento no sentido de expansão do painel (de dentro para fora), a face Figura 7.18 Efeito arco contra apoios rígidos.279
tracionada devido à flexão tem a deformação impedida, ocasionando tensões de compressão.
Sob ação lateral, essa compressão induzida no plano da parede resulta em um arco contido Gabrie]sen, Wilton & Kaplan 280 realizaram um extenso programa experimental para
dentro da espessura do painel, e a análise desse efeito'77 indica que a força lateral necessária estudar a resistência de painéis de alvenaria a cargas uniformes devido a explosões. Paredes
para fissuração pode ser aumentada em até 250% se os apoios laterais forem completamente em escala real construídas em pórticos de aço foram submetidas a ondas de impacto em um
rígidos. Com o aumento da força lateral, as primeiras fissuras ocorrem nos apoios (ponto de grande túnel de choque. Essas paredes se comportaram como placas simples e mostraram 0
maior momento negativo), e depois no meio do vão (ponto de maior momento positivo), con- e;e1to de are~ ~pós a 'fissuração por flexão. O pórtico de aço funcionou como um perímetro
forme Figura 7.IS(a). Aumentando ainda mais a força lateral, o painel é empurrado contra os ng1do, perm1tmdo que as forças de reação ocorressem. Os painéis apresentaram resistência
apoios rígidos, criando forças de reação, P,, nos apoios externos e na seção fissurada no meio cerca de duas vezes superior ao previsto pela análise de placa simples e mostraram ser capazes
do vão. Um arco triarticulado é formado com o momento externo, sendo resistido binário P, x de resistir razoavelmente a carregamentos reversos.
r, onde ré a altura do arco (Figura 7.IS(a)).
Para vãos curtos, com pequenos deslocamentos, a força de reação (ou de empuxo), P,,
depende de características dos materiais, como tensão e deformação de ruptura, nesse caso,
sendo adequado considerar as propriedades da junta de argamassa (e não da alvenaria) e a
área de contato. A altura r do arco é função da geometria da parede, da área de contato (at/2)
e deslocamento no meio do vão (1\), conforme Figura 7.IS(b). McDowall et al. 278 propõem
uma teoria de arco para alvenaria maciça, assumindo a condição de apoio rígido e diagrama

276Cajdert (1980), McDowall et ai. (1956), Gabrielsen, Wilton & Kaplan (1975), Gabrielsen & Wilton (1974) e
Gabrielsen & Kaplan (1977).
277 Baker (1978), Gabrielsen, Kaplan & Wilton (1975) e Hendry (1981). 279 !d. ibid.
278McDowall et ai. (1956)c 280 Gabrielsen, Wilton & Kaplan (1975), Gabrielsen & Wilton (1974) e Gabrielsen & Kaplan (1977).
PAINÉIS FlET!DOS 387
386 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL

4~,,..-R~=-i~=-l__ _ _ _ _ _ _

, ___3_2 R-l
~

v-----R=l
-16
8
R_=_e_,7L_~,I

4t' -+

-+- -_.J..J;flcr<-J-~ ID
3
R=l
4
--
-+

--
I• <1-yi t ·I

O~~~R~=l~~
-o,6L
o
,,.--....r"iR=

0,2 0,4 0,6 0,8 !,O 1,2 1,4 1,6 1,8


Deslocamento relativo u=~
w, --- -
-+

--
, t
no meio do vão do meio vão -+ h
2
(a) Força de empuxo (b) Momento resistente

2 1
Figura 7.19 Curvas para consideração de efeito arco em painéis fletidos. s -+

Com base na teoria proposta por McDowell et ai., o momento resistente pode ser cal- Figura 7.20 Arco triarticulado deslocado.
culado por:
Equação 7.29 7.5.2 Mecanismo do efeito arco quando há folgas nas extremidades
M =P r
' '
Se o painel de alvenaria está separado do apoio no topo ou nas laterais por uma folga,
Como a altura da região comprimida depende da geometria da, parede e do nível de
em decorrência de falhas na execução, retração ou por especificação de uma junta de movi-
tensão, a área dessa região será assumida igual a ( 1 - y)t. E ainda razoav~~ e sufic1e~temente
mentação, o arco pode ainda se desenvolver, mesmo que com efeito reduzido. Para que isso
preciso assumir que as tensões de compressão, f" são constantes nessa regiao (aprox1mand~ a
ocorra, as extremidades da parede devem ter restrições ao deslocamento horizontal (fora
distribuição de tensões para um diagrama retangular uniforme de tensõe.s) para a ve.nficaçao
do plano da parede) e as diagonais de cada nó do arco triarticulado a se formar devem ser
do estado limite último. A força de compressão C, por unidade de compnmento, sera :
compridas o suficiente para permitir a rotação nos apoios e fechar a folga existente. A Figura
7.2l(a) e (b) ilustra o caso de um painel com folgas nas laterais.
( 1-y)t
C=f,~-~ Equação 7.30 Da Figura 7.21(b), em que a folga total, denominada pela letra g, é dividida em duas
Ym partes iguais g/2 em cada extremidade, a máxima folga que pode existir e ainda permitir a
ocorrência do efeito arco é controlada pelo comprimento diagonal, d, entre as forças de com-
Considerando 0 deslocamento li0, o momento resistente será: pressão nos pontos rotulados. Portanto, por geometria:

Equação 7.31
Equação 7.33

Fazendo 0 equilíbrio de momento no ponto a no painel fletido na vertical mostrado na


Figura 7.20, chega-se a: Se a equação 7.33 for satisfeita, o deslocamento li, necessário para fechar a folga em
cada extremidade pode ser calculado por semelhança de triângulos:

Equação 7.32

Como o comprimento do vão é geralmente muito maior que a folga, pode-se simplificar
o valor de Lig, com perda mínima de precisão, para:
281 McDowall et ai. (1956).
PAINÉIS FLETIDOS 389
388 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL

7.5.4 Influência da movimentação dos apoios no mecanismo de arco


~
ge
=- Equação 7.34
g 4yt
A força de empuxo C, criada pelo efeito arco, pode causar deslocamento dos apoios. Se
esse deslocamento puder ser calculado, seu efeito pode ser levado em conta considerando-o
d
Essevalorpoeenaos t - er utilizado no lugar de ~o para calcular a resistência à força
. , como uma folga equivalente, usando a mesma formulação descrita em 7.5.2. Entretanto, como
'eito arco Um exemplo de aplicação é ilustrado neste capitu1o.
lateral contand o com O e1 ' • o deslocamento é função da força de cqmpressão, uma série de tentativas iterativas se faz ne-
cessária para resolver esse problema e determinilr a tensão de compressão que leva à máxima
7.5.3 Influência do encurtamento axial no mecanismo de arco resistência do arco.

- do painel sob efeito arco resulta em um encurtamento da parede e o desloca- 7.5.5 Dimensionamento
A compressao - u odeio adequado
mento correspondente, dependendo da deformação à compressao, e,. m m . ,
para calcular esse efeito é considerar a folga g, equivalente ao encur.tamento devido a compres- Quando uma parede de vedação é construída e fixada entre apoios rígidos, capazes de
são e utilizar as mesmas equações anteriores. Dessa forma, tem-se. resistir ao empuxo horizontal do arco sem deformação considerável, ou quando as paredes são
construídas continuamente entre os apoios verticais (painel em vãos horizontais), pode-se con-
go = ee
'
Equação 7.35
tar com o efeito arco no dimensionamento da máxima força lateral a ser resistida pelo painel.
A norma britânica BS 5628/1 282 contém especificações para esse dimensionamento. Deve-se
com o correspondente deslocamento igual a: destacar que o efeito arco começa apenas depois do início da fissuração. Portanto, esse efeito
pode ser considerado para verificação do estado limite último, porém não é adequado para a
Equação 7.36
condição de serviço.
Para paredes com relação da maior dimensão (altura ou comprimento) pela espessura
não maior que 25, o procedimento simplificado descrito a seguir é adequado. Considerando
Entretanto quando se substitui ~,o no lugar de~º na equação 7.32, é im~ort~n~e:e:ce­
a Figura 7.20, pode-se estimar a área de contato (por unidade de comprimento) igual a 0,lt,
ber ue tanto a f;rça de compressão, C, quanto o deslocamento,~, depen~em o mve a en-
conforme recomendação da BS 5628/ 1. Portanto, assumindo que a tensão é constante nessa
são áe compressão, f, considerada no cálculo. Embora o aumento da tensao ocas10ne au.mento
área, a máxima força de compressão possível (por unidade de comprimento) será igual a P, =
da força de compre;são existe o efeito contrário de o deslocamento também ser ma10: edm
' - E,. Ema j guns casos, o valor ótimo C = 0,85 f, (O,lt) / Ym' com f, igual a resistência à compressão da argamassa em contato com os
fun ão da maior deformação por compressao, . . da tensao
. • e
apoios, podendo ser assumida igual à resistência de corpos de prova cúbicos.
ç - · mai·or resistência do arco pode ser inferior ao hmite de resisten-
compressao, que proporC1ona ' , d Simplificando.. a equação 7.32, com yt = t - 0,lt = 0,9t, e desconsiderando qualquer
. , - d t ri·a1 Um exemplo desse efeito é mostrado neste capitulo. Para pare es
eia a compressao o ma e . . , . , deslocamento do apoio, chega-se a:
com arco na vertical e folga g apenas no topo, um arco não simetnco pode ocorrer, pore1:'1 as
- anteriores
equaçoes · - sufici·entemente precisas para prever a capacidade resistente do pamel.
sao 8[0,85~, (O,lt)/ymJ . _ 0,61f, (t
~-~~,-~=(0,9t-0) .. wd - - - -
J' Equação 7.37
.1... .1... e Ym R.
2 2

Deve-se destacar que, conforme se percebe nos exemplos a seguir, o deslocamento da


parede pode ter uma influência significativa na resistência do painel. A Figura 7.22 mostra
curvas de dimensionamento da força lateral máxima possível considerando o efeito arco para
diferentes valores de f, e da relação entre espessura e comprimento do painel, construídas a
partir da equação 7.37. Para paredes com blocos vazados, o mesmo procedimento pode ser
adotado, desde que se verifique a possibilidade de ruptura por cisalhamento entre as paredes
transversais e longitudinais do bloco vazado. 283 A resistência ao cisalhamento na ligação entre
a parede e os apoios também deve ser verificada.

282 British Standard Jnstitution (1985).


283Gabrielsen, Wilton & Kaplan (1975).
Figura 7 .21 Mecanismo de um arco com folgas laterais.
PAINÉIS flETIDOS 391
390 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL

Solução A: Sem folga e desprezando deformação do painel. Considerando f, = 1O MPa e


admitindo o mesmo coeficiente de minoração da resistência da alvenaria ym = 2,0, pode-se
100
determinar o valor da força lateral pela equação 7.37:

"s 80
e
0,6lf, ( -t
wr=-- J' = 0,61·10.000(0,09
- - J' =l,9lkN/m 2

~ Ym h 2,0 3,6
~~ 60 •
~
~

~
Deve-se ainda verificar a possibilidade de escorregamento por cisalhamento da interfa-
40
"o~ ce entre o painel e o apoio. A máxima tensão de compressão admitida é igual a a = faJym = 10/2
= 5 MPa. Nesse caso, (k = 0,35 + 0,5 a = 0,35 + 0,5 · 5 = 2,85 MPa, maior que o limite de 1,7
"' 20 MPa. Portanto, a resistência ao cisalhamento será f,k = 1,7 MPa. Considerando apenas a área
de contato, o limite para força lateral por essa verificação será:
0,06 0,08 0,1
o 0,02 0,04
t/I Vd = wrh :S: fvk (0,lt)
2 Ym
Figura 7.22 Resistência de painéis considerando o arco contra apoios rígidos.
2fak ( O,ld) 2·1700(0,l·0,09) 2
Wd - - - - - - =4,25kN/m
2,0·3,6
7.5.6 Exemplo 7.2: Efeito arco em um painel com flexão vertical

Problema: O painel de alvenaria mostrado na Figura 7.23 foi construído dentro de um pór- Deve-se ainda verificar o cisalhamento na direção fora do plano. Considerando a alve-
tico rígido, com as extremidades firmemente encunhadas. Determine qual a máxima força naria maciça, o limite pode ser admitido igual ao de seções inteiramente grauteadas, com f>k =
lateral de vento possível de ser resistida assumindo que a parede desenvolve efeito arco na 0,35 MPa, desprezando a pré-compressão que existe devido ao efeito arco. A norma canadense
direção vertical. São utilizados tijolos cerâmicos maciços de 9 cm de espessura, com resistên- especifica esse limite em função da resistência do prisma, igual a (0,16$;). Considerando o
f,,
cia à compressão de 20 MPa, argamassa de 10 MPa, = 12 MPa. Considerando o módulo de valor da norma brasileira e uma seção transversal horizontal de 1,0 metro de altura e espessura
elasticidade para alvenaria cerâmica, E,, igual a 600 f,k' chega-se a E,= 600 · 12 = 7.200 MPa. de 9 cm, tem-se:
A resistência ao cisalhamento da alvenaria, f,k' para a argamassa de 1OMPa pode ser admitida
2·350(0,09) k 2
igual a [0,35 + 0,5 a :S: 1,7] MPa. 8,75 N/m
2;·0·3,6

Mesmo com as simplificações, esse limite resulta em força lateral superior à encontrada

Pórtico de _ / ' '


. pelo efeito arco. Prevalece, portanto, o limite anterior do efeito arco: w, = 1,91 kN/m 2 •
Solução B: Sem folga, porém considerando deformação do painel. Assumindo a máxima
concreto armado 1

' '
' '
. ' ' ' '' 90mm
compressão pelo limite de resistência da argamassa f = 0,85 f = 0,85 · 1O = 8,5 MPa. Para E
= 4.800 MPa, a deformação equivalente será E, = f, 'J E, = 8,5/7200
' = 0,00118. Portanto, da'
3,6m
Parede de alvenaria equação 7.35 a folga equivalente será:

g0 = E,h = 0,00177 · 3600 = 4,2 mm

Da equação 7.36 chega-se a:


l+A
6,0m
A-A = g0 h = 4,2·360 = 47 mm
11
gO 4yt 4(0,9·90)
Figura 7.23 Painel a ser considerado o efeito arco considerando os blocos como elementos rígidos para
o exemplo 6.2.
392 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL PAINÉIS flETIDOS 393

Portanto, da equação 7.31, com 0,85f 0,85f


g 0 =e0 h+g = - - ' h+g = - - ' ·3600+2 =0,425f, +2[mm]
E, 7200
e= o S5 f (O lt) / y = o,85. 10.000 (O,l · 0,09)/2 = 38,2 kN/m
' a ' m

Da equação 7.36:
chega-se a:
g h (0,425f +2)·3600
_se("' , )- 8 · 38 •2 (o'9.0' 09-0 ' 047)=0 ' 80kN/m 2
Wd-h?P-L.l.o-3,62
ó =-º-=
gO 4yt.
'
4·Sl
=4,72f'+22,22[mm]
'

Conforme se percebe, esse limite é bem inferior ao anterior, mostrando quanto se pode Aplicando a equação 7.31, com ó 0 = L'.,0:
errar contra a segurança pela não consideração do encurtamento do painel.
Solução C: Com folga e considerando deformação do painel. Para ilustrar a influência de
se ( ) S·0,85·( (0,1-0,09)/2,0 ,
wd = - yt.-ó 0 = 2 (0,9·0,09-0,0047(-0,022)·10
folgas nas extremidades, qualquer combinação de retração da alvenaria (blocos de concreto), h, 3,6
gradiente de temperatura, deslocamento dos apoios ou uma junta intencional pode causar
folgas nas extremidades. Como exemplo, analisa-se aqui o caso em estudo, considerando a Derivando a equação acima em relação a f,e chega-se à conclusão que w<l,m.,x1mo
, . ocorre
existência prévia de uma folga total, g, de 2 mm. com f = 6,33 MPa, e nesse caso:
Essa folga deve então ser somada à calculada por encurtamento da parede sob compres-
'
são, chegando a: w<l = 0,139f - O,Ollf 2 = 0,139(6,33) - 0,011(6,33) 2 = 0,44 kN/m 2
' '
(go +g)h ( 4,2+2 )·3600 Esse resultado é consideravelmente maior que o anterior, calculado assumindo-se a for-
.é.....-,---''--.,-- = 69 mm
4yt. ça de compressão máxima equivalente à resistência da argamassa. Deve-se ainda assegurar de-
4(0,9·90)
talhes construtivos que garantam o comportamento como previsto. Para a existência de folgas,
a ligação do painel com o apoio deve ser feita por meio de barras de transferência ancoradas
Adotando o mesmo empuxo horizontal das soluções A e B (C = 38,2 kN/m), e aplican- ou soldadas nos apoios ou telas fixadas com cantoneiras fixas aos apoios ou outro detalhe que
do a equação 7.31, chega-se ao valor da máxima força lateral: garanta o impedimento do deslocamento horizontal (na direção de aplicação da força lateral)
entre o painel e o apoio.
se
w =-('"-Ll 8·38,2
)=--(0,9·0,09-0,069 ) =0,28 kN/ m 2
Solução D: Arco em duas direções, sem folga, porém considerando deformação do painel.
d h2 I' O 3,62
Para a solução B, se o painel tiver capacidade de desenvolver efeito arco também na direção
horizontal, então pode-se calcular um pequeno aumento na capacidade de resistência à força
Nos cálculos acima, assume-se que considerar a maior força de compressão levaria à
lateral. Uma maneira simples e conservadora de calcular esse aumento é utilizar o método
máxima capacidade resistente à força lateral. Ainda, percebe-se que se o deslocamento total
das faixas transversais. Para o deslocamento no meio do vão de 47 mm calculado na solução
L'. 0 for igual (ou maior) que yt. = 0,9. 90 = 81 mm, não haverá efeito arco. A máxima folga
g ' B, o encurtamento elástico na direção horizontal (admitindo-se como folga lateral) pode ser
correspondente a esse deslocamento e: determinado pela equação 7.36:

( 4yt.) 81·(4·81) g0 ·6000


g= -~-~=7,3mm Ó = gol=; 47 =;g =2,54mm
0
h 3600 g 4yt. 4(0,9·90) o

É interessante observar que o efeito arco é muito sensível à existência de folgas nas ex-
A deformação equivalente (7.35) será:
tremidades e ao encurtamento da parede. Portanto, a máxima resistência à força lateral pode
ocorrer com uma força de empuxo nas extremidades inferior à máxima possível (limitada pela g0 = e f _,. 2,54 = e . 6000 _,. e = 0,00042
resistência de argamassa ou prisma), pois a deformação será também menor. ' ' '
Analisando o exemplo, com a folga de 2 mm, porém sem inicialmente impor o valor da
compressão máxima (deixando esta com uma variável do equacionamento), chega-se a:
394 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL PAINÉIS FLETIDOS 395

Desprezando 0 efeito de Poisson na relação tensão-deformação, a correspondente ten- 7.6.2 Flexão vertical
são de compressão será igual a f, =e, E,= 0,00042 · 7200 = 3,05 MPa (considerando o mesmo
módulo de deformação nas direções vertical e horizontal). Alvenarias armadas são, muitas vezes, projetadas para flexão apenas na vertical, pois
A força de empuxo na direção horizontal será então igual a: muitas vezes esse é o menor vão e é mais simples posicionar armaduras e grautes nos vazados
verticais dos blocos do que na direção horizontal. Ensaios experimentais284 indicam que o
C =O 85 f (O lt) / y = 0,85 · 3.050 (O,l · 0,09)/2 = 11,7 kN/m painel armado se comporta como não ~rmado até o aparecimento da primeira fissura. Depois
' e ' m
da fissuração, a rigidez da alvenaria é reduzida, ihas ela ainda é capaz de resistir a uma grande
Chega-se a: parcela de carregamento até, e mesmo após, o escoamento da armadura. Painéis armados
permitem grandes deformações, ruptura dúctil e, mesmo, amortecimento de ações dinâmicas.
~~ (yt-!1 0 )= 8~~~;
7 2
wd = (0,9·0,09-0,0047)=0,09kN/m Um extensivo programa experimental'" proporcionou relatos de investigações sobre o
comportamento de painéis armados. A Figura 7.24 mostra os painéis ensaiados em carrega-
mento monotônico e cíclico. O modo usual de ruptura foi de grandes aberturas nas juntas na
Somando a capacidade vertical e horizontal, determina-se w, = 0,80 + 0,09 kN/m 2• Po- face tracionada, e rompimento em lascas da argamassa e da parede longitudinal do bloco na face
de-se perceber que para valores baixos de h/f, considerar o efeito de arco em duas direções não comprimida. Na carga de ruptura também foi observado fendilhamento na parede transversal
aumenta muito a capacidade resistente (aumento de cerca de 10% para efeito em duas direções dos blocos na face comprimida nos pontos onde a armadura vertical foi colocada, talvez indi-
comparado ao cálculo na direção vertical apenas). cando concentração de tensões nesses pontos. A Figura 7.25 mostra curvas força-deslocamento
para carregamentos monotônicos. As quedas bruscas e intermitentes de força observadas nas
curvas coincidem com a formação de novas fissuras nas juntas horizontais.
7.6 Painéis fletidos em alvenaria armada
2,0m
7.6. l Introdução

{~!~; ~ !:~;~:~;~ ~ ~t ~~:::~::::,


Armadura
O uso de alvenaria armada é comum e mesmo desejável para alvenarias onde a força vertical

lateral é predominante. Além de aumentar a resistência à flexão, a inclusão de armaduras au- Armadura na junta horizontal em
menta a resistência ao cisalhamento e melhora a ductilidade. Armaduras mínimas também todas as fiadas
são previstas para controlar a fissuração por retração e/ou movimentação térmica. Alvenarias
armadas podem ser menos espessas, proporcionando economias diretas e também indiretas no
custo, como aumento da área utilizável.
Os princípios básicos da alvenaria armada foram apresentados no capítulo anterior, não
h_,l-...,-..1_,,-l"- Armadura
horizontal
de9,5mm
{!!:: :t::::::i~r~!t-~:ª;ª~:~:ª
Armadura na junta horizontal a
cada duas fiadas
havendo necessidade de repeti-los aqui. As principais diferenças sobre o que foi apresentado
no capítulo de vigas são 0 posicionamento centrado da barra de aço e o menor nível da tensão
de cisalhamento. Deve-se destacar que a presença de armadura não exclui a possibilidade de
Barras de 9,5 mm a cada duas fiadas
dimensionamento da alvenaria como não armada. I' um
0,6m 'I l,2m
Painéis de alvenaria dimensionados para resistir a forças laterais são construídos geral- (b) Flexão horizontaF37
mente com blocos vazados, com armaduras em grautes verticais e horizontais. Eventualmente
Armadura centrada Armadura alternada
é possível construir paredes duplas com armaduras colocadas no vazio entre elas. Em ambas
situações, é usual alocar a armadura no centro da seção, que é a posição mais eficiente se for le- (a) Flexão vertical2~ 6

vada em conta a possibilidade de a ação acontecer em sentidos inversos. Dessa forma, é muito Figura 7.24 Painéis armados utilizados em programa experimental.
difícil prever estribos para resistir ao cisalhamento em painéis, e o painel deve ser dimensio-
nado de maneira a não ser necessário esse tipo de armadura de cisalhamento, geralmente não 284ACI-SEASC (1982), Mackintosh & Dickey (1971) e Hamid et ai. (1989a, 1989b, 1990).
sendo esse um limite crítico. Como a presença de armadura muda o comportamento da alve- 285 Hamid et ai. (1989a, 1989b, 1990).
naria de frágil para dúctil, aumenta sua rigidez e diminui a variabilidade no comportamento, 286Id. (1989a)
os limites de esbeltez normalmente podem ser aumentados. 287 !d. (1991)
396 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAl PAINÉIS FLETIDOS 397

Observa-se grande influência da taxa de armadura nessas curvas (Figura 7.25(a)), com
crescimento significativo da capacidade resistente com o aumento da taxa de armadura. Para
10
o caso de maior taxa de armadura, observa-se ainda uma perda de ductilidade. A quantidade
de grauteamento influencia a força necessária para a primeira fissura (Figura 7.25(b)), porém 5-

seu efeito na capacidade resistente à flexão é pequeno.
Ensaios cíclicos são relatados considerando a armadura centrada ou alternada, confor-
~ of--~"ni;;;;;:;~ll'-~""~ª'--
"" -5
1o
. -5 -
me ilustrado na Figura 7.24. O caso com armadura centrada mostra um extenso intervalo de
curva (Figura 7.26(a)) com rigidez nula nos laços de histerese, que podem ser explicados pela -10

deformação plástica do aço após escoamento. Também se observa um "atraso" nas curvas no 100 50 100
intervalo necessário para fechar a fissura em uma face tracionada, que passa a ser comprimida Deslocamento, mm Deslocamento, mm
com a inversão do sentido de carregamento. Painéis com armadura alternada, com metade da (a) Armadura disposta de 1naneira centrada (b) Armadura disposta de maneira alternada
armadura posicionada próxima a cada face, mostram uma melhor capacidade de absorção de
energia e não apresentam a região de rigidez nula observada no caso de armadura centrada. Figura 7.26 Curvas força-deslocamento em carregamento cíclico de painéis armados fletidos vertical-
mente.290

,''l
'p = 0,44o/o \ 15
Totalmente
grauteado, p = 0,23Z
7.6.3 Flexão horizontal
15 1 _..,---,- -y-- ....
,' '
I ' ,,{''' Alvenarias podem fletir horizontalmente entre pilares ou entre paredes transversais. A
~10 .~/
I
d,o/ • armadura horizontal pode ser composta de barras em canaletas grauteadas ou armaduras nas
j "1
):'
Parcialmente grauteado junta, na forma de treliça plana ou tipo "escadà' (ver capítulo 2). Armaduras soltas também
p=0,23% :~ são possíveis nas juntas de assentamento, desde que previstos os devidos detalhes para ancora-
5 ,·
gem e proteção contra corrosão. Vários estudos291 atestam que a armadura disposta nas juntas
pode ser utilizada como armadura principal para permitir resistência à flexão em paredes sob
ação lateral fora do plano. Os corpos de prova mostrados na Figura 7.24(b) foram ensaiados
50 100 150 50 100 150
Deslocatnento no meio do vão, mm Deslocamento no meio do vão, mm com duas linhas de carga lateral horizontais com apoios verticais nas laterais. O modo mais
(a) Influência da taxa de armadura, p (b) Influência do nível de grauteamento comum de ruptura incluía o alongamento da armadura disposta nas juntas e grandes fissuras
verticais passando alternadamente entre a junta vertical e as paredes dos blocos. Não foi ob-
Figura 7 .25 Efeito da quantidade de armadura e nível de grauteamento na flexão vertical.288 servado esmagamento na face comprimida da alvenaria. Paredes com armaduras em todas as
juntas permitiram maior desenvolvimento das fissuras do que as com armaduras a cada duas
O grau de ductilidade medido pela razão entre o deslocamento na ruptura e o desloca- fiadas. O grauteamento de todos os furos reduziu o número de fissuras e, conforme compor-
mento no escoamento da armadura vertical variou entre 1,79 para taxa de armadura de 0,44% tamento descrito no capítulo 5, tendeu a reduzir as fissuras nas juntas de assentamento. Em
até 29,4 para a parede com taxa de 0,15%. Priestley"' indica que taxas de armadura centrada paredes construídas com junta a prumo, apareceram fissuras que se desenvolveram ao longo
inferiores a 0,2% resultam em grau de ductilidade maior que 4, aceitável em zonas sísmicas. das juntas verticais.
Para armaduras alternadas, o grau de ductilidade é maior. Na Figura 7.27(a), as curvas força-deslocamento para carregamento monotônico apre-
sentam deformação pós-pico reduzida com o uso de aço conformado a frio. A capacidade
resistente é função da taxa de armadura, não sendo observadas grandes diferenças entre o tipo
de armadura de junta. O aumento do nível de grauteamento influenciou a rigidez à flexão.
A Figura 7.28 mostra o resultado de ensaios cíclicos em painéis com taxa de armadura
similar, porém com armadura na junta (esquerda) ou em barras em canaletas grauteadas. É
possível notar diferenças na forma. No caso de armaduras em barras, nota-se o "atraso" nas

288 !d. (1989a). 290 Hamid et ai. (1989a).


289 Priestley (1986). 291 Cajdert (1980), Andersen (1976), Dickey (1982), DeVekey (1980) e Omote et aL (1977).
398 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL PAINÉ!S FLET!DOS 399

curvas com regiões extensas de rigidez nula, característica de seções com armadura centrada, 7.6.4 Flexão em duas direções
o que não é observado no caso de armaduras de junta, dispostas próximas às extremidades,
sobre as paredes longitudinais dos blocos. Entretanto, essas armaduras de junta mostram com- Muitas vezes, as condições de contorno do painel, com apoios em três ou quatro lados,
portamento instável após o pico, com fraturas observadas no aço conformado a frio. As barras resultam em flexão tanto na vertical quanto na horizontal, solicitando cada direção em função
de aço proporcionaram comportamento mais estável e de melhor ductilidade. da relação entre altura/comprimento e tipos de apoio. Como a alvenaria é um material anisó-
O grau de ductilidade medido para casos com armadura na junta variou entre 1,24 e tropo, a rigidez e resistência da parede ~ão diferentes em cada direção. O uso de grauteamento
3,16, com maior ductilidade observada para armaduras em barras dentro de canaletas graute- diminui o grau de anisotropia em função da continuidade permitida pelo grauteamento, nesse
adas com grau de ductilidade medido igual a 5,62. caso prevalecendo a taxa de armadura em cada direção como determinando no grau de or-
totropia. Para seções subarmadas totalmente grauteadas, o método das linhas de plastificação
Armadura de junta utilizado em lajes de concreto armado pode também ser aplicado com segurança. 294
20 em treliça reforçada 25 .
em todas fiadas Cadjert295 realizou ensaios em painéis armados aplicando carga lateral com uso desa-
20 cos de ar e apoios em três ou quatro lados. O padrão de fissuras foi coerente com a teoria das
15
f;í linhas de plastificação. Mesmo taxas de armaduras pequenas resultaram em grande aumento
d 15 na capacidade resistente. Foi concluído que a carga de ruptura pode ser prevista pela teoria das
~ linhas de plastificação com erro máximo de 20%. Middleton & Drysdale 296 indicam que esse
Armadura de junta em
"" 10 treliça a cada fiada
p=0,11% p mesmo método é eficiente para casos com aberturas.
5
P"' A/bt
A
25 50 75 100 7.7 Análise e dimensionamento de painéis armados
Deslocamento no meio do vão, mm Deslocamento no meio do vão, mm
(a) Influência da taxa de armadura, p (b) Influência do tipo de armadura 7.7. l Flexão vertical
Figura 7.27 Efeito da quantidade de armadura e nível de grauteamento na flexão vertical. 292
A flexão simples em uma direção em alvenarias foi tratada no capítulo anterior e os
mesmos conceitos são aqui aplicados. Geralmente, os painéis têm taxa de armadura pequena,
20
p=0,11% 20 p = 0,12% e espera-se um comportamento dúctil. Antes do aparecimento da primeira fissura, a máxima
15
tensão de tração é inferior à resistência da alvenaria, e é possível realizar uma simples análise
10 10 elástica desprezando_-se o efeito favorável do aumento de rigidez pela presença de armadura
f;í 5 f;í
\ (ver capítulo 6).
"lo:'
&
o
Depois da fissuração, as propriedades da seção são calculadas desprezando-se a alvena-
p
A
-10
Á ria na região tracionada. Para melhor precisão, deve-se adotar a área líquida ou efetiva. A área
comprimida resultante pode ser retangular ou em forma de T, dependendo da localização da
10 20 -100 -50 o 50 100 linha neutra e se a alvenaria é maciça, vazada ou perfurada, parcial ou totalmente grauteada.
Deslocamento no meio do vão, mm Deslocamento no meio do vão, mm
Para taxas de armaduras pequenas, a linha neutra normalmente está dentro da parede longitu-
Figura 7.28 Curvas força~deslocamento em carregamento cíclico de painéis armados fletidos horizon- dinal do bloco na face comprimida, permitindo o cálculo como uma seção retangular. Quando
talmente. 293 a armadura é posicionada de maneira discreta, em pontos isolados espaçados, a largura da
seção não deve exceder 3t (Figura 7.29). Se a alvenaria for construída com juntas a prumo, a
máxima largura, b, não pode exceder o comprimento de um bloco.

294)ones & Wood (1967) e Hognestad (1953).


292 Hamid & Chia-Calabria (1989). 295 Cadjert (1980).
293 Hamid et ai. (1991). 296 Middleton & Drysdale (!995).
PAINtlS FLETIDOS 40 l
400 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL

da carga de compressão e efeito P-1'. utilizando conceitos descritos no próximo capítulo para di-
b,; 3t V
V mensionamento de paredes sujeitas a carga vertical e ação lateral fora do plano. Para armaduras
1 1
· verticais, o espaçamento usual é de até 1,2 metro, porém casos de até 2,4 metros são possíveis.

D 7.7. 2 Flexão horizontal

Muitas vezes é mais eficiente o dimensionamento considerando o vão horizontal, espe-


cialmente quando o comprimento entre apoios verticais é relativamente menor que a altura,
Figura 7.29 Limitação da largura da seção para armadura isolada. Nesse caso, a armadura pode ser em barras de aço colocadas em canaletas grauteadas ou nas
juntas de assentamento. O dimensionamento e demais verificações seguem basicamente os
Estados limite de serviço devem ser verificados, comparando os deslocamentos d~ pai- mesmos procedimentos da flexão vertical. No caso de uso de armadura de junta com aço
nel, calculados com fatores de combinação de ações e de materiais em serviço, c~rn.hrnites conformado a frio, o dimensionamento da seção considerando o diagrama linear de tensões
estabelecidos em função de máxima deformação. A consideração de rnornent~ de mercia da (estádio II) geralmente é mais preciso'" do que no estádio III, uma vez que esse aço tem baixa
seção fissurada, de maneira similar ao especificado para concreto armado, foi proposta por capacidade de escoamento antes da ruptura.
Abboud'" e Horton & Tadros."' Entretanto, para verificação de deslocam.ento, de um pame~
biapoiado na vertical, a norma canadense CSA S304.l indica a formulação simplificada abaixo. 7.7.3 Flexão em duas direções
2
SM h' s(M,-Ma)h Equação 7.38 Alvenarias apoiadas em três ou quatro lados se comportam como não armadas até que
" +~---~-
48E,l,q 48E,J" as fissuras atinjam a profundidade da armadura. A resistência à flexão em cada direção de-
pende da taxa de armadura, e o painel se comporta de maneira semelhante a lajes de concreto
armado. Ós painéis podem ser dimensionados por análises elásticas simples (normalmente
em que: apenas para verificação de deformações em serviço) ou plásticas, corno o método das linhas
h = altura da parede; fi · d de plastificação. 300 Outro método simples, porém conservador, é o das faixas transversais. Al-
M = momento máximo em serviço na combinação quase-permanente (com coe ciente e
ternativamente, pode-se realizar um modelo de grelha equivalente, com a vantagem de ser
co:Ubinação de esforços conforme capítulo 3, por exemplo, y, = 0,3 para ação de vento para
possível modelar aberturas e formas não usuais, além de carregamentos não uniformes.
verificação do máximo deslocamento), considerado efeito de se_gunda or~em P-1'.;
1 , l = momento de inércia da seção fissurada e da seção eqmvalente nao fissurada, respec-
cr eq 7.7.4 Painéis com aberturas
tivamente; ( )
- f,k +O"k '
M =momento de fissuraçao = I,q' Painéis com aberturas podem ser dimensionados considerando modelos simples de fai-
ª Yt xas nas laterais das aberturas, por analogia de grelha ou ainda pelo método das linhas de ruptu-
f = resistência de tração na flexão; ra ou de plastificação. Na parte superior e inferior das aberturas é necessário prever armaduras,
tk 1 d -
a, = tensão de compressão axial ap ica a na seçao; . . sendo recomendável armar também as laterais de aberturas maiores que 1,2 metro. Em cada
Y, = distância do centroide da seção não fissurada ao bordo mais trac10nado. lado, a armadura deve ser posicionada o mais próximo possível da abertura.

Geralmente 0 limite para 0 deslocamento máximo de painéis será o d~ ''Aceitabilid:de 7.7.5 limites para taxa de armadura
· 1 - v1sua
sensor1a · l", com valor i·gual a h/250 · Outros limites podem ser aphcaveis a slluaçoes
específicas (ver capítulo 3). . . , Em normas internacionais, limites máximos de espaçamento de armadura são espe-
o cálculo do momento resistente segue os mesmos conceitos descntos no capitulo ante- cificados para regiões sujeitas a ações sísmicas, sendo esse valor não superior a 1,2 metro. A
rior. Para painéis com taxa de armadura pequena pode-se desprezar o efeito a favo~ da segura~ça normalização brasileira não traz especificação a respeito, sendo típicos espaçamentos de 0,6,
do peso próprio, com perda mínima de precisão. Alternativamente, pode-se considerar o efeito 1,2 ou 2,4 metros em função da taxa de armadura necessária,

299Hamid et a!. (1992).


297 Abboud (1987).
300 Seah et a!. (1993).
298 Horton & Tadros (1990).
402 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL
PAINÉIS FLETIDOS 403

As armaduras mínimas devem ser de 0,10% · t /unidade de comprimento (armadura área bruta é aproximadamente igual ao dobro da líquida, a resistência do prisma oco deve ser
principal) e 0,05%·t/unidade de comprimento (armadura secundária). Para garantir boa duc- . = 14' OMPa , f pk Uquida = 12 ' 25 •
multiplicada por 2,0. Tem-se portanto: fpk,11qutda
tilidade, muitas normas limitam a taxa de armadura máxima, A, I b · t, a 2%. Deve-se respeitar Como as propriedades da seção só podem ser calculada~ com base nas características de
a armadura máxima de 8% da área da seção a ser grauteada (área do graute envolvendo a um único material, uma resistência média ponderada de prisma será adotada:
armadura, não contando a área do bloco), incluindo regiões de traspasse, e ainda respeitar os
diâmetros de armadura máximos: 6,3 mm (na junta de assentamento) e 25 mm (demais casos). f;kAgrauteada + fpkAnão grauteada
Agrauteada + Anão gro.utcada
7.7.6 Verificação do cisalhamento
f _ 12,25·(20·14)+14,0·(40·2·2,6)
O dimensionamento ao cisalhamento de paredes sujeitas à ação fora do plano é deta- 13,0MPa
pk.médio- (20·14)+(40·2·2,6)
lhado no capítulo seguinte.

cuja espessura da parede longitudinal do bloco é igual a 2,6 cm, e um a cada três furos é grau-
7.7.7 Ancoragem da armadura
teado em alvenaria de 14 x 39 cm.
Ê importante que a armadura tenha ancoragem suficiente para que as tensões na alve-
As propriedades da seção são calculadas subtraindo-se as regiões sem graute e sem
argamassa da seção cheia:
naria sejam a ela transferidas. Isso é garantido com comprimento de ancoragem suficiente,
ganchos de extremidade ou algum elemento mecânico (ou combinação destes). Os conceitos 3 3
sobre comprimento de ancoragem discutidos no capítulo anterior são aplicados aqui. bt' (b-20 )( t-2· 2,26 ) 60·14 3 (60-20)(14-2 2,6)
Ensaios de arrancamento 301 com barras de cerca 12,7 e 22,2 mm de diâmetro, ancoradas 12 12 12 12
em prismas de blocos vazados de concreto grauteados, resultaram em um rompimento por
fendilhamento horizontal, indicando haver resistência lateral insuficiente para que a alvenaria = 11.448 cm4 I 0,60 m = 19.081 cm4/m
resista a esforços horizontais elevados por efeito de cunha. Por esse motivo, deve-se limitar
l, 19081
o diâmetro da barra em função da espessura da parede. A norma canadense indica que o s,q =-q =--=2.726cm 3 lm
t/2 7
diâmetro máximo da armadura deve ser limitado à metade da menor dimensão livre dentro
dos vazados onde a armadura será posicionada (por exemplo, metade da distância entre o
E,= 800 f,k = 800 · 13 = 10.400 MPa
perímetro da armadura e a face interna do bloco, sem que haja outra barra no meio).

7.8 Exemplos de dimensionamento de painéis fletidos armados


; e§ 400mm §s
7.8. l Exemplo 7.3: Painel armado com flexão vertical
6m
Problema: Para o painel de 6,0 metros de altura, com blocos de concreto de 14 cm de espessu- ~

8
Barra de 12,5 mm e/ 40 cm

ra e f,,k = 10 MPa, argamassa disposta apenas em dois cordões laterais, armado com barras de 7

aço CASO de 12,5 mm a cada 40 cm, conforme Figura 7.30, determine o momento e o desloca- "'"
~
6
5
mento: (a) na primeira fissura; (b) no estado limite último; e (c) estado limite de serviço para ~ ~--M,= 3.81 kN-m/m
·v 4
verificação de deslocamento. Os blocos são grauteados apenas nos pontos com armadura. Des- a
~
3 _.,.--M, = 0,82 kN·m/m @ i'> = 4 mm
preze o efeito do peso próprio e considere a parede simplesmente apoiada na base e no topo. o 2
e;V M" = 0,68 kN-m/m @i'>= 1,3 mm Seção transversal
Solução: Para este bloco será considerado f, = 8 MPa, f,k = 20 MPa, f,, = 7,0 MPa, f pk = 12,25 a vertical
o
MPa (ver capítulo 5). Na flexão, apenas uma parte da seção estará comprimida e, nesse caso, :lS o 25 50 75 100 125
considera-se mais adequado utilizar a resistência na área líquida. Levando-se em conta que a Deslocamento a meia altura, mm

Figura 7.30 Painel de alvenaria armada de blocos de concreto para o exemplo 7.3.
301 Soric &Tulin (1987).
PAINÉIS FLETIDOS 405
404 COMPORTAMENTO E DIMENS!ONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL

A resistência de tração à flexão normal à fiada para argamassa de 8,0 MPa é especificada No. limite, de
. ruptura no meio do vao,
- po de-se d etermmar
· a curvatura da seção utilizan-
na normalização brasileira igual a f"' = 0,25 MPa. Deve-se observar que a seção contém graute d o conceitos bas1cos de mecânica dos sólidos:
parcial e, na realidade, a resistência de tração deveria ser aumentada. Algumas normas inter-
Md E 0,0035
nacionais permitem aumento superior a 50% para seções grauteadas, e ainda permitem fazer - =--"- = - - = 0,001010
E! X 3,47
média ponderada da resistência na seção não grauteada e grauteada. Aqui, de maneira conser-
vadora, será levada em conta a resistência especificada para alvenaria não grauteada apenas.
Conbsidderando ªlinha elástica co~ forma parabólica ao longo da altura, o deslocamento
(a) Primeira fissura: po de ser o t1 o por:

2
5M"h 600 2
48EI =5·0,001010·43=37,9cm
Imediatamente antes da primeira fissura, a flecha pode ser calculada por:

2 Notas: (i) Esse resultad~. excessivamente alto indica um comportamento muito flexível da
5 · 0, 68 ' 6 =0,0013m=l,3mm
8 parede pouco armada. (11) Em projeto, valores maiores de E! e a consideração de menor
48·10400·10 3 ·19081·10-
momento d~ r~ptura ocasionam valores bem menores de deslo~~mento.
~:~a!:t~~o. l11~1te de ser~iço: Consider~ndo o majorador da força de vento para cálculo no
(b) Estado limite último: Assumindo que a linha neutra cai dentro da parede longitudinal l' . d m1te ~!timo, Yr -1,4, e o coeficiente para consideração da ação de vento no estado
comprimida do bloco, pode-se adotar a resistência de prisma fpk.liq""" = 14,0 MPa. A largura da imite ~ serv1?0 - quase permanente, \Jf1 = 0,3, a força lateral para cálculo do deslocamento
seção, b, é limitada a 3t, portanto b = 3 · 14 = 42 cm, maior que o espaçamento da armadura em serviço sera:
2 2
e, portanto, pode-se contar com toda a largura da parede e A,= 1,25 cm /0,4 m = 3,12 cm /m.
0,3wd O 85
Da equação 6.17 (capítulo 6): w, =--=0,3·-'-=018kN/m 2
1,4 1,4 )

__3,12·500·2,0
. : _ - - - ' - - = 3,47 cm
X
O' 56·b·k·fk·Y 0,56·100·1,0·14 · l,15 Essa força lateral leva a um momento no meio do vão:
p '
2
wh 62
O valor de 0,8x é aproximadamente igual à espessura média da parede do bloco. Verifi- M, =~=0,18·s=0,82kN·m/m
cando x/d = 3,46/7 = 0,495, o que garante boa ductilidade à seção.
Da equação 6.18:
' .Como
d esse
. valor é maior que Mcr calculado em (a) ) a seça-0 1·ra' fi ssurar e, portanto e· ne-
cessano
· - determmar
l' h as propriedades da seção fissurada para cálculo da flech.a. Assumm
· d,oque
A,· f,k
M<l =--(d-0,4x)
1,15
º
3' 12 ' 5 (7-0,4·3,47)
ª pos1çao a m a neutra, kd, está dentro da parede longitudinal do bloco pode-se d t ·
y, o valor de k pela equação 6.8: , e ermmar

k = )znp+(np ) -np = ~2·20,2·0,0045+(20,2·0,0045) 2 -20,2·0,0045 = 0,345


= 763 kN·cm/m = 7,63 kN·m/m 2

Para levar em conta de maneira aproximada o limite imposto pela normalização bra-
sileira (f, ,:; 0,5f,), o momento resistente será considerado com metade de seu valor: Md = 0,5 em que:
· 7,63 = 3,81 kN-m/m. Considerando a flexão na vertical, pode-se determinar a força lateral n =Es /Ea = 210 / 10,4 = 20 2·
l '

distribuída que leva a este momento: E,= módulo de elasticidade do aço= 210 GPa;
E,= módulo de elasticidade da alvenaria= 10,4 GPa;
P = A/(bd) = 3,12/(100 · 7) = 0,0045.

c1 1Checando,
- kd . '= O.' 345 . 7 -:
- 2' 4 , menor que a espessura d a parede do bloco de 2,6 cm.
a cu a-se entao a mercia da seçao fissurada, conforme equação 6.9:
PAINÉIS flETIDOS 407
406 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL

Solução B: Usando o método das faixas transversais:


b(kd)' +nA,(d-kd)2 lOO(ü. 345 · 7 l' + 20,2. 3,12(7 -0,345. 7)2
3 3 _ _ 8M<l 8Md _ 8 ( )
Wd -Px+Py - -2- + -2- - - , 3,81+3,81 =l,69kN/m 2
h 6 e
4
= 1797 cm /m
Esse valor é cerca de 33% inferior ao obtido pelo método da linha de plastificação.
Para o momento em serviço, M, = 0,82 kN/m, o deslocamento pode ser calculado pela '
equação 7.38:
2 Lados Barra de 16 mm a cada 60 cm
5M h 2 5(M, -M" )h simplesmente ...-nas duas direções
" + ~--''----'"-'-- a
48E, 1"1 48E)a apoiados

t., =0,0013+ 5 ·(0, 32 -?·


68 62

48·10400·10 · 1796 .10-
8
=0,004m=4mm
#= s b
b
""
Considerando o limite de h/250, a flecha máxima é limitada a 6000/250 = 24 mm, por-
e e 3,0m 1
tanto o deslocamento de 4 mm é aceitável. 1, 6m ,1 M = momento resistente
w/=força lateral distribuída
7.8.2 Exemplo 7.4: Painel armado com flexão nas duas direções uniformemente pela área
(a) Dimens?es do painel (b) Linhas de p!astificação (e) Equilíbrio do subpainel abc
Problema: Considerando a parede do exemplo 7.3, simplesmente apoiada nos quatro lados,
com comprimento horizontal também de 6,0 metros, calcule os momentos para flexão nas duas Figura 7.31 Flexão em duas direções do painel do exemplo 7.4

direções, considerando a mesma taxa de armadura (<j> 12,5 mm c/40 cm) nas duas direções.
Solução A: Para a placa quadrada e considerando a mesma resistência à flexão nas duas di- 7.8.3 Exemplo 7.5: Painel armado com flexão horizontal
reções (mesma taxa de armadura), as linhas de ruptura são as indicadas na Figura 7.31(b). O
momento resistente de projeto foi calculado no exemplo anterior M, = 3,81 kN·m. A Figura Problema: Determine a armadura em treliça plana na junta horizontal para bloco vazado
7.3l(c) mostra o equilíbrio para o subpainel abc. Para um deslocamento virtual Ll no ponto b, de concreto de 14 cm de espessura (Figura 7.3l(a)) em um vão horizontal de 2,4 metros e
igualando os trabalhos virtuais internos e externos para metade da placa, tem-se: força lateral de 1,0 kN/m 2 • De ensaios realizados em prismas, as propriedades da alvenaria
são: f k = 13,0 MPa 1' E = 10.400 MPa.
p '

Ll Ll
M<l(6)-+Md(6)-=2wd
3 3
(6·3
- -
2 3
)Ll Solução: Considerando o coeficiente majorador de ações Yr = 1,4:

f' 2,42
Md =w<l-=1,4 1,0- = l,OlkN mim
2 2 2 8 8
wd =-Md =-3,81=2,54kN/m
3 3
Em uma primeira tentativa será especificada armadura em treliça plana com área de
Nota: A vantagem de considerar flexão em duas direções e comportamento plástico pode ser aço em cada barra (banzo inferior e superior) igual a 11,2 mm2 e aço conformado a frio com
percebida pelo fato de a capacidade resistente ser quase três vezes maior que a calculada com tensão de escoamento f,, = 400 MPa. Essa treliça será disposta a cada duas fiadas, com espaça-
flexão apenas na vertical. Também deve-se destacar que, na prática, as armaduras na direção mento de 40 cm. Neste caso, será feita análise elástica no estádio II.
vertical e horizontal não podem ocupar o mesmo plano na parede; então, o braço de alavanca n = E,f E,= 210 / 10,4 = 20,2
em uma das direções deve ser um pouco menor. Também não foi levada em conta a diminuição p = A/(bd) = 0,112/(40. 12,6) = 0,00022
na resistência à compressão na direção hortzontal, que deveria ter sido considerada com k = 0,5, k=~2np+(np) 2 -np
o que levaria a uma maior região comprimida da seção vertical na ruptura e momento resistente
2
na direção horizontal ligeiramente menor. Levando todos esses fatores em conta, a ação lateral = )2·20,2·0,00022+( 20,2·0,00022 ) - 20,2·0,00022=0,00891
a ser resistida seria uma pouco menor.
408 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAl PAINtlS FLETIDOS 409

j = 1 - k/3 = 0,970 majorados de ação, Yr iguais a 1,4 para o vento (ação desfavorável) e 0,9 para o peso próprio
MRd =Asfyd 1· d= 0,112. 40/1,15 · 0,986 · 12,6 = 47,6 kN·cm/0,4 m = 1,19 kN·m/m (favorável), e Ym = 2,0, chega-se a:

Esse valor de M., = 1,19 kN·m/m é maior que M, = 1,01 kN·m/m, portanto a seção está 0,9Pk l,4Mk f,k
---+---,,;-
A, S, 2,0
verificada.
Deve-se notar que nessa verificação não foi considerado o limite de 50% de f,k espe-
cificado na normalização brasileira. Ao ser considerado o limite de 50% de f,k' o valor do
momento resistente MR, é reduzido à metade, e, portanto, seriam necessárias treliças em todas
as fiadas para verificar esse caso.
Verificada a resistência, é preciso checar se as deformações são inferiores às que levam
à plastificação das tensões na alvenaria para validar a análise no estádio II. Da Figura 7.3l(b),

e =e (~)= 0,002( 0,00 39 l )= 0,000180, limite bem inferior ao considerado para


' y d-kd 1-0,00891
o limite elástico das tensões de compressão na alvenaria, considerado em 50% de f,k' com t
= =0,0045m 3 /m
19
0,5·13 2 2
ê a, ,imite
.. e''.
stICo
=--=0,000625.
l0, 400
verificando:
Armadura de junta em treliça plana
f, 0,9·3,99 l,4·0,56 250
kd"' 14- -----+ <-
0,07 45·10-6 - 2,0
J.. +e= 1/2 f, bkd
/
/
/ -51,3 + 174,2 = 122,9 :> 125-. ok.
/
k:====::;:--T = <l>,A,f,
Solução B: Nesse caso, será inicialmente de blocos de 14 cm. Nesse caso, a armadura mínima
(a) Vista superior (b) Distribuição de deformações (e) Distribuição de tensões vale 0,1 % da seção transversal, igual a 0,1 % · 14 = 1,4 cm 2/m. Serão adotadas barras de aço de
<I> = 12,5 mm a cada 1,2 m, com taxa próxima à mínima. De maneira simplificada, não será
Figura 7.32 Flexão horizontal do painel do exemplo 7.5. levado em conta o efeito favorável do peso próprio.
Admitindo que a linha neutra caia dentro da parede longitudinal do bloco, será consi-
7.8.4 Exemplo 7.6: Dimensionamento de uma parede de vedação derada a resistência de prisma na área líquida, admitida igual a fpk,hqu1da
. . = 2 . O, 8 . 6 = 9, 6 MPa •
A largura da seção é limitada a 3t = 42 cm. O momento a cada 1,2 m será M, = 1,4. 1,2 . 0,56
Problema: Uma parede de vedação de 3,0 m de altura de blocos de concreto sujeita a uma = 0,94 kN·m / 1,2 m.
pressão lateral de vento de 0,5 kN/m 2 está simplesmente apoiada na base e no topo. Por se Verificando de maneira semelhante à solução (b) do item 7.8.l, tem-se:
tratar de parede externa, com possibilidade de não ser revestida, e pela ação lateral ser predo-
minante, será especificado f = 6,0 MPa e f = 8 MPa. Dimensione a parede para: (a) alvenaria 1,25·500·2,0
bk ' X - - ' - - - - - ' - - = 3,30cm
não armada; e (b) alvenaria armada. 0,56·b·k·fpk ·ys 0,56. 42·1,0·14 · l,15
Solução A: Alvenaria não armada, tentando inicialmente utilizar blocos de 19 cm de espessura.
A,· fyk 1 25·50
Para argamassa de 8 MPa e direção vertical normal a fiada, f,, = 0,25 MPa. Considerando a MRd =--(d-0,4x) , (7-0,4·3,30)
y, 1,15
densidade aparente da alvenaria de blocos de concreto igual 14 kN/m', na posição de momento
= 308kN ·cm/l,2m = 308kN ·m/1,2m
máximo, a meia altura, o peso próprio será igual a P, = 1,5 · 0,19 · 14 =3,99 kN/m.
Admitindo que a face tracionada é o limite de resistência (e não a comprimida), o que
geralmente é o caso de paredes fletidas sem carga axial considerável, e usando os coeficientes Considerando a capacidade resistente 50% menor (para levar em conta fs = O, 5fyd,
) M Rd
= 0,5 · 3,08 = 1,54 kN·m/m. Esse valor de MR, é maior que M, = 0,94 kN·m/m, portanto a seção
41 Q COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL PAINÉIS FLETIDOS 411

está verificada com armadura mínima. Observa-se que a armadura mínima permite que o 7. 1O Exercícios
painel resista com segurança a uma força lateral 64% maior (equivalente a 0,82 kN/m:. .
Entre os grautes verticais pode-se admitir que a alvenaria não armada tem flexao hori-
zontal em vão de 1,2 metro, com momento M, = 1,4 · 0,5 · 1,2 2 I 8 = 0,13 kN·m /m. 1. Uma parede de tijolos cerâmicos de 9 cm de espessura apoia verticalmente com vão de
3,0 e apoios rígidos, resistência à compressão dos tijolos de 20 MPa, argamassa de 10
Para bloco de 14 cm: MPa, frk = 12 MPa. Calcule a m~xima força lateral que pode ser resistida por:
(l,ü)(t-2~0,026)~
0,14 3 (1,0 l( 0,14-2·0,026 )'
!
l,Ot'
a) Flexão apenas.
12 12 12 12
3 b) Efeito arco .
s, = .l..----------'-=.l..-----------'=0,0024m
t 14 /m
c) Efeito arco com folga de 0,5 mm (total, soma dos dois lados) entre a ligação da
2 2 parede com os apoios.

Na direção horizontal, não há o efeito favorável do peso próprio, porém a resistência à Comente sobre os resultados e a viabilidade de cada caso.
tração tem o dobro do valor: f,k = 0,50 MPa. Deve-se então verificar:
2. Uma parede de vedação com 4,8 metros de altura construída com blocos vazados de
l,4Mk ,;~=; l,4·0,l3 o; SOO =;74<250kN/m 2 =>ok. concreto de 14 cm. Considerando argamassa de 10 MPa e frk = 7 MPa (na área bruta) e
s, 2,0 0,0024 2,0 apoios simples na base e topo:

A direção horizontal está verificada como alvenaria não armada, porém a norma brasi- a) Determine a máxima pressão lateral de vento que pode ser resistida sem armadura.
leira indica a necessidade de armadura mínima de 0,05% bh nessa direção secundária. b) Se existir uma folga de 2,5 mm no topo, qual a capacidade resistente para força
lateral, considerando efeito arco? Considere que existem detalhes de ligação ade-
quados que garantam a ligação horizontal do painel com os apoios.
7.9 Considerações finais
3. Se o painel no problema 7.2 também tem apoios na horizontal em um comprimento de
Em várias construções, a alvenaria é basicamente sujeita a forças laterais e, portanto, 3,6 metros, qual a força lateral que pode ser resistida para apoio nos quatro lados?
deve ser dimensionada a flexão. Então, para o uso eficiente da alvenaria, esse tópico merece ter
um capítulo dedicado a ele. a) Teoria _de placa elástica.
As condições de contorno dos apoios e a flexão em duas direções têm efeito considerá- b) Métodos das faixas transversais.
vel no dimensionamento. Um aspecto importante é a verificação de quanto a consideração do c) Método das linhas de ruptura.
efeito arco pode aumentar a capacidade de resistir a maiores forças laterais. Para que o arco
seja eficiente, os apoios devem ser indeslocáveis, e folgas na ligação devem ser evitadas ou Compare e comente os resultados.
projetadas com a menor dimensão possível. Esses detalhes também afetam o desempenho da
alvenaria de preenchimento em pórticos quando da consideração de sua contribuição à ação 4. Uma parede de blocos cerâmicos vazados de 19 cm de espessura se apoia verticalmente
lateral no plano (contraventamento). Esse aspecto é tratado no capítulo 10. em uma altura de 8,0, sendo armada com barras de 16 mm a cada 20 cm posicionadas
Os exemplos desenvolvidos neste capítulo ilustram os potenciais aumentos de resis- no centro dos blocos. Dados: fbk = 10 MPa, parede totalmente grauteada, f, = 10 MPa,
tência com a armação de paredes. O uso de protensão, discutido no próximo capítulo, permi- f,, = 25 MPa e aço CASO. Determine:
te construções de alvenaria sem fissuras, com melhor desempenho em serviço. De interesse
também são as paredes detalhes com baixa taxa de armadura, que levam a elementos bastante a) Força lateral para a primeira fissura.
dúcteis. Em várias situações) armaduras construtivas são necessárias, como em paredes mui- b) Máxima força de vento lateral para ELU.
to compridas, onde é conveniente prever armadura devido a movimentações térmicas ou de c) Máxima força real prevista para ruptura.
retração/expansão. Nesse caso, pode-se usar essa armadura também para aumentar a resistên- d) Máxima força de vento lateral para ELS, na verificação de deslocamento máximo.
cia à flexão. A combinação de alvenarias não armadas e armadas requer atenção especial no
dimensionamento.
412 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL

5. Para a parede do exercício 7.2, considerando blocos vazados, determine a seção e ar- CAPÍTULO 8 .................................................._ ..........................................................
madura para resistir a urna pressão lateral de vento de 1,0 kN/rn 2• Verifique a flexão na
horizontal entre os pontos armados sem a consideração de armaduras horizontais. Paredes com compressão axial e flexão fora do plano
6. Revise o exemplo 6.4, para que o painel possa resistir a urna força lateral w, = 1,44
kN/rn', porém com taxa de armadura horizontal igual à metade da vertical. Considere
ainda que as armaduras horizontais e verticais não podem se cruzar no mesmo plano,
portanto têm alturas úteis distintas.

7. Considerando os dados do problema 7.6, porém sem armaduras, qual a máxima força
lateral que o painel pode suportar por efeito arco nas duas direções?

8. Se já tiver lido o capítulo 8, dimensione urna parede de 7,6 metros de altura, apoiada
na base e no topo, em alvenaria protendida com blocos vazados de concreto, para re-
sistir a urna pressão de vento w, = 1,44 kN/rn'. Especifique a espessura da parede e as Figura 8.1 Parede duplo-aletada concebida para resistir à carga de compressão e força lateral.
propriedades dos materiais, incluindo características do cabo de protensão e detalhes
construtivos.
8.1 Introdução

Paredes estruturais usam a inerente resistência e rigidez a compressão da alvenaria para


encaminhar as cargas verticais para a fundação, para resistir a forças laterais e também garan-
tir a estabilidade global da estrutura. Portanto, conforme ilustrado na Figura 8.2, urna parede
pode ser solicitada a resistir a cargas verticais centradas ou excêntricas, P, forças laterais aplica-
das fora do plano, p, ou, ainda, a forças no plano V. Os dois primeiros tipos de ação produzem
esforços combinados de compressão axial e flexão fora do plano, que são tópicos deste capí-
tulo. A outra ação é inerente a urna parede de contraventarnento, que é tópico do capítulo 10.
O comportamento e projeto de paredes submetidas a flexão fora do plano, mas com reduzida
carga axial, foi tópico do capítulo 7.
Em função do relativamente reduzido número de publicações com informações
técnicas, as normas internacionais trazem recomendações e especificaçoes distintas para
dimensionamento, tendendo a incorporar simplificações empíricas ou serniernpíricas nos
procedimentos. O leitor pode ficar surpreso ao tentar determinar capacidades resistentes
de alvenarias estruturais utilizando normas de países distintos e perceber que os resultados
diferem razoavelmente. Muitas vezes é feita a opção de utilizar elevados coeficientes de
segurança em favor da adoção de métodos mais simplificados. No passado, o uso de paredes
maciças de elevada espessura proporcionava elementos com resistência muito superior à
necessária e, portanto, pouca diferença fazia considerar coeficientes de segurança distintos.
Entretanto, na construção moderna, o mercado na construção civil não aceita grandes des-
perdícios de material, e métodos racionais de dimensionamento vêm sendo cada vez mais
aprimorados de maneira a permitir o projeto de alvenarias, ainda utilizando procedimentos
de fácil entendimento, com níveis de segurança adequados, porém sem reservas de resis-
tência (e desperdício de material) excessivamente superiores ao necessário. Um caso a ser
414 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL PAREDES COM COMPRESSÃO AXIAl E FLEXÃO FORA DO PLANO 415

comentado é o trabalho de Amrhein et al., 302 que realizaram ensaios em paredes armadas satisfatórias do ponto de vista segurança. Em contrapartida, a realização de projetos baseados
com índices de esbeltez superiores ao limite de norma, imposto com relação altura/espes- em conceitos de engenharia permite análises consistentes com níveis de segurança comuns a
sura não superior a 30. A partir desses ensaios, os autores propõem método para dimensio- qualquer tipo de estrutura e, muitas vezes, economia na construção.
namento dessas paredes esbeltas, permitindo que a alvenaria possa ser uma opção a outros Ainda hoje, alguns países tradicionais no estudo da alvenaria estrutural, como EUA e
sistemas construtivos, como de parede de concreto ou tilt-up. Canadá, trazem regras empíricas para o projeto de alvenaria (aplicadas a situações limitadas),
porém estas são cada vez menos empregadas.
Projeto de engenharia. Os primeiros conceitos de dimensionamento eram baseados no méto-
do das tensões admissíveis, com ações e resistências estimadas por valores médios e adoção de
um coeficiente global de segurança no projeto. Hoje em dia, praticamente todas as normas in-
ternacionais para projeto de alvenaria estrutura] são baseadas no método dos estados limites,
que foi incorporado às normas brasileiras de alvenaria em 2010. Verificações não apenas da

..•••- condição de ruptura (estado limite último), mas também de estados limites de serviço são hoje
aplicadas. O uso de fatores de combinação e majoração de ações e de minoração de resistências
V
e de modelos matemáticos para o comportamento não linear dos materiais é aplicado, per-
mitindo uma análise mais próxima do real e mais bem estimativa do real nível de segurança.
Esses conceitos são particularmente importantes na análise de efeitos interativos resultantes
de ações combinadas, como é o caso da compressão axial e flexão em paredes.
Embora o método das tensões admissíveis não seja aqui apresentado, métodos de aná-
lise elástica, discutidos nas verificações de estados limites de serviço, são a base desse antigo
método de dimensionamento.

8.2.2 Tipos de paredes estruturais

Figura 8.2 Ações em urna parede estrutural. Alvenarias históricas e grande parte das alvenarias modernas são do tipo não armadas.
O sucesso desse tipo de construção, testado ao longo de séculos, decorre do desenvolvimento
Neste capítulo, o comportamento de paredes com compressão axial e força fora do de projetos que garantem que as seções das paredes serão totalmente comprimidas sob os
plano e as aplicações de vários métodos de dimensionamento, não restritos à normalização efeitos combinados de ações externas da compressão axial, flexão e cisalhamento. Um exem-
brasileira apenas, mas também comentando conceitos detalhados em outros países, são apre- plo interessante é o caso apresentado do efeito arco em paredes sujeitas a ações laterais, mas
sentados para permitir ao leitor o entendimento e o correto uso destes métodos. Os exemplos ainda totalmente sob compressão. Embora engenheiros tradicionalmente ligados ao projeto
apresentados ao final do capítulo ilustram os conceitos aqui abordados. de estruturas de concreto armado sejam, de maneira compreensível, relutantes em especificar
alvenarias não armadas, o entendimento da inerente rigidez e redundância de edifícios de
alvenaria não armada bem concebidos garante ao projetista a sensação de nível de segurança
8.2 Visão geral da evolução dos critérios de dimensionamento adequado no uso desse tipo de construção.
Mesmo quando dimensionadas como não armadas, existem situações em que é reco-
8.2. l Evolução das recomendações para proieta mendável a inclusão de armaduras construtivas. Em paredes compridas é recomendável o
uso de armaduras na junta de assentamento (Figura 8.3(c)) para controle de fissuras devidas
Projeto empírico. A alvenaria é um material tradicional, há séculos utilizada em edificações a retração/expansão, movimentações térmicas ou estruturais. Se a parede for construída com
feitas pelos homens. De início, muitos dos projetos tinham características mais voltadas a uma junta a prumo (não estrutural), o uso de armadura horizontal é obrigatório. Em cima e em-
obra de arte do que a um projeto de engenharia. O processo de tentativas e erros ao longo do baixo de aberturas, as armaduras são necessárias, além de eventualmente nas laterais quando
tempo levou à criação de regras de construção antigas que, se não eram econômicas, eram a abertura é muito grande. Na cinta de respaldo, especialmente se houver algum apoio con-
centrado ou ainda alguma ancoragem de parte do telhado, também deve-se dispor armadura.
São ainda recomendáveis armaduras verticais construtivas em cantos do perímetro externo do
302Amrhein et ai. (1983). edifício e, também, nas extremidades de paredes compridas.
416 COMPORTAMENTO E DIMENS!ONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL
PAREDES COM COMPRESSÃO AXIAL E FLEXÃO fORA DO PLANO 417

Em locais sujeitos a ações sísmicas (incomum no Brasil), paredes armadas com ':'aior
taxa de armadura se fazem necessárias, com espaçamentos mínimos indicados na Figura
8.3(a). Em outras situações, 0 espaçamento de armaduras verticais pode ser aumentado (Fi-
gura 8.3(a)), sendo necessário taxas de armadura, principal e secundária, d: 0,10% ,e 0,05%
em relação à área bruta da parede, para esta ser considerada armada (exc~ça~ feita a parede
de contraventamento dimensionada como não armada, onde se pode prescmdir da armadura
secundária).

Espaçamento da armadura vertical


inferior a 240 cm
Espaçamento da armadura vertical
inferior a 6(t+ !) ou 120 cm
(a) Parede apoiada verticalmente (b) Parede apoiada horizontal e verticalmente

Figura 8,4 Condições de apoio de paredes.

8.3 Evolução histórica da compreensão sobre comportamento


Região não
armada (b) Paredes armadas de paredes comprimidas

Armadura horizontal em 8. 3. 1 Capacidade resistente


canaletas grauteadas Espaçamento da armadura horizontal
em juntas inferior a 60_ cm
(a) Parede fortemente armada (zonas sísmicas) As paredes espessas concebidas na alvenaria histórica do passado eram muitas vezes
projetadas por regras simples, como "aumentar a espessura da parede em 1Ocm a cada andar".
Como as paredes eram concebidas para resistir apenas à compressão, a capacidade resistente,
representada pela carga axial admissível, P, era estimada pela simples verificação de uma ten-
são de resistência à compressão admissível multiplicada pela área:

P=A·F
a alv Equação 8.1

(c) Parede com armaduras na junta horizontal em que A, representa a área da seção transversal da parede e F, 1, a tensão admissível na com-
Blocos vazados
pressão simples. Embora esse enfoque tenha lógica e seja até possível de ser aplicado em alve-
narias muito espessas de pequenas edificações, construções modernas em alvenaria estrutural,
Figura 8.3 Tipos de paredes armadas.
com paredes mais finas que as históricas, exigem levar em conta efeitos de esbeltez e flexão no
dimensionamento.
A maior parte das paredes é dimensionada, apoiada verticalmente (Figura 8.4(a)), po-
A flexão pode ocorrer por posicionamento excêntrico da carga axial, imperfeições ou
rém é possível tirar proveito de eventuais apoios laterais no dimensionamento para reduzir a
não uniformidades na construção (desaprumos) e forças laterais. Para paredes com carga axial
consideração de esbeltez.
P, o momento fletor, M, pode ser representado pela multiplicação de P pela excentricidade, e,
ou, ainda, pode-se definir a excentricidade por:

e=M/P Equação 8.2


PAREDES COM COMPRESSÃO AXIAl E flEXÃO FORA DO PIANO 419
418 COMPüRTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUll..JRAl

Embora o momento fletor possa não advir de uma excentricidade de carregamento, e de pequena excentricidade de carregamento, em substituição a C · C .304 Esse redutor é ainda
' ;
considerá-lo como uma carga excêntrica tem o mesmo efeito. Portanto, o valor de e na equa- hoje utilizado na normalização brasileira.
O efeito de h/t é mais significativo para maiores excentricidades e paredes mais esbeltas.
ção 8.2 é chamado de excentricidade virtual.
É possível ajustar as equações utilizando resultados de ensaios para chegar a equações Nesses casos, a adoção do raio de giração, r, para verificação da esbeltez permite melhor preci-
semiempíricas para dimensionamento. Esse tipo de equacionamento foi adotado nos primei- são no dimensionamento. Paredes muito esbeltas causam o desenvolvimento de excentricida-
ros códigos de dimensionamento de alvenarias e ainda hoje é utilizado na normalização brasi- des adicionais devido à deformação lateral (efeito de flambagem) em um efeito conhecido como
leira, que leva em conta, de maneira simplificada, apenas o efeito de flambagem na verificação P · !l. A evolução da engenharia da alv~naria estrutural proporcionou a dedução de métodos
em que tais efeitos são levados em conta precisamente. Esses procedimentos da engenharia
da compressão.
Para levar em conta o efeito da excentricidade, os primeiros equacionamentos propos- moderna são fundamentais nessas situações.
tos definem o coeficiente redutor de resistência definindo a excentricidade, e, Em alguns Paredes relativamente curtas e com limitada tensão de compressão têm redução de re-
métodos de dimensionamento de alvenarias não armadas, é imposta a condição de limitar a sistência em razão de efeitos de flambagem consideravelmente menores que paredes esbeltas.
excentricidade a um valor limite em relação à espessura da parede (como no terço médio da Por conta disso, devido à existência de limites de esbeltez nos códigos de normas, poucos
espessura) e, ainda, reduzir a resistência à compressão para levar em conta também as tensões casos de paredes com problema de flambagem são conhecidos. Esse é o caso da normalização
devidas à flexão. A Figura 5.23 (capítulo 5) mostra o efeito de excentricidades de carregamento. brasileira, que limita h/t a no máximo 30 e especifica procedimento de dimensionamento
Uma boa correlação da resistência à compressão de prismas e pequenas paredes com simplificado, que se pode dizer está a um meio termo entre o procedimento empírico histórico
paredes de tamanho real é verificada a partir da análise de vários ensaios/autores (ver capítulo e o da engenharia moderna.
5). Desta forma, ensaios de prismas têm sido aceitos como uma boa forma de avaliar a capa-
cidade resistente de alvenaria sujeita à compressão e flexão. Conforme se aumenta a altura do
elemento, efeitos de esbeltez são introduzidos, conforme comentado a seguir. 8.4 Interação entre carga axial e flexão
Métodos empíricos ou semiempíricos normalmente são baseados na área bruta, mesmo
quando são utilizados blocos vazados. Entretanto, as variadas formas geométricas da seção e 8.4. l Introdução
também a forma de espalhamento da argamassa têm efeito considerável na distribuição das
tensões na seção e na capacidade resistente. A consideração da área bruta distorce os resulta- A relação entre os efeitos combinados de carga axial e momento fletor pode ser conve-
dos conforme são aumentadas as excentricidades de carregamentos (erros maiores com flexão nientemente descrita pela excentricidade virtual, e = M/P. Para comportamento elástico-linear,
a máxima tensão em uma seção pode ser expressa por:
predominante).

8.3.2 Efeito da altura da parede Equação 8.4

Conforme se aumenta a altura da parede, aumenta-se a esbeltez e os efeitos de flam-


bagem. Para alvenarias cerâmicas, o coeficiente redutor de resistência devido à flambagem, em que:
C,, foi proposto por BIA.'º3 Esse redutor leva em conta a relação entre a altura e espessura da
f, 1, =tensão na alvenaria (sinal+ para compressão);
parede, h/t, e também a relação entre as excentricidades de carregamento no topo e na base, -1 A, = área resistente efetiva;
< e/e < + 1. Incluindo esse redutor e o devido à excentricidade de carregamento na equação S, =módulo resistente na área efetiva.
2
8.1, chega-se à capacidade resistente real de uma parede:
\ Essa equação pode ser utilizada para definir o diagrama de interação linear mostrado
P=C·C·A·F
e s a a
Equação 8.3 t na Figura 8.5, utilizado na verificação do estado limite último da seção. Se a capacidade resis-
tente na compressão simples (excentricidade nula) é igual a PrO = O' 7(fpk/vlm )Ae' e a capacidade
Na década de 1980, a National Concrete Masonry Association introduziu o redutor de
1 resistente à flexão simples (carga axial nula) é igual a M Rd = f tk . Se/vlm' o diagrama de interação
resistência devido à esbeltez, R = {l - [h/(40t) 3]}, para levar em conta os efeitos de flambagem pode ser escrito como:

304 National Concrete Masonry Association (1987).


303 Brick Institute of America (1969).
420 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO OE ALVENARIA ESTRUTURAL
PAREDES COM COMPRESSÃO AXIAL E FLEXÃO fORA DO PIANO 421

Equação 8.5 Se a resistência à tração da alvenaria é admitida como nula (f = O), então o limite de
excentricidade coincide com a excentricidade máxima para o limite de' tração na seção e,:

em que p, e M, são os valores de projeto das ações solicitantes (majoradas de y,) e o é definido
Equação 8. 7
como fator amplificador do momento para levar em conta o efeito de esbeltez.
A equação de interação linear pode descrever com precisão o comportamento de uma
seção de comportamento elástico-linear. Desta forma, a seção deve ser não fissurada e o mate- Seções maciças. Para uma seção retangular maciça, de espessura t e largura b, a excentrici-
rial ter comportamento elástico-linear. dade limite de tração é e, = t/6. Desconsiderando a resistência à tração da alvenaria, então a
Para alvenarias armadas, efeitos de fissuração da região tracionada, relações tensão-de- profundidade da fissuração a partir da face tracionada é definida pela distância x na Figura
formação não lineares e variadas taxas de armadura, a adoção da equação 8.5 é uma maneira 8.6. Para equilíbrio da seção, o equilíbrio entre a força axial aplicada e a seção não fissurada
bastante conservadora de análise. Nesse caso, o valor de M,0 é calculado considerando-se a resistente, definida pela espessura (t x), pode ser calculada por:
resistência à flexão simples da seção armada, não havendo alteração em relação a P,0 (eventuais
armaduras são desprezadas na resistência à compressão simples devido à falta de estribos). P -(
- t-x )bf""
-- Equação 8.8
2

em que o valor de x depende da excentricidade. Para que as posições da resultante interna na


região não fissurada e da força excêntrica aplicadas sejam coincidentes, a resultante interna
deve estar à distância (t - x)/6 do centroide da região não tracionada (t - x), ou a (t - x)/3 da
"'
l face comprimida. Essa distância pode ainda ser escrita em função da excentricidade inicial,
j: Pff----~ cuja distância até a face comprimida vale (t/2 - e):

/ (t-x) t
r,;11 --=--e Equação 8.9
3 2

õM, Ainda, pode-se definir o valor da distância x que define a região fissurada:
Momento,M
t
Figura 8.5 Gráfico do diagrama de interação linear entre força axial e flexão. X= 3e-- Equação 8.1 O
2

8.4.2 Análise elástico-linear de seções não armadas


Pela equação acima pode-se perceber que uma excentricidade e = t/3 proporciona que
metade da seção (t/2) esteja fissurada. Para e = t/2, toda a seção estará fissurada e a seção
A análise anterior não pode descrever precisamente seções fissuras, tópico desta seção.
rompida. O valor de x pode então ser substituído na equação 8.8 para cálculo da máxima força
No limite da fissuração por tração, a tensão na fibra mais tracionada pode ser calculada por:
de compressão:
P M P P, Equação 8.6
f =---=---
ª Ae Se Ae Se P=b(t-x/'1"
2 Equação 8.11

em que a tração tem sinal negativo e a excentricidade virtual, e = M/P, leva em conta todos
os momentos aplicados na seção transversal. A expressão é válida até o ponto em que a seção
começa a fissurar a tração, limite que pode ser obtido fazendo f, = f, (resistência de tração na
flexão, admitida aqui com sinal negativo).
PAREDES COM COMPRESSÃO AXIAL E FLEXÃO FORA DO PlANO 423
422 COMPORTÀMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAt

b[t3-(t-2t,)']2
p Centroide da seção original s =-=------"' Equação 8.14
' 12 t
l)'2-e, 1+-e::......1..-_c..::._->I
p

(t-x)/61+)
1 1
Seção
fissurada
- 1
r-e
f., ,
i)Ambas faces
comprimidas
Para excentricidade até o limite de tração (Figura 8.6(b)(i)), ambas faces dos blocos esta-
rão comprimidas, e a análise da capacidade resistente é simples. Para excentricidades maiores,
as fissuras irão cruzar gradualmente a parede do bloco tracionada até atingir a face interna da
1 parede tracionada (Figura 8.6(b)(ii)). Nesse ponto, a excentricidade vale:
1 1 t t,
1 1 1
1 .<t-2t,)
I· (t-xlf ·L Centroide da região 1 t-t
Equação 8.15
1 falv n) Face tracionada f
não fissurada da seção 1
totalmente fissurada
1 Depois que toda a parede do lado tracionado estiver fissurada, toda a região da parede
comprimida resiste à força axial e ao momento aplicados até a excentricidade máxima e =
iii) Face comprimida no (t/2) - (t(3), que corresponde ao ponto de tração igual a zero na parte interna da parede com-
esultante=C
limite de fissuração primida. A partir desse ponto, o comportamento da face comprimida é semelhante à de uma
(t-x)/3 t-x x seção maciça com espessura igual a t,.

8.4.3 Análise elástico-linear de seções armadas


(a) Alvenaria de tijolos maciços (b) Alvenaria de blocos vazados

Figura 8.6 Análise elástica de seções não armadas e fissuradas. Seções que contêm armaduras, mas que estão posicionadas em regiões comprimidas,
podem ser consideradas como não armadas. Nesta seção, serão analisadas seções armadas
Em geral, normas de alvenaria estrutural não permitem fissur~s-em ~lve~arias ~ão_ ar: por análise elástico-linear, que pode ser utilizada para entendimento histórico da evolução
madas. Então, deve-se ainda verificar se a máxima tensão de tração e mfenor a res1stencia a de métodos de dimensionamento, para verificações simplificadas de capacidades resistentes e
também para verificações de condições de serviço.
tração da alvenaria:
Seções maciças. Até o ponto em que a profundidade da fissura atinge a posição da armadura,

~
os equacionamentos desenvolvidos no item anterior são aplicáveis a seções armadas, ignoran-
1 do as tensões de compressão na armadura. Como ilustrado na Figura 8.7, a análise de uma
P=fbt[-
' 6e seção armada e fissurada é feita usando uma seção de alvenaria equivalente à área de aço. O
---1
t Equação 8.12 método de cálculo é indicado a seguir. Para equilíbrio da força externa, P, com as forças verti-
cais internas (Figura 8.7(b)), tem-se:
Seções de blocos vazados. Paredes construídas de blocos vazados podem _ser :ep:esentadas
P=Cm -T Equação 8.16
pela seção correspondente à disposição de argamassa sobre as paredes long1tudmais em cada
face dos blocos, com espessura dessas paredes definida pelo valor médio ao longo da altura
em que, considerando a tensão na fibra mais comprimida igual a f, 1,:
do bloco, tf conforme Figura 8.6(b). Qualquer parede transversal dos blocos que sejam desa-
linhas ao longo das fiadas deve ser desconsiderada, mesmo quando houver espalhamento de
e m = f.,,2 (kd)b Equação 8.17
argamassa sobre elas. .
Por simplicidade, será aqui analisado apenas o caso com argamassa nas laterais. Aspa-
redes transversais dos blocos conectam as paredes das faces longitudinais, portanto pode-se o termo b é a largura efetiva da região comprimida, não devendo ser tomada maior que 3t
admitir que as seções permaneçam planas. Da equação 8.7 pode-se determinar a máxima a partir da armadura (norma canadense indica 4t), conforme Figura 7.29. Se a alvenaria for
excentricidade para não haver tração com: construída com blocos a prumo (não indicada para alvenaria estrutural) o valor de b é limita-
do ao comprimento de um bloco.
Equação 8.13
424 COMPôRTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAl PAREDES COM COMPRESSÃO AXIAL E flEXÃO FORA 00 PIANO 425

A força de tração, T, na armadura vale: Seções parcialmente grauteadas. Para a seção mostrada na Figura 8.7(c), os vazados grautea-
dos na parede produzem uma seção transversal em forma de T. Entretanto, se o valor de kd
d-kd) Equação 8.18 · for inferior à espessura da parede do bloco, tr então a mesma análise anterior pode ser feita.
T=nAJ,1, ( ~
Se kd é maior que a espessura da parede do bloco, uma análise de seção T é necessária. Para
equilíbrio de forças interna e externa, e identificando a área comprimida além da espessura da
para equilíbrio de momentos interno e externo em torno do centro da parede: parede do bloco onde não há graute com uma área a ser subtraída (parte da hachura cruzada
na figura), igual a (b - b_)(kd - t,), tem-se: ·
Equação 8.19
P=Cárea total -Cárea subtraída -T Equação 8.22

Substituindo P da equação 8.16 na equação 8.19 chega-se a: em que as equações 8.17 e 8.18 podem ser utilizadas para cálculo de C e T e:
A área total )

Equação 8.20 C áreasubtra1da :::::: 2f,


1,
--w- \~)-""
(kd-t, )ll\tl tr )( b- bw )
''~,-/
Equação 8.23

/.'' {)

A posição da linha neutra, kd, pode então ser resolvida pela equação de terceiro grau para equilíbrio de momentos interno e externo:
resultante ou por método iterativo, substituindo kd até que o valor correto da excentricidade,
e, seja obtido. Se a armadura for posicionada no centro da seção, como é comum em muitos -
Pe-Cáreatotal
( tkd)
2-3 -Cáreasubtrafda
(t kd 2t,) +T ( d-2t)
2-3-3 Equação 8.24
casos, o termo (d - t/2) é nulo.
Como mostrado na Figura 8.7(b), a tensão no aço pode ser calculada por:
Portanto, para um determinado valor de excentricidade, o valor de kd pode ser deter-
d-kd) Equação 8.21 minado substituindo a equação 8.24 na equação 8.22 e solucionado a equação. Em muitos
f,=nf,i, ( ~
casos, a influência de células grauteadas é pequena, especialmente para armaduras espaçadas,
e sua influência pode ser ignorada adotando o valor de bw igual a zero.
O valor de kd pode ser utilizado para cálculo do momento de inércia da seção fissurada,
conforme mostrado nos exemplos ao final deste capítulo. 8.4.4 Análise no estado limite último

nA, O método dos estados limites para projeto estrutural é comum aos principais sistemas
estruturais de diferentes materiais e utiliza a análise no estado limite último para assegurar que
níveis adequados de segurança serão obtidos na construção. As ações devem ser multiplicadas
A,"-,.CL!.,__e_ _,( por coeficientes majoradores e de combinação, e as resistências divididas por coeficientes re-
dutores, conforme detalhado no capítulo 3.

r~!
t/2
Curvas tensão-deformação para alvenaria e aço. Um diagrama tensão-deformação razoa-
velmente preciso para o aço é a curva elasto-plástica perfeita indicada na Figura 8.8(a). Para
..... c;\rcosubtmido
a alvenaria, uma única curva tensão-deformação é mais difícil de ser idealizada, uma vez
1. d .1 ' que a forma da curva e os valores das tensões e deformações limite são amplamente variáveis
!T em função do tipo de alvenaria. A substituição da curva não linear real do diagrama por um
(a) Seção vertical (b) Seção horizontal (e) Seção horizontal diagrama retangular equivalente (Figura 8.8(b)) bem definido e fácil de usar, e permite uma
totalmente grauteada parcialmente grauteada aproximação razoável dos resultados. Mais discussões foram apresentadas no capítulo 5.
Figura 8. 7 Combinação de força axial e flexão em seções armadas.
426 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAl PAREDES COM COMPRESSÃO AXIAL E FLEXÃO FORA DO PLANO 427

me o caso) pela soma de áreas comprimidas. Essa posição deve ser igual à excentricidade da
resultante das ações externas. Para o caso em que ambas as paredes longitudinais estão com-
fy primidas (r o; t, na Figura 8.9(b) ), a excentricidade pode ser calculada por:

E,
.__,_______ __ L-e.iagrama retangular
,_equivalente de tensões
0,0035
e
r(t-r)
?- ( 2t, r)
pararo;t, Equação 8.27

er Deformação Deformação

(a) Diagrama tensão-deformação (b) Diagrama tensão-deformação


elasto-plástico para o aço idealizada para alvenaria

Figura 8.8 Curvas tensão deformação idealizadas para aço e alvenaria.

Alvenaria não armada. Para seções com ruptura na parte tracionada de uma alvenaria ou
maciça, a capacidade resistente pode ser determinada simplesmente reescrevendo a equa-
ção 8.6:
li r
11111 f,
ftk _ -Prd
- - - - + -2 -
Prd e Equação 8.25 •I
Ym bt bt /6

(a) Parede maciça (b) Parede de bloco vazado


em que:
P" é capacidade resistente axial da alvenaria; Figura 8.9 Dimensionamento no estado limite último de uma seção não armada considerando diagra-
F,, é a resistência e tração na flexão (indicada por valor positivo). ma retangular equivalente de tensões de compressão.

Após fissuração, assume-se que a alvenaria não resiste à tração. Então, para equilíbrio, Para urna determinada excentricidade, e, a soma das larguras das duas regiões compri-
a posição da força resultante de compressão interna deve coincidir com a excentricidade da midas será igual a (2t, - r). Rearranjando a equação 8.27 e resolvendo a equação do 2• grau,
resultante das ações externas. Como mostrado na Figura 8.9(a), para o diagrama retangular chega-se ao valor der:
equivalente de tensões, a capacidade resistente de projeto para urna seção de alvenaria maciça
pode ser calculada por: r=(~+e )-~Jt' + 4te+ 4e 2
-16 e t, Equação 8.28

o, 7fpk Equação 8.26


P,<l =--kb(t-2e)
Ym Calcula-se então a capacidade resistente da seção, nesse caso sendo mais conveniente
utilizar a resistência de prisma na área líquida:
7
em que O, fr, corresponde à resistência de compressão simples da alvenaria em valor de pro-
Ym Equação 8.29
jeto, f<l.

No caso de blocos vazados, considerando o diagrama retangular de tensões, o centroide Se e ? (t/2 - t/2), então apenas uma parede longitudinal do bloco está comprimida, e
a equação 8.26 pode ser utilizada e r = 2e. Entretanto, o dimensionamento de seções não ar-
da região com tensões de compressão deve ser coincidente com a posição da resultante das
madas com elevadas excentricidades é um procedimento questionável e recomenda-se limitar
ações externas. Porém, as tensões podem estar distribuídas uniformemente nas duas paredes
ainda a excentricidade ao valor limite da resistência à tração da alvenaria, determinado pela
longitudinais dos blocos ou apenas na parede da face comprimida. Nesse caso, a posição da
simples análise elástica da seção não fissurada (equação 8.25). A partir das equações anteriores
resultante das forças internas é determinada dividindo-se a soma dos momentos de cada área
comprimida de alvenaria (sobre as duas faces laterais ou apenas na face comprimida, confor- é possível construir a curva de interação da capacidade resistente de força-momento para
alvenarias maciças com rompimento a compressão, mostrado na Figura 8.10.
í 4
428 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE AlVENAR!A ESTRVTURAl PAREDES COM COMPRESSÃO AXIAL E FLEXÃO FORA DO PIANO 429

! Prd =C rn -T Equação 8.33


Totalmente grauteada
Bloco de concreto de 1OMPa e 19 cm
Substituindo os valores de C e T indicados nas equações 8.30 e 8.31, a posição da linha
f,, = 6,5 MPa f',, = 10 MPa neutra, x, pode ser determinada sol~cionando a equação do 2Q grau resultante, quando a arma-
~ =0,65 MPa
dura não escoa. A partir da determinação da posição da linha neutra, x, pode-se determinar o
tr= 35,65 mm, t = 190 mm
valor da capacidade resistente à flexão ~a seção:.
As= 400 mm 2/m
ií 600
""% t -
0,8x)
M =C ( - - +T ( d--t) Equação 8.34
1 400
Rd m2 2 2

Alvenaria não armada\ Para seções parcialmente grauteadas, como mostrado na Figura 8.ll(b), a condição de
deformações 2 pode resultar em um diagrama de tensões retangular, estendendo-se além da
200 parede comprimida do bloco (x2 > t,). Nesse caso, o equilíbrio de forças pode ser escrito por:
'-Alvenaria armada
Prd =C+C
f w
-T Equação 8.35

5,0 10,0 15,0 20,0 25,0 cuja força de compressão na região da "flange" não grauteada da parede do bloco, C, de largura
Momento M<.1 , kN·m/m (b - b), e da região da "alma" grauteada, Cw, de largura bw, vale:
Figura 8.1 O Curvas de interação para paredes não armadas e armadas.
c f
= 0,7pk.llqoid> k(b-b )t
w f Equação 8.36
Alvenaria armada. Para alvenarias armadas totalmente grauteadas, conforme mostrado na Ym
Figura 8.ll(a), o diagrama retangular de tensões na condição de deformação 2 inclui parte da
região grauteada (0,8x, ?': t,), então a força resultante interna de compressão vale: Equação 8.37

0,7f'k
Cm= _ _ P kb(0,8x)
Equação 8.30 A força de tração, T, é calculada pela equação 8.31, respeitando os limites de tensão da
Ym
equação 8.32, com f, ~ependendo de x. O equilíbrio de momento em torno do centroide da seção
com c,,, obtida a partir da resistência do prisma grauteado r;k' transversal leva a:
No caso em que o diagrama retangular está inteiramente dentro da parede comprimida
do bloco (condição de deformação 1, com 0,8x 1 :<; t,), é adequado realizar a análise consi-
derando o valor do prisma oco, porém considerando seu valor na área líquida, fpk.llqoid• Em
Prd e=C f (.!.-~)
3
(.!.-
2 2 +C w 2 0,2 x)+ T (d-.!_)
2 Equação 8.38

algumas situações pode ser benéfico considerar apenas a região sobre a parede comprimida
do bloco e utilizar o valor de fpk,1.1qu1., a, ignorando a região grauteada comprimida. Substituindo a equação 8.35 na equação 8.38 pode-se calcular o valor de x para de-
A força de tração da armadura é igual a: terminada excentricidade. Quando a área grauteada é relativamente pequena, muitas vezes é
benéfico desprezá-la e considerar apenas a região da parede do bloco e o valor de f,k.Hqoid• De
T =A/,iY, Equação 8.31 fato, o valor de cm da equação 8.39 a seguir pode ser muitas vezes superior à soma de cw + c,
das equações 8.36 e 8.37:
em que:

'' 0,7fpk.liqoid> kb(t,)


)~,.E, :<; f,k = (limite O,Sf,, indicado na normalização brasileira) Equação 8.32
Equação 8.39
f, = (d: x Ym

Nesse caso, a expressão da equação 8.38 pode ser simplificada para:


para equilíbrio de forças externa e interna:
1 430 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL
41 PAREDES COM COMPRESSÃO AXIAL E FLEXÃO fORA DO PLANO 431

Equação 8.40
8.5 Efeitos da esbeltez

8.5. l Introdução
Ainda, se a armadura for disposta de maneira centrada na seção, o valor de (d - t/2) será
igual a zero. Substituindo a equação 8.35 na equação 8.40 pode-se calcular o valor de x para A capacidade resistente de uma parede à carga axial centrada é reduzida conforme se
determinada excentricidade. A partir de x, calcula-se as capacidades resistentes p e M A
. ~ ~
aumenta a altura desta (Figura 8.12). ~ara paredes muito esbeltas, a redução da capacidade
Figura 8.10 mostra uma curva típica de diagrama de interação força-momento para alvenaria está associada à flambagem. Entretanto, para a nlaioria das paredes usuais, a menor capacida-
totalmente grauteada. de resistente é resultado da combinação de carga axial e flexão lateral, possivelmente aliada à
A excentricidade e > 0,30t corresponde ao ponto a partir do qual uma armadura centrada flambagem inelástica. Para paredes robustas, a ruptura ocorre pela resistência do material sem
passa a desenvolver tração. Para excentricidades menores, a seção basicamente se comporta como efeito de flambagem. Em todos os casos, esforços de flexão adicionais (de 2' ordem) ocorrem
não armada. Para excentricidades maiores, a armadura poderia escoar, porém essa não é uma con- devido à deformação lateral, assim como ocorreu em pilares de concreto armado há longo
dição de projeto, embora se recomende verificar o escoamento da armadura para paredes esbeltas tempo, que também têm função principal de resistir à carga de compressão. Métodos de cál-
(h/t > 30). Para altas taxas de armaduras, esta não escoa, mesmo com elevadas excentricidades. culo foram desenvolvidos para levar em conta a redução da resistência em função do aumento
da esbeltez. Tipicamente, o efeito da esbeltez era levado em conta simplesmente multiplicando
a capacidade resistente por um fator redutor, R, levando a:

P=Aa ·Falv ·R Equação 8.41

-.... '
i) Seções verticais

, t 2 ,1
1
I• d •I
,.
f a b

bbI ii) Seções


transversais
«:º
h

;;:o 1
ô Limitado pela 1
l<>i t, ·~
~ resistência do 1
/--;:... Deformação l ~ material 1
, ~ Deformação 2
' x,
0- Defonnação 1
/:Deformação 2
iii) Diagramas de deformação

'
' ,,
' f<-if
... ' ~ 1
e,,= 0,0035 ',' Esmagamento : Flambagem inelástica 1Flambagem elástica
A H l\=o,003s !
-------
Limitada pela estabilidade da seção transversal
d-a
I• >!oi a= 0,8 x, I•
d-a •l<>Iª = o,s x, iv) Diagramas de tensão para Coeficiente de esbeltez, kh/t

l
T
c,,,~rr,,., 1
T
c,,,~I r,,.,
deformação 1
Figura 8.12 Efeito da esbeltez na resistência à compressão de paredes de alvenaria.

Inicialmente, esse tipo de fator era expresso em termos da relação altura/espessura (h/t),
r
T
LfJ rr, T,l
+
elfl Ir,,., v) Diagramas de tensão para
deformação 2
método ainda hoje utilizado na normalização brasileira, conforme o capítulo seguinte. Para
poder criar regras que podem ser aplicadas com precisão tanto para seções maciças quanto
e UJir,
"' T wr cw
para vazadas, é mais correto utilizar a relação altura/raio de giração, h/r, onde:

Figura 8.11 Dimensionamento no estado limite último de paredes armadas.


r=.ft!A Equação 8.42
432 COMPóRTAMENTO E DlMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL PAREDES COM COMPRESSÃO AXIAL E flEXÃO FORA DO PLANO 433

com as propriedades calculadas em relação à área efetiva de argamassa. Da equação de flam- do aumento do raio de giração para paredes em comparação com uma parede de seção retan-
bagem de Euler tem-se: gular, com d obtida na Tabela 8.1.

n'EI Tabela 8.1 Valor de ó para determinação da espessura efetiva.


P=- Equação 8.43
' h' R.cnr.
t~nr =2 k::::::3
ecn~ t t
Substituindo 1 =Ar' e dividindo pela área, chega-se a:
~
1,4 -2;0
. .J 8 1,3 1,7
Equação 8.44

e'"'
- ,.l ·1
e
'"'
y
-
10
15

20'0üiÍlai~
1,2.,
1,1

liO·::
1,4
1,2

!,O
T T
Como resultado, várias normas internacionais utilizam a relação h/t ou h/r para calcu-
lar o fator redutor de resistência devido à flambagem.
Ainda, resultados de ensaios'°' e de modelos numéricos'°' mostram que momentos fie- A relação entre a altura efetiva e a espessura efetiva é definida como índice de esbeltez,
tores aplicados nas paredes influenciam significantemente o efeito da flambagem. Outros fato- A = kh/ot, ou simplesmente A = kh/t para paredes simples sem enrijecedores. Para valer a
expressão simplificada, o valor de /..,deve respeitar os limites:
res, como presença, localização e taxa de armadura, restrições de apoios na base e no topo da
parede, aplicação de forças perpendiculares ao plano da parede, resistência à tração, variações
no módulo de elasticidade, E , e deformações ao longo do tempo devido à retração e fluência, • alvenaria não armada :S 24;
'
contribuem para tornar o problema de determinar analiticamente a resistência à compressão • armada $ 30.
de uma parede bastante complexo. Várias normas internacionais tratam o problema de ma-
Alvenaria não armada. A resistência característica da parede, f" é admitida igual a 70% de f k
neira distinta.
(prisma característico), com : '
8.5.2 Dimensionamento simplificado de acordo com a normalização
Yr ·Pk {l,Oparede} 0,7f,k
brasileira $ ·--·R Equação 8.45
A 0,9pilar Ym
A normalização brasileira trata o problema de determinação da capacidade resistente
de um elemento comprimido de forma simplificada. A esbeltez é definida pela relação entre a
espessura efetiva ( t,,) e a altura efetiva (h,,) da parede. A altura efetiva é equivalente ao compri-
em que o fator redut~r de resistência devido à flambagem vale R =[1-(~)'J.
40t,,
mento de flambagem na nomenclatura clássica da resistência dos materiais e depende do tipo
Conforme descrito no capítulo 3, geralmente y, = 1,4 e ym = 2,0. Os valores são todos
de vinculação da parede e também da real altura, podendo ser definida como h" = kh, com k
considerados ~a área bruta, devendo ser aplicado ainda um fator redutor de 0,80 caso a arga-
dependendo das vinculações. Duas considerações são possíveis:
massa se1a aplicada apenas nas faces laterais.
• Parede com travamento lateral na base e no topo (apoio-apoio): k = 1,0. Alvenaria armada. No caso de alvenaria armada, com excentricidade e , quando o elemento
é curto, kh/t $ 12, permite-se a adoção de armadura mínima em seções r~tangulares quando a
• Parede sem travamento no topo (engaste-livre): k = 2,0.
força normal de cálculo P, não excede a:
A espessura efetiva é uma simplificação do raio de giração, e pode ser definida por t" =
Equação 8.46
o · t. Se não houver enrijecedores na parede, a espessura efetiva é a sua própria espessura, o =
1,0. No caso de paredes com enrijecedores, a espessura efetiva representa uma aproximação
Quando a esbeltez é maior, o momento de segunda ordem, a ser somado ao de primeira
ordem, é estimado por:

P, (kh) 2
305Hatzinikolas et ai. (1978). Equação 8.47
306 Suwalski & Drysdale (1986). 2000t
434 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL
PAREDES COM COMPRESSÃO AXIAL E HEXÃO FORA DO PLANO 435

Para outros casos, a resistência da seção pode ser estimada pelas seguintes expressões, com os valores da relação e/e2 ilustrados na Figura 8.14. Para o caso de não haver excentrici-
conforme Figura 8.13: dades de carregamento, considera-se o valor mínimo na base e no topo e, portanto, e/e 2 = 1,0.
Nesse caso, o limite de esbeltez para desprezar o efeito de flambagem é limitado a kh :;; 6,5.
Equação 8.48 t

MR, = o,sf,by(t y) + f, 1A, 1 (o,st d) + f, 2A,2 (o,st d,) Equação 8.49 p p p p p p

Deve-se destacar que para considerar a contribuição da armadura comprimida, esta e I e


deve estar corretamente contraventada pela inclusão de estribos com espaçamento adequado. 1 1
1
1
1 1 e, e 1
fsl ·As!
-}- y/2 - \

+N,
~
As,- d, f,. b. y
t/2 y/2
' t
p p p p
tp
- ...... - - ._ _- - - - - - - - - e1 = 2el>

"'
h
el> =O

"'
h
e1 = 2el>

"'
h
e1 = el>

"'
h

d "e; õ..
~ ~ "
~ ~
~ 1?" ">
~ -a -a
"' 1ii
t/2 8 ·~ 8 ·~ ""
"'
Q u
h
Q
"
8
h

As 2 ~- d, As2
r->_ - -i- - - fs2'
e,
- = +1/2
e,
e,
-=O
e,
e,
-=-1/2
e,
e,
-=-1
e,
...Í. = o Considerar + 1 para mínimo

w
ei momento de 1li ordem
e 1 = menor excentricidade; e2 = maior excentricidade

Figura 8.13 Plexo-compressão em seção retangular. Figura 8.14 Efeito das excentricidades de carregamento nas extremidades do elemento na esbeltez. 3º8

8.5.3 Efeito de esbeltez e excentricidade de carga para paredes com Quando há necessidade de consideração da flambagem, dois métodos podem ser aplica-
esbeltez pequena lkh/t s 30) dos: método do coeficiente amplificador de momento; ou método de força x deslocamento (P L'I).

Considerações iniciais. Algumas normas internacionais especificam considerar uma ex- e


centricidade mínima da carga axial, na base e no topo, igual a e= O,lt. Essa recomendação ... !<-
indicada em CSA S304.l'°' será aqui adotada, assim como outros procedimentos de dimen-
sionamento dessa norma. Ao multiplicar a força axial de projeto, P", por essa excentricidade,
obtém-se o momento de l' ordem, M. p
Considerando a excentricidade de e= O,lt, o momento
de l' ordem mínimo a ser considerado vale Mp = Pe. Caso haja uma força lateral aplicada, não
l
há necessidade de sobreposição do momento mínima com a flexão da força lateral, ou seja,
a excentricidade mínima indica o menor valor a ser considerado no projeto, mas não é uma
t
i

excentricidade acidental a ser somada a outras ações. t


Para paredes curtas, o erro pela não consideração do efeito de flambagem é pequeno 1
(menor que 10%), podendo ser desprezado para o limite de esbeltez: -+ j<-e

P,
Equação 8.50 (a) Força e deslocamentos (b) Momento de P ordem (c) Momento de 2~ ordem

Figura 8.15 Método do coeficiente amplificador de momento.

307 CSA S304.l (2004). 308 Brick Institute of America (1969).


r PAREDES COM COMPRESSÃO AXIAL E ftEXÃO FORA DO PI.ANO 437
436 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE AlVENAR!A ESTRUTURAI.
1

Método do coeficiente amplificador de momento. O método é baseado em procedimento Então, chega-se a:


;j
ara dimensionamento de pilares de concreto armado. Considere em u:"a parede s1mples~en­ 1
~e apoiada na base e no topo, com um carregamento de projeto, p,, excentnco, conforme Figu-
ra 8.15(a). Assume-se que a linha elástica do elemento tem a forma de meia curva de sen01de, e
!'>. o deslocamento devido ao momento de 1ºordem, M, = p ,e. O momento de segunda ordem,
o~asionado pela deflexão da parede, causará o incremento de. deslocamento !'>., (deslocamento
de 2' ordem). A partir de resolução da equação da linha elástica, chega-se a:
Equação 8.57
h 2 )h
t; = h(t; +!'>. )-·- P,h' (
- = - !'>.o+!'>.1
) Equação 8.51
' ( E! o ' 2 1t 1t it'EI

Considerando a carga crítica de Euler, p" = 1t:~I' e substituindo na equação, tem-se: O coeficiente 0,23 é função da forma do diagrama de momento de primeira ordem. Se o
diagrama for parabólico (força lateral uniforme de vento), ele se torna nulo. O termo 0,23 P,1
P" é considerado desprezível e descartado da equação:
Equação 8.52
Equação 8.58

que, de forma rearranjada, resulta em:


Entretanto, a equação como deduzida é aplicável apenas em diagramas simétricos, com
mesma excentricidade na base e no topo. Quando o valor de e2 é maior que e 1, um fator de
Equação 8.53
equivalência, cm deduzido para dimensionamento de estruturas de aço, deve ser incluído:

Equação 8.59
sendo o deslocamento total, !'>.T = (!'>.0 +!'>.,),igual a:

1-X' +p~
P,r p
" Equação 8.54
cujo termo
c
1-
~m
d
p"
·é chamado de coeficiente amplificador de momento.

M, e,
C m =0,6+0,4-=0,6+0,4-20,4 Equação 8.60
M2 ez
o deslocamento lateral, t;r, aumenta conforme aumenta a carga aplicada, P,. Então, o
momento máximo (total) será igual a: A fissuração da alvenaria, a consideração da não linearidade do gráfico tensão-defor-
mação da alvenaria e o escoamento do aço são fatores que influenciam o cálculo da rigidez
Equação 8.55 da alvenaria (EI), tornando muito difícil estimar um valor preciso para essa grandeza por
método simples. Para simplificar e permitir a análise do elemento, especifica-se um valor de EI
reduzido para levar em conta esses efeitos, sendo a rigidez reduzida chamada de "efetivá; EI,r
podendo ser estimada igual a:
Para 0 diagrama de momento retangular de valor constante igual a P,e, tem-se
i. E!"= 0,4E,l 0 -+ para alvenaria não armada;
Equação 8.56
PAREDES COM COMPRESSÃO AXIAL E flEXÃ.0 FORA 00 PLANO 439
438 COMPóRTAMENTO E DIMENSIONAMENTO OE AlVENARIA ESTRUTURAL

• A espessura da parede deve ser maior ou igual a 14 cm.


ii. EI,, =E, [ 0,251 0 - ( 0,2510 - rJ( e~e:k)J +para alvenaria armada. • A padrede deve e~tar apoiada na base e no topo, sendo assumidos apoios simples
nas nas extremidades.
Eqnação 8.61 • A força axial de projeto, P,, é limitada a O,l(0,7f,)A/ Ym·
• A taxa de armadura é limitada de maneira a garantir .'.'.
d -< O'.
5
em que:
E,= módulo de elasticidade da alvenaria (800 f,, para blocos de concreto ou 600 f,k para blocos
cerâmicos); de que Essas
peq condições. -são impostas para garantir. que a parede seja espessa o suficiente a fim
1 = momento de inércia da seção não fissurada (área efetiva para alvenaria não armada, área uenas vanaçoes nos materiais ou de - .
0
que as condições de vinc 1 - . saprumos nao sepm relativamente significantes,
. - u. açao externa se1am consideradas de forma conservadora, a car a
:qiua~çPa_eoquenadnao pr~pomona garantida~
equivalente para alvenaria armada);
e,= excentricidade para início da fissuração por tração (relação S/ A da seção não fissurada). a flambagem e que a condição de ductilidade seja
. para , imens10namento de pareci es es be1tas a seguir
. f01. adaptada do UBC 310 d d , ·d
·
No caso de alvenaria armada E,,, não deve ser tomado maior que 0,25E,l 0, nem menor a partir do metodo PA e baseando-se nos diagramas de momento mostrados na ~igur: ;~~:a
q ue E I . 2
' Ainda,
" para levar em conta deformações lentas ao longo do tempo, o valor de E,, deve M = w,h e
'"'"' + Pd1 l + (Pd1+ P, 2)A, Equação 8.63
ser dividido por ( 1 - O,Sb ), onde ~d é a relação entre o momento devido à ação permanente 8
pelo momento em razão da ação total. Deve-se destacar que o valor de ~, é aqui tomado em
função da relação de momentos e não da carga axial, como seria adotado para seções de con- em que:
creto armado. O coeficiente 0,5 é utilizado para estimar efeitos de retração e fluência, e esse w, =força lateral de_ projeto;
valor proporciona reduções de rigidez menores ao que seria adotado para seções de concreto p '' = carga axial de projeto aplicada decorrente de carregamentos aplicados no piso do , 1
armado. Para determinação do valor de projeto de carga crítica, deve-se ainda incluir o co- d o topo da parede; mve
eficiente redutor da resistência da alvenaria, ym' geralmente especificada igual a 2,0. A carga p '' = carg_a axial de projeto resultante de carregamentos de pisos acima do nível d t d
crítica de flarnbagem (Euler), P", da equação 8.59 pode então ser obtida por: parede (nao considera excentricidade de carregamento); o opo a
e = excentnc1dade de p d!'.
n' (EI),, Equação 8.62 A, = deslocamento lateral a meia altura considerando ações de projeto e efeito PA.

Caso fosse utilizado o equacionamento do método do coeficiente amplificador de


Método PA (força-deslocamento). O método PA, ou força-deslocamento, permite o cálculo
direto dos deslocamentos de 2' ordem. O valor de E!" deve ser estimado da mesma maneira
descrita acima, também considerando o coeficiente redutor da resistência da alvenaria, ym, e a
!7~::s~::\~~~~:~~~ã:ks1~1e:o:):::;º~::e:na:!::: :::;:;;:~:~~~!::~~~::i~:~~;~:s~
m , e , .

redução de rigidez por deformação ao longo do tempo (1 0,5~). A única diferença na ado-
Para a parede biapoiada, o deslocamento de r· . d . ,
trica, P", e força lateral, w,, pode ser calculado por; imeira or em, A,, devido a carga excên-
ção desse método, e potencial benefício, é que o diagrama real de momento de primeira ordem
pode ser utilizado, quando o cálculo de cm para casos em que a linha elástica não é simétrica
Swdh' Pdeh'
e de curvatura simples é feito de maneira aproximada. +-- Equação 8.64
384El.r 16EI.r

8.5.4 Dimensionamento de paredes esbeltas sob baixa compressão axial


dem (:s;e deslocame;t~ deve ainda ser majorado para levar em conta efeito de segunda or-
A S304. l 3º9 permite o projeto de paredes esbeltas, com kh/t > 30, em alvenaria armada total se::, ocamento a ic10nal em função do deslocamento de primeira ordem). O momento
sob condições especiais. Essas condições e as recomendações para projeto são aqui descritas
de forma adaptada aos materiais e demais especificações brasileiras.
São condições para projeto:
31 0 International Conference ofBuilding Office (1 997).
309 CSA S304.l (2004).
PAREDES COM COMPRESSÃO AXIAL E FLEXÃO FORA ()() PlANO 441
440 COMPORTAMENTO E D!MENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL

Na sequência, determina-se Li., a partir da equação 8.66 ou da equação 8.67, verificando


se a condição de serviço está satisfeita. Ainda, pode-se calcular Li. substituindo diretamente a
Equação 8.65
equação 8.69 na 8.66 ou na 8.67 e resolvendo a equação. '

p"

Conforme indicações do capítulo 3, o deslocamento máximo em serviço, Li.,, conside-


- -!1!-
--- l
rando o limite de "Aceitabilidade sensorial - visual'', tem valor igual a h/250 (outros limites
::::: 1
podem ser aplicáveis a situações específicas). Para cálculo desse deslocamento são aplicados
os coeficientes do estado limite de serviço - quase permanente, \\f 1 = 0,3 para a força lateral de P,w

vento, \\f =0,4 para carga acidental, \\f 1 =1,0 para carga permanente. wdh2 p ..õ._
1 : ::::::: 1
Na falta de análise mais precisa, o deslocamento em serviço no meio do vão pode ser 8 " 2
h wd==:: 1 Ll,
estimado por: :::::::: 1
=:1
5M h 2 Equação 8.66
L\0 :::: --'-,para Ms::.:; Mcr :::::::: 1 Pdw para peso
48E,10 1 de metade da
altura da parede

com (a) Parede e ações (b) Momento (e) Momento devido (d) Momento devido à
devido ao vento à carga excêntrica deformação
Equação 8.67
Figura 8.16 Diagramas de momento para as várias ações.

em que:
f, = tensão de compressão axial calculada carga permanente de serviço, 0,9P JA,; 8.6 Paredes pretendidas
f,, = resistência de tração na flexão da alvenaria;
M = momento máximo no meio do vão para ELS - quase permanente e considerando efeito 8.6. l Considerações iniciais
'
PLi..
. A protensão de alvenarias permite retardar a fissuração devida à flexão sob ação lateral.
Para paredes fissuradas sob ação de serviço: Com ~sso, tem-se um potencial de ser possível o projeto de paredes mais esbeltas em função da
reduça~ d~s d~slocan:entos ,em ser:'iço e diminuição dos efeitos de 2' ordem na verificação do
2
5M.h 2 5(M, -M" )h estado hm1te ultimo. E poss1vel aplicar elevadas tensões de compressão com taxa de armadura
Li. 0 =--'-+ , para M > M" Equação 8.68
relativamente pequena.
48E,l 0 48E,l" '
Vários aspectos do dimensionamento foram discutidos no capítulo 6 e não necessitam
se.r repetidos .aqui. A seguir, são resumidos critérios simples de projeto, onde é requerido ao
O cálculo de M é iterativo, devendo ser calculado o deslocamento inicial, depois acrés-
leitor que aplique conceitos básicos de estruturas para realizar dimensionamentos eficientes.
cimo de momento pelo' deslocamento, novo valor de deslocamento e assim sucessivamente até
Ao final deste capítulo, exemplos ilustram os procedimentos.
o ponto de convergência, com os valores apropriados para seção fissurada ou não conforme
o caso. Outro procedimento, mais racional, é calcular M, a partir do valor máximo de Li., para
8.6.2 Análise elástico-linear
ELS, (h/250), a partir da equação:
. Para verificação da deformação no estado limite de serviço, a tração resultante na al-
Equação 8.69
venana, .calculada com coeficientes de ponderação dos esforços convenientes, deve ser nula.
Alternativamente é possível incluir armaduras passivas e admitir alguma tração, com prejuízo
442 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL PAREDES COM COMPRESSÃO AXIAL E FLEXÃO FORA DO PIANO 443

ao controle de fissuração. Os efeitos de 2' ordem, devidos à carga axial e força de protensão, limite elástico-linear. No caso de cabos guiados, embora haja diferença na condição de fissura-
devem ser incluídos no dimensionamento, conforme discutido no item 8.6.4. ção, a máxima capacidade resistente da seção não é significantemente alterada para diferentes
níveis de protensão (Figura 8.!7(a)). Para o caso de cabos soltos, a falta de restrição ao deslo-
8.6.3 Verificação do estado limite último camento lateral dos cabos e o consequente aparecimento de efeito de 2' ordem diminuem a
capacidade resistente (Figura 8.17(b)). Nesse caso, após a fissuração, grandes deslocamentos
No estado limite último, os mesmos procedimentos do item 8.4.3 são aplicados, ex- da parede são observados, mas o cabo tende a ficar reto, gerando assim excentricidade de 2'
ceto que a tensão no aço, f,, deve ser substituída pela tensão no cabo de protensão, f,. Para ordem e diminuição da altura útil do posicionan:iento do cabo em relação à seção.
cabos aderidos ou com deslocamento lateral restrito (cabo envolvido com graute ou preso à Na decisão de utilizar cabos aderidos (em furos grauteados) ou não aderidos, o poten-
parede por dispositivo fixo em ao menos 3 pontos ao da altura), não há efeito PL'. da força de cial de corrosão deve ser considerado. No caso de cabos não aderidos, detalhes como pintura
protensão. No caso de cabos aderidos, pode-se contar com a seção do cabo de protensão para do cabo, proteção com graxa anticorrosiva e envolvimento destes com tubo plástico são reco-
aumento do momento de inércia equivalente da seção. mendados. Quando é permitida fissuração da seção, existem vantagens estruturais do uso de
Para cálculo da capacidade resistente, aplicam-se os conceitos detalhados no item 6.5.5, cabos protendidos, embora sua execução seja menos simples.
com a diferença de se adicionar uma carga axial, P,, ao problema. O equilíbrio pode ser obtido
por (ver Figura 6.23 para referência, com P, não incluído na figura):
6
s s6
- --- 1
Equação 8.70 z
6
1
5
g5
o 4 / o 4
com: "ro /
/
"ro
.~
]< 3 /
/ ;[ 3
T = força de tração = F, = força no cabo de pro tensão = A, · f,;
C =força de compressão= F, =força na alvenaria= k f, · b · x;
B~
V
2v /
/

Nível de protensão
ro

~V
8o
2
/
....... -- - - - - - - -
Nível de pretensão
8o 1 --2MPa --2MPa
f, = tensão no cabo de protensão; 1
::E ---lMPa ::E ---lMPa
A, = área do cabo; o o
d = altura útil dos cabos; o 10 20 30 o lO 20 30
Deslocamento central (mm) Deslocamento central (mm)
x = posição da linha neutra.
(a) Cabos guiados (b) Cabossoltos
Para cabo de protensão posicionado no centro da parede, uma vez conhecido o valor de Figura 8.17 Comportamento a flexão de paredes de tijolos cerâmicos protendidas. 312
x, pode-se determinar o momento de ruptura:
Dimensionamento. Os procedimentos descritos na seção anterior para levar em conta efeitos
M = F · (t/2 - x/2) Equação 8.71
" ' de esbeltez podem ser aplicados a paredes protendidas. A principal diferença é no cálculo da
rigidez efetiva, E!", da seção transversal. A análise deve levar em conta efeitos de 2ª ordem
Esse valor deve então ser superior ao momento total de projeto, M'·'""'' calculado in-
para cabos soltos.
cluindo efeitos Pt. se for o caso.
Como elementos protendidos podem ser muito flexíveis na fase pós-fissuração, pode
ser interessante adotar um dos critérios de projetos a seguir para limitar o efeito de esbeltez
8.6.4 Efeitos da esbeltez
e evitar a necessidade de procedimentos de dimensionamento rigorosos levando em conta
elevados deslocamentos:
Comportamento. Estudos em paredes protendidas sujeitas à ação lateral''' indicam que o
comportamento é influenciado pelo nível de protensão e pelo fator de os cabos serem guiados
i) Dimensionar uma força de protensão suficiente para evitar fissuras para mo-
(fixos às paredes) ou soltos. Como mostrado na Figura 8.17, paredes protendidas têm compor-
mento total, M, ,tota 1, incluindo efeitos de 2' ordem. Nesse caso, o coeficiente am-
tamento elástico-linear até a fissuração, e, depois, não linear até a ruptura. Tanto para paredes
plificador de momento pode ser utilizado. Esse critério pode ser estendido para
com cabos guiados ou soltos, o nível de protensão altera a carga de fissuração e, portanto, o
admitir pequena fissuração consistente com excentricidade virtual da força axial

311 Al-Manaseer & Neis (1987), Geschwindner & Ostag (1990), Ungstad et ai. (1990), Dawe & Aridru (1992),
Graham & Page (1994) e Rodrigues & Hamid (1999). 312 Graham & Page (1994).
444 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL PAREDES COM COMPRESSÃO AXIAl E flEXÃO FORA DO PIANO 445

total, P, + A, · cr,,. inferior a um terço da espessura da parede, t/3. Essa opção


proporciona maior consumo de aço de protensão e necessidade de maior resis-
f =(~)(f, - f,,) Equação 8.73
''' d-kd E E,
p
tência da alvenaria.
ii) Incluir armadura passiva para aumentar a rigidez à flexão de seções fissuradas,
conforme indicado nas equações seguintes. e a força de compressão:
iii) Pode-se impor um limite no aumento na tensão de tração no cabo de protensão,
de maneira a limitar a curvatura após a fissuração. Essa opção é detalhada no ' c = bkd'f,,, Equação 8.74
2
exemplo ao final deste capítulo.

Substituindo C da equação 8.72 e f, 1, na equação 8.74 e indicando a relação de módulos


Uma análise detalhada dos efeitos de 2' ordem é outra opção, que pode ser economica-
n = E/E,, a posição da linha neutra pode ser calculada da análise elástica:
mente viável especialmente se houver repetição do projeto na construção de vários elementos.
No estado limite último, a partir do diagrama de corpo-livre mostrado na Figura 8.18(a), tem-se:
p +A f = bkd(~)(f,-f,,) Equação 8.75
Pd =C-TeF p =Ap .fp Equação 8.72 ' ' ' 2 d-kd n

. t/2 e 1
Para simplificar as equações, define-se R = P, + A, . f, e Q = b (f, - f,,), e pode-se então
n
l resolver a equação de 2º grau para achar o valor de kd:

d Equação 8.76

Conhecido o valor de kd, deve-se checar a condição de comportamento elástico. O


T
T C ~ valor de f, e f"' deve estar dentro da faixa elástica da equação 8.73. Se a condição não for veri-
ficada, um dos seguintes ajustes deve ser feito:
(d) Seção fissurada
(a) Equilíbrio de forças internas e externas (corte vertical)

i) O valortotal da tensão calculada para o cabo de protensão no estado limite últi-


_,_,_,
f-f ~ (b) Deformações elásticas
mo pode não ser necessário e um valor menor substituído no cálculo da capaci-
E,
E,,
dade resistente da seção, M,, e também na equação 8.76.
ii) Pode-se adicionar armadura passiva de maneira que, na equação 8.76, R = P, +A
· f, + A, · f,, devido à fissuração da alvenaria e consequente ativação da armadur~
r',,~
-~ ~ah· (c) Forças internas no regime elástico passiva, provavelmente f, será reduzido, e a rigidez da seção aumentada.
iii) A curvatura na seção crítica e Md,tota1 podem ser determinados ' e o deslocamento
T = f,A, C = 1/2 f,1,bkd
calculado diretamente ou um valor efetivo de El pode ser determinado pela rela-
Figura 8.18 Análise elástica de uma seção protendida. ção entre momento e curvatura. Esse procedimento pode ser utilizado no cálculo
do coeficiente ampliador de momento.
Considerando o comportamento elástico e que a seção se mantém plana após as defor-
mações, como na Figura 8.18(b), a posição da linha neutra depende do aumento da deforma- Se a posição de kd for considerada adequada à análise elástica, então o centroide da
ção no cabo de protensão, esse aumento valor (f, - f,,)IE,- A tensão de compressão na fibra seção equivalente fissurada será:
externa (Figura 8.18(c)) será:
446 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL PAREDES COM COMPRESSÃO AXIAL E FLEXÃO FORA DO PLANO 447

( bkd!<!+nA,d+nA,d) Carga vertical


y Equação 8. 77
(bkd+nA, +nA,) Tração

e momento de inércia da seção fissurada igual a: Compressão triaxial

1 = b(kd)' +b(kd)(y - kdJ' +nA,(d-y) 2 +nA,(d-y) 2 Equação 8.78


" 12 2

Para cálculo da rigidez efetiva na equação 8.61, a excentricidade da carga axial deve ser
calculada incluindo a força de protensão antes da fissuração. Portanto:

Md +f,,A,e,
e Equação 8.79 Compressão axial e tração biaxial
Pd +f,,A,

Para o método do coeficiente ampliador de momento, deve-se destacar que a força de


protensão não produz efeito de 23 ordem se o cabo estiver preso à parede. Então, o valor de Pd
Figura 8.19 Tensões sob uma carga concentrada.
na equação 8.59 não deve incluir a força no cabo de protensão. Se o cabo estiver solto, então a
força de protensão deve ser incluída.
A região imediatamente sob a carga está sob um estado triaidal de tensões de compressão
Nos casos em que a seção transversal pode ser dimensionada para não fissura na combi-
e a resistência à compressão nesse local é aumentada. Portanto, é possível considerar a resis-
nação última de ações, a diferença é muito pequena se o cabo for guiado ou solto, ou, caso seja
tência de compressão de contato maior que a de compressão simples no dimensionamento.
guiado, se for aderido ou não. Nesse caso, a formulação para alvenaria não armada na equação
Resultados de ensaios313 e de análises numéricas314 indicam que, sob a carga concentrada, a
8.61 é utilizada para cálculo de E,,.
restrição ou o confinamento proporcionado na região de contato pelas regiões ao redor, sub-
metidas a menores tensões, pode aumentar significativamente a resistência de contato (figuras
8.20 e 8.21). Conforme a carga concentrada se espalha em regiões abaixo, o estado de tensões
8.7 Cargas concentradas é alterado com !rações biaxiais na direção horizontal ocorrendo, o que pode levar a fissuras
verticais. Com o aumento da carga aplicada, pode haver esmagamento por compressão.
8.7. 1 Estado de tensões sob cargas concentradas
O comportamento de alvenaria de blocos vazados é diferente do observado em alvena-
ria de tijolos maciços ou grauteados, especialmente quando o assentamento dos blocos é feito
Quando uma parede de alvenaria é submetida a uma carga concentrada no seu plano,
com dois cordões laterais somente de argamassa. Resultados de ensaios315 indicam ruptura no
elevadas tensões pontuais de compressão vertical ocorrem sob o ponto de aplicação. Essas
meio das paredes transversais do bloco em um plano paralelo às faces laterais. Esse tipo de
tensões vão sendo gradativamente distribuídas para áreas maiores em regiões abaixo desse
ruptura é atribuído ao aparecimento de !rações laterais que ocorrem para distribuir a carga
ponto. Essa transição cria tensões principais, incluindo de tração, que podem causar fissuras
concentrada do ponto de aplicação para as faces do bloco através das paredes transversais
verticais. A Figura 8.19 mostra um padrão típico de distribuição de tensões produzidas por
destes. É necessário haver especificação de uma ou duas fiadas de canaletas grauteadas ou
uma carga concentrada.
coxim de concreto para permitir o espalhamento seguro das tensões concentradas.

313 Page & Shrive (1988) e Matiz & Hendry (1986).


314 Page & Ali (1987).
315 Page & Shrive (1988).
PAREDES COM COMPRESSÃO AXIAL E FLEXÃO FORA DO PlANO 449
448 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL

8.7.2 Especificações para dimensionamento


4,5
Curva média para todos resultados Imediatamente sob o ponto de contato, não existe o efeito de flambagem e pode ser
4,0 i-
considerado um aumento na resistência à compressão, desde que haja alvenaria suficiente ao
.~ 3,5 t-
u redor da área de contato para permitir o confinamento desta. Recomenda-se que o apoio seja
"
<U

·~
~
3,0 r- I Faixa de resultados sempre feito pelo menos meio bloco afastado da extremidade da parede e que uma ou duas
fiadas próximas a esse ponto sejam grauieadas otl de concreto.
""' 2,5 r- De acordo com a NBR 15812318 e NBR 15961,319 atendidas as condições do parágrafo
~u anterior, se a espessura de contato (distância a na Figura 8.22) for maior que 5 cm e maior que
2,0
~
u
t/3, pode-se considerar um aumento de 50% na resistência à compressão. Caso contrário, não
1,5 t-
"1'i-o se recomenda considerar o aumento de resistência.
1,0 t""
'"
0,5

0,0 1
' ' '
0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0

Área de contato/área total

Figura 8.20 Resultados de ensaios do fator de aumento de resistência em relação à área de contato e
posição da carga concentrada. 316

4,0
• a= o,s
3,5 • 1,0

• • 1,5
·~ • 2,1
"
<U
3,0 • 2,9
.~ • 9
~
u
-
""'
o
2,5 ~
2,0

"s
u

u
g 1,5 •
"- •
~
1,0

0,5
a = altura/largura da parede

o
o 0,05 0,1 0,15 0,2 0,25 0,3

Área de contato/área total


Figura 8.22 Verificação da região de contato sob carga concentrada.
Figura 8,21 Resultados de modelagem em elementos finitos do fator de aumento de resistência sob
317
cargas concentradas em relação à área de contato e relação altura/largura da parede.

318 ABNT (2010).


316Malk & Hendry (1986).
319 ABNT (2011).
317 Page & Ali (1987).
450 COMPORTAMENTO E DIMENS!ONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL PAREDES COM COMPRESSÃO AXIAL E FLEXÃO FORA DO PLANO 45 l

Deve-se verificar: 2e'


K =l-- Equação 8.83
2 b'
t/3
K1 • O, 7 · f,, /Y,,, se a ?'. { 5cm
Pk ·Yr < K, = ~AFR :S 2,0 Equação 8.84
a·b - t/3 a·b
O, 7 · f,k/Ym se a< { Sem
em que:
e' = excentricidade da carga concentrada em relação à placa de apoio;
com:
b' =dimensão da placa de apoio na direção da excentricidade e';
p, = carga concentrada;
A,R = área sob a placa de apoio, similar e centrada à área da placa, medida considerando urna
a, b = dimensões da área de contato;
dispersão de 22° ou 2,5: !.
K1 = fator de aumento da resistência sob cargas concentradas = 1,5 para alvenaria de tijolos
maciços ou totalmente grauteados, ou 1,0 nos outros casos.
Caso haja um coxim de concreto, canaleta grauteada ou mesmo urna viga sob a carga
concentrada, deve-se verificar a tensão de contato logo abaixo do elemento grauteado/de con-
Alternativamente, o valor de K, pode ser estimado a partir de recomendações da CSA
creto na transição entre alvenaria de blocos vazados. A tensão aplicada é calculada conside- '
304.1, que são baseadas nos resultados de ensaios descritos.
rando o espalhamento a 45º dentro do trecho grauteado/de concreto, com a resistência desse
Para alvenaria de tijolos maciços ou totalmente grauteados, K, é o menor valor entre:
ponto verificada conforme abaixo:

K, =o,ss(1+0,s~: )1!.t Equação 8.80 ~----pk'--'.y"-'----<k 4 ·k5 ·k6 ·0,8·0,7·f/( Equação 8.85
Aconsiderando espalhamento de carga a 45°
a, Equação 8.81
K r =15-
, f em que:
2

K, = }(1+37!');
com K nunca tornado inferior a 1,0, onde:
K5 = [(80 /a,,)+ 0,8], não inferior a 1,0 ou superior 2,0;
a 1 = di~tância da extremidade da parede até a borda mais próxima da placa de apoio; K, = (0,6 + 0,00033 a,), não superior 1,0;
Ah = área considerando o espalhamento das tensões, a meio da altura da parede;
e = excentricidade da carga concentrada em relação à parede;
f 2 = comprimento da parede.
a,,= comprimento da carga espalhada na interface da região grauteada/ de concreto e alvenaria
de bloco vazado, considerando dispersão a 45º;
No caso de parede construída com junta a prumo ou existência de junta de controle,
a, = distância da carga à extremidade da parede.
não deve ser considerado espalhamento através dessas juntas.
Paredes de blocos vazados. No caso de blocos vazados não grauteados, recomenda-se con-
Nos casos de alvenarias parcialmente grauteadas, o valor da resistência pode ser obtido
siderar a dispersão de tensões em um ângulo de 22º, ou seja, com inclinação de 2,5:1. A alve-
por interpolação.
naria sob a placa de apoio deve ser totalmente grauteada ou de concreto (recomendado), caso
contrário a resistência do ponto de contato é menor. Na não existência de coxim de concreto
ou canaleta grauteada, a região de contato deve ser verificada por:

Equação 8.82
452 COMPORTAMENTO E D!MENS!ONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL
PAREDES COM COMPRESSÃO AXIAL E FLEXÃO FORA DO PLANO 453

8.8 Cisalhamento no plano perpendicular à parede

8.8. l Paredes armadas e não armadas

A aderência da argamassa e o atrito proporcionado pela pré-compressão permitem re-


omprimento Comprimento I,._ Compr_lmento.J sistência ao cisalhamento para forças laterais perpendiculares ao plano da parede. Embora seja
+-.efetivo +- efetivo -+ efetivo
raro que esse limite seja atingido antes do limite' à flexão e compressão, é necessário fazer uma
Comprimento efetivo < espaçamento Comprimento efetivo com distribuição a 45º
rápida verificação no dimensionamento.
(a) Juntas amarradas no plano da parede
De acordo com a normalização brasileira, deve-se verificar a resistência ao escorrega-
Carga mento das juntas entre as fiadas, com limite determinado por f,,, igual a:
1~5'
A11a

0,35 + 0,5 a,; 1,7


Equação 8.86
e.......
~ .~

1\ Comprimento efetivo ompnmento


efetivo em que <J =tensão de compressão na seção considerada, calculado com 90% da carga perma-
(b) Junta a prumo no plano da parede
nente, incluindo de protensão (após perdas).
Na base da parede, é conveniente muitas vezes utilizar apenas o limite (0,5 cr), pois pode
não haver perfeita aderência entre os materiais distintos (concreto e alvenaria).

8.9 Exemplos de dimensionamento

8.9. l Exemplo 8. l: Parede sob carga centrada

(c) Espalhamento de cargas concentradas em alvenarias grauteadas ou de tijolos maciços Problema: Para a parede mostrada na Figura 8.25, construída com blocos vazados de concreto
de 19 cm, fbk = 10 MPa e argamassa de assentamento nas duas faces laterais, calcule qual a
Figura 8.23 Espalhamento de tensões concentradas válido para alvenarias maciças ou totalmente grau-
máxima carga centrada possível de ser aplicada. Considere a carga permanente igual quatro
teadas.
vezes o valor da carga acidental.
Solução: Para bloco de concreto de 10 MPa será considerado resistência de prisma igual
45 graus para alvenaria
a fPk=7,0 MPa, resistência da argamassa fa =8,0 MPa e do graute f, g
=20 MPa (ver Tabela
.+-1-- maciça ou totalmente
grauteada 5.3). Considerando parede simples, t" = t = 19 cm, e apoio lateral simples na base e topo,
k = 1 com h = 440 cm.
AFR
A Medido neste plano
L A) Método da normalização brasileira. Como t = 19 cm > 14 cm e 'A= kh/t = 1 ·
440/19 = 23,1 < 24, pode-se adotar alvenaria não armada. O fator de redutor de
Perímetro similar resistência devido à esbeltez vale:
e centrado com a
área da placa
de contato
R =[1-(J<.l'._)'] =[1-( l,0·.
40t,,
44
40 19
o)'] = 0,806

Vista superior. A A
Figura 8.24 Área de contato para cargas concentradas.
454 COMPôRTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL T
1
PAREDES COM COMPRESSÃO AXIAL E FLEXÃO FORA 00 PLANO 455

Das equações 8.29 e 8.28,


0, 7 · 7,000 ·0,19·0,806=268kN/m
2,0·1,4
0,7f kl .,
P ,;qm" kb(2t,-r) [eq.b]
Considerando o fator redutor 0,80 por ter argamassa apenas nas laterais, o valor
Ym
de Pk é limitado a 0,8·268 = 214 kN/m,
r= (~+e )-~Vt' + 4tert 4e' -16 e t, [eq.c]
B) Método do coeficiente amplificador de momento. Como kh/t é maior que o
limite da equação 850, então deve-se considerar efeitos de esbeltez, mas como é
menor que 30, pode-se adotar alvenaria não armada. Fazendo e= e""' e P,, = P,, pode-se resolver o problema de forma iterativa, eq.c
Por esse método, deve-se considerar a área líquida como referência, com fpk,11qui.,a -. eq.b -. eq.a -. eq.c, etc.
= 2·7=14MPaeE = 800fk= 800 -14 = lL200MPa. Admitindo e""' = 0,03 m, resulta em P, = 233 kN/m a partir das eq.c e eq.b.
' p
Considerando a espessura das paredes laterais dos blocos, sobre a qual é disposta Calculando e na eq.a, chega-se a e""' = 0,064. Repete-se o cálculo das equações
a argamassa, igual a 3,2 cm, o momento de inércia da seção, por unidade de até os valores convergirem para etotal = 0,048e Pd = 199 kN/m ' com Pk = 199/1 ' 4 =
comprimento, vale: 142 kN/m. Como e"'"'< (t/2 - t/2), as duas paredes do bloco estão comprimidas
e a análise, coerente.
3 3
t'-(t-2t, )' 0,19 -(0,19-2·0,032) = 4 405 xlO-<m' /m
I p
12 12 '

Nesse caso, a rigidez efetiva, levando em conta de forma simplificada fissuração


e deformação lenta, vale:

EI,,= 0,4E,1 0 = 0,4, 11.200 · 4,405x10-4 xl0 3 = L814 kN·m 2/m

Para carga centrada, deve-se levar em conta a excentricidade mínima igual a O,lt
= 0,1, 19 = 1,9 cm, na base e no topo, com e/e2 = + 1,0.
19cm
Como P,, = 4P"'' b, = M,/M, = (4P"<l0,lt) / [(P"' + 4P",)·O,lt] = 0,8.
Da equação 8.62:
2
7t (EI),, ____n_'_·1_9_1_6_ _ _ = 330kN / m
(1,0' 4,4)2 (1 +0,5 ·0,8)· 2,0

Para a condição de parede biapoiada e mesmo momento da base e topo, Cm= 1,0,
o momento máximo definido pela equação 859 será:
Figura 8.25 Parede do exemplo 8,J - carga centrada,
M
d,total.:::::
M
d
Cm
1-
%
d
1,0
P, ·0,019 P,, /
l - ;;,-750
8.9.2 Exemplo 8.2: Parede sob carga excêntrica e força lateral
p"
Problema. Dimensione a parede mostrada na Figura 8.26 para resistir a uma carga vertical per-
Na seção crítica, na metade da altura, M'·""' = P, · e""' com e""' = e ~~ = manente de 6,0 kN/m, com excentricidade de 10 cm e uma ação lateral de vento de 1,0 kN/m 2,
1- d p Considere as opções:
"
1,0
= 0,019 P, /
[ l
eq.a ,
(a) Alvenaria armada.
l- ;;,-330
456 COMPORTAMENfO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRlJTURAl PAREDES COM COMPRESSÃO AXIAL E FLEXÃO FORA DO PIANO 457

(b)Alvenaria armada esbelta com kh/t >30. Considerando taxa de armadura mínima de 0,1 % . t = 0,1 · 19 = 1,9 cm 2/m, será ado-
tada uma barra de 16 mm a cada 1,0 metro, com área real A,= 2,0 cm 2/m, posicionada no
Solução. Para a carga vertical com 1Ocm de excentricidade e a força lateral distribuída, atuando centro dos furos. A largura da seção para dimensionamento a flexão deve ser limitada a 3t,
em sentidos contrários, a carga permanente tem efeito favorável para momento máximo no então b = 3 · 19 = 57 cm.
meio do vão (y, = 0,9) e a variável de vento tem efeito desfavorável (y, = 1,4). O momento de Desprezando a pequena contribuição que causa pré-compressão devido às cargas per-
cálculo será: manentes, o momento resistente será d~terminado por flexão simples. A resistência do prisma
será adotada na área líquida, igual a f, . .d = 14!0 MPa, com E . = 11.200 MPa:
p ,11qu1 a a,llqutda
-o 96,0·0,l l,0·4,8 2 Da equação 6.17 (capítulo 6):
Md - ) + 4,30kN·m/m
2 8
A,· ·Y,, 2,0·500·2,0
x= = 3,9cm
A relação entre momentos devidos à ação permanente e total vale: 0,56·b·k·f,, ·'{, 0,56·57·1,0·14·1,15

A
.,, 6,0·0,l)
=M,,/M, = ( 0,9- - /4,30=0,063 Da equação 6.18:
2
A,·f, 2·50
MR,=--' (d-0,4x)=-(9,5-0,4·3,9) = 6907 kN·cm/m = 6,91 kN·m/m
Como prevalece o momento devido à força lateral uniforme no elemento biapoiado, Y, 1,15
será adotado c,, = 1,0.
Para levar em conta a prescrição da normalização brasileira de limitar a tensão no aço
a 50% de seu valor, b valor de MR, será considerado com metade de seu valor= 3,45 kN·m/m.
e=lOOmm
Alvenaria de
0,60kN-m/m O valor calculado é inferior ao esforço de cálculo, MR, < M,, portanto deve-se aumentar a
bloco vazado
de concreto quantidade de armadura. Como a largura útil é limitada a 57 cm, utilizar barras de 16 mm c/60
irá levar ao momento MR, = 3,45 kN·m/0,6m = 5,76 kN·m/m, valor superior ao esforço M,,
deixando ainda uma folga para a verificação do efeito PA de 2' ordem.
O peso próprio da parede no meio da altura, considerando graute a cada 60 cm, com
área do vazado aproximadamente igual a 10 · 12 = 120 cm 2, será igual a [0,19. 1,0. 14 + (0,012
4,30kN-m/m · 24/0,6)] · 4,8/2 = 7,54 kN/m. Nesse cálculo foi considerada densidade aparente da alvenaria
I• d •I igual a 14 kN/m3 e do graute igual a 24 kN/m3, Somando esse valor com a carga aplicada no
e, !f'>.~ topo de 6 kN/m, chega-se a P, = 13,54 kN/m.
""1 0,0035 A excentricidade de 1' ordem, no meio do vão, vale:

M 4,30
e=-' =--=0,316m »e,
P, 13,54
Momento da Momento devido
força de vento à excentricidade
Portanto, a seção está fissurada, e como a excentricidade é muito maior que a que leva à
1' fissura, será adotado EI" = E,I":
(a) Ações e geometria (b) Diagramas de momento (c) Distribuição de deformação
e forças
n =E, I E,= 210 / 7,2 = 23,3
Figura 8.26 Parede do exemplo 8.2 - carga excêntrica e força lateral.
Das equações 6.7 e 6.9:
(a) Alvenaria armada. Nessa solução serão considerados blocos de 19 cm e fb, = 10 MPa. Para
esse caso, convém especificar uma argamassa de f, = 8,0 MPa. O graute será especificado em kd kd
nA, ( d-kd )= -bkd-; 23,3 · 2,0 ·(9,5- kd) -·57·kd
f, = 20,0 MPa. Para apoio lateral simples na base e no topo, k = 1 com h = 440 cm e À = kh/t 2 2
g .
= 1. 480/19 = 25,3 < 30.
458 COMPORTAM.ENTO E DIMENSIONAMENTO DE AtVENARIA ESTRUTURAL PAREDES COM COMPRESSÃO AX!Al E FLEXÃO FORA 00 PIANO 459

-> kd = 3,2 cm (dentro da parede comprimida do bloco) n =E J E = 210.000 J (800 · 12,25) = 21,4
' '
57 3 2 Das equações 6. 7 e 6.9:
I,, = b(kd)' +nA (d-kd) 2 = ( • )' +23,3·2,0(9,5-3,2) 2
3 ' 3
kd kd
nA (d-kd)=-bkd-7 21,4·6,25·(7,0-kd)=-· lOO·kd => kd =3,2 cm
= 2472 cm'/0,6 m = 4120 cm /m 4 ' 2 2

3 3
, I
Usando o método do coeficiente ampliador de momento para estimar efeitos de 2' b(kd) ( 2) •
!" = +nA.{d-kd 2 )= lOO +21,4·5,0(7,0-2,0)2 =220lcm 4 /m
ordem: 3 3

rc' ·(7200·4120x10-') rc'(EI),, rc' ·(800·12,25·220lx10-s)


61,6kN/m 44,8kN/m
2
(1,0. 4,8) (1+0,5. 0,063). 2,0 (1,0· 4,8) 2 (1+0,5·0,063).2,0

com b, = M,,JM, = 0,9·6·0,05/4,3 = 0,063. O peso próprio da parede toda grauteada, no meio da altura, será igual a [0,14 · 1,0 · 24]
4,8/2 = 8,06 kN/m. Somando esse valor com a carga aplicada no topo de 6 kN/m, chega-se a
Portanto: Pk = 14,06 kN/m.

14 .~~ ' 0%44, 8 =7,70kN·m/m


0
M -M Cm 1,0 M -M Cm
'·'º"' - d p~
1- 'p
43
= •º 1-
l,4·13 54/
'/61,6
6,2lkN·m/m d,total - d p~
1- d p
4,30
1-'
" "

Esse valor é 8% maior que a capacidade resistente M,, = 5,76 kN-m/m. Considerando as Da equação 6.17 (capítulo 6):
simplificações realizadas e, em especial a limitação de tensão do aço a 50% do seu valor real,
6,25·500·2,0
entende-se ser razoável aceitar a verificação. Ainda, pela normalização brasileira, o momento x=---~-- - - - ' - - - - - ' - - - = 7,92cm
de segunda ordem é estimado pela equação 8.47: 0,56·b·k·f,k ·Y, 0,56·100·1,0·12,25 · l,15

M - P,(kh)' l,4·13,54(4,0)' =l,15kN·m/m A posição da linha neutra é inviável (maior que d), então a seção não está verificada.
2
' - 2000t 2000·0,19 Entre as opções para ·resolver o problema pode-se pensar em:

Nesse caso, M,,tota1 = 4,30 + 1,15 = 5,45 kN·m_/m, valor consideravelmente menor que o i) posicionar a armadura de forma excêntrica, o que gera complicações no controle
calculado pelo equacionamento mais preciso. Deve-se considerar que essa última expressão da execução;
leva em conta apenas efeitos de esbeltez, e não efeitos Pti. que, além da esbeltez, também con- ii) aumentar a resistência do bloco, que aumentaria ligeiramente a capacidade resis-
sideram o deslocamento lateral devido à força de vento e, portanto, não seria adequada a sua tente à flexão, mas principalmente permite aumento de E, e redução do efeito de
aplicação nesse caso. 2' ordem.

(b) Alvenaria armada e esbelta. Nesse caso, serão utilizados blocos de 14 cm, com as mesmas Será, então, aumentada a resistência do bloco, com f,k = 20 MPa, f, = 14 MPa, f,, = 30 MPa,
características do exemplo 7.3: fbk = 10 MPa, f, = 8 MPa, f,k = 20 MPa, f,k = 7,0 MPa, f,k = 12,25 f,, = 14,0 MPa, f,, = 22,40 MPa, f,k.Uq""' = 28,0 MPa, f,k.llqoi<l• = 22,40 MPa.
MPa,fp,iquia ki· ., = 12,25MPa. Para t= 14cm,Â=kh/t= l · 480/14= 34,3 > 30.
,, .., = 14,0 MPa, f p,1qu1a Refazendo as verificações:
Considerando a esbeltez da parede, será adotado grautear todos os furos e armar cada um
com uma barra de 12,5 mm, com A,= 6,25 cm2/m. Como a armadura está distribuída (espaça- n =E,! E,= 210.000 ! (800 · 22,40) = 11,7
mento< 3t), não há necessidade de limitar a largura efetiva para cálculo. Portanto, b = 100 cm.
Utilizando as propriedades da seção grauteada: Das equações 6. 7 e 6.9:
460 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL
PAREDES COM COMPRESSÃO AXIAL E FLEXÃO FORA DO PlANO 461

kd kd 0,3 · l,0'4,8 2
nA (d-kd) = -bkd _, 11,7 ·6,25·(7,0-kd) = -·lOO·kd => kd = 2,6cm M, =6·0,05+ +14,06·0,0192=1,43 kN·mlm
, 2 2 8

I = b(kd)' +nA (d-kd) 2 l00( 2' 6)' +ll,7·6,25(7,0-2,6) 2 =2004cm 4 lm Da equação 8.68:
cr s
3 3
2 2
, 5M,h 5(M, -M")h M M
'-'0 = - - + ,para
n' (EI),,
(kh) (1+o,5~d )ym
2
5
n' ·(800;22,4·2004xl0- ) = 74 , 6kN lm
(l,0·4,8) (1+0,5·0,063)·2,0
48Ea I O 48Ea l cr '
>'
" I
5·1,43·4,8 2 5·(1,43-0,70)·4,8 2
+ =O 009m =O 9<1 92-. ok
~ir: ~4º)º'.l474,6 = 5,84kN ·mim
48·800·13.440·2,29Xl0__,, 48·800·13.440·0,21Xl0"' ' ' ' .
= 4,30 .
d l- 1) 4
p"
8.9.3 Exemplo 8.3: Parede dupla de tijolos cerâmicos, esbelta e protendida

Da equação 6.17 (capítulo 6): Problema: Dimensionar a parede mostrada na Figura 8.27(a), com 2 metros de largura e altura
de 8 metros, considerando uma carga permanente no topo de cada parede de P,, = 10 kNlm
6,25·500·2,0
4,3 cm e acidental de Pqk = 5 kN/m. A força lateral de vento a ser considerada vale w, = 1,35 kNlm 2•
0,56· 100· l,O· 22,4· l,15
Os tijolos têm dimensão de 57 x 190 x 90 mm. Use cabos de protensão em barras de baixa
relaxação CP190RB7, cordoalhas de 15,2 mm de diâmetro e Ap = 143,5 mm2 e fpu = 1900 MPa>
Da equação 6.18: EP = 195 GPa.
Solução: Na seção de maior momento, na metade da altura, o peso próprio da parede (densi-
A, ·fr, 6,25·50
MR,=--(d-0,4x) ---(7-0,4·4,0)= 14,3lkN ·mim dade aparente da alvenaria de tijolos cerâmicos maciços= 18 kNlm' e do graute = 24 kNlm')
Y, 1,15 será:

Para levar em conta aproximadamente (f, = 0,5fr,)' o momento resistente será conside- P8, = (2 · 0,09 · 18 + 0,07 · 24) 4 = 9,84 kNlm
rado com metade do valor MRd = 14,31 · 0,5 = 7,16 kN·m/m
Considerando que o vento incidente sobre as janelas, de 3,0 metros de largura, será
M, = 5,84 kN·mlm < MRd = 7,16 kN·mlm-. ok também absorvido pe_la faixa de parede de 2,0 metros, o valor da pressão de vento para dimen-
sionamento da faixa de parede será multiplicado por (2 + 3)12 = 2, 5' ou wk/parede = 2' 5 . 1' 35 =
Verificada a condição de ruptnra, é preciso verificar o estado de limite de serviço de 3,38 kNlm' e
deformação máxima para a parede esbelta. O limite de deslocamento será hl250 = 4801250 =
1,92 cm no meio do vão, calculado com \jl1 = 0,3 para a força lateral de vento. Considerando a Md = 1,4 · 3,38 · 8218 = 37,8 kN·mlm
parede toda grauteada, a inércia da seção não fissurada é igual a ! 0 = 0,143112 = 2,29 x 10- 4 m'lm.
O momento de fissuração, para f" = 0,25 MPa e P, = 14,06 kNlm na metade altura, será: (a) Solução 1: sem fissuras no estado limite último: Se a parede não fissura, a sim-
ples análise elástica é suficiente, com as tensões decorrentes de carga combinadas

M =(o,9-1't.+~)__l_g_=(o,914,06 + 250)2,29xl0' 0,70kN·mlm


iguais a:
" A, 2,0 t/2 0,14 2,0 014/2
f =~+Md
alv A - S
Assumindo, para fim de verificação de condição crítica, que o deslocamento no meio ' '
do vão é o máximo permitido, igual a 1,92 cm, o momento em serviço, considerando o efeito Na compressão:
de 23 ordem, será:
(l,4·10+0,5·1,4·5+1,4·9,84) 37,8 2
+ 3753kNlm =3,75 MPa
M -p . . \jl1 ·w, ·h' ( )·LI. 0,25 0,01042
s - k.topo ePk.top<>no meto da altura+ + Pk,topo + Pk,peso próprio no meio da altura
8
462 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE AlVENARIA ESTRUTURAL PAREDES COM COMPRESSÃO AX!AL E fLEXÃ.O FORA DO PIANO 463

Para tração, deve-se considerar apenas as tensões de compressão devidas à carga A resistência da alvenaria, considerando a força de protensão e yf,protensao
. = 1' 2 e o
permanente com coeficiente 0,9: aumento da resistência de compressão na flexão em 50% e desprezando efeito de
esbeltez, uma vez que a tensão de compressão da carga aplicada e do peso próprio
37 8 são muito pequenas em relação as demais tensões, será:
' = 3556kN / m 2 = 3,56 MPa
0,01042
> (1,4·10+0,5·1,4·5+1,4·9,84) (1,2·780) 37,8 2
f, +, /+ =7743kN/m =7,74MPa
Considerando o limite aparecimento de fissuras na compressão igual a 60% da resis- 0,25 2·0,09 0,01042·1,5
tência do prisma, deve-se limitar a resistência à compressão de projeto a esse valor:
Para f,k = 25 MPa, f, = 0,7 · 25/5 = 8,75, portanto maior que o necessário.

(b) Solução 2: sem fissuras no estado limite de serviço e verificação do estado


limite último. Considerando utilizar pretensão apenas para que a parede não fis-
Considerando tijolos de alta qualidade, não é incomum eles terem resistência sure para combinação de ações em serviço, é possível reduzir consideravelmente
superior a 50 MPa, com f,k = 25 MPa, com limite para a tensão na alvenaria igual a quantidade de cabo de pretensão necessária. Para não haver tração em serviço,
a 0,3 · 25 = 7,5 MPa. deve-se ter:
Para eliminar a tração de 3,56 MPa é necessário protender com força de com-
pressão suficiente, considerando perdas. Considerando o uso de aço de alta re-
sistência e a altura considerável da parede de tijolos cerâmicos (sem retração), o
valor de 6% de perda é considerado razoável para estimativa inicial, não incluin-
do aí a perda por acomodação da ancoragem no instante da protensão. Com Pk considerando apenas cargas permanente e de protensão, com y1 = 0,3
O grauteamento do vazio entre as paredes será executado depois da pretensão, para a força lateral de vento e perdas de 6%:
utilizando graute com aditivo compensador de retração. Desta forma, apenas a
0,9·(10+8,94) 0,9(0,94P,,) 0,3·27,04
área das duas paredes laterais será inicialmente considerada. A tensão no aço de + ---=0-i>Pk =15lkN/m
protensão deve ser limitada a f, = 0,7 f," = 0,7 · 1900 = 1330 MPa. Considerando 0,25 0,18 0,01042 p

as perdas, essa tensão é reduzida para f,, = 0,94 · 1330 = 1250 MPa. A área do
cabo pode então ser calculada: Pode-se então reduzir o número de cabos para 2, com Ap = 2,93 cm'/m e Pkp =
366 kN/m.
0,9A f, 0,9A 1250 A verificação da deformação lateral pode ser feita considerando a seção não fis-
-~'~'~?: 3,56MPa -i> ' ?: 3,56MPa -i> A,?: 5,69cm 2 /m
A, 2·0,090 surada (a tração é nula em serviço), com E,= 600. f,k = 600 ..25 = 15.000 MPa.
As ações devem ser consideradas em valores de serviço. Como o cabo é todo en-
Utiliza-se então 4 cabos (cada um com 1,435 cm'), com área real A p = 5,86 cm2 /m volvido por graute, não é necessário considerar a força de protensão para efeitos
e força de pretensão após perdas P, = 5,86 · 1250 = 732 kN/m, conforme Figura de 2' ordem. O valor da flecha a meia altura pode ser estimado por:
8.27(b). 2
Considerando acomodação de 6 mm na cunha de ancoragem, a tensão no ins- Li,= 5M,h
48E,1 0
tante da pretensão deve ser aumentada para compensar essa perda:

8 8 O momento em serviço é calculado com a força de vento e efeito PL\. da carga


f,, =1330+--E,1330+--195.000=1525 MPa
8.000 8.000 permanente aplicada no topo:

No instante da protensão, permite-se aplicar uma tensão de até 94% da tensão de M,


escoamento fpy = 0,9 fpu , limitada portanto a 0,94 · 0,9 · 1900 = 1607 MPa, valor
superior ao necessário.
464 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL PAREDES COM COMPRESSÃO AXIAL E FLEXÃO FORA DO PLANO 465

O cálculo é então iterativo, uma vez que M, e A0 dependem um do outro. Admi- Uma solução é adicionar barras de armadura passiva, o que será tentado adi-
tido A0 pelo limite h/250 = 800/250 = 3,2 cm: cionando uma barra de 16 mm a cada metro (Figura 8.27(c)) entre os cabos de
pretensão. Nesse caso, a força de tração da armadura passiva será T2 = As . "' 't'fy
=

M, 0, 3 · 3•33 · 3' +20·0,032 = 8, 75kN ·mim 2,0 · 50/1,15 = 86,96 kN.


8 O valor de x pode ser estimado considerando também esta força: x = (A . cr +
p P'
P, + 0,5 A,· <j>fy) / (f0 • b)-. l' = (389,69 + 31,28 + 86,96) / 70 = 7,25 cm. Com esse
Com esse valor, novo valor, M" 70,0 · 7,25 · (0,125 ~0,0725/2) = 45,06 kN·m/m.
5
5·8 75·8 2 Recalculando: 0 = 0,0035/7,25 = 0,00048, A - · 0,00469 · 800 ' =32 Jcm M =
u 48 , , d2
' ( )=0,003m=0,3cm
6 0,25 3
48·15X10 · - · - 31,28 · 0,321=10,06 kN·m/m e M,_.,,.1 =37,8+10,06 = 47,86 kN·m/m. Esse valor
12 ainda é menor que o resistente.
Aumentando a armadura passiva para 2 barras de 16 mm entre os cabos de pro-
Como o valor é bem menor que o estimado antes, pode-se admitir que a condi- tensão: T, = 173,91 kN, x = 8,49 cm, M R, = 49,08 kN·m/m, 0 = 0,00041 ' Au = 27 ' 4
ção está verificada. cm, M" = 8,59 kN-m/m e Mº·'°"' = 46,39 kN·m/m, portanto verificada a seção.
Para o estado limite último, deve-se estimar a capacidade resistente da seção.
Incluindo a parcela da força P, na equação 6.75, tem-se: x = (AP · cr,, + P,) I (0,8 r-- Faixas de Janela 3 x 8 m
. f,. b) (que corresponde à equação 8.72: P, = C -T), em que C = 0,8 · x · b · f, = t
X. 1,0 . 0,7f,J2 =X. 100 . 0,7 . 2,5/2 = 70,0 . X [kN,cm], T = Ap. cr,, =A, . 0,7f,,
= 0,7. 190 = 389,69 kN e P, = 1,4. (10 + 0,5 · 5 + 9,84) = 31,28 kN, resultandox
= 6,01 cm. A capacidade resistente será: MR, = M, = C ·(d - x/2) = 70,0 · 6,01 · Paredes de 2 x 8 m
(0,125 - 0,0601/2) = 39,96 kN-m/m.
Ainda que a força de protensão não produza efeitos de 2' ordem, pois os cabos
são totalmente envolvidos com graute e, portanto, guiados, é necessário ainda so-
mar o efeito de 2' ordem da carga aplicada no topo e peso próprio na verificação
do momento na metade da altura. I~ 3m ,1 1 2m~I~ 3m .1
O cálculo da rigidez efetiva da seção fissurada é complexo. Uma opção é calcular
(a) Geometria da parede
a rigidez a partir da curvatura da seção na ruptura e estimar o efeito de PA a
partir do deslocamento obtido com esta curvatura máxima:
o
0=~=~
x/0,8 (E!)" 2501 f--1:' _ ·- .- . ---l:·'i ' §' ~7,74MPa
Considerando a deformação na ruptura e, = 0,0035 ex= 6,01 cm, 0 = 0,0058, Pretensão inicial Compressão axial mínima
o deslocamento na ruptura será: (b) Solução l considerando ações de projeto

2
5M h 2 50h 2 5·0,0058·800
A =--'- = - - =
" 48E,l0 48 48
38,8cm i· 250 .,. 500mm .,. 250 ,, (f, - f,)IE,

K
Solução 2: 2 cabos/m

O momento total será igual ao de primeira ordem, M" = 37,8 kN·m/m, somando •
ao de segunda ordem , Md2 = PdAu = 31,28 · 0,378 = 12,13 kN·m/m. O momento
Barra de 16 mm 3c
total M = M + M = 37,8 + 12,13 = 49,93 kN·m/m, é, portanto, superior ao 0,0035
' d, total dl d2
(e) Solução 2 Deformações na ruptura Forças internas na ruptura
momento resistente MRd = 39,96 kN·m/m.
Figura 8.27 Parede do exemplo 8.3 - parede duplo-protendida.
466 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO OE AtVENARIA ESTRUTURAL PAREDES COM COMPRESSÃO AXIAL E FLEXÃO FORA DO PLANO 467

8.9.4 Exemplo 8.4: Carga concentrada 8. 11 Exercícios

Problema: Verifique o apoio de uma viga de cobertura, com reação P, = 35 kN, apoiada com l. Reveja os diferentes métodos para determinar a capacidade de resistência de paredes
auxílio de uma chapa quadrada de 10 cm de largura no meio de uma parede de 2,0 metros de com- sob flexão lateral e carga axial. Comente as diferenças e aproximações em cada método.
primento. A parede é construída de blocos vazados de concreto de 6 MPa, f,, = 4,5 MPa. Considere
que existe mna canaleta totalmente grauteada na última fiada da parede, f ,, = 7,9 MPa. 2. (a) Para uma parede de blocos vazados de concreto de 19 cm, armada com barras de
Solução usando normalização brasileira: Considerando a placa de 10 cm, a área de apoio 16 mm a cada 60 cm, construa ~m gráfico de interação entre carga axial e flexão lateral.
vale a. b = 100 cm2 = 0,010 m 2 • Como o apoio ocorre em canaleta grauteada, e que a dimensão Altere a taxa de armadura e identifique as diferenças no comportamento, considerando
da placa é maior que um terço da espessura, deve-se verificar: espaçamento de 20 cm e de 120 cm para a barra de 16 mm. Considere blocos de 10 MPa
e a parede totalmente grauteada.
pk ·Yr -<K 1 ·O , 7.f,1Y'.
"' ,com K1 -15
- ,
a·b lm
(b) Considere a parede com barras a cada 120 cm, porém sem graute nos demais furos,
e construa novo gráfico de interação.
35
--:S: 1,5·0,7· 7900'.1_ 0 ~3500 < 4147 + ok
0,010 1 2,
3. Construa um gráfico de interação para uma parede de tijolos cerâmicos maciços de ,
15 cm de espessura. Considere tijolos de 50 MPa e avalie a diferença de considerar a
Na interface entre a última canaleta grauteada e a fiada anterior deve-se verificar no- resistência de tração na flexão da alvenaria ser considerada igual a 0,65 ou 1,0 MPa.
vamente a tensão, não sendo adequado considerar aumento na resistência do prisma, pois
a alvenaria é de bloco vazado, portanto K 1 = 1,0 nesse ponto. Em contrapartida, a tensão de 4. Se a parede do exemplo 8.2 for construída de blocos cerâmicos vazados totalmente
contato se espalhará a 45º nos 20 cm de altura da fiada grauteada, resultando em a = 19 cm e b grauteados, armada com barra de 16 mm a cada 60 cm, determine qual a pressão la-
= 1O+ 20 + 20 = 50 cm. A tensão de prisma deve ser a da alvenaria não grauteada, com redução teral distribuída de vento que pode ser aplicada se a parede for biapoiada em um vão
de 20% para argamassa apenas na lateral. vertical de 6,2 metros de altura e tiver ainda uma carga permanente centrada no topo
igual a 12 kN/m. Analise novamente considerando uma excentricidade de 4 cm na
<i,0·0,7·º'8·4500/ ~368<1260->ok
35
carga aplicada no topo da parede.
0,19·0,50 1 2 ,o

5. O dimensionamento da parede do exemplo 8.3 usando blocos vazados de concreto de


19 cm e fbk = _20 MPa.
8.1 O Considerações finais

Neste capítulo, conceitos sobre o comportamento e dimensionamento de seções arma-


das, não armadas e protendidas foram apresentados considerando o caso de ação conjunta de
carga axial e flexão. Análises de condições em serviço e do estado limite último foram consi-
deradas. O nível de tração permitido considerar no dimensionamento altera significantemente
os resultados.
O enfoque simples apresentado neste capítulo pode também ser utilizado para paredes
com flexão no plano, cujos detalhes e particularidades do dimensionamento serão discutidos
no capítulo 10. Os conceitos também são utilizados quando da discussão sobre o comporta-
mento de pilares e enrijecedores. A verificação de flexão oblíqua (biaxial) em paredes não é
comum, mas pode ser crítica em algumas situações. Esse tópico é tratado no capítulo seguinte,
e os conceitos descritos na sequência deste livro podem ser aproveitados para dimensiona- l
1
mento de paredes com flexão biaxial.

1
;1
CAPÍTULO 9 .................................................................................................................
Pilares e enrijecedores

:J ,_ •.•.

Figura 9.1 Enrijecedor armado (cortesia de National Concrete Masonry Association).

9 .1 Introdução

Um pilar de alvenaria, por definição, é um elemento predominantemente submetido


a compressão cujo comprimento não excede cinco vezes a sua espessura (Figura 9.2(a)). O
enrijecedor é um elemento vinculado à parede, com intenção de melhorar sua rigidez fora do
plano. O contraforte·( ou gigante) é um enrijecedor com seção transversal que aumenta do topo
para a sua base. A seção é aumentada porque o elemento é basicamente dimensionado para
resistir a maiores momentos na base, corno é o caso de um pilar em balanço: 320 Historicamente,
os contrafortes são concebidos largos o suficiente para que a linha de empuxo caia dentro do
terço médio da seção e não haja tração. Informações sobre análise da linha de empuxo foram
desenvolvidas no capítulo 1.
Um enrijecedor pode ser construído embutido na espessura da parede, ou, corno é mais
comum, projetado para fora do plano da parede em um ou nos dois lados desta (Figura 9.2(b)).
Ele serve para resistir a cargas verticais concentradas e para aumentar a rigidez lateral, bem
corno aumentar a.esbeltez. Muitas vezes, a parede sob ação lateral pode ser apoiada horizontal-
mente entre os enrijecedores. Nesse caso, os enrijecedores apoiam verticalmente.

320 Elmiger (1976).


470 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE AtVENARIA ESTRUTURAL PllARES E ENRUECEDORES 471

juntas verticais. 321 Para enrijecedores, a melhor ligação com a parede é também o detalhe de
./ ~ amarração direta, cujos detalhes típicos são ilustrados na Figura 9.3(b).

.#;
,---- Enrijecedor
Pila r_,..
E-· .-Pilar

- - (a) Pilares (b) Enrijecedores De blocos vazados Usando bloco-pilar De tijolos maciços

Figura 9.2 Pilares e enrijecedores. (a) Pilares

Armadura vertical ~
É importante destacar que como os enrijecedores normalmente são uma região de
maior rigidez para a flexão fora do plano, eles tendem a absorver toda a flexão devida à ação
lateral. Para carga vertical, a parede divide os esforços com o enrijecedor.
Fissuras em razão de movimentações térmicas e higroscópicas tendem a ocorrer nas
mudanças de direção, como nas interseções dos enrijecedores com a parede, sendo muitas
vezes necessário prever juntas de dilatação, trazendo considerações sobre a continuidade da
parede entre enrijecedores. Se o enrijecedor não estiver diretamente amarrado, é necessário
deta!h~r cuidadosamente a ligação, prevendo ação na direção vertical e horizontal.
Pilares recebem cargas verticais e, devido à ligação com vigas ou paredes, podem ainda
ser submetidos a momentos e força vertical adicional do modelo de contraventamento da De blocos vazados Usando bloco-pilar De tijolos maciços
edificação e possível efeito de pórtico. A flexão pode advir também de excentricidades de
(b) Enrijecedores
carregamento, que pode ocorrer em torno de suas duas direções principais e causar flexão
oblíqua. Nesses casos, o pilar é dimensionado a flexão biaxial combinada à compressão. Figura 9.3 Detalhes de armação de pilares e enrijecedores.
Enrijecedores e pilares podem ser não armados ou armados. Entretanto, devido à sua
vulnerabilidade, é recomendado que esses elementos sejam sempre armados, respeitando a
taxa de armadura mínima de 0,30% de seção transversal (área bruta), com o mínimo de 4 9.2 Comportamento de pilares de alvenaria
barras longitudinais, pelo menos uma em cada canto.
A Figura 9.3 mostra arranjos de armaduras para pilares e enrijecedores. Estes podem 9.2. l Introdução
ser construídos de blocos vazados ou tijolos comuns ou, ainda, utilizando blocos-pilar, pro-
duzidos especialmente para essa função. Embora a prática comum seja detalhar os estribos Comparando-se com concreto armado, poucos estudos experimentais existem sobre
nas juntas horizontais sem contato com a armadura longitudinal vertical, existe tendência de pilares de alvenaria sobre compressão e flexão. Portanto, na falta de mais informações, muitos
evolução deste detalhe, amarrando os estribos às barras verticais, o que contribui para impedir dos conceitos para dimensionamento são adaptados de estudos feitos em concreto armado.
a flambagem destas e aumentar a ductilidade.
Tanto em pilares quanto em enrijecedores, assim como recomendado para qualquer
alvenaria estrutural, os blocos devem ser assentados amarrados para evitar a continuidade das

321 Elmiger (1976), MSJC (2005) e B!A (1962).


472 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRURIRAl
PILARES E ENRIJECEDORES 473

9.2.2 Modos de rupturo e resistência à compressão Ensaios experimentais'24 de pilares de alvenaria armada sob carga centrada indicam
comportamento essencialmente elástico até 75% da carga de ruptura. Observou-se um com-
Pesquisas experimentais"' indicam que a alvenaria rompe de uma das seguintes maneiras: portamento similar em ensaios com alvenaria de tijolos cerâmicos com carga excêntrica. 325
A inclusão de armaduras longitudinais verticais e de estribos ajudou no comportamento
• Fissuração vertical generalizada entre as paredes dos blocos e esmagamento des- pós-pico, sendo observadas deformações ainda consideráveis antes da ruptura em casos com
tas, e do graute, modo característico de alvenaria não armada. armaduras bem detalhadas.
• Rompimento simultâneo das paredes dos blocos, esmagamento do graute e flam-
bagem das barras de aço entre estribos. 9. 2. 3 Efeitos de esbeltez
• Mesmo modo anterior, mas com deslocamento lateral dos estribos e flambagem
das barras em duas ou mais fiadas. Conforme discutido no capítulo anterior, a esbeltez altera a capacidade resistente,
seja por atingir o limite de flambagem, seja pelo aumento da flexão com o deslocamento
O modo de ruptura é diferente para alvenarias não armadas e armadas e é influenciada lateral (efeitos PI\. de 2' ordem). No último caso, o elemento pode romper com cargas re-
pela existência de estribos. Conforme apresentado no capítulo 5, para prismas, as paredes dos lativamente pequenas devido ao crescente aumento do momento fletor com o aumento de
blocos em alvenaria grauteadas rompem antes de atingir a mesma resistência de quando são carga/deslocamento. Os conceitos discutidos no capítulo anterior sobre esbeltez são aplicados
não grauteados. O detalhamento de estribos tem significante efeito no comportamento e na aqui. A diferença é a presença de estribos, que permitem contar com a armadura para resis-
capacidade resistente de pilares de alvenaria. 323 Quando existem estribos, o modo de ruptura tência à compressão, tanto para determinar a capacidade de carga e flexão do elemento quanto
é alterado, de separação das faces dos blocos por fissuração vertical para Jascamento explosivo para o cálculo do momento de inércia das seções fissuradas ou não.
da parede externa do bloco. A Figura 9.4 mostra o modo de ruptura típico de pilares de alve-
naria armada com comportamento dúctil.
9.3 Limitações no dimensionamento de pilares

O dimensionamento de pilares de alvenaria deve atender a alguns limites, resumida-


mente discutidos a seguir.
Excentricidade mínima. Pilares são raramente submetidos à compressão centrada. Excentri-
cidades em razão de imperfeições, desaprumo, continuidade da estrutura e da carga aplicada
devem ser consideradas. É recomendável prever uma excentricidade de O,! tem cada direção
no dimensionament_o, como prescrito em normas internacionais. A Figura 9.5 ilustra essa re-
comendação. Quando a excentricidade do carregamento, definida por e= M/P,, excede esse
limite, apenas o maior valor deve ser considerado, sem necessidade de somar os efeitos.
Altura efetiva. A altura efetiva, kh, é geralmente considerada como a distância entre os pontos
de inflexão da deformação lateral do elemento. A esbeltez, que depende da altura efetiva, é
um fator determinante na capacidade resistente, e, portanto, esse valor deve ser adotado com
cautela. Embora considerações mais precisas sejam possíveis, a altura efetiva de pilares em edi-
fícios é adotada igual à distância livre entre as lajes do piso. No caso de não haver travamento
no topo, o pilar é engastado na base e a altura efetiva equivale a duas vezes à sua altura.

(a) Danos na ruptura após carregamento cíclico (b) Ensaios sob carregamento cíclico

Figura 9.4 Ruptura de pilares de alvenaria armada (cortesia N. Cook).

322 Sturgeon et ai. (1985) e Edgell (1985). 324 Warwaruk & Longworth (1986).
323 Sturgeon et ai. (1985), Edgell (1985) e Warwaruk & Longworth (1986). 325 Davis & Elfraify (1982).
474 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE AlVENARIA ESTRUTURAL
PilARES E ENRIJECEDORES 475

Caso haja tração, e esta seja causada por ação variável como de vento, pode-se ainda
utilizar o limite de resistência à tração, f1,, para verificar a seção. Ainda, para excentricidades
· menores que t/3, é possível utilizar a equação 8.26 para calcular a capacidade resistente, com
base em esforços resistentes de compressão apenas.

9.4.2 Seções armadas

A inclusão de estribos permite que a armadura seja utiliza para resistir à compressão.
Para a excentricidade mínima de O,lt, a linha neutra, definida pela distância x da face com-
primida, estará dentro da seção transversal. Então, fazendo o equilíbrio de forças internas e
externas, mostrado na Figura 9.6, a capacidade de carga axial pode ser igualada à força de
projeto aplicada.

Figura 9.5 Excentricidades mínimas recomendadas para dimensionamento de pilares. Pd =P ~ =C+Cs -T Equação 9.2

Dimensões mínimas. Embora não seja uma prescrição da normalização brasileira, é reco- em que, da equação 8.30:
mendável adotar a espessura mínima de um pilar isolado igual a 19 cm em função de sua
vulnerabilidade.
Equação 9.3
Máximo índice de esbeltez. O máximo índice de esbeltez, kh/t, é limitado a 30. Para valores
maiores, os procedimentos simplificados de dimensionamento não são aplicados.
Armaduras. Além da armadura vertical mínima indicada em 9.1, estribos são necessários, e desprezando a pequena área de alvenaria substituída pela armadura:
cujo diãmetro mínimo deve ser de 5 mm. O espaçamento dos estribos não deve exceder à
menor dimensão do pilar, 50 vezes o diâmetro do estribo e 20 vezes o diãmetro das barras
longitudinais.
~(A,,
e s -T= k.J (x-d,)º )0035Es -<~fyk J Equação 9.4
i=l Yms X Yms

9.4 Dimensionamento de pilares e enrijecedores para flexão cujo sinal positivo/negativo indicará se o aço está em tração ou compressão. A Figura 9.7
normal (em uma direção) mostra a condição dê equilibrio para o caso comum de seção com quatro barras nos cantos.
A equação 9.1 pode ser utilizada para determinar a posição da linha. neutra, x, corres-
9.4.1 Seções não armadas pondente à ação externa aplicada. Então, o momento resistente, M,, pode ser determinado
pela soma de todos os momentos das forças mostradas na Figura 9.7(c) em torno do centroide
Pilares e enrijecedores devem ser construídos de tijolos maciços ou totalmente grautea- da seção:
dos, sendo ainda recomendável a adoção de armadura mínima com pelo menos 4 barras verti-
cais nos cantos. Em várias situações é possível desconsiderar a armadura no dimensionamento Equação 9.5
e calcular o pilar como não armado (armaduras construtivas). Para casos em que a excentri-
cidade não produz tração na seção, limite da equação 8.7, basta checar a máxima compressão
na seção, limitada a f, na compressão simples ou 1,5 · f<l para compressão na flexão, podendo com C . e T considerados em seus valores positivos.
" '
ser utilizado um diagrama linear na combinação dos esforços. Nesse caso, deve-se verificar:

Equação 9.1
476 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL
PILARES E ENRUECEDORES 477

0,0035 que pode ser simplificado para:


1 b l•kfd
>
I· ·I
ld,
/ ,I Equação 9.9

"'/
X
d, A,,
A rigidez efetiva, E,r pode ser cal~ulada p ~1a equação 8.57. Este valor é então utilizado
1
para calcular a carga crítica de flambagem de Euler, equação 8.58, a partir da qual se calcula o
A,,

"-
momento total de projeto, incluindo efeitos de segunda ordem pela equação 8.55.
T

9.6 Dimensionamento de pilares para momento biaxial


(a) Seção transversal (b) Deformações (e) Forças internas
O momento biaxial é originado da excentricidade da carga vertical nas duas direções
Figura 9.6 Análise da seção transversal no estado limite último. principais, causando momento em torno de cada uma delas. Essa situação de dimensionamen-
to é conhecida como tlexo-compressão oblíqua. Pilares de canto geralmente são submetidos
a essa situação. Diagramas de interação, similares aos desenvolvidos para concreto armado,
9.5 Efeitos da esbeltez também podem ser desenvolvidos para pilares de alvenaria. 326
Um caso de pilar de alvenaria sob tlexo-compressão oblíqua é ilustrado na Figura 9.7(a).
Para pilares e enrijecedores, os métodos para levar em conta momentos adicionais oca- As equações determinadas pelo equilíbrio de deformação e de forças são utilizadas para análise
sionados pela esbeltez (efeito PLI.) são os mesmos apresentados em 8.5. A exceção é que se da seção. Na condição de momento biaxial, a linha neutra não é paralela a uma das direções
deve, aqui, limitar a esbeltez a kh/t ,; 30 em função das dimensões limitadas da seção. Além principais. Como mostrado na Figura 9.7(b), várias soluções são possíveis, e a solução final
disso, a armadura comprimida com a presença de estribos pode ser levada em conta no cálculo muitas vezes só é obtida após algumas tentativas e ajustes. Deve-se determinar uma posição
do momento de inércia da seção fissurada ou não. Para seções simétricas, com centroide no que satisfaça o equilíbrio de forças e momento em torno dos dois eixos principais. As capaci-
centro, tem-se:
dades resistentes, considerando todas as possibilidades de soluções, formam uma superfície de
interação, como mostrado esquematicamente na Figura 9.7(c).
Equação 9.6 Para um determinado
--
valor de e)( /e y, uma curva de interação, como a a-b mostrada na
Figura 9.7(c), pode ser estabelecida. Variando essa relação expressa pelo ângulo e= are tan
(e• /e),
y pode-se obter uma série de curvas como a a-b. Se um plano horizontal
. c-d-e é cortado
com n =E/E,, e r =número de linhas de armaduras. da superfície de interação para uma determinada carga axial, P,. a linha d-e depende das pos-
Para seções fissuradas, desprezando a área de alvenaria comprimida substituída pelo síveis combinações entre Mrx e M ry para essa determinada carga axial.
aço, o momento de inércia da seção fissurada por ser calculado por: Utilizando as mesmas curvas construídas para seções de concreto armado como refe-
rência (por exemplo, disponível em MacGregor & Barrett327 ), a capacidade resistente da seção
3
b(kd) ' 2 sob flexão biaxial, P,,b'~'•'' pode ser aproximada pelo plano, passando pelos pontos l/P,0 , IP'",/
!" - + _LnA,, (d, -kd) Equação 9.7
3 i=l P,, do diagrama invertido mostrado na Figura 9.7(d), resultando na equação recíproca:

1 1 1
com kd determinado pelo equilíbrio de momento da seção equivalente em torno do centroide +-+- Equação 9. 10
Pr,biaxial Pro prx p ry
da seção fissurada, que coincide com a linha neutra na ausência de carga. Portanto, tem-se:

kd '
bkd--_LnA,, (d, -kd) =O Equação 9.8
2 i=l
326 ld. ibid.
327 MacGregor & Barrett (2000).
478 COMPORTAMENTO E DlMfNSIONAMENTO DE ALVENAR!A ESTRUTURAL
PllARES E ENRIJECEDORES 479

em que:
No dimensionamento, geralmente o valor de P, é conhecido e é igualado a P,,b 1 ~ 1 ,,. Então,
Prx e Pry são as resistências à compressão axial correspondentes à flexão uniaxial com excentri- a posição da linha neutra pode ser obtida igualando-se a força externa pela soma das forças
cidade x e y, respectivamente; internas. Calcula-se então os momentos resistentes em cada direção M,, e M,, e verifica-se a
P,0 é a resistência à compressão axial para excentricidade nula (ou seja, capacidade resistente equação 9.11 transformada para:
da seção a compressão sem nenhuma redução).
M M
dx,total +~:s;I,O Equação 9.12
Entretanto, para casos com reduzida carga vertical (P, <O,! P ), recomenda-se utilizar Mrx ! ry
o método do contorno de interação. Para o contorno de capacidade'ºresistente à flexão, mos-
trado na Figura 9.7(e), e para um determinado nível de carga (P = P), como o mostrado no
' d cu1· os valores de M dx,total e M dy,tota 1 devem levar em conta momentos de 2' ordem ordem devido
corte c-d-e da Figura 9.7(c), a curva pode ser aproximada para:
a efeitos de esbeltez.

Equação 9.11
9.7 Dimensionamento de acordo com a normalização brasileira

em que: No caso de seções simétricas, a normalização brasileira permite considerar flexão oblí-
qua de forma simplificada, considerando dois casos de flexão uniaxial (um em cada direção),
M,, e M,, são as capacidades resistentes para a carga P, considerada, levando em conta as
excentricidades apenas na direção x e y, respectivamente; porém aumentando-se o momento a ser verificado na flexo-compressão simples:
e, e eY são as excentricidades x e y;
p M M
a e ~ fatores exponenciais de ajuste das curvas, considerados de forma conservadora iguais a M'x =Mx+j-M para--x ,;;_Y_
q y p q
1,0, embora considerar a= ~ = 1,5 permitiria uma boa aproximação das curvas.

y ou

q M M
M' =M +j-Mxpara-x $-Y Equação 9.13
y y p p q

em que p e q são as-dimensões da seção retangular nas direções perpendiculares a x e y, res-


pectivamente.

(a) Flexão biaxial


Tabela 9.1 Valores do coeficiente j.
(b) Diferentes posições da linha neutra
P,
o 1,00
0,1 0,88
0,2 0,77
0,3
0,4 0,53
a=P=l,O
0,5 0,42
"= p = 1,5 ~ 0,6 0,30
a=P=z,o
Mry
Os efeitos de esbeltez devem ser levados em conta de acordo com equação 8.47.
(c) Superfície de interação (d) Método do carregamento recíproco (e) Contorno de interação
Figura 9.7 Análise de pilares sob flexão biaxial.
480 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL PILARES E ENRIJECEDORES 481

9.8 Exemplos de dimensionamento de pilares de alvenaria com n = 210.000 I (600·16) = 21,9:

9.8. l Exemplo 9.1: Pilares com carga axial excêntrica 59.59 3 2


10 = - - + 2,(21,9-1)·10,0·(17) 2 =l.070.18lcm 4
12 ;,[
Problema: Um pilar de 7,2 metros de altura feito com tijolos, submetido a uma força P, = 550 kN,
200 mm excêntrica na direção x. Indique que o pilar pode resistir a esse esforço. Considere a resis- Para a seção fissurada, calcula-se.kd pela ~quação 9.9:
tência de prisma igual a f , = 16 MPa e que essa carga é dividida em parcela de 50% de ação per-
' p
manente e 50% de ação variável. Detalhes da seção e armaduras são mostrados na Figura 9.8(a).
Solução: A armadura existente, composta de 4 barras de 25 mm, permite A,= 20 cm', taxa de kd=
armadura igual a 20/(59. 59) = 0,57 %, portanto maior que a mínima. O momento de primeira
ordem M<l, = 550 · 0,20 = 110 kN·m.
2
Para a condição de deformações, mostrada na Figura 9.8(b), pode-se determinar a po- kd = )(2·14, 7. 10,0/ 59) + 2( (14, 7·10,0· 12,5/ 59) + (14, 7·10,0· 46,5/ 59)]-2· 14, 7. 10,0/ 59
sição da linha neutra, x, assumindo que o aço escoa na região tracionada, mas não na região
comprimida. Da equação 9.2: = 14,78 cm

Usando a equação 9. 7:

0,7fr'k A.(x-d) A 3
Pd =--kb(O , 8x)+ " ' O, 0035E s - - " fyk b(kd) ' 2
'Ym Yms X 'Yms -'--'- + 2,nA,; (d, -kd )
3 i=l

550 O, 7 ·1· 6 1,0 · 59 · (0,8x) + lO,O (x- 12' 5 ) 0,0035 · 21.000- lO,O 50[kN,cm] 59(14, 78 ) 3
2,0 1,15 J,15 2
X + 14, 7·10(12,5-14, 78) +14, 7·10( 46,5-14, 78)2 = 284.948cm 4
3
Para x = 25,1: 550 ~ 663,4 + 320,8 - 434,8 = 548,6
Para momento da direção x apenas, desprezando o efeito da pré-compressão, a excen-
Resolvendo a equação, chega-se a x = 25,1 cm. Conforme o diagrama de deformação, tricidade que leva à tração na seção vale ek = t/6 = 59/6 = 9,83 cm. Substituindo os valores de
Figura 9.8(b), a hipótese de a armadura comprimida ter tensão inferior a f,<l está correta. Da !0 e!" na equação 8.61, a rigidez efetiva será igual a:
equação 9.5:

Elo1 =600·1,6 [ 0,25!0 -(0,251 0 -l") 20-9 ' 83 )~ =26 55x10 7 kN·cm 2
( 2·9,83 ,

Para flexão na direção y, desprezando a contribuição da armadura e considerando que


Pode-se observar que esse momento resistente vale para flexão tanto na direção x quan-
a flexão com excentricidade mínima de e,= 0,lb = 5,9 cm leva à seção não fissurada, a rigidez
to y, pois a seção é duplamente simétrica. Caso a tensão no aço seja considerada limitada a
efetiva será:
50%f,,, a capacidade resistente à flexão seria reduzida para 187,5 kN·m.
Efeitos de esbeltez. Para o pilar não fissurado, o momento de inércia pode ser calculado pela EI.,= 0,4E,I0 = 0,4 · 600 · 1,6. ] 0 = 41,09xl07 kN·cm 2
equação 9.6:

3 Determinando a carga crítica para flexão na direção x, a partir da equação 8.62:


! 0 = bh + 2,(n-l)A,,
12
'
i=l .
t
( d, - -
2
J'
482 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRlffURAl PILARES E ENRIJECEDORES 483

2
it (EI),r 200 p
1mm! d

3,14' ·26,55Xl o' = 2.0 20kN


~:~ 1
1 Resistência do tijolo= 55 MPa
2 Argamassa 1:1:6
(720 ) (1+0,5.0,5)· 2,0

!l -··"'""
.--.--..--,,d'=l25mm t E =;.13600 MPa
n= E/E0
com ~ <l = 0,5, pois a parcela permanente de P<l é igual à adden:al e o momento é r:s.ultad~ Aço CASO

~ ~
da mesma excentricidade dessas duas forças (momento devido a carga permanente e igual a
metade do momento devido à carga total).
Utilizando 0 método do coeficiente amplificador de momento, como o momento é apli- I• t=590mm ~I (a) Seção do pilar
cado apenas na parte superior, e/e,= O (ver Figura 8.14), e Cm= 0,6 + 0,4 (M/M,) = 0,6. Da
equação 8.59:
~=~mm
~0.0035
{b) Condição de deformação limite para Pd = 550 kN
110
1- 5 ~%
2020
-90,7<110

(c) Forças internas para equilibrar Pd= 550 kN


Portanto, a esbeltez não é crítica nessa situação e M''·'°"' = M"" = 110 kN·m.
Na direção y, o momento devido à excentricidade de 5,9 cm vale M,, = 550 · 0,059 = 32,5
kN·m Com E! = 41,09xl0 7 kN·cm 2, chega-se a:
. "
2 7
p = 3,14 · 41,09X10
3.126 kN
_
(n-1) A,, (d) Seção não fissurada equivalente
" (720) 2 (1+0,5·0,5)-2,0

com C = 1,0 quando considerada excentricidade mínima. Portanto, M<lY"º"' = M,, = 32,5
(e) Seção fissurada equivalente para_ cálculo de 10 ,
kN·m. Verificando a partir da equação 9.12:

Mdx,total Mdy,total <1


-~-+ - 'O
M,, Mry
Figura 9.8 Pilar sob flexão biaxial para o exemplo 9.1.

9.8.2 Exemplo 9.2: Pilares com carga centrada


Portanto, a seção tem capacidade suficiente para resistir aos esforços.
Problema: Um pilar de 6,0 metros de altura feito com blocos vazados de concreto de 19 cm,
conforme Figura 9.9, que deve resistir a uma força axial centrada permanente de 100 kN e
outra variável também de 100 kN. Dimensione a armadura e especifique blocos e graute.
Solução: É recomendado prever no mínimo 4 barras verticais, uma em cada canto do pilar.
Considerando quatros barras de 10 mm de diâmetro, tem-se A,= 4 · 0,8 = 3,2 cm2, com taxa de
484 COMPORTAMENTO E D!MENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL PllARES E ENRUECEDORES 485

armadura p = 3,2/(39. 39) = 0,2 % inferior ao mínimo de 0,3%. Adota-se, portanto, 4 barras de Portanto, a verificação é satisfatória.
12,5 mm, A = 4. 1,25 = 5,0 cm2, p = 5,0/(39 · 39) = 0,33 %.
Inici~lmente serão adotados blocos de fbk = 12 MPa, f,k = 25 MPa e f'rk = 13,44 MPa. 390mm
Em cada direção, deve-se adotar excentricidades mínimas de O,lt, com Mdx = Md, = 1,4 · 200
. 0,1 . 0,39 = 10,92 kN·m. Como as excentricidades são pequenas, e< t/3, pode-se desprezar a
armadura e dimensionar a seção como não armada. Para levar em conta os efeitos de esbeltez,
a rigidez efetiva, tomada seção não fissurada, vale (equação 8.61):

39 39 7 2
E! r = 0,4E. 10 =0,4·(800·1,344)· · ' = 8,29xl0 kN ·cm
' " 12

Da equação 8.62: Figura 9.9 Seção transversal do pilar no exemplo 9.2.

2
p = n (EI)or
2 9.9 Dimensionamento de enrijecedores
" (kh ) (1 +o,s~d hm
2 7 9.9. l Introdução
p = 3,14 ·8,29xl0 908 kN
" (600)2 (1+0,5·0,5)·2,0
Enrijecedor é um elemento ligado à parede com função de aumentar a rigidez (enri-
jecer) da direção fora do plano desta, conforme apresentado no início deste capítulo. A di-
Da equação 8.59: mensão crítica do enrijecedor para efeitos de esbeltez é portanto perpendicular à parede. Esse
elemento pode ser dimensionado como um pilar, com a vantagem de eventualmente a parede
C LO
Md,to"l =Md p~m -l0, 92 l 4·280/ 15,8kN·m a que está ligado poder ser considerada como flange de uma seção T, conforme mostrado na
1- dp 1-, /980 Figura 9.10. Para casos cujo enrijecedor é diretamente amarrado, a largura efetiva da flange é
" considerada até a dimensão de 6t de cada lado, ou, ainda, distância entre eixos (Figura 9.11).
com cm = 1,0 para excentricidade mínima. Conforme mostrado na Figura 7.17, a largura total da flange é ainda limitada a 1/ 3 da altura do
A capacidade resistente pode ser determinada pela análise da seção não armada, con- enrijecedor.
forme a equação 8.26. A carga axial resistente é igual à aplicada, e calcula-se o valor da excen-
tricidade máxima e para essa situação: 6t 6t

O, 7fpk
P,<l =--kb(t-2e)
Ym
(a) Enrijecedor dos dois lados (b) Enrijecedor de um lado
l,4·200 0, 7 ·l 3.440 l,0·0,39(0,39-2e) =>e =0,119m
2,0 Figura 9.10 Possíveis geometrias de enrijecedores.

Então, M dx = M d = P ·e= 280 · 0,119 = 33,32 kN·m. Para que a parede possa ser considerada como flange do enrijecedor, ela deve ter ca-
Finalmente, "
' verificando a partir da equação 9.12:
pacidade suficiente pare resistir aos esforços, e o cisalhamento da interface deve ser checa-
do. Caso haja junta de dilatação nesse ponto, geralmente não é possível contar com a ligação
enrijecedor/parede para considerar seção T. Ainda assim, devem ser previstos detalhes de li-
gação com armaduras ou conectores para que a força horizontal seja transferida da parede ao
enrijecedor.
15,8 + 15,8 -o
- )95<_1, o
33,32 33,32
486 COMPORTAMENTO E DIMENS!ONA.MeNTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL PILARES E ENRUECEDORES 487

JI ~p1ool8l8 lººllÔ,~
disponíveis na bibliografia (por exemplo, NCMA) 330 para determinar o valor da reação nos
enrijecedores nessa situação.
Sem levar em conta considerações da estética arquitetônica (que idealmente devem
tirar proveito da concepção estrutural), a razão para o uso de enrijecedores é baseada em
situações de paredes muito altas ou sem apoio no topo. Enrijecedores armados e com flexão
: 6t ,,, b, ,,, 6t :1
vertical geralmente fissuram devido a epse esforço, com as fissuras horizontais podendo se
.,. Largura efetiva da aba ..
1 :s; distância entre~eixos dos enrijecedores
estender por um trecho da parede a que este se' conecta. A presença de fissuras na parede
impede considerá-la com apoio na vertical, e, portanto, elas devem ser dimensionadas apenas
Figura 9.11 Largura efetiva das flanges nos enrijecedores. para flexão horizontal entre enrijecedores nessa situação.
Para permitir que paredes razoavelmente pouco espessas sejam concebidas em con-
9.9.2 Distribuição de esforços entre a parede e o enrijecedor .unto
J com enriJ'ecedores, e a distância entre os eixos destes, Cenr na Figura 7.17, tipicamente é
definida menor que a altura do enrijecedor. A reação do painel no enrijecedor, por unidade de
Largura efetiva da flange. Para que a parede seja considerada corno parte do enrijecedor, comprimento, vale p/00 /2 para cada lado (ou p, · C,"' para vãos contínuos de igual dimensão).
formando seção T, são necessárias as seguintes condições: Se o enrijecedor puder ser considerado apoiado na base e topo, o momento máximo, a ser
considerado na metade da altura deste, vale p/00/2 · (h2 /8) para cada lado. No caso de não
• a parede deve ser construída com junta amarrada em seu plano; ser possível apoio no topo, o enrijecedor é calculado corno um pilar em balanço com engaste
• a ligação entre a parede e o enrijecedor deve contemplar um dos seguintes na base. Além disso, vigas apoiadas excentricarnente podem causar momentos adicionais no
detalhes: enrijecedor.
- 50% das juntas devem ser diretamente amarradas; Influência de ação lateral com sentidos reversos. A ação do vento pode causar pressão nega-
- a ligação entre a parede e o enrijecedor deve ser relizada por armaduras devi- tiva ou positiva, dependendo da direção e sentido em que este ocorre e da forma da edificação.
damente ancoradas, espaçadas a não mais que quatro vezes a espessura nomi- Quando a tração ocorre na flange, a contribuição dela é desprezível, como pode ser observado
nal (espessura+ 1 cm de junta, usualmente) da parede;328 na Figura 9.12, a não ser que haja urna elevada pré-compressão, corno, por exemplo, se o
- a resistência ao cisalharnento na interface da ligação deve ser checada. elemento for protendido. Da mesma forma, se o enrijecedor for posicionado centrado com a
parede, Figura 9.lO(a), a flange da parede só terá efeito caso haja elevada pré-compressão. Por-
Vigas ou canaletas grauteadas podem ser utilizadas para permitir essa ligação, desde tanto, para casos de enrijecedores de alvenaria armada com ação lateral predominante (carga
que com espaçamento inferior a 1,2 metro ao longo da altura, e armadura longitudinal supe- axial pequena), posicionar juntas de dilatação entre o enrijecedor e a parede causará pouca
rior a 2,0 crn'/1,2 rnetro.' 29 Essa armadura deve estar corretamente ancorada em cada lado da influência no dimens.ionamento, podendo o pilar ser dimensionamento sem a contribuição
ligação, inclusive no enrijecedor. da abas ou flanges.
Transferência de esforços para o enrijecedor. Os painéis de alvenaria entre os enrijecedo-
res normalmente são projetados para flexão horizontal entre eles, especialmente quando não Largura efetiva da flange
armados. Nessa situação, os enrijecedores são concebidos com espaçamento pequeno o su-
ficiente para que não haja tração no trecho de parede entre eles. Toda a força lateral é então
transmitida aos enrijecedores, que então transferem essa ação do topo para a base até a fun-
(a) Compressão na flange (b) Compressão na alma
dação por flexão vertical.
Em outras situações, os enrijecedores podem ser mais espaçados e o painel de alve- Figura 9.12 Alteração na seção efetiva de um enrijecedor após fissuração em função da direção da flexão.
naria dimensionado para flexão em duas direções, conforme apresentado no capítulo 7. De-
pendendo das considerações feitas no dimensionamento dos painéis, o esforço transmitido 9.9.3 Exemplo 9.3: Projeto de um enrijecedor
em cada direção depende das vinculações admitidas, da rigidez do enrijecedor e da relação
entre altura e largura do painel. Tabelas basedas na condição de apoios indeslocáveis estão Problema. Um galpão de depósito, de 9 x 48 metros em planta tem o telhado apoiado em
treliças espaçadas a cada 2,4 metros. As paredes externas são não armadas, com 6,6 metros de

328 CSA A370 (2004).


329 MSJC (2005). 330NCMA (1977).
488 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL PILARES E ENRIJECEDORES 489

altura, e construídas com blocos vazados de concreto e enrijecedores quadros de 39 cm armados


e grauteados sob as treliças (Figura 9.13). As ações características são: carga acidental do telhado
39.39
10 =--+39·39· (39
3
--15 J' +2· 181·3' 5 3

2 2 12
de 0,5 kN/m 2; carga permanente do telhado de 1,0 kN/m 2; e ação de vento de 1,25 kN/m 2•
Dimensione um enrijecedor típico para resistir à carga vertical e à ação lateral de vento.
A treliça é apoiada com auxílio de placas de apoio de 100 x 100 mm no meio do enrijecedor
e com centro da placa de apoio alinhada com a face externa da parede. Use blocos de fbk = 6,0
35
+(181·3,5){ ; -15 J 35
+(181·3,5){19- ; -15 )=344,295cm
4

MPa com argamassa de 8,0 MPa.


Ações: As ações verticais são:
p
Treliças de cobertura e/ 2,4 cm
--
- -+


Pgk,<oJh,do = 1,0 · (2,4 · 9/2) = 10,8 kN;
P,'·'"' = 0,5 · (2,4 · 9/2) = 5,4 kN;

--
Pt--+ 16,3 kN·m
0,13kN·m
• Excentricida.de = 19 - 15 = 4 cm.

Enrijecedores
e/ 2,4m
Seção
transversal
do pilar
-
- -+

(b) Momentos característicos


A força de vento ao longo da altura de cada enrijecedor vale:

• P"'·""'º = 1,25 · (2,4) = 3,0 kN/m.

....______., 1~~$ 2,4 m O momento no centro do enrijecedor considerado biapoiado será:

,.l·----9_m____,.,I ~o; 32mm l. •


6,6 2
M = 3,0 · -
8
= 16,34 kN·m.
I
(a) Concepção do edifício 32mm '"f
190mm O peso próprio da seção na metade da altura vale (yalv,sem graute = 14 kN/m', yalv,com graute =
24 kN/m3):
390mm
(c} Análise elástica da seção do enrijecedor
• pgk,po>0pcópdo = (1,81'0,19'14 + 0,39' 0,39' 24) • 6,6/2 = 27,9 kN
Figura 9.13 Dados do exemplo 9.3.
Com a finalidàde de exemplificar o dimensionamento, será considerada a combinação
Solução: Propriedades da seção. O comprimento das flanges (ou abas) em cada lado do última (0,9Gk + l,4Q,,~'"'°), que provavelmente é o caso crítico para o dimensionamento da
enrijecedor deve ser limitado a 6t = 6 · 19 = 114 cm, com comprimento máximo total= 114 + armadura vertical de flexão, uma vez que a carga permanente tem efeito favorável nessa com-
114 + 39 = 267 cm, que é maior que o espaçamento entre enrijecedores, igual a 240 cm. Ainda, binação. A carga vertical nesse caso vale:
a largura deve ser limitada a h/3 = 660/3 = 220 cm (ver Figura 7.17). Portanto, a f!ange total
tem largura de 240 cm. ' pd = 0,9 (Pgk,t<lh>do + Pgk,po>0pcópd) = 0,9 (10,8 + 27,9) = 34,9 kN
A seção a ser considerada consiste em toda a área do enrijecedor grauteado e as paredes
longitudinais da flange, com 35 mm de espessura, sobre as quais é disposta a argamassa. O momento no meio do vão para vento com sentido de dentro para fora, considerando
o efeito favorável da excentricidade da carga de telhado, que gera momento contrário ao vento
A,= 39 · 39 + (220 - 39) . 2. 3,5 = 2788 cm2 nesse caso (destacando que a excentricidade na metade da altura é igual à metade da carga no
topo), será:
39 19 ]
[ 2·39·39+2 (220-39)·2·3,5
y 15,0cm • M, = 1,4 · 16,34 - 0,9 · 10,08 · 0,04/2 = 22,88 - 0,20 = 22,68 kN·m
A,
cujo efeito favorável da excentricidade de carga é muito pequeno.
490 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE AlVENARIA ESTRUTURAL
PlLARES E ENRIJECEDORES 491

Outra consideração de caso de combinações de ações é o caso do vento com sentido EI ef =Ea Icr = 630 · 122.485 = 7,72xl0 7 kN-cm 2
de fora para dentro. Nesse caso a excentricidade da carga no topo gera momento no mesmo
sentido e tem efeito desfavorável, entretanto a seção pode ser considerada como seção T. Essa Determinando a carga crítica, a partir da equação 8.62:
não parece ser a situação crítica e não será considerada nesse exemplo, ficando o leitor avisado
de realizar tal verificação em situações de projeto. 2 7
3,14 • 7, 72xl0 = l. 74 lkN
Inicialmente será estimada uma taxa de armadura no pilar (enrijecedor) de 1%, levando (l+0,5·0,009)·2,0
à área de aço de 1% · 39 · 39 = 15,2 cm', sendo adotadas quatro barras de 25 mm e A, = 20
2
cm • As barras serão posicionadas no centro de cada furo, a 9,5 cm das faces externas e com
I
com b, = M,/M, = 0,20/22,68 = 0,009.
cobrimento interno de 9,5 - 3,5 = 6 cm, garantindo bom cobrimento da armadura e espaço
Como a força lateral uniforme é predominante e o pilar biapoiado, pode-se considerar
para envolvimento com graute. O posicionamento no centro também facilita a execução. cm= 1)0) e:
Como no estribo serão utilizadas barras de 6,3 mm (diâmetro máximo permitido nas

3 ~: ~1741 = 23, 20 kN · m
juntas horizontais), espaçadas a cada 20 cm, o que é menor que os limites da menor dimensão
Md,to"l = 22, 68
do pilar (39 cm), 50 vezes o diâmetro do estribo (50 · 0,63 = 31,5 cm) e 20 vezes o diâmetro das l-
barras longitudinais (20 · 2,5 = 50 cm). O correto detalhamento deve prever um estribo sob a
primeira fiada na base e sobre a última fiada no topo.
Percebe-se ainda que nessa situação de força lateral predominante sobre a relativamente
Para incluir os efeitos da esbeltez para os esforços calculados, e= M, / P, = 22,68 / 34,9
pequena carga axial, o efeito de segunda ordem é quase desprezível.
= 0,65 m. Para essa grande excentricidade, a seção certamente estará fissurada, sendo neces-
Da equação 9.2:
sário o cálculo de E 1 e I nessas condições. Para esse sentido de vento, a parede está do lado
' "
tracionado e, portanto, não há benefício em se considerar a seção T, sendo considerada apenas
P, = P,, = c + c, -T
a seção do pilar no dimensionamento.
Considerando blocos de concreto de fb, = 6,0 MPa, f,,
= 0,75 · 6 · 1,75 = 7,875 MPa, O 7( A (x-d ) A
E,= 800 · 7,875 = 6.300 MPa e n = 210.000/6.300 = 33,3. Para a seção fissurada, calcula-se kd P, = _'__E_\<_kb(0,8x)+ " ' 0,0035E, - - " fyk
pela equação 9.9: Ym Yms X Yms

34,9 = 0, 7 · 0•785 1,0·39·(0,8x)+ lO,O (x- 9, 5 ) 0,0035·21.000- lO,O 50[kN,cm]


kd= '
(t;nA,,/b J' +2t;nA,,d,/b-t;nA,,/b
' ' 2,0 1,15 X 1,15

Para x = 18,5: 34,9 =·158,6 + 311,0 - 434,8 = 34,9


2
kd = )c2. 33,3. 10.0139) + 2[ (33,3 -10.0. 9,5139 J+ (33,3 -10,0. 29,5/ 39JJ -2. 33,3 -10,0139 =

L___l-·---1·_ _I Ta r Te=. Asfy


ll~e= kf,ba
= 13,87 cm
1 •• 1
b
Usando a equação 9.7:
Figura 9.14 Dimensionamento de enrijecedor para o exemplo 9.3.

Resolvendo a equação, chega-se a x = 18,5 cm, x/d = 0,627 (armadura simples) e 0,0035
. (x - d')/x = 0,0017 ( < 0,00207, portanto a armadura negativa não escoa, como admitido na
39(13 87)3 equação acima).
l" - ' +33,3·10(9,5-13,87)' +33,3·10(29,5-13,87) 2 =122.485cm 4
3 Da equação 9.5:

limite:
Resolvendo a equação 8.61, conclui-se que El,1 > E,I,,. prevalecendo então o segundo
M=c(.!.- 0·8)+c (.!.-d')+T(d-.!.)
Rd 2 2x '2 2
492 COMPORTAMENTO E DIMENS!ONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL PILARES E ENRIJECEDORES 493

2. Considerando um pilar de tijolos cerâmicos maciços, de seção quadrada de 60 cm de lado


e 8,0 metros de altura, dimensione o bloco para suportar cargas de projeto de 200 kN
acidental e permanente também de 200 kN, com excentricidade de 200.
Portanto, a capacidade resistente M., = 93,77 >> M, = 23,2, e está verificada a seção.
3. Para o pilar apresentado no problema 9.2, qual seria a redução na capacidade resistente se
Caso a tensão no aço seja considerada limitada a 50%f,,, a capacidade resistente a flexão seria
houvesse também uma excentricjdade de 200 mm na outra direção, com flexão biaxial?
reduzida para 51,4 kN·m, praticamente metade, uma vez que a compressão axial é pequena. 1
Como a capacidade é muito superior à necessária, é interessante diminuir a área de armadura,
a) Considere o método de l/Pbb' . = l/P rx + l/Pry - l/P rO.
sendo considerada a opção de 4 barras de 20 mm, com área total igual a 4 · 3,14 = 12,6 cm2• , rnxJa 1

b) Use o método de contorno da equação 9.12.


Recalculando as equações, chega-se a:

kd = 12,4 cm, 1cr = 87.958 cm', Pcr = 1250 kN, M, , lota 1 = 23,42 kN·m, x = 16,3 cm e M, =62,42. 4. Uma parede é executada com tijolos cerâmicos de 9 cm entre enrijecedores de 30 cm
r
espaçados a cada 1,5 metro, como mostrado na Figura 9.15. A parede tem 4,8 metros
Nesse caso, M., = 62,42 / M, = 23,2 = 2,70, e a capacidade resistente é maior que o de altura e pode ser considerada apoiada na base e no topo. A parede recebe a carga
dobro do momento solicitante de cálculo. permanente de tellhado de 30 kN/m apoiada no centro da espessura de 9 cm.
Deve-se destacar que a normalização brasileira exige considerar metade da tensão de
escoamento da armadura no cálculo, o que para seções com flexão apenas leva ao momento a) Se a parede for não armada, determine qual a máxima ação lateral de vento pos-
resistente aproximadamente igual à metade do calculado acima. De acordo com a normaliza- sível de ser aplicada.
ção canadense, pilares armados com menos do que 1% de taxa de armadura devem ter capaci- b) Se o enrijecedor for armado com 4 barras de 16 mm, uma em cada canto, com
dade resistente igual ao dobro da solicitação de cálculo. Analisando ambas especificações, fica cobrimento de 10,5, determine novamente a máxima ação lateral de vento.
aqui a recomendação de verificar M., / M, ?: 2,0 para análise desses elementos.
90mm

9.10 Considerações finais f ~ jj10mm


15
LJ
300 mm - - - - '-"'''-"m"------
O leitor deve analisar o capítulo 8 para uma discussão mais aprofundada sobre o com-
portamento de alvenarias submetidas a carga axial e flexão. As principais diferenças entre o Figura 9.15 Seção do pilar para o exercício 4.
dimensionamento de paredes e o de pilares, tratadas neste capítulo, têm a ver com a maior
vulnerabilidade dos pilares, pois muitas vezes eles estão completamente isolados do restante
da estrutura, a maior facilidade em prover estribos e garantir o uso efetivo de armaduras com- 5. Uma parede de blocos vazados de concreto de 19 cm de 7,2 metros de altura deve re-
primidas e o potencial de ocorrer flexão biaxial. Para enrijecedores, a interação com paredes sistir a um carregamento permanente de 40 kN/m e 10 kN/m de carga acidental e uma
na direção perpendicular é a maior diferença. Como apresentado no capítulo 7, as condições pressão lateral de vento de !,O kN/m', com possibilidade de ser aplicada nos dois sen-
de apoio de painéis submetidos à ação fora do plano afeta o comportamento de enrijecedores. tidos perpendiculares à parede (valores característicos). Considerando fbk = 10 MPa e
Pilares e enrijecedores podem ainda necessitar de armadura de cisalhamento, e nesse a concepção de enrijecedores de espessura, altura e espaçamento a serem definidos,
caso valem os conceitos apresentados no capítulo seguinte. A tração axial pode reduzir a capa- dimensione:
cidade resistente à força cortante e pode ser necessário a especificação de estribos para garantir
a adequada resistência da seção. a) Considerando parede não armada.
b) Enrijecedores armados, indicando os detalhes de armação.
c) Qual seria o impacto de prever juntas de dilatação entre o enrijecedor e a parede.
9.11 Exercícios

1. Desenvolva um diagrama de interação para um pilar de blocos vazados de concreto de


39 x 39 cm, armado com 4 barras de 25 mm centradas nos furos e f,k = 10 MPa.
CAPÍTULO 10 ...................................................................,_,,,,......,_...,........,..,...
Paredes de c::ontraventamento

Figura 10.l Paredes de contraventamento em edifício (cortesia de National Concrete Masonry


Association).

10.1 Introdução

Edifícios de alvenaria estrutural geralmente têm um arranjo com paredes distribuídas


de maneira uniforme e nas duas direções principais, sem a necessidade de elementos de vigas e
pilares para encaminhar as ações dos pavimentos-tipo em direção à fundação (ver capítulo 3).
Essas paredes também são elementos de contraventamento, resistindo a forças laterais advindas
de forças de vento ou, em outras regiões, de sismos. Geralmente, toda força cortante em razão
da ação lateral de vento é resistida pelo conjunto de paredes estruturais somente, e por isso elas
recebem o nome de paredes de contraventarnento. Na nomenclatura em inglês, tais paredes são
conhecidas corno "paredes de cisalharnento''. Devido a essa nomenclatura, muitas vezes causam
a falsa conclusão de que o esforço crítico é a força cortante, o que na maioria das vezes não é
verdade, sendo a flexão o esforço crítico no dimensionamento.
Paredes compridas são necessárias para apoio dos pavimentos-tipo e principalmente
para garantir urna elevada e adequada rigidez do edifício contra a ação lateral e flexão na
direção do comprimento destas. Para garantir estabilidade nas duas direções principais, deve
haver também paredes com comprimento predominante na direção perpendicular. A estabi-
lidade do edifício depende basicamente da rigidez da parede em seu plano, sendo a rigidez
496 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAl PAREDES DE CONTRAVENTAMENTO 497

fora do plano de cada parede geralmente muito pequena. Desta forma, devem ser previstas Comparadas com paredes cegas, as paredes com aberturas podem ser entendidas como
paredes de elevado comprimento nas duas direções do edifício (ver capítulo 3). feitas de pilares e vigas de alvenaria (Figura 10.2(b) ), analisadas e dimensionadas como pórticos.
Em edifícios de múltiplos pavimentos, as lajes de concreto funcionam como diafragmas Quando as aberturas são maiores, as paredes podem ser consideradas acopladas pela viga exis-
rígidos, distribuindo as forças laterais para cada parede de contraventamento de acordo com tente entre estas. O modelo estrutural desses elementos deve levar em conta vários fatores, como
sua rigidez. Elas então estarão sujeitas a forças cortantes e flexão em seu plano além das cargas o vão efetivo a ser considerado e, principalmente, a relativa pequena rigidez e baixa resistência
verticais. Como resultado, o dimensionamento dessas paredes tende a ser "autoequilibrável': ao cisalhamento e à flexão das vigas de alvenaria entre os trechos de parede. Muitas vezes, o mo-
com as paredes mais rígidas também recebendo a maior parcela do esforço devido à ação lateral. delo deve prever o limite de fissuração ~de taxa de armadura das vigas, levando à considerável
Embora as paredes de contraventamento concebidas em concreto armado e em alvena- diminuição da rigidez do pórtico.
ria estrutural tenham a mesma função, existem diferenças de comportamento, descritas neste Em edifícios baixos e médios, na grande maioria das vezes a consideração de paredes
capítulo. Deve-se ressaltar que as considerações discutidas a seguir só serão válidas se houver isoladas em balanço é suficiente para análise do edifício. Muitas vezes, a presença de grandes
uma estrutura de suporte (pilotis ou fundação) que transmita adequadamente os esforços das aberturas leva à real separação dos trechos de paredes que, então, só podem ser tratadas como
paredes até o solo. isoladas, conforme a Figura 10.3. O comportamento de um edifício com essa concepção é rela-
Paredes de preenchimento dentro de pórticos de concreto armado ou de aço também tivamente simples de se entender. As lajes de concreto armado moldadas no local, de espessura
podem interagir com os elementos de pilares e viga e contribuir para a rigidez do prédio às não elevada, com cerca de 10 cm, são suficientemente rígidas em seu plano para possibilitar o
ações laterais. Esse tipo de comportamento, com interação entre alvenaria e elementos de con- efeito de diafragma rígido, e sua grande flexibilidade na direção fora do plano não permite le-
creto armado ou de aço, será discutido no capítulo 11. var em conta o acoplamento de paredes e efeito de pórtico. Desta forma, cada parede é dimen-
sionada como um pilar em balanço, engastado na fundação. Quando existem vigas ligando
as paredes, o projeto deve prever a possibilidade de deformações nas extremidades das vigas.
10.2 Influência do tipo e do layout das paredes de Para valores elevados de força lateral pode ser necessário prever juntas de movimentação na
contravento mento ligação entre a viga e a parede.

As paredes de contraventamento podem ser classificadas não apenas em termos do


tipo de alvenaria usada (de tijolos maciços, blocos vazados ou perfurados, de concreto, cerâ-
micos ou de sílico-ca!cário), mas também por receberem cargas verticais de outros elementos
acima ou não, serem de paredes simples ou eventualmente duplas, de seção retangular ou
com flanges (paredes transversais amarradas), paredes isoladas em balanço ou paredes aco-
pladas em pórticos. O comportamento dessas paredes é influenciado pela forma em planta,
tamanhos e distribuição das aberturas, e presença de elementos em seu contorno, como pare-
des transversais. Como regra geral, o projetista estrutural tende a preferir arranjos de paredes
e aberturas que levem a alvenarias de maior comprimento e quase cegas. A distribuição da
força cortante lateral e do momento fletor em paredes acopladas com aberturas é muito mais
complexa do que no caso de paredes cegas, conforme a Figura 10.2.

~-f'1t1
porta Abertura
de janela
D m ]]] D
.
Figura 10.3 Paredes isoladas por faixas de aberturas de janelas.

º
\ /
Paredes com abas ou flanges, criadas pela existência de paredes transversais ou even-
tualmente enrijecedores, têm sua rigidez substancialmente aumentada e, consequentemente,
Parede cega Parede con1 abertura Parede cega Parede com Paredes acopladas
sua capacidade de resistir à flexão e carga vertical, apesar de não haver grande mudança na
em balanço aberturas de janela
resistência à força cortante lateral. Desta forma, em algumas situações, a resistência ao cisalha-
(a) Parede de contraventamento de (b) Parede de contraventamento de edifícios de mento pode ser o ponto crítico do dimensionamento, conforme discutido nos itens a seguir.
edificações térreas múltiplos andares Quando necessário, as paredes devem ser armadas com as barras verticais geralmente locadas
nas extremidades da parede, o que permite um aumento da resistência do bordo tracionado.
Figura 10.2 Tipos de paredes de alvenaria.
498 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL
PAREDES DE CONTRAVENTAMENTO 499

A presença de grauteamento localizado também aumenta a resistência à compressão, evitando esmagamento do canto comprimido também pode ocorrer à medida que a fissura de tração
a ruptura da extremidade comprimida, evitando o esmagamento desse ponto ou a ruptura da vai se propagando para dentro da parede, reduzindo a área de contato com o apoio. A ruptura
parede por compressão e cisalhamento. por escorregamento (Figura 10.4(b)) pode ocorrer se a força de cisalhamento superar a resis-
Edifícios de múltiplos pavimentos são bem concebidos quando as paredes estão bem tência ao longo da junta horizontal. Quando a combinação de tensões resulta em tração na
distribuídas nas duas direções, com áreas de influência de laje de cada trecho de parede não parede, a fissura inicial por tração inicia-se no ponto A indicado na Figura 10.5 e se estende
excessivamente elevado, e com plantas simétricas que se repetem de maneira idêntica a cada em direção ao ponto B da mesma figuril. Depois desse ponto, a existência de elevada flexão
pavimento. Essa concepção foi apresentada e discutida no capítulo 3. combinada com baixa carga axial pode levar à ~ontinuação desse tipo de falha, porém com
tendência à ruptura por escorregamento da junta conforme a compressão axial aumenta.
A ruptura por escorregamento ocorre quando os esforços devidos à força lateral exce-
10.3 Comportamento e modos de ruptura dem a resistência por adesão entre o bloco e a argamassa, somada à resistência por atrito em
razão da carga vertical."' Esse tipo de ruptura, ilustrada na Figura 10.4(b), representa o caso
O modo de ruptura de determinada parede de contraventamento depende da combina- em que não ocorre a ruptura por tombamento devido à flexão, como em paredes com altura
ção das ações aplicadas, da geometria da parede, de propriedades dos materiais e de detalhes da pequena em relação ao seu comprimento.
armação (se houver). É importante que o projetista entenda os efeitos de suas decisões no com- O aumento da resistência ao cisalhamento por escorregamento observado entre os pon-
portamento desse tipo de elemento. Os itens seguintes trazem uma breve revisão e discussão de tos B e C pode ser explicado pelo aumento da tensão vertical nesse trecho. Esse aumento pode
aspectos importantes relativos ao comportamento de paredes de contraventamento. ser representado com boa precisão por uma reta, cuja inclinação é igual ao coeficiente de atrito
entre o bloco e a argamassa, e o tipo de ruptura é limitado a casos com baixa compressão axial
l 0.3. l Paredes não armadas (ver item específico no capítulo 5).

Os modos típicos de ruptura de paredes não armadas sujeitas à ação lateral são mostra-
r
(J

dos na Figura 10.4. Todos são caracterizados como rupturas relativamente frágeis, com rápida
redução na tensão e pouca (muitas vezes quase nenhuma) deformação após atingir o pico de
resistência. Independentemente de as paredes serem dimensionadas de maneira a permitir
ou não fissuração, o real fator de segurança depende da condição de ruptura quando a parede
E2iL Cisalhamento por
escorregamento da junta
t = t 0 +µan

atinge sua máxima capacidade na ruptura. Portanto, o dimensionamento deve prever e levar Tração e compressão
e.?------
em conta todos os possíveis modos de ruptura. Os diferentes modos de ruptura são mostrados /biaxial
/
na Figura 10.4, e o critério de ruptura ilustrado na mesma sequência na Figura 10.5. /
/ µ d
/
Cisalhamento-tração / Resistência à
Cargas dos pisos superiores
/,
con1pressão da
-+ -+F=====i -+ t===!=! Resistência de
cisalhamento J
alvenaria

por aderência'""--''-+-----------------------~,_e_ _<> cr


--+
--i=====i -+l====I inicial, t 0 a
0

-+ possível
-+t=====r' -+l=i;===I
es magamento
Ruptura por -W Ruptura por Ruptura por tração diagonal )luptura po
' do canto tração escorregamento irompressão
(a) Ruptura por tração (b) Ruptura por (e) Ruptura por (d) Ruptura por
ou tombamento escorregamento tração diagonal compressão
(fissuras verticais) Figura 10.5 Comportamento de alvenaria não armada sob esforços de cisalhamento e tensão normal
ao longo das juntas de assentamento horizontal.
Figura 10.4 Modos de ruptura de paredes de contraventamento em alvenaria não armada.

Como mostrado na Figura 10.4(a), a combinação de carga vertical pequena e momento


de tombamento pode levar a uma ruptura por tração, seguida pelo tombamento da parede. O
331 Yokel & Fatal (1976), Drysdale et ai. (1979) e Hendry et ai. (1981).
500 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE AlVENARIA ESTRUTURAL PAREDES DE CONTRAVENTAMENTO 501

Após o ponto C na Figura 10.4, a combinação de tensão de cisalhamento e da compres-


são axial produz tensões principais em ângulos distintos da junta horizontal, resultando em
fissuras diagonais. A ruptura por tração diagonal resultante dessa combinação é mostrada na
Figura 10.4(c). Nesse caso, com altas tensões tanto de cisalhamento quanto de compressão, 400---------,.---------
a "resistência ao cisalhamento" determinada pela resistência de tração diagonal depende da 30
resistência à tração dos blocos e de aderência entre a argamassa e o bloco.332 Para valores ainda 40
maiores de compressão axial e menores valores de tensões de cisalhamento, a direção principal ií !O
vai gradativamente se orientando perpendicularmente à junta horizontal. Como resultado, ~ o t----..z;:os..-
a maior resistência de tração da alvenaria na direção paralela à junta impede a ruptura por ~ -10

tração diagonal (ponto D). Deste ponto em diante, a compressão é predominante até ocorrer -20

a ruptura por compressão (Figura 10.4(d) e ponto E da Figura 10.5). Percebe-se que fatores -30

como a relação entre altura e comprimento da parede e o nível de compressão axial são deter- -40 "--'--'---'---"'----'-__J,--'---'--'--'---'-.....1
-15 -10 -5 o 5 10 15
minantes no tipo de ruptura de uma parede de contraventamento. Deslocamento, mm
O comportamento relativamente frágil de paredes não armadas deixa a impressão de (b) Laços de histerese
que elas têm pequena capacidade de dissipar energia. Entretanto, a resposta a carregamentos
cíclicos depende do tipo de ruptura. Como mostrado na Figura 10.6(a), para escorregamen-
to devido a ciclos de força lateral existe uma pequena quantidade de dissipação de energia. (a) Corpo de prova
Em contrapartida, o escorregamento observado na Figura 10.6(b) indica significativa dissi- Figura 10.7 Ensaios cíclicos de paredes não armadas de blocos sob força lateral em seu plano. 335
pação de energia com pequena perda de resistência. Tipicamente, o conceito de ruptura por
cisalhamento está associado ao rompimento por tração diagonal e leva a um comportamento 1O.3. 2 Paredes de controventomento não armados em edifício de múltiplos
não linear a considerável dissipação de energia, conforme mostrado na Figura 10.7(b).333 Esse pavimentos
comportamento pode ser considerado como pseudodúctil, mas leva a uma brusca perda de
resistência do cisalhamento após o valor de pico. Não é possível verificar totalmente a resistência, rigidez e capacidade de dissipar ener-
gia de paredes de contraventamento não armadas em edifícios realizando ensaios simples em
20 elementos individnais. A interação com paredes perpendiculares, especialmente (mas não
15 40 apenas) quando há amarração direta, cria situações em que a estabilidade global do edifício
lü pode ser garantida rriesmo após alguma fissuração. Além disso, o comportamento de pilares
5 de alvenaria entre aberturas difere significantemente do comportamento de pilares isolados.

o Em pesquisas mais recentes foram realizados ensaios em escala real de edifícios de mais
"1'o:" -5 de um andar. Esses estudos em geral têm o interesse de entender o comportamento do con-
"" -10 junto de alvenarias quando o prédio é sujeito a um terremoto. Existe hoje grande preocupação
-15 -40 em vários países em minimizar os danos causados por sismos. Em grande parte, o efeito do
-20 terremoto é semelhante ao de forças horizontais de vento, sendo importante o conhecimento
-1,5 -LO -0,5 o 0,5 l,0 1,5 -1,5-LO -0,5 O 0,5 LO L5
do comportamento de paredes de contraventamento frente a ações horizontais.
Escorregamento, % Escorregamento, o/o
Moon et al. 336 relatam resultados de ensaios em um edifício de dois andares construído
(a) Rocking- aplicação de força em (b) Tração diagonal
com tijolos cerâmicos, mostrado na Figura 10.S(a). O piso e a cobertura eram compostos de
movimento reverso no topo do balanço
estruturas de madeira apoiadas nos quatro lados. A planta baixa é mostrada na Figura 10.S(a).
Figura 10.6 Laços de histerese para paredes de contraventamento não armadas. 334 A Figura 10.S(b) mostra o padrão de fissuras nas paredes Par 1ePar2 para ação lateral aplica-
da na direção de seu eixo. As curvas de força horizontal-deslocamento na base dessas paredes
são mostradas na Figura 10.S(c) e (d).
332Drysdale, Hamid & Heidebrecht (1979) e Drysdale & Hamid (1982a).
333 Tomazevic (1999). 335 Tomazevic (1999).
334 Erbay & Abrams (2004). 336 Moon et al. (2003).
502 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL PAREDES DE CONTRAVENTAMENTO 503

O escorregamento da junta e o tombamento lateral foram dominantes nesses ensaios


devido à relativa baixa carga vertical. A resistência máxima da Par l, que tem apenas peque-
nas aberturas, foi igual a cerca do dobro da resistência da Par 2, que tem ainda uma grande
abertura adicional. Os resultados mostraram que a Par 2 tende a um comportamento mais de
tombamento em função de ter pequenos pilares no primeiro pavimento. Fissuras na base e
no topo desses pilares ocorreram para aliviar o esforço de flexão. Na Par 1, a parede inferior
é relativamente comprida em relação à sua altura e o modo de ruptura predominante é o
escorregamento das juntas, como se pode notar observando as fissuras destacadas na Figura
(b) Vista da elevação das paredes a partir da fachada externa mostrando as fissuras
10.S(b). Observa-se também fissuras nas paredes A e B, perpendiculares à direção da força
~
300 150

~
lateral aplicada, confirmando a efetiva participação destas como flanges das paredes 1 e 2.
200 100
Outro ensaio em edifício em escala real é relatado em Tomazevic,337 que ensaiou o pré- V
00 V

dio de três andares mostrado na Figura 10.9(a). Pelo envelope de curvas mostrado na Figura "
.D 100
00

"
.D 50

10.9(b), percebe-se que o desenvolvimento de fissuras diagonais permite o comportamento


"e o "e
V
o
~
pseudodúctil, comentado anteriormente, e boa dissipação de energia. "
~
o
~ -200
100
"
t:
o
u
-50

-100
~
o -300 "
~
t .

"' -8 -6 -4 -2 o 2 4 6 8
o
"'
-150
-8 -6 -4 -2 o 2 4 6 8

T Deslocamento no topo (mm) Deslocamento no topo (mm)


Par A_, .I75
12
(c) Laços cíclicos da Par 1 (d) Laços cíclicos da Par 2
Figura 10.8 Continuação ... 338
7,75, ~

12 V
ParB 00

-
"""
T
-
N

"""
~
"
.D

"e
~V
1,2

1.0
(a) Vista do edifício e planta baixa das paredes
E 0,8
=:"
·G"
0,6
V
-o 0,4
V
Experimental
"
·oV 0,2 I Idealizado
"'uo
V
I
o 0,5 1,0 l.S 2,0

Desloca1nento no topo, mm
(b) Gráfico força de cisalhamento - deslocamento no topo
Figura 10.8 Ensaio em escala real de edifício de dois pavimentos.
(a) EnSaio do edifício instantes antes do
colapso
Figura 10.9 Ensaios em mesa vibratória de edifício de alvenaria não armada. 339

338 Moon et ai. (2003).


337Tomazevic (1999). 339Tomazevic (1999).
504 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL PAREDES DE CONTRAVENTAMENTO 505

l 0.3.3 Paredes de contraventamento armadas de fissuras e ductilidade das paredes de contraventamento. Corpos de prova com taxas de
armadura entre 0,25 e 0,40% apresentaram boa ductilidade, com grandes deformações após
Paredes de contraventamento de alvenaria armada são especialmente importantes em o escoamento da armadura de flexão. Em contrapartida, corpos de prova que romperam
regiões sujeitas a terremotos, e podem ser dimensionadas de maneira a garantir boa ducti- por cisalhamento tinham ductilidade limitada, dependendo da taxa de armadura. Portanto,
lidade para permitir redistribuição dos esforços e boa dissipação de energia. Deve-se evitar pode-se verificar que a taxa de armadura horizontal ideal não é um valor fixo, mas depende
modos de ruptura frágeis, como por tração diagonal, escorregamento da junta, esmagamento da resistência à compressão da parede, de sua geometria e de detalhes como confinamento
prematuro do canto da parede ou perda de ancoragem das barras de aço. Sob efeitos combina- lateral das extremidades e presença de estribos em armaduras comprimidas. A ancoragem
dos de ação lateral e carga vertical, o modo de ruptura e de deformação característico depende adequada das armaduras de cisalhamento é também um fator importante.
basicamente da geometria da parede, do nível de carga vertical e da taxa de armadura vertical
e horizontal. 340
Os dois principais modos de ruptura associados a paredes armadas são: ~ Esmagamento do canto da parede

Primeiro
• Ruptura por flexão (Figura 10.lO(a)) caracterizada por fissuração na junta, esco-
amento da armadura vertical e, finalmente, esmagamento dos cantos da parede.
escoamento
____ .. Esmagamento do
canto da parede
• Ruptura por cisalhamento (Figura 10.lO(b)) caracterizada pela fissuração diagonal. '\ ----
Destacamento na base
Como mostrado nas curvas de força-deslocamento na Figura 10.10, a existência de ele- da parede (spalling)
vada pré-compressão afeta o comportamento da parede, retardando o aparecimento da pri- (a) Ruptura por flexão (cortesia P. Shing)
meira fissura e o escoamento da armadura. Como consequência, há o aumento na resistência na junta - - Com carga axial equivalente a 20% frk
ao cisalhamento e provavelmente na de flexão (exceto se o limite de resistência à compressão - - - Sem carga axial
for atingido).
o 2 4 6 8 10 12 14 16
Ensaios antigos realizados na Universidade de Canterbury341 mostraram que armaduras
verticais e horizontais são igualmente eficientes para o controle da fissuração diagonal e do
aumento da resistência ao cisalhamento quando essa é a condição crítica. Além disso, ensaios Fissura diagonal
realizados em paredes com armaduras igualmente distribuídas ao longo do comprimento des-
tas indicaram retardamento do aparecimento de fissuras diagonais e aumento de resistência Primeiro escoamento 6.
quando comparadas com paredes com armaduras concentradas nas extremidades. '
Como as condições do ensaio alteram os resultados, é difícil quantificar a taxa de arma-
''
dura horizontal ideal. Entretanto, vale a pena comentar que, nos ensaios relatados acima, as
'
maiores resistências verificadas coincidem com as maiores porcentagens de armaduras distri- '
buídas, porém taxas de armaduras adicionais ao valor de 0,3% da área bruta pouco alteraram
a carga limite de ruptura. Para taxas de armaduras maiores ou iguais a 0,3%, a resistência ao na junta - - Com carga axial equivalente a 20% fvk.
cisalhamento média é relatada igual a 1,17 MPa. Essa conclusão geral, que indica valores óti- - - - Sem carga axial
mos de taxa de armadura relativamente pequenos, é confirmada por Schneider, 342 que indica a
taxa de 0,2% como valor máximo efetivo. o 2 3 4 5 6
Ensaios mais recentes realizados na Universidade do Colorado'" indicam que a quan- Relação :
tidade de armadura horizontal tem efeito significativo na resistência ao cisalhamento, padrão )'

Figura.10.10 Comportamento de paredes de contraventamento armadas. 344

340 Scrivener (1967), Schneider (1959), Shing et a!. (1990, 1991), Sveinsson (1981), Thurston & Hutchinson (1982),
Salim (1982), Okada et a!. (1987) e Priestley (1982).
341 Scrivener (1967).
342 Schneider (1959).
343 Shing et a!. (1990, 1991). 344 ld. (1991).
506 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL PAREDES DE CONTRAVENTAMENTO 507

regamento da junta, dependendo basicamente da relação altura/comprimento do pilar e do


l~l~---1 nível de carga vertical. Os resultados também indicaram influência positiva da armadura ho-
4~f:)~~~-i;j~~r~~~~I
-i~Lr'.i:J~r Viga de concreto
rizontal no comportamento não linear dos pilares. Taxas de armadura maiores levaram a um
Armadura
Armadura vertical Armadura horizontal Carga vertical padrão de fissuras mais uniforme e aumento na resistência e capacidade de deformação dos
horizontal
-,A-j-;5-:$-:1-:6-m_m_(°'0,738"o'"'•J-;;9-;-$-:10;:-m-m-;(0;:-,2;c4:;;%c;-)-- i.26'0-·kN -
pilares. Outros resultados de ensaios'" indicam também que paredes parcialmente grauteadas
~jj:=ct:il:S:fil--
B 5 $ 19 mm (0,54%) 5 $ 10 mm (0,14%) l.200 kN
~ Armadura
vertical
e s $ 16 mm (0,38%) 5 $10 mm (0,14%) o também têm boa ductilidade, compar,adas com paredes totalmente grauteadas, porém com
D 5 $ 16 mm (0,38%) 5 $ 10 mm (0,14%) 1.200kN
Laje de reduzida resistência e rigidez. '
Ensaios"' confirmam ainda o efeito benéfico de confinamento das regiões mais compri-
midas, próximas à base onde podem ser formadas rótulas plásticas. O confinamento permite
que ocorram grandes deformações não lineares, possibilitando grandes rotações sob flexão. As
curvaturas mostradas na Figura 10.12 indicam que grandes rotações são possíveis quando há
ductilidade suficiente, permitindo formação de rótulas plásticas na região de maiores momen-
400 -
Fissura diagonal tos. Na figura, a altura da rótula formada tem cerca de 15% da altura da parede.
400

200 - 200 Conforme é possível observar na Figura 10.13, pode-se conseguir maiores níveis de
li z
~ 200
ductilidade pelo aumento da máxima deformação de ruptura à compressão obtida pelo con-
ri
lê- o o ~
ê-
o finamento. O posicionamento de placas especiais"' em juntas estratégicas ou armadura he-
licoidal em volta das barras verticais de furos grauteados"º são dois métodos utilizados para
-200 & -200
"'
·~ -200
confinar as extremidades de paredes de alvenaria.
-400 Primeiro escoamento
-400 - - -400
-50 -25 o 25 50 -50 -25 o 25 50 Para dimensões da parede, ver Figura 10.11
Deslocamento lateral, mm Deslocamento lateral, mm
Parede A - Ruptura por flexão Parede B - Ruptura por cisalhamento 2,0 f- Deslocamento no topo da parede
(a) Efeito da taxa de armadura vertical e horizontal - - - 8=4mm

Fissura diagonal E 1,5 ... ---- Ll=Smm


Fissura diagonal

/ "
~
~ - - L'l=l6m1n
li 200
Primeiro escoamento
li 200 -
""
«: 1,0
-·-·- .6..=24mm
--

B o
-"
ê-
& -200 -

-4001-

-50 -25 o 25 50
Deslocamento lateral, mm
Parede C - Ruptura por flexão Parede D - Ruptura por dsa!hamento

(b) Efeito do nlvel da carga vertical Figura 10.12 Variação da curvatura ao longo da altura. 351

Figura 10.11 Curvas de força-deslocamento de paredes de contraventamento armadas. 345

Ensaios realizados na Universidade da Califórnia (Berkeley), 346 em pilares de alvenaria 3471hurston & Hutchinson (1982).
sob ação lateral, mostraram três modos de ruptura: por flexão, por cisalhamento e por escor- 348 Shing el aL (1991), Salim (1982), Okada et aL (1987) e Priestley (1982).
349 Priestley (1982).
345 !d. ibid. (1991). 350 Salim (1982) e Okada et aL (1987)_
346 Sveinsson et al. (1981), 351 Shing et aL (1990).
508 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL PAREDES DE CONTRAVENTAMENTO 509

300 Ductilidade em função~ 0,71 1,42

200
do deslocamento 1
3,91 -Ductilidade em função ::::: 0,71 1'.42 2,86 4,26
300 do deslocamento

200
s,dsl
Compressão
na alma


wF·
µ;

Fissuração 1
Esmagamento
Ida parede

jí jí
~
100
Oi-----~~~-,,>íW-7';;;,::;~:__~~~I ~
100
oi.--~~--:....--57~'1/f~:;:;..-"'"--~--i
"
&
~
JEsmagament~.
Fissuração
da parede ·
J:-100.
"' -200 100 Compressão da Compressão
-200fió:::~ ~WJ.W
'?:. flange na alma
-100 Ductilidade em função Ductilidade em função
l,i\2 0,71 = do deslocamento -300 5,68 41:6 2,
~
l,420,7 =do deslocamento 50 o 50
-300 ' ' ' ' ' ' ' ' Deslocamento no topo, mm
-80-60 -40 -20 o 20 40 60 80 -100-80-60-40-20 o 20 40 60 80 100 Deslocamento
Deslocamento, mm Deslocamento, mm (a) Envelope de curvas de histerese (b) Curva força-deslocamento idealizada
(a) Parede sem confinamento (b) Parede com confinamento
Figura 10.14 Comportamento de paredes com flanges sob ação lateral. 354

10.3.4 Paredes armadas e com aberturas

Aberturas podem reduzir significantemente o comportamento, a rigidez e a capacida-


de resistente de paredes de contraventamento, conforme mostrado em ensaios experimentais
relatados por El-Shafie et al. 355 Modelos de escala reduzida a um terço com taxas de armadura
vertical e horizontal uniformes foram dimensionados para evitar ruptura por cisalhamento e
garantir comportamento dúctil. A Figura 10.15 mostra claramente que quanto maior o tama-
nho da abertura, menor a rigidez e resistência da parede. Um aumento maior no deslocamento
lateral é percebido a partir da aplicação de forças laterais de cerca de 50% do valor de ruptura.
Exemplo da "placa de Priestley" para confinamento Análises incluindo mecanismo de rótula plástica na base indicaram razoável precisão com
os ensaios, e observou-se que a redução na rigidez era proporcional à redução na resistência,
Figura 10.13 Efeito do confinamento no comportamento de paredes armadas sob ação lateral.352 independentemente do tamanho e da posição das aberturas.
Outro trabalho interessante356 relata um ensaio em escala real de seis edifícios de dois
Ensaios quase estáticos em paredes com flanges sob ação lateral, relatados em Priestley andares de paredes éom aberturas, realizado na Universidade do Texas, em Austin. Os corpos
& Limin, 353 indicam uma grande assimetria nas curvas com a inversão do sentido do carre- de prova foram dimensionados com modelo de rótula plástica (apresentado no item seguinte
gamento. Conforme se percebe na Figura 10.14, a parede é menos dúctil quando o sentido neste capítulo). Como mostrado na Figura 10.16, as paredes tiveram comportamento dúctil e
de aplicação da força lateral leva à compressão da alma, quando comparada ao caso de com- estável até deslocamentos de 0,7 a 1% da altura. Mesmo para elevados valores de deslocamen-
pressão na flange. A menor região comprimida na alma e menores quantidades de armadura to, a degradação do edifício foi gradual. Aberturas não simétricas, como mostrado na Figura
levam a menores resistência e rigidez nesse tipo de seção. 10.16(b), levam a um comportamento assimétrico da parede. Os autores demonstram que
um modelo simples baseado em rótulas plásticas pode permitir, com boa precisão, o limite de
resistência de paredes com aberturas.

354 !d. ibid.


352 Priestley (1982). 355El-Shafie et ai. (2002).
353 Priestley & Limin (1990): 356Leiva & Klingner (1994).
51 Ü COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE AlVENARIA ESTRUTURAL
PAREDES OE CONTRAVENTAMENTO 511

(a) garante comportamento dúctil e boa dissipação de energia quando bem dimensionada e
construída de maneira a possibilitar a formação de rótulas plásticas na base de cada parede.
A resposta de paredes com aberturas (b e c) difere e é muito mais complexa que o modelo
simples anterior. Sob comportamento não linear, as rótulas podem se iniciar nos pilares entre
aberturas (b) ou nas vigas sobre aberturas (c). No primeiro caso, o que muitas vezes é o mais
comum, o projetista deve verificar com çuidado a.resistência ao cisalharnento e de flexão desses
50
ií elementos. O modelo de pórtico com vigas e pilàres é consistente com parede com aberturas.
<i
] o.JI
p Entretanto, a relativa baixa altura, rigidez e resistência das vigas muitas vezes torna o modelo
]" 40
0,85h pouco eficiente, e o projetista deve verificar cuidadosamente os esforços nas vigas obtidos com
ro W3 w4 JO]jo,s5h
..." 30
o O:jth
t,8oh'
o modelo utilizado e verificar se eles são compatíveis com a possibilidade de detalharnento de
armaduras. Muitas vezes, a rigidez da viga deve ser consideravelmente reduzida no modelo
P, (%) p" (%) para permitir resultados coerentes. Ainda, é possível considerar a possibilidade de modelo ape-
Parede Pilar Viga Parede Pilar Viga nas com os pilares de alvenaria, desprezando as vigas entre estes. Nesse caso, a prática interna-
WI 0,3 0,22 cional indica a utilização de juntas de movimentação na ligação da viga e pilar, prática pouco
W2 0,3 0,3 1,1 0,7 0,7 0,7
10 comum no Brasil. Em casos de esforços muito elevados, pode ocorrer fissuras nesse ponto.
W3 0,3 0,3 0,7 0,22
W4 0,7 0,44 0,44 0,44
o
o 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2 1,4 1,6 1,8 DOO
Ângulo de deformação (Ll/h) %
---+
.D.DO
Figura 10.15 Efeito de aberturas em paredes sob ação lateral."' DOO
---+
DOO
·DDD
ií 400

"
~
ro
.o
ro
200 (a) Paredes isoladas em balanço
(boa ductilidade)
(b) Paredes de contraventamento
com aberturas (ruptura nas paredes)
(e) Paredes de contraventamento
com aberturas (ruptura nas vigas)
" o
~
~ -200 Figura 10.17 Comportamento de edifícios de múltiplos pavimentos de alvenaria armada sob ação lateral. 360
~
8ro -400
Um trabalho experimental interessante é relatado em Seible et al. 36 ' sobre ensaios em
..."o Sol
-1,2
1,0 escala real de edifício de 5 pavimentos, realizado na Universidade da Califórnia, San Diego,
(a) Norte
Deformação lateral % (b) Deformação lateral % submetido a ações laterais de sismos. O edifício foi construído em paredes estruturais com flan-
Figura 10.16 Ensaios cíclicos de paredes com abertura de dois andares.3ss ges e lajes alveolares pretendidas com capa de concreto de 5 cm. Sobre as aberturas de portas
foram construídas vergas não estruturais, separadas das paredes por juntas de movimentação.
l O. 3 .5 Paredes de contraventamento armadas em edifícios de múltiplos A ligação entre as paredes (acoplamento) ocorria apenas pelo trecho de laje, e o edifício foi
andares dimensionado de maneira a apresentar grande ductilidade e não romper de maneira frágil por
cisalharnento. Corno é possível observar na curva força-deslocamento da Figura 10.18, o edifí-
Para edifícios de múltiplos andares, o modo de ruptura e a ductilidade dependem da cio apresentou grande ductilidade com ângulos de desaprumo de 1 a 1,5%. A ruptura ocorreu
geometria da parede e da capacidade de curvatura desta. 359 A Figura 10.17 mostra diferentes conforme previsto, com formação de rótulas plásticas na base dos pilares de alvenaria. Esse
tipos de paredes de contraventarnento armadas, cujo tipo mais simples de parede em balanço resultado indica que edifícios de alvenaria estrutural podem ser dimensionados para ter gran-
de ductilidade e serem adequados também para zonas sísmicas. O ponto-chave para garantir
357 El-Shafie et ai. (2002).
358 Leiva & Klingner (1994).
360 !d. ibid.
359 Priestley (1986a).
361 Seible et ai. (1994).
512 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL PAREDES DE CONTRAVENTAMENTO 513

uma elevada ductilidade é verificar que não ocorra a ruptura por cisalhamento, especificando l
1
armaduras quando for o caso. Também é importante checar comprimentos de ancoragem e de ., ,. .... -. '
1 ··
.~
.. / . .
emendas, armaduras de flexão e necessidade de juntas de dilatação. 2,3
" --
" /

~
1

1200
l Juntas de <:ontrole fissuram
2 Capeamento das lajes fissuram
~·8·->-··-< 1 "'
.
l,O/ \
'' ~ 8
"'
800
4 Primeira fissura em paredes
. j • <...
z
~j
5 Lajes alveolares fissuram
10 ~

-
-" 12
oS
~
,D 400
6 Fissura entre paredes e ílangc
7 Escoamento de lajes
I 4,0
'-:-1
. :
· -j
\
:': "'
o ~

• 8 Fissuras de flexão no 2°andar


-11 n
"
1l 9 Rótulas em lajes .. .. .. .. ..
1 ' ' ' '
" ,.
"•- o \O Várias fissuras nas paredes
·I\
o
u
11 Esmagamento de vigas
12 Esmagamento no canto de paredes
" . . "' •
1 1
~
o -400 !3 Escorregamento de paredes \ 4,0 /
.
'"
l,o\ / "'
1
1
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-800 ~ 8

-1200 12,1 3 11 10
~

7- .. -(
3,3
-;H __l!i
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"' --
"'
200 100 o 100 0,8
•11•
~
Deslocamento no topo, mm
. ,(4 2,3 301 -~-o!lJJ1 :': 301 14
I+-
Figura 10.18 Ensaios em edifício de 5 pavimentos de alvenaria armada (adaptada de Seible et al.). 362 /
_, · .. ..;,/ _,. n- l "'.-..
"'
I, ,•
" .. .. º' '
Medidas em centímetros i :':r
1

10.4 Distribuição dos esforços em paredes de contraventamento


Figura 10.19 Exemplo de área de influência para distribuição da carga da laje para as paredes de apoio.

l 0.4. l Cargas verticais


Quando há efetiva amarração entre paredes que se cruzam, é possível considerar que os
esforços serão distribuídos do trecho "mais carregadd' para o "menos carregado''. Essa distribui-
A distribuição das cargas verticais das lajes para as paredes estruturais é baseada nas
ção pode ser considerada levando-se em conta a rigidez axial relativa de cad.a trecho de parede.
áreas de influência de cada lado apoiado, determinadas em função da geometria e vinculações
Uma aproximação simples é considerar paredes que se cruzam como uma única es-
das lajes. Em função da condição de apoio de cada lado (apoio/apoio, apoio/engaste, livre),
trutura para fim da distribuição do esforço vertical. 363 Essa única estrutura é chamada de su-
essas áreas são traçadas considerando o ângulo usual de distribuição. Quando há uma aber-
bestrutura ou grupo. A reação uniforme, constante ao longo do grupo, é igual à soma dos
tura, deve-se traçar uma linha reta no centro da abertura, indicando que o carregamento será
carregamentos em cada parede pela soma dos comprimentos das paredes. Nos casos de edifí-
igualmente distribuído para cada lado. A Figura 10.19 ilustra um caso de determinação de área
cios com vãos moderados e consequentes comprimentos de parede limitados, esse modelo é
de influência para determinação das cargas de lajes em cada parede de apoio. Nesse exemplo,
considerado adequado. Em outros casos, por exemplo, quando as paredes têm comprimento
os lados das lajes com continuidade foram considerados engastados.
elevado, não é coerente supor que a carga aplicada na extremidade de uma parede será unifor-
memente distribuída para a extremidade distante da outra parede.
Ao se considerar que os esforços verticais se espalham em um ângulo de 45º, é possível
distribuir as diferenças de cargas dentro de um grupo de paredes que se cruzam. Apesar de não
ser tão simples como o anterior, este procedimento pode ser sistematizado com o auxílio de
programas de computador. Outro modelo é o de elementos finitos levando em conta a rigidez
e resistência de cada interface, com eventual comportamento não linear.

362 !d. ibid. 363 Ramalho & Corrêa (2003).


514 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL
PAREDES DE CONTRAVENTAMENTO 515

Em qualquer caso, para consideração da distribuição de carga deve-se verificar o cisa- O cálculo da posição do centro de rigidez das paredes de contraventamento de determi-
lhamento na interface entre a alma e a flange das paredes. A norma brasileira recomenda a nado piso pode ser determinado por:
resistência ao cisalhamento em interfaces de paredes com amarração direta limitada ao valor
característico de 0,35 MPa.
A existência de uma carga axial de compressão pode evitar o aparecimento de tensões de
tração quando a parede é também submetida a um momento fletor em razão da força lateral, e, Equação 10.l
por esse motivo, é importante não superestimar as cargas verticais. No dimensionamento para
o estado limite último, as cargas verticais são consideradas apenas em sua parcela permanente
e, ainda, reduzidas por um coeficiente igual a 0,9. Desta forma, tenta-se estimar o valor míni-
mo da carga vertical em situações em que ela aumenta a resistência a determinados esforços.
em que:
R,;• R,; = rigidez da parede de contraventamento i para flexão nas direções x e y, respectiva-
10.4. 2 Forças laterais
mente;

Pavimentos de concreto armado em edifícios de múltiplos andares normalmente são Yre f,1., xrc1,1. = distância a partir de um eixo de referência (origem dos eixos, por exemplo) até a
l'.ª~ede de contraventamento i;
considerados de elevada rigidez em seu plano. Este diafragma rígido conecta as paredes de
x, y = distância do centro de rigidez até o eixo de referência.
contraventamento e assegura que a posição relativa entre cada parede não é alterada sob ação
lateral. Em outras palavras, em cada andar todas as paredes terão o mesmo deslocamento ho-
A rigidez elástica, R, de uma parede de contraventamento não fissurada depende de suas
rizontal quando não há torção do pavimento. Quando há torção, a diferença de deslocamento
dimensões, do módulo de elasticidade, E,. do módulo de cisalhamento, G,, e das condições de
será proporcional à distância da parede ao centro de rigidez do pavimento. Outra maneira de
apoio. Para uma parede em balanço sujeita a uma força lateral V no topo, como mostrado na
descrever o efeito de diafragma rígido é afirmar que a laje não tem deformação no seu plano,
Figura 10.2l(a), os deslocamentos devidos à flexão e ao cisalhamento são:
apenas um deslocamento que pode ser acompanhado de giro quando há torção (idealiza-se
que as dimensões da laje não se alteram sob força lateral). Essa característica de diafragma 3

rígido, como em edifícios, determina a maneira em que as forças laterais (vento, por exemplo)
L\o = Vh + l,2Vh Equação 10.2
3E) G,A
são distribuídas para as paredes de contraventamento.
Como exemplo, uma planta simples é mostrada na Figura 10.20. O arranjo das paredes
não é simétrico, então o centro de rigidez (CR) e o centro de gravidade (CG) das paredes não em que o valor 1,2 é um fator de forma válido para seções retangulares, e A a área da alma da
coincidem. Assim, as forças horizontais na direção Y irão produzir torção da planta, que deve parede. Simplificadamente, a normalização brasileira permite levar em conta as propriedades
ser incluída na análise das forças a serem distribuídas para cada parede. Como a rigidez no em relação à área brufa. De maneira um pouco mais precisa, pode-se tomar como referência a
plano de uma parede é muito maior que a rigidez fora do plano, as paredes com menor dimen- área efetiva (área com argamassa de assentamento ou graute). Nesse caso, A é igual ao compri-
são na direção da força horizontal podem ser ignoradas para análise de forças nessa direção. mento da parede multiplicado pela espessura efetiva t, calculada dividindo-se a área da seção
com argamassa de assentamento e graute pelo comprimento da parede. Nos exemplos a seguir,
as duas opções são consideradas.
Para G, = 0,4E,, e considerando uma parede retangular com A= Rt, e l = tP/12, a equa-
ção 10.2 pode ser simplificada para:

v,
!
. -- . -- . - - . ·t,\::_q __ . -- . -- ---- f-~ ·+x Equação 10.3
fv,,. .LcR
1 V.
~
X. -

Figura 10.20 Planta baixa de um pavimento de edifício de múltiplos pavimentos, mostrando as paredes
de contraventamento.
[!
516 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL PAREDES DE CONTRAVENTAMENTO 517

Tabela 10.1 Efeito da relação altura/largura nos deslocamentos devidos ao cisalhamento.


Porcentagem do deslocamento devido ao cisalha1nento
h/C
Parede e1n balanço Parede biengastada
0,25 92 98
1,00 43 75
h 2,00 ,16 43
4,00 5 16
8,00 1 4,5

Vh V
A rigidez de uma parede pode ser considerada como o inverso do deslocamento causado
Momento Cortante
por uma força lateral unitária (R = li6). Portanto, para uma parede retangular com G, = 0,4E,,
(a) Parede em balanço
o cálculo da rigidez a ser utilizada na equação 10.1 é expresso por:

Vh/2 Equação 10.6

h
Equação 10. 7

Vh/2 V Essas relações são válidas apenas para a força concentrada no topo da parede e serão
Momento Cortante
distintas no caso de força lateral distribuída. Além disso, as contribuições relativas da flexão e
(b) Parede com restrições contra rotação
cisalhamento dependem da relação altura/comprimento (h/R) da parede. Portanto, a rigidez
relativa varia ao longo da altura do edifício. Entretanto, para paredes com (h/ R) relativamente
Figura 10.21 Deformações de paredes devidas à flexão e ao cisalhamento.
grandes, a influência da rigidez ao cisalhamento é pequena e o cálculo da rigidez, levando em
conta apenas a flexão; é razoavelmente preciso. Ainda, para paredes com flanges (ou abas) a ri-
De maneira semelhante, se a parede tem as duas extremidades engastadas, como mos-
gidez à flexão será maior com pouco aumento da rigidez ao cisalhamento, portanto, diminuin-
trado na Figura 10.21(b), os deslocamentos devidos à flexão e ao cisalhamento serão:
do ainda mais a influência deste. Para paredes muito baixas, com (h/ R) o> 0,25, a rigidez baseada
= Vh
3
+ l,2Vh apenas no cisalhamento é suficientemente precisa. Para casos intermediários com (h/P) entre
6 Equação 10,4
' 12E,I G,A 0,25 e 4,0, é importante incluir as duas rigidezes. A fim de auxiliar nesta análise, os gráficos
mostrados na Figura 10.22 indicam a rigidez relativa (R/E,t) para paredes retangulares.
Paredes ligadas apenas pelas lajes não têm efeito de acoplamento suficiente para con-
Para G, = 0,4E,, e considerando uma parede retangular:
sideração de efeito de pórtico. Desta forma, podem ser assumidas como paredes em balanço
engastadas na base. Com algumas simplificações, admitindo comportamento elástico-linear,
Equação 1O.5 a força lateral total pode ser distribuída para cada parede de contraventamento proporcional-
mente à sua rigidez relativa.

A Tabela 10.1 indica a influência relativa da rigidez ao cisalhamento de paredes retan-


gulares com diferentes relações altura/comprimento. Para parede de maior altura, a rigidez ao
cisalhamento é pequena e pode ser desprezada. Quando as flanges são consideradas na seção
da parede de contraventamento, essa influência será menor.
518 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL PAREDES DE CONTRAVENTAMENTO 519

--
"'
;x:
1,2

1,0
Equação 10.9

.,," 0,8
~ 0,6 e a força cortante por rotação (ou torção), vyk' é calculada por:
.,,'""' 0,4
N
V

~ 0,2 Equação 10.10

°' 0,0
0,0 0,3 0,6 0,9 1,2 1,5
Relação entre lados da parede, hJf em que todas as paredes na direção X e Y resistem à torção do edifício. As paredes mais dis-
tantes do centro de rotação (coincidente com o centro de rigidez) têm maior deslocamento

-.
"';x:
0,15
devido à torção da planta e, portanto, apresentam maior valor de força cortante por rotação. A
resistência da planta à torção é aumentada quanto maior for a distância de paredes de grande
.,," 0,10 rigidez ao centro de torção.
~ Nesse caso, o centro de rigidez, CR (ponto calculado matematicamente que concentra ,
.,,'""' 0,05
todas as rigidezes das paredes), está a uma distância e, do centro de gravidade, CG. Desta
N
V forma, o momento torsor no pavimento será V,e,. sendo importante notar que, devido ao dia-
'.:l
~ fragma rígido, a laje irá mover todas as paredes, fazendo com que os elementos na direção X e
0,00 Y contribuam para resistir à torção. O mesmo procedimento é utilizado para distribuição das
1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 4,5
Relação entre lados da parede, h/ f forças aplicadas na direção X.

O,ü!O
l 0.4.3 Fatores que afetam a distribuição das forças laterais
,:;·
;x: 0,008
.,," 0,006
Desprezar o aumento de rigidez a torção devido à consideração das flanges pode resul-
~
tar em menor erro na distribuição da força lateral do que aquilo que ocorre quando os efeitos
.,,"'"''" 0,004 da fissuração são ignorados. 364 Estudos em paredes de contraventamento armadas indicam
.,,
N
V
0,002
significativa reduçã~ de rigidez devido à fissuração e deformações plásticas. 365 A eventual ele-
~ vação vertical do canto de uma parede ou seu deslizamento horizontal também contribui para
0,000 a diminuição da rigidez. O potencial de fissuras e a consequente diminuição da rigidez são
4,5 5,0 5,5 6,0 6,5 7,0 7,5 8,0 8,5 9,0
influenciados pelo nível de compressão axial. A Figura 10.23 mostra a rigidez ao cisalhamento
Relação entre lados da parede, h/f
de paredes quadradas (h/ C= 1) em relação à rigidez secante medida imediatamente antes do
Figura 10.22 Gráficos para cálculo da rigidez relativa de paredes. aparecimento da primeira fissura diagonal. Pode-se perceber claramente o efeito do aumento
de rigidez em função do aumento da tensão axial e, também, a redução desta quando ocorre
Para a direção Y da Figura 10.20, a distribuição da força lateral, V,, entre todas as pare- a fissuração.
des em balanço pode ser aproximada pela seguinte expressão:

V.=V.+V.
yi yit yir Equação 10.8

em que V,; é a força cortante lateral resistida por cada parede na direção Y.
A força cortante por translação (ou direta), V,;<' é proporcional à rigidez de cada parede
com maior dimensão na direção Y:
364 Paulay & Priestley (1992).
365Shing et ai. (1990, 1991), Paulay & Priestley (1992) e MSJC (2005).
PAREDES DE CONTRAVENTAMENTO 521

flexíveis como steel deck, pisos de madeira, lajes pré-moldadas sem ligação entre os painéis,
A Grandes fissuras diagonais vigotas em uma única direção, pode alterar significativamente a distribuição da força lateral.
D 50%deVll\"1<
o 10%deV,,,""
1,5 ...
K = Rigidez média 10.5 Efeitos de aberturas na rigidez da parede e distribuição
K, = Rigidez secante antes da fissuração diagonal da força lateral
D
'4' D
~ 1,0

L
10.5. l Combinação de segmentos de paredes verticais e horizontais
8
,, KIK,=0,2+0,0074f, Conforme mencionado antes, quando existem grandes aberturas, pode ser difícil de
0,5
obter uma ligação eficieute entre os trechos de parede. Portanto, uma aproximação aceitável
pode ser reduzir o efeito do acoplamento e analisar a parede como uma combinação de pilares
~---"-~'i!À em balanço, como mostrado na Figura 10.24(a). Nesse caso, a rigidez combinada, R, é igual a:
0,0 L..-----'------,"-·-----'-:-----::":-'
o.s 1,0 1,5 2,0
Equação 10.11
Tensão axial, fª, MPa
em que R1b, R,b e R,b são as rigidezes das paredes em balanço.
Figura 10.23 Rigidez ao cisalhamento de edificação térrea com paredes de contraventamento em alve-
naria armada. 366
Se os segmentos de parede forem combinados verticalmente (parede com menor seção
em andares superiores), como na Figura 10.24(b), a rigidez combinada, R, pode ser determi-
Para paredes com abas, considera-se o comprimento máximo de flange para cada lado nada por:
da parede não superior a seis vezes a espessura desta para verificação da resistência. Essa con-
sideração pode ser conservadora para o caso em que a compressão é alta e há pouca fissuração, 1
como é o caso de alvenaria não armada. A não consideração de flanges mais comprimidas Equação 10.12
pode levar à subestimação da rigidez da parede e, portanto, a se considerar que a parede "atrai"
menor força lateral do que a real. Nesse caso, a parede estaria subdimensionada para o cisa-
lhamento, uma vez que é prática usual de projeto considerar a mesma seção da parede para em que R 1b, R,b e R3b são as rigidezes dos trechos 1, 2 e 3, calculados como balanços indivi-
cálculo da rigidez e resistência. Especialmente para paredes não armadas, é conveniente o duais. Essa expressão ignora a rotação que ocorre no topo dos segmentos 2 e 3, e pode ser
dimensionamento prever uma boa reserva de resistência ao cisalhamento para levar em conta considerada uma aproximação razoável apenas quando existe força aplicada somente no topo
essa aproximação de projeto. Para paredes armadas, o limite no comprimento da flange tem do trecho 1. Uma melhor aproximação pode ser feita calculando precisamente o deslocamento
menor influência, pois paredes sujeitas a trações elevadas irão fissurar, causando uma grande de uma parede em balanço com variação de seção.
redução na rigidez e redistribuição de esforços para paredes não fissuradas.
A consideração de diafragma rígido é também uma aproximação, uma vez que o piso ou
a cobertura terão alguma deformação. Para paredes armadas, essa aproximação não é crítica
porque as imprecisões do modelo podem ser compensadas pela redistribuição de esforços após
- ~
~
~
~
- (j)

L
a fissuração. Paredes não armadas não permitem redistribuição de esforços, portanto é impor- ~

(j) ~@ · IZForma
tante prever boa margem de segurança no cálculo. Como exemplo, pesquisas 367 mostram que ®
~ deformada
as deformações de lajes pré-moldadas de concreto podem ser significativas, podendo ocorrer ~ ®
variações entre 20 e 40% em relação ao modelo de diafragma rígido. O uso de diafragmas
(a) Combinação horizontal de segmentos de parede (b) Combinação vertical de segmentos de parede

366 Shing et a!. (1990). Figura 10.24 Combinação de paredes para cálculo de rigidez quando há aberturas.
367 Paulay & Priestley (1992).
522 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL PAREDES DE CONTRAVENTAMENTO 523

l 0.5.2 Rigidez de paredes com aberturas em edifícios baixos Nesse caso, a condição biengastada é assumida para todos os pilares por conta do efeito
da restrição à rotação proporcionada pela parte 1 conectada às partes 2 e 7. Para a combinação
Para uma parede com aberturas onde a força horizontal é aplicada no topo, em uma horizontal dos segmentos 3, 4 e 5, tem-se:
edificação térrea, uma análise aproximada pode ser feita calculando a rigidez, consideran-
do inicialmente a parede como sólida e em balanço (cega, sem aberturas), Ll.P"''""""<br Na 1
Ll., 45 = - - - - - - - Equação 10.18
.' R,«J + R,(,J + Rs<oJ 1 1 1
sequência, a rigidez da faixa contendo aberturas é subtraída, Ll."~· (b)' Finalmente, soma-se a --·+·--+--
' '
Ll.3(<) Ll.4(<) Lls(<)
rigidez dos trechos de pilares entre as aberturas, Ll.P"'"' Esses pilares podem ser considerados
tanto em balanço (b) ou biengastados (e), dependendo da rigidez dos elementos conectores
(vigas). O exemplo a seguir ilustra o método, considerando a parede indicada na Figura 10.25. Com h = 4,8 metros e f = 7,8 metros, a partir da equação 10.3 chega-se a:

CD
s
N
_:;
Ll.'"''"'"'•(bl = E~t [ 4(~ J+ 3( ~ J] E~ t [ 4( ~:: J+ 3( ~:: )]
= = 2, 778/ (E, t ), com rigidez da

- - Fa:at -
~D~D~
parede sólida igual a 1/Liparcctc sóucta (b) = Rrarecte soucta (bl = 0)36 Eª t.

Faixa A '2
~ 0 De forma análoga, para a faixa A, com h = 3,6 metros e f = 7,8 metros: L\.faixa
. A (b) = 1)778 / '
' (E,t). O trecho sólido 3,4,5,6 será considerado biengastado, com deslocamento determinado pela
® equação 10.5, com h = 3,6 metros e e=
4,2 metros:
-
Figura 10.25 Parede com abertura (cálculo da rigidez e distribuição de forças).
L\.
paredcsólida,3,4,5,6(c)
=.:!__
Eat [(JE. ()~
f 3
E. __
+3 _f
1_
- Eat [( )
42
~
J' +3 (4, 2 )~ -3,201/(Eat)
3,6 - -

Seguindo o dimensionamento, considerando os deslocamentos para os casos em balan-


O deslocamento da parede será:
ço (b) pela equação 10.3 e os casos biengastados (e) pela equação 10.5, chega-se a:

.Ó.parede = .Ó.parede sólida (b) - Li.faixa A (b) + L\2,3,4,5,6,7 Equação 10.13


Ll.,«l = Ll.,1,l = L\.51<l = 14,0 / (E,t)
L\.'-'·' = 4,667 / (E,t), (equação 10.18)
cujo deslocamento dos pilares entre as aberturas vale:
Ll.'""B«l = 0,880 / (E;t)
1 Ll.,.<, 5•6 = (3,201 - 0,880 + 4,667) / (E,t) = 6,987 I (E,t), (equação 10.17)
L\. 2,3,4,5,6,7 =R- - - - Equação 10.14
2,3,4,5,6,7
Então:

e a rigidez combinada dos três pilares em combinação horizontal vale: R3.4.5•6 = 0,143 E,t;
R,iel = R,iel = 0,004 E,t;
R2,3,4,5,6,7 =R2(c) +R3,4,5,6 + ..R'/(e) Equação 10.15 Rz,3.4,s,6,7 = 0,151 Eªt;
Ll. 2,,.1•5,6,7 = 6,623 I (E,t);
onde: e finalmente da equação 10.13, L\.pare, e = 7,623 /(Eat), e Rparede =O ' 131 Eat.

R =-1- Equação 10.16 A rigidez final da parede com abertura é igual a 36% da rigidez de uma parede sem
'·'·"' L\. 3,4,5,6 aberturas, para o caso ilustrado na Figura 10.25.
Deve-se ressaltar que esse método aproximado não é totalmente preciso, pois não con-
que, por sua vez, considerando esse trecho como um parede com aberturas, vale: sidera o real diagrama de momento e as vinculações das faixas não são levadas em conta.
Quando se faz necessário uma maior precisão, uma modelagem em elementos finitos pode
L\.3,4,5,6 =Ll.pare d,.,
e só !
()-Ll.,.
a, 3,4,5,6 e ~1x~
()+Ll.3,1,5
13 e
Equação 10.17 auxiliar na obtenção da rigidez da parede com aberturas. Outro modelo pode ser o de pórtico,
524 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL
PAREDES DE CONTRAVENTAMENTO 525

incluindo trechos rígidos entre as ligações de pilares e vigas e levando em conta a rigidez ao E,t 1
cisalhamento de cada elemento. Entretanto, para paredes armadas, a fissuração pode alterar
significantemente a rigidez e distribuição do esforço. Em contrapartida, paredes armadas têm
RA(b)= (h)'
4 -
R
(h)
R
+3 - 4
4,8
( 10,8
J'
+
3( 4,8 ) = 0,594
io,8
ductilidade suficiente para redistribuir os esforços e eventualmente ter comportamento pró-
ximo ao do modelo. Portanto, os resultados do modelo aproximado geralmente são suficien-
tes para alvenarias armadas. Parede B. Usando o método do item anterior:
Para alvenaria não armada de paredes com grandes variações na geometria, o uso de
1
um dos modelos mais precisos, descrito no parágrafo anterior, é recomendável para prever RB =-comli
A B
=li B,parcde sóhda
. (b) -li B,fan;a
. (b) +li 1,2
B
a rigidez. Esses métodos podem simular com maior precisão o comportamento de paredes
nesses casos. 1 1
li E.parede sólida(b) =-=--=168
R Ü 594 '
' '
10.5.3 Exemplo 10.1: Distribuição do forço lateral em uma edificação térreo
Para a faixa de 3,6 metros de altura:
Problema: Distribua a força lateral de 90 kN mostrada na Figura 10.26 entre as paredes A, B
e C da edificação térrea com diafragma rígido. Considere todas as paredes de mesmo material AB,faixo(b) -R 1
B,faixo(b)
-4( 3,6
10,8
J' +3( 10,8
3,6 )=1,15
e espessura.
Solução: Cálculo da rigidez de cada parede. Para paredes construídas com o mesmo material
e da mesma espessura, o termo E,t é constante e será omitido nesta análise. Todas as paredes Nesse caso, os pilares 1 e 2 serão considerados como balanço, pois a viga de topo tem
são consideradas como balanço. altura pequena e é menos rígida que os pilares, não permitindo considerar que a extremidade
superior tem a rotação impedida.
y
s
i D Pilar l, R,(b) = (
1
( ) =0,026
s ,_ - 4 3,6 +3 3,6

x= 9,7s m
..cR'+
"l.
B
I•
e =675;i)CG
6m
•I
[ e s
''l Pilar 2, R2(b) = (
1,8
1
J' (
1,8

) = 0,254
' ' ,, "
·-
6m E 4 3,6 +3 3,6
I• ;-- ~
4,8 4,8
l,8 n";f "'
D 1
E R 1,,(b) = R,(bl + R,(b) = 0,280 e A1,2 = 0, = 3,57
10,5 m 1 22,Sm "l. 280
~

1
16,5 m 16,5 m
Portanto, A8 = 1,68 - 1,15 + 3,57 = 4,10 e R8 =1/4,10 = 0,244 (41 % de RA).
90kN s
__f Parede C. De maneira semelhante à parede B:

{j»»>=»mo"""l ll,,,,»»[!,,~~;Jw J,---i=;;----,,.;;;,;g1~~ []


Parede A Parede B Parede C 1S Parede D
Re =-comA
A
1
c
e =Ae.parede sólida {b) -AC,faixa (b) +li 3.4

"! Ô.C,paredesólida(b) = l, 68
~

24 24
Figura 10.26 Edificação térrea com diafragma rígido (distribuição da força lateral) do exemplo 10.1. Ac , . (b) ' J' + 3 ( ' ) =o, 711
=4 ( 10,8
''"" 10,8
Parede A. Pela equação 10.6, com h = 4,8 metros e R= 10,8 metros:
O pilar 3 é igual ao 4 e ambos têm rigidez semelhante à viga de topo; então, serão con-
siderados biengastados:
526 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL PAREDES OE CONTRAVENTAMENTO 527

2,xiRyi =0,594·(9,75)
~3(~,.±·)=0,157
2 2
+0,244·(0,75)2 +0,241·(23,25) =186,9

( 1,8
2,~ 2
LYiRxi =0,224·(5,3) +0,244·(5,3)2 =12,6
1,8
594 9 75
V = 0, · • ·9,75·90=17,6kNt
N 186,9+]2,3
1
R34 = 2 · 0,157 = 0,314 e Ll. 34 = - - =3,185
' , 0,314
De maneira semelhante:

= 1,68 -0,711+3,185 = 4,15 e Rc = 1/4,15 = 0,241 (41% de RA),


Portanto, 6 0
V = º·
244 75
·0,
"' 186,9+ 12,3
·9,75·90=0,6kN1'

Parede D. Como uma parede em balanço, com h = 4,8 metros e R = 6,08 metros:
VCt - 0,241 ·23,25 ·9 , 75 ·90 = 17,0 kN"'1
. 186,9+12,3

Ro(b) = ( 4' 8 ) 3 + ( 4' 8 )=0,224ou38%deRA.


4 3 Substituindo x.R . por y.R
l y1
. na expressão acima, a parcela da força cortante devido à
l Xl
6,0 6,0 torção para as paredes D será:

Posição do Centro de Rigidez, CR Da equação 10.l, considerando as distâncias a partir da º' 224 5 3
. ' ·9,75·90=3,6kN
186,9+ 12,3
origem dos eixos:
(-t para parede superior) e (+.para parede inferior)

RA ·O+R 8 ·10,5+Rc ·33 o, 594' o+ o, 244' 1o,5 +o, 240' 33


- - - - - ' - - - ' - - ' - - - - = 9, 75m A princípio, a parcela de força cortante devido à torção na parede A diminui a cortante
RA+Rs+Rc 0,594+0,244+0,240
total, uma vez que ela tem sentido oposto ao vento aplicado de baixo para cima. Como é co-
mum em projeto prever também a força lateral em sentido inverso (de cima para baixo, para
A excentricidade da força lateral na direção Y vale, portanto: possibilidade de vento nesse sentido também), os valores das forças cortantes serão simples-
mente somados, considerando o caso crítico de cada sentido do vento lateral:
ex= 10,5 - 9,75 = 6,75 m
VA = 45,9 + 17,6 = 63,5 kN
Distribuição da força lateral. A força cortante direta (por translação) na direção Y pode ser VB = 20,4 + 0,6 = 21,0 kN
determinada pela equação 10.9: Vc = 20,l + 17,0 = 37,1 kN
V 0 =3,6kN
vyi, =,,.,;.
R

,e_,
vr
Y' Provavelmente o vento da direção X será o caso crítico para a Parede D. Como se pode
VAt RA V =
594
RA +R 8 +Rc Y 0,594+0,244+0,240
º·
·90=49,5kN1' observar, a torção do piso tem maior efeito nas paredes mais afastadas do centro de rigidez.
No exemplo, a força lateral na parede C é quase o dobro com a inclusão do efeito de torção.
VBt RB
RA +R 8 +Rc
V,
244
0,594+0,244+0,240
º'
·90 = 20,4kN f
10.5.4 Paredes de contraventamento de edifícios de múltiplos pavimentos
Vet Rc
RA +Rn +Rc
Vy
24
0,594+0,244+0,240
º' º
·90 = 20,lkN f
Como discutido no capítulo 3, e anteriormente neste capítulo, a presença de aberturas
nas paredes tem efeitos marcantes na aparência e no comportamento estrutural do edifício.
A força cortante devido à torção é determinada pela equação 10.10: Portanto, é muito importante que a localização e dimensão das janelas e portas sejam pensadas
de maneira racional na fase inicial do projeto. Dependendo da solução, acontecerão grandes
528 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL PAREDES DE CONTRAVENTAMENTO 529

alterações na rigidez das paredes de contraventamento. 368 Paredes com aberturas alinhadas em que x.1 é a distância de cada fibra ao CG da seção formada pelos 3 pilares, e Icombmada
. dos 3 pilares
.
verticalmente tendem a ser divididas em faixas com grande redução de rigidez, as quais podem é o momento de inércia da seção conjunta dos 3 elementos.
ser ligadas pela laje ou por vigas. Esse acoplamento de trechos de parede introduz a dificuldade
de garantir a continuidade nas ligações com as vigas. O dimensionamento das vigas, garantin- Q, - Q,-
do resistência ao cisalhamento e boa ductilidade, é uma parte importante do problema.
Vários métodos de análise têm sido utilizados para modelar paredes acopladas por vi- Q,_ Q,-
1
gas e determinar os esforços e deslocamentos. Sinha et al.3 69 indicam que os métodos tradicio-
nais de análise não. permitem resultados confiáveis de tensões e deformações para alvenaria Q,_ Q,-
não armada. O método de paredes isoladas em balanço, que ignora o efeito de acoplamento,
superestima as tensões e deformações. A modelagem contínua pode permitir uma estimativa
razoável das tensões, mas subestimar os deslocamentos. Como conclusão, modelos de pórti-
co equivalente ou de pórtico de coluna larga para paredes de grande comprimento são uma
3 h,
Ih, =h,
Seção
+--V +--y
aproximação razoável. Entretanto, pode haver grandes diferenças na modelagem dependendo crítica
de como o modelo é concebido, com vãos entre os eixos dos elementos ou com introdução de
~ 'J-1 3

V2h2 V3h3
trechos rígidos nas extremidades de vigas e pilares. O efeito da deformação por cisalhamento
2 2
pode ainda ser subestimado. Modelagens em elementos finitos, considerando comportamen-
tos não lineares das deformações e tensões e também das interfaces, levam a resultados con- R,
V= --'--IQ
' R,+R,+R,
sistentes com dados experimentais que indicam reduções de rigidez para valores elevados da ~==.;:l""~ilrhl Distribuição
força cortante lateral. de tensões
Para paredes de contraventamento com aberturas, como mostrado na Figura 10.27(a), a x,
força cortante lateral em cada pilar será proporcional à rigidez calculada de acordo com equa- (a) Forças axiais (b) Forças cortantes e momentos
ção 10.9. Nesse caso, devido à grande rigidez da parede acima das aberturas, a consideração de
Figura 10.27 Esforços na base do pilotis de um edifício de múltiplos pavimentos.
o pilar ser biengastado é apropriada para cálculo dos momentos fletores nos pilares resultantes
,,
da força cortante, V , distribuída para cada pilar. Portanto, como mostrado na Figura 10.27(b):
Para cada um dos pilares, a força axial, P,, é igual à tensão no centroide do pilar i vezes
a sua área:
Equação 10.19

Equação 10.21
Entretanto, o trecho muito rígido de parede sobre os pilares elimina a necessidade de Icombinadados3 pilares
uma análise de pórtico convencional e permite que cada seção de pilar seja parte de uma
seção conjunta, com centroide, área e momento de inércia calculados a partir das seções com- em que x,, é a distância do CG de cada pilar ao CG da seção composta, e A, a área de cada pilar.
binadas de cada pilar, como indicado na Figura 10.27(a). A seção combinada deve resistir Para o dimensionamento, a variação de tensões ao longo de cada pilar também introduz
ao momento de tombamento, M'°'"' = í:(Q,h). Então, o conjunto de três pilares da base, for-
mando uma única seção, deve resistir ao momento resultante (M tom , - í:(M)), com as tensões
,,
momento, M ., além de cada M.:'
1
normais resultantes de uma análise elástica iguais a: Equação 10.22

em que: ,
Equação 10.20
Icombinadados3pilares
f,,, = a tensão na extremidade do pilar i;
f,, = a tensão uo centroide do pilar i;
S, = o módulo resistente do pilar i.

368Amrhein (1992). Cada pilar deve, então, ser dimensionado para a força axial, P, e o momento total M. +
. ' '
369Sinha et al. (1975). M,,. Nos casos em que os pilares têm dimensão pequena quando comparados à parede, ignorar
530 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL PAREDES DE CONTRAVENTAMENTO 531

o !vi,, conduz a um pequeno erro (contra a segurança), mas pode ser uma aproximação aceitá- Solução: Esforços devidos às forças laterais. Considerando as extremidades dos pilares PJ e
vel. Desta forma, o pilar i é dimensionado para lv1 1 e força axial é igual a: P2 engastadas, pode-se calcular a rigidez de cada um deles pela equação 10.7:

1
Equação 10.23 R1c,J = ( 3 ( 3 ) 0,104
- +3 -
1,8 1,8

2
1 I
Ainda, a carga vertical introduz tensões axiais em cada pilar proporcionais à sua área R c,J =(2-J' + (2_)=0,043
com Pi = PdA/IA,, somada a um componente devido à excentricidade dessa carga axial em 3
1,2 1,2
relação ao CG da seção combinada dos três pilares. Este último componente pode ser calcu-
lado usando a equação 10.21 com Pd ·excentricidade no lugar de (lv110mb - IM,). As equações
10.20 e 10.22 podem, da mesma forma, ser utilizadas para cálculo do momento adicional em A força cortante em cada pilar será:
cada pilar em razão da excentricidade da carga vertical. 0,104
V1 =--91=64,4kN
0,147
l 0.5.5 Exemplo l 0.2: Esforços em pilares de pilotis de edifício de múltiplos 0,043
V2 =--91=26,6kN
pavimentos 0,147

Problema: Para a parede de contraventamento· mostrada na Figura 10.28, determine as forças Pela equação 10.19:
e os momentos nos pilares P1 e P2 devidos às forças laterais indicadas. A parede tem espessura
única, t. Considere ainda cargas verticais aplicadas em cada pavimento iguais a 10 kN/m. M2 = M, 4 · 3 =96 6kN·m
2 '
26,6·3
13 kN -->1========r M2 =--=39,9kN·m
2
8
o

"' X= 2,7 m O momento total de tombamento do prédio será:


26 kN ---+!=========! +
CG
Mtomb = 13 · 12,0 + 26 · 9,0 + 26 · 6,0 + 26 · 4,0 = 624 kN·m

O CG da seção conjunto dos dois pilares será:


26kN ---+F========i 1,8·0,9+1,2·5,4
X=------ 2,70 m, conforme mostrado na Figura 10.28(b).
8 1,8+1,2
q
1,8 m 3,0m 1,2m M
(b) Seção na base e tensões normais
Então, a posição dos CGs dos pilares vale:

E x 1 = 2,7 - 0,9 = 1,8 me x2 = 5,4 - 2,7 = 2,7 m


o
"' As áreas dos pilares valem: A1 = l,8t m' e A2 = l,2t m 2•

MYV, P,
O momento de inércia da seção combinada será:

(a) Vista em elevação da parede e esforços na base


t·l,8
3 2)+ (t·l,23+t·l,2·2,7 2) =15,2t m 4
= ]2+t·l,8·1,8
Figura 10.28 Pilotis de um edifício de múltiplos pavimentos para o exemplo 10.2.
( 12
532 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE AlVENARIA ESTRUTURAL PAREDES DE CONTRAVENTAMENTO 533

:2.;M, = M 1 + M 2 = 96,6 + 39,9 = 136,5 kN·m Esforços devidos à carga vertical. Para o carregamento deste exemplo, a força vertical total
vale: P = 4 andares x 10 kN/m x (1,8 + 3,0 + 1,2) = 240 kN. Considerando a área de cada pilar,
Devido ao momento de tombamento, a força axial em cada pilar pode ser calculada pela a força em cada um será:
equação 10.21:

Pi= (Mtomb- LM1)Xp1A1 (624-136,5)1,8·1,8A 1 , kNi


P,= A1
P( A 1 +A
J (
=240 l,8t
l,8t+l,2t
) =144kN
,
_
103 9 2
Icombinadados2 pilares 15> 2t
P2 =P
(
A2
A 1 +A 2
J (
=240 l,2t
l,8t+l,2t
=96 kN J
P, = (M,omb- LM2)xp2A2 = (624-136,5)2,7·1,2A 1 , kNÍ
103 9
Icombínadados2 pilares 15, 2t
Essas forças têm valor alterado devido à excentricidade do carregamento em relação ao
Considerando que a força lateral de vento pode ocorrer em sentido inverso, o sentido centro dos dois pilares. De acordo com a equação 10.21, modificada:
das forças verticais em.cada pilar também pode ser invertido. O momento em cada pilar devi-
(P·e)x,1A1
do à variação de tensão, M ., é calculado de acordo com a equação 10.22: P=---~--
P'
1 Icombinadados2pilares
86 6 57 7 p - (240·0,3)1,8·1,8t
M pl =(fml -fpl )s 1 ( ' - ' )054
) t =156kN·
) m 1- 15,3(tração)
t 15,2t
86 6
Mp2
=(f
m2 p 2)s
-f 2 (l0 5, 6 - ' )0 ) 24t=4 ) 6kN· m p - (240·0,3)2,7·1,2t
15, 3 (compressão)
2
t - 15,2t

com fmI' fm2' f,l' f, 2calculado pela equação 10.20. Os momentos adicionais em cada pilar devido à carga vertical serão:

(624-136,5)·2,7 86,6 ( - ) 2 79 8 53
f
ml
=
15,2t
· - - traçao
t M pl =(fml -fpl )s t (l ' - ' )o , 54 t =2 >3kN· m
t
_(624-136,5)-1,8_57,7( - ) (15,63-12,79)
f 1- - - - traçao M, 2 = ( fm 2 -fp 2 ) S2 = 0,24t = 0,68kN · m
p 15,2t t t
(624-136,5)·3,3 105,8 ( - )
fm2 = - - compressao
15,2t t com fmI' fmz> f, 1, f,2 cakulado pela equação 10.20.
(624-136,5)·2,7 86,6( - )
f P' = compressao
15,2t t f - (240·0,3)·2,7 _ 12,79
t·l,8 2 t·l,2 2 , mi - 15,2t --t-
S1 =--=0,54t m 4 eS 2 =--=0,24t m
6 6 (240·0,3)·1,8 8,53
fpl
15,2t t
Sem aiuda contar com os esforços devidos à carga vertical, cada pilar deve então ser f - (240·0,3)·3,3 _ 15,63
m -
2 15,2t - t
dimensionado para os esforços:
f - (240·0,3)·2,7 12,79
2
Pilar 1: cortante V= 64,4 kN, força axial P = 103,9 kN (tração ou compressão), momento M = ' - 15,2t
96,6 + 15,6 = 112,2 kN·m;
Pilar 2: cortante V= 26,6 kN, força axial P = 103,9 kN (compressão ou tração), momento M = Os esforços devidos à carga vertical em cada pilar serão:
39,9 + 4,6 = 44,5 kN-m.
Pilar 1: força axial P = 144 - 15,3 = 128,7 kN, momento M = 2,3 kN·m;
Note que as forças e os momentos no pilar devem estar em equilíbrio com a força lateral Pilar 2: força axial P = 96 + 15,3 = 111,3 kN, momento M = 0,68 kN·m.
e o momento resultante.
n
1
534 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL PAREDES DE CONTRAVENTAMENTO 535

Alternativamente, a carga vertical poderia ser distribuída para cada pilar, considerando Com o caso de viga flexível/pilar rígido, assume-se que as paredes romperão com a
a viga flexível com reações calculadas apenas pela área de influência de cada pilar: formação inicial de rótulas nas extremidades das vigas e, depois, na base dos pilares, como
mostrado no Figura 10.29(a). A capacidade de força lateral, V, e a força axial em cada pilar,
P1 =240 ( 3,0-0, 6 ) =128kN Ptom b' decorrente do momento de tombamento podem ser estimadas por:
6,0-0,9-0,6
P2 =240 ( 3,0-0, 9 ) 112kN V= M, +Ml +PlombR Equação 10.24
6,0-0,9-0,6 ' /h
nesse caso, ignorando os momentos na ligação entre a viga e pilar. Equação 10.25

10.5.6 Análise limite em paredes de contraventamento em alvenaria armada


em que:
O método de análise aproximado apresentado no item 10.5.2 é baseado na análise li- M,, M, = momentos resistentes na base do pilar comprimido e tracionado, respectivamente;
near e adequado para alvenaria não armada. Entretanto, para paredes armadas, fissuração e P,,mb =força axial em cada pilar (binário) para equilibrar o momento de tombamento e que é
deformações não lineares podem alterar significativamente a distribuição das forças laterais. igual à força de cisalhamento na viga;
Um método analítico adequado para o caso em que as deformações por flexão são domi- Mv,c, M v,t =momentos resistentes na extremidade do pilar comprimido e do tracionado da viga;
nantes em paredes de contraventamento armadas e com aberturas é baseado no mecanismo de R1 = vão livre da viga;
rótulas plásticas."° Nesse caso, assume-se que os elementos têm comportamento principalmen- R= distância entre-eixos dos pilares.
te de flexão, ou seja, todo modo de ruptura frágil (como por cisalhamento) é evitado pela espe-
cificação de armaduras. Rótulas plásticas são formadas nas extremidades dos elementos antes A força lateral total, V, é distribuída entre cada pilar em função de seus momentos re-
da ruptura. A capacidade lateral no estado limite último é determinada por meio de uma aná- sistentes relativos e depende ainda do efeito do binário das forças axiais nos pilares. Com o
lise plástica, assumindo um determinado mecanismo de ruptura com a formação de diversas caso de viga rígida/pilar flexível, admite-se que a parede irá romper com a formação de rótulas
rótulas plásticas. Dois mecanismos de ruptura geralmente são considerados viga flexível/pilar plásticas nas extremidades dos pilares. A capacidade de força lateral, V, é igual à soma da capa-
rígido ou viga rígida/pilar flexível. cidade resistente dos pilares comprimido e tracionado, V, e V,, respectivamente:

Equação 10.26
V
..-~-==-~~~~~-,,,-~-.--J+--
.....-----..,. M, .....------..,. 2M -- 2M
com V = __e e Vt = - - '
·:::::::::::· M,
' hl hl
A força axial nos pilares, P,omb' decorrente do momento de tombamento pode ser calcu-
lada pelo equilíbrio da estrutura após a formação das rótulas plásticas:
.............. .:::::::::::.
··:·:·:·:·:··
M, M, M, M, Equação 10.27
V v, V v,
' ptomb '
plomb
e,
~
ptomb

I· e ·I e
plomb
em que h 1 eh são as alturas dos pilares e da parede, respectivamente (ver Figura 10.29(b)).
I· ·I Esse mecanismo de ruptura deve ser evitado, especialmente em edifícios altos onde a
(a) Viga flexível/pilar rígido necessidade de ductilidade da rótula plástica dos pilares pode ser muito alta. 372 Para evitar
(b) Viga rígida/pilar flexível
esse mecanismo é recomendável que o momento resistente dos pilares seja no máximo 40%
Figura 10.29 Mecanismos de rótulas plásticas para paredes de contraventamento acopladas. 371

370 El-Shafie et a!. (2002) e Leiva & Klingner (1994).


371 Leiva & Klingner (1994). 372 Paulay & Priestley (1992).
r
536 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRllIURAl
PAREDES DE CONTRAVENTAMENTO 537

maior que o momento de formação de rótulas plásticas nas vigas. 373 A exceção é o momento intermediárias, com alvenaria parcialmente grauteada, uma aproximação possível é estimar a
na base dos pilares onde a formação de rótulas é um requisito para a formação do mecanismo resistência do prisma pela média ponderada da resistência do prisma oco e cheio em relação às
de ruptura. áreas com e sem graute. Essa aproximação pode ser então determinada por:
No cálculo do momento resistente, deve-se levar em conta a existência de forças de
compressão. A existência de paredes transversais e a ligação com a laje também devem ser A .
comprunentograuteado ·f'+A
pk ·
<:ompnmentosemgraute ·fk
P E - !O 28
levadas em conta quando da determinação da capacidade resistente dos pilares e vigas. O com- fpk, parcialmente grauteado . quaçao .
Acod!primentogr1ú.teado + Acomprimentosemgraute
primento efetivo das lajes pode ser considerado seguindo-se as recomendações do concreto
armado.
A análise de rótulas plásticas, apresentada neste item, permite uma análise simples e Deve-se destacar que em todos os casos a referência é a área bruta. Dessa forma, A,ompri-
conservadora para determinar a capacidade resistente de paredes com aberturas. Sua maior mento grauteado será o valor do comprimento de parede grauteado pela espessura da parede, assim

vantagem é que não é preciso calcular as rigidezes relativas, o que é difícil de ser estimado como Acompnmento . sem grau te será o comprimento sem graute multiplicado pela mesma espessura de

para comportamentos não lineares. Uma possível limitação é que deve haver ductilidade e parede. Caso haja trecho com argamassa apenas na lateral, deve-se aplicar uma redução de 20%.
capacidade de rotação suficientes nas rótulas para possibilitar que o mecanismo completo seja Essas aproximações podem eventualmente levar a considerações com pequeno grau de
formado. Cargas verticais pequenas, produzindo tensões não maiores que 0,3 fpk' aumentam a não conservadorismo. Uma solução precisa seria a consideração em separado de cada área
efetiva da parede.
possibilidade que se atinja esse comportamento. 374

l 0.6.2 Paredes de contraventamento não armadas


10.6 Dimensionamento de paredes de contraventamento
A capacidade resistente de uma parede de contraventamento em alvenaria não armada
Conceitos básicos sobre o comportamento de paredes submetidas a carga axial e flexão é sensível a planos fracos ao longo da junta de assentamento. Tipicamente, o modo de rup-
foram apresentados no capítulo 8. Serão incluídos nesta seção apenas os aspectos que são tura por cisalhamento será por escorregamento da junta ou por tração diagonal com fissuras
especificamente aplicados a paredes de contraventamento. em forma de escada passando pelas juntas verticais e horizontais. A capacidade resistente da
parede também é muito influenciada pelo nível de compressão vertical. A pré-compressão
l 0.6. l Área da seção transversal aumenta a resistência ao cisalhamento devido ao atrito e retarda o aparecimento de fissuras
por tração.
Para paredes de tijolos maciços ou blocos vazados grauteados não há dúvida de que a Nos EUA, 375 não são permitidas tensões de tração no dimensionamento de alvenarias
área de referência deve contemplar toda a seção bruta da parede que, nesse caso, se confunde não armadas. No Canadá376 é permitida a fissuração da parede não armada desde que a ex-
com a área líquida. Para compressão normal à fiada, o resultado do ensaio do prisma pode ser centricidade não ultrapasse um terço do comprimento da parede, sendo permitido o dimen-
utilizado como referência sem necessidade de reduções nesse caso. Entretanto, pode haver van- sionamento considerando apenas a resistência à compressão. Uma crítica a essa prescrição é
tagens econômicas na construção com blocos vazados apenas ou com poucos furos grauteados. que, levando em conta a possibilidade de inversão do sentido da força lateral (de vento, por
Para alvenaria de blocos vazados, a área efetiva é tomada igual à área efetivamente ar- exemplo), a parede pode sofrer fissuras em praticamente todo o seu comprimento.
gamassada do bloco. Entretanto, é prática comum de projeto no Brasil tomar a área bruta A normalização brasileira não permite fissuras por tração em alvenarias não armadas,
como referência, sendo a resistência de bloco e prisma também determinada em relação a essa porém, para o caso de ações variáveis, como o vento, permite que a resistência de tração na
flexão da alvenaria seja levada em conta no dimensionamento.
área. Como nos ensaios de prisma toda a face do bloco é argamassada, é necessário ajustar a
resistência para o caso de a alvenaria ser executada com apenas dois cordões laterais, sendo Se parte da seção transversal tem flanges ou paredes transversais diretamente amarra-
admitida uma redução de 20% na resistência de prisma nessa situação. das, estas tendem a contraventar uma à outra e minimizar o efeito da esbeltez. Para paredes
Em contrapartida, quando há grauteamento vertical, a resistência de prisma é aumentada. interligadas, as flanges podem ser consideradas efetivas para resistir ao carregamento vertical
Para o caso de todos os furos serem grauteados, vale a resistência do prisma cheio (ensaiado com aplicado e ao momento fletor quando a interface é capaz de resistir ao cisalhamento. A trans-
os furos preenchidos de graute), aqui indicado pela notação f,k. Valores estimados de resistência missão do cisalhamento vertical entre paredes pode ocorrer quando existe um dos detalhes
construtivos:
de prisma cheio em relação ao prisma oco foram apresentados no capítulo 5. Para situações

373 Hart & Priestley (1990) e Priestley & Hon (1985). 375Idem.
374MSJC (2005). 376 CSA S304.1 (2004).
538 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL PAREDES DE CONTRAVENTAMENTO 539

1. 50% dos blocos na interface são sobrepostos, conforme Figura 10.30(a), onde Ym; coeficiente rninorador da resistência da alvenaria, igual a 2,0.
apenas um lado da flange é amarrado.
2. Interseção totalmente granteada com pelo menos duas barras de 3,6 mm corno Simplificando, a expressão fica reduzida a (a tensão de compressão deve ser considerada
armadura de junta, com espaçamento não maior que 40 cm na vertical. com sinal negativo):
3. Barras de transferência não espaçadas mais que 60 cm na vertical (Figura 10.30(b)).
4. Canaletas grauteadas com espaçamento inferior a 1,2 metro (Figura 10.30(c)). A Equação 10.30
armadura da canaleta deve ser ancorada em todos os lados da interseção.
A máxima compressão na parede também deve ser verificada, considerando-se o au-
Os critérios para levar em conta o comprimento máximo da flange foram discutidos mento da resistência para a compressão na flexão e combinação das ações.
em 10.4.2.
Solicitação de compressão simples
~~~~~~~~~~~~~+
Solicitação de compressão na flexão <10
Resistência de cornpessão simples Resistência de compressão na flexão '
38mm~
Jll' Barra de transferência
Equação 10.31
Barras de transferência õo0 i so mm
devidamente ancoradas /J).!JJ f
a cada 60 cm Para o caso comum de edifícios, é usual haver simultaneamente duas ações variáveis ,
(vento e acidental). Na combinação dessas ações, urna delas pode ser reduzida pelo coeficiente
'l'o; 0,5 (acidental); 0,6 (vento). Como não se sabe a princípio qual o caso crítico, devem ser
feitas duas combinações, urna reduzindo o vento e outra com redução da carga acidental.
Deve-se verificar:

Yfq'VoQk,acidental +Yfg ·Gk + YrqQk,vento <f


R 1,5 kf'ym
Equação 10.32

contraventamento Armadura
Considerando as duas combinações possíveis e aplicando os coeficientes rnajoradores
(a) Amarração direta (b) Armação indireta com (e) Canaletas grauteadas de esforços e redutor da resistência à compressão, pode-se simplificar a verificação para:
(de um lado apenas) barra de transferência e graute

i 0,7Qk,•dd'n"I +l,4·Gk + l,4Qk,vonto <O 7f /2 O


Figura 10.30 Detalhes construtivos de interseções de paredes. . R 1,5 - ' pk '
ii l,4Qk.oddon"I +l,4·Gk + 0,84Qk,vento <O 7f /2 O
Paredes não fissnradas. Para o caso comum de paredes de contraventarnento de edifícios, . R 1>5 ' pk '
Equação 10.33
deve-se garantir que a combinação de tensões normais de compressão devido à carga vertical
(considerando apenas 90% da ação permanente) sornada à tensão normal de tração devido ao
ou ainda:
momento causado pela força lateral de vento não supere a resistência à tração da alvenaria.
Deve-se verificar:
. 2>0Qk,acidental +4,0·Gk <
l. R +2,66Qk,vento _ fpk
YQ
fq k,vento
+y·G<f/v
fg k- tk lm Equação 10.29 4 ' OQ k,aCLdental
. +4 ' O·G k
··
11 + l 600 <f Equação 10.34
· R > k, vento - pk
em que:
Yrq ; coeficiente rnajorador da ação de vento, igual a 1,4;
O coeficiente R; {l - (hJ40ter)'] leva em conta de maneira simplificada o efeito da
Y,, ; coeficiente rnajorador da ação permanente com efeito favorável, igual a 0,9;
esbeltez.
Qk,vento = máxima tensão de tração devida ao vento;

Gk ; tensão de compressão simples devida às cargas permanentes;


f,k ; resistência de tração na flexão normal à fiada;
540 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL
PAREDES OE CONTRAVENTAMENTO 54 l

Capacidade resistente ao cisalhamento. O cisalhamento deve ser verificado tanto na possibi- mente para a resistência e rigidez. Paredes armadas, mas sem fissuração, podem ser calculadas
lidade de rompimento por tração diagonal quanto por escorregamento da junta. A normaliza- como não armadas, exceto pelo efeito de pino de cisalhamento possível existente quando há
ção brasileira considera o segundo caso, e as especificações estão no item 8.8.1. continuidade de armaduras verticais.
A tensão convencional de cisalhamento, calculada pela simples divisão da força lateral Armaduras verticais distribuídas uniformemente ao longo do comprimento da parede
pela área bruta da alma da parede (eventuais flanges não são consideradas), deve ser inferior à contribuem significativamente para melhorar a resistência ao cisalhamento. 377 Os benefícios
resistência ao cisalhamento, (k, indicada pela equação 8.82. dessa armadura incluem maior resistêr;icia ao escorregamento, ao esmagamento nos cantos da
O critério utilizado é o de resistência de Coulomb ('t = 't0 + µcr), em que a parcela inicial da parede e à fissuração diagonal. Outra vantagerrl é não haver congestionamento de armaduras
resistência de aderência é aumentada em função do nível de pré-compressão. Para argamassas de quando ela é distribuída. De maneira semelhante, a armadura horizontal distribuída em vá-
cimento, cal e areia, sem aditivos ou adições, a aderência inicial ('t ) é indicada na equação 8.82. rias fiadas ao longo da altura mostrou ser efetiva para a resistência ao cisalhamento e melhor
0
Em qualquer outro tipo de argamassa, essa aderência deve ser previamente medida por meio ductilidade. 378 Em regiões sujeitas a terremotos, taxas de armaduras mínimas e máximas são
de ensaios. Ainda, quando a execução da junta vertical for prejudicada (não preenchida, por prescritas para permitir ductilidade adequada a essas situações.
exemplo), haverá grande prejuízo nessa aderência, podendo esta parcela ser tomada igual a zero, Quando há flanges amarradas às paredes, elas podem ser consideradas nas proprieda-
por segurança. O coeficiente de atrito é adotado igual aµ= 0,5. No cálculo da pré-compressão cr, des da seção, entretanto o projetista deve checar se a interface tem adequada resistência ao
apenas 90% da parcela permanente da carga vertical deve ser levada em consideração. cisalhamento. Para seções não simétricas, a resposta a forças laterais com sentidos opostos será
No caso de verificação da resistência ao cisalhamento por tração diagonal, apesar de bem diferente, com maiores tensões no lado com menor flange.
haver ensaio nacional normalizado para medir empiricamente essa resistência, a NBR 14321, Na análise do comportamento de paredes sujeitas a esforços no plano, a flexão fora
não há especificação para dimensionamento. Portanto, aqui se indicada um critério adaptado do plano e os efeitos da esbeltez (que também gera momento fora do plano) geralmente são
da norma canadense CSA S304. l/2004, que é baseado em resultados de ensaios experimentais, pequenos, comparados com o momento no plano. Essa situação ocorre particularmente em
porém adotando coeficiente de ponderação de ação e de redução de resistência do material edifícios de múltiplos pavimentos, onde o pé-direito é limitado e a compressão normalmente
nacional. A partir dessa adaptação chega-se a: não ultrapassa 20% da resistência à compressão. Portanto, ignorar os efeitos da flexão fora do
plano em paredes de contraventamento é, na maioria das vezes, um procedimento aceitável.
Quando o efeito de esbeltez na direção de menor inércia é significativo ou quando existe
Equação 10.35
momento aplicado na direção fora do plano em conjunto com o momento no plano, esses
efeitos podem ser levados em conta e a seção ser verificada de acordo com a equação 9.11,
em que: com ex= ~ = 1,0:
M, e V, são o momento fletor e força cortante em valor de projeto para a seção considerada;
d,= altura efç]iva para cálculo da cortante, não tomada inferior a 80% do comprimento da parede; Equação 10.36
o valor de _d_ não deve ser tomado menor que O25 ou maior que 1 O·
V<ldv ' , ,
f,, = resistência de prisma;
em que M rx e M ry são as capacidades resistentes para a carga P, considerada, levando em conta
cr = tensão de pré-compressão calculada com apenas 90% da parcela permanente da carga
vertical; efeitos de esbeltez; e M,, e M<ly são os momentos aplicados nas direções X e Y.
No dimensionamento de paredes de contraventamento de edifícios, raramente é neces-
Y, = fator para levar em conta a possibilidade de a parede ser totalmente grauteada ou de tijo-
sário verificar a flexão em duas direções, mas apenas na direção do plano da parede.
los ".'aciços. Deve ser igual a 1,0 para paredes totalmente grauteadas ou construídas de tijolos
maciços com argamassa totalmente disposta sobre todas as faces do tijolo, ou igual à relação
Dimensionamento ao cisalhamento. A verificação de paredes armadas é realizada da mesma
entre área efetiva de argamassa e área bruta da parede, não superior a 0,5 (usualmente menor
que 0,5 para blocos vazados). maneira da parede não armada, com verificação do escorregamento da junta pela equação 8.82,
com a diferença que a fissuração da parede deve ser levada em conta. Nesse caso, a tensão con-
vencional de cisalhamento é calculada pela divisão da força lateral pela área efetiva da alma da
10.6.3 Paredes de contraventamento armadas
parede, considerada pelo comprimento não fissurado desta:

O comportamento de paredes de contraventamento armadas é consideravelmente dife-


rente de alvenarias não armadas, uma vez que as armaduras e graute contribuem significativa- 377Priestley & Hon (1985) e Hart et al. (1987).
378 Priestley (1985).
1
542 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL
PAREDES DE CONTRAVENTAMENTO 543
5!
'

necessidade de armadura mínima, para edifícios de altura baixa ou média, esse procedimento é,
Equação 10.37
na maioria das vezes, tão econômico quanto o método refinado.
. o cálculo da tensão nas barras e da área de aço é baseado na análise elástico-linear
em que:
da seção. A tensão admissível no aço não deve ser ultrapassada e a compressão na al~enaria
1, é a tensão de cisalhamento solicitante em valor de projeto; limitada à resistência desta. Toda a tração deve ser resistida pela armadura, com traçao nula
V,= a força cortante lateral em valor de projeto; na alvenaria. ~
b = a espessura da parede;
Para equilíbrio de forças internas e extern~s na Figura 10.32:
d = a altura útil da parede, igual à distância do centroide das armaduras de flexão até a ex-
tremidade da face mais comprimida. Usualmente é aceito que d não seja menor que 80% do
Equação 10.39
comprimento da parede, desde que d seja menor que a distância da armadura mais tracionada
ao bordo comprimido.

Quando for necessário a armação da parede ao cisalhamento, pode-se prever armadura tkdf,1v(i_kd)
2 2 3 +n"-"
"'[A.
(d,-kd)f (d _i),l
kd olv '2~
horizontal na junta de assentamento ou em canaletas grauteadas, devendo-se tomar o cuidado
de verificar a ancoragem das extremidades dessas armaduras em ambos os casos. A Figura Equação 10.40
10.31 ilustra as opções e detalhes de ancoragem, como dobrar a armadura na junta de assen-
tamento ao redor das faces das paredes ou fazer um gancho na armadura dentro da canaleta A partir do valor da tensão na alvenaria, f, 1,, pode-se determinar o comprimento da
em torno da armadura vertical. região comprimida, kd, a partir das duas equações acima. Com o valor de kd pode-se venfic~r
efetivamente quais barras estão tracionadas e a tensão em cada barra. Para a armadura mais
e e tracionada, a tensão no aço será:

e e e f, = nf,1v ( dlkd
-kd) Equação 10.41

I-= Essa tensão não deve ser maior que o limite admitido para o aço, F, = O,Sf,,. Caso esse
IQ!lçinlocJJidt li'C\1:~ limite seja ultrapassado, a capacidade resistente da seção será reduzi.da.pela razã.o entre f/F,,
ou a área de aço aum,ntada. Uma maneira de simplificar o problema e, amda, realizarª. análise
(a) Armadura em canaletas horizontais (b) Armaduras na junta de assentamento da seção pelo diagrama de tensões, conforme ilustrado em exemplo no final deste capitulo.

Figura 10.31 Armaduras horizontais de cisalhamento em paredes com detalhes de ancoragem.

O espaçamento das barras horizontais deve ser inferior a 60 cm e a área de aço calculada
conforme a equação 6.53:

Equação 10.38

Dimensionamento a flexão-compressão - estádio II, simplificado. Embora seja possível o


dimensionamento considerando estado limite último e estádio III, muitas vezes é suficiente di-
mensionar a seção no estádio II admitindo o diagrama linear de tensões. Esse procedimento traz
a vantagem de não ser necessário prever armadura horizontal mínima em paredes de contra-
ventamento, apenas vertical, conforme especificações da normalização brasileira. Em função da
544 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE AlVENARIA ESTRLffURAL
PAREDES DE CONTRAVENTAMENTO 545

p alternativa, sugere-se distribuir essa taxa de armadura ao longo do comprimento da parede,


porém verificar a armadura mínima para 3M" concentrada nas extremidades da parede, além,
M
é claro, de checar os esforços solicitantes.
Para combinação de P, e M, no estado limite último, o procedimento para determinar
a capacidade resistente da parede de contraventamento é descrito a seguir. A armadura na
região comprimida é ignorada devido i\ inexistê11cia de estribos que permitam o travamento
lateral destas. O equilíbrio de força e momento s.krá:
A., A,, A., A,.

. • • • P =C-IT
" '
Equação 10.43

~ d,
Equação 10.44
1

d'
;
0,7fk fk
d, com C = 0,8 · b · x · k · f, = 0,8 · b · x · k · __P_ = 0,56 · b · x · k . _P_, onde k é o fator que leva
e Ym Ym
em conta a redução de resistência à compressão para carregamento em direção não vertical
Seção transversal da parede (geralmente k = 1,0 para tensões normais a fiadas e seções totalmente grauteadas, ou k = 0,5
para tensões horizontais paralelas à fiada em seções não grauteadas):

kd <.,
Ti ::= As/yk I Ys' se a barra escoar; ou

T, = A,, / Y, [e, (d,: x )E, J quando a barra não escoa.

Deformações
Deve-se ainda levar em conta a prescrição da normalização brasileira de limitar a tensão
no aço a 0,5 f,,.
Isso será feito de maneira aproximada, admitindo o valor do coeficiente mine-
rador da resistência do
,
aço igual, ym; = 2,3. A posição da linba neutra, x, pode ser determinada
pelas equações 10.43 e 10.44, assumindo inicialmente as barras que estarão tracionadas e quais
escoam. Após determinar o valor de x, deve-se checar se as hipóteses iniciais são verdadeiras e
Forças fazer correções, caso necessário. Uma vez determinado o valor de x e as tensões nas armadu-
ras, pode-se determinar o valor da capacidade resistente à compressão, P"' e a flexão, MR" O
Figura 10.32 Análise de uma parede armada no estádio II.
dimensionamento será satisfatório se

Dimensionamento a flexão-compressão - estádio III, estado limite último. Ainda que não
Equação 10.45
seja recomendado pela normalização brasileira, considera-se uma boa prática de projeto im-
por uma armadura mínima de tração igual a 3,0 vezes o momento de fissuração: e

Mcr =ftk S Equação 10.42


Equação 10.46

em que S é o módulo resistente da seção e ftk a resistência de tração na flexão.


Entretanto, a não ser que diagramas de interação ou programas computacionais estejam
De acordo com a normalização brasileira, a armadura de flexão deve ser superior a 0,1 %
disponíveis, o procedimento pode levar a um longo processo de cálculo. Uma alternativa é
da área da parede. Mesmo considerando a área da alma da parede, pode-se chegar a valores
impor P,, = P,, e, assim, a equação 10.43 passa a ser:
elevados de área de aço caso essa taxa de armadura mínima seja concentrada nos cantos. Como
í
1
546 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL PAREDES DE CONTRAVENTAMENTO 547

Equação 10.47 não. 379 Em alvenaria não armada, a resistência dessa ligação depende basicamente da força
de atrito devido à pré-compressão e efeito de pino de armaduras verticais com !raspasse en.
Com a equação 10.44, pode-se determinar a posição da linha neutra, x, assumindo e tre pavimentos. Se as flanges são consideradas no dimensionamento, o detalhamento correto
depois verificando (e corrigindo, se necessário) a tensão em cada barra tracionada. Se MR<l for delas deve ser previsto para garantir a adequada resistência de cisalhamento da interface.
maior que Md, então o dimensionamento está satisfeito. Entre os detalhes possíveis incluem-se amarração direta, fiadas de canaletas armadas ou,
ainda, barras de transferência, conforme ilustrado no item 10.4.2 .

Parede interna

[____________ ] Parede interna


-.,,..,.._ _ com parede

A,,

1• • . . . [} d,
d
;
j...
d,
Piso com parede
d, externa
d,
R Parede externa com parede externa

Seção transversal da parede Figura 10.34 Ligações das paredes para um edifício de múltiplos pavimentos.

X
z,,
e,,
z,,
I· ·I 10.7 Exemplos
0,0035
10.7.1 Exemplo 10.3: Parede de contraventamento não armada
Deformações

O,Sx Problema: Dimensione a parede de blocos cerâmicos da parede maciça da Figura 10.35 para
I· ·I resistir às cargas verticais, permanente e acidental, e força lateral e momento devido ao vento.

lr, Ir, iT
Forças
; 1
t Ir" Os valores característicos das forças e momento aplicados são mostrados na figura. Considere
blocos de fbk = 18,0 MPa. A partir da Tabela 5.3, será adotado f,/fbk = 0,6, f,k = 10,8 MPa e
argamassa de f, = 12,0 MPa. Da Tabela 5.5, f,, = 0,25 MPa.
Figura 10.33 Equilíbrio da seção de uma parede de contraventamento no estado limite último.

10.6.4 Ligação das paredes

As ligações entre as paredes e a laje de piso ou a cobertura e, também, as ligações entre


as paredes têm importante papel no desempenho estrutural do edifício, em especial na resis-
tência e rigidez às forças laterais. As localizações típicas das ligações são indicadas na Figura
10.34. A ligação entre o piso e a parede deve ser capaz de transmitir as forças laterais da
laje-diafragma para as paredes de contraventamento. O comportamento pré e pós-fissuração
das ligações da alvenaria depende do nível de pré-compressão e se a parede é armada ou
379 Anvar et ai. (1983).
548 COMPORTAMENTO EDIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL
PAREDES DE CONTRAVENTAMENTO 549

P0 =400kN Para o exemplo, h" = 300 cm, t,,= 14 cm, e, portanto, R = [l - (h,/40t") 3 ] = [1 - (300/40
PG=2000kN
. 14) 3 ] = 0,846.
M = 1800kN·m
Para o caso (i) com ação de vento como variável principal:

140 i. 2,0·476+4,0·2381+2,66·2143:s;10.800
0,846

12383 + 5700 = 18.083 < 10.800 .+Falso
a
q
""

6,0m 140mm
-
V=300kN

!.
Para o caso (ii) com ação de vento como variável principal:

. 4,0·476+4,0·2381
0,846
+l,60·2143:5:10.800
140 mm->!-1<----------->H'-
13509 + 3429 = 16.938 < 10.800 .+Falso
Figura 10.35 Parede de contraventamento do exemplo 10.3.
Percebe-se que ao ignorar as flanges no dimensionamento, a execução da parede de
Solução A (sem considerar flange, para fim ilustrativo apenas): Destacando que a não con- contraventamento para os esforços dados é inviável. A Figura 10.36(a) mostra as tensões cal-
sideração das flanges não é uma boa opção de projeto, neste item será calculada a parede culadas para o caso sem flange.
considerando apenas a seção da alma, para fim comparativo com o caso a seguir cujas flanges
são consideradas. 14 600 14

600
~
;;:t ~

Propriedades da seção (considerando área bruta): A= 0,14 · 6,0 = 0,84 m 2 ~


~ ;;;[
1 = 0,14 · 6,0 3/12 = 2,52 m 4
Tensões máximas: 1 1 1 1
2381 1482
Flexão devida a M (acidental devida ao vento)= My/I = 1.800. 3,0/2,52 = 2.143 kN/m 2 11111111111111BI111111111111 llG· 11111111111111m111111111111 llG,
(simétrico em ambas extremidades da parede) 476 pl l l li Ili li l l li!l Ili li l l li l l lllQ,,"""'" 296 p l l l li l l l li l l lill l l l li l l Ili l l llQ,,.,,,,,
Compressão simples (permanente)= PG/A = 2.000 J 0,84 = 2.381 kN/m 2 2143 ffirrrrrrn..,. 1 772 rIDTrrn-r 1
Compressão simples (variável acidental) = P,i A= 400 J 0,84 = 476 kN/m2
1 U.LlJJJ][J QkN•J\tO
j 1 LLUJllllfil Q..,~"'º
1------:::-------l 1-------------l
857~ 1
be 1
a) Verificação da tração: da equação 10.29 deve-se verificar y,q Qk,vento + "',
l1g
· G, s; fk/"'
t lm
, com "'r
i,q 1 ~ I.4,·""'+0,9G,
253
; l l l l l ll l !lll ll l l l lll l l l l ll l'.ll I.4,"'" + 0,9G,
= 1,4 para vento e Yr, = 0,9 para carga permanente de efeito favorável: 1 1 1
f'I (b)
1,4. 2143 + 0,9 . (-2381) s; 250/2,0
+ 857 < 125 .+ Falso .+ armadura necessária Figura 10.36 Tensões na parede do exemplo 10.3, considerando ou não as flanges.

Solução B (considerando as flanges): Considerando amarração direta entre a aba/alma, para


Como se pode perceber, ao não serem consideradas as flanges seria necessário armar
cada lado da parede é possível considerar abas ou flanges até o limite de seis vezes a espessura
essa parede. Como esse caso é apenas ilustrativo, a armadura não será aqui detalhada.
ou 84 cm para t = 14 cm. A Figura 10.36(b) mostra a seção considerada e as tensões para essa
situação, com expressiva redução dos esforços.
b) Verificação da compressão: da equação 10.34 deve-se verificar:

i. 2, OQk,,ddontol + 4, O· Gk Q <f Propriedades da seção: A= 0,14. 6,0 + 2 · 0,14 · (2 · 0,84 + 0,14) = 1,35 m'
R + 2>66 k,vento - pk 1 = 0,14 · 6,0 3 /12 + 2 · [l,82 · 0,14 3/12 + 0,14 · 1,82 · 3,07'] = 7,32 m 4
ii. 4, OQk,"idontol + 4, O· Gk + l Q <f Tensões máximas:
R ' 60 k,vento - pk
Flexão devida a M (acidental devida ao vento)= My/I = 1.800 x 3,14/7,32 = 772 kN/m 2
(simétrico em ambas extremidades da parede)
PAREDES OE CONTRAVENTAMENTO 551
550 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL

Compressão simples (permanente) = PG/ A= 2.000 / 1,35 = 1482 kN/m'


Compressão simples (variável acidental)= PQ/A = 400 / 1,35 = 296 kN/m'

a) Verificação da tração: M 1800


O valor de _d_ - - - - - = 1,19 > 1,0, portanto adotado igual a 1,0. Para tijolos maci-
Vdd, 300·0,8·6,28
1,4. 772 + 0,9. (-1482) s; 250/2,0
-253 < 125 -t ok, não precisa de armadura ços, Y, = 1,0.

f,, =[ 0,16(2-1),/10,8+0,25·1,33] · l,O=l,38 MPaS:0,4·1,0,/10,8 =l,31 MPa


b) Verificação da compressão:
Para o caso (i) com ação de vento como variável principal:
Portanto, f,, = 1,31MPa=1.310 kN/m 2 •
.. 2 0·296+4 0·1482 f, 1310
11. , , +2,66·771s;10.800 Verificando:~, S:-' -7 478 <-- = 665, ok.
0,846 Ym 2,0
7707 + 2052 = 9760 < 10.800 -t ok
Portanto, não é necessário também armadura de cisalhamento, e a parede de contraven-
tamento está verificada como não armada.
Para o caso (ii) com ação de vento como variável principal:
l 0.7.2 Exemplo l 0.4: Parede de contraventamento armada
iii. 4'º. 296 + 4'º'1 482 +1,60. 772 s; 10.800
0,846
Problema: Dimensione a parede de blocos vazados de concreto mostrada na Figura 10.37.
8408 + 1235 = 9643 < 10.800 -t Falso
Considere fb, = 14,0 MPa, parede grauteada e aço CA50A. A partir da Tabela 5.3, será adotado
Pode-se perceber que com a consideração das abas as tensões, tanto devido a cargas fr/fb, = 0,7, fr/fr, = 1,6, fpk = 9,8 MPa, fP, = 15,7 MPa e argamassa de f, = 12,0 MPa. Da Tabela
verticais quanto de flexão, são reduzidas significantemente. Nesse exemplo não há necessidade 5.5, ~' = 0,25 MPa. O módulo de elasticidade da parede com graute será igual a E, = 800 f,k =
de armadura e a resistência do bloco é suficiente para os esforços solicitantes. 12.560 MPa.

c) Verificação do cisalhamento: Considerando toda a alma da parede não armada e não fissura-
da, a altura útil, d, da equação 10.37 será igual ao comprimento total da parede de 6,28 metros.
A partir dessa equação, a tensão convencional solicitante de cisalhamento será: l"'I
vveoto = 150 kN ~=;;=='"=r-T--í- -1
1
Armadura 1 1
"d= vd = l,4·300 = 478 kNJm' horizontal I 1
1
t·d 0,14·6,28
1
na junta I I
~I N 1 ,,,1 .,.1
Da Tabela 5.4, para f, = 12,0 MPa, f,k = 0,35 + 0,5 cr S: 1,7 (MPa) ou 350 + 0,5 cr s; 1700 '°'I ~I ~I '°'I
kN/m'. O valor de s é igual 90% da tensão de compressão permanente, igual a 0,9 . 1482 = ~I ~ 1 Armadura ~ 1 ~I
1334 kN/m 2 para o exemplo. I• d=2,3m 'I 1
I vertical I 1

Portanto:

(, = 350 + 0,5 · 1334 = 1017 kN/m 2


1000 ,1, 600 •I
. f 1017
Verificando: ~d S:-"'- => 478 < - - = 508, ok.
Ym 2,0 Figura 10.37 Parede de contraventamento do exemplo 10.4.

Para o caso de cisalhamento por tração diagonal, da equação 10.35: Propriedades da seção (considerando área bruta): A= 0,14 · 2,4 = 0,336 m 2
1 = 0,14 · 2,43/12 = 0,161 m 4
552 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL
PAREDES DE CONTRAVENTAMENTO 553

Tensões máximas: - tensão de compressão máxima fav1 = fav, . ;


1 0exao
Para a força lateral de 100 kN e parede de 2,4 metros, o momento na base será: 150. 2,4 - equilíbrio da seção para força média de tração entre as barras 1 e 2.
= 360kN·m.
Flexão devida a M (acidental devida ao vento)= My/l = 360. 1,2/0,161 = 2.679 kN/m 2 Para equilíbrio de momento no ponto médio entre as barras 1 e 2 (ver diagrama de
(simétrico em ambas extremidades da parede) forças na Figura 10.39(a)), pode-se determinar o valor de kd:
Compressão simples (permanente) = PG/ A= 250 / 0,336 = 744 kN/m 2
Como se pode perceber nos diagramas da Figura 10.38, a tensão devida ao vento é
muito maior que a devida à carga permanente, e haverá necessidade de dimensionamento de
armadura para resistir à tração resultante.

em que d' é a distância média das barras 1 e 2 até a extremidade tracionada, igual a 40 cm:

~
240
2,4 ) 0,14·kd·5900( kd )
360+250 ( z--0,4 - 2 2,4-3-0,4
1
744 G, Resolvendo, chega-se a kd = 0,779 m. Para equilíbrio de forças:
11111111111111 M11111111111111 I
1
tkdf,lv P= 0,14·0,747·5900 _ 25 0=7l, kN
T=C-P 7
~
2679 2 2
1

1 ~ ok,wnto
Por equilíbrio de triângulos na Figura 10.39(a), a tensão média no aço será:
1-- - - - - - - - - - --l
3080
E!::
~.I~
1 1,40k,vcmo + 0,9 GK

4420
f .
s,médio
=n(R-kd-d~édio
kd
Jf alv
=16,7(2,4-0,747-0,4)5 9=154MPa<l55
O, 747 i

A área de aço total para as barras 1 e 2 será (fs,me,,.10 = 15,4 kN/cm 2):
1 1
71,7 2
Figura 10.38 Diagramas de tensões da parede do exemplo 10.4. As,total =T/fs,médio. =-=4,64cm
l S, 4

Solução A: Estádio II. Para fim comparativo, desenvolve-se aqui o cálculo considerando tensões
Para esse resultado, três barras de 16 mm seriam suficientes, com a barra 1 substituída
lineares de compressão na alvenaria, estimando as tensões admissíveis em seu valor caracterís-
por duas barras (uma barra posicionada no furo ao lado). A rigor, o cálculo deveria ser, então,
tico dividido por Ym x Yr
refeito, considerando a posição real dessas armaduras (Tmédio no CG das 3 barras). Como esse
exemplo foi desenvolvido para fim comparativo apenas, tal verificação não será desenvolvida
F, = 0,5 f,, / (1,15 · 1,4) = 0,5 · 500/1,15 = 155 MPa;
aqui, devendo o projetista verificar, se for o caso.
f,,v,wmp'"''° = 0,7 f,/ (2,0 · 1,4) = 0,7 · 15,7/2,0 = 3,9 MPa (para compressão simples);
( 1..., fl,··-
~
_ = 1,5 · 3,4 = 5,9 MPa (para compressão na flexão, considerando aumento
Aav = 1,5fa1v,compressao
de 50% na resistência nesse caso). Solução B: Método simplificado de análise de tensões. Uma maneira simplificada de cal-
cular a área de aço, que usualmente resulta em maior quantidade de armadura, é analisar a
combinação de tensões devida ao vento e carga permanente, traçar o diagrama de l,4Q'"'"'°
A relação entre módulos de elasticidade será n = 210.000/12.560 = 16,7. Para cálculo da
área de aço será considerado: + 0,9Gk e calcular a força de tração equivalente à distribuição das tensões de tração sobre a
região tracionada.
Neste exemplo, o diagrama combinado está indicado na parte inferior da Figura 10.38.
- desprezar as barras 3 e 4, comprimidas ou com tensão de tração muito pequena;
Por semelhança de triângulo, o comprimento tracionado, a, é igual a:
554 COMPORTAMENTO E DIMENS!ONAMEt-.'TO DE ALVENARIA ESTRlffURAl
PAREDES DE CONTRAVENTAMENTO 555

a 2,4 86 m
=----=>a=0,9 ___x_=> 2,4-0,7-0,65 =~=>cz =0,00888>0,0027
3080 3080 + 4420
0,0035 e, 0,0035

Considerando o diagrama triangular de tensões de tração com valor máximo igual a


3080 kN/m 2 e comprimento de 0,986 metro, distribuído na espessura de 14 cm, a força de A deformação na barra 1 é ainda menor que a de ruptura, igual a 1% ou 0,01.
tração será: Determinada a posição da linha neutra e confirmando o escoamento das armaduras, o
momento máximo resistente pode ser calculado pela equação 10.44:
FT = 0,14·0,986·3080 = 2 l 2 kN
2

Considerando a tensão no aço igual a 0,5fyd' a área de aço será:


Para o exemplo:
A =_!L - -212 -9, 75 cm 2
----
' 0,5fyd 0,5·50/1,15
MRd= 615,4x( f- o,;x )+ A,1fyd (d! -f )+A,,fyd (d, -f)
Pode-se perceber que esse método leva a resultados de área maiores que o anterior. Por 2 4 o' 8·0' 65) +2,0·-
50 ( 2,3--
2,4) +2,0·-
50 ( 1,7--
2,4)
M =615 4·0 65 -'-
sua simplicidade, ele pode ser aplicado em verificações de esforços em edifícios de menor al- R<l ' ' ( 2 2 J,J5 2 J,15 2
tura onde os resultados geralmente levam a áreas de armadura mínima. Para casos de edifícios
MR<l = 515 kN·m
maiores, ele pode ser antieconómico.
Considerando o momento solicitante Md = l,4x360 = 504 kN·m, a seção estaria verifi-
Solução C: Estado limite último, estádio III. Para verificação no estado limite último, será cada, pois Md < M,d' com área de aço inferior ao encontrado no dimensionamento pelo está-
adotado inicialmente que cada uma das quatro barras tem diâmetros de 16 mm e que as barras dio II. Deve-se ainda destacar que para levar em conta toda a tensão de escoamento do aço e
1 e 2 estão tracionadas com tensão acima do escoamento do aço. As barras comprimidas 3 e 4 eventualmente diminuir a necessidade de armadura, é necessário ainda verificar corretamente o
não serão consideradas no cálculo em razão da falta de estribos. comprimento de ancoragem e as emendas das barras, que nesse caso será superior ao limite de
Na verificação da tração, os coeficientes majoradores de esforços valem 0,9 para a carga 40$ especificado na normalização brasileira (ver capítulo 6).
permanente (favorável) e 1,4 para o vento. Analisando o equilíbrio de forças verticais da Figu- Entretanto, a normalização brasileira especifica que a tensão no aço deve ser limitada a
ra 10.39(c), tem-se: 50% da tensão de ~scoamento. Neste exemplo, será considerado então o valor do coeficiente
minorador da resistência do aço, igual ao dobro do usual, Ym, = 2,3. O valor de T será, então,
- pd = 0,9. 250 = 225 kN; reduzido à metade, para T = 87 kN, ex recalculado:
- c = 0,8 · b · x · k. fd = 0,8 · 0,14. x · l,O · o, 7·15700 = 615,4x kN:
2,0
P<l = C -T-+ 225 = 615,4 x- 87-+ x = 0,51 m
- considerando que ambas as barras escoem, T = l:T1 = l:ASI.fyk / yS = 2 · 2,0. 50/1,15
= 174kN;
e o momento resistente igual a:
- P,=C-T-+225=615,4x-174-+x=0,65m.

MRd=615,4·0,51 (
2,4
2 0,8·0,51)+2,0·~(2,3-2,4 )+2,0·~(l,7- 2,4)
É necessário confirmar se as barras escoam, ou seja, as deformações e1 e e, são superiores 2 2,3 2 12,3 2
à de escoamento do aço, igual a fr/E, = 435/210.000 = 0,00270. Por semelhança de triângulos M Rd =382kN·m
da Figura I0.39(a):
O valor é inferior a Md. Será então adicionada uma terceira barra IA no furo ao lado da
X 24-07-065 065
- - - => ' ' ' = - ' - - => e 2 =o, 00565 > o, 0027 barra I, com mesmo diâmetro e d\A = 30 cm. Assim, o valor de T será aumentado para T = 1,5
0,0035 e2 0,0035
. 87 = 131 kN, com x = 0,58 metro e momento resistente igual a:

Portanto, a barr.a 2 escoa e a barra 1 também, onde a deformação é maior:


1
1

556 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL PAREDES DE CONTRAVENTAMENTO 557

(k = 350 + 0,5 cr = 350 + 0,5 · (0,9 · 250)/ (2,4 · 0,14) = 685 kN/m 2

De maneira simplificada, para levar em conta a fissuração da parede será considerando


d igual a 0,8 R-. d= 0,8 · 2,4 = 1,92 metro, e a verificação é igual a:

V 14·150 685 . .
_d $ fvd ~ ' $ - ~ 781$3;12-. fals~, necessário armadura honzontal
bd 0,14·1,92 2,0 .
Esse valor MR, = 493 kN é apenas 2% menor que MR<l = 504 kN, portanto a seção será
considerada verificada com essa maior armadura. Percebe-se que o resultado é semelhante ao 1,15(Vd - V, )s
encontrado na solução A, pelo estádio II. Assim, a área de estribo necessária é calculada pela equação 6.53: A,w = .
0,5fyk d
Admitindo o espaçamento máximo permitido em paredes s = 0,60 me V,= b ·d·(,= 0,14 · 1,92
240 __=1 · 685/2 = 92 kN, chega-se a:

~7ii]O---~~----~-+ '!

•ffí A sw _l,15(1,4·150-92)·0,6_170 2 /60 -282 cmm

,,~:
-) cmc cm-,
(a)Equilíbriode !O 'I t . 0,5·50·1,92

forças no estádio II 11 ! ! T,
fa1v,ílexào
Considerando armadura na junta de assentamento, com dois ramos, seriam necessárias
1T 1
Tmédio e 1 barras de 12,5 mm de diâmetro, o que é muito superior ao limite permitido, de 6,3 mm. Con-
siderando espaçamento a c/ 20 cm, e barras de 6,3 mm com dois ramos, a área de armadura
~-----------_j será igual a 3,2 cm2/m, valor muito superior ao necessário. O detalhe desse estribo é o indicado

~I'~
(b) Deformações na Figura 10.3l(b).
estádio III

1 emédio ~ 0,0035 10.7.3 Exemplo 10.5: Pilar em uma parede de contraventamento com
abertura
1 1
(e) Equilíbrio de
forças no estádio III
1 lp I' x
j-----:-------L------L.,....,.-.-,,.,.-,-J
'I Problema: Dimensione o pilar A formado entre as aberturas da parede mostrada na Figura 10.40.
Considere o pilar de ]>!ocos vazados de concreto de 14 cm, totalmente grauteados, fbk = 10,0 MPa,
1 J ! lr, li li!§ f, parede grauteada e aço CA50A. f,/fbk = 0,75, f ,/f,k = 1,75, f,k = 7,5 MPa, f pk = 13,l MPa e arga-
Tl Tmédio e massa de f, = 8,0 MPa. Da Tabela 5.5, f"' = 0,25 MPa. O módulo de elasticidade da parede com
graute será igual a E,= 800 f,k = 10.480 MPa.
Figura 10.39 Equilíbrio da seção no estádio II e III.

Verificação do cisalhamento. Considerando a parede totalmente grauteada e com armadura


de flexão perpendicular ao plano de cisalhamento, a resistência pode ser determinada pela
equação 6.46:

(k = 0,35 + 17,5 r $ 0,7 MPa

Entretanto, como essa equação não considera o efeito da pré-compressão, pode ser mais
vantajoso para o cálculo, e, ainda, a favor da segurança, considerar o limite de resistência ao
cisalhamento de uma parede não armada igual a (k = 0,35 + 0,5 cr $ 1,7 (MPa) ou 350 + 0,5 cr $
1700 kN/m'. Nesse limite, o efeito benéfico do grauteamento não está sendo levado em conta.
Para o exemplo:
558 COMPORTAMENTO E DJMENS!ONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL PAREDES DE CONTRAVENTAMENTO 559

1 1 1,15
V= lSOkN
L\faorn 3(b) = R3(b) = O, 87Et = Et
0,6
Área de influência +F"k'-t'\;\i . R4(e) = RS(e) = 0,25Et
1,2

1
para pilar A
1,2 1
Pilar A Da equação 10.13: R2 "'---~~--,--- = 0,127Et.
1,2 7,0 1,15 1
~,....,...,--:--="
----.-+
Et Et 0,25Et+0,25Et
~1.1,~il' 2•1.1'11.1' 2•1 m
A força lateral será distribuída entre o pilar 1 (à esquerda da porta) e o pilar 2 (parede
(a} Parede de contraventamento com aberturas (b) Segmentos da parede
com abertura à direita da porta) proporcionalmente à sua rigidez. Por sua vez, a parcela da
Armadura em treliça plana em força horizontal do pilar 2 será distribuída entre o pilar A (à esquerda da janela) e o pilar à
7,2 kN 202,8 kN ,
2028kN toda junta de assentamento ~ direita da janela, também proporcionalmente à rigidez de cada trecho. Nesse caso, como as
faixas à direita e esquerda da janela são iguais, a força será dividida em 50% para cada lado.

íl
Para chegar aos esforços indicados na Figura 10.40(c), foram então consideradas as seguintes
-B· +--
101,4 kN
li
+--
101,4 kN L_ l
l
Barras de
16 mm nas ~x=200mm
0,0035
rigidezes relativas:
L _ L _ _ extremidades
--~--t

_ (
V2 -V R2 ) -V
- ( 0,127Et )=O, 967 V
(e} Distribuição da força lateral (d) Armaduras no pilar A (e} Distribuições das R 1 +R 2 0,0043Et+0,127Et
deformações no ELU
para o pilar A _ VAhA _ 101,4·1,2 _ kN·
MAd - - - - - 60 ' 8 m
2 2
Figura 10.40 Parede de contraventamento do exemplo 10.4.
. . . VAhA 101,4·1,2
Solução: Distribuição das ações. O método descrito no item 10.5.2 é aplicado neste exemplo. Conforme equação 10.19, o momento max1mo no pilar A= MAd = - - - -
2 2
Pode-se assumir que a viga sobre a porta faz com que os deslocamentos no topo dos pilares
60,8 kN·m. Como a parede está toda grauteada, será considerado o peso próprio de 4,0 kN/m 2
entre aberturas sejam iguais e também permitam alguma restrição à rotação na extremidade
e reação no pilar devido ao carregamento distribuído de 30 kN/m (Figura 10.40(a)):
superior destes. A rigidez relativa do pilar à esquerda da porta (pilar 1) e da parede com aber-
tura à direita da porta (pilar 2), mostrados na Figura 10.40(b), pode ser calculada por:
- Carga axial no pilar A: PA= 2,4 · 30 + (0,6 · 0,6 + 1,8 · 1,8) · 4 = 86,4 kN.

Para efeito de cálculo da armadura de tração, essa carga tem efeito favorável, portanto
o valor de projeto será: PAd = 0,9 · 86,4 = 77,8 kN. Nesse valor, é desprezado qualquer efeito de
1 binário de forças verticais do pórtico que possa existir. Considerando uma barra de 16 mm em
Aparedesólida(b) - Afaixa3(b) + il-- + R cada extremidade do pilar A, chega-se a:
4(<) 5(<)

o, 7·13100
- C=08·b·x·k·fd=0,8·0,14·x·l,O· =513,5xkN;
Tomando como referência a Figura 10.21 para cálculo das rigidezes, considerando o ' 2,0
Pilar 1 engastado (e) no topo devido à maior rigidez da viga de 60 cm, tem-se: - Considerando que a barra escoa, T = A/,k I Y, = 2,0 · 50/1,15 = 87,0 kN;
- pd = c -T .. 77,8 = 513,5 X- 87 +X= 0,32 m.
R11, 1 = 0,0043Et, pilar 1 engastado no topo.
A tensão no aço será:
Para o trecho à direita da porta, a parede com abertura, chamada de pilar 2, será consi-
derada em balanço (b), pois tem maior rigidez que a viga: X 0,32
--=>0,52=--=>E1 =0,00314>0,0027
O, 0035 O, 0035
1 1 7,0
Aparedesólida(b) = R =
paredes\)lida(b) 0,143Et Et
560 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRVTURAl
PAREDES DE CONTRAVENTAMENTO 561

e o momento resistente: resistir às ações laterais. Em zonas sísmicas, alvenarias armadas geralmente são necessárias.
Quando necessário o uso de armaduras, o bom detalhamento destas garantirá um melhor
MRd=513,5x e o,8x) ( e)
(2--2- +A,/yd d,- 2 desempenho quando os elementos de alvenaria forem submetidos a ações elevadas.
O leitor pode ainda verificar os conceitos discutidos no capítulo 3 sobre concepção e
12 3 32 12
M =513,5x( ' o, ·0, )+2,o.2Q__(1,1- ' )=153,0kN·m layout de paredes estruturais em edifícios de alvenaria estrutural. No capítulo 8 foi feito ainda
Rd 2 2 1,15 2
um maior detalhamento dos conceitos.para dim,ensionamento de paredes submetidas a cargas
verticais e flexão.
Esse momento MRd = 153,0 kN·m é bem superior a M, = 60,8 kN·m. Mesmo se a tensão
de escoamento do aço for reduzida à metade, o momento resistente será superior ao solici-
tante, portanto a seção pode ser considerada verificada à flexão composta. A alternativa de 10.9 Exercícios
reduzir a armadura não é possível, pois a armadura mínima para pilar vale As.mm. = O' 1%bt =
0,1% · 14 · 120 = 1,68 cm', e, portanto, não é possível reduzir a armadura para uma barra de L Para as paredes de contraventamento da Figura 10.41, determine a rigidez em função de
12,5 mm, pois a armadura seria As = 1,25 cm'< As.mm.. Et, utilizando os métodos descritos neste capítulo

~I
Verificação do cisalhamento. Considerando a parede totalmente grauteada e com armadura ~

de flexão perpendicular ao plano de cisalhamento, a resistência pode ser determinada pela

~1
equação 6.46, porém, conforme comentado no exemplo anterior, é mais vantajoso considerar s s
"<
o limite da alvenaria não armada nesse caso, uma vez que a equação 6.46 não leva em conta o
efeito da pré-compressão.
"'
"'"'
Para o exemplo: " '
1
3,6m . 11•2 11"\1 1\· 2 rv1. 2,4m 111 ptÜ,6 ffi

fvk = 350 + 0,5 0 = 350 + 0,5 · (0,9 · 86,4)/ (1,2 · 0,14) = 581 kN/m 2 /Junta de controle
/ Junta de controle
l'1
''l
V 1
- 1~
Para d= 1,1 metro e a verificação é igual a: ~
- :!
- 1
-
vd
bd
:O: fvd =>
101,4 581
< - => 658 :O: 290 -. falso, necessário armadura horizontal
0,14·1,10 2,0
s
",..; "'º. D D 1
1
..
:! 1
' '

, de estn·b o necessana
· · e· então calculad a pela equação 6.53: A,w = l,15(Vd-V,)s , 1~
2,4m
1 1,2~1.1 1,2.m1 1
1.
i°·61 1,2 ,o,6, 1,2 ,o,6,o,6, 0,9 ,o,6, m
• 1 • ' • ' 1 ' • 1 • 1 • 1 • t
A area
o,5f,kd Figura 10.41 Parede de contraventamento para o exercício 1.
Admitindo o espaçamentos= 0,20 me V,= b ·d· fvd = 0,14 · 1,1 . 581/2 = 44,7 kN, chega-se
1,15(101,4-44, 7) ·0,2 2. Para a parede de contraventamento da Figura 10.42, determine:
a A,w = = 0,47 cm' c/ 20 cm, o que levaria à necessidade de barras de
0,5·50·1,l
a) A espessura da parede se esta for construída de tijolos maciços com frk = 25 MPa
6,3 mm em cada junta de assentamento. O detalhe dessa armadura é o indicado na Figura
10.3l(b). (não armada).
b) A quantidade de armadura vertical e horizontal se esta for construída com blocos
vazados de concreto de 14 cm e fb, = 16 MPa. Mostre o detalhe das armaduras.
10.8 Considerações finais
3. Repita o exercício 2 para o dobro da carga vertical.
Prédios de alvenaria estrutural são tipicamente edifícios compostos de várias paredes de
4. Para a parede do exercício 2, com a armadura detalhada no item b, construa um diagra-
contraventamento. Na maioria dos casos, as paredes necessárias para servir de apoio às cargas
ma de interação de carga-momento resistente.
verticais e para definir e dividir o espaço interno podem ser dimensionadas para também
562 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL PAREDES DE CONTRAVENTAMENTO 563

Gk = 100 kN/m Qk,addcnta! = 50 kN/m 6. Para estudantes em nível avançado. Para as paredes de contraventamento do exercício 1,
Qk,vonto = 360 kN faça modelos em elementos finitos e compare com os resultados de rigidez encontrados
pelo método utilizado no exercício 1.

7. Dimensione os pilares do exercício 5.

8. A Figura 10.43 mostra dados de um paviinento de edifício em alvenaria estrutural. Dis-


tribua a força lateral de 90 kN entre as paredes, considerando diafragma rígido.

i100 mm
D D T
2,4m

Figura 10.42 Parede de contraventamento para o exercício 2. 8 A B e 8


"'·
00 ":
5. A Figura 10.43 mostra uma parede de coutraventamento em um edifício de cinco an- "'
dares. Essa parede recebe uma reação de laje de valor desprezível. Determine a carga D D
vertical, momento e força cortante na base de cada pilar devido ao peso próprio e força 1.2•4 m,I
horizontal. Considere o efeito do momento de tombamento nos pilares. O peso próprio 4,8 4,8 2,4 3,6
dessa parede vale 350 kgf/m 2• 1. 111 11• 111 .1 Parede D

9kN
- -
8 ~ID
"l.
m
9kN
..
3,6 1,2 3,6 1,2 1,8
ll ~li ~14
1,8
~lt
2,4
•I~
1,2
H I• 2,4 ,?·1, 2,4 ,f·1, 2,4 oi
9kN Parede A Parede B Parede C

Figura 10.44 Edifício do exercício 8.

9kN 9. Considerando uma carga vertical média de 10 kN/m 2 no pavimento (incluindo peso
próprio das paredes), verifique se as paredes podem ser não armadas para blocos de
concreto de 14 cm de espessura.

9kN

' '" ' '


1,2 2,4
•I I• •I I• •I I•
0,6 0,6 0,6 m

Figura 10.43 Parede de contraventamento para o exercício 3.


CAPÍTULO 11 .............-..........................................................................................
. Paredes de preenchimento e efeito arco

-íl
Figura 11.l Paredes de preenchimento' em edifício com estrutura aporticada (cortesia de National
Concrete Masonry Association).

1 1. 1 Introdução

Paredes de alvenaria são largamente utilizadas para preencher e vedar os espaços entre
vigas e pilares de pórticos em concreto armado ou aço. Quando essas paredes são projetadas
como de vedação, não são dimensionadas para contribuir para resistir a cargas verticais ou
forças laterais da es-trutura. Nesse caso, a alvenaria não deve ser rigidamente encunhada na
parte superior junto à viga de topo, devendo ser feita uma ligação que não transmita a carga
vertical dos pavimentos de cima. A ligação não rígida deve ser executada apenas quando há
número suficiente de pavimentos executados em níveis superiores.
Para alvenarias construídas para preencher o espaço entre pilares e vigas em pórticos de
concreto armado ou de aço, deve-se realizar uma escolha objetiva se elas deverão ou não par-
ticipar da estrutura de contraventamento às forças laterais (usualmente vento) e, ainda, se de-
vem ou não também contribuir para resistir às cargas verticais. Se a parede for resistir às cargas
verticais, ela deve ser firmemente ligada na parte superior e, nesse caso, também participará
necessariamente da estrutura de contraventamento lateral. O atrito ou a existência de ligações
metálicas fará com que parte da força lateral seja transferida à parede, independentemente da
existência de ligação com os pilares laterais. Em contrapartida, uma parede com ligação com
os pilares laterais sempre participará da resistência às forças laterais, mas pode ou não resistir
às cargas verticais dependendo da existência de junta (ou encunhamento com argamassa fra-
ca) entre o topo da parede e a viga superior. Para evitar qualquer interação entre a parede de
preenchimento e o pórtico, juntas de movimentação devem ser previstas nas laterais e no topo,
566 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL PAREDES DE PREENCHIMENTO E EFEITO ARCO 567

com espessura suficiente para isolar a parede dos efeitos do deslocamento relativo entre pavi- de edificações térreas, como o caso mostrado na Figura ll.2(b). No primeiro caso, a interação
mentos, ~efo~mação_ da viga superior e deformações diferenciais. Essas paredes serão apenas entre a parede e o pórtico depende de ela ser construída firmemente encunhada dentro dos
de vedaçao e mteragirão apenas com a viga ou laje inferior, conforme discutido no item 11.3. elementos de contorno. Deve-se ter cuidado nos detalhes construtivos para assegurar esse fir-
. Paredes de preenchimento que participam da estrutura e as de vedação devem ser di- me contato, mas o projetista deve ainda se preocupar com movimentações diferenciais devidas
mes10nadas para forças laterais fora do plano da ação de vento, e as ligações com a estrutura à variação de temperatura e umidade que podem gerar esforços na parede ou nos elementos
devem ser capazes de transferir as forças de reação dessas ações. Como discutido no capítulo 7, do pórtico. Essas movimentações devidas à expansão da alvenaria ou à retração do pórtico são
as paredes de vedação não têm carga axial significativa (limitada ao peso próprio) e, portanto causas comuns de fissuras. A existênci'a de juntas de movimentação para evitar essas fissuras
a flexão é predominante nessa situação. Quando a ligação com 0 pórtico é suficientement~ tem grande influência na transferência da ação lateral do pórtico para a parede de preenchi-
firme, o mecanismo resistente para as forças laterais pode ocorrer por efeito arco horizontal mento, como discutido no item 11.2.4. Efeitos similares tainbém ocorrem quando há presença
ou vertical (capítulo 7). de vazios entre a parede e pórtico, causados por movimentação diferencial devido à retração.
O potencial de interação entre a parede de preenchimento e o pórtico estrutural é fre-
quenteme~te ignorado _no dimensionamento, seja por simplificação do modelo ou pela falta
de _conhecimento suficiente do comportamento conjunto e de regras de dimensionamento.
Parede de preenchimento
Existem pelo menos duas justificativas para mostrar que essa prática não é adequada. Primei-
ro, porque em edifícios mais altos a estabilidade às forças laterais pode ser determinante na Pórtico
concepção da estrutura e as paredes de alvenaria podem dar uma boa contribuição, especial-
ment~ p~r~ a condição de serviço, limitando o deslocamento lateral. Ignorar a significativa
contnbmçao da parede à rigidez lateral pode levar a estruturas não eficientes. Segundo, e tal-
vez mais 1mport.ante, ignorar a rigidez de paredes de preenchimento nem sempre é uma opção
que leva a um d1mens1onamento mais conservador. A existência de paredes em determinadas
posições pode aumentar significantemente a rigidez dessa determinada parte da estrutura e al- Parede de preenchimento
participante do contraventamento
terar a distribuição _de esforços. Portanto, determinados elementos ligados a alvenarias podem
estar sendo submetidos a esforços maiores do que os aferidos por modelos que não incluem as
Figura 11.2 Paredes de preenchimento em pórticos de edifícios de vários pavimentos.
paredes de preenchimento. Além disso, uma distribuição não simétrica de paredes na planta
pode causar mo_mentos torsores e alterar consideravelmente a distribuição de esforços.
Para alvenarias de preenchimento entre pilares metálicos ou pré-moldados em edifica-
De maneira semelhante, ignorar o efeito conjunto de paredes apoiadas sobre vigas (efei-
ções térreas, como mostrado na Figura l l.2(b), raramente existe uma viga superior de rigidez
to arco) pode levar a um dimensionamento excessivamente antieconómico, além de fissuras
adequada. Nesse caso, a alvenaria de preenchimento participante do contraventamento deve
nas paredes. Nesse caso, as deformações nas paredes não serão equivalentes às deformações
das vigas de apoio. ser detalhada com ancoragens nos pilares que permitam a interação com o pórtico. Como
geralmente os pilares têm pequena rigidez na direção do plano da parede, as alvenarias são
, . Neste capítulo, são discutidas as interações no plano de paredes de preenchimento com
usualmente as grandes responsáveis pelo contraventamento nessa direção.
portico estr:itural ao seu redor e de paredes com vigas de apoio. A interação para força fora
O dimensionamento de paredes de preenchimento com bordas livres é similar ao de
do plano ~01 apresentada no capítulo 7. As especificações para dimensionamento aqui apre-
paredes de contraventamento apresentado no capítulo 1O, para o caso em que a carga vertical
sentada_s sa~ baseadas nas prescrições existentes na normalização canadense,''° uma vez que a
normahzaçao brasileira não trata desse assunto. inclui apenas o peso próprio da parede. A resistência de paredes de preenchimento totalmente
rodeado por elementos de vigas e pilares é mais complexa e discutida nas seções seguintes.
A interação entre a parede de preenchimento e os elementos estruturais ao redor depende
11 .2 Paredes de preenchimento em pórticos da área de contato entre eles. Portanto, a ação conjunta parede-pórtico dependerá de fatores
como valor da ação lateral, nível de aderência ou de ancoragem nas interfaces e da geometria
e rigidez relativa dos dois componentes. 381 Para fins de dimensionainento, a CSA S304.l traz
Paredes de preenchimento em pórticos participantes do contraventamento do edifício
algumas recomendações para o caso de alvenaria não armada e armada. Dois procedimentos
pod~m ser totalmente rodeadas de vigas e pilares, comumente em edifícios, como mostrado
de dimensionamento são especificados. No primeiro, a separação entre a parede e o pórtico é
na Figura l 1.2(a). Paredes de preenchimento também podem ser construídas entres pilares

380 CSA S304.l (2004).


381 Sabnis (1976).
568 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAl PAREDES OE PREENCHIMENTO E EFEITO ARCO 569

prevista, cujas especificações para o dimensionamento incluem o uso do modelo de diagonal Alternativamente, a alvenaria pode romper por cisalharnento devido ao escorregamento
comprimida. No segundo caso, admite-se a ação conjunta entre a parede e o pórtico. Conceitos da junta de assentamento. No comportamento pós-fissuração, o painel de alvenaria se com-
simples da resistência dos materiais e do dimensionamento de paredes são aplicáveis para o . porta corno duas barras comprimidas formando urna grande rótula através de duas diagonais
dimensionamento das paredes de preenchimento. comprimidas (Figura l l.3(c)). A fissura de cisalharnento por escorregamento da junta separa
o painel em duas partes. A ruptura, nesse caso, ocorre por flexão ou cisalharnento nos pilares.
11.2. l Comportamento de paredes de preenchimento não ancoradas aos A ductilidade dos pilares a flexão pode \rnpedir o colapso por esse tipo de esforço, enquanto a
elementos do pórtico ruptura ao cisalharnento irá necessariamente sol:lrecarregar os demais pilares participantes da
estrutura de contraventarnento do prédio.
Para valores relativamente pequenos da ação lateral haverá total ação conjunta entre a
parede de preenchimento e o pórtico, desde que a aderência ou as ancoragens nas interfaces as- 100 soo
segurem que haja total contato entre os elementos (Figura l l.3(a)). Nesse estágio, a contribui- 3,1 m
ção da alvenaria para a rigidez lateral tem sua máxima influência (Figura !l.4(b)). Conforme 1í Pórtico preenchido
,.,_.. 1í
a força lateral é aumentada, acontece a separação entre a alvenaria e os elementos do pórtico, ""•"
u
75
com alvenaria " 400
'll
g. i 300

i
exceto na região dos cantos por onde a força de compressão é transmitida através da parede Início da Alvenaria de
50
(Figura l l .3(b) ). Nesse estágio, o comportamento da parede pode ser simulado por urna barra
]
E
fissuração preenchimento
em tijolos ] 200
diagonal comprimida, aproximando o sistema estrutural a um tipo de treliça. A rigidez lateral " 25 •
~ Pórtico sem alvenaria
&:"" 100 Pórtico sem alvenaria
diminui conforme fissuras começam a se desenvolver no sistema (Figural l.4(a)). Conforme a ""
força lateral aumenta, a rigidez é diminuída ainda mais com o aparecimento de outras fissuras,
40 80 120 50 100 150 200
o que torna o modelo de diagonal comprimida progressivamente menos consistente com o
(a) Deslocamento lateral, mm (b) Deslocamento lateral, mm
comportamento do sistema. Aumentando-se ainda a força lateral, a separação entre a parede
e o pórtico e as fissuras se tornarão maiores até que a alvenaria rompa por cisalharnento (por Figura ll.4 Curvas de força~deslocamento de pórticos preenchidos ou não com alvenaria.
tração diagonal, corno mostrado na Figura !I.3(d)) e os pilares fissurern por flexão (Figura
ll.3(f)). Ensaios em escala reduzida de pórticos de concreto armado preenchidos382 mostram
que, para alvenaria muito rígida, os pilares podem romper por cisalharnento. Foi sugerido que
a ancoragem da parede nos elementos de contorno pode evitar a separação desta com o pórtico
Tração diagonal Barra comprimida
Separação idealizada e fazer com que a ruptura ocorra na alvenaria, sem causar rompimento prematuro do pilar por
Fissura de flexão ou cisalharnento.
r::::0~~~tcisalhamento por O rompimento por escorregamento da junta deve ser evitado, urna vez que cria urna
escorregamento
situação muito próxima da mostrada na Figura 11.S(a). Nesses casos, corno a capacidade
Fissura de flexão
resistente à flexão dos pilares não é influenciada pela alvenaria, o dimensionamento deve
Fissura de evitar a ruptura por cisalharnento dos pilares (Figura 11.S(b)). Com a redução da altura pela
cisalhamento
Barra comprimida metade, o binário de forças resistentes ao momento fletor terá o braço de alavanca também
Compressão
idealizada diagonal dividido por 2, duplicando o valor da força cortante no pilar para resistir a esse momento,
(a) Total ação conjunta (b) Diagonal comprimida (c) Dupla diagonal comprimida conforme Figura 11.S(c). A transferência do momento de plastificação para metade da altura
do pilar pode ainda ser prejudicial porque, geralmente, nesse ponto, existe menor quantidade
de armadura de confinamento que nos cruzamentos com as vigas.

(d) Ruptura por tração (e) Ruptura por esmagamento (f) Ruptura dos elementos
diagonal dos cantos do pórtico
Figura 11.3 Deformações e modos de ruptura de pórticos preenchidos com alvenaria. 382 Harris et ai. (1993).
570 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE AlVENARIA ESTRUTURAL PAREDES DE PREENCHIMENTO E EfE!TO ARCO 571

cedida por rompimento ao cisalhamento dos pilares do pórtico relativamente menos rígido.
Ensaios cíclicos (Figura 11.7) confirmam esse comportamento. A possibilidade de ocorrer
esse indesejável modo frágil de ruptura sugere não ser recomendável o projeto com alvenaria
muito rígida em pórticos preenchidos.

300

250 Alvenaria de preenchimento "forte"

200
?iS
o!
"
V
150
(a) Parede de preenchimento com (b) Relação entre a capacidade (e) Relação entre a capacidade ~
m Alvenaria de preenchimento "fraca"
metade da altura resistente à flexão e às forças resistente à flexão e às forças cortantes ~
& _____ , ___ _

~
-
-
-
#
.
,
.
.
.
.
cortantes para parede com para parede com meia altura 100
altura total ..---------
50 ... _,- .... - - .. -;~~tico não preenchido
Figura 11.5 Influência do rompimento da parede por escorregamento da junta mostrada a partir da __ , .,..~

consideração de uma alvenaria com metade da altura transmitindo esforços aos pilares.
ºo
, - 10 20 30 40 50
Além da possibilidade de rompimento por cisalhamento, por escorregamento da junta
Deslocamento lateral, mm
ou por tração diagonal, pode haver o rompimento por esmagamento a compressão, normal-
mente nos pontos de contato com o pórtico nos cantos da alvenaria (Figural l.3(e)) ou ainda Figura 11.6 Curvas de força-deslocamento para pórticos de concreto armado preenchidos com alvena-
na metade do comprimento da diagonal comprimida. Ainda é possível haver rompimento ria e carregamento lateral monotônico.3S4
da ligação entre a viga e os pilares do pórtico. Como mostrado na Figura 1l.3(f), esse tipo de
rompimento está associado a uma alvenaria relativamente mais rígida que o pórtico. As curvas de histerese (Figura 11.7) indicam uma resposta estável e com boa absorção
Diversos ensaios em escala real avaliaram o comportamento de pórticos preenchidos, de energia dos pórticos preenchidos. Pórticos com alvenarias "fortes" mostram maior degra-
em especial tentando obter resposta a ações sísmicas. Um ensaio interessante é relatado em dação após o pico de resistência quando comparados com o caso de alvenarias "fracas''. No
Mehrahi et al.,'83 em que pórticos de concreto armado foram preenchidos com diferentes estudo reportado, a primeira grande fissura ocorreu com deslocamento relativo (deslocamen-
combinações de rigidez relativa entre a alvenaria e o pórtico. Um caso de pórtico "forte" foi to horizontal/altura do pavimento) de 0,17 a 0,46%, com maior deslocamento relativo para a
projetado para resistir a elevadas ações laterais (devido a sismos). Ignorando a existência de força de ruptura medido entre 1 e 2%.
alvenaria de preenchimento, vigas e pilares foram armados com elevada taxa de armadura
de cisalhamento para prevenir esse tipo de rompimento e garantir um comportamento dúc-
til. Dois tipos de alvenaria de preenchimento foram projetados: uma "fracâ', usando blocos
vazados de concreto com argamassa de assentamento apenas nas laterais; e outra "forte'',
com tijolos maciços de concreto e argamassa sobre toda a face desses tijolos. A Figura 11.6
mostra curvas força-deslocamento para carregamento incremental monotônico consideran-
do ou não a alvenaria de preenchimento, e casos onde ela é "fraca" ou "forte''. Observando
a figura, pode-se perceber um aumento da rigidez e resistência de 50% (alvenaria "fracâ') a
160% (alvenaria "forte") quando comparadas com o caso de pórtico não preenchido. É ainda
interessante notar que) embora aumente a rigidez e resistência, o caso com alvenaria «forte"
levou a uma diminuição da ductilidade. Nesse caso, a fissuração diagonal da parede foi su-

383 Mehrahi et a!. (1996). 384 ld. ibid.


Nvl!l'.'ll:'!aób f:Mer;i: l'.0 '<•1 G':\n~a do Nt)!"(\.
BlBLIOTECt, CENTRAL.
"lll..A MAMEDF"
572 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL
PAREDES DE PREENCHIMENTO E EFEITO ARCO 573

• ' Vedação sem rigidez


(a) (b) i.-- considerável em seu plano

Parede de preenchimento
CR+ CR+ participante do contraventamento

' i
CR = centro de rigidez considerando
as paredes de preenchimento nos
pórticos
CR+ +CR
Deslocamento lateral, mm (a) Pórtico "fraco" Deslocamento lateral, mm
li
(c) (d)
. Nota: considerando pavimento como
diafragma rígido

. -

Figura 11.8 Efeitos da localização das paredes de preenchimento na rigidez do edifício.

Se, em contrapartida, as paredes forem preenchidas com alvenaria em algumas facha-


das, mas o fechamento das outras fachadas tiver uma vedação sem rigidez no seu plano (como
de vidro para a fachada em frente à rua, por exemplo), a posição de CR será consideravelmente
Deslocamento lateral, inm (b) Pórtico "forte" Deslocamento lateral, mm influenciada. Os detalhes (c) e (d) exemplificam essa situação. No caso (c), CR é deslocado
para o canto, ocasionando grande efeito de torção na planta do prédio. Para piorar, esse ar-
Figura 11.7 Curvas de histerese em pórticos de concreto armado preenchidos com alvenaria.Jss ranjo estrutural, onde não existem dois pórticos preenchidos (de maior rigidez) paralelos, não
permite boa resistência à torção. Em menor grau, o mesmo ocorre com o caso (d).
11 . 2. 2 Análise de pórticos preenchidos A necessidade de considerar os efeitos de enrijecimento de pórticos pelo preenchimento
com alvenaria nas situações semelhantes às (c) e (d) ficou evidente no terremoto da Cidade do
. A ª.nálise de urna estrutura de pórticos preenchida com alvenaria tem duas partes dis- México, em 1985, onde a maior parte dos edifícios de esquina sofreu grandes danos ou colapso.
tmtas: a distnbuição da força lateral a cada pórtico e a análise de cada um desses pórticos sob Análise dos pórticos. Uma significante quantidade de estudos experimentais e analíticos
a ação da parcela de força lateral correspondente. Cada urna dessas partes independentes é foi realizada com o objetivo de compreender o comportamento e propor procedimentos
considerada a seguir. de dimensionamento de pórticos preenchidos com alvenaria. 386 Análises sofisticadas com
Distribuição da força lateral. Os métodos de distribuição da ação lateral em estruturas de modelos em elementos finitos ou teoria da elasticidade devem ser consideradas com cautela
edifícios aprese~tados no capítulo anterior são aqui também válidos, com a diferença de que em razão de incertezas quanto ao comportamento das interfaces. Muitas vezes, uma análise
o aumento de rigidez dos pórticos preenchidos com alvenaria deve ser considerado. O efeito simplificada e conservadora é preferível no caso em que o número de incertezas é elevado.
desse acréscimo no comportamento do edifício pode ser exemplificado considerando ou não Nesse caso, é importante prevenir a ruptura por escorregamento da junta da alvenaria, impe-
a alvenaria de preenchimentos em diferentes localidades do edifício, corno ilustrado na Figura dindo o mecanismo mostrado.na Figura l l.3(c), que pode causar rompimento do pilar por
11.8. Para a disposição simétrica das paredes, corno mostrado nos detalhes (a) e (b), não altera cisalharnento e ruptura prematura do sistema estrutural.
a posição do centro de rigidez e não induz a esforços de torção na planta. Esses arranjos têm Vários modelos foram propostos por pesquisadores, sendo o mais simples e estudado
boa ngidez nas d.uas direções principais, boa resistência à torção e, ainda, a distribuição sirné- o modelo de diagonal comprimida, originalmente proposto por Polyal<0v' 87 e desenvolvido
tnca reduz as existências de forças devidas à torção, urna vez que a posição da resultante de
força lateral será aproximadamente coincidente com a posição de CR no centro do pavimento.

386 Hendry (1981), Polyakov (i956), Stafford-Smith (1966), Esteva (1966) e Leuchars & Scrivener (i975).
385 !d. ibid.
387 Polyakov (1956).
574 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL PAREDES DE PREENCHIMENTO E EFEITO ARCO 575

depois por Stafford-Smith. 388 Ensaios em escala reduzida de pórticos de concreto armado
Distribuição das tensões de contato
preenchidos com alvenaria e com dois andares,389 submetidos à força lateral simulando ação
Distribuição de tensões idealizada
sísmica, indicam razoável previsão do comportamento estrutural com o modelo de diagonal
comprimida. Nesse modelo, o pórtico é escorado por uma barra formada na diagonal da pa-
rede de contraventamento, como mostrado na Figura 11.9. As propriedades geométricas da
barra comprimida dependem da extensão do contato entre a parede e o pilar, a 8 , e entre a
'Dist~ibui?ão de
parede e a viga, aL, como ilustrado na Figura 11.10 e indicado por Hendry. 39° Comprimentos O\, tensoes para a
de contato de 1/ 4 a 1/ 10 do comprimento do painel são relatados. Holmes 391 recomenda que a lar- ~rgura efetiva
Largura efetiva w/2 da diagonal
gura da diagonal comprimida seja igual a um terço do comprimento dessa diagonal. A norma compritnida, com espessura t
h
NZS 4230 392 indica que essa largura deve ser igual a um quarto do comprimento.
Esse modelo leva a um sistema de pórtico contraventado por diagonais comprimidas
(Figura 11.9), onde todas as barras se encontram com eixos centrados nos nós. Entretanto,
essa configuração não permite representar com precisão todos os esforços que podem ocorrer
devido ao comportamento conjunto da alvenaria-pórtico, especialmente no que diz respeito à
possibilidade de aumento da força cortante no pilar comprimido. A reação da barra compri-
mida não ocorre perfeitamente centrada no encontro pilar/viga, mas um pouco acima da viga,
impondo uma reação no pilar comprimido e aumento da força cortante e de compressão neste.
O dimensionamento desse elemento deve prever essa força de reação.
Figura 11.10 Diagonal comprimida.

Usando formulações de uma viga sob base elástica, as equações propostas por Amrhein
f e,
11 11 •I et al.393 e Stafford-Smith394 são adotadas na norma canadense CSA S304 para determinar <X8 e
1
aL' e são aqui reproduzidas:
1
h,
1
1
Equação 11.l
1

i
Largura da barra diagonal
1 h, Parede de comprimida igual a w/2
!' preenchimento e comprimento igual a f d 4EplvC
1 a ~n11--..c....-- Equação 11.2
1
L E, tsen(28)
1
hl
em que:
E e E são os módulos de elasticidade da alvenaria e do material do pórtico;
t.'h, /são a espessura, a altura e o comprimento da alvenaria de preenchimento;
Figura 11.9 Modelo de diagonal comprimida.
e é igual ao are tan (h!C). .
Assumindo uma distribuição triangular de tensões ao longo da largura, w, da diagonal
comprimida (Figura 11.10), a força nesse elemento será igual a l1 f, vwt, onde a tensao
1
- me.d'ia

388 Statford-Smith (1966). é igual à metade da tensão máxima f,,v· Hendry propõe a equação a seguir para determinar a
389 Manos et ai. (1993).
390 Hendry (1981).
391 Holmes (1963). 393Amrhein et al. (1985).
392 NZS 4230 (1990). 394Statford-Smith (1966).
576 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRlJTtJRAl PAREDES DE PREENCHIMENTO E EFEITO ARCO 577

largura equivalente (ou efetiva) da diagonal comprimida, assumindo uma distribuição unifor- 80,--~~~~-:-~~:--~,
.
• . .
A<lercnCJa a
Ade1ência ao
. Ih t Força
d d
Mo o e
6~ ..... Analise tração MPa cisa Ma~1~en o máxima kN ruptura'
me de tensões f 1 : /,,.·.·~s
"
j;j 60
,. .-· ·-
/.-· ·'"-..3 !" 0,40 0,30 43
Equação 11.3 ;i·' 2 0,00 0,30 10 1
~ .·' ..... ·-· ·-· ·- 3 0,80 0,30 63
~ 40 ,.{~. ·•· .•..,'1 (Origin~ 4 0,40 0,15 16
/
Essa equação é adotada na normalização canadense, e será adotada aqui também. Uma 1
vez que as propriedades geométricas da diagonal estão definidas, uma simples análise de um i20 // 4
7
-iq 5
6
0,40
0,80
0,60
0,60
75
75 2
modelo de pórtico contraventado pode ser realizada para determinar os esforços em cada j:;-.;;;-;;f; Pórtico nu 7 0,20 0,15 12

elemento e o deslocamento lateral. Entretanto, o modelo elástico é falho quando se quer obter oi
o 1 2 3 * t. Fissura diagonal; 2. Esmagamento do canto
respostas mais precisas e determinar a carga de ruptura e grau de ductilidade da estrutura. Deslocamento, mm ** Material do modelo original
Nesses casos, modelos de elementos finitos 395 e de rótulas plásticas 396 têm sido reportados com
Figura II.II Diagonal comprimida.
sucesso.
O modelo de diagonal comprimida é limitado a análises lineares até o limite de fissura-
Para avaliar a resistência à compressão da diagonal comprimida, deve-se levar em conta
ção diagonal da alvenaria de preenchimento, e pode ser utilizado para avaliar o estado limite
a diferença da resistência à compressão na direção vertical (ensaio comum de prisma) e na ho-
de serviço da estrutura, não sendo totalmente adequado para avaliar o estado limite último.
rizontal. Uma maneira simples de levar em conta esse ponto é considerar a menor das duas re-
Estudos mais recentes, como El-Dakhakhni et al., 397 propõem modelos com três diagonais
sistências (geralmente a horizontal, igual a 50% da resistência do prisma). Além disso, os efeitos
comprimidas para prever a rigidez e resistência de casos cujo comportamento não linear deve
de esbeltez devem ser levados em conta para verificar a possibilidade de ruptura à compressão
ser levado em conta. Nesse modelo, a ruptura final ocorre por esmagamento dos cantos da
na parte central da diagonal comprimida. Para a determinação da esbeltez pode-se considerar a
alvenaria.
altura efetiva (h,,) como o comprimento da diagonal reduzido da largura w/2, desde que o valor
final não seja menor que a dimensão vertical ou horizontal do painel de alvenaria. 401
11 . 2. 3 Resistência de pórticos preenchidos
A resistência ao cisalhamento por escorregamento da junta ou por tração diagonal é
verificada conforme descrito no capítulo anterior, para o caso da alvenaria não armada ou
A força de compressão na escora obtida na análise do pórtico contraventado é utilizada
armada, de acordo com cada situação.
para o dimensionamento da parede de preenchimento. Relatos'" indicam que as formas mais
Como a ruptura por escorregamento da junta pode dobrar a força cortante no pilar (ver
comuns de ruptura são o esmagamento do canto da alvenaria e o escorregamento da junta. A
Figura 11.5) e resultar numa ruptura frágil desses elementos, é ideal que o dimensionamento
ruptura por compressão diagonal pode não ser uma condição de ruptura final, pois é possível
garanta que esse esc<:>rregamento não ocorra. Entretanto, para casos de alvenaria com baixa
que o painel de alvenaria ainda transmita a força lateral depois do aparecimento desse tipo de
resistência ao cisalhamento e quando o projetista entender que existe a possibilidade de escor-
fissura. 399 Ainda que haja a possibilidade de ruptura dos cantos comprimidos, Dhanasekar &
regamento da junta, modelos mais refinados, como o de dupla diagonal comprimida (Figura
Page400 indicam que o ponto crítico para o comportamento e carga limite de paredes de preen-
11.3(c) ), devem ser utilizados para prever o impacto desse tipo de ruptura no comportamento
chimento é uma boa aderência da alvenaria.
do pórtico preenchido. 402 Em áreas sujeitas a ações sísmicas é recomendável armar as paredes
para impedir que o escorregamento ocorra.

11.2.4 Paredes de preenchimento com aberturas

Paredes de preenchimento muitas vezes têm aberturas de variados tamanhos e posicio-


namentos. O efeito de pequenas aberturas para colocação de instalações elétricas ou cruza-
395 Mehrabi & Shing (1997). mento de condutores hidráulicos, ou ainda pequenas aberturas fora da diagonal comprimida,
396Saneinejad & Hobbs (1995). pode ser desprezível. Nesse caso, deve-se levar em conta que a inversão do sentido da força
397 El-Dakhakhni et ai. (2003).
398 CEB (1999).
399 El-Dakhakhni et ai. (2003). 401 CSA S304.l (2004).
400 Dhanasekar & Page (1986). 402 NZS 4230,1 (1990) e Kadir (1974).
l '
578 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL PAREDES DE PREENCHIMENTO E EFEITO ARCO 579

lateral faz com que a diagonal comprimida seja também invertida e, portanto, as aberturas não A ruptura, em muitos casos, começou com a separação da alvenaria do pórtico em cada
devem estar posicionadas nas duas diagonais para ter pouca influência com o comportamento lado da abertura. Do ensaio da parede WDS, pode-se perceber que a inclusão de armaduras
conjunto da alvenaria com o pórtico. aumentou a rigidez inicial, porém não alterou a carga de ruptura. Para o caso da WC6, com
Dawe & Seah403 estudaram o efeito de aberturas em paredes de preenchimentos pórticos abertura afastada do ponto de aplicação da carga, uma diagonal parcial desenvolveu-se na la-
metálicos. As curvas força-deslocamento mostradas na Figura 11.12 mostram que a presença teral da abertura, contribuindo para que a carga última fosse um pouco maior. Com a abertura
de aberturas diminui consideravelmente o efeito da parede de preenchimento. A presença de mais próxima do ponto da aplicação fia carga {WCS), a carga de ruptura foi sensivelmente
aberturas ao longo da diagonal comprimida causa rompimento por cisalhamento prematuro menor. Como se espera que no caso real ocorr~m forças em sentidos inversos, a presença de
da alvenaria em cada lado da abertura. abertura terá influência significativa no comportamento conjunto.
Outros estudos experimentais e analíticos indicam que aberturas centradas no painel
600 de alvenaria podem reduzir a rigidez em até 75% 405 e a resistência em cerca de 40%. 406 É ainda
....+_...o • +-+ WB2
500 Pórtico preenchido ,...+: e - e WC4 mencionado que o detalhamento de uma restrição lateral na base da parede na projeção das
sem abertur~./~/ o-o WCS extremidades da abertura pode contribuir para a formação de bielas comprimidas entre os
400 /+ •-• WC6 cantos do pórtico e da abertura.407
_,.~• o-o WDS O desenvolvimento de modelos simples para análise de paredes de preenchimento com
~ llf

d 300
~
/1A
/
•r t

...... ·-·-·
. ""'...:=-.._ eo'....,;--•
.."'
aberturas não é uma tarefa fácil graças à variação de características como posição, tamanho e

"'"'
o ~· o'º,......•
•.41• :::<'~", propriedades físicas e geométricas da abertura e parede. Análises em elementos finitos podem
200
I .,;f-~.;;v 'º-" ser utilizadas para verificar o comportamento nesses casos. 408
..1• ~·e..lC. Pórtico preenchido Espessura da parede= 19 cm
7
• .&ti'~•
Modelos de várias diagonais, como o indicado na Figura 11.13 proposto em FEMA,409
100 ~• com ab er t ura Pórtico não preenchido Resistência de bloco entre 27
são sugeridos para aberturas centralizadas, embora a referência não indique qual a largura de

ºol~~·~=====::t::======~======J
_lt eArgamassa
34 MPa 1:0,5:4,5 cada diagonal.
10 20
Por conta da descontinuidade existente na base de aberturas de portas, esse modelo
Deslocamento horizontal do ponto de aplicação da força, mm
3,6m
não é representativo, a não ser que existam ancoragens inferiores nas laterais da porta para
P = 335 kN permitir a formação das bielas em cada lado dessa abertura.

~r&---"
Ainda, ensaios de paredes armadas com polímeros reforçados com fibras (PRF) indi-
Separação cam que essa técnica é eficiente para melhorar a resistência ao cisalhamento, tanto por escor-

1 Separação
com 89kN
com 90kN
regamento da junta quanto por tração diagonal, e pode ser uma boa alternativa para reforço
de paredes,4 10 como. nos casos de readequação de estruturas para resistir a ações sísmicas em
regiões onde esse procedimento é necessário.
Padrão de fissuras para parede WC4 Padrão de fissuras para parede WC5 com porta
com porta central deslocada para o lado de aplicação da força lateral

-" P = 334 kN p =365kN

~I
' +--"
Canaletas
Fissura
Barras de 20 mm diagonal no
em vazados subpainel
grauteados
\ Separação
com89kN
Subpainéis
Padrão de fissura para a parede armada Padrão de fissuras para parede WC6 com porta
WD5 com porta central deslocada para o lado contrário ao de aplicação
da força lateral 405 Holmes (1963).
406 Kadir (1974).
Figura 11.12 Comportamento de paredes de preenchimento com aberturas em pórticos metálicos.404 407 Male & Arbon (1969).
408 !d. ibid.
403 Dawe & Seah (1989). 409 FEMA (2000).
404 !d. ibid. 410 El·Dakhakhni et ai. (2002) e Hakam et ai. (2001).
580 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL PAREDES DE PREENCHIMENTO E EFEITO ARCO 58 l

- a aderência. Nessa condição, os autores relatam uma pequena redução na rigidez do pórtico
quando comparada com a condição da parede WB2, construída com argamassa nas interfaces
· e permitindo aderência da alvenaria com o pórtico. Ambos os casos, porém, apresentaram

- ---- ·-\.-,
~z - - -.. '~
_,.~--!~~ maior rigidez que o pórtico não preenchido.

- • tt~
·-~)>
~ - - -.. '
~

íí
.
Pórtico pre~nchido seln
soo _ ;unta no topo

400 !\ _,,-'"
~· /
.
,,. .,,..·"'-/ ,./º
.-
,.,........ + -~-·-·~
//

"'@'
~
~
300 -
0
/
+ /
~~.
-?4 •
jºm
.1 Pórtico preenchido
junta de 20 mm
no topo

,9 ~o..._
. . . . 200 -
+'o
1/'
'• o
...-º\
dº~º
º
--·
y.--· /

Figura 11.13 Modelo de diagonais equivalentes para paredes de preenchimento com aberturas. 411 t•': . ' •./' " " " ' o / ' -o ·--

100 - • ~-:f' -
/
/
0
Pórtico nao preenchido
11.2.5 Paredes de preenchimento com juntas no topo if '
10 20
Em edifícios de estruturas de concreto armado, se a parede de preenchimento for Deslocamento lateral, mm
construída apertada contra o pórtico, a deformação inicial elástica e a deformação lenta por
Figura 11.14 Efeito de junta vazia no topo da alvenaria de preenchimento no comportamento do
fluência e retração podem fazer com que grande parte da carga vertical seja transferida para
pórtico. 413
a parede. Em menor grau, o mesmo pode ocorrer em pórticos de estruturas de aço devido à
deformação das vigas e pilares e pela expansão de alvenarias cerâmicas. Nesse caso, a parede
deve ser dimensionada para resistir a essa carga vertical.
Pórtico preenchido ,.,,.. • ..-
_,,.,.,.,..-·
WB2
Quando não se quer transferir a carga vertical para a alvenaria, uma junta no topo da
500 _ padrão ~ /./·
parede deve ser prevista, permitindo a livre deformação de viga e pilares sem que tais ele- ......,.,.
mentos "encostem" na parede. Normalmente, um espaço entre 2 e 3 cm entre a parede e a
7 400 - / /\/\ ___.-·
alvenaria é previsto, que posteriormente é preenchido com uma argamassa fraca ou outro
material deformável. O ideal é que esse preenchimento seja feito apenas após a construção de "'] /
_.//
"'
/"' "' ... ~ WCl

todos os andares e com espaço de tempo suficiente para que as deformações lentas ocorram. -"' 300 -
«:1
•/ .. / Pórtico preenchido
..,I / '. . '\_com membrana de
.'~
.....

•••. /"'
1

Nesse caso, as condições para a formação da diagonal comprimida não ocorrem até que haja ... _ polietileno nas
200
deslocamento e rotação suficientes do pórtico e alvenaria. .f /"' interfaces
Na Figura 11.14 é possível observar a diferença de comportamento de pórticos metá- . /
licos preenchidos com ou sem a existência de uma junta vazia de 20 mm no topo da parede. 100-// Pórtico não preenchido

Pode-se observar que existe uma influência por conta da existência dessa junta, porém o au- j/
mento de rigidez em relação ao pórtico não preenchido é ainda evidente. '
10 20
Dawe & Seah412 relatam ainda resultados de ensaios em que o tipo de tratamento das Deslocamento lateral, mm
interfaces entre a alvenaria e as vigas e pilares (aderido ou não) foi estudado. Na Figura 11.15,
Figura 11.15 Efeito do tratamento das interfaces no comportamento do pórtico preenchido. 414
a parede WC! foi construída com uma membrana de polietileno nas interfaces, eliminando

411 FEMA (2000).


413 !d. ibid.
412Dawe & Seah (1989). 414 !d. ibid.
582 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL
PAREDES DE PREENCHIMENTO E EFEITO ARCO 583

Quando a resistência à compressão da alvenaria não é um limitante, uma fixação rígida


n 4E Ih n 4·20.700·67.500·240
do topo da parede com a viga superior é adequado, seja por apoio direto da viga ou por encu- a <- 4 P P =- 4 ::::.::: 8 1,-1cm
H - 2 E,tsen(28) 2 20.700·14sen(2·38,66º)
nhamento posterior com argamassa mais forte. Essa situação pode ser desejável em edifícios
de poucos pavimentos, como em construções de galpões com elementos pré-moldados, utili-
zando a alvenaria para contraventamento.
Da equação 11.2:
Para o caso de ser necessário uma junta superior com fixação não rígida da parede com
a viga superior, mas para o caso em que se pretende contar com a alvenaria para contraventa- 4·20.700·67.500·300 -1716
a < n: 4 - ) cm
mento, uma aproximação possível é considerar a parede em balanço recebendo parte da força L - 20.700·14sen(2·38,66º)
horizontal dos pavimentos superiores. O detalhamento de ancoragens nas laterais do pórtico
restringe a rotação da parede e pode evitar o esmagamento destes pontos devido ao aumento
da região de contato. Nesse caso, deve-se prever a possibilidade de deformações diferenciais Finalmente, da equação 11.3:
no projeto das ancoragens.
w 1) 2 +aH2 -9
-=-aL - 4, 9 cm
2 2
11 .2.6 Exemplo 11. l: Análise da rigidez de um pórtico com alvenaria de
preenchimento
O comprimento da diagonal vale e,= .Jh +e'= 3,84 m. A rela~ã~ entre~ largurn da
2

diagonal e o comprimento desta é igual a 0,949/3,84 = 0,247, valor prox;mo ao / 4 sugendo


Problema: Determine o aumento na rigidez do pórtico mostrado na Figura 11.16 pela con-
pela norma NZS 4230. 415 Assim, a área da barra diagonal comprimida sera A,= 0,14 · 0,949 =
sideração da alvenaria de preenchimento. Considere a parede de 14 cm de espessura e E, =
0,133 m 2•
13.800 MPa. As vigas e pilares têm seção de 30 x 30 e o concreto dos elementos do pórtico tem
módulo de elasticidade Ep = 20. 700 MPa. Utilizando um programa simples de pórtico plano, considerando a diagonal birrotulada,
com a área indicada acima, e as demais propriedades das vigas e pilares e do material concreto
,.- 300mm e alvenaria, pode-se comparar a rigidez do pórtico com ou sem a alvenaria de preenchimento.
Pórtico de
fConcreto armado Os resultados dessa análise, para uma força horizontal no topo adotada igual a 10 kN, são:
p p = 10 kN
'-~
Diagonal equivalente - Pórtico não preenchido, L'.hº"' = 0,74 mm, k = PIL'. = 10/0,74 = 13,5 kN/mm.
P:;: 950 mm x 140 mm
A= 1,38 x 1os mmi - Pórtico preenchido, L'.hº"' = 0,04 mm, k = PIL'. = 10/0,04 = 250,0 kN/mm.
s s
Alvenaria de preenchimento ">:
N s Portanto, pode-se perceber que a consideração da alvenaria de preenchimento aumenta
com 14 cm de espessura li g
.<: "' a rigidez do pórtico 17,5 vezes.

11.2.7 Exemplo 11.2: Dimensionamento de uma alvenaria de preenchimento


,, "'
300mm 300mm
+•I 3,3m
Problema: O pórtico de um galpão térreo em estrutura de concreto pré-moldado com co-
Para pilares e vigas: A= 9,0 x 104 mm2
I, = 6,75 x 10 8 mm 4 nexões não rígidas é preenchido com alvenaria de blocos vazados de concreto de 19 cm de
espessura, formando um painel de 5,0 metros de comprimento por 3,6 metros de altura. Con-
Figura 11.16 Pórtico preenchido do exemplo 11.1.
siderando que a parede de preenchimento será responsável por todo o contraventamento la-
Solução: teral desse pórtico, determine a máxima força lateral. Considere fbk = 6,0 MPa, argamassa de
f = 8,0MPa.
Tanto a viga quanto o pilar têm momento de inércia I, = I, = 30 x 30' / 12 = 67.500 cm'.
Solução: A partir da Tabela 5.3, será adotado f,Jfbk = 0,75 (para argamassa n:aisforte que a
Para cálculo da largura da diagonal equivalente: 8 = are tan .11_ = are tan 2' 4 = 38 66º. indicada na tabela, essa relação poderia ser maior, porém será adotado o valor md1cado ), f,k =
.e 3,0 ,
Da equação 11.l:

415 NZS 4230 (1990).


584 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL
PAREDES DE PREENCHIMENTO E EfEITO ARCO 585

4,5 MPa. Da Tabela 5.5, f,, = 0,25 MPa. Da Tabela 5.4, para f, = 8,0 MPa, (k = 0,35 + 0,5 cr,,; 1,7 A esbeltez hef'it ef = 460/19 = 24,2, próxima ao limite de 24 para alvenaria não armada, será
(MPa) ou 350 + 0,5 cr,,; 1700 kN/m 2• aqui adotada. Utilizando a expressão simplificada da normalização brasileira (equação 8.45):
Verificação do cisalhamento: Para a verificação do escorregamento da junta: (, = 350 + 0,5 cr
2
,,; 1700 kN/m • Desprezando a pré-compressão cr devida ao peso próprio, é possível considerar Yr. Pk o, 7fpk
--<--·R
a pré-compressão, s, obtida pela componente vertical da diagonal comprimida. Considerando a A - Ym
relação de lado e uma força cortante horizontal Vd, a componente vertical será 3,6/5,0 · Vd = 0,72
· Vd. Portanto, (k = 350 + 0,5 · 0,72 ·V, IA= 350 + 0,5 · 0,72 · 1,4 ·V,/ A= 350 + 0,504 · Vk /A. Para R = [l - (h/40t)'l = [l - (460/~0 . 19) 3] = 0,778, e largura da diagonal =
o,25J3,6 2 +5,0 2 =l,54 m:
V 5,0

~0,72V ~3,6 l,4·Pk


0,19·1,54
7 45
O, · 00 ·O, 778 -7 Pk = 251,lkN
2,0

Para resultar nesse valor de componente diagonal, a força lateral, Vk (horizontal), pode
+ o,504· vk ser calculada por semelhança de triângulos:
350
't = V<l,,; fvk _, l,4·Vk (O,l 9 · 5,0) -7 Vk = 144,8kN
d t·d 2 0,19·5,0 2 5,0 Vk- ? V k =203, kN
- =--
6,16 251,l
Para o caso de cisalhamento por tração diagonal, da equação 10.35:
Considerando o menor dos limites: Vk = 105,5 kN.

11 .3 Paredes sobre vigas


O valor de Md =0,25, uma vez que o momento é nulo. Considerando argamassa sobre l l . 3. l Introdução
Vvdv
as duas paredes laterais do bloco vazado com 3,5 cm, y = 2 · 3, 5 = 0,37.
g 19 Há muito tempo é reconhecido o comportamento conjunto de paredes sobre vigas de
apoio em concreto armado ou aço. Antes de 1950, esse comportamento era estimado de forma
fvk = [ 0,16(2-0,25JF4.5 +O Jo,37 = 0,311MPa õ'.0,4 ·0,37..)2·4,5 =0,444MPa simples, considerando que a viga deveria suportar apenas a parcela de carga da parede den-
tro de um triângulo com vértices nos apoios. Para o carregamento restante, assumia-se que
este era encaminhado diretamente para os apoios por efeito arco na parede (Figura l l.l 7(a)).
Portanto, f,k = 0,311 MPa = 311 kN/m 2•
Com o desenvolvimento de pesquisas experimentais e teóricas, um melhor entendimento do
fenômeno foi possível e a consequente proposição de métodos para análise. 416 Esses métodos
't = V<l o; fvk _, 1,4· Vk = 311 _,V = 105, 5 kN
d t·d 2 0,19·5,0 2 k não são aplicáveis a casos em que há juntas de dilatação ou grandes aberturas na parte central
da parede.

Verificação da resistência à compressão da diagonal: A altura efetiva para fins de verifica-


11.3.2 Mecanismo de interação e modos de ruptura
ção da esbeltez da diagonal comprimida pode ser admitida igual ah"= Rd - w/2. Na falta de
mais dados, a largura da diagonal, w/2, será admitida igual a 1/ 4 do comprimento diagonal, e
A parede sobre uma viga simplesmente apoiada, como na Figural l.l 7(a), tem compor-
portanto:
tamento conjunto a esta para resistir ao seu peso próprio e demais carregamentos verticais. O
2 2 2
h,r = .Jh +e -0,25.Jh +e 2 = J3,6 2 +5,0 2 -0,25..)3,6 2 +5,0 2 = 4,6 m

416Abrams (1993), Wood (1952), Wood & Simms (1969), Stafford-Smith & Riddington (1976) e Davies & Ahmed
(1978).
586 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO OE ALVENARIA ESTRUTURAL
PAREDES OE PREENCHIMENTO E EFEITO ARCO 587

sistema parede-viga se comporta como uma viga alta (Figura ll.17(b)) resultando em tração
na viga, que funciona como um tirante, permitindo o efeito arco na alvenaria.

Carregamento aplicado

~·';
'i:I

H---.----< f = ~

h /
A

"" '"
3
a,
,, 4

/ Efeito arco ' (a) Viga muito flexível (b) Viga flexível (e) Viga rígida

/
/ " Comprimento
de contato (K,> 7) (S<K,>7) (K, < 5)

Nota: KF é determinado pela equação 11.4


d
-t- T Figura 11.18 Distribuição da tensão de compressão vertical sobre os comprimentos de contato entre a
alvenaria e a viga de apoio. 417
(a) Distribuição triangular do carregamento e (b) Distribuição de tensões no meio do vão
efeito arco devido ao comportamento como viga alta 11.3.3 Análise
Figura 11.17 Ação conjunta de uma parede sobre viga de apoio.
Vários métodos de análise foram propostos para permitir o dimensionamento. Na dé-
O carregamento vertical é transferido da parede para a viga nos cantos próximos aos cada de 1950, Wood418 propôs coeficientes de momento e tração para cálculo desses esforços
apoios e existe uma tendência de separação entre a alvenaria e viga na parte central do vão. O na viga. Wood & Simms, 419 depois, sugeriram um método para determinar a máxima tensão
comportamento é muito influenciado pela rigidez relativa da parede e viga. Uma viga muito de compressão na parede. Baseado em estudo em elementos finitos, Davies & Ahmed420 pro-
flexível pode fletir e se separar completamente da parede e não receber nenhuma parcela puseram as duas expressões a seguir para cálculo da rigidez relativa entre a parede e a viga:
da carga vertical, funcionando simplesmente como um tirante para a parede, que transfere
toda a carga diretamente aos apoios. Nesse caso, haverá uma grande concentração de tensão Equação 11.4
vertical de compressão nos cantos da parede. Em outro exemplo extremo, para uma viga
extremamente rígida, o carregamento da parede será uniformemente distribuído a esse ele-
mento de apoio e nenhum efeito arco ocorrerá. Equação 11.5
Entre esses dois limites haverá variável comportamento, com comprimentos de contato
entre a parede e a viga e a consequente concentração de tensões verticais e de cisalhamento,
dependendo da rigidez relativa. De forma correspondente, a viga também estará sujeita ava- em que:
lores variados de força de tração e momento fletor em razão dessa rigidez relativa. Uma viga A, = área da seção transversal da viga;
mais flexível resulta em maior tensão de compressão vertical e cisalhamento (na interface) nos h = altura da parede;
cantos da parede, maior tendência de separação entre parede/viga e maior força de tração e
menor momento fletor na viga. ' .
E , E = módulos de elasticidade da alvenaria e da viga;
I, = momento de inércia da viga;
A parede pode romper por esmagamento a compressão nos cantos próximos aos apoios, t, l = espessura e comprimento da parede.
por escorregamento na interface parede-viga, ou a viga pode romper pela combinação das ten-
sões normais de flexão e tração.

417 Davies & Ahmed (1978).


418 Wood (1952).
419Wood & Simms (1969).
420Davies & Ahmed (1978).
588 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE AlVENARIA ESTRUTURAL PAREDES OE PREENCHIMENTO E EfEITO ARCO 589

O coeficiente KF leva em conta a rigidez relativa à flexão entre a parede e a viga. Como Máxima compressão na parede:
ambos elementos têm o mesmo comprimento, KA é uma medida da rigidez axial relativa entre
p
a parede e a viga. Baseado em modelos em elementos finitos e ensaios experimentais, os auto- falv <C - Equação 11.7
- ! ft
res propõem a seguinte expressão para determinar o comprimento de contato entre a parede
e a viga:
Máxima tração na viga:

Equação 11.6
T,; C,P Equação 11.8

em que b é função de relação entre altura e comprimento da alvenaria, h/l, conforme indicado Tensão de cisalhamento máxima na interface parede-viga:
na Figura 11.19.
Equação 11.9
Após determinar o comprimento de contato a partir de a e assumindo uma distribuição
triangular dos carregamentos próximos aos apoios, é possível determinar as tensões e mo-
Momento tletor máximo na viga:
mentos na parede e viga por uma simples análise estática. O critério para limite do projeto é a
resistência da parede ou viga e a deformação na viga. Por essa equação pode-se perceber que
quanto maior (mais rígida) for a viga, maior será o comprimento de contato e menor o efeito M=_]_(c,
c,
-c, c, ~)Pc
e
Equação 11.1 O
arco, com consequente redução das tensões na parede e aumento do momento na viga.

' . '
em que:
2,4
d = altura útil da viga;
P = carga vertical total sobre a parede.
2,0r

. A Tabela 11.1 indica três conjuntos de valores de C, e C4 que refletem a adoção de dife-
1,6 r-
~ rentes formatos da distribuição da carga vertical próxima ao apoio. Como mostrado na Figura
1,2 -
11.18, esses formatos variam de linear até parábola do 3º grau, dependendo da rigidez relativa.
0,8"
Tabela 11. l Coeficientes C, e C, para análise do comportamento conjunto parede-viga.
0,4 .
C3 C4
. KF:::; 5 2,0 0,20
0,0 0,2
'
0,4 '
0,6 0,8 1,0 ' '
j,2 1,4 1,6 5<KFi;;T 1,5' 0,lQ
h/f KF;;:::7 1,0 0,17
Figura 11.19 Valor do fator~ em função da relação h/l para análise do comportamento conjunto pa-
rede-viga de apoio. 421 Os valores de C l e C2 são encontrados nos gráficos da Figura 11.20.

Alternativamente, o dimensionamento pode ser feito utilizando os gráficos e expressões


a seguir, que consideram refinamentos na forma da distribuição das cargas verticais próximas
aos apoios:

421 ld. ibid.


590 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAl PAREDES DE PREENCHIMENTO E EFEITO ARCO 591

comprimento de contato e aumentar a tensão vertical na parede. Uma alternativa para me-
20 0,4 lhorar esse comportamento é reforçar a parede com armaduras verticais ancoradas na viga. O
· sistema conjunto) então) se comportará como uma viga alta.
16
0,3
e, 12 e,
0,2 h/f 11 .3.5 Exemplo 11 .3: Parede apoiada em viga
8 1,2
0,1 0,8 '
4 0,7 Problema: Uma viga de concreto armado com vião de 4,5 metros e seção de 25 x 40 cm serve
g,g de apoio a uma parede de tijolos cerâmicos de 2,4 metros de altura e 9 cm de espessura, com
oi.e:..~2~4~~6~8~1~0~1~2-1~4,---l o 1 2 3 4 peso total de 17,8 kN (Figura 11.21). Calcule a máxima compressão na parede, a tensão de
K, KA
cisalhamento na interface e a força de tração e momento na viga.
Figura 11.20 Valores dos coeficientes Ci e C2 para análise do comportamento conjunto parede~viga de Dados: EA = 6.900 MPa, E> = 17.250 MPa, t = 9 cm, h = 2,4 m,
apoio. 422 f ~ 4,5 m, l = 133.333 cm', A = 1.000 cm 2•
, '
O máximo deslocamento no meio do vão da viga pode ser aproximadamente calculado
por: '
' +- J.. Parede de alvenaria
h = 2,4 m
Equação 11.11
lP=17,8kN

em que P, é o peso próprio da viga. Os efeitos de fissuração da viga devem ser levados em
conta quando do cálculo do momento de inércia desta, I,. O deslocamento máximo deve ser
comparado com o limite permitido (ver capítulo 3). Conforme Tabela 3.14, o limite de deslo-
camento de paredes é igual ao vão/500 e 10 mm. juntas de movimentação podem ser previstas
400mm

- e= 4,5 m
....
~
.i... Viga de concreto armado

na alvenaria para permitir acomodação de maiores deformações, porém não haverá efeito arco
nesse caso e a viga deve ser dimensionada para resistir a toda carga vertical.
h,. If,,, = 0,33 MPa

11.3.4 Limites da análise -


talv= 0,09 MPa 1.
Â
~

.1
<J.= 538 mm
A análise aqui apresentada assume que as vigas são escoradas durante a construção da
Figura ll.21 Parede e viga para o exemplo 11.3.
parede, de forma que todo o peso da construção é resistido pela ação conjunta. Se a viga não
for escorada, a parcela da carga vertical que será transferida por efeito arco depende da veloci-
Solução: Considerando o método de Davies & Ahmed, 424 das equações 11.4 e 11.5:
dade da construção e, muitas vezes, pode não ocorrer. Cargas aplicadas após a construção da
parede podem ser consideradas com efeito arco.
Pesquisas"' indicam que aberturas posicionadas na parte central da parede têm pouca
influência no comportamento conjunto, se for possível o arco se desenvolver sobre estas. No
caso de aberturas próximas ao apoio, o efeito arco é quase sempre eliminado, sendo recomen-
dável dimensionar a viga para resistir a toda carga vertical nesse caso. e
O método apresentado também não é facilmente aplicado a vãos contínuos. Cargas
aplicadas diretamente sobre a viga, como o pavimento que nela se apoia, podem reduzir o

422 ld. ibid.


423 !d. ibid. 424 !d. ibid.
592 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRlJTURAl
PAREDES DE PREENCHIMENTO E EfEITO ARCO 593

A partir dos gráficos da Figura 11.20 para K, = 4,4 e KA = 0,87 eh/e= 2,4/4,5 = 0,533: 11 .5 Exercícios
cl = 7,8 e e,= 0,27.
Da Tabela 11.1: e,= 2,0 e e,= 0,2, para KF = 4,4 < 5.
Da Figura 11.19, ~ = 1,7. !. Procure observar edifícios de sua região com paredes de preenchimento e verifique
e 4,5
os detalhes da interface, se existem encunhamento e junta de movimentação. Prepare
A partir da equação 11.6, a= A O, 531 m.
l+pKp l+l,7·4,4 esboços do layout das paredes pistentes. e discuta a possível real influência delas no
Da equação 11.7 à equação 11.10: comportamento do contraventamento do edifício.

p 17,8 2
f,,v s;c,-=7,8 =330kN/m 2. Se uma parede deve ser projetada para não participar do contraventamento do prédio,
et 4,5·0,o9 indique detalhes construtivos na ligação desta com a viga de topo e pilares laterais,
T,; C2P = 0,27 · 17,8 = 4,8 kN
p 17,8 lembrando que a parede deve ainda transferir reações de ação fora do plano para os
-i:,1v s;c 1 c 2 -=7,8·0,27 90kN/m 2 elementos de apoio em seu contorno.
b 4,5·0,09

~)Pe
1 1
M = - (e. -e, e,
e, e =--(0,2-0,27.2,0
7,8
4
4,5
º'
º)17,8-4,5=1,56kN ·m 3. Uma edificação térrea tem pilares de 7,2 metros de altura e viga de 6,0 metros de com-
primento (vão livre), como mostrado na Figura 11.22. Determine a máxima força late- ,
ral para:
Se não houvesse efeito arco, o momento máximo na viga seria igual a 10,0 kN·m. Se a
distribuição triangular de carregamento com ângulo de 45º fosse utilizada para considerar o a) A interação entre o pórtico e a parede é ignorada, e a parede em balanço foi
efeito arco de forma simplificada, esse momento seria igual a 6,25 kN·m. dimensionada para resistir a toda força lateral F (este pode ser um caso em que
não existe a viga superior ou esta é muito flexível).
b) Utilizando o modelo de diagonal comprimida para levar em conta o efeito con-
11 .4 Considerações finais junto com o pórtico.
c) Dados: blocos vazados de concreto, f k = 7,0 MPa, E = 12.000 MPa. Elementos
p '
Paredes de alvenaria são frequentemente projetadas em edifícios, tanto na fachada ex- em aço: Es = 200.000 MPa, 1pi.1ar = 1,7 x 108 mm', 1.viga = 2,2 x 108 mm'.
terna quanto nas divisórias internas, em função de sua boa resistência ao fogo, das proprie-
dades termoacústicas e por requerer baixa manutenção. A inclusão dessas paredes no sistema
estrutural de edifícios em pórticos para participar do contraventamento do prédio é uma de-
cisão do projetista.
Se não houver intenção de que a alvenaria participe do contraventamento, deve-se pre-
--
-
F

ver juntas de movimentação para evitar que parte do carregamento seja transferida a elas. A
previsão de que a alvenaria participe do contraventamento pode trazer vantagens ao projeto
e ao comportamento estrutural. Nesse caso, deve-se evitar aberturas e ancorar corretamente a s
parede no pórtico, além de dimensioná-la para os esforços previstos. "'.
"
Em vigas que servem de apoio à parede, a interação parede-viga pode reduzir conside-
ravelmente o momento fletor em razão do efeito arco, que pode ocorrer. Entretanto, o proje-
tista deve calcular e verificar os demais efeitos da consideração desse comportamento, como
a maior concentração de tensão vertical e de cisalhamento, além da força de tração da viga.
As informações detalhadas nos capítulos anteriores são aqui úteis para determinação de
.... 6,0m
,,.,,
1
1
.,
ações e limites de deformação (capítulo 3), características da alvenaria (capítulo 5) e critérios
de dimensionamento (capítulos 8 e 10). Figura 11.22 Pórtico do exercício 3.
594 COMPORTAMENTO E DIMENSIONAMENTO DE ALVENARIA ESTRUTURAL
PAREDES DE PREENCHIMENTO E EFEITO ARCO 595

4. Calcule o aumento de rigidez no pórtico mostrado na Figura 11.23, em que tijolos


cerâmicos são utilizados em parede de preenchimento. Use um programa simples de ..
pórtico plano. ES::.I ~ - Pórtico de concreto armado

Propriedades da alvenaria: f,k = 20 MPa, E,= 17.000 MPa, t = 9 cm.


Propriedades do pórtico: C40, E,= 28.000 MPa, b (vigas e pilares) = 20 cm. E +-- - - Alvenaria
â
1
' 1
E P Abertura
"·o
~
·- 7,2m
'
' '
~AI venaria de preenchimento
/ Figura 11.24 Pórtico do exercício 6.
/
s /
ô"
'
' '
' 7. Determine se uma viga baldrame de concreto armado de seção 20 x 40 cm é adequada
para um vão entre estacas de 7,2 metros, quando esta serve de apoio a uma parede de blo- ,
cos vazados de 19 cm e 4,8 metros de altura, que recebe um carregamento de 14,0 kN/m. O
solo logo abaixo é capaz de suportar apenas o peso da viga durante a construção da parede.
Considere o limite máximo de deformação e os dados: f,k = 7,0 MPa, E,= 5.600 MPa, C20
e E = 21.000 MPa. Determine a máxima tensão vertical e de cisalhamento e o momento
Sem alvenaria ' e tração na viga.
fletor

,,,- .,.,.,,..
""' 4,8m "
0,4m 0,4m

Figura 11.23 Pórtico do exercício 4.

5. (a) Se um vazio de 6 mm (junta de movimentação) for previsto no topo da parede sob


a viga para evitar a transferência da carga vertical, determine a influência desse detalhe
para os casos descritos nos exercícios 3 e 4. (b) Se para o exercício 3 o vazio for de 1,5
mm devido à retração da alvenaria de concreto (que foi erroneamente construída com
blocos molhados durante a execução), qual seria a redução na capacidade resistente?

6. Para o pórtico mostrado na Figura J 1.24, determine: (a) a melhor posição para uma
abertura de 3 x 2,4 metros (comprimento x altura); (b) qual a capacidade resistente ao
cisalhamento dessa parede considerando a posição escolhida da abertura.

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