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GABINETE DO PROCURADOR-GERAL DAREPÚBLICA

PGR-MANIFESTAÇÃO
75342/2019

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL


PROCURADORIA-GERAL DA REPÚBLICA

N.º 181/2019 – SFPOSTF/PGR

RECLAMAÇÃO Nº 33036/SE (PROCESSO ELETRÔNICO)

RECLAMANTE: José Valdevan de Jesus Santos


RECLAMADO: Juiz Eleitoral da 2ª Zona Eleitoral de Aracaju/SE
RELATOR: Ministro Celso de Mello

Excelentíssimo Senhor Ministro Celso de Mello,

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A Procuradora-Geral da República, no exercício das suas atribuições
constitucionais e legais, vem manifestar-se nos autos da Reclamação em epígrafe, pelos
fundamentos a seguir expostos.

Trata-se de reclamação, com pedido de liminar, ajuizada pelo Deputado Federal


José Valdevan de Jesus Santos, contra ato do Juízo da 2ª Zona Eleitoral de Aracaju/SE, que
recebeu a denúncia contra o reclamante e demais corréus na Ação Penal n. 0000062-

Gabinete da Procuradora-Geral da República


Brasília/DF
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05.2018.6.25.0002, sob o argumento de que afrontou decisão do Supremo Tribunal Federal,


na AP 937-QQ, de relatoria do Ministro Roberto Barroso, em franca usurpação da
competência do Supremo Tribunal Federal, para processar os fatos investigados na referida
ação penal, bem como na ação cautelar de interceptação telefônica n. 0000061-
20.2018.6.25.0002.
Defende que a autoridade reclamada recebeu denúncia contra o reclamante,
quando esse já havia sido diplomado parlamentar federal, em razão de fatos que estão
intrinsecamente ligados ao cargo eletivo, usurpando, assim, a competência do Supremo
Tribunal Federal.

Alega que durante a tramitação da prestação de contas do congressista, o


Ministério Público Eleitoral, em seu parecer final, apontou a existência de supostas
irregularidades na arrecadação realizada após as eleições.

Paralelamente à instauração de procedimento preparatório eleitoral para apurar

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eventuais inconsistências no referido processo de prestação de contas, instaurou-se, também,
inquérito policial para investigar eventual prática do crime do art. 350 do Código Eleitoral,
por suposta inserção de dados falsos na prestação de contas de campanha do reclamante, nas
eleições de 2018, em que se sagrou eleito.

No bojo da referida investigação, o Juízo da 2ª Zona Eleitoral de Aracaju/SE


deferiu, em 7/12/2018, representação da autoridade policial e decretou a custódia cautelar do
Deputado Federal José Valdevan Santos e demais corréus, por compreender que os diálogos
extraídos de conversas telefônicas judicialmente autorizadas evidenciavam “a tentativa de
influenciar as testemunhas envolvidas, direcionando os seus depoimentos”, o que poderia
interferir na verdade dos fatos, durante a investigação.

Contra a referida prisão, a defesa do reclamante impetrou, em 10/12/18, habeas


corpus com pedido de liminar, no Tribunal Regional Eleitoral de Sergipe. O Desembargador
Eleitoral rejeitou o pleito liminar, por entender que não havia plausibilidade jurídica do
pedido.

Invocando a superação do enunciado da súmula nº 691 do STF, o reclamante


apresentou novo habeas corpus diante do Tribunal Superior Eleitoral. Em 16/12/2018, o
relator do writ na Corte Superior Eleitoral, Ministro Luís Roberto Barroso, deferiu
parcialmente a medida liminar para autorizar a diplomação do parlamentar, por entender ser

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“recomendável que a análise do preenchimento dos requisitos para a segregação cautelar e


da adequação de medidas substitutivas seja feita pelo Plenário desta Corte”.

No mérito, o Tribunal Superior Eleitoral, em 19/12/2018, não conheceu do writ,


diante da inexistência de flagrante teratologia ou ilegalidade, a ensejar a superação do
enunciado da Súmula nº 691 do STF.

Em 9/1/2019, a defesa do reclamante impetrou novo habeas corpus no Supremo


Tribunal Federal, substitutivo do recurso ordinário, a fim de revogar a prisão preventiva,
alegando a incompetência do juízo eleitoral.

Durante o recesso forense, em 12/1/2019, o Presidente da Suprema Corte, Dias


Toffoli, deferiu a liminar para que o magistrado de primeiro grau substituísse a custódia
preventiva por cautelares pessoais, alternativas à prisão que julgasse pertinentes, bem como
suspendesse o andamento da ação penal n. 62-05.2018.6.25.0002, em relação ao reclamante,
até que a relatoria reapreciasse a questão e todos os desdobramentos cautelares que

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implicassem cerceamento à sua liberdade de locomoção.

Em 14/1/2019, em cumprimento à ordem do Supremo Tribunal Federal, a


autoridade reclamada determinou, no processo de origem, as seguintes constrições pessoais
substitutivas, nos termos do art. 319-I, III e IX do CPP: a) a obrigação de comparecer
mensalmente ao Juízo para informar e justificar suas atividades; b) a proibição de manter
contato com as testemunhas envolvidas no fato apurado, notadamente, aquelas apontadas na
denúncia, bem como com os demais denunciados e c) a monitoração eletrônica adstrita ao
Estado de Sergipe pelo prazo de 120 dias.

Contra a referida decisão, em 18/1/2019, o reclamante opôs embargos de


declaração na primeira instância, com efeitos infringentes, arguindo que, a partir da sua
diplomação, a competência para processar e julgar a ação penal teria se deslocado para o
Supremo Tribunal Federal, implicando, consequentemente, a nulidade das cautelares
aplicadas pela autoridade reclamada.

Em 30/1/2019, o reclamado não conheceu dos embargos de declaração,


assentando que: i) não houve quebra de qualquer regra de competência, não podendo falar-se,
em incompetência, nem originária, nem superveniente do Juízo Eleitoral; ii) cumpriu a
determinação do STF de substituir a prisão preventiva por medidas cautelares; iii) a
irresignação do reclamante contra as referidas medidas acautelatórias proferidas deveriam ter

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sido questionadas por meio próprio (interposição de recurso em sentido estrito, por
interpretação extensiva do art. 581-V do CPP, ou de habeas corpus, caso houvesse restrição à
liberdade de locomoção) e não de embargos de declaração, cuja admissão – no processo
penal – se restringe às sentenças ou acórdão, não se admitindo em decisões interlocutórias e
iv) o manejo dos aclaratórios na seara criminal se volta para sanear omissão, contradição,
ambiguidade e obscuridade, o que não se vislumbrou nos autos, pois o reclamante, em
nenhum momento, discutiu matéria já tratada nos autos, ao contrário, fez uma argumentação
totalmente nova.

Relevante destacar que no dia 29/1/2019, diante da liminar favorável obtida pelo
Supremo Tribunal Federal, nos autos do Habeas Corpus nº 167.174, o reclamante pleiteou
também medida liminar na presente reclamação, para o fim de suspender as cautelares
impostas em razão de terem sido proferidas por juízo incompetente, alegando violação do art.
53-§2º da Constituição, com a interpretação dada pela ADI n. 5.526.

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Subsidiariamente, caso a relatoria assim não entendesse, requereu a suspensão da
medida cautelar que limitava a monitoração eletrônica do reclamante ao Estado de Sergipe,
permitindo, desse modo, que o congressista exercesse suas atribuições em Brasília/DF,
notadamente, em razão da necessidade de comparecimento à posse dos Deputados Federais
no dia 01/02/2019, às 10h, na Câmara dos Deputados.

O Presidente em exercício do Supremo Tribunal Federal, Ministro Luiz Fux,


também em 29/1/2019, entendeu que a análise da liminar não revelava regime de urgência na
presente reclamação, cuja matéria deveria ser apreciada pelo Relator, nos termos do art. 13-
VIII do RISTF, notadamente porque quando da concessão de liminar no HC 167.174, não
fora deduzida qualquer alegação da defesa quanto à incompetência do juízo de primeiro grau.
Assim, apenas solicitou informações à autoridade reclamada, em 15 dias.

Em nova petição datada de 30/1/2019, diante da proximidade da sessão


preparatória de posse no cargo de Deputado Federal, em 1/2/2019, o impetrante reiterou o
pedido liminar para suspensão das referidas cautelares, insistindo na alegação da
incompetência do juízo eleitoral.

Assim, em 31/1/2019, ainda durante o recesso forense, o Presidente do Supremo


Tribunal Federal, Ministro Dias Toffoli, deferiu liminar para suspender, tão somente até que o
eminente Relator apreciasse a questão, o andamento da ação penal n. 0000062-

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05.2018.6.25.0002 e todos os desdobramentos cautelares que implicassem cerceamento à


liberdade de locomoção do reclamante. Na fundamentação, aplicou o entendimento
encampado pela Suprema Corte nos autos da Reclamação n. 32.989/RJ.

Diante desse cenário de tramitações processuais nas diversas instâncias e na


Suprema Corte, o reclamante interpôs esta ação constitucional, arguindo a existência de
prerrogativa de foro para ser julgado no Supremo Tribunal Federal, sobre os referidos fatos
tratados na ação penal de origem, nos termos do art. 53-§1º da Constituição da República,
defendendo sempre que os crimes imputados ao congressista são intrinsecamente ligados ao
cargo eletivo.

O reclamante alega que, a partir da diplomação de José Valdevan de Jesus Santos


no cargo de Deputado Federal, em 17/12/2018, firmou-se a competência da Suprema Corte
para processar e julgar o congressista pelos fatos denunciados na ação penal, nos termos do
art. 53-§1º da Constituição, com a interpretação dada pela ADI 5.526.

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Aduz que o recebimento da denúncia pelo magistrado eleitoral em seu desfavor,
em 19/12/2018, pela suposta prática dos crimes de falsidade ideológica eleitoral (art. 350 do
CE), uso de documento eleitoral falso (art. 353 do CE) e organização criminosa (art. 2º-caput
da Lei n. 12.850/13), configurou usurpação da competência da Suprema Corte.

Afirma que a incompetência do reclamante se mostra patente, suscetível de ser


declarada nula, em razão, sobretudo, da ausência de remessa de comunicação à Casa
Legislativa, acerca da adoção das medidas cautelares, tolhindo, desse modo, o exercício do
seu mandato parlamentar.

Alega, também, que as cautelares substitutivas impostas ao reclamante são


incompatíveis com o livre exercício do mandato parlamentar, tendo em vista que “é
impossível que o acusado exerça livremente o múnus para o qual foi ELEITO e
DIPLOMADO sem que, por exemplo, possa sair do Estado de Sergipe”.

Além disso, afirma que a decisão da autoridade reclamada não tem meios
coercitivos para garantir o adimplemento das cautelares pessoais impostas contra um
Deputado Federal, pois o art. 282-§4º do Código de Processo Penal não se aplica aos
parlamentares, na medida em que o art. 53-§2º da Constituição não prevê a hipótese de prisão
preventiva após a diplomação de congressista, mas tão somente a prisão em flagrante de
crime inafiançável.

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Pugna, desse modo, pela concessão de liminar para suspender a validade de todos
os atos decisórios praticados pelo juízo da 2ª Zona Eleitoral de Aracaju/SE, no curso do
processo n. 0000062-05.2018.6.25.0002 e n. 0000061-20.2018.6.25.0002, após a diplomação
do reclamante em 17.12.18, obstando o prosseguimento da ação penal n. 0000062-
05.2018.6.25.0002 até a apreciação do mérito da presente reclamação. E, sucessivamente,
ainda em sede liminar, a suspensão das cautelares postas, pois alega terem sido proferidas por
juízo incompetente e em violação ao art. 53-§2º da Constituição, com interpretação dada pela
ADI n. 5.526.

No mérito, requer a nulidade de todos os atos praticados pelo juízo reclamado no


curso da referida ação penal e correlata ação cautelar após a diplomação do reclamante,
incluindo a decisão que recebeu a exordial acusatória e a que decretou as cautelares
alternativas à prisão, pois teriam sido proferidos por juízo incompetente, com a posterior
remessa dos autos de origem ao Supremo Tribunal Federal.

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A autoridade reclamada prestou as informações, em 11/2/2019, destacando,
dentre outras notícias, que o réu, conquanto devidamente citado, deixou de apresentar
resposta à acusação para interpor, junto ao Supremo Tribunal Federal, em 21/1/2019,
Embargos de Declaração com Efeitos Infringentes ou Modificativos da decisão que
determinou o cumprimento das cautelares em questão.

E, ainda, que cumpriu todas as determinações da Suprema Corte, tendo, a última,


sido efetivada em 1/2/2019, após atendimento à decisão do Ministro Presidente do STF,
proferida em 31/1/2019, para suspender o andamento da Ação Penal 62-05.2018.6.25.0002,
em relação ao réu reclamante e revogou as medidas cautelares impostas com a determinação
para retirada imediata da sua tornozeleira eletrônica.

Em 5/2/2019, foi interposto pedido de extensão pela defesa de Evilázio Riberio


da Cruz, Karina dos Santos e João Henrique Alves dos Santos (corréus do reclamante na ação
penal perante o juízo eleitoral), para que, à luz do art. 580 do CPP, seja determinado o
sobrestamento da ação penal na origem até o julgamento definitivo da reclamação em
espécie.

Em seguida, os autos foram encaminhados à Procuradoria-Geral da República


para manifestação sobre o mérito da causa, inclusive, acerca do “pedido de extensão”

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formulado por Evilázio Ribeiro da Cruz, Karina dos Santos Liberal e João Henrique Alves
dos Santos.

É o relatório.

II

A reclamação não merece ser acolhida, devendo a liminar ser cassada.

O reclamante aduz que o juízo eleitoral, ora reclamado, não é competente para
processar e julgar a ação penal a qual responde pelos fatos denunciados pelo Ministério
Público Eleitoral, consistentes na inserção de declarações falsas em dezenas de documentos
destinados à prestação de contas eleitorais, com a finalidade de apresentá-los ao Tribunal
Regional Eleitoral de Sergipe para fins eleitoral.

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Segundo a denúncia, o reclamante e os demais corréus teriam procurado dezenas
de pessoas, geralmente conhecidas, entregando-lhes dinheiro e convencendo-as a promover
depósitos bancários em favor do candidato eleito.

Dessa forma, foram realizadas 86 falsas doações eleitorais, no valor individual de


R$ 1.050,00, após o primeiro turno das eleições de 2018 (18, 19, 24, 25, 25 e 29 de outubro),
caracterizando os tipos penais denunciados: art. 350 e 353, ambos do Código Eleitoral,
ressaltando a absorção do primeiro crime sobre o segundo, bem assim o art. 2º da Lei nº
12.850/2013.

Em que pese a denúncia ter sido apresentada em 19/12/2018, após a diplomação


do congressista (17/12/2018), os fatos ocorreram antes do mandato parlamentar federal do
reclamante e sequer configuram ato vinculado ao exercício deste mandato, tal qual defende o
reclamante.

Houve mudança da jurisprudência sobre foro por prerrogativa de função no


Supremo Tribunal Federal. Por isso, é necessário verificar, preliminarmente, o foro
competente para processar a denúncia interposta em desfavor do parlamentar.

Ao resolver a Questão de Ordem na Ação Penal 937, acompanhando o voto do


Relator, Ministro Roberto Barroso, em julgamento paradigmático concluído em 3 de maio de
2018, a Suprema Corte decidiu ser competente para os crimes atribuídos a deputados federais

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e senadores da República durante o mandato parlamentar e que estejam, de qualquer forma,


vinculados àquela função pública. Assim, as demais infrações penais que não se enquadrem
nesta situação devem ser processadas e julgadas em primeira instância.

No caso, a imputação não se relaciona com as funções exercidas pelo


parlamentar. Assim, não subsiste o foro por prerrogativa de função no Supremo Tribunal
Federal.

Desde então, o Supremo Tribunal Federal tem decidido que procedimentos


criminais instaurados para apurar a conduta de membros do Congresso Nacional por
falsidade ideológica eleitoral (art. 350 do Código Eleitoral), que teria sido praticada durante o
mandato parlamentar (o que não foi, no presente caso), não guarda relação com o mandato,
por se tratar de fatos estranhos às funções inerentes ao ofício parlamentar.

No caso, o crime sequer foi praticado pelo reclamante na condição de


parlamentar federal, pois não exercia cargo eletivo na Câmara dos Deputados.

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Nesse sentido, transcrevo a seguinte ementa extraída do julgamento do Agravo
Regimental no Inquérito 4399/DF:

DELITO DE FALSIDADE IDEOLÓGICA ELEITORAL. COMPETÊNCIA PARA


INVESTIGAÇÃO E JULGAMENTO. QUESTÃO DE ORDEM NA AP 937/RJ.
REINTERPRETAÇÃO CONSTITUCIONAL DO ALCANCE DA PRERROGATIVA
DE FORO. AUSÊNCIA DE CONEXÃO ENTRE O DELITO TIPIFICADO NO ART.
350 DO CÓDIGO ELEITORAL E O EXERCÍCIO DO MANDATO DO
PARLAMENTAR FEDERAL. DECLINAÇÃO DA COMPETÊNCIA DO SUPREMO
TRIBUNAL FEDERAL. REMESSA À JUSTIÇA ELEITORAL. AGRAVO
REGIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO.
I – Diante da reinterpretação constitucional do alcance do disposto no art. 102, I, b, da
Constituição, é de competência da Justiça Eleitoral o trâmite de inquérito e processo
criminal relativo ao delito de falsidade ideológica eleitoral (art. 350 do Código Eleitoral).
II – Não há falar em conexão entre o mencionado delito e o exercício do mandato do
parlamentar federal.
III – Determinação de remessa dos autos ao Tribunal Regional Eleitoral do Estado do
Rio Grande do Norte, para que distribua os autos ao juízo eleitoral competente para o
processamento do feito.

Da mesma forma: INQ 3598/AC, Rel. Min. Celso de Mello; INQ 4026/DF, Rel.
Min. Ricardo Lewandowski; INQ 4214/SC, Rel. Min. Ricardo Lewandowski; INQ 4395/DF,
Rel. Min. Dias Toffoli; INQ 4396/DF, Rel. Min. Celso de Mello; INQ 4409/DF, Rel. Min.
Rosa Weber; INQ 4453/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, entre outros.

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Os fatos em análise são totalmente estranhos ao exercício do mandato, pois


envolvem situações exclusivamente de cunho eleitoral, associadas apenas ao pleito eletivo de
2018.

Assim, não subsiste o foro por prerrogativa de função do Supremo Tribunal


Federal para este caso, afastando-se, consequentemente, a atribuição da Procuradora-Geral da
República para atuar no feito.

Mostra-se escorreita a competência do magistrado eleitoral para processar e


julgar a ação penal n. 62-05.2018.6.25.0002, em desfavor do reclamado e demais corréus,
devendo ser retomado o curso da referida ação penal para o prosseguimento da instrução
probatória. Eventuais recursos em desfavor dos atos decisórios proferidos pelo reclamado
deverão ser interpostos no juízo recursal competente, não se valendo a presente reclamação
como supedâneo recursal.

Ademais, é de se ressaltar que refoge ao exame da presente reclamação, a análise

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acerca das medidas cautelares aplicadas pelo magistrado eleitoral, em substituição da
custódia preventiva, bem assim os desdobramentos das cautelares e eventual cerceamento da
liberdade de locomoção do reclamante, uma vez que são objeto de análise própria nos autos
do Habeas Corpus nº 167.174.

Destaco, inclusive, consoante se confere do andamento processual do aludido


writ, no sítio eletrônico do STF, que no dia 1º de março de 2019, o Ministro Relaor deferiu o
pedido de extensão da medida liminar obtida nos autos do Habeas Corpus nº 167.174,
anteriormente concedida ao paciente e congressista José Valdevan de Jesus Santos, para
determinar ao Juízo processante, com apoio no art. 319 do CPP, que substitua a prisão
preventiva do ora requerente, Evilázio Ribeiro da Cruz, por medidas cautelares diversas da
prisão que julgar pertinentes.

Na oportunidade, determinou também a intimação dos demais corréus Karina dos


Santos Liberal e João Henrique Alves dos Santos, para que apresentassem nos aludidos autos,
em 10 dias, cópia da decisão que lhes decretou a prisão preventiva, para análise do pedido,
quanto a eles, acerca da plausibilidade jurídica do pedido de extensão.

Por último, registro que após a concessão da liminar na presente reclamação, com
a suspensão da ação penal na origem e dos desdobramentos cautelares que implicassem
cerceamento à liberdade de locomoção do reclamante, Evilázio Ribeiro da Cruz, Karina dos

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Santos Liberal e João Henrique Alves dos Santos apresentaram pedido de extensão da
reclamação em seu favor.

Consideradas as premissas de que a decisão liminar deve ser cassada, diante da


competência do juízo reclamado, em consonância com o entendimento atual do Supremo
Tribunal Federal, requer-se a prejudicialidade da análise dos respectivos pedidos de extensão.

III

Pelo exposto, requeiro:

i) a cassação da liminar para que se dê prosseguimento ao regular andamento da


ação penal n. 62-05.2018.6.25.0002 e todos os desdobramentos cautelares, modulados pela
nobre relatoria nos autos do Habeas Corpus n. 167.174;

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ii) a improcedência desta Reclamação e;

iii) o indeferimento do pedido de extensão em favor de Evilázio Ribeiro da Cruz


e outros.

Brasília, 18 de março de 2019.

Raquel Elias Ferreira Dodge


Procuradora-Geral da República

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