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ORAÇÃO E TEOLOGIA1

1. Teologia é oração, oração é teologia

Quem desejar contribuir de maneira apreciável para o desenvolvimento da teologia terá de trabalhar
duramente. A teologia requer investigação em todos os campos que levem a um conhecimento melhor de
Deus e dos homens. Exige método científico. O teólogo deve conhecer as línguas e o meio cultural em
que se expressa a Bíblia e em que a Tradição foi-se desenvolvendo. O teólogo profundo possui o dom da
intuição e pronunciada capacidade de síntese. Além disso, deve conhecer bem a história, para poder
avaliar o significado da doutrina da Igreja e da vida cristã nas diversas épocas.
Fica, portanto, bem assentado que a piedade por si só não basta para alguém ser um bom
especialista em teologia. Isto posto, não podemos deixar de afirmar, com toda insistência, que a oração é o
coração da teologia. Sem uma sólida vida de oração o teólogo não se acha sintonizado no comprimento de
onda necessário para levar a cabo sua tarefa. Somente pela oração encontrar-se-á com o Deus vivo.
Somente a oração pode conferir ao seu estudo a qualidade de um ato de fé.
A fé é aceitação exultante, humilde, agradecida e fervorosa de Deus, que se revela a si mesmo. O
ato fundamental da fé, como o da teologia, consiste em ouvir a Deus, que nos fala e nos manifesta seu
amor por nós e por todos os homens. Na fé conscientizamo-nos de nossa própria unidade diante do único
Deus e Pai.
Fé, teologia e oração exigem amoroso interesse por tudo o que Deus revelou aos homens; o mais
importante, porém, é, em última análise, fixar nossa atenção e nosso espírito no próprio Deus, que se
manifesta aos crentes. Quem analisa a Palavra de Deus e estuda a história da salvação sem se voltar
pessoalmente para Deus perde o sentido da totalidade. Separado da fonte da vida, tudo fica morto,
inanimado. Somente quem adora a Deus com todo o seu coração, louva-o e lhe dá graças, experimentará
em si mesmo a palavra divina como Espírito e vida. Para o homem que reza, as verdades teológicas
transformam-se espontaneamente em exultação e louvor de Deus.
No ato fundamental de ouvir acha-se necessariamente incluída a disposição para responder a Deus
com todo o nosso ser. A fé dá verdadeiro sentido a toda a nossa existência e transforma aquilo que
fazemos e desejamos em resposta total a Deus. Somente quem estiver disposto a orientar toda a sua vida
para Deus poderá chegar a ser autêntico ouvinte da palavra divina e teólogo.
Não é impossível que muitos cristãos desprovidos por completo de instrução teológica, mas cujos
atos se traduzem em progresso constante no conhecimento de Deus, superem o teólogo no ponto mais
decisivo. Em tal caso, este não deve envergonhar-se de recorrer a eles em busca de uma visão da
totalidade e para aprender a adorar a Deus em espírito e verdade.
A revelação divina é mensagem de salvação para todos os homens. O próprio Deus vem a nós como
salvação. Por esta razão, a teologia é, ao mesmo tempo, um voltar-se para Deus e para os homens.
Dedicar-se à teologia só é possível numa atitude de amor ardente aos homens, de comunhão com o amor
redentor e salvador de Deus.
A história da salvação centra-se e alcança sua plenitude na vinda de Jesus, na sua morte e
ressurreição. Isso não significa, de maneira alguma, que a teologia, a fé e a oração estejam orientadas
exclusivamente para o passado. A Palavra de Deus é sempre ativa e fecunda, é luz e força. Deus está
presente em todas as suas obras. Em tudo o que faz revela-nos sua palavra. Por isso a teologia prossegue
ouvindo a Deus na continuidade da criação e na história da humanidade.
A obra-prima de Deus criador e revelador é o homem. Isso faz que a teologia considere com o
máximo respeito a pessoa humana, criada à imagem e semelhança de Deus. A alegria, a bondade, o amor
e a paz que se refletem no rosto dos homens virtuosos são para o teólogo piedoso Palavra de Deus, um
dom, motivo de louvor.

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HÄRING, Bernard. Oração: integração da fé e da vida. Paulinas: São Paulo, 1978, p. 171-190.
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O teólogo que reza jamais perde de vista que, na mesma medida que é chamado a ser mestre de seus
semelhantes, pode aprender deles. Poderá tornar-se colaborador e co-revelador do amor de Deus pelos
homens, unicamente se ele mesmo for capaz de encarnar para eles a mensagem divina de paz e de
bondade.
Sem oração e sem fé profunda é possível subscrever e declarar fórmulas de fé, mas somente ao
homem que ora é concedido o conhecimento de Deus vivo e o estar alerta ao apelo divino na hora
presente. Onde falta o espírito de oração é impossível qualquer contato íntimo com Deus, contato sem o
qual não é possível alcançar um conhecimento vital da presença divina na história da salvação.
Santo Tomás de Aquino insiste na harmonia íntima com o bom e o verdadeiro como pressuposto
fundamental para a contemplação, a teologia e o ensinamento da doutrina evangélica. Se amarmos a Deus
de todo o coração e com Deus o nosso próximo, somos aceitos na qualidade de colaboradores da
revelação contínua do amor divino na História da salvação. Deus nos toma a sério e nos faz assim
participar no seu plano salvífico. A familiaridade íntima com o Pai de todos os homens e a participação
entusiasta no acontecimento salvador dão profundidade e veracidade à teologia e ao teólogo. A atitude
vigilante do teólogo a respeito da presença de Deus na vida humana torna-o sempre mais consciente de
que o Senhor da história percorre conosco o caminho.
À vocação do teólogo pertence contribuir, com sua atitude interna, seu espírito de adoração e seu
amor ardente pelos homens, para a realização plena do amor de Deus e para a investigação dos sinais de
sua presença no mundo. Para tanto deverá fomentar o diálogo com Deus e com seus semelhantes, diálogo
cujo primeiro modelo é sempre Jesus. Jesus vive inteiramente com o Pai. Porém nesse mesmo amor do
Pai orienta-se por completo para os homens. Sua humanidade perfeita revela a presença do Pai. O teólogo
abrir-se-á a este mistério da presença de Deus em Jesus Cristo, somente se ele tomar parte ativa na
história presente da salvação. Ao viver também ele o amor de Deus que se manifesta hoje e aqui aos
homens, adquire profunda inteligência da história da salvação no passado e a esperança e a visão mais
viva da experiência total da presença de Deus.
A presença de Deus é chamamento unitário, é convocação. Quando Deus chama os homens, reúne-
os no seu amor, numa verdadeira fraternidade. O nome de Deus Pai é honrado quando entre nós reina o
respeito, a justiça e o amor mútuos. Essa comunhão entre os homens é a glória de Deus na terra.
Este último exprime-se também na amizade dos teólogos entre si e com seus estudantes. O teólogo
que se isola é uma contradição em si mesmo. Quem por vocação íntima se consagra à teologia encontra
sua alegria na Palavra de Deus e em comunicar essa alegria aos outros. Recebe tanto quanto dá. Uma
comunidade teológica sã é inteiramente inconcebível se não for ao mesmo tempo comunidade de oração.
Sua unidade exprime-se na fé e no amor recíproco. Semelhante unidade traduz-se em louvor de Deus, o
qual, por sua vez, fortalece a unidade e torna mais profunda a amizade mútua.
Quando os teólogos acreditam poder dizer por si mesmos algo de sensato sobre Deus e cultivar a
teologia sem a consciência viva da presença do Espírito Santo, a teologia degenera então, por força, numa
“ortodoxia heterodoxa”. Se alguém deve esforçar-se de maneira especial por perceber a presença benigna
de Deus, este há de ser sobretudo o teólogo. E isso não é possível sem dedicar tempo à oração, sem
expressar sua confiança humilde na graça do Espírito Santo.
Quem se abre com fervor ao mistério de Deus Todo-Poderoso experimenta o que experimentou o
profeta Isaías: “Sou um homem de lábios impuros e habito no meio de um povo de lábios impuros” (Is
6,5). O teólogo suplicará sem cessar em sua oração: “Envia-nos teu Espírito para que nos purifique”. Essa
petição faz parte do Pai-nosso nos manuscritos mais antigos (Lc 11,2). A teologia é trabalho tanto mais
imperfeito e antipático, quanto menos orarmos para que nos seja concedida a graça purificadora do
Espírito Santo. Somente os puros de coração verão a Deus (cf. Mt 5,8).
Cristo veio para nos batizar com o Espírito Santo e com o fogo. O Espírito Santo confere força,
entusiasmo e pureza ao trabalho do teólogo. Uma visão e mediação teológica não são possíveis sem a
experiência de Moisés, da sarça ardente. Ao perceber a Deus no fogo vivo e purificador, Moisés cobriu o
rosto e não teve coragem para olhar a Deus face a face (Ex 3,5-6).
O profeta Isaías não só experimentou a miséria de sua própria natureza pecadora e a de seu povo,
mas também a força purificadora do temor de Deus: “Então voou para mim um dos serafins, o qual trazia
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na mão uma brasa viva, que tinha tomado do altar com uma tenaz. Tocou a minha boca e disse: Eis que
esta brasa tocou os teus lábios, e será tirada a tua iniquidade e expiado o teu pecado” (Is 6,6-7 ).
O caminho para a terra prometida do conhecimento divino passa pelo deserto do fogo purificador de
Deus. Esta experiência é o selo que autentica o caráter de embaixador e pregoeiro da verdade salvadora:
“E ouvi a voz de Deus: Quem enviarei? E eu respondi: Eis-me aqui, envia-me” (Is 6,8).
Mas um teólogo não passa, com toda sua ciência, de um ignorante no conhecimento de Deus ao lado
de um cristão que tenha sido batizado com o Espírito Santo e o fogo, ainda que este não tenha podido
adquirir toda a ciência daquele. O teólogo que não orar constantemente, pedindo: “Senhor, purifica-me o
coração”, perderá pouco a pouco não só o sentido do pecado, mas também o sentido de Deus. A vocação
do teólogo é total e inteiramente una com a vocação à santidade de vida, em comum com todos os outros
homens. A fé cristã não é um sistema de conceitos abstratos nem uma filosofia, muito menos uma
ideologia. O estudo e o ensino da teologia são acontecimento salvador, experiência da presença fecunda,
salvadora e santificadora de Deus. São encontro com Deus, que nos chama a seu serviço.
Quando o instrumento da teologia, vale dizer, a ciência e a erudição de especialista, cai nas mãos de
homens que não rezam, a teologia degenera em ideologia e torna-se uma disciplina alienante. Onde, pelo
contrário, professores e estudantes de teologia rezam juntos, e onde a teologia mesma é percebida por eles
como abertura à presença purificadora de Deus e é acolhida como missão salvadora para o mundo, toda
cegueira e alienação desaparecerão progressivamente.
Ainda continua a questão levantada por santo Anselmo se a teologia é uma procura da fé para tratar
de compreender essa mesma fé, ou uma procura da inteligência para chegar à fé. Na realidade, é sempre
ambas as coisas ao mesmo tempo. Para o homem que reza a teologia é sempre um magnífico ato de fé,
que, por sua vez, atrai o dom do conhecimento cada vez mais íntimo e real do conhecimento de Deus e de
seu plano salvífico. Este não exclui a direção oposta, mas sim a inclui.
A teologia é um esforço contínuo por trazer todas as experiências humanas, arrazoados e reflexões
em comum, à visão unitária da fé. Os dons do Espírito Santo, de sabedoria e de entendimento, juntamente
com o temor do Senhor, dão ao teólogo a familiaridade crescente com a verdade de fé. Fazem com que
veja todas as experiências e arrazoados humanos numa nova luz. Tratando-se, porém, de dom gratuito do
Espírito Santo, o teólogo há de lembrar constantemente que só é concedido aos que oram de coração puro,
aos que o pedem e rendem graças.
Como toda a vida cristã, também a teologia tem seu centro na Eucaristia. No louvor de Deus
experimentamos neste sacramento o caráter gratuito de nossa existência, de nossa salvação. O cristão
eucarístico considera finalmente toda experiência humana e competência adquiridas como dons divinos;
são partes do carisma dos dons particulares do Espírito Santo.

Louvamos-te, Palavra viva do Pai, por todos os homens e mulheres aos quais confiaste o
dom e a tarefa da teologia. Rendemos-te graças por nos teres favorecido com teólogos
como Paulo, o Apóstolo dos gentios, e João, o discípulo amado. Sua mensagem é ainda
hoje, depois de dois mil anos, testemunho de vida contigo, hino de louvor à tua sabedoria
e amor. Quantas vezes sofreu a Igreja onde seus pastores não eram nem santos nem
teólogos. E não sofre menos quando seus teólogos demonstram não possuírem nem zelo
pastoral nem fé na sua vocação à santidade.
Dá à tua Igreja pastores, teólogos e fiéis de toda condição social que celebrem juntos os
dons da fé, que aprendam uns dos outros a progredirem no conhecimento de teu nome.
Concede-nos a disposição para todos aprendermos dos pequenos e humildes aos quais te
manifestas.

2. Conhecimento de Deus e dos homens

A fé é vida, conhecimento existencial e amoroso de Deus. Deus revela-se a si mesmo, manifesta seu
amor e seu nome, sempre simultaneamente com manifestação de seu amor aos homens. Por esta razão, o
conhecimento de Deus e o conhecimento dos homens andam de mãos dadas para o crente.
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Uma fé viva é resposta real à revelação que Deus faz de si mesmo: “A vida eterna é esta: que eles te
conheçam a ti, Deus único e verdadeiro e aquele que enviaste, Jesus Cristo” (Jo 17,3). Jesus Cristo,
verdadeiro Deus e verdadeiro homem, é o caminho e a verdade; ele nos leva ao conhecimento do Pai, e à
luz deste, ao conhecimento dos homens. É ele que nos revela o Pai onipotente e nos manifesta nossa
vocação de filhos do único Deus e Pai.
Na fé, Deus concede altíssimos e inauditos dons aos seus filhos, novo entendimento e nova força;
dons que o homem presunçoso não está em condições de receber. “Naquele momento, ele exultou de
alegria sob a ação do Espírito Santo e disse: Eu te louvo, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste
estas coisas aos sábios e aos entendidos, e as revelaste aos pequeninos. Sim, Pai, porque assim foi do teu
agrado. Tudo me foi entregue por meu Pai e ninguém conhece quem é o Filho senão o Pai, e quem é o Pai
senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar” (Lc 10,21-22).
Deus deseja revelar-se a todos os homens em seu Filho e na virtude do Espírito Santo. Se o homem
presunçoso e enfatuado não o conhece, a culpa não é de Deus. É a própria arrogância que faz o homem ser
incapaz de descobrir a Deus em sua revelação pessoal. Em atenção ao seu servo e Filho humilde, Deus
nos concede a graça de confessar humildemente nossa inclinação ao pecado, de suplicá-lo cheios de
confiança e de dar-lhe graças por todo passo que damos no conhecimento de seu amor e de seu plano
salvífico.
Aos homens aos quais Jesus Cristo ainda não foi vitalmente anunciado, e, portanto, ignoram seu
nome, Deus apresenta-lhes muitas vezes sua imagem em outros homens que conhecem, amam e praticam
o que é verdadeiro. Esses homens são caminho de salvação. Os que conhecem Cristo em sua fé viva e
pela experiência de seu amor são instrumentos eleitos por Deus para dar a conhecer a todos o seu nome.
Na medida em que permitirmos que Deus nos modele à sua imagem e semelhança somos parte viva
de sua revelação pessoal e estímulos de fé para muitos. Se vivermos a fé, amorosamente conscientes da
graça imerecida que Deus nos oferece, tornamo-nos uns para os outros guias para o conhecimento mais
vivo de Deus e de seu enviado Jesus Cristo.
Deste conhecimento deriva para o teólogo a necessidade de se empenhar constantemente por
sintetizar numa visão ampla e única a revelação de Deus em Cristo e o conhecimento dos homens que é
fruto de uma experiência e de um modo de perceber comuns. Neste esforço, aceitará com gratidão o
auxílio das ciências humanas, que tanto lhe podem dizer sobre os sofrimentos e alegrias, esperanças e
temores dos homens de hoje. O teólogo, porém, progride muito especialmente no discernimento dos
espíritos e alcança inteligência e conhecimento mais profundos de seus semelhantes no diálogo humilde
de fé, no louvor comum do único Pai e do único Senhor Jesus Cristo.
A preocupação fundamental da teologia é sempre a procura de síntese vital e fecunda entre o amor a
Deus e o amor ao próximo, e isso na hora presente, com aquilo que ela nos oferece na ordem da salvação.
Essa síntese, entretanto, é impossível sem o espírito de oração. Uma síntese meramente intelectual,
carente de toda experiência de vida e de adoração a Deus, só pode desembocar em ilusões, abstrações,
ideologia e alienação. A oração, como forma de adorar a Deus em espírito e verdade como nos ensinou
Jesus Cristo, é o núcleo central da síntese entre o conhecimento de Deus e dos homens, entre o amor de
Deus e o amor do próximo. A meta de todo a teologia aparece clara quando rezamos, porque então é-nos
oferecida a luz e a virtude do Espírito Santo, esse amor de Deus que de tal forma nos une ao Pai de toda a
humanidade e a Jesus Cristo, o único salvador, que com o Pai e o Filho, e pelo Espírito Santo, capacita-
nos também para amar todos os homens.
Uma teologia transformada em mera arena de manobras intelectuais, ou ainda num campo de
batalha entre escolas e tendências diversas, perdeu o seu centro; seu espírito e seu coração já não
sintonizam com a onda da verdade revelada. Semelhante teologia não pode deixar de desembocar numa
perigosa crise de fé. É o teólogo que se permite cultivar sua “teologia” pode muito bem ter já perdido a fé,
enquanto continua a lutar fanaticamente por verdades marginais ou por um catálogo, o mais completo
possível, de fórmulas. Uma teologia ignorante da presença salvadora de Deus é o cúmulo da alienação e
conduz, inevitavelmente, a uma espécie de “ortodoxia heterodoxa”. Os que não confiam em Deus, no
espírito de gratidão e humildade, serão sempre arbitrários na escolha de seus argumentos e objetivos, e
lutarão por aquelas coisas que não submetem à crítica seu próprio estilo de vida. Tal teologia talvez possa
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descobrir-nos boa série de ideias e verdades parciais; no fundo, porém, constitui um retumbante fracasso,
por não nos levar ao conhecimento amoroso de Deus e dos homens.

Ó Deus, verdade eterna, plenitude de toda beleza. Teu amor é tão grande que quiseste dar-
nos a possibilidade de celebrar contigo tua bem-aventurança. Manifestas-te em todas as
tuas obras. Louvamos-te por nos teres revelado a altura e a profundidade, a largara e
comprimento de teu amor em Jesus Cristo, teu Filho e servo, e por te revelares a ti mesmo,
sem cessar, na graça do Espírito Santo.
Pai, une-nos em nosso esforço por alcançar maior conhecimento de teu amor e de teu
desígnio de salvação. Une-nos em teu amor e em tua verdade, a fim de que cresçamos
juntos no conhecimento e experiência de teu nome, e para que sempre com mais fervor te
rendamos graças e te louvemos por tua bondade.
Senhor, faze-nos santos, faze-nos um, dá-nos o Espírito de teu servo Jesus Cristo para que
nosso coração e nosso espírito se abram à tua revelação e possamos comunicar a nossos
semelhantes esse conhecimento de teu nome que respira amor.

3. Como a teologia se torna oração

Sem negar aos teólogos profissionais o direito a existir, podemos afirmar que, de certo modo, todo
homem que reza deveras é um teólogo, como todo teólogo autêntico é homem de oração. A oração aspira
constantemente ao conhecimento mais pleno de Deus e de seu enviado Jesus Cristo. E aquele que
progride nesse conhecimento de Deus encontrará por sua vez mais alegria na oração.
Nos últimos anos tem-se podido ouvir sempre com mais frequência a desculpa: “Eu não preciso
dedicar tempo especial à oração; toda a minha vida é oração”. E parece também que alguns teólogos
pensam: “Toda a minha teologia é oração. Por que deveria ter tempo determinado para a oração?” É
verdade que na intenção de Deus toda teologia e vida cristã é oração. Mentimos, porém, quando
afirmamos, sem mais, que tal já é o caso de per si. Quais pecadores que somos, estamos ainda muito longe
de ter realizado plenamente o ideal. Somente com Jesus, que é o caminho e que nos ensina a conservar-
nos sempre no caminho, poderemos encontrar a luz. O teólogo deverá ter o máximo cuidado para não cair
na autossuficiência, como os fariseus e escribas. Não deve poupar esforços para progredir no espírito de
oração.
Todos deveríamos pensar como pensava o Apóstolo dos gentios: “Não que eu já o tenha alcançado,
ou que já seja perfeito, mas vou prosseguindo para ver se o alcanço, pois que também já fui alcançado por
Cristo Jesus. Irmãos, eu não julgo que eu mesmo o tenha alcançado, mas uma coisa faço: esquecendo-me
do que fica para trás e avançando para o que está adiante, prossigo para o alvo, para o prêmio da vocação
do alto, que vem de Deus em Cristo Jesus” (Fl 3,12-14).
Devemos ajudar-nos a aprofundar nessa consciência de nossa condição de caminheiros. Cada um de
nós necessita de conversão constante, da mesma maneira que, como comunidade, precisamos de
renovação incessante. Oração e vida, fé e amor, progridem na comunidade dos fiéis que se ajudam uns aos
outros a progredirem no espírito de oração.
A comunidade dos teólogos, professores e estudantes, e todo aquele que trabalha por alcançar
conhecimento mais profundo de Deus e de seu ungido, constituem todos um corpo de discípulos de Cristo
e por isso deveriam formar uma comunidade exemplar de fé. Estudar teologia juntos significa agrupar-se
em torno do Mestre divino e tornar-se amigos e irmãos uns dos outros.
Não deixa de ser um grande êxito que na maioria das escolas e seminários de teologia, professores e
teólogos celebrem hoje juntos a Eucaristia. Em muitos lugares celebram todos em comum o
acontecimento da reconciliação, examinam juntos a consciência e unem-se para pedir o perdão de Deus e
para louvar sua bondade. Isso se verifica também em cursos de teologia para leigos. É também um sinal
esperançoso o fato de muitos professores e estudantes se reunirem fora das horas de aula para meditarem
em comum. Juntos ouvem a Palavra de Deus num ambiente distinto do de uma aula de teologia. No seu
diálogo de fé e no ato espontâneo de louvor chegam a conhecer e a perceber que o Espírito Santo está em
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todos eles, que age por todos e para todos. Semelhante comunidade aprende a oração da vigilância: Como
responderemos à Palavra de Deus em nossa vida diária?
Formar uma comunidade de oração como complemento do estudo de teologia não basta, porém. A
teologia deve modelar-se e tomar a forma de ato de adoração a Deus no amor fraterno. O sentido mais
íntimo do estudo da teologia outro não é senão o de ajudar-nos a conhecer a Deus e a amar aos nossos
semelhantes com amor visto a essa luz.
Por esta razão, toda aula de teologia deveria começar por uma oração, e não precisamente com a
recitação de uma prece já formulada. Essa oração deverá brotar como fruto espontâneo de uma meditação
preparatória da matéria de estudo. Uma oração espontânea põe-nos muito mais profundamente na
presença de Deus do que a repetição, ainda que igualmente fervorosa, de uma fórmula. A aula concluir-se-
á também com uma oração que transforme a verdade de fé, que acabamos de contemplar cientificamente,
em motivo expresso de louvor, ação de graças e petição a Deus. Por isso não é necessário que seja sempre
o professor a dizê-la. Todos devem participar no esforço criador dessa oração.
Muitos de nós não esqueceremos jamais uma aula que nos ministrou Karl Adam, em certa ocasião,
sobre Jesus Cristo. Num momento de emoção interna teve que interromper a explicação; viu-se incapaz
de articular uma só palavra. Esse súbito silêncio forçado foi para nós mais eloquente do que muitas lições
de professores que jamais deram testemunho pessoal de sua fé e de seu entusiasmo por Jesus Cristo.
Quando falamos de fé e teologia nunca devemos esquecer o aspecto pastoral, pois teologia é serviço com
vistas à salvação. É essencialmente impossível progredir no conhecimento de Deus e dos homens sem
progredir ao mesmo tempo no zelo pela salvação de todos os homens. A teologia é vital como síntese
entre oração e zelo pela honra de Deus e salvação do homem.
O grau com que os teólogos, quer sejam professores quer estudantes, podem contribuir para esta
síntese depende do grau de integração entre fé e vida que tiverem alcançado em si mesmos. A teologia os
tornará sempre mais livres e disponíveis a respeito de Deus, se dela tratarem com este propósito. Torná-
los-á também mais sensíveis aos anseios da criação por participar na liberdade e na alegria dos filhos de
Deus (cf. Rm 8,21-23).

Suplicamos-te, Pai de toda bondade, que concedas à tua Igreja teólogos que sejam
discípulos humildes de teu servo Jesus Cristo. Que sua primeira aspiração seja pedir-te:
“Senhor, ensina-nos a orar”.
Rendemos-te graças por todos os santos que foram autênticos teólogos e por todos os
teólogos que são, a um só tempo, santos. Rendemos-te graças também pelos pastores de
almas cuja aspiração máxima é progredir no conhecimento de teu amor e na união
contigo, para melhor compreenderem a natureza e a vocação de seus semelhantes. Envia-
nos pastores capazes de orar com o povo e de aprenderem a orar uns com os outros.
Ajuda-nos a contemplar o mistério de tua encarnação de forma que nossa própria vida e
nossas palavras sejam testemunho dos frutos do Espírito: amor, exultação, paz, bondade.
Pai bondosíssimo, tudo te pedimos em nome de Jesus Cristo: que cresçamos no
conhecimento de teu nome e do nome de teu Filho amado; que cresçamos também em teu
amor e no amor de nossos semelhantes. Dá-nos aquela alegria na fé que é o coração da
teologia e do anúncio da Boa-nova.

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