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Disciplina de Português

Profª: Helena Maria Coutinho


Capa da primeira edição das Rimas de
Camões, 1595
Página da edição de
1616 das Rimas, com
o início do poema
Cabellos d'ouro...
Rimas é a designação da obra lírica de Camões, à semelhança da que
sempre se deu à poesia de Petrarca. Nela confluem três correntes
líricas: a da poesia peninsular, constituída por vilancetes, cantigas,
esparsas, endechas, cartas, trovas e outras longas composições (são
poemas em redondilha); a corrente italiana, realizada em sonetos,
canções, composições em oitava-rima e sextinas (são poemas da
medida nova ou decassílabos); a corrente greco-latina é composta por
éclogas e elegias. Há ainda as sátiras e as cartas moldadas em metro
tradicional.
Em vida, Camões viu apenas publicadas uma ode a apresentar Garcia de
Orta em Colóquios dos Simples e Drogas (1563), o soneto "Vós, ninfas
da gangética espessura ", a elegia "Depois que Magalhães teve tecida ",
ambos dedicados a D. Leonis Pereira, insertos no livro de Magalhães
Gândavo: História da Província de Santa Cruz (1576). Diogo de Couto
informa-nos na Década VIII que encontrou Camões em Moçambique
"vivendo de amigos", trabalhando em "suas Lusíadas" e no seu Parnaso
- "livro de muita doutrina e filosofia" que lhe foi roubado e "nunca mais
- refere o historiador - dei fé dele". O desaparecimento do Parnaso deu
lugar à incorporação de poesias em Rimas que certamente não lhe
pertencem. A primeira edição data de 1595, feita por F. Rodrigues Lobo
Soropita.
Manifestam-se no lirismo camoniano dois tipos de estilo:
o estilo engenhoso, na tradição do Cancioneiro Geral de Garcia de Resende,
presente em quase todas as redondilhas e em alguns sonetos, que se fundamenta na
coisificação das palavras e das realidades sensíveis e manifesta subtileza e
imaginação;
o estilo clássico em que as palavras pretendem captar uma realidade externa ou
interna, com existência independente das mesmas.

A temática é variada, podendo afirmar-se que gravita à volta de três eixos: o galanteio
amoroso, mais ou menos circunstancial, os temas psicológicos quase sempre analisando a
paixão amorosa e os temas filosóficos, como a desarmonia entre o Merecimento e o
Destino, o direito à felicidade e a impossibilidade de a alcançar, a justiça aparente e a
justiça transcendente.

São temas comuns aos bons escritores renascentistas, mas o tom em que Camões os trata
é pessoal, nele transparecendo a aliança entre a meditação e a experiência.
Delimitação Cronológica

A lírica camoniana insere-se na chamada época clássica da


literatura portuguesa (1526, regresso de Sá de Miranda da sua
viagem a Itália – inícios do século XIX).
Contexto político-social
Dentro do contexto histórico clássico, devem salientar-se alguns aspectos:

• O período do Renascimento, que introduz a literatura clássica na Europa, é marcado


por alterações políticas e sociais muito significativas.

• De forma geral, a sociedade agrária feudal foi substituída, progressivamente, por uma
sociedade mercantil moderna, substituindo-se a burguesia à nobreza como grupo
impulsionador da actividade económica.

• Assistiu-se a uma série de progressos técnicos e científicos (invenção da Imprensa,


por exemplo). O conhecimento científico foi impulsionado pelos Descobrimentos
portugueses e espanhóis, pelo contacto com outras civilizações.

• Os novos conhecimentos estendiam a curiosidade e a intervenção do Homem para


fora dos limites transmitidos pela cultura escolástica medieval e pela tradição religiosa.
O século XVI representou uma grande viragem no
pensamento humano.

Há três conceitos que caracterizam esta mudança:


Humanismo
Renascimento
Classicismo
Humanismo

Até ao século XVI, a Humanidade vivia na chamada Idade Média, regulada pelas
ideias do teocentrismo, quer dizer, Deus era o centro do pensamento humano.
Surge, então, o Humanismo que, como o próprio nome indica, coloca o Homem
no centro das atenções, dando lugar ao antropocentrismo, que se opõe ao
teocentrismo.

É aqui que reside a nova afirmação do pensamento humano, pois o Humanismo


acredita nas capacidades do Homem, procurando conhecer cada vez mais e
melhor o próprio Homem e tudo o que o rodeia. Não se trata, no entanto, de uma
rejeição de Deus, mas sim de uma valorização do próprio Homem, reabilitando o
seu conhecimento, as suas experiências, as suas capacidades, o seu espírito. Para
que a dignificação do Homem pudesse ser feita, era necessário incutir na
Humanidade valores diferentes dos que se viviam durante a Idade Média e que a
conduzissem a um caminho mais elevado, mais perfeito.
Renascimento

O termo Renascimento designa o período em que surgiu uma nova


concepção de Homem e de Natureza, assim como um renovado
entusiasmo pela cultura clássica.
Caracteriza-se por um conjunto de ideias que o Homem dos séculos
XV e XVI transportou da cultura greco-latina para as adaptar aos seus
dias. O Homem procurou reabilitar a sua condição, olhando para os
valores adoptados na Antiguidade Clássica, vendo-os como um bom
exemplo para viver e aplicar à sua sociedade. Como sempre
acontece, a nova forma de pensar reflectiu-se em todas as artes,
como a pintura ou a escultura e a literatura não ficou indiferente a
estes conceitos.
Por isso, é que alguns escritores humanistas procuraram nestes
séculos voltar a adoptar formas da literatura da Antiguidade.
Classicismo

Desponta nos meados do século XV, desabrochando em


força a partir do século XVI, embora durante muitos anos
coexistam a arte medieval e a arte clássica.
Introduzem-se novas formas, novas espécies, novos
géneros. Uma vez que a razão impera sobre o sentimento
e porque os valores universais se sobrepõem aos
individuais, o Classicismo abandona o sentimento e a
inspiração.
Este movimento procura, sobretudo, a harmonia, a
simplicidade, o equilíbrio, a precisão, o sentido das
proporções em qualquer realização artística, na literatura
como na música, na pintura como na arquitectura.
Humanismo> Renascimento> Classicismo

O Renascimento é a aceitação definitiva das formas em que a arte e a


história, a literatura e a filosofia greco-latinas se tinham expresso, e a
assimilação do espírito pagão que as animava.
O Humanismo é um movimento cultural em que a par do estudo e
imitação da antiga cultura greco-latina se procurava desenvolver as
capacidades humanas de forma a inverter os papéis até aí existentes,
considerando-se a si mesmo eixo do mundo, dono exclusivo do seu
destino, sujeito apenas às leis da Natureza.
O Classicismo é um movimento estético em que se procura imitar
primeiramente a Itália e depois a Antiguidade, no uso da mitologia, na
criação de certas formas poéticas fixas e na introdução de géneros
literários e das suas regras.
Influência tradicional vs Influência clássica ou renascentista

Em Luís de Camões, a tradição do lirismo peninsular coexistiu com a estética clássica


renascentista e o maneirismo que marcaram o seu tempo. Juntamente com a poesia
de sabor trovadoresco, surge uma poesia cujos modelos formais e temática ("medida
nova") revelam a cultura humanística e clássica do autor, que soube encontrar em
Platão, Petrarca ou Dante um mentor ou um mestre para o caminho que trilhou e
explorou com sabedoria, com entusiasmo e com a paixão do seu temperamento.

Na poesia camoniana são, então, bem visíveis duas influências / correntes distintas:

A influência / corrente tradicional


A influência / corrente clássica
CORRENTE TRADICIONAL
Na poesia de influência tradicional, é evidente o aproveitamento da temática da
poesia trovadoresca e das formas palacianas.

Temas
 Saudade, sofrimento amoroso, a beleza da mulher, o contacto com a natureza, a
donzela que vai à fonte, o ambiente Pastoril, o ambiente
 O ambiente cortesão com as suas "cousas de folgar" e as suas futilidades, o
humor

Verso
Medida velha uso do verso de 5 sílabas métricas (redondilha menor) e de 7
(redondilha maior).

Variedade estrófica
 As formas poéticas mais frequentes são as da poesia palaciana do século anterior:
os vilancetes, as cantigas, as esparsas, as endechas e as trovas.
Cantiga

Verdes são os campos,


De cor de limão:
Assim são os olhos
CANTIGA Do meu coração.
A cantiga constitui uma composição
Campo, que te estendes
medieval galego-portuguesa de tema Com verdura bela;
religioso ou profano, destinada a ser Ovelhas, que nela
cantada. Vosso pasto tendes,
Formalmente, corresponde a uma De ervas vos mantendes
composição poética composta por um mote1 Que traz o Verão,
de quatro ou cinco versos e por uma ou E eu das lembranças
várias glosas2 de oito, nove ou dez versos, Do meu coração.
que repetem no final pelo menos o último
Gados que pasceis
verso do mote. Com contentamento,
Vosso mantimento
Não no entendereis;
Isso que comeis
Não são ervas, não:
São graças dos olhos
Do meu coração..
Esparsa

Os bons vi sempre passar


No mundo graves tormentos;
E, para mais me espantar,
Os maus vi sempre nadar
ESPARSA Em mar de contentamentos.
Trova de cariz triste e melancólico Cuidando alcançar assim
generalizada na Península Ibérica a O bem tão mal ordenado,
partir do século XV que não é Fui mau, mas fui castigado
precedida nem de glosa nem de Assi que só pera mim
mote, constituída por uma única Anda o mundo concertado.
estrofe de redondilha maior, com oito
a dezasseis versos.
Vilancete

Descalça vai pera a fonte


Lianor pela verdura;
Vai fermosa, e não segura.

Leva na cabeça o pote,


VILANCETE O testo nas mãos de prata,
Etimologicamente, vilancete quer dizer Cinta de fina escarlata,
"cantiguinha vilã" e o termo surge pela Sainho de chamalote;
primeira vez no Cancioneiro Geral. Esta Traz a vasquinha de cote,
composição poética nasce de um mote Mais branca que a neve pura.
pequeno (de dois ou três versos), popular Vai fermosa, e não segura.
ou alheio, e desenvolve-se nas voltas.
Distingue-se da cantiga pelo facto de o Descobre a touca a garganta,
mote não ser repetido textualmente e o Cabelos de ouro entrançado,
metro utilizado é o tradicional, de 5 ou 7 Fita de cor de encarnado,
sílabas métricas. Tão linda que o mundo espanta.
Chove nela graça tanta,
Que dá graça à fermosura.
Vai fermosa, e não segura.
Endecha

Aquela cativa
Que me tem cativo,
Porque nela vivo
Já não quer que viva.
Eu nunca vi rosa
Em suaves molhos,
Que para meus olhos
Fosse mais formosa.
(...)
ENDECHA Uma graça viva,
Composição lírica proveniente do Que neles lhe mora,
Para ser senhora
Cancioneiro Geral que exprime De quem é cativa.
sentimentos tristes e plangentes, Pretos os cabelos,
aspecto que, entre nós, nem sempre Onde o povo vão
Perde opinião
foi observado. Constituída por Que os louros são belos.
quadras, caracteriza-se pela utilização (…)
da redondilha menor ou pelo verso de Presença serena
6 sílabas. Que a tormenta amansa;
Nela, enfim, descansa
Toda minha pena.
Esta é a cativa
Que me tem cativo,
E, pois nela vivo,
É força que viva.
Trovas

Que diabo há tão danado


Que não tema a cutilada
Dos fios secos da espada
Do fero Miguel armado?
Pois se tanto um golpe seu
Soa na infernal cadeia,
Do que o demónio arreceia
Como não fugirei eu?
Com razão lhe fugiria,
Se contra ele e contra tudo,
Não tivesse um forte escudo
Só em Vossa Senhoria.
Portanto, Senhor, proveja,
Pois me tem ao remo atado,
Que, antes que seja embarcado,
Eu desembargado seja.
CORRENTE CLÁSSICA OU RENASCENTISTA
Na poesia com influência clássica e renascentista, fruto das novas ideias trazidas, de
Itália, por Sá de Miranda e António Ferreira, verifica-se um alargamento dos temas e a
colocação do ser humano no centro de todas as preocupações.

Temas
O Amor platónico, a saudade, o destino, a beleza suprema, a mudança, o
desconcerto do mundo, o elogio dos heróis, os ensinamentos morais, sociais e
filosóficos, a mulher vista à luz do petrarquismo e do dantismo, a sensualidade, a
experiência da vida.

A nível formal:
Verso
Medida nova - o verso é o da medida nova, com o uso do verso decassílabo
heróico (de acentuação nas 6.ª e 10.ª sílabas) ou sáfico (nas 4.ª, 8.ª e 10.ª), ou
ainda, com o uso (menos frequente) do verso hexassílabo.

Variedade estrófica
As formas poéticas mais frequentes são o soneto, a canção, a sextina, a écloga, a
elegia e a ode.
Dolce stil nuovo (Doce estilo novo)
PETRARQUISMO

O Petrarquismo caracteriza-se por uma retoma da temática amorosa, dos recursos


estilísticos e do vocabulário utilizados por Petrarca.

A poética petrarquista influencia a Europa, transformando-se num exemplo de


perfeição formal e da nova sensibilidade poética.
PETRARQUISMO

A nível temático, o amor é visto como um serviço que transporta o enamorado a um


estado de elevação. O amor pode não só provocar, no jovem apaixonado, o gosto na
dor amorosa, como também conduzi-lo à luta entre a razão e o desejo ou à
perturbação emocional perante a amada. O amor pode ainda provocar uma análise
introspectiva sobretudo sobre os paradoxos do sentimento amoroso, levando o
enamorado a caminhadas melancólicas por entre serras e campos desertos, entre
outros tópicos.

Quanto à forma, Petrarca introduz inovações métricas (hendecassílabo),


principalmente nos sonetos e canções. Para além disso, procura impor, nas suas
poesias, uma linguagem e um estilo simples, mas sem vulgarismo e fingimentos. O
soneto e a canção tinham já sido cultivados na poesia da escola siciliana e no dolce stil
nuovo, mas é Petrarca que projecta essas formas poéticas para um elevado nível de
perfeição.
PETRARQUISMO

Um dos poetas que mais influenciou Camões na sua poesia foi o poeta e
humanista italiano Petrarca.

O petrarquismo é uma atitude tomada pelo poeta perante a mulher amada:


esta é vista como fonte de perfeição moral, despertando nele uma espécie de
amor platónico. A mulher é idealizada, bela, imaculada, perfeita, e faz sofrer
porque está longe, por isso, o poeta desabafa as suas mágoas à solidão da
natureza, que se torna o reflexo dos estados de alma do poeta e sua
confidente. A influência petrarquista faz com que o poeta busque o isolamento
e a antecipação do sofrimento. Para demonstrar o seu estado de sofrimento, o
poeta utiliza um certo verbalismo e erudição, nomeadamente: as frases
exclamativas abundantes, as personificações, as antíteses, as apóstrofes, as
subtilezas, as comparações, etc..
PETRARQUISMO

O Retrato da amada

Laura, o ideal de amor espiritual


vs
Vénus, o ideal de amor sensual

As Contradições do amor

Laura e Petrarca
PETRARQUISMO

A Natureza
Locus Amoenus (Lugar ameno)

Expressão latina que significa "lugar ameno". O locus amoenus consiste numa
descrição da paisagem ideal, em ambiente de tranquilidade, bucólico ou pastoril.
Verifica-se a recorrência a elementos da natureza, como árvores, fontes, pássaros e
todos os elementos sensoriais a eles associados, tais como o perfume das flores, o
cromatismo da paisagem, o canto das aves.

O tema do locus amoenus é ainda escolhido para as descrições do retorno do homem


à natureza, à felicidade e ao Paraíso perdido.
Na literatura portuguesa, podemos encontrar alguns exemplares deste tipo, como por
exemplo no soneto de Camões, "A formosura desta fresca serra".
DANTISMO
Referências a tormentos do Inferno.

A poesia Camoniana relacionada com a tristeza, desagrado,


dor, infortúnio do poeta, saudade, amor não
correspondido, entre outros, é de inspiração em Dante -
poeta italiano do séc XIII e XIV.

Se por um lado no dantismo a mulher deixa de ser a


companheira humana, e se transforma no “ser angélico
que sublima e apura a alma dos amantes”, por outro lado,
na descrição do Inferno, o dramatismo dos suplícios e os
queixumes dos amantes condenados permitiram que o
termo “dantesco” seja sinónimo de horrível e que o
dantismo signifique a concepção do amor relacionada com
a visão extra terrena daqueles que sofrem nas profundezas
do Inferno por terem amado.
PLATONISMO
Amor platónico ou amor de contemplação.

O poder transformador do amor;

Mundo inteligível das ideias puras e suprema perfeição é


nele que reside a suprema beleza, a suprema bondade e a
suprema ideia
Mundo sensível é o mundo em que habitamos efémero é
o reflexo do mundo inteligível ao qual o Homem aspira –
realidade modelo, eterna

Busca do amor platónico (elevado, espiritual):


Os autores clássicos buscavam um amor idealizado, espiritualizado e racional, que se
aproximava da verdade absoluta.
Assim, o amor é visto de uma forma distante, em que, muitas vezes, o ser amado
não tem conhecimento de sua situação e o desejo é aplacado pelo juízo.
A filosofia de Platão exerceu grande influência sobre o ocidente e sofreu influências
das ideias cristãs que imperavam na época.
Soneto

O soneto português quinhentista segue as


regras do modelo italiano de duas quadras Eu cantarei de amor tão docemente,
Por uns termos em si tão concertados,
e dois tercetos: consta de 14 decassílabos
Que dois mil acidentes namorados
ordenados em quatro estâncias, sendo Faça sentir ao peito que não sente.
elas duas quadras, trabalhadas no
esquema rítmico ABBA-ABBA, precedendo Farei que amor a todos avivente,
dois tercetos que, na sua forma mais Pintando mil segredos delicados,
perfeita, também estão sujeitos ao Brandas iras, suspiros magoados,
esquema rítmico CDC-DCD, embora sejam Temerosa ousadia e pena ausente.
igualmente muito comuns os tercetos com
Também, Senhora, do desprezo honesto
as três rimas que seguem o esquema CDE-
De vossa vista branda e rigorosa,
CDE. Contentar-me-ei dizendo a menor parte.

O desenvolvimento da ideia (do tema) está Porém, pera cantar de vosso gesto
sempre subordinado à obrigatoriedade da A composição alta e milagrosa
rima das estrofes e termina numa nítida Aqui falta saber, engenho e arte.
pausa final de cada estância. Por norma,
toda a composição do soneto termina em
beleza por um verso que encerra um
pensamento elevado numa cadência.
Canção

Oh! quem me ali dissera


Que de amor tão profundo
O fim pudesse ver inda algũa hora!
(…)
Canção Sem me poder ficar mais que a lembrança,
Que sempre estará firme,
Obra poética destinada a ser Até o derradeiro despedir-me.
cantada; forma poética, de (…)
origem provençal, constituída Mas quem terá, Senhora,
por uma série de estrofes Palavras com que iguale
Com vossa fermosura minha pena?
heterométricas e rematadas
Que em doce voz de fora,
por uma estrofe mais curta, (…)
que se converteu, segundo o Canção, não digas mais; e se teus versos
modelo de Petrarca, na mais À pena vêm pequenos,
ilustre manifestação do Não queiram de ti mais, que dirás menos.
lirismo amoroso da literatura
renascentista.
Elegia

(Excerto da elegia VI)


Se quando contemplamos as secretas
Causas por que o mundo se sustenta,
O revolver dos céus e dos planetas;
E se quando à memória se apresenta
Este curso do Sol, que é tão medido
Que um ponto só não mingua nem se
aumenta;
Aquele efeito, tarde conhecido,
Da Lua, em ser mudável tão constante,
Que minguar e crecer é seu partido;
(…)
Esta Potência, enfim, que tudo manda,
Termo de origem grega (elegeía - Esta Causa das causas, revestida
"lamentação", "canto lúgubre") que Foi desta nossa carne miseranda.
designa uma composição poética lírica, Do amor e da justiça compelida,
em tom melancólico e terno. Polos erros da gente, em mãos da gente
(Como se Deus não fosse) perde a vida.
Ode

À Lua
Detém um pouco, Musa, o largo pranto
Que Amor te abre do peito;
E, vestida de rico e ledo manto,
Dêmos honra e respeito
Àquela cujo objeito
Todo o Mundo alumia,
Por ode entende-se toda a composição Trocando a noite escura em claro dia.
poética que se relacione com o género Ó Délia, que, apesar da névoa grossa,
lírico e que, cronologicamente, se liga a Co'os teus raios de prata
uma origem na poesia clássica grega. (…)
O seu significado poderá, Onde lamenta e chora desventuras.
Por ti guarda o sítio fresco de Ílio
simplesmente, ser traduzido por
Suas sombras fermosas;
"canção", levando a concluir que a ode, Para ti, Erimanto e o lindo Epílio
de início, seria um poema destinado ao As mais purpúreas rosas;
acompanhamento musical, como forma E as drogas cheirosas
de canto, individual ou em grupo - coro, Deste nosso Oriente
canto coral. Guarda a Felice Arábia mais contente.
(…)
Corrente tradicional
Esquema Síntese Corrente renascentista
( a influência dos temas da poesia ( a influência greco - latina e
trovadoresca e das formas de poesia italiana)
palaciana)
Os temas: - A saudade. - O Petrarquismo.
- O sofrimento amoroso. - O amor platónico.
- O tema da donzela que - A sensualidade.
vai á fonte. - A beleza divinal.
- O ambiente Pastoril. - A saudade.
- O ambiente Cortesão. - O destino.
- O humorismo. - A mudança.
- O desconcerto do mundo.
O verso: medida velha - uso do verso de medida nova - uso do verso de 10
5 sílabas métricas - redondilha sílabas métricas – decasíilabo - de
menor - e de 7 - redondilha acentuação nas 6ª e 10ª sílabas
maior. (heróico) ou nas 4ª, 8ª ou 10ª
sílabas ( sáfico).
A - o vilancete, - o soneto,
variedade - a cantiga - a canção,
Estrófica: - a esparsa, - a écloga,
- a trova - a elegia,
- a endecha. - a ode.
Como poeta de transição, Camões revela a influência tradicional e a
influência clássica na sua obra poética. A influência tradicional está
presente nos temas e nas formas poéticas de cariz peninsular. Esta
influência é também chamada de Medida Velha.
A influência clássica revela-se na importação dos temas e formas
poéticas que se cultivavam em Itália. Esta influência é, também,
denominada Medida Nova.
Cantando o amor sublime ou a relação mais fútil, o poeta soube, como
poucos, definir-se e definir a alma humana, oferecendo-nos a sua experiência
de vida ou o mundo no seu desconcerto, com os seus problemas sociais e
morais e a eterna questão do mal que aflige a Humanidade.

Os temas da sua lírica são vastos e variados, indo da análise da sua vida
interior à caracterização da realidade do seu tempo ou à busca do
dimensionamento do homem universal.
TEMÁTICAS
O Amor
O Retrato da Amada
A Saudade
A Natureza
A Mudança
O Desconcerto do Mundo
...
Amor lei do universo, princípio da existência e força espiritual
Contradições do Amor
Temperamento ardente e apaixonado do poeta.
Transformação do amador na coisa amada
Amor platónico: sentimento de adoração do objecto amado, que leva à
contemplação; amor espiritualizado,
Amor físico: sentimento que deseja a posse física do objecto amado.
A poesia amorosa camoniana é dramática, dilacerada em contradições, entre o
amor físico/sensual e o amor platónico/puro/espiritual.
• A mulher petrarquista: ideal de beleza - cabelos de ouro, pele branca, sorriso
longínquo, gesto suave, pensar maduro, alegria saudosa, algo de incorpóreo. É uma
espécie de deusa que aparece em visões ao poeta e contamina a natureza,
embelezando-a. O protótipo da mulher petrarquista é Laura, a musa inspiradora de
Petrarca.

• A mulher carnal: contornos físicos bem definidos e atraentes que despertam o desejo
e a volúpia dos sentidos. É Vénus.

A poesia de Camões é inovadora em relação aos poetas do Renascimento italiano, pela


representação da sensualidade da mulher, simbolizada por Vénus.
 a saudade da mulher petrarquista (inacessível)
 a saudade da mulher carnal que não corresponde ou que morreu
 a saudade da pátria ausente: o exílio
 a saudade de Jerusalém: a terra é lugar de exílio, o homem sente-se exilado
do Paraíso

O sentimento doloroso inspira o poeta a escrever.


Associada à poesia amorosa.
A Natureza pode ser confidente, cenário ou estar personificada.
Pode ser harmoniosa, serena, luminosa – locus amoenus.

personificação da natureza
meio de engrandecimento das graças da amada
participação da natureza nos estados de espírito do poeta
• a mudança reversível da Natureza /a mudança irreversível do homem
•o passado que já não volta e o presente do poeta.
• a mudança da própria mudança: mudança imprevista
• a mudança como algo negativo (pessimismo e morte)
. as injustiças sociais constatadas pelo poeta;
. os cataclismos naturais e desconcertantes
. a morte sempre no horizonte e sem explicações lógicas
. o fracasso do sonho e dos projectos.

Soluções:
- a prática da justiça social
- desistência da ambição descontrolada
- a áurea mediania
- o estudo
• as injustiças sociais , constatadas pelo poeta
• os cataclismos naturais e desconcertantes:
•morte sempre no horizonte e sem explicações lógicas;
•o fracasso dos sonhos e dos projectos
•O desconcerto do mundo
• responsável pela infelicidade do poeta, causa de tormentos.
“ Fatum” (fado, fatal, fatalidade)
Amor é fogo que arde sem se ver; Este poema é um soneto, ou
É ferida que dói e não se sente; seja, uma forma fixa de
composição poética. É composto
É um contentamento descontente; de duas estrofes de quatro
É dor que desatina sem doer; versos (quartetos ou quadras) e
duas estrofes de três versos
(tercetos).
É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;


É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favor


Nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?
O esquema rimático (ou de
rimas) mostra com que
Amor é fogo que arde sem se ver; A regularidade as rimas se
É ferida que dói e não se sente; B distribuem ao longo do poema.
É um contentamento descontente; B O esquema é:
É dor que desatina sem doer; A ABBA //ABBA//CDC// DCD.

É um não querer mais que bem querer; A


É solitário andar por entre a gente; B A classificação das rimas:
É nunca contentar-se de contente; B A rima é emparelhada (versos 2
É cuidar que se ganha em se perder; A e 3; 6 e 7) e interpolada (versos
1, 4, 5 e 8) nas quadras.
É querer estar preso por vontade; C Nos tercetos a rima é cruzada.
É servir a quem vence, o vencedor; D
É ter com quem nos mata lealdade. C

Mas como causar pode seu favor D


Nos corações humanos amizade, C
se tão contrário a si é o mesmo Amor? D
Classificação da rima
riqueza / pobreza

Amor é fogo que arde sem se ver; verbo


É ferida que dói e não se sente; verbo Rima Pobre – as palavras que
É um contentamento descontente; adjectivo rimam pertencem à mesma
É dor que desatina sem doer; verbo classe gramatical.

É um não querer mais que bem querer; verbo Rima Rica – as palavras que
É solitário andar por entre a gente; nome rimam pertencem a classes
É nunca contentar-se de contente; adjectivo gramaticais diferentes.
É cuidar que se ganha em se perder; verbo

É querer estar preso por vontade; nome Classificação da rima


É servir a quem vence, o vencedor; adjectivo Toante / Consoante
É ter com quem nos mata lealdade. nome

Mas como causar pode seu favor nome Rima Consoante – neste
Nos corações humanos amizade, nome soneto as rimas são todas
se tão contrário a si é o mesmo Amor? nome consoantes.
(a correspondência de sons é
feita com vogais e consoantes).
Métrica
Métrica é a medida dos versos que
compõem o poema.
A/mor/ é/ fo/go/ que ar/de /sem /se /ver; Para medir o verso é preciso fazer a
É ferida que dói e não se sen(te); escansão (acto de escandir, ou seja,
É um contentamento desconten(te); fazer a contagem das sílabas
É dor que desatina sem doer; poéticas.

É um não querer mais que bem querer; Como fazer a escansão:


É solitário andar por entre a gen(te);
É nunca contentar-se de conten(te); 1. Verificar qual é a sílaba tónica da
última palavra do verso e desprezar
É cuidar que se ganha em se perder; as demais.

É querer estar preso por vonta(de); Quando uma palavra terminar com
É servir a quem vence, o vencedor; vogal e a seguinte também se iniciar
É ter com quem nos mata lealda(de). com vogal, é possível que elas se
unam, mas só nas seguintes
Mas como causar pode seu favor condições:
Nos corações humanos amiza(de), quando as duas vogais forem iguais
(crase): fo / ssees / pe / ci / al
se tão contrário a si é o mesmo Amor? ou quando as duas vogais forem
diferentes e átonas (elisão): fo/
ssea/ ssim
A/mor/ é/ fo/go/ que ar/de /sem /se /ver;
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 O verso tem 10 sílabas
métrica
É/ fe/ri/da/ que /dói /e /não /se /sen(te); VERSO DECASSILÁBICO
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É /um /con/ten/ta/men/to /des/con/ten(te);
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É /dor /que / de/sa/ti/na /sem /do/er;
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É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gen(te);
É nunca contentar-se de conten(te);
É cuidar que se ganha em se perder;

É querer estar preso por vonta(de);


É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealda(de).

Mas como causar pode seu favor


Nos corações humanos amiza(de),
se tão contrário a si é o mesmo Amor?
O verso tem 10
sílabas métrica
VERSO
É/ que/rer /es/tar/ pre/so/ por /von/ta(de); DECASSILÁBICO

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É /ser/vir/ a /quem/ ven/ce, o/ ven/ce/dor;
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
É /ter/ com /quem /nos /ma/ta/ le/al/da(de).
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Mas/ co/mo /cau/sar /po/de /seu /fa/vor
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Nos /co/ra/ções /hu/ma/nos /a/mi/za/(de),
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Se/ tão /con/trá/rio a/ si/ é o/ mês/mo A/mor?
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Disciplina de Português
Profª: Helena Maria Coutinho

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