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A INVESTIGAÇÃO APRECIATIVA COMO METODOLOGIA DE AÇÃO E

INTERVENÇÃO EM UMA COOPERATIVA DE COSTUREIRAS

Rita Tatiana Cardoso Erbs¹; Fabiana Jordão Martinez²; Juliana Pereira de Araújo³;
Maria Paulina de Assis4

¹Psicóloga, Doutora em Educação. Docente da Universidade Federal de Goiás –


Regional Catalão. (professoraritaerbs@gmail.com)
²Cientista Social, Doutora em Ciências Sociais. Docente da Universidade Federal
de Goiás – Regional Catalão.
³Pedagoga, Doutora em Educação. Docente na Universidade Federal de Goiás-
Regional Catalão.
4
Psicóloga, Doutora em Educação. Docente na Universidade Federal de Goiás-
Regional Catalão.

Recebido em: 06/04/2018 – Aprovado em: 10/06/2018 – Publicado em: 20/06/2018


DOI: 10.18677/EnciBio_2018A

RESUMO
O presente artigo buscou mostrar como a investigação apreciativa pode ser usada
como metodologia de ação e intervenção no trabalho coletivo entre professores e
alunos vinculados a um projeto de extensão universitária com trabalhadoras de uma
cooperativa de costureiras. A investigação apreciativa é a metodologia utilizada para
preparar e integrar de forma interdisciplinar professores e alunos de diferentes áreas
do conhecimento para as intervenções realizadas pelo projeto da Incubadora de
Empreendimentos Sociossolidários na Universidade Federal de Goiás – Regional
Catalão. Sendo a investigação apreciativa uma metodologia que valoriza os pontos
fortes de grupos de trabalhadores nas organizações, seria a metodologia mais
adequada para iniciar um trabalho de incubação de empresas. Estudar e aplicar um
modelo que desafia a forma tradicional de resolução de problemas e intenciona uma
gestão de mudanças participativa e reflexiva tornou-se o objetivo do grupo de
trabalho. O presente artigo teve como objetivo elucidar os princípios e forma de
utilização da investigação apreciativa tendo como base as pesquisas e trabalhos
realizados por David Cooperrider (2006) e seus colaboradores. Além de mostrar
como as etapas da metodologia foram rapidamente compreendidas e aplicadas nos
encontros, observações, sugestões de estratégias e incorporadas no discurso de
alunos e professores participantes do projeto. Assim como, a partir da metodologia,
pode ser percebida uma mudança qualitativa na forma de resolução de problemas e
nas estratégias de mudança nas cooperadas, resultando até na manutenção da
existência da cooperativa que se encontrava em um momento crucial de resolução
sobre a sua dissolução ou continuidade das atividades.
PALAVRAS-CHAVE: Cooperativa; Extensão Universitária; Investigação Apreciativa

ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.15 n.27; p.1503 2018
THE APPRECIATIVE RESEARCH AS A METHODOLOGY OF ACTION AND
INTERVENTION IN A SEAMSTRESSES COOPERATIVE

ABSTRACT
The present article tries to show how the appreciative investigation can be used as a
methodology of action and intervention in the collective work between teachers and
students linked to a project of university extension with workers of a cooperative of
seamstresses. The appreciative investigation is the methodology used to prepare
and integrate in an interdisciplinary way teachers and students from different areas of
knowledge for the interventions carried out by the incubator project of socio-solidary
enterprises at the Universidade Federal de Goiás - Regional Catalão. The
appreciative investigation is a methodology that values the strengths of groups of
workers in the organizations, would be the most appropriate methodology to initiate a
work of incubation of companies. Studying and applying a strategy that challenges
the traditional way of solving problems and intends participatory and reflexive change
management has become our goal.The article intends to elucidate the principles and
ways of use of the appreciative investigation based on the researches and works
realized by David Cooperrider (2006) and his collaborators. The article shows how
the stages of the methodology were quickly understood and applied in the meetings,
observations, suggestions of strategies and incorporated into the discourse of
students and teachers participating in the project. From the methodology it can be
seen a qualitative change in the problem solving and strategies of change in the
cooperative, which results in the maintenance of the existence of the cooperative that
was at a crucial moment of decision about its dissolution or continuity of activities.
KEYWORDS: Appreciative Investigation; Cooperative; Extension Programs

INTRODUÇÃO
A Investigação apreciativa caracteriza-se por ser uma metodologia de gestão
proposta por David Cooperrider e Whitney (2006) e seus colaboradores em meados
da década de 80 e tinha como objetivo romper com a tradição de gestão hierárquica
e solidificada na resolução de problemas por uma cúpula de especialistas. Para
Cooperrider e Whitney (2006) o importante era que todos da instituição pudessem
reconhecer o seu potencial e a partir dos próprios meios, recursos materiais e
subjetivos para que conseguissem ultrapassar as barreiras e os obstáculos que os
impeçam de alcançar o sucesso. Com essa intenção a Investigação Apreciativa
rompe o modelo hierárquico de gestão e coloca todos os envolvidos no mesmo
patamar de decisões e potencializa todo o potencial humano disponível sem a
ponderação por cargos, salários ou especializações. Valença (2007) ressalta o
quanto a Investigação Apreciativa consistia em uma contraposição ao pensamento
vigente da época em fazer diagnósticos percebendo as organizações como
deficitárias e com problemas a serem resolvidos.
O resgate bibliográfico aponta, que no Brasil, além do relato do uso da
Investigação Apreciativa na empresa Nutrimental, no final dos anos 90, feito por
Barros e Cooperrider (2011), o Programa de Pós-Graduação em Administração da
Universidade Federal de Pernambuco e o Programa de Pós-Graduação em
Controladoria, também da Universidade Federal de Pernambuco, estão se tornando
grandes divulgadores da metodologia, tendo uma produção de teses e dissertações
sobre a aplicação da Investigação Apreciativa em diferentes contextos, essa
produção muito auxilia aos que pretendem conhecer e aplicar tal metodologia.
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Destaca-se desta produção para a realização do presente trabalho as dissertações
de Souza (2010) - A busca do entendimento na metodologia da Investigação
Apreciativa: um estudo na relação consultor-cliente; Sauer (2013) - Contribuição da
Investigação apreciativa para a constituição de um contexto compartilhado de
conhecimento na escola Lápis de Cor; Souto (2017) - Configuração institucional da
Secretaria da Controladoria-Geral do Estado de Pernambuco: uma perspectiva
institucional e apreciativa; e a tese de Cabral (2015) Transformação Organizacional
Generativa: a Investigação Apreciativa para além do positivo.
Um ponto convergente dos autores citados, da Universidade Federal de
Pernambuco, é que a Investigação Apreciativa, por colocar todos os envolvidos para
contribuir com a gestão, acaba favorecendo uma visão holística da instituição e
fazendo com que todos consigam pensar em conjunto formando uma inteligência
coletiva para a mudança que pode ultrapassar, como em um grande salto, as
dificuldades encontradas em um momento, para lançar todos em outra paisagem
coorporativa, criada a partir das expectativas, descobertas e sonhos de todos:

Através de suposições intencionalmente positivas a cerca das


pessoas, organizações e relacionamentos a IA deixa para trás as
abordagens ao gerenciamento voltadas para o déficit e vitalmente
transforma as formas de abordar questões sobre o aperfeiçoamento
organizacional. (COOPERRIDER ; WHITNEY, pág.03, 2006)

Para Cooperrider e Whitney (2006) com a proposta da Investigação


Apreciativa chegaria-se ao fim da gestão por resolução de problemas e teria a
possibilidade de trabalho em um núcleo positivo para o desenvolvimento
organizacional instaurando um processo coletivo e cooperativo dentro das
organizações.
A Investigação Apreciativa, segundo Cooperrider e Whitney (2006), parte da
aplicação de cinco princípios, esses princípios reforçam a visão das organizações
como um núcleo vital, reflexo da sinergia entre as pessoas que a compõem e a sua
interação com os aspectos macros ambientais, ou seja a relação das organizações
com as famílias dos trabalhadores, com a comunidade, com a cidade, com o estado,
com o país, com o planeta, enfim, a rede vital de relações é compreendida na sua
instância micro-organizacional e macro- organizacional. Desta forma, segundo
Cooperrider e Whitney (2006) são eles:
• O Princípio Construcionista: Neste princípio precisa-se compreender como o
conhecimento é construído e como as pessoas tomam esse conhecimento,
interligando o social, o local e o organizacional. Para aplicar esse princípio
precisa-se estar atento a cultura construída em uma organização, os padrões
condicionados de respostas e estratégias, tornando evidente o poder do
discurso e das narrativas.

• O Princípio da Simultaneidade – Para compreender este princípio é preciso


ter em mente que a investigação e a mudança não são necessariamente
momentos distintos, mas ocorrem simultaneamente. Seria como imaginar
alguém jogando pedras em um rio: imediatamente a pedra forma ondas que
se propagam na superfície da água, mas simultaneamente o rio em
profundidade também é atingido e assim outra paisagem que se forma: a
pessoa que jogou a pedra, a pedra, o rio, as ondas se propagando em um
movimento simultâneo, conjunto e transformador. Neste princípio é
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fundamental estabelecer uma conexão com o todo, percebendo que os
investigadores estão mudando e sendo mudados pelo contato, pelas
conversas, pelas pessoas e cada um está acionando mudanças no outro,
todos sairão transformados e as estratégias e ações que resultarem deste
momento serão fruto, unicamente, deste momento, com essas condições
conjuntas e simultâneas. Com esse princípio em mente a Investigação
Apreciativa começa a ser instalada, cuidando de todo o impacto que pode
causar ou que causa no grupo, começando a conscientizar e a direcionar o
discurso e atitudes para impulsionar o que o grupo tiver de melhor e de
positivo.

• O Princípio Poético –É feita uma forte conexão com a característica vital da


organização, a todo momento, sua história e a história de seus integrantes
está sendo construída a partir de um passado, de um presente e das
expectativas para o futuro. É importante perceber que todos estão escrevendo
esta história, ela é viva, presente, colaborativa, inter-relacional.

• O Princípio Antecipatório – Como o interesse é a vida, movimento e condições


humanas, este princípio vem resgatar a possibilidade humana de planejar, de
projetar, de antecipar o seu futuro, pensando sempre que o futuro e o
imediato estão unidos, por exemplo, se o desejo é que as pessoas sejam
mais gentis, é preciso ser a gentileza em todos os aspectos da organização,
nas propagandas, nos e-mails, nas falas, em todos os espaços. Com este
princípio o futuro é trazido de forma poderosa para o presente, como um
agente de mobilização, mudança e transformação.

• O Princípio Positivo – Este princípio estabelece a relação com o mundo


direcionando a percepção de tudo, seja de nós mesmo, ou do nosso entorno.
É importante que todos da organização se questionem sobre como
consideram o mundo. Um grande problema a ser resolvido, ou algo
maravilhoso a ser compreendido? Perceber a alegria, a beleza, o cuidado, a
compreensão e outros sentimentos e atitudes positivas dos seres humanos.
Com estes princípios todas atitudes são repensadas e redirecionadas para
um foco positivo da vida de todos.

Para colocar em prática os princípios Cooperrider e Whitney (2006)


descrevem as fases da Investigação Apreciativa, que na língua inglesa, são
descritos como os quatro Ds: Descoberta/Discovery, Sonho/Dream,
Planejamento/Desing e Destino/Destiny. Segundo Cooperrider e Zandee (2013) as
fases da Investigação Apreciativa, vão estabelecer um diálogo positivo e de
confiança entre todos os envolvidos e por isto a equipe necessita ter um preparo
sobre o que perguntar e como perguntar, além de realmente internalizar a percepção
positiva da situação e das pessoas.
Em Sauer (2013) e Souto (2017) as fases são descritas, sendo o objetivo de
cada uma, um norte para a aplicação em diferentes grupos. Evidencia-se em cada
grupo em que a metodologia da Investigação Apreciativa é aplicada uma ampla
possibilidade de estratégias para que cada uma das fases seja cumprida, rodas de
conversa, questionários, resgate de histórias de vida, dinâmicas de grupo, enfim,
cada equipe que aplica a metodologia, é convidada para criar formas de executar
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cada uma das fases, como relatado por Singh et al., (2001) ao aplicarem a
metodologia em cooperativas do setor privado na Índia.
A partir de Valença (2007) percebe-se que a descoberta é a fase inicial da
Investigação Apreciativa, a organização como um todo precisa saber quem é, quem
a compõe, quais são suas características, sempre tendo como foco os aspectos
positivos já vivenciados, ou observados no momento. Nesta fase o grupo ou a
pessoa que está conduzindo a metodologia pode optar por uma conversa informal,
ou por uma dinâmica planejada para trazer à tona as histórias, as lembranças, as
situações que tecem a grande rede invisível que abraça a todos na organização
Com a mobilização de todos, o grupo fortalecido pelo seu engajamento nos
aspectos positivos que os une, pode começar a sonhar. Um aspecto importante que
todos precisam refletir é sobre no que gostariam de se tornar, em quais estratégias,
produtos, ações realmente estariam interessados em investir o seu tempo e
dedicação. Para Souza (2010) é importante ressaltar que nesta fase o grupo está
sendo convidado a pensar no que gostaria de se tornar e qual o convite que o
mundo está fazendo para a organização.
Para Cooperrider e Whitney (2006) a partir dos sonhos, o grupo entra na fase
de planejamento para atingir os sonhos, nesta, como nas demais fases, é importante
a participação de todos, pois fortalecer a capacidade de participar e de valorizar as
estratégias criadas conjuntamente são as possibilidades de transformação da
organização. Com a prática do planejamento e a aproximação de sucesso dos
sonhos imaginados, o grupo terá uma experiência de realização que sustentará a
continuidade da metodologia, implementando mudanças positivas e contínuas, o
destino é essa própria transformação. Assim o grupo ao vivenciar as fases vai se
transformando, se fortalecendo e abrindo-se para novos sonhos que levarão a outros
destinos:
Em IA, a intervenção abre caminho para a investigação, imaginação e
inovação. Ao invés da negação, crítica e diagnóstico redundantes,
acontecem a descoberta, sonho e planejamento. A IA envolve a arte e
a prática de fazer perguntas invariavelmente positivas que fortaleçam
a capacidade do sistema para assimilar, prever e ressaltar o potencial
positivo. Através da investigação mobilizada em massa, centenas e
até milhares de pessoas podem estar envolvidas no planejamento
conjunto do seu futuro coletivo. (COOPERRIDER e WHITNEY, 2006,
p.10)

A partir de estudos em grupo sobre a metodologia, seus princípios e fases


fundamentados por Cooperrider e Whitney (2006), Barros e Cooperrider (2011), e
Cabral (2015) desencadeou-se a oportunidade de aplicação de uma metodologia de
gestão diferenciada das demais, por se tratar de uma metodologia em que o foco
são os pontos positivos das organizações e não a habitual forma de resolução de
problemas, a partir dos próprios problemas.
Os aspectos levantados por Valença (2007) também são fundamentais para a
escolha da Investigação Apreciativa como metodologia de ação e intervenção nas
cooperativas que participam da incubadora. Segundo o autor a Investigação
Apreciativa é:

...positiva, portanto, prospectiva, visionária, futurista, não


retrospectiva, nem deficitária; é viva e dinâmica; é aberta às novas
possibilidades de expansão do escopo da pesquisa; promove
conexões de relacionamento, afastando-se dos parâmetros
exclusivamente técnicos e pragmáticos de uma tradição científica
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tradicional; A Investigação Apreciativa libera o espírito humano para a
criação de um futuro; move a todos dando voz e vez, propiciando
uma atmosfera de prática democrática; provoca nos protagonistas a
apropriação pelo processo de mudança; tem como direção o centro
da mudança positiva. (VALENÇA, 2007, pág.183).

Para aplicar a Investigação Apreciativa o grupo de professores e alunos foi


elucidado sobre os seus princípios e fases para conduzir na prática a metodologia
evidenciando as possibilidades de trabalho, organização e sustentabilidade da
cooperativa de costureiras. Neste artigo o intuito foi apresentar os princípios e fases
da investigação apreciativa, a compreensão de seus pressupostos e aplicabilidade
no dia-a-dia da incubadora e na mente dos envolvidos, transformando o discurso e
as ações junto às costureiras da cooperativa Coopermoda de Catalão – GO.
Ao vivenciar a metodologia o grupo abriu a possibilidade de:

construção de parcerias e alianças, transformação da cultura


corporativa, planejamento estratégico, redução do tempo de
desenvolvimento do produto, melhoria da retenção de
funcionários e ânimo, bem como, a melhoria da produtividade,
qualidade e das finanças. (COOPERRIDER e WHITNEY, 2006,
p. 14).

MATERIAL E MÉTODOS
A metodologia de Investigação Apreciativa foi aplicada na Cooperativa de
Costureiras – Coopermoda. Com os princípios e fases da metodologia, estudados
pelo grupo de professores e alunos, iniciaram-se os encontros com as cooperadas.
Além das características da situação específica desta cooperativa, foi entendido que
por se tratar de uma metodologia de gestão participativa, positiva e sem organização
hierárquica seria a metodologia elencada a escolhida para o trabalho com outras
cooperativas que ingressassem na incubadora.
O grupo de professores era formado por: 2 professores do curso de ciências
sociais, 3 professoras do curso de pedagogia, sendo uma pedagoga e duas
psicólogas. O grupo de alunos contava com 1 aluna do curso de pedagogia, 2 alunos
do curso de psicologia e 2 alunos do curso de administração.
Com a apropriação do método, foram realizadas reuniões com as cooperadas
e a equipe da Incubadora de Empreendimentos Sociossolidários, todas as etapas da
metodologia da Investigação Apreciativa foram aplicadas em um período de oito
meses, entre junho de 2016 e março de 2017. As reuniões eram organizadas em
dois momentos todas as segundas-feiras na parte da tarde em uma sala na
Universidade Federal de Goiás – Regional Catalão, com a equipe de professores e
alunos da incubadora e nas terças-feiras pela manhã na cooperativa com o grupo de
cooperadas e equipe de professores e alunos.
Na reunião com a equipe os princípios e fases da Investigação Apreciativa
foram aplicados, desta forma, quando ocorria a reunião com as cooperadas a equipe
da incubadora já havia vivenciado a fase que estaria em pauta com as cooperadas.
A fase da descoberta foi realizada nos primeiros encontros com o grupo de alunos e
professores, o grupo não havia trabalhado antes e precisava compreender o que
seria ser participante de uma incubadora de empreendimentos sócios solidários em
conjunto, antes de propor o trabalho com a cooperativa de costureiras. As primeiras
reuniões com as cooperadas contaram com o envolvimento de todas cooperadas e
em quatro encontros foi possível conhecer as integrantes do projeto, sua trajetória
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na cooperativa e as características de trabalho e aderência a ideia de trabalho
cooperado. Essa fase trouxe uma revelação importante, embora fosse uma
cooperativa de costureiras, as cooperadas tinham como hábito de trabalho as
características de trabalho assalariado. A partir deste fato a fase seguinte foi iniciada
com a intenção de sonhar como cooperativa.
A fase do sonho também foi vivenciada pela equipe: cada integrante da
incubadora pôde manifestar o seu interesse e as suas possibilidades em participar
do grupo, portanto, após a fase da descoberta, iniciou-se a fase do sonho,
evidenciando aspirações de como trabalhar com as cooperadas e como trabalhar
com a própria equipe. Quando a fase do sonho foi aplicada com as cooperadas
muitas definições vieram à tona, muitos sonhos foram descritos, assim como
frustações por outros sonhos que não foram concretizados. Nesta fase foi
evidenciado que o sonho das cooperadas era produzir e vender roupas de cama,
mas que acabavam pegando serviços diversos, para garantir uma sustentabilidade
mínima da cooperativa.
Com a fase de planejamento muitas ações puderam ser concretizadas, desde
a organização dos arquivos do computador com auxílio de alunos do projeto,
divulgação dos artigos confeccionados, formas de contado com os clientes e início
da produção de roupas de cama, concomitante com os serviços solicitados pela
comunidade. Na última fase que seria o destino, foi feita uma avaliação de todo o
processo, na equipe de professores e alunos e na cooperativa sobre as
transformações que já haviam sido implantadas na cooperativa.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
O desafio de coordenar um projeto de extensão universitária com ações em
uma Incubadora de Empreendimentos Sociossolidários, incubando cooperativas da
cidade, reunindo um grupo formado por professores de diferentes áreas e alunos de
diversos cursos, todos ávidos por aprender a lidar com organizações, buscando
integrar a economia solidária e a organização cooperativa de trabalhadores, fez com
que a metodologia de gestão organizacional denominada Investigação Apreciativa
fosse eleita para este trabalho e que essa escolha se reforçasse a cada reunião
com a equipe e com as cooperadas.
O grupo de cooperadas (Coopermoda) estava passando por uma situação
muito delicada, inclusive pensando na dissolução da cooperativa. Com um grupo
desmotivado e enfraquecido, com cooperadas sendo desligadas da cooperativa. O
objetivo era resgatar o potencial humano e empreendedor do grupo, com a
Investigação Apreciativa como uma ferramenta de motivação das cooperadas. A
situação era muito semelhante à descrita por Barros e Cooperrider (2011), na
história da Nutrimental no Brasil, nesta experiência os autores descrevem que a
situação da empresa e dos funcionários não era favorável à continuidade do trabalho
e a partir da Investigação Apreciativa conseguiram visualizar novas formas de
seguimentos para a empresa e satisfação dos funcionários.
Um primeiro obstáculo a ser transposto era a própria atitude mental.
Geralmente, quando um grupo de profissionais entra em uma organização para
consultorias ou assessorias de alguma situação ou projeto, observam-se as falhas,
diagnosticam-se problemas e a partir do suposto conhecimento e experiência
propõem-se estratégias ou projetos de superação, bem, esse modelo tão difundido
academicamente precisava ser quebrado, não fazia parte da proposta apenas ver
problemas, embora a existência deles, não podia ser negada, mas o objetivo era
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enxergar além deles, impulsionar ideias, estratégias, planejamentos, mas
principalmente impulsionar pessoas a alcançarem seus sonhos e isto a Investigação
Apreciativa teria como respaldar e indicar caminhos.
Inicialmente foi percebido o quanto a metodologia era uma poderosa
ferramenta de atuação para um ambiente desmotivado e desacreditado em seu
potencial de sustentabilidade. Assim como Souza (2010) todos foram construindo
uma relação com a metodologia e com uma forma de ação e intervenção única,
propiciada pelas condições do momento e dos integrantes de cada um dos
encontros.
A Coopermoda, já integrava, desde 2013, um projeto de apoio as ações
empreendedoras na Universidade Federal de Goiás – Regional Catalão. Teve na sua
fase inicial, também capacitações para as cooperadas por parte do SEBRAE e do
SENAI, além do apoio da prefeitura para o pagamento do aluguel de suas
instalações. Em função de todos esses apoios institucionais, a cooperativa
conseguiu se estruturar com o local, máquinas e costureiras interessadas em
participar da cooperativa, chegando a ter 30 cooperadas em atas de suas
assembleias.
Em julho de 2016, quando ingressou na Incubadora de Empreendimentos
Sociossolidários, a situação era muito delicada, pois a maioria das cooperadas já
estavam desligadas ou afastadas da cooperativa, pois precisavam de uma fonte de
renda e a cooperativa não estava mais conseguindo contratos, licitações ou
trabalhos menores que garantissem um ganho mensal para as costureiras. A
realidade em meados de 2016 era de 13 cooperadas em ata, mas com assiduidade
nas reuniões e realmente cumprindo algum horário na cooperativa eram a
presidente e mais três costureiras-cooperadas.
Com a escassa demanda de trabalhos o clima era de derrota e tendendo a
dissolução. Neste ambiente as reuniões começaram. A fase da descoberta propiciou
que muitas histórias coletivas fossem revividas: viagens que fizeram para conhecer
outras cooperativas, consultores que fizeram capacitações sobre a equipe e sobre
empreendimento, a escolha do nome e do símbolo associado a marca, histórias de
cooperadas que tiveram toda a formação na cooperativa e que agora tinham o seu
próprio negócio, muitas recordações de sucesso e de entusiasmo vivido no passado
ajudaram a reestabelecer a proposta da cooperativa.
Ter como metodologia de ação a Investigação Apreciativa possibilitou a
equipe de professores, alunos e as cooperadas a ultrapassarem o pessimismo, pois
era preciso em cada reunião resgatar, apontar e fortalecer os pontos positivos, caso
a opção fosse por uma metodologia de resolução de problemas, seria muito difícil
respeitar o próprio fluxo de vida da cooperativa e com certeza poderiam haver
etapas queimadas e a dissolução da cooperativa seria evidenciada. Com as
reuniões, aos poucos, as cooperadas foram retomando a confiança no potencial e
investindo em novos sonhos. Foi percebido que o grupo, ainda que pequeno e frágil,
consegue forças para sonhar junto, revisar os planejamentos e chegar a novos
destinos.
A Investigação Apreciativa possibilitou um impacto positivo em todos, em
alguns momentos a presidente da cooperativa comentava que era difícil ver as
coisas boas, mas que com a metodologia, uma alternativa positiva acabava sendo
desvelada, para a continuidade da cooperativa e de motivação para todos. Essa
persistência no potencial humano foi reforçada pela Investigação Apreciativa.

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Barros e Cooperrider (2011) nos relatos da história da implementação da
Investigação Apreciativa na Nutrimental descrevem que na época em que o próprio
David Cooperrider foi trazido para o Brasil, final dos anos 90, para realizar uma
imersão com os funcionários e iniciar a metodologia, a situação da empresa estava
muito difícil, beirando o fechamento. A Investigação Apreciativa resgatou a confiança
e o sucesso, além de modificar totalmente a comunicação entre os funcionários, a
forma de enxergar colegas, situações e produtos, possibilitando que a Nutrimental
retomasse seus objetivos e espaço no mercado nacional.
A primeira evidência positiva percebida foi a aderência com o conceito de
cooperativa, pois foi possível compreender cooperativa como Ensslin et al., (2014),
ao enfatizarem que o movimento cooperativista vem se consolidando no Brasil por
se tratar de um modelo, cuja filosofia, é capaz de unir o bem-estar social e o
desenvolvimento econômico. Sendo a cooperativa uma possibilidade de negócio
capaz de atender as necessidades de um grupo, com a meta de prosperidade
conjunta, com uma participação autônoma, solidária e democrática, seus referenciais
são totalmente compatíveis com os princípios e fases da Investigação Apreciativa.
Além dessa aderência evidente com o funcionamento de uma cooperativa foi
possível a todos terem suas opiniões e ideias valorizadas pelo grupo, independente
da formação ou cargo hierárquico a metodologia foi grande impulsionadora do
trabalho inter e transdisciplinar. Em muitos momentos, nas reuniões com as
cooperadas, ficava evidente a participação dos professores, alunos e costureiras,
independente da área de conhecimento que representavam, gerando resoluções e
estratégias complexas inter-relacionando várias áreas do conhecimento, como
direito, pedagogia, psicologia, administração, moda e marketing.
Com a Investigação Apreciativa tornou-se clara a rápida mudança em todas
as mentes possibilitando uma percepção positiva e uma visão imediata dos pontos
fortes, embora em alguns momentos os sentimentos pessimistas aflorassem,
rapidamente, o núcleo positivo voltava para que o trabalho pudesse avançar.
Com a experiência foi possível vivenciar as fases descritas por Cooperrider e
Whitney (2006), além de evidenciar o quanto estas são cíclicas e com um tempo
determinado pelo fluxo vital da cooperativa. É como se avanços e recuos
acontecessem a todo momento, sem que ao perceber um recuo não se tivesse uma
impressão negativa e sim a necessidade de recuo para resgatar algo que tivesse
ficado e que agora seria importante para o avanço com mais segurança.
Foi de fundamental importância vivenciar uma metodologia que como
menciona Cooperrider e Whitney (2006), rompe o ciclo de despersonalização e
possibilita que todos possam se mostrar e se conhecerem com menos defesas e
envolvidos em uma atmosfera de confiança e acolhimento.

CONCLUSÕES
A metodologia da Investigação Apreciativa, com seus princípios e fases
mostrou-se ser eficaz quando aplicada de forma sistemática e integrada com todos
as pessoas que integram o processo. Para que a metodologia seja percebida de
forma positiva é necessário que estudos sejam realizados e que a metodologia seja
incorporada e praticada, primeiro pela equipe de consultores, assessores, que, no
caso, era formada de professores e alunos, para depois ser colocada em prática
com os integrantes da organização, neste caso, uma cooperativa de costureiras.
Quando a metodologia é vivenciada em todos os âmbitos do processo, a
descoberta é ampla e os grupos percebem muito mais do que são, mas o que são
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juntos e o poder dessa interação, os sonhos de todos são evidenciados a partir do
grupo e não somente pelas individualidades, o planejamento articula tudo que todos
podem contribuir, rompendo hierarquias e cargos pré-estabelecidos e o destino
passa a ser algo que não pode ser imaginado no início do processo.
Com a inspiração das experiências relatadas sobre a Investigação Apreciativa
em outras empresas e instituições e com estudos e prática da metodologia, é
possível presenciar impactos positivos que possibilitem a continuidade e a
sustentabilidade desta e de outras cooperativas.

REFERÊNCIAS
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