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Introdução
A produção arquitetônica atual apresenta uma grande assimetria no que diz respeito à
apropriação formal com intenção estética dos sistemas estruturais dos edifícios. Ora a
estrutura não tem destaque formal limitando-se à sua função de sustentação, ora ela é
trabalhada como elemento formal de destaque na arquitetura.
A nossa hipótese é de que a maior ou menor ênfase dada ao sistema estrutural está
relacionada à maior ou menor valorização da tecnologia na concepção dos projetos de
arquitetura. Na maioria dos edifícios construídos no presente momento o sistema
estrutural tem seu valor reduzido à função: dar sustentação ao edifício. Embora seja
este seu papel fundamental, reduzir ao mero desempenho da função parece-nos inaceitável.
Há exceções, obras que não se alinham com a maioria dos edifícios construídos atualmente,
que amparam a nossa posição. Pois neles, a estrutura do edifício é o elemento de maior
destaque na composição arquitetônica. Vejamos dois exemplos de autoria de Santiago
Calatrava.
Assim, face ao exposto acima, pode-se inferir que a escolha, definição e resolução formal
do sistema estrutural vincula-se à ênfase dada à técnica na concepção da arquitetura. No
caso da definição da estrutura apenas como um elemento de sustentação da edificação, o
sistema estrutural é explorado na sua dimensão funcional, ou seja, sem destaque, sem
peso, sem influência na composição formal da edificação. Já no caso da valorização da
dimensão representativa da técnica através da expressão formal do sistema estrutural
adotado, há maior clareza e maior cuidado com o detalhe e a estrutura tende a ser tratada
como um elemento dinamizador da forma do prédio.
A seguir, apresentam-se possibilidades de valorização do desenho do sistema estrutural
na edificação, no sentido da valorização da dimensão representativa da técnica.
Aeroporto de Stansted, Inglaterra, Foster and Partners [FOSTER AND PARTNERS. "Catalogue
Foster and Partners". Munique: Prestel, 2005, p.61]
O conjunto viga-pilar, ainda nesses casos de valorização do desenho do sistema estrutural,
também ganha expressão formal de destaque, principalmente na resolução de coberturas
metálicas, como é o caso da estação de metrô de superfície na cidade de Dresden, Alemanha.
Ao mesmo tempo em que os sistemas estruturais em aço tendem a ser lidos como signos de
desenvolvimento tecnológico e modernidade, destacadamente nas soluções que primam pela
leveza; cabe salientar também que as treliças espaciais são outra forma de qualificar o
espaço pela sua configuração física dinâmica.
Considerando o acima exposto, pergunta-se:
O ensino dos sistemas estruturais tem possibilitado a sua compreensão funcional e formal?
Os sistemas estruturais têm sido abordados por engenheiros e arquitetos nas suas
possibilidades de valorização formal com intenção estética? Senão, como é possível
ampliar uma abordagem ampla e não redutiva da questão da estrutura na concepção dos
projetos de edifícios? É com o intuito de formular tais respostas que apresentamos o que
vem a seguir.
Edifício HSBC, Shangai, Foster and Partners [FOSTER AND PARTNERS. "Catalogue Foster and
Partners". Munique: Prestel, 2005, p.251]
O segundo ponto a ser mencionado é a necessidade de fomentar uma abordagem
interdisciplinar no ensino de sistemas estruturais. O ensino de projeto de arquitetura
deve ser praticado de modo solidário ao ensino dos sistemas estruturais por meio de um
trabalho conjunto das disciplinas de projeto arquitetônico e sistemas estruturais com o
intuito de fomentar as dimensões funcional e formal na prática de projeto.
4.Conclusões
Como considerações finais, três aspectos devem ser destacados. Inicialmente, é importante
o reforço do entendimento de que os sistemas estruturais apresentam um papel funcional
e um formal no projeto de arquitetura. O papel funcional é vinculado às necessidades de
sustentação e manutenção do objeto arquitetônico na sua forma desejada. Já o formal,
vinculado às possibilidades de destaque na composição arquitetônica. Nesse caso, vale
destacar que a resolução formal de uma solução estrutural faz parte de um todo
arquitetônico e que a ênfase compositiva do sistema estrutural na arquitetura vincula-
se diretamente à valorização da dimensão tecnológica no projeto.
Um segundo aspecto a ser mencionado nas conclusões vincula-se as múltiplas possibilidades
de valorização do sistema estrutural na arquitetura do edifício, destacando a necessidade
da relação direta da maior ênfase na resolução do sistema estrutural com a conceituação
do projeto de arquitetura. Este aspecto relaciona-se diretamente com o terceiro ponto a
ser destacado nas conclusões deste artigo. A valorização do sistema estrutural deve estar
presente desde a fase de conceituação e de concepção do projeto de arquitetura, não
sendo, portanto, um elemento de arquitetura fruto de um processo de recortar-colar.
notas
1
MAHFUZ, E. 2006. Reflexões sobre a construção da forma pertinente. Acessado em:
18/09/2006, disponível em: http://www.vitruvius.com.br.2
CUNHA, Eduardo Grala da. A cobertura nos edifícios de grandes vãos: uma proposta de
ferramentas de apoio. Tese de Doutorado. Porto Alegre: UFRGS, 2005.3
Aqui cabe ressaltar que no caso da discussão dos sistemas estruturais, relaciona-se
apenas à sustentação do edifício.4
Caráter imediato é definido como aquele caracterizado pela técnica e materiais usados na
construção de um edifício, permite diferenciar dois objetos arquitetônicos com a mesma
planta, mesmo volume, porém de materiais diferentes. MAHFUZ, E. da C. Composição e caráter
e a arquitetura do novo milênio. Projeto Design, São Paulo, n. 195, abr. 1996. Apud
COSTA, Ana Elisia. Do galpão rudimentar ao complexo de edifícios industriais. Uma
investigação sobre o tipo e o caráter dos edifícios industriais. 1999. Monografia, PROPAR,
UFRGS, Porto Alegre, 1999.5
Site da empresa DVG. Disponível em www.finanzit.com. Consultado em 20 de dezembro de
2008.6
BLASER, Werner. Norman Foster: Sketches – Zeichnungen. Werner Blaser, Tradução de Claudia
Neuenschwander. Basel, Boston, Berlin: Birkhäuser, 1992.
sobre o autor
Eduardo Grala da Cunha é Arquiteto e Urbanista formado pela Universidade Federal de
Pelotas, com Mestrado e Doutorado em Arquitetura pela Universidade Federal do Rio Grande
do Sul. Possui Pós-doutorado pela Universidade de Kassel, Alemanha. Atualmente, é
professor Adjunto na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de
Pelotas, RS.