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A abordagem estética no projeto de estruturas de

edificações: do ensino à concepção de sistemas estruturais


Eduardo Grala da Cunha

Introdução
A produção arquitetônica atual apresenta uma grande assimetria no que diz respeito à
apropriação formal com intenção estética dos sistemas estruturais dos edifícios. Ora a
estrutura não tem destaque formal limitando-se à sua função de sustentação, ora ela é
trabalhada como elemento formal de destaque na arquitetura.
A nossa hipótese é de que a maior ou menor ênfase dada ao sistema estrutural está
relacionada à maior ou menor valorização da tecnologia na concepção dos projetos de
arquitetura. Na maioria dos edifícios construídos no presente momento o sistema
estrutural tem seu valor reduzido à função: dar sustentação ao edifício. Embora seja
este seu papel fundamental, reduzir ao mero desempenho da função parece-nos inaceitável.
Há exceções, obras que não se alinham com a maioria dos edifícios construídos atualmente,
que amparam a nossa posição. Pois neles, a estrutura do edifício é o elemento de maior
destaque na composição arquitetônica. Vejamos dois exemplos de autoria de Santiago
Calatrava.

Centro de Artes Visuais, Valência, Santiago Calatrava [JODIDIO, Philip. "Santiago


Calatrava". Colonia: Taschen, 2003. Pág.64]

Expo 1997, Lisboa, Santiago Calatrava


Foto Marcos Antônio Frandoloso
No Centro de Artes Visuais de Valência, na Espanha, a estrutura em concreto armado
presente nos planos horizontal, vertical e inclinado é o principal elemento da composição
arquitetônica. Calatrava, buscando caracterizar metáforas com formas vivas, se apropria
do sistema estrutural como uma escultura. No caso da estrutura metálica presente na
estação de metrô da Expo 97 em Lisboa, Portugal, a metáfora com uma floresta tem como
elemento principal o sistema estrutural que cobre o pátio de trens.
O presente artigo quer discutir o papel funcional e formal dos sistemas estruturais dos
edifícios considerando a produção arquitetônica atual. Outro aspecto a ser mencionado é
o tratamento desta abordagem de apropriação formal com intenção estética dos sistemas
estruturais no âmbito do ensino na engenharia e arquitetura.
O que segue está ordenado em quatro tópicos a saber:
1. possibilidades de valorização formal com intenção estética dos sistemas
estruturais; 2. valorização do desenho da estrutura na concepção arquitetônica; 3.
a abordagem pedagógica dos sistemas estruturais; 4. conclusões.

1. As possibilidades da valorização formal com intenção estética


dos sistemas estruturais: o caráter tecnológico
A concepção arquitetônica abarca diferentes dimensões teóricas, que podem ser definidas
como questões de projeto (1). Ou seja, variáveis a serem equacionadas na proposição, as
quais são relativas a três aspectos: o lugar, a técnica e o programa.
A técnica é o aspecto ao qual nos debruçaremos. Ela pode ser vista como meio que viabiliza
a realização e o funcionamento do edifício, mas também como um fim como possibilidade
formal a ser valorizada com intenção estética. Neste segundo caso, são estratégias claras
que põem em relevo os aspectos técnicos, é o caso, por exemplo: o desenho do sistema
estrutural, a forma de fechamentos verticais e protetores solares, a resolução formal
das coberturas de edificações. Nos casos onde os aspectos técnicos não são valorizados,
o seu papel se reduz à função primeira, sem maior expressão no todo arquitetônico.
Cunha (2) diz que a técnica apresenta duas dimensões de abordagem: a “funcional”,
vinculada ao “funcionamento” do edifício (3); e a dimensão “representativa”, por
intermédio da qual a técnica ganha valor simbólico. Nesses casos, em se tratando de
sistemas estruturais, observa-se a riqueza da composição formal no que diz respeito à
resolução estrutural da edificação.
Nos casos de valorização da técnica através da nítida expressão do sistema estrutural na
arquitetura, essa valorização tem diversas motivações: [1] seja por demanda do programa,
como é o caso dos projetos de terminais de aeroportos entre outros [2] pelo sistema
estrutural como é o caso das estruturas espaciais, ou pelas vigas e pilares inclinados
que põe em relevo a forma dos vigamentos, dos pilares, como também dos próprios planos
horizontais.

À esquerda, Edifício Administrativo da Mercedes Benz em Berlin, Alemanha. À direita,


Café em Edifício de Escritórios em Dresden, Alemanha
Fotos Eduardo Grala da Cunha
O edifício administrativo da Mercedes Benz em Berlim e o edifício de escritórios em
Dresden são demonstrações dessa valorização dos sistemas estruturais, no caso, em
contexto europeu. Em ambos os casos existe uma valorização da estrutura e, naturalmente,
uma grande atenção ao detalhe.
No caso do edifício administrativo da Mercedes Benz em Berlin, Alemanha, observa-se o
cuidado com a resolução da estrutura do plano horizontal. O encontro das peças, cabos
atirantados, o próprio desenho da cobertura, são aspectos que evidenciam a preocupação
e valorização formal do sistema estrutural.
No caso do edifício de escritórios em Dresden, Alemanha, o sistema estrutural da área do
café valoriza o edifício. Ou seja, a resolução estrutural da área da cafeteria resolve
o problema da área em balanço necessária, e ao mesmo tempo cria um espaço dinâmico e
movimentado.
Opostamente, nos casos em que o sistema estrutural cumpre apenas função de sustentação
verificamos que não há maior destaque formal à estrutura.

Sistema estrutural sem destaque algum na composição, Passo Fundo, RS


Fotos Eduardo Grala da Cunha

Assim, face ao exposto acima, pode-se inferir que a escolha, definição e resolução formal
do sistema estrutural vincula-se à ênfase dada à técnica na concepção da arquitetura. No
caso da definição da estrutura apenas como um elemento de sustentação da edificação, o
sistema estrutural é explorado na sua dimensão funcional, ou seja, sem destaque, sem
peso, sem influência na composição formal da edificação. Já no caso da valorização da
dimensão representativa da técnica através da expressão formal do sistema estrutural
adotado, há maior clareza e maior cuidado com o detalhe e a estrutura tende a ser tratada
como um elemento dinamizador da forma do prédio.
A seguir, apresentam-se possibilidades de valorização do desenho do sistema estrutural
na edificação, no sentido da valorização da dimensão representativa da técnica.

2. A valorização do desenho da estrutura na concepção


arquitetônica: o caso das estruturas metálicas
A nossa hipótese é de que, normalmente, nas edificações onde se verifica a valorização
do desenho do sistema estrutural há a intenção de destacar o valor simbólico da técnica.
Quer seja em decorrência do fato do programa do edifício remeter ao desenvolvimento
tecnológico como o caso já citado dos aeroportos, quer seja pela intenção de vincular a
imagem de uma instituição, pública ou privada, ao arrojo e atualidade das técnicas mais
modernas. Nesses casos observa-se uma recorrência na utilização de estruturas em aço,
sem restringir-se aos sistemas estruturais, que faz sentido pelo caráter imediato (4) do
material que remete, em alguns contextos, à modernidade e ao desenvolvimento científico
e tecnológico.
Quando o sistema estrutural é valorizado, o sistema de vigas e pilares assume um papel
na definição formal do edifício. Os pilares, nesses casos, ora são trabalhados inclinados,
como é o caso da Câmara de Deputados do Estado Saxônia, em Dresden, Alemanha, em que os
pilares fora do prumo dinamizam a resolução formal da edificação; ora são trabalhados
como elementos articulados e apresentam-se de forma autônoma,como o Aeroporto de
Stansted, Inglaterra, onde se destaca o caráter escultural do conjunto viga-pilar. O
fato é que, nesses casos, os pilares ganham destaque na resolução formal da arquitetura.
(5)

Câmara de Deputados do Estado Saxônia, em Dresden, Alemanha


Fotos Eduardo Grala da Cunha

Aeroporto de Stansted, Inglaterra, Foster and Partners [FOSTER AND PARTNERS. "Catalogue
Foster and Partners". Munique: Prestel, 2005, p.61]
O conjunto viga-pilar, ainda nesses casos de valorização do desenho do sistema estrutural,
também ganha expressão formal de destaque, principalmente na resolução de coberturas
metálicas, como é o caso da estação de metrô de superfície na cidade de Dresden, Alemanha.

Metrô de superfície na cidade de Dresden, Alemanha


Foto Eduardo Grala da Cunha

Ao mesmo tempo em que os sistemas estruturais em aço tendem a ser lidos como signos de
desenvolvimento tecnológico e modernidade, destacadamente nas soluções que primam pela
leveza; cabe salientar também que as treliças espaciais são outra forma de qualificar o
espaço pela sua configuração física dinâmica.
Considerando o acima exposto, pergunta-se:
O ensino dos sistemas estruturais tem possibilitado a sua compreensão funcional e formal?
Os sistemas estruturais têm sido abordados por engenheiros e arquitetos nas suas
possibilidades de valorização formal com intenção estética? Senão, como é possível
ampliar uma abordagem ampla e não redutiva da questão da estrutura na concepção dos
projetos de edifícios? É com o intuito de formular tais respostas que apresentamos o que
vem a seguir.

3. A abordagem pedagógica dos sistemas estruturais


Dois aspectos devem ser considerados acerca da valorização formal com intenção estética
no projeto de sistemas estruturais.
O primeiro deles é que a estrutura em uma edificação faz parte do todo a ser construído
sendo, portanto, um dos elementos geradores do espaço, portanto faz sentido que ela seja
trabalhada também como elemento formal. Ou seja, limitar o ensino dos sistemas estruturais
apenas à abordagem funcional limita a sua compreensão e o seu desenvolvimento, o seu
papel é um duplo entre a função e a forma, a primeira estrutura o edifício, a segunda o
pensamento.
Essa abordagem ampla é reforçada, por exemplo, pelo trabalho do ilustre arquiteto Norman
Foster, pois nos seus projetos verifica-se um extremo cuidado e valorização da estrutura
desde as fases iniciais de concepção do projeto de um edifício. Desde os primeiros esboços
já se depreende a preocupação de valorizar e dinamizar o espaço construído pela proposta
estrutural. As figuras abaixo ilustram a preocupação do arquiteto com o caráter escultural
do sistema estrutural. É isso que ilustra os esquemas para o projeto do Edifício HSBC em
Shangai, Japão. (6)
Edifício HSBC, Shangai, Foster and Partners [FOSTER AND PARTNERS. "Catalogue Foster and
Partners". Munique: Prestel, 2005, p.250]

Edifício HSBC, Shangai, Foster and Partners [FOSTER AND PARTNERS. "Catalogue Foster and
Partners". Munique: Prestel, 2005, p.251]
O segundo ponto a ser mencionado é a necessidade de fomentar uma abordagem
interdisciplinar no ensino de sistemas estruturais. O ensino de projeto de arquitetura
deve ser praticado de modo solidário ao ensino dos sistemas estruturais por meio de um
trabalho conjunto das disciplinas de projeto arquitetônico e sistemas estruturais com o
intuito de fomentar as dimensões funcional e formal na prática de projeto.
4.Conclusões
Como considerações finais, três aspectos devem ser destacados. Inicialmente, é importante
o reforço do entendimento de que os sistemas estruturais apresentam um papel funcional
e um formal no projeto de arquitetura. O papel funcional é vinculado às necessidades de
sustentação e manutenção do objeto arquitetônico na sua forma desejada. Já o formal,
vinculado às possibilidades de destaque na composição arquitetônica. Nesse caso, vale
destacar que a resolução formal de uma solução estrutural faz parte de um todo
arquitetônico e que a ênfase compositiva do sistema estrutural na arquitetura vincula-
se diretamente à valorização da dimensão tecnológica no projeto.
Um segundo aspecto a ser mencionado nas conclusões vincula-se as múltiplas possibilidades
de valorização do sistema estrutural na arquitetura do edifício, destacando a necessidade
da relação direta da maior ênfase na resolução do sistema estrutural com a conceituação
do projeto de arquitetura. Este aspecto relaciona-se diretamente com o terceiro ponto a
ser destacado nas conclusões deste artigo. A valorização do sistema estrutural deve estar
presente desde a fase de conceituação e de concepção do projeto de arquitetura, não
sendo, portanto, um elemento de arquitetura fruto de um processo de recortar-colar.

notas
1
MAHFUZ, E. 2006. Reflexões sobre a construção da forma pertinente. Acessado em:
18/09/2006, disponível em: http://www.vitruvius.com.br.2
CUNHA, Eduardo Grala da. A cobertura nos edifícios de grandes vãos: uma proposta de
ferramentas de apoio. Tese de Doutorado. Porto Alegre: UFRGS, 2005.3
Aqui cabe ressaltar que no caso da discussão dos sistemas estruturais, relaciona-se
apenas à sustentação do edifício.4
Caráter imediato é definido como aquele caracterizado pela técnica e materiais usados na
construção de um edifício, permite diferenciar dois objetos arquitetônicos com a mesma
planta, mesmo volume, porém de materiais diferentes. MAHFUZ, E. da C. Composição e caráter
e a arquitetura do novo milênio. Projeto Design, São Paulo, n. 195, abr. 1996. Apud
COSTA, Ana Elisia. Do galpão rudimentar ao complexo de edifícios industriais. Uma
investigação sobre o tipo e o caráter dos edifícios industriais. 1999. Monografia, PROPAR,
UFRGS, Porto Alegre, 1999.5
Site da empresa DVG. Disponível em www.finanzit.com. Consultado em 20 de dezembro de
2008.6
BLASER, Werner. Norman Foster: Sketches – Zeichnungen. Werner Blaser, Tradução de Claudia
Neuenschwander. Basel, Boston, Berlin: Birkhäuser, 1992.

sobre o autor
Eduardo Grala da Cunha é Arquiteto e Urbanista formado pela Universidade Federal de
Pelotas, com Mestrado e Doutorado em Arquitetura pela Universidade Federal do Rio Grande
do Sul. Possui Pós-doutorado pela Universidade de Kassel, Alemanha. Atualmente, é
professor Adjunto na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de
Pelotas, RS.

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