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Teoria da Dependência
Balanço e Perspectivas
Parte I
Porém, em meio a esse debate surgia à questão da URRS, tida como a pioneira
em conduzir uma experiência de desenvolvimento econômico por meio de um
planejamento estatal centralizado. Assim, a Revolução Russa trouxe a necessidade de se
explicar como o socialismo surgira como um novo regime politico e econômico com um
modelo de produção novo, numa sociedade que ainda não tinha atingido a maturidade
da revolução burguesa e da modernização.
Em suma, neste capitulo, como propõe o titulo, Santos nos mostra o debate que
se deu acerca da Teoria da Dependência nos continentes, particularmente o Africano,
Asiático e Latino Americano, ressaltando alguns países como Cuba e Índia e as vezes
perpassando pelo Brasil, apontando para como foi a integração da Teoria da
Dependência ao pensamento já existente, o contexto em que ocorreu, as críticas que
essa teoria sofreu principalmente nas décadas de 1970 e 80, e também um pouco da
evolução dessa teoria que resultou em parte desses diversos debates ocorridos,
chamando atenção para o grande acolhimento da Teoria pela América Latina, além de
trazer também uma perspectiva marxista acerca da Teoria da Dependência.
Esse enfoque teria um core, no qual teria a presença de uma periferia e uma
semiperiferia, destacando dentre as economias centrais uma economia hegemônica
articuladora de todo o sistema. Contudo, segundo Dos Santos, essa teoria foi
absorvendo outras teorias como as dos ciclos longos de Braudel e os ciclos de
Kondratiev, entendendo agora a evolução do capitalismo como uma sucessão de ciclos
vinculados a processos políticos, sociais e culturais. Partindo disso, o autor mostra a
ordenação da formação do capitalismo feita por Arrighi fundamentada numa analise da
relação exitente entre os ciclos e os principais centros financeiros que acabaram
tornando-se centros hegemônicos aliados com centros comerciais. A ordenação se dá
através de quatro ciclos de acumulação baseados em centros hegemônicos que seriam: o
ciclo genovês (séc. XIV-XV); o holandês (séc. XVI, XVII e metade do XVIII); o
britânico (séc. XVIII- XX) e o norte-americano (séc. XX).
Porém, Segundo Dos Santos nessa analise faltava a presença de um maior
enfoque a evolução das forças produtivas e as relações sociais de produção. Partindo
disso, o mesmo tentar articular a noção de sistema mundial com as grandes estruturas de
produção e particularmente com a revolução científico-técnica (Dos Santos,1983 e
1986), para aprimorar a teoria. O autor também sinaliza para o fato de que os
estudos acerca dessa teoria foram influenciados por uma serie de debates sobre as
mudanças ocorridas na economia e politica mundial nos anos 70, existindo também
varias perspectivas.
PARTE II
Capitulo I - A TEMÁTICA DO DESENVOLVIMENTO: CONTINUIDADE E
MUDANÇA
Neste capitulo, o autor aponta para a importância da CEPAL, particularmente
nas décadas de 40 e 50, no que diz respeito ao desenvolvimento de uma linha de
raciocínio que serviu como alicerce de análise econômica, empírica e também de apoio
institucional para a busca de bases autônomas de desenvolvimento, sendo essas bases
definidas por meio da confirmação de que a industrialização era de suma importância
para o processo de desenvolvimento, pois era aglutinadora e articuladora do mesmo, do
progresso, da modernidade, da civilização política e da democracia política. Já que,
segundo as lideranças mais modernas, o atraso era consequência de uma especialização
da economia, voltada para exportação de produtos primários.
Outra ideia a ser ressaltada é a necessidade de superação da monocultura, da
questão racial, o colonialismo interno, o dualismo econômico para poder se avançar no
desenvolvimento, pois a ideia de subdesenvolvimento estaria relacionada a esses
elementos, além de questões mais amplas de cunho social, politico, econômico e
cultural.
O autor também nos aponta que a explicação para o atraso no desenvolvimento
da América Latina era a falta de uma Revolução Burguesa, que também se aplicaria a
questão agrária (Reforma Agrária- influência da R. Mexicana). Assim, observa-se a
América Latina trabalhada como uma REGIÃO- atrasada em seu desenvolvimento com
forte presença da questão étnica, social, cultural.
A grande questão, segundo o autor, era a necessidade de uma Revolução
Burguesa na América Latina, sendo que esta necessitaria de uma classe protagonista, no
caso, a burguesia industrial nacional.
Outro ponto que Dos Santos destaca é aspecto importante da evolução da teoria
da dependência é o seu direcionamento, já no começo da década de 70, para a análise e
o aprofundamento do estudo do sistema econômico mundial (p.89). Em suma, nesse
capitulo, a discussão gira em torno da Teoria da Dependência e a possibilidade de
existência de um processo de democratização simultâneo a uma economia dependente
do capital internacional.
O trecho acima, segundo Dos Santos, traz esse novo direcionamento relacionado
a um questionamento da ordem civilizacional mundial, de comportamentos e
fundamentos da ideologia dominante no mundo liberal capitalista. Sendo esses novos
fundamentos voltados mais para o coletivo não dispensando o nascimento e crescimento
do individuo como fundamento da sociedade.
Dos Santos também sinaliza para o fato de que esse indivíduo deve tomar
consciência de seu desenvolvimento, reconhecendo na sua individualidade como uma
relação histórica do social. Para o autor, esse modelo de civilização advindo dessa
situação estabelecera uma nova relação entre individuo e sociedade, a qual a sociedade
buscara indivíduos com elevada potencialidade de desenvolvimento buscando atender
suas necessidades para se obter o máximo de eficiência social (p.95).
Dentro dessa nova sociedade onde o enfoque é a diversidade, a qual oferece de
acordo com a necessidade e recebe enquanto a capacidade do individuo, segundo Dos
Santos, deverá ocorrer um novo movimento para repensar o desenvolvimento levando
em consideração o individuo, a sociedade e o respeito a diversidade buscando a
interação e não a segregação.
Em suma, a partir dessa nova civilização planetária deverá ocorrer um esforço
para a superação no âmbito econômico, politico, social e cultural estabelecido pela
civilização liberal burguesa, superar o eurocentrismo, a situação de dominação e
expropriação de uma região por outra, assim como a dependência de uma região pela
outra visando uma sociedade plural.
PARTE III
OS FUNDAMENTOS TEÓRICOS DO GOVERNO FERNANDO
HENRIQUE CARDOSO: UMA ETAPA DE POLEMICA SOBRE A
TEORIA DA DEPENDENCIA
I-Introdução
O contexto abordado é o da eleição presidencial de 1994 na qual foi eleito
presidente Fernando Henrique Cardoso, cientista social e opositor da ditadura. Diante de
algumas obras de FHC publicadas, as quais polemizavam e iam de contra com o debate
estabelecido por Dos Santos e outros estudiosos, o autor explica a necessidade de dar
sequencia a polemica e discutir os destinos do Brasil e países dependentes, mantendo o
pragmatismo e como Dos Santos mesmo coloca, sem neutralidade.
Uma das contribuições desse modelo foi mostrar que a ideia de a América Latina
vivia num atraso feudal e seria o capitalismo moderno que a tiraria de situação estava
equivocada.
Outra questão apontada pelo autor foi a respeito da impossibilidade de analise do
imperialismo como um fenômeno externo que ia contra as realidades locais, já que
através do imperialismo conseguia-se constatar as relações existentes entre as
economias locais, regionais e globais. A questão da burguesia nacional também entra
nesse contexto, pois devido a sua ausência de historicidade para sustentar um programa
de desenvolvimento e autonomia que lhe traria um controle do excedente gerado na
região, identificou-se a necessidade de criação de uma metodologia histórico-estrutural
que enfatiza uma análise da totalidade e sua revolução dialética com as suas partes:
“Chegou-se a criar um consenso sobre a necessidade de uma
metodologia histórico-estructural que se opusesse à dicotomia entre o devenir
histórico e sua apreensão como sistema. Desenvolveu-se na região uma prática
científica voltada para a análise concreta dos processos sociais como
continuidade histórica e como estruturas dialeticamente interatuantes” (p.107).
Segundo Dos Santos, assim nada garante que o crescimento como exportadores
industriais signifique a reversão do subemprego, da marginalidade e da exclusão social
e sim o contrário, pois dados assinalavam para intensificação dessas questões, sendo
estas características do capitalismo dependente.
No capitalismo dependente, os limites para o desenvolvimento pleno das forças
produtivas são os políticos, segundo o autor os problemas como a ausência de produção
de tecnologia e qualidade na educação podem ser superados e a mudança das condições
políticas e geopolíticas mundiais ou regionais podem alterar as condições políticas
nacionais ou locais destes países, superando sua condição dependente.
PARTE IV
NOVOS MATERIAIS SOBRE A TEORIA DA DEPENDÊNCIA E
SUA VIGÊNCIA POLÍTICA
A quarta parte intitulada de “Novos materiais sobre a Teoria da Dependência e
sua vigência política” da obra de Dos Santos reúne cinco apêndices. O primeiro deles
diz respeito a uma “Carta aberta a Fernando Henrique Cardoso” escrita por Dos Santos,
respondendo a uma carta de FHC endereça a Lula, cujo conteúdo procurou justificar os
insucessos das ações políticas do governo FHC pela ameaça de um possível governo
Lula. Trata-se de uma resposta a uma velha polêmica envolvendo FHC e José Serra
contra todo um esforço de sistematização dos elementos de uma Teoria da Dependência
construída por Dos Santos, Ruy Mauro Marini, André Gunder Frank e Vânia Bambirra
na segunda metade da década de 1960. As críticas incidem sobre as proposições teóricas
que subsidiaram as práticas políticas de FHC, destacando três grandes mitos de seu
governo.
O primeiro mito afirma o Plano Real como um instrumento que pôs fim à
inflação, quando, na verdade, tratava-se de uma tendência mundial, ainda assim, a
inflação atingiu mais de 10%, sendo uma das mais altas do mundo. Mais ainda, o Real
foi anunciado como uma moeda forte, o que não ocorreu pela flexibilização do câmbio
que tornou a moeda brasileira valendo 4 reais por dólar. O segundo mito afirma o rigor
fiscal, mas a dívida externa brasileira disparou, a taxa de juros chegou a 50% ao ano
para atrair capital, provocando sérios problemas sociais como queda da renda, brutal
concentração de renda. O terceiro mito mostra a justificativa de dificuldade de
pagamento da dívida pela ameaça de um caos econômica de um possível governo Lula,
o que se constitui num absurdo. Tal dificuldade se explica pela política
macroeconômica submissa e dependente ao capital internacional, particularmente o
norte-americano.
O segundo apêndice sobre “Dados gerais sobre o governo Fernando Henrique
Cardoso” mostra dados estatísticos sobre o fracasso da política macroeconômica de
juros altos que seguiu na contramão da tendência de queda de juros internacionais e que
aprofundou a dependência do Brasil em relação ao capital internacional.
O terceiro apêndice “A dependência de Theotonio” apresenta uma resenha feita
por André Gunder Frank sobre a obra de Dos Santos “Teoria da Dependência:
Balanços e Perspectivas”. Frank ressalta em sua análise a importância do surgimento da
Teoria da Dependência na década de 1960 na América Latina como corpo de
conhecimento teórico-metodológico próprio, baseada em análise de experiências
empíricas dos países, contestando um enfoque teórico cuja tese afirmava que o
problema do desenvolvimento diz respeito às condições pré-capitalistas, atrasadas das
formações sociais latino-americanas.
Chama atenção também para a validade dos estudos sobre a dependência quanto
à análise do processo de expansão do capitalismo mundial e da inserção das economias
dos países latino-americanos nesse processo reforçando e aprofundando a dependência,
a exemplos empíricos como México, Peru, Argentina, Chile e Brasil. Outro aspecto
importante da crítica de Frank são as posições dos críticos da Teoria da Dependência
sob o argumento de que os dependentistas centraram suas análises nos fatores externos.
Como já foi dito, Dos Santos define uma abordagem teórico-metodológica em que há
uma relação dialética entre fatores externos e internos, o que permite apreender a
totalidade do processo de desenvolvimento do capitalismo contemporâneo. Frank nos
alerta também para uma limitação na obra de Dos Santos, a debilidade de não fazer a
pergunta de como acabar com a dependência.
O terceiro apêndice “40 anos da Teoria da Dependência: Lições da nossa
história” apresenta um debate sobre as origens da Teoria da Dependência e seus
desdobramentos, tendo como ponto importante a crítica do desenvolvimento dominante.
O caminho das pedras seguido pelos pesquisadores do Brasil na segunda metade da
década de 1960 a partir do regime militar passando pelo Chile, Panamá, Estados Unidos
e México expressa importante esforço crítico de sistematização teórica nas ciências
sociais para o pensamento social e político latino americano. Seguindo as análises sobre
dependência, Dos Santos publicou um artigo centrado na tese de que o golpe militar de
1964 no Brasil fez parte de um movimento geral que elegia a ideologia fascista como
um dos instrumentos ideológicos de dominação da nova etapa de expansão do
capitalismo. Ruy Mauro Marini desenvolvia estudos do subimperialismo brasileiro.
Além disso, mostrava-se a necessidade de mostrar as contradições desse processo de
expansão do capitalismo contemporâneo representado pelas lutas operárias e
camponesas nas economias dependentes. Ademais, no plano teórico-metodológico, Dos
Santos tem como base de suas análises sobre a expansão do capitalismo mundial os
ciclos econômicos de Kondratiev e as temporalidades de Fernand Braudel, destacando a
restruturação cíclica do movimento imperialista do capitalismo para economias
dependentes.
O último dos apêndices é o Prólogo e a Introdução do livro Imperialismo y
Dependencia, seguindo os estudos sobre socialismo ou facismo. Nele Dos Santos
destaca a trajetória dos estudos sobre o capitalismo contemporâneo, as relações de
dependência e o imperialismo contemporâneo como uma nova fase do capitalismo
tendo as multinacionais como estratégia de expansão do capital monopolista, sendo o
Estado um dos aliados nesse processo. A síntese histórica construída por Dos Santos
sobre o desenvolvimento do capitalismo contemporâneo traz alguns elementos para a
compreensão da fase atual do imperialismo sob a hegemonia dos Estados Unidos. Um
deles é a compreensão da crise do capitalismo e imperialismo contemporâneos, diante
da confrontação com as contradições e tensões de classe e a expansão do socialismo.