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Transição à Turbulência
4.1. Introdução
A Figura 4.1 ilustra a distribuição de velocidade. O perfil ali apresentando deve ser
repetido em todo o domínio de cálculo, de forma auto similar. A variação inflexional de
velocidade ocorre na direção vertical. A velocidade varia de um mínimo U 1 até um
está delimitada entre as duas linhas pontilhadas. A espessura inicial está representada
à direita da figura onde se esquematiza uma forma de defini-la, sendo a distancia entre os
dois pontos de cruzamento entre a tangente ao ponto de inflexão e as duas retas verticais
tangentes à distribuição de velocidade.
Pontos de inflexão
Camada cisalhante
Camada cisalhante
p- p- p- p- p- p- p- p- p-
p+ p+ p+ p+ p+ p+ p+ p+ p+
+ + + +
- - -
(a)
p- p- p- p-
p+ p+ p+
p+ p+ p+ p+
p- p- p-
max
(b)
(c)
Figura 4.2. Comportamento das linhas de corrente na fase inicial do processo de transição
de uma camada de mistura temporal.
ainda não são completamente conhecidos. Um estudo muito importante foi realizado por
Betchov e Szewcyk (1963), tendo em vista quantificar o número de onda mais amplificado
em função do número de Reynolds, para escoamentos do tipo camadas de mistura em
desenvolvimento temporal. Esse autores utilizam a teoria da estabilidade linear (Drazin,
2002 e Drazin e Reid, 2004), o que resultou em um diagrama de estabilidade. Esse
diagrama é ilustrado na Figura 4.3, a qual é uma adaptação qualitativa da publicação
original. Essa figura é muito útil para melhor compreender o processo de transição à
turbulência. Essa figura é apresentada com parâmetros adimensionais, ou seja, no eixo
vertical aparece o número de onda adimensional k , onde é a espessura da camada de
mistura; no eixo horizontal aparece o número de Reynolds Re U / , foi definido com
base em e na velocidade média U U1 U 2 / 2 . As linhas que aparecem na figura são
amplificação com valores inferiores a esse valor. Isso significa que para esse valor de
Reynolds, a taxa de amplificação máxima é kci / U max 0,1 que corresponde a
kmax
Região de instabilidades
0, 0
0, 0 10, 0 20, 0 30, 0 40, 0
U 0
Re
Figura 4.3. Diagrama de estabilidade, adaptado de Betchov e Szewcyk (1963), apresentado
esquematicamente.
Uma análise mais detalhada da Figura 4.3 pode ser útil para compreensão física da
dinâmica de uma camada de mistura temporal, assim como para a validação de resultados
numéricos obtidos da solução computacional das equações que compõem o modelo
diferencial, ou seja, a equação da continuidade e as equações de Navier-Stokes. O campo
de velocidade média de base, utilizado para a obtenção dessa figura é dado por:
U y U tanh y / . (4.1)
pontos relativos às máximas taxas de amplificação. Essa curva pode ser dada por um
polinômio, conforme sugerido por Betchov e Szewcyk (1963). Torna-se possível prever
qual será o comprimento de onda mais amplificado em uma camada de mistura temporal,
para um dado valor do número de Reynolds.
A evolução do processo de amplificação de perturbações e geração das
instabilidades de Kelvin-Helmholtz está ilustrada também na Figura 4.4, obtida por meio
da solução numérica das equações de Navier-Stokes, utilizando-se a metodologia pseudo-
espectral de Fourier (Moreira e Silveira-Neto, 2007). Observa-se na Figura 4.4 (a) a
amplificação da perturbação de comprimento de onda max e na Figura 4.4 (b) tem-se o
inferior a max , com a qual as instabilidades primárias aparecem. Pode-se entender que as
domínio foi discretizado por uma malha de 64,32, 64 sendo que esse código
computacional possibilita o refinamento adaptativo e, no presente caso, foram utilizados
3 níveis de refinamento. O perfil de base de velocidade foi dado por:
y 2
V (u, v, w) (20 tanh , 0, 0) . (4.2)
inicial, dadas pela Equação (4.2). Foi utilizado um gerador de ruído branco. Esse ruído
modela as perturbações que estão sempre presentes em qualquer experimento, como o
que foi apresentado pela Figura 4.6. Na Figura 4.7 (b) percebe-se que o escoamento
selecionou um comprimento de onda max , que, em conformidade com a teoria da
estabilidade linear, foi amplificado com taxa de amplificação máxima. Esse processo dá
origem às chamadas instabilidades de Kelvin-Helmholtz. Observa-se que o comprimento
do domínio na direção do escoamento é Lx 8 m e que, na Figura 4.7 (b), apareceram 5
amplificado, obtido pela teoria de estabilidade linear, max.tel 1,6 m . Essa comparação
(a) (b)
(c) (d)
Figura 4.7. Camada de mistura em desenvolvimento temporal; ruído superposto à
condição inicial; (a), (b), (c) e (d) sequencia temporal do escoamento, visualizado com iso-
valores do critério Q. Simulação realizada no MFLab-FEMEC-UFU, por Rafael Romão,
utilizando o modelo computacional AMR3DP.
ruídos nas três direções têm sementes e intensidades diferentes. Na Figura 4.8 (b) tem-se
as mesmas sementes, mas intensidades inferiores ao caso (a). Percebe-se o mesmo
padrão da transição, porém, no caso (a) tem-se uma evolução mais avançada que no caso
(b). Esse padrão era esperado uma vez que, se as sementes são as mesmas, as frequências
são as mesmas nos dois casos. No entanto, sendo a intensidade do ruído do caso (b)
menor que do caso (a), é natural que a transição ocorra mais tardiamente.
Da Figura 4.8 (b) para a Figura 4.8 (c) alterou-se as sementes, mas mantiveram-se
as intensidades. Assim, as frequências injetadas terão níveis de energia diferentes, porém
as larguras das bandas de frequências são mantidas iguais. Percebe-se que os padrões dos
escoamentos são diferentes, porém o comprimento de onda mais amplificado foi
mantido, uma vez que o número de estruturas turbilhonares manteve-se igual a cinco.
(a) (b)
(c) (d)
Figura 4.7. Camada de mistura em desenvolvimento temporal; iso-valores do critério Q
de visualização; (a) Ruídos com as sementes e intensidades diferentes nas três
direções; (b) Ruídos com as mesmas sementes do caso (a) mas com intensidades iguais
entre si e inferiores ao caso (a); (c) Ruídos com as sementes diferentes do caso (b) mas
com intensidades iguais ao caso (b) e iguais entre si; (d) Ruído somente na direção
longitudinal, nova semente, mesma intensidade dos casos (b) e (c). Simulação
realizada no MFLab-FEMEC-UFU, por Rafael Romão, utilizando o modelo
computacional AMR3DP.
Da Figura 4.8 (d) o mesmo escoamento dos itens anteriores, porém com ruído
apenas na direção longitudinal e com semente diferente e mesma intensidade.
Novamente a transição ocorre, mas com um padrão diferente. É interessante notar que,
apesar de não ter ruído na direção transversal ao escoamento, as instabilidades nessa
direção também se desenvolvem. Efetivamente o fato de não ter sido injetada
explicitamente perturbações nas direções transversais não quer dizer ausência de
perturbações. Foi realizada uma simulação sem nenhuma perturbação sobre a condição
inicial e o escoamento transicionou, mostrando a presença de ruído numérico, associado
aos erros inerentes aos métodos de discretização temporal e espacial.
Os experimentos numéricos mostram que a transição à turbulência é altamente
sensível a pequenas mudanças na condição inicial, mesmo a alterações na semente do
ruído injetado inicialmente. No entanto, a “escolha” do comprimento de onda mais
amplificado, max , só depende do número de Reynolds que caracteriza o escoamento.
do domínio as quais são transportadas ao longo do mesmo. À medida que vão sendo
transportadas elas se emparelham, formando estruturas ainda maiores, com k k ma x
. Este
x
tempo de giro .
(a)
(b)
(c)
Figura 4.10. Camada de mistura em desenvolvimento espacial: instabilidades de Kelvin-
Helmholtz; instabilidades transversais e filamentos longitudinais; tridimensionalização e
desenvolvimento da turbulência; Figure (c) foi adaptada de Brow and Roshko (1974).
O conceito de estrutura coerente foi lançado por Brow and Roshko (1974), que
observaram essas estruturas turbilhonares por experimento material. Dessa referencia
retirou-se a Figura 4.10 (c), onde se percebe a grande semelhança qualitativa entre o
resultado obtido pela experimentação virtual e pela experimentação material.
4.2.2. Jatos
(a)
(b)
(c)
Figura 4.13. Evolução tridimensional de um jato temporal: formação de instabilidades de
Kelvin-Helmholtz (Souza e Silveia-Neto, 2005), filamentos longitudinais e transição a
turbulência; o campo do módulo da vorticidade; (a) vistas tridimensionais, (b) cortes
verticais e (c) cortes horizontais.
J / kg
1 / s . A denominação específica refere-se à energia por unidade de massa, enquanto
u x , t u t u x , t . (4.1)
1 T 1 T
uu x u x , t u x , t dt u* x , t u x , t dt u x , f u x , f df .
F *
T 0 T 0 0
(4.2)
O superíndice (*) que aparece na Eq. (4.2) indica o conjugado da função correspondente.
A segunda igualdade que aparece nessa equação se deve ao fato que u* x, t u x, t ,
tendo em conta que u x , t é uma função real. A última igualdade dessa equação se
apoia no teorema de Parseval. Observa-se que todos os termos da Eq. (4.2) têm unidade
de J / kg . Define-se a densidade espectral da energia específica:
*
Euu x , f u x , f u x , f u R u I u R 2
u I u R u I
2
. (4.3)
Assim, a equação (4.2) pode ser reescrita da seguinte forma:
F F
k x u2 2 w2 Euu x , f E x , f Eww x , f df E x , f df . (4.5)
1 1
2 02 0
u x , t u t u x , t (4.6)
u x, t u x, t dx V u x, t u x, t dx u k , t u k , t dk .
1 1
uu t
*
*
(4.7)
V V V Vˆ
*
Euu k , t u k , t u k , t u R u I u R 2
u I u R u I
2
. (4.8)
uu t ˆ u k,t u k,t dk ˆ Euu k,t dk .
*
(4.9)
V V
A energia cinética turbulenta é expressa envolvendo um dualismo entre o espaço físico e o
espaço de Fourier:
1 2 2
u w2 ˆ Euu k , t E k , t Eww k , t dk E k , t dk .
1
k t (4.10)
2 V2
três valores do número de Reynolds. Para cada valor de Reynolds tem-se uma sequencia
temporal dos espectros, mostrando a evolução da turbulência. Os escoamentos foram
inicializados no regime laminar, com campos de velocidade inflexionais. Como comentado
no parágrafo anterior, perturbações foram superpostas aos campos de base iniciais.
Assim, os diferentes comprimentos de onda foram amplificados estabelecendo-se os
espectros. Percebe-se que à medida que o tempo transcorre, os espectros tendem a uma
inclinação de -5/3, que é a inclinação predita pela lei de Kolmogorov (1941a) e
Kolmogorov (1941b).
(a) (b)
(c)
Figura 4.14. Densidade espectral de energia cinética turbulenta para jatos em
desenvolvimento temporal: (a) Re 1.600 ; (b) Re 5.000 e (c) Re 10.000 .
Observa-se ainda que quanto maior o número de Reynolds, mais próxima se torna
a inclinação dos espectros da inclinação esperada. Isso se deve ao fato que quanto maior
o número de Reynolds mais intensa se torna a turbulência e mais se aproxima da condição
de turbulência tridimensional desenvolvida. Percebe-se que, como esperado, para
escoamentos energizados pela condição inicial apenas, o estado de turbulência se
estabelece, mas, logo em seguida ela entra em decaimento. Isso fica claro olhando, por
exemplo, os espectros para Re 5.000 . Em t=20 s, o espectro apresenta os níveis mais
elevados par todos os números de onda. Para t=30 s e t=40 s e par k 10 1/ s a
turulencia apresenta níveis de energia menores que para t=20 s, ilustrando assim o
processo de decaimento.
Os jatos podem ser classificados segundo a geometria que os formam. Fala-se de um jato
redondo se ele foi gerado por um orifício circular, jato plano ou retangular se foi gerado
por um bocal plano ou retangular. Em qualquer um destes tipos de jatos a transição a
turbulência é caracterizada, à semelhança das camadas de mistura, pela formação de
instabilidades primárias do tipo Kelvin-Helmholtz, as quais induzirão a formação de
filamentos secundários. As interações dos filamentos longitudinais contra rotativos com as
estruturas turbilhonares primárias de Kelvin-Helmholtz induzirá a formação de oscilações
transversais, as quais se amplificam e compõem o cenário da transição à turbulência
tridimensional. A Figura 4.16 ilustra esquematicamente o processo de transição a
turbulência, com as diferentes fases que a caracteriza: (1) jato originário de um bocal
convergente, na sua fase de desenvolvimento; (2) formação de instabilidade de Kelvin-
Helmholtz e geração de instabilidades toroidais bidimensionais axi-simétricas; (3)
crescimento e deformação dos toroides pelos mecanismos de emparelhamento e pelo
desenvolvimento de filamentos longitudinais contra rotativos; (4) desenvolvimento de
turbulência tridimensional a qual se organiza em uma vasta banda de escalas, como ilustra
a Figura 4.16 (a). A presença dos filamentos longitudinais contra rotativos pode ser
visualizada na Figura 4.16 (b), a qual representa um corte horizontal assinalado no plano
horizontal desenhado na Figura 4.16 (a). Visualizam-se estruturas turbilhonares na forma
de cogumelos distribuídos ao redor do jato. Esses cogumelos são formados pela presença
dos filamentos longitudinais contra rotativos. Os filamentos interagem com as estruturas
primárias toroidais, gerando fortes deformações e contribuindo para o processo de
transição. Este cenário tem sido observado tanto em trabalhos de experimentação
material quanto em trabalhos de experimentação numérico-computacional.
Como nos casos precedentes, as primeiras instabilidades aparecem de forma
senoidal, indicando um processo de amplificação seletivo de perturbações. Os jatos
transicionam a baixos valores do número de Reynolds, a exemplo do que acontece com
todos os escoamentos cisalhantes livres. Para os jatos circulares a transição se inicia a
Red=10 ( Re Ud v ) segundo Drazin e Reid (1981).
A transição de um jato laminar para um jato turbulento acontece à jusante do
bocal que lhe dá origem. Ela depende da geometria do orifício ou do bocal e também das
condições do escoamento à montante. Desta forma os experimentos são dificilmente
comparáveis entre si do ponto de vista da dinâmica e da topologia do escoamento. Torna-
se também difícil de comparar dados de experimentações materiais com dados de
experimentações virtuais ou computacionais, exceto do ponto de vista estatístico. No
entanto, mesmo do ponto de vista estatístico, faz-se necessário o conhecimento
detalhado da fluidodinâmica à montante do bocal.
(a) (b)
Figura 4.16. Jato redondo em transição; (a) visualização de um plano de iluminação laser
vertical e (b) plano de iluminação laser horizontal, transversal ao jato, na posição indicada
pelo plano horizontal de corte do jato (figura adaptada de Moreira e Silveira-Neto, 2007).
Figura 4.19. Evolução espacial da velocidade do jato na sua linha central, função da
coordenada z, para três valores do número de Reynolds (Moreira e Silveira-Neto, 2007).
4.2.3. Esteiras
c y2
u y, t 0 U 1 e 1 , (4.11)
onde U é a velocidade do meio que envolve a esteira, c1 é uma constante que modela a
u x, y, z, t 0 u y, t 0 auu x, y, z , (4.12)
x, y, z, t 0 a x, y, z , (4.13)
w x, y, z, t 0 aw w x, y, z , (4.14)
espaciais são modeladas por u, e w . A superposição desse ruído aos campos iniciais
de velocidade são necessários quando se utiliza um método numérico-computacional de
altíssima acurácia, com erros numéricos da ordem de erros de máquina. Assim, sem erros
numéricos e sem uma perturbação matemática superposta ao campo de base inicial, não
ocorreria a transição de laminar para turbulento, como ocorre no experimento material e
até mesmo em experimentos numérico-computacionais com métodos convencionais. De
fato, nesse caso, os erros numéricos, inerentes aos métodos de baixa taxa de
convergência, servem de modelo para o ruído, garantindo a transição dos escoamentos,
mesmo sem a superposição de ruído matemático.
Existem disponíveis na literatura diversas técnicas de geração de ruídos, muitas das
quais utilizam geradores de números pseudorrandômicos de bibliotecas abertas ao
público. Escolheu-se para a simulação da esteira plana a utilização do ruído digital
proposto por Smirnov, Shi e Celik (2001), denominado RFG, (Random Flow Generator)
tendo em vista os resultados satisfatórios obtidos nas simulações de Moreira (2011).
Dentre as vantagens da utilização do RFG, destacam-se a facilidade de implementação e
seu baixo custo computacional. Detalhes dos parâmetros do método RFG implementados
no código IMERSPEC3DP podem ser encontrados em Moreira e Silveira-Neto (2011). Para
o número de Reynolds, escolheu-se o valor Re 346 , estimado como sendo um valor
suficiente para o desenvolvimento das principais estruturas turbilhonares do escoamento.
Os parâmetros adotados para a simulação estão definidos na Tabela 4.1.
au , a , aw 10 3
,103 ,103
mecanismos não lineares, para ser amplificado com taxa máxima de amplificação. Assim,
ele é o primeiro a aparecer na forma de instabilidades fluidodinâmicas.
Essas instabilidades que aparecem aqui na esteira são de mesma natureza das
instabilidades que foram apresentadas e discutidas para camadas de mistura e jatos. Os
mecanismos de formação são os mesmos já descritos anteriormente, o que permite que
essas instabilidades que compõem a esteira espacial sejam também ditas de Kelvin-
Helmholtz. É interessante observar que se formam duas alas de instabilidades, uma
superior e uma inferior. Elas encontram-se defasadas entre si, caracterizando o conhecido
modo sinuoso de formação e transporte de instabilidades. Essas instabilidades giram no
sentido horário na ala superior e no sentido anti-horário na ala inferior. À medida que
giram, elas transportam fluido das camadas externas a elas, regiões essas, ricas em
quantidade de movimento linear, o que as energiza e faz com que elas cresçam ao longo
do tempo. Isso pode ser observado na sequência de imagens. As estruturas turbilhonares
aumentam de tamanho com o tempo. Nas camadas de mistura, estudadas anteriormente,
o principal mecanismo de aumento de tamanho das estruturas turbilhonares eram os
emparelhamentos. Aqui, no caso de esteira simulada, os emparelhamentos não se
apresentam e o principal mecanismo de crescimento é o transporte advectivo de
quantidade de movimento linear, promovido pela rotação das estruturas turbilhonares.
Outros comprimentos de onda se amplificam concomitantemente com max . Eles
podem ser observados em uma visualização tridimensional, como mostra a Figura 4.22.
Nessa figura apresenta-se a visualização do escoamento em quatro tempos diferentes e
sob dois ângulos de visualização: Figura 4.22(a) perspectiva e Figura 4.22(b) vista superior.
Percebe-se pela primeira linha que em um tempo após a condição inicial as instabilidades
de Kelvin-Helmholtz foram formadas com comprimento de onda max e que superpostas a
(a) (b)
(c) (d)
(a)
(b)
Figura 4.24. Escoamento sobre uma esfera: Re=10.000. Visualizam-se o critério Q. Acervo
pessoal (Duarte e Silveira-Neto, 2015).
Observa-se a esteira turbilhonar deixada pela bolha em ascensão. Nas Figuras 4.26 (a), (b)
e (c) tem-se o modo varicoso, com a presença de instabilidades toroidais axissimétricas.
Na Figura 4.26 (d) os toroides perdem a axisimetria e dá origem à bifurcação para o modo
sinuoso de emissão e transporte de instabilidades fluidodinâmicas. O modo sinuoso pode
ser claramente visualizado na Figura 4.26 (e).
Na Figura 4.27 mostra-se uma sequencia temporal onde visualizam-se a evolução espacial
da esteira de estruturas turbilhonares. A montagem destaca a bolha da esteira, de tal
forma a se poder visualizar a geometria da bolha, a qual é deformável. O modo sinuoso de
geração de instabilidades está presente nessa figura. As estruturas turbilhonares são
coerentes, fato que pode ser observado pela permanência das mesmas, no domínio de
experimentação, por uma longa distância, equivalente a 30db. No entanto, devido aos
efeitos tridimensionais, a vorticidade é dissipada, e as estruturas turbilhonares vão
desaparecendo à medida que se afastam de sua fonte geradora, ou seja, a bolha.
ser visualizado na Figura 4.28 (a). As cores azul e vermelha correspondem a esses
isovalores de vorticidade e desenham estruturas turbilhonares que giram no sentido
horário e anti-horário. A natureza contra rotativa dessas estruturas pode ser visualizada
na Figura 4.28 (b), utilizando-se de campos da velocidade. Cortes horizontais sobre a
esteira estão ali apresentados. O plano (1) foi feito de forma a visualizar o que está
ocorrendo no centro da bolha e os planos (2), (3) e (4) foram feitos na esteira, como
ilustrado na Figura 4.28 (a). Vários pares contra rotativos são identificados sobre os quatro
planos horizontais. Todos eles estão correlacionados, mostrando estruturas contra
rotativas semelhantes. A interação dessas estruturas longitudinais com as estruturas de
Kelvin-Helmholtz, as quais foram visualizadas na Figura 4.26, representa a fase inicial de
todo o complexo processo de transição à turbulência.
(a) (b)
Figura 4.28. Escoamento à jusante de uma bolha em movimento de ascensão:
c / d 54,3 ; c / d 100,0 ; Mo 2,581 1011 ; Re = 1.329,0 . Presença de
filamentos turbilhonares longitudinais contra rotativos. Acervo pessoal (Pivello et al.
2013).
Na Figura 4.29 mostram-se o escoamento sobre um cilindro horizontal muito
longo. A razão de aspecto, definida como L / D , onde L e D são respectivamente o
comprimento e o diâmetro do duto. Para os presentes resultados foi utilizada a razão
L / D 56 . O número de Reynolds, baseado no diâmetro do tubo, é dado por
Re D 5,0 105 . Visualizam-se o campo de vorticidade, sendo a Figura 4.29 (a) uma vista
em perspectiva e a Figura 4.29 (b) uma vista superior do escoamento. Os tempos físicos
do escoamento em (a) e (b) são respectivamente t=40 [s] e t=60 [s].
(a)
(b)
Figura 4.29. Escoamento sobre um cilindro horizontal; razão de aspecto L / D 56 ;
Re D 5,0 10 5 ; visualizam-se o campo de vorticidade; (a) vista em perspectiva do
5.- Turbulência 3D
4.- Spots Turbulentos
3.- Indução não linear
dos processos de
bombeamento de
fluido vertical e de
soerguimento das
cristas das
instabilidades
2.- Oscilações
transversais sobre
as ondas TS
1.- Ondas de Tollmien-
Schlchting
Figura 4.30. Transição de uma camada limite sobre uma placa plana (experimento
realizado por Perry and Li, 1990); esquemas ilustrativos das fases da transição a
turbulência de uma camada limite sobre uma placa plana.
FL
(a) (b)
Figura 4.31. Transição de uma camada limite sobre uma placa plana (adaptação feita por
Silveira-Neto), com esquemas ilustrativos das fases de transição.
visualizado nas Figuras 4.31 (a) e (b). Nota-se que sobre as cristas, os efeitos de
bombeamento e de Magnus se somam no sentido de soerguer o filamento turbilhonar
para o interior do escoamento. Por outro lado, nos vales, eles se subtraem, de forma que
o filamento se mantém junto à parede.
Estruturas do
tipo grampo de
cabelo.
Estruturas do
tipo lambda .
(a)
Estruturas do
tipo ferradura
de cavalo.
(b)
Figura 4.32. Secção transversal laser das instabilidades ferradura de cavalo. Adaptado de
Taneda (1981).
Figura 4.33. Spot turbulento no interior de uma camada limite plana em transição
(retirado de Cantwell et al., 1978).
camada limite, visualizados classicamente por meio de injeção de fumaça. A última fase
(4) da transição, ilustrada em detalhe na Figura 4.33, representa uma espécie de
reorganização do escoamento em spots turbulentos com fortes concentrações de energia
cinética turbulenta, o que dá ao processo de transição um caráter fortemente
intermitente. A fase 5 representa, simbolicamente, o estado de turbulência plena.
A exemplo do que foi ilustrado para o caso dos escoamentos do tipo esteira, uma
camada limite também se desenvolve sobre diferentes tipos de geometrias. Na Figura
4.33(a) mostra-se a camada limite que transiociona sobre uma esfera. A camada limite
tem sua origem no ponto de estagnação à montante da esfera. À medida que o
observador se desloca sobre a superfície da esfera, aparecem as ondas de Tollmien-
Schlchting e as estruturas dos tipos: grampo de cabelo, lambda e até mesmo do tipo
ferradura de cavalo, típicas do processo de transição em camadas limite. Estes detalhes
podem ser visualizados na Figura 4.34(b).
(a)
(b)
Figura 4.34. Camada limite sobre a primeira metade à esquerda de uma esfera (a);
detalhes das ondas de Tollmien-Schlchting e das instabilidades tipo grampo de cabelo (b).
entanto, as partículas permanecem em repouso, e esse fato leva a conclusão que a força
resultante sobre uma partícula fluida, nesse problema, deve ser nula. Isso se deve ao fato
que a parede vertical barra o movimento das partículas e faz estabelecer um gradiente de
pressão que equilibra exatamente a força peso. O mesmo acontece na metade inferior do
(a)
(b)
Figura 4.35. Representação esquemática do experimento de Rayleigh-Bernard: duas
placas paralelas com temperaturas diferentes; (a) estratificação estável: placa superior
mais aquecida e (b) estratificação instável: placa superior menos aquecida.
g Te3
Ra (4.15)
Nas Figuras 4.37 (a), (b) e (c) mostra-se três configurações de escoamentos numa camada
horizontal de fluido, relativas a três regimes diferentes de escoamento. Observa-se que à
medida que se aumenta o número de Rayleigh o escoamento se torna menos organizado,
mais instável. Na Figura 4.37 (a) têm-se as células de Bernard ainda bem organizadas. Nas
Figuras 4.37 (b) e (c) estas células desapareceram e surge um regime mais desorganizado,
onde os regimes de transição à turbulência, e, possivelmente de turbulência, podem ser
encontrados. O movimento presente neste tipo de escoamento se deve ao processo de
transformação de energia potencial em energia cinética o que alimenta as correntes
convectivas. Existem também os efeitos viscosos que requerem a reposição da energia
cinética das partículas de fluido, a partir da energia potencial.
(a)
(b)
(c)
Figura 4.37. Convecção de Bernard em uma camada fluida horizontal, para Pr=0,7:
(a) Ra=4,8x104; (b) Ra=1,3x105 e (c) Ra=1,7x105.
Problemas semelhantes a este podem ser encontrados, nos quais o movimento do
fluido é alimentado por outra fonte motriz. Imagine-se, por exemplo, uma camada de
fluido fina colocada sobre uma placa plana horizontal e com uma interface entre essa
camada de fluido e o fluido que a envolve, acima dela. Essa interface é também conhecida
como uma superfície livre, que está no lugar da segunda placa, do experimento anterior.
d 1
Mg .e.ΔT , (4.16)
dT
Ma
d / dT .
Ra g e2 (4.17)
instável. Para 0 λ < c1 então o sistema será sempre estável. O parâmetro λc1 é a
relação de rotações crítica para a qual ocorre a transição para a turbulência. Ressalta-se
ainda que λc1 depende do tipo de perturbações injetadas no sistema.
onde
A (Ωo Ro2 - Ωi Ri2 ) ( Ro2 Ri2 ) e B (Ωo - Ωi ) Ri2 Ro2 ( Ro2 Ri2 ) ,
(a) (b)
Taylor, Ta ri L3 (Ωi2 - Ωo2 ) 2 . Quando este parâmetro aumenta acima do valor crítico,
presente trabalho, descreve exatamente o perfil analítico. Trata-se de casos com números
de Reynolds abaixo do número de Reynolds crítico Radc 114 (valor equivalente ao Tac ),
Re=50 : Teórico
80 Re=100 : Teórico
Re=50 : Presente trabalho
Re=100 : Presente trabalho
60
-
(vL)/
40
20
0
0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0
i
r (r-Ro)/(Ri-Ro)
r / r r
0 0
Figura 4.41. Distribuição da velocidade tangencial para o escoamento anular de Couette;
Re =50 e 100. Acervo pessoal (Padilla e Silveira-Neto,2004).
longitudinalmente (cinco células). Elas podem ser vuisualizadas nas Figuras 4.33 (a), (b) e
(c). Trata-se da formação dos vórtices de Taylor-Couette, desenhados com campos das
componentes da velocidade adimensionalizadas, uL / , L / e wL / , plotadas em um
plano ( r, z ) arbitrário. A velocidade radial (Fig. 4.42 (a)), descreve vórtices alternados
(positivo, negativo) ordenados axialmente por pares. A velocidade tangencial (Fig. 4.42(b))
mostra ondas com os picos coincidentes com as partes positivas da velocidade radial e
com vales coincidentes com as partes negativas. A velocidade axial (Fig. 4.42 (c)) mostra
células alternadas ordenadas em sentido radial, cujo centro coincide com a interface dos
campos negativo e positivo da velocidade radial. O campo vetorial de velocidade é
apresentado na Fig. 4.43, evidenciando a presença de células contrarotativas de forma
quadrada, o que significa excelente concordância com os experimentos de Schultz-
Grunow (1938), Hein (1956), Cole (1965) e Wereley e Lueptow (1999). Portanto, o
comprimento de onda axial mais amplificado é max 2L como previsto pela teoria da
estabilidade linear.
-
(uL)/
0.5
0.3
0.1
-0.1
-0.3
-0.5
(a)
-
(vL)/
118.0
97.8
77.6
57.4
37.1
16.9
(b)
-
(wL)/
0.5
0.3
0.1
-0.1
-0.3
-0.5
(c)
Figura 4.42. Campos de velocidade para Re =118, =1,133 e =10. (a) radial, (b)
tangencial, (c) axial. Acervo pessoal (Padilla e Silveira-Neto, 2004).
Figura 4.43. Campo vetorial da velocidade para Re =118, =1,133 e =10. Acervo
pessoal (Padilla e Silveira-Neto, 2004).
2 (cor verde) foram plotados. Pode-se observar, através do corte, que os vórtices de
Taylor-Couette são axisimétricos e contrarotativos.
(a)
(b)
(c)
Figura 4.44. Vista em perspectiva das isosuperfícies de: (a) velocidade radial, (b)
velocidade axial, (c) vorticidade z 2 (cor cinza) e 2 (cor verde); para Red 118 ,
1,133 e 30 . Acervo pessoal (Padilla e Silveira-Neto, 2004).
Para Red 2.190 observa-se que ocorre a transição à turbulência, Figura 4.45. Percebe-se
(a)
(b)
Figura 4.46. (a) distribuição temporal de velocidade radial e (b) distribuição temporal da
densidade espectral de potência. Acervo pessoal (Padilla e Silveira-Neto, 2004).
Este é apenas mais um cenário de transição à turbulência com características similares aos
precedentes, ou seja: surgimento de instabilidades típicas do escoamento, como resultado
do processo de amplificação de perturbações; bifurcação destas instabilidades primárias e
geração de uma nova família de instabilidades e, finalmente, formação de um espectro
largo de instabilidades característico do regime de turbulência. O leitor interessado
pode encontrar mais detalhes sobre o tratamento analítico deste problema, via teoria da
estabilidade linear em Tritton (1988).
U
1/2
G (4.19)
R
,
indica vorticidade negativa (sentido horário) e a cor azul indica vorticidade positiva
(sentido anti-horário). Percebe-se a formação da camada cisalhante inferior após o ponto
de descolamento da camada limite, como ilustrado pelo ponto (2) na Figura 4.48.
Estruturas turbilhonares do tipo Kelvin-Helmholtz são formadas e transportadas na
direção da parede inferior, como ilustrado pelo número (3) da Figura 4.48. Após colidir na
região de recolamento da camada limite, ponto (5) da Figura 4.48, as estruturas são
transportadas na direção da saída do canal. A formação das estruturas de Kelvin-
Helmholtz se dá devido à recirculação que se forma a jusante do degrau, criando um
campo de velocidade inflexional.
Na parte superior do canal, observa-se que a camada limite descolou, dando
origem a inflexionalidade no campo de velocidade e criando, por consequência, estruturas
de Kelvin-Helmholtz. Elas são transportadas sequencialmente na direção da saída do
canal. É curioso perceber o descolamento de uma camada limite sobre uma placa plana!
Isso se dá, nesse caso, por se tratar de um escoamento confinado entre duas placas e
numa região em que o campo de pressão é variável, dando origem a gradientes adversos
de pressão sobre a placa plana superior. Como é de conhecimento, campos de pressão
que apresentam gradientes adversos podem promover descolamento de camadas limite.
Apesar de se tratar de uma simulação bidimensional, detalhes importantes foram
capturados, como o fenômeno de bursting (explosão) de vorticidade na parede inferior do
canal, como assinalado pelas setas brancas na Figura 4.49. Esse tipo de efeito físico foi
capturado também em experimentos materiais por Pronchick and Kline (1983) utilizando
um túnel de vento e visualização com injeção de fumaça.
Figura 4.49. Escoamento bidimensional à jusante de uma expansão brusca. Sequencia
temporal dos campos de vorticidade transversal z . Número de Reynolds baseado na
Figura 4.50. Escoamento tridimensional sobre uma expansão brusca; número de Reynolds
baseado na altura do degrau, ReH 38.000 ; razão de aspecto R W / H 2.5 : (a)
isovalores da vorticidade longitudinal, x 2,5 U 0 / H e (b) isobárica p 0,3U o2 .
Figura 4.51. Escoamento tridimensional sobre uma expansão brusca; número de Reynolds
baseado na altura do degrau, ReH 6.000 ; razão de aspecto R W / H 1, 25 ; isovalor
Figura 4.52. Corte vertical (a-a) sobre os turbilhões longitudinais da Figura 4.51; campo
vetorial da velocidade. Acervo pessoal (Silveira-Neto et al., 1993).
Todo efeito sucede uma causa. Uma só linha errada nos programas
computacionais utilizados nas bolsas de valores e assistir-se-á a uma onda de
instabilidades financeiras mundiais. Assim se exprimem aqueles que se interessam por
uma das mais importantes disciplinas da atualidade: a teoria do caos. Por muito tempo a
ciência funcionou ao abrigo da satisfação geral e confortável dos fenômenos previsíveis e
das equações lineares. Conhecendo-se a vazão da torneira e o volume da banheira
determina-se rapidamente o tempo necessário para enchê-la. Conhecendo-se o peso do
satélite e a altura da órbita desejada, calcula-se o empuxo necessário ao lançador para
executar a tarefa de colocá-lo em órbita. Conhecendo-se o número de famintos
espalhados pelo imenso Brasil calcula-se a quantidade de alimento necessária para saciá-
los por um período determinado. Mas o que dizer do comportamento dinâmico das bolsas
mundiais nos dias que seguiriam a dita libertação do Koweit em 1991? O que dizer sobre o
que acontecerá com a população de regiões específicas do nordeste brasileiro em função
do êxodo rural que têm acontecido nas últimas décadas? A resposta é quase nada!
A ciência tradicional muito pouco pode afirmar sobre os fenômenos naturais
complexos. No entanto, falando em fenômenos complexos, nós estamos mergulhados
neles e apenas se conhece isto! A disciplina do caos não é nada nova. Ainda em 1889
Henri Poincaré já tinha descoberto a noção de caos determinístico no contexto de um
problema de mecânica celeste a três corpos. Ele se afastou de suas equações,
considerando os parcos recursos de cálculo daquela época. Hoje, no entanto, os
progressos das ciências matemáticas e dos extraordinários recursos de cálculo apontam
para um novo horizonte.
Os escoamentos turbulentos têm sido vistos como um dos mais importantes e
menos compreendidos domínios da dinâmica dos fluidos. Tem sido verificado também
que muitos sistemas dinâmicos com menor número de graus de liberdade apresentam
características semelhantes aos movimentos turbulentos. Alguns destes sistemas são
muito mais simples que os escoamentos e a compreensão dos seus comportamentos
podem ajudar a entender sistemas cada vez mais complexos.
A palavra turbulência tem sido intimamente associada aos escoamentos, apesar de
que isto não é verdadeiro. Como já ressaltado, vários outros sistemas dinâmicos que se
caracterizam por um número de graus de liberdade suficientemente elevado pode atingir
o regime de turbulência. Observa-se que todos os sistemas dinâmicos são modelados
matematicamente por equações determinísticas. Observa-se ainda que um sistema
dinâmico com baixo grau de liberdade não pode atingir tal regime turbulento, podendo
atingir, no entanto, comportamentos altamente imprevisíveis. É nesse sentido que se fala
de caos determinístico.
Para compreender melhor este importante tópico, será feita uma digressão dos
sistemas fluidos e alguns exemplos de sistemas dinâmicos não fluidos serão discutidos.
Para o caso em que o sistema ilustrado não está submetido a efeitos dissipativos,
ou se ele é movido por uma força externa o equilíbrio será representado por um círculo
limite para o qual o sistema deve convergir, como ilustrado na Figura 4.55(b).
Círculo limite
(a) (b)
Figura 4.55. Representação dinâmica no espaço de fases.
Figura 4.56. Comportamento caótico das órbitas de um pêndulo esférico. Figura feita pelo
autor do presente texto.
Fica evidente, com base nos argumentos apresentados nas seções precedentes,
que um mesmo sistema dinâmico pode tanto estar em regime caótico quanto em regime
ordenado para diferentes valores do parâmetro de forçagem. O sistema percorre então
um caminho (transiciona) para o caos à medida que se varia este parâmetro. Os processos
de transição para o caos e transição para a turbulência serão comparados
qualitativamente.
A primeira razão pela qual a teoria do caos pode ser importante para a dinâmica
dos fluidos é a turbulência. Deve-se enfatizar que existem algumas formas pelas quais um
escoamento pode exibir um comportamento caótico. A questão é, quando um
escoamento torna-se turbulento pode ser diferente de quando ele se torna caótico. Um
escoamento de Taylor-Couette, por exemplo, pode adquirir várias combinações de
regimes: laminar, caótico laminar e turbulento caótico. Seguindo as ideias modernas sobre
caos, pode-se considerar os movimentos turbulentos como exemplos de caos
determinístico, desde que se admita que os mesmos sejam governados pelas equações
determinísticas de Navier-Stokes.
Duas configurações mais estudadas neste tipo de transição tem sido o caso de
convecção de Bernard entre duas placas planas horizontais e o escoamento de Taylor-
Couette entre dois cilindros rotativos concêntricos. No caso da convecção de Bérnard duas
rotas de transição são identificadas: rota de multiplicação frequências e a rota de
intermitência. A Figura 4.57 ilustra os espectros de potência para diferentes valores do
número de Rayleigh. Observa-se nas Figuras 4.57(a) e (b) que existe uma multiplicação de
frequências, passando pela Figura 4.57(c) onde se observa a presença de intermitência
através dos níveis de energia das diversas frequências. Finalmente se observa na Figura
4.57(d) um espectro de energia contínuo, mostrando a presença de uma banda de
frequências e caracterizando um estado caótico e turbulento do escoamento.
Figura 4.57. Espectro de potência da velocidade em uma experiência de Bérnard,
mostrando o processo de multiplicação de frequências e de intermitência: (a)
Ra/Rac=21,0; (b) Ra/Rac=26,0; (c) Ra/Rac=27,0 e (d) Ra/Rac=36,9 (adaptado de Tritton,
1988).
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